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(carlos.versiani@gmail.com)
RESUMO:
Este trabalho pretende discutir a apropriação do texto literário como documento
histórico, aplicando os métodos de análise documental da Nova História,
caracterizados pela multidisciplinaridade e pela ampliação/fragmentação dos objetos
do conhecimento histórico. Este estudo tem como apoio alguns fragmentos
selecionados do arcadismo brasileiro, especialmente do poema “Vila Rica”, de Cláudio
Manoel da Costa. Procuramos entender como a poética da Arcádia Ultramarina, e
seus respectivos autores, se situam no contexto de fundação da chamada
“modernidade”, em que se operou uma reformulação dos paradigmas universais da
ciência, da cultura e da política. Tentamos responder como e por que é possível
distinguir, nas obras estudadas, ideias e conceitos intimamente ligados às
transformações então correntes, na Europa e no Brasil, nas últimas décadas do século
XVIII.
ABSTRACT:
This paper intends to discuss the appropriation of the literary text as a historical
document, by applying the New History's documents analysis methods, characterized
by multidisciplinarity and expansion / fragmentation of historical knowledge objects.
This study is supported by some selected fragments of the Brazilian Arcadian
Literature, especially of the poem "Vila Rica", by Cláudio Manuel da Costa. We aim to
understand how the poetics expression of Arcadian Overseas, and their authors, are
situated in the foundation of the so-called "modernity", in which was operated a
reformulation of universal paradigms of science, culture and politics. We tried to
answer how and why it is possible to distinguish, in the texts studied, ideas and
concepts closely linked to the transformations in Europe and Brazil in the last decades
of the eighteenth century.
Ora, esta última afirmação pode ser bem aplicada ao modo como
pretendemos abordar, como documentos históricos do seu tempo, a poética dos
árcades ultramarinos. Ou seja, ainda que a produção arcádica brasileira estivesse
enquadrada dentro das convenções do período (e se assim não fosse, não se
poderia chamar de Arcadismo o que se produzia), acreditamos que existam ainda
brechas ou novas possibilidades para uma real definição dessas mesmas
convenções, em seus componentes mistos ou híbridos, principalmente ao se levar
em conta as particularidades advindas do contexto colonial, a origem “americana”
dos poetas, e sua interlocução europeia para além das fronteiras lusitanas. É farta a
presença das referências bucólicas e mitológicas europeias, do estilo laudatório, e
de muitas outras convenções próprias do gênero arcádico e suas subdivisões
poéticas (sonetos, madrigais, sátiras, epicédios, etc); mas a produção arcádica
brasileira se caracterizaria também pela existência de matizes locais, ou regionais,
como se verifica nas próprias descrições da realidade cultural e geográfica da
América portuguesa. Haveria, ainda, uma filiação manifesta ao ideário neoclássico e
ilustrado, com influências advindas, direta ou indiretamente, do iluminismo francês,
mas ajustadas aos conflitos subjacentes à própria condição colonial.
Aqui tentamos nos aproximar dos princípios da “genealogia” proposta por
Nietzsche, via Foucault, que as aplica às suas concepções de história. Trata-se de
fragmentar as interpretações absolutas, já fundadas e oficialmente estabelecidas,
sobre as convenções que regeriam “desde sempre” o arcadismo, para enxergá-lo
distintamente, a partir do contexto temporal e espacial sobre o qual se forjam os
versos desta forma poética. Temos que a chamada Arcádia Ultramarina se
2 3
2 - Como afirmava Foucault, “não é porque há signos primeiros e enigmáticos que estamos agora dedicados à
tarefa de interpretar, mas, sim, porque há interpretações, porque não cessa de haver, debaixo de tudo o que se
fala, a grande trama das interpretações...” (FOUCAULT, 2008, p. 48).
3 - Denominação utilizada por Cláudio Manuel, ao fundar em Vila Rica, no ano de 1768, a academia literária que
reuniria os árcades mineiros. Documentação de 1764 comprovaria sua filiação à Arcádia Romana, por
intercessão de Basílio da Gama (Termindo Sipílio) e Joaquim Inácio de Seixas Brandão (Driásio Erimanteu).
Além de Cláudio Manuel (Glauceste Satúrnio), se declarariam árcades ultramarinos Silva Alvarenga (Alcindo
Palmireno) e Alvarenga Peixoto (Eureste Fenício). Pode-se ler a respeito em recente tese intitulada “O
movimento arcádico no Brasil setecentista: significado político e cultural da Arcádia ultramarina”. (VERSIANI,
2015)
alimentava de fontes referentes tanto ao contexto colonial quanto ao contexto
metropolitano e europeu, e todas essas referências externas pulsavam
internamente, na retórica de sua poética. Caminhamos no sentido de decifrar melhor
os códigos particulares e convenções a que obedecia a obra dos árcades
ultramarinos, entendendo a presença de elementos do tempo histórico que viviam no
conteúdo de sua poesia, como parte mesma desses códigos.
Dando-nos também alicerce para essa empresa está a Nova História,
fundada por LeFebvre e March Bloch, que tem em Jacques Le Goff um porta-voz de
suas maiores revoluções: a ampliação e reformulação do conceito de documento; a
ampliação dos objetos de estudo da história (história das ideias, do cotidiano, da
vida privada...); a interdisciplinaridade com outras áreas das ciências humanas e
sociais; o emprego da história quantitativa como método de investigação...E se na
teoria literária encontramos dificuldades para a utilização da literatura como
documento histórico, a Nova História abre todas as portas para este
empreendimento, pois para esta escola, tudo que existe, como matéria ou oralidade
– como expressão artística, literária ou científica; como ruína ou fragmento – pode e
deve servir, enquanto documento/monumento, de elemento para a investigação do
historiador. E ninguém formulou melhor isto que March Bloch:
(MARQUES, 2005)
Para se chegar mais próximo às singularidades da Arcádia Ultramarina,
em suas ligações internas e externas, particulares e universais, há a necessidade de
se operar nos poemas uma leitura oblíqua, subliminar, das entrelinhas, dos
ocultamentos, das citações implícitas, levando em conta também o poder de censura
da Real Mesa Censória, quando os textos fossem destinados a alguma publicação.
E lembrando sempre da vinculação orgânica entre os aspectos “internos” e
“externos” aos textos literários. Como ensina Antônio Cândido em “Literatura e
4- Tais registros podem ser fácil e fartamente encontrados nas Cartas Chilenas, de Gonzaga, ou no poema Vila
Rica, de Cláudio Manuel.
Sociedade”, tanto a visão da imposição dos fatores externos, quanto a visão de
independência da estrutura formal dos textos, se combinariam “como momentos
necessários do processo interpretativo”. Fatores externos aí, não poderiam ser
vistos “como causa, significado, mas como elementos que desempenham um papel
na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, internos.” (CANDIDO, 2006, p.
14)
O grande problema nesse trabalho é o enfrentamento de rótulos cada vez
mais arraigados na crítica literária brasileira, sob a justificativa de uma pretensa
inovação ou destruição de mitos. Pois quando se analisa a existência de duas forças
elementares na dita Arcádia Ultramarina – as suas ligações discursivas com a
sociedade e natureza locais, ou as ligações com a ilustração europeia – muitos
críticos tendem a enquadrar tais interpretações em determinados rótulos ideológicos:
se realçada a presença das cores locais, estaria simplesmente se repetindo o
manual dos românticos do século XIX na análise do arcadismo; se é reforçada a
presença de valores universais, iluministas, se estaria a serviço de uma visão
teleológica, enxergando posições político-ideológicas que só no futuro poderiam ser
reconhecidas na literatura brasileira.
Adotamos como fundamento que na história, como na arte ou na
literatura, nada pode ser identificado, a priori, como prenúncio de nada; que todas as
apreciações críticas e expressões artísticas passadas estão circunscritas ao
momento histórico em que são elaboradas. Walter Benjamin lembrava, em “ O Anjo
da História”, de carta escrita por Engels a Mehring, em 1893, contestando o “hábito,
na história das ideias, de apresentar um novo dogma como ‘evolução’ de um
anterior, uma nova escola literária como ‘reação’ a outra, um novo estilo como
‘superação’ do que o precede”. (BENJAMIN, 2010, p. 109) O que ocorre na literatura
é a possibilidade de haver, num mesmo tempo histórico, em espaços distintos, a
coexistência de gêneros diferentes, com a transmigração de elementos dos
mesmos, pela circulação das obras e ou pela circularidade cultural dos poetas e
escritores. Isso, sem dúvida, ocorreria também com o arcadismo, brasileiro ou
europeu.
Em se tratando do Brasil, os românticos, sim, no século XIX, estariam
imbuídos da tarefa de instituir a crítica à produção cultural e literária do final século
XVIII como prenúncios de consolidação do nacionalismo brasileiro, porque viviam,
historicamente, o processo de consolidação do estado nacional. Mas o lugar de
onde parte o discurso dos agentes que viveram efetivamente o final do século XVIII,
no Brasil ou na Europa, não diz respeito ao projeto nacionalista, nos moldes
pensados pela crítica romântica. Se em um momento houve entre a classe letrada
mineira, internamente, a crítica à condição de dependência da sociedade colonial, e
por influências externas, a afirmação do ideário iluminista, isto deve ser apreciado
apenas a partir dos elementos presentes naquele mesmo tempo histórico.
Teleológico seria supor que os árcades brasileiros tivessem ideia que o
processo de emancipação política do Brasil - em nome do que efetivamente foram
acusados, presos, mortos ou degredados – teria que se dar no momento em que um
gênero literário chamado romantismo estivesse a reconhecer verdadeiramente os
valores nacionais; que esta emancipação aconteceria a partir de processo iniciado
com a vinda da corte portuguesa para o Brasil; que tudo se daria sem a necessidade
de acusação, morte, prisão ou degredo de magistrados e poetas que aqui nasceram
e daqui escreviam.
Termos como “nacional”, “república”, “pátria”, aparecem concretamente,
tanto na literatura como em inúmeros depoimentos colhidos em documentos do final
do século XVIII, independente do viés ou coloração que os críticos românticos
quisessem dar aos mesmos. A instituição destes termos ou conceitos obedeceu a
uma lógica e contexto próprios dos movimentos políticos, culturais e literários do
período, que, é óbvio, também circunscreviam a Arcádia Ultramarina. Da mesma
forma, quando se entende, como inclusive faz Antônio Candido , as manifestações 5
5 - Cito uma passagem em que Antônio Cândido reafirma o forte cosmopolitismo dos poetas árcades mineiros,
numa vinculação "orgânica" ao universo cultural do ocidente europeu: “Ser membro da Arcádia Romana,
diretamente ou pela mediação da Ultramarina, significava ser reconhecido como participante em pé de igualdade
da alta cultura do Ocidente, isto é, a cultura de que participava também o colonizador. Deste modo, o Brasil se
equiparava a ele, pois praticava o mesmo tipo de literatura e podia ser identificado pela mesma convenção
pastoral, que valia por certificado de civilização. Ser membro da comunidade arcádica era ter status cultural e
social equivalente, em princípio, ao do colonizador e, por extensão, ao de toda a Europa culta." (CANDIDO,
1993, p. 133)
Em paz tranquila a desfrutar gostosos
Vivemos no País que outro não manda;
Sem susto o delinquente entre nós anda;
Que será quando um braço mais potente
Arroje do castigo o raio ardente?
Quando as nossas paixões intime o freio?
.............................................................
Quanto conosco hão de portar-se austeros
Os Chefes recebidos! Não é novo
Viver sem leis, e sem domínio de um povo;
Nações inteiras têm calcado a terra
Sem adorar a mão que o Cetro aferra
.....................................................................
Que tormento maior a um livre peito
Que a um homem, a um igual viver sujeito?
A liberdade a todos é comua;
Ninguém tão louco renuncia à sua.”
Acima estão 15 dos 84 versos que não constam das várias publicações
do poema “Vila Rica”, desde 1839 até 1996, quando enfim foram editados os
manuscritos que se encontravam, inéditos, na Biblioteca Nacional de Lisboa.
(PROENÇA FILHO, 1996, p. 403) Poderíamos então indagar: porque esses versos
foram extraídos do poema, por que propositadamente teriam sido ocultados nas
demais versões manuscritas do “Vila Rica”? Aí somos levados a pensar nas relações
de poder que envolvem a escolha do que deve ser preservado, arquivado, legado
para as gerações posteriores. Lembrando também, como faz Le Goff, que o
documento de que serve o historiador nunca é neutro, que é resultado de uma
montagem, consciente ou inconsciente, tanto da sociedade que o produziu quanto
das épocas posteriores: “durante as quais continuou a viver, talvez esquecido,
durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio.” (LE GOFF,
2003, p. 538) Os 84 versos silenciados do “Vila Rica” também talvez continuassem a
ser manipulados, ainda que inconscientemente, como uma peça que faltasse na
montagem de um quebra-cabeça.
Mas Melânia Aguiar, responsável pela introdução e notas às obras de
Cláudio Manuel na publicação de 1996, “A Poesia dos Inconfidentes”, tem uma
explicação razoável para esse esquecimento, silêncio ou ocultamento. Ela parte,
como outros pesquisadores, do princípio de que Cláudio Manuel teria efetivamente o
propósito de publicar o poema “Vila Rica”; do contrário não teria se esmerado tanto
no “Fundamento Histórico” que o antecede, na carta dedicatória, no prólogo ao
leitor, nas notas elucidativas que acompanham o poema. Sendo assim, o próprio
poeta teria suprimido os versos da versão original. Isto porque estes trariam, além
de referências comprometedoras à corrupção de padres, citados nominalmente, a
defesa de ideias excessivamente liberais e “modernas” para os rigores da censura
metropolitana, ou seja, para a Real Mesa Censória, órgão encarregado, no império
português, do exame dos livros destinados à publicação. (AGUIAR, 1996)
Ainda que essas ideias se façam soar pela voz de um antagonista do
verdadeiro herói do poema (o emissário do Reino para as Minas, Antônio de
Albuquerque), deve-se presumir, como bem sabia Cláudio Manuel, que o que está
escrito será lido, independente do personagem que fala. E ele conhecia bem, como
funcionário da Coroa, o sistema de que era também representante, e os critérios da
Real Mesa Censória. Falar das delícias de viver em “um país que o outro não
manda”; discorrer sobre as nações que vivem sem domínio de outro povo, “sem
adorar a mão que o Cetro aferra”; defender a liberdade como direito comum e
racional, que “ninguém tão louco” pode renunciar à sua...; tudo isto poderia levar, de
fato, a alimentar discursos e leituras excessivamente modernas e libertinas, para as
conservadoras relações de dominação do sistema colonial português.
Vê-se repetir no poema “Vila Rica”, a estrutura presente nas falas dos
índios Cacambo e Sepé, em “O Uraguai”, de Basílio da Gama. Que podem ser 6
entendidas não apenas como manifestação de amor à terra, mas também, pela sua
natureza e conteúdo, como discurso consonante com o “espírito” racional da
modernidade e da ilustração. Se em “O Uraguai”, a razão parece estar mais
presente no discurso indígena que no do herói general, aqui também se presencia o
acento de uma grande força racionalista e libertária no discurso nativo das Minas
Gerais. Não se apreenda, disso que expomos, em hipótese nenhuma, que
defendemos então que Cláudio estaria, através dessa fala, exaltando o “nacional”
contra o estrangeiro opressor, a emancipação política do Brasil. Embora saibamos
que qualquer peso maior que imprimimos à pena possa servir de estímulo aos
caçadores de vestígios românticos no texto que escrevemos.
6 - Destaco aqui, no Canto Segundo, a fala do índio Sepé, quando enfrenta o General português:
“Que estas terras, que pisas, o Céu livres
Deu aos nossos Avôs; nós também livres
As recebemos dos antepassados.
Livres as hão de herdar os nossos filhos.
...............................................................
As frechas partirão nossas contendas
Dentro de pouco tempo: e o vosso Mundo,
Se nele um resto houver de humanidade,
Julgará entre nós; se defendemos
Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.” In: CHAVES, 1997.
O poema “Vila Rica” estaria finalizado em 1773, mas é precedido por um
longo “Fundamento Histórico”, certamente anterior ao poema. Em 1759, quando se
tornou sócio da Academia dos Renascidos, na Bahia, Cláudio Manuel recebera a
incumbência de escrever as memórias das regiões circunscritas pelo Bispado de
Mariana, as comarcas do “Rio das Mortes, Vila Rica, Mariana, e Rio das Velhas”. A
Academia dos Renascidos foi desfeita no ano seguinte, mas é provável que Cláudio
aí já começasse a sua pesquisa sobre a história de Minas, o que aprofundaria na
viagem “dilatada e aspérrima” de 400 léguas, em 3 meses e 18 dias, pelo centro-
sudoeste e sul mineiros, acompanhando, em 1763, o então governador D. Antônio
de Noronha. (MELLO E SOUZA, 2011)
O fato é que o “Fundamento Histórico”, publicado pela primeira vez em
1813, separadamente do poema, pela revista “O Patriota”, insere Cláudio Manoel no
rol dos memorialistas brasileiros do século XVIII, como Rocha Pitta, Pedro Tacques
ou Frei Gaspar da Madre de Deus. Este último também recebera da Academia dos
Renascidos a incumbência de escrever sobre o território compreendido pelo Bispado
de São Paulo e anos depois publicou a obra “Memórias para a História da Capitania
de São Vicente, hoje chamada São Paulo”. O grande mérito de Cláudio Manuel, se
usarmos os parâmetros científicos da modernidade, foi o seu trabalho exaustivo nos
arquivos, documentos e obras do passado, para escrever a sua História.
Preocupando-se em ser científico não apenas no “Fundamento”, mas também nas
notas que integram o próprio corpo do poema, tentando calçar em uma realidade o
objeto ficcional. E se mostra, no prólogo, orgulhoso pelo seu trabalho de pesquisa,
que considera superior aos anteriores:
conferir, passo a passo, através das notas, veracidade histórica ao enredo ficcional.
Poderíamos também perguntar, seguindo o mesmo caminho: de onde
vem o arcadismo de Cláudio Manuel, então intitulado árcade ultramarino, com o
nome de Glauceste Satúrnio? De onde viriam os discursos do movimento arcádico
ao qual pertencia? A essa questão o mesmo já respondera, em 1768, no prólogo às
“Obras”, ao desculpar-se pela baixa qualidade de grande parte dos poemas que
constavam desta publicação, por terem sido produzidos num “tempo em que
Portugal apenas principiava a melhorar de gosto nas belas letras”. E indica de onde
passara a seguir os mandamentos de estilo, ou seja, de onde viria o seu arcadismo
numa fase mais madura: “A lição dos gregos, franceses e italianos, sim, me fizeram
conhecer a diferença sensível dos nossos estudos e dos primeiros mestres da
Poesia”. (PROENÇA FILHO, 1996, p. 48)
No “Vila Rica”, escrito cinco anos depois, estão mais do que presentes as
lições francesas e italianas. Italianas, do ponto de vista estético e institucional, até
pela declarada filiação à Arcádia Romana. Francesas, do ponto de vista ideológico,
pela presença, em muitos momentos, da contestação aos princípios e normas do
chamado Antigo Regime. Já no “Fundamento Histórico” que antecede o poema,
Cláudio Manuel afirma orgulhosamente não constituir diferença nenhuma nascer em
Portugal ou "entre aquelas montanhas”, e justifica: “as almas é certo que não têm
pátria, nem berço, deve-se amar a virtude, aonde ela se acha”.(PROENÇA FILHO,
7 - Trata-se da nota n. 20, ao Canto II do “Vila Rica”. (PROENÇA FILHO, 1996, p. 1083)
1996, p. 367) Em outro momento, no canto VII, tem-se a contestação aos valores
relacionados à nobreza de sangue e ao local do nascimento, para medição da
virtude e do talento humano:
REFERÊNCIAS
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FILHO, Domício. A Poesia dos Inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1996,
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- AUTOS DE DEVASSA DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA. Vol. I. Brasília, Câmara de
Deputados, 1976.
- BENJAMIN, Walter. O Anjo da História. Lisboa: Assírio & Alvin, 2010.
- CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul,
2006.
- CHAVES, Vânia Pinheiro. O “Uraguai” e a Fundação da Literatura Brasileira.
Campinas: UNICAMP, 1997.
- FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. 9. ed.
Rio de Janeiro: Graal, 1990.
__________________ Nietzsche, Freud, Marx. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
- LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. UNICAMP, 2003.
- MACHADO, Roberto. Foucault, a filosofia e a literatura. 2 ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1990.
- MARQUES, Reinaldo M. Poetas inconfidentes: transculturação, dissidência e
utopia. Poesia Sempre, Rio de Janeiro, v. 20, p. 177-197, 2005.
- MUZZI, Eliana. Epopeia e História. In: PROENÇA FILHO, Domício. A Poesia dos
Inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1996, p. 349-354.
- PECORA, Alcyr. Máquina de gêneros: novamente descoberta e aplicada a
Castiglione, Della Casa, Nóbrega, Camões, Vieira, La Rochefoucauld, Gonzaga,
Silva Alvarenga e Bocage. São Paulo: Edusp, 2001
- PROENÇA FILHO, Domício (Org.) A Poesia dos Inconfidentes. Poesia
Completa de Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga
Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
- RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Ed.
UNICAMP, 2007.
- SOUZA, Laura de Mello e. Cláudio Manuel da Costa: o letrado dividido. São
Paulo: Cia. das Letras, 2011.
- VERSIANI, Carlos. O movimento arcádico no Brasil setecentista: significado
político e cultural da Arcádia ultramarina. 2015. 236 p. Tese (Doutorado em Estudos
Literários. Área de Concentração: Literatura Brasileira – Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais.