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Data da publicação: 04/08/2009
Na farta literatura nacional sobre o tema "corpo", de uso corrente nos cursos de
Educação Física, não é difícil encontrar conceitos em que o dualismo parece ser
questionado. Veja-se o seguinte exemplo:
"Nesse instante, esteja você onde estiver, há uma casa com o seu
nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as
chaves. (...) Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e
reprimidas lembranças, é o seu corpo. (...) As paredes que tudo
ouviram e nada esqueceram são os músculos. (...) Nosso corpo
somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa
inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo.(...)
corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza,
representam não a dualidade do ser, mas sua unidade. (Bertherat ,
1986, p 5).
Cabe perguntar-se: é mesmo o velho dualismo que continua presente, ou há uma
espécie de mania de cortar as coisas em pedacinhos e, a seguir, esforçar-se para
uni-los? De início afirma-se que somos duas coisas: um continente – o corpo – e
um conteúdo – a inteligência, os sentimentos e a alma – , assim como o faz a
autora citada, depois, pretende-se que essas duas partes coladas sejam vistas
como uma "unidade"! Isso, sem esquecer que se coloca um continente inferior ao
conteúdo!
Nessa lógica torna-se natural pensar que todo movimento que o homem realiza é
possível porque possui uma estrutura própria para tratar do movimento – a
psicomotricidade ou motricidade – sendo-lhe inerente correr, saltar, escalar,
levantar, carregar, pendurar-se ou arremessar. Em tal modo de raciocínio essas
atividades são consideradas "atos naturais" que representam a necessidade de
atividade do organismo, além do que, sendo naturais, esses movimentos não
precisam ser ensinados e podem ser tratados a partir de simples classificações, tais
como: movimentos locomotores, não locomotores e manipulativos naturais. Harrow
(1978, p 4), afirma: "(...) O homem, esse complicado organismo muscular que
hoje conhecemos, há progredido no transcurso de um longo período evolutivo a
partir de uma vida inferior". A teoria da qual a autora se vale, explica, ademais,
que em todo o caminho dessa evolução a atividade física foi essencial para a
sobrevivência do homem, porque era e continua sendo importante para conseguir
um crescimento e desenvolvimento ótimo.
Mas, o significativo acervo dessas atividades não indica que o homem nasceu
saltando, arremessando ou jogando. Essas atividades foram construídas em certas
épocas históricas como respostas a determinadas necessidades humanas, mas,
entendê-las como atividade não material não significa desencarná-las do processo
produtivo que as originou na relação contraditória das classes sociais. Sua
complexa natureza, sua subjetividade e as contradições entre os significados de
natureza social e os sentidos de natureza pessoal que as envolvem, impede defini-
las e explicá-las como "ações motoras". Além do mais, a inadequação dessa forma
de abordagem objetiva esconder as relações entre a produção de conhecimento e o
processo produtivo e as finalidades do seu uso no âmbito escolar.
MARX, (1986), nos diz que o homem representa, ele próprio, frente à natureza, o
papel de uma força natural. Ele põe em movimento, pelas suas pernas, braços,
cabeça e mãos as forças de que seu corpo é dotado para se apropriar das matérias
e dar lhes uma forma útil à sua vida. Vê-se, então, que essas atividades não
objetivam a "expressão corporal" de idéias ou sentimentos. Elas são a
materialização de experiências ideológicas, religiosas, políticas, filosóficas ou
outras, subordinadas às leis histórico sociais que originaram formas de ação
socialmente elaboradas e, por isso, são portadoras de significados ideais do mundo
objetal, das suas propriedades, nexos e relações descobertos pela prática social
conjunta.
BIBLIOGRAFIA
BORDIEU, P. Programa para uma Sociologia do Esporte. In: Coisas Ditas. SP.
Brasiliense. 1990:207-220.
BERTHERAT, Thérèse e BERSTEIN, C. O corpo tem suas razões 10.ed. SP: Martins
Fontes, 1986.
CAGIGAL, José Maria. Cultura intelectual e cultura física. Buenos Aires: Editorial
Kapelusz, 1979.
GHIRALDELLI JR, P. Notas para uma teoria dos conteúdos da Educação Física. RJ.
In: Reunião SBPC, 43, Rio de Janeiro: SBPC, 1991.
LE BOULCH, Jean. Hacia una ciencia del movimiento humano. Buenos Aires:
Paidos, 1971.
MARX, Karl & ENGELS, Friederich. A ideologia Alemã. São Paulo: Hucitec, 1987.
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