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CULTURAIS E EPISTEMOLÓGICOS
ANAIS
Coordenação
Professora Homenageada
Rosa Borges
Organizado por
Risonete Batista de Souza
Rosa Borges
Isabela Santos de Almeida
Débora de Souza
Salvador
2020
REALIZAÇÃO
APOIO
COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
Este livro é uma realização do Grupo de Pesquisa Nova Studia Philologica (CNPq-UFBA),
do Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura do Instituto de Letras da UFBA, do
Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura do Instituto de Letras da UFBA e
contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, da
Universidade do Estado da Bahia, da Universidade Estadual de Feira de Santana, do
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UEFS, da Edufba e do Memória e
Arte.
ISBN: 978-65-87693-01-9
Vice-Reitor
Paulo Cesar Miguez de Oliveira
Memória e Arte
Diretora
Vanilda Salinac de Souza Mazzoni
Conselho Editorial
Maria da Glória Bordini
Célia Marques Telles
Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
Alícia Duhá Lose
Jorge Augusto Alves Lima
Sandro Marcío Drumond Alves Marengo
Fabiano Cataldo de Azevedo
APRESENTAÇÃO
setembro de 2018, na Universidade Federal da Bahia, teve como tema Filologia em diálogo:
descentramos culturais e epistemológicos. O evento foi o nono de uma série iniciada em 2006,
princípio, com periodicidade anual e restrito ao âmbito estadual, depois, à medida que
de 1964, e dos Seminários de Filologia Românica, realizados a partir dos anos 1960 até os
anos 1990, sob a coordenação do Prof. Dr. Nilton Vasco da Gama, Professor Emérito da
gerações de filólogos, em 2006, as discípulas de Nilton Vasco da Gama, Rosa Borges (UFBA),
Rita Queiroz (UEFS) e Maria da Conceição Reis (UNEB), retomaram a proposta das
tradição que cada edição renderia homenagem a um(a) professor(a) com relevante atuação
na área. O IX SEF homenageou a Profa. Dra. Rosa Borges, pertencente à última geração de
discípulas do professor Vasco, autora de ampla e relevante produção na área dos estudos
filológicos, com ênfase na crítica textual moderna, e responsável por atrair e formar parte
universitários.
O SEF é, tradicionalmente, um evento que enfatiza as diferentes perspectivas dos
estudos contemporâneos. Por esta razão, no IX SEF, foram abordados os seguintes eixos
temáticos:
cultural, para, através da prática editorial, construir uma história da literatura ou discutir o
de ensino no que se referem aos livros indicados para leitura e análise, bem como aos textos
que circulam nos livros didáticos e paradidáticos, tomados como objeto de trabalho no
5. Filologia e memória – eixo que abarca estudos que se dedicam a pensar arquivos
coloniais. Convencidos dos papeis políticos que podem representar, os filólogos estão se
dessas renovações, este campo visa acolher pesquisas que contribuam com o debate em
filológica.
Nas últimas edições, o SEF tem sido estruturado como um evento de médio porte,
em que se privilegia a maior interação entre os participantes, de sorte que não há muitas
sessões paralelas. O IX SEF foi organizado com a seguinte estrutura: três conferências, onze
de Filologia Românica da UFBA, Dra. Célia Marques Telles, intitulada Linguística Românica:
um olhar sobre o que fazemos; no segundo dia, a Profa. Dra. Belem Clark de Lara, da
professora homenageada, Titular de Filologia Românica, Dra. Rosa Borges tratou sobre
coordenadas bem como as sessões de comunicações trataram sobre temas diversos dentro
que reunirão os textos das sessões coordenadas e das sessões de comunicação; e um e-book
alfabética do nome dos autores e versam sobre temas atinentes aos sete eixos temáticos
propostos.
básica de educação e todos que nos deram a honra de sua presença, participaram e
comunicação realizadas durante o evento e espera poder contribuir para a disseminação dos
resultados de pesquisas apresentados e debatidos nos três dias do evento com essa
ISTORIA DELLE GUERRE DEL REGNO DEL BRASILE: ACCADUTE TRA LA CORONA
DI PORTOGALLO E LA REPUBLICA DI OLANDA: EDIÇÃO INTERPRETATIVA
Danilo Santos e Silva, Ivan Pedro Nascimento e Alícia Duhá Lose ....................................... 126
FONTES PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS NO BRASIL: EDIÇÃO E ANÁLISE DE
CARTAS SETECENTISTAS
Fernanda Bemfica Silva dos Santos e Isabela Santos de Almeida ............................................ 236
Grazielle Maria Araujo, Queila Maia Santos e Liliane Lemos Santana Barreiros ............ 247
Izaías Araújo das Neves Paschoal e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz ............................... 295
Jardel Jesus Santos Rodrigues, Fernanda Lima Almeida e Norma Suely Pereira ............. 326
Jéssica Pâmela Bomfim Silva e Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz .................................... 344
Jhade Borges dos Santos Gomes e Rosa Borges dos Santos ................................................ 359
Maria Rosane Vale Noronha Desidério e Patrício Nunes Barreiros .................................. 473
Natália Larizza Sanches de Souza, Rafaela Neres de Oliveira e Sandro Marcío Drumond
Alves Marengo .............................................................................................................................. 500
Rose Mary Souza de Souza e Norma Suely da Silva Pereira ...................................................... 620
Soraya Carvalho Souza Biller Teixeira, Deyvison Moreira Santos e Sandro Marcío
Drumond Alves Marengo ............................................................................................................ 678
1 INTRODUÇÃO
A Filologia é uma ciência antiga que se ocupa da edição de textos desde o século III
filólogos têm se ocupado de edições dos mais variados textos e em diferentes suportes.
Seguindo essa direção, a partir do conhecimento da carta pessoal de João Bastos, dirigida a
Rosalvo de Souza Ribeiro, integrante do acervo da família Ribeiro, optamos por editá-la
condizentes com edições de manuscritos propostos por César Nardelli Cambraia (2005).
Para Cambraia (2005, p. 63) “[...] cada registro de um texto escrito constitui um testemunho”.
Dessa forma, uma carta pessoal é um testemunho histórico, considerando que esse gênero
textual vai muito além da comunicação particular, oportunizando estudos para várias
disciplinas acadêmicas.
aquelas missivas trocadas entre pessoas comuns. Isso porque esse tipo de documentação
costuma apresentar pontos de vista sobre determinado período da história, ou seja, a leitura
pessoal dos acontecimentos da época vivida. Além do mais, podemos observar as variações
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análise de manuscritos e edição de textos. Sendo responsável pelos estudos dos caracteres
apresentados no documento.
O documento foi catalogado nos arquivos pessoais da família do autor deste trabalho
estando o mesmo sob sua guarda. Está escrito em papel almaço amarelado, tinta ferrogálica
esmaecida devido ao tempo. Escrita sobre um único fólio (recto e verso), com texto
construído em uma única coluna, com 27 linhas pautadas no recto e no verso, com as
É uma carta particular dirigida a Rosalvo de Souza Ribeiro e escrita por João Bastos.
A localidade e data estão escritas na margem superior fora das linhas pautadas. As
preservar o documento que está plastificado. Existem também quatro furos de meia
ilegível. Provavelmente, seria o nome de uma pessoa. Sendo assim, não há informações
quanto aos furos se foram feitos intencionalmente ou por algum inseto. De forma geral, o
Pelas características das letras, a grafia demonstra que o remetente possuía mãos
hábeis na escrita cursiva, pois apresenta uma ordenada forma no sentido dos traços, sempre
obedecendo aos limites da margem esquerda do papel. Provavelmente, era uma pessoa
dotada de instrução formal. O traçado das letras e a escrita ordenada com palavras bem
colocadas no texto fazem com que considere planejamento, parcimônia, estando seguro de
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Para Vera Lúcia Costa Acioli (2003), os tipos de letras e ortografia empregados no
Brasil em épocas anteriores (séculos XVIII e XIX) comparados com a ortografia atual
possuem pequenas diferenças. No que diz respeito à carta em estudo, essas pequenas
diferenças são bem visíveis, tornando bem compreensível numa primeira leitura. No
poucas incidências de grafias diferenciadas do tempo atual. Isso mostra a pouca diferença
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um dos aspectos importantes da paleografia sendo uma disciplina auxiliar que acompanha
e imperial do Brasil, Maria Helena Ochi Flexor (2008, p. 11) ressalta que “Existem
abreviaturas de documentos dos séculos XVI ao XIX, bastante conhecidas e ainda usadas,
desuso”. Sendo assim, as abreviaturas, apesar de poucas, são encontradas por síncope
apócope (supressão de letras do final da palavra) e sigla (representação da palavra por letra
V. Você
(1vº - 24) Apócope
Dr. Doutor
(1rº - 40 e 44) Síncope
abrº. abraço
(1rº - 55) Síncope
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deve seguir a chancela de seus paradigmas, pois o trabalho filológico requer habilidades e
conhecimento dos domínios peculiares, como diz Segismundo Spina (1977, p. 78): “Restituir
o texto à sua originalidade significa aproximá-lo o mais possível da última vontade do autor;
facilitar a sua leitura consiste em torná-lo legível através das normas da restauração”. A
pesquisador deve ater-se a dois aspectos: o público a que se destina e a maneira através da
qual tratará seu material de edição. O trabalho deve ser realizado seguindo critérios
cientificamente definidos. Dessa forma, para a realização da presente edição optamos pela
similar para enriquecer o conhecimento sobre o documento e para fins de comparação com
o texto original.
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7. As partes detectadas como ilegíveis foram marcadas por uma interrogação entre
Transcrição do Fólio 1 r e 1 v
Identificação: Carta pessoal de João Bastos a Rosalvo de Souza Ribeiro.
Está sob a guarda do bisneto do destinatário da carta: Antonio Marcos de Almeida
Ribeiro. Documento particular de propriedade privada em que o parente
proprietário realiza a pesquisa.
Assunto Negócios, política, bombardeio de Salvador, alistamento eleitoral.
Local Maracás - Bahia
Data 16 de janeiro de 1912
Assinatura Autógrafo
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João Bastos
fac-similar.
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Os sujeitos envolvidos na carta são do munícipio de Maracás, Bahia. João Bastos foi
notícias locais e artigos da intelectualidade do lugar. Junto com Lindolfo Rocha foi fundador
saraus eram bastante concorridos. Além disso, João Bastos também foi patrono da
alguns distritos e Rosalvo de Souza Ribeiro (1855-1938) morava na Serra do Vitorino, hoje
distrito de Planaltino-Ba, que na época pertencia a Maracás. Além de possuir terras (uma
das principais atividades suas estava ligada ao cultivo de fumo), exercia atividades
Afonso Pena. A Guarda Nacional foi uma instituição militar que servia aos governos,
9). O título de coronel era muito difundido no período republicano: “[...] as principais
herdeiros” (PANG, 1979, p. 27). O título demonstrava o status das grandes famílias baianas
legislativos.
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que ficou conhecido como o bombardeio de Salvador de 1912. Trata também sobre
alistamento eleitoral está funcionando. Mande, sem perda de tempo, a gente para alistar,
isto até o dia 26 do corrente, sem falta” (Linhas 49-53 da carta). Indicativo das
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Sobre o bombardeio de
por Rui Barbosa. Assim, o grupo situacionista não reconhecia a candidatura de J.J. Seabra,
governamental.
Depois de várias manobras políticas, Jequié tornou-se capital do Estado, como forma
de garantir a estabilidade, por aqueles que queriam manter o poder, e devido ao clima de
guerra em Salvador. Assim, a Justiça Federal considerava o ato ilegal e pedia a volta do
aparato Legislativo que se transferiu para o interior. Dessa forma, no dia 10 de janeiro,
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iniciaram-se os bombardeios que vinham dos Fortes de São Marcelo, São Pedro e Barbalho
antiga Catedral da Sé, Biblioteca Pública (que foi incendiada), entre outros edifícios
Primeira República. Assim, José Joaquim Seabra, com o apoio das forças armadas do
Governo Federal, em chapa única, subia ao poder e iniciava seu governo na capital baiana.
A carta tratava desses acontecimentos, os quais foram assunto por muito tempo no interior
a memória da região Centro-sul da Bahia. Decerto também, a carta possui um valor histórico
imprescindível, isso porque nessa missiva se apresentam pontos de vista sobre determinado
período da história, ou seja, uma observação pessoal dos acontecimentos da época vivida.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
memórias, evidenciando uma fonte privilegiada de pesquisa. Dessa forma, parte da vida
particular pode ser conhecida por meio das correspondências, uma fonte profícua para se
ter acesso a um universo particularizado dos sujeitos históricos. Sendo assim, na carta
Souza Ribeiro, datada de 1912, oportuniza que seja empregada em estudos históricos,
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reconstrução sócio histórica, já que os personagens foram figuras ilustres da região em que
objetivo de oferecer documentação para diversos ramos acadêmicos, fazendo conhecer fatos
da língua, da memória e da cultura de uma região, como afirma Carmo (2015, p. 18): “A
REFERÊNCIAS
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A escrita no Brasil Colônia: um guia para leitura de
documentos manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2003.
CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CARMO, Jeovania Silva do. Nas lentes da filologia: edição semidiplomática de registros
batismais de escravos da Chapada Diamantina-BA. Salvador: Quarteto, 2015.
FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: manuscritos dos séculos XVI ao XIX. Rio de
Janeiro: Arquivo Nacional, 2008.
SPINA, Segismundo. Introdução à edótica: crítica textual. São Paulo: Cultrix; Edusp, 1977.
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