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197 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN : 978-85-68351-48-2
CDD: 379.26
Expediente
- Diagramação:
Elaine Schmitt
- Projeto Gráfico e capa:
Elaine Schmitt
- Revisão Geral:
Ana Paula Bhürer e Vanessa Cristina Chucailo
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4
SUMÁRIO
Prefácio
Carla Fernanda da Silva Satler..........................................................7
Apresentação
Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski.............................................11
5
“Vish, sai de mim”: gênero e diversidade sexual para
estudantes do CEEBJA
Ana Paula Bührer Gonçalves........................................................108
Um texto qualquer...
Heloyse Tomal..............................................................................173
Sobre xs autorxs..........................................................................191
6
PREFÁCIO
Michel Foucault
7
Por meio do projeto “Gênero e diversidade sexual: ações afirmativas
para combater a violência”, que tem neste livro uma extensão
e continuidade de suas ações, o grupo atuou com o objetivo de
romper os paradigmas de uma cultura machista, homotransfóbica
e preconceituosa sedimentada no espaço escolar. Tarefa difícil
que exigiu coragem, desprendimento e delicadeza. Pois apesar da
concepção de que a escola ocupa um lugar central na constituição dos
indivíduos, ao invés de construí-la como um espaço em que alunas,
alunos e professores atuem como produtores de novos saberes e
valores, acima do senso comum e numa atitude questionadora e
criadora, por vezes se mostra um espaço perpetuador de preconceitos,
moralismos e violência. Tal perpetuação apenas fere e fragiliza
os diferentes – e não somos todos? – aqueles que transbordam os
limitados padrões que alguns insistem em lhes impor.
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finalidade. Ao mesmo tempo em que é o fechamento ou conclusão
para os professores, alunas e alunos que participaram das atividades
de formação desenvolvidas pelo grupo de pesquisa, também se
apresenta como incentivador de novos debates sobre os estudos
de gênero e diversidade sexual. O livro foi organizado de forma
que os leitores e leitoras possam avançar em suas discussões, pois
os primeiros artigos escritos por Cristina Scheibe Wolff, Rafael
Araújo Saldanha, Everton Carlos Crema e Dulceli de Lourdes
Tonet Estacheski nos proporcionam um diálogo com os conceitos
desenvolvidos nos estudos de gênero e suas relações com o espaço
escolar, ou seja, constituem a base de formação que permeou o
projeto: “Gênero e diversidade sexual: ações afirmativas para
combater a violência”. Em seguida, os artigos de Sergio Antônio
Andrigueto, Vanessa Cristina Chucailo e Ana Paula Bührer
Gonçalves destacam a experiência de pesquisa e formação vivenciada
pelo grupo, apontando a realidade das escolas em que atuaram por
meio de relatos e problematizações, em que a identificação com
as situações elencadas possibilita uma reflexão do espaço escolar
vivenciado pelos demais professores, assim como pensar as ações
necessárias para transformar as situações de preconceitos. Por
fim, os artigos de Elaine Schmitt, Karina Janz Woitowicz, André
Bueno e Thays Bieberbach conduzem nossos olhares para fora dos
muros escolares, para a forma como as mulheres e a diversidade
sexual é representada na cultura pop, no jornalismo e na literatura,
buscando ampliar a percepção sobre a discussão de gênero em nossa
produção cultural e como isso pode afetar as nossas relações e a
produção de preconceitos. O grupo ainda complementa com um
tópico: “Sugestões para pesquisas e reflexões sobre gênero”, com a
indicação de leituras, sites, filmes, animes, entre outros, em que os
leitores poderão aprofundar suas reflexões.
9
Por fim, penso que o texto de Heloyse Tomal, de 12 anos, em
sua simplicidade de criança ao relatar as reflexões após acompanhar
uma aula/discussão sobre gênero e diversidade traduz aos leitores
a experiência que terão ao ler este livro: a possibilidade de se
transformar, ou seja, reconhecer os preconceitos em si constituídos
e trabalhar em si mesmo a construção de outra subjetividade, aberta
à diferença.
Agosto de 2016,
Carla Fernanda da Silva Satler
Historiadora e Professora
10
APRESENTAÇÃO
11
possível iniciar as atividades. Selecionamos bolsistas, duas pessoas
que entraram na categoria de profissionais recém-formados em
História e Filosofia, Vanessa Cristina Chucailo e Sergio Andrigueto
e uma estudante da graduação em História, Ana Paula Bührer
Gonçalves, e em setembro de 2015 iniciamos as atividades, contando
com a participação de outras pessoas que atuaram voluntariamente no
projeto, como a historiadora Carla Fernanda da Silva, as jornalistas
e fotógrafas Elaine Schmitt e Marcia Boroski e o historiador André
Bueno, idealizador do projeto junto conosco, mas que entre o tempo
de aprovação do projeto e início das atividades, mudou-se para o
Rio de Janeiro para lecionar na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro e mesmo à distância, continuou atuante.
12
de dados, informações sobre os números da violência de gênero no
Brasil, circulou por universidades e escolas promovendo a reflexão
sobre essa questão tão importante. Uma cartilha, ‘A vida de Francis’,
foi escrita unindo literatura e textos didáticos que tratam da temática.
Além da equipe do projeto, colaboraram com ela a historiadora
Carla e novamente a Elaine que ilustrou e diagramou o material que
deve enriquecer o acervo das escolas de nossa região, auxiliando no
trabalho docente.
Boa leitura!
13
GÊNERO, SEXO, SEXUALIDADES: CATEGORIAS
DO DEBATE CONTEMPORÂNEO1
Introdução
Recentemente estamos trabalhando, no
Instituto de Estudos de Gênero da UFSC, em um
curso de especialização com o tema “Gênero e
Diversidade na Escola”, apoiado pelo MEC. Nas
aulas presenciais, algumas questões das professoras2
chamaram nossa atenção:
- Por que entre duas irmãs, criadas da
mesma forma, na mesma família, uma pode
ser “normal” e outra “homossexual”?
- O que fazer quando um pai de aluno
se enfurece quando seu filho (menino)
escolhe uma boneca como brinquedo?
- Qual é mesmo a diferença entre sexo e
gênero? Por que fazer esta diferença?
- Como lidar, na escola, com as
situações de bullying com relação a alunas
vistas como “homossexuais”?
- Por que as meninas têm mais
dificuldade em algumas matérias e os
meninos em outras?
Ou seja, as questões que atravessam gênero, sexo e sexualidades
estão presentes de forma muito intensa no cotidiano escolar, e geram
1 Este artigo foi originalmente publicado na revista Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 9, n. 16,
p. 29-46, jan./jun. 2015. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>.
2 Neste texto vamos usar a forma feminina nos artigos e substantivos coletivos. Isso não pretende
fazer uma exclusão dos indivíduos masculinos, apenas causar um estranhamento. Homens (cis, trans)
e pessoas não polares sintam-se incluídas.
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dúvidas, situações difíceis para professoras, alunas, mães e todas
as profissionais envolvidas no processo educativo. Nosso objetivo
neste texto é fazer uma introdução a esse debate, mostrando como
foram criadas algumas das categorias fundamentais nos estudos
sobre o tema, indicando algumas bibliografias e possibilidades de
aprofundamento. Para isso, dividimos o texto em duas partes: na
primeira parte iremos tratar da história da categoria gênero, fazendo
sua relação com o feminismo e com categorias como sexo, mulher
e mulheres (PEDRO, 2005). Na segunda parte, tratamos mais
especificamente do campo da sexualidade e da teoria queer. As
perguntas mencionadas falam de três categorias teóricas principais,
três tipos de fenômenos que não devem ser confundidos, embora
se relacionem intimamente: 1. O sexo, que normalmente se refere
a características físicas e biológicas dos corpos que, na nossa
sociedade, são classificados em machos (associados aos homens),
fêmeas (associados às mulheres) e intersex (antigamente chamados
de hermafroditas). 2. O gênero, que se refere aos aspectos culturais,
históricos e sociais de como se classificaram as pessoas a partir
das diferenças percebidas entre os sexos (SCOTT, 1990) e que
categoriza as pessoas como femininas ou masculinas (cisgêneros),
transgêneros (trans-homem, trans-mulher) ou não binárias e que
também se relaciona com o que tem sido chamado de “expressão”
ou “papel” sexual, ou seja, como as pessoas performatizam ou
representam seu gênero. 3. A sexualidade ou orientação sexual, que
se refere às práticas sexuais das pessoas, seja orientada para pessoas
do sexo oposto (heterossexuais), para pessoas do mesmo sexo
(homossexuais), para ambos (bissexuais), para pessoas trans (omni/
15
pansexuais) ou para nenhum (assexuais). Essas três classificações
podem se cruzar de formas variadas.
16
Feminismo, sexo e gênero
17
público, de certa maneira comprovando a capacidade das mulheres.
No Brasil, escritoras como Nísia Floresta (1810-1885) e Maria
Lacerda de Moura (1887-1945) escreveram numerosos livros nos
quais defendiam os direitos das mulheres.
18
de movimentos trouxe novas reivindicações e novas formas de
organização. As novas palavras de ordem eram (e ainda são):
“salário igual para trabalho igual”, “o privado é político”, “nosso
corpo nos pertence”.
19
de antigas, especialmente se pensarmos que já eram formuladas no
início do século XX por autoras como Maria Lacerda de Moura, ainda
hoje continuam nas bocas e nos cartazes das novíssimas feministas.
Se pensarmos que a renda das mulheres economicamente ativas no
Brasil ainda é cerca de 70% quando comparada a renda dos homens e
que o número de feminicídios – mulheres que são mortas geralmente
por seus maridos, companheiros, namorados ou ex, exclusivamente
por serem mulheres – é imenso, essas reivindicações ainda valem!
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encefálica, a discriminação da quantidade de hormônios de cada tipo
presentes nos organismos, enquetes, e mais recentemente, pesquisas
envolvendo os cromossomos e o DNA.
21
1970, utilizavam este termo. É o caso, por exemplo, dos livros de
Rose Marie Muraro, “A mulher na construção do mundo futuro”
(1966) e “A Libertação sexual da mulher” (1975); do livro da
socióloga Heleith Saffioti, “A mulher na sociedade de classes:
mito e realidade” (1976), e do pequeno “Mulher: objeto de cama e
mesa” (1974) de Heloneida Studart, entre outros.
22
apenas um sexo, o masculino, sendo que nas mulheres, os mesmos
órgãos estariam apenas dispostos diferentemente no corpo: ao invés
de estarem expostos, o pênis e os testículos estariam “para dentro”,
equivalendo à vagina e aos ovários. Ou seja, Laqueur argumenta
que o gênero, enquanto sistema de hierarquia, é anterior ao sexo.
Gênero
23
[...] tem duas partes e diversas subpartes. Elas são
ligadas entre si, mas deveriam ser distinguidas na
análise. O núcleo essencial da definição repousa
sobre a relação fundamental entre duas proposições:
o gênero é um elemento constitutivo de relações
sociais fundadas sobre as diferenças percebidas
entre os sexos e o gênero é um primeiro modo de
dar significado às relações de poder. (1990, p.86).
24
4. Não se deve falar “os gêneros”, como se fosse equivalente a
“os sexos”, pois não há “um gênero masculino” por si só, ou
um “feminino”, mas um sistema relacional de classificação
social e cultural no qual certos comportamentos e
características, roupas, maneiras, atividades, são
consideradas femininas, masculinas ou neutras, dependendo
de onde e quando estamos nos referindo.
25
não quer dizer que o sujeito do feminismo tenha deixado de
ser “as mulheres”. Sobre isso a filósofa Judith Butler (2003)
tem toda uma reflexão e os vários feminismos atuais têm
se questionado bastante. O gênero trouxe para a discussão
feminista, e para as ciências humanas e sociais em geral,
uma dimensão relacional, que implicou, por exemplo, no
surgimento de um campo novo, o das masculinidades.
Afinal, não são só as mulheres que se tornam mulheres a
partir do gênero, mas os homens também se tornam homens.
O campo da sexualidade
26
houve a denúncia na imprensa de que um adolescente foi espancado
pelos colegas, tendo morrido em função dos ferimentos, em uma escola
pública, no estado de São Paulo, por ser filho de um casal homoafetivo3.
Dessa forma, precisamos compreender melhor a questão da
sexualidade e das diversidades sexuais, para que possamos conviver
respeitosamente, deixando de lado os preconceitos, minimizando o
sofrimento de alunas e alunos, mães, pais, professoras e professores.
Afinal, nossa Constituição, no artigo 3º. Parágrafo IV, diz que
constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil:
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”4.
Os estudos Queer
3 Filho de pais gays morre após ser espancado, Blog Pragmatismo Político. 10/03/2015.
Disponível em: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/filho-de-pais-gays-
morre-apos-ser-espancado.html>. Acesso em: 28 jun. 2015.
4 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/cci- vil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 jun.
2015.
27
tratavam a ordem social como sinônimo de heterossexualidade. Por
essa razão, a noção de ‘normalidade’ estava calcada sobre uma visão
de que a heterossexualidade era o padrão e as demais sexualidades
eram desvios, ou seja, uma maioria normalizada e uma minoria
desviante (MISKOLCI , 2009).
28
dos mecanismos sociais relacionados à intervenção do binarismo
hetero/homossexual na organização da vida social contemporânea,
buscando olhar atentamente para uma política do conhecimento e da
diferença. Segundo o sociólogo Steven Seidman, queer seria o estudo
“daqueles conhecimentos e daquelas práticas sociais que organizam
a ‘sociedade’ como um todo, sexualizando – heterossexualizando
ou homossexualizando – corpos, desejos, atos, identidades, relações
sociais, conhecimentos, cultura e instituições sociais”. (1996, p.13).
29
indiquem – sem ambiguidade – as identidades de quem as possui. De
forma que sexo, gênero e sexualidade seriam evidentes nas marcas
dos corpos. Para ela, “teríamos apenas de ler ou interpretar marcas
que, em princípio, estão lá, fixadas. Mas, ficamos desconfortáveis se
nossa leitura não é imediatamente clara e reveladora; se, por algum
motivo, não conseguimos enquadrar alguém (ou a nós próprios)
numa identidade” (p. 61).
30
, por acreditarem que, como o personagem da mitologia grega,
esses indivíduos possuíam as características dos dois sexos (fêmea-
macho), mas com o decorrer dos tempos foi percebida uma enorme
variação dentro dessa categoria. Dessa forma, dando ênfase à
espécie humana, podemos dizer que ela não é composta apenas de
machos e fêmeas, esses seriam os pólos de um modelo idealizado,
tido por binário. Mais recentemente, pode- mos notar que o termo
‘hermafrodita’ tem dado lugar ao termo ‘intersexual’, primeiro
porque o discurso médico acabou por tratar o hermafroditismo
como desvio, doença (já que foge a um padrão) e deveríamos vê-
lo como uma diferença; segundo porque as questões políticas de
gênero têm exigido a definição de um terceiro gênero humano - os
não binários - que respeite a individualidade de seres humanos que
possuem características que fogem dos pólos binários (tanto de sexo
quanto de gênero).
Ovídio, no qual consta que ele foi levado pelas ninfas até o Monte Ida, uma montanha sa-
grada da Frígia. Quando atingiu quinze anos, sentindo-se entediado do lugar, viajou para
as cidades da Lícia e de Cária. Estava nos bosques da Cária, perto de Halicarnasso quando
encontrou Salmacis, uma Náiade (ninfa aquática), em sua morada numa lagoa. Tomada de
luxúria perante a beleza do jovem, ela tentou seduzi-lo, mas foi rejeitada. Quando pensou
que ela havia ido embora, Hermafrodito despiu-se e entrou nas águas do lago. Salmacis,
então, saiu de trás duma árvore e mergulhou, enlaçando o moço e beijando-o violenta-
mente, tocando em seu peito. Enquanto ele lutava por desvencilhar-se, ela invocou aos
deuses para nunca mais separá-los. Seu desejo foi concedido e seus corpos se misturaram
numa forma intersexual. Hermafrodito, aflito e envergonhado, fez então seu próprio voto,
amaldiçoando o lago de forma que todo aquele que ali se banhasse seria igualmente trans-
mutado, como ele próprio. Informação disponível em: <http://www.letras.ufes.br/sites/le-
tras.ufes.br/files/field/anexo/e-book_Jorna- da_de_Estudos_Classicos_2010.pdf>. Acesso
em: 2 jun. 2015.
31
a identificação de um indivíduo como totalmente fêmea ou
totalmente macho. Essa variação pode envolver ambiguidade
genital, combinações de fatores genéticos e aparência (genótipos e
fenótipos) e variações cromossômicas sexuais diferentes de XX para
fêmea e XY para macho. Pode incluir também outras características
de dimorfismo sexual como aspecto da face, voz, membros, pelos e
formato de partes do corpo (MONEY; EHRHARDT, 1972).
32
do que socialmente se estabeleceu como o padrão para o seu sexo
biológico; e os humanos ‘trans’ (do latim, para além de), pessoas cuja
identidade de gênero é diferente do que foi estabelecido socialmente
como padrão para seu sexo biológico. Novamente, o reforço da
necessidade humana de categorização das diferenças parte de uma
noção guiada por aspectos ‘tidos’ por biológicos, a naturalização
dos corpos.
33
funções. Mas fazer-se homem, mulher ou não polar implica muito
mais do que considerar apenas as funções biológicas de fêmeas,
machos, intersexuais e transexuais.
34
particular, existe uma gama de outros discursos que, a partir de cada
sexo biológico, determinaram (e determinam) comportamentos,
vestimentas, gestuais, enfim, que dotaram/dotam esses indivíduos
sexuados de aspectos culturais. Contudo, temos uma noção polarizada
e binária também dos gêneros: como feminino e masculino. Antes
mesmo de nascer já somos interpeladas por esses discursos: “É
menino ou menina”?
35
sempre incorre- mos no risco de reforçar noções heteronormativas,
ainda assim dentro da categoria da transgeneridade encontramos
diferenciações. Podemos ver pessoas que se reconhecem como
transexuais, outras que se denominam travestis e as pessoas
crossdresser (ou CD). De forma simplista, podemos dizer que:
36
transformista), drags são performatizações artísticas em que
homens se vestem como mulheres, exacerbando as características
tidas por femininas.
37
desejo acaba por delimitar a construção de identificações sexuais,
sobre- tudo com aspectos políticos muito claros, que lutam contra
a heteronormatividade: são o que atualmente chamamos de LGBT:
lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, ou seja, pessoas que não
se reconhecem dentro de lógicas e práticas da heterossexualidade
e a quem têm sido negados muitos direitos. Porém, nem todas as
práticas sexuais são obrigatoriamente focadas no desejo.
38
(como, por exemplo, profissionais do sexo ou homens que julgam
que homossexual é apenas aquele que se deixa penetrar – passivo/
ativo).
39
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2007.
41
RÜSEN E O “NOVO HUMANISMO” REFLEXÕES PARA A
EDUCAÇÃO E A DIFERENÇA
42
Diversidade Sexual: Ações afirmativas para combater a violência –
financiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior – SETI – Universidade Sem Fronteiras – USF que buscou
combater a violência de gênero e contribuir para a compreensão
da diversidade sexual nas Escolas de Jovens e Adultos – EJAS do
Núcleo Regional de Educação de União da Vitória – Paraná no
biênio, 2015-16.
43
singularidade do próprio eu. (RÜSEN, 2015, p. 273).
44
pensarmos o homem singularmente. A identidade individual de
qualquer pessoa é fundamental na construção de sua subjetividade,
ponto de referência e medida, para sua ‘consciência histórica’,
que muito mais que um conhecimento formal, é como dito, uma
subjetivação da realidade, é ao mesmo tempo uma experiência e
expectativa pessoal, uma orientação histórica.
45
especialização e complexidade social, forçaram a ideia etnocêntrica,
ou qualquer outra perspectiva de identidade, a uma condição
crescente e ampliada, reforçando e cerrando fileiras em defesa de
uma identidade reconhecida e compartilhada. A alteridade produzida
pela ‘valorização assimétrica’ rechaça a diferença e a diversidade,
numa moralidade positiva em ‘nós’ e negativa nos ‘outros’.
Ele se torna ainda mais agudo ao longo de outro
processo. O pensamento etnocêntrico projeta a
alteridade dos outros, aquelas propriedades que o
sujeito considera problemáticas ou até insuportáveis,
na formação de sua identidade. O sujeito se livra,
assim, do peso de suas próprias insuficiências. Tal
banimento das zonas sombrias do passado próprio,
no entanto, não suprime a alteridade, sentida como
um desafio ou mesmo uma ameaça ao próprio eu,
sobretudo quando esse se imagina transparente e
puro. (RÜSEN, 2015, p. 267).
46
conhecimento histórico. Comparar relativamente práticas, costumes,
leis, contextos e temporalidades diferentes desconsiderando a
dimensão normativa construída do processo de formação histórica, é
negar o próprio devir, em nome de uma racionalização moralizante.
47
é cada vez menos clara. A globalização instaura uma proximidade
que requer novas formas de diferenciação do outro” (RÜSEN, 2015,
p. 269). Ou então:
Gostaria de interpretar essas sentenças, que lembram
Humbolt, da seguinte forma: a singularização do ser
humano como realização do ato livre segundo a razão
prática e autônoma é um processo de individuação
que não só faz os outros iguais no horizonte da
dimensão humana na razão prática, mas, ao mesmo
tempo, também diferentes em meio ao igual.
(RÜSEN, 2014, p. 53).
48
prima pelo humanismo deve se converter em uma ‘hermenêutica
humanizante’.
Essa hermenêutica cultiva a capacidade de
simplesmente não julgar as formas da vida humana
a partir do modelo de vida própria. Ela torna
impossível interpretar as mudanças históricas como
meros desenvolvimentos em direção ao presente. Ela
torna inteligíveis, a partir dos pontos de vista dos
respectivos indivíduos, as formas de vida diversas,
espacial e temporalmente, e inclui sistematicamente
esse entendimento em todas as interpretações
históricas. (RÜSEN, 2015, p. 272-273).
49
direção devemos reagir a um claro projeto de despolitização e
desconstrução crítica dentro das escolas e no ensino escolar, com
sérias consequências para a sociedade e para a cultura histórica.
50
do aprendizado histórico. Em hipótese alguma,
porém, essa tarefa deve ficar restrita ao círculo de
especialistas de didática da história. Pelo contrário,
ela deve ser refletida e realizada, intencionalmente,
nos próprios processos de aprendizado. Quer isso seja
possível, está fora de dúvida. Pode-se tomar e analisar
situações da vida cotidiana em que a questão aparece,
mesmo que ainda não tenham sido incorporadas no
material didático previamente disponível. Com isso,
elementos fundamentais da lógica do pensamento
histórico podem ser trabalhados já nos primeiros
anos do ensino de história nas escolas, e sempre
retomados adiante. (RÜSEN, 2015, p. 256).
51
Pontualmente o conhecimento do ‘tipo tradicional’ pode
ser compreendido como um entendimento originário, que acaba por
criar um enraizamento da normatividade da vida e do mundo em
uma ampla temporalidade, ou seja, é o tipo de conhecimento que se
baseia na tradição e na aceitação consentida para se realizar, pois “a
inquietação provocante das mudanças no tempo da vida humana é
domesticada pela representação, na profundeza ou na raiz do tempo,
da permanência dos princípios que, empiricamente produzem a
ordem”. (RÜSEN, 2007, p. 49).
52
pela qual o passado dinamizado temporalmente é articulado com a
prática concreta do presente de modo que o futuro apareça como
chance de superação, é a da mudança constante, qualitativamente
resistente”. (RÜSEN, 2007, p. 59).
Os princípios estão interligados de forma
extremamente complexa. Condicionam-se
mutuamente e opõem-se ao mesmo tempo.
Constituem um conjunto de relações dinâmicas,
cujo formato varia conforme as circunstâncias sob as
quais as orientações históricas se tornam necessárias
na vida prática. Essa dinâmica corresponde à
dinâmica temporal intrínseca à vida humana prática.
Ela estabelece logicamente a historicidade interna
das orientações históricas. Isto pode ser especificado,
para a formatação historiográfica do saber histórico,
como a correlação dos pontos de vista necessários
à relação historiográfica aos destinatários do saber
histórico. (RÜSEN, 2007, p. 47-48).
53
ser invenção”. (MORLAND, s/d, apud CARR, 1982, p. 2).
54
e distantes do cotidiano e das experiências sociais e da memória.
Dentro da aprendizagem histórica situada não existem mediações
externas, e a educação histórica se constrói de forma direta com o
conhecimento histórico. O resultado desse processo é a criação de
uma racionalidade histórica específica:
[...] onde os processos mentais ou atividades da
consciência histórica podem ser considerados os
fundamentos da Didática da História, pois tratam-
se de processos de pensamento estruturados do
pensamento histórico e, portanto, da consciência
histórica, os quais encontram-se por trás dos
conteúdos. (SCHMIDT; BARCA; URBAN, 2014,
p.28).
55
psicologia educacional, sobretudo pela pouca importância que deram
a consciência histórica humana, nesse sentido, uma capacidade
especifica do pensamento. Optaram pela análise e problematização
de estruturas cognitivas gerais, desconsiderando as diferentes formas
do pensar em suas especificidades, postulando um único modelo
cognitivo.
Assim, ensinar e aprender fazem parte indissociável
de um mesmo processo de constituição de sentido do
agir no tempo, em particular de sua conexão com o
que havia ontem e com o que há hoje, que – juntos
– são indispensáveis para explicar o quê e porque
haverá isso ou aquilo amanhã. (MARTINS apud
SCHMIDT; BARCA; URBAN, 2014, p. 48).
56
aprendendo e devemos aprender história historicamente.
57
Percebemos essa relação de distanciamento entre um
conhecimento formal e um conhecimento histórico prático, ou
mesmo a relação de modelos explicativos formais-científicos,
comparados a modelos prático-cotidianos, quando uma criança nas
séries iniciais, aprende formalmente algum conteúdo ou assunto
escolar. Se na realização de suas tarefas, em dúvida, pede ajuda aos
pais, ou responsáveis em geral cria-se um dilema. Primeiramente a
criança deseja que a mãe, pai, ou responsável a ensinem corretamente
segundo o modelo formal-científico, ensinada pela professora ou
professor, inclusive se utilizando de um vocabulário específico,
observadas as fases e etapas aprendidas. Caso isso não ocorra, e
o pai, mãe ou responsáveis por diversas maneiras e metodologias
de ensino, práticas e cotidianas, na informalidade do conhecimento
ou mesmo pela experiência, não usem um vocabulário formal e, ou
ainda, alternem ou modifiquem etapas nas resoluções, enfrentarão
um problema. A criança não se satisfará com a explicação ou
resolução, não, porque, o resultado ou explicação foi correto ou
incorreto. Mas porque, sem o formalismo científico escolar, com o
qual a criança já está acostumada ou em processo de assimilação, a
validade do conhecimento se põe questionada e invalidada.
58
científico com o conhecimento cotidiano, deixando de produzir
uma síntese. Por isso nossos alunos(as), em geral, não constroem
relações entre o conhecimento histórico e a vida prática de forma
significativa, tornando as aulas de história monótonas, desprovidas
de validade, de sentido e de vida, que ficam sempre no passado.
O distanciamento entre o conhecimento como experiência e o
conhecimento científico, necessariamente mediado pelo professor,
deve incorporar e relacionar esses dois universos. Não defendemos
uma separação, mas sim uma integração do conhecimento científico
da história com o conhecimento prático e as experiências dos
alunos(as), a partir do modelo da educação histórica. Nesse sentido,
olhar para a educação histórica em seu modelo é olhar segundo
Schmidt (2014) para a relação do aprendizado histórico na criação
da identidade humana, na e para a vida prática.
59
individual é a escola, quando não discute tais relações, ou quando
não as toma de forma direta e efetiva, preferindo as sombras.
Sobretudo, quando não as incorporam as narrativas e conteúdos
escolares, criando um silenciamento e complementariedade dessas
questões. Falar, debater o gênero e a diversidade sexual nas escolas
é incorporar pessoas, vidas e vivências distintas na formação do
conhecimento histórico e por decorrência na consciência história de
nossos alunos e alunas.
Alteridade é a melodia do passado, tocada pela
consciência histórica para as circunstâncias presentes
na vida, a fim de as pôr para dançar. Elas precisam ser
postas para dançar, para que seus movimentos sejam
reconhecidos pelos participantes justamente como
seus próprios, aqueles mesmos para além dos quais
desejam ir. Elas precisam aparecer como algo que foi
outro, para poderem ser avaliadas como algo que se
torna outro. (RÜSEN, 2007, p. 143).
60
de ideias conservadoras, retrógradas, preconceituosas e criminosas,
se adequando em parte as experiências que vivência, assimila e
reproduz.
REFERÊNCIAS
CARR, Edward Hallet. Que é História? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
61
Estado da Educação – SEED. Paraná, 2008.
RÜSEN, Jörn. Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Curitiba:
Editora da UFPR, 2015.
62
GÊNERO NA ESCOLA SIM, MAS COMO FAZER?
63
intitulada: ‘Tornar-se homem ou mulher’, e que foi considerada por
políticos, religiosos, pais e alguns educadores como censurável.
Desencadeou-se uma campanha massiva contra o manual, em
jornais, blogs, cartas, petições. Scott (2012) afirma que Christine
Boutin, antiga senadora e porta-voz do Vaticano enviou uma carta
ao então Ministro da Educação na França, Luc Chatel, denunciando
o que chamou de ‘ideologia de gênero’. O ministro manteve-se firme
e o manual não foi retirado.
64
aguardam a presença de pais, mães ou responsáveis nas reuniões
escolares para tratar de questões importantes em relação à vivência
escolar de seus filhos e filhas e ficam muitas vezes no vazio. Vivi essa
experiência na educação básica e sabemos que as justificativas para
a ausência são muitas, válidas ou não. A inserção do tema gênero
nos planos de educação, porém, fez com que lideranças religiosas,
desvirtuando a temática, apavorassem pais, mães e demais tutores e
tutoras de crianças, que habituados a respeitar os discursos dessas
lideranças, não quiseram ouvir o discurso da escola e de proponentes
dos planos.
65
Figura 2: Câmara de Vereadores de Cuiabá, Mato Grosso.
Fonte: http://www.akitafacil.net/news/?p=252
66
em nós cultivada”. (HERDER apud RÜSEN, 2015, p. 19). No texto,
Rüsen aborda, entre outras coisas, a questão da diversidade cultural
salientando que a experiência da diversidade cultural é realidade
para estudantes, não sendo mais a diversidade uma questão de
distância, mas sim de proximidade, e não só na escola, mas em todo
ambiente de vivência. A humanidade em nós está condicionada
a nossa capacidade de olhar e valorizar a outra pessoa em sua
humanidade. Que ‘ser humano’ estaríamos destruindo ao debater
gênero? Que ideia de humanidade é esta que exclui a diversidade e a
humanidade da outra pessoa e que considera família apenas aquela
que segue o seu padrão e entende como válida somente a fé que
remete ao seu entendimento espiritual? Acusar os debates de gênero
de destruidores da família e do ser humano é violência, pois excluir é
desumano e violento. A fala que ataca a humanidade da outra pessoa
é uma forma de violência.
67
E surge a pergunta: A quem interessa o calar? Thompson
(1998) argumenta que a ação que desestabiliza as convenções
instituídas incomoda a quem detém o poder, pois a resistência a esse
poder restringe, mesmo que em parte, sua ação. Nossa sociedade
machista e heteronormativa não quer admitir a dignidade de outros
sujeitos e deseja calar quem luta pela não violência de gênero, pois
isso subverte a ordem das coisas. A culpabilização das vítimas por
violência doméstica, por violência sexual, por homofobia corrobora
com um discurso equivocado de moralidade e religiosidade que
favorece agressores. O debate sobre gênero pode romper com a
ideia instituída de que a culpa pelo estupro sofrido é da vítima e
não do agressor, de que a culpa pela morte violenta é da travesti
que não se adequou à regra imposta, e com a ideia de que é por
não adequarem-se que homossexuais deveriam se esconder e não
ter direito a estudo, vida e dignidade, para não escandalizarem as
pessoas que não conseguem ver humanidade nas outras pessoas.
68
Vimos que muitas pessoas entre políticos, religiosos e
população, desconhecem a questão ou deliberadamente, mesmo
conhecendo, preferem a exclusão, a discriminação e a violência. Então
a pergunta que me fiz foi se docentes da educação básica, sabem do
que se tratam os estudos de gênero, pois precisamos pensar que para
a escola discutir com propriedade, é preciso para tanto formação,
entendimento do assunto. Aproveitando um momento de formação
docente, do qual participaram 29 docentes de escolas públicas da
cidade de União da Vitória/PR, representantes de diferentes áreas
do conhecimento - Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Artes,
Matemática, Biologia, Geografia, Educação Física e História -
solicitei que respondessem algumas questões sobre a temática
visando traçar um panorama da realidade escolar. Mesmo sabendo
que o número reduzido de participantes não refletiria com exatidão o
contexto maior das escolas locais, entendi como pertinente realizar
a atividade que poderia trazer, e trouxe, clareza sobre algumas
questões que precisam ser pensadas se queremos que a escola seja
também protagonista no combate à violência de gênero.
69
definiram. Apenas cinco pessoas, porém souberam determinar
com mais ou menos precisão, a fonte das informações recebidas
apontando para os cadernos de temas transversais da Secretaria
Estadual de Educação, a Revista Nova Escola, a página do Coletivo
Feminista Mais que Amélias na rede social e apenas uma pessoa
indicou um artigo acadêmico. As demais se limitaram a marcar as
opções ‘redes sociais’ e ‘blogs’, o que nos alerta para refletir sobre o
tipo de informações que esses docentes têm recebido sobre o tema.
70
pois não se trata de querer tornar todos e todas pesquisadores e
pesquisadoras de gênero, mas de instrumentalizar para a ação na
prática docente de forma consciente.
71
saber mais para melhor trabalhar no cotidiano escolar pensando em
uma escola inclusiva:
“Minha dúvida é sobre como trabalhar
homossexualidade, tema muito complicado nos dias
de hoje.” (Professora de Educação Física).
“Assim como todas as minorias, os homossexuais
possuem dificuldades em serem aceitos pela
família e pela sociedade. Muito se fala, mas ainda
o preconceito é gritante, um tema que deve ser
trabalhado nas escolas para que possa evoluir com
o passar dos anos” (Professora, não revelou a área).
“Minha pretensão e curiosidade é saber entender os
gêneros, tem tanta classificação e cada um com suas
particularidades. Nem sei se há uma necessidade
de classificação. Acredito que isso ajudaria a
compreender mais os alunos, todos nós somos
diversos, então diferentes. Mas algumas pessoas
enfrentam muito mais preconceitos.” (Professora de
Língua Portuguesa).
72
Ao serem questionados/as sobre quando a escola deve
debater o tema, uma professora da área de matemática, afirmou que
apenas devemos debater sobre gênero na escola quando “surgirem
situações, principalmente em sala de aula, em que envolvam o
tema ‘gênero’” e outra professora, de Língua Portuguesa, declarou
que é quando “surgir o assunto e ter nos conteúdos”. Preocupa em
primeiro momento a ideia de que apenas a sala de aula é espaço de
atuação docente. Padrós (2002, p. 38) ao discorrer sobre a função
social docente afirma que é essencial “pensar a atuação consequente
do professor no espaço escolar [...] A premissa diz respeito ao
entendimento de que ser professor implica em assumir de forma
permanente uma postura aberta ao estudo, ao aprendizado, ao novo
e ao diferente”. E ao argumentar sobre a postura e o compromisso
docente diante do que chama de universo escolar, o autor aponta
para diferentes objetivos, sendo o primeiro deles a visualização e
ocupação do espaço escolar como um todo “o que significa extrapolar
os limites físicos da sala de aula”. (PADRÓS, 2002, p. 39). Para ele,
tal atitude docente na escola amplia inclusive a qualidade de seu
trabalho nos limites das quatro paredes da sala de aula.
73
porém desastrosas que reforçam os preconceitos e a discriminação
entre discentes a partir de uma abordagem equivocada.
74
afirmando os preconceitos propagados na escola entre docentes, ao
que uma professora de Biologia complementa “pena que muitos
colegas professores além de não trabalhar o tema ainda criticam, e
ainda pior, tem preconceito”.
75
como anexos, informações complementares, curiosidades. Assim
como as temáticas de história da África, cultura afro-brasileira e
cultura indígena não deveriam compor apenas inserções na disciplina
de História e Artes, como geralmente ocorre, gênero e diversidade
sexual deveriam se fazer presentes como parte integrante dos
conteúdos das disciplinas e é claro, como já apontado, da formação
docente.
76
de trabalho, as leituras são difusas e esporádicas. O
que não lhes diminui o valor e a função.”
77
toda a sociedade e a escola não pode se isentar de fazer sua parte,
começando pelo nosso próprio aprendizado e nossa própria postura
para a não violência verbal, moral, física, sexual.
78
REFERÊNCIAS
PADRÓS, Enrique Serra (org.). Ensino de História: formação de professores e
cotidiano escolar. Porto Alegre: EST, 2002.
SCOTT, Joan. Os usos e abusos do gênero. Projeto História, São Paulo, n. 45,
dezembro de 2012. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php /revph/
article/view/15018/11212. Acessado em: 21 de maio de 2016.
79
GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL, VIOLÊNCIA
CONTRA AS MULHERES E HOMOFOBIA NA EDUCAÇÃO
ESCOLAR
80
dramáticas e urgentes na sociedade que estão invariavelmente
ligados a questões de gênero e dentro do contexto escolar, como
evasão escolar, desempenho do educando e influencias do meio
de desigualdades aplicadas de forma aberta, velada ou silenciosa
que a invisibilidade de problemas da ordem de gênero pode passar
despercebidas no espaço escolar - a ausência da fala – aparece
como uma espécie de garantia da “norma” (LOURO 1997 p. 68).
Procurar o rompimento com o conservadorismo e círculos históricos
e culturais que muitas vezes o aluno esta inserido no cotidiano que
o expõem a violência doméstica e outras relações desiguais, por
isso é preciso construir políticas com entendimento de educadores e
especialistas que defendem que a escola como um local privilegiado
para tratar de temas como este.
81
tona o debate para salas de aula, de extrema importância à questão
de gênero no plano educacional que dissolvam o binário homem/
mulher imposto contra diversidade e vontade humana desenvolvida
em sociedade.
82
públicas e políticas (SCOTT, 1995, p.73), e atinge outros sujeitos
homossexuais, negros, pobres tolhendo seus direitos. O professor
deve estar preparado para compreender esta realidade e contribuir
com mudanças efetivas no esclarecimento e melhoramentos sociais
usando-se da escola como instrumentalização de transformações.
Um desafio dos professores estarem pautados em uma teoria
científica que traga visibilidade as mulheres considerando-as como
sujeitos. Na qual as mulheres são percebidas como sujeitos sociais
e políticos e ainda como sujeitos do conhecimento “o que era
negado na concepção iluminista moderna” (LOURO, 1997 p. 149)
deslocando dos argumentos culturais da desigualdade biológica,
tentando justificar uma referência masculina.
83
pelo viés de todas as matérias de humanas e científicas.
84
identidade de gênero e coibir a violência de orientação sexual.
85
de sua época, não possuindo uma visão que fosse além do que era
apresentado em seu tempo”. (PACHECO, 2015, p. 20). Limitam-
se os espaços da sociedade, pessoas banalizam o tempo inteiro e
acabam por aceitar sua naturalização, legitimam costumeiramente
atribuindo a culpa às vítimas das opressões. A escola é o espaço
do conhecimento, mas também, disciplinadora e normatizada os
comportamentos, as relações entre os gêneros, determinando o lugar
das meninas e dos meninos de alguma forma, dentro da escola e na
sociedade.
86
Pensando a educação como uma prática política de formação,
sobretudo de formação para cidadania, ela implica um compromisso
radical do ponto de vista de assegurar a liberdade de expressão
e entender que questões relacionadas ao gênero e sexualidade,
muito antes do que consiste numa determinação estável, segura ou
supostamente natural, elas são fluídas, e essas posições não são tão
seguras, e são desde sempre, convenções sociais violentas, arbitrárias,
que tentam trazer ou construir certa inteligibilidade sobre os corpos,
essa ideia que macho é masculinidade, e fêmea é feminilidade,
são consequentes, como se nós naturalmente vivenciássemos
essas experimentações, como se isso fosse natural, evidente e
inquestionável, e na realidade isso é o reflexo de uma norma, a
expressão de uma convenção social da heteronormatividade, do que
qualquer outra coisa.
87
conservadores da cultura machista, sexista presentes na sociedade,
o conservadorismo em maneira geral, parte do educador e não do
educando. Não só instituição e educadores são conservadores,
estamos vivenciando um momento muito conservador no país,
vimos um avanço de forças fundamentalistas que produzem
repercussões em todas as políticas públicas, e a educação é uma
delas, não se trata de culpar os educadores, são apenas sujeitos que
se movimentam neste campo que está sendo colocado para eles no
momento. A precariedade em termos de financiamento público para
a educação, de formação continuada, para tal traz como reflexo a
vulnerabilidade, a precariedade das condições de possibilidade para
educadores também enfrentarem esses preconceitos.
88
e outros agentes da educação na região. Graças a um
determinado trabalho valoroso em prol do esclarecimento
das questões de gênero contamos na pesquisa com a
experiência da professora Eliane Affonso Smykaluk9
que prestativamente e gentilmente compartilhou suas experiências
na entrevista:
9
Professora aposentada da Rede Pública Municipal de União da Vitória (1985-2013). Professora da
Rede Estadual de Ensino do Paraná desde 1994. Foi secretária de Gênero, relações Étnico-raciais e
dos Direitos LGBT da diretoria regional da APP-Sindicato de União da Vitória por várias gestões.
Participa do Coletivo Feminista e de Combate à Homofobia da APP-Sindicato de União da Vitória
e de ações e formação nos coletivos estaduais Feminista, de Combate ao Racismo e de Combate à
Lgbtfobia que tem pautas específicas e conjuntas.
89
programas de “Escola sem partido”, sendo a primeira na Câmara de
vereadores(as) do Rio De Janeiro por Carlos Bolsonaro em 2014.
O primeiro documento de políticas nacionais com estas reflexões
sobre as temáticas em torno das sexualidades, homossexualidade e
identidades de gênero foram os cadernos de Temas Transversais dos
Parâmetros Curriculares Nacionais publicados pelo MEC em 1998,
com o foco no combate à AIDS e DSTs. Já no Paraná, foi quando a
Coordenadora do Núcleo de Gênero e Diversidade Dayana Brunetto
Carlin dos Santos, militante do movimento LGBT e com doutorado
nas temáticas, foi publicado o Caderno Temático sobre sexualidade
com distribuição gratuita e formação específica para educadores(as)
professores(as) e funcionários(as). Infelizmente, não houve mais
formação neste sentido e alguns encontros estaduais só acontecem
por força dos movimentos sociais, sem o incentivo do governo do
estado como anteriormente.
90
Já há muitos anos colocamos estas questões e sugerimos ações
para construirmos comportamentos não sexistas e de acolhida à
diversidade sexual, desde a linguagem inclusiva, pois a linguagem
inviabiliza o feminino. Mesmo sendo uma professora de Língua
Portuguesa a questionar a linguagem tradicional, trata-se de um
trabalho cotidiano e de resistência e, somente dessa forma, observam-
se pequenas mudanças e mais acolhida a estas questões. É preciso
também questionar as representações de gênero nos livros didáticos,
murais e atividades culturais: atividades femininas e masculinas, o
espaço privado e o doméstico, a representação das famílias, o uso dos
espaços escolares por meninos e meninas, as atividades nas diferentes
disciplinas, o que se oculta, o que se evidencia neste sentido no
trabalho pedagógico. Isso só é possível com momentos de interação,
em espaços de formação para se problematizar e desconstruir ideias
do senso comum e superar muito da tradição escolar que como
educadores(as) fomos formados(as) e reproduzimos na ação docente.
Faltou citar o lançamento do Plano Nacional de Políticas para as
mulheres e do Programa Brasil sem Homofobia, ambos de 2004 do
governo federal para o enfrentamento às desigualdades e violência
de gênero contra mulheres e comunidade LGBT. É do conhecimento
de todo(as) a repercussão que teve principalmente o Programa
Brasil Sem Homofobia, pois a mídia e conservadores(as) na política
defendiam o patriarcado, a família tradicional e acreditavam que tal
programa incentivaria a homossexualidade e colocaria em risco o
modelo de família formado só por um homem e uma mulher. Penso
que algo muito positivo são as pesquisas acadêmicas e inúmeras
publicações advindas das mesmas contribuem infinitamente para
91
superarmos as incompreensões acerca da homofobia e da educação
sexista. Só com argumentos de autoridade e de pesquisas para
combater o senso comum com eficácia.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
LOURO, Guacira Lopes (org). O corpo educado: pedagogias da sexualidade.
Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
LOURO, Guacira Lopes, Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-
estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.
PACHECO, Juliana (org.). Mulher & Filosofia: as relações de Gênero no
pensamento filosófico. Porto Alegre: Editora Fi, 2015.
SCOTT, Joan. Gênero uma categoria útil de analise histórica. Educação e
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n. 2, jul./dez.1995, p.71-99.
92
IMPRESSÕES SOBRE IDENTIDADES DE GÊNERO: O
DESAFIO DOS MODELOS IDEAIS
93
no que se refere ao contexto das masculinidades e feminilidades
possíveis, questionando os diferentes papéis desempenhados por
mulheres e homens na sociedade.
94
[...] o termo “gênero” torna-se uma forma de indicar
“construções culturais” - a criação inteiramente social
de idéias sobre os papéis adequados aos homens
e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir
às origens exclusivamente sociais das identidades
subjetivas de homens e de mulheres. (1995, p. 75).
95
transformações (LOURO, 2003, p. 35).
96
Vejamos então como a atividade nas escolas foi conduzida.
97
Foi uma proposta de atividade bastante livre e desafiadora
para os grupos, pois ainda não havíamos discutido sobre questões de
gênero. A ideia dessa oficina era justamente partir do entendimento
da turma a respeito das construções das identidades de gênero, sem
que se dessem conta de que estavam ou não reproduzindo certos
estereótipos de masculinidades ou feminilidades.
98
enquadrados na realidade social em que nos encontramos, na família
ou na escola?
Resultados
99
Durante a montagem dos cartazes, a necessidade de definir
uma identidade que correspondesse a esse ideal de sociedade branca
e heteronormativa era evidente em alguns trabalhos apresentados.
Apenas na escola em Bituruna, as turmas apontaram a ‘falta
de opções’ para representar tanto a diversidade sexual quanto a
diversidade étnica.
100
limites impostos pela hegemonia heterossexual (COSTA; PEREIRA;
OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2010, p. 94-95). Ao classificar os sujeitos
a sociedade acaba estabelecendo divisões e atribuindo rótulos
para fixar as identidades, definindo-as, separando, distinguindo e
discriminando, de forma sutil ou violenta (LOURO, 2000, p. 9-10).
101
No que se refere à construção de modelos femininos, a
maioria dos cartazes reproduziram figuras de mulheres magras,
modelos brancas, com corpos esculturais, algumas bem vestidas, com
roupas caras, ou então seminuas. Algumas aparecem na companhia
de homens, ou então, com crianças, representando a maternidade,
tido por muitas pessoas como um ‘ideal’ para o sexo feminino.
102
“Hoje em dia a sociedade da mais valor pra corpo
status social dinheiro fama (sic)” (EJA de Bituruna).
“Para sociedade, o que eles valorizam, é beleza, classe
social, a roupa que veste. Mas na nossa oponião, o
que deveria ser valorizado, é o carater, honestidade
[...] (sic).” (EJA de General Carneiro).
“No mundo atual as pessoas são mais valorizadas
pela aparência, pelo dinheiro, pela fama e posição
social. Infelizmente hoje em dia a sociedade é assim.
Pensamos ao contrario que cada pessoa tem seu
brilho e seu valor, devemos respeitar e aceitar todos
como são. (sic)” (EJA de General Carneiro).
103
Como evidenciou um grupo em General Carneiro em seu
cartaz:
‘VALORIZAÇÃO DA MULHER “ATUAL”
Hoje em dia a mulher é mais valorizada. Em todas as
profissões tem uma mulher atuando. Mas ainda não
foi chegado ao objetivo, porque muitas que trabalham
na mesma profição (sic) e o salário não é igual.
Também hoje em dia apesar de ter a lei a Maria da
Penha, ainda há muitas mulheres submissa (sic) que
se calam diante a violência.’
104
pontuais no que se entende por ser um ‘modelo ideal de homem’.
Destacamos duas características apontadas por alguns deles: 1) ser
um pai presente e 2) ser viril.
105
repousa na repressão necessária de aspectos femininos, induzindo
o conflito entre masculino e feminino. Para Connel (1997, p. 2)
“La masculinidad existe sólo en contraste con la femineidad”10
. Uma vez que a ideia de feminilidade é ser frágil, sensível, emotiva,
sentimental, delicada, a masculinidade vai repousar na oposição de
todos esses atributos, tidos como próprios do sexo feminino.
Finalizando a discussão
REFERÊNCIAS
CONNELL, Robert W. La organización social de la masculinidad. In. Teresa
Valdés y José Olavarría (editores) Masculinidad/es: poder y crisis. Chile: Isis
10 “A masculinidade só existe em contraste com a feminilidade”.
106
internacional, 1997.
LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo. Corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio
de Janeiro: RelumeDumará, 2010.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação
e Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n. 2, jul./dez. 1995.
107
“VISH, SAI DE MIM”: GÊNERO E DIVERSIDADE
SEXUAL PARA ESTUDANTES DO CEEBJA
11 Para o leitor ou leitora que desconhece a linguagem igualitária, utilizamos neste artigo o ‘x’, ‘e’
ou o ‘@’ para designar todas as pessoas, femininas ou masculinas. Essa forma de escrita substitui o uso
do parêntesis ou a barra (o/a; o (a)) e dessa forma não coloco o masculino antes do feminino ou vise-
versa. Se configura assim num discurso igualitário. É uma alternativa na gramática como ato político
em prol da igualdade de gênero.
108
que por vezes a negação dx outrx é uma tentativa de afirmação
e legitimação daquele que x oprime, colocando fronteiras entre
o aceitável, o correto, o normal e o ideal. Sendo assim, devemos
compreender que existe pluralidade entre os indivíduos, e essa
pluralidade não deve ser negada, reprimida, controlada e esquecida.
109
contribuição ao debate da base nacional comum a partir do direito
à aprendizagem e ao desenvolvimento’, de 2014, que fez parte dos
debates para a Base Nacional Comum, que reforçam a necessidade
de falar e ensinar sobre o plural, demonstrando a preocupação em
melhorar a educação, principalmente no que se refere à inserção
de novos sujeitos históricos, de todos os gêneros, sexualidades,
classes sociais, raças, etnias e religiões.
110
os sujeitos, o projeto tem como principal ação a realização de
oficinas com turmas dos CEEBJAs (Centro Estadual de Educação
Básica para Jovens e Adultos) nos municípios de São Mateus do
Sul, Bituruna, General Carneiro, Cruz Machado e União da Vitória,
cidades pertencentes ao Estado do Paraná.
111
Para realizar a oficina foram escolhidos dezesseis conceitos,
que são: gênero, sororidade, masculinidades, feminilidades,
violência contra as mulheres, homofobia, heteronormatividade,
machismo, feminismo, educação sexual, corpo, diversidade
sexual, sexo biológico, identidade de gênero, orientação sexual e
linguagem inclusiva de gênero. Essas palavras foram escolhidas
para que realmente fossem discutidas de forma ampla as relações
entre gênero e diversidade. Essa oficina foi inspirada no texto de
Gabriel Di Pierro e Marília Ortiz intitulado ‘Gênero Fora da Caixa’
(2011), nesse texto os autores abordam várias dinâmicas, vários
conceitos e como esse tema pode ser trabalhado com diferentes
turmas e diferentes realidades.
112
gerar alívio para as minorias, que finalmente estão sendo inseridas
no ensino, existe também a resistência do conservadorismo, como
afirma Dinis:
[...] em um momento histórico em que mais se fala
sobre educar para a diferença, vivemos um cenário
político mundial de intolerância que se repete
também no espaço da vida privada, em determinada
dificuldade generalizada em nos libertarmos de
formas padronizadas de conceber nossa relação com
o outro. (2008, p. 479).
113
um estudante foi o seguinte: “A homossexualidade é uma doença, é
uma escolha ou é sem-vergonhice?”. Essas ideias são bem comuns,
essas falas são originárias de uma época em que a homossexualidade
ainda era entendida como homossexualismo, termo que define a
diversidade sexual como uma doença, posteriormente veio a ideia
de que a diversidade seria uma escolha, e por fim a associação da
homossexualidade à promiscuidade. Todas essas questões foram
criadas para tentar marginalizar e banalizar a pluralidade sexual.
Ainda hoje notamos casos de pessoas que não conseguem aceitar ou
compreender a diversidade e acabam negando a existência desses
sujeitos, o que é bastante problemático. Os sujeitos homossexuais,
assexuais, transexuais, bissexuais, pansexuais e dentre tantas
outras manifestações de sexualidades existentes, devem ser
compreendidos e respeitados, assim como a heterossexualidade é
respeitada e valorizada na nossa sociedade.
114
com a agricultura, principalmente com a agricultura familiar.
Notamos que, para alguns alunxs, a relação entre força física e
capacidade para determinadas funções estão supostamente ligadas
ao sexo biológico do indivíduo, e não é associada a uma construção
sociocultural.
115
machista e misógina, que demonstra que a mulher deve se portar
de maneira ‘frágil, delicada, recatada e do lar’, e quando a mulher
foge desse padrão o dever do homem, que é entendido como ‘forte,
viril e trabalhador’, é de ‘educar’ a sua parceira para que ela se
porte como ‘deve’, nem que para isso seja usada a violência, nas
suas variadas formas.
116
da palavra não.
117
o machismo, a misoginia e o sexismo existentes na sociedade, a
questão que estamos discutindo é que, por anos as mulheres foram,
são e infelizmente continuarão sendo exploradas, inferiorizadas,
assassinadas e tratadas como objeto. Por muito tempo, as mulheres
acabaram separadas ou até excluídas (juntamente com toda a
diversidade sexual, étnica, religiosa, etc.) da sociedade, da cultural,
da política e da economia.
Considerações finais
Ao trabalharmos gênero e diversidade sexual na escola
devemos sempre estar atentos a comentários preconceituosos,
provenientes de uma falta de conhecimento e de um conservadorismo
cultural, e mesmo que ocorram casos de preconceito não podemos
julgar o sujeito, devemos ouvi-lo, questioná-lo e problematizar os
118
comentários numa tentativa de demonstrar outra realidade a ser
pensada e vivida.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Por uma política curricular para a educação básica: contribuição
ao debate da base nacional comum a partir do direito à aprendizagem e ao
desenvolvimento. Versão Preliminar. Brasília: MEC, 2014.
119
depois dos Parâmetros Curriculares Nacionais. In: CERRI, Luiz Fernando (org.).
Ensino de História e Educação: olhares em convergência. Ponta Grossa: UEPG,
2007.
120
HORA DA AVENTURA: SEXUALIDADE
DESROMANTIZADA E NOVAS ABORGAGENS DE
GÊNERO NA PROGRAMAÇÃO INFANTIL
Elaine Schmitt
121
parte de uma nova forma de se pensar a programação infantil e
a influência que ela exerce sobre a visão e o comportamento das
crianças.
A televisão e a criança
122
. No primeiro bimestre de 2015, o número de assinantes do
serviço era de 18,26 milhões. Tais dados representam somente o
Brasil, entretanto, é possível imaginar a grande parcela mundial,
principalmente de países desenvolvidos, que também possuem
acesso a esta vasta gama de canais. Segundo dados da Revista
Exame, o mercado americano contava em 2010 com 59,8 milhões
de assinantes, prevendo aumento significativo para o futuro:
Em termos de projeções futuras, um estudo
da MagnaGlobal publicado pela publicação
especializada Multichannel News mostra que o
mercado de TV por assinatura em geral nos EUA
(incluindo todas as tecnologias) deve fechar o ano
com 106 milhões de assinantes de TV paga, número
que deve crescer a 111 milhões até 2016. (EXAME,
2011).
123
Sobre uma interação cada vez mais constante entre o meio
e a infância, Pacheco (1998) alerta para necessidade de se pensar
a criança como um ser social determinado historicamente, que
influencia e é influenciada. Assim, a TV possui um papel importante
na sua vida, pois funciona como fonte onde ela extrai material
para organizar e interpretar suas experiências vividas. Conforme
Guareschi (1998, p. 90), muitas pesquisas já se detiveram na análise
de conteúdo apresentado pelos meios de comunicação de massa
e concluíram que estes podem, muitas vezes, levar à criação de
comportamentos individuais e sociais, bem como ao conformismo e
a reafirmação de estereótipos.
Além de a comunicação construir a realidade,
ela constrói com determinada conotação, com
determinada dimensão valorativa: as coisas são
passadas para nós como se fossem positivas
ou negativas, como se fossem boas ou más.
(GUARESCHI, 1998, p. 91).
124
uma oferta de vinte e quatro horas de atrações. Atualmente, são doze
canais infantis, digitais e em alta definição, disponíveis nesse tipo de
serviço. De acordo com o autor, um dos fatores que favoreceram essa
situação foram as denúncias e reivindicações pelo fim da erotização,
costumes e excesso de propaganda direcionada para o público
infantil em canais abertos. Com isso, tais canais passaram a investir
na TV por assinatura, onde a produção e a utilização de formatos
comerciais ficam a critério da própria emissora. Nesse ambiente de
maior independência, Borges afirma que, do viés publicitário, os
canais infantis ficam entre os líderes de audiência.
125
necessidade da programação infantil, que por muito tempo produz
determinismos e reforça comportamentos e posições sociais, morais
e de gênero.
13 Tal característica também facilita a exibição de episódios que não precisam ser
seguidos diariamente para que sejam compreendidos. Eles iniciam e encerram a história
em cada episódio.
126
Grande parte dessas produções possuía semelhanças no roteiro
ao apresentar personagens desprovidos de problemas pessoais ou
afetivos, sejam familiares ou amorosos, além de possuírem foco nulo
sobre sexualidade14. Muitos eram heróis, assumindo sumariamente
o lado de um bem ideal, incorruptíveis e advindos de um núcleo
familiar previsto como ‘tradicional’. Alguns possuíam, ainda, um
amor romântico e idealizado, com historias que se encaixam na
jornada cíclica de narrativa da Jornada do Herói15. A exposição a
estes determinados desenhos, em uma infância que dura cerca de
10 anos, traz internalizações na forma de ver o mundo, entender as
relações e identificar-se com o outro e podem ser percebidas nas
falas, desejos e brincadeiras infantis.
127
e com situações que são, a princípio, desconexas ou de grandes
reflexões sobre a vida. Além disso, existem relações inéditas do
ponto de vista amoroso, familiar e de identidade sexual. Entender
essa programação que vem sendo oferecida ao público infantil pode
levar à compreensão de inúmeros comportamentos, pensamentos
e conceitos que, como efeito, podem ser internalizados pelos
consumidores.
Figura 1 - capa ilustrativa para divulgação do seriado, com Jake e Finn no centro.
128
do Primetime, duas nomeações para o Critics’ Choice Television
Award e para o Festival Sundance de Cinema. Em 2013, ganhou um
Motion Picture Sound Editors Award e um prêmio British Academy
Children’s Award.
De acordo com um comunicado de impressa do Cartoon
Network, a grade horária do episódio exibido, intitulado “Pânico na
Festa do Pijama”, teve um aumento de três dígitos de porcentagem
comparado ao mesmo período do ano anterior. O episódio foi visto
por 1,661 milhões de crianças entre 2 a 11 anos, um aumento de
110%, enquanto foi visto por 837 mil crianças entre 9 a 14 anos, o
que equivale a um aumento de 239%.
129
“Lembranças da Montanha Boom Boom”. Nele, Finn é abandonado
por seus pais em uma floresta até que os pais biológicos de Jake
o adotam. Assim, Jake e Finn se tornam amigos e aventureiros
profissionais, passando a desbravar masmorras e resgatar as várias
princesas que habitam a região. O sistema político de Ooo é análogo
ao medieval, constituído por diversos reinos com características que
diferem entre si, como o Reino de Fogo, das Nuvens ou o Reino
Gelado. O Reino Doce é governado por Princesa Jujuba, onde tudo
e todos são feitos de doce. Finn foi jurado seu paladino e possui a
missão de proteger a princesa e o reino de todas as ameaças.
130
disso, trabalha com questões de maior profundidade como medo,
questionamentos existenciais e aborda relações de gênero além do
sistema binário.
131
primeiro episódio da série e sempre demonstraram afetividade entre
si. Porém, subvertendo a construção tradicional de uma animação
infantil, na quarta temporada Lady revela a Jake que está grávida.
A reação do Jake à notícia demonstra que a gravidez foi um grande
acidente.
132
contato físico com sua namorada e não podia.
133
Jujuba, e retoma a promessa que fez um dia, de proteger a princesa
e seu reino. Com isso sai da depressão e reencontra o sentido de sua
vida, que é ser um paladino aventureiro.
134
personagem Dona Tromba, uma idosa elefanta que, em certo
episódio, quer beijar seu namorado em público e fica ofendida que
todos se enojem e exijam que o casal faça isso escondido. Além
disso, existe BMO, o videogame e amigo de Finn e Jake que tem sua
ausência de gênero constantemente trabalhada na série, ora dizendo
sentir-se um menino e ora dizendo sentir-se uma menina.
135
sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou
masculino em uma sociedade e em um dado momento histórico:
Para que se compreenda o lugar e as relações de
homens e mulheres numa sociedade importa observar
não exatamente seus sexos, mas sim tudo o que
socialmente se construiu sobe os sexos. O debate vai
se constituir, então, através de uma nova linguagem,
na qual gênero será um conceito fundamental.
(LOURO, 1997, p. 21).
136
plurais ou múltiplas identidades, que se transformam e que não
são fixas ou permanentes, podendo apresentar-se contraditórias.
Naturalizar essa pluralidade de identidades desde o desenvolvimento
infantil dos sujeitos é uma forma de desconstruir preconceitos
reafirmados por séculos sobre homossexualidade, identidade sexual
e modelos de relação. Ao identificar o outro e percebê-lo como algo
normal e que merece respeito, muitas crianças podem fazer relação
com a forma com que elas mesmas se identificam, com gostos e
comportamentos variados, nem sempre representados em meio a
construções hegemônicas de gênero.
Considerações Finais
137
o artigo tentou argumentar pontos que transformam Hora da Aventura
em uma série inovadora. Essa novidade pode ser o primeiro passo
para uma nova gama de produções infantis, que se desprendem de
padrões morais ultrapassados e encaram a realidade como ela é:
desromantizada e plural.
REFERÊNCIAS
BORGES, A. R. O auge e o declínio da programação infantil na TV comercial
brasileira. Mediação, Belo Horizonte, v. 14, n. 15, jul./dez. de 2012. Disponível
em: <http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/view/1357/926> Data de
acesso: 03/02/2016.
138
PACHECO, E. D. Infância, cotidiano e imaginário no terceiro milênio: dos
folguedos infantis à diversão digitalizada. In: Televisão, criança, imaginário e
educação. Campinas: Papirus, 1998.
139
HISTÓRIA DAS MULHERES: O QUE LER?
André Bueno
140
seus conceitos e contextos.
141
históricas e conceituais. Apenas para citar um exemplo: muitos textos
públicos feministas brasileiros, disponíveis na rede, praticamente
não citam a obra basilar de Lélia Gonzalez [1935-1994], autora
indispensável para se conhecer a trajetória do Feminismo no Brasil.
Seus livros continuam, em grande parte, distantes do grande público,
carecendo de reimpressões ou mesmo, de maior divulgação em sites
de downloads, algo tão trivial nos dias de hoje. É muito mais comum
citarem-se autorxs estrangeirxs, conectando-se com propostas
feministas advindas da Europa e Estados Unidos, deixando de lado
significativas produções brasileiras. Não afirmo isso em função de
qualquer forma de nacionalismo redundante: simplesmente, faço
o convite à leitura dessa autora, cuja atenção à cultura brasileira
antecedeu em muito [ou mesmo, deu origem] a várias afirmações
feministas atuais, tornando-a uma leitura indispensável para as
questões de gênero no Brasil.
142
de fácil aceitação dada sua superficialidade.
143
todo e qualquer discurso que proponha reformas sociais e culturais;
e por isso, é importante conhecer as fontes históricas, para saber
do que se tratam, e quais suas contribuições ou influências para o
contexto atual.
144
das personagens cotidianas, agentes da mudança, cuja ausência dos
nomes não implica de modo algum numa menor importância no
curso da História.
Descobertas
145
grande período da História das Mulheres seria coberto apenas pela
escrita dos homens. Mas trata-se de um ledo engano. Apenas para
exemplificar, mais uma vez: o primeiro texto de autoria reconhecida,
na História da Humanidade, é o de Enheduana, sacerdotisa da antiga
Mesopotâmia [datas: séc. 23 AEC]. Sim, o primeiro escrito de quem
conhecemos a autoria é feminino. E se trata de uma luta política e
religiosa acerba, o que nos indica que a produção textual masculina
posterior não nos revela, de fato, as condições gerais da sociedade
em sua profundidade.
146
o controle político masculino procurou, gradualmente, banir o seu
papel na história, restando-nos apenas materiais seletos. Portanto,
até que a arqueologia possa virtualmente reverter esse quadro, resta-
nos especular, por exemplo, o que Hipácia de Alexandria [séc. 5
EC], última grande filósofa, teria descoberto acerca da Astronomia
e das ciências naturais.
147
Feministas
148
brigar pelo direito das mulheres serem alfabetizadas e educadas
numa escola. Nísia fundou educandários, lutou pela emancipação
feminista, foi também abolicionista e marcou o início de uma longa
história de lutas em nossas terras. O feminismo brasileiro, pois,
nasceu junto com a História do Brasil Nação.
Controvérsias
149
do ensaio: é necessário conhecer um pouco melhor o passado para
entendermos o que discutimos agora. As pautas contemporâneas da
agenda feminista devem tomar conhecimento dessas leituras, no
sentido de melhor se estruturarem para respondê-las.
150
Uma nova geração de escritoras feministas foi construindo
o quadro das reivindicações contemporâneas. Shere Hite [1980]
conseguiu chamar a atenção mundial com a publicação de sua
extensa pesquisa sobre o prazer feminino e as relações de gênero.
Em outra direção, Naomi Wolf [1992] cunhou termos como
‘Ditadura da Beleza’ para revelar o domínio do corpo feminino
através dos padrões estéticos, ligados a heranças culturais de
orientação machista. Especialistas em Ciências Humanas como
Joan Scott [1991], Michelle Perrot [1993 e 2013] e Judith Butler
[2003] colocaram as questões de gênero e a História das Mulheres
como um campo bem determinado dentro – e fora – da academia.
A passagem do século 20 para o 21 assistiu o surgimento de um
número substancial de intelectuais feministas, das mais diversas
orientações, capazes de propor e promover questões e ações ligadas
às múltiplas pautas feministas da Contemporaneidade.
151
feminista; todavia, o estudo das condições históricas, culturais e
sociais que permeiam as relações de gênero é também indispensável
para garantir uma formação sólida, e uma argumentação segura.
152
e sexualidade, parece ser a única via possível para uma futura
existência humana, isenta dos violentos conflitos materiais e culturais
que continuam a nos assolar. Nesse sentido, torna-se indispensável o
estudo, o conhecimento, e a promoção de uma Educação inovadora,
desligada das utopias conservadoras misóginas que querem retomar
um mundo que não mais existe – ou, que talvez nunca tenha existido
de fato. Assim, pois, fica a oferta desse despretensioso ensaio, e o
convite a leitura de nosso pequeno livro Textos sobre História das
Mulheres.
REFERÊNCIAS
BUENO, André. Textos sobre História das Mulheres. [Introdução por Dulceli
Tonet Estacheski] Rio de Janeiro/União da Vitória: LAPHIS/Revista Sobre
Ontens, 2016. Disponível em: <http://revistasobreontens.blogspot.com.br/p/
livros.html>
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero. São Paulo: Civilização Brasileira, 2014.
HITE, Shere. O relatório Hite. São Paulo: Difel, 1980
MILLETT, Ket. Política Sexual. Lisboa: Don Quixote, 1970.
PERROT, Michelle, Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2013.
PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente. Lisboa: Afrontamento,
1993.
SCOTT, Joan. Gênero uma categoria útil de análise histórica. Recife: SOS
Corpo, 1991.
WOLF, Naomi. O Mito da Beleza. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
153
REVISTA REALIDADE: AS MULHERES DIANTE DO
SEXO - UMA DÉCADA QUEBRANDO TABUS
Thays Bieberbach
154
apenas aqueles que desejavam uma sociedade ordeira. Para impedir
que as notícias sobre as atrocidades do governo chegassem à
população, aumentaram o controle sobre a imprensa, tanto que boa
parte da população não imaginava o que o governo fazia. A Lei da
Imprensa demorou quatro anos para se fortalecer no Brasil, começou
a ser editada em 1964, mas só foi concluída em 1968.
Entre os anos de 1964 até 1968, ano da edição do
Ato Institucional n º. 5, podemos considerar que a
censura não foi tão rígida, não que não tenha existido,
pois filmes foram censurados já em abril de 1964,
assim como jornalistas foram presos também nesse
período, mas ela não era sistemática, não possuía
todo poder e aparato que ganhou nos anos seguintes,
e com a edição do AI-5 o governo adquiriu um poder
de controle muito maior sobre a imprensa. Caberia
à imprensa manter a população “informada” do que
acontecia no país, noticiar “um país que vai pra
frente”. (SAMWAYS, 2008, p. 5).
155
Foi nesse período que foi registrado o maior número de
censuras a livros e revistas da época, e o seu Ministro da Justiça
Armando Falcão, ficou conhecido como o maior censor do Brasil,
principalmente quando se tratava de sexualidade. Porém antes
de deixar o governo, ele começou a desmontar ferramentas que
permitiam manter o controle da liberalização política. Ele enviou ao
congresso uma emenda, pedindo a extinção do Ato Institucional 5,
o que aconteceu em 1978. A Lei da Segurança Nacional continuou
em vigor, mas possibilitou aos movimentos igualitários ganharem
força no país.
No mesmo período no Brasil com o surgimento das redes de
pesquisas formadas na década de 1970 (PEDRO, 2006), o conceito
gênero começou a ser discutido no início dos anos 80, e passou a
ser usado como conceito no final da década. Na obra de Ilze Zilbel
(2012), ela narra como o conceito de gênero foi trabalhado no
Brasil e para entendê-lo, precisamos entender como o movimento
feminista brasileiro cresceu na segunda metade do século XX e se
organizou no meio de uma onda de modernização da sociedade e
de decisões políticas estatais que aumentavam as hierarquias e as
desigualdades sociais no país. As feministas começaram a se reunir
em universidades e precisavam mostrar que tinham relevância e
legitimidade de pesquisa sobre as mulheres. Os temas inicialmente
eram sobre a condição feminina e levantamentos de dados sobre a
condição das mulheres no Brasil. Por causa da ditadura militar, o
feminismo se aliou a outros grupos de resistências e lutaram por
várias causas, principalmente pelo direito das mulheres. Chyntia
Sarti (2004) em seu artigo “O feminismo brasileiro desde os anos
156
1970: revisitando uma trajetória”, narra as alianças feitas com
partes da igreja católica, como resistência à ditadura e como o termo
feminista era considerado pejorativo e com a abertura política os
grupos feministas começaram a aparecer com força.
157
ou filósofos quase sempre pelo viés da repressão. A sexualidade
analisada por Foucault, ao nível do discurso, é incitada e não
repreendida. “Não se fala menos do sexo, pelo contrário. Fala-se
dele de outra maneira; são outras pessoas que falam, a partir de
outros pontos de vista e para obter outros efeitos”. (FOUCAULT,
1995, p. 29-30).
158
transmitisse a reportagem com uma ideia real do fato. A Revista
Realidade durou dez anos e rompeu com todos os padrões estruturais,
tinham vários assuntos em pauta, a ordem simbolizada pela família,
sempre estava presente porque era ela que sustentava muitos tabus,
a revista buscava mostrar a liberdade que precisava transparecer.
Não havia pretensão de mudar o mundo ou de desafiar governos,
mas influenciou diretamente na quebra de tabus, na transformação
do pensamento da época. Priorizavam assuntos permanentes, com
profundidade. As publicações também fugiam dos padrões na direção
de arte e da fotografia, as matérias eram bem elaboradas, alfinetavam
indiretamente o regime militar. Ela dizia o que não era dito, e faziam
isso de uma forma que quem lia entendia as entrelinhas.
159
diferente, era ousada, criativa e profunda. Cada edição era temática
e buscava quebrar tabus, isso tanto agradava como incomodava.
Ela trazia em suas edições pesquisas sobre sexo, divórcio, gravidez,
anticoncepcional, prostituição, homossexualidade, trabalho,
mulheres independentes, abria espaço para as mulheres falarem,
mostrando que elas deveriam ter um ideal de conquista. A revista foi
acusada diversas vezes pelo moralismo e conservadorismo da
sociedade de publicar assuntos abusivos.
160
Ingrid Thulin afirmava que a liberdade da mulher levava
inevitavelmente a um novo sentido de família.
161
de um defensor da família e terminou a matéria com o que seria a
primeira grande pesquisa da Realidade, um cartão-resposta, anexado
à revista, em que o leitor responderia a pergunta: “O que pensa do
divórcio?”. Essa matéria foi feita no período que o governo discutia
um novo código civil.
Fonte: realidade-revista.blogspot.com
162
da estrutura social. Nesse período surgiu uma mitologia de que
toda estrutura da sociedade industrial tinha uma massa de jovens
determinados a romper com esses padrões de comportamentos
e pensamentos e que buscavam algo mais autêntico, a Realidade
soube aproveitar isso.
163
pesquisa, o que, não foi possível, já que a revista recebeu uma
advertência do Juizado de Menores de São Paulo, comunicando que
apreenderiam aquela edição da revista caso publicasse a conclusão
da tal pesquisa que, era obscena e chocante, os 200 mil exemplares
com a conclusão da pesquisa foram recolhidos, antes das bancas
abrirem as portas.
Vamos analisar parte da pesquisa que foi publicada em
agosto de 1966, escolhemos algumas perguntas dentro das tabelas,
para exemplificar o que trazemos nesse trabalho.
O profundo desconhecimento de assuntos básicos
relacionados ao corpo feminino e masculino mostrou o quanto
o discurso sobre o sexo era omisso, algumas questões causaram
conflito entre o conservadorismo e a liberdade.
SP RJ SP RJ TOTAL
1 Com que Até 7 anos 3,2 2,4 4,8 5,2 3,9
idade sentiu
as primeiras Entre 8 e 10 4,4 4,0 13,6 13,6 8,9
sensações anos
sexuais? Ente 11 e 15 48,0 55,6 71,6 69,6 61,7
anos
Ente 16 e 18 21,6 14,8 4,4 4,4 11,6
anos
19 em diante 1,6 2,4 0,4 0,8 1,3
Não respon- 19,6 20,8 4,0 2,4 11,7
deram
Fonte: Revista Realidade, agosto 1966, p. 72.
164
Observamos que grande parte dos jovens que responderam
a questão, sentiram as primeiras sensações sobre sexo entre 11 e 15
anos. Mas há duas faixas etárias que precisamos analisar, a primeira
é dos 8 aos 10 anos, que a maioria cerca de 13% dos meninos
responderam e apenas 4,5% das meninas. E a outra é a faixa etária
dos 16 aos 18 anos que cerca de 18% das meninas responderam e
apenas 4,5% dos meninos. Notamos que os meninos são estimulados
a sentirem as sensações sexuais mais cedo, para garantir a virilidade.
Já as moças, uma boa porcentagem delas respondeu que entre os 16
e 18 sentiram essas mesmas sensações, talvez por medo de admitir
que as sentiram antes.
165
a ser preparados para o casamento, era importante que soubessem
o que aconteceria após a primeira noite, geralmente é dentro dessa
faixa etária que vem a primeira menstruação, a preocupação das
mães com as filhas era grande, uma vez que elas deveriam se guardar
para o marido. Porém precisamos observar a faixa etária de 8 a 10
anos, que cerca de 23% dos rapazes marcaram e apenas 13% das
moças. Os jovens sempre foram estimulados mais precocemente, os
pais tinham a preocupação que seus filhos conhecessem cedo sobre
o sexo e praticassem também.
TABELA 3: INFORMAÇÕES
SP RJ SP RJ TOTAL
166
1. De quem Pai 4,8 6,4 24,8 29,2 16,3
você recebeu
Mãe 40,0 44,0 7,6 9,6 24,3
os principais
conhecimentos Irmão 2,0 4,8 12,0 11,6 7,6
sobre sexua- Irmã 7,6 14,4 1,2 0 5,8
lidade? Pode
Outros parentes 8,8 6,4 8,0 8,4 7,9
sublinhar mais
de uma res- Namorado (ou 10,4 16,0 1,2 4,8 8,1
posta. namorada)
Estranhos autori- 13,6 24,0 22,4 16,8 19,2
zados (médicos,
sacerdotes, etc)
Livros e revistas 44,0 48,0 56,4 46,8 48,9
Colegas e ami- 46,8 36,8 55,6 48,0 46,8
gos
Em aula especial 30,0 25,2 18,8 12,8 21,7
Em aula comum 56,0 52,8 41,6 28,4 44,7
No cinema 4,4 4,4 11,2 12,4 8,1
Por conversa de 11,6 12,8 20,4 21,2 16,5
estranhos ouvi-
das por acaso
Fonte: Revista Realidade, agosto 1966, p. 72.
167
Mas o que chama a atenção são dois itens, um deles é que a
grande maioria das moças e rapazes buscavam informações em livros
e revistas, talvez porque as conversas com os pais não supriam as
dúvidas e curiosidades, buscar as informações em livros e revistas,
poupava os jovens de sentirem vergonha.
168
mostrar a eles as questões sexuais para que a nova geração não
sofresse como a deles.
TABELA 5: SEXO
SP RJ SP RJ TOTAL
Conclusão
169
algo restrito aos consultórios médicos, às confissões e condenado
ao desaparecimento, fazendo crer que os atos ‘ilícitos’ só eram
possíveis em locais rentáveis como a prostituição, não tiveram o
efeito esperado pelo patriarcado e sociedade da época. Foi durante
o século XX que a sexualidade passou a ser pesquisada e divulgada
à população pelas grandes mídias. A Revista Realidade usou uma
metodologia baseada nos números e no maior número de respostas
anônimas, buscando as estatísticas para legitimar as pesquisas,
distribuiu os formulários em São Paulo e no Rio de Janeiro.
170
natalidade, melhor era para a nação, mais pessoas, mais riquezas,
mais forte as forças militares, maior o número de consumidores,
porém com o surgimento da pílula anticoncepcional, esse paradigma
foi quebrado.
171
e livre, potencializando a mulher. A revolução sexual deu o direito
às mulheres de fazer sexo sem casamento e poligâmico. Porém,
essa liberdade não deu uma liberdade real para que elas pudessem
explorar a sua sexualidade. Não é possível decretar que as mulheres
sejam sexualmente livres, quando não são economicamente livres
é como colocar as mulheres numa posição mais vulnerável, de
propriedade e de fácil acesso.
FONTE
Revista Realidade, edição número 05, agosto de 1966. Editora Abril.
REFERÊNCIAS
FARO, J. S. Realidade, 1966-1968 - Tempo da reportagem na imprensa
brasileira. São Paulo: Editora AGE, 19995
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de
Janeiro: Grall, 1986.
PEDRO, M. J. Narrativas fundadoras do feminismo: poderes e conflitos
(1970-1978). Revista Brasileira de História. vol. 26 n. 52, São
Paulo, Dec. 2006.
SAMWAYS, D. Censura à imprensa e a busca de legitimidade no regime
militar. Revista Vestígios do Passado, a História e Suas Fontes. Rio
Grande do Sul, 2008.
ZIRBEL, I. Gênero e Estudos Feministas no Brasil. In: Carla Fernanda
da Silva; Celso Kraemer (orgs.). Corpos Plurais: Experiências Possíveis.
Blumenau: Liquidificador, 2012.
172
UM TEXTO QUALQUER...
Heloyse Tomal19
173
disso? Muitas pessoas dizem que as mulheres não podem carregar
um saco de cimento, por exemplo, mas para quê forçar os músculos?
Hoje em dia existe uma bela tecnologia chamada “roda”, e com ela,
independente do seu sexo, seja feminino ou masculino, você pode
carregar inúmeras coisas do peso que for!
Não são monstros com dentes afiados, não, não. Pois, para
mim, os verdadeiros monstros são algumas pessoas!
174
SUGESTÕES PARA PESQUISAS E REFLEXÕES SOBRE
GÊNERO20
SITES
175
em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relatoriofinal.
pdf
176
• Revista Gênero (Universidade Federal Fluminense – UFF)
disponível em: http://www.revistagenero.uff.br/index.php/
revistagenero
177
institucional-igualdade-sexos-786167.shtml
178
http://www.fazendogenero.ufsc.br/
DOCUMENTÁRIOS
179
• Viviane Mosé – Gênero nas escolas, disponível em: www.
youtube.com/watch?v=HRCfJ3EQQCw
CURTAS METRAGENS
180
• Majorité Opprimée (Maioria Oprimida) – disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=bHJqNpJ8xAQ
ANIMAÇÕES
VÍDEOS ONLINE
181
Faculdade Maringá, disponível em: www.youtube.com/
watch?v=27I5Oscvhjs
SLIDESHARES
FILMES
A cor púrpura
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a se casar com um homem, que na verdade queria a irmã dela como
esposa. Ironicamente, a vida da moça começa a mudar quando a
amante do marido mostra que ela pode ser muito mais que apenas
uma serva dele. Em meio à violência doméstica e à ausência dos
filhos, Celine encontra refúgio escrevendo cartas. O contato com
uma missionária na África, por correspondência, muda sua vida.
A garota dinamarquesa
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Billy Elliot
Contra a corrente
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mostra o caminho de autoaceitação percorrido pelo personagem,
superando não só os preconceitos da comunidade, mas os seus
próprios.
Sinopse: “Nunca fui uma mulher, mas lógico que nunca vou ser
um homem”. A frase de Bianca Soaresdá uma mostra da discussão
proposta pelo premiado documentário brasileiro, da psicanalista
Miriam Chnaiderman. O filme traz entrevistas com diversas
personalidades que, em suas histórias de vida, colocaram em
perspectiva o modelo de identificação binário homem/mulher, e
questionaram os estereótipos construídos para cada um dos sexos.
São entrevistados o cantor Ney Matogrosso, a cartunista Laerte, a
atriz Rogéria e o estilista Johnny Luxo, entre outros.
185
se discutir a relativa e crescente autonomia que os adolescentes vão
conquistando à medida que amadurecem.”.
Laurence Anyways
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na Califórnia, como membro da Câmara de Supervisores de São
Francisco. Milk iniciou seu ativismo opondo-se à violência policial
contra a comunidade gay. O filme pode servir como um disparador
para debater a questão da luta pelos direitos humanos e civis da
comunidade LGBTTIQ.
O Sorriso de Monalisa
Persépolis
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Sinopse: Marjane Satrapi é uma garota iraniana de 8 anos, que sonha
em se tornar uma profetisa para poder salvar o mundo. Querida pelos
pais e adorada pela ave, Marjane acompanha os acontecimentos que
levam à queda do xá em seu país, juntamente com seu regime brutal.
Tem início a nova República Islâmica, que controla como as pessoas
devem se vestir e agir. Isso faz com que Marjane seja obrigada a usar
véu, o que a incentiva a se tornar uma revolucionária.
Tomboy
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convertê-lo. Bree não desfaz o mal-entendido, mas o convence a
acompanhá-la de volta para Los Angeles.
XXY
SÉRIES
Masters of Sex
The Lottery
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levando o planeta ao risco de uma extinção da raça humana. Tentando
reverter o quadro, um grupo de cientistas consegue fertilizar 100
embriões em laboratório. Uma loteria é organizada pelo governo
americano para selecionar as 100 mulheres que receberão os
embriões.
190
SOBRE XS AUTORXS
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História pela Universidade Federal do Paraná – UFPR (Bolsista
CAPES), com período sanduíche na Université Franche-Comté
(Besançon/França), com a tese Arte & Anarquia: uma ética de
existência em Roberto Freire. Possui experiência em História
Contemporânea, com pesquisa nos seguintes temas: cultura
afrobrasileira, gênero, corpo e educação.
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instituição. Mestrado em História pela Universidade Federal do
Paraná. Está cursando o doutorado em História pela Universidade
Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora do curso de
História da Universidade Estadual do Paraná, campus de União
da Vitória, nas disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino de
História, Estágio Supervisionado, Didática da História. É orientadora
do projeto ‘Gênero e Diversidade Sexual: ações afirmativas para
combater a violência’ que gerou esse livro. Co-fundadora do
LAPHIS - Laboratório de Aprendizagem Histórica – UNESPAR,
campus de União da Vitória. Membro do coletivo feminista Mais
que Amélias. Pesquisa nas áreas de ensino de história e estudos de
gênero, focando atualmente na questão da violência de gênero.
193
Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória. Mestre
em História pela Universidade Federal do Paraná, na área de Cultura
e Poder e doutorando em Educação pela UFPR na área de cultura,
escola e ensino. Professor do Curso de História, da UNESPAR -
FAFIUV - Universidade Estadual do Paraná - campus União da
Vitória. Membro do Conselho de campus (2014-2015). Desenvolve
projetos de pesquisa em História da Alimentação, Modernidade,
História do Paraná, História Local, Aprendizagem e Ensino de
História. Desenvolveu como Coordenador o Projeto: Os Catadores
da Margem Esquerda: Coleta e Sobrevivência no Médio-Iguaçu
no século XXI, vinculado ao programa de extensão Universitária,
Universidade Sem Fronteiras, Fomentado pela Secretaria de Estado
de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI, do Estado do
Paraná. Coordena projeto de pesquisa e extensão - Linguagens e
Tecnologias para o Ensino de História - Fundação Araucária e
o projeto Gênero e Diversidade Sexual: Ações afirmativas para
combater a violência - Universidade Sem fronteiras - SEED - PR.
Membro fundador do LAPHIS - Laboratório de Aprendizagem
Histórica - UNESPAR FAFIUV, Participou do Comité de Ética
da referida instituição (2013-2014). Chefe do Arquivo Histórico
UNESPAR-FAFIUV desde 2014. Presidiu o Instituto de Ensino,
Pesquisa e Prestação de Serviço em União da Vitoria - Paraná (2011-
2012). Membro do Grupo de Pesquisa - Grupo de Investigação sobre
o Movimento do Contestado - vinculado a UFSC - CNPQ, Membro
do grupo de Pesquisa História Intelectual, História dos Intelectuais
e Historiografia - vinculado a UFPR-CNPQ e Membro do grupo
de Pesquisa Cultura, Práticas Escolares e Educação Histórica -
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vinculado a UFPR-CNPQ. Pesquisador vinculado ao Laboratório
de Pesquisa em Educação Histórica – LAPEDUH – UFPR.
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Interdisciplinares da Comunicação, desde 2013). É editora da Revista
Internacional de Folkcomunicação (RIF) e bolsista produtividade em
Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico/Extensão pela Fundação
Araucária/SETI (2014-2016).
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– União da Vitória. Desenvolve pesquisa nas áreas de gênero e
sexualidade. Feminista fundadora do Coletivo Feminista Mais Que
Amélias (União da Vitória /PR e Porto União/SC), e mãe do Lucas.
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