Sei sulla pagina 1di 82

I

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


N
INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE - IHS
T
R FACULDADE FEDERAL DE RIO DAS OSTRAS
O
D CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
U
Ç
Ã
O
.
.
.
.
. Danilo Gonçalves Barcelos
.
.
.
MACAÉ: CIDADE DO PETRÓLEO VERSUS
.
.
CIDADE FAVELIZADA.

.
O reflexo do crescimento de uma cidade
.
capitalista e desigual.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
RIO DAS OSTRAS
.
. DEZ / 2014
.
1
.1
..0
.
.
.
.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE - IHS

FACULDADE FEDERAL DE RIO DAS OSTRAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

DANILO GONÇALVES BARCELOS

MACAÉ: CIDADE DO PETRÓLEO VERSUS CIDADE FAVELIZADA.


O reflexo do crescimento de uma cidade capitalista e desigual.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense – Polo Universitário de Rio
das Ostras como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Edson Teixeira da Silva Junior

Rio das Ostras – RJ


2014
MACAÉ: CIDADE DO PETRÓLEO VERSUS CIDADE FAVELIZADA.
O reflexo do crescimento de uma cidade capitalista e desigual.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense – Polo Universitário de Rio
das Ostras como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Bacharel.

Aprovado em 11 de dezembro de 2014.

BANCA EXAMINADORA

Orientador Prof. Dr. Edson Teixeira da Silva Junior


UFF – IHS

Dr. Felipe Melo da Silva Brito


UFF - IHS

Ms. Matheus Thomaz


UFF - IHS

RIO DAS OSTRAS

2014
RESUMO

A cidade macaense se desenvolveu de forma meteórica desde a chegada da


Petrobras, na década 1970. Um desenvolvimento desestruturado e desigual,
ocasionando a exclusão do acesso à cidade formal para aqueles que não estavam
inseridos no mercado de trabalho ou que não tinham poder aquisitivo para o acesso
ao espaço urbano, sendo uma cidade propicia para expansão econômica,
demarcada pela especulação imobiliária em detrimento de um desenvolvimento
social muito abaixo do esperado, ocasionando uma diversidade de problemas
sociais estruturais, tais como, favelização e empobrecimento da população.

Palavras-chave: Déficit Habitacional. Segregação. Favela. Urbanização,


Macaé. Petrobras.
ABSTRACT

Macaé city's development skyrocketed after the arrival of Petrobras, in the 1970s, in
an unstructured and uneven fashion, that excluded of the formal areas of the city
those who were outside the labor market or lacked enough purchasing power to
access the urban areas. Macaé favors economic expansion, marked by significant
real estate speculation and social development below expectations, in a model that
causes a series of structural social problems, such as burgeoning favelas and the
impoverishment of the people.

Keywords: Housing Deficit. Segregation. Favela. Urbanization. Macaé. Petrobras.


Dedico este trabalho,

A toda minha família pelo grande apoio dado durante todos os obstáculos
propostos pela vida, em especial aos entes queridos, Bento, Dalva, Davi e Viviane.

A minha querida e amada esposa Michelle, por sua cumplicidade e notório


carinho, por ser uma grande companheira nas horas de alegria e tristeza.
AGRADECIMENTOS

Ao professor Edson, por aceitar o desafio de me orientar e pelo suporte na


construção do TCC, aos Professores Felipe e Matheus por aceitarem fazer parte de
minha banca examinadora.

A minha família, por estar ao meu lado sempre, nas derrotas e vitórias.

Aos grandes amigos da vida, e aqueles conquistados durante o percurso na


Universidade, que se tornaram imprescindíveis para o meu crescimento pessoal
também para o restante da minha caminhada, tentarei enumerá-los, como um ato de
uma singela homenagem à todos aqueles que me cederam sua atenção e pelo os
quais tenho grande admiração.

Ao amigo Alan, agora compadre, por seu companheirismo e por estar


presente, sendo imprescindível em minha caminhada acadêmica.

Ao amigo Glaube, pelos debates etílicos proporcionados durante a formação


acadêmica.

A amiga Jaqueline, com sua alegria incomparável de viver.

Ao amigo e camarada Rafael (Bom Jesus), pelo apoio e paciência e


principalmente por suas contribuições na construção do TCC.

Agradeço a todos os supervisores de campo que retribuíram com o seu


conhecimento profissional e paciência, principalmente a Srª Ronilda Maria Rodrigues
da Costa, a qual contribuiu para a escolha do tema presente.
Aos demais que fizeram parte da minha caminhada na UFF e sabem a
significância e espaço que conquistaram em minha vida.
“Não adianta olhar pro céu, com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que
sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea?
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média).
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura.”

(Até Quando? / Gabriel O pensador).


Introdução

Este trabalho foi idealizado tendo como alusão a minha inserção como
estagiário de Serviço Social no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que
tinha como o cerne a urbanização de assentamentos precários no município de
Macaé, o que contribuiu para o vislumbramento da realidade Macaense,
contribuindo para a construção de uma visão crítica da ocupação urbana e as
consequências da falta de estruturação da referida cidade.

A atenção se voltou para o crescimento econômico e o crescimento


populacional da cidade de Macaé em detrimento do não acompanhamento do
crescimento social, exilando os pobres em áreas insalubres do município que tem
em seu histórico, como os demais municípios brasileiros, a tendência de excluírem
estas demandas das cidades formais. A cidade informal é caracterizada como
indesejável, sua população é realocada e removida para espaços sem a devida
estruturação e suporte do Estado, espaço fecundo para a propagação e
aprofundamento das desigualdades sociais.

Para o desdobramento e realização deste trabalho foram realizadas uma


série de pesquisas documentais, bibliográficas e de experiência de campo de
estágio. Dentre estas pesquisas realizadas, foram analisados artigos retirados da
internet, bibliografia relacionada ao tema, pesquisa no órgão de competência
municipal (Secretária de Habitação de Macaé).

A finalidade deste trabalho é evidenciar a ocupação desigual em um espaço


urbano tão prospero economicamente, a cidade de Macaé; identificar os fenômenos
ocasionados por uma ocupação desordenada e consequente segregação, os
impactos gerados pela inserção de uma grande empresa, reestruturando
produtivamente a localidade (Petrobras), elencar alguns dos problemas ocasionados
por esta expansão, como o déficit habitacional, sem o devido planejamento e a
construção de uma cidade pobre socialmente, apesar de sua abundante riqueza,

9
ainda sim 1/3 de sua população encontra-se vivendo de forma precária e insalubre
em diversas ocupações espalhadas pela cidade.

Objetivamos também mostrar as políticas sociais financeiras construídas


historicamente pelo Estado, tais como, BNH (Banco Nacional de Habitação), até os
nossos dias atuais com a CEF (Caixa Econômica Federal), e suas características
financistas que beneficiam ao interesse de pequenos grupos, como, empreiteiros e o
mercado imobiliário.

O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi dividido em dois capítulos


para a desenvoltura da temática.

No primeiro capítulo, com o título de “A Urbanização do Brasil: um processo


de agravamento das desigualdades construídas historicamente”, faremos uma
contextualização histórica do Brasil, iniciando no período Imperial, e findando nos
dias atuais, observando como foi fracionado o território brasileiro, utilizando como
principal exemplo a cidade do Rio de Janeiro. O posicionamento que foi tomado pelo
Estado no que diz respeito à política de expansão, enriquecendo poucos em
detrimento da pobreza de muitos. O processo de exclusão dos pobres à cidade
formal, desde a implementação da Lei das Terras (1850), esta caracterizou a terra
como uma mercadoria de acesso único e exclusivamente através do mercado,
gerando dificuldade ao acesso principalmente para os trabalhadores das lavouras
(Imigrantes e ex-escravos). Por fim, a caracterização da cidade segregada entre
cidade formal e cidade informal e o crescimento econômico em prejuízo do
crescimento social.

No segundo capitulo, “A Capital Nacional do Petróleo: a construção da


ocupação desigual do espaço urbano de Macaé” debateremos sobre as formas de
ocupação do território macaense que determinaram as formas de investimentos e
construção da cidade capitalista atual e suas consequências. Buscaremos
apresentar as principais influências das indústrias para ocupação e evolução urbana
de Macaé, principalmente após a chegada da Petrobras (década de 1970).
Confrontaremos o crescimento econômico com o crescimento da pobreza da
localidade, assim como estudaremos a propagação do espaço marginalizado pela
10
cidade formal. Abordaremos o déficit habitacional e favelização crescente como um
problema estrutural da cidade de Macaé. E por fim, apresentaremos os
investimentos estimados para construção do novo porto, ou TERLOM (Terminal
Logístico de Macaé), comparados aos investimentos entre esfera federal e municipal
direcionados para a solução do crescimento do déficit habitacional do município.

11
Introdução ......................................................................................................... 9

Capítulo 1 - A Urbanização do Brasil: um processo de agravamento das


desigualdades construídas historicamente. .............................................................. 14

1. A Segregação do espaço urbano no Brasil Moderno.................................. 14

1.2 – Fim da escravidão: a emergência do trabalho “livre”. ......................... 17

1.3 – Exclusão do negro ao acesso da urbanização e a Terra como


mercadoria para um seleto grupo. ......................................................................... 20

1.4 – Processo de aglomeração urbana: Construção do espaço denominado


favela, diferenciação do espaço ocupado por ricos e pobres. ............................... 24

1.5. Brasil de grande déficit habitacional e mercantilização dos Direitos. ... 33

1.5.1 - Políticas Habitacionais de Cunho Mercantil: BNH ao Minha Casa,


Minha Vida. ............................................................................................................ 36

1.5.2 – Momento pós- BNH, Projeto Minha Casa Minha Vida. .................... 41

Capítulo 2 – A Capital Nacional do Petróleo: a construção da ocupação


desigual do espaço urbano de Macaé. ...................................................................... 46

2.1 – Breve histórico do surgimento do município de Macaé. ..................... 46

2.2 - A Petrobras na Cidade de Macaé (1970) e a reestruturação urbana da


cidade. ................................................................................................................... 50

2.3 – Desenvolvimento das Questões Sociais de Macaé: aumento da riqueza


e a evolução da pobreza urbana. .............................................................................. 53

2.3.1 – O Déficit Habitacional e a favelização de Macaé. ............................ 59

2.3.2– Capital do Petróleo versus Cidade Favelizada: Uma única Cidade e


duas Soluções. ...................................................................................................... 71

3. Considerações Finais: ................................................................................ 75

12
4 - Referências Bibliográficas: ........................................................................ 79

13
Capítulo 1 - A Urbanização do Brasil: um processo de
agravamento das desigualdades construídas historicamente.

1. A Segregação do espaço urbano no Brasil Moderno.

Iniciaremos este Capítulo retomando o século XIX, resgatando


acontecimentos cruciais para a inauguração da aglomeração, ou ocupação desigual
do espaço urbano, que culminou também na segregação e criminalização, durante
todo o processo de construção do Brasil urbano. Utilizar-se-á neste período a cidade
do Rio de Janeiro como exemplo, já que esta era a maior cidade do Brasil naquele
período.
O processo de segregação espacial discorreu antes mesmo do processo de
uma urbanização mais adensada, durante o período da escravidão no Brasil (entre o
século XVI ao XIX). Segundo Moura (1987:17 apud Campos, 2005:32), as
organizações quilombolas surgiram “[...] desde a implantação do sistema
escravagista de produção”, quando no país prevalecia a produção de mercadorias
de origem agrícola. Neste momento, a maior parte da população ainda estava
localizada no campo, a mão de obra negra destacava-se no cultivo de cana-de-
açúcar, dentre outras atividades.
O espaço coletivo de ocupação da massa trabalhadora do período da
escravidão, denominado quilombola, se tornou um espaço de resistência da massa
trabalhadora explorada neste período. Uma comparação que nos é imprescindível
para nossos estudos futuros, segue abaixo:

O quilombo, como espaço de resistência à ordem imperial, tem alguns


pontos em comum com as atuais favelas brasileiras, sobretudo aquelas
localizadas nas grandes cidades. Ambas as estruturas espaciais foram e
são estigmatizadas ao longo da historia sócio-espacial da cidade. Se, no
passado a resistência era constituída em torno do não-aprisionamento dos
negros (primeiro ocorrendo apenas com escravos e, posteriormente, com os
negros que se tornaram livres), ao longo do século XX a resistência
aconteceu em torno da permanência nos locais “escolhidos” para moradia.
Entre residir e serem cooptados pela ação dos grupos dominantes
associados aos interesses do Estado, que no passado procuravam estender

14
a cerca,seja para ampliar as suas propriedades, seja para valorizar as terras
urbanas, os segmentos de baixa ou nenhuma renda toma em geral um
posicionamento político que venha a priorizar a permanência do espaço
apropriado. (Campos, 2005:31).

Uma ocorrência que prepararia a cidade do Rio de Janeiro rumo á uma


urbanização, desigual, foi o desembarque da família real portuguesa1 que segundo
Maricato (1997:16), trouxe mais de 10 mil pessoas fugindo da perseguição de
Napoleão; e dentre seus acompanhantes: ministros, juízes, funcionários do tesouro
e etc. A acomodação de todo este contingente se deu de forma problemática, ainda
segundo a autora: “[...] as melhores edificações foram desocupadas para receber a
família real. Suas portas eram marcadas com as letras PR, que significavam
Príncipe Regente, ou, na versão dos cariocas “prédio roubado”, ou “ponha-se na
rua.” Através destas ações ficou caracterizada uma opressão recorrente do Estado
Brasileiro em nosso cotidiano.

A cidade do Rio de Janeiro, que era apenas mais uma dentre outras da
colônia de Portugal aqui no Brasil, passou a ser uma área de refúgio do reino,
concentrando e sendo a sede do reinado português, trazendo consigo uma vasta
gama burocrática e seu maquinário para a continuidade do funcionamento pleno das
atividades da coroa. O aumento da população da cidade ocorreu devido à tamanha
atratividade exercida pela chegada da Coroa Portuguesa; com as várias
oportunidades emergidas (Abertura dos Portos, Fundação da Biblioteca Nacional e
do Banco do Brasil, etc.) Trouxe ainda, segundo Maricato (1997:16), um salto
vertiginoso no quantitativo de habitantes, aumentando de 50 mil para 100 mil.

A produção industrial também foi finalmente liberada, rompendo-se o


estatuto colonial. Embora a pressão dos produtos ingleses sobre o mercado
brasileiro tenha constituído grave fator de inibição da produção
manufatureira local, iniciou-se a partir daí o desenvolvimento de vários
campos da atividade produtiva, como a metalurgia e a mineração. A ciência

1
A chegada da família foi ocasionada por uma investida de Napoleão à cidade de Lisboa, em
1808 após a fuga instalam-se aqui no Brasil trazendo consigo toda a corte portuguesa.

15
moderna, que causou impacto na Europa no século XII, chegou ao Brasil
somente no século XIX, com a vinda da família real. (Maricato, 1997:16).

Alguns fatos que ocorreram no século XIX, período imperial, incidiram


diretamente sobre o processo de urbanização do Brasil, assim:

Em 1822, o Brasil tinha doze núcleos classificados como cidades. Ainda que
não se tenha passado por rupturas importantes, foi durante o período
imperial que começaram a ser gestadas as mudanças fundamentais
responsáveis pelo deslanche do processo de urbanização no Brasil. As
disputas políticas que se estenderam por todo o Império (1822 a 1889),
culminando com a Lei de Terras (1850), a abolição da escravidão (1888)e a
proclamação da República (1889),compõe um conjunto de medidas e
acontecimentos que viabilizariam condições para a
industrialização/urbanização no final daquele século. (Maricato, 1997:16-
17).

A construção histórica da sociedade urbana brasileira perpassa por estes


momentos marcantes; levando-nos a considerar que a sociedade urbana teve sua
ascendência ancorada em uma série de restrições para as classes menos
favorecidas, evidenciadas em diversos momentos históricos. Atemo-nos aqui ao
momento de “pré-urbanização” (Século XIX), onde o fim da escravidão eclodiu o
“trabalho livre” e a terra foi caracterizada como produto de poucos, como
propriedade privada.

Se o acesso à terra foi legalmente vedado a um determinado segmento


social, a questão fundiária sempre foi tratada como uma questão policial. O
resultado é que massas de alforriados, juntamente com brancos pobres,
deslocaram-se para as cidades ou para os quilombos periurbanos ou rurais.
Na cidade, os negros ocuparam inicialmente os cortiços, no caso do Rio de
Janeiro, ou se tornaram quilombolas em áreas periurbanas. (Campos,
2005:42).

As variações de eventos históricos que foram acima citados não trouxeram a


igualdade para os trabalhadores, aliás, potencializou a exclusão do espaço urbano
para aqueles que não detinham capital, explicitando um desenvolvimento urbano
desigual pautado no enriquecimento de poucos e de exploração continua de muitos.
A terra torna-se cada vez mais um artigo de luxo para obtenção de poucos.

16
1.2 – Fim da escravidão: a emergência do trabalho “livre”.

O fim da escravidão se deu através de muita luta e resistência histórica por


parte dos negros explorados por este regime. A culminação do fim desta regulação
escravagista foi uma conquista histórica, um êxito conquistado através da
persistência e organização coletiva; entretanto, as consequências e a não absorção
dos negros no mercado formal criou um dos pivôs de uma urbanização segregadora.

Nesse período, uma das unidades de resistência coletiva dos escravos


contra o poder imperial eram as comunidades quilombolas, que são vistas como
“classe perigosa” e são colocados à margem da sociedade, tendo suprimidos uma
diversidade de direitos, mesmo após a abolição da escravidão, o que presumiria um
acesso igualitário aos direitos à todo este contingente.

A cidade imperial era sustentada pelo trabalho dos escravos, que realizavam
todo e qualquer tipo de serviço para os seus senhores.

Seria absolutamente impossível entender a cidade colonial ou imperial sem


o trabalho escravo. Os escravos, dentre muitas outras funções, eliminavam
os dejetos (carregando barris cheios de fezes, que no Rio de Janeiro, por
exemplo, eram jogados nas praias), abasteciam as casas de água, uma vez
que a canalização era inexistente, abasteciam de lenha a cozinha,
eliminavam o lixo. Tanto o transporte de mercadorias como o de pessoas na
cidade eram feitos por escravos. (Maricato, 1997:18).

Os escravos realizavam uma diversidade de tarefas braçais nas cidades


coloniais, como também, nas cidades imperiais, e não seria exagero em dizer que os
escravos impulsionavam a economia como um todo.

Não era, portanto, apenas no latifúndio rural que o trabalho escravo


constituía o motor da colônia e mais tarde do Império. As cidades também
eram movidas por esse tipo de trabalho. Sua importância vai além disso: o
escravo constituía também uma espécie de “capital”. Até 1850, a terra não
servia como objeto de hipoteca para a realização de empréstimos, mas os
escravos sim. Eles eram fonte de renda e, portanto, de investimento. É
importante lembrar que até essa época a terra não mereceu tratamento
jurídico mais elaborado no Brasil. (Maricato, 1997:18).

17
A Lei de Terras (1850), lei Eusébio de Queiroz (1850) - que proíbe o tráfico
de escravos para o Brasil - e a abolição da escravidão (1888) não foram fatos
aleatórios para a urbanização e ocupação do espaço das cidades brasileiras, foram
processos que expuseram a marginalização e restrição do acesso a terra para a
camada mais pobre da população, os negros, e aumentou a riqueza dos
exploradores desta mão de obra.

Não por coincidência, uma semana separa essa lei e outra que tratava da
propriedade da terra. Esta continua sendo um privilégio das parcelas mais
ricas, que podiam adquiri-la, pois a propriedade baseada na ocupação ou
cessão pública, como feita através do antigo sistema de sesmarias, não é
mais permitida. Os escravos são substituídos pela terra como condição para
o exercício do poder e o controle da produção. (Maricato, 1997:18-19).

Como visto anteriormente, as Leis que poderiam servir de sustentáculo,


dentre elas a Abolição da Escravatura (Lei Imperial n.º 3.353) para uma guinada de
postura da sociedade brasileira ocasionaram justamente o inverso, ou deixaram
claro que não houve nenhuma ruptura com a postura construída historicamente de
segregação entre ricos e pobres, negros e brancos ricos2·. Claramente os maiores
beneficiários dessa lei foram os ex-proprietários dos escravos que receberam um

2
As leis abolicionistas e suas possíveis conquistas no decorrer século XIX na verdade
representavam a manutenção do ideário escravocrata beneficiando diretamente os senhores
de escravos, tornam-se medidas paliativas para fins de amenizar as revoltas, pressões
externas pelo fim do regime de escravidão dentre outros posicionamentos divergentes a este
regime.

A Lei do Ventre Livre (1871), a primeira lei com sentido abolicionista, de acordo com esta lei
os filhos de escravas nascidos depois desta ganhariam a sua liberdade, entretanto, este
deveria permanecer nas terras do seu “dono” até os 21 anos, ou seja, falsa liberdade,
expropriação da maior parte da vida produtiva do escravo que viviam em média até os 40
anos de idade.

Lei dos sexagenários (1885), esta lei dava liberdade aos escravos com idade superior aos 65
anos, como explicitado anteriormente, a expectativa de vida dos escravos no período era em
média de 40 anos de idade, ou seja, uma lei sem valor em seu uso.

18
subsídio, e os maiores prejudicados neste processo de exploração mais uma vez
foram os trabalhadores negros, que foram simplesmente descartados ou pouco
aproveitados como mão de obra livre.

Nem mesmo a abolição da escravatura, consumada apenas em 1888,


significou o fim da discriminação sofrida pelos negros africanos ou pelos
negros nascidos aqui. Grande parte dos escravos libertados, especialmente
nas regiões que apresentavam declínio da cultura do café, vale do Paraíba,
tomaram o rumo das cidades e aí ofereceram sua força de trabalho,agora
livre,concorrendo em desigualdade de condições com os brancos pobres e
os imigrantes que aqui chegavam.(Maricato,1997:19).

Com este contingente se concentrando nas cidades brasileiras, e


especificamente no Rio de Janeiro, ficam expostas as feridas de uma urbanização
caótica e desestruturada que se agravam ainda mais com a chegada de imigrantes
europeus, sendo assim, o mercado de trabalho ficou ainda mais restrito para os
recentemente livres, ex-escravos, venderem a sua força de trabalho.

A crise da habitação, presente na Corte desde a chegada da Família Real,


ganhou maior dimensão à medida que os imigrantes aportaram à cidade,
principalmente a partir da efetivação da política de importação de mão-de-
obra branca para trabalhar nas nascentes industriais e nos campos
(Campos, 2005:39).

Essas relações societárias desiguais, que até o momento foram expostas,


acrescidas ainda das reformas urbanas do inicio do século XX3 dinamizaram e
concentraram um grande contingente no espaço urbano, voltando os investimentos
para a construção da cidade capitalista, privando muitos do acesso à moradia, ou a
terra, expulsando-os com medidas de higienização, destruindo morros, que já eram
locais de habitação da camada mais pobre da população. Somado a isso, outras

3
Segundo passagem importante de Maricato (2001:15):
As reformas urbanas, realizadas em diversas cidades brasileiras entre o final do século XIX e
início do século XX, lançaram as bases de um urbanismo moderno “à moda" da periferia.
Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias ao mesmo tempo
em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram implantadas as bases legais para
um mercado imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era expulsa
para os morros e franjas da cidade. Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Santos, Recife,
São Paulo e especialmente o Rio de Janeiro são cidades que passaram por mudança que
conjugaram saneamento ambiental, embelezamento e segregação territorial, nesse período.
19
medidas foram utilizadas para esconder os problemas sociais, ocasionados pela
presença da massa com menor poder aquisitivo.

[...] foram as reformas urbanas do final do século XIX e começo do século


XX, entretanto, que definiram mais fortemente a nova face da cidade
republicana ou da sociedade sem o escravo. Nela, a massa trabalhadora
pobre e em especial os negros desempregados serão “varridos para baixo
do tapete”, ou seja, serão expulsos das áreas centrais [...]. (Maricato,
1997:19).

1.3 – Exclusão do negro ao acesso da urbanização e a Terra


como mercadoria para um seleto grupo.

Para compreendermos a propriedade privada da terra no estágio atual, faz-


se necessário recuperar, historicamente, onde foi originado todo este interesse pela
propriedade privada.

Como relata Maricato (2005:21), com a Revolução Francesa (17894)


proporcionou o que poderia ser o início da propriedade privada, apesar da
participação da massa camponesa e da classe pobre neste processo.

A declaração dos Direitos do Homem de 1789, que servirá de preâmbulo da


Constituição Francesa resultante da revolução (1791), trata a propriedade
como dos “direitos naturais e imprescritíveis do homem”, além de “direito
inviolável e sagrado”. De maneira semelhante, a constituição de 1776, a
primeira do continente americano, considerou a propriedade privada um dos
“direitos essenciais e inalienáveis”. Maricato (2005:21).

A primeira regra para distribuição da propriedade privada originada aqui no


Brasil foi à sesmaria, que consistia em concessões de terras controladas pela coroa
portuguesa, com diversas restrições e obrigações a serem obedecidas (não
contemplaria negros e pobres), caso contrário se descumpridas o risco de perda da
terra era eminente. Notabilizou-se, desde o início desta a implementação da

4
Neste período a relação de vassalagem estabelecida no período monárquico deu
importância à propriedade da terra, segundo Maricato (2005:21): “A revolução exigia
liberdade para o homem e para a terra”.

20
propriedade privada aqui no Brasil, caracterizada pela restrição do acesso ou da
concessão de terras para as camadas mais pobre da população brasileira, sendo um
ambiente propício para o aumento da riqueza, por ausência de controle da Coroa
portuguesa, criando um campo fértil para o crescimento dos latifúndios de alguns em
detrimento da multiplicação da pobreza de muitos.

A abundância de terras desocupadas no Brasil, contudo, dispensou o rigor


na aplicação das regras que regulavam as concessões. O latifúndio
resultante da concessão de sesmarias foi fundamental para a economia da
Coroa portuguesa e depois para o Império brasileiro, mas o que contava
mais que a terra era a capacidade de ocupá-la e nela produzir: dada pelo
trabalho escravo. Assim, a propriedade de escravos era tão importante
quanto a terra, ou mais. A dependência dos pequenos proprietários era
indiscutível, principalmente na comercialização da sua produção.
Lembremos mais uma vez que o senhor rural era autoridade municipal e
depois tornou se também autoridade militar, com a Guarda Nacional.
(Maricato, 2005:22).

Para compreensão desta primeira distribuição de terras, consequentemente


distribuição de poderes, houve a entrega do poder local para os detentores de
terras, ou seja, para os senhores rurais (“coronéis”), construindo-se vilas, moradias,
dentre outras medidas. Os administradores determinavam a ocupação do espaço
rural ou de um prelúdio urbano, que em maior parte era feito de forma autoritária.

A Câmara Municipal e os administradores locais tinham a competência de


doar terras – as datas- a quem as solicitasse, a fim de morar ou produzir.
Essas datas eram gratuitas, com a condição de ocupação, produção e
pagamento de dizimo. Tal pratica se prestou ao exercício arbitrário do poder
dos burocratas e grandes proprietários. Novamente aqui constata a falta de
fronteiras entre o público e o privado, relação que marca toda nossa
historia. (Maricato, 2005:22).

Segundo Maricato (2005:22), o sistema de sesmaria deixou de vigorar em


1822, sendo justificado o seu fim diante do descontrole da ocupação das terras,
agricultura estagnada, latifúndio e etc.

A lei que iria propor a normatização do acesso às terras se arrastou dentre


várias discussões e defesas de interesses de 1822 até 1850, período no qual foi
estabelecido o poder dos coronéis latifundiários: “é nesse período que se consolida
de fato o latifúndio brasileiro – com a expulsão de pequenos posseiros, que antes
21
tinham o hábito de ocupar terras virgens – e a sua substituição por poderosos
proprietários rurais.” (Maricato, 2005:23).

Com a Lei de Terras visava-se regulamentar a posse da propriedade. Esta


Lei consistia em deliberar o acesso a terra via comércio, para fins de arrecadação de
fundos, subsidiando a chegada dos imigrantes europeus para que estes adquirissem
pequenas propriedades e produzissem. Este posicionamento ameaçava diretamente
os interesses dos latifundiários, ou seja, não era da vontade dos poderosos em
promover o acesso igualitário a terra, pois queriam que os trabalhadores se
mantivessem em suas rédeas, isto é, trabalhando continuadamente, obtendo os
lucros de seu trabalho; e pouco importava se fossem trabalhadores europeus ou
não.

O fácil acesso a propriedade da terra inviabilizaria a disponibilidade da força


de trabalho que iria substituir os escravos, especialmente nas fazendas de
café. Por isso foram mantidos os obstáculos ao acesso à terra, e essas
experiências de colonização acabaram bastante limitadas.[...]A demarcação
das terras devolutas encontrou resistências no poder local, dominado pelos
“coronéis”, que responderam com imprecisões às solicitações do governo
central sobre a situação das terras. Um vasto patrimônio do Estado, urbano
e rural, passou então para a esfera privada. [...] A promulgação da Lei das
Terras teve, contudo, maior impacto sobre a ordenação das ruas e casarios
nos núcleos urbanos, já que ela distingue pela primeira vez na historia do
país, o que é solo público e o que é solo privado. (Maricato, 2005:23).

A importação da mão de obra européia em substituição aos escravos, os


quais foram colocados em “liberdade” para sobreviverem e venderem a sua força de
trabalho os deixando a sua própria sorte. O projeto de urbanização no Brasil excluía
principalmente o negro, como também os pobres. Assim, a importação da proposta
européia de urbanização, incluindo seu contingente de operários, para uma possível
adaptação aqui no Brasil gerou uma maior concorrência, dificultando ainda mais a
realocação laboral dos libertos oriundos do antigo regime escravagista. Conforme
relata Campos (2005:45). “[...] a construção de um país onde os padrões da cultura
europeia fossem levados às últimas consequências, e o negro, a bem da verdade,
não fazia parte desse projeto”.

Fomentando a ideia de que o Brasil desenvolveu-se pautado na


desigualdade social, racial e econômica, a disparidade do acesso do trabalhador
22
negro em detrimento ao branco no mercado de trabalho era visível, assim extraímos
que,

Esses indivíduos tiveram de se sujeitar ao trabalho mal remunerado da


agricultura em regime de semi-escravidão ou migrar para a cidade para
viver nos quilombos periurbanos ou naqueles que se localizavam nas
freguesias rurais. Sobre a concorrência efetuada pelos trabalhadores
europeus, SODRE (op. Cit. p.41) opina que a facilitação da entrada de
imigrantes no país – de 1.125.000 entre 1891 e 1900 – foi uma decisão
contra o negro: a concorrência estrangeira viria prejudicar em muito o
acesso de ex-escravos às vagas oferecidas pela indústria e pelo comércio.
Tratava-se de uma decisão político-cultural, com uma lógica orientada pelo
reforço da aparência branca da população urbana. (Campos, 2005:48).

A exclusão do negro ao acesso a terra, a segregação racial e social ficavam


evidenciadas por medidas adotas pelo Estado no período Imperial. Por conseguinte,
quem legislava e ditava as regras para o convívio em sociedade era a elite de
fazendeiros (“coronéis”), pois estes, a cada decreto excluíam a massa negra e pobre
do acesso a terra e enriqueciam seu pequeno grupo com medidas que favoreciam
claramente o acúmulo de terra e a exploração dos trabalhadores.

[...] esses mesmos fazendeiros, em sua maioria também políticos residentes


na cidade, votavam as leis que excluíam ou dificultavam o acesso do negro
ao mercado de trabalho das indústrias emergentes. (Campos, 2005:49).

A condenação carregada por ser negro não foi suprimida pela revogação da
escravidão e sim foi um processo que evoluiu juntamente com a urbanização
brasileira, afastando cada vez mais o negro das oportunidades reais de
desenvolvimento social. O mesmo foi excluído tanto do acesso da riqueza como do
acesso aos mais simples e diversos direitos. Em certos momentos tratados ainda
como objeto de troca, ou simplesmente como uma “coisa”. Como ainda relata
Campos (2005:49) “Na sociedade ‘branca’ o mulato é um homem livre,
estigmatizado pelas marcas raciais de ‘outro’ grupo, daqueles que foram escravos”.

Resquícios dos traços da escravidão, discriminação em virtude da cor da


pele persistem no momento pós-abolição, os negros eram considerados como o
“Outro”. Para alguns autores naquele período, os negros ainda eram como praga, e

23
também como não iguais, mesmo sendo considerados “livres”; “[...] porém, o “Outro”,
não de forma clara, continuou muito diferente, não somente na cor, mas em todas as
atividades, considerados , quase sempre, como inferiores”.(Campos,2005:50).

1.4 – Processo de aglomeração urbana: Construção do


espaço denominado favela, diferenciação do espaço ocupado por
ricos e pobres.

Ainda continuaremos no século XIX para tratarmos do processo de


aglomeração do espaço urbano, processo este que foi consumado e baseado na
desigualdade, exclusão, marginalização dos negros e dos desprovidos causando a
exponenciação da segregação e criminalização desta população ficando à margem
de direitos durante todo o processo de urbanização brasileiro: ainda utilizando a
cidade do Rio de Janeiro como exemplo de urbanização.

As primeiras favelas do Rio de Janeiro datam da virada do século XIX para


o XX. Nesse caso, o marco seria o Morro da Providência, onde surgiu o
“morro da Favella”. Alguns autores reconhecem o ano de 1897 como um
marco dessa forma específica de ocupação dos morros cariocas, chamando
a atenção a densidade populacional e às casas construídas por seus
próprios donos. (Ferreira, 2008:4).

O surgimento dessa nomenclatura “Morro da Favella” para esta ocupação se


deu por conta da ocupação de soldados da Guerra de Canudos5 cerca de 10 mil
soldados que vieram para a capital federal, Rio de Janeiro, com a promessa de que

5
Guerra de Canudos, que ocorreu um pouco depois do período republicano, entre 1896 e
1897. Este movimento foi um movimento de resistência ao novo regime, o republicano,
separando o Estado da Igreja, o que deixou indignando vários fanáticos religiosos, dentre eles
Antonio Conselheiro, um cenário de penúria, junto ao fanatismo religioso no nordeste e em
todo o país evidenciaram movimentos populares deste tipo.

24
lhe seriam fornecidas habitações e que ali se alojassem, de forma provisória,
reverenciando esta ocupação com nome de “morro da favela”, haja vista em que tais
morros, semelhante aos de Canudos, eram revestidos de um arbusto de nome
“Favela”.

Já presente embrionariamente desde 1897, quando foi dada a autorização


para que os praças retornados da campanha de Canudos ocupassem
provisoriamente os morros da Providencia e Santo Antônio, esta forma de
ocupação dos morros logo se revelou a solução ideal para o problema da
habitação popular do Rio de Janeiro. De local de moradia provisório, esses
morros na área central logo foram transformados em opção de residência
permanente. (Abreu, 1992:90 apud Campos, 2005:58).

Além dessas aglomerações destinadas para população com menor poder


aquisitivo (“Favelas”), existiam também ocupações nas áreas centrais da cidade, os
cortiços, que eram um ambiente marginalizado ocupado por pobres e negros. A
estrutura, nesses cortiços eram precárias para o desenvolvimento humano, porém
uma área de grande atratividade econômica por estarem localizadas na área central
da cidade e próximo das áreas de maior empregabilidade do município.

As condições de higiene sempre foram precárias no Rio de Janeiro [...]. O


núcleo urbano denso e apertado, cercado ainda de mangues e de terrenos
paludosos, cortados por enormes quantidades de valas que, por estarem
constantemente entupidas por dejetos lançados pela população, não
conseguiam escoar a água da chuva [...]. Para isso contribuía também a
proliferação das habitações coletivas pela cidade, especialmente o ‘cortiço’.
Este tipo de habitação caracterizava-se pela disposição de uma
multiplicidade de quartinhos em volta de uma área aberta que, entretanto,
era mantida quase constantemente encharcada, já que era ali que
lavadeiras [...] faziam seu trabalho. (Campos, 2005:53 apud Abreu,
1988:68).

Segundo Campos (2005:53), neste período cerca de 50% da população


residiam em cortiços. Para termos ideia da relevância desse tipo de moradia para
uma cidade como a do Rio de Janeiro, estas moradias concentravam-se nas áreas
centrais da cidade, atingindo posteriormente altos valores para sua revenda,
atraindo a atenção de diversos investidores, sendo um espaço valorizado e
consequentemente não pertencente àqueles que não detinham capital.

25
Além de o Estado tentar impedir a existência de cortiços na área central da
cidade, havia o problema dos altos preços alcançados pelos terrenos
disponibilizados que impediam uma ocupação mais efetiva pelas classes
populares. (Campos, 2005:52).

Esta espécie de ocupação absorvia um grande contingente populacional nas


áreas centrais e os seus residentes eram constituídos da camada pobre da
população. Com isso a ocupação dos espaços urbanos ocorreu de forma intensa no
século XX, agravando ainda mais as desigualdades impostas por este processo de
urbanização, ou também das chamadas reformas dos centros urbanos, isolando as
camadas populares desse processo.
O que era uma área de pouca atratividade para os investimentos tornou-se
um chamariz para diversos investimentos do setor imobiliário e da construção civil. O
Estado se posiciona politicamente mais uma vez para exclusão dos desvalidos ao
acesso a seus direitos, em detrimento de interesses do capital; a expulsão dos
negros e pobres para áreas longínquas do perímetro urbano ocorre com a
camuflagem de “higienização” da cidade, coibindo a organização habitacional em
formas de cortiços, e destruindo os aqueles já existentes e impedindo a construção
de outros.

Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das


epidemias, ao mesmo tempo em que se promovia o embelezamento
paisagístico e eram implantadas as bases legais para um mercado
imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era
expulsa para os morros e franjas da cidade. Manaus, Belém, Porto Alegre,
Curitiba, Santos, Recife, São Paulo e especialmente o Rio de Janeiro são
cidades que passaram por mudanças que conjugaram saneamento
ambiental, embelezamento e segregação territorial, nesse período.
(Maricato, 1997:17).

Por volta de 1866, concebeu-se esta ideologia de higienização, segundo


Campos (2005:53), e sendo esta posta ação em 1873, quando as pressões dos
grupos dominantes tiveram resultado, não sendo mais permitidas as construções
dos cortiços na área central da cidade do Rio de Janeiro, restringindo
definitivamente este tipo de moradia.

26
Não serão mais permitidas as construções chamadas ‘cortiços’ entre as
praças D. Pedro II e Onze de Junho e todo o espaço da cidade entre as
ruas do Riachuelo e Livramento [...] Outra postura reforçaria a proibição,
esclarecendo que a interdição à construção de cortiços valia mesmo quando
os proprietários insistiam em chamá-los de ‘casinhas’ ou com nome
equivalente. (Chalhoub, 1996: 33 apud Campos, 2005:53).

É salutar também lembrar que as favelas, ou cortiços, tornaram-se um


espaço de moradia constituído por ex-escravos e pobres: “[...] a restrição do acesso
à terra pelos ex-escravos, que, na falta, também procuraram a cidade em numero
cada vez mais significativo em busca de trabalho e de moradia. “(Campos,2005:58).
Assim, exclusão do acesso a terra trouxe um grande fluxo para os centros
urbanos. Os alforriados buscavam vender sua força de trabalho em igualdade com
os demais trabalhadores, mas sempre sem sucesso.
Com a extinção dos cortiços, esta camada da população migrou, na verdade
expulsa, para as favelas, esta abrigou um enorme contingente. A falsa ideia de
emprego nos grandes centros atraiu diversas pessoas do país, os centros
econômicos foram polarizados no centro-sul do Brasil, atraindo os escravos para
estes locais.
A predominância do Centro-Sul, pra onde o eixo econômico se deslocara a
partir do ciclo do ouro, se consolida com o café. Mais de 100 mil escravos
são transferidos do Nordeste para essa região, entre 1850 e 1880. Melhora
a comunicação entre os centros urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. (Maricato, 1997:25).

Rio de Janeiro e São Paulo tiveram um grande adensamento habitacional


em suas áreas urbanas (centrais), em especial no final do século XIX: um aumento
populacional, somado a desestruturação urbana para acomodação desta tamanha
demanda, ocasionou a exposição de várias problemáticas que acompanham a
história da urbanização do Brasil.

Entre 1887 e 1900 nele (Estado de São Paulo) entraram 599 pessoas que
vinham principalmente da Europa. A cidade de São Paulo cresceu 3% entre
1872 e 1886,8% entre 1886 e 1890 e 14% entre 1890 e 1900. O processo
migratório era tão intenso que, em 1920, a maioria absoluta da população
de São Paulo era Italiana. [...] No Rio de Janeiro, para onde acorreram
muitos escravos libertos das fazendas decadentes, a população quase
dobrou entre 1872 e 1890. O crescimento urbano acarretou uma demanda
por moradia, transporte e demais serviços urbanos até então inédita. Em
1861, 21. 929 pessoas, de uma população de 191.002, viviam em cortiços.
Em 1888 esse número foi para 46.680. A concentração da pobreza, a
27
ausência de saneamento básico, o desemprego, a fome, os altos índices de
criminalidade, as epidemias, a insalubridade e o congestionamento
habitacional nos cortiços e casa de cômodo como degradantes e imorais, e
ameaças à ordem pública. (Maricato, 1997:26-27).

Nesta tabela, apresentada por Maricato (1997:27) podemos visualizar de


forma quantitativa a ocupação do solo urbano brasileiro, em suas maiores cidades.

Tabela: 1 : Evolução demográfica urbana.

1872 1890 1900


Rio de
Janeiro 274.972 522.651 691.656
Salvador 129.409 174.412 205.813
Recife 116.671 111.556 113.106
Belém 61.997 50.064 96.560
São Paulo 31.385 64.934 239.820
Fonte: Anuário estatístico de 1912. Rio de Janeiro, 1916.

Tamanha concentração urbana causou medidas que seriam paliativas, como


o surgimento de ocupações nos morros (favelas). Uma das teorias do surgimento
das favelas no município do Rio de Janeiro coloca em evidência a política
habitacional destinada para os pobres e negros, logo depois do retorno dos
combatentes, os quais perderam o território onde residiam, foi à alocação provisória
destes em áreas próximas ao Ministério da Guerra, em áreas de pouco valor
comercial, que iniciaram as políticas habitacionais direcionadas para a camada mais
pobre da população.

[...]o acampamento nas proximidades do Ministério da Guerra foi a solução


provisória, assim como provisória foi a ocupação dos cortiços e das
encostas da área central. [...] favela e cortiço como lugares de moradia dos
mais pobres, escrevem que as casas de tijolos são escassas, insuficientes
para abrigar boa parte da população, obrigada a habitar em favelas ou
cortiços. Campos (2005:57).

Esta medida provisória, como é de conhecimento, tornou-se definitiva em


alguns pontos da cidade, como medida alternativa direcionada para esta fração da
28
população (ocupação em favelas), é comprovado o descaso do Estado para com
estes, neste período não existe política social de habitação destinada a esta parcela
da população, os mesmos são obrigados utilizarem como alternativa se aventurarem
em ocupações em áreas insalubres, terrenos abandonados e íngremes, encostas e
etc. Entretanto, neste momento estão longe do alcance da cidade formal onde não
podem incomodar ou deixar a cidade feia, sendo esta uma oportunidade de
segregação e marginalização dos citados.
As reformas urbanas na cidade do Rio de Janeiro confirmaram ainda mais
que o destino da ocupação dos morros cariocas, os quais estavam destinados a
grande massa de negros e pobres.

[...] o mesmo crescimento urbano acelerado que levou à proliferação de


loteamentos nas encostas dos morros no final do século XIX tornou também
inevitável a sua posterior ocupação pelos mais pobres, principalmente
disperso pela reforma urbana realizada na cidade, no inicio do século XX,
que redefiniu os usos e as funções da área central, retirando dela a
responsabilidade de dar abrigo às classes mais pobres da sociedade.
(Abreu,1988 apud Campos, 2005:57).

Estas reformas foram ocasionadas pelos interesses de estruturação da


cidade para o aporte do capital, as reformas moldaram a cidade para os meios e fins
econômicos deixando de lado todos aqueles que foram protagonistas desta, e
também o sustentáculo para criação do espaço urbano, estes foram excluídos, pois
suas moradias eram consideradas como nocivas estas avaliações foram embasadas
no ideário higienista: “[...] os hábitos de moradias coletivas seriam focos de
erradicações de epidemias, além de, naturalmente, terrenos férteis para a
propagação de vícios de todos os tipos.” (Chalhoub, 1996a: 29 apud Campos,
2005:60).
O espaço urbano carioca, talvez em todo o Brasil, foi construído de forma a
favorecer sempre ao capital, se adequando as necessidades deste, deslocando
forçadamente a população dos cortiços e favelas, áreas de que passaram a ser de
interesse comercial.

Entendemos como desconstrução do espaço favelado a ação do Estado


associada aos interesses da classe dominante, quando esses dois agentes

29
impõem, de maneira compulsória, o deslocamento forçado da população
mais pobre de uma determinada área da cidade, visando reassenta-la em
áreas distantes. Essa política visa, tão somente, à valorização da área
desocupada para futuros empreendimentos, sejam eles públicos ou
privados. Dessa maneira, o que era considerado depósito de entulho
humano (os espaços supracitados) é agora valorizado em função do
interesse que grupos hegemônicos têm pela área. (Campos, 2005:66).

Estas decisões de remoções realizadas pelo Estado, sempre foram


camufladas sob a questão da saúde (insalubridade), ou então, o cerne é a questão
ambiental, para assim dissimular o real interesse e captar apoio da população para
tais medidas arbitrárias.

A questão da higiene foi fundamental para justificar a construção capitalista


no espaço do Rio de Janeiro, colocando-se, em nome do bem comum
(quase de todos), a necessidade de afastar da área central grande parte
dos cortiços que abrigavam os negros egressos da escravidão e, em menor
proporção, outros segmentos sociais. Posteriormente, entrou em cena o
“risco” ambiental, quando foram removidas (desconstruídas) centenas de
favelas. (Campos, 2005:71).

A reforma urbana de cunho higienista e de recorte capitalista, principalmente


na cidade do Rio de Janeiro, que foi apresentada como ideia central para uma
urbanização exclusivista das grandes cidades no Brasil, ficando o que é a prioridade
para o Estado, consistindo em adequar o espaço urbano para aporte ou atração do
capital estrangeiro, foram tomadas medidas como: a ampliação do porto do Rio de
Janeiro, um dos maiores no começo do século XX, ampliação das ruas e avenidas
para maior facilidade para o escoamento das mercadorias dentre outras medidas em
prol da “evolução” da produção da cidade. A utilização do ideário da “limpeza”
urbana adotado pelo Estado na época, uma decisão política exclusivista.

Para tamanha reforma urbana, através de indicação direta do presidente do


Brasil, Rodrigues Alves em 1902, foi nomeado o Engenheiro Francisco Passos,
como prefeito do Distrito Federal, Rio de Janeiro.

Esta indicação trouxe poderes decisórios e concentração do poder para as


mãos do Prefeito, a realização de uma reformulação, leia-se expulsão dos pobres,
foi realizada de maneira muito efetiva.
30
Foram construídos 120 novos grandes edifícios no lugar de 590 prédios
velhos em apenas vinte meses. As famílias pobres eram despejadas sem
complacência dos cortiços ou “cabeças-de-porcos” (casas cujos cômodos
eram repartidos por várias famílias) localizados nas áreas centrais. O rápido
crescimento populacional urbano sem o acompanhamento de serviços de
saneamento foi a causa de epidemias – cólera, febre amarela – que
tomavam conta da cidade. (Maricato, 1997:28).

A estruturação de uma modernização urbana que se apresenta como


segregadora, que investe na cidade dos grandes capitais e deixa de lado a base
motriz de todo este desenvolvimento econômico, a classe trabalhadora, as quais são
isoladas e expulsas das áreas que já ocupavam, estes espaços que interessam
comercialmente, para serem alocados sem estruturação em diversas áreas de
pouco valor e de alto risco para ocupação humana.

[...] o urbanismo que iria se consolidar durante todo o século XX no Brasil: a


modernização excludente, ou seja, o investimento nas áreas que constituem
o cenário da cidade hegemônica ou oficial, com a consequente segregação
ou diferenciação acentuada na ocupação do solo e na distribuição dos
equipamentos urbanos. [...] a cidade da Republica separa o trabalho do
ócio. Expulsa os negros e brancos pobres para as periferias, para os
subúrbios, para os morros ou para as várzeas. [...] A cidade oculta o
trabalho e segrega o trabalhador. (Maricato, 1997:30).

Uma diversidade de regimentos que proíbem a construção de cortiços, pelo


menos em áreas formais da cidade, são elementos contributivos para o principio de
um mercado muito lucrativo, o mercado imobiliário e construtor.

Diversas exigências como plantas, posse legal do terreno, dentre outras


requisições estimulam a exclusão dos pobres para os subúrbios e morros, onde a
lei e o interesse deste mercado não existiam.

Os códigos de posturas de São Paulo (1886) e do Rio de Janeiro (1889)


tornam proibitiva a construção de cortiços nas áreas centrais, que proliferam
então nos subúrbios já existentes, ao lado da pratica da autoconstrução da
moradia. As favelas, que irão marcar a realidade urbana do Rio de Janeiro
desde o começo até o final do nosso século, instalam-se, inicialmente nos
morros mais próximos do centro. (Maricato, 1997:30).

31
Ainda Segundo Maricato (1997:30), a questão da expansão do transporte
urbano foi essencial para a ligação da área central até o subúrbio, principalmente o
transporte ferroviário, expandindo a cidade para as proximidades de onde se
passavam as linhas férreas.

Onde existe uma maior proximidade, ou ainda, se tem infraestrutura (água,


esgoto, praças e etc.), o preço da terra ou imóvel se torna maior do que em outros
espaços, ou seja, as terras em áreas estruturadas são de acesso restrito, pois seu
valor especulativo de mercado passa a se tornar enorme, assim sendo, mais uma
vez, mercadoria cara e de luxo para poucos.

Como parte desse valor vem dos investimentos públicos aplicados nas
obras urbanas, é fundamental, para os proprietários de terra e para o
nascente capital imobiliário, o controle sobre os recursos públicos. Na
construção das obras urbanas coletivas, as empreiteiras que começam a
substituir profissionais autônomos garantiam, frequentemente, o
financiamento. Inicia-se uma articulação pela qual passarão, nas próximas
décadas, as mais importantes decisões sobre a produção do espaço
urbano. Ela vincula os proprietários de terra e imóveis, capitais imobiliários,
construtoras, parlamentares e governantes e as concessionárias de
serviços públicos contratadas por capital estrangeiro. (Maricato, 1997:31).

Como observamos, o gerenciamento do Estado no enfrentamento das


questões sociais vivenciadas pela classe trabalhadora ocorre de forma pontual, ou
inexistente, o controle social é efetivado de forma repressiva, tratando a questão
social habitacional, ou outra qualquer, como caso de polícia.

O controle exercido pelo Estado sobre os grupos menos favorecidos é, em


geral, expresso pela marca da violência com que são tratados os mais
pobres. Hoje início do século XXI, mudaram as estratégias, mas a questão
dos mais pobres continua como uma questão policial. Neste caso estamos
nos referindo à violência tácita,seja na ocupação do espaço, seja na ação
coletiva, onde a repressão é a melhor arma para a negociação entre o
Estado e os desvalidos da sociedade. (Campos, 2005:64).

Além do poder repressivo exercido pelo Estado, este também exerce um


poder, que segundo Campos (2005:64), intelectual e cultural que é incontestável e
influência diretamente no cotidiano da classe trabalhadora.

32
[...] grande parte dos grupos subalternos encontrava-se fora da escola e à
margem da sociedade, as instituições (escola, igrejas, clubes) serviram
como meio de reproduzir os valores que manteriam os grupos considerados
subalternos em condição de precariedade de vida durante todo o século XX.
(Campos, 2005:64).

A esfera Estatal acaba por endossar o ideário da classe dominante, com


ideias e estigmas discriminatórios e segregacionistas direcionados para as classes
mais pobres, como também, em sua área de convivência e habitação.

Como a favela, ainda hoje, está umbilicalmente ligada à questão do “risco”,


as classes dominantes criam, em cada momento, um discurso que vinha
dando sustentação às suas práticas sócio-espaciais, baseando-se quase
sempre nos ideários discriminatórios e segregacionistas. A questão da
higiene foi fundamental para justificar a construção capitalista no espaço do
Rio de Janeiro, colocando-se, em nome do bem comum (quase de todos), a
necessidade de afastar da área central grande parte dos cortiços que
abrigavam os negros egressos da escravidão e, em menor proporção,
outros segmentos sociais. Posteriormente, entrou em cena o “risco”
ambiental, quando foram removidas (desconstruídas) centenas de favelas.
Atualmente, vê-se a sociedade buscar soluções contra o “risco” da
segurança pública, principalmente no que tange ao tráfico de drogas e
varejo. (Campos, 2005:71).

As decisões políticas são tomadas á favor de uma cidade apta para o aporte
do capital, em detrimento da exclusão ou afastamento da classe operária, ou pobre,
esta cidade formal ganhará formato que evidência ainda mais o fortalecimento do
capital imobiliário, construtores, investidores internacionais e etc.

1.5. Brasil de grande déficit habitacional e mercantilização


dos Direitos.

Um grande problema que há de ser enfrentado para a existência de uma


urbanização igualitária e de alcance a todos, é o déficit habitacional, um dos maiores
problemas ocasionados por uma urbanização de viés capitalista em detrimento de
grandes lacunas apresentadas na política pública de habitação, Boulos (2012:13)
tipifica os déficits:
33
[...] o quantitativo (número de famílias que não tem casa) e o qualitativo
(número de famílias que moram em situação extremamente inadequada).
Estes dois dados juntos formam o quadro do problema habitacional
brasileiro.

Ainda segundo Boulos (2012:13), que se utiliza de dados relacionados a


estudos realizados pela Fundação João Pinheiro (2007/2008), dados estes que são
utilizados pelo Governo os quais apontam um déficit quantitativo de 6.273.000
famílias, algo no entorno de 22 milhões de pessoas que não tem moradia.

Até o momento somente foram apresentados números que dizem respeito


ao déficit quantitativo de moradias, para agravamento destes dados já relacionados
ainda temos o déficit habitacional qualitativo, onde são sinalizadas as moradias com
o mínimo de conforto para os seus habitantes, como nos apresenta Boulos
(2012:14):

[...] o problema se completa com o chamado déficit habitacional qualitativo,


que refere-se à inadequação das condições básicas para uma vida digna.
Este número é maior que o anterior: são quase 15.307.406 famílias nesta
situação, isto é, cerca de 53 milhões de pessoas. Ou seja, quase 1/3 dos
brasileiros sofrem com a falta de condições mínimas de moradia digna.

Os problemas que atingem a maior camada das famílias citadas são a falta
de diversos serviços básicos para manutenção ou ausência de uma moradia salubre
com condições ideais para habitação, dentre estas necessidades estão: inexistência
de luz elétrica, esgoto, água encanada, coleta de lixo, como também, o grande
adensamento das residências, ficando caracterizada uma grande concentração
pessoas por um espaço ínfimo.

Os principais atingidos por uma inexistência de uma política pública de


habitação igualitária e eficaz são os trabalhadores e os mais pobres que são cada
vez mais excluídos do acesso às cidades formais e buscam como alternativa a
ocupação em áreas de risco e de menor valor de mercado.

34
Os brasileiros que sofrem com o problema de moradia- seja pela falta, seja
pela inadequação das casas ou ausência de serviços básicos – são os
trabalhadores mais pobres, em especial aqueles que vivem nas periferias
urbanas. Os dados mostram 90% das famílias que não tem casa no Brasil
vivem com renda menor que 3 salários mínimos por mês. (Boulos, 2012:15).

Apesar dos dados apresentados citando a ausência de moradias no Brasil,


essa idéia pode ser desmentida a seguir:

[...] são 6.273.000 de famílias que não tem casa nos país. Problema muito
grave, principalmente quando a mesma pesquisa nos mostra que existem
7.351.000 de imóveis vazios, sendo que 85% deles teriam condições de
serem imediatamente ocupados por moradores. Ou seja, há mais casas
sem gente do que gente sem casa. Em tese, nenhum imóvel precisaria ser
construído para resolver o problema habitacional do Brasil. (Boulos,
2012:17).

Com estes dados confirma-se que não existem habitações disponíveis


somente para a camada mais pobre da população, ou seja, uma política pública
habitacional de um Estado conivente com o capital imobiliário, tratando um direito
assegurado em constituição à todos como uma mera mercadoria excluindo uma
grande parcela da população ao seu acesso, caracteriza-se como um produto de
grande valia e de enriquecimento de grandes construtoras e especuladores
imobiliários.

A moradia não é tratada ou entendida como um direito, como deveria, e sim


como uma mercadoria para quem for capaz de realizar a sua compra via mercado
imobiliário.

[...] Entender a moradia como direito significa pensa-la a partir da


necessidade e do uso. Ao contrário, a lógica capitalista dominante trata a
moradia – e todos os “direitos” sociais – a partir do valor medido em
dinheiro, o valor de troca. Para o capital, pouco importa se há gente
precisando de moradia, importa se há quem possa pagar por ela e trazer
lucro às construtoras e donos de terra. Tudo é transformado em mercadoria,
independente das necessidades sociais. Se não fosse assim, seria
inexplicável haver tantas casas vazias ao lado de tanta gente sem-teto.
(Boulos, 2012:18).

35
O direcionamento das políticas públicas sociais habitacionais
brasileiras foram direcionados à atender o mercado imobiliário e construtores,e
consequentemente a classe média emergente, como também, os ricos, restando ao
trabalhador apenas ocupar áreas de risco, alugueis de longos períodos, dentre
outras medidas de sobrevivência e resistência.

Segundo Boulos (2012:18), se o Estado cumprisse o seu dever de


garantir os direitos de moradia, dentre outros, iria interferir diretamente no mercado,
seja ele imobiliário ou outro qualquer, por exemplo, o educacional, o investimento na
criação de escolas de qualidade iria interferir diretamente no mercado lucrativo de
escolas particulares, deixando de gerar lucros instituições particulares de ensino, e
para outros investidores.

1.5.1 - Políticas Habitacionais de Cunho Mercantil: BNH ao


Minha Casa, Minha Vida.

Os primeiros programas habitacionais que foram gerenciados pelo Estado,


emergem sob o nome de SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e BNH (Banco
Nacional da Habitação), programas criados para conquistar a simpatia ao regime
militar, pois bem, o principal objetivo destes seria o de sanar o déficit habitacional,
qualitativo ou quantitativo, entretanto, já em sua nomenclatura identificamos sua
caracterização capitalista e financeira, “Banco”, qual seria o comprometimento de
um “Banco” com uma população sem renda para financiar suas moradias? Podemos
observar em Boulos (2012:19) o que representaria a inserção de um Banco como
gestor de uma política habitacional.

Os programas habitacionais desenvolvidos pelo Estado brasileiro não


representaram jamais um contraponto à lógica de eliminação da moradia
como direito. Ao contrario: aprofundaram o caráter excludente e mercantil
desta lógica.

36
Este projeto de programa público de habitação surgiu em 19646, com o já
citado BNH que teve grande aporte financeiro do Estado, entretanto, sua gestão
capitalista e bancária não atingiu aos que necessitavam diretamente dele, isto é, a
camada mais pobre da população, esta política foi direcionada para o capital
imobiliário, caracterizando uma gestão puramente financeira da política social de
habitação.

Isso ocorreu por conta da lógica bancária e empresarial do BNH. Não havia
praticamente nada de subsídio, isto é, o valor completo do imóvel tinha que
ser pago pelo mutuário do programa. Além disso, as prestações eram
elevadas e seguiam as normas de crédito bancário privado. (Boulos,
2012:19).

A subordinação do Estado aos ditames capitalistas fundamentaram a


construção do espaço urbano brasileiro, superando a necessidade real de
superação do déficit habitacional, além da crescente aglomeração urbana
fundamentada nesta lógica excludente do acesso a moradia através do mercado.

Este será um processo em que a população urbana do Brasil saltará de


31,3%, em 1940, para 74,8%, em 1991, a maioria ligada ás classes
populares, que para a lógica da “cidade do capital” não constituem demanda
para políticas urbanas, o que irá gerar um espaço urbano extremamente
fragmentado e excludente (Botega, 2008:2).

A formação urbana brasileira foi fundamentada nestes moldes, os quais


excluíam aqueles que não detinham capital para obtenção da mercadoria habitação,
aprofundando as desigualdades, a segregação sócio-espacial das camadas
populares que acabavam por se utilizar como instrumento de resistência a ocupação
de terrenos nas áreas periféricas da cidade formal.

[...] o principal recurso que historicamente as classes populares têm


buscado para suprir a crise de habitação, qual seja, a ocupação de terrenos
vazios que, no caso do Rio de Janeiro, eram os subúrbios e as encostas
dos morros. (Botega, 2008: 4).

6
Lei nº 4 380/64 de 21 de agosto de 1964.

37
O grande crescimento urbano somado as políticas de habitação
capitalista excludentes contribuíram substancialmente para o agravo da questão
social que circunda esta política, podemos observar na tabela a seguir o crescimento
urbano em detrimento da diminuição da população rural.

Tabela: 2 - Alocações da população brasileira entre 1940 e 1991.

População
Década População
Rural em
de: Urbana em %
%
40 31,2 68,8
50 36,2 63,8
60 45,4 54,6
70 55,9 44,1
80 67,7 32,4
E 1991 24,5 24,5
Fonte: IBGE.

Através dos dados expostos na tabela anterior podemos notar que as


décadas de 50 e 60 foram os momentos cruciais para construção das políticas
voltadas para área de habitação e urbanização por ser um período de grande êxodo
rural e migração para o espaço urbano, um momento político de maciço
investimento na área industrial e urbana.

O BNH, que deveria construir moradias de interesse social para atingir a


camada popular da sociedade brasileira, foi gerido sob lógica de mercado e
adaptou-se a sua demanda, reorientando os investimentos ou créditos para a classe
média alta, excluindo a maioria da população deste financiamento, apesar da
utilização do FGTS (Fundo de Garantia e Tempo de Serviço) como mecanismo de
arrecadação, configurando um dos maiores bancos do Brasil durante todo o seu
funcionamento.

A política habitacional, SFH/ BNH, ligados intimamente ao mercado


imobiliário sofreu um grande abalo diante às crises inflacionárias da década de
1980. Segundo Botega (2008:9), a grande inflação decorrente desta crise fez o

38
poder de compra do salário diminuir consideravelmente, principalmente atingiu ao
novo público alvo desta política, a classe média, a qual elevou o índice de
inadimplência tendo atingido 54,6% dos mutuários.

Apesar dos números que mostraram grande aporte financeiro para a política
de habitação, não foi o suficiente para o suprimento da grande demanda de
ocupação urbana.

Embora a produção habitacional tenha sido significativa, ela esteve muito


aquém das necessidades geradas pelo acelerado processo de urbanização
que ocorreu no Brasil, na segunda metade do século XX. Entre 1950 e
2000, a população urbana brasileira vivendo em cidades com mais de 20 mil
habitantes cresceu de 11 milhões para 125 milhões. No período de
funcionamento do BNH (1964-86), foram financiadas cerca de 25% das
novas moradias construídas no país, porcentagem relevante, mas
totalmente insuficiente para enfrentar o desafio da urbanização
brasileira.Não seria razoável exigir que o Sistema Financeiro da Habitação
pudesse financiar a construção de unidades prontas na dimensão
necessária. Mas uma análise crítica mostra que um dos grandes equívocos
foi voltar todos os recursos para a produção da casa própria, construída
pelo sistema formal da construção civil, sem ter estruturado qualquer ação
significativa para apoiar, do ponto de vista técnico, financeiro, urbano e
administrativo, a produção de moradia ou urbanização por processos
alternativos, que incorporasse o esforço próprio e capacidade organizativa
das comunidades. Em conseqüência, ocorreu um intenso processo de
urbanização informal e selvagem, onde a grande maioria da população, sem
qualquer apoio governamental, não teve alternativa senão auto-
empreender, em etapas, a casa própria em assentamentos urbanos
precários, como loteamentos clandestinos e irregulares, vilas, favelas,
alagados etc., em geral distantes das áreas urbanizadas e mal servidos de
infra-estrutura e equipamentos sociais. (Bonduki, sd, 70).

O sistema habitacional brasileiro foi baseado somente na construção de


novas unidades habitacionais, ou seja, adotou a casa própria como o único meio de
acesso a moradia, o que visivelmente beneficiou e gerou uma grande riqueza para a
indústria da construção civil, deixando de lado alternativas que dizem respeito à
construção da moradia, como, desapropriação de prédios abandonados, reforma
para moradias com pouca estrutura e etc.

Contribuiu também para a queda ou quebra do Banco Nacional de Habitação


(BNH), como também do Sistema Nacional de Habitação (SFH), os vários casos de
corrupção foram mascarados pela inflação do período. O fim deste projeto de

39
financiamento habitacional se dá em 19867, sendo a política habitacional
incorporada pela Caixa Econômica Federal.

Com o fim do BNH, perdeu-se uma estrutura de caráter nacional que, mal
ou bem, tinha acumulado enorme experiência na área, formado técnicos e
financiado a maior produção habitacional da história do país. A política
habitacional do regime militar podia ser equivocada, como já ressaltamos,
mas era articulada e coerente. Na redemocratização, ao invés de uma
transformação, ocorreu um esvaziamento e pode-se dizer que deixou
propriamente de existir uma política nacional de habitação. Entre a extinção
do BNH (1986)e a criação do Ministério das Cidades (2003), o setor do
governo federal responsável pela gestão da política habitacional esteve
subordinado a sete ministérios ou estruturas administrativas diferentes,
caracterizando descontinuidade e ausência de estratégia para enfrentar o
problema. (Bonduki, sd, 75-76).

Após este período surgiram outras políticas habitacionais, não da mesma


importância e amplitude do BNH, dentre elas, COHAB’s (Companhias Estaduais de
Habitação). Entretanto, o primeiro governo pós-ditatura - em 1990, quando assumiu
Fernando Collor de Melo, de cunho neoliberal - previa um desmanche das políticas
sociais existentes, entre elas a habitação.

Os principais programas de habitação passaram, com a extinção do


Ministério do Interior, para o controle do Ministério da Ação Social. Entre
estes podemos destacar o Plano de Ação Imediata para a Habitação
(PAIH), que previa a construção em caráter emergencial, de
aproximadamente 245 mil casas em 180 dias através da contratação de
empreiteiras privadas. Novamente um programa habitacional estava
direcionado ao capital imobiliário privado. (Botega, 2008:12).

A mesma característica de mercadoria continuou, aliás, se aprofundou


com o ideário de Estado neoliberal, que tinha como uma de suas premissas a
diminuição da intervenção Estatal sob a economia, menor investimento em políticas
sociais públicas, tornando estas políticas acessíveis através do mercado.

Foram criados alguns programas habitacionais pós-BNH, tais


como:

7
Decreto nº 2291 de 21 de Novembro de 1986.

40
Programa voltado para o poder público, focado na urbanização de áreas de
áreas precárias (Pró-Moradia), paralisado em 1998, quando se proibiu o
financiamento para o setor público e um programa voltado para o setor
privado (Apoio à Produção), que teve um desempenho pífio. Em 1999, foi
criado o Programa de Arrendamento Residencial – PAR –, programa
inovador voltado à produção de unidades novas para arrendamento que
utiliza um mix de recursos formado pelo FGTS e recursos de origem fiscal.
(Bonduki, sd, 79).

Apesar da criação de novos programas habitacionais, estes ainda sim eram


caracterizados como instituições financeiras, neste momento, tendo como uma das
figuras centrais a CEF (Caixa Econômica Federal).

Houveram diversas tentativas de municípios, como também de alguns


Estados, para a supressão da lacuna deixada pela inexistência de uma política
pública de habitação de amplitude nacional, após o fim do BNH. Mas uma política de
grande amplitude só foi retomada no governo do presidente Luiz Inácio da Silva
(Lula), em 2003, e consequentemente a criação do Minha Casa Minha Vida, um
programa de amplitude nacional.

1.5.2 – Momento pós- BNH, Projeto Minha Casa Minha Vida.

Como já foi relatado nenhum outro programa habitacional teve tamanha


abrangência como BNH/ SFH, que tiveram suas atividades encerradas em 1986,
surgindo outras políticas habitacionais todas regionalizadas sob responsabilidade de
instâncias municipais e estaduais e não abrangentes como a anterior.

Com a Constituição de 19888, houveram conquistas significativas,


amparadas em lei, como também, uma descentralização da política pública social,

8
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

41
no quesito habitação, grandes conquistas dos movimentos sociais desta temática,
entretanto, o crescimento do déficit habitacional e grande concentração urbana, e a
necessidade cada vez maior de respostas eficazes para a questão da moradia, eram
o pano de fundo do desenvolvimento urbano.

Ocorre, assim, uma progressiva transferência de atribuições para os


Estados e Municípios, tendo-se como marco a Constituição de 1988, que
tornou a habitação uma atribuição concorrente dos três níveis de governo.
O crescimento da mobilização dos movimentos de moradias ampliou a
pressão por uma maior participação dos municípios na questão da
habitação, pois a consolidação da democracia tornou o poder local o
principal interlocutor das organizações populares e o responsável pelo
equacionamento das demandas sociais, estando em contato direto com os
problemas da população carente. Assim, acentuou-se a tendência de
descentralização dos programas habitacionais. (Bonduki, sd: 77).

Apesar de todo o ganho jurídico sobre a questão habitacional, entretanto,


esta política continuou com suas tradicionais características e consequentes
governos de cunho neoliberal, ainda direcionado para o mesmo grupo, a classe
média e para os ricos.

De uma maneira geral, pode-se dizer que se manteve ou mesmo se


acentuou uma característica tradicional das políticas habitacionais no Brasil,
ou seja, um atendimento privilegiado para as camadas de renda média.
Entre 1995 e 2003, 78,84% do total dos recursos foram destinados a
famílias com renda superior a 5 SM, sendo que apenas 8,47% foram
destinados para a baixíssima renda (até 3 SM)onde se concentram 83,2%
do déficit quantitativo. (Bonduki, sd: 80).

Para situarmos a política habitacional do século XXI, vamos nos basear nos
dados apresentados por Bonduki(Sd: 81), que nos revela a realidade deste momento
crucial que direciona os rumos das políticas urbanas.

Com base no Censo de 2000, a necessidade de novas moradias em todo o


país é de 6,6 milhões, sendo 5,4 milhões nas áreas urbanas e 1,2 milhão na
área rural. Em números absolutos, a maior parte dessa necessidade

Inciso: XXII - é garantido o direito de propriedade; e XXIII - a propriedade atenderá a sua


função social;

42
concentra-se nos Estados do Sudeste (41%) e do Nordeste (32%), regiões
que agregam a maioria da população urbana do país, e dispõem da maior
parte dos domicílios urbanos duráveis [...] sendo que 83,2% do déficit
habitacional urbano está concentrado nas famílias com renda mensal de até
três salários mínimos (US$260).

Ao contrário do que se poderia imaginar o fim do BNH/SFH não mudou a


política habitacional, o seu fim trouxe a tona uma série de políticas regionais
voltadas para as famílias de classe média, como também para as empreiteiras.

Tabela: 3.Déficit habitacional x Faixa de Renda Familiar.

Déficit em
Faixa de renda Milhões Em (%).
de Unidades
Até 3 SM 4.490 83,2
De 3 a 5 SM 450 8,4
De 5 a 10 SM 290 5,4
Acima de 10 SM 110 2
Total: 5.400 100
Fonte: (Bonduki, Sd: 82).

Apesar da criação do Ministério das Cidades9 em 2001, o que poderia elevar


a questão de habitação de mercadoria para direito efetivo, apenas foi um alarme
falso, ou seja, quem coordena e aprova os fundos e investimentos deste ministério
ainda sim é um banco, a CEF (Caixa Econômica Federal), que controla toda política
setorial e mantém a sua característica financista.

Apesar do avanço que representou a criação do ministério, é necessário


ressaltar que uma das suas debilidades é sua fraqueza institucional, uma
vez que a Caixa Econômica Federal, agente operador e principal agente
financeiro dos recursos do FGTS, é subordinada ao Ministério da Fazenda.
Em tese, o Ministério das Cidades é o responsável pela gestão da política
habitacional, mas, na prática, a enorme capilaridade e poder da Caixa,
presente em todos os municípios do país, acaba fazendo que a decisão

9
Lei nº 10.257, de 10 de Julho de 2001.

43
sobre a aprovação dos pedidos de financiamentos e acompanhamento dos
empreendimentos seja sua responsabilidade. (Bonduki, sd,97).

A política de habitação atual, ou o seu programa de escala nacional, surgiu


no ano de 2009 MCMV (Minha Casa, Minha Vida), depois de um longo período de
inexistência, ou de soluções regionais, a questão social habitacional veio à tona em
2009 não por acaso.

O programa foi lançado em fevereiro de 2009, alguns meses depois da


eclosão da maior crise econômica deste século (2008), nos Estados Unidos. O
estouro desta crise teve como pavio exatamente o mercado imobiliário norte-
americano. Foram vendidas muitas casas nos Estados Unidos a crédito, com valores
excessivamente altos, por conta da especulação imobiliária. Com o valor dos
terrenos lá em cima, muitas empresas e bancos viram ai uma oportunidade de
engordar mais ainda seus lucros: emprestavam dinheiro a quem queria comprar uma
casa, tomando o próprio imóvel como garantia de pagamento. No Brasil:

O programa foi desenvolvido com o objetivo central de salvar o capital


imobiliário, injetando 34 bilhões em recursos públicos para empresas
privadas. E neste ponto deu certo: as empresas do ramo puxaram a alta da
Bolsa de Valores de São Paulo em 2009 e atraíram interesses no mundo
todo. Hoje, 75 % das ações das maiores construtoras do país estão nas
mãos de investidores estrangeiros! (Boulos, 2012:22).

Os empreiteiros foram e são os maiores beneficiários do MCMV, pois foram


injetados 34 bilhões, sem o mínimo risco deste investimento, ou seja, o Estado ainda
direcionou e direciona compradores para estes imóveis, caracterizando um grande
negócio para empreiteiras, aliás, estas atraíram o capital estrangeiro na época do
lançamento deste programa habitacional, tornando as empreiteiras aqui no Brasil um
grande negócio global. Como notamos, apesar das trocas de programas
habitacionais, estas mudanças não significam o rompimento com a velha política
habitacional capitalista e afasta ainda mais os pobres do acesso à moradia.

Em relação à população atendida, cerca de 75% do recurso e 60% das


habitações do programa foram destinadas a famílias com renda maior do
que 3 salários mínimos, exatamente porque – se tratando de imóveis mais

44
caros – as empreiteiras ganham mais. Apenas 40% das moradias do
programa são para as famílias com renda menor do que 3 salários mínimos,
o que representa menos de 10% do déficit habitacional nesta faixa de
renda. É um filão que interessa menos às construtoras. (Boulos, 2012:22).

Além dos privilégios já elencados para este grupo, estes ainda realizaram
uma diversidade de aberrações, segundo Boulos (2012:22), este grupo realizou suas
construções em áreas longínquas, ou seja, em áreas de terrenos mais baratos e de
baixo investimento para sua aquisição, isto é, construção de baixa qualidade,
apartamentos pequenos, principalmente para aqueles que detêm uma renda de até
3 salários mínimos. [...] vemos que o Minha Casa, Minha Vida aprofundou, ao invés
de combater, a lógica da moradia como uma mercadoria, que deve dar lucro, e não
como um direito. Aprofundou também o princípio de que o pobre deve morar mal e
em regiões cada vez mais periféricas. (Boulos, 2012: 23).

O isolamento da classe operária nestas áreas não é somente decorrente


destas políticas habitacionais segregadoras que foram construídas historicamente,
além disso, um forte interesse do capital sobre esta temática afasta e coloca
diversos obstáculos para o acesso a moradias nas áreas centrais, elevando ainda
mais a lucratividade de um mercado que valoriza artificialmente os espaços em
detrimento do crescimento vertiginoso da pobreza urbana.

Não é por acaso que os maiores investidores/doadores de campanhas


eleitorais fazem parte deste grupo, a construção da cidade capitalista passa pelo
crivo deste seleto grupo, que tem o intento apenas de aumentar seu patrimônio

45
Capítulo 2 – A Capital Nacional do Petróleo: a construção da
ocupação desigual do espaço urbano de Macaé.

2.1 – Breve histórico do surgimento do município de Macaé.

Para entendermos a atual estrutura de Macaé devemos retomar à alguns


fatos históricos que deram rumo a urbanização do município destacando as suas
reestruturações produtivas durante toda a sua história.

A localidade onde se encontra a cidade de Macaé, no Norte Fluminense,


situa-se em área litorânea contendo um grande potencial marítimo, utilizado como
um porto natural para embarque e desembarque de produtos e pessoas, recursos
utilizados em seu favor desde os primórdios de sua história. A priori, o município,
como em todo o Brasil, se ancorava na exploração de produtos primários e com a
presença das grandes propriedades rurais.

O pequeno arraial em que se constituía Macaé sobrevivia da pecuária, da


agricultura de subsistência, da extração de madeira e da pesca. Nas regiões
interiores (os sertões) predominavam as grandes propriedades que tinham
no Rio Macaé e seus afluentes principal via de transporte (Plano Local de
Habitação de Interesse Social - PHLIS - Macaé, 2010:7).

O território macaense durante muito tempo foi apenas um pequeno arraial


atrelado a Cabo Frio e Campos, a princípio, este território não foi ocupado por conta
da resistência à escravidão dos índios Goytacazes, considerados fortes, perigosos e
arredios. Por conta disso muitos foram exterminados, os poucos que restaram foram
domesticados, ou fugiram do ato covarde que foi cometido por nossos colonizadores
portugueses10.

10
Os habitantes da nova vila exigem a destruição dos nativos da vizinhança e espalham em
seus campos roupas de doentes de varíola, a fim de contaminá-los. A medida desumana não
traz qualquer vantagem aos feitores.

46
No inicio do XIX, foi conseguido a independência de Cabo Frio e Campos,
emancipando o povoado, em 29 de Julho de 1813, para a categoria de vila como o
nome de Villa de São João de Macahé (PHLIS - Macaé, 2010:8).

A transformação da vila em cidade começa por volta de 1837, através de um


processo de urbanização da vila, especialmente orquestrada pelo engenheiro
Henrique Luiz de Niemeyer Belegard, chefe da 4ª Seção de Obras públicas da
província do Rio de Janeiro. Após o processo de organização e reformulação do
espaço urbano a Villa de São João de Macahé foi elevada para a categoria de
cidade.

Assim, os antigos caminhos deram lugar a ruas retas, atendendo aos


anseios dos moradores da vila de verem Macaé urbanizada. Esse projeto foi
aprovado em 1838, abrindo caminho para o reconhecimento de Macaé
como cidade, o que ocorreu em 1846 através da Lei Provincial n º364 de 15
de abril de 1846. (PHLIS - Macaé, 2010:9).

A urbanização ocorreu de forma similar as demais cidades brasileiras, na


passagem da Villa de São João de Macahé para o status de cidade, prevaleceram
às mesmas práticas já realizadas em cidades como a do Rio de Janeiro: a classe
trabalhadora foi isolada em lugares distantes desta “evolução”; a cidade macaense
também foi construída para a elite, na época voltada para comerciantes, agricultores
ou para aqueles que eram aptos e aceitos neste novo formato de cidade.

Nas principais vias de acesso surgiram os casarios e sobrados pertencentes


principalmente a comerciantes, com forte presença de estrangeiros,
profissionais liberais e fazendeiros que mantinham residência na sede da
vila. Os trabalhadores livres, assalariados e escravos forros ocupavam os
espaços menos privilegiados mais distantes do centro comercial (PHLIS -
Macaé, 2010:9).

As reformas urbanas foram um fator condicionante para a elevação do status


de vila para cidade, mostrando os rumos desiguais que pautaram os projetos de
urbanização brasileira (exclusão do proletariado da cidade formal), refletida na mais
nova cidade, Macaé, que neste momento de reforma segrega a classe trabalhadora
desta área central da cidade.

47
No começo do século XX, a principal fonte de empregos da cidade era
ferrovia inglesa Leopoldina Raylway Company Limited (1890-1975), que se
estabelece em 1890. Para suprir a sua demanda de mão de obra, esta empresa, em
1911, fundou o “Liceu Operário da Imbetiba”, que ofertou cursos profissionalizantes
de qualificação para o trabalho ferroviário. Esta empresa durante toda a sua
existência foi protagonista na economia de Macaé, gerando um grande número de
empregos, alavancando a economia local e influenciando politicamente os rumos da
cidade, ou seja, influenciou também diretamente na ordenação urbana da cidade.

Outro fato importante para a crescente urbanização do município macaense


foi que: “A década de 30, no entanto, traz modificações significativas para Macaé,
pois a crise do café afeta a região serrana provocando intenso êxodo rural e o
acelerado crescimento urbano”. (PHLIS – Macaé 2010:10).

Com isso nas décadas posteriores apresentaram números que comprovam a


expectativa do crescimento urbano em detrimento do êxodo rural, além do que, o
momento pós-guerra atraiu um grande quantitativo populacional para as cidades,
como o exemplo já utilizado, a criação do “morro da favela” no Rio de Janeiro, para
abrigar todo este contingente sem moradia.

O grande aumento populacional verificado na década de 50, como constata


dados do IBGE, podem estar ligados a uma série de fatores como: o grande
êxodo rural no pós-guerra; a dragagem do rio Macaé iniciada na década de
40 que criou novas áreas habitáveis; a construção da rodovia citada
anteriormente e o funcionamento da Usina Hidrelétrica de Macabu, trazendo
maior comodidade à população que passa a dispor de energia elétrica
suficiente. Com uma população estimada em 58 mil habitantes, incluindo
Carapebus e Quissamã, no início da década de 60, a vida urbana mostrava-
se sossegada e tranqüila, tendo nas atividades primárias e no turismo suas
principais fontes de renda. (PLHIS- Macaé, 2010: 10-11).

Entre as décadas de 1950 e 1970 a economia local era baseada na cultura


de produção de produtos primários e para subsistência, em paralelo a esta houve o
crescimento do setor sucroalcooleiro, com o crescimento territorial de canaviais e a
evolução tecnológica do plantio e produção de diversos produtos advindos desta.

Especialmente a partir da década de 1950, observou-se uma forte redução


em área, número de produtores e volume de produção das culturas de

48
feijão, milho e mandioca, culturas de subsistência mas que também
abasteciam as criações de aves e outros pequenos animais. Ao mesmo
tempo percebeu-se a expansão da monocultura canavieira, como resultado
da modernização do setor sucroalcooleiro bem como das condições
favoráveis do mercado internacional na década de 1960, com a saída de
Cuba como mercado preferencial norte-americano, em decorrência da
revolução socialista. Entre 1950 e 1970, a região Norte Fluminense
apresentou um crescimento da área plantada de cana-de-açúcar de
47,29%, acompanhada por um crescimento de números de tratores
utilizados de 818,5%. (Paganoto, 2008:9).

Através da tabela, abaixo, visualizamos neste período o crescimento de


acordo com a média do Estado do Rio de Janeiro:

Tabela 4
Crescimento relativo da população total segundo
estado, mesorregiões e municípios selecionados no estado do
Rio de Janeiro (%) 1940 -1970.
Unidades Espaciais 1940-1950 1950-1960 1960-1970
Estado do Rio de
Janeiro 27,75 42,24 35,26
Norte Fluminense 4,64 17,89 4,74
Noroeste Fluminense 6,09 -2,83 -5,43
Campos dos
Goytacazes 6,42 21,73 10,2
Macaé -2,07 6,16 12,12
Fonte: IBGE/CIDE apud Paganoto, 2008:10.

O período de implantação da Petrobras na cidade de Macaé, na década de


1970, potencializou as questões sociais, tais como, a precarização do trabalho
através do regime econômico capitalista, o poder - neste momento - ainda
concentrava-se nas mãos dos fazendeiros e seus vastos canaviais.

Foi na década de 1970 que se completou na região o processo de


transformação das relações de trabalho em tipicamente capitalistas, do
ponto de vista da total expropriação do trabalhador do campo, expulso da
moradia no meio rural, marginalizado dos direitos e dos vínculos legais e
excluído do acesso à infra-estrutura urbana. Os fazendeiros e usineiros se
aproveitavam da posição de monopólio da oferta de ocupações em que
estavam colocados no mercado de trabalho regional para impor salários e
condições de trabalho degradantes. (Paganoto, 2008:14).

49
É neste contexto que a Petrobras aporta no município de Macaé, um terreno
impregnado de desigualdades sociais, os quais foram propícios para uma política de
Estado desenvolvimentista, com baixo custo salarial, incentivos fiscais, infraestrutura
garantida pelo governo local e expulsão dos pobres das áreas urbanas estruturadas
para lugares nos quais eles ficassem a margem da sociedade.

2.2 - A Petrobras na Cidade de Macaé (1970) e a


reestruturação urbana da cidade.

Para entendermos e nos aproximarmos do atual modelo de ordenação do


espaço urbano da cidade de Macaé é intrínseco examinar a história e o
desenvolvimento da Petrobras11 no município.

A cidade de Macaé foi orientada para a alocação da grande empresa


petrolífera brasileira, passando por uma grande reestruturação produtiva: a produção
que era orientada pela indústria ferroviária, Leopoldina Raylway Company Limited, e
também para a produção de produtos primários, sofreu uma grande transformação.

O pequeno município de Macaé, na década de 1970, tinha como base uma


economia voltada basicamente para a agricultura, principalmente cana de açúcar,
como também pecuária e a pesca. A cidade do interior, desde a chegada da
empresa de petróleo, sofreu com os impactos ocasionados por sua alocação,
destacando a especulação imobiliária, a supervalorização do solo, configurando uma
exclusão maior dos pobres da cidade formal, consequentemente, o crescimento
urbano ocorreu de forma desestruturada, ocasionando uma diversidade de mazelas,
como ocupações irregulares, instrumento de resistência e sobrevivência da classe
trabalhadora12.

11
A Petrobras foi fundada em 3 de outubro de 1953, como resultado de uma campanha
popular, “O petróleo é nosso”, que durou sete anos.
12
Lembremos que durante toda história do Brasil as indústrias foram beneficiadas com
subsídios e incentivos governamentais, seja qual for a sua esfera, municipal, estadual ou
50
Quando do início da exploração de petróleo na Bacia de Campos, não
houve, da Petrobras, preocupação em minimizar os impactos que poderiam
ser causados localmente, e sua atuação seguiu o padrão das demais
empresas brasileiras de grande porte da década de 1970. Em Macaé, então
um pequeno município de base agropecuária, a chegada de trabalhadores e
suas famílias, assim como daqueles que se deslocam em busca de alguma
oportunidade de serviço, acarretaram uma ocupação urbana desordenada e
uma sobrecarga nos parcos equipamentos de consumo coletivo existentes.
Deu-se uma ocupação predatória do litoral não só pelas empresas ligadas
ao petróleo como também por novos loteamentos para moradias. (Piquet,
2010:13).

A chegada da Petrobras na cidade de Macaé trouxe consigo impactos


diretos à população residente no município, e também no espaço urbano da
pacata cidade, houve mudança no cenário natural, uma ocupação desordenada
do espaço ao entorno dos pólos da indústria do petróleo aqui instituídos.

Ao se instalar na cidade, a Petrobras ocupou três pontos da rodovia RJ-106,


no centro e nos extremos do centro urbano. Situou no centro da cidade, sua
principal base de operações, no bairro Imbetiba, descaracterizando aquela
que era a praia mais acessível à população local, instalando ali seu porto.A
leste, já próximo aos limites com o município de Carapebus, instalou o
Terminal Cabiúnas próximo à restinga de Jurubatiba e suas lagoas, mais
tarde transformada em Parque Nacional – o único Parque Nacional de
Restinga do Brasil e que guarda uma biodiversidade única, sendo hoje, o
objeto de mais de 50 pesquisas realizadas por universidades de todo o
mundo. E a oeste, nos limites com o município de Rio das Ostras, instalou
seu parque de tubos dentro da micro bacia hidrográfica do rio Imboassica,
principal contribuinte da Lagoa que sofre intenso processo de degradação
desde que toda a área de seu entorno dentro do município de Macaé,
passou a ser ocupada de forma desordenada por condomínios e empresas.
(Tavares, 2010:256)

Para termos ideia do tamanho da expansão e reestruturação provocada pela


implantação da Petrobras no território macaense, como de praxe, na organização
societária brasileira, priorizou somente a expansão econômica em detrimento do
parco investimento nas áreas das políticas sociais. Esta empresa recebeu incentivo
para sua implantação e quase nenhuma cobrança ou estudos sobre o impacto

federal, entretanto, a apropriação das riquezas e obtenção dos lucros ficaram nas mãos da
Petrobrás, enquanto a cidade evoluía sem estrutura e sem políticas sociais direcionadas para
a classe trabalhadora.

51
ambiental e social que poderia produzir em sua chegada e sobre a sua implantação
a curto e longo prazo, ou seja, teve carta branca para ocupar e adaptar todo o
espaço urbano, muitas vezes deteriorando a natureza local, como foi a sua
ocupação na praia de Imbetiba, uma das belas praias da cidade na década de 1970,
hoje, uma paisagem drasticamente alterada em prol da Petrobras, tornando-se
praticamente o porto particular desta empresa.

A instalação do “complexo petrolífero” em Macaé, apesar dos inegáveis


benefícios econômicos, causou modificações profundas na sociedade
macaense. O município foi obrigado a trocar sua vocação turística pela
industrial. Macaé, de pequeno balneário, transformou-se em cidade média
com uma dinâmica produtiva totalmente renovada, ligada aos circuitos
mundiais da economia. (Plano Local de Habitação de Interesse Social
(PHLIS - Macaé), 2010:12).

A cidade de Macaé foi um dos municípios que mais cresceram no


Brasil na década de 1970, como pode ser verificado a seguir.

Tabela 5: Crescimento Populacional da Cidade de Macaé.

Ano Quantidade Populacional


1974 47.000 hab.
1980 75.851 hab.
2000 132.461 hab.
2007 169.513 hab.
2010 206.748 hab.
Fonte: IBGE

Percebe-se a tamanha atratividade ocasionada pela chegada desta indústria


no município de Macaé, entretanto, a localidade evoluiu somente na esfera
empresarial deixando a desejar na esfera das políticas sociais voltadas para a
população que vive à margem deste mercado do petróleo. Não houve planejamento
destas políticas sociais para esta tamanha demanda, em detrimento de um
crescimento urbano abundante, causando uma urbanização cada vez mais
segregadora e reafirmação da exclusão do acesso aos direitos por parte da classe

52
trabalhadora, construindo e fomentando ainda mais o abismo criado durante todo o
processo da urbanização brasileira.

Muitas transformações estruturais no município de Macaé contribuíram para


que a cidade passasse a ser apontada como um pólo de desenvolvimento
regional. Macaé vivenciava a instalação de novas empresas industriais e
comerciais, atraindo também multinacionais gigantes do setor. (PHLIS –
Macaé, 2010:11).

Houve o aumento do contingente populacional e consequentemente o


aumento das demandas por uma grande diversidade de serviços inerentes ao
crescimento igualitário de uma cidade, tais como, saúde, educação, habitação,
dentre outros, e o não acompanhamento do Estado em face deste crescimento com
a implementação de políticas sociais públicas efetivas para o atendimento desta
nova massa demandante. Um processo de urbanização que excluiu ou sucateia o
acesso dos trabalhadores a uma política pública universalista de qualidade em
detrimento do enriquecimento de grandes conglomerados que exploram o mercado
das politicas sociais, tais como, saúde, educação, habitação e etc. beneficiando
diretamente os empresários deste ramo.“Houve o consequente aumento de
demandas por habitação, bens de consumo e serviços de uso coletivo e o êxodo
crescente de amplas parcelas em direção ao centro urbano.” (PHLIS - Macaé,
2010:11).

2.3 – Desenvolvimento das Questões Sociais de Macaé:


aumento da riqueza e a evolução da pobreza urbana.

Apesar de seu histórico permissivo, no que diz respeito á implantação de


estudos e estruturação da cidade, o poder local foi decisivo na implantação de várias
empresas no município, inclusive dando diversos incentivos para instalação destas
indústrias, tornando Macaé um grande balcão de negócios e gerando grande

53
atratividade. Entretanto, seus problemas estruturais se agravaram cada vez mais
conforme o crescimento populacional.

O crescimento econômico brasileiro é acompanhado de perto pelas


desigualdades sociais. No caso do desenvolvimento macaense, houve sim um
grande investimento e produção de riqueza na exploração e extração do petróleo,
mas os maiores investimentos realizados foram revertidos diretamente no apoio para
indústria petrolífera, ou seja, as riquezas produzidas eram redirecionadas durante
todo o processo histórico de desenvolvimento urbano para a própria indústria, para a
criação de condições favoráveis aos lucros deste grupo empresarial (Estruturas
portuárias, Criação e Expansão do Aeroporto local e etc.), e não direcionadas ou
compartilhadas com a camada mais pobre da população que gravita em torno deste
mercado, gerando assim uma grande ausência de uma política efetiva de
urbanização e habitação.

[...] O país se prepara para investir entre 2011 e 2014 cerca de R$ 230
bilhões em exploração e produção de petróleo nos estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Estes investimentos fazem parte da
retomada do processo de desenvolvimento econômico, feito por
investidores privados, com o aval do BNDES e da CEF, e se somam a
usinas hidroelétricas, refinarias, infraestrutura portuária, reprimarização
(agronegócio em parceria com o setor financeiro). Segundo Piquet,
cumprem um papel de desenvolvimento nacional, mas não regional e local;
provocam melhoras no sistema de abastecimento e de comunicação e tem
efeito multiplicador, todavia contraposto pela atração de uma mão de obra
desempregada e desqualificada e que não reflui para outras áreas. A
indústria do petróleo possui efeito multiplicador em função do parque
industrial e de empresas de serviços que se instalam para abastecê-la. A
indústria do petróleo na relação política local, para sua instalação, recebe
benefícios em vez de exigências, havendo receptividade na instalação de
indústrias impactantes de outros países. A indústria do petróleo pode não
estar voltada para o desenvolvimento regional, sendo seu efeito
multiplicador sentido em outras regiões. Ao fim de sua fala, Piquet a
resumiu, enfatizando a necessidade de se discutir quais os limites entre a
atuação de grandes grupos econômicos e a atuação do Estado. (Herculano,
2010:2).

As taxas de crescimento da cidade de Macaé foram maiores do que em todo


o Estado do Rio de Janeiro, depois do aporte da Petrobras e os incentivos a toda
rede de indústrias petrolíferas, como podemos observar na tabela abaixo:

54
Tabela 6: Taxa de Crescimento da População Residente.

1940/1900 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/1996 1996/2000


Estado 2,61 3,68 2,97 2,3 1,15 0,92 1,75
Macaé -0,36 4,19 1,19 2,32 4,23 3,82 3,88
Fonte: CIDE.

Com diversas linhas de investimentos para as indústrias do petróleo, o que


gerou grande atratividade em torno da cidade, sendo assim, Macaé tornou-se um
pólo de grande geração de empregos, consequentemente sua população aumentou
vertiginosamente.

Tabela 7: Histórico da Evolução da População no Município (Macaé).

População
Ano (hab.) Fonte:
1991 93.657 Censo demográfico IBGE.
1996 112.971 Contagem da população IBGE.
2000 132.971 Censo demográfico IBGE.
2007 169.513 Contagem da população IBGE.
2009 194.413 Estimativa de população IBGE.
Fonte: (PHLIS - Macaé, 2010:13).

Segundo dados que constam no PLHIS (2010:14), a cidade de Macaé vem


sendo responsável por 7% dos empregos formais, em relação a todo Estado, vagas
de emprego que são direcionadas para o suporte das empresas petrolíferas aqui já
instaladas.

As atividades relacionadas à extração de petróleo geram grande quantidade


de empregos diretos e indiretos. No primeiro trimestre de 2009, mesmo com
o mundo em crise, foram admitidos em Macaé 11.086 trabalhadores com
carteira assinada e dispensados 10.601, resultando num saldo positivo de
485 trabalhadores empregados, seguindo uma tendência de anos anteriores
que, de acordo com a secretaria Estadual de Trabalho e Renda, também
registraram números positivos em geração de emprego formal. (PHLIS -
Macaé, 2010:14).

Entretanto, não são apresentados os dados relacionados ao desemprego,


subempregos, empregos temporários que são gerados em torno desta grande
55
indústria, os trabalhadores que são julgados como não qualificados, ficam a margem
do mercado formal, vivem de forma precária e sobrevivem na informalidade, são
privados de uma diversidade de direitos básicos, pois a cidade de petróleo exclui o
pobre ao seu acesso. Cria-se uma situação correlata ao citado por Antunes:

[...] vivencia-se também uma subproletarização itensificada, presente na


expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado,
“terceirizado”, que marca a sociedade dual no capitalismo avançado [...] O
mais brutal resultado dessas transformações é a expansão, sem
precedentes na era moderna do desemprego estrutural, que atinge o mundo
em escala global. Pode-se dizer, de maneira sintética, que há uma
processualidade contraditória que, de um lado, reduz o operariado industrial
e fabril; de outro, aumenta o subproletariado, o trabalho precário e o
assalariamento no setor de serviços. Incorpora o trabalho feminino e exclui
os mais jovens e os mais velhos. Há, portanto, um processo de maior
heterogenização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora.
(Antunes, 2002:49).

A aparente expansão e a falsa prosperidade acontece de forma dualista, ou


seja, enquanto existe uma aparente evolução urbana harmoniosa (evolução da
cidade formal em detrimento de um crescimento ainda maior da pobreza e das
ocupações em áreas insalubres e informais), substitui-se os empregos formais pelo
trabalho informal e contratos temporários, evidenciando uma flexibilização do
trabalho e desmobilização das representações coletivas (sindicatos); além disso
ocorre a constante evolução tecnológica, substituindo o trabalho de vários operários
por apenas uma ou poucas máquinas, exponenciando o desemprego estrutural, o
que de fato é central para a acumulação do capital.

As manutenções das desigualdades e do desemprego estrutural


contribuíram para a continuidade da lucratividade do capital, ou seja, a manutenção
de uma massa de desempregados (exército industrial de reserva) se torna elemento
crucial para a acumulação capitalista.

[...] o exército industrial de reserva representa elemento estrutural


indispensável ao modo de produção capitalista e daí sua incessante
reconstituição mediante introdução de inovações técnicas, o que torna essa
reconstituição independente do crescimento vegetativo da população. O
exército industrial de reserva funciona como regulador do nível geral de
salários, impedindo que se eleve acima do valor da força de trabalho ou, se
possível e de preferência, situando-o abaixo desse valor. Outra função do
exército industrial de reserva consiste em colocar à disposição do capital a

56
mão-de-obra suplementar de que carece nos momentos de brusca
expansão produtiva, por motivo de abertura de novos mercados, de
ingresso na fase de auge do ciclo econômico etc. (Marx, 1996: 41).

A "cidade empresa" atraiu e formou uma teia de investimentos que circunda


a indústria petrolífera, além de investimentos maciços para a execução de obras,
criações de áreas especificas de negócios, como as áreas industriais do Novo
Cavaleiros, Cabiúnas e Parque de Tubos, todas próximas as bases da Petrobras, o
que se agravou ainda mais com a quebra do monopólio do petróleo e abertura do
mercado (1997), atraindo uma diversidade ainda maior de empresas,
consequentemente atraindo um maior contingente para a cidade. Como já foi dito
uma indústria de suporte também cresce junto ao mercado petrolífero:

Além da Petrobras, Macaé congrega um expressivo número de empresas


prestadoras de serviços, em sua maioria ligadas à atividade petrolífera.
Acompanhando esse dinamismo, há também o incremento de investimentos
privados e públicos. Exemplo disso é o crescimento significativo
apresentado por outros sub-setores como o comércio e administração de
imóveis (imobiliárias), o comércio varejista, o setor de alojamento e
alimentação (hotéis, restaurantes, bares e pousadas), o transporte e a
comunicação, mas principalmente o setor da construção civil, que foi o setor
que mais ofertou empregos no primeiro trimestre de 2009. (PHLIS - Macaé,
2010:14).

Apesar deste setor representar grande movimentação econômica e geração


de empregos, consequentemente uma grande arrecadação para o município, as
receitas que geram mais recursos são advindas das verbas compensatórias pela
exploração do petróleo, ou seja os royalties13 e as participações especiais, que tem
grande representatividade no orçamento do município,como ilustrado na
arrecadação do município de Macaé na tabela seguinte:

13
Verbas destinadas para os municípios para compensações dos impactos causados pela
indústria do petróleo.

57
Tabela 8: Valores de Compensação de Royalties (R$) na Região em
Junho/2009.

Município Junho de 2009 Acumulado do ano


Campos dos Goytacazes 31.412.079.15 174.844.497,88
Carapebus 1.694.781.74 9.060.638.29
Cardoso Moreira 247.595.97 1.371,809, 50
Conceição de Macabu 281.359.06 1.558.874,50
Macaé 22.166.386.06 124.187.179,00
Quissamã 4.796.021.84 27.232.381,92
São Fidelis 337.639.87 1.870.649.39
São Francisco 348.885.23 1.933.004,37
São João da Barra 5.250.915,34 30.378.781,89
Fonte: Agência Nacional do Petróleo.

As compensações financeiras, os royalties, são verbas indenizatórias aos


territórios explorados, tanto os estados e municípios receberiam uma fatia deste
montante.

Criada pela Lei 2004/53, a Petrobrás é uma empresa estatal de economia


mista, e detinha inicialmente o monopólio integral da pesquisa, prospecção,
exploração e refino das jazidas petrolíferas brasileiras. Pelo seu artigo 27, a
empresa indenizava Estados e municípios onde atuasse com 5% sobre a
sua produção, da seguinte forma: 4% da produção terrestre para os Estados
e 1% para os municípios. Conforme estipulado no parágrafo 4º do mesmo
Artigo, os Estados, Territórios e Municípios deveriam aplicar tais recursos
“preferentemente na produção de energia elétrica e na pavimentação de
rodovias”. (Ou seja, apesar do emprego da palavra indenizar, o que sugere
compensar, o espírito da lei era investimento em infra-estrutura que
facilitaria a execução das atividades da própria empresa. (Herculano,
2010:21).

A importância destas compensações e o que representaram para o


município permitiu que seu Produto Interno Bruto figurasse entre os dez maiores do
Brasil.

Em 1999, Macaé ocupava o 55º lugar no ranking nacional e foi o município


que mais importância ganhou no PIB brasileiro, passando em 2004 a figurar
entre os 10 maiores produtos internos brutos municipais do país. Segundo o
IBGE o PIB municipal per capita, em 2000, era de R$ 26.751,00, em 2006
passou para R$ 40.281,00 e chegando atualmente ao valor de R$
120.612,00. (PHLIS - Macaé, 2010:15).
58
Além dessas tributações, Macaé tem arrecadação sobre outras fontes
tributárias, como o ISS (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), de
competência do município, ou seja, esta verba aumentou ainda mais com a chegada
de várias empresas multinacionais, por isso os municípios propiciam e investem
ainda mais em estruturação e subsídios para a instalação de empresas em sua
cidade, caracterizando-se como "cidades empresas e os seus prefeitos como
vendedores ambulantes". Além do que existem outras arrecadações oriundas da
expansão da cidade, que também contribui muito para arrecadação municipal, como
o IPTU (Imposto predial territorial urbano), o ICMS (Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias e Prestação de Serviços), dentre outros.

Tabela 9: Fontes Tributárias do Município.

Ano Royalties ISS IPTU ICMS/IPM


2004 287.551.201,31 55.829.295,52 2.798.937,68 97.555.549,51
2005 347.870.813,54 72.687.384,03 3.556.958,53 100.307.231,89
2006 413.116.830,41 89.673.614 5.381.704,53 94.122.566,31
2007 349.105.425,81 156.684. 714,82 7.201.121,76 140.972.709,00
2008 406.961.370,68 45.075.339,61 8.223.409,76 186.958.034.96

2009 até março. 79.400.688,95 63.990.456,24 5.365.280,16 53.656.117,63


Fonte: (PHLIS - Macaé, 2010:16).

2.3.1 – O Déficit Habitacional e a favelização de Macaé.

Apesar de toda arrecadação e evolução demonstrada até o momento, junto


ao município, também cresceu a ocupação desordenada do espaço urbano com a
exclusão popular. As ocupações destes espaços irregulares surgem como única
prática de habitação destinada para a população excluída do grande mercado
petrolífero.

Para a parcela mais pobre da população - como já citado - as políticas


públicas são de caráter pontual, junto a isso, temos a criação de um mercado
59
consumidor que irriga a mega-estrutura da cidade formal do petróleo, ou seja, as
ocupações - com a permissividade dos poderes locais - crescem consideravelmente.

Foram vários os bairros sem infra-estrutura que surgiram na periferia da


cidade de Macaé desde o inicio da exploração de petróleo na Bacia de
Campos, a maioria ocupando áreas de preservação ambiental. As primeiras
ocupações irregulares se deram junto a foz do rio Macaé, em área de
manguezal: Inicialmente as comunidades de Nova Holanda, Malvinas e
Botafogo; e posteriormente Ilha Colônia Leocádia e Nova Esperança,
ressalvando que a Ilha da Caieira, também área de preservação
permanente, hoje abriga um condomínio de classe média/alta, sendo a
primeira ocupação na foz do rio Macaé, com a exceção do centro urbano.
(Tavares, 257:2010).

Além de influir economicamente nesta localidade, a Petrobras influenciou na


estruturação criando duas cidades contrastantes: a cidade legal e a cidade ilegal,
como foram explanadas por Herculano (2010:29):

Este centro está ladeado por duas zonas de enormes contrastes: ao norte,
favelas que ocupam áreas de manguezais e de proteção ambiental: Nova
Holanda, Malvinas, Aroeira, Nova Brasília, Botafogo, Parque Aeroporto,
Cabiúnas, Lagomar, dentre outras. Ao sul, zonas de moradia de luxo em
condomínios fechados nos bairros da Glória, Cancela Preta, Cavaleiros,
etc., onde trabalhadores de alta qualificação habitam em torno da Lagoa de
Imboassica, parcialmente aterrada e assoreada.

A estruturação do espaço urbano macaense segue a evolução da Petrobras


desde sua chegada à cidade, esta exclusão ou omissão do poder público local ficam
evidenciadas durante todo este processo desigual de ocupação do solo urbano,
notamos que a maior incidência de ocupações irregulares, são realizadas por parte
da população de baixa renda, e ocorreram no estuário do Rio Macaé, em áreas de
proteção ambiental e ocorrem de forma insalubre para a população.

O processo de ocupação irregular observado em Macaé nos anos 90 vem


reproduzindo o modelo histórico de grandes cidades brasileiras. O
crescimento da periferia com pouca infra-estrutura, refletindo o quanto
questões de ordem social e econômica superam as de ordem ambiental e
reguladoras. (NUNES, 2004 apud PHLIS - Macaé, 2010:31).

60
As únicas medidas após o BNH/SFH na cidade macaense para tentar frear
esta ocupação desordenada do espaço e suprir as necessidades habitacionais do
município surgiram por intermédio do governo estadual com o projeto habitacional
CEHAB-RJ (Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro), as intervenções
ocorreram em 1982 e 1994.

A maior iniciativa, porém, partiu do poder público, quando nas áreas


disponíveis no antigo 2º distrito, o Governo do Estado através da CEHAB,
desenvolveu um grande empreendimento imobiliário denominado Conjunto
Habitacional Parque Aeroporto, hoje um dos mais populosos do município.
Em 1982 foram entregues 1.572 unidades residenciais com área construída
variando de 22 a 44 m2, visando atender à demanda populacional de
famílias carentes. Ainda a partir de 1994, o bairro Aeroporto recebeu
investimentos habitacionais particulares que criaram conjuntos habitacionais
com casas em torno de 35,00 m2, como a Vila Badejo (300 unidades),
Dourado (52 unidades), Marlin (56 unidades), Linguado (54 unidades), Viola
(52 unidades), Atum (54 unidades) e Namorado (58 unidades). (PHLIS -
Macaé, 2010:17).

Podemos chamar a atenção que nenhum, ou ainda, poucos investimentos


foram realizados por parte do poder municipal com o intuito de diminuir o déficit
habitacional, somente em 2005 que o município desenvolveu políticas habitacionais
com estes fins.

Foi apenas a partir de 2005 que o município passa a se desenvolver


programas habitacionais com o objetivo de suplantar seu déficit
habitacional, e de desocupar áreas de risco e de preservação permanente
com a remoção e reassentamento para condomínios populares. Hoje o
município possui um plano municipal de habitação que abrange, ainda, o
programa denominado “Macaé sem favelas”. A meta do governo municipal é
viabilizar a construção de quatro mil unidades habitacionais até 2012,
incluídas as unidades previstas do Programa “Minha Casa Minha Vida” do
Governo Federal. (Tavares, 2010:260).

Como já foi explicitado, apesar de tamanha arrecadação e investimentos


direcionados para as empresas petrolíferas, o poder publico municipal não realizou
os investimentos necessários para a produção de unidades habitacionais para a
população de baixa renda alocada em áreas de risco, ocorrendo tal investimento
somente em 2005; as soluções para a habitação foram tímidas, foram insuficientes
para combater o déficit habitacional do município, ou seja, passaram-se vinte e sete

61
anos para que o município planejasse e construísse alguma política direcionada
para área habitacional, isso somado ao crescimento populacional da cidade tornou o
município de Macaé uma localidade com diversos problemas estruturais urbanos
(trânsito intenso,falta de transporte coletivo de qualidade, ausência de segurança, o
crescimento da favelização e de ocupações insalubres, déficit habitacional, dentre
outras mazelas ocasionadas do desenvolvimento desestruturado).

Macaé, que ostenta atualmente um vigor econômico diretamente


relacionado às atividades de extração, produção e logística do petróleo,
convive, também, com heranças negativas da economia de base petrolífera.
O município apresenta sobrecarga nos serviços de utilidade pública,
congestionamentos em horários de pico, falta d'água em bairros periféricos,
enchentes constantes, escassez crescente de moradias, favelização
acelerada e uso predatório do litoral, além de outras mazelas que uma
ocupação industrial sem planejamento acarreta nos locais em que se fixa.
(Paganoto: 5-6, 2008)

Podemos também nos atentar para a acessibilidade urbana que foi


constituída, sendo um ambiente de reprodução dos moldes históricos de
urbanização, ou seja, o acesso à cidade formal fica restrito a poucos, pelo alto preço
de uma fração da terra nesta estruturada cidade. Aqueles que detém poder
aquisitivo ficam na cidade formal “estruturada” com uma série de serviços, mesmo
que alguns destes ainda sejam deficitários pela alta demanda, ficando a cargo da
classe trabalhadora a ocupação de espaços pouco valorizados, menos privilegiados
ou de risco, não como opção e sim como condição de sobrevivência e resistência a
este processo de urbanização predatório e capitalista que agrava as desigualdades
e continua distanciando os pobres do acesso à cidade formal.

O processo de segregação espacial ocorre de maneira mais intensa quando


é impulsionado por outro processo que faça aumentar a circulação de
capital e pessoas na área urbana. Capital circulando e mercado consumidor
próspero e em crescimento, representam mais demanda e funcionam como
estímulo para que os capitalistas imobiliários exerçam suas atividades.
Falando de maneira mais ampla, os atrativos acima citados sugerem um
aumento das atividades dos agentes modeladores do solo urbano,
provocando assim uma aceleração do processo de segregação, processo
esse que vitima os grupos sociais excluídos, no momento em que, para
esses grupos a acessibilidade a determinadas áreas residenciais se
inviabiliza. [...] O desenvolvimento da área urbana de Macaé foi
impulsionado com a chegada da indústria petrolífera, a partir daí, a cidade
se desenvolveu de maneira frenética. A intensidade desse desenvolvimento
mudou bruscamente a paisagem da área urbana da cidade. O centro, área
62
onde se localizam os empreendimentos comerciais, e onde os
empreendedores imobiliários concentram suas ações, apresenta uma
paisagem resultado da aceleração da dinâmica de desenvolvimento,
ocorrendo a valorização dos terrenos nesta área. As empresas que chegam
para se instalar na cidade necessitam muitas vezes de grandes terrenos,
por isso sua instalação na área central da cidade era inviável, devido ao
elevado custo, muitas vezes as empresas, principalmente as do setor
petrolífero instalavam a parte gerencial no centro e a parte operacional –
que necessita de grande terrenos em outros locais menos valorizados.
Juntamente com as empresas, chegam à cidade profissionais para fixar
residência, esse fato representa um aquecimento no mercado imobiliário,
não apenas de cunho comercial/industrial mas também para os imóveis
residenciais. Percebendo o potencial deste ramo, os empreendedores
imobiliários passaram a concentrar suas atuações nos setores mais
procurados, construindo novos imóveis que atendessem à demanda e
criando infra-estrutura e diferenciais para gerar mais valorização. As áreas
mais valorizadas do espaço urbano de Macaé são ocupadas por pessoas
de alta qualificação, com renda mensal elevada, que estão atreladas à
indústria petrolífera, seja de maneira direta ou indireta, com as pessoas se
beneficiando com a chegada de indústria petrolífera ao passo que ela
representa chegada de capital e consumidor dos serviços oferecidos. A
valorização de determinadas áreas tem razões completamente diferentes,
enquanto algumas se valorizam por suas potencialidades residenciais [...],
outras se valorizam por representarem maiores possibilidades de lucro –
área central da cidade, [...] outras ainda apresentam valorização por
reunirem qualidade de vida para se morar e possibilidade de estar próxima
ao trabalho [...] As pessoas de maior poder aquisitivo que têm condições de
estar residindo nas áreas mais valorizadas contam com uma estrutura
propiciada por profissionais do setor imobiliário, que criam estrutura
diferenciada, visando explorar o potencial residencial da área, quanto ao
uso comercial, seu preço se define segundo oferta e procura. O que resta
às pessoas de menor poder aquisitivo é residir nas áreas degradadas pelo
crescimento urbano, ou migrar para áreas afastadas e não valorizadas, em
um processo permanente de expansão e adaptação do espaço urbano.
(Silva, 2004 apud PHLIS - Macaé, 2010:31).

Algumas ocupações irregulares no município de Macaé, em áreas de


proteção ambiental, as quais foram ocupadas inclusive por pessoas que
compunham na época a burguesia macaense, nestas formaram-se bairros nobres,
como o Mirante da Lagoa, o aterramento progressivo da lagoa de Imboassica, para
a construção do bairro referido, e também, a Ilha da Caieira, todas as áreas de
proteção ambiental, entretanto, receberam uma diversidade de subsídios para
construção e manutenção destas áreas, inclusive beneficiando diretamente os
especuladores e empresas construtoras,ao contrário do que ocorre em áreas de
periferia, ou áreas compostas basicamente pela massa trabalhadora com um menor

63
poder aquisitivo, locais onde a pobreza é criminalizada e não existe uma mínima
estrutura social para uma estadia dos referidos nesta localidade.

O Bairro Lagoa surgiu em 1978, com a aprovação do loteamento Mirante da


Lagoa, com 781 lotes com área média de 450,00m2. [...] Na década de 90
surgiram no bairro condomínios residenciais, financiados pela Caixa
Econômica Federal, e voltados para a classe média. Os condomínios:
Recanto da Lagoa, aprovado em 1997, Vista da Lagoa, aprovado em 1998,
Morada da Lagoa e Solar da Lagoa, aprovados em 1999, são exemplos
disto. [...] o Bairro Lagomar, de baixo poder aquisitivo. No mangue, as
localidades de Nova Holanda, Colônia Leocádia e Nova Esperança,
ocupadas por pessoas debaixo poder aquisitivo e Ilha Caieira, ocupada por
pessoas de médio-alto poder aquisitivo (Baruqui, 2004, p.36).

Nos estudos realizados pelo PLHIS (2010:94), indicam déficit habitacional


quantitativo “para o município de Macaé a necessidade de construção de 2.932
novas unidades para suprir o déficit habitacional (ou déficit quantitativo)”, ou
seja, estes dados relatam a necessidade de novas e eficazes políticas habitacionais
que disponibilizem novas moradias para aqueles que não têm e vivem de aluguel, ou
utilizam outros modos de residência urbana, tais como, ocupações realizadas
através de movimentos sociais.

No que diz respeito ao déficit qualitativo também foram estimados números


através de estudos realizados pela Fundação João Pinheiro: calcula-se algo no
entorno de 9.799 domicílios, aqueles que já detém a sua unidade habitacional, mas
são insalubres ou localizados em áreas de risco, sendo necessária a remoção
imediata destes.

Tabela 10: COMPONENTE DO DÉFICIT HABITACIONAL BÁSICO


(QUANTITATIVO).

Situação de Moradia Quantidade (em %)


Coabitação Familiar 71
Cômodos 18
Domicílios Rústicos 5
Domicílios Improvisados 6
Fonte: PHLIS, 2010:92 Apud Estudo Déficit Habitacional no Brasil, FJP, 200414.

14
Gráfico Transformado em tabela pelo autor.

64
Para compreensão dos dados já expostos seguiremos com explicação dos
autores, que foram apresentadas em tópicos para melhor elucidar as etapas do
processo de pesquisa para captação destes dados. (PLHIS – Macaé -2010:92).

os domicílios rústicos: são aqueles predominantemente “construídos”


com material improvisado e que devem ser repostos (reconstruídos), seja
por que não apresentam paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, seja
porque representam desconforto e riscos de contaminação por doenças e
insalubridade;

os domicílios improvisados: são locais utilizados como moradia tendo


sido construídos com outra finalidade, denotando necessidade de novas
habitações, como por exemplo: vãos de pontes e carcaças de veículos;

os cômodos alugados ou cedidos: famílias que moram em quartos ou


cômodos alugados ou cedidos usando, de forma comum, áreas de acesso e
equipamentos sanitários, com ausência de privacidade;

a coabitação familiar: mais de uma família composta por pelo menos
duas pessoas residindo no mesmo domicílio da família considerada
“principal”.

Observamos que as medidas para a construção de uma política habitacional


eficaz são pautadas em um modelo de cidade capitalista, ou seja, as medidas
tomadas para a resolução desta problemática são dirigidas pelo mercado, pautado
na lucratividade de poucos e na exclusão muitos trabalhadores.

Tabela 11: COMPONENTE DA INADEQUAÇÃO HABITACIONAL


(QUALITATIVO).

Situação Quantidade (em unidades Habitacionais)

Carência de Infraestrutura 6188


Domicílios sem Banheiro 682
Adensamento Excessivo 3455
Irregularidade Fundiária 1106
Fonte: PHLIS Macaé, 2010:9415 apud Estudo Déficit Habitacional no Brasil, FJP, 2004.

15
Gráfico Transformado em tabela pelo autor.

65
Os conceitos que foram utilizados para a construção da tabela anterior:

densidade excessiva: corresponde a domicílios com mais de dois


moradores por cômodo servindo de dormitório, excluindo-se as famílias
conviventes, já consideradas para cálculo do déficit quantitativo;

inexistência de unidade sanitária domiciliar interna: corresponde a


famílias que não dispõem de acesso a sanitários ou banheiros no interior de
suas moradias.

inadequação fundiária urbana: corresponde a famílias que declaram ser


proprietárias da edificação, mas não do terreno em que residem,
correspondendo a situações de ocupação irregular de terras.

carência de serviços de infra-estrutura básica, que refere-se a:


domicílios sem acesso a um ou mais dos serviços, tais como: de energia
elétrica, de abastecimento de água por rede com canalização interna, de
esgotamento sanitário por fossa séptica ou de coleta de lixo; (PHLIS - Macaé,
2010:92).

Através desses dados que foram apresentados até o momento, notamos


uma diferença entre os que revelam o quantitativo de domicílios que necessitavam
de qualificação, 9.799 domicílios, em primeiro momento, e a totalidade daqueles
apresentados nas tabelas que estariam totalizando 11.431 habitações, apesar do
autor ter sinalizado acreditamos que alguns domicílios podem ter mais de uma
situação que proporcionam estar neste quadro como déficit qualitativo, por exemplo,
muitos domicílios apresentam a falta de estrutura somada ao adensamento
excessivo e ocupação irregular.

O espaço urbano do solo macaense foi parcelado em prol da continuidade


da desigualdade, ou seja, os ditames da cidade capitalista foi que ordenou a
ocupação e distribuição da estrutura de cidade formal, direcionada para a evolução
industrial e atração de capital para a localidade, favorável a urbanização exclusivista.

Dados informam a conseqüência deste modelo de urbanização, os espaços


esquecidos (favelas, comunidades e etc.) recebem a nomenclatura de
“assentamentos precários”, localidades que são deficitárias de uma diversa gama de
serviços e políticas públicas, que agora recebem tardiamente um tratamento com
fins de remediar, muita das vezes o irreversível.

66
Tabela 12: QUANTITATIVO DOMICILIAR E POPULACIONAL DOS
ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS POR MÉTODO DE RECONHECIMENTO.

Métodos de pesquisa utilizados Domicílios População


Obtido através da identificação dos setores censitários da Contagem
população em 2007 do IBGE inseridos nos limites dos assentamentos 10.910 35.414
Obtido através de pesquisa domiciliar realizada pela Secretária Municipal de
Habitação nos assentamentos precários, complementada pela contagem
dos domicílios sobre imagem de satélite (2007) e restituição
aerofotogramétrica (2001). 2.594 8.556
Obtido através da identificação e contagem sobre imagem de satélite
(2007). 1.388 4.580
Obtido por densidade comparada a partir de pesquisa domiciliar realizada
pela Prefeitura. 1.200 4.288
Total 16.092 52.838
Fonte: (PHLIS - Macaé, 2010:86).

Os números identificam que cerca de 30 % da população reside em


assentamentos precários, ou favelas, o total da população de Macaé no período em
que fora realizado esta pesquisa era no entorno de 169.513, deste total, como já fora
sinalizado, 52.838 residem nestas localidades.

Podemos dizer que isto resulta em uma cidade caótica, prejudicada pelo
rápido crescimento da "cidade empresa”, a evidente ausência de um planejamento
urbano direcionado para esta demanda crescente que residem em “assentamentos
precários”, o que gerou ao longo de toda história urbana macaense problemas
estruturais, como o crescimento continuado das favelas, empobrecimento da
população, ausência de estrutura em diversas localidades, elementos que tiveram
um crescimento tão rápido quanto ao crescimento econômico das empresas.

De acordo com os levantamentos que constam no PLHIS (2010:102), o


crescimento da cidade macaense gira aproximadamente da taxa anual de 3.58
tendo uma estimativa de grande crescimento para um futuro próximo, como fica
claro na citação abaixo:

De acordo com os cálculos realizados, em 2024 o Município de Macaé


contará com uma população de 298.813 habitantes. Esta projeção aponta

67
para um crescimento demográfico de 104.400 habitantes, que equivale a
31.636 domicílios, quando aplicado o número médio de 3,3 pessoas por
domicílio, de acordo com o levantamento realizado pelo IBGE no Censo de
2000. Se utilizada a mesma fonte de dados, e considerando que seja
mantida a distribuição dos rendimentos domiciliares, do total de 31.636
novos domicílios, 44% corresponderão à faixa de rendimentos
compreendida entre zero e três salários mínimos (12.654 domicílios) e 18 %
à faixa entre três e cinco salários mínimos (5.694 domicílios), faixas estas
prioritárias em termos de atendimento pelos programas habitacionais do
Município. Isto significa que, além de atender ao déficit atual, será
necessário criar condições de acesso para cerca de 18.000 novas unidades
habitacionais nos próximos quinze anos. (PHLIS - Macaé, 2010:102).

A política de urbanização poderia ser um instrumento de alcance da


igualdade, regulando de forma mais eficiente o acesso às terras, o Estado incidindo
diretamente no mercado imobiliário, ou seja, regular e garantir o acesso à moradia
para todos, inibindo o mercado de ser o regulador total desta política social, a
habitação, que é um objeto complexo, circundado pela lógica da mercadoria, uma
vez mantida esta característica excluirá as classes populares.

Entretanto, a urbanização desigual e sem estrutura constituiu um grande


espaço favelizado em Macaé, além das várias flexibilizações e incentivos para a
implantação de diversas indústrias, sem preparo algum, ou estudo, sobre o impacto
que elas poderiam trazer consigo.

[...] o poder municipal recebe expressivos valores a título de royalties e criou


no imaginário coletivo o eldorado da riqueza advinda do petróleo, não
contabilizando o passivo social e ambiental provocado pela urbanização
acelerada. Ao se tornar pólo de atração, sem pré-existir condições técnicas
para efetivar o planejamento urbano e programas sociais, o município
passou a estar submetido às demandas do mercado e pressionado pelo
forte movimento migratório de mão-de-obra, não tendo sido o poder local
capaz de mitigar os efeitos do crescimento econômico e populacional
acentuados. Assim, o processo de favelização (em decorrência da grande
valorização imobiliária provocada pela instalação da indústria do petróleo e
da incapacidade de absorção da mão de obra não qualificada), a ocupação
desordenada do solo (inclusive em áreas estratégicas de preservação
ambiental) e a criminalidade (a riqueza trazida pelo petróleo trouxe também
um mercado consumidor de drogas e de prostituição) são elementos que
integram o passivo social e ambiental do eldorado do petróleo. (Herculano,
2010:7).

68
A transformação da cidade de Macaé em um pólo da indústria do petróleo e
também do emprego, trouxe esta tendência e aparência de um novo “eldorado”, uma
cidade que poderia ser um grande de centro de oportunidades, as quais poderiam
ser acedidas por uma parcela maior da população, entretanto, esta aparente
prosperidade, como em todo o processo histórico brasileiro não esta ao alcance dos
trabalhadores, apesar do município apresentar um número crescente de postos de
empregos, apresenta também um empobrecimento da população ainda maior.

Macaé conjugou um modelo econômico desenvolvimentista dissociado do


desenvolvimento social, uma cultura do empreendedorismo e da lucratividade reina
não só nesta localidade mais sim em toda sociedade burguesa brasileira.

O importante é a atração e os benefícios econômicos que a instalação de


uma nova empresa pode trazer e não importa os impactos sociais, ambientais de
sua chegada, ou seja:

[...]os benefícios econômicos ocupam ainda uma posição central nos


critérios de implantação de novos empreendimentos, enquanto as questões
socioambientais envolvidas ficam em segundo plano e são justificadas pela
possibilidade de desenvolvimento nacional”. Ficam para os locais a
especulação imobiliária, um tecido urbano fragmentado e descontínuo, uma
expectativa de empregos não atendida, um contingente populacional
migrante desocupado, impactos ambientais e uma enorme demanda por
políticas sociais e urbanas. (Herculano, 2010: 8).

Dados econômicos colocam a cidade de Macaé entre os 10 municípios mais


ricos do país, entretanto, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), colocou a
cidade muito longe do topo, “apesar de estar entre os 10 municípios mais ricos do
país, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de Macaé o colocou na 811ª
posição entre os cerca de 5 mil municípios Brasileiros”. (Herculano, 2010:30).

Não existe previsão de melhoria nos investimentos nas áreas ou um


planejamento em conjunto entre Petrobras e Prefeitura Municipal de Macaé, visto
que o poder público local destinará pouquíssimos investimentos para habitação,
meio ambiente, dentre outros como podemos ver abaixo:

69
[...] o montante de recursos previstos por funções, o quanto meio ambiente,
saneamento, urbanismo e habitação tampouco são prioridades para a
administração pública local (Respectivamente 0,3%, 9%, 5,7% e 0,3% dos
recursos previstos para 2010-2013). (Herculano, 2010:26).

Como é sempre importante frisar, o crescimento econômico se deu paralelo


ao crescimento da favelização Macaense.

O crescimento econômico e urbano foi, entretanto, acompanhado pela


favelização (Malvinas, Nova Holanda, Aroeira, Santana, Boa Vista, São
Jorge, Jardim Pinheiro, Vila Pinheiro, Leocádia, Botafogo, Miramar,
Lagomar, Jardim Santo Antônio, Nova Macaé, etc.), pela violência e tráfico
de drogas (ali atuava o temível traficante Roupinol, Rogério Rios Mosqueira,
natural de Macaé) e pela degradação ambiental (poluição dos corpos
hídricos). Como se mostra a seguir, a Prefeitura ainda não universalizou a
rede de esgotamento sanitário. (Herculano, 2010:31).

Ainda segundo Herculano, (2010:41) cidade de Macaé é caracterizada


como:

Um local rico e desigual; está estreitamente ligado as estruturas


econômicas petrolíferas internacionais; tem um expressivo contingente de
pobres em favelas; tem áreas lindas mas ambientalmente degradadas.

Podemos verificar grande dependência do município perante o mencionado


mercado, como podemos visualizar na tabela abaixo:

Tabela 13: Grau de dependência orçamentária em relação às rendas do


petróleo. Ranking Decrescente dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro

Receita Rendas Nível de


Orçamentária Petrolíferas Dependência (%).
Município População
A B =B/A

São João da Barra 30.348,00 198,382. 112,20 149.133.645,00 75,20%


Quissamã 91.085,00 496.477.020,80 344.515.668,46 69,40%
Rio das Ostras 19.315,00 227.339.273,50 155.243.524,29 68,30%
Carapebus 11.671,00 65.217.802,48 36.904.568,49 56,60%
Armação dos Búzios 27.701,00 130.574.019,90 66.495.012,20 50,90%
Parati 35.182,00 102.245.900,20 47.280.553,30 46,20%

70
Cabo Frio 180.635,00 447.728.234,70 205.685,909, 41 45,90%
Macaé 188.787,00 1.150.731.987,00 517.468.310,30 45%
Fonte: Serra, 2010:50.

Como sinalizado em tabela mais atual, as cidades evoluíram, tanto


demograficamente como economicamente (nem tanto socialmente), entretanto, cada
vez mais dependentes dos tributos advindos da indústria do petróleo, que é um
combustível não renovável, podendo findar em curto prazo; as esperanças foram
renovadas com a descoberta do pré-sal, as cidades se mantém com esta renda
comprometendo ou adicionando aos seus cofres quase metade ou fatia superior a
50%, em alguns casos, como a cidade de São João da Barra, 75 % de suas rendas
são oriundas da arrecadação dos royalties, Macaé tem 45% de sua tributação
oriunda desta indústria. É espantoso saber que a cidade tem quase a metade de sua
verba atrelada a este mercado, e ainda sim sua cidade tem quase 30% do seu
espaço favelizado, além de outras problemáticas advindas de uma cidade sem o
devido preparo para o impacto ocasionado pelo grande fluxo migratório.

2.3.2– Capital do Petróleo versus Cidade Favelizada: Uma


única Cidade e duas Soluções.

Na ultima década a cidade de Macaé apresentou uma gradativa evolução


voltada para a política social de habitação, com a construção de alguns marcos
regulatórios como o Plano Diretor (2006), PLHIS (Plano Local de Habitação de
Interesse Social (2010), os quais reconhecem a existência de uma grande
população marginalizada e favelizada pelo processo predatório do fracionamento do
solo urbano macaense.

Podemos observar o direcionamento para a urbanização de assentamentos


precários, como o da Urbanização da Nova Esperança, parte I, (2007-2010), Nova
Esperança, Parte II, (em curso), Complexo da Ajuda (em curso), e elaboração de
71
outros projetos relacionados à habitação elaborados pelo poder público local em
parceria com o governo federal.

Dados atuais (2014) demonstram o investimento para as obras citadas,


seguem abaixo:

Tabela 14: Projetos de Urbanização em Assentamentos Precários em


Macaé.

Projetos Valor de Investimento


Urbanização - Nova Esperança I R$ 15.102.685,53
Urbanização - Nova Esperança II R$ 48.286.602,68
Urbanização - Complexo da Ajuda R$ 20.897.104,70
Total: R$ 84.286.392,91
16
Fonte: PAC , 2014.

Um dos projetos em andamento é o Habitar Legal (2014), o citado está


sendo executado com verbas advindas do governo federal através do Programa de
Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2) no bairro Bosque Azul, uma ZEIS (Zona
Especial de Interesse Social), cujo o seu intuito é a diminuição do déficit habitacional
crescente no município macaense.

O objetivo desse programa é diminuir o déficit habitacional de Macaé em


quase 50%. De acordo com o senso de 2010 do IBGE, a defasagem era de
4 mil residências. As inscrições para metade dessas 2.208 unidades estarão
abertas para pessoas que possuam renda bruta familiar mensal de até R$
1.600,00, não possuam imóvel e não foram contempladas com outro imóvel
em programas habitacionais. Elas também deverão residir em Macaé há
pelo menos três anos ou ter vínculo formal de emprego no município. Os
beneficiados com o programa pagarão pelo apartamento prestação mensal
que não ultrapassará 5% da renda familiar, estando entre R$ 25,00 e R$
80,00. A outra metade do número de apartamentos será doada a famílias
removidas de áreas de risco, já cadastradas pela Secretaria de Habitação.
(Prefeitura Municipal de Macaé, 04 de Agosto de 2014).

72
Podemos observar nesta noticia ou chamamento para a inscrição do
programa Habitar Legal que as unidades que estão sendo ofertadas (2.208
unidades) irão atender 50% do déficit habitacional existente no município, entretanto,
os dados expostos datam de 2010, os quais apontam um déficit de 4.000
residências. Como já observamos o processo migratório da cidade de Macaé é
intenso, o que significa dizer que pode ocorrer à existência de déficit habitacional
ainda maior do que o exposto através do censo demográfico (IBGE, 2010).

Ao compararmos os dados e quantias estimadas para o investimento


direcionados para o novo megaempreendimento da localidade de Macaé, digo o
futuro porto, ou ainda, como foi batizado carinhosamente até o momento de
TERLOM (Terminal Logístico de Macaé), e ainda acrescentado ao projeto do porto o
arco viário que será utilizado para o escoamento dos produtos que chegarão no
futuro porto da cidade. Em confrontação ao investimento utilizado na urbanização de
assentamentos precários, ou ainda, a produção habitacional para findar o déficit
habitacional é ínfimo, como iremos observar a seguir:

Tabela 15: Projetos de Estruturação para a


Exploração do Petróleo.
Valor
Nome do Projeto: Estimado
(R$)
Construção do Terminal Logístico de Macaé
892 milhões
(TERLOM)
Construção do Arco Viário 5 bilhões.
Fonte: Revista Macaé Offshore, sd.

Os investimentos direcionados para cidade do petróleo é de quase 6 bilhões,


em infraestrutura para a dinamização da exploração e possível aumento na
arrecadação de indústrias terceirizadas do referido setor, enquanto a fatia
direcionada para a camada pobre da cidade é apenas de R$ 84 milhões, um
investimento pequeno ao comparado ao investimento de quase R$ 6 bilhões em
estruturação do novo porto.

73
A cidade do capital rentista apesar dos avanços notados em produções
habitacionais que são direcionadas para a camada de baixa renda da população (1 a
3 salários), ainda investe o insuficiente a contenção do crescimento do déficit
habitacional de Macaé. Como já representado neste trabalho, infelizmente os
modelos de urbanização atual priorizam cada vez mais a cidade empresa em
detrimento de um baixo investimento nas políticas sociais, não somente
direcionados para as políticas habitacionais, mais para as políticas públicas como
um todo.

Esperamos no atual modelo de cidade que ao menos seja criado um


planejamento ou estudos direcionados para impacto social gerado pela chegada e
implantação do futuro porto de Macaé, ou seja, que não exista uma lacuna histórica
para depois do caos instaurado apareça o investimento em urbanização de
assentamentos precários, ou favelas, como foi verificado com este estudo, pois
existe a tendência de crescimento da cidade, basta saber, expansão com ou sem
planejamento urbano? Cidade somente para aqueles que detém capital ou para
todos aqueles que constroem a cidade?

74
3. Considerações Finais:

Através do presente trabalho buscamos o entendimento do processo


urbanização e fragmentação do solo urbano brasileiro, desde sua origem no século
XIX, o qual detém como uma de suas principais características a exclusão da
camada pobre da população do acesso as cidades formais, e também, ao direito
legítimo de moradia digna.

Também indagamos quanto à representatividade e influência direta por


adoção de uma determinada cultura produtiva, em nosso caso, a exploração do
petróleo, e seus impactos em uma pequena cidade, como o município de Macaé,
causando a sua radical reestruturação produtiva e mudando estruturalmente a
econômica local, antes baseada na agricultura.

Para a construção deste trabalho foi necessário averiguar também as


primeiras formas de ocupação em áreas urbana no Brasil e suas objetivações,
utilizando a cidade do Rio de Janeiro como experiência, meios de resistência
organizados por negros (quilombos), aglomerados habitacionais ocupados pela
camada mais pobre da sociedade (cortiços), medidas reformistas tomadas pelo
Estado (medidas higienistas,reformas urbanas “limpando” a área central da cidade
do Rio), a importância dos interesses das industriais imobiliárias e da industria da
construção civil; todos esses são elementos importantes para assimilarmos o
formato no qual estamos de urbanização.

A sociedade brasileira foi construída e segue historicamente


sustentada nas desigualdades sociais, uma das nossas principais forças motrizes
utilizadas para a construção do espaço urbano foram os escravizados. Além de
serem explorados foram excluídos do acesso a cidade formal, instituindo um grupo
excluído ainda mais a cada reforma da cidade.

75
Foi verificada a realização de uma territorialização, antes mesmo da
concentração urbana, que favoreciam a pequenos grupos,estes determinavam as
regras de diversas localidades no Brasil, mais conhecidos como “coronéis”, os quais
receberam essa incumbência da própria Coroa portuguesa com a criação da guarda
nacional, exercendo práticas paternalistas e clientelistas de controle dos pequenos
agricultores rurais ao seu redor.

Observamos a utilização de diversos mecanismos de manutenção de


poder, como a Lei de Terras e Lei Euzébio de Queiroz (1850) e abolição da
escravatura (1888) que aparentemente beneficiariam os trabalhadores escravos,
entretanto, apenas serviram para impor obstáculos ao acesso igualitário a terra por
parte dos negros.

Examinamos também que durante o processo de aglomeração urbana serviu


como potencializador das desigualdades, portanto, a classe dominante não queria
convivência diretamente com negros ou pobres, ocorrendo uma construção gradual
de uma cidade direcionada para os ricos e outra cidade direcionada para os pobres,
os afastando cada vez mais para os subúrbios, áreas insalubres, tornando a moradia
nas áreas centrais de alto valor, “higienizando” completamente a cidade de
estruturas como os cortiços.

Sempre a concentração dos pobres representou ameaça para a classe


dominante: primeiramente, a organização coletiva de resistência, os quilombolas; no
período imperial e na República, os cortiços e, atualmente, as favelas e as periferias;
todos estes representam espaços criminalizados, marginalizados, ambientes de
pouca estrutura de equipamentos sociais, sendo um ambiente fértil para a
proliferação e agravamento das mazelas sociais.

Este ambiente estigmatizado e uma ausência estrutural de


investimentos nestas localidades representam um abismo crescente durante toda
historia do Brasil.

Durante as pesquisas, verificamos que um dos maiores problemas para


o enfrentamento do déficit habitacional brasileiro perpassa pela ótica de habitação,

76
ou terra, como meras e simples mercadorias, e não como objeto de direito comum a
todos. Verifica-se também a ocorrência de direcionamento destas políticas
habitacionais para aqueles que detém capital, destinando o mínimo para a
população que justamente mais necessita.

Em apoio à mercantilização da questão social habitacional foram


criados projetos com as mesmas características, a orientação desta política
recentemente estão sendo realizadas por instituições bancárias, Banco Nacional de
Habitação (BNH), até o atual momento com a Caixa Econômica Federal (CEF). Os
maiores beneficiários com estes modelos de política são as indústrias envolvidos
neste processo, as empreiteiras são os maiores patrocinadores de campanhas
políticas, não por acaso, assim como, a indústria imobiliária lucra com a valorização
fictícia dos imóveis.

Realizado o levantamento histórico da urbanização da cidade de


Macaé, processo que não foi diferenciado dos demais, manteve-se os critério
financistas de ocupação do solo urbano.

A diferenciação notada foi a agressiva reestruturação produtiva


realizada recentemente na cidade, uma pequena cidade com potencialidades
agrícolas, antes da chegada da Petrobras, passou após a chegada desta sendo uma
das cidades mais importantes para a produção do petróleo no Brasil.

A pequena cidade de Macaé tornou-se uma cidade que arrecada


milhões, por conta da extração petrolífera realizada em sua costa, dentre estas,
medidas compensatórias (royalties), além de impostos advindos dos serviços aqui
prestados por terceirizadas (fim do monopólio na década de 1990).

A configuração de Macaé como uma cidade empresa fica clara com os


investimentos maciços dos royalties serem destinados a própria manutenção desta
indústria, além do que, uma ganância do poder público em atrair cada vez mais
empresas, criando uma diversidade de localidades e estruturação para estas
empresas, em detrimento de uma notada ausência de investimentos direcionados

77
para implementação de políticas públicas, dentre elas e nosso objeto de estudo, as
questões habitacionais.

Apesar de vários avanços e no reconhecimento dos espaços


favelizados, ainda sim é difícil suprir a lacuna deixada pela ausência de mais de 25
anos de ausência na política pública habitacional, no âmbito municipal.

Macaé cresceu de forma dual, a cidade legal prosperou


economicamente, sendo um sucesso em geração de empregos e um sucesso
econômico, enquanto "a cidade ilegal" amarga um crescimento da favelização,
pobreza, violência e precarização do trabalho, déficit habitacional crescente e etc.

Concluindo, podemos afirmar que este trabalho apresenta um alerta


quanto ao crescimento urbano desestruturado, este modelo de expansão capitalista
jamais estará preparado para acolher a massa pobre, tendendo a afastá-la ainda
mais da cidade formal, criando-se e fomentando uma sociedade apenas com fins
lucrativos em detrimento do empobrecimento de uma massa crescente.

78
4 - Referências Bibliográficas:
Sítios de pesquisa:

BRAGA, Brunno.,MACEDO,Rosayne. Um novo porto para o pré-sal em


Macaé.Sd. Disponível em: <
http://www.macaeoffshore.com.br/revista/internas.asp?acao=destaque2&edi
cao=49> Acesso em Nov. /14.
BRASIL, Republica Federativa.Decreto nº 35.308, de 2 de Abril de 1954, -
DOU 3.5.1954 – Republicado: DOU 5.4.1954, Aprova a constituição da
Petróleo Brasileiro S.A. - “Petrobrás”. Republica Federativa do Brasil, Rio de
Janeiro. Disponível
em:<http://nxt.anp.gov.br/NXT/gateway.dll/leg/decretos/1954/dec%2035.308
%20-%201954.xml?f=templates$fn=document-frame.htm$3.0$q=$x>.Acesso
em Ago/2014.
__________________________, Decreto nº10. 257, de 10 de julho de 2001,
Regulamentam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal estabelecem
diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Casa Civil,
Subchefia de Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso Set.
2014.

BONDUKI, Política habitacional e inclusão social no Brasil: revisão histórica


e novas perspectivas no governo Lula. sd. Disponível em:
<http://www.usjt.br/arq.urb/numero_01/artigo_05_180908.pdf>. Acesso Out.
2014.
ESTAÇÕES ferroviárias do Brasil, sd., Disponível em:
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_litoral/macae.htm. Acesso Set.
2014.
FAVELA TEM MEMORIA. Disponível em:
<http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?i
nfoid=40&sid=3.> Acesso em: Mar. 2014.

IMPACTOS SOCIAIS, Ambientais e Urbanos das Atividades Petrolíferas: o


Caso de Macaé, RJ. Disponível em:<
http://www.uff.br/macaeimpacto/OFICINAMACAE/textos00.html >. Acesso
em Mar. 2014.

LISBOA,Andrea. Casa própria: inscrições para o Habitar Legal começam dia


11. Macaé, Agosto de 2014. Disponível em: <
http://www.macae.rj.gov.br/noticias/leitura/noticia/casa-propria-inscricoes-
para-o-habitar-legal-comecam-dia-11>. Acesso em Nov. /14.
79
MACAÉ HISTÓRIA. Disponível
em:<http://www.macae.rj.gov.br/conteudo/leitura/titulo/historia>.Acesso em
Mar. 2014.

MARX, Karl. Os Economistas: O Capital: Crítica da Economia Política


Os economistas. Vol.1. Ed. Nova Cultural Ltda. 1996. Disponível em: <
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_fontes/acer_marx/ocapital-1.pdf>.
Acesso em: Mai. 2014.

NAVARRO, Roberto. Qual foi a Primeira Favela do Brasil? Disponível


em:<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-foi-a-primeira-favela-do-
brasil> Acesso em Mar. 2014.

PETROBRÁS, Nossa História para o Futuro. Sd. Disponível em:


<http://memoria.petrobras.com.br/> Acesso em Set. 2014.
RESSIGUIER, José Henrique Barreto. Atividade petrolífera e impactos no
espaço urbano do Município de Macaé/RJ 1970/2010. 2011.Disponível em :
http://cidades.ucam-campos.br/images/arquivos/dissertacoes/2011/jose-
renrique-2011.pdf Acesso em : Jan. 2014.
SOUZA, Anna Gabriela Oliveira de. Guerra de Canudos. Disponível
em:<http://dspace.bc.uepb.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/1
566/PDF%20%20Anna%20Gabriela%20Oliveira%20de%20Souza.pdf?sequ
ence=1>. Acesso em: Fev. 2014.

URBANIZAÇÃO de Assentamentos Precários – Rio de Janeiro, sd.


Disponivel em : <http://www.pac.gov.br/minha-casa-minha-vida/urbanizacao-
de-assentamentos-precarios/rj>. Acesso em Nov / 14.

VAINER, Carlos B. Pátria Empresa e Mercadoria: Notas sobre a estratégia


discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. 1999. Disponível em: <
http://labcs.ufsc.br/files/2011/12/16.-VAINER-C.B.-P%C3%A1tria-empresa-e-
mercadoria.pdf>. Acesso Mar. 2014.

Livros:
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.

BARUQUI, Solange Silva Carvalho. A cidade Formal e a Cidade Informal,


em Macaé: Uma Análise do Crescimento Habitacional na Década de 90.
Dissertação de Mestrado. UCAM- Campos dos Goytacazes/RJ, 2004,
mimeo.

80
BEHRING, Elaine Rosseti e BOSCHETTI, Ivanete. Política Social:
fundamentos e história.São Paulo: Cortez, 2006. p. 68,69.

BOULOS, Guilherme. Porque Ocupamos? Uma introdução à luta dos sem-


teto. São Paulo: Scortecci, 2012.

CAMPOS, Andrelino, Do Quilombo à Favela: A Produção “Espaço


Criminalizado” No Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

COSTA, Emília Viotti. da.Da monarquia à república: momentos


decisivos/Emília Viotti da Costa. – 6. Ed. – São Paulo: Fundação Editora da
UNESP, 1999. –(Biblioteca básica).

DAVIS, Mike. Planeta Favela. São Paulo, Boitempo, 2006.


FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes.
São Paulo, 1964; Idem, O negro no mundo dos brancos. São Paulo, 1972.

HARVEY, David. A produção capitalista do Espaço, São Paulo: Annablume,


2005.

_______________. Condição pós-moderna. Uma Pesquisa sobre as Origens


da Mudança Cultural. 13ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. As dimensões ético-políticas e teórico-


metodológicas no Serviço Social contemporâneo. Serviço Social e Saúde:
formação e trabalho profissional. Ana ElizabeteMota...[et al], (orgs). São
Paulo: OPS, OMS, Ministério da Saúde, 2006.

________________________.Serviço Social em tempo de capital fetiche:


capital financeiro, trabalho e questão social. 5 ed. São Paulo: Cortez,2011.

MACAÉ. Plano Local de Habitação de Interesse Social (PHLIS - Macaé),


2010.
MARICATO, Ermínia. Habitação e Cidade. São Paulo: Atual. 1997.

_____. Na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras. In: Brasil,


cidades: alternativas para a crise urbana. 3.ed – Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
P. 15-45.

_____. O Impasse da política urbana no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011


(p. 171-191).
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço
Social no Brasil pós-64. São Paulo: Ed. Cortez, 1991.

81
________________. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 2ª Ed. São
Paulo, 1996. Cortez.

PAGANOTO, Faber. Mobilidade e Trabalho em Macaé/RJ, a “Capital do


Petróleo” Rio de Janeiro, 2008. 110f. Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
SILVA, José Carneiro da Memória Topographica e histórica sobre os
Campos dos Goytacazes: com uma breve de suas producções e commercio
offericida ao muito alto e muito poderoso R. D João VI. / José Carneiro da
Silva. 3ª Ed. – Campos dos Goytacazes: Fundação de Cultural Jornalista
Oswaldo Lima, 2010.

STEDILE, João Pedro (org.) A Questão Agrária no Brasil. O debate


tradicional 1500-1960. São Paulo: Expressão popular, 2005. Pg. 15-31.

82

Potrebbero piacerti anche