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Ocina
Libras
Autora
Kate Mamhy Oliveira Kumada
Coautora
Priscila Paula da Silva Pereira
Proibida a reprodução nal ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modicada em língua
portuguesa ou qualquer outro idioma.
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Vice-Presidente
Vice-Presidente Acadêmica
Ana Maria Costa de Souza
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ÍNDICE
Introdução............................................................................................................................. 05
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ÍNDICE
Introdução
Caro(a) aluno(a),
Quando se deseja construir um ambiente inclusivo é essencial que a especicidade de cada
estudante seja considerada. Essa construção deve ir além das normas e das leis, todos os membros
da comunidade acadêmica precisam estar dispostos a conhecer e respeitar as diferenças e a
diversidade humana. Considerando esse pressuposto a Anhanguera Educacional propõe a Ocina
de Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Esta ocina foi idealizada pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da Anhanguera Educacional e
tem o propósito de instrumentalizar os participantes para que possam compreender e se comunicar
com pessoas surdas. Com esta iniciativa, esperamos contribuir para tornarmos a nossa instituição
ainda mais inclusiva.
A ocina possui carga horária total de 40 horas, distribuídas em 5 aulas-temas, a saber: Aula-tema 1)
história da educação de surdos; Aula-tema 2) cultura e identidade surda; Aula-tema 3) gramática da
Libras: parâmetros linguísticos, morfologia, fonologia e sintaxe; Aula-tema 4) gramática da Libras:
categorias gramaticais, exão verbal e nominal; e Aula-tema 5) mitos e perguntas frequentes sobre
a surdez, os surdos e as línguas de sinais.
Vale ressaltar que, além do contato com os conhecimentos teóricos da língua de sinais, esta ocina
possui 10 aulas práticas, distribuídas em 2 aulas práticas para cada tema. Em tais aulas serão
abordadas situações discursivas pertinentes ao cotidiano de uma instituição de ensino superior
como, por exemplo, o contexto da biblioteca, do Diretório Acadêmico, das atividades avaliativas,
entre outros. Vamos lá?
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TexTo e
ConTexTo T 01 - Hstó ecçã Ss
Para compreender a importância da língua de sinais para os surdos é necessário analisar sua
posição em um contexto sócio-histórico. De fato, ao retroceder no tempo e revisitar a história é
possível situar as diferentes representações do surdo, da surdez e das línguas de sinais ao longo do
tempo, reconhecendo os mitos que já foram desconstruídos e os que ainda têm sido perpetuados.
Um dos primeiros mitos é o de que as línguas de sinais foram recentemente descobertas e/ou
criadas quando, na verdade, em registros da Idade Antiga, o historiador português Paulo Vaz de
Carvalho (2007, p. 8) arma que os egípcios já cultuavam os surdos pela forma particular com que
se comunicavam. Na Antiguidade, os surdos eram temidos e respeitados pelos egípcios, pois se
acreditava que os surdos eram mensageiros dos Deuses ao Faraó.
Apesar disso, a forma diferenciada de se comunicar não era vista com bons olhos por todos os
povos da Idade Antiga. Conforme Choi et. al. (2011,
(2011, p. 6), na Grécia antiga, a perfeição e a bravura
consistiam nos ideias perseguidos na época. Além disso, diante da alta valorização grega pela
retórica, pouco ou nenhum espaço era dado aos surdos que por não ouvirem, consequentemente,
consequentemente,
não podiam se exprimir pela oralidade. Logo, por não serem úteis a sociedade grega, os surdos
eram, geralmente, condenados à morte.
Do mesmo modo, em Roma, até 529 d.C., os surdos, principalmente os pobres, também não
eram considerados dignos de viverem em sociedade. Por essa razão eram lançados
l ançados ao Rio Tibre.
Contudo, a partir do Código Justiniano, formulado pelo imperador Justiniano, os surdos deixaram
de ser mortos. Com base nesse documento legal, apenas os surdos que se comunicassem pela fala
oral teriam seus direitos resguardados, caso contrário, estariam impedidos de possuir propriedades,
herdar fortunas ou bens, assim como contrair matrimônio.
Durante a Idade Média, os discursos de Aristóteles e Santo Agostinho declaravam que por não
ouvirem, os surdos também não poderiam ser educados (CARVALHO, 2007, p. 14; CHOI, et al.
2011, p. 6). Contradizendo tais ideias, o Arcebispo John de Beverley, em 700 d.C., intrigado pela
esperteza de um rapaz surdo decidiu ensiná-lo a falar (oralmente), ler e escrever. Com êxito em
seu empreendimento, o sucesso do jovem foi visto como um milagre pelos cidadãos da época
(CARVALHO, 2007, p.14).
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TexTo e
ConTexTo T 01 - Hstó ecçã Ss
Foi assim que a possibilidade de educar os surdos se difundiu e foi fortalecida na Idade Moderna,
a partir do século XIV, quando autores como Bartolo della Marca d’Ancona, Rodolfo Agrícola e
Girolamo Cardano se posicionaram em defesa da instrução de surdos, cogitando outras formas
de comunicação, além da fala oral. Essa possibilidade chamou a atenção, principalmente para os
lhos de nobres cujas famílias estavam preocupadas com o destino de seus bens e patrimônios,
pois, conforme dito anteriormente, os surdos que não pudessem oralizar não detinham o direito de
herdar bens e fortunas.
Segundo Moura (2000, p. 17), Pedro Ponce de Léon, que viveu no século XVI, foi o primeiro
professor de surdos da história. Por ter vivido em um mosteiro beneditino, alguns autores como
Carvalho (2007, p.19) e Choi et al. (2011, p. 7) acreditam que Ponce de Léon conhecia os gestos
manuais utilizados pelos monges que faziam voto de silêncio e os aproveitou para criar um alfabeto
manual empregado na soletração de palavras pelos alunos surdos.
Assim que a sociedade percebeu que os surdos eram sujeitos aptos a aprendizagem, surgiram
inúmeros educadores e diversos métodos, a maioria se norteava pela escrita, oralidade, alfabeto
manual e sinais. Como tais prossionais eram contratados especialmente pelas famílias mais
abastadas, não demorou muito e uma disputa entre métodos foi instaurada. Além de manter suas
práticas em segredo, os educadores da corrente oralista iniciaram um movimento contra o método
baseado nos sinais. Entre os discursos oralistas, Konrad Amman armava que os surdos que não
falavam (oralmente) eram como animais, e que o uso de sinais atroava a mente e prejudicava o
desenvolvimento da fala e do pensamento (CARVALHO,
(CARVALHO, 2007, p.23).
Apesar dos ataques oralistas, a educação baseada nos sinais recebeu grande notoriedade,
principalmente, com as contribuições do Abade Charles Michel L’Épée. Segundo Choi et.al. (2011,
(2011,
p.8), o abade se destacou por aprender a língua de sinais francesa com os surdos que habitavam
as ruas de Paris e utilizando-a em prol da instrução dos mesmos. A iniciativa de L’Épée marcou
a passagem da educação de surdos individual para coletiva, ao transformar sua própria casa na
primeira escola para surdos do mundo (LANE, 1984, p.49). Conhecida como a “Era dourada na
educação de surdos” (LANE, 1984, s/p.), o ensino através dos sinais propiciou a formação de
numerosos educadores surdos, que se tornaram multiplicadores do método francês de L’Épée
e fundaram escolas para surdos em diversas partes do mundo, como por exemplo, os surdos
franceses Laurente Clerc nos Estados Unidos e E. Huet no Brasil.
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No Brasil, Huet foi convidado pelo Imperador Dom Pedro II, em 1857, para inaugurar o Imperial
Instituto de Surdos-Mudos, escola que funciona até hoje no Rio de Janeiro, sendo atualmente
denominada Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A inuência dos sinais franceses
trazidos por Huet foi mesclado com a língua de sinais utilizada pelos surdos brasileiros da época,
formando a língua brasileira de sinais (CHOI et. al., 2011, p.14). Além dos sinais franceses, Huet
importou o método francês de L’Épée e os materiais didáticos de seu mestre.
No entanto, apesar do sucesso internacional, o método francês do abade L’Épée enfrentou a
resistência oralista, não apenas no Brasil, como em várias partes do mundo. Na Inglaterra, Thomas
Braidwood fundou a primeira escola para correção da fala da Europa, onde ensinava os alunos
surdos, por meio da escrita, seguida da articulação das letras e da pronúncia das palavras. Na
mesma época, o alemão Samuel Heinicke inaugurou o Oralismo Puro, cuja abordagem negava o
uso de qualquer recurso manual. Assim como Konrad Amman o fez anteriormente, Heinicke alegava
que o uso de sinais era prejudicial ao desenvolvimento da fala oral. Surgiu, então, o método alemão
de Samuel Heinicke, também denominado “escola alemã” (CHOI et al., 2011, 2011, p. 8-9).
Com o avanço da tecnologia eletroacústica, tornou-se possível aferir o resíduo auditivo das pessoas
surdas, bem como amplicar o som através de aparelhos auditivos. Com isso, a promessa da “cura”
da surdez parecia uma realidade cada vez mais próxima para os oralistas, que se apoiavam nos
aparelhos de amplicação sonora associados ao treino da fala e da leitura orofacial.
A rivalidade entre o método francês baseado no uso de sinais e o método alemão baseado na
oralidade convergiu para o encontro dos principais educadores de surdos do mundo no Congresso
Internacional de Milão, realizado em 1880. Sem convidar nem tampouco considerar a opinião dos
surdos, os educadores ouvintes reunidos no Congresso de Milão decidiram proibir a língua de
sinais na educação de surdos.
Os prejuízos pela ausência da língua de sinais na educação de surdos foram reetidos no alto
índice de analfabetismo e fracasso escolar, conrmados nos anos seguintes ao Congresso de
Milão (SACKS, 1998, p.41; MOURA, 2000, p.49; CARVALHO, 2007, p.71; CHOI et. al., 2011,
p.11).
p.11). Além de demitir todos os educadores surdos que trabalhavam através das línguas
lí nguas de sinais,
Moura (2000, p.48-9) aponta que a abordagem oralista focalizava o ensino da fala e desprezava os
conteúdos escolares. Com essa postura, o Oralismo não preparava os surdos para uma prossão,
a não ser para exercer funções como sapateiros e costureiros. Algumas
Algumas escolas, preocupadas em
garantir o sucesso de sua instrução oralista, chegavam a recusar a matrícula para alunos surdos
profundos e surdos lhos de pais surdos para acolher somente aqueles que apresentavam reais
condições de oralização. Os alunos surdos que não progrediam na oralidade eram considerados
decientes mentais, sob uma concepção patológica da surdez ainda presente em discursos atuais,
que culpa(va) a própria criança pelo “fracasso” de seu desenvolvimento escolar e linguístico.
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TexTo e
ConTexTo T 01 - Hstó ecçã Ss
Apesar de todo esforço para minar a língua de sinais da vida das pessoas surdas, esta nunca pôde
ser realmente apagada. Segundo Choi et al. (2011, p.10) as línguas de sinais continuaram sendo
usadas por surdos adultos que as transmitiam de geração em geração, por estudantes em escolas
especiais (ainda que às escondidas) e nas associações criadas como espaço de encontro entre
surdos.
E foi assim, sobrevivendo à proibição, que em 1960 as línguas de sinais conquistaram o prestígio
linguístico através dos estudos realizados pelo americano William Stokoe. Este linguista demonstrou
e comprovou que a língua de sinais americana se tratava de uma língua genuína, com estrutura
interna equiparada às línguas orais e dotada de todos os aspectos gramaticais necessários. Sua
pesquisa trouxe novo fôlego para a educação
educação de surdos já desgastada
desgastada por um método oralista
oralista que
não funcionava.
Na mesma década, diante do fracasso do Oralismo, nasceu uma nova abordagem conhecida como
Comunicação Total. Utilizando vários recursos disponíveis, desde a oralidade, escrita, guras e,
inclusive, sinais, com o tempo a Comunicação Total,
Total, segundo Choi et al. (2011,
(2011, p.12), tornou-se um
método simultâneo de oralidade e sinais feitos na gramática da língua oral. A essa concomitância
de sinais e fala oral, foi denominado Bimodalismo.
Após várias críticas a Comunicação Total e ao Bimodalismo que não contemplavam o pleno
desenvolvimento linguístico nem da língua oral tampouco da língua de sinais e, perante o
reconhecimento e fortalecimento das línguas de sinais surgiu o Bilinguismo.
Baseado em uma concepção socioantropológica, desde então o Bilinguismo conquistou o favoritismo
da comunidade surda. A proposta do modelo bilíngue se norteia pelo respeito da língua de sinais
como primeira língua dos surdos, e da língua oral e ou escrita como segunda língua. Nesse sentido,
os surdos se distanciam da representação patológica oralista, que focaliza a cura e/ou reabilitação
da surdez, para serem reconhecidos como sujeitos bilíngues e biculturais.
Atualmente, vigoram as três abordagens na educação de surdos, sendo Comunicação Total,
Oralismo e Bilinguismo. As duas últimas são as mais comuns, e perpetuam a oposição iniciada
desde a Idade Moderna, quando os primeiros métodos foram criados. O mais intrigante é que os
argumentos continuam sendo os mesmos, ou seja, que os surdos educados na abordagem oral
não devem aderir aos sinais sob risco
r isco de prejuízos para seu desenvolvimento linguístico.
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Desse modo, um dos benefícios da retrospectiva histórica consiste em proporcionar uma avaliação
consciente de discursos como esse, por exemplo, reproduzidos ao longo do tempo, cujos
argumentos não apresentam nenhum respaldo cientíco. A partir da análise exposta nesta aula-
tema, é possível observar a passagem da representação do surdo como sujeito ineducável para
educável. Do mesmo modo, acompanhamos a resignicação da língua de sinais durante a história,
entendida como uma forma de comunicação mística, cultuada pelos egípcios da Idade Antiga, a
ser vista como recurso pedagógico dos educadores que visavam o ensino da oralidade, passando
pela representação nociva que esses mesmos oralistas atribuíram-na até a sua proibição e,
posteriormente, legitimação. De fato, são esses deslocamentos que fazem da história um terreno
fértil para se (re)pensar o contexto sociolinguisticamente complexo da surdez na atualidade.
ConCeiToS
fundamenTaiS
Alfabeto Manual: Representação das letras do alfabeto através de diferentes congurações de
mãos. Serve para soletrar palavras, mas não se equipara a um sistema linguístico.
Aparelhos de Amplicação Sonora Individual: Aparelhos auditivos utilizados para captar o som
externo e amplicá-lo para o surdo.
Bilinguismo: Abordagem educacional que visa o ensino de duas línguas para os surdos, sendo
considerada a língua de sinais como a primeira e a língua
lí ngua oral e/ou escrita como segunda.
Bimodalismo: Uso dos sinais realizados em concomitância com a oralidade e, na estrutura
gramatical desta última.
Comunicação Total: Abordagem educacional que visa a comunicação e não o desenvolvimento
de uma língua, por isso aceita diversos recursos, tais como oralidade, sinais, gestos, mímica,
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ConCeiToS
fundamenTaiS T 01 - Hstó ecçã Ss
escrita, guras.
Concepção patológica da surdez: Alinhada a uma educação oralista, essa concepção representa
o sujeito surdo como deciente auditivo, analisando-o pelo viés da deciência, acredita-se que ele
precise de tratamento, reabilitação e/ou cura.
Concepção socioantropológica da surdez: Trata-se da percepção do sujeito surdo como membro
de minoria linguística, assim como índios e imigrantes que, apesar de viverem no Brasil, possuem
uma língua diferente da língua majoritária nacional, ou seja, a língua portuguesa. Entendendo
a surdez como diferença linguística e não como deciência, a concepção socioantropológica se
alinha ao bilinguismo.
Leitura orofacial: Também conhecida como leitura labial, a leitura orofacial compreende não apenas
a leitura dos lábios, mas a leitura das expressões faciais que oferecem pistas para compreensão do
enunciado, por exemplo, a expressão de armação, dúvida, indagação, raiva, alegria.
Método francês ou método visual: Baseia-se no uso de gestos, sinais, alfabeto manual e escrita
na educação de surdos.
Oralidade: Que tem por base a fala oral, emitida pela boca, como geralmente ocorre na comunicação
entre pessoas ouvintes.
Oralismo: Abordagem de ensino para surdos que visa o desenvolvimento da fala oral, para que a
comunicação dos surdos ocorra da mesma forma como os ouvintes. No princípio, o Oralismo utilizava
recursos manuais para o ensino da oralidade, porém, assim que alcançado o desenvolvimento
oral, os sinais eram abandonados. Atualmente, o Oralismo se baseia no treino da fala a partir da
amplicação sonora e leitura labial.
Oralismo Puro ou Método Alemão (Escola Alemã): Abordagem de ensino para surdos que visa o
desenvolvimento da fala oral e rejeita o uso de qualquer recurso manual como, por exemplo, sinais
e alfabeto manual.
Resíduo Auditivo: Acredita-se que nenhum surdo possui perda auditiva total, sendo assim, os
aparelhos de amplicação sonora podem aproveitar o resíduo de audição ainda existente.
Sinais: Equivalem nas línguas de sinais a “palavra” nas línguas orais.
12
referênCiaS
V.. de. Breve história dos surdos – no mundo e em Portugal. Lisboa: Surd’Universo,
CARVALHO, P. V
2007.
CHOI, D.; PEREIRA, M.C.C.; VIEIRA, M.I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. As línguas de sinais:
sua importância para os Surdos. In: CHOI, D.; PEREIRA, M.C.C.; VIEIRA, M.I.; GASPAR, P.;
NAKASATO, R. Libras: conhecimento além dos sinais. 1ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2011, p. 3-14.
LANE, H. The deaf experience : classics in language and education. Translated by Franklin Philip.
England: Harvard University Press. 1984.
MOURA, C. de. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Editora Revinter,
2000.
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
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queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem T 01 - Hstó ecçã Ss
Módulo 01: Educação ambiental e cidadania – o indivíduo e o meio
QUESTÃO 01
Durante a leitura do “Texto e Contexto da Aula-tema 01” você conferiu os deslocamentos
das representações sobre o surdo e a língua de sinais ao longo da história. Considerando
seu aprendizado, identique se são (V) Verdadeiras ou (F) Falsas as armações abaixo:
( ) Na antiguidade, muitos surdos
surdos foram condenados
condenados a morte por
por não conseguirem se
expressar através da oralidade como as pessoas ouvintes.
( ) Na idade média, os surdos não oralizados
oralizados eram considerados ineducáveis,
ineducáveis, sem direitos
a educação, a contrair matrimônio e a herdar os próprios bens.
( ) A educação de surdos é bastante
bastante recente, ocorrendo somente
somente após o século XX, com
a criação da língua de sinais.
( ) A história comprova que a proibição da língua de sinais, no Congresso de Milão, trouxe
inúmeras contribuições para a escolarização e prossionalização
prossionalização dos surdos.
( ) Ao longo da história e ainda
ainda nos dias atuais é comum que os defensores
defensores do Oralismo
Oralismo
critiquem o uso dos sinais na educação de surdos.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, respectivamente:
a) V, V, F, F, V.
b) F, F, V, F, F.
c) V, F, V, F, V.
d) V, F, F, V, V.
e) F, V, V, F, F.
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QUESTÃO 02
Observe o enunciado realizado em LIBRAS a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
QUESTÃO 03
Observe o enunciado realizado em LIBRAS a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
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queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem T 01 - Hstó ecçã Ss
Fonte: CAPOVILLA, F.C.; RAPHAEL, W.D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Lín-
gua de Sinais Brasileira, Volume I e II. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2008. p. 540-1194.
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Saiba
maiS
Dica de livro
Dicas de livros
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Saiba
maiS T 01 - Hstó ecçã Ss
Dica de vídeo
Dicas de sites
Objetos de aprendizagem
O Objeto de Aprendizagem apresenta um boneco virtual que realiza os sinais conforme
você clica na letra ou objeto indicado. Aproveite para treinar as letras e os números em
LIBRAS e repita quantas vezes quiser.
Interaja com
co m o Objeto de Aprendizagem
Aprendizage m ALFABETO DATILOLÓGICO
DATILOLÓGICO do Curso
Cur so de LIBRAS
à distância oferecido pela UNESP. LIBRAS EAD
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Dicas de sites
Dicionário de LIBRAS
O site contempla o dicionário de LIBRAS virtual, com opções para consulta por ordem
alfabética, por assunto, por conguração de mão
m ão e por busca de palavras.
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TexTo e
ConTexTo T 02 - Ct it S
Na Aula-tema anterior,
anterior, você acompanhou um breve panorama histórico sobre a educação de surdos
e as línguas de sinais. Compreendeu que as línguas de sinais são utilizadas na comunicação entre
pessoas surdas há muito tempo, como também há muito tempo ela vem sendo reprimida pela
sociedade ouvinte, que insiste em exigir que os sujeitos surdos se comuniquem tal como a maioria,
ou seja, por meio da oralidade.
Ainda resgatando a discussão da Aula-tema 1, a história apresenta a disputa entre duas principais
abordagens de ensino, uma que defende e outra que condena o uso dos sinais. A oposição que
se arrasta desde a Modernidade é representada, atualmente, pelo oralismo e pelo bilinguismo.
Enquanto o oralismo pressupõe o surdo como deciente auditivo que necessita de tratamento e
cura para ser integrado à sociedade ouvinte, o bilinguismo arma que os surdos devem ser aceitos
tal como eles são, ou seja, falantes da língua de sinais, sistema linguístico que lhes é natural e
acessível.
O bilinguismo parte de uma concepção socioantropológica da surdez, em que a língua de sinais é
respeitada enquanto sistema linguístico suciente e autônomo. A valorização da língua de sinais
propicia aos surdos a identicação com outros surdos, não apenas por uma língua em comum, mas
por uma série de fatores,
f atores, tais como a forma de vivenciar o mundo por meio de experiências visuais,
a história de lutas compartilhada, o processo de ensino-aprendizagem
ensino-aprendizagem diferenciado, a cultura surda,
entre outros. A esse
esse pertencimento a um grupo, no caso, à comunidade surda, é possível vislumbrar
a construção da identidade surda – ou de várias identidades surdas, conforme Perlin (1998, p. 62-
65).
A maioria das crianças surdas cresce em um ambiente familiar constituído por ouvintes. Elas
tendem a acreditar, por isso, que estão predestinadas a morrer ainda crianças ou que são as únicas
“estranhas” no mundo. Nas palavras da atriz e escritora surda francesa Emmanuele Laborit, ao
conhecer,
conhecer, pela primeira vez, um surdo adulto e a língua de sinais:
[...] compreendi imediatamente que não estava sozinha no mundo. Uma revelação
imprevista. Um deslumbramento. Eu, que me acreditava única e destinada a morrer
criança, como costumam imaginar que aconteceria às crianças surdas, acabava de
descobrir que existia um futuro possível, já que Alfredo era adulto e surdo. [...] Essa
lógica cruel permanece enquanto as crianças surdas não se encontram com um adulto.
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TexTo e
ConTexTo T 02 - Ct it S
Elas têm necessidade dessa identicação com adultos, uma necessidade crucial.
(LABORIT, 1994, p. 49 apud CHOI et al., 2011, p. 27-28)
Por esta razão, a comunidade surda defende que as crianças surdas devem ser expostas o mais
precocemente possível à língua de sinais e ao contato com adultos surdos, com os quais poderão
construir o sentimento de pertença a um grupo.
No entanto, as contribuições da língua de sinais vão além da identicação com um grupo, uma vez
que tal língua é também o principal instrumento para a produção cultural da comunidade surda.
Conforme Choi et al. (2011,
(2011, p. 34-35), o papel da língua de sinais pode ser visto basicamente a partir
da tríade “símbolo da identidade social”, “meio de interação social” e “depositário de conhecimento
cultural”.
Neste sentido, ao pensar a língua de sinais como meio de interação social, é válido destacar que
existem domínios que extrapolam a prociência linguística, e são desses domínios que trataremos
aqui.
Ao ingressar no universo da surdez, é preciso compartilhar alguns saberes culturais da comunidade
surda. Por exemplo, vale entender que as despedidas e as chegadas são sempre realizadas de
forma demorada e formal. Ao se despedirem, os interlocutores justicam sua partida, aonde vão e o
que farão, enfatizam como foi bom rever o outro e combinam o próximo encontro. Se você realizar
uma despedida rápida poderá ser mal-interpretado pelos surdos, concluindo que você estava com
pressa para se retirar da companhia deles (CHOI et al., 2011,
2011, p. 37-38). Contudo, durante a conversa,
ir direto ao assunto que se deseja é algo extremamente natural. Conforme Choi et al. (2011, p. 41),
os surdos apreciam uma conversa direta que facilite a comunicação e o entendimento.
Outro ponto de atenção é que na língua oral é comum chamar a atenção do outro simplesmente
falando seu nome. Isso não tem signicado para os surdos, pois, ao chamar o outro pelo nome,
este não será ouvido. O que eles utilizam é um leve toque no braço ou antebraço. E, se estiver
longe, você pode acenar com o braço dentro do campo visual da pessoa, pisar forte no chão (o
que provocará uma vibração e chamará sua atenção), bater na mesa (quando houver) ou apagar e
acender a luz (CHOI et al., 2011,
2011, p. 36).
Outro fator comunicativo é o olhar. Em uma comunicação estabelecida por meio da língua de
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sinais, falar de frente e olhar para seu interlocutor é imprescindível, anal, trata-se de uma
comunicação visual-espacial, logo, se você desviar o olhar ou virar as costas, o surdo entenderá
que está desinteressado ou entediado com a conversa, percebendo seu comportamento como um
insulto (CHOI et al., 2011, p. 37). O desvio do olhar ocorre, muitas vezes, quando nós, ouvintes,
nos distraímos com algum barulho ou com alguém que nos chama a atenção. Nestes casos,
aconselhamos que você avise o surdo sobre a interrupção da conversa.
A fala oral não é valorizada pelos surdos, pois, para tais indivíduos, o normal é que se comuniquem
por meio da língua de sinais. Na verdade, eles sentem orgulho da própria língua, cultura e identidade.
Deste modo, referir-se aos surdos como decientes auditivos deve ser evitado em qualquer diálogo.
Você
Você pode achar estranho, mas é muito comum que surdos façam grandes rodas de conversa, em
que vários diálogos se entrecruzem sem que uma conversa atrapalhe a outra. Conforme Choi et
al. (2011,
(2011, p. 40), isso seria inviável nas línguas orais, uma vez que as pessoas começariam a gritar
para se entender.
Com relação às apresentações, os usuários da LIBRAS, na maioria das vezes, apresentam seu
sinal, em seguida, soletram seu nome e depois se identicam como surdos ou ouvintes (CHOI
et al., 2011, p. 41). Neste sentido, eu me apresentaria da seguinte forma: “Esse é o meu sinal
(executando meu sinal pessoal), meu nome é K-A-T-E
K-A-T-E (soletrando em LIBRAS meu nome), eu sou
ouvinte”.
Os sinais pessoais são um elemento da cultura surda. Todo novo membro dessa comunidade
recebe um sinal, que sempre deve ser batizado por um surdo. De acordo com Choi et al. (2011, p.
42-43), os sinais pessoais podem ser atribuídos a partir da característica física da pessoa (altura,
cabelo, olhos, marcas de nascença etc.), do uso constante de objetos (brincos, óculos, pulseira
etc.), do comportamento constante (mexer no cabelo, ruborizar, sorrir etc.) ou por suas práticas
habituais (comer, nadar, jogar futebol, andar de bicicleta etc.). Tais sinais correspondem ao nome
de cada pessoa na cultura ouvinte, ou seja, uma vez atribuídos, não são alterados. Ainda que o
sinal tenha sido dado, por exemplo, em decorrência de um corte de cabelo que a pessoa não usa
mais ou de objetos que já não possui, o sinal deve permanecer o mesmo.
Outro elemento da cultura surda são os pontos de encontro da comunidade surda (CHOI et al.,
2011,
2011, p. 44). Em toda cidade existe um ou mais pontos de encontro, que pode(m) ser um shopping,
terminal rodoviário, associações ou outro local ao qual os surdos se dirigem, frequentemente,
quando desejam encontrar seus pares e estabelecer um diálogo em língua
l íngua de sinais.
Ao falarmos sobre a LIBRAS enquanto depositário cultural, não podemos deixar de mencionar,
ainda, a grande riqueza de expressões artísticas privilegiada por meio da língua de sinais. São
inúmeras produções deagradas em forma de poesias, teatros, lmes, literaturas, piadas, clássicos,
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TexTo e
ConTexTo T 02 - Ct it S
fábulas, contos, romances, lendas, histórias de surdos etc.
No Brasil, há uma ampla literatura popular na LIBRAS presente nas associações de surdos, escolas
e pontos de encontro da comunidade surda que revela a originalidade de sua cultura e identidade
(CHOI et al., 2011, p. 46-47). Nos últimos anos, essa literatura tem sido registrada em formato
de livros e vídeos, além de divulgada para a sociedade ouvinte interessada, principalmente aos
familiares e prossionais que atuam na área da educação de surdos.
No que tange ao humor surdo, o fato de não ouvir é satirizado, assim como a incompreensão dos
ouvintes da forma visual como os surdos são capazes de vivenciar o mundo. Já as poesias são
banhadas pelas mais belas combinações de movimento e ritmo, além de repletas de signicado
linguístico.
Para Choi et al. (2011, p. 51), a música, entretanto, não faz parte da cultura surda, mas pode ser
apresentada aos surdos sob caráter informativo e para estabelecer uma relação intercultural entre
ouvintes e surdos.
Cabe também mencionar (CHOI et al., 2011,
2011, p. 51-55) as adaptações culturais desenvolvidas pela
indústria para promover o acesso das pessoas surdas a variadas formas de tecnologias. Entre
essas adaptações, destacam-se as campainhas luminosas que substituem o som por uma luz
emitida através de lâmpadas estrategicamente posicionadas em residências ou escolas. Na mesma
lógica que a campainha luminosa, funciona a babá luminosa, pois, ao som do choro do bebê, emite
uma luz no aparelho posicionado próximo à mãe surda. Os relógios e/ou despertadores funcionam
por vibração, podem ser colocados embaixo do travesseiro e alertam no horário programado.
O telefone para surdos, conhecido pela sigla americana TDD (Telephone
(Telephone Device for Deaf) ou pela
sigla brasileira TTS (Terminal Telefônico para Surdos), consiste na troca de mensagens escritas.
Quando um dos interlocutores não possui o aparelho TTS, é necessária a mediação de uma central
de atendimento. Por meio do TTS, o surdo digita sua mensagem no telefone adaptado e a atendente
verbaliza tal mensagem para o interlocutor ouvinte, que está do outro lado da linha. O inverso
também ocorre, a mensagem transmitida pelo ouvinte será digitada pela atendente e repassada
através do visor do TTS ao surdo. Contudo, esse aparelho é pouco utilizado, principalmente na
atualidade, em que a maioria dos surdos possui um aparelho celular, em que é possível a troca de
mensagens instantaneamente, inclusive por meio da tecnologia 3G de sistema de videoconferência,
24
que permite a conversa sinalizada entre surdos. As operadoras de celulares têm se adaptado à
clientela e oferecido planos especícos para surdos, visto que não realizam chamadas telefônicas
e apenas se aproveitam dos SMS, e-mails e sistemas de videoconferência.
Outra conquista tecnológica
tecnológica para os surdos (CHOI, et al., 2011,
2011, p. 54-55) são os aplicativos de
tradução de texto que têm sido utilizados
util izados nas televisões (Closed Caption) e de tradução em LIBRAS
implementados por alguns sites da internet e aplicativos para computadores, celulares e tablets.
Não são todos os sites que oferecem este recurso, mas algumas empresas já têm chamado a
atenção pela iniciativa.
Destarte, entre aspectos, adaptações e produções culturais, esperamos ter demonstrado o potencial
da língua de sinais para a comunidade surda, não como um instrumento compensatório pela falta
de audição, mas como um sistema linguístico legítimo capaz de desenvolver uma identidade e
cultura própria.
ConCeiToS
fundamenTaiS
Closed Caption: é a chamada legenda oculta que permite o acesso por escrito à informação
veiculada oralmente na televisão, tanto da fala dos personagens quanto dos sons emitidos, tais
como porta batendo, músicas etc.
Cultura surda: conjunto de valores, crenças e comportamentos partilhados pelos surdos.
Identidade: construto sócio-histórico criado a partir das práticas discursivas estabelecidas por meio
da denição de diferenças entre o grupo de pertencimento e outro(s) grupo(s).
Identidade surda: processo de identicação com a comunidade surda, bem como suas experiências
visuais, sua língua, cultura e ideologia.
Sinal pessoal: equivale ao nome na cultura ouvinte, contudo, é atribuído por um surdo a partir da
uma característica da pessoa (comportamento, aparência etc.).
25
referênCiaS T 02 - Ct it S
CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. Língua Brasileira de
Sinais - Libras: direitos dos surdos brasileiros. In: CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.;
GASPAR, P.; NAKASATO, R. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2011, p. 34-55.t
PERLIN, G. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças.
Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.
26
queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem
Aula-tema 2: Cultura e Identidade Surda
QUESTÃO 01
Durante a interação com a comunidade surda, o domínio da língua de sinais pode ser insuciente
para estabelecer um diálogo saudável. Com base no conteúdo aprendido na Aula-tema 2, considere
as armações a seguir:
I. Os surdos costumam realizar grandes rodas de conversas. Nessas rodas, é considerado natural
que as conversas se entrecruzem sem que interram uma na outra.
II. Para chamar a atenção e iniciar uma conversa com uma pessoa surda você pode acenar com
o braço em seu campo visual ou pisar forte no chão.
III. Despedida breve é comum na comunidade surda, ou seja, você pode chegar e partir
repentinamente sem problemas.
IV. Não olhar para seu interlocutor enquanto conversa com ele ou virar de costas é considerado
pela comunidade surda uma grande falta de respeito.
r espeito.
Estão CORRETAS somente as armações:
a) I e II.
b) II, III e IV.
c) III e IV.
d) I, III e IV.
e) I, II e IV.
27
queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem T 02 - Ct it S
QUESTÃO 02
Observe o enunciado realizado em LIBRAS, a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
QUESTÃO 03
Analise os sinais a seguir e indique a alternativa que realiza a tradução correta dos
pronomes interrogativos:
28
Fonte: QUADROS, R. M.; PIMENTA,
PIMENTA, N. Curso de LIBRAS 1. Rio de Janeiro: LSB Vídeo, 2006.
p. 19.
29
Saiba
maiS T 02 - Ct it S
Dica de livro
Dica de vídeo
Identidade Surda
O vídeo traz depoimentos de surdos e ouvintes (familiares
e prossionais da área) sobre surdez, educação de surdos,
língua de sinais e identidade surda.
Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=9PJwvv7PTcg> .
Acesso em: 19 jun. 2013.
30
Dica de vídeo
O Encontro – Libras
Curso Básico de LIBRAS II - Ensinando a LIBRAS na rede
de ensino regular: noções básicas para professore
professoress e
alunos.
31
Saiba
maiS T 02 - Ct it S
Dica de lme
32
Dica de site
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s
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34
TexTo e T 03 - gátc libraS: scts
ConTexTo ócs, ócs státcs
Na aula-tema anterior, você aprendeu que, para estabelecermos uma comunicação efetiva em
LIBRAS, além da própria llíngua
íngua de sinais, é necessário compreendermos os domínios de interação
social que o funcionamento desse sistema linguístico envolve. Além disso, na Aula-tema 2 foi
vislumbrado que a LIBRAS assume o protagonismo dentro da comunidade surda, não apenas por
se constituir enquanto uma língua legítima, acessível e que possibilita a criação de bens culturais
para esse grupo, mas também por ser instrumento de identicação para a construção da identidade
surda.
Por falar em legitimação, vale destacar que a língua brasileira de sinais (a LIBRAS) é reconhecida
r econhecida
legalmente como meio de comunicação e expressão das comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Assim, por meio da Lei n. 10.436, aprovada em 24 de abril de 2002, a LIBRAS foi ocializada como
sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria e de pertencimento
das comunidades surdas do país (BRASIL, 2002).
Contudo, o reconhecimento da língua de sinais não ocorreu apenas no âmbito das legislações,
pois muito antes disso, em 1960, o americano William Stokoe já havia comprovado no campo dos
estudos linguísticos que a estrutura e a organização da língua de sinais apresentavam equivalência
aos níveis encontrados nas línguas orais.
Deste modo, como sublinha Felipe (1997, p. 82), toda língua, seja ela de sinais ou oral, é organizada
em sua estrutura por níveis linguísticos baseados na fonologia, na morfologia, na sintaxe, na
semântica e na pragmática. Emprestando as palavras da autora, é possível armar que:
Apesar das diferenças peculiares a cada língua, todas as línguas possuem algumas
semelhanças que as identicam como língua e não linguagem como é o caso da
linguagem das abelhas, dos golnhos, dos macacos, enm, a comunicação dos
animais. (FELIPE, 1997, p. 82)
Esta citação é oportuna para enfatizar novamente que a LIBRAS representa uma língua, e não
uma linguagem. Conforme Felipe (1997, p. 82) e Choi et al. (2011, p. 59), a distinção precípua
entre a língua portuguesa e a LIBRAS reside no canal (ou meio) de comunicação, ou seja, a língua
portuguesa é uma língua de modalidade oral-auditiva, enquanto a LIBRAS ocorre por meio da
modalidade gestual-visual, uma vez que depende de movimentos gestuais e expressões faciais
interpretados por meio da visão. Entretanto, deve car claro que a língua de sinais partilha de
35
TexTo e T 03 - gátc libraS: scts
ConTexTo ócs, ócs státcs
elementos linguísticos e gramaticais que a denem enquanto língua, tal como ocorre com as línguas
orais. Vamos conhecer
conhecer um pouco mais sobre os aspectos linguísticos da LIBRAS?
Aspectos fonológicos
No caso das línguas oral-auditivas, a fonologia se concentra na análise dos sons (ou fonemas),
enquanto nas línguas de sinais tal estudo equivale à querologia (ou quirologia). De acordo com
Fernandes (2003, p. 40), a querologia é o estudo das mãos e dos pulsos. Assim, em vez de estudar
os fonemas, como a fonologia, a querologia prioriza os queremas por meio da articulação dos
sinais.
Stokoe foi o primeiro a descrever a querologia da língua de sinais, focalizando o movimento, o
ponto de articulação e a conguração das mãos, da mesma forma como os linguistas
li nguistas fazem com a
língua oral, quando determinam o ponto de articulação da língua e a inuência bucal e/ou nasal na
emissão de sons vocálicos ou consonantais (FERNANDES, 2003, p. 40).
Segundo Choi et al. (2011, p. 59-60), a classicação feita por Stokoe (localização, movimento e
conguração das mãos) foi complementada, posteriormente, por outros estudiosos da área que
constituíram os seguintes parâmetros linguísticos da língua de sinais: 1. conguração das mãos;
2. localização (ou ponto de articulação); 3. movimento; 4. orientação das palmas das mãos; e 5.
traços não manuais.
A conguração das mãos pode ou não se fundamentar na datilologia (alfabeto manual), isso
porque, além dos sinais equivalentes a cada letra do alfabeto, existem outras possibilidades de
congurar a(s) mão(s).
A localização (ou ponto de articulação) está associada ao lugar, seja no corpo ou no espaço, em
que incide a mão predominantemente durante a realização do sinal. O sinal pode ser feito com uma
ou duas mãos em frente ao rosto ou ao peito, ou, ainda, tocando em determinada parte do corpo
(peito, cabeça, dedos etc.). O espaço em frente ao corpo é referido pelos estudos linguísticos da
área da língua de sinais como “espaço neutro” (FELIPE, 1997, p. 84).
A sinalização da LIBRAS pode implicar ou não a existência de movimento. O movimento pode
ocorrer a partir do movimento de dedo(s), pulso, mão, braço, cabeça etc.
36
Outro parâmetro linguístico da LIBRAS, implementado por Battison (1974 apud CHOI et al., 2011, p.
60-65), refere-se à orientação das palmas das mãos . As mãos podem ser direcionadas para cima
ou para baixo, para dentro ou para fora, para direita ou para esquerda, ou apresentar combinações
de posições atreladas a determinados movimentos.
As expressões faciais, o movimento corporal e o olhar formam os . As expressões faciais são
imprescindíveis durante a conversação sinalizada, pois inuenciam no sentido da frase, assim
como ocorre na entonação das palavras e nos enunciados da língua oral.
A combinação
combinação dos cinco parâmetros linguísticos aqui apresentados dene cada sinal da língua
lí ngua de
sinais. A alteração de qualquer elemento linguístico supracitado pode transformar
t ransformar radicalmente seu
signicado. Por esta razão, são considerados traços distintivos, da mesma forma como os traços
de sonoridade observados na língua portuguesa.
Aspectos morfológicos
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 19), se por um lado a fonologia está preocupada com
a organização dos sons e a pronúncia das palavras, a morfologia prioriza o estudo da estrutura
interna da língua para a formação de palavras, concentrando-se na identicação das categorias de
número (plural/singular), gênero (masculino/feminino), tempo (passado/presente/futuro) e pessoa
(eu/você/ele).
Deste modo, a partir do domínio sobre os aspectos morfológicos de determinada língua, o sujeito é
capaz de reconhecer sua lógica linguística para a suposição e/ou formação de novos signicantes.
Para Choi et al. (2011, p. 70-71), o conhecimento da estrutura interna da LIBRAS oportuniza a
seus falantes que compreendam, por exemplo, a ocorrência de sinais para verbos e substantivos
associados, respectivamente, ao movimento mais curto ou repetido, como é o caso de “sentar” e
“cadeira” ilustrados na Figura 3.1 a seguir:
37
TexTo e T 03 - gátc libraS: scts
ConTexTo ócs, ócs státcs
Outra forma de criação de novos sinais da LIBRAS é a composição. Assim como a língua portuguesa
possui palavras compostas, na LIBRAS também há sinais compostos, como é o caso, por exemplo,
do sinal “escola”, que é feito a partir da combinação do sinal “casa” com o sinal “estudar”.
Outro aspecto morfológico a ser considerado são as incorporações: a) de argumentos (quando
os sinais se ajustam ao objeto); b) de numeral (quando os sinais incorporam o número); e c) de
negação (quando a conguração de mão é alterada, ou quando é acrescentado o meneio negativo
da cabeça ou quando o movimento “não” é feito com o dedo indicador) (CHOI et al., 2011, p. 72-76).
Aspectos sintáticos
No que tange à sintaxe da LIBRAS, existe intensa inuência da língua portuguesa nos surdos mais
oralizados, em que a ordem sujeito-verbo-objeto (SVO) é encontrada. Contudo, Choi et al. (2011,
p. 88-90) enfatizam que a estrutura tópico-comentário é a mais recorrente nas práticas discursivas
de sujeitos surdos menos oralizados (ou não oralizados).
Alinhadas à lógica tópico-comentário, frases como “onde é o banheiro?” ou “não tem banheiro”,
em LIBRAS, devem anunciar o tópico “banheiro” primeiro, por exemplo, BANHEIRO ONDE? ou
BANHEIRO NÃO TEM, conforme ilustra a Figura 3.2 a seguir:
É importante destacar que o artigo “o” de “o banheiro” não aparece na oração, pois não existem
38
artigos na LIBRAS.
Do mesmo modo, na frase “quantos lhos você tem”, o tópico é FILHOS e deve iniciar a oração:
FILHOS VOCÊ TEM QUANTOS? (CHOI et al., 2011, p. 89). A dica é memorizar que as partículas
interrogativas, tais como “QUANTOS, QUEM, QUANDO, ONDE, PORQUE, O QUE, QUAL”, devem
ser apresentadas sempre no nal da frase.
Com isso, podemos facilmente perceber que a LIBRAS, enquanto língua natural, atende a todos os
aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos de uma língua. No que se refere à fonologia, a LIBRAS
apresenta a combinação de parâmetros linguísticos que permitem a criação de uma innidade de
sinais, possibilitando a descrição de conceitos abstratos e concretos e/ou a discussão de qualquer
assunto. No que se refere aos aspectos morfológicos, a LIBRAS possibilita a seus falantes que criem
novos sinais, conforme as exigências culturais ou tecnológicas de sua comunidade. Com relação
aos aspectos sintáticos, a LIBRAS possui estrutura própria e independente da língua portuguesa, o
que comprova ainda mais sua originalidade. Por esta razão, a LIBRAS é classicada como língua,
tal qual a língua
l íngua portuguesa, e não como “linguagem”, forma pela qual tem sido, equivocadamente,
identicada por muitas pessoas.
ConCeiToS
fundamenTaiS
Fonologia: estudo destinado à interpretação dos sons da fala, desde a produção de pequenos
segmentos, tal como os fonemas, até sua melodia e entonação.
Morfologia: estudo que investiga a estrutura, formação e classicação das palavras.
Queremas: constituem a unidade elementar da língua de sinais, analogamente ao papel dos
fonemas nas línguas orais.
Querologia: o termo tem origem grega e signica o estudo das mãos e dos pulsos. Tem a mesma
representação da fonologia, uma vez que a fonologia estuda os fonemas da língua oral e a querologia
estuda os queremas da língua de sinais.
Sintaxe: É o estudo linguístico
li nguístico que investiga a distribuição das palavras na construção das frases.
39
T 03 - gátc libraS: scts
referênCiaS ócs, ócs státcs
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras
e dá outras providências. Diário Ocial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 24 abr.
2002. seção 1, p. 23.
CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. Aspectos linguísticos da
língua brasileira de sinais. In: CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.;
P.; NAKASATO,
NAKASATO,
R. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. p. 59-92.
FELIPE, T.
T. A. Introdução à Gramática de LIBRAS. In: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
Secretaria de Educação Especial. Educação especial: Deciência Auditiva. Brasília, 1997.
40
queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem
Aula-tema 3: Gramática da LIBRAS: aspectos fonológicos,
morfológicos e sintáticos
QUESTÃO 01
Considerando seu aprendizado sobre os aspectos gramaticais da LIBRAS, analise as
asserções a seguir e indique se são (V) Verdadeiras ou (F) Falsas:
( ) Os parâmetros linguísticos da LIBRAS
LIBRAS são
são constituídos
constituídos por conguração
conguração de mão,
mão,
localização, movimento, traços não manuais e orientação das palmas das mãos.
( ) A diferença entre a língua
língua portuguesa e a LIBRAS consiste no canal
canal (ou meio
meio de
comunicação), sendo a língua portuguesa oral-auditiva e a LIBRAS gestual-visual.
( ) Na língua portuguesa
portuguesa é comum
comum encontrarmos
encontrarmos palavras compostas, tal como
como “guarda-
“guarda-
chuva”. Já na morfologia da LIBRAS isso não ocorre, ou seja, sinais compostos não existem.
( ) Surdos com maior
maior inuência
inuência da oralidade utilizam
utilizam a estrutura sintática da LIBRAS
LIBRAS
sujeito-verbo-objeto;
sujeito-verbo-objeto; contudo, a ordem mais usada nas práticas discursivas em LIBRAS é
a tópico-comentário.
tópico-comentário.
( ) A sigla LIBRAS signica linguagem brasileira de sinais, linguagem utilizada pelas
comunidades de pessoas surdas do país.
a) V, V, F, V, F.
b) F, V, V, V, F.
c) V, V, V, F, V.
d) F, F, V, V, F.
e) V, F, F, F, V.
41
queSTõeS para
aCompanHamenTo T 03 - gátc libraS: scts
da aprendizagem ócs, ócs státcs
QUESTÃO 02
Observe o enunciado realizado em LIBRAS, a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
42
a) Hoje é dia 2 de agosto de 2013.
b) Ontem foi dia 11 de julho de 2013.
c) Ontem foi dia 8 de outubro de 2013.
d) Hoje é dia 5 de dezembro de 2013.
e) Amanhã é dia 7 de março de 2013.
QUESTÃO 03
Observe o enunciado realizado em LIBRAS, a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
43
Saiba T 03 - gátc libraS: scts
maiS ócs, ócs státcs
Dica de livro
44
Dica de vídeo
Estrutura Gramatical da LIBRAS
O vídeo com a pesquisadora da área e também lha de surdos,
Ronice Quadros, apresenta a descrição da organização dos
elementos linguísticos da LIBRAS, discorrendo sobre os
aspectos morfológicos e fonológicos da LIBRAS. Para ilustrar os
elementos gramaticais da língua de sinais, Quadros apresenta
vários exemplos práticos que contribuem para a compreensão
de sua estrutura linguística.
Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=O66o7BvuYwA>..
<http://www.youtube.com/watch?v=O66o7BvuYwA>
Acesso em: 21 jun. 2013.
45
Saiba T 03 - gátc libraS: scts
maiS ócs, ócs státcs
Dica de site
Legenda LIBRAS
O site possui 11 aulas contemplando os aspectos gramaticais da LIBRAS, tais como
pronomes, advérbios de lugar, classes verbais, sinais compostos, entre outros. As aulas
apresentam exemplos em vídeos dos sinais e de frases em que os sinais são colocados
em contexto.
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48
TexTo e T 04 - gátc libraS: cts
ConTexTo gramaticais, exão verbal e nominal
Na aula-tema anterior você ingressou nos estudos linguísticos sobre a estrutura gramatical da
LIBRAS, compreendendo seus elementos fonológicos, morfológicos e sintáticos. Dando continuidade
ao seu aprendizado sobre a gramática da LIBRAS, esta aula-tema 04 abordará suas categorias
gramaticais e exões verbal e nominal.
Categorias gramaticais
49
TexTo e T 04 - gátc libraS: cts
ConTexTo gramaticais, exão verbal e nominal
torna mais icônico e o interlocutor o desenha ou mostra tomando por base o respectivo objeto ou
corpo a que se refere o adjetivo. Assim, utilizando o exemplo de Choi et al. (2011, p.79), para se
dizer que uma camiseta contém estampas de bolinhas, seria indicada as bolinhas no próprio corpo
do sujeito, conforme imagem ilustrativa abaixo:
Camiseta de Bolinhas
Os pronomes também estão presentes na LIBRAS, tais como pronomes pessoais, possessivos e
interrogativos. A lógica para representar os pronomes pessoais, em geral, é bem simples. Com a
conguração de mão em D você deve apontar para o sujeito em questão (EU, VOCÊ(S), ELE/A(S),
NÓS). Se desejar ser mais especíco, indicando, por exemplo, “VOCÊS DOIS”, “NÓS TRÊS”, ou
“ELES DOIS”, a conguração de mão incorpora o numeral e aponta para os sujeitos, conforme
ilustra os exemplos abaixo:
50
Outra categoria bastante utilizada na LIBRAS são os classicadores. De acordo com Felipe (1997,
p.93) os classicadores são congurações de mão associadas a verbos “[...]
“[. ..] que funcionam como
marcadores de concordância” associados a coisa, pessoa ou animal referido. Nesse sentido, Choi
et al. (2011, p. 82-3) descrevem que a conguração de mão em “V” pode representar pessoas,
animais ou objetos; enquanto a mão em “C” é utilizada para indicar um objeto cilíndrico, como por
exemplo, um copo, e a mão em “B” alçada para superfícies planas, conforme pode ser conferido a
seguir nos exemplos “O COPO CAI” e “DUAS PESSOAS CAEM”.
É possível observar nas sentenças acima que o verbo “CAIR” se adéqua ao sujeito ou objeto da
frase, assumindo a forma e a representação do mesmo. E essa manifestação é entendida como
um classicador da LIBRAS.
Flexão verbal
51
TexTo e T 04 - gátc libraS: cts
ConTexTo gramaticais, exão verbal e nominal
DAR PARA UMA DAR PARA DUAS PESSOAS DAR PARA TRÊS PESSOAS
PESSOA
A exão verbal de aspecto registra a variação da forma e duração dos movimentos. Choi et. al.
(2011,
(2011, p. 84) armam que os aspectos pontuais, continuativos, durativos e iterativos são denotados
através da alteração do movimento e/ou conguração da mão. No exemplo dos autores, no
enunciado ELE OLHOU, o verbo é apresentado de forma pontual, sem alterações. Porém, ao
dizer EU FICO OLHANDO, o verbo deve combinar com o aspecto durativo apresentando a mesma
conguração de mão, mas com movimento e expressão facial adequadas. Observe a diferença na
imagem abaixo:
Em língua portuguesa, para identicar que o verbo se refere ao presente, passado ou ao futuro é
preciso conjugar o verbo em seu tempo correto, por exemplo, “eu bebi”, “eu bebo” ou “eu beberei”.
Entretanto, na LIBRAS, o verbo “BEBER”, é sinalizado da mesma forma e o que marca o tempo é o
52
acréscimo do sinal de advérbio de tempo para passado (ONTEM, ANTEONTEM,
ANTEONTEM, MÊS PASSADO,
JÁ, PASSADO), presente (HOJE, AGORA, AINDA) e futuro (AMANHÃ, SEMANA QUE VEM, VAI,
FUTURO).
Flexão nominal
SURDO SURDA
53
ConCeiToS T 04 - gátc libraS: cts
fundamenTaiS gramaticais, exão verbal e nominal
Advérbios de tempo: são aqueles que indicam o momento em que a ação é realizada, por exemplo,
agora, ontem, amanhã.
Categorias gramaticais: são paradigmas ou classes de palavras de uma língua (substantivos,
verbos, pronomes), uma vez que as palavras são classicadas como parte de um tipo, classe ou
paradigma em relação aos seus aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos.
Icônico: que possui estreita semelhança com o formato do objeto mencionado.
Classicadores: é uma forma que existe em número restrito
r estrito em uma língua e estabelece referência
a concordância. Na LIBRAS, os classicadores são marcadores de concordância de gênero
(pessoa, animal, coisa) e na língua portuguesa os classicadores podem ser encontrados como: a)
classicação de substantivos e adjetivos em masculino e feminino; b) partícula que se coloca entre
as palavras e c) desinência utilizada no verbo para estabelecer concordância.
referênCiaS
54
• Web Aula 07 e 08
08 – Gramática
Gramática da LIBRAS: categorias gramaticais,
gramaticais, exão verbal e nominal
nominal
queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem
Aula-tema 4: Gramática da LIBRAS: categorias gramaticais, exão
verbal e nominal
QUESTÃO 01
Compreender a estrutura e funcionamento da LIBRAS é imprescindível para o novo
aprendiz desse sistema linguístico. Desse modo, considerando seu aprendizado durante
a aula-tema 04 sobre a gramática da LIBRAS, analise as alternativas abaixo e responda:
é correto armar que:
a) Os pronomes pessoais, tais como, EU, VOCÊ e ELE podem ser realizados com a
conguração de mão em P.
b) A exão verbal para tempo é marcada na LIBRAS pela repetição do sinal e/ou de
55
queSTõeS para T 04 - gátc libraS:
aCompanHamenTo cts
ct s tcs,
da aprendizagem exão verbal e nominal
QUESTÃO 02
Observe o enunciado realizado em LIBRAS a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
Fonte: CAPOVILLA, F.C.; RAPHAEL, W.D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Lín-
gua de Sinais Brasileira, Volume I e II. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2008. p. 434-920.
56
QUESTÃO 03
Observe o enunciado realizado em LIBRAS a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
Fonte: CAPOVILLA, F.C.; RAPHAEL, W.D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Lín-
gua de Sinais Brasileira. Volume I e II. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2008. p. 632-1242.
57
Saiba T 03 - gátc libraS: scts
maiS ócs, ócs státcs
Dica de livro
58
Dica de vídeo
Gramática da LIBRAS
O vídeo é realizado em LIBRAS, mas contém legenda e áudio
em português. É uma ótima oportunidade para aprofundar não
apenas seu conhecimento sobre a gramática da LIBRAS, mas
também de treinar suas competências na compreensão da língua
de sinais. No vídeo ca claro a independência da LIBRAS com
relação à Língua Portuguesa, tanto na formação das palavras e
sinais, quanto da estrutura dos enunciados.
Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=3Qp9v1WYa5c&list=PLbyV
PJgCjH9E1-HS6NBvAUBXpkAhe-uqY>.
Acesso em: 24 jun. 2013.
59
Saiba T 03 - gátc libraS: scts
maiS ócs, ócs státcs
Dica de lme
O Resto é Silêncio
Gênero: Ficção
Diretor: Paulo Halm
Lançamento: 2003
Duração: 22 min.
O Curta-metragem totalmente interpretado por atores
surdos recebeu inúmeros prêmios nacionais, tais como
melhor roteiro, melhor ator e melhor curta. É uma ótima
chance de contemplar a produção cultural poética em
língua de sinais através das mãos do ator Valdo Nóbrega.
Disponível em:
<http://portacurtas.org.br/lme/?name=o_resto_e_silencio>.
Acesso em: 24 jun. 2013.
60
Dica de site
Conheça a TV INES
A primeira emissora brasileira para surdos (via internet) inverte a lógica da janela para
intérpretes produzindo um canal de veiculação em LIBRAS, com legendas em língua
portuguesa. A programação diária conta com o Jornal Visual, Piadas, Aula de LIBRAS,
entre outras. A iniciativa é da Instituição Nacional de Educação de Surdos (INES).
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TexTo e Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
ConTexTo surdez, surdos
surdos e línguas de sinais
Chegamos à última aula-tema desta ocina. É válido lembrar que este é um módulo básico da língua
brasileira de sinais; por isso, a continuidade dos estudos, bem como o contato com surdos usuários
da LIBRAS são fatores essenciais para o desenvolvimento de sua prociência nessa língua. Apesar
de ser iniciante, você já traz um rico repertório linguístico e cultural do contexto da surdez, pois,
além da prática nessa língua desde o início desta ocina, você foi exposto a conteúdos sobre a
história da educação de surdos e das línguas de sinais, cultura surda, identidade surda e aspectos
gramaticais da LIBRAS, incluindo seus estudos fonológicos, morfológicos e sintáticos.
No entanto, a discussão ainda não foi encerrada. A Aula-tema 5 foi reservada para respondermos
sobre os principais mitos e perguntas sobre surdez, surdos e línguas de sinais. Vamos conferir?
63
TexTo e Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
ConTexTo surdez, surdos e línguas de sinais
originando a falsa ideia de que, por não falarem oralmente, eles também eram “mudos”. No entanto,
a partir do momento em que se adota uma concepção socioantropológica da surdez, na qual se
reconhece a língua de sinais como sistema linguístico legítimo, é necessário admitir que o surdo
não é mudo, pois ele pode falar por meio da língua de sinais. Com relação à expressão “deciente
auditivo”, ela está relacionada a uma concepção clínico-patológica da surdez, que percebe o
sujeito a partir do que lhe falta para ser “normal”, aceitando esta condição enquanto deciência. Em
contrapartida, o termo “surdo” está atrelado ao reconhecimento da diferença linguística e cultural,
nomenclatura preferida pela comunidade surda.
64
Em concordância com a linguista Tânia Felipe (1997, p. 82), todas as línguas devem ser organizadas
em sua estrutura por níveis linguísticos fundamentados na fonologia, morfologia, sintaxe, semântica
e pragmática. Isso as identica como línguas, e é o caso da LIBRAS, que comprovou deter tais
requisitos para ser alçada como língua, e não como linguagem. Segundo Felipe (1997), a linguagem
é entendida como a linguagem das abelhas, dos macacos, dos golnhos, o que não é o caso da
língua dos surdos. Esta situação é o que desloca os surdos da condição de decientes e os situa
na condição de minorias linguísticas, tais como índios e imigrantes que habitam o Brasil e que não
têm a língua portuguesa como primeira língua.
7. Todo
Todo surdo faz leitura labial?
Não. A leitura labial (ou leitura orofacial) é fruto de um treinamento intenso por parte do surdo, no
sentido de aprender a interpretar a combinação de movimento dos lábios e expressões faciais,
traduzindo isso em palavras e enunciados. Como o surdo não ouve, ele precisa ser exposto ao
aprendizado da língua portuguesa para conseguir atribuir sentido ao que o outro fala. Vale destacar
que a leitura labial não oferece 100% de inteligibilidade aos surdos, visto que alguns fonemas, por
exemplo, /p/, /b/ e /m/, apresentam a mesma articulação dos lábios, diferenciando-se por serem,
respectivamente, fonemas surdo (sem vibração), sonoro (com vibração) e nasal.
Além disso, várias situações podem prejudicar uma boa leitura orofacial, tal como ambientes com
pouca luminosidade (quando o professor apaga a luz para apresentações de slides ou lmes),
falar de costas ou de lado (quando os alunos debatem em sala de aula ou quando o professor fala
enquanto escreve na lousa), barba e bigode (que impedem uma boa visualização do movimento
dos lábios), uma fala muito rápida ou pouca articulação dos lábios etc.
8. Existe surdo que fala (oralmente)?
Sim. Existem surdos que aprendem a falar oralmente, inclusive, alguns deles desconhecem a língua
de sinais. Mas o aprendizado da oralidade depende de vários fatores. Um desses fatores é o tipo
e o grau da perda auditiva. Por esta razão, alguns surdos podem ter uma perda auditiva menor, a
qual não prejudica a aquisição da oralidade.
65
TexTo e Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
ConTexTo surdez, surdos e línguas de sinais
66
para o deslocamento da representação clínico-patológica, que entende a surdez como deciência,
para que você nos ajude a redesenhar esta história, adotando uma postura socioantropológica
em relação à surdez, deixando de vislumbrar a patologia onde existem inúmeras competências e
habilidades.
ConCeiToS
fundamenTaiS
Aparelhos de Amplicação Sonora Individual: aparelhos auditivos utilizados para captar o som
externo e amplicá-lo para o surdo.
Concepção clínico-patológica: envolve a visão da surdez como patologia e do surdo como
deciente que precisa de tratamento e reabilitação.
Concepção socioantropológ
socioantropológica:ica: envolve a visão da surdez como diferença e situa os surdos em
contextos de minorias linguísticas.
Gestuno: uma língua de sinais articial, como o esperanto, criada para permitir a comunicação
entre pessoas surdas de diferentes países.
Implante coclear: trata-se de um procedimento cirúrgico para a implantação de um dispositivo
eletrônico que permite estimular eletricamente o nervo auditivo, substituindo o que deveria ser feito
pelas células ciliadas da cóclea.
Mímica: expressão por meio de gestos ou expressões corporais e faciais.
Minorias linguísticas: são comunidades, sociedades ou grupos que utilizam uma língua que se
diferencia da língua ocial do país ou da língua utilizada pela maioria da população.
Soletração rítmica: trata-se da soletração por meio do alfabeto manual da LIBRAS, com forma,
ritmo e movimento próprios. A soletração rítmica, na maioria das vezes, envolve a supressão ou
aglutinação de letras.
67
Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
referênCiaS surdez, surdos e línguas de sinais
CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. As línguas de sinais:
sua importância para os Surdos. In: CHOI, D.; PEREIRA, M. C. C.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.;
NAKASATO, R. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
2011. p.
3-22.
FELIPE, T.
T. A. Introdução à Gramática de LIBRAS. In: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
Secretaria de Educação Especial. Educação especial: Deciência Auditiva. Brasília, 1997.
QUADROS, R. KARN OPP,, L. B. Língua de Sinais Brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre:
R . M.; KARNOPP
Artmed, 2004.
68
queSTõeS para
aCompanHamenTo
da aprendizagem
QUESTÃO 01
Na Aula-tema
Aula-tema 5 aprendemos sobre diversos mitos e ideias equivocadas em torno da surdez,
dos surdos e da língua de sinais. Considerando seu aprendizado, analise as armações a
seguir e indique se são (V) Verdadeiras ou (F) Falsas:
( ) Deciente
Deciente auditivo
auditivo é aquele que tem uma
uma perda auditiva menor,
menor, enquanto
enquanto surdo é
aquele que não ouve nada.
( ) O gestuno
gestuno é uma
uma língua de sinais universal, criada para facilitar a comunicação entre
surdos de diferentes países.
( ) Para ser um bom intérprete de LIBRAS basta
basta ter domínio
domínio da língua
língua de sinais.
sinais.
( ) As línguas
línguas de sinais são realmente
realmente línguas capazes de expressar
expressar conceitos concretos
concretos
e abstratos, da mesma forma que as línguas orais.
( ) Existem surdos que aprendem a falar
falar oralmente, e alguns deles desconhecem
desconhecem a língua
de sinais.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, respectivamente:
a) V, F, V, V, F.
b) V, V, F, F, V.
c) V, F, V, F, V.
d) F, F, V, V, F.
e) F, V, F, V, V.
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queSTõeS para
aCompanHamenTo T 05 - mts ts ts
da aprendizagem sobre surdez, surdos e línguas de sinais
QUESTÃO 02
Observe o enunciado realizado em LIBRAS, a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
a) Qual é a hora?
b) Está procurando algo?
c) Onde é o banheiro?
d) O táxi é caro?
e) Quer ajuda?
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QUESTÃO 03
Observe o enunciado realizado em LIBRAS, a seguir, e assinale a alternativa que o traduz
corretamente:
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Saiba Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
maiS surdez, surdos e línguas de sinais
Dica de livro
Curso de LIBRAS 1
Autor: QUADROS, R. M.; PIMENTA, N.
Editora: LSB Vídeo, 2006.
O livro acompanha DVD com conteúdo, atividades e orientações
para iniciantes na língua brasileira de sinais. No formato de um
curso de LIBRAS, o livro contempla os aspectos gramaticais e
culturais da LIBRAS, expondo conteúdos como alfabeto manual
(diferença entre países), números (diferença entre regiões do
país), classicadores (diferença
(diferença entre o classicador e a mímica)
etc.
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Dica de vídeo
A fábula do Tsuru
O vídeo apresenta uma narrativa em LIBRAS. A narradora é a
surda e modelo Vanessa
Vanessa Vidal, Miss Ceará, em 2008, e segunda
colocada no Miss Brasil no mesmo ano.
Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=9JsvCFVsXDk>.
Acesso em: 11 maio 2013.
Dica de site
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Saiba Tema 05 - Mitos e perguntas frequentes sobre
maiS surdez, surdos e línguas de sinais
Dica de site
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FICHA TÉCNICA
Diagramação:
Gabriel Araújo
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