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Uma visão criacionista da educação

Ruy Carlos de Camargo Vieira, Doutor em Macânica de Fluidos


Engenheiro mecânico e eletricista, professor emérito da Escola de Engenharia de São
Carlos, da Universidade de São Paulo, ex-conselheiro do Conselho Federal de Educa-
ção, fundador e presidente da Sociedade Criacionista Brasileira

Resumo: Este artigo apresenta o cria- Associação Planalto Central da Igreja


cionismo como a principal diferença Adventista do Sétimo Dia. Tal reu-
entre a educação cristã e a secular. O nião foi realizada em Brasília, onde
autor define os objetivos e os méto- pude apresentar alguns dados sobre o
dos do ensino cristão, relacionando início da educação adventista nos Es-
textos bíblicos e passagens da obra tados Unidos, cuja divulgação julguei
de Ellen G. White com os significa- oportuna em nosso meio.1
dos etimológicos e semânticos dos Esses dados incluíam observações
termos educação e desenvolvimento. apreciadas pela Assembleia da Asso-
Em seguida, traça um breve históri- ciação Geral realizada em 1903, em
co do ensino criacionista no Brasil e Oakland, Califórnia. Os dados foram
aborda o relacionamento entre os co- divulgados tanto em relatório sobre a
nhecimentos bíblicos e científicos no educação adventista2, em 7 de abril,
estudo do criacionismo. pelo pastor Edward Alexander Suther-
land, então Departamental de Educa-
Abstract: This article presents crea- ção da Associação Geral3, como tam-
tionism as the main difference betwe-
bém em um sermão sobre a educação
en Christian and secular education.
cristã4 proferido em 10 de abril, pelo
The author defines the objectives and
pastor Alonzo T. Jones, na época pre-
methods of Christian teaching, rela-
sidente da Associação da Califórnia
ting Bible texts and passages from El-
len G. White’s writings to the etimo- da Igreja Adventista do Sétimo Dia.5
logical and semantic meanings of the Dentre tais observações, são des-
terms education and development. He tacados importantes aspectos ligados
then offers a brief historical overview à propugnação da educação cristã des-
of creationist teaching in Brazil and de os tempos da pregação de Guilher-
discusses the relationship between bi- me Miller, posteriormente trazidos à
blical and scientific knowledge in the Igreja Adventista por Ellen G. White,
study of creationism. “tendo então Deus posto perante o
Seu povo as bases de um sistema de
Introdução educação cristã”.
Puderam, também, ser destacadas
A motivação para escrever este ar- algumas preocupações expostas pelo
tigo foi uma palestra efetuada há 13 pastor Sutherland referentes à educa-
anos no Encontro de Professores da ção adventista e ao panorama geral da
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educação secular nos Estados Unidos educação, em face das deficiências do


no início do século 20. Naquela épo- processo educacional então vigente. A
ca, conforme o relatório de Suther- hoje famosa Harvard University, bem
land, havia cerca de 35 mil crianças como Yale, nada mais era em seu início
e jovens na denominação, dos quais do que uma escola bíblica, cujo objeti-
apenas 5 mil estudavam nas escolas vo era formar ministros que levassem
denominacionais. O pastor Sutherland o evangelho para o mundo. Entretanto,
lamentava que cerca de 30 mil crian- em pouco tempo, Yale e Harvard per-
ças e jovens estavam sendo educados deram de vista sua perspectiva cristã e
em instituições que nada tinham a ver se tornaram escolas seculares, mera-
com as peculiaridades dos processos mente “clássicas”, despojadas da visão
e objetivos da educação adventista. E cristã da educação.
ele trouxe à consideração um impres- Conforme as próprias palavras do
sionante dado: o número dos filhos presidente da Harvard University, cita-
dos que tinham sido adventistas há 50 das pelo pastor Sutherland, a ineficácia
anos e que haviam deixado a igreja era da educação secular americana podia
maior do que o número de membros ser comprovada por oito grandes frus-
então existentes! Dentro desse contex- trações encontradas no seio da socie-
to, Sutherland comentou a importância dade estadunidense. Praticamente um
do sistema educacional para a forma- século depois, a atualidade dessas frus-
ção e o fortalecimento dos quadros da trações não deixa de ser impressionante
igreja. Mas terminou o relatório com tanto no âmbito dos próprios Estados
a advertência de que a igreja, de pos- Unidos como também de nosso país.
se de tão grande luz sobre a educação
cristã, não viesse a incidir nos mesmos 1. Alcoolismo (atualmente tam-
erros cometidos no decorrer do sécu- bém abrange o uso e abuso de entor-
lo 19 pelas denominações evangélicas pecentes);
nos Estados Unidos, que passaram a 2. Jogos de azar (incluindo hoje
confiar mais na educação secular do loterias e similares, patrocinados pelo
que nos princípios bíblicos que indi- próprio poder público);
cam os verdadeiros caminhos que le- 3. Má gestão da coisa pública (in-
vam à vida eterna! cluindo também corrupção generali-
O pastor Sutherland ainda ressaltou zada nos órgãos públicos);
que sua preocupação era semelhante 4. Crime, violência e insegurança
à manifesta fora da igreja. Por exem- (incluindo hoje estupros, sequestros,
plo, um dos mais conceituados edu- e terrorismo);
cadores americanos, Charles William 5. Publicações degradantes (esten-
Eliot, presidente da Harvard Univer- dendo-se a todos os modernos meios
sity, em uma reunião de professores de comunicação);
em New Haven, na Nova Inglaterra, 6. Espetáculos teatrais populares
em 17 de outubro de 1902, destacou as (invadindo os lares mediante progra-
necessidades a serem satisfeitas pela mações imorais da televisão);
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7. Charlatanismo médico (hoje fracassos e frustrações da educação


adicionado à propaganda enganosa secular nos Estados Unidos:
de tratamentos miraculosos e medica-
mentos ineficazes e prejudiciais); Então o que se torna necessário? É ne-
cessário um movimento de reaviva-
8. Greves trabalhistas (abrangendo
mento, de reforma, hoje, como nos dias
atualmente a violência de outros mo- de Lutero. E uma reforma baseada nos
vimentos sociais reivindicatórios).6 mesmos princípios defendidos então por
Lutero. Princípios que repudiaram o mé-
Tentando procurar as raízes dessas todo secular, com suas raízes na Grécia
clássica... [e puseram] a Bíblia em seu
mazelas sociais, o presidente da Har-
verdadeiro lugar, como fonte de toda
vard destacou como uma das princi- educação... [Lutero] concitou o povo a
pais causas desse panorama o fato de não mandar seus filhos para escolas que
que, desde a Guerra Civil Americana não se baseassem predominantemente na
(terminada em 1865), a influência das Bíblia. E é esta a mensagem que necessi-
tamos hoje, a mensagem que os Adven-
igrejas havia sensivelmente diminuí-
tistas do Sétimo Dia têm a obrigação de
do nos Estados Unidos: pregar hoje ao mundo. A esta pregação
sucederá uma reforma... A educação será
Seu controle sobre a educação dimi- concebida em termos do criacionismo; a
nuiu distintamente. Algumas denomi- igreja que ministrará esta educação para
nações parecem ater-se a uma metafí- o mundo será uma igreja criacionista,
sica arcaica e a um imaginário poético em contraposição ao evolucionismo... E
mórbido [isto é, a chamada “alta crí- quem poderá proceder desta forma senão
tica”]. Outras, aparentemente, tendem o povo que guarda em sua vida o memo-
a refugiar-se nas cerimônias, pompa, rial da criação? Por que Deus nos deu o
tradições e observâncias.7 Sábado? Uma das maiores razões pelas
quais ele nos deu o Sábado é para que
Complementando a visão históri- fôssemos guardiões da Criação nestes
ca Sutherland, reforçada por Charles dias em que o evolucionismo está arras-
tando o mundo para longe de Deus... A
W. Eliot, o pastor Jones destacou em
igreja estabelecerá um sistema educacio-
seu sermão as legítimas aspirações nal que verdadeiramente educará todos
que o mundo secular apresentava, os que por ele passarem... e a educação
e mostrou que somente a educação por ela provida será verdadeira educação
cristã seria capaz de atendê-las. Após para hoje e para a eternidade.8
várias considerações, é surpreendente
que ele tenha se concentrado no tema Em face desse quadro, que não dei-
da necessidade de uma reforma edu- xa de ser bem atual tanto nos Estados
cacional centrada no criacionismo Unidos como no Brasil, apesar de de-
bíblico, em contraposição à avalan- corrido praticamente um século, qual
che evolucionista surgida após 1859, deveria ser a nossa principal mensa-
ano de publicação do livro A Origem gem para o mundo de hoje? Sem dúvi-
das Espécies, de Charles Darwin. Se- da é a mensagem criacionista centrada
gundo Jones, e com nossa total con- na educação cristã! Daí a motivação
cordância, a teoria evolucionista era para escrever este artigo – “Uma Vi-
em grande parte a responsável pelos são Criacionista da Educação”, com
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a esperança de que ele também possa nutrida, instruída, mantida e susten-


despertar nos educadores cristãos a tada – nos aspectos físicos e mentais.
perseverança em sua missão. Nesse processo, evidentemente é
ressaltada a importância que assume
Considerações iniciais sobre o educador. É dele que fundamental-
educação mente depende o processo educativo.
A secularização da educação, hoje
Breves observações etimológicas e generalizada, deve-se principalmen-
semânticas sobre educação te a educadores de mente seculari-
Para discernirmos melhor uma zada e, da mesma forma, a educação
criacionista só pode se tornar uma
visão criacionista da educação, cer-
realidade mediante a atuação de pro-
tamente convém procurarmos não
fessores criacionistas devidamente
só a etimologia do termo, como
capacitados, conscientes da verdadei-
também explorar alguns aspectos
ra natureza da controvérsia entre as
semânticos pertinentes. estruturas conceituais criacionista e
Educação provém do latim, repor- evolucionista.
tando-se à raiz do verbo duco, ducere,
cujo significado básico é “conduzir”. O processo educativo
Desse verbo procedem dois outros,
com significados bastante próximos – Dentre os parâmetros que influem
educo, educare, e educo, educere. O na condução do processo educativo,
primeiro significa “nutrir”, “amamen- de maneira geral, situam-se as defi-
tar”, “educar”, “instruir”, “ensinar”, nições a serem dadas aos fatores que
“amestrar”. O segundo, “criar”, “nu- nela intervêm, como por exemplo:
trir”, “manter”, “sustentar”. Derivados O caminho a ser percorrido;
desses verbos são educator, “a pessoa Os objetivos a serem visados;
que cria”, educatus, ”a pessoa criada”, A competência do educador para
e educatio, “a ação de criar”.9 a execução de sua tarefa.
Uma peculiaridade da língua por- Em função das distintas estruturas
tuguesa é o termo “criança”, para de- conceituais adotadas aprioristicamen-
signar “a pessoa que está sendo cria- te para a definição do processo edu-
da”, o “educando” por excelência! Em cativo, poderemos ter dois extremos
outras línguas, “criança” deriva de excludentes – a educação cristã, de
raízes distintas, mais ligadas à acep- cunho criacionista, e a educação se-
ção de “filho”, como, por exemplo, cular, de cunho evolucionista.
em espanhol niño, em francês enfant Sob o ponto de vista da educação
e em inglês child. cristã, deve-se seguir o caminho pre-
A educação, semanticamente, é conizado para os israelitas ao saírem
portanto um processo. Nele, o edu- do Egito, com o objetivo de prepará-
cando é conduzido por um determina- los para ser um povo peculiar, com a
do caminho para atingir os objetivos missão de levar ao mundo o conheci-
visados. A criança (ou educando) é mento do verdadeiro Deus.
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Em Deuteronômio 6:4-7, fica cla- o elemento sobrenatural, no processo


ro o processo que deveria ser seguido educativo, em manifesto desrespeito
nesse caso: “Estas palavras... tu [os à personalidade do educando em seus
pais] as inculcarás a teus filhos”. aspectos físico, mental e espiritual.
Dão os dicionaristas para o verbo Nesse contexto, vale lembrar que
inculcar o sentido de “apontar, citar, uma das mais notáveis definições do
recomendar, propor, indicar, aconse- processo educativo é a que se encontra
lhar”. É esse um caminho no qual o no livro Educação, como sendo “o de-
educador respeita a personalidade do senvolvimento harmônico das faculda-
educando em seus aspectos físico, des físicas, intelectuais e espirituais”.10
mental e espiritual! No contexto secular atual, em que
Na educação secular, por outro predominam os conceitos de evo-
lado, tem sido adotado um caminho lução em todas as áreas do conheci-
fundamentado no racionalismo, ag- mento humano, talvez pudesse surgir
nosticismo, materialismo e no ateís- alguma dúvida quanto ao verdadeiro
mo, que tem imposto conceitos pre- sentido da palavra desenvolvimento
concebidos e estabelecido paradigmas aí utilizada. De fato, o conceito de
axiomáticos apresentados como ver- evolução como apresentado moder-
dades incontestes, frontalmente con- namente, está intimamente ligado ao
trárias aos ensinamentos bíblicos. conceito de desenvolvimento, e se po-
É esse o caminho que, lamenta- deria ser levado a considerar erronea-
velmente, em termos de sociedade, mente o processo educacional como
em seu extremo sabidamente leva ao integrado a um suposto processo evo-
autoritarismo e ao totalitarismo, com lutivo que tudo permeasse.
todas as suas funestas consequências, No entanto, o processo de desen-
como tem sido demonstrado pela pró- volvimento educacional, implícito na
pria história. Haja vista o surgimento definição de educação, corresponde
de “condutores” (seriam educado- àquilo que o texto bíblico relata quanto
res?) como, por exemplo, o Ducce na ao que ocorria com o desenvolvimento
Itália fascista e o Führer na Alema- de Cristo em sua infância e juventude:
nha nazista, com todos os conhecidos “Crescia o menino e se fortalecia,
desdobramentos a que os respectivos enchendo-se de sabedoria; e a graça
processos de uma chamada “educa- de Deus estava sobre Ele” (Lc 2:40).
ção das massas” acabaram levando. Eis aí um processo de crescimento,
De forma semelhante ao ocorrido nutrição ou desenvolvimento harmô-
nos tempos da intolerância medieval, nico – fortalecimento físico, sabedo-
lamentavelmente hoje também têm ria intelectual e graça espiritual.
sido impostos por educadores ateís- Em Lucas 2:52 é reiterado o pro-
tas, materialistas e evolucionistas, cesso educativo pelo qual passava
dogmas supostamente científicos que Jesus: “E crescia Jesus em sabedo-
não toleram sequer o exame da viabi- ria, estatura e graça diante de Deus
lidade de alternativas que considerem e dos homens”.
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Voltando aos dois extremos exclu- desconhecimento de Deus, porém, cons-


dentes do processo educativo, levado titui suprema ignorância. Ignorância é
falta de conhecimento, e se a educação
ao nível da educação formal, verifica-
deles os levou à ignorância, a própria
se que o conflito entre eles já havia educação deles nada mais era senão su-
transparecido nos tempos apostóli- prema ignorância.12
cos, em particular quando o apóstolo
Paulo teve a oportunidade de discutir Paulo pregou também em Éfeso,
no Areópago com os filósofos de duas durante mais de dois anos, e depois
correntes antagônicas – os epicuristas escreveu para a igreja local: “Isto,
e os estóicos. Epicuristas eram adep- portanto, digo, e no Senhor testifico,
tos da estrutura conceitual evolucio- que não mais andeis como também
nista introduzida por Epicuro desde andam os gentios, na vaidade de seus
o século 4 a. C., enquanto os estói- próprios pensamentos, obscurecidos
cos, embora não sendo cristãos, eram de entendimento, alheios à vida de
adeptos à estrutura conceitual criacio- Deus por causa da ignorância em que
nista, mantendo-se fiéis às raízes tra- vivem” (Ef 4:17-18).
dicionais da religião grega.11 Novamente o relato bíblico deixa
Conforme o relato bíblico, nos tem- claro que o pináculo da cultura huma-
pos apostólicos havia três grandes cen- na, compreendida na educação, era
tros educacionais no mundo – Corinto, naqueles dias mera ignorância – os ho-
Éfeso e Atenas – nos quais o cristia- mens estavam “alheios à vida de Deus’
nismo foi pregado especialmente pelo “ela ignorância em que viviam. Pela
apóstolo Paulo, tendo então ficado evi- segunda vez, fica claro que a educação
dente o confronto entre as concepções contemporânea era mera ignorância.13
distintas da educação pagã, especifica- Paulo também esteve em Atenas, o
mente a epicurista (evolucionista), e principal centro educacional da época,
cristã (criacionista). cuja influência se faz sentir até em nos-
De fato, Paulo pregou em Corinto sos dias. Lá, no Areópago, para onde
durante aproximadamente um ano e quer que se olhasse só se viam imagens
meio, e posteriormente escreveu car- de ouro, prata e mármore esculpidas
tas para a igreja local. Na sua primei- por artistas famosos. A sua educação os
ra carta, o apóstolo declara: havia conduzido à arte e essa arte cul-
“Pois Deus, na sua sabedoria, não minara na idolatria, sem o conhecimen-
deixou que os seres humanos o conhe- to de Deus, como nos destaca o relato
cessem por meio da sabedoria deles.” bíblico. “Porque passando e observan-
(1Co 1:21, NVLH). do os objetos de vosso culto encontrei
também um altar no qual está inscrito:
A sabedoria deles [hoje diríamos, “a ci- Ao Deus desconhecido” (At 17:23).
ência secularizada” deles] foi a causa de “Novamente, nessa confissão de desco-
não terem eles conhecido a Deus, e essa
sabedoria era consequência direta de sua
nhecimento do verdadeiro Deus encon-
educação, pelo que, foi a sua educação trava-se implícita pela terceira vez sua
que os impediu de conhecer a Deus. O suprema ignorância – aquele altar era
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um monumento dos atenienses à sua “O ideal do caráter cristão é semelhança


própria ignorância!” (14) com Cristo. Acha-se aberta diante de nós
uma senda de progresso contínuo. Temos
E em seu discurso continuou Paulo: um objetivo a atingir, uma norma a al-
cançar, a qual inclui tudo quanto é bom,
“Pois esse que adorais sem conhecer é puro, nobre e elevado. Deve haver cons-
precisamente Aquele que vos anuncio: o tante progresso para diante e para cima,
Deus que fez o mundo e tudo o que nele rumo à perfeição do caráter.”16
existe ... que de um só fez toda a raça hu-
mana para habitar sobre toda a Terra ... A educação cristã é o processo
Não devemos pensar que a divindade é
semelhante ao ouro, à prata, ou à pedra, pelo qual se realiza esse progresso.
trabalhados pela arte e imaginação do ho-
mem. Ora, Deus não levou em conta os Breves observações etimológicas e
tempos da ignorância, agora, porém, noti- semânticas sobre desenvolvimento
fica aos homens que todos em toda a parte
se arrependam” (At 17:23-30). Considerações semânticas adicio-
Mas, arrepender-se do que? [...] Na reali- nais quanto ao processo de desenvol-
dade, a filosofia, a ideia, a própria concep-
vimento no âmbito da educação cristã
ção daquela educação, sua mola propul-
sora, era a dúvida. E a dúvida leva aquele podem ser feitas para deixar bem cla-
que a exerce ao desconhecimento, à igno- ra a sua diferença com relação a qual-
rância [...] Sua ignorância decorria de sua quer suposto processo evolutivo:
educação! Logo, o apóstolo estava-os con- Desenvolvimento deriva do ver-
citando a arrepender-se de sua educação!
bo desenvolver, que os dicionaristas
[...] Arrependimento significa mudança de
mentalidade, significa deixar a mentalida- definem como fazer crescer, mediar,
de da dúvida e trocá-la pela mentalidade prosperar, pôr em prática, exercer,
da fé. Significa começar a trilhar um novo exercitar, explicitar, crescer, aumen-
caminho, deixando de lado as coisas que tar, progredir, aprimorar.
para trás ficam [...] A fonte da educação
A raiz de desenvolver deriva do
cristã é a fé, sem a qual não pode haver
verdadeira educação que restaure no ho- verbo volver, cujo sentido é mudar
mem a imagem de Deus.15 de posição, voltar, retornar (volver
relaciona-se com o processo de con-
Esse conflito, exacerbado no início versão, como se vê facilmente na
da história da igreja, torna-se também voz usual da ordem unida nos exer-
implícito na advertência dada pelo cícios militares – “direita, volver!”,
apóstolo Paulo em 1Timóteo 6:20: “E “meia-volta, volver!”). Desse verbo
tu, Timóteo, guarda o que te foi confia- provém também o verbo envolver,
do, evitando os falatórios inúteis e pro- com o sentido de abranger, encerrar,
fanos, e as contradições do saber, como conter (por exemplo, em expressões
falsamente lhe chamam, pois alguns, tais como “envolto em mistério”). É
professando-o, se desviaram da fé”. curioso observar que em diversas ou-
Cabe aqui inserir, finalmente, um tras línguas o verbo desenvolver rela-
precioso texto que se encontra no li- ciona-se com o verbo revelar.
vro Testemunhos Seletos, de autoria Ao se adquirir um filme fotográ-
de Ellen G. White: fico, por exemplo, e ler as instruções
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que são feitas no folheto explicativo que sejam pensantes e não meros refle-
que o acompanha, pode-se facilmen- tores do pensamento de outrem. Em vez
de limitar o seu estudo ao que os homens
te constatar que a revelação do filme têm dito ou escrito, sejam os estudantes
tem a ver com “desenvolvimento”. De encaminhados às fontes da verdade, aos
fato, exemplificando, em espanhol de- vastos campos abertos a pesquisas na na-
sarrollar é o verbo usado para revelar, tureza e na revelação.17
ao mesmo tempo que significa desen-
volver, em francês, analogamente, de- Conceitos criacionistas específi-
velopper e em inglês to develop. cos na educação cristã
Na revelação de um filme foto-
gráfico (antes da era das modernas Breve antologia de cunho criacioni-
máquinas digitais onipresentes atual- sta referente à educação cristã
mente), vai-se de fato desenvolvendo
Os “vastos campos abertos a pes-
um conjunto de reações químicas que
quisas na natureza e na revelação”
gradativamente formam na película a
foram explorados por estudiosos que
imagem daquilo que havia sido foto-
lançaram os fundamentos da ciência
grafado, e que ainda estava “envolvi-
moderna há cerca de dois séculos, os
do em mistério”, até finalmente ficar
quais mantiveram uma atitude de re-
impresso com nitidez. Numa fotogra-
verência em face das notáveis evidên-
fia obtida com câmara polaroide, fica
cias que encontraram em suas pes-
visível em curto intervalo de tempo o
quisas a favor de um Criador. Como
processo de revelação, que bem ca-
exemplo típico, pode ser citado Sir
racteriza o processo do desenvolvi-
Isaac Newton, que se manifestou da
mento das faculdades que se realiza
seguinte forma a respeito de seus es-
através da educação.
critos sobre o Sistema Solar:
No contexto da educação cristã,
portanto, o desenvolvimento nada Quando escrevi meu tratado sobre nos-
tem de evolutivo no sentido darwi- so sistema [solar], tinha meus olhos
nista do termo, mas sim no sentido de voltados a princípios que podiam fun-
uma revelação gradativa das poten- cionar considerando a crença da huma-
nidade em uma Divindade, e nada me
cialidades intrínsecas do ser humano,
dá maior prazer do que vê-lo sendo útil
como destacado no trecho seguinte do para esse fim.18
já mencionado livro Educação: Os movimentos que os planetas têm hoje
não podiam ter originado em uma causa
Cada ser humano, criado à imagem de natural isolada, mas foram impostos por
Deus, é dotado de certa faculdade pró- um agente inteligente.19
pria do Criador – a individualidade – fa-
culdade esta de pensar e agir. Os homens Em outros escritos de Newton, fica
nos quais se desenvolve esta faculdade clara a sua viva fé em um Deus Cria-
são os que arrostam responsabilidades,
que são os dirigentes nos empreendimen-
dor, ao qual frequentemente se referia
tos, e que influenciam nos caracteres. É a usando a expressão grega pantokrator,
obra da verdadeira educação desenvolver o Todo-Poderoso, “com autoridade so-
esta faculdade, capacitar os jovens para bre todas as coisas existentes, sobre a
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forma do mundo natural e o curso da jetivo da educação é dirigir a mente à


história humana”. Fica clara a menção revelação que Ele faz de si próprio.21
Visto como o livro da natureza e o da re-
implícita feita por Newton ao quarto velação apresentam indícios da mesma
mandamento, que é o único das Tábu- mente superior, não podem eles deixar de
as da Lei que apresenta o Deus que es- estar em harmonia mútua. Por métodos
tava escrevendo os dez mandamentos diferentes, em diversas línguas, dão tes-
como Criador de todas as coisas: temunho das mesmas grandes verdades.
A ciência está sempre a descobrir novas
maravilhas; mas nada traz de suas pes-
Devemos acreditar que há um único
quisas que, corretamente compreendido,
Deus ou monarca supremo a quem po-
esteja em conflito com a revelação divi-
demos temer e obedecer e cumprir suas
na. O livro da natureza e a Palavra escrita
leis e honrar e glorificar. Devemos acre-
lançam luz um sobre o outro. Familiari-
ditar que Ele é o pai de quem provêm
zam-nos com Deus, ensinando-nos algo
todas as coisas, e que ama Seu povo
das leis por cujo meio Ele opera.22
como Seus filhos, para que eles possam,
Inferências erroneamente tiradas dos
em reciprocidade, amá-lo e lhe prestar
fatos observados na natureza têm, en-
obediência como seu Pai. Devemos crer
tretanto, dado lugar a supostas diver-
que Ele é o pantokrator, Senhor de todas
gências entre a ciência e a revelação; e
as coisas, com um poder e um domínio
nos esforços para se restabelecer a har-
irresistíveis e ilimitados, aos quais não
monia, têm-se adotado interpretações
temos esperança de escapar, se nos rebe-
das Escrituras que solapam e destroem
larmos e instaurarmos outros deuses, ou
a força da Palavra de Deus.23
se transgredirmos as leis de Sua sobera-
A natureza ainda fala de seu Criador.
nia, e dos quais podemos esperar grandes
Todavia, estas revelações são parciais e
recompensas, se fizermos Sua vontade.
imperfeitas. E em nosso decaído estado,
Devemos crer que Ele é o Deus dos ju-
com faculdades enfraquecidas e visão
deus, que criou o céu e a Terra e todas
restrita, somos incapazes de interpretá-
as coisas que neles existem, como está
las corretamente. Necessitamos da reve-
expresso nos dez mandamentos, para que
lação mais ampla que de si mesmo Deus
possamos agradecer-lhe por nosso ser e
nos outorgou em sua Palavra escrita.24
por todas as bênçãos desta vida, e nos
Aquele que mais profundamente estu-
abstermos de usar Seu nome em vão ou
dar os mistérios da natureza, mais ple-
de adorar imagens ou outros deuses.20
namente se compenetrará de sua própria
ignorância e fraqueza. Compreenderá
De forma coerente com manifes- que existem profundidades e alturas
tações semelhantes a de Newton (bem que não poderá atingir, segredos que
como de outros numerosos “pais da não poderá penetrar, e vastos campos
ciência moderna”), encontram-se no de verdades jazendo diante de si, não
penetrados. Dispor-se-á a dizer com
livro Educação vários textos que des- Newton: “Pareço-me com a criança na
tacam o interrelacionamento do estu- praia, procurando seixos e conchas, en-
do da natureza com o da revelação de quanto o grande oceano da verdade jaz
Deus, no contexto do processo educa- por descobrir diante de mim.”25
tivo em conexão com a estrutura con-
ceitual criacionista. Sem dúvida, é esse um conjunto
de afirmações que não deixam de ser
Desde que Deus é a fonte de todo o ver- impressionantes, não só por implici-
dadeiro conhecimento... o principal ob- tamente caracterizarem a educação
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cristã, seus caminhos e seus objeti- ele considerava que a Bíblia, ao lado
vos, mas também pelo fato de a po- da natureza e da própria mente humana
eram livros reveladores da pessoa do
sicionarem no contexto dos grandes Criador e do conhecimento universal,
debates filosóficos e pedagógicos dos mas que a Escritura como revelação es-
dois últimos séculos, particularmente crita de Deus, era a maior das três fontes
perante a crescente controvérsia entre de conhecimento e a mais perfeita obra
o criacionismo e o evolucionismo tão de literatura [...] Comênio, no processo
de desenvolvimento de sua teologia-
intensificada a partir das últimas dé- educação, deu uma grande contribuição
cadas do século 20. para a conjunção de ciência e religião[...]
Comênio via a Bíblia como fonte de co-
Primórdios da educação cristã cria- nhecimento científico. Ele observou que
cionista no brasil o ponto de partida da abordagem cientí-
fica era a investigação de todas as coi-
Apesar de a catequese jesuítica sas naturais, e que a Bíblia era a inter-
ter-se iniciado no Brasil pratica- pretação da natureza criada por Deus. O
espírito da ciência e a religião poderiam
mente desde os primeiros Governos fazer o homem ver a unidade essencial
Gerais, logo após o descobrimento sob a diversidade superficial do mundo,
no início do século 16, indubitavel- uma vez que ambas oferecem caminhos
mente esse tipo de processo educati- para o mesmo resultado [...] Neste sen-
vo (se assim o podemos denominar) tido, Comênio não aceitava a separação
de ciência e religião ou razão e fé numa
está longe de ser confundido com o pedagogia que poderia desenvolver o co-
que foi considerado no item anterior nhecimento humano universal. 26
como educação cristã.
A educação cristã, propriamen- A Reforma do século 16 havia sido
te dita, na qual se insere a educação uma tentativa de colocar novamente o
criacionista pelo simples fato de que povo de Deus na posição de “educa-
o seu fundamento básico é a própria dores do mundo”. Martinho Lutero,
Bíblia, em cujo primeiro livro, capí- Melanchton e outros reformadores
tulo e versículo encontra-se a solene viram a necessidade de estabelecer es-
declaração de que “no princípio criou colas “onde quer que existissem filhos
Deus os céus e a terra”, teve realmente de Deus que houvessem aceito a men-
sua origem no Brasil com as primei- sagem da salvação pela fé”, para que
ras escolas fundadas pelos imigrantes suas crianças não fossem educadas por
luteranos, vindos da Europa, em fins outros que não tivessem fé irrestrita na
do século 19. Palavra de Deus. Isso trouxe também
Por outro lado, talvez se pudesse uma reforma nos métodos de ensino,
afirmar que a educação criacionista, nos livros-texto utilizados e nos conte-
preconizada pela Reforma Luterana, údos ministrados até então. Em pouco
tenha tido sua origem no primeiro tempo, a Alemanha passou a contar
compêndio de sistematização deta- com muitas escolas paroquiais, tendo
lhada da pedagogia moderna, de au- se tornado uma característica da Igreja
toria de João Amós Comênio. Em sua Luterana o estabelecimento de escolas
Didática Magna, escrita em 1638, junto às igrejas.
Uma visão criacionista da educação / 67

Assim, no Brasil, alguns séculos lidade, que é o traço mais vivo e mais
após a Reforma de Lutero, nas zonas característico da personalidade humana,
capaz de atingir a sua finalidade terrena,
de colonização que receberam imi- espiritual e eterna.28
grantes alemães lá também estavam
as escolas paroquiais ao lado das igre- Essa manifestação torna claro o
jas luteranas. relacionamento existente entre o prin-
No livro Vida e Obra de Guilher- cípio do livre exame destacado acima
me Stein Jr., que apresenta a biografia e os demais princípios da educação
do primeiro educador adventista bra- cristã que foram citados anteriormen-
sileiro, há um capítulo especialmente te do livro Educação29
dedicado às raízes da educação cristã Domingos Ribeiro continua a tecer
no Brasil. Nele foi ressaltado esse im- considerações sobre o processo educa-
portante papel pioneiro desempenha- tivo cristão, citando também o reno-
do pelas primeiras igrejas luteranas no mado pastor presbiteriano Erasmo de
Brasil, primando pelo estabelecimen- Carvalho Braga, primeiro Presidente
to de escolas paroquiais onde quer do Conselho do Colégio Mackenzie:
que houvesse uma congregação. Um
exemplo dessa iniciativa é a Escola O objetivo do ensino evangélico é não
Alemã de Campinas, onde o próprio somente a obtenção de uma salvação
pessoal, mas também a manifestação do
Guilherme Stein Jr. cursou os cinco patriotismo, o amor ao próximo, o dese-
anos de seus estudos primários, o que jo de empregar todo e qualquer esforço
sem dúvida foi extremamente impor- e movimentos concentrados, que tendam
tantes para sua formação.27 a purificar de fraude a vida política, de
Tendo em vista destacar a impor- crueldade a vida industrial, de desonesti-
dade a vida comercial, de vícios e depra-
tância desse processo educativo cris- vação todas as relações sociais.30
tão criacionista em nosso país, já no
início do século 20, além dos concei- Transparece nos objetivos expos-
tos mais gerais anteriormente consi- tos da educação cristã um posicio-
derados e expressos nos trechos trans- namento diretamente oposto ao da
critos do livro Educação, cabe aduzir estrutura conceitual evolucionista no
alguns outros conceitos, expressos contexto do chamado “Darwinismo
por renomados autores (evangélicos Social”, que preconiza a luta pela so-
ou não), bastante ilustrativos pelo seu brevivência com o predomínio do mais
significado específico. forte, independentemente de qualquer
Assim, o historiador Domingos Ri- aspecto ético e que certamente está si-
beiro, em seu livro Origens do Evan- tuada na raiz das grandes frustrações
gelismo Brasileiro, falando das esco- listadas pelo presidente da Harvard
las evangélicas no Brasil, declara: University em seu pronunciamento
citado na Introdução desse artigo.
O princípio evangélico do livre exame
desperta as forças latentes da intelec- Influências como essas, dos princí-
tualidade, produzindo a fome e a sede pios da educação cristã, também se ha-
do saber, apura o senso de responsabi- viam sentido de forma intensa no Brasil
68 / Parousia - 1º semestre de 2010

desde as manifestações de Rui Barbosa la Americana, em 1871, e do Colégio


no Parlamento do Império, em contra- Piracicabano, em 1881, e que, antes de
refletirem no movimento de reforma de
posição aos métodos jesuíticos que tra- Caetano de Campos, Cesário Mota e Ga-
dicionalmente haviam modelado a edu- briel Prestes em São Paulo (1891-1895),
cação em nosso país, especialmente no haviam inspirado as reformas de Leôncio
âmbito do estudo da natureza: de Carvalho (1878-1879) e o parecer de
Rui Barbosa (1882-1883), já modelado
Mas esse viciamento dos processos pra- pelas ideias americanas e alemãs.32
ticados no ensino secundário resulta
inevitavelmente da ausência do espírito Verifica-se, assim, nesses poucos
científico, que só se poderá incutir, res- exemplos, que em pouco menos de
tituindo à ciência o seu lugar preponde- um século foi reconhecida em nosso
rante na educação das gerações humanas país por eminentes autoridades edu-
[...] Ora, a ciência é toda observação,
toda exatidão, toda verificação experi- cacionais a inestimável contribuição
mental. Perceber os fenômenos, discernir trazida pelos processos educativos
as relações, comparar as analogias, e as fundamentados na concepção da edu-
dessemelhanças, classificar as realida- cação cristã introduzida precipua-
des, e induzir às leis, eis a ciência; eis, mente pelas denominações evangéli-
portanto, o alvo que a educação deve ter
em mente. Espertar na inteligência nas- cas que aqui aportaram, desde o início
cente as faculdades cujo concurso se re- da imigração germânica.
quer nesses processos de descobrir e as- Nesse panorama, avulta hoje a
similar a verdade é o a que devem tender importância de que se reveste a rede
os programas e os métodos de ensino.31 de escolas e colégios adventistas em
nosso país. Ela se destaca como ver-
Mais tarde, o grande educador bra-
dadeiro baluarte, especialmente no
sileiro Fernando de Azevedo, em seu
que se refere à focalização criacionis-
livro A Cultura Brasileira, manifestou-
ta dada em seus currículos no âmbito
se também a respeito da influência be-
da educação cristã.
néfica da educação cristã em nosso país
no âmbito dos processos pedagógicos:
Importantes documentos atuais
É por isto, devido a essa coexistência Todas as manifestações conside-
simpática da laicidade com as confissões
derivadas da Reforma, que as escolas radas no item anterior situaram-se no
protestantes tiveram, no regime repu- contexto social e político brasileiro
blicano, os rápidos progressos que lhes predominante no fim do século 19 até
abriram, na história da educação no País, meados do século 20. Ainda hoje, en-
não só um lugar indisputável mas uma
fase fecunda de atividades renovadoras. tretanto, ao se tratar dos princípios que
Foi em grande parte através das esco- têm norteado as mais recentes refor-
las, sob a influência direta de ministros mas do sistema educacional brasileiro,
e educadores protestantes da América do novamente têm sido trazidos à consi-
Norte, que se processou no Brasil a pro-
pagação inicial das ideias pedagógicas deração aspectos intimamente ligados
americanas que começaram a irradiar-se às mesmas diretrizes preconizadas
em São Paulo com a fundação da Esco- desde o início do século 17 por Comê-
Uma visão criacionista da educação / 69

nio e instituídos de maneira ampla no este, de educadores interessados nos


mundo evangélico após a Reforma re- parâmetros para uma política nacio-
ligiosa do século 16, em sintonia com nal de educação em nosso país, visan-
os princípios da educação adventista, do a uma verdadeira reforma educa-
expressos nas citações apresentadas no cional, e as asserções anteriormente
tópico “breve antologia de cunho cria- transcritas do livro Educação, refe-
cionista referente à educação cristã”. rentes à obra da verdadeira educação
É o que se pode ver, por exemplo, no desenvolvimento da faculdade de
em um documento elaborado no final pensar e agir, divinamente outorgada
da década de 1990 por um renomado pelo Criador ao ser humano.34
assessor pedagógico do Senai-Nacio- Manifestações como essa são ex-
nal, versando sobre a Política Nacional tremamente pertinentes, em face par-
de Formação Profissional: ticularmente em face dos confrontos
entre as estruturas conceituais cria-
O objetivo fundamental a ser buscado cionista e evolucionista no âmbito do
com a formação de habilidades básicas ensino de ciências nas escolas de ní-
é o de ensinar a pensar. Constata-se que
este é um tema ainda pouco exercido vel médio e superior.
pela literatura pedagógica, e em torno Nesse mesmo sentido, outro im-
do qual existem concepções falsas [...] portante documento, elaborado tam-
Aprender a pensar significa, entre ou- bém no âmbito da Secretaria de Edu-
tras coisas, aprender a identificar e supe-
rar alguns erros típicos do pensamento, cação Fundamental do Ministério da
aparentemente universais, como o apego Educação, aborda alguns tópicos que
ao juízo inicial sobre o fenômeno; par- são de suma importância no contexto
cialismo [tirar conclusões a partir de in- da controvérsia entre Criacionismo e
formação incompleta]; visão estreita [ver
somente o imediato sem inferir diante da Evolucionismo. Nesse documento, in-
nova situação]; egocentrismo [concluir a titulado “Reflexões sobre o Processo
partir de seus conceitos e preconceitos]; Ensino-Aprendizagem do Conheci-
arrogância [ficar com a primeira evidên- mento Químico”, são discutidas algu-
cia que pode parecer lógica, sem seguir
buscando dados]; polarização [crer que mas questões controvertidas, como por
está certo porque o outro tem opinião exemplo, a seguinte: “O conhecimento
oposta]; e o erro de priorização e extre- atual é transmitido como verdade abso-
mismo [dimensionar mal a grandeza de luta e não passível de mudanças?”.35
um fenômeno]. Estes exemplos servem
para aquilatar a complexidade das novas
Uma indagação como esta pode
[sic] tarefas da educação, que requer um ser generalizada para abranger não só
rigoroso exame do sistema de formação o ensino da Química, como também
técnico-profissional e da educação em dos outros ramos da ciência. Trans-
seu todo, de forma a adequá-la aos novos crevem-se a seguir trechos do res-
paradigmas de formação que estão sendo
demandados pela indústria e pela socie-
peitado Professor Pitombo (autor do
dade em geral.33 documento citado) que ilustram a pre-
ocupação legítima com o que deveria
É impressionante a concordância constituir o correto procedimento no
entre posicionamentos atuais, como ensino das ciências:
70 / Parousia - 1º semestre de 2010

“Esta questão é extremamente delica- haver discrepância entre a verdadeira


da. O conhecimento científico atual as- ciência e a revelação divina.37
sumiu foros de verdade absoluta. Todas
as evidências experimentais e provas
nos levam a crer que o paradigma, mo-
A problemática deflagrada na era
delo atual de partículas (átomos, molé- espacial
culas) e suas propriedades, não poderá
se transformar. Entretanto, também sa- Para encerrar este terceiro tópico,
bemos que os fatos ocorridos no mun- pela sua importância no contexto da
do físico tiveram através dos tempos controvérsia entre as estruturas con-
interpretações diversas, muitas vezes ceituais criacionista e evolucionista,
consideradas como visões absurdas,
deve ser feita menção à iniciativa da
dentro da nossa forma de pensar atual.
Pensadores gregos, egípcios, mesopo- National Science Foundation dos Es-
tâmicos, árabes, chineses, europeus, tados Unidos, no final e início das dé-
explicavam os fenômenos dentro das cadas de 1950 e 1960, de patrocinar a
visões de mundo compatíveis com a edição de livros didáticos nas áreas da
maneira de pensar de cada época – to-
física, da química, da biologia, e das
das elas absolutamente respeitáveis e
consistentes com o pensamento contex- ciências sociais.
tualizado [...] O fundamental é transmi- Após o impacto causado na so-
tir aos alunos que o que é aceito hoje ciedade americana pelo espetacu-
poderá ser modificado no futuro, como lar lançamento da cápsula espa-
já foi anteriormente. ... É bem verda-
cial soviética Sputnik, em 1957,
de que a transmissão desta posição é,
como já foi mencionado anteriormente, despertou-se um enorme interesse
muito delicada. Todos gostamos – mais pelo ensino de ciências em todos
ainda o adolescente – de trabalhar com os níveis da educação nos Estados
“ideias certas”, com “verdades absolu- Unidos. Uma substanciosa dotação
tas”. Entretanto, com a devida cautela
da National Science Foundation in-
e pertinência, temos que transmitir aos
alunos que todas as formas de pensar e centivou, então, a publicação de no-
interpretar os eventos se transformam. vos livros-texto de ciências, dentro
... Desta forma dever-se-á passar à de uma nova postura, nas aborda-
ideia básica: a ciência e as ideias estão gens dos vários tópicos integrantes
ainda em transformação.36
dos currículos escolares. Essa nova
postura lamentavelmente destacou-
Estas observações complementam
se pela “canonização” da estrutura
também particularmente as de Rui Bar-
conceitual evolucionista!
bosa sobre o “espírito científico”, ante- Esses livros-texto logo trans-
riormente expostas, e são extremamen- puseram as fronteiras americanas
te importantes dentro do conceito da e se espalharam por outras nações
educação cristã, no contexto da contro- do mundo ocidental, incluído o
vérsia entre Criacionismo e Evolucio- Brasil, onde foram amplamente
nismo, que não se pauta por dogmas, divulgados pelo Instituto Brasilei-
mas sim pela análise objetiva de dados ro de Educação, Ciência e Cultura
observados e coletados. E é exatamente (IBECC) e pela Fundação Brasi-
devido a esta postura que jamais poderá leira para Desenvolvimento do En-
Uma visão criacionista da educação / 71

sino de Ciências (Funbec). Todos Conclusão


eles, entretanto, foram estruturados
Desde os tempos áureos da filoso-
dentro das ideias evolucionistas
fia na Grécia antiga, passando pelos
predominantes no modelo materia-
tempos do início do cristianismo e
lista e ateísta da ciência moderna,
chegando a Comênio e a Lutero após
mostrando-se na realidade bastan-
o período medieval, torna-se clara a
te dogmáticos sob esse aspecto,
existência de uma contínua controvér-
muito embora se apresentem como
sia entre as estruturas conceituais cria-
incentivando os estudantes a ado-
cionista e evolucionista, especialmente
tarem posturas de independência e
no âmbito dos processos educativos.
iniciativa própria na pesquisa dos
Na nova “plenitude dos tempos”
fenômenos da natureza.
que se desdobra no contexto proféti-
A iniciativa da National Science
co das mensagens angélicas de Apo-
Foundation é bastante ilustrativa no
calipse 14, passa a ser dada especial
sentido de mostrar como a problemá-
destaque a essa controvérsia a partir
tica da educação no mundo moderno de meados do século 19. De fato, ao
transcende os aspectos puramente mesmo tempo em que passa a ser
pedagógicos – reforma educacional divulgada “com grande voz” a men-
e novos currículos – para envolver- sagem que conclama os homens a
se com questões metafísicas que se adorar o Criador, também se inicia a
relacionam com a filosofia da ciência pregação evolucionista entronizando
e os valores éticos, morais e religio- o mero acaso, na tentativa de destro-
sos aceitos pela sociedade – aborda- nar “Aquele que fez”.
gem materialista, promoção do ateís- No decorrer do último século e
mo – e até mesmo com a segurança meio, têm sido evidenciadas ampla-
nacional – guerra fria tecnológica, mente as funestas consequências da
conquista do espaço, e os destinos secularização da sociedade com a
do próprio país. aceitação da estrutura conceitual evo-
Nesse contexto de crise peda- lucionista. O perigo impendente é que
gógica, mais importantes se tor- até os próprios cristãos sejam levados
nam a preconização e a defesa dos de roldão por essa avassaladora onda
princípios da educação cristã que ateísta e materialista. O único verda-
orientam corretamente o desenvol- deiro antídoto certamente reside nos
vimento pleno das faculdades do princípios preconizados pela educação
ser humano para viver na socieda- cristã, com ênfase especial dada à es-
de atual refletindo o caráter de seu trutura conceitual criacionista baseada
Criador, e para enfrentar as forças na revelação que nos é dada na Bíblia.
destrutivas do ateísmo e do mate- A educação cristã não só propor-
rialismo, que sob as mais diversas ciona o pleno desenvolvimento das
formas atuam para contrapor-se ao faculdades e potencialidades, dentro
grande plano de Deus para a salva- das limitações que ora pesam sobre os
ção da humanidade. seres humanos, mas também tem em
72 / Parousia - 1º semestre de 2010

vista a restauração da imagem de Deus der, novos objetivos a aguçar as faculda-


que será efetuada como resultado final des do espírito, da alma e do corpo.38
da grande obra de redenção realizada
Que Deus nos conceda maior com-
por Jesus Cristo, quando então:
preensão da importância que está conti-
da na tarefa da educação cristã que pesa
Todas as faculdades se desenvolverão,
ampliar-se-ão todas as capacidades. A sobre nós no lar, na igreja e na escola.
aquisição do conhecimento não cansará Como pais, professores e oficiais da
o espírito nem esgotará as energias. Ali, igreja, possamos ampliar a visão da res-
os mais grandiosos empreendimentos ponsabilidade que nos cabe e possamos
poderão ser levados avante, alcançadas
fazer cada vez mais, conscientemente,
as mais elevadas aspirações, as mais al-
tas ambições realizadas; e surgirão ainda aquilo que está a nosso alcance para
novas alturas a atingir, novas maravilhas atingir os verdadeiros objetivos da edu-
a adquirir, novas verdades a compreen- cação cristã em toda a sua abrangência.

Referências 13
Ibidem.
14
Ibidem.
1
Ruy Carlos de Camargo Vieira, “A Vi- 15
Ibidem.
são Criacionista da Educação”, em Encontro 16
White, Testemunhos Seletos, vol. 1, 5ª
de Professores da APLAC (Sociedade Cria- ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
cionista Brasileira, Brasília). Brasília, 29 de 1984), p. 605.
janeiro de 1997. 17
Idem, Educação, p. 13.
2
The General Conference Bulletin, 35ª 18
Richard S. Westfall, The Life of Isa-
Sessão da 14ª Reunião da Conferência Geral ac Newton (Cambridge: University Press,
dos Adventistas do Sétimo Dia, n. 8, vol. 5 1993), p. 204.
(Oakland, 8 de abril de 1903), p.109-112. 19
Bernard Cohen, Isaac Newton: Papers
3
Seventh-Day Adventist Encyclopedia, and Letters on Natural Philosophy (Cambrid-
vol. 11 (Review and Herald Publishing, 1996), ge: Harvard University Press, 1958), p. 284.
verbete “Sutherland, Edward Alexander”. 20
Westfall, The Life of Isaac Newton,
4
The General Conference Bulletin, n. 13, p. 301.
vol. 5, p. 205-213. 21
White, Educação, p. 16.
5
Seventh-Day Adventist Encyclopedia, 22
Ibid., p. 128.
vol. 10, verbete “Jones, Alonzo T”. 23
Ibidem.
6
The General Conference Bulletin, n. 8, 24
Ibid., p. 17.
vol. 6, p. 109-112. 25
Ibid., p.133
7
Ibidem. 26
Ribeiro, Marco Antônio Baumgratz,
8
Ibid., n. 13, vol. 5, p. 205-213. “A Cosmovisão Teísta como Fundamento
9
Bréal, Michel e Anatole Bailly, Dictio- Original da Moderna Pedagogia”, em Revista
nnaire Étymologique Latin, 8ª ed. (Paris: Li- Criacionista, n. 78 (Brasília: Sociedade Cria-
brairie Hachette, 1918), verbetes citados. cionista Brasileira, 2008), p. 5-20.
10
Ellen G.White, Educação, 7ª ed. (Tatuí, 27
Vieira, Vida e Obra de Guilherme Stein
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 13. Jr (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
11
Bill Cooper, Depois do Dilúvio (Brasí- 1995), p. 116-122.
lia: Sociedade Criacionista Brasileira, 2008), 28
Domingos Ribeiro, Origens do Evan-
p. 20-21. gelismo Brasileiro (Rio de Janeiro: Apolo,
12
The General Conference Bulletin, n. 8, 1937), p. 106.
vol. 6, p. 109-112. 29
Cf. as notas 21 e 24.
Uma visão criacionista da educação / 73
30
Ibid., p. 95. zes para a Educação Nacional.
31
Rui Barbosa, “Discursos Parlamen- 34
White, Educação, p. 16-17.
tares - Parecer sobre a Reforma do Ensino 35
Luiz Roberto de Moraes Pitombo, “Re-
Secundário e Superior (1882)”, em Perfis flexões sobre o Processo Ensino-Aprendiza-
Parlamentares 28, (Brasília: Câmara dos De- gem do Conhecimento Químico” (Instituto
putados, 1985), p.440ss. de Química da Universidade de São Paulo).
32
Fernando de Azevedo, A Cultura Bra- Documento de circulação restrita elaborado
sileira (Serviço Gráfico do IBGE, 1943), p. para a Secretaria de Educação Fundamental
367-368. do MEC como contribuição para o aprimora-
33
Nassim G. Mehedff, “Notas para a ela- mento do ensino de Ciências no Brasil.
boração de um Documento sobre a Política 36
Ibid., p. 5.
Nacional de Formação Profissional”, docu- 37
White, Educação, p. 17 e 128.
mento de circulação restrita elaborado para a 38
White, O Grande Conflito, 41ª ed. (Ta-
Secretaria de Educação Tecnológica do MEC tuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001),
como contribuição para o traçado de diretri- p. 394-395.

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