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Ingrid da Silva Oliveira 

RA:11057714 
 
“​A fórmula mágica da parceria público­privado:operações urbanas em São Paulo​” 
(Mariana Fix) 
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O texto de Mariana Fix trata das operações urbanas ditas operações interligadas. Essas 
estratégias  são  adotadas  sob  um   discurso  de  que  o  governo,  em  um  quadro  de  dificuldade 
orçamentária,   não  seria  capaz  de  subsidiar  obras  de  grande  porte,  o  que  justificaria  a 
associação  entre  o  capital  privado  ao  público.  De  modo  geral,  como  já  vimos  no  texto  de 
Peter Hall,  esse investimento prévio e maciço das instituições públicas viabilizam a iniciativa 
privada  por  diferentes  meios,  sejam  eles  fiscais  ou  legislativos.  No  caso  de  São  Paulo, 
existem  muitas  exceções  à  mais  importante  de  suas  leis  urbanistas  ,  que  é  a  lei  10.257/2001 
do Estatuto da Cidade.   
Mais  do  que  apenas  associações  entre  o  capital  público  e  o  privado  as  operações 
interligadas  são  meios  pelos  quais  o  próprio  setor  público  recupera  pelo  menos  parte  dos  
investimentos  de  modo  que  a  lógica  se  reverta  em  lucros  para  prefeituras  através  da 
concessão  de  brechas  ou  exceções  à  lei  de  zoneamento  sob  um  custo.  Essa  tática  está 
intimamente  ligada  às  facilidades  legislativas  e  fiscais  encomendadas  pelas  grandes 
empreitadas  ao  poder  público,  e  uma  série  de  corrupções  e  desvio  de  verba  pública  para  as 
contas  internacionais,  como  nitidamente  o  caso  do  ex­prefeito  Paulo  Maluf.  Essa  forma 
maquiada  de desenvolvimento e progresso reforça uma sensação de consenso na sociedade de 
que aquilo será benéfico para diversas camadas e setores, quando não o é.  
A  questão  é  que  ao  investir  em  projetos  urbanos  chamados  “projetos  âncora”  e  atrair 
novos  negócios,  escritórios,  restaurantes  e  empresas  para  áreas  antes  “degradadas”  e  que 
necessitavam  de “revitalização”, ocorre a recaracterização de seu espaço por novos usuários e 
espaços,  como  são  tomados  por  negócios  rentáveis,  geralmente  se  voltam  para  o  público  de 
classe  média  ou  alta,  afastando  gradativamente  a  antiga   população local primeiramente pelas  
frequentes  desocupações  e  retomada  de  posse  de  terras   e,  depois  disso,  ainda  sofrem  da 
valorização  dos  bairros  e  voraz  especulação  imobiliária(Cepacs  no  governo  Maluf),  fazendo 
com  que  essas  pessoas  se desloquem para longe de seus trabalhos e de sua moradia antiga,  de 
sua  vizinhança  etc.  Como  se  não  bastasse,a  legislação  exige  o  pagamento  mínimo  de 
“indenização’  à  essas  famílias  que  se  deslocam,  não  sendo ao menos  suficiente para comprar 
um  outro  barraco  numa  favela  vizinha,  isso,  quando  ainda  são  pagos.  A  população   pobre  no 
geral,  além  de  ser  expulsa  de  suas  casas,  ainda  é  marginalizada  e  desprotegida  pelo  próprio 
poder  público  que  só  dialoga com as grandes interessadas. Aliás, muitas prefeituras passaram 
a  permitir  o  tratamento  das  cidades  como  aplicações  financeiras,  num  mercado  volátil, 
hiper­valorizado e excludente. 
“  Entretanto,  a  principal  justificativa  não  era  viária,mas 
“resolução”  das  margens  do  córrego  por  núcleos  de  favelas.  Na  prática,  a 
operação  serviu para valorizar a região da Berrini  por meio de  uma operação  
de   “limpeza  social”,  com  a  expulsão  de  mais  de   cinquenta  mil  pessoas,  a 
maioria  sem  outra   alternativa  senão  ir  para  outras  favelas,  boa  parte  delas 
junto  aos  mananciais  de  abastecimento  da   cidade,  áreas  de   proteção 
ambiental.  As  “alternativas”  oferecidas  pela  Prefeitura  eram  “verba  de 
atendimento”,  de  aproximadamente  R$1500,  insuficiente  mesmo  para  a 
compra  de  um  barraco  em outra favela; passagem de volta à “ terra natal”; e,  
por  último,  compra  de  uma  unidade   habitacional  na  Zona Leste,  longe  do 
emprego, com pagamento de prestações mensais por 25 anos. “(FIX, 20­­) 
Ao  atrair  esses  novos  negócios,  essas  âncoras  desequilibram  a  região  por  causa  do 
adensamento  populacional  que  provoca  , além das novas necessidades que os  usuários desses 
espaços  geram,  como,  por  exemplo,  construir  novas,  espaços  para  shoppings, 
estacionamentos  etc.  Esse  público  de  classes  média  e  alta  são,  justamente,  aqueles que mais 
exercem  pressão  e  influência  no  Estado  para  que  façam  uma  gestão  para  seu  benefício,  no 
qual os políticos, por vezes saem beneficiados nesse ciclo virtuoso ou vicioso, dependendo do 
ponto  de  referência  adotado.  Se,  por  um  lado,  para  Cândido  Malta  Filho, o dinheiro público 
possa  ser  melhor  gerido  atendendo  às  prioridades  sociais,  uma  vez  que  os  projetos  âncora, 
custeados  pela  classe  média­alta  se  voltam  para  si  mesmos  por  outro,  no entanto, é sempre  o 
Estado  quem  sai  prejudicado  caso  essas  obras  de  infraestrutura  não  resulte  em  iniciativas 
privadas  dando  utilidade  à  esses  espaços,  já  que  não  foram  eles  quem  fizeram  os 
investimentos  prévios  e  estão  projetos   pela  lei.  Logo,  apesar  dos  projetos  âncora  trazerem 
benefícios  para  apenas  parte  da  população,  seus  fracassos  e  prejuízos  são  repartidos  entre 
todos  sob  a  forma  de  crise   orçamentária.  Ainda  assim,  esses  projetos  são  concentradores de 
renda,  e  sua  força  como  zona  de  atração  com  o  tempo,  exige  mais  investimentos  do  Estado 
que  ,  no  fim  das  contas,  gastaria  muito  menos  criando iniciativas de habitação  social desde o 
início.  
No  Brasil,  essa  mentalidade  foi  importada  pelo  pensamento  predominante 
estadunidense  e  teve   seus  primeiros  traços  no  governo  de  Mário  Covas  (1984)  e  depois  por 
Jânio  Quadros,  os  quais  incentivaram   as  operações  urbanas  sob uma ótica bastante ingênua  e 
abriram a Avenida Faria Lima. 
Outros  projetos  como  o  Anhangabaú   Berrini,  Água  Branca  e  Água  Espraiada  só 
viriam  a  se  concretizar,  depois,  principalmente  durante  o  governo  de  Paulo  Maluf 
(1993­1996)  e,  nesses  casos,  muitas  emendas  de  justiça  social  protegendo às populações que 
desocupariam,  foram  violadas,  sem  contar  que  eles  não  se  planejavam  para  dar  suporte  à 
todas  essas  famílias,  mas  apenas   a  parte  delas;  os  planos  de  verticalização  das  favelas  com 
conjuntos  habitacionais  também  não  foram  concretizados.  Em  resumo  ,  boa  parte  das  obras 
realizadas  nesse  período  tiveram  iniciativa  privada  com  o  poder  público  como  aliado,  ao 
mesmo  tempo,  benfeitor  e  beneficiário  no  entanto,  utilizando  da  repressão  e  da  política  de 
limpeza  social  na  cidade  de  São  Paulo,  semelhante  as  ideias  higienistas  do  urbanismo  de 
Haussman, de Paris. 
Feitas  as  reflexões  e  denúncias, a autora ainda analisa a  figura que a burguesia têm do 
Estado,  como  um  instrumento  de  manutenção  de  sua  “cidade  própria”,  hoje   omisso  e  à  sua 
serventia:  o  veem  como  um  órgão,  em  outras  palavras,  um  tanto  desprezível.   Em resumo: o 
modelo  de  urbanização atual,  fere à justiça social  e vitimiza aos mais pobres da maneira rude 
e violenta. 
“Na  prática,  as  unidades   previstas  seriam  insuficientes  caso  parcela  expressa  dos  moradores  optasse  por essa 
alternativa.  No  entanto,  segundo  depoimentos  dos  moradores,  havia pouco empenho da Prefeitura para que isso 
acontecesse.  Toda sorte  de violência e terror foi praticada contra os moradores  durante a remoção: ameaças para 
que  abandonassem  suas  casas  rapidamente,  aceitando  a  proposta  da  Prefeitura;  tentativas  de  corrupção  das 
lideranças; péssimas  condições  dos alojamentos  provisórios,  descritos  como  “ campos de  concentração”; cortes 
de   água  e  luz;  tratores  e   caminhões   de  mudança  rondando  os  barracos  “feito  urubus”;  pressão  psicológico;  o  
abandono pela Prefeitura, que deixou as empreiteiras negociarem diretamente com a população, etc. 

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