Sei sulla pagina 1di 7

REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE NEOLIBERALISMO E

EDUCAÇÃO
Mara Lucia Martins (mestranda)
Amélia Kimiko Noma (orientadora)

Este trabalho tem por objetivo apresentar resultados parciais de pesquisa de dissertação
de mestrado cujo objetivo é evidenciar a influência das idéias neoliberais na educação
atual a partir da análise de propostas educacionais contidas em duas fontes documentais
oficiais: o Relatório Jacques Delors e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental (PCNs).

Estabelece-se um diálogo crítico com tais propostas, problematizando-as à luz da


literatura existente e buscando apreender seus conceitos e fundamentos teóricos e
ideológicos para, então, evidenciar seus vínculos com as concepções ideológicas do
neoliberalismo. Trata-se de compreender o processo que transformou a educação em
tema central das agendas nacionais e internacionais e alvo principal das reformas
políticas e econômicas, o que significa inserir-se no debate sobre os processos de
construção e implementação de políticas públicas na área educacional.

Em primeiro lugar, procedeu-se ao estabelecimento de uma diferenciação histórica, o


que é fundamental para a discussão do propósito dos neoliberais de retorno aos
princípios que vinham sendo forjados pelo liberalismo clássico desde o século XVIII"
(Moraes, 2000, p.14). Alceu Ferraro enfatiza muito bem esta distinção ao afirmar que os
economistas liberais clássicos "são, ao mesmo tempo, criadores e intérpretes de um
movimento histórico revolucionário, conduzido pela burguesia industrial ascendente".
Inversamente, o neoliberalismo" é um movimento surgido na contramão da história,
voltado não para a transformação mas para a restauração de um passado distante."
(2000, p.38)

Os liberais clássicos combatiam a política do Estado mercantilista e os regulamentos


impostos pelas corporações de ofícios; diferentemente, o principal propósito dos

1
neoliberais é a crítica e o desmantelamento do Estado keynesiano (e o welfare state),
bem como das modernas corporações e dos sindicatos trabalhistas (Moraes, 2000, p.14).
Os neoliberais fazem uma crítica violenta ao Estado de bem-estar social, passando a
empreender uma pregação voltada para o fortalecimento dos mecanismos auto-
regulatórios do mercado, livres das amarras do intervencionismo, os quais seriam a base
do retorno da estabilidade monetária e do crescimento. Criticam a ação intervencionista
do Estado, entendendo ser este o causador da crise na sociedade ao proporcionar a
previdência social e cobrar impostos altos por isso. Consideram, ainda, que os
trabalhadores sindicalizados são exageradamente protegidos e que o Estado possui uma
burocracia ineficiente e cara.

A política neoliberal prevê uma ampla desregulamentação e liberalização das regras de


comércio e alocação de capitais internacionais, a quebra de barreiras, a abertura das
bolsas e de todos os setores da economia às multinacionais. Entendem que o mercado, e
não o Estado, deve ser o único negociador de salários e capitais, por isso a
desregulamentação total, a derrubada das barreiras comerciais e a livre circulação de
bens de trabalho e de capital.

Pablo Gentili (1996, p.9) destaca “a importância teórica e política de se compreender o


neoliberalismo como um complexo processo de construção hegemônica”, pois suas
propostas atingem reformas na economia, na política, na educação, entre outras, e
buscam sacramentar estas propostas, enfatizando que são as únicas adequadas para o
momento que a sociedade vive. É objetivo das propostas neoliberais criar um
sentimento único para garantir o sucesso de seus ideais de globalização, livre-economia
e Estado mínimo.

Para evidenciar como o pensamento neoliberal se apresenta na educação


contemporânea, são analisadas duas fontes: o Relatório, para a Unesco1, da Comissão
Internacional sobre a Educação para o Século XXI, mais conhecido como Relatório
Jacques Delors (1998), e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – (Brasil, 1997)

1
A Unesco é uma agência especializada na Organização das Nações Unidas (ONU), voltada para a
educação, a ciência e a cultura e tem, atualmente, como Diretor Geral Federico Mayor, segundo o qual
"É nas mentes dos homens que a defesa da paz deve ser construída..." (REDEPEA - UNESCO, 2001,p.1).

2
para o Ensino Fundamental. Dos dez volumes dos PCNs é utilizado somente o volume I
– Introdução –, pois é este que relata como se chegou ao documento final, explicita suas
finalidades e trata de seus princípios e fundamentos.

A escolha desses documentos se deve ao fato de ambos serem apresentados como


relevantes para o fortalecimento da política de educação para todos. Além disso, eles
foram elaborados a partir da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada
em Jomtien, na Tailândia, em 1990.

Os PCNs foram publicados antes do livro “Educação, um tesouro a descobrir”, de


Jacques Delors, mas não antes do Relatório, que foi concluído em 1996. Por isso, pode-
se observar que os quatro pilares do conhecimento contidos no Relatório são a base da
educação também nos PCNs, embora em sua referência bibliográfica não seja citado
aquele documento. Foram elaborados para atender a um artigo da Constituição que
prevê o estabelecimento de conteúdos mínimos para a educação.

O seu fundamento são os quatro pilares do conhecimento – aprender a conhecer,


aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser, os quais evidenciam que o
objetivo é preparar a criança para se adequar às mudanças constantes no processo de
trabalho, formando indivíduos qualificados e criativos. Argumenta-se que em uma
sociedade com o desenvolvimento tecnológico tão acelerado é importante enfatizar o
aprender-a-aprender, pois do contrário o profissional capacitado e bem-preparado hoje,
amanhã estará desatualizado.

Em que pese a isso, a garantia do aprender-a-aprender está muito mais na prática social
e nas condições de vida e de oportunidades a que cada um tem acesso do que na própria
escola. A ação educativa escolar trabalha mais com a reprodução de valores e de
conhecimento do que com o vir-a-ser. Até porque suas condições materiais são, na
maioria das vezes, precárias, assim como a formação de seus profissionais.

Afirma-se que o Relatório propõe uma educação universal e utópica, que não considera
a essência do problema educacional, que é social e não individual. Idealiza-se uma

3
educação salvadora da humanidade, que acabe com os conflitos e as diferenças sociais,
que possa transformar os cidadãos, tão desigualmente separados pela diferença de
classes sociais, em indivíduos felizes e harmoniosos.

Analisando-se os PCNs, considera-se que também caminham na mesma linha do


Relatório, não levando em conta a realidade social dos homens e colocando a educação
como solução para os problemas sociais e aos homens a responsabilidade de seu sucesso
ou fracasso na vida. Esse documento se apresenta como flexível e optativo - embora,
pela forma como foi minuciosamente elaborado, se denuncie todo o tempo como
descritivo e específico no seu conteúdo - estimulando a sua incorporação e
apresentando-se como verdade absoluta.

Por outro lado, a existência de vários "Brasis" torna ainda mais diluídas as propostas
contidas nos PCNs. O documento se intitula a chave para alcançar um ensino de
qualidade, mas não define claramente qual seria esta qualidade. No entanto, quando
enfatiza que o grande vilão do sucesso da educação é a alta taxa de evasão e repetência,
é possível inferir que a preocupação maior reside na diminuição dessa taxa. Este
propósito, porém, está mais a serviço de melhorar a imagem do governo junto a
organismos internacionais, que financiam projetos educacionais, do que voltado para as
possibilidades reais dos alunos e suas escolas.

Além disso, não se pode pensar que a aplicação de recursos educacionais e mudanças
metodológicas solucionem estes problemas. O desafio primeiro consiste em tomar
consciência da origem desses problemas para que possam ser encarados com maior
realismo, ou seja, em compreender que os motivos são muito mais sociais do que de
métodos, e que entendê-los consiste no primeiro grande desafio para que se evitem
mudanças apenas no discurso. A contradição social que atravessa as finalidades
educativas, tornando-as praticamente impossíveis de alcançar, remete à contradição real
que sustenta a sociedade capitalista: as diferenças sociais entre os homens.

Esta é a realidade que mostra as disparidades sociais e vem denunciar a fragilidade da


proposta dos PCNs, os quais não levam em conta as diferenças de oportunidades que os

4
homens enfrentam no momento e, conseqüentemente, as suas limitações dentro da
sociedade, recaindo sobre cada um a responsabilidade de seu sucesso profissional, uma
vez que os Parâmetros pregam que basta uma adequação à realidade regional, mas não
mostram que dentro de cada região existem várias classes sociais, com oportunidades de
acesso e condições muito diferentes.

O Relatório Jacques Delors e os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao serem


comparados, revelam a identidade de seus fundamentos. O Estado deve ser o grande
responsável pela direção a ser dada à educação do povo (não necessariamente quanto ao
seu financiamento2), e temas como a ética, o convívio social, o meio ambiente, a
educação sexual, a educação continuada, tendo o aprender-a-aprender como princípio
educativo básico, mostram que a preocupação de ambos os documentos está voltada
para questões sociais e que seu objetivo educacional continua sendo a necessidade de
assegurar a coesão social, pela formação do cidadão, mas também de formar o indivíduo
empreendedor, desenvolvendo suas potencialidades para ser bem-sucedido na vida.

Os resultados obtidos até agora possibilitam argumentar que estas propostas parecem
retomar os valores do liberalismo clássico sob novos parâmetros, utilizando como uma
das estratégias a redefinição da função social da educação e do pensamento educacional,
o que se constitui em expressão da inflexão da luta pela transformação das relações
sociais capitalistas, que produzem a desigualdade e a exclusão social.

A partir destas considerações, é possível afirmar que as reformas educacionais vêm


sendo estabelecidas para atender às exigências do movimento de rearticulação do capital
em nível mundial, as quais impõem estes ajustes como requisito para se alcançar o
desenvolvimento e inserir-se no chamado mundo globalizado.

Neste contexto, o Banco Mundial aparece como o principal articulador destas propostas
educacionais, que têm como alvo principal os países em desenvolvimento, ditos
periféricos, e a educação básica é o objetivo final, com vistas a garantir a estabilidade

2
Ver a esse respeito GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: Manual do usuário. In: SILVA, T. T. ;
GENTILI, P. (Org.). Escola S.A: quem ganha e quem perde com o neoliberalismo. Brasília, DF:CNTE,
1996, p. 9-49.

5
do sistema.

O Banco representa as potências imperialistas, especialmente os E.U.A, sendo


responsável por promover ajustes que garantam a sustentação da ideologia neoliberal,
tornando-a globalizada. De agente de empréstimos, esta instituição tornou-se promotora
e interventora nas mudanças políticas dos países que tomam empréstimos, conforme
palavras de seu presidente:

De uma agência para a reconstrução européia há 50 anos atrás, para uma


agência global de investimentos, cuja função não se restringe aos
empréstimos, mas a transmitir lições da experiência. O Banco tem portanto
um tríplice papel: emprestador, conselheiro e parceiro. (Wolfenschn, 1995,
apud LEHER, 1998, p.166)

Desta forma, podemos inferir que esta interferência não se resume a empréstimos
financeiros para movimentar o mercado, mas faz parte das metas destes organismos
financiadores voltar-se para as políticas sociais, em especial a educação, através da qual
conseguem consolidar seus ideais de sociedade, pois junto com os empréstimos vêm as
metas e os prazos que estes países têm a cumprir.

6
REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


introdução. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.

DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília,


DF: MEC: UNESCO, 1998.

FERRARO, Alceu R. Neoliberalismo e políticas públicas: a propósito do propalado


retorno às fontes. In: FERREIRA, Márcia Ondina; GUGLIANO, Alfredo Alejandro.
Fragmentos da globalização na educação: uma perspectiva comparada. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000. p.23-62.

GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. In: SILVA, Tomaz


Tadeu; GENTILI, Pablo (Orgs.). Escola S.A: quem ganha e quem perde com o
neoliberalismo. Brasília, DF: CNTE, 1996. p.9-49.

LEHER, Roberto. Da ideologia do desenvolvimento à ideologia da globalização: a


educação como estratégia do Banco Mundial para “alívio”da pobreza. 1998. 267 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São
Paulo.

MORAES, Reginaldo Carmello C. As incomparáveis virtudes do mercado: políticas


sociais e padrões de atuação do Estado nos marcos do neoliberalismo. In:
KRAWCZYK, Nora; CAMPOS, Maria Malta; HADDAD, Sérgio (orgs.). O cenário
educacional latino-americano no limiar do século XXI: reformas em debate.
Campinas: Autores Associados, 2000. p.13-42.

REDEPEA. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A


UNESCO. Disponível em: <http://www.castelobranco>.br/redepea/unesco.htm>.
Acesso em: 12 mar. 2001.

Potrebbero piacerti anche