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Suporte a Crianças após

Traumas, Catástrofes e Morte


Guia para Pais e Profissionais
Versão traduzida e adaptada por
4.º ano de Educação de Infância (2007/2008)

Escola Superior de Educação


de Coimbra

Integrado no Seminário Interdisciplinar 2


Orientado pelas docentes
Vera do Vale e Joana Chélinho
Sessão: “Como falar de morte com crianças?”
Traduzido e adaptado a partir do título original:

Desenvolvido por:

Revisto em Setembro de 2006


sobre a direcção de:
SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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Índice
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Introdução ………………………………………........…5 Capítulo 6: A Comunicação Social e os


Aconteciemntos Traumáticos: quando se torna
SECÇÃO I: REACÇÕES A CATÁSTROFES E TRAUMAS excessiva a exposição?
Guia sobre as reacções das crianças às notícias sobre
Capítulo 1: Reacções das Crianças a
guerra, terrorismo e catástrofes naturais de acordo com as
acontecimentos traumáticos
idades…………………………………………………………………………….……24
Introdução………………………………………………………………………….…7 Identificação de comportamentos de risco especificamente
Reacções de stress traumático nas crianças………………..….…7
relacionados com o terrorismo e a guerra…………………………25
Guia sobre reacções das crianças de acordo com a idade.…8
Sugestões para a exposição aos media……………………………26
Uma nota sobre trauma e morte de um ente querido…………9

Capítulo 7: Abordagem de assuntos e questões


Capítulo 2: Identificação de Crianças de risco
difíceis: diálogo com as crianças sobre
Factores de risco relativos a acontecimentos traumáticos…… 10 acontecimentos traumáticos
Catástrofes naturais: factores de risco para as crianças……… 11
Sugestões para conversar com as crianças sobre actos
terroristas, guerra e catástrofes naturais .………………….……27
SECÇÃO II: ORIENTAÇÕES PARA AJUDAR CRIANÇAS
AFECTADAS POR CATÁSTROFES E TRAUMAS
Capítulo 8: Terrorismo e guerra: prevenção do
Capítulo 3: Orientações para as Escolas preconceito e do ódio
Sugestões para ajudar as crianças a superar conflitos sem
Primeiros passos essenciais para administradores……………12
Primeiros passos essenciais para professores e profissionais adopção de preconceitos e de ódio…………………………….……..29

de saúde mental………………………………………………………………….12
Tarefas para profissionais da escola…………………………….……13
SECÇÃO III: RESILIÊNCIA EM CRIANÇAS

Uma nota sobre catástrofes naturais…………………………………13 AFECTADAS POR CATÁSTROFES E TRAUMAS

Capítulo 4: Orientações para as Famílias Capítulo 9: Desenvolver resiliência


Identificação de crianças em risco…………………………………….31
Sugestões para os pais ajudarem as suas crianças…….……14
O que é a resiliência……………………………………………………..……32
Sugestões para os pais se ajudarem a si próprios……………15
Considerações para pais e profissionais…………………….………33
Orientações para familiares e amigos…………………………….…16
Sugestões para ajudar as crianças a superar e a
Ajudar crianças com necessidades especiais…………………….16
desenvolverem a resiliência………………………………………….……33
Técnicas de redução de stress para adultos e crianças…….19
Uma nota sobre traumas e perdas…………………………………….19
SECÇÃO IV: REACÇÕES DE LUTO E LINHAS
Uma nota sobre catástrofes naturais………………………………19 ORIENTADORAS PARA AJUDAR A CRIANÇA A
SUPERAR
Capítulo 5: Ajudar as crianças na superação
(antes e depois) de catástrofes naturais Capítulo 10: Crianças e luto – como as crianças
Preparação (anterior) a uma catástrofe natural………….……20 reagem à perda de um ente querido
Importância da preparação…………………………………………………20 Perdas primárias e secundárias………………………………………….36
Sugestões de preparação para uma catástrofe “Tarefas”do luto…………….……………………………………………………36
natural………………………………………………..…………………………….…20 Factores que afectam a adaptação da criança à morte……37
Sugestões para ajudar as crianças a superar uma situação Reacções comuns na infância à morte de um ente
traumática, no caso de catástrofes naturais……………………..21 querido.....................................................................37
Uma nota sobre trauma e luto……………………………………………23

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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Guia sobre como as crianças entendem e pensam a morte


de acordo com a idade……………………………………………………….37

Capítulo 11: Ajudar as crianças a superar o luto


Promover formas saudáveis de ultrapassar o
trauma…………………………………….………………………………………….39
Guia para conversar e cuidar de crianças em luto de acordo
com as idades……………………………………………………………………40

Capítulo 12: Aniversários, Memoriais e Ocasiões


Especiais
Sugestões para a preparação do
aniversário…………………………….…………………………………………...42
Considerações para professores e outros agentes
educativos……………………………………………………………………………42
Considerações para administradores e responsáveis da
escola………………………………………………………………………………….42
Considerações para pais e outros membros da família…...44
Gerir feriados e ocasiões especiais…………………………………….45
Sobre memoriais e funerais……………………………………………….45
A decisão de participar numa vigília comunitária………………46
O significado das cerimónias………………………………………………46
Doenças, ferimentos e visitas hospitalares……………….………47

SECÇÃO V: QUANDO E COMO PROCURAR AJUDA

Capítulo 13: RECONHECER QUANDO AS


CRIANÇAS PRECISAM DE AJUDA
Quando deve procurar ajuda profissioanal………….…………….48
Problemas de saúde mental preocupantes………………………..49
Desordem de stress pós-traumático (DSPT) nas crianças..49
Perguntas e respostas comuns…………………………………………..50
Como é tratado o DSPT?..............................................50
Desordens de ansiedade nas crianças……………………………….50
Perguntas e respostas comuns…………………………………………..51
Depressão em crianças……………………………………………………….52
Perguntas e respostas comuns…………………………………………..53
Como é tratada a depressão?.......................................53

Bibliografia……………………………………….........54

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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Introdução

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A primeira edição deste guia, preparada cuidam delas. A maioria das crianças voltam ao
imediatamente após o 11 Setembro de 2001, para normal, mas algumas continuarão a ter problemas,
orientação educacional e práticas para ajudar as sendo possível desenvolver problemas muito tempo
escolas, os pais e outras pessoas que cuidam de depois do evento.
crianças, a compreender e responder às reacções das
crianças face aos eventos traumáticos. Ao longo dos Especialmente nas épocas de stress, as reacções das
tempos o mundo resistiu a vários desastres naturais crianças são extremamente influenciadas pelos
provocados pelo Homem, sendo este guia revisto adultos que estão à sua volta, sendo estes, muitas
para incluir actualizações a partir de artigos mais vezes, os encarregados pelo tratamento das suas
abrangentes e novos materiais. Os artigos reacções ao stress. Os adultos que estão disponíveis,
representam uma síntese do conhecimento, baseado abertos e honestos com crianças e que proporcionam
nas experiências dos desastres pré 11 de Setembro, uma sensação de normalidade e de rotina durante o
tais como, o bombardeamento da cidade de acompanhamento das reacções da criança, são
Oklahoma e o furacão Andrew na Florida, também os fontes de firmeza. O funcionamento dos sistemas
desastres subsequentes, tais como, o tsunami do sociais, como as escolas e comunidades serão
oceano Índico e o furacão Katrina. O principal afectadas, bem como, as decisões dos encarregados
objectivo deste guia é transformar os resultados da dentro destes sistemas. Como cientificamente se
investigação em aplicações práticas, para os pais e fundamenta, as estratégias investigadas para
profissionais de saúde mental/escola, para o uso prevenir, enfrentar e recuperar dos efeitos dos
durante e após uma crise, assim como, em esforços desastres, passam pela concentração nas tarefas da
de prevenção. Neste guia, também se pretende vida, em vez de colocar a culpa ou expressar a raiva
ajudar a identificar formas de fortalecer os factores em grupos de pessoas.
de promoção da resiliência num clima sensível ao Os indivíduos invocam as forças dentro de si
contexto cultural e social das famílias. mesmos, as das suas famílias e comunidades para
prestar os melhores cuidados às crianças.
Em anos recentes, aprendemos bastante sobre as
respostas das crianças, famílias e comunidades face SOBRE ESTE GUIA
aos eventos traumáticos. Este guia foi elaborado para uso com todas as
Temos aprendido como as catástrofes vitimizam as crianças e adolescentes após uma experiência
crianças em muitos aspectos: podem prejudicar as traumática, mas os usuários devem ser
famílias e as comunidades, destruir casas e afastar particularmente sensíveis às reacções das crianças,
as crianças dos seus entes queridos. pois umas são mais susceptíveis do que outras e
As respostas das crianças ao trauma, diferem das podem estar em risco de desenvolver problemas.
dos adultos e são baseadas numa combinação de Isto, pode incluir crianças que tiveram uma
factores: temperamento preexistente, natureza do exposição física, que testemunharam eventos, que
trauma e que serviços foram prestados. Sabemos estavam perto do local da catástrofe ou incidente,
que em alturas de stress, adultos e crianças podem que tiveram antecedentes de saúde mental, que
atravessar períodos de choque, desenvolver queixas tiveram antecedentes de stress ou consequências da
físicas e tornarem-se irritados, tristes e/ou vida familiar tais como, o divórcio ou a perda de
assustados. As crianças também podem tornar-se emprego.
mais irritáveis ou regredir no seu comportamento e
preocuparem-se com a segurança das pessoas que

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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Este guia está organizado em secções, para facilitar


aos seus usuários o acesso à informação mais
relevante que necessitam. As secções examinam
uma vasta gama de informação sobre as crianças
nas suas diferentes fases de desenvolvimento,
seguidas pela prática, aconselhando os pais e
funcionários da instituição escolar. Construindo
sobre os pontos fortes das crianças, aumentando
assim a sua resiliência.
Também são incluídas as estratégias específicas,
para quando e como adquirir ajuda, para problemas
de saúde mental, preparação para desastres
naturais, falando com crianças sobre terrorismo,
guerra e assuntos subjectivos, técnicas específicas
para ajudar as famílias a aceder a recursos da
comunidade. Cada secção provê informação baseada
em princípios da criança e psicologia da família,
resultados de experiências prévias e estudos de
pesquisa.

Nota: Este guia discute possíveis indicações para


necessidade de novas consultas e recursos adequados e
não é um substituto à ajuda do profissional de saúde
mental.

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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SECÇÃO I

REACÇÕES A CATÁSTROFES e TRAUMAS

Capítulo 1
Reacções das Crianças a
acontecimentos traumáticos
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INTRODUÇÃO muitas crianças também desenvolvem sintomas
como depressão problemas de comportamento ou
As crianças estão rodeadas por potenciais perigos ansiedade (ver Capítulo 13 para descrição detalhada
todos os dias, mas quando um acontecimento de sintomas psíquicos). Além disso, é costume as
ameaça ou causa dano ao bem-estar emocional e reacções particulares das crianças mudarem muitas
físico de uma pessoa, torna-se uma situação vezes por dia e por semanas após uma crise.
traumática. Esta secção mostra a resposta emocional Enquanto algumas dessas reacções são de curta
e comportamental comum das crianças às duração e resolvem-se sozinhas, outras estendem-se
catástrofes naturais e acontecimentos traumáticos. por meses ou até m esmo anos depois do
Enquanto a informação se foca especificamente nas acontecimento ocorrer (Ver secção V para
preocupações das crianças que foram expostas informações de como procurar ajuda de um
directamente ou afectadas por um acontecimento, é profissional especializado).
importante ter em mente que as crianças que são
indirectamente expostas a estes acontecimentos REACÇÕES DE STRESS TRAUMÁTICO NAS
(ex., por intermédio dos meios de comunicação ou CRIANÇAS
escuta das conversas dos adultos) podem apresentar
muitos dos tipos de sintomas e comportamentos. As reacções de stress traumático mais comuns nas
crianças incluem:
A reacção das crianças a um acontecimento
traumático pode variar de acordo com: Prevenção
 Nível de exposição ao acontecimento As crianças tentam evitar lembranças, actividades,
 Idade e capacidade de perceber a situação pensamentos e sentimentos relacionados com o
 Sexo acontecimento. Procure os seguintes sinais:
 Operacionalização quotidiana antes do  Afastamento dos amigos e da sociedade.
acontecimento  Perdas de memória sobre informações e detalhes
 Personalidade negativos do acontecimento.
 Alterações resultantes da vivência das situações  Sem emoções ou vazio de expressões emocionais;
(ex.º, recolocação de papeis e responsabilidades) incapacidade de expressar uma variedade de
 Rede de suporte respostas emocionais (i.e., “Isolada”)
 Perda anterior ou experiência traumática.
(Re)Experimentando
Enquanto os sintomas de Stress pós traumático são
os problemas mais comuns das crianças que viveram As crianças podem mostrar evidências de reviver
um acontecimento traumático ou catástrofe natural, aspectos do acontecimento ou ter recorrido a

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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imagens e pensamentos sobre o acontecimento.  Excessivamente possessivos relativamente as


Procure: pessoas que lhes dão carinho e separação
 Repetições ou encenações de acontecimentos problemática;
relacionados com o trauma.  Reaparecimento de acontecimentos primitivos
 As crianças agem como se o acontecimento fazer chichi na cama, chuchar no dedo;
estivesse a ocorrer outra vez.
 Pesadelos frequentes sobre o acontecimento. Crianças em idade escolar (6-9 anos)
 Reacções psicológicas angustiantes ao lembrar o
acontecimento.  Aumento da agressividade, raiva e irritabilidade
(ex. arreliar, conflitos com os pares);
Despertar Agitado  Culpam-se pelo acontecido;
 Mau humor, rabugice;
As crianças podem mostrar agitação e elevada  Negação do ocorrido;
sensibilidade a factos que façam recordar os eventos.  Problemas académicos ou enfraquecimento,
Tais como: recusa em ir á escola, problemas de memória e
 Sensibilidade aumentada a factos que vê, sons ou de concentração;
outros estímulos relacionados com o  Preocupação com a saúde física e queixas físicas
acontecimento; (ex. dor de estômago, cefaleias);
 Nervosismo;  Repetição/Perguntas repetidas;
 Distúrbios de sono;  Medo de futuros prejuízos ou morte de entes
 Irritabilidade; queridos;
 Falta de concentração;  Choro e lágrimas;
 Instabilidade;  Preocupação acerca de tomarem conta de si;
 Choro;  Afastamento de interacções sociais e actividades
 Preocupação e ansiedade acerca de entes agradáveis;
queridos e do futuro;
 Alteração do apetite; Crianças em idade escolar (9-12 anos)
 Comportamento desorganizado.
 Choro;
GUIA SOBRE REACÇÕES DAS CRIANÇAS DE  Agressão;
ACORDO COM A IDADE  Irritabilidade, arreliar os outros;
 Raiva ou ressentimento acerca do acontecimento;
A reacção clássica das crianças ao stress e ao trauma  Tristeza, isolamento, afastamento;
e a sua capacidade para compreender e para os  Receios, ansiedade, pânico;
eventos fazerem sentido são influenciados pela sua  Negação de emoções, fuga de discussão do
idade. A seguir está uma lista de reacções de infância acontecimento;
ao stress caracteristicamente encontradas num  Auto-acusação, culpa;
grupo etário específico.  Alteração do apetite e do sono;
 Preocupação com a saúde física e queixas físicas
Crianças que estão a aprender a andar e do pré- (ex. dor de estômago, cefaleias);
escolar (2-5 anos)  Problemas académicos, recusa em ir à escola,
problemas de memória e de concentração;
 Jogos ou conversas repetitivas acerca do  Pensamentos repetitivos e conversas relacionadas
acontecimento; com o evento;
 Ataques de cólera, explosões de raiva;  Expressões de preocupações e necessidade de
 Choro e lágrimas; ajudas excessivas e intensificadas;
 Receio aumentado (do escuro, de monstros, de  Preocupação e ansiedade acerca dos entes
estar só); queridos e do acontecimento ou eventos futuros;
 “Pensamento mágico” (acreditam que causaram o  Desejo em se envolver em comportamentos
evento ou que o acontecimento pode ser altruístas, tentando ajudar os mais prejudicados.
desfeito);

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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Pré-Adolescentes e adolescentes (13–18 anos)

 Confusão de sentidos, distanciamento dos amigos Uma nota sobre trauma e morte de um ente
e da família; querido
 Manifestação de ressentimento ou perda da
confiança; As reacções das crianças serão mais complicadas se
 Depressão, expressão de pensamentos suicidas; perderem alguém, através de uma catástrofe ou de
 Pânico e ansiedade, preocupação com o futuro; um acidente. Para uma informação mais específica
 Mudanças de personalidade e irritabilidade; no impacto da perda e de luto na infância, veja a
 Auto-preocupação; secção IV.
 Participação em actos de alto risco ou
comportamentos ilegais;
 Uso e experimentação de substâncias;
 Insucesso escolar, recusa em ir à escola, perda de
memória e concentração;
 Mudanças no apetite e nos hábitos de sono;
 Pensamentos negativos;
 Empatia com pessoas com comportamentos
semelhantes e desejo de compreender porque tais
coisas acontecem.

Para mais informação ou para identificar as crianças


em risco elevado após catástrofe ou acontecimento
traumático, ver o capitulo 2.

UMA NOTA SOBRE TRAUMA E MORTE DE UM


ENTE QUERIDO

As reacções das crianças serão mais complicadas se


perderem alguém, através de uma catástrofe ou de
um acidente. Para uma informação mais específica
no impacto da perda e de luto na infância, veja a
secção IV.

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Capítulo 2
Identificação de crianças de risco

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FACTORES DE RISCO RELATIVOS A ACONTECIMENTOS do medo depois de um acontecimento traumático.
TRAUMÁTICOS Em contraste, crianças com fortes habilidades para
resolver problemas e tipos de reacção práticos
Algumas crianças estão mais sujeitas que outras a podem rapidamente restabelecer uma rotina
desenvolver problemas decorrentes de uma adaptativa.
experiência traumática. Os seguintes factores
poderão afectar o comportamento das crianças Género: O sexo masculino é mais propício que o
depois de um acontecimento traumático ou de uma sexo feminino para apresentar sérios problemas de
catástrofe: comportamento, tais como a agressão e
comportamento anti-social, depois de um
Impacto real no dia-a-dia: crianças que foram acontecimento traumático. O sexo feminino está
directamente afectadas pela catástrofe (por exemplo, mais inclinado a variações de humor/disposição, tais
perda de um ente querido ou animal de estimação, como a ansiedade ou depressão, e está mais
tendo de mudar de lugar repentinamente ou predisposto a discutir os seus sentimentos com os
experimentar um sentimento de ameaça) estão em outros.
maior risco de terem reacções de stress negativas.
Factores de risco pré-existentes tais como
Funcionamento emocional dos adultos antecedentes emocionais, de aprendizagem e
significativos para a criança e dos prestadores problemas sociais: crianças com estes tipos de
de cuidados: as crianças reagem às respostas dos problemas podem ter menos recursos para lidar com
seus pais e de outros adultos. Por exemplo, se um acontecimentos traumáticos. Por exemplo, crianças
dos pais está sobrecarregado com preocupações, com menos competências sociais estarão menos
angústias ou tristezas, a criança poderá sentir-se aptas a beneficiar de amizades de suporte. Crianças
particularmente assustada. As crianças sentem-se com problemas de aprendizagem podem ter maior
também menos à vontade para discutir os seus dificuldade em compreender e gerir as mudanças na
problemas emocionais se perceberem que os seus sua vida. Crianças com um historial de
prestadores de cuidados estão demasiado acontecimentos traumáticos e stress emocional estão
preocupados para lidar com estes. Por outro lado, a em maior risco de desenvolver sérios distúrbios
negação dos adultos sobre as suas respostas emocionais após uma catástrofe.
emocionais podem ser muito confusas para as
crianças. É importante que os adultos estejam Padrões e relações de comunicação familiar:
disponíveis física e emocionalmente para as crianças famílias com padrões de comunicação marcados pela
depois destes acontecimentos. luta e conflito estarão menos disponíveis para
estabelecer entre eles uma rede de suporte
Personalidade e temperamento: As características imediatamente após um acontecimento traumático.
emocionais pré-existentes numa criança e tipos de Em contraste, famílias com um sistema de
reacção irão acentuar-se durante uma crise. Por comunicação aberto estão disponíveis para prover as
exemplo, uma criança que é caracteristicamente crianças com um suporte, segurança e conforto e
ansiosa poderá revelar um crescimento significativo servirão como importante recurso para as ajudar na

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adaptação a mudanças. É importante que as crianças membros da família sobre os seus medos e
sintam que podem falar abertamente com os preocupações.
Demográficos: as famílias podem ser mais ou
menos limitadas na sua capacidade de encontrar Factores de risco durante uma catástrofe
ajuda para as necessidades imediatas ou a longo natural:
prazo das crianças. Factores promotores de stress
para a família, tais como problemas financeiros e  Experiência de medo durante um acontecimento
situações de dificuldade do dia-a-dia poderão limitar que lhes provoque dor ou de morte;
a capacidade das crianças para lidar com  Sentimento de perda de um ente querido, amigo
acontecimentos traumáticos. ou animal de estimação;
 Experiência extrema de stress ao longo de um
Disponibilidade das redes de apoio social: acontecimento;
crianças que têm bons sistemas de apoio fora da  Separação de um membro da família;
família - tais como treinadores e professores de  Perda de casa e/ou dos seus pertences pessoais;
religião - irão beneficiar grandemente por serem  Aproximação física - testemunho ou experiência
capazes de comunicar com aqueles que lhes são de catástrofe;
familiares, para receber conforto e segurança.  Aproximação emocional - se uma pessoa amada
morre ou sofre uma catástrofe;

CATÁSTROFESNATURAIS:FACTORESDERISCOPARAAS Factores de risco após uma catástrofe natural:


CRIANÇAS

A maior parte das crianças são capazes de lidar com  Mudanças significativas de estilo de vida devido a
catástrofes naturais quando têm apoio e assistência. uma catástrofe - mudança de local de habitação,
Dependendo da idade, temperamento e historial da casa nova, desalojamento, escola nova,
criança, esta pode estar em maior risco de separação dos amigos e família;
desenvolver uma reacção de stress mais severa após  Disfunção na rede de apoio social;
uma catástrofe. Crianças com esta experiência  Suporte social limitado da família e amigos;
podem ter um elevado risco de dificuldade em lidar  Desconexão emocional dos amigos e família;
com ela e desenvolver problemas de saúde mental  Re-experiência dos acontecimentos traumáticos
após uma catástrofe natural, tal como um furacão. através dos media;
 Mudanças permanentes;
Factores de risco anteriores a uma catástrofe  Perder a esperança no futuro;
natural:  Crença que o mundo não é seguro mas sim
imprevisível.
 Dificuldades académicas;
 Trauma prévio ou acontecimento stressante da
vida (morte, novos membros na família, divórcio,
factores de stress financeiro);

 Historial de problemas emocionais ou


comportamentais;
 Suporte social e amizades limitadas
 Pais com dificuldades em lidar e providenciar
esperança e segurança às crianças.

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Secção II

ORIENTAÇÕES PARA AJUDAR CRIANÇAS AFECTADAS POR CATÁSTROFES E TRAUMAS

Capítulo 3
Orientações para as escolas

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Pesquisas demonstram que além do imediatamente ao sucedido e nos dias seguintes.
acompanhamento dos pais, das famílias, de outros Pais e crianças deverão ser tranquilizados de que
cuidadores, as escolas, têm um papel importante na está preparado um sistema para estes
vida das crianças que sofreram traumas. acontecimentos.
As crianças passam grande parte do tempo na escola
e frequentemente pensam nela como um sítio onde Identificar uma pessoa de contacto e Pessoa de
possam aprender algo sobre o mundo. suporte para empregados, pais, crianças e
É também a escola o local um local que organiza o comunidade Uma pessoa deverá ficar responsável
seu dia-a-dia e privilegiado a interação com os pela comunicação das políticas e actividades
colegas. As escolas têm um papel importantíssimo na escolares ou outras pessoas, (preferencialmente
ajuda/apoio a prestar às crianças quando acontece psiquiatra). Esta deverá ser o suporte para a
uma catástrofe ou uma tragédia. comunidade escolar.
Os administradores deverão tornar claro para os
As seguintes sugestões podem ser usadas por pais, quem são as pessoas a quem se devem dirigir.
professores e profissionais da comunidade escolar
para desempenhar este papel. Além destas, os Enviar carta com dados actualizados para pais
profissionais podem encontrar nas outras secções nos dias seguintes ao trauma Incluir na carta o
ajudas para a compreensão das reacções das que foi discutido na escola, o que deverão os pais e
crianças ao trauma (capítulo 1), no apoio a crianças as crianças esperar para os dias seguintes.
com necessidades especiais (capítulo 4) e no suporte
a crianças à superação de catástrofes naturais ou Ter consciência dos limites do “staff” da escola
morte capítulos 5 e 11). Identificar se é necessário recorrer a recursos
exteriores, face a necessidades imediatas. Se a
PRIMEIROS PASSOS ESSENCIAIS PARA escola precisar de recorrer a outros meios, a pessoas
ADMINISTRADORES especializadas, poderá contactar outras instituições.

Organize um sistema de comunicação entre PRIMEIROS PASSOS ESSENCIAIS PARA


trabalhadores, pais e crianças Tendo em conta a PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE
natureza da catástrofe ou trauma que a criança MENTAL
viveu, a escola e/ou pais deverão ser informados.
Atão pronta, clara e directa quanto possível, Identificar crianças em risco Professores e
centrando-se apenas nos acontecimentos e profissionais de saúde mental devem comunicar
informando como a escola irá funcionar e reagir entre si, para juntos poderem determinar quais as

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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crianças em risco, ou crianças que sofreram algum interromper e deixar os seus próprios sentimentos
impacto emocional directo (perda de um familiar fora da discussão.
próximo, perda da sua casa ou ter presenciado o Algumas crianças preferem desenhar, escrever ou
acontecimento), ou com problemas de saúde mental. fazer outra actividade criativa em vez de falar para
Organiza um plano para reconhecer sinais de alerta, expressar os seus sentimentos. Todas as formas de
para colocar serviços apropriados no local (veja expressão devem ser permitidas mas não forçadas.
capítulo 1 e 2 para mais informações sobres as (Ver Capítulo 7 e 8 para sugestões para conversas
reacções das crianças a acontecimentos traumáticos com as crianças sobre acontecimentos traumáticos).
e para identificação de crianças com comportamento
de risco e dificuldades emocionais) Estar atentos a sinais que a criança possa
mostrar precisar de uma ajuda extra durante
Dar às crianças um ambiente seguro e este período Crianças que não são capazes de ter
tranquilizante Algumas crianças podem querer falar proveito escolar devido a sentimentos de grande
sobre o sucedido enquanto outras não. A discussão tristeza, medo ou fúria devem ser referenciadas para
do acontecimento não deve ser forçada embora o a um profissional de saúde mental (psicólogo).
ambiente deva ser de tal forma bom para que quem Crianças pequenas devem sentir angústia que se
queira expressar os seus sentimentos sinta que é manifesta como alterações físicas, como dores de
seguro fazê-lo. cabeça, estomacais, náuseas ou fadiga extrema.

Determinar quando há uma necessidade ou Continuar a cuidar de si própria e dos seus


desejo para um memorial Os memoriais são, por colegas Os professores e profissionais da escola
vezes, uma ajuda para recordar pessoas e coisas que podem centram-se tanto em cuidar das crianças, que
se perderam, resultado de um desastre ou Trauma. comprometem o cuidado consigo próprios. Encontrar
Os memoriais escolares devem ser breves e formas que o grupo de profissionais da escola
apropriados às necessidades e idade ao dispor da possam ser capazes de se apoiar umas às outras.
comunidade escolar no seu geral. (Ver capítulo 12,
para mais informações, em aniversário e memoriais). Manter os pais informados das actividades e
recomendações da escola Manter os pais
TAREFAS PARA PROFISSIONAIS DA ESCOLA informados das actividades escolares para que eles
possam estar preparados para questões e discussões
Dentro do possível manter a estrutura e rotina que possam continuar em casa. Encorajar os pais
do dia-a-dia da escola As crianças tendem a para limitar a exposição das crianças a reportagens
funcionar melhor quando sabem o que esperar das dos media sobre o acontecimento e para ver
actividades diárias. Voltar a uma rotina ajuda as televisão com elas sempre que possível. (Ver capítulo
crianças a sentirem que o desastre ou trauma não 6 para mais informações na exposição aos media).
controla todos os aspectos da sua vida diária.
UMA NOTA SOBRE CATÁSTROFES NATURAIS
Assegurar às crianças que os professores e
outros adultos responsáveis garantem a sua Esta secção dá informação para ajudar as crianças a
segurança As crianças dão respostas positivas superar, acontecimentos traumáticos incluindo o
quando sabem que os adultos em quem confiam terrorismo, os desastres naturais e guerra. Para mais
estão a fazer os possíveis para mantê-las seguras. informações adicionais sobre as guidelines para
ajudar crianças a preparar-se para e a superar
Permitir conversas em turma sobre o catástrofes naturais, tais como um furacão, ver
acontecimento As conversas de grupo devem ser capítulo 5.
opcionais para as crianças que desejam falar sobre o
que aconteceu. O professor ou líder da discussão
deve fazer perguntas abertas, encorajar a ouvir sem

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Capítulo 4
Orientações para as famílias

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SUGESTÕES PARA OS PAIS AJUDAREM AS SUAS emoções através da arte ou através do contacto com
CRIANÇAS os pares. Ajude a sua criança a identificar formas
construtivas para expressar os seus sentimentos,
A capacidade das crianças para processar o que como por exemplo a raiva e a tristeza. Encorage a
lhes aconteceu é influenciada pela sua idade e sua criança a escrever sobre os seus pensamentos,
por outros factores. Para encontrar os recursos sentimentos e experiências num diário, ou a fazer
apropriados à idade para o ajudar a si e à sua desenhos sobre as suas experiências. Isto ajudará a
criança, consulte o guia das idades no capítulo 1. criança a expressar os seus sentimentos com
significado.
As crianças processam ao seu próprio ritmo os
acontecimentos traumáticos. Esteja disponível Fale com as crianças sobre os diferentes
para discutir esses acontecimentos em mais do que sentimentos das pessoas, incluindo-o a si,
uma ocasião de acordo com o interesse das crianças, sobre a experiência de passar por uma tragédia.
sendo que, ao longo do tempo, as dúvidas sobre o Expresse os seus sentimentos honestamente, mas dê
que aconteceu alterar-se-ão. o seu melhor para evitar alarmismos e transtornos
no futuro da criança.
Não julgue as reacções das crianças pela perda
de outros. Algumas crianças encontrarão consolo Encontre um local sossegado, fale com as suas
estando com os seus amigos e com a família; outras crianças calmamente e esteja disponível para
preferirão assimilar os acontecimentos isoladas. quaisquer questões. É sempre melhor começar
Tranquilize a sua criança informando-a que é normal uma conversa tentando descobrir aquilo que as
passar por diversas situações relativas ao trauma, crianças já sabem, para depois ouvir e responder às
tais como raiva, culpa e tristeza. Deve ser dito às questões que elas têm. Não faz mal dizer “Eu não
crianças que as pessoas expressam os seus sei” se a sua criança lhe perguntar algo que não sabe
sentimentos de diversas formas. Por exemplo, a responder. (Consulte os capítulos 7 e 8 para
pessoa pode sentir-se triste sem necessariamente encontrar dicas no modo como falar com as crianças
chorar. sobre o terrorismo, desastres naturais e guerra.)

Esperam-se mudanças de humor nas crianças Forneça informação fidedigna e directa sobre
após uma perda significativa ou situações aquilo que aconteceu. Já que a sua criança deseja
traumáticas. Esteja atento e seja paciente com falar sobre o que aconteceu, dedique-se a falar com
estas possíveis oscilações no mundo emocional da ela abertamente, usando uma linguagem simples que
sua criança. ela entenda. Quando os adultos evitam discussões
sobre acontecimentos traumáticos, isto poderá
Encorage as crianças a expressar e a comunicar indicar que o assunto é “tabu”, o que pode ao fim e
os seus sentimentos. As cerimónias de ao cabo resultar num maior medo e preocupação nas
homenagem e outros rituais poderão ser importantes crianças.
para algumas crianças, enquanto que outras poderão
sentir-se mais confortáveis expressando as suas
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Deixe que as suas crianças mantenham o mais mesmo imediatamente após o acontecimento. Passar
possível as suas rotinas diárias durante estas mais tempo com as crianças poderá ser
épocas desgastantes. Mantendo os horários tranquilizador. Explicar como a segurança da
familiares, as crianças irão regularmente comunidade está a ser promovida pelas instituições
reestabelecendo os seus sentimentos de governamentais e comunitárias.
normalidade, e as suas ansiedades sobre o que
aconteceu serão significativamente reduzidas. Lembre-se que as crianças que já tinham
dificuldades antes do acontecimento, tais como
Organize eventos sociais para as crianças e os problemas emocionais ou exposições a traumas
seus amigos. Apoio social e relações de amizade anteriores, poderão ser particularmente
são importantes para a recuperação. Planeie saídas vulneráveis.
especiais ou eventos em grupo para as crianças, e Se está preocupado com a sua criança, ou se
encorage-as a socializar com os seus pares. problemas emocionais e/ou comportamentais
persistem por mais de 6 semanas, consulte um
Encorage as crianças a ajudar os outros e a psiquiatra. As indicações relativas à sua saúde
voluntariar-se. As crianças têm tendência a mental poderão ser avaliadas por pediatras, escolas e
recuperar mais rápido de situações traumáticas organizações religiosas.
quando sentem que estão a contribuir para a
recuperação de outros. Se possível, envolva-os em SUGESTÕES PARA OS PAIS SE AJUDAREM A SI
tarefas de limpeza ou em formas de ajudar outros PRÓPRIOS.
que estejam a passar por momentos difíceis. Depois
disto, recompense os seus esforços (das crianças) Quando ocorre um desastre ou outro tipo de
com actividades divertidas. tragédia, os pais ficam muitas vezes preocupados
com a melhor forma de ajudarem as suas crianças
Encorage as crianças a aderir a um novo enquanto estes tentam simultaneamente lidar com o
passatempo ou a ocupar-se com actividades seu próprio choque, tendo em conta o que
agradáveis. Mantendo as crianças envolvidas em aconteceu. Crianças e adultos ficam da mesma
actividades servirá como distracção e ajuda-as de maneira assustados e confusos. Assim como os
forma eficaz a fazer frente a estas situações. adultos, as crianças estão preferencialmente
preocupadas com a sua família e com as pessoas
Controlar a exposição à cobertura dos media, mais próximas de si. As sugestões seguintes poderão
incluindo televisão, rádio e jornais. A visão guiar pais a ajudarem-se a si próprios e às suas
repetida dos acontecimentos pode ser dolorosa, crianças a ultrapassar o acontecimento traumático.
particularmente para as crianças mais pequenas que
podem acreditar que estes acontecimentos sucedem Conceda a si próprio um tempo de recuperação.
novamente de cada vez que os vêem na televisão. Os pais estão muitas vezes focados em cuidar das
Para todas as crianças, a exposição excessiva poderá suas famílias, que esquecem-se de cuidar de si
ser avassaladora e poderá desencadear sentimentos próprios. Conceda a si mesmo tempo e espaço para
de dor e de vulnerabilidade. (Consulte o capítulo 6 expressar os seus sentimentos acerca do que
onde consta mais informação acerca da exposição aconteceu. Seja paciente com o seu estado
aos media). emocional já que é normal que depois do trauma
haja oscilações do humor.
Tente manter a calma. Isto mostrará não só às
suas crianças que está calmo, mas ensina-as Procure e providencie apoio. Passe tempo a falar
também como lidar com situações desgastantes de com outros adultos que percebam a situação que
um modo sereno. está a atravessar. Apesar de ser sempre boa ideia
procurar apoio nos entes queridos lembre-se que as
Assegure às crianças que estas estão em pessoas muito próximas de si podem estar
segurança e a ser bem tratadas. Frequentemente, comprometidas caso tenham passado pela mesma
podem ter de se repetir palavras de consolo, até
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situação. Se for o caso, pode procurar locais de apoio para tomar conta das crianças ou para as
de grupos. transportar.

Sempre que for possível, tenha Evite afirmações descabidas e promova


comportamentos saudáveis como comer respostas autênticas. Embora eles saibam bem o
refeições nutritivas e em quantidades seu significado, muitas pessoas afirmam coisas que
suficientes. Os que conseguem manter estes podem soar falsas ou sem sentido, tais como “vais
comportamentos saudáveis têm tendência em sentir ficar bem”, “o tempo cura tudo”, ou “eu sei aquilo
maior controlo das suas vidas e a enfrentar situações que tu sentes”. As pessoas em aflição, preferem
adversas. Evite o uso de drogas e álcool. frequentemente ser ouvidas. Também é bom dizer,
“quem me dera saber o que dizer”, o que indica boa
Mantenha rotinas regulares no que diz respeito vontade para ajudar a pessoa que necessita.
a comer, dormir e fazer exercício. Manter as
rontinas é importante tanto para os pais como para Evite julgamentos e comparações. As pessoas
as crianças para fazer com que a família volte a uma são diferentes e podem apresentar variadas reacções
vida normal depois de um acontecimento traumático. em situações stressantes. Frequentemente é mais
útil perguntar a alguém como está a lidar com uma
Evite tomar decisões muito importantes na situação do que compará-la com outro caso.
vida. Embora possa ser tentador mudar de emprego
depois de um acontecimento traumático, Lembre-se que as necessidades das pessoas
normalmente é melhor evitar tomar decisões muito traumatizadas poderão mudar ao longo do
importantes na vida durante momentos de stress e tempo. Usualmente existe uma grande actividade de
agitação. entreajuda nas primeiras semanas depois de um
desastre ou trauma. Uma vez diminuídos, poderão
Se estiver a ter dificuldades operacionais ou se constituir um vazio para as pessoas e respectivas
não for capaz de realizar tarefas diárias, famílias. Os amigos são os mais necessários nesta
consulte o seu profissional de saúde física ou altura, quando provavelmente os outros não estão
mental. Lembre-se que você não será uma ajuda presentes.
para a sua família se tiver dificuldades em ajudar-se
a si próprio. AJUDAR CRIANÇAS COM NECESSIDADES
ESPECIAIS
ORIENTAÇÕES PARA FAMILIARES E AMIGOS
Crianças com necessidades especiais, como
A família e os amigos podem proporcionar uma distúrbios de desenvolvimento, geralmente têm
maravilhosa fonte de apoio para as crianças e para dificuldade em desenvolver-se aos níveis físico,
as famílias que tenham passado por um desastre ou emocional e intelectual para fazer frente às
outro tipo de acontecimento traumático. As dificuldades do meio envolvente. As dificuldades no
sugestões seguintes podem ser úteis para aqueles desenvolvimento poderão incluir desordens físicas,
que querem confortar os seus entes queridos, ao como a paralisia cerebral e limitações visuais,
longo dos tempos difíceis: desordens na linguagem e no padrão do discurso,
atraso mental e dificuldades desenvolvimentais
Dê ajudas práticas. Pergunte por aquilo que profundas como o autismo.
necessita de ser feito ou esteja atento àquilo que
pode ser necessário. Se você for especialista em As crianças com dificuldades desenvolvimentais
alguma área específica, partilhe o seu conhecimento. apresentam diferentes níveis de inteligência e de
Por exemplo, alguém que tenha conhecimentos na reacções emocionais perante acontecimentos que as
área financeira/burocrática poderá ajudar oferendo- rodeiam. Têm também diferentes estilos e modelos
se para tratar de documentações necessárias, de aprendizagem, quando lidam com acontecimentos
enquanto outro pai de um colega poderá oferecer-se normais. Estar atento ao impacto que um desastre
pode provocar no desenvolvimento de uma criança
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com deficiência é crítico tanto para os “cuidadores” concrectos. É igualmente importante dar às crianças
como para os profissionais. muitos factos para as ajudarem a perceber uma
situação, sem sobrecarregá-las com todos os
Os princípios básicos e conselhos úteis dados detalhes traumáticos e assustadores do
anteriormente e no capítulo 11, também se dedicam acontecimento. É também essencial repetir factos
a ajudar e a apoiar crianças com necessidades com crianças com limitações cognitivas ou problemas
especiais e atrasos ao nível do desenvolvimento. de compreensão da linguagem.
Todavia, os factores do dia-a-dia que envolvem o
trabalho com este tipo de crianças, assumem de Adapte a informação de acordo com a
algum modo um significado notável em tempo de resistência da criança. É crítico partilhar
crises. Crianças com necessidades especiais informação com as crianças enquanto estas usam as
necessitam de mais tempo, ajuda, orientação e suas resistências. Por exemplo, uma criança com
treino para perceber e interiorizar acontecimentos dificuldades linguísticas entenderá melhor a
traumáticos, do que as outras. As áreas de informação, através do uso de materiais visuais e
fragilidade das crianças com limitações poderão ficar imagens. Crianças com competências cognitivas
mais vulneráveis perante conteúdos ameaçadores. limitadas poderão processar melhor a informação
Seguidamente apresentam-se algumas considerações com exemplos concretos e declarações objectivas
para ajudar crianças com dificuldades a ultrapassar simples.
crises de momento e os meses seguintes.
Assegure-se que as crianças compreendem os
PERCEBA O FUNCIONAMENTO COGNITIVO E factos correctamente. Quando partilhamos
EMOCIONAL DAS CRIANÇAS informação sobre acontecimentos assustadores ou
É importante perceber o modo como uma criança, traumáticos, as crianças podem ter dificuldades em
com necessidades educativas especiais, processa a compreender todos os detalhes ou entender o
informação, tanto a nível cognitivo como emocional. impacto desses acontecimentos nas suas vidas. Isto
As reacções das crianças são influenciadas pelas suas especialmente para crianças com necessidades
incapacidades. Tenha em conta as habilidades e especiais. Algumas crianças poderão agrupar
capacidades das crianças em compreender incorrectamente a informação, negligenciar aspectos
informações, comunicar aquilo que ouvem e vitais da informação partilhada e arranjar explicações
expressar sentimentos. Por exemplo, uma criança imaginárias. As crianças podem ainda não atribuir
com problemas auditivos poderá não perceber correctamente as razões por detrás de um
determinadas expressões e informações acerca de acontecimento e podem considerar que o mesmo é
um acontecimento que envolva sons ou linguagem. uma ameaça maior para eles e para a sua família, do
Uma criança com problemas visuais pode ter que pode mesmo ser. Quando se coloca as crianças a
dificuldades em interpretar expressões faciais ou ficar par de um determinado acontecimento, é importante
confusa quando debatemos imagens. Uma criança verificar e avaliar quais os factos que
com atraso mental pode não ser capaz de perceber compreenderam inteiramente acerca da informação
totalmente o significado de um acontecimento, mas dada.
poderá fixá-lo por outras reacções. Se possível, diga à criança que escreva, conte ou
ilustre aquilo que sabe desses acontecimentos e
Modifique a linguagem para que as crianças corrija quaisquer concepções incorrectas através de
percebam. Quando fornecemos informação às uma discussão de ideias.
crianças com necessidades especiais pode ser
necessário modificar a linguagem. As crianças podem Rectifique incorrecções. Crianças com dificuldades
não ser capazes de perceber conceitos abstractos ou emocionais e cognitivas poderão ser mais
complexos, tais como “estar em alerta”, “situação de susceptíveis de acreditar em informações falsas e
emergência”, e “situação de salvamento”. De rumores. Isto é especialmente relevante nas crianças
preferência, quando falamos com crianças com em idade escolar, que confiam no seu grupo de pares
necessidades especiais, os adultos podem focar-se em termos de informação e socialização. É
numa explicação da situação com termos simples e importante que as crianças sejam correctamente
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informadas e que não partilhem, nem sejam Valide os sentimentos das crianças. Assegure às
influenciadas por, informações incorrectas. crianças que as suas percepções de que os
acontecimentos são marcantes são válidas e de que,
Esteja atento às mudanças de sintomas. Muitas da mesma forma, os adultos podem estar assustados
crianças com determinados distúrbios mostram sinais ou preocupados. Esta situação é particularmente
específicos que sinalizam as suas preocupações sobre importante para crianças com dificuldades em
si mesmas e sobre a segurança das suas famílias. interpretar os sentimentos dos outros. Para além de
Crianças com necessidades especiais poderão ter validar os interesses e sentimentos das crianças,
mais dificuldade que os seus pares em expressar os assegura-lhes que os adultos têm a situação
seus medos, raiva e preocupações. Sinais de alerta controlada e podem tomar medidas para as proteger.
que nos mostram angústia poderão ser expressões
faciais, tiques nervosos, mudanças no padrão do Limite a exposição aos Media. Limitar a exposição
discurso, suores, má disposição, grande irritabilidade e repetição de imagens opressivas nos Media é
e ataques de fúria. Os problemas poderão reflectir-se importante para todas as crianças. As crianças mais
no seu comportamento, como o afastamento, recusa pequenas e aquelas com necessidades especiais
na participação em actividades, na separação dos podem acreditar que a repetição do incidente na
problemas ou na forma como agem. televisão é um novo incidente, outro acontecimento.
As crianças podem também compreender mal a
Mantenha rotinas e horários regulares. Crianças informação apresentada nos Media e acreditar que o
com necessidades especiais enfrentam diariamente risco é maior do que o actual. Veja os noticiários com
vários desafios, como manobrar uma cadeira de as crianças e verifique se a informação que assimilam
rodas ou tomar medicações regularmente. Em tempo está correcta. As crianças com dificuldades podem
de crise, as rotinas ajudarão a criança a reduzir a ter vivido experiências traumáticas anteriormente
ansiedade e mostram-lhe que as coisas irão nas suas vidas, o que as coloca em risco de repetir
gradualmente voltar ao normal. as reacções ao stress demonstradas em outras
situações.
Prepare as crianças para emergências. Assegure-
se que as crianças com necessidades especiais estão Controle as suas respostas. Muitas crianças com
a par dos procedimentos a seguir numa situação de necessidades especiais são invulgarmente
emergência. As crianças devem saber que existem competentes a interpretar mensagens não verbais
pessoas específicas responsáveis por elas e quem dos seus “cuidadores” ou professores, especialmente
contactar em caso de emergência. Tenha a certeza expressões faciais. Os “cuidadores” necessitam
que está familiarizado com os procedimentos de controlar as suas respostas para que estas sejam tão
emergência da escola e com o plano de adaptações positivas quanto possível.
especiais, como a assistência a cadeiras de rodas ou
um guia para crianças visualmente enfraquecidas. Procure indicações. Crianças com problemas
Praticando planos de segurança poderá assegurar ás emocionais ou de comportamento podem requerer –
crianças que as coisas decorrerão serenamente, e durante curto ou longo prazo – ajudas adicionais
destacar dificuldades imprevistas com organização e para gerir as suas reacções. É importante estar
gestão, assim como manobrar uma cadeira de rodas. preparado para reacções mais intensas, como a
raiva, o afastamento e a agressividade. Crianças com
Empenhe-se em discussões abertas. Quando as dificuldades cognitivas ou com perturbações
crianças fizerem questões ou estiverem prontas para linguísticas podem ser mais propensas a expressar os
falar sobre os acontecimentos, não evite discussões – seus medos, preocupações e raivas através de
por mais difícil que seja. Evitar assuntos difíceis, “explosões” emocionais ou demonstrando
como a morte particularmente, transmite uma determinados comportamentos. Os “cuidadores” e os
mensagem de “tabu” relativamente a esse tema. O professores devem estar preparados para ajudar as
silêncio ou o facto de se evitar pode eventualmente crianças a compreender os acontecimentos e
criar mais ansiedade e confusão. promover um ambiente seguro e de confiança e
procurar outros profissionais para ajudar as crianças.
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 Dê a si próprio ou à criança a permissão de fazer


um intervalo nas actividades regulares.
TÉCNICAS DE REDUÇÃO DE STRESS PARA OS  Descanse e coma bem para ficar saudável e forte.
ADULTOS E PARA AS CRIANÇAS
UMA NOTA SOBRE TRAUMAS E PERDAS
Lidar com acontecimentos difíceis na vida requer
compreensão e paciência. Existem muitas técnicas As reacções das crianças serão mais complicadas
práticas que as pessoas podem fazer para ajudar-se quando elas tiverem perdido alguém como
a si próprias quando se sentem stressadas, consequência de um desastre ou trauma. Para
oprimidas, tristes, furiosas e assustadas. As pessoas informação específica em ajudar crianças a lidar com
devem escolher o que é mais correcto para si e perdas, veja o capítulo 11.
devem ter o cuidado de não julgar os outros ou
forçá-los a escolher uma certa opção ou usar uma UMA NOTA SOBRE CATÁSTROFES NATURAIS
técnica específica. As técnicas seguintes podem ser
úteis para usar sozinho ou quando procurar ajuda Esta secção fornece informação sobre ajudar crianças
profissional de um médico psiquiatra: a lidar com os momentos seguintes aos
 Anote preocupações específicas e a solução para acontecimentos traumáticos, incluindo terrorismo,
prevenir ou resolver a situação. desastres naturais e guerra. Para informação
 Desenvolva um plano de segurança pessoal com adicional em directrizes para ajudar na preparação
os nomes e os números de telefone actualizados das crianças a enfrentar os momentos seguintes a
das pessoas importantes que o apoiam. um desastre natural, tal como um furacão, consulte o
 Mantenha um diário de pensamentos e capítulo 5.
sentimentos incluindo o que aconteceu mesmo
antes da sua ocorrência.
 Faça uma lista de coisas que fez para ultrapassar
situações difíceis e use-as novamente.
 Pratique o que deve dizer e fazer numa situação
difícil ou stressante.
 Use técnicas de relaxamento.
 Respire fundo lentamente.
 Relaxe os diferentes grupos de músculos; finja
com as crianças que é um soldado em sentido e
depois mude a sua postura imitando um gelado
que derrete, para relaxar.
 Imagine um local seguro e calmo – um canto de
leitura acolhedor, uma praia arenosa numa tarde
alegre.
 Dê um presente a si próprio – um banho quente,
uma massagem, doces – quanto se sentir triste ou
transtornado ou depois de lidar com uma situação
difícil.
 Passe tempo com um membro da família ou
amigo especial, ou brinque com um animal de
estimação.
 Veja um filme divertido ou jogue o seu jogo
favorito.
 Ajude a planear actividades de prestação de
homenagem ou outros eventos.
 Envolva-se: organize uma angariação de fundos
ou voluntariado.
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Capítulo 5
Ajudar as crianças na superação
(antes e depois) de catástrofes
naturais

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Estar preparado pode diminuir sentimentos de
PREPARAÇÃO (ANTERIOR) A UMA CATÁSTROFE ansiedade e preocupação nos adultos, o que
NATURAL contribui para o aparecimento de reacções mais
calmas nas crianças.
No caso de desastres naturais, tais como furacões,  A vulnerabilidade emocional aumenta com a
tanto as famílias como as escolas têm a possibilidade aproximação de desastres naturais. Será difícil
de se prepararem antecipadamente. Estar preparado tomar decisões, quando se está emocionalmente
para as consequências/efeitos de um desastre agitado. Desenvolver calmamente um plano antes
natural, tal como um furacão, é importante tanto de um desastre natural, contribui para uma
para o bem-estar físico como psicológico, dos adultos melhor preparação.
ou crianças envolvidas.  As crianças que tenham uma história de
problemas emocionais revelam um maior risco de
IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO desenvolverem problemas de carácter psicológico
e de adaptação à vida depois de um desastre. É
Num desastre natural, a preparação atempada, pode especialmente importante que os adultos em
ajudar a minorar alguns dos efeitos vividos depois de contacto com estas crianças, ajam de modo a
uma experiência traumática, quer estes se façam preparar-se para o desastre natural e a garantir a
sentir a curto ou a longo prazo. Estar preparado para segurança familiar.
um desastre natural é essencial por diferentes
razões: SUGESTÕES DE PREPARAÇÃO PARA UMA
CATÁSTROFE NATURAL
 Uma preparação atempada pode salvar vidas e
minimizar o impacto na saúde mental, causado Os passos seguintes devem ser tomados pelas
pelos desastres naturais. famílias de modo a garantir a sua segurança física e
 Deve-se agir rapidamente, sendo que a emocional, antes, durante e depois de um desastre
preparação permite às famílias agir de um modo natural:
mais rápido e tomar medidas para a sua
protecção própria e a protecção dos seus haveres. Crie um plano para a família em caso de
 Os desastres naturais perturbam a percepção de desastre Um plano familiar pode ajudar a reduzir os
previsibilidade e de segurança na criança. Planear sentimentos de ansiedade e de medo anteriores à
antecipadamente, limita as perturbações ocorrência do desastre. Um plano, ajudará as
emocionais da criança sobre a previsibilidade e crianças a lidar com as suas preocupações e a
segurança do mundo. estabelecer um modo de acção no caso de a família
 As reacções dos adultos aos desastres naturais se separar. O plano deve ser desenvolvido em
influenciam grandemente as reacções, conjunto pela família, e deve ser posto em prática de
sentimentos/emoções e crenças das crianças. seis em seis meses, para que cada uma das pessoas

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intervenientes saiba qual o seu papel e serem levados juntamente com a família, ou
responsabilidade. colocados num local seguro antes do desastre
natural.
Concentre-se nos detalhes Assegure-se que todos
os membros da família sabem exactamente o que Desenvolva um plano de emergência Ensine as
fazer e quando; para onde ir e, a quem chamar, na crianças a contactar os serviços de emergência, no
eventualidade de um desastre natural. caso de um desastre natural. Desenvolva um plano
Marque um local de encontro Estabeleça um local de contingência para as crianças, no caso de os
seguro e certo para se encontrarem, no caso de os telefones não funcionarem.
membros da família se desencontrarem durante o
desastre natural. Desenvolva um plano alternativo no caso de
ficar desalojado Apesar da dificuldade em
Crie um plano de comunicação Desenvolva um considerar ficar desalojado da sua casa, no caso de
plano de comunicação e reunificação, para depois do um furacão varrer a sua área, há uma possibilidade
desastre natural. Escolha uma pessoa de contacto elevada de perda dos seus haveres pessoais e da
que viva fora da sua área, e que possa ser destruição da estrutura da sua casa. Desenvolva um
contactada no caso de a sua família se separar. Esta plano alternativo para uma habitação temporária ou
pessoa de contacto servirá de apoio e base de permanente, no caso de perder a sua propriedade ou
comunicação sobre o paradeiro dos elementos da de ficar desalojado.
família.
SUGESTÕES PARA AJUDAR AS CRIANÇAS A
Identifique os roteiros de evacuação Planifique SUPERAR UMA SITUAÇÃO TRAUMÁTICA, NO
antecipadamente e verifique todas as possíveis rotas CASO DE CATÁSTROFES NATURAIS
de evacuação do local, para a sua família.
Experimente os roteiros estabelecidos. As crianças, quando debaixo de stress emocional,
normalmente viram-se para os adultos ou os seus
Crie uma rede de apoio social Ter uma rede de pais, em busca de apoio. O funcionamento da criança
comunicação e apoio com amigos chegados, depois é grandemente afectado pelo modo como os adultos
de um desastre natural, é muito importante, se preparam e reagem antes, durante e depois de
especialmente em casos em que se encontre sem um desastre natural. Os problemas monetários, o
casa ou tenha de ser deslocado para outra área. realojamento e as relações sociais podem retardar a
Desenvolva um plano de comunicação com os recuperação e o retomar de comportamentos
amigos chegados da família, depois do desastre apropriados para lidar com a situação. De seguida
natural. Por exemplo, seleccione uma pessoa de tem uma listagem de conselhos para os pais e os
contacto que procure saber o paradeiro dos amigos e profissionais, com o objectivo de ajudar a criança a
familiares após o desastre. lidar com estas situações:

Prepare um kit de emergência O kit deve incluir Mantenha as rotinas e as actividades habituais
água, comida, um rádio a pilhas, uma lanterna, A criança consegue lidar melhor com situações
pilhas extra e um estojo de primeiros socorros. O kit traumáticas e de stress se se sentirem num
deve também incluir alguns medicamentos essenciais ambiente seguro e previsível. Manter as rotinas e as
e óculos ou lentes de contacto. actividades normais, sempre que possível é, por isso,
muito importante. No caso de realojamento ou de
Embale os seus objectos pessoais importantes mudança de local, estabeleça uma rotina temporária
Embale alguns dos brinquedos das crianças e e tente programar algumas actividades
haveres importantes da família no caso de uma extracurriculares. Contudo, quer para as tarefas
evacuação. No caso de perder os seus haveres ou a domésticas, quer para os resultados escolares, as
sua casa, as crianças e os membros da família expectativas devem ser redefinidas durante o
ficarão com alguns objectos familiares de referência. período de readaptação e de recuperação.

Não se esqueça dos seus animais de estimação Peça às crianças para ajudar Dar às crianças a
Planifique no sentido de os animais de estimação oportunidade de ajudar, ajuda a criança a construir o

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seu sentido de eficácia e controle durante períodos etário. (ver Capítulo 6 para mais informação sobre
de stress. Peça às crianças para ajudar em casa e na exposição aos media).
comunidade. Contudo, não se esqueça de ter em
conta, a idade, a maturidade e o seu
desenvolvimento emocional quando pedir ajuda. Por Limite a exposição mediática depois do
exemplo, se uma criança fica amedrontada, ansiosa desastre natural
ou aborrecida quando confrontada com os efeitos de Depois de um desastre como um furacão, tanto os
um furacão, devemos considerar que a criança pode adultos como as crianças podem sentir-se ansiosos,
não estar preparada para lidar com a dimensão dos assustados e vulneráveis. Para crianças e adultos
efeitos posteriores ao desastre natural. que perderam as suas casas, haveres e os seus
entes queridos, a recuperação pode ser lenta. É
Forneça informação clara e factual Fale com as especialmente importante controlar a exposição aos
crianças clara e directamente sobre o desastre media, depois de um desastre natural. A criança
natural. Quando falar sobre o assunto use uma pode voltar a sentir ansiedade, se exposta a imagens
linguagem simples que a criança possa entender. dos acontecimentos. Além disso, a recuperação
Seja verdadeiro, mas tenha sempre em conta a psicológica da criança poderá sofrer, se a criança for
adequação do que disse, à idade da criança. Não confrontada com imagens de pessoas feridas ou
deixe que a criança forme uma ideia distorcida sobre directamente afectadas pela catástrofe. Limitar a
o desastre natural, baseada naquilo que “apanhou” exposição mediática também é importante, no caso
nos média, ou que ouviu de outras pessoas. (ver da ocorrência de nova catástrofe, como por exemplo
Capítulo 7, para mais informação sobre como falar a época dos furacões, para diminuir as crises de
com crianças sobre um desastre natural). ansiedade.

Seja paciente Durante alturas de stress, a paciência Ajude a criança a superar e adaptar-se Pais e
em adultos e crianças, é muitas vezes posta à prova. educadores podem ter um papel importante na ajuda
É muito importante que os pais e os profissionais das que dão à recuperação da criança e ao seu
escolas/ educadores, sejam pacientes com as ajustamento, numa situação de desastre natural.
crianças, numa situação de desastres naturais. Algumas sugestões incluem:

Fique calmo As crianças procuram os adultos para  Encorajamento da criança a procurar um novo
que estes lhes transmitam segurança durante hobby/ passatempo e a empenhar-se em actividades
períodos de stress e ansiedade. Pais e educadores agradáveis. Ter a criança envolvida em actividades,
devem manter-se calmos e não entrar em pânico. A servirá de distracção das consequências do desastre.
criança permanecerá calma e segura se sentir que os  Encorajamento da criança a escrever os seus
adultos revelam atitudes de controlo sobre a pensamentos, emoções e experiências num diário.
situação. Isto permitirá que encontre um escape para os seus
problemas, o que ajudará no processo de
Limite o visionamento da cobertura mediática recuperação.
antes do desastre A cobertura mediática antes de  Encorajamento da criança a manter contactos via
um acidente natural, tende a ser detalhada e gráfica. e-mail, telefone ou correio, com amigos próximos,
As imagens e mensagens difundidas, tendem a fazer mesmo quando separados por causa do desastre
emergir sentimentos de medo, ansiedade e incerteza natural. Construir e manter relações de amizade
na criança. Os mais novos podem não perceber que a depois de um furacão, é uma componente essencial
mesma notícia é repetida ao longo do dia, levando-os para o reajustamento e para lidar com a situação.
a pensar que se encontram numa situação de maior  Organização de eventos sociais para as crianças e
perigo do que aquela em que, na realidade, estão. seus amigos. O apoio dos amigos constitui uma
Os adultos devem limitar a exposição aos media e às componente essencial para a recuperação depois de
imagens e mensagens relacionadas com o desastre um evento traumático. Planifique saídas especiais e
natural. Quando expostos a novas notícias, pais e encontros de grupo na escola para a criança.
educadores devem clarificar a informação às Encoraje a criança a socializar com seu grupo de
crianças, numa linguagem adequada ao seu nível pares.

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 Encorajamento da criança a ajudar os outros


através do voluntariado. A criança que se sente
capaz de ajudar os outros, sentir-se-á realizada e
com um objectivo, o que contribuirá para a
recuperação do evento traumático. As crianças
podem doar dinheiro ou ajudar a angariar dinheiro,
para o esforço da recuperação e da reconstrução.
 Procura de ajuda profissional se uma criança tiver
dificuldades em recuperar. Pais e educadores devem
prestar atenção aos sentimentos, emoções e
comportamentos das crianças. Se uma criança não é
capaz de lentamente se ir adaptando e recuperando,
nas suas actividades diárias e na interacção com os
seus amigos e familiares, deve procurar-se ajuda
profissional.
 Ver Capítulos 3 e 4 para informação adicional
sobre como, pais e educadores, podem ajudar as
crianças a recuperar e a adaptar-se.

UMA NOTA SOBRE TRAUMA E LUTO

As reacções das crianças serão mais complicadas se


tiverem perdido alguém na sequência de uma
catástrofe natural. Para informação específica sobre
reacções à perda de alguém e orientações para a
recuperação das crianças, ver Capítulos 10 e 11.

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Capítulo 6
A Comunicação Social e os
Acontecimentos Traumáticos: quando se
torna excessiva a exposição?

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A cobertura dos média aos acidentes naturais e procurar indícios de como os seus filhos estão a
outros acontecimentos traumáticos é muitas vezes reagir. Reporte-se, por favor, ao capítulo 1 para
exaustiva. Os pais precisam de perguntar-se como mais informações nas reacções comuns aos
querem controlar/regular o acesso dos seus filhos a acontecimentos traumáticos.
esta cobertura, quer seja via televisão, internet,
rádio ou outra forma. A idade das crianças influencia as suas reacções a
histórias que ouvem e a imagens que vêm acerca
A reportagem dos média pode fornecer às crianças e de situações violentas ou acontecimentos
aos pais informação valiosa. Pode manter as pessoas traumáticos nos media. As crianças mais novas
informadas e actualizadas. Contudo, uma exposição podem ficar mais sensíveis pelas imagens cenários
à análise repetida dos media de acontecimentos e sons que vêm e ouvem relativamente ao
traumáticos e acidentes naturais pode resultar em terrorismo ou acidentes naturais. É importante
efeitos traumáticos para algumas crianças. Crianças considerar o nível de maturidade das crianças
com uma história de stress traumático podem ser re- quando se tomam decisões da quantidade de
traumatizadas como resultado de repetida exposição informação a partilhar acerca de actos de guerra e
à análise dos media. É fundamental que os pais e os terrorismo.
profissionais da escola estejam atentos para a
possibilidade de crianças re-traumatizadas e que Crianças em idade pré-escolar:
estejam preparadas para agir nos efeitos
relacionados com o stress do trauma que se pode  Podem facilmente ficar impressionadas com
seguir à exposição da análise dos media acerca de notícias acerca da guerra, terrorismo ou
acidentes ou terrorismo. acidentes naturais.
 Podem confundir realidade e factos com as suas
GUIA SOBRE AS REACÇÕES DAS CRIANÇAS ÀS fantasias.
NOTÍCIAS SOBRE A GUERRA, TERRORISMO E  Não têm a capacidade para manter os
CATÁSTROFES NATURAIS DE ACORDO COM AS acontecimentos em perspectiva.
IDADES.  Podem ser incapazes de afastar pensamentos
problemáticos.
Quando nem sempre é possível avaliar se as  Podem personalizar as notícias que ouvem,
crianças estão assustadas ou preocupadas em relacionando-as com acontecimentos ou
relação às notícias que ouvem. As crianças podem assuntos nas suas vidas.
ficar relutantes em falar acerca dos seus medos ou  Estão preocupadas com a separação dos seus
podem não estar conscientes de há quanto tempo pais.
estão afectadas pelas notícias. Os pais podem

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 Podem fazer questões acerca de crianças nas dos pais.


notícias que estão sozinhas ou que perderam um
 Concentram-se no bom e no mau acerca da vida e reexaminam as prioridades e
comportamento, e podem fazer surgir tópicos interesses).
relacionados com o seu próprio bom ou mau
comportamento. Juntamente com a idade e a maturidade, a
personalidade individual das crianças e o
Crianças na idade escolar do ensino básico: comportamento têm um importante papel nas suas
respostas ao terrorismo, guerra e desastres
 Percebem as diferenças entre as fantasias e a
naturais. Algumas crianças estão mais
realidade, contudo, podem ter dificuldade em
naturalmente predispostas a serem receosas, e as
manter-se separadas em certas alturas,
notícias de uma situação perigosa podem aumentar
particularmente em alturas de maior stress e
os seus sentimentos de ansiedade. Adicionalmente,
medo.
crianças que conhecem alguém directamente
 Podem equacionar uma cena de um filme de
exposto ou afectado pelo evento traumático podem
terror com imagens de notícias e pensarem que
estar especialmente afectadas. No outro extremo,
os acontecimentos das notícias são pior do que
porém, algumas crianças podem ficar imunes ou
realmente são.
ignorar, o sofrimento que vêm nas notícias. Podem
 Podem não perceber que o mesmo incidente é
ficar entorpecidas e cansadas devido à natureza
diversas vezes transmitido e podem pensar que
repetitiva das reportagens ou dos acontecimentos
mais pessoas estão envolvidas do que realmente
que directamente experienciaram.
estão.
 Podem ter dificuldade em reconhecer que o IDENTIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE
conflito ou acidente natural não é perto de casa; RISCO ESPECIFICAMENTE RELACIONADOS COM
o grafismo e a natureza imediata das notícias O TERRORISMO E GUERRA
fazem parecer que os acontecimentos e
ameaças estão próximos. Jogos de guerra não são necessariamente uma
 Podem personalizar as notícias que ouvem, indicação de um problema para crianças expostas a
relacionando-as com acontecimentos ou actos violentos. É normal para as crianças jogarem
assuntos das suas vidas. jogos relacionados com a guerra e isto pode
 Estão habitualmente preocupadas com a aumentar em resposta a acontecimentos actuais à
separação dos pais. medida que elas activamente lidam com a
 Estão preocupadas com a justiça e o castigo. informação, imitam, agem ou solucionam cenários
diferentes. Pais e profissionais podem ficar atentos
Adolescentes em idade de ensino básico- para:
secundário:
 Comportamentos regressivos (as crianças
 Podem ser capazes de reconhecer a proximidade adoptam comportamentos esperados de crianças
da ameaça de uma guerra. mais novas).
 Podem estar interessados e intrigados pela  Comportamentos demasiados agressivos.
política de uma situação e sentirem uma  Comportamentos demasiados egoístas.
necessidade de tomarem uma posição ou acção.  Pesadelos ou “terrores nocturnos”.
 Podem demonstrar um desejo de se envolverem  Obsessão com a violência.
em actividades políticas ou de caridade  Soluções extremas baseadas no que as crianças
relacionadas com actos violentos ou viram em filmes ou que experienciaram
acontecimentos preocupantes. enquanto jogaram jogos de vídeo.
 Consideram assuntos mais abrangentes,  Desprendimento emocional (ex.:
relacionados com ética, política ou até mesmo entorpecimento, apatia) relacionado com as
com o seu envolvimento na potencial resposta tragédias.
através de movimentos armados (os
adolescentes, tal como os adultos, reflectem Reporte-se, por favor, ao capítulo 2 para
informação específica adicional relacionada com as
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crianças em risco, relacionando com  Ouvir: pais e profissionais são encorajados a


acontecimentos traumáticos, incluindo actos de ouvir os sentimentos e pensamentos das
terror e catástrofes naturais. crianças acerca dos eventos relacionados com os
media. É importante determinar o entendimento
SUGESTÕES PARA A EXPOSIÇÃO AOS MEDIA das crianças dos acontecimentos e suas

percepções do que aconteceu e o que pode


acontecer no futuro.
 Ser um participante activo: é melhor para os  Convidar a questionar: é primordial que a
pais e para os profissionais escolares verem e crianças sejam encorajadas a fazer questões
ouvirem a análise dos media com as crianças. acerca da informação que obtêm através dos
Os adultos devem falar do que as crianças estão media. As crianças podem entender mal o que
a ver ou a ouvir nas notícias. ouvem nos media. Conclusões erradas podem
 Esclarecer falsos conceitos: as crianças provocar muita ansiedade nas crianças.
podem não entender completamente a Colocando questões e conversando com as
informação fornecida pelos media. Muitas vezes, crianças, pais e funcionários da escola, podem
as notícias são dadas rapidamente, e os corrigir conclusões erradas e reduzir a ansiedade
apresentadores das notícias dramatizam de e o medo nas crianças. Se os adultos não
modo a que a divulgação das notícias seja dirigirem muitas destas questões e
fascinante. É importante que os pais e os preocupações, as crianças podem reunir
profissionais da escola clarifiquem a informação informações de outras fontes, incluindo de uns e
que é apresentada pelos media em factos de outros. Pais e funcionários da escola devem
perceptíveis. Isto é especialmente importante ser as primeiras fontes a fornecer informação às
para as crianças mais jovens, que podem não crianças de uma forma precisa e correcta. (Veja-
perceber que aquilo que repetidamente vêem é se Capítulo 7 e 8 na informação como responder
um evento a ser repetido. às questões).
 Colocar as notícias em perspectiva: é o  Restringir a cobertura dos media: apesar de
papel dos adultos colocar em perspectiva os às crianças se dever dar informações básicas e
acontecimentos traumáticos apresentados na as suas questões deverem ser respondidas, é
comunicação social para as crianças. Muitas importante que os adultos monitorizam a
vezes as crianças precisam de ser lembradas de exposição das crianças aos media. Os adultos
que embora seja contínua e exposição dos devem ser encorajados a limitar a cobertura dos
media dos eventos traumáticos, tais eventos media durante e depois do evento, e devem
não acontecem a toda a hora. monitorizar a exposição das crianças às notícias
 Ser positivo: também pode ser uma ajuda para e apresentações especiais relativas a outras
os adultos apontarem os aspectos positivos que experiências durante e depois do evento
estão a ocorrer face aos eventos traumáticos. traumático. Quando os adultos consideram que
Por exemplo, enaltecendo o trabalho das as crianças foram expostas a demasiada
equipas de resgate, voluntários e outros, cobertura dos media, têm necessidade de as
estando assim a apontar para a força da reorientar para outros objectivos. Desligar a
comunidade e os passos dados por esta em televisão, Internet ou rádio e ajudar as crianças
direcção à criação de um ambiente seguro para a concentrarem-se noutras actividades que
crianças e adultos. gostem pode ser uma solução.

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Capítulo 7
Abordagem de assuntos e questões
difíceis:
diálogo com as crianças sobre
acontecimentos traumáticos
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As crianças fazem muitas perguntas difíceis. é medrosa ou ansiosa por natureza; quando
Questões acerca de actos terroristas, guerra e conversar sobre acontecimentos stressantes da vida.
catástrofes naturais são algumas das questões mais
difíceis de responde.
Particularmente quando as notícias fornecem dados SUGESTÕES PARA CONVERSAR COM AS
imediatos e detalhados, os pais perguntam se devem CRIANÇAS SOBRE ACTOS TERRORISTAS,
proteger as suas crianças da cruel realidade, explorar GUERRA E CATÁSTROFES NATURAIS.
os tópicos ou partilhar as suas próprias crenças.
Pais e professores também se interrogam sobre a Estar atento ao tempo e lugar Ainda que seja
quantidade de informação que devem fornecer, ou importante responder às questões quando elas
como ajudar as crianças se elas estiverem confusas, surgem, pais e professores (educadores) são
preocupadas ou se fizerem perguntas difíceis. encorajados a promover a discussão com as crianças
A secção seguinte propõe questões de que pais e sem distracções externas.
professores se podem servir para conversar com as As crianças devem ter tempo e atenção para discutir
crianças sobre terrorismo, guerra e catástrofes as suas percepções, entendimentos, medos,
naturais. preocupações.
Por exemplo se a conversa surge no supermercado
Contrariamente aos receios dos pais, falar sobre os pais são encorajados a dizer aos seus filhos que
actos violentos ou eventos traumatizantes não estão contentes por o assunto surgir, e que irão para
aumenta o medo das crianças. casa e discuti-lo calmamente.
É muito importante realizar discussões abertas sobre Similarmente, se uma criança levanta o tópico numa
os sentimentos das crianças, medos e preocupações classe (grupo) que não é viável para discussão, o
relacionadas com a guerra e o terrorismo. professor (educador) é encorajado a discutir o
Evitar discussões sobre sentimentos assustadores assunto em privado com a criança depois da aula.
pode ser mais prejudicial do que falar sobre eles.
No entanto, assim como com outros tópicos, Dê o primeiro passo Muitas vezes é necessário na
devemos considerar a idade e o nível de vida das crianças, serem os adultos a iniciar o
desenvolvimento da criança quando se introduz o diálogo.
tema. Um bom ponto de partida é perguntar às crianças o
Mesmo crianças com 4 e 5 anos sabem coisas sobre que elas ouviram ou viram.
actos violentos, mas nem todas as crianças são Os pais e professores podem seguir perguntando o
capazes de falar sobre os seus sentimentos e que é que as crianças pensam e sentem sobre o que
preocupações. ouviram ou viram.
Adicionalmente é também importante considerar a
personalidade da criança, por exemplo: se a criança

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Agarrar as oportunidades para iniciar a informações básicas sobre terrorismo, guerra e


discussão catástrofes naturais.
Os adultos devem agarrar as oportunidades para A quantidade de informação partilhada deve ser
discussão quando elas surgem, por exemplo quando consistente com a idade das crianças e a sua
assistem às notícias juntos ou enquanto lêem o maturidade.
jornal. Nestas discussões devem ser esclarecidas sobre o
Eles também podem procurar outras ocasiões que é real e o que não é, as suas preocupações e
quando os tópicos relacionados são discutidos, tal sentimentos devem ser realmente apaziguadas.
como quando as pessoas na televisão argumentam Pais e outros adultos no entanto, não devem
ou quando passa um filme sobre guerra na televisão. informar mal as crianças e dar-lhes falsos
sentimentos de segurança.
Centrar-se nas preocupações e sentimentos das Proporcionar uma discussão aberta Por vezes é
crianças Pais e professores devem proporcionar à vantajoso para as crianças e adolescentes abrirem-se
criança oportunidades para falarem abertamente das sobre os seus pensamentos e sentimentos.
suas preocupações, pensamentos e sentimentos Isto pode ser conseguido pelos adultos significativos
sobre terrorismo e guerra sem julgamentos ou da sua vida, orientando e facilitando a discussão e
sugestões. É importante explorar e compreender partilha dos seus próprios pensamentos e
como as crianças vêem a situação o que é sentimentos.
importante, confuso e problemático para a criança. Partilhando os seus próprios pensamentos e
Pais e adultos devem abster-se de palestras ou sentimentos estes adultos podem ajudar as crianças
ensinamentos sobre o tema. a sentirem que os seus sentimentos são normais e
que não estão sozinhos nas suas preocupações e
Escutar e abordar os sentimentos das crianças medos.
Os adultos por vezes são surpreendidos pelas No entanto os adultos devem testar as suas
preocupações e medos das crianças. comunicações e ter cuidado para evitar fazer
É necessário abordar os medos pessoais e generalizações sobre grupos de indivíduos que
particulares das crianças. desumanizam a situação.
Pais e professores não devem levantar suposições É também importante, contudo, que os adultos não
sobre as preocupações, pensamentos das crianças. sobrecarreguem as crianças com os seus próprios
medos e preocupações.
Tranquilizar as crianças Não desvalorize os
sentimentos das crianças. Promover um debate para as crianças iniciarem
As crianças podem sentir-se embaraçadas ou a discussão e colocarem questões Responder a
criticadas quando os seus medos são minimizados. perguntas e abordar medos não acontece tudo
Explorar o tema e encontrar pontos de vista positivos necessariamente numa sessão.
de superação ajuda as crianças a acalmar a maioria Novos temas podem surgir ou tornarem-se claros em
dos seus medos e ansiedades. qualquer altura discussões sobre guerra e terrorismo
Tranquilizar as crianças com factos sobre como as devem ser feitas continuamente e de acordo com as
pessoas são protegidas (por exemplo a Policia) e necessidades básicas.
medidas de segurança individuais que podem ser
tomadas (por exemplo criação de um plano de
preparação contra furacões). Evitar os medos dos “E
se”, oferecendo informação real e honesta.
Manter as rotinas e estruturas é também
tranquilizante para as crianças, ajuda a normalizar
um acontecimento e repõe o sentido de segurança.

Providenciar factos e informações Uma vez que


tenha existido alguma exploração sobre as
preocupações e sentimentos das crianças, pais e
professores devem oferecer às crianças factos e

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Capítulo 8
Terrorismo e Guerra:
Prevenção doPreconceito e do Ódio
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Quando confrontados com questões e declarações raiva. Esteja preparado para responder a actos
sobre a guerra e o terrorismo, os Pais e os preconceituosos porque as crianças irão observar a
Profissionais de Educação enfrentam um dilema entre sua intervenção quando alguém é alvo de
defender a não-violência e explicar o terrorismo e a comportamentos racistas. Seja firme na oposição a
razão das nações manterem armas e participarem na actos e práticas racistas. Use linguagem apropriada
guerra. No rescaldo dos acontecimentos traumáticos quando estiver a descrever o que se passou e quem
que envolvem pessoas com diferentes origens, as estava envolvido.
crianças têm sido o alvo da devastação e de actos de
ódio que resultaram numa tremenda tristeza, dor e Conte às crianças histórias de triunfo pessoais
medo. Durante todo esse tempo apenas se consegue O medo que uma situação má nunca mude pode
sentir dor, ódio e raiva para com os que cometem os levar as crianças a sentirem-se sem esperança, e
ataques. Estes sentimentos podem levar ao consequentemente levá-las a utilizar palavras de
preconceito contra pessoas que foram responsáveis ódio e a demonstrarem comportamentos ofensivos.
pelo conflito. No entanto, como adultos, devemos As crianças precisam de ouvir histórias de superação
estar atentos e resistir psicológica e emocionalmente da opressão e de sobrevivência através de atitudes
ao ódio e encorajar as crianças a fazer o mesmo. De triunfantes. Proporcionar este tipo de exemplos
seguida apresentamos algumas sugestões para mostra às crianças que as pessoas enfrentaram com
ajudar as crianças a lidar com conflitos sem se sucesso o ódio.
tornarem preconceituosas, sem estereotipar grupos
Relaxe e responda às perguntas A falta de
específicos e sem retaliarem com actos
informação acerca de pessoas que são diferentes de
preconceituosos.
nós leva ao ódio. O ódio baseia-se também no
SUGESTÕESPARAAJUDARASCRIANÇASASUPERAREM pensamento e na presunção de algo que não é
CONFLITOSSEMAADOPÇÃODEPRECONCEITOSEDEÓDIO verdade. Trate todas as questões das crianças com
respeito e seriedade. Por causa do seu desconforto
Ajudar as crianças com os seus sentimentos pode evitar dar alguma resposta. No entanto, tente
Proporcionar um ambiente que permita às crianças responder a todas as questões de forma curta,
expressarem livremente os seus sentimentos e simples e honesta. Certifique-se de que está a
reconhecer dor e raiva. Estimular as crianças a utilizar linguagem apropriada ao nível de
manterem um diário, desenhar ou falar sobre as suas desenvolvimento das crianças. Fornecer detalhes
emoções. Facultar um meio através do qual as sobre os acontecimentos e discutir as questões das
emoções sejam canalizadas para acções positivas crianças pode prevenir que as “sementes do ódio
(ex.: ajudar as vítimas, escrever cartas e postais, ganhem raízes”.
doar mantimentos e comida, planear uma visita à
Comunidade) pode reduzir a atenção das crianças na
participação em ataques ofensivos a pessoas.

Dar um bom exemplo As crianças aprendem


observando o nosso comportamento. Esteja atento
ao impacto dos seus preconceitos e sentimentos de

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Corrija as crianças Faça com que as crianças quando expõem as suas opiniões como sendo factos.
percebam a sua desaprovação se elas fizerem As discussões devem permitir o desacordo e a
comentários insensíveis ou se reagirem com violência exposição de diferentes pontos de vista. Se as
contra alguém. Relembre às crianças como elas se crianças sentirem que a sua opinião é errada ou mal
sentem quando não são bem tratadas por alguém. entendida, podem afastar-se da discussão ou sentir
Estabeleça regras na sua casa e na sala de aula que são más ou estúpidas. Ao discutir como o
sobre como se comportar na presença de outras terrorismo e a guerra muitas das vezes têm origem
pessoas e desenvolva acções disciplinares em conflitos interpessoais, mal entendidos ou
adequadas. Ao mesmo tempo, ajude as crianças a diferenças entre religiões ou culturas, é importante
aprender as melhores maneiras de lidar com a raiva. modelar a tolerância. Aceitar e compreender as
opiniões dos outros são passos necessários para a
Ensine a tolerar A compreensão, a honestidade e a resolução não violenta dos conflitos.
empatia devem ser ensinadas proactivamente às
crianças. Crianças que sejam sensíveis aos Respeitar a diversidade É importante que
sentimentos dos outros têm menos probabilidades de comecemos e continuemos as nossas conversas
se tornarem preconceituosas. Partilhar histórias sobre a diversidade e o respeito pela diferença.
acerca das semelhanças entre as culturas pode Relembrar as crianças de como a sua cultura é
ajudá-las a compreender os pontos de vista dos importante é para elas uma maneira de entenderem
outros. Culpar uma pessoa ou um grupo, quando na como as outras pessoas se devem sentir acerca das
realidade isso não é verdade, reforça o ódio. suas culturas. Apresente outras culturas às crianças
Algumas crianças podem pensar de forma errada que através de livros, da televisão, de museus e de
todos os membros de um grupo particular são restaurantes. Estimule diálogos abertos e fomente
terroristas mas, como adultos, podemos ajudá-las a amizades com grupos diversos.
compreender que as acções de algumas pessoas não
são as acções de todo o grupo. Discuta questões relacionadas com a guerra e o
terrorismo A discussão de questões como a
Promova a tolerância O terrorismo e a guerra tolerância, a diferença e a resolução não violenta de
proporcionam uma oportunidade perfeita para problemas pode ser também estimulada através do
discutir a questão do preconceito, do estereótipo, da noticiário. Saber algo sobre culturas ou regiões
agressão e a considerar a não-violência como uma estrangeiras também dissipa mitos e, mais
forma de lidar com as situações. Infelizmente, é mais precisamente, ressalta semelhanças e diferenças.
fácil encontrar e declarar um culpado que torna a
situação mais compreensível e fazendo-a parecer
evitável. Uma discussão aberta e honesta é
recomendável, mas os adultos devem estar atentos

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SECÇÃO III
RESILIÊNCIA EM CRIANÇAS AFECTADAS POR CATÁSTROFES e TRAUMA

Capítulo 9
Desenvolver Resiliência
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Acontecimentos stressantes são acontecimentos acontecimentos traumáticos, como guerra,


comuns nas vidas das crianças e famílias. O violência, a morte de uma pessoa chegada ou
stress traumático ocorre a seguir a desastres que ameaçam a vida, podem ficar bem
acontecimentos inesperados e fisicamente em certas circunstâncias. Algumas crianças
ameaçadores. O acontecimento pode ser podem emergir de experiências de vida horríveis
directamente ameaçador para uma criança ou com vários atributos de fortaleza ou de
pode ter impacto numa pessoa querida. O stress resiliência. Esta é um conjunto de crenças,
traumático pode ocorrer a seguir a um simples sentimentos e comportamentos que se seguem à
acontecimento como o ataque ao World Trade adversidade nos quais as crianças e os adultos se
Center ou ao Furacão Katrina, ou como o adaptam a situações de desafio e ameaçadoras e
resultado de exposição a acontecimentos o seu seguimento. A resiliência não é um traço
recorrentes como violência em comunidade, que os indivíduos tenham ou não tenham. Pode
vários furacões ou abuso infantil. ser desenvolvida, aprendida e moldada através
de experiências. É moldada por diferenças
Durante ou a seguir a um acontecimento individuais e respostas de recuperação pelo
traumático, as crianças podem ficar ambiente imediato.
transtornadas e ter dificuldade em ‘usar’ os seus
recursos de superação. No rescaldo de um ataque IDENTIFICAÇÃO DE CRIANÇAS EM RISCO
terrorista ou de um desastre natural, não se pode
esperar que uma criança ou um adulto se Há certos factores de risco que contribuem para a
mantenham fortes psicologicamente. Contudo, dificuldade das crianças ultrapassarem os
logo que o mediatismo da ameaça ou do trauma acontecimentos adversos da vida. As crianças em
passa, a maioria das crianças volta a níveis grande risco são aquelas que:
normais de funcionamento e exibem níveis baixos  Experimentaram directamente o
de mal estar psicológico. Outras crianças não são acontecimento
capazes de suportar o trauma e a adversidade.  Presenciaram directamente o acontecimento
ou tinham um familiar envolvido no
Em resposta a um acontecimento traumático, a acontecimento
noção das crianças sobre o mundo como um  Sentiram medo pela sua vida durante o
lugar seguro e previsível muda e o acreditar na acontecimento
capacidade dos adultos para os proteger também  Sobreviveram à morte de um dos pais ou de
se altera. uma pessoa marcante nas suas vidas
Na altura dos acontecimentos traumáticos o  Foram separados daqueles que amam
desafio que as crianças enfrentam é o de  Sofreram problemas de saúde mental ou de
conseguir maneiras de os ultrapassar. As crianças aprendizagem antes do acontecimento
que são capazes de, com sucesso, ultrapassar a  Sofreram um acontecimento traumático
adversidade e um acontecimento traumático são anterior
resilientes. Há estudos que fornecem evidência  Têm falta de uma forte rede de suporte
que crianças que estiveram expostas a social

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 Tiveram um dos pais que experimentou Crianças resistentes desenvolvem confiança na


crescentes níveis de stress e medo como sua capacidade de resolver problemas actuais e
resultado de um acontecimento. futuros.

Contudo, é de salientar que crianças que são Decididos Crianças com traços de resiliência
identificadas como de risco antes de um tendem a ser pró-activos e controlam as
acontecimento traumático podem ter situações. Tomam decisões por elas próprias e
desempenhos positivos. De facto, crianças que tomam os passos certos para as levarem a cabo.
efectivamente lutam contra a adversidade e
ultrapassam os factores de risco partilham de Orientados por um objectivo Crianças com
certas características relacionadas com a traços de resiliência são capazes de definir
resiliência. objectivos realistas e atingem efectivamente os
seus objectivos. São proactivos na tomada de
O QUE É RESILIÊNCIA? decisões para atingirem os seus objectivos.

O que se segue oferece um guia de Persistentes Crianças que trabalham


características relacionadas com a construção e arduamente para efectuaram tarefas e atingirem
desenvolvimento de resiliência nas crianças. objectivos têm mais possibilidade de serem
Contudo, é de salientar que as crianças não resilientes em alturas stressantes.
precisam de apresentar todos os factores abaixo
mencionados para lidarem eficazmente com a Tolerância à frustração Crianças resilientes são
adversidade. capazes de lidar em circunstâncias frustrantes e
toleram situações frustrantes e perturbadoras.
Boas relações O carinho, relações fortes de São capazes de gerir sentimentos fortes e
suporte com membros de família e amigos impulsos.
desenvolvem resiliência nas crianças. Crianças
resilientes aceitam ajuda e suporte de outros à Aceitação do passado. Crianças resiliêntes são
sua volta, ajudam em qualquer altura de capazes de aceitar que acontecimentos passados
necessidade e envolvem-se nas actividades não podem ser alterados. Reconhecem e aceitam
comunitárias. que acontecimentos passados podem mudar os
seus objectivos e circunstâncias presentes e
Visão positiva Crianças que têm esperança e futuras. Estas crianças focam-se em situações
uma visão positiva sobre o futuro são mais que podem mudar, mais do que viver de
propensas a lidar eficazmente com a adversidade. acontecimentos que não poder ser mudados.
Na altura de um acontecimento stressante, estas
crianças consideram em como a situação podia Realistas Mesmo quando confrontados com um
ser melhor e acreditam que as suas vidas e acontecimento stressante, as crianças resilientes
outras circunstâncias melhorarão no futuro. consideram a situação stressante no contexto e
evitam aumentar as proporções da mesma. Estas
Optimismo As crianças que são capazes de lidar crianças são capazes de manter a perspectiva.
com a adversidade mantêm uma visão optimista.
Quando confrontadas com situações difíceis, Prestar atenção a necessidades e
tentam visualizar o seu futuro e objectivos, e têm sentimentos As crianças resilientes são atentas
esperança de os conseguir atingir no futuro. aos seus sentimentos, crenças, necessidades e
Acreditam que tudo se resolverá. comportamentos. Pedem ajuda e falam sobre os
seus sentimentos e experiências. Entregam-se a
Confiança em si próprio e visão pessoal actividades de que gostam e acham relaxantes.
positiva Crianças resilientes acreditam em si
próprias, nas suas capacidades e habilidade para
controlarem as suas vidas e situações. Têm
confiança na sua força e capacidades e acreditam
nos seus instintos.

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CONSIDERAÇÕES PARA PAIS E


PROFISSIONAIS família e na comunidade e participam em
actividades interessantes. Mantêm relações
A seguir estão algumas considerações para próximas com os membros da família e
adultos quando ajudarem crianças e adolescentes amigos.
a lidarem com acontecimentos assustadores e
trágicos. Estes são aspectos importantes a  Os adolescentes resilientes falam dos seus
considerar quando se tenta desenvolver força e sentimentos, crenças e reacções à família e
resiliência nas crianças: amigos, apesar da sua necessidade de
independência. Mostram um interesse no seu
Características relacionadas com um futuro e exprimem esperança nele.
acontecimento traumático As crianças são Consideram pontos de vista diferentes e
capazes de lidar com mais sucesso se a sua compreendem sentimentos e pensamentos
exposição ao trauma tiver tido um impacto que possam ser diferentes dos seus.
limitado. As respostas das crianças a um
acontecimento traumático são afectadas pela Ambiente familiar As crianças voltam-se para a
proximidade ao acontecimento, natureza da família e aqueles de quem gostam para obterem
relação com as vítimas e angústia emocional apoio, amor, conforto em alturas de adversidade.
durante o acontecimento. Crianças com famílias apoiantes, atentas e
disponíveis são capazes de exibir atributos de
Traços e recursos individuais das crianças As resiliência depois de um acontecimento
características individuais, tais como a traumático. Crianças resistentes têm pais
adaptabilidade, inteligência, auto-estimo, apoiantes em toda a acepção, que optam por
optimismo e persistência, têm um papel uma comunicação aberta, resolvem os problemas
importante no desenvolvimento da resiliência e a com os seus filhos e protegem-nos de disputas
experiencia de um desempenho positivo que se conjugais e conflitos.
segue a um acontecimento traumático.
Apoio da comunidade Os programas da
Considerações desenvolvimentais O processo comunidade que desenvolvem saúde física, social
de resistência varia com a idade. e emocional nas famílias podem contribuir para a
resiliência. Programas comunitários podem
 Bebés e crianças (antes da escolaridade) fornecer a base para prevenir dificuldades
procuram aproximação e segurança dos emocionais, sociais e comportamentais.
membros da família quando expostos a um Programas que focam capacidades como treino
acontecimento traumático. Têm uma relação parental, apoio académico, arranjar um trabalho
de proximidade intensa com quem está mais e actividades de recreação seguras podem
próximo delas. Jovens resilientes ultrapassam construir um bom funcionamento social,
os seus medos e receios através da comportamental e emocional.
brincadeira e exploram o que os rodeia
activamente. Quando confrontados com uma
tarefa desafiadora, são persistentes e SUGESTÕES PARA AJUDAR AS CRIANÇAS A
procuram encorajamento e apoio dos seus SUPERAR E A DESENVOLVEREM
progenitores. RESILIÊNCIA

 A meio da infância as crianças resilientes Apesar do potencial de problemas de saúde


são capazes de falar sobre os seus mental que se seguem à exposição à guerra,
sentimentos e pensamentos com os amigos e violência, terrorismo ou desastres naturais, as
família, pedem ajuda e usam capacidades de crianças podem emergir destas horrendas
ultrapassar problemas quando confrontados experiências de vida com uma visão positiva
com situações stressantes. Envolvem-se em sobre a vida, e uma boa capacidade de formar
acontecimentos sociais, permanecem relações positivas, obter sucesso pessoal e
envolvidos em acontecimentos na escola, na

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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desenvolver recursos para lidarem com futuros Ajudar as crianças a compreender a
acontecimentos negativos. probabilidade estatística da tragédia e do
desastre. Temos tendência para acreditar que
As pessoas que lidam com crianças e
adolescentes podem ajudar a alimentar estas acontecimentos que têm um grande impacto nas
reacções positivas. Quando se ajudam crianças e nossas vidas acontecem com maior frequência do
adolescentes a lidar com esses problemas, é que na realidade acontece. As crianças
importante prestar atenção, em primeiro lugar, a identificam-se com os outros, portanto podem
aspectos como o temperamento fa criança e o personalizar os acontecimentos negativos e
estádio de desenvolvimento, e os recursos acreditar que lhes podem acontecer com
familiares e da comunidade. Seguem-se algumas facilidade. Ajudem as crianças a reconhecer que
sugestões para os adultos ajudarem as crianças e os acontecimentos terríveis só muito dificilmente
adolescentes a seguir a um acontecimento lhes podem vir a acontecer ou a um membro da
traumático ou assustador: sua família. Por exemplo, muitas pessoas a bordo
de aviões no 11 de Setembro aterraram em
Manter um ambiente seguro e previsível segurança, a maioria das pessoas no World Trade
Estejam atentos às recomendações de peritos em Center e no Pentágono não foram atingidas
segurança no que respeita a medidas para fisicamente e edifícios em outras cidades dos
assegurar a segurança das crianças e um Estados Unidos não foram danificados. Uma visão
ambiente seguro. Estejam alerta em lugares onde realmente optimista deve ajudar as crianças a
se junta um grande número de pessoas. ficarem alerta aos perigos, mas livres de
Ambientes seguros e previsíveis permitirão às preocupações constantes de que possam ser
crianças passar o tempo desenvolvendo as atingidas.
principais tarefas da infância: brincar, aprender e
crescer. Estar alerta para reacções negativas e
providenciar intervenção Estar alerta para
Ajudar as crianças a estabelecer e manter reacções negativas emocionais e
uma relação próxima com um adulto Mesmo comportamentais e prestar assistência e
sob as mais difíceis circunstâncias, as crianças tratamento quando necessário. Ainda que um
reagem bem quando têm uma relação com, pelo trauma possa já ter ocorrido há muito, as
menos, um adulto carinhoso e apoiante, que reacções psicológicas podem ser retardadas. De
frequentemente está com elas. É também facto, as pessoas muitas vezes não
importante para as crianças e adolescentes ter experimentam reacções problemáticas até três
um adulto nas suas vidas que lhes dá informação, meses após um acontecimento. Estar em alerta
orientação e disciplina naquelas alturas que para demonstrações de raiva ou agressões, ou
sejam imprevisíveis, assustadoras e negativas. reacções de ansiedade manifestadas através de
irritabilidade crónica, preocupações continuas
Assegurar-se que as crianças e jovens sobre a segurança deles próprios e dos outros,
conhecem técnicas para se acalmarem Dar às para o evitar de situações que possam trazer
crianças e adolescentes a oportunidade para ansiedade e concentração diminuída nas
relaxarem através de jogos, debates, actividades actividades normais. Algumas crianças mais
artísticas, música e conforto físico. O exercício, velhas e jovens podem demonstrar sinais de
técnicas de relaxamento muscular, exercícios depressão, tais como um investimento limitado
respiratórios e o uso de imagens mentais calmas no seu futuro, falta de energia, afirmações
são técnicas que reduzem o stress. Fale com um pessimistas e envolvimento em drogas e álcool.
profissional para aprender mais sobre estes Quando os comportamentos interferem com o
métodos. Os jovens devem ser aconselhados a funcionamento diário, devem ser consultados o
evitar meios não saudáveis de redução do stress médico da criança ou do jovem, o pessoal da
tais como o tabaco, usar álcool ou drogas ou escola ou um profissional de saúde mental.
comportamentos de risco, tais como desportos
radicais. Manter as crianças informadas, discutir os
factos e limitar a cobertura noticiosa A
informação chega às crianças, mesmo no pré-

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escolar, através de conversas audíveis, orientação e aconselhamento. As crianças com
reportagens noticiosas e discussões entre as adultos saudáveis à sua volta podem desenvolver
crianças mais velhas. Sendo assim, as crianças forças na sua presença.

podem ter uma compreensão distorcida dos Por favor consulte a secção II. Sugestões
acontecimentos que pode ser mais assustadora adicionais para o diálogo com crianças e
que a verdade. Os adultos importantes nas vidas adolescentes acerca de terrorismo e catástrofes
das crianças devem dar-lhes um relato dos factos naturais.
de acordo com a idade. Não é saudável para as
crianças focarem-se em imagens de destruição,
danos físicos ou morte ou ouvir lembranças de
detalhes horrendos dados por testemunhas e
sobreviventes. Ao contrário, dar às crianças os
factos básicos, a compreensão das reais
probabilidades de desastre e conforto são
maneiras de as ajudar a ultrapassarem períodos
mais assustadores e potencialmente traumáticos.

Ajudar as crianças a estabelecer um


conjunto de valores para guiarem as suas
acções As crianças que baseiam as suas acções
em valores sofrem menos com a depressão e
ansiedade do que as outras. Valores pró-sociais
ajudam as crianças a olhar para o futuro, sentir-
se ligadas a um grupo social mais alargado e a
ter comportamentos mais positivos.

Ajudar as crianças a desenvolverem uma


visão positiva para o futuro As crianças e os
jovens são geralmente optimistas mas os
acontecimentos traumáticos provavelmente
‘abanarão’ o seu optimismo. Contudo, as crianças
que acreditam que os acontecimentos negativos
são temporários podem tomar medidas para
tornar melhor o seu futuro. Além disso, as
crianças que acreditam que os adultos estão a
trabalhar para criar um mundo melhor têm um
desempenho muito mais positivo, mesmo depois
de anos de acontecimentos traumáticos.
Portanto, é importante que quem lida com
crianças as ajude a desenvolver um sentimento
de eficácia pessoal e de acreditarem nas suas
capacidades de lidarem eficazmente com o
stress.

Ter em conta a sua própria saúde física e


mental Os pais e todos aqueles que lidam com
crianças devem prestar atenção ao seu bem estar
pessoal e físico em alturas de terrorismo, guerra
e desastres naturais. As crianças necessitam de
adultos disponíveis, apoiantes, calmos e tanto
quanto possível saudáveis física e mentalmente.
As crianças procuram os adultos para apoio,

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SECÇÃO IV
REACÇÕES DE LUTO E LINHAS ORIENTADORAS
PARA AJUDAR A CRIANÇA A SUPERAR

Capítulo 10
Crianças e Luto: Como as Crianças
Reagem à Perda de um Ente Querido

Cada criança irá vivenciar e expressar a sua dor de Sentido de identidade A morte de um ente
formas muito diferentes. Para as crianças, a perda de querido, particularmente um progenitor, pode mudar
alguém significativo irá requerer tanto ajustamentos a maneira como a criança se vê a si mesma, é vista
a curto como a longo prazo. Não existe uma pelos outros e o papel que ela ou ele representa na
cronologia para o processo do luto, nem existem família e comunidade.
“etapas” emocionais previsíveis que cada criança
deve passar. Este capítulo apresenta importantes “TAREFAS” DO LUTO
considerações para compreender a reacção da
criança ao luto e perda. O processo de luto tem sido caracterizado como uma
série de “etapas” que cada um tem que confrontar e
resolver. Para as crianças, estas “etapas” são as
PERDAS PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS seguintes:

Enquanto a perda física de uma pessoa é considerada


uma “perda primária”, muitos outros aspectos da Compreensão que a pessoa morreu e não irá
vida da criança modificam-se com a morte de um retornar Compreender significa acreditar que a
ente querido. Estas outras mudanças são morte ocorreu e ter consciência das formas
consideradas “perdas secundárias”, e podem ser permanentes em que a vida será afectada.
vistas como “efeitos colaterais” da morte. Alguns
exemplos e perdas secundárias incluem:
Trabalhando através de emoções negativas e
dolorosas Sentimentos “sem direcção” podem
Sentido de segurança Frequentemente, a perda de originar sintomas físicos e dificuldades emocionais, e
um ente querido pode abalar o nosso sentido de que em momentos mais tardios provavelmente
segurança física e emocional. Uma mudança na voltaram a surgir. Experienciar sentimentos
segurança financeira, ou no estilo de vida pode dolorosos é uma tarefa importante para a aceitação
também acompanhar a perda. da perda.

Sentido de fé/crença e propósito Muitas crianças Adaptar-se a uma vida sem o ente querido As
relatam que a perda levam-nas a questionar a sua fé crianças vão necessitar de se adaptar a novas
(crença); outras questionam e reavaliam os seus rotinas, responsabilidades e papéis. Por exemplo,
objectivos e os sentidos atribuídos a cada um desses uma adolescente pode necessitar de trabalhar em
objectivos. part-time de modo a ajudar financeiramente a

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família. Um menino terá que aceitar que o pai não lê um adolescente rebelde pode sentir-se culpado pelas
histórias tão bem quanto a mãe. palavras duras que disse a um dos progenitores num
momento de raiva.
Encontrar um modo apropriado para guardar
memórias dos falecidos, ao mesmo tempo que
se formam novos relacionamentos À medida que Funcionamento emocional dos adultos
o tempo passa, as memórias de uma pessoa que já sobreviventes Particularmente no caso da perda de
faleceu devem tornar-se menos dolorosas, e a um pai, a capacidade do pai sobrevivente de
criança deverá ser capaz de reinvestir, física e continuar as rotinas e as tarefas da vida diária irá
emocionalmente, energia noutras áreas da sua vida. influenciar grandemente o sucesso do filho na gestão
Por exemplo, uma criança pode começar a descobrir do processo de luto.
modos que incorporaram, das qualidades da pessoa
falecida, na sua própria personalidade ou vida. Ao REACÇÕES COMUNS DA INFÂNCIA À MORTE DE
UM ENTE QUERIDO (TODAS AS IDADES)
mesmo tempo, é importante que a criança
estabeleça novos relacionamentos e desenvolva Comportamentos:
novos sistemas de apoio. Deste modo, uma relação  Chorar
com um professor de educação física poderá tornar-  Agressividade, irritabilidade, intimidação
se mais forte à medida que a criança procura novos  Distúrbio do sono
modelos.  Problemas académicos ou declínio, recusa à
escola, dificuldade com memória e concentração
FACTORES QUE AFECTAM A ADAPTAÇÃO DA  Tentativas de minimizar conflitos entre membros
CRIANÇA À MORTE familiares
 Decréscimo do interesse na interacção com
Demográficos As famílias podem ser mais ou amigos e na participação em actividades usuais
menos limitadas nas suas possibilidades em aceder a
ajudas para as necessidades mais imediatas e de Emoções:
longo prazo da criança. Dificuldades concorrentes  Tristeza, isolamento, afastamento
para a família, tais como problemas financeiros e  Medos, ansiedade, pânico
difíceis situações de vida irão limitar muito mais a  Negação de emoções, evitar discussões sobre a
capacidade da criança para lidar com a morte. morte e sobre sentimentos
 Desejo pela pessoa que tenha morrido
Tipo de morte Quando a morte precede uma  Sentir “diferente” das outras crianças que não
doença prolongada ou é antecipada, a família tem sofreram uma perda
alguma oportunidade para preparar e envolver-se no
processo de morte. Frequentemente isto também Pensamentos:
significa que a família planeou ou tomou medidas  Ressentimento
preventivas para dirigir as reacções emocionais da  Auto-culpabilidade, culpa
criança em relação à morte. O choque que envolve  Preocupação com a saúde física e queixas físicas
uma morte traumática ou repentina pode ser de  Pensamentos repetitivos, conversas e jogos
maior dificuldade de compreensão para a criança, e relacionados com a morte
pode, por isso mesmo, ser emocionalmente mais  Desejos de proteger e ajudar prestadores de
desafiante para ela. Determinadas causas de morte, cuidados e membros familiares
como o suicídio, o homicídio, a sida ou uma overdose  Crianças que sofreram uma perda ou morte
de droga podem trazer consigo um estigma, e a directamente
vergonha ou embaraço resultante que a criança  Alta sensibilidade ao fracasso ou rejeição
sente pode complicar ainda mais o processo de luto.

GUIA SOBRE COMO CRIANÇAS ENTENDEM E


Qualidade das relações e tipos de interacções PENSAM A MORTE DE ACORDO COM A IDADE
antes da morte O tipo de relacionamento partilhado
entre duas pessoas antes da morte afecta a resposta A reacção das crianças à morte é influenciada pela
emocional da criança perante a perda. Por exemplo, sua capacidade cognitiva de compreender o que

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ocorreu. Segue-se uma lista de características  Capaz de avaliar e ponderar o futuro tendo em
adequadas do desenvolvimento da compreensão da conta a perda de pessoas importantes na sua vida
criança sobre a morte:  Pode ver a morte de uma pessoa significante
como um componente formativo do seu sentido
Creche e pré-escolar: 2-5 anos de idade de identidade e sentido de vida
 Incapacidade de compreender “irreversibilidade”
da morte, acreditar que a pessoa irá reaparecer –
que a morte é temporária e poderá ser revertida
ou “desfeita”
 “Pensamento Mágico” – podem secretamente
achar que causaram a morte ou acreditar que a
morte é uma punição por um mau
comportamento
 Pensar que a pessoa morta tem qualidades dos
vivos (por exemplo, podem chorar, sentir, ver)

 Pode agir ou falar como se as pessoas que


morreram ainda estivessem vivas, apesar de ter
assistido ao seu funeral
 Pode pensar que só os idosos morrem

Idade escolar inicial: 6-9 anos de idade


 Pode tornar-se muito interessada em detalhes
sobre a morte
 Começa a compreender que a morte é irreversível
e acontece aos “outros”
 Passa a haver um aumento de vocabulário e
compreensão de conceitos como saúde, doenças,
germes, contágio, etc.
 Pode “personificar” a morte (por exemplo, A
Morte)
 Pode continuar a acreditar que os seus próprios
pensamentos têm o poder de causar a morte
 Pode tentar ser o “filho perfeito”, para fazer com
que o morto volte à vida
 Pode manifestar o desejo de se reunir com o
falecido

Idade escolar média: 9-12 anos de idade


 Mais capacidade de pensamento abstracto
 Compreensão madura da morte, que é irreversível
e que acontece a todos
 Compreensão que o corpo deixa de funcionar
completamente após a morte

Adolescentes: 13-18 anos de idade


 Compreensão da morte é semelhante à dos
adultos. Demonstra reacções de luto (tristeza,
depressão) semelhante à dos adultos
 Capaz de considerar e reflectir sobre a sua própria
mortalidade

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Capítulo 11
Ajudar as Crianças a superar o luto

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Embora as atitudes estejam a mudar, a morte e a Manter rotinas e proporcionar segurança
doença são assuntos muitas vezes tratados como
“TABU”. Compreensivelmente, muitos pais sentem-se  Assegurar de forma constante que existirá
embaraçados a responder as perguntas dos seus sempre alguém que cuidará delas.
filhos sobre a morte - talvez sintam a preocupação  Manter, tanto quanto possível, as suas rotinas.
de as crianças poderem ficar “irremediavelmente  Proporcionar cuidados consistentes, seguros e
prejudicados” se eles disserem algo errado. estáveis.
 “Resguardar” a criança de conversas entre
PROMOVERFORMASSAUDÁVEISDEULTRAPASSAROTRAUMA adultos sobre a morte.

Encorajar a exteriorização de sentimentos Encorajar as relações de amizade e redes


sociais significativas
 Estar disponível para as crianças. Proporcionar-
lhes um espaço seguro onde possam conversar  Comunicar com adultos que façam parte da vida
sobre os sentimentos e onde sejam aceites da criança e que a possam ajudar com as
todos os sentimentos. alterações na mesma, por exemplo, professores,
 Ajudar as crianças a rotular as diferentes amigos da família, treinadores.
emoções que elas possam ter; fazer com que as  Encorajar a confiança noutras pessoas ou
crianças percebam que é normal sentirem-se profissionais; algumas crianças não se sentem á
irritadas, tristes e até zangadas. Relembrar as vontade para exteriorizarem emoções fortes
crianças que não é boa ideia “descarregar” os com os seus pais com medo de os incomodar ou
sentimentos negativos nas outras pessoas. magoar.
 Conversar sobre as alterações na família e  Preparar os pares e os amigos para a tristeza da
trabalhar com esta no desenvolvimento de criança, encorajando-os a interagirem com ela
soluções para os problemas. de forma normal.
 Utilizar outros recursos, por exemplo livros, para
explicar e conversar sobre os sentimentos. Desenvolver capacidades de superação do
 Criar um espaço calmo onde as crianças possam trauma
falar consigo e onde as distracções sejam
 Ajudar as crianças a lidarem com as questões
minimizadas (por exemplo, desligar o telefone).
dos pares e adultos que as rodeiam. Perceber se
 Definir um momento específico do dia para
preferem ou não que as coisas fiquem em
conversar com a criança sobre sentimentos –
privado. Praticar o que dizer quando conversar
como por exemplo depois da escola. Sempre
sobre a situação.
que possível, evitar conversas mais sérias antes
da hora de dormir pois estas poderão causar
perturbações e distúrbios do sono.

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CUIDAR DE CRIANÇAS DEPOIS DE TRAUMAS, DESASTRES E MORTE

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 Admitir actividades lúdicas e divertidas. “Quando as pessoas morrem nunca mais as


Encorajar o envolvimento e a participação nas podemos ver, mas podemos olhar para elas em
actividades familiares e sociais. fotografias e lembrarmo-nos delas.”
 Ajudar a criança a reunir recordações positivas  Usar livros de histórias e imagens para explicar
da pessoa que morreu. conceitos que possam ser compreendidos por
elas.
Procurar e identificar nas experiências das  Encorajar a exteriorização de sentimentos,
crianças sinais de tristeza verbalmente, em jogos e arte.
 Esperar e ser paciente com questões repetidas.
 Ser sensível às ideias e sugestões das crianças e
 Assegurar que a culpa não é da criança.
corrigir mitos e concepções erradas.
 Acalmar e confortar as crianças pequenas de
 Acompanhar as mudanças noutras áreas da vida
maneiras familiares, como por exemplo,
das crianças, tais como, académicas, vida social
balançando, fazendo festinhas e cantando
e desportos.
canções.
 Evitar esperar das crianças desempenhos e
responsabilidades de adultos. Dos 6 aos 9 anos:
 Dar respostas honestas.
 Esperar diferentes temperamentos e  Fornecer informações claras e honestas,
comportamentos e ser paciente. descrevendo o que sabemos e admitindo que
 Ajudar as crianças a recuperar sentimentos de ninguém tem respostas que sejam totalmente
auto-confiança e auto-controlo, bem como certas.
compreender as suas necessidades temporárias  Dar respostas claras e verdadeiras. Usar
de regredirem no seu comportamento (por explicações simples para as causas da morte.
exemplo, dormirem na cama com os pais).  Usar vocabulário verdadeiro sobre a morte,
Continuar a estabelecer limites para evitando eufemismos (por exemplo, ele foi para
comportamentos inapropriados (por exemplo, um “lugar melhor”). As crianças confundem-se
ficarem acordadas até mais tarde). facilmente com explicações vagas.
 Ser o mais concreto possível, usar diagramas e
GUIA PARA CONVERSAR E CUIDAR DE CRIANÇAS EM imagens simples para descrever coisas como o
LUTO DE ACORDO COM AS IDADES corpo e as lesões.
 Descobrir o que as crianças já sabem e o que
Embora o mais importante seja manter um ambiente
pensam. Fazer-lhes questões antes de elaborar
aberto e confortável onde a criança possa conversar
hipóteses sobre as suas necessidades.
sobre as suas preocupações, seguem-se algumas
 Preparar a criança para antecipar mudanças ou
orientações para conversar sobre a morte com
alterações nas rotinas e funcionamento da casa
crianças de diferentes idades.
e sobre maiores modificações tais como, por
exemplo, a necessidade de mudar de escola.
Dos 2 aos 5 anos:
Conversar sobre o significado dessas mudanças
 Tranquilizar a criança relativamente à sua nas suas vidas.
segurança e cuidados, assegurando-lhe que  Encorajar a comunicação/ exteriorização de
existirão sempre adultos para cuidarem dela. sentimentos confusos e desagradáveis.
 Usar analogias de situações ou experiências  Identificar e regularizar qualquer dificuldade que
similares que a criança possa compreender, a criança encontre relativamente à escola, pares
como por exemplo, a morte de um animal de e família.
estimação ou as mudanças nas flores do jardim.  Admitir questões repetidas.
 Dar respostas claras e honestas e fornecer
Dos 9 aos 12 anos:
explicações simples para a doença e as causas
da morte. Se possível, relacionar a morte com
 Envolver a criança em conversas sobre a morte
situações conhecidas para as crianças:
e solicitar questões.
“Quando alguém tem um ataque cardíaco
 Aproveitar situações para abordar sentimentos
significa que o sangue deixou de chegar ao
quando a criança estiver preparada ou quando
coração, tal como quando os carros avariam
surgirem oportunidades para isso.
num engarrafamento.”

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 Deixar as crianças seguirem o seu próprio ritmo para conversarem sobre os seus sentimentos.
CUIDAR DE CRIANÇAS DEPOIS DE TRAUMAS, DESASTRES E MORTE

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 Ensinar às crianças as reacções comuns nestas


situações (por exemplo, raiva, tristeza, etc.) e
conversar com elas sobre os problemas que
poderão encontrar se evitarem sentimentos
difíceis (por exemplo, poderão sentir-se pior
mais tarde).
 Conversar sobre as alterações que poderão
verificar-se no funcionamento da casa; pedir a
sua participação na negociação de novas formas
de lidar com as situações. Evitar mudanças
desnecessárias.
 Promover conversas sobra a gestão de novas
responsabilidades.
 Questionar as crianças sobre o que elas querem
dizer às outras pessoas (por exemplo,
professores, amigos).
 Incentivar a lembrança e recordações dos que
morreram de formas que sejam pessoais e
significativas.
 Partilhar aspectos da sua própria experiência e
formas de ultrapassar o luto.

Dos 13 aos 18 anos:

 Compreender que muitos adolescentes poderão


ter medo de exteriorizar emoções fortes, visto
que poderão sentir-se envergonhados.
 Procurar e identificar sentimentos de ansiedade
ou “depressão”. Muitos jovens poderão sentir-
se pressionados para serem responsáveis e
assumirem papéis de adultos.
 Ser prudente quando o jovem quer modificar de
forma significativa a sua vida imediatamente a
seguir à morte. Incentivar que ele considere de
forma cuidada todas as escolhas.
 Conversar abertamente sobre a sua maneira de
encarar e sentir a morte poderá influenciar os
comportamentos dos adolescentes.
 Alertar os jovens para os potenciais riscos do
uso de substâncias e de comportamentos
ilegais. Estar atento a pistas relativamente ao
aumento desse tipo de riscos.
 Incentivar o desenvolvimento progressivo da
independência e da auto-confiança.
 Ser razoavelmente flexível com as regras e
expectativas académicas e comportamentais.

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Capítulo 12
Aniversários, Memoriais e Ocasiões
Especiais

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O aniversário de um evento traumático ou de uma futuras do curriculum de rotina. O plano pode incluir
perda pode ser muito doloroso, particularmente no eventos em toda a escola, ou eventos em cada sala,
primeiro ano. Para quem perdeu um ente querido, os actividades conjuntas para pais e filhos, ou
primeiros feriados e eventos significativos sem um programação especial relacionada com actividades da
ente querido são os mais difíceis. Para quem esteve comunidade.
envolvido num evento traumático de larga escala, tal
como os ataques ao World Trade Center ou um Ser Atento Estar informado sobre e atento a sinais
furacão, o aniversário pode reavivar sentimentos de de dificuldade nas crianças, e estar alerta em relação
perda, de tristeza e de medo. a alunos que possam precisar de ser referenciados
para acompanhamento/apoio especializado, de curto
O aniversário de eventos ajuda as pessoas a ou longo termo.
partilharem memórias, a valorizarem mudanças
positivas que ocorreram, e a encararem o futuro. Usar Recursos Recursos dentro da sala (por
Quando se planeia o aniversário de um evento exemplo, áreas de leitura silenciosa) e fora da sala
traumático, apesar de o evento em si ter sido (por exemplo, gabinete do psicólogo) devem estar
imprevisível e incontrolável, é possível ter algum disponíveis para crianças que possam sentir-se
controlo sobre o aniversário do evento. pressionadas.

SUGESTÕES PARA A PREPARAÇÃO DO Plano de Apoio Desenvolver um plano de suporte


ANIVERSÁRIO personalizado com os membros da comunidade
escolar, se os sentimentos ou eventos se tornarem
CONSIDERAÇÕES PARA PROFESSORES E opressivos.
OUTROS AGENTES EDUCATIVOS
CONSIDERAÇÕES PARA OS ADMINISTRADORES
Recolher Toda a Informação Ter o contacto dos E RESPONSÁVEIS DA ESCOLA
pais ou o contacto de outras pessoas, em caso de
emergência. Confirmar junto dos pais a existência de Ser Apoio Apoiar os agentes educativos no que se
alguma preocupação específica da criança, e a sua refere aos seus sentimentos e pensamentos sobre o
vulnerabilidade a sentimentos difíceis. aniversário.

Ser Inclusivo Incluir todos os membros da Providenciar um Espaço Seguro Ter um espaço
comunidade escolar na planificação do dia. tranquilo para o qual os agentes educativos e as
Comunicar com antecedência aos pais o plano de crianças se possam dirigir se precisarem de algum
actividades. Planear como integrar os pais que tempo sozinhas.
podem querer estar com as crianças durante todo ou
Manter a Estrutura Encorajar os agentes
parte do evento.
educativas a terem uma estrutura planeada para o
Ser Estruturado Deve haver uma estrutura já dia. Pode ajudar e ser tranquilizador a
preparada do dia, com possibilidade de ser flexível implementação de actividades familiares.
no que se refere à participação e às expectativas
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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

actividades e eventos que proporcionem opiniões


estruturadas.
Preparar Esforços para a Comemoração Ponderar
a abordagem que, tanto a administração como os Considerar Opiniões Considerar de que forma as
agentes educativos, querem efectuar. Comunicar diferentes opiniões de “comemorações” encaixam
com antecedência as decisões e a abordagem final nas necessidades. Se o evento for público e de larga
da comemoração. É importante que todos tenham a escala, com os eventos de 11 de Setembro, vão
oportunidade de estarem à vontade e de assimilarem ocorrer diversos memoriais. Decidir se se prefere
a abordagem utilizada. participar numa reunião de grande público, ou se se
prefere estar envolvido numa cerimónia tradicional
Ser Flexível É essencial haver flexibilidade quanto da comunidade ou algo criado pessoalmente. Os
às várias necessidades dos agentes educativos: aniversários permitem diminuir o isolamento, sentir o
alguns podem ficar sensíveis ao aniversário, outros apoio de quem teve uma experiência semelhante e,
não. Tentar abordar individualmente cada membro talvez, tirar alguma consequência positiva, tal como
da sua equipa. a renovação do espírito da comunidade ou o
fortalecimento das relações.
Limitar a Cobertura dos Media Encorajar os
agentes educativos a limitarem a exposição do Emoções Esperadas Mesmo quem lidou
evento e do aniversário à cobertura dos media. positivamente com o trauma ou a morte, pode
experienciar pensamentos ou sentimentos
CONSIDERAÇÕES PARA PAIS E OUTROS
perturbadores: também se podem evidenciar
MEMBROS DA FAMÍLIA
sentimentos perturbadores em relação a outros
eventos ou problemas do passado, sempre que a
Falar com os Professores das Crianças e dos
pessoa se sente mais abalada.
Profissionais Escolares Se as crianças vão ficar na
escola ou noutro lugar, obter informações sobre o
Usar Redes de Apoio Social Passar tempo com a
que está planeado. Tal é especialmente importante
família e amigos e usar todos os meios disponíveis.
para que os pais possam falar com as crianças antes
Quem foi anteriormente uma fonte de apoio vai
do evento para as prepararem para o memorial. Os
apreciar ajudar e pode dar conforto e assistência:
professores e profissionais escolares devem
pode ser um ombro onde chorar, ou uma companhia
igualmente informar os pais e as crianças do
no carro. Fazer uma lista de quem quer ajudar, para
aniversário do evento que se aproxima.
estar disponível ou alerta se necessário, como apoio
ou como ajuda para crianças ao seu cuidado, no caso
Estar Atento aos Sentimentos Estar atento às
de as coisas começarem a descontrolar-se.
expectativas sobre o dia e o seu significado. O
significado do dia pode provocar emoções
Estar Preparado para Mudanças O plano pode ser
complicadas. O alívio com o final do dia pode
posto em prática e, à medida que o dia se aproxima,
misturar-se com a realização de tudo o que
os sentimentos podem mudar. Pode ser necessário
aconteceu e de como diferente a vida se tornou. O
ser flexível e fazer novos planos.
dia não traz apenas lembranças de um evento difícil
ou de uma pessoa que morreu, também pode Ser Calmo e Apoiante É importante ser o exemplo
baralhar sentimentos e reacções relacionadas com o de expressões saudáveis de sentimentos e de
evento original. Tais reacções são usuais onde ocorre controlo, especialmente para os mais novos.
uma re-experiência de pensamentos e de emoções
semelhantes aos da tragédia original. Limitar o Visionamento dos Média Ver
repetidamente imagens do passado e histórias de
Planear Antecipadamente Incluir todos os como outros estão a lidar com a dor, pode ser
envolvidos na tomada de decisão. Discutir em grupo doloroso e pode despoletar reacções difíceis, tais
pensamentos individuais, preocupações, ideias e como re-experienciar sintomas passados ou provocar
sentimentos. Respeitar, o máximo possível, os novos sintomas, nova ansiedade e stress
desejos de todos. Todos têm a sua forma pessoal de relacionados com o trauma.
lidar com eventos difíceis. Alguns podem ficar
pensativos e tristes, podem querer falar sobre Aceitar Novos Relacionamentos e Actividades
recordações felizes, podem querer evitar lembranças Novos relacionamentos e novas realidades
dessa data, podem querer preparar cuidadosamente emocionantes podem tornar-se parte da vida de uma
actividades de recordação ou podem querer colar-se pessoa. À medida que o tempo passa, as crianças, os
a uma rotina e ambiente familiares. Planear pais e outros membros da família confrontam-se com
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novos desafios e apercebem-se de que as coisas algum aspecto poderá fazer com que se sinta,
mudaram. Isto é uma parte normal do processo de ou as suas crianças, desconfortável.
privação e de perda. Alguns podem precisar de ajuda
para atravessarem áreas difíceis, para Seja flexível Não se sinta obrigado a seguir uma
perspectivarem os eventos, para gerirem certa maneira de fazer as coisas; pode mudar de
sentimentos ainda conturbados, ou apenas para ideias.
falarem sobre o assunto. Se os eventos ou os
Respeite os outros Todos têm uma maneira
sentimentos estiverem a interferir com as actividades
diferente de lidar com as situações; respeite aqueles
do dia-a-dia, procurem a ajuda de um profissional.
que tenham uma maneira diferente de abordar as
GERIR FERIADOS E OCASIÕES ESPECIAIS ocasiões especiais.

Os feriados e ocasiões especiais podem ser Estabeleça novas tradições Esteja receptivo à
especialmente difíceis para crianças que perderam ideia de estabelecer novas tradições e novas
um membro da família ou um amigo próximo maneiras de fazer as coisas. Ao mesmo tempo, pode
durante um ataque terrorista ou um desastre incorporar novas tradições nas existentes.
natural. Destas ocasiões podem surgir sentimentos
Antecipe as reacções das crianças Pense
de tristeza, medo ou raiva. Eventos significativos,
antecipadamente para que possa lidar com
incluindo feriados e ocasiões especiais, como
momentos que possam ser estranhos ou
aniversários e outras festas, podem sublinhar a falta
constrangedores para as crianças. Considere e
de um ente querido. As crianças podem sentir de
antecipe as reacções das suas crianças aos eventos
maneira diferente dias importantes para si, depois da
planeados. Fale com as crianças sobre os seus
perda de um familiar próximo ou um amigo, e podem
sentimentos e preocupações antes dos eventos e
até experienciar novas emoções como a raiva e a
resoluções para o problema de maneira a que elas se
tristeza.
sintam bem.
Abaixo estão algumas sugestões para os pais lidarem
Ajude as crianças com os seus sentimentos
com feriados e ocasiões espaciais:
Providencie um ambiente que permita às crianças
Faça o melhor que puder Ultrapassar o primeiro expressar livremente os seus sentimentos e opiniões.
evento especial, como um aniversário, é um grande
Inicie diálogos Fale abertamente com as crianças
passo. Não há uma maneira “correcta” ou
sobre a ocasião especial que está para vir. Ouça as
“incorrecta” de aguentar uma ocasião especial. Só
suas sugestões para a ocasião e as suas opiniões
pode fazer aquilo que sente ser o melhor.
sobre os planos sugeridos.
Não se sinta pressionado A celebração de uma
Antecipe questões Fale sobre questões ou
ocasião especial após a perda de um ente querido é
comentários que as crianças podem receber de
muito difícil para os restantes membros da família.
outras pessoas. Isto irá prepará-las para o que
Não deixe que a antecipação do dia especial cause
possam experienciar quando se juntarem a outras
mais stress que o necessário e não se sinta
pessoas para as ocasiões especiais.
pressionado a celebrar esse dia especial de uma
maneira que não lhe agrada.
Encoraje as crianças a participarem em
actividades Actividades que ajudem as crianças a
Planeamento Planear antecipadamente uma ocasião
relembrarem os entes queridos podem ser
especial ajudará a canalizar algum stress, ansiedade
vantajosas. Actividades sugeridas incluem: escrever
e antecipação relacionada com o evento para si e
sobre essa pessoa, criar uma árvore genealógica,
para as crianças.
fazer um livro de recortes ou voluntariar-se ou doar
 Fale com as crianças antes do acontecimento em nome dessa pessoa.
especial. Ouça as suas sugestões para a ocasião
SOBRE MEMORIAIS E FUNERAIS
especial. Tente incorporar as ideias de todos os
membros da família e tenha em conta os
Considere a idade da criança Crianças muito
sentimentos de todos em relação aos planos
novas (bebés – 4 anos) podem não ter a capacidade
para a ocasião.
física ou a atenção para comparecer a estes eventos.
Um amigo ou um familiar deve ser o companheiro da
 Descubra antecipadamente os pormenores do
criança durante as actividades funerárias ou em
evento em que vai participar. Considere se
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casa. Esta situação proporciona conforto para a seus desejos. A relação das crianças da turma com a
criança e alivia a pressão sobre a família. pessoa que faleceu devem ditar o seu nível de
participação no evento.
Siga os desejos da criança Encoraje a participação
em actividades funerárias de acordo com os desejos Considere várias maneiras de mostrar o apoio
das crianças; descubra, como e quando, se a criança Em adição à comparência na cerimónia, existem
quer contribuir para a situação. outras actividades que são também apreciadas.
Tomar conta dos animais de estimação enquanto a
Questione sobre os desejos da criança A família está ocupada com as actividades funerárias,
participação não deverá ser um requisito, mas uma convidar as crianças para sair durante a vigília, levar
opção. Deve ser sublinhado que, embora o funeral as crianças da turma a enviar cartões à família ou
ocorra num determinado tempo e lugar, a criança doar para uma causa especial são algumas maneiras
não será fria/”desnaturada” ou má se não de mostrar apoio.
comparecer. Não é a sua única oportunidade de dizer
adeus. Por exemplo, escrever uma carta ou um Considere diferenças culturais Mantenha em
poema que seja lido em voz alta ou que seja mente que várias culturas e religiões têm diferentes
colocado no caixão por um adulto, ou visitar o local costumes e práticas. Saiba e respeite a maneira
do enterro ou colocar flores após o enterro são adequada de mostrar apoio em cada situação.
outras maneiras de dizer adeus. Pessoas de todas as culturas e religiões apreciam o
facto de alguém se lembrar delas durante os tempos
Descreva claramente a situação à criança Para difíceis.
poder ajudar a criança a decidir se participa ou não
no funeral, explique-lhe o que irá acontecer e o que A DECISÃO DE PARTICIPAR NUMA VIGILIA
esta pode esperar, numa linguagem clara e simples. COMUNITÁRIA
Esta é uma experiência sem comparação. Explique o
que a criança irá ver e quais poderão ser as reacções Quando existe uma catástrofe numa comunidade ou
das pessoas. Em qualquer idade, as crianças podem a nível nacional, tais como uma atentado bombista
ficar confusas com este tipo de eventos e por ver as ou um desastre de avião, nos quais as pessoas são
expressões dos sentimentos de outras pessoas. mortas ou desaparecem, serviços como vigílias com
velas são muitas vezes feitos. As crianças
No caso do falecimento de um dos pais, tenha normalmente descobrem sobre estas catástrofes
em consideração o estado emocional do através de uma perda, de um familiar ou amigo, ou
sobrevivente Se o parente está distraído ou através dos media. Nestas situações, é muitas vezes
sobrecarregado com detalhes, outros familiares gratificante para a criança participar em serviços
devem ajudar. Atribuir um acompanhante para a comunitários, para partilharem os seus sentimentos
criança e um plano de actividades poderá aliviar a de choque, dor e tristeza com outros. Contudo, o
pressão do parente e o stress da criança. envolvimento da criança não deve ser forçado. Para
as crianças que possam ficar sobrecarregadas, os
Pergunte Regularmente à criança sobre as suas pais devem exercer um pouco de cuidado e
preferências Espere que sentimentos e níveis de providenciar cerimónias pequenas para relembrar as
interesse na participação possam mudar durante as vítimas da tragédia ou encontrar outras formas de
situações. expressar a sua preocupação.

Lembre-se que a comparência não necessita ser O SIGNIFICADO DAS CERIMÓNIAS


agora ou nunca Pais e professores devem pensar
nas diferentes actividades e estruturar diferentes O funeral ou serviço memorial é apenas um evento
opiniões, como ir ao serviço mas não ao enterro, no processo de dizer adeus. Embora estes eventos
ficar durante uma hora e depois ir para casa de um sirvam como marca para o final da vida e início de
amigo da família. Também deve dar permissão à um período de mudança, eles não resultam num luto
criança para se retirar do evento e voltar quando emocional para todos os sentimentos. Sentimentos
necessitar. sobre a pessoa perdida e reacções à morte podem
mudar ao longo da vida da criança.
Descubra mais informações Quando se decide se
uma criança da turma deve comparecer num funeral
ou deve prestar condolências à família de um colega
ou de um membro do pessoal, um adulto deve saber
o que vai acontecer e perguntar à família quais os
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DOENÇAS, FERIMENTOS E VISITAS Pense em actividades; algumas crianças contentam-


HOSPITALARES se a fazer os trabalhos de casa enquanto visitam a
mãe, outras podem preferir um jogo para ajudar a
Pais muitas vezes batalham sobre quanta informação passar o tempo.
partilhar com os seus filhos sobre tratamentos e dcvghbjk
condições, assim como o quanto a criança deve ser
exposta ao processo de cuidado. Algumas guias
gerais: Estruture a visita antecipadamente Decida
quanto tempo a visita irá durar. Pacientes
Considere a idade da criança O mais provável é hospitalizados podem considerar o uso de roupas
que as crianças mais novas se sintam alarmadas e exteriores durante a visita como um reforço do
confusas com as visitas hospitalares. sentido de normalidade. Tenha em atenção a melhor
altura para visitar com base nas rotinas, tratamento
Respeite as crianças Respeite, o mais possível, o
e refeições do paciente.
nível de interesse da criança em envolver-se. Dê à
criança escolha sobre como participar. Ela não deve Determine a frequência das visitas Uma visita
ser forçada a visitar o hospital, mas podem ser dadas pode ser o suficiente para ajudar a criança a ter um
opções para a manter em contacto, tais como conceito do hospital, para visualizar onde a pessoa se
cartões, chamadas telefónicas, e-mails, fotografias e encontra e para se sentir segura sobre o estado
presentes. dessa pessoa.

Considere o nível de tolerância da criança a Use o seu critério de juízo A exposição da criança
experiências difíceis deve ser moderada de acordo com a severidade da
doença ou do ferimento e o estado de saúde e
Explique claramente os procedimentos Use
aparência do paciente enquanto recebe tratamento.
termos concretos para explicar os procedimentos
médicos.

Prepare Fale com a criança sobre o que esta deve


esperar. Descreva não só o hospital, como o aspecto
que a pessoa pode ter, os aparelhos médicos que a
criança irá ver e como funcionam.
Pense em actividades; algumas crianças contentam-
se a fazer os trabalhos de casa enquanto visitam a
mãe, outras podem preferir um jogo para ajudar a
passar o tempo.

Estruture a visita antecipadamente Decida


quanto tempo a visita irá durar. Pacientes
hospitalizados podem considerar o uso de roupas
exteriores durante a visita como um reforço do
sentido de normalidade. Tenha em atenção a melhor
altura para visitar com base nas rotinas, tratamento
e refeições do paciente.

Determine a frequência das visitas Uma visita


pode ser o suficiente para ajudar a criança a ter um
conceito do hospital, para visualizar onde a pessoa se
encontra e para se sentir segura sobre o estado
dessa pessoa.

Use o seu critério de juízo A exposição da criança


deve ser moderada de acordo com a severidade da
doença ou do ferimento e o estado de saúde e
aparência do paciente enquanto recebe tratamento.

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SECÇÃO V:
QUANDO E COMO PROCURAR AJUDA

Capítulo 13
Reconhecer quando as crianças
precisam de ajuda

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Uma das tarefas mais difíceis para os pais, cujos QUANDO DEVE PROCURAR AJUDA
filhos estiveram expostos a situações PROFISSIONAL
traumáticas, desastres naturais ou morte, é
decidir quando é ou não necessário pedir ajuda a Muitos sinais físicos e emocionais sugerem um
um profissional de saúde mental. No geral, os possível problema de saúde mental. Os problemas
pais recorrem frequentemente ao médico, podem ir desde aqueles mais preocupantes (por
quando se trata de problemas físicos (visíveis), exemplo, quando uma criança ou adolescente perdeu
mas encontram-se muitas vezes confusos em o contacto com a realidade ou está em perigo de se
relação ao tratamento da saúde mental. magoar a si próprio) àqueles de menor gravidade
(por exemplo, quando uma criança ou jovem
Os pais sentem-se embaraçados ou atravessa uma mudança nos hábitos alimentares ou
envergonhados: pensam que podem eles de sono, está irritado ou zangado, ou
próprios resolver os problemas; sentem que a particularmente receoso de algo). Futuros estudos
situação é passageira; discordam quando alguém deverão ser considerados quando uma criança
sugere que precisam de ajuda de pessoas de aparenta estar deslocada relativamente às outras
fora; dispensam ou não compreendem o crianças ou exibe mudanças ou problemas nas
problema das crianças. Mas, tal como os seguintes áreas:
problemas físicos, os prognósticos serão
melhores quando os problemas de saúde mental  Alimentação/ apetite
são identificados e tratados desde cedo.  Dormir
 Trabalho escolar
Apesar de muitas crianças mostrarem sinais de  Nível de actividade
stress nas primeiras semanas após o trauma, a  Disposição
maior parte delas, volta ao seu estado normal de  Relacionamento com família e amigos
saúde física e emocional. Contudo, existem ainda  Comportamento agressivo
algumas crianças que têm reacções fora do  Retrocesso a comportamentos típicos de uma
normal nos dias e semanas a seguir à crise. criança mais nova
Enquanto que algumas das reacções são de curta  Atrasos no desenvolvimento, por exemplo na
duração e se resolvem por elas próprias, outras fala ou linguagem
podem durar meses ou anos, após terem
ocorrido. Pode-se acrescentar que algumas No geral, quando se leva uma criança a um
dificuldades podem mesmo não aparecer nos profissional de saúde mental os sintomas vão ser
próximos meses ou até anos, após o inicialmente avaliados relativamente à sua:
acontecimento. Para estas crianças, é mais difícil
voltar ao normal, talvez seja necessária uma  Intensidade
ajuda profissional.  Duração
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 Idade apropriada A evitar:


 Nível de interferência na vida diária (na
escola, em casa, com outras crianças)  Pensamentos, sentimentos ou lugares que
lembram o que aconteceu
PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL  O adormecimento ou falta de emoções
PREOCUPANTES
Outros comportamentos
Todas as crianças expostas a um medo intenso
associado a traumas ou à morte de alguém  Regressão a comportamentos passados, tais
próximo podem ser susceptíveis de ter Desordem como molhar a cama ou sugar no dedo
de Stress Pós Traumático, distúrbios (DSPT),  Dificuldade a adormecer ou concentrar
distúrbios de ansiedade e/ou depressões.  Afastamento dos outros socialmente
Qualquer um destes diagnósticos será discutido  Uso excessivo de álcool ou outras
em detalhe de seguida. substâncias para auto-medicação

DESORDEM DE STRESS PÓS TRAUMÁTICO Quem é provável que tenha DSPT?


NAS CRIANÇAS
Todas as crianças passam por situações No seguimento de um acontecimento traumático
stressantes, mas algumas experimentam como o ataque ao World Trade Center ou um
momentos diferentes, repentinos e assustadores. desastre natural como o Furacão Katrina, as
Alguns exemplos são o abuso de crianças, crianças e jovens que estão em risco de ter DSPT
violência comunitária, desastres naturais como o são:
Furacão katrina, ou os eventos do 11 de
Setembro. Estas situações podem envolver a  Os que presenciaram directamente os
morte, perigo de morte, ou ferimentos graves eventos
para as crianças ou alguém próximo delas.  Os que sofreram consequências directas
pessoais (como a morte de um familiar, ou
Quais são os sintomas da Desordem de ferimentos)
Stress Pós Traumático (DSPT)?  Os que teriam outros problemas mentais ou
de aprendizagem antes dos eventos
As crianças portadoras de DSPT, encontram-se  Os que têm falta de laços sociais
dentro das seguintes categorias:
O que causa DSPT?
Re-Experienciar (passar por uma experiencia
de novo) Nem todas as pessoas que passam pelas
mesmas experiencias respondem da mesma
 Momentos em que uma criança parece forma. As pessoas nascem com diferentes
repetir os eventos em que está a pensar tendências biológicas na forma como respondem
 Intrusão de memórias recorrentes de um ao stress – algumas são mais adaptáveis, outras
evento ou acções repetidas sobre os eventos mais cautelosas.
 Pesadelos As reacções e a recuperação também são
afectadas pelo tamanho e intensidade do evento
Agitação traumático.

 Comportamento desorganizado e agitado Pode a DSPT ser prevenida?


 Irritabilidade ou raiva
 Nervosismo sobre tudo e todos os que o/a O apoio parental influencia quão bem as crianças
rodeiam (exemplo: quando as pessoas se vão reagir/ recuperar depois de um evento desse
aproximam demasiado) género. Os pais e profissionais podem ajudar as
 Agitado quando ouve sons altos crianças das seguintes formas:
 Proporcionando uma presença física forte

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 Modelando e ajustando as suas próprias Algumas crianças podem não desenvolver DSPT
expressões dos sentimentos até um ano ou mais após a situação, sendo
 Estabelecendo rotinas com flexibilidade conhecido por “efeito dormitório”. Contudo, DSPT
 Aceitando comportamentos regressivos, mas é muito responsivo à intervenção e os sintomas
ao mesmo tempo encorajando e suportando podem diminuir ao longo do tempo.
actividades apropriadas para a idade
 Ajudando as crianças a usar estratégias COMO É TRATADO O DSPT?
familiares de aceitação
 Permitindo que as crianças contem as suas Terapia Cognitiva Comportamental (TCC)
histórias em palavras, jogos, imagens de forma demonstrou ser eficaz para as crianças com
a reconhecer e normalizar as suas experiencias DSPT. O treino cognitivo ajuda as crianças a
 Discutindo o que fazer ou o que foi feito para reestruturarem os seus pensamentos e
evitar que o evento se repita sentimentos e podem viver sem se sentirem
 Mantendo um ambiente estável e familiar ameaçados. Intervenções comportamentais
incluem aprendizagens para enfrentar medos,
PERGUNTAS E RESPOSTAS COMUNS assim as crianças já não evitam as pessoas em
lugares que as fazem lembrar o acontecimento.
“Será que as crianças que sofrem a perda Técnicas de relaxamento são usadas em paralelo
de um ente querido depois de um desastre com a criança, sendo cuidadosamente orientadas
têm DSPT?” no contar da história sobre o acontecimento.
Estas estratégias ensinam as crianças a lidar
As respostas ao luto podem incluir alguns dos eficazmente com os seus medos e stress,
sintomas que vemos nos indivíduos com DSPT, efectivamente. Também costuma ser incluída
como tristeza, “retirada”/abstinência, uma formação aos pais para ajudar a criança a
pensamentos intrusivos ou evitar pessoas e sítios lidar com as novas estratégias e ensinar adultos
que servem como lembranças. Enquanto as a usar as suas próprias estratégias.
respostas ao luto são usualmente ultrapassadas Para mais informações sobre os tipos de
com o tempo, DSPT pode ser uma reacção em tratamento e onde procurar ajuda, ver capitulo
que os indivíduos continuam a experienciar 14.
durante um mês ou mais.
DESORDENS DE ANSIEDADE NAS CRIANÇAS
“Qual é a idade mais comum para as
crianças desenvolverem DSPT?” Ansiedade é uma emoção normal e natural
experienciada por todos os seres humanos.
Crianças que foram expostas a situações Contudo, algumas pessoas, mesmo crianças
traumáticas podem correr o risco de DSPT a preocupam-se com as dificuldades que surgem
qualquer idade. DSPT é mais difícil de diariamente nas suas vidas.
diagnosticar em crianças muito jovens que estão A ansiedade pode ser acerca da separação dos
menos desenvolvidas linguisticamente e portanto pais, preocupações com catástrofes que
não podem descrever bem as suas reflexões acontecem, ataques de pânico, ficar preso se
internas e sentimentos ou compreenderem o alguma coisa correr mal, ser julgado.
significado de pensamentos intrusivos ou Uma criança pode estar tão preocupada com a
pesadelos. obtenção de um resultado perfeito, que estuda
sem limites; uma criança pode ter medo de não
“Quando DSPT começa e quanto tempo ter uma resposta certa, que nunca levanta a
demora a passar?” mão, ou uma criança pode evitar eventos sociais
porque tem medo que alguém não goste dela.
DSPT pode desenvolver-se anos após a situação.
Respostas e reacções seguem o desastre talvez
nas próximas semanas ou meses mas muitas
vezes mostram um decréscimo relativamente
rápido depois do impacto directo acalmar.

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Quais os sintomas da desordem de  Comportamentos repetitivos, como o de lavar as


ansiedade? mãos.

Há cinco grandes tipos de desordem de Quem corre o risco de ter uma desordem de
ansiedade na infância: desordem de ansiedade ansiedade?
da separação, desordens de ansiedade
generalizadas, fobia social, desordem obsessivo – Estima-se que 5 a 20 por cento de todas as crianças
compulsivo e desordem de pânico com ou sem foram diagnosticadas com uma desordem de
“agorafobia”. ansiedade, tornando-se no problema mais comuns
Os sintomas das crianças com ansiedade são nas criança com problemas de saúde mental e
vistos nestas diferentes maneiras: baseia-se em pensamentos e sentimentos. Uma
desordem de ansiedade pode acontecer
Sintomas físicos aparentemente sem aviso ou pode estar presente por
muito tempo sem ninguém perceber o que ela é.
 Cefaleias, dores de estômago e/ou tensão Quanto mais cedo o início, mais susceptível a criança
muscular está de ter vários tipos de ansiedade e depressão.
 Sintoma de ataques de pânico tais como a Jovens, com uma desordem de ansiedade podem
falta de ar, lentos ou rápidos batimentos estar em risco para o desenvolvimento de depressão
cardíacos, formigueiro e sensações de receio, maior.
calor ou suores frios e terror em determinadas
situações. O que causa um transtorno de ansiedade?

Pensamentos Ansiedade é resultado de uma combinação de


influências familiares e biológicas. Estudos sugerem
 Medo de estar longe de casa ou do principal que algumas crianças que são temperamentais
cuidador. (inclusive no nascimento) mostram ser tímidas ou
 Medo de que alguma coisa de terrível hesitantes em situações familiares podem ser mais
aconteça a si próprio ou ao seu principal propensas a ansiedade. Ansiedade pode ser causada
cuidador. por um desequilíbrio químico ou com problemas
 Excessiva e incontrolável preocupação sobre específicos em certos mecanismos do cérebro.
muitas coisas, tais como o futuro, chegar a
tempo a um encontro, saúde, desempenho Ansiedade tende a ocorrer em famílias, mas o
escolar, crime, mudança de rotinas e questões complexo relacionamento entre genes, sistemas
familiares. biológicos e a ansiedade não é bem compreendida.
 Medo de ser avaliado negativamente, Além disso, sugerem que a ansiedade e reacções de
rejeitado, humilhado ou embaraçado em frente fobia pode ser aprendido, embora seja uma
dos outros. experiência directa ou observações de terceiros.
 Medo de fazer relatórios orais, participar em
aulas de ginástica, iniciar ou entrar em PERGUNTAS E RESPOSTAS COMUNS
conversas, comer em locais públicos ou
conversar com pessoas que conhece. “Como é que o meu filho se tornou tão
 Pesadelos ansioso?”

Comportamentos Ansiedade é provavelmente o resultado da interacção


entre a sensibilidade biológica de uma criança e a
 Prevenção de situações ou coisas que causam experiência.
preocupação, como a reuniões sociais, a As crianças reagem com uma ansiedade física em
escola ou animais várias situações, especialmente quando sentem que
 Relutância ou resistência para dormir sozinho estas não estão no seu controle. Nas suas mentes,
 Chorar, enfurecer, agarrados em situações por exemplo, as crianças pensam que, se algo pode
aflitas acontecer com alguém, que pode acontecer a elas
também.

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"Isto não será apenas uma fase que o meu filho passo, a desenvolver estratégias de superação e
está a atravessar? É normal por vezes ter dominar as situações que causam ansiedade.
medo." Medicação, que actua directamente sobre o cérebro e
no sistema nervoso central, pode ser prescrita para
Certamente todas as crianças passam por algumas ajudar a que o jovem se possa sentir calmo enquanto
fases quando estão mais preocupados com alguma e trabalha para um saudável funcionamento
coisa do que em outras épocas. Uma criança com quotidiano.
uma desordem de ansiedade, no entanto, está tão Para algumas crianças, uma combinação de
preocupada que isso interfere com a vida familiar, medicação e TCC também é eficaz. Para obter mais
actividade académica e relacionamentos com os informações sobre os tipos de tratamentos e onde
outros. obter ajuda, consulte o Capítulo 14.

"Meu filho vai ser sempre assim?" DEPRESSÃO EM CRIANÇAS

Todos têm de aprender a viver com uma certa dose Todas as crianças têm "alterações de humor" em
de ansiedade. Felizmente, a ansiedade é altamente determinada altura. Quando esse mau humor não se
tratável. altera, ou seja permanece, a criança pode estar
Terapêutica apropriada pode reduzir ou prevenir deprimida. A depressão nas crianças pode ter os
completamente a recorrência de problemas em 70 a sintomas usuais das depressões dos adultos – elas
90 por cento dos doentes. Tratamento de sentem-se desesperadas, incapazes e sem valor –
Comportamento Cognitivo pode ensinar as crianças mas frequentemente elas mostram outros
habilidades, tais como técnicas de relaxamento e comportamentos que podem ser sinal de depressão.
dominar frases, para tratar pensamentos agitados,
sentimentos e comportamentos.
Quais os sintomas da depressão?
"Qual a atitude da família de uma criança com
Desordem de Ansiedade" Existem dois tipos básicos de depressão: a depressão
maior, que dura menos de duas semanas, e a
Com boas intenções, os pais estão aptos para condição média mas crónica chamada “Dysthymia”,
resgatar os seus filhos, para tentar dar conforto e em que o estado das crianças é caracterizado por um
acalmar quando eles se estão a sentir perturbados e longo modo de estado depressivo. Em geral, as
ansiosos. No entanto, esta abordagem pode ensinar crianças com desordem depressiva mostraram
a criança a abandonar rapidamente e depender dos alguns dos seguintes sintomas:
outros para se sentir melhor. Embora seja difícil, os  Estados depressivos (que podem ser
pais devem deixar a criança cair em algumas caracterizados por sentimentos de tristeza, vazio,
dificuldades, perguntar-lhe o que está acontecer e choro e irritabilidade)
pensar sobre o que deve fazer. Desta forma, a  Decrescente interesse em ter prazer nas
família deixa a criança obter alguma experiência de actividades
luta, em vez de contar em ser resgatada; assim  Dificuldade de concentração e chamada de
ajudam a criança a escolher as formas de gerir a atenção
situação, elogiando as suas tentativas, bem como os  Raiva
seus êxitos.  Fadiga ou falta de energia
Estas estratégias ajudam as crianças a aprender que  Sentem-se sem valor
podem lidar com coisas que as assustam.  Baixa auto-estima
 Problemas de sono
COMO É TRATADA A ANSIEDADE?  Perda ou ganho significativo de peso
 Retirada social (pode ser expressa por monotonia
Terapia comportamental cognitiva (TCC) é o ou aborrecimento)
tratamento de escolha. Ele tem demonstrado ser útil  Agitação ou abrandamento “apatia”
na assistência a crianças ou adolescentes para  Pensamentos sobre a morte
controlar ansiedade e recuperar uma vida normal.
Através da TCC um indivíduo aprende, passo-a-

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Quem está mais propenso a apanhar uma Infelizmente nós não sabemos qual a causa da
depressão infantil? depressão infantil. Para algumas crianças a
depressão parece ser uma resposta biológica que não
Qualquer um, a qualquer idade, mesmo com dois ou está sob o seu controlo e pode ser despertada pelo
três anos de idade pode-se estar deprimido. Um a 2 stress. Ser mimado não é causa para depressão.
por cento das crianças em idade entre 5 e 11 anos é
diagnosticada com depressões, esse número salta " Poderá a medicação mudar a personalidade
para 8 a 12 por cento em idade entre 12 e 18 anos das crianças?"
(duas vezes mais as raparigas do que os rapazes).
As crianças com depressão podem ter outra Não. Tomar medicação para a depressão pode ser
desordem também; por exemplo pelo menos metade comparado a tomar medicação para uma horrível dor
também teve distúrbios de ansiedade. de cabeça. A medicação não muda quem tu és mas
leva-nos embora a dor de cabeça. Igualmente, a
Crianças que pensam ou tentam o suicídio são medicação para a depressão alivia a criança de
normalmente diagnosticadas com depressão. sentimentos pesados, deixando-o ou a ter prazer e
apreciar as actividades.
Qual a causa para a depressão nas crianças?
" Não há mais nada para ajudar a depressão
Todos nós já experimentamos situações de para além da medicação?"
aborrecimento nas nossas vidas. Ninguém sabe
porque é que algumas crianças ficam deprimidas, Medicação ou TCC parecem ser igualmente efectivas,
enquanto outras face às mesmas circunstâncias crianças, pais e profissionais podem escolher um ou
podem ficar tristes mas são capazes de olhar em ambos. Contudo se uma criança tem tendências
frente e avançar. Contudo os acontecimentos da vida suicidas ou tem dificuldade com as tarefas básicas
podem afectar o estado de espírito da criança, diárias, a medicação deve ser considerada. Para a
catapultar depressões ou tornar mais difícil de gerir o maioria das crianças, a medicação sozinha não é
stress, normalmente existe uma predisposição suficiente. Um clima de entendimento, carinho e
psicológica para a depressão. A maioria das vezes a suporte são também necessários.
reacção à depressão é o resultado de um
desequilíbrio na parte química do cérebro COMO É TRATADA A DEPRESSÃO?
responsável por produzir sentimentos positivos. Este
desequilíbrio parece ser uma herança. Pesquisas, Procurar ajuda é de importância vital. Manter
constantemente mostram que a depressão surge na sentimentos fortes de tristeza, incapacidade, solidão
família; crianças cujos pais tem comportamentos e dor interior pode tornar as coisas piores. Quando
depressivos tem 50% de hipóteses de ficarem os problemas são vividos intensamente o tratamento
depressivas elas próprias. é sempre muito mais difícil.
Crianças e adolescentes que falem sobre suicídios
PERGUNTAS E RESPOSTAS COMUNS devem ser levados a sério; eles não estão
necessariamente à procura de atenção, e
" Como pode o meu filho estar com depressão consequentemente deve ser consultado um
se ele corre/anda por ai, se diverte?" profissional de saúde mental.
A depressão é tratada de inúmeras maneiras; e de
A depressão nas crianças frequentemente parece facto, é uma das doenças de tratamento mais fácil e
diferente da dos adultos. É raro, crianças pequenas de sucesso. Pesquisas mostram-nos que TCC e a
parecerem tristes por longos períodos de tempo. É medicação podem ser úteis. A terapia cognitiva que
mais provável ficarem irritados, queixarem-se ou ajuda as crianças a aprender a gerir os
ficar aborrecidos e com mais dificuldade em ficarem acontecimentos problemáticos e os seus
satisfeitos. sentimentos, como contrariar os pensamentos
negativos e como desenvolver caminhos para
" De onde é que a depressão da minha filha suportar os maus sentimentos têm sido
apareceu? Ela tem tudo o que quer " demonstrados como eficazes.

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SUPORTE A CRIANÇAS APÓS TRAUMAS, CATÁSTROFES E MORTE

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BIBLIOGRAFIA
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