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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA, MEMÓRIA E


DESENVOLVIMENTO REGIONAL
CAMPUS V – SANTO ANTÔNIO DE JESUS

Viagem nos labirintos da memória: recordações e


esquecimentos nas narrativas orais de anciões como vestígios
orientadores do patrimônio ancestral africano

POR

LÍBIA GERTRUDES DE MELO

Linha de pesquisa 1: Cultura, Memória, Linguagens e Identidade

Santo Antônio de Jesus


2009
SUMÁRIO

1. TEMA .....................................................................................................03

2. APRESENTAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO COM JUSTIFICATIVA 03

3. PROBLEMÁTICA COM FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................05

4. METODOLOGIA ....................................................................................08

5. REFERÊNCIAS ......................................................................................09

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1. Tema

Viagem nos labirintos da memória: recordações e esquecimentos nas


narrativas orais de anciões como vestígios orientadores do patrimônio ancestral
africano

2. Apresentação do objeto de estudo com justificativa

Este estudo, que ora se apresenta como anteprojeto de pesquisa, tem como
objetivo investigar, através das narrativas orais de idosos e idosas,
recordações e esquecimentos da memória que constituem vestígios
orientadores da ancestralidade africana. Para tal objetivo procurar-se-á
percorrer dois caminhos: o primeiro, sobre memória, em especial a memória de
idosos; o segundo, sobre africanidades, onde será analisado o grupo étnico-
cultural que, na época da escravidão, constituiu a maior parte dos negros
trazidos para o Brasil – os bantos – vindos do centro-oeste e do leste da África
e dos sudaneses.

O objeto de estudo, vestígios de recordações e esquecimentos da memória de


idosos e idosas afro-brasileiros, será adquirido através da coleta de impressões
da linguagem não-verbal (gestos, comportamentos, modos de se vestir etc.) e
da linguagem verbal – as narrativas orais.

A inquietação pelo objeto de estudo partiu de minha experiência como


professora efetiva da Universidade do Estado da Bahia, campus XXIV, Xique-
Xique, através do projeto de extensão da UATI (Universidade Aberta à Terceira
Idade): Baú de Tesouros – Registrando a História e a Memória da Terceira
Idade Xiquexiquense, do qual sou coordenadora. Uma das oficinas, Brechó de
tesouros – a memória de hoje e de ontem, é desenvolvida por mim e oferece
momentos privilegiados de convivência com grupo, em que são abordados
temas como ancestralidade, auto-estima, linha do tempo e construção da
árvore genealógica.

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Também desenvolvo uma pesquisa sociolinguística laboviana sobre os falares
quilombolas na comunidade de Alegre/Barreiros, região próxima à Xique-Xique,
onde já foram coletados 52 étimos de origem africana, através de uma
entrevista semi-estruturada com os moradores entre as faixas etárias de 20 a
95 anos de idade, de ambos os sexos. O contato com esta comunidade
possibilitou-me ouvir as narrativas dos mais velhos e as vozes silenciadas, que
se expressavam nos gestos e movimentações de cada entrevistado.

Com este estudo sobre ancianidade, pretende-se aprofundar as leituras sobre


o papel da memória na formação do sujeito e da própria sociedade; a relação
entre memória e emoção; a linguagem específica da memória e o uso da
metáfora; os tipos de memória: motora, verbal/escrita, verbal/oral, holográfica e
a memória fragmentária (vestígios de recordação e esquecimentos); sendo que
a atenção maior será voltada a esta memória fragmentária dos idosos e idosas.

Sobre africanidades serão analisados a origem e localização dos povos bantos,


sua cultura, religião, inquices e relação com os antepassados; o papel do
baobá – símbolo desta ancestralidade – e a importância de sua ciência e
sabedoria para a preservação da memória africana.

Segundo Tedesco (2004, p. 228) a mercantilização do tempo hoje dá pouca


importância ao passado, por conseqüência, os idosos não são mais vistos
como “guardiões das tradições” (segundo Halbwachs In BOSI, 2007, p.63),
mas como seres insignificantes. Isto é reforçado por nossa própria educação
que vê a tradição como algo que já caiu em desuso e precisa ser
constantemente substituído. A nossa sociedade tornou-se a sociedade do
“descarte”1, do consumismo, do lixo não reciclado, mas descartado. Como
afirma Berman (1987, p. 97), no capítulo dois, Tudo que é sólido desmancha
no ar: Marx, Modernismo e Modernização, sobre a relação desta sociedade
consumista com a coisa que fabrica e até com as próprias pessoas:

_______________
1. Termo usado por Alvin Toffer in HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa sobre as
Origens da Mudança Cultural. 11 ed. SP: Loyola, 2002.

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“Tudo que é sólido” – das roupas sobre os nossos corpos aos teares e
fábricas que as tecem, aos homens e mulheres que operam as
máquinas, às casas e aos bairros onde vivem os trabalhadores, às firmas
e corporações que os exploram, às vilas e cidades, regiões inteiras e até
mesmo as nações que as envolvem – tudo isso é feito para ser desfeito
amanhã, despedaçado ou esfarrapado, pulverizado ou dissolvido, a fim
de que possa ser reciclado ou substituído na semana seguinte e todo o
processo possa seguir adiante, sempre adiante, talvez para sempre, sob
formas cada vez mais lucrativas.

E esta é uma das razões pelas quais este estudo se justifica: resgatar o
respeito à ancianidade, reconhecendo sua importância para a história, pois
como afirma Amandou Hampâté Bâ (2003) “Na África, cada ancião que morre é
uma biblioteca que se queima”.

O baobá, nas sociedades africanas, é o ancião que guarda a memória


ancestral de gerações. E esta é uma função sagrada. Em nossa sociedade, há
um momento em que o sujeito deixa de participar ativamente e só lhe resta
lembrar-se dos acontecimentos, pois ao atingir este grau de maturidade é, por
vezes, visto como incapaz de servir a esta mesma sociedade que ajudou a
construir. O baobá africano é o guardião do tesouro. O baobá ocidental tomba,
já não é árvore frondosa, seus frutos são pecos, sua sombra já não protege da
luz e a humanidade, capitalista e consumista, resolve transformar em lixo,
livrar-se da presença desagradável de sua existência, o que as sociedades
orientais veem como a maior riqueza viva da memória de um povo.

3. Problemática com fundamentação teórica

Quando se estuda a memória, lida-se com territórios desconhecidos, com


restos escavados ou fragmentos fósseis de uma imagem esquecida ou
lembrada de repente. Segundo Draaisma (2005) a memória dos velhos está
sempre em fluxo, em razão da degenerescência. Entretanto, entendendo a
memória como uma “lousa mágica”2, como propõe Freud (In DRAAISMA,
ibidem, p.28) seus fragmentos jamais poderão ser apagados. Talvez sejam
esquecidos e em contato com a emoção – pois a memória tem sede no
coração3 – possam desabrochar.

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Além do mais, a memória não apresenta só a linguagem verbal, mas se
manifesta de diferentes formas. E pensar numa memória pluriétnica é
reconhecer que carregamos no umbigo, segundo Boubacar Barry (2009) essa
tradição, através dos modos de agir, de falar e de fazer religião. Esta memória
motora seria entendida como esquecida, quando na verdade ela está expressa,
só que inconsciente. É como a metáfora da “lousa mágica”, as marcas
registradas no celulóide são apagadas, momentaneamente, mas continuam
registradas na superfície de cera.

Quando não reconhecemos ou quando parecemos esquecer as “ideias”


privadas de conteúdo afetivo, ainda assim, afirma Freud, a “memória”
continua a existir, ficando despercebida e não reconhecida, em parte, por
ter-se tornado uma imagem fragmentada e distorcida, não muito
diferente das imagens fragmentadas e distorcidas que são a essência
dos sonhos. (ROSENFIELD, 1994, p.77-78)

É a partir das elucidações supracitadas que se lançam mão das seguintes


questões: As recordações e os esquecimentos constituem vestígios
orientadores desta memória africana? O trabalho com vivências e narrativas
orais com idosos e idosas, despertando-lhes a emoção, desencadeará o
processo de lembrança e identificação desta memória?

No capítulo destinado ao esquecimento, Ricoeur (2007, p.437) fala que de


repente, sem um exercício para que isso aconteça, uma imagem nos acode ao
espírito quando estamos diante de uma aparição que nos é familiar. Como
afirma o autor, é como se fosse um pequeno milagre da memória, mas que
pode ser acometida de um equívoco de reconhecimento. O que nos garante
que não se trata de um déjà vu? Ricouer (ibidem, p.438) responde isto com
outra pergunta: (...) quem poderia abalar, com suas suspeitas dirigidas de fora,
a certeza ligada à felicidade de tal reconhecimento que consideramos, em
nosso coração, como indubitável?
_____________
2. Consiste numa superfície de cera coberta com uma folha transparente de celulóide. Quando se escreve
no celulóide, vê-se o texto na superfície de cera. Para apagá-lo basta afastar o papel da camada de cera
e a lousa mágica fica novamente em branco.
3. Esta teoria sobre a sede da memória, segundo DRAAISMA (ibidem, p.52), deixou marcas etimológicas
no verbo latino recordārī (recordar-se) que deu origem à expressão “saber de cor”.

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Falar em memória não consiste apenas em entender os mecanismos neuronais
responsáveis pelo desencadeamento de lembranças e esquecimentos, mas
considerar todos os aspectos que a influenciam, desde as emoções, às
imagens que se formam sem o intermédio da escrita, aos processos biológicos
que registram em cada indivíduo, desde o nascimento, nas cadeias de seu
DNA e constitui o seu patrimônio mnemônico, até a necessidade que cada um
tem em manter viva sua biografia, como uma forma de pertencimento, de
identidade e de ligação à uma determinada sociedade e cultura.

A proposta deste estudo é, sobretudo, buscar estas informações que, segundo


Atlan (in LE GOFF, 2003, p.421) estão armazenadas na nossa memória,
codificadas em linguagem específica. Perceber tais linguagens, observar
comportamentos, identificar a origem destas lembranças e esquecimentos é
entender a nossa própria origem.

É importante esclarecer que perceber esta memória ancestral e identificá-la


como de origem africana depende do contexto em que ela é desencadeada.
Para que uma memória seja considerada como tal ela precisa se associar ao
presente. Só o contexto é capaz de dar sentido às imagens, pois, segundo
Rosenfield (ibidem, p.85) não há recordação sem contexto. Quando
recordamos, desencadeamos um processo de generalização e categorização
diante da imagem nova e inusitada.

E para tentar construir a base epistemológica que fundamente este conceito de


memória, vestígios e ancianidade serão usados os autores como DRAAISMA
(2005), TEDESCO (2004), ROSENFIELD (1994), BOSI (2007), HALBWACHS
(1990) e RICOEUR (2008), bem como outros autores citados nas referências.

Sobre africanidades, AMÂNCIO (2008), LOPES (2005), PRANDI (2001),


MUNANGA (2006), HAMPÂTÉ BÂ (1979), BARRY (2000), DU BOIS (1999),
NGOENHA (1993) serão o leme da viagem, a fim de exercitar o conhecimento
sobre África, afro-brasileiros e identidade étnica, sem perder de vista o olhar
endógeno que vê o continente africano, não como um bloco homogêneo, mas a
multiplicidade de culturas. E este olhar, da África dos africanos, só será

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possível com a aceitação de que, além do índio e do europeu, existe dentro de
cada brasileiro um pedaço grandioso destas Áfricas.

4. Metodologia

Além da pesquisa bibliográfica que acompanhará a fundamentação até a


análise de dados, a mais adequada metodologia para o presente estudo é a
pesquisa etnográfica. Segundo MOREIRA & CALEFFE (2006, p.85) a
“etnografia é um método e o ponto de partida é a interação entre o pesquisador
e os seus objetos de estudo”.

A etnografia apresenta características importantes para que o presente objeto


de estudo se realize plenamente, pois além de dados qualitativos, sua
perspectiva é holística, facilitando a interpretação dos dados em sua totalidade.

O grupo que servirá de base para a pesquisa será constituído por alunos de 60
a 90 anos (ou mais, a depender das condições físicas e psicológicas)
regularmente matriculados no projeto UATI, desta Universidade, campus XXIV,
Xique-Xique. Entre os alunos matriculados na oficina Brechó de tesouros, da
qual sou ministrante, serão selecionados 15 idosos e idosas afro-brasileiros,
residentes na sede do município.

Os dados para pesquisa serão obtidos durante as entrevistas com os


informantes, por ocasião das aulas e em outros momentos e espaços
acordados com os participantes.

As estratégias utilizadas para a coleta destes dados serão a história de vida,


através de narrativas orais, conversas informais e vivências de grupo,
trabalhando as emoções; e linha do tempo, a fim de observar reações e
comportamentos.

O corpus constituído – registro das narrativas orais que serão transcritas,


obedecendo a uma metodologia adequada – servirá de base para identificação

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dos vestígios de memória dos idosos e idosas afro-brasileiros, participantes do
grupo.
A previsão de tempo necessário para a realização desta pesquisa é de um ano.

5. Referências

AMÂNCIO, Íris Maria da Costa (org.). África-Brasil-África: Matrizes, Heranças e


Diálogos Contemporâneos. MG: PUC Minas, 2008.
APPIAH, K.A. Na casa do meu pai. 2 ed. RJ: Contraponto, 2007.
BARRY, Boubacar. Senegâmbia: desafio da história regional. Tradução de
Luena Pereira. RJ: CEAA, 2000.
BEAUVOIR, Simone. A velhice. 2 ed. RJ: Nova Fronteira, 1990.
BERGSON, Henri. Matéria e memória. 2 ed. SP: Martins Fontes, 1999.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar – a aventura da
modernidade. SP: Companhia das Letras, 1987.
BOBBIO, N. O tempo da memória. RJ: Campus, 1997.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. 14 ed. SP: Companhia das Letras, 2007.
DIEHL, A.A. Cultura historiográfica: memória, identidade e representação. SP:
EDUSC, 2002.
DAAISMA, Douwe. Metáforas da memória – uma história das idéias sobre a
mente. SP: EDUSC, 2005.
GUIMARÃES, Eduardo & PAULA, Mirian R.B. de (orgs.). Sentido e memória.
SP: Pontes, 2005.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. SP: Vértice, 1990.
HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. Amkoullel, o menino fula. Trad. Xina Smith
Vasconcellos. SP: Casa das Áfricas/Palas Athena, 2003.
_____________________. A palavra, memória viva na África. RJ: UNESCO,
1979.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da
mudança cultural. 11 ed. SP: Loyola, 2002.
LE GOFF, Jacques. História e memória. SP: UNICAMP, 2003.
LINS DE BARROS, M. M. (org.) Velhice ou terceira idade? Estudos
antropológicos sobre identidade, memória e política. RJ: FGU, 1998.

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LOPES, Nei. Kitábu – o livro do saber e do espírito negro-africano. RJ: SENAC
Rio, 2005.
__________. Bantos, malês e identidade negra. MG: Autêntica, 2006.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social – teoria, método e
criatividade. 23 ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
MOREIRA, Herivelto & CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa
para professor pesquisador. RJ: DP&A, 2006.
MUNANGA, Kabengele. O negro no Brasil hoje. SP: Global, 2006.
NGOENHA, Severino Elias. O retorno do bom selvagem – uma perspectiva
filosófico-africana do problema ecológico. Porto, Salesianas, 1994.
_______________________. Filosofia africana: das independências às
liberdades. África: Ed. Paulistas, 1993.
PLATÃO. Fedro. SP: Martin Claret, 2007.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. SP: Companhia das Letras, 2001.
RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. SP: UNICAMP, 2008.
ROSENFIELD, Israel. A invenção da memória. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1994.
TEDESCO, João Carlos. Nas cercanias da memória – temporalidade,
experiência e narração. Rio Grande do Sul: EDUSC/UPF, 2004.
THOMPSON, A. Desconstruindo a memória: questões sobre as relações da
história oral e da recordação. SP: PUC, 1995.

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