Sei sulla pagina 1di 11

Os primórdios do ensino de

jornalismo*
José Marques de Melo**

Resumo: Abstract:
A institucionalização do jornalismo enquanto campo Journalism scholarship was institutionalized at the
universitário data do início do século XX nos Estados beginning of the XX century by the university esta-
Unidos. Ela foi, contudo, precedida por iniciativas an- blishment in the United States of America. However,
coradas em território europeu, principalmente na Ale- its roots were fixed at the European territory, mainly
manha, França e Suíça, entre os séculos XVII e XIX. in Germany, Switzerland and France, between the
XVII and the XIX centuries. The aim of this paper is to 73
Resgatar cronologicamente esses primórdios do ensi-
no do jornalismo constitui o foco desta comunicação, rescue the chronological lineage of Journalism Educa-
identificando de modo particular como tais projetos tion, focusing the impact of these pioneer projects on
pioneiros repercutiram no Brasil. Pretende-se verifi- Brazil. It intends to explore how the foreign patterns
car como os modelos forâneos de ensino do jornalismo of Journalism Education influenced the newsmen lea-
influenciaram as lideranças nacionais aglutinadas em ders recognized later on as the founding fathers of the
torno da embrionária Associação Brasileira de Impren- Brazilian Press Association. They launched a national
sa, entidade que assumiu a vanguarda da formação campaign in order to guarantee Higher Education
profissional dos jornalistas no cenário nacional. to young people that had vocation to be professional
journalists.

Palavras-chave: Key words:


História do Jornalismo. Ensino de Jornalismo. Europa. Estados Journalism History. Journalism Education. Europe. United
Unidos. Brasil. States of America. Brazil
mo daqueles preco-ces artífices das cadeias
Marco histórico Foi justamente
A legitimação do Jornalismo enquanto noticiosas. (MARQUES DE MELO, 2003:
o impacto do
área do conhecimento pela comunidade 172-174).
jornal diário no
acadêmica reflete historicamente o pro- Entretanto, as expressões jornalísticas
cenário europeu pioneiras ficaram estancadas pelo inevi-
cesso de institucionalização social da pro-
fissão informativa.
que motivou a tável elitismo do seu conteúdo. Não é sem
Não obstante as primeiras manifes-ta- primeira incursão razão que o precursor dos estudos jorna-
ções noticiosas tenham precedido a im- universitária no ter- lísticos enfatiza o “o prazer encontrado na
prensa (RIZZINI, 1964 e 1968), o jorna- reno jornalístico, leitura dos periódicos pelos eruditos”, ou
lismo somente se imporia no cenário eu- seja, “aqueles que gozam do conhecimento
convertendo-o em
ropeu do século XVII, quando começam a da geografia, da genealogia e dos afazeres
objeto de reflexão
circular na Alemanha os primeiros jornais cívicos”. (PEUCER, 1690: 213).
intelectual.
diários (SCHULZE, 1994: 15). Produzir notícias para um estamento tão
Esse fenômeno do jornalismo diário al- refinado não requeria formação especial,
tera substancialmente a fisionomia da so- situando-se a primeira geração de pro-du-
ciedade, fortalecendo o ideal demo-crático tores do jornalismo diário no mesmo pa-ta-
74
que se nutre na emergente opinião públi- mar cognitivo dos seus leitores.
ca (MARQUES DE MELO, 1998: 202-224) Mudanças nesse panorama somente vi-
e desemboca na encruzilhada revolucioná- riam a ocorrer na segunda metade do sé-
ria de 1789, onde está alicerçada a doutri- culo XVIII, quando a revolução burguesa se
na da liberdade de imprensa. alastra, tanto na Europa quanto na Améri-
Foi justamente o impacto do jornal diá- ca, melhorando a capacidade inte-lectiva e
rio no cenário europeu que motivou a pri- também aquisitiva de vastos con-tingentes
meira incursão universitária no ter-reno da população, que necessitam de informa-
jornalístico, convertendo-o em objeto de ções atuais, rápidas, resumidas e facilmente
reflexão intelectual. Coube institu-cional- compreensíveis. Foi natural que eclodissem
mente à Universidade de Leipzig e pesso- demandas para a capacitação de produtores
almente a Tobias Peucer a primazia dessa noticiosos sintonizados com as novas aspi-
inovação cognitiva, estimulando uma sé- rações sociais.
rie de estudos que procuram desvendar o Enquanto categoria profissional, os jor-
tecido social da imprensa e o protagonis- nalistas somente vão emergir no ápice

Estudos em Jornalismo e Mídia,


Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004
da fascinante “revolução da impressão” dores da pujança do novo campo universitá-
(QUINTERO, 1994). que outrora Mar- rio, na verdade o desenvolvimento de pro-
shall McLuhan rotulou como a galáxia gu- gramas de ensino de jornalismo vai se dar
tenbergiana. de forma quase concomitante na Europa e
nos Estados Unidos.
NIXON (1963 b: 23-24) registra os prin-
Iniciativas pioneiras cipais fatos históricos testemunhados pela
Em seu panorama sobre a institu-cio- Europa. Após a ofensiva alemã do começo
nalização social do jornalismo, NIXON do século XIX, a vanguarda passa a ser as-
(1963a) aponta as diferenças existentes sumida pela Suiça, onde o professor Karl
entre a América e a Europa. Pouco mais Bucher profere conferências sobre “ciências
de meio século distancia as iniciativas da imprensa”, na Universidade de Besle
pioneiras de formação jornalística nos (1884-1890), inspirando, a partir de 1903,
dois continentes. Nos Estados Unidos da um curso permanente na Universidade de
América do Norte o primeiro espaço uni- Zurich,
versitário dessa natureza cria-se apenas Enquanto isso, a França ensaia os pri-
em 1869, no Washington College, Virgínia. 75
meiros passos nessa direção, estabe-lecendo
Por sua vez, a primeira experiência euro- em Paris (1899) uma Escola Supe-rior de
péia datava de 1806, tendo sido protagoni- Jornalismo. Seu fundador, Albert Batail-
zada pela Univer-sidade de Breslau, então ler, busca parceria decisiva com o jornal Le
situada em ter-ritório alemão. Figaró, numa evidência de que a formação
Além da defasagem temporal, NIXON profissional dos jornalistas repre-sentava
(1963b: 23) indica um componente dife- uma contingência conjuntural. Sua oportu-
O desenvolvimento
renciador de matiz nítidamente educa- nidade fora, aliás, proclamada pelo V Con-
de programas
tivo. O curso europeu tinha perfil aca- gresso Internacional da Imprensa, reunido
de-micista, orientando-se no sentido de
de ensino de
em Lisboa, em 1898. Nesse encontro, Ba-
ala-vancar uma “ciência da imprensa”. jornalismo vai se
tailler justifica: “o jornalismo converteu-se
Por sua vez, o curso norte-americano era dar de forma quase numa carreira: é preciso deixar de dizer que
mais modesto, pretendendo simplesmente concomitante a nossa profissão recruta os seus adeptos
“aperfeiçoar tipógrafos”, ou seja, ampliar na Europa e nos entre os desen-ganados de todas as carrei-
seu conhecimento no âmbito das artes e Estados Unidos. ras; para chegar ao recrutamento regular, à
das ciências. Afora esses marcos antecipa-
reno-vação normal do pessoal da impren- mo do Washington College, encontra resis-
Ao contrário do
sa, é preciso organizar os quadros de re- tências no seio da corporação profissional. O
que aconteceu
serva e tornar menos penosos os anos de seg-mento que ingressara na profissão sem
na Europa, nos
apren-dizagem aos jovens que se sintam preparação prévia cultivaria explicita-men-
com vocação; e para isso é necessário que Estados Unidos te um sentimento de “afetado despre-zo”
a educação geral se complete com a edu- o segmento que pela educação superior. (RIZZINI, 1953: 5)
cação profissional”. (MARCOS, 1987: 115- ingressara na Defendendo a tese da inutilidade das es-
116). profissão sem colas de jornalismo, Frederic Hudson, di-
O terreno mais fértil permanecia, con- preparação retor do The York Herald sentenciava: “o
tudo, na Alemanha, onde Karl D´Esther único lugar onde alguém pode aprender jor-
prévia cultivaria
replica feito semelhante àquele prota-go- nalismo é a redação de um grande jornal”.
explicita-mente
nizado dois séculos atrás por Tobias Peu- Contudo, o discurso representativo dessa
um sentimento de
cer, defende em 1907 a sua tese de dou- corrente foi explicitado pelo escritor John
torado sobre jornalismo na Univer-sidade “afetado despre- Dillon: “Nós, jornalistas, estamos firme-
de Munster. Pouco depois, ele se-ria cha- zo” pela educação mente convencidos de sermos como os pe-
mado a dirigir órgão semelhante na Uni- superior. tas: born not made” ( RIZZINI, 1953: 6).
76
versidade de Munich, conver-tendo-se, em Caberia a Joseph Pulitzer, diretor da ca-
1924, no primeiro cate-drático alemão de deia jornalística liderada pelo New York
Zeitungswissenschaft. Tais ações fizeram World, dar rumo distinto à contenda, lan-
reviver os estudos jornalísticos na Univer- çando a tese oposta. Ela foi assim resu-
sidade de Leipzig, agora sob a liderança mida por RIZZINI (1953: 6): “Pulitzer (...)
de Karl Bucher, que retornara da Suíça, afirmou ser naturalmente a redação o lu-
instalando na-quela cidade, em 1916, o gar indispensável à formação profissional
primeiro instituto universitário de ciência do jornalista, como o hospital à do médico e
da imprensa. (NIXON, 1963:24). o foro à do advogado. Mas o médico e o ad-
Se tal desenvolvimento opera-se de vogado não encetam a prática sem passar
modo tranqüilo na Europa, como fruto de antes pelos bancos das faculdades. Por que
uma consciência corporativa partilhada só o jornalista é dispensado de saber a sua
por lideranças empresariais e trabalhis- teoria ou de saber alguma coisa ?”.
tas, tendência distinta vai ocorrer nos Es- O contexto em que se desenvolve a polê-
tados Unidos. A iniciativa pioneira do Ge- mica norte-americana em torno da vali-
neral Lee, fundador do curso de jornalis-
Estudos em Jornalismo e Mídia,
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004
dade de se formar jornalistas nos bancos ensinar tipografia ou gerência, nada de re-
universitários tem como pano de fundo o produzir com triviais variações o curso de
sentimento de desconforto da sociedade uma escola comercial. Isto não é de âmbito
civil no tocante à exacerbação do sensa- universitário! A idéia é a de trabalhar para
cionalismo da imprensa. Essa conjuntura a comunidade, e não para o comércio, e não
foi excepcionalmente resga-tada por Or- para o indivíduo, mas únicamente para o
son Welles no magnífico Cida-dão Kane público. A Escola de Jornalismo deve ser,
(EMERY, 1954 e WAINBERG, 1997). no meu conceito, uma escola não-comercial
Redimindo-se, em certo sentido, das res- e mesmo anti-comercial. Deve exaltar os
ponsabilidades pelo cultivo do sensa-cio- princípios, o conhecimento e a cultura às
nalismo até então compartilhado por suas expensas do negócio, se necessário. Deve
empresas, Joseph Pulitzer lidera a ala dos construir ideais, mantendo a contabilidade
donos de jornais que se com-prometem no seu lugar, e fazer da alma do jornalista a
com a melhor qualificação dos profissio- alma do jornal.” (RIZZINI, 1953: 23)
nais da notícia, dando-lhes embasamento A polêmica sobre a natureza do ensino de
humanístico. Para tanto, ele oferece uma “A Escola de jornalismo incendiou corações e mentes na
77
doação de dois milhões de dólares para a sociedade norte-americana, há um século,
Jornalismo deve
universidade que se com-prometesse a produzindo dois modelos acadêmicos: a es-
ser, uma escola
educar adequadamente os jovens jorna- cola de pós-graduação – adotada a partir de
não-comercial 1912 pela Universidade de Columbia (que
listas. As negociações iniciais foram fei-
tas com a Universidade de Havard, mas
e mesmo anti- acabou sendo beneficiária da doação milio-
não houve entendimento porque o Reitor comercial. (...)Deve nário de Pulitzer) – e a escola de graduação
Eliot propôs um currículo que privilegiava construir ideais, – implementada em 1908 pela Universi-
os assuntos “técnicos” em detrimento dos mantendo a dade de Missouri. A primeira se destina a
“intelectuais”. contabilidade no preparar editores e analistas para a grande
Em face disso, Pulitzer resolve expor imprensa, recrutando estudantes que tives-
seu lugar, e fazer da
publicamente suas idéias sobre o ensino sem formação prévia em outros campos do
alma do jornalista a
de jornalismo, publicando em 1904, na conhecimento. A segunda pretende formar
alma do jornal.” repórteres para a pequena imprensa, tan-
revista North American Review, seu cé-
lebre ensaio “The College of Journalism”.
(J. Pulitzer, 1904) to assim que criou um jornal-laboratório
A tese defendida era a seguinte: “Nada de – The Daily Missourian – com circulação di-
ária na comunidade em que funcionava a Apesar da abertura Barbosa, da Universidade Federal Flumi-
universidade, sob a responsabilidade dos tardia das portas nense, que ilumina o processo de legitima-
seus professores e alunos. (MARQUES ção profissional dos jornalistas no Brasil
da universidade
DE MELO, 1973) com seu alentado estudo sobre as relações
brasileira para
entre imprensa, poder e público na capital
Contexto brasileiro o ensino do federal na conjuntura transicional entre o
Apesar da abertura tardia das portas jornalismo, as elites século XIX e o século XX.
da universidade brasileira para o ensino nacionais sempre A pesquisadora carioca resgata com niti-
do jornalismo (meio século nos separa das estiveram atentas dez o locus da formação intelectual daquela
iniciativas pioneiras na Europa e dos Es- geração de jornalistas que fez a travessia
às polêmicas
tados Unidos), é importante registrar que da imprensa “artesanal” para o jornalismo
jornalísticas
as elites nacionais sempre estiveram an- “empresarial”, de acordo com a tipologia
que circulavam
tenadas em relação às polêmicas jornalís- construída por WERNECK SODRÉ (1966).
ticas que circulavam nos centros metropo-
nos centros
Ela descreve abun-dantemente o papel de-
litanos. metropolitanos. sempenhado pelas faculdades de direito
Evidência disso é a difusão precoce das como celeiro em que as emergentes empre-
78
primeiras reflexões européias sobre o fe- sas jornalísticas colhiam jovens intelectuais
nômeno informativo propiciadas pelo Cor- vocacionados para o exercício da comunica-
reio Braziliense de Hipólito José da Cos- ção pública, habilitando-os a desempenhar
ta. Nas primeiras edições do seu jornal funções informativas ou opinativas no in-
paradigmático, o patrono da im-prensa terior das próprias redações. Era tamanho
brasileira traduzia artigos do teó-rico ale- o trânsito desses bacharéis entre as “arca-
mão Johann Freidrich Benzenberg sobre das” e os “jornais” que algumas faculdades
a questão da liberdade de imprensa. cariocas introduzem nos respectivos progra-
O fluxo dessas idéias procedentes mas de ensino disciplinas complementares
d´além mar parece ter sido contínuo du- sobre texto, com a finalidade de ampliar
rante todo o século XIX, faltando natural- suas chances na disputa de seus alunos por
mente desvendar a sua trajetória, tarefa ocupações extra-jurídicas. (BARBOSA, 200:
que começa a sensibilizar alguns pesqui- 63-114)
sadores da nova geração de scholars bra- A hegemonia desses “bacharéis” no exer-
sileiros. Exemplo concreto é o de Marialva cício de funções redacionais os transforma

Estudos em Jornalismo e Mídia,


Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004
numa espécie de casta dentro das nas- sua profissão e reputando o jornal a força mais
centes empresas jornalísticas. Cria-se um poderosa e eficiente para o progresso das so-
antagonismo latente entre os “redatores” ciedades civilizadas, Gustavo de Lacerda vivia
e os “repórteres”, figurando estes últimos obcecado pelo seu ideal generoso e nobre de
com segmento subalterno, recrutado nas tornar a sua classe próspera, feliz , prestigiosa
camadas médias da sociedade, mas caren- e útil. (...) Muitos do que o ouviam também
te de formação superior. porque muito o estimavam, tinham-no todavia
Quem percebe com clareza essa contra- como um perfeito visionário, imbuído de idéias
dição, identificando uma espécie de “luta socialistas. Ele mesmo se confessava adepto
de classes” no interior das redações dos desse novo credo então em grande voga além
jornais cariocas, é o fundador da Associa- do Atlântico. (...) Outros, enfim, procuravam
ção Brasileira de Imprensa, o catarinense ridicularizá-lo e deprimí-lo, sendo mesmo
Gustavo de Lacerda. Sua plataforma para maltratado por certos gerentes das folhas de
a criação de uma entidade capaz de forta- seu tempo, homens de vistas curtas e letras
lecer e preservar os interesses dos profis- gordas, embora hábeis administradores de
sionais da imprensa contempla particular- suas empresas. Chegou a ser tido então por
Cria-se um 79
mente as agruras enfrentadas pelos cata- um elemento perigoso, porque não escondia
antagonismo
dores de notícias nas ruas – os repórteres suas revoltas contra distinção que, naquela
latente entre os
– contingente a que ele próprio pertencia. época, se procurava fazer entre redatores e
Gustavo de Lacerda foi um visionário, “redatores” e repórteres, emprestando a estes funções por
nutrindo idéias políticas que o estig-ma- os “repórteres”, demais humilhantes... (...) Fanático pelo seu
tizaram no interior da corporação jor- figurando estes ofício, doía-lhe profundamente esse preconceito
nalística. De tal modo era o preconceito últimos como de, na mesma casa, sob o mesmo teto de labor,
por ele enfrentado junto aos seus colegas segmento estabelecer-se uma desigualdade para os seus
de profissão que sua iniciativa de fundar colegas de reportagem...”
subalterno,
uma sociedade para a defesa da categoria
recrutado nas
quase não encontrou eco. Foi justamente com a intenção de neutra-
camadas médias
Eis o perfil que dele traçou ABRAN- lizar esse conflito profissional que Lacerda
CHES (1938; 4-5): da sociedade, concebeu sua Casa do Jornalista, abrigando
mas carente de não apenas um Clube de Repórteres, mas
“Homem de imprensa, amando sinceramente formação superior. principalmente uma Escola de Jornalis-
mo, com a finalidade precípua de oferecer Com a intenção de Gustavo de Lacerda faleceu preco-cemen-
oportunidades de crescimento intelectual te (SEGISMUNDO: 1962: 17), mas compro-
neutralizar esse
aos jovens que labutavam nas ante-salas meteu seus companheiros de geração no
conflito profissional
das repartições públicas ou nos becos e sentido de implementar as idéias que par-
que Lacerda
periferias urbanas, à cata de fatos noti- tilhavam coletivamente. Elas foram pouco
ciáveis, que tomavam forma jornalística concebeu sua a pouco sendo diligenciadas. A proposta da
através da pena aristocrática dos bacha- Casa do Jornalista, Escola de Jornalismo voltou a ser cogita-
réis-redatores. abrigando não da durante a gestão de Raul Pederneiras,
Ele pretendia solucionar o descompasso apenas um Clube quando o então vice-presidente João Guedes
entre as duas equipes – a do gabinete e a de Repórteres, mas de Mello apresentou uma proposta, aprova-
das ruas – assegurando aos repórteres um da pela diretoria, em 1917, sendo posterior-
principalmente
lugar onde pudessem crescer educacional- mente submetida ao Primeiro Congresso de
uma Escola de
mente. E não esqueceu de incluir o com- Jornalistas (1918).
Jornalismo.
promisso de “habilitar, por meio de título Compulsando os documentos relaciona-
de capacidade intelectual e moral, o pre- dos com aquele evento precursor, Victor de
tendente a colocação no jornalismo”, entre SÁ (1955: 220), descreve o modelo concebido
80
os objetivos da associação fundada no dia pelos sucessores de Gustavo de Lacerda:
7 de abril de 1908. (MOREL, l985: 23).
Como se daria essa formação intelectu- “A Escola de Jornalismo, que não queria ser
al dos jovens jornalistas? A escassa docu- oficial, que não faria doutores nem bacharéis,
mentação biográfica do fundador da ABI mas que se propunha únicamente a propinar
não permite identificar sua linha de pen- a seus alunos o ensino das matérias julgadas
samento a esse respeito. Apesar de sinto- essenciais à prática da profissão, cuidando da
nia que demonstrava em relação às novas cabeça e das mãos dos estudantes, com a teoria
idéias procedentes da Europa, deduz-se da ciência necessária e a prática das artes de
que Lacerda não possuía uma concepção gravar. Ao lado do programa das aulas do curso
educacional definida. Tanto assim que teórico propriamente dito, a Escola ministraria
pede a ABRANCHES (1938: 11), na vés- o ensino prático. Seria, então, fundado o jornal
pera de uma longa viagem ao velho conti- para os alunos e na redação e nas oficinas dessa
nente, para se informar sobre os embrio- folha iriam os estudantes desenvolver prati-
nários modelos europeus. camente a sua força na sintaxe e na ortografia
da língua. O jornal seria a escola de aplicação,
Estudos em Jornalismo e Mídia,
Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004
onde os alunos completariam os seus estudos, ral o primeiro curso de jornalismo do país
redigindo reportagens, que poderiam ser fica patente sua filiação à corrente educa-
mundanas, artísticas, policiais ou sociais, cional de origem francesa (MARQUES DE
escrevendo artigos de política e finanças, com MELO, 2003b: 303).
orientação própria ou ditada pelo professor, Essa oscilação pendular entre o pragma-
fazendo crítica de música, pintura, teatro e tismo norte-americano e o academicismo
letras, conforme o adiantamento no Curso europeu tem sido uma constante em nossa
regular da Escola.” cultura universitária. Ela seria reforçada
pela influência modernizadora do CIESPAL,
Qual a inspiração educacional buscada na década de 60. Entretanto, co-meçavam a
pelo autor do projeto ? Segundo as pesqui- viscejar em território brasileiro projetos que
sas de SÁ (1955: 221) elas estavam emba- buscavam a superação da dependência ex-
sados em “idéias colhidas nas organi-za- terna, figurando como mais expressivas as
ções norte-americanas”. inovações engendradas por Luiz Beltrão, na
Revisando cuidadosamente as fontes in- cidade do Recife, e por Pompeu de Souza, no
telectuais da ABI a respeito da formação planalto central. (MARQUES DE MELO,
81
dos jornalistas percebe-se que a entidade 1974) Elas podem vir a constituir parâme-
manteve-se sintonizada não apenas com tros capazes de estimular as novas gerações
os modelos norte-americanos, mas tam- de educadores dos jornalistas brasileiros,
bém acompanhou o desenvolvimento dos conscientes de que precisamos amadurecer
pa-drões europeus de ensino de jornalis- estruturas consentâneas com as aspirações
mo. Essa oscilação nacionais, sem minimizar evidentemente as
Quando BARBOSA LIMA SOBRINHO pendular entre correntes internacionais.
formula suas idéias paradigmáticas para o pragmatismo Afinal de contas, o jornalismo toma uma
decifrar a “esfinge midiática” está bem feição planetária cada vez mais sofisticada,
norte-americano
nítido seu conhecimento das experiências sendo indispensável o conhecimento das so-
e o academicismo
norte-americanas nesse campo, às quais luções acadêmicas que florescem em outros
europeu tem sido
ele se refere emblematicamente, na déca- espaços nacionais, que devem ser tomadas
da de 20. (MARQUES DE MELO, 2004: uma constante como fontes de referência (MARQUES DE
29). Dez anos mais tarde, quando o tam- em nossa cultura MELO, 2003: 193-221) e não sim-plesmente
bém dirigente da ABI, Costa Rego, imple- universitária. como modelos a transplantar.
menta na Universidade do Distrito Fede-
** José Marques de Melo 2003 – Descompasso histórico, In: Jornalis-
mo Brasileiro, Porto Alegre, Sulina
O autor é professor Emérito da Universidade 2003b – História do Pensamento Comunica-
de São Paulo e Titular da Cátedra UNESCO cional, São Paulo, Paulus

de Comunicação da Universidade Metodista de 2004 – A esfinge midiática, São Paulo, Pau-

São Paulo, fundador e presidente da Rede Al- lus


MOREL, Edmar
fredo de Carvalho para o Resgate da Memória
1985 – Trincheira da liberdade: História da
da Imprensa e a Construção da História da Mí-
ABI, Rio de Janeiro, Record
dia no Brasil.
NIXON, Raymond
1963 a – Analisis sobre Periodismo, Quito,
Referências bibliográficas
CIESPAL
[1963 b – Investigaciones sobre Comunicaci-
ABRANCHES, Dunshee. A Fundação Gustavo de La-
ón Colectiva, Quito, CIESPAL
cerda: reminiscências dos primeiros dias da Associação
PEUCER, Tobias
Brasileira de Imprensa. Rio de Janeiro. Rodrigues &
1690 – Os relatos jornalísticos (tradução
Cia.,1938
brasileira de Paulo da Rocha Dias), Comu-
BARBOSA, Marialva. Os Donos do Rio – imprensa, po-
82 nicação & Sociedade, 33, São Bernardo do
der e público. Rio de Janeiro, Vício de Leitura, 2000
Campo. Editora UMESP, 2000
EMERY, Edwin. The Press and America. Englewwod
QUINTERO, Alejandro P.
Cliffs, Prentice Hall, Inc. Tradução brasileira: História
1994 – A Revolução da Impressão, In: Histó-
da Imprensa nos Estados Unidos, Rio de
ria da Imprensa, Lisboa, Planeta Editora
Janeiro, Editora Lidador, 1965
RIZZINI, Carlos
MARCOS, Luis Humberto. Portugal, primeiro a inovar,
1953 – O ensino de jornalismo, Rio de Janei-
último a formar, Revista Brasileira de Ciências da Co-
ro, MEC
municação, 57: 115-118, São Paulo, INTERCOM, 1987
1964 – História da Imprensa, São Paulo,
MARQUES DE MELO, José
Pontifícia Universidade Católica de São
1973 – Pós-graduação nos Estados Unidos: experiên- * Comunicação apresentada à Mesa
Paulo, Faculdade de Jornalismo Cásper Lí- Redonda “A História do Ensino de
cias aplicáveis às escolas de jornalismo e comunicação Jornalismo e das Profissões Midiáti-
bero
da América Latina, Revista da ABEPEC, 2 (11-36) cas (dos primórdios ao Ciespal)” , rea-
1968 – Jornalismo antes da tipografia, São lizada durante o II Encontro Nacional
1974 – Contribuições para uma Pedagogia da Comuni-
Paulo, Companhia Editora Nacional da Rede Alfredo de Carvalho para o
cação, São Paulo, Paulinas Resgate da Memória da Imprensa e a
SCHULZE, Ingrid Construção da História da Mídia, na
1998 – Opinião Pública: de Homero a Marx e de Gallup
1994 – A imprensa na Alemanha, In: QUIN- cidade de Florianópolis, SC, no dia 16
a Lazarsfeld, In: Teoria da Comunicação: paradigmas de abril de 2004.
TERO, Alejandro P. – História da Imprensa,
latino-americanos, Petrópolis, Vozes

Estudos em Jornalismo e Mídia,


Vol. I Nº 2 - 2º Semestre de 2004
Lisboa, Planeta Editora
SÁ, Victor de
1955 – Um repórter na ABI, Rio de Janeiro, Edi-
tora A Noite
SEGISMUNDO, Fernando
1962 – Imprensa Brasileira: vultos e problemas,
Rio de Janeiro, Editora Alba
WAINBERG, Jacques
1997 – O Império das Palavras – Estudo compa-
rado dos Diários Associados de Assis Chateau-
briand e Hearst Corporation, de William Handol-
phHearst, Porto Alegre, Edipucrs
WERNECK SODRÉ, Nelson
1966 – História da Imprensa no Brasil, Rio de
Janeiro, Editora Civilização Brasileira

83

Potrebbero piacerti anche