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Rio de Janeiro
Fevereiro de 2017
i
André, Flávio Pereira
Dosagem Científica de Concretos Usando Areia de Brita
com BétonlabPro® 3/ Flávio Pereira André. – Rio de Janeiro:
UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.
xiv, 94 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Luís Marcelo Marques Tavares. Ana Catarina
Jorge Evangelista
Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso
de Engenharia Civil, 2017.
Referências Bibliográficas: p. 73-79.
1. Areia de brita 2. Dosagem científica 3. BétonlabPro® 3
I. Tavares, Luís Marcelo Marques et al. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de
Engenharia Civil. III. Dosagem Científica de Concretos
Usando Areia de Brita com BétonlabPro® 3.
ii
Agradecimentos
Aos meus pais, Carlos e Teresa, e minha família, por todo esforço pela minha
educação e formação e pelo apoio nas minhas escolhas. São os grandes responsáveis
por eu estar aqui hoje;
Ao professor Luís Marcelo, por ter aberto as portas do LTM para que lá pudesse
fazer este trabalho, por todo seu esforço e pela excelente orientação;
À professora Ana Catarina, que mesmo do outro lado do mundo aceitou o desafio
de me orientar e me ajudou no desenvolvimento deste trabalho;
Aos meus amigos do ciclo básico que me acompanharam desde o primeiro dia de
faculdade e aos amigos que a Engenharia Civil me apresentou, por tornarem esses
longos anos de engenharia mais leves e divertidos;
A todos aqueles que de alguma maneira fizeram parte deste trabalho, seja com um
conselho ou estendendo uma mão amiga, meu muito obrigado!
iii
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil
iv
Abstract of Undergraduate Project presented POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Civil Engineer
The depletion of natural sand sources in the vicinity of urban centers resulted in the
increasing use of fine aggregates produced from the comminution of rocks, called as
manufactured sand or crushed sand. This material, however, has its own characteristics
that need to be taken into account during the concrete proportioning process. This work
aims to perform the scientific dosage of concrete with the replacement of 100% of the
natural aggregates through the Compressible Packaging Model, developed by DE
LARRARD (1999), from the calibration of BétonlabPro® 3 for the intrinsic properties of
the manufactured fine aggregate, checking the potential of the software for the
proportioning of concretes formulated with crushed sand and the operation of the
concrete optimization tool. This work also carried out an analysis of the impacts of
particle shape and the presence of biotite on the properties of fresh and hardened
concrete. The results demonstrated the feasibility of using the scientific dosage tool for
manufactured sand and also proved the influence of the main characteristics of crushed
sand on the concrete properties.
v
SUMÁRIO
Agradecimentos ............................................................................................................iii
1. Introdução.............................................................................................................. 1
vi
3.3 Métodos Experimentais ................................................................................ 38
vii
4.1.4 Superplastificante .................................................................................. 59
5. Conclusões .......................................................................................................... 71
viii
Lista de Figuras
Figura 1 - Preço médio da areia por tonelada em cada Estado, referente ao mês de
setembro de 2016 (SINAPI, 2016) ................................................................................ 2
Figura 2 - Influência da dimensão máxima do agregado na demanda de água da mistura
para um dado valor de abatimento de tronco de cone (Adaptada de NEVILLE, 2012) 10
Figura 3 - Comparação entre forma de partículas de areia natural (a) e areia
manufaturada (b) (Adaptada de COIN, 2009) ............................................................. 12
Figura 4 - Avaliação visual dos graus de esfericidade e arredondamento (Adaptada da
NBR 7389, 1992) ........................................................................................................ 13
Figura 5 - Demonstração do aumento de consumo de água provocado por partículas
alongadas em comparação com partículas esféricas para obtenção da mesma
viscosidade (Adaptada de Hawlitschek, 2014) ............................................................ 15
Figura 6 - Componentes micáceos: Muscovita (a) e Biotita (b) ................................... 18
Figura 7 – Relação entre a razão de biotita na mistura e a resistência de argamassas
(Modificada de WAKIZAKA et al., 2005) ..................................................................... 19
Figura 8 - Relação entre a proporção de mica na mistura de concreto e a demanda
d'água (Adaptada de DANIELSEN, 1984) ................................................................... 20
Figura 9 - Ilustração do corte de um britador VSI (Adaptada de CEPURITIS et al., 2015)
................................................................................................................................... 23
Figura 10 - Ilustração do corte de um britador cônico (Adaptada de DIAZ, 2015) ....... 24
Figura 11 - Efeito do tamanho das partículas na esfericidade do agregado miúdo
(Adaptada de GONÇALVES et al., 2007).................................................................... 25
Figura 12 - Efeito do tamanho das partículas na razão de aspecto do agregado miúdo
(Adaptada de GONÇALVES et al., 2007).................................................................... 25
Figura 13 - Tipos de aeroclassificadores estáticos: gravitacional a ar (a), gravitacional
inercial a ar (b), centrífugo a ar (c) .............................................................................. 27
Figura 14 - Separador Magnético de Terras-Raras: Perfil (a) e detalhe (b) (Adaptada de
PARREIRA, 2016) ...................................................................................................... 28
Figura 15 - Mistura binária sem interação com grãos maiores como dominante (a) e
grãos menores como dominante (b) (FORMAGINI, 2005) .......................................... 31
Figura 16 - Evolução da compacidade virtual de uma mistura binária de esferas sem
interação (Adaptada de FORMAGINI, 2005)............................................................... 32
Figura 17 - Efeito de parede exercido pela partícula de maior tamanho sobre a partícula
de menor tamanho (SILVA, 2004)............................................................................... 33
Figura 18 - Efeito de afastamento exercido pela partícula de menor tamanho sobre a
partícula de maior tamanho (FORMAGINI, 2005) ....................................................... 33
ix
Figura 19 - Evolução da compacidade virtual de uma mistura binária de esferas variando
a interação entre as partículas (Adaptada de SILVA, 2004) ........................................ 34
Figura 20 - Perturbações exercidas na classe granular 2 por partículas de dimensões
maiores (1) e menores (3) (DE LARRARD, 1999) ....................................................... 34
Figura 21 - Exemplo de curva experimental de compacidade para misturas binárias
(Adaptada de DE LARRARD, 1999) ........................................................................... 35
Figura 22 - Cimento Portland CP II F 32, produzido pela LafargeHolcim .................... 38
Figura 23 - Equipamento Malvern Hydro 2000MU, utilizado para determinação da
granulometria do cimento Portland ............................................................................. 39
Figura 24 - Equipamento Micromeritics AccuPyc 1340, utilizado na obtenção da massa
específica do cimento Portland ................................................................................... 40
Figura 25 - Fases do empacotamento durante o ensaio de compacidade por demanda
d'água (SILVA, 2004) .................................................................................................. 40
Figura 26 - Misturador planetário Soiltest CT-345 de 2 litros de capacidade, utilizado no
ensaio de compacidade por demanda d'água ............................................................. 41
Figura 27 - Fases do empacotamento do cimento Portland em ensaio por demanda
d'água: estado seco (a); estado pendular (b); estado funicular (c); início do estado capilar
(d) (CORDEIRO, 2006) ............................................................................................... 42
Figura 28 - Espectrômetro de Fluorescência de Raio-X por Energia Dispersiva, utilizado
para obtenção da composição química do cimento .................................................... 43
Figura 29 - Equipamento Tyler Ro-Tap®, utilizado para determinação da granulometria
dos agregados ............................................................................................................ 44
Figura 30 – Catetômetro para leitura dos dados e mesa vibratória em segundo plano 45
Figura 31 - Detalhamento do ensaio de compacidade em mesa vibratória (SILVA, 2004)
................................................................................................................................... 46
Figura 32 - Representação esquemática da umidade no agregado (Adaptada de
NEVILLE et al., 2010) ................................................................................................. 47
Figura 33 - Betoneira GMEG MB-120P, utilizada na formulação do concreto ............. 50
Figura 34 - Ensaio de abatimento de tronco de cone .................................................. 51
Figura 35 - Corpo de prova faceado com uso de torno mecânico (a) e corpo de prova
capeado com uso de argamassa de enxofre (b) ......................................................... 53
Figura 36 - Configuração do ensaio de resistência à compressão .............................. 53
Figura 37 - Curva granulométrica do cimento Portland CP II F 32 .............................. 54
Figura 38 - Curvas granulométricas da areia natural e manufaturada e limites de
tamanho segundo a NBR 7211 (ABNT, 2009) ............................................................ 56
Figura 39 - Curva granulométrica do agregado graúdo ............................................... 58
x
Figura 40 - Granulometria do concreto contendo areia natural com descontinuidade
assinalada .................................................................................................................. 64
Figura 41 - Relação entre a razão de aspecto das partículas de areia de brita e o
abatimento de tronco de cone do concreto ................................................................. 66
Figura 42 - Banco de materiais constituintes do BétonlabPro® 3................................. 80
Figura 43 - Janela de propriedades do cimento Portland: Definições gerais e de custo
(a), Composição química (b), propriedades do cimento (c), granulometria (d), valores de
compacidade (e) e curva granulométrica do cimento (f) .............................................. 81
Figura 44 - Janela de propriedades da areia natural: Definições gerais e de custo (a),
propriedades da areia (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva
granulométrica da areia (e) ......................................................................................... 82
Figura 45 - Janela de propriedades da areia brita: Definições gerais e de custo (a),
propriedades da areia (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva
granulométrica da areia (e) ......................................................................................... 83
Figura 46 - Janela de propriedades do agregado graúdo: Definições gerais e de custo
(a), propriedades da brita (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva
granulométrica da brita (e) .......................................................................................... 84
Figura 47 - Janelas de propriedades do superplastificante ......................................... 85
Figura 48 - Janela de seleção dos materiais que serão utilizados para formulação do
concreto do BétonlabPro® 3 ........................................................................................ 86
Figura 49 - Janela de simulação dos traços de concreto ............................................ 87
Figura 50 - Traços de resistência para 28 dias de 25MPa e 50 MPa gerados para a areia
natural e para a areia de brita ..................................................................................... 87
Figura 51 - Janela de entrada de dados para calibração do software BétonlabPro® 3 88
Figura 52 - Janela de seleção de material constituinte para a calibração dos parametros
"p" e "q" ...................................................................................................................... 89
Figura 53 - Valores calibrados para "p" e "q" .............................................................. 89
Figura 54 - Traços de concreto adotando mantendo a mesma composição da pasta e
alterando apenas o tipo de agregado miúdo ............................................................... 90
Figura 55 – Otimização dos agregados pela fixação da pasta (b) e minimização do índice
de compacidade (a) .................................................................................................... 91
Figura 56 - Traço de concreto após o primeiro ciclo de otimização da mistura ........... 92
Figura 57 – Otimização da composição da pasta pela fixação da proporção dos
agregados (b) e minimização do preço (a) .................................................................. 93
Figura 58 - Traço de concreto obtido após a otimização do preço por m³ ................... 94
xi
Lista de Tabelas
xii
Tabela 24 - Proporções e propriedades físicas dos traços de AN25, AN50, AB25 e AB50
................................................................................................................................... 59
Tabela 25 - Comparação entre os valores de resistência experimentais e teóricos dos
corpos de prova do traço AN25, com 7 e 28 dias de idade ......................................... 60
Tabela 26 - Comparação entre os valores de resistência experimentais e teóricos dos
corpos de prova do traço AN50, com 7 e 28 dias de idade ......................................... 60
Tabela 27 - Comparação entre os valores de resistência experimentais e teóricos dos
corpos de prova do traço AB25, com 7 e 28 dias de idade ......................................... 61
Tabela 28 - Comparação entre os valores de resistência experimentais e teóricos dos
corpos de prova do traço AB50, com 7 e 28 dias de idade ......................................... 61
Tabela 29 - Parâmetros de calibração do agregado graúdo para ambos os tipos de areia
................................................................................................................................... 62
Tabela 30 - Parâmetros de calibração da areia natural ............................................... 62
Tabela 31 - Parâmetros de calibração da areia de brita .............................................. 62
Tabela 32 - Comparação entre os valores teóricos de resistência à compressão antes e
após calibração com os valores experimentais ........................................................... 63
Tabela 33 - Comparação entre os valores teóricos e os resultados do ensaio de
abatimento de tronco de cone..................................................................................... 63
Tabela 34 - Comparativo entre os índices de razão de aspecto e esfericidade para
produto gerado por britadores cônicos e VSI .............................................................. 64
Tabela 35 - Resultados experimentais de abatimento de tronco de cone e resistência à
compressão do traço VSI ............................................................................................ 65
Tabela 36 - Resultados experimentais de abatimento de tronco de cone e resistência à
compressão do traço CON.......................................................................................... 65
Tabela 37 - Consumo em kg/m³ dos materiais constituintes dos concretos para os traços
RB e PB ...................................................................................................................... 67
Tabela 38 - Resultados experimentais de abatimento de tronco de cone e resistência à
compressão do traço RB ............................................................................................ 67
Tabela 39 - Resultados experimentais de abatimento de tronco de cone e resistência à
compressão do traço PB............................................................................................. 67
Tabela 40 - Custos de materiais constituintes utilizados para otimização de preço do
BétonlabPro® 3 ........................................................................................................... 68
Tabela 41 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia natural
inicial e otimizado ....................................................................................................... 69
Tabela 42 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia de brita
inicial e otimizado ....................................................................................................... 69
xiii
Tabela 43 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia natural e
areia de brita inicial e otimizado .................................................................................. 70
Tabela 44 - Parâmetros utilizados pelo software BétonlabPro® 3 de acordo com o tipo
de material .................................................................................................................. 80
xiv
1. Introdução
1 Preço médio referente ao mês de setembro de 2016, utilizando a média de valores de areia fina, média e grossa,
calculado sem frete e considerando a densidade média da areia 2,60 t/m³.
1
R$ 30,00
R$ 25,00
R$ 20,00
R$ 15,00
R$ 10,00
R$ 5,00
R$ 0,00
AL
BA
AP
ES
PA
PB
PE
PI
PR
SE
SP
AC
AM
SC
GO
DF
RJ
TO
CE
RN
RO
RR
RS
MA
MG
MS
MT
Figura 1 - Preço médio da areia por tonelada em cada Estado, referente ao mês de setembro
de 2016 (SINAPI, 2016)
Tais fatores, aliados ao alto custo de mão de obra e insumos no Estado do Rio de
Janeiro, resultam no custo médio por metro quadrado de construção mais elevado do
país (SINAPI, 2016b). Dados referentes ao mês de novembro de 2016 (Tabela 1)
mostram que o custo por metro quadrado do Estado Fluminense é 7% superior à média
da Região Sudeste e 13% superior à média nacional.
2
Piauí 1021,07 0,35 6,15 5,93
Ceará 1015,98 -0,06 6,55 6,42
Rio Grande do Norte 941,06 0,03 1,41 1,08
Paraíba 1061,46 0,18 6,58 6,36
Pernambuco 997,59 2,63 8,96 8,93
Alagoas 1006,99 -0,13 5,98 6,19
Sergipe 966,55 -0,17 4,94 4,65
Bahia 1011,06 0,11 6,48 6,52
Região Sudeste 1155,77 -0,14 7,28 7,29
Minas Gerais 1025,96 -0,30 7,58 7,61
Espírito Santo 1003,82 1,23 6,20 5,81
Rio de Janeiro 1238,13 -0,23 6,10 5,86
São Paulo 1212,99 -0,12 7,69 7,83
Região Sul 1125,37 0,06 4,64 4,80
Paraná 1089,87 -0,17 1,42 1,77
Santa Catarina 1220,13 0,41 7,24 7,06
Rio Grande do Sul 1093,65 0,06 7,51 7,74
Região Centro-Oeste 1104,34 0,12 6,10 6,15
Mato Grosso do Sul 1081,64 -0,11 6,06 6,21
Mato Grosso 1124,59 0,48 7,26 7,66
Goiás 1086,08 0,01 6,32 5,78
Distrito Federal 1118,31 -0,06 4,24 4,58
3
1.2 Objetivos
Este trabalho está dividido em 5 capítulos, sendo que o capítulo 1 apresenta uma
breve introdução ao tema, explicando o atual cenário do mercado da construção civil e
de agregados no Brasil, os objetivos e a estruturação do trabalho.
4
2. Revisão Bibliográfica
A NBR 7211 (ABNT, 2009) classifica como agregado graúdo as partículas que
passam pela peneira com abertura de malha de 75 mm e ficam retidos na peneira com
abertura de malha de 4,75 mm. A origem do agregado graúdo pode ser natural ou
resultante da cominuição de rochas estáveis, sendo o termo brita utilizado para
denominar fragmentos de rochas duras, originárias de processos de britagem e
peneiramento de blocos extraídos de maciços rochosos. As rochas mais comumente
usadas na produção de brita são granito, gnaisse, basalto, diabásio, calcário e dolomito.
No Brasil, cerca de 85% da brita produzida tem origem em rochas graníticas e
gnáissicas, 10% em calcário e dolomito e 5% em basalto e diabásio (MME, 2009).
6
Assim como para o agregado miúdo, a NBR 7211 (ABNT, 2009) estabelece o limite
máximo para a presença de material pulverulento (<0,075 mm) de 1% em relação à
massa do agregado graúdo, podendo esse limite ser alterado para 2% no caso de
agregados produzidos a partir de rochas com absorção d’água inferior a 1%. Além disso
a referida norma técnica também estipula o limite máximo de perda de massa que o
agregado graúdo poderá estar sujeito através do ensaio de abrasão Los Angeles,
limitando-o a 50%, em massa, do material.
Por fim, a NBR 7211 (ABNT, 2009) determina zonas granulométricas, indicando os
limites correspondentes à menor e à maior dimensão do agregado graúdo (Tabela 4).
percentuais em apenas um dos limites marcados com 2). Essa variação pode também estar
distribuída em vários desses limites.
2.3.1 Granulometria
9
passar por peneiras de malhas inferiores, distorcendo os resultados, visto que partículas
de dimensões maiores ficariam retidas em peneiras de abertura de malha menor. Como
alternativa para essa distorção, deve-se caracterizar o agregado não apenas em sua
composição granulométrica, mas também em relação a forma de seus grãos.
NEVILLE (2012) afirma que, para o mesmo valor de abatimento de tronco de cone,
o aumento nas dimensões máximas do agregado graúdo é responsável pela redução
da quantidade de água necessária na mistura do concreto (Figura 2). No entanto,
WEIDMANN (2008) e AHN (2000) afirmam que agregados demasiadamente grossos,
principalmente os agregados miúdos, tendem a gerar concreto ásperos, de baixa
trabalhabilidade e elevada tendência à segregação e exsudação, sendo necessária a
utilização de teores maiores de argamassa para correção das referidas deficiências,
ocasionando o aumento o consumo de cimento na mistura.
190
180 Agregado A
Mistura de água (kg/m³)
170 Agregado B
160
150
140
130
120
110
0 10 20 30 40 50 60 70
Dimensão máxima do agregado (mm)
10
Pelo cimento ser o componente mais dispendioso na fabricação do concreto, a sua
dosagem durante a formulação do concreto deve ser profundamente estudada,
otimizando seu consumo. Estudos apontam que a substituição de 5% do cimento por
material pulverulento (passante na peneira de 0,075 mm) resultou no aumento da
resistência à compressão e tração do concreto (LI et al., 2016). Em contrapartida, o
excesso de finos no material resulta numa demanda superior de água, devido à sua
elevada superfície específica, tornando o concreto antieconômico e aumentando a
possibilidade de segregação. Todavia, o uso de areias mais finas resulta em uma
demanda menor de argamassa para obtenção de características satisfatórias de coesão
e trabalhabilidade, o que em certos casos compensaria a maior demanda d’água
ocasionada pelo material (WEIDMANN, 2008).
11
Figura 3 - Comparação entre forma de partículas de areia natural (a) e areia manufaturada (b)
(Adaptada de COIN, 2009)
12
Tabela 7 - Classificação dos agregados quanto aos vértices e arestas dos grãos (Adaptada de
WEIDMANN, 2008)
Classificação Descrição
Arestas e vértices vivos, bem definidos,
Anguloso formados pela interseção de faces
relativamente planas.
Não apresentam arestas e possuem cantos
Arredondado (vértices) arredondados, erodidos pela água
ou atrito.
Tabela 8 - Classificação dos agregados quanto à forma dos grãos (Adaptada de WEIDMANN,
2008)
Classificação Descrição
13
Outros dois parâmetros muito utilizados na classificação das partículas quanto à
forma são a razão de aspecto e a esfericidade. A razão de aspecto consiste na razão
entre a largura e o comprimento das partículas e a esfericidade é obtida através da
equação 1:
Esses dois parâmetros, para o caso de uma partícula perfeitamente esférica, são
iguais a 1. Para partículas de formato alongado, onde o comprimento é muito superior
à sua largura, a razão de aspecto apresenta valores reduzidos. A esfericidade
representa a angulosidade da partícula e valores próximos ao limite superior sugerem
uma superfície de partícula mais uniforme, enquanto valores mais baixos indicam
superfícies mais irregulares e angulares.
14
Tabela 9 - Análise da influência da superfície específica do agregado na resistência e
densidade do concreto (Modificada de NEVILLE, 2012)
Outro fator importante envolvendo a forma das partículas diz respeito à demanda de
água da mistura do concreto. Partículas de formatos alongado, lamelar e discoide
necessitam de uma quantidade de água superior à demandada por partículas esféricas
para preencher os vazios da mistura e recobrir a superfície das partículas, garantindo a
mesma trabalhabilidade (Figura 5) (HAWLISTCHEK, 2014; NEVILLE, 2012), por esse
motivo a trabalhabilidade do concreto oriundo de agregados alongados tende a ser
inferior àquela obtida fazendo-se uso de partículas arredondadas.
16
do concreto seja relevante apenas nas primeiras idades, uma vez que o
desenvolvimento de uma aderência química entre a pasta e o agregado reduziria a
importância desse efeito em idades mais avançadas.
40
30
0 5 10
Razão de mistura de biotita (%)
Segundo NEVILLE (2012), a presença de mica livre nos agregados deve ser evitada,
pois na presença de agentes químicos produzidos durante a hidratação do cimento
poderá ocorrer a alteração da mica para outras formas. Além disso, a presença de micas
no agregado miúdo, mesmo que em pequenos teores, afeta a demanda d’água (Figura
8) e a resistência de concretos e argamassas. Estudos apresentados por NEVILLE
(2012) mostraram que um teor de 5% de mica no agregado miúdo provocou a redução
em 15% da resistência esperada para um concreto com idade de 28 dias, mesmo
mantendo constante a razão água/cimento. Este fenômeno pode ser explicado pela
baixa aderência da pasta de cimento hidratado à superfície das partículas de mica. Além
disso, estudos mostram que a muscovita pode apresentar efeitos piores a reologia do
concreto, se comparada aos efeitos provocados pela biotita (NEVILLE, 2012;
DANIELSEN, 1984).
19
4,5
3,5
3
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Conteúdo de mica livre na faixa de 0,15-0,30 mm (%)
Além disso, leis de proteção ambiental mais rigorosas têm limitado a extração de
areia natural em diversas regiões próximas a centros urbanos. No Rio Grande do Sul,
por exemplo, além da proibição da extração de areia em diversos rios, existem também
restrições em relação a profundidade até a qual se pode lavrar a areia, além de uma
distância mínima que deve ser respeitada em relação as margens dos rios, com base
em sua largura. Estados como Ceará e Espírito Santo impõem severas restrições ao
aproveitamento de areia de dunas como agregado. No Rio de Janeiro, a eminente
proibição da exploração de areias em diversos rios da Região Metropolitana coloca em
risco o fornecimento do agregado miúdo na região do Grande Rio (MME, 2009).
20
A utilização de areia manufaturada já uma realidade em diversos países, tanto
devido a questões ambientais como também em decorrência do esgotamento das fontes
de areia natural. O desenvolvimento de tecnologias para a produção de agregados
manufaturados está intrinsicamente relacionado à disponibilidade de recursos na região.
Países como o Japão fazem uso da areia de brita devido ao esgotamento de suas
reservas naturais, o mesmo não ocorre em países como Canadá ou Estados Unidos,
onde há grande disponibilidade de recursos. Na Nova Zelândia, por exemplo, a
substituição do agregado natural pela areia de brita ocorreu majoritariamente devido a
obtenção de uma melhor performance com o agregado manufaturado através da
introdução de britadores de impacto vertical, permitindo a obtenção de concretos de
maior resistência à compressão e densidade devido a maior presença de material
pulverulento (COIN, 2009).
21
2.4.2 Comparação entre Britadores de Impacto de Eixo Vertical e Cônico
0,75
0,7
Esfericidade
0,65 NFA
MFA-IC
MFA-CC
0,6
0,1 1
Tamanho de partícula (mm)
1,7
NFA
MFA-IC
1,6
Razão de Aspecto
MFA-CC
1,5
1,4
1,3
0,1 1
Tamanho de partícula (mm)
25
2.4.3 Benefícios da Areia de Brita
A utilização de separação dos finos por meio de lavagem nem sempre é viável
devido à falta de espaço nas minas, disponibilidade de água e problemas ambientais
gerados pela disposição dos rejeitos (CEPURITIS et al., 2015). No entanto, a utilização
de aeroclassificadores estáticos (Figura 13) permite classificar partículas de agregado
por tamanho e forma a partir da aceleração de ar dentro da câmara e através da
interação entre a força gravitacional da partícula e a força de arraste do ar, combinando
as características de forma, peso e densidade para separar as partículas em finas e
grossas. A combinação de dois ou mais classificadores a ar em série, com base em
suas faixas granulométricas de atuação, mostrou-se bastante efetiva para a composição
da granulometria dos finos da areia de brita após sua britagem (CEPURITIS et al., 2015).
29
15 MPa, além de respeitar uma série de condições pré-definidas para garantir que o
mesmo seja fiel à resistência estabelecida pelo projeto estrutural.
30
2.5.1.1 Empacotamento Virtual
O MEC se baseia no conceito de compacidade virtual de empacotamento, definida
como a máxima compacidade alcançada em uma mistura onde cada partícula mantém
seu formato, sendo empilhada uma a uma em um volume infinito, obtendo-se um arranjo
geométrico ideal. A compacidade virtual de empacotamento é um conceito teórico
destinado à obtenção do empacotamento de uma dada mistura, sendo impossível sua
obtenção através da utilização de processos reais de compactação visto que, na prática,
os grãos se posicionam desordenadamente, resultando em uma compacidade real
inferior à compacidade virtual.
Figura 15 - Mistura binária sem interação com grãos maiores como dominante (a) e grãos
menores como dominante (b) (FORMAGINI, 2005)
31
diversos tamanhos) é obtido quando as partículas de tamanhos menores preenchem
por completo os espaços vazios entre as partículas mais grossas. A Figura 16
demonstra a relação entre a compacidade virtual da mistura e a proporção de partículas
menores (y2) de uma mistura binária com duas classes de partículas esféricas de
diâmetro muito diferentes, desde de uma mistura composta puramente por partículas
maiores, atingindo seu pico de compacidade virtual no momento em que todas as
partículas finas preenchem os espaços disponíveis pelas partículas maiores e
decrescendo com o aumento da quantidade de partículas finas, substituindo as maiores
(DE LARRARD, 1999).
0,9
Compacidade virtual
0,8
0,7
Partícula
maior Partícula fina dominante
dominante
0,6
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Fração volumétrica (y2)
Figura 16 - Evolução da compacidade virtual de uma mistura binária de esferas sem interação
(Adaptada de FORMAGINI, 2005)
32
Figura 17 - Efeito de parede exercido pela partícula de maior tamanho sobre a partícula de
menor tamanho (SILVA, 2004)
Figura 18 - Efeito de afastamento exercido pela partícula de menor tamanho sobre a partícula
de maior tamanho (FORMAGINI, 2005)
0,9
Compacidade virtual
3 - Interação parcial
d1 > d2
0,8
2 - Interação total
0,7 d1 = d2
0,6
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Fração volumétrica (y2)
34
2.5.1.2 Empacotamento Real
As considerações expostas no item 2.5.1.1 sobre empacotamento virtual aplicam-se
somente às compacidades virtuais e não podem ser utilizadas diretamente para
predição da compacidade real de misturas. Segundo SILVA (2004), as curvas teóricas
de compacidade virtual apresentam um valor máximo de compacidade em um bico da
curva, conforme a Figura 16 e a Figura 19, enquanto curvas experimentais apresentam
em seu ponto ótimo uma tangente horizontal (Figura 21).
0,8
0,75
Compacidade experimental
0,7
0,65
0,6
0,55
0,5
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Fração volumétrica (y2)
35
ensaios. O modelo assim estruturado é denominado como o Método de Empacotamento
Compressível.
2.5.2 BetónlabPro® 3
36
3. Materiais e Métodos
3.2 Materiais
Para a formulação dos concretos utilizados neste trabalho fez-se uso de dois
diferentes tipos de agregados miúdos; uma areia de origem natural, originária do
município de Barra de São João, no Rio de Janeiro, e uma areia manufaturada de rochas
gnáissicas pertencente ao grupo litológico Complexo Rio Negro, originária da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. A escolha desses materiais na realização do trabalho
buscou caracterizar o atual cenário de agregados miúdos do Estado do Rio de Janeiro.
O superplastificante adotado foi o Glenium® 51, produzido pela empresa BASF, que
tem como base uma cadeia de éter policarboxílico modificado que atua como
dispersante do material cimentício, propiciando superplastificação e alta redução de
água, aumentando a trabalhabilidade sem alteração do tempo de pega.
38
dispersão úmida das partículas, com a utilização de espalhamento a laser, fornecendo
valores entre 0,01 µm e 100 µm. Os valores obtidos foram interpolados fazendo-se uso
do software MatLab para adaptá-los a entrada de dados do BétonlabPro® 3.
39
Figura 24 - Equipamento Micromeritics AccuPyc 1340, utilizado na obtenção da massa
específica do cimento Portland
40
Portland ao equipamento. Adicionou-se uma pequena quantidade de água ao cimento
com o misturador na velocidade baixa durante 1 minuto, ocasionando sua passagem do
estado seco, caracterizado por um arranjo desordenado de partículas e um elevado
índice de vazios, para o estado pendular, no qual ocorre a formação de pequenas pontes
líquidas entre as partículas (SILVA, 2004).
A fase capilar foi alcançada no momento em que todos os vazios da mistura foram
preenchidos por água. Ao início da fase capilar é dado o nome de ponto de demanda
d’água e a partir desse ponto a adição de mais água a mistura provoca o afastamento
dos grãos resultando na redução da compacidade e aumento da fluidez. Segundo
SEDRAN (1999), a grande dificuldade deste ensaio consiste no reconhecimento visual
da passagem entre os estados. As diferentes fases do ensaio estão demonstradas na
Figura 27.
41
Figura 27 - Fases do empacotamento do cimento Portland em ensaio por demanda d'água:
estado seco (a); estado pendular (b); estado funicular (c); início do estado capilar (d)
(CORDEIRO, 2006)
1
c= m (2)
1+ρ. ma
A compacidade do material foi obtida por meio de média aritmética entre os valores
encontrados. O tempo para execução do ensaio não deve exceder 10 minutos, a fim de
evitar a perda de água da mistura para o ambiente.
42
3.3.1.4 Determinação da Composição Química
A determinação da composição química do cimento Portland foi realizada através
do Espectrômetro de Fluorescência de Raios-X por Energia Dispersiva Shimadzu EDX-
720 (Figura 28) localizado no Laboratório de Durabilidade do
NUMATS/POLI/COPPE/UFRJ a partir da espectroscopia de fluorescência de raios-X em
vácuo.
43
Figura 29 - Equipamento Tyler Ro-Tap®, utilizado para determinação da granulometria dos
agregados
m2 - m1
ρs = .ρ (3)
(m4 - m1 )-(m3 - m2) f
44
3.3.2.3 Determinação da Compacidade
Para determinação da compacidade da areia natural e da areia de brita fez-se uso
da mesa vibratória e do catetômetro (Figura 30), localizados no Laboratório de
Concretagem do NUMATS/POLI/COPPE/UFRJ, por meio de procedimento proposto por
DE LARRARD (1999) e adaptado por SILVA (2004), que utiliza compressão associada
à vibração.
Figura 30 – Catetômetro para leitura dos dados e mesa vibratória em segundo plano
45
Figura 31 - Detalhamento do ensaio de compacidade em mesa vibratória (SILVA, 2004)
m
c= (4)
Ac .hc .ρ
ms -m
A= ( ) .100 (5)
m
48
Os valores de compacidade foram obtidos através da média aritmética dos
resultados de três amostras diferentes de 3 kg.
3.3.4 Concreto
Para realização deste projeto foram moldados corpos de prova referentes a oito
traços diferentes. Para cada traço moldou-se oito corpos de prova, obtendo-se um total
de sessenta e quatro corpos de prova. Todos os traços foram obtidos através do
software BétonlabPro® 3, conforme Tabela 13. Apenas os traços de AN25, AN50, AB25
e AB50 foram utilizados para a calibração do software, sendo estimadas suas
resistências para posterior comparação entre os valores obtidos após o ensaio de
compressão. Os traços VSI e CON foram utilizados para analisar o efeito da forma de
partícula na resistência e trabalhabilidade do concreto, através da adoção de britadores
de impacto vertical e cônico para obtenção da areia de brita. Os traços RB e PB foram
utilizados para analisar a influência da presença da biotita na resistência e
trabalhabilidade do concreto utilizando-se o Separador Magnético de Terras-Raras para
remoção do mineral micáceo.
49
Tabela 13 - Informações sobre os traços executados
50
c) Adição do agregado miúdo em sua totalidade e do restante de água, realizando
a mistura por mais 2 minutos;
d) Pausa na mistura durante o período de 1 minuto;
e) Execução final de 1 minuto de mistura para garantir a completa homogeneização
do concreto.
51
3.3.4.3 Moldagem dos Corpos de Prova
Realizou-se a moldagem de 8 corpos de prova de 7,5 cm de diâmetro por 15,0 cm
de altura para cada traço de concreto, totalizando 64 Corpos de prova moldados. O
concreto foi colocado nos moldes em duas camadas, sendo vibrados por cerca de 30
segundos em uma mesa vibratória para a expulsão de parte dos vazios incorporados a
mistura.
52
Figura 35 - Corpo de prova faceado com uso de torno mecânico (a) e corpo de prova capeado
com uso de argamassa de enxofre (b)
100
80
Pasante (%)
60
40
20
0
0,1 1 10 100
Tamanho de partículas (µm)
A massa específica do cimento Portland foi obtida a partir da média aritmética dos
valores fornecidos pelo equipamento Micromeritics AccuPyc 1340, conforme Tabela 15,
e vale 3,1596 g/cm³.
54
O valor de compacidade por demanda d’água do cimento Portland é de 0,5412 e
foi calculado a partir da média aritmética dos resultados obtidos, conforme a Tabela 16.
A equação 2 foi utilizada para o cálculo da compacidade.
55
Tabela 18 - Resistência à compressão do cimento Portland CP II F 32, lote 10 24
100
80
Passante (%)
60
40
Areia Natural
20 Areia de Brita
Limites ABNT
0
0,01 0,1 1 10
Tamanho de partícula (mm)
56
Tabela 19 - Apreciação petrográfica da areia de brita realizada por DRX
Mineral (%)
Feldspato 58,77
Quartzo 31,30
Biotita 5,75
Hornblenda 2,30
Clorita 1,77
Propriedades físicas
Propriedades Areia natural Areia de brita
Massa específica (g/cm³) 2,670 2,670
Absorção (%) 0,31 0,32
Compacidade 0,6986 0,7707
Propriedades granulométricas
Propriedades Areia natural Areia de brita
Dimensão máxima 2,36 4,75
Módulo de finura 2,90 2,35
57
4.1.3 Agregado Graúdo
100
80
Pasante (%)
60
40
20
0
1 10
Tamanho de partículas (mm)
Propriedades físicas
Massa específica (g/cm³) 2,650
Absorção (%) 0,44
Compacidade 0,5981
58
4.1.4 Superplastificante
pH 5–7
Massa específica (g/cm³) 1,067 – 1,107
Teor de sólidos % 28,5 – 31,5
Viscosidade (cps) <150
Após a obtenção dos parâmetros de cada material a ser utilizado na formulação dos
concretos, realizou-se a criação do banco de dados dos materiais constituintes,
conforme Anexo I.
Para realizar a calibração do software, optou-se por inicialmente gerar traços cuja
resistência à compressão estimada para idade de 28 dias fosse de 25 MPa e 50 MPa
com base nos índices “p” e “q” previamente estabelecido para cada tipo de agregado
miúdo, conforme Anexo II. As propriedades estimadas dos 4 traços estão demonstradas
na Tabela 24. Como era de se esperar, visto que ambos os materiais estão usando os
mesmos valores de calibração, as propriedades dos concretos dosados com areia
natural apresentam elevado grau de semelhança com os de areia de brita.
Tabela 24 - Proporções e propriedades físicas dos traços de AN25, AN50, AB25 e AB50
1 11,01
2 10,66
7 10,76 0,50 18,20
3 11,36
4 10,02
5 14,85
6 17,04
28 16,14 1,04 25,10
7 17,29
8 15,38
1 31,29
2 32,30
7 32,17 0,57 46,40
3 32,89
4 32,21
5 33,36
6 37,49
28 36,13 1,98 50,60
7 38,43
8 35,22
60
Tabela 27 - Comparação entre os valores de resistência experimentais e teóricos dos corpos
de prova do traço AB25, com 7 e 28 dias de idade
1 13,00
2 12,39
7 12,46 0,36 18,20
3 12,00
4 12,46
5 17,61
6 14,92
28 16,58 1,03 25,00
7 17,19
8 16,60
1 32,44
2 31,78
7 32,59 0,53 46,5
3 33,11
4 33,03
5 38,19
6 39,34
28 37,86 1,18 50,7
7 37,86
8 36,04
Após a obtenção dos resultados dos ensaios de compressão dos corpos de prova
aos 7 e 28 dias para os quatro traços, procedeu-se com a calibração dos parâmetros
“p” e “q” dos agregados utilizados na formulação do concreto, conforme Anexo III. Caso
os novos parâmetros fossem atribuídos tanto para o agregado graúdo como para o
agregado miúdo, haveria a necessidade de criar-se dois materiais idênticos para o
agregado graúdo na composição do banco de dados, cada qual com seu próprio índice
de calibração. Para permitir a posterior mistura entre a areia natural e a areia de brita,
optou-se por fixar o valor dos parâmetros de calibração do agregado graúdo para ambos
os tipos de areia, conforme Tabela 29.
61
Tabela 29 - Parâmetros de calibração do agregado graúdo para ambos os tipos de areia
Agregado graúdo
Índices Inicial Final
p 1,6957 1,0000
q 0,0114 0,0040
Os valores dos parâmetros “p” e “q” para a areia natural e para areia de brita após a
calibração estão representados nas Tabela 30 e Tabela 31, respectivamente.
Areia natural
Índices Inicial Final
p 1,6957 0,8942
q 0,0114 0,0043
Areia de brita
Índices Inicial Final
p 1,6957 1,1200
q 0,0114 0,00925
62
Tabela 32 - Comparação entre os valores teóricos de resistência à compressão antes e após
calibração com os valores experimentais
63
Figura 40 - Granulometria do concreto contendo areia natural com descontinuidade assinalada
Os traços VSI e CON buscaram estabelecer uma correlação entre a forma das
partículas do agregado miúdo manufaturado, através da utilização de tipos diferentes
de britadores, e as propriedades do concreto em seu estado fresco e endurecido. Ambos
os traços utilizaram as mesmas proporções e materiais adotados no traço AB25,
alterando apenas o formato de partículas do agregado miúdo. A areia de brita adotada
no traço VSI foi obtida exclusivamente através do uso de britadores de impacto vertical,
que geram partículas de formato cúbico enquanto a areia de brita adotada no traço CON
é resultante do uso de britadores cônicos e por isso apresentam partículas de formato
mais alongado. A areia adotada para o traço AB25 é resultante da mistura entre os
produtos dos britadores de impacto vertical e cônicos. A Tabela 34 apresenta as
diferenças principais na forma de partículas entre o produto gerado pela britagem em
britador cônico e VSI.
64
Os resultados de abatimento e resistência à compressão referente aos traços VSI e
CON são apresentados na Tabela 35 e na Tabela 36, respectivamente. Devido a
problemas na execução do capeamento por enxofre foram ensaiados apenas 3 corpos
de prova por traço para os concretos com idade de 7 dias.
1 8,93
2 7 10,38 10,43 1,25
3 12,00
4 17,06 17,0
5 16,32
28 16,81 0,54
6 17,57
7 16,29
1 10,97
2 7 12,45 11,79 0,62
3 11,94
4 17,15 5,0
5 19,49
28 18,87 1,07
6 18,86
7 19,98
Como era esperado, o concreto formulado com areia de brita produzida por
britadores cônicos apresentou um baixo abatimento de tronco de cone, resultado visível
também durante a mistura do material na betoneira, cujo concreto apresentou um
aspecto seco, embora tenha sido adicionado a mesma quantidade de água à mistura.
Já o resultado de abatimento do traço VSI se aproximou do resultado estimado para o
AB25, conforme Tabela 33, o que pode indicar uma tendência do software de prever o
abatimento com base em partículas de formato ideal. Na Figura 41 apresenta-se uma
relação entre o abatimento de tronco de cone das amostras e sua razão de aspecto.
65
Para o valor de razão de aspecto da areia de brita do traço AB25 adotou-se o valor
médio entre a razão de aspecto das areias utilizadas no traço VSI e CON.
15
10
AB25
5
CON
0
0,66 0,67 0,68
Razão de aspecto
Figura 41 - Relação entre a razão de aspecto das partículas de areia de brita e o abatimento de
tronco de cone do concreto
66
Tabela 37 - Consumo em kg/m³ dos materiais constituintes dos concretos para os traços RB e
PB
1 12,60
2 12,50
7 12,56 0,36
3 12,06
4 13,08
4,5
5 16,23
6 16,77
28 16,47 0,26
7 16,18
8 16,69
1 14,97
2 15,08
7 15,29 0,27
3 15,54
4 15,57
5,0
5 20,61
6 17,67
28 19,21 1,09
7 18,84
8 19,74
67
A presença da biotita no traço RB influenciou negativamente a resistência à
compressão do concreto. Os resultados para os traços PB apresentaram resistências
superiores em 22% e 17% para os corpos de prova aos 7 e 28 dias, respectivamente. A
avaliação da influência da biotita no abatimento de tronco de cone não foi conclusiva,
pois ambas as misturas apresentaram valores reduzidos para abatimento. No entanto,
o valor do abatimento para a mistura com elevado teor de biotita foi inferior ao da mistura
com reduzido teor de biotita, devido principalmente ao formato lamelar das partículas de
biotita, que demandam mais água à mistura do concreto.
2 Preço médio referente ao mês de setembro de 2016, utilizando a média de valores de pedra britada n° 0 e n° 1,
calculado sem frete.
68
O primeiro traço otimizado utilizou-se apenas do agregado graúdo natural, conforme
Tabela 41. O traço otimizado apresentou uma redução de R$ 9,57 por m³,
caracterizando uma economia de 4,4% no custo por m³ de concreto.
Tabela 41 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia natural inicial e
otimizado
Tabela 42 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia de brita inicial e
otimizado
69
No último traço realizou-se uma interação entre os dois tipos de areia adotados neste
projeto, conforme Tabela 43. Para este traço, estipulou-se em 10% o mínimo de areia
natural para a mistura final, conforme Figura 55 do Anexo IV. O traço otimizado
apresentou uma redução de R$ 20,09 por m³ se comparado com o traço de areia natural,
caracterizando uma economia de 9,2% no custo por m³ de concreto. Em comparação
ao traço de areia de brita, a redução foi de R$12,26 por m³, caracterizando uma
economia de 5,84% no custo por m³ de concreto.
Tabela 43 - Proporções e propriedades físicas e de custo dos traços de areia natural e areia de
brita inicial e otimizado
Traço de Traço de
Traço Otimizado
areia natural areia de brita
70
5. Conclusões
71
cone semelhante ao esperado para o AB25, indicando uma tendência do software de
predizer valores de abatimentos com base em partículas cúbicas ou arredondadas.
Enquanto a areia oriunda de britadores cônicos gerou uma mistura extremamente seca,
de baixa trabalhabilidade. A redução do teor de biotita da areia de brita, por sua vez, foi
responsável pela elevação da resistência à compressão da mistura em 17% aos 28 dias,
apresentando também um valor de abatimento superior ao traço com elevado teor de
biotita.
72
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78
WILLS, B. A., NAPIER-MUNN, T., 2006, Mineral Processing Technology, Elsevier
Science & Technology Books.
79
Anexo I: Criação do Banco de Materiais Constituintes do BétonlabPro® 3
80
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 43 - Janela de propriedades do cimento Portland: Definições gerais e de custo (a),
Composição química (b), propriedades do cimento (c), granulometria (d), valores de
compacidade (e) e curva granulométrica do cimento (f)
81
(a) (b)
(c) (d)
(e)
Figura 44 - Janela de propriedades da areia natural: Definições gerais e de custo (a),
propriedades da areia (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva
granulométrica da areia (e)
82
(a) (b)
(c) (d)
(e)
Figura 45 - Janela de propriedades da areia brita: Definições gerais e de custo (a),
propriedades da areia (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva
granulométrica da areia (e)
83
(a) (b)
(c) (d)
(e)
Figura 46 - Janela de propriedades do agregado graúdo: Definições gerais e de custo (a),
propriedades da brita (b), granulometria (c), valores de compacidade (d) e curva granulométrica
da brita (e)
84
Figura 47 - Janelas de propriedades do superplastificante
85
Anexo II: Geração de traços utilizando o BétonlabPro® 3
Figura 48 - Janela de seleção dos materiais que serão utilizados para formulação do concreto
do BétonlabPro® 3
86
Figura 49 - Janela de simulação dos traços de concreto
Figura 50 - Traços de resistência para 28 dias de 25MPa e 50 MPa gerados para a areia
natural e para a areia de brita
87
Anexo III: Calibração do Índices “p” e “q” do software BétonlabPro® 3
88
Figura 52 - Janela de seleção de material constituinte para a calibração dos parametros "p" e
"q"
89
Anexo IV: Otimização de concretos no software BétonlabPro® 3
90
(a)
(b)
Figura 55 – Otimização dos agregados pela fixação da pasta (b) e minimização do índice de
compacidade (a)
91
Figura 56 - Traço de concreto após o primeiro ciclo de otimização da mistura
92
(a)
(b)
Figura 57 – Otimização da composição da pasta pela fixação da proporção dos agregados (b) e
minimização do preço (a)
93
Figura 58 - Traço de concreto obtido após a otimização do preço por m³
94