Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
A partir do final da década de 1990 e início dos anos 2000, a preocupação era em
impedir o desenvolvimento e difusão de tecnologias que poderiam ser utilizadas para
contornar mecanismos de proteção de direitos autorais, os chamados TPM’s.3 Ao
mesmo tempo, também se pretendia criar métodos de controle efetivos, mas que não
travassem a inovação tecnológica ou a evolução da rede. Ambos os anseios foram
atendidos pelo Digital Millennium Copyright Act (DMCA), que criminalizou o ato de
burlar mecanismos de TPM’s e criou o regime de safe harbour para os provedores de
aplicações de internet nos Estados Unidos.
Por este regime, os provedores não são responsabilizados civilmente pelo conteúdo
que hospedam, desde que removam imediatamente os conteúdos ilegais assim que
notificados para tanto. É o sistema conhecido como notice and takedown. O provedor
deve ter um canal por onde os proprietários de direitos autorais consigam notificar,
caso encontrem algum conteúdo publicado sem licença. E logo que recebida uma
notificação, o provedor deve excluir o conteúdo.
Ocorre que o DMCA, que serviu de parâmetro para a legislação da União Européia e
de outros países, é alvo de discussões cada vez mais acaloradas. O motivo é que a lei
não contemplou os serviços de UGC, pois estes ainda não eram uma preocupação no
ano 2000. Estes serviços são diferentes dos provedores em geral, visto que auferem
renda por meio da publicidade gerada sobre os conteúdos que hospedam. Mas ainda
são contemplados pelo regime de safe harbour e, desde que atendam às notificações e
removam os conteúdos ilegais, não são responsabilizados civilmente por infrações a
direitos autorais em suas plataformas.
Mesmo com a garantia da lei, o risco de constantes demandas processuais fez com
que o Youtube desenvolvesse o sistema de filtro denominado Content ID. O filtro
identifica prontamente os conteúdos postados e notifica os proprietários dos direitos
autorais para que optem por solicitar a remoção do conteúdo ou monetizar. Ou seja,
podem escolher receber uma parcela do valor obtido da publicidade gerada sobre o
conteúdo.
Esta vantagem faz com que o Youtube remunere muito menos pelos direitos autorais
do que qualquer outra plataforma de streaming. Por exemplo, enquanto o Spotify paga
em média 20 dólares ao ano por usuário às gravadoras, o YouTube paga menos de 1
dólar, e detém cerca de 46% do mercado de streaming on-demand.5
Como consequência, uma legislação mais rígida, que pode inicialmente parecer a
medida eficaz para satisfazer os interesses dos proprietários de direitos autorais, pode
futuramente gerar uma deformidade de mercado, limitar a fluidez de conhecimento,
estimular o surgimento de novas formas de pirataria, ou até inviabilizar um modelo de
negócio.
Assim, neste cenário de pressões por maior proteção ao direitos autorais, surge a
necessidade de reequilibrar as forças nesta equação. Os direitos dos usuários e
produtores de conteúdo precisam ser observados para que a internet permaneça livre,
o conhecimento seja difundido e a inovação ocorra. Para isso, as discussões a partir de
2020 devem incluir o respeito ao “fair use”, à privacidade dos usuários e à liberdade
da rede.
1
Dados de estudo da Sandvine. Disponível em:
https://www.sandvine.com/hubfs/downloads/phenomena/2018-phenomena-report.pdf
2
MOTHERBOARD. Password Sharing Is a Federal Crime, Appeals Court Rules. Disponível em:
https://www.vice.com/en_us/article/wnxg94/password-sharing-is-a-federal-crime
3
TPMs (technological protection measures), “medidas tecnológicas de proteção” são chaves criptográficas que impedem
que o usário grave, copie ou reproduza em outro aparelho os bens adquiridos de forma legítima. PARANAGUÁ, Pedro.
Direitos autorais — Rio de Janeiro; Editora
FGV, 2009, p. 85.
4
SCHOPPERT, John. The Need to Regulate DMCA-Plus Agreements: An Expansion of Sag's Internet Safe Harbors and
the Transformation of Copyright Law. Disponível em: https://siliconflatirons.org/wp-content/uploads/2018/10/The-Need-to-
Regulate-DMCA-Plus-Agreements-An-Expansion-of-Sags-Intern....pdf
5
IFPI. Global Industry Music Report 2018: Annual State of Art of the Industry. 2018. Disponível em:
www.ifpi.org/downloads/GMR2018.pdf Acesso em: 12 12.2019.
6
Resolução legislativa do Parlamento Europeu, de 26 de março de 2019, sobre a proposta de diretiva do Parlamento
Europeu e do Conselho relativa aos direitos de autor no mercado único digital (COM(2016)0593 – C8-0383/2016 –
2016/0280(COD ))