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Lucas Guilherme Krauczuk Barros Direito - 3° Semestre - Matutino

RA: 190009164

Projeto Integrador: Artigo Jurídico

A Impossibilidade de Criminalizar as Fake News sem Violar o Direito à


Liberdade de Expressão

Resumo do Artigo
A impossibilidade de criminalizar as Fake News de maneira taxativa e que,
empregada, não viole a liberdade de expressão num período político marcado pela
descentralização da comunicação e do debate público.

1 - Introdução

A democratização do ambiente virtual como ferramenta de comunicação


humana aproximou, de modo inimaginável, povos, culturas e línguas distantes.
Nunca a comunicação foi tão abundante, dinâmica e acessível. Literalmente, em
poucos segundos, o brasileiro mais isolado geograficamente consegue informações
sobre quaisquer lugares, povos e ciências que ele queira, bastando para isso
apenas uma ferramenta igualmente acessível, como um celular. Tal evolução é
escassa na história humana, podendo talvez comparar-se com outros inventos que
aplicaram o mesmo impacto, como a bússola, roda, motor de combustão, pólvora e
o alcance à tecnologia prometeica. São definitivamente revoluções de rupturas com
tudo que se é acostumado a compreender e, uma vez acessadas, a indiferença é
absolutamente negada.
Dado o nível de impacto na humanidade, a adaptação ao que é virtual é
caótica, demorada e, claro, conserva em si virtudes e defeitos, como a tão falada
Fake News, característica comum às redes sociais.
Mas antes de entrar no assunto de Fake News, tema deste artigo e que
antecipo ser claramente um dos desafios da virtualização da comunicação
descentralizada, é necessário pensarmos e conceituarmos o que é Democracia,
sobretudo a moderna.
A Democracia é um modelo de governo em que a soberania “emana do
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povo ” ou, como defendida em Gettysburg, um governo democrático é um “governo
do povo, pelo povo e para o povo 2”. Ela é uma forma de governo que também
conserva em si virtudes e defeitos e, sem esforço imaginativo, possui muitas
características similares com a comunicação horizontal possível com a internet:
enquanto a Democracia é a ferramenta da administração pública, a comunicação
virtual é a ferramenta da descentralização do debate público. Aquela sendo
impossível sem a existência desta.

1 Constituição da República do Brasil, parágrafo único do artigo primeiro: todo poder emana do povo.
2 O Discurso de Gettysburg, proferido em 1863 por Abraham Lincoln durante a Guerra de Secessão
americana (1861 - 1865)
02 - As Fake News e outros perigos à Democracia

Esclarecida, então, a proximidade e também representatividade do ambiente


virtual com a própria Democracia moderna, sendo aquela extensão natural desta,
temos de lidar com os problemas virtuais, de maneira democrática e prudente,
oriundas dessa situação .
As fake news, nome que vem se popularizando desde as eleições de 2016
dos EUA, não é algo novo. Muitos movimentos históricos foram movidos por boatos
sem fundamento, como o próprio golpe militar de 1889, que instaurou a República
no Brasil, motivada por uma fake news de cunho amoroso. Este tipo de notícia falsa,
que visa modificar o cenário público, é uma condição perigosa, é claro, porém
natural ao ambiente da liberdade de expressão e da Democracia. Desde Platão, a
influência de notícias infundadas era um risco conhecido e tinha protagonismo,
dentro da análise platônica, na própria corrupção da Democracia, possibilidade que
o fez contrário à ideia de modelo democrático de governo, pois haveria a condução
do povo (dema gogós) por um líder e discurso demagogo.
Problema comum às Democracias é a demagogia e ninguém torna-se
demagogo, isto é, uma pessoa que abdica da razão em prol de um discurso mais
emotivo, apelativo e, por vezes, irracional, ao simplesmente ascender à carreira
pública. É sensato dizer que há demagogia nos funcionários públicos porque há
demagogia nos cidadãos da sociedade, com variações de graus, porém
característica evidentemente natural ao homem. Extirpar ou punir de maneira que
visa a redução da manifestação dessa característica da sociedade, seja esta qual
for, é um sonho inalcançável que fariam lançar mão de judicialização exagerada e
invasiva, violadora de direitos e, Ceteris Paribus3, totalitária por si. Antes de entrar
no mérito se essa estratégia lograria ou não êxito, vale à pena refletir se o método
não é demasiadamente exagerado, se os fins justificam os meios.

Conceito de fake news

Para se criminalizar as fake news, seja em âmbito penal, eleitoral ou qualquer


outro, precisamos definir, de antemão e de maneira taxativa, o que elas são. Qual é
o melhor verbo para tratar com exatidão a “ação de fake news”? Temos de início um
insuperável problema. Pelo que dá para compreender, fake news é algo parecido
com a mentira ou a ação de mentir. Melhor dizendo, não exatamente mentir, mas
direcionar a mentira de maneira que possa vir, com ela, impactar e alterar o cenário
público da política. Para que surta o efeito, portanto, é necessário que fake news
seja direcionada ou que envolva agentes públicos, pois só a substituição destes, por
voto ou judicialmente, é que se muda o cenário político.
Então temos por verbo mentir e por agente passivo o funcionário público. Por
consequência, temos por agente ativo comum e geral.
3 Ceteris paribus é expressão em latim que significa “considerando inalterados todos os fatores que
possam influenciar”
Projeto de Lei 3144/20

É nesse sentido que caminha o projeto de Lei 3144/20, apresentada pela


parlamentar Joice Hasselmann (PSL), ao caracterizar fake news como notícias
verificadamente falsas. Estas verificações ocorreria sob responsabilidade de um
orwelliano Comitê da Verdade4, ou, melhor dizendo, Comitê de Combate à
Desinformação, que seria criado em conformidade com este projeto de lei.
Este Comitê de Combate à Desinformação (CCD) ficaria encarregado, dentre
outras coisas, de cotejar não somente a verificação da notícia, mas também o seu
“alcance significativo”. O que seria um “alcance significativo”? O projeto não
esclarece na totalidade.
Outra atribuição do CCD seria separar desinformação de opinião pessoal,
expressão satírica, religiosa e humorística, tendendo para a judicialização do debate
público, característica incompatível com o debate descentralizado atual. Além de
observar possíveis danos coletivos que possam influenciar resultado de eleições.
Novamente o critério de aferição são escassos e vagos, sobretudo para algo tão
subjetivo e desenvolvido sob fatores imprevisíveis, como o voto e, por
consequência, os resultados eleitorais. Corre-se risco de haver, com tamanha
ausência de critério, deturpação deste Comitê a fim de transformá-lo em ferramenta
política.

Necessidade de Sanção às Fake News

Não dá para ignorar que há diversos dispositivos legais em vigor no país que
são muito mais adequados para essas situações do que a criação, do zero, de um
novo tipo legal. A calúnia, difamação e injúria, por exemplo, protegem a todos,
incluindo os funcionários públicos, de ataques diretos que lhes ofendem a honra.
Mas, agora sim, supondo que não suprissem a demanda de justiça, o conceito de
fake news ou desinformação é extremamente vago e problemático. Note que, por
excelência, viola diversos bens jurídicos caros ao povo brasileiro, como a liberdade
de expressão e de opinião, além de passivamente distanciar o representante de
possíveis críticas diretas do representado, encastelando ainda mais aqueles que,
por profissão, devem satisfação transparente e ampla.
Outra característica dessa tentativa consiste na substituição da sanção moral
pela sanção estatal. Transformar um comportamento naturalmente de foro íntimo
em assunto que o Estado precisa pesadamente intervir é violação direta ao princípio
do Direito Penal Mínimo, dando atribuições imorais para a esfera de Direito Penal
que não lhe compete. Ou, se intervenção feita por outra esfera jurídica, no mínimo
há uma deturpação à ideia de Direito Regulador para a adoção mais próxima a
Direito idealista, que atua de cima para baixo, muito comum nas ideologias políticas
desenvolvidas nos séculos XIX e XX.

4 Tecnologia totalitária presente na clássica obra “1984”, de George Orwell


O Primeiro Condenado por Fake News5

Em 2014, em Santa Catarina, um empresário compartilhou uma falsa


pesquisa eleitoral, manipulando números de modo que pudesse causar, em quem
lesse, impressão de crescimento para o seu candidato, que liderava por menor
margem. O empresário foi indiciado pela PF e condenado pelos artigo 33, §4.º, da
Lei 9.504/1997 (divulgação fraudulenta de pesquisa eleitoral) e pelo artigo 297 do
Código Eleitoral (impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio).
Note que o primeiro caso brasileiro foi resolvido sem qualquer espécie de
dano aos demais bens, sem lançar mão de medidas jurídicas que pudessem, numa
interpretação dúbia, tolher liberdades individuais do cidadão. Este foi um caso
resolvido de maneira exemplar, podendo, se mais complexo, inserir atuação Penal,
Civil ou de outro tipo já existente, demonstrando ser desnecessário para proteger a
Democracia qualquer Projeto de Lei específico para este assunto.

Conclusão

Trazendo o conceito de Fake News do PL 3144/20, talvez o melhor


questionamento sobre isso é se realmente a liberdade de expressão é liberdade
para mentir. A resposta mais sensata que podemos obter é duvidar se cabe ao
Direito deliberar sobre esta questão que, historicamente, sempre pertenceu ao foro
íntimo. Assustadoramente, algumas consciências jurídicas, na sanha de judicializar
o mundo e de o organizar de maneira racional, como numa teoria de gabinete,
colocam esta atribuição equivocadamente ao Direito. Ora, é de fato uma questão
influente na sociedade, mas que orbita distante das responsabilidades do Direito
público e mora, irrevogavelmente, na moral íntima, pessoal e não estatizada dos
indivíduos.
Outras normas, das mais diversas áreas do Direito, buscam trazer
sobriedade ao ambiente virtual e, concomitantes aplicadas, essas conversas entre
as esferas jurídicas brasileiras e iniciativas privadas conseguem assistir com
bastante qualidade, diga-se, toda situação que poderia ser enquadrada como
possível “dano à Democracia” sem, no processo, colocar em risco a liberdade de
expressão, como está sendo feito referente às tentativas de conter às Fake News.

5 "ES tem primeiro indiciado pela PF por compartilhar fake news ...." 16 jan.. 2018,
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/es-tem-primeiro-indiciado-pela-pf-por-compartilhar-fake-
news-na-internet.ghtml. Acessado em 09 jun.. 2020.

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