Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
que são feitas no folheto explicativo que sejam pensantes e não meros refle-
que o acompanha, pode-se facilmen- tores do pensamento de outrem. Em vez
de limitar o seu estudo ao que os homens
te constatar que a revelação do filme têm dito ou escrito, sejam os estudantes
tem a ver com “desenvolvimento”. De encaminhados às fontes da verdade, aos
fato, exemplificando, em espanhol de- vastos campos abertos a pesquisas na na-
sarrollar é o verbo usado para revelar, tureza e na revelação.17
ao mesmo tempo que significa desen-
volver, em francês, analogamente, de- Conceitos criacionistas específi-
velopper e em inglês to develop. cos na educação cristã
Na revelação de um filme foto-
gráfico (antes da era das modernas Breve antologia de cunho criacioni-
máquinas digitais onipresentes atual- sta referente à educação cristã
mente), vai-se de fato desenvolvendo
Os “vastos campos abertos a pes-
um conjunto de reações químicas que
quisas na natureza e na revelação”
gradativamente formam na película a
foram explorados por estudiosos que
imagem daquilo que havia sido foto-
lançaram os fundamentos da ciência
grafado, e que ainda estava “envolvi-
moderna há cerca de dois séculos, os
do em mistério”, até finalmente ficar
quais mantiveram uma atitude de re-
impresso com nitidez. Numa fotogra-
verência em face das notáveis evidên-
fia obtida com câmara polaroide, fica
cias que encontraram em suas pes-
visível em curto intervalo de tempo o
quisas a favor de um Criador. Como
processo de revelação, que bem ca-
exemplo típico, pode ser citado Sir
racteriza o processo do desenvolvi-
Isaac Newton, que se manifestou da
mento das faculdades que se realiza
seguinte forma a respeito de seus es-
através da educação.
critos sobre o Sistema Solar:
No contexto da educação cristã,
portanto, o desenvolvimento nada Quando escrevi meu tratado sobre nos-
tem de evolutivo no sentido darwi- so sistema [solar], tinha meus olhos
nista do termo, mas sim no sentido de voltados a princípios que podiam fun-
uma revelação gradativa das poten- cionar considerando a crença da huma-
nidade em uma Divindade, e nada me
cialidades intrínsecas do ser humano,
dá maior prazer do que vê-lo sendo útil
como destacado no trecho seguinte do para esse fim.18
já mencionado livro Educação: Os movimentos que os planetas têm hoje
não podiam ter originado em uma causa
Cada ser humano, criado à imagem de natural isolada, mas foram impostos por
Deus, é dotado de certa faculdade pró- um agente inteligente.19
pria do Criador – a individualidade – fa-
culdade esta de pensar e agir. Os homens Em outros escritos de Newton, fica
nos quais se desenvolve esta faculdade clara a sua viva fé em um Deus Cria-
são os que arrostam responsabilidades,
que são os dirigentes nos empreendimen-
dor, ao qual frequentemente se referia
tos, e que influenciam nos caracteres. É a usando a expressão grega pantokrator,
obra da verdadeira educação desenvolver o Todo-Poderoso, “com autoridade so-
esta faculdade, capacitar os jovens para bre todas as coisas existentes, sobre a
Uma visão criacionista da educação / 65
cristã, seus caminhos e seus objeti- ele considerava que a Bíblia, ao lado
vos, mas também pelo fato de a po- da natureza e da própria mente humana
eram livros reveladores da pessoa do
sicionarem no contexto dos grandes Criador e do conhecimento universal,
debates filosóficos e pedagógicos dos mas que a Escritura como revelação es-
dois últimos séculos, particularmente crita de Deus, era a maior das três fontes
perante a crescente controvérsia entre de conhecimento e a mais perfeita obra
o criacionismo e o evolucionismo tão de literatura [...] Comênio, no processo
de desenvolvimento de sua teologia-
intensificada a partir das últimas dé- educação, deu uma grande contribuição
cadas do século 20. para a conjunção de ciência e religião[...]
Comênio via a Bíblia como fonte de co-
Primórdios da educação cristã cria- nhecimento científico. Ele observou que
cionista no brasil o ponto de partida da abordagem cientí-
fica era a investigação de todas as coi-
Apesar de a catequese jesuítica sas naturais, e que a Bíblia era a inter-
ter-se iniciado no Brasil pratica- pretação da natureza criada por Deus. O
espírito da ciência e a religião poderiam
mente desde os primeiros Governos fazer o homem ver a unidade essencial
Gerais, logo após o descobrimento sob a diversidade superficial do mundo,
no início do século 16, indubitavel- uma vez que ambas oferecem caminhos
mente esse tipo de processo educati- para o mesmo resultado [...] Neste sen-
vo (se assim o podemos denominar) tido, Comênio não aceitava a separação
de ciência e religião ou razão e fé numa
está longe de ser confundido com o pedagogia que poderia desenvolver o co-
que foi considerado no item anterior nhecimento humano universal. 26
como educação cristã.
A educação cristã, propriamen- A Reforma do século 16 havia sido
te dita, na qual se insere a educação uma tentativa de colocar novamente o
criacionista pelo simples fato de que povo de Deus na posição de “educa-
o seu fundamento básico é a própria dores do mundo”. Martinho Lutero,
Bíblia, em cujo primeiro livro, capí- Melanchton e outros reformadores
tulo e versículo encontra-se a solene viram a necessidade de estabelecer es-
declaração de que “no princípio criou colas “onde quer que existissem filhos
Deus os céus e a terra”, teve realmente de Deus que houvessem aceito a men-
sua origem no Brasil com as primei- sagem da salvação pela fé”, para que
ras escolas fundadas pelos imigrantes suas crianças não fossem educadas por
luteranos, vindos da Europa, em fins outros que não tivessem fé irrestrita na
do século 19. Palavra de Deus. Isso trouxe também
Por outro lado, talvez se pudesse uma reforma nos métodos de ensino,
afirmar que a educação criacionista, nos livros-texto utilizados e nos conte-
preconizada pela Reforma Luterana, údos ministrados até então. Em pouco
tenha tido sua origem no primeiro tempo, a Alemanha passou a contar
compêndio de sistematização deta- com muitas escolas paroquiais, tendo
lhada da pedagogia moderna, de au- se tornado uma característica da Igreja
toria de João Amós Comênio. Em sua Luterana o estabelecimento de escolas
Didática Magna, escrita em 1638, junto às igrejas.
Uma visão criacionista da educação / 67
Assim, no Brasil, alguns séculos lidade, que é o traço mais vivo e mais
após a Reforma de Lutero, nas zonas característico da personalidade humana,
capaz de atingir a sua finalidade terrena,
de colonização que receberam imi- espiritual e eterna.28
grantes alemães lá também estavam
as escolas paroquiais ao lado das igre- Essa manifestação torna claro o
jas luteranas. relacionamento existente entre o prin-
No livro Vida e Obra de Guilher- cípio do livre exame destacado acima
me Stein Jr., que apresenta a biografia e os demais princípios da educação
do primeiro educador adventista bra- cristã que foram citados anteriormen-
sileiro, há um capítulo especialmente te do livro Educação29
dedicado às raízes da educação cristã Domingos Ribeiro continua a tecer
no Brasil. Nele foi ressaltado esse im- considerações sobre o processo educa-
portante papel pioneiro desempenha- tivo cristão, citando também o reno-
do pelas primeiras igrejas luteranas no mado pastor presbiteriano Erasmo de
Brasil, primando pelo estabelecimen- Carvalho Braga, primeiro Presidente
to de escolas paroquiais onde quer do Conselho do Colégio Mackenzie:
que houvesse uma congregação. Um
exemplo dessa iniciativa é a Escola O objetivo do ensino evangélico é não
Alemã de Campinas, onde o próprio somente a obtenção de uma salvação
pessoal, mas também a manifestação do
Guilherme Stein Jr. cursou os cinco patriotismo, o amor ao próximo, o dese-
anos de seus estudos primários, o que jo de empregar todo e qualquer esforço
sem dúvida foi extremamente impor- e movimentos concentrados, que tendam
tantes para sua formação.27 a purificar de fraude a vida política, de
Tendo em vista destacar a impor- crueldade a vida industrial, de desonesti-
dade a vida comercial, de vícios e depra-
tância desse processo educativo cris- vação todas as relações sociais.30
tão criacionista em nosso país, já no
início do século 20, além dos concei- Transparece nos objetivos expos-
tos mais gerais anteriormente consi- tos da educação cristã um posicio-
derados e expressos nos trechos trans- namento diretamente oposto ao da
critos do livro Educação, cabe aduzir estrutura conceitual evolucionista no
alguns outros conceitos, expressos contexto do chamado “Darwinismo
por renomados autores (evangélicos Social”, que preconiza a luta pela so-
ou não), bastante ilustrativos pelo seu brevivência com o predomínio do mais
significado específico. forte, independentemente de qualquer
Assim, o historiador Domingos Ri- aspecto ético e que certamente está si-
beiro, em seu livro Origens do Evan- tuada na raiz das grandes frustrações
gelismo Brasileiro, falando das esco- listadas pelo presidente da Harvard
las evangélicas no Brasil, declara: University em seu pronunciamento
citado na Introdução desse artigo.
O princípio evangélico do livre exame
desperta as forças latentes da intelec- Influências como essas, dos princí-
tualidade, produzindo a fome e a sede pios da educação cristã, também se ha-
do saber, apura o senso de responsabi- viam sentido de forma intensa no Brasil
68 / Parousia - 1º semestre de 2010
Referências 13
Ibidem.
14
Ibidem.
1
Ruy Carlos de Camargo Vieira, “A Vi- 15
Ibidem.
são Criacionista da Educação”, em Encontro 16
White, Testemunhos Seletos, vol. 1, 5ª
de Professores da APLAC (Sociedade Cria- ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
cionista Brasileira, Brasília). Brasília, 29 de 1984), p. 605.
janeiro de 1997. 17
Idem, Educação, p. 13.
2
The General Conference Bulletin, 35ª 18
Richard S. Westfall, The Life of Isa-
Sessão da 14ª Reunião da Conferência Geral ac Newton (Cambridge: University Press,
dos Adventistas do Sétimo Dia, n. 8, vol. 5 1993), p. 204.
(Oakland, 8 de abril de 1903), p.109-112. 19
Bernard Cohen, Isaac Newton: Papers
3
Seventh-Day Adventist Encyclopedia, and Letters on Natural Philosophy (Cambrid-
vol. 11 (Review and Herald Publishing, 1996), ge: Harvard University Press, 1958), p. 284.
verbete “Sutherland, Edward Alexander”. 20
Westfall, The Life of Isaac Newton,
4
The General Conference Bulletin, n. 13, p. 301.
vol. 5, p. 205-213. 21
White, Educação, p. 16.
5
Seventh-Day Adventist Encyclopedia, 22
Ibid., p. 128.
vol. 10, verbete “Jones, Alonzo T”. 23
Ibidem.
6
The General Conference Bulletin, n. 8, 24
Ibid., p. 17.
vol. 6, p. 109-112. 25
Ibid., p.133
7
Ibidem. 26
Ribeiro, Marco Antônio Baumgratz,
8
Ibid., n. 13, vol. 5, p. 205-213. “A Cosmovisão Teísta como Fundamento
9
Bréal, Michel e Anatole Bailly, Dictio- Original da Moderna Pedagogia”, em Revista
nnaire Étymologique Latin, 8ª ed. (Paris: Li- Criacionista, n. 78 (Brasília: Sociedade Cria-
brairie Hachette, 1918), verbetes citados. cionista Brasileira, 2008), p. 5-20.
10
Ellen G.White, Educação, 7ª ed. (Tatuí, 27
Vieira, Vida e Obra de Guilherme Stein
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 13. Jr (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
11
Bill Cooper, Depois do Dilúvio (Brasí- 1995), p. 116-122.
lia: Sociedade Criacionista Brasileira, 2008), 28
Domingos Ribeiro, Origens do Evan-
p. 20-21. gelismo Brasileiro (Rio de Janeiro: Apolo,
12
The General Conference Bulletin, n. 8, 1937), p. 106.
vol. 6, p. 109-112. 29
Cf. as notas 21 e 24.
Uma visão criacionista da educação / 73
30
Ibid., p. 95. zes para a Educação Nacional.
31
Rui Barbosa, “Discursos Parlamen- 34
White, Educação, p. 16-17.
tares - Parecer sobre a Reforma do Ensino 35
Luiz Roberto de Moraes Pitombo, “Re-
Secundário e Superior (1882)”, em Perfis flexões sobre o Processo Ensino-Aprendiza-
Parlamentares 28, (Brasília: Câmara dos De- gem do Conhecimento Químico” (Instituto
putados, 1985), p.440ss. de Química da Universidade de São Paulo).
32
Fernando de Azevedo, A Cultura Bra- Documento de circulação restrita elaborado
sileira (Serviço Gráfico do IBGE, 1943), p. para a Secretaria de Educação Fundamental
367-368. do MEC como contribuição para o aprimora-
33
Nassim G. Mehedff, “Notas para a ela- mento do ensino de Ciências no Brasil.
boração de um Documento sobre a Política 36
Ibid., p. 5.
Nacional de Formação Profissional”, docu- 37
White, Educação, p. 17 e 128.
mento de circulação restrita elaborado para a 38
White, O Grande Conflito, 41ª ed. (Ta-
Secretaria de Educação Tecnológica do MEC tuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001),
como contribuição para o traçado de diretri- p. 394-395.