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Professora da Universidade do Estado da Bahia, campus XIV, Conceição do Coité,
libia.gertrudes@gmail.com
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Exemplo 31
E aí um bocado ficou aqui, outro bocado (foi) para o Barreiro, é de lá aqui ... É
assim. Ele lá morreu, tinha uma terrinha vendeu um bocado, venderam um
bocado e aí... hoje dá até uma pena, viu!? Eu não quis ir para o Barreiro
[indecifrável] lá tem água, aqui tem água. Vou ficar aqui mesmo... Aí [ruído]
[pigarreando] procurei [ruído] um bocado de terra, aí lá dentro [ruído], pois aí
tem um bando de terra. Trabalhei, trabalhei até que não AGUENTEI FIZ
CAÇARINHA, plantei mandioca muita, fiz farinha e aí (indecifrável) fiquei
plantando um milhinho. Nesses dia para cá até que tem chovido, mas para
trás estava um TEMPO QUENTE, MINHA IRMÃ! [...]2
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Doutor em Ciência, Filosofia e Teologia, nascido na Espanha, filho de pai hindu e estudioso
da cultura indiana, sobretudo os aspectos religiosos e linguísticos do Hinduismo. Seu texto
Tempo e História na tradição da Índia compõe a coletânea de ensaios organizados por Ricoeur:
“As culturas e o tempo” (1975).
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Exemplo 32
Aí... [ruídos] saíram uns homens aqui falando da terra escriturada que deram
para fazer um poço d’água, foi aqui e perguntou se eu vendia, eu digo: moço,
eu para fazer4 água para nós tudo eu arranjo. É terra? E por quanto? Eu digo:
moço, eu não vendo não. Aí é... É... Olharam, olharam a terra... E aí foram
embora!
Ilustração 01
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Matrioshka, boneca russa; é um brinquedo tradicional da Rússia, constituída por uma série de
bonecas, feitas de diversos materiais, que são colocadas umas dentro das outras, da maior
(exterior) até a menor, a única que não é oca. (Disponível em:
http://www.planetarussia.com/archives/271)
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Kagame (In: RICOEUR, 1975), no início do capítulo, fala-nos sobre área bantu em estudo,que
se localiza abaixo da zona sudanesa. Entretanto, o autor explica que estes últimos também são
bantu, mas que apenas servirão como referência aos estudos da área específica indicada no
mapa. (ver mapa, anexo 08).
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apregoa Kagame (idem), é que esse passado, marcado por eventos que o
individualizam e o selam, será sempre o presente, pelo menos até quando o
seu autor estiver vivo. Por isso, o marcador textual – presente histórico – na
narrativa do senhor Marcelino, em “eu digo” (linha 2, p. 07), apresenta-se como
uma continuidade daquele ato, pois se trata da ação do locutor/contador da
história, além das outras características pontuadas anteriormente.
Para as sociedades ocidentais, o presente é a única realidade e o
passado, estagnado e inalterável, não é tão importante quanto o futuro. Para os
bantos, segundo Kagame (idem, p. 117), “[...] o passado se reverte de uma
importância capital”. O autor apresenta como justificativas duas razões:
primeiro, porque sem o passado não existiria a referência para as atuais
gerações e, portanto, enquanto identidade cultural, elas não existiriam;
segundo, porque o passado é a memória dos ancestrais e a garantia da
perpetuação da própria linhagem, pois, segundo Kagame (In: RICOEUR,
1975), os homens não teriam a tutela dos ancestrais. O futuro, que já é uma
existência atemporal, pois ainda não se realizou, não seria a garantia individual
das gerações nem de suas descendências. A única certeza da continuidade do
tempo para os bantos é esta referência ancestral, que é do passado, dos mitos
e das cosmogonias.
A concepção da continuidade da vida para estas sociedades africanas
não está na certeza de sua presença individual em tais eventos metafísicos,
por se tratarem de um tempo não marcado, mas porque “seus herdeiros
continuarão a tarefa” (KAGAME, idem, p. 118). Neste caso, ainda segundo o
autor, o tempo futuro não tem limites, pois cabe aos herdeiros manter sua
história e seus territórios e aumentá-los para as gerações futuras, os seus
descendentes.
Como apregoa Kagame (idem, p. 119), as cerimônias de iniciação, de
morte, casamento etc, são realizadas de forma cíclica, pois apesar de
representarem o presente, trazem marcas do passado e assinalam a existência
desta tradição para as gerações futuras.
Retomando à reflexão do presente histórico apregoado nas narrativas do
Senhor Marcelino e em demais narrativas dos contadores tomados como
corpus desta pesquisa, o “eu digo” seria um termo atemporal, ou melhor,
supratemporal, que representaria esta transição entre passado/presente
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(apud COLEMAN, P. L’invecchiamento e i processi della memória. Roma: Armando, 2000,
p.22).
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REFERÊNCIAS
THOMPSON, Paul. A voz do passado – história oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2002.