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1.º Trimestre 2020


Este suplemento faz parte integrante da Agrotec n.o 34, do 1.o trimestre de 2020 e não pode ser vendido separadamente.

Baga de sabugueiro
Porque é importante avaliar no
campo o seu estado de maturação?

Rebecca Darnell: «Em Portugal


existem muitos produtores dedicados»

VI Colóquio Nacional da Produção


de Pequenos Frutos acontece em maio

Proposta de escala dos estados


fenológicos do medronheiro
editorial | índice | ficha técnica

«Nesta época, em que todas as 1 EDITORIAL


forças de mercado conduzem ao Zonagem agrícola do território
aumento de área por exploração
NOTÍCIAS
agrícola, impondo uma agricultura
2 Programa da sexta edição do Colóquio Nacional da
“industrial”, massiva, surgem Produção de Pequenos Frutos já se encontra completo
núcleos de produtores que tentam, 2 INIAV e BERRYSMART assinam protocolo para
nos seus territórios, tirar partido desenvolvimento de tecnologias de produção de mirtilo
das suas terras, dos seus 3 Livro sobre a cultura do morango lançado no VI Colóquio Nacional
habitantes e, porque não, das da Produção de Pequenos Frutos sobre a cultura do morango
suas (novas) culturas» 3 Inovterra promove novo workshop sobre a cultura do sabugueiro
3 XVIII Seminário Internacional de Mirtilos acontece no Chile
4 Descobrir o Vale do Varosa

GRUPOS OPERACIONAIS
6 Baga de sabugueiro – Porque é importante
avaliar no campo o seu estado de maturação?

PRODUÇÃO
Zonagem agrícola 9 A importância do conhecimento do estado
de diferenciação floral na cultura da framboesa

do território 12 Proposta de escala dos estados fenológicos do medronheiro

ENTREVISTA
15 Rebecca Darnell: «Em Portugal
Esta semana tive a grata oportunidade de estar nas jornadas
existem muitos produtores dedicados»
organizadas por um grupo de produtores de mirtilo na região
norte do país. Durante a breve estadia, tive a oportunidade de MERCADOS
observar, direi melhor, admirar, a sã convivência de um grupo 18 Aumentar, ou não, a produção de mirtilo
heterogéneo de pessoas, ligadas por um interesse comum, a
produção de mirtilos. TESES
Nesta época, em que todas as forças de mercado conduzem 20 Avaliação do potencial de plantas ’tray’
de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade
ao aumento de área por exploração agrícola, impondo uma
20 Morphological and genetic characterization
agricultura “industrial”, massiva, surgem núcleos de produtores of four populations of Corema album (L.) D. Don
que tentam, nos seus territórios, tirar partido das suas terras,
dos seus habitantes e, porque não, das suas (novas) culturas.
A tarefa parece impossível, mas sou testemunha da compe- Diretor Praça da Corujeira, 38
Pedro Nogueira Brás de Oliveira 4300-144 Porto, Portugal
tência técnica, da organização e do empenho de todos os que Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629
fazem parte deste grupo para o sucesso das suas explorações Diretor Executivo a.malheiro@publindustria.pt
António Malheiro www.publindustria.pt
agrícolas e para a excelência do seu produto. a.malheiro@publindustria.pt
Será este um caso isolado? Não. Um outro exemplo Redação
Conselho de Administração
António da Silva Malheiro
também nos é apresentado neste número da Pequenos Frutos, Sofia Cardoso . redacao@agropress.pt Ana Raquel da Silva Malheiro
Tel. +351 220 964 363 Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro
a produção de baga de Sabugueiro no Vale do Varosa. Leia-se
a crónica da Professora Alice Jones, que ficou encantada Marketing Detentores de capital social
Daniela Faria . marketing@agropress.pt António da Silva Malheiro (31%)
com a descoberta da forma de cultivar e tratar da baga do Tel. +351 225 899 620 Ana Raquel da Silva Malheiro (38%)
Maria da Graça Carneiro de Carvalho Malheiro (31%)
Sabugueiro, da paixão dos produtores da região pela sua terra Imagem de Capa
e pelos produtos que ela dá. Já existe ligação das Universida- TF3000 | Pixabay Sede da Redação
Publindústria, Lda.
des às forças de organização locais. O conhecimento é hoje Paginação Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, Portugal
transmitido e partilhado tendo em vista o aumento da Raquel Boavista . design@delineatura.pt Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629
Delineatura – Design de Comunicação
riqueza das regiões. Bom trabalho! Tel. +351 225 899 622 . www.delineatura.pt Representante em Espanha:
INTEREMPRESAS – Nova Àgora, S.L.
Estes dois exemplos, que porventura pequenos, como os Assinaturas Amadeu Vives, 20
pequenos frutos, levam-nos a um tema maior que devia ser Tel. +351 220 104 872 08750 Molins de Rei – Barcelona
info@booki.pt . www.booki.pt Tel. +34 936 802 027 . Fax. +34 936 802 031
mais acarinhado em Portugal, a zonagem do território. O nosso
país é muito diverso em clima e possui uma ampla diversidade Colaboraram neste número
Alice Jones, Ana Sofia Nunes,
Impressão e Acabamento
Lidergraf – Sustainable Printing
agrícola. Promovam-se as culturas nos locais certos, dando Armando J. D. Silvestre, Bernardo Madeira, Rua do Galhano, 15 | 4480-089 Vila do Conde
Bruno Cardoso, Cândida Sofia Trindade,
primazia aos territórios e suas gentes, com incorporação do Carina Costa, Fábio Castro, Filomena Gomes, INPI
conhecimento das Universidades validando mas, sobretudo, Goreti Botelho, João Miguel Antunes Jacinto, Registo n.o 502988
Justina Franco, Mafalda Simões, ISSN: 2183-1998
inovando na produção agrícola para que todos consigam Pedro Brás de Oliveira, Samuel Patinha,
Sílvia M. Rocha, Sofia Canteiro Patrício, Depósito Legal: 337265/11
receber o justo retorno do seu esforço e empenho. Teresa Valdiviesso
Os artigos assinados são da exclusiva
Proprietário e editor responsabilidade dos seus autores.
PEDRO NOGUEIRA BRÁS DE OLIVEIRA Publindústria, Lda.
Este suplemento faz parte integrante da Agrotec n.º 34,
DIRETOR DA REVISTA PEQUENOS FRUTOS | Investigador auxiliar no INIAV Empresa Jornalística do 1.º trimestre de 2020 e não pode ser vendido separadamente.
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PROGRAMA DA SEXTA EDIÇÃO DO COLÓQUIO estará a cargo do Professora CompetitiveSouthBerries


NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS da Universidade de Sevilha, instalado na empresa
FRUTOS JÁ SE ENCONTRA COMPLETO Mari Cruz Dia-Barradas, e FirstFruit. Neste campo serão
uma segunda, por convite da apresentados os resultados
TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV) InovTerra, sobre produtos dos ensaios de produção de
à base de sabugueiro, lançamentos de framboesa

O programa do VI
CNPPF já se encontra
praticamente terminado.
«(...) o programa conta
com comunicações orais
em todas as principais
apresentada pela Professora
Alice Jones da Universidade
de Nottingham. É de destacar
para serem utilizados para
a produção de segundo
ano (long-canes).
Irá ser uma jornada de culturas, framboesa, que o colóquio possui diferen-
trabalho muito intensa mas mirtilo, morango, amora, tes parcerias, contando com a «É de destacar que
terá diversos momentos de medronho, sabugueiro, presença de investigadores de o colóquio possui
interação interessantes para camarinha e ainda três centros de investigação diferentes parcerias,
todos, produtores, empresá- diversas intervenções financiados pelo Ministério da contando com a presença
rios, técnicos investigadores sobre temas transversais Ciência, Tecnologia e Ensino de investigadores
e professores. A comissão ao conjunto dos Superior e cinco Associações de três centros de
científica tentou diversificar pequenos frutos» ligadas ao sector. O investigação financiados
o programa tornando-o Colóquio encontra-se aberto pelo Ministério da
aglutinador de todos quantos São múltiplas as comuni- a mais parcerias que possam Ciência, Tecnologia e
trabalham e investem nos cações orais por convite enriquecer e dinamizar a Ensino Superior e cinco
diferentes pequenos frutos. devendo ser destacadas a participação de todos quantos Associações ligadas
Assim, o programa conta apresentação da investiga- trabalham neste sector. ao sector»
com comunicações orais dora Anita Sonsteby intitulada O Colóquio terá também
em todas as principais “Raspberry plant physiology um momento de sã discussão Por último um grande
culturas, framboesa, mirtilo, and impact on crop produc- sobre a sustentabilidade obrigado a todos os nossos
morango, amora, medronho, tion”. Esta investigadora é da produção de pequenos patrocinadores, que são já
sabugueiro, camarinha e uma especialista na inves- frutos. A mesa redonda conta mais de vinte, parceiros e
ainda diversas intervenções tigação sobre diferenciação com um painel alargado de media partners, com um apelo
sobre temas transversais floral em framboesa, com professores universitários a todos para que não deixem
ao conjunto dos pequenos diferentes estudos sobre os e agentes conhecedores do de participar ativamente neste
frutos. As comunicações em fatores mais importantes na setor que permitirão discutir evento, relembrando que os
painel também terão grande produtividade da framboesa e lançar ideias de como deve organizadores se encontram
destaque durante o evento, no sistema long-cane. Serão o setor reagir aos maiores abertos a sugestões que
estando reservado um amplo apresentadas duas comunica- desafios que se colocam, podem ser enviadas para
espaço de discussão no ções orais, uma por convite do nomeadamente, ambientais, o correio electrónico do
recinto de exposição, onde “Centre for ecology, evolution sociais e económicos. secretariado do colóquio
estarão diversas empresas and environmental changes” Será realizada uma (VICNPPF@gmail.com).
e centros de investigação, da Faculdade de Ciências visita técnica a empresas Contamos com todos para
gerando um ambiente da Universidade de Lisboa da região produtoras de aumentar a importância dos
propício à troca sobre a fisiologia da planta de pequenos frutos e ao campo pequenos frutos no contexto
de conhecimentos. camarinha, comunicação que de demonstração do projeto da agricultura nacional.

INIAV E BERRYSMART ASSINAM laboratório de biotecnologia «O Protocolo tem


PROTOCOLO PARA DESENVOLVIMENTO DE com as respetivas estufas de como objetivo a
TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE MIRTILO aclimatização, bem como um dinamização de
pequeno viveiro de mirtilos e atividades e projetos
TEXTO PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA (INIAV) outras espécies que possam a realizar na Herdade
ser do interesse de ambas as Experimental da

N o dia 21 de janeiro de
2020 foi assinado um
protocolo de colaboração
e projetos a realizar na
Herdade Experimental da
Fataca (HEF), em Odemira.
partes criando as condições
para que a Herdade se torne
um polo de excelência na
Fataca (HEF), em
Odemira»

técnico-científica entre Serão instalados experimentação de Pequenos Em representação do


o Instituto Nacional de diferentes campos de Frutos. No âmbito da referida INIAV, I.P, assinou o
Investigação Agrária e avaliação das tecnologias de colaboração as partes protocolo o Presidente do
Veterinária (INIAV) e a produção mais inovadoras, poderão candidatar-se a Conselho Diretivo, Doutor
Berrysmart, Sociedade seleção de material vegetal financiamentos, preferen- Nuno Canada e por parte da
Unipessoal Lda. O Protocolo mais adaptado aos condicio- cialmente em parceria, ou Berrysmart e em repre-
tem como objetivo a nalismos edafo-climáticos individualmente mediante sentação da sócia gerente,
dinamização de atividades da região e construído um acordo prévio. Nelson Antunes.

2 peouenosfrutos
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LIVRO SOBRE A CULTURA DO MORANGO tecnologias de produção e produção e qualidade do


LANÇADO NO VI COLÓQUIO NACIONAL da globalização do comércio fruto e efeitos na saúde.
DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS internacional, proporcionando O livro é editado sob a
a disponibilidade do fruto no chancela Agrobook, que

D urante o VI Colóquio
Nacional da Produção de
Pequenos Frutos, que acon-
Lisboa, Maria Graça Palha é
investigadora no INIAV desde
1998. Esta tem desenvolvido
mercado o ano inteiro.
Esta obra é o culminar de duas
décadas de estudos de I&DT
agrega a oferta de conteúdos
nos domínios das ciências
agrárias, indústria agroali-
tece entre 22 e 23 de maio, em grande parte da sua atividade dedicados a este pequeno mentar, bem-estar animal e
Odemira, será apresentado o profissional nas áreas de fruto, onde estão reunidas desenvolvimento rural.
livro “A cultura do morango. horticultura herbácea e de uma série de informações,
No solo e em substrato”, de pequenos frutos com ênfase teóricas e práticas, que se «Esta obra é o culminar
Maria Graça Palha. na ecofisiologia e tecnologias debruçam sobre a biologia da de duas décadas de
de produção do morangueiro, planta, sobre a cultura e seus estudos de I&DT
«A cultura do liderando e participando em aspetos culturais e as diversas dedicados a este pequeno
morangueiro constitui projetos de investigação tecnologias de produção fruto, onde estão reunidas
uma importante cadeia nacionais e internacionais. utilizadas. uma série de informações,
produtiva do ponto A cultura do morangueiro Aborda a cultura do teóricas e práticas (...)»
de vista tecnológico, constitui uma importante morango, no solo e em
económico e social» cadeia produtiva do ponto de substrato, contemplando
vista tecnológico, económico vários capítulos: enquadra-
Licenciada em Agronomia e social. Nas últimas décadas, mento taxonómico, origem
e doutorada em Engenharia o setor sofreu uma enorme e história, morfologia da
Agronómica pelo Instituto expansão e evolução resul- planta e ciclo fisiológico,
Superior de Agronomia (ISA) tante da diversificação varietal, a cultura e seus aspetos
da Universidade Técnica de do desenvolvimento de várias culturais, tecnologias de

INOVTERRA PROMOVE NOVO WORKSHOP XVIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL


SOBRE A CULTURA DO SABUGUEIRO DE MIRTILOS ACONTECE NO CHILE

A Inovterra, Associação
para o desenvolvimento
local com sede em Vila
de interesse na cultura do
sabugueiro no concelho
de Tarouca e ao campo de
O evento realiza-se no
próximo dia 16 de abril,
no Centro de Conferências
de uma conversa sobre os
pontos fracos de cada setor, as
suas vantagens e oportunida-
Pouca- Salzedas, localizada sabugueiros da Inovterra. Monticello, em San Francisco des, e as estratégias projetadas
no concelho de Tarouca, As inscrições estão abertas de Mostazal. ou projetar para recuperar
está a organizar mais um até ao dia 14 de maio e são O programa do XVIII ou manter a competitividade,
workshop sobre a cultura do de carácter obrigatório. Mais Seminário Internacional de com o objetivo de se inserir
sabugueiro no próximo dia 16 informações disponíveis Mirtilos deste ano contempla melhor ou num nível superior
de maio. Este versará sobre através do inovterra@gmail. um bloco de negociações no mercado de exportação de
a flor de sabugueiro. com ou 254 677 510. comerciais que irão provi- frutas, que se encontra cada
Esta é uma nova ação denciar atualizações sobre vez mais exigente.
de formação realizada pela «A formação conta (...) a situação atual e os seus
entidade sobre esta cultura, com intervenções práticas detalhes, tanto regionalmente, «(...) tornar visíveis
que é cada vez mais procurada e visitas a diversos pontos como internacionalmente. as oportunidades e
em Portugal. A formação (...) para quem quer O objetivo da organização perspetivas futuras
conta ainda com intervenções conhecer melhor a cultura passa por analisar os desafios abertas para a produção
práticas e visitas a diversos do sabugueiro e a que surgem e tornar visíveis as de mirtilos do Chile,
pontos essenciais. sua produção» oportunidades e perspetivas Peru e México»
No início da formação, será futuras abertas para a produção
realizada uma introdução A Inovterra tem vindo a de mirtilos do Chile, Peru e Durante o evento, os
à cultura do sabugueiro, no desenvolver o potencial México. O primeiro painel, que participantes vão poder
âmbito de introduzir as noções da região que outrora fora irá discutir a temática, irá contar assimilar conhecimentos de
mais essenciais sobre a res- pouco considerado. A ação da com a presença dos diretos das duas palestras distintas no
petiva e abordar os números associação está voltada para a diversas organizações de mirtilo âmbito da cultura do mirtilo
do comércio. Ainda durante a agricultura, para a cultura, para chilenas, peruanas e mexicanas. sobre porta-enxertos, nutrição,
manhã, os participantes vão a história, para o biológico e Durante a palestra inicial, utilização de bioestimulantes,
ter a oportunidade de realizar sustentável, para novas formas cada um irá partilhar as suas logística de colheita e
a apanha da flor no campo. de pensar e agir o desenvol- experiências locais com armazenamento, potencial
Da parte da tarde, será vimento económico e social, participantes de diferentes do mirtilo na pós-colheita,
realizada uma visita a pontos elevando sempre a região. países e regiões, participando manuseamento, entre outros.

peouenosfrutos 3
notícias

Descobrir o Vale do Varosa


Uma crónica à cultura do sabugueiro

TEXTO E FOTOS ALICE JONES, Universidade de Nottingham

A minha viagem com o


objetivo de visitar o
Bruno Cardoso, da Associação
vinhas, entre os pomares de
maçã e castanha, ao longo
das fronteiras das plantações
Inovterra em Portugal, que e, o que se demonstrou tão
aconteceu em novembro do interessante para mim, era
ano passado, surgiu depois de que estes também estavam
encontrar o projeto Sambucus- a ser cultivados nos seus
Valor online enquanto realizava próprios campos, existindo
uma pesquisa sobre o cultivo fileiras e fileiras de árvores
de sabugueiro para o meu que eram alvo de grande
projeto de bolsas de estudos, cuidado, atenção e respeito,
o Nuffield Farming Trust. tal como as vinhas premiadas
Este trata-se de uma do próprio vale do Douro.
instituição de caridade O meu anfitrião, Bruno
registada e fundada no Reino Cardoso, que está a conduzir
Unido. A primeira bolsa de o renascimento da cultura na
estudos foi concedida em 1947. região, parou pacientemente
Atualmente, a instituição conta o carro a cada poucos metros
com vários países membros para eu tirar mais uma foto.
que patrocinam bolsas por Eventualmente, deixou-me
todo o globo. Os académicos caminhar e maravilhar com as
são selecionados com o espectaculares árvores altas,
objetivo de se tornarem nos com três ou quatro metros e
líderes de amanhã, tanto nos com os seus galhos curvos!
seus negócios individuais, como Eu estava no céu!
no setor agroalimentar como
um todo. A intenção é inspirar «Depois de passar a
a inovação e a mudança. maior parte de 2019
As bolsas de estudo Nuffield a pesquisar e a viajar quando gerida corretamente, partir do dia em que as esta-
são possíveis graças ao apoio pelo mundo para existe a possibilidade de cas de madeira são plantadas
generoso de patrocinadores de observar plantações de colher um pouco de ambas. no campo, sendo que as
toda a indústria agrícola sabugueiro (Sambucus), Além disso, o agricultor só mesmas devem permanecer
e de alimentos. eu não podia acreditar precisa de esperar três anos plantadas durante toda a vida
Depois de passar a maior que tinha ignorado para atingir o rendimento útil da planta. Os sabugueiros
parte de 2019 a pesquisar Portugal e a sua máximo (para comparação, crescem muito rapidamente e
e a viajar pelo mundo para história de cultivo» o agricultor pode esperar de a resposta vegetativa é cada
observar plantações de 10 a 12 anos para obter uma vez menor, por isso a planta
sabugueiro (Sambucus), Ali eu tinha encontrado colheita de castanhas). precisa ser renovada. Toda a
eu não podia acreditar que alguém e um local que Muitos dos sabugueiros que poda é feita seletivamente à
tinha ignorado Portugal e a representava o que eu tinha vi eram, claramente, muito mão, tratando-se de uma arte
sua história de cultivo. Nos sonhado para o Reino Unido, o velhos. Fiquei fascinada ao que tem por base princípios
últimos 13 anos, vi muitos que eu precisava para inspirar perceber que muitos deles científicos. Cada corte feito é
sabugueiros serem associa- os agricultores locais a ver o estavam ali há décadas, mas pensado e tem um motivo e
dos com o processo industrial sabugueiro como a jóia que é: a sua longevidade não dava é por isso que só uma pessoa
da flor de sabugueiro e, claro uma planta nativa e perene, para perceber a partir dos experiente faz esse trabalho.
está, vi ainda mais no último a partir da qual se pode números de produtividade que Durante a poda, o agricultor
ano aquando da minha tour obter duas colheitas valiosas o Bruno citava. O segredo que está a examinar o seu pomar
global. No entanto, quando (flores e frutos). Isso é o que aprendi sobre a longevidade e, ao mesmo tempo procura
entrei no Vale do Varosa, me fascina no sabugueiro: e a produtividade consistente pelas melhores soluções para
percebi que visualizava um existem muito poucas plantas das árvores são as práticas a saúde da planta, testando o
nível acima de dedicação. onde o agricultor pode culturais rigorosas, principal- solo em busca de nutrientes e
Os sabugueiros estavam escolher qual colheita colher, mente o ato de realizar a poda pH e ajustando-os de acordo
por toda a parte, em volta das e muito menos, mesmo anualmente, que começa a com o ideal. Atualmente,

4 peouenosfrutos
notícias

continua o trabalho para É simplesmente um bónus sabugueiro produzidos em Isso, por si só, pode ser uma
desenvolver variedades de que algo com tantas proprie- Portugal, Como resultado da barreira para o desenvolvi-
alto rendimento e que sejam dades potenciais de promoção minha tour de bolsas de estu- mento de novas culturas,
bem adaptadas à região. da saúde seja tão saboroso. dos, e especialmente inspirada como o sabugueiro.
Os agricultores estão a Na Europa, todos nós temos por esta visita, voltarei para O novo desenvolvimento da
trabalhar em conjunto com bebido xaropes, vinhos e chás casa para espalhar a notícia indústria de sabugueiro, e a
agrónomos e universidades de flor de sabugueiro desde de que precisamos de mais comercialização de produtos
locais para desenvolver as o início dos nossos registros sabugueiro nas nossas vidas. como a baga de sabugueiro
práticas agrícolas da agricul- enquanto sociedade, prova- Enquanto eu estava em como ingrediente destacado
tura mais antiga, aproveitando velmente tendo começado a Portugal para aprender que está a ocorrer no Vale
a melhor experiência do consumi-los devido às suas sobre o cultivo da árvore Varosa, certamente não está a
passado e conjugando-a com propriedades medicinais. de sabugueiro, imaginem a acontecer por acaso. Isso está
abordagens modernas para minha alegria (sendo que acontecer porque se juntaram
monitorizar e gerir a colheita. «Embora os meu trabalho diário é como processadores, agricultores
Embora os portugueses portugueses pareçam uma cientista de alimentos, antigos e mais jovens e
pareçam sentir vergonha sentir vergonha de especializado em ciência instituições académicas para
de ter usado a baga de ter usado a baga de sensorial e a trabalhar em trabalhar duro e com paixão.
sabugueiro no passado para sabugueiro no passado pesquisa aplicada e transfe- Por último, mas não menos
adicionar cor e sabor ao vinho, para adicionar cor rência de conhecimento com importante, eles têm um
os britânicos eram os seus e sabor ao vinho, os empresas locais) quando campeão na forma do Bruno.
mercados-alvo, exportando britânicos eram os Bruno anuncia que me está
para a Grã-Bretanha os bons seus mercados-alvo, a levar para ver o trabalho «O novo
vinhos do Porto, dos quais exportando para a do laboratório de química desenvolvimento
nunca se consegue fartar. Grã-Bretanha os analítica em sabugueiros da da indústria de
“É uma pena que o sabugueiro bons vinhos do Porto, Universidade de Aveiro. Para a sabugueiro, e a
tenha o nome sujo e seja visto dos quais nunca se minha satisfação, fui apresen- comercialização de
como uma forma de adulterar consegue fartar» tada a ninguém menos que a produtos como a baga
o vinho e seja oculto do rótulo professora Silvia Rocha, uma de sabugueiro como
quando, na verdade, as bagas O xarope de flor de sabugueiro das autoras dos principais ingrediente destacado
de sabugueiro e a flor de tem traços frescos, florais e artigos científicos sobre os que está a ocorrer
sabugueiro são, na verdade, cítricos, juntando-se ainda constituintes químicos dos no Vale Varosa,
ingredientes deliciosos”, alguns travos subtis de ervas, sabugueiros que eu estava certamente não está a
pensei, enquanto provava licor especiarias e amadeiradas. a ler há alguns meses! acontecer por acaso»
de sabugueiro caseiro e geleia O seu sabor lembra o povo Fiquei impressionada com
de sabugueiro num pequeno britânico dos dias felizes a quantidade de trabalho já AGRADECIMENTOS
bar, localizado no epicentro do de verão! A baga não é tão realizado no laboratório para Gostaria de agradecer a Bruno
Cardoso, da Inovterra, por me
Vale Varosa, com o Bruno. amplamente consumida no caracterizar os constituintes receber e me ensinar muito em tão
Ah, e eu mencionei que as Reino Unido. Pessoalmente, químicos de sabugueiro e flor pouco tempo, e à professora Silvia
Rocha, da Universidade de Aveiro,
bagas e as flores são uma não consigo pensar porque de sabugueiro, especialmente pelo seu tempo e excelentes
fonte rica de antocianinas, até à altura não tinha provado em termos de refinação da conhecimentos científicos. Por fim,
gostaria de agradecer à Nuffield
flavonóides e ácidos fenólicos? alguns dos produtos de sensibilidade das técnicas de
Farming Scholarship Trust e à
Cromatografia Gasosa para minha patrocinadora Thatchers
a detecção, identificação, Cider, sem as quais esta viagem
não teria sido possível.
separação e quantificação
de voláteis (os compostos
que o nariz humano detecta Alice Jones é cientista de
como aromas). Esse trabalho alimentos na Universidade de
Nottingham, sendo especiali-
é vital para entender melhor zada em ciências sensoriais e
os sabores complexos da flor tendo passado 12 anos em cargos
de sabugueiro e da baga de técnicos na indústria das bebidas.
O seu projeto Nuffield Farming
sabugueiro, a fim de dispor de Scholarship levou-se a dez
ferramentas para melhorar as países diferentes no ano passado,
condições de manuseamento incluindo EUA, Canadá e muitos
cantos da Europa, para estudar
pós-colheita das flores e o desenvolvimento das bagas de
frutos e desenvolver produtos sabugueiro como uma cultura
com melhor sabor. Aplaudo os comercialmente viável.

esforços da Universidade de Pode saber mais sobre a cientista


Aveiro em obter financiamento aqui: www.nuffieldscholar.org/
our-scholars/alice-jones/
para estudar esse nicho.

peouenosfrutos 5
grupos operacionais
GO – SambucusValor

Baga de sabugueiro
– Porque é importante avaliar no
campo o seu estado de maturação?
CARINA COSTA 1, SAMUEL PATINHA 1, BRUNO CARDOSO 2, ARMANDO J. D. SILVESTRE 3, SÍLVIA M. ROCHA 1
1
Departamento de Química, Universidade de Aveiro (LAQV-REQUIMTE – UA)
2
Inovterra, Associação para o Desenvolvimento Local
3
Departamento de Química, Universidade de Aveiro (CICECO – UA)

RESUMO

O controlo do estado de maturação da baga de sabugueiro


pode ser levado a cabo através da utilização de um
refratómetro digital portátil, que permite estimar o teor de
açúcares, expresso em °Brix. Desta forma, é possível planear
com maior rigor o dia da colheita da baga. Esta abordagem
foi testada em bagas de sabugueiro das três cultivares mais
comuns na região do Vale do Varosa e Távora – Sabugueira,
Sabugueiro e Bastardeira – recolhidas nos anos de 2018 e
2019. As bagas consideradas maduras apresentaram valores
que variam entre 12 e 19 °Brix, com a mediana de 14,8 °Brix.
As tendências de variação observadas ao longo da fase final
da maturação, indicam que os valores mais elevados de
°Brix correspondem também a um valor superior de total
de compostos fenólicos e de atividade antioxidante.
Estes dois parâmetros estão relacionados com potenciais Figura 1. Região do Vale do Varosa e Távora, com indicação dos 3 campos onde fo-
ram colhidas amostras de baga de sabugueiro: Varosa, Valverde e São João de Tarou-
efeitos benéficos para a saúde associados à baga.
ca (campo experimental). Fonte: Google Maps.
Em suma, a determinação do °Brix ao longo da maturação da
baga representa uma abordagem simples que fornece aos
produtores informação objetiva e útil para a programação da IMPORTÂNCIA da baga cultivada no Vale do
colheita e para a avaliação da qualidade da baga. DO CONTROLO DA Varosa e Távora, (Figura 1)
MATURAÇÃO DA BAGA reportam a presença destes
Palavras-chave: Sambucus nigra L., Desde longa data que a flor e compostos bioativos, cujos
Baga, Maturação,°Brix, Refratómetro. a baga de sabugueiro (Sam- teores dependem do estado
bucus nigra L.) são usadas na de maturação da baga. Assim,
ABSTRACT medicina tradicional e, mais considera-se fundamental
The monitoring of the maturity status of elderberry can be recentemente, no desenvol- que os produtores de baga
carried out using a portable digital refractometer, which allows vimento de nutracêuticos e de sabugueiro disponham de
estimating the sugar content, expressed as °Brix. In this way suplementos alimentares, ferramentas simples que lhes
it is possible to plan more accurately the harvesting day. This ilustrando o potencial e forneçam dados objetivos que
method was tested in elderberries from the three most common interesse em estudar esta permitam controlar o estado
cultivars in the Vale do Varosa and Távora region –Sabugueira, espécie. O sabugueiro tem de maturação da baga e
Sabugueiro and Bastardeira – collected in the years 2018 and sido referido como uma fonte como tal programar
2019. The ripe elderberries exhibited °Brix values ranging from rica em diversos compostos o dia da colheita.
12 to 19 °Brix, with the median of 14.5 °Brix. bioativos, aos quais são Durante o desenvolvi-
The variation trends observed during the final stage of matu- atribuídos efeitos benéficos mento fisiológico e o processo
ration indicate that the highest values of °Brix also correspond para a saúde e bem-estar. de amadurecimento, as bagas
to higher values of total phenolic compounds and antioxidant Entre estes destacam-se os sofrem diversas modificações
activity. These 2 parameters are related with potential beneficial compostos terpénicos, fitoes- físicas e bioquímicas, ficando
health effects associated with the elderberries. In summary, teróis, ácidos gordos mono e normalmente maduras, e
the °Brix assessment throughout the maturation of elderberries polinsaturados, compostos como tal em condições de
represents a simple method that provides objective and useful fenólicos e antioxidantes, serem colhidas, durante o
information to producers for scheduling the harvest and minerais, vitaminas, entre mês agosto. Os produtores
assessing the quality of elderberries. outros. Alguns estudos têm dificuldade em planear
realizados recentemente com rigor o dia da colheita,
Keywords: Sambucus nigra L., Elderberry, sobre a baga de sabugueiro pois o estado de maturação
Ripening, °Brix, Refractometer. portuguesa, nomeadamente da baga está dependente

6 peouenosfrutos
grupos operacionais
GO – SambucusValor

de diversas variáveis,
nomeadamente as condições
climatéricas, a localização
1) 2)
geográfica dos campos,
as condições de gestão da
cultura, entre outros fatores.
A qualidade da baga, e Figura 2. Determinação do teor de sólidos solúveis totais, expresso em °Brix: 1º passo – esmagamento da baga para a obtenção do
consequentemente o seu sumo; 2º passo: leitura do °Brix num refratómetro digital. No exemplo usado nesta figura, as bagas apresentaram um valor de 14,8 °Brix.

valor comercial, dependem


de um adequado controlo A determinação do °Brix tem colocam-se umas gotas do O °BRIX ESTÁ
da maturação e definição do como base uma escala que sumo no local indicado no RELACIONADO COM
dia da colheita. Assim, neste resulta do estabelecimento refratómetro (Figura 2). OUTROS PARÂMETROS
artigo será apresentada e de uma relação numérica A metodologia DE QUALIDADE DA BAGA?
discutida a importância da entre o índice de refração anteriormente descrita foi A Figura 3 ilustra a variação
implementação de um método de uma solução e o seu aplicada a amostras de baga dos parâmetros comumente
simples que permite avaliar o teor em sacarose. Assim, de sabugueiro portuguesa, usados para definir o estado
estado de maturação tecnoló- este parâmetro permite recolhida na zona do Vale de maturação tecnológica de
gico da baga, em laboratório determinar, de forma indireta, do Varosa e Távora, onde frutos (sólidos solúveis totais
ou no campo. É ainda discutida o teor de sólidos solúveis existem culturas de sabu- e acidez titulável) e ainda a
a relação deste parâmetro totais de uma solução, o qual gueiro com boa capacidade evolução do teor em fenóis
com outros indicadores de depende da temperatura, mas de adaptação às condições totais e do poder antioxidante
qualidade da baga. os refratómetros modernos naturais da região. Assim, da baga de sabugueiro
O teor de sólidos solúveis já conseguem corrigir essas foram recolhidas bagas das das cultivares Sabugueira,
totais (SST), indicador do variações através de sistemas cultivares mais comuns nesta Sabugueiro e Bastardeira.
teor de açúcares solúveis, internos de compensação zona: Sabugueira, Sabugueiro De acordo com a Figura 3,
e a acidez titulável (AT) são automática de temperatura. e Bastardeira. Estas foram durante a fase final de
parâmetros muito utilizados A determinação do °Brix colhidas em 3 campos, entre maturação o teor de açúcares
para acompanhar o estado é feita utilizando um o final de julho e agosto de aumenta, enquanto que a
de maturação tecnológico de refratómetro. Aconselha-se a 2018 e de 2019 (Figura 1). acidez titulável diminui. Habi-
vários frutos, nomeadamente utilização de um refratómetro Para as amostras tualmente define-se a data da
das uvas. Por exemplo, digital que pode ser usado analisadas, o valor de °Brix colheita como a fase em que
através da avaliação destes quer no laboratório quer no aumenta até estabilizar num estes 2 parâmetros estabili-
parâmetros é possível um campo, permitindo assim a valor que varia entre 13 e 19 zam. Por outro lado, observa-
acompanhamento do estado leitura em tempo real. para a baga madura, para as -se que o teor em fenóis totais
de maturação das uvas, com As bagas de sabugueiro 3 cultivares no ano de 2018 e aumenta e consequentemente
vista a planificar a vindima e podem ser colhidas no campo entre 12 e 16, para o ano de há um aumento da atividade
o processo de vinificação, de e transportadas para um 2019 (Figura 3). Em média, antioxidante (Figura 3). Estas
acordo com as características laboratório ou para insta- os valores de °Brix das bagas tendências de variação estão
pretendidas para o produto lações agrícolas, ou podem do campo de Varosa são em linha com o observado para
final. Este tipo de acompa- ser analisadas no campo. mais homogéneos, não apre- os valores de °Brix, isto é, o
nhamento pode ser realizado Para esta determinação, as sentam tanta variabilidade estado de maturação da baga
no campo com recurso a um bagas de sabugueiro devem no estado de maturação, que corresponde a valores de
refratómetro digital portátil. ser esmagadas até se obter quando comparadas com os °Brix mais elevados, também
A abordagem usada no um sumo, posteriormente valores de °Brix das bagas corresponde a valores mais
controlo de maturação da colocaram-se duas gotas no dos outros campos. elevados de fenóis totais e de
uva foi o ponto de partida e refratómetro, sendo a leitura De acordo com a literatura, capacidade antioxidante.
inspiração dos autores para feita após 30 segundos de o teor de sólidos solúveis Em média, as bagas do
avaliar o amadurecimento da permanência do sumo sobre da baga madura colhida em campo de Varosa apresentam
baga de sabugueiro. a superfície de leitura. Se vários países do norte da valores mais elevados de
a análise for realizada no europa pode variar entre 10 °Brix, teor de fenóis totais
COMO ACOMPANHAR O laboratório pode seguir os e 17 °Brix, sendo que o valor e atividade antioxidante,
ESTADO DE MATURAÇÃO passos indicados na Figura 2, mais comum varia entre 12 e comparativamente com os
DA BAGA ATRAVÉS DA iniciando o esmagamento 13 °Brix. A baga portuguesa ouros campos em estudo.
DETERMINAÇÃO DO °BRIX? das bagas no almofariz e no em estudo apresentou a Por outro lado, as bagas do
Na Figura 2 encontra-se 2º passo a leitura do °Brix. mediana de 14,8 °Brix, o que campo experimental (São
esquematizado o processo Se a leitura for realizada no permite inferir, que para este João de Tarouca) são as
de determinação do teor de campo, as bagas podem ser indicador de qualidade, está que apresentam em médias
sólidos solúveis totais (SST) esmagadas colocando-as bem posicionada no valores inferiores para
que é expresso em °Brix. num saco de plástico e depois contexto internacional. estes três parâmetros.

peouenosfrutos 7
grupos operacionais
GO – SambucusValor

A Figura 3 mostra claramente


que o perfil em fenóis totais
e a atividade antioxidante
são característicos para cada
um dos campos ao longo do
tempo, refletindo a adaptação
da planta às condições
edafoclimáticas. Além do
metabolismo primário (cres-
cimento e desenvolvimento),
a planta pode apresentar
atividades relacionadas com
o metabolismo secundário, o
qual desempenha um papel
importante na interação das
plantas com o meio ambiente
(adaptação às condições
do meio). Este é expresso
na produção de vários
metabolitos secundários,
como por exemplo os Figura 3. Sólidos solúveis totais (SST) – °Brix, acidez titulável (g ácido cítrico/L sumo), teor em fenóis totais (g ácido gálico/L sumo) e
compostos fenólicos e respe- atividade antioxidante (mmol equivalentes de Trolox/L sumo) de baga de sabugueiro das cultivares Sabugueira, Sabugueiro e Bastardei-
ra, determinados ao longo do amadurecimento, colhidas da região do Vale do Varosa e Távora, durante a colheita de 2018 e 2019. Os re-
tiva atividade antioxidante. sultados estão expresso por L de sumo, preparado por esmagamento da baga.

CONCLUSÕES a determinação do °Brix, para


A baga de sabugueiro apre- além de ser um auxiliar na ava-
senta inúmeros compostos liação do estado de maturação
bioativos, cuja concentração tecnológica e permitir definir
depende do estado de matura- o dia da colheita, também
ção. Assim, é importante que permite inferir acerca do teor
haja um controlo do estado em compostos fenólicos, de
de maturação da baga para se reconhecida importância para
definir com maior rigor o dia o valor biológico da baga e para
da colheita e consequente- as suas propriedades de cor.
mente a sua composição.
Um dos parâmetros que AGRADECIMENTOS
FCT/MEC pelo apoio financeiro
permite acompanhar o estado através da unidade de investigação
de maturação é a medição do QOPNA (UID/QUI/00062/2019)
e Laboratórios Associados LAQV-
°Brix, através da utilização de -REQUIMTE (UIDB/50006/2020) e
Figura 4. Tendências de variação de diferentes parâmetros físico-químicos ao longo da
maturação da baga de sabugueiro.
um refratómetro digital. Este CICECO (CICECO (UIDB/50011/2020
& UIDP/50011/2020UID/
método é rápido, de execução CTM/50011/2013) e fundos nacionais
simples, requer um volume cofinanciados por FEDER, dentro do za prehrambenu tehnologiju, strategy for fingerprinting of
acordo PT2020. Os autores agradecem biotehnologiju i nutricionizam, Sambucus nigra L. berry volatile
muito reduzido de amostra e ao Grupo Operacional SambucusValor: 7(SPECIAL ISSUE-7th), 9-13. terpenoids and norisoprenoids:
não necessita de um operador Valorização integrada do sabugueiro Kaack, K., Christensen, L. P., Hughes, M., Influence of ripening and cultivar.
em função dos padrões de consumo & Eder, R. (2005). The relationship Journal of agricultural and food
especializado. Para além disso saudável: da planta à criação de between sensory quality and chemistry, 64(26), 5428-5438.
este método apresenta custos novos produtos alimentares de valor volatile compounds in raw juice Salvador, A. C., Charlebois, D.,
acrescentado, financiado no âmbito processed from elderberries Silvestre, A. J. D., & Rocha, S.
de utilização reduzidos e pode do PDR 2020, Medida 1, «Inovação», (Sambucus nigra L.). European M. (2013, June). Berry lipophilic
ser executado no campo, per- Constituição de Grupos Operacionais Food Research and Technology, constituents from three important
(PDR2020- 101-031117, Parceria 221(3-4), 244-254. Sambucus nigra cultivars grown
mitindo assim uma avaliação Salvador, Â. M. C. (2017). Chemical in Portugal-preliminary results.
nº 146/ Iniciativa nº 341).
do grau de maturação em characterization and biological In I International Symposium on
evaluation of Sambucus nigra L. Elderberry 1061 (pp. 53-60).
tempo real. A Figura 4 resume BIBLIOGRAFIA berries and flowers in view of their Salvador, Â. C., Silvestre, A. J., &
Considine, J. A., & Frankish, E. valorization (Doctoral dissertation, Rocha, S. M. (2016). Sambucus
as principais tendências de (2013). A complete guide to Universidade de Aveiro (Portugal)). nigra L.: A potential source of
variação observadas ao longo quality in small-scale wine Salvador, Â. C., Rocha, S. M., healthpromoting components.
making. Academic Press. & Silvestre, A. J. (2015). Salvador, Â. C., Król, E., Lemos, V.
da maturação, ou seja, ocorre Elez Garofulić, I., Kovačević Ganić, K., Lipophilic phytochemicals C., Santos, S. A., Bento, F. P.,
um aumento do °Brix, teor Galić, I., Dragović-Uzelac, V., & from elderberries (Sambucus Costa, C. P., ... & Silvestre, A.
Savić, Z. (2012). The influence of nigra L.): Influence of ripening, J. (2017). Effect of elderberry
em fenóis totais, da atividade processing on physico-chemical (Sambucus nigra L.) extract
cultivar and season. Industrial
antioxidante e a diminuição da parameters, phenolics, antioxidant Crops and Products, 71, 15-23. supplementation in STZ-induced
activity and sensory attributes Salvador, A. C., Rudnitskaya, A., diabetic rats fed with a high-fat
acidez titulável. Esta infor- of elderberry (Sambucus nigra Silvestre, A. J., & Rocha, S. M. diet. International journal of
mação permite concluir que L.) fruit wine. Hrvatski časopis (2016). Metabolomic-based molecular sciences, 18(1), 13.

8 peouenosfrutos
produção

A importância do conhecimento
do estado de diferenciação
floral na cultura da framboesa
CÂNDIDA SOFIA TRINDADE, TERESA VALDIVIESSO, PEDRO BRÁS DE OLIVEIRA
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária,
Unidade de Estratégia de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários, Florestais e Sanidade Vegetal (INIAV – UEIS – SAFSVegetal)

S erá necessário a um produtor de framboesas ter conhecimento


detalhado dos processos de diferenciação floral? Neste artigo
vamos tentar demonstrar que sim. Comecemos pelas definições
básicas, botânica, hábitos de floração e formação do fruto.
A planta da framboesa pertence à família das Rosaceae e ao
género Rubus, que inclui plantas herbáceas, perenes e bienais.
As framboesas que florescem no Verão após um ano de cresci-
mento vegetativo e de passar por um período de dormência durante
o Inverno são designadas de não remontantes (floricane-fruiting).
No entanto, existe um grupo de plantas de framboesa designadas
de remontantes (primocane-fruiting) que, apesar de apresentarem
um ciclo bienal, têm a capacidade de poder florir nos lançamentos
do ano durante o fim do Verão, princípio do Outono (Carew et al.
2000; Heide and Sonsteby, 2011). A distinção dos dois grupos é
importante do ponto de vista agronómico, uma vez que os diferen-
tes tipos de plantas têm necessidades diferentes para que ocorra a
diferenciação floral e exigem técnicas culturais específicas.
A produção de fruto está sempre dependente da eficácia
do processo reprodutivo, ou seja, da diferenciação floral, da
floração e da fecundação. Sendo o fruto da framboesa de grande
valor comercial torna-se fundamental o conhecimento da
floração e diferenciação floral bem como a regulação fisiológica Figura 1. Gomo de framboesa; esquema de um meristema que se localiza dentro do
deste processo (Neri et al., 2012). gomo (m – meristema; br – brácteas protetoras do meristema).

O ciclo de crescimento das framboesas tem início no


desenvolvimento de um gomo radicular ou em gomos axilares dos planta é no entanto muito A indução floral pode ser
lançamentos na zona de substituição. Os gomos encerram em si dependente de fatores reversível, mas o passo
diferentes tipos de meristemas. O meristema é um tecido vegetal externos tais como, tempera- seguinte a diferenciação floral,
composto por células indiferenciadas com grande capacidade tura, humidade, fotoperíodo ou é irreversível pois já ocorre-
de multiplicação e especialização, sendo responsável pelo mesmo de técnicas culturais ram alterações morfológicas
crescimento da planta e pela formação de todos os tecidos/órgãos (Williams 1959; Esteves et al., que impedem o retrocesso do
vegetais (Figura 1). Existem dois tipos principais de meristemas, 2011). Reunidos todos estes meristema. Estas alterações
os meristemas apicais e os meristemas laterais. Os meristemas fatores, intimamente ligado morfológicas são sequen-
apicais são responsáveis fundamentalmente pelo crescimento a cada genótipo, iniciam-se ciais e podem ser descritas
longitudinal das plantas e ocorrem nos ápices das raízes e do diferentes alterações em cinco estádios (Figura 2):
caule. Os meristemas laterais são responsáveis pelo crescimento bioquímicas na planta que dão estádio 0 – meristema vege-
da planta em espessura nas plantas lenhosas. No entanto, alguns origem à floração. tativo (Figura 2a); estádio 1
meristemas podem, sob condições climáticas indutivas, diferenciar A fase em que se dá a – indução floral, consiste no
células especializadas, dando origem às peças florais e à floração. indução floral varia, como já se alargamento e achatamento
A indução floral é um sistema complexo em que a atividade afirmou, com a cultivar e ocorre do meristema (Figura 2b);
de um meristema terminal vegetativo transita para reprodutivo. quando o gomo que encerra o estádio 2 – pontos de cresci-
Este é um processo que ocorre no interior do gomo não sendo meristema se encontra com- mento secundários (Figura
visível a olho nu, sendo necessário abrir o gomo, retirando as pletamente desenvolvido. 2c); estádio 3 – alongamento
brácteas protetoras do meristema, para que este seja exposto. A altura exata é controlada dos pontos de crescimento e
Assim, não é possível ao produtor saber exatamente o momento pelo comprimento do dia, bai- estádio (Figura 2d) 4 – forma-
em que as suas plantas transitam do estado vegetativo para xas temperaturas e cessação ção dos primórdios das peças
o floral. O processo da formação das flores baseia-se em três do crescimento terminal e é florais que posteriormente
fases distintas: indução floral, diferenciação floral e floração. determinada geneticamente culminarão na formação do
Este processo, regulado pelas características genéticas da (Oliveira et al., 2007). botão floral (Figura 2e,f).

peouenosfrutos 9
produção

Desde há muitos anos que no


INIAV, I.P. se têm realizado
estudos de diferenciação floral
em framboesa, tendo todos
estes estádios sido confirma-
dos através da observação de
cortes histológicos de gomos
de framboesa. O meristema
vegetativo apresenta uma
forma esférica (Figura 2a),
sendo o seu alargamento e
achatamento as alterações
iniciais da indução floral
(Figura 2b).

«As flores de framboesa


são hermafroditas,
possuem o órgão
reprodutor masculino Figura 2. Cortes histológicos de gomos de framboesa: a – meris-
tema vegetativo; b, c – meristema diferenciado; d, e, f – formação Figura 3. Flor da framboesa onde são visíveis as diferentes pe-
(androceu) e feminino das peças florais; at – anteras; ov – óvulo; ova – ovários. ças florais.
(gineceu)»

Como já foi referido todos


estes processos descritos
anteriormente ocorrem dentro
das brácteas dos gomos não
sendo visíveis a olho nu. Assim,
a determinação correta do
estado de diferenciação floral
é de extrema importância
quando se pretendem aplicar
manipulações do ciclo vegeta-
tivo e reprodutivo na cultura da
framboesa. Facto importante a Figura 4. Cortes histológicos de flores de framboesa: a – ovários
realçar neste momento é que com óvulos em formação; b – óvulo na fase de fecundação; c – for-
mação das anteras (formação das células mães de grãos de pó-
em Portugal nos habituámos len); d – formação de pólen nas anteras; ova – ovários; ov – óvulo;
a trabalhar com framboesas at – anteras; gp – grãos de pólen. Figura 5. A framboesa é um fruto múltiplo de drupas.
remontantes e todos estes
processos nos parecem -se ou não a diferenciação base, em ráquis secundários. O número de flores por inflorescência
óbvios e intuitivos mas podem floral consoante a cultivar é muito variável.
conduzir a grandes erros. (Oliveira et al., 2007). As flores de framboesa (Figura 3) são hermafroditas,
Devemos distinguir bem as A floração é um processo possuem o órgão reprodutor masculino (androceu) e feminino
diferenças entre framboesas que decorre já no exterior dos (gineceu). O gineceu é formado por 56 a 120 carpelos, que se
que frutificam no lançamento gomos axilares, passado um encontram sobre um recetáculo carnudo. Cada carpelo é cons-
do ano (remontantes) e as período de dormência ou não, tituído pelo estigma, estilete e o ovário, que encerra os óvulos. O
que apenas frutificam no e que o produtor já consegue gineceu é envolvido pelo androceu que é formado pelos estames
lançamento de segundo ver e identificar as diferentes (filete e a antera). Nas anteras jovens, são produzidas as células
ano (não-remontantes). Nas fases fenológicas que a planta mãe dos grãos de pólen (Figura 4). Durante a maturação da
cultivares remontantes a dife- atravessa. A fenologia da antera, estas células dão origem aos grãos de pólen, essenciais
renciação e o desenvolvimento framboesa encontra-se bem na fecundação. O estigma é responsável pela adesão dos grãos
das inflorescências dá-se até descrita (Edin et al., 1999) pelo de pólen que são conduzidos até ao ovário através dos tecidos
que os gomos axilares se que nos vamos referir a pro- do estilete culminando na fecundação do óvulo. Assim, o calibre
tornem dormentes. cessos menos divulgados e que do fruto depende do número de óvulos que são fecundados
No entanto, a indução floral são, também eles, de extrema e que evoluem para drupéolas completamente expandidas,
continua nos gomos situados importância. Assim, a flora- dependendo também da cultivar, da época do ano e do local de
abaixo da última inflorescência ção inicia-se na zona apical da produção (Funt & Hall, 2013).
visível. Nas framboesas não planta, seguida das outras inflo- Através de cortes histológicos é possível observar os
remontantes a indução ocorre rescências/flores que aparecem diferentes tecidos e células que compõem as peças florais e
no Outono, podendo verificar- sucessivamente em direção à estão na base da formação da semente e do fruto. Na base dos

10 peouenosfrutos
produção

ovários encontram-se os o mais eficiente polinizador formado pela junção de um Carew, J., Gillespie, T., White, J.,
Wainwright, H., Brennan, R.,
óvulos em formação (antes (Oliveira et al., 2007). Brito, et grande número de ovários Battey, N., (2000). The controlo
da recetividade do estigma) al. (2019) determinaram que todos da mesma flor e aderen- f the anual growth cycle in
raspberry. J. Hortic. Sci. &
(Figura 4a), local onde irão numa cultura de framboesa tes a um recetáculo comum Biotechnol., 75: 495-503.
Edin, M., Gaillard, P. & Massardier, P.,
ser fecundados (Figura 4b), em estufa no Algarve são (Oliveira et al., 2007). Como (1999). Le framboisier. Les stades
enquanto nas anteras se libertados em média, num cada drupéola é por si só um phénologiques du framboisier.
Edição CTIFL, 207p.
formam as células mãe do período de 42 dias, entre 350 fruto perfeito, a framboesa Esteves, A., Valdiviesso, T., & Oliveira, P.,
(2011). Estudo da diferenciação floral
grão de pólen (Figura 4c) e 560L de néctar por hectare. forma um fruto múltiplo de em framboesa vermelha (Rubus
que dão origem aos grãos de Esta produção elevada de drupas (Figura 5). Estes são idaeus L.), Actas Portuguesas de
Horticultura 18, 320–324.
pólen (Figura 4d). néctar pode originar problemas os processos fisiológicos Funt, R. C., & Hall, H. K. (2013).
Raspberries. In Growth and
Durante todo o período de importantes de qualidade da floração que ocorrem ao development (pp. 21–32). CABI.
floração, as flores segregam do fruto quando se reúnem longo do período produtivo, Heide O.M., Sonsteby A., (2011).
Physiology of flowering and
grandes quantidades de condições de elevada humi- sendo fácil compreender dormancy regulation in annual-
and biennial-fruiting red raspberry
néctar, produzido pelas dade e baixa transpiração das que o sucesso comercial (Rubus idaeus L.) − a review. J.
nectáreas que se localizam plantas em cultura protegida. da cultura está claramente Hortic. Sci. & Biotechnol., 86:
433-442.
no recetáculo entre o anel de Após a fecundação, o ovário associado com a interação de Neri, d., Massetani, F., Zucchi, P.,
Giacomelli, M., & Savini, G. (2012).
estames e os ovários. Este desenvolve-se formando uma fatores que ocorrem durante Flower differentiation and plant
néctar rico e abundante em drupéola, ou seja uma mini o ciclo biológico. Sobre elas architecture of raspberry, blackberry
and white- and redcurrant. Acta
açúcares, juntamente com o drupa que se desenvolve a escreveremos mais tarde. horticulturae, 926, 243–250.
Oliveira, PB, Valdiviesso, T., Esteves, A.,
pólen, é altamente atrativo partir de um ovário. O ovário Mota, M., & Fonseca, L. (2007). A
para os insetos polinizadores. desenvolve-se e transforma- BIBLIOGRAFIA planta de framboesa Morfologia e
Brito, T.A., Lhérété, J.P, Pereira, J. fisiologia. (Divulgação Agro 556,
Apesar de várias espécies de -se na parte carnuda do fruto, & Duarte, A., (2019). A cultura
Ed.) (1st ed.).
Williams, I.H., (1959). Effects of
insetos visitarem as flores de enquanto o óvulo fecundado da framboesa. Presença environment on Rubus idaeus L. IV.
de nectar nas flores e sua
framboesa, a abelha doméstica origina a semente. O fruto é extração pelas abelhas. Voz do
Flower initiation and development
of the inflorescence. Journal of
é considerada o principal e um agregado de drupéolas Campo 222: III-IV. Horticultural Sciences, 34, 219-228.
produção

Proposta de escala dos estados


fenológicos do medronheiro
ANA SOFIA NUNES, FÁBIO CASTRO, MAFALDA SIMÕES, FILOMENA GOMES, GORETI BOTELHO, JUSTINA FRANCO
Escola Superior Agrária de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra, Centro de Estudos em Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (ESAC/IPC/CERNAS)

RESUMO

O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie que


pertence ao género Arbutus e à família das Ericaceae.
O presente trabalho foi realizado no banco clonal de medronheiro
instalado em 2015 na Escola Superior Agrária de Coimbra
(ESAC), em 4 blocos completos e casualizados, com 16 clones.
Procedeu-se à monitorização dos estados fenológicos desde
12 de setembro de 2018 até 10 de outubro de 2019. Foram
realizados registos fotográficos, recolhidos ao longo do tempo,
de acordo com a respetiva escala fenológica estabelecida. Tendo
por base as escalas dos estados fenológicos estabelecidos por
Fleckinger e Baggiolini para outras fruteiras, estabeleceu-se, pela
primeira vez, uma escala para o medronheiro (de A a L).
Figura 1. Exemplo de marcação de um cacho.
Palavras-chave: Arbutus unedo L.,
Banco clonal, Registos fotográficos. resiliência ao fogo e uma rápida arranjos florais fúnebres. Outra
capacidade de regeneração, potencialidade que a espécie
ABSTRACT sendo que muitas vezes é o apresenta, é o estabelecimento
The strawberry tree (Arbutus unedo L.) is a species that belongs primeiro a rebentar depois de micorrizas, pois contribui
to the genus Arbutus and to the Ericaceae family. This study was de um incêndio. Todas estas para o aumento da sobrevi-
done in the clonal bank of Arbutus unedo L. that was installed características fazem desta vência e do crescimento, da
at Coimbra College of Agriculture (ESAC) in 2015, in 4 complete planta uma grande aliada tolerância a condições de stress
and randomized blocks, with 16 clones. The monitorization of the na prevenção dos incêndios (biótico e abiótico) e pode, ainda,
fenological states were conducted from September 12th 2018 until florestais (Franco, 2013). constituir outra fronte de rendi-
October 10th 2019. Photographic records were taken, collected Outra utilização potencial mento económico, a produção
over time, according to the respective established phenological do medronheiro é a produção de cogumelos comestíveis
scale. Based on the scales of phenological states established de mel. Fortemente apreciado (Gomes et al., 2012). De acordo
by Fleckinger and Baggiolini for other fruit trees, a scale was nos países do Norte da Europa, com Sulusoglu et al. (2011),
established, for the first time, to strawberry tree (from A to L). em Portugal, este mel, por não o medronheiro é uma espécie
ser apreciado devido às suas diploide (2n=26), reproduz-se
Keywords: Arbutus unedo L., Clonal bank, Photographic records. características sensoriais, sexuadamente por via seminal,
escuro e amargo, não é ou vegetativamente através de
INTRODUÇÃO produzido em escala suficiente rebentos de raiz. Esta espécie
O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie autóctone para ser comercializado no apresenta ainda uma grande
que cresce espontaneamente em diversas zonas do País. Ulti- mercado interno, nem, para importância ecológica, pois
mamente tem despertado bastante interesse provavelmente ser exportado (Martins, 2017). evita a erosão dos solos e tem
devido à sua versatilidade uma vez que pode ser encarada como Contudo, existe uma tendência a capacidade de se regenerar
uma espécie florestal ou agrícola. Este interesse advém princi- e potencial para o crescimento rapidamente após incêndios
palmente da potencialidade económica da exploração do fruto, deste sector. (Lopes et al., 2012).
quer pela sua transformação (aguardente, compota, snacks, O medronheiro também Em relação à altura, o
iogurtes) quer pelo seu consumo em fresco (Botelho e Galego, pode ser uma espécie medronheiro pode atingir
2019; Gomes et al., 2018a,b). A instalação da cultura, como ornamental, uma vez que a o porte arbustivo e o porte
árvore fruteira em pomares, conduziu à necessidade de melho- sua folhagem persistente e arbóreo, mas a altura não
ramento da espécie (Gomes et al., 2017; Passarinho et al., 2017). brilhante, floração abundante, costuma exceder os 5 a 12
Verifica-se no mercado um forte incremento na procura de a frutificação colorida e metros (Gomes et al., 2018b).
plantas melhoradas. Segundo Gomes et al. (2012) os proprietários comestível, assumem um Sendo o medronheiro uma
pretendem a valorização económica das explorações, recorrendo papel de destaque como árvore de produção de fruto o
a espécies como o medronheiro. Para além da utilização dos seus planta ornamental em espaços seu crescimento é condicionado
frutos, o medronheiro também pode ser integrado numa estratégia verdes públicos e privados por vários fatores (fatores
de prevenção aos incêndios, pela sua resiliência e rápida capaci- (Costa, 2012). Adicionalmente, do meio ambiente e fatores
dade de regeneração (Freire, 2017). De facto, este possui uma forte também pode ser utilizada para internos da planta). Dentro

12 peouenosfrutos
produção

dos fatores do meio ambiente, do conhecimento sobre esta Tabela 1. Estados fenológicos principais (adaptado de Forestry, 2018).
existem por exemplo a luz, pois espécie que tem vindo a Estados fenológicos principais
0 – Desenvolvimento do gomo 5 – Emergência de inflorescência
a sua intensidade e duração apresentar um relevo crescente
1 – Desenvolvimento foliar 6 – Floração
tem grande influência no enquanto fruteira. 2 – Formação de rebentos laterais 7 – Desenvolvimento do fruto
crescimento e forma da planta. 3 – Desenvolvimento da parte aérea 8 – Maturação
4 – Desenvolvimento das partes vegetais 9 – Senescência
Assim, as condições de baixa MATERIAL E MÉTODOS
intensidade luminosa provocam O banco clonal da ESAC possui Tabela 2. Estados fenológicos para o medronheiro segundo Fleckinger (1945) e Bag-
giolini (1952) para outras fruteiras.
o alongamento dos entrenós, indivíduos provenientes de
Estados fenológicos
ramos mais finos, folhas mais vários pontos do país que foram A – Gomo misto visível G – 1º Fruto vingado
estreitas e finas e também plantados em Maio de 2015. B – Cacho visível H – Todos os frutos vingados
um baixo desenvolvimento do A disposição do banco clonal C – 1ª Corola visível I – Frutos em crescimento
D – 50% das Corolas visíveis J – 1º Fruto em mudança de cor
sistema radicular. A competiti- é constituída por 4 blocos E – 1ª Flor aberta K – Todos os frutos mudaram de cor
vidade por este fator, também completos e casualizados, para F – 50% das Flores abertas, em plena floração L – Maturação /colheita

vai definir a altura da planta assim os clones reproduzirem-


(Martínez, 1995). Ainda de -se com os diferentes clones codificar de forma numérica e AGRADECIMENTOS
acordo com este autor, durante existentes, sendo que a uniforme os estados feno- Este trabalho foi realizado no âmbito
do projeto “RG- PCMG - Conservação
as diferentes fases dos ciclos polinização é livre e cruzada, lógicos das plantas mono e e Melhoramento Genético Vegetal
vegetativos e reprodutivos reduzindo assim o efeito do dicotiledóneas. De acordo com para o medronheiro (Arbutus unedo
L.”, com o código de operação
de uma árvore frutífera, os meio ambiente nos indivíduos, Forestry (2018) os estados PDR2020-784-042742 - RG-PCMG,
elementos presentes na parte originando descendentes mais fenológicos principais são os do Instituto Politécnico de Coimbra,
cofinanciado pelo FEADER – Fundo
aérea da árvore (gomos; flores resistentes a doenças e mais descritos na Tabela 1.
Europeu Agrícola de Desenvolvimento
e frutos), determinam o aspeto resistentes às condições climá- Segundo Martínez (1995), Rural, através do Acordo de Parceria
da planta. Esse aspeto é ticas. No total, encontram-se 6 a representação dos estados Portugal 2020, Programa PDR2020,
Operação 7.8.4 – Recursos Genéticos
designado de estado fenológico linhas, onde estão distribuídos fenológicos pode ser baseada - Conservação e melhoramento de
e a sua sucessão no tempo os 16 clones existentes, tendo ainda numa outra escala que é recursos genéticos vegetais.
é chamada de fenologia. inicialmente existido um total representada por letras maiús-
A fenologia de uma espécie tem 69 plantas, mas devido a um culas do alfabeto, que designam BIBLIOGRAFIA
uma grande importância prática ciclone tropical, que ocorreu cronologicamente os diferentes Baggiolini, M. Les stades repères dans
para a determinação das datas em Outubro de 2018, algumas estados fenológicos. Tendo por le développement annuel de la
vigne et leur utilisation pratique.
de aplicação de produtos plantas ficaram debilitadas e base as escalas dos estados Rev. Rom. Agric. (1952) 8-10.
fitossanitários, fertilizantes, outras morreram. Cada ramo fenológicos estabelecidos por Botelho, G., Galego, L., 2019. Manual
de Boas Práticas de Fabrico de
reguladores de crescimento selecionado foi etiquetado Fleckinger (1945) e Baggiolini
Aguardente de Medronho. Edição:
e rega. A fenologia de uma com a informação do ponto (1952) para outras fruteiras, 3ª Ed. Porto: Quântica Editora –
espécie também fornece dados cardeal para onde o ramo estabeleceu-se uma escala Conteúdos Especializados, Lda. 94
p. ISBN: 978-989-8927-89-7.
sobre a influência de fatores estava orientado como se pode para o medronheiro (Tabela 2). Costa, M. 2012. A utilização do
ambientais no desenvolvimento verificar na Figura 1. Foram Na Figura 2 encontram-se Medronheiro como ornamental.
da árvore e é muito útil efetuados registos fotográficos, os registos fotográficos In: Jornadas do Medronho.
Programa e Resumos Jornadas
para a deteção precoce de para assim se determinar o recolhidos ao longo do tempo, do Medronho, pp. 54-58. Escola
possíveis anomalias de caracter estado fenológico de cada com a respetiva escala Superior Agrária de Coimbra, 72p.
fisiológico ou virótico. planta e desenvolver uma fenológica estabelecida. ISBN: 978-972-8936-15-0.
Martins, A. 2017. Mel de medronheiro:
De acordo com Santos escala fenológica. Contributo para o conhecimento
(2015), a fenologia também CONCLUSÕES do mercado de produção e sua
pode ser entendida como a RESULTADOS Tendo por base as escalas dos valorização. Instituto Superior de
Agronomia. Universidade de Lisboa.,
ciência que estuda a atividade E DISCUSSÃO estados fenológicos estabele- 52 p. Dissertação de Mestrado em
sazonal recorrente das plantas De acordo com Martínez cidos por Fleckinger (1945) e Engenharia do Ambiente.
Fleckinger, J. 1945. Notations
e relaciona-a com o meio envol- (1995), para a determinação Baggiolini (1952) para outras
phénologiques et représentations
vente, com os fatores bióticos do estado fenológico de uma fruteiras estabeleceu-se uma graphiques du développement
e abióticos, como por exemplo: planta, é utilizada uma série escala para o medronheiro (de des bourgeons de poiriers. C.R.
Congrés de Paris de I’Association
os microrganismos, o clima e de figuras escolhidas, que A a L). Foram realizados regis- fraçaise pour l’avancement des
o pH do solo. Até ao momento, apresentam os diferentes tos fotográficos, recolhidos ao Sciences. Paris.
não é do conhecimento dos aspetos do gomo e dos órgãos longo do tempo, de acordo com Forestry, F. B., 2018. Growth stages
of mono- and dicotyledonous
autores do presente trabalho, da floração. Após a seleção das a respetiva escala fenológica plants: BBCH-Monograph. Julius
que tenha sido realizado em figuras escolhidas, é estipulada estabelecida. Considera-se Kühn-Institut (JKI). Quedlinburg:
Portugal, um estudo centrado uma escala que determina que a escala de estados Ed. Uwe Meier. 204 p. ISBN: 978-
3-95547-071-5.
nos estados fenológicos do os estados fenológicos das fenológicos do medronheiro Franco, J. (2013). O medronheiro -
medronheiro. Por conseguinte, plantas. Essa escala pode será uma ferramenta útil para da planta ao fruto, as práticas
este foi o objetivo do trabalho ser baseada na escala BBCH, os diferentes agentes envol- culturais. In: Actas Portuguesas
de Horticultura - Jornadas do
que aqui se apresenta de forma que segundo Santos (2015) é vidos na fileira, com especial Medronho, 22, 66-71. Coimbra.
a contribuir para o aumento uma escala desenvolvida para interesse para os produtores. ISBN: 978-972-8936-15-0.

peouenosfrutos 13
produção

Freire, E. (2017). Medronho: uma cultura


com grande potencial. Vida Rural.
Gomes, F.; Figueiredo, P.; Santos, A. R.;
Canhoto, J., 2012. Propagação
de plantas selecionadas de
medronheiro. Jornadas do
Medronho. Coimbra.
Gomes, F; Botelho, G.; Franco, J.;
Rodrigues, I.; Henriques, M.;
Pato, R.l.; Santos, S.; Plácito, F.; A Gomo misto visível A Gomo misto visível A Gomo misto visível B Cacho visível B Cacho visível
Clemente, M.; Melo, F.; Figueiredo,
P.; Gama, J.; Machado, H.; Santos,
C.; Caldeira, I.; Guerreiro, A.;
Antunes, D.; Galego, L.; Costa,
R. 2018a. Valorização dos
recursos endógenos da floresta:
O medronheiro e o castanheiro.
In: Biorregiões, Valorização
Agroindustrial e Produção Animal.
Fórum Politécnico #1. Pereira, M. B Cacho visível B Cacho visível C 1ª Corola visível C 1ª Corola visível D 50% das Corolas visíveis
M. (ed.) promovido pelo Conselho
Coordenador dos Institutos
Superiores Politécnicos (CCISP),
Instituto Politécnico de Beja. pp.
61-89. ISBN: 198-605-537-X.
Gomes, F.; Guilherme, R.; Pato, R.l.;
Botelho, G.; Franco, J.; Casau, F.;
Melo, F.; Rodrigues, I.; Henriques,
M.; Bingre, P.; Gama, J.; Machado,
H.; Capelo, J.; Barrento, M.J; D 50% das Corolas visíveis D 50% das Corolas visíveis D 50% das Corolas visíveis E 1ª Flor aberta E 1ª Flor aberta
sousa, R., 2018b. Medronheiro-
Manual de boas práticas para a
cultura. 2ª Edição. REN – Redes
Energéticas Nacionais. IPC -
Instituto Politécnico de Coimbra,
ESAC - Escola Superior Agrária
de Coimbra, CERNAS - Centro
de Estudos e Recursos Naturais
Ambiente e Sociedade. CPM
– Cooperativa Portuguesa de
E 1ª Flor aberta F 50% das Flores abertas F 50% das Flores abertas G 1º Fruto vingado G 1º Fruto vingado
Medronho crl. Coimbra, 110 p.
ISBN 978-972-99205-9-2.
Gomes F., Franco J., Pato R., Botelho G.,
Rodrigues I., Figueiredo P., Casau,
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para Destilar. In: Medronheiro.
Caderno Técnico 2. Silva Lusitana.
pp. 5-33. Oeiras: Instituto
Nacional de Investigação Agrária
e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN:
978-972-579-045-8 G 1º Fruto vingado H Todos os frutos vingados H Todos os frutos vingados I Frutos em crescimento I Frutos em crescimento
Lopes, L., Sá, O., Pereira, J. A., &
Baptista, P. Genetic diversity of
Portuguese Arbutus unedo L.
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molecular markers: an approach
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Martínez, J. M., 1995. Crescimiento y
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Passarinho, J.A.; Sousa, R.M.;
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destilado. In: Medronheiro.
Caderno Técnico 2. Silva Lusitana.
pp. 37-64. Oeiras: Instituto
Nacional de Investigação Agrária
e Veterinária (INIAV). 76 p. ISBN:
978-972-579-045-8. K Todos os frutos K Todos os frutos K Todos os frutos K Todos os frutos K Todos os frutos
Santos, L. F., 2015. Fenologia do mudaram de cor mudaram de cor mudaram de cor mudaram de cor mudaram de cor
Vaccinum corymbosum cv Duke
em várias regiões de Portugal
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77 p. Dissertação de Mestrado em
Engenharia Agronómica.
Sulusoglu, M.; Cavusoglu, A.; Erkal, S.
Arbustus unedo L. (Strawberry
tree) selection in Turkey Samanli
moutain locations. Journal of K Todos os frutos K Todos os frutos L Maturação/colheita L Maturação/colheita L Maturação/colheita
Medicinal Plants Research. ISSN: mudaram de cor mudaram de cor
1996-0875. 5:15 (2011), pp.
3545-3551. Figura 2. Proposta de escala de estados fenológicos do medronheiro.

14 peouenosfrutos
teses

Avaliação do
potencial de plantas Título da tese Avaliação do potencial de plantas
’tray’ de morangueiro. Arquitetura floral e produtividade;
Ano 2019;

’tray’ de morangueiro. Grau Mestre em Engenharia Agronómica;


Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa;

Arquitetura floral e Locais de execução Oeiras (Instituto Nacional de Investigação Agrária de


Veterinária, I.P.) e Moncarapacho (Quinta da Moita Redonda, Hubel Agrícola)
Aluna Sofia Canteiro Patrício;

produtividade Orientadores Doutora Maria da Graça Sequeira Palha Mendonça


e Doutora Cristina Maria Moniz Simões de Oliveira;

RESUMO
Nos últimos anos a produção de morango tem diminuído incremento acentuado no número de meristemas florais e com a
em Portugal devido à desatualização do setor. Face aos ‘Darselect’ a apresentar maior número de estruturas reproduti-
atuais problemas, há uma grande necessidade de inovar, vas, traduzindo-se numa maior produtividade (2,54 kg/m2).
recorrendo a tecnologias de produção como as plantas ‘tray’. As restantes cultivares apresentaram uma produtividade
O ensaio teve como objetivo avaliar a dinâmica da floração semelhante (valor médio 1,47 kg/m2). A dinâmica da floração
destas plantas nas cultivares ‘Darselect’, ‘Deluxe’, ‘Donna’ e foi semelhante entre as cultivares.
‘Dream’ no primeiro ciclo de produção (outono-inverno) e a No segundo ciclo, as luzes LED tiveram influência princi­
viabilidade de se obter uma segunda produção na primavera palmente no comprimento médio do pecíolo e do pedúnculo.
com recurso à tecnologia de luz LED. A Deluxe apresentou maior vigor vegetativo, sendo na maioria
De setembro a outubro deu-se a evolução dos primórdios das datas de amostragem diferente das outras cultivares
florais diferenciados no viveiro, não se verificando diferenciação (P < 0,001). A luz LED influenciou a produção precoce das culti-
floral e encontrando-se os meristemas em estado vegetativo. vares Donna, Dream e Darselect, não tendo efeito na produção
A ‘Donna’ apresentou maior número de meristemas reprodutivos total das cultivares (6,0 kg/m2 LED vs 5,9 kg/m2 controlo).
diferenciados no viveiro, com mais 8 meristemas.planta-1 que as No entanto, melhorou a qualidade comercial da produção e a
outras cultivares. Contudo, estes meristemas não se traduziram qualidade dos frutos que apresentaram valores de TSS > 9 °Brix.
num maior potencial produtivo. Na se­gunda metade do ciclo Ao nível das cultivares, a Donna foi das mais produtivas com uma
verificou-se a diferenciação floral de novos gomos, com um média de 8,8 kg/m2 mas com frutos com menor TSS (< 8 °Brix).

Morphological Título da tese Morphological and genetic characterization

and genetic of four populations of Corema album (L.) D. Don;


Ano 2019;

characterization of
Grau Mestre em Engenharia Agronómica;
Instituição Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa;
Local de execução Instituto Nacional de

four populations of Investigação Agrária e Veterinária, I.P., Oeiras;


Aluna João Miguel Antunes Jacinto;
Orientadores Doutor Jorge Henrique Capelo Gonçalves

Corema album (L.) D. Don e Professor Doutor Pedro Miguel Ramos Arsénio;

RESUMO
Corema album (L.) D. Don 1830, é um arbusto dióico da famí- No primeiro trabalho foram encontradas diferenças a nível da
lia Ericaceae, que se desenvolve costa Atlântica de Portugal e fenologia das plantas estudadas na Aldeia do Meco. Foi também
Espanha, em ecossistemas dunares e de cobertos costeiros de encontrada diversidade morfológica dentro e entre populações.
pinheiro. Existe um potencial por parte desta espécie para O segundo trabalho demostrou uma falta de agregação
integrar o mercado dos pequenos frutos. populacional, por parte das características morfológicas, mas o
Na primeira parte deste trabalho, oitenta plantas provenientes mesmo não ocorreu com os dados moleculares. No entanto,
de Monte Clérigo, Comporta, Aldeia do Meco e Dunas de Quiaios uma baixa correlação foi encontrada entre eles.
foram amostradas. A fenologia reprodutiva de seis plantas da A ACC realizada entre dados morfológicos e bioclimáticos
Aldeia do Meco foi seguida desde do mês de Março até Agosto. demostrou que aproximadamente 50% da variação mor-
Finalmente, vinte e nove características morfológicas foram fológica é explicada pelas variáveis bioclimáticas, no entanto
avaliadas, entre as quatro populações. a sua correlação não foi significativa. A mesma análise entre
Na segunda parte do trabalho, seis ISSR foram utilizados dados moleculares e bioclimáticos, obteve uma correlação
para caracterizar a diversidade genética entre populações. positiva, de baixo valor, revelando que o ambiente também tem
Quinze caracteres morfológicos foram escolhidos e a sua diver- influência na genética das espécies.
sidade foi avaliada, através de análises aglomerativas. Cinco Ambos os trabalhos foram importantes para aumentar o con-
variáveis bioclimáticas foram utilizadas para procurar cor- hecimento sobre C. album, tendo em vista o possível programa
relações com os dados morfológicos e moleculares. de pré-melhoramento.

peouenosfrutos 15
entrevista

«Em Portugal existem


muitos produtores dedicados»
Rebecca Darnell, investigadora e docente da Universidade da Flórida, é uma das cientistas que melhor conhece a planta
do mirtilo a nível mundial. Presente no último Encontro Nacional de Produtores de Mirtilo enquanto oradora, esta realizou
uma apresentação com o objetivo de ajudar os produtores a compreender o processo de fotossíntese da planta do mirtilo
e assim optar pelos processos mais adequados. A norte-americana demonstrou-se interessada pelas plantações portu-
guesas, afirmando que «em Portugal existem muitos produtores dedicados».

ENTREVISTA E FOTOS SOFIA CARDOSO

nutrição das plantas. Neste segundo,


foco-me muito no que está a acontecer
no interior da planta. Não falo sobre
fertilização, não é bem a minha área.

PF: O que nos pode contar sobre a


sua pesquisa da fisiologia da planta
do mirtilo?
RD: Eu acredito que é importante ter em
mente que o rendimento da planta do
mirtilo parece ser limitado em termos
de “sources” e há muitos trabalhos,
não só o meu, que comprovam a ideia.
Qualquer coisa que se possa fazer para
aumentar a fotossíntese, será boa para a
planta, uma vez que a saturação ocorre
a densidades de fluxo relativamente
baixas e um excesso de luz pode dani-
ficar o aparelho fotossintético. O ponto
é, quanta mais luz a planta conseguir
Pequenos Frutos (PF): O que nos pode contar sobre absorver no interior do copado, maior
a diversidade do seu percurso académico e profissional? da fotossíntese global. Aumentar a sua
Rebecca Darnell (RD): Eu fiz a minha licenciatura em Sociologia na Universidade de capacidade de fotossíntese aparece
Marilyn, mas durante o curso, escolhi uma cadeira sobre ciência das plantas cujo profes- como algo crucial para a planta.
sor era soberbo. Na altura pensei: isto é o que eu quero fazer. Em consequência eu troquei Quando falamos de relações entre
de licenciatura, para o curso de horticultura, e licenciei-me pela Universidade de Marilyn e “sources” e “sinks” estamos a falar sobre
adorei. Trabalhei depois a tempo inteiro em investigação sobre a instalação e produção de a produção ou armazenamento/consumo
pomares de pêssego. Durante esse período, o meu professor encorajou-me a seguir com de hidratos de carbono. Os hidratos de
mestrado e acabei por o fazer na Universidade Estadual do Ohio. Em seguida, fiz o meu carbono são produzidos na “source”, sendo
doutoramento na Universidade de Califórnia, em Davis, na área da fisiologia das plantas. depois transportados para os “sinks”. As
Quando cheguei à Califórnia, acabei por me interessar mais sobre fisiologia das plantas, “sinks” são flores, frutos, e tudo aquilo
em compreender como as mesmas funcionavam, do que nos outros aspetos. Eu estava que não produz hidratos de carbono
mais interessada na Biologia e na Bioquímica. E foi nisso que trabalhei durante o meu suficientes para se sustentar, tendo que os
doutoramento e foi uma experiência muito positiva. Após terminar o meu doutoramento, importar e procurando apoio nas “sources”.
consegui o meu posto na Universidade da Florida e fui contratada como professora e Quando pensamos na fonte primária,
investigadora, em que dividi o meu tempo. O meu percurso profissional começou nos anos pensamos nas folhas, porque é aí que se
80 e, resumidamente, eu trabalhei no mesmo local desde então. Adoro a Universidade dá a fotossíntese. Contudo, as folhas são a
da Florida, adoro o meu trabalho. Em julho de 2019 reformei-me, mas ainda tenho o meu fonte primária em determinadas épocas do
escritório e ainda estou a orientar dois alunos e a realizar algum trabalho de investigação. ano. Noutras alturas, diferentes partes das
plantas, como as raízes, também podem
PF: E quais são os passos para o futuro agora que a vida académica abrandou? agir como “sources” porque, antes daquele
RD: Ultimamente tenho feito consultoria para algumas empresas. Além disso, tenho período ocorrer, estas acumularam hidra-
realizado alguns workshops de alguns dias, workshops de ensino sobre fisiologia tos de carbono e armazenaram-nos, não o
das plantas. Eu ensino informação básica e de partida para os potenciais produtores. estando a utilizar para crescer. Portanto,
Tenho um workshop sobre princípios fisiológicos básicos das plantas, onde abordamos quando falamos do transporte de hidratos
desde a fotossíntese à respiração. Depois ensino outro workshop onde abordo a de carbono na planta estamos a falar de

16 peouenosfrutos
entrevista

“source” para “sink”, não existindo outro saudáveis, o que é muito difícil para os produtores devido às doenças, o que faz com que
percurso. Relativamente às “sinks”, estas os mesmos procedam à utilização mais elevada de fungicidas. Ambientalmente, isto não
encontram-se sempre em competição é sustentável e temos que encontrar soluções. Neste momento, penso que estamos a
umas com os outras. Como consequência, encontrar o caminho certo.
a “sink” mais forte recebe mais hidratos de É importante realçar que este é um trabalho que estou a realizar há 33 anos.
carbono. O número de “sinks” é importante Também trabalhei com o azoto e o ferro, mas não tive a oportunidade apresentar os
e o quão ativos estes são. Flores em botão meus trabalhos nesse âmbito. Temos analisado muitos Vaccinium L. (género botânico
e frutos em crescimento são exemplos pertencente à família Ericaceae), que são adaptáveis a solos com pH relativamente
de “sinks” que são mais fortes. No caso alto, que contêm nitrogénio na forma de nitrato, e funciona bem sem alterações do
de termos uma quantidade limitada de solo, sendo completamente diferentes dos híbridos do sul que crescem na Flórida e
“sources”, o que acontece tipicamente que exigem correções de solo e a utilização de azoto sob a forma de amónio. São muito
é que as flores e os frutos recebem os diferentes e, por isso, estudamos espécies silvestres para tentar descobrir quais as
hidratos de carbono primeiro, depois o diferenças. O que descobrimos é que essas espécies têm uma atividade muito alta da
crescimento vegetativo e, por último, o enzima responsável pela assimilação do nitrato e as espécies cultivadas de mirtilo não.
armazenamento. Infelizmente, isso é o Esta é uma diferença relevante, então acreditamos que é por isso que estas espécies
que acontece se a produção de hidratos de selvagens se adaptam tão bem a solos com o pH elevado, porque o nitrato é predomi-
carbono for insuficiente, fazendo com que nante nestes solos. Atualmente temos testado essa espécie selvagem e utilizando-a
as reservas não tenham energia suficiente como porta-enxerto. Ela é enxertada com arbustos de mirtilos do sul e temos tentado
para os crescimentos de primavera. Esta que as plantas cresçam nesses solos, para percebermos como é que se desenvolvem,
é tipicamente a situação de competição sendo os resultados de crescimento bem positivos. Neste momento estamos a tentar
entre as “sources” e as “sinks”. expandir a vida útil da planta, utilizando os porta-enxertos, que são também mais
tolerante à seca e de gestão menos complicada. Estamos muito animados com a ideia.
«Eu acredito que é importante Todas as árvores frutíferas são enxertadas porque não as dos mirtilos?
ter em mente que o rendimento
da planta do mirtilo parece ser PF: A produção mundial de mirtilos aumentou nos anos mais recentes, muita con-
limitado em termos de “sources” sequência do consumo crescente. O que pensa sobre a alteração do paradigma?
e há muitos trabalhos, não só o RD: Eu sou completamente a favor. Eu penso que, quanto mais conseguirmos fazer
meu, que comprovam a ideia» com que as pessoas consumam frutas e vegetais, melhor. Estes são extremamente
superiores às outras alternativas, como a carne e o açúcar. Se o consumidor conseguir
Regressando à questão da fotossíntese, recorrer a produtos frescos, sem ingredientes artificiais, isso é muito mais saudável.
normalmente observávamos aquilo a
que chamamos de curva de resposta PF: Atualmente os pequenos frutos, como o mirtilo, são muito apreciados
à luz fotossintética. Geralmente, o que pelo público em geral, principalmente devido aos benefícios para a saúde.
vemos para as principais plantas é que, O que pensa desta associação?
se aumentarmos a intensidade da luz, RD: Eu acho que, para ter os benefícios de saúde que são muito difundidos, a pessoa
aumentamos a taxa de fotossíntese. tem que consumir uma grande quantidade de mirtilos. Os mirtilos são bons para
Normalmente, para aumentar a taxa a saúde? Sim, se a pessoa vai comer algo doce, é uma opção muito melhor que o
fotossintética das framboesas e moran- chocolate. Também providenciam antioxidantes e outros químicos que promovem
gos, o ponto de saturação é geralmente uma saúde melhor? Sim, providenciam, mas teríamos que os consumir em
de 55% a 60%. Nos mirtilos, o ponto de quantidades extraordinários para retirar os benefícios em larga escala. Acredito
saturação é 25%. A planta do mirtilo que, atualmente, muitos usam esse benefício como uma ferramenta de marketing.
satura a nível muito baixo de intensidade E realmente as pessoas que o defendem não estão erradas, eles trazem benefícios.
de luz. O segundo problema com os Agora, a questão relaciona-se com a quantidade que teriam de consumir para retirar
mirtilos é que a sua taxa fotossintética, esses benefícios. Temos de estar cientes dos dois lados da equação. Por fim, diria que
mesmo no seu melhor, é baixa. Isso é uma alimentação recheada de frutas e vegetais frescos é, de certeza, saudável.
um problema que nos leva a acreditar
que as “sources” são limitadas no mirtilo, «A planta do mirtilo satura a nível muito baixo
tal como referido anteriormente. Como de intensidade de luz. O segundo problema
isso acontece, as reservas ficam sempre com os mirtilos é que a sua taxa fotossintética,
condicionadas na primavera e não existem mesmo no seu melhor, é baixa»
as suficientes para suportar o abrolha-
mento e isso torna-se um ciclo vicioso. PF: Quais considera ser as variedades de mirtilo com maior potencial?
A planta está a sofrer e a produzir cada RD: Para mim, as melhores variedades dos EUA são as variedades crocantes e
vez menos. Há algumas atitudes a tomar com textura, como a ‘Blue crisp’ e a ‘Sweet crisp’. Esta última já não está a ser
para diminuir este efeito tal, como manter comercializada ao mesmo ritmo porque a planta não cresce adequadamente. O nosso
a plantação num local o mais aberto e melhoramento é muito voltado para este tipo de mirtilos, que rebentam na boca e
receptor de luz possível; não deixar as sabem bem. Concluindo, as variedades crocantes são as que eu prefiro e acredito
plantas dar fruto no primeiro/segundo ano que o consumidor também as prefere, porque os produtores têm vindo a requisitar
para fortalecer a planta; e manter folhas variedades que possuam esse fator para responder à procura do mercado.

peouenosfrutos 17
entrevista

empenhados no trabalho que estão


a realizar e não agarraram a cultura
do mirtilo por ser a “próxima grande
aposta”, como se costuma dizer, ou
para ganharem avultadas quantias
monetárias. Em Portugal, existem
muitos produtores dedicados.

PF: Quais são as maiores diferenças


entre as plantações da Califórnia,
as plantações da Florida e as
plantações portuguesas?
RD: Na Califórnia as plantações são
enormes e não existem muitos produ-
tores pequenos. A Florida tem muitos
pequenos produtores, é mais parecida,
mas eu acredito que a maior diferença
não está no produtor, porque ambos são
PF: Nos Estados Unidos, o uso de dormex é muito comum. muito inteligentes e inovadores, mas
Já na União Europeia, o seu uso é proibido. Considera esta uma sim no clima. O clima na Flórida é muito
boa opção tendo em conta toda a conjetura de fatores? quente, é muito húmido e enfrentamos
RD: Nos Estados Unidos, as empresas não usam o dormex na maioria das plantações de muitas doenças na região. Os nossos
mirtilos porque beneficiam de vários períodos de frio durante o ano. Já na Florida, nós produtores passam a vida a lutar com
não beneficiamos do mesmo clima frio durante o mesmo período do ano. Como tal, nós essas dificuldades porque há sempre
necessitamos do dormex devido à falta de uniformidade de abrolhamento. Aplicamos novos insectos a surgir, que trazem
o dormex quando a planta está dormente, não há resíduos na fruta e eu acredito que novas doenças com eles e destroem as
é uma boa ferramenta que os produtores podem utilizar e não tem qualquer tipo de plantações. É muito difícil manter uma
impacto negativo na qualidade ou benefícios de saúde da fruta. planta saudável por um longo período
de tempo. As plantas portuguesas
«Eu acho que, para ter os benefícios de saúde parecem muito mais saudáveis.
que são muito difundidos, a pessoa tem que
consumir uma grande quantidade de mirtilos» PF: Que conselho dá aos
produtores que estão agora a
PF: Foi uma das oradoras convidadas para o Encontro Nacional de iniciar-se na cultura?
Produtores de Mirtilo. Qual a sua opinião sobre o evento e a sua importância? RD: Comecem com plantações pequenas.
RD: Eu acredito que é uma experiência excelente o ato de reunir todos estes Comecem pequeno e apreendam o
produtores portugueses de mirtilo. Estão presentes fruticultores de todo o país e isso máximo de informação que conseguirem,
é de muito interesse. O convite partiu do Professor Pedro Brás de Oliveira e recebi-o procurem o máximo de conhecimento que
enquanto estava de férias. O convite foi direcionado para uma apresentação sobre puderem. Convidem pessoas que saibam
a fisiologia da planta do mirtilo e pautou-se como algo diferenciador e interessante. sobre a matéria a visitar a plantação e
Eu não costumo realizar apresentações porque não é a minha área de atuação. a dar a opinião sobre as plantas e sobre
Contudo, fiquei entusiasmada quando recebi o convite, muito porque adoro abordar formas de as manter no seu potencial
a temática através de apresentações. Também considero interessante fazer passar máximo. Além destes pequenos conse-
esta mensagem que, por vezes, não é tão difundida. Eu passei muitos anos a ensinar lhos de continuidade, o mais importante
estudantes e sempre me pareceu algo benéfico o ato de discutir certas temáticas é começar em ponto pequeno. Não
com pessoas distintas e aprender o que ainda não tive conhecimento. Durante toda comecem com 100 hectares.
a minha vida profissional, eu nunca tinha tido a oportunidade de tirar tempo para
conhecer o país onde ia realizar as apresentações. Esta foi a primeira vez num longo «(...) os produtores que conheci
espaço de tempo em que eu tive a oportunidade de conhecer as plantações de um eram impressionantes, pois
país e as suas características e foi uma experiência extremamente positiva. estavam interessados e faziam
questões de elevada pertinência
PF: Na sua estadia em Portugal, visitou algumas plantações de mirtilo. sobre as suas plantações,
Gostaria de saber com qual opinião ficou da produção nacional. o que demonstra que estão
RD: Fiquei extremamente impressionada com tudo o que vi. A indústria portuguesa genuinamente empenhados no
é nova, acredito que a plantação mais velha que vimos tinha à volta de seis anos, trabalho que estão a realizar
mas também visitamos algumas plantações com apenas dois anos. Na grande maio- e não agarraram a cultura
ria dos casos, as plantas parecem muito bem. Também os produtores que conheci do mirtilo por ser a “próxima
eram impressionantes, pois estavam interessados e faziam questões de elevada grande aposta”, como se
pertinência sobre as suas plantações, o que demonstra que estão genuinamente costuma dizer (...)»

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mercados

Aumentar, ou não, a produção de mirtilo


TEXTO BERNARDO MADEIRA

A estagnação provocada
pela diferente forma
de gerir o desenvolvimento
da cultura na Europa. Tal
como a guerra de Troia, um
dia haverá embargo russo e já
plantada. Esta oportunidade
foi percecionada pelos grandes
viveiros que atuavam na
ajustamento de mercado,
parece-nos que, para que
não haja aviltamento do
agrário português levou a ninguém se lembrará qual a Europa, e que se viraram para produto, uma vez que já
uma estagnação evidente do motivação desta atitude, que a antiga república soviética, existe a opção de mirtilo
aumento das áreas plantas tanto tem prejudicado quer o onde abriram sucursais. sub-categorizado apto para
de mirtilo. Os novos projetos povo russo quer os produtores Este reposicionamento, a o mercado nacional a bom
são grandes, mas são raros europeus. Porém, até lá, novos leste, das áreas de produção, preço, haverá já um equilíbrio
e, sobretudo, são tímidos os produtores terão tido opor- mais tarde ou mais cedo irá entre as áreas plantadas e
novos empreendimentos. tunidade ideal para surgirem ter repercussões no mercado a procura de mercado. Isto
A questão é: Portugal (e a como players de referência. europeu, uma vez que a Geórgia para se manter o mercado
Europa) estão neste momento dispõe de mão-de-obra muito com preços muito atrativos.
com áreas plantadas suficien- «A questão é: Portugal mais barata. Ademais, quando
tes para o aprovisionamento (e a Europa) estão neste caírem as barreiras aduaneiras, «(...) a “nova cortina de
do mercado? Pensamos que o momento com áreas provavelmente a Rússia já ferro”, que se traduz no
equilíbrio está estabelecido, e plantadas suficientes não será mais um mercado embargo, mantém-se e
estabelecido porque prevalece para o aprovisionamento interessante para os produtores é, claramente, o maior
o embargo russo às hortícolas do mercado?» de mirtilo, quanto muito em obstáculo à expansão da
europeias. Senão, outras janelas de produção muito cultura na Europa»
necessidades se levantariam. Assim tem acontecido com específicas, visto ter a satisfa-
Ninguém se lembra desta o mirtilo na Geórgia. A sua ção feita “quase em casa”. Porém, perguntam-nos
situação, mas a verdade é expansão está a tornar-se uma Assim, num momento em quase sempre. O que plantar
que a “nova cortina de ferro”, oportunidade estratégica para que no sul de Espanha tam- agora? O que é agora bom
que se traduz no embargo, o governo do país, que até ao bém já se equaciona a não investimento? Na verdade
mantém-se e é, claramente, final de 2020 terá ampliado plantação de mais mirtilo, ou poucas culturas nos ocorrem…
o maior obstáculo à expansão em mais 1 000 hectares a área até a retração de áreas, para que não seja o mirtilo.

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