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Princípios de direito das obrigações

10 Maio 2003 José Maria Rosa Tesheiner

Apresento a seguir um resumo do estudo de Jorge Cesa Ferreira da Silva, intitulado “Princípios de direito
das obrigações no novo Código Civil” [1].

A compreensão do direito obrigacional parte de seus princípios gerais, os quais, em atenção à origem da
normatividade, podem ser divididos em duas grandes categorias: os princípios de normatividade
exógena e endógena.

São princípios do direito obrigacional: a autonomia privada, a função social, a boa-fé objetiva e o
equilíbrio.

Autonomia privada é mais do que autonomia da vontade. Esta se relaciona ao agir livre do sujeito,
ligando-se à vontade interna, psíquica. Já a autonomia privada diz respeito ao poder de criar normas
para si. O acento é posto, assim, na possibilidade de decisões individuais com força normativa.

Ela não se restringe à atividade negocial, mas permeia todos os ramos do direito civil, do direito de
família ao obrigacional. Neste é apenas maior e mais nítida.

A própria noção de “culpa” vincula-se à autonomia privada. A responsabilidade pela conduta danosa é
atribuída àquele que age de modo censurável, vale dizer, na esfera de sua autonomia, mas com culpa.

A função e o sentido da autonomia privada têm de ser buscados na Constituição Federal, notadamente
no artigo 1º, II, que trata da dignidade da pessoa humana, e no artigo 170, que funda a ordem
econômica.

Conforme o art. 1º, é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa
humana, cujo corolário é a proteção do livre desenvolvimento da personalidade. Nesse contexto, afastar
a autonomia privada, ou limitá-la a extremos, é contrário a esses critérios constitucionais, na medida em
que priva o particular de se auto-regrar, tornando-o uma espécie de autômato. De outra parte, o art. 170
funda a ordem econômica brasileira também sobre a livre iniciativa, o que inegavelmente assegura à
autonomia privada um papel central no domínio econômico.

O princípio da autonomia privada é limitado pelo de sua função social.

Logo no primeiro artigo dedicado aos contratos, o art. 421, o Código Civil vincula o exercício da liberdade
de contratar à função social. No mesmo diapasão, o art. 927, o primeiro dispositivo diretamente
regulador da responsabilidade civil, para além de instituir cláusula geral da responsabilidade pelo risco –
o que, de certa forma, já representa uma conseqüência da compreensão social do dever de indenizar -,
dispõe sobre a responsabilidade por ato ilícito, assim considerada, entre outras hipóteses, o exercício de
direito que exceda os seus fins sociais e econômicos (art. 187).

À função social se atribui a especial virtude de incluir, como elemento de necessária atenção jurídica,
preocupações com terceiros, o que inegavelmente vai ao encontro das aspirações de uma sociedade que
se pretende mais solidária.
Visando a estabelecer um perfil conceitual do princípio da função social, pode-se dizer que ele é o que
impõe a observância das conseqüências sociais das relações obrigacionais, tendo como pressuposto a
compreensão de que direitos e faculdades individuais não são estranhos às necessidades sociais, dado
que o indivíduo só pode construir a sua vida em sociedade.

A desobediência ao princípio determinará, mais freqüentemente, a ineficácia do ato; excepcionalmente,


sua invalidade, com fundamento no artigo 2.035, segundo o qual “nenhuma convenção prevalecerá se
contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos”.

A função social não diz respeito aos fins subjetivamente buscados pelas partes, mas com seus efeitos e
com suas conseqüências reflexas, podendo ocorrer que um ato, cujo móvel subjetivo seja anti-social, não
se revele tal, no âmbito de seus efeitos.

É no âmbito dos efeitos que a função social ocupa o seu espaço próprio. Assim, o exercício de direitos
com manifesta inobservância dos seus fins sociais constitui exercício ilícito, por se tratar de abuso de
direito, nos termos do art. 187 do Código. A conseqüência é a responsabilidade civil, ocorrendo dano.

No que se refere aos efeitos reflexos, assinala-se que as relações obrigacionais não são, para terceiros,
meros fatos destituídos de qualquer significado. Disso decorre o dever a todos imposto de respeitar as
relações obrigacionais alheias.

A boa-fe pode ser entendida como o agir correto, leal e confiável conforme os padrões culturais de uma
dada época e local. A boa-fé subjetiva integra o suporte fático de uma norma, como a exigida para a
usucapião de imóveis, pelo artigo 1.242 do Código Civil. A boa-fé objetiva é, ela própria, uma norma
jurídica. Impõe conduta confiável e leal, conforme aos padrões de seu tempo e lugar.

A boa-fé objetiva veda práticas que contrariam esses parâmetros, tais como a de venire contra factum
proprium, a suppressio e a surrectio.

Venire contra factum proprium é a alteração de conduta que frustra legítima expectativa da outra parte.
Exemplo: o pagamento de aluguéis, reiteradamente feito em local diverso do apontado no contrato, gera
legítima expectativa do devedor, impedindo que o credor, sem aviso, queira fazer valer a cláusula
contratual.

Supressio é a perda de uma faculdade jurídica, em razão de conduta anterior. Assim, o adimplemento
substancial acarreta a perda do direito de demandar a resolução do contrato.

A surrectio, pelo contrário, acarreta o nascimento de uma faculdade jurídica, em razão de conduta
anterior. Assim, o inadimplemento antecipado (que não se confunde com o vencimento antecipado),
caracterizado por circunstâncias que deixam claro que, no vencimento, não haverá pagamento, abre
imediato ensejo à demanda de resolução do contrato.

A boa-fé objetiva produz ainda uma segunda série de efeitos, os chamados deveres laterais ou anexos:
deveres de proteção, de cooperação e de informação.

Os deveres de proteção impõem a cada parte o respeito à pessoa, à família e ao patrimônio da outra.
Os deveres de cooperação obrigam as partes a auxiliarem-se mutuamente, afastando as dificuldades que
estiverem a seu alcance e minimizando os custos para a outra, na busca da realização do adimplemento.
Exemplo: no caso de danos a veículo decorrente de acidente de trânsito, o credor da indenização deve
aceitar o conserto pela oficina de menor preço, desde que idônea.

Os deveres de informação e esclarecimento obrigam as partes à informação mútua de todos os aspectos


atinentes ao vínculo, de ocorrências que com ele tenham relação e, ainda, dos efeitos que da execução
possam advir.

O descumprimento ou inobservância da boa-fé nas relações obrigacionais acarreta, conforme o caso, o


dever de indenizar ou nulidade.

O dever de indenizar pode surgir antes de independentemente da celebração do contrato, assim como
após a sua extinção, como nos casos, respectivamente, de culpa in contrahendo (responsabilidade pré-
contratual) e de culpa post pactum finitum.

A nulidade, via de regra, diz respeito à cláusula ofensiva do princípio, e não ao contrato como um todo. É
o que ocorre com as cláusulas abusivas, a que se refere o artigo 51 do Código do Consumidor.

A boa-fé atua, por fim, no plano hermenêutico. Assim, ao dispor que “nas declarações de vontade se
atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da linguagem” (art. 112), o
Código dá maior prevalência à teoria da declaração frente à teoria da vontade, o que reforça a aplicação
da confiança, um dos núcleos da boa-fé objetiva.

O princípio do equilíbrio unifica uma série de institutos, destinados a impedir que relações obrigacionais
sejam pontes para injustiça comutativa. Citam-se os institutos do enriquecimento sem causa e o da
cláusula rebus sic stantibus ou da resolução por onerosidade excessiva.

A aplicação direta do enriquecimento sem causa (e não por intermédio dos institutos que possuem nele
o seu fundamento) fica sempre condicionada à regra geral da subsidiariedade, entendida, grosso modo,
como a regra que só permite a aplicação direta do princípio quando todas as outras alternativas
oferecidas pelo ordenamento não se fizerem aplicáveis.

No que se refere à clausula rebus sic stantibus, dispõe o art. 487 do Código Civil que, “nos contratos de
execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa,
com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis,
poderá o devedor pedir a resolução do contrato”. Mas o conceito de evento imprevisível é incerto, assim
como a exigência desse tipo de evento deixa ao desabrigo hipóteses em que, apesar da grande
probabilidade do evento futuro, suas conseqüências conduziram ao desequilíbrio contratual. Por isso,
outras previsões legais de revisão contratual optam pela chamada teoria da base, que se contenta com a
desproporção entre as prestações, em contratos de prestação duradoura ou diferida, para permitir a
revisão. É o que ocorre na Lei 8.666/93, relativa aos contratos administrativos, e no Código de Defesa do
Consumidor.

Em muitos casos, o desequilíbrio prestacional não se dá com vantagem para uma das partes, o que não
torna a situação menos injusta. Por isso, a melhor interpretação leva a limitar o artigo 478
exclusivamente aos casos de resolução por onerosidade excessiva, apontando-se como regra geral para a
revisão dos contratos o disposto no artigo 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobreviver
desproporção manifesta entre o valor da prestação e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”.

Ainda assim, ficam fora os casos em que o desequilíbrio entre as prestações decorre de fatos previsíveis,
sem elevada vantagem para uma das partes. Para que não se rompa, aí, o princípio do equilíbrio, deve-se
compreender a noção de “imprevisão”, referida no art. 317, não como limitada ao evento em si, mas se
estendendo aos efeitos do evento.

O segundo exemplo de aplicação do princípio do equilíbrio encontra-se no artigo 944 do Código Civil: “se
houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitatativamente, a indenização”. O texto tem inegáveis virtudes. Basta lembrar, para tanto, as
conseqüências dramáticas que podem suceder a uma família de classe média baixa, quando o
responsável econômico por ela, em um momento de simples descuido, abalroa um automóvel de preço
elevadíssimo para os padrões médios brasileiros. O pagamento da indenização pela extensão do dano
seria absolutamente grave para os destinos econômicos de toda a família.

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