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Como Funciona
Aparelhos, Circuitos e
Componentes Eletrônicos
Volume 1

Newton C. Braga

Patrocinado por

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São Paulo - Brasil - 2020

Instituto NCB
www.newtoncbraga.com.br
leitor@newtoncbraga.com.br

Diretor responsável: Newton C. Braga


Coordenação: Renato Paiotti
Impressão: AgBook – Clube de Autores

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Como Funcionam - Aparelhos, Circuitos e Componentes
Eletrônicos - Volume 1
Autor: Newton C. Braga
São Paulo - Brasil - 2020
Palavras-chave: Eletrônica – aparelhos eletrônicos –
componentes – física - química

Copyright by
INTITUTO NEWTON C BRAGA.
1ª edição

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por


qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos,
fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos, atualmente existentes ou
que venham a ser inventados. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou
parcial em qualquer parte da obra em qualquer programa juscibernético
atualmente em uso ou que venha a ser desenvolvido ou implantado no futuro.
Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua
editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e
parágrafos, do Código Penal, cf. Lei nº 6.895, de 17/12/80) com pena de prisão e
multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenização diversas (artigos
122, 123, 124, 126 da Lei nº 5.988, de 14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).

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Índice
Apresentação da Série.................................................................8
Apresentação............................................................................10
O Choque Elétrico......................................................................11
Efeitos da Corrente no Organismo Humano........................11
Eletricistas de “mãos grossas”..........................................13
a) Espessura da pele............................................14
b) Umidade.........................................................14
c) Presença de cortes...........................................15
d) Exposição a partes sensíveis..............................15
A Alta Tensão............................................................................16
O Perigo........................................................................16
A Faísca.........................................................................17
Como Produzir Faíscas.....................................................20
As Válvulas...............................................................................27
A Válvula Diodo..............................................................27
As Válvulas Triodo..........................................................31
Outros Tipos de Válvulas.................................................34
Diferenças Básicas..........................................................35
Clube da Válvula.............................................................36
Indutâncias...............................................................................38
Reforçando O Campo......................................................40
A Indutância..................................................................44
Reatância Indutiva..........................................................46
Indutância.....................................................................47
Reatância e Oscilações....................................................48
Os LEDs.....................................................................................52
Níveis de Energia e Luz Monocromática.............................56
Lasers Semicondutores....................................................61
O Microfone...............................................................................63
a) Fidelidade..................................................................64
b) Sensibilidade..............................................................64
c) Diretividade................................................................64
Tipos De Microfones........................................................65
a) carvão............................................................65
b) Microfone dinâmico...........................................67
c) Microfones piezoelétricos...................................68
d) Microfone de eletreto........................................69

5
Impedância e Nível de Sinal.............................................72
Préamplificadores...........................................................73
Os Alto-Falantes........................................................................77
Tipos de Alto-Falantes.....................................................79
Ligando Alto-Falantes......................................................80
Fones de Ouvido.............................................................86
Conclusão......................................................................86
Alto Falantes Pequenos.............................................................87
Cápsulas ou Buzzers Cerâmicos ................................................90
Como Funciona...............................................................90
Aplicações.....................................................................94
Motores.....................................................................................98
Fundamentos.................................................................98
Motor DC com Escovas..................................................103
Perdas nos Motores DC..................................................108
Perdas nos enrolamentos...............................................109
Perdas pelos contatos....................................................110
Perdas no Ferro............................................................110
Perdas por Frição..........................................................111
Perdas por Curto-Circuito...............................................111
Outras Perdas:.............................................................112
Ripple de Torque................................................112
Desmagnetização...............................................113
Ressonância Mecânica.........................................113
Contra - FEM Induzida........................................114
Motores sem Escovas....................................................114
O Motor Trapezoidal......................................................119
O Motor Senoidal..........................................................121
Torque Constante.........................................................121
Servos Híbridos............................................................122
Motores de Acionamento Direto......................................124
Os SCRs...................................................................................126
Como Funciona o Scr ....................................................126
Tiristores:..........................................................134
As Características dos SCRs.................................134
Aplicações.........................................................136
O Diodo Zener.........................................................................141
O Diodo Zener..............................................................144
Diodos Zener na Prática.................................................146
Usando os Diodos Zener................................................147

6
Outras Aplicações.........................................................152
Supressores de Transientes............................................153
Diodos Comuns como Zeners.........................................153
Laser – O Fantástico Raio da Morte..........................................155
A Natureza da Luz.........................................................155
Com o laser tudo é diferente..........................................157
a) Luz monocromática:.......................................162
b) Diretividade:..................................................164
c) Concentração de energia:................................166
d) Fase:............................................................167
Aplicações....................................................................173
Os Raios Ultravioleta...............................................................176
Propriedades da Luz Ultravioleta.....................................179
Fontes de Ultravioleta....................................................182
Usos do Ultravioleta......................................................183
Os outros mais de 160 livros sobre Eletrônica .........................184

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Apresentação da Série
Esta é uma série de livros que levamos aos nossos leitores
sob patrocínio da Mouser Electronics (www.mouser.com). Os
livros são baseados nos artigos que ao longo de nossa carreira
como escritor técnico publicamos em diversas revistas, livros e no
nosso site. São artigos que representam 50 anos de evolução das
tecnologias eletrônicas e, portanto, têm diversos graus de
atualidade. Os mais antigos foram analisados com eventuais
atualizações. Outros pela sua finalidade didática, tratando de
tecnologias antigas e mesmo de ciência não foram muito
alterados a não ser pela linguagem que sofreu modificações. Os
livros da série consistirão numa excelente fonte de informações
para nossos leitores.
Os artigos têm diversos níveis de abordagem, indo dos
mais simples que são indicados para os que gostam de
tecnologia, mas que não possuem uma fundamentação teórica
forte ou ainda não são do ramo. Neles abordamos o
funcionamento de aparelhos de uso comum como
eletroeletrônicos, não nos aprofundando em detalhes técnicos que
exijam conhecimento de teorias que são dadas nos cursos
técnicos ou de engenharia.
Outros tratam de componentes, ideais para os que
gostam de eletrônica e já possuem uma fundamentação quer seja
estudando ou praticando com as montagens que descrevemos em
nossos artigos. Estes já exigem um pequeno conhecimento básico
da eletrônica. Estes artigos também vão ser uma excelente fonte
de consulta para professores que desejam preparar suas aulas.
Temos ainda os artigos teóricos que tratam de circuitos e
tecnologias de uma forma mais profunda com a abordagem de
instrumentação e exigindo uma fundamentação técnica mais alta.
São indicados aos técnicos com maior experiência, engenheiros e
professores.
Também lembramos que no formato virtual o livro conta
com links importantes, vídeos e até mesmo pode passar por
atualizações on-line que faremos sempre que julgarmos
necessário.

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NEWTON C. BRAGA

Trata-se de mais um livro que certamente será importante


na sua biblioteca de consulta, devendo ser carregado no seu
tablete, laptop ou celular para consulta imediata.
Os livros podem ser baixados gratuitamente no nosso site
e um link será dado para os que desejarem ter a versão impressa
pagando apenas pela impressão e frete.

Newton C. Braga

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Apresentação
Saber como funcionam componentes, circuitos e
equipamentos eletrônicos é fundamental não apenas para os
profissionais da eletrônica que usam de forma prática a
tecnologia em seu dia a dia como também para aqueles que não
sendo técnicos, mas possuindo certo conhecimento, precisam
conhecer o funcionamento básico das coisas.
São os profissionais de outras áreas que, para usar
melhor equipamentos e tecnologias precisam ter um
conhecimento básico que os ajude.
Assim, tratando de conceitos básicos sobre componentes
e circuitos neste primeiro volume e depois de equipamentos
prontos num segundo, levamos ao leitor algo muito importante
que já se tornou relevante em recente estudo feito por
profissionais.
A maior parte dos acidentes que ocorrem com o uso de
equipamentos de novas tecnologias ocorre com pessoas que não
tem um mínimo de conhecimento sobre o seu princípio de
funcionamento.
A finalidade deste livro não é, portanto, ajudar apenas os
estudantes, professores e profissionais, mas também os que
usam tecnologia no dia a dia e desejam saber um pouco mais
para melhor aproveitá-la e não cometer erros que podem
comprometer a integridade de seus equipamentos e até causar
acidentes graves.
Nota importante: componentes básicos como os resistores,
capacitores, indutores, transformadores, diodos, transistores,
também têm a seu princípio de funcionamento explicado na nossa
série de livros “Curso de Eletrônica”. Neste livro, abordamos
alguns componentes que especificamente têm explicações mais
detalhadas do que as encontradas naquelas publicações.

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NEWTON C. BRAGA

O Choque Elétrico
O corpo humano pode conduzir a corrente elétrica. No
entanto, como nosso sistema nervoso também opera com
correntes elétricas, qualquer corrente que “venha de fora”,
consiste em uma forte interferência que pode causar sérios
problemas ao nosso organismo.
Dependendo da intensidade da corrente que circular pelo
nosso organismo, diversos efeitos podem ocorrer.
Se a corrente for muito fraca, provavelmente nada ocorre
pois o sistema nervoso não será estimulado o suficiente para nos
comunicar alguma coisa e as própria células de nosso corpo não
sofrerão influência alguma. Contudo, se a corrente for um pouco
mais forte, o sistema nervoso poderá ser estimulado e teremos
algum tipo de sensação como, por exemplo, um “formigamento”.
Se a corrente for mais forte ainda, o estímulo
proporcionará a sensação desagradável do choque e até a dor.
Finalmente, numa intensidade muito grande, além de
poder paralisar órgãos importantes como o coração, poderá ainda
danificar as células, “queimando-as”, pois correntes intensas
quando encontram certa resistência à sua passagem, geram
calor. A tabela abaixo nos mostra as diversas faixas de correntes
e os efeitos que causam sobre o organismo humano.

Efeitos da Corrente no Organismo Humano


100 µA a 1 mA - limiar da sensação
1 mA a 5 mA - formigamento
5 mA a 10 mA - sensação desagradável
10 mA a 20 mA - pânico, sensação muito desagradável
20 mA a 30 mA - paralisia muscular
30 mA a 50 mA - a respiração é afetada
50 mA a 100 mA - dificuldade extrema em respirar, ocorre
a fibrilação ventricular
100 mA a 200 mA - morte
200 mA - queimaduras severas

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Obs.: 1 µA (um microampère = 1


milionésimo de ampère)

Obs.: 1 mA (um miliampère = 1


milésimo de ampère)

Uma crença que deve ser examinada com muito cuidado,


já que muitas pessoas a aceitam como definitiva, é a de que
usando sapatos de borracha não se leva choque e, portanto,
pode-se mexer à vontade em instalações elétricas. Nada mais
errado!
A eletricidade é perigosa e mesmo usando sapatos de
borracha o choque ainda pode ocorrer, será importante
analisarmos o assunto mais profundamente.
Conforme vimos, uma corrente elétrica só pode circular
entre dois pontos, ou seja, é preciso haver um ponto com
potencial mais alto e um ponto de retorno ou potencial mais
baixo.
A terra é um ponto de retorno, pois conforme vimos, as
empresas de energia a usam para ligar o polo neutro. Isso
significa que, se a pessoa estiver isolada da terra (usando um
sapato com sola de borracha ou estando sobre um tapete de
borracha ou outro material isolante) um primeiro percurso para a
corrente é eliminado, veja a figura 1.

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NEWTON C. BRAGA

Isso quer dizer que, se uma pessoa, nestas condições,


tocar num ponto de uma instalação elétrica que não seja o neutro
e, portanto, houver um potencial alto (110 V ou 220 V), a
corrente não terá como circular e não haverá choque.
Estando isolado da terra e tocando num único ponto de
uma instalação elétrica não há choque. No entanto, o fato de usar
sapatos de borracha não o livra do perigo de choque.
Todavia, se a pessoa tocar ao mesmo tempo num outro
ponto que ofereça percurso para a corrente, quer seja por estar
no circuito para isso, quer seja por estar ligado à terra, o choque
ocorre, independentemente da pessoa estar ou não com sapatos
de sola de borracha, observe a figura 2.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

É por este motivo que uma norma de segurança no


trabalho com eletricidade é a de sempre se tocar apenas num
ponto do circuito em que se está trabalhando, caso exista o
perigo de ele estar ligado. Nunca segurar dois fios, um em cada
mão! Nunca apoiar uma mão em local em contato com a terra,
enquanto se trabalha com a outra!

Eletricistas de “mãos grossas”


Um fato interessante que pode ter sido notado é que as
pessoas podem sentir choques de maneiras diferentes.
Quem já não viu eletricistas calejados que seguram nas
pontas de fios para saber se a tensão é 110 V ou 220 V?
Para os menos experientes - que não façam a experiência
- dizem que se sair fumaça por uma orelha é porque a tensão é
de 110 V e se sair pelas duas, a tensão é 220 V.
Ocorre que, não é o fato de a tensão ser 110 V ou 220 V
que vai provocar a morte pelo choque, mas sim a intensidade da
corrente que circula pela pessoa, de acordo com a tabela que
demos anteriormente.
Assim, 220 V é mais perigoso do que 110 V no sentido de
que, para um mesmo circuito (que tenha determinada
resistência), os 220 V podem forçar a circulação de uma corrente
mais intensa!

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NEWTON C. BRAGA

A intensidade da corrente que vai circular pelo corpo de


uma pessoa vai depender justamente de como essa pessoa pode
conduzir a eletricidade e existem diferenças de indivíduo para
indivíduo. Diversos são os fatores que vão influir nesta
“capacidade” que a pessoa tem de conduzir a corrente elétrica
como:

a) Espessura da pele
Uma pele mais grossa é mais isolante que uma pele fina.
Por esse motivo, os eletricistas “calejados” que possuem a pele
dos dedos bem mais grossas (e sujas!) quase não sentem
choques, pois a intensidade da corrente que pode passar por ela
é muito pequena.

b) Umidade
Uma pele úmida se torna excelente condutora de
eletricidade, principalmente se estiver molhada de suor que, pela
presença de sal, é mais condutora ainda.
Isso torna o choque nas condições de um banho,
extremamente perigoso, pois as correntes podem ser dezenas de
vezes maiores do que em condições normais.

c) Presença de cortes
Um corte coloca a parte “molhada” de nosso corpo que é
formada pelo fluido sanguíneo e outros fluidos internos em
contato direto com a eletricidade. Esta parte é um excelente
condutor de corrente, aumentando em muito a sua intensidade
em caso de choque.

d) Exposição a partes sensíveis


Um choque nos dedos, onde a pele é mais grossa,
certamente será devido a uma corrente de muito menor
intensidade do que se ele ocorrer numa parte mais sensível com

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

pele mais fina ou úmida. Segurar um fio na boca pode ser


terrivelmente perigoso, para um técnico desavisado.
Existem normas de segurança para o trabalho em
instalações elétricas com o mínimo de perigo de choques, mas o
melhor mesmo é DESLIGAR TUDO antes de mexer em qualquer
ponto da instalação!

Observação importante:

Quando este artigo foi escrito


ainda não estavam em vigor as
normas NBR5410 que
estabeleceram diversas mudanças
para a maneira como as
instalações elétricas devem ser
feitas, também para o formato das
tomadas de força, com a adoção
do terceiro pino. Artigo sobre estas
normas deverá estar disponível no
site. Os conceitos dados valem
para instalações elétricas antigas,
como ainda são encontradas em
muitos locais de nosso país. Para
instalações novas, os leitores
devem consultar as normas
vigentes.

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NEWTON C. BRAGA

A Alta Tensão

Faíscas saltando entre esferas ou fios pontiagudos são


sempre espetáculos muito interessantes, mas também perigosos.
Mesmo partindo de tensões baixas, como as que obtemos
de pilhas, fontes ou, ainda, da própria rede de alimentação,
através de dispositivos especiais, podemos obter tensões muito
altas (MAT Muito Alta Tensão), da ordem de milhares de volts,
capazes de produzir faíscas.

O Perigo
A alta tensão em si não é perigosa, pois o que causa o
dano físico e o choque é a corrente elétrica.
Assim, quando elevamos a tensão de uma fonte qualquer,
a tendência é haver uma redução proporcional da corrente que
podemos obter.
Este é o princípio da conservação da energia, segundo o
qual, não podemos criar nem destruir energia, mas simplesmente
transformá-la.
Assim, se temos uma fonte que nos fornece 12 V sob
corrente máxima de 1A, se conseguirmos elevar a tensão para 12
000 V, podemos ter certeza de que a corrente não passará de
0,001A, ficando reduzida em 1000 vezes também.
A fórmula abaixo nos ajuda a determinar as alterações que
ocorrem numa transformação de tensão, levando em conta que o
circuito seja 100% eficiente (o que não acontece na prática).

V1 x I1 = V2 x I2

Onde:
V1 e I1 são a tensão e a corrente antes da transformação.
V2 e I2 são a tensão e a corrente depois da
transformação.

Em geral, elevando-se a tensão para 20 ou 30 mil volts,


num circuito pequeno, o que obtemos é: uma corrente tão baixa

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

que dificilmente pode ser perigosa, a não ser que ela nos atinja
por muito tempo ou em pontos críticos ou vitais do nosso
organismo, por exemplo, o coração (figura 1).

Figura 1 – Condição perigosa de uma descarga

É claro que, brincar com alta tensão é perigoso.


As advertências que encontramos no interior de televisores
analógicos antigos, onde existem tensões de 15 000 a 30 000V,
são sérias e devem ser levadas em conta. O fato é que podemos
produzir altas tensões para experiências, mas sempre tendo em
mente que elas são perigosas e que nunca devemos desrespeitar
as regras mínimas: não tocar nos elementos vivos, não trabalhar
descalço com nenhum equipamento de alta tensão ou próximo a
objetos metálicos em contato com o solo.

A Faísca
O ar é um bom isolante, não permitindo a passagem de
correntes elétricas. No entanto, se entre dois condutores isolados
por uma camada de ar manifestar-se uma tensão muito alta,
pode ocorrer um rompimento do isolante.
Nestas condições, o ar deixa de ser isolante, permitindo a
passagem da corrente, normalmente de forma violenta. Esta
corrente produz forte aquecimento do ar com a emissão de luz e
som. Temos então uma faísca, conforme mostra a figura 2.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – A faísca ou centelha

O ponto em que o ar “se rompe", deixando passar a


eletricidade, é dado por um fator bem definido, denominado
“rigidez dielétrica".
Toda substância tem sua rigidez dielétrica, ou seja, a
tensão em que ocorre o seu rompimento e, consequentemente a
passagem da corrente. Claro que isso é válido somente para os
isolantes.
No caso do ar seco, nas condições normais de temperatura
e pressão (CNTP), a rigidez dielétrica do ar é da ordem de 10 000
V/cm.
O que significa isso? Significa que, se tivermos dois
condutores esféricos separados a uma distância de 1 cm, para
que salte uma faísca entre eles é preciso uma tensão de pelo
menos 10 kV. Se estiverem separados 30 cm, precisaremos de
300 000 V.
Se os eletrodos forem dotados de pontas, a rigidez
diminui, ou seja, a faísca salta com mais facilidade (figura 3).

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 3- A influência das pontas

Um procedimento simples para se saber quantos volts tem


uma fonte de MAT (Muito Alta Tensão) consiste em se verificar
até que distância entre duas esferas ela consegue fazer saltar
uma faísca.
Mede-se esta distância em centímetros e multiplica-se por
10 000.Se conseguirmos 2,5cm, por exemplo, sabemos que a
tensão é da ordem de 25 000 V. Veja que, para que a faísca se
manifeste, temos que utilizar dois corpos com polaridades
opostas. O que se faz normalmente é ligar um deles à terra,
conforme mostra a figura 4.

Figura 4 – O aterramento

Este procedimento não só ajuda na obtenção das faíscas,


como também serve de proteção. Ligado à terra, pela
proximidade, a preferência para a descarga será justamente este
corpo.

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NEWTON C. BRAGA

Como Produzir Faíscas


Antes do advento dos «dispositivos eletrônicos, as faíscas
eram obtidas exclusivamente por meios estáticos. Máquinas
eletrostáticas produziam eletricidade, que se acumulava na
esfera, até o ponto de se obter uma tensão suficientemente alta
que provocasse a faísca. A eletricidade era gerada porque o disco
forrado de pele de coelho, ou mesmo borracha, se atritava
fortemente em barras de vidro. Outro tipo de aparelho capaz de
gerar tensões entre 20 000 e 500 000 V (e dependendo do
tamanho até mais) é o Gerador Van Der Graaf, que recebeu este
nome em homenagem ao seu criador, um holandês. Ele consiste
numa esfera metálica apoiada em um suporte isolante através da
qual passa uma esteira de material isolante (borracha, plástico,
seda ou outro material), como mostra a figura 5.

Figura 5 – O gerador Van Der Graaf

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Esta esteira é movimentada por uma manivela ou motor e


passa pelo interior da esfera, onde existe uma espécie de pente
condutor. Com o atrito, o pente transfere cargas para a esteira e
a esfera vai ficando cada vez mais carregada de eletricidade.
As cargas que são retiradas do pente (e da esfera) são
levadas pela esteira a um segundo pente, ligado à terra, para
onde escoam estas cargas. Em um dia seco, uma esfera destas
pode ser carregada com tensões de milhares de volts.
Aproximando-se um corpo com conexão à terra, podem
saltar faíscas visíveis de alguns centímetros.
Nos lugares ou dias úmidos, a carga é problemática, pois
as cargas “escapam" da esfera, não permitindo que ela chegue a
uma tensão suficientemente elevada para produzir boas faíscas.
Um dos problemas destes geradores eletrostáticos é que,
uma vez produzida a faísca, precisamos esperar algum tempo
para que as cargas sejam-repostas e uma nova faísca seja
obtida. Em suma, não podemos obter um arco contínuo, mas sim
faíscas de curta duração.
Um processo que apareceu posteriormente fazia uso da
eletricidade dinâmica, ou seja, correntes elétricas passando por
uma espécie de transformador.
Este transformador possuía um enrolamento primário com
poucas espiras, passando por um vibrador, e um secundário com
milhares de espiras.
Fazendo circular uma forte corrente pelo primário, criava-
se um campo magnético que atuava sobre o vibrador,
interrompendo a corrente rapidamente e, com isso, obtinha-se as
variações para indução da alta tensão no secundário.
Esta bobina de centelha (nome dado à faísca que se
produzia) era a base dos primitivos transmissores de rádio.
A centelha era responsável pela produção de sinais
elétricos que, então eram levados a uma antena.
Um dos primeiros transmissores usados por Marconi,
assim como Landel de Moura, no Brasil utilizava esta técnica
(figura 6).
A própria bobina de ignição dos automóveis, que chega a
produzir mais de 60 000V, opera segundo este princípio.
No caso, o vibrador é o platinado e a alta tensão é
aplicada às velas para produzir a faísca no interior do motor.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 6 – A bobina de centelha

Um pesquisador norte-americano chamado Tesla


desenvolveu técnicas interessantes para produzir tensões muito
altas e, com isso, enormes faíscas.
Um dos processos mais conhecidos de se produzir tensões
altíssimas é a chamada Bobina de Tesla ou simplesmente Bobina
Tesla, como vemos na figura 7

Figura 7 – A bobina de Tesla

Ela consiste num primeiro transformador, ou num


oscilador, que produz uma tensão da ordem de 1000 a 5000 V.
Esta tensão é aplicada a um sistema faiscador com
capacitor e bobina, que são calculados para ressoar numa certa
frequência. A faísca produz então cargas e descargas do capacitor
através da bobina, induzindo uma tensão elevadíssima numa

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

segunda bobina. Se a primeira bobina tiver 20 espiras e a


segunda 400, a tensão aplicada ficará multiplicada por 20.
Assim, aplicando 20 000 V no primeiro enrolamento,
obteremos no final do processo uma tensão de 400 000 V e para
5 000 V, a tensão obtida chegará a 100 000 V (figura 8).

Figura 8 – Aspecto da bobina de Tesla

Com tensões tão altas e produzidas de forma a serem


mantidas constantes, pois as cargas perdidas são imediatamente
repostas, podemos obter faíscas potentes e constantes.
Os efeitos que tais faíscas produzem, embora perigosos,
são bonitos, pois a ionização do ar faz com que seja emitida luz
branco-azulada e, em alguns casos, tonalidades verdes e
vermelhas.
Para a produção de faíscas de um corpo a outro, esses
devem ter a forma esférica. Neste caso, a aproximação, a uma
distância que depende da tensão, fará com que a faísca salte,
conforme mostra a figura 9.
Se a esfera ou o ponto em que se obtém a alta a tensão
tiver uma ponta, teremos a manifestação do “efeito das pontas".
Se um corpo carregado 'tiver regiões pontiagudas, as cargas

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NEWTON C. BRAGA

tendem a se acumularem nestas regiões e a escaparem para o ar


ambiente.

Figura 9 – Produzindo faíscas

No caso de tensões muito altas (MAT), este escape se faz


na forma de fluxo luminoso, um jorro de ar ionizado que se afasta
do gerador.
Este é o princípio de funcionamento dos chamados
"Motores iônicos", onde o fluxo pode chegar a 80 000 km/ s
propulsionando naves no espaço. Se aplicarmos tensões muito
altas, da ordem de I0 000 V ou mais, em lâmpadas
incandescentes comuns, de modo que apenas um polo seja
conectado, teremos um efeito muito bonito.
O gás no interior da lâmpada (figura 10), que é o argônio,
se ioniza e formam-se eflúvios de cor azulada ou mesmo
alaranjada em direção ao vidro (veja que no interior das
lâmpadas comuns não se usa mais o vácuo, pois isso causaria o
perigo de uma implosão em caso de batida ou quebra, por isso o
vácuo é substituído por um gás nobre, normalmente o argônio).
Lâmpadas especiais, onde o eletrodo interno é uma esfera,
são usadas em decoração. São as chamadas "lâmpadas de
plasma", já que o estado ionizado do gás no seu interior
corresponde ao que se denomina plasma.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura10 – Produzindo raios numa lâmpada incandescente

Temos ainda um efeito bastante explorado em filmes onde


haja laboratórios científicos ou filmes de ficção: dois arames ou
fios são colocados em forma de V fechado, com a aplicação de
uma tensão muito alta (MAT), conforme a figura 11.

Figura 11 – A escada de Jacó

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NEWTON C. BRAGA

A faísca se forma no ponto em que a distância entre os


fios é menor, ou seja, na base.
No entanto, o aquecimento do ar, pela produção da faísca,
o leva a formar uma corrente ascendente que "carrega" a faísca
para cima. A faísca corre pelos fios, subindo, até desaparecer
num arco na parte superior do V.
Outro fenômeno interessante obtido com tensões muito
altas é o acendimento de uma lâmpada fluorescente pela simples
aproximação do aparelho. A elevada tensão nas proximidades da
fonte de MAT faz com que se tenha a ionização do gás no interior
da lâmpada pela simples aproximação. Com uma tensão de 40
000 V, podemos fazê-la acender à distância, que varia entre 10 e
30 cm (figura 12).

Figura 12 – Acendendo uma lâmpada fluorescente

Existem aparelhos dispondo de circuitos mais modernos


capazes de produzir tensões muito altas para experiências e com
poucos componentes.
No site do autor o leitor encontrar alguns desses circuitos.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

As Válvulas
Os novos na eletrônica talvez nunca tenham montado
alguma coisa que use válvulas e em alguns casos nem sequer
visto um aparelho que use esses componentes antigos, a não ser
como sucata ou em algum museu, casa de antiguidades ou filme
antigo. No entanto, as válvulas são muito importantes e até hoje
existem equipamentos que as usam, pois os componentes
modernos não as superam em desempenho em muitos casos.
Veja neste artigo como funcionam as válvulas e como elas são
utilizadas.
A válvula termiônica, ou simplesmente válvula, tem
algumas desvantagens importantes em relação aos componentes
equivalentes mais modernos, que são os transistores. Ela é muito
maior, trabalha quente e precisa de tensões muito elevadas para
funcionar. No entanto, convenientemente usada ela pode fazer as
mesmas coisas que os transistores e na verdade, faz isso, desde
muitos anos antes de existir o próprio transistor. A válvula foi
inventada muito antes do transistor.
A válvula diodo (de dois elementos) foi quem deu início a
tudo. Ela foi inventada por Fleming em 1904, sendo seguida pela
válvula triodo (de três elementos) que é o equivalente mais
próximo do transistor, que foi inventada em 1906 por Lee de
Forest. Apareceram válvulas com mais elementos depois como a
tetrodo, pentodo, hexodo e outras, mas é da válvula diodo e da
válvula triodo que vamos falar inicialmente neste artigo.

A Válvula Diodo
Se num tubo de vidro fizermos o vácuo, ou seja,
retirarmos todo o ar, e colocarmos um filamento de tungstênio
que possa ser aquecido pela passam de uma corrente, notaremos
um fenômeno interessante.
Em torno do filamento, quando ele é aquecido forma-se
uma espécie de “nuvem” de elétrons que tecnicamente é
denominada “carga espacial”, conforme mostra a figura 1.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 1 – A “carga espacial”, nuvem de elétrons que se forma em torno de


um filamento aquecido num tubo de vácuo.

O que ocorre é que o aquecimento provoca uma agitação


térmica das partículas que formam o filamento e que acaba por
liberar elétrons dos átomos. Se no interior desta mesma válvula
acrescentarmos um elemento metálico a mais, denominado
anodo ou placa, e ligarmos este elemento ou eletrodo a uma
fonte de tensão positiva, carregando-o com essa carga, ele
atrairá os elétrons estabelecendo assim um fluxo de elétrons, ou
seja, uma corrente, conforme mostra a figura 2.
Observe, entretanto que se a placa estiver negativa o fluxo
não ocorre, pois os elétrons são repelidos. Isso significa que a
corrente tem um sentido único neste dispositivo: os elétrons só
podem fluir do filamento para a placa. Essa válvula tem as
mesmas propriedades dos conhecidos diodos semicondutores, ou
seja, conduz a corrente num único sentido sendo, por este
motivo, denominada “válvula diodo”.
Posteriormente foi feito um aperfeiçoamento nesta
estrutura: em lugar de usar o filamento para emitir as cargas o
que é denominado “aquecimento direto”, foi agregado um novo
eletrodo envolvendo o filamento. Este elemento em forma de
tubo é denominado catodo e aparece nas válvulas “de
aquecimento indireto”, conforme mostra a figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 2 – O fluxo de elétrons (corrente) vai do filamento para o anodo


carregado positivamente.

Figura 3 – Válvula diodo de aquecimento indireto.

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NEWTON C. BRAGA

Essas válvulas diodo de aquecimento direto e indireto


podem ser usadas nas mesmas aplicações que os diodos comuns,
ou seja, na detecção e retificação e tem seus símbolos mostrados
na figura 4.

Figura 4 – Símbolos das válvulas diodo.

Observe que temos nesta figura o símbolo de uma válvula


dupla, ou seja, um duplo diodo que tem um catodo comum e um
anodo. Este tipo de válvula é comumente encontrada na fonte de
muitos rádios antigos e mesmo televisores dos anos 1940 a 1950
e até depois. Uma diferença muito importante das válvulas em
relação aos transistores e diodos semicondutores é que as
válvulas precisam de tensões mais altas para funcionar e, além
disso, uma fonte adicional para aquecer os filamentos. Para os
filamentos é comum encontrarmos tensões de 1,5 a 12 V e para a
operação em si, ou seja, polarizar o anodo as tensões podem
ficar na faixa dos 80 aos 600 volts tipicamente. Por outro lado,
com uma tensão elevada no anodo, as correntes que fluem entre
este elemento e o catodo são relativamente baixas variando entre
10 mA e 500 mA. Se o leitor tiver algum rádio antigo em sua casa
pode encontrar válvulas diodos como a 35W4, 6X4 ou 5Y3.

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A tradicional 35W4 que funcionava com 35 V de


filamento.

Uma coleção de 5Y3 de diversas épocas e fabricantes – fotos da Internet.

Veja que nas válvulas de nomenclatura americana, como


as exemplificadas acima, o primeiro número indica a tensão de
filamento: 35, 6 e 5 V.

As Válvulas Triodo
Lee de Forest descobriu um fato interessante ao pesquisar
o funcionamento das válvulas. Se entre a placa e o catodo fosse
colocada uma tela de metal, uma tensão aplicada nesta tela
poderia servir para controlar o fluxo de cargas no interior da

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NEWTON C. BRAGA

válvula. Bastava carregar a “tela”, denominada “grade” com


tensões apropriadas para se ter um controle total da corrente
circulante entre o anodo e o catodo. Estava criada a válvula
triodo cuja estrutura interna e símbolo são mostrados na figura 5.

Figura 5 – A estrutura da válvula triodo.

Na figura 6 mostramos como o controle das cargas pode


ser feito: uma tensão negativa bloqueia o fluxo de cargas e uma
tensão positiva deixa os elétrons passarem para o anodo,
havendo assim uma corrente.
Se um sinal, por exemplo a corrente que venha de um
microfone, for aplicada à grade de uma válvula, a variação da
tensão na grade provocará uma variação da corrente que
atravessa o dispositivo para a placa ou anodo. Esta corrente tem
a mesma forma de onda do sinal aplicado, mas está amplificada.
Isso significa que a válvula pode funcionar como um excelente
amplificador para sinais elétricos, conforme mostra a figura 7.

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Figura 6 – O funcionamento da válvula triodo.

Figura 7 – Válvula como amplificadora de sinais, comparada ao transistor.


Observe as fases dos sinais nos dois casos.

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NEWTON C. BRAGA

Nessa figura mostramos também o circuito amplificador


equivalente com o conhecido transistor.

Outros Tipos de Válvulas


Com o tempo, visando melhorar o desempenho da válvula,
foram acrescentados outros elementos internos. Assim, temos a
válvula tetrodo (com duas grades), pentodo (com três grades),
conforme mostra a figura 8.

Figura 8 – Símbolo de uma válvula pentodo.

Numa válvula pentodo, conforme mostra a figura 9,


podemos usar uma grade num circuito de realimentação para
fazê-la oscilar num transmissor e segunda grade para aplicar o
sinal modulador. A terceira grade será usada como um
“supressor” melhorando seu desempenho.

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Figura 9 – Etapa amplificadora de potência utilizando uma válvula


pentodo. Observe a necessidade do transformador, pois a válvula tem uma
saída de alta impedância

Diferenças Básicas
Além de trabalhar com tensões mais altas assim como
também quentes (elas precisam ser aquecidas antes de entrarem
em funcionamento e isso pode levar até mais de 1 minuto), as
válvulas apresentam outras diferenças importantes em relação
aos transistores. Uma delas refere-se ao fato de que a válvula
opera com uma tensão aplicada à grade e não corrente aplicada à
base como o transistor. Assim, a válvula é um dispositivo de alta
impedância ao mesmo tempo em que o transistor comum
(bipolar) é um dispositivo de baixa impedância.
Os transistores de efeito de campo, por exemplo, se
aproximam mais das características das válvulas, porque também
são amplificadores de tensão, e por isso dispositivos de alta
impedância. Por essa característica, a válvula não pode ser ligada
diretamente a um alto-falante que é um dispositivo de baixa
impedância, exigindo um transformador, conforme vimos na
figura 9.

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NEWTON C. BRAGA

Outro fato importante está no desgaste da válvula. Com o


tempo, pode ocorrer a evaporação gradual das substâncias que
revestem o catodo e com isso a emissão dos elétrons se torna
menor. O próprio vácuo no interior da válvula pode perder suas
propriedades com a entrada de ar. Quando isso ocorre a válvula
“enfraquece” perdendo suas propriedades amplificadores. Num
rádio ou amplificador isso pode resultar em perda de rendimento,
som baixo ou distorcido.
Num televisor analógico antigo, pode afetar a imagem. A
válvula também pode queimar. Isso ocorre quando o filamento,
como o de uma lâmpada comum, é interrompido. Se o leitor
possui aparelhos antigos com válvulas guarde-as pois existem
alguns projetos interessantes que podem usá-las.

Clube da Válvula
Existem amantes da música de boa qualidade que
defendem a ideia de que o som produzido por um equipamento
que use válvulas é mais “puro” do que o som dos equipamentos
modernos com transistores e circuitos integrados. A diferença
estaria no fato de que o transistor tem uma pequena distorção
pelo se denomina “crossover” devido ao fato de que ele não é
linear em tensões muito baixas, o que não ocorre com a válvula.
Os ouvidos mais sensíveis podem perceber a diferença e
daí a preferência pelos equipamentos valvulados. Assim, mesmo
em nossos dias existem fábricas de amplificadores valvulados que
os vendem ä preço de ouro”. E esse preço de ouro é real: as
válvulas usadas possuem seus eletrodos revestidos de ouro para
eliminar o que se denomina “emissão secundária” garantindo
assim a melhor qualidade de som. Um simples amplificador de
100 W valvulado desta nova geração pode custar mais de R$ 10
000! Na foto, um amplificador valvulado de altíssima qualidade (e
custo!).
O amplificador da foto pesa 22 kg fornecendo 40 W de
potência por canal.

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O amplificador abaixo pesa 20 kg e tem uma potência de


60 W por canal custando aproximadamente 1 000 dólares.

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NEWTON C. BRAGA

Indutâncias

Foi Hans Christian Oersted, um professor Dinamarquês,


que no século XIX descobriu que era possível gerar campos
magnéticos a partir de correntes elétricas circulando por um
condutor.
O efeito magnético da corrente elétrica se manifestava,
quando uma corrente circulava por um fio e "criava" forças
suficientemente intensas para mudar de posição uma agulha
magnetizada colocada nas proximidades, conforme mostra a
figura 1.

Figura 1

Evidentemente, naquela época o fenômeno não passou de


curiosidade, mas com o tempo, esse efeito foi mais bem
explorado, sendo aproveitado em diversos tipos de dispositivos, e
hoje é muito importante para a eletrônica.
Para que possamos entender como esse efeito é
aproveitado em muitos dispositivos eletrônicos, ser interessante
estudarmos sua natureza desde o início.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O que ocorre é que, quando cargas elétricas se


movimentam, em torno de sua trajetória aparece um campo
magnético, conforme mostra a figura 2.

Figura 2

Veja que, devemos diferenciar a natureza do campo


elétrico da natureza do campo elétrico. São fenômenos distintos.
Ao mesmo tempo em que o campo elétrico aparece em torno de
uma carga elétrica parada (estática), o campo magnético exige
movimento para que se manifeste.
Assim, sempre que houver cargas elétricas em
movimento, ou seja, correntes elétricas, teremos
obrigatoriamente o aparecimento de campos magnéticos.
Num fio percorrido por uma corrente, se representarmos
esta corrente no sentido convencional que vai do polo positivo
para o negativo, as linhas de força do campo magnético terão a
orientação indicada na figura 3.

Figura 3

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NEWTON C. BRAGA

Trata-se da conhecida "regra do saca-rolhas", estudada


nos cursos preparatórios aos vestibulares: o campo representa o
movimento do saca-rolhas para que ele avance no mesmo
sentido da corrente.
Veja que o campo produzido por uma corrente elétrica tem
a mesma natureza que o campo produzido por um imã. No imã, o
campo tem origem nos elétrons que giram de maneira organizada
em torno dos núcleos dos átomos, produzindo assim campos
conforme a orientação mostrada na figura 4.

Figura 4

Observe que as linhas de força dos campos magnéticos


são sempre fechadas, ou seja, sempre saem dos polos norte e
chegam aos polos sul e quando, como no caso da corrente, não
podemos identificar esses polos, elas formam círculos
concêntricos.

Reforçando O Campo
O campo magnético que aparece em torno de um fio
percorrido por uma corrente é muito fraco, mal conseguindo
deflexionar uma agulha imantada.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

No entanto, é possível aumentar a intensidade desse


campo, se enrolarmos o fio condutor de modo a formar uma
bobina, conforme mostra a figura 5.

Figura 5

Tendo de passar pelo mesmo lugar, dando voltas em


espiras diferentes, a corrente cria campos que se somam, e a
bobina se comporta como um verdadeiro imã, com um polo Norte
e um polo Sul, conforme mostra a figura 6.

Figura 6

Qual extremidade será o polo Norte e qual será o polo Sul


depende do sentido de circulação da corrente na bobina e isso
pode ser determinado pela mesma regra do saca-rolhas. O
dispositivo formado por uma bobina nas condições indicadas é um
solenoide.

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NEWTON C. BRAGA

Podemos concentrar o campo magnético criado por uma


bobina se, no seu interior, colocarmos um núcleo de material
ferroso, por exemplo, o ferro, aço, ou ainda o ferrite. Estes
materiais têm a propriedade de concentrar as linhas de força do
campo magnético, conforme mostra a figura 7.

Figura 7

Figura 8

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Alguns dispositivos podem ser formados por bobinas com


ou sem núcleo, ou ainda com núcleos móveis.
Podemos citar o caso dos relés em que temos uma bobina
com um núcleo que atrai uma parte móvel (armadura) quando é
percorrida por uma corrente. A parte móvel tem contatos que
podem então abrir ou fechar em função da corrente da bobina,
conforme mostra a figura 8.
Outro dispositivo é o solenoide que tem um núcleo móvel,
que é puxado para dentro com muita força quando uma corrente
na bobina cria um campo magnético. Este movimento pode ser
usado para abrir fechaduras em portas elétricas ou ainda para
abrir válvulas de água, como nas máquinas de lavar-roupas. Na
figura 9 temos o princípio de funcionamento de um solenoide.

Figura 9

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NEWTON C. BRAGA

Veja que todos estes dispositivos operam com uma


corrente contínua circulando pela bobina.
Se aplicarmos uma corrente de características diferentes a
um dispositivo formado por fio enrolado, o efeito do campo criado
pode ser um pouco diferente.
Na realidade, este efeito é tão diferente, que pode ser
aproveitado numa outra categoria de componentes eletrônicos de
grande importância.

A Indutância
Se tivermos uma bobina com fio de cobre, sua resistência
à passagem de uma corrente depende basicamente da resistência
do fio de cobre usado.
Assim, podemos fazer circular por bobinas correntes
intensas e obter com isso campos magnéticos muito fortes.
No entanto, existem alguns fenômenos que merecem ser
estudados e que envolvem o comportamento da bobina quando a
corrente varia.
Vejamos um primeiro caso em que temos uma bobina
ligada a uma pilha através de uma chave e que é mostrado na
figura 10.

Figura 10

No momento em que fechamos a chave, a corrente não


aumenta instantaneamente de intensidade até atingir o máximo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O campo magnético tem de ser criado e isso significa que


suas linhas de força se expandem com certa velocidade finita.
Ora, ao se expandir estas linhas cortam as espiras da mesma
bobina causando um fenômeno de indução.
O que ocorre é que, se fios cortarem as linhas de um
campo, quer seja pelo seu próprio movimento como pelo
movimento do campo, é induzida uma tensão neste fio, conforme
mostra a figura 11.

Figura 11

No caso da bobina a tensão induzida tende justamente a


se opor ao estabelecimento da corrente.
Em suma, a bobina "reage" ao estabelecimento da
corrente, oferecendo uma certa oposição.
Da mesma forma, se a corrente for interrompida quando a
chave é aberta, as linhas de força do campo magnético não se
contraem instantaneamente, mas demoram um certo tempo. E,
nesta contração elas cortam as espiras da mesma bobina, agora
induzindo uma tensão contrária àquela que provocou a corrente
que as estabeleceu.
O resultado disso é que, por um instante, aparece uma
tensão nas extremidades da bobina enquanto as linhas se
contraem. Em algumas bobinas de grande número de espiras,
esta tensão chega ser suficientemente elevada para provocar
uma faísca entre os contatos da chave, quando ela é desligada.
Em suma, o que ocorre é que as bobinas não "gostam" de
variações da corrente, quer seja quando ela aumenta quer seja

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NEWTON C. BRAGA

quando diminui, pois isso implica em alterações do campo


magnético.
As bobinas reagem a isso e este fato nos leva a dizer que
as bobinas têm uma certa reatância.

Reatância Indutiva
Evidentemente, num circuito de corrente contínua só
teremos problemas com a indutância quando a corrente for
estabelecida ou desligada.
No entanto, as bobinas podem ser usadas em circuitos de
correntes alternadas, onde as correntes estão variando
constantemente. Nestes circuitos, o que ocorre é que a bobina
está constantemente "reagindo" as variações da corrente.
Isso significa que, a intensidade da corrente que circula
numa bobina, quando ligada num circuito de corrente alternada,
não depende somente da resistência do fio usado, mas de um
fator adicional: a reatância.
As bobinas possuem então uma "reatância indutiva", que é
a sua propriedade de se opor à circulação de uma corrente
alternada.

Figura 12

Assim, uma bobina que tenha, por exemplo, uma


resistência de 10 ohms de fio para a circulação de uma corrente
contínua, apresenta uma oposição, 100 ohms, por exemplo,

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

quando num circuito de corrente alternada na frequência da rede


de energia, 60 Hz.
É o que ocorre com um pequeno transformador: se
medirmos com o multímetro a resistência de seu enrolamento
primário encontramos um valor baixo, que nos levaria a calcular
uma corrente muito alta quando ele fosse ligado na rede de
energia.
No entanto, ao ser ligado na rede de energia, o
transformador cujo enrolamento primário é uma bobina ou
indutor, deixa circular uma corrente muito menor, conforme
mostra a figura 13.

Figura 13

Veja que a reatância indutiva também é medida em


ohms, pois ela é uma "oposição à passagem da corrente"
exatamente como a resistência elétrica comum ou resistência
ôhmica, como também é chamada.

Indutância
A principal característica de uma bobina é a sua
indutância. A indutância vai indicar de que modo essa bobina
"reage" às variações de corrente e de que modo ela produz um
campo magnético no seu interior.

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NEWTON C. BRAGA

A unidade de indutância é o Henry (H), mas nas aplicações


eletrônicas ‚ comum especificarmos as indutâncias em
submúltiplos do Henry como o milihenry (mH) e o microhenry
(uH).
O milihenrry é a milésima parte do Henry e o microhenry a
milionésima parte do Henry.
A indutância de uma bobina depende de diversos fatores
como:
a) Número de espiras = quanto maior o número de
espiras, maior a indutância.
b) Diâmetro = quanto maior o diâmetro, maior será a
indutância
c) comprimento = quanto maior o comprimento, maior
será a indutância.
d) existência ou não de núcleo = um núcleo de ferrite
ou de material ferroso aumenta a indutância.

A seguir, temos a fórmula que permite calcular com boa


aproximação a indutância de uma bobina.

L = 1,257 x ((S x N2) / m) x 10-8

Onde:
L é o coeficiente de autoindução ou indutância em Henry
(H)
N é o número de espiras
S é área da seção do núcleo da bobina em centímetros
quadrados (cm2)
M é o comprimento do solenoide em centímetros (cm)

Reatância e Oscilações
Conforme vimos, as bobinas "reagem" às variações da
corrente, apresentando uma oposição que denominamos
reatância indutiva.
Ora, quanto mais rápidas forem as variações da corrente,
maior será a reação da bobina. Isso nos leva a concluir que a

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

reatância depende tanto da frequência como da indutância de


uma bobina.
Assim, na figura 13 mostramos que a reatância indutiva
depende tanto da frequência como da indutância numa proporção
direta.
O fator "2 π" é uma constante que equivale a 6,28.
Outro comportamento interessante das bobinas ocorre
quando as associamos à capacitores. Na figura 14 temos um caso
importante que é do circuito ressonante LC, em que temos uma
bobina ligada em paralelo com um capacitor.

Figura 14

Quando aplicamos um pulso de tensão neste circuito, esta


tensão carrega imediatamente o capacitor, pois a bobina "reage"
imediatamente a este pulso, não deixando de imediato circular
corrente alguma.
No entanto, tão logo o capacitor esteja carregado, a
bobina não reage mais, deixando agora que o capacitor se
descarregue através dela.
Ora, com essa descarga um forte campo magnético é
produzido na bobina. No entanto, este campo não pode durar
muito, pois a corrente que o produz, com a descarga do
capacitor, desaparece.
O campo, depois disso, se contrai, induzindo na bobina
uma tensão que carrega o capacitor, mas com polaridade

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NEWTON C. BRAGA

invertida. A carga do capacitor não se mantém, entretanto. Uma


vez que o capacitor esteja carregado e a bobina sem corrente
alguma circulando, não há impedimento para a descarga do
capacitor.
Uma forte corrente de descarga circula novamente com a
produção de outro campo. Na figura 15 mostramos o que ocorre.

Figura 15

Se não existissem resistências no circuito de carga e


descarga do capacitor que provocassem a transformação da
energia neste circuito em calor, e se nenhuma parte da energia
fosse irradiada na forma de ondas eletromagnéticas, ele se
manteria nesse ciclo eternamente, ou seja, em oscilação.
Na prática, entretanto, à medida que a energia vai se
dissipando no circuito as oscilações vão se tornando mais fracas.
Podemos manter constante a amplitude dessas oscilações se, à
medida que a energia for se dissipando ou sendo aproveitada
externamente, a repusermos através de um circuito externo.
Temos então um circuito oscilante ou oscilador, conforme
mostra a figura 16.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 16

A frequência deste circuito é justamente determinada


pelas características da bobina e do capacitor, ou seja, da sua
tendência em manter o ciclo de carga e descarga numa
velocidade constante.
Dizemos então que o circuito LC ressoa numa determinada
frequência, e nela ele tende a oscilar quando excitado.

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NEWTON C. BRAGA

Os LEDs
A luz nada mais é do que radiação eletromagnética, ou
seja, é formada por ondas cujas frequências se diferenciam dos
sinais comuns de rádio, TV, radar e outros que estamos
acostumados a usar em eletrônica, apenas pela sua frequência.
Na figura 1 temos a colocação da faixa visível, ou seja, das
frequências que nossos olhos podem ver, no espectro
eletromagnético.

Conforme o leitor pode perceber, nesta faixa, os diversos


comprimentos de onda ou frequências determinam também o tipo
de sensação que nosso olho vai ter em relação à cor da luz.
Assim, as frequências mais baixas e, portanto, os
comprimentos de onda maiores correspondem à luz vermelha e
laranja, ao mesmo tempo em que os comprimentos de onda
menores e frequências mais altas correspondem a radiação azul e
violeta.
A maneira mais simples de se obter luz e, portanto. a
emissão de radiação eletromagnética é pelo aquecimento.
Aquecendo um corpo, seus átomos vibram em todas as
frequências possíveis emitindo luz de todas as cores que se
misturam. O sol opera desta forma e uma lâmpada comum de
filamento também.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

No sol a elevada temperatura agita os átomos das


substâncias que o formam de tal maneira que eles passam a
emitir radiação o mesmo ocorrendo com o filamento de uma
lâmpada incandescente quando percorrido por uma corrente
elétrica, conforme mostra a figura 2.

A emissão de radiação destes corpos é feita


desordenadamente. Isso significa que, cada átomo ao ser
agitado, emite uma pequena porção de radiação num
comprimento de onda ou frequência diferente.
É interessante observar que a energia emitida nestas
condições também tem uma quantidade mínima, como o átomo
que é a porção mínima de matéria. Isso significa que os átomos
excitados sempre emitem essas porções mínimas, que são
denominadas "quantum" de energia. O plural de "quantum", que
é uma palavra latina, é "quanta" e a teoria que explica como elas
se comportam é a teoria quântica.
Assim, quando os átomos são agitados pelo calor, cada
qual emite um "quantum" de energia de frequência diferente. O
resultado disso é que não temos um único tipo de radiação, mas
sim uma mistura que cobre todo o espectro visível e mesmo parte
do que não podemos ver como das radiações infravermelhas e
ultravioleta, conforme mostra a figura 3.

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NEWTON C. BRAGA

Se a distribuição da energia emitida, ou seja, a quantidade


de quanta for mais ou menos uniforme no setor do espectro que
podemos ver, a mistura nos dará a sensação de uma luz branca.
Ora, a distribuição dessa energia emitida varia conforme a
temperatura do corpo. Um corpo mais quente tende a emitir mais
partículas de frequências mais elevadas. Por este motivo, um
corpo muito quente brilha com luz azulada. Já um corpo mais frio,
por exemplo, um ferro em brasa, brilha com luz avermelhada,
conforme mostra a figura 4.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Um físico chamado Boltzman estabeleceu numa fórmula a


distribuição da emissão dessa radiação em função da temperatura
para um corpo negro.
O interessante de uma emissão de luz branca, ou que
contenha todos os comprimentos de onda como a do sol é que ela
nos permite ver as cores da natureza.
Assim, o que ocorre é que se iluminarmos um objeto e ele
refletir apenas a luz azul, absorvendo as demais, ele vai nos
parecer azul, conforme mostra a figura 5.

Os objetos que vemos na natureza quando iluminados pela


luz do sol ou de uma lâmpada comum aparecem nas cores que

56
NEWTON C. BRAGA

tem, porque refletem as frequências que determinam essas


cores.
Se iluminarmos um objeto verde com uma fonte de luz
que emita radiação apenas correspondente à luz vermelha, o
objeto vai nos aparecer como completamente negro.
Veja então que podemos falar em dois tipos de emissões
de luz:
A das fontes como o Sol e uma lâmpada comum que na
realidade possuem todas as frequências possíveis e que,
portanto, cobrem uma faixa larga do espectro e de fontes que
podem emitir luz de uma única frequência.
Em eletrônica podemos associar estas fontes de uma única
frequência a um transmissor bem sintonizado ao mesmo tempo
em que a de luz que cobre o espectro todo seria um emissor de
ruído.
Dizemos que as fontes de luz que emitem radiação de uma
única frequência ou cor são monocromáticas. Os LEDs são fontes
monocromáticas porque produzem sua luz por um processo
diferente do que vimos para o Sol e para uma lâmpada comum.
Analisemos como os LEDs funcionam:

Níveis de Energia e Luz Monocromática


Qualquer material, inclusive os semicondutores, quando
são aquecidos emitem luz pela agitação de seus átomos.
Entretanto, certos materiais podem emitir luz sem serem
aquecidos, ou seja, podem emitir luz mesmo que frios, por um
processo denominado luminescência.
A luminescência de certos materiais é conhecida desde
1889, mas somente há pouco tempo tem sido mais usada na
eletrônica na criação de diversos dispositivos. Um tipo de
luminescência é a que ocorre quando um feixe de elétrons bate
contra uma camada de fósforo na tela de um televisor. A
luminescência é explicada da seguinte forma:
Os elétrons que giram em torno de um átomo o fazem em
órbitas bem estabelecidas que fixam níveis de energia, conforme
mostra a figura 6.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Um átomo pode absorver por um breve instante energia e


quando isso ocorre um elétron "salta" de sua órbita passando
para outra de maior nível energético. Em outras palavras, a
energia fica armazenada potencialmente na posição do elétron
em sua órbita.
Quando o elétron, uma fração de segundo depois de
absorver a energia, volta para sua órbita normal, a energia
absorvida é devolvida, conforme mostra a figura 7.

A energia devolvida é um quantum de radiação


eletromagnética cuja frequência vai depender do "salto" do
elétron, ou seja, da energia que ele tem para devolver.
Os níveis de energia que um elétron pode assumir num
átomo dependem da natureza deste átomo, ou seja, do material
que ele representa. Assim, para cada tipo de átomo os elétrons

58
NEWTON C. BRAGA

só podem dar saltos definidos, o que significa que eles só podem


devolver a energia na forma de radiação eletromagnética de
frequência muito bem definida.
Se a faixa de energia que o elétron devolver estiver entre
3800 e 7500 Angstrons, a energia se manifesta na forma de luz
visível e o material em que isso ocorre passa a emitir luz.
Existem diversas formas de se excitar um material para
que ele absorva e depois emita a energia na forma de radiação
eletromagnética.
A circulação de uma corrente no sentido direto por uma
junção semicondutora, por exemplo, um diodo comum, conforme
mostra a figura 8, é uma delas.

No entanto, num diodo comum, a energia emitida está


concentrada na faixa do infravermelho (que não podemos ver) e
sua intensidade é muito pequena. Esta radiação tem sua
frequência justamente determinada pela natureza do material
semicondutor usado nos diodos que é o silício.
Para se obter radiação em frequências mais altas que a do
infravermelho pode-se empregar outros materiais semicondutores
que tenham níveis de energia diferentes e até mesmo mudar
estes níveis pela adição de impurezas.
Assim, como o arseneto de Gálio semicondutor (GaAs)
conseguimos um rendimento maior no processo, mas ainda na
faixa do infravermelho.

59
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Agregando fósforo ou índio ao arseneto de gálio podemos


obter frequências maiores e o semicondutor já passa a emitir luz
na faixa do vermelho, amarelo, laranja, verde, azul e chegar até
o violeta e ultravioleta, conforme mostra o gráfico da figura 9.

Veja por este gráfico que as curvas de emissão dos


dispositivos obtidos desta forma que são os LEDs (Light-Emitting
Diodes ou Diodos Emissores de Luz) são bastante estreitas o que
significa que eles são fontes de luz monocromáticas.
Para obter frequências mais elevadas que a da luz verde,
uma nova substância tem sido usada. Trata-se do Carbeto de
Silício (SiC) que tem propriedades luminescentes conhecidas
desde o início do século.
No entanto, a obtenção de cristais semicondutores puros
desta substância foi uma dificuldade superada somente há pouco
tempo. O Carbeto de Silício na forma de semicondutor pode, ao
ser excitado eletricamente, emitir luz não só na faixa de
frequências correspondente ao azul como chegar até mesmo ao
violeta.
Desta forma, com esta nova substância podem ser
fabricados LEDs azuis e violetas que já estão no mercado. Outra
substância que também apresenta a emissão de luz na faixa do
violeta é o Nitreto de Silício (SiN) que também já é usado na
fabricação de LEDs.

60
NEWTON C. BRAGA

Na figura 10 temos a estrutura de um LED deste tipo, em


que se observa a existência de três tipos de materiais.

Juntamente com a junção pn epitaxial temos um substrato


feito de SiC que é excitado na condução e que provoca a emissão
da luz. Na figura 11 temos a curva de emissão de um LED azul
observando-se que ela é bem mais larga que a dos LEDs comuns
de Arseneto de Gálio, dadas as próprias características do
material semicondutor.

Os LEDs azuis e violetas possuem uma curva característica


semelhante a de qualquer diodo e LED comum, apenas com o

61
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

"joelho", ou seja, o ponto de início da condução numa tensão um


pouco mais alta: 2,5 V.
Esta curva característica é mostrada na figura 12, e ela
nos mostra que o uso de um LED deste tipo em nada difere dos
LEDs comuns, sendo necessária a colocação de um resistor
limitador de corrente em série.

Lasers Semicondutores
O que diferencia um Laser de um LED é que no LASER a
luz emitida é concentrada e coerente, devido ao próprio processo
de produção no material semicondutor.
Num LED a luz é produzida por uma excitação
descontrolada dos átomos que, ao receber e devolver a energia
emitem luz a qualquer instante e em qualquer direção. Num
LASER os átomos recebem a excitação de tal forma que haja um
fenômeno denominado "inversão de população", ou seja, que em
determinado instante tenhamos mais átomos excitados do que
sem excitação.
Assim, quando um átomo devolve sua energia forma de
um quantum de luz, este quantum serve para excitar outros
átomos energizados, forçando-os a devolver sua energia numa
espécie de reação em cadeia, mostrada na figura 13.

62
NEWTON C. BRAGA

O resultado é que a devolução da energia absorvida se faz


de forma excitada e coordenada o que resulta na emissão de luz
concentrada e coerente.
Um espelhamento no material semicondutor permite que
esta devolução seja mais controlada e a emissão ocorra na forma
de feixe numa direção única.
Mas, da mesma forma que nos LEDs a frequência e,
portanto, a cor da luz emitida depende da natureza do material e
hoje já estão disponíveis LASERs semicondutores de diversos
comprimentos de onda.

63
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O Microfone
As ondas sonoras consistem em vibrações mecânicas de
um meio natural e se propagam com uma velocidade que
depende de diversos fatores, entre eles a natureza do meio.
Assim, no ar, estas ondas são de compressão e
descompressão e se propagam em condições normais a uma
velocidade de aproximadamente 340 metros por segundo.
Evidentemente, por serem ondas mecânicas, elas não
podem excitar diretamente os circuitos eletrônicos, daí a
necessidade de termos um dispositivo intermediário que faça sua
conversão em eletricidade.
Este dispositivo é um transdutor eletroacústico
denominado microfone.

Podemos dizer que o microfone funciona de modo


"inverso" ao alto-falante: enquanto o alto-falante recebe os sinais
elétricos de um amplificador e os converte em som (energia
acústica), o microfone recebe os sons e os converte em energia
elétrica.
Para que possamos usar um microfone de maneira
eficiente num aparelho eletrônico, na gravação de música,

64
NEWTON C. BRAGA

reprodução, transmissão de voz ou num intercomunicador, ele


deve ter algumas características próprias bem definidas que são:

a) Fidelidade
A fidelidade significa a capacidade do microfone em
produzir um sinal elétrico que tenha as mesmas características
dos sons originais, ou seja, intensidade, frequência e forma de
onda.

Dependendo do tipo, o microfone pode ser mais sensível


para os sons de determinadas frequências o que nos leva a um
uso específico. Por exemplo, um microfone mais sensível aos sons
de médias frequências é apropriado a transmissão da palavra
falada.

b) Sensibilidade
A sensibilidade está relacionada com a capacidade que o
microfone tem de trabalhar com sons muito fracos. Dependendo
do uso, podemos ter microfones mais ou menos sensíveis.

c) Diretividade
Conforme a construção do microfone, ele pode ter mais
facilidade em captar os sons provenientes de determinadas
direções. Isso determina a diretividade do microfone que pode ser
representada por meio de um gráfico.

65
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Na figura 3 damos alguns exemplos dos gráficos de


diretividade.

Em (a) temos um microfone unidirecional, ou seja, um


microfone que capta os sons somente de uma direção. Este tipo
de microfone é muito usado em estádios ou num teatro pelo
apresentador, onde apenas uma pessoa deve ser ouvida. Em (b)
temos um microfone onidirecional (ou omnidirecional), ou seja,
que tem a mesma sensibilidade para os sons que chegam de
todas as direções.

Tipos De Microfones
Diversos são os tipos de microfones que encontramos nas
aplicações práticas e que diferem tanto quanto 1as características
elétricas como também segundo o princípio de funcionamento.
Temos então os seguintes tipos de microfone (alguns
pouco usados atualmente, mas cujo conhecimento é importante
por motivos históricos):

a) carvão
Este, sem dúvida, é o tipo mais antigo, já que os primeiros
microfones que existiram utilizavam finos grãos de carvão numa
caixinha com um diafragma, conforme mostra a figura 4.

66
NEWTON C. BRAGA

O diafragma consiste numa membrana de metal, plástico


ou outro material flexível que faz contato direto com os grãos de
carvão na caixinha.
A resistência apresentada pelo dispositivo, entre os
terminais A e B, depende do grau de compressão dos grãos de
carvão.
Desta forma, o som ao incidir no diafragma, movimenta-o
de modo que ele passe a comprimir e distender os grãos de
carvão, variando assim a resistência entre os pontos A e B.
O microfone de carvão apresenta uma baixa impedância, e
como ele não gera energia elétrica, é necessário usar um circuito
com uma fonte de energia, normalmente uma pilha, conforme
mostra a figura 5.
A variação da resistência do microfone com a incidência do
som faz com que varie a corrente no enrolamento primário do
transformador. Induz-se então no secundário de alta impedância
do transformador um sinal cuja forma de onda e frequência
correspondem ao som captado.
Os microfones de carvão encontram aplicações em
telefonia ainda onde a voz humana deve ser transmitida, já que
apresentam uma resposta melhor nas médias frequências.

67
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

b) Microfone dinâmico
Este tipo de microfone ‚ formado por uma bobina presa a
um diafragma que a movimenta no campo magnético de um imã
permanente, conforme mostra a figura 6.

Trata-se praticamente de um alto-falante funcionando "ao


contrário". Num alto-falante comum, quando a bobina é
percorrida por uma corrente que corresponde a um sinal de
áudio, é criado um campo magnético e consequentemente
aparece uma força que movimenta o cone para frente e para trás,
produzindo assim as ondas de compressão e descompressão do
ar que formam o som.

68
NEWTON C. BRAGA

Se o som incidir no diafragma, ele movimenta o conjunto


inclusive a bobina móvel no campo do imã de modo a ser
induzida uma corrente cujas características correspondem a este
som.
Pequenos alto-falantes, por este motivo, podem funcionar
como microfones, bastando que se fale nas suas proximidades ou
que eles sejam apontados para a fonte sonora. No entanto, como
não são fabricados para esta finalidade, eles apresentam algumas
deficiências quando funcionam como microfones.
Como eles são dispositivos de baixa impedância,
normalmente devem ser usados com um transformador que eleve
sua impedância como o da figura 7, ou ainda ligados em circuitos
adaptadores de impedância com transistores na configuração de
base comum.

c) microfones piezoelétricos
Os microfones de cristal ou cerâmicos operam
aproveitando as propriedades piezoelétricas de determinadas
substâncias como, por exemplo, o Sal de Rochelle ou as
cerâmicas como o titanato de bário.
Estas substâncias, ao sofrerem deformações mecânicas,
geram tensões elétricas proporcionais.
Assim, basta que um cristal de uma substância como estas
seja acoplado a um diafragma para que as ondas sonoras
captadas produzam forças mecânicas que fazem o cristal gerar
sinais elétricos.
Na figura 8 temos um exemplo de microfone deste tipo.

69
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Este microfone usa o Sal de Rochelle, sendo por isso,


denominado "microfone de cristal". Se bem que seja muito
sensível, fornecendo sinais relativamente intensos que podem
excitar diretamente os amplificadores, o microfone de cristal
‚ muito sensível ao calor e umidade. Por este motivo atualmente
ele praticamente não é mais usado, sendo substituído pelos
microfones cerâmicos que são mais robustos e praticamente não
são afetados pelo calor e umidade.

d) microfone de eletreto
Existem substâncias denominadas eletretos que
apresentam propriedades elétricas interessantes.
Quando submetidas a uma deformação mecânica estas
substâncias carregam-se de eletricidade estática, manifestando
tensões elétricas proporcionais entre suas faces, de um modo
algo semelhante aos cristais piezoelétricos, conforme mostra a
figura 9.
Estas substâncias podem ser moldadas de modo a
formarem os diafragmas de um microfone e ligadas diretamente
à comporta (gate) de um transistor de efeito de campo (FET).

70
NEWTON C. BRAGA

Desta forma, a corrente controlada pelo transistor vai


variar segundo as ondas sonoras que incidem no diafragma,
fornecendo na sua saída um sinal já amplificado, conforme
mostra a figura 10.

71
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Os microfones de eletreto são muito sensíveis e pequenos,


pois o transistor de efeito de campo já atua como um pré
amplificador.
Nos tipos de dois terminais devemos prever a polarização
do transistor por de um resistor, sendo feitas as conexões
mostradas na figura 11.

Nos tipos de três terminais, as conexões externas para


seu uso são as mostradas na figura 12.
Veja que, para que o transistor de efeito de campo
funcione é preciso haver uma fonte de energia externa, daí a
necessidade da polarização externa.

72
NEWTON C. BRAGA

Impedância e Nível de Sinal


Os microfones apresentam características elétricas que
devem ser levadas em conta quando os usamos.
Uma primeira característica, de grande importância, é a
impedância que nos informa de que modo o microfone se
comporta eletricamente e como ele entrega o sinal elétrico em
sua saída.
Um microfone só pode transferir todo o sinal elétrico que
ele gera ao circuito externo, quando sua impedância for igual a da
entrada do circuito externo, ou seja, houver um "casamento de
impedâncias" conforme mostra a figura 13.
Se ligarmos um microfone que tenha uma impedância
elevada numa entrada de menor impedância de um amplificador,
poderemos ainda ter o seu funcionamento, mas ocorrem perdas,
porque o os microfones de impedância mais alta normalmente
também fornecem um sinal de maior intensidade.

73
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Isso não ocorre com um microfone de baixa impedância:


se o ligarmos à uma entrada de impedância mais alta de um
amplificador não haverá excitação, pois seu nível de sinal
também é insuficiente.
A segunda informação importante é, portanto, a
intensidade do sinal fornecido pelos microfones que é indicada em
milivolts (mV) ou microvolts (uV).
Microfones dinâmicos de baixa impedância fornecem sinais
da ordem de microvolts ao mesmo tempo em que os microfones
cerâmicos e de cristal fornecem sinais na faixa de 100 mV a 500
mV.
Para que os microfones funcionem bem com
amplificadores comuns, na maioria dos casos são necessários
circuitos adaptadores denominados casadores de impedâncias ou
pré amplificadores.
Os casadores de impedância simplesmente modificam a
impedância segundo o sinal é entregue ao circuito externo a
partir de um microfone, já o preamplificador também altera sua
intensidade.

Preamplificadores
A finalidade de um preamplificador é tanto aumentar a
intensidade do sinal fornecido por um microfone para que ele

74
NEWTON C. BRAGA

possa excitar um amplificador como também casar suas


características de impedância de modo a se obter o rendimento
desejado.
Na figura 14 temos um exemplo simples de
preamplificador para microfones de baixa impedância (8 a 200
ohms) utilizando apenas um transistor.

Com este circuito, até mesmo um alto-falante comum, ou


um microfone dinâmico de gravador ou de outra aplicação,
podem ser usados com amplificadores que exigem entradas da
ordem de 200 a 500 mV.
Na figura 15 temos um circuito preamplificador com
transistor de efeito de campo para microfones pouco sensíveis de
impedância mais elevada, permitindo assim sua utilização com
amplificadores comuns.

75
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Finalmente, na figura 16 temos um circuito de um mixer


(misturador) que, ao mesmo tempo em que amplifica os sinais de
diversos microfones os mistura para entregar numa saída comum
e depois a um amplificador.
Para este circuito a alimentação pode ser feita com pilhas
comuns ou bateria, já que o consumo é muito baixo.

76
NEWTON C. BRAGA

77
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Os Alto-Falantes
Os alto-falantes comuns são transdutores que convertem
energia elétrica em energia acústica. Em outras palavras, eles
recebem um sinal elétrico que tem a frequência e a forma de
onda de um e o convertem nesse som, conforme a figura 1.

O tipo mais comum de alto-falante usado atualmente é o


de bobina móvel. Trata-se de um transdutor eletrodinâmico
bastante eficiente que tem a estrutura básica em corte mostrada
na figura 2.

Nesse tipo de alto-falante existe uma bobina de fio de


cobre esmaltado enrolada num tubinho que é preso ao cone do
alto-falante. o cone pode ser de papelão ou plástico e tem um
sistema de suspensão que permite que ele se movimente para
frente e para trás.

78
NEWTON C. BRAGA

A bobina está posicionada em torno de uma peça de


metal, denominada peça polar, podendo se mover, mas sem
tocar nela. O movimento é para frente e para trás.
A peça polar está em contato com um potente imã
permanente de modo que ela concentra em torno da bobina esse
campo, conforme mostra a figura 3.

Quando uma corrente que tenha frequência e forma de


onda correspondente ao som que deva ser reproduzido percorre a
bobina, um campo magnético com as mesmas características é
criado.
Esse campo interage com o campo do imã concentrado na
peça polar de tal modo que surgem forças proporcionais que
tendem a movimentar a bobina e consequentemente o cone.
Assim, as forças são no sentido de fazer o cone vibrar,
indo para frente e para trás, mas reproduzindo exatamente a
forma de onda do sinal aplicado.
A consequência disso é que o cone se movimenta
empurrando e puxando o ar em sua volta de modo a produzir
ondas de compressão e descompressão do ar, ou seja, ondas
sonoras, conforme mostra a figura 4.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Na prática, devido a elasticidade do material usado no


cone, assim como devido às próprias características das ondas
acústicas, a reprodução do som num alto-falante ocorre de forma
mais intensa em certas zonas, conforme a frequência do som.
Por esse motivo, conforme mostra a figura 5, temos uma
reprodução mais intensa dos agudos na região central ao mesmo
tempo em que os médios ficam na região intermediária e os
graves na periferia.

Figura 5

Esse comportamento faz com que os alto-falantes


tradicionais tenham dimensões que correspondam justamente á
faixa de sons que devam ser reproduzidas.

Tipos de Alto-Falantes
Para os sons agudos, por exemplo, os alto-falantes
recomendados são de pequenas dimensões. São os denominados
“tweters”.
Tecnologias modernas permitem obter altos falantes de
agudos com transdutores piezoelétricos, mas existem ainda tipos
de bobinas.
Esses alto-falantes se destinam à reprodução da faixa de
frequências que tipicamente vai dos 5 000 Hz aos 15 000 Hz.
Para os sons médios existem os “mid ranges”, que são
alto-falantes relativamente pequenos que se destinam à
reprodução de sons entre 500 e 5 000 Hz.
Temos ainda os “woofers”e “sub woofers”, que são alto-
falantes pesados e grandes que se destinam à reprodução dos
sons graves ou sons de baixas frequências como os sons de
explosões, terremotos e outros muito apreciados no home-
theater.

80
NEWTON C. BRAGA

Esses alto-falantes exigem potências elevadas para um


bom desempenho, conforme mostra a figura 6.

Figura 6

Um tipo interessante de alto-falante encontrado no carro e


em sistemas de som doméstico é o full range. Esse alto-falante
tem uma reprodução razoável em toda a faixa de frequências,
sendo por isso uma alternativa econômica para sons que não
precisem ou não possam ter três alto-falantes.
Finalmente temos o “extended range”, encontrado
principalmente em carros, que reproduz graves e médios, sendo
usado em conjunto com um tweeter para a reprodução dos
agudos.
Tecnologias modernas, entretanto, possibilitam a
construção de alto-falantes extremamente compactos, mas com
uma curva de resposta muito ampla, alcançando alto rendimento
em quase todas as frequências do espectro audível.

Ligando Alto-Falantes
A principal característica elétrica dos alto-falantes é a sua
impedância. Na verdade, os alto-falante possuem uma
impedância que depende da frequência conforme a figura 7.
O valor nominal da impedância de um alto-falante
normalmente é dado para o ponto da característica em que ela é
menor, o que costuma estar em torno de 1 kHz.
Os alto-falantes comuns são dispositivos de baixas
impedâncias com valores típicos como 3,2 ohms, 4 ohms, 8 ohms
16 ohms, etc. Veja que se trata de uma impedância e não da
resistência que o alto-falante deve apresentar quando o testamos
com o multímetro, conforme mostra a figura 8.

81
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 7

Figura 8

O multímetro mede a resistência ôhmica da bobina, ou


seja, sua resistência em corrente contínua, um valor
normalmente muito menor do que a impedância.
Conhecer a impedância de um alto-falante é de
fundamental importância para que possamos usá-lo sozinho ou
associado a outros alto-falantes num sistema.
Conforme mostra a figura 9, um amplificador entrega sua
máxima potência a um alto-falante quando as impedâncias são
iguais. A impedância de saída do amplificador deve ser a mesma
que a do sistema de alto-falantes.

82
NEWTON C. BRAGA

Figura 9

Se ligarmos à saída de um amplificador um alto-falante ou


caixa de som que tenha impedância menor do que a da saída do
amplificador, haverá uma sobrecarga dos circuitos de saída com a
possível queima de componentes ou ainda atuação do sistema de
proteção, impedindo o funcionamento.
Por outro lado, se ligarmos à saída de um amplificador
uma caixa ou alto-falante com impedância maior, o sistema
funcionará normalmente, mas com menor potência máxima.
Outro ponto importante a ser observado nos alto-falantes
é a sua fase, dada por uma marca nos terminais de ligação,
normalmente um símbolo (+).
O que ocorre é que, o sentido de circulação da corrente na
bobina de um alto-falante determinará o sentido do movimento
do cone.
Assim, conforme mostra a figura 10, se o sinal for positivo
no terminal (+) em determinado instante, o movimento do cone
será para frente.

Figura 10

83
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Se o sinal aplicado ao terminal (+) num determinado


instante for negativo, o movimento do cone será para trás.
O conhecimento da fase de alto-falantes é muito
importante quando temos um sistema com diversos deles,
conforme mostra a figura 11.

Figura 11

Devemos cuidar para que todos os alto-falantes estejam


em fase, pois se num determinado instante quando a polaridade
do sinal for uma, alguns cones de alto-falantes se movendo para
frente e outros para trás provocarão uma interferência destrutiva
que afetará a qualidade do sinal.
Conforme mostra a figura 12, em que temos alto-falantes
ligados em conjunto, a fase de todos eles deve ser a mesma.

Figura 12

É por esse motivo que os fios de conexão à caixas


acústicas e mesmo sistemas de som normalmente são de duas
cores, vermelho e preto, sendo o fio vermelho sempre ligado ao
terminal (+) do alto-falante ou da caixa.

84
NEWTON C. BRAGA

Finalmente, devemos falar da potência de um alto-falante.


Para esse assunto vamos antes comentar o modo como essa
grandeza é especificada, e que em alguns casos é de forma
enganosa.
A potência real ou quanto de energia por segundo um
sistema amplificador entrega a um alto-falante é dada em termos
RMS ou Root Mean Square que traduzido significa valor médio
quadrático.
Se levarmos em conta um sinal senoidal, que corresponde
a um som puro, esse valor corresponde a aproximadamente
0,707 do valor máximo que sinal atinge num semiciclo, conforme
mostra a figura 13.

Figura 13

Trata-se, portanto, de uma média que indica o valor real


ao longo de todo o semiciclo do sinal.
No entanto, os fabricantes de equipamentos de som
descobriram que podiam “aumentar” o valor da potência
especificada pelos seus equipamentos se em lugar de indicarem a
potência rms indicassem o valor de pico (peak).
Isso dava lhes um ganho razoável no número usado na
propaganda, é claro sem mudar nada no som reproduzido.
Assim, um amplificador de 70 W rms se tornava um
amplificador de 100 W de pico! (justificando eventualmente um
preço mais alto).
Mas, a coisa não parou por aí. Vemos que se pegarmos o
pico da potência num semiciclo, conforme mostra a figura 14, por
uma fração extremamente pequena de tempo, o amplificador
praticamente descarrega o capacitor de filtro de sua fonte no

85
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

alto-falante, produzindo um pico de potência instantânea muito


maior que o próprio valor de pico.

Figura 14

Esse pico pode chegar a 4 vezes a potência de pico, se


bem que seja tão curto que não represente acréscimo perceptível
no que ouvimos.
No entanto, para os fabricantes esse pico é importante
porque pode ajudá-los “a vender” a falsa ideia de que seu
amplificador é muito mais potente do que é realmente...
Os fabricantes passam então a usar o termo PMPO para
indicar esse valor instantâneo da potência. Assim, nosso
amplificador de 70 Wrms (real) que se tornou 100 w de pico,
passa a ter 400 W pmpo e até mais, conforme o modo como seja
feita a medição...
Nada mudou no amplificador que continua o mesmo, mas
a propaganda cresce a potência e o vendedor tem mais
argumentos para vender o produto aos que nada sabem. Já
chegamos a pegar uma caixa amplificada para computadores com
um amplificador de 3 W no interior (rms) que era anunciada
como 100 W de potência (pmpo).
Para os alto-falantes é comum que as potências sejam
especificadas nos dois termos. O leitor deve ter cuidado pelos
seguintes motivos. O primeiro é que um alto-falante não vai
fornecer a potência indicada se o amplificador não a tiver.
Assim, de nada adianta você ligar um alto-falante de 100
W num amplificador de 10 W. O alto-falante só vai reproduzir 10
W de potência. O segundo motivo é que o alto-falante deve ser

86
NEWTON C. BRAGA

capaz de suportar a potência fornecida pelo amplificador, dando-


se, é claro, uma margem de segurança.
Se o seu equipamento de som fornece 100 W rms você
precisa usar uma caixa ou alto-falantes que suportem pelo menos
100 W rms.
É claro que se o sistema tiver vários alto-falantes a
potência do amplificador vai se dividir entre eles. Uma margem
de segurança é recomendada, para que os alto-falantes não
trabalhem no limite o que pode causar aquecimento excessivo de
suas bobinas ou sobrecarga do sistema mecânico, danificando-o
em pouco tempo.

Fones de Ouvido
Atualmente, existem pequenos fones de ouvido dinâmicos
que nada mais são do que pequenos alto-falantes de muito baixa
potência, conforme mostra a figura 15.

Figura 16

A potência deles é da ordem de 500 mW ou 1 W


tipicamente e eles podem ter impedâncias que variam entre 8
ohms e 600 ohms. Seu princípio de funcionamento e os cuidados
com seu uso também.

Conclusão
Os alto-falantes ainda consistem na solução mais adotada
para a reprodução de som em sistemas de todos os tipos. No
entanto, como qualquer componente eletrônico, os alto-falantes
possuem especificações que devem ser observadas com cuidado.

87
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Alto Falantes Pequenos


Antigamente, quando pensávamos num equipamento de
som potente, um dos pontos básicos era o alto-falante que
deveria ser o maior possível para as baixas frequências, e os
demais também de tamanhos que dependiam da faixa
reproduzida. Hoje temos alto-falantes muito pequenos que
possuem excelente qualidade de som, cobrindo praticamente todo
o espectro audível. Como isso é possível é o que veremos neste
artigo.
Fones de ouvido, que nada mais são do que recursos
acústicos com pequenos alto-falantes, mini-caixas de som e até
mesmo os celulares possuem alto-falantes que surpreendem pela
qualidade de som e principalmente pelas diminutas dimensões.
Se voltarmos ao passado vemos que os alto-falantes de
tecnologias antigas tinham de ser grandes porque os sons das
diferentes frequências eram reproduzidos em áreas diferentes do
cone cujas dimensões determinavam os limites das frequências.
Para s baixas frequências era preciso contar com grandes
alto-falantes e com imãs pesados que garantiam que os sons
seriam reproduzidos com a intensidade desejada, conforme
mostra a figura 1.

Figura 1 – Regiões de reprodução de um alto-falante comum

No entanto, usando tecnologias modernas pode-se ter um


rendimento muito grande e uma cobertura apropriada do
espectro com alto-falantes muito pequenos.
A tecnologia usada é a que faz uso de MEMS ou Micro
Electromechanical Systems que combina a tecnologia comum dos
semicondutores com dispositivos mecânicos na escala de
micrometros.

88
NEWTON C. BRAGA

Dispositivos extremamente pequenos podem cobrir faixas


de frequências de 20 Hz a 20 kHz sem problemas e com
excelente rendimento com níveis de som de 110 dB. Uma simples
pastilha de 4 x 4 mm de um pequeno alto-falante deste tipo pode
ter qualidade Hi-FI com excelente volume.
Na figura 2 temos as dimensões dos alto-falantes MEMS
como os encontrados em celulares, quando comparados a uma
moeda.

Figura 2 – Alto-falantes MEMs da STMicroelectronics

Partindo da figura 3 podemos analisar o seu princípio de


funcionamento.

Figura 2 – Estrutura de um alto-falante MEMs

89
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

A camada piezoelétrica excita uma estrutura de


dispositivos de tecnologia microelectromechanical que atua sobre
a membrana que reproduz o som.
Nessa estrutura combina-se a tecnologia dos materiais
semicondutores com recursos mecânicos extremamente
pequenos. Estas estruturas mecânicas podem então transmitir as
vibrações mecânicas resultantes da ação do material piezoelétrico
para a membrana resultando em som.
Dadas suas dimensões extremamente pequenas não
existem problemas de inércia que afetam um alto-falante comum
e que determinam sua faixa de reprodução. Com isso o som pode
ser potente e fiel.

90
NEWTON C. BRAGA

Cápsulas ou Buzzers Cerâmicos

Encontrados na maioria das aplicações em que se deseja


produzir um som de sinalização de baixa potência, os
transdutores piezoelétricos, buzzers ou cápsulas piezoelétricas
cerâmicas consistem numa solução eficiente e barata para elas.
Veja neste artigo como eles funcionam e como usar.
Os transdutores ou cápsulas piezoelétricas de cerâmica
podem ser encontrados numa grande variedade de tamanhos e
potências, para as mais diversas aplicações.
Eles podem ser utilizados como simples dispositivos de
sinalização até a reprodução de som de baixa potência num fone
de ouvido. Na figura 1 temos alguns tipos comuns de cápsulas.

Figura 1 – Transdutores piezoelétricos comuns

Elas podem ser abertas, apenas com o elemento


reprodutor visível ou fechadas em invólucros plásticos para uso
externo ou montagem em placas de circuito impresso.

Como Funciona
No nosso livro Curso de Eletrônica – Eletrônica Básica
tratamos de materiais denominados piezoelétricos, em que a
disposição dos átomos é tal que eles passam a apresentar
propriedades que se manifestam externamente.
Os materiais piezoelétricos são exemplos, podendo ser
dados como exemplos o quartzo e determinados tipos de
cerâmicas. Quando estes materiais são deformados, eles
manifestam uma diferença de potencial elétrico entre suas
extremidades e, inversamente, quando submetidos a uma tensão
eles se deformam, como mostra a figura 2.

91
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 2 – Os materiais piezoelétricos

No caso do quartzo aproveitamos esta deformação para


fazê-lo vibrar numa frequência única que depende do corte. Na
figura 3 temos um exemplo de circuito em que a frequência de
operação é determinada por um cristal de quartzo.

Figura 3 – Oscilador controlado por cristal

No entanto, nas cerâmicas podemos ir além, e ter muito


mas aplicações do que simplesmente oscilar numa única
frequência. As cerâmicas de titanato de bário são especialmente
utilizadas em muitas aplicações, tanto por serem fácil de obter e
baratas como por não apresentarem perigo, pois ela não
representa perigo para o meio ambiente e para as pessoas.
Temos então diversas aplicações interessantes que
podemos citar como exemplos. Uma delas consiste no acendedor
de fogões a gás do tipo mostrado na figura 4.

92
NEWTON C. BRAGA

Figura 4 – acendedor de gás com cerâmica piezoelétrica

O princípio de funcionamento deste tipo de aparelho é


bastante engenhoso.
Nele, temos uma cerâmica piezoelétrica e um gatilho com
uma espécie de martelo. Quando apertamos o gatilho, o martelo
dá uma pancada na cerâmica de tal forma que ela produz entre
suas extremidades uma tensão que pode ultrapassar 2 000 V. O
resultado é que nos eletrodos colocado na parte frontal do
acendedor é produzida uma faísca, suficientemente forte para
acender o gás de um fogão. Outra aplicação, que é a mais
comum é nas pequenas pastilhas produtoras de som que
encontramos em muitos aparelhos, como a mostrada na figura 5.
Estas pastilhas podem ser encontradas sem invólucro ou
ainda dentro de invólucros plásticos com os mais diversos
formatos. Quando aplicamos um sinal a este tipo de transdutor, a
cerâmica se deforma, vibrando na mesma frequência. O resultado
é a produção de uma onda sonora.
Nas aplicações práticas é comum tentar fazer com que ela
opere na frequência de ressonância, entre 1 000 e 3 000 Hz para
os tipos comuns, quando o rendimento é maior e, portanto, o
som mais intenso.

93
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 5 – Transdutor comum de som ou buzzer

Podemos encontrar este tipo de transdutor já com o


oscilador incluído produzindo tanto som contínuo como
intermitente. Assim, nestes casos, não precisamos de oscilador
externo, bastando alimentar o buzzer com uma tensão contínua.
Na figura 6 temos alguns desses buzzer com oscilador.

Figura 6 – Buzzer com oscilador interno

O buzzer da figura ou transdutor piezoelétrico com


oscilador pode ser encontrado em versões de 3 a 15 V e produz
um som de 2 800 Hz. Veja que o tipo de alimentação para o
transdutor sozinho e com oscilador é diferente.
Outra aplicação importante, utilizando cerâmicas capazes
de operar com potências elevadas é na produção de ultrassons.
Limpadoras ultrassônicas podem então utilizar este tipo de
transdutor.

94
NEWTON C. BRAGA

Eles são montados em contato com um recipiente de inox


para o qual transmitem os ultrassons gerados por um circuito
potente. Eletricamente os transdutores deste tipo se comportam
como um capacitor, conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Equivalente elétrico do buzzer

Eles apresentam então uma elevada impedância, o que


significa um consumo muito baixo e uma facilidade de excitação
pelos circuitos eletrônicos.

Aplicações
Para os transdutores comuns, sem oscilador, temos
diversas possibilidades de uso com circuitos excitadores. Uma
configuração simples é mostrada no provador de continuidade da
figura 8.

Figura 8 – Provador de continuidade sonoro

95
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

A montagem deste circuito pode ser feita numa pequena


matriz de contatos, conforme mostra a figura 9.

Figura 9 – Montagem em matriz de contatos

Encostando uma ponta de prova na outra deve haver


emissão de som. Os transistores admitem equivalentes e os
resistores são de 1/8 W com qualquer tolerância. Se pode alterar
os capacitores para se modificar o som emitido. Na figura 10
temos uma sugestão de caixa para a montagem.

Figura 10 – Caixa para a montagem

96
NEWTON C. BRAGA

A figura 11 mostra um gerador de bips, um pouco mais


complexo pois usa um circuito integrado e dois transistores.

Figura 11 – Gerador de bips

O intervalo entre os bips é dado por C1 e a frequência


pelos outros dois capacitores do circuito. A montagem numa
matriz de contatos é mostrada na figura 12.

Figura 12 – Montagem em matriz de contatos

97
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Na montagem, podemos ver que a posição do circuito


integrado e dos transistores. Os resistores de são de 1/8W com
qualquer tolerância e a alimentação pode ser feita por tensões a
partir de 5 V.

98
NEWTON C. BRAGA

Motores
Motores elétricos são parte integrante de uma infinidade
de equipamentos. Máquinas industriais, automatismos domésticos
e automotivos, portões elétricos, dispositivos mecatrônicos, robôs
são alguns exemplos de lugares onde podemos encontrar
motores. Os motores podem ser dos mais diversos tipos, formas
e tamanhos o que leva a todo profissional da eletrônica a ter um
conhecimento mais profundo destes dispositivos se quiser saber
como trabalhar com eles. Neste artigo especial analisaremos os
diversos tipos de motores, suas vantagens e desvantagens e a
tecnologia que cada um emprega.
Os motores são transdutores que convertem energia
elétrica em energia mecânica. Nesta função, eles fazer parte de
uma grande quantidade de equipamentos que encontramos no
dia a dia.
Nos últimos tempos com a união cada vez maior da
eletrônica à mecânica com a criação de dispositivos mecatrônicos,
os motores aparecem em cada vez maior quantidade e numa
variedade de tipos até então nunca vista.
Como funcionam os diversos tipos de motores que
encontramos nos equipamentos de nosso dia a dia, como
trabalhar com eles é algo que todo profissional precisa saber e é
isso que vamos levar neste artigo.

Fundamentos
A ideia de se obter energia mecânica a partir de energia
elétrica, criando-se assim o primeiro motor de corrente contínua
vem de 1830 quando Michael Faraday desenvolveu o primeiro
motor de disco. Na figura 1 temos uma idéia de como ele
funcionava.

99
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

No entanto, naquela época as próprias fontes de energia


elétrica eram limitadas o que fez com que este motor apenas se
tornasse uma curiosidade de laboratório sem aplicação prática
alguma.
Os motores modernos se baseiam num princípio muito
conhecido de todos os estudantes de física e eletrônica e que é
mostrado na figura 2.

Quando uma corrente elétrica percorre um fio imerso num


campo magnético surge uma força perpendicular ao fio que tende
a movê-lo.
Se em lugar de um simples condutor usarmos uma bobina
com muitas espiras de fio, mesmo uma corrente relativamente

100
NEWTON C. BRAGA

fraca pode gerar forças bastante intensas quando a mesma


configuração for montada.
Uma bobina com o formato mostrado na figura 3 quando
percorrida por uma corrente e imersa num campo uniforme ficará
sujeita a um binário que tende a girá-la.

Evidentemente, nestas condições, se a bobina puder girar


livremente ela só vai fazê-lo por um certo percurso, até que as
forças não mais atuem no sentido de produzir este movimento,
conforme mostra a figura 4.
A configuração é interessante pois pode produzir força
mecânica em boa quantidade, mas existe o problema de se obter
um movimento contínuo da bobina, ou seja, fazê-la girar sem
parar.

101
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Isso pode ser conseguido por um processo denominado


comutação e que é mostrado na figura 5 e que já nos leva a um
motor com possibilidade de aplicações práticas.

A bobina é enrolada num cilindro que é montado num eixo


capaz de girar sobre mancais.
Neste eixo deixamos duas regiões isolantes em que
colocamos "meia calhas" de contatos comutadores que são
ligados aos fios da própria bobina.
Dois contatos fixos ou "escovas" fazem contato elétrico
com estas meia-calhas de modo a transferir energia para as
bobinas.
A ligação destes comutadores é tal que em meia volta do
percurso, os comutadores A e B são ligados a bobina e com isso a
corrente circula num sentido. Na outra meia volta os comutadores
C e D é que são ligados na bobina e a corrente circula no sentido
oposto.
Tudo isso nos leva ao seguinte comportamento mecânico
do dispositivo assim formado.

102
NEWTON C. BRAGA

a) Quando aplicamos a corrente nos contatos que alimentam


a bobina circula uma corrente num sentido tal que tende a
movimentar a bobina de meia volta num sentido que
depende justamente do sentido de circulação desta
corrente.
b) Quando a bobina alcança a posição que seria de repouso,
meia volta depois, as escovas comutadoras mudam os
contatos e com isso a corrente inverte seu sentido de
circulação.
c) O resultado disso, é que a posição em que a bobina
alcançou não é mais a posição de repouso, já que surge
uma nova força que tende a fazê-la continuar girando. A
nova posição de repouso estará agora meia volta adiante.
d) A bobina gira mais volta para alcançar a nova posição de
repouso, mas ao chegar próxima dela, novamente entram
em ação os comutadores e a corrente é invertida. Uma
nova posição de repouso aparece.
e) A nova posição de repouso estará novamente meia volta à
frente e a bobina continua girando.

É fácil perceber que a bobina nunca vai parar enquanto


houver disponibilidade de corrente para alimentar o circuito e
obteremos com isso um movimento giratório da bobina e de seu
eixo constante. A figura 6 ilustra o que ocorre.

103
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

A força que aparece no eixo deste tipo de motor vai


depender de diversos fatores tais como o número de espiras da
bobina, a intensidade do campo magnético assim como a
intensidade da corrente.

Motor DC com Escovas


Este tipo de motor é o mais tradicional conhecido por
"brush DC motor" onde "brush" significa escova, para designar a
operação com o sistema comutador.
Na figura 7 temos um motor deste tipo visto em corte,
como os muito encontrados em aplicações comuns tais como
brinquedos, ventiladores de carro etc.

Observe que são usados imãs permanentes no estator,


que o rotor onde é enrolada a bobina é feito de metal ferroso
para concentrar as linhas de força do campo magnético criado
pela bobina, tornando-o mais intenso e que as escovas são feitas
ou de pedaços de grafite ou ainda com lâminas de cobre,
dependendo do tipo.
Motores deste tipo podem ser encontrados em versões de
todos os tamanhos e tipos, sendo as mais comuns as alimentadas
por pilhas na faixa de 1,5 a 12 V conforme mostra a figura 8.

104
NEWTON C. BRAGA

Estes pequenos motores podem operar com potências de


poucos watts, já que as correntes drenadas variam entre 50 mA e
2 A tipicamente.

Características:
Os motores deste tipo na realidade são especificados para
operar dentro de uma faixa de tensões. Assim, um motor de 3 V,
realmente funcionará quando alimentado com tensões na faixa de
1,5 a 4,5 V sem problemas. Acima desta tensão o problema
maior é a dissipação de calor pelo enrolamento.
Aquecendo demais os fios podem ter sua isolação
queimada já que são do tipo esmaltado. A velocidade de rotação
deste tipo de motor depende da tensão aplicada assim como da
carga, ou seja, da força que devem fazer.
Assim, é comum termos um gráfico para especificar a
relação tensão x velocidade conforme mostra a figura 9.

105
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Pequenos motores para a faixa de 1,5 a 12 V podem ter


rotações sem carga na faixa de 1 000 a 10 000 rpm.
Quando carregados, a corrente aumenta e a rotação cai,
nos levando a um gráfico conforme mostra a figura 10.

Por este motivo, numa aplicação prática é preciso


especificar tanto a tensão aplicada como a carga para que se
possa ter uma ideia exata da rotação em que ele vai trabalhar.
Nas aplicações mais críticas em que o motor precisa
manter uma rotação constante existem diversas técnicas que
podem ser empregadas para esta finalidade.
Uma delas é regulagem mecânica da velocidade que pode
ser conseguida com contrapesos conforme mostra a figura 11.

106
NEWTON C. BRAGA

Esta regulagem opera fazendo com que, ao aumentar a


velocidade os pesos se afastem do eixo de rotação e com isso
seja preciso uma força maior para mantê-los em rotação
compensando desta forma o ganho de velocidade.
Outra possibilidade é a regulagem eletrônica que pode
empregar diversas configurações práticas.
Uma delas consiste no uso de algum tipo de circuito
regulador de corrente ou fonte de corrente constante, conforme
mostra a figura 12.

Este circuito é usado quando o motor deve acionar uma


carga com uma força constante e manter a velocidade dentro de
certos limites.
Parte-se da ideia de que a corrente depende da carga e da
rotação e uma vez ajustada, uma alteração na velocidade tende a
modificar a corrente que é compensada pelo circuito.
Outra possibilidade consiste no uso de algum tipo de
sensor acoplado ao eixo do motor que faça a leitura de sua
rotação, conforme mostra a figura 13.
Um sensor magnético ou ainda óptico informa ao circuito
qual é a rotação e compara com o valor ajustado gerando um
sinal de erro. Este sinal é usado para aumentar ou diminuir a
tensão no motor, corrigindo-se assim a velocidade até que ela
chegue ao valor desejado.

Este tipo de motor tem várias limitações como:

107
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

a) A velocidade máxima está limitada tanto pelas


características mecânicas das escovas como também pelo
núcleo. Em altas rotações, a corrente inverte e desinverte
milhares de vezes por segundo gerando assim correntes
de foucault no núcleo ferroso do motor. Esta corrente faz
com que o núcleo se aqueça fazendo cair o rendimento do
motor.
b) Nas comutações é gerado ruído elétrico que pode interferir
nos circuitos mais sensíveis do aparelho em que o motor
funciona. Se bem que possam ser usados filtros para
eliminar estes ruídos, como por exemplo capacitores em
paralelo, existe um limite para sua ação.
c) As escovas ou contatos gastam com o tempo reduzindo a
vida útil do motor.

Diversas tecnologias possibilitam a construção de motores


DC com escovas com rendimento mais elevado.

Uma delas é a que possui uma armadura em forma de


disco gravada e que é mostrada na figura 14.

108
NEWTON C. BRAGA

Este tipo de motor não possui partes de ferro móvel o que


elimina os problemas do aquecimento do núcleo nas altas
rotações pelas correntes de turbulência ou foucault geradas pelas
altas frequências.
Na figura 15 temos um outro tipo de motor DC que possui
uma armadura em forma de concha, sendo chamado também de
"shell armature" em inglês.

A grande vantagem destes motores em relação aos


tradicionais é que eles podem alcançar rotações muito mais altas.

Perdas nos Motores DC


A finalidade básica de um motor é converter energia
elétrica em energia mecânica. Evidentemente, o melhor motor é
o que consegue converter a maior parte da energia elétrica em

109
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

energia mecânica, ou seja, tem o maior rendimento ou menores


perdas.
As perdas nos motores de corrente contínua, além das que
já comentamos no item anterior podem ter diversas outras
origens.
Na figura 16 mostramos num gráfico os diversos tipos de
perdas que podem afetar o rendimento deste tipo de motor.

Perdas nos enrolamentos


Estas perdas ocorrem porque o fio usado nos
enrolamentos dos motores apresenta certa resistência elétrica.
Para vencer esta resistência, energia elétrica é convertida em
calor e não em força mecânica.
As perdas pela resistência do enrolamento podem ser
calculadas pela expressão:

P = R x I2

Onde:
P é a potência elétrica perdida- transformada em calor (W)
R é a resistência do enrolamento (ohms)
I é a intensidade da corrente no motor

Um fator importante que deve ser levado em conta nestas


perdas é que a resistência do enrolamento aumenta quando ele

110
NEWTON C. BRAGA

se aquece, ou seja, quando o motor passa a rodar em regime de


maior potência.

Perdas pelos contatos


As escovas não possibilitam a realização de um contacto
elétrico perfeito quando o motor gira. Na verdade, a eficiência
deste tipo de contacto diminui bastante à medida que a
velocidade do motor aumenta.
Com a diminuição da eficiência do contacto, a resistência
aumenta e com isso a quantidade de calor que é gerado neste
ponto do motor.
A análise da forma como os contatos atuam é bastante
complexa já que existe o problema do repique que gera pulsos de
transientes quando comutam uma carga altamente indutiva como
é o enrolamento do motor.
Em lugar do simples estabelecimento da corrente
conforme mostra a figura 16(a) temos a produção de uma
sequência de pulsos muito rápidos que, atuando sobre a
indutância do motor fazem com que a corrente estabelecida não
alcance imediatamente o valor esperado e, além disso sejam
gerada uma tensão de retorno mais alta.

Perdas no Ferro
As características de magnetização do ferro usado como
núcleo nos motores devem ser consideradas quando analisamos o
funcionamento de um motor de corrente contínua com escovas.
A principal se deve às correntes de turbulência ou Foucalt.
que são geradas devido à histerese do material usado no núcleo.
Como este material não consegue acompanhar as
inversões muito rápidas de polaridade do campo magnético
quando o motor gira em alta velocidade. são induzidas correntes
no núcleo que causam seu aquecimento.
Este aquecimento pode influir no aumento da resistência
do enrolamento (como já vimos) assim como nas próprias
características magnéticas do material usado no núcleo do motor.
Em suma, maior velocidade para este tipo de motor pode
significar perdas consideráveis pelas correntes induzidas desta

111
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

forma. O uso de chapas de metal em lugar de núcleos sólidos


reduz o problema, mas não o elimina completamente.

Perdas por Fricção


Estas perdas se devem às características mecânicas do
motor que deve rodar sobre mancais com o mínimo de atrito
possível. Evidentemente, na prática não podemos reduzir este
atrito a zero e as perdas ocorrem.
A própria pressão mecânica das escovas sobre os contatos
no rotor do motor também induz perdas por atrito que além do
inconveniente de atuar como um freio, também geram calor que,
conforme vimos, são um dos fatores que causam uma perda de
rendimento para este tipo de motor.
Materiais como a grafite, que além de serem bons
condutores elétricos têm um coeficiente de atrito muito baixo
ajudam bastante a se obter motores com baixas perdas por atrito
dos contatos, mas elas não são totalmente eliminadas e devem
ser consideradas em certas aplicações mais críticas.

Perdas por Curto-Circuito


Quando as escovas mudam de contacto passando de um
enrolamento para outro no giro de um motor, por uma fração de
segundo, o contacto ocorre em dois enrolamentos ao mesmo
tempo, conforme mostra a figura 17.
Neste instante temos um curto-circuito de curta duração
que absorve energia convertendo-a em calor.
Outro problema que este curto causa é atuar como um
freio eletrodinâmico já que as espiras são momentaneamente
colocadas em curto gerando assim uma carga para o motor.

112
NEWTON C. BRAGA

Outras Perdas:
Além das causas analisadas existem outras que afetam o
desempenho de motores de corrente contínua que fazem uso de
escovas. analisemos algumas delas.

Ripple de Torque
Devido as características indutivas do enrolamento do
motor e também devido à inversão da corrente constantemente
pela ação nas escovas dos motores de corrente contínua não é
possível manter constante a corrente e com isso o torque.
Na prática, o torque varia conforme uma curva ondulação
(ripple) que é mostrada na figura 18.
Esta característica costuma trazer problemas de
funcionamento principalmente em altas velocidades e pode ser
minimizada com a utilização de enrolamentos múltiplos no motor
ou ainda aumentando-se o número de polos de comutação, mas
isso sem dúvida encarece o dispositivo.
Outras técnicas podem ser empregadas para se minimizar
este tipo de problema.

113
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Desmagnetização
Os imãs permanentes usados nos motores de corrente
contínua para criar o campo sobre o qual se baseia seu
funcionamento não são tão permanentes assim, perdendo seu
magnetismo com o tempo.
Outro fator que tem influência na desmagnetização do imã
permanente é a própria corrente que circula pelos enrolamentos.
O campo magnético criado pelos enrolamentos atua sobre
o imã permanente e com o tempo faz com que seu magnetismo
se reduza até o ponto em que ele começa a afetar de modo
sensível no rendimento do motor.
É importante observar que uma intensidade de corrente
acima de certo valor nos enrolamentos do motor pode criar um
campo suficientemente intenso para desmagnetizar de modo
completo os imãs permanentes.
Assim, pulsos de correntes intensas devem ser evitados de
qualquer forma pois eles podem causar este tipo de problema.

Ressonância Mecânica
Todos os corpos tendem a vibrar com maior intensidade
em certas frequências e isso é válido para as partes mecânicas de
um motor. Assim, se deixarmos um motor de corrente contínua
girar livremente sem carga ele tende a se acomodar numa

114
NEWTON C. BRAGA

rotação em que suas partes mecânicas oscilem na sua frequência


de ressonância.
Nesta frequência, podem surgir esforços mecânicos que
tanto pode afetar a integridade do motor como seu rendimento.
Na prática, o que se faz é utilizar partes que tenham
frequências bem diferentes de ressonância e até girem em
sentidos contrários para que este efeito seja anulado.

Contra - FEM Induzida


A comutação rápida das escovas de uma carga indutiva faz
com que surja uma tensão induzida que é conhecida como força
contra eletromotriz.
Na figura 19 mostramos a característica desta força com a
velocidade de rotação de um motor comum.

Observe que esta força contra eletromotriz aumenta com a


velocidade de rotação do motor. Normalmente, para os motores
comuns ela é expressa para uma rotação de 1000 rpm.
Esta força faz com que o motor funcione como um gerador
que "devolve" parte da energia para o circuito que o alimenta
atuando assim como uma espécie de freio.

Motores sem Escovas


Conforme vimos, a maior limitação para a operação dos
motores de corrente contínua está na necessidade de se adotar
um sistema comutador mecânico que inverta e desinverta a

115
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

corrente durante o movimento para se manter as forças atuando


sempre no mesmo sentido e assim ser obtida uma rotação
contínua.
Estas escovas gastam, geram ruídos e, além disso estão
sujeitas à problemas de contatos que se agravam à medida que
as rotações aumentam.
A terminologia usada especifica os motores sem escova
como um tipo especial de servomotor. Esta observação deve ser
feita, pois os motores de passo também são motores sem
escovas do mesmo modo que um motor de indução de corrente
alternada.
Na categoria dos motores sem escovas temos dois tipos
básicos: o motor trapezoidal e os motores para ondas senoidais.
O motor trapezoidal, na verdade é um servo DC, ao
mesmo tempo em que o senoidal se assemelha a um motor AC
síncrono.
Para entender melhor como eles funcionam vamos partir
da evolução dos motores sem escovas.
Um motor convencional com escovas, conforme mostra a
figura 20, consiste num rotor com uma bobina que fira num
campo magnético produzido pelo estator. Se as conexões da
bobina são feitas através de anéis deslizantes, este motor se
comporta como um motor de passo (invertendo a corrente o rotor
gira de 180 graus).

116
NEWTON C. BRAGA

Incluindo o comutador e escovas a reversão da corrente


será feita automaticamente e o rotor vai continuar girando na
mesma direção.
Para transformar este motor num motor sem escovas
devemos partir da eliminação dos enrolamentos do rotor. Isso
pode ser conseguido virando "ao avesso" o motor. Em outras
palavras, colocamos o imã permanente como parte rotativa do
motor e colocamos as bobinas nos polos do estator.
É claro que precisamos ainda pensar em algum meio de
inverter a corrente automaticamente - uma chave acionada por
um ressalto poderia ser usada para esta finalidade conforme
mostra a figura 21.

É claro que um arranjo que ainda inclua um dispositivo


mecânico de comutação não é a melhor solução para o problema.
Podemos, em lugar da chave mecânica, usar um
amplificador para excitar as bobinas e que seja acionado por
algum dispositivo que possa verificar a posição do rotor em cada
instante, por exemplo, um sensor óptico ou um sensor de efeito
Hall, conforme mostra a figura 22.

117
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Este circuito de leitura da posição e acionamento das


bobinas é denominado "encoder de comutação" na linguagem
técnica.
Fica claro que um motor deste tipo não pode ser
conectado diretamente a uma fonte de corrente contínua para
funcionar.
O motor deve ser ligado a um circuito que inverta
constantemente a corrente, o que em última análise significa que
o motor é acionado por uma corrente alternada.
Voltando aos motores comuns com escovas, vemos que
um rotor que tenha apenas uma bobina apresenta uma
característica de grande variação de torque com a rotação.
De fato, a característica será senoidal com o máximo
torque já que o rotor corta o campo magnético numa forma que
resulta neste comportamento, conforme mostra a figura 23.
Um motor DC na prática possui diversas bobinas no rotor e
cada uma é ligada não somente ao seu próprio par de
comutadores como também a outras bobinas. Desta forma,
temos um toque mais constante pelo efeito da média da corrente
circulando através delas.
Como obter o mesmo comportamento para um motor sem
escovas? Isto vai exigir um grande número de bobinas no estator,
o que em princípio não é difícil de conseguir, mas tem o

118
NEWTON C. BRAGA

agravante de que precisaremos de um circuito excitador para


cada uma delas.

Na prática um motor sem escovas possui dois ou três


conjuntos de bobinas ou "fases" conforme mostra a figura 24.

No motor mostrado na figura é do tipo de dois polos e


três fases. O rotor normalmente possui quatro ou seis polos no
rotor com um aumento correspondente no número de polos do
estator.
Veja que isso não aumenta o número de fases pois elas
podem ser distribuídas entre diversos estatores.
A característica de torque deste tipo de motor é mostrada
na figura 25.

119
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Através desta figura podemos ver que o torque máximo é


conseguido quando os campos do estator e do rotor estão com
uma defasagem de 90 graus.
Limitando o número de fases a três isso significa que se
pode avançar o campo do estator apenas em incrementos de 60
graus da rotação do eixo, o que significa que não dá para manter
esta diferença de fase de 90 graus.
Na prática o que se faz é manter esta diferença oscilando
entre 60 e 120 graus de modo que na média teremos 90 graus
com o que se consegue uma boa aproximação da condição de
maior torque.

O Motor Trapezoidal
Com uma intensidade de corrente fixa nos enrolamentos,
pode-se conseguir um bom aumento do torque.

120
NEWTON C. BRAGA

Consegue-se com isso um achatamento de sua


característica de toque mostrada na figura 26, que, pela sua
forma dá nome a este tipo de motor.

Na prática isso não é muito simples, já que um certo grau


de não linearidade sempre permanece. O efeito principal é um
pequeno "soquinho" no ponto de comutação do circuito, o que
pode ser importante nas aplicações de muito baixa rotação.
O ripple ou ondulação de torque resultante desta
característica tende a produzir uma espécie de modulação de
velocidade na carga. No entanto, num sistema que use um
feedback de velocidade de grande ganho o problema é eliminado.
Isso significa eu um pequeno aumento da velocidade gera um
grande sinal de erro, reduzindo a demanda de torque para
corrigir a velocidade.
Na prática, a corrente do amplificador tende a ser um
espelho da característica de torque resultando numa modulação
de velocidade muito pequena conforme mostra a figura 27.

121
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O Motor Senoidal
No motor senoidal que também é chamado de servo AC
sem escovas, nenhum cuidado é tomado para se corrigir as
características senoidais básicas de torque.
Este motor pode ser alimentado como um motor AC
sincronizado simplesmente aplicando-se aos enrolamentos uma
tensão senoidal com o deslocamento de fase apropriado, 120
graus no caso de motores de três fases.
Se for necessária uma precisão em baixas velocidades
uma precisão maior nas tensões deve ser conseguida. Isso
significa que o drive deve gerar três correntes que estejam em
fase de acordo com a posição do eixo. Para obter a necessária
precisão nesta codificação normalmente são usados codificadores
ópticos.

Torque Constante
Para entender melhor como pode-se obter torque
constante deste tipo de motor, é melhor analisar um caso em que
tenhamos apenas duas fases.
Este motor tem dois conjuntos de bobinas que são
alimentadas com um sinal trapezoidal defasadas de 90 graus,
uma em relação a outra.
Se representarmos a posição do eixo por um ângulo x, as
correntes nos enrolamentos estarão na forma:

I = Io sen x
I = Io cos x

Voltando ao modelo básico de motor, podemos observar


que a característica de torque fundamental do motor também é
senoidal, o que quer dizer que o torque instantâneo será dado
por:
T1 = Io K sen x

Onde k é a constante de torque do motor.


Tornando a corrente no motor senoidal, e em fase com as
características de torque do motor, o toque obtido de uma das
fases será:

122
NEWTON C. BRAGA

T1 = (Io sen x) K sen x = I k sen2x

E, da mesma forma, o torque obtido será dada por:

T1= Io K cos2x

O torque total obtido (nas duas fases) será então:

T1 + T2 = Io K (sen2 x+ cos2 x)

Mas:
sen2 x+ cos2 x = 1

Onde obtemos:

T1 + T2 = Io x k

Assim, para correntes senoidais aplicadas ao motor, o


torque resultante será independente da posição do eixo.
Veja, entretanto, que, para que isso ocorra, deve haver
uma precisão na aplicação destas correntes no motor, o que
exige o emprego de um encoder apropriado para enviar a
informação necessária ao circuito de processamento que a gera.

Servos Híbridos
Com relação ao princípio de funcionamento, o motor de
passo e o servo motor sem escovas são semelhantes.
Cada um possui um sistema de imãs rotativo e um estator
com bobinas enroladas.
A única diferença está no fato de que eles possuem
números de polos diferentes. São apenas 3 pares no servo híbrido
e até 50 no motor de passo.
Assim, para efeito de análise podemos considerar um
servo híbrido como um motor de passo simplificado.
Baseados nos mesmos princípios podemos usar um motor
de passo como servo simplesmente agregando algum recurso de
feedback como, por exemplo, um encoder óptico.

123
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O nome híbrido vem justamente do fato de que sua


construção tanto se baseia nos princípios de funcionamento dos
servos comuns como dos motores de passo.
Eles até são chamados em alguns de "servos de passo".
Na figura 28 temos uma vista em corte de um motor deste
tipo.

Neste tipo de motor um drive de 2 fases fornece as


correntes defasadas (seno e cosseno) que os enrolamentos
precisam para a excitação sempre comandados pelo dispositivo
de realimentação. Este dispositivo tanto pode ser um encoder
óptico como um sensor de contatos. Como o motor tem 50 pares
de polos, devem ser gerados 50 ciclos de sinal para cada volta do
eixo.
Um servo híbrido tem aproximadamente o mesmo torque
do motor equivalente de passo quando alimentado pela mesma
tensão e corrente, mas deve-se considerar que a operação deve
ser sempre em laço fechado.
Um servo híbrido é mais caro que um motor de passo
num determinado sistema, mas mais barato do que um servo
sem escovas.

124
NEWTON C. BRAGA

Da mesma forma que nos motores de passo a operação


contínua em altas velocidades não é recomendada para este tipo
de motor já que podem ocorrer muitas perdas no núcleo. Outra
vantagem deste tipo de motor é que ele costuma operar de modo
mais silencioso e aquecer menos do que os motores de passo
comuns.

Motores de Acionamento Direto


Este tipo de motor é acoplado diretamente nas cargas que
devem movimentar sem o uso de caixas de redução,
engrenagens ou correias. Em algumas aplicações motores sem
escovas e mesmo motores de passo podem apresentar torque e
resolução adequadas para este tipo de aplicação.
Em outros, entretanto, as caixas de redução e correias são
usadas para se modificar o torque e a velocidade de acordo com
as especificações exigidas pelo projeto.
Na figura 29 temos um tipo de motor de acionamento
direto em corte.

125
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Um motor deste tipo não possui escovas e nem


engrenagens de modo a se obter maior torque e maior resolução,
sacrificando, entretanto, a velocidade e a precisão.
Uma vantagem importante do acionamento direto e a
eliminação do atrito e fricção das engrenagens que são
responsáveis por perdas importantes de potência.
Este tipo de motor contém componentes de precisão e um
sistema de feedback num invólucro muito compacto.
O torque deste tipo de motor depende de seu diâmetro e
em segundo lugar do número de dentes de que criam o campo
magnético de modo a se obter o maior número de passos de
acionamento.
Estes motores têm como principais vantagens a alta
precisão, maior velocidade de reposta, maior torque em altas
velocidades e rotação suave.

126
NEWTON C. BRAGA

Os SCRs
O SCR é um dispositivo semicondutor da família dos
Tiristores, ou seja, é um dispositivo de estado sólido usado no
controle de potência ou controle de correntes elevadas. SCR ‚ a
abreviação de Silicon Controlled Rectifier ou Retificador ou Diodo
Controlado de Silício.
De uma forma mais, simples, pelo seu comportamento e
símbolo que lembram um diodo, preferimos chamá-lo de Diodo
Controlado de Silício.
A verdade é que o SCR se comporta exatamente como um
diodo conduzindo a corrente entre o anodo e o catodo (num
sentido único) mas, quando for disparado por meio de um sinal
aplicado ao seu eletrodo de comporta.
A corrente que os SCRs podem conduzir entre o anodo e o
catodo são muito intensas, mesmo para dispositivos de baixo
custo, variando entre alguns ampères e dezenas de ampères.
Desta forma, ligados em série com dispositivos diversos
eles podem funcionar como "chaves" eletrônicas, ligando ou
desligando esses dispositivos ou ainda "dosando" a potência
aplicada, como ocorre em dimmers e controles de velocidade.
Para entender melhor como o SCR funciona será
interessante fazermos uma análise deste componente a partir de
sua estrutura.

Como Funciona o SCR


Os SCRs são dispositivos semicondutores formados por 4
camadas de materiais P e N colocados numa estrutura alternada
conforme mostra a figura 1.

127
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 1 – Estrutura, circuito equivalente e símbolo do SCR

Esta estrutura, conforme mostra a mesma figura, equivale


a dois transistores interligados de modo que um realimente o
outro. Dizemos que os dois transistores formam uma "chave
regenerativa". Observe que a base do transistor NPN passa a ser
a entrada de disparo do dispositivo ou comporta (gate ou g, se
usarmos os termos originais em inglês). O emissor do transistor
PNP é o anodo do SCR e o emissor do transistor NPN o catodo do
SCR. Vamos supor que o SCR seja ligado num circuito simples
como o mostrado na figura 2, em que temos por carga uma
lâmpada em série com seu anodo.

Figura 2 – SCR num circuito simples

128
NEWTON C. BRAGA

Nestas condições, o SCR inicialmente não conduz a


corrente e seu anodo se mantém positivo em relação ao catodo.
Se, por um curto intervalo de tempo aplicarmos na base do
transistor NPN, que corresponde ao elemento de disparo do SCR,
uma tensão positiva suficiente para polarizar a junção e levar o
dispositivo à condução temos uma série de fenômenos a serem
considerados.
O transistor NPN, sendo levado à condução tem sua
corrente de coletor polarizando o transistor PNP de modo que ele
também conduza, conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – A corrente de disparo gera uma corrente de realimentação

Com a condução do transistor PNP, passamos a ter uma


nova corrente na base do transistor NPN que se soma à corrente
provocada pelo disparo e tende a aumentar a condução do NPN e
consequentemente do PNP.
Os dois transistores, num processo de realimentação, são
então levados rapidamente a saturação e a corrente poderá fluir
de modo intenso entre o anodo e o catodo do SCR, conforme
mostra a figura 4.

129
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 4 – A realimentação mantém o circuito em condução

Mesmo que o pulso que provocou o disparo desapareça, a


corrente realimentada pelo transistor PNP para entrada de
disparo mantém o sistema em plena condução, ou seja, o SCR
disparado.
Para transistores comuns ligados na forma indicada, a
corrente que flui entre o anodo e o catodo não pode ser muito
grande, pois ela passa pela base do transistor NPN que suporta,
em geral, correntes intensas.
No entanto, na estrutura final que se obtém para um SCR,
essa corrente pode ser muito maior e o dispositivo pode controlar
correntes intensas. Isso significa que dois transistores ligados na
forma que usamos para dar as explicações são equivalentes
apenas em termos funcionais do SCR, mas não em termos
práticos, pois não podem controlar correntes elevadas.

130
NEWTON C. BRAGA

Na condução plena o SCR apresenta uma pequena queda


de tensão entre o anodo e o catodo, da ordem de 2 V, conforme
mostra a figura 5.

Figura 5 - A queda de tensão num SCR

Essa queda de tensão é devida ao fato de a corrente


precisar passar praticamente por 3 junções ao atravessar o
dispositivo, cada qual produzindo uma queda de tensão da ordem
de 0,7 V.
Ora, como a queda de tensão provoca a produção de
calor, o dispositivo deve gerar calor numa quantidade que
depende da intensidade da corrente.
Para uma corrente de 3 ampères, por exemplo, levando
em conta que a queda de tensão é de 2V, temos uma produção
de calor de:
P=2x3
P = 6 watts

Ora, levando em conta que os SCRs podem trabalhar com


tensões muito altas, como por exemplo ligados diretamente à
rede de energia, no controle de um dispositivo de 3 ampères (300
watts na rede de 110V), ele "perde" apenas 6 watts em calor, o
que é um excelente rendimento.
Mas, voltando ao SCR disparado, vamos supor que
desejamos desligar o circuito de carga, ou seja, "cortar" o SCR.
Conforme vimos, uma vez disparado o SCR se mantém
nesta condição mesmo depois que o pulso que provocou sua

131
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

condução tenha desaparecido porque ele se mantém


realimentado.
O corte da realimentação não pode ser feito através da
comporta nos SCRs comuns (Existem tipos especiais em que é
possível desligar pela comporta). Não adianta aplicar pulsos
"invertidos" ou recorrer a outros artifícios que o SCR não desliga.
Para que o SCR "desligue" a corrente entre seu anodo e o
catodo deve cair a um valor suficientemente baixo para que a
realimentação deixe de ocorrer.
Existem duas formas de conseguirmos isso, que de certo
modo são equivalentes:
Uma delas consiste em se desligar por um momento a
alimentação do circuito de modo que a corrente no circuito caia a
zero. A outra, consiste em se curto-circuitar o anodo com o
catodo por meio de um interruptor em paralelo com SCR de modo
que a tensão caia a zero e com isso a corrente, conforme mostra
a figura 6.

Figura 6 – Desligando um SCR

Nos circuitos em que o SCR opera com corrente contínua,


desligá-lo depois do disparo pode ser um problema que exige um
dos recursos que citamos acima.
No entanto, se o SCR funcionar num circuito de corrente
alternada, as coisas podem ser mais simples. De fato, a tensão
da rede de energia tem uma forma de onda senoidal e 120 vezes
em cada segundo ela passa por zero, como mostra a figura 7.

132
NEWTON C. BRAGA

Figura 7 – A passagem por zero (zero crossing) da tensão alternada

Isso significa que se o SCR estiver num circuito de


corrente alternada e for disparado num determinado ponto de um
semiciclo, ele vai se manter em condução, mas apenas até a
passagem seguinte por zero da tensão alternada.
Esse comportamento é muito interessante pois permite
usar o SCR para controlar a potência aplicada em cargas ligadas
na rede de energia de uma forma muito eficiente.
O SCR pode ser disparado no início de um semiciclo da
tensão da rede de energia e assim ele vai conduzir até a
passagem seguinte por zero, deixando passar boa parcela desse
semiciclo conforme mostra a figura 8.
Nestas condições, a carga ligada em seu anodo pode
receber a maior parte da energia da rede e assim funcionar à
plena potência.
No entanto, podemos provocar o disparo no meio ou no
final do semiciclo, quando então o SCR conduz menos, aplicando
assim menor potência na carga.
Pelo controle do ponto do disparo, podemos fazer com que
haja a condução em diversos "ângulos" do semiciclo e assim,
controlar a potência de uma carga.
Essa é uma aplicação muito importante dos SCRs e que
exploramos com frequência em nossos projetos. No entanto, o
leitor deve ter percebido que os SCRs são diodos e que, portanto,
só conduzem a corrente num sentido.

133
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 8 – Modos de disparo do SCR num circuito de corrente alternada

Se eles estiverem funcionando num circuito de corrente


contínua não existe problema algum, pois basta observar que a
corrente controlada esteja de acordo com sua polarização.
Mas, se a alimentação for feita com tensão alternada, o
SCR funciona como um retificador conduzindo apenas metade dos
semiciclos.
Existem duas maneiras de se obter o controle de onda
completa, ou seja, a condução nos dois semiciclos no caso de
serem usados SCRs.
A primeira consiste em se usar dois SCRs em oposição,
conforme mostra a figura 9 em (a). A segunda consiste em se
alimentar o circuito por uma ponte de diodos conforme mostra a
mesma figura em (b).

134
NEWTON C. BRAGA

Figura 9 – Como obter controle de onda completa com SCRs

Tiristores:
Outros dispositivos da família dos Tiristores ou diodos de 4
camadas são os Triacs, Diacs, SUS (Silicon Unilateral Switches),
SBS (Silicon Bilateral Switches), PUT (Programmable Unijuntion
Transistor) além do Quadrac. Todos estes dispositivos são
destinados a comutação rápida em controles de potência.
Encontramos estes componentes em alarmes, fontes chaveadas,
inversores e em muitas outras aplicações.

As Características dos Scrs


Os SCRs mais comuns são os da série 106 que podem ter
designações como C106, TIC106, MCR106, IR106 etc.,
dependendo do fabricante.
Estes são SCRs muito sensíveis, com uma corrente de
disparo da ordem de 200 uA e tensão de disparo entre 1 e 2
Volts. A corrente máxima que eles podem conduzir, dependendo
do fabricante pode variar entre 3 e 4 amperes, e as tensões
máximas, dependem de sufixos.

135
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Assim, para os TIC106 da Texas Instruments e outros


fabricantes que fazem o mesmo componente, a letra depois do
TIC106 indica a tensão máxima a que o componente pode ser
submetido, que no caso da rede de energia, corresponde à tensão
de pico.
Temos então os seguintes casos de sufixos:
TIC106-A = 100 V
TIC106-B = 200 V
TIC106-C = 300 V
TIC106-D = 400 V

Evidentemente, para a rede de 110V o indicado é o


TIC106-B e para a rede de 220V o indicado é o TIC106-D.
Para os da série MCR106 da Motorola, a tensão de
trabalho é dada por um sufixo numérico. Assim temos:
MCR106-1 = 30 V
MCR106-2 = 60 V
MCR106-3 = 100 V
MCR106-4 = 200 V
MCR105-5 = 300 V
MCR106-6 = 400 V

Para a rede de 110V o indicado ‚ portanto o MCR106-4 e


para a rede de 220V o MCR106-4.
A aparência desses SCRs é mostrada na figura 10.

Figura 10 – SCRs comuns em invólucros TO-220

136
NEWTON C. BRAGA

Observe que estes componentes possuem recursos para


fixação em radiadores de calor.

Aplicações
Não é difícil projetar circuitos que utilizem SCRs,
principalmente da série 106, se levarmos algumas das
características que analisamos neste artigo.
Vamos ver a seguir alguns aplicativos típicos que podem
ser usados pelo leitor nos seus projetos de mecatrônica e mesmo
eletrônica, sem problemas.

a) CIRCUITOS DE CORRENTE CONTÍNUA


Nos circuitos de corrente contínua, a carga normalmente
ligada em série com o anodo, conforme mostra a figura 11.

Figura 11 – Usando o SCR num circuito de corrente contínua

A ligação da carga em série com o catodo é possível, mas


aumenta a tensão exigida para o disparo, o que significa uma
redução da sensibilidade do dispositivo.
Para o disparo, a tensão exigida é da ordem de 1 a 2V e
como a comporta se assemelha em comportamento a base de um
transistor, podemos dizer que ela possui uma impedância média.
Assim, se o disparo for feito diretamente a partir da
tensão da fonte, um resistor limitador para a corrente é
exigido.Este resistor pode ter valores entre 1k ohms e 100 k

137
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

ohms. Isso significa também que sensores resistivos podem ser


ligados diretamente a este eletrodo para o disparo, conforme
mostra a figura 12.

Figura 12 – Usando sensores resistivos

De modo a deixar o SCR no limiar do disparo, um trimpot


ou potenciômetro de ajuste é ligado entre a comporta e a terra.
Transistores de uso geral NPN e PNP podem ser usados no
disparo do SCR conforme as configurações que são mostradas na
figura 13.
No caso do transistor PNP o disparo passa a ocorrer com
pulsos negativos de entrada, ou seja, quando a base do transistor
for levada à terra. Já, no segundo caso obtemos o disparo com
tensões positivas. O transistor, nos dois casos, atua como
amplificador, aumentando a sensibilidade do SCR.
Para disparar a partir de níveis lógicos obtidos nas saídas
de circuitos integrados TTL ou CMOS usamos as configurações
mostradas na figura 14.

138
NEWTON C. BRAGA

Figura 13 – Disparo por transistores

Figura 14 – Disparo por circuitos lógcos

Observe que é necessário haver um terra comum tanto


para o SCR (normalmente ligado ao catodo) e para os circuitos

139
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

lógicos. Sem esse terra comum não existe retorno para a


corrente de disparo e o circuito não funciona.

b) Circuitos De Corrente Alternada


Nos circuitos de corrente alternada ‚ preciso tomar dois
cuidados para que ocorra um funcionamento perfeito.
O primeiro consiste em se ter uma polarização adicional de
comporta, feita com um resistor entre a comporta e o catodo que
evita o disparo do SCR pelas correntes de fuga.
O que ocorre, conforme mostra a figura 15, é que,
operando com tensões mais elevadas, normalmente da rede de
energia, existe a possibilidade da corrente de fuga do transistor
NPN equivalente interno se tornar suficientemente elevada para
provocar a realimentação e com isso o disparo do SCR.

Figura 15 – Polarização de gate

Um resistor de valores entre 1k e 100k ohms tipicamente,


desvia essa corrente evitando o disparo. Alguns SCRs, como os
MCR106 possuem pequena fuga interna e por isso podem
dispensar o resistor em questão, o que não ocorre com os SCRs
da série TIC106.
O outro cuidado é o de se evitar que a comporta seja
polarizada negativamente quando o anodo se encontrar negativo
em relação ao catodo, conforme mostra a figura 16.

140
NEWTON C. BRAGA

Figura 16 – Usando um diodo para evitar o disparo com a polarização


inversa

Se isso ocorrer, pode haver dano ao componente. Para


evitar este problema, nos circuitos de corrente alternada ‚ é
conveniente ligar um diodo na comporta que somente permita a
aplicação de pulsos positivos neste eletrodo.

141
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

O Diodo Zener
Para entender o que é um diodo zener deveremos começar
com uma breve revisão das propriedades das junções
semicondutoras que formam um diodo comum.
Se tivermos uma junção entre dois materiais
semicondutores, um do tipo P e outro do tipo N, o resultado será
um dispositivo que tem a propriedade de conduzir a corrente num
único sentido, conforme ilustra a figura 1.

Figura 1 – A junção PN

Este dispositivo, assim representado, é um diodo


semicondutor comum e tem propriedades elétricas muito
importantes além daquela de conduzir a corrente apenas num
sentido.
Se polarizarmos este diodo no sentido direto partindo de
zero volt, à medida que a tensão se eleva ele pouco ou nada
conduz, pois precisamos chegar a pelo menos 0,6 V (nos tipos de
silício), para que a oposição da junção, denominada barreira de
potencial", seja vencida.

142
NEWTON C. BRAGA

Quando a tensão se aproxima desses 0,6 V, o diodo


começa a conduzir, e quando ela ultrapassa esse valor, a
condução se torna mais intensa, pois sua resistência diminui
acentuadamente.
A condução acontece porque na polarização direta os
portadores de carga são "empurrados" em direção à junção,
ocorrendo então um processo de recombinação que significa a
união de pares elétron-lacuna provocando a circulação da
corrente. Isso é mostrado na figura 2.

Figura 2 – Diodo polarizado no sentido direto

Por outro lado, se polarizarmos o diodo no sentido inverso,


os portadores de carga se afastam, e o resultado será uma
impossibilidade para a corrente circular.
O diodo não pode conduzir a corrente quando polarizado
no sentido inverso, e o pouco que passa é a denominada "fuga"
que só se manifesta pelo fato de alguns poucos portadores de
carga serem liberados com a agitação térmica dos átomos do
material semicondutor.
A figura 3 apresenta um diodo polarizado no sentido
inverso.

143
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Fig. 3 - Diodo polarizado no sentido inverso.

Se representarmos o comportamento de um diodo


semicondutor através de uma curva, ela tomará o aspecto dado
na figura 4.

Figura 4 – Curva característica do diodo

Temos, então, um quadrante l em que o diodo é polarizado


no sentido direto e a corrente pode aumentar até atingir o limite
suportado pelo componente. No quadrante IlI temos a polarização
no sentido inverso.

144
NEWTON C. BRAGA

Nesse quadrante não temos praticamente a condução de


corrente alguma até que um ponto importante da característica
seja atingido.
O que ocorre é que, se aplicarmos uma tensão num diodo
forçando mais e mais a condução no sentido inverso, chegará um
momento em que ele não suportará mais e, não conseguindo
impedir a circulação da corrente, “se romperá".
Quando isso acontece, o diodo conduz repentinamente a
corrente, pois sua resistência se reduz praticamente a zero,
conforme podemos observar na própria figura 4.

Figura 4 – A tensão zener – característica do diodo zener

Num diodo comum, por exemplo, um retificador de silício


como o 1N4002, se chegarmos a essa tensão de ruptura inversa
(VRRM), o diodo se queimará, mas existem diodos especiais que
podem funcionar nesse ponto da curva característica.
Operando assim, esses diodos têm algumas outras
características importantes que os tornam bastante úteis em
aplicações especiais conforme veremos a seguir.

O Diodo Zener
Observa-se que, se o componente não for destruído ao ser
polarizado inversamente com a tensão indicada, sua resistência

145
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

se "adapta" ao circuito de tal modo a manter a tensão no


componente em um valor fixo.
Em outras palavras, o componente pode regular" a tensão
no circuito, mantendo-a num valor fixo.
Podemos, desta forma, construir diodos especiais que são
capazes de operar nesse ponto de sua curva característica e
assim manter entre seus terminais, numa ampla faixa de
correntes, a tensão estabilizada.
Veja a figura 5. Eles são os diodos zener e a tensão que se
mantém entre seus terminais é chamada de "tensão zener”.
Evidentemente, o diodo zener precisa operar dentro de
certos limites, pois levando-se em conta que nele se estabelece
uma tensão e que circula uma corrente no sentido inverso, o
produto dessa tensão pela corrente significa calor gerado, que
deve ser dissipado, conforme sugere a figura 6.

Figura 6 – Dissipação do diodo zener

Se o componente não dissipar esse calor, ele se aquecerá


passando para além dos limites suportados pela junção e acabará
por queimar-se.
Para usar o diodo zener sem perigo dele se queimar,
temos que fazer o seguinte:
Polarizamos o diodo no sentido inverso e ligamos em série
um dispositivo qualquer (um resistor, por exemplo) que possa
manter a corrente dentro de limites seguros, observe a figura 7.

146
NEWTON C. BRAGA

Figura 7 – Limitando a corrente no zener

Se aplicarmos ao circuito uma tensão maior do que a do


diodo zener, ele conduzirá a corrente em certa proporção e
manterá entre seus terminais a tensão num valor fixo, a tensão
zener.
Se alimentarmos uma carga, ela deverá ser ligada em
paralelo com o diodo zener, e conforme ela precise de mais ou
menos corrente, ele derivará esta corrente do diodo, mas se
adaptará" a esta condição, mudando sua resistência de modo a
manter a tensão constante.
Podemos comparar o diodo zener a um resistor
"automático" que reduz sua resistência "absorvendo" mais
corrente quando a carga reduz seu consumo e a tensão tende a
subir, e que aumenta sua resistência quando a carga exige mais
corrente e tende a fazer a tensão cair.

Diodos Zener na Prática


Os diodos zener são fabricados com diversas tensões que
não podem ser alteradas.
Se comprarmos um diodo zener de 6V, ele só poderá ser
usado como um estabilizador de 6V. Alterações poderão ser feitas
no circuito com outros componentes para se obter outras
tensões, mas isso será visto mais adiante.
No site temos diversas tabelas de diodos zener como os
das séries BZX79, BZV60, BZTO3 e BZWO3, que são encontrados
em diversas tensões que são especificadas por um código

147
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

acrescentado ao próprio tipo (Código Pro-Electron). Por exemplo,


o BZX79C3VO é um diodo zener de 0,5 watt para 3,0 volts. O 3V
significa três Volts o V VIRGULA zero. Observe que, nesta tabela,
temos as correntes e as tolerâncias desses componentes.
Essas correntes são importantes para se determinar os
circuitos em que eles podem operar.

Usando os Diodos Zener


Para usar um diodo zener, devemos levar em consideração
a tensão e a corrente no circuito para o qual desejamos manter
constante a tensão.
Para efeito de exemplo, suponhamos que temos uma fonte
cuja tensão pode variar entre 4 e 6 volts, e que desejamos
manter constante em 3 V a tensão sobre uma carga de 10 mA
usando para isso um diodo zener, conforme mostra a figura 8.

Figura 8 – Circuito prático

Nossa preocupação principal será determinar que diodo


zener utilizar e, além disso, calcular o valor do resistor R que
deverá ser ligado em série.
Partimos então das condições extremas:
Supondo que a tensão da fonte seja mínima e que a carga
não esteja drenando corrente (l=0), todos os 10 mA devem
passar pelo diodo zener.
Na realidade, será interessante fazer circular nestas
condições uma corrente um pouco maior, como limite de
segurança para que o zener não opere "em vazio". Podemos
adotar 12 mA como valor seguro.

148
NEWTON C. BRAGA

Temos, então, que:


R = (Vcc - Vz)/I

Onde:
Vcc é a tensão mínima da fonte
Vz é a tensão do diodo zener
l é a corrente no circuito. j:

Aplicando os valores do nosso exemplo vem:

R= (4 - 3) / 0,012
R = 1/0,012
R = 83,33 ohms.

Usamos o valor comercial mais próximo, que é de 82


ohms.
A dissipação desse resistor será dada pela condição de
tensão máxima e corrente máxima, ou seja:

P=Vxl
P = 3 x 0,012
P = 0,036 watts.

Observe que os 3 V no resistor ocorrem quando a tensão


máxima de entrada é de 6 V, e 3 V aparecem sobre o zener.
Isso significa que, neste circuito, um resistor de 1/8 W
serve perfeitamente.
Vejamos agora a condição de corrente máxima no diodo
zener para verificar qual deverá ser sua dissipação:

Temos, então:

P = Vz x I

Onde:
Vz é a tensão zener (3V)
I é a corrente máxima (0,012 A)
P = 3 x 0,012
P = 0,036 W.

149
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Um zener de 0,5 W como o BZX79C3VO serve


perfeitamente para esta aplicação.
Se precisarmos controlar correntes mais intensas do que a
capacidade de um diodo zener, permite, podemos agregar
transistores para fazer o serviço pesado”.
Uma maneira simples de se conseguir correntes de ate'
uns 2 ou 3 ampères é ilustrada na figura 9.

Figura 9 – Regulador com transistor

A corrente que flui pelo resistor ficará dividida entre o


zener e a base do transistor.
A parte dela que vai para a base do transistor ficará então
multiplicada pelo seu ganho, aparecendo no emissor e, portanto,
na carga.
Veja que, como existe uma junção adicional para a
corrente circular entre a base e o emissor, devemos prever uma
queda de tensão adicional de 0,6 V.
Assim, se o zener for de 12,6 V num circuito como este, a
tensão no emissor e consequentemente na carga será um pouco
menor: 12 V.

Como calcular o resistor R?


Supondo-se uma fonte de 12 V que empregue um
transformador de 12 V com uma corrente de 1 A e que o
transistor escolhido tenha um ganho mínimo de 40 vezes.
O diodo zener utilizado tem uma dissipação de 1W.
Começamos por determinar a corrente máxima no diodo
zener para a dissipação indicada:

150
NEWTON C. BRAGA

Essa corrente será dada por:

I = P/Vz
I = 1/12
I = 0,083A ou 83 mA.

Para uma operação segura, limitaremos a corrente no


projeto à metade deste valor, ou seja: 40 mA.
O resistor R será então calculado considerando que depois
da retificação e filtragem dos 12 V do transformador, temos um
capacitor de filtro carregado com a tensão de pico ou:

V= 12 x 1,41
V = 16,92 V

E, subtraindo dos 16,92 V os 12 V do zener, sobram:

V = 16,92 - 12
V = 4,92 V.

Esta sobra é justamente a que vai aparecer sobre o


resistor.
Com essa tensão e mais a corrente, podemos calcular o
valor de R.

R = V/l
R = 4,92/0,083
R = 59 ohms.

Usamos o valor comercial de 68 ohms. A potência deste


resistor deve ser de:

P=V x l
P = 4,92 x 0,083
P = 0,40 W.

Por medida de segurança usamos um resistor de 1 W.

151
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Levando-se em conta que o ganho de corrente do


transistor é de pelo menos 40 vezes, podemos determinar a
corrente máxima que esta configuração pode controlar sobre uma
carga, mantendo a tensão de 12V.

l = hFE x lz
l = 40 x 0,083
l = 3,32 A.

Evidentemente, o transformador não conseguirá fornecer


toda essa corrente, mas isso significa que a fonte operará com
"folga" fornecendo correntes de saída de até 1 A.
Essa folga nos permite até utilizar um valor maior para R e
com isso diminuir ainda mais a corrente no diodo zener. Na
verdade, os que desejarem podem iniciar pelo procedimento
inverso, ou seja, fixando em 1A a corrente de saída e a partir
desse valor calcular os demais.
Para reduzir ainda mais a corrente no diodo zener e no
resistor em série, uma solução consiste no emprego de um
transistor Darlington, conforme vemos na figura 10.

Figura 10 – Usando um transistor Darlington

Neste caso, será interessante partir para o cálculo de R


diretamente do ganho do transistor, determinando antes a
corrente de base e no zener, e em função dela, qual será o valor
do resistor.

152
NEWTON C. BRAGA

Outras Aplicações
Além de estabilizar a tensão num circuito, o diodo zener
também pode ser empregado em outros tipos de aplicações.
Na figura 11 temos um diodo zener em uma configuração
usada para evitar que a tensão de entrada num circuito sensível
supere um determinado valor que possa danificá-lo.

Fig. 11 - Diodo zener num circuito de proteção.

Na figura 12 observamos outro circuito em que o diodo


zener começa a conduzir com determinada tensão, provocando o
disparo de um SCR e, consequentemente, de uma carga que
pode exercer uma certa função.
Trata-se, pois, de um detector de sobretensão, onde a
sobretensão é determinada pelas características do diodo zener. 4

Fig. 12 - O disparo do SCR coloca em curto a fonte queimando o fusível.

153
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Finalmente, temos na figura 13 um circuito "ceifador” que,


com a ajuda de diodos zener, modifica a forma de onda de um
sinal senoidal de baixa frequência, levando-o a uma forma quase
retangular, com limites bem definidos.
Os diodos são ligados em oposição nesta aplicação, e a
tensão de ceifamento será a tensão do diodo zener mais 0,6 V,
que é a tensão de barreira de potencial dos diodos que estão em
série.
Note que cada zener só conduz num dos semiciclos, e os
diodos comuns impedem que os zener sejam polarizados no
sentido direto.

Figura 13 – Diodo zener ceifador

Supressores de Transientes
Não obstante uma das aplicações para os diodos zener
seja como supressor de transientes existem outras em que
componentes específicos podem ser melhores tanto em
desempenho quanto no custo.
Assim, existem os TVS (Transient Voltage Supressor), que
são diodos específicos para essa finalidade e os Varistores de
Óxido de Zinco que podem
ser encontrados principalmente na proteção de entrada de
aparelhos alimentados pela rede de energia.

Diodos Comuns como Zeners


Qualquer diodo de silício quando polarizado no sentido
direto comporta-se como um diodo zener de aproximadamente
0,6 V. A tensão necessária à sua condução apresenta certa
estabilidade e pode ser aproveitada como um zener improvisado,
conforme mostra a figura 14.

154
NEWTON C. BRAGA

Figura 14 – Diodo comum como zener

Podemos então associar diodos em série de modo a obter


tensões múltiplas de 0,6V, atente para essa própria figura.
Quatro diodos comuns como o 1N4148 ou o 1N4002
podem ser ligados em série de modo a equivaler a um diodo
zener de aproximadamente 2,4 V.
No site, temos diversos artigos que ensinam a fazer
cálculos de circuitos que usam diodos zener, especificamente na
seção de matemática para a eletrônica.

155
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Laser – O Fantástico Raio da Morte


A palavra LASER vem de “Light amplification by stimulated
emissíon of radiation", o que traduzido para o português nos leva
a “amplificação de luz pela emissão estimulada de radiação". Em
suma, o que o laser emite é luz, mas luz que se apresenta de
uma forma pouco comum, uma forma que não é conseguida por
lâmpadas comuns, chama ou mesmo pelo sol.
Temos uma luz denominada coerente, uma luz com
propriedades fantásticas que o leitor melhor poderá entender
quando analisarmos sua natureza.

A Natureza da Luz
A luz produzida por uma lâmpada comum, uma chama ou
pelo sol é constituída por ondas eletromagnéticas de curtíssimo
comprimento de onda e, portanto, de frequência muito elevada.
Nossos olhos podem “captar" estas ondas e a distinção
que fazemos das cores se deve à capacidade que temos de
diferenciar as frequências de uma certa faixa dessas ondas, a
faixa que podemos ver e que corresponde, portanto, ao espectro
visível.
Quando um corpo emite luz em que temos diversas
frequências misturadas, este corpo nos aparece com sendo
branco. Uma lâmpada comum emite luz branca porque ao ser
aquecido, seu filamento produz comprimentos de onda de uma
faixa muito larga (figura 1).
Veja então que a natureza física da luz é a mesma das
ondas de rádio comuns, das ondas de TV ou FM. Como estas
ondas, a luz se propaga no vácuo a uma velocidade de
aproximadamente 300 000 quilômetros por segundo.
Colocando todos os tipos de ondas eletromagnéticas
conhecidas num gráfico obtemos um espectro: o espectro
eletromagnético. Na parte inferior deste espectro, em que temos
os maiores comprimentos de onda e, portanto, as menores
frequências temos as ondas de rádio comuns. Acima temos as
micro-ondas e logo depois, os raios infravermelhos.

156
NEWTON C. BRAGA

Figura 1 – Curva de emissão de uma lâmpada

Acima dos infravermelhos temos a luz visível, a qual é


seguida pela radiação ultravioleta e pelos raios X. Na parte
superior do espectro temos os raios gama e finalmente os raios
cósmicos cuja frequência e energia se estendem até limites
desconhecidos. (figura 2)

Figura 2 – O espectro eletromagnético

O Laser produz ondas ou luz na faixa que se estende do


infravermelho ao ultravioleta, e como suas ondas são
eletromagnéticas, em princípio podemos dizer que sua utilização
nas comunicações depende apenas de sua frequência.

157
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Suas ondas têm realmente a mesma natureza das ondas


comuns de rádio e podem ser usadas com as mesmas finalidades.
Mas por que uma lâmpada comum não pode ser usada
como uma estação emissora? Isso acontece porque uma lâmpada
comum não emite ondas de uma única frequência. Sua luz
representa realmente um “ruído" em que temos sinais de uma
ampla faixa de frequências misturadas.

Com o laser tudo é diferente.


Analisando de que modo um corpo pode emitir luz
chegaremos ao funcionamento diferente do laser. Quando
aquecemos uma barra de metal ao fogo, seus átomos entram em
rápida vibração fazendo com que seus elétrons saltem de suas
órbitas.
Quando um elétron salta, ele absorve energia, e quando
volta à sua posição normal, ele devolve esta energia na forma de
uma radiação. Conforme o salto que o elétron dá, ele devolve
uma quantidade bem definida de energia, a qual corresponde a
um comprimento de onda. Se o salto for pequeno, a frequência e
a energia da radiação emitida será baixa, teremos radiação
infravermelha, por exemplo. Se o salto for grande, a frequência e
a energia serão mais altas, e a radiação emitida será visível, por
exemplo, (figura 3).

Figura 3 – Os saltos de energia

Quando o metal está numa temperatura relativamente


baixa, os elétrons dão saltos de energia que se concentram numa
faixa de frequência mais baixa, e ele tende a brilhar com luz

158
NEWTON C. BRAGA

avermelhada. Se o aquecermos mais, os saltos poderão ser


maiores concentrando energia na parte central do espectro
visível, e ele brilhará com luz branca. Se o aquecimento da barra
de metal for maior ainda, a maior parte dos saltos dos elétrons
ocorrerá de modo a emitir luz da parte superior do espectro
visível e a cor que teremos tenderá para o azul. Na figura 4
mostramos um gráfico em que temos a distribuição das
frequências emitidas por um corpo aquecido em função de sua
temperatura.

Figura 4 – Emissão de corpos aquecidos

Veja então que, ao salto do elétron de um nível de energia


para outro, podemos associar uma quantidade bem definida de
energia e um comprimento de onda para a luz emitida.
A energia emitida nestas condições se faz pelo que
denominamos “fóton". O salto de um elétron produz então um
fóton que será uma espécie de “átomo" de luz. (figura 5)

159
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 5 – Emissão quântica

Num pedaço de metal aquecido, a cor branca da luz


produzida é devida aos bilhões e bilhões de saltos dados pelos
elétrons cada qual produzindo um fóton de uma determinada
frequência na faixa que depende de sua temperatura, conforme a
figura 4 mostra.
Mas, se num corpo aquecido como uma barra de metal, a
luz emitida se distribui de maneira desordenada numa faixa do
espectro, ou seja, não há cor definida, a luz é acromática,
podemos forçar os átomos a emitir luz de somente determinados
comprimentos de onda.
Certos materiais, quando excitados, só permitem que
seus elétrons saltem entre níveis de energia bem definidos. Cada
espécie de átomo possui seus níveis de energia para os elétrons e
portanto quando estes são excitados convenientemente, a
emissão de luz se faz de maneira determinada (figura 6).

160
NEWTON C. BRAGA

Figura 6 – Emissão seletiva

É baseado neste fato que o astrônomo pode, ao analisar a


luz de uma estrela distante, produzida por átomos excitados,
saber exatamente qual foi o tipo ou tipos de átomos e, portanto,
determinar a composição desta estrela. A luz emitida por um
átomo excitado é uma espécie de impressão digital deste átomo
(figura 7).

161
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 7 – Análise espectroscópica da luz de uma estrela

Quando aplicamos uma diferença de potencial da ordem


de 80 V numa lâmpada neon, o gás em seu interior se ioniza. O
resultado desta excitação elétrica é que há a emissão de luz de
um comprimento de onda determinado correspondente à cor
alaranjada. Temos então a emissão de luz monocromática (figura
8).

Figura 8 – Emissão de uma lâmpada neon

Em suma, as fontes de luz comuns como as lâmpadas, um


pedaço de metal aquecido ou o próprio sol não são capazes de se
comportar como emissores semelhantes aos usados para as
radiocomunicações.

162
NEWTON C. BRAGA

São verdadeiros emissores de ruídos, já que as suas


frequências se espalham numa ampla faixa e, ainda por cima,
sem a ajuda de recursos ópticos, a propagação da luz se faz em
todas as direções.
Temos então fontes incoerentes de luz, o que não
acontece com o laser.
Se bem que somente o laser ideal possa ser considerado
uma fonte perfeitamente coerente de luz, os lasers comuns se
aproximam bastante disso na prática. A luz coerente apresenta
diversas propriedades interessantes que se manifestam então no
laser.

a) Luz monocromática:
Os lasers são construídos de tal modo que ocorrem saltos
bem definidos dos elétrons no momento de entregar sua energia,
o que significa que somente uma frequência de luz é produzida.
Temos então a emissão de luz de uma única cor, numa
faixa bem estreita do espectro e com toda a energia disponível se
concentrando nela (figura 9). Em lugar do transmissor de ruído,
que espalha toda sua energia numa ampla faixa, temos o
transmissor "bem sintonizado" concentrando sua energia numa
única frequência.

Figura 9 – A faixa de emissão do laser

163
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Qual a vantagem disso?


Se usarmos uma lâmpada comum num transmissor, por
exemplo, tendo o receptor como uma fotocélula teremos muitos
problemas para fazer um sistema de muitos canais (figura 10).

Figura 10 – Sem sintonia possível

Se duas lâmpadas forem colocadas na mesma linha visual


do receptor, como elas ocupam todo o espectro transmitido, a
fotocélula não terá meios de separar os seus sinais que então se
misturarão!

164
NEWTON C. BRAGA

Uma faixa de 50 milhões de MHz até 5 bilhões de MHz


ocupada apenas por uma estação é sem dúvida um desperdício.
No caso do laser, temos a emissão de luz numa faixa
muito estreita, o que nos permite usar com facilidade dispositivos
ópticos para a separação de frequências, conforme mostra a
figura 11.

Figura 11 – Usando um prisma para separar a luz de frequências diferentes

Uma emissão de laser pode ter uma faixa de onda tão


estreita como 2 nm (nanômetros), o que significa que somente
na largura do espectro visível cabem 3 800 000 canais de TV de 8
MHz de largura ou então 6 000 000 000 canais de voz de 5 kHz
de largura!
Com um único sistema transmissor e receptor podemos
fazer a emissão simultânea de todas estas informações sem o
perigo de mistura!
E, é claro que temos que considerar que os lasers também
podem ser usados na faixa do infravermelho e do ultravioleta que
são igualmente amplas.

b) Diretividade:
Esta é uma outra característica importante da luz emitida
pelo Laser.
Enquanto uma luz comum emite luz em todas as direções,
e mesmo usando equipamento óptico bem elaborado não
podemos obter feixes muito estreitos, o laser permite conseguir
feixes extremamente direcionais. Um feixe de luz com uma
abertura de 1mm na saída do laser abre pouco mais do que

165
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

alguns centímetros a quilômetros de distância do local da emissão


(figura 12).

Figura 12 – Feixe estreito

Isso significa que podemos “pegar" praticamente toda a


energia transmitida a quilômetros de distância usando apenas um
refletor ou um equipamento óptico apropriado de pequenas
dimensões.
Pensa-se em usar este comportamento do laser na
transmissão de energia de estações no espaço para a terra, no
futuro (figura 13).

166
NEWTON C. BRAGA

Figura 13 – Transmitindo energia através do espaço

c) Concentração de energia:
Uma lâmpada comum distribui sua energia por uma ampla
faixa de frequências, conforme vimos. Se tomarmos uma
pequena amostra do espectro desta lâmpada, correspondente a
uma largura de faixa muito estreita, a quantidade de energia
conseguida nesta faixa será muito pequena.
Se esta energia for usada numa transmissão de
mensagens, sua eficiência será muito pequena.
Como o laser concentra toda a energia praticamente numa
única frequência, seu rendimento nesta frequência é
tremendamente maior. (figura 14)
A quantidade de energia obtida por uma fonte de luz pode
ser dada em termos de sua temperatura.
Calcula-se que para se obter, numa faixa de frequências
correspondente à do laser, a mesma quantidade de energia, seria
preciso aquecer um corpo a uma temperatura superior a 1 bilhão
de graus!

167
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 14 – Concentrando energia

d) Fase:
Temos finalmente a possibilidade de obter com laser, luz
em fase. A produção da luz sob condições de uma câmara
ressonante, em que se obtém uma onda estacionária, faz com
que a emissão de um laser ocorra em fase, o que não acontece
com uma fonte comum, mesmo que monocromática, como uma
lâmpada neon ou um LED, em que a radiação de mesmo
comprimento de onda aparece desordenada em fase. (figura 15)
O primeiro Laser foi construído em 1960 e operado por
cientistas da Hughes Aircraft Company. Seu coração era um
bastão de rubi (Al3O2) com características especiais de
montagem (figura 16).

168
NEWTON C. BRAGA

Figura 15 – Emissão em fase

Figura 16 – O primeiro LASER

Ao ser estimulado por uma fonte de luz externa, no caso


um potente tubo de flash, ocorria uma forte absorção de energia
pelos átomos do material.
Esta absorção era responsável por um salto de nível de
energia dos elétrons.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Situados na condição de repouso, no nível 0 os elétrons


saltavam para o nível 1,absorvendo com isso uma quantidade de
energia correspondente à da luz verde. (figura 17)

Figura 17 – Os saltos de energia

Pouco depois, os elétrons saltavam para um nível mais


baixo, marcado por 2 na figura 17, entregando parte da energia
absorvida sob a forma de radiação infravermelha.
Esta entrega de energia era feita de maneira algo
desordenada.
Com uma quantidade de elétrons no nível 2 maior do que
a quantidade no nível 0tem-se uma "inversão de população"
Quando então um dos elétrons salta para o nível0 O
naturalmente, entregando sua energia, na forma de um fóton de
luz vermelha, este fóton pode facilmente encontrar outro elétron
no nível 2 também, forçando-o a entregar sua energia.
Temos então uma espécie de reação em cadeia em que
cada fóton liberado pode forçar o seguinte, ocorrendo então uma
espécie de "explosão" luminosa no interior do rubi.
Para que o processo se mantenha no material, antes da
liberação de toda a energia absorvida, o rubi é moldado de modo
a formar uma ”câmara ressonante".
Nos seus extremos existem dois espelhamentos paralelos,
um mais fino e outro mais grosso, forçando assim o aparecimento
de uma onda estacionária. (figura 18)

170
NEWTON C. BRAGA

Figura 18 – Ondas estacionárias no rubi

Somente com toda a energia liberada, a onda estacionária


com toda a força "atravessa" o espelhamento mais fino
emergindo do rubi na forma de um feixe coerente,
monocromático, perfeitamente paralelo.
É o LASER. Veja que, ao passar pelo espelhamento, a luz
não estraga nada e um novo pulso pode ser produzido por um
novo flash das lâmpadas.
O rubi permite obter uma radiação de comprimento de
onda igual a 6 943 A (1 A =1 angstrom que equivale a 10'° m ou
a milionésima parte do milímetro), correspondente à cor
vermelha.
Além dos materiais sólidos, líquidos e gases podem ser
empregados na fabricação de lasers.
Na figura 19 temos a estrutura de um LASER de CO2 (gás
carbônico) com sua fonte de alimentação.
Este LASER pode emitir uma potência de 100 W na forma
pulsante e pesquisas têm permitido obter potências da ordem de
100 000 W.
Este tipo de LASER trabalha na faixa média do
infravermelho com um comprimento de onda de 10 600 A.
Para a eletrônica, em especial, os LASERs excitados por
corrente, feitos de materiais semicondutores, apresentam
enormes possibilidades de aplicações práticas.
São os LASERs semicondutores, que já se encontram
comercialmente disponíveis, como o de arseneto de gálio (GaAs),
o mesmo material usado na fabricação dos LEDs.

171
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Figura 19 – LASER de CO2

Na verdade, os LEDs são fontes de luz monocromáticas, se


bem que esta não seja nem monocromática e nem emitida em
fase, mas estes componentes não estão muito longe dos
modernos LASERs...
Uma estrutura semicondutora pode emitir luz coerente
desde que excitada por uma corrente suficientemente intensa
para produzir a inversão de população. Na figura 20 temos um
LASER deste tipo, observando-se que o próprio material
semicondutor tem suas faces espelhadas de forma a conseguir-se
a cavidade óptica ressonante.
Na mesma figura mostramos um LASER comercial de
baixo custo que opera segundo este princípio e que emite
radiação na faixa do infravermelho.
O funcionamento deste tipo de LASER é mostrado na
figura 21.

172
NEWTON C. BRAGA

Figura 20 – LASER semicondutor

Figura 21 – Funcionamento do LASER semicondutor

173
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Se tivermos no material semicondutor uma corrente muito


baixa, poucos elétrons serão liberados e a emissão de luz se faz
de maneira desordenada.
Dizemos que ocorre então uma emissão espontânea e o
dispositivo funciona como um LED comum.
Se a intensidade de corrente for suficientemente alta,
ocorre a inversão de população com um maior número de átomos
excitados do que em estado normal.
Os fótons liberados pelos átomos excitados forçam então a
liberação de novos fótons nos choques com outros átomos
excitados, produzindo-se o efeito LASER.
Para que o efeito LASER seja conseguido nestes
semicondutores são necessárias correntes muito intensas. Estas
correntes são da ordem de 100 000 A/cm 2, o que para o caso de
um LASER comum, de pequenas dimensões, já significa uma
corrente tão forte como 50 A.
O LASER de arseneto de gálio dopado com alumínio,
comum no mercado, opera na faixa dos 7 000 aos 9 100,
correspondendo à luz infravermelha.

Obs. Na época em que o artigo foi


escrito. Hoje temos tipos de
diversas cores, de menor corrente
e de baixo custo (LASER pointers).
Pulsos de mais de 50 W podem ser
conseguidos nestes dispositivos
semicondutores.

Aplicações
O LASER pode ser aplicado numa variedade enorme de
dispositivos, conforme citamos no início do artigo.
Nas comunicações, o LASER admite a possibilidade de
transmissão simultânea de milhares de canais de TV ou milhões
de canais telefônicos por um único feixe. Este feixe pode ser
enviado de um local a outro diretamente pelo espaço, ou então,
em locais em que a neblina ou poluição possam dificultar sua
propagação, através de fibra óptica.

174
NEWTON C. BRAGA

A grande quantidade de energia que pode ser transportada


por um feixe de LASER e a estreiteza de seu feixe permitem que
se realize um fato há muito desejado pelo homem: a transmissão
de energia da fonte geradora à fonte consumidora sem a
necessidade de meio material.
Na figura 22 mostramos um interessante projeto para o
futuro.

Figura 22 – Gerando e transmitindo energia do espaço

Num satélite em órbita em torno da terra existe uma


superfície de muitos quilômetros quadrados recoberta com
geradores solares.
A energia destes geradores é levada par meio de um feixe
de raios LASER, à terra, onde numa estação é convertida em
eletricidade para consumo.
O fino feixe de LASER carregando enorme quantidade de
energia pode evaporar o mais duro dos metais fazendo cortes e
furos perfeitamente retos com precisão incrível.
Máquinas industriais de cortar e de furar já usam o feixe
de LASER.
Na medicina, o feixe de LASER, que se comporta
exatamente como a luz pode ser usado como ferramenta de corte
em delicadas operações.
Sendo refletido por áreas claras e absorvido por áreas
escuras, o LASER pode, por exemplo, ser usado na cauterização
de vasos sanguíneos na vista, já que nas áreas brancas,

175
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

adjacentes ao vaso que deve ser cauterizado ele simplesmente é


refletido de modo disperso.
Não sabemos o que nos revela para o futuro, em todos os
setores da atividade humana, o LASER. Quem sabe em pouco
tempo, LASER domésticos poderão ser usados como ferramentas,
na detecção de intrusos, na fotografia, e em muitas outras
aplicações que agora só estão nas pranchetas dos projetistas.

176
NEWTON C. BRAGA

Os Raios Ultravioleta

Todos sabem que a luz visível é forma de radiação que


consiste em ondas eletromagnéticas de curtíssimo comprimento
de onda e que se propagam no vácuo a uma velocidade próxima
de 300 mil quilômetros por segundo.
De nada difere a luz das ondas de rádio comum, exceto
pelo seu comprimento de onda menor e pela sua capacidade de
ser detectada pelos sensores naturais que são nossos olhos.
A luz branca, na verdade, é uma mistura de todas as cores
e cada cor é diferenciada pela sua frequência ou, o que é a
mesma coisa, pelo comprimento de onda.
Para medir os comprimentos de onda de uma radiação de
tão alta frequência é comum usarmos uma unidade chamada
Angstrom, cuja abreviatura é A, e que equivale à milionésima
parte do milímetro ou 10-10 metros.
Na figura 1 temos então uma disposição que mostra as
faixas de luz de diversas cores que podemos ver.

Passando um feixe de luz branca (do Sol, por exemplo)


por um prisma de cristal, os diferentes comprimentos de onda se
refratam de modo diferente, desviando assim para pontos
distintos num anteparo. Isso faz com que a luz seja decomposta e
apareçam raios de diversas cores. (figura 2)

177
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Em 1800 o físico inglês William Hershel, fazendo


experiências com um termômetro para verificar quais os
comprimentos de onda de luz de diversas cores produziam maior
ou menor quantidade de calor, observou um fato interessante:
mesmo colocando o termômetro abaixo do ponto onde incidia a
última cor visível, o vermelho, ainda havia aquecimento,
mostrando que alguma espécie de radiação existia naquele local.
Esta radiação invisível para nós recebeu o nome de
“infravermelho" (infra = abaixo, por ter menor frequência que o
vermelho).figura 3.

Posteriormente, no ano de 1801, o cientista alemão J. W.


Ritter realizou uma experiência igualmente interessante
envolvendo a luz decomposta por um prisma. (figura 4)

178
NEWTON C. BRAGA

Ritter colocou no ponto em que incidia a luz decomposta


por um prisma um pedaço de papel molhado em cloreto de prata.
Como se sabe, o cloreto de prata escurece quando exposto a luz,
exatamente como uma chapa fotográfica.
Quando Ritter examinou o pedaço de papel, verificou com
surpresa que ele havia escurecido mesmo num local que estava
além da última cor decomposta, o violeta, mostrando que ali
havia alguma espécie de radiação incidindo. Ritter chamou as
radiações que incidiam naquele local de ultravioleta (ultra =
além).
Hoje sabemos que o espectro visível é apenas uma parcela
muito pequena do espectro que inclui todas as ondas
eletromagnéticas existentes. Assim, abaixo do vermelho temos a
faixa muito ampla do infravermelho, conforme mostra a figura 5,
e acima do violeta temos não só os raios ultravioleta, como
também depois os raios X, os raios gama e finalmente os raios
cósmicos.

179
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Quando nos deslocamos da esquerda para a direita neste


gráfico, vamos encontrando radiações cada vez mais
”penetrantes" no sentido de que suas unidades carregam mais
energia. Do mesmo modo que usamos o átomo como “unidade”
de matéria, ou seja, a menor partícula de matéria, também
usamos um termo para indicar as menores porções de energia: o
quantum (no plural quanta).
Assim, os raios ultravioleta são mais energéticos do que os
raios de luz visível porque seus ”quanta" de energia são maiores.
O fato da luz ou radiação ultravioleta ser mais energética que a
luz comum visível, e ainda o fato de não a podermos ver,
confere-lhe propriedades bastante interessantes:

Propriedades da Luz Ultravioleta


As propriedades básicas dos raios ultravioletas são as
mesmas da luz comum como: propagação em linha reta com
velocidade de 300 000 km por segundo no vácuo e possibilidade
de atravessar certos objetos como, por exemplo, o quartzo. Veja
que a radiação ultravioleta não consegue atravessar muito bem o
vidro comum, mas pode passar facilmente pelo quartzo.

180
NEWTON C. BRAGA

Outras propriedades, no entanto, são um pouco diferentes


e é delas que falaremos a seguir:
A primeira propriedade interessante é a que torna os raios
ultravioleta capazes de excitar determinados materiais obrigando-
os a emitir radiação de menor frequência. Temos então uma
fluorescência. (figura 6)

Incidindo em certos materiais, a radiação ultravioleta


consegue deslocar elétrons dos átomos, os quais saltam para
níveis superiores de energia, ou seja, para órbitas mais afastadas
dos núcleos.
Quando os elétrons voltam para o nível original eles não o
fazem num único salto, mas em dois saltos que correspondem a
emissões de radiações de menor energia. O resultado é que uma
destas energias ou mesmo as duas podem corresponder à luz
visível.
Assim, fazendo incidir um feixe de raios ultravioleta num
material destes, ele ”converterá" a radiação ultravioleta em luz
visível, brilhando no escuro, pois não poderemos ver a fonte
original. (figura 7)

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Um exemplo deste fenômeno é bem conhecido dos leitores


que frequentam bailes: a luz negra.
A luz negra é simplesmente uma lâmpada de ultravioleta.
Incidindo em certos objetos como, por exemplo, certas fibras de
roupas (camisetas), nos botões, dentes etc. ocorre o fenômeno
da fluorescência e os objetos se tornam brilhantes no escuro! O
pouco que podemos ver da ”luz negra" é uma pequena parcela de
radiação que cai na região da luz violeta e que podemos
perceber.
A luz ultravioleta por sua elevada energia pode também
estimular reações químicas e mesmo causar danos a seres vivos
quando em grande quantidade.
Usamos poderosas fontes de luz ultravioleta para acelerar
processos químicos, pois a energia atuará diretamente sobre as
moléculas das substâncias que devem reagir.
No caso dos seres vivos, a energia elevada desta radiação
pode causar a destruição de moléculas orgânicas vitais para os
seres vivos. Um banho de radiação ultravioleta pode matar
bactérias de um alimento, sendo esta usada como bactericida.
O Sol é uma fonte poderosa de raios ultravioleta. No
entanto, a maior parte destes raios é bloqueada pela própria
atmosfera que é quase opaca a esta radiação. (figura 8)

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NEWTON C. BRAGA

Assim, entre 10 horas da manhã e duas da tarde, quando


o Sol se encontra alto no horizonte, temos uma penetração maior
dos raios ultravioleta, o que não ocorre quando o Sol se encontra
mais baixo no horizonte. É por este motivo que os banhos de Sol
neste horário são perigosos podendo causar queimaduras: a
radiação ultravioleta é prejudicial quando em grande quantidade.

Fontes de Ultravioleta
Além do Sol, existem diversas fontes de raios ultravioleta,
algumas das quais ao nosso alcance.
Uma delas é a lâmpada fluorescente de raios ultravioleta
que é formada por um. tubo cheio de gás que se ioniza quando
uma corrente elétrica o atravessa. (fig. 9)

Nota: hoje podemos contar com


LEDs ultravioletas, conforme
explicamos em montagem de
lanterna no site
www.newtoncbraga.com.br.

A ionização leva os elétrons a níveis superiores de energia


e, ao voltarem ao nível normal, provocam a emissão de radiação,
uma boa parte no espectro da radiação ultravioleta.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 1

Basta então cobrir o vidro desta lâmpada com uma


substância que dê passagem a esta radiação, bloqueando as
demais que eventualmente estejam no espectro visível para que
tenhamos uma fonte de raios ultravioleta.
Corpos quentes também emitem radiação ultravioleta, se
bem que, conforme mostra a figura 10, o espectro nesta faixa
seja correspondente a uma energia total bem pequena.

Existem então lâmpadas incandescentes para ultravioletas,


feitas com vidros especiais que facilitam a passagem deste tipo
de radiação.

Usos do Ultravioleta
Além das propriedades bactericidas, a luz ultravioleta pode
também ser usada para apagar memórias (EPROMs) de
computadores, na análise de alimentos, minérios, tecidos, papéis,
dinheiro aplicações estas que analisaremos no nosso artigo de
capa.

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