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Organizadores e Coordenadores editoriais

Erinaldo Dias Valério


Sarah Nascimento Cruz

XL ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES


DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO,
CIÊNCIA E GESTÃO DA INFORMAÇÃO –
ENEBD – GO

Anais

Goiânia,
03 de janeiro de 2018
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada à fonte

COMISSÃO ORGANIZADORA COMISSÃO CIENTÍFICA


Acadêmico José Roberto da Cunha Prof. Me. Erinaldo Dias Valério
Barbosa
Acadêmica Sarah Nascimento Cruz
Acadêmica Thienne Feitosa Evangelista
Rissatto
Acadêmico Paulo de Tarso da Silva Fraga
Acadêmica Sabrina de Melo Queiroz
Profa. Dra. Andrea Pereira dos Santos
Acadêmico Ivan Lessa Soares
Acadêmica Thayse Mendes Barros
Acadêmica Sarah Gomides Vieira
Acadêmico Júlio Herberth Sousa Camargo
Acadêmica Larissa Rosa de Oliveira
CAPA
Sarah Nascimento Cruz
FICHA CATALOGRÁFICA
Filipe Reis Dias de Jesus

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação,


Ciência e Gestão da Informação (40. : 2018 : Goiânia, GO)

E56a Anais do XL Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia,


Documentação, Ciência e Gestão da Informação [recurso eletrônico] /
organizado por Erinaldo Dias Valério, Sarah Nascimento Cruz. –
Goiânia: Gráfica UFG, 2018.
554 p.

ISBN 978-85-495-0188-2

1. Biblioteconomia. 2. Documentação. 3. Gestão da informação. 4.


Ciência da informação. I. Valério, Erinaldo Dias. II. Cruz, Sarah
Nascimento.

CDU: 02

A revisão gramatical e as ideias expressas e/ou defendidas são de inteira responsabilidade dos autores.
SOBRE O XL ENEBD

O Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão e


Ciência da Informação (ENEBD) é realizado anualmente nas universidades da área no país.
Sendo nacional, atua como ponte para a formação cultural e científica dos estudantes, bem
como objetiva apresentar temas relevantes para o Movimento Estudantil das áreas citadas e
ampliar a produção científica na área de Ciência da Informação e afins.
Cada ano possui uma temática e a temática do Quadragésimo ENEBD foi: Desafios
dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação para a inclusão
das minorias sociais no contexto da sociedade. O tema se mostra relevante e atual, ao
abordar a necessidade cada vez mais premente de inserir as minorias existentes em nossa
sociedade nas áreas relativas à Informação e seu uso, bem como aponta as dificuldades dos
profissionais de informação para inseri-los de forma apropriada.
SUMÁRIO

GT 1 - ............................................................................................................................................................. 7
ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO DA HEMEROTECA DO CCJ: a questão da acessibilidade e a
preservação documental ........................................................................................................................... 8
A ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO EM BIBLIOTECAS PARA DEFICIENTES VISUAIS DO
DISTRITO FEDERAL: análise da biblioteca Braille Dorina Nowill ...................................................... 21
PANORAMA SOBRE PRÁTICAS INFORMACIONAIS: sob a perspectiva da Competência em
Informação na inclusão social ................................................................................................................ 36

GT 2. ............................................................................................................................................................. 49
AUDIOLIVRO E A HISTÓRIA DO LIVRO E DA LEITURA.............................................................. 50
A BIBLIOTECA E O LIVRO NA ERA DIGITAL ................................................................................ 61
DISPONIBILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS EM FORMATO ELETRÔNICO E DIGITAL NO
BRASIL: Aspectos práticos e legais na gestão da informação ................................................................ 76
O USO SUBJETIVO DA FOLKSONOMIA NO AMBIENTE TECNOLÓGICO: TAGS, USUÁRIOS E
SEUS CONCEITOS .............................................................................................................................. 94
OS BENEFÍCIOS DO USO DE ONTOLOGIAS PELA WEB SEMÂNTICA ..................................... 109

GT 3. ........................................................................................................................................................... 119
A INFLUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS NA
CONSTRUÇÃO DO RESPEITO À DIVERSIDADE .......................................................................... 120
A INTEGRALIZAÇÃO DA DISCIPLINA DE LIBRAS NOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA
PELO BRASIL .................................................................................................................................... 135
A LITERATURA LGBT E O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR-EDUCADOR .... 151
ACESSO A INFORMAÇÃO PARA DEFICIENTES VISUAIS: um processo de inclusão social. ....... 165
A LICENCIATURA EM BIBLIOTECONOMIA E A ANÁLISE DE SUA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
............................................................................................................................................................ 176
DEIXA ESSE POVO SOFRIDO MOSTRAR SEU VALOR: memória, samba e oralidade a partir do
repertório de Jovelina Pérola Negra ..................................................................................................... 190
INCLUSÃO SOCIAL, DEFICIÊNCIA E BIBLIOTECAS PÚBLICAS: uma análise a partir de políticas
públicas e do Manifesto da IFLA ......................................................................................................... 203
LEITURA TERAPÊUTICA: A BIBLIOTERAPIA SOB O OLHAR DO BIBLIOTECÁRIO .............. 218
MEDIAÇÃO DA LITERATURA INFANTIL E CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA: A IMPORTÂNCIA
DE PROTAGONISTAS NEGROS NO CONTEXTO BRASILEIRO .................................................. 230
O DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NA PERSPECTIVA DAS
TEORIAS CRÍTICAS E PÓS-CRÍTICAS DO CURRÍCULO.............................................................. 245

GT LIVRE .................................................................................................................................................. 259


A BIBLIOTECONOMIA E SUA COLABORAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DA IDENTIDADE SURDA .. 260
A BIBLIOTECA VIROU NOTÍCIA: uma análise dos casos de roubo e furto de obras raras no Brasil a
partir das notícias veiculadas na mídia ................................................................................................. 269
A PRESENÇA DA FILOSOFIA NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA DO
NORDESTE BRASILEIRO ................................................................................................................ 285
A QUADRILHA JUNINA COMO EXPRESSÃO DA MEMÓRIA SOCIAL: um breve relato das
quadrilhas Pernambucanas ................................................................................................................... 301
ANÁLISE DE SWOT: Um estudo exploratório no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) . 316
APLICAÇÃO DA LEI 12.244/2010 NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE ENSINO MÉDIO
DE GOIÂNIA. ..................................................................................................................................... 328
AS TENTATIVAS DE ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO NO AMBIENTE WEB ..................... 341
A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO BIBLIOTECÁRIO PELOS USUÁRIOS DA REDE SOCIAL DE
LEITORES SKOOB ............................................................................................................................ 357
A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO BIBLIOTECÁRIO PELOS USUÁRIOS DA REDE SOCIAL DE
LEITORES SKOOB ............................................................................................................................ 370
CINE MUSEU AMAZÔNICO NA ASSUABIBLIOTECA E A INCLUSÃO DOS IDOSOS DO
COROADO NO AMBIENTE DA INFORMAÇÃO POR MEIO DA AÇÃO CULTURAL: relato de
experiência nos programas de extensão da Universidade Federal do Amazonas ................................... 383
CONTRIBUIÇÕES DAS CLASSIFICAÇÕES FILOSÓFICAS NO DESENVOLVIMENTO DOS
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA ...... 393
INDEXAÇÃO DE DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS: delineamento teórico do tema em artigos de
periódicos ............................................................................................................................................ 405
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: desdobramentos do tema em
publicações nacionais .......................................................................................................................... 416
O CÓDIGO DE ÉTICA DO BIBLIOTECÁRIO: diálogo necessário com o campo de atuação profissional
............................................................................................................................................................ 432
ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO DIGITAL: estudo da indexação de conteúdos em blogs de
bibliotecários ....................................................................................................................................... 446
OS GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS: Análise e conceituação para bases de dados ....................... 456
PRÁTICA INFORMACIONAL DOS USUÁRIOS DO TWITTER ..................................................... 465
PRODUTOS DE INFORMAÇÃO: a criação do Tutorial da Biblioteca de Teses e Dissertações da UFMG
............................................................................................................................................................ 477
SERVIÇO DE REFERÊNCIA: Satisfação e efetividade na biblioteca do TRT/GO .............................. 491

RESUMOS EXPANDIDOS ....................................................................................................................... 443


ANÁLISE DA PUBLICAÇÃO DE DADOS ABERTOS NO PORTAL DA SAÚDE - SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE (SUS)............................................................................................................................... 508
ANÁLISE DOS FASCÍCULOS DA COLEÇÃO PERNAMBUCO IMORTAL DO MEMORIAL DENIS
BERNARDES ..................................................................................................................................... 517
ATÉ QUE PONTO ISSO É RARO? .................................................................................................... 525
PROCESSAMENTO TÉCNICO DA BIBLIOTECA DA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL
MAXIMIANO ACCIOLY CAMPOS: uma proposta de intervenção .................................................... 531
PROJETO TESOUROS DE PAPEL: da Universidade para a comunidade ........................................... 537
SERVIÇO DE REFERÊNCIA DIGITAL E VIRTUAL: um estudo terminológico ............................... 546
GT 1.
ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO
DA INFORMAÇÃO

Estudos, teorias, metodologias, pesquisas relacionadas à


organização e preservação de documentos, da informação e do
conhecimento, registrado e socializado em diferentes ambientes,
tais como: arquivos, museus, bibliotecas, centro de
documentação e informação, entre outros. Esses estudos devem
estar ligados aos profissionais da informação, fazendo relação
aos aspectos de inclusão das minorias sociais, propondo práticas
transformadoras da sociedade.
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO DA HEMEROTECA DO CCJ: a questão


da acessibilidade e a preservação documental

FEITOSA, Kézia de Lira¹1


CRISPIM, Paulo Vitor dos Santos²
SALCEDO, Diego Andres³

RESUMO
No presente artigo, buscou-se analisar os aspectos internos da Hemeroteca do Centro de
Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco por meio de análise SWOT
dessa unidade. Por meio do método exploratório e descritivo, a pesquisa possibilitou a
identificação das forças, fraquezas, ameaças e oportunidades, assim como foi possível
encontrar possíveis soluções para as principais problemáticas que envolvem a
Hemeroteca. O estudo de caso revelou duas fraquezas consideradas de primeira ordem.
A primeira diz respeito ao mau acondicionamento do acervo, que ocasionou grandes
prejuízos e perdas à coleção de Jornais raros de Pernambuco datados do século XIX e
XX. Tais perdas foram ocasionadas principalmente por ataque de agentes biológicos e
físicos de deterioração, além das sujidades e estado precário do ambiente em que se
encontravam. A segunda diz respeito a inefetividade da acessibilidade interna do edifício.
A principal contribuição do estudo reside na solução desses problemas ao indicar os
passos necessários para o acondicionamento adequado e proteção dos documentos contra
os agentes de deterioração físicos, químicos e biológicos que podem atacar os periódicos
da Hemeroteca, assim como indicar as possíveis soluções para a otimização do acesso à
Hemeroteca para as pessoas com necessidades especiais.

Palavras-chave: Análise SWOT. Hemeroteca. Agentes de deterioração. Acessibilidade.

ABSTRACT

ANALYSIS OF THE INTERNAL ENVIRONMENT OF CCJ HEMEROTECA:

1
¹Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: kzlfeitosa@gmail.com
²
Acadêmico do curso Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: pv_crispim@hotmail.com
³
Docente do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: salcedo.da@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

The issue of accessibility and documentary preservation

In this article, we sought to analyze the internal aspects of the Hemeroteca of the Center
of Law Sciences of the Federal University of Pernambuco through SWOT analysis of the
unit. Through the exploratory and descriptive method the research made it possible to
identify the strengths, weaknesses, threats and opportunities, as well as possible solutions
to the main problems that involve the unit. The case study revealed two weaknesses
considered to be of the first order. The first one concerns the bad packaging of the
collection, which caused great damagess and losses to the collection of rare newspapers
of Pernambuco dating from the 19th and 20th centuries. These losses were mainly caused
by the attack of biological and physical agents of deterioration, besides the soils and
precarious state of the environment in which they were. The second one concerns the
ineffectiveness of the building's internal accessibility. The main contribution of the study
is to solve these problems by indicating the necessary steps for the adequate packaging
and protection of the documents against the physical, chemical and biological
deterioration agents that can attack the journals of the Library, as well as to indicate the
possible solutions for the optimization of the access to the Library for people with special
needs.

Keywords: SWOT Analysis. Hemeroteca. Deteriorating agents. Accessibility.

1 INTRODUÇÃO

Uma unidade informacional é caracterizada por ser uma entidade que trata, coleta,
organiza e disponibiliza para os usuários as informações em potencial existentes em seu
acervo. O desenvolvimento da análise interna de uma unidade implica diretamente na
otimização dos serviços prestados aos usuários. Este trabalho possibilita uma melhor
compreensão dos problemas, servindo de base para a possibilidade de tornar o ambiente
um espaço positivamente potencializado para seu público.
A pesquisa que trata este artigo fez uma análise do ambiente interno da
Hemeroteca vinculada à Biblioteca do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade
Federal de Pernambuco (CCJ), uma unidade de informação singular, que possui
interessantes particularidades. Como objetivo geral a pesquisa buscou apresentar os dados
obtidos por meio da análise SWOT, feita na Hemeroteca do CCJ, com enfoque nos
problemas considerados de primeira ordem pelos avaliadores, que tomaram por base os
critérios apontados pela literatura.
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Para alcançar esse objetivo, foram realizadas quatro ações específicas, a saber: 1)
Revisar os conceitos de gestão, planejamento estratégico e análise SWOT na literatura
científica nas áreas de Ciência da Informação e Administração; 2) Visitar a unidade
informacional para entrevista com a gestora; 3) Analisar os pontos fortes e fracos da
organização e as oportunidades e ameaças às quais ela está exposta; e 4) formular a análise
SWOT.
As metodologias utilizadas, conforme o objetivo do estudo, foram a exploratória
e a descritiva. Desde a perspectiva dos procedimentos a pesquisa foi bibliográfica e
documental em conformidade com a indicação de Gil (2007). Assim, a revisão da
literatura especializada foi feita, principalmente, em livros e artigos científicos. Para
recuperar essa literatura foi utilizada a Base de Dados Referenciais de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) e a base de revistas científicas brasileira
Scientific Electronic Library Online (SciELO).
A Hemeroteca do CCJ, localizada na cidade do Recife, Estado de Pernambuco,
foi o estudo de caso da pesquisa. Uma visita técnica proporcionou o contato direto com o
ambiente e também com a gestora, possibilitando o embasamento para construção da
análise SWOT. Também foi feito um estudo aprofundado sobre quais são as
características de uma hemeroteca e sua relação com os potenciais serviços de informação
e a demanda por um planejamento estratégico.

2 A HEMEROTECA

O termo hemeroteca refere-se a uma coleção de revista ou jornais. Conforme


Oliveira (2005, p.8), a função da hemeroteca “se destina à conservação das informações
publicadas periodicamente sobre um determinado assunto, possibilitando assim, o resgate
e acesso ao produto informacional que foi disponibilizado anos atrás.”, ou seja, uma
hemeroteca conserva a história de um determinado período, é uma grande fonte de
pesquisa para resgate da memória de um determinado local, instituição, população, etc.
A Hemeroteca do CCJ está vinculada à Faculdade de Direito do Recife, que por sua vez

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está ligada a Universidade Federal de Pernambuco, seu acervo possui periódicos


nacionais e internacionais publicados nos séculos XIX, XX e XXI.
O acervo da hemeroteca do CCJ da UFPE é composto por periódicos raros do Séc.
XIX, o suporte dos documentos que compõe o acervo é o papel jornal. Uma parte do
acervo da hemeroteca foi contemplado com um projeto de conservação de memória
chamado “Resgate documental dos jornais raros da Faculdade de Direito do Recife”,
criado em 2009, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, órgão vinculado ao
Ministério da Educação. Em novembro de 2009, foi realizada uma exposição no Espaço
Memória da Faculdade, na qual foram exibidos alguns volumes raros deste projeto. A
primeira fase do processo durou 6 meses e contou com atividades de desinfestação,
higienização e acondicionamento dos jornais raros da Faculdade de Direito do Recife.
Essa coleção foi identificada por meio de banco de dados que contém fichas técnicas e
fotos dos jornais. Os originais ficaram acondicionados em salas na hemeroteca, com
2.561 volumes em 98 estantes num ambiente climatizado, o que é essencial para a
preservação desse acervo. Em agosto de 2014, a hemeroteca foi reinaugurada em novas
instalações e melhor adequadas. O acesso à coleção é restrito para preservar as fontes
primárias e para visitação deve-se preencher o formulário de solicitação de pesquisa da
coleção.

3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E ANÁLISE SWOT

O Planejamento Estratégico é um processo gerencial que se refere à formulação


de objetivos para a elaboração e execução de ações, levando em conta as condições
internas e externas à empresa e sua evolução esperada. O planejamento estratégico é,
principalmente, relacionado com o ajustamento da organização com o seu ambiente,
resolvendo problemas básicos, contornando as limitações, capitalizando sobre vantagens
herdadas ou desenvolvidas e aproveitando as principais oportunidades (BOWER, 1966).
OLIVEIRA (1998, p.46) argumenta que “o planejamento estratégico é um
processo gerencial que possibilita ao executivo estabelecer o rumo a ser seguido pela
empresa, com vistas a obter um nível de otimização na relação da empresa com o

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ambiente.” Neste sentido, o planejamento estratégico completo requer muito mais esforço
e dedicação do que normalmente se imagina, mas se feito com qualidade, formarão o
caminho para alcançar as metas da unidade.
Desta forma, uma análise SWOT é uma ferramenta utilizada, sob a perspectiva da
administração, para fazer a análise do ambiente interno e serve como informação de
tomada Esta ferramenta pode ser utilizada para qualquer tipo de análise de situação. A
técnica de análise SWOT foi elaborada pelo norte-americano Albert Humphrey, durante
o desenvolvimento de um projeto de pesquisa na Universidade de Stanford entre as
décadas de 1960 e 1970 (RODRIGUES et al., 2005).
O termo SWOT diz respeito a sigla das
palavras Strenghts, Weaknesses, Opportunities e Threats, que significam
respectivamente forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. Essas quatro dimensões
possuem particularidades distintas, como bem apontam Chiavenato e Sapiro (2003), a
saber: a) As forças são as vantagens internas da empresa em relação às concorrentes, como
por exemplo a qualidade do produto oferecido e bom serviço prestado ao cliente; b) As
fraquezas são as desvantagens internas da empresa em relação às concorrentes. Alguns
exemplos são os altos custos de produção, má imagem, instalações desadequadas etc; c)
as oportunidades são aspectos externos positivos que podem potencializar a vantagem
competitiva da empresa, assim como: mudanças nos gostos dos clientes, falência de
empresa concorrente etc; e d) as ameaças são aspectos externos negativos que podem por
em risco a vantagem competitiva da empresa. Ex.: novos competidores, perda de
trabalhadores fundamentais, etc.
A aplicação da análise Swot na Hemeroteca trouxe à tona os grandes problemas
que a unidade enfrenta e também com quais vantagens internas e externas a mesma pode
contar. Os dados obtidos na análise podem ser observados no quadro a seguir:

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Quadro 1- Análise SWOT da Hemeroteca do CCJ da UFPE

Fonte: os autores
Após o levantamento de dados, o foco do estudo foi voltado para os problemas
considerados de primeira ordem, que tratam da inefetividade da acessibilidade ao prédio
da Hemeroteca e do estado muito precário de conservação de jornais raros,
acondicionados no depósito da Hemeroteca do CCJ, e que não foram contemplados no
projeto de resgate documental de 2009 (figura 1).

Figura 1- Mau acondicionamento do acervo

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Fonte: Projeto de Resgate Documental (2009)


Esta situação implica no alto risco de perda do acervo por agentes de deterioração
assim como a perda da memória jornalística jurídica de Pernambuco, levando em
consideração a peculiaridade do acervo, que contém informações de alta relevância sobre
o Estado de Pernambuco.

4 PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURO

A partir dos indicadores da análise SWOT feita na Hemeroteca, foi possível


perceber que grande parte dos problemas encontrados diz respeito ao mau
acondicionamento do acervo. De um modo geral, é necessário um melhor estudo e
adequação no que tange a preservação e conservação dos materiais do acervo. Para
preservar, conservar e restaurar, um acervo bibliográfico, previamente, temos que
conhecer a natureza dos materiais que formam os documentos do acervo da unidade de
informação, e como eles se comportam diante dos agentes de deterioração a qual eles
serão expostos.
É de grande importância que saibamos distinguir as principais diferenças entre
estes conceitos tão próximos e distintos entre si, para que as intervenções a serem feitas
no acervo sejam eficientes e eficazes. Enquanto o termo preservação refere-se à todas as
ações, pré e pós-danos que protejam e resguardem a integridade do documento,
corroborando com às ideias do Manual Técnico de Preservação e Restauração da
Biblioteca Nacional (2011, p.4), que definem o termo como “toda a ação que se destina à
salvaguarda dos registros documentais” incluindo tanto o restauro quanto a conservação,
a conservação somente diz respeito aos cuidados prévios que evitem uma futura
intervenção.
Teijeler (2007) aponta a existência de dois tipos de conservação. Conservação
preventiva, que contribui diretamente ou indiretamente na conservação e integridade dos
acervos, criando estratégias administrativas, políticas e procedimentos padrões para
prevenir ou retardar a degradação e Conservação Reparadora que é toda a intervenção na
estrutura dos materiais que compõe o documento, visando melhorar o seu estado físico.

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Para Cessares (2000, p.12) a definição de restauração é: “um conjunto de medidas


que objetivam a estabilização ou a reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo
documento ao longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua
integridade e seu caráter histórico”. Se houver uma boa conservação e acondicionamento
dos documentos, futuramente não será necessária a intervenção do restauro nos jornais.
O suporte documental predominante que compõe o acervo da hemeroteca do CCJ
da UFPE é o papel jornal. A definição desse suporte pelo Manual Técnico de Preservação
e Restauração da Biblioteca Nacional diz que o papel jornal é destinado a produção de
jornal e tem em sua composição a base de madeira desfibrada mecanicamente e
branqueada, isso faz com que ele possua uma grande quantidade de lignina por isso tende
a ficar ácido, amarelado e quebradiço com o passar do tempo.
Por ser um suporte sensível, e que é feito para ser “descartado”, é necessário ter
conhecimento dos agentes de deterioração que podem causar danos ao acervo e ter
cuidados no seu acondicionamento. O acondicionamento adequado objetiva a proteção
dos documentos contra os agentes de deterioração físicos, químicos e biológicos que
podem atacar os periódicos da hemeroteca (figura 2).

Figura 2- Suporte atacado por agentes de deterioração

Fonte: Projeto de Resgate Documental (2009)


Existe uma grande lista de agentes de deterioração que atingem o papel, são eles:
Fotodeterioração (deterioração pelo excesso de luz), Sujidades (partículas de outros
materiais), poeiras, amarelecimento, descoloração, teor ácido em sua própria essência e a
biodeterioração.
A biodeterioração é a deterioração e deformação causadas por agentes biológicos
(fungos, bactérias, insetos, roedores) ao acervo. Visivelmente é o agente que está trazendo

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maiores problemas na conservação e preservação do acervo da hemeroteca do CCJ. Isso


acontece porque esses agentes se alimentam dos componentes formadores do papel, como
celulose, açúcares e glicose. Se a temperatura e a umidade relativa nesse ambiente não
estiverem regulares podem propiciar o desenvolvimento e a reprodução desses agentes
gerando danos irreparáveis ao acervo. Sendo assim uma das primeiras soluções possíveis,
o controle dos parâmetros de temperatura e umidade relativa (U.R) do ambiente onde os
jornais são acondicionados.
4.1 Medidas estratégicas de preservação
Na conservação do papel, que é um suporte classificado como sensível, devemos
levar em consideração as várias possibilidades de danos ao acervo. Os fatores ambientais,
como a temperatura e a U.R. são dois elementos que devem estar em constante
observação, pois a variação deles pode ocasionar danos gravíssimos ao longo do tempo,
ocasionando desde manchas e quebra do papel. Os níveis recomendado para o
acondicionamento adequado do papel giram em torno de 20°C de temperatura e umidade
relativa entre 45% e 50%.
Radiação de luz também é um agente de deterioração. Provocam danos através da
oxidação, o papel se torna frágil, quebradiço,escurecido,as tintas desbotam ou mudam de
cor, alterando a legibilidade dos documentos textuais e das encadernações. É importante
evitar a luz natural e as lâmpadas fluorescentes, que são fontes geradoras de UV.
Para o monitoramento da temperatura e U.R., pode-se utilizar equipamentos de
medição pontual ou contínua possibilitando o controle ativo do ambiente por meio de
psicômetros, termômetros, Datalogger, desumidificadores, umificadores e
condicionadores de ar e sistemas de climatização, por exemplo. Também é possível ter o
controle passivo desses agentes, através de medidas alternativas e diárias como, por
exemplo limitar o número de pessoas no espaço, evitar colocar material próximo á focos
de luz ou colocar persianas nas janelas evitando o contato direto com a luz solar.
Outros agentes de deterioração são os biológicos, insetos, roedores,fungos e seres
humanos, fora o ser humano, para que surjam a presença dos demais, depende quase que
exclusivamente das condições ambientais dominantes nas dependências onde se

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encontram os documentos, ou seja, o controle dos agentes físicos (luz, temperatura e U.R)
junto com a higienização regular do ambiente, também resolvem este problema.

5 A QUESTÃO DA ACESSIBILIDADE

De acordo com a Lei de Acessibilidade N° 5296 de 2 de dezembro de 2004 e a Lei


Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146, de 6 de julho de 2015, há
uma série de regulamentos que priorizam o atendimento às pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida de forma que explicitam as normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade.
De modo geral, o conceito acessibilidade diz respeito às condições básicas para
utilização, com segurança e autonomia, de edifícios públicos e privados, bem como seus
espaços, mobília e equipamentos, possibilitando a maior independência possível quanto
ao seu uso, de forma que as pessoas deficientes ou àqueles com dificuldade de locomoção
possam usufruir do seu direito de ir e vir a todos os lugares que desejar.
De fato, a implantação da acessibilidade ainda é um grande desafio, pois para além
das barreiras físicas presentes existem as barreiras sociais e psicológicas que são inerentes
às questões da pessoa com deficiência e que precisam ser combatidas: o preconceito, a
ignorância e o medo. A partir da visita técnica feita à Instituição foi possível observar que
as medidas tomadas para garantir a acessibilidade para as pessoas com os diferentes tipos
de deficiência no ambiente da Hemeroteca não funcionam de maneira efetiva.
O prédio da hemeroteca do CCJ (ver figura 3) foi também a primeira reitoria da
Universidade Federal de Pernambuco e a casa do primeiro reitor, Joaquim Amazonas.
Trata-se de um prédio antigo que traz consigo todas as suas limitações. Sob um olhar mais
amplo é possível dizer que, de certo modo, existe uma tentativa de adequação às
necessidades especiais.
Figura 3 – Prédio da Hemeroteca

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: Arquivo CCJ

As portas de acesso e corredores do prédio são largos e existe uma rampa de acesso
na entrada, o que facilita a locomoção, todavia a área de circulação e algumas seções da
unidade informacional possuem degraus, o que inviabiliza a entrada de pessoas com
mobilidade reduzida. Atualmente a parte superior do prédio não está ativa, de forma que
suas atividades são feitas no térreo. Caso se faça necessário o uso das instalações do
primeiro andar, esse fluxo também terá um caráter restritivo, visto que o elevador
existente no prédio não está funcionando. Além disso, é inexistente a sinalização tátil no
chão, degraus e corrimão, para deficientes visuais.
Diante de todas as limitações visualizadas no edifício e tendo em vista que a solução
de todos os problemas levantados requer um planejamento e investimento à longo prazo,
é salutar sugerir a elaboração de uma política interna que leve em consideração à
acessibilidade em todos os ambientes e serviços, de forma que existam materiais e
equipamentos adequados e apoio técnico profissional, de acordo com as especificidades
de cada pessoa com deficiência, conforme indica a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência. A própria Lei indica no seu artigo 57, especificamente, que as
edificações públicas e privadas de uso coletivo, que existem nos dias atuais, devem
garantir acessibilidade à pessoa com deficiência em todas as suas dependências e serviços,
tendo como referência as normas de acessibilidade vigentes, ou seja, deve haver uma
readequação de todo o ambiente.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

6 CONCLUSÃO

O planejamento de estratégias elaborados na pesquisa e sugeridos neste artigo foi


norteado pelo objetivo de analisar os aspectos internos da Hemeroteca do Centro de
Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco por meio de análise SWOT.
Com isso foi possível identificar os pontos fortes e fracos desse ambiente, além de sugerir
como tentar neutralizar os pontos fracos e as ameaças, ainda indicar ações e metas a serem
alcançadas na busca por uma gestão eficaz, com a realização de um planejamento
estratégico.
Os principais pontos fracos encontrados estão relacionados à conservação e à
preservação dos materiais, além da falta de acessibilidade efetiva do prédio, o que, de
fato, merecem uma ação mais enérgica para que sejam resolvidos. Além disso, a análise
também nos aponta que, apesar das dificuldades enfrentadas, há diversas oportunidades
que podem ser aproveitadas, como parcerias e capacitação dos funcionários. A análise do
ambiente (interno e externo), bem como os estudos de usuários, permitirá identificar e
planejar as necessidades da unidade de informação, o que garantirá uma vantagem
competitiva frente aos concorrentes.

REFERÊNCIAS

BOWER, Marvin. The willtomanage. New York: McGraw-Hill, 1966.

BRASIL. DECRETO Nº 5.296 DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004. Disponível em:


<https://goo.gl/XA4qTg>. Acesso em: 25 maio 2017.

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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

BRASIL. LEI Nº 13.146 de 6 de julho de 2015. Disponível em:


<https://goo.gl/XA4qTg>. Acesso em: 25 maio 2017.

CESSARES, Norma C. Como fazer prevenção preventiva em arquivos e bibliotecas.


São Paulo: Arquivo do Estado e Imprensa Oficial, 2000.

CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Arão. Planejamento Estratégico: fundamentos e


aplicações. 1. ed. 13° tiragem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Juliana Buse de; MEDEIROS, Rildeci. Hemeroteca sobre saques e


invasões: do impresso ao digital. 2005. Disponível em: <https://goo.gl/vwcwqF>.
Acesso em: 15 jun. 2016.

OLIVEIRA, Djalma. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia, práticas. 12 ed.


São Paulo: Editora Atlas S/A, 1998.

RODRIGUES, Jorge Nascimento; et al. 50 Gurus Para o Século XXI. 1. ed. Lisboa:
Centro Atlântico.PT, 2005.
SPINELLI, Jayme; BRANDÃO, Emiliana; FRANÇA, Camila. Manual técnico de
preservação e conservação documento extrajudiciais CNJ. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, 2011.

TEIJGELER, René. Conservação preventiva da herança documental em climas


tropicais: uma bibliografia anotada. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2007.

Faculdade de Direito do Recife. Projeto de Resgate Documental. FDR: Recife, 2009.

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A ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO EM BIBLIOTECAS PARA DEFICIENTES


VISUAIS DO DISTRITO FEDERAL: análise da biblioteca Braille Dorina Nowill

BASTOS, Gislene Lopes2


FARIAS, Thays Barbosa3
TINÔCO, Érika Cruz da Silva4

RESUMO

As bibliotecas públicas têm como uma de suas funções serem agentes sociais e culturais
no contexto de determinada comunidade, sendo necessário observar as particularidades
de cada grupo, conforme o tipo de material bibliográfico e/ou as características especiais
de seus usuários, como os deficientes visuais, que são abarcados pelas bibliotecas
especiais. O profissional que atua nesse tipo de unidade informacional é responsável pelo
intermédio e acesso da informação, permitindo que seus usuários possam aproveitar desse
acesso. Com base no estudo de caso, de caráter cross sectional, na literatura sobre o
assunto, analisando autores como: Lemos, Figueiredo, Cunha, Silva, entre outros e por
meio de entrevista com a coordenadora da Biblioteca Braille Dorina Nowill no Distrito
Federal buscando averiguar os serviços disponibilizados, investigando se os materiais
oferecidos condizem com os materiais básicos que devem conter em uma biblioteca para
deficientes visuais e se esta atinge muitos deficientes visuais, visando apurar se a
biblioteca cumpre seu papel social. Apesar de a biblioteca apresentar pontos
desfavoráveis, como a falta de estrutura física e a ausência de bibliotecários, a mesma
disponibiliza funcionários qualificados e prestativos, além de oferecer uma quantidade
considerável de materiais e suportes informacionais, dado que a demanda não é
abundante, promovendo ainda a inclusão por meio de eventos culturais. Diante disso,
considera-se que as necessidades informacionais dos usuários são atendidas.

Palavras-chave: Deficientes visuais. Acessibilidade. Biblioteca especial. Inclusão.


Profissional da Informação

2
Acadêmica do curso de Biblioteconomia (Universidade de Brasília - UnB). E-mail:
gislenelopes15@gmail.com
3
Acadêmica do curso de Biblioteconomia (Universidade de Brasília - UnB). E-mail:
thays.barbosa1@gmail.com
4
Acadêmica do curso de Biblioteconomia (Universidade de Brasília - UnB). E-mail: erika-
tinoco@outlook.com
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ACCESSIBILITY AND INCLUSION IN LIBRARIES FOR THE VISUALLY


IMPAIRED IN THE DISTRITO FEDERAL: an analysis of the Dorina Nowill
Braille Library

ABSTRACT

The Public libraries have as one of their functions to be social and cultural agent in the
context of a Community, being necessary to observe the particularities of each group,
according to the type of bibliographic material, and the special characteristics of theirs
users, such as the visually impaired, covered by special libraries. The professional that
work in this type of informational unit is responsible for the mediation and access of the
information, allowing to the users to take advantage of this access. Based on a cross
sectional, study case, present in the literature, analyzing authors as: Lemos, Figueiredo,
Cunha, Silva, among others and through interviews with the Biblioteca Braille Dorina
Nowill Coordinator, in the Distrito Federal, was sought ascertain the services provided
by investigating whether the materials offered match the basic materials that should be
contained in a library for the visually impaired and if it affects many visually impaired,
in order to determine if the library fulfills his social role. Although the library present
unfavorable points, such as the lack of physical structure and the absence of librarians. It
provides qualified and helpful Employees, as well as offers a considerable amount of
materials and informational supports, given that the demand is not abundant, also
promoting the inclusion through cultural events. Therefore, is considered that the
information needs of the users are met.

Keywords: Visually impaired. Acessibility. Special library. Inclusion. Information


Professional.

1 INTRODUÇÃO

A biblioteca é uma das promotoras do acesso à informação, sendo este, um direito


constitucional de todo cidadão, seja a informação escrita ou falada, devendo estar
disponível a toda a população incluindo as pessoas com deficiência, o profissional da
informação deve diante disso exercer um papel social, atendendo seus usuários de forma
igualitária, uma vez que este público tem direito à informação assim como qualquer outro
usuário.
A biblioteca tem o papel de agente social, com a finalidade de adquirir, tratar,
armazenar, disseminar e disponibilizar documentos como afirma Alvarenga (2009), seu
acervo é organizado e mantido para possibilitar a leitura, a visualização, o estudo e a
consulta ao usuário. A biblioteca é caracterizada como biblioteca especial, quando esta

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possui um acervo de determinado formato, tipo de material bibliográfico ou quando seus


usuários possuem características especiais, afirmação corroborada por Arteara-Fernández
(2001), portanto, uma biblioteca deste tipo pode ser voltada para o deficiente visual, sendo
este seu público e por consequência conter materiais e serviços igualmente especiais que
atendam a estes usuários.
Este artigo tem como base o estudo da Biblioteca Dorina Nowill, caracterizada
como biblioteca especial, de acordo com o exposto anteriormente. A problemática surgiu
ao constatar que a biblioteca Dorina Nowill é a única no Distrito Federal considerada
realmente pública voltada para pessoas com deficiência visual, entendendo por biblioteca
pública, de acordo com Silva (2012) como sendo uma instituição social voltada à
população na qual está inserida, devendo incentivar a inclusão disponibilizando de forma
gratuita o acesso à informação em qualquer suporte, seja ele físico ou digital. Em face
disso, surge a indagação se a biblioteca consegue atender de forma adequada a demanda
de deficientes visuais do Distrito Federal.
O objetivo geral desta pesquisa é analisar se a biblioteca Dorina Nowill promove
acesso a informação aos deficientes visuais. Os objetivos específicos são: a) Compreender
o que são bibliotecas especiais, seu papel social, os materiais especiais que as compõe e
as habilidades necessárias aos profissionais para atuar nesse ambiente; b) Verificar se tem
materiais necessários para atender as necessidades informacionais dos deficientes; c)
Analisar se a biblioteca cumpre seu papel social voltado para aos deficientes visuais; d)
Identificar se os profissionais possuem capacitação.
Como metodologia de pesquisa, utilizaram-se duas modalidades: a pesquisa
bibliográfica e a qualitativa. A primeira refere-se ao embasamento teórico realizado na
pesquisa, de acordo com Lima e Mioto (2007) essa modalidade metodológica geralmente
aparece como a revisão de literatura de um determinado texto. A segunda abordagem
metodológica utilizada foi construída com base em entrevista realizada com a
coordenadora da biblioteca Braille Dorina Nowill, possibilitando a análise das respostas
com as observações realizadas pelas autoras durante a visita.

2 BIBLIOTECAS ESPECIAIS E SEUS DESAFIOS

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As bibliotecas especiais podem ser entendidas como bibliotecas especializadas,


dado que Fonseca (2007) define essa última como sendo aquela que tem uma coleção
especializada em uma determinada área do conhecimento, podendo também ser
caracterizada pela tipologia de seus usuários. Essas particularidades inerentes às
bibliotecas especiais caracterizam as bibliotecas para deficientes visuais, dado que as
mesmas abarcam um público específico que requer materiais especiais.
Após essa breve elucidação, é necessário evidenciar que as bibliotecas especiais
assim como as demais instituições são responsáveis por promover a acessibilidade e a
inclusão informacional dos deficientes visuais. Adotando então um papel social, que
Bernardino e Suaiden (2011, p. 31) pontuam como sendo “[...] permeado pelo acesso e
disponibilidade da informação”, desta forma este papel está relacionado diretamente com
a disseminação da informação e pode ser implementado através de projetos culturais.
Ainda nesse contexto, Cunha (2003, p. 2) evidencia que para o profissional exercer seu
papel social é fundamental que este entenda os “[...] novos papéis que surgem, as novas
necessidades informacionais e as novas formas de responder a estas necessidades criando
novos métodos e formas de trabalho”; sendo assim, a compreensão destes elementos irá
possibilitar um “[...] agir profissional correto e adequado para com a sociedade em que o
profissional se insere” (GUIMARÃES et al., 2009, p. 99)
O papel social exercido pelas bibliotecas especiais está voltado para a
disponibilização de informação, ações de disseminação cultural e é claro a atuação dos
profissionais perante as necessidades dos usuários.

3 DEFICIÊNCIA VISUAL E MATERIAIS ESPECIAIS: UM DESAFIO AO


PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO

A demanda de deficientes no Brasil é uma realidade que não pode ser ignorada no
momento de promover o acesso à informação, estima-se que no Brasil, segundo dados do
IBGE, obtidos no site da EBC, cerca de 6,2% da população possui algum tipo de
deficiência, sendo que dentre essas pessoas, 3,6% são de deficientes visuais. A deficiência

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é caracterizada como, de acordo com o artigo 3 do decreto nº 3.298, de 20 de dezembro


de 1999, “[...] toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro
do padrão considerado normal para o ser humano” (BRASIL, 1999).
Percebe-se que a disponibilização de informação para esse grupo requer uma
abordagem diferenciada em virtude das suas limitações e particularidades, entendendo
que independente das limitações os deficientes visuais têm as mesmas necessidades de
informações que circundam a todos os usuários, sendo que o que diferencia é o suporte e
a forma de acesso. Como afirma Malheiros (2013, p. 62) “suas necessidades de
informação seguem o padrão de necessidade dos demais usuários, o que diferencia é o
suporte físico [...]e um atendimento especial em relação ao acesso a essas informações”.
Maglioli e Santos (2017) enfatizam a importância da informação ao considerá-la como
vital para um indivíduo participar plenamente na sociedade, sendo a falta dela, fator
contribuinte para a exclusão social.
Observa-se que o processo de promover a acessibilidade não se restringe apenas ao
suporte físico, logo acessibilidade deve promover condições e possibilidades para que o
deficiente visual desfrute de todos os recursos oferecidos pela biblioteca, esse processo
de inclusão requer que as bibliotecas passem por reestruturação tanto em âmbito físico,
como nos serviços e produtos, além de oferecer profissionais qualificados. Nesse contexto
Guerreiro (2000 apud RIBEIRO; LEITE, 2003) evidenciam quatro elementos que
caracterizam a biblioteca inclusiva direcionada para os deficientes visuais:
1) Cooperação interinstitucional: Consiste no compartilhamento de recursos
informacionais e documentais por meio da cooperação e intercâmbio.
2) Técnicos informados: Profissionais capacitados para manusear as tecnologias
especiais de digitalização e leitura.
3) Equipamentos e serviços: É essencial a adequação dos equipamentos, serviços e
estrutura física e digital para possibilitar o acesso e a utilização dos recursos.
4) Espaços: Deve se criar espaços no qual todos possam compartilhar de forma
igualitária, em que a existência de diferenças não deve ser encarada como motivo de

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marginalização, mas sim como oportunidade de compartilhamento de vivências, de


experiências, de interações.
Além disso, outro fator essencial a ser mencionado são as coleções, que são
constituídas visando sanar as necessidades dos usuários ao qual são destinadas, no
contexto de bibliotecas públicas deve ser observada a pluralidade de sujeitos atendidos,
de acordo com o relatório da IFLA (2009, p. 39) Biblioteca para cegos na era da
informação: diretrizes de desenvolvimento “a construção de uma coleção para alcançar
as necessidades de uma comunidade requer consideração sobre a sua diversidade
demográfica, econômica, cultural e racial”.
Diante disso, observa-se a imprescindibilidade de disponibilizar materiais que
atendam as particularidades de cada público. No que concerne às coleções direcionadas
para os deficientes visuais é necessária à adoção de materiais especiais para que haja o
atendimento adequado e satisfatório. Os materiais e mecanismos que devem compor o
acervo dessas bibliotecas, são: livros impressos em tinta, livros em braille, livros falados
(audiobooks), livros digitalizados para audição, ampliadores de tela de computador,
leitores de tela ou sintetizadores de voz, dispositivos de saída em braille, reconhecedores
de voz, lupa eletrônica manual e interfaces com tamanho de texto regulável e em alto-
contraste de cores (COSTA, 2003; MALHEIROS, 2013).
É importante destacar o uso do braille, o qual Silva (2007, p.25) conceitua como
sendo “um sistema de leitura tátil e escrita para pessoa cega, que consta da combinação
de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos.” A criação desse
instrumento propiciou o descortinamento da informação para os deficientes visuais,
promovendo assim a inclusão informacional, como evidência Belarmino (2004, p. 5 apud
SANDES, 2009, p.25) no qual “permitiu que indivíduos cegos saíssem do seu mundo
específico, para compartilharem de forma mais abrangente, esferas comuns realidade com
os outros indivíduos da cultura [...]”.
Essa gama de requisitos necessários para constituir uma biblioteca especial
inclusiva, tornam-se desafios para o profissional da informação no processo de
transferência da informação, fato corroborado por Maia et al. (2011, p. 2) “para que esse
profissional possa desenvolver está mediação, é necessário capacitação profissional

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contínua, recursos institucionais arquitetônicos, além da ambientação, acervo e


equipamentos especiais [...]”.
Percebe-se que para execução das competências do profissional da informação, há
o envolvimento de todas as dimensões da instituição, não se restringindo apenas aos
materiais em si, esse fator faz com que a qualidade dos serviços executados por esses
profissionais não incidam somente na responsabilidade da própria capacitação, pois os
mesmos estão sujeitos às condições estruturais, econômicas e políticas da biblioteca,
como, a ausência de espaço físico adequado, escassez de materiais, alto custo dos recursos
especiais, dentre outras condições que configuram como desafios para os bibliotecários.
Diante dessa amplitude de elementos que norteiam o trabalho do bibliotecário, é
necessário que o mesmo seja dotado de características e habilidades específicas a fim de
transpor grande parte dessas barreiras, na concepção de Barbalho (2002 apud MAIA et
al., 2011) existem três habilidades que o bibliotecário deve ter para desempenhar com
qualidade suas funções sendo estas: Habilidade técnica, capacitação do profissional para
utilizar os conhecimentos, técnica e equipamentos necessários para a recuperação da
informação; Habilidade humana, capacidade para lidar com qualquer tipo de usuário;
Habilidade conceitual, capacidade de conhecer o ambiente informacional como um todo.

4 A BIBLIOTECA

A Biblioteca Braille Dorina Nowill é uma biblioteca pública direcionada ao


atendimento de pessoas com deficiência visual. Localizada em Taguatinga - Distrito
Federal no Centro Cultural Teatro da Praça, foi criada em 17 de maio de 1995, sendo que
inicialmente funcionava em uma sala na Escola Classe 6 de Taguatinga, vindo a ocupar
o espaço atual somente em 2006. A constituição do seu acervo é proveniente da doação
de 200 títulos em braille pela Fundação Dorina Nowill. Posteriormente outras instituições
como, Instituto Benjamin Constant, Biblioteca da Câmara dos Deputados e outros
tribunais contribuíram para crescimento do acervo.
De acordo com Silva (2010) o nome da biblioteca foi dado em homenagem a
professora Dorina de Gouvêa Nowill, deficiente visual e criadora da Fundação para o

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Livro do Cego no Brasil em São Paulo, hoje Fundação Dorina Nowill. Ainda segundo a
autora a principal finalidade da biblioteca braille é o fomento de questões como “inclusão,
educação, socialização de pessoas com deficiência visual por meio de um espaço
público”, que ofereça serviços de ordem social como oficinas de música, artesanato,
alfabetização em braille e acesso aos materiais bibliográficos, pesquisa, uso no local e
empréstimo domiciliar.
Tendo como arcabouço a dissertação da mesma autora, são elencadas algumas das
atividades presentes na Biblioteca Braille Dorina Nowill que promovem o processo de
inclusão:
● Atividades relacionadas à área de biblioteconomia e a leitura: Projeto Luz &
Autor em Braille, Revelando Autores em Braille e a alfabetização em Braille, estante de
Escritores Brasilienses, Telecentro adaptado às pessoas com deficiência visual, dentre
outras.
● Atividades relacionadas à promoção da biblioteca: Biblioteca Itinerante, Oficina
Musical e Poética, Recitais Lítero-musicais.
● Atividades relacionadas a práticas sociais: Solidários da Visão, Acessibilidade e
Turismo, Voluntariado em Ação, Capoterapia e/ou dançaterapia

4.1 Análise de dados e resultados

4.1.1 Metodologia

A abordagem metodológica utilizada foi do tipo qualitativa e a pesquisa é de caráter


exploratório, pois o fenômeno é analisado em seu ambiente natural, de cunho cross
sectional, no qual a coleta de dados ocorre em um só momento onde são analisadas uma
ou mais variáveis (POZZEBON; FREITAS, 1998)
Entende-se a abordagem qualitativa como um meio de exploração e entendimento
de significados atribuídos por indivíduos ou grupos a um problema social ou humano,
sendo os dados da pesquisa coletados no ambiente do participante partindo de
particularidades para temas gerais (CRESWELL, 2010). Entende-se que a pesquisa

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bibliográfica, é sempre realizada, segundo Lima e Mioto (2007, p. 44) para “[...]
fundamentar teoricamente o objeto de estudo, contribuindo com elementos que subsidiam
a análise futura dos dados obtidos.”
A análise dessa pesquisa será elaborada com base nas próprias observações do
pesquisador a respeito da biblioteca, acervo e profissional atuante, juntamente a análise
das respostas fornecidas pela coordenadora da biblioteca no dia da visita, assim como
será apresentada um breve histórico a respeito da biblioteca. A visita foi realizada no dia
29 de maio de 2017 no período da manhã e foi fundamentada em diálogo aberto com a
coordenadora da biblioteca Leonilde Fontes, intercalada com perguntas já
preestabelecidas pelas pesquisadoras.

4.1.2 Entrevista

Conforme relato da coordenadora a biblioteca possui atualmente em torno de 90


usuários, sendo que em termos de frequentadores ao longo dos anos não se tem um
número exato para fornecer, mas são atendidos usuários que apresentam diversos níveis
de deficiência visual.
Com o intuito de verificar se a biblioteca possui os materiais especiais necessários
para atender as necessidades informacionais dos deficientes, foram realizados
questionamentos a respeito da abrangência do acervo e dos materiais especiais. Em
relação ao acervo a entrevistada respondeu que possuem atualmente cerca de 2000 obras,
sendo livros em braille, livros em tinta, audiobooks, ponto de leitura e acervo dos autores
de Brasília, dentre outros que são oriundos de doações. O acervo em sua maioria é sobre
literatura, sendo este o assunto mais requisitado pelos usuários, evidenciou-se também a
existência de poucos exemplares de periódicos, da Constituição Federal e livros infantis.
No que concerne aos materiais mais utilizados, a mesma relatou que além dos materiais
físicos, tais como: livros impressos em tinta e em braille, audiobooks, ampliadores de tela
de computador, leitores de tela, sintetizadores de voz, dentre outros, o mais requisitado e
de importância fundamental é o material humano, pois é por meio do auxílio dos
voluntários e das pessoas que trabalham na biblioteca que tudo pode se concretizar, desde

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gravação de audiobooks, auxílio na leitura em braille, alfabetização, oficinas de dança,


digitalização de textos, e impressão ampliada ou em braille.
Para analisar se a biblioteca cumpre seu papel social, foram realizados
questionamentos a respeito dos serviços oferecidos e da disponibilização de treinamento
para o usuário. A coordenadora relatou que o serviço mais acessado é o trabalho realizado
pelos ledores, voluntários, que auxiliam na leitura dos livros e gravação de áudio. Sendo
que, para lidar com deficientes visuais a pessoa tem que possuir habilidades específicas e
jeito para tratá-los de igual para igual, sabendo lidar com suas particularidades. Elencou
que os treinamentos prestados para os usuários, ocorrem de maneira informal, pois não
consta nas funções da biblioteca, mas como fator social ela desempenha serviços de
orientação e auxílio aos usuários como, por exemplo, a instalação de aplicativos e
manuseio do smartphone, orientação quanto ao uso da Internet, aulas de braille passando
então a desenvolver estratégias de motivação a esses usuários para frequentar a biblioteca.
Para identificar se os profissionais possuem capacitação, o questionamento foi em
relação a se os bibliotecários possuem habilidades diferenciadas para atender esse
público. A entrevistada compartilhou que a instituição não possui bibliotecários, que os
funcionários responsáveis pela biblioteca são cedidos pela secretaria de educação, sendo
que as duas fundadoras ainda atuam na biblioteca, estando uma delas atuando como
voluntária e na coordenação uma professora cedida para se responsabilizar pela
biblioteca. Apesar da ausência de bibliotecários, a mesma confidenciou que os
profissionais possuem capacitação para desempenhar as atividades concernentes a
biblioteca, pois são habilitados por meio de cursos de especialização para dar suporte a
manutenção da biblioteca em relação ao atendimento a deficientes visuais.

5 CONCLUSÃO

Considerando os instrumentos e mecanismos que constituem as bibliotecas


especiais, evidenciados na revisão de literatura, foi possível constatar que a Biblioteca
Dorina Nowill, atende as necessidades informacionais dos usuários, pois oferece
materiais base para os mesmos, realizando compartilhamento de informações e material

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com seus usuários e outras instituições que necessitem de algum material específico do
seu acervo. Apesar da ausência de bibliotecários existem profissionais que desempenham
com qualidade as funções que seriam de competências dos bibliotecários, estando
habilitados por meio de cursos de especialização para dar suporte a manutenção da
biblioteca em relação ao atendimento a deficientes visuais. Em termos arquitetônicos, a
biblioteca não possui estrutura de excelência para atender seus usuários e comportar o
acervo, considerando o espaço pequeno e comportando muitas sessões em um mesmo
lugar, um exemplo disso é que a sala de estudo e leitura comporta uma cozinha dando-se
esta divisão por um armário de guarda-volumes. O tratamento técnico não é realizado
dado à ausência de um profissional especializado na área, contudo, os livros foram
catalogados por meio da ação de um voluntário da área de biblioteconomia.
A localização da biblioteca também pode ser um empecilho para a chegada desses
usuários por não ficar localizada na parte central da capital Federal levando usuários que
moram na parte norte da capital a ter que usar mais de um transporte público para chegar
ao local.
O ambiente da biblioteca promove a relação entre os sujeitos, viabilizando o
reconhecimento do outro e possibilitando o entendimento de que todos são portadores dos
mesmos direitos, por meio das ações culturais que esta realiza como o ensino de braille a
videntes e não videntes, desfile de moda para aumentar a autoestima dessas pessoas que
muitas vezes se sentem excluídas da sociedade, sendo feita a venda das roupas usadas no
desfile para angariar fundos para a biblioteca.
Como estudos futuros sugere-se a produção de literatura voltada para a temática das
bibliotecas especiais físicas, percebe-se grande preocupação com a parte de inclusão
digital negligenciando que as bibliotecas físicas é uma das fontes de acesso digital a
muitos deficientes visuais que não possuem acesso à internet em casa, como também no
suporte para que estes obtenham sua independência digital. Sugere-se também que as
universidades revisem seus currículos a fim de que haja inclusão de disciplinas que
complementem a formação de bibliotecários para trabalhar com pessoas com
deficiências. Os estudantes de biblioteconomia muitas vezes não saem qualificados da

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universidade para trabalhar com esse tipo de usuário, ocasionando a ocupação desse tipo
de biblioteca por outros profissionais.

REFERÊNCIAS

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35
PANORAMA SOBRE PRÁTICAS INFORMACIONAIS: sob a perspectiva da
Competência em Informação na inclusão social

RODRIGUES, Paula5
ZATTAR, Marianna6

RESUMO
Apresenta uma revisão de literatura sobre a temática da Prática informacional no contexto
dos estudos da Competência em Informação, a fim de estabelecer o panorama da temática
inserida nos estudos científicos. Indica como referencial os estudos de Savolainen e
Dudziak. Utiliza como campo de pesquisa as bases de dados referenciais de cobertura
internacional e nacional, para destacar a tendência da produtividade científica dos países
e identificar como se dá a pesquisa sobre a temática no Brasil, respectivamente. Para isso,
estabelece um estudo de natureza exploratória e descritiva a partir da abordagem quanti-
qualitativa. Realiza um levantamento dos artigos nas bases de dados Web of Science
(WoS) e Base de Dados em Ciência da Informação Acervo de Publicações Brasileiras em
Ciência da Informação (Brapci). Aponta os principais assuntos indexados como palavras-
chave nos artigos, o estado da produção científica e as revistas que publicaram sobre a
temática. Conclui que o incentivo ao desenvolvimento dos estudos sobre práticas
informacionais nos diversos cenários sociais contribui como uma das medidas para
reduzir a ausência de acesso ou desconhecimento do uso informacional.

Palavras-chave: Prática informacional. Competência em informação. Inclusão social.

OVERVIEW INFORMATION PRACTICES: from the perspective of Information


literacy in social inclusion

ABSTRACT

This study presents a literature review about Information Practice on information literacy
context, in order to establish the overview of the theme inserted in the scientific studies.
It indicates as reference the studies of Savolainen e Dudziak. It uses as a search field the
reference databases of international and national coverage to highlight the productivity
tendency countries and to identify how are the thematic research in Brazil. For this
purpose, it establish an exploratory nature study and descriptive based on the quanti-
qualitative approach. It performs of the articles survey on Web of Science (WoS) and

5
Acadêmica do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). paulagr@ufrj.br
6
Professora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). mzattar@facc.ufrj.br

36
Base de Dados em Ciência da Informação Acervo de Publicações Brasileiras em Ciência
da Informação (Brapci). It points out the main subjects indexed as keywords in the
articles, the state of the scientific production and the magazines that published about the
thematic. It concludes that incentive the development of studies of information practices
contributes to social contexts in general, as a way to reduce lack of access or ignorance
of informational use.

Keywords: Information practice. Information literacy. Social inclusion.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea impõe que as relações sociais ocorram a partir de uma


dinâmica informacional que não acompanha o desenvolvimento social, como é o caso de
muitos países considerados subdesenvolvidos. Diante disso, se faz necessário que existam
políticas e ações que diminuam as diferenças ocasionadas pela disparidade entre os
diferentes setores da sociedade e a realidade informacional da população.
No contexto dinâmico e diverso da sociedade destaca-se que o papel social
desempenhado pelos profissionais que detém a informação como principal objeto de
trabalho, caracterizado pela preocupação em garantir que o acesso e as práticas
informacionais atendam a todas as instâncias da sociedade. Sendo assim, estes
profissionais devem estar preparados para criar e evidenciar as possibilidades visando
contribuir para que os indivíduos desenvolvam as competências necessárias para lidar
com as informações disponíveis nos meios comunicacionais.
Sob esta perspectiva, o objetivo principal da pesquisa é estabelecer o panorama
dos contextos nos quais a prática informacional está inserida nos estudos científicos. Para
isso, foi utilizada uma base de dados de cobertura internacional e multidisciplinar, e outra
de cobertura nacional e especializada. O levantamento dos artigos realizado na base de
dados internacional busca identificar o país que produz o maior volume de artigos
científicos relacionados às práticas informacionais e, ressaltar quais as áreas que estudam
a temática. Na base de dados nacional foram identificados e listados os artigos
recuperados com base na estratégia de busca aplicada, bem como os assuntos relacionados
à temática e a revista científica que mais publicou artigos sobre Práticas informacionais.
Com base nos resultados obtidos, a pesquisa conclui que existe a necessidade da
realização de estudos que explorem mais a temática, visando não somente o campo de
estudos da informação ou aqueles interdisciplinares bem como a inclusão de parte da

37
população que não possui conhecimento sobre como buscar e usar a informação
disponível.

2 PRÁTICA INFORMACIONAL NO ÂMBITO COMPETÊNCIA EM


INFORMAÇÃO

As práticas em comunidades são definidas pelo comportamento e habilidades


atribuídos aos indivíduos, próximos da concepção dos indivíduos enquanto membros de
grupos e comunidades propensos a sofrer transformações decorrentes do contexto ao qual
está inserido. (SAVOLAINEN, 2007)
Nas pesquisas recentes do campo de estudos da informação é possível identificar
como os indivíduos desenvolvem e compartilham hábitos nos meios informacionais
como, por exemplo, usuários de redes sociais que integram grupos de discussões ou ainda
estudantes no contexto da sala de aula. Em ambos os exemplos, os indivíduos interagem
e, assim, produzem um discurso que está condicionado à existência ou inexistência de
conhecimento de maneira formal. Cada grupo ou comunidade composta por sujeitos
apresenta características próprias, as quais os personalizam. Diante disso, o
interacionismo inserido no paradigma social de Capurro (2003) configura um cenário no
qual o indivíduo é capaz de alterar o contexto social no qual está inserido, sendo, portanto,
o agente que promove a transformação da sua própria realidade.
Na atual conjuntura social nota-se que se manter bem informado representa não
somente ter ciência dos acontecimentos os quais englobam todas as esferas
comunicacionais como também, uma maneira de se colocar estrategicamente um passo à
frente em um cenário de intensa competição. Nesse sentido, Marteleto (1994, p. 134)
afirma que a informação consiste em “[...] uma prática, num contexto sociocultural de
produção de discursos, representações e valores que informam cada existência,
fornecendo a cada sujeito um modelo de competência (cognitiva, discursiva,
comunicacional) para dirigir suas vidas [...]”. Diante disso, se torna possível observar a
relação entre as práticas informacionais e a competência em informação na atuação social
do indivíduo. Portanto, as práticas informacionais exercidas pela sociedade globalizada
enquanto um coletivo de intenso fluxo informacional, configuram o constante
compartilhamento de discursos e ideias entre os indivíduos nela inseridos e, assim,
colaboram para o processo de aprendizagem dos indivíduos.

38
Dudziak (2003) propõe que a Competência em Informação, no inglês Information
Literacy, consiste na aprendizagem contínua que permite o desenvolvimento de
habilidades necessárias para que o indivíduo adquira ciência dos acontecimentos que
ocorrem no contexto ao qual está inserido. Desta maneira, o conceito atribuído às práticas
informacionais, o qual considera o indivíduo como potencial transformador do seu
contexto social, apresenta correlação com o discurso difundido pela competência em
informação. Ambos os estudos convergem para a capacidade do indivíduo em transformar
sua realidade mediante ao caminho de aprendizagem percorrido ao longo da vida.
Dado papel fundamental da informação para uma nação, em 2009 o presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, publicou um documento7 reconhecendo a relevância
do incentivo às práticas de competência em informação para o país e proclamando o mês
de outubro para tal conscientização. Assim, existem medidas que colaboram para
promoção de ações que conscientizam e capacitam a população para lidar com a dinâmica
informacional.
O desenvolvimento social de uma nação depende de como ela lida com o conteúdo
informacional que recebe e produz. Nesse sentido, o tipo de ação tomada para administrar
o fluxo informacional determina o rumo do desenvolvimento social, econômico e político
de um país. Dessa maneira, o reconhecimento do papel da competência em informação
pelos Estados Unidos, considerada uma potência em termos de avanço social e
desenvolvimento econômico, reafirma o valor da informação no contexto da sociedade
globalizada.
A Competência em informação aliada do estudo das práticas informacionais
desenvolve métodos que capacitam os indivíduos para atuarem perante as expectativas
sociais. Portanto, o cenário ideal é, certamente, onde existe a colaboração entre a
competência em informação e a prática informacional para elaboração de projetos que
promovam a inclusão e a construção social.

3 METODOLOGIA

7
Em 2009, o mês de outubro foi proclamado pelo presidente dos Estados Unidos da América como National
Information Literacy Awareness Month ou Mês Nacional de Conscientização da Competência em
Informação.

39
A metodologia aplicada compreende a pesquisa exploratória de natureza quanti-
qualitativa. Os estudos exploratórios consistem em “[...] desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores” (GIL, 2002, p. 27). Dessa forma, foram
utilizados na busca8 o termo “Information practice” na WoS e, considerando a variação
linguística, os termos “prática informacional” e “práticas informacionais” na Brapci. A
preferência por artigos e o recorte temporal no período de 2006 a 2016 se deram devido
a maior atualização das discussões.
Optou-se por utilizar a WoS como um dos campos de pesquisa em razão da sua
multidisciplinariedade e atual relevância para a comunidade científica. Dessa maneira,
seria possível identificar qual (is) país (es) possui (em) maior produção científica, bem
como as principais áreas que abordam a temática nas suas discussões teóricas e práticas.
No caso da Brapci, a escolha se deu em decorrência dela apresentar no cenário
brasileiro o papel de reunir os artigos publicados nas revistas científicas brasileiras mais
conceituadas e, principalmente, por ser de conteúdo especializado na área da Ciência da
informação. Com isso, permite a visualização do estado da produção científica sobre
prática informacional no Brasil.

3.1 Resultados e análise na Web of Science (WoS)

A estratégia de busca elaborada para realizar o levantamento dos artigos


relacionados à Prática informacional na WoS iniciou a partir da busca pela expressão
“Information practice”9 como tópico10 no intervalo de 2006 a 2016, resultando em 134
documentos recuperados. Em seguida, foi delimitado somente os artigos, totalizando 95.

Figura 1 – Panorama geográfico da temática

8
Realizada na segunda quinzena do mês de maio/2017, por meio do acesso institucional fornecido pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ao Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
9
Como estratégia de busca recomendada pela base de dados para garantir que o termo fosse recuperado foi
utilizada a expressão incluindo as aspas. O termo Information Practice faz referência na língua inglesa à
Prática Informacional.
10
A busca por tópico inclui os campos título, palavra-chave e resumo. Assim, é possível buscar um termo
simultaneamente.

40
Fonte: Elaborada a partir da WoS (2017).

Com base na Figura 1 é possível afirmar que os Estados Unidos da América


(EUA), com 44 artigos, é o país com maior número de artigos indexados na WoS
relacionados à temática ficando na frente da Austrália, com 13. Ainda que a WoS seja
uma base de dados referencial de conteúdo interdisciplinar, a quantidade de artigos de
origem norte-americana é bastante elevada em comparação com os outros países. Dessa
forma, pode-se dizer que o levantamento da produção científica sobre prática
informacional na WoS certamente ressalta o investimento financeiro e intelectual que as
instituições públicas e privadas direcionam às pesquisas sociais nos EUA. Sendo assim,
o resultado demonstra que existe uma demanda para tais pesquisas, bem como o interesse
em que sejam atendidas a fim do desenvolvimento socioeconômico.
Figura 2 – Artigos publicados por área do conhecimento

Fonte: Elaborada a partir da WoS (2017).

41
Os resultados obtidos na WoS apontaram para a concentração de 60 artigos
publicados da área da Ciência Sociais, onde somente a Ciência em Informação apresenta
um total de 53 publicações. Em seguida, a área das Ciências da Saúde com 39 artigos
publicados.
Os dados observados representam a Ciência que possui a informação como
principal objeto de estudo e as Ciências da Saúde que possuem alto grau de atualização.
Ambas as ciências se caracterizam pela aproximação com as práticas sociais e, certamente
por isso, parte dos estudos são direcionados para a interação entre indivíduos.
É necessário ressaltar que o total de publicações recuperadas e classificadas por
áreas do conhecimento pela WoS apresentou um quantitativo maior que o total de artigos
recuperados na busca (Figura 1) em decorrência da interdisciplinaridade. Dessa forma,
observou-se que é possível que um artigo seja classificado na base de dados em mais de
uma área do conhecimento.

3.2 Resultados e análises na Brapci

Na Brapci foi realizada a busca11 por dois termos para assegurar a recuperação de
todos os artigos indexados sobre a temática. Dessa forma, a primeira busca se deu pela
expressão “Prática informacional”. Nos campos título e resumo, no entanto não foi obtido
nenhum resultado. Ao utilizar o campo palavra-chave no intervalo de 2006 a 2016,
resultou no total de 2 artigos listados a seguir por ordem cronológica decrescente.

a. OLIVEIRA, Dalgiza Andrade; MOURA, Maria Aparecida. Práticas informacionais


dos dirigentes do sindicato dos bancários de BH e região. Informação & Informação,
Londrina, v. 18, n. 1, 2013.
b. NASCIMENTO, Denise Morado. A abordagem sócio-cultural da informação.
Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 16, n. 2, 2006.

Os principais termos relacionados às pesquisas sobre Práticas informacionais


identificados na primeira busca estão dispostos a seguir no Quadro 1.

11
A busca na Brapci é realizada separadamente, isto é, não é possível contemplar mais de um
campo de busca simultaneamente

42
Quadro 1 – Termos designados pelos autores recuperados na primeira busca
Artigo Palavras-chave
Informação. Prática informacional. Prática sindical. Bancários.
A
Sindicatos. Mundo do trabalho. Processo de trabalho bancário.
Prática informacional. Comunidades discursivas. Análise de
B
domínio.
Fonte: Elaborado a partir da Brapci (2017).

A segunda busca foi realizada por meio do termo “Práticas informacionais”. A partir dos
campos título e palavra-chave, assim como na busca anterior foi estabelecido o intervalo
temporal de 2006 a 2016, foram recuperados um total12 de 11 artigos listados a seguir por
ordem cronológica decrescente.

a. ARAÚJO, Carlos Alberto de Ávila; GANDRA, Tatiane Krempser. Práticas


informacionais dos visitantes do museu itinerante ponto UFMG, Em Questão, Porto
Alegre, v. 22, n. 3, 2016.
b. ARAÚJO, Carlos Alberto de Ávila. Estudos de usuários da informação: comparação
entre estudos de uso, de comportamento e de práticas a partir de uma pesquisa empírica.
Informação em Pauta, Fortaleza, v. 1, n. 1, 2016.
c. GARCIA, Joana Coeli Ribeiro; Edison Ferreira de Macedo; FREIRE, Bernardina
Maria Juvenal. Práticas infoculturais em bibliotecas. Informação & Sociedade:
Estudos, João Pessoa, v. 25, n. 2, 2015.
d. BRITO, Fernanda Teixeira; AGANETTE, Karina Pinto de Jesus; SOBREIRA,
Fernanda Resende; NONATO, Ruth Almeida; ANJOS, Paula Ferraz Dos; SOARES,
Filipi Miranda; DUARTE, Adriana Bogliolo Sirihal. Processos de busca de informação
política dos estudantes de graduação da UFMG: uma abordagem qualitativa. Múltiplos
Olhares em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 5, n. 2, 2015.
e. SILVA, Tahis Virgínia Gomes da; AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier de. Práticas
informacionais expositivas: um estudo sobre o Museu Casa de José Américo.
Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 23, n. 3, 2013.

12
O total representa o somatório da busca nos campos título (2) e palavra-chave (9). Foram recuperados 4
artigos indexados com o termo de busca em ambos os campos.

43
f. AGUILAR, Alejandra. Identidade/diversidade cultural no ciberespaço: práticas
informacionais e de inclusão digital nas comunidades indígenas no Brasil. Informação
& Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 22, n. 1, 2012.
g. MORIGI, Valdir José; KREBS, Luciana Monteiro. Redes de mobilização social: as
práticas informacionais do Greenpeace. Informação & Sociedade: Estudos, João
Pessoa, v. 22, n. 3, 2012.
h. PINHO NETO, Júlio Afonso Sá de. A inclusão digital dos agentes de limpeza urbana
e dos agentes ambientais da coleta seletiva de lixo da cidade de João Pessoa/PB.
Informação & Sociedade: estudos, João Pessoa, v.22, Número Especial, 2012.
i. PINTO, Flávia Virgínia Melo; ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Contribuição ao
campo de usuários da informação: em busca dos paradoxos das práticas informacionais.
Transinformação, Campinas, v. 24, n. 3, 2012.
j. ORRICO, Evelyn Goyannes Dill. Memória e discurso no entremeio das práticas
informacionais contemporâneas. Liinc em revista, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, 2010.
k. BÉGAULT, Béatrice. O periódico científico, um papel para a mediação de
informação entre pesquisadores: qual seu futuro no ambiente digital? Revista Eletrônica
de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, 2009.

Diante dos artigos recuperados foi identificado que o autor com maior número de
publicações sobre a temática é Carlos Alberto de Ávila Araújo com 3 artigos. Os
principais termos relacionados às pesquisas sobre Práticas informacionais identificados a
partir da segunda busca, estão dispostos a seguir no Quadro 2.

Quadro 2 – Termos designados pelos autores recuperados na segunda etapa


Artigos Palavras-chave
Práticas informacionais. Estudos de usuários. Estudos de visitante.
A
Museus. Etnografia.
Estudos de usuários da informação. Estudos de uso. Estudos de
B
comportamento informacional. Estudos de práticas informacionais.
Práticas informacionais. Práticas culturais. Responsabilidade social -
C
bibliotecas.
Práticas informacionais. Estudantes de graduação da UFMG. Política.
D
Grupo Focal. Abordagem qualitativa.

44
Ciência da Informação e Museologia. Práticas informacionais –
E
Exposições museológicas. Semiótica - Método de pesquisa
Sociedade da informação. Inclusão digital. Tecnologias de Informação
F
e Comunicação - TIC. Práticas informacionais. Povos indígenas.

G Práticas Informacionais. Greenpeace. Meio Ambiente. Redes Sociais

H Inclusão digital. Cidadania. Ciência da Informação. Inclusão social.

I Método. Práticas informacionais. Usuários da informação.


Memória. Discurso. Gênero discursivo. Organização do
J
conhecimento.
Periódico científico. Publicação eletrônica. Práticas informacionais.
K
Ciência da engenharia. Pesquisadores.
Fonte: Elaborado a partir da Brapci (2017).

O levantamento realizado na Brapci permitiu identificar quais são os assuntos


estudados relacionados com a prática informacional, os periódicos que mais publicam e
o pesquisadores com artigos que abordam a temática. Conforme o Quadro 2, os assuntos
correspondem às unidades de informação como os museus e as bibliotecas, ao estudo do
comportamento informacional, ao ambiente acadêmico, à inclusão digital dos povos
indígenas, ao meio ambiente, à inclusão social e à comunicação científica nas ciências
exatas.
Foi observado nos resultados que a maioria dos periódicos científicos brasileiros
especializados na área da Ciência da informação possuem origem e vínculo com as
universidades. Diante dessa realidade foram recuperados artigos em 8 periódicos, dos
quais somente 1 não pertence e nem possui vínculo com uma instituição universitária. A
“Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde” é um periódico
interdisciplinar produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), instituição de
pesquisa e ensino da área da Saúde, conforme demonstrado a seguir na Figura 3.

Figura 3 – Panorama dos periódicos científicos

45
Fonte: Elaborada a partir da Brapci (2017).

O resultado demonstrado na Figura 3 compreende a busca feita por ambos os


termos, Prática informacional e Práticas informacionais. A “Revista Informação &
Sociedade: Estudos” filiada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) corresponde
ao maior número de artigos publicados, totalizando 6. Em seguida com 1 publicação cada,
seguem a “Informação e Informação”, da Universidade Estadual de Londrina (UEL); “Em
Questão” da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS); “Informação em
Pauta” da Universidade Federal do Ceará (UFC); “Revista Eletrônica de Comunicação,
Informação & Inovação em Saúde” da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz); “Múltiplos
Olhares em Ciência da Informação” da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
“Transinformação” da Pontifícia Universidade Católica (PUC); “Liinc em Revista” da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos no levantamento da temática na WoS indicam que os EUA


é o país com maior número de artigos indexados em uma das mais importantes bases de
dados no atual cenário da ciência. Com isso, é possível identificar que o valor atribuído à
informação pela comunidade científica possui relação direta com a produção científica

46
sobre as práticas informacionais aplicadas na sociedade e, certamente, com o seu
desenvolvimento socioeconômico. Sendo assim, pode-se destacar como uma das
possíveis causas para a notável frequência dos EUA na produção científica sobre a
temática, o reconhecimento do papel fundamental que o estímulo à aprendizagem
contínua como um olhar que propicia o desenvolvimento científico, socioeconômico e
político da sociedade e, especialmente, das nações.
A necessidade de realizar estudos sobre prática informacional surge não somente
da demanda social como também da econômica, visto que a informação possui um
importante papel nas decisões estratégicas. Dessa forma, a sua ausência afeta
principalmente, a parcela da população que mais carece de condições para buscá-la e usá-
la. Portanto, aumentar a visibilidade e, consequentemente, os estudos sobre a temática é
relevante para todas as áreas que requerem o avanço de ações e políticas sociais. Diante
disso, esta pesquisa pretende contribuir para incentivar o surgimento de outros estudos, a
fim de possibilitar que a temática se desenvolva e seja reconhecida como um dos fatores
de transformação social, sobretudo no contexto brasileiro.

REFERÊNCIAS

CAPURRO, R. Epistemologia y ciencia de la informacion. In: ENCONTRO


NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., 2003, Belo
Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2003. Disponível em:
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SAVOLAINEN, R. Information behavior and information practice: reviewing the


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Base de Dados em Ciência da


Informação Acervo de Publicações Brasileiras em Ciência da Informação. Curitiba,
2016. Disponível em: <http://basessibi.c3sl.ufpr.br/brapci/index.php>. Acesso em: 15
maio 2017.

WEB OF SCIENCE. [Website]. [S.l.]: Thomson Reuters, 2017. Disponível em: <
http://thomsonreuters.com/en/products-services/scholarly-scientific-research/scholarly-
search-and-discovery/web-of-science.html>. Acesso em: 15 maio 201

48
GT 2.
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO

Estudos e pesquisas de aplicação teórica ou prática sobre a


utilização e desenvolvimento das tecnologias de informação e
comunicação, estas devem envolver os processos de
recuperação, uso, disseminação, preservação, armazenamento
e gestão em ambientes digitais. Esses estudos devem envolver
também múltiplos saberes sobre as temáticas da diversidade.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

AUDIOLIVRO E A HISTÓRIA DO LIVRO E DA LEITURA

BATISTA, Vanessa13
SOUZA, Claudia Barbosa dos Santos de 14

“O melhor efeito de um livro é levar o leitor à atividade.”


(Thomas Carlyle)

RESUMO

Trata sobre a história da evolução do livro, do pergaminho ao audiolivro como modo de


fomento a nova forma de leitura. Objetiva identificar o audiolivro como um novo suporte
para de disseminação da prática de leitura para usuários que não possuem deficiência
visual. Utiliza como procedimentos metodológicos neste trabalho a análise e;
identificação sobre a temática pertinente nos campos de investigação: biblioteconomia,
história do livro e bibliotecas, etc. Busca articular o entendimento entre a teoria em
detrimento a observação do uso do audiolivro como atividade recreativa. Constata-se que
a evolução dos suportes informacionais ocasionou mudanças comportamentais refletidos
no hábito da leitura. De início o audiolivro foi pensado para atender ao público com
deficiência visual, no entanto, na atualidade, abarca usuários, leitores de livros
tradicionais, criando um novo público.

Palavras-chave: Audiolivro. História do livro. Livro falado. Leitura.

HEAR BOOK AND THE HISTORY OF THE BOOK AND THE READING

ABSTRACT

This work deals with the history of the evolution of the book, from the parchment to the
audiobook as a way of fomenting the new way of reading. It intends to identify the
audiobook as a new support to disseminate reading practice for users who do not have
visual impairment. It uses as methodological procedures in this work the analysis and
identification of relevant research topics: librarianship, book history and libraries, etc. It
intends to articulate the understanding between theory in detriment to the observation of
the use of the audiobook as a recreational activity. It is observed that the change in

13 Discente do 4º período do Bacharelado em biblioteconomia da Universidade Federal do Estado


do Rio de Janeiro / UNIRIO – Email: vanessa.b.s@gmail.com
14 Discente do 7º período do Bacharelado em biblioteconomia da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro / – UNIRIO – Email: claudia.bs.souza@gmail.com

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

information media caused behavioral changes reflected in the habit of reading. At first
the audiobook was designed to care for the visually impaired, however, nowadays, it
includes users, readers of traditional books, creating a new kind of public.

Keywords: Audiobook. History of the Book. Book Recording. Reading

1 INTRODUÇÃO

O objetivo do trabalho é discutir como o audiolivro é um fomento à leitura por


pessoas que não têm acesso ao livro tradicional, o impresso. O audiolivro, também
conhecido como o “audiobook”, foi primeiramente destinado à inclusão social dos
deficientes visuais e surgiu nos Estados Unidos, em meados da década de 80, mas a sua
aceitação, no mercado editorial, só aconteceu realmente na Alemanha, nos anos 90,
conquistando admiradores de variados perfis. Produção essa que consiste basicamente na
produção de livros em áudio.
Sendo a leitura uma atividade que necessita dedicação de tempo, o audiolivro
tornar-se uma alternativa para manter, ou incentivar, o hábito de leitura nos mais diversos
públicos,, nos dias atuais. Com essa nova prática de leitura amplia-se a inclusão social e
o recurso informacional do público ao qual se aplica. Determinando, como assegura
Marcia de Abreu (2007), homogeneizando, entre as pessoas, questões como pobreza, cor
e gênero, por exemplo. Formato incontornável de popularização, ante a necessidade de
manutenção de suas características. Constata-se que a prática da leitura está
intrinsecamente ligada as questões de cunho social, das revoluções tecnológicas, além da
evolução das tecnologias tipográficas.
No entanto, a realidade encontrada em meio a pesquisa exploratória demonstra
que existe um perfil de usuário não contemplado em meio a produção do audiolivro – o
leitor que não possui deficiência visual. Diante de tal situação, como entender e justificar
o motivo do uso do áudio livro por quem não necessita de tecnologia assistiva?

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho remetem ao exercício


de identificação e análise de referências acerca da temática pertinente ao campo de
investigação: História do Livro e Bibliotecas, Biblioteconomia, Tecnologia assistiva,
dentre outros, buscando articular o entendimento entre a teoria que fundamenta o trabalho
e a avaliação da realidade da confecção do audiolivro.
Esta pesquisa utiliza a taxionomia apresentada por Vergara (2011, p.41-43) que a
qualifica por dois aspectos: quanto aos fins e meios. Ressalta que quanto aos fins, a
pesquisa é explicativa, pois “tem como principal objetivo tornar algo inteligível e
justificar-lhe os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais os fatores contribuem de alguma
forma, para a ocorrência de determinado fenômeno.” (VERGARA, 2011)
Quanto aos meios de pesquisa, ela é bibliográfica e estudo de caso, pois foi
utilizada a leitura como base para fundamentação sobre: biblioteconomia, história do livro
e das bibliotecas, tecnologia assistiva, dentre outros. (VERGARA, 2011) O estudo de
caso é realizado através da avaliação do audiolivro como uma forma alternativa ao livro
impresso.
A escolha do método utilizado decorreu da necessidade de compreender o uso
de tecnologias alternativas para o hábito da leitura. Os fatores limitantes para execução
desta pesquisa foram: o tempo disponível para a pesquisa, escolha de um produto nacional
a ser estudado e literatura atualizada, visto que o audiolivro é uma tecnologia assistiva
voltada para inclusão social de pessoas com deficiência visual.

3 EVOLUÇÃO DO LIVRO : DO PERGAMINHO AO AUDIOLIVRO

Na História do Livro e das Bibliotecas são conhecidos dois formatos: o rolo e


códex. E através dos tempos foram utilizados suportes de papiro, pergaminho e papel. As
bibliotecas são anteriores a escrita, considerada um lugar sagrado, inicialmente seu acesso
era restrito. Com o desenvolvimento dos formatos fez com que acontecesse a
disseminação do conhecimento., contudo este acontecimento foi de forma morosa diante
a evolução instrumental e tecnológica de cada era.

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Anteriormente com a utilização do papiro, foram feitos os primeiros manuscritos.


Com relato do mais antigo datado de 3.500 a.C. Posteriormente chegou-se ao pergaminho,
e então a possibilidade de registrar e guardar aquilo que se escrevia ficou evidente.
Através deste suporte, com grande incentivo da Igreja, os Mosteiros tornaram-se um
centro de produção de manuscritos, através do trabalho desenvolvido pelos monges
copistas. (MARTINS, 1996)
Nesse período, a maioria da população era analfabeta, e o pergaminho tinha um
alto custo, evidenciando que somente pessoas de alto poder financeiro e os ligados à Igreja
poderiam manter a prática da leitura. Tais fatos nos levam a depreender que escrever e ler
eram atividades restritas àqueles que detinham poder social ou financeiro. (ABREU,
2007) Até o advento do papel existia esta restrição, inclusive o pergaminho devido ao seu
alto custo, era reciclado, sendo raspado, para que fosse reutilizado. E mesmo após a
invenção do papel, o pergaminho ainda fora muito utilizado.
O papel foi inventado na China (105 d.C.), e por muito anos foi uma invenção
restrita a este povo. Posteriormente chegou aos árabes e somente após longos anos, ao
ocidente, a Europa em especial. Durante anos foi considerado insignificante ao ser
comparado ao pergaminho. A Igreja afirmava que o papel não tinha valor legal. Os
documentos válidos eram feitos de peles de animais e com o passar dos anos, devido ao
seu alto custo, a mudança de suporte foi feita gradualmente. Fato este que ocasionou uma
maior produção livros e abertura de mais bibliotecas. Parece ser consenso a ideia de que
foi na Europa do século XV que o trabalho de impressão foi mais significativo. Com o
invento tipográfico alemão, o texto impresso deixou de ser privilégio de poucos,
ganhando repercussão e diversas formas de uso. (EL FAR, 2006)
Sendo o livro manuscrito, o seu acesso era restrito. Com o advento da imprensa
de Gutemberg acontece uma mudança radical, o acesso é ampliado drasticamente. O
acesso ao conhecimento foi instrumento de libertação às classes menos favorecidas.
(INATOMI, 2011) São enumerados (INATOMI ,2011) as seguintes contribuições da
tipografia:
- Os livros multiplicaram-se e passaram a ser mais usados;
- Começaram a se desenvolver bibliotecas particulares;
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sociedade.

- Tornou-se possível uma reprodução mais fiel de textos.


Consequentemente os livros impressos ficaram acessíveis a diferentes tipos de
público. O invento de Gutenberg é considerado o marco de uma época, visto as
consequências positivas e imprevistas. (BURKE, 2002)
A evolução tecnológica nos apresentou diversas formas de apresentação do livro.
De tábuas de cerâmica a rolos de papiros na Europa Medieval, nas bibliotecas dos
conventos, com os pergaminhos costurados e pintados como iluminuras, e mais tarde
como papeis encadernados. Depois da invenção de Gutemberg o papel impresso tomou
forma semelhante aos códices medievais, e dependendo do gênio dos primeiros
impressores, como Aldo Manúcio, em Veneza. Paralelamente fomos da leitura em voz
alta a silenciosa. No século XIX mulheres, crianças, operários passaram a ter acesso aos
livros e aos impressos. As transformações nas formas de leitura, de ler sem comprar livros
tornaram-se fonte de estudos a historiadores devido à importância na história do livro e
da leitura. As bibliotecas, também inseridas nesse contexto, representaram uma
pluralidade de opções para estas novas abordagens. (FERREIRA, 2009)
No último século aconteceu uma nova revolução de suporte, que muitos chegaram
a afirmar que o livro impresso estaria fadado ao fim. Com o advento do livro digital, a
provável extinção dos livros impressos não se confirmaram, basta observamos dados
recentes de uma das empresas mais importantes de vendas do mundo editorial, a gigante
Amazon. Em entrevista recente, o fundador da Amazon e criador do Kindle, declarou: “o
livro é uma forma tão evoluída e tão apropriada à sua tarefa que é muito difícil substituí-
lo”. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2017)
No Brasil, o audiolivro surgiu somente na década de 1970, sendo utilizado
somente por pessoas com deficiência visual. Atualmente temos um caso de sucesso no
mercado editorial deste novo segmento, é a startup brasileira Ubook. Segundo dados do
site da mesma é o maior aplicativo de audiolivros por streaming da América Latina, e
conta com mais de 1,5 milhão de usuários cadastrados. Em matéria de abril deste ano, a
base de usuários já chegou a 2 milhões. Em seu catálogo há livros, revistas, podcasts,
cursos e palestras. A estratégia da empresa é ser complementar ao livro impresso, além
do seu papel de tecnologia assistiva. E possui uma concorrente, o Audible, da gigante
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
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Amazon. Para Flávio Osso, presidente executivo e sócio-fundador da Ubook, ter


concorrência demonstra que as editoras podem investir em audiolivros. (ESTADÃO,
2017)

4 AUDIOLIVRO : TECNOLOGIA INCLUSIVA, ASSISTIVA E RECREATIVA

A evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) promoveu a


automação do processo de produção de documentos. Novas possibilidades e modalidade
foram sendo criadas para adequação das demandas sociais. Inovações tecnológicas
impactaram e ainda impactam de forma significativa o modo de vida social, ao ponto de
oferecer diversas opções de meios de comunicação, entretenimento, culminando em
novos suportes e recursos informacionais. A medida que o sujeito passa a ser integrado a
este novo contexto, o da disseminação dos novos suportes informacionais, adequa-se aos
novos formatos, ao mesmo tempo que, surgem novas demandas. O audiolivro é um livro
de áudio onde os profissionais e ou voluntários, denominados “ledores”, interpretam os
textos literários, científicos ou didáticos, fazendo o uso de sonorização nas narrativas a
fim de transmitir sentimentalismo, ao contrário do livro falado (leitura branca), que
demonstra somente uma leitura sem efeitos sonoros. (MENEZES; FRANKLIN, 2008)
A tecnologia assistiva é definida para identificação de recursos e serviço que
contribuem para ampliar, proporcionar as habilidades funcionais de pessoas que possuem
algum tipo de deficiência visual, requerendo uma vida mais independente. (FUNDAÇÃO
DORINA NOWIL PARA CEGOS, 20-?) Tal independência proporciona a tão almejada
inclusão social, para o cidadão, podendo incluí-los em atividades socioeconômicas,
obtendo desenvolvimento educacional e cultural, além de promover acesso às novas
tecnologias da informação e do conhecimento, fazendo com que o cidadão participe de
ações junto à sua comunidade. (MENEZES; FRANKLIN, 2008)

5 A PRÁTICA DA LEITURA

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

“A leitura não é prática neutra. Ela é


campo de disputa, é espaço de poder.”
(ABREU, 2007, p. 15)

A leitura por muito tempo foi relacionada com a invenção de Gutemberg


(CHARTIER, 2007) caracterizando sua descoberta a expansão de mais leitores. Com a
evolução do códex ao livro digital, sabemos que essa relação aconteceu até determinado
período, pois a leitura não ficou restrita a ‘Galáxia de Gutemberg’. De acordo com
Chartier (2007), publicar um texto não implica necessariamente imprimi-lo. No entanto,
com a impressão, houve o aumento no número de leitores. Consequentemente um maior
número de pessoas com o hábito da leitura tiveram acesso ao conhecimento, por isso os
modos de praticar a leitura não são de imediato relacionados às descobertas da impressão.
Segundo Márcia Abreu (2007) a leitura é fator determinante para o sucesso das pessoas,
pois iguala questões como pobreza, cor e gênero.
A primeira transformação da leitura, na Idade Moderna, foi a partir da revolução
tecnológica, com raízes nos séculos XII e XIII. A leitura silenciosa permitiu uma leitura
mais rápida, dando a possibilidade de acesso a mais textos, e estes com conteúdo mais
diversificado.
Já a segunda revolução da leitura, segundo Chartier (2007), ocorreu durante a era
da impressão, mas antes da industrialização da produção do livro.
Fonseca (2007, p.67) afirma que o progresso da indústria gráfica e o advento das
democracias contribuíram para a valorização do leitor (usuário) e enfatiza que “o leitor
passou a ser o elemento mais importante da biblioteca. Para ele é que os livros e outros
documentos bibliográficos e audiovisuais são selecionados, catalogados, encadernados e
colocados nas vitrinas, estantes [...]”. Pensar em leitor e leitura remete a três das cinco
leis da biblioteconomia, criados por Ranganathan:
1. Os livros são para ser usados
2. Para cada leitor o seu livro
3. Para cada livro o seu leitor

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Corrobora para essa confirmação que a evolução dos suportes documentais para
produção do livro, tem como objetivo atender o usuário em diversas situações. Contudo,
muitos autores enfatizam o uso do audiolivro somente para os portadores de deficiência
visual. Todavia, na história do audiolivro no Brasil, os autores ressaltam que o público-
alvo mudou abrangendo “um público menor e diversificado de pessoas que não são
portadoras de deficiências visuais e que não tem tempo para ler durante suas atividades
diárias”. (MENEZES; FRANKLIN, 2007, p.62)
Além da diversidade de usuários (leitores) a literatura aponta as diversas
modalidades de leitura, elencadas por Fonseca (2007, p.71-82):

● Leitura formativa: modalidade de leitura “empenha conjunto da


personalidade do leitor, sendo impossível limitá-la a simples
recepção de uma mensagem [...] o ato de ler é, neste caso, a
contrapartida do ato de escrever;
● Leitura Informativa: também chamada objetiva, ou
instrumental, ou ainda utilitária, a leitura informativa é a que se
faz com o objetivo de estudo, pesquisa e informação;
● Leitura Recreativa: [...] são obras de arte literária, que
proporcionam leitura formativa, e obras escritas para distrair o
leitor [...]. (FONSECA, 2007, p. 71-82)

Compreendendo as diversas formas de leitura apresentada por Fonseca (2007),


podemos identificar que o perfil dos usuários (leitores) que utilizam o audiolivro com
intuito de entretenimento e não como tecnologia assistiva, se justifica. Da mesma forma
que a evolução dos suportes informacionais propiciou a disseminação da educação,
mediante o aprendizado da leitura, os novos suportes informacionais têm corroborado
para disseminar o hábito de leitura de entretenimento e até mesmo de uma nova forma
para ler, otimizando o tempo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a sociedade em que vivemos, com todas as tarefas que acabamos por
acumular, o audiolivro torna-se uma excelente opção para os que, teoricamente, não

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

teriam tempo para praticar a leitura de um livro da forma como estamos habituados. Sendo
assim, usar um aplicativo de livro falado e ouvi-lo enquanto estamos, por exemplo, em
um engarrafamento, é uma opção do uso. Além de leitores atarefados, outro ótimo
público-alvo são os idosos, tendo em vista que muitos devido à idade avançada, já não
têm a mesma qualidade de visão de outrora, então ouvir um livro torna-se muito mais
atrativo. Propiciando assim, um novo nicho para a Indústria e mercado editorial.
O estudo sobre a evolução das tecnologias de informação em detrimento a
mudança de suporte informacional impactou significativamente no contexto social,
cultural e até político. No entanto, durante esta pesquisa percebemos que ainda há muito
a ser estudado, pois restringir a utilização do audiolivro somente como uma tecnologia
assistiva é simplesmente reduzir seu potencial no que tange a disseminação da prática da
leitura na sociedade atual. Certo disto, este trabalho necessitará de um nível de
aprofundamento para posicionarmos a dimensão deste novo público, sem desmerecer os
usuários que possuem deficiência visual.

REFERÊNCIAS

ABREU, Márcia (Org.). Leitura e história e história da leitura. Campinas: Mercado


de Letras : Associação de leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999. (História de
leitura).

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sociedade.

A BIBLIOTECA E O LIVRO NA ERA DIGITAL

SILVA, Ana Rosa da.


SILVA , Paloma Rayana França da.
NASCIMENTO, Heitor José Cavagnari A. do
FERREIRA ,Mitilene.

RESUMO

Apresenta a evolução do livro desde os tabletes de argila até os modernos tablets,


mostrando suportes da informação mais especificamente do livro impresso, desde a sua
origem e suas ramificações, ao livro digital e suas novas tecnologias. Discute elementos
relacionados à transição do livro impresso ao digital, e como o bibliotecário deve encarar
essa mudança e ainda seu papel na mediação da informação nesse novo tipo de suporte.
Aponta características das Bibliotecas Digitais acompanhando o desenvolvimento de
novas formas de tecnologia, bem como projetos de acervos digitais que estão sendo
implantados no Brasil e no mundo. Conclui-se que é preciso que o bibliotecário assuma
um novo perfil, não só antenado as novas tecnologias mais também focadas no ato
educacional. Através de pesquisas bibliográficas e entrevista com usuários constata-se
que não é só preciso haver investimentos para que essa nova tecnologia possa atender as
diversas camadas da sociedade, mas, antes de tudo, é preciso haver investir no processo
de reeducação digital para o meio social e, sobretudo, para os novos leitores.

Palavras-chave: Livro Digital. Biblioteca Digital. Mediação da Informação.


Profissional da Informação.

THE LIBRARY AND THE BOOK IN THE DIGITAL AGE

ABSTRACT

Shows the evolution of the book from the clay tablets to the modern tablet , showing
media information specifically the printed book , since its origin and its ramifications ,
the digital book and its new technologies . Discusses elements related to the transition
from printed to digital book, and how the librarian must face this change and also its role
in mediating the information in this new type of support . Points out features of digital
libraries following the development of new forms of technology as well as digital

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

collections projects that are being implemented in Brazil and worldwide. We conclude
that it is necessary that the librarian assumes a new profile , not only tuned the new
technologies also more focused on the educational act. Through literature searches and
interviews with users it appears that not only is there needs to be investment in new
technology that can meet the diverse layers of society , but above all , there needs to be
investing in the rehabilitation process for the digital social environment and especially
for new readers .

Keywords: Digital book. Digital Library . Mediation Information . Information


Professional .

1 INTRODUÇÃO

A evolução dos suportes da informação, mais especificamente, do livro


impresso desde a sua origem e suas ramificações, ao livro digital e suas novas tecnologias
é um assunto bastante abordado dentre os profissionais da área quanto ao crescimento
acelerado de suas demandas. Diante disto, vem a tona a discussão que de acordo com
BELO (2008, p.20). Apareceu pela primeira vez na segunda metade do século XIX no
momento em que, por razões econômicas, culturais e tecnológicas a leitura dos jornais se
popularizou chegando a leitores que não liam livros habitualmente na época, ouvia-se
dizer muitas vezes que o jornal matou o livro e, de acordo com o autor, a discussão sobre
o fim do livro não se iniciou com o surgimento dos livros digitais. Apresenta também a
estrutura da biblioteca digital, mostrando a necessidade de se adequar as mudanças
oriundas dos avanços tecnológicos tanto em sua estrutura, quanto em seu funcionamento,
suas características positivas e negativas, os avanços na atualidade, os projetos futuros e
as novas fontes de mediações para um novo perfil de bibliotecário.

2 DOS TABLETES AOS TABLETS: os livros e seus suportes

A História do livro vem mostrando sua evolução a partir da origem da


escrita, na Antiguidade. O homem na busca por formas de comunicar seu conhecimento,
o registrou em pedras, tabletes de argila, bronze, couro, madeira, papiro, pergaminho e
papel.

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Na Idade Média surge o aparecimento de imagens, pontuação, letras em


maiúsculo e, a mais importante, a impressão. Já a idade contemporânea traz suas edições
de luxo. E enfim, no século XX surge o livro digital. Esse novo formato, o digital, afetou
sobremaneira as atividades relacionadas com o livro desde sua fabricação até as formas
de leitura

2.2 Livro Digital versus Livro Impresso

O avanço da tecnologia digital e o surgimento dos livros digitais


aumentaram as discussões sobre o futuro do formato do livro diante da digitalização da
informação e como isso pode afetar a leitura. A cada dia nos deparamos com um novo
aparelho capaz de armazenar informação, trazendo consigo suas vantagens e
desvantagens.
Afirmar que o livro digital veio para substituir o impresso e que esse
entrará em extinção é uma afirmação incoerente, pois o físico caminhará lado a lado com
o digital, uma vez que um complementará o outro de acordo com as necessidades do
leitor. Mesmo diante de questionamentos ambos ainda possuem características em
comum com suas particularidades, como ressalta BEIGUELMAN (2003, p.68).

A grande parte do conteúdo hipertextual disponível não passa ainda


de uma massa de textos e imagens clicáveis que reitera as
convenções formais de organização do volume impresso, trocando
na velha divisão de índice em capítulos, a referência ao número da
página pelo link. (BEIGUELMAN,2003,p.68)

Umberto Eco e Jean Claude-Carrière, no livro Não contem com o fim do livro
trazem a tona essa discussão ao declarar que:

(...) o e-book não matará o livro”. [...], As variações em torno do


objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em mais
de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou
a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você

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não pode fazer uma colher melhor do que uma colher. (ECO;
CLAUDE-CARRIÈRE, 2010, p.16).

Com isso, afirma categoricamente que, não acredita no fim do livro, pois
o mesmo já é uma invenção consolidada, e mesmo com todos os avanços tecnológicos o
livro não deixará de existir. Em contrapartida, Versignassi (2012) acredita que o livro
impresso está com os dias contados. E em resposta aos autores supracitados, diz:

A televisão de tubo catódico já era uma invenção consolidada. A


fita de VHS também. O gládio romano era incrível. Mas nada disso
existe mais. Tudo acabou substituído por coisas mais eficientes.
Não vai existir razão para preferir o papel que não seja o fetiche. E
é natural que alguém que tenha vivido sete décadas amando livros
de papel vá morrer amando livros de papel.”

Em meio a toda essa interminável discussão, o que pensa o leitor com


relação ao futuro do livro? O que sabemos é que nunca se leu tanto quanto na atualidade.
Mas como tem sido a leitura eletrônica com relação ao aprendizado?

Temos examinado estudos sobre o impacto da leitura eletrônica no


aprendizado. Os estudos ainda não são numerosos. Mas, até aqui,
tem mostrado e acho que isso vai mudar com o tempo – que as
pessoas extraem mais informação ao ler livros físicos. “O olho
humano ainda não esta treinado para absorver da tela do
computador o mesmo tanto que absorve do livro de papel”.
(SHAFFER, Roberta)

Dentre as vantagens do livro digital é possível identificar: a sua portabilidade e


armazenamento, ou seja, possibilita que vários volumes sejam guardados em um único
local, ótima opção para viagens; maior durabilidade ao contrário do impresso que se
desgastam com as ações do tempo. Há também a interatividade, possibilidade de fazer
anotações ampliar as letras e pular páginas para localizar determinado trecho.
Os fatores contra os livros digitais são, em síntese: o controle, pois ainda não é
claro a questão de o leitor controlar o conteúdo de seu aparelho e ao mesmo tempo ser
controlada, em outras palavras, a empresa pode ter acesso ao conteúdo que o usuário está

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lendo, além de poder retirar o que o leitor já havia adquirido. E a pirataria, já que no
mundo virtual ela é bastante praticada e pouco controlada. Existem ainda as limitações
das sensações durante a leitura como, por exemplo, não se pode folhear o livro, segurar a
capa, ler a orelha, cheirar o papel, sentir a gramatura e as texturas das páginas da mesma
forma que é possível fazer com o impresso.
O livro físico ainda é mais democrático em relação ao digital, pois grande parte
da população ainda não tem acesso à tecnologia. No entanto, o livro digital precisa ser
visto como mais uma ferramenta da informação que ampliará as possibilidades de leitura.
“Livro fluido, livro da leitura em aberto, é o livro do vir-a-ser da literatura porque não o
formato, nem o suporte, mas as recomposições do sentido e da linguagem”
(BEIGUELMAN,2003, p.68).
Não estamos livres da mudança, precisamos é estarmos preparado para ela. E fazer
do livro digital, assim como o impresso, fonte de informação e incentivo a leitura.
Apesar dos prós e contras do livro digital os leitores e as bibliotecas precisam se
preparar e buscar alternativas para aceitar os avanços tecnológicos dentro de suas futuras
necessidades com a leitura. Pois o que torna vivo o hábito de ler não é o suporte, mas a
forma de como a informação é passada. O conhecimento não se configura no formato dos
livros, mas sim nas pessoas, para que isso ocorra, as bibliotecas precisam se e a sociedade
precisar acompanhar criar alternativas de estimulo a leitura tanto no meio impresso,
quando no digital.

3 BIBLIOTECAS DIGITAIS

As bibliotecas são instituições que tem como objetivo: selecionar, organizar, dar
acesso e preservar a memória cultural, cientifica e social. Com o advento das novas
tecnologias a biblioteca tradicional constituída de papel adquiriu uma nova forma de
suporte da informação: o formato digital.
De acordo com LEVY (1999, p.39) o suporte digital não contém um texto legível
por humanos, mas uma série de códigos informáticos que são convertidos para a tela em
forma de texto legível, essa digitalização ou potencialização do texto de acordo com o
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autor causa uma nova forma de ler e interagir com o que é lido, se no livro uma das formas
de interação seria a marcação e anotações de páginas, a digitalização causaria uma
plasticidade na informação que passaria a ser mole, móvel, maleável e inquebrável.
Falar de biblioteca digital na transição e acompanhar o desenvolvimento de novas
formas de tecnologia é no mínimo curioso e intrigante, pois não se sabe ao certo o que
essas mudanças acarretarão em relação ao sistema educacional. KUNY (1998) apud
LUCAS,2004, p. 17 diz que uma biblioteca eletrônica compreende tanto materiais como
serviços que empregam eletricidade para que sejam usados.
Atualmente as expressões biblioteca virtual e eletrônica são usadas como
sinônimo para facilitar o entendimento de suas funções. Alguns autores como
TAMMARO e SALARELLI (2008,p.76) dizem que todo essa transformação tecnológica
não afetará o conceito de biblioteca que continuará sendo um conjunto organizado de
livros, considerando válido esse conceito mesmo para bibliotecas digitais.
Um exemplo de empresa que está participando nesse processo de transformação
da informação impressa para a digital é o Google o que facilita o acesso ao conhecimento
já que qualquer navegador/leitor que possua as noções para utilizar um aparelho
eletrônico e tenha a capacidade de fazer pesquisa pode ter acesso às informações à que
busca, como esse serviço pode ser utilizado em qualquer lugar o usuário para localizar à
informação que deseja deve saber o que quer, como fazer uso dessa busca, filtrar,
selecionar , organizar e armazenar a informação com todos os esses serviços que executa
acaba tornando-se seu ‘próprio bibliotecário’. Para FONSECA (2007, p.xix) toda a
questão do serviço de referência é mais importante do que toda a administração e
processamento técnico do acervo em si, já que a biblioteca existe para atender as
necessidades informacionais do usuário e a interdisciplinaridade deve ser a característica
da nova missão do bibliotecário.
(KUNY,1998 apud LUCAS,2004, p. 17) trata de alguns mitos e desafios
referentes as bibliotecas digitais que são: A internet é a biblioteca digital, a realidade de
uma única biblioteca digital, Bibliotecas digitais fornecerão acesso mais igualitário em
qualquer lugar e a qualquer tempo, Bibliotecas digitais serão mais baratas que bibliotecas
impressas. A internet mais precisamente a Web 2.0 funciona como uma plataforma
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colaborativa em que o usuário é ativo e participa na produção de conteúdo, há inumeráveis


bibliotecas digitais conectadas a rede e podem ser grandes ou pequenas, públicas ou
privadas e podem ou não ter acervo físico. Outra questão é se o acervo físico deve ser
armazenado para conservação e o da biblioteca digital seria para consulta, o usuário não
terá acesso ao papel, há um paradoxo: o livro impresso ou informação impressa existe
para ser conservado ou para ser consultado?
De acordo com TAMMARO e SALARELLI (2008, p.75) o que caracteriza a
biblioteca digital é uma mudança de tecnologia e de atividades conexas, mas não de
funções. Talvez futuramente a biblioteca digital seja estudada na área de Ciência da
Informação, mais precisamente na área de biblioteconomia como uma tipologia de
biblioteca e que deverá também ser interdisciplinar. O que deverá ser sempre levado em
conta é que a função da biblioteca permanece a mesma e caberá ao bibliotecário mediar
à transição da informação seja qual for o suporte, mais de uma pessoa poderá ter acesso
a um mesmo livro ao mesmo tempo.
Assim como os demais formatos da informação o digital veio para agregar
elementos para o bibliotecário mediar e fazer com que um dos princípios de Ranganathan
seja de fato cumprido que os “livros são para serem lidos”.

3. 1 Bibliotecas e projetos de acervos digitais

O mundo digital a cada dia que passa vai se firmando cada vez mais no mundo
das informações devido a sua facilidade de acesso para os internautas. A explosão
informacional impulsiona o crescimento de novas tecnologias de informação que criam
um espaço virtual com peculiaridades até então impensáveis para a humanidade. Essas
tecnologias possibilitam a utilização de recursos eletrônicos que favorecem o
aprimoramento e a agilização do processo de propagação da informação. Dessa forma,
são potencializados os recursos de acesso, disseminação, cooperação e difusão do
conhecimento, principalmente nos casos de pontos de acesso que antes não utilizavam de
tal meio e que hoje procuram se adequar criando projetos que viabilizem suas
informações, inserindo assim, a biblioteca física no meio digital, montando os seus
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acervos e compartilhando com a sociedade. A cada dia que passa surge uma nova notícia
de propostas como essa em relação à criação de acervos digitais. Dentre os diversos
projetos já existentes, estão:

3.1.1 Projeto Gutemberg

É a mais antiga biblioteca digital do mundo, tendo sido criada em 1971 por
Michael Hart, estudante da Universidade de Illinois (EUA). Trata-se de um projeto
colaborativo, desenvolvido com a ajuda de voluntários em todo o mundo, que reúne obras
em domínio público digitalizadas, para serem “baixadas” gratuitamente; "A missão do
Projeto Gutenberg é simples: 'Encorajar a criação e distribuição de livros eletrônicos.'"
( HART - 2004).
A maior parte do acervo é composta por livros de literatura. Estes são, sobretudo,
obras da tradição cultural Ocidental, mas outros tipos de obras também se fazem
presentes, como; livros de referência e periódicos, romances, poesia, contos e teatro, o
Projeto Gutenberg também tem livros de culinária. O acervo do Projeto Gutenberg
também tem alguns itens contextuai, tais como ficheiros de áudio e partituras musicais.
A maioria dos lançamentos são em Inglês, mas existem também números significativos
em outras línguas. Em Agosto de 2006, as línguas que não o Inglês mais representadas
eram (por ordem): Francês, Alemão, Finlandês, Neozelandês, Espanhol e Português.

3.1.2 Revista Veja

Em comemoração ao seu aniversário de 40 anos, a revista VEJA digitalizou todo


o seu acervo e o disponibilizou na web, o espaço compartilha suas edições em dois
tópicos; Normal e Especiais, onde é possível ter acesso a edições antigas e atuais
detalhadas pelos meses e anos em que foram publicados. Todas as edições podem ser
consultadas na íntegra em formato digital.

3.1.3 O Portal Domínio Público


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O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004, com um acervo


inicial de 500 obras, propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime,
colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - Internet
- uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos,
pesquisadores e para a população em geral.
Uma vez implementado o acervo digital por diversos órgãos com relação a seus
respectivos documentos, dependendo de quem o mantêm, tal ação pode ser norteada em
cima de objetivos como: Ferramenta de apoio à inclusão cultural e digital, garantia de
democratização de informação gerando oportunidades, proposta de políticas públicas
voltadas a educação, oportunidades de crescimento pessoal e social através do acesso à
cultura digital, causa de implementação dos meios tecnológicos da informação na cultura
e educação e também como meio de produção científica contribuindo para o
desenvolvimento socioeconômico do país, fomentação do mercado atual de livros, ponto
de entretenimento, preparação de usuários para a utilização da novas mídias e atração de
leitores para as novas formas de comunicação. Manter preservadas eletronicamente
grandes obras históricas, este também é um dos grandes objetivos traçados pelas
instituições, pois, embora muitas obras não estejam disponíveis nas bibliotecas, museus,
arquivos, dentre outros meios reais, devemos levar em consideração que, documentos
muitas vezes considerados raros, por se encontrarem em locais específicos se tornam
distantes com relação a determinados usuários. Sendo assim, Desse modo, a medida em
que esses documentos são convertidos em formato eletrônicos, todos poderão acessá-lo e
original ser mantido em seu respectivo lugar, guardado e preservado.

3.2 Bibliotecas se reinventam para enfrentar a era digital

As Bibliotecas se reinventam para enfrentar a era digital, o Portal Vermelho


recentemente divulgou uma matéria mostrando como as bibliotecas estão criando
alternativas diferentes para incentivar e atrair os usuários a mesma.
A literatura, em termos gerais, especula a ideia de que as maravilhas de um mundo
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onde o conhecimento e a informação são disponibilizados em suporte físico (papel), não


passará de uma lembrança, sendo assim algo a ser encontrado apenas em museus. É
possível, diante disto perceber um saudosismo antecipado por parte de alguns pontos de
vista. De fato que, com as novidades crescentes no mundo digital, cresce o medo que o
livro possa acabar de vez com as bibliotecas físicas. As inovações tecnológicas,
realmente, aproxima-se dos Centros de informação e Bibliotecas com o objetivo de não
desaparecer. Estes fatos, aparentemente, nos leva a pensar que não haverá mais futuro
para instituições que priorizam o armazenamento de livros e todos os outros tipos de
informação produzidos em suporte físico, o que nos leva também a acreditar na possível
inexistência de profissionais que atuam nesta área e são responsáveis pelos acervos. Sob
diversos aspectos, torna-se fascinante mas também assustadora esta visão de acesso
coletivo e em massa a informação, por não se ter uma noção concreta sobre as formas ou
o quanto este novo ambiente representará a informação em termos extensão da liberdade
de opções ou negação da mesma.
Há muito tempo, já se via referência a adequação dos meios de propagação com
relação as inovações tecnológicas e ainda assim há uma preocupação com relação a
realidade da Biblioteca neste final de século, assim como as perspectivas de atuação dos
profissionais responsáveis por seu desenvolvimento. O suporte físico, ou seja, o livro em
si vem a ser um meio adequado e prático com relação ao seu objetivo, não necessitando
de energia externa (com exceção da luz natural), é portátil e pode ser utilizado nas mais
diversas formas de acordo com o interesse e objetivo do usuário, sendo também algo
acessível as camadas medianas da população, esse pontos pesam muito com relação a
permanência do livro; "Os livros são simples e mais confortáveis para a leitura
prolongada" (HAGLOCH - 1995, p.150). É certo que a tecnologia terá sua magnitude,
mas essa ideologia é algo que ainda preside no terreno das especulações do que no campo
real. Sendo assim, é necessário reconhecer que livros e bibliotecas não desaparecerão
imediatamente, mas, servirão de suporte aos meios atuais de forma harmônica. "Os
bibliotecários ainda se deparam com a mesma responsabilidade em relação às
publicações eletrônicas - filtrar do grande número disponível a parcela que é relevante
ao atendimento das necessidades de informação de seus clientes" (NISONGER - 1996,
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p.253)
Devido a isso alguns países estão interligando o físico ao meio digital na tentativa
de fazer com que as bibliotecas não sofram nenhum dano com a tecnologia, pelo
contrário, que ambas trabalhem juntas em função de melhoria para os usuários e leitores.
O maior exemplo vem da Dinamarca, onde a futura biblioteca de Aarhus será parte de um
grande complexo urbano, inserido nos planos de revitalização da baía da cidade. Esse
complexo, a ser concluído em 2015, vai incluir repartições públicas, espaços para shows,
cursos e reuniões, áreas para serem alugadas à iniciativa privada e um café com vista para
a baía. Além de móveis modulados, os quais permitirão que as salas da biblioteca sejam
usadas para diferentes propósitos ao longo dos anos, de acordo com a demanda dos
usuários. Os fatos levam sempre o profissional que trabalha com a informação, procurar
aprimorar os meios utilizados, assim como houve a evolução do papiro ao pergaminho e
ao códex há a necessidade de aprimorar também o suporte com relação a informação. É
perceptível que o maior desafio encontrado está no ramo cultural. Mudar a forma de se
relacionar com o público significa também mudar o acervo, incorporando os suportes já
existentes aos novos meios tecnológicos como DVDs, games, e-books e leitores digitais.
E também inserir as formas de mediação de leituras nesse meio, afim de que possa
aumentar o interesse do público, principalmente em relação aos novos leitores que se
constitui de crianças que estão passando por esse período de transição do físico para o
digital.

5 BIBLIOTECÁRIOS, MEDIAÇÃO E PROJETOS NA ATUALIDADE

Para entender o papel do bibliotecário como mediador devemos antes saber o que
é mediação, segundo o Dicionário Aurélio mediar é intervir como mediador e segundo
definições da internet, mediar é ouvir, perguntar, dialogar a fim de cooperar.
Tendo em vista essa definição o bibliotecário se torna um mediador quando
responde questionamentos, ouve e cria laços com os usuários, a fim de lhes oferecer
acesso às informações, e ao conhecimento. Colocar-se no lugar do outro a fim de ajudá-
lo a encontrar o que procura. Deve construir pontes entre a informação e o usuário.
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Os bibliotecários sempre tiveram sua imagem associadas à edifícios de


bibliotecas, sempre se pensou que os bibliotecários estariam presos à forma física de
algum lugar. Eram vistos como profissionais capazes de organizar, adquirir e preservar as
coleções. No entanto, com o uso das Novas Tecnologias nas bibliotecas cada vez mais
atual, esse profissional passou a se preocupar em mudar essa visão que sempre teve,
começou a se preocupar com o futuro da profissão e das suas funções. A tecnologia chega
e o bibliotecário passa a mudar seu perfil, reinventando sua forma de trabalhar, associando
– se agora com a rede, o computador, com as novidades tecnológicas. Começa a se
reinventar.
Pensou- se um tempo que a tecnologia iria destruir a função do bibliotecário mais
aconteceu exatamente o contrario. Este se viu capaz de exercer as mesmas funções que
exercia no que tange a representação e organização física da informação, passando a
exercer agora também na parte digital, de forma mais pratica. A tecnologia que antes era
vista com terror agora passou a impulsionar a leitura, a biblioteca, e a atuação do
bibliotecário. Este hoje é tido como um profissional da informação e tem cada vez mais
oportunidade de ser um multiplicador de suas funções, tendo em vista as várias direções
que podem ser seguidas, quando nos referimos a tratamento e disseminação de
informação. O simples controlador da aquisição, da preservação e armazenamento de
informações passa a exercer a função de colaborador com o computador e cientistas de
informação, auxiliando a manutenção de sistemas automatizados de acesso à informação,
destacando suas habilidades de ensinar, consultar e pesquisar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o passar do tempo à sociedade vai evoluindo, principalmente, no meio


tecnológico e com isso surgem a cada dia que passa novas ferramentas que, na maioria
das vezes, contribuem para o aprimoramento de algumas práticas já existentes. O livro
físico à exemplo desse aprimoramento não deixará de existir com a chegada do digital.
Este será mais uma extensão do suporte já existente e complementará as possibilidades
de opções disponíveis para o leitor.
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Pensar no avanço tecnológico levanta uma questão que tem sido bastante polêmica
nos últimos anos: será que o advento do livro digital vai acabar com o funcionamento das
bibliotecas físicas? É preciso destacar que o conhecimento não estar nos livros e sim nas
pessoas, ou seja, não é o livro digital a ameaça para o fim da biblioteca, mas a forma
como as pessoas estão sendo educadas para o meio digital, mais especificamente, o virtual
que tem sido um agravante para a sociedade. A biblioteca física vem aos poucos
adaptando suas funcionalidades para o meio virtual a fim de poder melhor atender os seus
usuários. É preciso que o bibliotecário assuma um novo perfil, quebrar o estereótipo de
profissional acomodado e passar a atuar além do balcão criando alternativas de leituras
no meio virtual e também aproximação com outras áreas do conhecimento vinculadas a
biblioteconomia como, por exemplo, a informática.
A era digital carrega consigo algumas incertezas, como já foi mencionado, a cada
dia que passa surge uma novidade e isso faz com que esse período de transição do físico
para o digital levante alguns questionamentos sobre a sua forma, função, significado e
mudança de costume nas pessoas. Nem todos tem acesso ao livro digital e isso faz com
que o livro de papel seja mais acessível. Porém não é só preciso haver investimentos para
que essa nova tecnologia possa atender as diversas camadas da sociedade, mas, antes de
tudo, é preciso haver investir no processo de reeducação digital para o meio social e,
sobretudo, para os novos leitores.

REFERÊNCIAS

BEIGUELMAN, Giselle. O livro depois do livro. São Paulo: Petropolis, 2003. 95 p

BELO, André. História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 116 p.

EDITORIAL, Mundo. Pequena história do livro digital. Disponível em:


<http://mundo-editorial.blogspot.com.br/2011/09/pequena-historia-do-livro-
digital.html>. Acesso em: 18 mar. 2013.

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Lemos, 2007. 152 p.

HAGLOCH, Susan B. Info mediators still needed.Library Journal, v.121, n.14, p.150-
151, 1996

HANT, Michael. Declaração de Missão do Projeto Gutemberg. 20 de Junho de 2004

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: 34, 1999. 157 p.

LUCAS, Clarinda Rodrigues. O conceito de biblioteca nas bibliotecas


digitais. Disponível em:
<http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/58/1530>. Acesso em: 14 mar.
2013.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita: historia do livro, da imprensa e da


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PRADO, Luís 153&Itemid=113>. Acesso em: 16 mar. 2013.
PROCÓPIO, Ednei. Construindo Bibliotecas Digitais. Edições Inteligentes, 2004.São
Paulo

ALBERTO. O livro impresso vai acabar. Disponível em:


<http://www.multirio.rj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=
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TAMMARO, Anna Maria; SALARELLI, Alberto. A biblioteca digital. Brasília: Briquet


de Lemos, 2008. 378 p

VERMELHO, Portal (Ed.). Bibliotecas se reinventam para enfrentar era


digital. Disponível em:
<http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=204476&id_secao=11>. Acesso
em: 13 mar. 2013

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sociedade.

DISPONIBILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS EM FORMATO ELETRÔNICO E


DIGITAL NO BRASIL: Aspectos práticos e legais na gestão da informação

GOMES, Rafael Barcellos

RESUMO

Apresenta os benefícios decorrentes do processo de informatização de


documentos originalmente concebidos em suporte físico. A abordagem leva em
consideração a evolução do tema, passado pela popularização da prática de
disponibilização de documentos em suportes informatizados, até a consolidação dos
debates regulamentatórios em torno do assunto no Brasil, avaliando atributos
relacionados à segurança da informação, tais como: o respeito à propriedade, à norma, à
exatidão, à disponibilidade, dentre outros. Neste escopo, analisa as vantagens práticas e
competitivas decorrentes da implementação desse tipo de tecnologia no desempenho de
atividades administrativas, em especial, na gestão pública. Por fim, aborda aspectos
intrínsecos relacionados a alguns dos princípios Constitucionais que, em sua essência,
rezam pela qualidade dos atos praticados pela Administração com vistas ao
desenvolvimento do País e benefício da Sociedade.

Palavras-chave: Arquivos eletrônicos. Arquivos digitais. Gestão da informação.


Segurança da informação. Tomada de decisão.

AVAILABILITY OF DOCUMENTS IN ELECTRONIC AND DIGITAL


FORMAT IN BRAZIL: Practical and legal aspects in information management

ABSTRACT

It presents the benefits resulting from the informatization process of documents


originally designed on physical format. The approach takes into account the evolution of
the theme passing by the popularization of the practice of making documents available
on computerized formats until the consolidation of the regulatory debates around the
subject in Brazil, evaluating attributes related to information security such as: the respect
to ownership, to norm, to accuracy, to availability among others. In this scope, it analyzes
the practical and competitive advantages resulting from the implementation of this type
of technology in the performance of administrative activities, especially in public
management. Finally, it addresses intrinsic aspects related to some of the Constitutional

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

principles, which in its essence, cares for the quality of the acts practiced by the
Administration aiming at the development of the Country and benefit of Society.

Keywords: Electronic files. Digital files. Information management. Information


security. Decision making.

1 INTRODUÇÃO

A disponibilização de documentos, originariamente concebidos em suporte físico,


para o meio digital ou eletrônico é prática que vem sendo adotada por empresas e
instituições brasileiras desde o início dos anos 1990. Essa crescente tendência, vista não
só no setor privado, mas inclusive nas instituições públicas, decorre da importância que
a agilidade e a disponibilidade de informação têm como elemento indispensável para
tomada de decisão, e para o desempenho de atividades mais diversas, em todos os
âmbitos.
Para muitos pesquisadores, optar pelo uso de arquivos digitais e eletrônicos em
detrimento do manuseio de originais em suportes físicos tornou-se – por suas diversas
vantagens – altamente recomendável em processos de gestão da informação no contexto
atual da Sociedade da Informação. Em linha com esse entendimento cita-se Sayão (2010),
o qual depreende que:
Os pesquisadores, professores, estudantes e outros leitores
demandam formatos eletrônicos porque eles oferecem um mundo
de vantagens em relação às formas impressas, especialmente no
que diz respeito à busca, à recuperação, à navegação, à
apresentação das informações e à capacidade de interoperarem
com outras publicações eletrônicas que estão em rede. (SAYÃO,
2010, p. 70).

De encontro a essa opinião levantam-se outros teóricos que têm preferido adotar
uma postura mais cautelosa com relação à transposição generalizada de conteúdos, do
formato analógico para plataformas informatizadas. É o caso de Belloto (2007), o qual
defende que:

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sociedade.

[...] mesmo que se possa microfilmar tudo, o benefício não será


grande: a manipulação de microfilmes é incomparavelmente mais
penosa do que a de documentos;[...] a dispersão maciça de
microfilmes tornaria impraticável o controle de sua utilização, e
é fundamental que toda cessão ou reprodução de microfilmes seja
autorizada pela direção do arquivo que tem a custodia das peças
originais. (BELLOTO, 2007, p. 281).

A preocupação de Belloto justifica-se – pelo menos em parte – ao recordar que o


arquivamento em meio eletrônico constitui-se em um processo que demanda autorização,
remoção/deslocamento, preparo, organização, precisão e altos custos, demandados por
equipamentos de ponta e equipe especializada (BELLOTO, 2007).
No que tange a estes aspectos, ainda não se deve ignorar o fato de que suportes
informatizados dependem de softwares próprios, sistemas operacionais adequados e
hardwares qualificados. Esse é um dos pontos a respeito dos quais trata Ferreira (2006),
que chama a atenção para o fato de que, até mesmo os documentos arquivados em formato
eletrônico ou digital estão sujeitos ao risco de perderem-se pelo desuso das configurações
correntes nos suportes informatizados em que se encontram armazenados:

A obsolescência tecnológica não se manifesta somente ao nível


dos suportes físicos. No domínio digital, todo o tipo de material
tem obrigatoriamente de respeitar as regras de um determinado
formato. Isto permite que as aplicações de software sejam capazes
de abrir e interpretar adequadamente a informação armazenada.
À medida que o software vai evoluindo, também os formatos por
ele produzidos vão sofrendo alterações (FERREIRA, 2006, p.
19).

Considerando os desafios inerentes à questão, mas sem desprezar as virtudes e o


poder transformador das ferramentas informatizadas Castells (1999, p. 69) pondera com
maestria que as “[...] novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas
a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos”, lançando luz sobre a
complexidade que o tema envolve e propondo uma reflexão que abarque os mais diversos
aspectos com respeito ao tipo de documento e às necessidades informacionais antes da
opção ou não pelo arquivamento por meio de cópias digitais.
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2 SOBRE OS ASPECTOS PRÁTICOS E LEGAIS

No Brasil, os debates em torno da regulamentação do processo de informatização


de documentos originalmente concebidos em suporte físico, se deu, inicialmente, em
1999 com a proposição do Projeto de Lei 1.532/99 (PL 1.532/99) que dispunha sobre o
armazenamento e organização de documentos em suportes eletromagnéticos. Tal Projeto
de Lei surgiu tendo em vista as crescentes demandas por informação, as emergentes
inovações tecnológicas, e as necessidades das instituições em cumprir metas de qualidade
– inclusive instituições públicas. Após longo período sob esquecimento, o Projeto de Lei
1.532 de 1999 voltaria a ser debatido em 2007, na forma do Projeto de lei da Câmara 11,
recebendo acréscimos e adaptações.

2.1 Panorama da regulamentação da digitalização de documentos no Brasil

Enriquecido e mais ajustado à realidade do novo século, o texto do PL 1.532/99 –


na forma do Projeto de Lei da Câmara 11 de 2007 (PLC 11/07) – passou a versar:

O processo de digitalização deverá ser realizado de forma a


manter a integridade, a autenticidade e, se necessário, a
confidencialidade do documento digital, com o emprego de
certificado digital emitido no âmbito da Infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileiras – ICP – Brasil. (BRASIL, 2007, p.2).

Assim sendo, o Projeto de 2007 atribuiria às cópias digitais (ou seja, aos
documentos eletrônicos resultantes do processo de digitalização) o mesmo caráter legal
até então concedido apenas aos documentos microfilmados – assegurados por intermédio
da Lei 5.433/68, regulamentada através do Decreto 1.799/96, que versa sobre o recurso
de microfilmagem. Para tal, o projeto impunha como condição a garantia da integridade,
da autenticidade e, quando o caso, da confidencialidade dos dados por meio da adoção de

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certificados digitais para identificação virtual, disponibilizados pela Infraestrutura de


Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil.
Desde 2007, o PLC 11 enfrentara um longo e custoso debate que só viria a receber
uma importante definição em 2010, através do Parecer 73.947 da Comissão de Ciência,
Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT). Desta definição, extrai-se o
artigo 1º que disserta sobre a finalidade do PLC, a saber: “[...] a digitalização de
documento original público ou privado, seu armazenamento em meio eletrônico, óptico
ou equivalente, e sua reprodução serão regulados pelo disposto nesta Lei” (BRASIL,
2010, p.9); em tempo, o correspondente parágrafo único acrescenta que esta “[...] lei não
se aplica aos documentos públicos ou privados originalmente gerados em formato digital"
(BRASIL, 2010, p.9).
Contudo, de todas as grandes inovações que o Parecer 73.947/10 – sobre o PLC
11/07 – trouxe à prática de arquivamento de documentos em formato digital, talvez a mais
impactante seja a descrita no parágrafo 3º do artigo 4º, o qual determina que “[...] o
documento digitalizado e sua reprodução [...] terão o mesmo valor jurídico do documento
original, para todos os fins de direito […].” (BRASIL, 2010, p.9). Com tal tópico, o
Parecer em questão passou a atribuir ao exemplar digital prerrogativas de legalidade e de
autenticidade, desde que não lhe sejam levantadas suspeições motivadas de caráter
contrário, fato que lançaria a responsabilidade de prova sobre a pessoa/instituição que
digitalizou.
Uma vez aprovado, o PLC 11/10 foi, finalmente sancionado por meio da Lei
12.682 de 09 de julho de 2012 que no seu artigo 7º ratifica: “Os documentos digitalizados
[...] terão o mesmo efeito jurídico conferido aos documentos microfilmados […].”
(BRASIL, 2012, não paginado).
Importa, no entanto, esclarecer que, antes mesmo que se aprovasse a Lei
12.682/2012, algumas instituições e entidades de caráter público – impelidas pelas novas
demandas tecnológicas e pelas desvantagens decorrentes dos arquivos em papel – já
vinham demonstrando grande disposição em adotar os exemplares em formato eletrônico,
como elementos dotados de caráter probatório. Uma dessas instituições foi o Poder
Judiciário brasileiro, que impulsionou o processo de regulamentação no Brasil ao apoiar
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a sanção da Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006, que regularizou o uso dos meios
informatizados para apoio e desempenho de atos inerentes à Justiça Civil, à Justiça Penal,
à Justiça do Trabalho, e aos Juizados Especiais Cível, Criminal e de Família.
Com relação aos efeitos gerados pelos exemplares digitais e à abrangência dos
mesmos, duas substanciais diferenças se notam entre as considerações dispostas pela
anterior (Lei 11.419, então abraçada pelo Judiciário brasileiro em dezembro de 2006), e
as pela ulterior (Lei 12.682, que regulamentaria, a partir de 2012, a prática da
digitalização de documentos físicos e a formação de arquivos digitais no Brasil):
a) ao propor norma específica (Lei 11.419/06), o Judiciário brasileiro não
determinou o uso de qualquer certificado digital (ICP-Brasil) para validação
das cópias disponibilizadas em meio eletrônico como sendo detentoras de
confidencialidade, autenticidade e, de integridade – ao contrário do que exige
a Legislação de 2012;
b) a Lei 11.419/06, norma específica do Judiciário brasileiro se aplica, tanto aos
exemplares digitais que são fruto da digitalização de informações
inicialmente registradas em suporte físico, quanto ao exemplares digitais
originalmente concebidos em meio digital – ao contrário do que disserta a
Legislação de 2012, amparada sobre o Parecer 73.947/10.
Dessa forma, para o Judiciário brasileiro, todo documento concebido
eletronicamente, com procedência garantida por meio de assinatura digital, que forem
arrolados a autos processuais do Judiciário, seriam tidos como equivalentes aos seus
originais, quer seja para a produção de provas, quer seja para a garantia de direitos. Tal
presunção de autenticidade e integridade (atribuídas pela Lei 11.419/06) independem do
fato de o documento possuir ou não certificado virtual (ICP-Brasil).
A partir dessa iniciativa do Judiciário, em 2006, as cópias digitalizadas ganham
novo status de importância: não seriam vistas como documentos cuja finalidade seria
apenas de consulta (para tomada de decisões administrativas, em empresas privadas), mas
como documentos com valor legal, de prova (para tomada de decisões jurídicas).
Outra instituição que incorporou a prática de arquivamento em formato digital, e
isso antes mesmo da aprovação da Lei regulamentadora de 2012, foi o Conselho Federal
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de Medicina (CFM) – autoridade que certifica o profissional de medicina no Brasil –


foi uma dessas instituições pioneiras, admitindo – através da Resolução 1.821 de 11 de
julho de 2007 – a adoção da alternativa digital a ser implementada por meio de
microfilmagem, digitalização ou outro método de arquivamento informatizado qualquer
capaz garantir a recuperação plena das informações originais no curto, médio e longo
prazos.
Não obstante a Lei 1.821 tenha regularizado a alternativa para guarda, organização
e consulta de documentos médicos em formato digital – através de suporte ótico ou
magnético – a instituição interessada em fazer uso do recurso dos exemplares digitais
deveria observar os critérios estabelecidos no Parecer 30 de 10 de julho de 2002, dentre
as quais destacamos:
a) o respeito ao prazo mínimo para conservação dos seus originais, em papel,
que contenham dados sobre pacientes: por critério de disponibilidade, só
poderão ser eliminados os originais físicos, referentes ao paciente, desde que
transcorridos vinte anos do último atendimento – e desde que, o documento
em questão, não possua potencial valor permanente;
b) a garantia da disponibilidade por meio da realização de backups periódicos
dos sistemas de informação envolvidos;
c) a garantia da autenticidade e da confidencialidade das informações por meio
do uso de certificados digitais para identificação virtual, disponibilizados pela
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil).
Seguindo a cronologia dos eventos que envolveram a regulamentação dos
exemplares digitais no Brasil – no ínterim que se deu da proposição do PL 1.532 de 1999
à sanção da Lei 12.682 de 2012 – não podemos deixar de citar a Portaria Normativa Nº3,
de 18 de novembro de 2011, proposta pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão, que deu origem ao chamado Assentamento Funcional Digital (AFD). Tal Portaria
seria de fundamental importância na abertura para maior aceitação dos exemplares
documentais em questão, pois, através dela o Estado receberia aval para uso das cópias
digitais como instrumento legal que auxiliassem o processo decisório no âmbito da gestão
dos recursos humanos envolvidos na função pública e atividades afins. O artigo 8º da
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referida Normativa versa sobre as prerrogativas por ela amparadas: “I - Disponibilização


de pastas funcionais; II - Preparação dos documentos; III - Digitalização dos documentos;
e IV - Fiscalização dos serviços.” (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO, 2011, p. 2).
A despeito de ter levado em consideração muitas das proposições e regras, há
tempos, elencadas pelo CONARQ, a Portaria enobrece a prática deliberando em seu
artigo 1º:

Esta Portaria Normativa tem o objetivo de criar o Assentamento


Funcional Digital - AFD e orientar os órgãos e entidades
integrantes do Sistema de Pessoal Civil da Administração Pública
Federal - SIPEC, quanto aos procedimentos relativos à
organização, digitalização e armazenamento dos assentamentos
funcionais dos seus servidores, empregados públicos, contratados
temporariamente […]. (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO, 2011, p. 1).

No mais, salienta-se que a Portaria em questão não foi prevista e sancionada com
o objetivo de dar às cópias digitais o status de originalidade – como propunham as demais
normativas no âmbito das deliberações do Poder Judiciário (a partir de 2006), do CFM (a
partir de 2007), e do CCT (em 2010, com o Parecer Nº 73.947) – mas de:

[...] agilizar o acesso à informação, subsidiar a tomada de decisão,


resguardar os direitos e os deveres dos órgãos e entidades e de
seus agentes, bem como definir os documentos necessários à
composição do assentamento funcional físico e digital.
(MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E
GESTÃO, 2011, p. 1).

Desse modo, a Portaria Normativa Nº3 de 18 de novembro de 2011 – proposta


pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – despontou como um elemento
de substancial relevância para a consolidação das práticas de uso de documentos
digitalizados como fonte de consulta para auxílio em processos decisórios no âmbito da
administração governamental.

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2.2 O arquivamento digital como ferramenta para a boa gestão

Sem negar a realidade que permeia os comentários de Belloto (2007) e de Ferreira


(2006) no que tange à complexidade do processo de informatização de documentos
originalmente concebidos em suportes analógicos, torna-se imprescindível destacar as
vantagens que envolvem a prática. Dentre os muitos aspectos positivos, destaca-se a
capacidade de contornar os inconvenientes gerados a partir do arquivamento de
documentos em suportes tradicionais, que requerem maior espaço físico, restringem o
acesso à informação ao ambiente geográfico, e que demandam constantes e maiores
preocupações em torno da manutenção e preservação dos originais analógicos, em função
do manuseio constante. Sob esse aspecto, Andrade et al. apontam que:

A tecnologia digital permite aos Arquivos Públicos enfrentar o


desafio entre conservação e acesso. Métodos, ferramentas e
tecnologias avançadas no campo da digitalização,
armazenamento, recuperação e apresentação de imagens e outros
tipos de documentos históricos estão atualmente à disposição das
instituições responsáveis pela preservação da memória.
(ANDRADE ET AL., 2003, p. 2).

Em vista disso, importa que aqui se elenque algumas das principais vantagens
proporcionadas pela disponibilização de cópias digitais para documentos originados em
suportes convencionais, a saber:
4. facilita o acesso e o compartilhamento por indivíduos e/ou entre instituições;
5. facilita a criação de múltiplas cópias – capazes de servir às diversas
finalidades e demandas informacionais;
6. possibilita maior agilidade no processo de recuperação da informação,
quando comparado ao método tradicional de arquivamento em suporte físico;
7. fomenta o conhecimento científico através da difusão de acervos, por meio
da adoção de repositórios digitais;

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8. contribui para a preservação dos documentos originais, registrados em


suportes físicos.
Destarte, destacamos a relevância que a informatização de documentos originários
em suportes físicos possui, não só para os indivíduos em particular, mas também –
principalmente – para as empresas privadas e instituições públicas em seus mais diversos
segmentos.
O investimento maciço empregado por empresas e pela Administração pública na
disponibilização e no aprimoramento dos bancos de dados virtuais e canais de
informação, nessas duas últimas décadas, encontra ensejo na concepção de O’Brien
(2002), o qual afirma que a função dos sistemas compostos por arquivos informatizados
(digitais ou eletrônicos) consubistancia-se em prestar suporte às operações, às decisões
gerenciais, e à obtenção de apanágio estratégico. Em linha, Stair (2011) afirma que a alma
das corporações mais bem sucedidas do mundo reside em um sistema de informação
composto por arquivos virtuais amparados por ferramentas computacionais de alta
qualidade.
Neste contexto, observa-se que, qualquer atraso no processo de obtenção da
informação caracteriza-se em risco de prejuízo para a instituição. Em seu célebre estudo,
Mintzberg avalia a relação entre velocidade de recuperação da informação e,
planejamento estratégico de sucesso, considerando que “[...] grande parte da informação
estruturada chega tarde demais para ter uma utilização real na elaboração de estratégias.”
(1994 apud DAVENPORT, 1998, p. 179).
Em linha, Castro e Abreu (2006) salientam que a demanda por informação para
formulação de estratégias de inteligência competitiva é, naturalmente, maior em dois
momentos cruciais da vida das instituições: na “concepção” e na “maturidade”. Na
concepção, por que as incertezas quanto ao funcionamento do macro-sistema em que
estão inseridas são muito grandes; na maturidade, por que a estabilidade já foi atingida, e
os fatores contingenciais podem ser ainda mais devastadores. Por esse motivo as grandes
corporações investem constantemente na melhoria dos processos de armazenamento,
organização e acesso à informação.

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sociedade.

Contudo, ao contrário do que se pode imaginar, os conceitos de O’Brien e as


ponderações Mintzberg não se aplicam unicamente às empresas comerciais e demais
instituições privadas, pelo contrário. Torna-se cada vez maior a necessidade dos entes
públicos (federação, estados e municípios) em desenvolver métodos e ferramentas
capazes de aprimorar a eficiência, a eficácia e a efetividade na localização, uso e
cruzamento de informações.
Tal necessidade da Administração Pública decorre da dificuldade em lidar com o
enorme volume de informação que circula nas mais diversas esferas e poderes do Estado.
Tão grande volume, se não bem gerido e organizado, pode dar ocasião a perdas
financeiras, seja por falha involuntária de seus agentes, seja por desvio doloso de recursos
da Administração.
Ademais, tendo em vista o exponencial crescimento demográfico nacional e os
compromissos assistenciais que tem o Governo em atender tão grande população torna-
se, cada vez mais, urgente a regulação e o controle dos dados populacionais em bases, e
por meio de metadados, cada vez mais interoperativos e eficazes. Exatamente neste
contexto que desenvolveu-se a base de dados em arquivos digitalizados da Dataprev, uma
empresa pública cujo foco está no fornecimento soluções em tecnologia para
armazenamento, gestão e acesso à Informação com o fim de auxiliar e aprimorar as
políticas sociais do País.
Através da adoção de políticas de excelência em coleta, organização e cruzamento
de dados – como as conquistadas por meio de instituições públicas de êxito, como a
Dataprev – em meio informatizado (digital e eletrônico), a Administração obtém enorme
ganho funcional e estratégico para desempenho de suas funções – conforme avalia
Andrade et al. (2003), tendo em vista que:
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais acessíveis;
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam menos suscetíveis a
erros;
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais completas;
- o processo de gestão da informação, à médio e longo prazos, se torna mais
econômico;
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- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais flexíveis, podendo


servir a diversos propósitos com o fim de beneficiar a coletividade e de
auxiliar a Administração;
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais relevantes, pois
ganham novo significado ao potencializar as tomadas de decisão pelo
Governo;
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais confiáveis, pois
o cruzamento de dados – viabilizado pela troca de arquivos em meio
digital/eletrônico – elimina grande parte das dúvidas, ausências e
ambiguidades;
- torna possível a disponibilidade fulltime, online e ontime – com acesso e
trocas de informações ainda mais velozes e livres de barreiras geográficas;
- as informações a serem geridas pelo Estado se tornam mais seguras, pois
permitem a auditoria virtual, a rastreabilidade e o não-repúdio do recebimento
– o que restringe as chances de uso das mesmas por pessoal não autorizado;
Dessarte, a Administração preza pela elevação da informação por ela manipulada
ao estágio de qualidade idealizado nos três atributos fundamentais da Segurança da
Informação, a saber: confidencialidade (que preza pelo respeito à autoridade),
disponibilidade (que preza pelo atendimento) e, integridade (que preza pela confiança).
De igual modo, zela pelos demais princípios, daqueles derivados: a autenticidade (que
preza pela exatidão), a privacidade (que preza pelo respeito à propriedade) e, a legalidade
(em conformidade com a norma).
Tais benefícios e objetivos caminham em perfeito alinhamento aos princípios
Constitucionais implícitos e explícitos – a saber: legalidade, publicidade, eficiência,
eficácia e economicidade – comentados e ratificados por juristas de renome:

Associado [...] à Administração Pública, o princípio da eficiência


determina que a Administração deve agir, de modo rápido e
preciso, para produzir resultados que satisfaçam as necessidades
da população. Eficiência contrapõe-se a lentidão, a descaso, a
negligência, a omissão – características habituais da

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Administração Pública brasileira, com raras exceções.


(MEDAUAR, 2003, p. 142).

Um [...] conceito econômico, que introduz, no mundo jurídico,


parâmetros relativos de aproveitamento ótimo de recursos
escassos disponíveis para a realização máxima de resultados
desejados. Não se cuida apenas de exigir que o Estado alcance
resultados com os meios que lhe são colocados à disposição pela
sociedade (eficácia), mas de que os efetue o melhor possível
(eficiência), tendo, assim, uma dimensão qualitativa. [...] A
eficiência diz respeito ao cumprimento das finalidades do serviço
público, de molde a satisfazer necessidades dos usuários, do
modo menos oneroso possível, extraindo-se dos recursos
empregados a maior qualidade na sua prestação. (GROTTI, 2003.
p. 298).

O [...] gestor público deve, por meio de um comportamento ativo,


criativo e desburocratizante tornar possível, de um lado, a
eficiência por parte do servidor, e a economicidade como
resultado das atividades, impondo-se o exame das relações
custo/benefício nos processos administrativos que levam a
decisões, especialmente as de maior amplitude, a fim de se
aquilatar a economicidade das escolhas entre diversos caminhos
propostos para a solução do problema, para a implementação da
decisão. (BUGARIN, 2001, p. 240).

Em suma, observa-se que o esforço no sentido de promover a disponibilização e


o acesso a documentos em meio eletrônico, pode, não só ajudar a contornar o problema
citado por Davenport (1998) – com relação aos riscos decorrentes do atraso na
recuperação da informação – como também, contribuir para que esse processo seja mais
seguro e econômico, beneficiando amplamente a gestão pública, tanto no
desenvolvimento de ações estratégicas, quanto no desempenho operacional de suas
rotinas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das abordagens iniciais em torno dos referenciais teóricos propostos, foi
possível extrair análises decorrentes das múltiplas vantagens e, também, das dificuldades

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sociedade.

que permeiam o processo de implementação de cópias digitais e/ou eletrônicas em


substituição aos suportes analógicos originais no Brasil.
Traçando-se um breve panorama, foi possível observar que o processo de
aceitação e regulamentação não foi nem sereno nem ágil, tendo em vista as desconfianças
que pairavam em torno da legitimidade e da confiabilidade das cópias digitais. Não
obstante o fato, as instituições públicas e a Administração, a partir de final da década de
1990 e início dos anos 2000, constataram a necessidade de dispor de dispositivos que
normatizassem a prática, tendo em vista as novas demandas.
Isto posto, analisa-se que regulamentação da prática de arquivamento por meio de
exemplares em formato digital – proposta em 1999 e aprovada, somente, em julho de
2012 – refletiu a imensa exigência por eficácia e maior velocidade no atendimento às
carências informacionais que os indivíduos, as instituições e o Estado têm para tomadas
de decisão, transmissão de conhecimento, e desempenho de atividades sociais cujo objeto
em questão – documentos em suporte digital e eletrônico – vem desempenhando
fundamental papel como elemento de prova e de direito.
Por fim, verifica-se que o reconhecimento legal de cópias – em meio digital e/ou
eletrônico – como documentos dotados de valor probatório, foi de suma importância para
o desempenho efetivo das funções públicas, bem como, para gestões de qualidade e
tomadas de decisão na Administração, em todos os seus segmentos.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Nelson Spangler de et al. Gestão documental nas instituições


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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

O USO SUBJETIVO DA FOLKSONOMIA NO AMBIENTE TECNOLÓGICO: TAGS,


USUÁRIOS E SEUS CONCEITOS

MARANHÃO, Manuela Oliveira15


ALBUQUERQUE, Marcela V. C. de16
RIBEIRO, Raiza Leite Viana17

RESUMO
Divulgar a utilização da nomenclatura e as conjunturas acerca da folksonomia, além de discutir
as problemáticas de sua utilização em meio digital, com estudos apoiados em relativos
periódicos, que possibilitaram um conhecimento prévio sobre o tema, partindo de um dos
objetivos da pesquisa expandir a questão da falta de bibliografia em português sobre a temática
e ressaltar o uso subjetivo das hashtags. Em sistema de armazenamento de dados voltado para
a Ciência da Informação, buscou-se investigar a qualidade de recuperação associada ao termo
estudado e em seguida os analisar, segundo fontes de informações consultadas. É prestado
neste trabalho o resultado da aplicação de um questionário para subsidiar o que temos por
missão: ressaltar o desconhecimento do usuário sobre a folksonomia, mesmo que as utilizem
diariamente em suas redes sociais.

Palavras-chave: Taxonomia. Indexação social. Informação digital.

THE FOLKSONOMY SUBJECTIVE OF USE IN TECHNOLOGICAL


ENVIRONMENT: TAGS, USERS AND ITS CONCEPTS

ABSTRACT
Disseminate the use of the nomenclature folksonomy and discuss the problems of its use in the
digital media, studies supported in magazines, that made possible the previous knowledge on
the subject, of one of the objectives, to expand the question of the lack of literature. The
folksonomy. And highlight the subjective use of hashtags by the analysis of the research. In the
data storage system that faces information science, we seek to investigate the quality of the
recovery associated with the term studied and then analyze it, according to the sources of
information consulted. This article provides the results of applying a questionnaire to support
our mission: to emphasize folksonomy's user ignorance, even if it is used daily in their social
networks.

15
Acadêmica em Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco -UFPE. Departamento de
Ciência da Informação. E-mail: manuela_maranhao@live.com.
16
Acadêmica em Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco -UFPE. Departamento de
Ciência da Informação. E-mail: cavalcantialbuquerquee@gmail.com.
17
Acadêmica em Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco -UFPE. Departamento de
Ciência da Informação. E-mail: raizalribeiro@gmail.com.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Keywords: Taxonomy. Social indexing. Digital information.

1 INTRODUÇÃO

Com o fim da década de 90, a comunicação passou a se expandir de maneira


extremamente significativa, especialmente com a popularização das tecnologias de
comunicação, o que tornou possível a modificação e criação de novas ferramentas de
interatividade, como publicações e compartilhamento de informações em larga escala,
facilitando assim o manuseio e a participação de mais adeptos ao mundo digital, especialmente
com a possibilidade de colaboração por parte dos usuários , a exemplo do fenômeno das
hashtags e das ‘nuvens de tags’ em sites e mais tarde estariam nas redes sociais, como o Twitter
e Facebook. De acordo com Recuero (2009, p.25), rede social é gente, é interação, é troca
social. É um grupo de pessoas compreendidas através de uma metáfora de estrutura, a
estrutura de rede. Os nós da rede representam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais
que compõem os grupos. Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada
nova pessoa que conhecemos e interagimos
Desta forma, pretende apresentar a folksonomia18 como uma ferramenta de utilização
livre e de expressividade de conteúdo, advinda de modo espontâneo e natural do indivíduo,
podendo em termos mais técnicos assimilar a classificação natural, cujo sua discursão ainda é
questionada na área da biblioteconomia, pois, ao contrário da indexação convencional, não
segue regras nem busca padrões, a exemplo do uso das linguagens documentárias, pois se
configura numa expressão espontânea e de colaboração seja por quem publica informação, seja
por quem está ‘delimitando’ um assunto. Para os cientistas da informação, a folksonomia é
utilizada como ferramenta indexadora, cujo, o termo neste âmbito, dá-se por “indexação social”,
sendo possível a recuperação da informação através de palavras indexadoras, previamente
estipuladas, caracterizando como diferencial a prática de como é utilizada, o livre arbítrio para
a utilização dos termos. DAVENPORT, (2000 apud PEREIRA; CRUZ, 2010, p.6) aponta que
“se refere ao modo como os indivíduos lidam com a informação. Inclui a busca, o

18Neste artigo foi preferida a utilização do termo “Folksonomia” ao invés de “indexação social”, o
objetivo da utilização dessa nomenclatura deu-se para proporcionar o conhecimento e costume para
com a palavra. (as autoras)

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uso, a alteração, o acúmulo, e até mesmo o ato de ignorar os anúncios”. Sabendo disso, os
usuários comuns de redes sociais utilizam suas nomenclaturas de forma livre, sem nenhuma
verificação anterior, já os profissionais da informação tendem a requerer a um vocabulário
controlado, proporcionando resultados mais exatos em sua busca, porém, requerendo
concomitantemente tempo e custo.
O que na biblioteconomia se estabelece como padrão metodológico, por onde na
indexação se tem a maneira que proporcionará ao usuário recuperar a informação sem nenhum
ruído e de maneira formal, no estudo tratado a preocupação está em agregar mais palavras-
chaves para representar um único documento, assim, sua recuperação passa a ser exaustiva,
proporcionando uma boa busca para quem deseja quantidade de conteúdo e uma recuperação
nem sempre bem selecionada para os que se preocupam na qualidade da revocação
informacional buscada.
Para melhor entendimento do estudo, se entende por necessário descrever o que são as
hashtags para que assim possamos a diferenciar da indexação, as apresentamos como: palavras-
chave que são atribuídas pelo sujeito-navegador para indexar de forma livre a informação ou
parte de informação, e atribuir sentidos que o utilizador considera válido em conteúdo da
grandeza digital, utilizando a linguagem natural, ou seja, linguagem e vocabulário do próprio
sujeito-navegador. Esse processo é diferente da indexação tratada no âmbito da Ciência da
Informação e na Biblioteconomia, por onde há uma metodologia prévia para a realização da
indexação de assunto em um documento, como descrito por Lancaster (2004, p.5):

A indexação consiste em identificar o assunto de que trata um


documento, ou seja, “os termos atribuídos por um indexador servem
como pontos de acesso mediante os quais um item bibliográfico é
localizado e recuperado, durante uma busca por assunto num índice
publicado ou numa base de dados legível por computador”.

Em estudo houve a preocupação em evidenciar a falta de bibliografia na área,


principalmente em língua portuguesa, a apresentação de obras sobre a linha de pesquisa possui
uma grande defasagem, por tanto, traz um grande obstáculo no procedimento de tecer um
referencial teórico atualizado e mais completo a respeito do que se trata a pesquisa, desse modo,
o presente trabalho se justifica por buscar desenvolver um estudo mais atualizado e inédito para

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sociedade.

que os usuários se mantenham informados por tal questão. Além desse propósito, entendemos
que a pesquisa poderá ajudar na propagação do conhecimento sobre a temática, não somente
no âmbito acadêmico, como também entre os usuários comuns que utilizam as anteriormente
referidas hashtags.
Entendemos que para as palavras indexadoras serem utilizadas de forma mais
conscientes, não gerando uma certa poluição de informações e automaticamente criando um
tipo de controle linguístico para uma maior facilidade de acesso a determinada informação,
vêm-se propor uma maior disseminação da temática, uma vez que entendemos seu uso como
subjetivo pelos usuários, deixando evidente que não se propõe no estudo um controle vocabular,
e sim uma utilização ciente.
Neste sentido, o objetivo geral é verificar com um grupo de usuários se estes
reconhecem o termo folksonomia como a ação de indexar conteúdos, apontando também as
dificuldades de encontrar fontes de informação, pautando sobre as dificuldades encontradas em
levantamento de dados bibliográficos e artigos de periódicos especializados para uma temática
tão considerável e ao mesmo tempo tão invisível socialmente. Para tanto, a presente pesquisa
se configura como sendo de natureza explicativa, pois explora o conhecimento do ser humano
enquanto usuário e indexador autônomo. Busca ajudar no entendimento e reconhecimento do
papel da temática, destacado a falta de conhecimento da nomenclatura, que em demasiado é
tratada como tags, hashtags ou etiqueta. Foi aplicada uma pesquisa qualitativa com os usuários,
evidenciando o quanto uma palavra pode mudar o sentido do entendimento do assunto proposto,
sendo assim, a investigação ajudará a apontar tais fatos pertinentes a sociedade utilizadora dos
elementos digitais e sociais abordados.
Temos como métodos de coleta de dados, a pesquisa bibliográfica e o questionário de
aplicabilidade ao usuário, que foi composto por 3 (três) perguntas, a fim de averiguar o
conhecimento de cada pesquisado sobre o tema, mostrado em seu levantamento, questões afim
de obter o resultado pautado do conhecimento dos usuários que utilizam em grande escala sem
conhecimento prévio do que entendemos por folksonomia. Por conseguinte, trataremos da
pesquisa elaborada, explicando os detalhes do que se teve por resultado.

2 ABORDAGEM DAS TAGS E O SURGIMENTO DA FOLKSONOMIA

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Com o advento da tecnologia, o fluxo de informação carece de um filtro informacional,


proporcionando assim que os usuários do universo informático possam representar informações
sem nenhum critério fixo e sem perceber do que é capaz de fazer apenas com uma palavra
indexadora. Por tanto, a utilização das hashtags estão popularmente aceitas e em constante
utilização nos dias atuais, o que provoca, muitas vezes, ruídos na recuperação da informação
representada por essas hashtags, justamente por não haver critérios técnicos, sendo um ponto
de vista subjetivo dos “indexadores populares” que desejam designar uma representação para
determinada informação.
Na falta de rigor por parte do usuário e os problemas ocasionados pela livre utilização
de termos sem nenhuma verificação de indexadores, a folksonomia muitas vezes não é
reconhecida como uma fonte de informação, pois tem uma alta carga subjetiva, devido aos
usuários terem pouco ou nenhum entendimento sobre seu conceito ou como a utiliza –apesar
de não existir um padrão correto-.assim, podendo ser ao mesmo tempo produtiva, como também
um ponto de declínio quando tratado de precisão. O termo foi introduzido no meio
informacional por Thomas Vander Wal datado em 2004. Há uma inconstância sobre sua data
de surgimento, porém, em pesquisas preliminares foi evidenciado que o seu surgimento se deu
na data citada.
[...] o resultado da atribuição livre e pessoal de etiquetas a informações
ou objetos (qualquer coisa com URL), visando à sua recuperação. A
atribuição de etiquetas é feita num ambiente social (compartilhado e
aberto a outros). A etiquetagem é feita pelo próprio consumidor da
informação (WAL, 2007, online).

Para a representatividade da temática foram levantadas algumas denominações para o


que tratamos nesse estudo por folksonomia, que são elas: “tags”, “marcações sociais”,
“Indexação social”, “linguagem de indexação”, “indexação colaborativa”, ”hipertexto”, “Tag
social”, “inteligência coletiva”,dentre outras. Porém, diante de tantas definições, os conceitos
convergem para um conjunto de elementos de metadados planejados para facilitar a descrição
de recursos eletrônicos, utilizados por usuários de maneira livre e com expressões naturais,
podendo ser criadas a partir da utilização das conhecidas hashtags, por onde são compostas por
palavras-chave do assunto antecedida pelo símbolo denominado popularmente como “jogo da
velha” ou cerquilha, que seria representado pelo símbolo “#”, tendo também como

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denominação a palavra “etiqueta”, sinal esse mais utilizado com sentido de hashtags na língua
inglesa, língua pela qual surgiu sua denominação.
As tags viram hiperlinks, formando um complexo de ligações dentro da rede, sendo
elas indexadas por mecanismos de busca. A utilização desse seguimento é inviável para quem
deseja fonte de informação segura, pois há milhares de informações acumuladas junto a uma
simples tag, sendo assim a principal desvantagem da utilização desse recurso, além disso,
qualquer usuário que utiliza esse tipo de metadados está sujeito a exposição, devido à
exploração ininterrupta do que vem acompanhado junto a tag, seja uma imagem, uma
confidência ou até mesmo dados pessoais.
O surgimento dessa explosão de pequenos tópicos junto a um símbolo considerado
numérico começou a se popularizar de maneira mais abrangente em 2007, sendo o primeiro site
a usar a hashtags o del.icio.us19 site que oferece um serviço on-line, permitindo adicionar e
pesquisar bookmarks20 e propiciado pesquisa em modo livre de marcadores (pois o próprio
usuário realiza a sua indexação). Para Amstel, 2017. p.13. “O crescimento vertiginoso dos
websites que adotaram a folksonomia demonstra que se trata de uma estratégia promissora para
a classificação de informações na Web”. De acordo com o estudo realizado nessa pesquisa,
elaborou-se uma tabela para um melhor entendimento do que seria as vantagens e desvantagens
da Folksonomia:

Quadro 1: Vantagens e desvantagens da Folksonomia


VANTAGENS DESVANTAGENS
Redução de gastos diversos Precisão baixa
Linguagem Natural Problemas com plural, sinônimos e
ambiguidade.

19del.icio.us é um sistema gratuito de armazenamento de sites favoritos, que permite ao sujeito-


navegador cadastrar-se e criar uma conta. (fonte das autoras)
20Bookmarks é uma linha livre de marcadores e um serviço de armazenamento, disponível para
usuários da Conta do Google (fonte das autoras)

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Linguagem Colaborativa Imprecisão na recuperação


Troca de interação entre usuários Descontrole de vocabulário
Acessível a todos os usuários. Falta de padrão de verificação
Fonte: as autoras

As informações ilustradas na tabela possibilitaram a compreensão de que muitos


usuários podem interagir de forma a evoluir e modificar o sistema de informação, passando a
ter várias vertentes do fluxo de conhecimento, aumentando assim um dos pontos mais
importantes ressaltados na temática. Por outro lado, entre os pontos negativos observou-se a
falta de controle vocabular, onde o usuário utiliza seu próprio repertório de palavras para se
expressar de uma forma natural, inclusive sem padrões de veracidade.
De acordo com pesquisas realizadas em algumas bases de dados brasileiras e periódicos
na área de Ciência da Informação, também no Brasil, constatou-se que o índice de materiais
impressos, como livros e periódicos, ou discussões voltadas para a abordagem da linguagem
natural é escasso. Vale salientar, que o argumento de busca utilizado em todas as pesquisas foi
“folksonomia”. Em contrapartida, há uma elevada produção de artigos recuperados,
especialmente advindos de congressos e encontros de estudantes de Biblioteconomia e de
Bibliotecários.
Assim, a falta de uma literatura voltada exalando a nomenclatura, proporciona uma
grande falta de foco informacional, destarte, o nicho de dados sobre o tema pode ser avaliado
como alto, porém impreciso. Na utilização das hashtags em redes sociais, acredita-se que o que
se tem é uma gama de informação sem o propósito de indexação ou de reunião de conceitos ou
assuntos, pois a ênfase é a publicação de informação para uma comunidade virtual, onde muitas
vezes as hashtags servem a um propósito maior, dar destaque à dada publicação. Uma das
principais ferramentas de utilização da Folksonomia são as chamadas Rede Social. De acordo
com Recuero (2009, p.25), rede social é gente, é interação, é troca social. É um grupo de
pessoas, compreendido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura de rede. Os nós da
rede representam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos.
Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos
e interagimos. Para verificar se o termo tratado na pesquisa é de fato um elemento pouco

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evidenciado por sua nomenclatura de origem procedeu aplicar uma análise da base de dados
BRAPCI acerca das informações recuperadas com o tema.

3 ANÁLISE DA BASE DE DADOS REFERENCIAIS DE ARTIGOS DE PERIÓDICOS


EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - BRAPCI

Ao analisar a Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da


Informação, conhecido como (BRAPCI21), foram realizadas buscas com o termo
“folksonomia”, o resultado obtido através do portal foi composto por 21 (vinte e um) trabalhos
científicos sobre o tema apresentado, com ênfase para um período de 11 anos (2004-2015). O
período proposto deu-se devido ao surgimento do termo Folksonomia, criado por Thomas
Vander Wal no ano de 2004, por onde apresentou resultados obtidos pela base de dados até o
ano de 2015. Em pesquisa na base de dados da BRAPCI pelo termo folksonomia, foram
resultados em 21 (vinte e um) trabalhos recuperados, sendo analisados pelos autores do artigo
quais os trabalhos relevantes, o resultado culminou em:
d) 100% de relevância com relação ao termo pesquisado e o que se aborda os artigos;
e) Alta qualidade de revocação;
f) Associação com outros termos ligados com a folksonomia.
Junto à pesquisa, o próprio site utiliza palavras-chaves, que através delas são retornados
termos associados à descrição de busca para filtrar informações relevantes.

Quadro 2: Pesquisa em base de dados

Termos sugeridos pela BRAPCI


(de acordo com pesquisa elaborada na base de dados)

afetividade ambientes bookmarking capitu características


colaborativos social das etiquetas

21A BRAPCI amplia o espaço documentário permitido ao pesquisador, facilita a visão de conjunto da produção
na área, ao mesmo tempo, que revela especificidades do domínio científico. Os saberes e as pesquisas
publicados e organizados para fácil recuperação clarificam as posições teóricas dos pesquisadores.

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cibercultura ciência da citações classificação da classificação


informação informação social

colaboração competência comportament comunidade conceitos


classificatória o científica connotea
informacional
discurso dt/sibi-usp estructuras estudos da etiquetagem
conceptuales linguagem colaborativa

indexação indexação internet kos lenguajes linguagens de


colaborativa social documentales indexação

marcação memória memória nuvem de ontologia


semântica coletiva etiquetas

Fonte: as autoras

Durante a busca, a própria base de dados BRAPCI deu como sugestões as palavras que
temos abaixo, sugerindo que os trabalhos recuperados também poderiam ser assemelhados
através destas palavras:
Os termos destacados, que possuem caráter de compreensão não relevantes para a busca,
evidenciando a amostra de uma das características da problemática no uso das hashtags. Sendo
estes conteúdos com pouca ou nenhuma relação, onde o usuário indexa como acha mais
interessante para si, podendo prejudicar o leitor que busca por determinado termo em
especificidade, encontrando dificuldades para acessá-lo de modo rápido e prático. Isso gera uma
falta de padronização no uso das hashtags no campo da informação, onde só dificulta a busca
por determinado documento. Isso mostra que cada indivíduo possui um entendimento
diversificado da folksonomia, do que é indexar, de como é buscar por algo de forma prática,
sendo assim, podendo muitas vezes surgir a ambiguidade e acabar perdendo o real sentido do
documento.

4 RESULTADO DA PESQUISA

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sociedade.

Para entendermos o conhecimento dos usuários a respeito do termo folksonomia e para


que se da a sua utilização, foram questionadas 36 pessoas de cursos diferentes da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e usuários das redes sociais Twitter e Facebook. Os resultados
a seguir retratam o conhecimento do termo folksonomia pelas pessoas questionadas. As
respostas foram dadas através das próprias redes sociais, de onde os pesquisados acessaram o
questionário, base pela qual demos ênfase para a metodologia prática do presente artigo, cujo
as perguntas e respostas estão a baixo descritas:

1) Você sabe o que é Folksonomia?


( ) Sim ( ) Não ( ) Já ouvi falar ( ) Outros

2) Se sim, você utiliza no seu dia a dia?


( ) Sim ( ) Não ( ) As vezes

3) Você utiliza tag social? (Tag social= link associativo)


( ) Sim ( ) Não ( ) As vezes

O questionário a cima foi criado pelo site Google docs, uma ferramenta de criação de
formulários digitais, com o intuito de facilitar o trabalho do pesquisador. A seguir serão
comentadas as perguntas individualmente para uma melhor compreensão do que os usuários
entendem por folksonomia, realizada com 36 pessoas de diferentes seguimentos curriculares.

Figura 1: O que é Folksonomia

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Fonte: as autoras

Em questão houve a intenção de investigar se os usuários sabiam o real significado da


palavra folksonomia, mesmo a palavra sendo específica da área da Ciência da Informação.
Apenas 19.4% afirmou saber o que significava, que mostra ser uma pequena quantidade possui
acesso ou procura por essa área do conhecimento, 72.2% responderam não saber o que é de fato
a folksonomia, muitas vezes utiliza de outra forma a indexação, mas não sabe que está fazendo
e, 8.3% já ouviram falar. Esse gráfico mostra que a área da folksonomia é pouco conhecida,
pouco buscada até pelos próprios usuários da Ciência da Informação.
Apesar de a pesquisa ser realizada em meio digital, por onde grande parte dos usuários
das redes sociais utilizarem hashtags, 77.8% dos questionados afirmaram não conhecer tal
prática. Comprovando então, a subjetividade no uso da folksonomia, o que é de relevância para
a pesquisa.

Figura 2: tag social

Fonte: as autoras

Com essa questão, o objetivo era saber se os usuários utilizavam a folksonomia por ‘tag
social’, 50% respondeu dizendo que sim, isso mostra uma controvérsia com as primeiras
questões, mostrando que o conhecimento da área é limitado. As pessoas usam a folksonomia no
dia a dia sem saber que de fato estão colocando a hashtag em suas publicações, em seus
documentos, entre outras coisas, todos os dias. A falta de publicações maiores na área gera uma
defasagem no conhecimento ao público geral.
Nessa amostra, Percebeu-se a falta de conhecimento da grande parte dos questionados
a respeito da folksonomia, sendo assim extraído o modo subjetivo de sua utilização, os usuários

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

utilizam hastags sem nenhum conhecimento prévio, partindo do pressuposto de que a indexação
que poderia ser utilizada baseada na resposta dos usuários nestas redes sociais, assim como são
utilizadas em outros meios informáticos como o captcha22, ponderada pelo google, ao digitar
as palavras mostradas em uma imagem, o usuário indexa de maneira gratuita os dados. Em
contrapartida, em redes sociais, podem ser consideradas falhas, pois, não possui um caráter de
entendimento dos internautas a respeito da qualidade de indexação, muito menos, o quanto pode
atrapalhar uma busca em rede.

Figura 3: Tipos de redes sociais que se utiliza a Folksonomia

Fonte: as autoras

Grande parte da utilização das hashtags é dada através do uso do Facebook, rede social
mais utilizada no momento. Em seguida verificam-se algumas das respostas dos usuários a
respeito do seu critério para a utilização das hashtags:

Quadro 3: Critérios de utilização das hashtags segundo os usuários:

Usuário 1: Não possuo. Usuário 2: Ferramenta de localização


Usuário 3: Eu não uso hashtag. Usuário 4: Promoção de um tema
Usuário 5: Campanhas feministas Usuário 6: Encontrar outras postagens
do mesmo conteúdo que a minha

22
CAPTCHA é um acrônimo da expressão: teste de Turing público completamente automatizado para
diferenciação entre computadores e humanos, teste de desafio cognitivo, utilizado como ferramenta anti-spam. (as
autoras)

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sociedade.

Usuário 7: Como forma de “zoação” ou um Usuário 8: Evento marcante


assunto que eu realmente queira aderir e dar
mais visualização.
Usuário 9: Palavras que "simbolizem" o Usuário 10: Eu não uso hashtag
que pretendo compartilhar
Fonte: as autoras

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da folksonomia como ferramenta de indexação livre, proporciona uma


colaboração maior para difusão da informação, sendo assim, a busca torna-se mais fácil pelos
usuários comuns, havendo divergência quando ressaltado a prática da hashtags em meio
científico, levantando problemáticas a respeito do seu uso indevido, geralmente por
desconhecimento das funcionalidades ou mesmo do conhecimento básico acerca do recurso.
Percebeu-se que os sistemas estão em constantes mudanças e cabe ao profissional
mediador da informação oferecer práticas que melhorem a utilização da folksonomia, sem vetá-
la, pois a diferença que há entre a indexação e a folksonomia é a liberdade de expressão do
indivíduo em relação ao que ele escreve, sendo uma forma de expressão legítima.
Supõe-se que a existência de uma verificação anterior e/ou a utilização de sugestões de
preenchimentos rápidos, facilitaria para a melhor recuperação da informação no âmbito da
comunicação. A averiguação de pontos que possuem defasagem na folksonomia poderia ser
levada a discussões, pois a necessidade informacional é cada vez mais rápida nos dias atuais,
gerando lucro e a minimização de tempo em buscas. Acredita-se que é possível usufruir de
ferramentas computadorizadas junto aos usuários para uma melhor gestão do conhecimento
gerado digitalmente, como o captcha. Nessa ferramenta o próprio usuário indexa de maneira
fácil e para que possam acessar determinada página, é necessário o uso ponderado de sua
utilização, ou até mesmo associar o quantitativo de respostas iguais sobre determinado
documento, a veracidade.
A folksonomia é contabilizada como um tema novo e que precisa ser explorado. Neste
estudo buscou-se tratar da promoção da realidade virtual para a facilitação da disseminação da

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informação, que deve ser pauta constante da Biblioteconomia, além disso, sugere-se o uso da
folksonomia para a melhor disseminação da informação no meio acadêmico.

REFERÊNCIAS

AMSTEL, V. F. Folksonomia: vocabulário descontrolado na arquitetura da informação ou


samba do criolo doido. 2007. Disponível em:
<http://www.usabilidoido.com.br/arquivos/folcsonomia_anarquitetura.pdf>. Acesso em: 06
jul. 2017.

LANCASTER, F. Wilfrid. Indexação e resumos: teoria e prática. 2. ed. Brasília, DF: Briquet
de Lemos, 2004. xviii, 452 p.

PEREIRA, Débora de Carvalho; CRUZ, Ruleandson do Carmo. Folksonomia e tags


afetivas: comunicação e comportamento informacional no Twitter. DataGramaZero, Rio de
Janeiro,v. 11, n. 6, p. 01-08, dez. 2010.

RECUERO, Raquel. Redes Socias na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

RUT, Karina: Google utiliza la verificación Captchas para indexar las direcciones de
Google Maps. Disponível em: <http://www.batanga.com/tech/13580/google-utiliza-la-
verificacion-captchas-para-indexar-las-direcciones-de-google-maps> Acesso em: 12 dez.
2015.

SARACEVIC, T. Information Science: origin, evolution and relations. In: VAKKARI, P.


CRONIN, B. (Eds.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical
and theoretical perspectives. Proceddings of the International Conference for the celebration
of 20tf anniversary of the Departament of Information Studies, University of Tampere,
Finland, 26- 28, 1991. London, Los Angeles: Taylor Graham, 1992. p. 5

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

WAL, Thomas Vander. Folksonomy. 2007. Disponível em:


<http://www.vanderwal.net/folksonomy.html >. Acesso em: 15 dez. 2015.

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OS BENEFÍCIOS DO USO DE ONTOLOGIAS PELA WEB SEMÂNTICA

REGLY, Tainá23

RESUMO

Apresenta uma reunião de definições derivadas da literatura científica sobre Web Semântica
e Ontologia. Retrata as origens da Web Semântica a partir da Web estática e sintática, sua
integração - e não substituição - à Web Social e como essa nova Web pretende dar significado
às informações desestruturadas presentes na internet. Aponta fatores essenciais para a
formulação de Ontologias que atendam às necessidades da Web Semântica. Indica divisões
a que as Ontologias devem ser submetidas para dar conta de representar um documento e
permitir uma recuperação mais eficaz. Conclui relacionando os conceitos de Web Semântica
e Ontologia e apontando os benefícios dessa associação para o processo de busca e
recuperação da informação.

Palavras-chave: Web Semântica. Ontologia. Benefícios da Ontologia na Web Semântica.


Recuperação da informação.

THE BENEFITS OF THE USE OF ONTOLOGIES FOR THE SEMANTIC


WEB

ABSTRACT

It presents a compilation of concepts from the scientific literature about Semantic Web and
Ontology. Indicates the Semantic Web origins, it transition from static to syntactic, it
integration - not substitution - to the Social Web and how this new kind of Web intends to
structure and provide meaning to the spread information around the internet. Introduce some
essential factors for the creation of Ontologies that meet the needs from Semantic Web.
Shows some divisions which Ontologies should be submitted to describe a document and

23
Acadêmica do curso de Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal Fluminense – UFF.
tainaregly@hotmail.com

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inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.
enable an effective recovery. It concludes by listing the benefits came from the association
between the Semantic Web and Ontology on the search and recovery of information process.

Keywords: Semantic Web. Ontology. Benefits of Ontologies in Semantic Web. Information


retrieval.

1 INTRODUÇÃO

A Web desencadeou uma grande revolução no mundo da informação. Seu


desenvolvimento de estática para sintática possibilitou a integração de usuários na produção
de conteúdo, o que aumentou consideravelmente a quantidade de informação presente na
rede. Atualmente, estamos vivendo a transição para um terceiro tipo de Web, a Semântica,
que denota significado às palavras. Para atingir tal objetivo, a Web Semântica - também
chamada de Web 3.0 - conta com o apoio das Ontologias, vocabulários de termos
estruturados hierarquicamente onde estão explicitados seus significados e relacionamentos
para descrever dado domínio do conhecimento. A utilização da Ontologia amplia o conjunto
de inovações na Web, não apenas pela capacidade de manter organizados os dados não
estruturados, mas também por permitir a acomodação ou o mapeamento de dados
conceituados disponíveis em bancos de dados implícitos.
A partir de uma leitura preliminar do que é produzido no campo da Ciência da
Informação acerca de Web Semântica e Ontologia, foram levantadas algumas definições e
aspectos essenciais para a coexistência desses dois elementos. Dessa forma, presente trabalho
busca entender a forma com que a Ontologia e a Web Semântica se relacionam e quais são
os benefícios advindos dessa associação.

2 WEB SEMÂNTICA

Tim Berners Lee, o criador do World Wide Web (WWW), idealizou uma nova
estrutura onde máquinas seriam capazes de entender a Web da mesma forma que humanos e
que trouxesse maior dinamicidade ao processo de busca e recuperação da informação. Essa
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inovação é baseada na semântica, pois as informações presentes na Web passariam a ser
atribuídas de significado. Dessa forma, não seria necessária a construção de uma nova Web,
bastaria apenas adaptar o conjunto de dados atual para este novo aspecto.
Serafim (2014) afirma que a Web Semântica é a terceira das gerações da Web, sendo
a primeira baseada na linguagem HTML, que possibilitou a visualização de documentos,
feitos por instituições, independente de sua localização física. E a segunda baseada na
linguagem XML, que proporciona maior interatividade com os usuários ao exibir conteúdos
produzidos por eles mesmos.
A Web Semântica é uma extensão da segunda geração da Web - a atual - e tem como
proposta estruturar os dados contidos em sites, atribuindo significado nessas estruturas, para
que o próprio sistema possa buscar e identificar seu assunto e conteúdo. Para que essa
proposta possa ser atingida, será necessária uma padronização de tecnologias, de linguagens
e metadados descritivos, de forma que todos os usuários da Web obedeçam a um conjunto
de regras sobre como armazenar dados e descrever informação para que esta possa ser
interpretada tanto por humanos quanto por máquinas, de forma automática e sem
ambiguidade.
Conforme Silva e Gauthier (2008), a Web 3.0 seria composta por sete camadas, onde
haveria identificação de um objeto, a construção de metadados com uma linguagem livre, o
acréscimo de semântica, associação de itens, a representação desse objeto, a avaliação e
validação da sintaxe e, por fim, o julgamento de que o que foi validade está certo ou errado.
Um dos princípios básicos da Web Semântica é de que “tudo” pode ser identificado
por uma URI (Identificador Uniforme de Recurso), de forma que vários elementos do mundo
possam ser referenciados e identificados. Outra característica importante dessa Web é que os
links passam a possuir significado não apenas para humanos, mas também para as máquinas
que poderão interpretá-los e associá-los a diferentes recursos.
Para ser concretizada, a Web 3.0 necessita de um ambiente onde haja a padronização
da forma como diversos tipos de software manipulam a informação na Web, assim como a
criação de meios que descrevem o aspecto semântico de cada termo, bem como o intercâmbio
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de informações de forma padronizada, uma vez que os recursos estejam descritos a partir de
bases tecnológicas compatíveis.
Nas palavras de Carvalho (2009), por ser uma extensão da Web vigente, a Web
Semântica dá significados bem definidos à informação já presente na internet. Para que
computadores e pessoas trabalhem em conjuntos em prol dessa estruturação de dados, a Web
3.0 precisa atingir alguns objetivos, tais como:
● Oferecer estrutura para o conteúdo significativo das páginas da Web;
● Compensar o desequilíbrio no seu desenvolvimento, onde documentos processados
por pessoas progrediram em detrimento dos dados para inferências automáticas;
● Possibilitar um sistema único, porém descentralizado de representação do
conhecimento;
● Fornecer uma linguagem que expresse tanto os dados e as regras para raciocínio sobre
os dados e que permita que essas regras sejam exportadas para a Web.
Visto isso, a Web Semântica necessita de uma linguagem capaz de descrever, de
maneira bem definida, os relacionamentos provenientes da informação, de forma que haja a
inferência dos dados pela máquina.
A Ontologia supre essa necessidade da Web Semântica ao permitir troca de
informações embutidas de significado referentes ao conteúdo disponível na Web e sendo
fonte de termos precisamente definidos.

3 ONTOLOGIA

Uma Ontologia é um vocabulário de termos estruturados hierarquicamente, onde estão


explicitados seus significados e relacionamentos para descrever dado domínio do
conhecimento. Também é definida como um produto intermediário que serve ao produto
final, a base do conhecimento, visto que envolve a escolha dos conceitos e as relações serão
representadas nessa base.

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Segundo Nicolino (2014), na Ciência da Informação, as Ontologias são caracterizadas
como instrumentos de nível epistemológico, projetados para serem novas categorias de
instrumentos de representação do conhecimento, possibilitando e favorecendo melhoria nos
processos de representação dos conceitos e dos relacionamentos existentes entre eles em um
domínio específico.
Além disso, as Ontologias proporcionam liberdade para representar relações que não
seriam possíveis em outros modelos de representação, uma vez que podem ser concebidas a
partir de diversas técnicas de organização do conhecimento, dependendo da decisão de seus
desenvolvedores que irão descrever, rotular e categorizar suas relações para a realização de
inferências automáticas pela máquina.
Para Campos, Campos e Medeiros (2011) a Ontologia é uma ferramenta tecnológica
que busca viabilizar a comunicação entre seres humanos e máquinas através de uma
linguagem formal restrita por um compromisso ontológico, onde será utilizada apenas uma
conceituação de mundo para o compartilhamento do conhecimento. Segundo Ramalho
(2010), para permitir uma recuperação mais eficaz, durante representação de um documento,
as Ontologias devem ser desmembradas da seguinte forma:
● Classes e subclasses - representam elementos presentes no mundo e os categorizam;
● Propriedades – descrevem as características e/ou qualidades das classes;
● Relacionamentos – apontam os relacionamentos existentes entres as classes;
● Regras e axiomas – enunciados lógicos que permitem a imposição de condições e
realização de inferências automáticas;
● Instâncias – indicam o valor das classes e subclasses para representar objetos ou
indivíduos pertencentes ao domínio modelado de acordo com as características das
classes, relacionamentos e restrições definidas;
● Valores – indicam formatos e os tipos de valores aceitos em cada classe.
As Ontologias são planejadas e construídas pelo homem para atender às suas
necessidades de organização e recuperação da informação. Espera-se que a linguagem
forneça significado ao vocabulário utilizado para representar o conhecimento, o que inclui
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definições interpretáveis por máquinas, que compreenderão os conceitos de determinado
domínio e suas relações semânticas. De acordo com Schielssl (2007) e Masiero (2001), para
que atendam aos requisitos da Web Semântica, existem fatores essenciais na formulação das
Ontologias, tais como:
● Clareza – as definições devem ser objetivas e completas;
● Coerência – as Ontologia deve permitir o uso de inferências que sejam consistentes
com as definições;
● Extensível – flexibilidade para permitir que novos termos sejam definidos;
● Mínimo viés de codificação – a conceituação deve ser especificada no âmbito do
conhecimento;
● Mínimo compromisso ontológico – é importante para que as atividades de
compartilhamento do conhecimento aconteçam;
● Distinta - cada objeto definido será único;
● Interoperável - deve ter características sobre a versão e interoperabilidade entre as
relações e conceitos;
● Padronizada - deve possuir padrões para definição.
Sendo formuladas seguindo aos critérios acima listados e exigidos pela Web
Semântica, as Ontologias estarão aptas a representar relações complexas que proporcionarão
o entendimento dos conceitos de determinado domínio pelas máquinas, bem como as
relações que ocorrem entre esses conceitos.

4 OS BENEFÍCIOS DO USO DE ONTOLOGIAS PELA WEB SEMÂNTICA

A partir das definições apresentadas anteriormente, podemos afirmar que as Ontologias


representam, para a Web Semântica, uma linguagem formal de representação de dado
domínio do conhecimento, que dão significados às informações e possibilitam que
computadores realizem inferências automáticas. Além desse principal objetivo e benefício, a

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Ontologia apresenta outras vantagens quando é utilizada. A seguir serão listados alguns
proveitos da relação entre a Web e a Ontologia encontrados na literatura científica:
● Programas se tornam capazes de responder às perguntas feitas pelos usuários;
● A melhoria da comunicação entre pessoas e organizações;
● Integração de diferentes perspectivas de usuários;
● O grande potencial de reuso - Ontologias mais específicas poderão ser criadas
facilmente a partir de Ontologias mais gerais;
● A interoperabilidade do sistema ao se utilizar Ontologias que unifiquem o
vocabulário e viabilizem a transferência de informações;
● As Ontologias possuem a capacidade de adicionar regras de inferência, o que torna
as máquinas capazes de manipular e “entender” a informação;
● Por lidar com conceitos, a Ontologia evita problemas inerentes ao vocabulário da
linguagem natural como homonímias, sinonímias e homógrafos. Além de extinguir o
uso de palavras fora de contexto;
● Possibilita a representação em maior nível semântico, o que colabora para uma
recuperação mais precisa;
● Fornecem mecanismos para um mapeamento semântico que expande o número de
associações entre os elementos, aumentando o poder de exploração dos dados;
● Esse aumento do poder de exploração torna o processo de mapeamento dos dados
mais eficiente e faz com que a representação incorpore as relações explicitamente.
Deste modo, as Ontologias passam a ter um papel fundamental nos processos de busca
e recuperação da informação ao permitir a transferência de um modelo conceitual, descrito
formalmente, da mente humana para a máquina, representando assim, uma evolução no com
que a informação é oferecida na Web.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
.

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Portanto, as Ontologias são fundamentais para a Web 3.0, pois não dependem de
restrições de linguagem, podendo ser utilizadas para as mais diversas tarefas de comunicação
entre sistemas distintos. Ao adicionar os dados semânticos a essa linguagem, se torna possível
o aumento da interoperabilidade entre os sistemas na medida em que as definições de serviços
carregam significado, ou seja, se tornam capazes de descrever suas próprias finalidades.
Sua utilização amplia mais ainda o conjunto de inovações para a Web, não apenas pela
capacidade de manter organizados os dados não estruturados, mas também por permitir a
acomodação ou mapeamento de dados estruturados disponíveis em bancos de dados
subjacentes. Além disso, o uso desse instrumento de linguagem representa melhorias
significativas no processo de recuperação da informação ao transformar a pesquisa em um
processo mais direto e objetivo.

REFERÊNCIAS

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Jackson. A Representação de Domínios de Conhecimento e uma Teoria de Representação:
a Ontologia de fundamentação. Informação & Informação, v. 16, n. 2, p. 140-164, 2011.

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Informação. 2008. 188 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2009.

LOPES, Rodrigo Arthur de Souza Pereira. Propostas de sistemas de busca de jogos


eletrônicos pautada em Ontologia e semântica. 2011. 78 f. Dissertação (mestrado) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Engenharia Elétrica e Computação, São Paulo,
2011.
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MASIERO, Paulo Cesar et al. A biblioteca digital de teses e dissertações da Universidade


de São Paulo. Ciência da Informação, v. 30, n. 3, p. 34-41, 2001.

MOREIRA, Alexandra; ALVARENGA, Lídia; OLIVEIRA, Alcione de Paiva. O nível do


conhecimento e os instrumentos de representação: tesauros e
Ontologias. DataGramaZero-Revista de Ciência da Informação, v. 5, n. 6, 2004.

NICOLINO, Maria Elisa Valentim Pickler. Diretrizes para a utilização de Ontologias na


indexação automática. 2014. 101 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual
Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2014.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/121979>.

PRATES, Jorge Marques. Múltiplas visões coordenadas: uma técnica de coordenação


com o apoio de Ontologias. 2014. 73 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, 2014.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/127553>.

RAMALHO, Rogério Aparecido Sá. Desenvolvimento e utilização de ontologias em


bibliotecas digitais: uma proposta de aplicação. 145 f. Tese (Doutorado em Ciência da
Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, Marília, 2010.

RAMALHO, Rogério Aparecido Sá. Web semântica: aspectos interdisciplinares da


gestão de recursos informacionais no âmbito da ciência da informação. 2006. 120 f.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências,
2006. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/93709>.

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SCHIESSL, José Marcelo. Ontologia: o termo e a ideia 10.5007/1518-2924.2007
v12n24p172. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da
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SERAFIM, Giane Cristina. Web semântica: técnicas e ferramentas para tornar mais
efetiva a busca informacional na Web. 2014. 80f. Trabalho de Conclusão de Curso-
Universidade Federal de Santa Catarina, Faculdade de Biblioteconomia, Florianópolis,
2014.

SILVA, Eduardo Menna da; GAUTHIER, Fernando Alvaro Ostuni. Arquitetura para
recuperação de informação em documentos anotados usando semântica. 2008. 99 f.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico.
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação, Florianópolis, 2008.

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sociedade.

GT 3.
PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO:
EDUCAR PARA A DIVERSIDADE.

Estudos e pesquisas de sistemas, unidades, serviço, produtos de


informação, uso e usuários da informação, relacionadas ao tema
de histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas, de gênero,
religiosidade, sexualidade e diversidade na formação e no fazer
dos profissionais da informação.

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sociedade.

A INFLUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES DAS


BIBLIOTECAS PÚBLICAS NA CONSTRUÇÃO DO RESPEITO À
DIVERSIDADE

GUIMARÃES, Ingrid Rocha24

RESUMO
Embasa-se em uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de explorar a diversidade de
representações e posicionamentos nas coleções das bibliotecas públicas brasileiras.
Reflete sobre as influências dessas coleções na sociedade. Aborda brevemente a
diversidade cultural presente no Brasil. Contextualiza a questão da diversidade no campo
do Desenvolvimento de Coleções. Pontua algumas proposições acerca do conceito de
Cultura. Descreve alguns conflitos culturais que existem na realidade brasileira.
Apresenta o Desenvolvimento de Coleções em Bibliotecas Públicas. Diferencia Seleção
de Censura. Correlaciona a perspectiva de autores de diferentes áreas do conhecimento
nas questões supracitadas. Enfatiza a importância da leitura para a melhor compreensão
das culturas. Conclui que o bibliotecário pode, através do seu acervo e da leitura, educar
para a diversidade.

Palavras-chave: Desenvolvimento de Coleções - Seleção. Biblioteca Pública.


Diversidade Cultural.

THE INFLUENCE OF COLLECTION DEVELOPMENT OF PUBLIC


LIBRARIES IN CONSTRUCTION OF THE RESPECT TO DIVERSITY

ABSTRACT
Bases on a bibliographical research intending to explore the diversity of representations
and placements in the colections of public libraries. Reflects on the influencies of these
colections in society. Adresses briefly the cultural diversity in Brazil. Contextualizes the
question of diversity in the Collection Development field. Punctuate some propositions
over the concept of Culture. Describes some culturals conflicts that exist in the Brazilian
reality. Presents the Collections Development in public libraries. Differs Selection from
Censorship. Interrelate the perspective of authors from different domains of knowledge
in the aforementioned issues. Emphasizes the importance of reading for a better
understanding of cultures. Concludes that the librarian can, through collection and
reading, educates for diversity.

Keywords: Collection development - Book selection. Public library. Cultural diversity.

24 Acadêmica do curso de Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal Fluminense


(UFF). ingridguimaraes@id.uff.br

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, originalmente povoado por diversas tribos indígenas, foi colonizado por
portugueses, e depois se tornou o lar de imigrantes da África, Ásia e Europa. Como
consequência disso, a população brasileira atual é fruto das mais diversas combinações
de línguas, culturas, ideias, raças, misticismo e grupos étnicos, ou seja, somos um país
miscigenado, diverso por natureza. Em função disso, encontramos diversas realidades
sociais, conhecimentos, sotaques, ideologias, tradições, comidas típicas entre outros
aspectos da vida dos brasileiros. No entanto, nem todos os grupos que compõem a
sociedade brasileira tiveram igual voz, visto que, alguns grupos, ditos mais civilizados,
se consolidaram com mais força política e regeram a sociedade brasileira a sua maneira
enquanto outros permaneceram a margem desse poder.
Como reflexo disso o Brasil lidera os índices mundiais de assassinatos de pessoas
LGBT (acrônimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros,
em uso desde os anos 1990), mata-se mais aqui do que nos 13 países do Oriente e África
onde há pena de morte contra os LGBT, de acordo com o relatório do projeto “quem a
homofobia matou hoje”, idealizado Grupo Gay da Bahia (2016), associação de defesa dos
direitos humanos dos homossexuais no Brasil. O Brasil também ocupa o quinto lugar no
ranking de homicídios entre o público feminino (Feminicídio), segundo a ONU Brasil
(2016). No ano de 2015 foram contabilizados 182 casos de violência contra os indígenas
e 725 casos de violência contra o patrimônio indígena em todo o Brasil, de acordo com o
Relatório de Violência contra os povos indígenas no Brasil, idealizado pelo Conselho
Indigenista Missionário (2016). Conforme o Mapa da Violência de 2016: homicídios por
arma de fogo no Brasil, a taxa de vitimização negra 25 no país era de 158,9% em 2014 (O
último Mapa foi publicado em 2015 e contabiliza os homicídios até 2014), ou seja,
morrem, proporcionalmente, 158,9% mais negros que brancos.

25 Waiselfisz (2015, p. 60) entende a vitimização negra como a relação entre as taxas de Homicídios
por Arma de Fogo (HAF) de brancos e as taxas de HAF de negros. O índice positivo indica que o percentual
(%) de mortes negras foi maior que o de brancos. Quando o índice é negativo, o percentual de mortes de
brancos é maior que o de mortes negras.

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sociedade.

Ao analisarmos esses indicadores percebemos, que embora o Brasil seja um país


miscigenado ainda não entendemos que não há uma cultura superior (SANTOS, 2006, p.
16-17), portanto, as pessoas que possuem culturas diferentes ainda são excluídas, lógica
perpetuada desde o contexto colonial. Até hoje fazemos uso de preconceitos,
estigmatização e discriminação racial, de gênero, sexual, social entre outros. E ainda
tentamos justificar todas por meio das nossas diferenças culturais e sociais. Por acreditar
que o conhecimento pode mudar essa realidade e que as bibliotecas podem ser agentes
mediadores dessa mudança de pensamento foi que o tema do presente trabalho foi
desenvolvido.
O objetivo geral e norteador dessa pesquisa é discutir a diversidade de
representações e variedade de posicionamentos nas coleções das bibliotecas públicas
brasileiras. Com o objetivo específico de demonstrar a relevância das bibliotecas
públicas26, enquanto espaço de formação, na inclusão de grupos sociais, indivíduos que
possuem contextos e demandas comuns ou semelhantes, antes à margem da sociedade.
No decorrer do texto exploraremos a questão do desenvolvimento de coleções nas
bibliotecas públicas brasileiras e o impacto social dele na construção do respeito a
diversidade. Acreditamos que os grupos sociais marginalizados só serão tratados com
equidade quando a importância de suas culturas particulares para a história e para o
presente desenvolvimento social do Brasil for reconhecida (SANTOS, 2006, p. 16).
Esse reconhecimento permitirá que esses grupos em vez de serem controlados pelo uso
político da cultura, sejam representados por ela, ganhem voz para resistir ao controle
dos grupos com mais força política.
A cultura produz as metamorfoses das características da vida em sociedade e
também é produto delas, logo, a capacidade de ser dinâmica é um aspecto fundamental
para a sua sobrevivência ao longo da história, por isso ela nunca pode ser definitiva, fixa

26 Biblioteca Pública: Tem por objetivo atender por meio do seu acervo e de seus serviços os
diferentes interesses de leitura e informação da comunidade em que está localizada, colaborando para
ampliar o acesso à informação, à leitura e ao livro, de forma gratuita. Atende a todos os públicos, bebês,
crianças, jovens, adultos, pessoas da melhor idade e pessoas com deficiência e segue os preceitos
estabelecidos no Manifesto da IFLA/Unesco sobre Bibliotecas Públicas. É considerada um equipamento
cultural. É criada e mantida pelo Estado (vínculo municipal, estadual ou federal). (SNBP, 2017)

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ou homogênea. Logo, as coleções das bibliotecas públicas brasileiras devem refletir essa
dinamicidade da cultura para que continuem a servir aos interesses do seu público ao
longo da história.

2 A QUESTÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA NO


DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS

São diversos os fatores que afetam a formação do acervo de uma biblioteca pública
no Brasil e todos alteram a representatividade (relativo à representação, que pode ser de
uma pessoa, um grupo, uma comunidade, uma cultura, entre outros) do resultado final.
Para desenvolver conceitos como o de representatividade, primeiro é preciso
compreender e desenvolver conceitos como cultura e diversidade.
Ainda não há um consenso na maneira de se definir cultura, por isso existem várias
definições de cultura. Devido ao nosso interesse pelos fluxos informacionais produzidos
pelos mais diferentes grupos que compõem o corpo social, procuramos na Antropologia
as assertivas que nortearão o nosso trabalho a fim de refletir sobre do desenvolvimento e
usos da ideia de cultura.
A primeira proposição que devemos ter em mente acerca da cultura é que ela não é
inerente ao indivíduo, mas sim aprendida por ele. “Em primeiro lugar a cultura não é uma
questão de raça. Ela é aprendida, e não transmitida por genes” (KUPER, 2002, p. 288).
Aprendizado esse que continuará ao longo vida do indivíduo, dado que assim como a
memória a cultura também está suscetível a mudanças ao longo da história. “Não há
possibilidade de estagnação nos materiais culturais, porque eles estão sendo
constantemente gerados, à medida que são induzidos a partir das experiências das
pessoas” (BARTH, 2005, p. 17, grifo nosso).
A cultura abrange desde as idealizações abstratas até as realizações materiais de
uma comunidade, é um conceito bem amplo que definirá os hábitos e comportamento de
indivíduos e ao mesmo tempo é definida por eles (BARTH, 2005, p. 16-17). Como os
sujeitos pertencentes a determinada cultura também tem o poder de influenciá-la, a partir
de suas experiências, a percepção de cultura também se torna extremamente subjetiva.

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“Estudar a cultura é, portanto estudar um código de símbolos partilhados pelos


membros dessa cultura” (LARAIA, 2001, p. 63), ou seja, para conhecer o real significado
de um símbolo precisamos conhecer a cultura que o produziu. Isso quer dizer que ao
avaliarmos outra cultura dentro dos padrões culturais, maneiras típicas de pensar e agir
próprias de uma cultura, estabelecidos pela nossa cultura é impreciso.
Se já concordamos que a cultura é aprendida, isso significa que ela só será
compreendida por nós à medida que estudarmos ou praticarmos, ganharmos experiência.
Se as experiências pessoais podem variar dentro de um mesmo padrão cultural, em
realidades culturais completamente diferentes a discrepância é ainda maior.
Segundo Santos (1987, p. 8), para compreender a lógica interna de uma realidade
cultural devemos procurar conhecer seus costumes, concepções e as transformações as
quais passaram ao longo de sua história. Entendemos que a cultura é tanto resultado das
variações e motivações internas quanto das relações com o meio externo com outras
culturas. Portanto, cada realidade cultural possui um entendimento próprio do mundo, sua
lógica interna, o modo como pensam sobre eles mesmos e se identificam. Toda cultura
participa do processo de construção da história mundial (SANTOS, 1987, p.16). Não há
cultura superior ou inferior, culturas podem ser diferentes e não cabe hierarquização. A
hierarquização de culturas é um método discriminatório, usado pelas sociedades ditas
civilizadas, como justificativa para dominação das sociedades menos civilizadas, como
foi no caso das colonizações.

A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras


gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em
relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões
aceitos pela maioria da comunidade (LARAIA, 2001, p. 67).

Julgamos que o negro, pela cor da sua pele, tem tendência para determinados tipos
de comportamentos. De acordo com Matos (2010), as teorias bioantropológicas do século
XIX foram criadas com a finalidade de legitimar o poder de um determinado grupo social
mediante a criação de uma lógica que deu ao negro o estigma de criminoso, seja mediante
aos esteriótipos ou pela repressão da cultura negra. Estigma esse que dentro de outra
lógica, muito anterior a essa, foi utilizado para justificar o processo de escravidão desde
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a metade do século XV27. Como consequência desses processos históricos, os negros


compõem a maior parte da população prisional e registram penas superiores pelos
mesmos crimes, comprovando que o fator raça ainda é um forte indicador na condenação
desse grupo social.
Dizemos que os aborígenes são atrasados e impedem o progresso, como desculpa
para a desapropriação de suas terras. Segundo Porto-Gonçalves (2011), “os índios nunca
foram atrasados, eles sempre viveram seu próprio tempo”. Os indígenas possuem uma
dinâmica diferente de interação com o ambiente e prezam pela preservação da natureza.
Esse tipo de preocupação recentemente tem sido retomada em detrimento do capitalismo
predador que prefere derrubar o máximo possível de árvores para construir prédios.
Determinamos que as mulheres precisam se dar ao respeito, mesmo que a Declaração dos
Direitos Humanos de 1948 as protejam e deem a elas os mesmos direitos dos homens. As
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros/as precisam ser curados,
como propõe o projeto conhecido como “Cura gay”, aprovado pela Comissão de Direitos
Humanos e Minorias e logo depois arquivado, o qual permite que psicólogos de atendam
os LGBTs para tratamento de uma suposta desordem psíquica.
No Brasil, esses conflitos culturais rendem consequências políticas, sociais e até
mesmo econômicas desde a nossa colonização. Incapazes de compreender os processos
culturais e a complexidade das sociedades ditas “não civilizadas”, de acordo com os
padrões europeus da época, os portugueses subjugaram e excluíram a cultura indígena e
africana da História do Brasil. Essa lógica da excludência se perpetuou em nossa
sociedade afetando cada vez mais diferentes grupos sociais e tem se tornado ponto de
partida para discursos de ódio, por isso que a temática da diversidade tem adquirido uma
relevância nos últimos tempos nos campos das Ciências Sociais, afinal, é um direito de
todos acessar e produzir as culturas de seu nicho social.

27 A chamada "escravidão moderna, ou escravidão negra" começou com o tráfico africano no século
XV, por iniciativa dos portugueses (em 1444, estes começam a adquirir escravos negros no Sudão), com a
exploração da costa da África e a colonização das Américas. Os demais impérios coloniais rapidamente
aderiram à prática da compra e venda de seres humanos, no célebre "comércio triangular" entre a África
(captura de escravos) a América (venda e troca por matéria prima) e a Europa (para a venda das riquezas
obtidas e a retomada do empreendimento, em futuras viagens). (ESCRAVIDÃO, 2017)

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Para Vergueiro (1987, p. 21, grifo do autor), “a liberdade intelectual dos usuários
de bibliotecas é, teoricamente, considerada um direito assegurado pela grande maioria
dos bibliotecários” e qualquer tentativa que se faça de demover esse direito deve ser
recebida com veementes protestos e reações. Logo, as políticas de seleção, estabelecidas
pelas bibliotecas, deveriam assegurar que cada acervo seja culturalmente relevante para
o público de sua biblioteca, para tal essas políticas devem estar em consonância com as
necessidades das comunidades a que servem.

2.1 Desenvolvimento de coleções em bibliotecas públicas

Weitzel (2012, p. 180) definiu, após um levantamento da literatura atual, o


“desenvolvimento de coleções como um processo cíclico e ininterrupto formado pelas
seguintes etapas ou fases: estudo da comunidade (perfil da comunidade), políticas de
seleção, seleção, aquisição, desbastamento e avaliação”. Podemos observar que o estudo
da comunidade é uma etapa basilar para o avanço das próximas fases do Desenvolvimento
de Coleções. Uma vez que os usuários, como clientes dos serviços da biblioteca, são
determinantes para o desenvolvimento da coleção da mesma. Conhecer seu público é
fundamental para o bom funcionamento de qualquer biblioteca.
É nesse ponto que a pluralidade cultural de grupos étnicos, sociais ou culturais
precisa ser pensada como matéria-prima. Suas necessidades espelham as relações de
poder que os envolvem em todas as dimensões de sua vida cotidiana, conforme Foucault
(1979) são específicas em cada indivíduo e por isso são diferentes de local para local.
Essa diversidade de necessidades deve ser levada em conta e, por isso o diálogo com os
usuários é tão importante.
De acordo com Vergueiro (1989, p.40):

as bibliotecas públicas possuem uma clientela mais dinâmica,


diversificada, que deve ser acompanhada com bastante atenção
devido à mudança de gostos e interesses. As necessidades
informacionais da comunidade servida pela biblioteca pública
variam quase que na mesma proporão em que variam os grupos
organizados ou não, presentes na mesma. O trabalho de análise

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sociedade.

da comunidade parece ser, assim, aquele que maior ênfase deve


receber por parte do bibliotecário, não se descartando, porém,
exatamente em virtude de flutuações detectadas pelos estudos de
comunidade, um cuidado especial com a seleção de materiais,
devidamente alicerçada em uma política de seleção. Boa ênfase
nas atividades de avaliação e desbastamento parece ser, também,
uma característica do desenvolvimento de coleções em
bibliotecas públicas, principalmente para atender a demanda
imediata dos usuários.

Para atender aos interesses e estimular os hábitos de leitura da comunidade, em


geral, a biblioteca pública tem uma dinâmica diferente dos demais tipos de biblioteca. A
fim de que se cumpra o seu papel social de guardiã da memória nacional, a memória
plural deve ser abrigada em seu acervo. Para tanto, as múltiplas contribuições devem ser
representadas democraticamente pela sua coleção.

2.2 Selecionar é diferente de censurar

A seleção é um processo basilar a qualquer biblioteca. Desenvolver uma coleção é


um exercício de poder, pois traz impacto às escolhas e aos comportamentos de quem
acessa àquela coleção, ou seja, ao se privar de apresentar diferentes perspectivas e
discursos, o bibliotecário, pode, mesmo que inconscientemente, privilegiar determinadas
relações de poder em detrimento das demais legitimando assim algumas ideologias, por
falta de um contraponto, o que consequentemente pode ou não marginalizar indivíduos.
Para Foucault (1979), o discurso reflete as relações de poder entre os indivíduos,
defendendo e legitimando as ideologias que os originam.

Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral”


de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz
funcionar como verdadeiros. [...] Em nossas sociedades, a
“economia política” da verdade tem cinco características
historicamente importantes: a “verdade” é centralizada na forma
do discurso científico e nas instituições que as produzem; está
submetida a uma constante incitação econômica e política
(necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto
para o poder político); é objeto, de várias formas, de uma imensa

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difusão e um imenso consumo (circula nos aparelhos de educação


ou de informação, cuja extensão no corpo social é relativamente
grande, não obstante algumas limitações rigorosas); é produzida
e transmitida sob controle, não exclusivo, mas dominante de
alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade,
exército, escritura, meios de comunicação); enfim, é objeto de
debate político e confronto social (as lutas ideológicas). [...] O
problema não é mudar a “consciência” das pessoas, ou o que elas
têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional de
produção da verdade (FOUCAULT, 1979 , p. 12- 13).

Dentro dessa perspectiva, uma história contada de uma única maneira apresenta-
se como um perigo, pois tende a validar somente uma ideologia como verdade, o
presente trabalho defende que haja um equilíbrio de histórias e perspectivas e estas
estejam representadas na biblioteca pública.
Petit (2013, p. 148) sugere que “quando um jovem vem de um meio em que
predomina o medo do livro, um mediador pode autorizar, legitimar, um desejo inseguro
de ler ou aprender ou até mesmo revelar esse desejo”. No Brasil o hábito de comprar
livros não é comum para a grande maioria das famílias, principalmente nas comunidades
mais pobres, as bibliotecas públicas e comunitárias28, atuantes em sua região, são
ferramentas de democratização do acesso à leitura, pois apresentam a oportunidade da
leitura fora do ambiente escolar, onde ela deixa de ser um prazer e passa a ser vista como
uma obrigação.
A leitura por si só pode estimular uma reflexão própria, abalar certezas já
preconcebidas ou induzida por terceiros (PETIT, 2013, p. 147). Não há domínio sobre o
que os leitores pensam durante a interpretação de um texto, as palavras têm o poder de
retirá-los do chamado senso comum, ou seja, conjunto de ideias aceitas sem reflexão.
Entendemos que ler torna-se um exercício de liberdade, o poder como um direito ao qual
Foucault (1979) se refere, um direito à cidadania, por meio do qual grupos mais expostos
à exclusão social podem pleitear sua inclusão na sociedade. Ao promover os diferentes
pontos de vista e diversificar a gama de assuntos abordados em seu acervo, a biblioteca

28 Biblioteca Comunitária: Espaço de incentivo à leitura e acesso ao livro. É criada e mantida pela
comunidade local, sem vínculo direto com o Estado. (SNBP, 2017)

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inclui novos setores que também fazem parte da sociedade brasileira preservando o seu
legado.
A fim de afastar decisões passionais, preconceitos e outras limitações no processo
de escolha por parte dos mediadores ou bibliotecários, bibliotecas organizam políticas de
seleção, que devem atender as comunidades a que servem. No entanto, as opções de
escolha dos usuários das bibliotecas públicas brasileiras são reduzidas e isso, além de
empobrecer a capacidade crítica dos usuários que leem repetidamente a mesma história
em diferentes versões, também afasta pessoas que não encontram lugar para se reconhecer
dentro da biblioteca. O problema não é o que existe, mas o que não existe, o que não está
lá. Devido aos movimentos sociais organizados pelas classes marginalizadas na luta
pelos seus direitos, a pluralidade das vozes na literatura aumentou, mas as bibliotecas
ainda não refletem essa mudança da sociedade e da literatura.
De acordo com Vergueiro (2010, p. 17), “a política de seleção procura garantir que
todo o material incorporado no acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não
segundo idiossincrasias ou preferências pessoais” Logo, se houver lacunas, elas existirão
por acaso e não por interferências baseadas nas opiniões pessoais da equipe. São os
critérios estabelecidos pela política que impedem que o bibliotecário haja como censor
ao privilegiar uma política cultural em detrimento de outras, por suas próprias convicções
e preconceitos.
Em seu trabalho de conclusão de curso, Aglinkas (2008, p. 48–65) identifica dois
pontos de vista: os que são a favor da censura, como modo de proteção e controle da
sociedade, e os que são contra a censura e a favor da liberdade intelectual. Liberdade
intelectual essa que, de acordo com Vergueiro (1987, p. 21), é um direito dos usuários e
deve ser assegurado pelos bibliotecários, mesmo que o material de interesse da
comunidade seja oposto às suas convicções pessoais.
Censura não é uma incumbência do bibliotecário. Censura não faz parte do processo
de seleção nem é seu sinônimo. Aglinkas (2008, p. 49) diferencia censura e seleção da
seguinte maneira: “Cada um impõe um tipo de restrição mas com objetivos diferentes.
Enquanto a censura já tem claro seu posicionamento restritivo de delimitação de certo

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conteúdo, a seleção se coloca como filtro […]. Garante assim, a especificidade temática,
ou melhor, o foco”.
Muitas informações e expressões culturais são produzidas, mas não chegam nas
mãos dos usuários interessados devido às barreiras ideológicas, morais, legais, editoriais
entre outras. Bibliotecas, principalmente as públicas, dado o seu impacto na preservação
da memória dos grupos sociais, devem objetivar a representatividade e promover a
variedade de posicionamentos das comunidades atendidas, por mais controversos que
sejam; democratizar o acesso e o uso da informação a fim de preservar e reforçar os
discursos identitários dos grupos que constituem a sociedade brasileira.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Vergne et al (2015), a propaganda nazista foi vital para o


consentimento daquela sociedade alemã a tais práticas. De acordo com a visão
foucaultiana de poder (FOUCAULT, 1979), o poder do discurso junto com a ausência da
discussão sobre as diferentes culturas brasileiras, direitos humanos, racismo, gênero e
identidade de gênero em escolas e os demais espaços de formação, como bibliotecas,
lugar de transmissão de informações, faz com que se formem cidadãos sem a capacidade
de ter empatia e reflexão crítica acerca das diferentes culturas na sociedade. Esse tipo de
iniciativa criaria o costume de refletir e exercitar a aceitação das diferenças em nossa
sociedade já na formação das identidades e do discurso, antes do preconceito.
Nesse contexto, a biblioteca pública pode ter um papel relevante na sociedade em
fomentar o senso crítico e o conhecimento dos seus usuários, permitindo que o usuário
possa entender melhor a si mesmo e aos outros pela interpretação das expressões que
recebem através das manifestações verbais, símbolos, audiovisuais, sonoras e materiais
de vários tipos aos quais eles podem ter acesso em uma biblioteca pública. Para tanto as
mais diversas expressões culturais devem estar presentes de maneira democrática nos
acervos das bibliotecas públicas caracterizando assim as relações sociais que
influenciaram ou fizeram parte da construção identitária desse indivíduo e dos que
partilham da mesma experiência coletiva (LARAIA, 2001, p. 30-52).

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No âmbito da mediação da leitura, Petit (2013) acredita que o bibliotecário tem o


poder de, através da leitura, orientar os indivíduos a trabalhar a partir de interesses
comuns, criar pontes, e através da informação propiciar que o indivíduo construa uma
noção de sociedade mais ampla. Ao, através de nossos acervos, reafirmar a complexidade
e da diversidade da cultura e de seus processos de transmissão na sociedade brasileira,
temos a pretensão de representar e atingir os membros que a constituem. Recomendar que
nossos usuários repensem a história que possam ir além da reprodução dos livros de
história, mas que tenham a capacidade de refletir criticamente o quanto os fatos históricos
ainda afetam a nossa experiência diária. Segundo Vergne et al (2015, p. 517) “A proposta
é pensar os acontecimentos como construção histórica para desnaturalizar o que é
aparentemente casual”.
Percebe-se, então, a importância de levar a discussão da diversidade para dentro
das coleções das bibliotecas públicas brasileiras, visto que podemos assim promover os
diferentes pontos de vista e abranger as histórias e culturas dos segmentos marginalizados
da sociedade nas coleções, assim a biblioteca inclui novos setores que também fazem
parte do corpo social preservando o seu legado e resgatando o seu orgulho. Acreditamos
que o respeito às diferenças é construído com informação de qualidade, assim a biblioteca
pública pode se tornar um intermediário na luta contra o preconceito e ainda reforçar os
ideais democráticos dos brasileiros, formando melhores cidadãos.

REFERÊNCIAS

AGLINKAS, Rodrigo da Costa. A censura na Biblioteconomia. In: ______. Seleção e


censura em bibliotecas: estudos pragmáticos da seleção de informação. São Paulo,
2008. 118f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia)–
Departamento de Biblioteconomia e Documentação, Escola de Comunicação e Artes.
Universidade de São Paulo, 2008. Cap. 3, p. 48–64.

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FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

GRUPO GAY DA BAHIA. (Brasil). Relatório 2016 : Assassinatos de LGBT no Brasil.


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KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

A INTEGRALIZAÇÃO DA DISCIPLINA DE LIBRAS NOS CURSOS DE


BIBLIOTECONOMIA PELO BRASIL

GERMANO JÚNIOR, Manoel Messias Soares 29


GUERRA, Maria Aurea Montenegro Albuquerque 30
SANTOS, Thaiana Barros do s31

RESUMO

Discute a integralização da disciplina de LIBRAS (língua de sinais) nos cursos de


Biblioteconomia do Brasil, destacando a sua importância para o processo de inclusão dos
discentes surdos no ambiente de ensino-aprendizagem. Apresenta na sua elaboração
conceitos sobre inclusão social, linguagem de sinais e currículo acadêmico como modo
de nortear as discussões. A metodologia empregada quanto a sua natureza foi à pesquisa
bibliográfica e documental, identificando as matrizes curriculares de cada escola de
Biblioteconomia pelo país, e quanto ao objetivo, pesquisa descritiva. Conclui-se que a
disciplina de LIBRAS é de suma importância para o futuro bibliotecário, e sua inserção
nas matrizes curriculares dos cursos de Biblioteconomia deve-se fazer presente com o
intuito de debater questões acerca das perspectivas profissionais da Biblioteconomia e
áreas afins em consonância com as demandas de inclusão contemporâneas.

Palavras-chave: Biblioteconomia. Integralização. Libras. Inclusão Social. Matriz


Curricular.

THE INTEGRALIZATION OF DISCIPLINE LIBRAS IN THE COURSES OF


LIBRARIANSHIP OF BRAZIL

ABSTRACT
It discusses the completion of the LIBRAS (sign language) course in Librarianship
courses in Brazil, highlighting its importance for the process of inclusion of deaf students
in the teaching-learning environment. It presents in its elaboration concepts about social
inclusion, sign language and academic curriculum as a way to guide the discussions. The
methodology used for its nature was to the bibliographical and documentary research,
identifying the curricular matrices of each school of Librarianship by the country, and for

29
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
manoelmessiasufc@gmail.com
30
Doutoranda em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora do Curso
de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: aureamag@yahoo.com
31
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
thaianabds@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

the purpose, descriptive research. It is concluded that the LIBRAS discipline is of great
importance for the future librarian, and its insertion in the curricular matrices of the
librarianship courses should be present with the intention of discussing questions about
the professional perspectives of Librarianship and related areas in consonance with The
demands of contemporary inclusion.

Keywords: Librarianship. Integralization. Libras. Social Inclusion. Curriculum.

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, o tema inclusão social se faz presente na sociedade brasileira,


com o propósito de apoiar as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, isso se dá
por meio de políticas públicas, elaboradas pelo governo que visam apoiar essas
inserções pela força da lei. Isso mostra que a sociedade esta cada vez mais inclusiva, o
que demonstrar que as pessoas especiais tem o mesmo direito igualitário de que uma
pessoa comum.
Nesse trabalho buscaremos estudar a integralização da disciplina de Línguas
Brasileira de Sinais (LIBRAS), considerando a necessidade que o aluno de
biblioteconomia de cursar alguma disciplina que prepare-o para a atuação em
bibliotecas e onde ele possa conviver com pessoas com esse tipo de deficiência, para
então, exercer sua profissão de forma mais fácil.
Deste modo, percebe-se a necessidade do futuro bibliotecário esteja
familiarizado com a língua de sinais, pois assim permite que os usuários surdos possam
participar das atividades da biblioteca e também tenha acesso à informação. Deste modo,
o surdo se sentirá valorizado e incluso nesse ambiente, vendo o bibliotecário como um
agente social e preocupado com os problemas que acometem aquele usuário, aflorando
seu lado humanístico que faz parte do cerne da profissão.
Este artigo procura contribui para a extensão dessa discussão através da
participação ativa nas discussões acadêmicas e científicas e despertar no discente em
Biblioteconomia a importância social que a disciplina de LIBRAS tem na nossa atuação
profissional.

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sociedade.

2 MEDOTOLOGIA,

A metodologia utilizada quanto à sua natureza foi à pesquisa bibliográfica acerca


do tema e que para Matias Pereira (2007), é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído de livros, artigos científicos, teses e dissertações, manuais, normas técnicas,
revisões, trabalhos de congressos, abstracts, índices e bibliografias, meios audiovisuais.
E também pesquisa documental que de acordo com Severino (2007), tem-se como fonte
documentos no sentido amplo, ou seja, não apenas documentos impressos, mas, outros
tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais.
Desse modo, foi realizada pesquisa nas matrizes curriculares dos cursos de
Biblioteconomia no Brasil procurando investigar em quais delas oferece a disciplina de
LIBRAS e a modalidade da mesma.
Quanto à natureza da pesquisa ela se define como descritiva que segundo Selltiz
et al. (1965), busca descrever um fenômeno ou situação em detalhe, especialmente o que
está ocorrendo, permitindo abranger, com exatidão, as características de um indivíduo,
uma situação, ou um grupo, bem como desvendar a relação entre os eventos.

3 INCLUSÃO SOCIAL

No atual momento, a inclusão social vem ganhando espaço na sociedade e nas


discussões acadêmicas, onde sua aplicabilidade está sendo inserida em diversas áreas do
saber. Sua aplicação se dá nos âmbitos político, educacional, da saúde e do lazer. Esse
termo surgiu para poder minimizar as desigualdades sociais, de forma que crie
possibilidades de incluir pessoas que sofrem algum preconceito no desenvolvimento
coletivo.
Sassaki (1999 apud MAGALHÃES, 2007, p. 69) argumenta que

A inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se adapta


para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com
necessidades especiais e, [...] simultaneamente, estas se preparam

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sociedade.

para assumir seus papéis na sociedade. [...] Para incluir todas as


pessoas, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento
de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de
seus membros. [...].

A inclusão social orienta a elaboração de políticas e leis para criar programas e


serviços voltados ao público que apresenta algum tipo de deficiência. Este parâmetro
consiste em desenvolver mecanismos que adaptem os deficientes aos sistemas sociais
comuns ou para aqueles que possuam alguma incapacidade mais específica, são criados
sistemas especiais para que possam participar ou mesmo tentar acompanhar a rotina dos
que não possuem alguma deficiência.
Assim, a sociedade deve modificar em suas estruturas e serviços oferecidos e
cada vez mais abrindo espaços conforme as necessidades de adaptação específicas para
cada pessoa com deficiência, para que as mesmas sejam capazes de interagir no mundo
social. Contudo, este parâmetro não promove nem a discriminação e nem a segregação
na sociedade. A pessoa com deficiência passa a ser vista pelo seu potencial, suas
habilidades e suas aptidões.

4 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)

A sigla (LIBRAS) significa Língua Brasileira de Sinais é utilizada por


deficientes auditivos para a comunicação entre eles e também para as pessoas interessadas
em adquirir esse conhecimento. Podemos chamá-la também de “Linguagem do Silêncio”,
de modo que facilite a vida das pessoas portadoras de deficiência auditiva para a sua
relação com o mundo que as rodeiam, deste modo, promovendo uma comunicação muito
mais acessível para essas pessoas. Ela é constituída pelo canal gestual-visual, não se
originando da língua portuguesa, mas sim da Língua de Sinais Francesa que teve sua
origem na sistematização realizada por religiosos franceses, entre eles, o professor francês
Ernest Huet, que era surdo.
No Brasil, foi trazido por Dom Pedro II, ainda na época da colônia, onde trouxe

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sociedade.

consigo o alfabeto manual e alguns sinais. De acordo com Ramos (2012), Dom Pedro II
se interessou pela língua de sinais, pois sua filha, a princesa Isabel era mãe de um filho
surdo e era casada com o conde D`Eu que era parcialmente surdo.
Em 1857 foi criada no Brasil, através da Lei nº 839 de 26 de setembro de 1857,
a primeira escola de surdos no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Surdos, e que
atualmente é o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), voltado à educação
literária e ensino profissionalizante de meninos.
Essa língua é derivada tanto da língua de sinais nativa quanto da língua gestual
francesa, apresentando semelhanças com outras línguas de origens europeias e
americanas. Contudo, é preciso salientar que a LIBRAS não é apenas gestos que traduzem
a língua portuguesa, mas é uma língua a parte que possui níveis linguísticos como
fonologia, morfologia, sintaxe e semânticos bem definidos. A diferença está na sua
modalidade de articulação em onde se faz necessário que se conheça tanto a sua gramática
para combinar as frases para estabelecer uma comunicação com o outro quanto conhecer
os sinais.
Mencionamos ainda a Lei nº 10.436 que regulamenta a inserção da disciplina de
LIBRAS na matriz curricular como disciplina obrigatória na formação de professores
para o exercício do magistério, em nível médio e superior. Ela foi regulamentada em 22
de dezembro de 2005, pelo Decreto de nº. 5.626/05. O que demonstra a sua importância
e necessidade dentro da educação e também para a inclusão social de estudantes e para a
sociedade como um todo.
Entretanto, não podemos nos privar de mencionar aqui os preconceitos que
acometem a vida do indivíduo surdo, e que não de é hoje que isso ocorre. Segundo Castro
e Carvalho (2011) já na antiguidade, outros povos tiveram atitudes abusivas contra os
indivíduos com deficiência auditiva como Esparta, China, Atenas, Gália e Roma. Ou seja,
já no passado percebem-se as grandes dificuldades para que os surdos fossem
reconhecidos na sociedade. No atual contexto, esse preconceito esta aos poucos se
estabilizando, entretanto ainda falta apoio por parte do governo brasileiro para que os
mesmos consigam condições e oportunidades igualitárias para construir uma vida mais
digna e em sociedade.

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sociedade.

Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 30) “as línguas de sinais são, portanto,
consideradas pela linguística como línguas naturais ou como um sistema linguístico
legítimo e não como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagem”.
Podemos nomeá-las como línguas de modalidade gestual-visual (ou espaço-visual), por
se tratar de uma informação que é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos.
A Língua Brasileira de Sinais esta conquistando espaço na sociedade, uma vez
que os portadores de deficiência auditivos há muitos anos lutam pelos os seus direitos.
Desse modo, através de anos de afinco os surdos conquistaram o direito de usar uma
língua que possibilitasse não só a comunicação, mas também a sua efetiva participação
na sociedade (SILVA et al, 2008, p. 4).
4.1 A Inclusão da disciplina de Libras no currículo dos cursos de Biblioteconomia
Em suma, o currículo ou como comumente chamam de grade curricular,
apresenta uma lista de disciplinas que serão fundamentais para a formação do futuro
profissional e sua criação se dá sob o ponto de vista dos formadores ou docentes. De
acordo com Vasconcellos (2009 apud MACHADO, 2012, p. 27) currículo significa
carreira, curso, percurso, lugar onde se corre, campo.
A necessidade de “humanizar” o profissional, expandindo seus estudos baseados
no papel que a informação exerce na sociedade, o que ela significa e a sua interferência
na vida das pessoas significa intensificar esses estudos, uma vez que, essa profissão atua
em prol a determinadas necessidades tanto informacionais como sociais.
Contudo, com as mudanças político-sociais e culturais implicam em adequações
dentro dos currículos como o intuito de atender as demandas impostas pela sociedade, de
modo que o estudante de Biblioteconomia esteja por dentro dessas transformações
sociais. Uma mudança curricular deve ocorrer de forma conjunta, ou seja, dialogar com
os docentes do curso, alunos e entidades de classe.
Nessa perspectiva, a disciplina de LIBRAS está sendo incorporada nos cursos
de Biblioteconomia tendo em vista que a inclusão social e a participação do surdo na atual
sociedade da informação se fazem presentes, o que implica no direcionamento social do
bibliotecário para a inserção do sujeito surdo na biblioteca e nos produtos e serviços nela
ofertados, para que este possa exercer a sua cidadania participando de maneira ativa no

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sociedade.

meio social. Assim, o deficiente auditivo perceberá que a sua língua materna está sendo
respeitada e assimilada pela sociedade.
O futuro bibliotecário deve ter em mente que aprender a língua de sinais facilita
o atendimento, a comunicação e desse modo compreender como o surdo percebe o mundo
de maneira holística, isto é, seu modo de pensar, sentir e agir.
Também não podemos esquecer que a disciplina proporciona ao estudante de
Biblioteconomia a compreensão das dificuldades encontradas pelo surdo na sociedade e
os preconceitos por ele vividos, fazendo com que o estudante pense e repense o papel que
o bibliotecário tem enquanto profissional e como cidadão.
Ter a língua de sinais no currículo da universidade gera uma mudança social não
somente pela sua presença, mas também pela aceitação e compreensão por parte dos
alunos. Ela não deve ser vista apenas como uma disciplina obrigatória em um curso de
graduação mas também deve ser vista como parte da formação acadêmica e profissional
do discente.
Sendo assim, a obrigatoriedade dessa disciplina deveria se fazer presente, assim
como já acontece nos cursos de licenciatura, onde a mesma é vista como uma forma de
contribuir para o aprendizado e inclusão do estudante no contexto social, quebrando as
barreiras educacionais, sociais e culturais.
Antes de tudo, não devemos nos esquecer do papel humanístico que a profissão
de bibliotecário desempenha e que, ainda na graduação, aprendemos que somos
prestadores de serviços para os usuários, ou seja, devemos nos moldar em relação as
necessidades tanto informacionais quanto comunicacionais dos usuários. Daí a
necessidades de estarmos por dentro da língua de sinais, tanto para nos comunicar e
dialogar com o surdo, como também para entender a cultura e o mundo do surdo, e dessa
forma, criar ferramentas e serviços que atendam a esse público.

5 A RELAÇÃO ENTRE A BIBLIOTECONOMIA E O USO DE LIBRAS NA


ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO

Segundo o Artigo 3º no item “a” da Resolução CFB N.º 42 de 11 de Janeiro de

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sociedade.

2002 dispõe sobre Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia também


conhecido como “Juramento do Bibliotecário” é nosso dever como bibliotecários
preservar a dignidade da pessoa humana.

Art. 3º – Cumpre ao profissional de Biblioteconomia:


a) preservar o cunho liberal e humanista de sua profissão,
fundamentado na liberdade da investigação científica e na
dignidade da pessoa humana; (CFB, 2002)

O acesso à informação sem barreiras é um direito que faz parte da dignidade


humana. Os surdos não podem tem o acesso à informação negada dentro da biblioteca.
Afirma o Código de Ética do Bibliotecário e de Outros Profissionais da Informação da
IFLA que a missão dos bibliotecários é garantir o acesso à informação livre de todo tipo
de discriminação e incentivar a inclusão social (IFLA, 2012, p.3).

Para promover a inclusão e erradicar a discriminação, os


bibliotecários e outros profissionais da informação asseguram que
o direito de acesso à informação não pode ser negado e que
serviços equitativos são fornecidos para qualquer pessoa de
qualquer idade, nacionalidade, crença política, condição física ou
mental, gênero, descendência, educação, renda, condição
imigratória ou de asilo, situação matrimonial, origem, raça,
religião e orientação sexual.

É um dever ético dos bibliotecários promoverem a inclusão dos usuários com


necessidades especiais nas unidades de informação em que atuam. No caso dos usuários
surdos é essencial que o profissional entenda a linguagem de sinais.
A responsabilidade de facilitar e ampliar o acesso e uso da informação também
deve está em mente do papel que a profissão de bibliotecário tem por exercer, refletindo
acerca das possibilidades de melhoria social, pois, um sujeito informado poderá atuar de
modo proativo, identificando e reivindicando os seus direitos. O sujeito informado
exercerá com maestria a cidadania, que conforme Targino (1991) é “[...] um status
concedido àqueles que são elementos integrais de uma comunidade”. Logo, a cidadania
se aproxima e se relaciona com o conceito de igualdade, uma vez que todos os que
possuem esse status são iguais. (TARGINO, 1991).
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sociedade.

O profissional da informação além de permitir a inclusão social dos sujeitos


surdos, também deve atuar na inclusão digital dos mesmos, permitindo o seu acesso às
novas tecnologias, como também favorecendo o desenvolvimento das habilidades e
competências associadas na utilização dessas.
Os cursos de Biblioteconomia deveriam inserir nos seus currículos a disciplina
de Libras, pois além de uma vitória da comunidade surda que por anos batalhou por essa
conquista, deve-se pensar que o futuro bibliotecário se deparará com situações em que
pode atender um usuário surdo e não saber como agir. Se faz necessário que esse percalço
seja discutido dentro dos cursos, como modo de estimular o pensamento crítico e social
do discente em Biblioteconomia e proporcionar para o mesmo conhecimentos
elementares acerca da língua de sinais.

6 POSSIBILIDADES DE INTEGRALIZAÇÃO DA DISCIPLINA DE LIBRAS


NOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA

Quando se fala em integralizar, deve-se pensar no sentido de complementar algo,


inteirar algo, ou seja, reforçar aquilo que já está de bom grado. Neste sentido, a busca pela
integralização da disciplina de Libras nas escolas de Biblioteconomia pelo país é uma
forma de complementar a formação acadêmica do discente buscando aliar as práticas
bibliotecárias, o arcabouço teórico e a formação humanística que deve nortear as
atividades do futuro bibliotecário.
Entendendo que os currículos dos cursos de Biblioteconomia são diretrizes
fundamentais para o processo de formação dos estudantes, eles estão passando por
processos de adequação quanto ao processo de inclusão social, mais precisamente ao
ensino de LIBRAS buscando como prerrogativa de que se deve adequar às concepções
de que todo o indivíduo deve ter os mesmos direitos, sem sofrer qualquer tipo de
discriminação (raça, cor, gênero).
Moro e Estabel (2012) afirmam que “os currículos dos cursos de Biblioteconomia
estão em constante atualização, pois este profissional deverá estar preparado e
sensibilizado, assim como ter competência para atuar na diversidade”.

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sociedade.

Como forma de reforçar as inferências acerca dessa discussão, foi realizada buscas
nas grades curriculares dos cursos de Biblioteconomia existentes no Brasil. Dos 34 cursos
existentes, verificou-se que em 14 cursos a disciplina de LIBRAS está presente na matriz
curricular. Foi ainda constatado que em 12 cursos era ofertada como disciplina optativa e
nas outras 2 era ofertada como disciplina eletiva 32 .
A escolha dos cursos se deu em função de analisar em âmbito nacional os
currículos oferecidos pelas universidades de cada estado ou região do país. Segue abaixo
a lista das escolas de Biblioteconomia que oferecem a disciplina e sua respectiva
modalidade (obrigatória, optativa ou eletiva).

Quadro 1 – Universidades que oferecem a disciplina de LIBRAS na matriz curricular


ESTADO UNIVERSIDADE MODALIDADE DA
DISCIPLINA
Rondônia Fundação Universidade OPTATIVA
Federal de Rondônia
(UNIR)
Bahia Universidade Federal da OPTATIVA
Bahia (UFBA)
Ceará Universidade Federal do OPTATIVA
Ceará (UFC)
Universidade Federal do OPTATIVA
Cariri (UFCA)
Pernambuco Universidade Federal de ELETIVA
Pernambuco (UFPE)
Sergipe Universidade Federal de OPTATIVA
Sergipe (UFS)

32
Disciplinas eletivas são disciplinas que podem ser cursadas à livre escolha do aluno e que não
estão previstas no currículo do curso, e que não exigem pré-requisito.

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Mato Grosso Universidade Federal de OPTATIVA


Mato Grosso (UFMT)

Minas Gerais Universidade Federal de OPTATIVA


Minas Gerais (UFMG)

Centro Universitário de OPTATIVA


Formiga (UNIFOR/MG)

Rio de Janeiro Universidade Federal OPTATIVA


Fluminense (UFF)
São Paulo Centro Universitário OPTATIVA
Assunção (UNIFAI)

Paraná Universidade Estadual de OPTATVA


Londrina (UEL)

Rio Grande do Sul Fundação Universidade OPTATIVA


Federal do Rio Grande
(FURG) ELETIVA
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul
(UFRGS)
Fonte: Dados da pesquisa.

Nota-se que a adesão da disciplina de LIBRAS é relativamente baixa em


comparação ao número total de cursos que temos no Brasil, o que reforça o argumento de
que estamos cada vez mais tecnicistas e não priorizando o cerne da profissão e o produto
final das atividades do bibliotecário, que é o usuário. Como tal, devemos ter em mente o
papel humano e social que temos para a sociedade e que para ela servimos. As práticas
bibliotecárias são necessárias em consonância com a criticidade e questionamentos acerca

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sociedade.

de como disponibilizar a informação de modo que o usuário compreenda e consiga


encontrar a informação que supra a sua necessidade informacional.
Ressaltando o que se encontra no Juramento do Bibliotecário em que devemos
preservar o cunho liberal e humanista da nossa profissão, além de incentivar a inclusão
social, onde se encontra o deficiente auditivo, não podemos nos privar de atender todos
os públicos para o qual a nossa profissão de dispõe a prestar serviço.
É necessário que os projetos acadêmicos adotem uma perspectiva humanística
na construção dos seus conteúdos, com um viés social, político e cultural ultrapassando
os aspectos utilitários que a profissão de bibliotecário necessita. A criação dos currículos
dos cursos de Biblioteconomia pelo país deve ser feitos a partir das necessidades dos
usuários e para beneficiar a sociedade.
Com a integralização da disciplina de LIBRAS nas matrizes curriculares
diminuiria o abismo entre o bibliotecário e o usuário surdo, pois o mesmo não estaria
inserido na sociedade da informação privando-lhe dos seus direitos como cidadão pleno
e que deve estar presente e incluído nessa sociedade. Os currículos deverão inserir essa
disciplina como forma de suprir esta lacuna na formação do Bibliotecário, pois ele, um
dia ele estará de frente com situações ou pessoas que exigirão tal conhecimento.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão do ensino de Libras nos cursos superiores não é exclusiva da área de


Biblioteconomia, mas também em todas as áreas, onde ela se faz presente como um
importante instrumento de mudança na realidade social em que o deficiente auditivo está
incluído. A questão da deficiência, seja ela qual for, deve ser estudada em todas as suas
variáveis para que se possa estimular a todos os novos e futuros profissionais da
informação a contribuírem para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e
inclusiva e demonstrando a importância da inclusão social e o respeito pelo cidadão.
Uma integralização dessa disciplina nas escolas de Biblioteconomia seria um
grande passo para encurtar o distanciamento entre usuário surdo e o bibliotecário.
Pensando dessa maneira, essa disciplina atenderia as demandas sociais e os alunos teriam

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esse conhecimento trazido da academia e o levaria para a sua formação pessoal e


profissional.
O bibliotecário enquanto agente social, político, cultural e educacional, quanto à
assimilação da informação, não deve se privar de participar no processo de emancipação
desse sujeito que já é socialmente excluído pela sociedade, no caso os deficientes
auditivos. Deve-se edificar e lutar por uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.
Os currículos representam o contexto da formação profissional, e por isso
disciplinas que trabalhem o social e humano devem estar presentes como forma de
propiciar uma concepção do papel do bibliotecário na sociedade, marcada não apenas no
discurso e na prática, mas também pelo compromisso social, da democratização do acesso
ao saber e da informação.

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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
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Disponível em:
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https://www.sigaa.ufs.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/614>. Acesso em: 24 maio
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UNIFAI. Estrutura Curricular : 00041 - Biblioteconomia – Bacharelado. Disponível
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

A LITERATURA LGBT E O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO


MEDIADOR-EDUCADOR

GOMES, Girlaine Pergentino33


SILVA, Mayara Paula Atanásio Soares da34

RESUMO

Aborda como o profissional de biblioteconomia pode exercer sua função de disseminador


da informação em prol da comunidade LGBT, dando ênfase na literatura infanto-juvenil.
O artigo utilizará o tipo de pesquisa exploratória que pretende desenvolver o estudo
buscando explorar o fenômeno por meio de levantamento bibliográfico, de modo a se
tornar possível se familiarizar com o assunto para que desta forma, a pesquisa seja
compreendida com excelência. Mesmo com muitas campanhas de conscientização, a
violência e discriminação voltada à comunidade LGBT, ainda se faz presente. Com o
intuito de amenizar os sintomas ligados ao desconhecimento acerca do tema, a literatura
LGBT vem ganhando visibilidade e espaço no mercado, com obras publicadas para as
diferentes faixas etárias. Pensando nisso, este artigo visa relacionar os livros
desenvolvidos na temática ao papel do bibliotecário como agente ativo e propagador da
informação, estimulando assim, a conscientização do público infanto-juvenil a partir
desse tipo de universo literário. Vale salientar que essa junção é de grande valia dentro
da comunidade LGBT, pois auxilia na desconstrução do preconceito, dando o devido
reconhecimento aos membros que fazem parte da comunidade.

Palavras-chave: Orientação sexual; Literatura LGBT; Literatura Infanto-Juvenil;


Biblioteconomia; Mediação.

A LITERATURA LGBT E O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO COMO


MEDIADOR-EDUCADOR

ABSTRACT

Approach at analyzing how the librarianship professional can exert his role of
disseminator of the information for the benefit of the LGBT community, emphasizing in
the infanto-juvenil literature. As main composition of the theoretical reference was used,

33
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco, UFPE.
girlainepergentino@gmail.com
34
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco, UFPE.
mayaraatanasio@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Carvalho (2016), Lazari (2015) and Lopes (2005). The article will use the type of
exploratory research that intends to verify trying to explore the phenomenon in order to
familiarize itself with the subject so that the research is understood with excellence. Even
with many awareness campaigns, violence and discrimination targeted at the LGBT
community is still present. In order to ease the symptoms associated with ignorance about
the subject, LGBT literature has been gaining visibility and market space for different age
groups. With this in mind, this article aims to relate the books developed in the theme to
the role of the librarian as an active and propagating agent of information, thus stimulating
the awareness of the children and youth public from this type of literary universe,
emphasizing that this junction is of great value Within the LGBT community, as it assists
in the deconstruction of prejudice, giving due recognition to the members who are part of
the community.

Keywords: Sexual Orientation; Brazilian literature; LGBT Literature; Children's


Literature; Librarianship; Librarian; Mediation.

1 INTRODUÇÃO

A literatura é um dos mais poderosos meios de informação e um dos principais


veículos pedagógicos que se utilizados de forma correta auxiliam as crianças em seu
desenvolvimento, ajudando principalmente a entender como funciona a comunidade que
ela está inserida, como parentes, animais e outros temas que podem ser abordados de
forma simples e didática. As mensagens emitidas nos livros de histórias e pedagógicos
podem ter uma presença forte durante o desenvolvimento no período infantil. A
problemática do presente estudo gira em torno da premissa: Como o bibliotecário pode
trabalhar com a literatura LGBT a favor da sociedade?
Na formação do profissional de biblioteconomia uma das características
trabalhadas dentro da universidade ligada ao cunho humanista, é a do bibliotecário
inserido no setor de referência e que até certo tempo, só mantinha contato com o usuário
no momento em que o mesmo lhe solicitava ajuda. Entretanto, quando se trata de usuários
de faixa etária inclusa no perfil infanto-juvenil o trabalho que o bibliotecário pode
desenvolver é também de educador. Para Corrêa et al. (2002, p.120):

Ao comparar os perfis do educador/professor e do bibliotecário,


verifica-se características comuns, aplicáveis a ambas as
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

profissões, conforme pode ser observado [...]: 1. Conhecimento e


atendimento às necessidades individuais dos alunos no processo
ensino-aprendizagem, bem como de seus interesses de leitura; 2.
Atualização a respeito de novidades, métodos e materiais
educativos; 3. Exercício do papel de mediador entre a
informação/conhecimento e seu usuário, possuindo para tal,
competência teórica e aptidões profissionais advindas de
formação específica para cada caso; 4. Motivação e estímulo à
pesquisa, despertando no aluno o gosto pela leitura. (CORRÊA,
et al., 2002, p.120)

Como educador, o bibliotecário deve atender e auxiliar o usuário nos aspectos aos
quais ele achar necessário, quanto ao bibliotecário do setor de referências, cabe a ele dar
prioridade às necessidades daqueles que o buscam. Dentro deste estudo queremos
explorar e desenvolver como o bibliotecário pode ser mediador e educador na hora em
que o usuário buscar informações sobre uma temática ao qual ele não está familiarizado
ou até mesmo, quando houver a necessidade de realizar uma mediação mais aprofundada
entre o usuário e o tema.
Há diversos fatores que podem fazer com que o usuário infanto-juvenil busque
uma literatura voltada ao cunho LGBT, dessa forma o bibliotecário deve fazer o papel de
mediador entre a busca e a recuperação do documento dando suporte e buscando entre os
termos utilizados pelo usuário a literatura que se encaixa nos aspectos solicitados, além
de interagir com contações de histórias e outros métodos, como pode ocorrer com os
usuários infantis. Com base nesse levantamento preliminar, este trabalho objetiva analisar
como a literatura LGBT pode ser trabalhada pelo bibliotecário em sua função de
mediador-educador com o público infanto-juvenil.

2 MOVIMENTO LGBT

O movimento LGBT é marcado por lutas, preconceitos, quebra de paradigmas,


empoderamento e representação social. O movimento LGBT vem ganhando força e

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sociedade.

reconhecimento nos diversos setores da sociedade, o que diminui em alguns aspectos a


ignorância referente ao assunto. Segundo Mello (2012, p.152):

É possível perceber que, entre o início dos anos 1980 e hoje, o


movimento LGBT tornou-se um dos mais expressivos e visíveis
do país, conseguindo pautar a questão dos direitos sexuais
relativos ao que vem sendo chamado de orientação sexual e
identidade de gênero [...] Palavras e expressões como
“homofobia”, “homoafetividade”, “homoparentalidade”,
“heteronormatividade”, “sair do armário“, “nome social”,
“lésbicas”, “gays”, “bissexuais”, “travestis” e “transexuais”,
antes de uso restrito inclusive no universo da população LGBT,
hoje são utilizadas ampla e crescentemente por vários setores da
sociedade, especialmente pelos meios de comunicação de massa,
o que contribui para a diminuição do estranhamento e do
exotismo tradicionalmente associados a práticas sexuais não
restritas ao universo da heterossexualidade. (MELLO, 2012,
p.152)

Mas ainda não podemos excluir o grau de violência existente no Brasil, estando
entre os 20 países com o mais alto índice, chegando a ficar acima de países que convivem
com a guerra. Os cidadãos em geral convivem com a insegurança diariamente e
infelizmente o número de violência com pessoas da comunidade LGBT é expressivo,
segundo dados recentes a cada 25 horas uma pessoa da comunidade morre devido à
intolerância e ignorância da sociedade, os travestis e transexuais são as vítimas mais
presentes nessa estatística. De acordo com Junqueira (2009, p.72)

A homofobia viola de modo intenso e permanente uma série de


direitos básicos, reconhecidos tanto pelo direito internacional dos
direitos humanos, quanto pelo direito constitucional. Ao lesionar
uma gama tão ampla de bens jurídicos, a homofobia manifesta-se
por meio de duas formas de violência: física e não-física.
(JUNQUEIRA, 2009, p.72)

Para um melhor entendimento dos elevados números de casos de homofobia no


país é importante visualizar o mapa a seguir (figura 1), que traz um levantamento das
mortes causadas pela homofobia em cada estado do Brasil.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Figura 1 – Mortes causadas por homofobia no Brasil

Fonte: Huff Post Brasil, 2014.

Junqueira (2009, p.73) ainda expõe que:

Estando manifesta a contrariedade ao direito da homofobia, bem


como a violência de suas manifestações, deve-se atentar para o
quanto a discriminação homofóbica está disseminada em nossa
cultura heterossexista. De fato, ao lado de expressões intencionais
de homofobia convivem discriminações não intencionais, mas
nem por isso menos graves ou injustas. Uma análise destas
modalidades de discriminação homofóbica pode ser desenvolvida
a partir das modalidades direta e indireta do fenômeno
discriminatório, elaboradas no seio do direito da
antidiscriminação. (JUNQUEIRA, 2009, p.73).

Sendo assim, um dos melhores meios para a inclusão social na tentativa de diminuir a
discriminação, ainda é a educação. Extremamente importante desde a infância – quando
as crianças estão aprendendo ainda sobre a comunidade ao qual ela pertence - a educação
vinda de educadores, mediadores, psicólogos e pais vão ser cruciais no desenvolvimento
da personalidade da criança. Kramer (1999, p.1) ainda relata que:
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sociedade.

A educação infantil tem papel social importante no


desenvolvimento humano e social. A prioridade é a escola
fundamental, com acesso e permanência das crianças e aquisição
dos conhecimentos, mas a luta pela escola fundamental não
contraria a importância da educação infantil. (KRAMER, 1999,
p.1)

A base educacional do indivíduo é feita na infância, quando se tem a primeira


noção sobre respeito, valores, boas maneiras e contextos simplórios de qualquer
convivência social. Porém, para a formação dos jovens e das crianças é necessário que
tenham profissionais adequados para fornecer educação apropriada, sejam profissionais
de pedagogia, biblioteconomia e áreas afins, para trabalhar em prol da qualidade da
educação e da convivência social.

2.1 LITERATURA LGBT

A literatura pode ser apresentada ao leitor das mais diversas maneiras, com os
avanços da tecnologia e com a democratização das bibliotecas, se faz possível encontrar
um vasto acervo de obras literárias, que são passíveis de serem acessadas a qualquer
momento. As inserções de livros literários nas bibliotecas são indispensáveis e se tornam
ainda mais importantes nos espaços que atendem o público infanto-juvenil, pois a
literatura na infância é a porta de entrada para o mundo dos livros e da leitura, sendo uma
peça chave para o desenvolvimento do intelecto da criança e do adolescente. Porto (2016,
p.2) aponta como a literatura pode atuar dentro da sociedade quebrando paradigmas,
afirmando que:
Como representação social, a literatura tem (des)construído
imagens de determinados grupos sociais, como os de mulheres e
pobres, disponibilizado espaços para a presença de vozes
historicamente silenciadas, dentre as quais as de etnias afro-
brasileiras e indígenas, e ainda oportunizando que temas caros à
discussão no Brasil sejam tratados de forma mais livre e ampla
nos textos literários em prosa e verso, a exemplo da
homossexualidade. (PORTO, 2016, p.2)

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sociedade.

Para as crianças, a exposição a literatura e aos livros desde cedo, nutre o gosto
pela leitura, além disso, a “Literatura é um veículo poderoso para ajudar as crianças a
compreender os seus lares, as comunidades e o mundo"(CARVALHO apud SANTORA,
p.5). Comumente nos livros literários infantis encontram-se histórias corriqueiras, como
contos de fadas, histórias de heróis ou até mesmo situações cotidianas, no entanto, com
as grandes demandas da sociedade em relação a conscientização contra os variados tipos
de preconceito, espaços são abertos para que os autores venham a abordar temáticas mais
relevantes dentro dos livros infantis, assim como explica Ramos (2009, p.309):

A abertura a novos temas e, em particular, à questão da


homossexualidade, que tem marcado as últimas décadas [...],
parece resultar de uma atenção às sociedades e à sua
metamorfose, valorizando comportamentos integradores em
relação às múltiplas diferenças: étnicas e raciais, éticas e
religiosas, afetivas e sexuais. (RAMOS, 2009, p.309)

Notadamente, o preconceito ligado ao gênero é um dos mais presenciados e um


dos mais delicados de serem tratados, pois ainda há muita recusa da sociedade em relação
ao tema e por este motivo a popularização de livros com temáticas LGBT ocorrem de
forma vagarosa, no Brasil, os primeiros livros com representação LGBT apresentavam
uma perspectiva negativa, assim como traz Valentin (2013):

Na literatura brasileira, as primeiras alusões à homossexualidade


foram feitas em poemas de Gregório de Matos (1636-1696), que
a abordam sob uma perspectiva heterossexual repleta de valores
morais e religiosos, avaliam-na como pecado, vício, prestando-se
à função de denegrir desafetos do poeta e, também, de gerar o riso
na sátira, articulando humor e preconceito. (VALENTIN, 2013).

Em contrapartida, as obras literárias escritas atualmente, apresentam novas formas


de representação LGBT, para o público infanto-juvenil a uma gama de histórias, como a
de “Júlia e sua sombra de menino”, “Meus dois pais” e “O namorado do papai ronca”,
que são algumas das tantas outras histórias que trazem consigo, de maneira lúdica e
sensível, às formas de convivência e de descoberta da criança com o universo LGBT.

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sociedade.

Livros como estes tendem a fazer alusões a seres inanimados, e utiliza-se de metáforas
para representar a homossexualidade de forma plena.
Para a grande parte das crianças, a aproximação com a leitura só ocorre no
ambiente escolar, seguindo esse pressuposto, Rowel (2007, p. 2) explica que, "livros gay-
friendly podem fazer uma diferença positiva na sala de aula: as crianças de famílias de
pais do mesmo sexo sentem que suas famílias são incluídas e outras crianças aprendem
sobre e obtém respeito e aceitação por outros tipos de família", sendo possível driblar de
maneira precoce o preconceito de gênero, assim como afirma Ramos (2009, p.309):

A tematização da questão homossexual, no universo da literatura


de potencial infantil,[...] trata-se, antes, de legitimar,
desmistificando, um modelo possível de relação interpessoal,
naturalizando-o, para além dos estereótipos demeritórios em que
se encontra enredado. Trata-se também de demonstrar as
múltiplas faces do afecto, pluralizando experiências e, numa
óptica ideal, prevenindo comportamentos homofóbicos no futuro.
(RAMOS, 2009, p.309)

Sendo assim, reafirma-se a importância da criação, veiculação e mediação de


literaturas LGBT para o público infanto-juvenil, salientando que a não popularização
destas obras, privam as crianças de conhecer o mundo além da sua realidade, favorecendo
posteriormente a intolerância ligada a diversidade de gêneros.

2.2 O BIBLIOTECÁRIO COMO MEDIADOR

Coque35 no cabelo, óculos de grau, espanador e o dedo posto à frente da boca em


sinal de silêncio, esta é a representação típica do estereótipo marcado que o profissional
da informação carrega há décadas. A imagem do profissional por muito tempo
permaneceu ligada às primeiras funções desenvolvidas pelo bibliotecário, que tinha um
foco especial nas funções tecnicistas da área, excluindo de certo modo a parte humanista.

35
Penteado feminino no qual se amarra o cabelo todo para trás.

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sociedade.

“[...] na trajetória histórica da biblioteconomia, prevalece uma opinião de que


bibliotecário tem como função basilar a preservação dos acervos para que venham se
conservar por um longo período de tempo” (SALCEDO e SILVA, 2009, p.24 apud
RANGANATHAN, 2009). Ressaltando a ideia arcaica de que preservar a informação é
mais importante que propagá-la.

Tanto dos livros quanto dos filmes emerge uma imagem


estereotipada considerando que são recorrentes as roupas, os
óculos e a postura alienada da realidade em concomitância com o
marcante domínio e controle do acervo, chegando inclusive a
impedir o acesso a informação pelo usuário. Essas características,
quando combinadas ou citadas em separado, remetem para o que
se denomina de estereótipo do profissional bibliotecário [...]
(SILVA, 2009 p.35).

Atualmente há implicitamente por parte dos profissionais, a tentativa de frear esse


estereótipo, mas não apenas isso, há também o desejo de se qualificar para melhor se
encaixar as novas características da profissão. Ao longo do tempo, se faz cada vez mais
notável a necessidade de especialização e de adaptação do profissional ligada ao cunho
mais humanista da área. Pois, assim como afirma Santos et al. (2014, p.9):

[...] o bibliotecário - profissional da informação - atua não só


como intermediador entre o documento informacional e o
usuário, mas também como comunicador da informação e gestor
do conhecimento, no momento em que é reconhecido como o
profissional que analisa conteúdos e possibilita a sua efetiva
recuperação. (SANTOS, et al., 2014, p.9)

Surge assim, o bibliotecário mediador, que assume papel importante para a


construção de hábitos de leitura nos usuários a partir da troca informacional, que é
comumente realizada em formato de “contação” de histórias. Por meio da mediação o
mesmo consegue suprir a necessidade de leitura do indivíduo, segundo Vieira (2012,
p.52):
[...] o fomento do prazer da leitura é importante através da
mediação do bibliotecário, pois, auxilia no combate a todas as
formas de analfabetismo individual, computacional e
informacional que impedem o desenvolvimento intelectual,
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econômico e social de qualquer país do mundo inclusive o


Brasil.(VIEIRA, 2012, p.52)

A necessidade de mediar a informação é ainda mais notável nas bibliotecas onde


se atende um público mais jovem, pois eles requerem uma atenção maior por estarem na
fase da construção de seus hábitos. Muitas vezes o bibliotecário como mediador é posto
em confronto com temáticas delicadas de serem tratadas, relacionadas aos mais diversos
assuntos (bullying, racismo e outros), e por isso a abordagem deve ser feita de forma
lúdica, pois facilita que o receptor se sinta confortável enquanto recebe tais informações.
Além disso, a mediação tem um papel importante na inclusão do indivíduo, assim como
afirma Santos et al. (2014, p.45 apud TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002):

[...] na busca por uma sociedade mais justa, com o fim das
desigualdades sociais, cabe ao profissional da informação um
papel de mediador da informação, onde ao mesmo tempo ele
utiliza novas tecnologias alicerçadas ao desenvolvimento social,
ou seja, ele desenvolve um papel fundamental para acabar com a
exclusão digital e a falta de acesso à informação. (SANTOS et al,
2014, p.5 apud TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002)

No caso específico da homossexualidade, o mediador fica mais suscetível às


dificuldades do assunto, pois essa é uma barreira que a sociedade tenta quebrar com altas
doses de informação e conscientização. A transmissão deste tipo de temática por parte do
mediador se torna ainda mais frágil, pois cedo ou tarde aquela história que estará sendo
retratada, acabará esbarrando na realidade de algum dos seus receptores. E não é uma
realidade fácil, sabe-se que ainda existe muito a ser trabalhado para que a sociedade
entenda a condição de cada indivíduo. Cunha (2003, p. 3) ainda aborda como o
profissional da informação vem se adaptando à novas atividades em prol de questões
sociais como:
No conjunto destas mudanças, o profissional da informação vem
se diversificando a cada dia com novas atividades acrescidas ao
seu processo de trabalho, atividades estas que demandam maior
envolvimento intelectual. Este profissional tem à sua frente o
desafio de colocar uma nova dimensão ao problema
informacional. Isto significa entender os novos papéis que

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

surgem, as novas necessidades informacionais e as novas formas


de responder a estas necessidades criando novos métodos e
formas de trabalho. (CUNHA, 2003, p.3)

Sabendo que o quantitativo de indivíduos LGBT é expressivo, o profissional que


realizará a mediação deverá agir de forma inclusiva, trazendo histórias que lembre a
importância do respeito ao próximo. Deste modo, com o intuito de amenizar os sintomas
ligados ao preconceito e buscando reduzir o desconhecimento acerca deste assunto e de
outros é que funciona a mediação, pois se anseiam por um país com pessoas que respeitem
ao próximo, independentemente de suas condições e escolhas, então se deve começar
pelas crianças, já que elas serão o futuro da sociedade.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa maneira, o artigo objetivou expor o quão inseguro é viver dentro de um país que
possui uma cultura por vezes machista e heterossexista, onde ainda é presente o
preconceito relacionado ao desconhecimento sobre a temática. Acreditamos que a
educação seja a maior arma contra a ignorância e intolerância, sendo assim, necessita-se
que o assunto seja abordado com mais naturalidade e que se crie uma didática tranquila,
para que o resultado possa ser satisfatório. É importante citar a literatura LGBT como um
dos maiores e melhores passos para a criação de respeito e acolhimento desde a infância.
Em resumo, pode-se notar que o papel do profissional bibliotecário como mediador de
informações na infância é de extrema relevância para a construção dos hábitos de leitura
do indivíduo. Com a demanda crescente da sociedade para uma renovação das funções
do bibliotecário, se tornou indispensável que o novo profissional contasse com métodos
mais humanísticos no exercício da profissão. No entanto, além da mediação, surge o ato
de leitura, onde o profissional se torna ponte entre a informação e a criança.
Para realizar esta ponte é necessário que o profissional se aproprie das temáticas
que serão passadas. Quando falamos de literatura LGBT ainda é possível notar certa
reação, ligada a não aceitação, por parte de muitas pessoas, inclusive, pais ou responsáveis
e até mesmo professores, que dentro de sala de aula temem abordar tal tema.

161
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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
da Informação – ENEBD 2017

Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

O Brasil apoia a campanha contra a LGBTfobia, no entanto, muito ainda deve ser feito
para que a população pare de olhar com indiferença para a comunidade LGBT. A
conscientização do indivíduo, deve começar de cedo e é neste cenário que as literaturas
LGBT surgem como ponte de acesso entre a temática e as crianças, já que abordam de
forma lúdica o que muitos podem presenciar na vida real, facilitando a compreensão do
meio que ele está inserido e ajudando a comunidade LGBT a se libertar desta falta de
conhecimento que assola a sociedade.

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currículo como uma ferramenta pedagógica. Universidade da Paraíba, [201-?]. p,12.
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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

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contemporânea: estudo de caso no Município de Salvador (BA). Salvador, BA: UFBA,
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VIEIRA, D. R. M. O bibliotecário como mediador da leitura: entre o livro e os


usuários de três bibliotecas escolares públicas estaduais de Porto Alegre. Porto Alegre,
2012. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://goo.gl/Pjii2G>. Acesso em: 19 maio 201

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ACESSO A INFORMAÇÃO PARA DEFICIENTES VISUAIS: um processo de


inclusão social.

AGANETTE, Karina de Jesus Pinto 36


CARVALHO, Matheus Aguiar de 37
RODRIGUES, Guilherme Augusto Silva 38

RESUMO
No contexto atual onde se discute constantemente a inclusão social, o estudo e o incentivo
na ampliação da acessibilidade têm ganhado força e relevância com o objetivo de
melhorar a capacidade de adaptação dos espaços físicos, do atendimento e dos serviços
oferecidos, diminuindo a falta de comunicação entre a sociedade e pessoas em condições
desfavorecidas. O seguinte trabalho, embasado na literatura da área de Ciência da
Informação, apresenta aspectos do processo de inclusão, adaptação de profissionais e
ambientes, e a formação do acervo especializado de bibliotecas e centros de informação,
focando especificamente na inclusão dos deficientes visuais. Percorrendo conceitos,
práticas profissionais, adequação de ambiente e oferta de serviços especializados
apresenta aspectos que devem ser tratados e aplicados de forma a garantir acesso a
informação aos portadores de deficiência visual, visto que a informação e o conhecimento
podem oferecer maior estabilidade profissional e pessoal, além de incluir e permitir o
desenvolvimento cognitivo de tais usuários proporcionando a estes, inserção na sociedade
e no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Deficiente visual. Inclusão Social. Informação.

ACCESS TO INFORMATION FOR VISUAL DISABILITIES: A process of social


inclusion.

ABSTRACT
In the present context where social inclusion is always discussed, the study and the
stimulus for extension of accessibility has increased in strength and relevance, with the
objective to improve the adaptability of physical spaces, and the services treatment
offered, decreasing the lack of communication between society and disadvantaged
people. This academic work is based on literature from the information science and shows
aspects of inclusion process, adaptation of professionals and of ambients, the construction

36
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-
mail: karinaaganette@gmail.com.
37
Acadêmico do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail:
maguiarcarvalho.bh@hotmail.com.
38
Acadêmico do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-
mail: augustok3d@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

of specialized collection for library and informations centers, specially focusing on


inclusion of the visually impaired. Exploring concepts, professionals practices, ambient
adequation and the offer of specialized services, it shows aspects that need to be treated
and applied and to ensure the information access for people with visual impairment, as
the information and the knowledge can provide professional and personal stability,
including and allowing the cognitive development of users which permits insertion in the
society and in the job market.

Keywords: Visually impaired. Social inclusion. Information.

1 INTRODUÇÃO

A informação tem sido tanto produto final quanto moeda de troca no atual
cenário globalizado de alta competitividade. Segundo Inomata (2003) a informação no
que diz respeito à inovação

é uma estratégia para o desenvolvimento de uma nação por


derivar de um processo coletivo e gerar uma rede de
atores (agentes e agências) empenhados em desenvolver ações
para fomentar o progresso. Isso, associado ao conhecimento e às
capacidades de diferentes atividades produtivas e áreas
científicas, determina sua força e robustez (INOMATA, 2003, p.
31 apud CALLON, 2004).

Neste contexto ter acesso à informação é obter conhecimento e igualdade


tanto no quesito mercadológico quanto no âmbito pessoal de crescimento cognitivo. As
bibliotecas e os centros de informação são espaços de armazenamento, disponibilização
e troca de informações e conhecimento, onde o principal objetivo é tornar a informação
acessível a todos. O bibliotecário, profissional da informação que trabalha diretamente na
mediação entre o usuário e a informação, precisa questionar sua capacitação profissional
para lidar com seus usuários, suas diferenças e peculiaridades.
Quando analisamos a interação “usuário - espaço de conhecimento -
profissional da informação - serviços” deve ser observado o quão acessível a informação
está e a qual grupo de usuários. Se inserirmos nesta análise o grupo de pessoas Portadoras
de Necessidades Especiais – PNE, mais especificamente usuários com deficiência visual,
observa-se que a sociedade não está totalmente preparada para receber e praticar
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

efetivamente um processo de inclusão dessas pessoas no contexto social. Existe uma


ausência de conhecimento em como realizar tal processo, uma falta de experiência e
treinamento dos profissionais envolvidos, além do preconceito. Segundo Miglioli (2017)

embora os deficientes possam ser agrupados sob um rótulo único


ou por características semelhantes, é importante notar que
indivíduos com deficiência visual/motora são mantidos longe de
“coisas” – uma alusão a objetos e ao próprio espaço físico
(MIGLIOLI, 2017, p. 136).

Quando o atendimento é oferecido a um usuário portador de necessidades


especiais, é necessário um profissional capacitado, ambientes adaptados e acervos
acessíveis que atendam às diferentes necessidades. O sistema de acesso e disponibilização
da informação no todo precisa ser desenvolvido para evitar um isolamento social, ainda
que involuntário, de forma a garantir chances e oportunidades igualitárias aos diferentes
usuários.

2 DEFICIENTE VISUAL

É caracterizado por deficiente, segundo SILVEIRA (2000, p.1), “toda pessoa


em estado de incapacidade de prover por si mesma, no todo ou em parte, as necessidades
de uma vida pessoal ou social normal, em consequência de uma deficiência congênita ou
não, de suas faculdades físicas ou mentais”.
Entendendo a amplitude conceitual que abarca o termo “deficiência” é usado
de forma isolada, portanto insuficiente para explicar um tipo específico de deficiência é
discutido no Decreto n.º 5.296/04 que propõe a categorização das deficiências em físicas,
auditivas, visuais, mentais, e também múltiplas ao pensar no sujeito afetado por duas ou
mais deficiências. O mesmo Decreto também considera as subdivisões possíveis à
categoria “deficiências visuais” a partir do grau que o portador foi afetado:

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no


melhor olho, com a melhor correção óptica;

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sociedade.

A baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no


melhor olho, com a melhor correção óptica;
Os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em
ambos os olhos for igual ou menor que 60o;
Ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores; (BRASIL, 2004).

Essas subdivisões chamam a atenção para como a comunidade com esse tipo
de deficiência é diversa, portanto diversa também são suas necessidades, o que
posteriormente evidencia a necessidade de um estudo exaustivo dos usuários com
deficiência que uma biblioteca pretende atender para que os serviços sejam desenvolvidos
considerando tais especificidades. A pesquisa realizada pelo IBGE (2010) corrobora com
a urgência em se pensar em tal público visto que a mesma, dentre outras questões
analisadas, expõe que cerca de 20% da população brasileira vive com alguma deficiência
visual em algum nível, evidencia também a demanda emergente por serviços e propostas
capazes de promover a inclusão social.

3 ACESSIBILIDADE INFORMACIONAL PARA DEFICIENTES VISUAIS

Garantir o acesso à informação é papel primordial do bibliotecário, sendo este


caracterizado sistematicamente por Pinheiro (1997):

● A informação tem o efeito de transformar ou reforçar o que é conhecido,


ou julgado conhecido, por um ser humano;
● É utilizada como coadjuvante da decisão;
● É a liberdade de escolha que se tem ao selecionar uma mensagem;
● É algo necessário quando enfrentamos uma escolha (a quantidade de
informação requerida depende da complexidade da decisão a tomar);
● É matéria-prima de que deriva o conhecimento;
● É trocada com o mundo exterior, e não meramente recebida;

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

● Pode ser definida em termos de seus efeitos no receptor. (PINHEIRO,


1997, p.190).

O acesso à informação garante a troca de conhecimento, avanço científico, e


quando realizado de forma a atender aos diversos tipos de usuários garante a inclusão
social e oportunidade a camadas menos favorecidas.
O acesso à informação para as camadas negligenciadas, como os deficientes
visuais, deve estar presente nos cronogramas das atividades documentárias
desempenhadas pelos bibliotecários, visto que estes possuem no cerne de seu fazer, a
função de mediação, que por sua vez passa pelo provimento de serviços que satisfaçam
as demandas de seu público de forma democrática e promova a inclusão social, e que
também evidencia o papel social aplicado que a área se propõe a cumprir.
No caso dos deficientes visuais, acredita-se que a falta de profissionais
qualificados para o atendimento e equipamentos que realizem a tradução da língua
original para o braile, além da falta de recursos investidos na formação e desenvolvimento
de acervos especializados impedem o acesso de tais usuários a informação e ao
conhecimento, criando barreiras para seu desenvolvimento pessoal e profissional.
A garantia do acesso à informação aos portadores de necessidades especiais
esbarra nos obstáculos cotidianos de locomoção e de suporte estrutural, fatores básicos
que impactam a integração entre os espaços de produção e acesso ao conhecimento e os
usuários com deficiência visual. Na tentativa de proporcionar maior acessibilidade estão
sendo criados acordos e leis a fim de fornecer critérios e diretrizes que, quando
cumpridos, oferecem maior inclusão para os deficientes.
Para as bibliotecas e centros de leitura foram estabelecidos alguns
regulamentos a fim de se proporcionar aos deficientes, em geral, maior acessibilidade e
inclusão. A NBR 9050 (2004) prevê que:

10.16.1 Nas bibliotecas e centros de leitura, todo o mobiliário


deve atender à Seção 9.
10.16.2 Pelo menos 5 %, com no mínimo uma das mesas, devem

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ser acessíveis, conforme Seção 9.


Recomenda-se, além disso, que pelo menos outros 10 % sejam
adaptáveis para acessibilidade.
10.16.4 A altura dos fichários deve atender às faixas de alcance
manual e parâmetros visuais, conforme Seção 4.
10.16.5 As bibliotecas devem garantir recursos audiovisuais,
publicações em texto digital acessível e serviço de apoio,
conforme definido em legislação específica. Recomenda-se que
possuam também publicações em Braille.
10.16.6 Pelo menos 5 % do total de terminais de consulta por
meio de computadores e acesso à internet devem ser acessíveis à
P.C.R. e P.M.R. Recomenda-se, além disso, que pelo menos
outros 10 % sejam adaptáveis para acessibilidade (ABNT NBR
950, 2004, p.150-151).

Para que o processo de inclusão ocorra nas bibliotecas, a adequação do espaço


físico e o oferecimento de serviços especializados permitem que o usuário quebre as
barreiras sociais e pessoais que impedem seu desenvolvimento cognitivo e social. Alguns
exemplos de iniciativas criadas e serviços oferecidos com este pretexto são:

● O uso de piso tátil, oferecendo maior independência para o deslocamento, diminui


a dependência de outras pessoas;
● Instalação de um posto de apoio e consulta em braile, que indique e descreva o
local frequentado;
● Serviços de datilografia e impressão em braile;
● Leitores dos livros e audiobooks;
● Instalação de softwares que permitam adaptações de tamanho, brilho e cor da tela
do computador;
● Instalação de navegadores de texto acessíveis;
● Implantação de sistemas interativos de fala e multimídia;

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

● Estabelecimento de cabines de estudo com arquitetura planejada para deficientes


visuais, com sinais sensórios.

Com o fim de complementar o trabalho já iniciado pelas iniciativas


supracitadas com fins de incluir socialmente os sujeitos com deficiência visual, o trabalho
com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) veio para facilitar o contato
entre o usuário e a informação, o que no caso do usuário deficiente visual, segundo Poty
(2012), “são o único meio de estabelecer contato com a sociedade do conhecimento”, em
contrapartida, sabe-se que tais tecnologias apresentam alto custo e há uma falta de
investimento nas mesmas. Segundo Souto (2003):

São vários os problemas enfrentados quando buscamos a


integração e inclusão de portadores de necessidades especiais, no
que se refere ao acesso à Internet. Dentre eles podemos destacar:
(...) Diante do analfabetismo digital, das dificuldades de
comunicação interpessoal e do custo e disponibilidade dos
equipamentos e materiais é perceptível que o oferecimento de
serviços de acesso à informação para portadores de necessidades
especiais requer um considerável grau de investimento em
recursos físicos, materiais e humanos (SOUTO, 2003, p. 12 apud
ANDRADE; SANTOS, 2004, p. 7, grifos e supressões do autor).

A falta de recursos somada ao despreparo de alguns profissionais que atuam


em bibliotecas e centros de informação afastam os usuários com deficiência visual, isso
porque, precisam ser entendidos como um todo, somando suas necessidades
informacionais e suas limitações. É importante que haja profissionais que dominem o
braile e que auxiliem o usuário na localização e manuseio das ferramentas e sistemas de
inclusão e acesso à informação adotada pela biblioteca.

4 DESENVOLVIMENTO DO ACERVO

O desenvolvimento do acervo é o processo de tomada de decisão a cerca de


quais materiais devem ser incorporados, mantidos ou descartados pela biblioteca, deve
envolver tanto os objetivos da instituição, quanto as necessidades informacionais do seu
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


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sociedade.

público. Em síntese, o processo pode ser caracterizado a partir de um fluxo de seis etapas
como mostra a Figura 1, baseada nas considerações de Vergueiro (1989).

Figura 1 - Etapas do desenvolvimento do acervo

Fonte: Elaborada pelos autores.

Vergueiro (1989) compreende as etapas como:


● Primeira etapa - estudo de comunidade: visa a identificar os usuários que
serão atendidos pela biblioteca, bem como as suas necessidades de
informação.
● Segunda etapa - políticas de seleção: corresponde a um documento onde
constará o registro de todas as normas da biblioteca com relação à vida útil
de sua coleção - desde a seleção do material até o seu descarte.
● Terceira etapa - seleção: consiste no planejamento e na definição de ações
e parâmetros que auxiliarão a tomada de decisão na definição dos materiais
que farão parte da coleção da biblioteca.
● Quarta etapa - aquisição: consiste no momento em que se decidem as

formas de adquirir os materiais que irão compor o acervo.


● Quinta etapa - desbastamento: visa ao remanejamento (alocação) ou

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


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sociedade.

descarte (retirada) dos materiais de forma a uma melhor localização da


coleção e o uso dos espaços na biblioteca.
● Sexta etapa - avaliação: possibilita uma visão geral de todas as etapas
anteriores, do começo ao fim de cada uma delas e do processo num todo.

Quando o público alvo do desenvolvimento de um acervo inclui também um


grupo de deficientes visuais, o processo se dá pelas mesmas etapas, no entanto, deve
ocorrer de maneira mais atenciosa e flexível, levando em conta todas as peculiaridades
destes usuários, para garantir o acesso. A aquisição de equipamentos tecnológicos de
leitura é insuficiente, caso não haja treinamento adequado aos usuários e profissionais
quanto ao uso dos mesmos e principalmente sem tornar o ambiente da biblioteca adaptado
para que o usuário seja incluído e se torne independente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de inclusão para deficientes visuais é constantemente discutido,


visto que, o profissional, o contexto, o ambiente, as necessidades e as limitações do grupo
são fatores que impactam diretamente nas propostas de serviços de disseminação e acesso
à informação. O desenvolvimento de tecnologias da informação tem contribuído para o
aumento da acessibilidade informacional oferecendo softwares que possibilitam a
participação e a troca efetiva de conhecimento nas bibliotecas e centros de informação.
A utilização de softwares de leitura e adaptação de tamanho de textos,
impressão em braile e adequações arquitetônicas do espaço, reduzem as desigualdades e
garantem aos usuários comodidade e independência dentro da biblioteca. Assegurar a este
usuário o acesso à informação possibilita uma maior estabilidade profissional e pessoal,
além de permitir o desenvolvimento cognitivo dos mesmos integrando-os na sociedade e
no mercado de trabalho de forma mais igualitária.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

A LICENCIATURA EM BIBLIOTECONOMIA E A ANÁLISE DE SUA


PRODUÇÃO CIENTÍFICA

POLONINI, Janaína Fernandes Guimarães39


LIMA, Isabella40
SOUZA, Ana Isabel41

RESUMO
Apresenta o curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Universidade de Estado do Rio
de Janeiro mencionando os fatos históricos mais relevantes. Delimita as funções dos
Licenciado e Bacharel de acordo com legislação vigente. Enumera os discentes
matriculados no curso de Licenciatura em Biblioteconomia dos anos de 2010 a 2015.
Aponta a quantidade das contribuições científicas produzidas pelos docentes e discentes
do curso, e sua contribuição para a Biblioteconomia como um todo. Enfatiza a
importância da contribuição científica para o desenvolvimento acadêmico e profissional.
Utiliza o software Excel para organização e análise dos dados coletados, e a Plataforma
Lattes para identificação da produção científica desenvolvida pelos discentes. Entre 2010
e 2015 foram matriculados 107 discentes, dentre os quais produziram nove Trabalhos de
Conclusão de Curso, 55 artigos/apresentações/livros e 19 projetos de Ensino, Pesquisa e
Extensão. Conclui que a produção científica realizada pelos docentes e discentes do curso
de Licenciatura em Biblioteconomia, tanto contribuiu para a comunidade científica como
chancelou a necessidade da criação de professores dedicados ao ensino de futuros
profissionais de ensino fundamental e médio que serão de auxílio e assistência para o
Bibliotecário (profissional Bacharel em Biblioteconomia).

Palavras-chave: Licenciatura em Biblioteconomia. Produção Científica. Pesquisa


Científica.

LIBRARY SCIENCE AND ANALYSIS OF ITS SCIENTIFIC PRODUCTION

ABSTRACT

It presents the Licentiate course in Library Science of the State University of Rio de
Janeiro mentioning the most relevant historical facts. Delimits the functions of the
Licensee and Bachelor in accordance with current legislation. It lists the students enrolled

39
Acadêmico(a) do curso de Licenciatura em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro - UNIRIO. janafg@gmail.com
40
Acadêmico(a) do curso de Licenciatura em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro - UNIRIO. isabellalimaux@gmail.com
41
Acadêmico(a) do curso de Licenciatura em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro - UNIRIO. aisabel46@gmail.com

176
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

in the Bachelor's degree in Library Science from the years 2010 to 2015. It points out the
amount of scientific contributions produced by the course's teachers and students, and
their contribution to Librarianship as a whole. Emphasizes the importance of scientific
contribution to academic and professional development. It uses the Excel software to
organize and analyze the collected data, and the Lattes Platform to identify the scientific
production developed by the students. Between 2010 and 2015, 107 students were
enrolled, among which they produced nine Completion Works, 55 articles / presentations
/ books and 19 Teaching, Research and Extension projects. It concludes that the scientific
production carried out by the professors and students of the Licentiate degree in
Librarianship has contributed both to the scientific community and has called for the
creation of teachers dedicated to the teaching of future primary and secondary education
professionals who will be of assistance and assistance for the Librarian (Professional
Bachelor of Librarianship).

Keywords: Degree in Library Science. Scientific production. Scientific research.

1 INTRODUÇÃO

O curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado


do Rio de Janeiro (UNIRIO), retomado em 2010, até o momento é uma incógnita quanto
a sua importância e área de atuação. Alguns trabalhos acadêmicos foram escritos para
explicar a sua origem e necessidade social. Este trabalho visa apresentar brevemente o
curso de Licenciatura em Biblioteconomia e sua necessidade profissional, bem como
apontar seu campo de atuação, e apresentar a produção científica desenvolvida por seus
discentes entre os anos de 2010 e 2015.
De acordo com o projeto pedagógico do curso, o objetivo do curso é promover
uma formação discente de qualidade por meio de habilidades humanas conceituais,
técnicas e profissionais com vistas ao ensino da Biblioteconomia para o âmbito técnico
profissional.
As principais diferenças estão relacionadas ao foco, o local de atuação e a
nomenclatura. O foco da Licenciatura é o ensino por isso esses profissionais atuarão
diretamente com formação e capacitação. O foco do Bacharelado é a atuação em unidades
de informação. No entanto, existem outras diferenças como a nomenclatura - bibliotecário
é o sujeito formado pelo curso de Bacharel em Biblioteconomia. Aquele formado em
Licenciatura é licenciado em Biblioteconomia. De acordo com o Art. 6 da Lei 4.084 de
1962, o Bacharel em Biblioteconomia pode atuar com ensino, porque naquela época ainda

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sociedade.

não existia a Licenciatura, entretanto, o bacharel não tem formação pedagógica ao longo
do curso de graduação para desempenhar essa atribuição no Ensino Médio e Pós-Médio.
Desse modo, a pesquisa vem apresentar a trajetória do curso de Licenciatura em
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com sua contribuição
acadêmica e profissional.

2 HISTÓRICO DO CURSO

Em 1911, foi criado o primeiro curso de Biblioteconomia no Brasil, que começou


a ser ministrado em 1915, nos porões da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro (BN), e
tinha como objetivo apenas a formação de profissionais para atender a própria Biblioteca
Nacional (ANDRADE, 2015, p. 27).
O curso de Biblioteconomia no Brasil surgiu pouco tempo após seus antecessores:

Foi o terceiro curso de Biblioteconomia no mundo, depois do da


École de Chartes na França e do curso do Columbia College, em
Nova York nos Estados Unidos. Este curso foi extinto em 1922 e
restabelecido em 1931, estruturado em novas bases, agora com a
duração de dois anos (ANDRADE, 2015, p. 27).

Em 1944, o professor e diretor Josué Montello, reformula o curso, preparando os


formando a atuarem em todo tipo de biblioteca. Nessa reforma a formação passa a
acontecer em três diferentes níveis:

a) Curso Fundamental de Biblioteconomia – Formava


auxiliares que estudavam as disciplinas de Organização de
Bibliotecas, Catalogação e Classificação, Bibliografia e
Referência e História do Livro e das Bibliotecas;
b) Curso Superior em Biblioteconomia – Formava
Bibliotecários; e

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sociedade.

c) Cursos Avulsos – Curso de atualização para bibliotecários


(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, 2009, p.15).

Em 1969, o Decreto-Lei nº 773 de 20 de agosto de 1969, reuniu estabelecimentos


isolados de ensino superior vinculados aos Ministérios do Trabalho, do Comércio e da
Indústria; da Saúde; e da Educação e Cultura, criando a Federação das Escolas Isoladas
do Estado da Guanabara (FEFIEG). Foi integrada a FEFIEG a Escola Central de Nutrição,
a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, o Conservatório Nacional de Teatro (atual Escola
de Teatro), o Instituto Villa-Lobos, a Fundação Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro e o Curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional.
Em 1975, após a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a FEFIEG
passou a denominar-se Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de
Janeiro (FEFIERJ). Em 1977, o Curso Permanente de Arquivo (do Arquivo Nacional) e
o Curso de Museus (do Museu Histórico Nacional), foram incorporados pela FEFIERJ,
ampliando a grade de cursos da Federação. E finalmente, em 5 de junho de 1979, pela Lei
nº 6.555, a FEFIERJ foi institucionalizada com o nome de Universidade do Rio de Janeiro
(UNIRIO). E, em 24 de outubro de 2003, a Lei nº 10.750 alterou o nome da Universidade
para Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIVERSIDADE FEDERAL
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2017).

2.1 A Construção da Licenciatura em Biblioteconomia

Em 1978, foram criados os cursos de Licenciatura em Arquivologia e


Biblioteconomia, por meio de uma complementação pedagógica que formaria o
Licenciado em Arquivo e Biblioteca, acrescendo aos Bacharéis uma formação que tinha
como pretensão, contribuir gradativamente para que nestas áreas fossem desenvolvidos
cursos técnicos para formar profissionais. Por meio da Resolução nº 187, de 26 de
dezembro de 1979, do Reitor Prof. Guilherme Figueiredo, reconhecido pelo Parecer
Ministerial nº. 502, de 20 de dezembro de 1983, foi criado o Curso de Licenciatura em

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sociedade.

Biblioteconomia (ANDRADE, 2015, p. 30). O curso iniciado possuía os seguintes


critérios:

[...] Foram oferecidas 20 vagas para cada curso. A inscrição era


permitida para estudantes que comprovassem aprovação em pelo
menos dois terços dos cursos de graduação em Biblioteconomia
e Documentação ou em Arquivologia (ANDRADE, 2015, p. 30-
31).

Em 22 de julho de 1981, foi formada a primeira turma de Licenciados. Em 1982,


é submetido ao Conselho Federal de Educação, o pedido de reconhecimento das
Licenciaturas em Biblioteconomia e Documentação, Arquivologia e Nutrição. Em 1983,
a atualização nos currículos das Licenciaturas e da carga horária de 90 horas das
disciplinas “Estrutura e Funcionamento” do 1º Grau e “Estrutura e Funcionamento” do 2º
Grau, retirou-se 30 horas, que foram inseridas na disciplina “História da Educação
Brasileira”, que tinha caráter obrigatório para todas as Licenciaturas. Em 1986, a
Licenciatura passou a integrar o currículo do curso de Bacharelado em Biblioteconomia,
com carga horária de 840 horas, o currículo do curso incluía 16 disciplinas obrigatórias e
quatro optativas (ANDRADE, 2015, p. 31).
Ofertado regularmente até o ano de 1991, o curso precisou ser interrompido
devido à falta de oferta de professores da escola de educação, assim como dito no
histórico do Projeto Político Pedagógico do curso.
Depois de 18 anos de interrupção do curso na UNIRIO, diversas questões sociais
trazem a demanda do curso novamente, para dar conta de uma necessidade de cunho
educacional neste novo contexto de Sociedade da Informação, que em detrimento das
mudanças tecnológicas amplia a necessidade de apoio à educação e a pesquisa.

Neste sentido, a proposta do Curso de Licenciatura em


Biblioteconomia deriva do conjunto de esforços dos diferentes
atores sociais frente às mudanças e pretende promover uma

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


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sociedade.

formação integradora dos componentes humanos, técnicos e


profissionais necessários às novas propostas profissionais para a
formação do professor de Biblioteconomia (UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2009).

Em 2009, com novo projeto pedagógico, baseada em diretrizes do Programa


Mobilizador das Bibliotecas Escolares, do Sistema CFB/CRB; do Programa Escola do
Amanhã, da Prefeitura do Rio de Janeiro; e do Ministério da Educação (MEC), que visava
à formação de profissionais para atuar em cursos técnicos de Biblioteconomia, foi
reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) em fevereiro de 2010 a reativação do
curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Unirio. O retorno do curso de Licenciatura
ocorreu por demandas sociais concretas no estado do Rio de Janeiro, que carecem de
profissionais capacitados para a formação de mão-de-obra qualificada para servir as
comunidades através da mediação da informação e do conhecimento, que é direito de
todo ser humano (ANDRADE, 2015, p. 32).
Abaixo, o Quadro 1, apresenta a cronologia do curso de Licenciatura em
Biblioteconomia.

Quadro 1 – Cronologia do Curso de Licenciatura em Biblioteconomia

ANO HISTÓRICO

1979 Anteprojeto de Resolução Nº 187 de 28 de dezembro de 1979. Dispõe sobre


a criação e reestruturação dos Cursos de Licenciatura em Arquivologia,
Biblioteconomia e Nutrição.
Diretrizes Básicas dos Cursos de Licenciatura

1981 Edital dos Cursos de Licenciatura em Biblioteconomia e Documentação em


15 de junho de 1981.
1ª Turma de Licenciatura em Biblioteconomia e Documentação do CECHU
– 22 de julho de 1981, 16 discentes formados

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sociedade.

ANO HISTÓRICO

1982 2ª Turma de Licenciatura em Biblioteconomia e Documentação do CECHU


- 09 de julho de 1982, 11 discentes formados

2009 Resolução Nº 3.214, de 17 de dezembro de 2009. Dispõe sobre a criação do


Curso de Licenciatura em Biblioteconomia, do Centro de Ciências Humanas
e Sociais - CCH

2010 1ª Turma após o Curso em Licenciatura em Biblioteconomia ser reativado

2014 Relatório de Avaliação do Curso de Licenciatura em Biblioteconomia

Fonte: Elaborado pelas autoras (2017)

Portanto, o curso volta a ser ofertado em 2010, devido às demandas existentes,


que são explicitadas abaixo por Spudeit (2015):

1) Em 2009, o Sistema Conselho Federal de


Biblioteconomia/Conselhos Regionais de Biblioteconomia,
lançou no ano de 2009 o “Programa Mobilizador Biblioteca
Escolar Construção de uma Rede de Informação para o Ensino
Público” e isso demandava a formação de pessoas para atuar
como auxiliares e técnicos nas bibliotecas escolares.
2) O Estado do Rio de Janeiro era um dos que não possuía escolas
técnicas que formavam técnicos em Biblioteconomia e
necessitava de professores habilitados para formar pessoas
qualificadas para essa função e atuar em diferentes tipos de
unidades e ambientes de informação. Entre seus cursos técnicos,
o MEC tinha lançado o Curso Técnico em Biblioteconomia e por
isso havia necessidade de professores aptos para ensinar nesses
cursos.
3) A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro possuía
o “Programa Escolas do Amanhã” para melhorar o desempenho
dos alunos de 150 Escolas com baixo IDEB, o qual é apoiado pelo
MEC, para o desenvolvimento deste programa seria necessário
termos licenciados em Biblioteconomia que dominassem os
saberes e fazeres biblioteconômicos aliados ao corpus de
conhecimento didático-pedagógico para contribuir com o sucesso

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sociedade.

desse programa.

Com base nesses pontos destacados anteriormente, a Escola de Biblioteconomia


da UNIRIO passou a ofertar o curso com uma nova proposta curricular a partir de 2010
quando ingressou a primeira turma. Na pesquisa de Andrade (2015) é possível perceber
com clareza como se desenvolveu todo o processo de desenvolvimento da atualização do
curso de licenciatura em Biblioteconomia na UNIRIO e os entraves burocráticos, porém
houve uma necessidade social. O autor salienta que o curso:

Vem contribuir para a qualidade na educação, desde a educação


infantil até a superior. No que se refere a competências
necessárias para viver na sociedade da informação, a Licenciatura
traz propostas concretas para trabalhar a competência
informacional nas escolas, além de promover a formação
continuada de profissionais que atuam diretamente com
organização e gestão da informação (ANDRADE, 2015, p. 13).

Para isso, o projeto pedagógico foi todo revisto e atualizado para atender
demandas do Estado do Rio de Janeiro no que dizia respeito à formação de professores
para cursos técnicos em Biblioteconomia e também de profissionais para atuar nas escolas
na melhoria da educação conforme destaca o próprio projeto pedagógico de
Biblioteconomia.

2.2 O objetivo da Licenciatura em Biblioteconomia

O objetivo inicial do curso é a formação de profissionais capazes de formar


técnicos em Biblioteconomia, necessários para atender a demanda do mercado de
trabalho. De acordo com a Lei nº 12.244, de Maio de 2010, será obrigatório em um prazo
de dez anos a partir da data em que a lei foi sancionada a implementação de pelo menos
uma biblioteca pública em todos os municípios do país, dessa forma surge também à
necessidade de formar profissionais suficientes para gerir tais instituições para suprir essa
necessidade, surge assim, o curso técnico em biblioteconomia e a licenciatura em
Biblioteconomia surge para poder formar este profissional para o mercado de trabalho.

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sociedade.

No entanto, durante o desenvolvimento do curso, foi verificado que existem outros


campos de atuação para o licenciado em Biblioteconomia.

O reconhecimento e valorização do Licenciado não serão


construídos por si só, mas requer o empenho de profissionais
para que se torne algo palpável e visível. Diante de uma realidade
nova e do caminho que o futuro professor ainda precisa percorrer
para ser reconhecido, não é difícil de imaginar o questionamento
que deve haver por parte dos graduandos a respeito da realidade
do mercado de trabalho que o estudante de Licenciatura
encontrará futuramente, porém, cada um deles é parte integrante
deste processo de construção (ANDRADE, 2015, p. 33).

O curso de licenciatura em Biblioteconomia ainda é muito recente e está em


construção da sua identidade profissional, principalmente no que diz respeito à legislação
específica e um órgão profissional fiscalizador. Segundo o Projeto Político Pedagógico
são atribuições do Licenciado:

[...] deverá ter uma sólida fundamentação nos conhecimentos da


área pedagógica, integrada de maneira orgânica com os da área de
Biblioteconomia, entendendo o processo de ensino-aprendizagem
como um todo, partindo das relações pedagógicas que estruturam
o curso, a fim de atuar como um profissional consciente e
responsável. Ele apresentará competências relativas à
compreensão do papel social da escola, ao domínio do
conhecimento pedagógico e de investigação que possibilitem o
aperfeiçoamento da prática pedagógica e competências referentes
aos conteúdos específicos da Biblioteconomia, seus significados
em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar.

A formação do profissional Técnicos em Biblioteconomia possibilitará ao


Bacharel, a atenção a tarefas de gestão da biblioteca ao invés de permanecer em atividades
operacionais. A criação do curso de Licenciatura ampliou o corpo docente da escola de
Biblioteconomia e viabilizou a aprovação do Mestrado Profissionalizante em
Biblioteconomia na UNIRIO.
Segundo Spudeit (2011), a graduação de Licenciatura em Biblioteconomia
agrega fundamentos do campo da Pedagogia, atrelados aos ensinamentos do Bacharelado

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sociedade.

em Biblioteconomia. No curso, o discente é apresentado ao processo das relações


pedagógicas do ensino-aprendizagem de modo a atuar de maneira consciente e
responsável no ambiente escolar. Segundo o Art. 6 da Lei 4.084 de 1962, o bacharel em
Biblioteconomia pode atuar com ensino, porque naquela época ainda não existia a
Licenciatura, entretanto, o bacharel não tem formação pedagógica ao longo do curso de
graduação para desempenhar essa atribuição.
O licenciado em Biblioteconomia possui oportunidades de atuação na área do
magistério em instituições de ensino fundamental e médio dos sistemas federal, estadual
e municipal assim como também pode atuar em instituições pertencentes ao setor privado,
principalmente no âmbito da formação técnico-profissional.

2.3 Os estudantes do curso e sua contribuição na produção científica

A produção científica na Licenciatura começou em 2011, no ano seguinte ao


retorno do curso. O professor Dr. Marcos Miranda, um dos docentes responsáveis pelo
retorno do curso na UNIRIO, orientou discentes e outros docentes a participarem dos
projetos da universidade, enfatizando a importância das atividades acadêmicas ao
profissional Licenciado.
Por meio de pesquisa na Secretaria Acadêmica da Escola de Biblioteconomia
(SIE), foram identificados os dados de ingresso e permanência dos discentes. A Tabela 1
abaixo apresenta o número de discentes em seus respectivos períodos de ingresso na
Licenciatura em Biblioteconomia:

Tabela 1 – Número de estudantes da Licenciatura em Biblioteconomia


Ingresso Licenciados
2010/1 4
2010/2 7
2011/1 8
2011/2 6
2012/1 9

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2012/2 4
2013/1 6
2013/2 7
2014/1 7
2014/2 13
2015/1 6
2015/2 34
Fonte: Secretaria Acadêmica da Escola de Biblioteconomia (SIE), (2015)

Desde 2011, os discentes do curso, por mais que em um número menor - se


comparado aos outros cursos de Biblioteconomia da UNIRIO - possuem uma expressiva
contribuição para a construção do conhecimento acadêmico.
Por meio de análise da Plataforma Lattes, dos discentes matriculados no curso de
Licenciatura em Biblioteconomia, foi recuperado os dados de produção científica.
No gráfico 1 abaixo, é apresentado visualizar as produções agrupadas em três
segmentos para facilitar visualização:

Gráfico 1 – Produção científica da Licenciatura em Biblioteconomia

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sociedade.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2017)

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado


do Rio de Janeiro existe há 39 anos e retornou o funcionamento há setes anos, e através
do corpo docente engajado com o desenvolvimento da profissão, incentivam os
estudantes em atividades acadêmicas tais como produção de artigos, capítulos de livros,
participação e organização de eventos e projetos acadêmicos (pesquisa, ensino e
extensão).
A produção científica realizada pelos docentes e discentes do curso de
Licenciatura em Biblioteconomia, contribuíram tanto a comunidade científica como
chancelou a necessidade da criação de professores dedicados ao ensino de futuros
profissionais de ensino fundamental e médio que serão de auxílio e assistência para o
Bibliotecário (profissional Bacharel em Biblioteconomia).
A análise quantitativa da produção acadêmica da Licenciatura que este trabalho
apresenta, é importante para mostrar o quanto que este curso tão recente tem colaborado

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sociedade.

para a Biblioteconomia. E que ainda com as dificuldades apresentadas, consegue


promover em seus discentes a necessidade de contribuir com a área, acrescentando
também com a sua formação com um olhar voltado para o ensino aprendizagem.
O desafio lançado ao curso de Licenciatura em Biblioteconomia é grande, no
entanto, são dificuldades que qualquer curso novo encontra para se construir uma
profissão. A contribuição científica dos docentes e discentes do curso evidenciam o seu
crescimento e aguarda o reconhecimento tanto pelo Conselho Federal de Biblioteconomia
como demais órgãos.
A pesquisa sobre o curso de Licenciatura em Biblioteconomia deixa evidente a
distinção de funções exercidas pelos Licenciados e Bacharéis, e destaca o quanto o
Licenciado tem contribuído e contribuirá para o desenvolvimento da Biblioteconomia no
país, por meio da formação de profissionais necessários ao mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Douglas Felipe de. Licenciatura em Biblioteconomia: análise da


formação e atuação de um profissional emergente no campo da Biblioteconomia na
perspectiva dos discentes. Rio de Janeiro, 2015. 113f. Monografia (Licenciatura em
Biblioteconomia) - Escola de Biblioteconomia, Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro, 2015.

SPUDEIT, D. F. A. de O. Licenciatura. Rio de Janeiro, [2011]. Disponível em:


<http://www2.unirio.br/unirio/cchs/eb/licenciatura>. Acesso em: 11 out. 2016.

SPUDEIT, D. F. A. de O. Licenciatura em Biblioteconomia: uma nova profissão que


vem aí. Biblioo Cultura Informacional, Rio de Janeiro, 19 ago. 2014. Disponível em:
<http://biblioo.info/licenciatura-em-biblioteconomia/>. Acesso em: 8 out. 2016.

SPUDEIT, D. F. A. de O. Sobre o portal. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:


<http://empreendebiblio.com/sample-page/>. Acesso em: 24 out. 2016.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Projeto político


pedagógico do curso de Licenciatura em Biblioteconomia. Rio de Janeiro: UNIRIO/
CCH/EB, 2009.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. História.


Disponível em: <http://www.unirio.br/institucional/historia>. Acesso em: 07 jun. 201

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sociedade.

DEIXA ESSE POVO SOFRIDO MOSTRAR SEU VALOR: memória, samba e


oralidade a partir do repertório de Jovelina Pérola Negra

PORTO, Luane Neves de Souza42


SANTOS, Laura Maria Martins Ferreira43

RESUMO

O presente trabalho aborda conceitos de memória, oralidade e identidade em sua relação


com o samba. Metodologicamente apresenta uma revisão de literatura no que tange a
memória coletiva, tradição oral, identidade e etnicidade. Discute o samba como memória
da cidade do Rio de Janeiro e representação da cultura brasileira, sobretudo nos subúrbios
e favelas. Objetiva evidenciar o debate sobre oralidade na formação da identidade negra
através do repertório de Jovelina “Pérola Negra”, que utiliza seu samba para relatar fatos
cotidianos do negro simples morador do subúrbio do Rio de Janeiro, considerando a vasta
discografia da cantora, estabelecemos as músicas “33, destino de D. Pedro II” e “Sonho
Juvenil” como objeto de estudo.

Palavras-chave: Memória. Oralidade. Identidade. Jovelina Pérola Negra. Samba. Rio de


Janeiro

LET THIS SUFFERED PEOPLE SHOW THEIR VALUE: memory, samba and
orality from the repertoire of Jovelina Pérola Negra

ABSTRACT

This article discusses concepts of memory, orality and identity and your relation to samba.
Methodologically presents a review of literature regarding collective memory, oral
tradition, identity and ethnicity. Discusses samba as a memory of the city of Rio de
Janeiro and representation of Brazilian culture, especially in the suburbs and favelas. As
a general objective is to debate about orality in the formation of black identity through
the repertoire of Jovelina "Pérola Negra", which uses the samba to report daily facts of
the black simple inhabitant of the suburb of Rio de Janeiro, considering the vast
discography of the singer, we establish the Songs "33, destino de D. Pedro II" and "Sonho
Juvenil" as object of study.

42
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
luane.sporto@gmail.com
43
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
laura.mmsantos@gmail.com

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sociedade.

Keywords: Memory. Orality. Identity. Jovelina Pérola Negra. Samba. Rio de Janeiro.

1 INTRODUÇÃO

[...] Deixa esse povo sofrido mostrar seu valor


Pra que tanto preconceito
Está no sangue
Não tem mesmo jeito
O samba merece respeito
Seja aonde for
(Trecho de “Elos da raça”. Sorriso Aberto, 1988).

O Brasil é um país que se formou a partir de três culturas: a indígena


exclusivamente oral; a europeia essencialmente escrita; e a negra essencialmente oral. No
entanto, as culturas predominantemente orais não encontram espaço de reconhecimento
comparado à institucionalização promovida pela cultura europeia, que é escrita.
A cultura negra, transmitida e documentada por sua relação com o samba e o
candomblé, o jongo e o maracatu, dos quais desde os tempos da escravatura muitos se
utilizaram para contar a história do nosso povo preservando desde segredos religiosos a
pequenos hábitos familiares, encontra nesta necessidade de reconhecimento da tradição
oral enquanto memória, a necessidade de manter viva uma parte, a maior parte, da história
do nosso país.
No que tange a Biblioteconomia observamos que este campo de trabalho se baseia
apenas naquilo que é registrado por meio da escrita, sendo o que foge deste escopo
eliminado. Portanto, descartamos grande parte das memórias que contam a formação da
nossa nação, privilegiando a memória da minoria, que é justamente a classe dominante,
contribuindo involuntariamente para a construção de uma memória coletiva incompleta.
O presente artigo tem como objetivo evidenciar o debate sobre oralidade e
identidade negras representadas através das letras do samba carioca, mais
especificamente daqueles cantados por Jovelina “Pérola Negra”.

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sociedade.

Para tanto, a fim de atender os padrões estabelecidos pela comunidade científica no


que tange o desenvolvimento da presente pesquisa nos valemos de uma metodologia
baseada em revisão bibliográfica acerca dos conceitos de memória, oralidade e
identidade. Desse modo se partiu para uma aproximação com o tema do trabalho que
consiste na análise de duas canções do repertório da sambista Jovelina “Pérola Negra”.

2 MEMÓRIA, ORALIDADE E IDENTIDADE

Para Halbwachs (2006) existem dois tipos de memória: a individual e a coletiva.


O autor ressalta que a memória individual está condicionada à memória coletiva. Apesar
de a memória ser interna ao indivíduo, ela muitas vezes se recosta em elementos externos,
como objetos, lugares ou mesmo na memória de outras pessoas, ou seja, esta memória
individual ou autobiográfica também é coletiva, externa ou histórica, pois o indivíduo
está inserido numa sociedade onde a vida particular faz parte de uma história maior.
Para Le Goff (2003), o termo “memória” vigora em seus fundamentos teóricos
das ciências humanas, da história e da antropologia, em que afirma:

A memória, como propriedade de conservar certas


informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto
de funções psíquicas, graças às quais o homem pode
atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele
representa como passadas. (p. 423).

Pomian (2000) descreve memória como o elemento que permite o ser vivo
remontar o tempo, para relacionar-se com passado, mesmo estando no presente, tendo
dentre outros objetivos, o de formar uma identidade que possa ser reforçada por
momentos vividos e preservados e, por escolha ou não, descartados.
Jöel Candau, em seu ensaio de antropologia, intitulado Memória e identidade
(2011), trata a questão da identidade delimitando-a, inicialmente, como um estado
construído socialmente “de certa maneira sempre acontecendo no quadro de uma relação
dialógica com o outro” (2011, p. 09).

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Abib (2006) salienta a oralidade como eficiente processo de transmissão, além de


considerá-lo um meio eficaz capaz de regular sua produção e transmissão, que tem por
base a memória e a ancestralidade. Sendo esses elementos de alta relevância na
construção da cultura afro-brasileira.
Nos povos de oralidade o canto é um recurso fundamentador de memória. O cantar
se transforma em contar, que transmite de indivíduo para indivíduo os saberes de um
grupo ou uma comunidade.
Os sambas narram desde a chegada do negro no Brasil até sua luta para sobreviver,
o trabalho escravo, as relações com os outros negros e os brancos, a sua religiosidade, a
sua fé, e a luta por aceitação e respeito neste país.
A luta pela construção da identidade afro-brasileira está não só reproduzida nos
sambas como eles próprios fazem parte deste processo de construção de identidade.
Através, da relação dialógica com o “outro” que essas canções proporcionam, tratando
muita vezes de experiências individuais, que são ao mesmo tempo coletivas, por
transmitirem temas tocantes à realidade comum ao povo negro brasileiro.
A realidade de um negro oprimido pela sociedade eurocêntrica é também a
realidade de todos os negros. A criação de uma identidade está baseada na transmissão
dessas memórias que forçam os momentos vividos por eles. Neste sentido, a oralidade
presente no samba é o instrumento que remonta a memória e constitui identidade.
Desta forma, Matos (1982) destaca que o samba possui status de patrimônio
coletivo, devendo ser cultuado e preservado por seu caráter em construir uma identidade
sociocultural dos sujeitos que o cantam.

3 O SAMBA COMO MEMÓRIA DO SUBÚRBIO CARIOCA

[...] Somos herança da memória


Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história [...]
(Trecho de “Identidade”. Jorge Aragão, 1992).

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Para Carrizo Sainero (1994) em seu manual de fuentes de infomación as mesmas


constituem “todos aqueles elementos que, submetidos à interpretação, podem transmitir
conhecimento, tais como um hieróglifo, uma cerâmica, um quadro, uma partitura musical,
uma fotografia, um discurso, um livro, uma tese doutoral e outros”.
Otlet (1937) ao consolidar o conceito de documento define: documento é o livro,
a revista, o jornal, é a peça de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a música, é
também o filme, o disco e toda a parte documental que precede ou sucede a emissão
radiofônica.
Assim, embora as fontes bibliográficas, em especial o livro, ainda sejam as mais
utilizadas, o leque de suportes físicos e midiáticos entendidos enquanto documento e,
portanto, fonte de informação mostra-se diverso incluindo a música enquanto documento
e a oralidade, o discurso, enquanto fonte de informação.
Napolitano (2002), ao abordar a estrutura da canção popular e conceito de
documento-canção, afirma:
Mesmo sem conhecimento técnico, o ouvinte de música
popular possui dispositivos, alguns inconscientes, para
dialogar com a música. É óbvio que nem todos os ouvintes
dialogam da mesma maneira nem com a mesma
competência. Estes dispositivos, verdadeiras
competências, não são apenas fruto da subjetividade do
ouvinte diante da experiência musical, mas também sofrem
a implicação de ambientes socioculturais, valores e
expectativas político-ideológicas, situações específicas de
audição, repertórios culturais socialmente dados. (p. 80).

Segundo Garcia (2015), o samba carioca se estabelece como uma manifestação


cultural que demonstra os comportamentos sociais que foram determinantes para o seu
surgimento e consolidação. As letras, os ritmos, as danças nos contam a história de luta
de um povo que reclama as suas raízes africanas para construir sua nova história.
Os repertórios do samba revelam experiências concretas vivenciadas por seus
compositores e intérpretes, no qual o subúrbio carioca é reverenciado por acolher toda
uma diversidade formadora de identidade local.

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As origens do samba de raiz encontram terreno fértil no subúrbio carioca, onde a


memória coletiva e as relações de pertencimento emergem com naturalidade e estão em
constante relação com o “outro”. Constituindo-se como parte da paisagem carioca, que
representa e transpõe a própria geografia.
Portanto, quando Pierre Nora (1993) aponta a biblioteca como “lugar” de
memória, se referindo à simbologia que esse local deve propor, entendemos a memória
como parte do escopo institucional que a biblioteca deve exercer.
No Rio de Janeiro, a Biblioteca Estadual que se encontra desativada, ficou
conhecida por, enquanto biblioteca pública, ser um espaço sociocultural de fácil acesso a
toda comunidade e com um acervo que contava não apenas com documentos
bibliográficos, mas com DVDs e CDs que podiam ser consultados no local ou ainda
retirados para empréstimo.
Sendo assim, a biblioteca é uma instituição “capaz de impulsionar, de criar
mecanismos de oposição ao sistema e favorecer o resgate da memória e da cidadania da
população brasileira” (CARDOSO, 2015, p.17), sobretudo do povo negro.

4 O REPERTÓRIO DE JOVELINA PÉROLA NEGRA

Jovelina Faria Belfort (Rio de Janeiro, 21 de julho de 1944 - 2 de novembro de


1998) suburbana, negra, carioca, parideira, sambista da ala das baianas do Grêmio
Recreativo Escola de Samba Império Serrano. Cantora e compositora, marcada por sua
irreverência na rima, segundo o Dicionário Cravo Alvin de Música Brasileira, começou
sua carreira em 1985, aos 40 anos de idade estreando na coletânea Raça Brasileira
organizada pela gravadora RGE, onde cantou ao lado de tantos nomes também
considerados a voz da raça, como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Mauro Diniz, Elaine
Machado e outros.
De carreira curta e voz marcante, tendo falecido em 1998, com quatorze anos de
carreira e total de sete álbuns lançados Jovelina “Pérola Negra”, moradora do subúrbio
carioca, que antes de ser descoberta pela música foi empregada doméstica, lavadeira e

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vendedora de linguiça, fez seu nome no samba com músicas nas quais é possível vivenciar
ao seu lado estas experiências.
Guaraci Sant’Anna, o poeta do morro, foi o compositor por trás de alguns dos
maiores sucessos de D. Jovelina. Parece haver alguma confusão e ambiguidade, no que
se refere a existência de vários compositores de samba de nome Guará atuantes na mesma
época. No entanto, os registros levantados nos LPs “sangue bom” e “luz do repente”
atribuem autoridade à alcunha Guará, que tudo indica ser Guaraci Sant’Anna
Compositor das faixas “Catatau”, “Sorriso Aberto” e tantos outros sambas
cantados por Jovelina e que embasam críticas sociais, Guará, expõe uma realidade pouco
debatida ou mesmo lembrada. Merece ser mencionado neste trabalho, enquanto
autoridade intelectual que produziu os dois principais objetos deste estudo, as faixas “33,
destino de D. Pedro II” ao lado de Jorginho das Rosas e “Sonho Juvenil”.

4. 1 33, destino de D. Pedro II

Entre tantas músicas, Guará presenteou Jovelina com algumas especiais, sendo
uma delas “33, destino de D. Pedro II”. Composta pelo poeta ao lado de Jorginho das
Rosas foi samba-enredo de 1984 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da
Hora e posteriormente, faixa do álbum Sangue Bom, 1991.

Vamos sublimar em poesia


A razão do dia a dia pra ganhar o pão
Acordar de manhã cedo, caminhar “pra”estação
E chegar lá em D. Pedro a tempo de bater cartão [...]

[...] O suburbano quando chega atrasado


O patrão mal-humorado
Diz que mora logo ali
Mas é porque não anda nesse trem lotado
Com o peito amargurado
Baldeando por aí
Imagine quem é lá de Japeri [...]

[...] E na viagem tem jogo de ronda


De damas e reis
Vendedores, cartomantes, repentistas
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Tiram onda de artista


No famoso "Trinta e Três"
O “trombadinha” quase sempre se dá bem
O “paquera” apanha quando mexe com alguém
Não é tão mole andar de pingente no trem

Dado ao contexto histórico no qual o Rio de Janeiro está inserido, onde os negros
foram prioritariamente marginalizados, passando a ocupar espaços periféricos no que
hoje entendemos como subúrbio e favelas, regiões afastadas do centro comercial da
cidade, o trem, referenciado na música como estrada de ferro D. Pedro II, atual estação
Central do Brasil, faz parte do cotidiano da classe trabalhadora.
Como ambiente, o trem é culturalmente rico, sendo um local de livre
manifestação. Ao viajar de trem, como canta Jovelina na letra de Guará, é possível
encontrar ambulantes vendendo os mais diversos produtos, de doces à eletrônicos por
preços, geralmente, acessíveis. Jogos e rodas de samba, são a maneira que o carioca
encontra de aproveitar descontraidamente o longo tempo passado no transporte público,
porém, andar de trem não é algo tão glamoroso assim, a crítica, intrínseca a esta canção,
aborda o sucateamento das ferrovias e a falta de segurança, parte do dia a dia de quem
utiliza esse transporte.
Ao transformar em música essa experiência individual, que também é coletiva, Jovelina,
que também foi ambulante, dialoga com o conceito de memória e construção de
identidade do trabalhador suburbano.

4.2 Sonho Juvenil, a Garota Zona Sul

“Sonho Juvenil” ou Garota Zona Sul como ficou popularmente conhecido mais
um presente do poeta Guaraci Sant’Anna à D. Jovelina, faixa exclusiva do LP Luz do
Repente, 1987. Uma música Lado B, até hoje cantada e conhecida nas rodas de samba,
traz em seus versos o relato do sonho suburbano de “atravessar o Rebouças”, túnel que
conecta a zona norte a zona sul da cidade, crescer e se tornar aquilo que acredita ser
melhor.

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Ai que vontade que eu tinha


De ter um carango “joinha”
E morar na Vieira Souto ou em Copacabana.

Ai que vontade que eu tinha


De ver minha linda pretinha no porte de uma verdadeira
dama
De motocicleta, Honda e muita “grana”

Casa de campo com playground “pras” crianças


Hoje me vem à lembrança, aquele desejo febril,
Aspirar ar puro, fresco ar primaveril
Abrir a janela ver o mar azul
Ver a turma me chamando de garota zona sul

Ai que vontade que eu tenho de ser feliz


E levar a minha vida do jeito que eu sempre quis
Eu queria ser uma flor mais bela
No jardim lá da favela e morar de frente ao mar

Eu queria dar tudo de bom para ela


Por um cravo na lapela e sair pra passear,
Eu vou pegar meu barco a vela e navegar
Tirar onda nas ondas do mar e não marejar.

Ao crescer com a imagem da cidade maravilhosa, dos cartões postais, o sonho


de morar em frente ao mar é inerente ao carioca. Ainda que sejam espaços
geograficamente próximos, a barreira cultural que separa o subúrbio da zona sul é maior
que a distância entre a Central do Brasil (Destino de D. Pedro II) e Japeri.
Jovelina, que foi empregada doméstica durante anos de sua vida na zona sul,
pode conviver com essa dualidade do contato entre a vida a beira mar e no subúrbio.
Durante toda a canção, em especial no verso “tirar onda nas ondas do mar e não
marejar” expõe a ilusão de que morar na zona sul, à beira mar, seria sinônimo de uma
vida feliz, mais calma, mais fácil, do jeito que sempre quis.
Apesar do luxo e do glamour, atribuídos à vida burguesa, o “Sonho Juvenil”
consiste na busca pelo que é almejado enquanto padrão ideal de qualidade de vida: morar
em um local silencioso, próximo ao mar, com acesso a cultura, a diversão, com segurança
garantida a toda família, longe da realidade do trabalhador que, retratado em “33, destino

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de D. Pedro II” mora em outro município, passa horas no trem, no ônibus, lidando com
as cobranças do patrão e a insegurança iminente para ganhar o pão.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da oralidade fundamentada no samba, no jongo e nos terreiros se


apresentar como principal forma de transmissão da memória e de representação da cultura
negra encontramos ainda resistência ao lidar com os conceitos de documento-canção e
oratura.
Ao se reconhecer na personagem de Jovelina “Pérola Negra”, suburbana,
trabalhadora, negra, de linguagem acessível, relatando causos cotidianos, a música
desperta um senso de identidade na massa, reconhecida enquanto memória oral de um
povo, característica do povo negro em diversos continentes.
Pesquisas voltadas a raça e etnicidade se fazem crescentes, à medida que negros têm
ocupado espaços antes tidos como majoritariamente brancos, hoje mais democráticos.
Cada vez mais, a oralidade e a cultura parecem chamar a atenção de autores negros e
brancos dos diversos campos das Ciências Humanas e Sociais, porém, no que tange a
Biblioteconomia, a música e a oralidade, enquanto documento ainda são pouco
reconhecidos com poucas bibliotecas dispondo de acervo sonoro, sendo mais comum
encontrar livros documentando a cultura afro-brasileira.
Este trabalho, parte da premissa de expor, sob um olhar biblioteconômico a
necessidade de reconhecimento pela Biblioteconomia, em especial pelas bibliotecas
públicas, de fácil acesso das classes mais baixas, da cultura oral, tradição de um povo,
enquanto documento, evitando assim o apagamento de uma parcela, a maior e menos
ouvida de nossa população.
Com um campo abrangente e pouco explorado, sobretudo do ponto de vista da
Biblioteconomia, o samba, os candomblés e a umbanda, o jongo, o maracatu, todos
fundamentados e repassados por meio da oralidade, parte da identidade e da memória
coletiva do povo brasileiro, mestiço em geral, resistem, sobretudo, através das músicas e

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cantigas documentadas, mas se faz necessário atentar para a possível perda de toda essa
tradição em algumas décadas.

REFERÊNCIAS

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na roda. Tese de Doutorado – Universidade Estadual de Campinas, 2004.

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Chorando Estrelas. Rio de Janeiro: Som Livre, 1992. 1 CD. Faixa 10.

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Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio
Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

CAPRI; MODESTO, Silvio. Elos da raça. Intérprete: Jovelina Pérola Negra. In:
JOVELINA PÉROLA NEGRA. Sorriso Aberto. Rio de Janeiro: RGE, 1988. 1 disco
sonoro. Lado A. Faixa 4.

CANDAU, Joël. Memória e identidade. Trad. Maria Letícia Ferreira. São Paulo:
Contexto, 2011.

CARDOSO, Francilene do Carmo; NÓBREGA, Nanci Gonçalves da . A biblioteca


pública na (re) construção da identidade negra. In: Encontro
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 12, 2011, Brasília. Anais
eletrônicos... Brasília: UNB, 2011. Disponível em:
<http://enancib.ibict.br/index.php/enancib/enancibXII/paper/view/1129> Acesso em: 08
jul. 2017.

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CARDOSO, Francilene do Carmo. O negro na biblioteca: mediação da informação


para a construção da identidade negra. Curitiba, PR: CRV, 2015.

CARRIZO, Gloria Sainero. Las Fuentes de la Informacion. In: ______. Manual de


Fuentes de Informacion. Madrid: Cegal, 1994. p. 17-44.

GARCIA, Manuela Barbosa. O samba carioca como fonte de memória: preservação


da cultura oral afro-brasileira. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal
Fluminense: Rio de Janeiro, 2015.

GUARÁ; ROSAS, Jorginho das. 33, destino de D. Pedro II. Intérprete: Jovelina Pérola
Negra. In: JOVELINA PÉROLA NEGRA. Sangue Bom. Rio de Janeiro: Som Livre,
1991. 1 CD. Faixa 3.

______. Sonho Juvenil (Garota Zona Sul). Intérprete: Jovelina Pérola Negra. In:
JOVELINA PÉROLA NEGRA. Luz do Repente. Rio de Janeiro: RGE, 1987. 1 disco
sonoro. Lado B, faixa 4.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Trad. Bernardo Leitão... [et al.]. 5 ed.
Campinas: Editora da UNICAMP, 2003.

MATOS, Claudia. Acertei no milhar: samba e malandragem no tempo de Getúlio. Rio


de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002. (Coleção História &... Reflexões, 2.).

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NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História:
revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de
História da PUC/SP, São Paulo, n.10, p. 7-28, dez. 1993.

POMIAN, Krzysztof. Memória: atlas, documento/monumento, fóssil, memória,


ruína/restauro. In: EnciclopédiaEinaudi. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda,
2000. p. 507-516. (Sistemática, v. 42).

OTLET, Paul. Documentos e documentação. Disponível em:


<http://www.conexaorio.com/biti/otlet/>. Acesso em: 8 jun. 2017

TIA DOCA; COSTA, Jadilson. Orgulho Negro (Negro é Raiz). Intérprete: Jovelina
Pérola Negra. In: JOVELINA PÉROLA NEGRA. Amigos Chegados. Rio de Janeiro,
Som Livre, 1990. 1 CD, faixa 7.

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INCLUSÃO SOCIAL, DEFICIÊNCIA E BIBLIOTECAS PÚBLICAS: uma


análise a partir de políticas públicas e do Manifesto da IFLA

ROSA, Victor44
SILVA, Laiza Lima da 45

RESUMO

Aborda a relação entre bibliotecas públicas e inclusão social de pessoas com deficiência,
a partir de políticas públicas. Objetiva apontar em duas políticas públicas – a Lei
Brasileira de Inclusão e o Plano Nacional de Cultura – e no Manifesto da IFLA/UNESCO
para bibliotecas públicas as indicações sobre o papel da biblioteca no processo de inclusão
das pessoas com deficiência. Para isso, a partir da consulta as políticas, localiza nos
documentos termos relacionados aos temas do estudo. Trata do papel da biblioteca
pública no processo de inclusão a partir de textos estudados em disciplinas que versavam
sobre os temas. Reconhece que a biblioteca pública, no processo de inclusão, pode
desempenhar um papel significativo e que as políticas podem servir de instrumento de
amparo a algumas ações. Conclui que as políticas públicas relacionadas à Cultura ou a
biblioteca pública estabelecem poucas relações com as pessoas com deficiência e que,
por sua vez, a Lei de Inclusão pouca aborda o papel da biblioteca. Por fim, tece sugestões
para novos trabalhos.

Palavras-chave: Inclusão social. Pessoas com deficiência. Bibliotecas públicas. Políticas


públicas.

SOCIAL INCLUSION, DISABILITY AND THE PUBLIC LIBRARY: An analysis


of public policies and the IFLA Manifesto

ABSTRACT

44
Acadêmico do curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Escola de Biblioteconomia (EB) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
e-mail do autor: victor.soares.rosa@gmail.com
45
Acadêmica do curso de Bacharelado em Biblioteconomia Noturno da Escola de Biblioteconomia (EB)
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
e-mail da autora: laizaunirio@gmail.com

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sociedade.

It addresses the relationship between public libraries and the social inclusion of people
with disabilities, based on public policies. It aims to point out in three public policies -
the Brazilian Inclusion Law, The National Cultural Plan of Brazil and The IFLA /
UNESCO Manifesto for public libraries - indications of the role of libraries for the
inclusion process of people with disabilities. For this, from the query as policies, finds in
the text of the documents terms related to the study themes. It discusses the role of the
public library in the process of inclusion through texts studied in subjects dealing with
themes. It recognizes that the public library in the process of inclusion can have a
significant role and that public policies can serve as an instrument of protection and guide
to some actions. It concludes that the public policies related to Culture or to public library
are less related to disabled persons than they could, and that the Brazilian Law of
Inclusion give few directions for the actions of public libraries. Finally, it makes
suggestions for new papers.

Keywords: Social inclusion. Disabled people. Public libraries. Public policies.

1 INTRODUÇÃO

Estre trabalho trata da biblioteca pública como um possível veículo de inclusão


para pessoas com deficiência a partir da identificação de indicações para o acesso a
cultura e a informação em políticas públicas e culturais. Foi elaborado para a disciplina
Políticas Públicas para a Biblioteconomia, componente curricular optativo aos cursos de
Bacharelado e Licenciatura em Biblioteconomia ofertados pela Escola de
Biblioteconomia (EB) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
A biblioteca pública é o equipamento cultural presente em 98% das cidades
brasileiras, segundo apontamentos do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP).
São 6.102 bibliotecas públicas no Brasil, sejam municipais, distritais, estaduais e federais
nos 26 estados e no Distrito Federal. (SISTEMA NACIONAL DE BIBLIOTECAS
PÚBLICAS, 2015). Tão disponível aos seus usuários quanto cinemas, teatros, museus ou
outros espaços de práticas culturais, além de seu caráter gratuito, este tipo de biblioteca
atende a um público heterogêneo, seja por classe social, raça, etnia, religião, gênero,
sexualidade, idade, necessidade especial ou outras características de cunho biológico,
pessoal, social ou cultural. Visto que possui este público diversificado, a biblioteca
pública pode ser considerada um espaço social no qual se manifestam as diferenças.

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sociedade.

Estas diferenças estão presentes em todos os grupos culturais o que torna a


biblioteca pública um espaço de cruzamento de culturas. Os serviços oferecidos por este
tipo de biblioteca devem ser diversos e direcionados a todos os grupos culturais existentes
na comunidade em que se faz presente, ou seja, a biblioteca deve estar imersa nos
processos culturais do contexto em que se situa. As atividades desenvolvidas na biblioteca
pública não devem possuir um caráter monocultural, padronizador e homogeneizador de
modo a não neutralizar e não silenciar as diferenças, fazendo alusão à perspectiva de
Moreira e Candau (2011).
Um dos grupos culturais que deve frequentar a biblioteca pública é o de pessoas
com deficiência e a biblioteca não deve ser um espaço de exclusão. Segundo Sassaki
(1997, p. 31), pessoas com deficiência foram submetidas a práticas de exclusão durante
séculos em diversos países do mundo e, segundo o autor, esta exclusão ocorria em sua
totalidade, ou seja, em todos os espaços e dinâmicas da sociedade.
De modo a diminuir estas práticas excludentes, reconhecer os direitos das pessoas
com deficiência e promover sua inclusão na sociedade, diversos documentos foram
criados nas últimas décadas de modo a assegurar os direitos destas pessoas – como leis,
declarações criadas em fóruns de discussão sobre seus direitos, princípios e diretrizes –
seja por apelo social, acadêmico, governamental, entre outros, o que caracterizam estes
documentos como políticas públicas. De um modo geral, políticas públicas, embora
possam ser iniciativas de diversos atores sociais, são documentos produzidos pelo Estado
de modo a reconhecer e assegurar um determinado direito em relação ao exercício da
cidadania para a população ou um grupo social específico.
O que se procura expor neste estudo é que a biblioteca deve ser um espaço
inclusivo, pois quando a pessoa com deficiência — e a deficiência pode ser física,
auditiva, visual, intelectual — vai a biblioteca, o espaço, o profissional e os serviços
devem ser acessíveis no que tange locomoção e comunicação, entre outros fatores. Esta
exposição, ocorre no âmbito das políticas públicas, a partir da Lei 13.146 de 06 de julho
de 2015, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), e das políticas culturais, mais
especificamente, as metas criadas pelo Plano Nacional de Cultura (PNC), a partir da
identificação das metas relacionadas às pessoas com deficiência e acessibilidade nos

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

espaços públicos. Outro documento normativo analisado, embora não seja uma política
estabelecida pelo Estado e, por isso não ser uma política pública, é o Manifesto da
Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Bibliotecas (IFLA) para
bibliotecas públicas.
Neste sentido, o presente trabalho objetiva apontar nas políticas selecionadas as
normativas relacionadas a bibliotecas e/ou ao acesso a cultura e/ou a inclusão de pessoas
com deficiência.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para que os objetivos sejam atingidos, a metodologia foi empregada a partir das
recomendações de Gil (2010), o que caracterizou esta pesquisa como exploratória, quanto
aos seus objetivos, por proporcionar maior aproximação ao problema e construir
hipóteses e, quanto aos seus procedimentos técnicos, determinou-se ser esta uma pesquisa
bibliográfica e documental, a partir da consulta a livros, artigos científicos e trabalhos em
anais de congressos, assim como a manifestos, diretrizes, leis, programas, entre outros
documentos.
A seleção das políticas analisadas – LBI, PNC e o Manifesto da IFLA – se deu
por um critério de relevância e abrangência. A LBI é uma lei nacional, instituída tendo
como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização
das Nações Unidas (ONU) e sendo, no Brasil, considerada o Estatuto da Pessoa com
Deficiência. O PNC é uma política cultural também de amplitude nacional destinada um
projeto de desenvolvimento cultural no Brasil a partir de aparelhos e ações culturais,
destinando metas a serem atingidas a médio prazo. E o Manifesto da IFLA para
bibliotecas públicas tem amplitude internacional, tendo sido elaborado pelo principal
organismo de associações bibliotecárias mundialmente, a IFLA, em conjunto com a
Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO), servindo de
diretriz para os serviços de qualquer biblioteca pública no mundo.
A pesquisa bibliográfica envolveu a seleção de textos estudados na disciplina
Políticas Públicas para a Biblioteconomia, para uma aproximação com o universo da

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

temática Bibliotecas Públicas e Políticas Públicas e Culturais. No que tange as Bibliotecas


Públicas, foram utilizados os documentos: Diretrizes da IFLA para bibliotecas públicas
(2012a) e a normativa da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) para bibliotecas públicas
(2010), para estabelecer um referencial sobre esse tipo de biblioteca. E para compor o
referencial sobre Políticas Públicas utilizou-se o texto de Souza (2006). Os textos para
Inclusão Social foram selecionados após consulta realizada ao programa da disciplina
Educação Especial (componente dos cursos de Licenciaturas que são ofertados pelas
Escolas, Faculdades ou Institutos da UNIRIO), tendo sido selecionado o livro do
professor Romeu Kazumi Sassaki (1997) para servir de quadro teórico. Por fim, a análise
dos dados (as normativas sobre inclusão, bibliotecas) encontrados nas políticas ocorreu
de maneira qualitativa.

3 BIBLIOTECA PÚBLICA VEÍCULO DE INCLUSÃO

A biblioteca pública é um equipamento mantido pelo Estado para a comunidade e


que atende a um público diverso, entre eles, grupos que são submetidos a processos de
exclusão. É da biblioteca pública indissociável seu papel de auxílio às comunidades na
erradicação da desinformação, de espaço de acesso à cultura a todos os indivíduos,
especialmente, os grupos marginalizados, e de espaço de contribuição para o
desenvolvimento social.
Pode ser a biblioteca pública considerada um espaço único para a prática da
inclusão social, afinal é a sua finalidade a de

[...] proporcionar recursos e serviços, numa diversidade de


mídias, a fim de atender às necessidades de indivíduos e grupos
em matéria de educação, informação e desenvolvimento pessoal,
inclusive sua recreação e lazer. Ela desempenha importante papel
no desenvolvimento e preservação de uma sociedade democrática
ao oferecer ao cidadão o acesso a uma ampla e diversificada
variedade de conhecimentos, ideias e opiniões (FEDERAÇÃO
INTERNACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE
BIBLIOTECÁRIOS E BIBLIOTECAS, 2012a, p. 2, grifo nosso).

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Reconhecidamente, este espaço assume funções relacionadas a educação, cultura,


informação, recreação, entre outras. As Diretrizes da IFLA (2012a) estabelecem
finalidades, dividindo-as em seis categorias principais, sendo elas: 1) educação; 2)
informação; 3) desenvolvimento pessoal; 4) crianças e jovens; 5) desenvolvimento
cultural; e 6) função social. Relacionam-se, de um modo geral, aos estudos formais e
informais em todos os níveis, acesso à informação e às tecnologias de informação e
comunicação, estímulo à criatividade e ao hábito da leitura, a disseminação da cultura da
comunidade, manutenção de uma identidade da comunidade, a servir como ponto de
encontro. Estas finalidades seguem, por sua vez, as missões das bibliotecas públicas
instituídas no Manifesto (2012b).
Deve contribuir a biblioteca pública, neste sentido, para a inclusão social, sendo
um espaço não restritivo e que possibilite a todas as pessoas o acesso aos seus bens e
serviços. Segundo Sassaki (1997, p. 41), a inclusão social é “[...] o processo pelo qual a
sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com
necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na
sociedade”. O autor prossegue dizendo que “para incluir todas as pessoas, a sociedade
deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender
às necessidades de seus membros”. E finalmente

A prática da inclusão social repousa em princípios [...] tais como:


a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada
pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a
aprendizagem através da cooperação. A diversidade humana é
representada, principalmente, por origem nacional, sexual,
religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência (SASSAKI, 1997,
p. 41-42).

Em relação ao exposto, para as pessoas com deficiência desempenharem


plenamente seus papéis na sociedade, políticas públicas de amparo e de garantia de
direitos foram estabelecidas a partir de debates suscitados em diversas ocasiões. O que se
vê é que a biblioteca pública pode desempenhar um papel fundamental, ao oferecer
serviços para a comunidade, na inclusão das pessoas com deficiência.

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sociedade.

Por isso, políticas públicas podem ser um instrumento de importância no fazer das
bibliotecas. Podem servir de justificativa, auxílio ou guia para a elaboração de serviços.
Para discutir Políticas Públicas, o texto de Souza é a base. A autora elabora uma revisão
de literatura, abordando o desenvolvimento da noção de políticas públicas, estabelecendo
um tratamento como uma área de conhecimento nas Ciências Sociais e como um
documento produzido pelo Estado.
Na concepção da autora,

Pode-se, então, resumir política pública como o campo do


conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo
em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e,
quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas
ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas
constitui-se no estágio em que os governos democráticos
traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas
e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real
(SOUZA, 2006, p.26).

O que se vê é que a política pública é uma das formas pelas quais o governo diz
que vai fazer algo ou tentar desenvolver algo em torno de um objeto. A formulação destas
políticas pode levar em consideração a participação de grupos de interesses e movimentos
sociais (SOUZA, 2006), ou seja, pode partir de atores sociais que militem por suas
demandas.

4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO

Esta seção apresenta a análise dos dados e uma breve discussão.

4.1 A Lei Brasileira de Inclusão

A consulta a LBI (2017) ocorreu pelo sítio eletrônico do Planalto.

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sociedade.

Por ser uma lei que trata especificamente da inclusão de pessoas com deficiência,
o único termo de busca utilizado foi “biblioteca”. Foi realizada pelo modo de busca em
ambientes da Web pelos comandos de teclado de computador “ctrl” e “f”.
O termo foi recuperado apenas duas vezes, ambas no artigo 68 da lei, parágrafo
primeiro. O texto do artigo diz:

O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à


produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização
de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da
administração pública ou financiadas com recursos públicos, com
vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à
leitura, à informação e à comunicação (BRASIL, 2017, grifo
nosso).

Já o texto do parágrafo:

Nos editais de compras de livros, inclusive para o abastecimento


ou a atualização de acervos de bibliotecas em todos os níveis e
modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o poder
público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação de
editoras que não ofertem sua produção também em formatos
acessíveis (BRASIL, 2017).

O que se vê na LBI, a partir do trecho grifado, é que há um diálogo com as


finalidades, funções e missões das bibliotecas públicas pela garantia do acesso à leitura,
à informação e à comunicação. A LBI, no entanto, não direciona a possibilidades de
serviços a serem desempenhados por bibliotecas de modo a esclarecer ações efetivas que
a biblioteca pública possa desempenhar para incluir as pessoas com deficiência. Nesse
sentido, o texto tem uma exposição mínima das possibilidades de atuação da biblioteca
pública.

4.2 O Plano Nacional de Cultura

A busca pelas metas relacionadas às pessoas com deficiência foi realizada das
seguintes formas: buscando-se pelo filtro “Tags” e pelo campo de busca “Palavra-chave”
na seção do sítio eletrônico do PNC “Acompanhe as metas”.
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sociedade.

O filtro “Tags” relaciona os termos a se buscar e, desta forma, pesquisou-se o


termo “pessoas com deficiência”. Foram recuperadas 12 metas as quais são apresentadas
no quadro a seguir:

Quadro 1 – Resultado da busca pela “Tag” pessoas com deficiência.


Número Nome da meta Objetivo da meta
da meta
2 100% das Unidades da Federação Obter e divulgar informações
(UFs) e 60% dos municípios com dados atualizadas sobre a área cultural
atualizados no Sistema Nacional de de todos os estados e de 3.339
Informações e Indicadores Culturais cidades do Brasil (60%).
(SNIIC).
3 Cartografia da diversidade das Produzir um mapa das expressões
expressões culturais realizada em todo culturais e linguagens artísticas
o território brasileiro. de todo o Brasil.
8 110 territórios criativos reconhecidos. Reconhecer 110 territórios com
requisitos que os qualifiquem
como criativos.
9 300 projetos de apoio à sustentabilidade Desenvolver ao menos 300
econômica da produção cultural local. projetos de apoio à
sustentabilidade econômica da
produção cultural local.
23 15 mil Pontos de Cultura em Ter 15 mil Pontos de Cultura em
funcionamento, compartilhados entre o funcionamento.
Governo Federal, as Unidades da
Federação (UFs) e os municípios
integrantes do Sistema Nacional de
Cultura (SNC).
24 60% dos municípios de cada Ter, em cada região do Brasil,
macrorregião do país com produção e mais cidades que produzem ou

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sociedade.

circulação de espetáculos e atividades recebem espetáculos e atividades


artísticas e culturais fomentados com artísticas financiados com
recursos públicos federais. recursos públicos federais.
29 100% de bibliotecas públicas, museus, Garantir que as pessoas com
cinemas, teatros, arquivos públicos e deficiência possam ter acesso aos
centros culturais atendendo aos espaços culturais, seus acervos e
requisitos legais de acessibilidade e atividades.
desenvolvendo ações de promoção da
fruição cultural por parte das pessoas
com deficiência.
45 450 grupos, comunidades ou coletivos Atender 450 grupos com ações de
beneficiados com ações de comunicação para a cultura.
Comunicação para a Cultura.
50 10% do Fundo Social do Pré-Sal para a Definir 10% dos recursos do
cultura. Fundo Social do Pré-Sal para a
área da cultura.
51 Aumento de 37%, acima do PIB, dos Aumentar os recursos públicos
recursos públicos federais para a federais para a cultura de
cultura. 0,061%* para 0,084% do PIB.
52 Aumento de 18,5%, acima do PIB, da Aumentar a renúncia fiscal do
renúncia fiscal do Governo Federal Governo Federal para incentivo à
para incentivo à cultura. cultura de 0,028%* para 0,033%
do PIB.
53 4,5% de participação do setor cultural Aumentar para 4,5% a
brasileiro no Produto Interno Bruto participação do setor cultural no
(PIB). PIB brasileiro.
Fonte: (PLANO NACIONAL DE CULTURA, 2015, não paginado).

Estas metas se mostraram demasiadamente amplas, não tratando especificamente


ou não mencionando a biblioteca pública, com exceção a meta número 29.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Buscou-se também o termo acessibilidade se deu pelo campo “Palavra-chave”. As


metas recuperadas foram duas, sendo a de número 29 também recuperada na pesquisa da
“Tag” pessoas com deficiência e são apresentadas no quadro a seguir:

Quadro 2 – Resultado da busca por “Palavra-chave” acessibilidade.


Número Nome da meta Objetivo da meta
da meta
29 100% de bibliotecas públicas, museus, Garantir que as pessoas com
cinemas, teatros, arquivos públicos e deficiência possam ter acesso aos
centros culturais atendendo aos espaços culturais, seus acervos e
requisitos legais de acessibilidade e atividades.
desenvolvendo ações de promoção da
fruição cultural por parte das pessoas
com deficiência.
34 50% de bibliotecas públicas e museus Melhorar instalações,
modernizados. equipamentos e acervos de
bibliotecas e museus.
Fonte: (PLANO NACIONAL DE CULTURA, 2015, não paginado).

Como as metas 29 e 34 são as únicas que se relacionam diretamente a biblioteca


pública, estas duas são as únicas analisadas.
O texto da meta 29 diz o seguinte:

A acessibilidade é uma das questões centrais para a qualidade de


vida e o pleno exercício da cidadania das pessoas com deficiência.
As instituições culturais no país precisam obedecer às leis
existentes a esse respeito. Ou seja, têm de eliminar as barreiras ao
acesso físico das pessoas com deficiência ou mobilidade
reduzida.
O acesso dessas pessoas aos espaços culturais, seus acervos e
atividades deve ser viabilizado de duas maneiras: adaptar o
espaço físico para essas pessoas; e oferecer bens e atividades

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sociedade.

culturais em formatos acessíveis (PLANO NACIONAL DE


CULTURA, 2015, não paginado).

Na seção “situação atual da meta”, verificamos que não há informações sobre a


situação das bibliotecas.
O exercício da cidadania é um importante aspecto apresentado e resultado do
desenvolvimento do indivíduo, no qual a biblioteca pública pode contribuir. Adaptar o
espaço físico e oferecer bens e atividades culturais em formatos acessíveis são medidas
essenciais, contudo, não se deve esquecer que o próprio profissional destes espaços deve
ser acessível. Verificou-se que, entre as ações do PNC para que esta meta seja cumprida,
estão sendo realizados cursos de capacitação profissional.
O texto da meta 34 é citado a seguir:

É importante que as instituições culturais ofereçam aos cidadãos


acervos atualizados e conservados, instalações adequadas,
equipamentos modernos e em funcionamento. Também é
fundamental promover o desenvolvimento humano e social por
meio de ações como: a realização de atividades de acesso aos
acervos e incentivo à leitura; a divulgação de informações de
forma democrática e acessível; o incentivo ao interesse pelas artes
e ciências; o estímulo à integração da biblioteca com outras
linguagens culturais; a contribuição para a inclusão digital da
população; a valorização, o registro e a difusão da tradição
cultural da comunidade; e a garantia de acessibilidade para
pessoas com deficiência (PLANO NACIONAL DE CULTURA,
2015, não paginado).

A seção histórico da meta mostra que o número de bibliotecas modernizadas caiu


de 2010 a 2013, tendo um total de apenas 998 bibliotecas sido modernizadas neste
período, o que está muito abaixo das 6.102 existentes, o que corresponde a 18% das
cadastradas no sistema, o que é um número baixo.
Os acervos das bibliotecas públicas devem ser compostos por obras em diversos
formatos e suportes, sejam em áudio, vídeo, braille, etc. para que todas as pessoas com
deficiência os utilizem. Não se deve esquecer, conforme a Convenção da ONU apontou,
a preservação da cultura linguística destes grupos. A acessibilidade pode ser pensada a

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partir das propostas de Desenho Universal e da Norma Brasileira 9050 que dá necessárias
recomendações sobre acessibilidade.

4.3 O Manifesto da IFLA para Bibliotecas Públicas

O texto do Manifesto da IFLA/UNESCO se encontra no primeiro apêndice da


edição brasileira das Diretrizes da IFLA publicada no Brasil em 2012 pela Briquet de
Lemos Editora.
Visto que se empreendeu a leitura do texto completo, foi possível identificar um
trecho que menciona especificamente pessoas com deficiência:

Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição


dos usuários que, por algum motivo, não possam usar os serviços
e os materiais correntes, como, por exemplo, minorias
linguísticas, pessoas com necessidades especiais ou que estejam
hospitalizadas ou reclusas (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL
DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS E
BIBLIOTECAS, 2012b, p. 138).

Apesar de ser o único trecho que se relacione diretamente ao proposto no trabalho,


todo o texto do Manifesto se baseia em estabelecer, no âmbito das bibliotecas públicas,
igualdade de acesso a todos os grupos da comunidade, desempenhando uma função social
também no que tange ao desenvolvimento das relações interculturais e no principio de
aceitação do próximo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo de apontar nas políticas escolhidas o papel da biblioteca pública (para a LBI
que tem seu escopo específico) ou a participação da pessoa com deficiência (para o PNC
e o Manifesto da IFLA) foi atingido e, embora o objetivo não estivesse pautado em uma
análise, foram expostas algumas considerações sobre os resultados encontrados.
Percebeu-se que, no âmbito da LBI, a biblioteca, embora seja mencionada, não tem uma
participação efetiva apontada. Já no contexto do PNC, as metas tinham uma amplitude e,
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embora duas reconhecessem bibliotecas acessíveis para pessoas com deficiência, não era
possível acompanhar a situação da meta. Por fim, no Manifesto, não havia menção
explícita de ações para pessoas com deficiência, no entanto, seu discurso é o de promoção
da igualdade e cidadania. Apesar de minimamente, as três políticas consideram a
biblioteca pública um espaço de inclusão.
O que se propõe para trabalhos futuros é identificar na ação cotidiana da biblioteca, a
partir de visitação a estes espaços e realização de entrevistas e questionários com seus
gestores e usuários, a aplicação destas políticas em seu fazer diário de modo a identificar
se há ações que façam o usuário com deficiência se sentir incluído.
Finalmente, diante da proposta do evento de discutir inclusão das minorias sociais e
reconhecendo as pessoas com deficiência como um grupo socialmente excluído nas
sociedades ao longo das décadas, este trabalho, no contexto do grupo de trabalho 03 de
educar para a diversidade, pode trazer importantes discussões sobre esse grupo específico
e contribuir para a revisão de práticas nos espaços de trabalho, especialmente as
bibliotecas públicas, no fazer dos profissionais de Biblioteconomia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. [s.l.], 1988.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
Acesso em: 2 jul. 2015.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 [: Lei Brasileira de Inclusão]. [s. l.],
2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm>. Acessado em: 30 maio 2017.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010.

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FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS E


BIBLIOTECAS. Diretrizes da IFLA para Bibliotecas Públicas. Brasília, DF: Briquet
de Lemos/Livros, 2012a.

FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS E


BIBLIOTECAS. Manifesto da IFLA/UNESCO para bibliotecas públicas. In: ______.
Diretrizes da IFLA para Bibliotecas Públicas. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros,
2012b.

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL; SISTEMA NACIONAL DE


BIBLIOTECAS PÚBLICAS. Biblioteca pública: princípios e diretrizes. 2. ed. rev.
ampl. Rio de Janeiro, 2010.

MOREIRA, Antonio Flávio; CANDAU, Vera Maria. Introdução. In: MOREIRA,


Antonio Flávio; CANDAU, Vera Maria (Org.). Multiculturalismo: diferenças culturais
e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

PLANO NACIONAL DE CULTURA. Acompanhe as metas. Disponível em: <


http://pnc.culturadigital.br/metas/> Acesso em: 2 jul. 2015.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de
Janeiro: WVA, 1997.

SISTEMA NACIONAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS. Dados das bibliotecas


públicas no Brasil. Disponível em: <http://snbp.culturadigital.br/informacao/dados-
das-bibliotecas-publicas/> Acesso em: 2 jul. 2015.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão de literatura. Sociologias, Porto


Alegre, ano 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16>. Acesso em: 30 maio 2017.

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sociedade.

LEITURA TERAPÊUTICA: A BIBLIOTERAPIA SOB O OLHAR DO


BIBLIOTECÁRIO

BORGES, Apollyany Serpa dos Santos46

RESUMO

A biblioterapia foi introduzida a mais de cinco décadas entre os acadêmicos brasileiros,


contudo sua história remonta a milênios atrás. Ainda assim, não é adequadamente
disseminada e utilizada no Brasil, este trabalho fará uma breve visita ao passado deste
tratamento e, em seguida, discorrerá sobre os métodos, especificidades e as diversas
aplicações da biblioterapia enquanto tratamento efetivo contra os “males da alma” bem
como sua efetividade em melhorar até mesmo dores fisiológicas com o tratamento sendo
realizado de forma adequada. Tais afirmações serão dispostas junto a suas fontes
reconhecidas pelo meio acadêmico para atestar sua veracidade e capacidade de
comprovação.
Palavras-chave: Biblioterapia. Biblioteconomia. Leitura.

ABSTRACT

Bibliotherapy was introduced more than five decades among Brazilian scholars, yet its
history goes back millennia. Nevertheless, it is not adequately disseminated and used in
Brazil, this work will make a brief visit to the past of this treatment and will then discuss
the methods, specificities and diverse applications of bibliotherapy as an effective
treatment against the "soul evils" as well As its effectiveness in improving even
physiological pain with the treatment being performed adequately. Such affirmations will
be arranged along with their recognized sources by the academic means to attest their
veracity and verifiability.
Keywords: Bibliotherapy. Library Science. Reading.

1 INTRODUÇÃO

Disse Voltaire, que a leitura engrandece a alma, mostrando o potencial do livro


como um agregador de conhecimento, abrindo portas para a imaginação e servindo de
refúgio para os problemas, afirma Stancki (2013). Os livros se tornaram cada vez mais

46
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade de Informação e Comunicação
(Universidade Federal de Goiás).apollyany@gmail.com

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sociedade.

importantes, sendo utilizados em uma vasta gama de atividades, uma delas é um método
terapêutico, a biblioterapia, que tem colaborado com tratamentos neurológicos,
psicológicos e fisiológicos. Conhecida também como leitura terapêutica, a biblioterapia
é um recurso comprovado cientificamente que possui a capacidade de exercer uma
influência psicológica positiva, culminando em resultados positivos ao paciente.
Apesar de a biblioterapia ser uma área associada diretamente ao ramo da psicologia,
ela ainda é inerente ao serviço da informação, logo, o profissional bibliotecário pode atuar
na área unindo as técnicas da profissão a um trabalho de cunho social (Silva, 2013)
logrando a um resultado benéfico.
Assim, esse artigo tem como objetivo principal expor a atuação do profissional
bibliotecário atuante com a biblioterapia, descrevendo as principais características do
profissional dentro dessa área. Incluindo os benefícios que a leitura terapêutica traz aos
pacientes que a aderem, descrevendo um pouco da sua história e seus tipos.
Diante do contexto apresentado pela biblioterapia, o artigo replicará os benefícios da
biblioterapia e visa expor o profissional da informação, o bibliotecário, atuando dentro
dessa área. Este trabalho contribuirá para futuras conclusões que possam ser realizadas,
com pesquisas em campo e/ou teórica com uma abrangência mais detalhada da relação
do sujeito com e a leitura e os seus resultados.

1.1 METODOLOGIA

O método usado para a realização desse trabalho foi pelo processo qualitativo de
pesquisa, no qual houve levantamento de dados para se obter um aprofundamento no
conhecimento desejado. Houve uma averiguação para o projeto em base teórica,
realizando pesquisa documental e também revisão bibliográfica, onde foram utilizados
dados, teses, dissertações e pesquisas sobre o tema proposto.
Para se realizar a análise de dados suficiente para o projeto, foi realizado pesquisas
em alguns sites específicos para artigos, teses entre outros do gênero. Como o site da
Scielo, pubmed e também o Google Acadêmico. Os termos mais utilizados para a busca
foram “biblioterapia”, “bibliotecário + biblioterapia” e também “perfil + bibliotecário +

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

século XXI”. Como resultado da pesquisa, vários artigos foram selecionados e alguns
foram bastante utilizados (e mencionados ao longo do o artigo) como Caldin (2011),
Valencia e Magalhães (2015).

2 LEITURA TERAPÊUTICA: A BIBLIOTERAPIA SOB O OLHAR DO


BIBLIOTECÁRIO

A leitura é de grande atuação e importância para o mundo moderno em que nos


encontramos, ela é reconhecida como um cursor importante para a formação do indivíduo
enquanto ser sociável e enquanto ser pensante. Para Valência e Magalhães (2015), foi
depois da invenção de Gutemberg que os livros tiveram o reconhecimento da grande
massa, sendo disseminados à população e ganhando o reconhecimento e importância de
cunho social.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Andrade (2015), diz que os livros são
fontes inesgotáveis de informação e conhecimento, é parte importante da formação de
uma criança e adolescente. O ato de ler faz com que o leitor consiga sair de um
pensamento concreto e definitivo para um pensamento subjetivo, elucidativo. “Cada leitor
possui uma experiência própria, cotidiana e pessoal, tornando a leitura única, incapaz de
se repetir, e este é o seu grande encanto” (BRITO, 2010, p.3).
Para Ratton (1975 apud Valencia e Magalhães, 2015, p. 19) a leitura é beneficente,
quando lemos conseguimos viver experiências sem precisarmos passar por elas, ajuda a
prevenir mostrando consequências de determinadas ações, conhecer e compreender
alguns problemas sociais atuais e de outras épocas, a possibilidade de se mover a outros
ambientes facilitando a adaptação caso mudanças reais aconteçam, aumenta o
conhecimento, melhora a autoestima, diminui a timidez, a inferioridade e o sentimento de
culpa, entre outros. Com isso, quando a leitura é utilizada como tratamento terapêutico,
pode contribuir com a melhora tanto psicológica quanto fisiológica, ajudando a aliviar
dores e até na evolução emocional.
A biblioterapia utiliza desses benefícios da leitura, transformando-a em uma
terapia para auxiliar pacientes com problemas de diversas finalidades. Para Almeida

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

(2011), a Biblioterapia, sendo um método terapêutico, utiliza a leitura como coadjuvante


no tratamento de pessoas com problemas psicológicos ou doenças fisiológicas. Por uma
definição mais específica, a Biblioterapia é a terapia por meio de livros, o termo é
composto por duas palavras gregas: biblion (βιβλίο) = livro e therapeia (θεραπεία) =
terapia ou tratamento. (ALMEIDA, 2011; VALENCIA e MAGALHÃES, 2015).
Para algumas pessoas a leitura já é um tipo de terapia pessoal, muito mais do que
somente um hobby, sob uma prática da Biblioterapia bem desenvolvida, é comprovado
que há grandes resultados, ajudando um número variado de pessoas em diversos
problemas, que não se limita apenas em um único foco. Pois para Ferreira (2003, apud
Alburquerque et al., 2012, p.39) a Biblioterapia consiste em “[...]uma técnica de mudança
de comportamento através do autoconhecimento e que utiliza as qualidades racionais
(intelecto, inteligência, compreensão cognitiva) e emotivas dos indivíduos que se
submetem a ela, para obter uma modificação do seu comportamento.”
A função fundamental da biblioterapia é auxiliar na reabilitação da autoestima do
paciente, proporcionando a pacificação das emoções nos pacientes, proporcionando
prazer, alívio, descontração, palidez, como resultado curativo (SILVA, 2011).

Quanto aos objetivos da biblioterapia, podemos citar a ajuda na


adaptação à vida hospitalar; a melhora na autoestima; o alívio às
tensões diárias; o revigoramento das forças; a amenização da
ansiedade e do estresse; ajuda para lidar com os sentimentos
negativos, como a raiva e a frustração; condução ao riso;
preservação da saúde psicológica; propício na compreensão
emocional e intelectual; favorecimento na socialização pela
participação em grupo e a permissão a uma conexão com o mundo
e o contato com a realidade (VALENCIA e MAGALHÃES,
2015, p.09).

Guedes e Ferreira (2008 apud Silva, 2011) dividem a biblioterapia em três tipos;
a institucional, a clínica e a desenvolvimental:

● Biblioterapia Institucional: Voltada para pacientes psiquiátricos, auxilia em


tomada de decisões, esclarecimento de problemas, reorientação de

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comportamento. Para essa terapia é utilizada a leitura didática, praticada em


grupos ou individualmente.
● Biblioterapia Clínica: Auxilia pessoas com problemas emocionais, trabalhando
o comportamento e as atitudes desses pacientes, utilizando a leitura imaginativa.
● Biblioterapia Desenvolvimental: É voltada tanto para pessoas “normais” quanto
em crises, ajudando-as a lidar com problemas e/ou situações cotidianas, utiliza
tanto a leitura didática quanto a imaginativa.

A metodologia utilizada na Biblioterapia é a dinamização e a ativação da linguagem,


“a linguagem metafórica conduz o homem para além de si mesmo; ele se torna outro;
livre de pensamento e na ação” (CALDIN, 2001, p.37). O trabalho com a linguagem em
movimento e os diálogos é fundamental para a terapia com leitura, a variedade de
interpretações e comentários pessoais consegue deixar exposto a individualidade e o
modo de pensar de cada um. O texto existe como objeto principal da terapia, é com sua
ajuda que serão abertos os comentários e as interpretações que mostrarão
comportamentos e pensamentos acolhidos pelo sujeito leitor (ALMEIDA, 2011), é “(…)
a dinamização existencial e ativação existencial por meio da dinamização e ativação da
linguagem” (CALDIN, 2001, p. 37), ajudando o homem a encontrar um mapeamento
lúdico.

Acredita-se que a biblioterapia pode ser proposta para todas as


idades, em grupo ou individual, em qualquer tipo de instituição
seja privada ou pública. O importante é que a história ou até
mesmo o livro a ser indicado seja adequado. Visto que a presente
pesquisa focou na biblioteca escolar. A literatura especializada
recomenda e sugere para o público infantil a utilização da
literatura infantil, porque é capaz de mexer com o imaginário da
criança. No caso de jovens e adultos as crônicas e poesias são
ótimas opções para leitura terapêutica, nunca deixando de lado a
dificuldade da pessoa para que haja o envolvimento do
leitor/ouvinte com o enredo da história. Por isso: [...] o papel do
bibliotecário na biblioterapia é definido, em grande parte pela
formação profissional específica do bibliotecário e sua interação
com outros profissionais. O contexto no qual o programa é
planejado e aplicado, os objetivos que pretende atingir, e os

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sociedade.

usuários aos quais destina são outros fatores determinantes.


(CASTRO e PINHEIRO, 2005, p. 4 apud PEREIRA, 2014, p.18).

Acredita-se que a biblioterapia pode ser proposta para todas as idades, em grupo
ou individual, em qualquer tipo de instituição seja privada ou pública. O importante é que
a história ou até mesmo o livro a ser indicado seja adequado. Visto que a presente pesquisa
focou na biblioteca escolar. A literatura especializada recomenda e sugere para o público
infantil a utilização da literatura infantil, porque é capaz de mexer com o imaginário da
criança. No caso de jovens e adultos as crônicas e poesias são ótimas opções para leitura
terapêutica, nunca deixando de lado a dificuldade da pessoa para que haja o envolvimento
do leitor/ouvinte com o enredo da história. Por isso: [...] o papel do bibliotecário na
biblioterapia é definido, em grande parte pela formação profissional específica do
bibliotecário e sua interação com outros profissionais. O contexto no qual o programa é
planejado e aplicado, os objetivos que pretende atingir, e os usuários aos quais destina
são outros fatores determinantes. (CASTRO e PINHEIRO, 2005, p. 4 apud PEREIRA,
2014, p.18).
Pereira (2014), nos lembra que a biblioterapia não funciona em um “passo de
mágica”, sendo um tratamento que requer planejamento, é multidisciplinar e necessita de
um ambiente adequado. A formação do grupo deve ser de acordo com as necessidades e
problemas dos indivíduos e seleção dos materiais a serem utilizados na leitura devem ser
condizentes a essas necessidades do grupo.
Assim, Almeida et al (2012) resumem a definição da biblioterapia como sendo
uma prática que utiliza textos (livros, contos, resenhas, poemas etc.) na tentativa de ajudar
pessoas com problemas, tanto físicos quanto mentais, a encontrar solução ou alívio para
a adversidade sofrida, sendo que esse serviço pode ser promovida pelas mais diversas
áreas do conhecimento, como a biblioteconomia.

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A BIBLIOTERAPIA

Valencia e Magalhães (2015) fazem um aparato da história da biblioterapia a partir


dos séculos, demonstrando a existência da terapia com a leitura em séculos passados. Para

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as autoras, a leitura terapêutica existiu no Egito Antigo, com o Faraó Ramsés II, onde esse
ordenava que em todas as peças de seu acervo fosse colocado a frase “Remédios da
Alma”, lembrando também que as bibliotecas desses povos eram chamadas de “Casa de
Vida” por estarem ligadas diretamente com a espiritualidade. Em continuação as autoras,
Valencia e Magalhães (2015), corroboram a existência dessa prática entre os romanos e
também na Grécia Antiga, onde já se recomendava a leitura como auxiliar ao tratamento
médico.
Em 1980, com o médico Benjamin Rusch, a biblioterapia começa a ser inserida
aos pacientes com problemas psiquiátricos, idosos e problemas relacionados com a
sensibilidade humana, como a melancolia, tristeza, ansiedade, mania, entre outros
(VALENCIA e MAGALHÃES, 2015).
Porém, foi apenas no ano de 1904, que houve a integração da biblioteconomia
nessa área, com a ajuda da bibliotecária chefe da biblioteca de Massachusett (Pereira,
1996 apud Almeida et al, 2012).
Para Bezerra (2011 apud Pereira, 2014), foi a partir dos projetos desenvolvidos
em diversos locais que a biblioterapia se disseminou chegando no século XXI ao Brasil.
“A leitura terapêutica é praticada há muito tempo não somente com a preocupação da
saúde mental e física, mas há o cuidado com indivíduo em si para permitir que ele liberte-
se de si próprio, por isso a biblioterapia” (PEREIRA, 2014).

3 O BIBLIOTECÁRIO E A BIBLIOTERAPIA

Alguns dicionários mais antigos definem o profissional bibliotecário sendo aquele


que gerencia, cuida de uma biblioteca, outros dicionários já tratam o profissional como
aquele que trata a informação tornando-a acessível ao usuário. Porém, será que essa
profissão é tão limitada quanto é definida?
Pereira (2014), diz que o bibliotecário é uma profissão que está ligada diretamente
com a educação, de cunho social, porém que não é limitada apenas a isso. O bibliotecário
do século XXI não é o mesmo dos séculos passados, ele não pode estar preso apenas pelas

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técnicas mantidas pela profissão, ele deve estar inserido em várias facetas do mercado,
sendo o próprio um profissional multifacetado (SILVA, 2011).
Estamos inseridos em uma sociedade da informação, onde há uma valorização no
conhecimento e inovações. Assim, a tendência mercadológica é que os campos de atuação
tornem-se multidisciplinares, é o que acontece com a área da biblioterapia que para Silva
(2011), a biblioterapia não deixa de ser um serviço de informação, por isso o profissional
bibliotecário pode desenvolver projetos na área mas também deve estar adequado ao
ambiente de escolha.

“O bibliotecário é um profissional privilegiado por estar ligado a


vários ramos do conhecimento, sendo assim, a biblioterapia é
mais uma das funções que o bibliotecário pode desempenhar,
devido a sua multidisciplinaridade e familiaridade com
informação, livros, leitura e contação de histórias”. (SILVA,
2013)

Para Pereira (1996 apud Silva, 2013) o profissional da informação que trabalha
com a biblioterapia deve estender a algumas qualidades pra atuar nessa área, ele deve ter
estabilidade emocional, controle de preconceitos, ser tolerante, paciente, objetivo,
observador, flexível, dominar os sentimentos e passar ao usuário alegria. Esse mesmo
profissional que escolher essa área não trabalhará de forma isolada, existem áreas que
corroboram na terapia, como os profissionais de enfermagem, medicina e psicologia
(SILVA, 2011).
Para Leite (2009), existem algumas diretrizes básicas para o bibliotecário que
queira trabalhar com a biblioterapia, que são: escolher um local adequado para a
realização da terapia, formação de grupos de leitura, a realização de uma lista com a
escolha dos materiais selecionados de acordo com a necessidade das pessoas envolvidas.
Esse profissional também deve estar atualizado a respeito da prática desenvolvida e, se
achar pertinente, deve manter contato com profissionais de outras áreas, para
compartilhar ideias, conhecer outros grupos e até tirar dúvidas.

É necessário também, que os bibliotecários começem a se


interessar pela biblioterapia, que olhem um pouco ao seu redor e
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encontrem no livro a contribuição para amenizar muitos


problemas com, por exemplo, a depressão dos idosos, a solidão
das pessoas hospitalizadas e verão que praticar a biblioterapia é
tão gratificante que quanto fornecer ao médico “aquele livro” que
traz a dosagem exata do medicamento que o paciente precisa pra
sobreviver (SEITZ, 2006, p. 32 apud LEITE, 2009, p.34).

Apesar da biblioterapia com finalidade terapêutica ser estudada desde 1943, no


Brasil são poucos os bibliotecários que trabalham com a biblioterapia, garantindo um
maior número de profissionais na área da saúde (ALMEIDA et al, 2012).
A técnica da biblioterapia não se resume em simplesmente oferecer o livro, o responsável
deve participar junto às fantasias dos pensamentos pacientes. Para Pinto (2005 apud Silva,
2013) somente a leitura, sem um acompanhamento profissional, terapêutico, não se traduz
em biblioterapia, pois essa atividade se faz tanto pelo paciente quanto ao responsável que
possibilita o recurso necessário para a terapia, podendo ser o bibliotecário com formação
terapêutica, o psicólogo, o psicoterapeuta, o psiquiatra, ou ainda o bibliotecário em uma
atividade conjunta com estes profissionais.

[...]ao oferecer um livro devemos também nos oferecer para


compartilhar participar ativamente do contato com o material, que
para alguns pode ser tão misterioso e confuso gerando incertezas
as quanto ao seu uso. Não devemos deixar o leitor sozinho, a
biblioterapia funciona como uma atividade recreativa em que
interagir com outras pessoas é fundamental (MARTINS 2009,
p.38 apud ALMEIDA, 2012, [s/] p.).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre tudo o que foi apresentado, é explícito que as palavras são o elemento essencial
para a terapia de leitura, pois elas convencem, emocionam, incentivam e criam vínculo
entre o paciente e a história. O leitor se envolve emocionalmente na história tratada pelo
livro, carregando do que ele aprendeu em sua própria história. (VALENCIA;
MAGALHÃES, 2015). Assim, as histórias lidas são capazes de atingir várias sensações
a quem está lendo, sendo capazes de auxiliar em problemas enfrentados, tanto emocional,
psicológico ou até fisiológico.

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sociedade.

A biblioterapia não é jovem quanto se acredita, a leitura como terapia já existia na desde
a época do Egito Antigo, sendo aprimorada e estudada, chegando ao que conhecemos
hoje, uma terapia reconhecida a com respostas positivas para aqueles que a utilizam.
Sendo uma área multidisciplinar, a biblioterapia consegue agregar várias técnicas e
conceitos, forçando o profissional que escolher trabalhar nessa área a abrir o leque de
conhecimento para um melhor aproveitamento.
O profissional bibliotecário pode escolher em trabalhar nessa área, porém o mesmo deve-
se capacitar estudar e se nortear de informações sobre o tratamento, pois como foi dito a
cima, a terapia não se pode limitar apenas a uma técnica. Infelizmente, a área da leitura
terapêutica ainda é reconhecida muito mais entre os profissionais da saúde quanto aos
bibliotecários, fazendo que o número desses profissionais da informação fique a baixa
nesse mercado.

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sociedade.

MEDIAÇÃO DA LITERATURA INFANTIL E CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA:


A IMPORTÂNCIA DE PROTAGONISTAS NEGROS NO CONTEXTO
BRASILEIRO

QUEIROZ, Larissa Machado de (autor 1)47

RESUMO
O presente artigo visa discutir a importância da mediação da literatura infantil com
personagens negros no processo de formação identitária das crianças negras no contexto
brasileiro, historicamente marcado pelas relações raciais. Justifica-se pela necessidade de
repensar as práticas do profissional da informação numa sociedade ainda permeada por
relações desiguais visando destacar suas possibilidades de atuação de na sociedade. A
pesquisa caracteriza-se como descritiva quanto a sua natureza e bibliográfica quanto ao
método utilizado, que consistiu na revisão bibliográfica das temáticas, realizada nas bases
de dados Scielo e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
e com a utilização de livros que abordam literatura infantil, identidade e mediação
encontrados em referências de, pelo menos, três artigos sobre esses temas localizados no
portal da Capes. Conclui-se que, embora a produção de livros de literatura infantil atual
já contemple personagens negros, muito ainda precisa ser feito no sentido da mediação
desses materiais, pois o problema do racismo persiste nas produções e na sociedade como
um todo, devendo o bibliotecário estar atento a essas questões e realizar a mediação de
materiais que contribuam de forma positiva no processo de construção da identidade de
crianças negras.

Palavras-chave: Mediação. Literatura infantil. Identidade. Criança negra.

MEDIATION OF CHILDREN'S LITERATURE AND IDENTITY


CONSTRUCTION: THE IMPORTANCE OF BLACK PROTAGONISTS IN THE
BRAZILIAN CONTEXT

47
Acadêmico (a) do curso de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal da Bahia
(UFBA). larissaqueiroz@outlook.com.

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sociedade.

ABSTRACT
This article aims to discuss the importance of mediation of children 's literature with black
characters in the process of identity formation of black children in the Brazilian context,
historically marked by racial relations. It is justified by the need to rethink the practices
of the information professional in a society still permeated by unequal relationships in
order to highlight their possibilities of acting in society. The research is characterized as
descriptive as to its nature and bibliographical as to the method used, which consisted in
the bibliographic review of the themes, carried out in the Scielo databases and
Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (Capes) and the use of
books Which deal with children's literature, identity and mediation found in references of
at least three articles on these themes located in the Capes portal. It is concluded that,
although the production of current children's literature already includes black characters,
much still needs to be done in the mediation of these materials, since the problem of
racism persists in productions and society as a whole, and the librarian must be Attentive
to these issues and to mediate materials that contribute positively to the process of
building the identity of black children.

Keywords: Mediation. Children's literature. Identity. Black child

1 INTRODUÇÃO
O papel do bibliotecário na mediação de livros de literatura infantil se faz
necessário em uma sociedade em que o hábito de leitura ainda é tão pouco praticado, seja
por falta de recursos das famílias para comprar livros, seja pela forma como as escolas
ainda trabalham a leitura como algo obrigatório e chato, visto como um fardo para os
pequenos leitores. Existe ainda a necessidade da leitura crítica por parte de algumas obras
que, embora feitas para crianças, são criadas por adultos inseridos em um contexto social
em que, muitas vezes, as ideologias sociais dominantes são preconceituosas em relação a

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sociedade.

determinados grupos de indivíduos. Isso pode se refletir nas produções literárias e


influenciar de forma negativa os leitores, sobretudos os mais jovens.

Este artigo pretende analisar de que forma a mediação de livros de literatura


infantil pode contribuir na construção da identidade de crianças negras no contexto sócio-
histórico brasileiro, profundamente marcado pelas relações raciais. Justifica-se pela
necessidade de repensar as práticas do profissional bibliotecário enquanto agente de
transformação social no referido contexto em que, não raramente, ainda é possível se
deparar com discursos e práticas discriminatórias em relação à pessoa negra.

A pesquisa se caracteriza como descritiva quanto sua natureza e bibliográfica


quanto aos método e objetivos. A pesquisa descritiva, segundo (FERNANDES; GOMES,
2003, p. 7) é “uma modalidade de pesquisa cujo objetivo principal é descrever, analisar
ou verificar as relações entre fatos e fenômenos (variáveis), ou seja, tomar conhecimento
do que, com quem, como e qual a intensidade do fenômeno em estudo”. O método de
pesquisa bibliográfica é, segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 43) aquele no qual se faz
o “levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas,
publicações avulsa e impressa escrita e cuja finalidade é colocar o pesquisador em contato
direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto”.

A delimitação do universo amostral consistiu na escolha de duas bases de dados,


no caso a Scielo e o portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), e do site de busca Google Acadêmico para a obtenção de artigos com
as temáticas “representação do negro da literatura infantil” e “literatura na construção da
identidade da criança negra” que tivessem no máximo cinco anos de publicação. Para os
estudos sobre literatura infantil e construção da identidade e mediação, além dessas bases
de dados foram utilizados livros de autores conceituados, cujos nomes aparecem em pelo
menos três artigos com essas temáticas localizados no portal de base de dados Capes.

Inicialmente é feita uma breve explanação sobre literatura infantil e seu histórico,
e após isso analisa-se a representação do negro nos livros de literatura infantil no Brasil.
É realizada ainda uma breve discussão sobre a construção da identidade da criança negra
no contexto sócio-histórico brasileiro para só então avaliar de que forma deve ser

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sociedade.

produzida a mediação da literatura infantil com protagonismo negro e qual a relevância


disso.

Conclui-se que o profissional bibliotecário, através de sua formação e no contexto


informacional em que se insere o seu fazer, pode realizar a mediação da literatura tanto
de forma implícita, quanto explícita, sendo a primeira realizada nas atividades de
organização e representação e a última através de indicações e até mesmo com contação
de histórias. Dessa forma, a atuação social tende a trazer importantes contribuições em
uma sociedade ainda tão permeada por relações desiguais.

2 LITERATURA E LITERATURA INFANTIL

É inegável a importância da literatura na vida das pessoas, seja pelo prazer da


leitura, para aquisição de novos conhecimentos ou mesmo pelo viés educativo. Coelho
(1997, p. 24) a define como linguagem humana, que como tal, “expressa uma determinada
experiência humana; e dificilmente poderá ser definida com exatidão.”

Meirelles (1984) chama atenção para o fato de que a literatura vai muito além do
texto escrito, existiu antes dele e mantém-se ainda hoje através da oralidade em algumas
sociedades. O que se infere disso é que a literatura não só esteve presente desde muito
tempo na história da humanidade, como também o fato de que conceituá-la pode ser muito
difícil, uma vez que, ao contrário do que se possa pensar, ela não está relacionada apenas
a textos escritos, mas também a contos transmitidos oralmente. Sobre literatura e
literatura infantil, Meirelles afirma:

A literatura é Infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno


de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra.
Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e real; os ideais e sua
possível/impossível realização. (MEIRELLES, 1984, p. 17).

A literatura infantil tem início com a própria concepção de infância, em fins do


século XVII, quando na Europa, a burguesia emergente passa a conceber seus próprios
valores de família, que divergiam do modelo feudal por criar laços mais próximos e
atribuir aos mais novos a necessidade de proteção e cuidados (SILVA;SILVA, 2011;
MARIOSA; REIS, 2011; RODRIGUES; AQUINO, 2011). Daí surge a necessidade de
livros infantis, voltados para um público ainda em formação.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Inicialmente, os livros de literatura infantil eram adaptações de histórias escritas


para adultos, como os do francês Charles Perrault (Cinderela, Chapeuzinho Vermelho) na
Inglaterra, os dos alemães irmãos Grimm (João e Maria, Rapunzel), do dinamarquês
Christian Andersen (O patinho feio, Os trajes do Imperador), do italiano Collodia
(Pinóquio), do inglês Lewis Carol (Alice no País das Maravilhas) e outros
(CADEMARTORI, 1991).

Durante o século XVIII, sobretudo na França, a valorização do processo de


escolarização por parte da classe burguesa faz com que surjam livros infantis voltados à
instrumentalização e durante muito tempo o livro infantil permaneceu associado às
práticas didáticas (OLIVEIRA, 2004). Por essa razão a literatura infantil é muito
associada ao espaço escolar, embora deva ser pensada também em outros espaços.

No Brasil, inicialmente, a literatura infantil era influenciada pelo que se produzia


na Europa e assim, contos como os citados acima foram os primeiros direcionados ao
público infantil no país (MARIOSA; REIS, 2011). Mas considera-se que literatura
infantil firmou-se como gênero apenas no século XX, também devido à ascensão da
burguesia, porém com características diferentes, pois de certo modo refletiam a realidade
local, as ideias e a organização da nação recém-formada (GOUVÊA, 2005).

Mas ainda hoje, a influência europeia se faz presente no que diz respeito à
literatura infantil no Brasil e aos clássicos como Branca de Neve, Cinderela, Alice no
País das Maravilhas são, muitas vezes, as principais referências as que as que crianças
são apresentadas no campo literário, o que faz pensar a questão da falta de
representatividade étnica nos livros de literatura infantil. Não bastasse isso, mesmo alguns
clássicos nacionais reforçam estereótipos negativos acerca dos negros, sendo por tanto
necessário não apenas a inserção de livros com personagens negros nas bibliotecas, mas
também o desenvolvimento de uma visão crítica sobre a representação do negro em
algumas histórias.

3 O NEGRO NA LITERATURA INFANTIL

Em artigo publicado em 2005, Gouvêa afirma que literatura infantil brasileira


firmou-se de fato na década de 1920, quando o país passava por um processo de

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

modernização e, da mesma forma que na Europa, começava a assimilar os valores da


burguesia emergente, que enxergava o passado ruralista como atrasado e os antigos
trabalhadores escravizados como seres inferiores e nocivos.

A autora ressalta o entrelaçamento entre a literatura quanto um campo artístico


com outros setores da sociedade, como a ciência e a política, e como todos eles
influenciavam um ao outro. Assim, se por um lado as teorias pseudocientíficas48 forjavam
uma ideia de raça, na qual os brancos eram considerados superiores, no cenário político
os negros eram invisibilizados: omitiam-se ações públicas que reparassem os anos de
exploração, enquanto que se importava mão de obra europeia para trabalhar nas lavouras
e também fortalecer o processo de “embranquecimento” do país, tido pelas elites como
necessário ao progresso da nação (GOUVÊA, 2005; PINTO; FERREIRA, 2014). Isso
será visto com mais detalhes adiante.

Sendo a literatura um fenômeno social, ela não poderia se manter alheia a esse
cenário. Inicialmente, o negro não aparecia nas produções e quando começa a surgir, é de
forma estereotipada, tal como afirma Gouvêa

Nos textos pesquisados, produzidos entre 1900 e 1920, o negro era um


personagem quase ausente, ou referido ocasionalmente como parte da cena
doméstica. Era personagem mudo, desprovido de uma caracterização que fosse
além da referência racial [...] Essa ausência do negro nas cenas sociais descritas
no período remete à sua marginalização após a abolição [...] (GOUVÊA, 2005,
p. 84).

Autores como Del Picha, Maria Velloso, Tales de Andrade e o grande escritor
Monteiro Lobato produziram histórias nas quais os negros são representados de forma
estereotipada, aparecendo como um personagem secundário e subserviente, ou violento,
ou ignorante e ainda com características fantásticas, relacionadas ao misticismo. Observa-
se que esses estereótipos derivavam-se de características associadas aos negros em
decorrência de sua posição social: a benevolência e passividade seriam a imagem da negra
idosa que cuidava das crianças brancas, a violência relacionava-se ao negro
marginalizado e desamparado pelo Estado, que recorria ao crime para sobreviver, a

48
Termo utilizado por Viviane Barbosa Fernandes (2016) para se referir às teorias raciais do século XIX.

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ignorância ao fato de que a grande maioria não tinha acesso ao estudo e o misticismo às
práticas religiosas tradicionais que muitos negros praticavam (GOUVÊA, 2005). Tudo
isso é reforçado com a depreciação das características físicas dos personagens. Em
Memórias de Emília, de Monteiro Lobato, a famosa boneca de pano, Sítio do Pica Pau
Amarelo diz a Tia Anastácia (uma cozinheira negra):

Negra beiçuda! Deus que te marcou, alguma coisa em ti achou. Quando ele
preteja uma criatura é por castigo. Essa burrona teve medo de cortar a ponta da
asa do anjinho. Eu bem que avisei. Eu vivia insistindo. Hoje mesmo eu insisti.
E ela com esse beição todo: ‘Não tenho coragem... é sacrilégio...’ Sacrilégio é
esse nariz chato. (LOBATO, 2004 apud SILVA; SILVA, 2011, p. 6).

Em outra passagem do mesmo livro Emília explica o significado de vaca para um


anjo:

Pois muito bem. A vaca é tudo isso que acabo de dizer e muito mais. No
entanto, se você comparar a mais suja negra de rua com uma vaca dizendo:
‘Você é uma vaca’, a negra rompe num escândalo medonho e se estiver armada
de revólver, dá tiro. . (LOBRATO, 1936 apud GOUVÊA, 2005 p. 86).

No livro No País das Formigas de Menotti Del Picha, lê-se:

Havia uma cabana escondida numa porção de árvores. Todos os que passavam
por lá se benziam. É que corria a fama por toda a redondeza que ali morava um
feiticeiro. De fato, o dono daquela cabana era um preto velho, muito feio, muito
misterioso. (DEL PICHA, 1932 apud GOUVÊA, 2005, p. 87).

As três citações demonstram, respectivamente, a imagem da negra idosa,


ignorante e submissa, da negra jovem do cenário urbano, “de rua”, violenta e
“escandalosa”, e do negro místico, o feiticeiro que mora em uma cabana. Muitos desses
livros encontram-se nas prateleiras das bibliotecas nos dias atuais, e não se deve pensar
que há qualquer problema nisso, uma vez que, como foi dito, essas produções são frutos
da concepção de uma determinada época, na qual os autores (a grande maioria homens
brancos) estavam inseridos e produziam de acordo com as ideologias dominantes do
período. O que se deve fazer é uma leitura crítica desses textos e sempre que possível
trabalhar a desconstrução de ideias preconceituosas presentes nas narrativas.

Silva e Silva (2011, p. 7) afirmam que apenas a partir da década de 1980 é que se
tem uma mudança nesse “lamentável quadro que tantos malefícios trouxe para a formação

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sociedade.

de crianças e jovens brasileiros”. No livro Menina bonita de laço de fita, de Ana Maria
Machado, por exemplo, a protagonista é uma personagem negra, que tem suas
características ressaltadas de forma positiva. Isso é de extrema importância para
formação da identidade das crianças, uma vez que esse processo “vai passar
inevitavelmente pelos referenciais a que elas forem apresentadas” (MARIOSA; REIS,
2011, p. 42), incluindo os livros de literatura que forem lidos durante essa fase.

4 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA CRIANÇA NEGRA NO CONTEXTO


SÓCIO-HISTÓRICO BRASILEIRO

Embora tenha início na infância, a construção da identidade é um processo


mutável, individual e social, que sofre influência dos meios dos quais as pessoas inserem-
se e das experiências que elas têm ao longo de suas vidas (MARIOSA; REIS, 2011).
Citado por Pinto e Ferreira (2014, p. 261), Ciampa (1987) define identidade “como um
processo que está em constante transformação, sendo o resultado provisório da interseção
entre a história da pessoa, seu contexto histórico social e seus projetos.” Sobre a formação
da identidade, Mariosa e Reis (2011, p. 18) trazem a seguinte citação de Erikson (1976):

Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de


reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis
do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo julga a si próprio à luz daquilo
que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles
próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele
julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como percebe a si próprio
em comparação com os demais e com os tipos que se tornam importantes para
ele.

Berger e Luckman (2009) afirmam que é na chamada socialização primária que


as crianças têm contato com os primeiros elementos de identificação, atribuídos pelos
familiares, e que esses elementos vão, ao longo do tempo, sendo internalizados ou
rejeitados em certos momentos. Posteriormente, na medida em que os sujeitos vão se
integrando a outros espaços, como escola, trabalho e relacionamentos diversos, outros
papéis lhes serão atribuídos e consequentemente assimilados no processo de construção
da identidade.

Assim, tal processo é compreendido como algo mutável, que sofre influência dos
espaços pelos quais as pessoas passam e da forma como elas se veem enxergadas pelos

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sociedade.

outros. Berger e Luckman afirmam que “a identidade é um fenômeno que deriva da


dialética entre um indivíduo e a sociedade” (BERGER; LUCKMAN, 2009, p. 222).
Portanto, não se pode abordar tal processo sem considerar o contexto social no qual os
indivíduos estão inseridos e como se dão as relações nesse espaço.

Na realidade brasileira, fortemente marcada pelas relações raciais (PINTO;


FERREIRA, 2014), o processo de formação de identidade da criança negra é
extremamente problemático, uma vez que a própria formação do país se deu em bases
escravistas que se utilizaram de uma série de representações negativas acerca da figura
do negro, representações essas que ainda hoje influenciam o pensamento das pessoas.

Inicialmente visto como mercadoria, o negro no período escravocrata não era visto
como um ser humano, nem ao menos respeitado como um animal deve ser. A exploração
do seu corpo ia além das fronteiras do trabalho opressor e alcançava as mais humilhantes
formas de perversidade, tal como demonstra a citação abaixo:

O africano escravizado era objeto – máquina de trabalho e produto mercantil


de grande valor – desprovido de condição humana, e, como tal tratado sem a
menor preocupação com condições de saúde e sobrevivência [...] O sistema
escravocrata nas Américas foi inovador em termos de barbárie e degradação
humana. (PINTO; FERREIRA, 2014, p. 258).

No período republicano, a elite brasileira buscava uma identidade nacional


(SILVA; SILVA, 2011; RODRIGUES; AQUINO, 2011; GOUVÊA, 2005) e a questão
da composição populacional se constituía como um grande problema, pois, embora
tentassem se desvincular do longo período de dominação europeia, o país ainda sofria
forte influência do continente e importava uma série de teorias pseudocientíficas, da qual
se extraía a ideia de inferioridade dos povos de origem africana em relação aos europeus
e seus descendentes (GOUVÊA, 2011; PINTO; FERREIRA, 2014).

Dessa forma, num primeiro momento as relações inter-raciais são condenadas


baseadas na crença de que o fenômeno da miscigenação levaria o país ao atraso frente a
“perda da pureza do sangue da raça branca e superior, produzindo seres inférteis e
incapazes” (PINTO; FERREIRA, 2014, p. 258). Mas a realidade brasileira, na qual a
miscigenação já se adiantava às teorias, foi necessário criar uma nova concepção para o
processo e isso se deu através do “elogio à miscigenação”. Sobre essa questão, Queiroz

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sociedade.

(2004 apud PINTO; FERREIRA, 2014, p. 259) afirma que “a tese de que a nação
brasileira ‘embranqueceria’ e vinculada a ela a adoção de um sistema amplo de
classificação se apresentaram como solução para o caso especial brasileiro”.

O fato é que o negro devia ser excluído da sociedade de alguma forma. Ele não
era aceito, sua imagem era vista como sinônimo de atraso e ignorância, mas que poderia
ser tolerado caso se aproximasse mais do modelo branco e civilizado, considerado padrão.

Mais tarde, durante o século XX, o surgimento do mito da democracia racial, que
sugere uma convivência harmoniosa entre as raças, gera ainda outra problemática: a de
que, devido a esse convívio pacífico, oriundo do processo de miscigenação da qual todos
fazem parte, não existe racismo no Brasil. Isso gera um silenciamento em torno da
questão, impedindo que aqueles que sofrem com o problema possam denunciar o que
ocorre. O chamado racismo à brasileira, diferente do que ocorreu nos Estados Unidos,
onde os negros foram perseguidos e segregados de forma muito mais marcada, é tão grave
quanto qualquer outro, pois incute a ideia de inferioridade dos indivíduos por suas
características fenotípicas (PINTO; FERREIRA, 2014).

Ainda no século XX, a influência das revoluções africanas contra o domínio


europeu no continente influenciaram fortemente os “movimentos de negritude” na
América e no Caribe, e já começam se observar avanços sociais (BARREIROS, 2010, p.
2). Também o fenômeno da globalização reconfigura as formas de os indivíduos
pensarem a própria identidade, e no século XXI, todos esses fatores têm um importante
papel para “valorização das culturas populares, das características negras e as
miscigenadas de afrodescendentes, fortalecendo a ‘consciência racial’” (BARREIROS,
2010, p. 2). A Lei n.º 10.639 de 2003, que torna obrigatória inclusão da temática “história
e cultura afro-brasileira” no currículo oficial da rede de ensino (BRASIL, 2003), por
exemplo, representa um grande avanço no sentido de introduzir livros de literatura infantil
com protagonismo nas escolas, já que muitas vezes esses são usados como material
auxiliar às atividades didáticas.

Mas ainda há muito para ser feito, pois os problemas decorrentes do racismo
persistem e certamente não desaparecerão em pouco tempo. Seja na família (pessoas

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negras, sobretudo não escolarizadas, tendem a internalizar e reproduzir o racismo que as


cercam), na sala de aula ou através da falta de representatividade na literatura, na TV e
no cinema, a criança negra ainda não consegue atribuir a si mesma características
positivas, pois cresce ouvindo histórias de princesas brancas, heróis brancos, fadas
brancas e outros personagens brancos.

Nesse sentido o bibliotecário tem um papel fundamental na mediação de materiais


que orientem as crianças quanto a percepção e valorização de suas características e de sua
história. Como foi visto, a literatura infantil pode contribuir de forma impactante na vida
de crianças negras que, por questões históricas não encontram nos espaços tradicionais as
referências que deveria ter para construir uma identidade positiva de si e desenvolver
autoestima, e também para as brancas que crescem com a falsa ideia de superioridade a
respeito de si e enxergam a outra como inferior.

5 O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO NA MEDIAÇÃO DA LITERATURA


INFANTIL COM PROTAGONISMO NEGRO

Muito tem se falado sobre a função social da biblioteconomia em meio a produção


científica da área, pois sabe-se que qualquer profissional ciente da importância da leitura
e da educação na vida de uma pessoa pode contribuir significativamente em um
determinado espaço, quando se propõe a tal e quando dispõe de condições favoráveis para
a seu trabalho.

Em face do que foi exposto, percebe-se que a literatura infantil com protagonismo
de personagens negros pode ajudar despertar nas crianças dessa cor um sentimento
positivo em relação à própria identidade e consequentemente valorizar sua autoestima,
sendo de extrema importância que os profissionais comprometidos com a educação, a arte
e a cultura desenvolvam ações nesse sentido. Fleck, Cunha e Caldin, em texto publicado
em 2016 (p. 195) afirmam:

O bibliotecário tem entre suas funções reconhecidas o desenvolvimento de


práticas de promoção à leitura. Para isso ele precisa ser um mediador da leitura
[...] Para mediar, segundo Martins (2014, p. 181), é preciso ir além ‘da
percepção cristalizada de mundo cotidiano e difundida pelos sistemas
ideológicos para uma visão crítica da realidade, que tenha em vista a indagação
sobre consensos e a elaboração de pensamentos autônomos’. A leitura pode

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ajudar as pessoas na construção de si mesmos, a encontrar espaços de liberdade


a partir deles, dar sentido a sua vida.

Souto (2010) baseia-se nos estudos de Carol Khulthal para analisar o conceito de
mediação e o entende como “a intervenção humana para assistir a busca de informações
e uso” e o mediador “uma pessoa que ajuda, guia, orienta e intervém no processo de busca
de informação de outra pessoa”. (KHULTHAU apud SOUTO, 2010, p. 76). A autora
propõe cinco níveis de mediação, sendo eles: organizador (mediação implícita ou
indireta), localizador, identificador, conselheiro e orientador.

Segundo a autora, o nível organizador é o mais superficial e ocorre sem que haja
a interação entre o bibliotecário e o usuário da informação – o leitor. O nível localizador
seria o momento de busca, em que necessariamente precisa haver a interação, já que há
uma necessidade manifesta, da mesma forma que na identificação. Os níveis conselheiro
e orientador são aos mais complexos e exigem do profissional da informação um
conhecimento mais aprofundado sobre o usuário/leitor, para que se possa direcioná-lo ao
material mais adequado.

Assim, a mediação da literatura infantil ocorre tanto de forma direta quanto


indireta, sendo a primeira realizada nas atividades de processamento técnico no qual o
bibliotecário deve se utilizar elementos de representação mais eficientes para a
recuperação de livros. Por exemplo, em se tratando de uma biblioteca infantil, alguns
termos devem ser priorizados em detrimento de outros nos catálogos, da mesma forma
que as notações podem ser substituídas por palavras ou cores nas estantes.

Mas é através da mediação direta que o bibliotecário pode realizar um trabalho


mais impactante com um público infantil. Levando em conta os objetivos da instituição e
as necessidades dos usuários, ele pode indicar obras literárias, realizar a hora do conto e,
no caso específico de uma biblioteca escolar, trabalhar junto com professores e
coordenação pedagógica indicando o que há de melhor no mercado editorial voltado ao
público infantil.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Embora mais da metade da população brasileira seja composta de indivíduos que


se autodeclaram negros e pardos (RODRIGUES; AQUINO, 2011), a histórica influência
da cultura europeia, principalmente das teorias racistas oriundas desse continente, criou
no país uma imagem negativa da pessoa negra que se reflete em diversas produções
culturais, entre elas a literatura infantil. Muitos livros ainda ajudam a disseminar
preconceitos e a reforçar estereótipos negativos sobre as pessoas negras, gerando nas
crianças dessa cor um sentimento de baixa autoestima e consequentemente de negação da
própria identidade.

Cabe aos profissionais bibliotecários estarem atentos a essa realidade e trabalhar


essas questões nos seus espaços de atuação. Como aponta Lajolo (1997), a literatura
infantil e sua leitura estão fortemente associadas ao contexto escolar e seu direcionamento
didático pode, muitas vezes, interferir nos outros tipos de leitura que devem ser feitos
com esses materiais.

Tanto os professores quanto os bibliotecários precisam se atentar às demandas do


seu contexto de atuação e se preocupar com o desenvolvimento de atividades e serviços
que de alguma forma contribuam com a sociedade onde estão inseridos. No caso dos
bibliotecários, é preciso estar atento ao público que frequenta a biblioteca pública e/ou
infantil, a escolar e qualquer outra, pois ali a qualquer momento pode aparecer uma pessoa
cuja percepção de mundo pode ser transformada de forma positiva por um livro.

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sociedade.

O DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NA


PERSPECTIVA DAS TEORIAS CRÍTICAS E PÓS-CRÍTICAS DO
CURRÍCULO

ROSA, Victor49

RESUMO

Reflete sobre o desenvolvimento da coleção da biblioteca escolar à luz das teorias críticas
e pós-críticas do currículo. Objetiva discutir e relacionar, através destes objetos, os
campos da Biblioteconomia e Educação pelo levantamento de questionamentos e
apontamento de algumas considerações. Reconhece que a atividade de seleção permeia
os dois campos (Desenvolvimento de Coleções e Currículo) e que a ação selecionar
envolve operações de poder. Diante das questões centrais das teorias críticas e pós-críticas
do currículo – como identidade, reprodução social, reprodução cultural,
multiculturalismo, diferença, entre outras categorias – problematiza a coleção escolar,
apontando que ela pode ser uma das formas pelas quais a comunidade escolar se sinta
representada. Consiste em um estudo exploratório, elaborado a partir de pesquisa
bibliográfica, utilizando fontes para os textos indicados nos programas das disciplinas
que abordam estas temáticas. Conclui que Currículo, Biblioteca Escolar e
Desenvolvimento de Coleções são campos que se relacionam, tece sugestões para novos
estudos e, sobretudo, considera que a biblioteca escolar, assim como o currículo, é capaz
de forjar identidades.

Palavras-chave: Desenvolvimento de coleções. Biblioteca escolar. Currículo.

THE LIBRARY SCHOOL COLECTION DEVELOPMENT CONSIDERING


THE CURRICULUM CRITICAL AND POST-CRITICAL THEORIES

ABSTRACT

It reflects on the development of the school library collection in the light of the curriculum
critical and post-critical theories. It aims to discuss and relate Library Science and
Education throughout questioning and indicating some points of view. It recognizes that
the selection process is in both areas and consists on operations of power. Faced with
issues such as identity, social reproduction, cultural reproduction, multiculturalism,
difference, among other categories, it problematizes the library school collection,
pointing out that it can be one of the ways the school community feels represented. It
consists on an exploratory study, based on bibliographical research, using as sources texts
from the programs of the disciplines that deal with these themes. It concludes that

49
Acadêmico do curso de Licenciatura em Biblioteconomia da Escola de Biblioteconomia (EB) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
e-mail: victor.soares.rosa@gmail.com
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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
da Informação – ENEBD 2017

Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Curriculum, Library School and Collections Development are related areas and suggests
that there are new studies that can be done. Overall, considers that the library school, just
like curriculum, is also able to develop identities.

Keywords: Collections development. School library. Curriculum.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta algumas reflexões em torno do desenvolvimento da


coleção de bibliotecas escolares sob a perspectiva das teorias críticas e pós-críticas do
currículo. A ênfase é na etapa seleção. Foi elaborado para ser uma das tarefas da disciplina
Currículo, componente curricular optativo aos cursos de graduação em Biblioteconomia
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Centramos este estudo no âmbito do Desenvolvimento de Coleções (DC) e do
Currículo por envolverem processos de seleção. Consideramos que selecionar, além de
consistir em uma operação de recorte de um determinado conjunto de coisas (ou seja: há
uma posição de exclusão de algo nesse processo), é uma ação que envolve um mecanismo
subjetivo ou objetivo de poder. No contexto do DC, de um conjunto de materiais,
seleciona-se, a partir de critérios pré-definidos, os que vão compor a coleção de um
espaço (seja a biblioteca ou outra unidade de informação) e que, neste sentido, serão
aqueles aos quais um determinado público terá acesso. Em relação ao Currículo, o
processo de seleção ocorre a partir de um conjunto inumerável de saberes, dos quais é
atribuído um recorte para que apenas uma parcela destes saberes sejam aqueles
considerados como saberes escolares para servirem de base ao ensino escolar. Ainda,
como discutimos Currículo, situando-o como uma subárea da Educação e em uma
disciplina voltada a formação de professores, localizamos estas reflexões no contexto de
DC em bibliotecas escolares.
Por vermos estas seleções como um conjunto de decisões que envolvem operações
de poder, diferentes questões, tanto na Biblioteconomia quanto na Educação, podem ser
levantadas. Algumas já dadas na teoria de determinada área, por exemplo, “por que estes
saberes e não outros?” ou “estes são os saberes de quem?” nos estudos sobre Educação.
Ao mesmo tempo, no contexto do DC, é possível questionar “estes materiais são do
interesse de quem?”, “quem determinou serem estes materiais os necessários para compor
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

a coleção?” – mesmo sendo o estudo da comunidade a primeira etapa de DC e mesmo


havendo comissões instituídas e políticas para auxiliar a atividade de seleção,
reconhecemos a importância destas perguntas.
A partir do exposto, apresentamos o seguinte problema: existem teorias que
criticam a seleção curricular e reconhecemos que o currículo é uma das bases para se
desenvolver uma coleção de biblioteca escolar, logo, o processo de DC e a crítica ao
currículo tradicional podem mutuamente se auxiliar. Neste contexto, esse trabalho tem
por objetivo discutir e questionar o processo de DC na biblioteca escolar em relação às
teorias críticas e pós-críticas do campo do Currículo.
Reconhecemos a importância deste estudo no fazer dos profissionais de
bibliotecas escolares. Sobretudo, em virtude das teorias críticas e pós-críticas do currículo
se centrarem em torno dos questionamentos de uma teoria tradicional, marcada por uma
concepção produtivista, e teorizarem em torno de temas como o capitalismo, a reprodução
social e cultural, o multiculturalismo e a formação de identidade, além de outros. Neste
sentido, caracteriza-se como um trabalho próprio ao grupo de trabalho 03 do evento, no
sentido de propor reflexões sobre educar para a diversidade, em um contexto de tensões
e disputas, inclusive relacionadas aos grupos considerados minorias sociais, tema do
evento.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia foi empregada a partir das considerações de Gil (2010).


Classificamos esta pesquisa como aplicada, visto que as reflexões propostas podem servir
a situações específicas de DC em bibliotecas escolares. Quanto aos seus objetivos,
consideramos ser uma pesquisa exploratória, ou seja, a que propõe maior familiaridade
com um problema.
Nossa principal técnica empregada é a pesquisa bibliográfica. Temos três campos
de conhecimento principais: Bibliotecas Escolares, DC e Currículo. O embasamento para
abordar a biblioteca escolar parte do programa dessa disciplina, que cursamos
anteriormente na graduação – recorremos, então, ao Manifesto da Federação
Internacional de Associações de Bibliotecários e Instituições (IFLA) para a biblioteca

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sociedade.

escolar (2005) e ao texto de Fragoso (2002). Nossas referências para DC são retiradas do
programa da disciplina Formação e Desenvolvimento de Coleções, sendo elas: Vergueiro
(2010) e Weitzel (2006). No âmbito do Currículo, nossa referência é Silva (2016), atual
leitura na disciplina de Currículo.

3 COSTURANDO A TRAMA: TEORIAS EM DIÁLOGO

Esta seção se propõe a servir de apresentação do quadro teórico de referência.

3.1 O espaço: a biblioteca escolar em questão

Neste tópico, vamos nos basear no Manifesto da IFLA e da Organização das


Nações Unidas para Educação e Cultura (UNESCO) para bibliotecas escolares, de modo
que, a partir deste documento de abrangência internacional, possamos localizar e situar a
biblioteca escolar no contexto educacional. As diretrizes nos dizem que (FEDERAÇÃO
INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS E INSTITUIÇÕES,
2005, p. 4):

A biblioteca escolar propicia informação e idéias [sic] que são


fundamentais para o sucesso de seu funcionamento na sociedade
atual, cada vez mais baseada na informação e no conhecimento.
A biblioteca escolar habilita os alunos para a aprendizagem ao
longo da vida e desenvolve sua imaginação, preparando-os para
viver como cidadãos responsáveis.

Precisamos destacar desta citação, a concepção de sociedade pautada em


informação e conhecimento. Situamos a Sociedade da Informação como um importante
marco teórico por reconhecermos que a partir dela inúmeras barreiras, em especial de
comunicação, foram ultrapassadas. Lembramos que a sociedade da informação é aquela
marcada pelo rápido desenvolvimento tecnológico e que, sobretudo, tem na informação
sua matéria prima (WERTHEIN, 2000). Por sua vez, cabe também a biblioteca da escola
preparar os alunos para viver como cidadãos, reconhecendo que a cidadania é um dos
principais quesitos para uma sociedade justa e reflexiva.

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sociedade.

Para desenvolver sua missão, vamos recorrer a algumas funções da biblioteca


escolar conforme apontadas por Fragoso (2002, não paginado, grifo nosso):

a) cooperar com o currículo da escola no atendimento às necessidades dos


alunos, dos professores e dos demais elementos da comunidade escolar;
b) estimular e orientar a comunidade escolar em suas consultas e leituras,
favorecendo o desenvolvimento da capacidade de selecionar e avaliar;
c) incentivar os educandos a pensar de forma crítica, reflexiva, analítica e
criadora, orientados por equipes inter-relacionadas (educadores + bibliotecários);
d) proporcionar aos leitores materiais diversos e serviços bibliotecários
adequados ao seu aperfeiçoamento e desenvolvimento individual e coletivo;
e) promover a interação educador -bibliotecário- aluno, facilitando o processo
ensino-aprendizagem;
f) oferecer um mecanismo para a democratização da educação, permitindo
o acesso de um maior número de crianças e jovens a materiais educativos e,
através disso, dar oportunidade ao desenvolvimento de cada aluno a partir de
suas atitudes individuais;
g) contribuir para que o educador amplie sua percepção dos problemas
educacionais, oferecendo-lhe informações que o ajudem a tomar decisões no
sentido de solucioná-los., tendo como ponto de partida valores éticos e
cidadãos.

Acreditamos que estas funções propostas direcionam a possibilidades que a


biblioteca tem de servir a um projeto político pedagógico escolar emancipador – que
proponha o questionamento como um dos alicerces do desenvolvimento pessoal e para
que assim possa auxiliar na construção da identidade dos aprendizes e conscientiza-los
quanto a participação ativa e cidadã na sociedade.

3.2 O processo: aquele livro e não este

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sociedade.

DC é uma das atividades mais importantes da Biblioteconomia. No caminho


percorrido por um documento em uma biblioteca, sua seleção é uma das primeiras tarefas
executadas por bibliotecários e, por sua vez, é uma das etapas do DC. DC é, conforme a
literatura da área, um processo composto por seis etapas interdependentes, a saber: o
estudo da comunidade, a política de seleção, a seleção, a aquisição, a avaliação e o
desbastamento e descarte (VERGUEIRO, 1989; EVANS, 2000; MACIEL;
MENDONÇA, 2006 apud WEITZEL, 2006).
O que Weitzel nos explica é que para cada tipo de biblioteca, para cada unidade
de informação, uma destas etapas pode receber uma ênfase e importância diferente. No
caso da biblioteca escolar a coleção, prossegue a autora, tem por objetivo “apoiar os
programas de ensino oficial”, sendo os principais tipos de materiais as “obras de
referência, livros para-didáticos, literatura e não-ficção”. Na biblioteca escolar, a ênfase
do DC reside nos processos de seleção e desbastamento. (VERGUEIRO, 1989 apud
WEITZEL, 2006, p. 20).
O foco desta seção também são as etapas de política de seleção e seleção. A
política de seleção é um documento normativo elaborado pela biblioteca e é responsável
por orientar esta etapa. Uma das considerações, segundo Weitzel (2006), em torno da
etapa da política de seleção reside exatamente na identificação dos responsáveis pela
seleção dos materiais. Para ela, é o bibliotecário o responsável pela tomada da decisão,
por ter conhecimento do acervo da biblioteca, entretanto, compreende a etapa reconhecer
que comissões de seleção podem prestar apoio a esta atividade. Ainda, há políticas
específicas e documentos correlatos que se relacionam ao processo. Para exemplificarmos
esta questão, no caso da biblioteca escolar, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
e a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são documentos que se relacionam.
Por fim, a seleção é a tomada de decisão título a título, ou material por material, conforme
Figueiredo (1998 apud WEITZEL, 2006).
Procedemos, agora em Vergueiro (2010), em função de sua exposição sobre os
critérios de seleção de materiais. O autor divide estes critérios em três grupos, a saber:
conteúdo dos documentos, adequação ao usuário e aos aspectos adicionais do documento.
Vamos listar os critérios considerados mais relevantes ao trabalho, conforme o quadro a
seguir.

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sociedade.

Quadro 1 – Alguns critérios de seleção


CRITÉRIO DESCRIÇÃO
Autoridade Envolve a reputação do autor, da editora ou do patrocinador.
Imparcialidade Considera a abordagem do assunto, se há justiça, se verifica
todos os lados do assunto de que trata.
Cobertura/Tratamento Refere a forma como o assunto é tratado, se a abordagem é
apenas superficial e se cobre todos os aspectos importantes do
tema.
Relevância/Interesse Define se é importante para a experiência do usuário.
Fonte: Vergueiro (2010, p. 18-24), adapatado.

Para a abordagem de DC, estes são os elementos que serão necessários a nossa
análise posterior. Pensarmos DC implica em decisões, mesmo que com a possível
participação ativa de outros sujeitos, as etapas que envolvem seleção suscitam
questionamentos e cuidados por sempre, mesmo baseado em normativas, envolverem
escolhas que podem falhar na tentativa de serem democráticas e por acreditamos que
sempre privilegiam um determinado grupo em detrimento de outro.

3.3 A formação: o que se aprende na escola é isso

Partimos de Silva (2016) por ser ele quem nos apresenta, em uma visão histórica,
a trajetória do Currículo enquanto campo de conhecimentos. Assim como o autor,
apontaremos os discursos sobre Currículo, divididos em três grupos principais: as teorias
tradicionais, as teorias críticas e as teorias pós-críticas. É importante destacar, sobretudo,
que currículo é seleção, um processo geralmente pautado pela pergunta “o que ensinar?”.
A literatura desta área tem forte influência norte-americana. Assim começam as
teorias tradicionais: o cenário é uma década de 20 em que os Estados Unidos passam por
um processo de industrialização e de imigração de outros povos para seu território. Em
um contexto de educação de massas, Bobbitt concebe um modelo industrial, que se
assemelha a um modelo de produção fabril, no qual considera que a educação deve ter

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sociedade.

objetivos precisamente definidos para desenvolver nos aprendizes habilidades necessárias


para exercer com eficiência as ocupações profissionais de uma vida adulta. (SILVA,
2016).
A crítica começa em autores que buscam questionar estas teorias. Enquanto as
teorias tradicionais são de aceitação e se preocupam em como fazer currículos, as teorias
críticas são teorias de desconfiança que se preocupam em compreender o que o currículo
faz. Neste sentido, diferentes autores, ao longo da década de 70, principalmente, vão
criticar os processos resultantes das visões tradicionais. São temas de destaque na teoria
crítica as reflexões em torno de ideologia, da reprodução social e cultural, do poder, de
classes sociais, do capitalismo, das relações sociais de produção, de resistência. (SILVA,
2016).
Diversos são os autores que compõem esse quadro crítico, conforme Silva (2016),
entre eles: Paulo Freire, Patrono da Educação brasileira, com sua crítica a educação
bancária, ou seja, uma crença de educação como depósito de conhecimentos – em sua
visão, para rechaçar e educação bancária, os saberes escolares que compõem o currículo
devem ser retirados das vivências dos aprendizes.
É de Michael Apple a contribuição que consideramos essencial ao nosso
pensamento. Este autor não se preocupa com a validade epistemológica do conhecimento
corporificado no currículo. A questão é saber qual conhecimento é considerado
verdadeiro. Sua preocupação é com as formas pelas quais certos conhecimentos são
considerados legítimos em detrimento de outros, os ilegítimos. Sua pergunta é “por que
esse conhecimento e não outros?”, “por que esses saberes que são importantes?”. Nisso,
Apple vai considerar essencial refletir sobre três aspectos: a) de quem é o conhecimento;
b) quais são os interesses na seleção desse conhecimento; e c) quais são as relações de
poder no processo de seleção que resultou nesse currículo particular. (SILVA, 2016).
As teorias pós-críticas avançam ao trazer às discussões sobre Currículo temas
como identidade, diferença, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo,
entre outros. Os discursos que compõem estas teorias são os que mais se posicionam em
torno de um ideário de representação dos diversos grupos sociais. A principal ideia nas
teorias pós-críticas está relacionada a formação da identidade, visto que concebe o

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currículo como um documento que forja identidades, logo questiona: por que privilegiar
uma determinada subjetividade ou identidade e não outra? (SILVA, 2016).
O currículo é este aspecto tão importante na vida de um indivíduo porque – tal
como etimologicamente se concebe a palavra currículo (do latim currere: pista de corrida,
ou, em outra leitura, a ação de correr) como o ato percorrer a pista – ao fim dele, do
currículo, ao fim da corrida, nós seremos alguma coisa e, neste sentido, conforme Silva
(2016), currículo forja identidades, ele é um documento de identidade.

4 AS REFLEXÕES

Começamos por questionamentos: é possível um currículo plural? É possível um


currículo que envolva as temáticas afins a diferentes culturas e que seja bem sucedido em
instrumentalizar os aprendizes em torno de saberes que eles necessitarão ao longo da
vida? Deve partir de quem a indicação desses saberes necessários? Uma coleção escolar
é capaz de representar toda a comunidade escolar? É possível selecionar sem excluir?
Não é nosso objetivo responder a todas estas perguntas, contudo, introduzi-las é um passo
para o desenvolvimento de novos trabalhos.
A Educação tem uma missão de amplitude incalculável. Ela reconhece que os
indivíduos são diferentes e que as próprias sociedades modernas são diferentes. Na
perspectiva da sociedade da informação e do conhecimento, a biblioteca escolar, como
um dos espaços de desenvolvimento da Educação, deve estimular os estudos e a reflexão
neste contexto de desenvolvimento tecnológico. Reconhecemos que, apesar desta ideia
de sociedade, o acesso às tecnologias de informação e comunicação é direcionado a uma
determinada parcela da população. A biblioteca, no entanto, por receber as funções de
democratizar a educação e de desenvolver a percepção dos problemas educacionais, deve
ser um dos espaços de posicionamento em relação a desigualdade neste acesso. Tal qual
perpetuado nas teorias críticas e pós-críticas, a educação e o currículo são espaços de
resistência, de rebelião, de revolução e de militância. Desta forma, a escola como um todo
e a biblioteca em particular podem batalhar para romper com as desigualdades existentes
nas sociedades.

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Ainda como missão da biblioteca escolar, aponta-se como necessidade o processo


de aprendizagem ao longo da vida, na perspectiva de seu desenvolvimento, para o
exercício da cidadania responsável. Consideramos que estes tópicos se relacionam a um
dos questionamentos do Professor Tomaz Tadeu da Silva em suas reflexões sobre
Currículo: “qual é o tipo de ser humano desejável para um determinado tipo de
sociedade?”. Perguntamos, nesta mesma linha, o que é cidadania responsável?
Acreditamos que as sociedades atuais são multiculturais, marcadas por questões de raça,
etnia, gênero, sexualidade, religião, classes sociais, necessidades especiais, entre outras
categorias, e que, por isso, o ser humano desejável e cidadão responsável é o que pratica
ações como respeitar, aceitar, reconhecer, entender, conviver, ajudar – ações que são
pautadas também pela nossa concepção do que é correto. Ainda, indicamos que, conforme
uma abordagem de currículo multiculturalista, que reconhece diferenças e identidades, a
biblioteca escolar pode desenvolver as relações interculturais e promover as ações
supracitadas. Sua coleção pode representar estas diferenças e identidades. No contexto de
DC (conforme a indicação de Weitzel sobre os principais tipos de materiais de uma
biblioteca escolar), o aprendizado ao longo da vida envolve o conhecimento das fontes
de informação, em seus variados tipos e suportes, por exemplo: os livros, os dicionários,
as biografias, as enciclopédias, as fontes geográficas, as fontes estatísticas, os meios de
comunicação em massa (jornais, rádio, cinema, televisão), sobretudo, a Internet e a Web,
eventos, legislações, periódicos, associações, grupos e/ou sociedades civis e, não menos
importante, as próprias pessoas individualmente, entre outras. Estes são alguns elementos
que podem guiar currículos para o aprendizado ao longo da vida e para o exercício da
cidadania responsável.
Uma das funções da biblioteca escolar é a cooperação com o currículo. A esta
função cabem questionar: qual currículo? De onde partiu a seleção que compõem o
currículo da escola? Como essa seleção foi feita? A biblioteca vai selecionar materiais
que, tais quais as teorias tradicionais de Currículo, não questionam a reprodução e
perpetuação das estruturas sociais? Relacionamos a isso, por ser objetivo do processo de
DC em bibliotecas escolares apoiar programas de ensino oficial, entre os quais, os
mencionados PCNs e BNCC e também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), projetos político pedagógicos que servem como instrumentos para o processo.

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Em relação a estes documentos oficiais, o bibliotecário precisa exercer a sua crítica e


questionamento, avaliando-os em relação a um possível caráter monocultural e
padronizador. É importante que as questões acima sejam consideradas. A cooperação com
o currículo é estabelecida de modo a atender as necessidades da comunidade escolar e,
por isso, é importante considerar quais são essas necessidades. O estudo da comunidade
é uma etapa de extrema importância, assim como, de fato, haver uma Comissão de
Seleção com membros da comunidade, ou seja, além de aprendizes, professores, gestores
e bibliotecários, familiares e amigos da escola.
É função da biblioteca auxiliar no desenvolvimento de senso crítico, reflexivo,
analítico e criador nos alunos. Partimos do pressuposto que questionar é um dos meios
pra se cumprir esta função. Quais ações a biblioteca pode oferecer para possibilitar
múltiplas visões de mundo e questionar a realidade ao seu redor?
Outra função está na oferta de materiais diversos e serviços adequados que, para
o nosso ponto de vista, corresponde a ideia já apresentada de permitir que a coleção
escolar represente a comunidade escolar, que ela colabore no desenvolvimento escolar
dos aprendizes e em sua formação de identidade. Os materiais e serviços devem orientar
a crítica da reprodução social e cultural e das estruturas sociais. Devem, também, ser
plurais e servir ao conjunto de necessidades que atendem as perspectivas críticas e pós-
críticas.
Vamos apontar outra função: contribuir para a percepção dos problemas
educacionais. Em sociedades marcadas por desigualdades, tensões e conflitos como as
atuais, selecionar materiais que indiquem tais características é fundamental para o
desenvolvimento dessa percepção. Há inúmeros documentos produzidos em torno da
crítica a desigualdade, ao favorecimento e ao favoritismo.
Ao considerarmos as comissões de seleção, elas devem ser formadas por uma
equipe que, além do bibliotecário, conte com os aprendizes, com os educadores, com os
familiares, com os gestores. Embora existam recomendações quanto ao número de
integrantes desta equipe, ela deve estar estruturada em diferentes categorias que englobam
diferentes saberes. Os bibliotecários podem estar atentos a questão: por que a Comissão
prefere estes saberes em detrimento de outros? Quais são nossos interesses nessa seleção?

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sociedade.

Ainda, critérios de seleção, como autoridade, imparcialidade, cobertura e


relevância, devem ser observados e considerados. Deve-se considera-los também de
maneira crítica, como o critério autoridade, por exemplo. O que confere autoridade em
uma determinada área é o reconhecimento científico ou cultural do autor? Esta questão é
aplicável na verificação da reputação do autor? Quais autores devem ser selecionados?
Há autores latinos na coleção? Há autores negros? Há autores homossexuais? Quais são
as ações de militância empreendidas pelos autores? Já se envolveram em casos de
discriminação, de intolerância? Apontamos as biografias como um importante
instrumento auxiliar para este critério.
Encerrando nossas reflexões, outros critérios como a imparcialidade, a cobertura
e a relevância dialogam. Há questões já apontadas nesta literatura, como, há justiça na
abordagem do assunto? A abordagem observa os vários lados do assunto? O assunto é de
interesse? O assunto é relevante para a experiência do aprendiz? O aprendiz se sentirá
representado por este documento? Este documento servirá para as discussões que se
empreendem em torno das teorias críticas e pós-críticas do currículo?
Estas são algumas das reflexões indicadas. Algumas foram enunciadas através de
questionamentos. Nesta seção, nos preocupamos em estabelecer as relações entre DC em
bibliotecas escolares e o Currículo à luz das teorias que utilizamos para embasar o
trabalho. Consideramos que refletir sobre estes temas é importante ao fazer de
bibliotecários escolares e demais educadores pelas possibilidades reais que as coleções
têm de auxiliar na emancipação e formação dos aprendizes assim como na formação de
suas subjetividades e identidades, temas centrais às teorias críticas e pós-críticas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da coleção da biblioteca escolar deve ouvir a comunidade. O


estudo da comunidade é a primeira etapa, já apontada na literatura. A ética do
bibliotecário (embora não trabalhada no texto, mas notadamente uma temática central ao
estudo) não deve permitir que critérios essencialmente ideológicos ou de silenciação,
neutralização ou inferiorização decidam por ignorar um apelo daqueles que buscam a
biblioteca escolar para sanar sua necessidade de informação. As comissões de seleção dos

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materiais e os critérios reconhecem que o foco é o usuário, especialmente o aprendiz,


neste caso. O poder presente na tomada de decisão do bibliotecário deve guia-lo por uma
escolha, antes de tudo, ética.
Reconhecemos que os currículos praticados no Brasil, em sua maioria, são os
currículos oficiais, entretanto, em virtude das discussões que ocorrem no campo da
Educação, optamos por debater este assunto, pela relação indissociável biblioteca-escola-
currículo. Ao observarmos os trabalhos apresentados no grupo de trabalho 12, sobre
Currículo, das últimas reuniões científicas da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (ANPED), percebemos o destaque que as temáticas trabalhadas
nas teorias críticas e pós-críticas recebem na Educação como área principal e no Currículo
como subárea. Logo, nos parece essencial esta articulação entre Educação e
Biblioteconomia e a proposição de reflexões em torno de seus objetos.
A nossa proposta consistiu em levantar reflexões sobre o tema DC em bibliotecas
escolares a partir das teorias críticas e pós-críticas do Currículo. Claramente, é produto
de nosso posicionamento ideológico, condizente com estas teorias. Acreditamos haver
poucos estudos que versem sobre estas temáticas e, para os próximos trabalhos, propomos
maior aprofundamento nas teorias destes dois campos, de modo a fortalecer a teoria do
campo, e sugerimos abordagens práticas – o olhar do docente e do aprendiz sobre a
coleção escolar à luz de suas experiências e de seus sentimentos de representação. É
essencial, ainda, pensar diretrizes para a criação de políticas de seleção em bibliotecas
escolares considerando, além dos currículos oficiais estabelecidos pelo Estado, os
discursos dos educadores brasileiros à luz das teorias que abordamos.
O que verificamos é que a biblioteca escolar, através de sua coleção, desempenha
um papel fundamental no questionamento das estruturas sociais, na construção dos
diversos saberes, entre eles os não presentes nas disciplinas, e, principalmente, no
sentimento de representação da comunidade escolar.
Finalmente, se há a crítica aos saberes curriculares desenvolvidas no campo da
Educação, ela deve ser considerada no âmbito da biblioteca escolar. Nos fica claro,
sobretudo, que os serviços e as coleções da biblioteca escolar também são currículo. A
biblioteca escolar também forja identidades.

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sociedade.

REFERÊNCIAS

FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE BIBLIOTECÁRIOS E


INSTITUIÇÕES. Manifesto da IFLA/UNESCO para a biblioteca escolar. São Paulo,
2005. Disponível em: <https://www.ifla.org/files/assets/school-libraries-resource-
centers/publications/school-library-guidelines/school-library-guidelines-pt_br.pdf>.
Acesso em: 28 maio 2017.

FRAGOSO, Graça Maria. Biblioteca na escola. Revista ACB: Biblioteconomia em


Santa Catarina, Florianópolis, v. 7, n. 1, não paginado, 2002. Disponível em:
<https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/380/460>. Acesso em: 28 maio 2017.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do


currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

VERGUEIRO, Waldomiro. Em busca de critérios de seleção. In: ______. Seleção de


materiais de informação. 3. ed. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2010.

WEITZEL, Simone da Rocha. Elaboração de uma política de desenvolvimento de


coleções em bibliotecas universitárias. Rio de Janeiro: Interciência; Niterói:
Intertexto, 2006.

WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. Ciência da


Informação, Brasília, DF, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000. Disponível em:
<http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/889/924>. Acesso em: 01 jun. 2017.

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GT LIVRE

Estudos e pesquisas não contemplados nos GTs 1, 2 e 3,


mas que dialogam e possuem alguma relação com
temáticas na área de Biblioteconomia, Documentação,
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A BIBLIOTECONOMIA E SUA COLABORAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DA


IDENTIDADE SURDA

BARRETO, Monique Almeida Silveira Barreto 150

RESUMO

Intenta discutir, ainda que superficialmente, temas como a compreensão da língua sinalizada
como idioma que é, a normalização de Surdos, a representatividade da comunidade Surda na
literatura e nas bibliotecas, a importância da existência de marcos culturais para a formação da
identidade surda, a fim de se desconstruir o mito da surdez. Utiliza como metodologia, revisão
de literatura especializada para definir conceitos e relatar exemplos. Faz uso das experiências
relatadas por Emmanuelle Laborit, na obra literária O voo da gaivota (1994), para ilustrar as
situações propostas. Relata parte da história do povo surdo e de sua língua, assim como as
repressões e preconceitos que estes vêm sofrendo no decorrer dos séculos. Define o conceito
de identidade cultural. Conta parte da história Surda e as formas de repressão e tentativas de
normalização sofridas. Relata a importância dos livros e das bibliotecas como fomentadores de
identidades culturais não somente junto aos ouvintes, mas também a comunidade Surda. Aponta
para a divergência entre acessibilidade e inclusão, e destaca a necessidade de bibliotecas
inclusivas e não apenas acessíveis. Apresenta, em anexo, trecho de história infantil que ilustra
a representação Surda na literatura.

Palavras-chave: Cultura Surda. Representatividade. Identidade cultural.

THE LIBRARIANSHIP AND THEIR COLLABORATION FOR THE CREATION OF


DEAF IDENTITY

ABSTRACT
Attempts to discuss, albeit superficially, topics such as the understanding of the language
signaled as a language, the deaf normalization, the representation of the Deaf community in
literature and libraries, the importance of the existence of cultural milestones for the formation
of the deaf identity, the In order to deconstruct the myth of deafness. It uses as methodology,
review of specialized literature to define concepts and report examples. It makes use of the

50 50
Bacharel do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro- UNIRIO. mo.barreto@live.com

260
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

experiences reported by Emmanuelle Laborit, in the literary work The flight of the seagull
(1994), to illustrate the proposed situations. It tells about the history of the deaf people and their
language, as well as the repressions and prejudices that they have been suffering over the
centuries. Defines the concept of cultural identity. It tells of the Deaf story and the forms of
repression and attempted normalization suffered. It reports on the importance of books and
libraries as fosters of cultural identities not only to the listeners, but also Deaf community. It
points to the divergence between accessibility and inclusion, and highlights the need for
inclusive libraries and not just accessible libraries. It presents, in annex, excerpt of children's
story that illustrates the Deaf representation in literature.

Keywords: Deaf Culture. Representativity. Cultural identity.

1 INTRODUÇÃO

Hipoacusia, deficiência auditiva, perda parcial – ou total – de audição, CID-H90.5. Os


termos aqui listados têm por intensão identificar uma condição médica, que, tal qual qualquer
outra deve ser tratada, curada. Um problema que aflige a humanidade e que deve ser mitigado,
erradicado. Correspondem a uma não funcionalidade do aparelho auditivo, causando a
incapacidade de ouvir sons, prejudicando a fala e o desenvolvimento comunicativo do
indivíduo. Esta visão foi, e ainda é, extremamente difundida pelo senso comum ao redor do
globo. Mas não hoje, não neste projeto.
Usando como metodologia a revisão de literatura, apresenta-se a definição do conceito de a
identidade cultural, tal como é tratado na literatura corrente, além de ilustrações de situações
cotidianas vividas por pessoas Surdas, que, em boa parte, poderiam ser mitigadas frente a um
posicionamento mais eficaz das bibliotecas brasileiras perante a criação de marcos culturais
desta população. Também é trazida a experiência vivida dentro da universidade, enquanto
bacharel em biblioteconomia, com a cultura Surda.
Tendo como base alguns dos relatos trazidos pela atriz, diretora e escritora Surda
Emmanuelle Laborit, na obra literária O voo da gaivota (1994), intenta-se discutir, ainda que
superficialmente temas como a compreensão da língua sinalizada como idioma que é, a
normalização de Surdos, a representatividade da comunidade Surda na literatura e nas
bibliotecas e a importância da existência de marcos culturais para a formação da identidade
surda.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Baseia boa parte dos argumentos aqui trazidos nos relatos de integrantes da própria
comunidade Surda, além dos trazidos pela escritora supracitada, e em discussões levantadas
durante o estudo da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Visa possibilitar a quebra de certos paradigmas ligados a este povo, buscando colaborar
para a desconstrução do mito da surdez. Assim como propiciar uma reflexão por parte da
comunidade ouvinte, principalmente a aqueles envolvidos com a disseminação da informação,
sobre sua relação com a comunidade Surda, que vem sendo, ao mesmo tempo extremamente
próxima e extremante distante – podendo-se conviver toda uma vida com uma pessoa surda,
sem se quer notar-se sua condição.

2 A LÍNGUA GESTUAL E A NORMALIZAÇÃO

Como nos conta a história, a marginalização do povo Surdo ocorre desde a idade antiga,
ora sendo tratados unicamente como incapazes e necessitadas de caridade, ora sendo
bestializados e punidos, mas poucas vezes tratados como iguais, em meio a sociedade ouvinte.
A dificuldade de boa parte da comunidade ouvinte em aceitar a comunidade surda como
diferente enquanto constituição de língua, e consequentemente de subjetividade, mas como
igual no fator humano e nas capacidades cognitivas e de interação, dificultou, e muito a vida
deste segundo grupo.
Tentativas de proibição da linguagem gestual, programas de estudo visando a
normalização do Surdo, através de medidas médicas, pedagógicas e terapêuticas, pouco
visavam o bem-estar da comunidade, mas objetivavam afirmar a língua oral como soberana e
criaram o que Laborit (1994, p.4) chama de “[...] muro invisível [...] [feito] ao mesmo tempo
de vidro transparente e de betão. ”
Embora tendo resistido nos “guetos” dos institutos e associações, a língua gestual ainda
luta para ser vista como uma língua – tal qual o Português ou Inglês – e não como um suporte
no qual se apoiam os Surdos.
Pensemos da seguinte maneira: alguém nascido em um país estrangeiro, ao viajar para
fora de sua terra natal, não são tratados como pessoas menores ou incapazes. Com costumes e
cultura diferente da das pessoas que habitam o país visitado, sim, mas não deficientes. Se
pensarmos na língua inglesa, então, costumamos achar mais estranho alguém, que não tem esta
língua como materna, não saber receber um britânico – por exemplo – falando o inglês, do que
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um britânico viajar para um país, que não tem o inglês como língua oficial, sem falar uma
palavra da língua local. Por que, então, um Surdo, que não faz uso da língua portuguesa – de
forma oral –, mas sim da LIBRAS, não pode ser tratado apenas como alguém com cultura e
hábitos diferentes daqueles dos ouvintes?
Isso se dá porque temos a dificuldade de enxergar o outro por inteiro, o conjunto que
nos faz humanos. Separamos as pessoas pelos pedaços que diferem dos nossos, ao invés de
olharmos todo o conjunto, que é tão comum a todos nós. Vemos a pele, os olhos, os membros,
a classe social, o aparelho reprodutor, a sexualidade, o ouvido. Tudo separadamente, como se
não fossem partes de um todo, cheio de complexidades, belezas e dificuldades, que pouco
diferem de um indivíduo a outro.
Quando passamos a entender a língua gestual como forma de constituição de indivíduos,
construtora de subjetividade e produtora de cultura, vemos que não há o que sobrepujar, o que
impedir ou eliminar. Mas que ainda há muito mais a se aprender.

3 LIVROS, BIBLIOTECAS E ROCK AND ROLL

Comecemos, aqui, com o testemunho de Laborit sobre o que vem a ser um livro.

Um livro é um importante testemunho. Um livro vai a todo o lado, passa


de mão em mão, de espírito em espírito, deixando ali a sua marca. Um
livro é um meio de comunicação raramente proporcionado aos surdos
[...] utilizo o idioma dos que ouvem, a minha segunda língua, pois
afirmo com absoluta certeza que a língua gestual é a primeira língua, a
nossa, a que nos permite ser seres humanos "comunicantes". Para dizer
também que nada deve ser recusado aos surdos, que todas as linguagens
podem ser utilizadas, sem guetos nem ostracismos, para que possam ter
acesso à VIDA. (LABORIT, 1994, p. 5)

Livros são a expressão máxima da linguagem e da comunicação, uma porta para o


mundo exterior e uma chave para o mundo que existe dentro de cada um de nós. Através dele
criamos empatia com pessoas que nunca vimos, conhecemos lugares e culturas distantes sem
sair do lugar.
Poucas são as obras produzidas por autores surdos. Poucas são as obras sobre este
universo. Poucas são as bibliotecas que possuem em seus acervos esta temática, menores ainda

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

aquelas com profissionais treinados na linguagem sinalizada e que realizam atividades de


aproximação da comunidade ouvinte da comunidade surda.
Observa-se que, embora a produção e tradução de obras em língua de sinais tenha
crescido, e ganho, a passos curtos, mais espaço, os números ainda são pouco expressivos e
localizá-las nas prateleiras de bibliotecas não especializadas – como por exemplo a biblioteca
do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e a Biblioteca de Cultura Surda (BiCUS)
do Centro Cultural da cidade de São Paulo – é uma tarefa para os pesquisadores mais
empenhados.
A busca por profissionais treinados em LIBRAS é ainda mais difícil, uma vez que o
aprendizado dos conceitos básicos idioma não é obrigatório durante a formação do bacharel em
biblioteconomia – pelo menos não nas universidades cariocas – estando a cargo apenas dos
cursos de Pedagogia, e das licenciaturas os estudos desta língua.
É interessante notar, que na experiência dos bacharéis formados pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), o estudo da língua inglesa (em seus
fundamentos) se dá através de duas disciplinas logo nos primeiros períodos dos ingressos,
enquanto que o estudo da LIBRAS além de optativo aos bacharéis, se dá em apenas um período,
fora da escola de Biblioteconomia, e geralmente é cursada por estudantes a partir do quinto
período. Este relato demonstra que pouco se tem pensado na língua de sinais no mesmo patamar
das demais línguas, até mesmo dentro do circuito acadêmico.
Nota-se também que esta desvalorização da língua por parte das escolas de
biblioteconomia tem grande impacto no tipo de atendimento que este futuro profissional
bibliotecário irá prestar à seus usuários – caso um aluno que não conseguiu vaga em umas das
concorridíssimas turmas de LIBRAS da escola de Pedagogia da UNIRIO, a qual prioriza a
matrícula dos alunos deste curso e/ou dos licenciados, em seu futuro como bibliotecário se
deparar com um Surdo, o mesmo não terá se quer noções básicas da comunicação por língua
manual, uma vez que esta não lhe foi apresentada durante a graduação.
Se pensarmos que, além da função de facilitar a comunicação, o estudo da língua de
sinais também propõe discussões e reflexões quanto a instituições, e sociedades, mais
inclusivas, a negligencia por parte das escolas de biblioteconomia quanto a propiciação deste
contato (ainda que breve) dos alunos com a disciplina se torna ainda mais grave.
Cabe aqui a colocação, de que não se está cobrando uma biblioteca acessível. A
comunidade Surda já tem acesso a essas instituições – um Surdo, desde que alfabetizado em
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Português, tranquilamente adentra uma instituição, como a que estamos nos referindo, assina
um livro, põe seus pertences em um armário, pesquisa e localiza o material desejado no
catálogo, preenche, por escrito uma ficha de empréstimo e faz uso do material e/ou espaço.
Reclama-se uma biblioteca, e uma biblioteconomia, inclusiva. Onde a cultura Surda e ouvinte
tenha o mesmo peso, e receba o mesmo respeito, reconhecimento e atenção. Pleiteia-se um
ambiente onde, ao transitar dentre as prateleiras, o indivíduo surdo se reconheça nos autores e
nas histórias por eles contadas e enxergue as mesmas possibilidades de vida.

"Sou surda." Agora sei o que fazer. Faço como eles, uma vez que sou
surda como eles. Vou estudar, trabalhar, viver, falar, pois eles fazem-
no também! Vou ser feliz, pois eles também o são. Porque só vejo
pessoas felizes à minha volta, pessoas com futuro. São adultos, têm um
emprego; também eu um dia hei de trabalhar. Tenho, pois, dons
subitamente revelados, capacidades, possibilidades, esperança.
(LABORIT, 1994, p. 44)

Pode perceber, através do relato da autora – ao expor sua experiência quando, ainda
criança, entrou em contato pela primeira vez com uma comunidade Surda ativa – a importância,
principalmente para os mais jovens, da criação dos referidos marcos. Até este momento
Emanuelle acreditava que Surdos se quer chegavam a idade adulta, uma vez que em sua cidade
a comunidade além de ser pequena, era constituída basicamente por crianças. Este problema,
poderia ter sido facilmente sanado se, por exemplo, a biblioteca pública local possuísse um
acervo representativo deste povo.

4 A BANDEIRA

Nesta seção trataremos, brevemente, sobre a construção de identidade e retomaremos a


questão da importância da criação de marcos culturais para o desenvolvimento desta. Castells
define identidade cultural como um “[...] processo de construção do significado com base num
atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o (s) qual (is)
prevalece (m) sobre outras formas de significado” (CASTELLS, 2001, p. 3), sendo, dentre estes
atributos, a língua o primeiro e principal. Esta definição é complementada por Hall, que nos
afirma que:

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada


continuamente em relação às formas pelas quais somos representados
ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987) [...]
É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume
identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não
são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente (HALL, 2006, p. 13)

Este processo de celebração móvel é uma construção que perpassa a linguagem, como
construção de subjetividade, a convivência com os pares, ou compatriotas, e chega até a
representação política e em materiais de cultura – tal qual a literatura, cinema, teatro, etc.
Criar um marco cultural é estabelecer uma ponte entre o indivíduo e todo um mar de
possibilidades de vida, é permitir que este se reconheça como constituinte de um todo, sentir-
se parte de uma coletividade e perceber que não está só em suas lutas e alegrias.
Emmanuelle Laborit relata um episódio que ilustra esta identificação, relato que é
reproduzido a seguir. “Tarzan não falava, o que o tornava real aos meus olhos. Aquela imagem
marcou-me, comparava-o ao surdo que não pode falar, imaginei-o igual a mim, incapaz de
comunicar. ” (LABORIT, 1994, p. 46).
A criação de marcos demonstra ao indivíduo suas possibilidades, mas, mais importantes
que isso, demonstra àqueles que fazem parte de um outro contexto (nesse caso aos ouvintes)
que existe algo para além de sua própria coletividade. Uma comunidade tão complexa e
maravilhosa quanto a que ele mesmo está inserido. Uma outra realidade, nem melhor, nem pior
do que a sua própria, mas diferente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se demonstrar o quanto ainda é necessária a evolução na relação entre as


comunidades surda/ouvinte. Desejando-se que esta deixe de ser dicotômica, e assuma, cada vez
mais, um caráter interativo e de respeito.
Espera-se que este breve e simplório projeto corrobore para a percepção do outro, não
apenas focando nas pequenas partes distintas entre nós, mas sim a partir da conjunção que nos
torna, primordialmente, humanos.
Acredita-se que a discussão do mito da surdez, nos atuais, é de grande relevância para
as ciências humanas e sociais, principalmente junto a Biblioteconomia, dadas as dificuldades,

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preconceitos, e até mesmo o desconhecimento que esta comunidade usuária ainda vem
sofrendo, tanto da população ouvinte em geral, quanto dos próprios bibliotecários.
Destaca-se a relevância da construção das bibliotecas como ambientes inclusivos,
promotores de encontros de diferenças, e não de fragmentação. Enquanto bibliotecários,
devemos ter em mente a preocupação com nossos usuários e o entendimento de que a produção
e consumo de conhecimento é universal, e não restrito a uma única comunidade.
Que possamos, efetivamente, fornecer a cada leitor seu livro e a cada livro seu leitor –
como nos indica Ranganathan em sua obra As cinco leis da Biblioteconomia (2009) – e ajudar
a construir, também junto à comunidade Surda, seus marcos culturais, assim como temos feito
com a comunidade ouvinte.
Espera-se que esta discussão possa promover reais reflexões, e quem sabe até mesmo
mudanças efetivas, nas formas individuais de pensar, nas bibliotecas, e até mesmos nos
currículos dos bibliotecários, frente as formas de representação, atendimento e respeito à
comunidade Surda, brasileira e internacional.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. In: CASTELLS, Manuel. Era da Informação:


Economia, Sociedade e Cultura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. v.2.

EIJI, Hugo. Cultura Surda: Repositório online de produções culturais das comunidades
surdas. Disponível em: < https://culturasurda.net> Acesso em: 23 maio 2017.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

HALL, Stuart. Minimal selves. [S.l]: 1987.

LABORIT, Emmanuelle. O voo da gaivota. São Paulo: Best Seller, p. 284-299, 1994.

Lesimple-Royer, Corine. Silêncio Princesa Zélia. In: CALOUAN et al. 18 Histórias de


Princesas e Fadas. São Paulo: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda., 2008, p. 51-57.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

RANGANATHAN, Shiyali Ramamrita. As cinco leis da biblioteconomia. Briquet de


Lemos/Livros, 2009.

STROBEL, Karin. História da educação de surdos. Florianópolis: Universidade Federal de


Santa Catarina, 2009.

ANEXO A – TRECHO DE HISTÓRIA INFANTIL QUE ILUSTRA A


REPRESENTATIVIDADE SURDA NA LITERATURA.

No reino Dó-Ré-Mi, a princesa Zélia arrebentava os ouvidos de toada


a gente. Com sua voz esganiçada e alta, mal abria a boca, ela fazia
com que todos os que estavam por perto fugissem com dor de ouvido
[...]. Mesmo assim, a princesa Zélia era muito bonita e muitos
pretendentes iam visita-la no castelo. Mas, logo que ela respondia
‘Sim! Sim! Eu quero casar contigo! ’, os príncipes pretendentes
arredavam o pé e corriam para o mais longe possível da princesa, que
se sentia cada vez mais sozinha [...]. Por essa altura, um novo
pretendente apresentou-se no castelo. Era bonito e bom, e o rei
esperava sinceramente que ele salvasse o reino [...]. Quando a princesa
Zélia aceitou o seu pedido – Sim! –, todos ficaram na expectativa, com
receio de que o príncipe fugisse. Mas, para o espanto de todos, um
simples ‘Como? ’, surpreendeu a bela princesa. O pretendente, que se
chamava Márcio, era surdo [...] e não se sentia incomodado com a voz
estridente da princesa. O casamento foi celebrado o mais rápido
possível! E todos asseguram que Zélia e Márcio viveram felizes durante
muito tempo.
(Lesimple-Royer, 2008, p.51-57)

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A BIBLIOTECA VIROU NOTÍCIA: uma análise dos casos de roubo e furto de obras
raras no Brasil a partir das notícias veiculadas na mídia

FENTANES, Matheus Andrade51


SANTOS, Laura Maria Martins Ferreira52

RESUMO
Pesquisa desenvolvida no âmbito da biblioteconomia, na temática dos livros raros. Analisa
casos de roubo e furto de obras raras, por meio de mapeamento dos casos de roubo e furto de
obras raras registrados na mídia digital. Para o recorte temporal, foi escolhido o período que
abrange os últimos cinco anos, de 2012 a 2017. Distingue a tipologia dos crimes praticados em
acervos raros. Metodologicamente, desenvolve uma revisão de literatura acerca dos conceitos
de livros raros e gerenciamento de risco. A partir desta análise o artigo fomenta a discussão
acerca do desenvolvimento de ações preventivas voltadas para a segurança em acervos e
coleções especiais.
Palavras-chave: Unidades de informação – Obras raras. Livros raros. Roubo de livros.
Bibliotecas – Medidas de segurança.

THE LIBRARY TURNED NEWS: an analysis of the cases of theft and robbery of rare
books in Brazil from the news published in the media

ABSTRACT
Research developed in the scope of library science, in the rare books theme. It Analysis cases
of theft of rare books, by mapping the cases theft of rare books registered in the digital media.
For the temporal cut, it was chosen the period that abrange the last five years, from 2012
to 2017. It distinguishes the typology of crimes committed in rare collections.
Methodologically, it develops a literature review about the concept of rare books and risk
management. From this analysis the article foments the discussion about the development of
preventive actions targeting security in collections and special collections.

Keywords: Information units – Rare books. Rare books. Theft of books. Libraries – Security
measures.

51
Acadêmico do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
fentanes.biblio@gmail.com
52
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
laura.mmsantos@gmail.com
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1 INTRODUÇÃO

Notícias sobre furtos e roubos de obras raras em acervos culturais e de memória vêm
estampando as principais páginas dos veículos de comunicação digital do país, trazendo à tona
uma realidade pouco discutida na comunidade científica e na sociedade como um todo.
Tendo em vista a natureza dos documentos que compreendem um acervo raro e da sua
importância para a construção da memória nacional, medidas preventivas que visam à
integridade desse material devem estar impressas nas políticas de preservação e segurança das
unidades responsáveis pela sua salvaguarda.
O interesse da pesquisa está voltado na busca de mecanismos de segurança que garantam
a preservação da memória representada pelo patrimônio bibliográfico.
A fim de fomentar a discussão sobre medidas preventivas voltadas para a segurança de
acervos raros iniciamos uma investigação, de forma empírica, analisando notícias divulgadas
nas mídias digitais relacionadas a roubo e furto de obras raras em bibliotecas no Brasil. É
relevante ressaltar que para esse estudo serão considerados os casos noticiados no território
brasileiro no período que abrange os últimos cinco anos, de 2012 a 2017.
Portanto, para a imersão no universo que compreende o corpus desta pesquisa foi
necessário conhecer o que foi produzido pelos pesquisadores brasileiros sobre o tema, além de
evidenciar os conceitos de obra rara, com as tipologias de crimes relacionados a esses acervos,
assim como a discussão acerca do desenvolvimento de medidas de gerenciamento de riscos
voltadas para segurança.

2 OBRAS RARAS

Gauz (1994) descreve o setor de obras raras como um dos mais incompreendidos das
bibliotecas devido principalmente a natureza das restrições de uso que esse tipo de material
exige. Ao mesmo tempo em que exercem prestígio e valorizam a coleção, por serem raros,
diferentes, pouco comuns e às vezes únicos.
Conceituar obra rara é uma tarefa de difícil realização, fato que ocupa teóricos,
bibliófilos, curadores de acervo, entre outros. No entanto, em linhas gerais e de maneira bem
simplificada pode-se definir da seguinte maneira:
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livro raro é aquele difícil de encontrar por ser muito antigo, ou por
tratar-se (sic) de um exemplar manuscrito, ou ainda por ter pertencido
a uma personalidade de reconhecida projeção e influência no país e
mesmo fora dele [...], ou reconhecidamente importantes para
determinada área do conhecimento. (RODRIGUES, 2006, p. 115).

Pinheiro (1989) propõe uma abordagem metodológica do que deve ser levado em
consideração ao identificar uma obra rara:
1. Limite histórico: usa como referencial a história do livro;
2. Aspecto bibliológico: observa as características além da informação textual presente no
livro, considerando-o em vários casos como obra de arte;
3. Valor cultural: traz o valor histórico para a construção da memória coletiva de um povo
ou nação;
4. Pesquisa bibliográfica: pode revelar a escassez de um título e o situar dentro do contexto
em que foi produzido, trazendo dados que muitas vezes não são possíveis de identificar no
próprio exemplar, como tiragem, impressor, importância do ilustrador, do autor, entre outros
aspectos;
5. Características do exemplar: são aquelas extrínsecas à publicação, verificáveis nas
inserções, subtrações e complementações que foram adquiridas posteriormente à sua produção.
Pelas características que os tornam raros, muitas vezes preciosos e até únicos, esses
livros, assim como as obras de arte, podem alcançar grandes valores monetários.
O valor agregado a uma obra rara resulta da ponderação entre seu valor intelectual e seu
valor material, à luz da pesquisa bibliográfica e das características bibliológicas nela
observadas. Sendo levados em consideração principalmente sua integridade, idade,
proveniência e importância histórica.

O comércio de livros raros e preciosos não prima pela coerência de


preços, pela regularidade de ofertas ou pela padronização de
procedimentos - tudo é relativo, circunstancial. Exemplares da mesma
obra podem alcançar valores díspares no mercado, em função de
diferenças de completude e de condições do suporte. (PINHEIRO,
2011, p. 24).

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Portanto, conhecer a natureza de um acervo raro, através de suas características e


avaliação de seus itens fornece subsídios para que medidas de segurança adequadas sejam
aplicadas sobre eles.

3 GERENCIAMENTO DE RISCO

Segundo a Norma Técnica Brasileira de Gestão de Risco (ABNT-NBR-ISO


31000:2009) risco é “efeito da incerteza nos objetivos”, ou seja, é a combinação da
probabilidade de um evento acontecer e de suas consequências.
O gerenciamento de risco foi introduzido no campo do patrimônio cultural há pouco
mais de 20 anos e vem despertando o interesse crescente na comunidade profissional do setor
em todo o mundo.

Essa metodologia de gestão representa uma poderosa ferramenta para


aprimorar a conservação preventiva do patrimônio cultural, permitindo
e estimulando o estabelecimento eficaz de prioridades a partir da
(pre)visão integrada e quantitativa de todos os possíveis danos e perdas
de valor futuros para os acervos em seus contextos específicos [...]
(PEDERSOLI JR., 2014, p. 39).

A partir da identificação dos riscos e da determinação de suas respectivas magnitudes é


possível estabelecer prioridades e aperfeiçoar estratégias de ação e alocação de recursos visando
alcançar objetivos da forma mais eficiente possível em um dado contexto.
Segundo a tipologia de riscos do Plano de gerenciamento de riscos da Biblioteca
Nacional atos criminosos de furto, roubo ou vandalismo, foram estabelecidos como “evento
raro de impacto significativo; evento esporádico de impacto moderado” (SPINELLI;
PEDERSOLI JR., p. 26, 2010).
O desenvolvimento de opções para o tratamento de riscos pode ser estruturado de forma
sistemática, como foi aplicada na Biblioteca Nacional. No âmbito da segurança contra
criminosos foram postos neste plano cinco estágios de controle de riscos: evitar o risco;
bloquear o risco; detectar o risco, responder ao risco e recuperar o patrimônio. Ou seja, as ações
voltadas para a segurança devem estar direcionadas de forma que contemplem esses cinco
estágios.

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O gerenciamento de risco deve ocorrer de forma contínua e ininterrupta, envolvendo a


rotina do setor de obras raras.
Algumas medidas de segurança para coleções especiais são elencadas pela ALA (2009),
no documento Guidelines regarding security and theft in special collections, que sugere que a
eficiência nesse processo envolva o desenvolvimento de uma política de segurança escrita, a
nomeação de um funcionário como oficial de segurança de biblioteca, treinamento do pessoal
interno, averiguação dos antecedentes criminais dos funcionários, controle dos pontos de acesso
ao setor, câmeras de segurança, controle do uso das chaves, instalação de sistemas de alarmes,
segregação dos materiais mais valiosos do restante da coleção, representação descritiva das
características bibliológicas das obras e registros de propriedade.
Essas diretrizes identificam questões importantes que os bibliotecário devem abordar no
desenvolvimento de medidas de segurança adequadas e em uma estratégia para responder a
roubos.

4 ROUBO E FURTO DE OBRAS RARAS NO BRASIL

Roubo e furto não se caracterizam no mesmo âmbito legal, sendo distinguidos pelo
Código Penal (CP). Por roubo está previsto no Art. 157° do CP como "subtração de coisa móvel
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-
la, por qualquer meio, reduzido a impossibilidade de resistência” (BRASIL, 1940). Por sua vez,
furto “define-se por subtração de algo móvel pertencente à outra pessoa para si ou para outrem”
(BRASIL, 1940) como está disposto no Art. 155 do CP.
Assim, percebe-se que a diferença entre furto e roubo é determinada pelo emprego ou
não de violência, grave ameaça ou qualquer meio que reduza a capacidade de resistência da
vítima. Portanto, ao analisarmos o corpus dessa pesquisa, que diz respeito aos delitos cometidos
na subtração de obras raras de acervos de bibliotecas, podemos destacar que, sobretudo, trata-
se de furtos, praticados sem ameaça ou violência e muita das vezes sem a percepção imediata
do ato. Quando a instituição vem a dar por falta do item o criminoso não se encontra mais na
dependência furtada.
Os atos criminosos de furto ou roubo efetuados por indivíduos externos ou internos à
instituição acarretam a perda total, destruição ou desfiguração de itens e elementos
patrimoniais.
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Segundo John H. Jenkins Presidente de Segurança da ABBA (Antiquarian Booksellers


Association of America) apud Gauz (1994) os livros são roubados por uma variedade de
pessoas, por diferentes motivos. Podem ser categorizados como: 1) o cleptomaníaco; 2) o ladrão
que rouba livros para seu próprio uso e posse; 3) o ladrão que rouba por ódio, provavelmente
para destruir o material; 4) o ladrão que rouba quando a oportunidade se apresenta; 5) o ladrão
que rouba para obter lucro.
Dessa forma, ladrões de livros podem estar fora ou dentro das unidades de informação
podendo ser desde funcionários da instituição, pesquisadores e até pessoas de renome, como
veremos nos casos de roubo e furto de obras raras relatados a seguir.
Desde 2012 foram relatados em sites e portais de notícias seis casos envolvendo
subtração de material em acervos raros.

Quadro 1: Mapeamento de roubos e furtos em bibliotecas 53

Data(s) Item(ns)
Data do Tipologia
da(s) Fonte(s) Instituição Cidade subtraíd
crime do Crime
notícia(s) o(s)

G1;
Estadão;
Folha de 3 obras
Fev./2012; São Paulo; Instituto de São Paulo- (15
Fev./2012 Roubo
Abr./2014 Extra; O Botânica SP volumes
Globo; )
Último
Segundo

Agência
Dez./ Brasil Escola de
Rio de
2012; (EBC); Fev./2006 Belas Artes - Furto 1 obra
Janeiro-RJ
Fev./ 2013 Folha de UFRJ
São Paulo;

53
Links para as fontes se encontram nas referências.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Terra

Estadão; Centro de
Ago./2013 Correio Ciências, Aprox.
Ago./201 Campinas-
; Popular; Letras e Roubo 100
3 SP
Nov./2013 Último Artes obras
Segundo (CCLA)

107
gravuras
,6
Biblioteca
Mar. São Paulo- álbuns
Estadão Jul./2006 Mário de Furto
/2016 SP de
Andrade
gravuras
e 14
obras

Biblioteca Aprox.
G1;
de 5 obras
Estadão; Ago./201 São Paulo-
Out./2016 Arquitetura Furto e
Folha de 6 SP
e Urbanismo algumas
São Paulo;
- USP gravuras

Isto é; O
Dia,
Biblioteca
Estadão, Aprox.
Pedro Rio de
Abr./2017 Agência [?]/2006 Furto 303
Calmon - Janeiro-RJ
Brasil, obras
UFRJ
Exame;
Terra
Fonte: Elaborado pelos autores

No recorte temporal aplicado à essa pesquisa, o primeiro crime que obtivemos os


registros aconteceu em fevereiro de 2012 no Instituto de Botânica de São Paulo. O caso foi
noticiado pelo G1; Estadão; Folha de São Paulo; Extra; O Globo e pelo portal Último Segundo.
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Na ocasião, três bandidos entraram na biblioteca do instituto, e fazendo de reféns os


funcionários, levaram quinze volumes de três obras raras da coleção especial. São elas: os dois
volumes da obra “Sertum Palmarum Brasiliensium”, do autor João Barbosa Rodrigues, datados
de 1903; onze volumes da obra Flora Fluminensis, do autor Frei Velloso datados de 1827 e a
obra em dois volumes de F.G. Camus, Bambusees datados de 1913. Dois meses, após o crime,
as obras foram recuperadas e devolvidas ao instituto de Botânica.
A biblioteca da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
foi furtada em fevereiro de 2006, e dela foi levada o livro raro Ornithologie Brésiliene, Histoire
dês Oiseaux Du Brésil, de Jean Théodore Descourtilz, datado de 1852. Segundo os relatos da
Agência Brasil, Folha de S. Paulo e Terra, portais de notícias de onde a matéria sobre o ocorrido
foi retirada, as suspeitas de terem cometido o furto se passaram por pesquisadoras e
frequentaram a biblioteca antes durante dias antes de colocarem o crime em prática. As
investigações da polícia apontaram duas suspeitas, como autoras do furto, ambas foram
indiciadas, e até o momento que a notícia foi divulgada, em 2013, respondiam pelo crime. A
obra foi recuperada em 2007 pela Polícia Federal.
Em Agosto de 2013, o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), localizado na cidade
de Campinas em São Paulo, também foram alvo de uma quadrilha especializada em roubo e
furto de obras raras ao terem sua biblioteca assaltada à mão armada. As notícias publicada nos
portais Correio Popular, Estadão e Último segundo, informam que funcionários e
frequentadores foram feitos reféns enquanto os criminosos agiam numa sala reservada, onde se
localizavam as obras especiais. Dentre as cem obras roubadas, onze delas já tinham sido
roubadas. São os onze volumes da obra Flora Fluminensis, antes usurpadas do Instituto de
Botânica de São Paulo, primeiro caso estudado neste trabalho. Segundo o portal de notícias
Estadão, a quadrilha que foi acusada pelo roubo do CCLA foi presa três meses após o crime em
novembro do mesmo ano. As notícias não informam se os livros subtraídos foram recuperados.
O furto na biblioteca Mário de Andrade aconteceu em 2006, mas até hoje existem
repercussões sobre o ocorrido. Prova disso é a notícia veiculada pelo portal Estadão, do Jornal
o Estado de São Paulo, que noticia a conclusão do maior inventário feito no acervo de obras
raras da instituição, no final do ano de 2015. O furto foi descoberto quando uma artista mineira
procurava imagens sobre as Minas Gerais do século XIX para uma exposição sobre aleijadinho.
Após o inventário, descobriram-se livros novos perdidos no meio do acervo, mas também
muitas obras furtadas além das que tinham sido divulgadas quando o crime aconteceu. A notícia
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diz ainda que o caso foi resolvido e que os ladrões, sendo um deles funcionários da biblioteca,
foram presos e responsabilizados pelo crime.
As matérias sobre o furto da biblioteca da Faculdade de Arte e Urbanismo da USP
voltam a aparecer nos portais de notícias em 2016, ocasião em que a Polícia Civil prende os
principais suspeitos de terem cometido esse delito. Segundo reportagem do G1, Estadão e Folha
de São Paulo os meliantes se identificam como membros dos corpos discente e docente da
universidade para terem acesso aos livros raros. Nos três dias em que estiveram na biblioteca
da FAU, furtaram cerca de cinco livros raros, e algumas gravuras, de acordo com depoimento
dos funcionários. A dupla foi presa, e com eles foram encontrados além de três obras da
biblioteca da universidade, obras que continham carimbo da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, e alguns envelopes com endereços, que segundo o site, era o destino das obras furtadas.
O mais recente furto de obras raras, noticiado pelos portais Isto é, O Dia, Estadão,
Agência Brasil, Exame e Terra, em abril de 2017 aconteceu em 2016 na antiga biblioteca central
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, hoje biblioteca Pedro Calmon, durante reformas do
prédio onde está localizado o acervo raro da instituição. Após o levantamento feito pela
biblioteca, descobriu-se que o furto era o maior já registrado na história do país. No total foram
levadas cerca de 420 obras do acervo, sendo 303 raras como, por exemplo, grande parte da
coleção brasiliana e 16 volumes da primeira edição dos sermões do Padre Antônio Vieira,
datados do ano de 1610. A instituição atentou-se ao furto quando a Polícia Civil prende em
outubro de 2016, os suspeitos tidos com os responsáveis pelo crime cometido na Universidade
de Arquitetura e Urbanismo da USP. Com eles algumas obras raras foram encontradas bem
como o ex-libris da UFRJ jogados na lixeira próxima a casa de um dos ladrões, fazendo com
que a biblioteca se atentasse ao furto.
Uma característica em comum que todos esses crimes têm é de que as notícias relatam
que não são crimes aleatórios, e sim por interesses específicos, ou seja, crimes possivelmente
encomendados por pessoas que conhecem o valor monetário que uma obra rara pode alcançar,
como por exemplo, colecionadores, bibliófilos e até estudantes de biblioteconomia. Isso está
relacionado ao fato de que a quadrilha que atua na maioria destes relatos é liderada por um ex-
estudante de biblioteconomia e conhecedor de livros raros. Ele já foi condenado pelo crime de
furto três vezes e indiciado pelo crime outras inúmeras. Segundo notícia veiculada no portal
Folha de S. Paulo, em 2012, ainda quando estava preso, conseguia comandar furtos e roubos de
dentro da prisão.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exponencial crescimento de casos de roubo e furto em acervos especiais averiguados


nesta pesquisa demonstra as fraquezas de bibliotecas, centros de documentação no que se refere
à segurança de seus acervos.
Obras raras além de terem o seu valor monetário bastante elevado, devido aos fatores
que as classificam como raras, preciosas e/ou únicas, possuem grande influência na construção
da identidade cultural de um país e sua dispersão causa danos irreparáveis a preservação do
patrimônio.
A partir desse artigo ressaltamos a importância da discussão acerca de políticas de
segurança no que diz respeito a resguardar as coleções especiais. Esta deve ser uma
preocupação constante na rotina dos bibliotecários inseridos nesse contexto.
Medidas de gerenciamento de riscos devem englobar questões relativas à segurança,
prevendo as possibilidades de ação dos criminosos, como o rastreio completo do pessoal, as
verificações de antecedentes dos funcionários, as políticas de segurança atualizadas, as
verificações de segurança mais rigorosas e os sistemas de notificação de roubo. Essas sugestões
podem não parar todos os ladrões ou recuperar todo o material roubado, mas irão garantir que
as chances de roubo sejam bastante reduzidas.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

A PRESENÇA DA FILOSOFIA NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE


BIBLIOTECONOMIA DO NORDESTE BRASILEIRO

GERMANO JÚNIOR, Manoel Messias Soares54


SANTOS, Thaiana Barros dos55
TABOSA, Hamilton Rodrigues56

RESUMO

Apresenta e analisa a presença de conteúdos ligados à Filosofia nos currículos dos Cursos de
Biblioteconomia do Nordeste do Brasil, bem como a influência da Filosofia na criação e
desenvolvimento dos sistemas de classificação bibliográficos, que norteiam as atividades do
bibliotecário, além de auxiliarem na recuperação da informação. Discorre a acerca da lógica
filosófica, da classificação do conhecimento até os sistemas de classificação bibliográficos
(especificamente a CDD e a CDU) e como esses sistemas contribuem para a recuperação da
informação. Objetiva proporcionar uma reflexão sobre a importância do ensino de Filosofia nos
cursos de Biblioteconomia, sobre como ela influenciou a criação dos sistemas de classificação
bibliográficos, como também verificar em quais escolas de Biblioteconomia da Região
Nordeste – por meio da análise de suas ementas - oferecem disciplinas de cunho filosófico aos
futuros bibliotecários. A pesquisa se configura por uma abordagem qualitativa de natureza
exploratória, bibliográfica e documental. Trata-se de uma contribuição para gerar discussões
acerca do ensino de Filosofia nos cursos de Biblioteconomia, ensejando reflexões sobre a
necessidade do conhecimento dessa disciplina como parte da formação básica do bibliotecário.

Palavras-chave: Ensino de Filosofia. Biblioteconomia. Lógica. Atividade biblioteconômica.

THE PRESENCE OF PHILOSOPHY IN LIBRARY ACTIVITIES


ABSTRACT

54
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
manoelmessiasufc@gmail.com
55
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: thaianabds@gmail.com
56
Doutor em Ciência da Informação pela UFPB, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação e do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
hrtabosa@gmail.com
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

It presents and analyzes the presence of content related to Philosophy in the curricula of the
Courses of Librarianship in the Northeast of Brazil, as well as the influence of Philosophy in
the creation and development of bibliographic classification systems, which guide the activities
of the librarian, besides helping in the recovery of information. It discusses the philosophical
logic, from the classification of knowledge to the bibliographic classification systems
(specifically DDC and UDC) and how these systems contribute to the retrieval of information.
It aims to provide a reflection on the importance of Philosophy teaching in the courses of
Librarianship, on how it influenced the creation of bibliographic classification systems, as well
as to verify in which schools of Librarianship of the Northeast Region - through the analysis of
their menus - offer disciplines Of a philosophical nature to future librarians. The research is
configured by a qualitative approach of exploratory, bibliographic and documentary nature. It
is a contribution to generate discussions about the teaching of Philosophy in the courses of
Librarianship, giving reflections on the necessity of the knowledge of this discipline as part of
the basic formation of the librarian

Keywords: Teaching Philosophy. Librarianship. Logic. Librarian activity.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo analisar a presença de disciplinas relacionadas 57à
Filosofia nos dez cursos de Biblioteconomia da Região Nordeste e suas ementas. Também visa
compreender a influência da Filosofia na criação e desenvolvimento dos sistemas de
classificação bibliográficos, que norteiam as atividades do bibliotecário, além de auxiliarem na
recuperação da informação.
Explicita Lodetti (2006, p. 16) que “[...] todas as áreas do ensino, todo acadêmico e
todo professor necessita conhecer o valor da filosofia, a qual sempre esteve em constante
diálogo com a ciência ou com as ciências”. E com a Biblioteconomia não é diferente, pois a
Filosofia lhe empresta todo o contexto metodológico, fundamentalmente cientifico, para fazer
da Biblioteconomia uma ciência (SOUZA, 1986, p. 194). Seguindo essa premissa é de suma
importância que os acadêmicos de Biblioteconomia e bibliotecários conheçam a contribuição
da Filosofia para a área.
Em nossa pesquisa, elegermos como metodologia a pesquisa bibliográfica, também
conhecida como pesquisa teórico-conceitual, que é desenvolvida a partir de materiais

57
As disciplinas relacionadas à Filosofia estão denominadas como: Filosofia, Introdução à Filosofia,
Introdução à Lógica, Lógica e Lógica Formal.
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bibliográficos para fundamentar as nossas reflexões acerca do tema abordado para, então,
desenvolver a pesquisa a partir de uma abordagem qualitativa e de caráter exploratório.
Caracteriza-se também como pesquisa documental, de acordo com Severino (2007), pois
tivemos como corpus documental para análise, currículos e projetos pedagógicos dos Cursos
de Biblioteconomia situados no Nordeste do Brasil.
Inicialmente foi feito um recorte histórico acerca da Filosofia e sua contribuição para
o desenvolvimento das classificações bibliográficas na área de Biblioteconomia. Após essa
breve apresentação sobre o tema, discorreremos acerca da importância que os sistemas de
classificação bibliográficos representam à eficiente e eficaz recuperação da informação. Por
fim, serão apresentados o levantamento realizado em nosso corpus documental, verificando
quais cursos de Biblioteconomia oferecem disciplinas relacionadas à Filosofia e a análise das
suas ementas com o propósito de verificar a presença de regularidades no conteúdo das
disciplinas.

2 A FILOSOFIA E A CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO

A palavra Filosofia é composta de duas outras palavras de origem grega: philo, que
significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais e sophos, que traduzimos como sábio
(CHAUÍ,2000, p. 19).

Segundo Popkin e Stroll (1993, p. 10, tradução nossa)

Através de um exame crítico cuidadoso, os que fazer “filosofia” (os


filósofos) tentaram avaliar as informações e crenças que temos sobre o
universo em geral e os assuntos humanos. A partir dessa investigação,
os filósofos tentaram sistematizarem de modo coerente e consistente
tudo o que sabemos e pensamos.
Uns desses filósofos tentaram sistematizar tudo que sabemos e pensamos foi
Aristóteles que desenvolveu a primeira classificação sistemática das ciências (CHAUÍ, 2000,
p. 329). Essa é a primeira classificação que se tem conhecimento precursor do processo de
classificação do conhecimento humano sob as bases filosóficas (ANDRADE, BRUNA E
SALES, 2011, p.33-34).
Para isso utilizou três critérios (NUNES, 2007)
• Critério da ausência ou presença do homem nos seres investigados,
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• Critério da imutabilidade e
• Critério da modalidade prática.
O ato de classificar o conhecimento é uma “arte” tão antiga quanto à humanidade como
afirma Dahlberg (1976, p. 352)
A antiga arte,de classificar, tão antiga quanto à humanidade, apenas
recentemente adquiriu uma base teórica adequada - base esta que nos
permite presumir que ela progrediu do status de arte para o de ciência.
Quando apenas uma arte, a classificação foi aplicada de diversos modos
e formas â medida que nosso conhecimento se desenvolvia. Deixou suas
marcas em todos os arranjos sistemáticos que entraram na composição
dos trabalhos de grandes filósofos, a começar pelo Indic Vedas, a
Bíblia, as coleções enciclopédicas de tudo o que era conhecida numa
determinada época, como por exemplo, a enciclopédia do egípcio
Amenope (1250 A.C.) e de Caius Plinius Secundus (23-79 D.C.), e
ainda as grandes enciclopédias da Idade Média, como as de Isidro de
Sevilla, Vincent de Beauvais, Bartholomaeus Anglicus, Brunetto Latini
e as da Renascença, como as de Georg Valla, Rafael Maffei, Johann
Heinrich Alsted, Wolfgang Ratke.

A partir do século XVII, surgiram as classificações bibliográficas tendo como base as


classificações filosóficas. As duas têm como base o raciocínio lógico que foi iniciado pelos
filósofos gregos antigos.
A classificação filosófica de Aristóteles dividiu o conhecimento humano em três
divisões e as subdividiu em:

Quadro 1 – Divisão aristotélica do conhecimento


Filosofia Teórica Física
Matemática
Metafísica

Filosofia Prática Ética


Economia
Política

Filosofia Poética
Produtiva Estética

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Artes

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa bibliográfica.

É na classificação aristotélica é que é vista a primeira contribuição para elaboração de uma


teoria de classificação do conhecimento (LANGRIDGE 1977, p. 24 apud ARAÚJO, 2006, p.
122).
Já a classificação filosófica de Porfírio quebrando o conceito filosófico da substância como um
relacionamento do tipo gênero/espécie, pode ser representada conforme a figura 1:

Figura 1 - Classificação de Porfírio

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa bibliográfica.

Bacon em 1623, na sua obra Partitiones Scientiarum (Classificação das Ciências),


desenvolveu a seguinte classificação do conhecimento:

Quadro 2 - Classificação de Bacon (Classificação das ciências)

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa bibliográfica.

A classificação de Bacon serviu de base para construção de novos sistemas de


classificação como as classificações bibliográficas mais usadas na Biblioteconomia que são: a
Classificação Decimal de Dewey (CDD) que por sua vez contribuir para o desenvolvimento da
Classificação Decimal Universal (CDU).
A Biblioteconomia tem como um de seus propósitos a organização da informação
visando a posterior recuperação. Entre outros métodos e técnicas faz uso de sistemas de
classificação bibliográfica, que foram baseados nos princípios lógicos das classificações
filosóficas do conhecimento.
A diferença entre as duas classificações são as finalidades. As classificações filosóficas
têm como finalidade a definição e hierarquização do conhecimento humano. Já as classificações
bibliográficas, a ordenação dos documentos (arquivos, livros etc.) (PIEDADE, 1983, p. 61 -
65).
Das classificações bibliográficas, destacamos as desenvolvidas por Melvil Dewey
(Classificação Decimal de Dewey) e por Paul Otlet e Henri La Fontaine (Classificação Decimal
Universal). Há outras classificações bibliográficas como Bliss, Cutter, Ranganathan e da
Library of Congress, porém, é proposta deste artigo analisarmos a Classificação Decimal de
Dewey e Classificação Decimal Universal.
A CDD foi desenvolvida em 1876 e leva o sobrenome do seu idealizador o norte –
americano Melvil Dewey. A CDD divide o conhecimento humano em 9 classes e reserva uma
classe para reunir obras relacionadas a assuntos gerais. Para isso, Dewey usou uma notação
com números decimais. Cada classe é subdividida em 10 seções e as mesmas são novamente
desdobradas em 10 subclasses. As classes principais são:
● 000 Generalidades.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

● 100 Filosofia e disciplinas relacionadas.


● 200 Religião.
● 300 Ciências Sociais.
● 400 Línguas.
● 500 Ciências Puras.
● 600 Tecnologia (Ciências Aplicadas).
● 700 Artes, Recreação e Artes Cênicas.
● 800 Literatura (Belas Letras).
● 900 Geografia. Biografia. História.
Correções já feitas.doc
Partindo da CDD foi criada a CDU. Segundo Albuquerque, Cardoso e Tabosa (2015,
p.148)
A Classificação Decimal Universal (CDU) foi criada por Paul Otlet e
Henri La Fontaine e 1892, tendo sido lançada a primeira edição em
1904. Idealizada com base na CDD, tem também por conseguinte,
fundamento na classificação filosófica do conhecimento, dividindo-o
em dez grandes classes decimais.

A CDU é dividida em 10 classes principais de 0 a 9 e a classe 4 se encontra vaga. Cada


classe é subdividida em 10 seções que são novamente desdobradas em 10 subclasses. Veja, por
conseguinte, como são apresentadas as 10 classes principais:
• 0 Generalidades
• 1 Filosofia
• 2 Religião
• 3 Ciências Sociais
• 4 Vaga
• 5 Ciências Puras
• 6 Ciências Aplicadas
• 7 Artes. Recreação. Diversão. Esportes
• 8 Linguística. Literatura

É de suma importância que o acadêmico de Biblioteconomia conheça os fundamentos


filosóficos por trás das classificações bibliográficas. Compreendendo isso o futuro bibliotecário

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

entenderá como usar de forma eficiente esses sistemas de classificação nas unidades de
informação para organização e o mais importante a recuperação da informação.

3 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E A RECUPERAÇÃO DA


INFORMAÇÃO

Uma das grandes contribuições dos sistemas de classificação bibliográficos é no


quesito da recuperação da informação. Mas para isso é necessário que os bibliotecários que
utilizam esses sistemas tenham o devido conhecimento como mesmos funcionam de maneira
correta (SILVA, 2014, p.13). Explicita Lancaster (2004, p. 20-21) que “o fato é que a
classificação [bibliográfica], em sentido mais amplo, permeia todas as atividades pertinentes ao
armazenamento e recuperação da informação”.
Sobre o termo recuperação da informação Mooers (1951 apud FERNEDA, 2003, p.
11) diz que “a Recuperação de Informação trata dos aspectos intelectuais da descrição da
informação e sua especificação para busca, e também de qualquer sistema, técnicas ou
máquinas que são empregadas para realizar esta operação”.
Segundo Araújo e Silva (2014, p.7) “[...] a organização é imprescindível à recuperação
da informação. É ela quem possibilita que os materiais estejam em seus devidos lugares,
classificados por assunto e agrupados por semelhança”. Dessa maneira os sistemas de
classificação bibliográfica contribuem para orientam o usuário à informação que ele procura na
unidade de informação.
Desse modo a recuperação da informação refere-se à facilidade de acesso à informação,
organizada e armazenada, pois a organização sistematizada de documentos por meio das
classificações bibliográficas tem como meta permitirem que os usuários localizem o maior
número possível de itens relevantes a suas necessidades informacionais.
Importante que os estudantes de Biblioteconomia e bibliotecários compreendam que os
sistemas de classificação bibliográficos, como a CDD e a CDU, têm como propósito final a
recuperação da informação e não simplesmente a organização de livros em estantes.

4 O ESTUDO DA FILOSOFIA NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE


BIBLIOTECONOMIA NA REGIÃO NORDESTE

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Como forma de identificar a presença da disciplina de Filosofia nos cursos de


Biblioteconomia da Região Nordeste, foi feito um levantamento dos currículos e projetos
pedagógicos dos dez Cursos de Biblioteconomia presentes nessa região. Logo abaixo, está a
lista com as universidades que ofertam o Curso, apresentando, quando possível, a ementa da
disciplina de Filosofia ou outras disciplinas ligadas à essa área.

Quadro 4 – Levantamento nas Escolas de Biblioteconomia na Região Nordeste


ESTADO UNIVERSIDADE Nome da EMENTA DA DISCIPLINA
disciplina
Alagoas Universidade Introdução à Concepções básicas da
Federal de Alagoas Lógica epistemologia no século XX, com
(UFAL) ressalva entre processos cognitivos e
escrita; ponto de partida para o
estudo da lógica, ênfase na natureza,
objeto e utilidade da lógica. Estudo
da inferência com ênfase na dedução
e indução. Lógica como instrumento
de análise de processos
documentários e informacionais.
Bahia Universidade Introdução à Propedêutica à área de Filosofia e
Federal da Bahia Filosofia Ciências Humanas. Noções
(UFBA) elementares sobre Filosofia em geral
e de Lógica. Método e
Epistemologia no particular, assim
como outros temas do mundo
contemporâneo numa perspectiva
filosófica.
Ceará – Universidade Introdução à Quadro geral da gênese, da história e
Fortaleza Federal do Ceará Filosofia da formação do pensamento
(UFC) filosófico, evidenciando as múltiplas
possibilidades de inter-relação entre

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política, ética e teoria do


conhecimento.Principais
representantes das filosofias
clássica, medieval. moderna e
contemporânea
Ceará – Universidade Introdução à Ementa não encontrada.
Cariri Federal do Cariri Filosofia
(UFCA)
Maranhão Universidade Filosofia Noções de Filosofia: processo de
Federal do filosofar, caracterização do
Maranhão (UFMA) conhecimento filosófico. Problemas
fundamentais: linguagem, valores,
ética, educação, cultura e política.
Paraíba Universidade Lógica Formal Ementa não encontrada.
Federal da Paraíba
(UFPB)
Pernambuco Universidade Introdução à Várias conceituações da Filosofia:
Federal de Filosofia 1 das origens históricas às modernas
Pernambuco (UFPE) concepções do saber e fazer
filosófico. O problema lógico e
metodológico. O problema
antropológico. Tópicos específicos
de Filosofia.
Piauí Universidade Lógica Ementa não encontrada.
Estadual do Piauí
(UESPI)
Rio Grande Universidade Lógica Estudo da lógica simbólica, visando
do Norte Federal do Rio o entendimento dos conceitos
Grande do Norte fundamentais de Argumento,
(UFRN) Validade e Consequência Lógica.
Abordagem contemporânea ao

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

sistema silogístico aristotélico, à


lógica proposicional e a rudimentos
da lógica modal. Para cada um
destes sistemas serão tratadas
técnicas sintáticas e semânticas para
avaliação de argumentos, tais como:
o método das Provas Formais em
Sistemas de Dedução Natural, o
método das Tabelas de Verdade, o
Método dos Contra-exemplos, o
Método dos Diagramas de Venn.
Sergipe Universidade Não consta a Não consta.
Federal de Sergipe disciplina de
(UFS) Filosofia.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa bibliográfica.

Analisando as ementas localizadas, pode-se perceber que o ensino de Filosofia é


bastante generalista. Vários assuntos são abordados como epistemologia, ética, lógica, política,
religião, saber científico, entre outros, levando-nos a constatar que não há uma base
conteudística comum descrita nas ementas das disciplinas. No caso da UFPE, vemos que na
ementa é apresentado apenas o nome de “tópicos específicos de Filosofia”, mas daí nos
perguntamos: que tópicos específicos seriam esses?
O que podemos encontrar de semelhança entre as ementas é a predominância do tema
lógica. Como afirmam Popkin e Stroll (1993, p. 250, tradução nossa) “a lógica é talvez o ramo
mais fundamental da Filosofia. Todos os ramos da Filosofia empregam o pensamento. Se esse
pensamento é correto ou não, vai depender se está de acordo com as leis da lógica”. E segundo
Souza (1986, p. 194) “a Biblioteconomia, como as demais ciências, se utiliza dos princípios
lógicos da Filosofia para o seu progresso científico”.
Como foi dito anteriormente, as classificações bibliográficas foram baseadas nos
princípios lógicos das classificações filosóficas do conhecimento. Dessa forma, a disciplina de
Filosofia nos Cursos de Biblioteconomia pode contribuir para o entendimento da lógica
filosófica aplicadas às classificações bibliográficas.
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Das dez escolas pesquisadas, apenas a Universidade Federal de Sergipe (UFS) não
apresenta nenhuma disciplina relacionada à Filosofia. Entretanto, ao analisarmos esse currículo,
podemos encontrar conceitos do conhecimento filosófico em outra disciplina, nomeada como
Introdução à Psicologia. Além disso, encontramos outros assuntos relacionados aos
conhecimentos científico, religioso e do senso comum.
Das nove universidades onde constam disciplinas ligadas à Filosofia, em apenas três
delas (UESPI, UFCA e UFPB) não foi possível encontrar informações acerca da ementa.
Um dado muito importante que ressaltamos é que, na UFC e na UFCA, os professores
que ministram as aulas dessas disciplinas são professores advindos do Departamento de
Filosofia. Há ainda a hipótese de que na UESPI e na UFPB, essa disciplina seja ministrada por
professores dos departamentos de Filosofia e que a ementa esteja nos projetos pedagógicos
desse curso. No caso da UFCA, não foi possível ter acesso ao projeto pedagógico do curso de
Biblioteconomia e nem de Filosofia, pois as páginas Web que dão acesso aos documentos
estavam indisponíveis no momento da coleta dos dados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Biblioteconomia possui uma longa história e esse percurso se deu a partir de várias
influências que colaboraram para que esse campo do conhecimento seja o que se tornou hoje.
Baseado nesse ponto de vista, a influência e a importância da Filosofia no ensino
biblioteconômico não podem ser ignoradas ou mesmo subestimadas. Assim sendo, a inserção
da Filosofia como disciplina nos currículos dos Cursos de Biblioteconomia é de suma
importância para compreendermos, entre outros temas e aspectos, a criação e formação dos
sistemas de classificação bibliográfica, que auxiliam na organização e, posteriormente, na
recuperação da informação.
Os sistemas de classificação bibliográfica têm a tarefa de organizar o conhecimento de
forma que possa torná-la mais acessível para o usuário, sendo que os mais conhecidos (CDD e
CDU) organizam o conhecimento de acordo com a classificação do conhecimento produzido
pela sociedade em que atua. O conhecimento só atinge sua dimensão social quando é registrado,
organizado e recuperado pela sociedade.
O que notamos nesse levantamento realizado nos cursos de Biblioteconomia da Região
Nordeste é que o ensino de Filosofia ainda é bastante generalista. O que seria interessante é que
houvesse, por parte dos professores de Filosofia, um maior entendimento sobre a contribuição
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dessa disciplina para a formação dos alunos de Biblioteconomia e no fazer bibliotecário, para,
desse modo, procurar aplicar, dar direcionamentos e/ou criar exemplos da aplicação do
conhecimento da disciplina em nosso contexto.

REFERÊNCIAS

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A Quadrilha junina como expressão da memória social: um breve relato das quadrilhas
Pernambucanas

CRISPIM, Paulo Vitor dos Santos58


RESUMO
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a relação entre memória social e cultura visando
uma relação tomada através do estudo da história das quadrilhas juninas. A proposta do artigo
é dialogar com os conceitos desta tríade averiguando quais os conteúdos que precisam ficar
claros para dar visibilidade e importância a um tema tão pouco abordado e de tamanha
seriedade, e portanto se configura como pesquisa bibliográfica. A coleta das informações foi
realizada através do levantamento e análise de ideias trazidas por artigos e livros que tratam a
temática apresentada. Concluiu-se que o tema abordado é de enorme valor para os órgãos
responsáveis pela preservação da cultura nacional, no sentido de que a quadrilha junina é
reconhecida como patrimônio cultural imaterial e que se faz necessário estudar sua memória.

Palavras-Chave: Memória social. Quadrilha junina. Cultura.

The Junilla quadrille as an expression of social memory: a brief account of the


Pernambucan gangs

ABSTRACT

This article aims to reflect on the relationship between social memory and culture aimed at
making a relationship by studying the history of the June gangs . The purpose of the article is
to dialogue with the concepts of this triad ascertaining what content they need to stay clear
visibility and to give importance to such a topic rarely addressed and of such seriousness, and
therefore is configured as literature . Data collection was conducted through survey and analysis
of ideas brought by articles and books dealing with the theme presented. It was concluded that
the subject addressed is of huge value to the organs responsible for the preservation of national
culture, in the sense that the June gang is recognized as intangible cultural heritage and that it
is necessary to study their memory.

Keywords: social memory. Junina Gang. Culture.

1 INTRODUÇÃO

58
Graduando de Biblioteconomia na UFPE; Email: Pv_crispim@hotmail.com
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O argumento central sobre o qual se constrói esse artigo verifica-se na construção da memória
social onde se encontra ligada fortemente a cultura, que por si só dá uma identidade sobre o que
foi a concepção de construção das atitudes e evolução humana, sendo assim, tem como foco
exclusivo a quadrilha junina em Pernambuco que é uma dança tradicional e que está no Brasil
desde o seu descobrimento, passando por várias mudanças, mas nunca perdendo o seu espaço
na sociedade.
O presente trabalho se configura como pesquisa bibliográfica, e a coleta das informações
foi realizada através do levantamento e análise de ideias trazidas por artigos e livros que tratam
a temática apresentada. Para Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é a elaboração a partir de
material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente
com material disponibilizado na Internet.
Dessa forma, o objetivo geral foi mostrar a importância da memória social e sua
concepção sobra cultura e formação de ideais para um determinado fim, expressando a
importância da quadrilha junina para os pernambucanos e os nordestinos como um todo.
Para reflexão desta relação foi necessário definir um conceito sobre memória social,
item este que compõe a segunda sessão desse artigo. Em seguida na terceira sessão, foi
explanada a história da quadrilha junina, desde sua origem até sua chegada ao Brasil e
demonstrando passo a passo da construção do concurso Pernambucano de quadrilhas juninas,
concurso esse um dos maiores em Pernambuco, onde a quadrilha junina está presente na
memória da população, tema este de grande riqueza e que merece sim ser estudado e valorizado,
tal como deveria sim ser nomeado como patrimônio imaterial de Pernambuco.

2 MEMÓRIA SOCIAL COMO EXPRESSÃO CULTURAL

Memória é um termo usado geralmente para representar algo que aconteceu e ficou inerte no
tempo; pode tratar dos processos cognitivos do cérebro humano; ou pode ser atribuído a
capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e retransmiti-los às novas gerações
através de diferentes suportes.

Estabelecer um conceito para memória, de acordo com Le Goff (1990),


está longe de ser uma tarefa simplista, isto porque assim como ocorre
com a palavra informação, a palavra memória está revestida de
conceitos e usos diversos, e seu estudo abrange múltiplos campos do
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

conhecimento, uma vez que a memória tem a propriedade de conservar,


é um fenômeno resultante de conjunto de ações psíquicas que criam e
modificam impressões (LE GOFF apud BRAZ, 2013, p.62).

A maior verdade sobre memória é que não se pode lembrar tudo que aconteceu e/ou foi
ensinado ao longo da vida, a mente humana retém apenas o que é necessário para a existência
futura. Nesse aspecto, onde entra a memória no contexto social?

A construção da memória social está sempre marcada por recortes,


disputas de sentidos e de interpretações. É um campo caracterizado
como transdisciplinar e polissêmico. A memória, em si, é um campo de
disputa de sentidos. Os critérios de seleção e a construção dos discursos
de memória estão sempre comprometidos ideologicamente com
determinados interesses (CRETTON, 2009, p.20).

É através da memória e da sua fragmentação que se faz um contexto do que aconteceu


e deu origem a determinadas nuances sociais como crenças, ideologias, moda e rituais,
a“(...)Memória social, é representada pelo conjunto de ações temporais, da oralidade à escrita”
(BRAZ, 2013, p.64) esses procedimentos faz remeter a cultura, cuja questão cultural é
constituída por heranças simbólicas materializadas em textos, ritos, monumentos, celebrações,
objetos, e outros suportes; pode remontar a qualquer tempo e é um importante registro da
identidade de um povo.
Essas heranças já foram transmitidas de diversas formas: em algum ponto da história os
mais velhos contavam suas experiências aos mais novos; em outro, textos contendo as rotinas
eram minuciosamente descritas no suporte existente, da melhor forma possível; além dos
diversos rituais, que através da prática, transmitiram a identidade de um povo de geração para
geração.
Independente de como forem passadas, a memória é fundamental em uma sociedade, é
o passado responsável por formar o presente, portanto, deve ser valorizada e estudada.
À memória é resguardado o lugar do lembrar, construir, desconstruir e
compor. Trabalho de elaboração, reflexão, localização. Lembrar não é
reviver, é antes de tudo, refazer caminhos e trajetórias. É organizar e
ordenar o tempo, bem como situar o passado em uma cronologia que é
única. Desta forma, os impactos da memória individual e coletiva para
a historicidade humana devem ser vistos dentro de uma sucessiva
interação entre o homem, o tempo, o espaço, cultura e sociedade, com
todas as implicações que possibilitem novas escolhas e permitam o
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repensar e o fazer histórico, tendo em vista o presente e o futuro sem o


rompimento com passado (SHIKIDA, 2005, p.43).

A memória não está ligada a único foco, mas a um conjunto de atribuições que
fundamentam o homem como um todo

(...) lembramos de questões colocadas no presente, a partir deste


lembrar restauramos o passado. A memória não é sonho, é trabalho (...)
o trabalho da memória apoia-se no testemunho da experiência passada
do indivíduo e no de outros internalizados ou presentes fisicamente
(HALBWACHS, 1990 p.58).
.

Podemos observar que as manifestações culturais estão intimamente ligadas à questão


da memória social e aos processos de significação de um povo. É através desses mecanismos
culturais que podemos observar a perpetuação de tradições, de pontos de vista, bem como a
incorporação de novos elementos temporais, que podem ser investigados e assim contribuir
para o entendimento da evolução de terminado comportamento ou manifestação.
Um exemplo clássico é a quadrilha junina, que é um ponto forte da tradição durante os
festejos de Santo Antônio até o dia de São Pedro, e que está repleta de significações históricas
e culturais, além de incorporar elementos atuais sem, no entanto, se descaracterizar dos moldes
iniciais.
Mas a quem diga que memória é história, e partindo desse preceito gera uma dúvida na
sua percepção e da sua construção como disciplina a ser estudada, porém
A história é reconstrução sempre problemática e incompleta do que não
existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no
eterno presente; a história, uma representação do passado. Porque é
afetiva e mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a
confortam; ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais
ou flutuantes, particulares ou simbólicas, sensível a todas as
transferências, cenas, censura ou projeções. A história, porque operação
intelectual e laicizante demandam análise e discurso crítico. A memória
instala a lembrança no sagrado, a história liberta, e a torna sempre
prosaica. A memória emerge de um grupo que ela une (NORA, 1993,
p. 9).

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Diante desse exemplo, podemos afirmar que a memória social é importante para que os
indivíduos estejam inseridos em um processo de pertencimento, crucial para a sociedade, onde
os agrupamentos são formas de compartilhamento de pontos de vista, tradições, histórias, etc.
Com isso analisamos a quadrilha junina como um ato cultural que se fundamentou na
memória da sociedade, atribuindo novas percepções e não deixando de ser tradição e nem
perdendo seu espaço com as diversas variações do tempo.

3 A ORIGEM DA QUADRILHA JUNINA

A origem da palavra quadrilha é do francês quadrille, do italiano quadriglia ou squadro e do


espanhol cuadrilhas que tem à disposição dos pares em formato de quadrado. Alguns trabalhos
informam que a quadrilha, originária dos campos da Normandia e foi apropriada pela elite
francesa, espalhou-se pela Europa como um conjunto de danças palacianas e no Brasil, foi
difundida no início do século XIX, com a chegada da Família Real. Nesse contexto, tornou-se,
inicialmente, a dança oficial da elite brasileira, “a contradança fica na moda entre o I e o II
império sendo depois rebatizada de quadrilha” segundo Furgier (1975, p. 215).
Mello Morais Filho (1979) apresenta registros de 1857 que falam sobre quadrilhas
dançadas por corporações profissionais (como o de barbeiros cariocas) nas ruas e clubes
populares no Rio de Janeiro. Segundo Luciana Chianca (2004) o Brasil republicano recusa os
costumes do período colonial e imperial, desse modo as quadrilhas juninas chegam às zonas
rurais onde começaram a ser lançadas por ocasiões de cerimônias e comemorações,
especialmente as matrimoniais que eram em junho, comemorando a fartura da colheita nesse
mês esse propício para festas.
Mudanças de poder do Brasil republicano, quando os costumes do
período colonial e imperial foram desprezados pelos barões e pelas
camadas burguesas urbanas e citadinas, foi provavelmente nesse
momento que a quadrilha foi abolida das festas dos ricos e das cidades,
mas continuou a ser dançada pela população mais distante dos centros
urbanos (CHIANCA, 2007, p. 50).

No século XX os ideais de modernidade e urbanização impulsionaram o intenso


processo migratório campo – cidade. Com isso a quadrilha volta aos centros urbanos,
participando da construção da imagem da cidade como sinônimo de progresso, modernização

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e saber, através da caricatura do homem do campo e da vida rural. Essa é a quadrilha matuta,
reconhecida e legitimada como portadora da tradição.
Meados dos anos 1980, a sociedade civil se reúne (entidades de classe, sindicatos), num
movimento histórico de reivindicação por eleições presidenciais diretas, que devolva ao Brasil
a liberdade de expressão política depois de um longo período de censura oficial. Nesse clima
efervescente que domina o cenário nacional, cresce no Recife outro movimento, também civil,
protagonizado por jovens, que encontra nas expressões culturais do Ciclo Junino, uma forma
de se manifestar publicamente por meio da arte de brincar quadrilha junina.
Hoje em dia as quadrilhas juninas estão cada vez mais evoluídas e luxuosas, em parte
estão voltando ao luxo de origem e cada vez mais tornando seus padrões diferenciados da
Quadrilha Junina Matuta e embarcando em novos horizontes, construindo sua própria história
e ganhado cada vez mais espaço na cultura pernambucana e nacional.
Elizabeth Cristina de Andrade Lima (2002) em seu estudo sobre as festas juninas toma
como conclusão que os debates acerca da tradição se polarizam entre “saudosistas” e
“inovadores”.
Presos a uma criação imagética e discursiva de vertentes folclóricas,
os “saudosistas” clamam pelo respeito às origens das quadrilhas
juninas e outros, tentando imprimir a idéia do novo, como inovação
e não como “quebra da tradição”, defendem o seu ponto de vista,
afirmando que a redefinição colabora para que as quadrilhas juninas
continuem a ser uma das principais atrações das festas juninas
(LIMA,2002, p. 129).

Tendo em vista que na inovação não se perde da tradição deixada, a história futura das
quadrilhas juninas não deixará de ser cultura, passará apenas a ter uma nova identidade através
dos processos de ressignificação, que criam novas nuances nesse espaço social, político e
cultural, a exemplo dos concursos de quadrilhas juninas, que a cada ano renovam conceitos,
porém, ainda edificados sob o patamar da tradição, como por exemplo, a permanência de
elementos como o casamento matuto e o marcador, conforme podemos observar nas imagens
abaixo.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Figura 1:Encenação do casamento de quadrilhas tradicionais sem identificação, 1967.

Fonte: Arquivo do Diário de Pernambuco apud MENEZES NETO, 2008 p.20.

Figura 2: Encenação do casamento de quadrilhas tradicionais sem identificação, 1969.

Fonte: Arquivo do Diário de Pernambuco apud MENEZES NETO, 2008 p.20.

3.1 O início dos concursos de quadrilha: como tudo começou

A Prefeitura do Recife organizou em 1985 um concurso de quadrilhas juninas, que visou,


sobretudo, ampliar a participação popular, valorizar e estimular as diferenças culturais das
festas juninas na capital. Sob a coordenação da historiadora Sônia Medeiros, o Festival
Pernambucano de Quadrilhas Juninas (nome oficial do evento), acontece pela primeira vez no
Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, popularmente conhecido como Geraldão, no bairro da
Imbiribeira em Recife. Entre dezenas de grupos que participaram, consagra-se a primeira
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campeã do concurso a quadrilha 19 São João do Carneirinho (do bairro Engenho do Meio) e,
em segundo lugar, a Xique Xique no Remelexe (do bairro Brasília Teimosa).
Em 1986, o Pernambucano (forma popular de chamar o concurso) assume um formato
descentralizado, realizado nos dias de São João, em diferentes arraiais espalhados pelo Recife
e Região Metropolitana. “O concurso era realizado nos arraiais das quadrilhas BokoMoko (do
bairro UR 5), Kokota (Associação dos Moradores da UR 11), Pelo Avesso (do bairro UR 6),
Deixa Meu Pé Quieto (bairro do Ipsep), no Vasco da Gama, em Brasília Teimosa, no Encanta
Moça (bairro do Pina), Centro Social Urbano BiduKrause (do bairro Totó). A etapa final
acontecia no Pátio de São Pedro”, diz Graça Xavier a uma entrevista a Mário Ribeiro Santos
(2010, p.19), na época, integrante da equipe do concurso.
O Festival apresentava um formato que obedecia aos dois modelos de quadrilhas da
época: as tradicionais e as estilizadas, avaliadas por duas comissões julgadoras que foram
formadas por indicação direta dos organizadores.
Entre os jurados que foram até os arraiais assistindo às apresentações das quadrilhas
(cerca de oitenta) nesse período, destacaram-se: Carlos Varella, Alfredo Borba, Cirinéia
Amaral, Jurandir Austtermann, Lula Gonzaga, Liane Borba, Hermó- genes Araújo, Paulo
Fernando, Albemar Araújo, Osvaldo Araújo, entre outros, que se dividiam no julgamento dos
itens: entrada e saída da quadrilha, marcador, animação, alinhamento e figurino.

Figura 3: Quadrilha Pelo Avesso 1990 e Truaka 1992,


uma das precursoras da estética estilizada.

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Fonte: Acervo Casa do Carnaval e Arquivo do Diário de Pernambuco apud MENEZES


NETO, 2008, p. 24.

Figura 4: Quadrilha Truaka 1992, uma das precursoras da estética estilizada

Fonte: Acervo Casa do Carnaval e Arquivo do Diário de Pernambuco apud MENEZES


NETO, 2008, p. 24.

Não demorou e o Pernambucano se consolidou como o principal concurso de Quadrilhas


Juninas do Estado, cujo modelo repercute e estimula empresas e associações particulares a
estruturarem os seus próprios concursos, a exemplo do Festival de Quadrilhas Juninas da Rede
Globo Nordeste, que começou em 1989 e temos até hoje, e o concurso do Sesc (Serviço Social
do Comércio) criado em 1991.
Testemunha do processo de mudanças e permanências dos grupos, a coordenação do
Pernambucano, em acordo com os dirigentes das quadrilhas, decidiu organizar um único
concurso, extinguindo as categorias: tradicional e estilizada. Essa nova fase do concurso (1993)
foi coordenada por Carlos Varella e tem como principal cenário o arraial do Sítio Trindade, em
Casa Amarela. É o início da construção do sentimento de identidade dos quadrilheiros com o
local, considerado referência pelos seguidores da manifestação.

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O coordenador do Festival Pernambucano de quadrilhas juninas em 1993, Carlos


Varella, vendo o estouro e a popularização do concurso no universo quadrilheiro, realizou com
representantes das quadrilhas e alguns quadrilheiros a primeira reunião geral. Os participantes
avaliaram e analisaram os diferentes itens de julgamento que a partir dali fariam parte do
concurso. Dessa maneira, ficaram estabelecidos os seguintes itens: marcador, casamento,
vestuário, música, coreografia e conjunto. “Esse momento foi muito importante para a história
do concurso, pois registrou-se em documento (o regulamento) os principais aspectos que
caracterizam a manifestação cultural quadrilha junina.”, Assim diz Paulinho Mafea uma
entrevista com Mário Ribeiro Santos (2010, p.20).
Após catorze anos de realização do Festival Adulto, a Fundação de Cultura criou, em
1999, o Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Infantis. “Nós fizemos o concurso na
época com R$ 2.000,00. Foi muito importante. Logo no primeiro ano, concorreram 20
quadrilhas, consagrando-se a 1ª campeã do Pernambucano a quadrilha Rancho Alegre”, diz
Paulinho Mafe a uma entrevista com Mário Ribeiro Santos (2010, p.20).
Uma nova história se iniciou a partir da criação da Federação de Quadrilhas Juninas de
Pernambuco (FEQUAJUPE), em 30 de agosto de 2000 (registrada oficialmente dois anos após).
Uma entidade civil sem fins lucrativos, que nasce com o intuito de valorizar e fortalecer o
movimento junino no Estado. Entre os quadrilheiros que se afirmaram como defensores dos
interesses dos grupos na luta pelo reconhecimento público e pela conquista do espaço político
do segmento destacam- se aqueles que presidiram a entidade: Fábio Andrade (2000-2002);
Antônio Amorim (2002-2003); Rejane Santana (2004-2006); Gilcley Paiva (2007-2011);
Michelly Miguel (2012- atual), Tendo como lema “Todos por um só ideal”.
As discussões entre a Fequajupe e a Prefeitura do Recife avançaram e um conjunto de
ações foi estabelecido, a partir do estreitamento do pensamento comum. Segundo Albemar
Araújo, entre os trabalhos realizados em parceria com a Federação, podemos destacar: “I
Seminário Junino de Pernambuco com discussões de temas como empreendedorismo,
marketing das quadrilhas, captação de recursos, elaboração de projetos e subvenção. Esse
encontro aconteceu em 2005, no auditório da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)
e contou com a participação de aproximadamente duzentas pessoas, entre quadrilheiros,
representantes da Prefeitura do Recife, Governo do Estado e SESC. Outra atividade relevante
foi a primeira capacitação dos jurados dos Arraiais Comunitários, em junho desse mesmo ano,
lá no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Mais de cinquenta pessoas estiveram
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presentes. Outra atividade foi a palestra (Rivalidade não Rima com Violência), no Teatro
Hermilo Borba Filho. Além de outras ações como o Pré-Junino, o Quadrilhão, o Festival
Pernambucano de Quadrilhas Juninas da FEQUAJUPE (Adulto e Infantil), organização de
Cartões Postais das Quadrilhas, exposições como a realizada na Casa do Carnaval, em
novembro de 2005, Quadrilha Junina: do fazer cotidiano ao espetáculo.”Cita Mário Ribeiro em
uma entrevista com Mário Ribeiro Santos (2010, p.21).
Segundo a atual presidente Michelly Miguel as atuais atividades na FEQUAJUPE são:
A folibrilha que é o bloco de carnaval dos quadrilheiros, O pré-junino que é o encontro de várias
quadrilhas, onde demonstram o que vem em seu tema no ano da apresentação entre outras
palestras e reuniões. No ano de 2017 cadastradas na FEQUAJUPE estavam em
aproximadamente 94 quadrilhas juninas que abrilhantaram os arraias.
Cerca de quatro mil jovens participam direta ou indiretamente nas apresentações juninas
hoje em Pernambuco, ser quadrilheiro é estar em um espaço urbanizado diferenciado

Um espaço intermediário entre o privado e o público, onde se


desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada em
laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as
relações formais e individualizadas imposta pela sociedade
(MAGNANI, 1998, p.115).

Quadrilha junina é uma tradição que continua em alta, e por isso mesmo vai continuar
como uma situação para preservação, resgate e criação de conceitos, sentimentos, percepções e
memórias que sempre estarão ligadas a cultura e história da civilização, um movimento que
sempre foi ligado à cultura e como vimosa cada ano estão se modernizando e deixando legados
para a sociedade, fazendo assim parte crucial da memória social do homem, em especial para o
Nordeste Brasileiro. Legado este que é considerado Patrimônio imaterial do Brasil.

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Figura 5: Quadrilha Zé Matuto, de São Lourenço da Mata, 2015 (Foto: Reprodução /


TV Globo)

Fonte: http://redeglobo.globo.com/globonordeste/noticia/2015/06/seis-grupos-
empolgam-2-noite-do-festival-de-quadrilhas-da-globo-ne.html

Figura 6: Quadrilha Zé Matuto, de São Lourenço da Mata, 2015

Fonte: o autor
3.2 Quadrilhas juninas como patrimônio imaterial do Brasil

O patrimônio está ligado ao significado de herança paterna ou familiar. Bens de natureza


econômica herdados por alguém, ou acumulados durante sua vida. Os bens que fazem parte do
patrimônio cultural não pertencem a uma única pessoa, nem estão ligados a um único interesse,
esse Patrimônio é uma herança coletiva. Essa herança não é estática, e sim, dinâmica, pois se
modificam com o passar do tempo, ao longo das gerações.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O bem imaterial segundo ao Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a


Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e Cultura (UNESCO) são as práticas,
as representações, as expressões, os conhecimentos e as técnicas junto com os instrumentos,
objetos, artefatos e lugares culturais a estes associados. Podemos citar a Quadrilha junina.

Trata-se, portanto, da nossa herança cultural que é transmitida de


geração em geração, mas não pode ser tocada. Por isso também é
chamado de patrimônio intangível. Para ser compreendido, no entanto,
é necessário que se tenha uma representação material dele. Por
exemplo, o Carnaval, o frevo, as festas juninas, o cordel, os maracatus,
a ciranda, a xilogravura ( GASPAR, 2010 p.1).

Por isso se faz importante a identificação, o reconhecimento e a valorização dos


patrimônios imateriais, através do desenvolvimento de tais ações, para que sejam
compreendidas como estratégias de salvaguarda destes. Dessa forma, a quadrilha junina está
guardada na memória e na cultura Pernambucana e deve ser estudada e respeitada em meios as
várias nuances sociais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos memória social como objeto fundamental de estudo, pois é através de recortes e
conclusões de memória humana que é criada a memória social, sendo assim, pode-se entender
a evolução e costumes de uma sociedade, com esse aspecto constrói-se um elo entre a cultura e
a memória, para esse desfecho atribuímos à quadrilha junina como meio de estudo. Todavia
cabe aqui lembrar Tavares (2005, p. 106) que afirma: “Como tudo é feito na base da memória,
cada versão é diferente da anterior. É raro que se encontrem duas versões exatamente iguais;
mas não importa. Cada uma é tão legítima quanto às outras”.
Viu-se a necessidade de explanar a história da quadrilha junina no Brasil e de como ela
veio parar no nordeste com foco em Pernambuco, e de seu crescimento e transformações ao
longo dos anos, não deixando sua origem mais aprimorando seus conceitos e métodos de
apresentação e dessa maneira analisar como esse meio é importante para o Brasil, pois carrega
na sua origem o ato de ser patrimônio cultural imaterial brasileiro. Foi um pouco difícil achar
um desfecho para esse trabalho por falta de referências a serem seguidas com essa explanação,
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

sendo assim, que fique aberto para abordagem e propagação de trabalhos como estes e que
também sejam temas de trabalhos de conclusões de cursos, dissertações e até teses, e que a
interdisciplinaridade entre ciência da informação, antropologia e artes possa mais vezes
acontecer.

REFERÊNCIAS

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ANÁLISE DE SWOT: Um estudo exploratório no Centro de Pesquisas Aggeu


Magalhães (CPqAM)

FERREIRA, Gercelma da Silva Bento ¹


SANTANA, Gerlane Franciele de²
SILVA, Stephany Karla Taurino da ³

RESUMO
O planejamento estratégico busca direcionar a empresa para o futuro, analisando suas
oportunidades, ameaças, pontos fortes e fracos, estabelecendo uma estratégia adequada para
cada tipo de empresa. O Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães que é subordinado da Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) é o objeto de pesquisa deste estudo, a qual teve como propósito a
elaboração da análise de SWOT da instituição, apontando assim, a sua missão, forças, ameaças,
fraquezas e oportunidades. O método da pesquisa foi de cunho descritivo e exploratória, e os
dados coletados para a elaboração do artigo realizou-se mediante as visitas técnicas e da
literatura científica, fazendo assim o levantamento preciso para identificar os principais pontos
da análise de SWOT, com foco de analisar possíveis riscos, e estabelecer contramedidas com
intuito de eliminar os riscos posteriores e aplicar medidas benéficas a unidade de informação.
Através desta análise, se é notável que com o planejamento estratégico, a empresa se conhece
melhor, podendo assim, fazer seu planejamento, definir suas metas e identificar quais meios
serão necessários para alcançá-las.

Palavras-chave: Planejamento Estratégico. Análise de SWOT. Centro de Pesquisas Aggeu


Magalhães (CPqAM).
59

SWOT ANALYSIS: An exploratory study at the Aggeu Magalhães Research Center


(CPqAM)

ABSTRACT
Strategic planning seeks to direct a company into the future, analyzing its opportunities, threats,
strengths and weaknesses, recommending a strategy appropriate to each type of company. The
Aggeu Magalhães Research Center, which is subordinate to the Oswaldo Cruz Foundation
(FIOCRUZ), is the research object of this study, a quality as a proposal for the elaboration of
SWOT analysis, thus indicating its mission, strengths, threats, weaknesses and opportunities.

59
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Biblioteconomia (UFPE). E-mail:
gercelma.ferreira@gmail.com

² Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Biblioteconomia (UFPE). E-mail:


gerlanefranciele@gmail.com

³ Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Biblioteconomia (UFPE). E-mail:


stephanykarlat@gmail.com

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The research method for the elaboration of the article and the analysis, and the data collected
for the elaboration of the article was made through technical visits and the scientific literature,
thus making a precise survey to identify the main points of SWOT analysis, with Focus on
analyzing risks, and establishing countermeasures in order to eliminate risks and post measures
beneficial to the information unit. Through this analysis, if it is remarkable that with the
strategic planning, a better known company, so you can do your planning, define your goals
and identify the necessary means to achieve them..

Keywords: Strategic planning. SWOT Analysis. Aggeu Magalhães Research Center


(CPqAM).

1 INTRODUÇÃO

Este estudo se insere dentro da disciplina Gestão de Unidades de Informação do curso


de graduação Biblioteconomia da UFPE, e tem como escopo, a aplicação de um planejamento
estratégico através da matriz SWOT no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, no qual é
vinculado à FIOCRUZ, localizado na Universidade Federal de Pernambuco, Recife – PE, com
intuito de analisar o atual estado da organização referente à seus pontos fortes e fracos, de modo
que antecipe as ameaças, a fim de analisar possíveis soluções e permitir fazer uso das
oportunidades assim que disponíveis. De acordo com Ribeiro Neto (2011) SWOT: “Apresenta
a situação da organização mediante as dinâmicas ambientais, relacionando-as às suas forças e
fraquezas e criando condições de formular estratégias que representam o ajuste entre a
organização com o ambiente em que ela atua”.
Foi definido como objetivo geral mostrar os dados alcançados a partir da análise de
SWOT realizada no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) a fim de analisar
possíveis soluções e permitir fazer uso das oportunidades assim que disponíveis., e para se
tornar possível a pesquisa, realizou-se três ações específicas, são elas: 1) Buscar em
bibliografias a respeito dos conceitos de planejamento estratégico e análise de SWOT na
literatura científica, buscando assim em Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos
em Ciência da Informação (BRAPCI) e a Scientific Electronic Library Online (SciELO). 2)
realizar a visita técnica na unidade de informação para fazer o levantamento de dados sobre a
mesma para melhor explorar o tema para o desenvolvimento da pesquisa. 3) Estruturar à análise

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de SWOT e identificar o problema de primeira ordem apontando possíveis soluções. A


metodologia utilizada foi de cunho descritivo e exploratório.

2 SOBRE O CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES (CPqAM)

Em 1948, Almicar Pellon, diretor da divisão de Organização Sanitária do Departamento


Nacional de Saúde, iniciou a construção de um centro de pesquisas de estudos em endemias
rurais e parasitárias, o “Instituto de Pesquisas Experimentais”, atrás do Hospital Centenário, Na
Rua do Espinheiro. Esse centro era o sonho do médico, professor e pesquisador pernambucano,
Aggeu Magalhães. Como Magalhães faleceu antes da inauguração, em 1950, a instituição
recebeu seu nome em homenagem. Esse veio a ser o início do Centro de Pesquisas Aggeu
Magalhães (CPqAM).
O CPqAM foi integrado a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Ficando assim
conhecida como FIOCRUZ-PE. Em 1986 deixa o seu prédio inaugural no bairro do Espinheiro
— Recife para funcionar em um prédio no campus Recife da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), ocupando uma área de 15,2 mil metros quadrados.
Possui em seu quadro de pesquisa e ensino profissionais capacitados. Existem sete
departamentos, sendo eles: Administração, Entomologia, Imunologia, Parasitologia,
Microbiologia, Saúde Coletiva e Virologia. O centro, apesar de estar localizado no campus da
UFPE-Recife e parte das pesquisas serem feitas por professores e alunos da UFPE, não possui
vínculo administrativo com a universidade sendo subordinada à FIOCRUZ.
De acordo com o seu site, o Centro tem por missão institucional:

Contribuir para a redução de iniquidades e melhoria das condições


socios sanitárias da população, particularmente na região nordeste
brasileiro, mediante geração de evidências científicas e tecnológicas
indutoras de políticas de saúde e de ciência e tecnologia em saúde e de
ações integradas de pesquisa, ensino, serviços e cooperação técnica.
(FIOCRUZ PE, 2009 ).

O Centro desenvolve pesquisas visando prevenir e controlar “enfermidades agudas e


crônico-degenerativas do Nordeste (NE) ”, possuem também um Laboratório de Nível de
Biossegurança 3 (NB3) e um Núcleo de Plataforma Tecnológica (NPT), bem como dois centros
de pós-graduação em Saúde Pública, Biociência e em Biotecnologia. O centro conta no

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programa de pós-graduação com cursos de especialização, residência, mestrado acadêmico,


mestrado profissional, e doutorado em saúde pública. Além de ser referência em controle de
culicídeos vetores, esquistossomose, filariose, leishmaniose, peste e hantavírus para o
Ministério da Saúde (MS) e centro colaborador em saúde ambiental para Organização Mundial
da Saúde (OMS).

3 O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO COMO GESTOR DE UMA UNIDADE DE


INFORMACIONAL ESPECIALIZADA NA ÁREA DE SAÚDE

É de grande valia a inserção de um profissional bibliotecário em uma unidade de


informação, tendo em vista que o mesmo possui competências informacionais nas quais estão
diretamente relacionadas à gestão, organização e disseminação da informação, cujo intuito é
prover acesso ao usuário de forma que supra suas necessidades informacionais. Fazendo com
que as informações disponibilizadas gerem conhecimento para a comunidade, e sobretudo
novos estudos.
O seu papel é imprescindível na sociedade, pois esse profissional é um disseminador de
informações no qual está apto para prestar subsídios ao público que busca informações. A
atuação do bibliotecário no CPqAM é disponibilizar as informações relevantes através dos
periódicos, trabalhos acadêmicos, livros, bases de dados de pesquisas que são utilizadas para a
inserção de informações da área de saúde com intuito de prestar auxílio nas de pesquisas das
doenças, no qual está disponível para a comunidade interna da Universidade Federal de
Pernambuco e a comunidade externa.
O cenário atual do mercado de trabalho requer profissionais interdisciplinares, o
bibliotecário que atende essa demanda é denominado como profissional flexível, pois o mesmo
está sempre em busca de inovações. A partir desse contexto o gestor do CPqAM enquadra-se
nesse requisito de modo que o fornecimento das informações disponibilizadas para as pesquisas
científicas causam impactos positivos para a área da saúde beneficiando a sociedade.
E para que esses impactos ocorram, se faz necessário a realização de uma análise de
SWOT da unidade de informação, com a pretensão de analisar possíveis riscos, e estabelecer
contra medidas com intuito de eliminar os riscos posteriores e aplicar medidas benéficas a
unidade de informação. É preciso conhecer a unidade de informação para que seja estabelecido
parâmetros para o seu bom funcionamento, sobretudo no que está relacionado ao acesso e
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disseminação da informação ao usuário, sendo esta, atribuição das bibliotecas e unidades de


informações. A inserção de um profissional de biblioteconomia em uma unidade de informação
na área da saúde é um diferencial e além do mais passa ao usuário confiança e sobretudo dá
mais credibilidade a unidade, tendo em vista que o mesmo possui atribuições nas quais tem o
propósito de manter a biblioteca organizada de forma que facilite a disseminação da informação
e consequentemente a recuperação da informação. Portanto conclui-se que a temática Desafios
dos Bibliotecários Documentalistas, Cientistas e Gestores da Informação para a inclusão das
minorias sociais no contexto da sociedade está associado objetivo deste artigo que a partir das
ideias expostas, o evento do ENEBD causará impacto positivo no qual dará visibilidade à
importância da análise de SWOT aplicada em uma organização.

4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

As mudanças de uma determinada Unidade de informação dependem de um


planejamento estratégico, mas para isso devemos conhecer as principais ações do ambiente para
evitarmos descontinuações de atividades que as movem. Pois o planejamento estratégico é o
combustível para o sucesso no qual está direcionado a atingir objetivos e metas. Logo:

A necessidade de planejar estrategicamente é resultado de dois


conjuntos de forças principais: O primeiro compreende as
oportunidades e desafios criados pelos segmentos do ambiente, como
concorrência, consumidores, tecnologia, fontes de matéria-prima e de
outros elementos. O segundo compreende os problemas e as
oportunidades que surgem nos sistemas internos da organização, como
competências de seus funcionários as tecnologias de suas máquinas
equipamentos e processos, sua disponibilidade de capital [...]
(MAXIMINIANO,2000, p.203).

Para que aconteça tal sucesso é fundamental garantir mobilizações de recursos que
assegure qualidade, no qual iremos descobrir através da análise de SWOT aplicada na unidade
de informação FIOCRUZ-PE para posteriormente estabelecermos ideias para melhorias na
mesma.

5 METODOLOGIA DA PESQUISA

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A metodologia aplicada na realização deste artigo consistiu, inicialmente, da busca na


literatura científica conhecida popularmente como pesquisa bibliográfica, que segundo Gil
(2008, p. 50) “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos
científicos”, sobre a análise de SWOT.
A partir da visita in loco, a pesquisa se tornou descritiva e exploratória, que de acordo
com Severino (2007).

A pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre um


determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho,
mapeando as condições de manifestação desse objeto.
(SEVERINO,2007, p.123).

A partir das informações obtidas nas visitas in loco realizadas na unidade de informação, foi
possível identificar as forças e fraquezas que são relacionadas ao ambiente interno da
organização, assim como as oportunidades e ameaças, que estão ligadas ao ambiente externo.
E consecutivamente, evidenciando seu problema de primeira ordem, apontando sugestões para
a referida biblioteca.

6 ANÁLISE DE SWOT

A análise de SWOT é um método de planejamento estratégico e gestão que determina fatores


específicos no qual contribuem para o diagnóstico eficaz sobre uma organização. É um sistema
simples que verifica a posição estratégica da unidade no ambiente em questão, seja ela de
pequeno ou grande porte. A mesma começou a ser estruturada por volta dos anos 60 pelo norte-
americano Albert Humphrey, durante o desenvolvimento de um projeto de pesquisa na
Universidade de Stanford.
O termo SWOT é uma sigla em inglês das palavras Strenghts, Weaknesses,
Opportunities e Threats, que significam: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.
Na análise do ambiente interno são observadas as forças e fraquezas da organização
identificando em quais aspectos ela possui vantagens e desvantagens em relação a seus
concorrentes.
A partir desse contexto, os pontos fortes são a diferenciação conseguida pela empresa,
que lhe proporciona vantagem operacional no ambiente empresarial. Podendo ser em questão

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de serviço prestado, produto de qualidade, serviço qualificado de atendimento ao cliente,


liderança de mercado entre outros aspetos. Já os pontos fracos podem ser avaliados como uma
situação inadequada e que quando forem encontrados a organização deve interagir e minimizar
seus efeitos. As fraquezas podem estar ligadas a falta de direção ou estratégia, pouco
investimento em inovação, alto custo, problemas operacionais ou falta de funcionários
capacitados.
Com isso, nota-se que na análise do ambiente externo é o momento de se fazer um
estudo detalhado da concorrência, das oportunidades e evitar as possíveis ameaças. As
oportunidades e ameaças são previsões do futuro e estão ligadas a fatores externos.
As ameaças são praticamente impossíveis de serem controladas, pois a força ambiental
cria obstáculos à sua ação estratégica, mas que poderá ou não ser evitada se reconhecida em
tempo hábil. Assim como as ameaças, as oportunidades são praticamente impossíveis de serem
controladas, no entanto ao contrário das ameaças, elas não trazem malefícios à organização,
como já citado anteriormente, as oportunidades são condições impostas que são favoráveis
recompensando à organização.
Os resultados da pesquisa serão apresentados com a análise da instituição em relação ao
ambiente interno, que está intrinsecamente direcionado às fragilidades e fraquezas do centro,
logo em seguida será abordado a análise em relação ao ambiente interno apontando então as
fragilidade e potencialidade e consecutivamente a análise do ambiente externo, que abordará as
oportunidades e ameaças. Seguem os dados obtidos na análise:

6.1.1 Análise das fragilidades do CPqAM

As fragilidades que foram identificadas no Centro, conforme descritos na sequência:


● Deficiência dos recursos financeiros da unidade.
● Deficiência na avaliação de resultados na instituição. A instituição impõe para os
funcionários anualmente uma avaliação via meio eletrônico, mas não usufruem. A
mesma não possui avaliações dos serviços prestados para seus usuários, e funcionários,
assim, poderia fazer uso de indicadores, que na qual ajudaria ainda mais na melhoria do
desempenho da instituição.
● Deficiência de instrumentos para ensino à distância. A instituição não possui
ferramentas pedagógicas suficientes para o ensino EAD, ou até mesmo E-learning, pois
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estas plataformas oferecem muitas vantagens, não só ao aluno, mas também para a
instituição.
É perceptível que os pontos fracos requer bastante atenção, pois os mesmos, podem
comprometer seriamente o crescimento do CPqAM, como por exemplo, o problema
identificado de primeira ordem que foi o da Deficiência dos recursos financeiros da unidade.

6.1.2 Análise das potencialidades do CPqAM

● Recursos humanos altamente qualificados;


● Longa experiência em saúde pública;
● Infraestrutura avançada de pesquisa;
● Significativa articulação política;
● Forte cooperação com os serviços públicos de saúde;

Por meio desta análise, é notável existência de diversos pontos fortes no CPqAM,
inclusive alguns que aumentam a probabilidade de sucesso muito maior, como por exemplo, a
infraestrutura avançada de pesquisa e a longa experiência em saúde pública.
Os pontos fortes devem ser utilizados como um diferencial, de forma que o modo no
qual é gerado continue ou até mesmo melhorem.

6.2.3 Análise das ameaças do CPqAM

● A crise financeira tende a reduzir os recursos disponíveis,


incluindo aqueles destinados à ciência;
● Criação de novos cursos de pós-graduação em saúde
pública em faculdades privadas e universidades públicas;

Como já foram citadas no decorrer da pesquisa, as ameaças são praticamente


impossíveis de serem controladas. Como por exemplo, a dependência de recursos para
pesquisas científica, mas a mesma não possui, pois ela é um órgão público, subordinado a
FIOCRUZ, na qual depende do Ministério da Saúde.

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6.2.4 Análise das oportunidades do CPqAM

As oportunidades se referem às condições favoráveis no ambiente que geralmente retornam


algum tipo de recompensa para a organização.
● Ensino e pesquisa têm se tornado um ativo estratégico com o advento da sociedade em
conhecimento;
● Fortalecimento das políticas de inovação em saúde no Brasil que beneficiam a pesquisa
no ambiente produtivo;
● A internacionalização, da FIOCRUZ favorece a capacitação de recursos internacionais
de apoio à ciência.

A partir das oportunidades, nota-se que o CPqAM possui oportunidades que lhe proporciona
condições bastantes favoráveis.

7 DEFICIÊNCIA DOS RECURSOS FINANCEIROS DA UNIDADE DE


INFORMAÇÃO

Tendo em vista que as unidades sem fins lucrativos dependem exclusivamente de


recursos oriundos de parceiros, e nosso atual cenário econômico encontra-se a desestabilização
financeira, no qual dificulta os trâmites para captação de recursos financeiros de órgãos
colaboradores destinados ao desenvolvimento da mesma. Diante disso é possível identificar as
consequências que o défice financeiro ocasiona numa instituição, de modo que seus serviços
são comprometidos, causando paralisação nas pesquisas e no ensino que se destina, e como
consequência um prejuízo para a toda a sociedade que deixa de ganhar com as pesquisas e
descobertas deste centro.

7.1 Contramedida

Identificamos como problema de primeira ordem a seguinte fraqueza: Deficiência dos


recursos financeiros da unidade. A mesma é caracterizada como um fator interno, no qual
poderá prejudicar drasticamente no andamento da unidade de informação. Diante disso,
adotamos estratégias com intuito de fazer da seguinte fraqueza uma oportunidade.
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Tendo em vista que o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães é um órgão de grande


importância para o desenvolvimento de pesquisas na área de saúde, no qual depende
exclusivamente de recursos de parceiros. Diante disso identificamos e caracterizamos como
possível solução a captação de novos recursos através de novos parceiros que apoiam unidade
de pesquisa em saúde, seja: Internacional, Federal, Estadual e Municipal. Haja vista que as
pesquisas não iriam estacionar caso houvesse atraso de recurso de um dos parceiros, pois como
medida de precaução, a unidade realizará novas parcerias.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a política de qualidade da instituição, o CPqAM preza pela excelência


em pesquisa, ensino e extensão em saúde, além de procurar atender as necessidades dos clientes
internos e externos. Diante disso, buscamos identificar os pontos fracos, fortes, oportunidades
e as ameaças da unidade. Observamos através da análise de SWOT aplicada nesta unidade que
se devem aprimorar os pontos fortes e as oportunidades do ambiente da unidade em estudo, e
também tentar resolver ou neutralizar os pontos fracos e as ameaças que a mesma possui.
Foi observado também que há algumas falhas como redução de recursos financeiros e
deficiência na avaliação de resultados na instituição que podem atrapalhar o desenvolvimento
da organização. Muito comum nos órgãos públicos nacionais, a insuficiência de verba não é
suficiente, e afeta diretamente nos resultados e desenvolvimento de pesquisas, fazendo com que
se necessite de captação de recursos de outras parcerias.
A análise de SWOT é bastante útil no processo de planejamento estratégico de uma
instituição, pois identifica fatores internos e externos que influenciam no funcionamento da
organização. Através da análise, são levadas em consideração todas as informações relevantes
da empresa, ajudando a escolher a estratégia mais compatível com a organização para se
alcançar o sucesso. Porém, a análise de SWOT é bem subjetiva, ficando a cargo de quem a
estiver elaborando tentar deixá-la o mais específica possível, ao mesmo tempo em que se é clara
e objetiva para se obter uma análise bem sucedida.

REFERÊNCIAS

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

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APLICAÇÃO DA LEI 12.244/2010 NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE


ENSINO MÉDIO DE GOIÂNIA.

SÁ JÚNIOR, Adilson Ribeiro de 60

RESUMO
Apresenta a situação das bibliotecas escolares na rede de ensino público estadual, em específico
nas escolas de ensino médio da cidade de Goiânia no estado de Goiás, tendo em vista o que é
previsto na Lei 12.244/2010, que versa sobre a universalização das bibliotecas e a presença de
um bibliotecário como responsável pela gestão da mesma. O presente trabalho foi estruturado
através de revisão bibliográfica de artigos publicados em periódicos e coleta de dados junto aos
órgãos competentes. Aborda as definições de biblioteca e biblioteca escolar, bem como os
desafios e problemas enfrentados por bibliotecários no contexto da educação brasileira.

Palavras-chave: Biblioteca. Bibliotecário. Biblioteca Escolar. Lei 12.244/2010. Escola


Pública.

APPLICATION OF LAW 12.244 / 2010 IN STATE PUBLIC HIGH SCHOOLS OF


GOIÂNIA.

ABSTRACT
It presents the situation of school libraries in the state public education network, specifically in
the high schools of the city of Goiânia in the state of Goiás, in view of what is provided for in
Law 12244/2010, which deals with the universalization of libraries and The presence of a
librarian as responsible for the management of the same. The present work was structured
through a bibliographical review of articles published in periodicals and data collection with
the competent bodies. It addresses the definitions of library and school library, as well as the
challenges and problems faced by librarians in the context of Brazilian education.

Keywords: Library. Librarian. School Library. Law 12.244 / 2010. Public school.

1 INTRODUÇÃO

A biblioteca escolar, bem como a atuação do profissional bibliotecário neste espaço, é


alvo de discussão no campo cultural e educacional da Biblioteconomia já há algum tempo,

60
Discente do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás. E-mail:
adilsonribeiro@outlook.com
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como é explanado por Campello (2012) que faz uma revisão dos estudos na área entre os anos
de 1979 e 2011 no Brasil.
O exercício da função de bibliotecário é regulamentada pela Lei Federal 4.084 de 30 de
junho de 1962, e registrada na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do trabalho
como sendo privativa dos bacharéis em Biblioteconomia.
Tendo isso em vista, e congruente ao que prevê a lei, a gestão e direção de uma Biblioteca só
poderão ser exercidas, por uma pessoa com formação superior no curso de Biblioteconomia,
porém quando analisamos a história da Biblioteca escolar no Brasil, esta pesquisa, bem como
literatura estudada para estruturação da mesa, aponta que a lei que regulamenta e delimita o
exercício desta profissão, não vinha sendo cumprida.
A promulgação da lei 12.244/2010 que versa sobre a universalização das bibliotecas nas
instituições de ensino públicas e privadas no Brasil, com certeza, foi um grande marco e
conquista para a classe dos bibliotecários no campo educacional. Correspondente ao que é
apresentado pelo texto da lei, todas as instituições de ensino país devem possuir uma biblioteca,
com um bibliotecário (previsto pela lei 4.084/1962) responsável pela gestão e direção da
mesma. O estabelecido deverá ser cumprido num prazo máximo de dez anos, contados a partir
de sua promulgação.
O presente trabalho tem como objetivo, haja vista que já estamos bem próximo do fim do prazo
estipulado, analisar o cumprimento da lei 12.244 nas escolas públicas estaduais de ensino médio
na cidade de Goiânia. A metodologia utilizada para estruturação deste artigo foi a de revisão
bibliográfica de monografias e artigos publicados em periódicos, bem como a análise dos dados
obtidos junto aos órgãos estaduais competentes.
Como referencial teórico, utilizamos a obra de Ronaldo da Mota Vieira, “Introdução à teoria
geral da Biblioteconomia” publicada em 2014 e a pesquisa feita pelas professoras do curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás: Drª. Andréa Pereira dos Santos, Drª Suely
Henrique de Aquino Gomes, Ma. Maria das Graças Monteiro e Dra. Janaina Ferreira Fialho
(UFS).

2 DESENVOLVIMENTO

Por biblioteca, entende-se consoante ao exposto por Vieira (2014) um conceito que vai
além de um acervo de documentos impressos em papel, pois atualmente a “biblioteca pode ser
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considerada como uma coleção de livros e outros suportes informacionais organizados de forma
que atendam as necessidades informacionais de seus usuários.”(VIEIRA, 2014, p. 3)
Vieira (2014) ainda ressalta que devemos levar em consideração que na atualidade, em
decorrência da era digital, nós nos deparamos com dois tipos distintos de bibliotecas, as que
contam com espaço físico e as virtuais.
Existe ainda uma tipologia que deve ser considerada, que divide as bibliotecas em nacionais,
especializadas, escolares, universitárias, públicas e demais variações. Ateremos-nos aqui
apenas a biblioteca escolar.

2.1 Biblioteca Escolar

Segundo Vieira (2014, p. 26) a biblioteca escolar é uma “[…] biblioteca especializada
em fornecer o material bibliográfico necessário e exigido por professores para atender às
necessidades informacionais dos alunos daquela unidade.” Ainda segundo o autor a biblioteca
deve funcionar como uma extensão das atividades desenvolvidas em sala de aula. Castro Filho
e Coppola Júnior (2012) concordam com o que é exposto por Vieira, quando apontam que a
biblioteca, uma vez inserida no contexto da instituição de ensino, tem como finalidade atender
as demandas da comunidade escolar.
O manifesto da IFLA/UNESCO traz a missão das Bibliotecas escolares:

A biblioteca escolar (BE) propicia a informação e ideias fundamentais


para seu funcionamento bem sucedido na atual sociedade, baseada na
informação e no conhecimento. A BE habilita os estudantes para
aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-
os para viver como cidadãos responsáveis. (IFLA, 2000, p. 1)

Campello et. al (2012) em estudo sobre a situação das bibliotecas brasileiras, ao discorrer sobre
a função da biblioteca escolar, identificou três conceitos que se relacionam com a biblioteca.
São esses a escola, a leitura e a aprendizagem. De acordo com o exposto, a biblioteca se torna
parte essencial da escola, e à educação de qualidade.
No que se refere a leitura, a biblioteca é vista como tendo a competência através de seus meios
para contribuir com formação do pensamento crítico do indivíduo, uma vez que fomenta a
prática da leitura, auxiliando também na formação do leitor.

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Quanto a aprendizagem, Mayrink e Martelli (1991) definem a biblioteca escolar como um


“centro atuante de aprendizagem”. Campello et. al (2012) mostra que a biblioteca escolar está
intimamente ligada ao conceito de aprendizagem, uma vez que a partir de seu uso e de suas
ferramentas, os estudantes produzem conhecimento, e contribuem para a preparação do
aprendizado do indivíduo ao longo da vida.
Uma biblioteca escolar, quando bem gerida tem todas as ferramentas necessárias e eficazes para
auxiliar a escola e as práticas de leitura, bem como impulsionar a produção do conhecimento

2.2 Bibliotecário Escolar

Para Caldin (2005, p. 167), “a essência do papel do bibliotecário é fazer da biblioteca


escolar um centro promotor de leitura.”
Vieira (2014) explana que o bibliotecário escolar é o maior responsável pela formação do hábito
de leitura nos alunos, uma vez que incentiva constantemente a leitura e a pesquisa e muitas
vezes são os primeiros a trazer ao estudante o contato com livros, obras de referência, entre
outros.
Vieira ainda elenca em sua obra os deveres do Bibliotecário Escolar:

Analisar os recursos e as necessidades de informação da comunidade


escolar;
Formular e promover políticas para o desenvolvimento dos serviços;
Desenvolver políticas e sistemas de aquisição para os recursos da
biblioteca;
Catalogar e classificar documentos e recursos em geral;
Dar treinamento e formação para a utilização da biblioteca;
Formar competências e conhecimento da informação;
Apoiar alunos e professores na utilização de recursos da biblioteca e de
tecnologia da informação;
Atender a pedidos de referência e de informação utilizando os materiais
adequados;
Promover programas de leitura e eventos culturais;
Participar de atividades relacionadas à gestão do currículo escolar;
Participar da preparação, promoção e avaliação de atividades de
aprendizagem;
Promover a avaliação dos serviços prestados na biblioteca;
Construir parcerias com organizações externas;
Preparar e administrar os orçamentos e a formação da equipe. (VIERA,
2014, p. 268)

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Tendo em vista isso, o bibliotecário escolar deve direcionar seus esforços no seu público-alvo,
os leitores, que são os estudantes da instituição de ensino na qual trabalha. Suas ações devem
ter como objetivo disseminar a informação, fomentar a pesquisa e aproximar os alunos da
biblioteca.
Porém, uma das maiores dificuldade que o bibliotecário encontra para desempenhar suas
funções é justamente a falta de interação entre o corpo pedagógico e o bibliotecário. Muitos
professores ainda mantêm a visão de que biblioteca e sala de aula estão em universos distintos.
Como mostra Carvalho (1984, p. 34 apud CAMPELLO et. al, 2012, p. 9) “escola e biblioteca
são inseparáveis.”, portanto é necessário se lembrar que a biblioteca é um elemento essencial
para a escola, por extensão o trabalho do profissional bibliotecário toma o mesmo valor. É
preciso que haja essa maior participação e interação entre as equipes. “[…] a biblioteca só
adquire centralidade na escola se os professores repensarem suas práticas pedagógicas.”
(CAMPELLO et. al, 2012, p. 9)

2.2.1 O Bibliotecário Escolar e o Letramento Informacional

Fialho (2004) define o letramento informacional como um processo de formação continuado,


que deveria ser empregado desde a educação básica, a fim de agregar ao estudante habilidades,
que seriam amadurecidas no decorrer destes anos, de práticas de leitura e pesquisa.
Fialho (2004) aponta o que as fontes de informação e as ações promovidas pelo bibliotecário
escolar como elementos fundamentais na formação do pesquisador ainda na educação básica.
A autora expõe que um grande entrave no processo de letramento informacional, está nas
dificuldades apresentadas pelos alunos utilizar a informação encontrada nos mais diversos tipos
de documentos e fontes, uma vez que eles não conseguem estabelecer a relação entre seus
pontos de vista e as ideias encontradas. O resultado disso é que os alunos então apenas copiam
aquilo que leem. É mediante essa dificuldade apresentada que a ação do profissional
bibliotecário se faz de suma importância.
Sobre esse processo de formação a Associação Americana de Biblioteconomia (ALA) define o
seguinte:

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Para possuir letramento informacional, uma pessoa deve ser capaz de


reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade
de localizar, avaliae e usar efetivamente a informação […] Resumindo,
as pessoas que possuem letramento informacional são aquelas que
aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o
conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-
la de modo que as outras pessoas aprendam a partir dela. (ALA, 1989,
p. 1).

Levando isso em consideração, o trabalho em conjunto do professor e do bibliotecário é mister,


pois contribuirá com o processo de formação do pesquisador juvenil, uma vez que os primeiros
passos da produção de conhecimento são dados durante a educação básica. Esse tipo de
competência adquirida pelos alunos, que deve ser produto da ação conjunto dos profissionais
da educação e biblioteconomia, os auxiliará por toda a vida, em especial durante a carreira
acadêmica, pois desenvolverão o senso crítico. AACRL elenca como benefícios dessas ações
conjuntas:

[…] reconhecimento da necessidade de informação, formulação de


questões, localização de informações, uso das fontes de informação,
solução de problemas, pensamento crítico, comunicação de ideias,
respeito à propriedade intelectual, capacidade de inovação e estímulos
à leitura. (AACRL, 1998 apud SANTOS et. al, 2015?, p. 6).

2.3 A situação das bibliotecas escolares no Brasil

O estudo realizado por Campello et. al (2012) publicado na Biblioteca Escolar em revista trouxe
e situação das bibliotecas escolares pelo Brasil pouco após a promulgação da lei 12.244/2010.

Este estudo teve como objetivo conhecer as características de diagnósticos


sobre bibliotecas escolares brasileiras, elaborados por diversos autores.
Foram identificados e analisados dezoito diagnósticos publicados na
literatura da área, de 1979 a 2011, de forma a se obter uma visão do que já se
estudou e se conhece a respeito das condições das bibliotecas escolares
brasileiras. Foram analisados: os objetivos dos diagnósticos, a metodologia
utilizada e a técnica de coleta de dados, o referencial teórico, os resultados
obtidos, as conclusões e recomendações feitas pelos autores. A variedade de
procedimentos de coleta e análise dos dados utilizados em cada diagnóstico
impossibilitou inferências e conclusões mais aprofundadas. No conjunto,
esses trabalhos compõem um retrato parcial da biblioteca escolar no país,
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confirmando a situação precária dessas instituições e tornando mais visíveis


os problemas existentes. (CAMPELLO et. al, 2012, p. 1).

No que se refere a “acervo” os dados encontrados foram os seguintes:

• O material mais comum dos acervos é o livro;


• Há presença significativa de livros didáticos;
• Há pouca presença de materiais não bibliográficos ou materiais especiais.

Além disso, ainda foram diagnosticados problemas referentes a catalogação deste acervo.
Campello et. al (2012) ainda chama a atenção para o fato que grande parte das bibliotecas não
têm seus acervos catalogados.
O problema mais grave apresentado pelo estudo se encontra no quesito “pessoal”. Conforme
Abreu (2002) a análise dos dados aponta que o problema mais evidente é o de pessoal, e este é
um problema que continua persistindo com o decorrer dos anos. Os dados encontrados foram
os seguintes:

• Pequeno número de responsáveis com formação em biblioteconomia;


• Presença constante do professor readaptado;
• Falta de treinamento da equipe.

O estudo realizado por Campello (2012) mostra que a realidade das Bibliotecas escolares, no
período dos anos 1979 a 2011 em nível de Brasil era bem precária e insatisfatória. O descaso
das instituições que mantinham esses espaços era com certeza um fator determinante para tal
precariedade. A falta de reconhecimento da função do bibliotecário e da Biblioteca no processo
de letramento informacional é um problema gravíssimo, o que acaba acarretando outros
problemas de igual gravidade como: Falta de pessoal especializado, acervo adequado e
estrutura.

2.3.1 A história de Goiânia e o Curso de Biblioteconomia na cidade

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Os registros históricos da Prefeitura de Goiânia (2017) mostram que a cidade foi fundada em
24 de outubro de 1993, e planejada para ser habitada por 50 mil habitantes. O nome da cidade
foi escolhido pelo Engenheiro Atílio Corrêa de Lima, em uma alternativa a “Petrônia”, nome
proposto originalmente, que seria uma homenagem a Pedro Ludovico Teixeira, que viria a se
tornar o primeiro prefeito da capital.
A “Marcha para o Oeste”, ação fortemente promovida pelo Governo de Getúlio Vargas foi
decisiva para a construção da nova capital, que até então era na Cidade de Goyás. Goiânia então
foi projetada para ser a capital política e administrativa do Estado de Goiás.
Seu projeto arquitetônico foi fortemente influenciado pelo estilo Art Déco, fazendo com que
Goiânia seja até os dias atuais o maior sítio Art. Déco da América Latina. A cidade sofreu um
aumento populacional na década de 60, atingindo a marca de 1 milhão de habitantes. Hoje
Goiânia possui 1,3 milhão de habitantes e a segunda cidade mais populosa do centro-oeste, e a
sexta maior cidade do Brasil em tamanho.
O curso de Biblioteconomia, em Goiânia, é oferecido somente na Universidade Federal de
Goiás - UFG, apenas no Campus Samambaia na capital do Estado. Foi fundado em 1980, sendo
reconhecido pelo Ministério da Educação em 2 de julho de 198561. Além disso, a instituição de
ensino mais próxima, que oferece o curso é a Universidade de Brasília - UnB.

2.3.2 A situação das bibliotecas escolares nas escolas públicas estaduais de Goiânia

Em conformidade com o que é exposto por Santos et. al (2015?), a atual Resolução do
Conselho de Educação de Goiás (CEE/ n.º 5 de 10 de junho de 2011) prevê que uma escola só
pode funcionar ou pedir licença para funcionamento, caso tenha em sua estrutura física uma
biblioteca e na gestão da mesma um bibliotecário formado. Além destes requisitos ainda
existem padrões mínimos a seres seguidos para o funcionamento e desenvolvimento da
biblioteca escolar.
Art. 119. A Biblioteca escolar é um componente essencial, situado no
espaço físico da escola, que objetiva reunir, tratar e disponibilizar
informações a professores, estudantes, funcionários e à comunidade

61
Informações extraídas do site da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de
Goiás. Disponível em: <https://biblioteconomia.fic.ufg.br/p/838-apresentacao>. Acesso em: 07 de junho de 2017.
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escolar, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem; suas funções


educativa, recreativa, cultural e social tornam - se indispensáveis para
o desenvolvimento da competência informacional de seus usuários.
§ 1o Toda escola deve obrigatoriamente implantar e implementar sua
biblioteca, atualizando constantemente o acervo, dando preferência às
demandas oriundas dos conteúdos curriculares de suas respectivas
séries, módulos, ciclos e etapas.
§ 2o A biblioteca deve ser preferencialmente informatizada, com acesso
a internet e seção de empréstimo.
§ 3o Os funcionários já lotados na biblioteca deverão ser capacitados,
coordenados e supervisionados pelo bibliotecário responsável.
Art. 120. O responsável por gerenciar, organizar, desenvolver serviços
e produtos de informação e realizar atividades pedagógicas e culturais
em conjunto com os professores e estudantes em uma biblioteca escolar
deve ser um bibliotecário, com formação superior em Biblioteconomia.
§ 1o A instituição de ensino que tiver mais de 500 (quinhentos)
educandos deverá ter um bibliotecário devidamente registrado no
Conselho Regional de Biblioteconomia em seu quadro funcional.
§ 2o A instituição de ensino que tiver menos de 500 (quinhentos)
educandos deverá recorrer à orientação e supervisão de um
bibliotecário, devidamente registrado no Conselho Regional de
Biblioteconomia, para capacitar, supervisionar, orientar e avaliar os
funcionários da biblioteca.
Art. 121. O Sistema Educativo de Goiás, compreendido pelo sistema
público e privado, deverá investir na contratação de bibliotecários para
todas as bibliotecas escolares, existentes e para as que forem criadas,
como no mobiliário e na ampliação e atualização do acervo
bibliográfico e multimeios, nos termos da legislação em vigor. 62

Conforme diz o texto da Resolução o responsável pela por gerenciar, bem como capacitar e
treinar a equipe auxiliar na gestão da biblioteca, deve ser um bibliotecário com formação
superior em Biblioteconomia.
Evidenciado pela pesquisa de Santos et al. (2015?), em 2001 foi criado o Programa de
Bibliotecas das Escolas Estaduais (PBEE), que tinha como objetivo atender os estudantes da
segunda fase do ensino fundamental e ensino médio, além de atender as demandas dos
professores. O acervo era formado por livros de literatura e livros informativos das disciplinas
do currículo estabelecido pelo Ministério da Educação.

62
Resolução do Conselho Estadual de Educação de Goiás. Disponível em:
<http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2014-12/2011-5-normativa-parecer.pdf>. Acesso em: 07 de junho
de 2017
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A realidade apontada mostra que tanto a lei federal, como a Resolução do CEE não está sendo
seguida nas escolas públicas estaduais de ensino médio. Os dados encontrados no Censo escolar
de 2015, realizado pelo Instituto de Mauro Borges de estatísticas e estudos socioeconômicos -
IMB (2016), bem como na pesquisa realizada por Santos et al. (2015?) foram os seguintes:
Goiás possui 1.150 escolas públicas mantidas pelo Estado de Goiás. Um total de 982 destas
instituições de ensino colaborou com a pesquisa realizada, e 763 responderam que possuem
biblioteca de acordo com o que prevê a lei e a resolução, no que se diz respeito à estrutura e
acervo. Em Goiânia há 109 escolas estaduais públicas e de ensino médio, e 102 alegam ter
biblioteca, em consonância com previsto na legislação.
Quanto à presença de um bibliotecário, bacharel em Biblioteconomia, a resposta foi negativa
em todos os casos, haja vista que não existe o cargo de Bibliotecário, no quadro funcional da
Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte - SEDUCE. Assim como apontado na
revisão de Campello (2012), o maior problema enfrentado pelas Bibliotecas escolares na cidade
de Goiânia é com pessoal. Não existe a frente da gestão destes espaços, profissionais formados
e com capacidade técnica para gerir um local, que como já abordado é de extrema importância
para produção de conhecimento e formação do intelecto. Existe a promessa desde o ano de
2010, por parte do Governo do estado de Goiás, para realização de um Concurso Público para
o cargo de Bibliotecário, para que os mesmo possam assumir a direção de tais locais. Porém até
a presente data nada passou de promessas.
Geralmente são alocados profissionais em fase de readaptação ou próximos da aposentadoria
para dirigir a Biblioteca escolar. Muitos desses servidores tentam dar o seu melhor para
promover a maior interação ente usurário e a biblioteca, mas a falta de conhecimento técnico é
muitas vezes fator determinante para o insucesso. É claro que também não podemos descartar
aqueles profissionais que também não dão o devido reconhecimento a Biblioteca, e que a veem
apenas como mais um espaço dentro do ambiente escolar (muitas vezes utilizado para castigar
os alunos) e por isso a tratam com descaso e não despendem esforço algum para que ela seja
mais bem utilizada.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em consideração o estudo realizado em 2012 por Campello et al. e a pesquisa


realizada mais recentemente por Santos et al, concluímos através da comparação destes dados,
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que as Bibliotecas escolares na rede de ensino médio público estadual de Goiânia (em
conformidade com o último censo escolar estadual realizado e publicado no ano de 2016) não
se difere muito do que era a realidade das Bibliotecas escolares brasileiras nos período dos
anos de 1979 a 2011.
Houve uma pequena evolução quando falamos de acervo e até mesmo de estrutura, porém a
situação ainda é grave quando falamos da atuação do bacharel em Biblioteconomia a frente da
gestão da biblioteca escolar. Fatores agravantes para esse cenário são a falta de profissionais
formados no curso, pois hoje existe um déficit grande no mercado, bem como a desvalorização
dos profissionais que já atuam na área.
Salários baixos e a falta de informações sobre esse mercado e a atuação do profissional, muitas
vezes desmotivam discentes a concluírem a graduação. A falta de contato com um bibliotecário
formado durante a educação básica e a pouca disseminação do curso de Biblioteconomia para
futuros ingressantes na Universidade também contribui para a pouca quantidade de
profissionais formados.
É necessária uma comoção da classe junto aos órgãos competentes exigir o cumprimento da lei
promulgada, bem como a fiscalização destes órgãos nas instituições de ensino. É preciso
também que continue sendo cobrada a realização do Concurso Público para a contratação de
bibliotecários na composição do quadro de servidores da SEDUCE. Outra sugestão ação
proposta é a atuação da Universidade junto as escolas de educação básica (sejam elas públicas
ou privadas) para promover o curso de Biblioteconomia para os alunos e também a
conscientização das direções do papel fundamental do bibliotecário e de sua atuação junto ao
corpo pedagógico na educação e no letramento informacional do pesquisador juvenil.

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AS TENTATIVAS DE ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO NO AMBIENTE WEB

Bianca Adami Guatimosim63


Carolina dos Santos Carboni64
Bruna Leffa Hilbert65
Isabel Cristina Gules66
RESUMO
O presente artigo aborda a problemática da desorganização da informação na Web e objetiva
aportar algumas tentativas propostas por alguns especialistas para a organização na rede. Para
isso, aborda-se a problemática atual no ambiente Web e suas diferenças em relação às
tradicionais formas de organização, para, então, se apontar quais são as possíveis soluções
propostas na atualidade. Para David Weinberger, em seu livro A nova desordem digital (2007),
as formas de organização já existentes na rede que visam o acesso facilitado de informações,
como, por exemplo, a Wikipedia, buscam, sobretudo, a organização do conhecimento.
Complementando Weinberger, Pierre Lévy, em suas obras A inteligência coletiva (2003) e As
tecnologias da inteligência (2010), argumenta que o saber compartilhado por qualquer pessoa
da sociedade constitui uma inteligência coletiva na rede. Enfim, essa colaboração da sociedade
para a transmissão de conhecimento mostra a necessidade da organização do ciberespaço.

Palavras-chave: Gestão da informação. Recuperação da informação. Organização na Web.

THE ATTEMPTS OF ORGANIZING INFORMATION IN THE WEB


ENVIRONMENT

ABSTRACT
This article approaches the problem of the disorganization of the information on the Web and
aims to contribute some attempts proposed by some specialists for the organization in the
network. It addresses the current problematic in the Web environment and its differences in
relation to the traditional forms of organization, in order to point out the possible solutions
currently proposed. For David Weinberger, in his book The new digital disorder (2007), the
forms of organization that already exist in the network that aim at facilitated access of
information, as for example Wikipedia, seek above all the organization of knowledge.
Complementing Weinberger, Pierre Lévy, in his works Collective Intelligence (2003) and The
Technologies of Intelligence (2010), argues that knowledge shared by any person in society
constitutes a collective intelligence in the network. Finally, this collaboration of society for the
transmission of knowledge shows the necessity of the organization of cyberspace.

63
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
bika.adami17@hotmail.com
64
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
carol_literaria@yahoo.com.br
65
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
isabel_gules@hotmail.com
66
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:
bruna.hilbert@hotmail.com
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Keywords: Information management. Information retrieval. Organization on the Web.

1 INTRODUÇÃO

Após a maravilhosa criação de Tim Berners-Lee, em 1989, o mundo começou a


desfrutar de uma ferramenta de comunicação a nível global completamente inovadora. Como
nunca ocorrido antes, a população mundial aos poucos passou a ter acesso a informações e
conhecimento sobre as mais variadas partes do globo terrestre por meio de tão somente um
microcomputador pessoal. Essa importante mudança veio a acarretar uma transformação no
modo de comunicação na sociedade global no final do século XX e início do XXI.
Paralelamente à ampliação do acesso à rede mundial de computadores, ao longo das
últimas décadas, e principalmente depois do desenvolvimento da chamada Web 2.0,
gradualmente esse gigantesco universo virtual começou a enfrentar um problema igualmente
grandioso: a desorganização da informação produzida no ambiente da Web. Nos primórdios da
criação da rede, seus criadores e desenvolvedores jamais imaginaram tamanha expansão de
conteúdo informacional. Com duas décadas e meia de uso, o crescimento da informação dentro
da rede mundial de computadores já contava com uma explosão de dados exponencial. Segundo
dados anteriores a 2013, do portal To Be Guarany (2015), o número de usuários de computador
iria dobrar até 2012, chegando a 2 bilhões. A cada dia, 500 mil pessoas entram pela primeira
vez na Internet e são publicados 200 milhões de tuítes; a cada minuto são disponibilizadas 48
horas de vídeo no YouTube; e a cada segundo um novo blog é criado. 70% das pessoas
consideram a Internet indispensável. Em 1982, havia 315 sites na Internet. Hoje existem 174
milhões (TO BE GUARANY, 2015, on-line).
Levando em consideração que essas estatísticas são de pelo menos cinco anos atrás,
deve-se considerar que a maior parte desses dados levava em consideração que a população
tinha acesso à Internet, em geral, mais pelo computador do que pelo celular. Com o aparelho
móvel dotado com a capacidade de acessar a Web, esses números tendem a ser muito maiores.
Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil (2015), pelo menos 81,5 milhões de pessoas no
Brasil, com idade igual ou maior a 10 anos, acessaram a Internet pelo celular em 2015. Com o
acesso aumentando a cada dia, mecanismos de organização tornam-se necessários para que o
acesso e a recuperação da informação não se tornem uma dor de cabeça. Foi essa
conscientização que levou a cabo as primeiras tentativas de organização na Web.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O crescente aumento do número de pessoas conectadas virtualmente tem causado um


acúmulo exponencial de informações na Internet, e esse número aumenta a cada dia, por
exemplo, com publicações no Facebook, no Instagram e no You Tube. O acentuado crescimento
de lixo eletrônico tem causado um congestionamento de informações desnecessárias, que, por
seguinte, acarretam uma Web mais poluída e sem organização, que acaba afetando o usuário
que perde suas informações e também não encontra objetivamente sua pesquisa. Pensando
nesse problema, é proposta uma solução para o acúmulo continuo de informações na Web, por
meio de revisão bibliográfica das obras de grandes autores da área como, por exemplo, David
Weinberger e Pierre Lévy.

2 A CONFIGURAÇÃO DA (DES)ORGANIZAÇÃO

Em 1989, o cientista da computação Tim Berners-Lee veio a criar a Web. Com o passar
dos anos, a rede foi sendo cada vez mais ampliada e desenvolvida, passando a se configurar na
forma como se conhece hoje.
Em um primeiro momento, o invento de Lee não afetou diretamente as bibliotecas nem
o mundo. Demorou um pouco para que todas as pessoas tivessem acesso à rede, até se chegar
ao emaranhado de metadados distribuídos pela Web na atualidade. De acordo com Malini
(2009), a princípio quem tinha acesso à Web eram hackers ou pessoas envolvidas diretamente
com o assunto e que tinham informações sobre como acessar a rede. Após poucos anos, o acesso
tornou-se globalizado, e hoje bilhões de pessoas acessam a Internet e compartilham
informações com milhares de outras pessoas. Uma pesquisa anual feita pelo Facebook, para o
seu projeto Internet.org (FACEBOOK, 2015), constatou que, até dezembro de 2015, 3,2 bilhões
de pessoas já estavam conectadas à Internet no mundo.
O crescente número de pessoas conectadas à rede fez crescer também o número de
informações nela contidas e a necessidade de uma organização para que buscas simples tenham
respostas rápidas e eficientes.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Uma das tentativas de organizar essa “bagunça” de metadados67 foi a criação das tags.68
Weinberger (2007) dá diversos exemplos do funcionamento das tags e porque se tornaram
fundamentais para a recuperação de informação e organização na Web. O autor explica que,
com as tags, as pessoas podem categorizar fotos, vídeos, dados, textos ou qualquer tipo de
informação na Web. O autor retrata melhor essa lógica citando o seguinte exemplo:

[...] uma foto de um soldado de Massachusetts comendo em um campo


em plena Guerra Civil com um rifle a seu lado pode estar incluída na
categoria “Guerra Civil” e “soldado”, mas provavelmente também
estará em “Massachusetts”, “rifle”, “armas”, “uniformes”, “jantar” e
“ao ar livre”. [...] se todos esses dados estivessem registrados, inchariam
de tal modo o catálogo de fichas que o sistema se tornaria inutilizável.
(WEINBERGER, 2007, p. 19).

Weinberger (2007) traz esse exemplo mostrando como seria difícil localizar essa foto
na coleção de fotos do Bettmann Archive, que “[...] conta com 11 milhões de fotos e negativos
de valor inestimável.” (WEINBERGER, 2007, p. 18). Porém, se essa mesma foto estivesse
disponível na Web em um site como o Flickr, que reúne milhões de fotos para
compartilhamento, utilizando sistemas como tags, a busca teria um tempo muito menor.
Colocando, por exemplo, todas as informações que quiser sobre essa foto com hashtags como
“#GuerraCivil”, “#SoldadodeMassachussetts”, “#PartiuGuerraCivil”, uma pessoa que digitasse
qualquer uma delas encontraria com mais facilidade a foto do soldado do que uma busca no
arquivo físico da coleção Bettmann Archive, que, além da dificuldade de procura devido ao
número gigantesco de fotos, fica localizada em uma caverna na Pensilvânia, a quase 70 metros
da superfície (WEINBERGER, 2007).
Apesar de todas as diferenças de se lidar com a informação física e com a digital, tanto
a Web, quanto a Biblioteconomia partem do princípio de que a organização da informação é
fundamental para que possa ser posteriormente recuperada.

67
Segundo Marcondes (2005), metadados “[...] são dados associados a um recurso Web, um documento eletrônico,
por exemplo, que permitem recuperá-lo, descrevê-lo e avaliar sua relevância, manipulá-lo (o tamanho de um
documento, ao se fazer dowloading ou o seu formato, para sabermos se dispomos do programa adequado para
manipulá-lo), gerenciá-lo, utilizá-lo, enfim.”
68
De acordo com a nota da tradutora Alessandra Mussi Araújo (WEINBERGER, 2007, p. 92), “Tags são estruturas
de marcação que consistem em breves instruções, tendo uma marca de início e outra de fim. Há tendência, nos
dias atuais, de se usar as tags apenas como delimitadores de estilo e/ou conteúdo, tanto em HTML quanto em
XML.”
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Além das formas já citadas, há diversas tentativas de organizar tudo, como o Google
Maps (organização do espaço, mostrando mapas de milhares de lugares e a possibilidade de
“[...] outros programas incorporarem mapas do Google a suas próprias ofertas [...]”
(WEINBERGER, 2007, p. 159), o Flickr (organização voltada a fotos publicadas), o Twitter
(organização do pensamento, postagens de frases que o próprio usuário escreve e divulga), o
You Tube (organização de vídeos da Web), Whats App (sistema para envio direto de
mensagens), Spotify (organização de músicas), entre muitos outros tipos de organização dentro
da rede, mas que, se não informadas corretamente, podem se perder em meio ao universo
infinito da Web.

3 UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O QUE PARECE SER QUASE IMPOSSÍVEL

Weinberger (2007, p. 14) traz no início do seu livro a resposta para essa pergunta: “[...]
a solução à superabundância de informações é um número ainda maior de informações.” A
única forma possível conhecida para organizar o problema desse caos decorrente da
desorganização das informações na Web é adicionar mais informações a essas informações.
Esse é um paradoxo que se enfrenta cada dia mais na rede.
Weinberger (2007) traz a lógica de Dewey sobre como funciona o sistema de
classificação comparando esse método a uma “árvore do conhecimento”, na qual uma
informação é ligada a outra, que está relacionada a outra e assim por diante. Essa lógica no
mundo físico dos livros parece mais simples do que na Internet, pois, se essa mesma árvore for
para o mundo das tecnologias, formará uma miscelânea, como mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Representação da organização na Web: miscelânea

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: Elaboração própria a partir de Barros (2008).

No entanto, após analisar que seria quase impossível colocar as informações da Web em
“caixinhas” únicas e sem movimentação, Weinberger (2007, p. 45) percebe que a lógica da
árvore não é muito viável para a lógica da Internet, pois “[...] nada tem seu lugar. Tudo tem
seus lugares [...]”. Essa afirmação ainda é válida, mesmo que já tenha se passado dez anos desde
a publicação do seu livro.
Deve-se levar em consideração que o mundo físico permite que cada coisa tenha seu
lugar. Um livro ocupa um lugar na estante, em uma classificação, em um assunto. Já na Web,
um livro pode ocupar mais de uma categoria. O site da Amazon brasileira é um exemplo.
Quando se acessa o site, percebe-se que os livros mais procurados do momento aparecem na
categoria “mais vendidos em livros”, mas, ao mesmo tempo, também aparecem dentro de outras
categorias. Um exemplo seria o livro O oráculo oculto, do autor Rick Riordan, como mostrado
na Figura 2.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Figura 2 – Forma de miscelânea adotada no site da Amazon

Fonte: Amazon.com.br (2016a).

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Quando se acessa o site, esse livro está na classificação dos mais vendidos, ao mesmo
tempo que está nas categorias literatura e ficção, literatura infantojuvenil e geral, como
mostrado na Figura 3. Esse método de “jogar informações na cara do usuário” é amplamente
usado pela Amazon, pois assim é mais fácil mostrar aos leitores as ofertas. Seguindo essa lógica,
a partir do momento que o provável comprador entra no site e se depara com milhares de ofertas,
com o mesmo livro em diversas categorias – mostrando o quanto ele tem sido muito procurado
e comprado por outros internautas, provavelmente, com uma promoção imperdível – faz com
que o usuário potencial fique mais suscetível a executar a compra. Essa facilidade que a Web
traz de poder categorizar a informação em diversas categorias também é usada para vender,
como faz a Amazon.

Figura 3 – Livro catalogado em mais de uma categoria no site da Amazon

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: Amazon.com.br (2016b).

Portanto, reafirma-se a ideia de Weinberger (2007) ao dizer que uma só coisa pode ter
vários lugares no ciberespaço, e provavelmente essa seja a grande solução para a bagunça. O
autor chega à seguinte conclusão: “Portanto, o mundo digital permite-nos transcender a regra
mais fundamental de arrumação do mundo real: em vez de tudo ter o seu lugar, é melhor que
as coisas sejam designadas a vários lugares ao mesmo tempo.” (WEINBERGER, 2007, p. 15).

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4 MELHORES MÉTODOS ADOTADOS PARA A ORGANIZAÇÃO NA WEB

Com o advento da tecnologia, a classificação física veio a ser unida ao sistema da Web,
e isso veio a proporcionar muitos benefícios para todos que querem ter acesso à informação.
Um exemplo dessa união é a Wikipedia. A ideia de criar uma enciclopédia on-line, em
que qualquer pessoa possa compartilhar seu conhecimento com o mundo mostra como a Web
pode ser fascinante. Assim, nota-se como a inteligência coletiva proposta por Lévy (2003, 2010)
existe e pode dar certo, pois, segundo ele, funciona como “[...] uma inteligência distribuída por
toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma
mobilização efetiva das competências” (LÉVY, 2003, p. 28). Isso pode ser visto em um site
como a Wikipedia, que, apesar de muitos o desmerecerem, ainda assim é o quinto site mais
visitado do mundo, segundo uma pesquisa disponibilizada no site Olhar Digital (2013),
realizada pelo Business Insider, utilizando dados da comScore, especialista em métricas
digitais. Bembem e Santos (2013), ao analisarem os argumentos de Lévy, afirmam que “O
ciberespaço permite que os indivíduos se mantenham interligados independentemente do local
geográfico em que se situam. Ele desterritorializa os saberes e funciona como suporte ao
desenvolvimento da inteligência coletiva” (BEMBEM; SANTOS, 2013, p. 142). Por isso, sites
enciclopédicos e afins desempenham papel importante no contexto da Web no século XXI, pois
representam o início do intelectualismo coletivo no ciberespaço, estando aberto para qualquer
pessoa. Se, para Lévy (2003, 2010), o saber está acumulado na própria humanidade, então todo
e qualquer indivíduo pode vir a oferecer conhecimento. Bembem e Santos (2013)
complementam essa ideia:

Os intelectuais coletivos só poderão se reunir em um mesmo ambiente


a partir da mediação das tecnologias da informação e comunicação.
Com tais tecnologias, os saberes dos indivíduos poderão estar em
sinergia. A coordenação dos saberes pode ocorrer no ciberespaço, o
qual não é apenas composto por tecnologias e instrumentos de
infraestrutura, mas também é habitado pelos saberes e pelos indivíduos
que os possuem (LÉVY, 200069 apud BEMBEM; SANTOS, 2013, p.
142).

69
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2000.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Quanto ao aprofundamento das metodologias de organização, Weinberger (2007)


explica que há uma lógica para a “ordem da desordem” e para a “ordem da ordem”. Essa lógica
abrange diferentes tipos de suportes de informação, categorizando-os dentro de três níveis, que
começam na ordem física e vão até a ordem digital. Chianca (2014) explica essa lógica da
seguinte forma: a primeira ordem é a física. Ele exemplifica com livros impressos em papel,
reunidos em assuntos e dispostos em uma sequência nas estantes, como nas bibliotecas físicas
tradicionais. Além de livros, cita também como exemplo os produtos dos supermercados, que
são colocados nas prateleiras seguindo uma lógica, não por acaso.
A segunda ordem é a dos metadados. A exemplificação trazida por Weinberger (2007),
e explicada por Chianca (2014, on-line), é que essa ordem “[...] poderia ser representada pelos
catálogos e índices utilizados em bibliotecas e pelas sinalizações que nos orientam em lojas e
supermercados, fazendo referência à organização de primeira ordem.”. Ou seja, metadados
funcionam como etiquetas com informações a respeito de algo. Servem como orientadores
dentro de um contexto para encontrar algo. Assim, tudo poderia vir a ser etiquetado. Para
Weinberger (2007, p. 104), “Na ordem da miscelânea, a única diferença entre metadados e
dados é que aqueles refletem o que você já sabe e os dados são o que você está tentando
descobrir”.
A terceira ordem é a da seleção e do descarte. Ou melhor, Chianca (2014, on-line)
explica como sendo “[...] a organização por meio de bits e bytes no meio digital.” O exemplo
mais utilizado por Weinberger (2007) é o Flickr, página de compartilhamento de fotos na qual
os usuários usam tags (um tipo de metadados) para classificar/etiquetar as fotos.
Após abordar do que se trata cada uma das ordens, Weinberger (2007) delineia as
premissas da primeira e da segunda ordens. Chianca (2014) explica cada uma de forma simples:

1) No mundo físico, algumas coisas estão mais próximas do que outras.


2) Objetos físicos só podem estar em um único lugar em um mesmo
tempo.
3) O espaço físico é compartilhado, então há limitações de layout,
embora possa haver diferentes necessidades.
4) As habilidades físicas humanas são limitadas.
5) A organização da armazenagem deve ser ordenada e arrumada.
(CHIANCA, 2014, on-line.)

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Após explicar quais são as ordens da ordem, Chianca (2014) também resume qual é a
nova ordem da ordem, que vem a ser a passagem de ideias, transformadas em informações e,
por fim, em conhecimento.
Weinberger (2007, p. 7) chama de “miscelânea” a desordem digital, pois se configura
em uma confusão na qual diversas informações podem ser perdidas caso não haja uma forma
de recuperação. Chianca (2014) explica as ideias de Weinberger:

[...] há uma ruptura com a ideia de que espaços físicos bem-organizados


são transpostos para o universo digital. A destreza da humanidade para
organizar e agrupar coisas é posta em xeque, uma vez que o caos e a
miscelânea, para o autor, são virtudes que superam os esquemas
segmentados e hierárquicos tradicionais, os quais se mostram falíveis
para organizar o espaço de bits (CHIANCA, 2014, on-line).

Weinberger (2007) afirma, sobre o assunto, que “À medida que inventamos novos
princípios de organização que fazem sentido num mundo do conhecimento livre das limitações
físicas, as informações simplesmente não querem ser livres, querem fazer parte de uma
miscelânea.” (WEINBERGER, 2007. p. 7).
Para fins de melhor representação do que Weinberger reflete em seu livro, a Figura 4
mostra como a informação é recuperada e como é o funcionamento de alguns meios de acesso
à informação na Web.
Figura 4 – Recuperação da informação na Web

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Fonte: Chianca (2014).

Percebe-se logo que a forma mais efetiva de organização na Web é não tentar levar a
lógica de aninhamento do mundo físico para o mundo cibernético, mas deixar que tudo possa
ocupar mais de um lugar na rede, disponibilizar uma informação com o maior número de
categorias possíveis, não tentar ordenar, deixar a informação livre e compartilhar o
conhecimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo busca, ao abordar a problematização da desorganização no ambiente


da Web, levantar possíveis caminhos para elucidação desse impasse. Para tratar do assunto, o
estudo abordou as necessidades da atualidade em relação à produção massiva de informação no
ambiente Web e trouxe uma possível solução, baseada em Weinberger (2007) e em Lévy (2003,
2010).
Sabe-se que, com o desenvolvimento e a implementação da Web a nível global, houve
um crescimento exponencial da produção de informação. Esse fato, com o passar do tempo,
veio a desencadear um efeito inesperado: a produção massiva de informação trouxe a urgente
necessidade de se pensar uma nova forma de organização, já que, tratando-se de informação
em bits e bytes, não há como classificá-la utilizando as metodologias tradicionais empregadas
nos acervos físicos. Logo, se não há um modo adequado de classificação para toda essa
informação que pulula na Web da noite para o dia, corre-se o risco cada vez maior de se
extraviar o importante e extenso conhecimento contido no campo virtual.
A solução proposta por Weinberger (2007) consiste em não tentar levar a lógica de
aninhamento do mundo físico para o mundo cibernético, mas fazer com que tudo ocupe mais
de um lugar na rede, disponibilizar uma informação com o maior número de categorias
possíveis, não ordenar as informações e compartilhar o conhecimento. Enfim, propiciar a
construção de miscelâneas digitais. Lévy (2003, 2010) serve de subsídio para esse raciocínio,
pois propõe que uma forma de facilitar o acesso à informação é investir em uma inteligência
coletiva, que consiste em várias pessoas disponibilizando o seu conhecimento em rede, para
que várias outras pessoas tenham acesso e possam acrescentar mais conhecimento à rede.

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Para finalizar, a adoção de sistemas cibernéticos que construam miscelâneas personalizadas a


partir das necessidades dos usuários vem a calhar em um momento bastante crítico da história
da Ciência da Informação. Além de propiciar um melhor aproveitamento do conhecimento
produzido e armazenado virtualmente, mostra-se universal, ou seja, acessível a todos, sem
distinção. Se adotada com empenho, a ordem da miscelânea pode vir a significar uma
transformação histórica na visão de como o mundo está organizado.

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XL Encontro Nacional de Estudantes de
Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da
Informação – ENEBD 2017
Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO BIBLIOTECÁRIO PELOS USUÁRIOS DA REDE


SOCIAL DE LEITORES SKOOB

GERMANO JÚNIOR, Manoel Messias Soares70


SANTOS, Thaiana Barros dos71
SOUZA, Claudia Barbosa dos Santos de72

RESUMO
Trata sobre a imagem do bibliotecário pelos usuários da rede social de leitura Skoob. Através
da aplicação de um questionário, pode-se identificar o perfil dos usuários da rede, seu grau de
instrução, faixa etária e a imagem do bibliotecário no imaginário coletivo da rede social. A
pesquisa é descritiva e explicativa, e se configura com uma abordagem quanti-qualitativa de
natureza bibliográfica e exploratória. Os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho
remetem ao exercício de identificação, sistematização dos dados coletados, análise de
referências sobre a temática pertinente nos campos de investigação: Biblioteconomia, Ciência
da Informação, e Gestão em Unidades de Informação, buscando articular o entendimento entre
a teoria em detrimento a resposta ao estudo de usuários na rede social Skoob. Demonstra a
necessidade de um trabalho de revitalização da imagem do bibliotecário a começar pela
graduação em consonância aos profissionais estabelecidos no mercado de trabalho. Propõe que
seja efetuado um trabalho de conscientização da importância do bibliotecário perante a
sociedade. Ainda há a necessidade urgente de desmitificar o trabalho do bibliotecário perante a
sociedade, suas competências transdisciplinares e a sua importância social, para então, começar
a mudar a imagem estereotipada e consolidada culturalmente.

Palavras-chave: Bibliotecário. Estereótipos. Profissional da Informação.

PERCEPTION OF THE IMAGE OF THE LIBRARIAN FOR THE USERS OF THE


SKOOB SOCIAL NETWORK OF READERS

ABSTRACT
It deals with the librarian’s image perception by the Skoob readers' network.
By means of applying a questionnaire, it is possible to identify the network users’ profile, their
education level, age group and the librarian’s image in the social network collective imaginary.

70
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
manoelmessiasufc@gmail.com
71
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: thaianabds@gmail.com
72
Arquivista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e graduanda em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). E-mail: claudia.bs.souza@gmail.com
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The research is descriptive and explanatory, and it is configured with a quantitative-qualitative


approach of bibliographic and exploratory nature. The methodological procedures adopted in
this work refer to the exercise of identification, processing of collected data, references analysis
on the relevant subject in the research fields: Library Science, Information Science, and
Information Units Management, seeking to articulate the understanding between theory in
detriment to the response to the study about users in the Skoob social network. It demonstrates
the need for a work to revitalize the librarian’s image, starting with the undergraduate course,
in line with established professionals in the labor market. It proposes that a work should be
done in order to raise librarian importance awareness to society. There is still an urgent need to
demystify the librarian work before society, its transdisciplinary competences and social
importance, for that matter, to start changing its stereotyped and culturally consolidated image.

Keywords: Librarian. Stereotypes. Information Professional.

1 INTRODUÇÃO

As atividades desenvolvidas pelas bibliotecas são voltadas para busca, recuperação,


organização e disponibilização de documentos e informações. Soma-se a isso, a necessidade
constante de antever demandas e possíveis necessidades dos usuários, tratando a informação
como recurso estratégico.
Inúmeros são os desafios de uma unidade de informação, como apontam Walter, Eirão
e Reis (2010, p.3) :

Uma unidade de informação lida com o desafio de gerir uma massa


informacional que deve ser trabalhada no intuito de transformá-la em
resposta útil para seu público. Esse processo contínuo de percepção de
demanda, de aquisição, de processamento e de disseminação de
informação é, igualmente, uma fonte de geração de conhecimento, que
por sua vez, retroalimenta a própria unidade.
No decorrer do tempo e das mudanças de tecnologias de comunicação
e informação, as atividades desenvolvidas pelas bibliotecas , e pelos
bibliotecários, tiveram que se adequar a nova realidade: a
intangibilidade da informação e mudança no perfil de usuário.
Entretanto, a informação tem um valor específico, que lhe é agregado
em função do seu uso. (WALTER; EIRÃO, REIS, 2010, p. 12)

No entanto, a realidade encontrada na página da rede social Skoob - o que você está
lendo? é preocupante, pois os usuários da rede, se utilizam de charges de tom jocoso para
denegrir a profissão do bibliotecário. Mesmo sendo adeptos a leitura, amantes de livros, não
conseguem vislumbrar o papel social e estratégico do bibliotecário.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Diante da postagem recente sobre o silêncio imposto pela bibliotecária, emergiram


comentários diversos que desqualificam o bibliotecário, sua atuação, qualificação e
necessidade.
Diante do exposto, foi questionado aos Skoobers: Bibliotecário (a), quem é? O que faz?
onde atua?

1.1 Justificativa

A visão estereotipada do bibliotecário perante a sociedade, como consequência de visão


equivocada está disseminada por meio da literatura, cinema e cristalizada no imaginário
coletivo. Mesmo conscientes de que o bibliotecário possui nível superior, muitos
ainda consideram que a profissão é destinada a mulheres, que seriam as guardiãs do silêncio
sepulcral no interior das bibliotecas. Em Abril deste ano, em meio a divulgação de livros e a
disseminação do hábito da leitura, alguns Skoobers divulgam uma charge em tom jocoso da
postura autoritária da bibliotecária.
1.2 Objetivos
Diante de tal situação, este trabalho tem por objetivo avaliar o perfil dos usuários do
Skoob, identificar como eles veem o bibliotecário, sua formação, atuação e o tipo de acervo que
o mesmo trabalha. Soma-se a isso, a identificação do ambiente desejado na biblioteca.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia apresentada por


Vergara (2010), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins: trata-se de uma investigação explicativa e descritiva. Explicativa por ter como
principal objetivo tornar algo inteligível justificar-lhes os motivos. Visa esclarecer quais os
fatores contribuem de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. Descritiva,
por expor características de determinada população ou de um determinado fenômeno.
(VERGARA, 2010, p.42)
Quanto aos meios: trata-se de uma pesquisa de campo e bibliográfica. Pesquisa de
campo por se tratar de investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um
fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de
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questionário, testes e observação participante ou não. Bibliográfica por ser desenvolvida com
base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas [...]. (VERGARA,
2010, p.43)

2.1 Universo e Amostra

Segundo Vergara (2010, p. 46), trata-se de definir a população amostral. Entende-se


aqui, por um número determinado de pessoas (Skoobers), que possuem como característica o
gosto, hábito pela leitura e a paixão por livros.
Segundo Vergara (2010, p. 46) universo e amostra, trata-se, respectivamente, de
população e população amostral da pesquisa. O universo da pesquisa de campo foi à rede social
de leitores denominada SKOOB e a amostra foi definida por critérios de estratificação, através
da participação de 190 consulentes, divididos da seguinte forma:

a. Identificação da faixa etária dos respondentes;


b. Identificação do gênero;
c. Identificação do nível de escolaridade;
d. Percepção da formação do bibliotecário;
e. Percepção do local de trabalho do bibliotecário;
f. Percepção do tipo de acervo que o bibliotecário pode trabalhar;
g. Percepção do tipo de ambiente desejado em uma biblioteca.

A pesquisa é de natureza quanti-qualitativa, pois, é uma forma de identificar a percepção


da imagem do bibliotecário no ambiente da rede social Skoob, onde encontramos leitores
apaixonados por livros e leitura. Como técnica de coleta de dados foi utilizado o questionário.
O questionário é uma forma de identificar quem é o sujeito (Skoober) que participa de
uma rede social voltada para leitores, amantes de leitura e de livros, mas que desconhecem o
bibliotecário como o profissional habilitado a trabalhar em diversos contextos onde a
informação está “estocada”.
Os dados foram tabulados com intuito de expressar de forma clara e objetiva uma
possível resposta a problemática existente e propor ações para que sejam minimizados, ou até
mesmo mitigados.
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A escolha da metodologia utilizada decorreu da necessidade de analisar o perfil dos


usuários da rede social Skoob, identificando sua percepção quanto a imagem, o fazer, o local e
os objetos que o bibliotecário trabalha.

3 A PROFISSÃO DO BIBLIOTECÁRIO, A BIBLIOTECA E A BIBLIOTECONOMIA:


UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA

A importância da biblioteca para a preservação e a conservação do conhecimento se


dá desde o início da humanidade quando o homem se preocupou em registrar todo a informação
e conhecimento por ele gerado. Coube ao bibliotecário à tarefa de realizar diversos processos,
dentre eles: a organização, a preservação e a disseminação de todo o conhecimento registrado.
As primeiras bibliotecas surgiram ainda na Mesopotâmia e nelas foi observada
segundo Ortega (2004, p. 2) que a “organização de documentos acompanhada de representações
para fins de recuperação: tábuas de argilas eram protegidas por espécies de envelopes nos quais
estavam dispostos resumos”.
Uma das grandes bibliotecas que podemos destacar desse período é a Biblioteca de
Alexandria que “ [...] reuniu o maior acervo de cultura e ciência da Antiguidade” (SANTOS,
2010, p. 4). Ela é considerada a mais famosa e importante da história da humanidade,
sobrevivendo a saques e incêndios até culminar no seu fim. De acordo com Rodrigues et al. (
2013 ,p. 84) “o seu acervo era organizado em rolos, etiquetados com os nomes dos autores e
títulos das obras, dispostos em pilhas”.
Ainda segundo os autores, o bibliotecário tinha um papel de suma importância na
Biblioteca de Alexandria, pois:
[...] as suas funções transcendiam as obrigações habituais. Além de ser
encarregado de reorganizar as obras dos autores, atuava também como
tutor dos príncipes reais, orientando-os nas leituras que deveriam fazer.
Devido a esse papel de destaque o bibliotecário-chefe deveria possuir
uma cultura humanista e ser um filólogo. (RODRIGUES et al, 2013 ,
p. 84).

Uma característica encontrada no bibliotecário na Antiguidade, é que ele não tinha


como papel principal organizar o acervo, mas se atribuía um cargo de confiança, pois quem
tinha a tarefa de guardar o conhecimento recebia certo prestígio diante da sociedade no mundo

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antigo. Como afirma Milanesi (2002, p.16) o bibliotecário da Antiguidade era uma espécie de
curioso e que “mais se afirmou como um devotado e estranho guardião do saber”.
Na Idade Média, as bibliotecas ligadas às ordens religiosas, e sua localização se dava
em mosteiros e conventos, que naquela época, eram os responsáveis pela preservação da cultura
antiga, principalmente da cultura greco-romana. Seu acesso era restrito aos monges copistas
que se encarregavam de transcrever todo o conhecimento contido nos livros para pergaminhos,
e este só poderiam ser manuseados pelos mesmos.
Com as mudanças intelectuais e sociais durante o período do Renascimento e com o
surgimento das universidades que visavam atender os estudantes universitários, criou-se o
primeiro catálogo unificado, que continha: o nome dos autores e obras, além da indicação das
bibliotecas onde poderiam encontrar tais obras. A partir da criação das bibliotecas universitárias
que surgiram na época do Renascimento foi que “o bibliotecário surgiu de fato como o
organizador da informação e [...] consolidou seu papel como disseminador do conhecimento”
(SANTOS, 2010, p.8).
No século XIX, as atividades ligadas à Biblioteconomia se desenvolveram de forma
efetiva, pois era exigido que o bibliotecário já possuísse práticas e técnicas apropriadas para a
sistematização das informações já existentes nos acervos das bibliotecas. Citando como
exemplo o caso da primeira edição da Classificação Decimal de Dewey (CDD) de Melvil
Dewey em 1876, nos Estados Unidos, considerado o primeiro sistema de classificação de
assuntos que passou a ser adotado nas bibliotecas, até os dias atuais.
Segundo Becker e Salgado (1995), a primeira escola de Biblioteconomia foi fundada
em 1821, na cidade de Paris com caráter erudito. Já em 1887, surgiu, nos Estados Unidos, a
segunda escola para formação de bibliotecários fundada por Melvil Dewey, com um enfoque
tecnicista, se diferenciando da escola francesa. Com isso, percebe-se dois modelos distintos de
ensino e formação em Biblioteconomia: o francês (mais humanístico) e o norte-americano (mais
pragmático e tecnicista), ambos foram implementados no século XIX.
No Brasil, o Curso de Biblioteconomia nasceu no ano de 1911, na Biblioteca Nacional
, no Rio de Janeiro com duração de apenas um ano e com quatro disciplinas a ser lecionadas:
Bibliografia, Paleografia e Diplomática, Iconografia e Numismática, mas seu início se deu
apenas em 1915 e com fim das atividades em 1922 (CASTRO, 2002). Esse período do curso é
marcado pela influência francesa, que apresentava um cunho mais humanístico, enfatizando os
aspectos culturais e informativos. Fonseca (1957) narra as etapas da Biblioteconomia brasileira,
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em que a primeira fase ocorreu de 1879 a 1929, onde o curso foi dirigido pela Biblioteca
Nacional e com influência francesa; a segunda, compreende os anos de 1929 a 1962, em que se
desenvolveu a influência norte americana e a terceira, a partir de 1962 se caracteriza pela
uniformidade dos cursos a partir do currículo mínimo, já com a tentativa de reunir as duas visões
(humanista e tecnicista).

4 BIBLIOTECONOMIA, BIBLIOTECÁRIO : aspectos que orientam e regulamentam a


profissão

A profissão de Bibliotecário é regulamentada no Brasil pela Lei Nº 4.084 de 30 de


Junho de 1962 e a Lei Nº 9.674 de 25 de Junho de 1998. Na Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) a profissão é classificada como CBO 2612-05. A CBO descreve as funções
do bibliotecário:
Disponibilizam informação em qualquer suporte; gerenciam unidades
como bibliotecas, centros de documentação, centros de informação e
correlatos, além de rede se sistemas de informação. tratam
tecnicamente e desenvolvem recursos informacionais; disseminam
informação com o objetivo de facilitar o acesso e geração do
conhecimento; desenvolvem estudos e pesquisas; realizam difusão
cultural; desenvolvem ações educativas, prestar serviços de assessoria
e consultoria. (CBO, 2017)

Segundo Mueller (1985, p.3) a Biblioteca Nacional através da reforma dos programas
e elevação para nível universitário em 1962 do curso oferecido para formação de bibliotecários
pela entidade, contribuiu de forma significativa para regulamentação da profissão.

Afirma Mueller (1985, p.3)

Na verdade, desde 1958, uma proposta de lei regulamentando a


profissão já havia sido apresentada, e desde 1969, o Ministério da
Educação havia nomeado uma comissão para estudar o
estabelecimento de um currículo mínimo. Mas foi somente em 1962,
com a aprovação do currículo da Biblioteca Nacional (modelo do novo
currículo mínimo), que se desencadeou o processo de regulamentação
da profissão - Lei n9 4.084/62 - e aprovação do currículo mínimo dos
cursos que seriam a única porta possível para a nova profissão. Lei
4.084/62.

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No estado de São Paulo na década de 50 do século passado já havia um movimento


forte pela regulamentação da profissão. Conforme o histórico do Conselho Federal de
Biblioteconomia:
Na década de 50, algumas bibliotecárias brasileiras, lideradas pela
dinâmica figura de Laura Garcia Moreno Russo, de São Paulo,
iniciaram os esforços para ver a biblioteconomia oficialmente
reconhecida junto aos poderes públicos e junto à sociedade brasileira.
A primeira vitória veio em 1958, com a Portaria nº 162 do MTPS –
Ministério do Trabalho e Previdência Social, através da qual a
profissão de bibliotecário foi regulamentada no Serviço Público
Federal, tendo sido incluída no 19º Grupo das profissões liberais.
Em 1962 veio a coroação de todos esses esforços, com a aprovação da
Lei nº 4084, que regula, até hoje, o exercício da profissão de
bibliotecário no Brasil e estabelece as prerrogativas dos portadores de
diploma em biblioteconomia no país. (CFB, 2017).
Segundo Valentim (2000, p. 9-10) a classe profissional é representada pelo:

O Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB que congrega os


Conselhos Regionais de Biblioteconomia - CRB, que tem como
objetivo maior a fiscalização do exercício e da ética profissional;
A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários - FEBAB
que congrega as Associações Estaduais, que perseguem objetivo de
promover a atualização profissional através de eventos, publicações e
cursos, assim como buscam o fortalecimento da imagem do
profissional no país entre outras ações [...?]
Os sindicatos que defendem o profissional através da legislação dos
fóruns trabalhistas e negociam junto às empresas e governo o piso
salarial dos profissionais, bem como outros benefícios que a lei
propicia aos trabalhadores de um modo geral;

Em nível internacional também temos a The International Federation of Library


Associations and Institutions (IFLA), principal órgão internacional que representa os
profissionais que trabalham em bibliotecas. A principal função da IFLA é orientar diretrizes
para atuação dos bibliotecários e das entidades biblioteconômicas pelo mundo. Sua função não
é regulamentação internacional da profissão e sim de orientação internacional da profissão.

5 O BIBLIOTECÁRIO : PERCEPÇÕES DOS USUÁRIOS DO SKOOB

O SKOOB é uma rede social colaborativa criada em janeiro de 2009 pelo desenvolvedor
Lindenberg Moreira. É considerada uma estante virtual, onde leitores podem compartilhar os
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livros que leu, os que gostaram ou não, além de poder cadastrar novas publicações, efetuar
trocas de livros, fazer contato com autores e editoras. Um espaço aberto para receber resenhas
das publicações lidas e criar laços de amizade através da leitura.
Como consequência natural, há em paralelo a rede social advinda do SKOOB,
denominada Skoob: o que você está lendo? Este foi o universo escolhido para conceber esta
pesquisa.
Foram sujeitos desta pesquisa 190 (cento e noventa) pessoas, denominadas como
Skoobers, que se prontificaram a responder o questionário virtual. Considerando o total de
respondentes, no que se refere ao gênero dos entrevistados, observamos que 169 (cento e
sessenta e nove) mulheres, representam 89% do total, e 21 homens, equivalendo a 11% do total
de depoentes.

No que se refere ao grau de escolaridade, grande parte dos entrevistados, 63 (sessenta e


três) pessoas possuem ensino superior incompleto; 46 pessoas possuem ensino superior
completo, equivalendo a 24% do total; 35 (trinta e cinco) pessoas possuem o ensino médio
completo, totalizando 19%; 25 (vinte e cinco) possuem o ensino médio incompleto e 21 (vinte
e um) possuem pós-graduação.
Em se tratar de idade, grande parte dos entrevistados, 95 (noventa e cinco) pessoas estão
na faixa etária de 21-30 anos, equivalendo 50% do total; 55 (cinquenta e cinco) pessoas estão
na faixa de 15 a 20 anos equivalendo a 29%; 26 (vinte e seis) pessoas estão na faixa de 31-40
anos, equivalendo a 14%; 12 (doze pessoas) estão na faixa de 41-50 anos, equivalem a 6% e 2
(duas) pessoas estão na faixa entre 51-60 anos, equivalendo 1% do total de respondentes.
Quanto a formação do (a) bibliotecário (a) 173 (cento e setenta e três) pessoas afirmaram
que o bibliotecário possui nível superior (91%) e 17 (dezessete) pessoas responderam que o
bibliotecário possui formação de nível médio, correspondendo a 9% do total de entrevistados.
Quanto ao local de trabalho do (a) bibliotecário (a), grande parte dos entrevistados 160
(cento e sessenta) equivalendo a 83.7 %, afirmaram que o bibliotecário trabalha em: bibliotecas,
em centros culturais, em escolas, em arquivos; 26 (vinte e seis) pessoas responderam que o
bibliotecário atua em bibliotecas, equivalendo a 13.7%; 2 (duas) pessoas apontaram centro
culturais, equivalendo a 1.1%; 1 (uma) pessoa apontou escolas, equivalendo 0,5 %; 1 (uma)

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pessoa apontou arquivos, equivalendo 0,5 % e nenhum respondente apontou empresas como
local de trabalho do bibliotecário.
Quanto ao acervo que o bibliotecário trabalha, grande parte dos entrevistados, 175
(cento e setenta e cinco) pessoas responderam que o bibliotecário pode trabalhar com todos os
tipos de acervo: livros, ebooks, jornais, revistas, mídias, equivalendo 92.1%; 15 (quinze)
pessoas apontaram os livros e ebooks, equivalendo a 7.9%; Revistas, livros e mídias não foram
apontadas exclusivamente como acervo administrado pelo bibliotecário.
Quanto ao ambiente na biblioteca, grande parte dos entrevistados, 69 (sessenta e nove),
preferem um ambiente de silêncio absoluto, equivalendo a 36% do total de entrevistados; 45
(quarenta e cinco) pessoas preferem sala fechada para estudos, equivalendo 24%; 45 (quarenta
e cinco) pessoas preferem ambientes interativos (contendo equipamentos audiovisuais),
equivalendo 24%; 31 (trinta e um) pessoas preferem o ambiente aberto - salão, equivalendo a
16% do total dos pesquisados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A biblioteca é importante por conservar e preservar o conhecimento da humanidade


desde os primórdios. A preocupação em postergar os registros do conhecimento para as futuras
gerações, fizeram com que surgisse um local adequado para guardá-los de uma forma que
possam ser recuperados e em detrimento a isso, o bibliotecário surge como o profissional
responsável por ordenar e disponibilizar tais informações.
No decorrer do tempo, com as mudanças dos suportes documentais e a informatização
dos processos de produção de registros do conhecimento, a biblioteca deixa de ser o espaço
para estoque e passa a ser um local de difusão dos mesmos. De igual modo, a atuação do
bibliotecário buscou se adequar às novas demandas, pois gerir informação e conhecimento na
atualidade requer muito conhecimento técnico, gerencial e estratégico para poder administrar
acervos diversificados (do tradicional papel ao nano-digital), em instituições diferentes,
podendo ser escola, centro culturais, empresas etc.
Mesmo sendo uma profissão regulamentada no Brasil há mais de 50 anos, com
representatividade em instâncias nacional e regional, o bibliotecário ainda sofre com a visão
estereotipada e deturpada, criada pela sociedade e naturalizada com intenções negativas.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Na literatura, no cinema e na televisão a presença estereotipada do profissional


bibliotecário está relacionada a diversos fatores a começar pelo gênero, sempre demonstrado
por uma mulher (de meia idade, ou velha) que utilizava óculos, com cabelos em forma de coque.
Com temperamento ríspido, hostil, considerada rabugenta, a bibliotecária sempre exigiu
silêncio absoluto dos usuários da biblioteca. Esse imaginário foi reflexo de algumas ações
equivocadas de profissionais do passado, que consideravam a biblioteca como um local
sagrado, de silêncio.
O perfil das pessoas que responderam à pesquisa que originou este artigo demonstra que
mesmo possuindo um grau de instrução considerável, e até elevado (pós-graduação), estão
cientes de que o bibliotecário é um profissional com formação de nível superior, mas com
postura contraditória quando utilizam de charges e expressões equivocadas para denegri-lo.
Com tom jocoso, questionam a postura, a necessidade e a atuação do bibliotecário. Corrobora
para isso quando mencionam que preferem o ambiente da biblioteca com silêncio total.
Para que o bibliotecário seja visto, compreendido e respeitado enquanto profissional da
informação, voltado para gerir acervos diversificados, há necessidade de um trabalho constante
para conscientização. Demonstrar que o bibliotecário é um profissional habilitado e com
competência para trabalhar com equipe transdisciplinares e atuar em espaços diversificados,
que vão além da tradicional biblioteca. Tal mudança deve começar a partir da graduação,
quando muitos vão para o curso por não ter outra opção, não entendendo a importância social
do bibliotecário. Soma-se a isso a valorização do profissional perante a sociedade e ao mercado
de trabalho, em órgãos públicos e instituições privadas. Que através dessa pesquisa novas
formas de trabalho e ações possam ser desenvolvidas na área em prol de desmistificar a
profissão.

REFERÊNCIAS

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

A PERCEPÇÃO DA IMAGEM DO BIBLIOTECÁRIO PELOS USUÁRIOS DA REDE


SOCIAL DE LEITORES SKOOB

GERMANO JÚNIOR, Manoel Messias Soares73


SANTOS, Thaiana Barros dos74
SOUZA, Claudia Barbosa dos Santos de75

RESUMO
Trata sobre a imagem do bibliotecário pelos usuários da rede social de leitura Skoob. Através
da aplicação de um questionário, pode-se identificar o perfil dos usuários da rede, seu grau de
instrução, faixa etária e a imagem do bibliotecário no imaginário coletivo da rede social. A
pesquisa é descritiva e explicativa, e se configura com uma abordagem quanti-qualitativa de
natureza bibliográfica e exploratória. Os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho
remetem ao exercício de identificação, sistematização dos dados coletados, análise de
referências sobre a temática pertinente nos campos de investigação: Biblioteconomia, Ciência
da Informação, e Gestão em Unidades de Informação, buscando articular o entendimento entre
a teoria em detrimento a resposta ao estudo de usuários na rede social Skoob. Demonstra a
necessidade de um trabalho de revitalização da imagem do bibliotecário a começar pela
graduação em consonância aos profissionais estabelecidos no mercado de trabalho. Propõe que
seja efetuado um trabalho de conscientização da importância do bibliotecário perante a
sociedade. Ainda há a necessidade urgente de desmitificar o trabalho do bibliotecário perante a
sociedade, suas competências transdisciplinares e a sua importância social, para então, começar
a mudar a imagem estereotipada e consolidada culturalmente.

Palavras-chave: Bibliotecário. Estereótipos. Profissional da Informação.

PERCEPTION OF THE IMAGE OF THE LIBRARIAN FOR THE USERS OF THE


SKOOB SOCIAL NETWORK OF READERS

ABSTRACT
It deals with the librarian’s image perception by the Skoob readers' network.
By means of applying a questionnaire, it is possible to identify the network users’ profile, their
education level, age group and the librarian’s image in the social network collective imaginary.
The research is descriptive and explanatory, and it is configured with a quantitative-qualitative

73
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
manoelmessiasufc@gmail.com
74
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: thaianabds@gmail.com
75
Arquivista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e graduanda em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). E-mail: claudia.bs.souza@gmail.com
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

approach of bibliographic and exploratory nature. The methodological procedures adopted in


this work refer to the exercise of identification, processing of collected data, references analysis
on the relevant subject in the research fields: Library Science, Information Science, and
Information Units Management, seeking to articulate the understanding between theory in
detriment to the response to the study about users in the Skoob social network. It demonstrates
the need for a work to revitalize the librarian’s image, starting with the undergraduate course,
in line with established professionals in the labor market. It proposes that a work should be
done in order to raise librarian importance awareness to society. There is still an urgent need to
demystify the librarian work before society, its transdisciplinary competences and social
importance, for that matter, to start changing its stereotyped and culturally consolidated image.

Keywords: Librarian. Stereotypes. Information Professional.

1 INTRODUÇÃO

As atividades desenvolvidas pelas bibliotecas são voltadas para busca, recuperação,


organização e disponibilização de documentos e informações. Soma-se a isso, a necessidade
constante de antever demandas e possíveis necessidades dos usuários, tratando a informação
como recurso estratégico.
Inúmeros são os desafios de uma unidade de informação, como apontam Walter, Eirão
e Reis (2010, p.3) :

Uma unidade de informação lida com o desafio de gerir uma massa


informacional que deve ser trabalhada no intuito de transformá-la em
resposta útil para seu público. Esse processo contínuo de percepção de
demanda, de aquisição, de processamento e de disseminação de
informação é, igualmente, uma fonte de geração de conhecimento, que
por sua vez, retroalimenta a própria unidade.
No decorrer do tempo e das mudanças de tecnologias de comunicação
e informação, as atividades desenvolvidas pelas bibliotecas , e pelos
bibliotecários, tiveram que se adequar a nova realidade: a
intangibilidade da informação e mudança no perfil de usuário.
Entretanto, a informação tem um valor específico, que lhe é agregado
em função do seu uso. (WALTER; EIRÃO, REIS, 2010, p. 12)

No entanto, a realidade encontrada na página da rede social Skoob - o que você está
lendo? é preocupante, pois os usuários da rede, se utilizam de charges de tom jocoso para
denegrir a profissão do bibliotecário. Mesmo sendo adeptos a leitura, amantes de livros, não
conseguem vislumbrar o papel social e estratégico do bibliotecário.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Diante da postagem recente sobre o silêncio imposto pela bibliotecária, emergiram


comentários diversos que desqualificam o bibliotecário, sua atuação, qualificação e
necessidade.
Diante do exposto, foi questionado aos Skoobers: Bibliotecário (a), quem é? O que faz?
onde atua?

1.1 Justificativa

A visão estereotipada do bibliotecário perante a sociedade, como consequência de visão


equivocada está disseminada por meio da literatura, cinema e cristalizada no imaginário
coletivo. Mesmo conscientes de que o bibliotecário possui nível superior, muitos
ainda consideram que a profissão é destinada a mulheres, que seriam as guardiãs do silêncio
sepulcral no interior das bibliotecas. Em Abril deste ano, em meio a divulgação de livros e a
disseminação do hábito da leitura, alguns Skoobers divulgam uma charge em tom jocoso da
postura autoritária da bibliotecária.
1.2 Objetivos
Diante de tal situação, este trabalho tem por objetivo avaliar o perfil dos usuários do
Skoob, identificar como eles veem o bibliotecário, sua formação, atuação e o tipo de acervo que
o mesmo trabalha. Soma-se a isso, a identificação do ambiente desejado na biblioteca.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia apresentada por


Vergara (2010), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins: trata-se de uma investigação explicativa e descritiva. Explicativa por ter como
principal objetivo tornar algo inteligível justificar-lhes os motivos. Visa esclarecer quais os
fatores contribuem de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno. Descritiva,
por expor características de determinada população ou de um determinado fenômeno.
(VERGARA, 2010, p.42)
Quanto aos meios: trata-se de uma pesquisa de campo e bibliográfica. Pesquisa de
campo por se tratar de investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um
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fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de
questionário, testes e observação participante ou não. Bibliográfica por ser desenvolvida com
base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas [...]. (VERGARA,
2010, p.43)

2.1 Universo e Amostra

Segundo Vergara (2010, p. 46), trata-se de definir a população amostral. Entende-se


aqui, por um número determinado de pessoas (Skoobers), que possuem como característica o
gosto, hábito pela leitura e a paixão por livros.
Segundo Vergara (2010, p. 46) universo e amostra, trata-se, respectivamente, de
população e população amostral da pesquisa. O universo da pesquisa de campo foi à rede social
de leitores denominada SKOOB e a amostra foi definida por critérios de estratificação, através
da participação de 190 consulentes, divididos da seguinte forma:

h. Identificação da faixa etária dos respondentes;


i. Identificação do gênero;
j. Identificação do nível de escolaridade;
k. Percepção da formação do bibliotecário;
l. Percepção do local de trabalho do bibliotecário;
m. Percepção do tipo de acervo que o bibliotecário pode trabalhar;
n. Percepção do tipo de ambiente desejado em uma biblioteca.

A pesquisa é de natureza quanti-qualitativa, pois, é uma forma de identificar a percepção


da imagem do bibliotecário no ambiente da rede social Skoob, onde encontramos leitores
apaixonados por livros e leitura. Como técnica de coleta de dados foi utilizado o questionário.
O questionário é uma forma de identificar quem é o sujeito (Skoober) que participa de
uma rede social voltada para leitores, amantes de leitura e de livros, mas que desconhecem o
bibliotecário como o profissional habilitado a trabalhar em diversos contextos onde a
informação está “estocada”.

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Os dados foram tabulados com intuito de expressar de forma clara e objetiva uma
possível resposta a problemática existente e propor ações para que sejam minimizados, ou até
mesmo mitigados.
A escolha da metodologia utilizada decorreu da necessidade de analisar o perfil dos
usuários da rede social Skoob, identificando sua percepção quanto a imagem, o fazer, o local e
os objetos que o bibliotecário trabalha.

3 A PROFISSÃO DO BIBLIOTECÁRIO, A BIBLIOTECA E A BIBLIOTECONOMIA:


UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA

A importância da biblioteca para a preservação e a conservação do conhecimento se


dá desde o início da humanidade quando o homem se preocupou em registrar todo a informação
e conhecimento por ele gerado. Coube ao bibliotecário à tarefa de realizar diversos processos,
dentre eles: a organização, a preservação e a disseminação de todo o conhecimento registrado.
As primeiras bibliotecas surgiram ainda na Mesopotâmia e nelas foi observada
segundo Ortega (2004, p. 2) que a “organização de documentos acompanhada de representações
para fins de recuperação: tábuas de argilas eram protegidas por espécies de envelopes nos quais
estavam dispostos resumos”.
Uma das grandes bibliotecas que podemos destacar desse período é a Biblioteca de
Alexandria que “ [...] reuniu o maior acervo de cultura e ciência da Antiguidade” (SANTOS,
2010, p. 4). Ela é considerada a mais famosa e importante da história da humanidade,
sobrevivendo a saques e incêndios até culminar no seu fim. De acordo com Rodrigues et al. (
2013 ,p. 84) “o seu acervo era organizado em rolos, etiquetados com os nomes dos autores e
títulos das obras, dispostos em pilhas”.
Ainda segundo os autores, o bibliotecário tinha um papel de suma importância na
Biblioteca de Alexandria, pois:

[...] as suas funções transcendiam as obrigações habituais. Além de ser


encarregado de reorganizar as obras dos autores, atuava também como
tutor dos príncipes reais, orientando-os nas leituras que deveriam fazer.
Devido a esse papel de destaque o bibliotecário-chefe deveria possuir
uma cultura humanista e ser um filólogo. (RODRIGUES et al, 2013 ,
p. 84).

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Uma característica encontrada no bibliotecário na Antiguidade, é que ele não tinha


como papel principal organizar o acervo, mas se atribuía um cargo de confiança, pois quem
tinha a tarefa de guardar o conhecimento recebia certo prestígio diante da sociedade no mundo
antigo. Como afirma Milanesi (2002, p.16) o bibliotecário da Antiguidade era uma espécie de
curioso e que “mais se afirmou como um devotado e estranho guardião do saber”.
Na Idade Média, as bibliotecas ligadas às ordens religiosas, e sua localização se dava
em mosteiros e conventos, que naquela época, eram os responsáveis pela preservação da cultura
antiga, principalmente da cultura greco-romana. Seu acesso era restrito aos monges copistas
que se encarregavam de transcrever todo o conhecimento contido nos livros para pergaminhos,
e este só poderiam ser manuseados pelos mesmos.
Com as mudanças intelectuais e sociais durante o período do Renascimento e com o
surgimento das universidades que visavam atender os estudantes universitários, criou-se o
primeiro catálogo unificado, que continha: o nome dos autores e obras, além da indicação das
bibliotecas onde poderiam encontrar tais obras. A partir da criação das bibliotecas universitárias
que surgiram na época do Renascimento foi que “o bibliotecário surgiu de fato como o
organizador da informação e [...] consolidou seu papel como disseminador do conhecimento”
(SANTOS, 2010, p.8).
No século XIX, as atividades ligadas à Biblioteconomia se desenvolveram de forma
efetiva, pois era exigido que o bibliotecário já possuísse práticas e técnicas apropriadas para a
sistematização das informações já existentes nos acervos das bibliotecas. Citando como
exemplo o caso da primeira edição da Classificação Decimal de Dewey (CDD) de Melvil
Dewey em 1876, nos Estados Unidos, considerado o primeiro sistema de classificação de
assuntos que passou a ser adotado nas bibliotecas, até os dias atuais.
Segundo Becker e Salgado (1995), a primeira escola de Biblioteconomia foi fundada
em 1821, na cidade de Paris com caráter erudito. Já em 1887, surgiu, nos Estados Unidos, a
segunda escola para formação de bibliotecários fundada por Melvil Dewey, com um enfoque
tecnicista, se diferenciando da escola francesa. Com isso, percebe-se dois modelos distintos de
ensino e formação em Biblioteconomia: o francês (mais humanístico) e o norte-americano (mais
pragmático e tecnicista), ambos foram implementados no século XIX.
No Brasil, o Curso de Biblioteconomia nasceu no ano de 1911, na Biblioteca Nacional
, no Rio de Janeiro com duração de apenas um ano e com quatro disciplinas a ser lecionadas:
Bibliografia, Paleografia e Diplomática, Iconografia e Numismática, mas seu início se deu
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

apenas em 1915 e com fim das atividades em 1922 (CASTRO, 2002). Esse período do curso é
marcado pela influência francesa, que apresentava um cunho mais humanístico, enfatizando os
aspectos culturais e informativos. Fonseca (1957) narra as etapas da Biblioteconomia brasileira,
em que a primeira fase ocorreu de 1879 a 1929, onde o curso foi dirigido pela Biblioteca
Nacional e com influência francesa; a segunda, compreende os anos de 1929 a 1962, em que se
desenvolveu a influência norte americana e a terceira, a partir de 1962 se caracteriza pela
uniformidade dos cursos a partir do currículo mínimo, já com a tentativa de reunir as duas visões
(humanista e tecnicista).

4 BIBLIOTECONOMIA, BIBLIOTECÁRIO : aspectos que orientam e regulamentam a


profissão

A profissão de Bibliotecário é regulamentada no Brasil pela Lei Nº 4.084 de 30 de


Junho de 1962 e a Lei Nº 9.674 de 25 de Junho de 1998. Na Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) a profissão é classificada como CBO 2612-05. A CBO descreve as funções
do bibliotecário:
Disponibilizam informação em qualquer suporte; gerenciam unidades
como bibliotecas, centros de documentação, centros de informação e
correlatos, além de rede se sistemas de informação. tratam
tecnicamente e desenvolvem recursos informacionais; disseminam
informação com o objetivo de facilitar o acesso e geração do
conhecimento; desenvolvem estudos e pesquisas; realizam difusão
cultural; desenvolvem ações educativas, prestar serviços de assessoria
e consultoria. (CBO, 2017)

Segundo Mueller (1985, p.3) a Biblioteca Nacional através da reforma dos programas
e elevação para nível universitário em 1962 do curso oferecido para formação de bibliotecários
pela entidade, contribuiu de forma significativa para regulamentação da profissão.

Afirma Mueller (1985, p.3)

Na verdade, desde 1958, uma proposta de lei regulamentando a


profissão já havia sido apresentada, e desde 1969, o Ministério da
Educação havia nomeado uma comissão para estudar o
estabelecimento de um currículo mínimo. Mas foi somente em 1962,
com a aprovação do currículo da Biblioteca Nacional (modelo do novo
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currículo mínimo), que se desencadeou o processo de regulamentação


da profissão - Lei n9 4.084/62 - e aprovação do currículo mínimo dos
cursos que seriam a única porta possível para a nova profissão. Lei
4.084/62.

No estado de São Paulo na década de 50 do século passado já havia um movimento


forte pela regulamentação da profissão. Conforme o histórico do Conselho Federal de
Biblioteconomia:
Na década de 50, algumas bibliotecárias brasileiras, lideradas pela
dinâmica figura de Laura Garcia Moreno Russo, de São Paulo,
iniciaram os esforços para ver a biblioteconomia oficialmente
reconhecida junto aos poderes públicos e junto à sociedade brasileira.
A primeira vitória veio em 1958, com a Portaria nº 162 do MTPS –
Ministério do Trabalho e Previdência Social, através da qual a
profissão de bibliotecário foi regulamentada no Serviço Público
Federal, tendo sido incluída no 19º Grupo das profissões liberais.
Em 1962 veio a coroação de todos esses esforços, com a aprovação da
Lei nº 4084, que regula, até hoje, o exercício da profissão de
bibliotecário no Brasil e estabelece as prerrogativas dos portadores de
diploma em biblioteconomia no país. (CFB, 2017).
Segundo Valentim (2000, p. 9-10) a classe profissional é representada pelo:

O Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB que congrega os


Conselhos Regionais de Biblioteconomia - CRB, que tem como
objetivo maior a fiscalização do exercício e da ética profissional;
A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários - FEBAB
que congrega as Associações Estaduais, que perseguem objetivo de
promover a atualização profissional através de eventos, publicações e
cursos, assim como buscam o fortalecimento da imagem do
profissional no país entre outras ações [...?]
Os sindicatos que defendem o profissional através da legislação dos
fóruns trabalhistas e negociam junto às empresas e governo o piso
salarial dos profissionais, bem como outros benefícios que a lei
propicia aos trabalhadores de um modo geral;

Em nível internacional também temos a The International Federation of Library


Associations and Institutions (IFLA), principal órgão internacional que representa os
profissionais que trabalham em bibliotecas. A principal função da IFLA é orientar diretrizes
para atuação dos bibliotecários e das entidades biblioteconômicas pelo mundo. Sua função não
é regulamentação internacional da profissão e sim de orientação internacional da profissão.

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5 O BIBLIOTECÁRIO : PERCEPÇÕES DOS USUÁRIOS DO SKOOB

O SKOOB é uma rede social colaborativa criada em janeiro de 2009 pelo desenvolvedor
Lindenberg Moreira. É considerada uma estante virtual, onde leitores podem compartilhar os
livros que leu, os que gostaram ou não, além de poder cadastrar novas publicações, efetuar
trocas de livros, fazer contato com autores e editoras. Um espaço aberto para receber resenhas
das publicações lidas e criar laços de amizade através da leitura.
Como consequência natural, há em paralelo a rede social advinda do SKOOB,
denominada Skoob: o que você está lendo? Este foi o universo escolhido para conceber esta
pesquisa.
Foram sujeitos desta pesquisa 190 (cento e noventa) pessoas, denominadas como
Skoobers, que se prontificaram a responder o questionário virtual. Considerando o total de
respondentes, no que se refere ao gênero dos entrevistados, observamos que 169 (cento e
sessenta e nove) mulheres, representam 89% do total, e 21 homens, equivalendo a 11% do total
de depoentes.

No que se refere ao grau de escolaridade, grande parte dos entrevistados, 63 (sessenta e


três) pessoas possuem ensino superior incompleto; 46 pessoas possuem ensino superior
completo, equivalendo a 24% do total; 35 (trinta e cinco) pessoas possuem o ensino médio
completo, totalizando 19%; 25 (vinte e cinco) possuem o ensino médio incompleto e 21 (vinte
e um) possuem pós-graduação.
Em se tratar de idade, grande parte dos entrevistados, 95 (noventa e cinco) pessoas estão
na faixa etária de 21-30 anos, equivalendo 50% do total; 55 (cinquenta e cinco) pessoas estão
na faixa de 15 a 20 anos equivalendo a 29%; 26 (vinte e seis) pessoas estão na faixa de 31-40
anos, equivalendo a 14%; 12 (doze pessoas) estão na faixa de 41-50 anos, equivalem a 6% e 2
(duas) pessoas estão na faixa entre 51-60 anos, equivalendo 1% do total de respondentes.
Quanto a formação do (a) bibliotecário (a) 173 (cento e setenta e três) pessoas afirmaram
que o bibliotecário possui nível superior (91%) e 17 (dezessete) pessoas responderam que o
bibliotecário possui formação de nível médio, correspondendo a 9% do total de entrevistados.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Quanto ao local de trabalho do (a) bibliotecário (a), grande parte dos entrevistados 160
(cento e sessenta) equivalendo a 83.7 %, afirmaram que o bibliotecário trabalha em: bibliotecas,
em centros culturais, em escolas, em arquivos; 26 (vinte e seis) pessoas responderam que o
bibliotecário atua em bibliotecas, equivalendo a 13.7%; 2 (duas) pessoas apontaram centro
culturais, equivalendo a 1.1%; 1 (uma) pessoa apontou escolas, equivalendo 0,5 %; 1 (uma)
pessoa apontou arquivos, equivalendo 0,5 % e nenhum respondente apontou empresas como
local de trabalho do bibliotecário.
Quanto ao acervo que o bibliotecário trabalha, grande parte dos entrevistados, 175
(cento e setenta e cinco) pessoas responderam que o bibliotecário pode trabalhar com todos os
tipos de acervo: livros, ebooks, jornais, revistas, mídias, equivalendo 92.1%; 15 (quinze)
pessoas apontaram os livros e ebooks, equivalendo a 7.9%; Revistas, livros e mídias não foram
apontadas exclusivamente como acervo administrado pelo bibliotecário.
Quanto ao ambiente na biblioteca, grande parte dos entrevistados, 69 (sessenta e nove),
preferem um ambiente de silêncio absoluto, equivalendo a 36% do total de entrevistados; 45
(quarenta e cinco) pessoas preferem sala fechada para estudos, equivalendo 24%; 45 (quarenta
e cinco) pessoas preferem ambientes interativos (contendo equipamentos audiovisuais),
equivalendo 24%; 31 (trinta e um) pessoas preferem o ambiente aberto - salão, equivalendo a
16% do total dos pesquisados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A biblioteca é importante por conservar e preservar o conhecimento da humanidade


desde os primórdios. A preocupação em postergar os registros do conhecimento para as futuras
gerações, fizeram com que surgisse um local adequado para guardá-los de uma forma que
possam ser recuperados e em detrimento a isso, o bibliotecário surge como o profissional
responsável por ordenar e disponibilizar tais informações.
No decorrer do tempo, com as mudanças dos suportes documentais e a informatização
dos processos de produção de registros do conhecimento, a biblioteca deixa de ser o espaço
para estoque e passa a ser um local de difusão dos mesmos. De igual modo, a atuação do
bibliotecário buscou se adequar às novas demandas, pois gerir informação e conhecimento na
atualidade requer muito conhecimento técnico, gerencial e estratégico para poder administrar
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

acervos diversificados (do tradicional papel ao nano-digital), em instituições diferentes,


podendo ser escola, centro culturais, empresas etc.
Mesmo sendo uma profissão regulamentada no Brasil há mais de 50 anos, com
representatividade em instâncias nacional e regional, o bibliotecário ainda sofre com a visão
estereotipada e deturpada, criada pela sociedade e naturalizada com intenções negativas.
Na literatura, no cinema e na televisão a presença estereotipada do profissional
bibliotecário está relacionada a diversos fatores a começar pelo gênero, sempre demonstrado
por uma mulher (de meia idade, ou velha) que utilizava óculos, com cabelos em forma de coque.
Com temperamento ríspido, hostil, considerada rabugenta, a bibliotecária sempre exigiu
silêncio absoluto dos usuários da biblioteca. Esse imaginário foi reflexo de algumas ações
equivocadas de profissionais do passado, que consideravam a biblioteca como um local
sagrado, de silêncio.
O perfil das pessoas que responderam à pesquisa que originou este artigo demonstra que
mesmo possuindo um grau de instrução considerável, e até elevado (pós-graduação), estão
cientes de que o bibliotecário é um profissional com formação de nível superior, mas com
postura contraditória quando utilizam de charges e expressões equivocadas para denegri-lo.
Com tom jocoso, questionam a postura, a necessidade e a atuação do bibliotecário. Corrobora
para isso quando mencionam que preferem o ambiente da biblioteca com silêncio total.
Para que o bibliotecário seja visto, compreendido e respeitado enquanto profissional da
informação, voltado para gerir acervos diversificados, há necessidade de um trabalho constante
para conscientização. Demonstrar que o bibliotecário é um profissional habilitado e com
competência para trabalhar com equipe transdisciplinares e atuar em espaços diversificados,
que vão além da tradicional biblioteca. Tal mudança deve começar a partir da graduação,
quando muitos vão para o curso por não ter outra opção, não entendendo a importância social
do bibliotecário. Soma-se a isso a valorização do profissional perante a sociedade e ao mercado
de trabalho, em órgãos públicos e instituições privadas. Que através dessa pesquisa novas
formas de trabalho e ações possam ser desenvolvidas na área em prol de desmistificar a
profissão.

REFERÊNCIAS

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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da
Informação – ENEBD 2017
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

CINE MUSEU AMAZÔNICO NA ASSUABIBLIOTECA E A INCLUSÃO DOS


IDOSOS DO COROADO NO AMBIENTE DA INFORMAÇÃO POR MEIO DA AÇÃO
CULTURAL: relato de experiência nos programas de extensão da Universidade Federal
do Amazonas

PERUGGIA, Priscila Monalisa¹


RESUMO

Este trabalho apresenta um relato de experiência discente em um projeto de extensão em uma


biblioteca comunitária, onde foram exibidos filmes e documentários a um grupo de idosos. O
objetivo deste trabalho é demonstrar como o aluno percebeu a ação cultural como ferramenta
que diminui o desafio de incluir idosos no espaço da biblioteca. Para isso, este trabalho utilizou-
se do conceito de ação cultural. Nessa perspectiva, verificou-se que as ações culturais
desenvolvidas em bibliotecas contribuem para a inclusão de idosos no ambiente da informação.

Palavras-chave: Biblioteca comunitária. Projeto de extensão. Ação cultural. Universidade


Federal do Amazonas.

CINE AMAZON MUSEUM IN ASSUABIBLIOTECA AND THE INCLUSION


OF ELDERLY CROWNED IN THE ENVIRONMENT OF INFORMATION BY
MEANS OF CULTURAL ACTION: case studies in the extension program of the
Federal University of Amazonas

ABSTRACT

This work presents an account of student experience on a project in a community library, where
films and documentaries were shown to a group of seniors. The aim of this paper is to show
how the student realized the cultural action as a tool that reduces the challenge of
including seniors within the library. For that, this work used the concept of cultural action
proposed by Coelho Neto. In this respect, it was found that the cultural actions developed in
libraries contribute to the inclusion of older people in the information environment.

Keywords: Community library. Extension project. Cultural action. Federal University of


Amazonas.

1 Introdução

O Programa de Atividade Curricular de Extensão (PACE), uns dos elementos do tripé


ensino, pesquisa e extensão sob o qual a universidade está constituída. Tem por objetivo levar
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

os alunos a conhecer as realidades ao pôr em prática o que é ensinado na universidade,


contribuindo tanto para a formação do aluno, quanto a desenvolvimento do grupo social
contemplado pelo projeto.
Foi com esse propósito, que no período de 2016/2 fomos provocados por uma iniciativa
de uma professora do Curso de Biblioteconomia, a participar do projeto intitulado Cine Museu
Amazônico na Biblioteca ASSUABIBLIOTECA, com o objetivo de por meio de ações
culturais, promover reflexões na comunidade que contribuam na formação da consciência
crítica e da cidadania.
O projeto foi desenvolvido numa parceria de alunos e professores da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), para atender os moradores do bairro do Coroado, na cidade de
Manaus, e fez a junção de biblioteca, cinema e museu levando a cultura e lazer ao espaço de
disseminação da informação, a um grupo da Associação de Idosos do Bairro do Coroado
(ASSIC).
Os filmes trabalhados foram: Estamira, Lixo Extraordinário, Ilha das Flores e O Aterro
foram escolhidos por seus temas serem voltados para a conscientização ambiental, necessidade
latente na comunidade envolvida no projeto, haja vista os problemas que o bairro enfrenta com
o descarte incorreto do lixo e a poluição de um rio que corta a principal avenida do bairro, e
principalmente para que as ações desenvolvidas alcançassem os idosos da comunidade.
O trabalho pretende demonstrar a percepção de um aluno do grupo, de como as ações
culturais podem ser trabalhadas na inclusão de idosos, pois,

[...] ao fazer sua opção para atuar como agente cultural, o bibliotecário
deve dar início a um processo de ação cultural emancipatória, de
conteúdo ideológico, que propicie a emergência das manifestações
culturais do público infantil e adulto [...] (CABRAL, 1999, p.39).

Sendo assim, o estudo de ações culturais como iniciativa para inclusão de idosos torna-
se importante para a formação dos novos profissionais, pois a inclusão de minorias é um dos
desafios dos futuros agentes culturais inseridos nas unidades de informação.

2 A Universidade Federal do Amazonas e seus programas de extensão

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Localizada na região norte do Brasil, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), é


uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES), criada nos termos da Lei nº. 4.069-A, de 12
de junho de 1962, do Decreto nº. 53.699, de 13 de março de 1964 e tem estabelecido como seu
princípio fundamental a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. (UFAM, 1998).
Para que estes princípios sejam efetivados, a universidade deixa explícito em seu
estatuto que tem por finalidade promover “[...] uma extensão aberta à população, visando à
difusão das conquistas e benefícios resultantes da cultura e da pesquisa científica e tecnológica
geradas na Instituição.” (UFAM, 1998, p.2). Ainda no mesmo documento, afirma que: “A
extensão terá por objetivo desenvolver um processo educativo, cultural e científico, em
articulação e com a participação da comunidade externa, para assegurar relações
transformadoras entre a Universidade e a sociedade.” (UFAM, 1998, p.15).
Com base nesses princípios, no período de 2016/2, alguns alunos do curso de
Biblioteconomia da UFAM, foram provocados a participar de uma iniciativa da professora
Regina Lúcia de Souza Vasconcellos, no projeto de extensão PACE desenvolvido no espaço da
Associação dos Servidores da Universidade Federal do Amazonas (ASSUA), apoiado pelo
Programa Coroado e o Cine Museu Amazônico ambos vinculados à UFAM. Estimulando
assim, o desenvolvimento do conhecimento aplicado, à criação cultural, o pensamento
reflexivo, a preocupação com a realidade amazônica e a investigação científica.
O projeto tinha por objetivo construir reflexões sobre a Amazônia e seus aspectos
históricos, políticos e sociais, conciliando o Museu Amazônico, a ASSUABIBLIOTECA e a
comunidade do Bairro do Coroado, apresentando a biblioteca e o museu como espaço de
informação, cultura e de lazer (VASCONCELLOS, 2016,), por meio de ações culturais (filmes
e documentários) promovidas na biblioteca comunitária ASSUABIBLIOTECA. Aproximando
ao espaço da biblioteca e do museu a comunidade, em especial o grupo de idosos do bairro do
Coroado atendidos pelo projeto.

3 Bibliotecas comunitárias e ações culturais

No contexto atual, em que a informação se firma como dispositivo de poder, a biblioteca


representa uma possibilidade de transformação social, por ser um instrumento dinâmico de
informação, cultura e lazer, e por isso ao longo da história atendendo aos seus interesses os

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donos do poder empenharam esforços na neutralização destes espaços como espaço público.
(SILVA, 2014, p.41).
De uma forma geral, cabe às bibliotecas públicas, a responsabilidade pela formação de
hábitos de leitura e de esclarecimento da sociedade. Segundo Manifesto da UNESCO:

“A biblioteca pública, porta de entrada para o conhecimento,


proporciona condições básicas para a aprendizagem permanente,
autonomia de decisão e desenvolvimento cultural dos indivíduos e
grupos sociais” (MANIFESTO DA UNESCO, 1994) grifo nosso

Na medida em que a biblioteca pública não proporciona essas condições, os sujeitos


buscam alternativas para sua emancipação. Boff apud Silva (2008, p.54) “ressalta que a
consciência da injustiça de uma determinada situação por grupos oprimidos gera a organização
dos mesmos para práticas de transformação estrutural de relações sociais injustas.” Assim, a
biblioteca comunitária desponta como um espaço de perspectiva que contribui para o
desenvolvimento. Atenuando as demandas da comunidade com práticas sociais, educativas e
culturais que favorecem a reflexão e consolidam sua identidade atuando “muito mais ligada à
ação cultural do que aos serviços de organização e tratamento da informação.” (MACHADO,
2009, p. 90).
Cabral (1999), recorrendo a Coelho Neto para diferenciar ação cultural, fabricação
cultural e animação cultural, caracterizou que as práticas ligadas ao trabalho cultural dependem
de como seus agentes compreendem e se posicionam politicamente ao dirigir a ação.
A fabricação cultural segundo Coelho Neto “[...] é um processo com início determinado,
um fim previsto e etapas estipuladas que devem levar ao fim preestabelecido.” Um processo de
produção de um objeto que não leva a reflexão sobre como se alcançou o resultado, em todo o
processo os sujeitos são conduzidos segundo a ideologia do agente cultural.
O que diferencia a “ação cultural” da “fabricação cultural” reside na posição do agente
“Na ação, o agente gera um processo, não um objeto.” (COELHO NETO, 1989, p.12), “Nela o
indivíduo é o CRIADOR, e tem autonomia para escolher com ampla liberdade os meios e
técnicas que prefere utilizar no ato criativo.” (CABRAL,1999, p.40). O agente dá o ponto de
partida, ao apresentar um projeto e oferecer os meios para que estes se realizem, porém as ações

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não são conduzidas a um resultado, a informação é discutida e refletida fazendo com que o
sujeito participe ativamente do processo de criação das próprias ideias.
Já a animação cultural, é exatamente o contrário da ação cultural todo o processo é
conduzido pelo agente cultural o sujeito participa passivamente.

[...] não passa de uma atividade com finalidades de divertir o público e


promover formas alienantes de lazer. Nela o agente é o sujeito que cria,
conduz e é o ator principal de todo o processo, tratando-se, pois, do
oposto da “ação cultural”. (CABRAL, 1999, p.40).

Ao compreender as principais diferenças entre “ação cultural”, “fabricação cultural” e


“animação cultural”, o bibliotecário pode desenvolver ações que favoreçam a transformação da
comunidade em que está inserido, com iniciativas que uma vez apreendidas pelo grupo, passam
a desenvolvê-las sozinho. Gerando assim, um conhecimento sobre o assunto abordado,
alcançando um dos objetivos da biblioteca de formar cidadãos emancipados.

2 Relato de experiência da aluna do curso de Biblioteconomia da UFAM, no projeto de


extensão
3
Na primeira etapa do projeto, no período de 2016/2, a aluna pode participar do processo
de organização das ações a serem desenvolvidas na ASSUABIBLIOTECA, onde conseguiu
ampliar sua compreensão do conceito de ação cultural, a partir das observações e experiências
vividas no projeto.
Para a aluna, essa experiência foi de importante contribuição para sua formação
profissional na medida que ofereceu a oportunidade adquirir novos conhecimentos, de vivenciar
na prática conceitos anteriormente apreendidos na academia consolidando assim seu
entendimento.
As experiências vivenciadas ao longo do projeto eram pautadas nas ações culturais
levando em consideração os objetivos a serem alcançados junto à comunidade. Segundo Vieira,
(2014, p. 185) “[...] a elaboração de uma ação cultural, deve-se levar em conta seus principais
objetivos: a disseminação da informação e a propagação da cultura e da cidadania.” Levando a

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

aluna a uma reflexão acerca de como problemas vivenciados na comunidade podem ser
trabalhados em unidades de informação de forma que incluam os idosos na sua participação.
Na segunda fase do projeto, a aluna participou ativamente de toda a preparação para a
exibição dos filmes e documentários. Tendo como contribuição para o seu aprendizado
compreender o processo de seleção dos filmes adequados pudessem alcançar a compreensão do
público e toda a parte administrativa que antecede a execução do projeto.
Nos dias de exibição dos filmes, a aluna pode ver como se desenvolvem as ações
culturais na unidade de informação. A equipe organizava e dava o ponto de partida de todo o
processo da ação, e ia acompanhando junto com os participantes que dando suas ideias, opiniões
e experiências iam transformando a ação.
Os diálogos que tínhamos após a exibição dos filmes são um exemplo de como esse
processo acontecia. Ao perguntá-los como eles faziam para reutilizar o lixo doméstico evitando
poluição e descarte incorreto, a aluna esperava receber respostas sobre o descarte de resíduos
sólidos e foi surpreendida com respostas sobre reutilização de alimentos, como: receitas de
bolinho feito com sobras de arroz; como fazer suco da casca da cenoura e do abacaxi; receitas
de doce de banana muito madura, etc. Sem serem induzidos a responder forçadamente ao
questionamento sobre resíduos sólidos os participantes começaram a trocar receitas e
experiências que despertavam um maior interesse e que demonstraram que aquelas informações
eram relevantes para outro problema da comunidade, o fator econômico.
Na etapa final, a equipe organizou uma tarde de encontro, onde foi exibido um vídeo
que continha um depoimento de uma aluna do curso de biblioteconomia, e dos membros da
comunidade que participaram do projeto expressando quais foram as suas impressões e qual a
contribuição do projeto para eles.
Ao final do projeto, a aluna considerou importante que os conceitos trabalhados, as
experiências e impressões fossem divulgadas para que a comunidade acadêmica pudesse
conhecer o projeto, e a partir de suas realizações desenvolver outros projetos de inclusão de
idosos em bibliotecas.

5 Considerações finais

Despertar o interesse de estudantes de biblioteconomia as práticas de inclusão de idosos


no espaço da biblioteca foi uma das características do projeto. A ação cultural, mesmo sem ser
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uma novidade, está longe de seu esgotamento por se tratar de uma ação humana dinâmica que
pode ser trabalhada acompanhando as características e necessidades do grupo envolvido.
A parceria firmada entre a universidade e a comunidade do bairro do Coroado no grupo
da ASSIC, teve o caráter de ação cultural ao promover aos idosos tardes de exibição de filmes
e documentários, em que eles puderam refletir sobre as temáticas propostas pelo projeto.
Após a exibição de cada sessão de filmes e documentários foram propostos diálogos
onde todos puderam participar ativamente suscitando assuntos relativos a experiências vividas
no bairro. As principais questões giravam em torno de: Como o bairro era antes? Quais foram
as principais mudanças que aconteceram? Se esse crescimento trouxe benefícios aos
moradores? Se o tratamento do lixo e das águas do rio que corta o bairro acompanhou esse
crescimento?
O projeto demonstrou-se importante para a formação dos alunos ao apresentar ações
diferentes das que geralmente cabem à rotina de processamento técnico de uma biblioteca,
causando um impacto positivo aos que puderam perceber que promover ações em bibliotecas
comunitárias, escolares e públicas é fundamental para a aproximação dos seus usuários.
Ao participar de uma ação os idosos envolvidos puderam conhecer serviços da
biblioteca que dão sentido ao ato informar-se e informar, fortalecendo formação da cidadania
deles e da comunidade universitária, fazendo que se tornem conscientes da importância de sua
participação no desenvolvimento da sociedade.

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<http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/42323/45994> Acesso em: mai 2017.
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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

SILVA, Ana Claudia Perpétuo de Oliveira da. É preciso estar atento: a ética no pensamento
expresso dos líderes de bibliotecas comunitárias. Curitiba: Appris, 2014.

SUAIDEN, Emir José. Biblioteca pública brasileira: desempenho e perspectivas. LISA: São
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VIEIRA, A. S. Repensando a biblioteconomia. Ciência da Informação, Rio de Janeiro,


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CONTRIBUIÇÕES DAS CLASSIFICAÇÕES FILOSÓFICAS NO


DESENVOLVIMENTO DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES
BIBLIOGRÁFICAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

DOURADO, Poliana Ribeiro

RESUMO

Apresenta um breve percurso histórico acerca das origens da classificação. Inicialmente, ela
surgiu da necessidade de demarcar a ciência e os saberes conforme suas diferenças e
semelhanças. Posteriormente, o desenvolvimento das classificações filosóficas recebeu
contribuições de diversos pensadores, rearranjando as formas de classificar as ciências. As
origens filosóficas da classificação objetivavam a divisão das ciências de forma hierárquica.
Contudo, devido à finalidade das classificações bibliográficas (ordenação de arquivos e livros
nas estantes), para que houvesse o desenvolvimento delas, houve a necessidade de diferenciação
do ramo filosófico. Após a Antiguidade, amparando-se nas classificações iniciais, sistemas de
classificações bibliográficas foram desenvolvidos, como por exemplo, o Sistema de
Classificação de Dewey e o Sistema de Classificação Universal. Nessa breve explanação das
origens e distinções, a pesquisa focou na revisão sucinta da bibliografia básica. E dessa síntese
se constatou o quanto as classificações filosóficas foram cruciais para o desenvolvimento das
classificações bibliográficas, bem como para o entendimento e até mesmo aprimoramento das
classificações bibliográficas.

Palavras-chave: Classificação. Classificação filosófica. Classificação bibliográfica. Sistemas


de classificação.

CONTRIBUTIONS OF PHILOSOPHICAL CLASSIFICATIONS IN THE


DEVELOPMENT OF BIBLIOGRAPHIC CLASSIFICATION SYSTEMS: A
LITERATURE REVIEW

ABSTRACT

Presents a brief history of the origins of classification. Initially, it arose from the need to
demarcate science and knowledge according to their differences and similarities. Subsequently,
the development of philosophical classifications received contributions from various thinkers,
rearranging the ways of classifying the sciences. The philosophical origins of classification
aimed at the division of the sciences in a hierarchical way. However, due to the purpose of the
bibliographic classifications (ordering archives and books on the shelves), for the development
of them, there was a need for differentiation of the philosophical branch. After antiquity, based
on the initial classifications, bibliographic classification systems were developed, such as the
Dewey Classification System and the Universal Classification System. In this brief explanation
of origins and distinctions, the research focused on the succinct revision of the basic
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bibliography. And from this synthesis it was verified how the philosophical classifications were
crucial for the development of the bibliographical classifications, as well as for the
understanding and even improvement of the bibliographical classifications

Keywords: Classification. Philosophical classification. Bibliographic classification.


Classification systems.

1 INTRODUÇÃO

O ato classificar é empregado para se fazer a distinção de espécies, etnias, lugares,


saberes etc. Em caso particular, a qual será abordada a principio, as classificações dos saberes
propostas por filósofos, em que seguiam o principio da hierarquia, dividindo e ordenando as
ciências de acordo com suas relevâncias, foi base para a criação das classificações
bibliográficas.
Tenciona-se expor e discutir os principais conceitos acerca da teoria da classificação.
Evidenciar os principais filósofos, seguindo um percurso histórico, bem como as suas divisões
e classificações dos saberes e como essas classificações inspiram para a estruturação da
classificação bibliográfica presente na área da ciência da informação.
Um estudo acerca das classificações filosóficas é importante pelo fato de servir como
fundamentação teórica básica para a compreensão das classificações bibliográficas, bem como
seus aperfeiçoamentos necessários.

2 CONCEITUAÇÃO TEÓRICA

É notório a necessidade de classificar as ciências e/ou saberes de acordo com áreas as quais
fazem parte. Piedade (1977, p. 9) define a classificação como um processo de dividir em grupos
ou classes, segundo as diferenças e semelhanças. É dispor os conceitos, segundo suas semelhas
e diferenças, em certo número de grupos metodicamente distribuídos. Esse conceito frisa
basicamente o ato de organizar os elementos e/ou saberes conforme as suas similaridades e
diferenças, para que haja simplificação em suas recuperações e nos estudos/pesquisas que
venham acontecer. De maneira mais específica, a respeito da classificação das ciências, Pombo
(19??, p. 3) a conceitua como uma “atividade própria da filosofia das ciências”.
No campo da Ciência da Informação, mais especificamente na Biblioteconomia, a
teoria da classificação é um conjunto de proposições e princípios desenvolvidos em associação

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com a prática, manifestando o seu conteúdo como uma disciplina intelectual. (ANJOS, 2008).
Essa teoria, a qual é trabalhada no campo da Biblioteconomia, se desenvolveu gradativamente
com base nas classificações filosóficas, as quais são “voltadas para uma classificação mais
elaborada, sofisticada, dos conhecimentos humanos”. (ARAÚJO, 2006, p. 121). E nas
classificações bibliográficas, essas voltadas para a organização de acervo em conformidade com
as semelhanças e diferenças, como enfatizou Barbosa (1969), de que as classificações
bibliográficas centraram-se na finalidade de dar aos livros um lugar determinado nas estantes.
Mas para chegar ao que conhecemos hoje, no campo informacional, o desenvolvimento
das classificações passou por um longo processo. “As classificações filosóficas são criadas
pelos filósofos, com a finalidade de definir, esquematizar, e hierarquizar o conhecimento,
preocupados com a ordem das ciências ou a ordem das coisas” (PIEDADE, 1977, p. 60). Ou
seja, os filósofos não estavam preocupados em elaborar um sistema de classificação voltado
para a organização, mas sim para a categorização. Explicitar os campos dos conhecimentos
ditos como os mais importantes.
E como já foi dito, “as classificações bibliográficas são sistemas destinados a servir de
base à organização de documentos nas estantes, em catálogos, em bibliografia, etc”.
(PIEDADE, 1977, p. 60). Essas sim são focadas no quesito organização, não tendo como
princípio a hierarquização. As classificações bibliográficas são voltadas para a estruturação e
depósito de arquivos e documentos, de modo que a recuperação da informação seja fácil e ágil.

3 CLASSIFICAÇÕES FILOSÓFICAS

Sobre o desenvolvimento das classificações filosóficas, essas “surgiram quando os sábios


compreenderam que o Universo é um sistema harmônico, cujas partes estão dispostas em
relação ao todo, que há uma hierarquia das causas e dos princípios [...]”. (PIEDADE, 1977, p.
61). Isto é, compreende-se de que o Universo é composto por elementos e/ou passa por
mudanças, os quais são explicados por algumas áreas do conhecimento, e que por essa razão,
merecem estar no topo das classificações.
Inicialmente, falaremos das contribuições de alguns filósofos para o desenvolvimento das
classificações filosóficas. Tido com o primeiro filósofo a classificar as ciências, Platão “divide
o conhecimento em física (que representa as percepções sensíveis), Ética (que representa a
vontade, o desejo) e a Lógica (que representa a razão)”. (ANJOS, 2008, p. 43).
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Depois de Platão, o filósofo Aristóteles, o qual desenvolveu a divisão dicotômica das coisas e
a divisão tritônica do conhecimento, aprimorou o seu sistema de classificação, dividindo as
ciências da seguinte forma:
• Ciências teóricas;
• Ciências práticas;
• Ciências poéticas.
Piedade (1977, p. 61) explica cada uma dessas ciências, classificadas por Aristóteles da
seguinte maneira:
As ciências teóricas se limitam a constatar a verdade, sendo elas: a
Matemática, a Física e a Teologia. As ciências práticas determinam as
regras que devem ser seguidas no nosso cotidiano, sendo elas: a Ética,
a Economia e a Política e as ciências poéticas, as quais indicam os meios
a usar na produção de obras exteriores, sendo elas: a Retórica, a Poética
e a Dialética.

Posteriormente, o filósofo grego Porfírio, veio a contribuir para o desenvolvimento das


classificações filosóficas. Esse filósofo grego do século IV, “apresentou uma classificação
dicotômica, para explicar o processo de divisão das classes, chamada “Árvore de Porfírio”,
conhecida também como “Árvore de Remé””. Segue abaixo a Árvore de Porfírio.

Árvore de Porfírio

Fonte: Wikipédia (2016).

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Segundo Piedade (1977, p. 62), “a substância corresponde ao gênero cuja característica é a


“existência””. Ou seja, é a algo concreto, que existe materialmente falando. A substância se
divide em corpórea e incorpórea, e da corpórea surge o corpo, que pode ser animado ou
inanimado. Do animado surge o ser vivo, podendo ser sensível e insensível. Do sensível surge
o animal, que adiante aparece o racional e o irracional. Do Racional surge o homem, de acordo
com Porfírio, possui particularidades pessoais.
Sucessivamente, outro filósofo que merece destaque é o Cassiodoro. Nas palavras de Piedade
(1977, p. 62), esse filósofo e educador dos godos classificou as ciências em dois grupos, da
seguinte maneira:
Artes ou Ciências Sermoniais (ciência das palavras):
• Gramática;
• Dialética;
• Retórica.
Ciências Reais (ciências das coisas):
• Geometria;
• Aritmética;
• Astronomia;
• Música.
Piedade (1977, p. 63) atesta que o ensino das escolas da Idade Média baseou-se na
classificação das ciências apresentada por Cassiodoro. Diante dessa afirmação, podemos
compreender que as classificações filosóficas não cooperaram apenas para o desenvolvimento
das classificações bibliográficas, como também para a elaboração de grades curriculares de
instituições de ensino.
As disciplinas fundamentadas nas classificações expostas por Cassiodoro se dividiam
em dois grupos, sendo eles: o Trivium e o Quadrivium.
Trivium: Artes ou Ciências Sermoniais
• Gramática;
• Dialética;
• Retórica.
Quadrivium: Ciências Reais
• Geometria;

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• Aritmética;
• Astronomia;
• Música.
Salientado por Piedade (1977, p. 63), essas disciplinas coadjuvaram para os estudos
preparatórios para estudos superiores, isto é:
• Teologia;
• Metafísica;
• Ética;
• História.
No campo da ciência da informação, estritamente na biblioteconomia, o filósofo inglês,
Francis Bacon, influenciou várias classificações bibliográficas. (PIEDADE, 1977).
Segundo Piedade (1977, p. 63), “Bacon divide as ciências segundo as faculdades
humanas em jogo: a memória, a imaginação e a razão”. Segue abaixo a explicação e as
subdivisões de cada uma dessas ciências:

A memória dá origem à História, que está dividida em História Natural,


História Civil e História Sagrada. A imaginação produz a Poesia,
dividida em Narrativa, Dramática e Parabólica. A razão cria a Filosofia,
subdividida em Divina, Natural, Humana e Teologia. (PIEDADE,
1977, p. 63).

Com o passar do tempo, as classificações passaram a se desenvolver de maneiras mais positivas,


se baseando na natureza dos fenômenos. Já no XIX, dois filósofos que mais contribuíram no
campo da classificação nesse período foram o Augusto Comte e o Wundt.
Augusto Comte dividiu as ciências em: abstratas (fundamentais) e concretas (derivadas).
Piedade (1977, p. 65) descreve que: as ciências abstratas, as quais estudam as leis gerais,
independentes dos seres concretos em que se realizam e as concretas estudam esses seres,
considerados em sua complexidade concreta. Comte, em seu ordenamento de classificação,
segue gradativamente, partindo “das ciências mais simples, abstratas e independentes, para as
mais complexas e dependentes”. (PIEDADE, 1977, p. 64). Segue abaixo as divisões de Comte:
• Matemática;
• Astronomia;
• Física;
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• Química;
• Biologia;
• Sociologia;
• Moral.
Percebe-se que não há muita diferença das principais disciplinas que atualmente são
ministradas atualmente nas escolas. Nesse caso, ausentaram-se apenas as disciplinas como
História e Geografia. Mais uma vez as grades curriculares de ensino sendo influenciadas pelo
aprimoramento das classificações.
Já o filósofo alemão Wundt apresentou a seguinte classificação:
• Ciências formais;
• Ciências reais;
• Ciências da natureza:
Fenomenológicas;
Genéricas;
Sistemáticas;
• Ciências de Espírito:
Fenomenológicas;
Genéticas;
Sistemáticas;
Sobre as classificações apresentadas por Wundt, Piedade (1997, p. 63) as explica da seguinte
maneira: “As fenomenológicas investigam os fenômenos e são: da natureza: Física, Química,
Fisiologia. Do espírito: Psicologia. As sistemáticas tratam dos objetos da natureza: Mineralogia,
Botânica, Zoologia etc. Do espírito: Direito, Economia, Política etc”.
Depreende-se que por meio da análise das classificações elaboradas por Wundt, o mesmo não
cita a filosofia como ciência, Anjos (2008, p. 72) explica que “Wundt tratou a ciência e a
Filosofia como conhecimentos totalmente separados. Dividiu a Filosofia em Doutrina do
Conhecimento e Doutrina dos Princípios (subdividida em Metafísica Geral e Metafísica
Especial”. Ou seja, mesmo a Filosofia, conhecida como a mãe das Ciências, Wundt em sua
concepção de classificações das ciências a considerou como um fundamento, não apontando
em suas divisões.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

A teoria da classificação filosófica foi estruturada mediante o subsídio de outros filósofos não
expostos acima, mas cabe citar alguns deles. Anjos (2008) em sua tese de doutorado evidenciou
também os seguintes filósofos: Descartes, Hobbes, Hegel, Diderot, entre outros.
Todos esses filósofos que aqui foram ressaltados, por meio de seus estudos, propuseram
diversas formas de classificações das ciências, que consequentemente, serviram de
embasamento para o desenvolvimento das classificações bibliográficas, as quais serão
discutidas posteriormente.

4 CONTRIBUIÇÕES DAS CLASSIFICAÇÕES FILOSÓFICAS PARA AS


CLASSIFICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Inicialmente, antes de falarmos das inúmeras contribuições para o desenvolvimento das


classificações bibliográficas, as quais foram trazidas pelas classificações filosóficas,
ressaltaremos de forma mais aprofundada o que vem a ser as classificações bibliográficas.
Piedade (1977, p. 65) diz que “as classificações bibliográficas procuram estabelecer relações
entre documentos para facilitar a sua localização”. Ainda segundo Piedade (1977, p. 65), as
finalidades das classificações bibliográficas são:
1. A ordenação dos arquivos nas estantes ou nos arquivos;
2. A ordenação das referências bibliográficas das fichas nos catálogos.
Pode-se classificar os livros respaldado em diferentes critérios, classificando-os de
acordo com tamanho, cor, autor, assunto etc. Algumas classificações se baseiam nas
classificações filosóficas, outras não. Piedade (1977, p. 65) assevera que “alguns bibliotecários
admitem que uma classificação bibliográfica deve ser uma classificação filosófica acrescida de
certas particularidades, tais como notação, classe de forma e índice”. No entanto, há
profissionais que dizem que a classificação bibliográfica jamais deve ser uma classificação
filosófica, argumentando que documentos não são assuntos e não podem ser tratados do mesmo
modo e que um livro por mais simples que seja, interessa a vários setores de uma classificação.
(PIEDADE, 1977). E de fato, esses argumentos fazem sentido. Uma obra pode estar presentes
nas mais diversas áreas dos saber.
Mas independente de alguns profissionais da área da Ciência da Informação acharem
que a classificação bibliográfica deve ser ou não uma classificação filosófica, é indiscutível que

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a classificação filosófica tenha contribuído para o desenvolvimento da classificação


bibliográfica.
Das colaborações trazidas pelas classificações filosóficas, Araújo (2006, p. 122), aponta
a primeira contribuição de Aristóteles, “que diz respeito à divisão dicotômica dos objetos em
gênero e espécie. Trata-se de uma hierarquização conceitual que divide um tema geral em
espécies a partir da aplicação de uma característica classificatória”. Isto é, para que seja feita a
classificação dos objetos em gênero e espécie, é necessário fazer uma observação acerca de
suas semelhanças e diferenças.
De acordo com Araújo, (2006, 122), outra contribuição de Aristóloes para a
classificação bibliográfica foi à elaboração dos cinco predicados, isto é, os cinco tipos de
relações existentes num arranjo lógico:

a) Gênero: classe ou grupo de seres ou objetos que possuem um


determinado número de características em comum;
b) Espécie: ser ou coisa que possui uma diferença específica que a
distingue de ser gênero próximo; a espécie é obtida do gênero pelo
acréscimo de uma diferença;
c) Diferença: é a característica que serve para gerar uma espécie; cada
de acréscimo de diferença gera uma nova espécie;
d) Propriedade: algo próprio de cada elemento de cada elemento de
uma classe mas que não é imprescindível à definição da classe;
e) Acidente: qualidade não obrigatória a todos os elementos de uma
classe, isto é, que pode ou não estar presente em um conceito.
(ARAÚJO, 2006, p. 122).
Esses cinco predicados citados acima são facilmente
reconhecidos na classificação bibliográfica, já que obras, arquivos, documentos, são
organizados conforme o maior número possível de similaridades ou diferenças. Quanto mais
diferente for tal obra, das demais obras presentes no acervo, mais necessidade haverá de se criar
uma nova espécie ou classificação.
Outro filósofo que também contribuiu bastante para o desenvolvimento da classificação
bibliográfica foi o Francis Bacon. Bezerra et al (2013, p. 10), afirma que a classificação
detalhada de Bacon, a qual já foi evidenciada anteriormente, serviu de base para a criação de
vários instrumentos destinados à organização e transferência de conhecimento.
Dentre as mais fortes influências de Bacon na classificação bibliográfica, podemos citar o fato
de que o Diderot e o Dalembert organizaram sua enciclopédia de acordo com o esquema de
Bacon. A partir disso, houve uma adaptação ao sistema decimal de 1876 por Melvil Dewey.
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Outros atributos presentes nas classificações filosóficas que serviram de estímulo para o
desenvolvimento da classificação bibliográfica foram:

a) Agente classificador (filósofo ou outros);


b) Conjunto de elementos (ciências) constituídos na época da
classificação, ou nela já previsíveis (Comte, Wundt);
c) Fio condutor já que toda classificação constrói-se no contexto das
classificações anteriores do mesmo domínio;
d) Esquema classificatório concreto (estrutura hierárquica, quadro,
arvore, figura geométrica) que permite a execução das operações.
(ANJOS, 2008, p. 83).
e)
É inquestionável que muitos outros filósofos e estudiosos tenham auxiliado e servido de
alicerce para a formulação da classificação bibliográfica, porém foram salientados aqui os quais
são considerados como os mais importantes dentro do contexto histórico sobre o percurso e
evolução da teoria da classificação.

5 METODOLOGIA

A metodologia empregada nesta pesquisa foi do tipo exploratória, a qual se


baseou em revisão bibliográfica, tendo como objetivo a análise crítica de textos que se
enquadram na temática classificação filosófica e classificação bibliográfica.
Por se tratar de uma revisão de literatura, na mesma não inclui apresentação de
dados quantitativos, apenas uma reflexão das contribuições proporcionadas pelas classificações
filosóficas para o desenvolvimento das classificações bibliográficas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazermos a análise do breve referencial teórico acerca da classificação filosófica, bem como
suas contribuições para o desenvolvimento da classificação bibliográfica, constata-se que a
teoria da classificação filosófica serviu sim de base para a criação da classificação bibliográfica.

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Mesmo não seguindo os mesmos princípios, já que a classificação filosófica se fundamenta na


divisão dos saberes e categorização dos mesmos, dando visibilidade aos que são considerados
como os mais importantes para a sociedade em geral, e a classificação bibliográfica a qual
objetiva a organização de obras, livros, documentos, arquivos etc, para que a sua recuperação
seja eficiente e rápida, ambas possuem similaridades e a classificação filosófica complementa
a classificação bibliográfica.
Ter discernimento de como se desenvolveu as classificações filosóficas, suas divisões e
subdivisões nos servem como base para que façamos aprimoramentos necessários nas
classificações bibliográficas em virtude das mesmas terem se baseado nas classificações
filosóficas.
Os sistemas de classificação mais conhecidos e utilizados para a organização de livros, como o
Sistema de Classificação Decimal de Dewey (CDD) e o Sistema de Classificação Universal
(CDU), tiveram a sua fundamentação teórica baseada nas classificações filosóficas. Portanto,
mesmo que possuam finalidades diferentes, sendo as classificações filosóficas com o intuito de
dividir as ciências hierarquicamente e as classificações bibliográficas, para a ordenação de
livros em estantes, conhecer as classificações filosóficas e as contribuições de cada filósofo é
básico no que se refere à compreensão ampla das classificações bibliográficas e os sistemas de
classificação mais utilizados.

REFERÊNCIAS

ANJOS, Liane dos. Sistemas de classificação do conhecimento na Filosofia e na


Biblioteconomia: uma visão histórico-conceitual crítica com enfoque nos conceitos de classe,
de categoria e de faceta. 2008. 291 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila Araújo. Fundamentos teóricos da classificação. Revista


Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, n. 22, 2° sem.
2006.

BARBOSA, Alice. Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. Rio de


Janeiro: Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação, 1969.
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BEZERRA, Gomes Midinai et al. Trajetória histórica da classificação: mudança do status de


arte para ciência. In: XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e
Ciência da Informação, Florianópolis. Anais...Fortaleza, 2013.

PIEDADE, Maria Antonietta. Introdução à teoria da classificação. Rio de Janeiro:


Interciência, 1977.

POMBO, Olga. Da classificação dos seres à classificação dos saberes. [S.l: s.n], [19??].

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INDEXAÇÃO DE DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS: delineamento teórico do tema em


artigos de periódicos

SILVA, Anna Karolina Barbosa76


OLIVEIRA, Lais Pereira de77

RESUMO
Analisa as pesquisas desenvolvidas sobre indexação de documentos audiovisuais e o
delineamento teórico por elas assumidas. Tem como objetivo identificar os trabalhos
publicados na temática em questão e os aspectos neles contemplados, como forma de
estabelecer um quadro conceitual demonstrativo da evolução do assunto nas publicações
periódicas nacionais. Enquanto estudo exploratório-descritivo, de tipo bibliográfico e com
abordagem quanti-qualitativa, foi conduzido a partir de levantamento efetuado na Base de
Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), mediante
utilização dos termos: documento audiovisual, documentação audiovisual e indexação de
documento audiovisual. Os resultados indicam que são escassos os trabalhos sobre indexação
de documentos audiovisuais em periódicos nacionais de Ciência da Informação. O assunto é
contemplado de modo um tanto breve em boa parte das publicações, estando em apenas 3
discutido de forma abrangente. Conclui-se que o quadro conceitual demonstrativo é que a
maioria dos artigos não tem como tema central a temática aqui estudada, mas sim assuntos que
a envolvem.

Palavras-chave: Tratamento temático da informação. Indexação. Documentação. Documento


audiovisual.

INDEXING OF AUDIOVISUAL DOCUMENTS: theoretical approach of the theme in


journals articles

ABSTRACT
It analyses the searches development in indexing of audiovisual documents and the delineation
theoretical by they assumed. It aims identify the articles published in theme citated and the
questions contemplated on the works, for establish a conceptual framework demonstrative of
the development of the subject in national journals. Exploratory descriptive study, of type
bibliographic and with quanti-qualitative approach was conducted as of survey carried out in
Database Reference of Articles of Periodicals in Information Science (BRAPCI), by using of
terms: audiovisual document, audiovisual documentation and indexing of audiovisual
documents. The results indicate that works on indexing of audiovisual documents is scarce in
national journals of information science. The subject is contemplated of mode somewhat short

76
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
annakarolinasilva30@gmail.com
77
Docente do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
laispereira2@yahoo.com.br
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in most of publications, being discussed comprehensive form in only three. It concludes that
the conceptual framework demonstrative is that the most part of the articles don’t have as
central theme the thematic studied, but rather of the subjects that involves.

Keywords: Thematic treatment of information. Indexing. Documentation. Audiovisual


document.

1 INTRODUÇÃO

A indexação é um processo de descrição temática que consiste na atribuição de termos


para representação dos assuntos de um documento. Sua condução nas unidades de informação
propicia a manipulação de palavras-chave no momento da busca e recuperação pelo usuário.
Desse modo, ao indexar o bibliotecário constrói termos representativos do conteúdo, a partir da
leitura detida e suficientemente analítica que lhe permita atribuir adequadamente a palavra que
se refira ao material analisado. Em um texto clássico, Cintra (1983, p. 6) reitera que a leitura
feita pelo indexador “objetiva selecionar palavras-chave ou descritores, que traduzam o
documento numa forma compatível com uma dada linguagem documentária, de sorte a
possibilitar a sua recuperação”.
A indexação evidencia a tematicidade dos documentos, sejam eles livros, periódicos,
mapas, fotografias, audiovisuais, etc. No caso do documento audiovisual, contudo, há
particularidades que precisam ser observadas, uma vez que o tipo de registro passa a ser não
mais o texto, mas sim o som e a imagem. Logo, é fundamental haver estudos dedicados à
prospecção nesse universo, especialmente voltados ao entendimento de seus desdobramentos
teóricos e em condições de contribuir com práticas de trabalho e ações desenvolvidas nesse
âmbito. Como afirma Santos (2013, não paginado):

a rotina de trabalho de um arquivo de imagens audiovisuais [...] tem


exigido que o gerenciamento da informação e da documentação nesses
ambientes seja foco de estudos que visem suprir uma certa “carência”
de publicações em nossa área voltadas para essa temática.

Tendo em vista as questões acima colocadas, o presente trabalho se volta à identificação


dos artigos publicados em revistas nacionais sobre indexação de documentos audiovisuais. O
tema foi levantado por meio de pesquisa bibliográfica em periódicos da Ciência da Informação.
Na sequência os textos foram analisados buscando perceber os aspectos contemplados e

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

estabelecer quadro conceitual demonstrativo da evolução do assunto no contexto estabelecido


para a investigação.

2 A INDEXAÇÃO E OS DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS

Indexação é um processo de organização da informação que estabelece rótulos de


assunto para evidenciar do que o documento trata. Lancaster (2004, p. 6) explica que “os termos
atribuídos pelo indexador servem como pontos de acesso mediante os quais um item é
localizado e recuperado, durante uma busca por assunto num índice publicado ou numa base de
dados eletrônica”.
A indexação é, de acordo com Anízio e Nascimento (2012, p. 125):

uma ferramenta essencial nas unidades de informação, pois consiste no


ato de identificar e descrever um texto informacional de acordo com o
seu assunto, e cujo principal objetivo é orientar o usuário sobre esse
conteúdo intelectual, permitindo, dessa forma, a sua recuperação de
forma ágil e eficiente.

Para indexar é necessário realizar a análise do documento para compreensão do assunto.


Como destaca Pinto (2001, p. 227) “a representação em nível de indexação documentária
perpassa, ao menos, por três etapas: análise conceitual, tradução e controle de qualidade”.
Lancaster (2004), por sua vez, destaca as fases de análise conceitual, que é a ocasião de
definição sobre o que trata o documento, e de tradução, ou seja, adequação dos descritores de
acordo com o vocabulário adotado.
Nesse sentido, a indexação deriva de um processo de leitura atenta do indexador, pois
tem por objetivo fazer com que os termos atribuídos aos documentos facilitem a recuperação
do mesmo. Se no momento de indexar o profissional não estiver atento, o item poderá não ser
mais encontrado.
O desenvolvimento do processo de indexação é desafiado a depender do suporte ou
formato que está sendo objeto de análise pelo bibliotecário. De acordo com Pinto (2001, p. 228)
“a maneira de indexar depende, naturalmente, do tipo de documento a indexar”. Nesse sentido,
a indexação de documentos textuais acontece pelo uso da leitura técnica, em uma atividade que
utiliza as informações mais amplamente presentes no item; já no caso do audiovisual é um

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processo mais desafiador e minucioso, porque este tipo de documento exige a percepção de
questões não diretamente descritas ou visivelmente representadas.
Para Cunha e Cavalcanti (2008, p. 132) documento pode ser definido como “qualquer
tipo de registro, sejam quais forem os seus dados ou configurações, quer se encontre em papel,
pergaminho ou filme, ou em qualquer outro material”. Ou seja, o documento constitui um
registro que traz consigo conjuntos de informações, estando presente em diversos tipos de
suporte.
Já documento audiovisual, segundo Cirne e Ferreira (2002), são informações veiculadas
por meio de um código de imagens fixas ou móveis, e de sons, necessitando de equipamentos
adequados para serem visto ou ouvidos. Ao tratar da indexação desse tipo de documento,
Chellappa (1995 apud PINTO, 2001, p. 229) evidencia que:

No que concerne a indexação de documentos audiovisuais, cujas


características são o conteúdo (informação), a mídia vetor deste
conteúdo é o suporte de estocagem. Isso nos traz problemas pois, neste
caso, a indexação demanda muito mais detalhes e muito mais
informações do gênero: quem? o quê? como? onde? quando...? A
maneira de indexar estes documentos coloca em jogo além das
informações visuais, outros tipos de informações percebidas por outros
órgãos sensoriais desde que o sujeito conheça o conteúdo.

Deve-se destacar que o documento audiovisual suscita e evoca múltiplas informações,


posto que envolve o que é mostrado ou transmitido mas também o que está por traz disso, por
meio de significâncias nem sempre muito perceptíveis. Segundo Santos (2013, não paginado):

Os acervos de mídias não convencionais, como os arquivos de TV, têm


em seu bojo informações múltiplas acerca dos conteúdos abordados nas
suas apresentações e reportagens, que vão desde o áudio, que funciona
como uma espécie de narração dos fatos, ao que é mostrado nas imagens
em movimento, nas quais essas informações são carregadas de
significados que não podem fugir àqueles que delas necessitam.

A indexação, atividade que exige cuidadosa apreciação do bibliotecário para definição


do assunto, torna-se ainda mais dinâmica e desafiadora no trato do audiovisual. Caldera-Serrano
observa que (2013, p. 7-8, tradução nossa) “a realização da extração de conteúdo no âmbito
audiovisual é uma das árduas e delicadas tarefas confiadas a gestores da informação, daí as

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tentativas de buscar novos caminhos e encontrar novas formas para ir automatizando total ou
parcialmente estas operações”.

3 METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como bibliográfico, exploratório-descritivo e com


abordagem quanti-qualitativa. A coleta de dados foi conduzida por meio de levantamento na
BRAPCI78 dos temas: documento audiovisual, documentação audiovisual e indexação de
documento audiovisual, com busca em todos os campos e delimitação no período temporal de
1972 à 2017.
A amplitude do recorte temporal estabelecido – 45 anos – tencionou abarcar o máximo
de possibilidades para descoberta de produções sobre indexação de documentos audiovisuais.
A análise foi feita mediante sistematização dos dados em quadros, bem como pela técnica de
análise de conteúdo, que permitiu compreender o delineamento teórico sobre o assunto nos
trabalhos levantados.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Em termos quantitativos, o levantamento evidenciou que são poucos os trabalhos sobre


indexação de documentos audiovisuais publicados em revistas nacionais. Há somente 7 artigos
(vide quadro 1) tratando do assunto, com diferentes níveis de aprofundamento sobre o mesmo.

Quadro 1 – Artigos com abordagem em indexação de documentos audiovisuais.

Artigo Autor(es) Ano Revista


Acervos imagéticos e memória MANINI, Miriam Paula 2016 PontodeAcesso
Análise crítica do software Ant ASHTOFFEN, Robson 2010 Biblos – Revista do
Movie Catalog sob o ponto de SMIT, Johanna W. Instituto de
vista da organização da Ciências Humanas
e da Informação

78
Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/brapci/>.
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documentação audiovisual
fílmica
Busca e organização da FREIRE, Isa Maria 2015 Revista Brasileira
informação audiovisual na web: FREIRE, Gustavo de Biblioteconomia
experiência no Laboratório de Henrique de Araújo e Documentação
Tecnologias Intelectuais BARROS, Niedja
Nascimento
Documentos e informações SANTOS, Francisco 2013 DataGramaZero
audiovisuais: a teoria arquivística Edvander Pires
e as técnicas da Biblioteconomia
aplicadas à organização de
arquivos de TV
Hacía la indización automática CALDERA-SERRANO, 2013 Perspectivas em
de documentos audiovisuales Jorge Gestão &
televisivos Conhecimento
Las nuevas tecnologias y el MOREIRO GONZÁLEZ, 2000 Informação &
tratamiento documental de los José A. Sociedade
materiales digitales, en especial
la imagen
Resumiendo documentos CALDERA-SERRANO, 2014 Perspectivas em
audiovisuales televisivos: Jorge Ciência da
propuesta metodológica Informação

Fonte: elaborado pelas autoras (2017).

Pelo exposto no quadro, nota-se que são todos artigos mais recentes, dos anos 2000 em
diante, não havendo produções com abrangência sobre indexação de documentos audiovisuais
nas décadas de 1970 a 1990. Além do que 2013 é o ano com maior ocorrência, tendo duas
publicações.
No que diz respeito aos autores apenas Caldera-Serrano aparece em mais de uma
produção, sendo a primeira de 2013 e a segunda de 2014. Já em relação às revistas, não há

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predominância de trabalhos em nenhuma delas. Cada qual tem somente um artigo publicado no
assunto.
Em termos qualitativos, observando-se o delineamento teórico e os aspectos
contemplados nos artigos, percebe-se que cada um destes trata a indexação de documentos
audiovisuais de uma forma e em profundidades diferentes. Ainda assim, na grande maioria o
assunto carece de aprofundamento, como se constata a partir dos desdobramentos expostos na
sequência.
O artigo 1 “Acervos imagéticos e memória” aborda de forma superficial a indexação de
documentos audiovisuais. Foca nas discussões sobre imagem e memória, trazendo a vertente
do tratamento desse tipo de acervo apenas no último tópico do texto. Diferencia os tipos de
imagem e fala das instituições que as preservam, além dos aspectos comunicacionais que estas
evocam. No enlace final cita aspectos relacionados à análise documentária e à contextualização
das imagens, junto a um pequeno constructo sobre a escolha do termo de indexação.
No artigo 2 “Análise crítica do software Ant Movie Catalog sob o ponto de vista da
organização da documentação audiovisual fílmica” há uma discussão bastante incipiente no
tema, apesar de haver uma seção nominada de documentos audiovisuais e recuperação da
informação fílmica. O trabalho se envolve em uma abordagem sobre o software em questão e
sua descrição minuciosa, tratando em um ou outro momento das possibilidades de indexação
de filmes no Ant Movie, mais como forma de apresentar funcionalidades deste, não de abordar
a atividade de indexação em si.
O artigo 3 “Busca e organização da informação audiovisual na web: experiência no
Laboratório de Tecnologias Intelectuais” traz a indexação de audiovisuais de modo um tanto
breve. A produção relata os trabalhos em torno de um projeto da Universidade Federal da
Paraíba, voltado à disponibilização de fontes virtuais para apoio à aprendizagem nos cursos de
Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e Ciência da Informação. Nesse ínterim, cita o
trabalho de catalogação, classificação e indexação dos vídeos desenvolvido por uma bolsista.
Não há, contudo, qualquer discussão teórica no tema, apenas curto relato sobre a prática de
categorização dos vídeos.
No artigo 4 “Documentos e Informações Audiovisuais: a teoria arquivística e as técnicas
da Biblioteconomia aplicadas à organização de arquivos de TV”, o assunto é tratado de modo
abrangente, sendo trabalhado na perspectiva arquivística e no universo dos arquivos de TV. Há
uma seção nominada para o tratamento da informação que aborda de forma ampla a indexação
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e outros processos técnicos como a classificação e a catalogação dos documentos audiovisuais.


O trabalho discorre sobre a imagem em movimento e suas características, bem como sobre a
representação temática via decupagem com grande nível de detalhamento.
O artigo 5 “Hacía la indización automática de documentos audiovisuales televisivos”,
discute amplamente a indexação de documentos audiovisuais, apesar de focar no processo
automático de tratamento e na realidade inerente às televisões. Trata-se de uma produção
voltada à discussão sobre indexação automática de audiovisuais, que a evidencia já na revisão
de literatura em extensa abordagem sobre o tema, trazendo inclusive ferramentas e soluções
para a retirada dos termos dos documentos. Acaba por defender a utilização da indexação
automática com uso de diferentes tecnologias, como forma de agilizar o tratamento dos
audiovisuais especialmente em cadeias de televisão, que possuem grande massa documental.
O artigo 6 “Las nuevas tecnologías y el tratamiento documental de los materiales
digitales, en especial la imagen”, trata de maneira razoável a temática e a envolve em outras
discussões: os novos suportes digitais da informação e os serviços de tratamento dos materiais
audiovisuais nesse contexto. A técnica de indexação – mais precisamente da imagem – é
discutida em uma das seções do texto, inclusive sobre a via automática, mas sem muitos
desdobramentos. Cita-se também um sistema de automação de bibliotecas e as possibilidades
de descrição e recuperação de imagens nele. O cerne do trabalho é a transição evidenciada nas
bibliotecas a partir das novas tecnologias, o que impacta nos serviços ofertados, sendo estes
citados pelo constatado em uma unidade de informação francesa. A abordagem sobre indexação
de audiovisuais por completo acaba sendo curta – uma vez que foca na imagem e não amplia
as discussões sobre o ato de indexar – e atrelada ao conjunto verificado na biblioteca e no
software, objetos de discussão.
Por fim, no artigo 7 “Resumiendo documentos audiovisuales televisivos: propuesta
metodológica”, a indexação de documentos audiovisuais é novamente discutida de forma
ampla. O foco do trabalho é, na verdade, a representação temática via resumo. O centro da
discussão são os centros de documentação televisivos. Ainda assim, há uma extensa revisão de
literatura voltada à indexação de audiovisuais e às instâncias para sua realização, além de
abordagem sobre as mudanças na atividade de análise documental por conta do paradigma
digital.
Pode-se perceber que, apesar do estabelecimento de período temporal bastante amplo
para a busca, a recuperação de itens no assunto “indexação de documentos audiovisuais” foi
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escassa. Além de serem poucas produções, constata-se em muitas delas a falta de centralidade
no tema, de modo que o delineamento teórico estabelece-se em torno de outras questões e a
ação de indexar audiovisuais acaba por ser brevemente explicitada.
Ao final da análise percebe-se que a abordagem amplamente desenvolvida na temática
surge em apenas 3 das 7 publicações encontradas. Uma traz a indexação de documentos
audiovisuais de forma razoável, com um certo desdobramento teórico, mas ainda assim sem
discuti-la de modo abrangente. Outros 3 artigos o fazem de modo ainda mais resumido, tratando
o assunto superficialmente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os artigos publicados sobre indexação de documentos audiovisuais, levantados na base


de dados BRAPCI, constituem-se em sua maioria de textos nos quais o tema não é devidamente
explorado e discutido. Abordam-se aspectos como: relatos de experiência sobre projetos;
processos de trabalho voltados à indexação, mas também à classificação e catalogação;
discussões sobre as funcionalidades de softwares para tratamento de documento fílmico; fontes
virtuais de apoio a aprendizagem; e detalhamento acerca das características de imagens em
movimento.
O desdobramento teórico sobre indexação de documentos audiovisuais em artigos é, em
suma, sobre indexação automática e o trabalho desenvolvido em arquivos de televisão. Isso em
se considerando as produções com maior amplitude de discussões no assunto. Pela relevância
do tema e importância de seus desdobramentos para contribuição com a própria prática de
indexação, é mais do que premente que mais estudos surjam.
Salienta-se que, apesar do extenso traço temporal, são poucas as investigações com
publicação resultante no formato de artigo. Além do que os pesquisadores não dão continuidade
na escrita com textos mais densos, de modo a colocar os interessados a par das novidades sobre
a temática. Fica evidente que se faz necessário ter pesquisas que abordem de forma mais
minuciosa o tema, com delineamento de revisão de literatura mais cuidadosamente trabalhado,
além das narrativas de casos e experiências desenvolvidas, que possam inclusive auxiliar em
novas investigações.
O quadro conceitual demonstrativo da evolução do assunto nas publicações periódicas
nacionais, derivado da análise, aponta para discussões sobre indexação automática e no âmbito
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de centros de documentação televisivos. A preocupação com outros universos informacionais


e com outras instâncias do processo de indexação, conduzido por humanos, precisa ter eco,
como acontece com a última produção analisada, dedicada à discussão de resumo. Nesse
sentido, ele carece de aprofundamento teórico e especialmente de outras pesquisas que venham
a contribuir com o avanço dos conhecimentos nesse campo.

REFERÊNCIAS

ANÍZIO, Jamilly de Lima Alcântara; NASCIMENTO, Geysa Flávia Câmara de Lima.


Avaliação do processo de indexação na Biblioteca da Assessoria Jurídica do Banco do Brasil.
Biblionline, João Pessoa, v. 8, n. esp., p. 122-133, 2012.

CALDERA-SERRANO, Jorge. Hacía la indización automática de documentos audiovisuales


televisivos. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, João Pessoa, v. 3, n. 1, p. 3-12,
jan./jun. 2013.

CINTRA, Anna Maria Marques. Elementos de linguística para estudos de indexação. Ciência
da Informação, Brasília, v. 12, n. 1, p. 5-22, 1983.

CIRNE, M, T; FERREIRA, S, M. A ética para os profissionais da informação audiovisual: o


devir tecnológico a moldar uma atitude. Cadernos BAD: Revista da APBAD, Lisboa, n. 1,
p.115-129, 2002.

CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de


Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 2008. 415 p.

LANCASTER, F. W. Indexação e resumos: teoria e prática. 2. ed. Brasília: Briquet de


Lemos, 2004. 452 p.

PINTO, Virgínia Bentes. Indexação documentária: uma forma de representação do


conhecimento registrado. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 6, n.
2, p. 223-234, jul./dez. 2001.
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

SANTOS, Francisco Edvander Pires. Documentos e informações audiovisuais: a teoria


arquivística e as técnicas da Biblioteconomia aplicadas à organização de arquivos de TV.
DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação, v. 14, n. 5, out. 2013.

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INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:


desdobramentos do tema em publicações nacionais

SANTOS, Beatriz Stephany Sanches dos79


OLIVEIRA, Lais Pereira de80

RESUMO
Analisa a forma de abordagem da temática inteligência competitiva em publicações nacionais
da área de Ciência da Informação, destacando o ano de maior produção no tema, os autores e
as revistas que mais publicam no assunto. Objetiva identificar como a inteligência competitiva
vem sendo trabalhada pelos pesquisadores e que abrangência tem assumido.
Metodologicamente tem-se um estudo de tipo descritivo e bibliográfico, com abordagem
quanti-qualitativa. A coleta de dados priorizou a busca por assunto utilizando a palavra-chave
inteligência competitiva. O levantamento foi conduzido na Base de Dados Referenciais de
Artigos de Periódicos da Ciência da Informação (BRAPCI), com delimitação entre os anos de
1997 e 2017. Os resultados obtidos pela análise quantitativa indicam que predominam
publicações nos anos de 2016 e 2009, de doutores da região Sudeste do país, como Valentim e
Nassif, e nas revistas Perspectivas em Ciência da Informação e DataGramaZero. A via
qualitativa demonstra que a inteligência competitiva é abordada prioritariamente a partir de
estudos teóricos. Conclui-se que a temática estudada tem se desdobrado na Ciência da
Informação sob a forma de pesquisas na literatura, gerando em suma, trabalhos com discussões
conceituais, estruturais, integrativas, acadêmicas e profissionais da inteligência competitiva.

Palavras-chave: Inteligência competitiva. Ciência da Informação. Periódicos.

COMPETITIVE INTELLIGENCE IN INFORMATION SCIENCE: unfolding of the


theme in national publications

ABSTRACT
It analyzes the approach to the issue of competitive intelligence in national journals of
Information Science, highlighting the year of the greatest theme production, the authors and the
magazines that the most publish in the subject. Aims to identify how the competitive
intelligence it being worked and your coverage. Descriptive and bibliographic study, with
approach quantitative and qualitative. The data collection it was made by subject using the
keyword competitive intelligence. The search it was made in Base de Dados Referenciais de
Artigos de Periódicos da Ciência da Informação (BRAPCI), between the years of 1997 and
2017. The obtained results by quantitative analysis indicate that there are more publications in
the years of 2016 and 2009, of doctors from the southeast region of the country, such as

79
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
beatrizstephanysanches@hotmail.com
80
Docente do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
laispereira2@yahoo.com.br
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Valentim and Nassif, and in the journals Perspectivas em Ciência da Informação and
DataGramaZero. The qualitative approach demonstrate that competitive intelligence is
discussed primarily from theoretical studies. It concludes that subject has unfolded in Science
Information in the form of researches in the literature, generating in short, articles with
conceptual, structural, integrative, academic and professional discussions of competitive
intelligence.

Keywords: Competitive intelligence. Information Science. Journals.

1 INTRODUÇÃO

Inteligência competitiva (IC) é um processo organizacional voltado à prospecção


direcionada de informações para utilização de forma estratégica. Cumpre importante papel nas
organizações, posto que permite que conjuntos informacionais internos e externos sejam melhor
aproveitados e devidamente empregados no suporte ao processo decisório. Para Tarapanoff
(2001, p. 45) a IC é “uma nova síntese teórica no tratamento da informação para a tomada de
decisão”.
Logo, pode-se caracterizar a inteligência competitiva como “o processo que age na
potencialização da informação para apoio à tomada de decisões nas organizações” (OLIVEIRA,
2016, p. 172). Isso porque quando as informações são estruturadas apropriadamente e têm um
aumento do seu valor agregado, elas “são a base das decisões a serem tomadas no âmbito das
organizações e para o fornecimento da informação precisa e tempestiva” (ARAÚJO JÚNIOR;
SOUSA; ALBUQUERQUE, 2015, p. 49).
Estudos sobre IC são desenvolvidos nos mais diversos campos, inclusive na Ciência da
Informação (CI). Conforme observam Perucchi e Araújo Júnior (2012, p. 39):
Por ser uma ferramenta auxiliar no processo de tomada de decisão, a IC
não é mais um privilégio de inteligência militar, como o era até bem
pouco tempo, mas uma necessidade das organizações. Este cenário tem
despertado o interesse por estudos que envolvam a IC, seja no âmbito
das organizações ou das universidades que têm cursos ou disciplinas na
área e formam profissionais qualificados para desempenhar tal função
nas organizações.

Nesse sentido, o presente trabalho dedica-se ao estudo da inteligência competitiva em


uma perspectiva teórica, buscando: na esfera quantitativa, identificar os autores que mais
publicam na temática, assim como as revistas que mais contribuem com a divulgação do assunto

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e os anos de maior produção no mesmo; já na qualitativa, perceber de que modo a IC é abordada


nas publicações da área de Ciência da Informação.

2 INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

A inteligência competitiva é uma atividade dedicada à aplicação planejada da


informação nas organizações. A IC atua em todos os ambientes que de alguma forma podem
influenciar o contexto organizacional em que a empresa está inserida, a fim de aproveitar-se de
conteúdos informacionais estrategicamente trabalhados para sustentar a tomada de decisões,
uma vez que ela possibilita que o gestor esteja sempre informado do que está acontecendo tanto
externa quanto internamente à organização da qual faz parte.
Para Araújo Júnior, Perucchi e Lopes (2013, p. 58) a inteligência competitiva pode ser
caracterizada como “o conjunto de ações sistemáticas e integradas de busca, processamento,
análise e disseminação de informação que visam subsidiar os tomadores de decisão no ambiente
corporativo”. Isso porque na contemporaneidade a produção e disseminação da informação
ocorre de forma imensurável; desse modo a IC se faz necessária uma vez que ela levará aos
gestores exatamente as informações que eles precisam, no momento certo. Assim, dinamizando
e sustentando o processo de tomada de decisão no ambiente organizacional.
Perucchi e Araújo Júnior (2012, p. 40) definem a IC como a “atividade exercida com o
objetivo de produzir informação de interesse de determinada organização”. Alinhado a esse
pensamento Trigo, Soares e Quoniam (2012, p. 59) afirmam que inteligência competitiva é “um
sistema operacional de coleta, tratamento e encaminhamento da informação tácita e explícita
para os tomadores de decisão”. Por sua vez, Valentim et. al. (2005, não paginado) explicam
que:
inteligência competitiva é o processo que investiga o ambiente onde a
empresa está inserida, com o propósito de descobrir oportunidades e
reduzir os riscos, bem como diagnostica o ambiente interno
organizacional, visando o estabelecimento de estratégias de ação a
curto, médio e longo prazo.

Logo, para concretização de um processo de IC a organização precisa se dedicar à


prospecção de informações nos ambientes interno e externo. Para Vidigal e Nassif (2012, p. 98)
“considerando as ‘fontes de informação’, o trabalho de IC consiste em encontrar dados

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disponíveis a partir de fontes públicas ou até mesmo de dentro da própria organização”. A esse
levantamento informacional dá-se o nome de monitora
mento ambiental. Como destaca Oliveira (2016, p. 173), a atividade de monitoramento:
está no cerne da questão, e é o que irá garantir a obtenção de
informações estratégicas internas e externas que podem contribuir
sobremaneira para a mudança de rumo e o enfrentamento de desafios
para os quais a organização não tenha se atentado até então. Além disso,
favorece a previsibilidade de ações dos concorrentes e comportamentos
reativos e de posicionamento mais adequado.

Valentim (2002, não paginado) fala de três ambientes nas organizações: o que “está
ligado ao próprio organograma”, o “relacionado a estrutura de recursos humanos” e o
“composto pela estrutura informacional”. Para a autora, a partir do “reconhecimento desses três
ambientes [...], pode-se mapear os fluxos informais de informação existentes na organização,
assim como pode-se estabelecer fluxos formais de informação para consumo da própria
organização” (Loc. cit.).
O monitoramento da ambiência e o mapeamento dos fluxos de informação viabilizarão
ações adequadas e direcionadas da organização, amparando a tomada de decisão e os processos
de trabalho com o fornecimento de informação sensível, pontualmente trabalhada para
aplicação estratégica. Por conta disso, nenhuma fonte deve ser desprezada. Em resumo:

A inteligência competitiva necessita ter o mapeamento e a prospecção


de dados, informações e conhecimento produzidos internamente e
externamente à organização, conhecer profundamente as pessoas chave
da organização independentemente de cargos, assim como as pessoas
estratégicas fora da organização, saber quais setores/instituições
participam dos fluxos informacionais, formais e informais, tanto no
ambiente interno quanto externo à organização, estar sensíveis as
necessidades informacionais dos clientes internos e externos, visando
elaborar produtos e serviços informacionais de qualidade e direcioná-
los de forma adequada e, finalmente diminuir o stress informacional da
organização (VALENTIM, 2002, não paginado).

A inteligência competitiva se concretiza mediante etapas, cuidadosamente conduzidas.


Basicamente, inicia-se pelo planejamento, passa-se à coleta, depois à análise e finaliza-se com
a ação de disseminação. Parte-se, portanto, do conhecimento da necessidade informacional para
então direcionar-se ao levantamento de informações relevantes para a tomada de decisão; o

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momento seguinte envolve o trabalho sobre o conjunto obtido para tratamento e atribuição de
significado e a consequente distribuição ou repasse ao gestor que é o tomador de decisão e irá
se apropriar do conteúdo informacional para propósitos gerenciais específicos. Como destacam
Teixeira e Valentim (2016, p. 7):

Sem desconsiderar a importância das atividades de coleta,


armazenamento e análise de dados monitorados, evidencia-se que a
ICO parte da capacidade de transformação das informações apropriadas
pelos sujeitos organizacionais em conhecimentos estratégicos que,
quando compartilhadas e apropriadas pelo grupo de gestores
coletivamente, podem ser usadas para estabelecer planos de ação e
decisão empresarial, visando à obtenção de diferenciais e vantagem
competitiva.

3 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do estudo foi realizado um levantamento de artigos de


periódicos na BRAPCI, base de dados em Ciência da Informação composta por 53 revistas
científicas, com cerca de 16.800 artigos depositados em seu acervo. Como estratégia de busca
foi utilizado o termo “inteligência competitiva” no campo do assunto, com uma delimitação
entre os anos de 1997 a 2017, tendo como resultado 100 artigos.
Em seguida foi realizada uma leitura técnica dos documentos, a fim de retirar do
universo artigos nos quais a temática inteligência competitiva não fosse o cerne da pesquisa,
estando, portanto, tratada de forma secundária. Assim, chegou-se a uma amostragem de 32
publicações, nas quais o assunto central era, de fato, a IC.
Durante a seleção dos artigos – efetuada dentro do recorte de 20 anos – optou-se por
uma leitura técnica restrita ao título e ao resumo dos trabalhos que possibilitou compreender a
abrangência do assunto IC. Para melhor entendimento e considerando-se ainda os problemas
de redação de certos resumos, em alguns casos foi necessário deter-se a partes mais específicas
do texto, como: introdução, metodologia e apontamentos finais. Portanto 68 trabalhos não
fizeram parte do escopo da pesquisa por tratarem da temática de forma superficial, como dito
acima, ou terem foco direcionado a outras questões.
A amostragem foi constituída priorizando: artigos de periódicos, textos com o recorte
temporal estabelecido, trabalho com a IC enquanto temática central, produções escritas em

420
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

língua portuguesa e disponibilizadas na íntegra. A seleção foi importante por conta da existência
de textos digitalizados, estruturados como resenha, trabalhos sem vinculação a um periódico,
etc.
Com isso, o estudo bibliográfico envolveu as seguintes etapas: estabelecimento da
temática; determinação da base de dados para a pesquisa; busca na base pelo termo "Inteligência
Competitiva"; análise de conteúdo dos textos e sistematização dos dados em quadros e tabelas.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Apresentam-se a seguir os dados do eixo quantitativo e qualitativo, obtidos mediante


prospecção na literatura e trabalhados por meio de sistematização em quadros e via descrição,
subsidiada pela análise de conteúdo dos textos.

4.1 DADOS QUANTITATIVOS

As publicações sobre inteligência competitiva levantadas cobrem praticamente todo o


período estabelecido (vide quadro 1), iniciando no ano de 1999 e indo até 2017. Não há artigos
no tema apenas nos anos de 1997, 1998, 2000, 2001 e 2010.

Quadro 1 – Produções em IC e o destaque por ano.

Artigos Ano Autor(es)


Inteligência competitiva e a formação de 1999 Gilda Massari Coelho e Henri
recursos humanos no Brasil Dou
Inteligência competitiva em organizações: 2002 Marta Lígia Pomim Valentim
dado, informação e conhecimento
O processo de inteligência competitiva em 2003 Marta Lígia Pomim Valentim
organizações et. al.
Cultura organizacional do processo de 2004 Marta Lígia Pomim Valentim e
inteligência competitiva Luana Maia Woida

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Inteligência competitiva: uma revisão de 2005 Estera Muszkat Menezes


literatura
Modelo de estratégia de prospecção de 2006 Claudia Canongia, Maria de
setores intensivos em P&D: sinergias entre Nazaré Freitas Pereira e
inteligência competitiva (IC), gestão do Adelaide Antunes
conhecimento (GC), e foresight (f)
Influência da inteligência competitiva em 2006 José Márcio Castro e Paulo
processos decisórios no ciclo de vida das Gustavo Franklin de Abreu
organizações
A informação arquivística e o processo de 2007 Nádina Aparecida Moreno
tomada de decisão
Gestão de documentos: uma política 2007 Welder Antônio Silva e Patrícia
arquivística capaz de contribuir com um Kelly dos Santos
programa de inteligência competitiva
Estaremos cegos pelo ciclo da inteligência 2007 José Márcio
tradicional? Uma releitura a partir das Castro e
abordagens de monitoramento ambiental Paulo Abreu
Inteligência competitiva: o relato de dois 2008 Mônica Erichsen Nassif,
casos brasileiros Cristina Elisa Ribeiro e Mário
L. Caixeta
Mapeamento e gestão de competências em 2008 Roniberto Morato do Amaral,
inteligência competitiva Leonardo Guimarães Garcia e
Dário Henrique Alliprandini
Inteligência competitiva e suas conexões 2009 Ethel A. Capuano, Julio Casaes,
epistemológicas com gestão da informação Julio R. da Costa, Magda S. de
e do conhecimento Jesus e Marco Antonio
Machado
O profissional da informação em atividades 2009 Mônica Erichsen Nassif e Ester
de inteligência competitiva Laodicea Santos
Modelo de avaliação de risco do capital 2009 Paulo Henrique de Oliveira
humano em atividades de inteligência

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competitiva (marchaic): uma proposta


preliminar
Atuação do bibliotecário como profissional 2009 Maria Carolina Pinto e Paulo
de inteligência competitiva: caso Knowtec Carina de Araújo
Perfis de competências relativas à 2011 Roniberto M. Amaral, Leandro
inteligência competitiva: um estudo Innocentini L. Faria, José
exploratório no Brasil Ângelo R. Gregolin, Pedro C.
Oprime e Dário H. Alliprandini
Inteligência competitiva com enfoque 2011 Leonardo Guimarães Garcia
empreendedor: ensino e pesquisa na
graduação em ciência da informação
Monitoramento da informação e 2011 Wanda Aparecida Machado
inteligência competitiva: realidade Hoffmann
organizacional
Contribuição dos bibliotecários e cientistas 2012 Beatriz Alves de Sousa e
da informação no processo de geração de Edilene Toscano Galdino dos
inteligência competitiva nas organizações Santos
Produção científica sobre inteligência 2012 Valmira Perucchi e Rogério
competitiva da Faculdade de Ciência da Henrique de Araújo Júnior
Informação da Universidade de Brasília
Inteligência competitiva: metodologias 2012 Frederico Vidigal e Mônica
aplicadas em empresas brasileiras Erichsen Nassif
Análise bibliométrica dos temas 2013 Rogério Henrique de Araújo
inteligência competitiva, gestão do Júnior, Valmira Perucchi e
conhecimento e conhecimento Paulo Roberto Danelon Lopes
organizacional, no repositório institucional
da Universidade de Brasília
Inteligência competitiva e as práticas de 2013 Jacqueline Echeverría
gestão do conhecimento no contexto da Barrancos e Emeida Nóbrega
administração e da ciência da informação: Duarte
revelações da produção científica

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Contribuições da gestão da informação 2014 Paula Carina de Araújo e


para o subprocesso de coleta do processo de Newton Corrêa de Castilho
inteligência competitiva Júnior
Inteligência competitiva e cooperação na 2015 Patrícia Nascimento Silva e
percepção dos atores do arranjo produtivo Cristiana Fernandes de Muylder
local de software da região metropolitana
de Belo Horizonte
Panorama da inteligência competitiva no 2016 Roniberto M. Amaral, Aline G.
Brasil: os pesquisadores e a produção Cardoso Brito, Karin G. S.
científica na plataforma lattes Rocha, Luc Marie Quoniam e
Leandro Innocentini L. Faria
Inteligência competitiva: percepções e 2016 Alfredo Passos e Dolores Mota
práticas nas empresas da região autónoma Ferreira
dos açores
Inteligência competitiva organizacional: 2016 Thiciane Mary C. Teixeira e
um estudo teórico Marta Lígia Pomim Valentim
Gestão da informação, fluxos 2016 Vinícius Santarém e Márcia
informacionais e memória organizacional Cristina de Carvalho Pazin
como elementos da inteligência Vitoriano
competitiva
Inteligência competitiva e Ciência da 2016 Sirlene Pintro, William Barbosa
Informação: conexões epistemológicas Vianna e Gregório Varvakis
para tomada de decisão nas organizações
Evolução da inteligência competitiva com 2017 Renata Cristina Teixeira e
base em estudo métrico de sua literatura Cristina Souza

Fonte: elaborado pelas autoras (2017).

Pode-se observar que os anos de maior produção em IC são: 2016, com 5 artigos; e
2009, com 4 publicações. Os anos de 2007, 2011 e 2012 têm todos, 3 trabalhos publicados. Nas
demais ocasiões aparecem textos de forma mais escassa.

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Em se tratando dos autores que mais publicam na área de inteligência competitiva, tem-
se o seguinte panorama:

Quadro 2 – Autores que mais trabalharam a temática IC.

N° de
Autor Formação acadêmica na época da publicação
publicações
Marta Lígia Pomim Valentim 4 Dra. em Ciência da Informação e Documentação
Mônica Erichsen Nassif 3 Dra. em Ciência da Informação
Roniberto Morato Amaral 3 Dr. em Engenharia de Produção
Dário Henrique Alliprandini 2 Dr. em Engenharia Mecânica
José Márcio Castro 2 Dr. em Administração
Leonardo Guimarães Garcia 2 Dr. em Ciência e Engenharia dos materiais
Leandro Innocentini L. Faria 2 Dr. em Ciência e Engenharia dos materiais
Paula Carina de Araújo 2 Ma. em Ciência e Tecnologia da Informação
Rogério H. de Araújo Júnior 2 Dr. em Ciência da Informação
Valmira Perucchi 2 Doutoranda em Ciência da Informação

Fonte: elaborado pelas autoras (2017).

Com relação ao número de publicações destacam-se, no recorte temporal analisado, os


nomes de Valentim (4), Nassif (3) e Amaral (3). Outros 7 pesquisadores aparecem, mas com
menos artigos (2). Vale ressaltar que são ao todo 10 autores que se sobressaem por conta da
quantidade de produções em IC (vide quadro 2), aparecendo ora como autor principal ora como
coautor. Dentre eles apenas dois não possuíam o título de doutor à época – encontrou-se uma
mestra e uma doutoranda. A área de formação predominante destes é a Ciência da Informação.
Os demais autores (vide quadro 1) tiveram participação em apenas um artigo, em sua
maioria também possuíam doutorado – ou estavam em fase de doutoramento –, e as áreas de
formação mais recorrentes foram: Ciência da Informação, Administração, Engenharia de
Produção e Economia.

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Ainda na vertente quantitativa, analisaram-se os periódicos de Ciência da Informação


que mais publicaram artigos sobre inteligência competitiva, no que se observa que:

Quadro 3 – Revistas que mais publicaram em IC.

Publicações Qualis
Revista Científica Local
sobre IC 2015
Perspectivas em Ciência da Informação 5 A1 Belo Horizonte – MG
DataGramaZero 5 B3 Rio de Janeiro – RJ
Ciência da Informação 4 B1 Brasília – DF
Perspectivas em Gestão & Conhecimento 4 B1 João Pessoa – PB
Informação & Informação 3 A2 Londrina – PR
Encontros Bibli 2 A2 Florianópolis – SC
InCID 2 B1 Ribeirão Preto – SP
Revista ACB 2 B2 Florianópolis – SC
Informação & Sociedade 1 A1 João Pessoa – PB
Em Questão 1 A2 Porto Alegre – RS
Revista Digital de Biblioteconomia e CI 1 B1 Campinas – SP
Revista de Biblioteconomia de Brasília 1 N/E81 Brasília – DF
Arquivística.net 1 N/E Rio de Janeiro – RJ

Fonte: elaborado pelas autoras (2017).

Como indica o quadro acima, os 32 artigos analisados distribuem-se em 13 revistas


distintas. Perspectivas em Ciência da Informação e DataGramaZero destacam-se cada qual com
5 publicações. Na sequência aparecem Ciência da Informação e Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, com 4 artigos cada.
Nesse sentido, percebe-se o predomínio de trabalhos sobre IC em periódicos A1, A2 e
B1, conforme o Qualis de 2015. Observa-se ainda, pela vinculação e localização da revista

81
Qualificação não encontrada no Qualis Periódicos. Disponível em: <https://sucupira.capes.gov.br/
sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf>.
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científica, que a região Sudeste se destaca das demais (43,75%), seguida das regiões Sul (25%),
Centro-Oeste (15,65%) e Nordeste (15,65%).

4.2 DADOS QUALITATIVOS

A análise detida do conteúdo dos artigos, que permitiu verificar a forma de abordagem
das produções, revelou que a maioria dos trabalhos são de caráter teórico, ou seja, estudos
voltados à literatura publicada sobre o tema. Dentre os 32 artigos analisados, 21 abordam a IC
de forma teórica e apenas 11 de maneira prática, com coleta de dados em campo.
Observou-se a recorrência de artigos com o viés teórico que perpassavam por dois
grandes eixos em termos metodológicos, sendo eles: revisões de literatura e estudos métricos.
A forma de abordagem da inteligência competitiva nos estudos de ordem teórica é distinta.
As revisões de literatura expõem tanto os conceitos, ciclos e/ou profissionais da IC,
quanto os pontos de convergência entre a inteligência competitiva e outras temáticas, como
gestão de documentos e Ciência da Informação. Também foi encontrada uma revisão acerca da
informação como ferramenta auxiliar à tomada de decisão. Despontam aqui as vertentes
conceitual, estrutural, integrativa e profissional de pesquisa sobre inteligência competitiva.
Nas pesquisas ditas integrativas de IC, em geral, trabalha-se com os processos ou
componentes essenciais para uma aplicação adequada da mesma, como: gestão da informação,
gestão do conhecimento, cultura organizacional, memória organizacional, prospecção e
monitoramento, fluxos informacionais, avanços tecnológicos e o trinômio dado, informação e
conhecimento. Tais investigações aparecem em bom número.
Também se observa um conjunto de estudos que foram produzidos acerca das
disciplinas ofertadas com a temática IC em graduações em Ciência da Informação e o cenário
que a mesma tem no contexto acadêmico, assim como as competências que são necessárias aos
profissionais formados na área. Evidencia-se aqui a vertente acadêmica de pesquisa em
inteligência competitiva.
Já os artigos constituídos a partir de estudos métricos demonstram que foram
desenvolvidos com o intuito de perceber a recorrência da temática inteligência competitiva em
produções científicas, a formação acadêmica dos pesquisadores da área, assim como sua
vertente de atuação. Percebe-se ainda a presença de produções que almejam identificar a prática

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

de gestão do conhecimento ao longo do processo de IC. De tal modo, destaca-se novamente a


vertente profissional de pesquisa em inteligência competitiva.
Com isso, os trabalhos de ordem teórica assumem uma característica ora conceitual, ora
estrutural, integrativa, acadêmica e mesmo profissional. Nesse sentido, evidencia-se que a
inteligência competitiva é discutida a partir de vertentes variadas nos artigos de periódicos,
situação que favorece o desdobramento do assunto e sua própria consolidação enquanto área de
estudo e prática organizacional.
Por sua vez, os trabalhos de natureza prática que integram a amostragem desta pesquisa
podem ser compreendidos em termos metodológicos sob dois grandes eixos, sendo eles: estudos
de caso e multicasos. Considerou-se como estudo de caso pesquisas com um ou dois objetos de
estudo, e como multicasos pesquisas com três ou mais objetos.
Os estudos de caso analisados buscam entender o processo de inteligência competitiva
– as etapas – em determinadas organizações, a contribuição da gestão da informação para o
processo e, a importância da atuação do profissional bibliotecário na ambiência organizacional,
capacitado para desenvolver e aplicar a IC. Mais uma vez despontam as vertentes estrutural,
integrativa e profissional de pesquisa.
Já nos multicasos percebe-se a presença de duas vertentes de abordagem prática. A
primeira voltada aos profissionais da informação, em que tenciona-se salientar de que maneira
utilizam o ciclo da IC e quais são as competências, habilidades e o perfil dos mesmos no
contexto organizacional. Na segunda vertente dos multicasos nota-se que os artigos se voltam
ao ambiente da organização, na intenção de avaliar as percepções e práticas da inteligência
competitiva, analisar o compartilhamento de informações estratégicas, além de elucidar qual a
contribuição da aplicação do processo para a organização como um todo. Os eixos profissional
e integrativo de pesquisa são, portanto, os destaques. Mas aparece também a vertente
organizacional de estudo em IC.
O que se constata no caso das pesquisas práticas é, então, uma perspectiva ora estrutural,
ora integrativa ou profissional. Além do que aparece uma abordagem não constatada nos
estudos teóricos: a organizacional, que aparece em bom número nas pesquisas multicasos sobre
IC.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A pesquisa evidenciou que nas duas últimas décadas a inteligência competitiva vem
sendo trabalhada com mais recorrência pelos pesquisadores de maneira teórica (65,62%) e que
as produções científicas que começaram a ser produzidas de forma tímida na primeira década
– 1997 a 2007 – abordada pelo estudo (31,25%), aumentaram de forma significativa sua
abrangência desde então (68,75%). Em bases gerais tem-se um desenvolvimento considerável
do tema em publicações nacionais da área de Ciência da Informação.
Quanto à identificação de como a IC vem sendo abordada pode-se destacar a evidência
de que há uma diversidade de estudos, a maioria dos quais teóricos, apesar de pesquisas de
ordem prática também aparecerem em bom número, mas em menor quantidade em relação aos
primeiros. Infere-se, portanto, que os pesquisadores da Ciência da Informação têm se dedicado
a investigar inteligência competitiva mediante prospecção na literatura, mas também a partir de
constatações em campo.
Nota-se uma tendência teórica pautada na compreensão do processo, o que permite
inferir que a comunicação científica em IC se estabelece sob bases epistemológicas. Esse
cenário é extremamente favorável, posto que contribui para que o assunto avance, ganhe novas
interpretações, se fundamente a partir de novas bases e eixos conceituais, e acima de tudo,
encontre eco para desdobramentos nas mais distintas vias que cercam o tema.
Como destacado na análise, há produções com perspectiva conceitual, estrutural, integrativa,
acadêmica e profissional, no caso das investigações teóricas. Ainda assim, algumas pesquisas
práticas em IC dedicam-se a uma perspectiva organizacional. Logo a abrangência da
inteligência competitiva em artigos é enorme, reunindo desde conteúdos acerca das etapas que
compõem o ciclo da inteligência conforme a literatura, até a aplicação prática da mesma na
ambiência organizacional, por exemplo.
É observado que os artigos teóricos assim como os práticos, em sua maioria, se iniciam
de maneiras análogas. Antes de começarem a discorrer sobre a temática IC propriamente dita,
apresentam um panorama geral acerca dos avanços tecnológicos das últimas décadas e como
estes influenciam o cenário contemporâneo. Isso visto que os referidos avanços estão
diretamente ligados ao acirramento competitivo do mercado, operando tanto como causa, como
solução da conjuntura.
Novos estudos podem aprofundar a análise para além de artigos de periódicos, buscando
estabelecer maior fundamentação sobre os eixos aqui delimitados para a IC. Além disso outras

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investigações podem estabelecer discussões de assuntos correlatos, como: gestão da informação


e do conhecimento; aprendizagem organizacional; informação estratégica; etc.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO JÚNIOR, Rogério Henrique de; PERUCCHI, Valmira; LOPES, Paulo Roberto
Danelon. Análise bibliométrica dos temas inteligência competitiva, gestão do conhecimento e
conhecimento organizacional, no repositório institucional da Universidade de Brasília.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 18, n. 4, p. 54-69, out./dez.
2013.

ARAÚJO JÚNIOR, Rogério Henrique de; SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de;
ALBUQUERQUE, Sérgio Farias de. Métodos, técnicas e instrumentos de organização e
gestão da informação nas organizações. In: BAPTISTA, Dulce Maria; ARAÚJO JÚNIOR,
Rogério Henrique de (Orgs.). Organização da informação: abordagens e práticas. Brasília,
DF: Thesaurus, 2015. p. 44-68.

OLIVEIRA, Lais Pereira de. Contribuição integrada entre gestão documental e Inteligência
Competitiva nas organizações. Acesso Livre, Rio de Janeiro, n. 5, jan./jun. 2016.

PERUCCHI, Valmira; ARAÚJO JÚNIOR, Rogério Henrique de. Produção científica sobre
inteligência competitiva da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 37-56, abr./jun.
2012.

PLATAFORMA sucupira. Disponível em:


<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/lista
ConsultaGeralPeriodicos.jsf>. Acesso em: 28 maio 2017.

TARAPANOFF, Kira (Org.). Inteligência organizacional e competitiva. Brasília: Ed. UnB,


2001.

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TEIXEIRA, Thiciane Mary Carvalho; VALENTIM, Marta Lígia Pomim. Inteligência


competitiva organizacional: um estudo teórico. Perspectivas em Gestão & Conhecimento,
João Pessoa, v. 6, número especial, p. 3-15, jan. 2016.

TRIGO, Miguel R.; SOARES, Bruno; QUONIAM, Luc Marie. Inteligência competitiva e
inovação estratégica: a IC acompanhando a evolução mundial. In: STAREC, Claudio (Org.).
Gestão da informação, inovação e inteligência competitiva: como transformar a
informação em vantagem competitiva nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 59-78.

VALENTIM, Marta Lígia Pomim. Inteligência competitiva em organizações: dado,


informação e conhecimento. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 3, n. 4, ago. 2002.

VALENTIM, Marta Lígia Pomim; et. al. O processo de inteligência competitiva em


organizações. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 1-23, jun. 2005.

VIDIGAL, Frederico; NASSIF, Mônica Erichsen. Inteligência competitiva: metodologias


aplicadas em empresas brasileiras. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n. 1, p. 93-119, jan./jun. 2012.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O CÓDIGO DE ÉTICA DO BIBLIOTECÁRIO: diálogo necessário com o campo de


atuação profissional

GERMANO JÚNIOR, Manoel Messias Soares82


GUERRA, Maria Aurea Montenegro Albuquerque83
SANTOS, Thaiana Barros dos84

RESUMO
Apresenta uma análise dos Códigos de Ética do Bibliotecário do Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB) e da Federação Internacional de Associações de Bibliotecas e
Instituições para Bibliotecários e outros Profissionais da Informação (IFLA), ressaltando suas
semelhanças e diferenças. Procurar despertar no futuro bibliotecário a busca por uma
consciência ética, não voltada exclusivamente para uma ética normativa, apresentada pelo
código de ética profissional, mas também uma ética orientativa apresentada pelo código de ética
da IFLA. Para fins de obtenção e análise dos dados, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica
abordando questões básicas como ética e ética profissional. Tem finalidade de levantar uma
reflexão sobre a importância do estudo da ética profissional bibliotecária. Conclui-se
ressaltando a necessidade de se discutir dentro dos meios acadêmico e profissional, buscando
intensificar as reflexões sobre o fazer bibliotecário.
Palavras-chave: Ética. Ética profissional. Código de Ética do Bibliotecário. Código de Ética
da IFLA.

THE CODE OF ETHICS OF THE LIBRARIAN: necessary dialogue in the professional


work

ABSTRACT

It presents an analysis of the Code of Ethics of the Librarian of The Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB) and of The International Federation of Library Associations and
Institutions (IFLA), highlighting their similarities and differences. To seek to awaken in the
future librarian the search for an ethical conscience, not exclusively focused on a normative
ethics, presented by the code of professional ethics, but also a guiding ethics presented by the
IFLA code of ethics. In order to obtain and analyze the data, a bibliographic research was used,
addressing basic questions such as ethics and professional ethics. It has the purpose of raising
a reflection about the importance of the study of professional librarian ethics. It concludes by

82
Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:
manoelmessiasufc@gmail.com
83
Doutoranda em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora do Curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: aureamag@yahoo.com
84
Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: thaianabds@gmail.com
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emphasizing the need to discuss within the academic and professional milieu, seeking to
intensify the reflections on the making of librarians.

Keywords: Ethic. Professional ethics. Code of Ethics of the Librarian. IFLA Code of Ethics..

1 INTRODUÇÃO

A ideia do fazer bibliotecário como atividade multidisciplinar, no sentido de lidar com


informações de diversas áreas, nos faz esquecer que o pluralismo cultural não se limita apenas
na diversidade de assuntos, mas também os modos em como lidar com o público/usuário.
Nesse âmbito, surge a necessidade de criar códigos de conduta que tenham como
finalidade promover a boa convivência do profissional com sua a profissão e com sociedade
em que ele está inserido. Ao nosso redor, percebemos que, por toda parte, há sempre códigos,
normas dentre outros que norteiam as atividades dos profissionais e também dos indivíduos que
fazem parte daquele ambiente. Focando-se apenas nos “Códigos de Ética”, vemos que eles
estabelecem deveres e ditam normas que devem ser obedecidos por determinadas pessoas,
grupos ou mesmo nações.
Entretanto, levando-se em consideração que o ser humano já nasce inserido em uma
sociedade com valores éticos enraizados, por qual motivo o profissional necessita de um Código
de Ética, se esses valores são incorporados ao ser humano no decorrer de sua construção
cultural.
Tendo como foco a ética, o presente trabalho tem como objetivo trazer uma visão entre
dois principais códigos de ética dos bibliotecários: o Código de Ética do Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB) e o Código de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais
da informação. A criação dos Códigos de Ética Profissional do Bibliotecário e também o
Código de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais da informação, esse último
em âmbito mundial, norteiam as suas atividades, de acordo com os seus direitos e deveres.
Através desse estudo buscamos contribuir para futuras discussões sobre essa temática
para que se tornem recorrentes nas rodas de conversas científicas e profissionais da área.

2 METODOLOGIA

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O presente trabalho se consiste de um estudo teórico do tipo exploratório, com uma


abordagem qualitativa e como procedimento técnico adotado a pesquisa bibliográfica.
A pesquisa qualitativa permite descrever a complexidade de um determinado problema
estabelecido, na contribuição para a interação de certas variáveis, possibilitando a compreensão
e a classificação dos processos dinâmicos vivenciados por grupos sociais, nas mudanças
individuais, contribuindo para um nível aprofundado de entendimento das particularidades de
cada um. (DIEHL; TATIM, 2004).
A pesquisa tem uma abordagem exploratória que de acordo com Gil (1993) induz uma
maior familiaridade com o problema, contribuindo para uma apresentação de forma explícita e
apta para construção de hipóteses.
Severino (2007, p.122) afirma que a pesquisa bibliográfica é baseada:

[...] a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores,


em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de
dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores
e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições
dos autores dos estudos constantes dos textos.

Caracteriza-se também como pesquisa documental, de acordo com Severino (2007),


pois tivemos como corpus documental para análise o Código de Ética do Conselho Federal de
Biblioteconomia (CFB) e o Código de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais
da informação.
Neste sentido, serão expostos diferentes conceitos de teóricos das áreas da
Biblioteconomia e da Filosofia nos conceitos de ética e ética profissional, que darão
embasamento para as nossas argumentações, além de apresentar aos códigos de ética do
Conselho Federal de Biblioteconomia e da IFLA com o objetivo de compará-los e identificar
quais são as semelhanças e diferenças entre eles.

3 ÉTICA

Ética é um termo que tem origem no grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa).
É um termo que está ligado à política e justiça. Quando falamos em política, nos referimos não
só à política em sentido ideológico e/ou partidário, mas de regras de convivência em grupo e
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

sociedade. Caso essas regras de conduta não sejam respeitadas é necessário que haja punição
ao infrator, nesse caso se faz “justiça”.
Segundo Germano Júnior, Guerra e Santos (2016, p.3)

Para se viver em harmonia em uma comunidade e na cidade é necessária


uma política de conduta (normas e leis) e que essa conduta seja
executada (justiça). Caso o indivíduo inflija essa política de conduta
deverá ser punido. Essas punições variam conforme a gravidade do
ocorrido, a comunidade e a época.

Ética é a ciência do comportamento humano. Segundo Acis (2017, p. 21) ética é “[...] de
caráter universal, trata-se do estudo do juízo de valores referentes à conduta humana, suscetível
de qualificação de ponto do bem e do mal universal”. Nas relações humanas, principalmente no
âmbito profissional, é primordial que sejamos éticos com nossos pares. Não devemos prejudicar
os outros, devemos observar e cumprir os códigos de ética de classe e das instituições em que
atuamos.
É nosso dever sermos éticos e procuramos uma boa convivência pautada nos princípios
dos direitos e deveres. Ser ético é agir corretamente em qualquer adversidade da vida seja em
âmbito familiar, privado, profissional e público.
De acordo com Acis (2017, p 20) “[...] pode-se afirmar que todo “código de ética”
existente não passa de um “código de moral ou de conduta”, pois a ética está acima de
qualquer código”. Ou seja, devemos ser éticos independentemente da existência de códigos de
ética para nos orientar.
Infelizmente, no Brasil o ensino de ética é muito deficitário. Algumas pessoas só obtém
o ensino sobre esse assunto no período do Ensino Médio ou apenas quando chegam ao Ensino
Superior através das disciplinas introdutórias de Filosofia e de Ética Profissional.
Durante a Ditadura Militar a disciplina de Filosofia foi retirada das escolas públicas. E no
lugar desta foi posto o ensino de “Moral e Cívica” de maneira alienadora e superficial. No ano
de 2006 a disciplina foi reintroduzida de maneira não muito efetiva nas escolas. E novamente
no ano de 2017, a disciplina de Filosofia juntamente com História e Sociologia, foi retirada por
meio de Medida Provisória da “Reforma do Ensino Médio”.
Isso faz com que o entendimento do que é ética para alguns indivíduos seja de difícil
compreensão. Desse modo, se faz necessário que o tema “ética” faça parte das matrizes

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

curriculares desde o Ensino Básico até o Ensino Superior.

4 ÉTICA PROFISSIONAL

A ética profissional tem origem na Grécia Antiga em uma época em que as organizações
de trabalho não eram norteadas pelas profissões, mas pelo trabalho escravo. Os escravos
elaboravam regras de condutas que deveriam terem entre si e com seus amos.
Já durante a Idade Média, as Corporações de Ofícios e Ligas de Comércio tinham suas
próprias regras de conduta profissional. Essas entidades surgiram com a necessidade de
fortalecer e regulamentar os ofícios dos artesãos e comerciantes que se uniam essas entidades
para defender seus interesses.
As associações e conselhos de classe são provenientes dessas corporações e ligas da Idade
Média, assim como seus códigos de éticas dos conselhos também provinham das regras de
condutas dessas entidades.
De acordo com ermano Júnior, Guerra e Santos (2016, p.5)

Desde a sua origem nas Corporações de Ofícios até os atuais códigos


de ética profissional de classe guardado e executado pelos conselhos de
classe; como Conselho Federal de Biblioteconomia, Conselho Federal
de Contabilidade, Conselho de Enfermagem, Conselho de Medicina e
entre outras, e suas seções regionais e/ou estaduais, o código de ética
tem como fim nortear os princípios que determinado grupo deverá
utilizar como referência para suas ações profissionais.

O bibliotecário que atua em âmbito nacional deve cumprir e observar o Código de Ética
do CFB, pois em caso de descumprimento o profissional pode receber sanções. Também este
deve estar atento ao código de conduta ou de ética da instituição para não sofrer punições.
Também é de boa conduta ética observar o Código de Ética da IFLA apesar de não ter o
mesmo caráter punitivo dos anteriores. O bibliotecário que não age de maneira ética, além de
não ser bem visto por seus colegas corre o risco de perder ótimas oportunidades profissionais
por essa conduta. A conduta ética contribuir para alargamento do networking do profissional.
Também é de suma importância que o acadêmico de Biblioteconomia observe os códigos
de ética do CFB e da IFLA em seus estágios, pois o mesmo é considerado um primeiro contato
do acadêmico com o mundo profissional. Um estagiário que atua observando os códigos de

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ética tem muito mais chances de crescer profissionalmente.

4.1 Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia

O Conselho Federal de Biblioteconomia é um órgão deliberativo de fiscalização, também


chamada de autarquia corporativa, que atua no exercício de fiscalizar a atividade profissional
relacionada à profissão de bibliotecário. O CFB foi criado pela Lei nº 4.084, de 30 de junho de
1962 e regulamentado pelo Decreto Lei nº 56.725, de 16 de agosto de 1965. Como documento
de orientação da postura ética que o bibliotecário deve ter em suas atividades profissionais em
âmbito nacional, o conselho elaborou a Resolução CFB Nº 42 de Janeiro de 2002.
Logo no início, na Seção I – Dos objetivos, no Artigo 1 diz que “ O Código de Ética
Profissional tem por objetivo fixar normas de conduta para as pessoas físicas e jurídicas que
exerçam as atividades profissionais em Biblioteconomia [...]”.(CFB, 2002)
Das infrações que podem ser aplicadas aos profissionais que descumprem o código de
ética na Seção V – das Infrações Disciplinares e Penalidades diz

Art.13 - A transgressão de preceito deste Código, constitui infração


ética, sujeita às seguintes penalidades:
a) advertência reservada;
b) censura pública;
c) suspensão do registro profissional pelo prazo de até três anos;
d) cassação do exercício profissional com apreensão de carteira
profissional;
e) Multa de 1 a 50 (cinquenta) vezes o valor atualizado da anuidade.
§ 1º - A pena de multa, de um a cinqüenta vezes o valor atualizado da
anuidade, poderá ser combinada com qualquer das penalidades
enumeradas nas alíneas “a a d” deste artigo, podendo ser aplicada em
dobro no caso de reincidência.
§ 2º - A falta de pagamento da multa no prazo estipulado, determinará
a suspensão do exercício profissional, sem prejuízo da cobrança por via
executiva.
§ 3º - A suspensão por falta de pagamento de anuidade, taxas e multas
somente cessará com o recolhimento da dívida, podendo estender-se
por até três anos, decorridos os quais o profissional terá,
automaticamente, cancelado o seu registro, se não resgatar o débito,
sem prejuízo da cobrança executiva.
§ 4º - A pena de cassação do registro profissional acarretará ao infrator
a perda do direito de exercer a profissão em todo Território Nacional, e
conseqüente apreensão da carteira de identidade profissional.

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§ 5º - Ao infrator suspenso por débito será admitida a reabilitação


profissional, mediante novo registro, satisfeitos, além das anuidades em
débito, as multas e demais emolumentos e taxas cabíveis.
§ 6º - As penalidades serão anotadas na carteira profissional e no
cadastro do CRB, sendo comunicadas ao CFB, demais Conselhos
Regionais e ao empregador.
Art.14 - Compete originalmente aos CRB o julgamento das questões
relacionadas a transgressão de preceito do Código de Ética, facultado o
recurso de efeito suspensivo, dirigido ao CFB, competindo a este, ainda,
originalmente, o julgamento de questões relacionadas à transgressões
de preceitos do Código de Ética praticadas por Conselheiros Regionais
e Conselheiros Federais, bem como transgressões de bibliotecários que
atinjam diretamente o Conselho Federal.
Parágrafo Único - O recurso deverá ser interposto dentro do prazo 30
(trinta) dias a contar da data do recebimento da notificação da decisão
de primeira instância. (CFB, 2002)

O descumprimento do código pode trazer consequências seriíssimas para a atuação


profissional do bibliotecário. A cassação do registro profissional é a mais extrema sanção, pois
significa a proibição do indivíduo de pode atuar como bibliotecário legalmente em território
nacional.
O Código de Ética do CFB também dá direito de defesa ao bibliotecário. Caso o mesmo
considere a punição indevida ou severa, pode recorrer ao Conselho Regional da sua região ou
em último caso ao Conselho Federal, pois o código garante o direito de defesa ao profissional,
desde que respeitando os princípios dispostos na Constituição Federal.

4.2 Código de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais da informação

A International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) é o principal


órgão internacional que representa os interesses das pessoas ligadas as bibliotecas e aos
profissionais da informação. Uma organização independente, não-governamental e sem fins
lucrativos, a IFLA foi fundada em 30 de setembro de 1927 na Reunião Anual da UK Library
Association em Edimburgo, na Escócia, e mantém sede na Biblioteca Nacional dos Países
Baixos em Haia.
Para orientar os bibliotecários e outros profissionais da informação em como agir

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

eticamente nas suas ações como também ajudar as associações85 da classe biblioteconômica a
elaborarem seus próprios códigos de ética, a IFLA elaborou um documento intitulado “Código
de Ética da IFLA para bibliotecários e outros profissionais da informação”.
Já no preâmbulo do documento, diz-se qual é sua função:

Este Código de Ética e de Conduta Profissional apresenta uma série de


recomendações éticas para a orientação de bibliotecários e profissionais
da informação, bem como, para apreciação de Associações de
Bibliotecas e instituições afins quando criarem ou revisarem seus
próprios códigos.
A função dos códigos de ética pode ser descrita como: Estímulo para
reflexão sobre os princípios nos quais os bibliotecários e outros
profissionais da informação podem formular políticas e lidar com
dilemas;
Melhoria da autoconsciência profissional;
Oferecimento de transparência para os usuários e sociedade em geral.
Este código não pretende substituir os códigos existentes ou remover a
obrigação das associações profissionais de desenvolverem seus
próprios códigos por meio de processos de pesquisa, consulta e
elaboração cooperativa. A conformidade total com este código não é
esperada.
Este código é oferecido na convicção de que:
A Biblioteconomia é, em sua essência, uma atividade ética,
incorporando alto valor agregado ao trabalho profissional com
informações. A necessidade de compartilhar ideias e informação
tornou-se mais importante com o aumento da complexidade da
sociedade nos últimos séculos, fornecendo subsídios para as bibliotecas
e para a prática da Biblioteconomia.
O papel das instituições e profissionais, incluindo bibliotecas e
bibliotecários, na sociedade moderna, é apoiar e aperfeiçoar o registro
e a representação da informação e fornecer o acesso.
Os serviços de informação de interesse social, cultural e de bem-estar
econômico estão no coração da Biblioteconomia e, consequentemente,
os bibliotecários têm responsabilidade social. (IFLA, 2012, p.1)

É missão dos bibliotecários e outros profissionais da informação garantir a luta


contra censura da informação as pessoas. Esses profissionais também devem lutar para que os
preços dos serviços da biblioteca sejam gratuitos ou mais acessíveis:

A missão principal dos bibliotecários e outros profissionais da

85
Associações de classe no sentido que além de associações inclui também os conselhos e sindicatos de
classe. O termo associação aqui tem o mesmo sentido de entidades de classe.
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informação é assegurar o acesso à informação para todos no sentido de


seu desenvolvimento pessoal e educacional, enriquecimento cultural,
lazer, atividade econômica, participação informada e reforço da
democracia.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação rejeitam a
negação e a restrição do acesso à informação e ideias, mais
particularmente, por meio de censura, seja por estados, governos,
religiões ou instituições da sociedade civil.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação que oferecem
serviços ao público devem fazer todo esforço para oferecer acesso às
suas coleções e serviços gratuitos aos usuários. Se taxas administrativas
e de filiação são inevitáveis, eles devem mantê-las o mais acessível
possível, e encontrar soluções práticas para que as pessoas de classes
sociais menos favorecidas não sejam excluídas.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação promovem e
divulgam suas coleções e serviços para que seus usuários ou usuários
potenciais estejam conscientes da sua existência e disponibilidade.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação usam às práticas
mais efetivas para deixar o material disponível para todos. Para este
propósito eles buscam assegurar que websites de bibliotecas e outras
instituições de informação obedeçam aos padrões internacionais de
acessibilidade e que o acesso aos mesmos não esteja sujeito a barreiras.
(IFLA, 2012, p.2-3)

Os bibliotecários e outros profissionais da informação devem preservar e respeitar


a privacidade e sigilo dos usuários que utilizam a unidade de informação:

Os bibliotecários e outros profissionais da informação respeitam a


privacidade pessoal e a proteção de dados pessoais, necessariamente
compartilhadas entre indivíduos e instituições.
A relação entre a biblioteca e o usuário é de confidencialidade. Os
bibliotecários e outros profissionais da informação tomarão medidas
que assegurem que os dados do usuário não sejam compartilhados além
da transação original.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação apoiam e atuam
para assegurar a transparência para que as atividades do governo,
administração e negócios sejam operadas para o escrutínio do público
geral. Eles também reconhecem que é de interesse público que a
corrupção, má conduta e crime sejam expostos no que constitui quebra
de confidencialidade pelos chamados 'informantes’. (IFLA, 2012, p.3-
4)

Além disso, devemos ser defensores dos padrões abertos de registros de


informação, e como também respeitarmos o direito autoral:

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O interesse dos bibliotecários e outros profissionais da informação é


oferecer o melhor acesso possível à informação, em qualquer mídia ou
formato. Isto inclui apoiar os princípios de acesso aberto, código fonte
aberto e licenças abertas.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação visam fornecer
acesso justo, rápido, econômico e eficaz da informação aos usuários.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação devem defender
exceções e limitações das restrições de copyright para bibliotecas.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação são parceiros dos
autores, editores e de outros criadores de trabalhos com proteção de
copyright. Os bibliotecários e outros profissionais da informação
reconhecem o direito de propriedade intelectual dos autores e outros
criadores e buscarão assegurar que seus direitos sejam respeitados.
(IFLA, 2012, p.5)

Além disso, também são dispostos no código o tratamento de nossos colegas de área
com justiça e respeito:

Os bibliotecários e outros profissionais da informação tratam uns aos


outros com justiça e respeito.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação opõem-se à
discriminação de qualquer aspecto no emprego devido à idade,
cidadania, crença política, condição física ou mental, gênero, situação
matrimonial, origem, raça, religião ou orientação sexual.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação promovem o
pagamento e benefícios igualitários para homens e mulheres que
ocupam serviços similares.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação compartilham
sua experiência profissional com os colegas e ajudam e guiam novos
profissionais a entrar na comunidade profissional e a desenvolver suas
habilidades. Eles contribuem com atividades de sua associação
profissional e participam em pesquisas e publicações sobre assuntos
profissionais.
Os bibliotecários e outros profissionais da informação lutam para
ganhar reputação e status baseado no seu profissionalismo e
comportamento ético. Eles não competem com colegas com o uso de
métodos injustos (IFLA, 2012, p.6).

Apesar de não tem um valor legal como o Código de Ética Profissional do CFB, é
um documento de orientação ética internacional das atividades biblioteconômicas e é de suma
importância que bibliotecários e entidades de classe da área sigam suas orientações.

5 AS DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE OS CÓDIGOS DE ÉTICA

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

O Código de Ética do CFB tem valor normativo, ou seja, tem força de regra, e é
elaborado para nortear a conduta profissional de bibliotecários que atuam em território nacional.
Caso um bibliotecário infrinja o Código de Ética do CFB está sujeito a sofrer sanções sendo a
mais grave a cassação do registro profissional e o impedimento legal de exercício da profissão.
Já o Código de Ética da IFLA apresenta um valor orientativo para bibliotecários e
profissionais da informação, bem como para as instituições de classe ligadas a estas
(associações, conselhos, sindicatos etc.), que criam seus próprios códigos de ética. Apesar de
não ter valor normativo, como o Código Ética do CFB, é recomendado que ele seja devidamente
observado pelo profissional bibliotecário.
Entre semelhanças entre os códigos encontramos o repúdio a corrupção e à
discriminação. Segundo o Código de Ética do CFB sobre a corrupção diz

Art. 12 - Não se permite ao profissional de Biblioteconomia, no desempenho de suas


funções:
a) praticar, direta ou indiretamente, atos que comprometam a dignidade
e o renome da profissão;
b) nomear ou contribuir para que se nomeiem pessoas sem habilitação
profissional para cargos privativos de Bibliotecário, ou indicar nomes
de pessoas sem registro nos CRB;
c) expedir, subscrever ou conceder certificados, diplomas ou atestados
de capacitação profissional a pessoas que não preencham os requisitos
indispensáveis ao exercício da profissão;
[...]
e) violar o sigilo profissional;
f) utilizar a influência política em benefício próprio;
g) deixar de comunicar aos órgãos competentes as infrações legais e
éticas que forem de seu conhecimento;
h) deturpar, intencionalmente, a interpretação do conteúdo explícito ou
implícito em documentos, obras doutrinárias, leis, acórdãos e outros
instrumentos de apoio técnico do exercício da profissão, com intuito
de iludir a boa fé de outrem;
[...]
j) permitir a utilização de seu nome e de seu registro a qualquer
instituição pública ou privada onde não exerça, pessoal ou
efetivamente, função inerente à profissão;
l) assinar trabalhos ou quaisquer documentos executados por terceiros
ou elaborados por leigos, alheios a sua orientação, supervisão e
fiscalização;
m) exercer a profissão quando impedido por decisão administrativa
442
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transitada em julgado;
n) recusar a prestar contas de bens e numerário que lhes sejam confiados
em razão de cargo, emprego ou função;
o) deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos
Conselho Federal e Regionais, bem como deixar de atender a suas
requisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo
determinado;
p) utilizar a posição hierárquica para obter vantagens pessoais ou
cometer atos discriminatórios e abuso de poder; (CFB, 2002).

Já o Código de Ética da IFLA sobre a corrupção afirma que:

“Os bibliotecários e outros profissionais da informação opõem-se


diretamente à corrupção que afeta a Biblioteconomia, tanto na fonte de
recursos, quanto no suprimento de materiais de biblioteca, nomeações
para cargos de biblioteca e administração de contratos de biblioteca e
finanças” (IFLA, 2012, p.6).

O bibliotecário corrupto além de estar passível de sanção pelo Código de Ética do


CFB, pode sofrer punições administrativas como também judiciais conforme a legislação
vigente. E Código de Ética da IFLA reforça essa posição do Código de Ética do CFB apesar de
não recomendar sanções.
Ainda no art°12 no item “r” do Código de Ética do CFB sobre a discriminação diz-se
que o bibliotecário não deve:

“r) aceitar qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de


admissão por sexo, idade, cor, credo, e estado civil” (CFB, 2002).

Afirma o Código de Ética da IFLA que como bibliotecários devemos promover a


inclusão e erradicar a discriminação:

“Para promover a inclusão e erradicar a discriminação, os bibliotecários


e outros profissionais da informação asseguram que o direito de acesso
à informação não pode ser negado e que serviços equitativos são
fornecidos para qualquer pessoa de qualquer idade, nacionalidade,
crença política, condição física ou mental, gênero, descendência,
educação, renda, condição imigratória ou de asilo, situação
matrimonial, origem, raça, religião e orientação sexual.” (IFLA, 2012,
p.2).

Nos dias de hoje não é aceitável um bibliotecário que seja discriminatório e


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preconceituoso com seus colegas de profissão e usuários. Afirma Germano Júnior, Guerra e
Santos (2016, p.6)
No século XXI é inaceitável qualquer tipo de discriminação. No caso
de discriminação por “cor” quem comete essa inflação pode responder
por injúria racial está prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código
Penal ou crime de racismo, previsto na Lei nº. 7.716/1989. Além disso,
o profissional pode sofrer ações administrativas na instituição em que
atuar e em casos extremos podendo ser desligado.

O bibliotecário que tem posturas discriminatórias age de forma reprovável tanto pelo
Código de Ética do CFB como também pelo Código de Ética da IFLA. Além de estar sujeito a
punição pelo Código de Ética do CFB como ações administrativas e judiciais.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As questões relativas à ética na atuação do bibliotecário devem ser discutidas não


apenas na academia, mas também nos encontros relacionados à nossa área, com o objetivo de
chamar a atenção de profissionais e estudantes a respeito das questões éticas inerentes à
profissão e que possam desenvolver um novo modo de pensar, analisando o contexto global e
as diferentes facetas da profissão, referentes ao ambiente social, econômico e cultural e como
elas refletem na atuação profissional.
Através da análise dos códigos de ética do Bibliotecário e da IFLA, permitiu-se
identificar os fundamentos do código de ética para os profissionais da informação. As
implicações éticas decorrentes das grandes transformações na sociedade da informação e do
incremento das novas tecnologias da informação, propiciando novos desafios no exercício das
atividades dos profissionais da informação.
Ressalta-se a importância dessa discussão do tema dentro do círculo acadêmico, como
também dentro das entidades profissionais (associações, conselhos e sindicatos) que
representam a classe, seja em âmbito regional, nacional ou internacional.
É importante tratar essa temática ética nas escolas de Biblioteconomia, onde se
considera relevante que essa discussão seja abordada com os alunos procurando evidenciar os
dilemas e os percalços éticos profissionais que são provenientes das diferenças entre os
indivíduos, a fim de gerar a discussão e reflexão sobre essas questões que regem a profissão e
o Código de Ética (do bibliotecário e da IFLA).
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Com isso, despertaremos a consciência dos profissionais e dos estudantes de


biblioteconomia para a importância da ética na profissão, pois se trata de um tema rico que
oferece inúmeras reflexões e oportunidades de construir de um pensamento mais humano acerca
do nosso fazer e pensar bibliotecário.

REFERÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Resolução CFB Nº 42 de 11 de


Janeiro de 2002. Dispõe sobre Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia.
Disponível em: <http://www.cfb.org.br/UserFiles/File/Resolucao/Resolucao_042-02.pdf>.
Acesso em: 5 maio 2017.

DIEHL, Astor Antônio; TATIM, Denise Carvalho. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas:
métodos e técnicas. São Paulo: Pearson, 2004.

GERMANO JÚNIOR; GUERRA; SANTOS. ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA


PERSPECTIVA DOS DISCENTES DE BIBLIOTECONOMIA DA UFC: UMA
CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA PROFISSIONAL.
Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da
Informação e Gestão da Informação, 39., 2016, Salvador. Anais... Salvador: UFBA, 2016. No
prelo.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3. ed. São Paulo:Atlas, 1993.

IFLA. CÓDIGO DE ÉTICA DA IFLA PARA BIBLIOTECÁRIOS E OUTROS


PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO. Disponível em:
<https://www.ifla.org/files/assets/faife/codesofethics/portuguesecodeofethicsfull.pdf>. Acesso
em: 5 maio 2017.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. In:______. Teoria


prática científica. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. p. 122.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO DIGITAL: estudo da indexação de conteúdos


em blogs de bibliotecários

RESENDE, Dayane Aparecida Ribeiro Chaves Ferreira86


OLIVEIRA, Lais Pereira de87

RESUMO

Analisa a indexação de conteúdos em blogs de bibliotecários, mapeando a forma de organização


da informação a partir da atribuição de termos nas postagens feitas nesse ambiente web.
Metodologicamente, se estabelece como estudo exploratório-descritivo com abordagem
quantitativa, tendo a coleta dos dados sido feita mediante questionário online aplicado aos
profissionais. Os resultados indicam que a indexação de assunto nos blogs investigados é feita
a partir de palavras simples e compostas, com emprego de siglas e também de termos
estrangeiros e considerando, predominantemente, o conteúdo das postagens. Além disso, o
emprego de tags é visto pela maioria dos participantes como relevante para a recuperação da
informação. Conclui-se que a organização da informação digital, especificamente em blogs, é
semelhante ao processo de tratamento no meio tradicional e, o fato de serem bibliotecários
influencia na visão que possuem sobre tratamento e recuperação, ainda que seja em uma
plataforma online, fazendo com que se dediquem ao uso de tags e ao propósito da representação
da informação.

Palavras-chave: Organização da informação. Indexação. Blog. Bibliotecário.

DIGITAL INFORMATION ORGANIZATION: study of content indexing in blogs


librarians

ABSTRACT

Analyses the indexing of contents in librarians blogs, mapping the way of information
organization through the attribution of terms in the posts made in this web atmosphere.
Methodologically, it consists in exploratory-descriptive study with quantitative approach,
having the data gathering been done trough a online questionnaire applied to professionals. The
results indicate that the subject indexing in the blogs investigated is made trough simple and
compound words, with the usage of acronyms and also foreign terms and considering

86
Graduada em Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: dayaneluciano.21@live.com
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Docente do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail:
laispereira2@yahoo.com.br
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Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da
Informação – ENEBD 2017
Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da informação
para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

predominantly, the content of posts. Besides that, the usage of tags is seen by most of
participants as relevant for the information recovery. Concludes that the digital information
organization, specifically in blogs, is similar to the treatment process in the traditional way. The
fact of being librarians influences in the vision that they have about treatment and retrieval,
even on a online platform, causing them to devote themselves to the usage of tags and the
purpose of representation of information.

Keywords: Information organization. Indexing. Blog. Librarian.

1 INTRODUÇÃO

A organização da informação (OI) é a dimensão responsável por constituir


representações descritivas e de conteúdo dos documentos, de modo a evidenciar a informação
neles contida e proporcionar o acesso à mesma. O tratamento tradicionalmente desenvolvido
no suporte físico pelo bibliotecário é agora conduzido também no digital, no qual um grande
número de conteúdos ganha vida diariamente.
De acordo com Baptista e Araújo Júnior (2015, p. 203) “a organização da informação
requer a disponibilidade de uma série de ferramentas que possibilitem o seu tratamento,
armazenamento e disseminação, a fim de atender as necessidades informacionais dos usuários
de um sistema de informação”. Nesse sentido, é o trabalho feito na OI que propicia acesso,
permitindo que os documentos sejam localizados no retorno a uma expressão de busca.
Segundo Dias e Cervantes (2013, p. 25) “os sistemas de OI e seus elementos são
extremamente importantes para subsidiar a elaboração do conteúdo e da estrutura da informação
[...]”. Em se tratando da descrição de conteúdo tem-se o processo de indexação, por meio do
qual o assunto presente no item é evidenciado. O bibliotecário indexador atribui termos
representativos do tema tratado, que posteriormente serão manipulados pelo usuário na busca
da informação.
No ambiente web, os termos também são utilizados para representar tematicamente os
conteúdos publicados. No caso dos blogs, em que postagens são feitas sobre os mais diversos
assuntos, palavras são empregadas para caracterizar o exposto no textual. Bibliotecários
mantenedores de blogs pelo país dedicam-se a discussões sobre assuntos variados no campo
biblioteconômico, empenhando-se da mesma forma no delineamento de tags para cada
conteúdo lançado na plataforma.

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A tag é um tipo de rótulo definido para representação de um assunto no meio digital.


Conforme destaca Resende (2016, p. 26) o uso dessas tags “é reconhecido na Ciência da
Informação como folksonomia. A recuperação da informação na web se constitui através da
folksonomia, e canais como os blogs utilizam dessa técnica de tags digitais para representar seu
conteúdo”.
A presente pesquisa, desenvolvida a partir de trabalho de conclusão de curso da
graduação em Biblioteconomia, dedicou-se a investigar a forma de indexação em posts
presentes nos blogs de bibliotecários. Motivada pela temática e interessada em compreender a
forma como os tais profissionais desenvolvem essa tarefa, a pesquisadora lançou-se ao estudo
que incluiu também a compreensão sobre: tipo de plataforma, formato das postagens, ano de
criação, objetivo dos blogs, quantidade de visualizações e etc. O que segue é relato das
informações caracterizadoras do processo de indexação, bem como reflexões ampliadas dos
dados levantados à época que se espera, sejam válidas para o avanço dos conhecimentos no
campo da organização da informação digital.

2 INDEXAÇÃO

Indexação é uma atividade desenvolvida por bibliotecários para representação do assunto dos
documentos. A partir da leitura e análise detida do item o profissional descreve em palavras-
chave o conteúdo tratado no material. Nesse sentido, a indexação é extremamente importante
por fomentar diretamente a recuperação da informação. Pode-se afirmar que “a indexação é
uma operação delicada, por vezes complicada, que ainda não obteve grandes suportes técnicos.
É entendida como processo básico na recuperação da informação” (DIAS; NAVES, 2007, p.
30).
No âmbito da organização da informação, a indexação está localizada no eixo da descrição
temática, juntamente com a classificação e a estruturação de resumos. São todos processos que
possibilitam evidenciar a tematicidade do documento. De acordo com Lancaster (2004, p. 6) “a
indexação de assuntos e a redação de resumos são atividades intimamente relacionadas, pois
ambas implicam a preparação de uma representação do conteúdo temático dos documentos”.
As palavras selecionadas e atribuídas pelo indexador serão os termos que o usuário manipulará
no sistema de recuperação da informação, durante suas pesquisas. Por isso a proximidade e a
expressiva inter-relação entre indexação e recuperação. Feitosa (2006, p. 28) afirma que
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“resultados satisfatórios na recuperação dependem diretamente da qualidade com que a


indexação foi realizada [...]”.
No ambiente web, a utilização de palavras-chave para representação de assunto está presente
nos mais diversos canais, como blogs, sites, portais de governo, páginas comerciais, etc. Blogs
são instrumentos que funcionam como um espaço para difusão de ideias, publicidade de
conteúdos, divulgação de informações, entre outras questões. Inafuko e Vidotti (2012, p. 147)
assim definem:
os blogs são websites que permitem a publicação de conteúdos não
estruturados, sobre diversos assuntos. Esses conteúdos são, em geral,
organizados de forma cronológica inversa, isto é, as postagens mais
recentes aparecem em destaque no topo do website, enquanto que as
mais antigas são armazenadas no ambiente, denominado “arquivo do
blog”.

Postagens são feitas com os mais diversos propósitos, abrangendo assuntos variados.
Corroborando com essa ideia, Câmara (2011, p. 33) explica que blogs “são ferramentas da web
2.0 que permitem a publicação de informações, ideias e notícias do ponto de vista do usuário,
dono do blog, sendo excelentes meios de comunicação [...]”. Vários bibliotecários são
mantenedores de blogs e apresentam informações de seu campo de atuação, sobre concursos e
oportunidades de emprego, acerca de eventos e publicações na área, etc.
Com essa facilidade de ter e manusear uma plataforma digital, seus mantenedores colaboram
com a disseminação informacional, oferecendo conteúdo gratuito e enriquecendo a blogosfera.
Como diz Cunha (2009) o blog pode ser uma fonte informal de comunicação, que chama a
atenção dos bibliotecários por suas características como o imediatismo, interatividade e
informalidade.

3 METODOLOGIA

O estudo caracteriza-se como exploratório-descritivo, com abordagem quantitativa. A técnica


adotada para coleta dos dados foi o questionário, aplicado via formulário online do Google.
Participaram da pesquisa um total de 13 bibliotecários mantenedores de blogs. A análise
aconteceu mediante utilização da planilha Excel para constituição dos gráficos representativos
das respostas encaminhadas, seguida de interpretação de acordo com o quantitativo obtido.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

Antes de analisar a atribuição de termos às postagens, indagou-se os bibliotecários participantes


sobre a finalidade de criação de um blog. De acordo com as respostas, a maioria dos
profissionais o fizeram com propósito de divulgação de determinado assunto. Interessante
ressaltar que, por serem bibliotecários, o conhecimento e a experiência traz credibilidade para
o conteúdo. Fins acadêmicos e profissionais tiveram destaque perante outras opções, conforme
gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Finalidade de criação do blog.

Fonte: elaborado pelas autoras (2016).

Quanto ao uso de termos nas postagens feitas em seus blogs, questionou-se acerca da
importância disto para a recuperação da informação, já que na literatura a indexação
corresponde a palavras-chave empregadas com a finalidade de representação de assunto, para
que se possa recuperar o documento posteriormente. A maior parte dos respondentes considera
que as tags são sim importantes para a recuperação, como exposto a seguir:

Gráfico 2 – Tags e sua importância para recuperação da informação.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: elaborado pelas autoras (2016).

Diante dessa constatação e buscando compreender de que maneira as tags são atribuídas às
postagens, ou seja, como se dá a indexação do conteúdo digital nos blogs, os bibliotecários
foram questionados sobre forma de emprego dos termos. Em se tratando da liberdade de indexar
conteúdos no ambiente digital, observou-se que os profissionais bibliotecários pesquisados
atribuem termos simples e compostos (vide gráfico 3) de forma equilibrada às suas postagens.

Gráfico 3 – Uso de palavras simples e compostas.

Fonte: elaborado pelas autoras (2016).

Tal situação pode estar diretamente relacionada ao tipo de informação postada no blog e à
necessidade de caracterização do assunto em conformidade com a mesma. Mesmo porque
alguns discorrem sobre eventos na área de Biblioteconomia, falam de obras e de processos de
trabalho, enfim, o que necessariamente levará à utilização de um nome composto ou simples a
depender do caso, por ser mais representativo.
A representação numérica dos blogs que utilizam siglas e palavras estrangeiras em suas
descrições foi de 19% e 25%, respectivamente, como se observa a seguir:

Gráfico 4 – Uso de siglas e palavras estrangeiras.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Fonte: elaborado pelas autoras (2016).

É interessante ressaltar que não constam somente tais tipos de termo nos posts, mas que estes
contribuem para representar o texto pela própria natureza do conteúdo. Percebeu-se na análise
detida dos blogs que algumas siglas estavam remetendo a algumas instituições, por exemplo.
As palavras estrangeiras se fazem presentes no conteúdo e consequentemente na indexação do
documento para melhor representa-lo.
Finalmente, questionados sobre a forma de atribuição das tags, constatou-se que:

Gráfico 5 – Atribuição de tags aos posts.

Fonte: elaborado pelas autoras (2016).

Com se observa no gráfico acima, mais de 70% dos bibliotecários atribui as tags a partir
do conteúdo da postagem. Evidencia-se, com isso, uma grande proximidade com o processo de
indexação tradicional, desenvolvido a partir da análise do documento e do que ele traz em
termos de conteúdo. No caso dos respondentes que marcaram a opção outros, tem-se:
R 6 “Tags são irrelevantes, o que importa para recuperação é o título do post”. R 9 “Potenciais
leitores”.
Esses respondentes possuem a visão de aplicação de tags diferenciadas, talvez pelo modo como
conduzem o blog. O respondente 6 diz que as tags se tornam irrelevantes pelo fato de seus
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leitores estarem acostumados a recuperarem pelo título, já o respondente 9 afirma que a forma
de “taguear” atrai leitores específicos (potenciais leitores), sendo tendencioso na representação
de assunto.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, conclui-se que a indexação é um processo reconhecido que colabora com
a organização e posteriormente recupera a informação. Nesse meio web potencializado com
uso de tags, tal atividade descritiva faz parte da representação de conteúdos correlacionado com
o assunto prescrito.
Gradativamente a plataforma digital ganha espaço, com isso os profissionais
bibliotecários mostraram que estão se inserindo e colaborando com a disseminação da
informação nos blogs. A partir dos resultados percebe-se que a indexação desses conteúdos é
feita com termos simples ou compostos de forma ponderada e equilibrada, as palavras
estrangeiras e siglas são aplicadas de acordo com o conteúdo dos posts, fazendo parte do grupo
de palavras-chave na plataforma.
É importante salientar que a maioria desses profissionais mantenedores e responsáveis
pelas publicações, reconhecem as tags como importantes para a recuperação da informação,
confirmando o que afirmam Dias e Naves (2007), de que a indexação é um processo para
facilitar a recuperação. Assim parte relevante dos pesquisados considera que o conteúdo do post
é essencial para atribuição de tags, de modo que os mesmos são coesos para indexar,
considerando a lógica descritiva de análise de assuntos.
Um mantenedor afirma que a recuperação do conteúdo parte de um pressuposto
específico, considerando o título da publicação. Já outro diz que o que intervém na sua
atribuição de tags são seus potenciais leitores, podendo esses serem leitores específicos. Foram
duas respostas diferenciadas, que partem de algum método que tais profissionais possuem para
a divulgação, visualização e incentivo a leitura de seus posts.
Cada blog possui sua finalidade de criação, o que impede o leitor de ficar perdido sobre
as informações contidas na plataforma, pois se tratando de assuntos específicos, navegar no site
e encontrar informações não será problema. Necessariamente entender do assunto para abordar
determinadas finalidades é essencial para favorecer segurança informacional ao leitor, sendo
profissionais, acadêmicas ou pessoais.
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A pesquisa mostra que esses profissionais são coerentes e emprenham-se com a


descrição dos conteúdos, estão colocando a profissão bibliotecária à vista, disseminando
informação através dessas plataformas. No que diz respeito às tags, conclui-se que são
fundamentais para representação da informação.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Dulce Maria; ARAÚJO JÚNIOR, Rogério Henrique de (Orgs.) Organização da


informação: abordagens e práticas. Brasília, DF: Thesaurus, 2015.

CÂMARA, Rafael Silva da. Biblioteca 2.0: análise da aplicabilidade de recursos da web 2.0
em unidades de informação. 2011. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Biblioteconomia) – Curso de Graduação em Biblioteconomia, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2011.

CUNHA, Murilo Bastos da. Blogs da biblioteconomia: novo potencial para a atualização
profissional. INFOHOME. Disponível em: <
http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=480>. Acesso em: 23 maio 2017.

DIAS, Eduardo Wense; NAVES, Madalena, Martins Lopes. Análise de assunto: teoria e
prática. Brasília: Thesaurus, 2007.

DIAS, Geneviane Duarte; CERVANTES, Brígida Maria Nogueira. Tratamento temático da


informação em periódicos científicos eletrônicos na Biblioteconomia e ciência da informação.
Inf. Inf., Londrina, v. 2, n. 1, p. 22–38, jan./jun. 2013.

FEITOSA, Ailton. Organização da informação na web: das tags a web semântica. Brasília,
DF: Thesaurus, 2006. v. 2.

INAFUKO, Laura Akie Saito; VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregório. Diretrizes para
o desenvolvimento e a avaliação de blogs de biblioteca. Encontros Bibli: Revista Eletrônica
de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 145-166, 2012.
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LANCASTER, F. W. Indexação e resumos: teoria e prática. Brasília, DF: Briquet de Lemos,


2004.

RESENDE, Dayane Aparecida Ribeiro Chaves Ferreira. Análise de blogs de bibliotecários


quanto a sua indexação e organização da informação. 2016. 68 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Biblioteconomia) – Faculdade de Informação e Comunicação,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2016.

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OS GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS: Análise e conceituação para bases de dados

WAJSFELD, Pedro88

RESUMO
Apresenta os gêneros cinematográficos como forma de comunicação entre o usuário e o
documento. Objetiva descrever os gêneros cinematográficos dentro da literatura da área do
Cinema para fins de indexação, através dos códigos e expectativas que cada gênero proporciona
para o espectador/usuário. Descreve a necessidade da análise dos gêneros cinematográficos para
contextos de recuperação da informação em bases de dados e as dimensões de mediação do
bibliotecário entre o usuário e o sistema. Conclui que a análise de gêneros é importante para a
análise de filmes como um todo para que se possa chegar a uma especificidade maior dentro da
análise de imagens e sugere trabalhos aprofundados para elaboração de estratégias para análise
de filmes.
Palavras-chave: Cinema. Gênero Cinematográfico. Análise de imagem.

THE CINEMATOGRAPHIC GENRES: Analysis and conceptualization for databases


ABSTRACT
It presents cinematographic genres as a form of communication between the user and the
document. It aims to describe cinematographic genres within the literature in the area of Cinema
for the purpose of indexing, through the codes and expectations that each genre provides for
the viewer / user. It describes the need of the analysis of the cinematographic genres for contexts
of information retrieval in databases and the dimensions of mediation of the librarian between
the user and the system. It concludes that genre analysis is important for the analysis of films
as a whole in order to achieve a greater specificity within the image analysis and suggests in-
depth studies to elaborate strategies for analysis of films.
Keywords: Cinema. Cinematographic Genre. Image Analysis.

1 INTRODUÇÃO

Cinema e Biblioteconomia possuem uma relação estreita. Tal qual toda área do
conhecimento, o Cinema, além de ser uma forma de arte, gera informação. Quando não tratada
a informação pode ficar perdida e desconexa, dificultando a vida do usuário na hora da
recuperação, seja para fins de estudo, trabalho ou apenas entretenimento.
Compreender as regras e códigos de comunicação da linguagem cinematográfica torna
o bibliotecário, que trabalha com essa arte (em meios digitais como Netflix, Amazon Prime,

88
Acadêmico do curso de Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal Fluminense (UFF).
pedro.wajsfeld@gmail.com
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Hulu, etc.) ou em meios físicos (bibliotecas, cinematecas, etc.), apto a analisar e tornar os filmes
recuperáveis.
Num conjunto altamente complexo de informações o conhecimento do profissional da
informação sobre o domínio do conhecimento onde trabalha tem impacto direto no
funcionamento do sistema e deve atender as necessidades dos usuários.
O artigo busca tratar do tema de análise de filmes com base em seus gêneros, que são a
primeira forma de comunicação do usuário com o cinema. Depois de um breve apanhado
histórico da arte é abordado quais são os gêneros cinematográficos e algumas de suas
ramificações e por fim a necessidade do profissional da informação no tratamento dessas obras.

2 O CINEMA

O Cinema começa a surgir no início do Século XIX. Nessa época a humanidade ainda
estava aperfeiçoando a fotografia e suas capacidades e vários jogos óticos como o thaumatrópio
foram criados. Essas técnicas de reprodução de imagens impressas em papel a uma velocidade
alta cria a sensação de movimento e dá a animação do cinema. Em 28 de dezembro de 1895 os
irmãos Auguste e Louis Lumière fizeram a primeira exibição paga de um filme em Paris. No
Salão Grand Café foi exibido “L'Arrivée d'un Train à La Ciotat” para um público de cerca de
30 pessoas com ingressos custando aproximadamente 1 franco. O pequeno documentário (ele
tem apenas 50 segundos de duração) criou comoção pela cidade. Era uma revolução ver uma
imagem em movimento sendo projetada numa tela. Nascia ali a 7ª arte.
No Brasil a primeira exibição ocorreu em 1896 graças ao exibidor belga Henri Paillie.
Em 8 de julho de 1896 ele alugou uma sala no Jornal do Commercio na Rua do Ouvidor no
Centro do Rio de Janeiro. Foram exibidos 8 pequenos filmes aproximadamente 1 minuto cada
apenas para a elite social da cidade devido aos elevados preços dos ingressos.
O impacto que o cinema causou na cultura ocidental foi estrondoso tanto que logo nas
primeiras décadas do Século XX já se pensava o cinema como forma de arte e institutos foram
criados para o estudo da arte cinematográfica. Uma das mais importantes é a Academia de Artes
e Ciências Cinematográficas criada em 1927 nos Estados Unidos.
Como a tecnologia ainda era rudimentar os filmes não possuíam sons, muito menos
cores. Esses elementos foram sendo incorporados aos poucos devido aos custos de produção.

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Hoje em dia o cinema cria tecnologias que se tornam referências (como o 3D que James
Cameron consolidou em Avatar, 2009) e é uma importante ferramenta sociocultural que reflete
os valores, comportamentos, códigos sociais e culturais de toda a sociedade revelando as
nuances que existem nas mais variadas culturas.

2.1 A Estética do Cinema

O Cinema, como toda forma ciência, cria códigos próprios para sua realização. Seus
realizadores precisam ser capazes de dialogar com toda a equipe sem ruídos na comunicação.
É imprescindível que todos estejam cientes das nuances do filme que está em produção.
Segundo Bahiana (2012), os gêneros são essa espinha dorsal. Segundo a autora “gêneros
existem e servem de código de compreensão tanto para realizadores quanto para nós, na sala
escura”.
Os gêneros nascem com os estudos de Aristóteles na poética onde o filósofo faz um
estudo do que forma as artes. Quando trazido para o cinema no século XX são definidos cinco
gêneros cinematográficos essenciais, segundo Bahiana, 2012:
- Drama
- Comédia
- Ação/Aventura
- Ficção científica/Fantasia
- Thriller (onde compreende-se filmes de terror e suspense)

Gênero, em outras palavras, é uma ferramenta que deve ser usada com
sabedoria, mas não tanto: a definição do artefato individual nos termos
genéricos pode ser útil, mas não deve ser seguida a todo custo. Não é
todo aspecto do texto do gênero que deve ser necessária ou puramente
atribuível à sua identidade genérica, por isso não há necessidade de
inventar requintes absurdos de denominação genérica ou tornar a malha
da rede de classificação ou definição tão elaborada a ponto de não
permitir mais a passagem de luz através dela. (LANGFORD, 2005, p.7)

2.1.1 Gêneros cinematográficos: o Drama

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O Drama pode ser considerando o “maior padrão” para a narrativa no cinema. Ele é o
gênero que pode se encaixar em todos os outros quando levado ao pé da letra afinal o Drama
pressupõe uma grande questão ou conflito que os personagens precisam enfrentar e esse é o
motriz para qualquer filme.
O drama pode assumir várias características que podem ser classificadas como subgêneros.
Ele se molda de acordo com a necessidade do roteiro e pode ser
● Drama Épico ou Histórico;
● Drama de guerra;
● Drama romântico;
● Drama policial;
● Western;
● Drama musical;
● Animação Dramática;
● Comédia dramática ou “Dramédia”.
O Drama é um gênero forte e muito explorado pela necessidade de catarse que todos os
humanos têm; ele pode atravessar a fronteiras culturais por tratar de temas mais universais como
superação de um grande obstáculo (BAHIANA, 2012).

2.1.2 Gêneros cinematográficos: a Comédia

A Comédia pode ser considerada uma irmã menos rebuscada do Drama. Ela se
caracteriza pelo absurdo das situações onde os heróis possuem boas intenções, mas sempre
falham e provocam o riso. Ela busca tons mais leves para os filmes e a catarse das situações
pelo riso: a plateia é convidada a rir com o protagonista e não do protagonista.
Esse gênero não pede tanta complexidade como o drama. Ele deve ser simples e
acessível e gerar simpatia nos espectadores.
A Comédia também se subdivide em gêneros menores cada um com suas características e
idiossincrasias próprias (mesmo que guardem alguma relação em comum). São eles:
9. Alta Comédia
10. Comédia de Situação
11. Baixa Comédia
12. Farsa
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13. Comédia Cerebral


14. Comédia Musical
15. Animação Cômica
16. Sátira
17. Comédia Sinistra
A comédia pode ser de difícil realização, entretanto. Nem todo elemento cômico é universal
(diferente do drama onde as relações humanas têm características mais globais). O tempo da
comicidade pode ser facilmente extrapolado e não provocar as reações esperadas.

2.1.3 Ação e Aventura

A Ação/Aventura possuem a mestra estrutura de narrativa de um Drama. Um


personagem precisa se sobrepor a um obstáculo que o testará. Entretanto aqui a narrativa se
desenrola através dos atos dos personagens e não de seus diálogos. Enquanto no drama a
resolução do conflito em geral se dá por meio de um diálogo bem estruturado na ação e aventura
a resolução se dá entre um conflito físico.
Essas duas formas de filmes possuem diferenças entre elas (embora os teóricos a
coloquem num mesmo escopo): os filmes de ação são dramas que a história se desenrola através
de atos e feitos (ex.: Mad Max: Fury Road de George Miller, 2015) enquanto as aventuras se
passam no espaço de alguns dias em lugares exóticos ou imaginários (Harry Potter de Vários
diretores, 2001-2010).

2.1.4 Ficção Científica/Fantasia

Macambyra (2009), no Manual de catalogação de filmes da Biblioteca da ECA define a


Ficção Científica por “filmes ficcionais com temática centrada no avanço tecnológico, no
desenvolvimento da ciência e no encontro com formas de vida alienígenas. As histórias têm,
frequentemente um caráter profético, antecipando o impacto das mudanças tecnológicas na
sociedade futura. (apud LIBRARY OF CONGRESS, 1998). Entretanto essa definição não
consegue abarcar a complexidade do gênero.
A Ficção científica trata de temas que estão ligados ao imaginário humano através da
verossimilhança buscando a representação de temas atuais (BAHIANA, 2012; OLIVEIRA,
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2011). Esse gênero surge juntamente com o cinema tento o seu primeiro filme
reconhecidamente registrado em 1902.
Mas a ficção científica costuma ser associada a outros gêneros para explorar diversos
aspectos psicológicos, filosóficos e metafísicos da condição humana. O mais comum sendo o
terror/horror (OLIVEIRA, 2011).

2.1.5 Thriller

Esse é o gênero que tem um objetivo simples: provocar a catarse através do medo. Mas
não qualquer medo, o medo trágico de Aristóteles. O objetivo final é fazer com que os
espectadores se identifiquem com o protagonista para que as emoções não sejam apenas jogadas
na tela. É preciso que o público crie um laço com o personagem e sofre a antecipação com o
que pode vir a acontecer através de jogos de luz em cena, cenários claustrofóbicos, ocultação
de informações, sensações de perda (BAHIANA, 2012).
Assim o thriller é um gênero que requer atenção redobrada dos realizadores pois se mal
realizado é fácil cair no ridículo e parecer uma comédia ruim ou simplesmente ser uma exibição
de horrores como tortura.

3 NECESSIDADE DE INDEXAÇÃO PARA ACERVOS CINEMATOGRÁFICOS

Considerando o que foi dito até aqui e o quão complexo é o universo de informações
cinematográficas é essencial que toda essa informação seja tratada. São muitas as terminologias,
formas de organização do conhecimento e meandros que a arte construiu.
É necessário então que se pense sobre a organização do cinema além de uma simples
ficha técnica. Nas palavras de Moura (2006):

No contexto da sociedade da informação, o bibliotecário tornou-se,


pois, um leitor mediador: interprete que trabalha sobre materialidades
discursivas variadas, com o objetivo de criar, a partir de suas
interpretações, representações condensadas dos textos, com efeito de
completude. (MOURA, 2016, p. 30)

O bibliotecário, portanto, deve tomar para si a função de organização e mediação dos


usuários com os sistemas de informação que buscam classificar e organizar a informação
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cinematográfica. Quando levado em consideração que é uma forma de arte que gera informação
é necessário que esta seja organizada para evitar perda.
Tendo essa necessidade em vista Cordeiro (2013) diz que

É fundamental acentuarmos que esse universo de documentos não


textuais constitui-se em ambientes informacionais de naturezas diversas
(ambiente web ou não; documentos digitais ou não, entre outros).
Soma-se a isto o momento que estamos vivendo, no qual fica cada dia
mais instável a identificação pelos serviços de informação dos possíveis
perfis de interesse dos demandantes (usuários), bem como o seu espaço
cognitivo no processo da busca de itens de informação. (CORDEIRO,
2013, p. 68)

Essa dificuldade descrita pela autora deve ser sanada criando políticas bem definidas de
indexação para filmes seja qual for o ambiente informacional. Os filmes oferecem um universo
muito amplo de informações.
Vale notar que os autores elencam critérios diferentes para a análise dos filmes. Cordeiro
(2013) lista quatro itens para análise do conteúdo de filmes:
g) Dimensão geração da imagem/filme e comportamento de busca da informação no
processo de trabalho
h) Dimensão contexto de produção
i) Dimensão natureza da expressão visual.
j) Dimensão literatura de/sobre
Entender o cinema, seus movimentos, estilos e estética, jogos de cena, análise de temas,
gêneros, forma de estruturação são os componentes para a indexação dos filmes. É necessário
tempo para análise de um filme devido à quantidade de informações que uma obra pode ter.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar os gêneros cinematográficos é um dever do bibliotecário quando inserido em


plataformas de distribuição digital ou cinematecas. Os gêneros fazem parte da comunicação
entre o espectador e o filme e cria expectativas sobre como a obra será desenvolvida. No
contexto de difusão de informação, o gênero deve estar aliado a outros elementos da análise de
filmes, procurando sempre o espelho da literatura especializada e análises.

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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

Por se tratar de um trabalho longo e complexo chegar em níveis mais específicos dentro
da análise de imagens pode se mostrar altamente difícil. É necessário que o bibliotecário esteja
atento as nuances que a obra cinematográfica pode ter e como os elementos impactam
diretamente no produto da indexação.
Fica, portanto, a necessidade de se pensar em estratégias que permitam ao indexador
obter bons resultados na hora da indexação desse tipo de documento sem que seja
comprometida a eficiência do sistema em que se está inserido.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1999. (Os pensadores).

BAHIANA, Ana Maria. Como ver um filme. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

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CORDEIRO, Rosa Inês Novais de. Análise de Imagens e Filmes: alguns princípios para sua
indexação e recuperação. Ponto de Acesso, Salvador, v. 7, n. 1, p. 67-80, 2013.

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diante de novas tipologias documentais. In.: BAPTISTA, Dulce Maria (org.); Rogério
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experiência de elaboração do tesauro eletrônico do cinema brasileiro. Perspectivas em ciência
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MOURA, Maria Aparecida. Leitor-bibliotecário: interpretação, memória e as contradições da


subjetividade em processos de representação informacional. In.: NAVES, Madalena Martins
Lopes (org.); Kuramoto, Hélio (org.). Organização da informação: princípios e tendências.
Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2006. p. 22-35.

OLIVEIRA, Igor Silva. Ficção Científica e a hibridação de gêneros cinematográficos. In:


Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 14, 2011, São Paulo. Anais, São
Paulo: Intercom, 2011. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-0692-1.pdf>.
Acesso em 01 jun. 2017.

SOUZA, Renato Rocha. Sistemas de recuperação de informações e mecanismos de busca na


web: panorama atual e tendências. Perspectivas em ciência da informação, v. 11, n. 2, p. 161-
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imagético).

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PRÁTICA INFORMACIONAL DOS USUÁRIOS DO TWITTER

SANTANA, Carolina89
TEIXEIRA, Gabriel90

RESUMO
Apresenta um estudo das práticas informacionais dos usuários do Twitter com o objetivo de
estudar a rede social como fonte de informação no desenvolvimento da prática informacional.
Para isso, utiliza a noção de Prática Informacional (Araújo, 2012 e Savolainen, 2007). Indica
um questionário para coleta de dados usada nos procedimentos metodológicos de uma pesquisa
de natureza exploratória de abordagem qualitativa. Demonstra como resultados que o contexto
em que um indivíduo está inserido pode afetar a interação no processo e nas experiências da
construção coletiva da informação.
Palavras-chave: Prática informacional. Estudo de usuários. Twitter.

TWITTER USERS INFORMATION PRACTICE

ABSTRACT
It presents a study of informational practices of Twitter users in order to study the social
network as an information source in the development of informational practice. For this, it uses
the notion of Informational Practice (Araújo, 2012 and Savolainen, 2007). Indicates a
questionnaire to collect data used in the methodological procedures of an exploratory research
of qualitative approach. It demonstrates as results that the context in which an individual is
inserted can affect the interaction in the process and in the experiences of the collective
construction of the information.
Keywords: Information practice. Users studies. Twitter.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação mudou a forma que


o ser humano interage no contexto da produção e uso da informação, o que pode ser visto com

89
Acadêmica do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: carolinaalm.santana@gmail.com
90
Acadêmico do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: gabrielteixeira831@gmail.com

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as mudanças que aconteceram ao longo dos anos nos processos e atividades, tais como o
processamento automático da informação em grande velocidade, o registro e armazenamento
de dados a baixo custo, o acesso à informação a distância e principalmente a avaliação e
monitoramento de uso da informação (SANTOS, 2001).
Dentre as mudanças que ocorreram nos últimos anos destacam-se aquelas relacionadas
às redes sociais eletrônicas, como o Facebook, LinkedIn, Instagram, etc., que, grosso modo,
são meios de ampla produção de informação e consequentemente de disseminação da mesma.
Um exemplo de rede social eletrônica bastante popular é o Twitter que possui um grande fluxo
de produção e veiculação de informações.
No campo de estudos da informação indica-se que as pesquisas que procuram investigar
como os indivíduos em contextos específicos interagem com a informação pelo que muitos
autores chamam de prática informacional, conforme indicado por Savolainen (2007) e Araújo
(2012).
Assim sendo, pensando no contexto das redes sociais eletrônicas o presente trabalho
tem como objetivo estudar o Twitter como fonte de informação no desenvolvimento da prática
informacional. Considera-se que a importância deste estudo está no desenvolvimento de uma
pesquisa que pretende contemplar uma esfera pública eletrônica/ digital e, com isso, demonstra
uma perspectiva diferente da comumente observada na perspectiva dos estudos em
Biblioteconomia. Prova disso foi o resultado da busca realizada com o termo Twitter na Base
de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) que
retornou 52 artigos.

2 FONTE DE INFORMAÇÃO

No que se refere às fontes de informação, estas se compõem por um conjunto de


materiais documentais que segundo Cunha (2001, p. 8) abarcam “[...] manuscritos e publicações
impressas, além de objetos, como amostras minerais, obras de arte ou peças museológicas [...]”.
Em síntese, pode-se definir fontes de informação como documentos que certifiquem as várias
formas de conhecimento onde estes possam ser arrolados à um grupo bibliográfico (CUNHA,
2001).
As fontes são divididas em três categorias: primárias, secundárias e terciárias. De acordo
com Pinheiro (2006, p.2) fontes ou recursos de informação primários “[...] correspondem à
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“literatura primária” e são aqueles que se apresentam e são disseminados exatamente na forma
com que são produzidos por seus autores. Como exemplos devem ser destacados os periódicos
científicos, os anais de conferência, as monografias e os relatórios técnicos”.
A autora ainda exemplifica como fontes secundárias as “[...] bibliografias, os
dicionários e enciclopédias, os manuais, as publicações ou periódicos de indexação e resumos,
artigos de revisão, catálogos etc.”, ou seja, fontes de informação que auxiliem a recuperação
das fontes primárias.
Já as fontes terciárias que são justamente as mais difíceis de serem definidas, por sua
proximidade com o conceito das fontes secundárias. São aquelas que permitem a recuperação
de fontes primárias e secundárias, como por exemplo, bibliografias de bibliografias, catálogos
coletivos e bibliotecas.
As fontes de informação midiáticas englobam um conceito relativamente novo. Ainda
que no campo de estudos da Ciência da Informação haja predominância de pesquisas focadas
em fontes de informação tradicionais, como as exemplificadas anteriormente, o uso de fontes
midiáticas aumentou consideravelmente com a presença da internet na vida de quase metade
dos brasileiros nos últimos anos e, nesse contexto, o Twitter destaca-se como um espaço que
compõe o grupo de midias sociais nas quais o jovem brasileiro gasta cerca de seis horas do seu
dia (CERIGATTO; CASARIN, 2017).

2.1 PRÁTICA INFORMACIONAL

A noção de prática informacional remete, no campo estudos da informação, aos três


paradigmas fundamentais para sua gênese: o físico, o cognitivo e o social (ARAÚJO, 2012).
Os paradigmas não são excludentes, mas podem ser observados de forma a nortear as
perspectivas dos estudos informacionais. No primeiro paradigma pode-se observar um dos
primeiros conceitos de informação que coloca esta como um objeto do ponto de vista físico
independente dos demais atores e contextos. O segundo paradigma parte para uma questão
cognitiva que se preocupa com o pensamento humano e a distinção entre o conhecimento do
usuário e o que está registrado nos documentos, ou seja, trata-se da interpretação da informação
pelo usuário. O terceiro paradigma impulsionado pela limitação dos paradigmas anteriores, e
destacado como um dos focos deste artigo, está no âmbito social que coloca o usuário da

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informação como parte essencial para a chamada construção social da informação em


determinado contexto.
Visto isso, ainda com base no estudo de Araújo (2012), é preciso discorrer sobre os
estudos de usuários da informação e suas origens. Os primeiros estudos dessa temática datam
de 1930 na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, com a finalidade de se identificar os
hábitos de leitura dos usuários da biblioteca. Não tardou para que estes estudos fossem
destinados para a avaliação das fontes de informação disponíveis na biblioteca. Os estudos de
usuário da informação podem ser divididos em três blocos temporais, o primeiro entre 1948 e
1965, com a participação de engenheiros e cientista; de 1965 a 1970, com tecnólogos e
educadores; e o último de 1970 em diante com cientistas sociais e administradores. Embora as
três fases tenham ocorrido em diferentes recortes de tempo e participação de usuários, a
metodologia aplicada para as três foi na seguinte forma:

[...] uso de questionário para coleta de dados e métodos


estatísticos para a tabulação de resultados, buscando
correlacionar dados de perfil com aspectos do comportamento
informacional (fontes de informação utilizadas, tipos de
necessidade de informação, tipos de informação, entre outros)
(ARAÚJO, 2012, p. 147).

Outro aspecto importante que marca o desenvolvimento dos estudos de usuários da


informação são aqueles voltados para o comportamento informacional. No estudo de Araújo
(2012) diversos autores concordam com o modelo de comportamento informacional que pode
ser definido como:

[...] um usuário, diante da ausência de determinado


conhecimento, para prosseguir com sua linha de ação (lacuna
informacional [...]), se vê compelido a buscar informação em
alguma fonte o sistema (ARAÚJO, 2012, p. 147).

Dessa forma, a informação não é mais entendida do ponto de vista do documento


acessado pelos usuários, mas sim a falta do conhecimento pela necessidade de informação
expressa pelo usuário, a lacuna cognitiva identificada por este e a forma como que pretende
buscar suprir essa ausência (ARAÚJO, 2012). Portanto, a lacuna é variável fundamental para
que se obtenha um parâmetro quanto ao comportamento informacional.

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Duas importantes vertentes observadas no artigo de Araújo (2012) surgiram no campo


do comportamento informacional são elas o “modelo geral de estudo da informação” de Choo
(2003) e o modelo geral de “comportamento informacional” sugerido por Godbold (2006). O
primeiro pontuava um modelo geral de como o indivíduo identifica a ausência da informação,
como faz para encontrá-la e como usá-la depois que a encontra, além de considerar o ambiente
de processamento informacional e o ambiente social. O segundo preocupa-se com a chamada
multidirecionalidade de estratégias para buscar e usar a informação expressas pelos próprios
usuários.
Partindo da premissa social da busca, relação e uso da informação discorridos até aqui,
insere-se ao texto a discussão a respeito da interação. No artigo de Araújo (2012) pode-se
observar três pontos que convergem para essa nova vertente interacionista, o estudo de usuários,
o comportamento informacional e o paradigma social da Ciência da Informação. A interação
nesse âmbito estabelece que o usuário funciona como um ator não determinado pelo contexto,
mas também não dissociado deste. O usuário enquanto ser social:

[...] não significa nem que ele seja totalmente determinado pelo
coletivo, nem isolado deste: ele é ao mesmo tempo construtor
desse coletivo [...] e também construído por ele. E, por fim,
acessar e usar informação tanto uma ação cognitiva quanto,
também, uma ação emocional, cultural, contextual [...]
(ARAÚJO, 2012, p. 150).

A interação usuário-informação no paradigma social pode ser vista como uma forma de
prática informacional em redes sociais. Para Marteleto (1995 apud PINTO; ARAÚJO, 2012) o
estudo das práticas informacionais “considera os significados atribuídos pelos sujeitos durante
as ações de buscar, usar e disseminar a informação nos ‘espaços construídos e concretos de
realização’ de tais práticas.” Com isso, pode-se afirmar que as redes sociais se enquadram no
conceito de “espaço construído”, apresentado pela autora, ou seja, as redes sociais são neste
caso, os ambientes a quais os indivíduos pertencem e influenciam em seu relacionamento com
a informação. É importante apenas ressaltar que esse elemento não é o fator determinante para
o desenvolvimento do processo como um todo, o conhecimento adquirido previamente, a
vivência, e outras questões que o indivíduo traz em si, influenciam a maneira que o mesmo se
relaciona com a informação.

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2.2 TWITTER

Fundado em 2006, o Twitter é uma rede social no formato microblogging, nele os


usuários podem compartilhar informações, desde que o conteúdo de cada postagem não
ultrapasse 140 caracteres. O site se destacou entre os usuários de redes sociais por seu formato
diferente do usual, a possibilidade de se conectar com perfis ligados aos interesses dos usuários
e a objetividade com que os assuntos são tratados. Com a criação das hashtags, o Twitter inovou
na maneira que usuários de redes sociais poderiam recuperar informações armazenadas na rede
(TWITTER, 2017).
Dentro do contexto das redes sociais, o Twitter ganhou visibilidade por permitir uma
comunicação simplificada entre seus usuários, sem a necessidade de aceite mútuo para
estabelecer uma comunicação, como acontece em outras redes sociais. Com isso, tornou-se
ferramenta indispensável para empresas que pretendem otimizar o relacionamento com seus
clientes, prestando suporte pela plataforma.
O Twitter também pode ser citado ao falar da organização de movimentos online que
geram impactos fora da rede. As hashtags, como foi dito anteriormente, permitem que os
usuários recuperem a informação de maneira simplificada, e criem grupos de usuários que
comentam sobre determinado assunto utilizando a ferramenta.
Em 2015, por exemplo, quando o casamento gay foi legalizado nos Estados Unidos da
América, a hashtag “#lovewins” foi o assunto mais comentado do dia, sendo utilizada por
ativistas, celebridades, autoridades, e todos os tipos de usuários da rede, além de reacender o
debate sobre os direitos iguais entre membros da comunidade Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT) ao redor do mundo. A hashtag fez tanto sucesso
que foi utilizada nas outras redes sociais, em campanhas publicitárias, etc. Esse é apenas um
pequeno exemplo do impacto que uma tendência nascida no Twitter pode causar (TWITTER,
2017).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa do tipo aplicada onde se visa obter conhecimento da prática
informacional de um determinado grupo de usuário no Twitter. A pesquisa aplicada, para Gil
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(2010), consiste na aplicação do problema de pesquisa para se extrair conhecimento do objeto


proposto sendo possível, também, estabelecer uma familiaridade com o objeto investigado e o
contexto. A pesquisa é de natureza exploratória que tem por finalidade:

[...] proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas


a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Seu
planejamento tende a ser bastante flexível, pois interessa
considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou
fenômeno estudado (GIL, 2010, p. 27).

Para isso, parte-se de uma abordagem qualitativa, uma vez que foi utilizado um
questionário aplicado à amostra construída pelo critério de acessibilidade (no sentido de ser
acessível).
O universo da pesquisa é composto por um número de 861 perfis de usuários presentes
na rede social dos autores deste estudo e, assim sendo, para selecionar a amostra tomou-se como
base na frequência de interações entre os autores e os perfis que o seguem e as atualizações
periódicas na timeline do Twitter. Com isso, foi possível chegar à uma amostra de 30 perfis,
sendo 15 perfis da rede de cada autor, para a aplicação do questionário.
A coleta dos dados da pesquisa teve como objetivo realizar uma pesquisa por meio da
aplicação de um formulário; analisar os dados obtidos no formulário para gerar os resultados;
observar os resultados estruturados a fim de formular considerações acerca do objeto a partir
de um questionário composto por 10 perguntas com questões abertas e fechadas. Para isso foi
utilizada a plataforma online SurveyMonkey para o compartilhamento do questionário (Quadro
1).

Quadro 1: Questionário

QUESTÕES

1 Quantos anos você tem?

2 Há quanto tempo você possui conta no Twitter?

3 Que tipo de perfis você costuma seguir?

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4 Que tipo de conteúdo você costuma compartilhar?

5 Você já ficou sabendo de alguma notícia em primeira mão, através do Twitter?

6 Você já ficou sabendo de algum boato através do Twitter?

7 Você costuma verificar a veracidade das notícias que circulam pelo Twitter?

8 Você costuma utilizar a busca do Twitter?

9 Você costuma utilizar algum dos recursos do Twitter (moments, hashtags, explorar,
trending topics) para se manter atualizado?

10 Você considera o Twitter uma fonte confiável de informação?

Fonte: Os autores (2017).

Em seguida formulou-se um texto base para apresentação do questionário e o contexto


do mesmo para ser enviado à amostra por meio do recurso de mensagem direta do Twitter.
Para análise dos dados, o SurveyMonkey gerou automaticamente 10 gráficos com os
dados das 10 questões. Os gráficos permitiram aos autores examinar detalhadamente os índices
obtidos, tornando-se possível a observação deste para em seguida serem realizadas as
comparações das porcentagens a fim de redigir os resultados das análises em seção posterior.
As perguntas fechadas com apenas duas alternativas (sim ou não) e com dados de idade e tempo
de uso do Twitter, foram mais facilmente analisadas. As perguntas abertas, as que continham
mais de uma alternativa ou respostas descritas pelos usuários da amostra, tiveram suas respostas
estruturadas no próprio SurveyMonkey, por ordem de resposta, e transformadas em resultados
pela recorrência das respostas para categorizar um grupo majoritário de preferências e assim
poder evidenciar as respostas mais específicas.
A análise dos dados foi desenvolvida mediante a interpretação dos mesmo. A
interpretação ocorreu por meio dos percentuais alcançados a fim de se estabelecer relações entre
os maiores e menores índices observados nos gráficos, assim sendo possível construir
inferências, com base na experiência dos discentes, à cada uma das respostas do questionário
supracitado.

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4 RESULTADOS DA PESQUISA

Após o período de uma semana disponível na rede, entre os dias 17 à 24 de maio do ano
corrente, o questionário permitiu analisar cada uma das questões, sendo possível chegar aos
resultados descritos a seguir.
Em relação à faixa etária (questão 1) revelou-se que cerca de 86,67% dos usuários
entrevistados possui entre 18 e 24 anos, 10% apenas tem idade entre 25 e 31 anos e em um
índice menor ainda 3,33% tem mais de 31 anos. Isso confere um número predominante de
jovens adultos conectados à rede. Referente ao tempo de cadastro na rede (questão 2), 63,33%
do total da amostra possuem conta no Twitter há mais de seis anos, 23,33% possuem conta no
Twitter entre três e seis anos, 6,67% entre um e dois anos e menos de um ano respectivamente
O que indica a popularidade da rede ainda nos seus primeiros anos.
A respeito do conteúdo de interesse dos usuários (questão 3), observou-se uma
porcentagem bastante equilibrada nos temas propostos. A busca por conteúdo humorístico soma
96,67% das opiniões coletadas, em seguida está o interesse por perfis de notícias, que representa
80% das respostas dos usuários que participaram do questionário, informações relacionadas à
cultura e política ocupam a terceira posição neste quesito, ambas representando 63,33%, em
quarto lugar está a preferência por outros conteúdos, dos quais se destaca a procura por perfis
ligados a música e esportes. Moda e gastronomia também tem seu espaço no interesse dos
usuários, representando 16,67% e 6,67% das preferências respectivamente.
O conteúdo compartilhado pelos usuários (questão 4) engloba assuntos variados,
geralmente são similares aos perfis que os usuários seguem. Mas como em todas as redes sociais
percebe-se uma grande tendência ao compartilhamento de informações e opiniões pessoais.
Uma curiosidade percebida foi que 100% da amostra respondeu ter tomado
conhecimento de uma notícia em primeira mão por meio do Twitter (questão 5). Fato que pode
ser explicado pelo Twitter ter sua timeline atualizada em tempo real a medidas que os conteúdos
são postados e pela ausência de algoritmos que filtrem esses conteúdos. Em concordância com
a frase anterior, 96,67% da amostra, que corresponde a 29 usuários, soube de algum boato no
Twitter (questão 6). Por ter características de informação em tempo real, conteúdos são
rapidamente vinculados e disseminados na rede, seja pela forma de comentários, interações ou
retweet (RT). No entanto apenas 10% dos usuários confiam nas notícias em primeira mão do
Twitter enquanto 90% tende a procurar em outras fontes a veracidade do que é vinculado e
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reproduzido (questão 7). Esse comportamento pode ser explicado por causa da natureza aberta
do Twitter que permite que conteúdo sejam postados sem verificação.
A respeito das ferramentas de busca do Twitter, 83,33% dos usuários costumam utilizar
as ferramentas disponíveis (questão 8). Perguntados para qual finalidade do uso dessa
ferramenta, observou-se resultados variados nas respostas e outros mais recorrentes. Figuram
entre os mais recorrentes a busca por notícias, perfis de outros usuários, quais assuntos estão
em destaque bem como o que estam comentando a respeito desses assuntos pelo emprego de
hashtag. Dos mais específicos estão: a busca da opinião de pessoas sobre determinados
produtos, notícias locais sobre trânsito, imagens de animes, busca pelo perfil de personalidades
(famosos), o uso da hashtag de programas de televisão para acompanhar os comentários sobre,
examinar a origem dos assuntos dos trending topics e identificar os perfis fontes das notícias
em destaques nos trending topics. Percebeu-se nas respostas que a motivação pela qual o
usuário realiza sua busca é especificamente pelo conteúdo de interesse.
Sobre os recursos disponíveis no Twitter (questão 9), 63,33% dos usuários dizem fazer
uso contra 36,67% que não fazem. Perguntados sobre quais costumam usar se obteve como
preferência as hashtags, seguidas pelos trending topics, depois pelo moments e por último o
explorar. Para 70% da amostra (questão 10), o Twitter é sim considerado uma fonte de
informação confiável.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa atingiu os resultados que esperava, pois obteve-se um parâmetro inicial de


como os usuários do Twitter o utilizam (busca por notícias), quais as ferramentas mais utilizadas
(hashtags, trending topics e moments), os conteúdos informacionais mais populares (humor,
notícias, cultura e política), os mais compartilhados (informações e opiniões pessoais) e a faixa
etária predominante (entre 18 e 24 anos de idade), embora outros conteúdos possam ser
abordados em questionários futuros, uma vez que a intenção desta se destinava em apresentar
um objeto empírico diferenciado, pois conclui-se que o Twitter é um espaço de informação
reconhecido e utilizado na prática pelos usuários.
O estudo permitiu examinar os usuários do Twitter de forma mais próxima tornando-se
possível observar seu grau de interação nas práticas de busca realizadas a fim de encontrar
conteúdos (informação) de seu interesse.
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Notou-se que um dos grandes atributos identificados é que para o grande volume de
conteúdo disponível, o Twitter dispõe de mais de um (quatro) recurso para o usuário, além de
revelar como este conhece e utiliza-os ou conhece e opta pelo outro. Isso evidencia uma maior
autonomia na prática informacional exercida pelos usuários que possuem mais de uma maneira
de encontrar aquilo que deseja de forma eficiente. Uma curiosidade está no que aponta o estudo
quanto a confiança da rede, a maioria diz confiar no Twitter no entanto procura em outras fontes
a confirmação das notícias postadas nele.

REFERÊNCIAS

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interacionista. Informação & Sociedade :Est., João Pessoa, v. 22, n. 1, p. 145-159, jan./ abr.
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Informação – ENEBD 2017
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

PRODUTOS DE INFORMAÇÃO: a criação do Tutorial da Biblioteca de Teses e


Dissertações da UFMG

BRITO, Fernanda Teixeira


DIAS, Célia da Consolação
RESUMO
O objetivo desse estudo baseia-se na criação de um tutorial para a Biblioteca de Teses e
Dissertações da Universidade Federal de Minas Gerais, a fim de permitir ao consulente a
visualização de todas as possibilidades de navegação BDTD-UFMG. Para tanto utilizou-se da
própria base como insumo, estudou-se todas as possibilidades de navegação da biblioteca,
printou-se e organizou-se as telas em modelo de apresentação explicativa. Tal processo além
de resultar em um tutorial em formato .ppsx - disponível no site da Biblioteca Professora
Etelvina Lima e na BDTD-UFMG- trouxe a tona à reflexão da importância do bibliotecário
como profissional capaz de perceber uma lacunas informacional e antecipar uma futura
demanda.

Palavras-chave: Biblioteca de Teses e Dissertações da UFMG. BDTD. Tutorial. Produtos de


informação.

INFORMATION PRODUCTS: the creation of the Tutorial of the Theses and


Dissertations Library of UFMG

ABSTRACT
The objective of this study is based on creating a tutorial for the Library of Theses and
Dissertations of UFMG, with the intention of to allow for the consultant the view of all
possibilities of navigation in the website of BDTD-UFMG. The own base was used like inputs
and all navigation’s possibilities of the online library was studied, the screens were printed and
organized in an explanatory presentation model. This process resulted a tutorial in format . ppsx
- available on the website of Library Teacher Etelvina Lima and on BDTD, both of UFMG -
show the importance of the librarian like professional able to perceive the information gaps e
anticipate a future demand.

Keywords: Theses and Dissertations Library of UFMG. BDTD. Tutorial. Information


products.
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1. INTRODUÇÃO

Os serviços de informação estão vinculados à biblioteca desde a sua origem, uma vez
que a própria biblioteca se posiciona como um serviço - em sua essência - de informação. Os
produtos e serviços de informação em suas variáveis facetas, seja no suporte físico ou digital,
no tangível ou intangível, têm como objetivo principal sanar as lacunas informacionais
específicas do produto para o qual foram criados. Tais serviços de informação se moldam a
partir da natureza da informação com as quais se vinculam, por esse motivo estão sujeitos a
enormes variabilidades e as especificidades desses serviços e produtos também estão ligados
ao tempo e suas evoluções.
Na atualidade, essas ferramentas foram transpostas para as novas plataformas digitais,
alguns desses produtos e serviços de informação se mantêm fiéis aos moldes oferecidos pelas
bibliotecas tradicionais, porém, outros foram criados absorvendo as novas oportunidades
disponíveis no ciberespaço da internet. O presente estudo discorre sobre os produtos e serviços
de informação dentro das bibliotecas, a transição das bibliotecas tradicionais para as digitais, a
função das Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações e, por fim, apresenta a criação do
Tutorial da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG (BDTD-UFMG).

2. PRODUTOS E SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO E AS BIBLIOTECAS

O surgimento das primeiras atividades consideradas como serviços de informação foi


impulsionado por dois momentos marcantes na história da humanidade nos quais ocorrem um
aumento expressivo da busca pela informação. O primeiro se deu no contexto pós-Revolução
Industrial, a efervescência da era industrial e a necessidade cada vez maior de mão de obra que
possuísse conhecimento técnico fez emergir o reconhecimento dos livros “como fonte de
informação técnicas e referenciais e sociedades científicas começaram a se formar e a dar início
à publicação de suas revistas e trabalhos” (FOSKETT, 1969, p.17), nesse movimento, os
pesquisadores passaram a influenciar no desenvolvimento industrial e, a partir disso, as
publicações e os intercâmbios de ideias permitiram o rápido crescimento das novas indústrias.
O outro pilar da criação dos primeiros serviços de informação surge com a Primeira
Guerra Mundial, nesse contexto pós-guerra os países que, até então, mantinham suas indústrias
através da utilização de suas obras-primas mais abundantes e importação que não era produzido

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em suas próprias terras, percebem a necessidade de quebrar essa dependência e passam a


trabalhar através da perspectiva do rompimento das barreiras que impediam a comunicação
aberta entre os pesquisadores com o intuito de absorção de conhecimentos diversificados para
a criação de uma produção própria mais abrangente. Esse fenômeno permitiu que os cientistas
começassem a estreitar a comunicação entre eles gerando um aumento crescente de
investigações científicas que, por consequências, aumentou o volume de publicações. Por fim,
com a fundação de departamentos, sociedades e associações de pesquisa e todo crescimento
exponencial de publicações exigiu a criação de bibliotecas – a priori universitárias e industriais
– para armazenamento desse material.
Foi dentro desse contexto que emerge o novo conceito de bibliotecas especializadas, nas
palavras de Foskett (1969):

Foi principalmente nas bibliotecas especializadas que despontou um


novo conceito da função de uma biblioteca: o de que a biblioteca
deveria colaborar na tarefa de proporcionar informações aos
pesquisadores, sem ficar à espera de que eles a pedissem – deveria tanto
disseminar, quanto reunir informações (FOSKETT, 1969, p. 20).

Nas palavras de Rozados (2006):

Foi no campo das pesquisas científicas e industriais que o ‘serviço de


informação’ inicialmente se desenvolveu de modo absolutamente
notável, até chegar à forma característica atual. Foi neste campo que se
originou a ideia de se atribuir a um indivíduo o encargo de organizar o
acervo de informações recém-publicadas que seriam úteis aos
pesquisadores ligados à determinada unidade de informação
(ROZADOS, 2006, p. 52).

Nesse momento é importante destacar que a literatura científica não dispõe de um


conceito único e engessado sobre o que são os “serviços de informação” talvez pela própria
amplitude e significação que o termo “serviços” carrega consigo, contudo, vários autores
apresentam uma percepção similar sobre o termo. Para Azevedo 91 (2001 citado por SILVA,
2015), os serviços de informação são “uma atividade destinada à identificação, aquisição,

91
AZEVEDO, Ana. Serviço de Informação. FEUP/ MGI, 2001. 35 transparências color.
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processamento e transmissão de informação ou dados e ao seu fornecimento num produto de


informação”. Para Cunha e Cavalcanti (2008), serviço de informação é um “setor cuja função
básica é fornecer informações relativas aos respectivos acervos, bem como torná-los acessíveis
aos usuários” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 334). Nas palavras de Silva (2015) “os
serviços de informação compreendem todos e quaisquer serviços prestados à comunidade
atendida (exemplo: empréstimo, devolução, reserva, serviço de referência ao usuário e
normalização de trabalhos acadêmicos)” (SILVA, 2015, p.82).
Rozados (2006) apresenta que uma ideia que, mesmo sendo cunhada na década de 70,
muito se aplica às discussões da contemporaneidade ao pensarmos no universo digital:

Um serviço de informação moderno e eficiente deve garantir que


virtualmente qualquer documento no universo da literatura disponível
ou qualquer dado contido nos documentos esteja disponível a todos os
membros da comunidade usuária. Isto implica que o universo dos
recursos documentais deve estar acessível à população de usuários, em
diferentes níveis de disponibilidade (ROZADOS, 2006, p. 54).

Os serviços de informação devem se apropriar das diversas possibilidades permitidas


pelo meio digital, oportunizando a quebra de um paradigma que traz consigo o a necessidade
do suporte físico e do contato presencial, os serviços de informação no contexto atual podem
extrapolar as barreiras de tempo e distancia fazendo com que seu poder de alcance se amplie
cada dia mais, mesmo dentro das bibliotecas físicas ou, no nosso caso, dentro das bibliotecas
digitais.

2.1 As bibliotecas digitais

Em seus primórdios as bibliotecas eram utilizadas apenas como locais de guarda, com
o passar dos séculos sua potencialidade se expande e sua força de impacto na sociedade se torna
notável, tal instituição passa a ser percebida como uma aliada não só na organização e
disponibilização da informação ou como suporte acadêmico, escolar e empresarial, mas
também como uma instituição capaz de desenvolver uma função cultural, informacional,
recreativa e educacional na comunidade na qual está inserida. Todas essas mutações se deram
a partir das contribuições socioculturais de cada fase da humanidade que, aos poucos, foram

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modificando a relação homem-biblioteca. Portanto, é possível dizer que a biblioteca é um


organismo maleável e transitório.
Na contemporaneidade, a sociedade se configura a partir de usuários informacionais que
se tornaram produtores que geram e compartilham conteúdos, ou seja, se tornaram
colaboradores do processo informacional. Ademais, a web fomentou o surgimento de
ferramentas digitais que criaram novos gêneros documentais que, até então, não existiam no
domínio da informação impressa. Desse movimento cria-se uma nova configuração para a
informação, a partir de agora ela “pode ser transportada na velocidade da luz, armazenada em
densidade atômica, e convergir em novos tipos de documentos que combinam texto, imagem,
gráficos, vídeo, áudio, hiperlinks, applets” (SAYÃO, 2008-09, p. 13). Para Levacov (1997)

A tecnologia é um catalisador de mudanças particularmente


importantes e pungentes para as bibliotecas, uma vez que cria novas
necessidades e altera velhos e sólidos paradigmas estabelecidos ao
longo de muitos séculos. A decorrência maior desta transição é que a
informação torna-se cada vez menos ligada ao objeto físico que a
contém (LEVACOV, 1997).

Assim como em outros momentos da história, a biblioteca absorve esses novos fenômenos e
evolui aos poucos, no contexto da biblioteca digital essa transformação ocorreu de acordo com
as evoluções tecnológicas. Para Levacov (1997) a construção das bibliotecas digitais ocorreram
em dois momentos, o primeiro se dá a partir do controle do inventário e circulação, da criação
dos catálogos, da automação da atividade de indexação e, mais tarde, as versões eletrônicas de
obras de referência, geralmente em CD-ROM. O segundo momento ocorre com o
armazenamento e recuperação de versões eletrônicas da própria informação através dos índices
de periódicos, sumários, abstracts e, na contemporaneidade, dos textos completos e os acessos
à bases de dados online. Para Sayão (2008-09)

As bibliotecas digitais surgem num contexto que sobrepõe, por um lado,


a integração e uso das tecnologias de informação e de comunicação, das
redes de computadores, das tecnologias de apresentação e o
barateamento dos meios de armazenamento em massa; e, por outro, a
disponibilidade crescente de conteúdos digitais em escala planetária, a
possibilidade de digitalização a um custo economicamente viável de
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para a inclusão das minorias sociais no contexto da sociedade.

conteúdos em mídias convencionais e, ainda, o fenômeno conhecido


como coerência das mídias digitais, que abre a possibilidade singular
para a concepção de novos serviços de informação a partir da integração
de objetos digitais heterogêneos (SAYÃO, 2008-09, p. 7).

A biblioteca digital inclui as funcionalidades da biblioteca tradicional, contudo, surge


quebrando o paradigma da organização, do armazenamento e da disseminação do material
físico e amplia as possibilidades de uma biblioteca a partir da transposição de suas limitações
físicas, de tempo e de espaço. Ademais, se configura a partir de um ambiente multifacetado
capaz de possuir um gigantesco volume de coleções, serviços que não se limitam apenas ao
acesso à sua biblioteca, mas que podem direcionar o usuário a outras bibliotecas, além de
materiais variados – áudio, vídeo e outros que não se enquadram no suporte impresso. Em
suma, a biblioteca digital possui numerosas possibilidades e tende a evoluir dia a dia para
atender às mutáveis necessidades da sociedade da informação.

2.2 A distinção conceitual

Devido à amplitude de possibilidades disponíveis no ciberespaço da internet, considera-


se relevante apresentar a distinção entre os conceitos de biblioteca virtual, biblioteca eletrônica
e biblioteca digital que, à primeira vista podem parecer sinônimos, porém, cada qual possui
importantes peculiaridades.
A biblioteca virtual traz em suas possibilidades a navegação virtual, ou seja, ela é:

Conceitualizada como um tipo de biblioteca que, para existir, depende


da tecnologia da realidade virtual. Neste caso, um software próprio
acoplado a um computador sofisticado reproduz o ambiente de uma
biblioteca em duas ou três dimensões, criando um ambiente de total
imersão e interação. É então possível, ao entrar em uma biblioteca
virtual, circular entre as salas, selecionar um livro nas estantes, "tocá-
lo", abri-lo e lê-lo. Obviamente, o único "lugar" onde o livro realmente
existe é no computador e dentro da cabeça do leitor (MARCHIORI,
1997).

Por sua vez, a biblioteca eletrônica está vinculada à ideia de trabalhar eletronicamente os
processos básicos de uma biblioteca. Nas palavras de Marchiori (1997)

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A biblioteca eletrônica é o termo que se refere ao sistema no qual os


processos básicos da biblioteca são de natureza eletrônica, o que
implica ampla utilização de computadores e de suas facilidades na
construção de índices on-line, busca de textos completos e na
recuperação e armazenagem de registros. A biblioteca eletrônica se
direcionará para ampliar o uso de computadores na armazenagem,
recuperação e disponibilidade de informação, podendo envolver-se em
projetos para a digitalização de livros. Haverá um uso extensivo de
meios eletrônicos que ainda coexistirão com as publicações eletrônicas
e será possível remeter-se ao bibliotecário e aos “sistemas especialistas”
(MARCHIORI, 1997).

E por fim, as bibliotecas digitais têm como objeto de trabalho a informação digital e não
possui livros na forma física palpável, ou seja, as bibliotecas digitais se moldam a partir da
intangibilidade, fato que permite o acesso sem as barreiras de tempo e espaço além de permitir
compartilhamento fácil e instantâneo com um custo relativamente baixo.

2.3 As Bibliotecas de Teses e Dissertações (BDTD)

As Bibliotecas de Teses e Dissertações (BDTD) foram criadas com o objetivo de


armazenar e disponibilizar as produções científicas defendidas nos programas de pós-graduação
stricto senso a fim de democratizar e fomentar o acesso às informações cientificas produzidas.
No Brasil, em 2002, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
fundou a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), tendo como foco a
disponibilização, integrada em um único portal, dos sistemas de informação de teses e
dissertações existentes no Brasil, possibilitando uma forma única de acesso a todos documentos
dessas bases em texto completo e sendo a primeira instituição do Brasil a se vincular ao
movimento de acesso aberto a informações científicas. Dentre as 105 bases disponíveis a
Bibliotecas de Teses e Dissertações da Universidade Federal de Minas Gerais (BDTD-UFMG).

2.3.1 Serviços e produtos de uma BDTD

A ambientação tecnologicamente favorável exerce uma


forte influência sobre a reconfiguração dos mercados de
conteúdos e no delineamento de uma nova dinâmica para a
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economia da informação, que rapidamente vai


incorporando novos patamares de consumo de conteúdos
digitais. Assim sendo, surgem diversos produtos e serviços
de informação – resultados de concepções inéditas ou de
inovações sobre serviços já consagrados.92

A partir da fala acima de SAYÃO (2008-09), pode-se considerar que os serviços de


informação se (re)formulam a partir de seu público e das tecnologias vigentes. Dentre os vários
serviços e produtos de informação das BDTD estão: os serviços de alerta via e-mail, a
intercomunicação entre bibliotecas, a disponibilização do fundo bibliográfico antigo, a criação
e manutenção automática de coleções, as ferramentas de busca, ferramentas que permitem o
contato com o administrador, o serviço de atendimento on-line e, no caso da BDTD-UFMG, o
tutorial de navegação.

2.4 Tutorial como serviço de informação

O bibliotecário tem papel de entender e enxergar como vencer as dificuldades criadas


pelo próprio usuário. Segundo Borges (2007), existem dois grupos de serviços de informação:

Os serviços de atendimento à demanda e os serviços de antecipação à


demanda. Os primeiros são aqueles serviços desenvolvidos sob
encomenda, para atender a demandas específicas dos usuários.
Exemplos desses serviços são os levantamentos bibliográficos, as
pesquisas de opinião e respostas técnicas, entre outros. Os serviços de
antecipação à demanda, como o próprio nome diz, visam atender às
necessidades informacionais dos usuários, antes mesmo delas se
tornarem demandas explícitas de informação, apontando possibilidades
futuras aos mesmos. Exemplos desses serviços são os serviços de
disseminação seletiva da informação, os alertas bibliográficos, as
análises do ambiente de negócios da organização, das tendências de
mercado e de cenários de futuro (BORGES, 2007, p. 117).

A autora aponta ainda que deve-se levar em conta, a compreensão do comportamento


do usuário do serviço ou produto de informação. É por meio dele que é possível “mostrar como

92
SAYAO, 2008-2009, p. 7.
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e porque esse usuário escolhe e utiliza ou não determinado serviço ou produto de informação
informacional, possibilitando-se a avaliação e adequação do mesmo” (BORGES, 2007, p. 119).
Dessa maneira, podem-se determinar futuras melhorias e apropriações dos serviços ou
produtos, de acordo com o comportamento e necessidade do usuário.
A partir dessas considerações percebeu-se que na atual configuração de busca de uma
Biblioteca Digital – na qual o usuário, de imediato, nem sempre conta com o auxílio do
profissional da informação – um produto que permita ao consulente conhecer todas as
possibilidades da BDTD-UFMG ampliaria sua capacidade navegação. Tendo em vista que um
tutorial se refere a um “programa contido em documento impresso ou digital que fornece
instruções práticas sobre um assunto” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 369), conclui-se que
tal serviço atenderia a essa demanda.

3. METODOLOGIA

Como o objetivo da criação do Tutorial da BDTD-UFMG parte do pressuposto que


conhecer o ambiente de navegação torna a busca mais coerente e completa, o primeiro passo
para a sua criação foi estudar no site todas as possíveis navegações disponíveis.
No primeiro momento abas como: comunidade & coleções, pela data de envio, autor,
orientador, co-orientador, título e busca avançada foram explorados. Navegou-se nesses
ambientes a fim de simular todos os possíveis caminhos realizados pelo usuário.
Na segunda fase prints das seguintes telas foram tiradas:
▪ tela inicial da BDTD-UFMG;
▪ tela de Buscar no repositório;
▪ tela das Sub-comunidades de Dissertações e Teses;
▪ tela das Sub-comunidades de Monografias de Especialização;
▪ tela de Busca Avançada;
▪ tela de Busca Avançada: âmbito da pesquisa;
▪ tela de Busca Avançada: conjunção;
▪ tela de Busca Avançada: tipo de busca;
▪ tela de Busca Avançada: buscar por;
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▪ tela de Busca Avançada: resultados/página;


▪ tela de Busca Avançada: classificar itens por;
▪ tela de Busca Avançada: à pedido;
▪ tela de simulação da Busca Avançada;
▪ tela de resultados da Busca Avançada;
▪ tela de Pela data de envio;
▪ tela de Autor;
▪ tela de Orientador;
▪ tela de Co-orientador;
▪ tela de Título;
▪ tela de simulação de documento escolhido;
▪ tela de clique em Visualizar/Abrir;
▪ tela de simulação do documento selecionado.
Na terceira etapa de construção do tutorial as telas printadas na fase anterior foram
migradas para o software Power Point. Nas imagens foram acrescentadas informações a partir
de caixas de texto, figuras geométricas, setas e animações. Todo o processo da terceira fase
buscou incluir as informações que auxiliariam em todas as possíveis navegações da base e, em
alguns pontos, simular o clique e seu respectivo resultado. Ademais, foram apresentados: na
tela inicial os objetivos das abas Apresentação, Instruções para o autor e Formulário de
autorização; e na tela Buscar no repositório os caminhos possíveis para contatar os
administradores do repositório.

4. RESULTADO

O projeto resultou em uma apresentação animada com duração média de 8 minutos, em


formato .ppsx, e está disponível no site da Biblioteca Professora Etelvina Lima
(http://biblio.eci.ufmg.br/) e na BDTD-UFMG (http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace).
As imagens abaixo são resultado final do tutorial.

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Figura 1 – Capa do Tutorial da BDTD-UFMG

Fonte: Site da BDTD-UFMG, 2016.

Figura 2 – segunda tela do Tutorial da BDTD-UFMG

Fonte: Site da BDTD-UFMG, 2016.

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Figura 3 – terceira tela do Tutorial da BDTD-UFMG

Fonte: Site da BDTD-UFMG, 2016.

As imagens acima representam as três telas iniciais do tutorial. Como apresentado, buscou-se
indicar de maneira clara as especificidades de cada campo a fim de demonstrar ao usuário as
várias possibilidades de navegação da biblioteca.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação desse tutorial sobreveio de uma premissa que visualiza o bibliotecário como um
especialista capaz de antecipar a demanda informacional do usuário, portanto, tal profissional
precisa ocupar seu espaço diante tais lacunas. A partir disso, elaborou-se produto que irá
auxiliar o usuário em sua navegação de maneira estruturada e de simples entendimento.
Ademais, percebeu-se que, assim como na BDTD-UFMG, há vários ambientes, fora e dentro
do meio digital, que necessita desse feeling e que tal percepção resultará em ampliação do

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campo de trabalho além de construir caminhos que permitirão maior compreensão do ambiente
informacional explorado.
O tutorial tende a auxiliar o usuário que, de alguma forma, encontra dificuldades para navegar
pelo sistema da BDTD-UFMG. Esse tipo de serviço poupa tempo dos profissionais que atuam
na referência da biblioteca digital, pois esses não recebem mais perguntas básicas sobre o
funcionamento e organização do website. REFERÊNCIAS

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gerenciamento de recursos de informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 26, n. 2,
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Ciência da Informação) – Instituto de Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2015.

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sociedade.

SERVIÇO DE REFERÊNCIA: Satisfação e efetividade na biblioteca do TRT/GO

ARAÚJO, Vítor Paiva Machado Martins de93


SILVA, Maylda Rodrigues da94
VIEIRA, Ana Paula da Fonseca95

RESUMO
Trata de uma pesquisa de satisfação e efetividade quanto ao serviço de referência da
biblioteca do Tribunal Regional do Trabalho - 18º região. Objetiva conhecer e mensurar
este processo pela perspectiva tanto dos usuários quanto dos profissionais envolvidos.
Estabelece um diagnóstico do serviço na referida unidade, aponta o perfil do consulente
e cruza as variáveis com base nas diretrizes teóricas que orientam estudos de usos e
usuários da informação. Parte da premissa de que se soubessem a potencialidade do
serviço de referência, as buscas seriam mais consistentes e o retorno à altura das
expectativas. Utilizou questionário com questões abertas e fechadas como método para
coleta de dados; o primeiro para propor indicadores de qualidade pelos 26 usuários
escolhidos aleatoriamente, mas constituintes do quórum; o segundo como um roteiro pré-
estabelecido de caráter flexível a título de contextualização da atividade pelo
bibliotecário. Com base na literatura, a pesquisa é classificada como aplicada, quali-
quantitativa, exploratória-descritiva e estudo de caso experimental. Justifica-se pela
demanda de atividades dessa natureza nunca antes realizadas na biblioteca e pela
necessidade de atentar aos novos paradigmas sociais da área, em que o usuário é
participativo na criação de produtos e serviços para a unidade de informação. Conclui,
portanto, confirmando a hipótese de que, embora usem o serviço, desconhecem sua
totalidade.

Palavras-chave: Serviço de referência. Satisfação e efetividade em serviços


informacionais. Bibliotecas jurídicas.

REFERENCE SERVICE: Satisfaction and effectiveness in the library of TRT/GO

ABSTRACT
This is a survey of satisfaction and effectiveness regarding the reference service of the
library of the Regional Labor Court - 18th region. It aims to know and measure this

93
Acadêmico do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail:
vitor_paiva_machado@hotmail.com
94
Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail:
maylda.silva123@gmail.com
95
Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail:
anapaulafonsecaafv@hotmail.com
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da
informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

process from the perspective of both the users and the professionals involved. It
establishes a diagnosis of the service in said unit, points the profile of the querent and
crosses the variables based on the theoretical guidelines that guide studies of uses and
information users. Based on the premise that if they knew the potential of the referral
service, the searches would be more consistent and return to live up to expectations. Has
used a questionnaire with open and closed questions as a method for data collection; the
first to propose quality indicators by the 26 randomly chosen users, but constituents of
the quorum; the second as a pre-established itinerary of flexible character as
contextualization of the activity by the librarian. Based on the literature, the research is
classified as applied, qualitative-quantitative, exploratory-descriptive and experimental
case study. It is justified by the demand for activities of this nature never before carried
out in the library and by the need to pay attention to the new social paradigms of the area,
in which the user is participatory in the creation of products and services for the
information unit. It concludes, therefore, confirming the hypothesis that, although they
use the service, they do not know its totality

Keywords: Reference service. Satisfaction and effectiveness in information services.


Legal libraries.

1 INTRODUÇÃO

É comum ouvir que as novidades tecnológicas ressignificaram as


bibliotecas. No entanto, deve-se levar em conta que, embora sua roupagem tenha alterado,
a essência permanece a mesma: reunir para dispersar. Num ambiente físico ou virtual, a
proposta é atender às necessidades do consumidor a partir do conteúdo informacional em
seus respectivos suportes.
No decurso da história, percebe-se que a inserção dos computadores alterou não
só os procedimentos, como as prioridades das bibliotecas, uma vez que a máquina
realizou o trabalho operacional e possibilitou diálogo entre as unidades de informação. Já
que o novo paradigma otimizou a prática, o profissional pôde, então, voltar-se ao
atendimento e estudar seu público. No contexto em que as bibliotecas superaram a
condição de depósito de livros e foram entendidas como um equipamento de construção
do sujeito e emancipação da identidade, nasceram os estudos que aprimoraram o
atendimento até torná-lo um serviço de lógica e dinâmica próprias.
As informações são produzidas hoje num ritmo vertiginoso. Torna-se um desafio para a
biblioteca contemporânea, nessa perspectiva, acompanhar, compreender e resolver as
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necessidades informacionais. O serviço de referência é, portanto, imprescindível,


inclusive no ambiente virtual. Sabendo dos diversos tipos de biblioteca e suas respectivas
especificidades, preocupa-se aqui com unidades de informação especializadas jurídicas,
especificamente a Biblioteca do Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Goiás.
O objetivo do estudo é norteado pela necessidade de investigação do serviço oferecido na
referida instituição para mensurar a efetividade e satisfação dos envolvidos nesse
processo. A problemática do estudo, por sua vez, é saber como acontece o serviço de
referência na unidade a partir da perspectiva de quem oferta e quem usufrui. Parte da
hipótese de que, se os usuários soubessem da potencialidade desse acompanhamento em
suas pesquisas, fariam buscas mais consistentes e suas necessidades informacionais
seriam atendidas à altura das expectativas. Além de confirmar o objetivo da biblioteca em
atender competentemente seus consulentes, a pesquisa propõe melhorias para a unidade
quanto aos serviços, e contribui à desmistificação das unidades especializadas do setor
público como um departamento estanque, de modo a pensá-las integradas às práticas do
órgão ao qual complementa as desenvolvidas.
Para cumprir com os objetivos, é necessário, portanto, ter conhecimento das diretrizes
teóricas da área, estabelecer um diagnóstico que mapeie o serviço, identificar o perfil do
usuário e suas necessidades, para, assim, cruzar as variáveis. Utiliza um questionário
como instrumento de coleta de dados com questões fechadas e abertas na dimensão do
consumidor final da informação e do profissional responsável por permitir este acesso.
Muito mais que quantificar a situação, as questões propuseram indicadores de qualidade
e deixaram espaços para sugestões de melhoria, previamente determinadas e de natureza
aberta, para que expusessem e contextualizassem o serviço estudado.
Logo, o serviço de referência realizado tradicionalmente em bibliotecas jurídicas conta
com a ajuda de recursos apropriados e utiliza-se dos benefícios das tecnologias de
informação e comunicação – como tantas outras bibliotecas – para otimizar seus serviços
e atender às necessidades informacionais de seus usuários. Nisso, esse artigo pretende
também evidenciar aos bibliotecários a importância do contato com os usuários, do
planejamento, assim como o seu papel frente à utilização das tecnologias de informação.
Vale lembrar que este trabalho é fruto da disciplina Serviços de Referência, oferecida na
Universidade Federal de Goiás aos estudantes do 7º período em Biblioteconomia.
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2 METODOLOGIA

De acordo com Silva e Menezes (2005 apud MATIAS-PEREIRA, 2007), uma


pesquisa é classificada de diversas formas. Levam-se em consideração diferentes
aspectos, como a natureza, abordagem, objetivo e procedimentos técnicos.
Sendo assim, este estudo trata de uma pesquisa aplicada, pois se constitui a partir
da detecção de um problema num serviço específico de uma unidade de informação. É
qualitativa por mensurar numericamente alguns aspectos, mas, acima de tudo, qualitativa
na medida em que propõe ressaltar aspectos positivos e negativos de um determinado
objeto sob a ótica da satisfação e efetividade. Existe “[...] um vínculo indissociável entre
o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.”
(MATIAS-PEREIRA, 2007), como no referido caso da apreciação de um serviço
oferecido pela biblioteca, o qual pressupõe a subjetividade do usuário impossível de se
desconsiderar.
Quanto aos objetivos, encontra-se na confluência entre exploratória e descritiva,
pois, segundo Gil (2000 apud MATIAS-PEREIRA, 2007), este estudo além de envolver
experiência prática e interpretação de exemplos para escancarar algum problema, observa
e descreve uma situação a fim de correlacionar variáveis que, no caso, é o serviço de
referência pelas lentes dos profissionais e usuários. Ainda à luz desse teórico, é inevitável
não considerá-la um estudo de caso, por se tratar de um elemento específico de algum
ambiente. Mas pode-se dizer que é, também, experimental, pois num determinado
momento há relação com variáveis econômicas, políticas, sociais, geográficas e
temporais, as quais interferem empírica e diretamente no objeto.
É necessário esclarecer que, metodologicamente, o questionário foi aplicado a 26
usuários da biblioteca apresentada, escolhidos aleatoriamente em função particularidade
de a unidade estar operando em horários especiais pelo reajuste financeiro. Essa
quantidade é representante da parcela mínima que garante a extração de informações e
proposição de mudanças numa totalidade da biblioteca, visto que nenhuma pesquisa é
plena, inquestionável ou analisada isoladamente. O instrumento de coleta de dados nesta
instância pressupunha indicadores de qualidade de acordo com a escala Likert, em que o
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avaliador atribuiria de 5 a 1 para, respectivamente, excelente, bom, regular, ruim e


péssimo, determinando que a opinião seja nivelada nesses aspectos. Quanto aos
profissionais, contudo, teve caráter mais flexível, no qual puderam fazer uma avaliação
autocrítica, levando em consideração o serviço prestado dentro da conjuntura.

2 SERVIÇO DE REFERÊNCIA

A arte de produzir informações surgiu desde os primeiros indícios da fala e escrita. Com
o passar dos séculos, os registros só aumentaram e a necessidade de organizá-los também,
pois essas informações só se tornam eficazes e precisas quando representadas em algum
lugar.
Ao longo da evolução da escrita, o suporte de informação foi o
que mais se destacou, mudando à medida que a sociedade
descobria novos recursos para registrar a própria história,
pensamentos, leis e produção científica de uma área especifica do
conhecimento (ARAÚJO; FACHIN, 2015, p. 82).

Como os estudiosos e pesquisadores tinham a necessidade de conhecer assuntos


da área de atuação e melhorar as suas funções, construir novas teorias era preciso.
Portanto, ter um sistema de informação eficaz para encontrar os documentos que
necessitavam, mesmo que de maneira rudimentar quando comparado aos sistemas de
hoje, era imprescindível. Foi, então, criado um sistema de informações para minimizar
explosão bibliográfica.

A revolução informacional, propiciada pelo surgimento das


tecnologias da informação e comunicação e principalmente com
o advento da Internet, traz consigo novas formas de gerar,
armazenar, processar e disseminar informações (SCHWITZER,
2007).

Assim, com o avanço da tecnologia, o sistema foi se aprimorando através de


computadores fazendo com que os serviços fossem todos automatizados, proporcionando
maior efetividade e rapidez nos sistema de disseminação de informações.

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sociedade.

As bibliotecas realizavam atividades de forma manual com a intenção de fazer


com que os usuários obtivessem as informações procuradas de maneira precisa,
oferecendo-lhes alerta sob os boletins informativos, sumários de periódicos, exposição de
aquisições, atualizações dos acervos e a circulação entre os usuários. Porém, com os
avanços científicos e tecnológicos, o aumento de publicações, dentre outros fatores,
dificultou-se ainda mais o controle bibliográfico nacional e internacional, causando
também ineficiência nos serviços oferecidos pelas instituições.
Segundo Antunes (2006, p. 50), “atualmente, o volume de informação aumenta a
grande velocidade, e regista certa dificuldade em organizar e disponibilizar todo esse
conteúdo”. A organização para uma eficiente difusão é indispensável, aliada, pois, ao
processo de entrevista. Não obstante, para mediar a relação sujeito-necessidade-
informação, deve-se saber a fontes ideais e mecanismos de busca para efetivamente haver
recuperação.
Diante desse cenário, o profissional da informação - especificamente o
bibliotecário - deve sempre estar atento às mudanças tecnológicas que influenciam e
facilitam o seu objeto de trabalho para melhor atender seus usuários, mesmo diante de
fontes de informações diferenciadas. Aprimorar o serviço de atendimento positivamente
é, portanto, uma necessidade do serviço de referência.

O bibliotecário de referência é o profissional que mantêm o


contato mais próximo dos usuários de uma unidade de
informação. Através dele, é criada uma interface direta entre a
informação e o usuário, sendo este o momento em que exerce
especificamente o serviço de referência (SILVA, 2005, p. 33).

Este tipo de serviços pode ser considerado como auxílio na busca de informações para os
usuários, no qual o objetivo é atender o público de forma competente quando o consulente
realizar a busca da informação desejada. É importante lembrar que há vários serviços em
diferentes ambientes e fontes, sendo elas físicas ou virtuais, dependendo também de suas
especificidades.

O serviço de referência pode variar quanto aos seus objetivos e


quanto à sua profundidade, dependendo do tipo de biblioteca
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onde se realiza, ou seja, de acordo com as características e as


finalidades da biblioteca. Ademais, os métodos de proporcionar
serviços de referência aos consulentes dependem também de
circunstâncias individuais e das diretrizes de cada biblioteca
específica, as quais certamente não se enquadram em padrões
preestabelecidos (FIGUEIREDO, 1992, p. 5).

Para que o desempenho desses serviços seja atingido de maneira positiva, é necessário
que tenha não só uma estrutura organizacional. De acordo com Grogran (2001), o
processo de referência possui uma sequência lógica, no qual o papel e as habilidades do
bibliotecário são de extrema importância. O mesmo autor classifica em oito etapas, sendo
elas: problema, a necessidade de informação, questão inicial, questão negociada,
estratégia de busca, processo de busca, resposta e solução; no qual o bibliotecário entra
em ação a partir da terceira etapa – a questão negociada.
Para Figueiredo (1992), os processos de referência são classificados em seis etapas:
seleção da mensagem, negociação da questão, desenvolvimento da estratégia de busca, a
busca, seleção da resposta e renegociação. Portanto, o consulente está envolvido
diretamente em apenas quatro destas etapas – seleção da mensagem, negociação, seleção
da resposta e renegociação.
Nesse contexto, Silva (2005) utiliza uma abordagem menos detalhada, mas não deixa de
ressaltar sobre o processo de referência.

Qualquer que seja a dúvida apresentada pelo usuário, requer a


habilidade do bibliotecário em direcioná-la até o foco do
propósito de sua pesquisa, criando etapas durante a entrevista que
devem começar pela totalidade das dúvidas e as dificuldades na
formulação das perguntas, para então filtrar e formular os
objetivos do usuário e as etapas necessárias para criar uma
metodologia de pesquisa. (SILVA, 2005).

Schwitzer (2007) ressalta que as novas tecnologias da informação potencializam


o serviço de referência, eliminando o senso errôneo de que substituem o bibliotecário.
Também articula que o profissional de outrora se preocupava em recuperar a informação

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sociedade.

para o usuário, mas, atualmente, estão interessados em ensinar como buscar a informação
em fontes adequadas tornando-os autônomos em suas buscas.

Juntamente a sua função de orientador em uma unidade de


informação ou ambiente virtual, ele também atua como educador,
utilizando os seus conhecimentos profissionais para selecionar a
informação adequada para seus usuários e capacitando-os para
trabalharem sozinhos no direcionamento de sua pesquisa
(SILVA, 2005, p. 33).

Nos paradigmas atuais da informação, pode-se dizer que o ambiente virtual foi
“territorializado”, de modo que o sujeito habita este locus na mesma intensidade com que
a própria realidade. Esse contexto é levado também às unidades de informação, as quais
precisam se adaptar para atender seus consulentes em suas novas especificidades. Tornou-
se uma tendência em inúmeras bibliotecas, que lançam mão de chats, e-mails, bate-papos
entre ouras ferramentas dadas pelas tecnologias para atender a demanda sem que haja a
presença física. De acordo com Serafim (2010, p. 4), a referência virtual “é o serviço que
possibilita ao usuário conectar-se remotamente com um sistema de informação,
utilizando-se dos meios de comunicação, com destaque para rede de computadores”. Não
obstante,

[...] existem várias formas de se trabalhar com softwares que


simulam conversação entre bibliotecário de referência e usuário,
porém, como nenhuma máquina pode substituir totalmente a
percepção cognitiva humana, vai ser sempre necessário a
participação de um bibliotecário de referência, e isso ocorrerá
quando o software não for capaz de responder a um
questionamento do usuário. (SERAFIM, 2010, p. 4)

Contudo, o profissional da informação deve estar sempre atento às novas


tecnologias que influenciam seu trabalho, aprimorando-as da melhor forma possível
para cumprir a real função do serviço de referência, deixando, então, a informação ao
alcance de quem as necessita, no paradigma em que o cliente se junta ao fornecedor e
pensa conjuntamente os produtos e serviços daquele ambiente, de modo a aprimorar,
a partir dessa emancipação, a recuperação da informação.
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sociedade.

4 BIBLIOTECA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO – 18ª REGIÃO

Devido às constantes alterações na legislação, a doutrina e a jurisprudência sofrem


mudanças significativas em pouco tempo. Isso afeta toda a cadeia produtiva da
informação. O acervo das bibliotecas e centros de documentação especializada na área
jurídica mantém em suas coleções e bases de dados uma série de informações sobre leis,
legislação, jurisprudência, pareceres e outros materiais de ordem jurídica.
A obsolescência é muito grande na área, já que se criam muitas leis num curto
período de tempo. Esse processo exige do bibliotecário uma atenção estratégica para
seleção e desenvolvimento das informações de sua responsabilidade. Um estudo de
usuários é o meio mais adequado para tomadas de decisões quanto às novas estratégias
de atendimento, consultas e também às novas demandas.
A Biblioteca do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região foi inaugurada em
10 de Dezembro de 1993, possui serviço de referência presencial e virtual, e está
vinculada à Escola Judicial do TRT, com 4 colaboradores, sendo um estagiário do curso
de Biblioteconomia e 2 bibliotecários, além de uma servidora que há 8 anos trabalha
exclusivamente com o atendimento. Seu público alvo são usuários que já conhecem a
informação disponibilizada pela biblioteca, tornando assim um público igualmente
especializado.
Já sua visão é alcançar a excelência na prestação dos serviços judiciais, na gestão
de pessoas e recursos até 2020. A biblioteca não tem uma missão específica, porém o
tribunal tem a sua própria missão, incorporada à unidade pelo pertencimento e
contribuição na esteira de produção de um órgão administrativo dessa natureza.
A unidade relaciona os serviços de referência oferecidos:
• Empréstimo domiciliar;
• Treinamento de usuários;
• Estatística;
• Renovação e reserva de obras;
• Levantamento bibliográfico;
• Serviços de intercâmbio;
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• Atendimento presencial.

O empréstimo domiciliar é somente para os magistrados e servidores do TRT. A


biblioteca faz mensalmente empréstimos de 253 livros e 159 periódicos. Com 371
atendimentos de público externo e 80 internos. Por ter um público praticamente de
servidores e/ou estudantes para concursos, é quase inexistente a solicitação de
treinamento ao usuário, posto que o objetivo deles e utilizar do espaço ofertado pela
biblioteca para suas leituras/estudos. Devido aos reajustes financeiros, todo o órgão está
operando em horário especial, o que afeta muito o uso do espaço.
O atendimento bibliográfico, que consiste em pesquisar a bibliografia existente
sobre um determinado assunto, seguindo os dados ofertados pelo usuário, como palavras-
chave, tipo de material – tendo como referência mês de maio/2016 – foi de 77, sendo em
torno de 7,5 atendimentos diários. O serviço de intercâmbio é bastante utilizado, visto
que as varas do interior solicitam um grande volume de exemplares para a biblioteca.

4.1 DIAGNÓSTICO E PROPOSTA AO SETOR DE REFERÊNCIA

Sabe-se que a biblioteca jurídica de maneira geral objetiva, pelos princípios de


Miranda (1990), disponibilizar ao seu público alvo as informações produzidas pelos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, sendo sua principal finalidade o atendimento
e oferecimento de suporte informacional não só ao público externo em suas necessidades
específicas voltadas à área, mas atividades também internas para desembargadores,
servidores, estagiários.
Embora existam outras facetas do serviço de referência, analisa-se o atendimento
presencial. O panorama se dá através de um questionário, o qual contempla a perspectiva
dos profissionais prestadores do serviço. Para elucidar a investigação, segue o quadro
comparativo. Ele estabelece um paralelo entre os distanciamentos e aproximações se
tratando de uma autoavaliação da importância do bibliotecário nesse processo,
atendimento às necessidades, satisfação e sugestão. Percebe-se também uma crítica
coerente entre expectativa e realidade do atendimento.

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Quadro 1 – A referência pelos bibliotecários

Profissional I Profissional II
Importância do
bibliotecário no processo Muito importante Fundamental
de referência
Atendimento às
necessidades dos Atende integralmente Atende razoavelmente
usuários pelo serviço
Satisfação do
profissional com o Satisfeito Parcialmente satisfeito
serviço ofertado
Capacitação e treinamento
Sugestão Verba para inovação
em novas bases de dados

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Na primeira instância, percebe-se que os posicionamentos são complementares,


uma vez que consideram o bibliotecário imprescindível para o processo de referência.
Ambos ressaltaram que se trata de uma técnica especializada de busca que pressupõe
relação interpessoal e afinidade. O Profissional I observa que os consulentes consideram
um atendimento comum e subestimam a capacidade de interferência na busca até se
surpreenderem. No segundo aspecto, os profissionais divergem. O Profissional II, mesmo
depois da sondagem, explica que o processo não se efetiva porque depende de outra via,
do usuário, quanto à capacidade de expressão e de se fazer entendido. Constitui-se um
ruído que desvia o atendimento da necessidade. Dessa maneira, um profissional está
satisfeito com o serviço e o outro razoavelmente. Enquanto o primeiro sugere capacitação
e treinamento para adaptação às novas demandas, o outro sugere verba para a biblioteca
e esclarece que ela é indissociável da circunstância. O contexto e as esferas políticas,

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sociais, econômicas determinam a conjuntura. A biblioteca sofre, então, por ser


considerado um setor supérfluo.
O bibliotecário de referência é o profissional que tem contato direto com os usuários
sabendo de seu interesse e necessidades. Para isso, ele precisa desenvolver habilidades e
competências de modo que o momento de busca seja um estímulo a ambas as partes, pois
só assim a resposta será a solução que o usuário tanto procura. Sabendo disso, a maioria
dos usuários, 73%, acha importante o bibliotecário no atendimento, conforme expõe o
gráfico a seguir.
Gráfico 1 – Importância do bibliotecário no atendimento

4% 23%
Muito Importante

Importante

73% Regular

Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

Os usuários são fundamentais para o cumprimento do propósito de uma biblioteca


e, conforme Oliveira (2010, p. 35), “o principal responsável pela percepção do cliente é
o serviço prestado. É durante este processo que ocorre um ‘encontro de serviço’. Esse
encontro é composto de diversos momentos de interação que vão impactar a percepção
total da qualidade de um serviço”. Logo, percebe-se que através dos usuários permite-se
que as bibliotecas possam avaliar de forma eficaz os serviços ofertados.

Gráfico 2 – Atendimento do serviço às necessidades

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sociedade.

0%
8% 0% Excelente
0%
Bom

Regular

Ruim

Péssimo
92%

Fonte: dados da pesquisa (2016)

No gráfico 2, perguntou-se quanto à satisfação no atendimento do serviço de


referência prestado, ficando 92% desses usuários satisfeitos, ou seja, avaliaram como
‘bom’, e 8% regular. Portanto, o serviço oferecido pela referida unidade, mesmo que não
conhecido pelos usuários como serviço de referência, é considerado satisfatório e atende
as necessidades dentro do que esperam que o atendente faça. Não houve respostas que
classificassem como “excelente”, “ruim” ou “péssimo” e no espaço destinado às
sugestões, ocorrência apenas de aspectos distantes do serviço em questão, os quais
enfatizaram horário de funcionamento e redisposição do espaço físico.

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após análise da referência pelos usuários externos, é necessário dizer que sugere-
se à biblioteca que fique aberta por mais tempo. Analisando o perfil, nota-se que são em
sua maioria pessoas que estudam para concursos e em alguns casos raros estudantes de
ensino médio. Isso explica o fato de que, embora a maioria qualifique o serviço, poucos
usam ou conhecem de fato, porque a finalidade e frequência de uso da biblioteca são
bastante específicas. Foi observado que os bibliotecários preocupam mais com produtos
e solicitam atendimento para localizarem material na estante, não na pesquisa
propriamente dita e utilizam, portanto, principalmente a dimensão do espaço físico.
O serviço oferecido pela biblioteca, considerando tamanho e condições em que se
encontra, é bastante satisfatório, posto que atende às varas do interior de Goiás, e isso é
feito através dos serviços de intercâmbio que muito contribui e faz com que as obras
circulem e cumpram com sua função. Observa-se a prioridade dada à referência, uma vez
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que existe um profissional exclusivo para essa função. Entretanto, confirma-se a hipótese
de que os usuários desconhecem o serviço e fazem uso superficial do atendimento.
Acontece, também, muito em função de esse profissional não ser especializado, embora
tenha aptidões para executar a tarefa.
Propõe-se uma intervenção na unidade para que seja feito um trabalho de
marketing a fim de dar visibilidade à biblioteca e ressaltar que lá existem não só produtos
como serviços, sobretudo apoio às necessidades de informação. Sugerem-se campanhas
que aproximem essa seção aos interesses de seus usuários e que reforcem a ideia de que
ali é mais que um espaço físico agradável, propicio à intelecção, mas um ambiente de
encontro entre informações e pessoas para produção do pensamento. Sem um serviço de
referência efetivo, a biblioteca não só não se materializa com toda sua competência, como
contraria sua função de satisfazer o usuário nas suas demandas e torna-se um lugar estéril,
distante do historicamente do momento atual.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O serviço de referência ganhou destaque nas bibliotecas já que, por vezes, é uma
das principais utilidades no mundo globalizado. Hoje é, sem dúvida, um instrumento de
aproximação entre as necessidades de informação e a torrente informacional. Por isso, no
âmbito jurídico, pode ser um fator decisivo para a sua finalidade, pois é preciso estar
sempre atento às novas formas de produzir e compartilhar informações.
Percebe-se que a biblioteca contemporânea precisa levar a informação a todos os
domínios de maneira democrática. Quanto mais capacitado o profissional à frente da
referência estiver, melhor serviço será destinado ao usuário em seu momento de busca.
Assim, deve também estar sempre atento às mudanças comportamentais dos seus
usuários e suas respectivas buscas por informação, pois o alicerce do trabalho é a
satisfação do usuário, não o serviço em si. Para isso, é fundamental que o profissional
tenha qualificação, aprimoramento e educação continuada, para exercer da melhor forma
e com os melhores recursos à sua disposição. É imprescindível que estejam cada vez
mais motivados a inovar e mudar a forma de trabalho, tendo como principal meta a
disseminação da informação para o atendimento do usuário, pensando na biblioteca não
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apenas como local físico onde se regista e armazena conteúdos, mas como um ambiente
ideológico onde se produz e dissemina conhecimento de forma personalizada.
Pode-se dizer que os objetivos do estudo foram atingidos, de modo que a pesquisa
configurou um instrumento de mudança na biblioteca em questão. O serviço de
referência, após verificação, permitiu interferências por conter duas facetas: a vertente de
quem oferta e as lentes de quem é atendido. O presente estudo é pedra de toque para que
a Ciência da Informação, de maneira geral, volte a atenção às suas atividades-fins, visto
a relevância da satisfação do usuário para garantir a manutenção da prática à medida em
que tenha suas inquietudes intelectuais respondidas efetivamente. Além disso, fica
evidente que a área precisa trazer o consulente para a unidade, fazendo com que ele seja
agente de mudança e construção do ambiente o qual pertence e usufrui.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Maria da Luz M. Serviços de referência na área da saúde em contexto


universitário: o papel de mediador do bibliotecário de referência. Lisboa: Universidade
Autónoma de Lisboa, 2006. 106 p.

ARAÚJO, E. A.; DIAS, G. A. A atuação profissional da biblioteca no contexto da


informação. In: OLIVEIRA, M. (Coord.). Ciência da informação e Biblioteconomia:
novos conceitos, conteúdos e espaço de atuação. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 11-
22.

ARAÚJO, Nelma Camêlo. FACHIN, Juliana. Evolução das fontes de informação.


Biblios: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da Informação, v. 29, n.1,
2015.

FIGUEIREDO, Nice Menezes de. O usuário e o processo de referência. In: ______. A


prática do serviço de referência. São Paulo: Polis/APB, 1992. p. 59-94.

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XL Encontro Nacional de Estudantes de
Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão
da Informação – ENEBD 2017
Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da
informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Serviços de referência e informação. São Paulo:


Polis, 1992. (Coleção Palavra-Chave).

GROGRAN, Denis. A prática do serviço de referência. Brasília: Briquet de


Lemos/Livros, 1995. 196 p.

MATIAS-PEREIRA, José. Manual de metodologia da pesquisa científica. São Paulo:


Atlas, 2007.

MIRANDA, Antonio L. C. de. Modelos alternativos de empréstimos entre


bibliotecas. Brasília: Programa Nacional de Ensino Superior, 1990.

OLIVEIRA, Renata Aparecida de. Avaliação da qualidade dos serviços de referência


da Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalho
de Conclusão do Curso de Graduação em Biblioteconomia, Centro de Ciências da
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2010. 69 p.

SCHWITZER, Fernanda. Análise dos serviços de referência virtuais. Revista Ponto de


acesso, v.1, n.2, p. 37-48, jul/dez. 2007.

SERAFIM, Jeaze Garcia. Serviço de referência on-line e a semiótica. Revista


Anagrama, v. 3, n.3, p. 1-8, mar./maio de 2010.

SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Bibliotecários especialistas: guia de especialidades


e recursos informacionais. Brasília: Thesaurus, 2005. 264 p.

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XL Encontro Nacional de Estudantes de
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da
informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

RESUMOS EXPANDIDOS
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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ANÁLISE DA PUBLICAÇÃO DE DADOS ABERTOS NO PORTAL DA SAÚDE


- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

TOMOYOSE, Kazumi96
GALHARDO JÚNIOR, Fúlvio José97

RESUMO

Diante do expansivo compartilhamento de informações e iniciativas de transparência de


recursos, cresce a possibilidade de pacientes dependentes do serviço de saúde público
obterem informações que auxiliem sua situação médica. Este trabalho busca identificar o
conjunto de dados abertos no sistema público de saúde brasileiro, Sistema Único de Saúde
– SUS, com intuito de indicar o nível de assiduidade e transparência aos usuários do
serviço. Por meio da análise da literatura sobre dados abertos em conjunto com o decreto
nº 8.777 que institui as diretrizes da publicação de dados abertos produzidos pelo Poder
Executivo Federal e da exploração do site do SUS. Foi verificado que o portal não está
de acordo com a política de dados abertos, publicando grande parte de seus dados em
formatos não correspondentes, além disso, os resultados apresentam a ausência de
informações relacionadas aos profissionais, e ainda, a presença de muitos links inválidos.
Considera-se que a aplicação dos dados abertos no portal beneficiaria o acesso à
informação, promovendo maior transparência e auxiliando os usuários no acesso de
informações relevantes aos seus tratamentos.

Palavras-chave: Acesso à informação. Dados abertos. Sistema Único de Saúde (SUS).

1 INTRODUÇÃO

96
Acadêmica no curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade Federal de São Carlos
– UFSCar.
kazumi2075@gmail.com
97
Acadêmico no curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação na Universidade Federal de São Carlos
– UFSCar.
fulviogalhardo@gmail.com

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

O volume de informações e de dados gerados pela sociedade estão sempre em


crescimento, e com isso, surge o interesse da população nas informações originadas no
setor público, uma vez que estas dizem respeito a todos. Diante dessa evolução da
necessidade de informação cita-se a iniciativa de dados abertos (Open Data), que possui
como objetivo disponibilizar acesso livre e gratuito a informações, para que todos os
cidadãos possam recuperá-las, acessá-las e distribuí-las. Esse acesso contribui de diversas
formas, não só pelo contato transparente com o usuário, mas para manutenção e pesquisa.
Em 11 de maio de 2016 foi instituída a política de dados abertos do Poder Executivo
Federal (BRASIL, 2016), esclarecendo a obrigação dos setores públicos em tornar seus
serviços transparentes àqueles que se interessarem.
Um bom exemplo de contribuição dos dados abertos é o Prescribing Analytics,
um programa britânico de agentes independentes que trabalham no setor público de saúde
visando encontrar formas de economizar gastos neste setor com o governo (PIRES, 2015).
Em um estudo na base de dados aberta de receitas médicas do país os pesquisadores
descobriram que entre os anos de 2011 e 2012 o governo britânico poderia ter
economizado 27 milhões de libras se médicos tivessem receitado versões genéricas da
estatina, medicamento para combate de colesterol que é altamente prescrito, que possuem
tanta eficácia quanto as versões mais onerosas (PIRES, 2015).
Frente a esse cenário em que o serviço de saúde mostra-se essencial, busca-se, a
partir do atual trabalho, realizar uma análise das condições de publicação dos dados
abertos disponíveis no portal do sistema de saúde público nacional, Sistema Único de
Saúde (SUS), averiguando se estes estão de acordo com o decreto nº 8.777 que institui a
política de dados abertos do Poder Executivo Federal (BRASIL, 2016), apontando
irregularidades e possíveis medidas de ação.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho foi desenvolvido a partir da leitura da literatura referente aos


dados abertos e análise do portal do SUS. O conceito de dados abertos foi pesquisado nas
bases de dados Google Acadêmico, BIREME e SciELO, em conjunto ao decreto nacional

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

que estabelece as diretrizes da publicação de dados abertos produzidos pelo Poder


Executivo Federal, sendo, em seguida, explorado o Portal da Saúde, o portal digital do
Sistema Único de Saúde (SUS), no período de abril a maio de 2017, para a conferência
da aplicação dos dados abertos no sistema de saúde público nacional em ambiente
eletrônico.

3 DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

A preocupação com a disponibilização de informação à população é uma questão


imbuída na sociedade atual, especialmente por conta do recorrente desenvolvimento das
tecnologias de informação. Neste cenário aparece a iniciativa de dados abertos, que se
trata do fornecimento do acesso à informação de maneira aberta e transparente.
Os dados abertos permitem que todas as pessoas possam recuperar dados, acessá-
los e reutilizá-los de forma gratuita, favorecendo desde instituições de pesquisa até o
indivíduo que busca informações sobre um determinado serviço – de educação, de saúde,
governamental, etc. A definição de ‘abertura’ dos dados pode ser definida a partir dos
seguintes pontos principais:

● Disponibilidade e acesso: o dado deve estar


disponível de forma completa e com custo razoável de
reprodução, preferencialmente por meio de download através
da Internet. O dado deve também estar disponível de forma
conveniente e modificável.
● Reuso e redistribuição: o dado deve ser fornecido
sob termos que permitam o reuso e a redistribuição, incluindo
a possível mistura com outros conjuntos de dados. O dado
deve ser legível por máquina.
● Participação universal: todos devem poder usar,
reusar e redistribuir - não deve existir discriminação contra
campos de trabalho ou contra pessoas ou grupos. Por
exemplo, restrições ‘não-comerciais’ que previnam uso
‘comercial’, ou restrições de uso para determinados
propósitos (e.g. apenas na educação) não é permitido. (OPEN
KNOWLEDGE INTERNATIONAL, 2017, tradução nossa).

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Uma das considerações a ser feita na discussão de dados abertos é o fornecimento


dos mesmos na Web, uma vez que se trata da maior ‘base de dados’ de informação
existente. Considera-se, portanto, que os dados devem ser disponibilizados de forma
acessível, tanto em meio físico, quanto digital, para que uma maior parcela da população
possa ser alcançada.
Com a preocupação de se tornar os dados legíveis, tanto por pessoas, como por
máquinas, para torna-los de fato abertos, espera-se que tais dados sejam publicados de
maneira estruturada e altamente desagregada, privilegiando-se, portanto, a publicação em
formatos como o CSV e o XML (PIRES, 2015). Erroneamente, muitos sites publicam os
dados em formato PDF, “[...] já que não permitem modificação (são somente leitura) e
por manterem a diagramação original do conteúdo [...]”, não se tratando de uma extensão
adequada para acesso aberto devido à incapacidade de armazenar as informações de
forma estruturada pela máquina (W3C, 2011, p. 39).
Dentre as informações de acesso aberto que devem ser fornecidas à comunidade,
destaca-se a importância da abertura e transparência no sistema de saúde, uma vez que é
o recurso mais utilizado pela comunidade em necessidade de atendimento médico às
doenças e enfermidades que podem possuir, momentâneas ou não, especialmente àqueles
que necessitam de apoio extra, por conta de restrições que suas condições lhes causam,
como os cadeirantes, deficientes audiovisuais, etc.
O serviço público de assistência à saúde no Brasil é fornecido pelo SUS (Sistema
Único de Saúde), devendo atender a toda a população de forma gratuita a partir dos
serviços gerais ou específicos voltados à saúde.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas


públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples
atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo
acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país.
Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado,
em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema
de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. (PORTAL DA
SAÚDE, 2017).

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

De acordo com o Decreto nº 8.777, de maio de 2016, que institui a política de


dados produzidos ou acumulados pelo Poder Executivo Federal devem possuir acesso
aberto e serem disponibilizados para acesso público, salvo em casos de vedação expressa.
Ressalta, ainda, a necessidade de os dados serem representados e estruturados em meio
digital.
Em análise do portal do SUS, identificou-se que o mesmo fornece acesso a
informações e orientações elaboradas aos usuários pelo Ministério da Saúde, como a
“Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde”, além de consultas acerca de audiências
públicas, atas, licitações e contratos. Porém, esse acesso é dado por meio de arquivos em
PDF, não podendo ser, portanto, considerados como dados abertos. Muitos dos links de
redirecionamento às informações sobre o sistema também foram identificados como
atualmente inválidos.
Uma das principais necessidades de informação da comunidade é o acesso às
agendas médicas, assim como o levantamento de profissionais atuais e suas áreas de
atuação. Não se identificou presente no portal nenhuma dessas informações.
Analisando a listagem de dados disponíveis no portal do SUS e no Portal
Brasileiro de Dados Abertos, compara-se a clara diferença existente entre publicação de
dados abertos e não-abertos, como visto pelas figuras 1 e 2.

Figura 1 – Resultado de busca no Portal Brasileiro de Dados Abertos

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Fonte: Portal Brasileiro de Dados Abertos98

O site governamental de dados abertos fornece informações acerca do formato em


que os documentos podem ser visualizados, notando-se que a maioria se encontra em
dado aberto (CSV, JSON, etc.) (figura 1).

Figura 2 – Seção de divulgação de licitações e contratos realizados pelo


Ministério da Saúde

98
Disponível em: <http://dados.gov.br/>. Acesso em: 21 maio 2017.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Fonte: Portal da Saúde (SUS)99

Em contraposição, o portal da saúde não é claro quanto à extensão do documento,


sendo todos os documentos pesquisados durante este trabalho disponibilizados no portal
em formato PDF (figura 2). Estão apresentados em tabelas e referem-se basicamente à
licitações e contratos referentes à empresas de medicamento. O texto é claro e os
caracteres são selecionáveis, sendo possível a leitura pela máquina (pesquisa através de
Ctrl+F).
As informações de maior necessidade da comunidade dependente do SUS não
foram encontradas, como exemplo a agenda médica, listagem dos profissionais atuantes,
suas áreas de especialidade e locais de atuação.

99
Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6749>. Acesso em 21
mai. 2017.

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sociedade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a análise do Portal da Saúde, constatou-se que o mesmo não obedece ao


decreto que institui a publicação de dados abertos, publicam os seus dados em formato
PDF. Foram encontrados documentos referente à licitação e contratos de medicamentos,
sem presença de informações relativas ao atendimento e profissionais atuantes.
Consideramos que a abertura de dados poderia focar-se em informações mais relevantes
ao usuários, como a própria agenda médica, possibilitando maior participação e inclusão
dos pacientes nas questões de acesso e participação para com as tecnologias disponíveis
no portal.
Identifica-se a imprescindibilidade de maior foco e cuidado no que se refere à
disponibilização de informação aos dependentes do SUS, uma vez que estes precisam de
fontes confiáveis que lhes forneçam os dados abertos que auxiliarão no tratamento de
suas condições, além de uma interface intuitiva para potencializar a recuperação destas
informações.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Carta dos direitos dos usuários da saúde. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2011. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2015/abril/17/AF-
Carta-Usuarios-Saude-site.pdf>. Acesso em 15 maio 2017.

BRASIL. Decreto nº 8.777 de 11 de maio de 2016. Brasília, DF, 11 mai. 2016.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2016/decreto/D8777.htm>. Acesso em: 18 mai. 2017.

OPEN KNOWLEDGE INTERNATIONAL. What is Open?. Disponível em:


<https://okfn.org/opendata/>. Acesso em 15 maio 2017.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

PIRES, Marco Túlio. Guia de Dados Abertos. 2015. Disponível em:


<http://www.governoaberto.sp.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/Book-Web-Guia-de-
Dados-Abertos.pdf>. Acesso em: 17 maio 2017.

PORTAL DA SAÚDE. Entenda o SUS. Disponível em:


<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/entenda-o-sus>. Acesso em 15 maio
2017.

W3C. Manual dos dados abertos: governo. 2011. Disponível em:


<http://www.w3c.br/pub/Materiais/PublicacoesW3C/Manual_Dados_Abertos_WEB.pd
f>. Acesso em: 21 maio 2017.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


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sociedade.

ANÁLISE DOS FASCÍCULOS DA COLEÇÃO PERNAMBUCO IMORTAL DO


MEMORIAL DENIS BERNARDES

¹FEITOSA, Kézia de Lira100


²SILVA, Eduarda Roberta da
³LINS NETO, José Almeida
4
SILVA, Camila Florêncio da
5
SALCEDO, Diego Andres

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo geral analisar o enfoque de conteúdo da Coleção
Pernambuco Imortal do Jornal do Commércio. A metodologia utilizada conforme o
objetivo da pesquisa é descritiva. A coleção Pernambuco Imortal, publicada em 1995,
surgiu de uma parceria entre o Jornal do Commercio e o Governo do Estado, cujo objetivo
era fazer um resgate à pernambucanidade, tornando a história acessível a todos que se
interessassem pelos fatos e personalidades que ajudaram a escrever a história
pernambucana. Disponibiliza informações de suma importância sobre a História não só
de Pernambuco, mas do desenvolvimento da nação Brasileira. Informa sobre a história
desde a colonização até a instalação da República.

PALAVRAS-CHAVE: Pernambuco Imortal. Jornal do Commercio. Coleção.


Colecionismo. Jornal do Commercio.

1 INTRODUÇÃO

100
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: kzlfeitosa@gmail.com
² Acadêmica do curso Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: eduardaroberta1@gmail.com
³Acadêmico do curso Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: josealmeidalinsneto@outlook.com
4
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: camila_fanini@hotmail.com
5
Docente do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
E-mail: salcedo.da@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Com a explosão informacional e a evolução das tecnologias da informação e


comunicação, a produção e circulação do conhecimento aumentaram aceleradamente,
fazendo com que ficasse impossível de manter uma coleção completa e autossuficiente.

Com isso torna-se fundamental a criação de um planejamento inteligente e eficaz


relacionado ao crescimento dos acervos, e assim entra em ação o processo de
desenvolvimento das coleções.

Segundo Miranda (2004, p. 6) “desenvolver coleções implica em sistematizar e criar


procedimentos para seleção, aquisição, avaliação e desbastamento do acervo”.

A formação e desenvolvimento de coleções é uma política desenvolvida para


bibliotecas e instituições que lidem com informação, que visa o crescimento ordenado e
harmonioso do acervo numa área específica do conhecimento em que as bibliotecas
estejam inseridas, estabelecendo prioridades para as aquisições dos materiais, e
determinados critérios para a sua seleção, recebimento de doações e o desbastamento.

WEITZEL (2006. p. 180) afirma que:

nos dias de hoje, a impossibilidade de armazenar tudo o que foi


escrito e publicado no mundo em bibliotecas faz do processo de
desenvolvimento de coleções uma estratégia, um mecanismo para
viabilizar um espaço social que expresse os anseios de um
segmento da sociedade em relação às suas necessidades
informacionais.,

Esta produção tem por objetivo geral analisar o enfoque de conteúdo da produção
da Coleção Pernambuco Imortal do Jornal do Commércio. A metodologia utilizada
conforme o objetivo da pesquisa é descritiva. Desde a perspectiva dos procedimentos a
pesquisa é bibliográfica e documental (GIL, 2007). Foi desenvolvida com base em
material já elaborado, principalmente em artigos científicos. Toda essa determinação de

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sociedade.

normas será feita através da realidade de cada instituição, direcionando o uso racional dos
recursos financeiros, para que o acervo cresça em quantidade e qualidade.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Inúmeras pessoas colecionam os mais diversos objetos em todo o mundo.


O colecionismo é a prática que as pessoas têm de guardar, organizar, selecionar, trocar e
expor diversos itens, em função de interesses que divergem de acordo com cada
colecionador.
Ao longo da história, através de relatos, é possível observar, em diversas etapas
do desenvolvimento humano, uma série de pessoas, em diferentes locais, preocupadas em
guardar, armazenar objetos, de modo a preservá-los. Se isto não tivesse acontecido, a
humanidade não teria o conhecimento que tem do seu passado. Os grandes acervos, em
todo o mundo, independente de sua natureza iniciaram-se, em sua maioria, por pequenas
coleções particulares. Durante muito tempo não houve preocupação com o
desenvolvimento de coleções, todo o processo estava ligado apenas à seleção e à
aquisição de materiais de informação para as bibliotecas. Desde as grandes civilizações
da História Antiga até meados da Idade Média, a preocupação existente era colecionar
toda a produção, mas devido às dificuldades de reprodução de manuscritos, em um
período onde o advento da imprensa não existia, as bibliotecas possuíam acervos muito
pequenos e restritos em relação às atuais.
Esse quadro mudou com a invenção dos tipos móveis no século XV por Johannes
Gutenberg que revolucionou a reprodução dos livros do artesanal para o industrial e
comercial isso desencadeou um grande aumento das publicações produzidas, o
conhecimento científico passou a ser divulgado rapidamente. Isso estabeleceu um
fenômeno conhecido como a Explosão Bibliográfica, que surgiu com o crescimento das
publicações científicas e com os grandes avanços das tecnologias da comunicação e
informação.
Este novo cenário causou produção em massa que dificultou o trabalho de seleção
materiais relevantes para pesquisas científicas. Não havia meios de controlar aquilo que
era publicado, sendo impossível absorver tudo que era produzido e acompanhar a

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sociedade.

velocidade das informações que surgiam a todo o momento. Houve um tempo em que,
segundo Milanesi (2002), algumas bibliotecas adotavam uma política de coleções de
armazenar toda produção documental produzida, causando um grande caos bibliográfico,
acontecia desta forma porque acreditava-se que as bibliotecas com grandes acervos
indicavam status e prestígio, na época era tido como verdade que as bibliotecas com
grandes acervos, poderiam ofertar uma grande variedade de documentos que atenderiam
todas as necessidades informacionais de cada pessoa.
Segundo Vergueiro (1989) o processo de desenvolvimento de coleções só passou
a ser estudado e analisado a partir da década de 1960 e início da de 1970, uma grande
partes dos bibliotecários começaram a desenvolver coleções por meio das seleções e do
descarte, transformando as coleções em algo mais coerente. Concomitantemente,
começaram a ser desenvolvidos vários estudos sobre o desenvolvimento de coleções em
Bibliotecas, pesquisadores notaram que nenhuma biblioteca é capaz de adquirir tudo que
era produzido no mundo, os bibliotecários perceberam que não podiam ser guardiões do
conhecimento humano produzido e registrado. Para Vergueiro (1989, p. 13): [...] está bem
claro que nenhuma bibliotecas pode ser autossuficiente, dando-se ao luxo de suprir todas
as necessidades de seus usuários com recursos próprios.
Ao que diz respeito ao desenvolvimento de coleções sob um olhar moderno pode-
se afirmar que é uma das funções básicas e primordiais do Bibliotecário enquanto gestor
de uma unidade de informação. É um processo que inclui principalmente planejamento e
de tomada de decisão que implica em sistematizar e criar mecanismos de seleção,
aquisição, avaliação contínua e descarte de materiais, com o objetivo final de promover
o acesso e compartilhamento de informações.
Para Vergueiro (1989, p. 15),

o desenvolvimento de coleções é um trabalho de planejamento,


interrupto e cíclico que serve a uma determinada comunidade,
uma atividade rotineira das bibliotecas que passa por várias
etapas, é um processo homogêneo que se desenvolve em todas as
bibliotecas de acordo com os objetivos de cada uma.

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sociedade.

Vários fatores podem influenciar o processo de desenvolvimento de coleções,


como por exemplo, a organização da unidade, produção e distribuição de material,
profissionais que estão envolvidos no processo, grupo de pessoas para as quais a
biblioteca foi criada (comunidade), usuários e até a cultura organizacional da unidade.
Esses fatores podem ser internos e também externos à unidade de informação. Trata-se
de um processo que serve de ponte entre a informação, esteja ela em qualquer tipo de
suporte, e os usuários. Desta forma, reflete a execução do papel social atribuído ao
bibliotecário que possui a responsabilidade de gerir coleções para o público.

3 ANÁLISE DA COLEÇÃO

Dividida em 13 fascículos, a coleção Pernambuco Imortal, publicada em 1995,


surgiu de uma parceria entre o Jornal do Commercio e o Governo do estado, cujo objetivo
maior era fazer um resgate à pernambucanidade, tornando a história acessível a todos que
se interessassem pelos fatos e personalidades que ajudaram a escrever a história
pernambucana.

Não seria exagero dizer que poucos pernambucanos conhecem


com mais profundidade a História de Pernambuco. Uma história
rica de heróis e heroínas, marcada por um intenso sentimento de
nativismo, identificada com a própria formação do Brasil,
enquanto país soberano. Nessa história há páginas escritas com
sangue de mártires; há exemplos de coragem que dignificam; há
uma consciência coletiva em defesa da liberdade e da
independência – há, enfim, tudo aquilo que tempera um povo e
forja uma raça. (JORNAL DO COMMERCIO, 1995, p. 5).

Quando lançada, a coleção tinha como público-alvo, apenas os assinantes do


Jornal do Commercio, que receberam os fascículos gratuitamente. Porém, com a grande
procura das bibliotecas, dos professores e alunos, todos os fascículos logo ficaram
esgotados. Os títulos dos fascículos são: Nativos e colonizados; A forte presença
holandesa; Lutas, revoltas, injustiças; O doce sonho da república; Entre mártires e

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

rebeldes; Períodos de guerras; Os liberais no poder; O sistema imperial amadurece; O


império sofre e agoniza; Os caminhos da modernidade; Uma revolução se aproxima;
Agamenon e o Estado Novo e A história atual.
A coleção pode ser encontrada no memorial Denis Bernardes, localizado na
Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco. O memorial possui dois
volumes da coleção que chegaram por meio de doação do atual coordenador científico do
espaço, Maurício Rocha de Carvalho, porém ambos incompletos, já que falta o último
fascículo. Esses exemplares ainda não passaram pelo processamento técnico, e assim
como todos os itens do memorial, a coleção não se encontra disponível para empréstimos,
apenas consulta no local.

Figura 1. Coleção Pernambuco Imortal

Fonte: os autores, 2017

A coleção Pernambuco Imortal, foi fruto da pesquisa do professor Manuel Correia


de Andrade, nascido em Vicência na Mata Norte do estado de Pernambuco. Tornou-se
um dos intelectuais mais respeitados do país, chegando a publicar cerca de 100 livros e
mais de 300 artigos científicos. Manuel Correia deu continuidade e publicou a coleção
Pernambuco Imortal - Personagens, que faz parte das comemorações do Jornal do
Commercio dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Segundo o autor, as duas coleções
estão interligadas, já que na primeira o destaque foi a história de Pernambuco, e a segunda
traz em 16 fascículos, os personagens que colaboraram com a composição da história do

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

estado.
Pernambuco é uma terra ativa, de muitos movimentos nativistas, que tiveram
impacto histórico para o Brasil. Sua importância histórica ocorre desde os primeiros anos
de colonização, culminando com a Revolução de 1817, o maior movimento do Brasil em
busca de autonomia, antes da Guerra da Independência. Foi a capitania de mais notável
desenvolvimento econômico da primeira metade do século XVI e abrigou a mais
importante colonização européia, não portuguesa, no Brasil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Coleção Pernambuco Imortal apresenta informações de suma importância sobre


a História não só de Pernambuco, mas do desenvolvimento da nação brasileira. Informa
sobre a história desde a colonização até a instalação da República. Seu último fascículo é
intitulado de “A história Atual’’, mas devemos considerar que esta é uma publicação do
ano de 1995. Por fim, vale ressaltar que esta coleção é riquíssima enquanto parte tangível
da história e cultura pernambucana, que torna memorável os acontecimentos marcantes
acontecidos em Pernambuco e que refletem no que esta sociedade é hoje.

REFERÊNCIAS

DIAS, M. M.; PIRES, D. Formação e desenvolvimento de coleções de serviços de


informação. São Carlos: Edufscar, 2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

JORNAL DO COMMERCIO. Sai o 2º fascículo de Pernambuco Imortal, Pernambuco,


23 set. 1999. Disponível em: <&lt;http://www2.uol.com.br/JC/_1999/2309/cd2309j.htm
&gt;>. Acesso em: 03 maio de 2016.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

JORNAL DO COMMERCIO. O Brasil será redescoberto em 16 fascículos, Pernambuco,


12 set. 1999. Disponível em: <&lt; http://www2.uol.com.br/JC/_1999/1209/cc1209a.htm
&gt;>. Acesso em: 03 maio de 2016.

JORNAL DO COMMERCIO. Começa hoje série sobre Pernambuco, Pernambuco, 16


set. 1999. Disponível em: <&lt;http://www2.uol.com.br/JC/_1999/1609/cd1609o.htm
&gt;>. Acesso em: 04 maio 2016.

MILANESI, Luiz. Biblioteca. São Paulo: Ateliê Editorial. 2002.p. 116

MIRANDA, A. C. C. A política de desenvolvimento de coleções no âmbito da informação


jurídica. In: PASSOS, Edilenice (Org.). Informação jurídica: teoria e prática. Brasília:
Thesaurus, 2004.

VERGUEIRO, Waldemiro C. S. Desenvolvimento de Coleções. São Paulo, APB:


Polis,1989.
________. Seleção de materiais de informação. Brasília: Briquet de Lemos, 1995.

WEITZEL,Simone da Rocha. Desenvolvimento de coleções: origem dos fundamentos


contemporâneos. TransInformação, Campinas, 24(3):179-190, set./dez., 2012.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ATÉ QUE PONTO ISSO É RARO?

SILVA JÚNIOR, Adalberto Trajano da101


SILVA, Alessandra Carolina Pedrosa da102
SILVA, Cristian Henrique Sena da103
Nascimento, Rute de Lima104

RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido no intuito de apontar diretrizes para o
processo de elaboração da Política de Desenvolvimento de Coleções (PDC) da Biblioteca
de Obras Raras da Faculdade Direito do Recife (FDR), da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), para a própria comunidade da instituição. Desta forma, a
metodologia utilizada, nesta pesquisa, foi a descritiva-qualitativa, que através da coleta
de dados por meio de encontros para discussões a cerca da temática com os profissionais
de forma geral da Biblioteca e entrevistas com o grupo bibliotecários da instituição para
explicitar suas experiências com a PDC da mesma. Contudo pode-se considerar que este
estudo traz informações importantes para reflexões sobre a elaboração da Política de
Desenvolvimento de Coleções e sua aplicabilidade em coleções de obras raras.

Palavras-chave: Política de Desenvolvimento de Coleções. Obras Raras. Biblioteca


Especializada.

HOW RARE IS THAT?

101
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
trajano.adalberto@hotmail.com
102
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
alessandraluz8@gmail.com
103
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
cristian_henrique@hotmail.com
104
Acadêmico(a) do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
rutelimanasc@gmail.com

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ABSTRACT
The present work was developed in order to point out guidelines for the process of
elaboration of the collections Development Policy (PDC) of the Library of rare works of
the law School of Recife (FDR), the Federal University of Pernambuco (UFPE), to the
community of the institution. In this way, the methodology used, in this research, was the
descriptive-qualitative, which through collecting data through meetings for discussions
about the thematic with the professionals in general form of the library and interviews
with the group librarians of the institution to clarify their experiences with the PDC of it.
However, it can be considered that this study brings important information to reflections
on the elaboration of the development policy of collections and its applicability in
collections of rare works.

Keywords: Collection Development Policy. Rares Works. Specialized Library.

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho pretende-se apontar diretrizes para o processo de elaboração da


política de desenvolvimento de coleções de obras raras, que segundo Vergueiro (1989), a
política de desenvolvimento de coleções irá funcionar como regras que irá contribuir nas
decisões dos bibliotecários no que diz respeito à escolha do material a ser selecionado ao
acervo e à própria administração dos recursos informacionais. Essa coleção está
localizada na Faculdade Direito do Recife (FDR), da Universidade Federal de
Pernambuco, para a comunidade do próprio Centro de Ciências Jurídicas e possui
aproximadamente 4.125 volumes de obras raras, dos séculos XVI ao XX, em suporte de
papel.

2 OBJETIVO GERAL
Apontar diretrizes para apoiar o processo de elaboração da politica de
desenvolvimento da coleção especial da Faculdade de Direito do Recife.

2.1 Objetivos específicos:

• Conhecer a estrutura da Coleção Especial.


• Identificar critérios de raridade da Biblioteca

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sociedade.

3 METODOLOGIA

Utilizou-se o método de pesquisa descritiva a partir da análise qualitativa no


acervo da biblioteca. Godoy (1995) aborda sobre pesquisa qualitativa, afirmando que o
pesquisador vai a campo com a intenção de captar o fenômeno, fundamentado na
perspectiva das pessoas nele envolvidas. Foi feita uma visita técnica ao local onde foi
realizadas entrevistas com os bibliotecários para conhecer melhor o contexto.

4 ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após todo o processo, de análise e pesquisa na unidade foi descoberto que a


mesma possui um critério particular de raridades que já foi publicado onde toda
movimentação que acontece lá está regido sobre essa publicação. Algumas das diretrizes
propostas para a política de formação e desenvolvimento de coleção foram: adequação do
material bibliográfico aos objetivos e ao nível educativo da UFPE; autoridade do autor
e/ou do diretor; quantidade (excesso/escassez) de material bibliográfico sobre o assunto
na coleção, dentre outros aspectos. Esses apontamentos ficaram como a ser avaliados para
o ponto de partida da política.

REFERÊNCIAS

ANNA, J. S. O contexto organizacional e seus reflexos no desenvolvimento de


coleções: um estudo à luz das diferentes modalidades de bibliotecas. Revista ACB:
Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 22, n. 1, 2017. Disponível em:
<http://www.brapci.ufpr.br/brapci/v/a/23025>. Acesso em: 07 Jun. 2017.

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

GODOY, A . S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de


Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, mai/jun, 1995.

VERGUEIRO, W. C. S. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis, 1989.

WEITZEL, Simone da Rocha. Desenvolvimento de coleções:: origem dos fundamentos


contemporâneos.. Transinformação, Campinas, v. 24, n. 3, p.179-190, set. 2012.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tinf/v24n3/a03v24n3.pdf>. Acesso em: 07
jun. 2017.

ANEXOS

Figura – 1 Biblioteca de Obras Raras da


Faculdade de Direito do Recife

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Fonte: os autores.

Figura – 2 Faculdade de Direito do Recife

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sociedade.

Fonte: os autores.

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sociedade.

PROCESSAMENTO TÉCNICO DA BIBLIOTECA DA ESCOLA TÉCNICA


ESTADUAL MAXIMIANO ACCIOLY CAMPOS: uma proposta de intervenção

¹FEITOSA, Kézia de Lira


²SILVA, Eduarda Roberta da
³LINS NETO, José Almeida
4
SALCEDO, Diego Andres

RESUMO
No presente artigo, buscou-se propor o desenvolvimento do processamento técnico das
obras que constituem o acervo da Biblioteca Maximiano Accioly Campos, tais como: a
criação de um novo inventário, catalogação, indexação e classificação. A metodologia
utilizada conforme o objetivo do projeto é descritiva e também pode ser caracterizada
como pesquisa de campo configurada com a observação sistemática e propositiva.. Após
ser feita a visita técnica à Biblioteca da Escola foi possível delimitar quais as necessidades
de primeira ordem da unidade, no que tange à organização de seu acervo.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca escolar. Processamento técnico. ETEMAC. Escola


Técnica Maximiano Accioly Campos. Acervo escolar.

1 INTRODUÇÃO

O projeto proposto nasce a partir da visita técnica feita na Biblioteca da Escola


Técnica Estadual Maximiano Accioly Campos (ETEMAC). A Escola é uma das
instituições da rede de 26 escolas técnicas estaduais em Pernambuco.
_______________________
¹Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).
E-mail: kzlfeitosa@gmail.com
² Acadêmica do curso Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

E-mail: eduardaroberta1@gmail.com
³Acadêmico do curso Biblioteconomia na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).
E-mail: josealmeidalinsneto@outlook.com
4Docente do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
E-mail: salcedo.da@gmail.com

Trabalha o ensino médio integrado com o técnico, preparando os estudantes para


entrada no mercado de trabalho. Inaugurada em fevereiro de 2010, a ETEMAC, fica
localizada em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR).
De acordo com o Manifesto IFLA/UNESCO (1999, p.1) a biblioteca escolar
“oferece serviços de apoio à aprendizagem, disponibilizando livros e outros recursos
informacionais aos membros da comunidade escolar, possibilitando-lhes tornarem-se
pessoas críticas e usuários competentes de informações em todos os formatos e meios”.
A biblioteca Maximiano Accioly Campos foi fundada em fevereiro de 2010 e tem
como público-alvo os próprios estudantes da instituição que utilizam o espaço de 07h30
às 17h. Conforme esclarece Pimentel (2007), a biblioteca escolar não deve ser só um
espaço para ações pedagógicas, servindo como apoio à construção do conhecimento e de
suporte a pesquisas. As dificuldades visualizadas na visita serviram de incentivo para a
elaboração de um projeto que objetiva o uso eficiente dos recursos da Biblioteca
Maximiano Accioly Campos, tendo em vista que o uso eficiente dos serviços de uma
unidade de informação depende diretamente da organização do material de seu acervo.
O desenvolvimento do processamento técnico do acervo constituinte da Biblioteca
Maximiano Accioly Campos (ver figura 1) implica diretamente da otimização das buscas
e pesquisas bibliográficas dos usuários. Este trabalho possibilita a melhoria do acesso, de
forma que a disposição de um ordenamento lógico dos itens nas prateleiras, por meio da

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sociedade.

implantação de um sistema de classificação, torna a biblioteca um espaço acessível e


democrático para seu público.
Desta forma, justifica realizar esta pesquisa tanto ao considerar a afirmativa
citada, quanto ao que ela representa em termos de informação e conhecimento que podem
ser gerados nesse ambiente. Desta forma, o objetivo geral do projeto é propor o
desenvolvimento do processamento técnico das obras que constituem o acervo da
Biblioteca Maximiano Accioly Campos.

Figura 1. Acervo da biblioteca Maximiano Accioly Campos

Fonte: os autores, 2017.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada conforme o objetivo do projeto é descritiva. Desde a


perspectiva dos procedimentos a pesquisa é bibliográfica e documental e também pode
ser caracterizada enquanto pesquisa de campo através de observação sistemática e
propositiva (GIL, 2007). Foi desenvolvida com base em material já elaborado,
principalmente em artigos científicos.

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sociedade.

Foi feita uma visita técnica à Biblioteca da ETEMAC, que deu embasamento para
a construção o relatório técnico da visita através das informações coletadas. Durante a
visita foi possível Diagnosticar os problemas da biblioteca, a saber: 1) O horário de
funcionamento da biblioteca não é favorável para os estudantes, tendo em vista que em
todos os horários de intervalo entre as aulas, a biblioteca esta fechada; 2) A biblioteca
serve de depósito para o material escolar que chega para ser distribuído aos alunos,
ficando amontoados no meio do acervo; 3) Não existe um bibliotecário responsável pela
biblioteca, e a pessoa responsável (secretária da instituição) não pode dedicar-se
integralmente às atividades da biblioteca. 4) Não existe um controle de obras que
constituem o acervo. A lista que deveria ser o inventário da biblioteca, está desatualizada.
5) O serviço de empréstimo não é bem planejado por muitas vezes os alunos acabam não
devolvendo os livros. 6) Os títulos existentes estão dispostos nas instantes de modo
generalizado, divididos em grandes áreas do conhecimento, tais como: Ficção, Literatura,
Matematica, Geografia, entre outras. Esse modo de classificação tem sido um problema
para os estudantes que realizam as buscas no acervo. 7) A biblioteca recebe doações e
muitos títulos ainda não estão disponíveis para consulta/empréstimo, sendo armazenados
no almoxarifado. 8) Boa parte das cadeiras e as duas mesas da biblioteca estão quebradas,
o que implica que a biblioteca não oferece boas acomodações para quem está fazendo
suas pesquisas.
Foi necessário estabelecer um enfoque para proposição de soluções. Foram
coletados dados acerca do quantitativo estimado do acervo, tipos de coleções existentes,
infraestrutura disponível para tratamento do acervo, assim como identificar as principais
necessidades da unidade. A partir das informações registradas perante observação do
ambiente foram pensadas algumas soluções para a organização do acervo.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É sugestivo que seja feito, inicialmente, o inventário do acervo, a fim de


identificar, de modo geral, todos os itens que constituem a biblioteca, visto que na visita

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sociedade.

técnica foi possível identificar que não existe um controle minímo e atualizado da situação
do acervo. Posteriormente seria feita a representação temática das obras por meio da
descrição e identificação dos documentos de acordo com os seus assuntos. Seria feito o
processo de descrição de conteúdo pelo qual é determinado seu assunto principal, sendo
este posteriormente traduzido pela sua notação de acordo com a tabela classificativa
utilizada. De acordo com o estudo realizado indica-se que sejam utilizadas, no processo
de classificação de assuntos, as tabelas da Classificação Decimal de Dewey (CDD).
Juntamente com as notações criadas com o auxílio da CDD, seria utilizada a tabela Cutter-
Sanborn e a classificação por cores, para auxiliar na visualização dos itens informacionais
expostos para o usuário.
Levando em consideração que qualquer atividade a ser executada na biblioteca
deve priorizar o custo mínimo, é indicado o uso do Software gratuito Biblivre 5.0 para a
catalogação e geração de etiquetas. Essa sugestão foi decisão unânime da equipe
visitante, após avaliação dos dados levantados e da identificação da necessidade maior da
biblioteca que é tornar-se um acervo efetivamente circulante, pois do modo que encontra-
se não é possível encontrar os títulos requeridos com facilidade, muito mesmo realizar o
serviço de empréstimo, por não existir uma sistemização segura que garanta o bom
funcionamento deste serviço.
Todas as dificuldades visualizadas na visita serviram de incentivo para a
elaboração de um projeto que objetiva o uso eficiente dos recursos da Biblioteca
Maximiano Accioly Campos, tendo em vista o uso eficiente dos serviços de uma unidade
de informação depende diretamente da organização do material de seu acervo.
De uma forma geral, a realização do serviço proposto causará um impacto positivo
grande no significado da unidade para o seu público-alvo, os estudantes da ETEMAC. A
biblioteca funcionará, de fato, como um espaço de aprendizagem permanente e cíclica
servindo como um espaço para ações pedagógicas, assim como espaço de apoio à
construção do conhecimento e de suporte a pesquisas.

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sociedade.

É correto afirmar que o desempenho escolar pode fluir melhor quando a escola
tem uma biblioteca dinâmica que possibilita aos alunos o suporte necessário para as suas
necessidades informacionais.

REFERÊNCIAS

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Manifesto IFLA/UNESCO para biblioteca escolar. 1999. Disponível em:
<http://www.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2015.

PIMENTEL, G; BERNARDES, L.; SANTANA, M. Biblioteca escolar. Brasília: UnB,


2007.
PINHEIRO, Mariza I. S.; SACHETTI, V. F. P. Classificação em cores: uma alternativa
para bibliotecas infantis. UFMG, GEBE, s.l., s.d. Disponível em:
<http://gebe.eci.ufmg.br/downloads/319.pdf> Acesso em: 23 maio 2017.

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PROJETO TESOUROS DE PAPEL: da Universidade para a comunidade

MADUELL, Bianka105
LUCE, Bruno106

RESUMO
O Projeto de Extensão Tesouros de Papel, que possuiu metodologia qualitativa de
pesquisa-ação, tem por objetivo realizar ações de incentivo à leitura, especialmente em
locais de vulnerabilidade social, em Porto Alegre e região metropolitana (Rio Grande do
Sul) através de contação de histórias. Faz parte do Projeto a instalação de Gelatecas
(geladeiras estragadas preparadas para aguardar livros) com foco no inventivo a leitura
para adultos, permitindo a rotação de livros, histórias e informação. A colaboração e
participação dos acadêmicos em Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) faz com que o Projeto permaneça vivo e atuando para oferecer uma nova
perspectiva a crianças carentes por intermédio da leitura e a adultos por meio do acesso
fácil e gratuito a livros. O Projeto é prestigiado dentro e fora da Universidade, com
prêmios e menções honrosas.
Palavras-chave: Incentivo à leitura. Contação de histórias. Gelateca. Vulnerabilidade
Social. Tesouros de Papel.

PAPER TREASURES PROJECT: from University to community


ABSTRACT
The Paper Treasures Extension Project, which has a qualitative methodology of action
research, aims to carry out actions to encourage reading, especially in places of social
vulnerability, in Porto Alegre and metropolitan region (Rio Grande do Sul) through
stories. It is part of the Project the installation of Gelatecas (spoiled refrigerators prepared
to await books) focusing on the inventive reading for adults, allowing the rotation of
books, stories and information. The collaboration and participation of the academics in
Library Science of the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) makes the
Project stay alive and acting to offer a new perspective to needy children through reading
and adults through easy access and free books. The Project is prestigious inside and
outside the University, with awards and honorable mentions.

105
Acadêmica do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
biiamaduell@gmail.com
106
Acadêmico do curso de Biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)..
brunofluce@gmail.com

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Keywords: Encouraging reading. Storytelling. Social Vulnerability. Gelateca. Paper


Treasures Extension Project.

1 INTRODUÇÃO

O Tesouros de Papel é um projeto desenvolvido e idealizados pelos acadêmicos


do curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, que
tem como objetivo o incentivo à leitura, sendo o público alvo crianças em espaços de
vulnerabilidade social, econômica e psicológica. Através de ações de contações de
histórias e mediação de leitura em espaços públicos como ONGs, bibliotecas públicas e
casas de cultura de Porto Alegre (RS) e região metropolitana.
O projeto iniciou em março de 2015, onde um grupo de veteranos do curso de
biblioteconomia organizou o trote solidário que visava, muito além da integração da
turma, a arrecadação de livros infantis e a contação de histórias (Foto 1) pelos ingressos
naquele semestre no curso de Biblioteconomia, na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (FABICO). Foram
arrecadados pelos calouros mais de 300 livros infantis a serem doados para a biblioteca
da creche Piu-Piu, localizada na Vila Planetário, ao lado da FABICO.
Foto 1. Trote Solidário 2015. Foto
2. Recorte de jornal.

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sociedade.

Fonte: Assessoria Tesouros de Papel (2015). Fonte:


Jornal Zero Hora (2015).
A atividade obteve uma grande repercussão, sendo noticiada nos principais jornais
de Porto Alegre como: Zero Hora (Foto 2), Correio do Povo e Diário Gaúcho. Percebendo
a favorável divulgação e a receptividade das pessoas por ações como esta, o grupo decidiu
por efetuar mais ações na capital gaúcha e região metropolitana.
O bibliotecário, na atribuição de formador de leitores e de
incentivador de leitura, deve ser o mediador e propiciar que a
leitura se realize em todos os âmbitos, espaços e evolvendo todos
os sujeitos, realizando assim o processo de inclusão social e o
exercício de cidadania como um agente de mudanças sociais.
(MORO; ESTABEL, 2007).

Foto 3. Trote Solidário 2017. Foto 4. Ação na Praça Oliveira


Rolim – Bairro Sarandi.

Fonte: Assessoria Tesouros de Papel (2017) Fonte Assessoria


Tesouros de Papel (2016).

O grupo de estudantes foi convidado para realizar a atividade de contação de


histórias na Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ). Para esse evento foi adotado o
nome Tesouros de Papel, pois a ação, além da contação de histórias, consistia em uma
grande caça aos tesouros, na qual os livros foram embrulhados e espalhados pela CCMQ.
Para essa ação acontecer os voluntários, agora, do Tesouros de Papel, convidaram as
crianças da creche Piu-Piu. Também formaram parcerias com o Banco de Livros, que

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sociedade.

forneceu os livros, e a Carris, empresa de ônibus de Porto Alegre, para fazer o


deslocamento das crianças até a Casa de Cultura. No mesmo ano o Projeto foi convidado
a participar da Feira do Livro de São Leopoldo oferecida pela Biblioteca Municipal
Vianna Moog, no qual os participantes contaram histórias e fizeram a atividade de caça
aos livros com crianças da Escola Municipal de Ensino Fundamental Olímpio Vianna
Albrecht.
A adesão cada vez maior dos estudantes de Biblioteconomia como voluntários
(não fixos) nas ações, percebeu-se necessária a institucionalização do projeto como um
Projeto de Extensão da UFRGS para que ganhasse uma estrutura maior e mais apoio, em
2016. Após as ações oficializarem como projeto de extensão, passou a contar-se com
diferentes voluntários, de variados semestres para indicar locais e participar das diversas
ações realizadas ao longo de 2016, demonstrando um aumento na comunicação interna e
um fortalecimento dos acadêmicos de Biblioteconomia da UFRGS, contribuindo e
expondo ideias para o crescimento do Projeto, ou seja, todos em prol do incentivo à leitura
e da divulgação do bibliotecário.
Esta troca de informações, ideias e conhecimentos torna o voluntário tanto um
ator (agente de transformação) quanto um espectador na mesma ação; praticando a Espiral
do Conhecimento desenvolvida por Nonaka e Takeuchi (1997), pois através da dinâmica
da Socialização – experiência de cada membro do Projeto –, Externalização – o debate
sobre conceitos e experiências –, Combinação – transformação de conhecimento tácito
em explicito através da elaboração de cada ação e documentos, como o manual do projeto
– e Internalização – incorporação do conhecimento explícito em tácito por cada novo
membro que entrasse – é possível desenvolver um debate sólido sobre o papel do
bibliotecário da mediação de leitura e informação em espaços de vulnerabilidade social e
aplicar ações visando a evolução das crianças e adolescentes ali inseridos.
Em 2016, além do total de treze ações de contação de histórias e caça aos livros
realizadas, foi inserido o desenvolvimento de Gelatecas, outra parceria com o Banco de
Livros, sob responsabilidade dos voluntários. Geladeiras antigas sem utilidade são
transformadas (retira-se o motor e reforça-se as prateleiras) podendo assim funcionar

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

como Gelatecas onde armazenam livros em seu interior, como uma forma de incentivar a
troca entre a população da capital. O Projeto inaugurou três Gelatecas em Porto Alegre,
localizadas na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, outra na Casa de Cultura
Mario Quintana (Fotos 7 e 8) e a terceira na Praça Oliveira Rolim (Fotos 5 e 6), no bairro
Sarandi. As Gelatecas foram planejadas para atender a públicos de diversos níveis
socioeconômicos e faixas etárias, proporcionando a troca de livros entre os próprios
usuários gerando um fluxo, acervo diversificado e, também, o incentivo à leitura em
adultos e em crianças que vivem em locais onde não há bibliotecas por perto.

Foto 5. Gelateca da Praça Oliveira Rolim – Bairro Sarandi. Foto 6.


Gelateca Praça Oliveira Rolim – Bairro Sarandi.

Fonte: Assessoria Tesouros de Papel (2016). Fonte:


Assessoria Tesouros de Papel (2016).

Além das Gelatecas foram feitas ações em creches comunitárias, ONGs, praças
(Foto 4) e espaços públicos. Durante a 62ª feira do livro de Porto Alegre o Tesouros de
Papel realizou sessões de contação de histórias no Cisne Branco, barco turístico da capital
gaúcha. Também foram feitas ações fora de Porto Alegre, na cidade Nova Hamburgo.

Foto 7. Gelateca Casa de Cultura Mário Quintana Foto 8. Gelateca


Casa de Cultura Mário Quintana
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Fonte: assessoria de imprensa CCMQ (2016). Fonte: assessoria de


imprensa CCMQ (2016).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O procedimento metodológico utilizado, tendo em vista que se trata de um projeto


de extensão e, também, de pesquisa é de caráter qualitativo do tipo exploratório, sendo
ações práticas para o incentivo à leitura e aplicação da biblioteconomia social, porém
baseado em métodos científicos, até para se analisar se estas ações estão efetivamente
cumprindo o ideal planejado e atingindo e incentivando comunidades e crianças em prol
da leitura.
Os voluntários do Tesouros de Papel têm a oportunidade de conversar com as
crianças durante a ação, com isso gerando uma troca de experiências que é debatida, ao
término, entre todos que participaram. Segundo Lüdke e André (2012, p.11) “[...] a
pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador [...] com a
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

situação que está sendo investigada, [...] através do trabalho intensivo de campo.”, para
isso o Projeto mantém ações mensais em ONGs e creches diferentes na mesma situação
de vulnerabilidade e atua de perto nas Gelatecas semanalmente, assim, mantendo o
contato direto com seus beneficiários e incentivando o hábito da leitura.

Esta relação viva e participante é indispensável para se aprender


os vínculos entre as pessoas e os objetos, e os significados são
construídos pelos sujeitos. O resultado final da pesquisa não será
fruto de um trabalho meramente individual, mas uma tarefa
coletiva, gestada em muitas microdecisões, que a transformam
em uma obra coletiva. (CHIZZOTTI, 2010, p.84).

Em cada ação são crianças diferentes e voluntários diferentes criando-se variações


nos olhares em torno do tema e construindo-se dois momentos: o primeiro se dá quando
o voluntário é o entrevistador e conversa com a criança; e o segundo ocorre quando o
voluntário é o entrevistado trocando a sua experiência com os outros membros
participantes. Desta forma, ocorre o enfoque crítico-participativo com visão histórico-
estrutural na pesquisa qualitativa, como descreve Triviños (2008):

Os enfoques crítico-participativo com visão histórico-estrutural –


dialética da realidade social que parte da necessidade de conhecer
(através de percepções, reflexão e intuição) a realidade para
transformá-la em processos contextuais e dinâmicos complexos.
(TRIVIÑOS, 2008, p. 117).

Ao fim, observa-se que através de leitura diversas realizadas em cada ação: com
variedade de locais e públicos, percebe-se que o Projeto possuiu caráter empírico por
intermédio do resgate das análises com base no ponto de vista de cada voluntário.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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sociedade.

A união e cooperação entre os estudantes é fundamental, tendo em vista que o


projeto não recebe nenhum auxílio monetário, funcionando somente pelo voluntariado
exercido pelos acadêmicos. É importante levar em consideração que o Tesouros de Papel
tem como principal expectativa a vontade de despertar o olhar dos estudantes para a
Biblioteconomia Social e mostrar o quanto eles, como futuros bibliotecários, precisam
estar inseridos em locais de vulnerabilidade social para estimular a leitura e mediar a
informação. Sendo assim, cabe aqui destacar o alcance e a repercussão atingidos pelo
Projeto, tanto dentro como fora da Universidade recebendo premiações – com
notoriedade para o 17º Salão de Extensão da UFRGS e o FestiPOA 2017, onde recebeu
uma Menção Honrosa do Prêmio Marô Barbieri -, e também sendo pauta de matérias de
jornais, deste modo observa-se a aceitação e a necessidade da aplicação de mais projetos
como este para que se dê mais visibilidade a leitura e formação de leitores. Ações simples,
portanto, como as realizadas pelo grupo de voluntários do Tesouros de Papel podem
servir de inspiração para futuros projetos em outras universidades atingindo assim um
público maior de pessoas nesta situação de vulnerabilidade e criando-se uma cultura de
incentivo à leitura.

REFERÊNCIAS

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 11. ed. São Paulo:
Cortez, 2010. 164 p. (Biblioteca da educação - Escola; Vol.16).

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A.. Pesquisa em educação: abordagens


qualitativas. São Paulo: E.P.U., 2012. 99 p. (Temas básicos de educação e ensino).

MORO, Eliane Lourdes da Silva; ESTABEL, Lizandra Brasil. Leitura, biblioteconomia


e inclusão social. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA,
DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 22., 2007, Brasília. Anais... .

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Brasília: Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, 2007. p. 1 - 12.


Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/10693>. Acesso em: 19 maio 2017.

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa:


como empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Elsevier,
1997. 358 p.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a


pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2008. 175 p.

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sociedade.

SERVIÇO DE REFERÊNCIA DIGITAL E VIRTUAL: um estudo terminológico

REGLY, Tainá107
WAJSFELD, Pedro108

RESUMO

Analisa o impacto que o advento da Web 2.0, com o seu foco nas mídias sociais e
interatividade na rede, teve sobre as bibliotecas. Conceitua o Serviço de Referência e
Informação como um dos mais importantes da biblioteca tendo em vista que este é o
primeiro contato do usuário com a Unidade de Informação. Discorre sobre os conceitos
encontrados na literatura científica sobre Serviço de Referência e Informação Virtual e
Serviço de Referência e Informação Digital buscando estabelecer suas diferenças
conceituais. Conclui que não fica claro na literatura que eles tenham sentidos diferentes,
sugerindo que sejam feitos estudos mais profundos sobre ambos a fim de esclarecer a
confusão terminológica

Palavras-chave: Serviço de referência. Web 2.0. Biblioteca 2.0

DIGITAL AND VIRTUAL REFERENCE SERVICE: a terminological study

ABSTRACT
It analyzes the impact that the advent of web 2.0, with its focus on social media and
interactivity on the internet, had on libraries. It conceptualizes the Reference services as
one of the most important of the library in view that this is the first contact with the
information unit. It discusses the concepts found in the scientific literature on the virtual
Reference services and digital Reference services seeking to establish their differences
conceptions. It concludes that it is not clear in the literature that they have different
meanings. It suggests that more in-depth studies must be conducted in order to clarify
terminological confusion.

107
Acadêmica do curso de Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal Fluminense (UFF).
tainaregly@hotmail.com
108
Acadêmico do curso de Biblioteconomia e Documentação na Universidade Federal Fluminense (UFF).
pedro.wajsfeld@gmail.com
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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Keywords: Reference services. Web 2.0. Library 2.0.

1 INTRODUÇÃO

O Serviço de Referência e Informação (SRI) pode ser considerado como o coração


da biblioteca. Todos os processos e tratamento e organização da informação como a
indexação, controle de aquisição, desenvolvimento de coleções, dentre outros, buscam
fazer com que a biblioteca possa atender o seu usuário de maneira eficaz e eficiente.
Todos esses procedimentos têm impacto direto em como o bibliotecário de referência vai
executar seu trabalho e atender o usuário da unidade de informação.
Segundo Alves e Vidotti (2006):

A concepção original de Serviço de Referência e Informação


(SRI) é uma projeção da união e harmonia de todos os
setores, serviços e pessoas existentes na biblioteca, para garantir
informações que atendam às necessidades informacionais dos
usuários.

Desse modo, é imprescindível que o SRI consiga atender seus usuários. Entretanto
com o advento da Web 2.0, novas necessidades foram surgindo tanto para os usuários
quanto para as bibliotecas, que se transformaram no que podemos chamar de bibliotecas
2.0. O SRI teve que se adaptar às novas tecnologias e buscar seus usuários em novos sites
informacionais como blogs, redes sociais, plataformas de compartilhamento de vídeos, e-
mail, mensagens de texto e etc. Através dessas plataformas, os usuários passaram a ter
mais contato com a biblioteca e ter acesso à informação com mais facilidade e rapidez.
Contudo, constata-se que ainda há imprecisão terminológica quando se pensa em
Serviço de Referência e Informação Digital (SRID) e Serviço de Referência e Informação
Virtual (SRIV). O presente trabalho pretende expor essa confusão conceitual, e para tal,
serão analisadas algumas definições a partir de textos científicos da área da Ciência da
Informação.

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sociedade.

2 A WEB E A BIBLIOTECA 2.0

A partir dos anos 2000, surgiu uma nova forma de utilização da Web: os usuários
deixam de ser passivos, apenas recebendo e consumindo informação, para se tornarem
também agentes produtores e disseminadores de informação. A Web 2.0, também
conhecida como social, revolucionou a internet por permitir que seus usuários pudessem
criar novos conteúdos e ao mesmo tempo consumir informações postadas por outros
usuários e, assim, interagirem entre si.
Segundo Silva e Rufino (2016), a Web Social permite que seus usuários se
comuniquem e os relaciona de acordo com seus interesses comuns para o exercício de
diversas atividades. O foco nessa Web não está na tecnologia, visto que, para utilizá-la,
as pessoas não necessitam ter habilidades para programação em computadores,
culminando em seu fácil acesso e operação.
Fica claro que a Web 2.0 tem um grande foco na participação do usuário. Desse
modo, quando a biblioteca entra nesse novo universo digital de interação, ela não pode
mais ser acessível somente ao ambiente físico, deve atender também às novas demandas
e necessidades informacionais, adequando serviços e até mesmo incorporando novas
finalidades às suas atividades sempre visando à integração do usuário ao ambiente; seja
ele físico (no próprio espaço da biblioteca), seja ele virtual (bibliotecas digitais e site da
biblioteca como ferramentas de interação entre os próprios usuários ou dos usuários com
os bibliotecários).
A biblioteca na Web 2.0 deve então ser pensada como uma Biblioteca 2.0. Ainda
de acordo com Silva e Rufino (2016) apud Maness (2007), a Biblioteca 2.0 é um ambiente
destinado à interação, colaboração e de diálogo das tecnologias da web com os serviços
e coleções de bibliotecas. Esse novo tipo de biblioteca surge com mudanças que ampliam
seu poder de alcance e possibilitam um melhor atendimento ao público da era da internet.
Contudo, as ações não devem partir exclusivamente da instituição, a interação dos
usuários nesse ambiente seja comentando, avaliando ou exercendo qualquer outro tipo de
atividade, é essencial para a continuidade e crescimento da biblioteca no ambiente Web.

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informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

Concomitantemente ao surgimento da Biblioteca 2.0, o Serviço de Referência e


Informação passa a oferecer novas ferramentas de apoio ao atendimento em ambientes
virtuais, migrando, dessa forma, para a Internet.

3 O SERVIÇO DE REFERÊNCIA E INFORMAÇÃO

Com a especialização das Bibliotecas, os usuários passam a necessitar cada vez


mais de atenção dos bibliotecários, sendo necessária a criação de uma nova forma de
prestação de serviços, onde ferramentas e técnicas são desenvolvidas para melhor atender
as necessidades informacionais da comunidade. Dessa forma, surge o Serviço de
Referência, que auxilia o usuário na navegação pelo acervo, desde a formulação da
pergunta, ponto de partida da busca, e refinamento dos termos para consulta na base de
dados. Sendo a biblioteca um organismo vivo, o SRI teve de migrar também para o
ambiente Web por conta da Biblioteca 2.0 e acompanhar o seu desenvolvimento.
De acordo com Silva (2016) apud Maciel e Mendonça (2006):

O serviço de referência, além de auxiliar e orientar o usuário em


pesquisas, também desempenha outras atividades como a
divulgação da biblioteca e de seus serviços e produtos; o controle
da circulação, ou seja, o monitoramento da movimentação das
coleções em consultas e empréstimos; inscrições de usuários;
sinaliza para aplicações de multas por atrasos na devolução, entre
outras funções (SILVA, 2016 apud MACIEL e MENDONÇA,
2006).

Diante disso, pode-se concluir que o Serviço de Referência é a ligação entre a


informação e o usuário, seja em ambientes físicos ou virtuais. Salienta-se assim, a
importância de haver um serviço voltado para a comunidade presente na internet.

4 O SERVIÇO DE REFERÊNCIA E INFORMAÇÃO VIRTUAL E DIGITAL

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sociedade.

O Serviço de Referência e Informação Virtual (SRIV) começa a aparecer nas


bibliotecas através do telefone até fazer a transição para o e-mail e outras ferramentas de
comunicação como explica Silva (2016). Ainda de acordo com a autora:

Essas transformações influenciaram também as universidades,


em grande parte no que se refere aos serviços prestados. A criação
da internet e os avanços das tecnologias de informação e
comunicação proporcionaram o surgimento de um serviço de
referência capaz de ultrapassar os limites da biblioteca – o serviço
de referência virtual, que utiliza a internet e outros recursos
eletrônicos na busca dos mesmos objetivos do serviço tradicional
(SILVA, 2016).

O SRIV possibilita que as bibliotecas alcancem usuários que nunca foram sequer
considerados potenciais e invistam numa aproximação para satisfazer suas necessidades
informacionais. O SRV se mostra como uma nova ferramenta capaz de melhorar os
serviços da biblioteca e ajudá-la a se adequar ao mundo da Web.
Para Alves e Vidotti (2006) o Serviço de Referência e Informação Digital (SRID)
tem a função de fazer interface com o usuário, educar esse usuário, disseminar a
informação, divulgar a biblioteca e administrar o Serviço de Referência.
O Serviço de Referência e Informação se transforma em digital ao utilizar
ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias e internet para atingir seu principal
objetivo: atender às necessidades informacionais dos usuários ao facilitar seu acesso aos
recursos e informações solicitadas. Além disso, outros aspectos podem ser elencados
como primordiais no SRID: ser fundamentado e estruturado no levantamento das
necessidades informacionais da comunidade que atendida pelo serviço; ter sincronia,
realizada em tempo real, possibilitando o atendimento através de ferramentas disponíveis
na Internet, como o e-mail, o chat, a videoconferência; possuir uma navegação simples,
através de uma interface facilitada, que permita e indique outros sites para melhor atender
a questão levantada pelo usuário; elaborar respostas consistentes, objetivas, claras e
relevantes e de maneira rápida, que possibilitem a construção de uma base de
conhecimentos, utilizando os recursos das TIC’s e da cooperação entre bibliotecas
digitais, para a ligação com outras bases de dados e textos completos para, deste modo,
aperfeiçoar o atendimento ao usuário no ambiente digital (ALVES E VIDOTTI, 2006).
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sociedade.

Portanto, o Serviço de Referência e Informação Digital possibilita o atendimento e


a satisfação informacional do usuário pelo profissional da informação que pode estar a
milhares de quilômetros de distância. Assim como no SRIV, o SRID transformou o a
resolução das necessidades informacionais dos usuários, esses novos tipos de Serviço de
Referência contribuíram para que a biblioteca evoluísse juntamente com a internet e se
adequasse à nova comunidade que surgiu no mundo dos dados interligados.

5 CONCLUSÃO

Ao decorrer do trabalho foi possível observar a relevância do SRI para a biblioteca


e, por consequência, o SRI na Web. Os dois modelos apresentados se constituem como
uma importante ferramenta para bibliotecas e usuários, possibilitando a compreensão das
necessidades informacionais, pontos de melhoria dentro das bibliotecas, intermediação
da informação e leitura, divulgação do acervo, maior alcance da comunidade, etc.
A partir de uma leitura preliminar acerca do assunto tratado, conclui-se que os
conceitos de Serviço de Referência e Informação Virtual e Serviço de Referência e
Informação Digital podem não ser tratados com conotações distintas nos estudos do
campo. Sugerimos pesquisa qualitativa nos enunciados para que tal indício possa ser
confirmado. Diante disso, a produção fica comprometida ao confundir estudos feitos na
área por não haver clareza quanto aos conceitos de cada expressão. É válido notar que
devido a essa imprecisão são grandes as chances de se criar ruídos na comunicação
científica. Portanto, a partir dessa conclusão, propomos que pesquisas mais aprofundadas
sejam realizadas, visando eliminar as imprecisões terminológicas apontadas no decorrer
do artigo.

REFERÊNCIAS

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Desafios dos bibliotecários, documentalistas, cientistas e gestores da


informação para a inclusão das minorias sociais no contexto da
sociedade.

ALVES, Ana Paula Menezes; VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregório. O


serviço de referência e informação digital. Biblionline, João Pessoa v. 2, n. 2, 2006.

PESSOA, Patrícia; CUNHA, Murilo Bastos da. Perspectivas dos serviços de referência
digital. Inf. & Soc., João Pessoa, v. 17, n. 3, p. 69-82 set./dez. 2007

SILVA, Fernanda Daniel. Uma proposta de política de serviço de referência virtual


para as bibliotecas da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2016. Dissertação
(Mestrado em Ciência da Informação). Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação, Universidade Federal Fluminense.

SILVA, Márcio Bezerra da; RUFINO, Fernanda Maciel. A Web 2.0 na informatização
de bibliotecas: um estudo propositivo. Ponto de Acesso, Salvador v. 10, n. 2, 2016

SOUZA, Nivea Camara Rocha de; VILLALOBOS, Ana Paula de Oliveira. A Web 2.0
como canal de mediação e comunicação entre a biblioteca e seus usuários Encontro
Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, v. 15, 2014 (Anais de eventos-GT8)

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