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RESUMO
O artigo se refere ao relato de experiência e resultados obtidos pelo trabalho de inventário da
arquitetura ítalo-gaúcha em madeira na cidade de Pato Branco e municípios próximos do Sudoeste
do Estado do Paraná. Desenvolvido pelos autores em conjunto com alunos do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Faculdade Mater Dei desde 2013, tem como objetivo principal a educação patrimonial
e a valorização da cultura local por meio do cadastramento da tradição construtiva regional,
transformando o discente em agente patrimonial e elemento aproximador entre a comunidade e a sua
própria história. A salvaguarda dos bens é dificultada pelo desenvolvimento econômico em contraste
com a simplicidade desta arquitetura vernacular. Orientados pelos autores, os estudantes são
responsáveis por localizar e enumerar os imóveis de interesse, documentar graficamente por meio de
desenhos técnicos e modelos físicos e registrar a memória dos moradores originais. O trabalho
resultou, em 2015, uma exposição de maquetes de repercussão estadual junto à comemoração dos
cinquenta anos da Igreja Matriz de Pato Branco, e incluiu a recuperação do desenho da igreja original
em madeira. A pesquisa encontra-se em processo de inventário urbano, com a catalogação de
aproximadamente 380 edificações construídas entre o início e o meio do século XX.
Imagem 01: Maquetes preparadas pelos alunos. Fonte: Marco Gabriel, 2015.
A destinação agrícola inicial da região de Pato Branco faz com que os gringos
desenvolvam ali, inicialmente, uma arquitetura em madeira de forte caráter rural, como os
telhados de duas águas e sótãos expressivos conforme atestam fotos da década de 1940. O
conjunto residencial em torno da pequena Igreja de madeira era basicamente composto por
construções de um pavimento implantadas sobre o alinhamento predial das precárias
estradas de terra.
Entretanto, houve uma clara mutação dessa arquitetura em direção às tipologias
citadinas nas décadas seguintes. O sucesso comercial do surgimento das serrarias
expandiu o centro urbano de Vila Nova e lhe deu vocação comercial. Proliferaram, neste
momento, volumes arquitetônicos em madeira de até três andares, fortemente conectados
com o alinhamento predial devido à função comercial do térreo, no centro da colônia. Os
telhados altos com sótão, sem clara função no meio urbano, cedem lugar às coberturas de
quatro ou mais águas feitas com telhas francesas. As posturas urbanas e características da
estrutura de madeira sem reforços diagonais desencoraja a criação de projeções
volumétricas (com a exceção de pequenos avarandados), dando às edificações um aspecto
robusto e essencialmente prismático. Apesar da estreita ligação entre a implantação e o
traçado viário, os volumes afastam-se nas laterais dos terrenos, dadas às necessidades de
insolação e ventilação do material.
Os esforços decorativos são mínimos, sendo basicamente compostos por chanfros e
balaústres em janelas e avarandados. Há, porém, um esforço contínuo de alinhamentos
entre os elementos das fachadas, que lhes confere um aspecto clássico, mesmo que não
haja qualquer menção física à modenaturas ou arquiteturas em relevo. O fato também é
auxiliado por certa regularidade de proporções verticais das janelas tipo guilhotina e portas
em pranchões de madeira, que lhes garante um aspecto de ritmo.
A unidade estilística destas construções é um forte indício da popularização da
técnica ítalo-gaúcha, que se sobrepõe às contribuições construtivas de outras populações
de descendência europeia. Por meio da análise de fotografias antigas, foi possível localizar
poucos exemplares de casas com telhado tipo bungalow (ou chanfrado), tipologia descrita
por Batista (2007, p.48) como de influência germânica e normanda, da qual não há mais
registro. Em Palmas-PR, a 100 km de Pato Branco, há pelo menos três exemplares bem
conservados desta técnica no reduzido conjunto remanescente do município, o que é
possivelmente fruto da proximidade com Santa Catarina e da arquitetura teuto-brasileira do
estado vizinho. Esta estética também possivelmente foi ignorada em Pato Branco pela
escassez de mão-de-obra de carpintaria especializada que o estilo demanda. Também não
há qualquer indício de influência do ecletismo que se manifestou sobre a arquitetura em
madeira de Curitiba e região, fortemente marcada por valores decorativos ditos românticos e
pela contribuição de descendentes de poloneses e ucranianos.
As exceções à típica ausência de estilo da arquitetura vernacular local são dois
edifícios com funções especiais e que já que foram demolidos: a segunda igreja em madeira
edificada na cidade (conhecida como Igrejinha) e o edifício original do Colégio Vicentino
Nossa Senhora das Graças.
Imagem 02: Rua Tapajós em 1948 e a Igrejinha. Fonte: Instituto Prosdócimo Guerra.
Após o início modesto das serrarias familiares, a cidade recebe madeireiras que
industrializam “o pinho em grande escala para comercialização nos maiores centros
consumidores do país e no exterior” (VOLTOLINI, 2000, p.64), introduzindo métodos mais
modernos, como a Serra Tissot e a serra Pery. Entretanto, a exploração desenfreada da
mata de araucárias da região acaba por sinalizar o precoce fim do ciclo da madeira. Em
1967, ano da criação do IBDF (Instituto Brasileiro De Desenvolvimento Florestal), Pato
Branco havia consumido cerca de 95% da sua floresta de pinheiros. O fomento às empresas
de reflorestamento, que introduziram espécies exóticas no Brasil como os Pinus, aliadas às
novas legislações de exploração da madeira, acabaram por cercear a atividade comercial
em larga escala das serrarias do município. Uma vez que Pato Branco não foi incluído em
nenhum programa de reflorestamento na época, outros ciclos econômicos acabaram por
prevalecer (VOLTOLINI, 2000).
É também entre o final da década de 50 e início anos 60 que a cidade passa a
receber as primeiras edificações monumentais em alvenaria, além da introdução do
concreto, que trazem ao centro as aspirações do modernismo tardio pós-Brasília. A primeira
construção imponente, a atual Igreja Matriz São Pedro Apóstolo, projeto atribuído a Benedito
Calixto de Jesus Neto (POZZA, 2014), foi edificada em blocos cerâmicos autoportantes e
possui características semelhantes ao neorromânico, mesmo estilo empregado pelo
arquiteto em sua obra mais famosa, a Basílica do Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Os primeiros edifícios modernistas da cidade, entre eles a atual Prefeitura e o
Colégio Agostinho Pereira, inauguram a tendência de substituição dos antigos casarões de
tábuas por edifícios contemporâneos, processo que se intensifica a partir dos anos 1970.
Ainda nos anos 60, a popularização de elementos industrializados, principalmente as
esquadrias de ferro e vidro do tipo “vitraux”, passam a ocupar o espaço das tradicionais
janelas guilhotina em madeira (IMAGUIRE JR; IMAGUIRE, 2011), causando uma
modificação no padrão da arquitetura tardia do ciclo e, em certo grau, inaugurando a
tendência de substituição de elementos por soluções mais modernas que se verifica dali
para frente.
Zani acredita que:
Imagem 03: Residência da década de 1960 no interior do município. Fonte: Marco Gabriel, 2016.
3. Resultados do trabalho
Imagem 04: Exposição “Comunidade é Igreja”, realizada em 2015. Fonte: Ivilyn Weigert, 2015.
4. Bibliografia
CANTÚ, Jandira Stahlchmidt. Coronel Vivida: Sua História, sua Terra, sua Gente. Coronel
Vivida: Palmas, 2006.
POSENATO, Júlio (Org.). Antonio Prado: cidade histórica. Porto Alegre: Posenato Arte &
Cultura, 1989. (Imigração Italiana, n96).
POZZA, Alberto. Memórias de Alberto Pozza em Vila Nova de Pato Branco. Pato Branco:
Imprepel, 2014.
VOLTOLINI, Sittilo. Retorno: Origens de Pato Branco. Dois Vizinhos: Artepress, 1996.
VOLTOLINI, Sittilo. Retorno 3: Ciclo da Madeira em Pato Branco. Pato Branco: Imprepel,
2000.
WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2012. (Raízes).
ZANI, Antonio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina: Eduel, 2013. Disponível em:
http://www.uel.br/editora/portal/pages/arquivos/arquitetura em madeira_digital.pdf. Acesso
em: 26 abr. 2017.