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I CAN'T BREATHE ( EU NÃO POSSO RESPIRAR)

Por Maya Quilolo

O mundo tem um jeito escroto de brincar com os sentidos da gente. Quando tantos
pulmões param de respirar e as pessoas se trancam em suas casas amedrontadas pela morte,
probabilidade de becos e esquinas do cotidiano negro, um grito negro ressoa nos EUA,
inflamado pelo fogo urgente da morte eminente e constatada. A pandemia que atinge o mundo
branco (ainda pouco para o tamanho do mal do mundo), metaforiza o estado permanente a
que as pessoas negras são condenadas: a sufocação do okan, uma parada cardíaca a cada
notícia de morte, a palavra engolida, a revolta sufocada, a mágoa estacionada para sempre na
traquéia.
O ar que nos resta é pouco, mas ainda suficiente para que reclamemos nosso direito a
viver. Uma multidão em Minnesota ressoa o grito negro de FANON (2008, p 42) " realmente
não posso respirar" (FANON, 2008, p 42). I CAN'T BREATHE! (Eu não posso respirar!),
gritam as pessoas negras em Minnesota, proclamando a vida assim rarefeita, para sempre
aprisionada na bolha sufocante da plantation.
No pouco ar do sistema asfixiante restam poucas escolhas, e respirar não é uma delas.
Como anunciado pelo revolucionário martinicano, há tempo vivemos num mundo onde
respirar se tornou impossível, uma vez que a cripta do capitalismo insiste em pousar seus pés
de máquina mortífera sobre nossas gargantas. No tempo da revolta, instante quase
inexpressivo frente ao acúmulo de terror e morte, nossa narinas emergem à superfície,
expandindo os gesto do pouco existir para gritar I CANT BREATHE (Eu não posso respirar).
Que o ar aceso pelos nossos irmãos do norte passe também por aqui, animando as
janela das casas de João Pedros, Ágathas, Kauês, Kauãs, Cleitons, Robertos, Wesleys,
Wiltons, Jenifers entre tantas outras que velam o corpo assassinado de filhos, filhas, pais, tios,
avós. Que Oyá carregue esse sopro negro, corrente de ar atlântica, para atravessar a linha do
equador adquirindo um pouco a moção tropical e suas cinzas amazônicas.
I CAN'T BREATHE (Eu não posso respirar), nenhum de nós pode. Nossa câmara de
gás se realiza todos os dias a cada 23 minutos, não é preciso mais dados para medir, pois a
balança está sempre desequilibrada. Quantos meses o COVID 19 levaria para matar à medida
do Estado brasileiro ? Não sei dizer. Em meio a pandemia, nosso peito de mágoa sufocada
permanece como alvo certo, de vírus ou de fuzil, na política de morte conduzida pelo que
chamamos de democracia. Para vencer a asfixia do sentir negro, nós como povo preto
precisamos alargar ainda mais as narinas e sentir o cheiro ocre, ferruginoso, do sangue que
alimenta a máquina Brasil.
I CAN'T BREATHE (Eu não posso respirar), quero poder gritar. I CAN'T BREATHE
(Eu não posso respirar), alargo as narinas para a dizer. I CAN'T BREATHE (Eu não posso
respirar), digo. I CAN'T BREATHE (Eu não posso respirar), Fanon disse. I CAN'T
BREATHE (Eu não posso respirar) disse George Floyd 46 anos, uma vida interrompida, o ar
esmagado de todos nós, o grito de todos nós, o apelo pelo ar pouco, mas de direito.
Referências :
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Ed. UFBA, 2008

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