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SINTAXE DO PORTUGUÊS I

autora
IVI FURLONI RIBEIRO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  luis claudio dallier saldanha; roberto paes; gladis linhares;
karen bortoloti; marilda franco de moura

Autora do original  ivi furloni ribeiro

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Coordenação de produção EaD  karen fernanda bortoloti

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  amanda carla duarte aguiar

Imagem de capa  dowiliukas | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

F985s Furloni, Ivi


Sintaxe do português I / Ivi Furloni
Rio de Janeiro : SESES, 2016.
128 p. : il.

isbn: 978-85-5548-201-4

1. Sintaxe. 2. Sintagma. 3. Concordância. 4. Regência. 5. Pontuação.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 469.5

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 9

1. Sintaxe - A Estrutura Sintagmática da Língua


Portuguesa e os Termos Essenciais da Oração 11

1.1 Sintaxe 13
1.2  Frase, Oração e Período 14
1.2.1 Frase 14
1.2.1.1  Tipos de frase 15
1.2.2  Oração 15
1.2.3  Período 16
1.3 Sintagma 16
1.3.1  Os tipos de sintagmas 17
1.3.1.1  Sintagma Nominal 17
1.3.1.2  Sintagma Verbal 18
1.3.1.3  Sintagma Adjetivo 18
1.3.1.4  Sintagma Adverbial 18
1.3.1.5  Sintagma Preposicional 19
1.4  Termos essenciais da oração 19
1.4.1 Sujeito 21
1.4.1.1  Simples 21
1.4.1.2  Elíptico (desinencial ou implícito na desinência verbal) 24
1.4.1.3 Composto 25
1.4.1.4  Indeterminado 27
1.4.1.5  Oração sem sujeito 28

2. Termos Integrantes e Acessórios da Oração 33

2.1 Predicado 35
2.1.1  Classificação dos verbos 35
2.1.2  Predicado verbal, predicado nominal e
predicado verbo-nominal 37
2.2  Termos associados ao verbo: Diferenciação 39
2.2.1  Objeto direto 40
2.2.2  Objeto direto preposicionado 40
2.2.3  Objeto direto pleonástico 42
2.2.4  Objeto direto interno (ou intrínseco) 42
2.2.5  Objeto indireto 42
2.2.6  Objeto indireto pleonástico 43
2.2.7  Objeto indireto por extensão 44
2.2.8  Adjunto adverbial 44
2.2.9  Agente da passiva 45
2.3  Termos associados ao nome 46
2.3.1  Adjunto adnominal 46
2.3.2  Complemento nominal 47
2.3.3 Aposto 49
2.3.4 Vocativo 51

3. Concordância Nominal e Verbal 57

3.1  Concordância nominal 59


3.1.1  Regra específica 59
3.1.2  Casos principais 60
3.1.2.1  Adjetivo posposto 60
3.1.2.2  Adjetivo anteposto 60
3.1.2.3  Adjetivos compostos 60
3.1.2.4  Adjetivo composto indicativo de cor 61
3.1.2.5  Dois ou mais adjetivos referentes a um substantivo 61
3.1.2.6  Verbo ser + predicativo 61
3.1.2.7  Obrigado, Anexo, Incluso, Mesmo, Próprio, Leso 62
3.1.2.8  Só, Quite, Bastante 62
3.1.2.9 Meio 63
3.1.2.10  Particípios de orações reduzidas 64
3.1.3  Casos específicos 65
3.1.3.1 Possível 65
3.1.3.2  Concordância Ideológica 65
3.2  Concordância Verbal 66
3.2.1  Casos gerais 66
3.2.1.1  Sujeito simples 66
3.2.1.2  Pronome apassivador Se 67
3.2.1.3  Pronomes de tratamento 67
3.2.1.4  Sujeito composto anteposto ao verbo 67
3.2.1.5  Sujeitos unidos pela preposição COM 67
3.2.1.6  Sujeito composto anteposto ao verbo 68
3.2.1.7  Sujeito composto formado por pessoas
gramativais diferentes 68
3.2.1.8  Sujeito composto unido pela conjunção OU 68
3.2.1.9  Sujeito composto sucedido de aposto resumidor 69
3.2.1.10  O pronome SE como índice de indeterminação do sujeito 69
3.2.1.11  Verbo Haver e Fazer 70
3.2.1.12  Sujeito coletivo 71
3.2.2  Casos especiais 72
3.2.2.1  Verbos bater, dar, soar 72
3.2.2.2  Sujeito coletivo 72
3.2.2.3  Verbo viver 73
3.2.2.4  Nomes usados no plural 73
3.2.2.5  Sujeito oracional 74
3.2.2.6  Números percentuais e fracionários 74
3.2.2.7  Pronomes relativos que e quem 74
3.2.2.8  Sujeito com dois pronomes 75
3.2.2.9  Mais de, menos de, cerca de 76
3.2.2.10  Haja vista 76
3.2.2.11  Um dos que 76
3.2.2.12  Verbo parecer + infinitivo 77
3.2.2.13  Verbo ser 78
3.2.2.13.1  A pessoa tem predominância sobre outro substantivo. 78
3.2.2.13.2  Plural tem predominância sobre o singular. 78
3.2.2.13.3  Havendo pronome pessoal, o verbo ser concordará
obrigatoriamente com ele. 78
3.2.2.13.4  O verbo ser ficará no singular quando o sujeito,
no plural, for usado sem determinantes (artigos, pronomes
adjetivos, numerais) e o predicativo se encontrar no singular. 78
3.2.2.13.5  Quando o sujeito do verbo ser for o pronome
indefinido tudo ou os demonstrativos neutros isto, isso, aquilo, o,
a concordância se fará, de preferência, com o predicativo. 79
3.2.2.13.6  Fica no singular o verbo ser quando a ele se seguem
termos como suficiente, muito, pouco, nada, tudo, bastante,
mais, menos etc. 79

4. Regência Nominal e Verbal 83

4.1 Regência 85
4.2 Agradar 87
4.2.1  VTD = contentar, fazer carinhos, acariciar 87
4.2.2  VTI ( preposição a) = satisfazer 87
4.3 Aspirar 88
4.3.1  VTD = respirar, sorver 88
4.3.2  VTI (preposição a) = almejar, pretender 88
4.4  Assistir 88
4.4.1  VTD ou VTI (preposição a) = ajudar, prestar assistência 88
4.4.2  VTI (preposição a) = ver, presenciar 89
4.4.3  VTI (preposição a) = caber 89
4.4.4  V Intransitivo (preposição em) = residir, morar 89
4.5  Chamar 90
4.5.1  VTD (mandar vir) 90
4.5.2  VTD ou VTI (apelidar, cognominar) 90
4.6  Verbos de movimento: chegar, ir, voltar, retornar,
subir... – intransitivos – (preposição a) 90
4.7 Custar 92
4.7.1  VTD (ter valor de) 92
4.7.2  VTDI (preposição a) = acarretar consequências,
causar trabalho 92
4.7.3  VTI (preposição a) = ser custoso, ser difícil
(conjugado apenas na 3ª pessoa, o sujeito será sempre oracional) 92
4.8  Esquecer / Lembrar 92
4.8.1  VTD (não pronominal) 92
4.8.2  VTI (pronominal) – preposição de 93
4.8.3  VTI (cair no esquecimento/vir à lembrança) –
com verbo apenas na 3ª pessoa (singular ou plural) 93
4.9 Informar/avisar/certificar/notificar/prevenir 94
4.9.1  VTDI ( preposição a) 94
4.9.2  O verbo informar pode ainda ser pronominal:
informar-se de alguma coisa. 94
4.10 Implicar 95
4.10.1  VTI ( preposição com) = ter implicância 95
4.10.2  VTD (= acarretar, demandar, tornar indispensável) 95
4.11  Obedecer / desobedecer 96
4.11.1  VTI (preposição a) 96
4.12 Pagar/perdoar/agradecer 96
4.12.1  VTD (complemento = coisa) 96
4.12.2  VTI (complemento = pessoa) (preposição a) 97
4.12.3  VTDI (dois complementos = coisa e pessoa) 97
4.13  Preferir 98
4.13.1  VTDI (preposição a) 98
4.14 Proceder 98
4.14.1  V Intransitivo = não ter fundamento 98
4.14.2  V Intransitivo (preposição de) = originar-se 99
4.14.3  VTI (preposição a) = dar início 99
4.15 Responder 99
4.15.1  VTI (preposição a) = dar resposta, corresponder
a uma pergunta 99
4.16  Simpatizar / antipatizar 100
4.16.1  VTI (preposição com) – não são pronominais 100
4.17 Visar 100
4.17.1  VTD = mirar; pôr o visto 100
4.17.2  VTI (preposição a) = objetivar, almejar 100
4.18  Dois ou mais verbos 101
5. A Importância da Pontuação para
Construção do Sentido do Enunciado 105

5.1  Sinais de pontuação 107


5.1.1  O surgimento dos sinais de Pontuação 108
5.2  As frases e a pontuação 110
5.2.1  Os sinais gráficos que delimitam a frase 110
5.2.1.1  Ponto final (.) 111
5.2.1.2  Ponto de interrogação (?) 111
5.2.1.3  Ponto de Exclamação (!) 111
5.2.1.4  Reticências (...) 112
5.2.1.5  Dois pontos 112
5.2.1.6 Travessão 113
5.2.2  A vírgula 115
5.2.2.1  Os usos da vírgula 115
5.2.2.2  Nunca separar sujeito e predicado 116
5.2.2.3  Marcar intercalação 116
5.2.2.4  Separar núcleos de sujeitos compostos 117
5.2.2.5  Predicativo do sujeito anteposto ao verbo 117
5.2.2.6  Indicar omissão de verbo 118
5.2.2.7  Não separar os verbos e nomes de seus
complementos por vírgulas 118
5.2.2.8  Termos intercalados 118
5.2.2.9  Complementos verbais ou nominais
formados por mais de um núcleo 119
5.2.2.10  Objeto Direto e Indireto Pleonástico 119
5.2.2.11  Agente da passiva 119
5.2.2.12  Adjunto Adnominal 119
5.2.2.13  Adjuntos Adverbias 120
5.2.2.14 Aposto 120
5.2.2.15 Vocativo 120
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Nesta disciplina iremos abordar questões relacionadas à Sintaxe da Língua Por-


tuguesa a partir da Gramática Normativa. A sintaxe é a parte da gramática normativa
que se preocupa com a relação entre as palavras na oração e as orações no período:
a concordância do verbo com o sujeito, a concordância de um adjetivo (adjunto ad-
nominal, predicativo etc.) com o substantivo (sujeito, objeto direto etc.), a regência
de um verbo com o seu complemento verbal, a colocação de um pronome oblíquo
em relação ao verbo, entre outros exemplos. É o que se denomina morfossintaxe, na
terminologia de muitos gramáticos da língua portuguesa.
Ao escrever corretamente qualquer texto (uma carta, uma crônica, ou mesmo
um bilhete), precisamos ter domínio pleno da sintaxe, visando a estruturar as ora-
ções e os períodos de forma clara, precisa e inteligível.
Em Subsídios à proposta curricular de língua portuguesa, Perini (1988) assevera
que “O curso de gramática na escola secundária deve levar o aluno ao conhecimen-
to explícito tão completo quanto possível da estrutura da língua. ‘Conhecimento
explícito’ se refere não ao uso correto da língua em situações práticas, mas a uma
análise da estrutura da mesma”.
Quando se fala em sintaxe, imediatamente nos lembramos de análise sintática,
uma vez que alguns professores faziam (ou ainda fazem) os alunos encherem pági-
nas e mais páginas com a análise de orações e de períodos compostos. Não é esse,
propriamente, o valor da sintaxe. Devem-se trabalhar textos diferenciados — poe-
sia, anedota, publicidade, tira de quadrinhos, crônica, conto, romance —, a fim de
que o aluno perceba claramente a importância da sintaxe na produção de textos e,
essencialmente, na leitura e na sua compreensão.
Ao desenvolver um provérbio, por exemplo, além da compreensão que se faz ne-
cessária, deve-se trabalhar também o paralelismo sintático que ocorre em muitos
deles. Exemplificando: em “Papagaio come milho, periquito leva fama”, temos no
provérbio uma construção idêntica de substantivo + verbo + substantivo, dando-
nos o paralelismo sintático.
Com isso o professor desenvolverá habilidades diferenciadas, tornando a sinta-
xe um estudo significativo e prazeroso aos alunos.

Bons estudos!

9
1
Sintaxe -
A Estrutura
Sintagmática da
Língua Portuguesa e
os Termos Essenciais
da Oração
Você já se questionou sobre a importância da sintaxe na língua portuguesa?
Como estruturar as palavras, visando a um enunciado claro e correto? Real-
mente a sintaxe é aquela que aprendemos no Ensino Fundamental e no Ensino
Médio? Responderemos a todas essas questões, aprendendo a distinguir frase,
oração e período. E o que é mais importante: aprenderemos a identificar o su-
jeito de uma oração e a classificá-lo, compreendendo, assim, o enunciado.

OBJETIVOS
Neste capítulo, você será capaz de:
•  identificar o sujeito da oração e classificá-lo;
•  compreender melhor o enunciado de uma questão e o sentido de um texto.

12 • capítulo 1
1.1  Sintaxe
Sintaxe (prouncia-se: ) (do grego clássico "disposição", de ,
transl. syn, "juntos", e , transl. táxis, "ordenação") é o estudo das regras
que regem a construção de frases nas línguas naturais. A sintaxe é a parte da
gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no texto,
incluindo a sua relação lógica, entre as múltiplas combinações possíveis para
transmitir um significado completo e compreensível. À inobservância das re-
gras de sintaxe chama-se solecismo.
Na linguística, a sintaxe é o ramo que estuda os processos generativos ou
combinatórios das frases das línguas naturais, tendo em vista especificar a sua
estrutura interna e funcionamento. O termo "sintaxe" também é usado para re-
ferir o estudo das regras que regem o comportamento de sistemas matemáti-
cos, como a lógica, e as linguagens de programação de computadores.
A sintaxe é importante, pois a unidade falada é a oração, não a palavra ou o
som. Em termos práticos, o falante fala e o ouvinte ouve orações. Salvo o caso
quando uma única palavra é portadora de sentido completo .
Os primeiros passos da tradição europeia no estudo da sintaxe foram dados
pelos antigos gregos, começando com Aristóteles, que foi o primeiro a dividir
a frase em sujeitos e predicados. Um segundo contributo fundamental deve-
se a Frege que critica a análise aristotélica, propondo uma divisão da frase em
função e argumento. Deste trabalho fundador, deriva toda a lógica formal con-
temporânea, bem como a sintaxe formal. No século XIX a filologia dedicou-se
sobretudo à investigação nas áreas da fonologia e morfologia, não tendo reco-
nhecido o contributo fundamental de Frege, que só em meados do século XX
foi verdadeiramente apreciado.

MULTIMÍDIA
Assistia ao clipe da música “Sintaxe à vontade” do grupo Teatro Mágico, disponível em www.
youtube.com/watch?v=obGnfvtdA_g. A música, além de ser bela pelos arranjos e brinca-
deiras com os sons das palavras (Sintaxe/ Sinta-se), traz a ideia do que é a Sintaxe e os
diversos conceitos estudados nesta disciplina, como Sujeito, Predicado, Objeto, etc.

capítulo 1 • 13
Ao estudar a Sintaxe entenderemos quais as funções sintáticas das palavras
dentro dos enunciados. Assim estaremos realizando a análise sintática. A aná-
lise sintática pode ser dividida em dois estudos: na análise do período simples
— constituída de uma oração, estuda termos e suas relações em uma oração;
na análise do período composto — constituída de mais de uma oração, estuda
a relação entre orações.
Na nossa disciplina, abordaremos a Sintaxe a partir da Gramática Normativa,
ou seja, aquela que busca ditar ou prescrever as regras gramaticais de uma lín-
gua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realiza-
ção da língua e categorizando as outras formas possíveis como erradas.
Devemos lembrar que a noção de Certo e errado estão de acordo com a
Gramática Normativa. No entanto, nos estudos sociolinguísticos, ao entender-
mos que existem níveis de linguagem, propõe-se então a ideia de “adequação”,
ou seja, tal uso está adequado ao nível (formal ou informal) de uso da língua.
Passaremos agora a diferenciar Frase, Oração e Período.

1.2  Frase, Oração e Período


1.2.1  Frase

É a unidade mínima de comunicação e apresenta como característica funda-


mental, na língua falada, a entoação.
Uma simples palavra, proferida com entoação própria, pode tornar-se uma
frase. A palavra silêncio, sem nenhuma melodia própria, não passa de uma pa-
lavra morta, sem função comunicativa. Ao proferirmos Silêncio!, com entoação
de pedido, súplica, estaremos proferindo uma frase.
A entoação é, portanto, a “alma” da frase nominal, constituída por nomes
(substantivos, adjetivos, pronomes e advérbios): Fogo! — Que beleza! — Cada
macaco no seu galho. Nas frases verbais, de estrutura mais perfeita, a entoação
já não tem tanta importância, uma vez que apenas revela um aspecto psicológi-
co do falante. Nesse caso, a frase pode ser:

a. declarativa – quando enuncia um fato qualquer. Ex.:


Augusto mora na Bahia. (declarativa afirmativa)
Augusto não mora na Bahia. (declarativa negativa)

14 • capítulo 1
b. interrogativa – quando, por intermédio dela, deseja-se dirimir uma dú-
vida, receber qualquer esclarecimento ou pedir uma informação. Ex.:
Quem chegou primeiro?
Quando começarão as férias?

c. imperativa – quando contém uma ordem, um pedido, uma súplica etc.


Ex.:
Levante-se!
Fecha a porta, por favor!

d. Optativa – quando traduz um desejo. Ex.:


Deus lhe pague!
Macacos me mordam!

e. exclamativa – quando traduz uma admiração. Ex.:


Como te iludes, ó alma humana!
Quanta beleza no Brasil!

1.2.1.1  Tipos de frase

A frase pode ser verbal e nominal.


A frase verbal indica sempre um processo e, por isso, exprime uma visão
dinâmica do mundo. Ex.:
Nós vencemos o campeonato.
Os alunos irão ao Rio de Janeiro.
A frase nominal exprime uma visão estática do mundo; por isso aparece sem
verbo, ou, então, com verbo vazio de significado, ou seja, verbo de ligação. Ex.:
Nova alta do dólar.
Casa de ferreiro, espeto de pau.

1.2.2  Oração

É todo e qualquer enunciado que contém verbo ou expressão verbal. Ex.:


O Papa Bento XVI visitou o Brasil em maio.
A visita do Presidente deve trazer novas divisas para o Brasil.

capítulo 1 • 15
Para que haja oração, não há necessidade de o enunciado ter sentido comple-
to; basta que existam os elementos estruturais indispensáveis à sua formação.

1.2.3  Período

É a frase expressa por uma ou várias orações.


Forma-se, então, um período quando externamos um pensamento comple-
to, mediante oração ou orações, terminando por pausa forte, marcada na escri-
ta por ponto-final, ponto de interrogação, ponto de exclamação, reticências e,
às vezes, dois-pontos.
Uma frase expressa por uma só oração ou por um só predicado isolado cons-
titui um período simples. Ex.:
As estrelas brilham no firmamento.
Uma frase expressa por duas ou mais orações ou por dois ou mais predica-
dos isolados constitui um período composto. Ex.:
“Os doidos inventam a moda, e o povo os segue.”

1.3  Sintagma
Podemos denominar sintagma como a unidade formada por uma ou várias pa-
lavras que, juntas, exercem uma função sintática na frase. Essas unidades se
combinam conjuntamente em torno de um núcleo. A esse conjunto é dado o
nome de sintagma e é ele que vai exercer uma função da frase.
Em qualquer enunciado, as palavras ligam-se formando sintagmas, e estes
sintagmas possuem uma relação de dependência com os demais.
Cada sintagma também possui um núcleo, que indicará de que tipo de sin-
tagma se trata: se o núcleo for um verbo, o sintagma será verbal, se o núcleo for
um nome o sintagma será nominal.
Como exemplo, temos:

O professor não respondeu todas as perguntas


  
sintagma sintagma
nominal verbal

É importante ressaltar que a natureza do sintagma irá depender única e


exclusivamente do tipo de elemento que constitui seu núcleo. Partindo desse

16 • capítulo 1
pressuposto, temos o sintagma nominal, cujo núcleo é um nome; sintagma
verbal, tendo como núcleo um verbo; sintagma adjetival, cujo núcleo é um ad-
jetivo, e os sintagmas preposicionados, geralmente constituídos de uma prepo-
sição + um sintagama nominal .
Um dos meios mais fáceis de fazermos a análise dos elementos de um sin-
tagma é optarmos pelo sistema arbóreo, evidenciado pelo esquema abaixo:

Oração

Sintagma Sintagma
nominal1 verbal

Elemento
Determinante Nome Verbo modificador Sintagma
aquele aluno obteve (adverbio) nominal2
hoje

Elemento
Determinante Nome modificador
um resultado (adjetivo)
excelente

Fonte: http://www.portugues.com.br/gramatica/sintagma-nominal-sintagma-verbal.html.

Passaremos agora ao estudo dos tipos de sintagmas.

1.3.1  Os tipos de sintagmas

Os sintagmas se subdividem em: nominal, verbal, adjetivo, adverbial e preposi-


cional. Vamos conhecer cada um deles.

1.3.1.1  Sintagma Nominal

O sintagma nominal é aquele que se constitui de um nome e os respectivos de-


terminantes desse nome. Normalmente, o sintagma nominal é representado
pelo sujeito da oração e/ou também pelos complementos verbais.

capítulo 1 • 17
Vamos exemplificar:
Os alunos entregaram os livros.
No enunciado em questão, temos dois sintagmas: os alunos, cujo núcleo é
“alunos” e o complemento verbal representado pelo objeto direto, cujo núcleo
é “livros”.

1.3.1.2  Sintagma Verbal

O sintagma verbal constitui o que normalmente classificamos como predicado


da oração, ou seja, aquilo que é dito sobre o sujeito. No caso do sintagma verbal,
o núcleo é o próprio verbo.
Para exemplificar, temos:
Os soldados chegaram.
Como víamos anteriormente, Os soldados é um sintagma nominal, por ter
como núcleo um nome. Chegaram é o sintagma verbal. Nesse exemplo, como a
única palavra que compõe o predicado é um verbo, fica muito claro perceber o
sintagma verbal. No entanto, mesmo que haja outras palavras, tudo o que vem
como algo dito sobre o sujeito da oração, compõe o sintagma verbal.

1.3.1.3  Sintagma Adjetivo

O sintagma adjetivo é aquele que se constitui do complemento nominal e os


advérbios modificadores que o acompanham e pelo predicativo, introduzido
pelo verbo de ligação.
Como exemplo:
Aquela garota é gentil.
Temos o sintagma adjetivo, representado pelo predicativo do sujeito
“gentil”.

1.3.1.4  Sintagma Adverbial

O sintagma adverbial é formado pelo advérbio e seus modificadores.


Em:
Jamais acreditarei em você.
Temos e o advérbio de negação “jamais” representa o sintagma adverbial.

18 • capítulo 1
1.3.1.5  Sintagma Preposicional

Sintagma preposicional é aquele que se constitui da locução prepositiva, ser-


vindo de modificador de qualquer outro sintagma, como podemos observar no
exemplo abaixo:

Somos todos muito responsáveis pelo cumprimento de todos os deveres.

Temos que “pelo cumprimento de todos os deveres” representa o sintagma


preposicional.

1.4  Termos essenciais da oração


Já comentamos que o elemento básico da oração é o verbo. Mas é importante
você saber que a Nomenclatura Gramatical Brasileira considera o sujeito e o pre-
dicado como os termos essenciais da oração, isto é, principais, fundamentais.
Segundo essa classificação, não existe oração sem sujeito e predicado. Mas
observe a frase seguinte:

Choveu de madrugada.

Essa frase é uma oração que não possui sujeito, somente o predicado!
Podemos afirmar, então, que essa nomenclatura é válida para a maioria das
orações de nossa língua — mas não para todas — e que o termo que realmente
define a oração é o verbo.
Nas orações em que o sujeito está presente, você pode perceber que o sujei-
to e o predicado (os chamados termos essenciais) estão intimamente relacio-
nados. Por exemplo:

"O poeta, o pintor e o biólogo não veem a mesma árvore."


   
elemento a respeito informação
do qual se inform
ma algo propriamente dita

Na maioria das orações, há dois elementos que se articulam: a informação,


denominada predicado, e o elemento a respeito do qual se dá a informação,
denominado sujeito, com o qual o verbo deverá concordar.

capítulo 1 • 19
Você perceberá que a análise sintática é um procedimento destinado a au-
mentar a compreensão e a elaboração de enunciados. A análise sintática faz
uso constante de duas operações complementares:
a. detecção de uma relação;
b. interpretação do sentido.

Os azulejos portugueses ornamentam a colheita de uvas.

AUTOR
Graciliano Ramos marcou a literatura brasileira com obras que retratam a vida do homem
nordestino no sertão. O escritor fez parte da 2ª fase do modernismo, que teve o regionalismo
como principal característica. Raquel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego foram
alguns autores que compartilham a fase com Ramos. Em importantes obras, como “Vidas
Secas” e “São Bernardo”, é possível perceber o realismo utilizado pelo autor para descrever
as dificuldades da vida no sertão. Por ter vivido grande parte da vida no interior de Alagoas,
Graciliano conhecia de perto essa realidade. Pela ligação com o comunismo, Ramos foi preso
durante a ditadura de Vargas. O período na prisão foi retratado em “Memórias do Cárcere”,
que traz um episódio importante da história: a entrega de Olga Benário aos alemães. O livro
foi lançado sem o último capítulo, já que o autor morreu antes de terminar a obra. (http://
educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/graciliano-ramos.html)

Leia atentamente este parágrafo extraído do romance Vidas Secas, de


Graciliano Ramos:

do caritó, e sinha Vitória voltou para junto da trempe, reacendeu o cachim-


bo. A panela chiava; um vento morno e empoeirado sacudia as teias de aranha
e as cortinas de pucumã do teto; Baleia, sob o jirau, coçava-se com os dentes e
pegava moscas. Ouviam-se distintamente os roncos de Fabiano, compassados,
e o ritmo deles influiu nas ideias de sinha Vitória. Fabiano roncava com segu-
rança. Provavelmente não havia perigo, a seca devia estar longe. (Sinha Vitória)

Para se encontrar o sujeito de uma oração, nos casos mais gerais e mais
comuns, faz-se a pergunta “o que é que...?” antes do verbo. Se percebermos

20 • capítulo 1
que o enunciado traz uma informação de pessoa, fazemos a pergunta “quem é
que...?”, sempre antes do verbo.
No excerto anterior, os verbos já estão destacados. Vamos aproveitar al-
guns exemplos:
“Os pequenos fugiram...”
Quem é que fugiu?
Os pequenos (sujeito)
Quem é que voltou para junto da trempe?
sinha Vitória (sujeito)
“... um vento morno e empoeirado sacudia as teias de aranha e as cortinas
de pucumã do teto;”

O que é que sacudia as teias de aranha e as cortinas de pucumã do teto?


um vento morno e empoeirado (sujeito)

“Ouviam-se distintamente os roncos de Fabiano...”


O que é que se ouvia distintamente?
os roncos de Fabiano (sujeito)

No sujeito podem aparecer certas palavras ou expressões secundárias, que


não são fundamentais ao entendimento da frase. Geralmente são artigos, ad-
jetivos, numerais adjetivos, pronomes adjetivos etc., que gravitam em torno de
um termo chave, chamado núcleo. Vamos delimitar quais tipos de sujeito po-
dem haver.

1.4.1  Sujeito

É o ser (pessoa, objeto, animal etc.) a respeito do qual se afirma alguma coisa.
O sujeito pode ser:

1.4.1.1  Simples

Temos o sujeito simples quando há apenas um núcleo. Ex.:


"Sua mão pálida dizia adeus à Rússia." (C. D. A.)
Núcleo do sujeito: Mão

capítulo 1 • 21
Veja mais alguns exemplos:
Fabiano roncava com segurança.
Núcleo do sujeito: Fabiano

Os computadores japoneses invadem o mercado brasileiro.


Núcleo do sujeito: computadores

A partir desses exemplos, você pode constatar que:

•  o verbo concordará sempre com o sujeito — sujeito singular, verbo no sin-


gular; sujeito plural, verbo no plural;
•  o sujeito pode ser formado por uma única palavra (Fabiano), ou por várias
palavras (os computadores japoneses).

O sujeito pode ser expresso por:


a) um substantivo

Os galos cantam de madrugada


  
Sujeito Pr edicado

b) um pronome substantivo

Aquilo nos alegrou muito



  
Sujeito Pr edicado

c) um numeral substantivo

Aquilo nos alegrou muito



  
Sujeito Pr edicado

d) qualquer palavra substantivada

O viver maravilhoso

   
Sujeito Predicado

e) uma oração substantiva (subjetiva)

É necessário aprender português


   
Predicado Sujeito

22 • capítulo 1
Leia a anedota abaixo:
— Pai! Pai! — grita o filho do jardim. — Acabaram de roubar nosso carro!
— Você viu os ladrões?
— Vi!
— E você acha que conseguiria reconhecê-los?
— Não, mas anotei a placa do carro.

Vamos analisar os sujeitos dos verbos destacados. Temos os sujeitos sim-


ples: o filho (grita), você (viu) e você (acha); os sujeitos elípticos (eu) vi, (você)
conseguiria reconhecê-los e (eu) anotei.
Leia esta crônica jornalística de Telêmaco Marrace de Oliveira, em que o
autor utiliza, no título, um verbo como sujeito.

AUTOR
Telêmaco Marrace de Oliveira é advogado criminalista atuante, professor de educação infan-
til e séries iniciais do Ensino Fundamental, professor de Filosofia e Sociologia da Cooperativa
de Professores e Especialistas de Santa Catarina, escritor e pós-graduando em Docência no
Ensino Superior.

Ensinar é uma arte

No mundo hodierno, o exercício da docência está se descaracterizando para


atender à demanda. A maioria dos professores que leciona nas universidades e
faculdades é carente de competência pedagógica. Hoje, o profissional formado
em bacharelado e que nunca frequentou uma aula de didática se intitula “pro-
fessor”, deixando muito a desejar na relação ensino-aprendizagem, na qual o
aluno é o maior prejudicado. Um professor que dá as famosas “aulas-pacotes”
e encarna a forma de ensinar homogênea peca, e muito. Todos sabemos que
os alunos são seres humanos e, portanto, heterogêneos, cada qual com uma
maneira peculiar de aprendizagem. O bom docente deve ter a perspicácia
para observar isso em seus alunos. Existe uma crença no Brasil de que quem
sabe, sabe ensinar. Ledo engano cometem as universidades e escolas que ado-
tam essa linha de pensamento, pois colocam em suas entranhas profissionais

capítulo 1 • 23
inabilitados para o ensino, por mais capacitados que sejam em seus afazeres
profissionais “extrauniversidade”. Outra falha cometida é quanto à avaliação
do aluno, muitas vezes reprovado por décimos de nota. Esse tipo de avalia-
ção é muito simplória para um país que quer ser grande. Se o aluno consegue
uma nota positiva, está apto a exercer uma profissão. Caso tenha nota negati-
va, estará inapto. Eu, como professor que frequentei o Magistério, antigo cur-
so Normal, e tive aulas de didática e estudei exaustivamente teorias de Paulo
Freire e Jean Piaget, não consigo ver diferença intelectual entre um aluno que é
reprovado por uma nota 6,9 e outro que é aprovado por nota 7,0. Parece-me que,
nesses casos, há um erro grosseiro do avaliador que não tem nenhum conheci-
mento técnico-pedagógico para avaliar. Outro grave problema que ocorre nas
universidades é a falta ao trabalho e os atrasos de profissionais que mesclam
a docência com outros afazeres, obviamente deixando a docência em segundo
plano e mais uma vez prejudicando o aprendizado dos alunos. Ser professor é
vocação aliada à técnica pedagógica. Para exercermos a Medicina, além da gra-
duação, é obrigado o registro no órgão competente. Para o advogado se procede
da mesma forma, como também para o engenheiro e outros profissionais. Já
para o professor, basta se graduar em qualquer área e cair de paraquedas numa
sala de aula. Precisamos reaver a função do professor, para não cometermos in-
justiças com o alunado, para que no futuro não sejamos responsáveis por pre-
judicar muita gente boa em suas carreiras e para que nunca esqueçamos que
ensinar é uma arte!

1.4.1.2  Elíptico (desinencial ou implícito na desinência verbal)

Quando, em alguns casos, por elegância e concisão, o sujeito não vem expresso
na oração, mas está implícito na desinência verbal (elipse), ou pode ser facil-
mente identificado pelo contexto. Ex.:
Estamos aprendendo português. (Nós)

Baleia, sob o jirau, coçava -se com os dentes e pegava moscas


 
1° oração 2° oração

Na primeira oração, o sujeito é simples: Baleia; na segunda oração, elíptico


(ela), identificado claramente pelo contexto.

24 • capítulo 1
CURIOSIDADE
Sacconi (2006) esclarece que a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) acertadamente
aboliu o termo sujeito oculto, pois este último significa que está escondido. No primeiro
exemplo, o sujeito não está escondido, já que a própria desinência verbal o deixa claro: (nós)
estamos. O morfema –mos corresponde sempre à 1ª pessoa do plural.

Observe, neste excerto da crônica Um pé de milho, de Rubem Braga, como o


cronista utiliza o sujeito simples e o sujeito elíptico.

Um pé de milho

Os americanos, através do radar, entraram em contato com a lua, o que não


deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu
com o meu pé de milho.
Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardi-
neiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim – mas descobri que
era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa.
Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando
estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente
que, na verdade, aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio outro
amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem de cidade. Mas eu tinha razão. Ele
cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro e é um es-
plêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto.

Rubem Braga

1.4.1.3  Composto

Quando possui mais de um núcleo. Ex.:

A guerra fome e a ceifam milhares de vidas.



sujeito

Os núcleos são: guerra, fome.

capítulo 1 • 25
Vínhamos da missa ela, o pai e eu.
 
sujeito

Os núcleos são: ela, pai, eu.

Leia, com atenção, o exemplo a seguir:


Mar e céu sempre amarei.
Quem sempre amará mar e céu? – (eu) sujeito elíptico, presente no morfe-
ma –i, correspondente à 1ª pessoa do singular: eu amarei. Mar e céu funcionam
como objeto direto, isto é, complemento do verbo amar.

EXEMPLO COMENTADO
É muito comum encontrarmos textos que apresentam problema de ambiguidade por causa
da má colocação dos termos na frase. Isso fica evidente no título do texto abaixo:

Merenda escolar falta e aumenta evasão de alunos


A merenda escolar, que é distribuída regularmente pela Secretaria de Educação para a
rede pública do ensino, está faltando em Juazeiro. As escolas da sede e da zona rural já estão
há mais de noventa dias com as suas cotas esgotadas e até o momento não se tem notícia
de quando serão abastecidas, o que vem se constituindo em um problema para as diretoras
desses estabelecimentos.
Segundo as educadoras, a merenda escolar não só representa a complementação ali-
mentar da maioria das crianças matriculadas, como também contribui para o controle da
evasão escolar. Já está provado, pelos estudos realizados, que nas escolas da zona rural do
município e na periferia das cidades a freqüência do aluno à escola está diretamente asso-
ciada à merenda escolar.
Os professores, na sua unanimidade, reconhecem que a merenda escolar, especialmente
em escolas localizadas nos bairros de baixa renda, não é só complementação alimentar, ela
se transforma no único alimento das crianças, porque filhos de pais pobres e desemprega-
dos freqüentam as aulas só pensando na hora da merenda.
A Tarde, 4/9/1992. adaptado.

26 • capítulo 1
Há uma ambiguidade na chamada da notícia porque podemos interpretar o enunciado
de dois modos distintos: primeiro, podemos entender que há evasão de alunos devido à falta
de merenda, se considerarmos que “evasão” é o sujeito do verbo aumentar, que aparece
posposto ao verbo. Inclusive, ao lermos todo o texto percebemos que é esse o sentido que
quer dar o enunciador. No entanto, também é possível entender que na merenda aumentou
a evasão de alunos, se consideramos que esse termo é o sujeito tanto do verbo faltar quanto
de o verbo aumentar. O termo “evasão de alunos” passa a ser o objeto do verbo aumentar,
nesse segundo sentido. Não há erro na construção sintática: o enunciador pode fazer uso
de sujeitos pospostos ao verbo. Contudo, é preciso cuidado para não gerar ambiguidade.
No enunciado em questão, o redator não deveria ter colocado o sujeito depois do verbo na
segunda oração, assim ele teria evitado a ambiguidade. O enunciado poderia ter sido escrito
da seguinte forma: “Merenda escolar falta e evasão de alunos aumenta”, dessa forma não
haveria dúvidas quanto ao sentido proposto pelo enunciador. Por isso, conhecer as funções
sintáticas dos elementos nas frases nos auxilia na construção de textos mais claros e que
não geram dificuldades de leitura, além de nos tornar leitores mais atentos.

1.4.1.4  Indeterminado

Quando a informação contida no predicado refere-se a um sujeito que não se


pode (ou não se quer) identificar. Ex.:
Precisa-se de uma vendedora com experiência. (Quem precisa?)
Arrombaram o cofre do banco. (Quem arrombou?)

Em português, ocorre sujeito indeterminado se:


– o verbo estiver na terceira pessoa do plural sem referência a sujeito expres-
so na oração ou no contexto.
Informaram-me sobre o concurso.
Atropelaram uma criança na esquina.

– o verbo estiver na terceira pessoa do singular acompanhado do índice de


indeterminação do sujeito se.
Acredita-se na existência de políticos honestos.
Vive-se bem no interior do Brasil.

capítulo 1 • 27
ATENÇÃO
Quando a palavra se que acompanha o verbo for pronome apassivador, teremos sujeito sim-
ples. A palavra se será pronome apassivador quando for possível a transformação para a voz
passiva analítica (verbo ser + particípio).
Contavam − se belas estórias

sujeito

Belas estórias eram contadas



sujeito

Quando o sujeito for representado por um pronome indefinido substantivo, devemos ana-
lisá-lo como sujeito simples (um núcleo).

Alguém sempre fala a verdade.


 
sujeito

O índice de indeterminação do sujeito somente pode aparecer com os verbos: transitivo


indireto, intransitivo e de ligação.
Assiste-se a bons filmes de madrugada. (verbo transitivo indireto)
Come-se bem naquele restaurante central. (verbo intransitivo)
Não se é grande no mundo senão quando se é fanático por uma ideia. (verbo de ligação)

1.4.1.5  Oração sem sujeito

Quando a informação veiculada pelo predicado não se refere a sujeito algum,


temos uma oração sem sujeito. Orações sem sujeito são formadas com os ver-
bos impessoais.
Verbo impessoal é o que não tem sujeito e se apresenta na terceira pessoa
do singular.
Observe este verso de Drummond (Lembrança do Mundo Antigo):
“Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!”
O poeta empregou duplamente o verbo haver, como sinônimo de existir, na
terceira pessoa do singular. Como os complementos verbais — jardins e ma-
nhãs — estão no plural, não há concordância com o verbo, ocorrendo, assim,
duas orações sem sujeito.

28 • capítulo 1
Os principais verbos impessoais são:
a) verbos que indicam fenômenos da natureza (amanhecer, anoitecer,
chover, gear, nevar, relampejar, trovejar, ventar etc.). Ex.:
Choveu muito no mês de janeiro.
Este ano não geou no Sul do Brasil.
b) haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou fazer (em
orações temporais). Ex.:
“Há tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro! Mas como cus-
tam caro!” (Groucho Marx)
O verbo haver pode indicar, também, tempo passado. Ex.:
“Há quase um ano não ’screvo.” (Fernando Pessoa)

ATENÇÃO
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para
ser pessoal.
Choveram reclamações na secretaria. (sujeito simples: reclamações)

1. Em locuções verbais, a impessoalidade do verbo haver passa para o ver-


bo auxiliar; este fica sempre na terceira pessoa do singular. Ex.:
Houve muitos concorrentes.
Pode haver muitos concorrentes.

2. Não se deve confundir o verbo. haver (sinônimo de existir) impessoal


com o verbo auxiliar haver. Ex.:
Os alunos haviam resolvido os testes.
3. O verbo existir não é impessoal. Sendo assim, possuirá sujeito expresso
na oração e concordará normalmente com ele. Compare.
Havia dez pessoas no pátio. (oração sem sujeito)
Existiam dez pessoas no pátio. (sujeito simples: dez pessoas)

capítulo 1 • 29
c) os verbos fazer, ser, estar quando indicam tempo cronológico ou clima.
Ex.:

Faz dois anos que mudei para cá.


 
Pr edicado

Vai fazer três meses...


 
Pr edicado

Hoje é dia 12 de março.


  
Pr edicado

Está muito calor.



Pr edicado

CONEXÃO
Você poderá conhecer um pouco mais sobre a classificação do sujeito, com exemplos dife-
rentes, lendo o artigo Tipos de sujeito, no link: http://www.graudez.com.

ATIVIDADES
01. Nestes excertos de poemas, verifique os verbos destacados e analise o sujeito dessas
orações:
a) Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali o melhor lugar,
E por quem essa casa amei —
Deserto o achei,
E, quando o tive, sem razão p’ra o ter.
Fernando Pessoa. In: Obra Poética, p. 137

b) Não faças versos sobre acontecimentos.


Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um Sol estático,

30 • capítulo 1
Não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Carlos Drummond de Andrade. In: Reunião Drummond, p. 76

REFLEXÃO
Nesse capítulo tratamos do conceito de Sintaxe e da importância do seu estudo. Vimos que
as palavras são combinadas em um enunciado de forma que se crie um sentido e que essas
palavras exercem uma função sintática. Vimos que a oração se divide dois termos iniciais
chamados de essências: sujeito e predicado. O sujeito é o termo sobre o qual algo é dito.
Predicado é o que se diz sobre o sujeito. A Sintaxe nos auxilia a compreender a estruturação
dos enunciados, consequentemente também nos auxilia do entendimento do sentido dos
enunciados. O conhecimento obtido com o estudo da Sintaxe nos permite organizar de modo
mais adequado nossos textos e também nos auxilia na compreensão mais clara dos textos
com os quais temos contato no nosso dia a dia.

LEITURA
REIS, Diana. Os vários tipos de sujeito. Disponível em: <http://di-gartmedia.wordpress.
com/2009/05/14/os-varios-tipos-de-sujeito/>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CEREJA, W. R.; WAGNER, L.R. MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.
São Paulo: Atual, 1999.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
______. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.
WAGNER. L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São
Paulo: All Print, 2008.

capítulo 1 • 31
32 • capítulo 1
2
Termos
Integrantes e
Acessórios da
Oração
Continuando nosso estudo sobre sintaxe, neste capítulo vamos aprender a clas-
sificação sintática dos verbos (imprescindível para a análise do predicado), os
predicativos e os tipos de predicado. Você perceberá que os predicados podem
interferir na comunicação oral e escrita e na produção de textos narrativos, des-
critivos e dissertativos.
Além disso, veremos também que para compreender corretamente um
enunciado, devemos saber os termos que vêm sempre associados a um verbo.
Quando se tratar de um complemento verbal, teremos o objeto direto e o obje-
to indireto; quando vier, normalmente, junto a um verbo intransitivo e indicar
uma circunstância, chamar-se-á adjunto adverbial; o termo agente da voz ativa
que funcionar como paciente na voz passiva será o agente da passiva.
Para concluir o estudo das funções sintáticas, estudaremos os termos rela-
cionados aos Nomes. Por nome entendemos todas as palavras da língua que de-
signam os “seres” do mundo. Os nomes também se caracterizam pela categoria
de gênero (isto é, muitas vezes eles se dividem em masculinos e femininos) e
pela indicação de plural com o morfema –s. Os nomes englobam a classe dos
substantivos e dos adjetivos. Os termos associados ao nome são quatro: pre-
dicativo, adjunto adnominal, complemento nominal e aposto. Estudaremos,
agora, os três últimos, uma vez que o predicativo já foi visto juntamente com
o predicado.

OBJETIVOS
•  classificar sintaticamente os verbos da oração;
•  analisar os tipos de predicativo;
•  compreender os predicados, analisá-los e empregá-los em textos.
•  analisar sintaticamente todos os complementos verbais da oração;
•  identificar e classificar os adjuntos adverbiais;
•  compreender o agente da passiva e aplicá-lo corretamente em textos;
•  reconhecer os adjuntos adnominais da oração;
•  identificar o complemento nominal;
•  analisar o aposto e aplicá-lo corretamente em textos.

34 • capítulo 2
2.1  Predicado
Observe esta frase de Mário Quintana:
“Os espelhos partidos têm muito mais luas.”
A respeito de que ser o poeta nos fala? Sobre os espelhos partidos, não é? Já
vimos que o ser de quem se diz alguma coisa é classificado como sujeito.
E o que Mário Quintana nos fala sobre os espelhos partidos? Que eles têm
muito mais luas, certo? Vamos chamar de predicado aquilo que se informa a
respeito do sujeito. Portanto, depois que identificamos o sujeito, o restante da
oração constitui o predicado.
O predicado sempre apresenta um verbo que concorda com o sujeito. Para
classificar o predicado, precisamos analisar esse verbo. É disso que trataremos
a seguir.

2.1.1  Classificação dos verbos

Compare os verbos destes dois pensamentos:


“A lei suprema da arte é a representação do belo.” (Leonardo da Vinci)
“Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo
muito que temos…” (William Shakespeare)
Na primeira oração, o verbo ser não é nocional, apenas liga o sujeito às suas
características; já na segunda oração, os verbos sofrer e alegrar-se são nocio-
nais, indicam ação. Dependendo da relação que o verbo estabelece com o su-
jeito, temos uma primeira classificação dos verbos: verbos de ligação e verbos
significativos ou nocionais.
Os verbos de ligação ligam o sujeito a seu estado ou a suas características.
Observe outros exemplos:
“… cada estrela parecerá uma lágrima.” (Renato Russo)
“Estamos todos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo.”
(Cora Coralina)
“Tudo o que está morto como fato continua vivo como ensino.” (Vitor Hugo)
“Nem sempre juntas andam cortesia e inteligência.” (Henry
Wadsworth Longfellow)
“Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzí-
vel, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e

capítulo 2 • 35
sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.”
(Clarice Lispector)
“Quanto a meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe.
Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo
neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias. Sei que um dia abrirão as
asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. Quando eu ficar sozinha, esta-
rei seguindo o destino de todas as mulheres.” (Clarice Lispector)
Os verbos significativos ou nocionais são os que indicam ação ou fenôme-
nos meteorológicos. Podem ser transitivos ou intransitivos.

ATENÇÃO
Transitividade verbal é a necessidade que alguns verbos apresentam de ter outras palavras
como complemento. A esses verbos que exigem complemento chamamos de transitivos, e
aos que não exigem complemento chamamos de intransitivos.

Observe os verbos empregados neste trecho de um poema de Cecília Meireles:


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

A forma verbal pus exige complemento (o meu sonho), pois quem põe,
põe alguma coisa. O que também ocorre com a forma verbal abri (o mar):
quem abre, abre alguma coisa. Classificamos os verbos pôr e abrir, portanto,
como transitivos.
Já o verbo naufragar não exige complemento, não transita; é, pois, classifi-
cado como intransitivo.
Estudo de caso: Observe os complementos verbais dos três primeiros versos
deste poema de Alberto Caeiro:
Pensar em Deus
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

36 • capítulo 2
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

No primeiro verso, o complemento em Deus se liga ao verbo pensar atra-


vés da preposição em. O complemento a Deus também aparece ligado ao verbo
desobedecer por meio da preposição a. Nesses casos, dizemos que o verbo é
transitivo indireto porque o complemento aparece ligado a ele indiretamente,
através da preposição.
Já no segundo verso, o complemento do verbo querer é que o não conhe-
cêssemos. Não há preposição entre o verbo e seu complemento. Nesse caso,
classificamos o verbo como transitivo direto, pois o complemento aparece di-
retamente ligado ao verbo, sem prepsição. Ainda no segundo verso, o verbo co-
nhecer é transitivo direto e tem por complemento o pronome oblíquo o.
A forma verbal mostrar, que aparece no terceiro verso, exige dois comple-
mentos verbais, já que quem mostra, mostra alguma coisa a alguém. O primei-
ro complemento é se, e o segundo complemento é nos (a nós). Temos, portanto,
um caso em que o verbo é transitivo direto e indireto, pois exige um comple-
mento ligado diretamente a ele e outro complemento ligado indiretamente por
meio da preposição a.

2.1.2  Predicado verbal, predicado nominal e predicado verbo-


nominal

Já vimos que o predicado é o termo da oração que afirma alguma coisa sobre o
sujeito e apresenta um verbo que normalmente concorda com esse sujeito em
número e pessoa.
Quando a oração tem como núcleo um verbo significativo (transitivo ou in-
transitivo) temos um predicado verbal. Veja alguns exemplos:

Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais. ( Albert Einstein )


 
núcleo do núcleo do
predicado predicado

capítulo 2 • 37
  uma inf inita quantidade de erros ( Bernard Shaw )
O sucesso encobre
núcleo do
predicado

A imaginação oferece

   às pessoas consolação por aquilo que não podem
núcleo do
predicado

ser e humor por aquiilo que efetivamente são. ( Albert Camus )

Quando a oração é formada com verbo de ligação, o núcleo será o nome ou


expressão de valor nominal, temos, portanto, um predicado nominal. Observe:

 velada. ( Sartre )


A beleza é uma contradição
núcleo do
predicado

O núcleo do predicado nominal recebe o nome de predicativo. Pode haver


predicativo do sujeito e predicativo do objeto, conforme se refira a um e outro.

A criança está alegre.



predicativo
do sujeito

Todos o julgavam culpado.


 
predicativo do
objeto direto

Chamavam - lhe fals


 árr
io
.
predicativo do
objeto indireto

Classificamos como predicado verbo-nominal o caso em que há dois nú-


cleos: um verbo (ou expressão verbal) e um nome ao mesmo tempo.

O ônibus chegou quebrado.


verbo + nome

O governador nomeou a professora reitora.


verbo nome

38 • capítulo 2
CONEXÃO
Você poderá conhecer um pouco mais sobre a classificação dos verbos, com exemplos dife-
rentes, lendo o artigo Aula de Português – Transitividade verbal, no link: http://auladaroberta.
blogspot.com/2008/08/transitividade-verbal.html.

2.2  Termos associados ao verbo:


Diferenciação

Sempre que você analisar uma oração, o primeiro passo é descobrir se determi-
nado termo está associado a um verbo ou a um nome, delimitando sua função
específica em relação à oração inteira. Observe o exemplo:
Muitas pessoas desconhecidas procuram empregos diariamente nas gran-
des cidades.
Em relação ao sujeito, podemos afirmar que muitas e desconhecidas são
termos associados ao nome pessoas.

Muitas pessoas desconhecidas


 
nome
sujeito

Em relação ao verbo, tem-se que empregos, diariamente e nas grandes cida-


des são termos associados à forma verbal procuram.

procuram empregos diariamente nas grandes cidades


 Pr edicado
verbo

Depois de entender que há termos associados ao nome e termos associados


ao verbo, vamos estudá-los detalhadamente. Aplicaremos uma classificação
perfeita ao período simples, isto é, período formado por apenas uma oração.
São quatro os termos associados ao verbo: o objeto direto, o objeto indireto, o
adjunto adverbial e o agente da passiva.

capítulo 2 • 39
2.2.1  Objeto direto

Já estudamos os tipos de verbos. Aprendemos que o verbo transitivo necessita


sempre de um complemento.
Quando afirmo “Quero um sorvete de chocolate”, não é difícil perceber que
o verbo querer é transitivo e um sorvete de chocolate é o complemento verbal.

Quero um sorvete de chocolate.


verbo Complemento verbal
transitivo

O fato de esse complemento vir associado, sem preposição, a um verbo tran-


sitivo indicando o paciente afetado pela ação verbal (isto é, indicando aquilo
que sofreu a ação de querer) permite que o classifiquemos como um objeto di-
reto. Como o verbo querer pede, nesse caso, um objeto direto, passaremos a
chamá-lo de verbo transitivo direto.
A mesma análise teremos em:

Nossos colegas ganharam o campeonato da escola


 
verbo objeto direto
transitivo
direto

Assim, as características do objeto direto são:


Do ponto de vista da relação: sempre associado a um verbo transitivo.
Do ponto de vista da forma: normalmente sem preposição.
Do ponto de vista do valor semântico: indica o paciente afetado pela
ação verbal.

2.2.2  Objeto direto preposicionado

O próprio nome do termo sintático objeto direto sugere que sua relação com
o verbo é direta, sem a necessidade de nenhum conector. Entretanto, há casos
em que o objeto direto aparece preposicionado, ainda que o verbo ao qual ele
esteja ligado não exija preposição. É o que acontece numa frase como:

40 • capítulo 2
Nos amamos a Deus.
verbo Complemento
transitivo verbal
direto

O verbo amar é, normalmente, transitivo direto, já que pede complemen-


tos verbais sem preposição. São comuns frases como Paulo ama a namorada,
A mãe ama os filhos. Portanto, a preposição que introduz o termo Deus não é
uma exigência do verbo. Dizemos, por esse motivo, que o termo a Deus (repre-
sentado pelo nome Deus) configura um caso de objeto direto preposicionado.
Esse tipo de complemento pode, entre outros casos, aparecer:
a) quando o objeto direto é representado por nome de pessoas.
Ex.: Venderam a Cristo por algum dinheiro. (o verbo vender é transiti-
vo direto)
b) quando o objeto direto é pronome pessoal oblíquo tônico.
Ex.: Aquela resolução prejudicou a nós, funcionários. (o verbo prejudicar é
transitivo direto)
c) com pronome de tratamento.
Ex.: Não respeitaram a V. Sª. nem àquela senhorita. (o verbo repeitar é tran-
sitivo direto)
d) quando se quer evitar ambiguidade, principalmente se os termos da
oração se apresentam em ordem inversa.
Ex.: Venceu à Mangueira a Beija-Flor. (o verbo vencer é transitivo direto)
e) quando o objeto direto for constituído por pronome indefinido ou pelo
relativo quem.
Ex.: Comovemos a todos, mas a ninguém convencemos. (os verbos comover
e convencer são transitivos diretos)
Não reconheci a mulher a quem cumprimentei. (o verbo cumprimentar é
transitivo direto)
f) quando se deseja dar ideia de porção de alguma coisa.
Ex.: Cristo comeu do pão e bebeu do vinho. (os verbos comer e beber são
transitivos diretos)
g) quando a construção for idiomática.
Ex.: puxar da faca, sacar do revólver, chamar por alguém, pegar do jornal etc.

capítulo 2 • 41
2.2.3  Objeto direto pleonástico

É o objeto repetido no meio da frase, usado por motivo de ênfase. Ex.:

As plantas, colhi-as de manhã.


Os impostos, é necessário pagá-los.

O objeto pleonástico será sempre aquele que relembrar o outro, mesmo no


caso de concorrerem dois pronomes.

2.2.4  Objeto direto interno (ou intrínseco)

É o objeto direto cujo núcleo possui radical idêntico ao do verbo da oração. Ser-
ve para reforçar o conceito expresso pelo verbo. Ex.:

Sempre sonhei sonhos coloridos.


Na entrega do Oscar, a atriz vestia elegante vestido.

Todo objeto direto interno traz necessariamente um adjunto, caso contrá-


rio se incorre numa redundância (vício de linguagem).
Esse tipo de objeto pode ser expresso por um substantivo de radical diferen-
te do verbo, no entanto de ideia paralela ou afim. Ex.:

Você ainda vai chorar lágrimas amargas!

Na Sagrada Escritura, na Segunda Carta de São Paulo a Timóteo, encontra-


mos este belíssimo exemplo: “Combati o bom combate, completei a corrida,
guardei a fé.”, em que o evangelista emprega um objeto direto interno “o bom
combate” e dois objetos diretos: “a corrida” e “a fé”.

2.2.5  Objeto indireto

Há outro tipo de complemento verbal, cuja relação com o verbo é sempre inter-
mediada por uma preposição. Observe esta oração:

42 • capítulo 2
A criança necessita de cuidados extremos.
verbo Complemento
transitivo verbal

Nesse exemplo, a preposição de, que introduz o complemento verbal cui-


dados extremos, é exigida pelo verbo. Não se trata de um caso de objeto direto
preposicionado, mas sim de um objeto indireto. Nesse caso, o verbo necessitar
é transitivo indireto.

A criança necessita
 de cuidados extrremos
 
verbo objeto direto
transitivo
indireto

Nota-se que a expressão de cuidados extremos indica, do ponto de vista se-


mântico, o paciente afetado pela ação de necessitar.

Nós nos
 queixamos ao gerente
objeto
 
verbo transitivo indireto
direto

Assim, as características do objeto indireto são:


Do ponto de vista da relação: sempre associado a um verbo transitivo.
Do ponto de vista da forma: sempre com preposição (que é exigida obriga-
toriamente pelo verbo).
Do ponto de vista do valor semântico: indica o paciente afetado pela ação
verbal ou o destinatário dessa ação.

2.2.6  Objeto indireto pleonástico

Usado por motivo de ênfase, é o objeto repetido no meio da frase, normalmente


representado por um pronome. Ex.:

Ao mendigo, nada lhe devo.


A mim, não me agrada esse emprego.

capítulo 2 • 43
2.2.7  Objeto indireto por extensão

É todo complemento indireto de verbo não transitivo indireto. Ex.:


Puseram-lhe olho gordo. (o verbo pôr é transitivo direto)
As férias nos foram benéficas. (o verbo ser é de ligação)
Alguns gramáticos analisam o primeiro exemplo como adjunto adverbial.
Na oração “O funcionário entregou as chaves ao patrão.”, o verbo entregar
tem dois complementos: as chaves, que vem sem preposição e indica o pacien-
te da oração, e ao patrão, que vem com preposição e indica o destinatário da
ação. O primeiro complemento é o objeto direto; o segundo, o objeto indire-
to. Logo, o verbo é classificado como transitivo direto e indireto, pois ele exige
dois complementos.

2.2.8  Adjunto adverbial

É o termo de valor adverbial que gravita quase sempre em torno de um verbo;


pode modificar, também, um adjetivo ou outro advérbio. Assim como os ad-
vérbios (morfologia), todo adjunto adverbial expressa uma circunstância. Ex.:

Ontem não encontrei o professor no colégio.


adjunto adjunto (verbo) adjunto
adverbial adverbial adverbial
de tempo de negação de lugar

A jovem ficou meio preocupada.


adjunto (adjetivo)
adverbial
de intensidade

Aquelas pessoas moram muito longe.


adjunto advérbio
adverbial de lugar
de intensidade

Além das circunstâncias expressas pelos advérbios (afirmação, ne¬ga-


ção, intensidade, dúvida, lugar, tempo e modo), os adjuntos adverbiais po-
dem expressar:

44 • capítulo 2
a) assunto : Sempre falávamos de política.
b) causa : O mendigo morreu de fome.
c) companhia : Eles viriam com os avós.
d) concessão : Não obstante sua má vontade, vencemos.
e) conformidade : Devemos dançar conforme a música.
f) finalidade : A jovem vestia-se para a festa.
g) matéria : Este vaso é feito de porcelana.
h) medida ou peso: O poço mede cinco metros de diâmetro.
i) meio : Os visitantes chegarão de avião.

Assim, as características do adjunto adverbial são:


Do ponto de vista da relação: vem associado a um verbo (transitivo ou in-
transitivo), a um adjetivo, a outro advérbio ou também refere-se a todo o con-
junto da oração.
Do ponto de vista da forma: com ou sem preposição.
Do ponto de vista do valor semântico: indica uma circunstância em que se
desenrola a ação verbal ou o nome.

2.2.9  Agente da passiva

Em morfologia, quando estudamos os verbos, vimos que certas orações podem


ocorrer na voz passiva. Estão sujeitas a essa possibilidade as orações cujo verbo
tem um sujeito agente e um objeto direto (paciente).
Nesse tipo de oração, quando o sujeito é o executor da ação verbal, dizemos
que a frase está na voz ativa:

Os acadêmicos receberam novas orientações.


sujeito agente verbo objeto direto
transitivo
direto

Mas podemos transmitir essa mesma informação passando o objeto dire-


to, que na voz ativa funciona como paciente da ação, para a posição de sujeito.
Nesse caso, temos uma oração na voz passiva:

Novas orientações foram recebidas pelos acadêmicos


    
sujeito paciente agente da voz passiva

capítulo 2 • 45
Observe que a expressão pelos acadêmicos não pode ser vista nem como
objeto direto, nem como indireto, nem como adjunto adverbial, pois ela não
exerce o papel nem de paciente, nem de destinatário, nem de indicador de uma
circunstância da oração verbal. Na verdade, ela indica o executor da ação verbal
nas orações passivas, por isso é chamada de agente da passiva.

Assim, as características do agente da passiva são:


Do ponto de vista da relação: vem sempre associado a um verbo transitivo
na voz passiva.
Do ponto de vista da forma: liga-se ao verbo sempre através de preposição
(normalmente por/de)
Do ponto de vista do valor semântico: indica o elemento que executa a
ação verbal.

CONEXÃO
Você poderá conhecer um pouco mais sobre os complementos verbais, com exem-
plos diferentes, lendo o artigo Complemento verbal, no link: http://pt.wikipedia.org/
wiki/Complemento_verbal.

2.3  Termos associados ao nome


2.3.1  Adjunto adnominal

Muitas vezes, numa oração, um substantivo não aparece sozinho. Ele vem
determinado ou qualificado por outros termos, que lhe atribuem certas carac-
terísticas. É o caso de uma frase como:

Aquela linda jovem de olhos azuis venceu o concurso.

Percebe-se claramente que os termos aquela, linda e de olhos azuis es-


tão ligados ao nome jovem. O pronome demonstrativo “aquela” indica que
a jovem era conhecida; o adjetivo “linda” modifica positivamente a jovem,

46 • capítulo 2
qualificando-a com sua beleza física; a locução adjetiva “de olhos azuis” indica
um atributo físico da jovem. Esses três termos, do ponto de vista sintático, são
classificados como adjuntos adnominais. Assim como o artigo “o” determina
o substantivo concurso, sendo também classificado como adjunto adnominal.
Como os adjuntos adnominais qualificam o nome sem a mediação do ver-
bo, a qualidade expressa por eles não é afetada pelo tempo verbal. No exemplo
acima, podemos permutar o pretérito perfeito pelo futuro que aquelas, linda e
de olhos azuis não sofrerão alteração de sentido:

Aquela linda
  jovem de
olhos
azuis
 venceu o
 concurso
 .

   adjunto adjunto
adjunto nome adjunto adno min al nome
adno min al adno min al adno min al

Os adjuntos adnominais são representados pelas seguintes clas-


ses gramaticais:
a) Artigo: “Diga a verdade e saia correndo.” (provérbio iugoslavo)
b) Adjetivo: “As dúvidas são mais cruéis do que as duras verdades.”
(Molière)
c) Pronome adjetivo: “O tempo amadurece todas as coisas. Nenhum ho-
mem nasce sábio.” (Cervantes)
d) Numeral adjetivo: “Você tem uma boca e dois ouvidos. Use-os nessa
proporção.” (provérbio chinês)
e) Locução adjetiva: “O nascimento da ciência foi a morte da superstição.”
(Thomas Henry Huxley)

Assim, as características do adjunto adnominal são:


Do ponto de vista da relação: sempre associado a um nome (sem a mediação
do verbo).
Do ponto de vista da forma: liga-se ao nome – com ou sem preposição.
Do ponto de vista do valor semântico: indica uma característica do nome
não restrito a tempo algum.

2.3.2  Complemento nominal

Há alguns termos associados a um nome sem mediação de verbo e por meio


de uma preposição. No entanto, não mantêm com o nome a mesma relação

capítulo 2 • 47
dos adjuntos adnominais, pois está indicando o paciente afetado por uma ação
expressa pelo nome.
Se tomarmos como exemplo

A reda
çã
o do jornal levou algum tempo.

nome complemento
no min al

veremos que redação é um nome que pressupõe dois acompanhantes: o


agente (o executor da redação) e o alvo ou paciente da ação (aquilo que foi redi-
gido – no caso, o jornal). A essa função sintática se dá o nome de complemento
nominal. Para não confundi-lo com o adjunto adnominal, basta pensar numa
frase como:

A reda
çã
o do jornal pelos alunos levou algum tempo.
  
nome complemento adjunto
no min al adno min al

Tanto “do jornal” quanto “pelos alunos” estão associados ao nome reda-
ção. Percebe-se claramente que esses dois termos têm valores diferentes: “do
jornal” indica o paciente afetado pela ação de redigir, enquanto “pelos alunos”
indica o agente, o executor da ação. O primeiro é complemento nominal; o se-
gundo, adjunto adnominal.
Esquematizando, temos:

nome agente dessa ação adjunto adnominal


que sugere
uma ação paciente dessa ação complemento nominal

O complemento nominal é sempre o complemento de um nome (substan-


tivo, adjetivo ou advérbio).
As pessoas idosas têm necessidade de carinho.
“De carinho” completa o sentido de necessidade, um substantivo (portanto,
um nome), pois quem tem necessidade, tem necessidade de alguma coisa.
A árvore está cheia de pássaros. (cheia = adjetivo de valor relativo)
Os jurados votaram favoravelmente ao réu. (favoravelmente = advérbio de
valor relativo)

48 • capítulo 2
Assim, as características do complemento nominal são:
Do ponto de vista da relação: vem sempre associado a um nome.
Do ponto de vista da forma: liga-se ao nome sempre através de preposição.
Do ponto de vista do valor semântico: indica o alvo ou paciente afetado pela
ação expressa no nome.

ADJUNTO ADNOMINAL COMPLEMENTO NOMINAL

a) termo acessório (dispensável) a) termo integrante (indispensável)


b) vem sempre junto a um nome b) completa o sentido de um nome
(substantivo) (substantivo, adjetivo ou advérbio)
c) é representado por artigo, adjetivo, c) vem sempre preposicionado
pronome adjetivo, numeral adjetivo e d) é o alvo da ação
locução adjetiva.

2.3.3  Aposto

Estudaremos, agora, um terceiro termo associado ao nome. Trata-se daqueles


termos que não indicam nem uma característica do nome nem o paciente afe-
tado por uma ação sugerida por ele. É o que acontece numa frase como:

Brasília, capital do Brasil, foi fundada em 1960.

A expressão “capital do Brasil” está associada ao nome Brasília. No entanto,


ele não indica um atributo desse nome: trata-se, na realidade, de uma explica-
ção do termo Brasília. Se alguém não souber o que é Brasília, a expressão “ca-
pital do Brasil” traz uma informação muito relevante. Essa expressão é classifi-
cada como aposto.
Percebe-se que a relação entre o aposto e o nome a que ele se refere é de
equivalência: há uma correspondência entre eles, pois ambos têm exatamente
a mesma referência, remetendo, nesse caso, ao mesmo ser.

capítulo 2 • 49
Aposto é o termo que explica, especifica, desenvolve ou resume outro. O apos-
to pode aparecer depois de vírgula, dois-pontos ou travessão. Normalmente, o
aposto explicativo vem entre vírgulas. Ex.:
“Vênus, uma bela mulher de bom gênio, era a deusa do amor; Juno, uma
víbora, a deusa do casamento. E sempre foram inimigas mortais...”
“O sono é a infância da morte: um repouso transitório. Tem um túmulo, o
leito; tem um verme, o pesadelo. Em compensação, como a morte, propicia um
bálsamo — o esquecimento.”
O tipo de aposto que especifica ou individualiza um termo genérico deno-
mina-se aposto especificativo. Ex.:
Encontro-a às dez horas, na Praça da Independência, em frente às lo-
jas Americanas.
A cidade do Rio de Janeiro possui praias maravilhosas.
O tipo de aposto que se refere a um numeral antecedente denomina-se
aposto enumerativo. Ex.:
“No mundo dos negócios, todos são pagos em duas moedas: dinheiro e expe-
riência. Agarre a experiência primeiro, o dinheiro virá depois.” (Harold Geneem)
Duas coisas incomodavam o vovô: o barulho de crianças e o calor intenso.
O aposto pode, às vezes, resumir vários termos antecedentes através de um
pronome, sendo este classificado como aposto resumidor.
Ex.:
“O ouro, os diamantes e as pérolas, tudo é terra e da terra.”
“A noz, o burro, o sino e o preguiçoso, sem pancadas nenhum faz o
seu ofício.”
Pode haver aposto de pronome relativo (que).
Ex.:
Veja o que você encontra dentro das fronteiras brasileiras: praias, monta-
nhas, campos, cidades históricas, caprichos da natureza, rios, caça e pesca.
Convém observar que o aposto vem em posição posterior ao nome ao qual
está associado.

Em síntese, as características do aposto são:


Do ponto de vista da relação: vem associado a um nome.
Do ponto de vista da forma: normalmente sem preposição.
Do ponto de vista do valor semântico: explica melhor o nome a que se refere,
estabelecendo uma relação de equivalência.

50 • capítulo 2
2.3.4  Vocativo

Depois de estudar o sujeito e o predicado, os termos associados ao verbo e os


termos associados ao nome, só resta apresentar um termo da oração. Trata-se
do vocativo, que é um termo isolado na oração, portanto sem relação nem com
o verbo nem com o nome.
O traço principal do vocativo, como o próprio nome sugere, é o fato de ele
ser um chamado, uma espécie de evocação; serve para pôr em evidência o ser a
quem nos dirigimos, para interpelar o interlocutor. É o caso de:
João, apague a luz, por favor!
O termo João não está associado a nenhum outro. Ele apenas indica a pes-
soa que o enunciador da frase está interpelando.
O vocativo vem sempre isolado por vírgula, no início, no meio ou no final
da frase.
“Minha bela Marília, tudo passa;” (Tomás A. Gonzaga)
“Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,...” (Tomás A. Gonzaga)
“Que havemos de esperar, Marília bela?” (Tomás A. Gonzaga)

As características do vocativo são:


Do ponto de vista da relação: é um termo isolado na oração, pois não vem
associado nem a nome nem a verbo.
Do ponto de vista da forma: sem preposição, separado do restante da frase
por vírgula (no texto escrito), podendo vir precedido de uma interjeição.
Do ponto de vista do valor semântico: indica o interlocutor da mensagem,
cuja atenção é invocada pelo enunciador.

CONEXÃO
Você poderá conhecer um pouco mais sobre os termos associados ao nome, com exemplos
diferentes, lendo o artigo Diferença entre adjunto adnominal e complemento nominal, no link:
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/234240.

Aposto e vocativo não se confundem; ambos, geralmente, aparecem en-


tre vírgulas, mas somente o segundo serve para evidenciar o ser; a função do

capítulo 2 • 51
primeiro é apenas explicativa. O vocativo não mantém relação sintática com
nenhum termo da oração que dela faz parte.

ATIVIDADES
01. Identifique os verbos do poema a seguir e analise-os de acordo com a transitividade.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo


Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Manuel Bandeira

02. Nos pensamentos a seguir, destaque e classifique os predicados:


a) “A falta de dinheiro é a raiz de todos os males.” (George Bernard Shaw)
b) “Nossas riquezas ultrapassam o lado material.” (Machado de Assis)
c) “A temperança é um dos maiores prazeres.” (Goethe)
d) “O coração não tem rugas.” (Madame de Sévigné)
e) “Cada lágrima ensina-nos uma verdade.” (Ugo Fóscolo)

03. No poema Canção (In: Obra Poética), destacamos algumas palavras. Nesse contexto,
analise sintaticamente esses termos já estudados.
CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio


e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

52 • capítulo 2
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles

04. Leia atentamente esta anedota:


O avião sacode muito por causa do mau tempo. A aeromoça, que tenta acalmar os
passageiros, percebe que um deles está tão apavorado que começa a ficar roxo.
— Falta de ar, cavalheiro?
— Não, senhorita, falta de terra!
a) A oração destacada funciona como aposto ou não?
b) Dê a função sintática dos termos sublinhados.

05. Na estrofe de Tomás Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu), identifique a função sintática
dos termos destacados:
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o Céu, gentil pastora,

capítulo 2 • 53
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

REFLEXÃO
Vimos que os verbos podem classificar-se em: intransitivos, transitivos diretos, transitivos
indiretos, transitivos diretos e indiretos e em verbos de ligação. Os verbos intransitivos e
transitivos irão compor o predicado verbal, os verbos de ligação constituirão o predicado
nominal e, quando um predicado tiver como núcleo um verbo e um nome, será chamado de
verbo-nominal.
Pelos conceitos estudados foi possível perceber a importância de reconhecer, na oração,
um complemento verbal (sem preposição e com preposição), os vários tipos de objeto direto
e de objeto indireto; aprendeu, também, a analisar as circunstâncias do adjunto adverbial, que
não deve ser confundido com complemento de um verbo; e, finalmente, você já sabe empre-
gar um verbo na voz ativa ou na voz passiva analítica, em que aparece o agente da passiva
sempre preposicionado.
Aprendeu-se também neste capítulo que alguns termos estão associados ao nome: o
adjunto adnominal – representado por várias classes gramaticais – vem sempre associado
a um substantivo; o complemento nominal vem sempre preposicionado e pode completar
o sentido não só do substantivo, mas também do adjetivo e do advérbio; o aposto normal-
mente explica um termo antecedente, podendo substituí-lo, sem prejuízo de sentido. Apren-
deu-se, ainda, que o vocativo é um termo independente, não pertence ao sujeito nem ao
predicado, por isso vem sempre isolado por vírgula.

LEITURA
Professora Rose. InterAula – Predicado. Disponível em: <http://www.interaula.com/portugues/
predicado.htm>.
HERNANDES, Paulo. Complemento nominal X adjunto adnominal. Disponível no link: http://www.
paulohernandes.pro.br/dicas/001/dica045.html

54 • capítulo 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CEREJA, W. R.; WAGNER, L.R. MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.
São Paulo: Atual, 1999.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
______. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.
WAGNER. L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São
Paulo: All Print, 2008.

capítulo 2 • 55
56 • capítulo 2
3
Concordância
Nominal e Verbal
Lembre-se de que em Língua Portuguesa, na área de Morfologia, estudamos as
classes de palavras, com as flexões de gênero e de número dos substantivos, dos
adjetivos, dos artigos, dos pronomes e dos numerais, e com as flexões de nú-
mero, de pessoa, de tempo e de modo dos verbos; além da invariabilidade das
preposições, das conjunções e dos advérbios. Na área da Sintaxe, estudamos as
relações sintático-semânticas com todos os elementos do período simples e do
período composto. Também na Sintaxe estudamos as relações de concordân-
cia nominal e verbal, de regência verbal e de colocação pronominal. São todos
mecanismos de combinação de palavras.
Além disso, estudaremos a sintaxe em suas relações de concordância ver-
bal, revendo também os principais tipos de sujeito. Depois de sabermos que
existem dois tipos de concordância e de termos estudado os principais casos de
concordância nominal, resta-nos aprender quais os princípios que norteiam a
concordância verbal. Trata-se da concordância do verbo com o sujeito; há ne-
cessidade, portanto, da compreensão e do reconhecimento das flexões verbais
– número, pessoa, tempo e modo – e da classificação do sujeito da oração.

OBJETIVOS
Você será capaz de:
•  aplicar corretamente a sintaxe da Língua Portuguesa;
•  compreender o mecanismo de combinação dos nomes na frase, em suas flexões de gê-
nero e de número;
•  reconhecer a importância da concordância verbal em língua portuguesa;
•  compreender o mecanismo de combinação do verbo com o sujeito, nas flexões de número
e de pessoa;
•  produzir textos concisos, claros e corretos.

58 • capítulo 3
3.1  Concordância nominal
Tanto a concordância nominal quanto a concordância verbal estão relaciona-
das com os princípios lógicos da língua. Assim, concordar adequadamente é o
mesmo que ter o domínio dos mecanismos básicos de funcionamento da lín-
gua, defendidos pelo padrão culto.
Se não observarmos esses mecanismos durante a interlocução, ainda assim
é possível haver comunicação. Porém, dependendo de quem é nosso interlo-
cutor, da expectativa que ele tem em relação a nós ou da impressão que dese-
jamos passar a ele, o desvio das normas do padrão culto pode frustrar a finali-
dade da comunicação. Em certas situações formais de interação verbal – por
exemplo, numa entrevista para se conseguir um emprego, no preenchimento
de uma ficha, numa carta ou num artigo enviados a um jornal, numa palestra
etc. –, o desvio reiterado das regras de concordância pode causar a impressão
de baixo nível cultural, pouca leitura, desleixo em relação à língua e até ser fon-
te de preconceito.
Enfim, conhecer as regras de concordância do padrão culto serve, entre ou-
tros fins, como meio de adequação e interação social.
Podemos definir concordância como um mecanismo pelo qual certas pala-
vras da frase alteram suas terminações para se ajustar a outras palavras. Desse
modo, a concordância fornece pistas importantes para indicar a correlação en-
tre as palavras da frase. Se um adjetivo está associado a um substantivo femini-
no singular, este também deve estar na forma feminina singular. Ele tem em
relação a nós ou da impressão que desejamos passar a ele, o desvio das normas
do padrão culto pode frustrar a finalidade da comunicação.
Em certas situações formais de interação verbal – por exemplo, numa en-
trevista para se conseguir um emprego, no preenchimento de uma ficha, numa
carta ou num artigo enviados a um jornal, numa palestra etc.

3.1.1  Regra específica

A concordância nominal é um fenômeno que ocorre, em gênero (masculino ou


feminino) e número (singular ou plural), entre o substantivo e os seus determi-
nantes (artigo, adjetivo, pronome adjetivo, numeral adjetivo e particípio).

capítulo 3 • 59
Observe este exemplo:

O alto ipê cobre-se de flores amarelas.

O artigo definido o e o adjetivo alto concordam em gênero (masculino) e nú-


mero (singular) com o substantivo ipê; o adjetivo amarelas concorda em gênero
(feminino) e número (plural) com o substantivo flores. Esta é a chamada regra
específica de concordância nominal, isto é, a mais usada por nós no dia a dia.

3.1.2  Casos principais

3.1.2.1  Adjetivo posposto

Ganhei sapato e camisa preta/pretos.


Tinha as espáduas e o colo feitos de encomenda para os vestidos decotados.
(Machado de Assis)
Na função de adjunto adnominal, modificando dois ou mais substantivos,
o adjetivo posposto pode concordar com o substantivo mais próximo (concor-
dância atrativa) ou pode concordar com a totalidade dos substantivos (concor-
dância lógica ou gramatical).

3.1.2.2  Adjetivo anteposto

Escolheste ótima ocasião e lugar.


... acerca do possível ladrão ou ladrões. (Antônio Callado)
Na função de adjunto adnominal, o adjetivo anteposto a dois ou mais subs-
tantivos, far-se-á a concordância com o mais próximo.

3.1.2.3  Adjetivos compostos

Estudamos as literaturas hispano-americanas.


Foram reuniões sino-luso-germânicas.
Nos adjetivos compostos, só há variação do último elemento, que deve con-
cordar em gênero e número com o substantivo.

60 • capítulo 3
3.1.2.4  Adjetivo composto indicativo de cor

Vestidos azul-piscina
Se o adjetivo composto indicar alguma cor, não variará, desde que qualquer
um de seus elementos seja um substantivo.

ATENÇÃO
Azul-marinho, azul-celeste e furta-cor não variam: ternos azul-marinho, gravatas azul-
celeste, meias furta-cor.

Cuidado: Tons pastel


Se a cor for indicada apenas pelo substantivo, este não sofrerá variação.

ATENÇÃO
Os adjetivos regidos de preposição de, que se referem a pronomes neutros indefinidos (nada,
muito, algo, tanto, que etc.), normalmente ficam no masculino singular: Sua vida nada tem de
misterioso.Seus olhos têm algo de sedutor. Todavia, por atração, podem esses adjetivos
concordar com o substantivo (ou pronome) sujeito: Os edifícios da cidade nada têm de ele-
gantes. (Mário Barreto)

3.1.2.5  Dois ou mais adjetivos referentes a um substantivo

Estudo a literatura brasileira e a portuguesa.


Estudo a literatura brasileira e portuguesa.
Dois ou mais adjetivos referentes a um substantivo determinado por artigo
admitem as três concordâncias, observando-se que o substantivo fica no singu-
lar, nos dois últimos exemplos.

3.1.2.6  Verbo ser + predicativo

É necessário paciência com os alunos.


Maçã é ótimo para os dentes.

capítulo 3 • 61
Tanto o verbo ser como o adjetivo ficam invariáveis nessas expressões se o
substantivo não vier antecipado de determinante (artigo ou pronome).
Havendo determinação do substantivo, o adjetivo com ele concordará:
A entrada é proibida.
Pimenta é bom para tempero, mas esta pimenta não é boa.

3.1.2.7  Obrigado, Anexo, Incluso, Mesmo, Próprio, Leso

Seguem anexas as fotografias.


Elas mesmas fizeram o relatório.
Já está inclusa nas despesas a taxa do lixo.
Ajudar esses espiões seria crime de lesa-pátria.
As palavras adjetivas obrigado, anexo, incluso, mesmo, próprio, leso, ne-
nhum concordam em gênero e número com a palavra a que se referem.
No Brasil, é uma questão de cortesia responder “muito obrigado” a alguém
que tenha feito um favor, uma amabilidade. Entre as diversas acepções, obriga-
do quer dizer “agradecido, grato, reconhecido”. Sendo um adjetivo biforme, ele
possui as flexões de gênero e de número: em qualquer situação, o homem diz
sempre “obrigado”, e a mulher, “obrigada”. Exemplificando: Joana saiu e nem
disse obrigada; as irmãs, sim, disseram muito obrigadas.
Ultimamente, depois de um agradecimento, temos ouvido algumas pessoas
responderem “obrigado eu”. Após um “muito obrigado”, coloquialmente res-
ponde-se: “por nada” ou “não há de quê”, mas nunca “obrigado eu”, uma vez
que este não está agradecido, mas recebendo o agradecimento.

3.1.2.8  Só, Quite, Bastante

As palavras adjetivas só, quite, bastante concordam em número com a palavra


a que se referem.
Os jovens estavam quites com a justiça eleitoral.
Bastantes pessoas compareceram à reunião.
“Tenho bastante dúvidas de português” ou “Tenho bastantes dúvidas de
português”? Apesar de ser bem pouco usada na linguagem cotidiana, a segun-
da opção é a correta, uma vez que bastantes é pronome indefinido adjetivo e
concorda em número com o substantivo dúvidas (= muitas dúvidas). O mesmo

62 • capítulo 3
pronome pluralizado pode aparecer posposto ao substantivo: “O delegado já
possui provas bastantes para incriminar o réu” (= muitas provas).
Já o termo bastante (invariável) é classificado como advérbio de intensidade
(modificador de verbo, adjetivo ou outro advérbio): “Viajei bastante nas férias
de julho”; “Aquela garota é bastante inteligente”. Precedido de artigo, passa a
funcionar como substantivo: “Ainda não descansei o bastante hoje”.
Já vi bastantes novidades, mas essa eu não sabia. Bastante pode ser substi-
tuído por muito em qualquer circunstância. Observe que muito, quando prono-
me indefinido adjetivo, varia normalmente, mas quando advérbio de intensi-
dade não: muitas novidades, estudamos muito, pessoas muito divertidas.

ATENÇÃO
Nota – Alerta e menos são palavras invariáveis: Fiquem alerta. Faça menos força.O prefixo
pseudo- também é invariável: pseudo-amigos.

3.1.2.9  Meio

A garota ficou meio apreensiva. (meio = um pouco: advérbio de intensidade)


Encontrei um meio de guardar isso. (meio = substantivo)
A concordância com a palavra meio depende do contexto, conforme exem-
plos acima. Observe que o advérbio meio é sempre invariável.

ADJETIVO OU NUMERAL E ADVÉRBIO


PRONOME ADJETIVO

Tomou meio litro de vinho. Ela é meio louca.

Tomou meia garrafa de cerveja. A porta estava meio aberta.

É meio dia e meia (hora). Ela anda meio aborrecida.

capítulo 3 • 63
ADJETIVO OU NUMERAL E ADVÉRBIO
PRONOME ADJETIVO

Muitos alunos compareceram à formatura. Os alunos estudaram muito.

Poucas pessoas assistiram ao jogo. Elas gastaram pouco.

Os sapatos eram caros. Aqueles sapatos custaram caro.

A mercadoria é barata. Aquelas mercadorias custaram barato.

Andei longes caminhos e longes terras. Alguns alunos moram longe.

O termo meio pode ser substantivo (o meio, os meios), numeral adjetivo e


advérbio. Estas duas últimas funções geralmente confundem os estudantes.
Como numeral fracionário adjetivo (= metade) modifica um substantivo, é
variável, flexionando-se em gênero e número: meio quilo, meia colher, meios
tons, meias verdades. Na identificação de horas, usamos meio-dia e meia
(= meia hora).
Meio é invariável quando funciona como advérbio de intensidade, modifi-
cando um adjetivo. É nesse ponto que muitos se enganam, dizendo, por exem-
plo, que “a mulher estava meia aborrecida”, quando o correto é meio aborrecida.
Devemos dizer também “A porta do carro se encontra meio aberta.”, “A mãe fi-
cou meio preocupada.”. Na língua atual, portanto, meio, advérbio, deve manter-
se invariável.

3.1.2.10  Particípios de orações reduzidas

Dados os últimos retoques, fomos descansar.


Passadas duas semanas, procurei o devedor.
Foi inaugurada uma escola no bairro.
Os particípios de orações reduzidas concordam normalmente com o sujei-
to. Na voz passiva, também o particípio varia normalmente.

64 • capítulo 3
CONEXÃO
Você poderá conhecer um pouco mais sobre a concordância, com exemplos diferentes,
lendo o artigo Concordância nominal, no link: <http://www.infoescola.com/portugues/
concordancia-nominal/>.

3.1.3  Casos específicos

3.1.3.1  Possível

Quero um carro o mais barato possível.


Dirigiu-lhe os maiores elogios possíveis.
...e o resultado obtido foi uma apresentação com movimentos os mais es-
pontâneos possíveis. (Ronaldo Miranda)
A palavra possível, quando acompanha expressões superlativas tais como
o mais, a menos, o melhor, a pior, os maiores, as menores, varia conforme o
artigo que integra essas expressões.

3.1.3.2  Concordância Ideológica

A dinâmica e populosa São Paulo ainda sofre com as enchentes.


Vossa Excelência ficou preocupado?
Vossas Excelências, senhores Ministros, são merecedores de nos-
sa confiança.
Muitas vezes, a concordância não é feita com a forma gramatical das pala-
vras, mas com a ideia ou o sentido que está subentendido nelas. A esse tipo de
concordância dá-se o nome de concordância ideológica ou silepse (subenten-
de-se “a cidade” de São Paulo).

CONCEITO
O que é silepse? Trata-se de uma figura de linguagem que utiliza a concordância com a ideia
expressa pela palavra da frase, com o sentido subentendido. Quando se afirma: “A Marquês
de Sapucaí ficou lotada.”, percebe-se o gênero feminino no artigo e o gênero masculino no
nome, ocorrendo concordância ideológica com Avenida, daí a silepse de gênero.

capítulo 3 • 65
3.2  Concordância Verbal
3.2.1  Casos gerais

3.2.1.1  Sujeito simples

Ocorrem conflitos burocráticos.


Nesta oração, percebe-se que o sujeito é simples (conflitos burocráticos),
por isso o verbo concorda com ele em número (plural) e pessoa (terceira).
O mesmo ocorre em:
Existem pessoas felizes.
Acontecem tantas desgraças neste planeta!
O bom humor é a saúde da alma, a tristeza é o seu veneno. (Philip Stanhope)

EXEMPLO
Quando faltar cinco minutos para o término da aula, será posto na lousa as datas e locais
dos exames.
A gramática normativa da língua portuguesa traz como regra geral a concordância do
verbo com o sujeito em número e pessoa. Se a expressão “cinco minutos” está no plural
(representando o sujeito posposto), o verbo também deve concordar com a terceira pessoa
do plural: “Quando faltarem cinco minutos...”. Na segunda oração, o sujeito é composto e está
posposto ao verbo; como o núcleo mais próximo (“datas”) está no plural, o verbo também
deveria estar no plural “serão”; o adjetivo “posto”, na função de predicativo do sujeito, pode
concordar com o núcleo mais próximo, “datas”, que é feminino plural, ou ir para o masculino
plural, concordando com os dois núcleos: “serão postas/postos na lousa as datas e os locais
dos exames”.
“Choveram garrafas na cabeça do árbitro, aliás, estavam chovendo até pilhas de rádio.”
Neste período, o verbo chover está empregado em sentido figurado (= cair em abundância),
por isso, na primeira oração, a forma verbal concorda no plural com o sujeito “garrafas” e, no
segundo, também no plural com o sujeito “pilhas de rádio”. Haja chuva!

66 • capítulo 3
3.2.1.2  Pronome apassivador Se

Consertam-se sapatos.
Devem-se propor novas soluções.
Janeiro é o mês em que se fazem bons votos aos amigos; os outros são os
meses em que esses votos não se concretizam. (George Christoph Lichtenberg)
Quando o verbo vier acompanhado pelo pronome apassivador se, o verbo
concordará normalmente com o sujeito expresso na oração.

3.2.1.3  Pronomes de tratamento

Vossas Excelências pediram calma.


Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os
vassalos. (Rebelo da Silva)
Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o verbo fica sempre na ter-
ceira pessoa (singular ou plural).

3.2.1.4  Sujeito composto anteposto ao verbo

Muitas descobertas e invenções aconteceram por acaso.


Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene.
(Machado de Assis)
Se o sujeito composto vier anteposto ao verbo, este concordará no plural.

ATENÇÃO
NOTA: Sujeitos ligados por não só...mas também, tanto...como ou equivalentes = verbo no
plural. Ex.: Não só a mãe, mas também a filha precisam de ajuda.

3.2.1.5  Sujeitos unidos pela preposição COM

O prefeito com o vereador assinaram o convênio.


Ele com mais dois acercaram-se da porta. (Camilo Castelo Branco)

capítulo 3 • 67
Usa-se mais frequentemente o verbo no plural quando se atribui a mesma
importância, no processo verbal, aos elementos do sujeito unidos pela preposi-
ção com.

OBSERVAÇÃO
Se o segundo elemento vier separado por vírgulas, deixa de ser sujeito composto e passa
a funcionar como adjunto adverbial de companhia: A mãe, com as filhas, esteve no médico.

3.2.1.6  Sujeito composto anteposto ao verbo

Sobe/Sobem hoje a gasolina e o álcool.


Não fossem o rádio de pilha e as revistas, que seria de Elisa? (Jorge Amado)
Se o sujeito composto vier posposto ao verbo, este concordará com o ele-
mento mais próximo ou irá para o plural.

3.2.1.7  Sujeito composto formado por pessoas gramativais diferentes

Ela e eu chorávamos muito; tu e ele ríeis à beça.


Ele e a irmã trarão os documentos.

Com sujeito composto formado por pessoas gramaticais diferentes, o verbo


concorda com a pessoa que tem primazia (a primeira tem primazia sobre as
demais, e a segunda prevalece sobre a terceira).

3.2.1.8  Sujeito composto unido pela conjunção OU

O ladrão ou os ladrões saíram pela porta dos fundos. (= retificação)


A coragem ou o destemor fez dele um herói. (= sinonímia)
O amor ou o ódio exagerados não levam a boa coisa. (= antonímia)

Se aparecer a conjunção ou entre os sujeitos, o verbo fica no singular se hou-


ver ideia de exclusão ou sinonímia; a antonímia exige o verbo no plural e, no
caso de retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo.

68 • capítulo 3
3.2.1.9  Sujeito composto sucedido de aposto resumidor

O burro, o asno e o preguiçoso, sem pancadas, nenhum se mexe.


O entusiasmo, alguns goles de vinho, o gênio imperioso, estouvado, tudo
isso me levou a fazer uma coisa única. (Machado de Assis)

Quando o sujeito composto vier resumido por palavras como tudo, nada,
ninguém, nenhum, o verbo concordará obrigatoriamente com o apos-
to resumidor.

CONEXÃO
Há vários artigos que tratam da concordância verbal. Em Sintaxe – Concordância verbal,
você encontra todos os casos já estudados, com novos exemplos. O artigo está disponível no
link: <http://www.portugues.com.br/sintaxe/concorverbal.asp>.

3.2.1.10  O pronome SE como índice de indeterminação do sujeito

Vive-se bem no interior. (verbo intransitivo)


Era-se feliz antigamente. (verbo de ligação)

Acompanhado pelo índice de indeterminação do sujeito se, o verbo fica-


rá obrigatoriamente na 3ª pessoa do singular. Nesse caso, o sujeito será sem-
pre indeterminado.
A indeterminação do sujeito normalmente ocorre com o verbo na ter-
ceira pessoa do plural, isto é, não podemos determinar o sujeito da oração:
“Roubaram o meu lanche”. Sei que alguém roubou, mas não posso determinar
quem foi. A mesma indeterminação do sujeito pode ocorrer com três tipos de
verbo: a) transitivo indireto: “Precisa-se de funcionários.” (Alguém precisa...)
ou “Assiste-se a bons filmes” (Alguém assiste...); b) intransitivo: “Vive-se bem
no interior de São Paulo.” (Alguém vive...) ou “Come-se muito naquele restau-
rante.” (Alguém come...); c) de ligação: “Era-se feliz antigamente.” (Alguém era
feliz.) ou “É fácil ser admirado quando se permanece inacessível.” (Alguém per-
manece inacessível.). Nos três casos, usou-se o pronome se denominado índice
de indeterminação do sujeito.

capítulo 3 • 69
ATENÇÃO
Não se deve confundir o pronome índice com a partícula de realce, quando aparecem
com verbo intransitivo. No primeiro verso do soneto As pombas, o poeta Raimundo Correia
escreveu: “Vai-se a primeira pomba despertada”, empregando a partícula de realce se; com
esse emprego, ele evitou a junção “vaia” e obteve um verso decassílabo, preocupação maior
dos parnasianos.

3.2.1.11  Verbo Haver e Fazer

Deve haver questões fáceis no exame.


Fazia dez anos que ele não vinha a São Paulo.
Vai fazer cinco meses que ele viajou ao Japão.
Hoje é dia 12 de março.

O verbo haver (no sentido de existir, ocorrer ou indicando tempo), o verbo


fazer (indicando tempo) e o verbo ser (indicando tempo, data, distância) são
impessoais. Devem, portanto, ficar na 3ª pessoa do singular. São todos exem-
plos de oração sem sujeito.

EXEMPLO
Estas frases também foram questionadas no vestibular da Fuvest.
a) Ainda que decorridos tantos anos, não deverão haver dificuldades para a abordagem dos
documentos no Ministério do Trabalho.
b) Já fazem duas semanas que eu e mais cinco alunos do 4º ano estão prestando ajuda
aos funcionários da secretaria.
c) Temos certeza de que V. Exª atendereis o pedido que foi feito pelos governadores do
Nordeste.
A gramática normativa preceitua que os verbos impessoais (haver, fazer, ser etc.) são
conjugados na terceira pessoa do singular. Conjugados com verbos auxiliares, a impessoa-
lidade passa para o verbo auxiliar. Se escrevemos “há provas”, então “pode haver provas”.
Em “A”, significando “existir”, “ocorrer”, ficaria: “... não deverá haver dificuldades...”. Em “B”,
o verbo fazer (indicando tempo) também é impessoal: “Já faz duas semanas...”. Ainda há o

70 • capítulo 3
caso de sujeito composto formado por pessoas gramaticais diferentes (eu e cinco alunos),
ocorrendo a predominância da primeira pessoa (eu); o verbo deverá concordar, portanto, na
primeira pessoa do plural: “...que eu e mais cinco alunos do 4º ano estamos prestando
ajuda...”. Em “C”, quando o sujeito é representado por um pronome de tratamento, o verbo
concorda sempre na terceira pessoa: “Temos certeza de que V. Exª atenderá ao pedi-
do...”, uma vez que o verbo “atender” é transitivo indireto e rege preposição a.

CURIOSIDADE
Observe que, quando um verbo auxiliar (dever, ir, poder) se junta a um verbo impessoal, ele
também fica no singular. Ex. – Pode haver novas eleições.

3.2.1.12  Sujeito coletivo

O exército dos aliados desembarcou no sul da Itália.


...o bando dos guerreiros tabajara que fugia em nuvem negra de pó. (José
de Alencar)

O verbo concorda no singular com o sujeito coletivo no singular.


Observação:
O pessoal de casa estava inquieto desde a mudança de governo; pensavam
mudar-se para o exterior.
O sujeito coletivo no singular traz o verbo no singular. Com o verbo distan-
te, porém, pode-se concordar com a ideia plural contida no coletivo (silepse
de número).
Observe este exemplo do poeta Murilo Mendes:
A multidão foi subindo, subindo,
Subiram mais.

COMENTÁRIO
Lembram-se da silepse de gênero? Agora, temos um exemplo da silepse de número. É a
mesma figura de linguagem que utiliza a concordância. Quando o poeta emprega o sujeito

capítulo 3 • 71
coletivo A multidão, faz-se a concordância imediata no singular, mas o verbo subiram (dis-
tante do sujeito) concorda com a ideia expressa por multidão, com o sentido subentendido
(várias pessoas), daí a silepse de número.

3.2.2  Casos especiais

3.2.2.1  Verbos bater, dar, soar

O sino da igreja bateu quatro horas.


Bateram quatro horas no sino da igreja.
Deu duas horas o relógio da sala.
Soaram cinco badaladas no sino da matriz.

Na indicação do número de horas, os verbos bater, dar, soar concordam


normalmente com o seu sujeito.

3.2.2.2  Sujeito coletivo

A multid
 ão aplaudiu com entusiasmo os jogadores
 
sujeito verbo

Um bloco de foliões animava o centro da cidade.


Quando o sujeito é coletivo, o verbo fica no singular.
Se o coletivo vier especificado, o verbo pode ficar no singular ou ir para
o plural.
Ex.:

A multidão de fan ti cos torcedores aplau


udiu / aplaudiram os jogadores
   
sujeito verbo

Isso se aplica igualmente aos coletivos partitivos:


Ex.:

A maioria dos pássaros pousou / pousaram nas árvores


 
sujeito verbo

72 • capítulo 3
3.2.2.3  Verbo viver

Viva a noiva! Vivam os noivos!


Vivamos nós! Vivam todos!

O verbo viver, nas orações optativas, deve concordar normalmente com o


sujeito, que nesse caso aparece posposto.

COMENTÁRIO
A concordância – verbal ou nominal – está ligada aos princípios lógicos que regem a língua
e o pensamento humano. Concordar adequadamente o sujeito com o verbo ou o adjetivo
com o nome pode tornar o texto mais preciso, sem ambiguidades, mas o principal valor da
concordância é social.
Socialmente, existe uma norma de prestígio, que é a norma culta. Em determinadas si-
tuações formais – como falar em público, dar entrevistas para conseguir emprego, falar com
autoridades etc. –, devemos observar essa norma, senão corremos o risco de sermos julga-
dos de forma preconceituosa e de não alcançarmos os nossos objetivos.
E, na norma de prestígio, um dos princípios linguísticos mais notados e exigidos social-
mente é o da concordância.

3.2.2.4  Nomes usados no plural

O Amazonas deságua no oceano Atlântico.


Minas Gerais é um estado brasileiro.
Os Estados Unidos enviaram poderoso reforço.
Os Lusíadas foram escritos por Camões.

Quando o sujeito é um nome que só se usa no plural, há duas possibilidades


de concordância: se o nome vier precedido de determinante, no plural, o verbo
concorda no plural; caso contrário, o verbo fica no singular.

capítulo 3 • 73
COMENTÁRIO
Um articulista escreveu num jornal: “Para Heráclito e seus discípulos, as palavras são ima-
gens, não dessas imagens comerciais grosseiras que reproduzem os objetos, mas imagens
virtuais perfeitas, como as que se vê na água ou no espelho”. Se as imagens são vistas, o
verbo “ver” deve concordar com o sujeito “as imagens/as”, ficando, então, “...como as que se
veem na água ou no espelho”.

3.2.2.5  Sujeito oracional

Ainda falta
 resolver vários exercícios.
verbo
  
sujeito oracional

Estas são realidades que não adianta esconder.


Quando o sujeito é uma oração subordinada, o verbo deve ficar na 3ª pessoa
do singular.

3.2.2.6  Números percentuais e fracionários

Tr int a por cento da cidade estão inundados.



sujeito

Os números percentuais e fracionários exigem a concordância normal.


Os percentuais também admitem a concordância irregular ou figurada, isto
é, a concordância com o nome que se lhes segue. Os exemplos estão a seguir.

Trinta por cento da cidade está inundada.

Se o numeral percentual vem determinado por artigo ou por pronome adjeti-


vo, faz-se com eles a concordância. Ex.: – Os 30% da produção serão exportados.

3.2.2.7  Pronomes relativos que e quem

Hoje sou eu que pago.

74 • capítulo 3
Fomos nós que falamos.

Fui eu quem fez o desenho.

Quando o sujeito é o pronome relativo que, o verbo concorda com o antece-


dente do pronome relativo.
Quando o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo deve ficar na 3ª pessoa
do singular, concordando com ele.

ATENÇÃO
Todavia, a linguagem enfática justifica a concordância com o sujeito da oração principal:
Sou eu quem prendo aos céus a terra. (Gonçalves Dias)
Vós sois o algoz que recebeis o cutelo da mão providencial. (Camilo Castelo Branco)

3.2.2.8  Sujeito com dois pronomes

Quando o sujeito contiver as expressões ...de nós, ...de vós ou ...de vocês, deve-
se analisar o elemento que surgir antes dessas expressões:

3.2.2.8.1 
Se o elemento que surgir antes das expressões estiver no singular (qual, quem,
cada um, alguém, algum...), o verbo deverá ficar no singular.
Exs.:
Qual de vós trará o que pedi?
Cada um de vocês deve responsabilizar-se por seus atos.
Nenhuma de nós a conhece.

3.2.2.8.2 
Se o elemento que surgir antes das expressões estiver no plural (quais, alguns,
muitos...), o verbo tanto poderá ficar na 3ª pessoa do plural, quanto concordar
com o pronome nós ou vós.

capítulo 3 • 75
Exs.:
Alguns de nós irão/iremos ao estádio.
Quais de vós trouxeram/trouxestes a chave?
...quantos dentre vós estudam conscienciosamente o passado? (José
de Alencar)

3.2.2.9  Mais de, menos de, cerca de

Quando o sujeito for iniciado por uma dessas expressões, o verbo concordará
com o numeral que vier imediatamente à frente.
Ex.:
Mais de uma criança se machucou durante o intervalo.
Cerca de duzentas pessoas morreram no acidente aéreo.

ATENÇÃO
Quando mais de um estiver indicando reciprocidade ou com a expressão repetida, o verbo
ficará no plural.
Ex.: Mais de um parlamentar agrediram-se.
Mais de um dos circunstantes se entreolharam com espanto.

3.2.2.10  Haja vista

Com a expressão haja vista, há três construções possíveis:


Haja vista os problemas.
Haja vista aos problemas.
Hajam vista os problemas.

Observe que o substantivo vista fica sempre no feminino, como nas expres-
sões ponto de vista, tenham em vista.

3.2.2.11  Um dos que

A expressão um dos que exige, no português contemporâneo, o verbo obrigato-


riamente no plural. Ex.:

76 • capítulo 3
Fernando é um dos que mais reclamam, mas um dos que menos ajudam.
A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós. (Machado
de Assis)
Uma das maiores causas de desequilíbrio em nossa sociedade vem da luta
que os homens mantêm contra sua feminilidade, e das mulheres contra a sua
masculinidade. (Theodore Roszak)

Quando a expressão um dos que vem entremeada de substantivo, o ver-


bo pode:
a) ficar no singular obrigatoriamente. Ex.:
O Tietê é um dos rios paulistas que atravessa o Estado de São Paulo.

b) ir ao plural. Ex.:
O Tietê é um dos rios paulistas que estão poluídos.

3.2.2.12  Verbo parecer + infinitivo

Quando o verbo parecer surgir antes de outro verbo no infinitivo, há


duas ocorrências:
a) Pode ocorrer a formação de uma locução verbal. Nesse caso, o verbo
parecer concordará com o sujeito, e o verbo no infinitivo ficará invariável. Ex.:
As estrelas parecem brilhar.
Os alunos parecem estar preocupados.
Os moravos parece haverem tomado a sério, para regra da vida, a palavra
irônica do mártir. (Ramalho Ortigão)

b) parecer na oração principal, invariável, e o verbo no infinitivo, forman-


do oração subordinada substantiva reduzida de infinitivo, concordando com o
sujeito. Ex.:
As estrelas parece brilharem. (= Parece // que as estrelas brilham.)
Os alunos parece estarem preocupados. (= Parece // que os alunos es-
tão preocupados.)
Outros, de aparência acabadiça, parecia que não podiam com a enxada.
(José Américo)

capítulo 3 • 77
3.2.2.13  Verbo ser

Não é tarefa fácil sistematizar a concordância do verbo ser, uma vez que, nor-
malmente, ele aparece entre o sujeito e o predicativo, ora concordando com
este, ora com aquele.

3.2.2.13.1  A pessoa tem predominância sobre outro substantivo.


Exs.:
No circo, o palhaço é as delícias da garotada.
Fernando Pessoa foi vários poetas, é vários poetas.
Emília é os encantos de sua avó.

3.2.2.13.2  Plural tem predominância sobre o singular.


Exs.:
A cama são umas palhas. (Camilo Castelo Branco)
Duas garrafas de vinho são a parte que me cabe na aposta.
A maior parte eram famílias pobres.

3.2.2.13.3  Havendo pronome pessoal, o verbo ser concordará obrigatoria-


mente com ele.
Exs.:
O proprietário sou eu.
O professor aqui sou eu; o aluno és tu; as personagens somos nós.
O Brasil, senhores, sois vós. (Rui Barbosa)

3.2.2.13.4  O verbo ser ficará no singular quando o sujeito, no plural, for usa-
do sem determinantes (artigos, pronomes adjetivos, numerais) e o predicati-
vo se encontrar no singular.
Exs.:
Lágrimas é coisa que não o comove.
Greves é próprio de regime democrático.
Os bastidores é só o que me toca. (Correia Garção)

78 • capítulo 3
3.2.2.13.5  Quando o sujeito do verbo ser for o pronome indefinido tudo ou
os demonstrativos neutros isto, isso, aquilo, o, a concordância se fará, de pre-
ferência, com o predicativo.
Exs.:
Isto são sintomas menos graves.
Aquilo eram lembranças de um triste passado.
Observação – Neste caso, embora menos frequente, é admissível a concor-
dância com o sujeito. Ex.: Tudo é flores.

3.2.2.13.6  Fica no singular o verbo ser quando a ele se seguem termos como
suficiente, muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais, menos etc.
Exs.:
Seis dias de carnaval é muito, mas os cariocas acham que é pouco.
Dez anos é nada na eternidade.
Cinco quilos é suficiente.

CONEXÃO
Ainda sobre concordância verbal, temos um aglomerado de artigos bons, que tratam especi-
ficamente do assunto. Leia o artigo Português – Concordância verbal, disponível em: <http://
www.portugues.com.br/sintaxe/concorverbal.asp>.

ATIVIDADES
01. Leia esta anedota:
— Mamãe, até que idade sou obrigada a obedecer-te?
— Até teres o critério, a responsabilidade e a maturidade suficientes para te saberes
orientar sozinha na vida.
— Bolas! E essas coisas todas doem muito?
a) Justifique a concordância do adjetivo suficientes no segundo parágrafo.
b) Como ficará a construção se substituirmos esse adjetivo por necessário?

02. Complete adequadamente as lacunas com a palavra que está entre parênteses:
a) Já li o Velho e o Novo ____________. (Testamento)

capítulo 3 • 79
b) “Eis teu romance: ____________ enredo e personagens, mas estilo pobre e imaturo.”
(fantástico)
c) Precisa-se de rapaz e moça devidamente ______________. (habilitado)
d) O caipira e sua esposa ficaram ____________. (desconfiado)
e) Foram reuniões ____________. (entre Itália e Brasil)
f) Muito _______________ — disseram as mulheres afastando-se. (obrigado)
g) Os documentos ____________ devem ser guardados no arquivo 2, pois são sigilosos.
(anexo)
h) As fotocópias ___________________ devem ser juntadas ao processo. (apenso)

03. Leia o excerto abaixo e responda à questão:


[...] Um assessor da CPLP lembra que é preciso um processo de convergência para que a
grafia atual se unifique com a nova. “Não se pode esperar resultados imediatos”.
Folha de S.Paulo, 20/8/2007.

Você acha correta a concordância verbal utilizada pelo assessor? Explique por quê.

04. Leia o texto publicado na Revista Gestão Universitária, edição 162, e responda ao que
se pede:
As avaliações em muitas escolas seguem sendo feitas com instrumentos tradicionais, ou
seja, se usa as avaliações tradicionais como instrumento exclusivo para recolher dados sobre
o andamento do processo.
a) Transcreva o trecho em que aparece uma incorreção de concordância verbal.
b) Proceda à correção do trecho e justifique sua resposta.

05. Complete com a forma correta e justifique.


Seus métodos são eficientes, ________ os resultados alcançados. (haja vista/haja visto)
Quais de vós ________ à escola? (ireis/irão)
Uma porção de sabiás ________ na laranjeira. (cantava/ cantavam)
Sou eu que ________ morrer ouvindo o canto do sabiá. (quero/quer)
Eu, tu e nossos amigos ________ no mesmo avião. (iremos/irão)
________ sete e meia da noite, quando avistamos as Luzes de Benfica. (F. Sabino)
(Eram/Era)
Fomos nós quem ________ pela operação de resgate. (se responsabilizou/
nos responsabilizamos)

80 • capítulo 3
REFLEXÃO
Ao estudarmos alguns aspectos da concordância nominal, percebemos o quanto é impor-
tante dominar esse assunto para garantir um texto correto, coeso e coerente. Sempre que
você for falar ou escrever, procure empregar esses casos de concordância, pois, às vezes,
as pessoas não têm essa preocupação, deixando o ouvinte/leitor perplexo com as relações
estabelecidas pelo autor do texto.
Neste capítulo, vimos como é importante, inicialmente, reconhecer o sujeito da oração –
simples, composto, indeterminado e oração sem sujeito –, para depois pensarmos na concor-
dância a ser feita com o verbo. É fundamental também verificar, no caso de sujeito composto,
se vem anteposto ao verbo ou posposto ao verbo.
Assim, quero propor uma breve reflexão para você fazer depois de tudo que vimos neste
capítulo: até que ponto sua percepção da linguagem e da língua portuguesa foi mudada
depois do conteúdo que você estudou aqui?

LEITURA
REICHLER, Claudia. Posição do adjetivo e concordância nominal no sintagma nominal em
Português. Disponível em: <http://falares-deportugal.blogspot.com/2005/12/posio-do-adjetivo-e-
concordncia.html>.
BECHARA, Evanildo. Deixe sua língua em paz. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/
textos.asp?codigo=11326>.
POSSENTI, Sírio. Casos especiais de concordância. Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.
br/textos.asp?codigo=11326>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CEREJA, W. R.; & MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo:
Atual, 1999.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
_________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.
WAGNER. L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São
Paulo: All Print, 2008.

capítulo 3 • 81
82 • capítulo 3
4
Regência Nominal
e Verbal
A regência é a parte da Gramática Normativa que trata das relações entre os
termos de uma oração, verificando se um termo exige ou não complemento,
isto é, se o verbo for intransitivo, não há necessidade de complemento, mas
se for transitivo exige um complemento sem ou com preposição, dependendo
do contexto.
Na verdade, regência verbal é um dos assuntos que as pessoas têm mais di-
ficuldade em aprender, porém não é impossível de ser assimilado e compreen-
dido. Torna-se difícil, uma vez que aborda vários conhecimentos, desde mor-
fologia (verbos, preposições, crase), sintaxe (classificação dos verbos quanto à
transitividade) e semântica (significação dos verbos). No entanto, você apren-
derá com facilidade o emprego dos principais verbos que utilizamos em nosso
cotidiano. Basta, para isso, atentar para o sentido do verbo nos diversos contex-
tos, uma vez que ele muda de significado e também altera a sua regência.

OBJETIVOS
Neste capítulo, você será capaz de:
•  reconhecer a importância da regência verbal em língua portuguesa;
•  compreender o emprego de dois verbos com regências diferentes;
•  empregar corretamente a regência verbal na produção de textos.

84 • capítulo 4
4.1  Regência
Regência é a parte da gramática normativa que trata das relações entre os
termos de uma oração, verificando se um termo exige ou não complemento.
Observe:
I. Nós pedimos sorvete de chocolate.
II. Nós gostamos de sorvete de chocolate.

No exemplo I, notamos que o verbo pedir exige um complemento sem pre-


posição; já no exemplo II verificamos que o verbo gostar exige a preposição de
antes do complemento.
Quando o termo regente é um nome (substantivo, adjetivo), dizemos que se
trata de regência nominal.
Ex.:

Aqueles crianças necessitavam


  de carinho .

regente regido

Quando o termo regente é um verbo, dizemos que se trata de regência ver-


bal. Ex.:

Aqueles jovens estavam aptos


 ao trabalho .

 
regente regido

Sempre que usarmos regência verbal, devemos nos preocupar com a orali-
dade, uma vez que as pessoas aprendem a norma culta da língua e continuam
empregando a norma coloquial. Exemplificando, os alunos aprendem que o
verbo chegar exige a preposição a (chegar à escola, chegar a casa), mas, no dia a
dia, eles dizem normalmente chegar na escola, chegar em casa, exemplos ple-
nos de coloquialidade, uma vez que esse verbo não rege a preposição em.

Quando empregamos regência verbal, devemos observar dois fatores:


1. o sentido do verbo;
2. a transitividade do verbo.

Há verbos que possuem mais de um sentido, portanto admitem mais de


uma regência.

capítulo 4 • 85
Compare estas frases:

Eu quero um celular novo .


   
VTD OD
Eu quero a meus pais e irmãos .
   
VTD OI

Na primeira frase, o verbo querer foi empregado com o sentido de desejar


e, nesse caso, é transitivo direto. Já na segunda frase significa estimar, querer
bem e, com esse sentido, é transitivo indireto, pois exige a preposição a.
Seja devido à informalidade da língua falada, que apresenta muitas cons-
truções linguísticas em desacordo com o padrão culto da língua, seja porque
muitos verbos apresentam mais de um significado e, consequentemente,
mais de uma regência, alguns verbos oferecem dificuldades para identificar-
mos sua regência. Entretanto, sempre que tiver dúvida nesse assunto, consulte
o dicionário.

CONEXÃO
Toda vez que empregamos a regência nominal e a verbal, usamos determinadas preposições.
Você pode aprender o emprego de algumas preposições lendo o artigo A regência e o uso
de preposições, disponível no link: <http://www.mundovestibular.com.br>.

Como a predicação verbal já foi estudada em outro módulo, vale, aqui, re-
lembrarmos a classificação dos verbos, pois precisaremos a todo momento
desse assunto.
a) Verbo intransitivo – não exige complemento, possui sentido completo.
Exs.:
Chegamos finalmente a Salvador.
Todos subiram à escadaria da Penha.

b) Verbo transitivo direto – exige complemento verbal sem preposição.


Exs.:
Meu irmão ama a namorada.
Nós já pagamos nossas dívidas.

86 • capítulo 4
c) Verbo transitivo indireto – exige complemento verbal com preposição.
Exs.:
Os alunos já assistiram a esse filme.
Eles não obedecem ao regulamento.

d) Verbo transitivo direto e indireto – exige complemento verbal (objeto


direto) sem preposição e outro com preposição (objeto indireto). Exs.:
Avisei-o do acidente.
Os negros preferiam a morte à escravidão.

Estudaremos, a seguir, alguns verbos cuja regência costuma susci-


tar dúvidas.

4.2  Agradar
4.2.1  VTD = contentar, fazer carinhos, acariciar

Exs.:
A mãe agrada os filhos.
Ele agradou o chefe com presentes.
Quando cresci e tentei agradá-la, recebeu-me suspeitosa e hostil.
(Graciliano Ramos)

4.2.2  VTI ( preposição a) = satisfazer

Exs.:
O espetáculo não agradou ao público.
A peça agradou inteiramente à plateia.
Vicente desviou o assunto, que não lhe agradava. (Raquel de Queirós)

Observação: O verbo desagradar é sempre transitivo indireto: desagradar


ao povo.

capítulo 4 • 87
4.3  Aspirar
4.3.1  VTD = respirar, sorver

Exs.:
Nós aspiramos o perfume das flores. (Nós o aspiramos.)
As crianças aspiram o ar do campo. (As crianças o aspiram.)
Há máquinas que aspiram o pó do assoalho. (J. Mesquita de Carvalho)

4.3.2  VTI (preposição a) = almejar, pretender

Exs.:
Nunca aspirei a nenhum cargo público. (Nunca aspirei a ele.)
— Você já aspirou a esse emprego?
— Não, nunca aspirei a ele.
Dizia que era a maior dignidade a que podia aspirar. (Machado de Assis)

ATENÇÃO
O verbo aspirar não aceita lhe, lhes como complemento, mas apenas a ele, a ela, a eles, a
elas. Ex. – O cargo está vago. Muitos aspiram a ele.

4.4  Assistir
4.4.1  VTD ou VTI (preposição a) = ajudar, prestar assistência

Exs.:
O jovem assistiu o/ao pai no mercado.
A enfermeira assistiu os/aos pacientes.
E felizes foram, retorquiu-lhe o castelhano, porque tiveram V. Revma. Para
assisti-los nos seus últimos momentos. (Alphonsus de Guimaraens)
Observação – Nesta acepção, o verbo pode ser usado na voz passiva: “O
doente é assistido pelo médico.”; “Os missionários são assistidos por Deus.”

88 • capítulo 4
4.4.2  VTI (preposição a) = ver, presenciar

Exs.:
Não assisto a esse programa de televisão.
— Vocês já assistiram à novela das 9 horas?
— Sim, já assistimos a ela.
Não é propósito nosso descrevermos uma corrida de touros. Todos têm
assistido a elas... (Rebelo da Silva)
Nesta acepção, o verbo assistir não aceita lhe, lhes como complemento, mas
apenas a ele, a ela, a eles, a elas. Ex. – As cenas foram fortes, por isso não quero
voltar a assistir a elas.

EXEMPLO
Parece até que se pretende perpetuar este estado de coisa e definitivamente continuarmos na
“rabeira” do mundo, assistindo o sucesso dos outros, como meninos assistindo o desfile dos
“bons”. Será que é isto que nosso povo merece?
Jornal de Brasília, 5/11/2007 – Brasília DF

Observe como o Jornal de Brasília publicou esse texto, empregando duas vezes a forma
verbal assistindo. Você concorda com essa regência verbal? Justifique por quê.

4.4.3  VTI (preposição a) = caber

Exs.:
Esse é um direito que assiste ao povo.
Esse é um direito que lhe assiste.
Evidentemente não lhe assistia razão para reclamar.

4.4.4  V Intransitivo (preposição em) = residir, morar

Exs.:
Nós assistimos no interior de São Paulo.
Sou obrigado por esta desgraçada posição de deputado a assistir mais al-
gum tempo na capital. (Camilo Castelo Branco)
Ele sempre assistiu em São Luís.

capítulo 4 • 89
PERGUNTA
Agora, responda à questão: Um comentarista esportivo, irritado com a atuação do bandeiri-
nha durante uma partida de futebol, protestou assim:
O bandeirinha é pago para assistir o juiz e não ao jogo.
O que significa o protesto desse comentarista?

4.5  Chamar
4.5.1  VTD (mandar vir)

Exs.:
A família chamou o médico.
Ninguém o chamou aqui, moço.

4.5.2  VTD ou VTI (apelidar, cognominar)

Com este sentido, o verbo chamar exige indiferentemente complemento


com ou sem preposição a e predicativo com ou sem preposição de. Daí admitir
quatro construções diferentes.
Exs.:
Chamei-o tolo. Chamaram-no charlatão.
Chamei-o de tolo. Chamaram-lhe charlatão.
Chamei-lhe tolo. Chamaram-no de charlatão.
Chamei-lhe de tolo. Chamaram-lhe de charlatão.

4.6  Verbos de movimento: chegar, ir, voltar,


retornar, subir... – intransitivos – (preposição a)

Exs.:
Eles chegaram a casa de madrugada.
Os alunos foram ao cinema?

90 • capítulo 4
Nem todos voltaram à escola.
Os migrantes retornaram a suas casas.
No pomar, sempre subíamos às árvores.

Leia o texto publicado na revista Língua Portuguesa (2005, nº 2, p. 42): “A


travessia de quem quer ‘chegar a’”:
“Ao chegar numa cidade...”, publicou a revista. O verbo chegar, como outros
indicativos de movimento, exigem a preposição a: ir, vir, sair, levar, descer, vol-
tar. Assim também os substantivos correspondentes: ida a, vinda a, chamada a
etc.
Chegou à cidade, ao porto, à assembleia, à reunião.
Chegar “em”, só em relação a tempo.
Chegará em três dias.
É o que prescreve a gramática normativa, atropelada na fala sem cerimônia.
[...]

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Vamos reconhecer e analisar as incorreções deste período?
Fomos eu e Vanderleia tomar um chopes na Mooca; depois, fomos ter no Largo Pais-
sandu cujo cinema assisti o filme Lágrimas de amor. É muito comum ouvirmos esse tipo de
concordância: “um chopes”; se o numeral cardinal “um” indica singular, então só pode ser “um
chope”, assim como “um pastel”. O verbo ir – mesmo intransitivo – rege a preposição a quan-
do for usado um adjunto adverbial; portanto, “fomos ter ao Largo Paissandu” (ou “chegamos
ao Largo Paissandu). O pronome relativo cujo concorda corretamente com o consequente
“cinema”, mas tem como antecedente um locativo (Largo Paissandu) que acaba exigindo a
preposição em: “em cujo cinema”. Como o verbo assistir possui quatro sentidos diferentes,
no período acima, significa ”ver, presenciar”, regendo a preposição a, como preceitua a norma
culta; logo, “assisti ao filme”.

Outra acepção do verbo assistir, bastante empregada modernamente, é


“morar, residir”, regendo a preposição em com o adjunto adverbial (= quem
assiste assiste em algum lugar). Alguns assistem na capital por opção, mas eu
assisto no interior. Em que cidade você assiste?

capítulo 4 • 91
4.7  Custar
4.7.1  VTD (ter valor de)

Exs.: A casa custou duzentos mil reais.

4.7.2  VTDI (preposição a) = acarretar consequências, causar


trabalho

Exs.:
“A imprudência custou-lhe a vida.”
Esta obrigação custou-lhe lágrimas, mas não hesitou um instante. (Camilo
C. Branco)
A imprudência custou-lhe lágrimas amargas e três anos de prisão.

4.7.3  VTI (preposição a) = ser custoso, ser difícil (conjugado apenas


na 3ª pessoa, o sujeito será sempre oracional)

Exs.:
Custou ao aluno aceitar o fato. (sujeito oracional = “aceitar o fato”.)
Custa-me dizer que saí de lá encantado. (M. de Assis) (sujeito oracional =
“dizer”)
Custa-lhe reconhecer um rosto que se aproxima sorrindo. (Aníbal Machado)

4.8  Esquecer / Lembrar


4.8.1  VTD (não pronominal)

Exs.:
Esquecemos o material.
Lembrei o seu nome.

92 • capítulo 4
4.8.2  VTI (pronominal) – preposição de

Exs.:
Esquecemo-nos do material.
Lembrei-me do seu nome.

4.8.3  VTI (cair no esquecimento/vir à lembrança) – com verbo


apenas na 3ª pessoa (singular ou plural)

Exs.:
Esqueceu-me aquele acidente.
Lembraram-me os dias felizes da infância.
Ainda me lembram as palavras dele. (Mário Barreto)

CONEXÃO
Leia o texto publicado na revista Língua Portuguesa (2005, nº 2, p. 42): A travessia de quem
quer “chegar a”.

Destacaremos, aqui, a regência do verbo esquecer que possui as mesmas


transitividades do seu antônimo lembrar. Acontece que os dois podem ser pro-
nominais ou não. Sem o pronome oblíquo, são classificados como transitivo
direto: “Esqueci o assunto”, “Lembrei o conteúdo da prova”; se usados pro-
nominalmente, passam a ser transitivos indiretos, regendo a preposição de:
“Esqueci-me do assunto” e “Lembrei-me do conteúdo da prova. No quadro an-
terior, ficaria “...mas esqueci o presente”, ou “...mas esqueci-me do presente”.
O mesmo ocorre em períodos compostos: “Podemos nos lembrar de fatos que
mostram a infidelidade dos hebreus, mas não podemos nos esquecer de que foi
por meio desse povo que Deus proclamou o seu amor universal para com todos
os homens”.
Esses dois verbos possuem uma terceira regência, bastante clássica, transi-
tivos indiretos, somente empregados na terceira pessoa, com os sentidos: lem-
brar = vir à lembrança, e esquecer = cair no esquecimento: “Já não me lembram
os primeiros amores que tive.”. “Seus beijos e seus carinhos são coisas que ja-
mais me esqueceram.”.

capítulo 4 • 93
4.9  Informar/avisar/certificar/notificar/
prevenir

4.9.1  VTDI ( preposição a)

Exs.:
Informei-o do acontecimento. Informei-lhe o acontecimento.
O governo informou aos representantes que o país está em paz.
(Silveira Bueno)
Em todas as povoações o informavam de que o duque passara duas horas
antes. (Camilo Castelo Branco)

4.9.2  O verbo informar pode ainda ser pronominal: informar-se de


alguma coisa.

Exs.:
Informei-me de tudo o que me poderia ser útil.

EXEMPLO
Normalmente, os jovens empregam frases semelhantes a esta: Eu estava namorando com
uma garota que eu gostava muito, mas ela terminou comigo. Por analogia ao verbo simpatizar
(quem simpatiza simpatiza com alguém), as pessoas empregam o verbo namorar com a
mesma preposição, uma vez que ela não existe, pois o verbo é transitivo direto (quem namora
namora alguém). Uma revista também trouxe esta notícia: “Frank, quem diria, largou Ava
Gardner para namorar com Mia Ferrow”. (= “...namorar Mia Ferrow.”). Já o verbo gostar, no
exemplo citado, no sentido de “amar”, é transitivo indireto, regendo a preposição de (quem
gosta gosta de alguém ou de alguma coisa). Como o antecedente do pronome relativo é
“garota” (pessoa), poder-se-ia usar o pronome relativo quem, com maior propriedade: “...com
uma garota de quem eu gostava muito,...”. Vale lembrar que o verbo “terminou”, no texto,
significa “rompeu o namoro”.

94 • capítulo 4
4.10  Implicar
4.10.1  VTI ( preposição com) = ter implicância

Exs.:
As professoras implicaram com ele.
Ninguém implica comigo.

4.10.2  VTD (= acarretar, demandar, tornar indispensável)

Exs.:
A presença de guarda no condomínio implica segurança.
O estudo profundo das ciências implica a prévia aquisição de múltiplos co-
nhecimentos. (F. Fernandes)
Não há máquina que não implique aplicação maior ou menor de ferro.
(Monteiro Lobato)

ATENÇÃO
O verbo implicar-se (pronominal) rege preposição em, pois é transitivo indireto. Ex. – Depois
que principiou a implicar-se em negócios internacionais, sua empresa entrou em crise.

Como existem dois verbos – pronominal ou não –, as pessoas fundem os


dois quando escrevem. Sendo usado pronominalmente, o verbo implicar-se,
no sentido de “envolver-se”, é sempre transitivo indireto e rege preposição em:
“Aquele marginal implicou-se no tráfico de drogas”. O verbo implicar possui
duas regências: no sentido de “ter implicância”, é transitivo indireto e rege pre-
posição com: “Minha professora implicou comigo”. Comumente usado no sen-
tido de “acarretar”, o verbo implicar é transitivo direto (isto é, sem preposição):
“Toda mudança implica muitos gastos”.

capítulo 4 • 95
COMENTÁRIO
O Regulamento do Concurso de Contos do Estadão (nov./2003) trazia esta instrução: “6.3 –
O envio de um e-mail incluindo o conto inscrito implica na aceitação tácita das normas deste
regulamento”. Difícil é aceitar tacitamente a regência incorreta!

4.11  Obedecer / desobedecer


4.11.1  VTI (preposição a)

Exs.:
Todos obedeciam ao regulamento.
Alguns motoristas desobedecem às leis de trânsito.
Os coqueiros eram senhores a que os trabalhadores obedeciam. (Ledo Ivo)

PERGUNTA
Duas garotas andavam pela estrada quando uma delas leu esta placa: OBEDEÇA O SINAL.
– Aquela placa está errada. Só se obedece a alguém ou a alguma coisa. Dirigiu-se ao
local da placa e acrescentou a preposição A: OBEDEÇA AO SINAL.
– Será que é por isso que ninguém obedecia ao sinal?

4.12  Pagar/perdoar/agradecer
4.12.1  VTD (complemento = coisa)

Exs.:
Pagamos nossas contas.
Perdoei suas ofensas.
O suborno envilece tanto a mão que o paga como a que recebe. (Rui Barbosa)

96 • capítulo 4
4.12.2  VTI (complemento = pessoa) (preposição a)

Exs.:
Já paguei aos colegas.
Maurício, já lhe perdoei.
A mulher do seleiro pagou-lhe, e ele arrumou-se para sair. (José Lins do Rego)

ATENÇÃO
Mesmo como transitivo indireto, o verbo perdoar admite voz passiva analítica. Ex. – Eu sempre
perdoei aos colegas. = Os colegas sempre foram perdoados por mim.

4.12.3  VTDI (dois complementos = coisa e pessoa)

Exs.:
Paguei os honorários ao advogado.
Ela não lhes perdoará o desprezo com que a tratam.
Agradeci-lhe o convite.

ESTUDO DE CASO
Leia estes períodos retirados de jornais e revistas:
I. “Concordamos, por consenso, que, para obter o melhor resultado possível, pagaremos
melhor aqueles craques.”
II. “PERDOAI OS FRACOS DE MEMÓRIA, PORQUE ELES TERÃO UMA NOVA CHANCE.”
III. “O presidente Fernando Henrique Cardoso esteve juntamente com representantes do
governo japonês, no último dia 20 de junho, em Rondônia, onde agradeceu os imigrantes
pela participação no desenvolvimento do nosso país.”
Quando empregamos os verbos pagar, perdoar e agradecer, devemos observar os
seus complementos: se for uma “coisa”, será sempre objeto direto, e, se for uma “pessoa”,
funcionará como objeto indireto, regendo a preposição a. Nos três exemplos dados, os com-
plementos verbais são “pessoas” (“aqueles craques”, “os fracos” e “os imigrantes”), por
isso devem ser usados com preposição a: “...pagaremos melhor àqueles craques”, “Perdoai
aos fracos de memória,...” e “...agradeceu aos imigrantes...”. Na língua cotidiana, encontra-se
muito este último caso: “Técnico do Japão agradece o Brasil pela ‘febre’”.

capítulo 4 • 97
4.13  Preferir
4.13.1  VTDI (preposição a)

Exs.:
Algumas pessoas preferem jiló a camarão.
À escravidão os negros preferiam a morte.
Prefere rezar na mais humilde das igrejas a ir rezar na Acrópole.
(Agripino Grieco)

COMENTÁRIO
Observe, agora, como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu este pensamento com
o verbo preferir: Existem seres raros, que preferem morrer a trabalhar sem prazer no trabalho:
são aqueles seletivos, difíceis de satisfazer, aos quais não serve uma boa renda, se o trabalho
mesmo não for a maior de todas as rendas.

CURIOSIDADE
No prefixo pre-, já existe a ideia de anterioridade; daí não haver propriedade o uso de modi-
ficadores tais como: mais, muito mais, mil vezes, antes etc.
Preferir morrer a fugir como covarde. (Mário Barreto)

4.14  Proceder
4.14.1  V Intransitivo = não ter fundamento

Exs.:
Esqueça o assunto, pois esse fato não procede.
Como a queixa não procedia, ela foi arquivada. (Celso Luft)

98 • capítulo 4
4.14.2  V Intransitivo (preposição de) = originar-se

Exs.:
Alguns procediam da capital, nós procedíamos do interior.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho. (Dicionário Mirador)

4.14.3  VTI (preposição a) = dar início

Exs.:
O diretor procederá à reunião no horário marcado.
A Caixa Econômica procedeu ao sorteio dos números da loto.
Depois convidou-os a procederem à nomeação do secretário. (J. Felício
dos Santos)

4.15  Responder
4.15.1  VTI (preposição a) = dar resposta, corresponder a uma
pergunta

Exs.:
Você já respondeu à carta que recebeu ontem?
Procurem responder a todas as questões da prova.
Natural é que o leitor faça tais perguntas, às quais temos obrigação de res-
ponder. (Alexandre Herculano)

ATENÇÃO
O verbo responder não admite lhe, lhes como complemento, mas apenas a ele, a ela, a
eles, a elas. Ex.: Recebi ontem a carta, mas ainda não tive tempo de responder a ela.

capítulo 4 • 99
4.16  Simpatizar / antipatizar
4.16.1  VTI (preposição com) – não são pronominais

Exs.:
Simpatizei com você, mas não simpatizei com eles.
A garota antipatizou com o rapaz à primeira vista.
O país inteiro simpatizou com este princípio. (Rui Barbosa)

ATENÇÃO
Por analogia a esses verbos, emprega-se o verbo namorar com a mesma regência, o que
torna a linguagem coloquial, uma vez que o verbo é transitivo direto: Pedro namora Helena.
...como se quisessem namorar todas as moças da vizinhança. (Machado de Assis)

4.17  Visar
4.17.1  VTD = mirar; pôr o visto

Exs.:
O policial visou o alvo e atirou.
Filipe dos Santos ficou imobilizado por dezenas de bacamartes que visa-
vam o seu peito. (Viriato Corrêa)

O gerente visou o meu cheque.


Visar um passaporte para lá é difícil, numa emergência dessas. (José
Geraldo Vieira)

4.17.2  VTI (preposição a) = objetivar, almejar

Exs.:
Todos visavam ao progresso da nação.
Muitos visam (a) resolver tudo sozinhos. (antes de verbo no infinitivo:
resolver)

100 • capítulo 4
Quem sabe se aquele homem não havia particularmente visado à sua [= dela]
fortuna, aos bens que lhe constituíam quantioso dote? (Visconde de Taunay)

ATENÇÃO
O verbo visar não admite lhe, lhes como complemento, mas apenas a ele, a ela, a eles, a
elas. Ex.: O poder envaidece; por isso todos visam a ele.

4.18  Dois ou mais verbos


É frequente, embora incorreta, a construção de períodos com verbos transiti-
vos diretos e transitivos indiretos e um só complemento, direto ou indireto, em
função do verbo mais próximo. Ex.:
Elas não concordam, mas admitem seu ponto de vista.
O verbo concordar, transitivo indireto, rege a preposição com. O verbo ad-
mitir é transitivo direto. Nesse caso, o período deveria ser reescrito, por exem-
plo: Elas não concordam com o seu ponto de vista, mas o admitem.
Também incorretamente constroem-se períodos com verbos transtivos in-
diretos que regem diferentes preposições e emprega-se somente a preposição
exigida pelo verbo mais próximo do complemento. Ex.:
Eu me lembrei e respondi à sua carta.

Lembrar-se rege a preposição de, e responder rege a preposição a. O perío-


do deve, portanto, ser reformulado, por exemplo: Eu me lembrei da sua carta e
respondi a ela.
Outros exemplos com dois ou mais verbos:
Obedeceram ao gerente, mas queixaram-se dele.
Os funcionários assistiram à peça, gostaram dela e a aplaudiram (ou
aplaudiram-na).
Atenção: Assisti e gostei do filme.
Assisti ao filme e gostei dele.

capítulo 4 • 101
PERGUNTA
Leia, atentamente, este período publicado em um jornal, a respeito da minissérie Hil-
da Furacão:
Segundo ela, Hilda estaria vivendo hoje nos Estados Unidos, assistiu e gostou dos pri-
meiros capítulos da sua história. Qual problema de regência encontramos neste enunciado?

Como já vimos em verbos anteriores, dependendo do sentido, o verbo pos-


sui uma regência específica: intransitivo ou transitivo. Ao usarmos dois verbos
seguidos, pode haver vários casos: se os dois forem transitivos diretos, usamos
apenas um complemento: “Eu comprei e já usei aquela camisa”; se os verbos
forem transitivos indiretos (regendo a mesma preposição), também usamos so-
mente um complemento: “Eu gostava tanto que já me esqueci dele!”. Agora, se
os verbos tiverem regências diferentes e/ou estiverem regendo preposições di-
ferentes, obrigatoriamente temos que usar os dois complementos. No período
anterior, o verbo assistir (transitivo indireto) rege preposição a, e o verbo gostar
(transitivo indireto) rege preposição de, obtendo-se, assim: “...assistiu aos pri-
meiros capítulos da sua história e gostou deles”.

CONEXÃO
Para escrever corretamente, precisa-se desse conhcimento prático dos verbos que apre-
sentam vários sentidos e regem determinadas preposições. Aprenda novos exemplos com
a leitura do artigo Regência em sentido amplo, disponível no link: <http://www.pucrs.br>.

CONCEITO
Entre os diversos vícios de linguagem, há o solecismo, que consiste em qualquer desvio
de sintaxe. Exemplos: Houveram muitos desistentes. (Houve = erro de concordância); Sem-
pre obedeço os mais velhos. (aos = erro de regência); Tinha dito-lhe a verdade. (Tinha-lhe
dito = erro de colocação).

102 • capítulo 4
ATIVIDADES
01. Corrija os textos extraídos de revistas e de jornais:
a) Quando cheguei em casa, ouvi a resposta mais equacionária da minha vida.
b) Correr na praia, jogar uma partida de futebol, assistir uma boa peça e ir num cinema.
c) Dos paulistanos inquiridos pelo Data-folha, 68% dizem costumar assisti-lo.
d) Torcia para que a polícia não os prendesse, mas eles foram espertos, pagaram advoga-
dos e se entregaram.
e) Felizmente alguém se lembrou que os pés das mulheres não são iguais aos dos homens.
f) ...informando aos seus integrantes sobre as várias mudanças que estão ocorrendo...

02. “Esqueça-se de mim. Mude. Mas... não esqueça de dar-me o novo endereço.”
Explique se a regência do verbo esquecer, nas duas ocorrências, está de acordo com o
rigor da norma culta.

03. A frase que está correta, tendo em vista a sintaxe de regência, é:


a) Os jovens não veem a hora de inserir-se ao mercado de trabalho.
b) A falta de informações econômicas seguras nos induz a que planejemos nosso futuro.
c) Lia, com frequência, textos barrocos, estilo que ele era um fervoroso adepto.
d) Há políticos que têm tendência por aderir sempre pelos partidos que estão no poder.
e) Nota-se uma melhoria nos serviços de saúde pelos quais a população carente não ti-
nha acesso.

04. Na Nova gramática do português contemporâneo, de Celso Cunha, leem-se as seguintes


considerações sobre a questão da chamada regência verbal: a ligação do verbo com o seu
complemento, isto é, a regência verbal, pode [...] fazer-se:
a) diretamente, sem uma preposição intermédia, quando o complemento é o obje-
to direto.
b) indiretamente , mediante o emprego de uma preposição, quando o complemento é
objeto indireto. (Rio de Janeiro: FENAME, 1980, p. 480)

Com base nas considerações acima, identifique, no trecho a seguir, a passagem em que
ocorre um problema de regência verbal:
Gentil de Araújo, motorista do caminhão que parou o avião na marginal do rio Tietê, há
20 anos trabalha nas estradas do país dirigindo caminhões para transportadoras. Durante
todo esse tempo, diz que já viu muitos acidentes. Mas nenhum se compara, afirma, ao que

capítulo 4 • 103
ele esteve envolvido ontem pela manhã. “Na estrada a gente vê de tudo. Já vi um barco cair
de uma carreta e amassar um Fusca. Só faltava ter visto um avião bater em meu caminhão.
Quando contar para os meus amigos, muitos não vão acreditar.

Transcreva e diga em que consiste, na passagem transcrita, o problema de regência ver-


bal. Reescreva, a seguir, essa mesma passagem, de modo a adequá-la à modalidade escrita
culta da língua.

REFLEXÃO
Você percebeu como é importante reconhecer a transitividade e a significação dos verbos,
para aplicar corretamente a regência verbal para que possamos escrever e falar corretamen-
te. Você agora tem conhecimento da importância das relações estabelecidas entre os verbos
e seus complementos preposicionados ou não. Procure empregar sempre esses verbos tan-
to na linguagem oral como na escrita. Além disso, procure observar as publicidades de re-
vistas e de jornais que trazem a regência verbal incorreta, quer pela ausência da preposição,
quer pelo emprego de dois verbos com regência distinta, mas com apenas uma preposição.

LEITURA
WAGNER, L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São
Paulo: All Print, 2008.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CEREJA, W. R.; & MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo:
Atual, 1999.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
_____________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.
WAGNER. L. R. Use o português adequado: aspectos gramaticais e análise de textos. 3. ed. São
Paulo: All Print, 2008.

104 • capítulo 4
5
A Importância
da Pontuação
para Construção
do Sentido do
Enunciado
A entonação (também chamada de entoação) é a alteração no tom da voz utiliza-
da na fala que incide sobre uma palavra ou oração. Sintaticamente, utilizamos a
entonação para indicar surpresa ou mesmo uma ironia, e ainda para distinguir
uma frase declarativa de uma interrogativa. Nos textos escritos, quem faz esse
papel são os sinais de pontuação. Eles servem para demarcar pausas na fala,
como é o caso da vírgula e do ponto e vírgula; ou entonações, como as demar-
cadas pelo ponto de exclamação e interrogação. Além da pausa e da entonação,
os sinais de pontuação servem para reproduzir, na escrita, nossos sentimentos,
nossas emoções, nossos anseios.
Sabemos que existem regras específicas de uso de cada um dos sinais de
pontuação, isso porque os sinais de pontuação servem para conferir sentido ao
texto lido. Por isso eles são de extrema importância na construção do sentido:
pois o uso indevido dos sinais de pontuação gera problemas da ordem do sen-
tido expresso no texto.
São vários os critérios que estabelecem a qualidade de um texto: coesão,
coerência, clareza, uso correto da norma culta, bom domínio do conteúdo. Mas
em muitas situações, quem confere o sentido ao texto, são os sinais de pon-
tuação. Sendo assim, para redigirmos bons textos, textos inteligíveis, devemos
dominar o uso dos sinais de pontuação e assim não criarmos problemas de en-
tendimento para o leitor.

OBJETIVOS
Nesse capítulo, temos como objetivos:
•  Conhecer a história dos sinais de pontuação;
•  Conhecer as regras de uso dos sinais de pontuação;
•  Produzir textos corretos e eficientes;
•  Identificar a importância dos sinais de pontuação para a construção do sentido do texto.

106 • capítulo 5
5.1  Sinais de pontuação
Antes de nos aprofundarmos no estudo dos sinais de pontuação, vamos refletir
sobre o texto abaixo:
Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena e escreveu assim:

“Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a con-
ta do alfaiate nada aos pobres”

Morreu antes de fazer a pontuação. Com quem ficou a fortuna do homem?


Como podemos perceber, sem a pontuação adequada, não é possível dizer
quem ficou com a herança. Isso comprova a importância da correta pontuação
do texto para que haja sentido no enunciado. Qualquer um dos herdeiros pode-
ria adequar a pontuação de forma a se beneficiar. Caso a irmã queira ficar com
a herança, o texto deveria ser assim pontuado:

“Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres.”

O sobrinho, para ficar com a herança, pontuaria o texto da seguinte forma:

“Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres.”

Claro que as duas formas de pontuar o texto acima deixariam o alfaiate in-
dignado, que, por sua vez, faria a pontuação de forma diferente:

“Deixo meus bens à minha irmã? Não. A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres.”

E se o desejo do falecido fosse deixar sua herança aos pobres? Bem, então
teríamos que pontuar o texto do seguinte modo:

“Deixo meus bens à minha irmã? Não. A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.”

capítulo 5 • 107
Percebemos que temos quatro formas diferentes de pontuar o mesmo enun-
ciado, sem nem ao menos modificar a ordem das palavras, dando ao enuncia-
do quatro sentidos diferentes. Isso só comprova a importância dos sinais de
pontuação na construção do sentido do enunciado: sem a adequada pontuação
nunca saberíamos a quem se destina a herança.
O porquê do surgimento dos sinais de pontuação você já deve imaginar,
mas em que momento do processo de desenvolvimento da escrita eles sur-
giram? Quais as regras de uso dos sinais de pontuação? Passaremos agora a
essa discussão.

5.1.1  O surgimento dos sinais de Pontuação

A maioria dos sinais de pontuação surge na Europa, entre os séculos XIV e XVII.
Surgem para facilitar a leitura e entendimento dos textos. A impressão tipográ-
fica tem uma séria relevância no processo de surgimento dos sinais de pontua-
ção, porque a leitura passa a ter um acesso maior com a impressão de livros.
Antes, apenas monges e clérigos tinham a possiblidade de leitura. Com a popu-
larização da leitora, foi preciso adequar os textos à leitura, e por isso surgem os
sinais de pontuação. Assim, os sinais de pontuação dão clareza à frase, evitam
ambiguidade e ajudam na entonação.
Contudo, já no antigo Egito se tem o uso do ponto final, principalmente em
textos poéticos, com o intuito de simplificar a leitura dos complexos hierógli-
fos. No entanto, conforme o leitor se tornava fluente na leitura, os pontos iam
sendo retirados.
O interessante dos sinais de pontuação é que, ao contrário do vocabulário,
por exemplo, não se adequa ao gênero textual: independente do gênero, os si-
nais de pontuação continuam os mesmo, e as regras de uso também.
Apesar do estudo dos sinais de pontuação ser da alçada da Fonologia, fare-
mos um paralelo com a Sintaxe, visto que a pontuação é caráter de suma impor-
tância na construção de frases e orações.
Os sinais de pontuação podem ser classificados em dois grupos: o primeiro
grupo compreende os sinais que, fundamentalmente, se destinam a marcação
as pausas: a) a virgula(,) b) o ponto (.) c) o ponto e vírgula (;) o segundo grupo
abarca os sinais cuja função essência é marcar a melodia, a entoação: a) os dois

108 • capítulo 5
pontos (:) b) o ponto de interrogação (?) c) o ponto de exclamação (!) d) as reti-
cências (...) e) as aspas (" ") f) os parênteses (( )) g) os colchetes ([ ]) h) o travessão
( — ) (CUNHA, 2008, p. 373).
Passaremos agora ao estudo dos sinais de pontuação.

AUTOR
José Paulo Paes Nasceu em Taquaritinga, interior de São Paulo, em 1926. Estudou química
industrial em Curitiba, onde publicou seu primeiro livro de poemas, O aluno, em 1947. Traba-
lhou num laboratório farmacêutico e numa editora de livros, aposentando-se em 1981 para
poder dedicar-se inteiramente à literatura. Publicou mais de dez livros de poesia, inclusive
para o público infanto-juvenil, e foi colaborador regular na imprensa literária. Destacou-se
também como ensaísta e tradutor de poesia. Morreu na capital do estado, em 1998.

EXEMPLO COMENTADO
Atenha-se a uma análise da criação artística em evidência, registrando suas impressões a
partir da analogia feita entre a temática dominante na época e a intencionalidade discursiva
do poeta, sobretudo pelo farto emprego dos sinais de pontuação.
Canção do exílio facilitada
lá? O caráter enfático, ora atribuído aos si-
ah! nais de pontuação, serve para realçar a in-
sabiá... tencionalidade discursiva manifestada pelo
papá... emissor, uma vez caracterizada pelo tom
maná... irônico. José Paulo Paes, integrando a era
sofá... modernista, sob um tom jocoso, revelou sua
sinhá... indignação ao nacionalismo exagerado, tão
cá? presente na concepção de Gonçalves Dias,
bah! com sua Canção do Exílio.
José Paulo Paes

capítulo 5 • 109
5.2  As frases e a pontuação
Como já foi dito anteriormente, a frase é o conjunto de palavras, que se orga-
nizam de forma a produzir um sentido em um contexto comunicativo. Pelo es-
tudo da Sintaxe, vimos que essas palavras precisam ser organizadas de acordo
com algumas regras. Na oralidade, temos alguns recursos que garantem a orde-
nação dessas palavras, como a entonação, a melodia, as pausas e até mesmo os
silêncios. Esses recursos são utilizados para que a frases se articulem significa-
tivamente, ou seja, para imprimir sentido à frase. Assim, na fala, esses recursos
vocais não podem ser retirados ou omitidos, pois isso acabaria por dificultar,
ou até impossibilitar, o entendimento do enunciado.
Já na língua escrita, os recursos vocais utilizados na oralidade dão espaço a
um sistema de sinais visuais. Esses sinais visuais, ou sinais de pontuação, man-
tém certa correspondência com os recursos vocais, e tem a função de organizar
as frases na construção dos textos escritos. Compreender o uso dos sinais de
pontuação é perceber a o seu papel organizador da língua escrita. É importante
ressaltar que os sinais de pontuação não representam as pausas e melodias da
língua falada, por isso dissemos que eles mantêm certa correspondência com
os recursos vocais. Os sinais de pontuação participam da organização lógica do
texto escrito de forma parecida com o modo como os recursos vocais partici-
pam da oralidade. Sendo assim, para compreender o uso dos sinais de pontua-
ção, devemos pensar na organização sintática e significativa das frases escritas.
Sendo assim, para estudarmos os sinais de pontuação, vamos retomar os
estudos da Sintaxe, assim poderemos perceber que ao entender a organização
sintática da Língua Portuguesa fica muito mais simples compreender o uso dos
sinais de pontuação e da importância deles na construção dos significados das
frases. Isso irá garantir a produção de textos mais corretos e eficientes.

5.2.1  Os sinais gráficos que delimitam a frase

Costumamos entender frase como um conjunto de palavras que organizam de


forma a gerar sentido, e que se inicia na letra maiúscula e termina em um pon-
to: final, exclamação, interrogação, etc. Vamos estudar agora os sinais de pon-
tuação que delimitam as frases. São eles:

110 • capítulo 5
5.2.1.1  Ponto final (.)

O ponto final é utilizado quando se pretende indicar o término de uma fra-


se declarativa:
Ex.:
Corria o mês de março de 1603. Era portanto um ano antes do dia em que se
abriu esta história. (José de Alencar)
Obrigaram o rapaz a sair.
Ela não está em casa.

5.2.1.2  Ponto de interrogação (?)

O ponto de interrogação é o sinal que indica o fim de uma frase interrogati-


va direta.
Ex.:
O que você estuda?
Quantos anos você tem?
Você aceita um copo de suco?

ATENÇÃO
Há frases em que a pergunta é feita de modo indireto, são as chamadas frases interrogativas
indiretas. No caso desse tipo de frase, utiliza-se o ponto final.
Ex.: Quero saber o você pretende com estas insinuações.
Desejo saber se você aceita um copo de suco.

5.2.1.3  Ponto de Exclamação (!)

Ponto de exclamação é o sinal que indica o término de frases exclamativas ou


optativas. É o sinal gráfico usado após uma interjeição para expressar chama-
mento, emoções, ordem ou pedido.
Ex.:
−É ! − Tríncu lo gritou, reconhecendo o companheiro.
stefano
chamamento
− A outra boca me chamou ! Valha − me Deus!
   
frase exclamativa locução int erjetiva

capítulo 5 • 111
N ão é um monstro, é um demônio !
 
emoção
Vou − me embora, já, já !

emoção
− Saia do meu quarto !

ordem

É comum, para dar ênfase, utilizar o ponto de exclamação de forma repetida


ou junto com ponto de interrogação.
— Quê! Outra vez! Não suporto mais isso!!!
— Você de novo?! Não!!!

5.2.1.4  Reticências (...)

As reticências indicam uma interrupção da estrutura da frase. Isso se dá em


decorrência de hesitação do falante, que tem sua fala transcrita, ou ainda a in-
dicação de que se deixa o complemento da frase para ser entendido pelo leitor,
muitas provavelmente por se tratar de uma ironia.
Ex.:
— Bem, eu não sei... talvez seja... Realmente, não sei...
— Bem, eu queria... você sabe o que eu quero...

−O Torres virá mesmo desta vez ? Até parece...


  
ironia

Além disso, podemos utilizar as reticências para indicar dúvida ou surpresa.


Ex.:
— E as obras de Tormes? A igreja.. já haverá igreja nova? (Eça de Queirós.
As cidades e as Serras.)
Sacconi (1990) diz que o uso das reticências depende o enunciador: “O seu
emprego (das reticências) muitas vezes depende do emissor, ou seja, do instan-
te espiritual ou espirituoso do escritor” (p. 433).

5.2.1.5  Dois pontos

Os dois pontos marcam um pausa em uma frase ainda não concluída.


Podem ser usados nos seguintes casos:

112 • capítulo 5
a) Para introduzir uma enumeração.
Ex.:
Este aluno pratica vários esportes: futebol, natação, voleibol, tênis
e basquetebol.

“Procurei o motivo do apelido curioso, nada vi semelhante ao objeto da com-


paração: um homem atento, grave, de rosto inexpressivo”. (Graciliano Ramos.)

b) Antes de citações.
Ex.:
Por toda rigidez acerca dos pensamentos do século XIX, Nietzsche disse: “E
falsa seja para nós toda verdade que não tenha sido acompanhada por uma gar-
galhada”. (http://www.brasilescola.com/gramatica/doispontos.htm)

c) Para introduzir um diálogo.


Ex.:
Depois de um logo silêncio, ele disse:
— É melhor esquecer tudo.

d) Para introduzir uma explicação, resumo ou consequência do que se dis-


se antes, ou seja, para anunciar um aposto ou uma oração apositiva.
Ex.:
Dez anos depois, não passávamos disto: um bando de garotos zombeteiros.
Só alimento uma ilusão na vida: ter você.

5.2.1.6  Travessão

O travessão é usado principalmente para demarcar a fala e a mudança


de interlocutor.
Ex.:
“Ele: – Pois é.
Ela: – Pois é o quê?
Ele: – Eu só disse pois é!
Ela: – Mas “pois é” o quê?
Ele: – Melhor mudar de conversa porque você não me entende.

capítulo 5 • 113
Ela: – Entender o quê?
Ele: – Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já!
Ela: – Falar então de quê?
Ele: – Por exemplo de você.
Ela: – Eu?!”

Lispector, Clarice. A Hora da Estrela. 1998, p. 48

MULTIMÍDIA
Assista ao filme “A hora da estrela”, baseado na obra de mesmo nome da escritora brasileira
Clarice Lispector, disponível em https://youtu.be/376JgN-2cEc. A obra narra as desven-
turas de Macabéa, uma moça
sonhadora e ingênua, recém-
chegada do Nordeste ao Rio de
Janeiro, às voltas com valores e
cultura diferentes. Macabéa leva
uma vida simples e sem gran-
des emoções. Começa a namo-
rar Olímpico de Jesus, que não
vê nela chances de ascensão
social de qualquer tipo. Assim
sendo, abandona-a para ficar
com Glória (colega de trabalho
de Macabéa), cujo pai era açou-
gueiro, o que sugeria ao ambi-
cioso nordestino a possibilidade
de melhora financeira.

AUTOR
Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro
de 1977) foi uma premiada escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira

114 • capítulo 5
— e declarava, quanto à sua brasilidade, serpernambucana —, autora de romances, contos
e ensaios e considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes doséculo XX. Sua
obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada
uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do
cotidiano. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector)

Além disso, podemos utilizar o travessão para enfatizar frases ou expres-


sões, como em:
Foi poeta –sonhou –e amou na vida.

Álvares de Azevedo

5.2.2  A vírgula

Como já discutido anteriormente, os sinais de pontuação são de extrema im-


portância para a construção do sentido do texto. Sem eles, em diversos casos,
fica impossível compreender o texto lido.
Conta-se que certa vez um oficial foi condenado à morte. Ao pedir clemên-
cia, obteve do rei tal resposta:
Perdoar impossível, mandar para a forca!
Antes de enviar a mensagem ao verdugo, a mensagem chegou às mãos da
rainha, que se compadeceu do oficial e resolveu ajudá-lo. Então, pegou o bilhe-
te e alterou a posição da vírgula e assim salvou a vida do oficial, pois mudou o
sentido do enunciado expresso no bilhete, que ficou da seguinte forma:
Perdoar, impossível mandar para a forca!
E há ainda diversas outras histórias que demonstram o poder da vírgula em
enunciados. Sendo assim, vamos guardar mais espaço para o uso da vírgula.

5.2.2.1  Os usos da vírgula

Vimos nos dois primeiros capítulos os termos integrantes da oração. Vimos


que esses termos mantêm entre si uma relação de dependência sintática. Sen-
do assim, e primeira regra de uso da vírgula é que não podemos separar termos
que mantêm entre si uma relação de dependência sintática. Se tiver isso em
mente, muitos poucos erros de uso da vírgula você irá cometer.

capítulo 5 • 115
Vamos então pensar nos termos essências da oração e a pontuação.

5.2.2.2  Nunca separar sujeito e predicado

A vírgula nunca deve separar o sujeito de seu predicado, a menos que haja um
termo intercalado, que, nesse caso, deverá vir separado por vírgulas.
O sujeito e o predicado são termos essenciais da oração porque são a base
de construção das orações em língua portuguesa. Sendo assim, a relação que
mantêm entre si não deve ser rompida por uma vírgula, mesmo quando o sujei-
to seja muito longo ou venha posposto ao verbo.
Ex.:
Várias tentativas de estabelecer uma nova relação entre os setores prrodutivo e financeiro
 
sujeito
resultaram em fracasso.
  
predicado
Ocorreram
 diversas manifestações contra a corrupção.
  
prredicado sujeito

5.2.2.3  Marcar intercalação

Pode acontecer de haver um termo intercalado entre o sujeito e o predicado.


Nesse caso usamos a vírgula para demarcar essa intercalação, que deve ser usa-
da antes e depois do termo intercalado
Ex.:

Os ministros, ontem à noite, encaminharam um pedido coletivo dee demissão.


      
sujeito termo int ercalado predicado

adjunto adverbial

Veja que no exemplo anterior, “Os ministros” funciona como sujeito da ora-
ção, e “encaminharam um pedido coletivo de demissão” é o predicado. “Ontem
à noite” é um adjunto adverbial que vem intercalado, ou seja, interposto entre o
sujeito e o predicado, por isso a expressão deve ser separada por vírgulas, para
demarcar que aquele não é o lugar comum dela, visto que, pela estrutura mais
usual da língua portuguesa, temos a construção

116 • capítulo 5
Sujeito –Verbos – complementos

Sendo assim, o lugar mais usual do adjunto adverbial é no final da frase.

5.2.2.4  Separar núcleos de sujeitos compostos

Usa-se a vírgula quando há a necessidade de separar núcleos de um sujei-


to composto.
Ex.:
Pedaços de madeira, restos de tijolos, montículos de areia, amontoados de
pequenas pedras compunham o cenário da obra abandonada.
Quando o último dos núcleos for introduzido pela conjunção E, não
há vírgula:
Ex.:
Ônibus, automóveis e caminhões foram retidos na estrada.
No entanto, se todos os núcleos forem introduzidos pela conjunção, então é
necessário utilizar a vírgula.
Ex.:
Nem você, nem ela, nem o Papa me farão mudar de ideia.

5.2.2.5  Predicativo do sujeito anteposto ao verbo

Em orações de predicado seja verbo-nominal em que o predicativo do sujeito


esteja anteposto ao verbo, é necessário utilizar vírgula para isolá-lo.
Ex.:
Aborrecido, o homem velho afastou-se devagar.
O homem velho, aborrecido, afastou-se devagar.

ATENÇÃO
Veja que, caso não houvesse a vírgula em “O homem velho, aborrecido, afastou-se devagar”,
haveria mudança na função sintática do termo aborrecido, que passaria a ser um adjun-
to adnominal
O homem velho aborrecido afastou-se devagar.

capítulo 5 • 117
E qual a diferença de sentido entre os enunciados?
Bem, o predicativo do sujeito imprime uma características transitória ao sujeito, ou seja,
no primeiro enunciado, o velho afastou-se e estava aborrecido naquele momento. Já o adjun-
to adnominal imprime uma característica permanente ao termo a que se liga. Interpretaría-
mos o enunciado sem vírgula como sendo aborrecido uma característica comum ao velho, ou
seja, ele estava sempre aborrecido, não apenas por ocasião de determinado acontecimento.

5.2.2.6  Indicar omissão de verbo

A vírgula também pode ser utilizada para indicar a omissão de um verbo e


assim evitar sua repetição, funcionando como um recurso coesivo.
Ex.:
Joana gosta de Pedro; eu, de Mateus.
No chão, vários objetos quebrados.

5.2.2.7  Não separar os verbos e nomes de seus complementos por vírgulas

Conforme já foi dito anteriormente, não devemos separar, dentro da oração,


termos que mantenham entre si uma relação de dependência sintática. Sendo
assim, os complementos verbais e o complemento nominal não devem ser se-
parados dos termos com os quais estabelecem um conjunto significativo, mes-
mo que esses termos apareçam antepostos aos termos que complementam.
Ex.:

Deve -se reagir às palavras dos provocadores com sensatez.


   
objeto indireto complemento nominal

Às palavras das provocadores deve - se reagir com sensatez.


   
objeto indireto complemento nominal

5.2.2.8  Termos intercalados

Os termos intercalados entre o verbo ou um nome e seus complementos devem


ser isolados por vírgula.
Ex.:
Perceba, caro amigo, as vantagens da nossa situação.

118 • capítulo 5
5.2.2.9  Complementos verbais ou nominais formados por mais de um núcleo

Complementos verbais ou nominais que sejam formados por mais de um


núcleo devem ser separados por vírgulas, como ocorre nos casos de sujei-
tos composto.
Ex.:
Compramos doces, salgados e refrigerantes.
Mandou buscar parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho para
a cerimônia.

5.2.2.10  Objeto Direto e Indireto Pleonástico

Em construções em que haja o objeto direto ou indireto pleonástico, deve-se


utilizar a vírgula.
Ex.:
Aquelas flores, colhera-as para dar para a mãe.
Aos amigos, disse-lhes algumas poucas palavras.

5.2.2.11  Agente da passiva

O agente da passiva não deve ser separado por vírgulas.


Ex.:

Todas aquelas á rvores foram plantadas por min .


 
agente da
passiva

5.2.2.12  Adjunto Adnominal

Os adjuntos adnominais fazem parte do termo sintático a que pertence o subs-


tantivo a que se ligam e por esse motivo não devem ser separados por vírgula
desse substantivo.
Ex.:

Os frequentes termos
 de baixo calão do deputado governista
     
adjunto núcleo do adjunto adjunto adno min al
adno min al sujeito adno min al

evidenciam seu
 pleno despreparo.
adjunto

adjunto
adno min al adno min al

capítulo 5 • 119
5.2.2.13  Adjuntos Adverbias

Os adjuntos adverbias, quando vêm após o verbo ou seus complementos, po-


dem ser separados por vírgulas.
Ex.:
Encontrei, ontem à noite, alguns amigos.
  
adjunto
adverbial

Encontrei ontem à noite alguns amigos.


  
adjunto
adverbial

Quando são antepostos ou intercalados, os adjuntos adverbiais devem ser


obrigatoriamente separados por vírgula. No entanto, se o adjunto for de peque-
na extensão, ficam dispensadas as vírgulas.
Ex.:

Ontem à noite, encontrei alguns amigos.


 
adjunto
adverbial


L vão os meninos birrentos.
adjunto
adverbial

5.2.2.14  Aposto

O aposto deve sempre ser separado por vírgulas do termo a que faz referência.
Menos o aposto especificativo, que não é marcado por sinais de pontuação.
Ex.:

Seus medos, bobas inseguraças, estavam tomando conta dos seus pensamentos.
  
aposto
O compositor Caetano Veloso esteve acamado nos últimos meses.

aposto especiificativo

5.2.2.15  Vocativo

O vocativo deve vir sempre separado por vírgulas, independente da posição que
ocupe na frase.

120 • capítulo 5
Ex.:

O tempo não é, meu amigo, aquilo que você pensou.



vocativo
"Eu desejaria saber quem foi o imbecilque inventou o beijo, Senhor
 !"
vocativ
vo
Amigos, não há amigos!

  
vocativo

Procuramos mostrar como se dá a relação entre os termos da oração e os


sinais de pontuação para demonstrar que a falta da pontuação ou uma pon-
tuação incorreta do texto pode gerar problemas sérios no entendimento do
texto. Além disso, quando estudamos as regras de uso dos sinais de pontua-
ção sem relacionar com o uso fica muito mais complicado o entendimento,
porque parece ao aluno que ele apenas deve decorar um punhado de regras.
Contextualizar o ensino, demonstrar a importância de determinada informa-
ção para o aluno, vai ajudá-lo a compreender melhor o que se está estudando,
além de deixar claro que todo conhecimento só serve quando tem uma finali-
dade prática. Caso contrário, o aluno irá se desmotivar e não verá a importância
do estudo da Língua Portuguesa.

CONEXÃO
Para aprofundar seus conhecimentos sobre os Sinais de Pontuação e seus usos, leia o texto
Pontuação, disponível em: http://www.normaculta.com.br/pontuacao/.

ATIVIDADES
01. Com relação aos períodos a seguir, aponte a diferença de significado existente en-
tre eles:
I. O cão desvairado vinha em nossa direção.
II. O cão, desvairado, vinha em nossa direção.

02. Usando apenas uma vírgula, pontue a frase a seguir de duas maneiras distintas, de modo
que tenham sentidos diferentes.
Se o homem soubesse o valor que tem sua mulher andaria de rastos à sua procura.

capítulo 5 • 121
03. No texto abaixo, omitiu-se os sinais de pontuação. Reescreva-os, pontuando
-os adequadamente.
Entro na venda para comprar uns anzóis e o velho está me atendendo quando chega
um menino da roça com um burro e dois balaios de lenha fica ali parado esperando o velho
parece que não o vê mas afinal olha as achas com desprezo e pergunta quanto o menino
hesita coçando o calcanhar de um pé com o dedo de outro quarenta o homem da venda não
responde vira a cara aperta mais os olhos miúdos para separar os anzóis pequenos que eu
pedi (Rubem Braga)

04. Pontue adequadamente as frases abaixo, usando a vírgula, e justifique seu emprego:
a) A medida foi aplicada no entanto não resolveu o problema.
b) Durante o jantar o assunto foi esse.
c) Ele preferia os salgados e eu os doces.
d) Havia contudo inconvenientes sérios.
e) Visitarei Recife Fortaleza Salvador e Maceió.

05. Pontue o texto a seguir usando a vírgula e o ponto e vírgula:


“A História torna o homem incrédulo a poesia indefeso a matemática frio a filosofia sober-
bo a moral chato.” (Millôr Fernandes)

REFLEXÃO
É provável que você, no decorrer do estudo dos sinais de pontuação, tenha parado pra pen-
sar que por vezes nem nos damos conta da importância do uso desses sinais e como eles
contribuem de forma significativa para a construção do sentido do texto. Vimos, por meio de
diversos exemplos, que, sem o sinal de pontuação adequado, um texto pode perder comple-
mente o significado que gostaria de imprimir a ele o seu enunciador. Além disso, entender
como os sinais de pontuação se relacionam com os termos da oração nos auxilia no processo
de apreender as regras de uso desses sinais gráficos tão importantes para a elaboração de
bom texto.

122 • capítulo 5
LEITURA
NASCIMENTO, Renata Ferreira dos Santos. A Importância Dos Sinais De Pontuação Na Fluência
Da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-dos-
sinais-de-pontuacao-na-fluencia-da-lingua-portuguesa/103844/#ixzz3hR8nlFnW>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Celso. Gramática do Português contemporâneo. 2 ed. Porto Alegre: L&PM, 2008.
INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática Aplicada aos Textos. 5 ed. São Paulo: Scipione, 1999.
ROCHA LIMA. Gramática da Língua Portuguesa. 36 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática. 14 ed. São Paulo: Atual, 1990.
TERRA, Ernani. Curso Prático de Gramática. 6 ed. São Paulo: Scipione, 2011.

GABARITO
Capítulo 1

01.
a) Para todos os verbos em negrito, temos sujeito oculto ou desinencial EU.
b) Faças- verbo no modo imperativo, sujeito oculto ou desinencial
Há- oração sem sujeito
É- sujeito a vida
Aquece- sujeito Sol estático
Contam- sujeito As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais

Capítulo 2

01. vi : verbo transitivo direto


Achei: verbo transitivo direto
tinha verbo transitivo direto
Achei verbo transitivo direto
parecia verbo de ligação
vi verbo transitivo direto

capítulo 5 • 123
Achei verbo transitivo direto
eram verbo de ligação
nasceram verbo intransitivo
ficaram verbo transitivo direto
esperando verbo transitivo direto
vi verbo transitivo direto
misturaram- verbo intransitivo
voltou- verbo intransitivo
mover - verbo intransitivo
02.
a) “A falta de dinheiro é a raiz de todos os males.” (George Bernard Shaw)
Predicado nominal
b) “Nossas riquezas ultrapassam o lado material.” (Machado de Assis)
Predicado verbal
c) “A temperança é um dos maiores prazeres.” (Goethe)
Predicado nominal
d) “O coração não tem rugas.” (Madame de Sévigné)
Predicado verbal.
e) “Cada lágrima ensina-nos uma verdade.” (Ugo Fóscolo)
Predicado verbal
03. Pus o meu sonho (objeto direto) num navio (adjunto adverbial)
e o navio em cima do mar;( adjunto adverbial)
– depois, abri o mar ( objeto direto) com as mãos, (adjunto adverbial)
para o meu sonho( sujeito) naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas (predicado nominal)
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos (adjunto adnominal)
colore as areias desertas. (objeto direto)
O vento vem vindo de longe,( adjunto adverbial)
a noite se curva de frio; ( adjunto adverbial)
debaixo da água, ( adjunto adverbial) vai morrendo
meu sonho (sujeito), dentro de um navio..., (adjunto adverbial)
Chorarei (predicado) quanto for preciso,
para fazer com que o mar (sujeito) cresça,
e o meu navio chegue ao fundo (predicado verbal)

124 • capítulo 5
e o meu sonho (sujeito) desapareça.
Depois, (adjunto adverbial) tudo (sujeito) estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.(adjunto adnominal)
04.
a) Sim, pois explica algo sobre a aeomoça.
b) Ambos os termos são vocativos.
05. Os teus olhos espalham luz divina (objeto direto),
A quem a luz do Sol(adjunto adnominal) em vão (adjunto adverbial) se atreve:
Papoula, ou rosa delicada(adjunto adnominal), e fina,
Te (objeto direto) cobre as faces, que (sujeito, pois retoma as faces) são cor
de neve.
Os teus ( adjuntos adnominais) cabelos são uns fios d’ouro (predicativo do sujeito);
Teu lindo (adjuntos adnominais) corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não (adjunto adverbial) fez o Céu (objeto direto), gentil pastora (vocativo),
Para glória de Amor (adjunto adverbial) igual tesouro.
Graças, Marília bela (vocativo),
Graças à minha Estrela (objeto indireto)!

Capítulo 3

01.
a) O adjetivo suficientes concordo com os substantivos que o antecedem: o critério, a
responsabilidade e a maturidade.
b) Até teres o critério, a responsabilidade e a maturidade necessários para te saberes
orientar sozinha na vida.
02.
a) Testamentos;
b) fantástico;
c) habilitados;
d) desconfiados;
e) ítalo-brasileiras;
f) obrigadas;
g) anexos (em anexo);
h) apensas.

capítulo 5 • 125
03. Não, pois quando o SE funciona como pronome apassivador, há sujeito na oração e o
verbo deve concordar com ele. Sendo assim, deveria estar grafada da seguinte forma:
“Não se podem esperar resultados imediatos”.
04.
a) ...ou seja, se usa as avaliações tradicionais...
b) ....ou seja, usam-se as avaliações tradicionais...– O verbo concorda com o sujeito em
número e pessoa – SE = pronome apassivador).
05. Respectivamente: haja vista; ireis/irão; cantava/cantavam; quero; iremos; Eram; se res-
ponsabilizou/ nos responsabilizamos.

Capítulo 4

01.
a) Quando cheguei a casa, ouvi a resposta mais equacionaria da minha vida.
b) Correr na praia, jogar uma partida de futebol, assistir a uma boa peça e ir a um
cinema.
c) Dos paulistanos inquiridos pelo Data-folha, 68% dizem costumar assistir a ele.
d) Torcia para que a polícia não os prendesse, mas eles foram espertos, pagaram aos
advogados e se entregaram.
e) Felizmente alguém se lembrou de que os pés das mulheres não são iguais aos dos
homens.
f) Informando aos seus integrantes as várias mudanças que estão ocorrendo. OU In-
formando os seus integrantes sobre as várias mudanças que estão ocorrendo.
02. No primeiro período, a regência verbal está correta; no entanto, no terceiro período, o
verbo esquecer-se, com a preposição de, deve ser usado como pronominal: ...não se esqueça
de dar-me..
03. B
04.
a) "Mas nenhum se compara, afirma, ao que ele esteve envolvido ontem pela manhã.”
O problema de regência verbal consiste na ausência da preposição em exigida pelo
verbo envolver.
b) Mas nenhum se compara, afirma, ao em que ele esteve envolvido ontem pela ma-
nhã. OU Mas nenhum se compara, afirma, àquele em que ele esteve envolvido on-
tem pela manhã.

126 • capítulo 5
Capítulo 5

01. Em I, desvairado é um adjunto adnominal, e indica uma característica permanente do


cão. Em II, desvairado é um predicativo do sujeito, indicando uma característica transitória
do cão.
02. Se o homem soubesse o valor que tem, sua mulher andaria de rastos à sua procura.
Se o homem soubesse o valor que tem sua mulher, andaria de rastos à sua procura.
03. Entro na venda para comprar uns anzóis e o velho está me atendendo, quando chega
um menino da roça com um burro e dois balaios de lenha. Fica ali parado, esperando. O velho
parece que não o vê, mas afinal olha as achas com desprezo e pergunta:
– Quanto?
O menino hesita, coçando o calcanhar de um pé com o dedo de outro.
– Quarenta! O homem da venda não responde; vira a cara, aperta mais os olhos miúdos
para separar os anzóis pequenos que eu pedi. (Rubem Braga)
04.
a) A medida foi aplicada, no entanto não resolveu o problema. Use-se a vírgula para
separar orações coordenadas.
b) Durante o jantar, o assunto foi esse. Usa-se vírgula para isolar adjuntos adverbiais
que aparecem no começo da oração.
c) Ele preferia os salgados e eu, os doces. Usa-se vírgulas para marcar elipse verbal.
d) Havia, contudo, inconvenientes sérios. Isolar conjunção
e) Visitarei Recife, Fortaleza, Salvador e Maceió. Usa-se vírgula para separar elemen-
tos em uma enumeração.
05. “A História torna o homem incrédulo; a poesia, indefeso; a matemática, frio; a filosofia,
soberbo; a moral, chato.” (Millôr Fernandes)
Onde temos ponto e vírgulas podemos substituir por pontos finais.

capítulo 5 • 127
ANOTAÇÕES

128 • capítulo 5

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