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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Índice
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................ 3
Princípios que regem Cumprimento .......................................................................................... 4
Capacidade e Legitimidade para Cumprir .................................................................................. 5
Lugar e Tempo do Cumprimento............................................................................................... 6
Imputação e Prova do Cumprimento ........................................................................................ 7
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ............................................................................................ 9
1. Mora .................................................................................................................................... 11
Mora do Devedor ................................................................................................................ 11
Mora do Credor ................................................................................................................... 12
2. Incumprimento Definitivo .................................................................................................... 15
A. Não Cumprimento nas Obrigações de Prestações Recíprocas ........................................ 16
B. Responsabilidade Civil Contratual ................................................................................... 24
3. Cumprimento Defeituoso .................................................................................................... 29
Fixação Contratual dos Interesses do Credor .............................................................................. 31
Realização Coativa da Prestação.................................................................................................. 34
Outras Causas de Extinção dos Negócios Jurídicos ...................................................................... 36
Causas Gerais........................................................................................................................... 36
Dação em Cumprimento.......................................................................................................... 39
Dação pro Solvendo ................................................................................................................. 40
Alteração das Circunstâncias ................................................................................................... 41
Consignação em Depósito ....................................................................................................... 44
Compensação .......................................................................................................................... 45
Novação ................................................................................................................................... 46
Remissão.................................................................................................................................. 47
Confusão.................................................................................................................................. 48
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................ 49
Cessão de Créditos – art. 577º e ss.......................................................................................... 49
Sub-Rogação – art. 589º e ss. .................................................................................................. 52
Assunção de Dívida – art. 595º e ss. ........................................................................................ 55
Cessão da Posição Contratual – art. 424º e ss. ........................................................................ 57
GARANTIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................................... 61
Art. 601º e ss. .......................................................................................................................... 61
Declaração de Nulidade – art. 605º ......................................................................................... 62
Sub-rogação do Credor ao Devedor – art. 606º ...................................................................... 62
Impugnação Pauliana – art. 610º e ss. ..................................................................................... 63
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Arresto – art. 619º e ss. ........................................................................................................... 68


GARANTIAS ESPECIAIS DAS OBRIGAÇÕES .................................................................................... 69
Garantias especiais que não se reconduzem a qualquer modalidade ..................................... 69
Separação de Patrimónios ................................................................................................... 69
Caução – art. 623º e ss. ....................................................................................................... 70
Cessão de Bens aos Credores – art. 831º e ss. .................................................................... 70
Garantias Pessoais ................................................................................................................... 70
Fiança – art. 627º e ss. ......................................................................................................... 70
Garantia Autónoma ............................................................................................................. 73
Mandato de Crédito – art. 629º........................................................................................... 73

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CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES


Art. 762º/1: Realização da prestação a cabo do devedor
 Mas é mais do que o contemplado no art. 762º/1
o A realização pode ser coerciva (até se podem penhorar bens)
o Não é necessariamente o devedor que cumpre e pode ser terceiro

Quando cumprida, a Obrigação extingue-se.


 O cumprimento é a expressão do princípio pacta sunt servanda1 (aflora no art. 406º)
o Podem haver desvios a este princípio: caso do direito ao arrependimento
(direito de resolver o contrato sem justificação em 14 dias, para proteger o
consumidor de compras precipitadas – DL 24/2014)

O regime que o CC consagra em relação ao cumprimento tem caráter supletivo (= na falta de


acordo das partes/sem algo diferente convencionado).

Natureza Jurídica do Cumprimento


A doutrina alemã apresenta várias teorias: teoria geral do contrato; teoria limitada do contrato;
teoria do negócio unilateral de cumprimento; teoria do contrato real ou acordo sobre o fim;
teoria da realização final da prestação; teoria da realização real da prestação.

1. É um negócio jurídico por si só.


 Dário: é excessivo dizer-se isto porque o cumprimento produz efeitos
independentes da vontade das partes (e não os que o autor quis, como acontece
nos negócios jurídicos)
2. É um ato jurídico.
 Dário: concorda. Mas como a lei indica que o regime dos atos jurídicos é o dos
negócios jurídicos com as devidas alterações (art. 295º), não vê grande
vantagem na discussão da natureza jurídica do cumprimento.
 Posição unânime da doutrina assenta na teoria da realização real da prestação,
expressa no art. 762º/1, rejeitando caráter negocial da prestação, qualificando-o
como simples ato devido, de cariz real ou material.
i. Não pode ser NJ porque esse tem caráter inovador. E no cumprimento
não se inova, antes executa-se obedecendo a comando previamente
existente.
ii. É ato real de liquidação e mesmo que tenha conteúdo material é sempre
em si um ato jurídico (simples), na medida que constitui uma
manifestação de vontade que produz o efeito jurídico da extinção do
vínculo obrigacional.

Com o cumprimento da Obrigação verifica-se a transposição para o plano ontológico dos factos
(ser) do conteúdo deontológico da vinculação (dever ser).
 Corresponde à situação normal da extinção da obrigação, através da concretização da
conduta a que o credor tinha direito.

1
Isto em Portugal. No caso da França, por exemplo, o cumprimento da obrigação é equiparável ao cumprir
a lei entre as partes (que é como o contrato é entendido)

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Princípios que regem Cumprimento


1. Autonomia Privada
Partes podem estipular as condições em que o cumprimento da obrigação é feito.
 Condições estão submetidas à vontade (soberana) das partes.
o Se nada for dito, aplica-se supletivamente as regras do CC

2. Boa fé
Vetor ético-jurídico fundamental para toda a vida da obrigação.2
 Imperativo pelo art. 762º/2

Todos os deveres de conduta aplicam-se a todo o ato do cumprimento – as partes


(credor3 e devedor) devem-se o cumprimento desses deveres.
Se as partes não atenderem à boa fé  cumprimento defeituoso da obrigação.

3. Pontualidade
O contrato tem de ser cumprido ponto por ponto, conforme o estipulado.4
Aplicável a todas as obrigações e não só aos contratos. Correspondência integral em todos
os aspetos. Resulta a proibição de qualquer alteração à prestação devida.
 Art. 406º/1
o O devedor não se exonera da obrigação se entregar um bem diferente (ainda
que de maior valor) – art. 837º confirma (corolário do art. 406º/1)
 Exceção: regime extraordinário de proteção de pessoas e a habitação
(Lei 58/2012) – pode entregar a casa ao banco

4. Integralidade
Prestação deve ser realizada integralmente (de uma só vez) e não por partes, exceto se for
diferentemente convencionado.
O comando de realizar a prestação para o devedor é unitário e o credor ter interesse em
efetuar a receção da prestação apenas uma vez.
O credor pode recusar o recebimento de apenas uma parte da prestação, sem incorrer em
mora.
 Art. 763º
o Corolário do princípio pacta sunt servanda e do princípio da pontualidade

Cumprimento parcial equivale a não cumprimento. Mas pode convencionar-se o


pagamento em prestações.
o Exceções: art. 649º; art. 784º; art. 847º/2; art. 934º

2
ML: não basta a realização em termos formais e exige-se respeito pelos ditames da boa fé. Há também
deveres acessórios de conduta de forma a que o devedor não possa realizar a prestação em termos tais
que, respeitando formalmente a vinculação assumida, a sua atuação se mostre inadequada à satisfação
do interesse do credor ou lhe possa causar danos.
3
O credor e devedor têm que agir de boa fé e o credor não pode exigir em tribunal a realização desses
deveres acessórios de conduta mas pode exigir indemnização pelos danos causados. Credor não pode
obstar a que o devedor cumpra. Ex: art. 1209º/1
4
Há roteiro contratual que tem de ser seguido – mas todos os contratos têm margem de liberdade (algo
que não está estipulado) e essa margem tem de ser preenchida de acordo com a boa fé

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5. Favor debitoris
Protege-se a parte mais onerada na relação obrigacional.
 Proteção do devedor, optando-se pelo que for menos oneroso para ele.
o Lei é exigente no cumprimento das obrigações, procurando, no entanto,
favorecer o devedor (que muitas vezes é um consumidor e aí protege-se a parte mais fraca).

6. Princípio da Concretização (ML)


Vinculação do devedor deve ser concretizada numa conduta real e efetiva.
 Transpondo do plano deontológico da vinculação para o plano ontológico de
comportamento efetivamente realizado.
o Exige-se certos pressupostos (capacidade, legitimidade e etc.), disciplina da sua
forma de realização (lugar, tempo e etc.) e/ou da determinação dos seus efeitos
concretos (imputação do cumprimento).

Capacidade e Legitimidade para Cumprir


Capacidade – art. 764º
nº1 Devedor
Distingue-se se a prestação é:
A. Realização de atos materiais (realizar serviços, entregar coisas e etc.) – não requer
capacidade do devedor.
 Quanto contraiu a obrigação é que tinha de ter capacidade – exigida para
celebrar negócios jurídicos mas não para os concretizar.
 No cumprimento, o devido é válido mesmo que prestado por incapaz
B. Realização de atos de disposição (de bens ou de direitos) – exige-se a capacidade do
devedor. Casos em que se pode celebrar novos NJ – ex: contrato prometido face a contrato-promessa
 O ato é inválido – anulável (se ninguém questionar, convalida-se) – mas o credor
pode opor-se e validar-se

nº2 Credor
o Credor tem de ser capaz – pois é um ato com efeitos jurídicos que libera o devedor – tem
consequências importantes.
 Se for incapaz, o ato é inválido e devedor terá que prestar outra vez.
 Ressalva-se se chegar ao representante legal e o devedor pode opor-se à anulabilidade

Legitimidade
Num caso em que a prestação for efetuada por terceiro tem que se verificar se o autor da prestação
e o seu recetor têm legitimidade para efetuar ou receber a prestação. Sem legitimidade não se
extingue a obrigação.

Ativa – art. 767º (devedor)


 Art. 767º/1 – nos casos em que o terceiro tem legitimidade para cumprir (pelo devedor),
o terceiro que realiza a prestação, vai poder exigi-la ao devedor.5

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3º ao ter interesse direto na prestação (como os fiadores) adquire o direito a poder cumprir se o credor
não ficar prejudicado

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 Efeitos do cumprimento de terceiro:


i. Doação indireta do terceiro ao devedor – espírito de liberalidade (art. 940º)
ii. Sub-rogação legal – transmissão de crédito para o terceiro – não há liberação
do devedor e apenas há mudança do credor, em virtude da transmissão – art.
592º. Ex: A arrenda a B; A subarrenda a C. Se A não paga, B despeja, mas, será
C a sofrer o despejo. Logo, C tem interesse que A pague a renda a B, para não
ser despejado. C pode pagar a B e fica credor de A. Tutela o interesse de terceiro
em realizar a prestação em lugar do devedor, para evitar prejuízos.
iii. Direito de reembolso por gestão de negócios; restituição do enriquecimento
por prestação: surge direito de crédito do terceiro ex novo na sua esfera jurídica

Passiva – art. 769º (credor)


 Se se paga a quem não é credor, não se fica exonerado.6
o Exceções no art. 770º

Lugar e Tempo do Cumprimento


Lugar – art. 772º e ss.
Doutrina alemã distingue: obrigações de colocação (art. 813º), de entrega (art. 804º) e de envio
(risco corre pelo devedor - art. 797º).
O lugar do cumprimento define o tribunal onde deve ser intentada a ação em caso de
incumprimento.
Art. 772º/1 corresponde a obrigações de colocação, tendo o credor o ónus de se
deslocar - manifestação do favor debitoris.
Art. 772º/2 tutela uma expectativa do credor
Obrigações pecuniárias correspondem a obrigações de entrega.
Art. 885º - caso da compra e venda

Solução do art. 776º é justificado pela certeza que se deve imprimir ao regime da relação
obrigacional.
E se for impossível a prestação no lugar ditado pelas regras supletivas?
 ML: integração do negócio jurídico (art. 239º)
 MC: fixa-se pelo tribunal - analogia do art. 777º/2

Tempo – art. 777º e ss.


Importante para se aferir se houve ou não incumprimento – é a partir do momento em que se
trona exigível a prestação que se pode apurar quando não se cumpre.
 A prestação deve concretizar-se em função de coordenadas temporais

2 momentos
 Pagabilidade - momento em que o devedor pode cumprir a obrigação, forçando o credor
a receber a prestação, sob pena do credor entrar em mora
 Exigibilidade/vencimento - credor pode exigir do devedor a realização da prestação, sob
pena do devedor entrar em mora

6
ML: Todas as outras pessoas são consideradas terceiros, pelo que a obrigação não se extingue e o
devedor deve ser condenado a realizá-la de novo. Mas o autor pode exigir a restituição por
enriquecimento sem causa por prestação.

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o Fraca – possibilidade do credor interpelar o devedor, fixando prazo para a


prestação
o Forte – após interpelação, a prestação deve ser executada; quando o devedor já
pode entrar em mora

As partes costumam regular apenas a exigibilidade.

Obrigações Puras – não têm prazo e assim que surgem podem ser exigidas
 Cumprimento pode ser exigido ou realizado a todo o tempo.
o Credor tem direito a exigir a todo o tempo e o devedor pode a todo o tempo
exonerar-se
 Mora no art. 805º/1

Obrigações a Prazo – exigibilidade é diferida para momento posterior.


 Mora no art. 805º/2
Tem de se apurar a favor de quem se estabelece o prazo.
Ao devedor:
 Art. 778º/1 – obrigações cum poerit
 Art. 778º/2 – obrigações cum voluerit – prazo incerto de pagamento coincidente com a
vida do devedor
 Benefício do Prazo ao Devedor: art. 779º - devedor poderá cumprir a qualquer momento
até ao vencimento7 – regra geral da lei.
Credor não se pode opor sob pena de incorrer em mora (art. 813º)
 Benefício do Prazo ao Credor: credor tem faculdade de exigir a prestação a todo o
tempo, mas o devedor pode só de cumprir no fim do prazo: art. 1194º (dívida já é
exigível mas ainda não é pagável)
 Benefício para Ambas: nenhuma terá a faculdade de antecipar o cumprimento

Perda do benefício - art. 780º


Em caso de atribuição do benefício do prazo ao devedor, este pode perder esse benefício, caso
a sua situação patrimonial se altere ou pratique atos incompatíveis com a confiança do credor.
+ art. 781º (apenas para as prestações instantâneas fracionadas e não as periódicas - se
credor não exigir logo as prestações restantes não fica constituído em mora) e 782º
(demonstra caráter pessoal deste instituto, não afetando terceiros)

Insolvência - art. 3º CIRE - devedor encontra-se impossibilitado de cumprir as suas obrigações


vencidas.
 Não pode ser o justo receio de uma situação de insolvência e tem de se verificar
efetivamente essa situação e judicialmente declarada.
 Diminuição da confiança quando diminuírem as garantias do crédito, por facto relevante
imputável ao devedor, ou não serem prestadas as garantias prometidas.

Imputação e Prova do Cumprimento


Imputação – art. 783º
Operação pela qual se relaciona a prestação realizada com uma determinada obrigação, quando
existem várias dívidas entre as partes e a prestação efetuada não chegue para extinguir todas.

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Já ocorre a pagabilidade da dívida, ainda que não se tenha verificado a exigibilidade.

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 Faculdade do devedor escolher qual cumpre - art. 783º/1


 Exceção no art. 783º/2, art. 785º/2

Caso o devedor não efetue a designação verificam-se as regras do art. 784º


 Estas regras cedem perante regime especial, de que se salienta o caso do contrato de
conta corrente e a situação de insolvência.

Prova – art. 786º


No art. 786º estão as presunções de cumprimento.
Compete ao devedor, pois o cumprimento constitui facto extintivo do direito do credor, que
deve ser demonstrado pela parte contra quem o crédito é invocado (art. 342º/2).
 Quitação - declaração escrita (exigida pelo autor do cumprimento ao credor) como
recebeu a prestação em dívida. Se está em documento avulso dá-se o nome de recibo.
o É um direito atribuído por lei a qualquer pessoa que cumpre a obrigação (art.
787º)

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INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES


Art. 790º a 836º
Matéria de enorme importância e grande relevância prática – tem um grande impacte
económico e que pode gerar um ambiente de insegurança no tráfego jurídico.
 Sem um expedito regime de incumprimento, nenhuma economia de mercado funciona

Conceito
Como a prestação se extingue se ela não for imputável ao devedor (art. 790º/1), o não
cumprimento exige, não apenas a não realização da prestação, como também exige que não
ocorra qualquer outra causa de extinção.
 Menezes Leitão: Incumprimento – não realização da prestação devida por causa
imputável ao devedor, sem que se verifique qualquer causa de extinção da obrigação.
o Definição de não cumprimento abrange não apenas as situações em que o
devedor culposamente falta ao cumprimento da obrigação (art. 798º e ss.), mas
também as situações em que ele impossibilita culposamente a prestação (art.
801º e ss.).

Modalidades (visão geral)


1. CAUSA
A. Imputável ao Devedor – quando se deve a facto imputável ao devedor
a. Não realiza a prestação8
b. A prestação torna-se impossível
c. Recusa-se a prestar
B. Não imputável ao Devedor – quando se deve a um facto pelo qual o devedor não pode
ser imputado
a. Foi devido a ação de terceiro
b. Foi por evento fortuito
c. Pode ser imputável ao Credor – que obstou ou não facilitou o recebimento da
prestação

2. EFEITOS
A. Mora – situação em que a prestação, sendo ainda possível, não foi realizada no prazo
estabelecido.9
a. Art. 804º e ss.
b. Pode ser do credor (art. 813º e ss)

8
Por diversos motivos. Não goza da faculdade de invocar onerosidade da prestação ou situação precária
em que se encontra para não realizar a prestação.
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Ainda é possível a sua prestação através de um cumprimento retardado; se esse atraso for imputável ao devedor, o
credor pode exigir indemnização.

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B. Incumprimento Definitivo – já não se trata de uma simples situação de atraso. A


prestação tornou-se impossível e não pode ser realizada ou, podendo ser, já não
interessa (art. 808º)
a. Ex: era uma prestação para o evento de dia 1, chegando dia 2 já não interessa

C. Cumprimento Defeituoso – situações em que o devedor realiza a prestação, mas não


aquela que o credor legitimamente esperava – é possível a realização de uma prestação,
mas em termos tais que não permitem uma adequada satisfação do credor.
a. CC não autonomiza de forma clara e esta figura está disciplinada em contratos
em especial.
b. Norma de âmbito geral está no art. 799º

Regras e Consequências (visão geral)


Diferentes para todas as modalidades em conjunto com os efeitos.

Mora por causa Não imputável ao Devedor


 Risco da impossibilidade superveniente vai para o credor (art. 815º/1)
Se for por facto não imputável a nenhum – obrigação extingue-se e devedor está
exonerado (art. 790º e 791º)
o Revela que o risco da impossibilidade da prestação corre por conta do devedor
Mora por causa Imputável ao Devedor
 Devedor vai contrair obrigação nova de indemnizar o credor
o O incumprimento cria uma obrigação ex nova sancionatória (art. 807º/1)
 Exceção do Não Cumprimento (art. 428º): se ambas as partes deviam prestar, credor
pode reter a sua prestação até o devedor cumprir a dele

Incumprimento Definitivo
1. Devedor tem a obrigação de indemnizar, exceto se se puder imputar ao credor ou a
nenhum.
o Mesmo funcionamento que a Mora.

Cumprimento Defeituoso
2. Dever de indemnizar

Resolução de Contrato (visão geral)


O credor só pode resolver o contrato em situações de Incumprimento Definitivo e não em
situações de Mora10.
 Diferenciação mostra que a lei tem um favor contractus e procura assegurar o
aproveitamento dos Negócios Jurídicos, uma vez que se criaram expetativas que devem
ser honradas.

10
Acontecendo uma situação de Mora, o credor tem que esperar que se torne numa situação de
Incumprimento Definitivo para poder resolver o contrato. oDá-se uma 2ª oportunidade ao devedor – que
será sempre responsável e terá de indemnizar o credor.

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1. Mora
Quando há um atraso culposo na realização da prestação debitória, mas, o contrato ainda
subsiste.

Mora do Devedor
Art. 804º/2 – prestação, ainda possível, não é realizada no tempo devido, por facto imputável
ao devedor.
3. Por exigir a possibilidade de realizar a prestação em data futura, não se admite a
ocorrência de mora para certo tipo de obrigações e considera-se como incumprimento
definitivo (art. 808º)

A partir de quando fica o devedor em mora (atendendo ao art. 777º e ss.)?


Obrigações Puras – o devedor só fica em mora depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente
interpelado11 (art. 805º/1) – caso de mora ex persona

No art. 805º/2 – casos de mora ex re – mora depende de fatores objetivos, sendo irrelevante a
interpelação
a) Obrigações a Prazo – o decurso do prazo acarreta por si só o vencimento da obrigação
a. DL 32/2003 – em relação à remuneração de transações comerciais, transpondo
diretiva da UE – art. 4º determina juros de mora após ultrapassar-se 30 dias da
data em que o devedor tiver recebido a fatura ou documento equivalente
DL revogado desde o DL 62/2013
b) Conta-se a mora desde a data da prática do ato ilícito pois quem praticou um ilícito
deve imediatamente proceder à reparação das suas consequências
c) Galvão Telles: não é bem mora ex re pois exige-se uma interpelação, ainda que se
ficcione a sua ocorrência12
a. Se devedor declara ao credor que não tenciona cumprir a obrigação (e isso é
evidente objetivamente), torna a interpelação inútil, pelo que a partir dessa
declaração o devedor fica logo constituído em mora.
Menezes Cordeiro: credor pode logo considerar o contrato definitivamente
incumprido.
Recusa Antecipada do Cumprimento – não está regulada no CC. A Doutrina e
Jurisprudência têm entendido que, quando é certo e seguro que a prestação
não vai ser realizada, pode equiparar-se tal a um incumprimento definitivo,
desencadeando essas consequências.

No art. 805º/3 – tem de se conhecer o exato montante que é devido ao credor – exige que o
quantitativo da obrigação já esteja determinado.
 Exceção de: falta de liquidez imputável ao devedor (constitui-se mora na mesma para
não beneficiar de uma situação pela qual ele é responsável); situação de
responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco em que, apesar da liquidez, incorre-se em
mora a partir da citação da ação de responsabilidade.

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Ato jurídico não negocial – comunicação pelo credor ao devedor de lhe exigir o cumprimento da
obrigação. Pode ser expressa ou tácita (art. 217º).
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ML: norma desnecessária pois já lá se chegava por força do art. 295º que aplicaria o art. 224º/2

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Consequências/Efeitos da Mora do Devedor


1. Obrigação de indemnizar os danos causados ao credor – art. 804º/1 –
responsabilidade obrigacional que concorre com o dever de prestar (credor conserva
direito à prestação originária)
a. Por despesas; lucros cessantes; prejuízos – credor tem de demonstrar que
suportou danos com a não realização pontual da prestação.
b. Se forem obrigações pecuniárias, a lei fixa uma tarifa indemnizatória, por
considerar o dano como necessariamente equivalente à perda da remuneração
habitual do capital durante esse período, ou seja, o juro – art. 806º. Não se
permite ao credor exigir outra indemnização, mas dispensa-o da prova dos
requisitos do dano e do nexo de causalidade.
2. Inversão do risco pela perda ou deterioração da coisa devida – a lei faz correr o
risco por conta do credor (art. 796º/1), mas, estando o devedor em mora, o risco corre
por sua conta (art. 807º). Basta qualquer conexão causal entre a mora e os danos para
estabelecer a responsabilidade do devedor.
a. Exceção no art. 807º/2

Extinção da Mora do Devedor


A. Por acordo das partes – partes acordam diferir para momento posterior o vencimento
da obrigação, com a correspondente extinção da mora.
i. Pode ter efeito retroativo (como se a mora não se tivesse verificado) ou não
retroativo (a mora não se verifica para o futuro mas o credor tem direito à
indemnização moratória devida até esse momento)
B. Por purgação da mora – devedor oferece ao credor a prestação devida e a
indemnização moratória.
i. Extingue a situação de mora do devedor para o futuro, ainda que credor não
aceite (inverte-se a mora e passa a haver mora do credor)
C. Por transformação da mora em incumprimento definitivo – art. 808º/1

Mora do Credor
Art. 813º - Pressupostos de:
1º. Recusa ou não realização pelo credor da colaboração necessária ao
cumprimento – momentos em que o cumprimento da obrigação pressupõe a
colaboração do credor, que não é dada – a não realização da prestação pelo devedor é
imputada ao credor, constituindo-o em mora.
2º. Ausência de motivo justificado para essa recusa ou omissão – há situações em
que existe motivo justificado para recusar a prestação:
 quando a prestação não coincide plenamente com a obrigação a que o devedor
se vinculou (caso de prestação defeituosa);
 nos casos de prestação parcial (art. 763º/1);

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 nos casos em que o devedor se oponha ao cumprimento por terceiro (art.


768º/1).
Fora destas situações justificativas, a recusa do credor implica
constituição em mora.
 nos casos em que a impossibilidade de prestação não é imputável nem ao
credor nem ao devedor

Efeitos da mora do credor são independentes de culpa (ao contrário do que acontecia com o
devedor) – lei não impõe dever de colaboração no, bastando-se a verificação dessa
circunstância.
 ML: aplica-se o regime da mora do credor a todos os casos em que o credor omita a prática
de atos necessários ao cumprimento, independentemente do motivo por que o faz. O devedor,
ao se obrigar a prestar, não assume o risco de a sua prestação não se realizar por ausência de
colaboração do credor, mesmo que não derivada de culpa deste.

Consequências/Efeitos da Mora do Credor


1. Obrigação de indemnização por parte do credor – art. 816º - responsabilidade por
ato lícito ou pelo sacrifício, pois ao entrar em mora o credor provoca o sacrifício de
interesses do devedor, sujeitando-o a maiores despesas de que aquelas que se vinculou
a suportar ao assumir a obrigação.
2. Atenuação da responsabilidade do devedor – presume-se a culpa do devedor no
incumprimento (art. 798º e 799º/1), mas a partir do momento em que o credor entra
em mora, o devedor só é responsável se intencionalmente destruir ou deteriorar o
objeto da prestação – art. 814º.
 Padrão de diligência quase nulo do devedor, em caso de mora do credor, pois
não responde por negligência mas apenas pela sua atuação intencional (que
caberá agora ao credor provar, não atuando a presunção do art. 799º)
3. Inversão do risco pela perda ou deterioração da coisa – art. 815º - o risco já corria
por parte do credor, no entanto, em certos casos (art. 796º/2), a lei atribuía esse risco
ao devedor. Ocorrendo mora do credor, o risco da prestação inverte-se e corre sempre
por conta do credor, alargando-se por força da atenuação das responsabilidades do
devedor (art. 815º fala de “facto não imputável a dolo”)

Extinção da Mora do Credor


A. Por colaboração necessária do credor para o cumprimento – devedor deverá
realizar imediatamente a prestação, para não se verificar uma inversão de mora.
B. Por consignação em depósito – art. 841º pelo processo regulado nos art. 1024º e ss
do CPC.
 Extingue-se a partir da data do depósito se não for impugnado ou se o tribunal
não julgar improcedentemente a impugnação.

13
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 ML: por analogia do art. 808º (e 411º) deve admitir-se que o devedor possa requerer
ao tribunal a fixação dum prazo para o credor colaborar no cumprimento, sob
pena da obrigação ser extinta.

Há casos em que, ao limitar temporalmente a prestação a um certo momento, a mora do


credor acarreta automaticamente a extinção do seu direito, mantendo naturalmente o
devedor o seu direito à contraprestação (art. 815º/2), ainda que possa nela ser eventualmente
descontado um benefício obtido com a exoneração. Ex: compro bilhete para uma sessão de
cinema a que não apareço (tenho na mesma de pagar bilhete). Mas pode-se descontar se, por
não aparecer, venderem o meu lugar a oura pessoa.

14
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

2. Incumprimento Definitivo
Antunes Varela: “Mora é terreno pantanoso para o credor” – ou se purga ou se passa para o
“terreno seco” do incumprimento definitivo.

Menezes Cordeiro: incumprimento definitivo é igual a desistência de manter vivo para o Direito
o dever originário de prestar.
Menezes Leitão: verifica-se incumprimento definitivo da obrigação quando o devedor não a
realiza no tempo devido por facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida a sua
realização, em virtude de o credor ter perdido o interesse na prestação ou ter fixado, após a
mora, um prazo suplementar de cumprimento que o devedor desrespeitou (art. 808º)

Situações que pressupõem mora para se dar o incumprimento definitivo:


 Art. 801º/1/1ª parte – aferível tendo em conta se o fim da prestação está vencido ou
não13
 Art. 801º/1/2ª parte – o devedor está em mora e tem que se lhe fazer uma Interpelação
Admonitória.
o Intimação formal – sem exigência de forma, declaração receptícia14– que da
análise jurisprudencial, havendo ainda interesse do credor, resulta as exigências
de:
a. Credor tem de avisar o devedor para cumprir
b. Prazo razoável e perentório para o cumprimento15 (exigibilidade fraca
da obrigação)
c. Tem que esclarecer que a obrigação se considera incumprida passando
esse prazo (comunicação clara e completa)
d. Também é possível um 4ª elemento – cláusula condicional de resolução de
contrato

Declaração Antecipada do Não Cumprimento


Exige-se que a declaração seja expressa, receptícia, devedor imputável e etc.
o Dário: equivalente ao incumprimento definitivo
o Menezes Cordeiro: tem que se ver o tipo de obrigação (Pura ou A prazo)
o Januário Gomes: não se pode decretar logo o incumprimento e deve dar-se um prazo
consoante o art. 808º; depois de vencida é já incumprimento definitivo.

o Acórdão Relação do Porto de 2/5/2013 - A declaração inequívoca, categórica e


definitiva de não querer ou não poder cumprir configura um incumprimento e é
pressuposto suficiente de consequências jurídicas imediatas, como a exigibilidade do
cumprimento ou a resolução do contrato, sem passar pelo art.º 808.ºdo Código Civil.

13
Não basta o credor, por capricho, dizer “já não quero”
14
Portanto deve ser por carta registada com aviso de receção: para o interpelado saber que o está a ser
(havendo provas de tal) – MC: um dos requisitos é a efetiva receção, pelo devedor, dessa
comunicação
15
Devedor pode contestar a interpelação admonitória se o prazo do credor não for razoável.

15
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

A. Não Cumprimento nas Obrigações de Prestações Recíprocas


Figura base da Resolução do Contrato: Art. 423º e ss. – Direito Civil Português é figura unilateral,
receptícia e vinculada.
 Pode acarretar efeitos retroativos (art. 434º) ou não.

Indemnização e resolução são coisas distintas, o credor poderá escolher ou ter os dois.

Contratos sinalagmáticos têm reciprocidade entre as prestações de ambas as partes,


implicando que, por força do sinalagma funcional, não deva permitir-se a execução de uma
das prestações sem que a outra também o seja.
Tem um regime diferente.

Exceção do Não Cumprimento


Art. 428º/1 – permite-se a um dos contraentes recusar a realização da sua prestação enquanto
não ocorrer a prévia realização da prestação da contraparte, ou a oferta do seu cumprimento
simultâneo.
 Lícita a recusa de cumprimento – impede regime da mora e do incumprimento definitivo
– meio de defesa que assiste ao credor como causa justificativa de incumprimento das
obrigações
 Sendo obrigações puras, a exceção do não cumprimento é sempre invocável e não pode
ser afastada mediante a prestação de garantias (art. 428º/2)
 Havendo estipulação de prazos certos diferentes, um dos contraentes obriga-se a
cumprir em primeiro lugar, renunciando à exceção do não cumprimento e consequente
constituição em mora pelo decurso do prazo (art. 805º/2/a) – Se houver prazo
diferente/diferido, deve ser interpretado extensivamente para abranger estes casos
também.
 ML: o contraente que esteja obrigado a cumprir em 2º lugar pode usar a exceção do não
cumprimento se a contraprestação (a 1ª) não for realizada. Ex: A diz que entrega o
quadro dia 1 e B paga dia 15; se A não entregar a 1, B não tem que pagar a 15 invocando
a exceção do não cumprimento.

Para a invocação da Exceção do Não Cumprimento ser conforme à boa fé exige-se uma tripla
relação entre o não cumprimento de um contraente e a recusa a cumprir:
1. Relação de Sucessão – quem invoca a exceção não foi o primeiro a cair em
incumprimento; recusa a cumprir é posterior ao incumprimento da outra parte
2. Relação de Causalidade – invocação da exceção visa exclusivamente compelir a outra
parte à realização da sua prestação
3. Relação de Proporcionalidade – invocação da exceção tem que ser proporcional ao
incumprimento que a legitima16

16
Não é admissível quando o incumprimento for de escassa importância.

16
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Art. 429º - mesmo que se tenha acordado que um prestaria primeiro que outro, se
posteriormente ao contrato se verificarem as situações do art. 780º relativamente a este outro,
o primeiro pode não prestar.

Invocável em caso de cumprimento defeituoso?


 Sim – se os defeitos de que a prestação padece prejudicam a integral satisfação do
credor. Cabe à parte que pretende utilizar a exceptio non rite adimpleti contractus
demonstrar que os defeitos existentes tornam inadequada a prestação17
 Não – se os defeitos da prestação, atendendo ao interesse do credor, forem de escassa
importância (AV: analogia do art. 802º)

Resolução do Contrato – Art. 801º/2


Dário: “bomba atómica” das obrigações, dado o favor contractus que existe na nossa ordem
jurídica. O contrato gera expetativas jurídicas que legitimamente têm de ser tuteladas.
Sanção nas mãos do credor são muito importantes pois a previsão legal é um estímulo a que o
devedor cumpra. Ex: devedor com medo de ter de restituir, portanto estimula a pagar

Num contrato com prestações recíprocas, o credor, além da indemnização, pode resolver o
contrato – desvinculando-se da contraprestação ou podendo exigir a sua restituição por inteiro
(caso já a tenha cumprido) – art. 432º e ss.18
 Posição doutrinária tradicional – Galvão Telles, Antunes Varela, Almeida Costa e
Menezes Leitão – opção entre 2 alternativas:
o exigir uma indemnização por incumprimento por interesse contratual positivo,
mantendo a própria obrigação;
o obter a resolução do contrato cuja eficácia retroativa permite liberar-se da sua
obrigação, restituindo a prestação já realizada e acrescida de uma indemnização
por interesse contratual negativo.
o Resolve-se o contrato ficando na posição em que estaria se não tivesse havido
contrato – interesse contratual negativo que abrange as despesas que teve por
o contrato não se realizar

o ML: regime da resolução por incumprimento visa libertar o credor do dever de


efetuar a sua contraprestação ou permitir-lhe obter a sua restituição. Relevar o
interesse contratual positivo desequilibraria a estrutura sinalagmática do
contrato, na medida em que atribui ao contraente fiel simultaneamente uma
pretensão restitutória da sua própria prestação e uma pretensão
indemnizatória pelo interesse de cumprimento, quando superior a esta,
enquanto o contraente faltoso perde qualquer pretensão em relação à outra
parte. Tem que ser limitada ao interesse contratual negativo, mas isso não

17
ML: pois parece que a aceitação da prestação constituirá presunção da inexistência de defeitos.
18
Art. 436º - não é preciso ir a Tribunal, basta a comunicação

17
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

significa que não possa haver outra por lucros cessantes mediante prova do
credor (art. 564º/1)

 Contra a posição tradicional – Vaz Serra, Baptista Machado, Romano Martinez e


Menezes Cordeiro – resolução do contrato libera o autor do deve de efetuar a
contraprestação, mas a indemnização continua a abranger o interesse contratual
positivo.
o Romano Martinez: “não obstante o credor resolvido o contrato, deverá ser
indemnizado de todos os danos” sendo que a devolução da contraprestação
realizada deveria ser descontada na indemnização com base na compensatio
lucri cum damno.
 Dário: releva-se o interesse positivo e em relação aos lucros cessantes
pois coloca-se a pessoa na posição que estaria se o contrato tivesse
sido celebrado, mas, abate-se ao interesse positivo as despesas que
poupou, ou seja, indemniza-se pelos lucros cessantes menos as
despesas que teria para ter esse lucro19
o Paulo Mota Pinto: nada obsta que o credor que resolva o contrato reclame
igualmente uma indemnização pelo interesse positivo, no cumprimento, uma
posição que constitui também um incentivo à proteção do credor e à circulação,
permitindo aquele libertar-se do contrato sem ter para tal que renunciar aos
lucros frustrados pelo não cumprimento.
o Menezes Cordeiro: o vínculo obrigacional é uma realidade complexa e a resolução visa
apenas suprir o dever de prestar principal do contratante fiel, mas, todos os demais
deveres secundários e acessórios mantêm-se. O incumprimento acarreta danos e há
que, por eles, prever uma indemnização geral. A pessoa que resolve o contrato
apenas tenciona libertar-se da prestação principal que lhe incumbe: não
pretende desistir da indemnização a que tem direito – o incumprimento obriga
a indemnizar por todos os danos causados (os negativos e os positivos, cabendo,
caso a caso, verificar até onde vão uns e outros).

Indemnização por Incumprimento nos Contratos Sinalagmáticos


Nos termos do art. 562º.
 Teoria da sub-rogação – nexo de correspetividade entre as prestações que caracteriza
o sinalagma mantém-se portanto o faltoso tem de indemnizar a outra parte pela não
realização da prestação mas isso não prejudica o seu próprio direito à contraprestação.
 Teoria da diferença – indemnização pela frustração do próprio sinalagma contratual.
Credor não tem de realizar a sua própria prestação pois as obrigações recíprocas de
ambas as partes convertem-se num único crédito à indemnização pelo montante da
diferença de valor entre ambas as prestações.

19
Argumento baseado no compensatio lucri cum damno e que destrói o argumento de que haveria um
enriquecimento sem causa pois seria indemnizado pelo lucro que teria sem ter despesas com o ganhar
esse lucro.

18
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

o Teoria da diferença atenuada – credor tem vantagem em não realizar a sua


prestação e limitar-se a reclamar indemnização pela diferença de valor entre as
duas. Apenas válida para casos em que o credor não tenha realizado a sua
prestação, poi se o tiver feito só a pode ver restituída se resolver o contrato e,
pedindo indemnização pelo incumprimento, aplicar-se-á a doutrina da sub-
rogação.

Vários argumentos podem ser dados, no nosso ordenamento jurídico, a favor de qualquer
teoria.
 ML: teoria da diferença e teoria atenuada da diferença – credor, quando não realizou
a sua prestação, pode optar pela sua não realização, descontando-a na indemnização
por incumprimento, ou pela sua realização (nos casos em que tenha interesse em fazer)
reclamando nesse caso a totalidade da indemnização.

Impossibilidade culposa da prestação e sua equiparação ao incumprimento20


Indemnização por Incumprimento – casos de impossibilidade da prestação por facto imputável
ao devedor (art. 801º/1) – em termos de responsabilidade é idêntico o devedor não realizar
culposamente uma prestação possível21 ou não realizar uma prestação que culposamente tornou
impossível – equiparável ao caso de incumprimento definitivo

MC: verifica-se a extinção da obrigação, uma vez que a obrigação de indemnização que se
constitui por força da impossibilidade é uma nova obrigação, com objeto e regime distinto
Devedor fica obrigado a indemnizar o credor pelos danos correspondentes à frustração das
utilidades proporcionadas com a prestação, verificando-se os pressupostos da Responsabilidade
Obrigacional.

Commodum da Representação
Art. 803º/1 – O credor pode exigir a prestação da coisa ou do direito que o devedor obteve
contra terceiro em substituição do objeto da prestação. Ex: agricultor por sua culpa não
conseguiu a colheita, mas tem direito ao seguro das colheitas. Credor pode agir para ter direito
a este seguro como substituição dos frutos que o agricultor culposamente não prestou
 Credor tem de manter a contraprestação – pois não se extingue obrigação se o credor
exercer o commodum da representação
 Indemnização será reduzida na medida correspondente ao valor do commodum (art.
803º/2)

20
Em bom rigor não há incumprimento definitivo e há é uma conduta do devedor que impossibilita a
prestação.
21
Caso de Responsabilidade Obrigacional. Diferença é o nexo de imputação: que aqui se coloca em relação
à conduta de não realização de prestação, mas na seguinte se coloca em relação à conduta de
impossibilitar a prestação.

19
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Impossibilidade culposa Parcial


Credor pode resolver o contrato ou exigir o cumprimento do que for possível, reduzindo a sua
própria contraprestação – tem sempre direito à indemnização.
Apenas determina uma extinção parcial do direito à prestação, não sendo assim a prestação
integralmente substituída por uma indemnização.
 Se optar pela resolução (com efeitos do art. 433º), ambas as partes ficam liberadas de
qualquer prestação e credor apenas tem direito de exigir indemnização pelo interesse
contratual negativo.
 Se tiver escassa importância para o devedor tutela-se o interesse do devedor em realizar
a parte não impossibilitada da prestação – só há lugar à resolução se for grave

20
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Impossibilidade não culposa da prestação22 e Risco contratual


Para acarretar a extinção da obrigação, a impossibilidade da prestação tem que ser superveniente, objetiva
(salvo nos casos de prestação infungível), absoluta e definitiva.

Originária – consequências são as do regime do art. 401º - nulidade do negócio jurídico em que
a obrigação não chega a constituir-se (art. 401º/1 e 280º/1)
Superveniente – surgem sob diferentes modalidades:
 Objetiva: opõe-se a qualquer pessoa e afeta a generalidade das pessoas
 Subjetiva: só afeta a pessoa do devedor

 Total: afeta toda a prestação


 Parcial: afeta só parte da prestação

 Temporária
 Definitiva

 Imputável ao devedor / Não imputável ao devedor23

Impossibilidade não se confunde com a Maior Onerosidade no Cumprimento – dificuldade


maior na prestação não libera o devedor, leva apenas a uma adaptação do contrato, tendo em
conta critérios de equidade.
 Caso de impossibilidade relativa – pode é desencadear a aplicação do instituto da
alteração das circunstâncias, verificando-se os pressupostos

Frustração do fim da prestação – prestação é possível para o devedor mas perde todo o
interesse para o credor. Há uma impossibilidade do ponto de vista do fim a que se dirige. Ex:
faço contrato com médico para me operar, mas curo-me
 Situação em que ainda é possível realizar a conduta a que o devedor se vinculou, mas já
não é possível, através desta, a satisfação do interesse do credor, uma vez que a
prestação ou se tornou inidónea para esse fim ou o interesse do credor já se encontra
satisfeito por outra via. Conduta é possível mas não tem utilidade para o credor.
 ML: não são casos de impossibilidade de prestação, uma vez que a ação abstrata de
prestar se mantém como possível. No entanto, o facto do credor não vir a retirar
qualquer benefício da ação do devedor torna disfuncional a realização da prestação, que
deve corresponder necessariamente a um interesse do credor (art. 398º/2). Justifica-se
a equiparação dessas situações à impossibilidade, para efeitos de exoneração do
devedor.

Regime da impossibilidade absoluta – Art. 790º e ss.


Objetiva – art. 790º - obrigação extingue-se e o devedor fica exonerado

22
Não se equiparara ao incumprimento pois não é uma situação que resulta do devedor não realizar
culposamente a prestação
23
Estas categorias aplicam-se a todas as impossibilidades: Imputáveis e Não Imputáveis

21
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Art. 790º/2 - prestação possível na nata de conclusão do negócio jurídico não afeta a
validade do negócio se se tornar impossível na data de vencimento.
Extrai-se deste artigo que a norma faz recair sobre o credor o risco da impossibilidade.24

Subjetiva – art. 791º - tem a ver com a infungibilidade das prestações; não diz respeito à própria
prestação e sim se aquele devedor a pode realizar.
Temporária – art. 792º - é convertida em definitiva quando o credor perde o interesse na
prestação. Quando cessar a impossibilidade tem de cumprir.

Commodum da Representação – art. 794º - destina-se a corrigir o enriquecimento que o


devedor obtém através do facto que torna impossível a prestação, simultaneamente à extinção
da sua obrigação e outro benefício, determinando-se a atribuição desse benefício ao credor. Ex:
credor já tinha pago, armazém arde e devedor recebe prémio de seguro. Tem que entregar ao
credor
 Caso de justiça contratual

Risco nos contratos sinalagmáticos


Por força do sinalagma funcional, há uma distribuição do risco pelo que a impossibilidade da
prestação vai afetar não apenas o credor, mas ambas as partes do contrato, o que implica a
solução do art. 795º: credor fica desobrigado da contraprestação ou tem o direito de exigir a
restituição se já a tiver realizado.
 Impossibilidade não é apenas causa de extinção do direito do credor e sim de todo o
contrato, extinguindo as prestações recíprocas
 Extinção do direito do credor à contraprestação não se extingue se surgir o commodum
de representação do art. 794º e o credor pretenda exercer esse direito (ou opta pelo
commodum ou pela exoneração da obrigação)

Art. 795º - para contratos com efeitos obrigacionais


Art. 796º - para contratos com efeitos reais

Frustração do fim nos contratos sinalagmáticos – exoneração do devedor, mas a doutrina


discute se o credor fica totalmente desonerado da contraprestação, uma vez que o devedor se
desloca efetivamente perante ele a oferecer-lhe a prestação (que só por um fator externo à sua
conduta não se veio a realizar) – aplicação analógica do art. 1227º25

24
David Festas: na realidade há 2 riscos – a prestação, sobre a qual recai o direito, e a própria coisa, sobre
a qual recai a prestação.
25
Também podemos ter em conta o art. 795º/2 e incluir na “causa imputável ao credor”, o da frustração
dos fins.

22
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Risco nos contratos sinalagmáticos reais de alienação


Res perit domino – o risco pelo perecimento ou deterioração da coisa cabe ao que for
proprietário dela no momento de tal evento. Se já houve transmissão da propriedade26 sobre a
coisa objeto de entrega, o seu perecimento não extingue o direito à contraprestação (art.
796º/1) – credor suporta o risco, continuando onerado com a sua contraprestação.
 O devedor passa a funcionar como mero depositário da coisa, não retirando qualquer
benefício da sua guarda – risco pelo perecimento é legalmente associado ao proveito
que da coisa se retira, o que compete, em princípio, ao proprietário.

Art. 796º/2 – ex: pessoa vende quadro mas estabelece que entrega daqui a um mês para o
expor. Nessa exposição ele é queimado. Devedor suporta o risco. – Tendo o termo constituído
a seu favor, não é mero depositário e utiliza a coisa em proveito próprio, sendo justo que
suporte o risco.
 Risco só se transfere com o vencimento do termo (alienante deixa de beneficiar do prazo
para utilização da coisa) ou com a entrega da coisa.
 Admite-se que o alienante se possa constituir em mora pelo art. 807º (o que leva a uma
inversão do risco)

Art. 796º/3 – resolutiva significa que adquirente se encontra a tirar proveito dela justificando-
se suportar o risco; suspensiva significa que a propriedade ainda não se transferiu, sendo apenas
eventual, pelo que não se justifica que seja o adquirente a suportar o risco.

Art. 797º - apenas aplicável às obrigações genéricas (art. 541º) pois as de coisa determinada
têm a transferência de risco com a celebração do contrato (antes do envio)

26
E pelo art. 408º/1, a regra geral é de que os contratos são quod effectum

23
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

B. Responsabilidade Civil Contratual


Aplica-se a Responsabilidade Obrigacional27 para o dever de indemnizar.
Art. 798º - por via de regra, este dever vai substituir a obrigação da prestação originária – nos
casos de mora vai acrescer à prestação originária.
 Com a constituição do devedor em responsabilidade obrigacional pelos danos causados
ao credor (art. 798º) – ocorre a extinção superveniente do dever de prestar e surge o
dever de indemnização ao credor28

Art. 562º e ss. – regras do dever de indemnização (regime de indemnização é comum à


Responsabilidade Civil Delitual e Obrigacional)

Pelo art. 564º/1 – os lucros cessantes acrescem ao dano emergente – ambos são objeto deste
dever de indemnizar e, por força do art. 798º, o art. 564º obriga a repor a pessoa que sofreu o
dano (credor) na posição em que estaria sem esse dano (ou seja, há indemnização pelas despesas
que teve e pelas vantagens que teria tido29).

Tem os mesmos pressupostos da Responsabilidade Civil Extracontratual, mas com


especificidades:
I. Facto
Violação de uma obrigação (não execução da prestação inibitória imputável ao devedor).

II. Ilicitude
Inexecução da obrigação – como a obrigação é complexa e não há só dever de prestar, o facto
ilícito não é só o incumprimento da obrigação, mas, também dos deveres acessórios de conduta
(que resultam do art. 762º)
 Não se trata de deveres jurídicos gerais como na extracontratual (que vinculam a
generalidade das pessoas umas perante as outras).
o Neste caso, é violação dos deveres de prestação (principais ou acessórios) de
pessoas previamente vinculadas por um vínculo obrigacional/contratual.30

 “falta de cumprimento” (art. 798º);


 qualquer desconformidade entre a conduta do devedor e o conteúdo do programa
obrigacional.

27
Conceito mais abrangente que contratual
28
Nova obrigação que se constitui tendo como fonte a responsabilidade civil obrigacional
29
Releva o interesse contratual positivo (as vantagens que poderia ter obtido) e o interesse contratual
negativo (as despesas que incorreu tendo em conta o dano)
30
Dário: é por isso que a Responsabilidade Civil é dual – essa dualidade deve-se à valoração diferente do
facto ilícito e face ao que se perspetiva – apesar dos pressupostos serem os mesmos, estes são
perspetivados consoante as situações (da vida, que necessariamente) são diferentes
≠ Menezes Leitão: responsabilidade civil é una

24
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Causas de exclusão da ilicitude31:


 exceção do não cumprimento (art 428º e ss.);
 direito de retenção (art. 754º e ss.)

Ónus da Prova
Cabe ao credor.
 É diferente se a obrigação for de meios (médico obrigado a diligência) ou de resultados
– ónus probatório é diferente consoante a natureza da obrigação em causa.

III. Culpa
Atuação do devedor deve ser culposa, ou seja, há censurabilidade no facto de não ter adotado
o comportamento devido para cumprir a obrigação

Art. 798º tem subjacente um pressuposto de culpa


 Culpa do devedor presume-se (art. 799º/1), cabendo-lhe a ele demonstrar que não
teve culpa na violação do vínculo obrigacional.
 Apreciação da culpa segundo diligência do homem médio (art. 487º/2 por remissão do
art. 799º/2)

2 modalidades:
 Dolo – ato voluntário dirigido à provocação dum dano
o Direto: visa intencionalmente o não cumprimento. Ex: motorista de táxi recusa-
se a transportar o cliente que o chamou
o Necessário: não visa diretamente o incumprimento mas sabe que será uma
consequência necessária da sua conduta. Ex: motorista de táxi que aceita dois
clientes com rotas opostas, só pode transportar um
o Eventual: devedor atua conformando-se com a possibilidade de verificação do
incumprimento. Ex: motorista de táxi parte mais tarde, sabendo que poderá não
chegar a tempo de apanhar o cliente

 Negligência – não se queria provocar dano, mas não se acautela o seu não
acontecimento, num padrão do homem médio – agente omitiu a diligência a que estava
legalmente obrigado
o Consciente: sempre que o devedor represente a possibilidade de ocorrência do
incumprimento, mas atua sem se conformar com a sua verificação. Ex:
motorista parte mais tarde mas acredita que chegará a tempo
o Inconsciente: quando nem representa a possibilidade da sua conduta gerar
incumprimento. Ex: motorista parte mais tarde mas não pensa que poderá
chegar fora do tempo

31
Lei dá uma causa legítima para não cumprir a obrigação, excluindo a ilicitude que resultaria do não
cumprimento

25
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Casos de limitação da culpa ao dolo: caso de mora do credor (art. 814º e 815º), responsabilidade
do doador (art. 956º e 957º), comodante (art. 1134º), mutuante a título gratuito (art. 1151º).

IV. Dano
Exigência que o incumprimento do devedor tenha provocado dano ao credor.
Na extracontratual (art. 483º) não se contempla danos patrimoniais puros e, por via de regra, é
lesão de bens de outrem em que não conta a pura diminuição patrimonial.
Na contratual, abrange-se mais danos – os in natura do art. 483º e outros que não implica uma
lesão física ou espiritual, podendo ser meramente pecuniários.
 A contratual é mais vasta pois alguém, no âmbito da sua autonomia privada,
responsabilizou-se perante outrem.

Regime unitário da indemnização (art. 562º e ss.), compreendendo-se danos emergentes como
lucros cessantes (art. 564º/1).
 Abrange o interesse contratual positivo – todas as utilidades que se frustraram em
função da não realização da prestação, sendo o credor colocado na posição que estaria
se a obrigação tivesse sido voluntariamente cumprida.
o ML: como o regime da indemnização é uno para ambas as responsabilidades civis não
se justifica tratar diferentemente o lesante apenas porque violou uma obrigação e não
um dever geral de respeito, portanto pode aplicar-se parcimoniosamente o art. 494º

Relevância dos danos não patrimoniais


Art. 496º faz parte da responsabilidade extracontratual pelo que na contratual não poderá haver
indemnização por dano não patrimonial (AV e PL)
 Doutrina e jurisprudência recente: aceitam que se aplique o art. 496º quando essa
prestação visasse satisfazer necessidades não patrimoniais (espirituais ou morais). Ex:
dano faz ferias estragadas.

V. Nexo de Causalidade
Art. 563º aplicável a ambas as Responsabilidades.
 Teoria da causalidade adequada - para que exista nexo de causalidade não basta que
o facto tenha sido em concreto causa do dano e é também necessário que, em abstrato,
seja também adequado a produzi-lo segundo o curso normal das coisas. Subjacente ao
art. 563º em que não está em causa apenas a imprescindibilidade da condição mas
também se exige que essa condição, de acordo com juízo de probabilidade, seja idónea
a produzir um dano.
o Verificada condição sine qua non, faz-se juízos de prognose póstuma se o agente
via como provável que tal condição acontecesse – reconhece-se que o agente
podia ter conhecimentos especiais.

Dário: maior exigência na responsabilidade obrigacional porque o credor pode advertir o credor
das consequências do incumprimento.

26
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Ex: prof. Direito manda encadernar livro. Encadernador destrói-o. Não avisa o encadernador que
era livro do sec. XVI, único e imprescindível para a tese de doutoramento. Não terá que
indemnizar todos os danos que teve por não concluir a tese, mas, se tivesse advertido o credor,
então esse poderia indemnizar o professor.

Responsabilidade do devedor por atos dos seus auxiliares


Situação de responsabilidade objetiva do devedor que assenta numa equiparação da conduta
do auxiliar ou representante legal à conduta do próprio devedor – evita que este se exonera
da sua responsabilidade imputando àqueles o comportamento que conduziu à violação da
obrigação.32

O devedor não se pode justificar com o auxiliar porque não foi com ele que o credor contratou.
O devedor suporta o risco pelas ações dos seus auxiliares e responde objetivamente ao credor
mesmo que não tenha culpa – azar, não contratasse esses auxiliares.
 Relação Coimbra 26/6/13

Pressupostos de aplicação do art. 500º e do art. 800º são bastante diferentes, embora haja
responsabilização independente de culpa:
 não se exige relação de comissão (basta mera representação legal ou mera utilização do
terceiro para realização da prestação debitória)
 exige-se que haja a violação do vínculo obrigacional

Art. 500º tem requisitos mais exigentes – fala-se de acontecimentos à margem da realização de
uma obrigação.
É mais fácil imputar ao devedor pelo art. 800º - falamos de pessoas que se socorrem de outrem
para potenciar as suas atividades comerciais. Traz benefícios económicos este socorrer-se de 3º,
por isso deve responder mais amplamente.

Ónus da prova na responsabilidade obrigacional


Os pressupostos da responsabilidade obrigacional provados pelo credor:
Factos constitutivos do direito à indemnização (regime geral do art. 342º/1).
 Existência de um direito de crédito – ficando dispensado de provar o seu incumprimento
pois cabe ao devedor provar o cumprimento. Se for caso de incumprimento defeituoso
já terá de ser o credor a provar essa conduta.
 Dano
 Ilicitude
 Nexe de causalidade33
Pressuposto provado pelo devedor:
 Culpa – cabe ao devedor provar que não agiu culposamente

32
Assim, risco da atuação de representantes cabe ao próprio devedor.
33
MC: discorda, pois art. 799º/1 tem presunção de faute que presume ilicitude, culpa e nexo de
causalidade entre facto e dano.

27
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Não realização duma prestação (correspondente a vínculo


I. Facto
obrigacional) – a provar pelo credor
Violação dos deveres de prestação (principais ou acessórios),
II. Ilicitude
havendo vinculação obrigacional – a provar pelo credor
Causa de Exclusão da Exceção do não cumprimento (art 428º e ss.); Direito de
Ilicitude retenção (art. 754º e ss.)
Casos de limitação da culpa ao dolo:
Dolo (direto, necessário, mora do credor (art. 814º e 815º),
responsabilidade do doador (art.
III. Culpa eventual) // Negligência 956º e 957º), comodante (art.
(consciente, inconsciente) 1134º), mutuante a título gratuito
(art. 1151º).
Presunção de Culpa
Art. 799º - a provar pelo devedor que não agiu com culpa
do Devedor
Responsável pelos
atos dos auxiliares ou Art. 800º
representantes
Danos emergentes / Lucros cessantes // Não Patrimoniais
IV. Dano (quando essa prestação visasse satisfazer necessidades não
patrimoniais – espirituais ou morais) – a provar pelo credor
V. Nexo de Causalidade Teoria da causalidade adequada – a provar pelo credor

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

3. Cumprimento Defeituoso
Art. 799º/1 – violação positiva do contrato – a obrigação é cumprida, mas mal
 Referência passageira no art. 799º/1 a propósito do ónus da prova que incumbe ao devedor.

Devedor realiza uma prestação que não corresponde integralmente à obrigação a que se
vinculou, não permitindo assim a satisfação adequada do interesse do credor.34
 Não há liberação do devedor – que fica constituído em mora (art. 804º) e tem de reparar o defeito
ou substituir a prestação defeituosa, uma vez que o credor ainda tem interesse na prestação; ou
que se verifica incumprimento definitivo (art. 808º) com a perda de interesse do credor.

Cumprimento Imperfeito abrange 2 áreas: violação dos deveres acessórios; realização


inexata da prestação principal
 A inexatidão da prestação deve ser aferida à luz de critérios de normalidade social
passando pelo crivo da boa fé.

Não tem regime específico nas regras gerais e temos de apurar como se regula o cumprimento
defeituoso nas regras dos contratos em especial.
 Compra e venda: art. 913º e ss.
 Obra: art. 1218º e ss.
 Coisa locada: art. 1236º e ss.

A partir dos regimes especiais extrai-se:


 A ilicitude resulta pode resultar da violação de deveres secundários ou deveres
acessórios, que acompanham o dever de prestação principal.
 Atribui-se a presunção de culpa do art. 799º/1.
 Possibilidade de reclamar indemnização.

O cumprimento defeituoso pode ainda atribuir outros direitos específicos ao credor:


 reparação (eliminação dos defeitos),
 nova realização da prestação (art. 914º e 1121º) – substituição
 redução da contraprestação (art. 911º) – redução do preço se o credor aceitar
 Na venda de coisas específicas defeituosas, pode anular-se o contrato com fundamento
em erro.

Acórdão STJ 6/5/03 – Para um juízo de cumprimento, temos de colocar lado a lado o que foi
prestado e o que devia ser prestado.

Acórdão STJ 22/9/05 – Tendo-se verificado já um cumprimento defeituoso que só não será de
haver como incumprimento definitivo, para efeitos de cessação do vínculo, na medida em que
ao devedor é dada a oportunidade e imposta a obrigação de corrigir os defeitos da prestação
mal feita, não seria precisa uma recusa séria e definitiva do mesmo devedor quanto a esta

34
Pode também ser pequenas falhas mas que no seu conjunto levam a uma perda de confiaça

29
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

obrigação de rectificação para conferir ao credor o poder de resolver o contrato: bastaria o


silêncio prolongado do devedor. Por outras palavras: nesta situação, o credor, que tem direito à
leal colaboração do devedor, tem também direito a ser desenganado por este. Este fica a dever
uma resposta, podendo o seu silêncio ser interpretado como recusa. O credor não precisaria,
pois, de recorrer ao processo de interpelação admonitória do art. 808º do Código Civil para
confirmar a "infiabilidade” do devedor.

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Fixação Contratual dos Interesses do Credor


Nas cláusulas que se podem apor ao contrato vigora o princípio da autonomia privada e as
partes podem regular antecipadamente cláusulas de responsabilidade em caso de
incumprimento do contrato.

Cláusulas Exclusão da Responsabilidade


Cláusula de Irresponsabilidade em que o credor renuncia aos direitos que tem sobre o devedor.
 Art. 809º - ordenamento jurídico não admite estas cláusulas, havendo nulidade das
mesmas (não de todo o negócio jurídico)
o Credor não pode renunciar aos direitos dados pelas divisões do CC anteriores
(art. 798º, 801º a 804º).
o E quanto ao direito de exigir-se o cumprimento da obrigação (art. 817º e ss.) e
execução específica (art. 830º e ss.)?
 Não estão previstos nas disposições anteriores, por isso é lícito as partes
estipularem esse afastamento.
 ML – deve abranger-se a estes outros direitos, com exceção do art.
830º/1 e 2, e o cumprimento defeituoso

À luz do art. 809º, o que é que a autonomia privada permite?


 Relativamente a atos próprios não é admissível abdicar da responsabilidade mas pode
afastar-se a responsabilidade pelos atos dos auxiliares do devedor, desde que não
atentem contra a ordem pública, sejam dolosos ou com culpa grave.
 Permite-se as cláusulas de renúncia a posteriori (de indemnização) – tem que se
constituir um efetivo direito de indemnização para que se renuncie à mesma, nunca
pode ser antecipadamente.

Qual a ratio do artigo?


A natureza da obrigação goza de jurisdicidade e se não for voluntariamente cumprida o credor
goza da faculdade de a exigir por meios jurídicos. Se estivessem desprovidas de coercibilidade
estaríamos perante obrigações naturais e não se protegeria eficazmente o titular do direito.
 MC: manifestação do princípio da irrenunciabilidade antecipada – as partes estariam a
criar obrigações e depois, por cláusulas acessórias, tiravam-lhe jurisdicidade.

Deve ser objeto de interpretação restritiva no sentido de apenas considerar nulas aquelas por
dolo e culpa grave?
 Sim – Pinto Monteiro e Mota Pinto – admite-se a exclusão da responsabilidade por culpa
leve. Argumento de que no art. 18º/c da lei das CCG isso é permitido e se, até nas CCG
em que as partes não têm liberdade de estipulação e só de celebração, então nos outros
contratos em que há liberdade de estipulação e celebração deveriam de se admitir
o STJ 19/3/02: A cláusula limitativa da responsabilidade destina-se a restringir ou
a limitar - seja quanto aos pressupostos da responsabilidade seja quanto ao
montante da indemnização - antecipadamente, de modo vário, a
responsabilidade em que, sem ela, incorreria o devedor. Não constitui renúncia
ao direito de indemnização nem ofensa à ordem pública a cláusula de
irresponsabilidade por simples culpa leva do devedor ou dos seus auxiliares, pelo
que é válida.

31
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Não – Antunes Varela e Menezes Leitão – não há fundamento e desprotege o credor


havendo um incentivo para o devedor não ser suficientemente diligente.

Cláusulas Limitação da Responsabilidade


Estipulação através da qual as partes limitam ou atenuam, no Negócio Jurídico, a
responsabilidade do devedor quanto ao incumprimento daquilo a que se vinculou. Ex: no
incumprimento só responde até 10 mil – chamados “caps”

Vantagens: nos Negócios Jurídicos com valores muitos elevados, se possivelmente tiver de
indemnizar, o valor será tão alto que pode ser uma desincentivo à realização do negócio
Desvantagens: pode estabelecer valores lesivos para uma das partes.

Maior parte da doutrina admite esta cláusula ao abrigo da autonomia privada (art. 405º) e do
art. 602º (em que a lei admite hipótese específica)
 Isto não contraria o art. 809º, que se refere a renúncia antecipada (“eu não respondo!”;
aqui é “eu não respondo além de x valor”)
 Sujeita aos limites do valor não ser irrisório – violaria indiretamente o art. 809º pelo
que a consequência deveria ser a mesma.

Cláusulas Fixação da Responsabilidade – Cláusula Penal


Estipulação pela qual as partes estatuem num Negócio Jurídico uma pena convencional
 Pena convencional – indemnização quando o credor não cumpre aquilo a que se
vinculou

Admitida, frequente e importante no comércio jurídico – regulado nos art. 810º, 811º e 812º

Requisitos de:
 Fixação de montante determinado – montante pecuniário que não pode ser irrisório,
senão violaria o art. 809º
 Pressupõe uma prestação principal – que tem de ser judicialmente exigível, se não
estar-se-ia a contratar uma obrigação natural – art. 810º/2

Finalidade: função indemnizatória que previne litígios futuros -> função compulsória que
incentiva ao cumprimento (pois já se sabe antecipadamente quanto vai pagar se não cumprir)
 Se se for a tribunal já não se vai discutir os danos que o não cumprimento da obrigação
causou, porque as partes já o fixaram – elementos de prova do litígio vão resumir-se
aos demais pressupostos da responsabilidade obrigacional

32
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

2 modalidades de cláusula penal35:


Cláusula penal moratória/ em sentido estrito – estabelece penalização para o não
cumprimento da obrigação, incentivando devedor a cumprir. Fixa pena para o não cumprimento
pontual da obrigação. Ex: por cada dia de atraso, A paga a B quantia de 50 €
Cláusula penal indemnizatória/compensatória/liquidação antecipada de danos – fixa
indemnização antecipada de danos provenientes do não cumprimento. Ex: se A incumprir, paga
a B 40 €

Como se distinguem?
Por interpretação da declaração negocial – relevante pelo regime que lhe está associado.

Art. 811º/1/1ª parte – credor não pode exigir que se cumpra a obrigação e devedor pague a
cláusula penal na cláusula penal indemnizatória;
Art. 811º/1/2ª parte – credor pode exigir que devedor pague a cláusula penal, se for
estabelecida uma cláusula penal moratória, e que se cumpra a prestação – está apenas
relacionado com o incumprimento pontual e não o incumprimento definitivo.

Art. 811º/2 – significa que se houver danos reais acima do valor da cláusula penal, não se pode
pedir indemnização pelos danos reais e terá que se pedir cláusula penal.
 Só se pode pedir o valor dos danos reais quando as partes fixaram cláusula penal mas
admitem que o credor possa pedir o excedente – neste caso a cláusula penal funciona
como limite mínimo da indemnização – relevância quanto ao ónus da prova: terá de ser
o credor a demonstrar que os danos reais foram superiores aos da cláusula penal
(enquanto na cláusula penal tem-se por estabelecido que são esses os danos e não tem
de fazer prova dos mesmos)

Art. 811º/3 – levanta dúvidas interpretativas;


 Galvão Telles: sob pena de cláusula penal perder a sua função, tem de ser articulado
com o disposto no art. 811º/2,
o Portanto, art. 811º/3 pretende dizer que se houver uma cláusula do art. 811º/2,
quanto ao excedente, essa cláusula deve ser interpretada no sentido de que
nunca se pode exigir mais do que os danos reais – só se aplica ao excedente
o Se não for essa a interpretação, permite sempre ao devedor pedir a redução da
cláusula penal ao valor real – levanta a questão então de qual o sentido útil de
se estabelecer cláusula penal (se o que se vai pedir é montante real).

Art. 812º - permite redução equitativa de cláusulas penais que sejam manifestamente
excessivas ou quando a obrigação tiver sido parcialmente cumprida.
 Redução não é oficiosa e tem de ser pedida pelo devedor que seja interpelado para
cumprir uma cláusula penal.
 Resulta, a contrario, que não se permite um aumento equitativo da cláusula penal. Só
se permite a redução – cujo limite a lei não diz, mas alguma doutrina aponta que nunca
pode ser inferior ao valor dos danos reais.

35
Conduzem a regimes jurídicos distintos

33
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Realização Coativa da Prestação


Art. 817º contém garantia judiciária da obrigação, tendo 2 direitos:
 direito de ir a juízo + direito a executar património do devedor

Ação de Cumprimento – ação judicial que corre nos Tribunais cíveis em que se pretende obter
a declaração que a obrigação não foi cumprida pelo devedor e declarar-se que o devedor deve
cumprir. Art. 4º/3 CPC
 Tribunal condena o devedor a cumprir

Ação Executiva – sentença de condenação do devedor, cujo património vai ser executado para
satisfazer o credor, nos termos do art. 45º CPC.
 Sentença condenatória é um título executivo que funciona como permissão ao credor
para executar património do devedor (art. 46º CPC)36.

Fins da ação executiva (art. 45º/2 CPC):


 Pagamento de quantia37 – credor apresenta título executivo e aponta bens do devedor
para serem vendidos em hasta pública e satisfazer a quantia que é devida. Ou pode
optar que os bens do devedor lhe sejam entregues (não havendo venda)
 Entrega de coisa – credor exige uma coisa determinada
 Prestação de facto – credor pode pedir que a prestação seja executada por terceiro às
custas do devedor, cujos bens irão responder para tal

Na maior parte dos casos esta ação visa indemnização ao credor.


Execução por Equivalente – satisfação do direito do credor é feita através da atribuição de uma
indemnização em dinheiro.
 Prestação principal é substituída por esta outra – prestação equivalente à outra que se
extingue – pressuposto do incumprimento definitivo

Execução Específica – credor exige, por via judicial, que lhe seja entregue a prestação acordada
para satisfazer o seu crédito, obtendo o mesmo resultado que teria se o devedor tivesse cumprido
voluntariamente a obrigação.
 Pressuposto é a mora, pois mantém na esfera do credor o direito à prestação original

Pode ter vários aspetos:


 Entrega de coisa determinada – art. 827º - credor continua a ter interesse e pode
requerer, em juízo, a entrega dessa coisa.
o Faculdade que só pode ser usada se a coisa estiver determinada.
 Prestação de facto Fungível – art. 828º - quando o facto pode ser realizado por terceiro.
o Credor pode requerer que seja prestado por outrem à custa do devedor –
Tribunal procede à venda em execução dos bens do devedor para com o
produto dessa venda contratar a realização da prestação por terceiro (art. 935º
CPC)

36
Existem outros: títulos de crédito (letras e etc.), documentos particulares exarados e etc.
37
Forma mais comum em que o credor exige a prestação de uma quantia em dinheiro

34
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Prestação de facto Negativo – art. 829º - credor pode requerer a demolição da obra.
Ex: condómino constrói varanda, não o podendo fazer. Condomínio pode determinar
em juízo essa demolição a expensas do credor.
o Faculdade cessa se os prejuízos causados pela demolição para o devedor forem
consideravelmente superiores ao prejuízo sofrido pelo credor, havendo só
indemnização (art. 829º/2)
 Obrigação consistia em declaração negocial / contrato promessa – art. 830º - permite
ao credor requerer em Tribunal a emissão de uma sentença que produza efeitos de
contrato que o devedor se obrigara a celebrar (surge por ação declarativa constitutiva –
art. 4º/1/c CPC)

Legislador preocupa-se em assegurar ao credor os meios para o devedor realizar a prestação a


que se obrigou.

Art. 829º-A – Sanção Pecuniária Compulsória


Casos em que não é possível o recurso à execução específica, a lei permite coagir o devedor ao
cumprimento.38
 Outro meio para compelir o devedor ao cumprimento: quantia que pode ser imposta
pelo tribunal ao devedor por cada dia de falta de cumprimento.
 Em princípio é só para prestações de facto infungível, positivo ou negativo, excluindo-
se as prestações que exigem especiais qualidades científicas ou artísticas do obrigado.
 Geralmente fixada pelos tribunais, por requerimento do credor, quando há risco sério e
comprovado do devedor não cumprir.

Nº2 – valor acresce à indemnização; pena privada pecuniária que é imposta ao devedor
Nº3 – beneficiários da sanção compulsória são o credor e o Estado em partes iguais
Nº4 – quando estão em causa obrigações pecuniárias não é preciso sentença judicial a definir a
sanção pecuniária compulsória pois a lei já define o montante.

38
Existe para não se tirar vantagens do retardamento do cumprimento.

35
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Outras Causas de Extinção dos Negócios Jurídicos


Além do incumprimento, há outras figuras que extinguem as obrigações.
 As obrigações surgem da autonomia privada das partes e são extintas sempre que o
negócio que lhes serve de fonte vem a ser posteriormente destruído.

Causas Gerais
Afetam a relação obrigacional complexa – extinguem a obrigação por supressão da fonte –
mata-se a obrigação matando a fonte

Caducidade
Cessação dos efeitos do negócio jurídico em virtude da ocorrência de facto jurídico stricto
sensu.
 O mais comum é o decurso do tempo – extinção do contrato em virtude do decurso de
certo período de tempo.
 Pode ser outro facto que as partes tenham estipulado39 ou que decorra da lei.

Obrigação caduca quando:


 realiza a sua finalidade;
 passa o prazo convencionado para a sua duração;
 uma das partes do contrato falece (contratos intuitu personae – ex: arrendamento. Se
uma das partes falece, por via de regra extingue-se o contrato, há exceções em que há
sucessão);
 coisa objeto do contrato perece/extingue-se

Prazos da caducidade são contínuos e não se suspendem nem interropem (art. 328º)

Regime da caducidade:
 é automática – não é necessária a declaração da caducidade de uma das partes à outra
e não é necessário por uma ação em Tribunal, basta que tenha ocorrido facto que
determine a caducidade;
 opera para futuro – afeta os efeitos da obrigação a partir do momento em que ocorre
o facto que determina a caducidade; não tem eficácia retroativa

Resolução
Art. 432º e ss.
Extinção dos efeitos do negócio jurídico por declaração unilateral de uma das partes, baseada
num fundamento ocorrido posteriormente à celebração do contrato.
 Extinção do contrato por iniciativa de uma das partes, não sujeita ao acordo da outra –
direito potestativo tipicamente motivado (pela lei ou contrato)
o Pode ser operada por ato de uma ou de ambas as partes.
 Exercício vinculado – só pode existir com base num fundamento legal ou convencional
(art. 432º/1)

39
Partes podem estipular casos especiais de caducidade, modificação do regime legal ou renuncia da caducidade,
contanto que não se trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes ou de fraude às regras legais de
prescrição.

36
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

o Fundamento mais comum é o incumprimento (art. 801º/2) mas admite-se, lato


sensu, a justa causa (art. 1140º)
o Se o fundamento resultar da vontade das partes, estas são livres para
estipularem cláusulas resolutivas

Exclui direito de resolução no caso em que não haja possibilidade de restituir o que se houver
recebido (art. 432º/2) – para evitar um enriquecimento sem causa – Casos de eu entrego X e tu Y. Se
não tenho X para entregar não te vou estar a exigir Y
 Se uma parte já prestou tem direito a ser restituída.

Art. 433º - equipara a resolução à nulidade ou anulabilidade do contrato e visa colocarem-se as


partes na situação que estariam se o contrato não tivesse sido celebrado. No entanto, há:
 Possibilidade de a resolução não ter eficácia retroativa – a regra é a eficácia retroativa
da resolução, mas, pode não ocorrer se contrariar a vontade das partes ou a finalidade
da resolução (art. 434º/1 e 2)
 Tutela de terceiros – art. 435º

Opera-se de acordo com um sistema de resolução por declaração (art. 436º).


 O Tribunal pode intervir quando uma das partes contestar a resolução, mas ele será
chamado não para decretar a resolução, mas para verificar se estavam preenchidas as
condições necessárias para o seu exercício.

Revogação
Extinção do negócio jurídico por virtude de uma manifestação da autonomia privada no
sentido oposto àquela que o constitui.
 Declaração de uma das partes que visa cessar os efeitos do negócio jurídico sem
necessidade de justa causa que a legitime.

No caso de um contrato tem que ser bilateral e assentar no mútuo consenso dos contraentes
em relação à extinção do contrato que tinham celebrado.
 Se não houver acordo entre as partes só é possível quando a lei o permite. Ex:
procuração; contrato a favor de terceiro (art. 448º/1); promessa pública (art. 461º);
contrato doação (art. 969º/1); testamento (art. 2179º e ss.).

No caso de negócio jurídico unilateral a revogação pode ser unilateral, bastando uma segunda
declaração negocial do autor, contrária à primeira.
 Negócio jurídico em que avulta o interesse de uma das partes e não há expetativa
jurídica da contraparte a ser tutelada.

Exercício livre, ficando os seus efeitos na disponibilidade das partes, que podem estipular (ou
não) a sua retroatividade.
 Revogação retroativa não é possível quando se aja criado uma situação em benefício de
terceiro ou quando o ato esteja sujeito a registo e este não se tenha realizado.
o Só opera para futuro

37
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Denúncia
Ato praticado por uma das partes do contrato que se dirige a impedir a renovação desse
mesmo contrato.
 Resulta de uma decisão das partes, mas não necessita de nenhum fundamento, sendo
um exercício livre – mas sujeito ao art. 334º
 Aplica-se aos contratos de execução continuada ou duradora em que as partes não
estipulam um prazo fixo de vigência (tem duração indeterminada)40.
o Como a vigência do contrato ilimitada no tempo seria contrária à liberdade
económica das pessoas, que não se compadece com a criação de vínculos
perpétuos ou de duração indefinida, admite-se neste caso a denúncia a todo o
tempo.
 Não tem efeitos retroativos e limita-se a extinguir o contrato para futuro sem permitir
a restituição das prestações entretanto realizadas com base nele.
 Não tem regulação geral na lei – no caso da locação está no art. 1099º

Denúncia restringe-se aos contratos sem duração determinada; se tiver duração previamente fixada
chama-se “Oposição à Renovação”.

Oposição à Renovação
Figura mista que conjuga a caducidade e a denúncia (ML e MC).
 Pois é necessário decorrer um certo lapso de tempo (previsto no contrato) para que
possa ocorrer a sua extinção, mas, tal está dependente de declaração negocial contrária
à sua renovação.
Ex: oposição à renovação dos contratos de locação (art. 1054º e 1055º).

As partes convencionam que o contrato vigora por períodos limitados de tempo e preveem a
sua renovação tácita, se não houver declaração em contrário.
 A oposição à renovação consiste nessa declaração e caracteriza-se por ser um exercício
livre, não retroativo, mas que só pode ser exercida num certo lapso de tempo antes de
ocorrer a renovação do contrato.
o Ex: contrato de arrendamento que diz que se renova se ninguém se opuser –
esta oposição antes era considerada denúncia, agora não

40
Fundamenta-se no princípio da proibição das obrigações perpétuas – serve para libertar dum vínculo
ad eternum

38
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Vicissitudes que afetam as obrigações em si mesmas

Dação em Cumprimento
Realização de prestação diferente da que era, em princípio, devida pelo devedor.
Pressupostos – art. 837º:
 Realização de prestação diferente da que era devida – prestação que devedor realiza
não coincide com aquela a que está vinculado, não podendo, à partida, produzir a sua
exoneração ao abrigo do art. 762º/1. Extingue-se a obrigação, então, quando o devedor
realiza um aliud em relação ao que está vinculado.
o Diz apenas respeito às prestações de coisa com natureza diferente ou pode
abranger outro tipo de prestação diferente da devida? Não há limitação no
artigo, portanto não se exclui a sua aplicação à extinção de outro tipo de
obrigações genéricas ou obrigações de prestação de facto. Também podem ser
prestações de coisa especifica, como de coisa fungível, de prestação de um
facere.
o Só se verifica com a efetiva realização da prestação.
 Acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação – aliud pro
alio invito creditore solvi non potest.
o Se for solidária, a dação pode ser realizada apenas por um dos devedores (art.
523º) ou a apenas um dos credores (art. 532º) – para ocorrer a extinção da
obrigação nas relações externas bastará o consentimento das partes na dação
em cumprimento.

Não está sujeita a forma especial.

Efeito da extinção da obrigação – extingue a obrigação que visou satisfazer, exonerando o


devedor.
 Se a dívida que ela visou extinguir não existia efetivamente, tem o autor da dação o
direito de recorrer à repetição do indevido nos termos gerais do art. 476º/1
 Garantia contra vícios da coisa ou do direito transmitido – autor da dação tem que
conceder ao credor uma garantia pelos vícios da coisa ou do direito transmitido nos
termos prescritos para a compra e venda.
o Em alternativa à garantia pelos vícios o credor pode optar pela prestação
primitiva e pela reparação dos danos sofridos – uma vez que a obrigação
anterior se tinha extinto, esta opção do credor implicará um verdadeiro
renascimento da obrigação, com todas as suas garantias e acessórios.

Invalidade da dação em cumprimento – relação obrigacional primitiva continua a subsistir, com


todas as suas garantias, salvo se entretanto se tiver verificado um facto extintivo autónomo.
 Exceção do art. 839º que impõe o renascimento da obrigação do devedor para evitar
um seu enriquecimento injustificado

Natureza jurídica da Dação em Cumprimento


Várias teses na doutrina:
 corresponderia a uma compra e venda ou troca (mas a dação tem como finalidade
extinguir a obrigação e esta tem finalidade de transmitir onerosamente a propriedade);

39
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 corresponderia a novação (mas a dação não visa substituir a obrigação antiga por uma
nova, conforme se impõe na novação, é antes uma forma diferente de extinguir a
obrigação antiga, que se mantém até à efetiva realização da dação);
 corresponderia a contrato modificativo da relação obrigacional (mas a dação tem por
base a receção de uma prestação diferente da devida e não propriamente uma
modificação da prestação devida);
 corresponderia a um contrato de cumprimento (acordo entre devedor e credor para
que a prestação entregue valha como cumprimento para exonerar a obrigação mas isto
só é admissível se se considerar a natureza contratual do cumprimento)

 MC: qualifica-se apenas como uma forma convencional de extinção das obrigações
através da realização de uma prestação diversa da devida.
 ML: o que justifica o regime do art. 838º é a definição da dação em cumprimento como
um contrato oneroso, pelo qual se extingue uma obrigação através da realização
perante o credor de uma prestação diferente da devida como contrapartida da sua
renúncia a receber a prestação primitiva.
 Dário: é uma figura de extinção das obrigações com base no acordo das partes.

Dação pro Solvendo


Art. 840º - - Dação em função do cumprimento consiste na execução de uma prestação diversa
da devida para que o credor proceda à realização do valor dela e obtenha a satisfação do seu
crédito por virtude dessa realização.
 Devedor entrega coisa ao credor para o credor a alienar e realizar receita necessária
para satisfação do seu crédito.
 O crédito subsiste até que o credor realize o valor dele – através da venda do bem e etc.

Distingue-se da Dação em Cumprimento pois:


 não se verifica uma causa distinta de extinção das obrigações e há apenas um meio de
facilitar o cumprimento das obrigações (é qualificada como um negócio preparatório
do cumprimento pois não exonera imediatamente o devedor e proporciona ao credor
uma forma mais fácil de obter a satisfação do seu crédito através da transformação em
dinheiro da prestação realizada41)
 extinção é desencadeada por atuação do credor em cumprimento de um encargo
conferido pelo devedor e não é a atuação deste que provoca a extinção da obrigação

Pode ser qualificada como um mandato conferido pelo devedor ao credor para proceder à
liquidação da prestação realizada e se pagar com o dinheiro obtido por essa via – mandato não
pode ser revogado pelo devedor, salvo ocorrendo justa causa (art. 1170º/2)

41
Pode ser interessante para o devedor se não tiver liquidez – pode evitar que devedor seja
acionado para o cumprimento.

40
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Alteração das Circunstâncias


Situação em que se verifica a contradição entre dois princípios jurídicos:
 Autonomia privada – que exige o pontual cumprimento dos contratos livremente
celebrados
vs.
 Boa fé – que torna ilícito uma das partes exigir da outra o cumprimento das suas
obrigações sempre que uma alteração do estado de coisas posterior à celebração do
contrato tenha levado a um desequilíbrio gravemente lesivo para uma das partes.

Modificação dum estado de coisas que existia ao tempo que as partes celebraram e
que foi importante para as partes celebrarem esse negócio jurídico.

Evolução histórica da figura


Direito Romano – o pacta sunt servanda imperava pelo que não se admitia esta figura
Idade Média influenciada pelo Direito Canónico – não se poderia ser indiferente às
circunstâncias
 Bártolo: cláusula rebus sic stantibus – admitia condicionar o contrato à manutenção do
estado de coisas subjacente à sua celebração42.
o Inicialmente esta doutrina exigia que as partes previamente estipulassem esta
cláusula (pelo que a alteração das circunstâncias ficava exclusivamente
dependente das prévias cautelas negociais das partes deixando-as
desprotegidas contra aquelas que não previram).
Séc. XIX – período liberal em que não se admitia a consagração da cláusula
Séc. XX – Alemanha apercebeu-se que era essencial ter esta cláusula43 que se desenvolveu
doutrinária e jurisprudencialmente
 Surge a Teoria da Base do Negócio
o Oertmann – existência ou verificação de determinadas circunstâncias com base
nas quais é construída a vontade negocial (Geschäftsgrundlage)
 Mais subjetivista
o Locher – circunstâncias necessárias para a obtenção do fim negocial com os
meios negociais
 Mais objetivista

o Jurisprudência desenvolveu o conceito e a base do negócio abandona a


fundamentação contratual e passa a ter antes um fundamento no princípio da
boa fé (§242 BGB)
o Na reforma do Direito das Obrigações Alemão consagrou-se os avanços
doutrinários e jurisprudenciais contemplando uma disposição acerca da
alteração das circunstâncias (§313 BGB)

Base do Negócio – circunstancialismo decisivo para a celebração do negócio e que sem


este circunstancialismo não se celebraria o contrato nos termos em que foi celebrado

Qual a diferença entre o Erro sobre a base do negócio e a Alteração de circunstâncias?

42
Contratos obrigam as partes se as circunstâncias se mantiverem as mesmas
43
Devido à hiperinflação que sofreu e etc.

41
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Art. 252º/2 tem uma solução subjetivista – situação em que o que está em causa é a
falsa representação da realidade que as partes tinham no momento da celebração do
negócio.
o Coloca apenas um problema de erro, com a consequência da anulação do
contrato, e não a possibilidade da sua resolução ou modificação segundo juízos
de equidade.
 Art. 437º tem uma solução objetivista – situação das circunstâncias efetivamente
existentes no momento da celebração do contrato e que depois se alteram, resultante
de factos que as partes não podiam prever

 Ex1: A arrenda casa de B para ver passar o desfile – mudança do percurso já estava
decidida mas A e B não sabiam (erro); mudança do percurso foi posterior ao negócio
(alteração).
 Ex2:A contrata com B para ser levado de Lisboa a Almada – aviso sobre encerramento
da ponte já tinha sido emitido (erro); ponte encerrou devido a um suicida depois das
partes contratarem (alteração)

Requisitos/Pressupostos para a Alteração de Circunstâncias (art. 437º)


1. Ocorra alteração sobre a base do negócio – alteração das circunstâncias em que as
partes fundaram a decisão de contratar 44
2. Caráter anormal dessa alteração – situação imprevisível para as partes e que não cabe
dentro do que as partes razoavelmente podiam contar. Ex: guerras, revoluções,
alterações legislativas inesperadas
3. Alteração provoca lesão para uma das partes – surgimento dum desequilíbrio
significativo entre as prestações contratuais, não se justifica aplicar este instituto se não
houver danos significativos para uma das partes45
4. Lesão seja de tal ordem que se apresente como contrária à boa fé a exigência das
obrigações assumidas – torna-se ilegítimo ao credor, por força da boa fé, exigir a
prestação numa situação em que os limites relativos ao equilíbrio das prestações no
contrato se encontram ultrapassados.
 Exigência das obrigações nesse quadro de alteração de circunstâncias atenta
contra a boa fé
 Quando necessário, o Tribunal sindica se é conduta leal de uma das partes
manter o que estava tendo em conta a alteração ocorrida
5. Não se encontre coberta pelos riscos próprios dos contratos – a decisão de contratar
envolve uma assunção de riscos, não se podendo recorrer à alteração das circunstâncias
sempre que a lesão sofrida não ultrapasse o círculo dos riscos considerados como
normais naquele contrato

44
A crise económica conta como alteração de circunstâncias?
 Dário = STJ: em princípio não. Seria preciso que a crise tivesse um grande impacto determinado
sobre esse contrato
45
DOF: não se aplica esta figura quando há uma afetação negativa de ambas as partes. Ex: guerras e etc.

42
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Exclusão da aplicação do regime em caso de Mora da Parte Lesada


Art. 438º - nega-se à parte lesada o direito à resolução ou modificação do contrato se esta se
encontrava em mora no momento em que a alteração das circunstâncias se verificou46.
 Coerente com o regime pois a mora implica a inversão do risco (art. 807º) pelo que se o
devedor não cumprir atempadamente por causa que lhe é imputável, assume o risco de
verificação de posteriores desequilíbrios contratuais, não podendo impor ao credor uma
distribuição do risco distinta.

Efeitos/Consequências
 Resolução do Contrato – art. 432º e ss. – em que não é imperativo o recurso a juízo pois
tal apresentar-se-ia como desconforme com o nosso sistema de resolução do contrato
para onde o art. 439º remete e cujas regras se aplicam.
o Não se pode decretar imediatamente a resolução sem averiguar primeiro se a
outra parte não lhe impõe antes a modificação do contrato segundo juízos de
equidade (art. 437º/2)
 Modificação do Contrato segundo juízos de equidade – as partes podem acertar
extrajudicialmente o seu conteúdo47 ou recorrer ao Tribunal.

Fundamento
 Autonomia Privada – só se respeita a vontade das partes se tudo se mantiver como
estava quando foi acordado. Se tal se modificar, o mais coerente com a vontade das
partes é alterar-se.
 Justiça equitativa – visa uma reposição do equilíbrio contratual, tomando em atenção
qual a vontade das partes no contrato e qual a eficácia concreta que a alteração teve na
esfera da parte lesada.
o Ordem jurídica valoriza a equivalência de prestações e atende à justiça material
e não só à formal

46
Mas exige-se situação de mora efetiva, pelo que a impossibilidade temporária de cumprimento (art.
792º) não exclui o recurso à alteração das circunstâncias.
47
Embora não se exige a negociação entre as partes como existe com as cláusulas de hardship típicas da
common law

43
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Consignação em Depósito
Possibilidade reconhecida ao devedor, nas prestações de coisa devida, sempre que a não possa
realizar com segurança por qualquer motivo relacionado com a pessoa do credor ou quando este
esteja em mora (art. 841º/1), o devedor pode exonerar-se pelo depósito judicial da prestação.
 Art. 841º/2 – faculdade do devedor (não é obrigatória)
 Pelo art. 1024º e ss. do CPC o depósito é necessariamente judicial.
Evita-se que o devedor seja considerado como estando em incumprimento.

Pressupostos:
 Obrigação tem por objeto prestação de coisa, podendo ser quantia pecuniária ou outra
coisa de qualquer natureza;
 Não ser possível realizar a prestação por um motivo relativo ao credor.

Surge processo judicial entre consignante e credor, instituindo-se uma nova relação
substantiva, uma vez que o depósito da coisa devida implica o surgimento de obrigações a cargo
do consignatário.

Distinguem-se 3 tipos de efeitos:


1. Instituição de relação processual entre consignante e credor – a consignação em
depósito é necessariamente judicial, cujo processo averigua a justificação da
consignação e a sua idoneidade para extinguir a obrigação.
 Depósito é feito, em princípio, na Caixa Geral de Depósitos (art. 1024º/2 e 839º
e ss. CPC).
2. Instituição de relação substantiva triangular entre consignante, consignatário e credor
– relação semelhante à do contrato a favor de terceiro (art. 443º), uma vez que através
dela o credor adquire imediatamente um direito à entrega da coisa por parte do
consignatário (art. 844º), mas devedor pode exigir que a coisa consignada não seja
entregue ao credor enquanto este não efetuar uma contraprestação (art. 843º).
Consignante à partida é o devedor, mas pode ser um terceiro (art. 842º). Pode revogar-
se a consignação mediante declaração a pedir a restituição da coisa consignada (art.
845º)
 Relação de cobertura entre consignante e consignatário.
 Relação de atribuição na obrigação que consignante visa satisfazer.
 Relação de execução mediante a qual o credor recebe o direito sobre o consignatário.
3. Eficácia da consignação sobre a obrigação – durante o decurso do processo a obrigação
persiste, recaindo, no entanto, sobre o credor o risco de perda ou deterioração da coisa,
sempre que se verifique ter o devedor motivo legítimo para proceder à consignação
(caso não seja assim a consignação é ineficaz e não se alteram as regras da distribuição
do risco).
 Pendência do processo atribui ao devedor uma exceção dilatória, permitindo-
lhe recusar a prestação enquanto não for julgada definitivamente a ação.
 Com a consignação declarada válida por decisão judicial, libera-se o devedor
como se tivesse realizado a prestação na data do depósito (art. 846º)48 e credor
vê o seu direito de crédito extinto, adquirindo outro, da parte do consignatário.

48
Eficácia extintiva da consignação retroage até ao momento do depósito

44
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Compensação
Situação em que duas pessoas são reciprocamente credoras e devedoras uma da outra – duas
pessoas estão reciprocamente obrigadas a entregar coisas fungíveis da mesma natureza.
Respetivas obrigações são extintas, total ou parcialmente, pela dispensa de ambas de realizar
as suas prestações ou pela dedução a uma das prestações da prestação devida pela outra parte.
 Vantagem de produzir extinção das obrigações dispensando a realização efetiva da
prestação devida (facilita os pagamentos) e de permitir ao declarante extinguir a sua
obrigação mesmo que não tenha qualquer possibilidade de receber o seu próprio
crédito, por insolvência do seu devedor (garantia de créditos).

Pressupostos (art. 847º):


1. Existência de créditos recíprocos – cada uma das partes tem de possuir na sua esfera
jurídica um crédito sobre a outra e só pode operar a compensação para extinguir a sua
própria dívida. Está vedada a utilização de créditos alheios (art. 851º).
2. Fungibilidade das coisas objeto das prestações e identidade do seu género – no caso
em que cabe a uma das partes determinar o objeto da prestação (como nas obrigações
genéricas e alternativas) só se poderá recorrer à compensação se a escolha implicar
prestações de coisas fungíveis homogéneas para ambos os créditos
3. Exigibilidade do crédito que se pretende compensar – tanto os créditos do declarante
como o do declaratário têm de ser judicialmente exigíveis (tem que ser possível obter a
realização coativa da prestação)49, o crédito tem de estar vencido (declarante não pode
pretender compensar uma dívida ainda não vencida, se o prazo tiver sido estabelecido
em benefício do credor)

Diversidade de lugares de cumprimento não constitui obstáculo à compensação, ainda que o


declarante seja obrigado a reparar os danos sofridos pela outra parte (art. 852º/2).

Art. 853º - Créditos Não Compensáveis

Art. 848º: basta a declaração, ainda que extrajudicial, de uma das partes à outra.

Compensação Convencional
Compensação não resulta de decisão unilateral de uma das partes e sim por acordo celebrado entre elas
– Contrato de Compensação – partes podem convencionar outras formas de compensação não havendo
reciprocidade de créditos.
 Natureza deste contrato é controvertida na doutrina. ML: tipo contratual autónomo (não dupla
remissão de créditos e não dupla e recíproca dação em cumprimento) através do qual se vem
suprir reciprocamente o cumprimento de duas obrigações.

49
Não obstante a que o declarante utilize a compensação para extinguir dívidas naturais suas com créditos
civis que tenha sobre o declaratário, uma vez que em relação a elas se verifica a possibilidade de
cumprimento, ao qual a lei atribui causa jurídica quando espontaneamente realizado (art. 403º). Ex: eu
tenho dívida de obrigação natural e posso extinguir com obrigação civil de x; eu tenho obrigação civil e
não a posso extinguir com obrigação natural de x (seria uma forma de realização coativa de uma obrigação
natural)

45
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Novação
Extinção de uma obrigação em virtude da constituição de uma nova obrigação que vai substituir
a primeira.
 A razão determinante da extinção da obrigação é a constituição de um novo vínculo,
que embora se identifique economicamente com a obrigação extinta, tem uma fonte
jurídica diferente.

Objetiva – as mesmas partes da obrigação (art. 857º), mas havendo mudança no objeto da
obrigação (em vez de mil euros dou fruta) ou alteração na sua fonte (em vez de devolver mil
euros, conservo a quantia a título de mútuo)
Subjetiva – uma das partes é substituída (art. 858º), tanto o credor como o devedor

Tem de haver sempre a intenção das partes de extinguir a obrigação anterior, criando uma
nova em sua substituição – sem este elemento não há verdadeiramente uma novação (e sim
uma modificação ou transmissão da obrigação primitiva).
 Figura semelhante à dação em cumprimento, mas não é apenas substituição de uma
prestação por outra; há nova prestação – muda a data do cumprimento, pois
extinguindo-se a primeira, é a partir da nova obrigação que se contam as novas datas.

O facto jurídico que desencadeia a extinção da obrigação antiga é simultaneamente o facto


jurídico que constitui nova obrigação – dependência da causa jurídica do facto extintivo da
obrigação antiga em relação ao facto constitutivo da nova obrigação e vice-versa
 A antiga só se extingue porque veio a constituir-se uma nova e só se constitui uma nova
porque a antiga foi extinta.

Pressupostos:
1. Declaração expressa da intenção de constituir nova obrigação em lugar da antiga – só
há novação se as partes exteriorizarem o animus novandi (art. 859º), não se admitindo
presunções de novação nem poder essa declaração resultar tacitamente de factos
concludentes.
2. Existência e validade da obrigação primitiva – novação e ineficaz se a obrigação que vai
ser substituída não exista ou esteja extinta ao tempo que a segunda foi constituída, ou
quando seja declarada nula ou anulada (art. 860º/1).
 Não é negócio abstrato e tem como pressuposto a existência prévia de uma
obrigação.
3. Constituição válida de nova obrigação – art. 860º/2

Efeitos (art. 861º e 862º)


Verifica-se uma substituição de vínculos obrigacionais, não operando a continuidade entre eles,
portanto o novo crédito não recebe as garantias relativas à obrigação antiga (elas extinguem-se:
art. 861º50) nem lhe podem ser opostos os meios de defesa desta (art. 862º)

50
Ex: não pode invocar exceção do não cumprimento

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Remissão
Vulgar “Perdão da Dívida”
Consiste no acordo entre o credor e o devedor pelo qual aquele prescinde de receber deste a
prestação devida.

Pressupostos:
1. Existência de prévia obrigação – consiste num negócio extintivo de obrigações, pelo
que a sua celebração depende da existência da obrigação que visou extinguir.
2. Contrato entre credor e devedor pelo qual aquele abdica de receber a prestação
devida por este – reveste-se necessariamente de caráter contratual, não apenas a
declaração do credor abdicando de receber a prestação, mas também a aceitação dessa
abdicação por parte do devedor51

Para o credor é um ato de disposição do seu direito.


Para o devedor é uma atribuição patrimonial geradora de enriquecimento – normalmente
realizada a título de liberalidade, embora possa ocorrer quando o credor se tenha
comprometido a remitir a dívida, uma vez verificados certos pressupostos.

Efeitos:
 Entre as partes – extingue a obrigação, ficando o devedor liberado e o credor perde
definitivamente o seu direito de crédito.
o No caso de pluralidade de partes temos de distinguir se foi concedida a todas
ou só a algumas delas.
 Todos: extingue a dívida para todos os sujeitos (remissão in rem);
 Apenas em benefício de alguns: só produz efeitos para estes mantendo-
se para os restantes (remissão in personam).
 Remissão in personam tem efeitos distintos consoante o
regime específico de pluralidade das partes na relação
obrigacional aplicável.
 Obrigações conjuntas – extingue-se frações da
obrigação em relação às partes em que ocorreu
remissão, não sendo afetada a obrigação quanto aos
demais sujeitos;
 Obrigações solidárias – obrigação de um extingue-se e
mantém-se a dos restantes (art. 864º)
o Obrigações plurais indivisíveis – art. 865º - pode remitir com um, continuando a
exigir dos outros, tendo de os compensar
 Remissão aproveita a terceiros – art. 866º

Quem renuncia a uma garantia normalmente não pretende abdicar do crédito (art. 867º)

51
Forma de contrato (art 863º) – subjacente a ideia de que ninguém deve ser beneficiado contra a sua
vontade.

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Confusão
Consiste na extinção simultânea do crédito e da dívida em consequência da reunião, na mesma
pessoa, das qualidades de credor e devedor (art. 868º).
 Obrigação é vínculo intersubjetivo que pressupõe a alteridade dos sujeitos que estão na
posição de credor e devedor – desaparecendo essa alteridade tanto o crédito como a
dívida se extinguem; créditos anulam-se.
o Não é confusão, em sentido técnico, quando se verifica na mesma pessoa as qualidades
de proprietário e titular de direito real menor: confusão imprópria em que se reúnem na
mesma pessoa as qualidades de devedor e garante da obrigação.

Pressupostos:
1. Reunião na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor – ocorre em virtude da
aquisição por uma das partes da posição que a outra ocupava no crédito ou no débito.
Ex: herda de quem tinha uma dívida; fusão de pessoas coletivas; endosso dos títulos de
crédito.
2. Não pertença do crédito e da dívida a patrimónios separados – art. 872º. Ex: nos casos
da heranças, ele continua a responder pela sua obrigação até à liquidação e partilha,
altura em que se extingue a separação de patrimónios
3. Inexistência de prejuízo para os direitos de terceiro – art. 871º/1

Extinção da obrigação por confusão extingue também todos os acessórios do crédito (sinal,
cláusula penal, obrigações de juros) e todas as garantias que asseguravam o seu cumprimento
(quer sejam prestadas pelo devedor, quer por terceiro).

A lei admite a hipótese da confusão se desfazer, renascendo a obrigação com os seus


acessórios, mesmo em relação a terceiro – art. 873º
 Quanto às garantias prestadas por terceiro por motivos de tutela da confiança, elas
mantêm-se extintas salvo se ele conhecesse o vício (art. 873º/2).

Obrigações solidárias – art. 869º


A, B, C devem 900 a D. D pode exigir 900 de qualquer um deles. C sucede a D. C pode agora exigir
600 de A ou de B (desconta-se a sua parte)

Obrigações plurais indivisíveis – art. 870º

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES


Créditos e dívidas correspondem a situações jurídicas de natureza patrimonial, pelo que não
deve haver obstáculos à sua transmissão, quer integradas num património, quer isoladamente.
 A própria posição contratual, com o conjunto de situações jurídicas que a compõe pode
ser transmitida (art. 424º e ss.)

As obrigações podem ser transmitidas mortis causa e inter vivos (garantia constitucional no
art. 62º CRP)
Situação importante numa economia de mercado, para que o credor possa realizar capital e que
este circule.

Cessão de Créditos – art. 577º e ss.


Forma de transmissão dum crédito que opera por virtude de um negócio jurídico, normalmente
um contrato celebrado entre o credor e terceiro.
 Designa a transmissão dos créditos com fonte negocial e não a própria fonte que a
desencadeia.

Credor, sem autorização do devedor, cede a terceiro o seu crédito.


 Pode corresponder a uma realização de capital ou uma liberalidade (oferece um crédito
que tem sobre outrem) pode também extinguir obrigações (A tem crédito sobre C e
deve a B; cede o crédito a B e fica saldada a dívida com este).
 Ex1: Banco A empresta 50 a B, a serem recebidos em 10 anos com x taxa de juro; Banco A quer
já o dinheiro e cede o crédito a C, realizando logo esse capital; C tem que esperar 10 anos mas
tem o benefício dos juros
 Ex2: G escreveu livro y e acordou com editora H que aceita publicar pagando 25% do vendido por
semestre; G quer já esse dinheiro; cede o crédito
 Ex3: venda de direitos de imagem a TV por cada jogo, se quer o dinheiro mais cedo pode ceder.

Regime da cessão de créditos não constitui um tipo negocial autónomo, mas sim uma disciplina
de efeitos jurídicos, que podem ser desencadeados por qualquer negócio transmissivo (art.
578º/1)
 É causal – tem uma causa subjacente (de um negócio jurídico) e é em função dele que
se define o regime (art. 578º/1)

Art. 577º - não se exige o consentimento do devedor nem tem que prestar qualquer colaboração
para que ocorra.
 O crédito é situação jurídica suscetível de transmissão negocial, sem que o devedor
tenha de outorgar ou de alguma forma colaborar no negócio transmissivo.

Figura com 3 sujeitos


 Cedente – o que cede o crédito
 Cedido – o devedor
 Cessionário – o que adquire o crédito

49
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Relação trilateral com vários negócios jurídicos:


 Negócio jurídico constitutivo do crédito de uma pessoa sobre outra;
 Negócio jurídico que deriva da própria cessão de crédito – pode assumir qualquer tipo
negocial (art. 578º)

Requisitos:
1. Negócio jurídico que estabelece a transmissão do crédito – pode ser qualquer
negócio jurídico, sendo que a cessão de créditos se apresenta como um efeito desse
mesmo negócio, no qual se integra.
 Requisitos e efeitos da cessão definem-se em função do negócio que lhe serve
de base (art. 578º), nos termos do qual e estabelece ainda a garantia quanto à
existência e exigibilidade do crédito (art. 587º) – é através do regime do
negócio-base que se determinará qual a forma e o regime jurídico aplicável à
cessão de créditos52.
i. É quanto ao regime do negócio-base que se resolve a admissibilidade
da cessão de créditos futuros53 – é possível a cessão onerosa de créditos
futuros de negócio jurídico já celebrado ou ainda não celebrado (pelo
art. 880º respeitando o requisito do art. 280º/1); impossível a cessão
gratuita de créditos futuros (art. 942º/1).
ii. Crédito cedido tem que vir a ser efetivamente constituído – senão a
cessão não produz efeitos
iii. Forma – depende do tipo contratual adotado
 Exceção no art. 578º/2.
 Normalmente é contrato pelo que para a sua formação é necessário a
declaração negocial do cedente como do cessionário.
i. Pode ser negócio unilateral nos casos em que é admitido (art. 457º),
contratos a favor de terceiro (art. 443º/2), casos sem a declaração do
cessionário (art. 444º/1).
 Negócio que serve de base à cessão de créditos é sempre causal – cessão de
créditos não é forma abstrata de transmissão do crédito – conclusão vem do
art. 578º e do art. 585º (que permite ao devedor opor ao cessionário todas as
exceções que possuía contra o cedente).
 Se negócio transmissivo vier a ser declarado nulo ou anulado, determina que
haverá anulação da transmissão do crédito.

2. Inexistência de impedimentos legais ou contratuais a essa transmissão /


Cedibilidade – há casos em que a lei proíbe a cessão de créditos (ex: art. 420º e 2008º).
 Alguns créditos litigiosos (art. 579º), embora fora esses casos pode haver cessão
de créditos litigiosos devendo processar-se a substituição processual do
cedente pelo cessionário.
i. O que fundamente a proibição é o receio de especulação.

52
Compra e venda: consensualidade (art. 219º e 875º a contrario); Doação: por escrito (art. 947º/2);
Factoring: por escrito e com faturas e suporte documental (art. 7º DL 171/95)
53
Discussão sobre em que esfera jurídica surge a posição que resulta da cessão de créditos futuros. ML:
teoria da transmissão – crédito passa primeiro pelo património do cedente, pois o cessionário só virá a
adquirir o direito, se o cedente, sem a cessão, o tivesse igualmente adquirido, ficando assim o crédito
sujeito ao mesmo regime que aquele que teria na esfera do cedente. (vs. teoria da imediação)

50
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Consequência é a nulidade (art. 580º).


 Pode também advir de acordo entre as partes – pacto bastante restringido pela
lei, uma vez que a sua eficácia depende da oponibilidade ao cessionário do seu
conhecimento no momento da cessão (art. 577º/2)54

3. Não ligação do crédito, em virtude da própria natureza da prestação, à pessoa


do credor – implicaria sujeitar o devedor a ter que realizar uma prestação a pessoa
diferente daquela em relação à qual a prestação se encontra, por natureza, intimamente
ligada. Natureza da prestação constitui um obstáculo à cessão do crédito – pelo que se
for realizada será nula (art. 294º).
 Créditos constituem-se para satisfação das necessidades pessoais do devedor
(como art. 2003º ou 2018º);
 Créditos resultam de uma dependência pessoal entre o credor e o devedor;
 Créditos em que se toma especial consideração pelas qualidades do credor.

Efeitos
Em relação às partes:
A. Transmissão do crédito do cedente para o cessionário – cessão opera por efeito do
contrato (determinando logo este a transmissão do crédito para o cessionário).
 Não é logo oponível a terceiros e só produz os seus efeitos mediante notificação
do devedor (art. 583º).
 Devedor decide qual a cessão que prevalece em caso de dupla alienação do
mesmo crédito (art. 584º).
 Diferenciação temporal em que a eficácia da cessão em relação às partes opera
no momento da celebração do contrato, mas em relação ao devedor ou a
terceiro só ocorre em momento posterior quando tem conhecimento dela.
 Se for só transmitida parte do crédito, ambos os créditos terão o mesmo grau e
nenhum deles terá preferência no pagamento.
B. Transmissão das garantias e acessórios do crédito – art. 582º55 (são transmitidas a fiança,
consignação de rendimentos, penhor, hipoteca, privilégios creditórios e etc. Direito de retenção
não é transmitido pois maioria da doutrina entende que se trata de garantia ligada intimamente
à pessoa do cedente)
C. Transmissão das exceções – art. 585º - devedor não pode ser colocado em posição pior
do que a que estava antes da cessão, pelo que é lógico que conserve todas as exceções
que possuía contra o cedente e as possa invocar perante o cessionário.56
D. Garantia prestada pelo cedente – art. 587º - garantia diz respeito à exigibilidade do
crédito, sendo garantia por vícios do direito, que varia consoante o negócio que serve
de base à cessão;
 Cedente garante existência de crédito (art. 587º/1)

54
O pactum non cedendo não coloca o crédito fora do comércio jurídico e apenas gera uma obrigação
para o credor de não o transmitir a outrem, cuja oponibilidade ao adquirente depende do facto de este
conhecer essa convenção no momento da cessão.
55
Dário: consequência do princípio do que é acessório segue o principal
56
Dário: cessionário assume um risco que se resolve via culpa in contrahendo

51
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Pode também assegurar-se a solvência do devedor, por declaração expressa,


em que o cedente responde uma vez comprovada a insolvência do devedor e
apenas nos limites do prejuízo sofrido pelo cessionário (art. 587º/2)
E. Obrigação de entrega de documentos e outros elementos probatórios do crédito – art.
586º

Em relação ao devedor: art. 583º + 585º


 Exige-se o conhecimento efetivo e não basta o desconhecimento por negligência.
 O cessionário que veja o seu direito afetado pode apenas instaurar uma ação de
enriquecimento sem causa contra o cedente (por intervenção através da disposição
eficaz de um direito alheio).

Em relação a terceiros:
 Cessão produz efeitos independentemente de qualquer notificação, pelo que, a partir
da sua verificação, os credores do cessionário podem executar o crédito ou exercer a
ação sub-rogatória.
o Caso em que a cessão em relação a terceiro depende da notificação ao devedor
– art. 584º (fator que determina qual dos diversos cessionários irá efetivamente
adquirir o crédito – resolve-se a questão da prevalência das cessões de créditos
não com base na prioridade do negócio celebrado, mas na notificação que
venha a ser realizada ao devedor ou na aceitação por ele emitida57)

Sub-Rogação – art. 589º e ss.


Situação que ocorre quando um terceiro cumpre uma obrigação alheia, cujo crédito respetivo
não se extingue, mas antes se transmite por efeito desse cumprimento para o terceiro que
realiza a prestação ou que forneceu os meios necessários para o cumprimento, ficando o
terceiro com os direitos originários do credor sobre o devedor.
 Fica investido na posição do credor originário = fica sub-rogado na posição do credor
originário

Sub-rogação Convencional
Pelo Credor (art. 589º)
2 requisitos:
1. Cumprimento da obrigação por terceiro
2. Declaração expressa anterior do credor a consentir a sub-rogação – declaração
expressa mas sem exigência de forma especial
 Sem algum destes requisitos não se verifica a sub-rogação pelo credor, a
declaração do credor só por si não é eficaz para determinar a transmissão do
crédito.

57
ML: interpretação restritiva do artigo, considerando que a aceitação pelo devedor de uma das cessões
só releva para a escolha do cessionário, nos casos em que o devedor desconhece a existência de várias
cessões.

52
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

pelo Devedor (art. 590º)


Não exige o consentimento do credor originário.
Declaração expressa (art. 590º/2) até ao momento do cumprimento

Sub-modalidade: Art. 591º - sub-rogação em consequência de empréstimo efetuado ao devedor.


 Não é o terceiro que cumpre a obrigação, mas antes o próprio devedor.
 Como há cumprimento com dinheiro ou outra coisa fungível emprestada por terceiro, é
admitida a sub-rogação, desde que haja declaração expressa, no documento do
empréstimo de que a coisa se destina ao cumprimento da obrigação e de que o mutante
fica sub-rogado nos direitos do credor
o Exigência de forma especial: declaração de sub-rogação tem de constar em
documento do empréstimo

Sub-rogação Legal (art. 592º)


Quando a sub-rogação resulta por força da lei, sempre que o terceiro tiver garantido o
cumprimento ou estiver diretamente interessado na satisfação do crédito.
 Requisito geral é o interesse de terceiro no cumprimento
o Acontece sempre que a não realização da prestação lhe possa acarretar
prejuízos patrimoniais, independentes das consequências do incumprimento
para o devedor ou o cumprimento se torne necessário para acautelar o seu
próprio direito.

1. Caso em que terceiro é garante da obrigação: sendo fiador ou tendo penhor ou hipoteca para
garantia do cumprimento, a lei determina a sub-rogação como efeito direto do cumprimento,
independentemente de outros requisitos.
2. Tem interesse direito na satisfação de um crédito: tutela-se o interesse de terceiro em
realizar a prestação em lugar do devedor, para evitar prejuízos. Ex: A arrenda a B; A subarrenda
a C. Se A não paga, B despeja, mas, será C a sofrer o despejo. Logo, C tem interesse que A pague
a renda a B, para não ser despejado. C pode pagar a B e fica credor de A.
 Ao interesse direto do terceiro tem que corresponder um interesse próprio com
conteúdo económico prático.

Efeitos da Sub-rogação (art. 593º)

Transmissão das garantias e acessórios do crédito (art. 594º)


Transmissão do crédito por sub-rogação acarreta igualmente a transmissão de todas as suas
garantias e acessórios.
 Só não se transmitem aqueles que são inseparáveis da pessoa do credor.
 Pela mesma remissão, a sub-rogação deve ser notificada ao devedor ou ser por ele aceite quando produza
efeitos em relação a ele (art. 583º/1)

Art. 594º não faz remissão para o art. 585º - Transmissão das Exceções
 Enquanto a cessão de créditos tem por base um negócio celebrado entre cedente e
cessionário, a que o devedor é estranho, não podendo ficar prejudicado por tal. No caso
da sub-rogação, ela pode ser desencadeada pelo próprio devedor, logo, seria contrário
à boa fé a possibilidade de ele opor exceções ao sub-rogado.

53
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

o Há transmissão das exceções: nos casos em que a sub-rogação se realiza sem


intervenção do devedor, pois ele não pode ser colocado em pior situação do
que aquela em que se encontrava. Aplica-se art. 585º por analogia
o Não há transmissão das exceções: sub-rogação pelo devedor.

Distinção de Figuras Afins


Direito de Regresso
 Art. 524º - cumpre-se dívida solidária e constitui um direito ex novo na esfera jurídica
naquele que está obrigado pelo direito de regresso de outrem
o Na Sub-rogação não há uma dívida conjunto e o terceiro para uma dívida alheia
e não própria. Há uma transmissão da situação jurídica, não sendo nenhuma
nova criada.

Cessão de Créditos
 Ambas situações de transmissão de créditos.
 Finalidade de realizar património
o Sub-rogação tem a finalidade de compensar alguém que pagou no lugar do
devedor originário.
 Não é preciso a satisfação do crédito58
o Pressupõe a satisfação do crédito.
 Há custos para o credor originário
o A medida em que a sub-rogação se realiza é na medida do que o credor foi
satisfeito.
 Há garantia de existência e exigibilidade do crédito (art. 587º/1)
o Não é necessário essas garantias
 Resulta de ato negocial
o Resulta de ato não negocial, o cumprimento, podendo dar-se por efeito da lei

Sub-rogação do credor ao devedor


 Art. 606º e ss. – é garantia em que o credor se substitui ao seu devedor no direito de
crédito que este tem sobre um terceiro.
o Não há transmissão e um apenas faz o pagamento por outro

Natureza Jurídica da Sub-rogação


Discussão doutrinária quanto a natureza da sub-rogação.
Figura está numa zona de fronteira: há 3º a cumprir, o que em princípio extinguira a obrigação,
sendo que há uma transferência do direito de crédito.

Doutrina avançou com as seguintes hipóteses: será uma novação do crédito? uma forma de
indemnizar terceiros? é transmissão?
Dário:
 o crédito transferiu-se com todas as garantias e acessórios (art 594º) pelo que não é
uma situação nova, sendo a mesma situação jurídica com um outro titular;

58
ML: Sub-rogação é insuscetível de se verificar em relação a prestações futuras, ao contrário da cessão
de créditos.

54
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 terceiro não sofreu um dano pois pagou porque quis, logo não pode ser encarado como
indemnização;
 não se verifica uma extinção da obrigação que subsiste e tem de ser cumprida a outrem.
 É uma transmissão

Menezes Leitão: adere à tese clássica que qualifica a sub-rogação como uma transmissão legal
do crédito baseada num ato jurídico não negocial que é o cumprimento. Não há extinção do
crédito pois há uma circunstância que determina a transmissão do crédito – podendo essa
circunstância ser a declaração prévia de sub-rogação pelo credor ou devedor, ou facto de o
próprio terceiro ter interesse direito na satisfação do crédito.

Assunção de Dívida – art. 595º e ss.


Situação que ocorre quando há uma transmissão singular de uma dívida através de um negócio
jurídico celebrado com terceiro.
 Dívida transfere-se de um devedor originário para um terceiro

Art. 595º/1/a – Assunção Interna – transmissão da dívida resulta do efeito conjugado de dois
negócios jurídicos:
 Contrato de transmissão entre antigo devedor e novo devedor;
 Negócio unilateral do credor a ratificar esse mesmo contrato – de forma expressa ou
tácita declarada a qualquer das partes.
o Se não existir ratificação o contrato entre o novo e antigo devedor não é eficaz
em relação ao credor pelo que não pode valer como assunção de dívida.
o A partir da ratificação a assunção de dívidas torna-se definitiva, deixando as
partes de a poder distratar (art. 596º/1).
o Tem eficácia retroativa – considera-se a dívida transmitida no momento da
celebração do contrato, uma vez que será essa, normalmente, quer a vontade
do credor quer a vontade das partes outorgantes do contrato de transmissão.
 Na assunção liberatória a retroatividade atribuída à ratificação tem que
ser plena.

Art. 595º/1/b – Assunção Externa – transmissão da dívida resulta apenas de um negócio


jurídico:
 Contrato entre novo devedor e credor, ao qual o antigo devedor pode ou não dar o seu
consentimento.
Em virtude do princípio do contrato, poderá ser determinada a liberação da obrigação do
primitivo devedor sem que ele dê o seu acordo?
 Pode, uma vez que o credor pode aceitar a prestação de terceiro (art. 767º) que
determina essa liberação.

Art. 595º/2
Assunção Cumulativa – antigo devedor não é liberado da sua obrigação, mantendo-se
solidariamente obrigado perante o credor.
Assunção Liberatória – antigo devedor vê a sua obrigação extinta, ficando o novo devedor
exclusivamente obrigado.

55
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Diferença destas situações depende da declaração de exoneração do primitivo obrigado, que


compete ao credor – exoneração pelo credor é essencial para que o antigo devedor fique
liberado perante ele.59

Requisitos da Assunção de Dívida


1. Consentimento do credor – sempre necessário, uma vez que o credor só conta com
o património do devedor para garantir a realização do seu crédito, pelo que poderia ser
prejudicado pela transferência da obrigação a terceiro, uma vez que poderia confrontar-
se com um novo devedor numa situação patrimonial muito pior do que aquela que
possuía o antigo devedor.
a. Assunção interna – mediante ratificação;
b. Assunção externa – celebração pelo próprio credor de contrato com o novo
devedor.
c. Também é necessário o consentimento do novo devedor – que é uma das partes
no contrato de assunção de dívida.
2. Existência e validade do contrato de transmissão – tem que existir um contrato
transmissivo da obrigação que não seja nulo ou anulável.
a. A assunção só produz efeitos com a constituição efetiva da obrigação.
b. Art. 597º - se for declarado nulo ou anulado, renascem as obrigações anteriores.
 Articula-se com o art. 598º pela teoria contratual (proposta por Mota
Pinto e que ML aceita) em no caso de invalidade do contrato de
transmissão aplicam-se as regras gerais relativas à proteção do credor
como declaratário, evitando-se assim que se lhe aponham causas de
invalidade relativas na relação entre o novo e antigo devedor60

Regime da Assunção de Dívida


Assunção Cumulativa
 na relação interna entre devedores, há a transmissão da dívida do antigo para o novo
devedor;
 na relação externa para com o credor, há resposta solidária de ambos os devedores.
o Solidariedade imperfeita pois apenas o novo devedor será efetivamente
devedor da obrigação, pelo que o direito de regresso só se poderá realizar num
sentido – se antigo devedor efetuar pagamento ao credor, terá direito de
regresse sobre o novo devedor61.

Se antigo devedor invocar contra o credor um meio de defesa pessoal, esse meio de defesa
aproveitará ao novo devedor, extinguindo a sua obrigação.
Prescrita a obrigação do antigo devedor ele não terá direito de regresso sobre o novo.

Assunção Liberatória – novo credor torna-se o exclusivo devedor, ficando o antigo devedor
totalmente liberado da sua obrigação.

59
E não se confunde com a ratificação, podendo não resultar automaticamente desta.
60
Assunção interna seria negócio trilateral em que havia proteção do credor como declaratário comum
dos negócios jurídicos.
61
O que não acontece se for ao contrário.

56
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 O conteúdo da obrigação não se altera em virtude da transmissão pelo que o novo


devedor permanece vinculado à mesma prestação que era devida pelo antigo devedor.
o Substitui-se apenas a pessoa do devedor, em virtude da transmissão da
obrigação para este.
 Art. 600º - o credor só pode demandar o primitivo obrigado em caso de insolvência do
novo obrigado se tiver reservado uma cláusula para tal.

Transmissão das Garantias e Acessórios – art. 599º - novo devedor assume todo o vínculo
obrigacional como realidade complexa.
 A transmissão das garantias do crédito para o novo devedor só pode ser feita por
consentimento do garante, uma vez que conceder a alguém uma garantia é algo feito
em razão da pessoa e da situação patrimonial do devedor, portanto, alterando-se a
pessoa do devedor, alteram-se os pressupostos que estiveram na base da conceção da
garantia e das condições em que ela é prestada.
o Credor deverá assegurar a existência desse consentimento do garante antes de
permitir a transmissão da dívida.
 As garantias legais são conservadas, apesar de se ter alterado a pessoa do devedor, salvo
se o credor concordar em renunciar a elas.

Meios de Defesa – art. 598º - assunção de dívida é ato abstrato que protege o credor contra
quaisquer exceções derivadas da relação causal entre o antigo e novo devedor. Ex: se antigo
devedor prometeu ao novo devedor uma prestação como contrapartida da assunção de dívida,
o novo devedor não pode opor ao credor a resolução do contrato fundada no incumprimento
ou a exceção de não cumprimento.
 Os meios de defesa existentes na relação credor-antigo devedor poderão ser opostos
pelo novo devedor, uma vez que ao transmitir-se a dívida, ele passa a responder
exatamente nos mesmos termos em que respondia o antigo devedor, desde que
anterior à assunção de dívida e não constituam meios de defesa pessoais do antigo
devedor.

Natureza Jurídica da Assunção de Dívida


Várias têm sido as teorias avançadas: substituição nos direitos de crédito; cessão, do património
passivo ou da qualidade de devedor; contrato a favor de terceiro; sub-rogação convencional;
disposição do direito do credor; oferta coletiva ou do contrato com o credor

ML: tese da oferta ou tese contratual – contrato de assunção tem de ser entendido como uma
mera proposta ao credor, não existindo se a mesma for recusada. Fonte da assunção de dívidas
seria contrato trilateral, formado através de uma oferta coletiva do primitivo devedor e do
assuntor e de uma aceitação dessa mesma oferta pelo credor.

Cessão da Posição Contratual – art. 424º e ss.


Normalmente os créditos e as dívidas não constituem situações jurídicas absolutamente
independentes e enquadram-se numa situação jurídica mais vasta correspondente ao conjunto
de direitos e deveres, faculdades, poderes, ónus e sujeições que resultam para uma parte, em
virtude da celebração de determinado contrato -> Posição Contratual

57
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

 Transmissão da Posição Contratual – o que se transmite já não são créditos ou dívidas


individuais, mas sim a própria posição contratual globalmente considerada. Tem um
alcance mais vasto do que o conjunto de situações jurídicas que a compõe, em virtude
de permitir a conservação de todas as conexões e dependências entre elas.
o Cessão da Posição Contratual: transmissão por via negocial da situação jurídica
complexa de que era titular o cedente em virtude de um contrato celebrado
com outrem

Figuras Afins
Subcontrato – sempre que alguém celebra determinado contrato com base na posição jurídica
que lhe advém de outro contrato do mesmo tipo, já previamente celebrado com outrem.
 Depende da existência de um contrato anterior do mesmo tipo, em relação ao qual se
apresenta em situação de dependência.
o Um dos contraentes, com base na posição jurídica que lhe é atribuída por um
contrato já existente, contrata com terceiro um contrato com conteúdo
semelhante.
o Ex: sublocação (art. 1060º e ss., art. 1088º e ss.), subempreitada (art. 1213º) e
submandato (art. 1165º e 264º)
 A primitiva relação contratual permanece inalterada, apenas se verificando a
constituição de um novo vínculo que se coloca em relação ao anterior numa situação de
dependência.

Adesão ao Contrato – terceiro vem a constituir-se como parte numa relação contratual já
existente entre duas pessoas, participando da posição jurídica já atribuídas a uma delas, sem
que esta a perca, por sua vez, a titularidade dessa mesma posição.
 Torna-se co-titular dos créditos dum parceiro contratual.
 Não ocorre qualquer transmissão e há apenas a agregação de outro sujeito a uma
posição contratual que é conservada.

Sub-rogação legal forçada – art. 1057º - transmissão da posição contratual não resulta de um
negócio jurídico entre cedente e cessionário, nem sequer exige o consentimento do outro
contraente.
 É uma transmissão imposta por determinação legal, que é independente da estipulação
das partes, baseando-se num facto jurídico stricto sensu.
 Operada ex lege e determinada por facto que a lei atribui.

Figura com 3 sujeitos


 Cedente – o que cede a posição contratual
 Cessionário – o que adquire a posição contratual
 Cedido – a contraparte do cedente, no negócio originário

Contrato trilateral para cuja perfeição se exige o concurso de três declarações negociais: negócio
jurídico de base, transmissão, consentimento do cedido.

58
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Requisitos da Cessão da Posição Contratual


1. Contrato a estabelecer a transmissão da posição contratual (celebrado entre
cedente e terceiro/cessionário) – existência de negócio jurídico unitário, tendo por
objeto a transmissão da posição contratual em globo, entre cedente e cessionário.
 Tem que haver (obviamente) consentimento do cessionário.
 Qualquer negócio pode servir de base à cessão da posição contratual (compra e
venda, doação, sociedade, dação em cumprimento, pro solvendo) tem carácter causal, não
constituindo a cessão da posição contratual um negócio abstrato.
 Cessão da posição contratual apresenta-se como efeito desse negócio, no qual
se integra (art. 425º)
2. Consentimento dessa cessão por parte do outro contraente (cedido) –
normalmente a cessão da posição contratual é feita primeiramente entre cedente e
cessionário, ficando depois a sua eficácia dependente da aceitação do outro contraente
(art. 424º/1 e 2).
 Requisito constitutivo do negócio da cessão da posição contratual, que não se
conclui sem ele – declaração negocial necessária à perfeição do negócio62.
3. Inclusão da referida posição contratual no âmbito dos contratos com
prestações recíprocas – parece que o CC limita esta transmissão aos contratos
sinalagmáticos, sendo impossível transmitir a posição contratual de mutuário, doador
ou de parte em contrato bilateral em que uma das prestações já tenha sido executada
(contrato bilateral tornado unilateral).
 Mota Pinto, Menezes Cordeiro e Menezes Leitão vêm questionar esta posição
(defendida por Antunes Varela, Galvão Telles, Almeida Costa e etc.) e não há
razões para restringir a cessão da posição contratual aos contratos bilaterais
ainda não executados pois há todo um conjunto de situações que não pode ser
transmitido de outra forma, pelo que tem de se admitir a cessão da posição
contratual.

Efeitos da Cessão da Posição Contratual


Relação entre Cedente e Cessionário
 Transmissão da posição contratual do cedente para o cessionário – que abrange todo o
complexo de situações jurídicas de que era titular o cedente em relação ao contrato.
o Se for um contrato de execução continuada, a cessão abrange apenas as
situações jurídicas correspondentes ao período de tempo posterior à
celebração do negócio de transmissão.
o Não se pode transmitir a faculdade de anulação do negócio que é inseparável
da pessoa do cedente; o mesmo com a faculdade de anulação.63
 Garantia prestada pelo cedente relativamente à posição contratual transmitida – art.
426º - garantia varia consoante o negócio que serve de base à cessão.
o Em princípio, cedente apenas responde pela existência e titularidade da posição
contratual transmitida, pelo que não poderá ser responsabilizado se o cedido
deixar de cumprir as suas obrigações contratuais perante o cessionário ou se
torna insolvente; mas isso pode ser estipulado (art. 426º/2)

62
Que pode ter requisito suplementar de eficácia – notificação ou reconhecimento da cessão (art. 424ç/2)
63
E o cedente pode pedir a anulação após a transmissão, desde que não o faça em abuso de direito.

59
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Relação entre Cessionário e Cedido


É perante o cessionário que o cedido deve exercer os seus direitos e cumprir as respetivas
obrigações.
 A posição do cessionário perante o cedido pode não coincidir integralmente com a
posição do cedente pois pode não abranger todos os direitos e obrigações originados
por aquele contrato (uma vez que alguma das obrigações já possa ter sido cumprida e
etc.; nas relações contratuais duradouras só se abrange as prestações posteriores).
o Não corresponde à vontade das partes fazer abranger na cessão da posição
contratual os direitos de crédito e as obrigações quem embora ainda não
extintos, já o deveriam estar, em virtude de ter ocorrido o respetivo
vencimento.
o Se for obrigação duradoura, o contraente cedido poderá exercer perante o
cessionário os direitos correspondentes, mesmo que o seu fundamento tenha
ocorrido em cata anterior à cessão.
 Quanto às garantias aplica-se analogicamente o art. 599º.
 Meios de defesa – art. 427º e aplicação analógica do art. 598º também.
o Se o contraente cedido tem que consentir na cessão para que ela tenha lugar, não se vê
como podem deixar de lhe ser aplicadas as disposições relativas à proteção do
declaratário, quer nos casos de reserva mental, quer nos casos de anulação do contrato
por erro ou dolo.

Relação entre Cedente e Cedido


Do cedente já se transferiu completamente a posição contratual para o cessionário.
 Exceções que não se transmitem: se cedente tiver causado danos ao cedido, antes da
cessão, a obrigação de indemnização pelos danos mantém-se na sua titularidade; pode
excluir-se a liberação das obrigações por acordo entre as partes – mesmo que se
convencione a não liberação do cedente perante o cessionário, não deixa de se
considerar ter ocorrido uma cessão da posição contratual, o que justifica concluir-se que
o cedente perde a sua qualidade de parte no contrato, assumindo perante o cedido um
novo vínculo de garantia de cumprimento de uma obrigação alheia
o Perde a qualidade de parte limitando-se a assumir uma nova obrigação de
garantia de cumprimento das obrigações do cessionário.

Natureza Jurídica da Cessão da Posição Contratual


Várias têm sido as teorias avançadas: cessão de créditos e novação das dívidas; renovatio
contractus; cessão de créditos e da assunção de dívidas; transmissão unitária.

ML e MC: cessão da posição contratual implica a transmissão do complexo unitário que constitui
a posição contratual, levando à aquisição por terceiro da posição jurídica do cedente e ao
consequente ingresso deste na parte contratual. Não pode ser decomposto pois é uma
disposição sobre a relação obrigacional complexa por parte do cedente e do contraente cedido
e um negócio obrigacional em relação ao cessionário.

Dário: não há um feixe de contratos pois a lei estabelece um regime único em que há uma
transmissão completa na totalidade.

60
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

GARANTIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES


O direito de crédito, enquanto realidade jurídica, recebe a proteção do direito
 Proteção: Garantia das Obrigações – ordem jurídica assegura ao credor os meios
necessários para realizar o seu direito, em caso de incumprimento por parte do
devedor.

Garantia Geral é o Património do Devedor


Garantias Especiais são reforços da garantia geral
 Garantias Pessoais – atribuição a outrem a responsabilidade pela dívida
 Garantias Reais – atribuição a um dos credores de uma preferência na satisfação do seu
crédito sobre determinado bem, que pode pertencer ou não ao património do devedor

Art. 601º e ss.


Art. 601º: Garantia geral comum a todos os credores – possibilidade dos credores se pagarem,
em pé de igualdade, à custa do património do devedor.
 Credores contam, para a satisfação dos seus créditos, com a possibilidade de executar
o património do devedor e proceder à venda judicial dos seus bens para se pagarem
com o produto dessa venda – apenas para bens suscetíveis de penhora

Categorias de bens em que há limitação à penhorabilidade (art. 735º e ss. CPC)


1. Bens impenhoráveis – coisas/direitos inalienáveis (ex: habitação, direito à herança,
domínio público de pessoas coletivas públicas, bens mínimos de economia doméstica e
etc.)
2. Bens relativamente penhoráveis – não podem ser penhorados salvo se tiverem garantia
real sobre eles (ex: instrumentos de trabalho e etc.)
3. Bens parcialmente penhoráveis – salários (até 1/3), coisas necessárias à sobrevivência,
contas bancárias, pensões e etc.

Património autónomo/separado – património que só responde sobre dívidas próprias


 Ex: herança (art. 2070º); EIRL64 (DL 248/86); bens comuns do casal

Art. 602º: por acordo das partes é possível limitar a responsabilidade a apenas alguns bens do
devedor.

Art. 603º: pode ser um terceiro a definir, mas apenas em dívidas anteriores à liberalidade.

Art. 604º: Par condicio creditorum – plena igualdade entre credores que, verificando-se a
insuficiência de património, ela repercute-se proporcionalmente em cada um dos créditos
através do correspondente rateio.
 Na ausência de garantias especiais (art. 604º/2)65 todos os credores desfrutam nos
mesmos termos do património do devedor como sua garantia comum – se não chegar

64
Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada – possibilidade de alguém afetar bens a certa
atividade económica e só esses bens afetados respondem por essa atividade
65
Causas legítimas de preferência onde se inclui a penhora (art. 821º e ss. CPC) que permite ao exequente, a
partir da sua declaração, adquirir prioridade em relação a outros credores que não disponham de garantia real sobre bens
penhorados. Deixa de constituir preferência no caso de ser declarada falência do devedor (art. 140º/3 CIRE)

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

para todo, este terá de ser rateado e cada credor recebe uma parte proporcional ao
montante do seu crédito.

Qualquer diminuição do património do devedor envolve prejuízo para os credores – terão


menos património para executar e se pagarem.
 A lei atribui aos credores diversos instrumentos destinados a evitar qualquer
diminuição do património do devedor
 Meios de conservação da garantia geral

Declaração de Nulidade – art. 605º


Credor pode impugnar, por sua iniciativa, os atos nulos do devedor.
Faculdade dos credores poderem invocar em Tribunal a nulidade dos atos praticados pelo
devedor que os possa prejudicar, independentemente do momento em que esse ato ocorreu e
quais as consequências para o património do devedor.
 Do art. 286º resulta que qualquer interessado já poderia invocar a nulidade e a todo o
tempo, pelo que esta norma não seria necessária.
o Dário: corolário desta norma

Vem esclarecer que não se exige efetiva intenção fraudatória – sendo permitida até a invocação
da nulidade de negócios celebrados mesmo antes da constituição do crédito.
Art. 605º/2: declaração de nulidade tem efeito retroativo pelo aproveita a todos,
determinando-se a restituição de tudo o que tiver sido prestado ou desse valor (art. 289º)

Sub-rogação do Credor ao Devedor – art. 606º


Credor pode substituir-se ao devedor nos créditos deste para com terceiro
Denominado tradicionalmente como Ação sub-rogatória
 Indireta – art. 606º e ss. – consiste num meio de conservação da garantia geral,
credores podem exercer contra terceiro os direitos de conteúdo patrimonial que
competem ao devedor, mas que não atribui qualquer preferência no pagamento aos
credores que a ela recorram, uma vez que se exerce em proveito de todos os credores
(art. 609º)
 Direta – possibilidade de alguns credores exercerem, em proveito próprio, os direitos
que competem ao devedor, para obterem imediatamente a satisfação dos seus créditos,
o que lhes atribui preferência face aos outros. Não é meio de conservação da garantia
geral e existe apenas em situações particulares (mandato sem representação, art.
1181º/2)
 Art. 2067º - credores do repudiante da herança podem aceitar a herança nos termos do
art. 606º e ss. Destroem-se os efeitos do repúdio e não produz reversão dos bens ao
património do devedor.

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Pressupostos da Ação sub-rogatória indireta:


A. Omissão pelo devedor de exercer os seus direitos contra terceiros – reação do credor
contra conduta omissiva do devedor66 em relação a direitos subjetivos que já adquiriu.
Credor pode ter condições ou prazos (art. 607º)
B. Conteúdo patrimonial desses direitos e não atribuição do seu conteúdo exclusivo, por
natureza ou disposição da lei, ao seu titular – excluem-se direitos de natureza pessoal
(ex: requerer o divórcio, investigação de maternidade e etc.) ou que a lei reserva ao
titular (ex: revogação por ingratidão do donatário e etc.)
C. Essencialidade do exercício desses direitos para a satisfação ou garantia do direito do
credor – art. 606º/2; não basta qualquer interesse do credor e exige-se que seja
essencial (demonstrando-se que sem o exercício daqueles direitos se verifica a
impossibilidade de satisfação da obrigação ou de que o património do devedor se
encontra insolvente, permitindo a sub-rogação eliminar ou reduzir essa situação).

Regime
 Art. 608º a contrario – pode ser exercida judicial e extrajudicialmente
 Não podem ser opostos meios de defesa que terceiros tenham contra o credor que se
limita a exercer o direito em substituição do seu verdadeiro titular
o Só valem os meios de defesa contra o devedor.
 Art. 609º: atuação de um beneficia todos os outros credores – determina-se o ingresso
dos bens obtidos no património do devedor, ficando aí sujeitos ao poder de execução
de todos os credores.
o Autor da sub-rogação não adquire qualquer vantagem especial por a ela ter
recorrido.

Impugnação Pauliana – art. 610º e ss.


Atos válidos que são feitos em prejuízo do credor

Meio de credor reagir contra atos do devedor que diminuam o seu património ou agravem o
passivo, de forma a comprometer a satisfação do crédito. Sejam eles:
 Alienação de bens;
 Transmissão de direitos do devedor;
 Renúncia a direitos.

Situações que podem agravar a situação patrimonial do devedor, pelo que o credor pode
reagir contra essa situação se vir que a satisfação do seu crédito está em risco.
 Meio dos credores impugnarem atos dos seus devedores se as suas ações puserem em
causa a satisfação do crédito.

Figuras afins
 Declaração de nulidade – quanto aos bens que tenham sido alienados por atos nulos;
na impugnação pauliana não se tem somente como objeto atos inválidos e os bens que
tenham sido alienados indevidamente. Na declaração de nulidade os bens são
restituídos à esfera jurídica do devedor e lá estão sujeitos a todos os credores, mas na

66
Pelo que se devedor atuar positivamente para prejudicar credor já não é por esta via que se reage e sim
pela Impugnação Pauliana ou Arresto

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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

impugnação não voltam ao património do devedor e o credor pode executar esses bens
onde eles se encontrarem.
 Sub-rogação do credor ao devedor – omissão do devedor que não cobra os créditos a
terceiros, pois sabe que se o fizer depois o credor satisfaz o seu crédito com isso; na
impugnação pauliana reage-se contra atos e não contra omissões.

Valores da figura
Autonomia privada do devedor (ele deve poder dispor do seu património) vs. Satisfação dos
créditos ao credor (credor tem que ter uma garantia que o seu património vai ser satisfeito).
 Impugnação é uma intromissão na liberdade do devedor, embora feita exclusivamente
na medida do necessário para satisfazer interesse do credor.

Requisitos
1. Ato do devedor lesa a garantia patrimonial – põe em causa o interesse do credor sendo
atos que se repercutem em termos negativos no património do devedor.
a. Diminuição do ativo do devedor
b. Aumento do passivo do devedor
 Credor tem de demonstrar que da ação do devedor vai resultar que devedor já
não lhe poderá satisfazer o crédito – não tem de demonstrar a insolvência67 do
devedor e sim que aquele ato em concreto põe em questão a satisfação do
crédito.
 Generalidade de atos de conteúdo patrimonial podem ser objeto de impugnação
pauliana, quer a título gratuito ou oneroso.
o Apenas se exclui os atos pessoais – mesmo que sejam extremamente
onerosos.
o A lei não pode por em causa o domínio da esfera pessoal
 Atos nulos podem ser objeto de impugnação pauliana?
o Sim. Art. 615º/1 – Ex: simulação
o Meio muito mais eficaz que declaração de nulidade – não volta à esfera
do devedor.
 Prestação de garantias também pode ser impugnada.
 Do ato resulta a impossibilidade do credor obter a satisfação integral do crédito
ou agravamento dessa possibilidade – abrange não só os casos em que o
devedor está numa situação de insolvência como os casos em o ato agrave a
impossibilidade fáctica do credor obter a execução judicial do crédito (ex:
devedor aliena bens, fica com o dinheiro da venda que pode facilmente ocultar
ou dissipar)

2. Crédito tem de ser anterior a esse ato – figura visa acautelar a expetativa do credor
quanto aos bens do devedor que seriam a garantia da satisfação do crédito – credor
toma em consideração a situação patrimonial do devedor no momento da constituição
do crédito para efeitos de garantia. Admite-se que credores possam reagir contra atos
posteriores do devedor que afetem a garantia com que o credor contava. Não se estende
aos atos anteriores pois no momento em que o crédito se constituiu esses bens já não
estavam no património do devedor não sendo abrangidos pela garantia patrimonial.

67
ML: e estando o devedor não insolvente ele pode gerir o seu património e dar prioridade a alguns
credores.

64
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

a. Exceção: casos de fraude pré-ordenada – ato doloso de prejudicar a satisfação


do direito do futuro credor; nas vésperas desfaz-se de património

3. Devedor tem de estar de má-fé – art. 612º - para os atos onerosos


a. Exige-se consilium fraudis
i. Dário: consciência de prejuízo68 pode significar que o ato foi praticado
com intenção de prejudicar (dolosamente) ou praticado com
negligência (consciente – sabia que podia prejudicar o credor mas não
o fez com essa intenção)
 STJ (9/5/2002) – Relator Ferreira Girão: basta a mera
representação, o conhecimento negligente da possibilidade da
produção do resultado (o prejuízo causado à garantia
patrimonial do credor).
ii. Como se prova? Através de indícios – data, como foi feito, que pessoas
envolvidas. Tem de ser o credor.
 STJ (14/12/2006) – Relator Ferreira Girão: Conclusão a extrair
de factos que a revelem, pois refere-se à descoberta da real
intenção ou estado de espírito das partes ao emitir a declaração
negocial – o chamado animus contrahendi.
o Não basta, para se excluir a impugnação pauliana, que os
outros devedores solidários ainda mantenham no seu
património bens suficientes para garantir o pagamento da
dívida; pelo contrário, essa suficiência de bens tem de dizer
respeito ao património demandado, sendo, portanto,
irrelevante a eventual suficiência dos patrimónios dos
restantes devedores solidários.
b. Se o ato for gratuito não é necessário a prova da má fé – presume-se que foi
feito de má fé.
i. Não há contrapartida que entra no património do devedor – não se
exige um consilium fraudis por parte do alienante e do adquirente, pois
os interesses em causa num ato gratuito não podem prevalecer contra
os direitos do credor
ii. Impugnação procede mesmo que o devedor e terceiro tenham agido de
boa fé.

Art. 611º - ónus da prova dos requisitos.


 Repartição: credor tem de demonstrar o valor do crédito; devedor e terceiro (se
quiserem que o ato se mantenha) têm de provar que apesar daquele ato ter sido
praticado ainda há forma de garantir a satisfação do crédito.

Se o bem já entrou no comércio jurídico pode o credor impugnar?


Pressupostos da impugnação pauliana face às transmissões posteriores
 Art. 613º - transmissões feitas por 3º a outros serão impugnáveis se o credor conseguir
demonstrar a má fé em relação a elas. Tem de haver um conluio para impedir a
satisfação do crédito desse credor.
o Requisitos da impugnabilidade verificados quanto à primeira transmissão

68
Prejuízo = impossibilidade prática de satisfação do crédito (há má fé sempre que haja intenção ou
consciência dessa impossibilidade)

65
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

o Na nova transmissão a título oneroso tem de haver má fé tanto do alienante (o


primeiro 3º) como do posterior aquirente
 Na maior parte dos casos o credor já não pode impugnar.

Como pode o credor evitar essas sucessivas transmissões?


Regista-se a impugnação pauliana – art. 3º Código Registo Civil
 Isso já permite que a ação de impugnação pauliana possa ser oposta a todos os
subsequentes adquirentes.
 Melhor defesa do credor que queira fazer valer contra terceiros o resultado da sentença.

Regime
Efeitos em relação ao credor – art. 616º
 Não há anulação de um ato – não há anulação do ato praticado pelo devedor; o credor
apenas pode ir executar o seu crédito no património onde aqueles bens se encontram
o Acórdão Relação de Coimbra (20/11/2012) – Relator Jorge Arcanjo: Porque a
ação de impugnação pauliana é de natureza pessoal ou obrigacional, cuja
consequência não se traduz na anulação, mas a ineficácia do ato em relação ao
impugnante.
 Critério para aferir do requisito da impossibilidade para o credor de
obter a satisfação plena do seu crédito, é o da “avaliação patrimonial
do devedor” depois do ato impugnado.
 Não satisfaz a demonstração da suficiência de bens penhoráveis, a
alegação de que à venda impugnada correspondeu entrada em dinheiro
no património do devedor, por implicar uma “perda qualitativa” da
exequibilidade do património, dada a fungibilidade do dinheiro.
 A suficiência de bens penhoráveis tem de reportar-se ao próprio
demandado, não relevando que outros devedores solidários disponham
de património bastante, pelo que a solvabilidade do avalista não
impede a impugnação do ato do devedor avalizado que obste à
satisfação integral do crédito.

 Não há retorno dos bens ao património do devedor e o credor apenas vai executar os
bens num património dum terceiro.69
o Será satisfeito na medida do interesse. Ex: A deve 1500 a B; A transmite 1000 a
C mas ainda tem 1000; B vai buscar os 1000 de A e 500 que transmitiu a C.
o O ato permanece eficaz na parte que não contende com o crédito do
impugnante.

 Cariz pessoal que visa apenas satisfazer o interesse daquele credor que impugna –
único que beneficia dela; credor impugnante não tem de suportar a concorrência de
outros credores.

69
Credor tem direito à restituição dos bens, na medida do seu interesse, podendo executá-los no
património do obrigado à restituição
 Atribui-se ao credor uma pretensão direta contra terceiro, fundada na aquisição de bens por este
ao devedor e no prejuízo que essa aquisição significou para o credor em virtude da consequente
diminuição da sua garantia patrimonial.

66
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Efeitos na relação entre devedor e terceiro – art. 617º


 Se for ato oneroso – terceiro tem prejuízo. Devedor responde na medida do seu
enriquecimento sem causa; se ele beneficiar dessa situação, enriquecendo à custa do
terceiro, pode ser acionado
o Não constitui ação de anulação pelo que se mantém válido e eficaz o ato
celebrado entre o devedor e o terceiro, ocorrendo apenas uma situação de
responsabilidade do devedor perante o terceiro.70
 Se for a título gratuito – não há responsabilidade do devedor. Terceiro recebeu a título
gratuito e se por algum motivo não podiam ser transmitidos são consequências com que
o terceiro tem de arcar.
o Interesse do credor tem sempre primazia sobre o do terceiro

Prazo de caducidade: art. 618º - 5 anos desde a data do ato impugnável


 Direito não se compadece com instabilidade das situações devido à segurança jurídica
 Além da caducidade, a impugnação pauliana cessa se o devedor adquirir novos bens e
com eles assegurar a garantia patrimonial do crédito.

Natureza da impugnação pauliana


Dário: ação não destrói erga omnes o efeito do ato – não tem caráter real e sim pessoal pois diz respeito
apenas a um credor. Não é indemnização de um dano nem de enriquecimento sem causa (em relação ao credor),
é essencialmente um meio de garantia patrimonial do seu crédito que assenta na ideia de
ineficácia dos atos praticados pelo devedor se prejudicarem o credor, sendo-o na medida que
satisfaça o crédito do credor
 ML: é ação pessoa que visa restituir ao credor, na medida do seu interesse, os bens com
que ele contava para a garantia do seu crédito.

Acórdão Relação de Évora (5/5/2016) – Relatora Albertina Pedroso


 Art. 120º-126º CIRE consagram um regime específico de conservação da garantia patrimonial da
massa insolvente (e, consequentemente, dos credores da insolvência): instituto da resolução de
negócios em benefício da massa insolvente.
 O instituto em apreço permite a reintegração na massa insolvente de activos patrimoniais que
lhe foram subtraídos pela prática de actos (ou omissões) em determinado período de tempo,
sendo que a competência para o exercício da referida resolução pertence por inteiro e
exclusivamente ao Administrador da Insolvência (art.º 123.º do CIRE), não prevendo a lei (ao
contrário do que acontece com a impugnação pauliana – cfr. artigo 127º), que os credores,
paralelamente, instaurem acções com o mesmo objectivo, como ocorre com a declaração de
nulidade de negócios celebrados pelo devedor antes da insolvência.

70
Responsabilidade do devedor para com terceiro não pode ser invocada por este como exceção para
não satisfazer os direitos do credor (art. 617º/2). Após satisfação do direito do credor é que pode ser
exercido os direitos de terceiro contra o devedor.

67
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Arresto – art. 619º e ss.


Apreensão de bens do devedor por receio que ele se desfaça dos mesmos – credor tem justo
receio de perder a garantia patrimonial do crédito.
 Basta que exista o risco do devedor proceder à ocultação, alienação ou dissipação dos
seus bens (ou quaisquer outros indícios de que há possibilidade do futuro
desaparecimento dos bens que constituem a garantia patrimonial do crédito).
 Serve para impedir que os bens sejam objeto de atos de disposição do devedor.

Caráter Excecional do Arresto


 Medida excecional de restrição
 Medida excecional processual – funciona em desvio ao princípio do contraditório.
 Recorre-se ao Arresto sem audiência da parte contrária

Credor requer judicialmente que se decrete arresto sobre os bens que sejam suficientes para
a garantia do seu crédito – art. 408º CPC

Art. 621º - requerente pode ser responsabilizado pelos danos causados: se arresto for julgado
injustificado ou caducar, o requerente é responsável pelos danos causados ao arrestado, quando
não tenha agido com a prudência normal

Arresto pressupõe instauração de novas ações.

Art. 622º - sujeito às regras da penhora (art. 406º/2)

Decretado o arresto, os bens ficam apreendidos para garantia do cumprimento da obrigação,


como se tivessem sido penhorados, o que implica a ineficácia em relação ao requerente dos atos
de disposição dos bens arrestados (art. 622º/1) e a atribuição de preferência sobre os mesmos
bens, a partir da data do arresto (art. 622º2), que é controvertido em penhora na execução do
crédito que constitui garantia (art. 846º CPC).

Preferência fica sem efeito se for decretada a falência do devedor (art. 140º/3 CIRE), por forma
a assegurar a igualdade entre os credores.

Acórdão Relação de Évora (19/5/2016) – Relatora Albertina Pedroso


 2 requisitos cumulativos: a probabilidade da existência do crédito invocado; e a
existência de justo receio de perda da garantia patrimonial.
 Não é necessário que se prove que o crédito seja certo, líquido e exigível, bastando tão
somente que se prove indiciariamente a probabilidade séria da sua existência.
 A determinação do justo receio de perda da garantia patrimonial, não podendo basear-
se em conjeturas, suspeições, simples juízos de valor, ou temores de índole subjetiva do
requerente do arresto, há-se ser feita com recurso ao critério do bom pai de família, do
homem comum, que colocado nas circunstâncias daquele, e em face da conduta do
requerido relativamente ao seu património, houvesse de temer por tal perda.

68
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

GARANTIAS ESPECIAIS DAS OBRIGAÇÕES


Situações em que a posição do credor aparece reforçada para além do que resultaria
simplesmente da responsabilidade patrimonial do devedor.
 Existe garantia especial sempre que exista algum reforço da posição jurídica do credor,
em confronto com a posição de outros credores.
o Reforço é sempre a atribuição de um direito subjetivo com fins de garantia (mas
pode não ser assim: separação de patrimónios e privilégios gerais), o que
interessa é que credor, comparado com outros esteja numa posição de benefício
(quebrando o par condicio creditorum)

Garantias Pessoais – Caráter quantitativo: constitui-se nova obrigação envolvendo outro


património além do património do devedor.
 Direito subjetivo de garantia é uma prestação.
 Sujeita-se um terceiro à possibilidade de execução do seu património, em caso de não
cumprimento pelo devedor – terceiros assumem obrigação própria, através da qual
ficam subsidiária ou solidariamente responsáveis pelo cumprimento da obrigação
principal do devedor. Ex: fiança, aval e garantia autónoma

Garantias Reais – Caráter qualitativo: credor adquire o direito de ser pago com preferência
sobre os outros em relação a bens determinados ou rendimentos desses bens – credores
preferenciais por oposição aos credores comuns/quirografários71.
 Direito subjetivo de garantia é uma coisa.
 Possibilitam ao credor o pagamento preferencial do seu crédito pelo produto da venda
de bens determinados ou rendimentos desses bens, ainda que eles venham a ser
transmitidos para terceiro (onera-se bens determinados independentemente da
titularidade dos bens – direito persegue a coisa). Ex: consignação de rendimentos,
penhor, hipoteca, privilégio e direito de retenção

Garantias especiais que não se reconduzem a qualquer modalidade


Separação de Patrimónios
Casos em que a lei prevê a sujeição de certos bens do devedor a um regime próprio de
responsabilidade por dívidas. Ex: bens adquiridos pelo mandatário no mandato (art. 1184º),
meação nos bens comuns do casal, património da herança em relação ao herdeiro (art. 2070º-
2071º).
 Estabelece-se património autónomo na esfera jurídica do devedor, cujas relações com
o património principal podem passar pela atribuição de preferência aos credores do
património autónomo sobre os outros credores do devedor (no caso das heranças:
esses credores do património separado não podem pagar-se com o património
principal).
 Discute-se se há garantia especial pois pode considerar-se cada massa patrimonial de
per si.
o ML: é garantia especial pois têm um património autónomo afeto à satisfação
dos seus créditos

71
O credor preferencial tem direito de se fazer pagar primeiro pelo que os restantes credores comuns
apenas se podem fazer pagar pelo remanescente desses bens, após pagamento aos credores
preferenciais.

69
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Caução – art. 623º e ss.


Consiste em toda e qualquer garantia que, por lei, decisão judicial ou negócio jurídico, é
imposta ou autorizada para assegurar o cumprimento de obrigações eventuais ou de
amplitude indeterminada.
 Pode ter origem legal, judicial ou negocial.

Cessão de Bens aos Credores – art. 831º e ss.


Devedores entregam património aos credores para eles se satisfazerem com a sua liquidação –
mas não há transmissão da propriedade, apenas se cede os bens para que eles possam ser
vendidos.
 Pode ser todo o património do devedor ou apenas parte dele – objeto do negócio é
universalidade patrimonial e não bens determinados.
o Se forem bens individuais é dação pro solvendo e não cessão de bens aos
credores

Forma especial – contrato art. 832º/1


 Registo terá apenas natureza consolidativa do contrato, permitindo opor a cessão a
terceiros, e não condicionante de eficácia absoluta.

Efeitos – o credor adquire os poderes de administração do bem (art. 834º), devedor fiscaliza;
com exceção de execução do art. 833º

Extinção – pelas formas gerais dos contratos, por cumprimento (art. 835º - efeito liberatório
diferido72) ou desistência da cessão (art. 836º)

Natureza jurídica – ML: caso particular de mandato sem representação (tem essas
características) para alienar no interesse comum de ambas as partes (liquidação visa a extinção
dos créditos do devedor com o pagamento aos credores).

Garantias Pessoais
Fiança – art. 627º e ss.
Terceiro assegura a realização de uma obrigação do devedor, responsabilizando-se
pessoalmente com o seu património por esse cumprimento perante o credor.
Fiador será garante da obrigação com o seu património pessoal.
 ML: constitui-se uma obrigação própria do fiador, pois ele tem o dever de prestar
perante o credor, ainda que a sua função seja apenas a de assegurar a realização do
pagamento pelo devedor.

Garantia depende do património do fiador – normalmente é o património todo do fiador, salvo


se algo diferente for convencionado.

72
Devedor não fica logo exonerado com a cessão de bens – isso só acontece quando os bens forem
vendidos e tendo em conta o valor da venda.
 Isso é o que distingue a Cessão de Bens da Dação em Cumprimento (onde a dívida fica
imediatamente liquidada e aqui tem de se esperar pela venda)

70
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB

Pode ser em relação a algumas dívidas do devedor ou todas (fiança omnibus).


 Nula a fiança omnibus em relação a todas as dívidas futuras – se não for estabelecido
qualquer critério para a determinação das obrigações futuras a afiançar, o negócio não
poderá deixar de ser considerado nulo por indeterminabilidade do objeto (art. 280º).
 Válida a fiança omnibus quanto às dívidas passadas.

Negócio que dá origem à fiança é bilateral – resulta sempre de um contrato entre o fiador e o
credor ou entre o fiador e o devedor (neste caso será contrato a favor de terceiro).
 Pode também ser contrato plurilateral entre as 3 partes.

Forma – a declaração do fiador tem de ter a forma exigida para a obrigação principal (art.
628º/1)

Principais características
 Acessoriedade – art. 627º/2 – obrigação do fiador está na dependência estrutural e
funcional da obrigação do devedor, sendo determinada por essa obrigação em termos
genéticos, funcionais e extintivos, como indicam art. 628º/1, 631º/1, 631º/2, 632º/173,
634º, 637º, 651º
 Subsidiariedade – art. 638º – fiador pode invocar o benefício da excussão, impedindo
o credor de executar o património do devedor.
o Esta subsidiariedade opera mesmo existindo garantias reais (art. 639º).
o Não é característica essencial/imperativa pois o fiador pode renunciar a ela (art.
640º)

Relações entre Credor e Fiador


 Do art. 634º resulta que o credor pode exercer perante o fiador os mesmos direitos
que tem perante o devedor.
 Dispõe dos meios de defesa do art. 637º
 Prescrição não tem característica de acessoriedade (art. 636º)
 Goza do benefício da excussão (art. 638º) – se houver subfiador, ele goza do benefício
da excussão em relação ao devedor e ao fiador (art. 643º).
 Este benefício não é constituído em termos imperativos e pode ser afastado pelas partes
– quando fiador igualmente se responsabiliza como principal pagador.
o Mesmo havendo benefício da excusão, o credor pode demandar o fiador (junto
com o devedor ou não) – art. 641º.
o Se fiador for demandado sozinho, tem sempre a possibilidade de chamar o
devedor à causa.
 O fiador tem outros meios de defesa no art. 642º

Relações entre Devedor e Fiador


 Do art. 644º extrai-se que, apesar da existência de uma obrigação do fiador perante o
credor (art. 627º/1), o cumprimento da obrigação pelo fiador não é equiparado ao

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Nestas situações do art. 632º/1, nos casos de anulabilidade, o facto constitutivo da obrigação tem de
ser efetivamente anulado para que a obrigação do fiador deixe de subsistir. Fiança mantém-se válida se a
obrigação for anulada por falta ou vício da vontade do devedor e o fiador conhecia da causa da
anulabilidade ao tempo em que a obrigação foi prestada – funciona também como garantia de que a
obrigação principal não será anulada

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cumprimento pelo devedor solidário na medida em que não há direito de regresso e


há uma transmissão do crédito para o fiador, com todos os seus acessórios e garantias.
 Há uma forte tutela da boa fé do fiador – art. 645º, 647º - sendo que o devedor pode
responder pelo prejuízo (art. 646º)

 Art. 648º - fiador pode exigir a sua liberação ou a prestação de caução: situações em
que o fiador vê aumentarem os riscos de ser demandado em virtude da prestação de
fiança, ou se torna mais difícil o exercício de sub-rogação contra o devedor, ou a
vinculação do fiador torna-se excessiva, ou por vigorar em termos indefinidos e
prolongados.
o Liberação ocorre com o cumprimento da obrigação do devedor perante o
credor ou com qualquer outra forma alternativa de satisfação do direito deste.

Pluralidade de Fiadores – art. 649º e art. 650º

Extinção da Fiança
 Art. 651º - se se extingue a obrigação principal, a fiança fica sem objeto,
consequentemente extinguindo-se
 Art. 652º
 Art. 653º - quando a conduta do credor vem prejudicar o exercício dos direitos do fiador
 Pode extinguir-se se surgir qualquer causa geral de extinção das obrigações,
independentemente da subsistência ou não da obrigação principal – muito comum a
caducidade.
 Art. 654º - permite o fiador liberar-se da garantia enquanto a obrigação não se constituir
ou se a situação patrimonial do devedor se agravar, pondo em risco os seus direitos
contra este; ou no prazo de 5 anos.

Subfiança
Art. 630º - segunda fiança que é prestada para garantia da obrigação do fiador, estabelecendo-
se um segundo nível de garantia: da mesma forma que o fiador garante a obrigação do devedor
principal, o subfiador garante perante o credor a obrigação do fiador.
 Aplica-se tudo em relação à fiança – pois na realidade é uma fiança como qualquer outra
– particularidade no art. 643º; 650º/4 (garantia é apenas de um fiador)

Retrofiança
Fiança destinada a garantir o eventual crédito que o fiador venha a adquirir sobre o devedor em
consequência da sub-rogação legal que se opera, caso venha a satisfazer essa obrigação (art.
644º e 592º)
 Fiador, para prestar fiança, exige que lhe seja prestada garantia adicional relativamente
ao crédito em que ficará investido no caso de vir a ser chamado a cumprir a sua
obrigação – um terceiro vem prestar ao fiador uma fiança relativa à obrigação do
devedor resultante da sub-rogação.
o Retrofiador não assume qualquer obrigação perante o primitivo credor, mas
apenas perante o fiador, e apenas na hipótese de ele vir a ser sub-rogado no
crédito sobre o devedor.

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Garantia Autónoma
Ocorre quando determinada entidade (normalmente instituição bancária ou financeira –
garantia bancária autónoma) vem garantir pessoalmente a satisfação de uma obrigação
assumida por terceiro, independentemente da validade ou eficácia desta obrigação e dos
meios de defesa que a ela possam ser opostos.
 Não se encontra prevista na lei e a sua admissibilidade resulta do princípio da autonomia
privada – art. 405º
o Está regulada por instrumentos internacionais.

Esta garantia não é acessória e sim autónoma, não dependendo a sua prestação de uma
obrigação principal.
 Distingue-se da fiança pois não se molda sobre a obrigação principal, quer tanto quanto
ao seu objeto, quer quanto aos pressupostos da sua exigibilidade, instituindo obrigação
própria e autónoma, em tudo distinta da do devedor.
É um negócio causal não acessório que comporta em si mesmo uma função económico-social
de garantia.

Garantia autónoma simples – partes limitam-se a prever a autonomia da obrigação do garante


em relação ao crédito garantido.
 Limita-se à derrogação a regra de acessoriedade da fiança e pode dar-se assim que se
verifiquem os seus pressupostos.
Garantia autónoma à primeira solicitação – partes estipulam que o garante não oporá qualquer
exceção à exigência da garantia e irá satisfazê-la imediatamente assim que solicitado pelo
credor.
 Pode ser com ou sem justificação documental (consoante pedido de pagamento tenha
de ser acompanhado de documentação comprovativa do evento que desencadeia a
garantia)

Não tem exigências de forma legalmente estabelecidas.


 ML: deverá ser usada a forma escrita

Regime
Institui, à semelhança da fiança, uma relação triangular: de cobertura (garante-garantido74), de
atribuição (dador de ordem-garantido) e de execução (garante-dador de ordem75).

Mandato de Crédito – art. 629º


Contrato em que uma das partes (encarregado) assume perante outra (autor do encargo) a
obrigação de conferir crédito a um terceiro, em nome e por conta própria, passando o autor do
encargo a garantir esse crédito como fiador.
 Autor do encargo pode por termo ao mandato se o crédito ainda não tiver sido
concedido ou por denúncia se já o foi (art. 629º/2)

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Em que o garante se compromete a emitir uma garantia a favor da pessoa do garantido, exigindo a este
uma contrapartida = pagamento de uma comissão. Garantido também assegura que reembolsará o
garante caso ele tenha que efetivamente prestar.
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Onde releva as figuras da garantia simples e da garantia à primeira solicitação

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 Não é verdadeiro mandato pois falta o elemento da atuação do mandatário por conta
do mandatante, uma vez que o encarregado concede o crédito em nome e por conta
própria.
o Também não é mera fiança para garantia de obrigação futura pois o
encarregante não responde apenas como fiador e ele próprio determina o
surgimento da obrigação principal

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