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EDUCAÇÃO
Mara Lucia Martins (mestranda)
Amélia Kimiko Noma (orientadora)
Este trabalho tem por objetivo apresentar resultados parciais de pesquisa de dissertação
de mestrado cujo objetivo é evidenciar a influência das idéias neoliberais na educação
atual a partir da análise de propostas educacionais contidas em duas fontes documentais
oficiais: o Relatório Jacques Delors e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental (PCNs).
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neoliberais é a crítica e o desmantelamento do Estado keynesiano (e o welfare state),
bem como das modernas corporações e dos sindicatos trabalhistas (Moraes, 2000, p.14).
Os neoliberais fazem uma crítica violenta ao Estado de bem-estar social, passando a
empreender uma pregação voltada para o fortalecimento dos mecanismos auto-
regulatórios do mercado, livres das amarras do intervencionismo, os quais seriam a base
do retorno da estabilidade monetária e do crescimento. Criticam a ação intervencionista
do Estado, entendendo ser este o causador da crise na sociedade ao proporcionar a
previdência social e cobrar impostos altos por isso. Consideram, ainda, que os
trabalhadores sindicalizados são exageradamente protegidos e que o Estado possui uma
burocracia ineficiente e cara.
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A Unesco é uma agência especializada na Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para a
educação, a ciência e a cultura e tem, atualmente, como Diretor Geral Federico Mayor, segundo o qual
"É nas mentes dos homens que a defesa da paz deve ser construída..." (REDEPEA - UNESCO, 2001,p.1).
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para o Ensino Fundamental. Dos dez volumes dos PCNs é utilizado somente o volume I
– Introdução –, pois é este que relata como se chegou ao documento final, explicita suas
finalidades e trata de seus princípios e fundamentos.
Em que pese a isso, a garantia do aprender-a-aprender está muito mais na prática social
e nas condições de vida e de oportunidades a que cada um tem acesso do que na própria
escola. A ação educativa escolar trabalha mais com a reprodução de valores e de
conhecimento do que com o vir-a-ser. Até porque suas condições materiais são, na
maioria das vezes, precárias, assim como a formação de seus profissionais.
Afirma-se que o Relatório propõe uma educação universal e utópica, que não considera
a essência do problema educacional, que é social e não individual. Idealiza-se uma
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educação salvadora da humanidade, que acabe com os conflitos e as diferenças sociais,
que possa transformar os cidadãos, tão desigualmente separados pela diferença de
classes sociais, em indivíduos felizes e harmoniosos.
Por outro lado, a existência de vários "Brasis" torna ainda mais diluídas as propostas
contidas nos PCNs. O documento se intitula a chave para alcançar um ensino de
qualidade, mas não define claramente qual seria esta qualidade. No entanto, quando
enfatiza que o grande vilão do sucesso da educação é a alta taxa de evasão e repetência,
é possível inferir que a preocupação maior reside na diminuição dessa taxa. Este
propósito, porém, está mais a serviço de melhorar a imagem do governo junto a
organismos internacionais, que financiam projetos educacionais, do que voltado para as
possibilidades reais dos alunos e suas escolas.
Além disso, não se pode pensar que a aplicação de recursos educacionais e mudanças
metodológicas solucionem estes problemas. O desafio primeiro consiste em tomar
consciência da origem desses problemas para que possam ser encarados com maior
realismo, ou seja, em compreender que os motivos são muito mais sociais do que de
métodos, e que entendê-los consiste no primeiro grande desafio para que se evitem
mudanças apenas no discurso. A contradição social que atravessa as finalidades
educativas, tornando-as praticamente impossíveis de alcançar, remete à contradição real
que sustenta a sociedade capitalista: as diferenças sociais entre os homens.
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homens enfrentam no momento e, conseqüentemente, as suas limitações dentro da
sociedade, recaindo sobre cada um a responsabilidade de seu sucesso profissional, uma
vez que os Parâmetros pregam que basta uma adequação à realidade regional, mas não
mostram que dentro de cada região existem várias classes sociais, com oportunidades de
acesso e condições muito diferentes.
Os resultados obtidos até agora possibilitam argumentar que estas propostas parecem
retomar os valores do liberalismo clássico sob novos parâmetros, utilizando como uma
das estratégias a redefinição da função social da educação e do pensamento educacional,
o que se constitui em expressão da inflexão da luta pela transformação das relações
sociais capitalistas, que produzem a desigualdade e a exclusão social.
Neste contexto, o Banco Mundial aparece como o principal articulador destas propostas
educacionais, que têm como alvo principal os países em desenvolvimento, ditos
periféricos, e a educação básica é o objetivo final, com vistas a garantir a estabilidade
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Ver a esse respeito GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: Manual do usuário. In: SILVA, T. T. ;
GENTILI, P. (Org.). Escola S.A: quem ganha e quem perde com o neoliberalismo. Brasília, DF:CNTE,
1996, p. 9-49.
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do sistema.
Desta forma, podemos inferir que esta interferência não se resume a empréstimos
financeiros para movimentar o mercado, mas faz parte das metas destes organismos
financiadores voltar-se para as políticas sociais, em especial a educação, através da qual
conseguem consolidar seus ideais de sociedade, pois junto com os empréstimos vêm as
metas e os prazos que estes países têm a cumprir.
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REFERÊNCIAS