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O BILINGUISMO: CONCEITOS E DIMENSÕES

Docente: Calawia Salimo

Montepuez-2011

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Índice

1.Introdução---------------------------------------------------------------------------------------------------1
2.Conceitos e definições ------------------------------------------------------------------------------------3
3. Dimensões do Bilinguismo-------------------------------------------------------------------------------5
4. Bilinguismo individual------------------------------------------------------------------------------------7
4.1 Dimensões psicológicas do bilinguismo-----------------------------------------------------------7
4.2 A Representação mental no indivíduo de duas línguas------=-----------------------------------7
5. Bilinguismo social------------------------------------------------------------------------------------------8
5.1Casos típicos de bilinguismo-------------------------------------------------------------------------8
6.Bilinguismo e diglossia são duas faces da mesma moeda? -------------------------------------------8
7. Conclusão--------------------------------------------------------------------------------------------------11
8. Referências ------------------------------------------------------------------------------------------------12

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1.O BILINGUISMO: CONCEITOS E DIMENSÕES
Introdução

A intenção neste artigo é trabalhar alguns aspectos deste conceito tão polémico na
actualidade no ramo da Sociolinguística no âmbito da contribuição para a produção da sebenta,
especificamente tem como objectivo identificar as visões multidimensionais do bilinguismo.
Também abordar-se-á a problemática da bilingualidade vs diglossia nos países bilingues e
monolingues. A incursão limita-se a um objecto específico: a visão multidimensional do
bilinguismo. O motivo da escolha é simples, esta escola de pensamento trabalhou de maneira não
sistemática o tema do bilinguismo. Isso muito antes das abordagens que nos são agora familiares,
habilidades, identidades e aspectos psicológicos e outros do bilinguismo. Circunscrito ao meio
académico, mais propriamente antropológico, ela pode ser revisitada, não tanto para se entender
a história de uma disciplina, mas como um corpus textual que revela um conjunto de argumentos
matrizes, cujas implicações reverberam em diferentes áreas de conhecimento e sob múltiplos
matizes.

Não é difícil perceber que muitos dos termos da discussão actual, implicitamente se referem à
uma perspectiva que em outro contexto, marcou o debate intelectual. Recuperar alguns desses
argumentos (não todos), compreendê-los, seria uma maneira de esclarecer, pelo menos
parcialmente, questões do presente. Utiliza-se um artifício analítico, na esperança que tal
arqueologia das ideias possa ser útil para o diagnóstico de nossos tempos. São vários os escritos
sobre o bilinguismo, contemplando os conceitos, as polêmicas entre seus participantes, os
estudos sociolinguísticos e linguísticos, as condições sociais nas quais ela se desenvolveu em
África e nos Estados Unidos (luta contra o racismo, os ideais do liberalismo, a eclosão da
escravatura). Não é meu intuito considerar as múltiplas facetas que a caracterizam, tampouco
retraçar de maneira exaustiva os meandros de sua tradição intelectual, ela abarca domínios
abrangentes e significativos, da Linguística à Sociolinguística. A leitura é retrospectiva, actual e
interessada, privilegia uma de suas vertentes: as diferenças nas visões.

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Para a efectivação do artigo, baseou-se na pesquisa bibliográfica e no método introspectivo, uma
vez que o autor também é e vive numa comunidade bilíngue. No método de pesquisa
bibliográfico consiste concretamente na leitura e recolha de dados de várias obras literárias que
se debruçam sobre o tema e vêm ilustradas na ficha bibliográfica do trabalho. Depois, os dados
foram analisados criticamente e compilados resultando no presente trabalho. Fez-se também uma
pesquisa cuidadosa na internet.
Em seguida passemos as discussões dos conceitos.

2. Conceitos e definições

O conceito de bilinguismo é complexo e pode envolver várias dimensões ao se definir.


O objectivo deste trabalho é propor uma reflexão e uma redefinição de bilinguismo. Termo este
que se tornou não só difícil de conceituar, mas também sujeito a definições um tanto quanto
divergentes. Neste trabalho são discutidos os diferentes conceitos e as diversas definições de
bilinguismo, partindo de concepções unidimensionais como a de Bloomfield (1935), Macnamara
(1967) e Titone (1972), em direcção a definições multidimensionais como a de Harmers e Blanc
(2000).

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BILINGUISMO

A noção de bilinguismo tornou-se cada vez mais ampla e difícil de conceituar, a partir do século
XX. A primeira vista, definir o bilinguismo não parece ser uma tarefa difícil. De acordo com o
dicionário Oxford (2000:117) bilíngue é definido como: “ser capaz de falar duas línguas
igualmente bem porque as utiliza desde muito jovem”.

Na visão popular, ser bilíngue é o mesmo que ser capaz de falar duas línguas perfeitamente; esta
é também a definição empregada por Bloomfield que define bilinguismo como “o controle
nativo de duas línguas” (BLOOMFIELD, 1935, apud HARMERS e BLANC, 2000:6).

Opondo-se a esta visão que inclui apenas bilíngues perfeitos, Mcnamara propõe que “um
indivíduo bilíngue é alguém que possui competência mínima em uma das quatro habilidades
linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) em uma língua diferente de sua língua nativa”
(MACNAMARA, 1967 apud HARMERS e BLANC, 2000:6.).

Entre estes dois extremos encontram-se outras definições, como por exemplo, a definição
proposta por Titone, para quem bilinguismo é “a capacidade individual de falar uma segunda
língua obedecendo às estruturas desta língua e não parafraseando a primeira língua” (TITONE,
1972 apud HARMERS e BLANC, 2000:7). Outros autores, como Baker e Prys Jones (1998),
levantam algumas questões para a classificação de indivíduos bilíngues:

- Devem-se considerar bilíngues somente indivíduos fluentes nas duas línguas?


- São considerados bilíngues apenas indivíduos com competência linguística equivalente nas
duas línguas?
- Proficiência nas duas línguas deve ser o único critério para a definição de bilinguismo, ou o
modo como essas línguas são utilizadas também deve ser levado em consideração?

A definição mais comum de bilíngue é a do indivíduo que fala duas línguas.


Entretanto, como se define então, um indivíduo que entende perfeitamente uma segunda língua
(L2), mas não possui habilidade suficiente para nela se expressar oralmente? E um indivíduo que

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fala essa L2, mas não escreve? Devem-se considerar estes indivíduos bilíngues? Devem-se levar
em conta auto-avaliação e auto-regulação ao definir quem é bilíngue?
Existem graus diferentes de bilinguismo que podem variar de acordo com o tempo e a
circunstância?

O bilinguismo deve ser considerado, então, um termo relativo? (BAKER e PRYS, 1998 apud LI
WEI, 2000).

De forma semelhante a Barker e Prys (1998), Li Wei (2000) argumenta que o termo bilíngue
basicamente pode definir indivíduos que possuem duas línguas.
Mas, deve-se incluir entre estes, indivíduos com diferentes graus de proficiência nessas línguas e
que muitas vezes fazem uso de três, quatro ou mais línguas.

Seguindo na mesma direcção, Mackey (2000) pondera que ao se definir bilinguismo devem-se
considerar quatro questões:

- 1ª É referente ao grau de proficiência, ou seja, o conhecimento do indivíduo sobre as línguas


em questão deve ser avaliado. Dessa forma, o conhecimento de tais línguas não precisa ser
equivalente em todos os níveis linguísticos. O indivíduo pode, por exemplo, apresentar vasto
vocabulário em uma das línguas, mas, nela apresentar pronúncia deficiente.

– 2ª A questão proposta por Baker (1949 p. 5) destaca a função e o uso das línguas, isto é, as
situações, nas quais o indivíduo faz uso das duas línguas, também devem ser objecto de estudo
ao conceituar o bilinguismo.

– A 3ª questão levantada diz respeito à alternância de código.


Segundo Mackey deve ser estudado como e com qual frequência e condições o indivíduo alterna
de uma língua para outra.

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- E, finalmente, deve também ser estudado, para classificação correcta do bilinguismo, como
uma língua influencia a outra e como uma interfere na outra. Fenômeno este conhecido por
interferência.

Deve-se ressaltar que concepções unidimensionais apresentam alguns pontos desfavoráveis, pois
estas definem indivíduo bilíngue apenas em termos de competência linguística, ignorando outras
importantes dimensões. Outro ponto em que tais concepções são falhas é que estas não levam em
consideração diferentes níveis de análises, sejam elas individuais, interpessoais ou sociais.
E finalmente, considere-se o ponto mais discutível dessas concepções o facto de não serem
embasadas por teorias de comportamento linguístico.

Harmers e Blanc (2000) consideram como princípios de comportamento linguístico: (i) a


constante interacção de dinamismos sociais e individuais da língua, (ii) os complexos processos
entre as formas de comportamento linguístico e as funções em que são utilizados, (ii) a
interacção recíproca entre língua e cultura que são auto reguladores que caracterizam todos
comportamentos de ordem elevada e consequentemente a língua e a valorização que é central
para toda esta dinâmica de interacção.

Os mesmos autores ressaltam ainda que concepções multidimensionais não apenas são
embasadas nas teorias de comportamento linguístico, como também levam em consideração
noções oriundas de diversas disciplinas: psicologia, sociolinguística, sociologia e linguística.
E não se deve ignorar o facto de que bilinguismo é um fenómeno multidimensional e deve ser
investigado como tal. Consideram, assim, importante analisar seis dimensões ao definir
bilinguismo: competência relativa; organização cognitiva; idade de aquisição; presença ou não de
indivíduos falantes da L2 no ambiente em questão; status das duas línguas envolvidas e
identidade cultural. Partindo de cada uma destas dimensões, Harmers e Blanc (2000) propõem as
suas respectivas definições, que em seguida passemos a analisar.

3 DIMENSÕES DO BILINGUISMO
i. - A competência relativa

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Prioriza a relação entre as duas competências linguísticas. Obtêm-se, assim, as definições de
bilinguismo balanceado e bilinguismo dominante.
Considera-se bilíngue balanceado o indivíduo que possui competência linguística equivalente em
ambas as línguas. Deve ser ressaltado que ser considerado bilíngue balanceado não significa
possuir alto grau de competência linguística nas duas línguas, mas significa que em ambas o
indivíduo em questão atingiu um grau de competência equivalente, não importando qual grau de
competência é este.
Por bilíngue dominante entende-se o indivíduo que possui competência maior em uma das
línguas em questão, geralmente na língua nativa (L1).

ii.- Organização cognitiva,


Obtêm-se os conceitos de bilinguismo composto e bilinguismo coordenado.
É considerado bilíngue composto o indivíduo que apresenta uma única representação cognitiva
para duas traduções equivalentes. No entanto, o indivíduo que apresenta representações distintas
para duas traduções equivalentes é classificado como bilíngue coordenado. Deve ser enfatizado
que um indivíduo bilíngue pode ser ao mesmo tempo mais composto para certos conceitos e
mais coordenado para outros. A distinção feita a partir da organização cognitiva é comumente
mal interpretada, posto que esta distinção não se refere a diferentes níveis de competência
linguística, a diferenças entre a idade de aquisição das línguas ou a diferentes contextos de
aquisição. Embora haja uma grande ligação entre o tipo de organização cognitiva, idade e
contexto de aquisição, não existe correspondência direta entre a forma de representação
cognitiva e idade de aquisição da língua. É verdade, porém, que um indivíduo que aprendeu as
duas línguas quando criança no mesmo contexto, provavelmente apresenta uma única
representação cognitiva para duas traduções equivalentes. Enquanto um indivíduo que aprendeu
a L2 em um contexto diferenciado da sua L1 pode apresentar representações distintas para duas
traduções equivalentes.

iii.- A idade de aquisição


A idade de aquisição das línguas é considerada de extrema importância, pois afeta diversos
aspectos do desenvolvimento do indivíduo bilíngue, como por exemplo: o desenvolvimento

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linguístico, neuropsicológico, cognitivo e sócio-cultural. De acordo com a idade de aquisição da
segunda língua, dá-se o bilinguismo infantil, adolescente ou adulto.

No infantil, o desenvolvimento do bilinguismo ocorre simultaneamente ao desenvolvimento


cognitivo, podendo consequentemente influenciá-lo. O bilinguismo infantil subdivide-se: em
bilinguismo simultâneo e bilinguismo consecutivo.

No bilinguismo simultâneo, a criança adquire as duas línguas ao mesmo tempo, sendo expostas
as mesmas desde o nascimento. Por sua vez, no bilinguismo consecutivo, a criança adquire a
segunda língua ainda na infância, mas após ter adquirido as bases linguísticas da L1,
aproximadamente aos cinco anos, conforme aponta Wei (2000).

Quando a aquisição da L2 ocorre durante o período da adolescência, conceitua-se este fenómeno


como bilinguismo adolescente e por bilinguismo adulto, entende-se a aquisição da L2 que ocorre
durante a idade adulta.

iv.- A presença ou não de indivíduos falantes da L2


No ambiente social da criança que está adquirindo esta língua, classifica-se como bilinguismo
endógeno ou bilingüismo exógeno. No bilinguismo endógeno, as duas línguas são utilizadas
como nativas na comunidade e podem ou não ser utilizadas para propósitos institucionais. No
bilinguismo endógeno, as duas línguas são oficiais, mas não são utilizadas com propósitos
institucionais.

v.- O status
Atribuído a estas línguas na comunidade em questão, o indivíduo desenvolverá formas
diferenciadas de bilinguismo. A primeira delas é o bilinguismo aditivo, na qual as duas línguas
são suficientemente valorizadas no desenvolvimento cognitivo da criança e a aquisição da L2
ocorre, consequentemente, sem perda ou prejuízo da L1. No entanto, na segunda forma de
aquisição, denominada bilinguismo subtrativo, a primeira língua é desvalorizada no ambiente
infantil, gerando desvantagens cognitivas no desenvolvimento da criança e neste caso durante a
aquisição da L2 ocorre perda ou prejuízo da L1.

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vi- Identidade cultural
Obtendo-se bilíngues biculturais, monoculturais, culturais e subculturais.
Como bilinguismo bicultural, entende-se o indivíduo bilíngue que se identifica positivamente
com os dois grupos culturais e é reconhecido por cada um deles. No bilinguismo monocultural, o
indivíduo bilíngue se identifica e é reconhecido culturalmente apenas por um dos grupos em
questão. Deve ser ressaltado que um indivíduo bilíngue pode ser fluente nas duas línguas, mas se
manter monocultural. Já a cultural é considerado o indivíduo que renuncia sua identidade cultural
relacionada com sua L1 e adota valores culturais associados ao grupo de falantes da L2.
Finalmente, o bilinguismo descultural dá se quando o indivíduo bilíngue desiste de sua própria
identidade cultural, mas falha ao tentar adotar aspectos culturais do grupo falante da L2.

Temos a dizer, que ao classificar indivíduos como bilingues ou monolingues, a dimensão ou as


dimensões analisadas para tal classificação devem ser expostas, facilitando, assim o
entendimento não só de quem está sendo classificado, como também de todos que se encontram
de alguma forma envolvidos na questão.

Os termos bilinguismo e bilíngue parecem conduzir-nos a situações em que mais de duas línguas
estão envolvidas. Daí, que o contacto linguístico inevitavelmente conduz ao bilinguismo. E
geralmente, distingue-se dois tipos de bilinguismo: bilinguismo social e bilinguismo individual.
Mas, qualquer definição trará sempre um problema central. Um dos problemas relaciona-se com
a definição do próprio conceito de língua. Será legítimo falar de contacto de língua, dado a facto
de não se conhecer a distinção clara entre dialeto e língua?
Um outro problema cinge-se na escala ou agregação, em termos sociais, na medida em que não
se sabe possível significado de “contacto de língua”, tomando a língua como um fenômeno
abstracto.

Não obstante a problemática em torno do conceito bilinguismo, é importante salientar alguns


aspectos a tomar em consideração na descrição. Mackey (1967) citado por Romaine (1992)
refere-se de aspectos como: “grau, função, alternância e interferência”, como acima fizemos
referência quando afirmamos que a questão de grau de bilinguismo refere-se a proficiência (até o

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bilíngue conhece cada uma das línguas). A função foca nos usos que um falante bilíngue tem
para as línguas e os diferentes papéis que esses têm no repertório do indivíduo. A alternância tem
a ver com a extensão através da qual o indivíduo alterna entre duas línguas. E finalmente a
interferência tem a ver com a extensão através da qual o indivíduo opera na tentativa de manter
as línguas separadas.
Mas para além dos aspectos acima referidos, há a referir que o domínio bilíngue pode ser
influenciado por diversos fatores como idade, sexo, inteligência, memória, atitude linguística, e
motivação (Mackey 1968).

4 Bilinguismo individual
O bilinguismo individual encontra-se a nível do indivíduo. Parece claro falar de bilinguismo
individual, mas determinar se um indivíduo é ou não bilingue torna-se mais complicado, pois há
vários aspectos a tomar em conta, aspectos esses que tem a ver com a organização das línguas no
cérebro do indivíduo; uso e aquisição das línguas; atitudes do falante bilíngue: interferência,
empréstimos, criação individual e ainda a falta de modelo de avaliação do grau de proficiência.

4.1 Dimensões psicológicas do bilinguismo


É consensual e comprovado cientificamente, que o hemisfério esquerdo é responsável pelo
processamento linguístico, mas a questão que se coloca é se o mesmo se dá no indivíduo
bilíngue, se as duas ou mais línguas estão localizadas na mesma área do cérebro e partilham os
mesmos mecanismos neurais.

4.2 A Representação mental no indivíduo de duas línguas.

Hoffmann (1991) afirma que foi Weinreich (1968), quem fez pela primeira vez a menção sobre a
organização mental da fala dos bilíngues, cujo trabalho pioneiro estava centrado no fenômeno de
interferência, isto é, a influência do sistema linguístico do bilíngue sobre cada uma das línguas.
De acordo com a relação existente entre significante e significado, o autor acima citado,
distingue três tipos de bilinguismo: coordenado, composto e subordinado.
No bilinguismo coordenado o indivíduo combina um signo/significante de cada língua a cada
significado separado, isto é, cada signo é associado a seu sistema. No bilinguismo composto o

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indivíduo identifica dois signos/significantes, mas toma como um único composto ou uma única
unidade de sentido (significado). Aqui o indivíduo bilíngue a nível dos signos reconhece a
existência de dois signos, mas a nível dos significados sabe que é o mesmo. Por último, temos o
bilinguismo subordinado que está relacionado com pessoas que uma nova língua com ajuda de
outra, isto é, a percepção da L2 depende da L1.

5. Bilinguismo social
5.1 Casos típicos de bilinguismo
O fenómeno bilinguismo não só se verifica a nível individual assim como se pode notar a nível
social. Tal ocorre quando numa determinada sociedade duais ou mais línguas são faladas.
Assumindo esse pressuposto tomaríamos todas as sociedades como bilíngues, mas as mesmas
podem diferir se olharmos para o grau ou forma de bilinguismo que cada uma delas apresenta.
Teoricamente (porque na prática encontramos situações mais complexas) Appel e Muysken
(1987) distinguem três situações típicas de bilinguismo social.
i. Situação em que duas línguas são faladas por dois diferentes grupos e cada grupo é
tomado como monolíngue.
ii. Existem sociedades em que todo o indivíduo é bilíngue, isto é, todos têm comando de
mais de duas línguas.
iii. Finalmente situação em que numa determinada sociedade com dois grupos, em que
um grupo é monolíngue e outro bilíngue. Geralmente o grupo tido como bilíngue tem
sido minoritário em termos sociais, grupo dominado e não em termos numéricos ou
estatísticos.
Já fizemos referência às formas aqui apresentadas são apenas teóricas porque na prática essas
formas não se apresentam de forma pura. A situação linguística de muitos países mostra-se mais
complexa1, com mais de dois grupos e mais do que duas línguas envolvidas em cada sociedade e
grupo.

6.Bilinguismo e diglossia são duas faces da mesma moeda?

1
Principalmente nos Países africano que são caracterizados como sendo multilíngues. Lopes 2005.

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Alguns países são bilingues ou multilingues oficialmente no sentido de que têm duas ou mais
línguas oficiais, nacionais ou regionais. Dois exemplos bastante conhecidos de países
oficialmente bilíngues são o Canadá e a Bélgica. Lyons (2009:210)2 . Outros Países apesar de
não serem oficialmente bilíngues, têm duas ou mais línguas diferentes faladas dentro de suas
fronteiras.
Obviamente uma comunidade não pode ser descrita como bilíngue a não ser que um número
suficiente de seus membros o seja. Mas o que significa dizer de uma pessoa que ela é bilíngue?
Podemos admitir, como ideal teórico, na visão popular, a possibilidade do bilinguismo perfeito,
definido como competência total em duas línguas, equivalente `a competência que um falante
monolíngue tem em uma. Segundo Lyons (op.cit) “ o bilinguismo perfeito, se é que existe, é
extremamente raro, porque é raro que as pessoas estejam em posição de usar cada língua numa
gama completa de situações e de adquirir, dessa forma, a competência exigida.”
Entretanto não é incomuns as pessoas se aproximarem do bilinguismo perfeito, sendo igualmente
competentes em ambas as línguas numa gama razoavelmente ampla de situações. Ainda na
óptica do mesmo autor, nesses casos

“se adquiriram ambas as línguas simultaneamente na infância ou se adquiriram uma como primeira língua e outra
um tempo depois, as pessoas podem ser classificadas, como bilíngues compostos ou coordenados
psicolinguísticamente, segundo os dois sistemas estejam integrados como um único em algum nível
relativamente profundo de organização psicológica ou armazenamento separadamente”.

Em casos de bilinguismo longe de perfeito, uma língua será dominante e a outra subordinada.
No entanto, independentemente de todas as diferenças, há algo que a maioria das comunidades
bilíngues, se não todas, têm em comum: uma diferenciação funcional razoavelmente clara das
duas línguas com relação ao que muitos sociolinguistas denominam domínios.

Existem muitas comunidades bilíngues cujos membros usam regularmente um dialecto para
finalidades mais públicas ou formais e outro em situações mais informais e coloquiais. Dada a
validade de distinção entre o formal e coloquial, podemos distinguir um dialecto (A) e um
dialecto baixo (B) em termos do critério puramente funcional. Frequentemente o dialecto A será

2
A edição original é de 1981 em inglês, a que estamos a citar é uma tradução (2009) .

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um padrão literário, em alguns casos o tipo de padrão literário que na visão Lyons,( 2009)
chamamos de “clássico”, ou um dialecto que dele se aproxima, enquanto o dialecto B será um
vernáculo local. Por exemplo, o árabe clássico é relacionado funcionalmente desta maneira,
como A para B, a vários dialetos coloquiais diferentes nos vários Países de língua árabe. O
alemão-padrão é relacionado semelhantemente ao alemão suíço na Suíça; o francês-padrão ao
francês crioulo no Haiti; etc. E, é claro, em grande parte da Europa o pré-renascentista o latim foi
o dialecto A em relação às línguas românicas emergentes.

Em todos esses casos, a distinção entre o dialecto A e dialecto B é mais do que uma diferença
entre dois dialetos sociais. Pode bem ser que em muitos casos, somente as classes instruídas
tenham competências em A e B, em certos casos, também, por razões culturais, o dialecto A
pode ser considerado como sendo, de certa forma, uma versão mais correta e pura da língua em
si: o árabe clássico língua sagrada do islão é o exemplo mais elucidativo Lyons (2009 p.212).
Mas para aqueles que têm competência suficiente em A e B, o uso de um ou de outro é
determinado não pela classe social da pessoa como tal, mas pela situação em que ele se encontra.
3
Do ponto de vista estrutural (i.e, em termos de grau de diferença fonológica, gramatical e
lexical A e B são dialectos; e do ponto de vista funcional, eles podem ser considerados como
estilos. (Op. cit.).
A maioria dos casos de diglossia a que nos referimos são descritos em comunidades tidas como
monolíngues, tal é o caso de falante de árabe e de grego. etc., não focalizamos a nossa discussão
em comunidades bilingues ou multilingues devido a dificuldades de dizer o que conta como
língua diferente, política ou culturalmente, pode não haver um consenso definitivo, mesmo na
mesma comunidade, quanto ao facto de seus membros serem ou não monolingues. Por exemplo,
existem aqueles que diriam que o Elómw`e (língua bantu falada na alta Zambézia) é uma língua
distinta relacionada e em pé de igualdade, com Emakhuwa na variante de Nampula,; há outros
que discordam afirmando que Elomwe é variante de Emakhuwa e não língua. Por isso Lyons (op
cit) afirma que “é mais importante reconhecer o que os vários casos de diglossia têm em comum
do que separá-los em termos de existirem ou não as consideradas comunidades monolingues”

3
Nessa questão, como em outra , a distinção entre dialeto e estilo perdem muito da sua força.

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A escolha da língua ou dialecto é feita tendo-se as diversas circunstâncias apresentadas quer
formais, quer informais dependendo dos fatores envolvidos como: grupo a que se está inserido,
assunto e situação.
Em Moçambique por exemplo, concretamente em Nampula um indivíduo pode escolher a língua
portuguesa em detrimento de Emakhuwa em situações escolares, serviço ou ainda no centro da
cidade, mas o mesmo indivíduo pode reverter a escolha quando se encontrar em situações
familiares, isto já em contextos periféricos, fora da cidade. Ou podemos encontrar ainda
indivíduos que num meio formal como em conferências sobre política, discutem na língua
portuguesa, mas os mesmos indivíduos encontrando-se mais tarde, num bar ou qualquer outro
lugar informal podem fazer uso de Emakhuwa. Influenciados pelos factores não só acima
mencionados como também outros fatores dependendo do comportamento linguístico de cada
falante.

A noção de diglossia toma as características das línguas envolvidas como ponto de partida. Não
só pode olhar para o comportamento da fala bilíngue do ponto de vista da situação é importante
focar nas línguas envolvidas.

A definição de diglossia evolve duas variedades dum sistema linguístico usado numa
comunidade de fala. A variedade formal, designada A (alto) em H (high) em Inglês, e a forma
popular anteriormente designada B (baixa) L (Low) em português e inglês respectivamente.
Cada variedade tem as suas funções na comunidade de fala, sendo a formal H/A reservada aos
discursos políticos e a informal B/L reservada as conversas entre amigos.
Essas duas variedades diferem no facto uma, a formal, ter mais prestígio, estar associada `as
funções religiosas, herança literária e histórica ser padronizada, gramaticalmente mais complexa
e com o sistema morfofonêmico mais complexo que a variante informal.
São essas e outras diferenças entre as duas variedades que vão determinar a escolha de uma
variedade em detrimento da outra. O prestígio que cada variante tem numa determinada
comunidade é que vai ajudar na seleção da variante a ser usada.
Hoffmann (1991) por sua vez, considera que a escolha da língua pode ser feita de forma
consciente ou inconsciente. Considera ainda que os factores que influenciam na escolha da
língua em indivíduos bilíngues, poderão influenciar os grupos a que tais indivíduos pertencem.

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Mas é importante fazer uma distinção entre bilíngues que vivem em sociedades multilingues, isto
é, lugares onde duas ou mais línguas são usadas, e bilíngues que são membros de uma sociedade
monolíngue, isto é, pessoas que se tornaram bilíngues como resultado da migração, casamentos e
outros.
Um indivíduo bilíngue que vive numa sociedade monolíngue tende a escolher obviamente a
língua falada pela comunidade a que está inserido, enquanto um indivíduo bilíngue que vive
numa comunidade multilingue vai escolher de acordo com as circunstâncias.

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7. Conclusão

Como uma questão final, é preciso sublinhar que, para além daquelas comunidades onde a
diglossia obviamente existe e daquelas em que não, há muitas que se situam entre os dois
extremos. Por exemplo, “comunidades francesas na França não são consideradas como exemplos
de diglossia”. Lyons (2009:212). Mas há uma distinção razoavelmente nítida entre o dialecto A
do francês-padrão ensinado nas escolas e utilizado em ocasiões formais, especificamente na
escrita, e o dialeto coloquial B do dia-dia. As diferenças não se situam apenas no nível lexical,
mas estão também no nível gramatical e até fonológico para alguns falantes embora em número
reduzido. Embora seja o dialecto A o que mais se aproxima do padrão literário seria errôneo
referir-se ao dialecto B dos círculos parisienses instruídos como um vernáculo não padrão. Lyons
(op. cit.).
Se o conceito de diglossia é aplicável com respeito a esses dois dialectos não vernáculos do
francês, ele parece não se aplicar, na maior parte do mundo falante de inglês, a esta língua. Há
uma diferença a delinear, é claro, entre o inglês-padrão e vários dialectos regionais e sociais. E
dentro do inglês-padrão existem diferenças lexicais e gramaticais relacionadas a diferenças na
escala que vão do formal ao coloquial. Mas as diferenças entre o formal e o coloquial são menos
nítidas para os falantes do inglês-padrão do que para os francês-padrão. Apesar de existirem
pessoas de forma esporádica que possam mudar do inglês-padrão para um dialeto não-padrão a
medida que se deslocam de uma comunidade para outra. Isto não é incomum. Mas dificilmente
conta como diglossia nem mesmo como bilinguismo, dado o grau de influência do inglês-padrão
e particularmente sobre os dialectos regionais. E não existe uma relação de B para A entre os
dialectos do inglês.
No entanto, apesar das comunidades falantes do inglês mostrarem-se um tanto atípicas com
respeito às comunidades linguísticas do mundo, não existe algo como uma comunidade
linguística típica.

As concepções multidimensionais não apenas são embasadas nas teorias de comportamento


linguístico, como também levam em consideração noções oriundas de diversas disciplinas:

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psicologia, sociolinguística, sociologia e linguística e antropologia. Daí que as definições
unidimensionais são pouco defensáveis e desfavoráveis pois, estas definem indivíduo bilíngue
apenas em termos de competência linguística, ignorando outras importantes dimensões. Outro
ponto em que tais concepções são falhas é que estas não levam em consideração diferentes níveis
de análises, sejam elas individuais, interpessoais ou sociais.

8. Referências

1. CAVALCANTI, M. Estudos Sobre Educação Bilíngue e Escolarização em


Contextos de Minorias Linguísticas no Brasil. DELTA, vol.15, no. spe, 1999,
p. 385-
Dicionário Oxford 2000.
2. HARMERS, J e BLANC, M. Bilinguality and Bilingualism. Cambridge:
Cambridge University Press, 2000.
3. HOFFMAN, An Introduction to Bilinguism. London & New York: Longman, 1991.
4. LOPES, Armando, A batalha das línguas. Maputo, Imprensa Universitária-UEM, 2005
5. LYONS, John, (uma tradução de Mailda Winkler Averburg) Linguagen e Linguistica: uma
introdução. Rio de Janeiro: abdr, 2009
6. RENÉ, A. & MUYSKEN, Language Contact and Bilingualism. London: Edward Arnold,
1987.
7. ROMAINE, S. Bilingualism. Oxford: Oxford University Press.
8. MACKEY, W. The Description of Bilingualism. In: Li Wei, The Bilingualism
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