Sei sulla pagina 1di 3

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPGS


Mestrado Acadêmico em Sociologia

Rafael Luan da Silva

GINZBURG E O PARADIGMA INDICIÁRIO

A partir da concepção de que um paradigma representa o conjunto de concepções


científicas que são reconhecidas e compartilhadas sobre um método científico, Carlo
Ginzburg nos apresenta a construção e a emergência de um modelo epistemológico que,
a partir do final do século XIX, não teria recebido tanta atenção dos teóricos, mas que
merecia um olhar mais atento por trazer contribuições significativas dentro do debate
entre “racionalismo” e “irracionalismo”, como também remete ao grande debate das
ciências sociais sobre a oposição entre indivíduo e sociedade, além da construção desse
conhecimento científico a partir de generalizações ou voltado para uma dimensão
individual.

Nesse sentido, ao longo de três tópicos o autor discorre a cerca do que para ele
seria um paradigma indiciário, caracterizado pela capacidade de remontar e interpretar
uma realidade complexa através de dados que, aparentemente, seriam negligenciáveis,
como a “decifração de pistas”. Como veremos a seguir, esse método é pautado em
diversas áreas de construção do conhecimento, mas há um destaque maior para as
contribuições da medicina, assim como também se dá crédito aos saberes populares.

No primeiro tópico, são apresentadas as bases do método indiciário a partir de três


grandes nomes: Morelli, Holmes e Freud. Através do italiano Giovanni Morelli e o seu
“método morelliano” amplamente divulgado entre os historiadores da arte, apesar da
relutância em reconhecer sua cientificidade, somos apresentados ao que seria uma
tentativa de operacionalizar esse método.

Buscando diferenciar as obras de arte falsas das verdadeiras, o método se


estabelece a partir do exame dos pormenores presentes nas obras que um falsário
dificilmente conseguiria reproduzir, por se atentar aos detalhes marcantes de uma
determinada tradição, os aspectos singulares da obra como os dedos da mão e do pé são
esquecidos e reproduzidos sem uma devida atenção. Para Morelli, seriam esses detalhes

3
esquecidos que nos permitiriam diferenciar as obras falsas das verdadeiras, comparando
o conhecedor da arte a figura de um detetive que busca descobrir a autoria de um crime.

Trazendo para a sociologia, o método remete à obra de Erving Goffman, A


representação do eu na vida cotidiana que nos proporciona um manual de como é
possível estudar a vida social que é organizada por limites físicos, partindo de uma
perspectiva em que a vida social pode ser compreendida como uma espécie de
representação teatral, assim, nos voltamos para as formas como o indivíduo se apresenta
em situações comuns da vida cotidiana a fim de regular a conduta dos outros com
relação a ele.

Embora Goffman não se proponha a utilizar o método indiciário como vemos na


obra de Ginzburg, sua análise parte do pressuposto de que, de maneira consciente ou
inconsciente, os indivíduos quando interagem face a face se apresentam de diferentes
formas conforme lhes for conveniente na ocasião, quando é de seu interesse expressar
determinados comportamentos que vão interferir ou influenciar na forma ele será
percebido pelos os outros.

Durante o processo de interação entre esses indivíduos, são repassadas


informações por meio de símbolos e aspectos verbais e corporais que nem sempre são
controlados por quem está emitindo ou transmitindo, por isso, a parte do
comportamento que não pode ser controlada é que valida ou não a informação que é
repassada inicialmente durante essa interação, como veremos através de Sherlock
Holmes, os indícios imperceptíveis para a maioria são aqueles que devem receber uma
atenção maior dos especialistas.

Assim, temos também a perspectiva de Sigmund Freud, antes mesmo que a


psicanálise se consolidasse, a investigação freudiana também contribui para
compreender o método indiciário a partir da análise dos pequenos gestos inconscientes,
o comportamento expressivo involuntário que revelaria o nosso caráter. Nos três casos,
as pistas, os sintomas, os indícios, podem ser sintetizados em aspectos irrelevantes ao
olhar desatento do leigo, mas definitivos para o olhar treinado do especialista.

No segundo tópico são apresentas as bases ainda mais antigas do paradigma


indiciário, principalmente através dos conhecimentos populares como os dos caçadores

3
que, ao longo do tempo, aprenderam a identificar, interpretar e reproduzir formas e
movimentos aparentemente invisíveis como pegadas, ramos quebrados e odores.

Para isso, Ginzburg traz a passagem das civilizações mesopotâmicas e a


sobreposição do modelo de conhecimento platônico ao saber indiciário, com nomes
como Galileu Galilei e Giulio Mancini que remetem a discussão entre a generalização e
o particular.

No terceiro e último tópico, depois de discorrer sobre modelos que antecederam e


contribuíram para a consolidação do que ele nomeia como paradigma indiciário, o autor
nos fala sobre como isso culminou nos processos em torno da busca por identificar de
modo inconfundível os seres humanos, a tentativa de estabelecer aspectos que torne
possível a diferenciação desses indivíduos a fim de um maior controle da criminalidade.

REFERÊNCIAS

GINZBURG, C. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. IN: Mitos, emblemas,


sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Potrebbero piacerti anche