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No seu início, a literatura possuía dois públicos: a classe burguesa tinha acesso
aos clássicos enquanto os desprivilegiados liam ou ouviam as histórias de cavalaria,
aventuras, contos, fábulas, lendas, mitos e folclore.
Para Zilberman e Silva, nesse período da história da leitura pode-se notar que as
crianças conviviam com a fala do adulto, pois não havia “infância” como nós a conhecemos
hoje. A criança era uma espécie de adulto em miniatura. Não havia nenhum espaço separado
do mundo adulto e a criança, a partir de sua convivência com os mais velhos, ia construindo a
sua formação.
Para os autores, a ideologia burguesa, que se firmou a partir de meados do século
XVIII, firmou a distinção entre a concepção de literatura adulta e literatura de crianças. Surge,
assim, a função pedagógica da literatura, em um contexto que visava à formação plena do
indivíduo para um futuro promissor:
Vemos, assim, que, no contexto escolar, a literatura não foi inserida como matéria
pedagógica senão depois de passar por várias transformações ate chegar ao reconhecimento
da sua eficácia e do seu poder de educar as crianças através dos textos voltados para o público
infantil.
Através da literatura a criança passa a julgar ou interpretar o mundo que a rodeia,
a partir de sua vivência, de suas sensações imediatas e diretas. O adulto não pode dar a
resposta pronta e acabada para as crianças, mas viabilizar atividades que as permitam pensar,
multiplicando suas observações e descobrindo suas funções, usos e prazeres. O aprendizado
como solução de problemas conceituais, proposto por Vigotski, se efetua plenamente no
exercício da leitura.
As histórias lidas em voz alta permitem que as crianças estabeleçam um contato
significativo com os livros. Esse contato deve ser iniciado o mais cedo possível, pois para a
criança as coisas existem ou não na medida em que sua imaginação as aceita como reais ou
inexistentes.
Quando o indivíduo entra em contato com o universo literário pela leitura ou por
ouvir uma história, ele coloca em desenvolvimento suas funções afetivas, cognitivas e
emocionais. Portanto, cabe ao professor se concentrar na importância desse ato pedagógico,
que envolve o mundo da leitura e o contar histórias. Como diz Campos, “[a] aprendizagem
não pode ser considerada somente como um processo de memorização ou que emprega
apenas o conjunto das funções mentais ou unicamente os elementos físicos ou emocionais,
pois todos estes aspectos são necessários” (1984, p. 33).
Campos percebe que a criança só aprende de fato quando soluciona problemas ou
mobiliza conceitos. É aí que a literatura atua, propondo problemas e desafios que excitam a
imaginação e a inteligência da criança. Segundo o escritor e crítico Augusto Meyer, na
primeira fase de nossa vida de leitores (geralmente na infância) temos a tendência a nos
identificarmos plenamente com os protagonistas das narrativas que lemos e a projetar em
nossa imaginação que somos nós as personagens dos dramas e aventuras vividos na leitura:
“Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo comum e objetivo para viver noutro
mundo” (Cf. MEYER, 1947, p. 11).
É importante lembrar que ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o
professor deve estabelecer uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria
realidade. Deve-se criar um contexto que, aguçando a percepção do leitor, permita que ele
descubra no texto mais do que já sabia. Desenvolvendo no leitor a sua inteligência e senso
crítico, que costuma ser desrespeitadas pelo pedagogismo. É essencial escolher bem o texto
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para que o grau de dificuldade seja adequado à faixa etária dos alunos e o desafio não seja
excessivo:
[L]ê histórias para crianças, sempre, sempre... É poder sorrir, gargalhar com
as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o jeito
de escrever de um autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse
momento de humor, de brincadeira... É uma possibilidade de descobrir o
mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos
e atravessamos de um jeito ou de outro... E a cada vez ir se identificando
com, outra personagem... E assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades
ou encontrar um caminho para a resolução delas. (ABRAMOVICH, 1995, p.
17)
Quando o professor decide contar uma história é necessário que a escolha com
muito cuidado e carinho, pois ela deve ser adequada à faixa etária, ao interesse dos ouvintes,
aos objetivos do próprio professor. Muitos textos procuram elevar o nível das crianças ao dos
professores é uma espécie de autoritarismo didático que não respeita as peculiaridades da
criança. A escolha da história funciona como chave mágica e tem importância decisiva no
processo narrativo. Não é necessário que o professor tenha um talento especial para contar
história, todavia, algumas habilidades devem ser cultivadas.
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A leitura na sala pode ajudar o aluno a interessar-se pela aula, permitindo a auto-
identificação, favorecendo aceitações de situações desagradáveis e ajudando a resolver
conflitos:
A literatura educa através de seus textos, pois a leitura representa, para o leitor, a
ponte entre o mundo linguístico e o real, permitindo assim desvelar novos propósitos de
reflexão, ampliando o seu conhecimento de mundo.
Muito frequentemente, os professores não desenvolvem nas crianças o hábito de
ler por desconhecerem a importância de texto literário e por não saberem que eles dão “um
sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum.” (LAJOLO, 1999, p. 15).
A leitura depende tanto do conhecimento de mundo do leitor quanto da
capacidade do escritor de seduzi-lo. O professor tem que dar sentido ao texto literário, pois,
segundo Zilberman e Silva, a criança
Candido vê a obra literária como “objeto de conhecimento [...] como algo que
exprime o homem e depois atua na própria formação do homem.” (1972, p. 804). A literatura,
a leitura literária não é, portanto, uma matéria escolar a mais, algo que a escola e os pais e
mesmo os próprios alunos podem desprezar como inútil. Candido aponta sua função vital para
o ser humano:
Portanto, por via oral ou visual; sob formas curtas e elementares, ou sob
complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada
instante; aliás, ninguém pode passar um dia sem consumi-la, ainda que sob a
forma de palpite na loteria, devaneio, construção ideal ou anedota. E assim
se justifica o interesse pela função dessas formas de sistematizar a fantasia,
de que a literatura é uma das modalidades mais ricas. (CANDIDO, 1972, p.
804)
Além disso, é “função da literatura como representação de uma dada realidade social
e humana, que faculta maior inteligibilidade com relação a esta realidade” (CANDIDO, 1972,
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p. 806). Ou seja, por meio das histórias, as crianças e os adultos podem compreender mais
amplamente a realidade. Assim, ao invés de fantasiar a realidade, a literatura acaba
possibilitando uma visão mais clara da mesma.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1985.
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e Cultura. São Paulo,
n. 24, 24 set. 1972, p. 803-809.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 5. Ed. São Paulo: Ática,
1999.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Sobre literatura e arte. 2. Ed. São Paulo: Global, 1980.
MEYER, Augusto. À sombra da estante: ensaios. [s.i]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.
P.11-23.
ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da. (orgs.). Literatura e pedagogia: Ponto
e contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.