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Thich Nhat Hanh `

Transforma‹_;õesV na Consciência
de acordo com a Psicologia Budista
Ê.

Í?-aduçãfl
ODETE LARA

EDITOM PENSAMENTO
São Paulo H
Titulo original: "i'¬nin_sƒarmrition at the Base.

Copvright © 2002 Thich Nhat Hanh.

Co pvright da ed icão bras ile ira © 2003 Ed itota Pens ame nto«Cultri;:-t Ltda.

4” edicao 2012.. ëi» Sumário


Foto do autor de Nang Sao.
l

Aversão vietnamita dos cinqüenta versos e cortesia dejim e Chau Yoder_

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser' reproduzida ou usada de
qualquer forma ou por qiialqtier meio, eletronico ou mecãnico, inclusive iotocõpias, gravacões ou
sistema de armazena-mento em banco de dados, sem permissao por esc_rito, ei-:eeto nos casos de
trechos curtos citados em resenhas criticas ou artigos de revistas-
Introdução _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ . . _ _ . _ _ _ _ _ _
Cinqüenta Versos sobre a Natureza da Consciência _ _ _ _
A Editora Pensamento nao se responsabiliza ,por eventuais mudancas ocorridas nosenderecos E.

convencionais ou eletrõnicos citados neste livro. ' ' =


Comentários
. .F1

Dados Internacionais de C-atalogação na Publicação (CIP) 4 .A


PARTE I. CONSCIÊNCIA NADORA _ _ _ _
_ __ (iÍ;ãn1a1la_ Pirasileiira do Livro, SP, Brasil)
gl 1. A Mente É um Campo _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _
Nlnat l_la1¬il'1, Thich `
I
-n4__í_.:aa
Transformações na consciencia : de acordo com a psicologia budista ,i 2. Variedades de Sementes. _ _. . . . . . . . . . . _ _ _ _ _
Thich Nhat I-lanh ,traduçao Odete Lara. ~ 2. ed. - São Paulo z
Pensamento, 2006. li 5. Sementes que se Manifestain e Sementes que não
L
| se Manifestam _ _ . . . . . . . . _ _ . . _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _
' Título original : Transformation at the base.

= ¡q:mrm_-.4¡4_! _¡-
ISBN 9?3~B5»3l 5-15299 1 4. Transmissão _ _ _ _ _ _ . . _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
i i.Bt1disn1ti f Psicologia 2- Consciência z Aspectos religiosos - Btidisnio 3. 5. Sementes Individuais e Coletivas . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
É Vijãaptimattata 4. Tfingaehara (Butli-saio) I. Título.
Í if 1
P 1 6. A Qualidade das Sementes _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ . _ _ _ _ _
Í asim eoozza-4.3019
I
1211--_ l l l lil
I
7. Energias Formadoras de I-Iabitos _ _ _ . _ _ . . . . _ _ _
indices para catálogo sistemático:
I fi
1. Consciencia 1 Transformações : Psicologia budista 2945019 8. Cainpos de Percepção . . _ . . _ _ _ _ _ _ . . _ _ . . _ _ _ _
Õ
|

Ilíml' I. I lí. _ tm
9. Maturação e a Lei da Afinidade _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . . _ _
Direitos de tradueão para o Brasil 10. As Cinco Universais . . . _ . . _ _ _ . _ _ . . _ _ _ . _ _ _ _
adquiridos com e_itcl'us-ividade pela
EDITORA PEN SAMENTOQULTRIX LTDA. 11. Os Três Selos do Dharma _ . _ _ _ . . . . . . _ . . _ _ _ _
Rua Dr. Mario Vicente, 363 - 042_?0»000 - São Paulo, SP
Fone: (ll) 20669000 - Fax: (ll) 20669008 12. Sementes e Formações _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
l'Í~mail: atendimento@editc:-tapensame1¬ito_co1n_br
“ httpz,f/¬.v¬.va.f_editorapensamento_com_br 15. A Rede de Indra . . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
que se reserva a propriedade literária. desta tradtição.
Foi feito o deposito legal. 14. Transcendendo as Noções _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ . _ _ _ . _ _

15. O Grande Espelho da Sabedoria _ _ _ _ _ _ . . . . . _ _


Impressão e acabamento: Orzgrafic Grafico s Editoria. -
6 TRANsPoRMAçõEs NA eoNserÊNe1A
suivráaro

PARTE II. MANAS . _ _ _ _ . _ _ _ _ _ . _ _ _


57. Causas _ _ _ _ . _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . _ _ 196
16. Sementes de Ilusão _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 1
C1*-D r-*KD
58. Condições _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . _ _ _ . . _ . . . . . . _ . . . . . _ _ . _ _ 198
17. Atividade Mental _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ . . _ _ . . _ _ _ 104
59. Mente Verdadeira _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 200
18_AMarca de um Eu _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ . . _ _ . _ _ 108
40. Natureza Construída, Interdependente e Plena _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 205
19. O Terreno do Salutar e do Não«salutar _ . . _ _ . . _ . . _ _ . . _ _ 114
20. Companheiros de Manas _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ . . _ _ . . _ _ _ 119
PARTE V1. 0 CAMINHO DA PRÁTICA. . _ . _ . . . . _ _ _ . . _ _ _ _ 209
21. Manas Segue Sempre a Consciência Armazenadora _ . _ _ . _ _ 125
41. O Caminho da Pratica . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . _ _ _ . . _ _ 211
22. Libertar _ _ _ _ . _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 125
42. Elor e Lixo _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . . _ . _ . _ _ _ _ 219
45. Intere:-tistência _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 222
PARTE 111. coNsc1ÊNc1A MENTAL _ _ _ _ _ _ _ . . _ _ . . _ . . _ _ _ Lai iv
44. Visão Correta . . _ _ . . . _ _ _ . . _ _ _ . . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ . . _ _ 225
25. Esfera do Conhecimento . . _ _ _ _ . . . _ . . _ _ . . _ _ _ ,, _ . . _ . _ _ 155
45. Plena Atenção _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ 229
24. Percepção _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . _ . _ _ _ . . _ _ . . _ _ . _ _ _ . _ _ . . _ . _ _ 155
46. Transformação na Base . . _ _ . _ . . _ _ . . . _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 254
25. O_1ardineiro _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 144
47. O Momento Presente . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . . . _ . _ _ 241
26. Não-percepção _ _ _ _ _ . . . _ . _ _ . . . _ . . . _ . . _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _- 147
48. Sangha _ _ _ _ . _ _ _ _ . _ _ _ _ . . . . _ _ . . . _ _ . . . . _ . . . . _ _ _ _ _ _ 248
27. Estados Mentais _ _ . _ _ _ _ _ _ . _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ . _ _ 150
49. Nada a Realizar . . . . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ 255

50. Destemor _ _ _ _ . . _ _ _ _ . _ _ _ _ . . _ _ _ _ _ . _ _ _ _ . . . _ . . . . . _ _ 257


PARTE nr. coNsc1ÊNc1A Dos sENT1Dos _ . . . _ _ . _ _ . . _ _ 155
28. Ondas sobre as Aguas _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 157
29. Percepção Direta _ . _ _ _ _ . _ _ . _ _ _ . _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 160
APÊNDICE
Cinqüenta Versos sobre a Natureza da Consciência
50. Formações Mentais _ . _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 164
(no idioma Vietnamita) _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 261

PARTE V. A NATUREZA DA REALIDADE _ _ . . _ . . _ . . . . . _ _ 167


51. Sujeito e Objeto _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ 169

52. O Percebedor, o Percebido e a Totalidade _ . _ . _ _ . _ _ _ _ _ _ _ 176


55. Nascimento e Morte _ . _ _ . _ _ _ _ . . . _ _ . . . . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 180
54. Manifestação Contínua. _ _ _' . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ 185
55. Amadurecimento _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 1891
56. Nem Vir, Nem Ir _ _ _ . _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 195
ëi» Introdução

O MESTRE ZEN VIETNAMITA, Thuong Chieu (“Sempre Brilhando”), que vi-


veu no seculo XII, disse: "Quando compreendemos como a nossa mente
funciona, a pratica torna-se fácil.” Este e um livro sobre a psicologia budis-
ta, oferecido para nos ajudar a ver, pela compreensão da natureza da cons-
ciência, como funciona a nossa mente. Estes Cinqüenta 1%:-sos podem ser
considerados uma especie de mapa para nos guiar no caminho da prática.
Pela meditação, o Buda passou a compreender profundamente a sua pro-
pria mente e, por mais de dois mil e quinhentos anos, seus seguidores
aprenderam como cuidar da mente e do corpo a fim de obter transforma-
ção e paz.
Os Cinqüenta iêrsos constituem a corrente mais importante do pen-
samento budista na India, desde os ensinamentos do Abhidharma do Cã-
non Pali' are os últimos ensinamentos Mahayana, tais como o Avatamsa/ea
Sana. O desenvolvimento da filosofia e da doutrina budistas indianas, em
geral, está dividido em três períodos, Fonte do Budismo, Budismo de Mui-
tas Escolas e Budismo Maliayanaz Os Câšngiienra 1/Ersos contêm elementos
Cle ensinamentos dos três' períodos.
_ O Abhidharma (literalmente, “Super Dharma”) e o te:-rto primitivo da
Fünte do Budismo. Cento e quarenta anos depois do parz'nz'roana (“grande
P3-SSë1gem”) do Buda, a Sanghai' dividiu-se em duas correntes: a dos Sthavi-
ras* e a dos Mahasanghikas. Isso marcou o início da transição para o perío-
Clü de Muitas Escolas, quando dezoito ou vinte escolas surgiram devido, em
muitos casos, a divergências sobre vários pontos da doutrinafi Mais tarde,
(108 Sthaviras surgiram duas subdivisões, os Sarvastivadins e os Sautranti-
kas_ Outro ramo importante do Budismo de Muitas Escolas, os Mahasang-
TR.‹iNsPoRiviAçõEs NA ooNseiÊNciA
iNTnoDUÇão

hikas, foi um dos criadores da terceira fase do Budismo indiano, o Maha-


Vasubandhu é considerado um patriarca e a figura mais proeminente
yana (literalmente, o “Grande Veículo”)_
do Vijñaptimatra ou escola da Pura Manifestação, que teve suas raízes na
Durante a sua existência o Buda foi o Dharma vivo, porém depois que
morreu, seus discípulos ficaram com a tarefa de sistematizar seus ensina- escola Yogachara do Budismo 1\/_Íahayana_““ Ele escreveu comentarios sobre
mentos de modo que pudessem ser posteriormente estudados. Dessa cole- o trabalho de Asanga e também dois tratados originais so bre os ensinamen-

ção, o Abhidharma foi o primeiro, mas o trabalho continuou ao longo dos tos da escola da Pura Manifestação, o 1/;fi`i'ajotiniatrata-oi'insÍJatz'zÉ'a-zêatika
séculos, a medida que a filosofia budista foi se desenvolvendo e se expan- Úflfia-5"".\i'"Ib-=.w"
( Twenty Verse: on the M'aniƒ.-šstation of Coniez'oniness) e o Vijnaptinzatrata-
dindo. No século V, Buddhaghosa realizou um trabalho popular de siste- ni'nzs/oi/ea-/eariÁ='a ( Tbirty 1/errei on t/ae Mfanifiestation oƒMan.'§;%statz'on)_1' _
matização, T/ae Pat/9 ofPntt`ƒieation (1/Íísnaíd/oz'fnagga)_? Mais ou menos na Devido ao treinamento de Vasubandhu em varias tradições podemos

mesma época, o grande monge erudito Vasubandhu compilou um resumo ver como a escola da Pura Manifestação se desenvolveu a partir do Abhi-

e comentarios dos ensinamentos do Buda denominado Yieasarzy ofSnpet dharma da escola Sarvastivada e do proprio trabalho de Vasubandhu, o

Dloarnia (Ao/9id/oarina-zieostoa-Ô/vai/oya) _ E Ao/aidÍJatma-ko:/oa-É)/oa:/oya, que ele escreveu antes de entrar em contato com
o Mahayana Assim fsendo, a escola da Pura Manifestação contém muitos
Vasubandhu praticou com diversas escolas budistas ao redor de Gandin
elementos de ensinamentos não-Mahayana. Os escritos de Vasubandhu têm
hara, na atual região ao norte do Paquistão. Depois, foi para*`o norte da Ca-
servido profunda e eficientemente ao Grande Veículo, mas nunca vierarn a
xemira, que era o centro da escola Sarvastivada (que formou a base de gran-
ser cem por cento Mahayana Dois séculos depois dessa época, a escola-da
de parte do Budismo chinês primitivo). Os Sarvastivadins so permitiam
Pura Manifestação ainda era vista como um “veículo intermediário”. E
que as pessoas de Caxemira estudassem e praticassem com eles, por isso, Va-
subandhu teve que disfarçar-se a fim de receber os ensinamentos deles. De- No século VII, o monge budista chinês Xuanzang (600-664), conhe-
cido como “O Peregrino”, viajou para a India e freqüentou a Universidade
pois de terminar seus estudos com os Saivastivadins, Vasubandhu escreveu
de Nalanda, a principal sede de estudos budistas. Nas crônicas sobre suas
o Aofaióibarina-zêos/oa-Ô/oasf9ya_ Seus mestres viram que ele tinha um grande
viagens pela Índia e Asia Central, Xuanzang comentou que dez mil monges
conhecimento dos ensinamentos de sua tradição, mas não notaram que o
estavam estudando em Nalanda.” Sob a orientação do mestre Shilabhadra,
Ao/ozaäatina-zêos/aa-É/oas/oya continha também ensinamentos da Sautranti-
Xuanzang estudou o Budismo da Pura Manifestação. Shilabhadra, então
ka e de outras escolas.
com 100 anos, era o reitor de Nalanda e o último dos dez “doutores” ilus-
Vasubandhu tinha um meio-irmão, Asanga, que era um consumado
tres da escola da Pura Manifestação. (Vasubandhu era o primeiro. Outro foi
monge budista Mahayana Ele escreveu um tratado importante sobre o
Sthiramatiff Dharmapala, mestre de Shilabhadra, era o nono.)
Abhidharma a partir de uma perspectiva Mahayana, o iwanayanaoanzgrafaa-
Comparando os textos de Sthiramati e Dharmapala, podemos notar
s/aaittaf* Asanga muitas vezes falava sobre a importância dos ensinamentos
Como diferem suas abordagens sobre a Pura Manifestação. O comentário
Maliayana, porém Vasubandhu mantinha-se cético. Ele apreciava os ensina-
Original de Vasubandhu foi também adicionado por Dignaga, que a ele in-
mentos e as praticas da tradição das Muitas Escolas, mas achava que os des-
Cürporou elementos de epistemologia e logica. Esta mistura foi o ensina-
dobramentos posteriores, inclusive o Mahayana, não eram Budismo autênti-
mento que Xuanzang estudou em Nalanda e continuou a estudar mais tar-
co. Então, numa noite de lua cheia, enquanto praticava meditação andando,
Clfif. quando voltou para a China. Ele fundou uma escola baseada nos
Vasubandhu passou por Asanga que estava de pé a beira de uni lago sereno,
ffflflínamentos da manifestação da consciência, a escola Wei Shi (“Pura
entoando os ensinamentos Mahayana De repente, Vasubandhu percebeu a
C0nsciência”) e escreveu um comentário sobre os Yifinta létsos de Vasu-
beleza e a profundidade do Grande Veiculo e, a partir daquele momento, os
biiflfilhu intitulado Standard Wtses on the Eight Conseioiisnessdi Xuanzang
dois irmaos, juntos, passaram a praticar e ensinar o Budismo Mahayana
Pfüpös também a idéia dos- “três reinos” de percepção, um sistema que des-
TaANsEoRMAçõEsiuicoNsoiÊNciA _ iNTRoDUção

creve as qualidades de percepção que correspondem aos diferentes níveis de Os ensinamentos da Pura Manifestação são muito sutis e complexos,
consciência. Ele escreveu um pequeno poema sobre os três reinos de per- 5 A pessoa poderá passar a vida inteira examinando-os em profundidade.
cepção, “The Nature of the Perceived in Itselfwben Not According to Our Por favor, não se deixe desanimar por sua complexidade. Va lentamente.
Mind” (A Natureza do Percebido em Si Mesmo Quando Não Esta de Acor-
Tente não ler muitas páginas de uma vez e se dê o tempo necessario para
do com a Nossa Mente), que esta incluído no Capítulo Vinte e Quatro dos absorver completamente cada verso e o comentario a respeito dele, antes de
Cinqüenta Versos. passar para o texto seguinte. Com consciência plena, generosidade e com-
Uma década depois de Xuanzang, o monge chinês Pazang tentou apre- paixão, esses ensinamentos serão compreendidos de modo fácil e natural.
sentar os atuais ensinamentos da Pura Manifestação, de uma maneira com-
pletamente Mahayana. Eazang foi estudante do Flower Ornanzent Diseoürse
(Aoatanisalea Sutra) e seu importante trabalho, T/oe Wondroüs Meaning oft/oe
Aoatainsa/eaif usa os ensinamentos de Fiower Ornament, especialmente a no-
ção de que “o um contém o todo e o todo contém o um” para reforçar os
Í:

ensinamentos da Pura Manifestação. Mas os esforços de Fazang não dura-


ram muito e, desde aquele tempo, ninguém deu continuidade ao trabalho
de apresentação dos ensinamentos da Pura Manifestação de um ponto de
vista Mahayana Mesmo hoje em dia, eruditos e praticantes lêem os Yirinta
Wrsos sem levar em conta esse importante ensinamento budista Mahayana
Quando eu era monge noviço, estudei e memorizei os 1/inte e os Irin-
ta Wrsos de Vasubandhu em chinês. Ao vir para o Ocidente, compreendi
que esses importantes ensinamentos sobre a psicologia budista poderiam
abrir as portas da compreensão para as pessoas daqui. Assim, em 1990,
compus os Cinqüenta Versos para continuar polindo as joias preciosas ofe-
recidas pelo Buda, Vasubandhu, Sthiramati, Xuanzang, Fazang e outros.
Depois de você ter estudado os Cinqüenta Versos, sera mais fácil entender
os trabalhos classicos dos grandes mestres, e você saberá qual é ou trabalho
que serve de base para cada um dos Cinqüenta Wrsos.
Neste-› livro, procurei apresentar os ensinamentos da Pura Manifesta-
ção de uma maneira totalmente Mahayana. Se, enquanto estiver lendo, vo-
cê não compreender uma determinada palavra ou frase, por favor nãose es-
force muito. Deixe que os ensinamentos entrem em você como se estivesse
escutando uma música, ou assim como a terra se deixa permear pela chu-
va. Usar somente o intelecto para estudar esses versos é como colocar um
plastico sobre a terra; Mas, se deixar que essa chuva de Dharma penetre em
sua consciência, os Cinqüenta Versos lhe oferecerão todos os ensinamentos
do Abhidharma “numa casca de noz”.

'
_ _ iNTRoDUção

NOTAS Traduzido para o inglês por Leo Pruden, da versão francesa de Louis de
La Vallée Poussin, Abhidharma Kos/aa B/vas/oya (Fremont, CA: Asian
Humanities Press, impresso por Jain Publishing Company, 1990).
1. Composto no (atual) Sri Lanka cerca de cem anos depois do tempo em
que Buda viveu, o Cãnon Pali foi o primeiro registro escrito do ensina- Sarngraiøa significa compêndio, resumo ou essência. Um s/oastra é um
1
I
I
mento do Buda. E também conhecido como Yijoita/ea (em sãnscrito: comentário. Este texto foi traduzido para o francês por Etienne Lamot-
Tripitaea, literalmente, três cestas), abrangendo o Sütta-pitaka (em sâns- te, La Sornrne da Grand Ve/øieüfe tiflflsanga (Louvain, Bélgica: Institut
crito: Sütra-pitalea), os discursos originais do Buda; o Vinaya-pita/ea, o Orientaliste, Editions Peeters, 1975), e para o inglês por John P. Kee-
código monástico, e o Ao/aid/oanfzrna-pitaÁ=a (em sânscrito: Aoloidføarrna-
Ti‹-E_1u|=`N- il-¬
1
nan, The Sürnrnary ofT/ae Great Vehicle (Berkeley, CA: Numata Center
for Buddhist Translation and Research, 1992).
pitaka) que é a mais antiga compilação da filosofia e psicologia budistas.
Vijñanavada e Yogachara forarri escolas baseadas no estudo da nature-
2. Esses três períodos datam da época do Buda, da metade do século Vl a
za da consciência do Budismo Mahayana primitivo. Literalmente, Vij-
metade do século V antes de Cristo até mais ou menos o século VII de-
ñana significa “mente” ou “consciência”; geralmente se referem a am-
pois de Cristo. Para ter uma visão geral, consulte o capítulo 4 do livro bas como escdia da Pura Mente ou da Pura Consciência. Esse nome,
de Thich Nhat Hanh, T/ae Heart of the Büdd/na 's Tear/sing (Berkeley, porém, é freqüentemente mal interpretado como algum tipo de idea-
CA: Parallax Press, 1998). lismo. Portanto, no decorrer deste livro, refiro-me a ela como escola da
Pura Manifestação (Vijñaptimatra). O nome da escola Yogachara (lite-
5. Aqui o termo Sangha é usado no seu sentido mais restrito, significan-
ralmente, “emprego da yoga”) decorre da sua ênfase sobre a prática de
do a comunidade de monges budistas ordenados. Entretanto, no uso
“yoga” significando meditação, especialmente as práticas meditativas
atual e no restante deste livro, esse termo se refere a comunidade dos
das perfeições (pararnitas), qualidades essenciais de um bodhisattva_
seguidores do Buda de um modo geral.
1/irnsifatizia significa “vinte” ; trinislaika, “trinta”. 1/zjn'apti quer dizer
4. Os Sthaviras foram os progenitores da escola Theravada (literalmente, “manifestação”, rnatra, “pura”. Sendo assim, 1/i]`n'ajoti'inatra é “pura ma-
“Caminho dos Anciãos”), forma primitiva de Budismo encontrada ho- nifestação”. Karina é um verso que expressa um ensinamento de manei-
je no Sul e no Sudeste da Asia. ` ra concisa. Esses dois tratados aparecem numa tradução francesa, Deüx
traite's de l/asüoana'}1ü.' Virns/øatiifa et Ífiinzs/Ji/ea, por Sylvain Lévi (Paris:
5. Para Luna descrição detalhada das diversas escolas e de suas diferenças dou-
Biblioteca da Escola de Altos Estudos, 1925), e foram traduzidos para
trinárias, consulte Edward Conze, Bütidfbist T/Jong/Jt in India (Ann Arbor,
o inglês por diversos eruditos, inclusive por David J. Kalupahana, em
MI: Ann Arbor Paperbacks/University of Michigan Press, 1967, 1987).
T/oe Pri`nczpies ofBittitiÍn'st P9/obology (Albanjn NY: State University of
6. O Mahayana desenvolveu-se em torno de 100 a_C_ até o primeiro sécu- Nevv York Press, 1987), pp. 175-92, e Francis H. Cook, em Three Texts
lo dã era cristã. Os Mahayanistas propuseram o ideal do bodhisattva (li- ao Consciousness Only (Berkelejr, CA: Numata Center for Buddhist
teralmente, “ser iluminado”), que trabalha no sentido de despertar to- Translation and Research, 1999), “Thirty Verses on Consciousness
Only” (pp. 571-85) e “The Treatise in Twenty Verses on Consciousness
dos os seres, contrastando com o primitivo ideal budista do arhat
Only” (pp. 585-408). A versão dos Trinta 1/.Éfrsos em sânscrito foi des-
(literalmente, “o merecedor”) que tem como ponto central a sua própria
coberta na década de 1920, pelo Professor Sylvain Lévi_ Existe também
libertação. O Budismo Mahayana é a mais proeminente forma de Bu-
uma tradução do original de Vasubandhu do sãnscrito para o chinês fei-
dismo na China, no"Tibete, na Coréia, no Japão e em partes do Vietnã.
U1 por Xuanzang, junto com o comentario de Xuanzang O original
I 7. Buddhaghosa, The Pati; oƒPürzfieation (Visadd/oirnag_'ga)_ Traduzido pe- sânscrito para o tibetano foi traduzido para o inglês por Stefan Anac-
lo Bhiklchu Nanamoli, terceira edição (Kandy, Sri Lanka, Buddhist Pu- ker no seu Seven 1Ã'7or/es oƒVasaoana%ü.- The Büóiói/aist Psye/aoZogz'ea[ Doe-
blication Society, 1975). tor (Delhi: Motilal Banarsidass, 1984, 1998), pp. 181-190.
16 TP.ANsi=oai~.‹iAçõEs NA coi~isciENciA

Em Essentials ofBüddhist Philosophy (Honolulu, HI: University of Ha-


waii Press, 1947), o erudito budista japonês Takakusu refere-se a ele
como “semi-Mahayanista” e “quase-Mahayanista”.

A Universidade de Nalanda, fundada no século V, localizava-se há cer-


ca de cinco milhas ao norte de Rajagriha, hoje em dia Rajgir, no esta- rfl» Cinqüenta Versos sohre
do de Bihar, 'centro norte da India. O relato das viagens de Xuanzang
pela Índia foram traduzidos para o inglês por Li Rongxi, The Great
a Natureza da Consciê"ncia
17.ÊtngDynasty Record ofthe Vfisstern Regions (Berkeley, CA: Numata Cen-
ter for Buddhist Translation and Research, 1996).

Sylvain Lévi descobriu também um manuscrito em sânscrito de um co-


mentário feito por Sthiramati sobre os Thirty Verses de Vasubandhu e
PARTE I. CoNsciÊNciA ARMAZENADORA
,,_
publicou uma tradução em francês, Maten'auxpour à 'Êtude du Systenze
1/ijüaptimatra, organizado por Honoré Champion (Paris: Librairie An- Uni
cienne, 1952). A versão francesa foi subseqüentemente traduzida para A mente é um campo
o inglês e esta, traduzida para o chinês. ' No qual é plantado todo tipo de semente.
Esse campo da mente também pode ser chamado de
Este texto como tal não é encontrado no Yitisho Trtpitaha, mas está incluí-
“Todas as sementes”.
do em um comentário sobre ele escrito por Putai, discípulo de Xuanzang,
intitulado Pa-shih Kuei-tha Pa-e/ou (Yaisho 45, 467-76). Uma tradução do
Dois
Pa-shih Kuei-ehü Sting (Verses on the Structure ofthe Eight Conseionsnesses) de
Existe em nos uma infinita variedade de sementes _
Xuanzang, feita para o inglês por Ronald Epstein pode ser encontrada em
Sementes de samsara, de nirvana, de ilusão e de iluminação,
http://onli1Í1e.sfsu.edu/--tone/BuddhismfYogachara/BasicVersescontenm_htin.
A opus magnum de Xuanzang é o seu comentário sobre os “Trinta Versos” Sementes de sofrimento e de felicidade,
de Vasubandhu, o Cheng Wei Shi Lan, que é o texto de fundação daescola Sementes de percepção, de nomes e de palavras. 1
Wei Shi (Pura Consciência) do Budismo- chinês. Esse texto, juntamente
com os “Trinta Versos” e os “Vinte Versos” de Vasubandhu (veja a nota 1 1, Titãs
acima), foi tradiuido para o inglês por Francis 1-1. Cook e publicados sob o Sementes que se manifestam como corpo e mente,
títuloêde “Demonsttation of Consciousness Only” em Three Texts on Cons- Como esferas do ser, etapas e mundos,
eioasness Only (Berkeley, CA: Numata Center for Buddhist Translation and Todas estão depositadas na nossa consciência.
Research, 1999), pp. 7-570. E por isso que ela é chamada de “armazenadora”_

Para mais informações sobre o Aoatanisaha Sutra, consulte o livro de


Quatro
Thich Nhat Hanh, Ctdtioating the Mind oflooe (Berkeley, CA: Paral-
Algumas sementes são inatas,
lax Press, 1996). Veja-também Thomas Cleary, The Flower Ornarnent
Transmitidas pelos nossos antepassados.
Sertjoture: A Íifanslation of the Aoatarnsaka Sutra (Boston, MA: Sham-
bhala Publications, 1995), e Entry into the Ínooneeioahie, de Cleary Algumas foram plantadas enquanto ainda estávamos no útero,
(I-Ionolulu, I-II: University of I-lavvaii Press, 1985), pp_147-170. Outras, quando éramos crianças.

| , - 1 17
___.

Ig TP.Ai-isPoRiviAçõEs NA coi-i_soiÊNciA E _ ____ _ U5 CINQÚENTA vensos 19

Cinto Onze
Quer sejam transmitidas pela família ou pelos amigos, Embora impermanente e sem um eu separadüz
Pela ggçiedade Qu pela Adugaçãgç A consciência armazenadora contém, na forma de sementes,
Teclas as sementes san, por natureza, Todos es fenômenos de Cosme. .
Individuais e ao mesmo tempo coletivas. Tanto os condicionados como os incondicionados_

, Seis 13!-erfihé.-_.-5:.- i
Doze
A qualidade da nossa vida As sementes podem produzir sementes.
Depende da qualidade As sementes podem produzir formações.
Das sementes As formações podem produzir sementes. .
ç Que repousam no fundo da nossa consciência. As formações podem produzir formações.
,,_
`”1“”“ Treze
A função da consciência amazenadora ~ :-
Sementes e formações
E receber e manter Arnbas têm a natureza da interexistência e da interpenetração_
As sementes e as energias formadoras de hábitos. Uma é produzida por todas
De modo que elas possam se manifestar no mundo ou E todas dependem de uma.
permanecer inativas_

Catorze
Oito
A consciência armazenadora não é nem igual nem diferente,
As manifestações da consciência armazenadora
Nem individual nem coletiva.
Podem ser percebidas diretarnente como as coisas-em-si-mesmas,
O igual e o diferente interexistem.
Como representações ou como meras imagens. -
O coletivo e o individual dão origem um ao outro.
Todas estão incluídas nos dezoito elementos do ser. ' “

Naya QMIHZE
Todas as manifestações trazem as marcas Quando a ilusão é superada, surge a compreensão,
Db individual e do coletivo. 1
E a consciência armazenadora não está mais sujeita a aflições.
A consciência armaroenadora t_orna-se o Grande Espelho da Sabedoria,
A maturação da consciência armazenadora funciona do mesmo modo
Refletindo o cosmo em todas as direções. Agora, o seu nome é
Na sua participação em diferentes etapas e esferas do ser.
Consciência Pura.
Dez
Desobstruída e indeterminada, _
A consciência armazenadora está continuamente fluindo e mudando.
Ao mesmo tempo, ela é dotada
De todas as cinco formações mentais universais.
I 20 TRANsPoniviAçõEs NA ooNsciÊ'.Nc1A
os ciivQüENTA vsitsos 21

PARTE II. MANAS Vinte e Dois .


I Quando a primeira etapa do caminho do bodhisattva é alcançada,
Dezesseis Os obstáculos do conhecimento e as aflições são transformados.
Das sementes da ilusão surgem '
Na decima etapa, a crença em um eu separado e' transformada
As formações internas de apegos e aflições. pelo yogi
Essas forças ativani a nossa consciência E a consciência armazenadora se liberta de manas.
Enquanto o corpo e a mente se manifestam.

Dezessete
PARTE III. CoNsciÊNciA MENTAL
Apoiada na consciência armazenadora,
O rnanas aparece. Vinte e Íifiês
Sua função é a atividade mental 3 Tendo manas como sua base
É

Que se agarra as sementes que considera como sendo um “eu”_ _ E 05 fenômenos çnmn seus objetos,
A consciência mental se manifesta.
Dezoito
Sua esfera de conhecimento é a mais ampla.
O objeto de manas é a marca de um eu
Encontrado no campo das representações
Vinte e Quatro
No ponto em que manas e A consciência mental tem três modos de percepção.
' A
A consciencia armazenadora se tocam. Ela tem acesso aos três campos de percepção e é capaz de ter três
naturezas.
Dezenooe.
Todas as formações mentais se manifestam nela - -
Como terreno do salutar e do não-salutar
A universal, a particular, a salutar, a insalubre e a indeterminada.
Das outras seis manifestações da consciência,
Manas discrimina continuamente. J J 1/¡'¿,,,~,,. E C¿,,¿,,
Sua natureza e indeterminada e obscura.

A consciência mental é a raiz de todas as ações do corpo e da fala.


Sua natureza consiste em manifestar formações mentais, porém
Vinte
I ,.-r sua existência não é contínua.
Mgnas segue com as cinco formaçoes mentais universais,
A consciência mental dá origem a ações que levam ao
Com niati das cinco formações particulares,
amadurecimento.
Com as quatro principais e as oito aflições secundárias.
Ela faz o papel de jardineiro, plantando todas as sementes.
Todas indeterminadas e obscuras.
Vinte e Seis
Wnte e Uni
A consciência mental está sempre funcionando,
Í
Ii
Assim como__a som1b1ra segue a foifma,
Exceto em estados de não-percepção,
Manas sempre segue o armazém da consciência.
As duas realizações,
Trata-se de uma tentativa enganosa de sobrevivência,
De sono profundo, desmaio ou coma.
Um anseio cego por continuidade -e satisfação'
Ilñií

22 TRANSFDRMAÇUES NA CCINSCIENCIA
_ os CINQÚENTA vERsos 13

TGP'. __u.'*Í._!-__:-T1-i

Vinte e Sete Íiin ta e Dois

A consciencia mental opera de cinco maneiras -


_.- Efllikb-I
A consciência tem três partes -
Em cooperaçao com os cinco sentidos da consciencia A que percebe, a que é percebida e a totalidade.
E, independentemente deles, O mesmo acontece com
Dispersa, concentrada ou instavelmente Todas as sementes e formações mentais.

iiin ta e fises

PARTE IV CoNsciENcIA Dos SENTIDOS Nascimento e morte dependem de condições.


Por natureza, a consciência é uma manifestação discriminadora
Vinte e Oito O que percebe e o que é percebido dependem um do outro
Com base na consciencia mental, Como sujeito e objeto de percepção.

As cinco consciencias dos sentidos, Ê.

Separadamente ou em co njun t o co m a c onsciencia mental Íi'1"'ff1”W É Qfiflffê


Se manifestam como ondas na agua Na manifestação individual e coletiva,
Eu e não-eu não são dois.
Vinte e None O ciclo de nascimento e morte é realizado a todo momento
O campo de percepçao delas sao as coisas-em-si-mesmas A consciência se dá no oceano de nascimento e morte.
O modo de percepçao delas e direto
A natureza delas pode ser salutar, nociva ou neutra Tfínm É Cmfê
Eles operam nos orgaos dos sentidos e no centro de sensaçao Espaço, tempo e os quatro grandes elementos
do cerebro São todos manifestações da consciência.
No processo da interexistência e interpenetração,

Yrinta Nossa consciência armazenadora amadurece a cada instante


Elas surgem com a
Universal, a particular e a salutar, Ti” inta e Seis
A nociva basica e secundaria, Os seres se manifestam quando há condições suficientes.
E as indeterminadas formaçoes mentais Quando há falta de condições, eles não aparecem mais.
Não obstante, não existe vir nem ir,
Nem ser, nem não-ser.
PARTE V A NATUREZA DA REALIDADE
Yiflinta e Sete
Trinta e Uni Quando uma semente faz brotar uma formação,

A consciencia sempre inclui Ela é a causa primária.


Sujeito e objeto O 'sujeito de percepção depende do objeto de percepção.

O eu e o outro, o dentro e o fora Este é um objeto como causa._


Sao todos criaçoes da mente conceitual

m
24 TRANsPoR1viAçõEs NA ooNsoIÊNcIA _
fiflwzjzfiij
U5 'ÉINQÚENTA vEasos 25

Trinta e Oito Eíãri


|.'hí¡¿.i i-
Quarenta e 7ife`s
Condi Ç ões favoráveis ou não-obstruidoras Não fu1a do nascimento e da morte.
São causas de apoio. Apenas observe profundamente suas formações mentais.
O quarto tipo de condição Quando a verdadeira natureza da interdependência é vislumbrada,
E a continuidade imediata. A verdade da interexistência torna-se evidente.

Yiflinrn A Nove Quarenta e Quatro


l

A manifestação interdependente tem dois aspectos _ Pratique a respiração consciente


Mente iludida e mente verdadeira. Para regar as sementes do despertar.
A mente iludida é construção imaginária. A Visão Correta é uma flor
A mente verdadeira é natureza plena. Que brota no campo da consciência mental.

Ê.

Quarenta Quarenta e Cinto


A natureza construída enche a mente com sementes de ilusão, Quando a luz do sol brilha,
Provocando o tormento do samsara_ Ela ajuda toda a vegetação a crescer.
A plena abre a porta da sabedoria Quando a luz da plena atenção brilha,
Para a esfera da qüididade (as-coisas-tais-como-são)_ Ela transforma todas as formações mentais.

Quarenta e Seis
PARTE VI. O CAMINHO DA PRATICA Recon h ecemos os nos internos e as tendências latentes_
_ Portanto, podemos transformá-los.
Quarenta e Uni Qnando nossas energias formadoras de hábitos se dissipam,
Meditar sobre a natureza da interdependência Dá-se a transformação na base.
Pode transformar a ilusão em iluminação. “1
` Samsara e qüididade não são dois. Quarenta e Sete
São uma e a mesma coisa. O momento presente

Contém o passado e o futuro.


Qzinffnie ¿› Dezi
1;: “

O segredo da transformaçãoJH'

f Mesmo enquanto está se abrindo, a flor já é adubo, Está no modo como lidamos com este exato momento.
2.!
ill
E o adubo ja e flor. -
Flor e adubo não são dois. Quarenta e Oito
Ilusão e iluminação interexistem. A transformação se dá
_ '_ _ * Na nossa vida diária.
Para tornar mais fácil o trabalho da transformação,
Pratique com uma sangha_
Z6 Taanssoamaçoes Na conscrfirvoia

Quarenta e Nove
-Nada nasce, nada morre
Não ha nada a ser segurado, flfldä 9- Sf-ff lflfgadü- s*ä":.;a'› h¡;Dim¡.=-n¬_z.|-mqlifl

O Samsara e o ninfanfl-
Não há nada a ser alcançado. em PARTE I
Cšnqašen tú: _ _
Quzndfl compreendemos que HS flflísfie “ads ma” Sã” W C0m“czé`ncz'óz Armózzemzóiom
iluminação,
Podemos deslizar em paz nas ondas de nascimento e morte,
Navegando no barco da compaixão, cruzamos o oceano da ilusão,
Com um sorriso, sem medo._ Ê.

"'|-L

DE .acoaoo coM os eusrrouueutos do Budismo da Pura Manifesraçãa' a


nossa mente tem oito aspectos ou, podemos dizer,'oito “consciências”. As
cinco primeiras baseiam~se nos cinco sentidos físicos. Elas surgem quando
os nossos olhos vêem formas, os nossos ouvidos ouvem sons, o nosso nariz
sente odores, a nossa língua sente o sabor de alguma coisa ou a nossa pele
toca um objeto. A sexta consciência mental (mrzrzovzizëãézna) surge quando a
nossa mente entra em contato com um objeto da percepção. A sétima, mús-
ffwfs, é a parte da consciência que da origem a consciência mental e a man»
têm. A oitava, a consciência armazenadora (ézlayrzvzfifãrzfm), e o chão, ou a
base, das outras sete consciências? ir
9!' Os versos de Um a Quinze tratam da consciência armazenadora. Es»
U1 tem tres funções. A primeira é guardar e preservar todas as “sementes”
(É-Êjm) de nossa experiencia. As sementes enterradas na nossa consciência
armazenadora representam tudo o que já fizemos, experimentamos ou per-
Cebemos. As sementes plantadas por essas ações, experiências e percepções
Constituem o “sujeito” da consciência. Como um ímã que atrai partículas
Cio ferro, a consciência armazenadora junta todas essas sementes.
. -.1-1-.
O segundo aspecto da consciência armazenadora são as proprias se»
E
H.
mentes. Um museu É mais do que um edifício. É também as obras de arte
r
-É-'
1-.-
nele expostas. Do mesmo modo, a consciência armazenadora não e apenas
I
" |
Taaiassoaiziaçoes na coisisciaivcia

o edifício de um “armazém”, mas também as sementes que ali se encon-


traiii. As sementes podem ser distinguidasda consciência armazenadora,
porém só podem ser encontradas no armazém. Quando você tem uma ces-
ta de maçãs, as maçãs podem ser diferenciadas do cesto. Se o cesto estives-
se vazio, você não o chamaria de cesto de maçãs. A consciencia armazena-
wf UM
dora é, ao mesmo tempo, o armazém e o conteúdo nele depositado. Desse /l Mente é' um Campo
modo, as sementes são também o “objeto” da consciência. Assim, quando
dizemos “consciéncia”, estamos nos referindo a ambos, sujeito e objeto da
consciencia ao mesmo tempo.
A terceira função da consciência armazenadora é servir como um A mente é um campo
“mostruário para o apego a um eu”. isso se deve ao sutil e complexo rela-
NU Clufil É plantado todo tipo de semente_
cionamento entre manas, a sétima consciência, e a consciência armazena- Esse cam P 0 da”mente tambemf pode ser chamado de
dora. Manas, que surge da consciência armazenadora, faz um giro, apaiiha “Todas as sementes”.
uma parcela do que esta exposto na consciência armazenadora e encara es-
sa porção como sendo uma entidade separada e distinta, um “eu”. Grande
parte do nosso sofrimento resulta dessa percepção errônea de manas, e é es-
te assunto que estudaremos em profundidade na Parte II deste livro. Paiivcirzu Fuivçao da eo nscien
'^ ' ' f
servar todas as “I” ““m“““n“d“““ “ gufldaf Ê PW'
. Semfiflffiã- Um dos nomes da consciência armaze-
nadora é s.:zrm¢5.~‹:"
já le-fi*-'.~ a totalidade
' das sementes . O utro e' rzdózfacz, que si. gnj..
. . '
fica mante 13. segurar não deixar - esea
J. par. Manter todas as sementes -
Conservando-as vivas de forma - . - para se manifesta.
.
QUÊ Êätojam disponíveis
1-_ é a '_' 7 ' . _
fimçëlü basica da consciência armazenadora
-ff .r
O fenomeno da as ` sementes bz-- '
So
pla você Plantar
IC uma semente na primavera, no outono adfi
.( ]“““) “ Capacidade SÉ PÊÍPÊÍUHYÉH1-
planta estara com
amente ormada e carre ad ”
_ a de fl
I 11-'ão cair na terra z ond e serao
- g armazen a(ECS. D“”““S
as ate' brotarflüfcfizz novas
e produzir sementes
. novas flo-
-1'
res. Nossa mente c”' um cam f -
po “Ú qual ff plantado todo tipo de semente _
mpallíí-10 = ale Éria e es P er onça, sementes de tristeza,
- mede. a
dififllfldades
n . D' '
iariamente . nossos ea
p samentos, palavras e açoes .. -plantam
Uvas Sütnentes ri ocam odanos '^ '
1; S3 C0f15C1Ú11C1&z E _o que essas sementes ge-
3-'[11
. a se a substancia da nossa vida
_ A _

md No ca Iiipo da mente existem - sementes saudáveis e não-saudáveis plan


as POI nos mesmos e e I os nossos ` ' . '
la. Sociedade
- Se vo ^ P _ PEU5› Pfilfl fiãüülaz polos ancestrais e pe-
n . _ - A CEI plantar
F tri o _-. nasc era“' trigo.
' Se voce.. agir
. de uma ma-.
Eira sadia z. vo ce sera feliz. Se a ir de 1-na ' H .
É Hfilffl nao-saudavel, estara_, reganda.
.r
'
-f
Taaoissoiiivfiaçoes Na ooivsoiêive ia

as sementes de apego, raiva e violência em si mesmo e nos outros.LÊ pergii


ea da plena consciência nos ajuda a identificar to-das as semeC1li;:Oq Escülhür
contram na nossa ponscifiçišèalçiaqglšlüíšfíšísfllšfííllíãää'fèlfíli Cultiwrmüs as
re ar apenas aque as qu ° _ ,
seäentes de alegria e transformarmos as sementes de sofrimento Em 1105 No D Q l S
mas,-nos, veremos florir a compreensão, o amor e a compaixao.
.Wzmedades de Sementes

Existe em nos uma infinita variedade de sementes -


Sementes de sa“insara, de nirvana, de ilusão e de iluminação,
Sementes de sofrimento e de felicidade,
kl-"||

Sementes de percepção, de nomes e de palavras.

Nossa couscieivcia eaufieizeuanoaa comem todo tipo de semen-


te. Algumas são fracas, outras fortes, umas são grandes, outras
pequenas, mas todas estão lá - sementes tanto do samsara quanto do nir-
vana, do sofrimento e da felicidade. Se em nos for regada uma semente de
ilusão, nossa ignorância aumentará. Se a semente da iluminação crescer em
nos, nossa sabedoria florescerá.
J â

Samsara é o ciclo do sofrimento, o lugar que habitamos quando vive-


mos na ignorância. E difícil sair desse ciclo. Nossos pais sofreram e nos
tri-msmitirarn as sementes negativas desse sofrimento. Se essas sementes não
Q
forem reconhecidas e transformadas por nos, certamente as passaremos pa-
ffl os nossos filhos. Essa constante transmissão de medo e sofrimento diri-
ge o ciclo do samsara. Ao mesmo tempo, nossos pais também nos transmi-
E
tiram sementes de felicidade. Por meio da prática da consciência plena,
Püfilolnos reconhecer as sementes saudáveis que existem dentro de nos e nos
I outros e regá-las todos os dias.
r Nirvana quer dizer estabilidade, liberdade e o fim do ciclo de sofri-
mento (samsara). A iluminação não vem de fora, não é algo que recebemos,
UÊITI mesmo de um Buda. A semente da iluminação já está dentro da nos-
53 Consciência. Ela é a nossa natureza búdica _ a qualidade inerente de
mente iluminada que todos nos possuímos e que so precisa de cultivo.
Taaivssoaiviações na eonsciãivoia mars UM: ooivscifiivcia iiiiiaazznanona 3

A fim de transformar samsara em nirvana, precisamos aprender a ' versal -¬ ou como uma combin " _ _
açaü dE 5"-135 PHFFES, seu sinal particular.
olhar profundamente e vei' claramente que ambos são manifestações da Todas as coisas PÚSSUÉITI uma natureza universal
- e a o mesmo tem o urn
_
nossa propria consciência. As sementes de samsara, sofrimento, felicidade particular. J P ' ”'
e nirvana já estão na nossa consciência armazenadora. E necessário apenas O segundo
Sa ___ ___________ ______________ de par de sinais
______________C______ é uni
Tüdas ____Sql_a__ç__l§Se_____c_l' _____i;_‹:si' É_:_laple_¿_ N__‹_:iss_a noç_ao_de
_. ca:
que nos reguemos as sementes de felicidade, evitando regar as sementes de
P____é____ 3 ______çã____ u_______e__Sa_ de ______Sa__ não nos ___________pt__r e ahes1gnaÇao_ casa_.
sofrimento. Quando amamos alguém, tentamos reconhecer as sementes
positivas dentro dessa pessoa e regar essas sementes com palavras e atos dual, que seja única nas suas particularidades E:-ri” nen “in”-'““““ Indivi-
. - Stem variaçoes incontá-
amorosos. Quando iegadas, as sementes de felicidade crescem mais vigoro- veis de casas, e essa é a natureza da diversidade. Quando olhamos para qual-
A

sas, enquanto a força das sementes de sofrimento diminui por não estar- quer fenomeno, devemos ser capazes de ver a unidade na diveraídad
mos regando-as com palavras e atos rudes. diversidade na unidade. “ ““
Nossa consciência armazenadora também contém sementes geradas _ O terceiro p ar ' ' ef formaçao
___ çi___e sinais - e desintegração.
- Uma casa pode
pelas nossas percepções. Nos percebemos muitas coisas, e os objetos dessas es ar em processo e constru Çfloz “ luas ela esta,f ao mesmo tem
_ P0, em pro-
percepções são armazenados na nossa consciência armazenadora. Quando cesso de desintegra930- " M ulto ' embora a madeira - se _ '
,_ _ ja nova e a casa ainda
percebemos um objeto, em termos budistas, vemos o seu “sinal” (ZózÍfr/m- nao esteja completamente construí ' -
___ _ _ _ _ __ da, a umidade ou a secura do ar ja eo-
mz). A palavra sãnscrita “lózles/fl.ém.:z” significa também “marca”, “designação” , eçam a sujeita-la a açao do tempo. Olhando para uma coisa qu t,
e es a co-
ou “aparência”. O sinal de uma coisa é a imagem que nossa percepção meçando a tomar forma, devemos ter a capacidade de ver que 3 ._ z
z
tambem em processo de desintegração. _ ' qui o esta
(samjña) cria dela. Suponhamos que vemos uma plataforma de madeira
apoiada por quatro pernas _ essa imagem torna-se uma semente dentro O treinamento da ' c f - ' _
da nossa consciência. O nome com que designamos essa imagem, “mesa”, a ver ambos os agpñctüs 1;1EfiÍ:_Í_i:a_:__: ä,_:¡;j_Í_r_Í__Ío\pEÊa nos ajë-_1dar a aprender
é outra semente em nos. “Mesa” é o objeto de nossa percepção. Nos, os ob- mos olhando para as paItES_ ___ _______________ parte __-_____l__C_ os_q to o quando esta.
servadores, somos o sujeito. Os dois estão ligados: toda vez que percebemos Quando um carpinteiro olha para uma ái¬volre `á“ 'O al“m“S para O “Dlin-
o objeto que chamamos de “mesa”, ou se simplesmente ouvimos a palavra que foi treinado a construir uma casa com o i¬riat”e“irilál díaaläiíccaãji Por:
çgn _ . e esta
“mesa”, a imagem que temos de uma mesa manifesta-se na nossa mente “Ú “mbm 05 RSPÊCFUS, o universal e o particular, da árvore. Por meio da
consciente. consciência plena n os treinamos
`
p ara ver todos os seis '. sinais
' ' _ unrversal
- É
O Budismo identifica três pares de sinais de fenomenos. O primeiro particular› unidade e diversidade,
' formaçao " e el esintegraçao
' - - sempre que
percebemos um sim 1 es sinal' _ f
par é o sinal universal e o sinal particular de alguma coisa. Quando olha- P › um objeto especifico. Este e, o ensrnamenm
_
mos uiiia casa, o sinal, ou imagem, “casa” inicialmente é. universal. O sinal da Ínterexistência.
universal “casa” é como o seu rotulo genérico. Há alguns anos, você podia Atribuímo S HÚHIÊS Ê Hlflflffas ff ' .- 1: _
nessa PÊ1'CÊPÇQÚ,
,__ tals
_ COIHÚ P rcrnünt1' Du
nh :o
düslgnmšüfiã
cr . .ii cc
, para
,, H
os objetos de
comprar alimento genérico no supermercado. Em vez de imagens colori- cr __ :___ 3. 3. 3 ÍÍÚ _._, Buda __ Deusiií repair),

das e nomes de marcas, o rotulo numa lata de milho, por exemplo, exibia mae - Cada no me que designamos
' para um fenomeno, cada palavra que
simplesmente a palavra “milho” em preto sobre um involucro totalmente “pffifldomosr
_ '
, e armazenado como .
cia. As se mentes ro uma Somente dentro de nossa consciên-
,_ chamadas
branco. O sinal universal de um objeto é assim. _ p duzem outras sementes em nos, “irnager15”_
Contudo, usando a nossa mente discriminadora, logo percebemos Quando ouvi
_
era ,_ Hlos o nome de _al 59* uma lmêgfilfl
' Surge em nossa consciên- _
milhares de detalhes sobre cada casa ~ tijolo, madeira, pregos, coisas es- > É Entao tomamos a uela ima e - _.
pecíficas a ela, e assim por diante. Esses específicos constituem o sinal par- C'-lliainos alguém dize r asq al avras §Nm Cümü' ”Sendü “““l“d”“l“`= T”'Ú- 1959 E5*'
ticular de uma casa. A casa pode ser vista como um todo ~ seu sinal uni- tê tocamos as sem entes pd a ima
- golo“W”
deY“”k
Nova'PDI exfim-PIG»
York Uflfidlfltamen-
que temos em nossa
Hum
Taaivssoamaçõas iva. coivsciiäiacra Í ÃÉ
.-I '._'.nà~
_
r

PARTE UM: coivscifiivcra aamazananem,

consciencia armazenadora. Visualizamos o 'horizonte de Maiihattan ou os Quando


I temos uma P erce Pçflü " firrada e continuamos
' A
a mante-la, -
ferimos a
rostos das pessoas que conhecemos lá. Entretanto, essas imagens podem ser nos mesmos
_ df e aos o “UPS , D'-5 lcflfüz 115 pessoas se matam devido - às suas per-
diferentes da atual realidade de Nova York. Podem ser inteiramente criadas cepçoes i erentes acerca da mesma realid;1d¢_
pela nossa imaginação, mas não conseguimos ver a fronteira entre a reali- Vivemos
I em um uni verso cheio ' de imagens
' - ._
falsas e ilusoes, entretan-
dade e as nossas percepções errõneas. to acreditamos estar verdadeiramente em contato com o mundo P d
. o emos
Usamos palavras para apontar alguma coisa _ um objeto ou um con- ter um _; P rofundo res p eito pelo Buda e acreditamos ' -* possível en-
que, se fosse
ceito _, mas elas poderão ou não corresponder a “verdade” daquilo que só contra-io pessoalmente, faríamos uma reverência perante ele e estarí
_ amos
poderã ser conhecido por meio de uma percepção direta da sua realidade. prolçtos para seguirdtodos oi seus ensinamentos. Mas, na realidade, talvez
Na vida cotidiana raramente temos uma percepção direta. Inventamos, ten amos d encontra
d 1 o o B u a em nossa propria
f ' cidade
' e nem sequer tive- -
imaginamos e criamos percepções com base nas sementes das imagens que mos vonta e e e e m ,_
d_ ç _ *' P Enüsff Chegar PÉ-'TU Pürque a sua figura nao corres-
temos na nossa consciência armazenadora. Quando nos apaiironamos, a pon ia a imagem qtge dele fazemos. Estamos certos de que o Buda aparece
imagem da pessoa amada que guardamos na mente pode ser muito diferen- com uma aureola z usan do lindos ` mantos. Assim, ' quando encümramgs ' U
te da pessoa que ela realmente e. Podemos dizer que, en;1,,lugar da pessoa em Buda usando roupas comuns, não o reconhecemos Como poderi B d
_ - ao u a
si, acabamos casando com a nossa falsa percepção. usar uma camisa esporte? E não ter uma aureola?
Percepções erradas criam muito sofrimento. Temos certeza de que as M Existem ç muitas ` sementes de percepçoes- erradas na nossa consciência. _
nossas percepções estão corretas e completas; entretanto, na maioria das ve- esmo assim estamos c - - .
H ” Êrtüs dE QUÊ 5 110555 pfircepçao da realidade esta
zes não estão. Conheço um homem que suspeitava que o filho não fosse de- correta. Essa pessoa me odeia. Ela não vai olhar para mim. Ela quer me fe-
le, mas de um vizinho que visitava sua esposa freqüentemente. O pai tam- d- ' Isso
rir. d p oder'a nada mais ' ser do que uma criaçao- . ` da nossa mente. Acre-
bem era muito orgulhoso e sentia vergonha de falar para a esposa ou para Han Ú que 9-5 1195535 PPWPPÇÕÊS Sãü 5 1'Úfllídflílfiz podemos então agir se-
quem quer que fosse sobre a sua suspeita. Então, um dia, um amigo que gundo a nossa crença. Isso e muito perigoso. Uma percepção errada pode
fora visita-lo comentou o quanto o garoto se parecia com o pai. Nesse mo- criarrlllllllicros
não ' ' .
problemas. De fato, todo o nosso sofrimento _
origina-se de
mento, o homem compreendeu que o menino realmente era seu filho. De- econ
manta per um Y ecermos as cois
I . " f -
HS Comp elas sao. Deveriamos sempre, humilde-
vido a essa percepção errada que ele carregava, a família suportou uma gran- po = g a a no s mesmos.- Estou certo? = e depois
- dar espaço e tem-
i-' .. I _
de dor durante muitos anos. Não só essas três pessoas, mas todos os que os est; _ Cllgfi 35 1105535 percepçoes fiquem mais profundas, mais claras e mais
veis. a
cercavam tambem sofreram por causa dessa percepção errônea. . hmm P rátj ca medica
" ' '
dos dias -
de hoje, z -
medicos _
e enfermeiros lem-
E muito fácil confundir nossa imagem mental, ou sinal de alguma coi- _ uns aos outros q ue nãao devem ter tanta certeza acerca de qualquer
Coisa. “Mesmo que voce›- ache que estaz certo, verifique
tem . -novamente”, ingís-
sa, comia sua realidade. O processo de interpretar erroneamente nossas per-
uns com os outros.
cepções, tomando-as como se fossem realidade, e tão sutil que fica muito
difícil saber o que esta acontecendo. Por isso não devemos tentar fazer isso.
A maneira de evita-lo e manter a plena consciencia. Praticamos meditação
para treinar a mente na percepção direta, na percepção correta. Quando
meditamos, olhamos nossas percepções em profundidade a fim de desco-
brir a sua natureza e os elementos que são corretos ou incorretos.
Sem a consciencia plena, você acreditara que estão corretas as suas per-
cepções baseadas em preconceitos que se desenvolverarn a partir das semen-
tes de experiências passadas depositadas na sua consciência armazenadora.
um .r
i›.«iriTE UM: coivsciãivcia aaiiiaznnaooaa

_ A PfijfffE1 df* Cl€5€J0, untocom os quatro níveis da esfera da forma e os


quatro niveis da esfera da não-forma, perfazem nove etapas do ser. (Os ní-
veis de cada esfera e as etapas estão descritos com mais detalhes no Capítu-
lo Nove.) Quando você não esta livre das suas concepções erradas , você po -
eo TRÊS Lie cflilcar prego na esfera do desejo, da forma e da não-forma. Os antigos textos

Sementes que se Manifiestam e u istas re erem-se a essas tres esferas de existência sams' `
lhantes a uma “casa em cham as ” _ As tres ^ es feras estao
atica com
~' ardendo e somos
O “eme
-
nos
Sementes que não se Móznzjfsistam que acendemos o fogo com as percepções falsas da nossa consciencia.
A finalidade da pratica budista e transformar o sofrimento dessas es-
feras e etapas. Se praticarmos olhando profundamente a natureza do ape
Sementes que se manifestam como corpo e mente,
go, nos tornaremos emancipados da esfera do desejo e começaremos a ha-
Como esferas do ser, etapas e mundos,
Todas estão depositadas na nossa consciência. Plmf 3 E5533 da füfmãz que e uma esfera mais elevada. Olhando ainda mais
profundamente, podemos reduzir o nosso apego a forma e começar a ha.
E por isso que ela e chamada de “armazenadora”. _,___
bit ar na -esfera da nao
" - forma. Na esfera da nao-forma,
- -
o sofrimento conti-.
nua a existir porque as percepções errõneas ainda não foram todas removi-
das ernuitosƒ desejos continuam adormecidos nas profundezas da nossa
consciencia. E possível tocar todas as três esferas no momento presente em
A-i×rr_ss os _s_LoUMii coisa ss ivianisssraa, dizemos que ela não exis- - :I
torno de nós e dentro de nos. `
te. Uma vez que podemos percebê-la, então dizemos que ela exis-
bi Cašda esfera do ser e resultado da consciência coletiva dos que ali ha-
te. Porem, muito embora um fenômeno não se manifeste, ele esta sempre
.A Ú e p nosso mundo e um lugar pacifico e feliz e devido a nossa cons-
ltaln. “F Í ' =" ' I \

ali, como uma semente na nossa consciência. O corpo, a mente e o mun-


Scien cia co etiva. Se estiver
' , . por isso.
pegando fogo, somos co-responsaveis _
do são todos manifestações das sementes que estão armazenadas na nossa
.¿ ..
É um lugar e agradavel ou desagradável isso depende sempre da consciên-
CÚI1SC1Êf1C1El._.
ciafcoletiva de seus habitantes.
` '
Se cinco - pessoas prarream
ou seis - ._
e Qbtgm
Este verso refere-se aos diversos conceitos budistas sobre os vários mo- S rutos da alegria, paz e felicidade, e se depois essas pessoas saem e criam
dos de existencia dos seres vivos, que serão explicados mais detalhadamen- um centro de pratica,
f ° manifestando
- - sua felicidade
_ _ num local onde outros
te em capítulos posteriores. Resumindo, as “esferas do ser” (aí/Jarras) são as
Pfifllom participar, então elas estabelecem uma pequena “terra pura” Todas
três esfešas do desejo (lerzmzzd/assess), de forma (mpadfaam) e de não-forma HS esferas do ser vêm de nossa mente, nascem das sementes que egrãe, arma-
(azrzipazd/aims). Na esfera do desejo estão presentes o apego, a raiva, a arro- Zenadas na nossa consciência.
gãncía e a ilusão. Os seres que se encontram nessa esfera sofrem muito por- _ As f se manifestam
_ sementes tambem - - tipos
como dois - de mundo. O
que estão sempre correndo atrás de coisas. Quando decidimos viver de uma 5f1m*5T~`UAe o mundo dos seres sencientes - as especies humana, animal e
maneira simples e largarnos um pouco o nosso apego, estamos na esfera da dE8 eta Í_ _ so ciedade
` - como a sociedade
humana assim - ,_ . animal
da especie _ e
forma. Nessa esfera sofremos menos e podemos experimentar um pouco de “ ESPÉCIE Vegetal provem todas da consciencia coletiva. O segundo e o
felicidade. Na terceira-esfera, a esfera sem forma, a materialidade esta au- 1`HU.ndo in s trumental, onde habitam ' __.
os chamados seres nao-sencientes . -
sente. So a energia está presente e essa energia manifesta-se como a nossa müntanhas
in t ri ^ ' - -
:ll os, ar, terra, camada de ozonio e outros similares. O mundo
mente, a nossa raiva, o nosso sofrimento e assim por diante. A vida conti- CFS fumünt
_ 1 e' o mundo da natureza e e,z- tambem, ,
criaçao
. _,
de nossa cons-
nu`a, mas não há percepção de forma. Encia co etiva_` '^ '
Nossa consciencia armazenadora conserva e manifesta - as
Tnaiasroaiviaçõzs Na coi~isoiÊi~ioia

sementes de todos esses mundos que funcionam de acordo com certas leis
e ritmos.
Todas as formações são manifestações da nossa consciência. No Sum»
dzrzrd Wise; rm the Erg/at Cimsciiiiimessas (Versos Padrão sobre as Oito Cons-
ciências), Xuanzang diz: “ [A consciência] recebe, impregna, mantem e pre» Ê* QUATRO
serva a base corporal e o Mundo Instrumental.” A consciência recebe e É
impregnada por todas as experiências e percepções que vêm a nos pela vi»
Íiisznsmissão
são, pela audição, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Então, nossas expe»
riências e percepções tornam»se sementes que ficam na nossa consciência
armazenadora. Isso se chama “impregnação” (vóiiliâznri). Tudo o que apren»
Algumas sementes são inatas,
demos entra na nossa consciência armazenado ra, deixa o seu “odo r” e ali fi-
Transmitidas pelqp nossos antepassadee
ca preservado. Podemos pensar que esquecemos algo, mas nada do quea
Algumas foram plantadas enquanto ainda estávamos no útero,
consciência armazenadora recebe e perdido; tudo fica ali inativameiite
Outras, quando eramos crianças.
guardado ate que as condições para a sua manifestação se apresentem.

sao Riacesipas per nós durante a nessa vida,


_, experiencia . Algumas sementes, entretanto,
13 ÊSÍHVHHI PFESEIIICS quando nascemos - “a esfera das sementes inatas”.
Ê:1;;-*ÍÉÚÍÊHHCCÍÃÍCISÊÃÊÊTÊtsünqisííesegientšs inataS já Êe encontravam den»
mmsmitídas H nós pm muitas em 615 ãšqgqmento e elipidí/çlcl que foram
E if
sas habihdadüsj maneirísmüs 535 Çücms H I sosbancestrais. mtas de nos-

nos foram transmitidos pm HOSSÚÊ ancüstrsiicosš em como nossos valores,


do as mndiçõüs para H sua maniffista ã fa s. prante anossa vida, quam-
Semümes SE manifestaíão Al umas rçfio orem Êvoraveis, algumas dessas
lr
tempo dE vida mas mesnçü g_ Í ao se marii .estarao durante o nosso
z assim nos as transmitiremos aos nossos filhos,
quff POI' Sua vez as transmitirão para os filhos deles. Talvez algumas gerações
“HIS tarde, durante ` ' - _
ráveis, algumas deSS;:èÊilÍenossos bisnetosl se as condiçoes forem favo»
s se manifestarao.
memA CiênciaA d ge H etica
I .I mostra que o cc esquema” do nosso corpo e de nossa
ex eI ifem e varias f ' geraçoes-» de nossos ancestrais. . Cientistas
_ _ que fizemm
unlíafrriê ncias
' com ratos descobriram- que podera. levar sete gerações para que
caracteristica
' ` diferente
' reapareça. Assim- sendo, quando pratieameg
_ 3
Cünsciõnc'1*-1 Plfiflfl, nao
” estamos praticando
' z apenas mas também pa»
para nos
Taarvssoaivraçõss na coi~iscrÊi-icia _ Paura UM ; coivscrfiiacia aaiviazzivaooaa

ra os nossos ancestrais e para incontáveis gerações que virão a seguir. Todas _ Em cada celula do nosso corpo, em nossa consciência armazenadora
essas gerações já estão dentro de nos. As experiencias de nossos ancestrais, existem .sementes que nos foram transmitidas por cada geração de oomo;
bem como tempo infinito e espaço infinito, já estão contidos dentro da ancestrais. A impregnação” da nossa consciência ocorre ainda antes de nas-
consciencia ate de um minúsculo embrião. Quando compreendemos isso, cermos, enquanto estamos no útero materno. Tão logo somos concebidos,
sentimos uma tremenda responsabilidade por cada embrião? começamos a receber mais sementes. Toda percepção, toda alegria e todo o
Se reservarmos um dia na semana para aprender e praticar paz, alegria sofrimento de nossa mãe e de nosso pai penetram om nós Cümü Sümenm
e felicidade, durante aquelas vinte e quatro horas traremos paz para nossos O maicff PÍÊSÊHÉE que os pais podem dar aos filhos e sua propria felicida-
ancestrais e para as futuras gerações. Se deixarmos passar uma semana sem de. Se os pais vivem felizes um com o outro, o filho receberá sementes de
felicidade. Mas se os pais ficam com raiva um do outro e fazem sofrer um
praticar, não so nos teremos perdido uma oportunidade para ficar alegre,
mas também nossos ancestrais, nossos filhos e os filhos de nossos filhos sen- HO U'-1U'üz todas aquelas sementes negativas penetrarão na consciência arma
zenadora do bebê.
tirão a perda. Quando estamos livres do sofrimento e sentimos paz e ale-
Tr azer uma novqvidaI ao mundo e” um assunto serio.
' Medicos
f ' e tera-
gria, nossos ancestrais tambem sentem paz e alegria, e nossas futuras gera-
peutas levam dez anos para obter uma licença para exercer a profissão. Mag
ções receberão de nos sementes de paz e de alegria.
q ual q uer um
P pode tornar - se pai' ou mae
~ sem qualquer propgmçao,. ou Ha- .
As sementes que nos foram transmitidas podem ser descritas como
n m e nt o _ recisamos criar um Instituto
da ' ›- onde os jovens,
da Familia” - antes
“energias formadoras de hábitos” (wir/Jrzim, “impregnação”). Talvez você
e casar, possam aprender, durante um ano, como olhar profuodamomg
pense que não sabe cantar, mas as sementes do canto, passadas por nossa
para dentro de si mesmos a fim de ver que tipos de sementes são fortes den-
avo que sabia cantar, já estão dentro de nos. Se as circunstâncias forem" fa-
tro de si e que tipos são fracas. Se uma semente positiva for muito fraca, os
voráveis, você não so vai se lembrar de como cantar, mas tambem gostará pais em perspectiva precisam aprender de que modo regá-las para que fi-
de faze-lo. As sementes de saber cantar que estão dentro de você podem es- quem fortes. Se as sementes negativas forem muito fortes, deverão apren-
tar enfraquecidas por não terem sido regadas durante muito tempo. Mas der os meios de .transformá-las, para que vivam de uma maneira que essas
quando você começa a praticar o canto, aquelas sementes brotarão e cres- sementes nao sejam muito regadas.
cerão com força. .Sementes como essas são amplamente inatas. Para florir, di Um ano de preparação para casar e dar início a uma família não é pe-
elas so precisam das condições favoráveis. ç J ir m ` _ As futuras maes
ll id uito - podem aprender como plantar sementes de fe-
Acontece a mesma coisa com a iluminação. Quando ouvimos pela pri- ícl Hdflz paz e alegria e evitar plantar sementes malsãs na consciência arma-
meira vez os ensinamentos sobre o despertar, achamos que são novidade pa- ãfinadora de seus bebês. Os futuros pais também precisam estar conscientes
ra nos. Mas já temos a semente do despertar dentro de nos. Nosso mestre É que a maneira como agem planta sementes na consciência armazenado-
e nossos amigos de jornada nos fornecem somente a oportunidade para to- ra de seuda fil ho ainda
` " nascido.
nao ' Algumas palavras ásperas, um olhar zig
car essa semente e ajudá-la a crescer. Quando o Buda entendeu o caminho DÊPÍÊÊHSHD ou um ato indelicado -¬ o bebê que está no útero está receben-
dü tudü .,, .
da grande compreensão e do amor, comentou: “Como é surpreendente to- te d . A qonsciencia armazenadora do feto recebe tudo o que está acon-
dos os seres viventes terem a natureza básica do despertar, embora não o sai- mCon o na amilia." Uma palavra ou uma atitude- -
impensadas podem per-
bam. Por isso são arrastados pelo oceano do grande sofrimento, vida apos a necer com a criança
' para- o resto da vida.
- '
vida.” Eiristem já muitas- sementes salutares dentro da nossa consciencia. com Nesse instituto, rapazes e moças podem também entrar em contato
Com a ajuda de um mestre e deuma Sangha, uma comunidade de prati- quez os seus Elníififlirãls
` Para CÚHÍECE^_ los melhor - suas forças e suas fra-
cantes, podemos voltar paranos mesmos e tocá-las. Ter acesso a um mes- as '-í
É all-1 H U5 H 3-Pffiflfllfir como lidar com suas proprias sementes.
-' ' .r I

E3343 É
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i um projeto '
importante. - jovens
Pais - .
deveriam manter um registro das
tre e a uma Sangha são as condições favoráveis que permitem que a nossa
semente do despertar cresça. egrias e dificuldades que tiveram antes e depois da concepção o um ooo-o
.r
|
l
I 42 -
TRANSFÚRMAÇUES NA CONSCIÊNCIA
PARTE UM: consciência iiaiviiizsivaooaii,

registro do sofrimento, da felicidade e dos eventos significativos ocorridos


'«-4`&'=h!s;~i'"-_=as-.'»niI. :‹,m -tes estão presentes na nossa consciência armazenadora até mesmo antes dis-
durante a vida da criança, desde a idade del ato 10 anos. A criança pode É so, transmitidas por nossos ancestrais.
esquecer a maior parte do que aconteceu nesse período, mas se os pais pu- As crianças são muito tenras e vulneráveis. E por isso que rios, como
derem contar aos filhos essas coisas, será muito útil para eles mais tarde, pais, devemos ter cuidado de não fazer ou dizer qualquer coisa que cause
quando já tiverem crescido e for_ epoca de irem estudar no instituto. sofrimento ao nosso pequeno filho. Sabemos que a marca desse sofrimen-
Recebemos de nossos pais sementes de sofrimento. Mesmo que este- to o acompanhará durante toda a vida. Muitas crianças são maltratadas fí-
jamos determinados a fazer o oposto do que nossos pais fizeram, se não sou- sica e emocionalmente pelos pais e, em conseqüência disso, sofrem a vida
bermos como praticar e transformar essas sementes, faremos exatamente o inteira. Viver em plena consciência - sabendo que nossos filhos são a con-
mesmo que eles. Durante a nossa vida, continuamos a receber sementes de tinuação de nos mesmos _ e extremamente útil. Vivendo dessa forma e
nossos pais. Suas alegrias e seus sofrimentos continuam a penetrar em nos. observando em profundidade, vemos claramente que nossos filhos são a
Se nosso pai diz algo que faz nossa mãe feliz, recebemos sementes de felici- nossa continuação. Eles nada mais são do que nos mesmos. Se tivermos so-
dade. Se ele diz alguma coisa que faz nossa mãe chorar, recebemos semen- frido por causa de nossos pais, sabemos que as sementes negativas de nos-
tes de sofrimento. H sos pais já estão dentro de nos. Se não formos capazes de reconhecer essas
_ A melhor maneira de proteger nosso filho e começar direito no momen- sementes em nos mesmos e praticar para transformá-las, faremos com nos-
to_da concepção. Conheço casais que praticam a plena consciência na vida sos filhos exatamente o que nossos pais fizeram conosco. Esse ciclo de so-
diária a fim de não plantarem sementes negativas na consciência armazena- frímento so pode ter fim mediante a prática do viver em plena consciência.
dora de seus bebês. Sei de mães que cercam a si mesmas de gentileza e cons- Para entender como as sementes na nossa consciência armazenadora
ciência plena de modo a poder dar o melhor para seu filho. Viver em cons- são transmitidas através das gerações, o Buda propos que eaaminásggmgs 3
ciência plena o muito importante durante os nove meses em que o bebê está transmissão do corpo físico. Seu corpo foi transmitido por seu pai, sua mãe
e seus ancestrais; você recebeu essa transmissão e o seu corpo o o objeto des-
se desenvolvendo no útero. E depois que o bebê nasce, os pais devem conti- . ,_ A _
É transmissao. Os tres elementosinesse processo de transmissão são: aque-
nuar a praticar a plena consciência. O bebê pode não compreender as pala-
que transmite, o objeto transmitido e o recipiente da transmissão.
vras quando vocês estão conversando, mas suas vozes transmitem seus senti-
.O Buda nos convida a examinar a natureza de cada elemento e descobrir
mentos. Se você disser alguma coisa com amor, o bebê vai sentir ísso.,.Se você
0 vazio de sua transmissão. Fazemos uma pergunta a nos mesmos: O que meu
disser algo com irritação, a criança percebe tambem. Não pense que seu
Pê! l3fEll'1SH1_ítiu para mim? A resposta ef: transmitiu ele mesmo. O obeto trans-
bebê, porque está no útero ou ainda é muito pequenino, não compreende. A
mltlfilo nada mais o do que ele mesmo e eu sou realmente a continuação de
atmosfera da família, seja ela qual for, penetrará na consciência armazenado-
Éllíëišüílpañp spli; Êigqlegiirpag. l\ossos aiicfeíltrais estão em nos. Algumas vezes ge;
ra do bebê. Se a atmosfera em casa for pesada, o bebê vai senti-la.
tamos: Qumlií É O red ifimñocngip rnrnos, _ ainpšou Pensamos. Entao, Pergqn_
Muitas crianças não podem suportar a atmosfera pesada de seus lares
O recipiüntü da mmäníssãü É Êaübaiipmissao. d uma entidade soparada? Nao.
e se escondem no banheiro ou em outro aposento para não ouvir as pala-
missorç O Gb' d i Fr je o tanto ia transmissao como do trans-
vras que criam feridas no coração delas. As vezes, crianças adoecem por cau-
jeto e transmissao forma uma coisa so com o transmissor.
sa da maneira como os pais se dirigem um ao outro. Elas podem ter medo Ao penetrar nessa verdade, a realidade do vazio da transmissão, você
de adultos, e daqueles que- têm autoridade, ato o fim da vida. Já vi bebês CU
n_1PfÊ¢HClE que você o o seu pai. Você não pode mais dizer: “Estou com
que brincam naturalmente e com felicidade quando não tem adultos no multa raiva. Não quero ter nada mais a ver com meu pai.” De fato, você e
quarto, mas tão logo a porta se abre e um adulto entra, eles ficarn hesitan-
Êlääëflâlãašíqtqlodqep pai. A únicça ãoisa qílo Pode, fazer o reconciliar-se com
tes e em silêncio. As sementes do medo dentro delas cresceu enormemen-
Sível com es h o. a, separa o e voce - esta em voce. A paz so e pos-
te. O sofrimento começa quando ainda somos embriões. E algumas semen-
se con ecimento e com essa reconciliaçao_.
roiarz Uiizr: coisiscrfiivcia aasiazananoaa

gas. Queremos entrar em contato direto com a realidade do mundo. Entre-


tanto, a realidade objetiva que achamos que existe independentemente de
nossas percepções sensoriais e, ela propria, Luna criação da consciência co-
letiva. Nossas ideias de felicidade e sofrimento, beleza e feiúra são reflexos
N* CINCO das ideias de muitas pessoas. A consciência coletiva não e apenas a cons-
ciência de três ou quatro pessoas, mas de centenas ou milhares de indiví-
Sementes Ínóiiz/ióíuózzs e Coletivas duos. Algumas coisas começam como criações da consciência individual e
então tornam-se parte da consciência coletiva.
Nossa consciência armazenadora inclui ambas, a consciência indivi-
dual e a coletiva. O que e considerado como estando na moda, por exem-
Quer sejam transmitidas pela família ou pelos amigos, plo, e uma criação da consciência coletiva de uma sociedade. Você acredi-
Pela sociedade ou pela educação, ta que tem sua propria noção de beleza, mas se olhar em profundidade verá
Todas as sementes são, por natureza, que esta foi formada a partir da noção de muitas outras pessoas. Quando
Individuais e ao mesmo tempo coletivas. . ._ você vai comprar uma gravata, no momento em que vê aquela que se ali-
nha com as sementes na sua consciência armazenadora, você e atraído pe-
la gravata, ela escolhe você. Você pensa ter exercido sua liberdade de esco-
lher, mas a escolha já tinha sido feita há muito tempo.
Nossa socrsoiios, o iv-its E Tooo o Umvsaso também são mani- Quando um quadro e vendido por milhões de dolares, isso acontece
festações de sementes contidas na nossa consciência coletiva. porque a consciência coletiva considerou-o valioso. Uma criança poderá
Plum Village, a comunidade onde moro na França, e uma manifestação da olhar para o quadro e dizer que e feio ou não tem valor. Nossa admiração
consciência. Nos que ali vivemos mantemos, em comum, uma manifesta- pela pintura não so reflete nossa ideia pessoal de beleza, mas a ideia de be-
ção da consciência coletiva porem, na mente de cada uma de nos há tam- leza adotada pela sociedade e por nossos ancestrais. Nosso prazer de comer
bem uma rnanifestação pessoal de Plum Village. A Plum Village da Irmã É também assim. Para mim, legumes com mostarda e picles são deliciosos.
Doan Nghiem não e a mesma Plum Village do Irmão Phap Daifgf Plum Meus ancestrais os comiam e as sementes na minha consciência têm a ener-
Village tem suas faces coletivas e individuais. gia de hábito de apreciá-los tambem. Para você, talvez, não tenham sabor
. Se você disser que Plum Village e tanto uma realidade subjetiva quan- nenhum. Saboroso ou horrível, bonito ou feio, dependem das sementes que
to obj etiva, isto não estará exatarriente correto. Muito embora você tenha ex- estão na nossa consciência, tanto individual quanto coletiva.
perimentado na sua consciência apenas uma realidade subjetiva de Plum Democracia e outras estruturas políticas são criações da consciência
Village, você pode pensar que Plum Village tem uma realidade objetiva que Cpletiva. O mercado de ações, o valor do dolar, e o preço do ouro tambem
um dia você poderá compreender. Mas o que você chama “objetiva” tam- 530 produtos da consciência coletiva. Pessoas que trabalham com câmbio
bem surge de sua consciência. Nossa consciência inclui o individual e o co- estão sempre fazendo cálculos, adivinhando e gritando suas opiniões. E as-
letivo, o subjetivo e o objetivo. Contudo, continuamos a achar que cons- Sim que o valor monetário de ações, ouro e dolar aumenta ou diminui. Es-
ciência e uma coisa' e que existe fora uma outra realidade “ob etiva”, separada SES Cálculos e deduções criam, no entendimento coletivo, uma reação em
da consciência sobre a qual nossa imagem de Plum Village e formada. Cadffia e, muitas vezes, essa especulação provoca um sofrimento incalculá-
Comparamos, lutamos e ficamos imaginando como nos livrar de nos- Vfil- Os altos e baixos do mercado de ações são manifestações de nossos me-
sa visão pessoal subjetiva e chegar a um reconhecimento objetivo das coi- dÚ5 e esperanças coletivos. Ceu, inferno, a Constituição de nossa pátria e
Taanssoaiaaçõss Na consciência _ raiira Uivr: consciência iiiisriizziviinoaa

as mercadorias que consumimos na vida diária 1 todos são manifestações c omoocol` çetivo esta” no individual,
' " o individual
' " tambem tem um efeito
- so-
de nossa consciência coletiva. bre o coletivo. No momento em que damos um passo para a paz o mtmdo
3
T .
Na nossa consciência, nenhuma semente e cem por cento inata nem muda. l\o momento em que sorrimos, mudamos um pouco não ao nos H-1,25-
cem por cento transmitida. Não existem algumas sementes puramente in- mos mas os que-entram em contato conosco. O individual tem sempre um
dividuais e outras puramente coletivas. Se você e um bom músico, a semen- efeito sobre o coletivo e vice-versa. Todas as sementes que se encontram na
_, _
te dessa habilidade e considerada como sua semente individual. Mas, se nolssa consciencia armazenadora possuem sua dupla natureza, individual a
olharmos profundamente, poderemos ver sua natureza coletiva tambem. cole't-iva _ E importante lembrar disso
' -
quando estivermos -
praticando, a fim de
Você pode ter recebido essa capacidade de seus antepassados, mestres ou ate cu tivarmos nossas sementes saudaveis e nao regarmos as se-maotag d0¡=¿n¡¡¿5_
Í ' _,- I

mesmo ouvindo o rádio. A semente e sua, está na sua consciência armaze- d Paqr esse monvo, precisamos nos acercar- daqueles que regam as semen-
nadora, mas foi plantada ali pela felicidade e pelo sofrimento, pelas habili- tes e egria que estao em nos. Nao quer dizer que quere-,mog discriminar Os
dades e fraquezas de todos com os quais tem estado em contato. ql-16 S0I”f€1'I1, mas quando nossas proprias sementes sadías ainda são fracas, te-
Cada semente na nossa consciência armazenadora e individual e cole- mos necessidade de fios cercar de amigos que reguem as sementes de paz, 5311-
tiva, ao mesmo tempo. Nada e completamente coletivo nem completamen- de e felicidade em nos. Quando as sementes de paz e felicidade se tornam
te individual. O individual pode ser visto no coletivo, eio coletivo no indi- mais solidamente estabelecidas dentro de nos, podemos dar uma ajuda maior
vidual. O coletivo e feito do individual, e o individual e feito do coletivo. aos que sofrem. Precisamos saber quando estamos fortes o suficiente para aju
Esta e a natureza da interexistência. '- dar, doE contrár'io sereânos esmagados pelas sementes dificeis
- f - da outra pessoa.
De fato, a distinção entre sementes inatas e transmitidas, entre indi- m um centro e retiro, ha sempre algumas pessoas com graves 5.¡,f¡_-,_ .

vidual e coletivo, e provisoria_ Essas distinções são estabelecidas a fim de mentos m entais ` _ Um mestre do Dharma tem a responsabilidade
- - de se sen-
nos ajudar a compreender melhor, no nível intelectual, os conceitos apa- t ar e estar totalmente presente para ajuda-las
- z _ o co-
enquanto as ouve abrir
rentemente opostos, para que possamos trabalhar com elas em nossa práti- ra Ç ão. Mgs se o mestre nao
- tiver
' -z¬ - da natureza dual e
plena consciencia
ca. Quando a nossa prática está amadurecida, vemos a natureza da in- P ermeá '^ ' individual
fi ve das consciencias ' ' ' -
e coletiva, .
ele poderá receber mais
terexistência de todas as coisas e não necessitamos mais dessas distinções. s 0 rimentoldo que pode suportar e nao
.- conseguira
. ,_ dar ajuda.
_ Se ele não
Assim sendo, precisamos transcender as ideias de individual ecoletivo. P raticar a p ena consciencia
`^ ' enquanto estaf ouvindo,
' -
o sofrimento da outra
Em tudo, ambos os elementos estão presentes. O coletivo e o individual in- Pfififioa apenas vai regar as sementes de sofrimento dele Ser mestre de Dhar
terexistem. O nervo otico de um motorista de onibus pode parecer indivi- -ma nao r/ios da a capacidade de fazermos coisas alem de nossas forças. Os
T “I ' " r

dual, específico e importante somente para ele, mas a qualidade do seu ner- Emestres
P tem que limitar
` ` *
o numero -
de pessoas com sofrimento que atendem,
vo otico* pode afetar a segurança de muitas outras pessoas. Podemos acreditar É D-ao poderao sucumbir.
que não somos violentos, mas em nos existe a semente da violência que tem mr O F mesm o acontece com os psicoterapeutas.
' Voce_.. tem que abro:
_ seu
sido cultivada pela televisão, jornais ou o que quer que tenharnos visto ou íflçao
ajudƒ ara cocilnpreender o sofrimento
I PM ' -
do cliente -
e encontrar maneiras de
experimentado. Se olharmos em profundidade, veremos que essa semente qufi 3.-
J (L I as , epois' de atender alguem,
z precisa
. entrar em contato com o
tem, ao mesmo tempo, ambas as naturezas, individual e coletiva. aún eIdrevi gçrante e salutar em voce- mesmo e ao seu redor. Quando tiver _
Durante os retiros--de meditação,,_ fazemos exercícios para respirar, sor- atfinäI U Ú ` ° . ,_
nlilmite de sua capacidade de absorver sofrimento, nao deverá
rir e andar com plena consciência. O retiro cria um ambiente especial que me '31' d
HE um outro cliente
' ate' que tenha recuperado suas proprias
z - se-
conduz a plena consciência. Essa e a natureza coletiva desse evento. Cami- nte S e saude f e paz. Essa e›- a maneira
- de sustentar o trabalho de ajuda.
_
nhando com plena consciência, prestando atenção a nossa respiração e pra- ajud Você nãao precisa` ser um mestre de Dharma ou psicoterapeuta
- para
ticando o sorriso, estamos cultivando nosso bem-estar pessoal. Mas, assim HI' U s outros.
` Todos nos
* empregamos tempo ouvindo
- nossos amigos.
_
TRANSFÚRMAÇÕES NA CCNSCIÊNCIA i>.saTz oivi; cosiscifiivcia aaiviazzisixooxii

Depois de ouvir a dor deles, podemos fazer meditação andando ou alguma Nossa consciencia e infundida com a consciência coletiva por todo o tem-
tarefa que nos traga alegria. Teremos assim uma boa chance de restaurar Po e espaço.
nossa leveza e frescor e nos tornar suficientemente fortes para ajudar nova- Então, onde esta a nossa consciência armazenadora? Esta dentro de
mente no futuro. Se abrirmos livremente nosso coração mas não conhecer- zada celula do nosso corpo e tambem fora dele. Cada célula do nosso cor-
mos nossos limites, nossas proprias sementes de agitação serão regadas e se- PU possui todas as características, elementos, experiencias, alegria e sofri-
remos esmagados. Temos que dar continuidade a prática de regar' as mento de muitas gerações de ancestrais. De fato, nossos genes são como se-
sementes sadias na nossa consciência. Muitas pessoas que desejam ajudar mentes na nossa consciência armazenadora. Assim como a consciência e
acham que não têm o direito de descansar porque existem tantas pessoas individual e coletiva, cada celula do nosso corpo e única e também contem
necessitando de sua ajuda. Mas se não descansarem, se não se recuperarem, dentro de si o mapa generico de todo o nosso corpo. Atualmente, a ciência
não so perderão seu senso de paz e alegria como também deixarão de ser já pode fazer uma replica de um ser 'vivo inteiro, a partir da clonagem de
um recurso para os outros. uma única celula do corpo.
Freud, o pai da psicologia moderna, tinha uma ideia do inconsciente As ideias de “individual” e “coletivo”, “dentro” e “fora” devem ser trans-
. si _
que, de certa forma, corresponde ao conceito budista de consciencia arma- cendidas. O que esta dentro e feito do que esta fora. Quando tocamos nos-
zenadora. Mas o inconsciente e apenas uma pequenina-parte da consciên- sa pele, tocamos a agua, o calor, o ar e a terra que estão dentro de nos. Ao
cia armazenadora. A sétima consciencia, manas, e mais ou menos equiva- mesmo tempo, sabemos que esses elementos existem fora do nosso corpo.
lente a noção de “ego” na escola de psicanálise fundada por Freud. Oque Observando profundamente, nos damos conta de que o sol e também nos-
Freud chamava de “superego” tem alguma afinidade com a sexta consciên- so coraçao. Se o coração que esta dentro do nosso corpo parar de funcionar,
cia: a conscie-ncia mental. Jung, que teve a influência de Freud, foi mais morreremos imediatamente. Do mesmo modo, se o sol, nosso segundo co-
adiante e disse que as emoções e experiências do sofrimento e da felicida- ração, parar de brilhar, também morreremos imediatamente. O cosmo in-
de, na nossa mente, refletem também o consciente coletivo. Iung absorveu teiro e nosso corpo, e nos somos também o corpo de todo o cosmo.
algumas ideias do Budismo tibetano. Muitos psicoterapeutas desde Jung
t-em adotado essa maneira de pensar. _
Não ha dúvida de que a psicologia budista continuará tendo uma in-
fluência sobre a psicologia do Ocidente. Os metodos de curar do“eríças psi-
cológicas, aos poucos vão ser profundamente influenciados pelos ensina-
mentos da Pura Manifestação. Durante os retiros que tenho oferecido a
psicoterapeutas, praticamos juntos a respiração consciente, a meditação
sentada e a meditação andando, reconhecendo e abraçando a nossa dor, e
essas praticas tornam-se parte de nossa vida. Essa e a melhor contribuição
que o Budismo pode fazer para a psicoterapia ocidental.
Quando falamos de consciencia coletiva, temos a tendencia de pensar
em pessoas e ideias _ de felicidade, sucesso, sofrimento, democracia e as-
sim por diante _- danolssa prõpria epoca. Mas o aspecto coletivo de semen-
tes na nossa consciência vem também de nossos ancestrais e daqueles que
se foram antes de nós. As sementes na nossa consciência contêm as expe-
riências, idéias e percepções de muitas pessoas por todo o espaço e tempo.
mara UM: coivsciêisrcrii .saivrazzisraooaa

.Então poderemos recomendar um caminho de pratica específico para nu-


trir as sementes positivas e transformar as negativas.
Se sentimos que não podemos ajudar uma pessoa, e porque não olha-
ar SEI S mos com suficiente profundidade as suas circunstâncias. Todos têm algu-
mas sementes de felicidade. Em alguns, elas são fracas, enquanto em outros
A Quzszlzdózóíe das Sementer são fortes. Você pode ser a primeira pessoa, em muitos anos, a tocar as se-
mentes de felicidade de seu amigo. A ajuda esta na nossa capacidade de ver
e regar essas sementes sadias. Se você so vê ambição, raiva e orgulho e por-
que ainda não olhou em profundidade.
A qualidade da nossa vida O filósofo francês Jean-Paul Sartre disse: “O homem e a soma de seus
Depende da qualidade atos.” Cada um de nos e o conjunto das nossas ações, e nossas ações são a
Das sementes causa e o resultado “Êias sementes na nossa consciência armazenadora.
Que repousam no fundo da nossa consciência. -- Quando fazemos alguma coisa, nossa ação e uma causa (karma-/aero).
Quando ela traz um resultado, é o efeito (karma-p/vala, “fruto da ação”).
Todo ato que realizamos por meio do corpo, da fala e da mente planta se-
mentes em nos, e nossa consciência armazenadora preserva e mantem essas
SE SOMOS FELIZES OU NÃO., isso depende das sementes que estão na sementes. -
nossa consciência. Se nossas sementes de compaixão, compreen- Existem três tipos de ação: ação da mente, ou pensamento, ação da fa-
são e amor forem fortes, essas qualidades serão capazes de se manifestar em la e ação do corpo. O pensamento precede os outros dois tipos de ação. Mui-
nos. Se as sementes de raiva, hostilidade e tristeza em nos forem fortes, en- to embora possamos ainda não ter feito nem dito nada de maneira nociva,
tão vamos experimentar muito sofrimento. Para compreender alguem, te- nosso pensamento pernicioso pode ser o suficiente para fazer o universo tre-
mos que conhecer a qualidade das sementes que estão na consciênciqarma- mer. O efeito das nossas palavras sobre os outros e chamado de ação da fa-
zenadora dessa pessoa. E precisamos lembrar que ela não e a unica la. Proferir palavras que trazem sofrimento ou que reguem sementes de amor
responsável por essas sementes. Seus ancestrais, os pais e a sociedade são co- depende de nossa propria felicidade, da qualidade das sementes que estão na
nossa consciência armazenadora. Ação corporal refere-se aos nossos atos fí-
responsáveis pela qualidade das sementes na sua consciência. Quando com-
sicos, sejam nocivos ou beneficos. As sementes de todos os três tipos de ação
preenderrqos isso, teremos capacidade de sentir compaixão por aquela pes-
são guardadas na oitava consciência, a consciência armazenadora.
soa. Com "compreensão e amor saberemos como regar as belas sementes,
Muitos praticantes budistas recitam diariamente os Cinco Lembretes.
tanto as nossas quanto as dos outros; reconheceremos as sementes do sofri-
O quinto ez “Minhas ações são meus únicos pertences. Eu não posso esca-
mento e encontraremos meios de transforma-ias.
Par das conseqüências das minhas ações. Minhas ações são o solo sobre o
Quando uma pessoa nos procura pedindo orientação, e necessario que
qual me mantenho de pe.” Quando morremos e nos transformamos de
a olhemos profundamentera fim de vermos as sementes que estão deposi-
uma forma de ser em outra, deixando para tras nossas propriedades e aque-
tadas no fundo da sua consciência.-Se apenas oferecermos uma orientação
ÍÉS que amamos, sõ as sementes das nossas ações vão conosco. A consciên-
ou um conselho qualquer, não estaremos ajudando-a realmente. Se olhar-
Cia não guarda apenas as ações da mente. Também as sementes das ações do
mos com profundidade, poderemos reconhecer a qualidade das -sementes
nosso corpo e das ações da nossa fala viajam deste para outro mundo, com
que se encontram nessa pessoa. Isso se chama “observar as circunstâncias”.
nossa consciência armazenadora.
I
Taxnssoaiiraçozs iva consciência
.-'

r›.›~=-.are UM: coivscrêivcrx .saszmzaiviiooax


_5

Para saber se uma pessoa e feliz, basta olhar para as sementes em sua (C fr J..
Quando voce a tange, nao haverá nenhum som”, respondeu Sona.
consciência armazenadora. Se houver sementes fortes de infelicidade, rai- “O que acontece quando a corda esta muito esticada?”
va, discriminação e ilusão, ela estara sofrendo muito e e provavel que, por (Í
Ela quebra.
J)

meio de suas ações, vá regar essas sementes doentias em outros. Se suas se- “O mesmo acontece com a pratica do Caminho”, disse o Buda. “Man-
mentes de compreensão, compaixão, perdão e alegria forem fortes, a pes- tenha a saúde. Seja alegre. Não obrigue a si mesmo a fazer coisas que não
soa não só podera ser verdadeiramente feliz como também sera capaz de re- pode fazer. ”“
gar as sementes de felicidade nos outros. Nossa pratica diaria consiste em A fim de sustentar nossa pratica, necessitamos conhecer nossos limi-
reconhecer e regar as sementes sadias em nós e nos outros. Nossa felicida- tes físicos e psicológicos e encontrar um equilíbrio entre esforço e repouso.
de e a felicidade dos outros dependem de nós. A pratica não deve ser forçada. Deve ser agradavel, alegre, nutritiva e cura-
Existem quatro praticas associadas ao Esforço Correto, parte do No- dora. Ao mesmo tempo, devemos ter cuidado para não nos deixarmos le-
bre Caminho Octuplo que o Buda ensinou como caminho para a liberta- var por prazeres sensuais. As quatro praticas do Esforço Correto estão inse-
çãof” A primeira pratica do Esforço Correto ó evitar que as sementes não- ridas no Caminho do Meio entre esses dois extremos.
if*
saudaveis, que ainda não se manifestaram, venham a se manifestar. “Não-
saudaveis” significa não-condutoras a libertação. Se essas sementes nocivas
forem regadas, elas se manifestarão e crescerão fortes. Mas se as abraçarmos
com nossa plena consciência, mais cedo ou mais tarde, elas se enfraquece-
rão e voltarão para a consciência armazenadora.
A segunda pratica do Esforço Correto ó ajudar as sementes não-sauda-
veis, que ja surgiram na nossa consciência mental, a retornarem para a cons-
ciência armazenadora. Novamente, a plena consciência e decisiva. Se conse-
guirmos reconhecer quando uma semente nociva se manifesta na nossa
consciência mental, poderemos evitar que ela nos capture. A terceira prati-
ca do Esforço Correto e encontrar maneiras de regar as sementes sadias que
estão na nossa consciência armazenadora, e que ainda não brotaraifi, ajudan-
do-as assim a se mariifestarem na nossa consciência mental. E a quarta pra-
tica e manter no nível da consciência mental, tanto quanto possível, as for-
mações mentais que ja surgiram das sementes sadias. (Posteriormente
falaremós mais neste livro sobre como a consciência mental funciona.)
Nossa pratica do Esforço Correto e alimentada pela alegria. Se todos
os dias regarmos as sementes de felicidade, arnor, lealdade e reconciliação,
nos sentiremos alegres e isso encorajara essas sementes a permanecerem
mais tempo, a se fortalecerem. Uma história sobre o Buda vem ilustrar o
que acabarnos de dizer." Í- 'S _ Í
O Buda perguntou ao monge Sona: “E verdade que antes de se tornar
monge, o senhor era músico?” Sona respondeu que sim. O Buda pergun-
tou: “O que acontece se a corda do seu instrumento estiver muito frouxa?”
Paura UM: consciência .saM.szEi~s.sUoa.à 55

-
_ Essa impregnação na nossa consciência, das energias formadoras de
hábitos levadas pelas sementes, afeta nossos padrões de visão, sentimento e
comportamento. As sementes que estão na nossa consciência se manifes-
tzim não só de forma psicológica mas também como objetos de nossa per-
ç Ê* SETE zgpção _ montanhas, rios, outras pessoas. Devido as energias formadoras
de hábitos, não podemos perceber as coisas como realmente elas são. Inter-
Energzózs Formózdoms de Hózbztos preramos tudo o que vemos ou ouvimos em termos de nossas energias for-
madoras de hábitos. Se você amassa uma folha de papel, e difícil fazê-la fi-
car lisa novamente. Ela adquire a energia formadora do hábito de ficar
amassada. Nós tambem somos assim.
. A função da consciência armazenadora Quando encontramos uma pessoa, o que encontramos realmente é a
.H
I

E receber e manter nossa própria energia formadora de hábito, que nos impede de ver qual-
As sementes e as energias formadoras de hábitos. quer outra coisa. Talvez, na primeira vez em que encontramos essa pessoa,
De modo que elas possam se manifestar no mundo-ou
tenhamos tido uma reação negativa a seu respeito. Com base nessa reação,
permanecer inativas. formamos uma energia formadora de hábito ao nos relacionarmos com es-
sa pessoa e, a partir de então, continuamos a fazê-lo da mesma forma. To-
da vez que a encontramos, vemos a mesma velha pessoa, ainda que ela te-
nha mudado completamente. Nossas energias formadoras de hábitos nos
s ssiusiirzs QUE itscsrisiuos os Nossos sriczsriiais, dos amigos
mantêm incapazes de perceber a realidade do momento presente.
e da sociedade ficam guardadas na nossa consciência, assim co-
Somos influenciados pelas ações e crenças de nossos pais e da socieda-
mo a terra guarda as sementes que nela caem. Da mesma maneira que as
de. Mas nossas reações as coisas têm seus próprios padrões e neles ficamos
sementes na terra, as sementes que estão na nossa consciência armazenado-
presos. Nossas energias formadoras de hábitos são fruto de nosso compor-
ra estão escondidas de nós. Nem sempre entramos em contato com elas.
tamento, formado por nossas reações as coisas e também por nosso ambien-
Somente quando se manifestam na nossa consciência mental e qufeftoma-
te. Quando uma pessoa e criada num determinado ambiente, uma energia
mos conhecimento delas. Quando nos sentimos felizes, podemos pensar
fürmadora de hábito e formada. Hoje em dia, muitas crianças têm a ener-
que não existem sementes de raiva em nós. Mas tão logo alguem nos irrita,
gia formadora do hábito de assistir televisão. Quando são levadas a algum
nossa semente da raiva se faz conhecer.
lugar onde não há televisão, ficam infelizes. Um menino que veio a Plum
Enórgia formadora de hábito e um termo importante na psicologia
budista. Nossas sementes carregam as energias formadoras de habitos de Village, ao descobrir que não havia televisão, queria que sua mãe o tirasse
milhares de anos. O termo em sânscrito para energia formadora de hábito, Clíli. Nós o convencemos a ficar a metade de um dia e, durante esse tem-
. . - 1: I ' ' "
nas/øemz, significa “permear”, “impregnar . Para fazer cha de jasmim, e ne
__
PU, muitas outras crianças brincaram com ele. Depois de algumas horas, ele
_ _ _ j, .- /_
cessário pegar flores de jasmim, junta-las com folhas de cha e coloca las Cüllcordou em ficar mais tempo. Acabou ficando durante três semanas. Ele
I ) I
descobriu que poderia ser feliz sem televisão.
dentro de uma caixa, .a qual deve permanecer fechada por varias semanas.
I I I -I I

A fragrância do jasmim penetra profundamente nas folhas e o cha entao vai


“il T
Essae uma boa notícia. E possível mudarmos nossas energias forma-
doras de hábitos. E de fato, para as transformar, precisamos mudá-las. Mui-
cheirar a jasmim, porque absorveu' o aroma das flores. NUSSH CU1'1SC1~'5'-11513
armazenadora também tem uma grande capacidade de receber e absorver Í0 Embora tenhamos as melhores intenções de transformar a nós mesmos,
¡¡ A - 7; ct 1:
fragrancias ou perfumes . _ não seremos bem-sucedidos enquanto não trabalharmos nossas energias
Tii.zins1=oiiMaçõias na consciência PARTE UM: consciência. aaMazznaUonx

formadoras de hábitos. A maneira mais fácil de fazê-lo e com uma Sangha, Beber e outra energia formadora do hábito. Talvez, sempre que nos
um grupo de pessoas que, juntas, praticam a plena consciência. Se nos co- gentimos tristes, recorremos a um copo de vinho para esquecer a tristeza.
locarmos em um ambiente em que possamos praticar em profundidade Com plena consciência, cada vez que levantamos nosso copo de vinho, di-
com outras pessoas, seremos capazes de alterar nossas energias formadoras
zemos: “Eu sei que estou bebendo um copo de vinho.” Quando nossa ple-
de hábitos. Pela prática da plena consciência, podemos identificar as se-
oa consciência ficar mais forte, quando bebemos o vinho podemos dizer:
mentes que estão em nós e reconhecer as energias formadoras de hábitos
“Eu sei que estou triste.” A medida que a nossa percepção aumenta e ve-
que as acompanham. Com plena consciência, podemos observar nossas
mos com maior profundidade a tristeza que está por trás da nossa energia
energias formadoras de hábitos e começar a transformá-las.
do hábito de tomar vinho, seremos capazes de começar a transformar as se-
Se nossa família e nossos amigos são instáveis, o comportamento de-
mentes de tristeza em nós.
les também “impregna” a nossa consciência. Por isso, ó importante escolher
A felicidade tambem pode ser uma energia formadora de hábito.
cuidadosamente com quem passamos o nosso tempo. Quando conversa-
Quando praticamos meditação andando, cada passo que damos nos traz
mos com alguém que e infeliz, nossa consciência armazenadora recebe as
paz e alegria. Quando çomeçamos a praticar a meditação andando, pode-
sementes de seu sofrimento. Se não tivermos o cuidado de manter nossas
mos ter que fazer algum esforço. Não estamos ainda habituados a ela. Mas
sementes saudáveis durante a conversa, o sofrimento dessa pessoa vai regar
um dia começamos naturalmente a sentir paz e alegria. Então pensamos:
as sementes de sofrimento que estão em nós e nos sentireinos exauridos.
“Por que estive sempre com tanta pressa?”. Uma vez que nos sintamos ii
A prática da plena consciência nos permite criar energias formadoras
vontade com a meditação andando e outras maneiras de nos mover com
de hábitos novas e mais funcionais. Suponhamos que, ao ouvirmos uma
certa frase, façamos uma careta. Não é que queiramos fazê-la, ela apenas plena consciência, essas práticas se tornarão um hábito salutar.
acontece automaticamente. Para substituir essa antiga energia formadora Embora existam energias positivas formadoras de hábito, parece que
de hábito por uma nova, toda vez que ouvirmos aquela frase devemos res- os hábitos negativos se estabelecem mais rapidamente que os positivos. Na
pirar conscientemente. No início, o respirar consciente requer esforço. Não escola, nossos filhos estão expostos tanto aos hábitos bons quanto aos maus,
vem naturalmente. Entretanto, se continuarmos a praticar, a respiração mas parece que aprendem os hábitos maus mais rapidamente. Demora
consciente se tornará uma energia formadora de hábito. Da mesma manei- muito tempo para uma pessoa jovem aprender a gostar de Shakespeare, mas
ra, criamos qualquer hábito novo. Quando você começa a escovar qs ¡den- não leva muito tempo para aprender a ingerir álcool. Quando você ensina
tes depois das refeições, no início, pode esquecer algumas vezes de fazê-lo. algo para uma criança, talvez tenha que repetir muitas vezes até que a se-
Depois de um tempo, isso se torna um hábito e você se sente desconfortá- mente seja plantada solidamente na consciência dela. Quando você pinta
vel quando não os escova. uma parede, a primeira camada não e suficiente. Tem que pintar uma se-
Algumas energias formadoras de hábitos são difíceis de transformar. gunda e uma terceira vez. E assim que aprendemos.
Fumar e uma energia formadora de hábito difícil de deixar. A plena cons- Temos que reconhecer, abraçar e transformar nossas energias forma-
ciência e a chave. Sempre que estivermos fumando, devemos praticar a ple- doras de hábito negativas e nos treinar para ter mais energias de hábito po-
na consciência para ficarmos cientes de que estamos fumando. Nossa cons- Sitívas. Tive a felicidade de, no início da minha vida, aprender o bom há-
cientização dessa energia formadora de hábitos se aprofundná a cada dia, bito de praticar meditação sentada todos os dias para me acalmar e cultivar
e veremos que estamos destruindo os nossos pulmões. Veremos, então, a li- mais estabilidade, solidez e liberdade. Muitos de nós em Plum Village
gação entre nossos pulmões, nossa saúde e as pessoas que amamos. Com- aprendemos o hábito de voltar a nossa respiração e sorrir toda vez que ou-
preendemos que cuidarde nós mesmos e tambem cuidar dos que amarnos. Vimos o sino tocar. Esses hábitos positivos precisam ser cultivados, porque
Então, pelo bem deles e pelo nosso, tomamos a decisão de cuidar do nos- nossos hábitos negativos sempre nos empurram para fazer e dizer coisas que
so corpo. A plena consciência promove esses tipos de dz'sreivaimsnro. Cëiusam sofrimento-a nós e aos outros.
Pairrz UM: consciência aiiMazsnaUoria

fa,-zmiente alcançam a forma das coisas-em-si-mesmas. Geralmente perce-


bomos as coisas das outras duas maneiras: como representações ou como
meras imagens.
Quando nos apaixonamos, por exemplo, em geral nossa paixão e pe-
ÊÍ' O I T O
la imagem que temos do nosso amado. Por ser tão forte essa imagem em
Campos de Percepção nos, deixamos de comer, de dormir, de fazer qualquer coisa. Para nós, a pes-
soa amada e bela, mas a imagem que dela fazemos pode, na verdade, estar
muito longe da realidade. Não nos damos conta de que o objeto da nossa
percepção não é a realidade-em-si-mesma, mas uma imagem que criamos.
As manifestações da consciência armazenadora Depois de nos casar e viver com a pessoa amada por dois ou três anos, en-
Podem ser percebidas diretamente como as coisas-em-si-mesmas, tendemos que a imagem que tínhamos dela, e que à noite não nos deixava
Como representações ou como meras imagens. dormir de tanto pçnsar, era bastante falsa. O objeto da nossa percepção, a
Todas estão incluídas nos dezoito elementos do ser. imagem que tínhamos do nosso amado, pertence ao segundo modo de per-
rf”- cepção, o modo da representação. Nossa consciência manifesta uma ima-
gem do objeto e nós amamos aquela imagem. A imagem que amamos po-
de não ter nada que ver com a pessoa em si. E como tirar uma fotografia
de uma fotografia.
UANDO aS SEMENTES da nossa consciência armazenadora se ma-
Não somos capazes de alcançar o modo de perceber as coisas como
nifestam na nossa consciência mental, nós as percebemos dire-
elas são em si mesmas porque nossa imagem distorcida e uma “representa-
tamente ou não. Existem três formas, ou carnpos, de percepção: direta, co-
ção” e não uma percepção direta. Ela não e cem por cento do mundo de
mo representação e como meras imagens. De acordo com os ensinamentos
qüididade, pois contem apenas uma pequena parcela da realidade em que
da Pura Manifestação, a maneira como percebemos a realidade tem tudo
se baseia. A pessoa que amamos não e uma pessoa real, mas uma imagem
que ver com a nossa felicidade ou com o nosso sofrimento.
criada pela nossa consciência. Essa percepção falsa pode criar sofrimento.
O primeiro campo de percepção e a percepção direta das coisas-em-
Sentado no carro ao lado de nosso cônjuge, o ignoramos completarnente
si-miesmasfsem distorções ou ilusões. Esta e a única das três formas que ef
porque achamos que sabemos tudo a seu respeito e que não há mais nada
direta. Essa maneira de perceber está na esfera do númeno ou qüididade.
de interessante a saber sobre ele. Ficamos presos nesses tipos de sentimen-
Qüididade (rar/fere) significa “estado do ser tal como e”. Outro nome que
tos e percepções. As vezes a raiva e o ódio substituem o amor, mas também
damos ao Buda e Tathagata, que significa “aquele que veio de qfiididade e
essas percepções não correspondem ao reino das coisas-em-si-mesmas.
segue para a qüididade”. Tudo _ uma folha, um seixo, você, eu _ vem do
Dessa maneira, podemos viver com uma pessoa durante trinta anos
estado do ser tal como ele e. Qüididade e, portanto, o solo do nosso ser, tal
Sfim sermos capazes de compreender a verdade daquela pessoa. Talvez a
como a água e o solo do ser de uma onda.
Ífllilgem que dela temos presentemente esteja mais próxima do mundo das
Seremos nós capazes de tocar a realidade-em-si-mesma? Os ensina- Coisas-em-si-mesmas do que a imagem que tínhamos há trinta anos, mas e
mentos budistas dizem que sim. Uma flor pode ser a manifestação da esfe- ‹'=Llrida uma imagem _ ainda pertence ao mundo das representações. Os
ra da qüididade, se a percebermos diretamente. Se tocamos a flor tal como ci entistas têm conhecimento de que nem mesmo sabem o que e uma par-
ela e ou se a tocamos apenas como uma imagem que nossa mente faz dela, tÍflula de poeira. Olhando profundamente para um elétron, curvamos a ca-
isso depende do nosso modo de percepção. Entretanto, nossas percepções bflça em admiração. E entretanto aqui está um ser humano sentado ao nos-
i. - -'
r
"rnansror-iMaçõi‹;s na_consciÊncia Paiirn UM: consciência anMaznnaUona

so lado e achamos já saber tudo a seu respeito. Odiamos ou amamos de- As cinco primeiras consciências, as consciências sensoriais do olho, do
pendendo das imagens que nós mesmos criamos. A maior parte das nossas ouvido, do nariz, da língua e do corpo _ são capazes de tocar o reino das
percepções, apegos e aversões ocorrem na forma de representação ou no ter- coisas-em-si-mesmas, especialmente quando entram em contato com seus
ceiro modo de percepção, o modo das meras imagens. Nós, tambem, de- objetos de percepção sem a participação e intervenção da consciência men-
vemos sempre continuar aprendendo. Precisamos olhar de perto as coisas tal. Entretanto, quando a consciência mental intervém, haverá sempre al-
que achamos pertencerem ao mundo das coisas-em-si-mesmas e ver se não gum pensamento e imaginação, e a imagem trazida para ela, por uma das
são, na verdade, apenas representações ou meras imagens. consciências sensoriais, será distorcida. Quando vemos uma mesa, o que
_ O terceiro modo de percepção ó o campo de meras imagens. Nesse percebemos como “mesa” pertence ao campo das representações porque
modo de percepção, o que percebemos são puramente imagens. Se andan- nossa percepção traz consigo muito de consciência mental. Pensamos nu-
do na rua você vê um cachorro, sua percepção dele pertence ao reino das ma mesa como algo em que se pode põr coisas em cima. Os cupins a vêem
representações. Se você vai para casa e sonha com o cachorro, a imagem do como uma fonte de alimento. Quer vejamos a mesa como um alimento ou
seu sonho está no campo de meras imagens. Em nossos sonhos “vemos” como uma superfíciç, nossa percepção não está ocorrendo no reino das coi-
pessoas que amamos ou odiamos, montanhas e rios. Todos esses pertencem sas-em-si-mesmas. Qualquer coisa da esfera das coisas-em-si-mesmas,
ao reino de meras imagens. Quando praticamos visualização, estamos tam- quando tocada pela consciência sensorial e depois processada pela cons-
bem usando imagens tiradas desse modo de percepção. . ciência mental, se torna uma representação. Entretanto, as vezes, ate nossa
Todas as imagens, quer as percebamos no modo de representações ou consciência mental pode tocar o reino das coisas-em-si-mesmas. Quando
no modo de meras imagens, são falsas. Elas não são uma percepção direta temos uma intuição muito forte, nossa consciência mental está em conta-
das coisas-em-si-mesmas. De acordo com os ensinamentos da Pura Mani- to com o reino da qüididade. A intuição e uma forma de conhecimento que
festação, vivemos muito mais no mundo das representações e das meras não se baseia no pensamento nem na imaginação.
imagens do que no mundo das coisas-em-si-mesmas. Nossa consciência ra- A consciência tem a função de manifestar e diferenciar nossas percep-
raniente toca a realidade. Nós nos aprisionamos nas imagens distorcidas ções, graças a esses três modos de percepção. Para que uma percepção se
que fazemos da realidade. _ manifeste na consciência, e preciso que ela tenha um sujeito e um objeto.
Suponha que está andando em um campo ao anoitecer. No caminho Enquanto a filosofia ocidental considera sujeito e objeto como opostos, os
a sua frente você vê uma forma longa e curva que “reconhece” comb uma ensinamentos da Pura Manifestação dizem que eles são dois aspectos da
cobra. Você fica assustado.” Então, alguem acende uma lanterna sobre a co- mesma realidade.
bra e você descobre que de fato ó apenas um pedaço de corda. O medo que Nossa consciência armazenadora e responsável pela manifestação de
sentiu foi resultado de uma percepção errada. Vendo o pedaço de corda, vo- todos os três modos de percepção: coisas-em-si-mesmas, representações e
cê tocou a imagem de uma cobra guardada na sua consciência armazena- meras imagens. Todos os três campos de percepção estão incluídos nos de-
dora. Você não tocou o reino da realidade-em-si-mesma mas, sim, o reino zoito elementos do ser, os quais se constituem dos seis sentidos básicos, dos
de meras imagens. ' Seus seis objetos de percepção e das seis consciências resultantes. Os órgãos
Grande parte do sofrimento que passamos todos os dias vem de nossas dos sentidos (iizdrzj/az) _ olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente _
percepções falsas, baseadas no medo e- na ignorancia. I-Iindus e muçulma- São também chamados portões (rzyerrzim) porque tudo o que percebemos
nos, palestinos e israelenses, têm- muito medo devido as imagens que têm Ultra por eles. Esses órgãos dos sentidos são a base para o contato com os
uns dos outros. Por estarem vivendo no reino das representações, continuarn Objetos dos sentidos de forma, som, cheiro, paladar, tato e com os objetos
a causar sofrimento uns para os outros. Vivemos dia após dia no reino das dd mente. As portas dos sentidos e os seus objetos correspondentes (i›r`s/adj/ez)
representações, cheio de erros e discriminações, e sofremos por causa disso. Pfüduzem a consciência sensorial. Quando os olhos estão em contato com
l - A
TRANSFURMAÇÚES NA CCINSCIENCIA
i

uma forma, a compreensão resultante da forma e chamada consciência dos


olhos. Similarmente, quando as outras cinco bases dos sentidos entrarri em
contato com seus objetos de percepção, provocam suas consciências corres-
pondentes. Os objetos da mente são pensamento, imaginação e ideias. O
resultado e a consciência mental. Ê* NOVE
Dharmas, objetos da mente, encontram-se em todos os três mundos:
o mundo das coisas-como-elas-são, o mundo das representações e o mun- Mdturdçdo e ez Lei dd Afinidózde
do das meras imagens. Os dezoito elementos do ser são os campos nos quais
a existência e possível. Alguem perguntou ao Buda: “O que e o mundo?
Como podemos falar sobre todas as coisas que são?” Ele respondeu: “To-
das as coisas que existem podem ser encontradas nos dezoito elementos. Fo- Todas as manifestações 'trazem as marcas
ra desses, nada pode ser encontrado.” Os dezoito elementos são uma ma-_ Do individual e coletivo.
nifestação das nossas consciências individual e coletiva. Todos os objetos dá A maturação da consciência armazenadora funciona do mesmo modo
nossa percepção estão incluídos nesses dezoito elementosff Na sua participação em diferentes etapas e esferas do ser."
Ao ler este livro, a folha de papel na sua mão está no reino da realidade-
em-si-mesma. Se assim tocamos sua verdadeira natureza e que e a questão.
Podemos achar que estamos percebendo a folha de papel tal como ela e, mas
provavelmente não estamos. Somos apanhados pelo hábito de ver e pensar So Quanoo as ssiusnras ssconnioas nas profundezas da nossa
determinado por ideias como eu e outro, dentro e fora, isto e aquilo, come- consciência amadurecem e manifestam-se na nossa consciência
ço e fim. Quando dividimos o universo em categorias, podemos tocar ape- mental e que passamos a nos aperceber delas. Quando a raiva e a tristeza
nas o campo das representações, não o campo das coisas-em-si-mesmas. Mes- estão latentes, não podemos vê-las. Mas quando nos enraivecemos _ nos-
mo quando realmente tocamos o papel _ o objeto da nossa percepção -- so' rosto enrubesce, nossa voz se eleva _ e sinal de que a semente de nossa
com os nossos dedos e com os nossos olhos, a coisa que aparece para g nossa raiva amadureceu e podemos então notá-la. As sementes de raiva estavam
percepção não e o ser do papel tal como ele e, mas uma representação. ali, escondidas na nossa consciência armazenadora, antes mesmo de ficar-
. Somos capazes de alcançar o campo das coisas-em-si-mesmas, o mos enraivecidos. Se tivessemos dito: “Não tenho raiva”, isso não seria cor-
mundo da qrZi:`dz'd.ede mas, porque pensamos e discriminamos, geralmen- reto. As sementes de raiva estavam ali muito embora não tivessem ainda se
te não percebemos as coisas como na realidade são. A natureza da nossa manifestado.
mente está obstruída (pari/relgäšrrz). Isso significa que construímos um Manifestação (rfäiãrrprrfi e um termo importante. A manifestação se dá
mundo cheio de ilusão para nós mesmos por causa da maneira distorcida POI uma função da consciência, e a percepção dela tambem e função da
de percebermos a realidade. Meditação e olhar em profundidade a fim de Cüusciêncía. Todas as manifestações que vemos nos dezoito elementos do
chegar a realidade _ primeiro, a realidade de nós mesmos e, depois, a rea- 561' estão nos três campos: das coisas-em-si-mesmas, das representações e
lidade do mundo. Para chegar a essa realidade, temos que abandonar as dHS meras imagens. E todas as manifestações trazem a marca do individual
imagens que criamos na nossa consciência, bem como nossas noções de eu É do coletivo. As vezes, são mais individuais do que coletivas, outras vezes
e outro, dentro e fora. Nossa prática destina-se a corrigir esta tendência ëlfiüntece o contrário. A lua cheia e uma manifestação da nossa consciência
para discriminar e pensar dualisticamente e, assim, possibilitar que a rea- flfmazenadora individual e coletiva. Todas as pessoas -têm o direito de apre-
lidade se revele em si mesma. Clëlr a lua e, dessa maneira, ela e coletiva. Porem, muitos de nós não temos
l .
Tnansi=onMaçoEs na consciência _ PARTE UMI CONSCIÊNCIA ARMAZENADÚRA

tempo para entrafein contato direto com ela. A lua está mais próxima de mim. Se estou planejando um piquenique, quero quo o gol brilho o dia in-
algumas pessoas do que de outras. reiro. Um fazendeiro, entretanto, pode querer que chova para que sua plan-
Podemos criar o paraíso ou o inferno na nossa mente. Quais as con- ração não sofra com a seca. No sul da Asia, as pessoas suspiram por nuvens
dições necessárias para sermos verdadeiramente felizes? Se essas condições que cubram o sol quente e refresquem o ar. Na América do N01-te: um dia
nunca se apresentarem, você vai sofrer pelo resto da sua vida? Ou será que quente de sol deixa as pessoas felizes. Esses são exemplos de aspectos indi-
mesmo sem elas, você consegue ser feliz? Temos muitas condições para a fe- viduais do sol.
licidade, mas raramente nos beneficiamos delas. Por favor, anote algumas Quando acendemos uma vela, muitos lugares ficam iluminados _ a
condições para a felicidade que estejam ii sua disposição exatamente agora. área ao redor da vela, depois a área um pouco mais distante e outra ainda
Poderia você organizar a sua vida de modo a poder reconhece-las quando mais longe. Quando acendemos uma segunda vela, ela tambem projeta luz
estão presentes? Tente arrumar sua vida de um jeito que facilite essas con- nessas três áreas e, em cada uma delas, a luz da outra vela entra com inten-
dições de felicidade. Não as ignore nem as destrua. Quando há alguma coi- sidade variada. Uma vez acendida a segunda vela, não há nenhuma área de
sa de que você não gosta, o que pode fazer para torná-la mais aceitável? Por luz que venha só de uma vela. Há sempre nela a luz da outra vela. As dife-
favor, reflita sobre essas questões. rentes áreas de luz não têm apenas uma manifestação individual. Elas têm
Todas as manifestações de fenómenos surgem da nossirconsciência ar- tambem uma manifestação coletiva. -
mazenadora. A consciência armazenadora manifesta-se em formações men- .Por terem todas as manifestações tanto um aspecto individual como
tais e formações físicas _ nossos órgãos dos sentidos: olhos, ouvidos, nariz, coletivo, nãoseria correto dizer que um jovem na prisão carrega toda a res-
língua e corpo e mais os seus objetos que são formas, sons, odores, gostos e ponsabilidade pelo seu crime. Ele e produto de sua família, de sua escola-
toques. A consciência armazenadora se manifesta tambem como os três cam- ridade e da sociedade. Se olharmos em profundidade, e possívol dosoobfíf
pos de percepção _ o reino das coisas-em-si-mesmas ou tais como são, as que, quando ele era mais jovem, seus pais viviam sempre brigando, fazen-
quais podemos tocar toda vez que temos eniascz'e`r¿cz'd da interexistência, da do sofrer um ao outro, e ao filho tambem. Talvez ele tenha sofrido maus-
não-dualidade, da impermanência e do não-eu; o reino das representações, tratos e tenha tentado esquecer de si mesmo nas drogas por falta do amor 6
onde passamos nossa vida diária presos a uma maneira de pensar contrária educação. Com as drogas, sua capacidade de fazer boas escolhas diminuiu
aos princípios da não-dualidade e da interexistência; e o reino de meraš ima- ainda mais. Cometer um crirrie foi o resultado.
gens, o mundo dos sonhos, da imaginação e da recordação. Í _ Olhando profundamente, vemos que as condições para as atitudes des- _._.-
_`É*4t

Todas essas manifestações trazem as marcas do individual e do coleti- So Jovem não surgiram só de sua mente e de suas experiências. Todos nós te-
Ii

vo. Todas as manifestações do mundo natural, tais como árvores, grama, ÉSZëlâqgeggaãgspíqpšalšilidade por cria; condições que oçlevararn para o ci-
montanhas_,e rios; todas as manifestações físicas, inclusive o nosso próprio Hjudar. As püssüas usalçl Êrapenas o con eriarrriflos ou punirmos, isso nao' vai l-I

corpo e o corpo dos outros; e todas as manifestações psicológicas, tais co- Colocar na _ H al 2 ogas porque estao 'itas q querem fugir da vida. -
:I F
:Lt-'É-

| J

mo raiva, tristeza, medo e ansiedade _ todas são manifestações com aspec- prisao guem que esta sofrendo assim, nao e a maneira de solu- I-;l

tos do individual e do coletivo. Não existe manifestação de um fenómeno Eèoíijaâp Tp;-ptlšlema. Tem que haver amor e compreensão, algum maio do tm- | |
que seja puramente individual ou puramente coletiva. para a vida, oferecendo-lhe alegria, clareza e propósito.
Examinando a semente de raiva que existe em nós, podemos ver sua i 5
natureza individual e' coletiva. Nossa raiva tem raízes em experiências com
indivâšíiüé LIlr;S£ZÍÊLiíra(çiv1ÍiqZšfeliciƒdalçle em nos trazem tambem a marca do
'i
nossos pais, professores, amigos e com a nossa própria vida. O sol brilha uam dg pensar Sümir è . So cere ro nao e-apenas individual. Nossa ma-
_ z criar reflete a consciencia coletiva. E nossa cons-
para todos, mas essa não e uma manifestação puramente coletiva. O brilho Clência coletiva
` reflete e tambemf ajuda
' -
a manifestar o mundo quo pfifcfiba i
do sol tem tambem um aspecto individual _ e diferente para você e para IPUS E no qual vivemos.
raaussoaivnàçözs iva coivscrfiracra PARTE UM: CONSCIÊNCIA ARMAZENADURA

Maturação e outra maneira de descrever a consciencia armazenadora. -(kamm-pfšala). Suponhamos que um colega de trabalho ralhe com você fa-
Você põe todas as sementes em um recipiente _ a consciencia armazena- zendo com que perca a confiança em si mesmo. Por causa dessa ação, uma
dora _ e espera ate que cada percepção, sentimento e formação mental se Semente nociva e plantada não so na sua consciencia mas na dele tambem.
manifeste por meio do amadurecimento. Cada percepção, sentimento e Comparada a uma semente amável anteriormente plantada por ele, essa se-
formação mental traz a marca da individualidade e, ao mesmo tempo, da mente se torna menos significativa. Mas agora existem duas sementes na
coletividade. A palavra em sânscrito para maturação, vzjrmzfóz, pode ser tra- consciência do seu colega, uma construtiva e outra destrutiva. Quando es-
duzida tambem como “amadurecendo”. Uma semente sempre necessita do sas duas sementes amadurecerem, ele sera levado a agir dentro da media do
tempo certo e das condições corretas para amadurecer e dar fruto. Quando peso de ambas as ações. _
amadurece, a semente se transforma numa forma de ser que e a verdadeira Maturação significa a conclusão do amadurecimento das ações-de-
manifestação de suas qualidades: uma flor de laranjeira produz uma laran- causa. Quando olhamos profundamente, vemos que nossa atual psicologia
ja. A flor precisa de tempo e condições adequados para se tornar a laranja e fisiologia, nossa felicidade e nosso sofrimento são resultado-de-ações de
que comemos. Do mesmo modo, uma ação necessita de tempo para ama- ações-de-causa do pašado. Olhando para trás, podemos ver as ações passa-
durecer. Nossas ações, nosso carma _ o que dizemos, pensamos e fazemos das que foram plantadas na nossa consciencia armazenadora. Graças às se-
_ necessitarn de tempo para amadurecer. Quando se maiaifestam, o fazem mentes saudaveis plantadas por nossos mestres, amigos, parentes e outros,
com a participação de outras consciências. . podemos agora gozar de paz e alegria quando praticamos meditação andan-
O amadurecimento dos fenômenos acontece de tres maneiras: do. Olhando para o presente, vemos que se continuarmos a semear e regar
essas sementes saudáveis, teremos ainda mais paz e alegria no futuro.
I) Amadureez'menre em tempos dâfirerzres. Suponhamos que colocamos ' Nossa maneira de ser agora e a soma da ação A mais a ação B. Quan-
de lado uma fruta-do-conde, um cacho de bananas e uma jaca. A fruta-do- do olhamos profundamente para o nosso corpo e a nossa mente, vemos
conde arnadurecerã primeiro, depois as bananas e por último a jaca. As se- qual o nível de felicidade, tranqüilidade e liberdade que existe em nos. En-
mentes que nossos pais, avos e amigos plantam e regam em nos sempre tão lentamente jogamos uma luz no que fizemos no passado, as pessoas que
amadurecem, mais cedo ou mais tarde. Não e preciso perguntar: “Por que nos ajudaram, as coisas que colocamos em pratica e que hoje nos trazem es-
não me transformei se já estudei tantos ensinamentos do Buda? Bor que ta sensação de felicidade, tranqüilidade e liberdade. Vemos também as
ainda não sinto paz e alegria, se tenho praticado tanta meditação andan- ações-de-causa que fizemos e que resultaram em raiva, tristeza e ciúme. Pa-
do?” Cada semente amadurece no seu proprio tempo. Nossa pratica e sim- ra descobrir as sementes de ações feitas no passado, basta olhar os frutos no
plesmente aguar as sementes positivas em nos. Devemos confiar em que se presente momento.
continuarmos a regar uma certa semente, ela germinara e crescerá. A expressão “esferas do ser” nesse verso novamente se refere aos três
2) ƒlmadrzrrecimeflto de diffirefltes variedades. Uma banana verde torna- Ieínos da existência samsárica que discutimos inicialmente no Capítulo
se uma banana madura _ ela não pode nunca se tornar uma fruta-do-con- Tres. Esses são os reinos do desejo, da forma e da não-forma. O reino do
de madura. _ desejo corresponde a primeira etapa do ser. Os reinos da forma e da não-
5) Amezdrrrecšzzzerzra e mudança. Quando alguma coisa anladurece, forma são posteriormente divididos em dois níveis cada um. As etapas no
muitos aspectos dela mudam completamente. Uma laranja que não esteja Verso acima referem-se a todos os nove níveis dos tres reinos: o reino do de-
madura e verde e azeda. Quando esta amadurecida, a laranja e doce. SEÍU, os quatro estados de concentração meditativa (d/øyamzr) do reino da
fürma, e os quatro níveis do reino da não-forma. As nove etapas são:
Plantar uma semente e uma ação-de-causa (karma-/reta). Quando a
ação-de-causa amadurece, torna-se um resultado-de-ação, ou fruto-de-ação
Paarz UM: consciência aaivrazznanoaa
rxarvssoaivraçõzs Na consciência -ML-_-1- É

1) O Reino do Desejo (Âmfmad/arzru). A característica desse mundo É o ciência do mestre, dos discípulos, dos amigos da jornada e da comunidade
de prática que foi ali criada. A motivação de todos nos É estudar e praticar,
desejo em demasia, correr atras das coisas e o apego. O Buda descreveu seis
destinos ou formas de existência para as quais os seres vivos migram vida por isso criamos Plum Village. Quer você viva no reino do desejo, no rei-
no da forma ou no reino da não-forma, esse reino É a criação da consciên-
apos vida: o mundo dos deuses (dems); o mundo dos as/auras ou “titãs”, se-
res que são talentosos e inteligentes, porem raivosos e hostis; o mundo dos cia coletiva de todos os que nele habitam.
Quando estamos no reino do desejo, esse não É só uma manifestação
seres humanos; o mundo do inferno; o mundo dos fantasmas famintos
(preta), aqueles que sentem fome de alimento, abrigo, amor ou algo em que de nossa consciência individual mas tambÉm da consciência coletiva. A so-

acreditar, mas que podem nunca estar satisfeitos; e o mundo dos animais, ciedade ocidental É uma sociedade consumista, mas os praticantes em
aqueles que vivem somente por seus instintos, que não têm vida espiritual, Plum Village não participani da sociedade de consumo no nível da maio-

ideais ou compaixão. Todos esses seis tipos de seres _ deuses, ashuras, hu- ria das pessoas em Paris ou BordÉus. Contudo, estamos ainda vivendo no
manos, fantasmas famintos, seres dos infernos e animais _ são encontra- reino do desejo que É uma manifestação da consciência coletiva. A propa-
ganda de televisão É inseligentemente projetada para regar as sementes do
dos no reino do desejo.
2) O Eden Brahma. Este É o primeiro nível do reino da forma. E cha- desejo em nos. Em Plum Village não vemos televisão, portanto nossas se-
mentes de desejo não podem ser aguadas por esse meio em particular. Es-
mado de reino celestial do primeiro óíføyózna. Os seres desseiiiiiundo têm cor-
sa É uma manifestação individual dentro da manifestação coletiva da so-
pos diferentes uns dos outros, mas pensam da mesma maneira.
ciedade de consumo.
3) O Eden Puro da Grande Luz. Esse É o segundo nível do reino da
A maturação da consciência armazenado ra tambem segue a Lei da Afi-
forma, o reino celestial do segundo d/øyózmz. Existe muita luz nesse mundo.
nidade, a atração do semelhante pelo semelhante. Fazemos isso e não faze-
Os corpos dos seres desse mundo são parecidos, mas pensam de maneira
mos aquilo. Os motivos pelos quais fazemos uma coisa e não outra já estão
diferente.
determinados na “maturação-de-causa” que leva ao “fruto-de-maturação”.
4) O Eden Puro de Todo Lugar. Esse É o terceiro nível do reino da for-
Um exemplo de fruto-de-maturação É a existência de Plum Village e da co-
ma. E chamado de reino celestial do terceiro d/flyrsme e É muito pacífico e
munidade que ali pratica. Maturação-de-causa são as sementes que planta-
puro. Os seres que vivem aqui são exatamente iguais de corpo e mente.
mos no passado e que nos conduziram para esse lugar. lsso se chama “for-
5) O Eden da Não-Percepção. Esse É o quarto nível do reino _)d;a for-
ÇH Cla ação”, nesse caso, uma ação salutar. Se tivessemos regado as sementes
ma e o mais elevado dos quatro reinos de óí/ayózmz. Nesse nível, os seres não
do vício em drogas, não estaríamos ali. Mas como temos regado as semen-
têm percepção acompanhada de ideação.
tes do Dharma de Buda em nos mesmos, para ali fomos levados. A comu-
6) O Reino' do Espaço Ilimitado É o primeiro nível do reino da não-
Ilidade de Plum Village É, nesse sentido, predeterminada. Sementes sauda-
forma (evãøpózói/nem).
veis já foram plantadas e regadas na nossa consciência armazenadora e agora í"I-afzi
7) O Reino da Consciência Ilimitada É o segundo nível do reino da
estão brotando. Elas nos dão a energia para vir e participar de uma comu-
não-forma. '
nidade de pratica. -
8) O Reino do Não-Objeto É o terceiro nível do reino da não-forma. c_.?.-_

Certo dia, sentado em ]eta Grove, o Buda fez esta observação: “Mon-
9) O Reino da Não-Percepção e da Não Não-Percepção É o quarto e
ÊES, vocês repararam que os monges que gostam da discussão sobre o Dhar-
último reino da não-forma. .
ma estão sentados perto do Venerãvel Shariputra e os que estão interessa-
ClUS nos preceitos estão com o Venerável Upali? Os monges que gostam de
Os três reinos e as nove etapas estão presentes por causa da coopera-
dar palestra sobre o Dharma reúnem-se em torno do Veneravel Purna. Sha-
ção da consciência de muitas pessoas. Por exemplo, a comunidade de Plum
flputra É muito bom na discussão de Dharma, Upali É especializado em pre-
Village no sul da França, onde eu moro, É a manifestação coletiva da cons-
| ,. ..
TRANSFORMAÇÚES NA CUNSCIENCIA . _ _ .I

_ iflaitrz UM: consciencia aaniazanaooga,


JL

ceitos, e Purna da excelentes palestras sobre o Dharma.” Este É um exem- Sa determinou que nos nos reuníssemos desta maneira, alguma coisa indivi-
plo da Lei da Afinidade. Nossas aspirações, necessidades e energia de nos-
dual e coletiva que estava gravada na nossa consciência armazenadora. Essa
sas ações determinam se participamos de um reino ou etapa do ser ou de
É a Lei da Afinidade ou participação.
outro. Quando encontramos um amigo em cuja companhia gostamos de Cada um de nos tem dentro de si a capacidade de existir em todos os
ficar algum tempo, estamos diante da lei da atração do semelhante pelo se-
seis reinos do ser _ os reinos dos deuses, .âzrbzrms (“titãs furiosos”), huma-
melhante. Sentimos que temos uma afinidade com a pessoa e essa informa-
nos, fantasmas famintos, infernos e animais. Todos nos já estivemos no in-
ção É gravada como uma semente na nossa consciencia. Quando a semen-
ferno. O inferno não fica muito longe. O inferno É aqui mesmo. Na tradi-
te da afinidade fica madura, nos sentimos atraídos por uma determinada
ção budista, acreditamos que existem seres chamados fantasmas famintos.
pessoa ou situação. H
O fantasma faminto tem uma barriga muito grande e uma garganta do ta-
Plum Village É uma area pequena e a Europa, onde Plum Village se si-
manho de uma agulha. Eles jamais conseguem satisfazer sua fome. Nos paí-
tua, É uma área grande. Pertencemos a area grande, mas vivemos na area pe-
ses budistas, todos os anos no dia da lua cheia do oitavo mês lunar, fazemos
quena e dela participamos. Entretanto, quando estamos em' Pltun Village,
oferendas aos nossos apcestrais. Ancestrais não são fantasmas famintos. Eles
estamos tambem na Europa. De forma semelhante, ao fazermos parte de tem filhos e um lar para visitar. Mas nos sabemos que existem muitos fan-
uma das nove etapas do ser, isso não significa que não part_i_çipamos tambem tasmas famintos que ficam perambulando sem terem um lar para onde ir.
das outras oito etapas, apenas que nossa participação nelas e mais diluída. Assim sendo, fazemos tambem para eles oferendas de bolos de arroz, agua
Nossa participação na etapa para a qual fomos atraídos devido a Lei da Afi- etc. Recitamos mantras para que o tamanho da garganta dos fantasmas fa-
nidade e sempre mais concentrada _ mas ainda assim participamos das ou- mintos volte ao normal. Depois, lemos o Sutra do Ceraçãalü e os convida-
tras etapas. As nove etapas todas existem dentro de nos. Quando uma se ma- mos para vir e comer. Então, rogamos ao Buda Amitabha para que leve to-
nifesta, as outras se distinguem menos, mas não deixam de estar presentes. dos os fantasmas famintos para a Terra Pura. 11
Maturação e o fruto amadurecido da nossa consciência. Durante o Fantasmas famintos não são seres criados apenas pela tradição budis-
tempo em que está amadurecendo, nossa consciência procura residir no es- ta. Diariamente, nossa sociedade cria milhares de fantasmas famintos.
tágio mais proximo a soma de nossas ações. Se existe na nossa consciência Olhando profundamente, vemos que eles estão ao nosso redor em toda par-
armazenadora alguma ação relacionada com o vício da cocaína, a força de re. São pessoas sem raízes. Em suas famílias, os pais não demonstraram que
atração do semelhante para o semelhante leva-nos a nos associar corn pes- a felicidade e possível. Eles não se sentiram compreendidos nem aceitos pe-
soas que gostam de drogas. O amadurecimento do fruto na consciência nos la sua igreja ou comunidade. Portanto, rejeitam tudo. Não acreditam em
conduz para um dos reinos de uma forma muito profunda. família, sociedade nem religião. Não acreditam na sua propria tradição. Po-
Consideremos este livro em profundidade. Ele e uma manifestação da fëm, ainda estão procurando alguma coisa boa, bela e verdadeira em que
consciência coletiva, porque cada um de vocês plantou sementes da pratica possam acreditar; estão com fome de compreensão e amor.
na sua consciência armazenadora. Talvez você tenha lido outro livro ou ou- _ De tempos em tempos, fantasmas famintos vêm a um centro de pra-
vido falar sobre a plena consciência ou sobre a psicologia budista e teve von- tica como Plum Village. Facilmente podemos reconhece-los. Mesmo que
tade de cultivar um maior conhecimento sobre a arte da cura e da transfor- Você lhes ofereça compreensão e amor, são ceticos. Para ajudar um fantas-
mação. lsso pode ter acontecido ha algum tempo atras. Agora, as condições ma faminto, você tem que ser paciente. Primeiro, tem que ganhar a sua
estão suficientemente maduras para que eu possa oferecer este livro para vo- Cüflfiança. Mas, por terem uma garganta tão minúscula _ eles suspeitam
cê ler. A participação de cada um de nos depende das ações que desempe- Clfi rudo, não estão dispostos a acreditar em nada _ mesmo que você tenha
nhamos no passado. Por que outros não estão lendo sobre esses C'z'zzqzäei2r.¢z amür para oferecer, eles não conseguem aceita-lo. E, devido a Lei da Afini-
Verses? Porque eles não compartilham do mesmo interesse. Mas alguma coi- dade, fantasmas famintos gostam de se juntar a outros semelhantes a eles.
raansroaivraçõns na conscifincia Panrn UM: conscifincia aiuvrazisnaooaa

Se aguarmos as sementes de fantasma faminto que existem em nos, nos tor- mas semanas ou meses de prática de transformação podem ajudar a ama-
naremos um fantasma faminto. Então, procuraremos outros semelhantes a clurecer as sementes saudáveis que vivem em nos e produzir uma vida no-
nos para passar o tempo e formar uma sociedade de fantasmas famintos. Va aqui e agora. Cuidando de nossas sementes, plantando e regando as boas,
já está estabelecido dentro de nossa consciência armazenadora se va- não deixando as negativas se manifestarem, estaremos no caminho da ma-
mos em direção aos deuses, humanos, ózs/mms, fantasmas famintos, infer- turação. Já vi pessoas que, depois de apenas três ou quatro dias de prática,
nos ou animais. Carma significa ação, as ações de corpo, palavra e mente. ge transformaram em outros seres. Puderam ir para casa e se reconciliar com
Na nossa vida diária, todo ato, palavra e pensamento tem o poder de pro- me-mbros da família e recuperar a felicidade que merecem. As sementes de
duzir fruto. Quando nossas ações de corpo, palavra e mente se juntam e, renascimento, observação, transformação e cura que possuíam foram bem
com o tempo, amadurecem ate ser concluída a maturação, a cons ciencia ar- tratadas e a maturação pode ocorrer rapidamente. Nos tambem somos ca-
mazenadora propicia outra etapa do ser. Apos anos seguidos executando pazes de produzir um novo ser a partir das sementes na nossa consciência, -_ _- _-. _

ações de corpo, fala e mente, a participação da nossa consciência armaze- passando a viver de maneira mais positiva e feliz. Não há razão para pensar
nadora individual na consciência coletiva manifesta-se no reino de ser a que que nao podemos. É
estamos indo.
Suponhamos que alguem se prenda a um ciclo de consumo de drogas.
Ele e atraído para aquele ambiente, aonde quer que vá. Essa e a manifesta-
ção da sua consciência armazenadora. A maturação de suas ações passadas
leva-o nessa direção. A participação da sua consciência armazenadora naque-
le reino do ser e o fruto de sua maneira de viver. Mas se ele encontrar alguem
que seja capaz de amá-lo e ajudá-lo, as sementes positivas que nele existem
serão regadas e ele poderá ter uma compreensão súbita. Com a ajuda de ou-
tra pessoa, poderá desligar-se do ambiente nocivo. Lentamente, a matura-
ção de outras sementes o ajudará a participar e mudar para outro reino.
As sementes que estão em nos levam-nos a partilhar a vida com ou-
tros que são como nos _ quer seja uma vida saudável ou não. Entretanto,
a transformação e possível. Primeiro: temos de determinar em que direção
queremos ir. Segundo: nos dispor a embarcar numa jornada de transforma-
ção e curaç Terceiro: descobrir que existe um caminho que podemos tomar
e procurar um jeito de praticar com outros que tambem querem viver de
uma forma mais consciente. Então, descobrimos que compartilhamos o
mesmo carma, o carma de praticar cura e transformação. Os que estão in-
teressados so em comer, dormir e fazer sexo se reunirão no reino do dese-
jo. Os que estão preocupados com as pessoas que sofrem no mundo, en-
contrarão maneiras de se juntarem para servir. Esta É a Lei da Afinidade. Í '| 'I'

Emancipação _ participação no reino de alegria e paz _ e uma ques-


tão de tocar e transformar as sementes, de ajudar as sementes positivas a
crescerem. Não precisamos morrer para renascer e ter um novo ser. Algu-
raarz oivi: consciencia aaiviazenaooaa

tido dá origem a consciência sensorial. Se estivermos dormindo sem sonhar,


a consciência mental tambem pára. Entretanto manas, a setima conscien-
cia, que e intimamente ligada a consciência armazenadora e atua como
apoio para a consciência mental, não pára. Assim como a consciência ar-
ëw DEZ Q mazenadora, manas nunca cessa sua atividade. Aprenderemos mais sobre
manas na sexta parte deste livro.
As Cinco Urziz/ersazs Muito embora a consciência armazenadora não cesse nunca de fun-
cionar, isso não significa que seja permanente. Como um rio, ela está con-
tinuamente fluindo e mudando. Um rio e sempre o mesmo rio, mas a água
dele está sempre mudando. O mesmo acontece com a consciência armaze-
Desobstruída e' indeterminada, nadora. Ela e um rio, e as sementes que contem são como a água que está
A consciência armazenadora está continuamente fluindo e mudando. sempre mudando.
Ao mesmo tempo, ela e dotada O termo “formáições mentais” e muito importante no Budismo, e va-
De todas as cinco formações mentais universais. mos encontrá-lo em todo este livro. Uma formação mental e o resultado da
§"\.

manifestação de uma semente na nossa consciência armazenadora. A esco-


la da Pura Manifestação divide as formações mentais em cinqüenta e uma
ESSE VERSO DESCREVE as qualidades da consciência armazenadora categorias, que discutiremos detalhadamente mais tarde, nos Cinqüenta
que a diferenciam das outras consciências. “Desobstruída” quer di- Versos. Para compreender esse verso, precisamos saber que existem cinco
zer que está exposta a luz, portanto não oculta. A consciência armazenadora formações mentais universais: contato (spam/ffa), atenção (manaskara), sen-
É desobstruída porque e capaz de alcançar a claridade absoluta. E tambem in- timento (vedana), percepção ou conceituação (samjtãa) e volição (c/aetamz).
Essas cinco formações mentais são “associadas”, o que significa que estão
determinada, o que significa que a consciência armazenadora em si não e sau-
presas umas as outras (samprayakta). São chamadas universais porque estão
dável nem nociva, embora contenha todas as sementes saudáveis e nocivas.
ativas em todas as oito consciências.
Todos os fenomenos são de uma das três naturezas: saudável (euska-
As cinco universais atuam junto as oito consciencias em termos de re-
la), nociva (aeas/vala) e indeterminada. Cada um dos nossos pensaníentos,
ceber, aceitar, reter, manter, preservar e armazenar as sementes, funções que
palavras e ações pertence a uma dessas três naturezas. Saudável significa útil
são da consciência armazenadora. A consciência armazenadora opera na
para nos e para os outros. Nociva significa que não É saudável nem para nos forma dessas cinco funções mentais universais. Entretanto, as cinco univer-
nem para os outros. lndeterminada significa que uma ação, uma palavra ou sais são diferentes de uma consciência para outra, porque o modo de per-
um pensaíinento inerentemente não e nem saudável nem nocivo. Pode ser Cepção (pramana, “maneira de 1nedir”) da consciência armazenadora e di-
uma coisa ou outra, dependendo das circunstâncias. Se e nociva ou salutar, ferente do modo de percepção das outras consciências.
isso depende da nossa maneira de viver. Para entender como as consciências operam, temos que considerar a
A consciencia armazenadora funciona continuamente, dia e noite, natureza, o modo e o objeto de percepção de cada uma. No Capítulo Oi-
sem parar. As seis consciências sensoriais, visual, auditiva, olfativa, gustati- FD discutimos os três campos de percepção _ os reinos das coisas-em-si-
va, corporal e mental _ algumas vezes eštão ativas e outras, em repouso. A Hlesmas, o reino das representações e o reino das meras imagens. O modo
consciência visual, por exemplo, funciona durante o dia mas não funciona Ele percepção que leva ao reino-das-coisas-em-si-mesmas e direto (ptatyaks/Ja
quando estamos dormindo, porque nossos olhos estão fechados e não per- Pramaraa). Uma percepção direta não envolve pensamento nem imagina-
cebem objeto nenhum. Somente pelo contato com seus objetos É que o sen- Ção; ela não e o resultado de comparação ou racionalização. Na consciên-
Taansroiiiviações na consciencia

cia armazenadora, o modo de percepção e sempre direto. Quando vemos


um fogo, sabemos que e fogo. Essa É uma percepção direta.
Mas suponhamos que vemos uma fumaça subindo por trás de uma
parede e daí concluímos que deve haver fogo ali. Essa e uma percepção por
dedução, percepção por inferência (amtmana pramana) e pode estar corre- ÊÍ* ONZE
ta ou incorreta. Se o que pensávamos ser fumaça de um fogo e na realida-
de neblina, por exemplo, trata-se de uma percepção errônea (ab/Java pra- Os Tfês Selos do D/øarma
mana). O Buda advertiu que a maioria das nossas percepções e falsa.
Quando olhamos para um belo por-do-sol, acreditamos estar vendo o sol
do momento presente. Mas os cientistas nos dizem que o sol que realmen-
te estamos vendo É a imagem do sol de oito minutos antes. Passamos a vi- Embora impermanente e sem um eu separado J

A consciencia armazenadora contem, na forma de sementes


.H Í L

da com muitas percepções erroneas, no entanto estamos certos de que elas J'

'estão corretas. A falsa percepção e a fonte de muito sofrimento. Todos os fenomenos do cosmo I

A consciência armazenadora não se envolve em pensamentos, compara- Tanto os condicionados como os incondicionados_
ções ou imaginação. Seu modo de percepção e sempre direto. Como funciona
com a consciência armazenadora, o modo das cinco formações mentais univer-
sais, por conseguinte, e tambem direto. Na oitava consciência, o contato e di-
reto, a atenção mental e direta, bem como o sentimento, a percepção e a voli- os Panos-ienos (onaaivias) Poneivi sex Drvioinos em duas care-
ção tarnbem são diretos. Mas esse funcionamento das cinco formações mentais goriast os que tem vazamento (as/arava) e os que não tem vaza-
não acontece necessariamente do mesmo jeito em outras consciências, porque mento (areas/Jrava). “Com vazamento” significa que há ainda alguma coisa
a natureza e as qualidades das outras consciências podem ser diferentes. escoando, como a água de uma jarra de barro rachada. Quer dizer que uma
As cinco. universais não são separadas da mente _ a mente e' o seu ação ou experiência não tem a natureza de uma compreensão súbita, da
proprio conteúdo. A natureza da consciência armazenadora É tambem a na- uma liberação verdadeira _ existe, ainda, a possibilidade de falência e re-
tureza dessas cinco formações mentais universais. Nossa consciênciaarma- trocesso dos frutos de nossas ações (zearma-pbala), criando, assim, mais 55-
|I I -Il_|a

zenadora e as cinco formações mentais universais dessa consciência _ tan- mentes de ilusão em nossa consciência. “Sem vazamento” significa que uma -_mz--.: .›z-1_¬.¡

to sujeito quanto objeto _ são todas desobstruídas e indeterminadas, açao ou uma experiência e pura, sem nenhuma infiltração. Ela não produ-
fluindo e mudando continuamente. Cada semente, cada objeto, cada per- Zlrá, portanto, nenhum fruto cármico nocivo.
cepção e como uma gota de água no rio da consciencia armazenadora e as- Suponhamos que temos um sentimento de alegria. Esse sentimento
sume a natureza dessa consciência. - Püde ser com ou sem vazamento. Se a experiência e instável porque nossa
As qualidades da consciência armazenadora que a tornam única são Cümpreensão e apenas superficial, nosso sentimento de alegria poderáiestar
tambem as mesmas qualidades que permitem a transformação das semen- ÃÉÊTÍFÉSQHHHÊU, com compreensão e discernimento, descobrimos a ver-
tes que ela contem. Porque a consciência armazenadora e desobstruída e in- pëlro e alguma coisa, esse sentimento de alegria e puro e nos di-
determinada, e a sua natureza e neutra e 'está sempre fluindo e mudando, É Zemos que não tem vazamento. Não recairemos, portanto, em nosso esta-
que ela pode ser transformada. Cada dia É uma oportunidade de transfor- dia ment al anterior.
` Estados de ser com ou sem vazamentos não são,
mação. Quando transformamos as sementes que estão na nossa conscien- Hier; 6559-flflfilfiflfëz
` ~ enxergamos a essência
opostos. Se nao - de uma coisa,
. e,
cia armazenadora, essa É uma transformação na base. Pürque nossa visão ainda tem vazamentoa,
Tnxiasroarvrxçózs Nx coivscrfiivciri ii-.srirs UM: coi~isciÊ1vci.a xnisiazsnxnoroi

Os fenómenos “com vazamento” pertencem ao mundo do nascimen- so revelará se e pura sua ação. Se ela da cem dólares por achar que não floor
to, da morte e do sofrimento, o mundo do samsara. Essa e a dimensão ria bem dar menos, seu ato de generosidade tem vazamento. Se doa cem
histórica. Fenómenos sem vazamentos pertencem a dimensão do incondi- CÍÓÍÉHÊS 5É1'1'1 HHIES Cümiderar que essa quantia fica bem se for comparada a
cionado, do absoluto, onde não ha nascimento nem morte _ o nirvana. deixada por outros, então sua a ão e ura. Ao dar n' ` '
importante lembrar que ambas as dimensões, a do histórico e a do absolu- mesmo, “Estou ajudando um óifão, lailguefm em diifiÍtilcff:defl1Zórq(i.1CeEatiâSd
to, fazem parte da mesma realidade. A onda tem duas dimensões _ a maneira de ver a si mesmo como separado daqueles a quem ajudou. Em voz
histórica e a incondicionada. Habitat somente na dimensão histórica _ a disso, sua generosidade tera partido da sua compreensão de que 3 vida é jm-
onda _ ó viver no sanisara. Mas se nós conseguirmos entender que a ver- permanente e seu ato se deu puramente por amoo
dadeira natureza de uma onda ó água, estaremos na dimensão do absoluto, Ações com vazamento estão no reino do nascimento e da morte, a di-
no nirvana, e o medo se dissolverá. A onda não tem que ss tornar água, ela mensão histórica. Elas podem aliviar um sofrimento, ou podem causar so-
ja e água. A dimensão histórica não existe separadainente da dimensão do frimento mais tarde. Porém, os atos purificados podem nos livrar do apf,-_
absoluto. go e ajudar-nos a nãoiz-recair nos reinos inferiores da existência.” Os dois
Na dimensão histórica, os fenómenos parecem ter vazamentos, mas tipos de ação não podem ser comparados. A ação pufifioada nãü calcula 3
tão logo os tocamos profundamente com nosso discernlfnento, passamos quantidade de trabalho necessario, nem a glória e os benefícios que possam
para a dimensão do absoluto e não há mais nenhum vazamento. Se esta- lhe ser creditados. Ela surge naturalmente a partir de uma compreensão ¬_,___

mos na dimensão histórica ou do incondicionado, isso depende de nossas súbita, da liberdade. Por essa razão, a felicidade proporcionada por uma
percepções. Geralmente, temos muitas noções opostas sobre os fenómenos: ação purificada e muito maior, pois ela e liberta, não se baseia em moti-
nascimento e morte, superioridade e inferioridade, alto e baixo, bonito e V3-ÇÕ'-'55 üífflrnas. “Com vazamento” significa estar preso no ciclo de nasci-
feio. Todas essas percepções podem ser descritas como samsara, e nos fazem mento e morte. “Sem vazamento” quer dizer estar liberto.
sofrer. Se nos lembrarmos que a onda ó, ao mesmo tempo, água, transcen- fenôHÊLHI:ÉSflü0LÍ,(Íh1gÍ1l1I;açlguIeIšeàilpimlqâ, o esplaçff e odtempo, todos os tipos de
deremos todos os conceitos dualistas e o medo e o sofrimento cessarão. As incündíciünados (amm-Jkrzzm) A mseçlqn iciocpai os Íâzmsíërzral edharmas
coisas que percebemos na dimensão histórica como nascer e morrer, durar fanôme _ _ . _ e con iciona a so pode tocarlos
e acabar, ir e vir, muito e pouco, na dimensão do incondicionado já não são 1 _ nos condicionados, os quais estao constantemente mudando, in-
mais vistas como nascer e morrer, durar e acabar, ir e vir, muito e pouco, âisgíüflíâšlšlpäjtpueeíorte_~ No. nirvana, só ha fenómenos incondiciona-
existir e deixar de existir. Por terem sido purificados, esses fenómenos não fimdidadfi descübjírüçílgsnascimento edmãirte. Mas se olharmos em Pro-
têm mais vazamentos. fünômenüs* É nirvana Tüdas que ia vpr a eira natureza” de todos gos -'JL

Se nossas ações estão com ou sem vazamentos, isso também depende -¬-_¬-

P1-íncípitl O 5-:mm £)z.gmaÍ25t;;):3¿$ut:;2;.1Í tflltvâfllífltlaã Clüsílíil U Hai)-


da nossa forma de ver. Podemos ajudar uma criança faminta, salvar a vida
de uma lagarta ou impedir que alguem continue ferindo a si próprio e aos Pfalñflparamitaló nos ajudam a tocar profuniflaifiienielãühiiiiiiiaeziiidíllóaíëlêi
outros; entretanto, embora essas ações produzam alegria e um bom resul- Easfilmfinto e da não-morte de todos os fenómenos. O cosmo (d£›.‹:zrmóm'-
tado, elas podem ter vazanientos. Se fizermos as coisas de maneira a não WH) = o reino
_ ond e todos os fenomenos
^ -
(dharmas) se manifestam, _ .
inclui
fodas as coisas.
nos deixar ludibriar pelas .ideias dualísticas de espaço, tempo, eu, outro,
..-' “ff
etc., nossas açoes serao puras.`
- A flor e um fenómeno condicionado. A flor noçoggim dg uma Carta
Podemos facilmente ver se uma ação e pura ou não. Suponhamos que Cüfllbina
_ 9 ão de con fl i` ÇUÊ5
'“ Hfllflfldü em conjunto' ' _ a semente, o solo, os

alguem va a um orfanato onde lhe ó solicitado que registre o seu nome num 13105 sol ares as n - - - e a nossa consciência
. .
= uVÊn5= 9- Chm”-'1› É ÍÊITIH, D jardineiro
livro com o valor da doação que tenha feito. A maneira de a pessoa fazer is- `“ para vir a ser. Ela nasce e vai morrer. Quando dizemos que algm-na mi-
Triaisisronivriaçõss Na coivscrêivciri
tixrirr. Uivi: coivsciaivcix aasiazanaooiiii. -3

sa e condicionada, queremos dizer que ela tem que interexistir com tudo o tgmpo, vemos a natureza interdependente e sem um eu do nosso fígado. O š_"'.Í
;_:.'_'|..=i;

|li|`
mais. Ela não pode existir independentemente. Quando olhamos profun- büm funcionamento dele depende de muitos outros elementos, como a :=-|
ii
damente o âmago de uma flor, vemos que aquela flor não pode existir por Saúde de todo o sistema digestivo, as coisas quo oomomog o bobomog ¢ até
si própria apenas. Por não ter nenhuma existência independente, perma- de fatores hereditarios.
nente, dizemos que a flor e vazia de um eu separado. Porque a natureza da Quando olhamos em profundidade a natureza impermanente e sem i
Ii I.
flor e impermanente e não tem existência independente, e que ela contem om eu do nosso fígado, começamos a compreender suas dificuldades. Sen- [:.|I"
ij'i|
. ~,.-_

tudo o que existe no cosmo. Se você tocar profundamente uma flor, estará timos então amor e nos dispomos a cuidar dele. Nossa nova maneira de agir
tocando o cosmo inteiro. podera transformar o estado de nosso fígado. O mesmo se aplica aos i
Algumas escolas do Budismo dizem que o espaço e um dharma incon- pulmões, ao coração e a todas as outras partes do nosso corpo. Paramos de
dicionado. Para mim, o espaço e um dharma condicionado. Espaço ó feito fiimar e beber e passamos a comer de uma forma que não sobrecarregue o u i

de tempo e, sem a consciência, o espaço não e possível. Nossa consciência fígado, não provoque o mau funcionamento dos pulmões, nem altere o flu-
armazenadora também e assim. Como tudo mais, ela e impermanente e xo sanguíneo. Quando usamos os Três Selos de Dharma dados a nós pelo
não tem um eu separado. Todas as formações mentais que surgem de nos- Buda para abrir a porta para a realidade de nosso corpo, passamos a com-
sa consciência armazenadora são tambem impermanentes'-e sem um eu se- preendê-lo profundamente. Só quando o compreendemos em profundida-
parado. Essa consciência e feita de outras consciências, e outras cons- de e que passamos a lhe dai' atenção e cuidados.
ciências são feitas dessa consciência. Podemos ver a interexi-stência no Da mesma maneira, podemos usar essas três chaves para abrir a porta
âmago da nossa própria consciência armazenadora. da realidade de todos os fenômenos. As duas primeiras chaves, imper-
-=

Quando olhamos para uma flor, podemos ver que ela contem o cos- manência e não-eu, nos ajudam a descobrir a dimensão histórica do
mo inteiro _ raios solares, nuvens, tempo, espaço e até nossa consciência. fenómeno. Quando entramos profundamente em contato com o mundo
A consciência armazenadora também e assim: contem todos os fenômenos, em torno de nós, estamos na esfera da terceira chave, nirvana, e nos senti-
condicionados e incondicionados_ A maioria das coisas se manifesta como mos tranqüilos e sem medo. Quando vamos ainda mais fundo, podemos
formações baseadas em condições. Porem algumas coisas se manifestam entrar em contato com a dimensão incondicionada do nosso corpo, dos
sem dependerem de coisa alguma. Esses dharmas incondicionados são nir- nossos sentimentos, percepções e formações mentais. Por meio da plena
vana, a dimensão do absoluto. Dentro de nossa consciência armazeiiadora Cünsciência, podemos entrar em contato com a tristeza, a raiva ou a ansie-
há sementes do incondicionado. O nirvana ja está dentro de nós. . dade. Este e o principal pilar da pratica de meditação ensinada pelo Buda.
impermanência, não-eu e nirvana são chamados de os Três Selos do Õ estudo da consciência pode ajudar-nos ainda mais. I-ftl

Dharma. Buda falou dos Três Selos do Dharma como sendo as chaves _ impermanência e não-eu são, na essência, a mesma coisa. Ambos sig- -II'-11;
_-1- og __

para abriria porta da realidade, para tocar cada fenómeno profundamente. ägfiíiš Íllisêncialde um eu separado, fixo. Chama-se impermanência quan-
A plena consciência e a energia que podemos usar para entrar em contato angu o do tempo, e nao-eu quando visto a partir do ângulo do L-=-'!\I___.'¡ :

com os fenômenos no reino da forma. Quando entramos em contato com ÊSPÊÇU- Nossa consciência armazenadora e impermanente e sem um eu se-
o nosso fígado, por exemplo, ele o sente e fica muito feliz por receber nos- Eââëiígüišflêšeäiíntä de si âodos os dharmas do cosmo (aí/aózrífrzadfaóirir), L
.1
i
sa atenção. Se usarmos nossa plena consciência para contatá-lo de maneira de Si tüdü Ú msmo gi icionã. os, exatamente como a flor contem dentro |

suficientemente profunda, veremos sua inatureza impermanente. Ele está numa flür E H . reinomas -coisas-em-si-mesmas pode ser encontrado
constantemente mudando. O fato de nosso fígado ter estado saudavel três _ a nossa consciencia armazenadora. Os reinos das represen-
meses atras, não garante que ele fique em boas condições para sempre, e5~ n É S e das meras imagens
ta '
tambem
J
sao
._-
encontrados numa flor e dentro de
ii
pecialmente se não lhe damos nenhuma atenção ou cuidado. Ao mesmü 0553 eonsciência armazenadora.
Taanssoiamaçoas Na consciencia

im-1:

Você tem sua propria consciência armazenadora separada? A resposta


pode ser sim, desde que saiba que o individual e feito do coletivo. No seu
corpo, onde está a consciência armazenadora? Ela esta presente em cada
celula dele. Em qualquer celula do seu corpo, voce pode tocar a consciencia
armazenadora. A clonagem é possível porque cada celula do nosso corpo Ê* D O Z E
contem dentro de si o potencial de recriar nosso corpo inteiro. As tecnicas
de cura, como acupuntura e refleitologia, tambem demonstram que você
Sementes e Formações
pode tocar o corpo inteiro tocando apenas uma parte dele.
Nossa consciencia armazenadora não pode existir por si mesma ape-
nas. Ela tem que interei-tistir com outras consciencias. O um contem o to-
As sementes podem produzir sementes.
do e e composto dele e o todo contem o um e e composto dele. O coletivo
As sementes pode¿n produzir formações.
É feito do individual, e o individual e'. feito do coletivo. Esse conhecimento
nos ajuda a remover as noções de “individual” e iícoletivo”. Examinando
As formações podem produzir sementes.
profundamente nossa consciencia armazenadora, podemos-ver que sua ver- As formações podem produzir formações. -ñ¬-í¶.IEI_L

dadeira natureza não É individual nem coletiva, mas simultaneamente in- _-- _¡ ,

dividual e coletiva. Uma vez afastadas as noções de completa individuali-


dade e completa coletividade, podemos começar a ver a real natureza
não-dual da consciência armazenadora. 03 FENÔMENOS (DPIifliRMz‹1iS) podem estar presentes na forma de se-
:'¡" =;7_*
L=-_ '5
mentes ou formações. “Semente” significa algo que tem a capa-
cidade de se manifestar. “Formação” significa aquilo que se manifestou. Es-
se verso descreve. a cone:-tão entre sementes e formações. Quando nãg
âšflëipêos raiva, é porque a semente da raiva não se manifestou, embora ain-
Ja presente na nossa consciencia armazenadora. Quando alguem diz
rf' 1
uma coisa desagradável ou que nos fere, essa pessoa está regando a semen-
IE da raiva que existe em nos. A semente manifesta-se na nossa consciência
Hlflntal e torna-se uma formação mental.
1 Hina semente pode influenciar outras sementes que estão dentro da -I-lí
_:'i
_. -°.|-

Cünsciencia armazenadora, sem a intervenção da consciência mental. Va-


TISSSCZÉPÚÍ QUÊ Êlmqasemente de desespero em nos e regada muitas vezes ate
e tornar se em forte. Se tiver sido suficientemente aguada, ela se
fflanifestara
A na nossa consciencia
'^ ' mental. Quando 5.3 manlffista- na I-10553
Cünsciencia
fo al m ental a semente torna-se uma formaçao›- e, nesse processo, se
F 1' t al e CÍI .
Qualquer semente que tenha uma chance para se manifestar e
ort eci a. Uma vez manifestada,
' a semente podera. produzir
_ gutfas SE-
r111 :ifntes da mesma natureza na nossa consciencia
-A - armazenadora. Quando a

e manifestada como uma formaçao na nossa consciencia mental, se


J ` .-I ._¿ .
Taansroamaçoas na coivscrfiivcia. Paara UM: coivscrfincra aaraazanaoonx

não fizermos uso de nossa plena consciência para cuidar dela, a formação dg a raiva que já se manifestou, está, ao mesmo tempo, fortalecendo a se-
manifestada ajudará a fortalecer a semente da raiva em nossa consciencia mente da raiva na base.
armazenadora. Não e isso que vai suprimir a raiva. E importante aprender a abraçar
As sementes nunca permanecem as mesmas. Elas estão sempre passan- nossa raiva, reconhece-la e admitir que exista. Então, podemos tocá-la com
do por transformações e mudanças. As sementes que estão dentro da nos- nossa plena consciencia a fim de transformá-la. Batendo no travesseiro, não
sa consciência armazenadora nascem e morrem a todo momento. As for- Estamos tocando a nossa raiva com plena consciência. Estamos, na verda-
mações que se manifestam a partir dessas sementes também passam por de, permitindo que ela nos esmague. De fato, não estamos nem sequer em
nascimento e morte a todo instante. Da mesma forma, o nosso corpo tam- contato com o travesseiro. Do contrário, saberíamos que ele rf: apenas um
bem passa por nascimento e morte a todo momento. Nascimento e morte travesseiro e não iríamos querer golpeá-lo dessa maneira. A prática da ple-
ocorrem a cada momento na nossa consciência e em cada célula do nosso na consciência e crucial para reconhecermos a raiva, deixá-la existir, tocá-la
corpo. Cada semente e cada formação passam pelo processo de nascimen- e transformá-la. Toda vez que reconhecemos umaiformação negativa, ela
to e morte no contexto das condições. Uma semente não desaparece neces- perde um pouco da spa força. É por isso que respirar e caminhar usando a
sariamente quando se torna uma formação manifestada. Sementes e forma- plena consciência para reconhecer e abraçar nossas formações mentais
ções interexistem. .... quando elas se manifestam, e tão importante. A plena consciencia e neces-
A semente da raiva, mesmo quando manifestada na nossa consciência sária para que cuidemos da nossa raiva de maneira segura.
mental como formação de energia de raiva, continua a existir como semen- Devemos nos esforçar para aprender a identificar todas as sementes
te. Depois de manifestar-se por algum tempo no nível superior da nossa positivas e negativas que existem em nos. Assim, evitamos aguar as semen-
consciência, a raiva retornará ao lugar de origem e sua semente ficará um tes negativas e aproveitamos todas as oportunidades- para aguar as semen-
pouco mais forte. Se dermos oportunidade para qualquer semente se ma- tes positivas. A isso chamamos “aguar de forma seletiva”. E muito impor-
nifestar como uma formação, essa semente crescerá e ficará mais forte. Se tante praticarmos isso em nossos relacionamentos. Tente compreender a
soubermos como entrar em contato com as sementes da compaixão, do per- situação da pessoa que você ama e evite aguar as sementes negativas exis-
dão e da alegria existentes em nos, fazendo com que se manifestem diver- tentes nela. Pratique aguar apenas as sementes positivas. Diga ao seu par-
sas vezes no dia, elas se tornarão mais e mais fortes na nossa consciência ar- ceiro: “Se você realmente me ama, não toque as minhas sementes negativas
mazenadora. Se tocarmos as sementes do medo, da raiva e da d6r“dando com tanta freqüência.” Voces dois deveriam assinar um acordo, um trata-
assim lugar a que as pessoas ao nosso redor também as toquem, estaremos do de paz, comprometendo-se a tomar conta das sementes um do outro.
ajudando essas sementes a crescerem mais fortes. Aguar apenas as sementes positivas produzirá mudanças positivas na outra
Quando estamos com raiva, sofremos. Acreditamos que se expressar- pessoa, e essas mudanças positivas voltarão para você na forma de maior
mos nossa raiva, sentiremos um certo alívio. Alguns terapeutas aconselham alegria, paz e felicidade.
seus clientes a “entrar em contato com sua raiva” ou “tira-la do seu siste-
ma”. Existe uma prática terapeutica que manda o cliente ir para um quar-
to e ficar socando um travesseiro. A teoria diz ser essa uma maneira segura
de alguem expressar raiva, em vez de realmente espancar alguem. Mas ex-
pressar a raiva pode servir para multiplicar por dez a irritação que sentimos.
Quando batemos no travesseiro, estamos ensaiando nossa raiva e ajudando
sua semente a crescer em nos. Não acho que seja uma prática inteligente, e
sim perigosa porque, enquanto você está batendo no travesseiro, expressan-
PARTE UM: consciência aaivrazaivaoona.

dão da rede e cada uma dessas jóias tem muitas facetas. Em qualquer uma
das facetas, de qualquer jóia que você olhe, você verá nela refletidas todas
as outras jóias. No mundo de Awzrózmsózihcz, na rede de Indra, o um está pre-
sente no todo, e o todo está presente no um. Os pensadores budistas se

“ el» TREZE zipropriaram dessa maravilhosa imagem para ilustrar o princípio da inter-
dependência e interpenetração. H
A Rede de Indra No nosso discriminatório mundo comum, vemos um bule como um
objeto independente e único. Mas, se examinarmos o bule profundamen-
te, veremos que ele contém muitos fenõmenos _ terra, água, fogo, ar, es-
paço e tempo _ e veremos que, de fato, o universo inteiro reuniu-se para
Sementes e formações fazer esse bule. Essa é a natureza interdependente do bule. Uma flor é feita
Ambas têm a natureza da interexistência e da interpenetração. de muitos elementos que não são a flor, tais como nuvens, terra e raios de
Uma ó produzida por todas ' sol. Sem nuvens e terra, não pode haver flor. Isso é interexistir. O um é o
E todas dependem de uma. ' resultado do todo. O que torna o todo possível é o um.
Podemos ver a natureza da interexistência e interpenetração em cada
semente e formação. Interpenetração significa que o todo está no um. A
flor não pode existir por si mesma somente. Ela tem de interexistir com tu-
os Paoxiixzios nois vsasos Dos Ciagaeizee Í/fz:-ser - o décimo ter- do mais. Todos os fenõmenos são assim. O Buda disse “Isto é, porque aqui-
ceiro e o décimo quarto _ representam a contribuição do Ava- lo ó”. Esse é um ensinamento simples, porém profundo. Significa que tu-
rúrmrazêór Serra para os ensinamentos da Pura Manifestação. Como já foi di- do está relacionado com tudo mais. Os raios de sol penetram na vegetação,
to na Introdução, os irmãos Asanga e Vasubandhu iniciaram a escola a vegetação penetra nos animais e nós interpenetramos uns nos outros. No
Vijñanavada no seculo quarto.” Naquela época, os ensinamentos da esco- um, nós vemos o todo. No todo, nós vemos o um. No um você toca o to- mm_m_ m-:nm

la Avatarnsaka não estavam incluídos no sistema da psicologia budista, que do, e no todo você toca o um. Esse é o ensinamento do Avrzrózrvzsézkú: Sucre,
se baseava no Abhidharma da Fonte do Budismo. No século sétimo, Mes- o ensinamento mais profundo do Budismo sobre a interconexão.
tre Xuanzang levou para a China os ensinamentos do Vijñanavada, mas os O físico nuclear britânico David Bohm propôs os termos “ordem ex-
ensinanientos do Avatamsaka ainda não tinham sido incorporados a eles. plícita” e “ordem implícita” para descrever o que os ensinamentos budistas
O terceiro patriarca da escola Avatamsaka na China, Fazang (645-712), foi chamam de realidade comum e de realidade suprema. Na ordem explícita,
tudo existe fora de todas as demais coisas. O elefante existe fora da rosa, a
o primeiro a introduzir esses importantes ensinamentos Mahayana no sis-
mesa existe fora da floresta, você existe fora de mim, e assim por diante. A
tema de psicologia budista em seu livro, Neres em the Mysrical .in r/ae Am-
rórmreka Surrózí. -
ordem explícita é o que nós vemos quando não olhamos as coisas em pro-
fundidade. Mas, conforme Bohm descobriu, quando olhamos mais pro-
No décimo terceiro verso encontramos os ensinamentos da interexis-
fundamente para a natureza de cada partícula chamada “elementar”, vemos
tência e da interpenetração, conformeapresentados no Averamreka Saem.
que uma partícula é feita de todas as outras partículas. As noções que usa-
O Avmzfzmsrzlacz Safra é que deu origem a tão conhecida imagem da Rede de
mos- em nossa vida diária não podem mais ser aplicadas no domínio do in-
Indra. Esta rede é parte do deus do céu de Indra.” A Rede de Indra é uma
finitamente pequeno. Em uma partícula você pode identificar a existência
vasta teia cósmica que contém jóias preciosas onde quer que os fios se cru-
de todas as outras partículas. Olhar profundamente para a natureza de uma
zem. Há milhões de jóias que, encadeadas umas às outras, formam o cor-
Tnansrorziaaçõas iva consciência

iii
partícula nos revela a ordem implícita, em que tudo está dentro de tudo
mais. Esse é o ensinamento do Avaramra/ez: Sarrnz.
Ordem implícita é o mesmo que dimensão suprema, e ordem explíci-
ta equivale a dimensão histórica. Na dimensão histórica existe a noção de _!

nascimento e morte, começo e fim, isto e aquilo, ser e não-ser. Mas na di- si- CATO RZE
mensão suprema não existe nascimento e morte, começo e fim, isto e aqui- .L I

Tiicznscendeudo as Noçoes
,.-~'

lo, ser e não-ser. A dimensão suprema não pode ser descrita com palavras e
noções que, por sua própria natureza, servem para dividir a realidade em
partes separadas. '
E claro que, para nos comunicarmos com os outros, para estudar Bu-
dismo, temos que usar palavras, idéias e noções. No fim, entretanto, temos A consciencia armazenadora nao e nem igual nem diferente,
Í |'
Er _

que abolir todas essas noções para que a verdadeira compreensão seja pos- Nem individual nem coletiva. I

É
sível. Palavras como “igual” e “diferente”, “coletivo” e “individual” são ape- O igual e o diferente interexistem. |||

.I-"' I .
I

nas degraus da escada. Temos que galgar o próximo 'degrau sem sermos cap- O coletivo e individual dao origem um ao outro.
turados por essas idéias, Enquanto estivermos presos a noções, idéias e
palavras, não poderemos chegar a uma verdadeira compreensão e não atin-
giremos a dimensão suprema.
Usando o ensinamento da interpenetração encontrado no Awzrómrszr- MINHA CONSCIÊNCIA ARMAZENADORA e. a sua consciência arma-
leer Saem, podemos abrir a porta da realidade e nos livrar de nossas noções Azenadora são duas ou uma? Dizer que são duas está errado, e di-
a respeito do mundo. Os conceitos que usamos para enquadrar a realidade zer que é só uma está errado também. Você e eu não somos um, e também
terão que se desintegrar. Sabemos que temos pulmões para inspirar e expi- não somos dois. Um é uma idéia; dois é também uma idéia. Nenhuma idéia
__
___'_j

rar. Mas quando olhamos mais profundamente, podemos ver que as mon- corresponde a realidade exata. Minha consciência armazenadora é feita da
tanhas e as florestas também são nossos pulmões. Sem elas, não podemos sua, assim como a sua é feita da minha. Não podemos dizer se elas são a
___¿_

inspirar e expirar. Temos um coração que funciona bem e sabemos qíié só mesma ou diferentes, se existe uma consciência armazenadora ou muitas.
podemos sobreviver se o nosso coração estiver ali, bombeando. Contudo, O mesmo e o diferente interexistem. O mesmo é feito do diferente, e o di-
olhando mais profundamente, podemos ver que o sol é o nosso segundo ferente é feito do mesmo. As noções de igual e diferente, de um e de mui-
coração. Se o sol parar de funcionar, morreremos da mesma forma que tos, são pares de opostos, e a verdade sempre transcende os opostos. A úni-

i
acontecerá sie o coração que está em nosso próprio corpo parar de pulsar. ca maneira de remover o nosso sofrimento e as nossas ilusões é mudar a
Vemos que o nosso corpo é o corpo do cosmo, e que o cosmo está em nos- nossa maneira dualística de pensar e transcender as noções.
so próprio corpo. Todo fenómeno tem uma natureza individual e uma natureza coleti-
Essa noção só é possível quando vemos além das noções de dentro e VH. Assim como um e muitos têm que trabalhar juntos para produzir algu-
i. I
fora, e eu e do outro. Quando olhamos através dos olhos do Awzramróz/ea ma coisa, o individual e o coletivo dependem um do outro para se desen-
il'
Srrrrzz, vemos que o cosmo e todos osfenónienos que ele contém fazem par- volverem e se transformarem. Temos que ultrapassar essas idéias de igual e
te da Rede de Indra. Compreendemos que conceitos tais como pouco e diferente, individual e coletivo. Esse é o ensinamento da escola “Três Shas-
muito, vir e ir, coletivo e individual, em cima-e embaixo, e até ser e não-ser, tras”, cujas propostas foram estudadas e expandidas a partir dos ensinamen-
não podem ser aplicados a realidade última. tos do Caminho do Meio, baseados nos três “shastras” (comentários): o
Tiuinsroaiviaçoas na coi~IsciÊi~ici.a PARTE UM: consciência .srriviazaivriooazs __

Mrzdfflyamilea-rÍ9asrrrz por Nagarjuna, o S/msm: in One Hundred Verses tam- coisa não pode se tornar nada. O nosso corpo e nossaconsciência apenas
bém por Nagarjuna e o Twelve D0orr'S/msm: por Deva. O Caminho do mudam de forma. -
Meio é a maneira de seguir sem ser capturado pelos conceitos. Os ensina- A mente é como uma espada. Corta a realidade em pedaços, separan-
mentos da Pura Manifestação contêm o 'sabor do Awzrezrnsez/er: Srirnsr e des- do uns dos outros. Mas a realidade não pode ser captada por nossa mente
ses ensinamentos dos Três Shastras. discursiva _ a mente da imaginação, discriminação e discussão. Temos de
De acordo com Nagarj una, nós temos que ultrapassar as idéias de nas- aprender como tocar a realidade sem usar os nossos usuais padrões de pen-
cimento e morte, um e muitos, vir e ir, permanência e aniquilação. A refu- samento. Se começarmos a examinar a natureza interexistente das coisas,
tação de Nagarjuna aesses conceitos dualísticos é conhecida como as “Oi- poderemos abrir a porta da realidade e abandonar as noções de igual e di-
to Negações”. Nascimento é uma idéia de algo que surge do nada. Se ferente, individual e coletivo. Essas idéias não podem ser aplicadas a reali-
observarmos profundamente, veremos que as coisas não são assim. Uma dade última.
coisa não pode surgir do nada. já existíamos antes do nosso nascimento, O décimo quarto verso nos ajuda a transcender as noções de igual e
embora numa forma diferente. As nuvens são a vida anterior da chuva. A diferente, coletivo e individual. Esses pares de noções se criam mutuamen-
chuva é uma continuação das nuvens. Quando a energia se torna matéria, te, como esquerdo e direito, acima e abaixo. Para realmente entender, de-
isso é apenas uma continuação. Não é que a matéria tenha sido 'produzida vemos deixar essas noções de lado, e olhar em profundidade as coisas. Esse
do nada. As leis da física e os ensinamentos do Budismo concordam que verso pode nos ajudar a fazer isso. Se você acredita que a sua consciência ar-
uma coisa não pode ser produzida do nada. mazenadora é a mesma que a minha, está preso na noção de permanência.
Da mesma maneira, uma coisa não pode se transformar em nada; não Se pensar que a sua consciência armazenadora não é a mesma, está no ou-
pode desaparecer completamente e deixar de existir. .Quando queimamos tro extremo. Temos que abandonar essas noções e ver a verdadeira nature-
um pedaço de papel, o papel não deixa de existir, ele se torna calor, cinzas za da consciência armazenadora, que não é nem individual nem coletiva e, __¬__

e fumaça. O calor penetra no cosmo. A fumaça e outros gases se elevam no ao mesmo tempo, é ambas, individual e coletiva.
ar e formam nuvens, que produzem chuva. As cinzas caem na terra e nu- Se não formos capazes de transcender noções e conceitos, seremos
trem o solo. Chuva e solo são duas das condições necessárias para as árvo- capturados pelo ensinamento ou conceito. O Buda disse que o seu ensina-
res crescerem. Mais tarde, a árvore pode se tornar novamente um pedaço mento era como uma serpente _ perigoso. Existe um surra que adverte:
de papel. Vendo. dessa maneira, observamos que até um pedaço dê papel “Ser apanhado pelos ensinamentos é o mesmo que ser mordido pela ser-
transcende nascimento e morte. pente que você está tentando pegar.”1” No surra, o Buda diz que a melhor
As idéias de vir e ir também não são verdadeiras. Dizemos, vim da- maneira de pegar uma serpente é usar uma vara com ponta em forma de
quele lugar e vou para aquele lugar. Antes de nascer, eu estava num lugar e forquilha para segurar a cabeça da serpente. Se você pegá-la assim, não se-
depois que morrer vou para outro. Mas sabemos pelos ensinamentos de in- rá ferido. Se tentar segurá-la com a mão, será mordido. Estudar os ensina-
terpenetração e interexistência que “aqui” e “ali” são meramente conceitos, Iflcntos é a mesma coisa. Uma pessoa inteligente não será capturada pelas
e que todo lugar pode ser encontrado em todos os outros lugares. Realmen- ldëír-.ls que são necessárias para apresentar o ensinamento. Ela não vai se
te, na dimensão última, não há para onde ir ou de onde vir. Hgarrar a idéias e noções pensando que elas são a realidade.
A idéia de permanência significa que alguma coisa continua existindo
tal como é para sempre, que não-vai nunca passar por uma mudança ou
transformação. Essa é também uma idéia errada. Tudo tem a natureza da
mudança. A idéia oposta, aniquilamento, significa que qU'‹1l'1ClU HIGITEITIÚS,
o nosso corpo e a nossa consciência deixam de existir. Já vimos como uma

. j
Paare Uivt: coivsciãivcra aniviazenaooaa I,._
1

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I' II
I
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Cgudiciona o nascimento. E o nascimento condiciona a velhice e a morte.
iii
O Co-Surgimento Interdependente é o motor que aciona o ciclo do samsa- .If
I

ra. A ignorância, o primeiro elo, é a principal causa do sofrimento.


O termo sânscrito para ignorância é aoidya, que significa ausência de
rw QUINZE zonhecimento. E a ausência de compreensão. Por causa da nossa ignorân-
I'

cia ou ilusão, plantamos e regamos muitas sementes nocivas na nossa cons-


O Grande Espel/oo da Sabedoria çiência armazenadora. Se olharmos profundamente, poderemos ter um dis- II
cernimento e transformar essas sementes. A medida que continuamos a
` r
praticar, nossa ignorância diminui e nossa compreensão aumenta. Existe
um ponto em que a ignorância é totalmente transformada e a compreen-
H Quando a ilusão é superada, surge a compreensão,
são torna-se uma realidade. As vezes a sabedoria, prajría, é chairiada de
E a consciência armazenadora não está mais sujeita a aflições. 'F

consciência pura Írzfimalg rrnrzãrza). Quando nossa consciência está total-


A consciência armazenado ra torna-se o Grande Espelho da Sabedoria,
mente purificada, não pode mais ser dominada pelas aflições (klesfaa) _ I
Refletindo o cosmo em todas as direções. Agora, o seu *nome é
formações mentais tais como medo, raiva, ódio e discriminação. Após a
Consciência Pura. ' '
transformação, nossa consciência armazenadora fica livre. Ela é transforma-
da em Sabedoria do Grande Espelho, capaz de refletir o mundo das coisas- .

tais-como-são, sem distorções. - - i


.‹

Existe tanta ignorância e ilusão na nossa maneira usual de perceber e


UANDO, GRAÇASÀ PRÁTICA, a escuridão acaba, surge a claridade experimentar as coisas que nossa consciência armazenadora não pode reve-
e nossa consciência armazenadora torna-se pura _ sem vaza- lar-se para nós como parte da dimensão última. Mas, na verdade, a essên-
mentos (aaasbraoa). Quando a ilusão é transformada, a compreensão apa- cia da natureza da consciência armazenadora sempre foi livre de aflições.
rece. Ilusão e ignorância são a base de todas as percepções erróneas que Somente olhando em profundidade a interexistência e ausência de ea é que
criam sofrimento. -Ilusão ou ignorância podem ser transformadas em praj- a ilusão pode ser transformada e o discernimento nos revela a natureza das
rãa, sabedoria ou compreensão, pela prática de observar profundamente* a coisas-tais-como-são que já temos dentro de nós mesmos.
natureza da inter_existência. Alguns praticantes pensam que não fica nada quando a ignorância é
A ignorância é um dos doze elos na cadeia do Co-Surgimento Interde- destruída. Pensam que, uma vez atingido esse ponto, tudo o que lhes resta
pendente Qprarirya-saman9ada).*5 O Co-Surgimento Interdependente é a fazer é passar para um outro mundo. Porém, de acordo com o Buda,
medula do enisinamento budista. Ele diz que todos os fenómenos psicológi- “Quando a ignorância não está mais presente, surge a sabedoria.” Quando
cos e físicos (dharmas) que perfazem o que conhecemos como existência são você acaba com a escuridão, a luz está ali e, com a luz, acontece' o desper-
interdependentes e condicionam mutuamente um ao outro. Cada um dos fer. Nesse momento, tudo ó que pertence a consciência armazenadora, in-
I;-I
doze elos condiciona o seguinte. A ignorância condiciona as ações volitivas. dividual e coletivo, é purificado. Quando livre das impurezas (araala orj- I

Ações volitivas condicionam a consciência. A consciência condiciona a men- ñflfid), a consciência armazenadora torna-se um espelho que reflete todos 'ii 5
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te e o corpo. A mente eo corpo condicionam os seis órgãos dos sentidos e US aspectos da existência, sem distorção. Nascimento, morte e sofrimento ¡¬.
.

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seus objetos. Os seis órgãos dos sentidos e seus objetos condicionam o con- transformani-se em paz, alegria, despertar e libertação. Essa é a “Consciên- .Í:'
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tato. O contato condiciona o sentimento. O sentimento condiciona o dese- Cia Pura” que nos permite reconhecer o reino das coisas-tais-como-são e
jo. O desejo condiciona o apego. O apego condiciona o vir-3-5¡=¿¡_ O 1.-1r-3.5¢f entrar nele nesta vida mesmo.
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TRANSFÚRMAÇOES NA CDNSCIENCIA raarn ont: consciência aaiviazanaooaa
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Como a terra, a consciência armazenadora tem a tarefa de manter as Perfície. Cansado de esperar, joguei a vara fora e fui brincar. Cerca de dez
sementes. Sabemos que essa consciência armazenadora é em si mesma neu- minutos depois, voltei e vi a folha flutuando na superfície. Depois que saí,
tra por natureza. As sementes saudáveis ou nocivas que estão na consciên- 3 água, dando continuidade aquele movimento rotativo que eu havia co-
cia armazenadora manifestam-se dependendo da atividade de outra cons- meçado, trouxe a folha para a superfície.
ciência. Quando o sol está brilhando, a terra fica aquecida. Quando chove, Nossa consciência armazenadora é assim. Quando recebe ordens da
a terra fica molhada. As sementes que estão nela podem então germinar fa- nossa consciência mental para fazer alguma coisa, trabalha noite e dia. Qua-
zendo as plantas crescer e a terra ficar verde. Durante o inverno e as esta- se todos nós já tivemos a experiência de andar por uma rua e encontrar al-
ções secas, quando o sol brilha menos, a terra não é verde. Mas, mesmo assim, guém que reconhecemos, mas cujo nome não lembramos. No caminho pa-
não podemos dizer que a terra não tem vida. Ela continua seu maravilho- ra. casa tentamos o tempo todo lembrar o nome da pessoa. Sabemos o seu
so trabalho silenciosamente. ` nome, fazemos um esforço tão grande_para lembrá-lo que nos dá doride ca-
As outras sete consciências são os jardineiros que cultivam a terra. Es- beça. Então, decidimos dar um tempo, ler um livro e ir dormir depois. En-
tudamos e praticamos usando os nossos seis sentidos. Essas sementes de quanto dormimos, nossa consciência armazenadora continua a trabalhar.
percepção são lançadas na nossa consciência armazenadora, a qual começa Durante várias horas “havíamos usado nossa consciência mental tentando
a fazer seu trabalho silencioso, como a terra. Como jardineiros, revolvemos lembrar o nome, mas agora confiamos o trabalho de descobri-lo a nossa
a terra, plantamos as sementes, as regamos, arrancamos as “ervas daninhas e consciência armazenadora. Durante o sono, nossa consciência mental cessa
adicionamos adubo. Mas não podemos fazer o trabalho da terra. Somente de trabalhar sobre o problema, mas nossa consciência armazenadora conti-
a terra pode manter as sementes e produzir os frutos do nosso trabalho. O nua seu trabalho. Na manhã seguinte, enquanto escovamos os dentes, o no-
mais importante é a confiança de que a terra germinará as sementes que fo- me salta na nossa mente. A prática da meditação é assim. Temos de confiar
ram plantadas. na nossa consciência armazenadora. Quando entendemos como funciona
Suponhamos que, na nossa prática, o mestre nos convide a observar nossa consciência armazenadora, somos bem-sucedidos na nossa prática.
profundamente um determinado objeto durante a meditação. Não deve- Esse verso é o último sobre a consciência armazenadora, antes de tra-
mos procurar fazer esse trabalho só com o intelecto. O intelecto, a nossa tarmos da sétima consciência (manas) dando assim prosseguimento aos
mente consciente, é apenas o jardineiro e não pode fazer o trabalho da cons- Cinqüenta Versos. Na verdade, não abandonamos nunca a consciência ar-
ciência armazenadora. Em vez disso, devemos plantar o objeto da medita- mazenadora. Ela é a base e nós não poderemos transformar nossa consciên-
ção na nossa consciência armazenadora como se fosse uma semente e regá- cia a não ser que a transformemos na base. Encontraremos a consciência ar-
la diariamente. Então, enquanto desempenhamos nossas atividades mazenadora no verso referente a manas, nos subseqüentes versos sobre a
durante o dia, de pé, andando, nos deitando ou nos sentando regamos es- consciência mental e as cinco consciências sensoriais, bem como nos ver-
sa semenrê por meio da prática da plena consciência. Se regarmos a semen- sos sobre a prática e o caminho. Os ensinamentos da interexistência e da
te diariamente, um dia, quando menos esperamos, a flor da compreensão interpenetração nos mostram que não é possível cortar a realidade em pe-
surgirá como uma oferenda da nossa consciência armazenadora. Se tentar- daços. O um contém otodo. Para ver isso, só é preciso observarmos pro-
mos usar a consciência mental. para fazer a semente crescer, a semente vai fundamente. `
secar. O jardineiro não pode fazer o trabalho da -terra.
Quando eu era criança, certa man‹hã,“vi uma linda folha depositada
no fundo de uma cisterna de água- da chuva. Eu queria pegá-la, mas o meu
braço era muito curto para chegar até lá embaixo onde a folha estava. En-
tão peguei uma vara e agitei a água, na esperança de que ela subisse a su-
PARTE UMZ CONSCIÊNCIA ARMAZENADÚRA

NOTAS grande. Mas, em última análise, a compaixão deve Ser D filfldämeflfo


de nossas ações. Temos que examinar cuidadosamente cada caso e não
Ver Introdução, ng 10. generalizar. Não devemos reforçar uma regra rigorosa que deva ser apli-
Todas as escolas de Budismo reconhecem uma consciência básica da cada a todas as mulheres em qualquer circunstância. Devemos, juntos
qual as “formações mentais” (chata samsharas) surgem. A escola Tam- com a nossa família, os que cuidam da saúde, amigos, colegas, vizinhos
rashatiya refere-se a ela como “fluxo dos constituintes da existência” e co-praticantes, usar os “olhos Sangha” para chegar a um consenso e
(hhaoarzgashrora), o fluxo do ser, o solo do samsara e renascimento. A tomar uma decisão. Podemos nos beneficiar enormemente do conhe- -‹ u-*I-|" S_M-\-Iv_-

escola da Pura Manifestação também descreveu a consciência como um cimento coletivo da comunidade. Uma decisão como essa nunca é fá-
fluxo de água. Tâng I-Iõi, o primeiro mestre Dhyana (Zen) no Vietnã, cil. Quando olhamos profundamente, não podemos nunca dizer sim
comparou a mente a um oceano (“mente-oceano”). Tudo o que nós ve- ou não facilmente ou superficialmente. E necessário um conhecimen-
mos, ouvimos, cheiramos, provamos, tocamos, sentimos ou pensamos to coletivo, profundo.
flui para o oceano da nossa mente como milhares de rios. Na escola Sar-
Baddhaearira XIV, 50 e 51.
vastivada, foi usado o termo “consciência-raiz, ou base” (malaoigƒñaaa).
Nos ÍÍi»¬r';ara Versos, Vasubandhu usou os termos “consciência-raiz” e O Nobre Caminho Octuplo inclui Visão Correta, Pensamento Corre-
“consciência transformadora” da escola Sarvastivada. A Fonte do Bu- to, Fala Correta, Ação Correta, Vida Correta, Diligência Correta (ou
dismo usou as palavras ehirra (as vezes chamada de ehara raja, “mente- Esforço Correto), Plena Consciência Correta e Concentração Correta.
rei”), manas e oigfñaaa indiferentemente para “mente”. Na época do de- Ver o livro The Heart ofrhe Buddha 's Teaching. de Thich Nhat Hflílh-
senvolvimento do Budismo da Pura Manifestação, cada um desses três
I/raaya Mahaoaggfa Khadda/ea Nškaya 5. `
termos tinha sua própria esfera de significado. “Chitta” referia-se a
consciência armazenadora _ a raiz, ou base, da consciência. Fenóme- As “coisas-em-si-mesmas” é um termo do filósofo alemão Immanuel
nos (dharmas) que surgem da consciência armazenadora são chamados Kant (1724-1804). Kant propos que a contribuição da mente é um dos
de “funções da mente” (ehaz'rasz`lea). O Aoaramsaha Sarra usa o termo quatro grupos de categorias pelos quais nós ordenainos os conteúdos de
“mente somente” (ehzírra raarrara). Mais tarde, no Lao/eaoarara Saara, nossa experiência: quantidade, qualidade, relação e modalidade. ESSE-15
foram introduzidos os termos or']`ñaprr` marrara (“pura manifesta'ção”) e categorias não têm conteúdo e só prescrevem a estrutura para objetos da
oz`jr'§aaa raarrara (“pura consciência”). experiência possível. Espaço, por exemplo, não é algo externo 21 HÓS, III;-15
apenas uma estrutura da mente que relaciona os objetos uns aos outros.
Embora termos como “capacidade de armazenar”, “objeto armazena-
E a contribuição ativa da mente que dá significado â matéria externa da
do”, “todas
_., as sementes” e “armazenamento P ara o a e É o a um eu” ti-
nossa experiência. Se as coisas são realmente da maneira que parecem
vessem sido usados primeiro na escola da Pura Manifestação do Budis-
para nós é algo que nunca saberemos, porque todo o nosso conhecimen-
mo Mahayana, as bases do seu significado já estavam presentes nos
to é pré-estruturado através do filtro da mente. Essa é a base para a fa-
ensinamentos da Fonte do Budismo e de Muitas Escolas.
mosa distinção feita por Kant entre o númeno desconhecido, ou a coi-
Ver Introdução, p. 11. sa-em-si-mesma, e o fenómeno, ou a coisa-como-parece.
Quando, devido as circunstâncias, uma mulher tem a idéia de fazer um O Sarra do Coração (Prajñaparamz'ra-hrz'daya-surra) é um dos textos
aborto, o universo treme, porque sabe que aquele embrião que vai ser mais populares e importantes do Budismo do Leste Asiático. E assim
destruído contém dentro dele muitas gerações de ancestrais e muitas charnado porque contém o “coração”, ou a essência, dos ensinamentos
gerações do porvir. O infinitamente pequeno contém o infinitarnente
do Mahayana Prajñaparamita (ver ne 14, abaixo). Ver o livro de Thich

.4-
Tnansroasiaçozs na consciéncra

Nhat Hanh, The Heart of Understanding Conúnnentartes on the Prajtša-


paramita Heart Satra (Berkeley, CA: Parallax Press, 1988).
A escola da Terra Pura do Budismo Mahayana desenvolveu-se no sécu-
lo V, na China. Ela enfatiza a fé no poder salvador de Arnitabha, o Bud-
dha do Paraíso Ocidental, ou Terra Pura. A Terra Pura é uma terra de
bem-aventurança na qual os devotos renascerão graças ao grande voto
¬ .-

de compaixão de Amitabha.
As seis modalidades, ou destinos, em que os seres vivos migram como
resultado de suas ações (karma), são divididas em três reinos superiores
de deuses (devas), titãs (ashuras) e seres humanos; e três reinos inferio-
res: fantasmas famintos, inferno e animal. Embora as seis modalidades
ainda façam parte da existência samsárica, os seres dos três reinos supe-
riores, especialmente os seres humanos, têm a capacidade de transfor-
mar sua consciência e criar condições para um renascimento favorável,
enquanto os seres dos três reinos inferiores não podem encontrar facil-
mente a libertação do ciclo do samsara. -
Ver o livro de Thich Nhat Hanh, The Diamond That Cats throagh [[-
Zaston: Cornnzentartes on the Prajn'apararnz'ta Diamond Satra (Berkeley,
CA: Parallax Press, 1992). H _
Os sutras Prajñaparamita (“Perfeição da Sabedoría”) são uma coleção
de quarenta textos compostos em torno do primeiro século da era atual,
os quais representam uma fonte primordial dos ensinamentos Mahaya-
na sobre a realização de prajña (sabedoria). Este corpo de jiteratura
exerceu grande influência sobre o desenvolvimento do pensamento e
da filosofia das principais escolas budistas chinesas posteriores, inclusi-
ve da escola Ch"an (Zen).
Ver Introdução, pp. 10-11. _ 1
Indra, a deidade da mitologia hindu, é uma das muitas figuras que fo-
ram mantidas nos ensinamentos budistas indianos.
Ver o livro de Thich Nhat Hanh, Thnndertng Silence: Satra on Knowzfng
the Better Way to Catch a Snake (Berkeley, CA: Parallax Press, 1993).
- |
. _.' -É

Para uma discussão' em profundidade sobre o Co-Aparecimento Inter-


dependente, ver Thich Nhat Hanh, The Heart ofthe Bnddha 's Teaching,
cap. 27.
' 93 Taatassoaiaaçõas Na cot~1sc1Ê1vcIa_

Nhat Hanh, T/se Heart of Understanding Cemmefltartes em tføe Prajña-


paramzfta Heart Sutra (Berkeley, CA: Parallax Press, 1988).

A escola da Terra Pura do Budismo Mabayana desenvolveu-se no secu-


lo V, na China. Ela enfatiza a fe no poder salvador de Amitabha, o Bud-
dha do Paraíso Ocidental, ou Terra Pura. A Terra Pura e uma terra de an» PARTE II
bem-aventurança na qual os devotos renascerão graças ao grande voto
de compaixão de Amitabha.

As seis modalidades, ou destinos, em que os seres vivos migram como Mamas


resultado de suas ações (karma), são divididas em tres reinos superiores
de deuses (devas), titãs (ashuras) e seres humanos; e três reinos inferio-
res: fantasmas famintos, inferno e animal. Embora as seis modalidades
ainda façam parte da existência samsarica, os seres dos três reinos supe-
Ê'
riores, especialmente os seres humanos, tem a capacidade de transfor-zz'
Os vaasos DE Dezesseis a vinte E Dois tratam da sétima consciencia, ma-
mar sua consciência e criar condições para um renascimento favorável,
nas. O relacionamento entre manas e a consciência armazenadora e muito
enquanto os seres dos tres reinos inferiores não podem encontrar facil-
mente a libertação do ciclo do samsara. - _ sutil. Manas emerge da consciencia armazenadora e apodera-se de uma mí-
nima parte dela para ser o objeto de sua atração. Ela encara essa parte da
Ver o livro de Thich Nhat Hanh, T/ae Dz'am.‹:md T/sat Cats t/mmg/:› IZ-
consciencia armazenadora como sendo uma entidade separada, um eu, e
/asz'ezz.' Cemme;atart'es ea t/se Pra]'ñaparamt'ta Dtamead Sutra (Berkeley,
aferra-se firmemente a ela. Assim como uma criançapequena que, ao segu-
CA: Parallax Press, 1992). H
rar a saia da mãe impede-a de caminhar de maneira natural, manas atrapa-
Os sutras Praiñaparamita (“Perfeição da Sabedoriaji) são uma coleção lha o funcionamento da consciência armazenadora bloqueando o caminho
de quarenta textos compostos' em torno do primeiro seculo da era atual, para a transformação das sementes.
os quais representam uma fonte primordial dos ensinamentos Mahaya- Assim como o' movimento gravitacional da terra sobre a lua provoca
na sobre a realização de prajña (sabedoria). Este corpo de literatura
a mare alta, a força de manas sobre a consciencia armazenadora produz a
exerceu grande influencia sobre o desenvolvimento do pensamento e
manifestação das sementes como formações mentais. Hábitos, ilusões e
da filosofia das principais escolas budistas chinesas posteriores, inclusi-
apegos juntam-se para criar uma tremenda fonte de energia que condicio-
ve da escola Ch"an (Zen). H -
na nossas ações, nossa fala e nosso pensamento. Essa energia e manas. A
Ver Introdução, pp. 10-11. _ função de manas e' pensar, medir, conservar e segurar.
Indra, a deidade da mitologia hindu, e uma das muitas figuras que fo- A natureza de manas e contínua e funciona sem parar noite e dia, da
ram mantidas nos ensinamentos budistas indianos. mesma forma que a consciência armazenadora. Acabamos de aprender
quais são os três modos de percepção. O primeiro e direto; o segundo e por
Ver o livro de Thich Nhat Hanh, T/aafldertag Sá/ente: Sutra ea Knewtng
inferência ou dedução que pode ser correto ou não; o terceiro e errôneo. O
the Better Way ta .Catch a Snake (Berkeley, CA: Parallax Press, 1995).
modo de percepção de manas e sempre este terceiro - percepção falsa. A
Para uma discussão em profundidade sobre o Co-Aparecimento Inter-
percepção errônea de manas, principalmente sua suposição de um “eu”, é
dependente, ver Thich Nhat Hanh, T/ae Heart tftfae Buda/aa 'r Íeaebzvag,
a causa de muitos sofrimentos. É importante compreender o papel de ma-
cap. 27.
nas na criação e manutenção de percepções errõneas.

›-_-.i-
Ê* DEZESSEIS
Sementes de Ilusão

Das sementes da ilusão surgem


As formações internas de apegos e aflições.
Essas forças afivam a nossa consciencia
Enquanto o corpo e a mente se manifestam.

Saaeivtos QUE; Nossa consciencia aamrtzenr-.oolaa manifesta-se


como o mundo, tanto o mundo instrumental (o ambiente) quan-
to o mundo senciente (nos e os outros seres vivos). Nosso corpo ef uma ma-
nifestação da nossa consciência armazenadora. Corpo/mente, ou “nome e
forma” (rzamarapa), manifestam-se por meio da consciencia armazenado-
ra. Entretanto, quando manas, a sétima consciência, se interpõe, as semen-
tes de ilusão que estão na nossa consciência armazenadora podem se mani-
festar como formações mentais, e o resultado tf: sofrimento.
Voce esta lembrado de que um dos nomes usados para a consciência ar-
mazenadora e “consciencia de apego a um eu”. Isso tem a ver com manas que
e a energia da ignorância, da avídez e do apego. Manas surge da consciência
armazenadora e e a esta mesmo que se volta para colher uma parte a qual se
agarra. No Capítulo Oito, discutimos duas partes de percepção da consciên-
cia armazenadora. A parte que manas tenta tomar da consciência armazena-
dora e a de seu aspecto observador, do sujeito que percebe (dara/Jana-ÉJ/saga).
Nesse ponto, manas e consciencia armazenadora sobrepõem-se_e, em conse-
qüencia dessa sobreposição, um objeto de atração de manas e produzido.
Manas cria uma imagem e aferra-se a ela como seu objeto. Essa parte
da consciência armazenadora que e tomada por manas perde a liberdade.
lu
IO2. Tnaraseoataações na consciência
PARTE DUISI MANAS IU

Nossa mente fica escravizada quando e pega por manas como se fosse um
na mente. Sempre que temos um momento livre, queremos ver nosso/a ama-
“eu”. Manas segura com força o objeto da sua atração, como se estivesse di-
do/a. Quando saímos de casa, mesmo sem a intenção de ir á casa da pessoa
zendo ”Você e meu”. E uma especie de caso de amor. De fato, manas e des-
amada, descobrimos que estamos nos encaminhando naquela direção. E co-
crita como “amor pelo eu”. Trata-se realmente de apego ao eu? Manas e ”o
mo se não pudessemos evitar. A força de nossas formações mentais nos em-
amante”, a consciência armazenadora e a amada. A natureza desse amor e
purrarn. Essa e a semente do desejo com apego. ”Apego” significa segurar com
o apego _ e o resultado e o sofrimento. -
força, prender cegamente. Se tocarmos numa tinta vermelha, nossos dedos
Baseada em manas, a sexta consciência, a consciência mental, e posta
ficarão vermelhos. Se estivermos sempre em contato com pessoas cheias de
em funcionamento. A consciência mental pode funcionar independente-
cobiça, odio, ilusão e preconceito, algumas dessas características passarão pa-
mente ou em conjunto com as primeiras cinco consciências dos sentidos:
ra nos e assim nossa consciência ficará “manchada” por elas. Sejam amargas
olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. Manas tambem serve ao nosso instin-
ou doces, nossas formações mentais são blocos de sofrimento na nossa cons-
to de sobrevivência. Se, enquanto dormindo pesado, acordamos ao ouvir
ciência. Nossas formações internas nos impelem a fazer coisas que não são
um barulho repentino, isso se deve ao funcionamento de manas. O reflexo
úteis nem para nos e nem para os outros mas, ainda assim, as fazemos. So-
de evitar que sejamos atingidos quando alguem atira algo em nossa-direção,
mos compelidos por iima especie de energia de hábito, uma especie de vício.
vem de manas. Essa função de manas eí um mecanismo deçdefesa instinti-
Temos na nossa consciência armazenadora sementes de formações
vo que não opera sobre a sabedoria. Mas, por estar sempre *tentando defen-
mentais de muitos tipos. Esses nos de ignorância, desejos e aflições são for-
der o eu, acaba destruindo-o. i
ças que dão forma a grande parte de nosso comportamento e nos levam em
A atividade de manas e pensamento, cognição, mensuração, raciocínio,
direção ao sofrimento. Em muitos textos budistas, esses tipos de no são cha-
apego e desejo. Dia e noite, manas descrimina as coisas. “Eu sou esta pessoa.
mados de grilhões (samyejatza) porque impedem nossa capacidade de obter
Aquela é você.” Orgulho, raiva, medo e ciúme _ formações mentais que se
paz, alegria e liberdade. A base de todos esses desejos e aflições e a ignorân-
baseiam em nos vermos como separados _ tudo surge de manas. Por ser
cia, nossa incapacidade de ver as coisas claramente. A ignorãncia e o pri-
cheia de ilusões _ desejo, medo e apego _ manas não tem capacidade pa-
meiro elemento do ciclo de Co-Surgimento Interdependente. Nossa falta
ra tocar o reino das coisas-em-si-mesmas. Nunca poderá tocar o reino das
de compreensão nos conduz as ações volitivas que, por sua vez, nos empur-
coisas-tais-como-são. Seu objeto e a imagem de um eu que existe somente
ram em direção ao sofrimento.
no reino da representação. O apego de manas a um eu baseia-se numafima-
Veja a pessoa presa ao alcoolismo. Cada célula do seu corpo, cada de-
gem que ela criou, exatamente como acontece quando nos apaixonamos pe-
sejo ou aspiração, levam-na a beber. Essa e uma força volitiva, o tipo de
la imagem que temos de alguem e não pela propria pessoa tal como e.
energia que determina a direção daquela vida. Nossas formações internas
O contato entre as seis bases dos sentidos e os seis objetos dos senti- fazem com que nos apeguemos a certas coisas e queiramos ir em determi-
dos poderá_.~resultar em plantio de sementes de apego, desejo, raiva, odio, nadas direções. Podemos até tentar ir em outra direção, mas as forças cegas
desespero etc. Essas sementes podem crescer e ganhar maior importância á
que nos impulsionam são muito poderosas. Elas baseiam-se na ignorância,
medida que o mesmo tipo de contato continua. Elas são chamadas de for-
nas forças volitivas que repousam no fundo da nossa consciência armaze-
mações internas (samytjafla), nos ou grilhões, que têm o poder de atar, in- nadora e manifestam-se como corpo/mente. Pela prática da meditação e
citar, dirigir e empurrar. Elas nos privam do bem-estar e da -liberdade. O
observação profunda, podemos identificar e tocar os blocos de ignorância,
plantio dessas sementes, as formações desses nos, acontecem quando a ple-
apego e outras aflições que se encontram na nossa consciência armazena-
na consciência e o discernimento não estão presentes.
dora e, fazendo o esforço correto, deixar de seguir nessa direção.
As formações internas nem sempre são desagradáveis. Quando nos
apaixonarnos, sementes de formações doces nos são plantadas no corpo e
PARTE DO ISI MANAS

base dos sentidos para a consciência auditiva. Entretanto, os objetos da men-


te (pensarnentos, cognição) não surgem do contato com o mundo externo
como acontece com os objetos de forma, som, paladar e tato. Eles resultam,
isto sim, do trabalho de manas com as sementes existentes na nossa consciên-
Ê* DEZESSETE
cia armazenadora. Sem os objetos resultantes da mente, não haveria consciên-
' Atzeidade Menta/ cia mental, assim como sem um objeto de forma para contatar a base dos sen-
tidos dos olhos, não haveria consciência visual. A consciência é sempre
consciência de alguma coisa. Assim, temos sete consciências evolutivas _ as
seis consciências dos sentidos e a sétima consciência, manas _ e uma cons-
| a ciência-raiz, ou base, que é a consciência armazenadora.
Apoiada na consciencia armazenadora,
O manas aparece. Quando falamos sobre consciência, geralmente pensamos nela como
Sua função é a atividade mental, H”-”_¬ tendo dois aspectos, sujeito e objeto. Sujeito e objeto são termos usados na
Que se agarra as sementes que considera como sendo um ”eu”. moderna filosofia oõidental. Os ensinamentos da Pura Manifestação, entre-
i ` yrfi-.
tanto, dizem que cada fenomeno psicologico tem três aspectos: um sujeito
(o percebedor, dars/aarza-6/saga), um objeto (o percebido, nrmrtta-lâhacga) e a
base que torna ambos, sujeito e objeto, possíveis que é a coisa-em-si-mesma
(svaÍ9Í:›aa=a- 6/vaga) _ .
MANAS É CHaivIaD.a de consciência evolutiva (paravrrtti arjña-
O fenomenologista alemão Edmund Husserl afirmou que a consciên-
Ha) porque surge como um efeito da consciência armazena-
cia tem que ser consciência de alguma terra. Nos ensinamentos da Pura Ma-
dora. Manas não tem uma existência propria independente. Quando es-
nifestação mantém-se o mesmo ponto de vista. Estar com raiva significa es-
tudamos os ensinamentos da Pura Manifestação, temos que ter muito
tar com raiva de alguém ou de alguma coisa. Estar triste é estar triste por
cuidado com essa questão. Manas é uma consciência _ uma consciência
causa de alguém ou de alguma coisa. Preocupar-se é preocupar-se com al-
que evolui com base na consciência armazenadora _ mas, ao mesmo
guma coisa. Pensar é pensar em alguma coisa. Todas essas atividades men-
tempo, é também uma base, nesse caso a base da sexta consciência, a çons-
tais sao consciência.
ciência mental. ' -
Quando olhamos para uma placa, vemos que ela tem uma parte su-
No Capítulo Oito aprendemos que cada uma das bases dos sentidos,
perior e outra inferior. A parte superior não existe sem a inferior. Superior
em contato com um objeto externo, faz surgir a respectiva consciência. As
e inferior são como os aspectos observador e observado da consciência. Não
seis bases çlos sentidos são: olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente. Es-
podemos ter um sem o outro. Existe também um terceiro aspecto _ a subs-
sas seis bases dos sentidos atuam conjuntamente com os seus seis objetos
tância da qual a placa é feita. Se esse material básico não estiver presente,
dos sentidos _ forma, som, cheiro, paladar, tato e objetos da mente _ pa-
também não poderá haver superior nem inferior. Assim como não pode-
ra fazer brotar as seis consciências dos sentidos (consciência dos olhos, cons-
mos dizer que a parte inferior da placa não é da mesma substância que a da
ciência do ouvido, consciência do nariz, consciência da língua, consciência
placa em si, não devemos discriminar e dizer que o aspecto percebido não
do tato e consciência da mente). Base e objeto dos sentidos nascem simul-
É a coisa-em-si-mesma. Seria também incorreto dizer que a parte inferior
taneamente e são inseparáveis, como forma e sombra.
da placa não é a parte superior da placa. Tudo o que conhecemos como uma
Manas é a base dos sentidos da consciência mental da mesma maneira
Í placa vem da substãflüífl básica da qual ela é feita, a coisa-em-si-mesma que
que os olhos são a base dos sentidos da consciência visual e os ouvidos são a
contém o todo. '
ID Taaivseoaivtações na consciencia
PARTE DDISi MANAS io7

Observador, observado e coisa-em-si-mesma em conjunto são chama- nas faz é pensar e calcular: “Isto sou eu.” Isto se chama atividade mental
dos de “aspectos auto-reveladores” e dependem um do outro. Uma imagem (mafaarza); Noite e dia manas está sempre pensando, acreditando, agarran-
encontrada nos sutras para descrever isso é a de três caniços que, apoiados do, considerando parte da consciência armazenadora como seu objeto, co-
um contra o outro, ficam de pé. Um caniço sozinho não pode apoiar nada mo uma entidade separada. Está sempre presente como uma espécie de ins-
e certamente não pode ficar de pé. Mas se você equilibrar os três caniços, tinto que toma seu objeto como se fosse ele-em-si-mesmo. Este objeto de
escorados um no outro, eles se sustentarão de pé. Quando tentamos sepa- manas pertence ao campo das representações e da percepção errônea.
rar os três aspectos da consciência _ observador, observado e a coisa-em- A natureza de manas é a ilusão. Ela nasce dos blocos de ignorância que
si-mesma _ em partes distintas que ficam separadas, estamos contrarian- estão presentes como sementes na nossa consciência armazenadora. Está
do os ensinamentos de Buda. Cada parte contém as duas outras partes. sempre ali, agarrada a idéia de eu e a idéia de não-eu. Está sempre discri-
Cada parte não existiria sem as outras partes. Compreender isso ajuda a minando: isto sou eu, isto é meu, este é o eu; isto não sou eu, isto não é
nossa prática. meu, isto não é o eu. Este é o trabalho de manas que funciona continua-
O aspecto percebido da consciência armazenadora é a manifestação mente, quer estejamos conscientes disso ou não.
do mundo e a manifestação do corpo como uma base dos sentidos. Tudo o_ Manas também ”acredita que “Este corpo sou eu”. Se é apenas nossa
que percebemos _ o mundo dos humanos, animais, plantas e minerais _ consciência mental que pensa assim, podemos raciocinar com ela e dissua-
baseia-se no aspecto percebido da consciência armazenadora. O mundo di-la. Porém manas mantém esta crença profundamente arraigada e acredi-
instrumental é o mundo da natureza. O mundo senciente é o mundo de ta que se o corpo se desintegrar, o eu se desintegrará. E, como uma das fun-
todos os seres vivos, inclusive humanos. Esses mundos constituem o obje- ções de manas é o instinto de sobrevivência, de proteger o eu, ela se agarra
to da nossa percepção e são o aspecto percebido de nossa consciência arma- firmemente a crença de que nosso corpo/mente é um eu (atman) perma-
zenadora. O aspecto sujeito é aquilo que o percebedor _ a consciência ar- nente, que jamais muda. De acordo com a fé bramânica, que foi progeni-
mazenadora _ contém e mantém. No percebedor estão as sementes e tora do Hinduísmo, o Grande Ea (maha-atmarz) é uma fonte primordial
formações que ela armazena e mantém. As formações mentais surgem das inalterávele indestrutível, personificada pelo deus Brahma. Dentro de ca-
sementes da nossa consciência armazenadora. Cada semente e cada mani- da um de nos existe um raio de luz desse atman, e salvação significa reunir
festação jaz na raiz do observado. O observador é também o observado. O
observado é também a coisa-em-si-mesma. .,.- ,
o pequeno eu ao Grande eu, com Brahma. Esse era o sistema de crença do-
minante na Índia, no tempo de Buda. Os ensinamentos de Buda sobre a
zl
Manas surge também do aspecto coisa-em-si-mesma da consciência impermanência e a inexistência de um eu marcaram um afastamento radi-
armazenadora. Manas é uma consciência evolutiva que tem suas raízes na cal desse sistema de crença.
consciência armazenadora. Sua função é ater-se a uma parte da consciência Buda ofereceu a impermanência como um instrumento para explo-
armazenadora que considera como sendo uma entidade separada, um eu. rarmos a realidade e descobrirmos a verdade do não-eu. Assim como a flor
A semente dessa cobiça já estava lá quando nascemos e continua a ser rega- é feita de elementos que não são a flor, o eu é feito de elementos não-eu.
da por muitas coisas que existem no nosso ambiente social. Nossas semen- Eu sou feito de elementos não-eu. Quando olho de perto, vejo os elemen-
tes de aflição _ignorãncia, ilusão e apego _ manifestam-se como essa for- tos não-eu que me compõem _ isto é, todos vocês, todos os fenômenos, e
ça volitiva chamada manas.
O objeto de manas é o.-aspecto observador da consciência armazena-
dora. Assim como o observador naturalmente abraça o observado, manas
o cosmo inteiro. Porém manas não está consciente do não-eu. Manas con-
tinua a acreditar na idéia de um eu permanente e eterno, e por isso está sem-
pre separando e discriminando eu de não-eu. A única maneira de ajudar
J
.i
I.Iii abarca e apega-se a esse aspecto da consciência armazenadora, transforman- manas a largar essas noções de eu e não-eu é observarmos profundamente |!
E
do-o num objeto e esse objeto torna-se uma idéia de eu. Tudo o que ma- a natureza impermanente e ínterdependente da realidade. .

l 'f' I
PARTE DOIS: MANAS

gem como objeto de sua percepção. Manas encara esse objeto percebido co-
mo sendo um eu e se apaixona por ele. Então, passa a proteger essa parte
da consciência armazenadora que ela propria objetivou e a qual se apega.
Para transformar manas, precisamos observar profundamente os ele-
ëí' DEZOITO mentos de ignorância e apego que a fazem agir dessa maneira. As raízes de
manas repousam na nossa consciência armazenadora. Olhando manas pro-
A Marca de um Eu fundamente, podemos identificar as sementes de ignorância e as formações
internas de apegos e aflições que ali estão, as quais são mantidas na nossa
consciência armazenadora. E como olhar para dentro de uma laranja e po-
der vislumbrar a laranjeira que irá crescer das sementes. Manas está “obs-
O objeto de manas é a marca de um eu
curecida”, coberta pelo véu da ignorância. Isso significa que deveria ser eli-
Encontrado no campo das representações
minada? Não. Manas traz dentro de si a consciência armazenadora e a
No ponto em que manas e consciência armazênadora contém tudo, inclusive a natureza de Buda.
A consciência armazenadora se tocam. De fato, todas as oito consciências e todas as formações mentais são de
k

natureza interexistente e interpenetrante. Ambas são coletivas e individuais.


Muito embora manas seja cega e o seu funcionamento crie tanto sofrimen-
to para nos, todas as outras consciências estão presentes nela ao mesmo tem-
à DISCUTIMOS os três campos de percepção _ o reino das coisas- po. Se tentássemos eliminar manas, seria como nos destruir. Na flor pode-
em-si-mesmas, o reino das representações e o reino de meras ima- mos ver o sol, o adubo e a terra. Uma coisa traz consigo todas as outras coisas.
gens _ e as três modalidades de percepção: direta, por inferência ou dedu- Quando praticarmos ver assim, não nos queixaremos de manas nem do so-
ção, e falsa. A modalidade de percepção das coisas-em-si-mesmas é sempre frimento que causa. No Budismo, não existem inimigos externos _ o que
imediata e direta, sem raciocinar nem calcular. Em manas, a modalidade de existe é nos mesmos. O objeto de manas é apenas uma representação, uma
percepção pertence ao reino das representações. O caractere chinês para “re- imagem na nossa mente, e não algo que realmente existe fora de nos. Quan-
presentação” significa “traz consigo um pouco da substância”. Pa;:a,“o ama- do entendermos melhor como manas produz esse falso objeto de percepção,
do/a”, o chinês usa uma expressão que significa “a pessoa que está na men- poderemos aprender de que modo praticar para evitar isso.
te”. Xuanzang, no seu Standard iérses ea t/se Erg/vt Ceare¿eamesses,1 diz: “O Os ensinamentos da Pura Manifestação e de outras escolas de .Budis-
objeto de manas é o reino das representações, e a natureza desse mundo é Hlo descrevem quatro condições para a manifestação de todos os fenôme-
obscurecimento.” Sendo obscura, manas ama cegamente. 'O objeto de nos. A primeira condição é a causa (/:eta-pratyaya). O ideograma chinês pa-
“amor” que manas segura com tanta força, não é a realidade da consciên- Ia este termo traz a simbologia de “grande” dentro de um quadrado. Muito
cia armazenadora, mas uma imagem que ela propria criou. Ímbora a causa em si seja limitante _ o quadrado que cerca o ideograma
O objeto da percepção do amado está ligado tanto ao amante, a ma- gl-“ande” _, o resultado pode ser significativo. Um único grão de trigo faz
nas, quanto a coisa-em-si-mesma, a consciência armazenadora. Quando Hëlficer uma planta de trigo inteira.
manas contata a consciência armazenadora, um objeto é produzido pelas _ A segunda condição é o desenvolvimento (aa'hzfpatz'-prai]/aya). Há dois
energias das duas, no ponto em que elas se encontram e sobrepõem-se. Ma- UPOS de condições para desenvolvimento: a que favorece e a que impede o
nas não pode tocar as coisas diretamente. Ela brota do solo da consciência dçfificnvolvimento. Os raios do sol, a chuva e o solo tanto podem, como não,
armazenadora, toca uma parte desta, produz uma imagem e toma essa ima- aiufllat um grão de trigo a tornar-se a planta do trigo, dependendo da ho-
IID Taxivsroaiviações na consciencia ` _ PARTE DOIS: 1v[,›-*,1~J¿;,5 III i `

ra, quantidade e qualidade de cada qual. Se chover demais ou na hora er- tá determinada a tomar o aspecto observador da consciência armazenado-
rada, a planta não vai florescer. Contudo, nem todas as condições desfavo- ra. Baseada nisso, cria um objeto de sua percepção. Mas esse aspecto ob-
ráveis produzem um resultado nocivo. Pode acontecer que estejamos a bei- servador da consciência armazenadora não é o de objeto direto e, portan-
ra de cometer um engano mas que, graças a condições desfavoráveis, to, essa condição de manas não é a de objeto direto. O que manas faz é se
evitamos fazer algo destrutivo. Nesse caso, as chamadas condições adversas servir do aspecto observador da consciência armazenadora para criar sua
foram, na realidade, benéficas. Elas impediram o desenvolvimento de uma propria condição de objeto especial. O aspecto observador da consciência
ação prejudicial. - armazenadora é a condição favorável para o desenvolvimento da percep-
A terceira condição é o objeto (alambaaa-pratyaya). “Objeto” aqui sig- ção errônea de manas, a percepção falsa da -realidade que manas cobiça co-
nifica o objeto da percepção. Sem esse objeto, não há percepção. Um dos mo sua amada. E como encontrar alguém n___um sonho e acreditar que es-
mais devotados seguidores leigos de Buda foi o mercador Anathapindika. A sa pessoa é real. H”
primeira vez que ouviu falar do Buda foi por meio de seu cunhado, que era Durante a noite, nossa mente está sujeita a vontade de manas. Quan-
devoto. Quando ouviu o nome “Buda”, uma imagem surgiu na mente de do dormimos, não estamos vivendo no reino das representações e sim no
Anathapindika fazendo-o sentir um grande amor por Buda. Na realidade,. reino de meras imagens”. Enquanto dormimos, manas instiga nossa cons-
ele nunca tinha visto Buda. Assim, a imagem surgida na suammente perten- ciência mental a fazer uso das sementes que estão na consciência armaze- . ,F
I il

cia ao reino das representações. Essa representação _ a imagem do Buda _ nadora a fim de criar um ambiente que satisfaça seus desejos. Nossa cons-
serviu como objeto para a condição, que, por sua vez, dependia da condição ciência mental produz sonhos que são feitos de imagens tiradas das
para o desenvolvimento _ a maneira como o cunhado de Anathapindika sementes da nossa consciência armazenadora. Mas a pessoa do sonho não
falou de Buda e preparou a sua chegada. Mais tarde, quando Anathapindi- é uma pessoa real. Da mesma maneira, o objeto de manas não é o real as-
ka pôde entrar em contato direto com o Buda, a condição para o objeto de pecto observador de nossa consciência armazenadora. O real aspecto obser-
sua percepção _ Buda _ tornou-se mais proxima da verdade. vador da consciência armazenadora desempenha o papel de condição para
A quarta é a condição de continuidade imediata (samaaaatara-pratyaya). o desenvolvimento, e é nisso que manas se baseia para desenvolver uma
Toda manifestação de um fenômeno necessita de continuidade ou é corta- Cündição para seu objeto, o qual é uma percepção errônea. Manas cria es-
da. Para existir, a flor deste momento necessita da flor do momento ante- ta falsa imagem de um ser amado baseando-se nas condições favoráveis pa-
rior. Nada pode existir sem uma continuidade imediata. -f f ra esse tipo de criação. Ela surge devido aos impulsos de ignorância e dese-
Para que alguma coisa surja ou para que um fenômeno se manifeste, jo das sementes que estão na consciência armazenadora.
essas quatro condições são necessárias. Nossas idéias de causa e efeito são No Mahayaaa-ramgraha-sfaartra e no Laafeaaata ra Satra, a consciência
por demais simplificadas. A causa como condição (/veta-pratyaya) é a se- armazenadora é comparada ao oceano e as sete consciências evolutivas são
Cümparadas as ondas. E assim que podemos identificar as raízes de manas;
mente da qiial as coisas brotam, mas nada pode brotar so disso. E preciso ill
haver também uma condição de desenvolvimento (adhšpatš-prazyaya), uma lãífilflíoollia para a consciência armazenadora com apego e, de uma porção
condição de objeto (alamløaaa-pratyaya) e a condição de continuidade ime- W z. ç nstroi um objeto ao qual se agarra. Quando isso acontece, a cons-
diata (samaaaatara-prazyaya);Se eu não estivesse estado no momento an- Clfiflcla armazenadora fica presa e não pode ser livre. O objeto de manas é
terior, não poderia estar agora neste momento. Püfisibilitado pelo contato e pela sobreposição de manas e consciência ar-
A causa como condição' de manas é o aspecto coisa-em-si-mesma da F;HZenadora. Mas esse objeto não é a coisa-em-si-mesma, é somente uma
consciência armazenadora. Manas nasce de uma semente de cobiça, uma di:2Sentaçao. E um mero composto do sujeito da consciência armazena-
parte da consciência armazenadora. A condição para o Clcãcflvolvimento d E Hlanas, o qual traz apenas uma ínfima parte da substância original
J.
de-manas é o aspecto observador da consciência armazenadora. M_anas es- H consciencia armazenadora que é a coisa-em-si-mesma. I
Taaeiseoasaaçoes isia consciencia _ PARTE DÚISI MANAS

A consciência tem muitas funções. Cada função da consciência é uma brarmos do relacionamento íntimo entre manas e consciência armazenado-
realidade psicologica. Quando falamos de oito consciências, na realidade ra, não insultaremos manas. Ao contrário, trabalharemos no sentido de
estamos falando de oito funções da consciência. Se tentarmos dividir a transformar as sementes que estão na nossa consciência armazenadora pa-
consciência em oito entidades independentes, estaremos contra o espírito ra que elas se manifestem de uma maneira sadia e não como falsas percep-
dos ensinamentos budistas, em que tudo está intimamente ligado com tu- ções de manas. I
do o mais. Pensamos que a consciência armazenadora e manas são diferen-
tes, porém existe uma conexão íntima entre ambas. Elas são duas, mas tam-
bém são uma.
Eu me chamo Thich Nhat Hanh, sou um mestre de Dharma, um poe-
ta e ainda jardineiro. A minha parte de poeta não está separada da minha
parte de mestre de Dharma, e a parte de mestre de Dharma não está sepa-
rada do jardineiro. Cada um de nos tem muitas facetas. Podemos analisar
'E-
e ver a base de cada faceta, mas isso não significa que alguma faceta é inde-
pendente das outras. Elas são meramente aspectos diferrentes de um todo.
Consciência é a mesma coisa. As oito consciências' não são oito enti-
dades separadas que nada têm que ver uma com a outra. As diferentes fun-
ções da consciência recebem nomes diferentes, mas são intimamente liga-
das umas com as outras. Apesar de serem oito, são também uma. Quando
dizemos que a primeira função da consciência é armazenar as sementes, da-
mos a essa função um nome _ consciência armazenadora _ e então te-
mos uma idéia de uma consciência que armazena. Quando discutimos a se-
gunda função da consciência, que é a de pensar e calcular, chamamos essa
função de manas. A segunda função está naturalmente ligada e influencia-
da pela primeira. A função de poeta está ligada e é influenciadaf pela fun-
ção de jardineiro e a função de jardineiro está ligada e influenciada pela fun-
ção de mestre de Dharma. O verdadeiro poeta contém o jardineiro, e o
verdadeiro jardineiro contém o mestre de Dharma.
Oi objeto de manas é a marca de um eu, encontrado no reino das re-
presentações, criado no ponto em que manas e consciência armazenadora
se tocam. Nesse ponto, o objeto chamado “eu” surge. Ele é um produto da
mente que o construiu, baseada na ignorãncia e na ilusão. E parte do reino
das representações e não do reino das coisas-tais-como-são, ou das coisas-
em-si-mesmas. apenas algo que foifconstruído pela nossa mente iludidaz
assim como quando pensamos que uma corda é uma serpente.
A consciência armazenadora é como o oceano. As consciências evolut
tivas são como as ondas. Quando compreendermos isso, quando nos lemt
PARTE DÚISI MANAS

dg seu eu, seu amado. Todas as coisas do mundo estão ligadas a nos, ainda
que pensemos “Essas coisas não são o meu eu. Apenas isto é o meu eu.” Ge-
ralmente pensamos que nossas ações são racionais e que so depois de ter-
mos compreendido uma coisa é que agimos. Porém, nem sempre é assim.
Ê* DEZENOVE Q Muitas vezes temos alguma compreensão, mas nossas emoções são mais for-
O Íerreno do Salatar e do Nao-salutar 1-'
rar do que nosso raciocínio.
A natureza de manas é indeterminada, mais uma vez da mesma ma-
neira que a consciência armazenadora. Mas é também obscurecida pela ig-
norância. “Obscurecida” significa estar “encoberta”. Você não pode ver a
|
Como terreno do salutar e do nao-salutar '_' luz se algo a estiver encobrindo. Ignorância”, em sânscrito é aardya _ lite-
Das outras seis manifestações da consciência, ralmente, a ausência do saber (wfdya). O véu de ignorância que cobre ma-
Manas discrimina continuamente. nas é sua tendência a discriminar entre eu e não-eu. indeterminada quer di-
É

zer que não é nem sadia nem doentia. Isso significa que existe uma
Sua natureza é indeterminada e obscura.
I lr possibilidade de transformação, ou seja, de soltar-se, mesmo depois de já
haver se prendido a um suposto eu, e não mais discriminar. A transforma-
ção pode ocorrer porque manas Ié indeterminada. A terra pode fazer brotar
E z .. espinhos e espinheiros, mas também pode fazer nascer frutos e flores.
MANAS E _a BASE que determina se as outras seis consciencias ma-
A natureza da consciência armazenadora é desobstruída e é por isso
nifestas _ as consciências dos sentidos dos olhos, ouvidos, na-
que ela pode se tornar mente verdadeira, de natureza búdica. Como não
riz, língua, corpo e mente _ são saudáveis ou não. As consciências dos sen-
existe obstáculo permanente no seu caminho, ela tem a possibilidade de al-
tidos são extremamente influenciadas por manas Se manas for obscura e
cançar o reino das coisas-em-si-mesmas A transformaçao se da na cons-
confusa, elas serao obscuras e confusas Se manas for parcialmente libera-
ciencia armazenadora uando nela sao transformadas as sementes das
da, elas serao parcialmente liberadas Se manas amar de maneira cega e co n-
quais manas se desenvolveu, manas tambem e transformada Entao a dis-
” “^ '
fusa, as outras seis consciencias sofrerao i'-Q '
uanto maior a cegueira.de ma-
nas, maior a cegueira das consciencias dos sentidos uando manas se abre
' ' ' ri i P '
criminaçao entre eu e nao-eu, meu e nao-meu, desaparece O
I " . I . IIII. I . -I IQ
O objetivo da meditaçao e fazer uma mudança na raiz de manas, na
I I I I-I II I
e se torna mais receptiva, essas seis consciencias tambem gozam de abertu- consciencia armazenadora A isso chamamos transformaçao na base (arara-
ra e aceitaçao E por esse motivo que manas e tida como terreno do salu- ya param-ata) Paravritti significa revoluçao” Revoluçao significa seguir
tar e do não-salutar A fim de transformar manas, temos que transformar numa direçao diferente Ashraya e base Somente com a luz da plena
nossa consciencia armazenadora, a qual mantem todas as sementes em que consciencia é que essa transformaçao radical pode ocorrer Mediante a ple-
manas se baseia para se desenvolver Ha consciencia, podemos mudar de direçao e seguir rumo ao despertar A
De tempos em tempos, as outras seis consciencias param de funcio- fiflílidade da nossa pratica e, pouco a pouco, todos os dias, ir transforman-
nar, porem, manas, assim como a consciencia armazenadora, funciona con- dü El natureza de manas e assim libertar cada vez mais nossa consciencia at-
tinuamente dia e noite, sem parar Ao contrario da consciencia armazena- U1=.-'Lzenadora do seu dominio
dora que e contínua mas nao discriminadora, a natureza de manas e ambas A raiz de manas e a ilusao _ sementes de ignorancia que repousam
as coisas discriminadora e contínua Dizer que manas esta sempre discri- HU fundo da nossa consciencia armazenadora A maior tarefa da conscien-
minando significa que ela se atem aquele objeto que considera como sen- cia mental e fazer brilhar a luz da plena consciencia sobre manas e as se-
:raarsiseoaiviações iva consciencia
PARTE DÚISI MANAS

mentes de nossa consciência armazenadora, de modo que possamos enxer- cia armazenadora. Então, dia e noite, enquanto caminhamos, nos senta-
gá-las. Quando a consciência mental projeta luz sobre essas 'sementes e as mos, comemos, bebemos, em todas as atividades, estaremos regando essas
toca profundamente, a luz penetra os blocos de ilusão, ajudando-os a se sementes com plena consciência.
transformarem. Sob a luz da plena consciência, as ilusões se tornam menos Po demos ter inteira confiança na nossa consciência armazenadora. Ela
capazes de se manifestarem de forma nociva no corpo, na fala e na mente. nunca cessa sua atividade. Durante a noite, nossa consciência mental pode
A ilusão opera na escuridão, mas não na luz. Quando esses blocos de igno- descansar e parar de funcionar, mas nossa consciência armazenadora con-
rância são transformados, manas é transformada. tinua a trabalhar. Depois que o jardineiro pára o seu trabalho, a terra con-
Nossa consciência mental não tem que trabalhar diretamente com tinua trabalhando para ajudar as sementes a brotar e crescer. Mais cedo ou
manas. Ela pode trabalhar com as sementes que estão na consciência arma- mais tarde, elas naturalmente brotarão. E as flores e os frutos do despertar
zenadora. A consciência armazenadora é como um jardim, um lote de ter- surgirão do solo de nossa consciência armazenadora. A consciência mental
ra que contém todas as sementes. O jardim não pode cultivar a si mesmo, tem que confiar na consciência armazenadora, assim como o jardineiro tem
é necessário um jardineiro. Quando o jardineiro ara, capina, semeia, rega que confiar na terrg. Os dois papéis são importantes. Lembre-se, entretan-
os canteiros, a terra dá flores e frutos que beneficiam a sua vida. O jardinei- to, que a iluminação, o discernimento, não lhe serão trazidos pela consciên-
ro sabe que não é ele que produz os frutos, e sim a propria terra; seu traba- cia mental, pelo entendimento intelectual, mas sim pela sabedoria mais
lho é simplesmente cuidar dela. Por meio da plena consciência, a consciên- profunda da sua consciência armazenadora. Depois da transformação, a
cia mental toca os grilhões da ilusão e do apego, os blocos de sofrimento consciência armazenadora torna-se o Grande Espelho da Sabedoria, refle-
que estão na consciência armazenadora. E isso é feito noite e dia, como um tindo adiante e iluminando tudo.
jardineiro que trabalha sem parar. Dessa maneira, a consciência mental aj u- Para que o despertar se dê, temos que plantar sua semente na nossa
da a consciência armazenadora a produzir o fruto da prática _ alegria, paz consciência armazenadora. Se usarmos a consciência mental apenas para fa-
e transformação. _ zer malabarismos mentais, não iremos longe. Muitas pessoas guardam os
Quando usamos a consciência mental para gerar a energia de plena ensinamentos na consciência mental, 'usando o intelecto para incitar e es-
consciência, respirando e caminhando conscientemente, estamos regando pecular acerca deles. Embora pensem e falem sobre os ensinamentos o tem-
a semente da plena consciência que já está presente na nossa consciência ar- po todo, não aprendem nunca como plantar as sementes do Dharma no so-
mazenadora. 'f * lo fértil -da consciência armazenadora.
Isso gera ainda mais energia de plena consciência que poderá reluzir Se você pratica meditação apenas com a sua “consciência mental, ja-
mais adiante na consciência armazenadora. Sempre que usamos a energia mais será bem-sucedido. Não pense nem raciocine muito sobre as coisas
da plena consciência para tocar uma semente, estamos ajudando essa se- aprendidas com um mestre em meditação. Em vez disso, plante as semen-
mente aIse transformar. Quando a plena consciência toca sementes belas, lies do Dharma na sua consciência armazenadora. Então, na sua vida coti-
positivas, ela está ajudando essas sementes a se desenvolverem e se revela- Clläflr.-1, quer esteja andando, de pé, deitado, sentado, cozinhando ou traba-
tem mais claramente. Quando toca as sementes negativas, ela ajuda essas lhando num computador, regue aquelas sementes com a plena consciência.
sementes a se transformarem. Seu lote de terra, a consciência armazenadora, fará essas sementes do Dhar-
Quando vamos a um centro de prática, levamos conosco a consciên- ma germinarem e o despertar florescerá.
cia armazenado ra e manas e, ali, começamos a receb er as sementes do Dhar- No Capítulo Onze, aprendemos sobre os Três Selos do Dharma que
ma as quais são lançadas na nossa consciência mental, no 110550 intelecto. ââo o não-eu, a impermanência e o nirvana. Outra maneira de descrever o
Mas não devemos cleixá-las so no intelecto. Temos que fazer chegar os en- Illfvana é a interexistência. Contemplar o não-eu, a impermanência e a na-
sinamentos a toda a nossa pessoa plantando-os no solo da floããa consciên- Ulreza interdependente dos fenômenos nos ajudará a reduzir a quantidade
il 1
Taaistsroaiviaçöns iva coNscIÊ1-icia

i.=i
de ilusão de manas e a nos trazer para mais perto da sabedoria da não-dis-
1:
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crimina Ç ão ou e Cl uanimidade :amante J'ñafle _ Esse e o ti P o de sabedoria
j.
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ii,
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que pode nos ajudar a penetrar na verdadeira natureza da interezistencia,
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ÉÍ' 13 .I " Íi ' H i-' ' ,-' II* .U
onde isto e feito daquilo e onde nao einste separaçao entre isto e
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(Í ' H 2 " " .-^'


aquilo . Com uma boa pratica, a ilusao de manas pode se transformar em Ê* VINTE
sabedoria da equanimidade.
`._1_¬.
'_«¡Ê'

Compóm/oeiras de Manas

Manas segue com as cinco formações mentais universais,


Com mami das cinco formações particulares,
||1|
|| Com as quatro aflições principais e as oito secundárias.
I

.|'I
I- Todas indeterminadas e obscuras.
|
| Q "'k.

.|_

.II CONFORME APRENDEMOS no Capítulo Dez, ei-ristem muitas forma-


ções mentais _ cinqüenta e uma categorias de formações men-
tais, segundo os ensinamentos da Pura Manifestação.2 Muitas destas ope-
-.

rarn junto com manas. Manas acompanha as cinco formações mentais


i
universais que são encontradas em todas as consciencias: contato, atenção,
.I

.wi sentimento, percepção e volição. A função de pensar sem parar, pertencen-


.K ir
te a manas, manifesta-se como essas cinco formações universais. Manas es-
tá sempre contatando, prestando atenção, sentindo, percebendo e plane-
Jando. Por meio das atividades dessas cinco formações mentais universais,
manas se agarra a consciencia armazenadora e a toma como sendo um eu.
:il
As cinco “particulares” são formações mentais nem' sempre encontra-
<3läS nas outras consciencias. Elas são: zelo (if:/ømzdóz), determinação (ad/az`-
WUÊSÊQ), plena consciencia ou memoria (smrzhí), concentração (sózmézóí/ii) e
Sabedoria (piezjña). A primeira dessas tem a qualidade da atração _ você e
Cüfllpelido a olhar para uma coisa, informar-se a respeito e interessar-se por
ela- A segunda, determinação, pode tarnbem ser descrita como discerni-
mento -_ você pensa ter reconhecido um objeto e cria uma ideia sobre ele.
fi terceira, plena consciência, neste contexto significa que, para voce, o ob-
I
JÊÍÚ Ele sua atenção vem à existência aqui e agora e, quando você o relem-
II
Taxi-issoaiviaçõzs Na coisisciílisiciii PARTE DÚISI MANAS

-H-I-Lil
bra, e como se ele fosse real. Concentração, aqui, significa focalizar a sua 'de que era o seu filho, porem a convicção de que o menino estava morto
atenção naquele objeto. O significado de sabedoria, aqui, significa que vo- era tão forte que o homem não o pode ouvir. Finalmente, o garoto desistiu
cê acredita conhecer o objeto tal como ele e. e foi embora.
Os termos em sânscrito para essas cinco formações mentais particula- As vezes nos apegamos tanto no que acreditamos que, mesmo quan-
res podem ser confundidos, pois em contextos diferentes eles tem outros do a verdade vem e bate a nossa porta, não permitimos que ela entre. Es-
significados. Em especial “prózjñ.‹z”, a única das cinco particulares encontra- se tipo de convicção cega sobre as nossas proprias crenças _ fanatismo _
_- -M-r

da em manas, não e a mesma }'Jrózji':i.c.I de prajiãaparamzm, discernimento ver- e o inimigo da pratica. Nunca deveríamos nos sentir absolutamente certos
dadeiro. Aqui, significa um tipo de compreensão 'ou convicção que e ape- de nosso conhecimento. Precisamos estar prontos para, diante de uma ver-
nas uma ideia, uma assertiva. Não e a sabedoria pura porque geralmente dade maior, desistir. A isso chamamos não se apegar a pontos de vista, e
baseia-se numa percepção errônea _ você acredita que está certo, mas es- este e um dos elementos mais importantes da nossa pratica. Qualquer vi-
ta errado. Pensa que viu uma serpente, mas era apenas uma corda. são, por mais nobre ou bela que seja, ate mesmo nossa crença no Budis-
Muitas vezes nos aferramos a uma coisa que achamos que e a realida- mo, pode ser uma armadilha. Lembre-se de que Buda advertiu que o seu
de. Temos uma forte convicção de que ela e absolutamente verdadeira e,..não ensinamento e coiiio uma serpente _-se não soubermos a maneira corre-
arredamos pe dessa convicção. E por isso que mesmo üjgrózjñan eÍ tida, aqui, ta de receber os ensinamentos, seremos apanhados por eles. Seremos mor-
como um tipo de discernimento errado. Vamos, portanto, reservar a palavra didos pela serpente.
“prizjiãiz” para “compreensão verdadeira, discernimento verdadeiro, e usar, O vigesimo verso mencionatarribem as aflições (kles/ms) as quais ma-
para essa formação mental particular, a palavra m.¢zrz', que significa uma com- nas esta associada. Aflições são formações mentais nocivas. As quatro prin-
preensão que pode ser falsa. Quando percebemos alguma coisa, mesmo se a cipais aflições encontradas nesse verso estão todas ligadas a ideias sobre o
percebemos erroneamente, temos a impressão de que estamos certos. E nos eu. São elas: eu-ignorância (arma-mobo), eu-visão (arma-drz's/ari), eu-orgu-
agarramos a ela achando que e verdadeira. Manas acha que o “eu 'J criado por lho (cima-mana) e eu-amor (arma:-me/ari). Eu-ignorância e a ideia errada so-
ela como objeto de sua percepção e a coisa mais importante. Esse discerni- bre o eu: a crença de que “Eu sou este corpo, este sentimento, esta percep-
mento e obscuro _ e mari, uma percepção falsa firmemente mantida. ção. Coisas que não são este corpo, este sentimento, esta percepção não são
Buda ensinou uma parábola que ilustra esse tipo de pensamento. Um eu. O que acontece aos outros não e problema meu”. Na realidade, o que
homem saiu por alguns dias deixando o seu filho pequeno em casa, Quan- Chamamos “Eu” esta ligado a tudo mais no universo. Se pegarmos uma par-
do voltou, a casa tinha sido queimada por bandidos. Vendo os restos carbo- tícula minúscula e criarmos dela uma imagem a que chamamos de eu, ela
nizados de uma criança perto das ruínas da casa, imediatamente ele pensou 115.0 pode ser real mas indica, isto sim, que um eu foi criado no reino das
que era o corpo do filho e logo se jogou no chão batendo no peito, desespe- representações. Por não pertencer ao reino das coisas-em-si-mesmas e de-
rado. Nb dia seguinte preparou o funeral, juntou as cinzas e colocou-as nu- nominado eu-ignorância.
ma linda bolsa de seda. O homem era muito apegado ao menino, passando _ Eu-visão e a visão falsa de que o eu e independente e eterno, de que
a levar a bolsa com as cinzas para onde quer que fosse. Ele não sabia que seu existe a parte dos outros fatores da existencia. Eu-orgulho e a atitude de que
filho estava ainda vivo, que tinha sido raptado pelos bandidos. 5011105 melhores, mais inteligentes, mais bonitos ou mais importantes do
Algum tempo depois, o menino conseguiu escapar e, no meio da noi- C1'-le os outros. Eu-amor acontece quando nos amamos excessivamente,
te, encontrou a casa do" pai, que havia sido reconstruída. Bateu na porta e quando tudo que dizemos, fazemos ou pensamos mostra o quanto estamos
pediu para o pai que a abrisse. .Mas o homem, convencido de que o filho Elrraigados a nos mesmos. Essas quatro principais aflições estão sempre pre-
estava morto, ficou com muita raiva e gritou: “Va embora! Não me pertur- Sentes em manas. A finalidade da nossa pratica e projetar uma luz sobre ma-
be! Meu filho está mortol” O garoto tentou diversas vezes convencer o pai 1135 de tal maneira que ela possa se libertar da crença em um eu.
122 Taaivssoaiaaçõzs na consciência

As aflições secundárias mencionadas nesse verso são menos graves do


que as falsas noções de eu. Estão ainda divididas em aflições secundárias
maiores, medias e menores. Manas está associada as oito aflições secundárias
maiores: raiva, hostilidade, disfarce ou hipocrisia, aflição ou tormento, inve-
ja, parcimõnia ou egoísmo, decepção ou engano, fraude ou desonestidade. el» ViNTE E UM
Essas aflições, essas formações mentais, quer sejani universais ou par-
ticulares, tem o mesmo tipo de natureza. Todas são indeterminadas e obs-
Manos Segue Sempre or
curas, exatamente como manas. O oceano e salgado. Assim, todas as gotas A Consciência Arnnzzenózóionz
de água do oceano são igualmente salgadas. As formações mentais assumem
as características da consciencia a qual estão associadas. Pelo fato de manas
Assim como a sombra segue a forma,
ser indeterminada e obscurecida pela ignorância, todas as formações men-
tais que a acompanham tem a mesma natureza: obscura e indeterminada. Manas Sam-PW 555116 D armazém da consciência.
E por serem indeterminadas, podem ser transformadas. 3_ÍÍ__-_:_;l__: :fia tentativa_ enganosa de sobrevivência,
go por continuidade e satisfação.
~"\¬

Maims ssciix sziviras a consciencia '^ ' armazenadora, da mesma fmfma


que nossa sombra se ue os movime-ntos o nosso corpo. Cega.
mente manas vai se indo as _, .
_* Sementes que fisga na consciencia armazenado-
ra, sejam elas saudáveis ou doentias Mas segundo os ensinam t da .
- .. . - = en os intere-
lflãtencia assim como
____S_____________›a___ H a___flor p_ode ser vislumbrada
` no adubo e o adubo pode ser
(___) É _ o na orz o_ _ oenti
_ o sempre contem* dentro de si- o potencial
- do sa.
fr J-`
. isso o que possibilita o despertar e a transformação. Quando ao desper-
HL Hlanas e transformada, ela adquire a maravilhosa fu " eh
Pmensãü da Eq...d_____ h b_1_d_1d ___ nf?-flo amada de com_
U1 eia a ii e everoumnotedee o todo no um.
Anteriormen te mencionei ' ' af " - -
” UHÇHÚ de manas como nosso “instime
~i cl.Ê Süibr
evivencia
' A - :J
. Por ser a e * ' "
J

d p gada a ideia de um eu ela sempre age de mg-


o a preservar o eu. Quando estamos dormindo e alguma coi f d
pgmu Subitamen _ sa nos az es-
te essa rea ão ' z -
Pfetetora de nos dlesviat - Ç E düvlda H fmanas' A faplda ÍESPÚSÍH flufür
mm 'ii'-landü Hlguem tenta nos bater, também ge
dflifgz
H manas - A consciên cia
` mental n ~ ' - _
de - ao tem ÍÊHÍPU Sllfifilente para consi-
Ç3-U e desencadear uma HÇHU,-.
'“ porém manas comporta-se auto-
Hlatic lfllente instintivamen
- - - '
ÍÊ. E f 1
os bi fj 1 __ _f53 ' CÉ1PHC1ClHde
' ' :J
de manas
.
e analoga ao que
__ Ú figos chamam de cerebro primitivo que funciona somente
eressfi d a . ^ _ ._ = no in-
Sobrevivencia, da autopreservaçao. ~
12 Taaivssoamaçõas iva coivsciãivciii

Sempre que estamos numa situação de grande perigo, manas atua com
firmeza para nos persuadir a correr ou a fazer o que seja necessário para sal-
var a nossa vida. Mas sendo cega, porque sua natureza e obscurecida pela
ilusão, manas pode, muitas vezes, nos levar na direção errada. Para descre-
ver o aspecto potencialmente autodestrutivo do “instinto de sobreviven- W' VINTE E DOIS
cia”, a psicologia moderna usa a imagem de um mosquito que pousa numa
serpente. Para livrar-se do mosquito, a serpente deita-se numa estrada e um Libertar
carro passa sobre ela _ matando o mosquito, mas a serpente tambem. Os
seres humanos tambem agem assim. Queremos punir alguem, então nos
destruímos para fazer a outra pessoa sofrer. Manas e a força que está por
trás desse tipo de pensamento. Quando a primeira etapa do caminho do bodhisattva e alcançada,
Devido ao seu apego a ideia de um eu, manas e defensiva e protetora. Os obstáculos do conhecimento e as aflições são transformados
2 " E _
Tem o instinto cego da autopreservação, ansiando sempre por um eu per- NH Clfifllfllfl Etapa, a Crença em um eu separado e transformada pelo yogi
manente, por satisfação. Para que possa entrar em contato com a realidade, E a consciencia armazenadora se liberta de manas.
a consciência mental tem que praticar a observação profunda. A natureza
de manas e ilusão, ignorancia e discriminação. Manas e prisioneira de sua
ilusão e de seu anseio por continuidade e satisfação. Manas procura satisfa-
zer seu desejo, mesmo que ele resulte em malefício. Marias nos conduz ao DE iicoifi-oo coivi os Ensiivi-iivisnros do Budismo Mahayana, exis-
prazer, mas, muitas vezes, acaba sendo um tipo de prazer que não nos traz tem dez etapas (oinirnis) que um bod-hisattva tem de percorrer
felicidade. Como manas não enxerga para onde está indo, os frutos do seu antes_ de alcançar a iluminação total? A primeira e a etapa da alegria (pm-
empenho são, freqüentemente, mais dolorosos do que prazerosos, mais tris- mff“l¡f“'¿'l9fim1l Quando começamos a praticar, sentimos uma grande ale-
tes do que alegres. gfla porque conseguimos acabar com o barulho, as demandas e as ativida-
Êl_Z_s____:í;e_:sÉpte;:_;lq_i§SdaáliáriÍ. Sentimos a alegria _de nos libertar das coisas
:C-I'
a_Êg_____ ____________ê filía Você- Ê__I_.1:___ii1 pwiqaior e sua c_aPa_cidade de se libertar, mais
I_______________ mas ________ a_)_______l3___________CleSS___Ssso ou aqlä o sa__p essenciais Para a sua fe-
___bS______________S f __ _ r1oç_oes,_ esco re que na verdade er_am
para a sua e icidade. Na primeira etapa, largamos muitas ee1535
4
Éäfinëzfipflfãéílliiavaapi e sentimos um grande alívio. Mas, como bodhisatt-
d P af Püf 31- SE 1105 apegarmos a etapa da alegria queren-
Upermanecer nela por prazer, não conseguiremos ir longe no caminho de
läodhisattva.
ma ___Q_Í_1ando mergulha na primeira etapa, o bodhisatrva realiza a transfor-
Í "' ' ' _ 1 .
(___ U5 Úbfitflfll-1105, que sao de dois tipos. obstaculos de conhecimento
mÍyff`ff¡"í5m”¿¿) É Ubflfiífllllos de aflições (ëlesna-aivarana) De acordo com o
Bud'
_______ i 51110, quando conhecemos ou aprendemos alguma coisa, . ela pode ee
Hill' um obstáculo ao nosso progresso. Se nos apegamos ao que aprende-
rz
' 12 Taaisrsaoaiviaçõas na coivscrfiivcrzi 7
| _
PARTE DOIS: MANAS Ig

mos como sendo a verdade absoluta, ficamos presos pelo conhecimento. nosso progresso posterior. Muito embora possa ter valor, nosso conheci-
Por esse motivo, temos que ser muito cuidadosos com o nosso saber. Este mento pode tornar-se um obstáculo. Se ficamos presos ao nosso conheci-
pode vir a ser um obstáculo para a nossa transformação, a nossa felicidade. mento dizendo que ele e a verdade absoluta, estaremos sofrendo do obstá-
Adquirir conhecimento e como subir uma escada: a fim de galgar o degrau culo de conhecimento. Os que tem conhecimento mas sabem que devem
mais alto temos que abandonar aquele sobre o qual estamos. Se achamos abandoná-lo para avançar mais, não sofrem desse mal. Objetos de conhe-
que a etapa em que nos encontramos e a mais alta, então não poderemos cimento são como água que se tornou gelo e impede o rio de correr. Neces-
galgar outra mais elevada ainda. sitamos do conhecimento, mas temos que usá-lo inteligentemente. Quan-
Nessa tradição, a técnica de aprendizado e sempre largar, soltar o que do pensamos que o nosso conhecimento atual e supremo, o caminho
já foi aprendido, adquirido. Jamais acredite que aquilo que você sabe e a adiante fica bloqueado. Nosso conhecimento se tornou um obstáculo. Es-
verdade absoluta. Isso é refletido no Primeiro Treinamento da Plena Cons- sa maneira de encarar o conhecimento e bastante peculiar ao Budismo. Bu-
ciência da Ordem da lnterexistênciaii Se você ficar preso ao conhecimento da ensinou que não podemos nos apegar a nada; temos de abandonar ate o
que atualmente possui, será o fim do seu progresso. Se os cientistas se ape- nosso discernimento, a nossa compreensão, o nosso conhecimento.
garem ao que já sabem, não serão capazes de descobrir outras verdades. Ao Os obstáculos ds conhecimento são mais fáceis de eliminar do que os
aprenderem algo novo que contradiz ou supera o que jávçonhecem, deve- obstáculos de aflições. Estes, para se dissolverem, precisam de mais tempo
rão abandonar o conhecido. No caminho da prática, o conhecimento e um e mais prática. Raiva, sofrimento e desespero são bloqueios existentes na
obstáculo a ser superado. Temos de estar prontos a abandonar nosso conhe- nossa consciência armazenadora. Temos que praticar usando a energia da
cimento atual a fim de que um nível de compreensão mais elevado seja atin- plena consciência para poder tocá-los profundamente e assim enxergar suas
gido. Isto e muito importante. raízes. Então, estaremos aptos a transformá-los. Quando se faz do caminhar
Na primeira etapa, já começamos a põr um fim nos obstáculos de afli- uma meditação, cada passo dado em plena consciência estará ajudando vo-
ções e nos obstáculos de conhecimento. Este último ocorre mais no reino cê a cultivar mais solidez e liberdade. Quando o apego, a raiva ou o ciúme
do intelecto, enquanto os obstáculos de aflições encontram-se mais no rei- estiverem se manifestando como formações mentais, é como se você esti-
no das emoções. lnvej a, odio, raiva, tristeza, desespero e ansiedade são to- vesse com febre. Queima. Mas, tendo na primeira etapa, a da alegria, já co-
dos obstáculos de aflições. Se a nossa tristeza for tão grande a ponto de fi- meçado a remover os obstáculos de conhecimento e de aflições, o bodhi-
carmos paralisados, e porque estamos diante de um obstáculo de aflição. Se Sattva experimenta justamente o oposto _ um estado renovado.
estivermos deprimidos, sofrendo muito ou cheios de desejos, e sinal de que Quando o bodhisattva chega a oitava etapa, a crença num eu inato e
nossa prática está encontrando obstáculos. H transformada. Ao alcançar o Reino do Imovível (ac/aózlóz-Z?/øzimz), como e cha-
Nossa ignorância e incapacidade de ver a verdade pertence ao obstá- mada esta etapa, a crença profundamente arraigada num eu separado se des-
culo de cõnhecimento, oque significa que a maneira de vermos as coisas faz e, no mesmo instante, a consciência armazenadora fica livre das garras de
não e como elas realmente são _ a compreensão ou convicção pode ser fal- manas. Antes disso, muito embora possamos ter sido capazes de obter algum
sa como o maré de manas. Nosso ponto de vista, percepção e aprendizado Cüflheicimento intelectual a respeito do não-eu, nossa crença em um eu es-
são todos objetos de nosso conhecimento, e essas são as coisas que nos im- tava. ainda profundamente enraizada em manas. Isso e quase inato em nos.
pedem de seguir adiante. “Eu já sei tudo o que há para saber sobre aquilo. Por isso temos que praticar ate chegar a oitava etapa do bodhisattva e, assim,
Não preciso aprender mais.” Chegamos apenas ao quarto degrau da esca- 1'1os ser possível arrancar a raiz dessa crença. Então, tendo sido libertada, a
da, entretanto pensamos já estar no topo. Qualquer que seja o valor daqui- Consciência armazenadora se torna o Grande Espelho da Sabedoria.
lo que o nosso intelecto e o nosso discernimento tenharn alcançado, temos ç Há dois tipos de apego ao eu. Um e adquirido durante a vida, pelo há-
de abandoná-lo. Se não o fizermos, estaremos pondo UWÍHPÚHÍÚ fiflfll HU blfü de nos apegar; o outro e o que trazemos conosco antes mesmo de nas-
Taiinssoaiaaçõas na consciência PARTE DÚIS: M¿iN,q5

cer. Aqui, o verso está se referindo ao segundo tipo, ou seja, apego ao eu os doze elos de causação chamados mkfszrifsz ou prari`z_'yi:z-samulpózda Com a
Í ' I- 1

que, como semente na nossa consciência armazenadora, tem nos acompa- pratica da plena consciência, concentraçao e observação profunda, essa mn-
nhado vida apos vida. Quando o bodhisattva chega a oitava etapa, o Reino dência pode ser revertida. A capacidade de ver as formações apenas como
do Imovível, a crença inata num eu separado e transformada, e manas se designações convencionadas, a capacidade de ver que elas não têm eus se-
torna a Sabedoria da Igualdade. Todos os bloqueios de discriminação, ig- parados e a capacidade de transformar o apego e o desejo nos levarão rumo
norãncia e desejo de um eu foram transformados, -graças a prática de obser- à libertação e cura.
var profundamente exercida pela consciência mental. '
Quando isso acontece, manas é transformada. Antes, manas era a
energia do apego e da discriminação. Agora, tornou-se um tipo de sabedo-
ria que nos permite perceber a verdadeira natureza da interexistência. Não
existe mais discriminação entre eu e não-eu _ entre você e eu, entre eu e
você. Nos interexistimos. Não existem fronteiras entre nos. Nesse estágio, `
i
É

o bodhisattva compreende a sua natureza interexistente, assim como com- .ç_ I


preende a natureza interexistente de todos os fenê›menos...A capacidade de
ver e viver dessa maneira e a sabedoria da igualdade.
Sementes são produzidas e fortalecidas por formações. Formações são
manifestações das sementes. Não são apenas as formações mentais que vêm
de nossa consciência armazenadora, mas tambem as formações físicas e fi-
siologicas são manifestações provenientes das sementes na nossa consciên-
cia armazenadora. Todas as manifestações existentes nos seis reinos dos or-
gãos dos sentidos, nos seis reinos dos objetos dos sentidos e nos seis reinos
da consciência dos sentidos (ao todo, dezoito reinos) vêm de nossa cons-
ciência armazenadora. As pessoas que meditam aprendem a investigar a
verdadeira natureza dessas manifestações e as vêem não como enfidades
reais, mas como designações convencionadas fprajñzszpti ou szzmifcra). Elas
são os objetos de nossa cognição, nossos conceitos, noções ou metáforas,
designações ou linguagem. Portanto, o plantio de sementes que continuam
a crescer na nossa vida diária pode ser chamado de “impregnação de lin-
guagem”. Alem da “impregnação de linguagem”, existe a “impregnação de
individualidade” que significa o cultivo da idéia de um eu ou a tendência
para a apropriação. A consciência armazenadora e descrita também como
“consciência apropriante” porque sustem não só esses orgãos dos sentidos,
objetos dos sentidos e consciência dos sentidos, mas também todas as exis-
I tências e manifestações futuras. Pelo fato de as sementes de renascimento
Ii 1 li I nl " Il

Í serem plantadas e aguadas na nossa vida diaria, o terceiro aspecto de im-


.-' J ' 1-' ' T l
pregnaçao também se processa: e a “impregnaçao de sarnsara” _ Qu 5513,
NOTAS

Ver Introdução, pág. 11.

As cinqüenta e uma categorias são as cinco universais, as cinco particu-


lares, as onze salutares, as vinte e seis doentias e as quatro indetermina-
das formações mentais. As formações mentais doentias são depois divi-
didas em dois tipos: as seis formações doentias principais e as vinte
formações doentias secundárias. As seis principais formações mentais
são os mais venenosos estados da mente. Estes seis venenos são: cobiça
(saga), odio (dara), ignorância (ma/aa), arrogância (mana), dúvida (iii-
c/aileirszz) e falsas visões (óírislørz). Todas as cinqüenta e uma categorias de
formações mentais estão detalhadas no capítulo 30. Para obter maiskíle-
talhes sobre as formações mentais, consulte T/as Heart ofr/as Buddha 's
ÍÉzicÍ9z`ng, de Thich Nhat I-Ianh, capítulos II e 23.

Os dez bhumis (“regiões”) são estágios/etapas da prática e realizações


passados adiante pelos bodhisattvas no caminho para o estado búdico.
São: 1) Pramadira-Éi/øarmi, “região da alegria” ; 2) I/imózlóz-:É/mmi, “região
da pureza”; 3) Praâhakarš-Miami, “região do resplendor”; 4) Arclrzsíâ-
mars'-E2/øumš, “região do fulgor”; 5) Suóimjaya-Ô/øumi, “região extrema-
mente difícil de conquistar”, 6) ƒliÉ'Í9z'?miÃ?/vz'-Ê?/Jzimš, “região da visão da
sabedoria” ; 7) Durangamóz-if/mmz', “região longe de se alcançar” ; 8)
Ac/vala-Ó/mma, “região inalterável”; 9) Sadbuizzari-6/9umz', “a rêgião dos
bons pensamentos”; 10) D/mrmameg/m-E1/aumi, “região da Nuvem de
Dharma”. '

Ver“Thich Nhat Hanh, _ÍnrcrzÉ=aing.' Fouzreeia Guidelines fiir Engzzged


Budd/ašsm, terceira edição (Berkeley, CA: Parallax Press, 1998).
l 5 l
I

tl» PARTE III

Consciência Mental

L | É

OS PRÓXIMOS CINCO VERSOS, do Vinte e Três ao Vinte e Sete, descrevem a


natureza e as características da sexta consciência, a consciencia mental (inn-
navzfiñann). Como já aprendemos, manas É a base da consciencia mental.
Devido ao modo de percepção de manas estar sempre errado, grande par-
te do que percebemos por meio da nossa consciência mental É falso tam-
¬LI-,P
bÉm. Como a natureza de manas É obscura, nossa consciencia mental tam-
bÉm, muitas vezes, É ofuscada pela ilusão. Entretanto, diversamente de
manas, a consciência mental É capaz também de outros modos de percep-
Çãü - direto ou inferidio. Quando a nossa consciência mental É capaz de
perceber diretamente, ela toca o reino das coisas-tais-como-são.
A maneira de treinar a consciência mental para a percepção correta É
mediante a plena atenção. Esta É a mais importante contribuição da cons-
ciência mental. Quando estamos totalmente atentos, conscientes de todas
4.

HS ações do corpo, da fala e da mente, temos 'condição de escolher como


Hgír, falar e pensar de maneira salutar. Com a energia da plena atenção ge-
.f

rada pela nossa consciência mental, podemos deixar de regar as sementes


de raiva, desejo e ilusão e passar a regar as sementes de alegria, paz e sabe-
Clüría. Por isso É tão importante infundir o hábito da plena atenção na cons-
Ciência mental.

- z ~ I 131 '
*~. ' 'I
I
I
az VINTE E TRÊS
Efirn do Con/oecimento

Tendo manas como sua base


E os fenomenos como seus objetos,
P1. I

I
fx
A consciencia mental se manifesta.
Sua esfera de conhecimento É a mais ampla.

DE ACORDO COM O QUE APRENDEMOS, uma consciência nasce


quando uma base sensitiva entra em contato com um objeto. To-
das as cinco primeiras consciências, que são associadas a faculdade ou percep-
ção dos sentidos, tem como base um orgão dos sentidos _ olhos, ouvidos,
nariz, língua e corpo. A consciência mental É tambem considerada consciên-
cia sensitiva. Os fenômenos mentais são idÉias, noções e pensamentos.
Manas tem a função de pensar, imaginar, reconhecer, perceber e sen-
tir tudo - todos os fenômenos mentais -e físicos (dharmas) podem ser ob-
jetos de sua percepção. Tendo manas como sua base e todos os fenômenos
Como seus objetos, a consciência mental se manifesta. Tal como sua base
manas, a consciência mental também É abrangente e tem capacidade de se
estender em todas as direções. Tudo o que podemos ver, ouvir, cheirar, pro-
Var, tocar ou pensar pode ser objeto da nossa consciência mental. Sua esfe-
U1 de percepção É o cosmo todo.
Para alguma coisa vir a se manifestar são necessários diversos tipos' de
Cüfldíção. Há duas condições principais: a base dos sentidos e a base dos
Objetos. Ambas tem que estar presentes para que um fenômeno surja. Mui-
IU Embora a consciência mental tenha manas como base, sua semente cau-
53-Condição não repousa em manas e sim na consciência armazenadora.
i__*`I 1 raaussoaraaçõas Na coNscrÊr~_ICIA

Marias É como ni-n condutor eletrico entre a consciencia armazenadora e a


I .Ps I

consciência fncntal; porém, devido à sua natureza ser obscura, distorce o si-
nal clécrico _ a informação que passa da consciencia
^
armazenadora para a |

consciência mental. Quando a consciência mental É capaz de pegar as se-


mentes da consciência armazenadora de modo direto, SEITI EI. distorção de H ÊÍ' NTE E
manas, ela pode tocar o reino daã COÍSHS-tais-Como-São Q Jd-

A consciência annazcnadora É o jardim, a consciência mental, o jardi- ercepçóza


neiro. O jardinciro cn-grega as sementes para a terra. A consciência armaze-
nadora tem o poder de manter, nutrir e produzir o que esperamos colher.
Na prática da meditação, confiamos na nossa consciência armazenadora.
Planrainog uma acrncntc no seu solo e passamos a cultiva-la aguando-a. A consciência mental tem três modos de percepção.
,f A ú-' I

Confiamos que um dia a semente ira brotar e se transformar em planta, flo- Ela tem acesso aos tres campos de percepçao e e capaz
Ê'
res, frutos. _- de ter três naturezas.
... j
..-' I I
'Todas as formaçoes mentais se manifestarn nela -
A universal, a particular, a salutar, a insalubre e a indeterminada.

NA PARTE I, discutimos os três modos de percepção e os três cam-


pos de percepção. Vamos revê-los para melhor compreender co-
mo funcionam com a consciência mental. Os três modos de percepção
(pnznmna) são: percepção direta (pnztyo/es/ao prarnann), percepção por infe-
rência (afnazrnorna pranmna); percepção direta errônea ou por inferência
f _- errônea, as quais resultam em falsa percepção (ao/nzwz pranmno).
l
O primeiro modo, percepção direta, não requer intermediário nem de-
Clução. Quando seus dedos tocam no fogo, você se queima. Sente o ardor.
Essa É a percepção direta _ a percepção correta. As vezes você tem uma per-
ÍTÍ

CEPÇão direta mas que não É correta. Por exemplo, você vê uma cobra. Você
H Vê diretamente, sem nenhum pensamento nem comparação _ você a vê
Ha hora, diretamente. Mas depois descobre que aquilo não É uma cobra mas
APÊHHS um pedaço de corda. Esse É um tipo de percepção direta mas que não
ff Correta, e sendo assim, pertence ao terceiro modo: percepção falsa.
O Segundo modo É a percepção por inferência. Ela É discursiva, espe-
Êulativa e dedutiva. Esse modo de percepção tambÉm pode ser correto ou
lflflürreto. Por exemplo, suponhamos que você esteja a certa distância de
uma pilha de madeira, vê uma fumaça subindo de trás da pilha e deduz que


I Tiaansroaiviações na consciencia PARTE Taês: consciência ivienrat I

há fogo ali. Essa É uma percepção por inferência _ e pode ser verdadeira. ela realmente É. Ele não entrou em contato com a pessoa real do nortista,
Você está ali e realmente vê a fumaça. Mas as vezes, a inferência, a dedu- só conseguiu tocar suas próprias ideias a respeito de nortistas.
ção, está errada. Pode ser que a fumaça seja da madeira pegando fogo mas Todos nós temos ideias de como É um nortista, como É um sulista e
pode ser que ela venha do escapamento de um carro, ou do cigarro de al- como É alguem da região central. Temos nossas categorias e colocamos o
guem fumando por perto e não há nenhum fogo. Nesse caso, É uma infe- nortista numa delas, o sulista em outra e a pessoa da região central numa
rência errônea, uma percepção errada, que pertence tambem ao terceiro terceira. Todos nós somos vítimas desse tipo de percepção. Temos um con-
modo de percepção. junto de contêineres na nossa consciência armazenadora. Quando percebe-
O terceiro modo É a percepção falsa que pode ser resultado tanto de mos alguma coisa, nós a colocamos num desses contêineres. Mas nossa ma-
percepção direta quanto de inferência. Se o que percebemos ou deduzimos neira de fazê-lo É confusa. Existe um contêiner para alcaçuz, mas, dentro
não É a coisa-tal-como-É, nosso modo de percepção está errado. A percep- dele, colocamos canela. O que temos É de fato canela mas, por acharmos
ção direta pode estar correta ou incorreta. A inferência também pode estar que se trata de alcaçuz, colocamos a canela na caixa destinada ao alcaçuz.
correta ou incorreta. Quando estão incorretas, elas são classificadas como O modo por inferência necessita de reflexão. Se soubermos refletir de
falsas percepções. A consciência mental É capaz dos três modos: de perce- maneira inteligente, poderemos chegar a ver a verdade. Com base nas esca-
ber as coisas diretamente; por inferência; e erroneamente-,,.jseja no modo di- vações de um sítio, arqueólogos tentam reconstruir o cotidiano de pessoas
reto ou no modo por inferência. Porem a percepção de manas, base da cons- que existiram em tempos primitivos. A reconstrução pode vir a ser exata ou
ciência mental, É sempre do terceiro modo percepção falsa. Manas falsa. O filósofo e antropólogo francês Claude Levi-Strauss chamou a aten-
sempre vê como eu coisas que não são eu. Por ter manas como sua base É ção para o fato de que um cientista poderia ir a um lugar que nunca tives-
que a consciência mental facilmente comete erros de percepção. se sido habitado por um povo civilizado. Ao escavar a terra, poderia encon-
Nossas percepções são produzidas por muitas causas e condições, es- trar uma máquina de escrever e concluir que, há cinco ou seis mil anos, ali
senciais e secundárias. Na verdade, nossas ideias sobre as coisas geralmente viveram pessoas que tinham a tecnologia da máquina de escrever. Mesmo
nada mais são do que reminiscências. Buda talvez tenha sido a primeira pes- que tenhamos adequado treino e credenciais, não podemos chegar ã con-
soa a ensinar que as ideias são apenas um hábito da memória. O Ekomzra clusão certa. Esse É um modo por inferência errado.
Againni diz que a maior parte das nossas percepções É o resultado de relem- Muitas vezes, devido a uma inferência errada suspeitamos de alguem.
branças do passado. Assim sendo, geralmente quando percebemos-algo, na Imagine um jovem que ganhou um relógio de pulso no seu aniversário. Ele
realidade estamos apenas percebendo uma velha semente na nossa cons- vai nadar e, quando saí da piscina, não está mais com o relógio. Ele pensa,
ciência armazenadora. Essa percepção não tem nada que ver com o objeto “Ontem, quando ganhei o presente, meu melhor amigo estava lá. Parecia
real aquiçe agora. por causa de manas que, mesmo quando a verdade se estar com inveja, seus olhos mostravam que ele o queria.” Com base nessa
apresenta nova e viva, não conseguimos tocá-la. Tocamos apenas as semen- ideia, o rapaz conclui que o amigo deve ter roubado o relógio, embora não
tes que estão na nossa própria consciência. tenha examinado outras possibilidades para o desaparecimento do mesmo.
Raramente temos uma percepção direta verdadeira, ou uma inferên- Se essa fosse a conclusão certa, seria um modo de inferência correto. Mas É
cia correta. Nosso modo de ver usual É falsa percepção. Um sulista tem Uma conclusão errada, portanto É um modo falso de inferência.
ideias sobre os nortistas. Essas ideias podem advir de livros que ele leu ou Nossas percepções e inferências muitas vezes não são acuradas _ es-
do que ouviu as pessoas dizerem. .Suponha que ele conheça alguem que lhe Pfiflíalmente quando não temos olhos de amor e compreensão para com
foi apresentado como um nortista. Por ele já ter uma ideia sobre o que e nossas percepções, mas sim de suspeita, raiva, tristeza ou saudade. O mo-
um nortista, essa ideia o impede de ver a pessoa real que está ali diante de* CIO falso de inferência nos acompanha dia após dia. Quando, em virtude de
le. Sua ideia É um obstáculo que o impede de compreender a pcaaoa como Uma percepção, começamos a sofrer, devemos perguntar a nós mesmos: “E

íínníí
'rnanssoniviaçõns na consciência raars 'raÊs: consciencia M1=:nTaL

uma inferência verdadeira 'ou falsa?” Podemos pedir ajuda a outras pessoas do ver, ouvir, cheirar, provar e tocar ocorrem diretamente sem discriminação,
dizendo: “Estou sofrendo. Tive essa percepção, mas não sei se É verdadeira comparação ou reminiscências do passado, esse ver, ouvir, cheirar, provar e
ou falsa. Escutei isto. Vi aquilo. Pode me ajudar a ver se o que vi e ouvi É tocar ocorrem no reino das coisas-em-si-mesmas. Quando devido a influên-
verdade?” Quando sentimos raiva ou suspeitamos dos outros, sofremos. cia de manas, a discriminação, a mensuração e o raciocínio da consciência
Em vez de nos fecharmos, devemos pedir ajuda aos amigos. Todos se bene- mental se misturam ao funcionamento das cinco primeiras consciências, en-
ficiarão. Nosso sofrimento e nossa felicidade estão conectados ao sofrimen- tão só o reino das representações poderá ser alcançado.
to e à felicidade das outras pessoas. Precisamos nos ajudar uns aos outros. O reino das coisas-em-si-mesmas não É distorcido pela falsa percep-
Com seus três modos de percepção, a consciência mental tem acesso ção. Os reinos das representações e das meras imagens o são. Isso tem que
aos três campos de percepção: o reino das coisas-em-si-mesmas, o reino das ver com a função discriminadora. Uma coisa não É bonita porque gostamos
representações e o reino das meras imagens. O primeiro campo de percep- dela e feia porque a odiamos. “Bonito” e “feio” são designações que atribuí-
ção, o reino das coisas-em-si-mesmas, É a realidade tal-qual-ela-É, sem ne- mos aos objetos, baseando-nos em imagens surgidas na nossa consciência
nhuma distorção provocada por nossa idealização e elaboração mental. An- mental e provenientes das sementes na nossa consciência armazenadora.
tes de idealizar, antes de começar a elaborar, É que a mente entra em contato Eu soube que existeni” agora perfumes com os nomes de “Samsara” e “Ve-
com a dimensão suprema: o reino das coisas-tais-como-são. neno”. Porem, o perfume no vidro não É samsara nem veneno, É apenas per-
O segundo campo de percepção, o reino das representações, não É a fume. Quanto a gostar, odiar ou ter uma formação mental a respeito do
realidade tal-como-ela-É. E uma construção elaborada por nossos padrões perfume É uma questão pessoal de cada um. O perfume não É responsável
de pensamento. Estamos acostumados a pensar em termos de eu e perma- por isso. Na França, existe um perfume chamado “ƒo rowons” (“Vou voltar”).
nência, e acreditamos que as coisas são separadas umas das outras. Não ve- Quando alguem usa esse perfume, identificamos seu- aroma com a pessoa.
mos a interconexão, a natureza do vazio e da interexistência de todas as coi- Isso não e uma coisa produzida pelo perfume. E uma coisa produzida por
sas. Nós acreditamos em pares de opostos tais como nascimento e morte, nós, por nossa mente. Quando estamos longe da pessoa com a qual iden-
ser e não-ser, e os objetos da nossa consciência manifestam-se como repre- tificamos aquele aroma, o perfume se torna uma doce formação mental.
sentações cheias de erros. Isso nos traz muito sofrimento. Num verso do poema “Conto de Kieu” lemos: “O perfume produz o aro-
O terceiro campo de percepção É o campo das meras imagens. Guarda- ma da recordação.” Mas não está correto atribuir ao perfume a responsabi-
mos na nossa consciência armazenadora todas as imagens que obtivemos do lidade pela recordação e saudade. A responsabilidade É da semente que es-
campo das representações. A imagem de uma amiga, sua beleza, sua raiva, to- tá na nossa consciência e da formação mental que ela desperta. A realidade
das essas coisas estão armazenadas como sementes na nossa consciência. Nós em si não está vinculada as nossas formações mentais nem tampouco está
vamos aos arquivos e tiramos essas coisas para usá-las. Poetas e artistas traba- fim conformidade com elas.
lham muitiii com esse reino, combinando imagens já existentes com imagens Foi por isso que Buda disse tantas vezes que os dharmas (fenômenos)
novas. Os sonhos tambem ocorrem no reino das meras imagens. - Z- formas, sons, cheiros, gostos, objetos táteis e objetos da mente _ não são
Por ser de natureza obscurecida pela ilusão, manas não É capaz de tocar merentemente saudáveis nem doentios. Não são essas coisas que trazem pra-
o reino das coisas-em-si-mesmas. ]á a consciência mental É capaz de perceber Zi-'if Ou que trazem dor. E o nosso apego a elas o responsável pelo desejo e so-
frimento. Nossa mente determina se vamos ser capturados por elas ou não,
as coisas diretamente e, assim, tocar o reino das coisas-em-si-mesmas. Entre-
tanto, na maioria das vezes ela só toca o reino das representações e o reino das É SE somos- ou não capazes de tocar a realidade das coisas-em-si-mesmas.
meras imagens. Quando as cinco primeiras consciências agem sozinhas, sem Quando nos sentimos tristes, o cenário É triste. Quando estamos alegres, o
combinarem com a função discriminadora da consciência mental influencia- Cffflário É de alegria. Não É o cenário em si que nos atrai ou deixa dc an-air o
da por manas, elas podem operar no reino das coisas-em-si-mesmas. Quan- 51111 a nossa própria percepção distorcida no reino da representação.
Tiianssoianiaçõss na consciência Paars Taês: consciência nisnrat

Nos nossos sonhos, podemos ficar tristes, alegres, esperançosos ou de- objeto, fazem parte da consciência. “Perceber” significa sempre perceber el-
sesperados. Todos os fenômenos que encontramos nos sonhos _ pessoas, gwno coiso. Perceber sempre inclui o sujeito e o objeto da percepção. Quan-
coisas, rios e montanhas _ pertencem ao reino das meras imagens. Quan- do olhamos para um carvalho, temos a tendência de pensar que a árvore exis-
do visualizamos uma montanha durante a meditação, essa visualização te independentemente da nossa mente. Achamos que nossa consciência brota
tambem pertence ao reino das meras imagens. Mas ao ser abarcada pela de nosso crânio e identifica o carvalho, que É Luna realidade objetiva. Mas o
nossa consciência plena, essa imagem começa a desprender a verdade sobre carvalho que estamos observando É, na realidade, um objeto da nossa cons-
si mesma, ajudando-nos a enxergar o reino das representações do qual ela ciência. As ideias que temos de espaço e tempo tambem são objetos da nos-
vem. Nosso contato mental com a montanha pode ser mais claro e preciso sa percepção. Se acreditamos que o carvalho está fora de nós no espaço e no
do que o de uma pessoa que esteja contemplando uma montanha real. O tempo, independentemente da nossa mente, precisamos olhar novamente.
reino das meras imagens pode ser a porta para a verdade. A percepção ocorre quando sujeito e objeto se juntam como uma ma-
Quando vivemos desatentos durante muito tempo, nossos sentidos e nifestação. Poderá durar menos de um segundo, mas nesse tempo surgem
nossas percepções tornam-se embotados, e o mundo ao redor fica sombrio. ambos, sujeito e objeto, nascendo juntos ao mesmo tempo. Um momento
Nunca poderemos ser felizes vivendo em tal mundo. E preciso uma lima após ter surgido uniia percepção, outra poderá surgir. Cada percepção tem
para polir e afiar os sentidos e as percepções, de modo qtiç ao olharmos pa- sujeito e objeto. O sujeito da percepção está sempre mudando, bem como
ra uma flor, possamos entrar realmente em contato com ela. Essa pedra de o objeto.
afiar É a meditação, a plena consciência. Existem exercícios de meditação Conhecer sempre inclui o sujeito que conhece e o objeto que É conhe-
orientada que ajudam a afiar nossos sentidos colocando-os em contato com cido. Antes de falarmos em conhecimento, temos que perguntar “conheci-
as maravilhas da vidaf' mento de quêi” Isso É básico, mas não É fácil de compreender. Mesmo pen-
sando que compreendemos algo, nossa compreensão pode ser limitada. Por
O reino das nzeros -nnogens se necessito do perceoedor. favor, pratique diligentemente e um dia verá _ não apenas intelectualmen-
O reino dos representações pertence no oinonre e ê rose. te, mas na experiência real de sua vida _ que a consciência contem ambos,
O reino dos coisas-em-se-inesnsos, os sementes, ese., sujeito e objeto. -
São conforme os onrros reinos. O “amante” mencionado na segunda linha do gar/nz É manas; a raiz É
_ u Í Í
a consciência armazenadora. O reino das representações É produto e cria-
Esse garoa, “A Natureza do Percebido-em-Si-Mesmo Quando em De- ção de manas, resultante do seu contato com a consciência armazenadora.
sacordo com a Nossa Mente” foi transmitido por Xuanzang a seu discípulo Quando as sementes da consciência armazenadora estão sob a influência de
mais velho, Kvvaigei, que era muito versado nos ensinamentos de Wjnnpri- manas, elas não ficam no reino das coisas-em-si-mesmas pois passam a fa-
rnatrrrini [Pura Manifestação). Essa estrofe nos ajuda a lembrar as funções dos zer parte do reino das _representações. Uma imagem no reino das represen-
três reinos. A primeira linha diz que o reino das meras imagens pertence to- tações ainda carrega consigo uma pequena parte do reino das coisas-em-si-
talmente ao aspecto percebedor da consciência. O reino das meras imagens mesmas, o que não acontece com uma imagem do reino das meras imagens.
não tem que estar enraizado no reino das coisas-em-si-mesmas. já está na A terceira linha do gnt/ao descreve como o reino das coisas-em-si-mes-
nossa mente e não necessita de um estímulo de fora. O sofrimento, os aba- mas e as sementes estão relacionados. E devido a outras circunstâncias que
los ao sermos sacudidos _e 'arremessados no reino da mudança, não se devem elas se juntam uma a outra. Assim, as naturezas sadia, doentia e indetermi-
ao reino das coisas-em-si-mesmas, mas ao reino das meras imagens. nada _ as “três naturezas” mencionadas nesse verso _ e as sementes que
Lembre-se, a consciência tem dois aspectos: o percebedor e o percebi- o reino das coisas-em-si-mesmas faz surgirem, estão ligadas aos três reinos
do. O percebedor É o sujeito e o percebido É o objeto. Mas ambos, Sujeito e de percepção.
Tiiansroiiniaçõss na consciência Parirs Tiiês: consciência ivrsnrai.

O primeiro modo de percepção É direto, o segundo É por inferência e A consciência mental tem acesso a todos os três modos de percepção,
o terceiro É errôneo. Quando a percepção É direta, sem elaboração discur- aos três campos de percepção, e É capaz de ter três naturezas, salutar, doen-
siva, você alcança o reino das coisas-em-si-mesmas. Todos nós já tivemos tia e indeterminada. Quando praticamos a plena consciência, nossa cons-
esse tipo de experiência. Suponhamos que você esteja contemplando uma ciência mental tem a capacidade de ser salutar. Nos momentos de apatia,
bela montanha coberta de neve. Você não se sente separado da montanha. ela não É salutar. E pode ser tambem indeterminada.
No seu deleite, você É uma coisa só com ela. Você e a montanha- e a mon- Todas as formações mentais podem se manifestar na consciência men-
tanha e você. Não existe sujeito e objeto. As vezes, quando contempla o tal. I-lá cinqüenta e uma categorias de formações mentais: cinco universais,
oceano, você pode sentir-se imenso como ele. Quando tocamos a realida- cinco particulares, onze sadias, vinte e seis doentias e quatro indetermina-
de com a percepção isenta de pensamento e de discriminação, nossa cons- das. Anteriormente, discutimos essas categorias de formações mentais em re-
ciência mental não faz distinção entre nós, percebedores, e o que É perce- lação ã consciência armazenadora no Capítulo Dez e, novamente em rela-
bido. O percebido não É como um objeto “externo” da nossa percepção. ção a manas, no Capítulo Vinte. Primeiro, temos as cinco formações
Quando vemos dessa maneira, estamos no reino das coisas-tais-como-são. mentais que são chaiçpadas universais porque operam com todas as oito cons-
Na vida há momentos como esse em que podemos tocara dimensão ciências. As cinco particulares são formações mentais que não operam com
suprema. Porem, eles são raros porque nossos padrões derpensamento ha- todas as consciências. A categoria de forrnações mentais salutarcs inclui
bituais não permitem que isso aconteça com muita freqüência. A mente compaixão, bondade amorosa, fe e assim por diante. A categoria de forma-
tende a cortar a realidade em pedaços, e depois vê cada pedaço como exis- ções mentais doentias inclui 'as principais aflições como cobiça, raiva e ilu-
tindo independentemente de todos os demais pedaços. Essa É a mente dis- são, e estados mentais menos doentios tais como afronta, egoísmo, inveja e
criminadora. Você olha para outra pessoa e pensa: “Ela não É eu. Por que assim por diante. A categoria índeterminada ou neutra inclui quatro forma-
devo cuidar dela? Tenho outras coisas para fazer.” Na vida cotidiana, geral- ções mentais que, inerentemente, não são salutares nem doentias?
mente discriminamos assim. A nossa maneira de pensar É que estabelece a Os Versos Vinte e Três e Vinte e Quatro descrevem as características da
barreira. Mas na meditação budista, procuramos usar a inteligência para consciência mental que precisamos compreender para depois explorar seu
olhar de uma maneira que nos possibilite remover esse tipo de distinção, funcionamento, nos próximos versos. Para resumir, a consciência mental tem
esse tipo de discriminação. a mais ampla garna de contato com objetos de percepção (dharmas). Os três
Portanto, desde que usemos a mente para praticar a plena conseiência, modos e os três campos de percepção são característicos da consciência men-
ate mesmo a função intelectual, discursiva pode nos ajudar a acessar a dimen- tal. A consciência mental pode ser de três naturezas (saudável, doentia e in-
são suprema. Mas se não treinarmos a mente para observar em profundida- determinada) e É capaz de manifestar todas as formações mentais. Uma per-
de, por mais que pensemos, raciocinemos ou especulemos, a nossa percepção cepção É um ato de cognição. Se esse ato de cognição for errado, poderá criar
ainda pertencerá a terceira categoria, a percepção falsa. Os ensinamentos muito sofrimento e incompreensão para a pessoa e para todos que a cercam,
usam o expressão porškoériiiro sono/nina para designar a natureza da discrimi- pois o ato tem a marca, ou a natureza, doentia. Quando a consciência men-
nação. Se a tendência a discriminar intervir no funcionamento da nossa cons- tal É capaz de tocar a verdade, o ato de cognição É chamado de salutar, por-
ciência mental, cairemos sempre no terceiromodo, a percepção falsa, pois a que tem o poder de destruir a ignorância da pessoa e de todos à sua volta. As
mente discriminadora faz brotar todo tipo de erros. Mas se aprendermos o vezes, o ato de cognição É neutro _ não É prejudicial, mas tambem não che-
metodo budista de observar em profundidade, meditando sobre imperma- güu ao ponto de ver em profundidade e por isso ainda não consegue tocar o
nência, não-eu, e interexistência ou vazio, começaremos H 1105 libertar desse nível mais profundo da realidade. Somente com a observação profunda, com
modo de pensar e teremos a chance de tocar as coisas-tais-como-são. Essa ca- H plena consciência, É que a verdadeira natureza da realidade pode se revelar,
pacidade chama-se nz'rwik.‹a§i>o-jnano, a sabedoria da não-discriminação. Clëlfldo lugar ao discernimento. Esse discernimento leva ã transformação.
Panrs Taês: consciência i~.«is.n'1¬aL

çã_o”.5'Mas quando É Buda que indica o caminho e a Sangha que mostra a


direção, nos somos beneficiados. O segundo tipo de ação chama-se “matu-
fação”. Nossas ações produzem, na nossa consciência armazenadora, o ama-
durecimento das sementes, tanto das salutares como das doentias. A cons-
ëí' VINTE E CINCO ciência mental possibilita os dois tipos de ação: a que nos impulsiona numa

' O ƒózróiineiro determinada direção, quer seja para o bem ou para o mal, e a que faz ama-
durecer o fruto das sementes que já estão presentes em nós.
Uma vez que a consciência mental tem a capacidade de iniciar uma
ação que nos leva a maturação das sementes na nossa consciência armaze-
nadora, É importante que aprendamos e treinemos a transformação. Agi-
A consciência mental É a raiz de todas .as ações do corpo e da fala.
I |-" J'
mos e falamos com base no nosso pensamento, na nossa cognição. Qual-
Sua natureza consiste em manifestar formaçoes mentais, porem
quer ação com base na consciência mental do corpo, da fala e da mente, irá
sua existência não É contínua.
aguar dentro de nós tanto as sementes negativas quanto as positivas. Se
A consciência mental dá origem a ações que leva_m ao, amadurecimento.
aguarmos sementes negativas, o resultado será sofrimento. Se soubermos
Ela faz o papel do jardineiro, plantando todas as sementes.
como aguar sementes positivas, teremos mais compreensão, amor e felici-
dade. Se a consciência mental aprender a perceber a impermanência, o não-
eu e a interexistência, ela estará ajudando a semente da iluminação a brotar
e florescer. . `
Existem rsss Tiros os acao (karina) _ ações do corpo, da fala e A consciência armazenadora muitas vezes É comparada a terra _ o ter-
da mente. A consciência mental É a base de todos os três tipos de reno onde são plantadas as sementes que dão flores e frutos. A consciência
ação; É ela que põe o corpo em ação. Tudo o que dizemos-tem origem na mental É o jardineiro, aquele que planta, rega e cuida da terra. E por isso que
consciência mental, que É a fonte de pensamento, mensuração, cognição e o verso diz que a consciência mental dá origem as ações que levam ao ama-
julgamento. _ durecimento _ a maturação de nossas sementes. A consciência mental po-
Como manas, a consciência mental É uma consciência evolutfvá. En- de nos fazer afundar no reino do inferno ou nos levar a libertação pois, am-
tretanto, embora manas seja contínua, a consciência mental não É. As ve- bos, inferno e libertação, são o resultado do amadurecimento de suas
zes, a consciência mental pára de operar. Por exemplo, quando dormimos respectivas sementes. A consciência mental faz o trabalho inicial e tambem
e não sonhamos, nossa consciência mental está completamente parada. o de arnadurecer. Se plantarmos sementes de trigo, colheremos trigo.
Quando desmaiamos, ela pode não estar operando. Tambem no estado de O jardineiro _ consciência mental _ tem que confiar na terra, por-
meditação- chamado “não-mente”, a consciência mental fica em repouso. A que É ela que produz o fruto da compreensão e da compaixão. Ao jardinei-
consciência mental não É contínua, e o mesmo É válido para as outras cin- ro cabe -tambem reconhecer e identificar as sementes positivas na consciên-
co consciências dos sentidos: olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. A cons- cia armazenadora e aguá-las sempre para fazê-las crescer. O jardim, a
ciência mental e a consciência dos sentidos são, portanto, diferentes da consciência armazenadora, abastece e produz o resultado. A flor do desper-
consciência armazenadorae de manas, que são contínuas. tar, da compreensão É do amor É uma dádiva do jardim. O jardineiro só
Dois tipos de ação têm origem na consciência mental. Um É a “ação precisa cuidar bem da terra para que a flor tenha a chance de desabrochar.
de comando” que nos faz tomar uma direção ou outra. Muitas vezes, “Ma- E muito importante manter a mente alerta, pois ela É a base de todas
ra [ilusão] indica o carnínho e os fantasmas famintos nos mostrani a dire- as ações. A plena consciência É o melhor estado de ser da mente. Se a cons-
rrianssoiiiviaçõas na consciência __

ciência estiver plena, os nossos pensamentos, as nossas ações verbais e cor-


porais tomarão o rumo da transformação e da cura. A Sangha É de grande
ajuda na prática de alertar a mente. Quando estamos cercados por outros
que praticam, falam, ouvem e agem conscientemente, ficamos motivados
a fazer o mesmo. Por fim, a atenção plena torna-se um hábito e, com isso, Ê* VINTE E SEIS.
a transformação e a cura se tornam possíveis.
Não-percepção

A consciência mental está sempre funcionando,


Exceto em estados de não-percepção,
- Hi.
I As duas realizaçoes,
§ "3I¬
De sono profundo, desmaio ou coma.

VIMOS COMO l\ziaNaS e a consciência armazenadora são contínuas


É estão sempre em operação. Por outro lado, a consciência men-
tal e a consciência dos cinco sentidos não são contínuas. Existem cinco cir-
cunstancias sob as quais a consciência mental deixa de funcionar. Esse ver-
so descreve estas cinco circunstãncias: o estado de não-percepção, que É o
samadhi, ou absorção meditativa; as “duas realizações” que são os estados
jr ii.
meditativos de não-pensamento e de não-percepção; sono profundo, des-
maio ou coma.
A primeira condição refere-se ao reino da não-percepção, um mundo
1'1o qual não existe percepção. Nós, seres humanos, podemos entrar em esta-
1

dos de meditação desprovidos de percepção quando nossa consciência men-


tal dá uma parada. Mas o reino da não-percepção não É apenas um estado
produzido pela prática de meditação. Quando as causas e as condições são fa-
Voráveis, há um nascimento no reino da não-percepção. O reino da não-per-
Cepção É visto como um reino superior, um reino com menos sofrimento _
li-Í que o sofrimento geralmente surge por causa do que vemos e ouvimos e
Clos formações mentais que surgem, baseadas nas nossas percepções.
No nosso próprio planeta há especies de criaturas vivas que não têm
Percepção, que são ativas sem percepção e que, talvez, gozem de mais feli-
1 Tiiansroxiviaçôiis na consciência
Partrs Tiifis: consciência iszir.nTaL I

cidade pois, sem percepção, a consciência mental não funciona. Esses seres mente num bosque ao norte de Vaishali. Ele havia atingido esse estado de
l I A .-' .--'
tambem tem as causas e as condiçoes para nascerem no reino da nao-per- não-percepção e a sua consciência mental tinha deixado de funcionar. Nu-
cepção. O poeta Nguyen Cong Tru escreveu: ma estrada próxima um grande número de carroças passava carregando
mercadorias. Em seguida, houve uma grande trovoada. Mas Buda nada
No rnifn/ea proximo vicio possa en não nascer /oninono, percebeu. Quando um de seus discípulos falou-lhe sobre as carroças e os
| I
mas corno nm pin/oeiro que conto entre o een e .ez terra. trovões, ele ficou surpreso. Ele estava no estado de realização da não-men-
I ._
'r
te, oc/nico sornnponá.
O pinheiro pertence ao reino da não-percepção. Esse reino É mais re- A segunda das duas concentrações da não-mente chama-se realização
confortante do que o reino da percepção habitado por seres humanos. Se
da cessação (niroóí/ao sonnzpnrn). Nesse estado não há percepção, sentimen-
você observar ao redor, poderá tocar o reino da não-percepção. De fato, em-
tos, nem cognição. A mente está tão concentrada que parece estar ausente
bora possa parecer estranho, para estar vivo, você não precisa perceber. Os _ todo sentimento, toda formação mental está ausente. Esse estado É al-
seres sem percepção que existem, estão muito vivos e ate mais alegres e sau- cançado pelos arhatse É se encontra no oitavo estágio da carreira de um bo-
dáveis do que nós. Mas os seres humanos só entendem a percepção em ter- dhisattva. Nesse estágio, manas começa a abandonar a consciência armaze-
mos de experiência humana. Quando nos sentimos instáveis, agitados, com nadora, libertando-a. '
medo ou infelizes, olhamos para o ceu azul, para a beleza das árvores e das Em nrroal/ao sninopózrn não só a consciência mental mas a própria cons-
rochas e os invejamos. Gostaríamos de ser uma bela árvore ereta na encos- ciência deixam de funcionar. Aqui, o apego de manas começa a ser trans-
ta de uma montanha, cantando ao vento. formado devido a descoberta de que o objeto que agarra não É eu, e que su-
E.melhor ter percepção ou não? Muito do que vemos e ouvimos todos jeito e objeto não estão separados mas são um. Nós nos vemos no universo,
os dias corta o nosso coração. Quando nascemos ou renascemos no reino da nas outras pessoas e nas outras especies e vemos o universo, os outros e as
não-percepção, vivemos sem precisar da consciência mental. Manas e cons- outras especies em nós. Chama-se a isso sabedoria da igualdade (somente
ciência armazenadora continuam a funcionar nesse reino. Existe ainda a no- jnnno). E uma percepção, mas não É confusa nem ignorante (ooidyn).
ção de um eu, e a energia que a ele se agarra. Mas mesmo assim a nossa cons- Quando manas deixa de funcionar em ignorância, a consciência armazena-
ciência visual ou auditiva pode tocar o mundo das coisas-tais-como-sãp,__sem dora É posta em liberdade e fica muito feliz.
distorcê-lo. Com a consciência mental, tendemos a distorcer as coisas. Por- A quarta circunstância na qual a consciência mental deixa de funcio-
tanto, poderá ser uma bênção nascer no mundo da não-percepção. nar É o estado de sono profundo, sem sonhos. Assim como certas especies
A segunda e a terceira circunstâncias sob as quais a consciência men- não têm percepção e contudo existem, uma pessoa que está dormindo não
tal deixa de funcionar são as “duas realizações”, meditações em que se al- percebe as coisas e, entretanto, está viva. No estado de sono profundo não r
nz

cança um estado de não-mente (oc/nero). Aqui, a palavra sânscrita para rea- há sonhos. Quando sonhamos e porque nossa consciência mental está ati-
lização É somopocn e refere-se a um tipo de concentração meditativa. ra. No sono profundo, podemos entrar no estado de consciência não-men-
Durante esses dois estados de concentração, manas e consciência armaze- te, naturalmente. Dormir sem sonhar É muito reconfortante e revitalizan-
nadora continuam funcionando como de costume, porem não recebem Ee já que a consciência mental, normalmente tão ativa, está em repouso.
mais impressões e representações. *_ - A quinta circunstância em que a consciência mental pode se ausentar
A primeira das duas' realizações chama-se não-percepção (osnnejni/ea É quando temos um desmaio ou entramos em coma. As vezes, quando des-
snrnnpnne). Nesse estado não há percepção nem necessidade de percepção. rnaiamos, nossa consciência mental tambem deixa de funcionar. Coma e
O meditador está presente mas não percebe os objetos. Sua consciência um estado de inconsciência e, tambem nesse caso, a consciência mental não
mental pára completamente. Certa vez Buda estava meditando profunda- está ativa .|'¡
oaiirs Taês: consciência sisnrai

dirigir o carro. E se, de repente, um caminhão entrar na nossa frente, con-


gcguiremos evitar colidir com ele. Ao entrar no estacionamento, tambem
somos capazes de manobrar o carro para colocá-lo no devido espaço. Po-
rem, em virtude da consciência mental estar muito ocupada, a consciência
ii' VINTE E SETE da visão tem que trabalhar sozinha. As vezes a consciência visual funciona

Estados Menmis sozinha, outras, em colaboração com a mente. I-Iá ocasiões em que a cons-
ciência mental trabalha sozinha, outras, junto com um, ou mais, dos cinco
sentidos da consciência. Assim, as duas primeiras maneiras da consciência
mental operar são: junto com as cinco primeiras consciências dos sentidos
e independentemente delas.
A consciência mental opera de cinco maneiras _
Quando a consciência mental atua independentemente, como quan-
Em cooperação com os cinco sentidos da consciência
do estamos sonhando., ela não está coordenada as outras cinco consciências
E, independentemente deles,
dos sentidos. Podemos continuar a ver, ouvir, cheirar, provar e tocar _ mas
Dispersa, concentrada ou instavelmente. _,._
o estaremos fazendo apenas no reino das meras imagens. Para isso, não pre-
cisamos de olhos, ouvidos, nariz, língua ou corpo reais. Metas imagens
acham-se disponíveis na nossa consciência mental a partir das sementes que
estão na nossa consciência armazenadora.
ACONSCIÊNCM MENTAL tem cinco maneiras de agir. De início,
Para pensar, tambem não temos necessidade de iolhos, ouvidos, nariz,
funciona em cooperação com os cinco primeiros sentidos da
língua ou corpo. As atividades da consciência mental podem ser desempe-
consciência que são: olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo. Quando vemos
nhadas sozinhas. Vanios supor que nos surja um sentimento de raiva que
uma flor, achamos que nossa percepção vem apenas da consciência da vi- não está ligado a nenhuma experiência real de um dos cinco sentidos da
são. As vezes isso É real. Mas quando estamos conscientes de estar olhando consciência _ não machucamos os dedos do pe dando uma tropeçada, não
uma flor, nossa consciência mental tambem está funcionando. A semente vimos ninguem fazendo coisas que nos desagradam mas, assim mesmo, es-
da plena consciência manifestou--se. A flor fica muito mais nítida,'”p“orque tamos comraiva. Nesse caso, a consciência mental está operando indepen-
a consciência está plenamente presente ali. Quando olhamos para uma flor, dentemente. Mesmo que estejamos conscientes de que estamos ficando
conscientes de estarmos vendo-a, É porque a consciência mental está coo- com raiva, nossa consciência mental ainda estará operando independente-
perando çom um dos cinco sentidos da consciência. mente. A plena consciência pode tambem ocorrer quando a consciência
Mas, se enquanto olhamos a flor, nossa mente estiver ocupada com mental está trabalhando em cooperação com os cinco sentidos da consciên-
outra coisa, a consciência mental estará operando independentemente da Cia ou quando está operando sozinha.
consciência dos sentidos. Na vida cotidiana, isso acontece muitas vezes. Va- Podemos praticar para nos tornarmos cientes de quando nossa cons-
mos supor que É de manhã e estamos dirigindo o carro em direção ao tra- Ciência mental está operando junto com as cinco primeiras consciências,
balho enquanto, mentalmente, estamos nos preparando para a reunião que ou independentemente delas. Na meditação sentada, nos empenhamos
acontecerá logo mais. Nesse caso, -nossa “consciência mental está agindo so- em fechar as portas dos cinco sentidos (aynionas) a fim de que nossa cons-
zinha, sem estar sintonizada com nenhum dos cinco sentidos. Entretanto, Cíencia mental se concentre, passando a operar com autonomia. Se ima-
muito embora a consciência mental e a consciência dos olhos estejam ope- gens e sons tentam nos invadir, nos esforçamos para não nos deixar dis-
rando independentemente, ainda temos bastante presença de espírito para trair por eles.
I I 1 Titanssoiiniaçõss na consciência _ santa TriÊs: consciencia ivisnfrar

O terceiro modo de operação da consciência mental É a dispersão. Na A plena consciência nos conduz a quarta modalidade de operação da
realidade, É o estado mais frequente da nossa mente. A maior parte do tem- consciência mental, que É a concentração. Para resolver um problema com-
po, vivemos dispersos e desatentos. A tendência da nossa consciência men- plexo, temos que nos concentrar. Se estivermos dispersos, não conseguire-
tal É se dispersar. Ela É incapaz de parar de pensar, presa que está ao passa- mos resolvê-lo. Com a prática da respiração aliada ã plena consciência, po-
do e ao-futuro, correndo em todas as direções. Quando ela se encontra nesse demos sair da dispersão É criar um estado mental concentrado. Quando
estado, É porque a plena consciência não está presente. Na verdade, não es- usamos a respiração a fim de concentrar toda a energia da consciência men-
tamos vivos. Quando nossa consciência mental não está coordenada com tal num determinado ponto, a confusão se desfaz, permitindo-nos manter a
as consciências de visão, audição, olfato, paladar e tato, pensamos numa energia da consciência mental sobre um determinado objeto. Se praticarmos
coisa após a outra, ficamos ansiosos, tristes, desconfiados ou imaginando continuamente, a energia da concentração nos ajudará a penetrar profunda-
coisas; É o que chamamos de “consciência mental distraída”; ela está ope- mente no cerne do objeto do nosso enfoque e, assim, obteremos conheci-
rando sozinha e dispersa. mento e compreensão. A consciência mental está, portanto, em “estado de
Buda descreveu esse tipo de consciência mental como sendo um ma- concentração”. Qua1'_1Ê_to mais forte, clara e plena estiver nossa consciência,
caco que pula de galho em galho _ sempre mudando, saltando de um pen- mais estável será a concentração. A plena consciência sempre produz a con-
samento para outro, fazendo livres associações. Temos que reconhecer isso centração. Quando estamos muito concentrados, dizemos estar “operando
e, com plena consciência, encarar o macaco que está dentro de cada um de em concentração apenas”.
nós. Respirando, caminhando plenamente conscientes, acalmamos o ma- A quinta modalidade de operação da consciência mental É a instabili-
caco fazendo-o ficar quieto. A consciência mental pode tambem ser com- dade, que ocorre em estados mentais neuróticos ou psicóticos. Nesse caso,
parada a um enxame de abelhas zumbindo loucamente sem se concentra- a consciência mental está perturbada por coisas que aconteceram no passa-
rem em nenhum ponto. Só quando a rainha está presente É que todas se do, ou que imagina ocorrerão no futuro. Há conflitos entre as sementes que
organizam. estão na consciência armazenadora e entre os sentimentos e as percepções.
Na meditação budista, praticamos a concentração, criando um foco Quando temos dificuldade de perceber e pensar com clareza, dizemos es-
luminoso e bem definido de todas as coisas. Essa prática chama-se de tar mentalmente doentes. Para nos curar, temos que gerar o máximo pos-
mente unifocada (elf.-sigraro). O objeto de nossa concentração _ a abelha sível de consciência plena. Só assim veremos mais claramente as coisas, re-
rainha em torno da qual a grande quantidade de nossos pensamerítos po- conhecendo-as como realmente elas são. Talvez seja preciso o apoio da
dem se organizar _ poderá ser a respiração, uma folha, um seixo, uma consciência plena do nosso terapeuta, de amigos e da família para nos aju-
flor ou o objeto do nosso enfoque meditativo. Na prática, nos são ensi- dar a entrar em contato com os conflitos entre os nossos sentimentos e as
nados metodos que ajudam a concentrar a energia da nossa consciência uossas percepções. Praticando dessa maneira, com a ajuda de outras pes-
mental de modo que ela não se disperse. Essa prática equivale a pôr um Soas, nossa consciência mental poderá um dia se livrar de sua instabilidade.
holofote voltado para o objeto da nossa concentração, assim como um
cantor ou um dançarino tem o foco de luz sobre si quando está no palco.
Focalizamos a mente com toda a intensidade sobre o objeto de nossa con-
centração. Quando usamos uma lente para focalizar um raio solar sobre
um determinado ponto, a energia do sol se concentra de tal maneira que
pode queimar um tecido fazendo um buraco. Da mesma maneira, nós di-
rigimos o foco da nossa consciência mental sobre um ponto a fim de obter
um resultado. -
NOTAS

Consultar Tais/oo.

Consultar a edição bilíngüe em vietnamita e inglês do livro de Nguyen


rw PARTE IV
Du, Tifle Íitie offfien [New Haven, CT: Yale University Press, 1983).

Consultar o livro 'de Thich Nhat I-Ianh, Tive Blooining oƒn Lotns: Gui- Consciência dos Sentidos
dedMeditotion Exercises fiir Healing and Íifnnsfiirrnotz'on (Boston, MA:
Beacon Press, 1993), pp. 56-43.

Ver a lista completa de todas as cinqüenta e uma categorias de forma- É

ções mentais, no capítulo 50.

Nos textos budistas tradicionais, Mara as vezes É personalizado como


uma divindade, alternadamente conhecido como o Tentador, o Demô- OS VERSOS VINTE E OITO, VINTE E NOVE E TRINTA CIEÍSCIEVEII1 3. 1'l'¿-lU.11'E'IZiz1 E.
nio, ou o Matador. Mara representa o oposto da natureza de Buda. as características das cinco consciências dos sentidos que são visão, audi-
ção, olfato, paladar e corpo. já aprendemos alguma coisa a respeito dessas
O arhat (“o sábio”) É aquele que alcançou o estágio de “não-mais-apren- cinco consciências em nossas discussões sobre consciência armazenadora,
dizado”, destruiu todas as manchas e não renascerá no samsara. Arhat manas e consciência mental. Da mesma maneira que a consciência arma-
É o estado mais elevado de realização espiritual no Hinayana, e foi o zenadora É a base de manas, e manas É a base da consciência mental, essas
ideal do Budismo primitivo, ao contrário do ideal do bodhisattva no cinco consciências dos sentidos se baseiam na sexta consciência, a cons-
Maliayana. J, É ciência mental. Assím sendo, todas as oito consciências são conectadas _
interdependentes.
Essas cinco consciências brotam dos sentidos as vezes chamados “por-
tões” ou “entradas” (oyotonas), porque todos os objetos da nossa percepção
_ todos os dharmas _ penetrarn na nossa consciência pelo contato sen-
sorial com eles. Por esse motivo, É importante sabermos como proteger es-
Ses portões escolhendo com sabedoria o que deixar entrar e se tornar se-
mente. A maneira de fazer isso É por meio da plena consciência.

ki-I-I'___._,._
el' VINTE E OITO
Ondas sobre ds Águas

iii:I
_,_

Com base na consciência mental,


As cinco consciências dos sentidos,
Separadamente ou em conjunto com a consciência mental,
Se manifestam como ondas na água.

AS CINCO PRIMEIRAS CONSCIÊNCLÃS, as dos sentidos, surgem do


contato de um órgão dos sentidos com o objeto. Olhos, ouvidos,
nariz, língua e corpo são os cinco órgãos dos sentidos; formas, sons, odo-
res, sabores e objetos táteis são os cinco objetos dos sentidos. Quando os
olhos vêm uma forma, surge a consciência da visão, quando o ouvido es-
cuta um som, o resultado É a consciência da audição e assim por diante. Es-
sas cinco consciências têm por base a sexta consciência, a consciência men-
tal. Elas manifestam-se separadamente ou todas juntas com a consciência
mental como se fossem ondas se levantando do oceano. A consciência men-
tal É a água e os cinco sentidos da consciência, as ondas que vêm da água.
As vezes, um sentido da consciência surge independentemente de ou-
troie trabalha apenas em combinação com a consciência mental. Vamos su-
Por que nos encontramos numa galeria apreciando uma pintura. Absortos,
nossa atenção está intensamente fo calizada na pintura. Nesse momento, _fe-
Cllamos as outras quatro consciências dos sentidos sem mesmo saber que o
fizemos. Pode acontecer de um amigo nos dizer alguma coisa e não o escu-
formos. Nesse momento, a consciência auditiva não está funcionando. Ain-
Clã. que ele ponha a mão no nosso ombro, não o sentiremos _ a consciên-
Cia do corpo tambem não está funcionando. Nossa atenção está toda
r raansroiiiuaçõss na consciência ' PARTE A
Qoari-io. consciencia nos ssnrioos
Is
voltada para a contemplação da pintura. Nesse exemplo, a consciência dos representações, condicionados as sementes de ilusã O que eI(1SlIÊ1'11
`
_^ _ Ha nossa
olhos está se manifestando separada e independentemente de outros senti- consciencia armazenadora
dos da consciência. E por isso que devemos treinar a consciência mental a observar profun-
Quando assistimos televisão, usamos tanto os olhos quanto os ouvi- dãlfleflfe e ter uma percepção direta já falamos sobre a a arência da real'
dos. Nesse caso, dois sentidos da consciência estão se manifestando juntos. . ' P 1-

d”“d” _ O Úblfitf' de PEFCÚPSÍÚ CI ue, P or meio de nossa mente disc ri'm'inado


Quando todos os cinco sentidos da consciência funcionam ao mesmo tem- ra, transformamos numa representação. No Capítulo Dois aprendemos os
po, nossa concentração em qualquer um deles e menos forte. Se ligarmos
I I 'T

sinais
_ _(ines/anna )= a aP arência o U nlarca de um fenomeno.
^ -
Quando os cinco
muitas lâmpadas a uma única bateria, cada uma delas produzirá uma luz ll* rimeirosFi sentidos da consciencia
'^ ' entram em contato com os objetos,
- sem
fraca. Se desligarmos todas menos uma, essa brilhará com mais intensida- lflfêníêflçêü da CUHSCIÉHCIH» mental, o mundo das coisas-tais-como-são a di-
|_, 1

de. A energia da bateria, nossa consciência mental, É finita. Portanto, quan- mensao su P rema = P od É FEVÊÍHY _ SÉ- NÊSSÉ CaSo, o npo
- -
de objeto apresentado
do concentramos a mente e a focalizamos em um dos sentidos da consciên- chama-se sooiaiesnnnn, a automarca ou autonat ureza da coisa_ em si mesma.
cia, a energia que ela fornece para a tarefa será mais firme. Para ver, ouvir Entretanto, quando a consciência mental intervem generaliza todas `
_ › as coi-
ou cheirar algo com bastante nitidez, nossa percepção dos sentidos deverá sas e a automarca de u”i`n objeto É transformada em marca ou sinal un' l
___ _ iversa
entrar em contato fixo e profundo com o objeto. Para tanto, deixamos que ffflífijflfl Ífêfêflflfli- coisas-em-si-mesmas são transformadas em represen-
uma das consciências dos sentidos funcione e fechamoswas portas para as ÊHÇÚÊS- i\oSSa consciencia mental tende a perceber as marcas universais das
outras. O mesmo acontece com a consciência mental quando queremos coisas.
_ Mas z p ela p r atica,
' ` '
ela pode se livrar da energia- do habito
, - de olhar as
pensar em profundidade: temos que fechar as portas das cinco bases dos coisas Em WI'11105 UHIVÊYSHJS,
` ` e aprender a contatar diretamente
- _
as coisas-em-
sentidos para podermos nos concentrar. si- mesmas _ exatamente como fazem as cinco
- primeiras
- . consciências
. dos
Quando as cinco sensações da consciência operani sozinhas, sem a in- sentidos.
tervenção da consciência mental, elas conseguem tocar o mundo das coi-
sas-tais-como-são, a dimensão suprema. De fato, quando funcionam por
conta própria, independentemente da consciência mental, as cinco cons-
ciências dos sentidos têm mais chance de experimentar as coisas-em-si-mes-
mas do que quando operam em conjunto com a consciênciamenral. Isso
se dá porque quando a consciência mental está sob a influência de manas,
em geral, ela fica enredada na cognição e discriminação.
Poderemos tambem alcançar o reino das coisas-em-si-mesmas quallr
do a consêiência da visão estiver colaborando com a co nsciência mental sem
que haja discriminação. Porem, quase sempre a consciência mental está dis-
criminando. Ainda que sejamos capazes de tocar o mundo das coisas-em*
si-mesmas por alguns segundos, imediatamente perdemos o contato-
Quando sob a influência de manas a consciência mental fica enredada, Se
processa uma distorção. Vi/eoioiz, a tendência para discriminar as coisas, po”
ra vê-las deste ou daquele jeito, separadas e fora umas das outras, nos in`1“
pede de permanecer em contato com o reino das coisas-tais-como-são. TU”
dos os objetos de sensação que percebemos são transformados em

t. Q i s _ Q
raars Quariio: consciencia nos ssnrinos

gosta da forma do brinquedo (o objeto dos sentidos), com o qual seus olhos
(base dos sentidos) entram em contato. Essa maneira de ver pertence ao
modo de percepção direta, e por meio dela pode-se atingir o reino das coi-

et» VINTE E NOVE S£l.S-¬Êl`I1-S1-IIIÉÍSIIIHS.

Entretanto, caso a consciência mental _ pensamento -e discriminação


Percepção Ditem _ tome parte, as consciências dos sentidos terão menos chance de perce-
ber a coisa-em-si-mesma_ A consciência mental tende a fazer discriminação
entre as coisas, dar nomes, fazer comparações e,' dessa maneira, _o reino das
coisas-em-si-mesmas deixa de estar acessível. Isso porque as consciências
O campo de percepção delas são as coisas-em-si-meSn¬1aS- dos sentidos estão operando tambem no reino das representações que sur-
O modo de percepção delas É direto. gem da consciência mental como as ondas surgem da água. Antes que a ati-
A natureza delas pode ser salutar, nociva ou neutra. F _ _ vidade da consciênciaçmental comece a comparar, nomear, recordar, e an-
Elas operam nos órgãos dos sentidos e no centro de sensaçao do cerebro. tes que as sementes surjam da nossa consciência armazenadora e se
`¡...-__
manifestem como formações mentais, É que as cinco consciências dos sen-
tidos podem ter uma percepção pelo modo direto. Mas quando a consciên-
cia mental se introduz trazendo a tona sementes de lembranças, experiên-
cias de alegria e tristeza, e comparações, o modo de percepção direta não É
MODO DE PERCEPÇÃO das consciências dos cinco sentidos É di-
0 mto Qpmrjinksbapromonn). As consciências dos sentidos não pre- mais possível. i
No Capítulo Vinte e Quatro, ficamos sabendo que Buda mencionou
cisam funcionar por intermedio do Pfinsêmemü- E Por BSD que* às “”'”””*
Podem alcançar o reino das coisas-em-si-mesmas. Assim sepdo, as cons- que as nossas percepções se baseiam principalmente nas recordações e não
na realidade de alguma ”coisa'que esteja ocorrendo no momento presente.
ciências dos sentidos são como a oitava consciência, a consciencia armaze-
Quando “percebemos” algo, estamos, na verdade, lembrando ou compa-
nadora, que da mesma forma usa o modo de percepção direta e cujo cam-
rando esse algo com uma experiência ou sentimento já passado que ainda
po de percepção É tambem o reino das coisas-em-si-meslilflê MÊB35* ”'
se encontra presente sob a forma de semente na nossa consciência armaze-
setima consciência, e a consciência mental, a sexta, são diferen__çes. Odilâqr
nadora.`As percepções têm muito que ver com as sementes de experiências
dg de percepção de manas É sempre falso. Por causa _da sua o scuri_ __a ____,_
passadas que jazem na nossa consciência armazenadora. Quando as semen-
mesmo quando manas tem uma percepção d1reta,_dela e_falsa_ A conçciçncça
tes de pensamento, comparação e julgamento manifestam-se como forma-
mental é gapaz de todos os três modos de percepçao: direto, por in erenç______
Ções mentais na nossa consciência mental, a imagem resultante não tem a
e falso. Mas por basear-se em manas da qual recebe influencia, seu mo
natureza real do objeto percebido. Pelo fato de nossa percepção ser “man-
de percepção geralmente É errôneo. _ ___ _ F
Cilada” por emoções, recordações, visões e conhecimento, não podemos to-
As consciências dos sentidos, em combinoção mm ÊCÚÉSCIZÊCLÍÊÊÊIL CHI' a verdadeira natureza do que observamos.
tal, podem alcançar o reino das coisas-em-si-mesmas, es e q __ ___
_ Quando olhamos diretamente para uma flor, sem pensamentos ou re-
funcionando diretamente_ _com os seus objetos de percepçao . O b e b e olh COI'dações, sem compará-la _ seja positiva ou negativamente _ com ou-
`
para um brinque doi sem usar muito
" " há comparações, 1'*"Í`-”
a mente _ nao
__, _ ' “ rendeu a ensar que este brin* 'CC “
Un flor que vimos na semana ou no ano que passou, atingimos o reino da
cordaçoes ou julgamentos. Ele ainda nao ap P HDI'-em-si-mesma. Essa É a percepção “sem a mente”. E uma função de nos-
quedo não e, tao.s -
quanto Hfluülüi Pffififü Ú U utro _ Sim
_ P lesmente
flfi "'

colorido
SH consciência dos sentidos que, funcionando independentemente da cons-
_ _ PARTE QUaTRo: coNscrÊ1-IcIa nos sEN'rrnos
Taaarssoamaçõss Na consciência

da minha mentei” Somente quando olhamos calmamente é que podemos


ciência mental, faz um contato direto com o seu objeto. Por ser direta, ela
começar a ver.
pode alcançar o reino das coisas-em-si-mesmas. E tão inocente e pura quan-
Quando operam sozinhas, as cinco consciências dos sentidos têm a
to a percepção de um recém-nascido.
chance de tocar o reino da realidade. Scu objeto está no reino das coisas-
' A consciência mental nem sempre opera a partir de suas experiências,
em-si-mesmas. Mas quando a consciência mental intervém com sua ten-
tristezas e julgamentos, e nem sempre faz uso de tais coisas para enfeitar a
dência a discriminar, a capacidade das consciências dos sentidos estabele-
realidade. Assim sendo, também pode alcançar o reino das coisas-em-si-mes-
cerem um contato direto fica diminuída. Por causa disso, o reino das coisas-
mas. Mas, de um modo geral, a consciência mental so atinge o reino das re-
em-si-mesmas e banido e substituído pelo reino das representações. Não te-
presentações. No mundo em que vivemos, impera fortemente o reino das mos mais svalazêsiøafla, o particular. Agora, temos samjñzsz [aki/anna, o geral,
representações. Tão logo começamos a comparar e discriminar (vékaíêfäa), ja
o universal. E nossa tendência a generalizar as coisas nos faz perder o con-
nãoestamos mais em contato direto com o objeto da nossa percepção. tato com o particular, que e o real.
Vikalpa também pode ser traduzida como “construção imaginaria”. Da mesma forma que a consciência mental, as cinco consciências dos
Plum Village e uma realidade e, quando vamos visita-la, queremos conhe- sentidos podem ter tfês naturezas: salutar, nociva e neutra. No caso da per-
cer essa realidade.. Entretanto, devido as nossas ideias sobre Plum Village cepção direta tocar o reino da realidade-em-si-mesma, a natureza das cons-
_ formadas a partir do que escutamos e experimentamos no passado _ ciências dos sentidos e salutar. Mas se houver um defeito no orgão, na ba-
terminamos construindo, no reino das representações, uma “Plum Village” se dos sentidos, seu modo de percepção poderã ser incorreto. E nesse caso,
imaginaria sem vermos Plum Village-em-si-mesma. Se estamos tristes, te- sua natureza e doentia ou neutra.
mos dificuldade de ficar alegres, mesmo que estejamos apreciando um lin- Na terminologia budista, ha dois tipos de base dos sentidos: bruta e
do panorama. A paisagem está “manchada” pela nossa tristeza. O sentimen- sutil. As bases brutas são os orgãos ou partes físicas _ olhos, ouvidos, na-
to de felicidade ou infelicidade que temos quando vemos alguem, na nz,-língua e corpo. As bases sutis são constituídas pelo sistema nervoso as-
maioria das vezes, se deve :Í1 nossa propria mente. Você pode ver aquela pes- sociado às bases dos sentidos, tais como o nervo ótico que liga os olhos ao
soa e sentir-se feliz, mas eu, quando a vejo, sinto-me infeliz devido a infe- centro de sensações dentro do cerebro, o centro do sistema nervoso. Vemos
licidade que vem da minha propria mente. nossos olhos como orgãos da consciência da visão, mas se esgzlminafmgs
Se ficamos confinados no reino das representações, será difícil encon- mais profundamente veremos também a rede de nervos que existe por trás
trar a porta do reino das coisas-em-si-mesmas. Mas, mesmo assiíii, ainda dos olhos. Esses são os orgãos sutis _ os nervos da visão, os nervos auditi-
podemos atingir a suprema dimensão _ o reino das coisas-em-.si-mesmas vos, o centro de sensações que fica no cérebro e assim por diante _ e eles
_ pela percepção direta dos sentidos. Se as cinco consciências dos sentí~ fazem parte da base para as consciências dos sentidos se manifestarem.
dos nãoçficarem embaralhadas e confundidas por causa de nossas recorda-
ções, tristezas e alegrias, ou devido aos gostos e desgostos da consciência
mental, elas poderão atingir o reino das coisas-em-si-mesmas. Poden10S
começar a interromper o processo' pelo qual a consciência mental “se apür
dera“ das consciências dos sentidos, vertendo sobre ela o elemento da plflt
na consciência. Quando vemos ou ouvimos algo, e essa visão ou essa all*
dição nos evoca sentimentos de-alegria ou de tristeza, a plena consciênflífi
pergunta, “O que esta acontecendo? Essa percepção esta no reino das coí*
sas-em-si-mesmas ou no reino das representações? Esta mesmo fora da 1111'
nha própria experiência mental, ou É apenas uma construção ímagináíífi
Paste Qoarao: consciência nos sEi×i'rioos 1

que você não fez, mas que deveria ter feito se tivesse se esforçado); (4)hu-
mildade; (5)ausência de desejo, isto é, você se sente muito bem exatamen-
te como você eÍ (Muitas vezes, na linguagem budista, a ausência de uma coi-
___.¬

sa negativa significa a presença de algo positivo. A ausência de desejo


Ê* TRINTA implica a presença de generosidade); (6)ausência de odio e raiva implica a
Formações Mefitózz's presença da bondade amorosa e da compaixão (e este e um estado de bem-
aventurança); (7) ausência de ignorância, ilusão e mal-entendido; (8)senti-
mento de leveza e paz; (9)cuidado, plena consciência e dedicação _ o
oposto da preguiça; (10)não-violência, inocuidade; e (11)equanimidade,
Elas surgem com a r não-discriminação, que significa que você não toma partido em um confli-
Universal, a particular e a salutar, to. Você e livre e pode sentir compaixão por todos.
A nociva básica e secundária, A quarta categoria das cinqüenta e uma formações mentais e a noci-
E as indeterminadas formações mentais. vidade. As seis básica: ou fundamentais são: (1)cobiça ou desejo, estar sem-
ii.
pre com sede de consumir, ter, possuir; (2)odio e raiva; (3)ignorãncia e ilu-
são; (4)orgulho e arrogância; (5)dúvida ou suspeita; (6)visões falsas ou
errõneas. Destas, as três primeiras são as mais graves das formações mentais
nocivas; são conhecidas como os “três venenos”. A consciência dos sentidos
ESTE VERSO D1-ESCREVE as formações mentais que surgem com as
está associada a esses três. -
consciências dos sentidos. ]á fizemos um estudo sobre as forma-
Há vinte formações mentais nocivas secundárias: (1)irritação, que e
ções mentais associadas á consciência armazenadora (Capítulo Dez), ma-
uma forma branda de raiva; (2)hostilidade; (f'›)hipocrisia; (4)enfado ou pro-
nas (Capítulo Vinte) e a consciência mental (Capítulo Vinte e Quatro). As
vocação; (5)egoísmo; (6)inveja); (7)desonestidade; (8)falsidade; (9)vontade
formações mentais associadas as consciências dos sentidos constituem as
de ferir, agressividade, que e o oposto da não-violência; (10)arrogãncia e fal-
cinco universais, as cinco particulares, todas as onze formações mentais sa-
ta de vergonha; (11)falta de humildade; (12) petuláncia; (13)indolência;
lutares, três das seis formações mentais nocivas primárias, as oito maiores
(14)inquietação; (15)falta de fe ou de confiança; (16)preguiça ou ociosida-
formações mentais nocivas secundárias, as duas formações mentais nocivas
de; (17) descuido; (18)desatenção, que e o oposto da plena atenção; (19)con-
semi-secundárias e as quatro formações mentais indeterminadas.
fusão ou distração; (20)julgamento, compreensão ou percepção errõneos.
As cinco formações mentais universais são contato, atenção, senti-
Depois vêm as quatro formações mentais indeterminadas. A primei-
mento, peiacepção e vontade. Todas as oito consciências estão associadas a
ra e arrependimento, que pode ser salutar ou nocivo, dependendo do que
essas cinco universais. As cinco particulares são zelo, plena consciência, de-
você faz com ele. Se o seu sentimento de arrependimento o ajuda a tentar
terminação, concentração e afirmação. Juntamente com as consciências dos
reparar o erro que cometeu, ele e salutar. Mas se você apenas segura a sua
sentidos, marias e a consciência mental também estão associadas as cinco
Culpa, sentindo-se mal pelo que fez sem tentar consertar a situação, nesse
formações mentais particulares. of-iso ele e nocivo. A segunda formação mental índeterminada e indolência.
As onze formações mentais salutares são: (1)fe; (2)energia; (5)vergo- As vezes e bom dormir bastante, e outras vezes e uma indulgência fazê-lo.
nha ou remorso, quedeve ser entendida aqui como formação mental posi- A terceira e a aplicação inicial do pensamento (všrórriêzz). As vezes e bom co-
tiva e não negativa (Este e um tipo de energia que nos ajuda a melhorar. E meçar pensando, outras não e. A quarta e a aplicação sustentada do pensa-
o sentimento de vergonha que você tem quando vê que seu amigo fez algo mento (vzäfzzrrz), que pode ser salutar quando adequadamente aplicado, co-

Ml
I Taaisissoxiizifiçõss iva. coisisciêisrcizi

mo ao solucionar um problema. Entretanto, outras vezes, e nocivo ficar


perdido em pensamentos, como quando você fica incapaz de tocar direta-
mente a realidade.
Estas são as cinqüenta e uma formações mentais: as cinco universais,
as cinco particulares, as onze salutares, as seis nocivas básicas, as vinte no-
cívas secundárias, e as quatro indeterminadas ou neutras. Quando as cinco
consciências dos sentidos alcançam o reino das coisas-em-si-mesmas por
meio de percepção direta, as únicas formações mentais que, simultanea-
mente, elas fazem surgir são as cinco universais. A consciência mental, en-
tretanto, e capaz da manifestação de todas as formações mentais. Quando
as cinco consciências dos sentidos trabalham em alinhamento com a cons-
ciência mental, elas afundam ou nadam com a consciência mental e, assim
sendo, elas também podem associar-se a muitas dessas cinqüenta e umaca-
tegorias de formações mentais.

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av PARTE V

Í A Natureza da Realidade

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OS VERSOS TRINTA E UM ATÉ TRINTA E OÍTO discutem muitos dos concei-


tos que já aprendemos em nossos estudos sobre as oito consciências. Em
conjunto, esses versos exploram a natureza da realidade. Noções do eu e o
outro, individual e coletivo, observador e observado, nascimento e morte,
causas e condições, são conceitos que usamos para compreender o mundo
que vemos e experimentamos. É importante não se deixar apanhar por es-
ses conceitos, e usa-los somente como um meio de compreensão maior. Eles
não são mais necessários quando atingimos _a dimensão suprema.
Nesta seção, os dois últimos versos, Trinta e Nove e Quarenta, introdu-
zem o ensinarnento das três naturezas do eu (wab/aafza), os modos pelos quais
a nossa consciência apreende.a realidade. A primeira natureza do eu, pariíeal-
pira .waó/aava, é a natureza da construção imaginária e da discriminação. De-
vido à sua tendência para a ilusão, o desejo e a raiva, a mente cria falsas ima-
gens da realidade, baseada em percepções errõneas e na discriminação.
Para abrir a porta da realidade, temos de observar, olhar em profun-
didade, descobrir e põr em prática o princípio da segunda natureza do eu,
pazaramva svaâhava. Pazaraarra ef: a natureza da interdependência. Uma coi-
sa sõ pode manifestar-se contando com todas as outras coisas. Uma flor sõ
pode se manifestar baseada nas condições requeridas - chuva, raio de sol,
solo e outros fatores que tornam possível a sua manifestação.
_ I |
' r .I lll

_ _
I TRANSFÚRMAÇÚES NA CUNSCIENCIA _

j Quando formos capazes de perceber as coisas à luz da interdependên-


cia, a verdadeira natureza da realidade se revelará um dia. Esta e a tee1:'Lç_‹f(::ilra
natureza do ea, ašshpaafla sz›aE›/aaaa, natureza plena ou natureza da re 1 a-
de suprema A chave que abre e revela a realidade suprema é paratatmfdi
observar profundamente com os olhos da interexistência. Ê* TRINTA E UM
Sujeito e Objeto

A consciência sempre inclui


Sujeito e objeto.
O eu e o outro__,r o dentro e o fora
São todos criações da mente conceitual.
VL

AS DUAS PRIMEIRAS LINHAS desse verso contêm o ensinamento bã-


sico que precisamos assimilar, antes de adquirirmos maior co-
nhecimento dos ensinamentos da Pura Manifestação e sua prática diaria.
“Consciência”, aqui, tem o sentido de percepção e cognição. Percepção e
cognição sempre são percepção e cognição de alguma coisa. Não pode ha-
ver uma percepção que não seja a percepção de alguma coisa.
Somos inclinados a acreditar em um princípio de conhecimento ou
um tipo de consciência que existe por si propria. Se precisamos dela, pode-
mos pega”,-la e usa-la. Quando nossa consciência entra em contato com uma
montanha, ela sabe que e uma montanha. Quando vê uma nuvem, sabe
1
que e uma nuvem. Então, depois de deixar essa consciência determinar as
Coisas por nos, a colocamos de volta no seu lugar até precisarmos dela no-
Varnente. Esta é a crença basica, porém trata-se de um mal-entendido.
E ingênuo pensar que a consciência e algo que existe independente-
mente, que já está ali e só É preciso pega-la, como uma ferramenta de jar-
dim, e usa-la para reconhecer um objeto. Buda disse que a consciência tem
UÊS partes: o observador (sujeito), o observado (objeto) e a totalidade. Su-
lfiítü e objeto trabalham juntos, simultaneamente, para manifestar a cons-
Ciência. Não pode haver consciência sem um objeto. Consciência é sempre
Taxi-Isaoaiviaçõas NA coivsciêisicia - PARTE CINCCII A NATUREZA DA REALIDADE

consciência de alguma coisa. Pensar e sempre pensar em alguma coisa. Rai- Quando falamos sobre o conteúdo da consciência, usamos o termo
va e sempre estar com raiva de alguem ou de alguma coisa. Não pode ha- formações mentais (e/attta-samslearas), que são fenômenos psicológicos. Nós
ver objeto sem sujeito nem sujeito sem objeto. Ambos, sujeito e objeto, in- já analisamos as cinqüenta e uma categorias de formações mentais identi-
terexistem, e se baseiam na. totalidade. ficadas pelos mestres budistas, e cada uma contem ambos, sujeito e objeto.
Não existe nenhum “ver” que seja separado do que ê visto. Quando Assim como um rio ê composto de gotas d”água e as gotas d'água são o
os olhos entram em contato com a forma e a cor, no mesmo instante e pro- conteúdo do proprio rio, também as formações mentais são tanto o con-
duzida a consciência da visão. Mas esse instante e fugaz. Entretanto, se nos- teúdo da consciência como a própria consciência. .
sos olhos continuarem em contato com a forma e a cor, o larnpejo de cons- A presença de uma formação mental dura somente um breve instan-
ciência se repete, momento apos momento. Encarreirados, esses larnpejos te (Ães/varia). Contudo, quando há causas e condições suficientes, uma for-
instantâneos formam o rio da consciência da visão, no qual sujeito e obje- mação mental pode se repetir sucessivamente, pois formações mentais po-
to continuamente apõiam um ao outro. O processo continua somente se dem ser uma condição para a continuidade (samaraaiatara-pratyaya). Se
há contato entre um orgão dos sentidos, no caso os olhos, e um objeto _ estivermos apresentando um filme e um fotograma dele tiver sido cortado,
forma e cor. o projetor vai provibcar uma parada naquele ponto da película do filme por
Quando olhos e forma se encontrani, eles são apenas çondições para o falta de condição de co ntinuidade. Uma formação mental existe apenas por
desenvolvimento da consciência. Sozinhos, não são suficientes para produ- um ínfimo instante mas, em condições favoráveis, poderá ser prolongada
zir a visão ou a consciência da visão. Tem que haver uma semente-causa, a por uma sucessão de formações mentais similares, ou pode ser transforma-
causa como condição (/veta-p rat]/aya), e essa semente repousa na consciência da pela sucessão de outras formações mentais.
armazenadora. Nosso olhar e a nossa consciência da visão são produzidos a A continuidade se deve a reiteração das causas e condições. Se não
partir de sementes que se encontram na nossa consciência armazenadora. houver reiteração das causas e condições de algo que esteja se manifestan-
Lembre-se, as sete primeiras consciências - as seis consciências dos senti- do, sua manifestação cessará.. Dá-se o mesmo com a consciência. Quando
dos de visão, audição, olfato, paladar, corpo e mente, e manas _ manifes- a base dos sentidos e o objeto dos sentidos vêm juntos, surge a consciência.
tam-se a partir da oitava consciência, a consciência armazenadora. Essa consciência dura apenas um breve instante, mas por causa da conti-
Quando não estamos atentos, a plena consciência e apenas uma se- nuidade das causas e condições, ela torna a surgir no próximo instante, e
mente, não uma manifestação. A capacidade para estarmos plenamente no seguinte, e no seguinte, e no seguinte. Nesse caso, há uma continuida-
conscientes está disponível, mas não está sendo usada. Para a plena cons- de de consciência.
ciência manifestar-se e necessário um objeto - somos conscientes da nos- ' Ate você conseguir examinar esse processo em profundidade, poderá
sa respiração, da pessoa que está sentada a nossa frente, de uma flor. Assim achar que o fenõmeno É uma entidade sólida, permanente. Depois de ana-
como a cõnsciência é sempre consciência de alguma coisa,-a plena consciên- lisar o modo como causas e condições manifestam um fenômeno continua-
cia ê sempre a plena consciência de alguma coisa. Ver, ouvir, pensar, conhe- mente, começará a ver as coisas de maneira diferente. Para os olhos, a pon-
cer, compreender e imaginar são consciências, e consciência inclui sempre ta incandescente de um bastão de incenso, que rapidamente forma uma
sujeito e objeto. espiral na escuridão, parece ser um círculo de luz constante. Existe uma
Nos ensinamentos da Pura Manifestação, “consciência” significa a ca- continuidade entre o momento de luminescência que vem antes e o mo-
pacidade de cognição, percepção e discriminação. De acordo com esses en- mento de lumíflfiãüëncia que vem a seguir, embora ela não seja a mesma
sinamentos, a consciência tem muitas funções diferentes. Portanto, não se- nem diferente. O círculo de luz que fazemos dando voltas no bastão de in-
ria correto dizer que existe uma consciência. Existem tantas consciências censo ê, na verdade, uma célere sucessão de muitos pontos de luz. Portan-
quantas são as funções de consciência. to, pertence ao' reino das representações. Compreendendo esse processo,
Taaiasroaiziaçõas NA consciência PARTE cinco: A Naroaaza DA aaarioann

podemos ver que realmente há uma serie de pontos de luz desconectados ela contém evapora-se e retorna para a nuvem. Olhando assim em profun_
que juntamos em nossa mente para formar um círculo. Se continuamos a didade, desaparecem nossos conceitos a respeito de fronteiras e podemos
ignorar o que realmente ocorre, acreditamos que estamos vendo, de fato, ver a nuvem na rosa, e a rosa na nuvem.
um círculo luminoso. _ H Os ensinamentos
I de sse verso tem
^ o sabor do Aoatamsaka
~ Sutra, que
Se olhamos para a vida dessa mesma maneira inconsciente, achamos diz O um esta no todo, e o todo está no um” Uma coisa Contém todas as
que as coisas são permanentes e têm uma existência separada. Entretanto, cois .
EXHIÍÊHÊ um esta' egi todals as coisas.
' '
Os físicos -
atômicos da nossa epoca
o conhecimento nos faz ver que nada ó permanente e que não existe coisa I d :z-Cilin o mun o mo ecular profundamente e abandonaram os con-
alguma que seja um eu separado. Da mesma forma que o círculo de luz ó ceitos e entr o e fora, eu e outro. Eles sabem que um átomo e, composto
uma ilusão de ótica, nossas ideias de permanência e de um eu separado tam- de todä os outros atomos. Um elétron e composto de todos os outros ele-
bém são ilusões de percepção e cognição. Quando examinamos bem pro- trons.
I uma m olecula
' *
ou num atomo podemos ver a presença de todas as
fundamente, podemos ver que todos os fenômenos materiais e psicológi- moleculas e átomos. Um átomo contem o universo inteiro Numa pessoa
cos evoluem e mudam a todo instante. Então, vemos a substância da está presente tudo o. que existe no universo Eu estou em você e você está
'

realidade e o conhecimento da impermanência e do não-eu evitará que se-» em mim. lsto e assim, porque aquilo ó assim. Isto não ó, porque aquilo não
jamos pegos pela ilusão. e. Os ensinamentos do Co-Surgimento lnterdependente (prati`tya-saamt
i Heráclito, o filósofo grego do seculo V a.C., chegou a uma conclusão 1 - , _
Pfififfllz quando desenvolvidos ate o nível mais elevado, tornam-se ensina-
semelhante ao observar que a água do rio onde ele havia nadado cinco mi- mento das camadas infinitas de causas e condições. Um e tudo e tudo e um.
nutos antes não era a mesma onde ele se encontrava cinco minutos depois.
“Não podemos nunca entrar no mesmo rio duas vezes”, disse ele. Muito Ear sei' que você ainda esta' az'
embora Heráclito não tenha usado esses termos, sua observação foi uma Porque ea aziada estou aqui.
nova ideia sobre a impermanência e o não-eu. Os braços da percepção aâifaçam tado,
Todos os fenômenos _ físicos, fisiológicos e psicológicos _ manifes- Uzimdo zada e morte, sajezto e oojeto, uma e toda; ar gang; ¿¿¡¿¡,,;¡_
tam-se e transformam-se dessa maneira. Quando existem causas e condi-
ções suficientes, produz-se um fenômeno que dura um instante e, a medida Quando dei os ensinamentos sobre a Pura Manifestação na Universi-
que tais causas e condições se repetem, o fenômeno torna a ser prodíizido. dade Budista de Van Hanh, no Vifitflã, em meados dos anos 60 encerrava
1'

Esse fluxo constante dá a ilusão de permanência mas, de fato, cada fenô- o curs o sempre recitando
` '
este poema. Ele ajudou os alunos ¿ gmfindfirfim
meno que eí produzido e': novo. O fenômeno daquele instante morre e um os ensin amentos. Mas se nao
" houver uma compreensao z- básica
- dos ensina-
-
novo fenômeno nasce no instante seguinte. mentos fundamentais da Pura Manifestação, este poema dificilmente po-
O euie o outro, o dentro e o fora, são conceitos. Os conceitos são pro- dera ser entendido.
duzidos por nossa consciência. Usando a espada dos conceitos, cortamos a Um
_ m estre zen vietnamita
' "` da dinastia
- - Ly (seculo
z -
Xl) disse: .
“Se existo
realidade em pedaços e criamos fronteiras entre as coisas. Partindo do pon- U mais ínfimo grão de areia, tudo existe. Se não existe o mais ínfimo grão
to de vista da percepção ordinária, as coisas existem independentes umas df? Hffila, então nada mais existe.” Basta apenas que exista um grão de areia
das outras. Vemos a nuvem existir fora da rosa. Mas se usamos as chaves da Para Uldü D mais existir. Outro mestre da mesma época disse' “A terra to-
impermanência e do- não-eu, abrimos a porta da realidade e vemos que a da P ode ser cp l ocada em um fio de cabelo. O sol e a lua cabem num grão
nuvem não está fora da rosa nem a rosa está fora da nuvem. Se não houver de mostarda. 2
nuvem, não haverá chuva; se não chover, não haverá água; SE Dão-houver NÚ553 mfiflffi díscfímíflêdüfflz nossa espada conceitualizadora separa 1'

água, não haverá rosa. Quando a rosa entra em decomposição, a água que 35 CU15=15 É!-T1 E1-1 E üütfüz dentro e fora. Acharnos que a consciência está den

m
1 'raAnsEoaiviAçõEs nA consciEnciA EAETE cinco: A nATUaEzA DA REALIDADE

tro e o seu objeto está fora. Mas a noção de fora só existe .porque temos a Consciência sempre inclui sujeito e objeto. O eu e o outro, o dentro
noção de dentro. Dentro de quê? Dizer que a consciência mental existe e o fora são todos criações da nossa mente conceitual. Recebemos essa
dentro do nosso corpo não ó verdade. Dizer que ela existe fora do corpo, transmissão de muitas gerações, e isso chama-se “apreensão dupla”. A pri-
também não ó verdade. 1 ' meira ó a apreensão do sujeito da percepção como um eu; a segunda e a
No Sfauraugaiua Sutrafi Buda demonstrou que a consciência não se en- apreensão do objeto da percepção como uma realidade externa e objetiva.
contra nem dentro, nem fora, nem no meio. Para transcender esses concei- De fato, ambos, sujeito e objeto, pertencem ã percepção. Temos que trei-
tos, os Írês S/løastras examinam conceitos de nascimento e morte, um e mui- nar nossa mente para podermos nos libertar dos dois tipos de apreensão.
to, ir e vir, permanência e impermanência. O Sutra do Diaiuautef apresenta Conceitos como eu e o outro, dentro e fora, são resultados da dupla
os conceitos de eu, ser humano, ser vivente e tempo de vida para que nós pos- apreensão. Na prática budista, não só a baixa auto-estima ef uma doença, como
samos transcendê-los. Esses ensinarnentos nos ajudam a remover os concei- também o e a alta auto-estima e o pensamento de que você ó igual a alguem.
tos e fazem parte de nossos estudos dos ensinamentos da Pura Manifestação. Por quêi Porque essas três ideias se baseiam na noção de que você e separado
Quando ultrapassamos os conceitos, começamos a compreender esses do outro. Se compreendermos a interexistência, poderemos curar essa doença
ensinamentos. Mas se acreditamos que existe apenas consciência e que fo"- e estabelecer a perfeita harmonia entre o chamado eu e o charnado outro.
ra da consciência não existe nada, ê porque ainda estamos. atëldoã 305 E011* Uma das coisas que Fritz Perls, um dos fundadores da escola de tera-
ceitos de dentro e fora e não praticamos de acordo com os ensinamentos. pia Gestalt, disse certa vez tem sido citada muitas vezes: “Eu faço minha
Estes foram projetados para nos ajudar a ultrapassar todos os conceitos _ parte, você faz a sua. Não estou aqui neste mundo para viver de acordo com
inclusive os conceitos de “consciência” e “Pura Manifestação”. as suas expectativas... Você e você e eu sou eu e se por um acaso nos desco-
A noção do eu apóia-se na noção do não-eu. Ambas as ideias são pro- brirmos um ao outro, que beleza! Se não, nada pode ser feito.” Essa decla-
dutos da mente conceitual. A realidade ó livre de noções. No Budismo, o ração não se baseia na ideia da interexistência, mas na noção do eu e o ou-
não-eu ê um ensinamento decisivo, um instrumento que nos ajuda a ex- tro como entidades separadas. Não aprecio muito essa assertiva. No
' - cc . . .
plorar a realidade e nos libertar. E o antídoto do “eu”. Necessitamos desse mínimo, poderia ser espero que você se cuide, porque se tiver cuidado com
ensinamento para não sermos vitimados pela noção do eu. Mas o ensina- você mesmo, sofrerei menos”. Meus alunos têm o direito de esperar que eu
mento não e algo para ser venerado. O eu ê produto da mente. Oƒnão-eu seja um bom mestre. Isso significa que tenho de praticar aquilo que ensino
ê também produto da mente. Quando somos capazes de tocar a realidadfiz _ isso ó simplesmente justo. E eu tenho o direito de esperar que meus alu-
ambas as noções são removidas. Quando estamos doentes, precisamos de nos ponham em prática o que aprenderam comigo. O que também ó sim-
remedio para neutralizar a doença. Uma vez recuperados, o remedio nao e plesmente justo. _
.| ¡

mais necessario.
I _

_ _ Eu gostaria de lhes oferecer este gat/aa como uma resposta a afirmação


. Enquanto estiver estudando este livro, você poderá ter ulm discerni- do Sr. Perls:
mento sobre a Pura Manifestação. Se compreender a importância de ir além
dos conceitos de nascimento e morte, eu -e outro, dentro e fora, estara l1~ Voce e eu e eu sou ooce`.
berto do desejo de usar a razão para provar seu entçlndimepto: íiluízllfiiílü Í15 Não e' verdade que aos tuterexistizuos?
pessoas perguntam sobrea “Pura Manifestação” ou consciencia , vqice nflü Você cultiva a flor em você de modo que serei öelo,
tem que dar explicações.'Deve apenas sorrir. Se lhe perguflfvlffimi 'EXISÍÊ E eu trarufiirmo o Lixo em mim para que você não sofra.
uma consciência, ou muitas?”, você pode dizer que não existe uma neflfl
muitas. Mas somente quando sua compreensão tiver sido de fato desperta* Este tipo de conhecimento baseia-se na interexistência. Se vivermos a
da e que suas palavras terão valor. ` vida de acordo com esse princípio, não teremos que sofrer tanto. .
PARTE CINCÚI A NATUREZA DA REALIDADE

de ambos e toda a substância da percepção. Certa vez, meu mestre pegou


um caracol que estava em um arbusto para me mostrar. Quando se toca
uma das antenas do caracol, ele a recolhe. Da mesma forma, os aspectos da
consciência que percebe e do que e percebido podem nem sempre apare-
ev TRINTA E Dois V cer. A percepção, então, volta para a sua base, onde você não pode ver seus
dois aspectos: sujeito e objeto.
O Percebedor, 0 Percebido A consciência tem três partes: a que percebe, a_que ó percebida e a to-
talidade. O sujeito (darsiäaua-o/øaga) e o primeiro aspecto da percepção. O
e a Yiztalidade segundo e o seu objeto de percepção (uimttta-ea/vaga). O terceiro aspecto, a
base de ambos, sujeito e objeto, ê a totalidade (suaái/øaua-Éi/aaga). Sujeito e
A consciência tem três partes _ objeto nascem ao mesmo tempo. Quando o caracol levanta as antenas, as
A que percebe, a que ó percebida e a totalidade. duas se elevam ao mesmo tempo. A consciência pode se manifestar ou não,
O mesmo acontece com . dependendo de como os aspectos do percebedor e do percebido se apresen-
Todas as sementes e formações mentais. `” tarem. Quando a consciência se manifesta, dizemos que ela existe. Quan-
do não se manifesta, dizemos que ela não existe. Mas essa ideia de existir e
não existir nos causa sofrimento. O sujeito da percepção se manifesta- no
exato momento em que o objeto da percepção se manifesta, e nada e pos-
E ssE Waso E Ui.iA SERPENTE. Se você não estiver atento, será mor- sível sem a base. A totalidade e o todo. i
dido por ela. Lendo-o, você poderá pensar que a consciência tem ' Isso ef válido para as oito consciências, e para cada semente e forma-
três partes. Mas esse verso e apenas uma hábil maneira de nos mostrar al- ção mental tambem. Todas as sementes e formações mentais tambem têm
go. Não se deixe apanhar pela ideia de que a consciência ó uma coisa que esses três elementos _ sujeito, objeto e base _ porque todos eles perten-
pode ser dividida em três partes separadas. As divisões servem apenas como cem ã consciência. Toda formação mental, todo objeto de percepção, toda
um esboço estrutural para nos ajudar a compreender a realidade da_,.cons- semente que existe dentro da nossa consciência tem estes três aspectos e não
ciência. Uma vez compreendida, paramos de dividir. Vamos supor que eu se pode separá-los um do outro. Eles só podem coexistir. Faltandoum, os
traço um círculo e, passando uma linha vertical, divido-o em duas partes. outros dois não podem existir.
O círculo ê a base _ a consciência _ e a partir dessa base o sujeito e o ob- Os ensinamentos do Auatazusa/ea Sutra nos dizem que o infinitamen-
jeto da consciência se manifestam. Porem, essas duas metades nunca dei- te pequeno contórn o infinitamente grande, e o infinitamente grande con-
xam a totalidade do círculo, exatamente como as ondas nunca deixam a tem o infinitamente pequeno. Se ó assim, então o infinitamente pequeno
água. Se você pensa que qualquer uma das partes existe separadamente das tem a mesma natureza do infinitamente grande. Cada átomo, folha, ou ras-
outras, você foi mordido pela serpente. H tro de fumaça carrega dentro de si todas as informações necessárias para
compreender o cosmo inteiro. Quando descobrimos a verdade de um áto-
Quando eu era um jovem monge e estudava os ensinamentos da Pu-
mo, descobrimos a verdade de todo o universo. Quandoentendemos uma
ra Manifestação, meu mes tre-ilustrou esse.-verso desenhando a figura de um
caracol rastejando numa folha. Denominou as duas antenas do caracol co- pequena gota de água no oceano, entendemos o oceano todo. Se olharmos
mo o percebedor e o percebido, e o corpo do caracol, a base, como a coisa- bem profundamente para um seixo, poderemos ver o universo.
em-si-mesma. A primeira antena representa o sujeito da percepção, a se-_ Examinando uma folha, vemos o sol e as nuvens. Examinando nosso
gunda o objeto da percepção, e o corpo inteiro do caracol representa a base corpo, vemos o universo todo e tudo o- que nele existe. Se exarninarmos
'I' ' FL
TRANSFURMAÇÚES NA CDNSCIENCIA
PARTE CINCO; A NATUREZA DA REALIDADE

profundamente só uma coisa, vamos compreender todas as coisas. Núme- ignorância, orgulho, dúvida, pontos de vista, agitação, torpor e desatenção,
no e fenômeno, as dimensões suprema e histórica, sempre andam juntas. poderemos transformá-las em paz, alegria, libertação e felicidade.
Não são duas entidades distintas. Cada célula de nosso corpo contém to- Não ó necessário remover nada do que existe. De fato, não há nada
dos os nossos ancestrais e todas as futuras gerações. Cada semente, forma- que possamos retirar da existência. Se tirássemos uma coisa, teríamos que
ção mental e a consciência em nós contêm todo o cosmo, todo o tempo e tirar tudo, porque o um contem o todo. Quando entramos na cozinha num
todo o espaço. Você não precisa empreender uma longa jornada para des- dia de inverno, nos sentimos aquecidos e confortáveis. Nossa sensação de
cobrir isso. Não precisa meditar sobre muitos assuntos para ter esse discer- calor e conforto não ó devida ao fogão que está na cozinha, ela se deve ao
nimento. Se puder perceber em profundidade a natureza de qualquer for- frio que está lá fora. Se o tempo fora não estivesse frio, não teríamos a sen-
mação mental, seja salutar ou nociva, alcançará a iluminação total. Basta sação de conforto ao entrar na cozinha quente. Sentimentos agradáveis são
verter luz sobre uma coisa e compreenderá tudo o que existe. feitos de sentimentos desagradáveis. Sentimentos desagradáveis são feitos
Em uma coisa você pode identificar todas as coisas. A semente de rai- de sentimentos agradáveis. Isto e assim, porque aquilo e assim. Uma for-
va que está em você, mesmo antes de se manifestar como uma formação mação mental congem todas as outras formações mentais. Toda semente
mental, poss ui dentro de si todas as três partes. A semente da raiva toca tam- contêm todas as outras. A semente de raiva contém dentro de si a semente
bém todas as suas outras sementes _ inclusive as semen-tes de amor e de de amor. A semente da ilusão contem dentro de si a semente da ilumina-
reconciliação. Como é que o amor está contido na raiva, e a raiva contida ção. Cada gene de nossas celulas contem todos os outros genes. Num bom
no arnor? Exatamente como a flor ó feita de elementos não-flor, a raiva ó ambiente, um gene nocivo pode lentamente transformar-se em gene sau-
feita de elementos não-raiva. O um contêm o todo. Mas devido a nossa ten- dável. Essa ideia pode abrir muitas portas para modernas terapias. Esse é o
dência a pensar em termos de discriminação, achamos que nossas semen- ensinamento de Buda. Quando nos esquecemos dele, somos arrastados pa-
tes de amor e raiva estão separadas. ra o mundo de nascimento e morte. Mas quando transformamos nossa dis-
Cada ensinamento do Buda contem todos os outros ensinamentos. Se tração em plena consciência, vemos que não existe nada que necessitemos
examinarmos profundamente a Primeira Nobre Verdade _ a verdade da rejeitar ou descartar.
existência do sofrimento _ veremos as outras três: a causa do sofrimento,
a possibilidade de nos libertarmos do sofrimento e a maneira de nos liber-
tarmos do sofrimento. Examinando o sofrimento profundamentef vemos
como sair dele. A interexistência _ o um contém o todo _ e um aspecto
muito importante do ensinamento do Buda, talvez o mais importante pa-
ra ajudar a; nos libertarmos do sofrimento. Não precisamos aprender tudo.
Se aprendermos uma coisa em profundidade, poderemos entender todos os
ensinamentos. E necessário que nos treinemos a ver dessa maneira.
Cada uma de nossas aflições e formações mentais nocivas contêm a na-
tureza e a libertação de Buda. A raiva inclui todos os fatores que a fizeram
surgir. Se nossa raiva não con tivesse a libertação, como poderíarnos transfor-
má-la em não-raiva? No adubo há muitas flores perfumadas. Um jardineiro
habilidoso não joga fora o lixo da cozinha, mas o transforma em adubo. No
decorrer do tempo, o lixo se transformará nurria cesta de vegetais verdes e
frescos. Se soubermos como fazer adubo de nossas' aflições de raiva, ódio,
PARTE CINCÚI A NATUREZA DA REALIDADE

as antenas não existem. Se, ao nos afastarmos, o caracol põe as antenas pa-
ra fora novamente, não É correto dizer que só naquele instante elas come-
çaram a existir.

eo TRINTA E TRÊS - Da mesma maneira, quando a consciência se manifesta, não quer di-
zer que tenha nascido naquele momento. Quando não se manifesta, não sig-

Nasctmento e Morte nifica que tenha morrido naquele momento. Quando a consciência se ma-
nifesta, existe diferenciação e discriminação (otkaéoa). A discriminação diz
“isto É eu e aquilo É diferente do eu ”. E a espada que corta e divide o que É
eu do que não É eu. Mas discriminação não É a verdade. E uma construção
imaginária, uma fabricação da mente. O ideograina chinês para o termo oi-
Nascimento e morte dependem de condições.
Ífaqfiia significa “comparação universal”. Comparar É dizer “isto está dentro
Por natureza, a consciência É uma manifestação discriminanj1-i¿_
mas aquilo está fora. Isto continua a existir, mas aquilo cessou de existir”.
O que percebe e o que É percebido dependem um do outro
O percebedor e o percebido _ dois dos três aspectos, ou faces, da cons-
Como sujeito e objeto de percepção. .
ciência _ dependem um do outro para que se manifestem. Nenhum pode
existir independentemente do outro. Quando você está com raiva, existe
sempre um objeto da sua raiva _ você está com raiva de alguem ou de al-
guma coisa. Quando ama, você está amando alguem. Se sentir ciúme, seu
DE Acoaoo coivi os EnsinAi~.«iEnTos da Pura Manifestação, “trasei-
ciúme tem um objeto. As vezes dizemos de uma pessoa ciumenta, “Ela tem
mento” significa simplesmente manifestação, o aparecimento de
'ciúme atÉ da sombra” ou “Ela tem ciúme do vento”. Ainda que o objeto do
um fenômeno. “Morte” significa a ausência de manifestação ou de apareci-
ciúme não tenha uma realidade material, e não seja mais do que simples
mento. Nascimento e morte surgem em decorrência das condições. Quando
sombra ou o vento, mesmo assim “sombra” e “vento” são seus objetos.
as condições são favoráveis, temos o nascimento (manifestação) e a morte
Quando a mulher sabe que está grávida, já começa a amar seu bebê.
(ausência da manifestação).
Visualiza-o crescendo no seu útero, como ele vai se parecer, seu doce sorri-
Quando examinamos em profundidade e reconhecemos as cãiisas e
so, e tem certeza de que esta imagem do bebê pertence ao reino das coisas-
Cfifldiçõfifi que dão lugar a nascimento e morte, compreendemos que nas- em-si-mesmas. Mas o objeto de seu amor ainda pertence ao reino das me-
cimento e morte são apenas noções. A manifestação de alguma coisa não É
ras imagens e É, na realidade, uma construção imaginária. A mente
o Começo gde sua existência, e quando algo não está se manifestando, não diferencia e compara a fim de desenvolver essa imagem. E por isso que o ver-
significa que não exista. Antes de um fenômeno manifestar-se, ele já se en- so diz que consciência É, por natureza, uma manifestação discriminadora.
contra nas condições. Nascimento É feito de morte, e morte É feita de nas- A natureza da consciência É manifestar a percepção em que sujeito e
cimento. Nascimento e morte ocorrem simultaneamente a cada momento. objeto apóiam um ao outro para que o percebedor e o percebido se tornem
Antes de nascer, você já existia. Quando morre, você não se torna nada. Vo- possíveis. A consciência manifesta-se como rios, montanhas, estrelas e cÉu.
cê volta para a totalidade, para a base, a fim de manifestar-se novamente. Quando olhamos os rios, as montanhas, as estrelas e o cÉu, podemos ver
TT-Ido que eÍ manifestado depende das condições. Se as condiçõesisão pensarnento no profundo azul das águas e percepção nas estrelas. Isso É real
Sllfioíefltes, a manifestação É percebida. Se as condições são insuficienzeg, porque todos os fenômenos são manifestações da consciência, objetos de
não percebemos a manifestação. Não-manifestado não É o mesmo que nãü- percepção tanto coletiva quanto individual. O que acreditamos ser uma
É-.`XÍ.SfeI1TÍe -. Quafl.do o caracol recolhe suas antenas., não está correto dizer que realidade objetiva É, antes de tudo, objeto da nossa percepção.
TRAnsEoRiviAçõEs nA consciEncIA

Temos de fazer uma distinção entre as palavras “consciência” e “mani-


festação”. Para consciência, usamos a palavra sãnscrita ufirãarza. Mas a pala-
vra usada por Vasubandhu, o autor dos Iizuta Versos, É vq'ñaptt', que signi-
fica manifestar, informar, dar informação. O prefixo 'ic-” em sãnscrito
significa distinguir, discernir, analisar, compreender ou conhecer. Quando eo TRINTA 1: QUATRO
uma coisa ainda não se manifestou, a chamamos de auqrãaptt.
'Se eu lhe mostrar minha mão, você não poderá ver a qualidade de mi-
]\darztƒestaça`o Contínua
nha caligrafia, o que não significa que esta qualidade não exista. Ela sim-
plesmente não está manifestada, awfiñapti. Se eu pegar um pincel e fizer
num pedaço de papel alguns movimentos com a mão, então você verá a " ..-'
Na manifestaçao individual e coletiva,
qualidade de minha caligrafia. Ela será então manifestada, wjñaptt. Mani-
Eu e não-eu não são dois.
festação significa que o sujeito e, ao mesmo tempo, o objeto da percepção
O ciclo de našcimento e morte É realizado a todo momento.
se manifestam. ..
I/Íjršauauaatra significa “pura consciência”. Quando, usada sozinha, a A consciência se dá no oceano de nascimento e morte.
palavra rrtatra significa “apenas”. Existe apenas a manifestação de percep-
ção, nada mais. O ensinamento da “pura consciência” diz que existe apenas
consciência, a qual se manifesta como sujeito e objeto de percepção e cog-
nição. Entretanto, nem sempre os Ctuqueuta Versos usam essa terminolo- Uanoo ExAiviInAivios qualquer fenomeno _ material, Fisiologi-
gia, pois ela pode levar o leitor a pensar que esse É um ensinamento sobre co ou psicológico _ podemos ver quanto de individualidade e
T-M-*_É'fl
idealismo. O termo o.q'ñap.u`ruatra, “pura manifestação”, É melhor. Signifi- quanto de coletividade nele existe. Podemos pensar em Plum Village como
ca que apenas existe uma manifestação de percepção e cognição na qual su- completamente objetiva. Upper I-Iamlet, um de seus núcleos, fica a duas
jeito e objeto de percepção apóiam simultaneamente um ao outro, a fim de milhas do núcleo Lovver Hamlet, e distância É certamente um fenômeno
tornar possíveis sujeito, objeto e manifestação da consciência _ do mes- objetivo. PorÉm cada um de nós tem a sua própria experiência com relação
mo jeito que os três caniços que, quando estão apoiados um no outro, se _a distância entre os dois “núcleos”. Para uns, o caminho do Upper para o
mantêm de pe. Lovver Hamlet É muito curto; para outros, parece muito comprido. Cada
Nascimento e morte dependem de condições. Produção e desintegra- um dos que vivem em Plum Village têm uma imagem única de Plum Vil-
ção dependem de condições. A consciência não se manifesta só como o su- lage. Em cada caso, a quantidade de manifestação individual excede ã quan-
jeito da jiiercepção, o percebedor. Quando existe manifestação da consciên- tidade de manifestação coletiva. Mas há também um elemento de coletivi-
cia, ela É, ao mesmo tempo, ambos os aspectos da percepção _ o percebedor dade nessas imagens, elas têm certas coisas em comum. E preciso que
e o percebido. pratiquemos a observação profunda para podermos ver quanto de indivi-
dualidade e quanto de coletividade existem nos objetos da nossa percepção.
E preciso perguntarmos tambem: quando há uma manifestação cole-
tiva, de quem É a manifestação? Uma mesa É feita de madeira. E uma coisa
que tem estabilidade e eu posso colocar uma xícara de chá em cima dela. A
imagem da mesa como mobília É coletiva, compartilhada por outros seres
humanos. Mas um cupim não compartilha essa manifestação coletiva. Em
I TRAnsroRiuAçõEs nA consciência
PARTE CINCÚI A NATUREZA DA REALIDADE I

vez disso, o cupim vê a mesa como um enorme banquete de madeira que vai I-Ioje em dia, as nações industrializadas usam de diplomacia e oferecem aju-
durar muitos meses. A imagem de um objeto de percepção depende das se- da econômica e tecnológica. Mas a motivação delas não É realmente altruís-
mentes que surgem da consciência armazenadora daquele que percebe. Ne-
ta. O interesse delas por outros países ainda É o autobenefício: ao ajudar a
nhuma manifestação É totalmente individual nem totalmente coletiva.
desenvolver um novo país, elas esperam que este se torne um mercado pa-
As sementes de raiva em nós são nossa manifestação individual, pois nos ra os seus produtos. Os países do Terceiro Mundo tomam dinheiro empres-
causam sofrimento. Mas isso não significa que elas nada têm que ver com os tado a fim de desenvolver suas economias, mas muitas vezes não conseguem
outros. Quando estamos com raiva, É difícil os que estão ao nosso redor se
se desenvolver com suficiente rapidez, vão a falência e não podem pagar o
sentirem felizes. Nesse caso, nossa raiva É tainbém uma manifestação coleti- empréstimo. Se o sistema monetário internacional entrar em colapso, as ra-
va. Todos os fenômenos são individuais e coletivos, ao mesmo tempo. Assim
mificações atingirão de volta os países desenvolvidos e estes também sofre-
como um buraco na camada de ozônio está ligado a sobrevivência de todas rão. As nações estão começando a aprender a lição da interexistência.
as espécies na terra, a felicidade ou o sofrimento de alguém que vive no'Cam- Primeiro, criamos o eu e o não-eu. Aos poucos, aprendemos que o eu
boja está ligada a felicidade ou sofrimento de quem vive na América do Nor-
que criamos não egriste como uma coisa separada, já que depende totalmen-
te. Quando podemos ver a manifestação individual e coletiva na sua essên-
te do que É não-eu. Assim, então, temos a idéia de não-eu. Usando a idéia
cia, as idéias de eu e de outro, eu e não-eu, deixam de existir.
de não-eu, estamos capacitados a ir além da idéia de eu. Mas a idéia de não-
No começo, distinguimos entre eu e não-eu _ eu e você _ e ficamos eu também É perigosa. Se ultrapassamos a idéia de eu só para sermos apa-
preocupados somente com o que se refere a nós mesmos. Mas, depois de nhados pela idéia de não-eu, não ficamos em melhor situação. O não-eu
um tempo, descobrimos que se não cuidarmos do que não É nós mesmos, como idéia É também uma prisão. Aprendemos no D/øarma Seal Sutra que
ÉÚ:=' E= ¿"I_~=1_
as conseqüências serão terríveis. Se não tratarmos bem nosso parceiro, re-
alcançar o nirvana é ir além de todas as idéias, não apenas das idéias de per-
ceberemos os efeitos de nossa falta de atenção. Se não demonstrarmos nos- manência e de eu, mas também das idéias de impermanência e de não-eu.
sa preocupação com o buraco na camada de ozônio, sofreremos as conse- O ensinamento do não-eu É destinado a nos salvar da idéia de eu. Mas se
qüências de nossa falta de interesse. nos agarrarmos ao não-eu como um conceito, uma idéia, na qual procura-
Durante séculos, as nações chamadas “desenvolvidas” comportaram- mos refúgio, estaremos tão aprisionados quanto estávamos antes pela idéia
se egoisticamente, preocupando-se apenas com o seu “interesse nacional”. de eu. Temos que ir além de todos os conceitos.
Cuidaram somente de suas próprias economias, de suas próprias cúlturas e Muitos budistas (e não-budistas) falam sobre não-eu de uma maneira
da educação de seu próprio povo. Elas dizem que não É problema delas cui- que mostra estarem eles ainda presos a idéia. O modo de eles falarem sobre
dar de outros países. Recentemente, entretanto, o “mundo desenvolvido” o não-eu não diminui nem um pouco a idéia que têm do eu. Muito embo-
começou a aprender que, se não cuidar do chamado “Terceiro Mundo”, ra tenham infindáveis discussões sobre os ensinamentos do não-eu, estes
morrerá fambém. não os ajudam. Encontram-se ainda aprisionados a idéias que continuam
De acordo com os ensinamentos do Co-Surgimento Interdependen- a fazê-los sofrer na vida diária. Para se libertarem, terão que pôr um ponto
te, a vida dos países desenvolvidos depende da vida dos países não-desen- final na idéia de não-eu assim como na de eu, e ver que eu e não-eu in-
volvidos. Quando a tecnologia se desenvolve, muitas mercadorias são pro- terexistem. O ensinamento sobre o não-eu só É possível porque existe a
duzidas e tem que haver mercado para vendê-las. Na pesquisa inicial de idéia de eu. Eu e não-eu não são dois.
mercados e fornecimento- de recursos naturais para aquecer suas próprias Quando olhamos em profundidade para a manifestação coletiva e in-
economias, as nações mais desenvolvidas empreenderam expedições como dividual, vemos que eu e não-eu não podem se separar um do outro. Ve-
se fossem para a guerra a fim de conquistar territórios. Com o decorrer do mos também que o ciclo de renascimento repete-se a todo instante. Não
tempo, entretanto, os colonizadores tiveram de abandonar suas colônias. temos que esperar morrer para renascermos. Renascemos a todo momen-
|
l .-‹ A PARTE CINCDI A NATUREZA DA REALIDADE
TRANSFDRMAÇDES NA CÚNSCIENCIA

sia disseminamos
t *d_ ,_ dçf uma Uidéi a, enviamos
` -
uma carta, estamos indo em mu1_ _
to. Lembre-se do círculo do bastão de incenso: aquele lume renasce a cada
as ireçoes i erentes.
hr 1 rn a vez que tenhamos saído nessas direçoes,
_ F _
nao
instante. A luz deste momento É o renascimento da luz do momento ante-
a como
A h nos co oc a rm qi de volta no lugar onde estávainos antes.
rior. Não É verdade que temos outros dez, vinte, cinqüenta ou mais anos
_ c I amos fi ue ao C egar a um certo ponto morremos, mas nao .z e, bem
de vida até morrermos. De fato, estamos morrendo a cada momento. Esta-
assim. ja estamos presentes em todos os cantos do universo. O que É que
mos morrendo agora mesmo e a nossa morte poderia produzir algo muito
morre? O corpo morto É apenas nossos restos insignificantes
' ' ' já estamos em
bonito e precioso, exatamente como a morte de um instante de luz possi-
todos
ami os cantos
1 it do un'
diverso. Estamos presentes em nossos filhos, alunos,
bilita o novo instante de_ luz renascer.
gos, ei ores _ to as as pessoas que fizemos fÉ l'izes e todas as que fize-
Em geral, achamos que demora de oitenta a cem anos para completar
mos sofrer E estamos num ciclo de rena ` '
um ciclo de nascimento e morte. Porém, podemos experimentar nascimen-
I S 1 I

só morremos uan d o ch e C menu” “ mdü Instant”. DEE” qu”


to e morte em cada momento, dentro do nosso corpo ou dentro da nossa
cic
i l o d e renascimento É muito
gamossim p ista. Todas
l'
a um certo ponto '
e começamos
as coisas possuema dentro
entrar no
de
consciência. A todo instante, as células do corpo morrem a fim de dar espa-
ço para outras células. Se organizássemos um funeral toda vez que uma célu- Sl a Ilafllreza da interexistência
.,. - O ciclo d e nascimento
` e morte acontece a
tododmomento.
Q d Eu_ e não- eu nao
”' sao
'“ duas entidades
' - -
distintas, .- Sao 5,-5;-
nao
la morre, passaríamos o tempo todo chorando e sem tempo para fazer outras
ara
ph _ as. _
Ê uan o tivermos focado profundamente a natureza da interexis-
coisas. Se compreendermos que É necessário para o nosso -corpo que nossas
células morram para que novas células possam nascer, não perderíamos tem- feflelaz Ilao separaremos mais eu e não_au_
Todas as oito consciências, todas as sementes e todas as formações
po lamentando nossa perda. Seria uma vergonha encarar esse processo como
mentais
d d J`untame ncçte com seus objetos,
' ° -
incluindo r se
o nosso corpo, estao
uma coisa triste. O ciclo de renascimento confia no caminho traçado pelo
corpo, pela fala e pela mente. A cada instante temos de comunicar a energia d an o no oceano
-A ç É nascim ento e morte. Sempre evoluindo,
- - sempre Hum- _

de leveza, libertação, paz e alegria de modo que a vida, o ciclo de nascimen- oz. a consciencia armazenadora, coletiva ou individual É como um rio `
Nossas consciências d os sentidos
` ' como rios
sao * - Nascimento
3 " I
e morte estao
to e morte, possa ser mais belo para nós e para todo mundo.
na tendo em cada um desses rios, e os rios estao atravessando o ciclo da
I ' .--'
O renascimento não É um caminho reto nem sinuoso. Talvez tenha-
s-cimento e mo ' . .
mos a idéia de que o renascimento É um caminho reto que já está determi- mm Ã? 3 todf' mstafltfi- Quando entendemos isso e incorpo-
S Fos esse enten mento na nossa vida, - - -
atingimos o estado de não-1fnodo_
nado _ o você deste momento se tornará o você do próximo momento, e
assim por diante. Mas não É assim tão simples. Muitos caminhos qii`e per- “ ämlâlüs ÊPÊHHS 113 teoria, o estado de destemor não será alcançado, O
esta há
nãü o Henão-medo
I e' o estado em que nao.- há nascimento
. nem morte, de
fazem o ciclo do renascimento dão voltas. Em cada instante, estamos rece-
em muitos e nem um. Sem esse conhecimento' - da vida,
a respeito -
bendo energia do universo, da sociedade, dos alimentos, de nossa educa-
Permaneceinos no medo,
ção, amores e ódios. Ao mesmo tempo, produzimos energia expírando
Nascimento si nific ` t' -
dióxido de carbono, fazendo outras pessoas felizes ou tristes. Dizer que es- Uma H _f 8 F am
an estaçao e morte significa nao-manifestaçao.
” '_' ' .--'

tamos indo no caminho reto, em uma certa direção, não está correto. A ca:
mentenÊ”1f“”“nd””t“““Ú
- im e uma nuve E uma nov” manifestflçãü aeontecem simultanea-
-
da instante caminhamos em todas as direções. Símultâne D f m É Ú CÚHIÊÇU da Chuva podem ser vistos como
OS. e Hato z não
existe É Rpg d existefnada acabando e nada começando. O que
I-lá cinqüenta anos escrevi um livro sobre os ensinamentos básicos de
Buda. Podemos nós traçar.o caminho que este livro seguiu? Muitas pessoafi SEI Emündd1135 Ú LIXO e mani "'
f estaçoes. e _ manifestaçao
Nao ' - tambem z pode
ta P F 1 o como uma mani " ' - . _ _ .
estaçao. Manifestaçao e cessaçao da manife5_
que o leram já. morreram, mas seus filhos, netos e bisnetos receberam a5
çao estao ocorrendo a todo momento Se você olhar os fotogi-am Cl
idéias nele contidas. Não podemos seguir o caminho daquele livro numa ' as e um
filme separados, verá apenas imagens estáticas. Mas se passar o filme em um
única direção. Nem podemos ver todas as direções que o autor seguiu. Toe
PIÚIÊÍUI, verá o fluxo dinãmico d a vida
` e tera*' a impressão
' de que nao
' ha' co-
da vez que dizemos ou fazemos alguma coisa, escrevemos uma linha de poe'
Ii..
Tlaarvsronmações Na coNscIÊNc_I.a

meço nem fim, nem nascimento nem morte. De fato, nascimento e morte
acontecem a todo momento. Neste exato instante, estamos flutuando no
oceano de nascimento e morte. Quando, com conhecimento e sabedoria,
conseguirmos ver claramente o ciclo, não teremos mais medo dele. Sabere-
mos como nos deleitar flutuando no oceano de nascimento e morte. Ê* TRINTA E CINCO
Não deveríamos adiar nossa reflexão ou meditação sobre a morte. De-
vemos aprender a morrer a cada momento a fim de sentir o prazer de re-
/lmózdurecimemfo
nascer outra vez e outra vez. Temos que nos treinar para ver nascimento e
morte apenas como manifestações. Nascimento e uma continuação, mor-
te tambem e uma continuação em outras formas. A morte da nuvem signi-
fica também o nascimento da chuva. A natureza da nuvem e da chuva são Espaço, tempo e os quatro grandes elementos

realmente a natureza do não-nascimento e da não-morte, a natureza da São todos manifestações da consciência.


continuação, a natureza da manifestação contínua. - No processo da interexistência e interpenetração,
Nossa consciência armazenaclora amadurece a cada instante.

H TODO DHABJVLÀ, todo fenõmeno, e condicionado. Dharmas con-


_ dicionados são combinações de outros elementos. Uma flor, por
ez-templo, e feita dos elementos nuvem, raio de sol, sementes, minerais, e as-
sim por diante. No passado, mestres budistas ensinaram que há dharmas
que não são condicionados. Disseram que o espaço não e condicionado e,
portanto, e um dharma incondicionado. Mas nos sabemos que da mesma
,ƒ_.
forma que uma flor e feita de elementos não-flor, o espaço e feito de ele-
mentos não-espaço, assim ele também e”. um dharma condicionado. O úni-
co dharma que realmente pode ser descrito como “não-condicionado” e a
essência do nosso ser. É o que algumas pessoas chamam de Deus, e outras
1
chamam de nirvana. A essencia de nosso ser é a base de todas as outras for-
mações, assim como a agua e a base de todas as ondas.
“Os quatro grandes elementos” (mó:/aózløburzâzs), terra, agua, fogo e ar,
são as quatro energias do universo material. Terra e a energia da solidez.
Agua e fluida e penetrante. Fogo e calor e aquecimento. Ar e força que pro-
duz movimento. Essas quatro energias podem ser transformadas em outras
energias. Uma cachoeira pode tornar-se eletricidade e, portanto, luz. Não
devemos pensar nesses quatro elementos como separados ou independen-
tes. Eles dependem uns dos outros. As vezes, espaço e consciência são adi-

m__
1 O Txarisroxiviaçõzs iva i:oi-isciÊ.ivci.a Paiire ciivco: .a Naruxeza na riexzrnaoa I

cionados a esses quatro elementos fundamentais perfazendo assim seis ele- A consciência manifesta-se sob muitas formas. Consciência É energia
mentos. Algumas vezes, tempo e direção elevam a lista para oito. Todos os que colabora para formar terra, agua, fogo e ar, os quatro grandes elemen-
elementos, inclusive espaço e tempo, são manifestações da consciência. tos.íÊdÊ um dos elementos contem todos os outros. Não podemos cortar
Normalmente, acharnos que o espaço e algo vazio. Entretanto, os fí- 1-1 fl? 1 51 E cm pedaços e dizer que este pedaço não e aquele. Sabemos que
sicos já mostraram que, quando a materia e diluída, quando e decomposta este
_ P e HÇÚ 11'
' 1C-1111` todos os outros pedaços. Uma energia
- inclui
- - a outra, co-
ao máximo em seus elementos constitutivos, ela torna-se espaço. A teoria mo a .cachoeira que da energia para produzir a luz eletrica-_ Nosso corpo e
' I.r .| 1 ¡ 1

da relatividade nos diz que espaço ef. uma realidade com materia. Se não energia, bem como nosso pensamento. Cada energia tem influênçia 5gb,-E
houver espaço, não haverá materia. Se não houver materia, não haverá es- todas as outras. Isso ef interexistência.
paço. Espaço -¬ umifenõmeno aparentemente vazio _ e capaz de alterar N11 IÚÊHÍH 0CÍClf`-'flffllz O “princípio de identidade” diz que A e somente
ai matéria, um fenômeno aparentemente sólido. Ao olharmos para uma ga- A, e nao B. Uma flor so pode ser flor. Ela nao pode ser uma nuvem. Tal
|_' Ir .I-.I

' 2 ' - __. _ _ '__


lãxia, ela vai parecer curva. Colocando um galho dentro de um vaso de vi- principio baseia-se na noçao de que as coisas sao permanentes e tem um eu
dro cheio díagua, o galho vai parecer curvo ou quebrado. separado. O budismo parte da ideia do não-eu para nos ajudar a observar
De início, uma manifestação da realidade pode nos parecer como sen- profundamente a natureza das coisas. O não-eu e um aspecto da imperma-
A - . fx _ _ .
do o espaço, mais tarde porem poderemos ve-la como tempo. Tempo e rain- nencia. Embora a impermanencia seja normalmente compreendida em ter-
bem energia. O tempo faz o espaço e o espaço faz o tempo. Fora do tempo mos de tempo e o não-eu em termos de espaço, na realidade tempo e espa.
não pode haver espaço. Fora do espaço não pode haver tempo. Einstein dis- ço sao um, nao-eu e impermanência tambem são um. A única maneira clara
se claramente que espaço e tempo são dois aspectos da mesma realidade: de contemplar o não-eu e Ei luz da interexistência. A interexistência reco-
nhece-que A c B, que isto e tambem aquilo. '
Wzmasjaacas salzzr a montanha sem Hama, _ Lembremos a descrição do físico David Bohm sobre “ordem explíci-
:IJ cc . , . M I _ ` _ I '
sentar .aa z'mata'r.›cÍpcdra azul-cscfcrafcada, ta e ordem implicita _ Na ordem explicita, vemos as coisas como existin-
aprccšaaala calmamente cr rcmpa tecer cf fia de seda do fora e separadas de todas as outras coisas. Na ordem implícita, vemos
que cria a dzzacarãa chamada c.51;›aça.5 que todas as coisas repousam dentro das outras coisas. No mundo das par-
ticulas microscopicas, uma partícula e feita de todas as outras partículas. Os
O espaço e um aspecto da manifestação da realidade. Outrofaspecto fisicos modernos estão começando a compreender bem a realidade à. ma-
e o tempo. Achamos que certos fenômenos, como o inverno, pertencem neira do Aiuaramca/ea Sacra.
ao tempo. Na America do Norte, janeiro e considerado mes de inverno. A'interexistencia
' ^ ' e a interpenetraçao
- z- estao
- amadurecendo a todo mo-
Mas se viçajarmos para a Australia em janeiro, veremos que la e verão. O IÃIÊHÍÚ: 1 Ullfidflff-`C1H1€11t0, ou maturação (zxrpa/ea) significa a combinação
tempo manifesta-se na expansão do cosmo _ o chamado Ôig-baaga par- 1 muitos elementos para produzir um resultado. Para fazer uma sopa co-
E I

Ú _ _ _
tir do qual pensamos que o universo foi criado. O Íøig-ívang, a expansão Dcamos diversos ingredientes na panela, acendemos o fogo e esperamos.
do cosmo, só pode ser concebido em termos de espaço e tempo. Podemos Epois de alguns instantes, a combinação desses elementos produz algo de-
ver o tempo porque podemos tocar a expansão do cosmo. Podemos ver a äüioso para comermos. A maturação não acontece somente uma vez a ca-
expansão do cosmo somente porque podemos tocar o tempo. Tempo e es* a
cem anos. A maturaçao acontece a todo momento. A maturação da
.-'

paço são aspectos da mesma realidade, “uma realidade que se manifesta às Consciência armazenadora ocorre a todo momento. Todos os dias
- nascemos
vezes como tempo e outras vezes como espaço. Tempo e espaço interexisf novamente. _
tem. Não podemos separar um do outro. Ambos são manifestações Clã A consciência armazenadora amadurece de duas maneiras _ como
co ns ciência. - pessoa (o mundo dos seres sencientes) e como ambiente (o mundg ímn-u-
I .-
Taarisroaivraçoas Na coivsciñiacia

mental). Neste momento, podemos tocar o fruto amadurecido que esta em


nos, nos nossos amigos e no nosso mundo. Amanhã, esse fruto maduro se-
ra diferente _ melhor ou pior, dependendo de nossas ações individuais e
coletivas. No budismo, a ação (karma) tem três formas: corpo, fala e men-
te. Nossas ações de corpo, fala e mente, quando reunidas, criam as condi- Ê* TRINTA E SEIS
ções para a nossa felicidade ou o nosso sofrimento. Somos os autores de
nosso destino. A qualidade do nosso ser depende da qualidade de nossas
Nem I/iii; Nem Ir
ações anteriores. Isso chama-se maturação.
Algumas sementes demoram mais para amadurecer. que outras. Algu-
mas mantem a mesma natureza básica antes e depois de amadurecerem, Al-
Os seres se manifestam quando ha condições suficientes.
gumas são completamente diferentes antes e depois de amadurecerem. Po-
Quando ha falta de condições, eles não aparecem mais.
demos plantar uma semente musical. Antes dela amadurecer, não cantamos
Não obstantë, não existe vir nem ir,
bem e as melodias que compomos não são muito bonitas. A medida que
Nem ser, nem não-ser.
praticamos mais e mais, a semente amadurece, ocorre uma mudança e a
música que criamos torna-se mais melodiosa. O amadurecimento aconte-
ce a todo momento. Nosso corpo, nossa consciência e o mundo são frutos
dessa maturação.
A consciência esta no coração de todas as coisas. Espaço, tempo e os cc C ONDIÇÕES” aqui refere-se a causas; e condições. Anterior-
quatro grandes elementos são todos demonstrações da consciência. Todas mente, no Capítulo Dezoito, estudamos as causas e condi-
as seis tem natureza interexistente. Se olharmos profundamente uma, acha- ções que agora serão discutidas mais detalhadamente neste e nos dois pro-
remos as outras cinco. -Quando sabemos como transformar as sementes em ximos versos. A escola budista da Pura Manifestação relaciona quatro tipos
nossa consciencia armazenadora, temos o poder de criar e chegar a uma no- de condições que contribuem para as coisas se manifestarem. A causa basi-
va maturação. Pode-se pensar que uma nova maturação so acontece depois ca ou fundamental e chamada causa-semente ou causa como condição (be-
que deixamos este corpo, esta atual manifestação de nossas oito conscien- ta-pratyaya). Depois, temos a condição para desenvolvimento (aa'/9z_r`patz'-
cias. Mas se observarmos profundamente, veremos que a maturação ocor- pratyaya), o objeto como condição (alamâazaa-pratyaya) e a condição para
re a todo momento. Temos a capacidade de nos renovar a todo momento. continuidade imediata (samaaaarara-prazyaya).
Na verdade, as coisas não começam a existir.. O nascimento de um be-
É
be não e o início da sua existência. Ele estava ali o tempo todo e so agora
Começou a se manifestar nessa forma. Um pedaço de papel, antes de se ma-
nifestar, já existia nas nuvens e nas arvores. Se nos o queimassemos, ele não
|
deixaria de existir. Simplesmente voltaria ao estado latente. A fumaça iria
para as nuvens, e o calor penetraria na atmosfera. As coisas não vêm nem
' â vão. Elas se manifestam ou permanecem latentes.
A manifestação das coisas depende de causas e condições. Quando as
causas e condições não são suficientes, as coisas não se manifestam. As ve-
zes as coisas se manifestam e nos não conseguimos entrar erri contatocom
fiA 194 TRI*-NSFÚRMAÇÕES No CQHÊCÊÊNUÍA ___ PARTE cinco: .a r~i.a'1¬oREza na iiEaLin.›=ioE I

i elas. Outras vezes, as coisas estão apenas latentes e, mesmo assim, somos ca-
i. Por meio dos ensinamentos do Co-Surgimento Interdependente, po-
pazes de entrar em contato com elas. I-Iá dois mil e seiscentos anos, quan- demos ir alem das ideias de existência e não-existencia. Se estiver faltando
Iii
I
do Buda estava em Kapilavastu e Shravasti, milhares de pessoas que esta- uma só causa ou uma so condição, aquilo que deve ser manifestado perma-
vam lá na mesma epoca não entraram em contato com Buda. Entretanto, necerá latente. Vindo a Plum Village em julho, voce encontra muitos cam-
se quisermos, podemos entrar em contato com ele agora mesmo. pos de girassois e diz que os girassois existem. Mas se vier em abril, você
1
Quando há condições suficientes, um fenômeno (dharma) se mani- não verá girassóis e dirá que eles não existem. No entanto, os fazendeiros
i
I|
festa. Quando faltam causas e condições, ele não se manifesta mas perma- dos arredores de Plum Village sabem muito bem que os girassois já estão
nece como uma semente na nossa consciência armazenadora. Quando sen- ali. As sementes já foram plantadas, o solo fertilizado e regado, e todas as
timos raiva, isso não significa que a raiva esteja começando a existir naquele outras condições necessárias para os girassois se manifestarem estão presen-
momento. Ela já estava ali em forma de semente na nossa consciência ar- tes, exceto uma _ o calor de junho e julho. Quando a última condição es-
mazenadora. Então, quando alguém faz algo que nos aborrece, a semente tiver presente, os girassóis se manifestarão.
da raiva amadurece e começamos a elevar a voz, a ficar ruborizados, a tre- Quando causais e condições são suficientes, nos somos manifestados_
mer e dar outros sinais externos da raiva. Mas não seria correto dizer que -a Quando elas faltam, permanecemos latentes. Isso e verdadeiro para todo
raiva so começou a existir naquele momento _ ela já estava potencialmen- mundo _ pai, mãe, irmã, irmão, nos mesmos, a pessoa que amamos, a pes-
te presente na nossa consciência. soa que odiamos_ Quando morre alguem que amamos muito, a melhor coi-
Acontece a mesma coisa com o corpo e a mente. O corpo se manifes- sa que podemos fazer para abrandar o sofrimento e observar profundamen-
ta quando há condições suficientes. E quando estas não mais são suficien- te e ver que nada eí e que nada não e. A pessoa que amamos ontem parece
tes, ele deixa de se manifestar. Ele não veio nem está indo para lugar algum. não estar mais ali. Mas dizer que ela não existe mais e apenas uma constru-
Este ei o ensinarnento do não vir, nem ir. De onde eu vim? Para onde vou ção imaginária da nossa mente discriminado ra. Se soubermos observar pro-
depois que morrer? Estas são perguntas ilusorias. Quando há condições su- fundamente, seremos capazes de perceber sua presença.
ficientes, o corpo se manifesta. Quando não há mais condições suficientes, Não podemos dízer que você não existe antes que você tenha sido ma-
o corpo volta ao estado latente. Se examinarmos em profundidade, pode- nifestado. Depois de ter 'sido manifestado, também não podemos dizer que
remos remover as noções de vir e ir. você não existe. Existe apenas manifestação e não-manifestação. As noções
Precisamos ir mais alem das ideias de ser e não-ser, vir e ir, igtial e di- de ser e não-ser não podem se aplicar a você nem a qualquer outra realida-
ferente, nascimento e morte. Vir à existência e ir-se da existência consti- de.-Ser ou não-ser, não e a questão. O momento da morte não e realmente
tuem apenas um par de opostos. Na verdade, não existe vir nem ir. Buda e um momento de cessação, mas um momento de continuação. Se uma pes-
descrito comoialguém que veio da qüididade e vai para a qüididade, que soa tiver este tipo de compreensão, não terá medo quando estiver morrendo.
significa ã realidade tal-qual-ela-e. A realidade tal-qual-ela-e não e algo que
possa ser descrito como ir ou vir, como aqui ou acolá. Vir da realidade tal-
qual-ela-É significa vir de lugar nenhum. Ir para a realidade tal-qual-ela-e
significa ir para lugar nenhum. que verdadeiramente existe e não-vir,
não-ir, não-ser, e não-não-ser. Ser e não-ser apenas são categorias mentais
que usamos para tentar captar a realidade. A realidade e livre dessas noções.
A verdadeira natureza da realidade e nirvana _ libertação das noções. To-
das as coisas estão alem dessas dualidades _-Buda, você, a folha, a manga.
Tais ideias não se aplicam à realidade tal-qual-ela-é. _
Pxxre cmco: .a Naruitzza na iizatroaoe

E necessário tambem que as condições tenham continuidade para que


a semente do girassol se torne uma planta forte e ofereça um girassol. Se
houver uma interrupçao durante o processo de crescimento, o girassol não
se tornara uma realidade manifesta. Chamamos essa condiçao de continui-
Í I T l ¡z! I I

Ê* TRINTA E SETE df'-dfi 1m'-Ífillflffl Í-Wfimflflflfafa-prai)/aya), que também será discutida no pro-
ximo verso.
Causas

Quando uma semente faz brotar uma formação,


Ela e a causa primária. . i
O sujeito de percepção depende do objeto de percepção. v
Este e'. um objeto como causa.

T ODOS OS FENÔMENOS resultam de uma semente existente na


consciência armazenadora. Esta vem a ser a semente-causa, a
causa como condição. Se você plantar um grão de milho no solo, este pro-
duzirá uma planta de milho. A semente, ou grão, e a causa primária (beca-
prazyaya). Se uma semente de girassol cair na terra, será a causa primária pa-
ra a planta girassol ali brotar. Contudo, a causa primária sozinha não e
suficiente para produzir a planta. Solo, ar, luz do sol, minerais e água tani-
bem são necessários para que o milho ou o girassol se manifestem ttitálmen-
te. As outras condições necessárias para alguma coisa se manifestar são cha-
madas causas de apoio (ad/øiparr'-praryaya). Causa de apoio, a causa como
condiçãq de desenvolvimento, será discutida no proximo verso.
]á falamos sobre como sujeito e objeto dependem um do outro. O su-
jeito depende do objeto e esta- e a segunda condição, o objeto como causa
(alamôaaa-pratyaya). O objeto-causa e absolutamente necessário para que
se de a cognição. Não pode haver consciencia sem um objeto da consciên-
cia, e isso vale tambem para a consciência armazenadora, manas e todas as
outras consciências. So. éipossível havef consciência quando sujeito e obje-
to manifestam-se juntos. Não pode haver percebedor se não houver obje-
to a ser percebido. Se não houver objeto de percepção, não haverá percep-
ção. Se não houver o sujeito da percepção, não haverá percepção. _
vitara ciivoo: .a iaaruaazx na aaarioaoa 1

um obstáculo mas, depois, essas condições desfavoráveis podem nos trazer


mais sabedoria e força para alcançarmos um bom resultado. Se o ser huma-
no não enfrentar dificuldades, não amadurecerá. Assim sendo, as vezes,
condições desfavoráveis podem resultar em apoio para o crescimento.
Ê* TRINTA E OITO Durante a vida de Buda, seu primo Devadatta causou-lhe muitos pro-
blemas. Entretanto, Buda sempre considerou Devadatta como uma causa
Condições de apoio para o seu sucesso como mestre. Sem dificuldades, você não po-
de obter grandeza. Mesmo quando o sofrimento e as dificuldades que es-
tão dentro de você parecerem obstruções, elas podem se tornar causas de
apoio. O lixo se transforma em adubo, e o adubo e essencial para o cresci-
Condições favoráveis ou não-obstruidoras
mento das flores. Tanto as condições favoráveis quanto as obstruidoras po-
São causas de apoio.
dem ser usadas para um maior crescimento.
O quarto tipo de condição O quarto tijfio de condição é a continuidade imediata. Se um fenome-
E a continuidade imediata. no não existiu em um momento anterior, não poderá existir no momento
11.

seguinte. A condição do momento anterior e a condição para o momento


presente. Não há interrupção no fluxo. Não há corte. Se você arrancar um
pe de arroz quando ele começar a crescer, ele não poderá mais se desenvol-
ATERCEIRA CAUSA chama-se causa de apoio. Uma vez a semente ver. Muito embora todas as causas de apoio ainda estejam presentes _ a
plantada no solo, para que possa brotar e crescer, ela vai necessi- chuva, a luz do sol e a terra _, a condição de continuidade foi interrom-
tar do calor e da luz do sol, dos minerais que se encontram na terra, e da pida e o crescimento será estancado_ Se enquanto estiver usando o compu-
chuva. Todos esses tipos de causas de apoio pertencem a esta categoria de tador, a eletricidade for embora sem que tenha salvo o seu trabalho, você
condições. perderá tudo. A cada momento precisamos dar seguimento imediato ao
I-Iá muitos tipos de causas e condições para o fenomeno se manifes- momento anterior, sem interrupção, para que o resultado _ a manifesta-
tar. Há condições que parecem ser favoráveis e condições que não parecem ção _ aconteça. Isso e válido tanto no que se refere a nossa prática quan-
favoráveis. Estes dois tipos de condições de desenvolvimento _ favorável to a tudo o que se manifesta. A consciência armazenadora eas outras sete
e desfavorável _ são causas de apoio. Favoráveis ao desenvolvimento são consciências tambem necessitam desse tipo de continuidade a fim de pros-
as condições como: o sol, a chuva, os minerais e o cuidado do agricultor seguir se manifestando.
que ajtfda o grão de milho a crescer e transformar-se muna planta. Uma Toda formação, toda manifestação de um fenomeno, necessita pelo
condição desfavorável ao desenvolvimento pode parecer uma obstruçãoz menos dessas quatro condições para ocorrer _ a causa primária, a causa-
mas esta não resulta necessariamente em nocividade_ Suponhamos que al- objeto, as causas de apoio e a continuidade imediata.
guem queira assaltar uma casa, mas há um furacão que o impede de fazê-
lo. Devido a essa condição desfavorável, as sementes de cobiça que existem
no assaltante não puderam se desenvolver e manifestarem-se numa ação
prejudicial de roubo. '
Um obstáculo pode desempenhar o papel de causa de apoio. As vezes,
quando uma condição parece desfavorável, podemos considerá-la como
_ PARTE CINCO; A NATUREZA DA REALIDADE
ZOI

(4)nome e forma (:aamampa); (5)as seis bases (s/øadayaraaa); (6)contato


(.parsÍaa); (7)sentimento (vedar2a); (8)desejo (ri-r'r/ma); (9)agarramento ou
apego íapadana); (10)vir a ser íôfaava); (11) nascimento (jarrlg e (12)vell1i-
ce e morte (jara-maraâaam). Cada elo do ciclo faz surgir o elo que se segue
Ê* TRINTA E NOVE
_ a ignorância leva a formações nocivas, as quais, por sua vez, fazem sur-
Meure iérdadeira gir a consciência e assim por diante.
O primeiro elo do ciclo do Co-Surgimento Interdependente, ignorân-
cia (azadya), e a mente iludida. O mundo de nascimento e morte é criado
pela mente iludida. Esta mesma mente dá surgimento as ações volitivas er-
A manifestação interdependente tem dois aspectos _ rõneas. Estas, por sua vez, produzem sementes que formam a consciência.
Mente iludida e mente verdadeira. Por ser baseado na ignorância e que o ciclo de nascimento, velhice e mor-
A mente iludida e construção imaginária. te nos traz muito sdífrimento.
A mente verdadeira e natureza plena. ~- Existe também um mundo condicionado pela mente verdadeira. Este
mundo tem luz do sol, canto de pássaros e vento que sopra nos pinheiros _
exatamente como no mundo que vemos ao nosso redor _~porem ele não
_-1

tem ir e vir, ser e não-ser, igual e diferente, nascimento' e morte. O mundo


,C

__
. I'
'ez¡-
que tem a mente verdadeira como sua semente-causa e o mundo do Avaram-
Aiwiuiresrxçáo INTERDEPENDENTE _ manifestação de todos os Í .-

-E

J. saka Sacra, onde o um engloba o todo, onde o medo não existe. A mente ver-
fenomenos _ deverá ser vista como o resultado de ambas as
dadeira e o meio para compreendermos o não-nascimento e a não-morte.
I mentes, iludida e verdadeira. Mente iludida e quando a consciência está so-
L
Muito do que se tem dito sobre o ciclo do Co-Surgimento Interde-
brecarregada de ignorância, ilusão, raiva e medo. Mente verdadeira eÍ a
pendente baseia-se na ignorância. E muito pouco do que tem sido falado
consciência que foitransformada de modo a ter capacidade de ver e alcan-
teve como base a Mente Verdadeira. Buda disse que, quando acaba a igno-
çar a realidade suprema. Se a manifestação baseia-se na mente iludida, ha-
rância, surge a compreensão, exatamente como quando a noite termina a
verá muito sofrimento e confusão. Quando vemos pessoas que, na vida' diá-
luz do dia desponta. Se colocarmos um ponto final na ignorância, a com-
ria, manifestam muito sofrimento, muito odio, dor e tristeza ef sinal de que
preensão se dará. No ciclo de causas e condições baseado na compreensão,
essas manifestações foram baseadas na consciência coletiva iludida. Um
não há ações volitivas que causem sofrimento. A natureza do despertar é a
grupo de pçessoas que vivem juntas felizes, sorrindo, amando e apoiando
energia que faz surgir as ações volitivas que trazem sabedoria. A consciên-
umas as outras, manifestam uma consciência coletiva verdadeira. Elas sa-
cia iludida produz o corpo e a mente que sofrem. A sabedoria produz o cor-
bem como observar e entrar em contato com as coisas à luz da interexistên-
po e a mente de um Buda.
cia e da interdependência. Essa maneira de perceber as coisas abre as por-
Os ensinamentos do Co-Surgimento Interdependente, portanto, de-
tas para a dimensão suprema. H
veriam incluir um ciclo baseado na mente verdadeira, assim como um ci-
A mente iludida _ que resulta em falsa percepção e sofrimento -
clo baseado na mente iludida. O ciclo que se baseia na compreensão e o
origina um ciclo de doze ~ca`u_sas e resultados, coletivamente denominados
mundo de Aizfaramsaka _ sol, flores, animais, florestas e todas as coisas ma-
“nascimento e morte”. O termo sânscrito para esse ciclo e pracz'tya-samur-
ravilhosas _, não o mundo baseado na ignorancia em que todas essas coi-
pada, Co-Surgimento Interdependente. Os doze elos são: (1)ignorãncia
sas são vistas como insatisfatórias, restando sempre o desejo de que haja al-
(aw:`dya); (2)formações ou impulsos (raras/cara); (5)consciência (ca`;`ñana);'
guma outra coisa mais.
l 201 Taausroxivixçõzs N.-i consciência
PARTE CINCO; A NATUREZA DA REALIDADE

A mente iludida e causada e condicionada. A mente verdadeira tam- nos da guerra do Vietnã, um homem idoso nos contou que durante mui-
bem e causada e condicionada. O mundo que Se lflflflífosffl bflfififldü na tos anos só conseguia ver um vietnamita como uma ameaça, um inimigo.
mente iludida é cheio de sofrimento. O mundo que se fflflflífoãtfl bflfififidü Logo que chegou ao retiro e viu a mim, um monge vietnamita, achou que
.|. 1 .-f I P' ' “_
na mente verdadeira e um mundo de felicidade e pe-Lt. Não o I'1fi`CÊS5Hf1U df* eu era um inimigo. Mais tarde, graças a prática, descobriu que isso não era
xar o mundo que surge da mente iludida para alcançar o mundo que pro- verdade.
vem da mente verdadeira. O mundo da mente verdadeira se revela quando Outro aluno certa vez conto u-me que podia aceitar que a vida e a mor-
o mundo da mente iludida está latente. Temos apenas que mudar a direçao te ocorrem a todo momento diariamente _ que vida e morte interexistem
'
de nosso olhar para que o maravilhoso mundo do Aaatamsa/ea, o m U ndo _, mas queria saber se era possível continuarmos depois que nosso corpo
baseado na mente verdadeira, apareça. _ fosse desintegrado. Perguntou ele, “Como pode, depois de desintegrado, o
Muitos sutras e comentários, tais como o Treatzse ea t/ae Awa/eeamg cf cerebro pensar? E, por conseguinte, como podemos conceber que haja uma
Faith: de Asvaghosa -' falam de “duas portas” _ a porta do nascimento e mor-
_ continuação?” Se você observar o momento presente profundamente, pode-
re e a porta da realidade tal-qual-ela-e. Essas duas portas equivalem as di- rá ver. Cada um de_-,meus alunos me carrega dentro de si. Agora mesmo, na
mensões historica e suprema. A vida tem duas faces: uma e do nascimento; cidade de Moscou, alguem está respirando e sorrindo. Essa pessoa sou eu.

morte e sofrimento, a outra e› a da felicidade,
' ' ` . » qua_l_- e l af
da realidade.._=t__al -e. O
O ar está cheio de sinais que nos são enviados via satelites. Se temos
mesmo sol brilha todos os dias, quer estejamos hoje aiegres e aman a so ren-
- - ' ' ¬ "
uma televisão ou um rádio, podemos ajudar esses sinais a se manifestarem.
do. Se o nosso coração estiver pesado, o mundo Será o do Sofflmfimü- SÉ Ú Mas quando não temos TV nem rádio, os sinais deixam de existir? Buda
nosso coração estiver leve, aberto e livre de formaçoes internas, o mundo se- disse: “Quando as condições são suficientes, uma coisa se manifesta e você
rá belo. A mente verdadeira condiciona o mundo da felicidade, da realida- a considera existente. Quando as condições não são suficientes, a coisa não
de tal-qual-ela-e, porque a mente não foi capturada pelo apego. se manifesta e você acha que ela não existe.” O -importante e a manifesta-
. - 1- ` ci
Os ensinamentos da Pura Manifestaçao descrevem a realidšgie cqm ção. Tudo se manifesta a partir da nossa consciência armazenadora indivi-
_ ff ” ' a aaa e a
tendo três naturezas. A suprema natureza plena ÍWÍÍÍPÉWW -W _ __ dual e coletiva. Mas, por estarmos presos a noções de ser e não-ser, não po-
base a que nada falta. E o nirvana, o reino da realidade tal-qual-ela-e_.__A n_a- demos tocar a dimensão suprema. Percebemos as coisas de acordo com os
-
tureza construída” (parzëaétizta ' scaelaaaa) significa
' ' que foi` cons_truí a e_ 0 padrões da nossa mente, as formações mentais que se manifestam a partir
_ , - - '“ ima *inaria
pensamento. Esta e a mente iludida, o mundo da construçao g _ das sementes de nossa consciência armazenadora, e assim sendo vemos as
. - A '
Mente iludida Qpaiaf/ea@äz'ta) e a que foi capturada pela ignorancia, desejo 6 coisas distorcidas.
raiva e está, portanto, condicionada a dualidade e as noções do ou É dfi Püf' Por isso e tão importante meditar sobrenossas percepções. Criamos
- z - f b ser e näo*
manência. Sua natureza e obscura. Nao e leve e clara. Ela conce e um mundo cheio de ilusões e, como resultado, sofremos no dia-a-dia. A so-
Q _

ser, vir e ir, igual e diferente, nascimento e morte. _ lução e aprendermos a enxergar com os olhos da sabedoria, com os olhos
A mente iludida provem da maneira de pensar que se baseia nos pa- da mente verdadeira, com os olhos de Buda. A mente verdadeira surge da
res de opostos, noçoes ... e ideias.
‹ - E" incapaz
- ` al'dade
de tocar a re i _ em-si-mes-'
_ natureza plena de realidade. Quando temos capacidade para perceber as
ma Pelo fato de nossa mente iludida inventar, criar e construir coisas qllfi coisas clara e diretamente, quando podemos tocar o reino das coisas-em-si-
não Podemos tocar na realidade, viveffloã Ho 1111-lllfilo Cla CU1'15UfUÇãÚ Ímagk mesmas, nossa mente torna-se verdadeira.
nária Tudo o que percebe-mos está no reino das representações, e não no A mente verdadeira e radiante e sábia. Ali estão a compaixão e a com-
_ - ` ,f ' ` i mesmas.
reino da realidade tal-qual-ele os Ú IÍÊIHÚ (135 551535 'Em 5 _ _ _ Ode preensão. Quando vemos com os olhos da mente verdadeira, o Co-Surgi-
___ _ . ,ii z-'

Se a sua mente esta obscurecida por ldolflfi ou Í1ÚÇ0¢5› VÚCÊ P mento Interdependente revela o maravilhoso mundo do Acfatamsalea, onde
ver di re t a mente as coisas - I-Iá muito tempo, durante um retiro para vetera- tudo e ieve, alegre e agradável. O Co-Surgimento Interdependente pode
Taansroxiviaçõas Na consciencia

juntar um bom número de pessoas que tenham compreensão e amor, e um


pequeno paraíso pode ser construído para deleite de cada membro dessa co-
munidade. Imagine muitos Budas e bodhisattvas chegando para construir
juntos um mundo cheio de luz do sol, de alegria e paz. Visualize uma co-
munidade em que as pessoas são compreensivas, aniáveis e não estejani su- ÊÍ' QUARE N TA
jeitas a percepções errõneas. Essa e a atmosfera maravilhosa do Avatamsa-
ea, a manifestação interdependente da sabedoria (prajtša) e não da mente Natareza Coastraida,
iludida Qparikaévttal.
Quando pessoas com a mente iludida se reúnem, manifestam sofri-
Interdependente e Plena
mento, raiva e odio. A manifestação coletiva que elas criam e o inferno. E
por isso que praticamos a observação profunda a fim de transformar a ilu- A natureza construíd a enche a mente com sementes de ilusão,
-
são, a raiva e o odio. O objetivo da prática não e por fim a uma vida cheia Provocando o tormento do Samsara
de sofrimento, mas criar uma vida cheia de alegria e paz. ' A natureza plena abre a porta da sabedoria
|r"-
Para a esfera da qüididade (as-coisas-tais-como-são).

_ Nossa cowscitivcix coivsrrioi e imagina rede ripe de ¢U¿,a_ A


natureza construída (parz`›%a§_';›tta svaboaea) divide 3 realidade ,_,_.m_
partes separadas: isto e diferente daquilo, eu não sou você. Sua função e djs
criminar _ eu e outro, dentro e f ` ' -
N______ _________________ _ __________ ___ ______ ______qi___'_a_____i;__i:_‹;j_‹:_-_ Í indo, nascimento e morte.

.r
aumentam nossa j1u5ãU_ Nossas Ena ia d h.;“_n5tru:;@es imaginarias que
essas construções. Com esse zipü d__ É___Ê__ e_ H Ífossao deter_minadas por
______,_____ ___g_________ _________ ___ ______ ___ _________________ ____n_q noçao, imamnaçao e constru_

ciência, causando assim o tormento do Sfzhtnsllíao ¶ue_estao_na nossa cons-


É
sofrimenr.¿,_ O jnfflno É Construídü ___ , H a, o cic o vicioso de ilusao e
A natureza plena (mis/9 axa PM; nos- * -
cia de tudO_ É _________ ___ ______ __Â:'_¡'_____f__”_2-ff .wa atzpl e aquela que vê a interexistên-
muito no um, e 1-¿.cUnh______ ______ Éšlã 1__1_~1_3*_s____aç:_ en_xergf=1r o um no muito _e o
_______________________ _ ______ ___ ___________ _________ ___________ ascimento e morte, nem ir e
vir.
qüididade (as-coisas-tais-comÚ_5ã_-D) ___ _ 1:, o _p1aravilhoso mundo da
a porta da libertação. Quando foI'1'I1o5 _::*"Ê ar dg,-3 ualmente, abrindo-11,35
re;L[¡dade_ püderfimüs __b_____ _____________ ___ __i33___Tes_ e tocar a natureza plena da
coiSa5_ta¡S_cümU_Sãü ü______ (___ __ ___ _ So e oria e nos instalar no reino das
= o a ilusao e de todo sofrimento.
Taarassoaivraçõzs _1-I.fi. co_Nsc1Éi-icIa _

. z " r um
Juntar um bom numero de pessoas que tenham compreensao e amo , e
pequeno paraíso pode ser construído para deleite de cada membro dessa co-
- - - ' n truir
munidade. Imagine muitos Budas e bodhisattvas chegando para CD S
juntos um mundo cheio de luz do sol, de alegria e paz. Visualize uma co»
¡_! . z

munidade em que as pessoas sao compreensivas, amaveis e nao estejam su


I n-' ' _
H» QUAREN TA
jeitas a percepções errõneas Essa É a atmosfera maravilhosa do Ammmsóz-
ka, a manifestação interdependente da sabedoria (próynóz) e nao Cla mfifltfi Ncztureza Comtruz'dz:z,
iludida Qparikofiäéra).
Quando pessoas com a mente iludida se reúnem, manifestam sofri:
_
Interdependente e P/ma
mento , raiva e ódio _ A manifestação coletiva que elas criam e o inferno. E
. ` - - ilu- A natureza construída enche a mente com sementes de ilusão,
por isso que praticamos a observaçao profunda a fim de transformar ah _
_ . E * .i-' J' A
são, a raiva e o odio. O objetivo da prática nao e por fim a uma Vldfl C $19- Provocando o tormento do samsara.
de sofrimento, mas criar uma vida cheia de alegria e paz. . A natureza pfena abre a porta da sabedoria
*E
Para a esfera da qüididade (as-coisas-tais-como-são)_

Nossa coivsciiflíncia coNsTRÓ1 e imagina rodo tipo de coisa. A


_ - natureza construída Çporièoéoáta svózbfaózm) divide a realidade em
partes separadas: isto é diferente daquilo, eu não sou você. Sua função e dis-
criminar - eu e outro, dentro e fora, vindo e indo, nascimento e morte.
Nossa tendência e passar a vida diária fazendo construções imaginárias que
aumentam nossa ilusão. Nossas energias de hábitos são determinadas por
sf _‹

essas construções. Com esse tipo de discriminação, imaginação e constru-


ção, regamos todos os dias as sementes de ilusão que estão na nossa cons-
ciência, causando assim o tormento do samsara, o ciclo vicioso de ilusão e
1 sofrimento. O inferno é construído por nós.
A natureza plena (m's›5_;ä.‹zm›':z¬.óz szzaffl/mao) e aquela que vê. a interexistên-
cia de tudo, é viver de um modo que nos faça emrergar o um no muito e o
muito no um, e reconhecer que não existe nascimento e morte, nem ir e
vir. Aprendendo a ver as coisas dessa maneira, o maravilhoso mundo da
qüididade (as-coisas-tais-como-são) se revelará gradualmente, abrindo-nos
a porta da libertação. Quando formos capazes de tocar a natureza plena da
realidade, poderemos abrir a porta da sabedoria e nos instalar no reino das
coisas-tais-como-são, livres de toda ilusão e de todo sofrimento.
z

__ .
296 Taansroaoraçõzs Na coisisciãisiciz.

Se continuarmos vendo as coisas de acordo com as noções que se ba- _ NOTAS


seiam nas ide'-ias de eu, de permanência e de pares de opostos, como ser e
i

não~ser, estaremos continuando a regar as sementes de ilusão que estão den- 1. Para uma discussão em profundidade b C
l
tro de nos e a sofrer no ciclo do samsara. Assim sendo, torna-se essencial pendente, consulte o livro de Thichsflllfiãto H§nÊurä/iÉeIlÍ]liíz-l.rntÊlÍ;-
_ 1 Í' 0 E
mudarmos nossa maneira de ver. Essa nova maneira de ver e paroranmz Badd/aos YE=.‹czc/azkzg, cap, 27 _
smbløowz -P- a natureza da interdependência. Mudar o modo de ver, apren-
der a observar a natureza interdependcnte da realidade, é a prática básica.
1:I=I---l
m_-.'___a-
2- Mem* Khfiflh Hr (1067zi 142).
A pro:-rima seqüência de versos nos oferece meios de aprender como prati-
il car para obter essa percepção da realidade. 3- Vir o S/auroflgózmóz Sâzmad/1`S
z uma, tra C1 uzido por John McRae (Berke-
I
lcyi CAI Numata Center, 1998)_
JI
l

'L 4° Ver T/95 Dffimõffd Tfvfzr Cmt: rbroug/9 [[1asian: Commenraršas ao the Pr¿z_
:ií jñ.‹z_poromz`rú: Dzlézmoz-rd Sama, de Thich Nhat Hanh
T
5

5. Ver “True S ource 1:1 , em C.allMf Évy My Yifwe Names.'.T/as Co[Zerr@dP,_o¿-m,


ii

afT/az',‹;~h Nføzzr Hank. (Berkeley, CA: Parallax Pres 1999


S› ). p. 116.

.f

1'

2.13
rw PARTE VI

O Cózmirz/ao da Prática l

¡"-L.

Os vaasos Quaaaivra E UM a CINQUENTA descrevem e caminho da práti-


ca. A meditação sobre a natureza da interdependência (gbarcranzva) pode
transformar a ilusão em iluminação. Treinando diariamente a observação
profunda, fazendo uso da plena consciência para verter luz sobre a nature-
za interdependente das coisas, nos libertaremos da tendencia de concebe-
las como permanentes e como tendo um eu separado. Sob a claridade des-
sa luz, poderemos ver que o mundo de nascimento e morte, o mundo do
samsara, tem a mesma base que o mundo de qüididade (as-coisas-tais-co-
mo-são), o nirvana. Samsara e nirvana não estão separados um do outro.
Eles são duas dimensões de uma mesma realidade. Se formos capazes de
observar em profundidade ,uma única formação pertencente ao mundo
samsárico, poderemos ter acesso ao terreno da qüididade.
. A finalidade da meditação e tocar o solo do não-nascimento e da não-
morte, o reino da qüididade. Um discípulo de um mestre zen do seculo Xl
certa vez perguntou-lhe: “Onde posso tocar a realidade do não-nascimen-
to e da não-morte?” O mestre respondeu: “Diretamente no mundo de nas-
cimento e morte.” Tocando a onda profundamente, você toca a água. To-
cando o mundo do samsara, você toca o mundo da qüididade. As
ferramentas de que precisannos para tocar o reino de qüididade nos são for-
necidas aqui mesmo no samsara.
ZCI

|
rw QUARENTA E UM
O Cózmin/ao da Pm'tz'cóz

Meditar sobre a natureza da interdependência


Pode transformar a ilusão em iluminação.
Samsara e qiilididade não são dois.
São uma e a mesma coisa.

UANDO É/TVEi\fIOS PLENALÃENTE CONSCIENTES, POClE!I1`1US VE1' 3. 113-'

tureza interdependente no coração das coisas e transformar nos-


sai ignorância em conhecimen to. A ilusão se torna iluminação _ vemos que
o que anteriormente achávamos ser o samsara na realidade nada mais e do
que o nirvana, o reino da qüididade. Ter plena consciência da natureza da
interdependência é a chave para essa transformação. _ H
Os versos Trinta e Nove e Quarenta nos apresentaram as três nature-
zas. Os ensinamentos da Pura Manifestação dizem que todos os fenomenos
têm uma ou mais de três “naturezas” (smš/øawz) _ a natureza da constru-
ção imaginaria e discriminatoria (parz'zêa§aira); a natureza da interdepen-
dência (pararamrra) ; e a natureza plena (ni:/flpaflna), isto é, a natureza da rea-
lidade suprema. A maior parte do tempo operamos dentro do mundo da
construção imaginária. Vemos as coisas nascendo e morrendo, surgindo e
desaparecendo, um ou muito, vindo e indo, e, em nossa mente, atribuímos
essas qualidades a realidade _ mas elas não são a realidade em-si-mesma.
É por isso que são chamadas de “construções imaginárias”. É por causa da
nossa falta de compreensão que a realidade toma essa forma. Se estamos
tristes, achamos a lua triste. Mas a natureza da lua em-si-mesma não É tris-
te. A tristeza que atribuímos a ela ef. uma construção da nossa propria men-
212 Taarisaoamaçõas iva consciência
PARTE sais: o ciaiviiivi-io na rarírica 21

te. Estamos aprisionados no mundo de ignorância, nascimento e morte


tra maneira de compreender ou descrever o nirvana. Imp ermanência e não-
porque tomamos esse mundo imaginário construído por nossa mente co-
eu pertencem ao mundo fenomênico; nirvana pertence ao mundo numê-
mo se fosse realidade.
nico. Os Três Selos do Dharma, impermanência, não-eu e nirvana, são a
O oposto do mundo da construção imaginária e “natureza plena”, a
chave para a compreensão dos ensinamentos da Pura Manifestação.
natureza das coisas-tais-como-são, a que não e construída por nossa men-
A primeira chave usada para abrir a porta da realidade relacionada
te nem está suj eita a conceituação. No reino das coisas-em-si-mesmas, não
com o tempo e a impermanência. Não-eu, a segunda chave, É usada para
hã nascimento nem morte, um nem muito, vir nem ir, existência e não-
abrir a porta da realidade referente ao espaço. Dizem que são diferentes
existência. E a dimensão suprema, o reino de qüididade, o nirvana. Como
mas, na verdade, tempo e espaço são uma coisa so. Um não pode existir sem
podemos abandonar o reino da construção imaginaria e entrar no nirva-
o outro. A terceira chave, nirvana, e a natureza plena, a realidade de não-
na? Pela meditação sobre a natureza da interdependência, pela pratica de
nascimento, não-morte, não-vir, não-ir, não-um, não-muito, não-existir e
pasraraarm. 1
não-não-existir. Este é o mundo do Co-Surgimento Interdependente, on-
Póirrzrmzrróz e o processo de aprender e treinar nos mesmos a observar
de nada e uma enridade separada, permanente. Para tocar o nirvana, ver a
em profundidade a natureza da interdependência. Quando vemos a natu-
natureza do Co-Surgimento Interdependente da realidade, temos que to-
reza interdependente das coisas, não somos mais capturados pelas noções
car a impermanêncía e o não-eu. H
de dualidade. Vemos que samsara e qüididade são um e não dois. Com a
A natureza da construção imaginaria esta associada a crença ilusoria
mente iludida, vemos somente o samsara. Mas quando a nossa mente e pu-
de permanência e de um eu separado. Vemos o mundo ao nosso redor co-
rificada ela se torna verdadeira e o samsara é transformado em qüididade,
mo permanente e 'constituído de entidades separadas, cada uma delas ten-
nirvana. Se o chão sob nossos pes e ceu ou inferno depende inteiramente
do um eu separado. É por isso que, quando começamos a praticar, necessi-
da nossa maneira de ver e caminhar. Samsara e 'qüididade têm o mesmo
tamos usar as duas chaves, a da impermanêncía e a do não-eu, para
chão _ o chão da nossa consciência, nossa mente. Pózrózrrziarróz é a pratica de
vislumbrar o Co-Surgimento Interdependente que é a base de todas as coi-
observar em profundidade a natureza da interdependência e da intereiiis-
sas. A maneira de praticar e acender a lãmpada da plena consciência e viver
tência de todas as coisas. Com esse conhecimento, seremos capazes de
todos os momentos sob sua claridade. Qualquer coisa que vemos, ouvimos
transformar a ilusão em iluminação.
ou tocarnos, acendemos a luz da plena consciência para enxergar a nature-
Interdependência significa que uma coisa so pode surgir_cont'ando
za interexistente do objeto da nossa percepção.
com outras coisas. O surgimento de uma flor depende da semente, das nu-
i Olhando uma flor a luz da plena consciência, podemos facilmente ver
vens, da chuva, do solo e do calor do sol. Todas essas coisas são diferentes
que seu surgimento depende do sol, da chuva, do solo e assim por diante.
da flor, mas a flor depende delas para existir. Essa e a natureza interdepen-
Podemos fazer o mesmo com os seres humanos _ olhando para os nossos
dente de unia flor. No universo, todas as coisas têm essa natureza interde-
pais ou 'para os amigos, vemos também que suas naturezas co-surgem' in-
pendente. Observar em profundidade, vertendo luz sobre a natureza inter-
terdependentemente. E necessario termos a compreensão do Co-Surgi-
dependente de tudo o que percebemos, 'e o meio de transformarmos a
mento Interdependente quando eiiaminamos os traços psicológicos nossos
ignorãncia e despertarmos para o entendimento.
e_os dos outros. Se uma pessoa está sempre raivosa ou triste, nos sentimos
i E observando profundamente a impermanêncía, o não-eu e a intere-
incomodados ao seu lado, e nossa tendência É culpa-la ou nos esquivarmos
iustência que emtergamos claramente a maneira como as coisas são. O Su-
dela. Mas uma vez que compreendemos as raízes da sua raiva e tristeza, ven-
tra em t/na Dharma Saózli ensina que, quando tocamos a natureza imperma-
do que se manifestam em conseqüência de outros fatores, podemos aceita-
nente e sem-eu dos fenômenos, podemos tocar o nirvana. A natuffiza
la, olhã-la com compaixão e nos dispor a ajuda-la. Naturalmente, o sofri-
intere:-ristente ou o Co-Surgimento interdependente de todas.as coisas e ou-
mento da outra pessoa, tanto quanto o nosso, sera menor. Esse é o fruto
I .-' A

TRANSFDRMAÇUES NA CÚNSCIENCIA ii-safra sais: o caiviiivno na aaarica

que pode ser imediatamente colhido graças a ideia do Co-Surgimento In- dulgência. Ha historias dele sorrindo enquanto seu corpo esta sendo serra-
terdependente. - do em pedaços. Quando eu era jovem e li as Jatakas, não conseguia enten-
Quando vemos uma criança bem-comportada, e facil compreender der como um ser humano podia ser tão paciente e cheio de perdão. Eu era
que a fonte e o motivo do seu bom comportamento se deve a um ambien- muito jovem para entender que Buda podia agir dessa maneira porque ti-
te doméstico e a uma vizinhança sadios. E ainda mais importante ver a na- nha os olhos da compreensão e via as causas e condições que haviam leva-
tureza do Co-Surgimento Interdependente numa criança cruel. Assim co- do a pessoa que o estava ferindo a crueldade e falta de humanidade. “A ha-
mo o bom comportamento, os motivos da crueldade de uma criança bilidade de ver” é a materia-prima que conduz um bodhisatrva a grande
podem se encontrar na família, na sociedade, na escola, ou nos amigos e compaixão. Alguem que não observe em profundidade e ainda não tenha
ancestrais. Se não vertermos a luz do Co-Surgimento Interdependente so- experimentado grande compaixão, não podera entender o grau de com-
bre o caráter da criança, ficamos com raiva ou medo e a culpamos. Deve- preensão de um bodhisattva. Mas quando, ao observar em profundidade
mos nos esforçar para compreender sua natureza interdependente e, assim, sentimos, ainda que pouquinho, o sabor da grande compaixão, podemos
compreendê-la, aceita-la, ama-la e ajuda-la a transformar-se. compreender e angar aqueles que são cruéis e irresponsáveis.
Se olharmos a pena de morte a luz do Co-Surgimento Interdependen- Durante a guerra do Vietnã, muitos monges, monjas e jovens leigos
te, veremos que essa punição extrema não e razoável. A pessoa comete um prestaram assistência as vítimas da guerra. Nossos jovens assistentes sociais
crime grave devido, entre outras coisas, às sementes herdadas de seus ances- foram muito motivados pelo amor. Eles viam seu povo e sua terra sofrendo
trais e das que foram plantadas durante sua vida. A pessoa esteve exposta a e queriam ajudar. O ambiente no qual trabalhavam era cheio de desgraça e
varios ambientes, e seus pais, parentes, amigos, educadores, autoridades e sofrimento. Um lado pensava que eramos comunistas e queria nos matar.
a sociedade não fizeram o suficiente para ajuda-la a transformar as semen- O outro lado pensava que eramos simpatizantes do inimigo ou agentes da
tes nocivas que recebeu. O amadurecimento dessas sementes criou uma tre- CIA. Muitos servidores morreram durante esse período de trevas. Em 1966,
menda força dentro dela, levando-a a matar, estuprar, ou perpetrar crimes depois de já ter deixado o Vietnã, sofri muito ao receber notícias sobre ma-
graves. Quando pensamos que não há mais nada a ser feito com essa pes- tanças. Eu não sabia se os nossos assistentes sociais seriam capazes, na
soa senão matã-la, manifestamos nossa impotência coletiva. Como socie- própria mente, de reconciliarem-se com os assassinos. Escrevi este poema:
dade, estamos derrotados. Devemos examinar profundamente todas as cau-
sas e condições que colaboraram para o criminoso ser o que é, de nioido a Premete-me,
fazer brotar a compaixão em nosso coração e assim ajudarmos a transfor- ` promete-me isto /seje,
mar as sementes nocivas que estão nessa pessoa bem como em nossa cons- promete-me agem,
ciência colçtiva. enquanto e sol está no ceu,
Natuialmente, e muito difícil perdoar a pessoa que nos fere. Nossa exatamente na zâmfite,
primeira reação e de raiva e desejo de vingança. Sofremos. Mas, se formos PTOWÍEFJ-mf.”

capazes de analisar profundamente à luz do Co-Surgimento Interdepen-


dente, poderemos ver que, se tivessemos sido criados, ou tivessemos tido Mesmo que eles
experiências iguais as que o__ criminoso teve na vida, não seríamos muito di- ` fiifrtm veeegmeemente
ferentes. Quando temos essa compreensão, podemos mesmo começar a com um mente de ódio e wÍele`m¬z'.‹z,'
pensar em protegê-lo em vez de sentir raiva e desejo de vingança. mesmo que 0 parem e amtzssem
Na tradição budista há muitas historias, chamadas Jatalšas, sobre as vi- como .cz um verme,
das anteriores de Buda. Como bodhisattva, ele praticou compreensão e in- mesmo que e mtttilem eu e retalfaem,
216 Taarisaoarviaçoiss iva coivsciáivcia
mara sais: o caiviiivno na raiárica 21

[emore-se, irmao, ciedade ou ambiente _ a compreensão surge naturalmente. Com a com-


Íemore-se: preensão há empatia e reconciliação. A compreensão sempre leva ao amor.
o /øomem rza"o e' aosso mimzgo. Quando temos amor e compaixão, não temos odio e não sofremos. Medo,
ansiedade, tristeza, desespero e desesperança É que nos fazem sofrer. A ca-
A a'šm`ca coisa qae oafe a persa e a compaixão _ pacidade de ver a natureza interdependente de todas as coisas traz compai-
Irroeiccz'i›eÃ,. sem limites, mcorzdtcioaal xão ao nosso coração e nos poupa de sofrer, mesmo quando as pessoas nos
O rídtiojamarfs deixara você traem e nos fazem algum mal. Quando somos capazes de amar os outros,
enfrentar a oesta ao /aomem. apesar de suas iniqüidades, já somos bodhisattvas.
A compaixão cresce em nos a partir dos menores atos. Se, enquanto
Um dia, qaaado você encarar sozmbo essa oesta, praticando meditação andando, vemos uma minhoca no chão a nossa fren-
com a saa coragem mtacta, seas ol/aos ooadosos, te e paramos para não pisar nela, sabemos que a compaixão já habita em
impertaroaoešs ' nos. Se praticamos a observação profunda e vivemos nossa vida diária com
(mesmo que magaem os oója), a mente desperta? a compaixão crescerá dia a dia. No Lotus Sutra há uma
do sea sorriso ... frase que engloba isso; “Olhar todos os seres com olhos de compaixão.”
orotara' amaflor. Quando vemos árvores, rochas, nuvens, cÉu, humanos e animais com olhos
_ E os que o amam de amor, sabemos que a compreensão já está ali. Compreensão, amor e
o aoistarao compaixão são um. A compreensão É o fruto de observar profundamente
por dez mil mrmdos de nascimento e morte. vertendo a luz da plena consciência sobre todas as coisas.
Por meio da prática de observar em profundidade, podemos ver a na-
tureza interdependente de todas as coisas e transformar a ilusão em ilumi-
Sozm/ao aooameate,
nação. O objeto da mente iludida É o samsara. O objeto da mente plena,
segatrei com a caoeça mclmada, -
verdadeira, É o nirvana. Quando, por meio da prática de parataatra, somos
saoeado que o amor tomou-se eterao.
capazes de transformar a mente iludida em mente verdadeira e ver a natu-
Na ardaa e longa estrada,
reza interexistente de todas as coisas, alcançamos o reino da qüididade, o
o sol e a /aa 'F "
reino das coisas-em-si-mesmas. Se sabemos caminhar com firmeza e liber-
corztimiarão a art]/var.
dade, o chão sob nossos pes será o cÉu. Se caminhamos tristes, com medo
e raiva, estamos caminhando no inferno. Tudo depende da nossa maneira
Anteq de escrever esse poema, passei um longo tempo examinando tu-
de andar, da nossa maneira de ser.
do profundamente. Se, na hora da morte, não estamos reconciliados com Ao observar nascimento e morte em profundidade, você vê a nature-
os nossos assassinos, É extremamente doloroso morrer. Quando nos senti- za do não-nascimento e da não-morte. E como a água e a onda. Pensamos
mos reconciliados e temos uma certa compaixão por eles, sofremos bem que há um momento em que a onda começa a existir e outro em que ela
menos. A imolação de uma de minhas discípulas, Nhat Chi Mai, foi um cessa de existir e, assim, somos capturados pelo medo de nascimento e mor-
alerta para que as duas partes que guerreavam se sentassem juntas para dis- te. Nascimento e morte, onda e água, são apenas aparências, simplesmen-
cutir e encontrar um meiode pôr .fim a iguerra. Antes de atear fogo em si te noções. Temos outras noções tais como mais alto e mais baixo, mais bo-
mesma, ela leu duas vezes esse poema enquanto o gravava numa fita. nito ou menos bonito. Por causa dessas noções, sofremos. Isso É samsara.
Quando examinamos profundamente a natureza da interdependência Quando tocamos a realidade da interdependência, a realidade da na-
e vemos que a pessoa que nos fere É tambÉm uma vítima da sua família, so- tureza plena, verdadeira Ífliífapanaa), somos libertados de todas as noções,
raaivsroaiviaçõrs iva coi~isciÊi-teia

inclusive das noçõeši de vir e ir, ser e não-ser, nascimento e morte. Quando
somos capazes de tocar em ms/apaaaa, realizamos o não-medo. É o maior
dos alívios tocar a dimensão suprema, o nirvana, e isso É possível graças a
prática de observar em profundidade. Não pense que isso É muito difícil.
Todos nos temos a oportunidade de tocar o nirvana, ver as coisas global-
mente e não ficarmos limitados por uma visão estreita.
rw QUARENTA E Dois
Suponhamos que ontem- alguem disse algo que o magoou profunda- Flor e Lixo
mente sem lhe ter dado chance de responder. Simplesmente a pessoa foi
embora. Você ficou com muita raiva e sentiu que havia perdido sua digni-
dade porque não teve oportunidade de responder e, assim, sofreu a tarde
inteira. Mas hoje de manhã, enquanto escovava os dentes, você desatou a Mesmo enquanto ainda está se abrindo, a flor já É adubo,
rir. A questão toda quehavia feito você sofrer, de repente pareceu insigni- E o adubo já___É flor.
ficante. Apenas uma noite o separa do acontecimento, mas já se sente ali- Flor e adubo“não são dois.
viado, porque você está a caminho de ver o quadro maior¬,.Se sabemos olhar - ,_-Ilusão e iluminação interexistem.
globalmente, tocar tempo e espaço como um todo, não sofremos.
Quando a pessoa que você ama diz algo que o magoa, tente esta prá-
tica: feche os olhos, inspire e expire plenamente consciente e visualize vo-
cês dois daqui há cem anos. Depois de respirar três vezes, quando abrir os VERSO QUADRAGÉSIMO SEGUNDO nos- ajuda a trazer o ensina-
olhos, você não vai mais se sentir magoado; ao contrário, vai querer abra- omento da interexistência para a nossa vida diária. “Flor” e “lixo”
çá-la. Esses são exemplos de como tocar o nirvana. Aprendemos a entrar são imagens usadas para descrever a natureza interdependente da ignoran-
em contato com o todo e não nos deixar apanhar por pequenas situações.
cia e do despertar. Geralmente achamos que o despertar nada tem que ver
A construção imaginária produz o tormento do samsara. A natureza do nir-
com a ignorância. Colocamos o despertar de um lado da cerca, e a ignorân-
vana, de ais/ajoaaaa abre a porta da sabedoria e revela o reino de qüididade
cia do outro, receando que a ignorância possa contaminar o despertar. M2115,
(as-coisas-tais-como-são). A ponte entre ambas' É parataatra, o conheci-
na realidade, eles não podem ser separados dessa maneira. Se não houvesse
mento da natureza da realidade, do Co-Surgimento Interdependente.
ignorância e confusão, não poderia haver despertar. E no solo da propria
Samsara e qüididade não são diferentes. Têm a mesma base. A onda não
ignorancia que o despertar pode ser cultivado. Essa É a natureza do Co-Sur-
tem que fazer nada para tornar-se água. Ela já É água. O nirvana está dentro
gimento Interdependente. Se você disser “Quero põr um fim no ciclo de
dela há m-íiito tempo. Assim como a água, você não tem que procurar o nir-
nascimento e mo rte. So vou aceitar a libertação”, estará mostrando que não
vana. Quando você for capaz de ver pelos olhos da interexistência e da inter-
entendeu a natureza do Co-Surgimento Interdependente.
dependência, tocará a natureza do nirvana que já está dentro de você.
Se jogar fora “isto” para achar “aquilo”, nunca encontrará o que está
procurando. “Aquilo” so pode ser encontrado “nisto”. Buda nos adverte a
não fugir de nada pensando em correr para uma outra coisa. Na verdade, a
prática do budismo É a prática sem meta, sem objetivo (apram/vita). Se so-
mos puros, calmos e temos a mente limpa, já estarnos na Terra Pura. Igno-
rância e despertar são interdependentes. O nirvana so pode ser encontrado
dentro do mundo de nascimento e morte. As aflições básicas (Éder/vas), for-
raarisroaiviaçõas na coivsciáivcia
iu-iara sEis: o caiviiivno na raárioa

mações mentais nocivas tais como ambição, odio, ignorância, orgulho, dú- andamos com a mente desperta. Não falamos nem olhamos para as pessoas
vida, nos causam sofrimento. Quando queremos despertar, passamos a fa- com a mente desperta. Vivemos distraídos. Mas há sempre uma oportuni-
zer uso de nossas formações mentais a fim de transforma-las. dade de vivermos a vida plenamente. Quando bebemos água, podemos es-
Se estamos quase morrendo de sede e alguem nos traz um copo de tar conscientes de que estamos bebendo água. Quando andamos, podemos
água barrenta, sabemos que É preciso encontrar um jeito de filtra-la a .fim estar conscientes de que estamos andando. A plena consciência está ao nos-
de sobrevivermos. Podemos simplesmente joga-la fora _ mas essa água, so dispor a qualquer momento.
embora não seja pura, É a nossa única esperança de salvação. Da mesma for- Embora a semente do despertar possa ser fraca, ela poderá se fortale-
ma, temos que aceitar todas as nossas aflições, formações mentais, todas as cer rapidamente se usarmos a plena atenção em tudo o que fizermos. Para
dificuldades do mundo, nosso corpo e nossa mente, a fim de transforma- que a plena consciência cresça, ela precisa de alimento. Todos carregamos
los. Se os rejeitamos, se procuramos fugir deles, nunca chegaremos ao fim em nos sementes de plena consciência, bondade amorosa, compreensão e
desejado. Não há como escapar das coisas que odiamos. O único meio que alegria. Essas sementes poderão se tornar belas flores se aprendermos a
existe É transforma-las em amor. transformar em adpbo o lixo do nosso odio, discriminação, desespero e rai-
Um lavrador consciente da realidade da interexistência não joga o li- va. Observando profundamente a natureza do sofrimento e transforman-
xo fora. Ao olhar para o monte de lixo, ele já pode ver nele pepinos, alfaces do essa energia existente em nos, estaremos ajudando a energia de felicida-
e flores. Ele vai usar o lixo para fazer adubo para a horta. A natureza inter- de e paz a se manifestar.
dependente da flor significa que ela É feita de elementos não-flor, como o
lixo. Se retirarmos da flor o elemento “lixo”, ela não poderá existir. A flor
está a caminho de tornar-se lixo, e o lixo está tambem a caminho de tor-
nar-se flor. Quando pegamos nossas aflições e as usamos para fazer adubo,
as flores da alegria, paz, libertação e felicidade brotarão. Devemos aceitar o
que está aqui e agora, inclusive nosso sofrimento e nossa ilusão. Aceitá-los
já nos traz uma certa paz e alegria. Esse É o começo da prática.
Aceitamos o que há no momento presente a fim de obtermos uma
perspectiva profunda e a capacidade de transformar nossas circunsiãncias.
Se com nossa prática visamos sempre a algum futuro resultado ou circuns-
tãncia, não aprenderemos nunca a aceitar a hora e o lugar presentes que são,
na verdade, as condições certas para praticar. Ambos, flores e lixo, existem
no presenie, aqui e agora. As condições para a iluminação também existem
aqui e agora, no presente. Não É fugindo da ilusão que encontramos a ilu-
minação. E examinando profundamente a natureza da ilusão que podere-
mos tocar a iluminação.
Na nossa consciência armazenadora existe uma semente maravilhosa'
chamada plena consciência, a capacidade de estar com a mente alerta para
o que está acontecendo no momento presente. Essa semente pode estar fra-
ca, porque raramente a regamos. Em geral, não vivemos nosso cotidiano
com a mente desperta. Não nos alimentamos com a mente desperta. Não
raicrn sEis: o caiviiivi-io na r-aárica

na mesa, na cadeira, na casa, na montanha, na nuvem e em cada célula do


nosso corpo. Alguns teologos cristãos dizem que o Reino dos Céus está aqui
no nosso coração, e a qualquer momento podemos tocá-lo-. O nirvana É a
mesma coisa. Quando somos capturados pelas idéias de permanência e de
rn» QUARENTA E TRÊS eu, não podemos tocar o nirvana. No momento em que tocamos o nirva-

Interexistêacia na, ficamos livres de nascimento e morte.


Buda ensinou que há Cinco Poderes. Primeiro, o poder da fé. Preci-
samos ter fé na possibilidade de tocar o nirvana, de despertar para a qüidi-
dade, o reino das coisas-tais-como-são. Essa fé não É cega, ela se baseia na
nossa compreensão, no nosso discernimento e na nossa experiência. A fé le-
Não fuja do nascimento e da morte.
va a energia, o segundo poder. Sem fé e confiança, facilmente nos cansa-
Apenas observe profundamente suas formações mentais.
mos. Para que teglwamos energia para observar as coisas em profundidade,
Quando a verdadeira natureza da interdependência É vislumbrada,__
É necessário confiar na nossa capacidade de despertar, e ter fé na compreen-
A verdade da interexistência torna-se evidente.
são desperta de Buda. Transformamos nossa energia em plena atenção, o
terceiro poder. Quando a mente está plenamente desperta, há concentra-
ção, o quarto poder.
Quando vivemos plenamente conscientes, tudo se dá na concentração
ESTA É a CONCLUSÃO do verso anterior. Não-nascimento e não-
de observar em profundidade. Quando nossa concentração é fraca, É pos-
morte repousam-exatamente no âmago de nascimento e morte.
sível que vislumbremos a natureza do Co-Surgimento Interdependente por
Enquanto fugirmos de nascimento e morte, do sofrimento, nunca chega-
um breve tempo, mas logo voltarnos a cair no modo de ver as coisas como
remos ao reino onde não há nascimento nem morte. Quando patarmos pa-
permanentes e como tendo um eu separado. Porém, com uma concentra-
ra observar profundamente as nossas formações mentais, as nossas noções
ção vigorosa e firme, podemos continuar vendo a natureza da interexistên-
de eu e outro, nascimento e morte, ignorância e despertar, vislumbraremos
cia das coisas, dentro e ao redor de nos. Quando nossa concentração É for-
a natureza interdependente de tudo. Isso É interexistência. zf -f
te, somos conduzidos ao quinto poder, o entendimento. Com o
E Entretanto, para observar em profundidade, necessitamos da energia
entendimento não perdemos tempo sonhando com o futuro ou vivendo no
da plena consciência. A mente plenamente desperta É como um gerador
passado. Acordamos para a nossa mente verdadeira e, então, com um pas-
produzindo eletricidade. Da eletricidade criada pelo gerador vem a luz, a
so plenamente consciente, entramos no Reino da Qüididade ou Reino de
energia do calor para cozinhar e muitos outros benefícios. Precisamos pra- Deus. O entendimento, por sua vez, fortalece nossa fé e dessa maneira os
ticar de uma forma que produza a força para mantermos a mente desperta Cinco Poderes se ajudam mutuamente.
na nossa vida diária. Quando vivemos plenamente conscientes, observan- Para praticar, É essencial gerarmos a energia da plena atenção. Temos
do profundamente o que existe em nos e ao nosso redor, compreendemos que viver cada momento da vida plenamente conscientes. Olhar, escutar e
a natureza do Co-Surgimento Interdependente, a interpenetração de todas tocar com a mente plenamente desperta. Quando cozinhamos, cozinhamos
as coisas. . J- * - conscientes da nossa respiração e daquilo que estamos fazendo. Aprecian-
Se formos hábeis, poderemos tocar o nirvana com o nosso conheci- do nossa respiração em qualquer coisa que fazemos, produzimos a energia
mento sobre o Co-Surgimento Interdependente, a impermanêncía e o não- da plena consciência que nos ajuda a tocar a vida em profundidade. A me-
eu. Vemos que o nirvana se encontra bem aqui, neste exato momento _ ditação nos ajuda a obter compreensão, a qual dissipa os mal-entendidos e
22. raansaoaiaaçõas na consciencia

a ignorância e nos traz amor, aceitação e alegria. Não precisamos fugir de


nascimento e morte. Não precisamos fugir do nosso lixo. Podemos apren-
der a arte de cuidar do nosso sofrimento e transformá-lo em paz, alegria e
bondade amorosa. Se há sofrimento, medo ou desespero em nos, tomamos
a atitude de não-medo. Aprendemos as técnicas de transformar o lixo das rw QUARENTA E QUATRO
aflições em flores de bem-estar, firmeza e liberdade.
Observando profundamente uma flor, vemos a interexistência da flor. I/i`sa*0 C0rreta
Observando profundamente o lixo, vemos a interexistência do lixo. Obser-
var profundamente não É especular. Temos que praticar. Temos que nos
concentrar. Temos que estar presentes a fim de tocar a flor profundamente
e, realmente, compreender sua natureza interexistente. Quando vivemos Pratique a respiração consciente
em plena consciência, todas as coisas revelam a natureza da interexistência. Para regar as sementes do despertar.
Observando profundamente uma folha, tocamos o sol, o rio, o oceano e A Visão Correta É uma flor
nossa mente nela. Essa É a verdadeira prática. Que brota no campo da consciência mental.
Os ensinamentos sobre impermanêncía e não-eu não constituem dou-
trinas nem assuntos para discussão filosofica. São instrumentos para medi-
tação, chaves que nos ajudam a abrir a porta da realidade. Quando alguém
nos oferece um martelo para o trabalho de carpintaria, não vamos po-lo ESSE VERSO OFERECE um método completo sobre a prática dere-
num altar e adora-lo. Temos que aprender a usá-lo. Não seja dogmático a gar as sementes de iluminação que todos temos dentro de nos.
respeito da impermanêncía e do não-eu. Pratique observando profunda- Temos, na nossa consciência armazenadora, sementes de ignorância e ilu-
mente e toque a natureza da interdependência, a natureza da interexistên- são, mas também temos sementes de compreensão e compaixão. Os obje-
cia na realidade. ` tos de nossa fé são as sementes do despertar que jazem na nossa consciên-
cia armazenadora. Não se trata de uma fé cega. Ela pode ser experimentada
diretamente. Se na nossa vida diária praticarmos a plena consciência a fim
de observar as coisas em profundidade, um dia a Visão Correta brotará co-
mo uma flor na nossa consciência mental, de forma permanente, e não mais
apenas esporádica.
1
A Visão Correta- É a primeira prática do Nobre Caminho Octuplo, o
qual inclui também Pensamento Correto, Fala Correta, Atitude Correta,
Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Plena Atenção Correta e Concen-
tração Correta? A Visão Correta, a visão clara da consciência mental, É o
primeiro passo no caminho do despertar. Enquanto comemos, andamos,
lavamos ou cozinhamos, a visão clara da nossa consciência mental está re-
gando a semente ood/ai, o despertar, com a água da Correta Plena Atenção.
Essa É a água que alimenta a semente bodhi que, quanto mais atenção e cui-
dado recebe, mais cresce. Quanto mais ela cresce, mais confiança temos na
12
Zz raanssoaiiaçõas na consciência mara sais: o caiviinno na raárica 23

prática. Com a prática contínua da plena consciência, o botão desabrocha A maioria de nos começa a prática com uma visão bastante teorica da
e se transforma numa bela árvore bodhi. Onde quer que haja uma árvore impermanêncía e do não-eu. Porém se observamos e vivemos plenamente
bodhi, existe um Buda. A semente do despertar faz surgir a semente do conscientes, descobrimos a essência da impermanêncía e do não-eu, a ver-
amor. Somente a plena consciência pode nos fazer instaurar a compreensão dadeira natureza da interexistência e, então, nossa Visão Correta torna-se
onde antes havia confusão e trevas. verdadeira e profunda. A semente da Visão Correta É a semente do conhe-
Lembre-se, a consciência mental É o jardineiro que rega as sementes cimento. Se sabemos respirar e observar com plena atenção É se regamos a
que estão na consciência armazenadora. O jardineiro tem que confiar na semente de iluminação na nossa consciência armazenária, um dia pela ma-
terra e ser diligente no regar. Nossa única tarefa É plantar a semente bo- nhã essa semente vai brotar e desabrochar como uma flor no campo de nos-
dhi na terra _ a consciência armazenadora _ e regá-la com a plena aten- sa consciência mental.
ção. A semente do despertar germinará naturalmente na nossa consciên- A base da prática da plena consciência É a respiração consciente. Iden-
cia mental. Não há necessidade de nenhum outro esforço. Sua única tificamos o inspirar como inspirar e o expirar como expirar: “Inspirando,
tarefa É praticar a plena atenção. A consciência armazenadora faz o resto. sei que estou inspirando. Expirando, sei que estou expirando.” Durante
Um dia, ao acordar, ou ao ouvir alguém dizer alguma coisa, o despertar vinte e seis. séculos, gerações de praticantes budistas têm usado esse méto-
se dará. De repente, você entenderá coisas que durante anos permanece- do. Antes de começarmos a prática da respiração consciente, nosso corpo
ram obscuras. está aqui, mas nossa mente se encontra em outro lugar. No momento em
Podemos cantar um surra durante vinte anos sem entender uma pala- que respiramos com a mente plenamente atenta, juntamos corpo e mente
vra, e depois, um dia, lendo uma certa linha, eaxergamos. Isso É compreen- e, de repente, se torna possível tocar a vida no momento presente.
são despertada, a flor que brota na nossa consciência mental. Esse desper- A vida É cheia de sofrimento, mas também contém muitas maravilhas.
tar so É possível se, enquanto cantando o sutra, estivermos conscientes de Se você quiser entrar em contato com as maravilhas da vida, volte para o
que o estamos fazendo. Quantas vezes cantamos um sutra sem entender ne- momento presente. Pratique a respiração consciente e você se encontrará
nhuma palavra? Se você canta um sutra e sabe que está cantando um sutra, no aqui e agora. Se você não está aqui, como a vida pode ser real, verdadei-
ali está a plena consciência. Quando bebe um copo d”água e sabe que está ra? A vida real não É possível se você estiver distraído. A sua presença total
bebendo um copo d'água, a consciência plena ali está. Se continuar a cul- É que torna a vida real possível, e isso não pode ser comprado. So pode ser
tivar esse tipo de consciência na sua vida diária, essa consciência irá Ícrescer obtido com a prática _ a prática de caminhar plenamente conscientef res-
e se tornar uma bela e frondosa árvore bodhi que lhe oferecerá abrigo e, um pirar plenamente conscientef e sentar-se plenamente consciente. A prática
dia, o entendimento e a compreensão despontarão. da plena consciência É a prática de estar presente. ç
Enteqdimento não É algo que recebemos de uma outra pessoa, mes- A capacidade de estarmos presente traz conseqüências formidáveis
mo de um mestre. O máximo que o mestre pode fazer É nos ajudar a tocar para nossa vida diária, para nosso relacionamento com os outros. O maior
a semente da compreensão que jaz na nossa consciência armazenadora. presente que podemos oferecer a pessoa amada É a nossa real presença. Pra-
Desde que a semente seja regada, o entendimento brotará como uma flor tique meditação andando, meditação sentada e respiração consciente para
na nossa consciência mental. Compreensão É Visão Correta, fruto da prá- estar presente para a pessoa amada. Quando ela estiver sofrendo, pratique
tica. Começamos com uma Visão Correta pequenina, mas à medida que a respiração consciente e diga: “Querida, sei que você está sofrendo. E por
continuamos a praticar, nossa Visão Correta aumenta, e os outros sete as- isso que estou aqui para você.” Se É você que está sofrendo, pratique cons-
pectos do Caminho Óctuplo se intensificam tarnbém. A medida que nos- cientemente a inspiração e a expiração e diga: “Querida, estou sofrendo.
sa Visão Correta aumenta, nossa prática melhora. E, quando nossa prática Por favor, me ajude.” Quando você tem amor por alguém, tem que ter con-
melhora, nossa Visão Correta cresce. - fiança também. Se está sofrendo, deve procurar os que você ama e dizer-
Zz Taansroniuaçõns na consciência

.I

lhes que está sofrendo e precisa de ajuda. Se não conseguir fazer isso, algo
está errado no seu relacionamento. E importante fazer essa prática. Se vo-
cês não estão verdadeiramente presentes, como podem amar e cuidar um
do outro? Gere a energia da plena consciência a fim de estar verdadeiramen-
te presente. -
A mais bela declaração de amor É “ Querida, estou aqui para você”.
I rw QUARENTA E cinco
Quando você pronuncia esse mantra, ocorre uma transformação em vocês Plena Atenção
dois. Essa É a prática da plena consciência.

Quando a luz do sol brilha,


Ela ajuda toda a vegetação a crescer.
É .
Quando a luz da plena atenção brilha,
.'11
Ela transforma todas as formações mentais.

GMÇAS AO SOL, os vegetais podem crescer. Há outras condições


para o crescimento das plantas, como a chuva e o terreno, mas o
sol É a principal fonte de energia que faz as coisas vivas crescerem. Nos in-
gerimos energia do sol em qualquer alimento que comemos _ sejamos ve-
getarianos ou não. A luz do sol nutre nos todos.
Assim como a luz do sol fornece energia para a maravilhosa transfor-
fi' _-
mação da semente em planta que nos alimenta, a luz da plena atenção É a
energia transformadora de todas as nossas formações mentais (c/øitta-same
ëaras). A plena atenção em si É uma das formações mentais saudáveis per-
tencente ao grupo das cinco particulares, as quais incluem também zelo,
Q

determinação, concentração e afirmação. A luz da interexistência, cada for-


mação mental contém todas as outras. A plena consciência, quando está
presente, tem a capacidade de transformar as outras formações mentais as-
sim como o sol transforma os vegetais e, de fato, transforma a face da ter-
ra. A plena atenção, ou plena consciência, É como o sol que basta deixar
que sua luz brilhe para sua tarefa ser cumprida.
i A prática não É livrar-nos das aflições, das formações mentais nocivas,
pois quanto. mais tentamos reprimi-las, mais elas crescem. Temos de acei-
tá-las e tocá-las com a luz da plena consciência. Esse toque produzirá a
¿jU innivorunrflntpunõ NA LZUNSCIENCIA
r›aRTE sEis: o caiviinno na raárica 231

transformação. O segredo da prática É a habilidade de deixar a luz da ple-


Quando praticamos essa contemplação diariamente, estamos convi-
na consciência brilhar sobre o campo da nossa consciência mental de mo-
dando as sementes do medo a se apresentarem. E, quando elas aparecem,
do que, quando formações mentais como a raiva aparecerem nesse campo,
as enfrentamos com plena consciência. Se não fizermos assim, não estare-
deparem com a energia da plena atenção. Quando surge a raiva, não a re-
mos no controle da situação quando o medo aparecer e sofreremos. E por
primimos. Ao invés disso, convidamos nossa plena consciência a entrar em
isso que temos de contemplar as sementes do medo com a Plena Atenção
contato com ela. Dizemos: “Inspirando, eu sei que estou com raiva.” Duas
Correta. Quando vertemos a luz desta sobre os nossos medos, eles come-
coisas estão presentes: a raiva e a plena consciência. Alimentando a plena
çam a diminuir e um dia serão inteiramente transformados.
consciência por um período de tempo, reconhecemos e abraçamos nossa
A prática das Cinco Constatações ajuda-nos a enfrentar diretamente
raiva, a qual diminui ou aumenta de intensidade, dependendo da força da
nossos medos sem vê-los como inimigos. Eles são nos. Somos nossa felici-
nossa plena consciência. Sem esta, perdemos o rumo, ficamos ao sabor das
dade, nosso sofrimento, nosso amor e nossa raiva. Tratamos todas as forma-
ondas de nascimento e morte. Quando a plena atenção está presente, sabe-
ções mentais da mesma maneira, com espírito de não-dualidade. Não faze-
mos que direção tomar para nos transformar.
mos de nos um campo de batalha, onde um lado luta com o outro. E É isso
Buda ensinou seus seguidores a relembrarem e recitarem diariamente
exatamente o que âlgumas tradições nos ensinam _ o certo deve combater
as Cinco Constatações:
*E
para vencer oz errado. No budismo, vemos os dois lados como sendo nos
mesmos e tentamos aceitar e examinar todas as partes, reconhecendo sua na-
1) Minha natureza É envelhecer. Não tenho como escapar da velhice.
tureza interdependente. Temos que aceitar as aflições, as formações mentais
2) Minha natureza É adoecer. Não tenho como escapar da doença.
nocivas, antes de poder transformá-las. Quanto mais as combatemos, mais
3) Minha natureza É morrer. Não tenho como escapar da morte.
fortes se tornam. Quanto mais as reprimimos, mais importância ganharri.
_ 4) Tudo o que estimo e todos os que amo estão sujeitos a mudanças.
O que fazer para transformar essas sementes de sofrimento tão pro-
Não há como escapar de me separar deles.
fundamente enraizadas? Há três maneiras de trabalhá-las. A primeira coisa
5) Minhas ações são meus verdadeiros pertences. Não posso escapar
a fazer É semear e regar as sementes de felicidade. Em lugar de trabalhar-
das conseqüências de minhas ações. Minhas ações são o chão sobre o qual
mos diretamente com as sementes de sofrimento, fazemos com que as se-
me sustenho.
mentes de felicidade as transformem. Deixamos as 'sementes de sofrimen-
z .Í -* to ficarem sosse-gadas na consciência armazenadora enquanto plantamos
E importante compreender esse ensinamento de Buda a luz dos ensi-
novas sementes de paz, alegria e felicidade ou nutrimos as que já tenham
namentos da Pura Manifestação. Se vemos as Cinco Constatações apenas
brotado. A consciência mental envia essas sementes de paz e felicidade pa-
como advertências ameaçadoras do que está por vir, elas servirão para criar
ra transformarem as sementes de sofrimento profundamente enraizadas.
mais sofrimento. Na nossa prática, devemos analisá-las profundamente ilu-
Essa É uma transformação indireta.
minando-as com a luz da plena consciência a fim de transformar o medo
A segunda maneira É praticar permanentemente a plena consciência
que temos da velhice, doença, morte, separação das pessoas amadas e enca-
de modo a estarmos aptos a reconhecer as sementes do sofrimento quando
rar o fato de sermos o resultado de nossas ações. As quatro primeiras das
elas surgem. Assim, todas as vezes que sementes de sofrimento se manifes-
Cinco Constatações falam dos medos que vivem nas profundezas da nossa
tarem como formações mentais, elas serão banhadas pela luz da plena cons-
consciência. Por mais que procuremos enterrá-los e esquecê-los, eles estão
ciência. Ao entrarem em contato com a plena consciência, elas ficam enfra-
sempre ali. Em vez de reprimi-los, sorrimos para eles e os convidamos na vi-
quecidas. Se não estivermos plenamente conscientes, não seremos capazes
rem até nossa consciência mental, pois sabemos o quanto influenciam as
sequer de reconhecer as sementes de sofrimento. Com a plena consciência,
atividades desta.
podemos reconhecê-las e não mais as temer.
zgz raansroaaiaçõas na consciência _ raara sEis: o caiviiniio na Pai-írica 23

Se um pássaro for atingido por uma flecha, todas as vezes que enxer- poderá usar o terceiro método convidando as sementes de sofrimento a vi-
gar um arco ficará com medo. Deixará até de pousar num galho que tenha
rem até a consciência mental onde a plena consciência poderá tocá-las e
a forma de arco. Se fomos feridos quando crianças, as sementes de sofri-
transformá-las.
mento que recebemos estarão conosco ainda hoje. A maneira de nos rela-
Lidar com o sofrimento É como segurar uma serpente venenosa. Te-
cionarmos com a vida no momento presente baseia-se nessas sementes. To- mos que aprender tudo a respeito da serpente, nos fortalecer, nos tornar
dos os dias, sementes do passado se manifestam na nossa consciência
mais seguros a fim de que possamos pegá-la sem que ela nos fira. No fim
mental, e por não terem sido banhadas com a luz da plena atenção, não te-
desse processo, estaremos prontos para enfrentar a serpente. Se nunca a en-
mos consciência delas. Se estivermos com a mente plenamente atenta, to- frentarmos, um dia ela nos surpreenderá e morreremos de uma picada dela.
das as vezes que tais sementes brotarem, poderemos reconhecê-las. “Oh, É
A dor que carregamos nos níveis profundos da nossa consciência É seme-
você! Eu a conheço.” So esse reconhecimento já as faz perder um tanto de lhante. Quando cresce e nos enfrenta, nada podemos fazer se não tivermos
seu poder sobre nos. As sementes de sofrimento são um campo de energia,
praticado para fortalecer e tornar estável a plena consciência. Somente
como o É também a plena atenção. Quando esses dois campos se encon- quando estamos prqptos, É que devemos convidar nosso sofrimento para
tram, as sementes de sofrimento são transformadas. A transformação ocor-
vir a tona. Então, quando ele vem, nos podemos manobra-lo com seguran-
re no contato daquelas sementes com a plena consciência.
ça. Para transformar nosso sofrimento, não lutamos nem procuramos nos
A terceira maneira de lidar com as aflições que carregamos conosco
livrar dele. Simplesmente o banhamos com a luz da plena consciência.
desde a infância É deliberadamente trazê-las para a nossa consciência men-
Por meio dos ensinamentos da Pura Manifestação, podemos ver a
tal. Se nossa plena consciência estiver forte e firme, não há por que espe-
verdade da interexistência, da não-dualidade e da não-violência, seja no
rar que as sementes de sofrimento surjam inesperadamente. Sabemos que
aprendizado da prática seja em nossas atividades diárias. Com a energia
elas jazem no porão da nossa consciência armazenadora e as convidamos
da plena atenção, podemos lidar com as flores e o lixo que estão em nos.
para virem até nossa consciência mental _ desde que esta não esteja ocu-
Com a plena consciência, protegemos as flores e fazemos o lixo voltar a
pada com outras coisas e assim possa verter sobre elas a luz da plena cons-
ser flor. Não temos mais medo do nosso lixo. Um bodhisattva sabe como
ciência. Chamamos a tristeza, o desespero, os arrependimentos e as sauda-
transformar seu lixo novamente em flores. A pessoa tola procura fugir do
des que no passado nos foi difícil tocar, e os convidamos para sentarem-se
lixo, mas se tentamos abandona-lo, que tipo de alimento teremos para
e conversar conosco, como velhos amigos. Porém, antes de convidáelüfiz
nutrir nossa flor?
devemos nos certificar de que a lâmpada da plena consciência está acesa
Há momentos em que somos capazes de ver a natureza da interexistên-
brilhando firme e forte. 1
cia nas pessoas e nas coisas. Mas há outros em que esquecemos e recaímos
Se praticamos esses três modos de lidar com nossas sementes de sofri-
no mundo da construção imaginária. E por isso que a prática contínua É im-
mento, adquiiimos estabilidade. Mas a pessoa que está passando por um
portante para que a flor da iluminação desabroche permanentemente no
grande sofrimento e não sabe como praticar a plena consciência, não deve
campo da nossa consciência mental. Assim como a luz do sol brilha sobre a
começar pelo terceiro método _ convidar as sementes de sofrimento a v1*
vegetação fazendo-a crescer, toda vez que acendemos a luz da plena cons-
rem até a consciência mental. Antes deverá nutrir e fazer brotar as semen-
ciência, podemos transformar todas as formações mentais. Toda formação
tes de felicidade. Quando a pessoa tiver feito progressos no primeiro méto-
mental É sensível a energia da plena atenção. Quando a formação mental É
do É ap,-¢n¡¬_I¡d,;;. 3 gm-as n__1ais energia de plena; consciência, ela poderá tentar
saudável, a plena atenção a ajuda a crescer e florir. Quando a formação men-
o segundo método, o de aceitar e reconhecer o sofrimento quando ele sur-
tal É negativa, a energia da plena atenção pode transformá-la em algo posi-
ge. Quanto maior a capacidade de reconhecer as sementes de sofrimento, tivo. A plena consciência É a propria essência da nossa prática.
mais elas enfraquecem. Finalmente, sentindo-se forte o suficiente, a pessoa
raara sais: o caiviini-io na raarica 1

ses rios. Embora a mente e os objetos da mente sejam considerados dois cam-
pos diferentes, na verdade, são um so. Mente É o que percebe. Os objetos da
mente são o percebido. Mas o percebedor e o percebido nunca podem estar

rn» QUARENTA E sais separados, eles constituem um todo. Objetos da mente não surgem indepen-
dentemente da mente. Objetos da mente _ incluindo o corpo, os sentimen-

Ífansformaça'o na Base tos e todas as outras formações mentais _ são produtos da mente.
Os quatro campos da plena atenção _ corpo, sentimentos, mente e
objetos da mente _ interexistem. Cada campo contém os outros três. De
acordo com a prática ensinada neste surra, reconhecemos em cada um des-
ses quatro campos todos os fenêmenos que surgem. Nossa principal tarefa
Reconhecemos os nos internos e as tendências latentes.
É reconhecer. E como o trabalho de um porteiro que cumprimenta todos
Portanto, podemos tra_nsformá-los.
os que entram e saem. Somos o porteiro de nossas seis percepções dos sen-
Quando nossas energias formadoras de hábitos se dissipam,
tidos. Se não houver porteiro, a casa não está guardada e pode ser invadi-
Dá-se a transformação na base.
da. Acendemos a lâmpada da plena atenção para podermos ver e reconhe-
cer tudo que está acontecendo. Desta maneira, a casa está segura.

Os olhos sao am oceano profiindo,


Uanno nossa Piana arançao JÁ 1-:sra anaaizaoa podemos ver
Com redemoinhos e ventos violentos,
claramente o que está se passando dentro de nos. Não segura-
Somhras ahaixo da sopeificie,
mos nem a astamos o que É visto _ simplesmente o reconhecemos. Quan-
Monstros marinhos nas profiéndezas. _
do estamos com raiva, a plena atenção reconhece a raiva. Quando sentimos
Men harco esta navegando em plena consciencia,
ciúme, a plena atenção reconhece o ciúme. Quando detectamos a presen-
Comprometo-me a segurarfirmemente o leme
ça do medo ou da tristeza em nos, não julgamos nem dizemos que É mau.
De modo a nao aƒizndar no oceano dafiirma.
Simplesmente observamos com plena atenção toda e qualquer coisa* que
ocorra no nosso corpo e na nossa mente, e saudamos o que quer que surja
Usando minha respiraça`o conscientemente,
sem louvar, repreender ou julgar. Isso se chama “mero reconhecimento”. O
Mens olhos estao em gaarda para a minha e a .ma protecao.
mero reconhecimento não toma partido. O objeto reconhecido não É nos-
Para qne hoje continae a ser helo o dia,
so inimigoi Nada mais É do que nos mesmos. Nos o reconhecemos como
E amanha' tenhamos ainda nm ao outro.
reconheceríamos nosso proprio filho._
No Discoarse on the Fear Estahlishments ofiléfindfizlness (Discurso sobre As bases dos sentidos _ olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente
as Quatro Maneiras de Estabelecer a Plena Atenção),5 Buda nos ensina que _ são oceanos profundos cheios de perigos. Podemos submergir numa in-
existem quatro canipos de prática _ contemplar o corpo no corpo; os sen- finidade de visões, sons, aromas, sabores, sensações táteis e pensamentos que
timentos nos sentimentos; aumente na mente; e os fenomenos que surgem nossos sentidos absorvem. Um praticante que não acende a luz da plena
como objetos da mente nos objetos da mente. Aqui, mente significa todas as consciência para vigiar os seis sentidos, realmente não É capaz de praticar.
cinqüenta e uma formações mentais. As oito consciências podem ser compa- Quanto ao primeiro campo da plena consciência, o corpo, ficamos
radas a oito rios, e essas cinqüenta formações mentais, as gotas de água nes- atentos para nos dar conta de como respirarnos, paramos, andamos, nos sen-
1
TRANSF_QRM_AÇÕE5_ NA CÚNSCIÊNCIA
12 raara sais: o caiviinno na raarica 2

tamos e nos deitamos. Se não estamos conscientes de estar fazendo essas coi- nosso sofrimento ou a nossa felicidade jazem no campo dos sentimentos
sas, não estamos praticando. O segundo campo de prática são os sentimen- A plena atençao e a sentinela que vigia os sentidos. Desde que saibamos co-
tos. Reconhecemos os sentimentos de tristeza, alegria, raiva, medo, odio ou mo usar a plena atenção para reconhecer as formações na nossa consciên-
desespero tão logo eles surjam. Do contrário, esses sentimentos influencia- CIH fllfiflíll, logo que surgem, saberemos também qual direção tomar. Não
rão a nos e as nossas ações sem que saibamos disso. Quando um sentimen- se trata sequer de buscar intencionalmente a direção _ ela nos é mostrada
to de raiva não É reconhecido, podemos falar asperamente com a pessoa que automaticamente pelo fato de estarmos em plena consciência. Saberemos
amamos sem sequer nos darmos conta de que o estamos fazendo. se o que está acontecendo É saudável ou não, se É benéfico ou prejudicial,
Um filosofo perguntou a Buda o que faziam seus monges durante o e tomaremos a atitude apropriada de levá-la adiante ou de tentar evitá-la.
diatodo. Buda respondeu que eles andavam, paravam, deitavam-se, senta-- Todos temos nos internos e tendências latentes. Nos internos são os
vam-se, comiam, lavavam suas tigelas e limpavam o chão. Por que então, bloqueios de tristeza e dor que estão atados na nossa consciência. A natu-
perguntou- o filosofo, eram eles considerados diferentes das pessoas mun- .FEZEI deles ei no_civa. Quando ouvimos ou vemos algo que nos faz ficar rai-
danas? Buda respondeu que a diferença estava no fato de seus monges fa- VUSÚ5 DU UISÍES, quando o objeto do nosso olfato, do nosso paladar ou do
zerem tudo isso plenamente conscientes de que o estavam fazendo, dando HUSS0 tato forma um no no nosso interior ficamos atados (samyojana) ou
“ .3

guarda aos seis sentidos. Podemos estar plenamente conscientes de qual- agrilhoados. A palavra chinesa sam)/ojana significa “ser comandado”. Há
quer coisa que fazemos. Podemos reconhecer todos os fenomenos no nos- um no interno na nossa consciência armazenadora ue nos
ord
so corpo, nos nossos sentimentos, na nossa mente e nos objetos da nossa coisas até1 mesmo sem sa b er. S em d armos guarda aos
“ “lseis
' sentidos,
- “H” “““““
não há
mente. Não devemos pensar que, por estarmos muito ocupados, não po- como evitar a formaçao dos nos internos. Se não vigiamos a base do senti-
demos praticar. Quando trabalhanios plenaniente atentos, já É a prática Clü da VISHU, quando os olhos entram em contato com a forma, mais cedo
correta. Os problemas surgem somente quando fazemos as coisas sem es- ou mais tarde um no interno se formará. Nos nos tornaremos raivosos, tris-
tarmos plenamente conscientes do que estamos fazendo. tes ou apegados.
Suponhamos que estamos contemplando uma árvore _ É agradável fl Ovícioéumnoint
I H '“ somos viciados
errio. No inicio nao " em drogas,
ficar apreciando seu verde e frescor. Se, enquanto a olhamos, fortalecemos a coo ou em qualquer relacionamento nocivo.. O no vai sendo atado gra-
a energia da plena consciência em nos, a árvore se tornará ainda mais níti- dativamente. Se os nos internos fizessem barulho para anunciar quando
da. e resplandecente e nossa sensação de prazer aumentará ainda mais.“No estão se formando, imediatamente nos daríamos conta da presença deles
outono, as florestas da Nova Inglaterra ficam com uma folhagem tão bela, Mas nao somos capazes de perceber o momento em que nos tornamos vi-
que as pessoas viajam até essa região so para vê-la, como em uma peregri- ciados em drogas ou alcool. Não sabemos exatamente quando perdemos
nação. Mas açbeleza da folhagem que É percebida e a intensidade da alegria a cabeça pela pessoa errada. O processo de formação de um no interno
de cada um dependem da liberdade e paz de espírito que cada qual possui. acontece furtivamente. Entretanto, se os seis sentidos estiverem sob a nos-
Se o coração da pessoa está em paz e sua consciência está plena e forte, o sa guarda, nos daremos conta de um sentimento de apego tão logo ele 5111-_
contentamento que ela sente ao ver a folhagem será milhares de vezes maior ja. Sabemos que É muito agradável o sentimento de apego quando segura-
do que o de alguém que está sofrendo e so consegue ver tristeza na vida. mos um c “P0 dff Vlflhü
` '
DU 11111 Cigarro, ou quando estamos ao lado da
Cada pessoa pode estar vendo a mesma cena e não usufruir da mesma paz pessoa da qual nao deveríamos estar tão proximo. Não ignoramos para on-
e felicidade. A diferença está na capacidadeide plena atenção de cada um. de este sentimento agradável vai nos levar. No estado de consciência p1¢_
Um bonito carvalho silvestre pertence ao campo de objetos da men- na _ o reconhecimento do que acontece no exato momento em que está
te. A alegria que sentimos pertence ao campo da mente. Se não reconhece- acontecendo _ o no interno do apego não poderá se formar sem que o
mos a beleza da árvore, É como se a árvore e a sua beleza não existissem. O notemos antes que seja tarde.
i 2
Taansroaiviaçõas
_
na consciência
_ _
raara sais: o caiviini-io na iiaarica 2

Os nos internos podem permanecer quietos na nossa consciência por Energias formadoras de hábitos (vashana, “fragrantes”), constituem a
base dos nos internos. E como colocar pétalas de flor no cha para que fique
" ueremos emonstrar nossa , aromatizado. Se estamos num bom ambiente, ficamos impregnados do
;“e“1ii;SaÍã“o“dEi“e““o(lÍíbloli“i“1ãl face nos dá, nem de dar socos na mesa, porém, o “aroma” do bom ambiente. Se estamos num ambiente insalubre, ficamos
no interno da raiva É mais forte do que nos. E uma tremenda derrota sei-._ impregnados do “cheiro” do ambiente insalubre. Qualquer ação do corpo,
mos comandados por um no interno. A maneira de evitarmos que isso da fala ou da mente pode ser resultado de uma energia de hábito. Algumas
aconteça É reconhecer os nos internos quando surgem. Suponhamos que energias de hábitos demoraram milhares de anos para se formar. Nossa he-
acabei de conhecer alguém, e muito espš1ntaneaÍne:iterS1;ÍÊ1qa¢1§)Ilíggšnilií rança não É apenas o que fizemos no passado, mas o que estamos fazendo
sentimento de aversão por essa pessoa. e eu nao ive I _ no presente também. Toda palavra que emitimos e todo ato que praticamos
desse sentimento de aversão, não poderei reconhecê-lo como um no inter- determinam como somos. Sabemos que, se quisermos ir a um lugar de fe-
no e continuarei a ser impulsionado por esse sentimento de aversao. Porem, licidade e luz, temos de desenvolver bons hábitos. O melhor hábito É a prá-
se estiver vivendo plenamente consciente, tão logo ou senqmenliço desagra- tica da plena atenção-. Se vivemos com uma sangha que pratica a plena aten-
dável comece a se manifestar, o reconhecerei de imediato. o HI11 5611 ção, ficamos impregnados do perfume da plena consciência.
timento desagradável quando olho para essa pessoa. I . d d Há dois tipos de energia formadoras de hábitos. O primeiro É harma-
Quando temos o hábito de reconhecer o que esta. se passan o enlqro vashana, literalmente, “ação perfumadora”, um hábito formado por uma
de nos, prosseguimos observando profundamente aquilo que foi recon ie- ação. Se praticarmos a meditação andando durante três semanas, ela se tor-
cido. Não esqueceremos esse sentimento mesmo depois que tiver arrefeci- nará um hábito. Então, se formos ao aeroporto e tivermos que esperar pe-
do. Continuaremos a nos observar e a analisar profundamente. Podcilemos lo nosso voo, poderemos utilizar a energia do hábito da meditação andan-
deseobrir que a pessoa se parece com alguém que nos fez algo de erra o no do. As energias de hábitos são nossos verdadeiros pertences, a única herança
passado e, por causa disso, criamos um complexo em relaçao. a essa pessoa: que continua conosco quando morremos. Tudo o mais _ pessoas queri-
muito embora ela não tenha dito nem feito nada que nos ferisse. Nopsocpü das, casa, graus universitários _ teremos de deixar para trás. Tudo o que
interno nos compele a sentir desse modo. Mas se o observarmos pro un os levamos conosco É nosso harma-vashana, e não podemos escolher levar ape-
mente, haverá uma certa compreensão .do que -está se passando. E é;çs_sq nas a parte que mais gostamos. Temos de levar tudo. A quinta das Cinco
compreensão que nos liberta. Ficamos livres da influencia do nosso In-o ln Constatações nos recorda o seguinte: “Minhas ações são meus verdadeiros
terno e, então, podemos conversar com a pessoa sem qualqüfif Pmb ema' pertences. Não posso escapar das conseqüências das minhas ações. Minhas
Tendências latentes (anashaya) são nos internos que foram ap EHHS Par' ações são o terreno sobre o qual me sustenho.”
cialmente transformados e que achamos que não existem mass. E cigmfo SE O segundo tipo de energia formadora de hábito é g¬raha-dva_ya-vasha-
tivéssemos derrubado uma árvore, tendo deixado as raizes: a arvore! e 332 na, a energia do hábito de agarrar-se a dualidade. Temos o hábito de per-
desapareceu, porém ela continua a existir, de forma latente, nas raizçfi fl? ceber os fenomenos em termos de opostos, pensando que o objeto existe
estão sob a terra. Não podemos nos separar das tendências latentes. E as 5510 fora do sujeito, que existe o eu e o outro. Quando vivemos plenamente
como a sombra que segue a forma- Q'-lêíldü Pra-“C3-mos 3 Úbfe““““ç““d,_“ conscientes, vemos que o mundo É exatamente nossa consciência, indivi-
nãden, e da interpenetração, pensamos já ter arrancado as raizes da i eia dual e coletiva, e que o eu e o outro, nascimento e morte, vir e ir, existên-
cio gu_ Mas 35535 raízes ali estavam antes mesmo de nascermos e muito malq cia e não-existência são apenas noções.
tmbajhg tem dg ser ffiim para que sejam transformadas. Devemos ser Can
Quando os dois tipos de energia formadora de hábitos são transfor-
telosos e reconhecer a tendência latente do apego ao eu quando ele sutgfi* mados e os nos internos se desatam, o fruto da prática revela-se por si mes-
de uma forma ou de outra. - _ mo. Chamamos isso de transformação na base (ashraya paravritti). Trans-
| .|-I'

TR,,_N5FgRM,à,çoEs iva coivscrfiiv cia


14-U

I A .'

formação na base significa transformação nas profundezas da conslqieâifiia


- r
armazenadora, P015 É É 13 3 base de todas as outras consciencias _ _ c,. E .
, - - ' ' ndemos raciocinamos discutimos
_
ma analise: .
do umvârsü a
Intimo. se apm f r3 uma e uena :transformat
e aceitamos a teoria do naoefillz- Púdemmos 32€ cl E
" na consciência mental Mas para transformar a raiz, a base, temos qu
ção i - de habito
f ' e as ten d^eneia ` s latentes -
sw QUARENTA E SETE
, - 31-glag
transformar os nos internos, as en ç
Tfimüfi que trabalhar com U5 bloquem
' 5 de í norãncia ue se encontram na
.g cl isas não Poderá
O Momento Presente
' '
nossa mente inconsciente. Se não conseguir tocar essas
Í co zH
._ - _ A fática não e uma uestao de trans-
haver uma transformaçao verdadeira p Cl
formar apenas o nosso intelecto. Í _
ias formadoras de habltüã Ê O momento presente
Quando somos capazes de tocar as energ
Contém o passëado e o futuro.
transformar as raízes de violencia, desespero, medo e raiva na nossa cons-

t
ça, começamos por recon ecer os nos internos e _ frr:¿f;;;â::.:í:.í;:“»;;-
. Í F -
¡-1105 que nos treinar a observar com os discernimentpls do nao etšãí Í;
O segredo da transformação
Está no modo como lidamos com este exato momento.

interexistência. Dia e noite precisamos regar a semente a comprleeâle H en!


nossa consciência armazenadora, de modo Cl'-fe da Cmsça E HÚÊÚÊEÊIIUS Te*
Xürgar 3 natureza interexistente de todas as coisas que verncps e . OMOMENTO PI-1ESENTE.conte`m passado e futuro - este ef um en-
1-nos que incorporar essa compreensão na nossa vida coti iana. sinamento do Averemseke Surfe. O um contem o todo. O tem-
po contem o espaço. Quando estamos em contato com o momento pre-
sente, estamos em contato com o tempo na sua totalidade, incluindo o
passado e o futuro. Jã que o tempo contem também o espaço, o momen-
to presente contem este lugar e todos os outros lugares. O chão sob nos-
IJ. I .r-^'

sos pes nao tem fronteiras, quando estamos na superfície da Terra, habi-
tando o momento presente. Estando em Paris, vemos que estamos em toda
a Europa. Seguindo a respiração, podemos ver que estamos na Europa to-
1
da. E se permanecermos firme e solidamente no momento presente, vere-
Í I

mos que tambem estamos na America do Norte, na Ásia e na Terra toda.


No momento presente, somos capazes de tocar o mundo inteiro e todo o
LIIIIVÊJÍSÚ .

A maneira de lidarmos com o momento presente e a chave para a


transformação do sofrimento. Este e um ensinamento essencial do Budis-
mo. A psicologia ocidental tem uma abordagem diferente. A psicanálise tra-
balha abrindo as portas para o passado e tocando no que aconteceu. Segun-
do esse método, o sofrimento e o resultado de tendências conflitantes que
não foram resolvidas. Os nos internos _ a raiva, o odio, o medo, a ansie-
z4r
I Taaivssoaiviaçóss iva consciência _ _ _ _ in-iRTE sE.is: o caivirnno na Paárrca 2

dade _ têm estado na nossa mente desde a infância. Devido ao fato de a ral e, se surgir alguma coisa na sua mente, diz ao analista, pois confia na
mente consciente não ter sido capaz de suportar a dor desses conflitos quan- possibilidade dele de ajudá-lo.
do ocorreram, ela os enterrou profundamente no nosso inconsciente e, des- Isso pode parecer fácil, mas não e. Muitas vezes, na nossa mente, apa-
de então, nossa mente consciente tem tentado impedir que essas ansieda- recem pensamentos e imagens sobre os quais não temos coragem de falar.
des insuportáveis penetrem no seu território. Assim, as lembranças Geralmente, quando falamos, procuramos nos corrigir, mas isso não nos
dolorosas permanecem no inconsciente, procurando sempre uma maneira ajuda a ver a verdade. No modelo psicanalítico, somente quando temos
de vir a tona e, de tempos em tempos, emergem de uma forma ou de ou- confiança no analista nos sentimos realmente relaxados e naturais para co-
tra. Fazemos, pensamos ou dizemos coisas que nos surpreendem, que pa- meçar a dizer toda a verdade. Quanto mais falamos, mais material o analis-
recem fora de propósito para a situação imediata. A falta de paz e alegria na ta tem para nos ajudar a ver e contatar a mente inconsciente.
mente inconsciente leva a essas expressões exteriores anormais. Freud ó considerado o primeiro psicólogo ocidental a descobrir o in-
Freud sugeriu que-_, ao acendermos a luz da mente consciente nos re- consciente. A influência dessa descoberta sobre a literatura, a filosofia e a
cantos escuros da mente inconsciente, nossa doença psicológica lentanien- psicologia do Ocidente tem sido considerável. Freud constatou que exis-
te diminui. A metodologia desenvolvida por ele manda o paciente sentar- tem pessoas surdas, mudas, cegas e paralíticas e que, fisicamente, não apre-
se ou deitar-se em um sofá confortável, enquanto o analista fica sentado sentam nenhum defeito no sistema ótico, auditivo, ou nervoso motor. En-
atrás dele, onde não pode ser visto. Dessa maneira, o paciente não se sente tão, por meio da hipnose, descobriu que os pacientes podiam dizer coisas
envergonhado ou embaraçado ao dizer o que lhe vem a mente. O paciente que eram incapazes de lembrar quando não estavam em estado hipnótico.
fica deitado, relaxado, braços ao longo do corpo, permitindo ao cérebro a Freud concluiu que os sintomas físicos da doença vinham da mente e não
liberdade de formar imagens. Qualquer imagem que lhe ocorra, comunica de distúrbios fisiológicos. Isso levou Freud a “descobrir” o inconsciente.
ao analista. De vez em quando, o analista pode dizer alguma coisa para en- As vezes, crianças de 5 ou 6 anos ficam surdas porque a maneira hos-
corajá-lo a falar. O analista pode sugerir que ele se recorde de uma reminis- til de os pais se comunicarem provoca nos filhos um sofrimento insuportá-
cência específica da infância. A medida que o paciente fala de sua infância, vel. Pessoas ficam cegas para evitar ver coisas que as fazem sofrer. Há pes-
certos detalhes emergem de sua mente inconsciente sem que ele reconheça soas cuja mão fica paralisada por terem sido coagidas a usar a mão para
a importância que têm. O analista observa esses detalhes e pode fazer per- satisfazer o desejo sexual de alguem. A psicanálise visa descobrir esse conhe-
guntas para explorar mais essas áreas. _' cimento sobre o passado que se encontra enterrado, a fim de explicar o so-
O analista pode pedir ao paciente para falar-lhe sobre um sonho re- frimento presente. Ela considera essa ênfase sobre o passado como vital pa-
cente. De acordo com a psicanálise, os sonhos são o caminho para a men- ra o presente. .
te inconsciente. Poderá pedir ao paciente que descreva algo acontecido re- A psicologia humanística, um ramo da tradição psicológica ocidental
centemente, uma coisa dolorosa ou marcante, tuna falta ou um momento que surgiu mais tarde, diz que não precisamos ir ao passado e sim prestar
desastrado. Falando sobre essas coisas, o paciente revelará, de' tempos em mais atenção ao presente. Carl Rogers, uma das figuras de vanguarda da
tempos, as imagens do inconsciente que estão se tornando nítidas. O ana- psicologia humanística, propos as cinco diretrizes seguintes:
lista bem treinado será capaz de ler as imagens depositadas na mente in-
consciente do paciente. Juntos, analista e paciente, mergulham no passado 1) Devemos dar maior importância ao presente do que ao passado;
e entram em contato com esses pensamentos e imagens enterrados nas pro- 2) Quando existe um sentimento, devemos dar atenção ao que esta-
fundezas da consciência do paciente, que estão causando sofrimento no mos sentindo, em vez de procurar sua fonte no passado;
momento presente. Nesse processo, e essencial o paciente estar relaxado, 5) Devemos usar a matéria-prima da mente consciente em vez da ma-
sem pensar conscientemente em coisa alguma. Ele se deixa ficar bem natu- teria-prima da mente inconsciente;
Taaivsroaiviaçózs iva coi:-isciÊi¬-icia PARTE sErs: o casriivno na 11-aáírrca

4) Devemos imediatamenteassumir a responsabilidade por qualquer manifestação coletiva que vem da sociedade e de muitas gerações passadas.
coisa que surja na esfera dos nossos sentimentos, e . Portanto, não existe ninguem que não seja co-responsável pelo que acon-
5) Se procurarmos ter uma vida de paz e alegria agoraz. 110555 ClUÊ1'1Ç'-*=1 tece em mim.
será naturalmente minorada. E de grande utilidade assumirmos a responsabilidade pelo que está se
passando na nossa mente. Somos noventa por cento responsáveis pela rai-
A psicologia budista contêm elementos dessas duas abordagens. O va que sentimos, portanto, não culpemos os outros, mesmo que eles te-
Budismo vê todas as informações da consciência mental como vindas da nham desempenhado um papel direto ou indireto em despertar nossa rai-
mente inconsciente, a consciência armazenadora. As sementes de sofrimen- va. Em vez de perder tempo procurando motivos para a raiva, usemos nossa
to que estão na consciência armazenadora, quando se manifestam na cons- energia para cuidar dela. Quando surge um sofrimento, nós o abraçamos
ciência mental, criam mais sofrimento. A noção de Freud que considera _o com a energia da plena atenção. Fazemos isso por nós, por todos os nossos
conhecimento do inconsciente como a chave para a interpretação do sofri- antepassados bem como pelas futuras gerações. -
mento e'- semelhante, exceto com relação a ênfase sobre o 61131115 (15 EVÊHÉUS O método b_,ásico de cura e estar plenamente consciente daquilo que,
passados _ sementes de sofrimento existentes na consciência armazenado-. no momento presente, está sendo belo e agradável. Esse simples metodo
ra, nos termos da Manifestação Apenas _ em lugar de transformar 511515 não É muito conhecido, nem consagrado ou amplamente adotado como
manifestações no presente. _ poderia ser. E fácil contar com a alegria e a paz. Quando tudo está corren-
Conforme aprendemos no Verso Quarenta e Çinco, a prática budista do bem, ninguem diz uma palavra a respeito. Quando alguem dá um belo
oferece três métodos de tratamento do sofrimento que nasce das sementes sorriso, os jornais não noticiarri. Mas quando alguem fica tão enraivecido
do sofrimento passado. Primeiro, entramos em contato com o que e sau- que mata outra pessoa, todos consideram notícia.
dável, agradável e bonito, no presente; segundo, -praticamos a plena aten- No primeiro método, não estamos nos curando conscientemente, a cu-
ção para reconhecer os sentimentos dolorosos a medida que surgem; E 1155* ra ocorre indiretamente. Existem tambem formas diretas de cura. Os ensina-
ceiro, quando estamos prontos, convidamos os sentimentos dolorosos para mentos da Pura Manifestação dizem que, não só e possível usar a plena aten-
virem até a consciência mental onde podemos tocá-los com a nossa plena ção para detectar o sofrimento quando ele surge e assim torná-lo menos forte,
atenção e transformá-los. Todos esses três metodos focalizam o momento como também e possível convidá-lo para vir ate nossa mente consciente a fim
presente, porque passado e presente interexistem. O presente já corítem o de transformá-lo diretamente. Desse modo, esses ensinamentos têm um al-
passado. Esta é a verdade da interexistência. Mediante a energia da plena cance maior do que a abordagem da psicologia humanística.
atenção, reconhecemos o que está acontecendo no momento presente e so- As raízes de sofrimento e ignorância podem ser descobertas, no mo-
mos capazcs de descobrir o seu fundamento. _ _ mento presente, na consciência armazenadora, a base. De modo que a ma-
Quando sentimos irritação ou desespero temos, primeiro de tudo, que neira inteligente de agir para transformá-las e fazer com que o momento
nos responsabilizar por esses sentimentos. Sou o maior responsável pela mi- presente seja belo e agradável. Não e necessário dizer “Temos que sofrer ho-
nha raiva, mas o meu irmão ó, até certo ponto, responsável também. E15- je para ter paz e alegria amanhã”, ou “Este não e meu verdadeiro lugar, vou
digge as palavras que regaram as sementes de raiva na minha _consciencia ar- esperar chegar ao paraíso para ser feliz”. Queremos cuidar do futuro. Mas
mazenadora. Minha irmã também tem alguma responsabilidade, pois mi- o futuro e feito de uma única substância: o momento presente. A melhor
nha raiva tem uma natureza coletiva e ela faz parte do coletivo, muito em- maneira de cuidar do futuro e darmos o melhor de nós mesmos para cui-
bora não tenha dito nem feito nada para regflf Hfilufilg-5 Ementas' _ dar do momento presente. De nada serve nos perdermos no passado ou no
Todos os fenómenos têm uma natureza individual e outra coletiva. O futuro. Quando estamos perdidos, não podemos cuidar do presente, do
sofrimento não e uma manifestação apenas individual, mas também uma passado nem do futuro. O segredo da transformação na base está em lidar-
' 2 *rriai~¬isEoi=ii~ziai'_;.õEs Na consciência if-aiiTE sErs: o caivrrivno na r›r-iÁ'rica 2

mos com o momento presente de forma plenamente consciente. Se souber- uma parede ao redor dessas pessoas que as impede de entrar em contato
mos manejar o momento presente, não só viveremos mais intensamente ca- com a flor, o põr-do-sol, as maravilhas do mundo natural, embora o mo-
da instante da vida como tambem poderemos transformar o passado e mento presente esteja sempre a sua disposição. Se fossem capazes de entrar
construir o futuro. em contato com o que ó saudável e belo, dentro e em torno delas, o sofri-
Viver no momento presente não nos impede de examinar profunda- mento diminuiria. Não basta tocar o sofrimento. Temos que também en-
mente o passado e o futuro. Alicerçados no presente, podemos pesquisar o trar em contato com o lado saudável e maravilhoso da vida. Para isso, pre-
passado ou olhar para o futuro e aprendermos muito. Sabendo como tocar cisamos de uma sangha, um grupo de amigos que sorriem, que trocam
profundamente o momento presente, poderemos tocar também o passado experiências conosco, nos compreendem e caminham conosco rumo â li-
e ate mesmo mudá-lo. No passado, talvez tenhamos cometido um engano berdade, ajudando-nos a sair do mundo da escuridão.
que fez alguém sofrer. A cicatriz do sofrimento ainda está em mim e na ou-
tra pessoa também. Com a energia da plena atenção, posso reconhecer a fe-
rida que está em mim e dizer para a pessoa a quem feri: “Desculpe, jamais É

farei isso novamente.” A determinação para começar de novo possui uma


energia muito poderosa. Ela pode nos ajudar a curar nossas feridas rapida-
mente e aliviar nosso sofrimento e o dos outros. Podemos ajudar muitas
pessoas a se libertarem de suas culpas oferecendo-lhes esse tipo de ensina-
mento e prática. H
O Dzseoafrse eu Dweíízzzg Heppilji in the Present Moment (Discurso so-
bre como Viver Feliz no Momento Presente) e o ensinamento mais antigo
sobre essa questão? Buda disse muitas vezes que seu ensinamento destina-
va-se a ajudar as pessoas a terem paz e alegria no momento presente, o que
não só garantiria sua felicidade presente mas também a felicidade futura.
Se o presente pode ser alegre, o futuro também pode. Há uma frase em
sânscrito que resume o que acabamos de dizer: “DršsÍare-dÍ:›erme-su.7e/§e-v¿-
/ø.erz'iz. ”Driis/ara: significa o que pode ser visto, tocado e realizado no mo-
mento presente. D/øúirme significa fenómenos. Sue/ae quer dizer felicidade
e l/Ê¿Ía:zif'.›r`r1,_.,permai'iecer. “Tocando o momento presente, permaneço feliz.”
Sempre existem condições internas e externas para nos fazer felizes no mo-
mento presente. -
Não se trata de negar que também existem em nós elementos de so-
frimento. Mas os elementos de sofrimento não removem nem substituem
os elementos de felicidade._ Se tocarmos somente nos elementos de sofri-
mento, na realidade não estaremos vivendo. Algumas pessoas se deixam
aprisionar pelos seus sofrimentos. Qualquer coisa que vêem, só enxergam
o que há de errado, o que pode ferir. Em princípio podem até saber que a
flor É bela e o põr-do-sol majestoso, mas não conseguem tocá-los. Existe
I I

i=aiiƒrE sEis: o caiviiiano na siri!-.Tica 249

A energia que nos possibilita parar e a plena consciência. Podemos usar


as coisas que já estão presentes na nossa vida _ a campainha do telefone, a
pausa em um sinal de trânsito quando dirigimos _ para nos ajudarem a

en» QUaRENTa E OITO lembrar que temos de parar, respirar, sorrir e voltar para o momento presen-
te. O som do telefone e a voz de Buda nos chamando de volta para o nosso
Sómg/øóz verdadeiro eu e perguntando: “Para onde você vai? Por que não volta para
casa?” Somos como crianças que fugiram de casa. Ao ouvir o som do telefo-
ne, podemos voltar para o aqui e agora. O momento presente e'. pleno de ale-
gria, paz, liberdade e despertar. Temos apenas que parar e tocá-lo.
A transformação se dá A prática de parar traz concentração (safmózdføa), o que torna a mente
mais estável. Se a pilha de nossa lanterna estiver bem carregada, sua luz será
Na nossa vida diária.
forte e, ao acendê-la, poderemos ver claramente qualquer objeto. Mas se a
Para tornar mais fácil o trabalho da transformação,
bateria estiver fraca, veremos apenas uma imagem vaga, oscilante. A concen-
Pratique com uma Sangha. ...
tração é a pilha, a lanterna e a plena atenção. Quando paramos e concentra-
mos nossa mente, ainda que seja por um breve instante, começamos a en-
xergar. Se pararmos por mais tempo, a energia da nossa concentração ficará
bem forte, e onde quer que acendamos a luz da plena atenção enxergaremos
vsaso sE REEERE À raarica na vida diaria e a comunidade que
com clareza. Com a concentração, e muito mais fácil observar profunda-
Oda apoio a nossa prática, a Sangha. As vezes, pensamos que po-
mente (vrjsüózs/ayórnóz). De fato, concentração e olhar profundamente não po-
deria ser mais fácil viver e praticar sozinho, habitar no topo de uma mon-
dem estar separados. Assim que nos concentramos, a observação já está sen-
tanha e fechar a porta da nossa cabana particular. Na realidade, praticar so-
do profunda pois para olhar em profundidade e preciso primeiro parar.
zinho e bem mais difícil. Nós humanos somos animais sociais e nossas
Quando paramos e observamos uma flor profundamente, podemos ver o
alegrias e esperanças dependem de estarmos com outros.
Co-Surgimento Interdependente de sua natureza: o sol, a chuva e a terra.
A prática e simples: plena atenção na nossa vida diária. Praticanios as
Em todas as atividades da vida diária, podemos praticar concentração
'tecnicas de meditação acalmar/parar (s/aemeriaa) e olhar/analisar profunda-
e observação profunda. Ate mesmo andando, podemos adotar a prática de
mente (wjíaes/ayene). Sem plena atenção e meditação, somos arrastados por
parar. Andamos sem ter a chegada como meta. Andamos usufruindo cada
muitas coisas e nos perdemos de nós mesmos. A prática nos ajuda a parar
passo. Se praticamos parar enquanto limpamos o chão, lavamos pratos, ou
de correr apiessados pela vida afora como se estivéssemos sendo caçados por
tomamos banho, estaremos vivendo profundamente. Se não praticarmos
Mara em pessoa. Muitas vezes somos levados pela energia das pessoas que
dessa maneira, dias e meses passarão e estaremos perdendo tempo. Parar nos
nos cercam, pelas circunstâncias, pelos nossos próprios pensamentos, pela
ajuda a viver autenticamente.
raiva, e não temos poder para ir contra essas forças. Pergunte a você mes-
Muito embora a prática seja simples, mantê-la sozinho, isoladamen-
mo “O que tenho feito de minha vida nos últimos anosi” Se você não tiver
te, poderá ser difícil. As forças que nos arrastam são fortes. Todavia, se fa-
praticado n parar, tera. a sensação de que os anos passaram como um sonho.
zemos parte de uma comunidade, uma Sangha, onde todos praticam da
E possível que você nunca tenha parado por um momento para olhar H 11-15-
mesma maneira, ela torna-se simples e natural. A Sangha e' uma comuni-
Úu Sügumr uma flür nas mãos. Sem parar e olhar/analisar profundamente,
dade em que todos têm a intenção de aprender e praticar. Porem, boas in-
não temos a capacidade de viver realmente nossa vida.
2.
tenções não são suficientes. Devemos aprender a arte de viver felizes jun-
I .-
2 O Taaiasr-oiiiviacoss iva consciâivcia
-- - _ Paa'rE sais: o caiviriano oa Paarrca 2J

tos. A criação da Sangha ê uma das partes mais importantes da prática. Ne- grandes bodhisattvas cósmicos como Shariputra, Maudgalyayana, Saman-
cessitamos aprender a arte de formar uma comunidade que seja feliz e trans- tabhadra e Mañjushri, e não nos praticantes comuns que vivem na sua pró-
mita as pessoas um sentimento de confiança. pria comunidade. Buscamos refúgio em Buda por termos confiança nos en-
Os centros de prática devem ser organizados como famílias. O mestre sinamentos e na prática. O Buda e plena consciência. Ele mostra o caminho
e como o pai ou a mãe. Os praticantes mais antigos são como irmãs e ir- por onde devemos ir. Mas, tomar refúgio na Sangha não e uma questão de
mãos mais velhos, tios e tias. Se o centro de prática não for organizado co- mera crença. É uma expressão de confiança baseada na nossa experiência
mo uma família espiritual, onde todos se sintam urn-membro valioso, será de praticar em comunidade.
difícil o trabalho da transformação. Muitas pessoas que vêm praticar estão A transformação se dá na nossa vida diária. Tomar refúgio na Sangha
vindo de lares desfeitos e de uma sociedade conturbada. Se o centro de prá- e com ela praticar e muito importante. Não espere para construir uma
tica for organizado de tal modo que cada um seja uma ilha, sem que haja Sangha. Aprenda a viver em harmonia e felicidade agora e construa sua
contato, afeto ou cordialidade entre seus membros, mesmo que o centro Sangha aqui mesmo, no momento presente. E difícil praticar sem uma
pratique por dez ou vinte anos seguidos, não produzirá fruto. Precisamos Sangha. Não ap“enas monges e monjas, mas todos os praticantes necessitam
criar raízes. Fica difícil funcionar com felicidade quando não há raízes. H do apoio de uma Sangha. Quando você pratica com uma Sangha, os fru-
O mestre também e ajudado por uma boa Sangha. Por mais brilhan- tos da prática são facilmente obtidos. Quando você toma refúgio numa
te que ele seja, se não fizer parte de uma Sangha, não há muita coisa que Sangha, o trabalho de transformação se realiza.
ele possa fazer. O mestre sem a Sangha ef como o fabricante sem materiais Deveríamos também compreender a Sangha como um ambiente. A
ou um músico sem instrumento. A capacidade do mestre pode ser vista pe- transformação e a cura não são fáceis se o ambiente não for apropriado.
la qualidade de sua comunidade. Se houver harmonia na Sangha, ate mes- Num ambiente bom e saudável, os elementos positivos que estão dentro de
mo quem visitar a comunidade por um curto período receberá algum be- uma semente ou de um gene poderão ser tocados e, assim, se manifestarem,
nefício. . ` enquanto os elementos negativos diminuirão retrocedendo para o segundo
Não espere por uni mestre ou uma Sangha perfeitos. E preciso apenas plano. Esse princípio se aplica tanto as condições físicas quanto mentais. A
um grupo de pessoas comuns comprometidas, para que se recebam gran- luz da interexistência, uma semente é feita de todas as sementes, e um ge-
des benefícios. Quando as pessoas do grupo tomam refúgio na Sangha, es- ne e feito de todos os genes que contêm dentro de si todos os elementos
ta cresce forte e harmoniosa. Quando sorrimos e respiramos consciente- saudáveis e nocivos, igual ao computador que tem a capacidade de acessar
mente, a Sangha toda sorri e respira conscientemente junto conosco. Na todos os tipos de informações na Internet. Quando um tipo de informação
Sangha, as pessoas se ajudam mutuamente. Quando caímos, há sempre al- aparece na tela, as outras todas têrn que estar latentes, no segundo plano.
guem que:"i¬ios ajuda a levantar. Quando praticamos meditação andando, Podemos decidir manter o material acessado pelo tempo que quisermos,
estamos servindo a nossa Sangha. As técnicas para construir uma Sangha evitando que outras informações ocupem o primeiro plano. Um ambiente
são: manter um leve sorriso, meditar andando, parar (shemer/ae) e perma- propício É vital para o trabalho de transformação e cura. Uma boa semen-
necer no momento presente. Alicerçados nessas bases, podem-os ajudar os te pode ser plantada, um bom gene pode ser transplantado, mas se o am-
outros. O mais importante e a Sangha ser feliz, nutrida e estável. biente nao for bom, a boa semente e o bom gene não serão capazes de fi-
A melhor maneira de ajudar a construir uma Sangha é ser um elemen- car por muito tempo em primeiro plano. E por isso que as tarefas de
to saudável na comunidade de prática. A Sangha ê onde você pode receber construir uma Sangha e criar ambientes saudáveis devem ser encaradas co-
e participar da tradição. Mas ela não desabrocha por si só. Ela ó o que nós mo as mais urgentes na nossa moderna soç;ieda_de_
fazemos que ela seja. Há os que querem buscar refúgio em Buda e no Dhar- ' ÂSH1'1g21z. em SEU Sflmmaffjf sf the Greer lê/a.=:'‹."le (iMóz/ørzyz:ma-raziia_‹grzz/øzz-
ma, mas não na Sangha. Outros querem procurar refúgio só na Sangha de 5;)-fifffflli fala sobre as seis características das sementes-i' momentaneidade J si-
I
I
2 3 raaivsroaiaaçõas iva consciência

multaneidade, continuidade seqüencial, stntns determinado, dependência


de condições e produção de resultados específicos. A primeira característi-
ca (momentaneidade) confirma o ensinamento da impermanência: todas
as formações passam por mudança a todo momento. Isso quer dizer que
transformação e cura são possíveis. A segunda característica (simultaneida- Ê* QUARENTA E NOVE
de) significa que as sementes interexistem e co-existem com os órgãos dos
sentidos e seus objetos _ elas não existem separadamente da consciência, Nózdóz óz Reózlizózir
do sujeito da cognição e do objeto da cognição. Um grão de milho contem
a planta dentro de si. Assim, se confirma o ensinamento da interexistência.
A terceira característica (continuidade seqüencial) mostra a natureza da in-
teração e interprodução de sementes e formações: sementes se manifestam Nada nasce, nada morre.”
como formações, formações produzem e nutrem sementes. Não há nada a ser segurado, nada a ser largado.
A quarta (status determinado) e a sexta característicavfprodução de re- O Samsara ó o nirvana.
sultados específicos) demonstram a consistência da lei de causa e efeito: uma Não há nada a ser alcançado.
formação negativa como a raiva produz ou fortalece a semente da raiva;
uma formação positiva como a compaixão produz ou fortalece a semente da
compaixão. Mas â luz da impermanência e da interexistência, ambas, for-
mação e semente podem mudar, serem transformadas e perderem seu “status E SSE VERSO SE REFERE â dimensão suprema: o fruto da prática, nir-
determinado”. Uma semente ou urna formação e definida como nociva por- vana, ir alem de nascimento e morte. Porem, sabemos que a di-
que os elementos nocivos nela contidos surgiram e se manifestaram em pri- mensão suprema não está separada da dimensão histórica. Dizemos que “al-
meiro plano, ao passo que os elementos saudáveis, por falta de um bom am- cançarnos” a dimensão suprema, mas na realidade não alcançamos nada. A
biente, ficaram escondidos no segundo plano. Já que a transformação e onda não precisa alcançar o estado de ser água _ a onda e água. Vivemos
possível, o lixo pode se tornar flor e as aflições podem se tornar iluminação. na dimensão histórica, no mundo da existência e não-existência, continua-
Assim sendo, devemos analisar com cuidado essas duas características apre- ção e cessação, vir e ir _ e, ao mesmo tempo, estamos em contato com o
sentadas por Asanga. Quanto â quinta característica (dependência de con- nirvana. Nirvana e a nossa verdadeira natureza. Assim como a onda sem-
dições), entende-se que, se somos providos de um bom ambiente e de uma pre foi água, nós tambem sempre estivemos no nirvana. `
boa Sangha, a transformação ocorrerá. H Os Três Selos do Dharma _ impermanência, não-eu e nirvana _ são
as chaves que abrem o portão dos Cinqüenta Versus. Os Três Selos do Dhar-
ma trabalham juntos como os dois lados da moeda e o metal da qual ela e
feita. Tocando qualquer lado da moeda tocainos, ao mesmotempo, o me-
tal. Impermanência e não-eu referem-se ao fenómeno, a onda. Assim como
exarninamos a onda para descobrir do que e feita, investigamos a natureza
impermanente e sem eu de tudo que existe e, assim procedendo, podemos
ultrapassar as idéias de existência e não-existência, de um e muitos, de vir
e ir, de nascimento e morte. Isso ó nirvana, a extinção de todas as ideias e
noções, inclusive ideias sobre impermanência e não-eu.. Impermanência e
Z
Triaivsroriiviaçõzs iva coivsciâivcia
i=aaTE sEis: o caivriivrio na Pnarica

não-eu são ideias projetadas para nos ajudar a ir alem das ideias de imper-
damente a natureza da realidade e descobriu essa verdade. O Sutra: de Cein-
manência e não-eu. Mas não obstante são ideias _ fabricações, não reali-
çtíe tambem diz: “Não há nascimento, nem morte, nem produção, nem des-
dade. O nirvana está alem de todas as ideias _ tanto de permanência quan-
truição.” Se você nunca nasceu, como poderá morrer? Apego e rejeição só
to de impermanência.
existem enquanto você não tenha ainda penetrado no coração da realidade.
Do ponto de vista das três naturezas, a natureza da construção imagi-
Estamos sempre procurando nos agarrar â vida e fugir da morte. Mas,
nária Çpnrtknávttn) vê as coisas como permanentes e com um eu. A nature-
de acordo com os ensinamentos, tudo e nirvana desde o não-princípio. As-
za da Co-Existência-Interdependente (pnnztózntnz) vê as coisas como imper-
sim, por que temos de nos agarrar a uma coisa e evitar outra? Na dimensão
manentes e sem eu, libertando-nos da natureza da construção imaginária e
suprema, não existe começo nem fim. Pensamos que existe alguma coisa a
ajudarido-nos a entrar em contato com a natureza plena, verdadeira (n.;is/)-
ser alcançada, algo fora de nós, mas tudo já está presente. Quando trans-
pnnnn). Quando tocamos a onda, tocamos a água. E finalmente, quando
cendemos as noções de dentro e fora, sabemos que o objeto que desejamos
tocamos a impermanência, tocamos o nirvana. E por isso que não há nada
alcançar já está dentro de nósi Não temos que procurá-lo no espaço ou no
a ser alcançado. Não há nada a ser segurado e nada a ser largado. Tudo já
tempo. Ele já estáfiâ nossa disposição no momento presente. A contempla-
está presente.
ção no “nada a alcançar” e muito importante. O objeto que desejamos con-
Somos capturados pelas ideias de nascimento e morte.~f'*Pensamos que
seguir já foi conseguido. Não precisamos conseguir nada. Nós já o temos.
ter nascido significa que do nada nos tornamos alguma coisa, que de nin-
Nós já sumos ele.
guem nos tornamos alguem. Acreditamos que morrer significa que de al-
O ensinamento do nada a alcançar foi desenvolvido a partir do ensi-
guem nos tornamos ninguem. Porem analisando profundamente, vemos
namento do não-objetivo (nprnnš/vita). O ensinamento das Três Portas pa-
que essas noções não se aplicam a realidade. Não existe nascimento nem
ra a Libertação e comum a todas as escolas budistas. A primeira porta e o
morte, apenas continuação.
vazio. Tudo e vazio. Vazio de quê? Vazio de um eu, separado. A flor e reple-
Quando a nuvem se transforma em chuva e cai no rio, no oceano e
ta de tudo o que existe no cosmo _ raio de sol, nuvens, ar e espaço. Só e
nas terras cultivadas, ela não morre. Simplesmente continua de uma forma
vazia de uma existência separada. Esse e o significado de vazio. Podemos
diferente. Mesmo quando se funde a corrente do rio ou do oceano, ela con-
usar isso como a chave que abre a porta para a realidade.
tinua mudando. E maravilhoso ser uma nuvem flutuando no ceu. Mas
A segunda porta e a “ausência de sinais”. Se você vir uma flor somen-
tambem e maravilhoso ser a chuva caindo no campo. Uma folha de papel
te como uma flor e não vir nela o raio de sol, as nuvens, a terra, o tempo e
não pode ser reduzida a nada. Mesmo se você queimá-la, ela continuará em
o espaço, e porque está preso a aparência da flor. Mas quando você toca a
outras formas. Uma parte subirá como fumaça para o ceu tornando-se par-
natureza interexistente da flor, verá verdadeiramente a flor. Se você vê uma
te de alguma__nuvem. Parte se tornará energia de calor. Parte se tornará cin-
pessoa e não vê tambem sua sociedade, educação, antepassados, cultura e
za que, caindo no chão, mistura-se a terra. Passadas algumas semanas, esse
ambiente, na realidade você não viu a pessoa. Em vez disso, viu a aparên-
papel poderá se manifestar como uma minúscula flor na grama. Seremos
cia da pessoa, a aparência externa de um eu separado. Quando conseguir
capazes de reconhecer sua presença? Nada morre. Você não pode reduzir al-
ver a pessoa em profundidade, tocará o cosmo inteiro e não será enganado
guma coisa a coisa nenhuma.
pela aparência. Isso chama-se ausência de sinais.
Um famoso kenn zen Como era o seu rosto antes de você nascer?
A terceira porta e a do não-obetivo. já somos aquilo que gostaríamos
A contemplação desse kann- tem por objetivo nos ajudar a entender a natu-
de nos tornar. Não temos que ser outra pessoa. Tudo o que temos que fa-
reza de não-nascimento e não-morte da realidade e de nós mesmos. Antoi-
zer e. sermos nós mesmos, total e autenticamente. Não temos que correr
ne Laurent Lavoisier, cientista francês do seculo XVIII, disse: “Nada nasce.
atrás de nada. já contemos o cosmo inteiro. Simplesmente voltamos a ser
Nada morre.” Ele não era budista, mas um cientista que examinou profun-
nós mesmos por meio da plena consciência e tocando a paz e alegria que já
3 Taaivsroaiviaçõzs iva coivscrâivcia

estão presentes dentro e ao redor de nós. Cheguei. já estou em casa. Não


há nada a fazer. Esta e a terceira chave, a que abre para a realidade. Nenhum
objetivo, nada-a-alcançar, e uma prática maravilhosa.
Nossas aflições nada mais são do que iluminação. Podemos deslizar
em paz nas ondas de nascimento e morte. Podemos viajar no barco da com- W' C I N EN TA
paixão e atravessar o oceano da ilusão com um sorriso destemido. A luz da
interexistência, vemos a flor no lixo e o lixo na flor. E nas profundezas do Destemot
sofrimento e das aflições que podemos contemplar a iluminação e o bem-
estar. E exatamente naiágua lamacenta que a flor de lótus brota e floresce.
Bodhisattvas são aqueles que penetraram na realidade de não-nasci-
mento e não-morte. E por isso que eles vivem noite e dia sem temor. Com Quando compreendemos que as aflições nada mais são que iluminação,
essa liberdade, podem fazer muito para ajudar os que estão sofrendo. Bas- Podemos deslizar em paz nas ondas de nascimento e morte,
ur- _ F_ _
ta estarmos no mundo do sofrimento e das aflições para que possamos nos" Navegando no barco da compaixao, cruzamos o oceano da ilusão,
tornar um Buda. E quando estivermos livres, poderemos passear no ocea- Com um sorriso, sem medo.
no de nascimento e morte sem medo, ajudando os que estão se afundando
no oceano do sofrimento.

()utriivio nos csasqoaaira varsos desereve e bedhisattva, um ilumi-


_ nado que tem o direito de deixar o ciclo de sofrimento para sem-
pre, mas, em vez disso, prefere ficar, alegre e sem medo, neste mundo de nas-
cimento, morte e aflições. Os bodhisattvas habitam o mesmo lugar que nós _
o mundo de nascimento e morte, de permanência e eu. Mas, graças â prática
de examinar profundairiente a impermanência e o não-eu, estão em contato
J J.

com a dimensão suprema, livres dos medos associados as ideias de existência e


não-existência, um e muitos, vir e ir, nascimento e morte. Por terem essa liber-
dade, deslizam nas ondas de nascimento e morte em perfeita paz, capazes de
permanecer no mundo das ondas enquanto habitarri na natureza da água.
9

“Deslizando nas ondas do nascimento e da morte” e uma descrição do


Sntnt da Lotus sobre os quatro grandes bodhisattvas _ Avalokiteshvara, Sa-
mantabhadra, Bhaishajyaraja e Gadgadasvara _ que mostram como pra-
ticar nesta vida. Essa e a dimensão da ação. Num mundo de dor e pesar, es-
ses bodhisattvas ainda são capazes de sorrir com compaixão e sem medo,
pois conseguem ver a não-dualidade das aflições e do despertar, tocando a
realidade do nirvana. _
Os textos budistas falami de três tipos de dádivas _ recursos materiais,
partilha do dharma com os outros e destemor, a maior dádiva. Por estarem
Z
I

' 253 Txaivsroifiivraçõns iva coivscrâivcra

. Ii

livres do medo, os bodhisattvas podem ajudar muitas pessoas. O destemor NOTAS


-

e o maior presente que podemos oferecer aqueles que amamos. Nada e mais
precioso. Porem, temos que possuir esse presente para poder oferecê-lo. Se
1. Yšnsho 104.
praticamos e tocamos a dimensão suprema da realidade, nós tambem po-
demos ter o sorriso de destemor dos bodhisattvas. 'Como eles, não precisa- 2. Thich Nhat Hanh, “Recommendation”, em Celt Me hy Aly True Nõzrne,
mos fugir das nossas aflições, nem ir para outro lugar a fim de obter a ilu-
pág.lB.
minação. Sabemos que aflições e iluminação são uma coisa só. Quando
temos uma mente iludida, só conseguimos ver aflições. Mas quando temos
5. Para uma discussão em profundidade sobre o Caminho Octuplo, con-
a-mente verdadeira, nela não existem mais aflições. Só' existe iluminação. sulte o livro de Thich Nhat Hanh, The Heart ofthe Bnóíofhorfs Teaching,
Não temos mais medo de nascimento e morte porque já tocamos a natu- capítulos 9-16. -
reza da interexistência. -
Especialmente os terapeutas e os profissionais que trabalham ajudan¡_ 4. Ver The Lrifng Road Tnrns to joy:/1 Guide to 117511/ring Medttnn`on, de
do doentes terminais, necessitam praticar solidez e destemor. Os outros Thich Nhat Hanh (Berkeley, CA: Parallax Press, 1996).
precisam da nossa estabilidade e do nosso destemor para inõrrerem em paz.
Se soubermos como tocar a dimensão suprema da realidade, se conhecer- 5. Ver Brentheƒ' Ifnt Are Alive: Sntro: on the Fn[[Awnreness oƒfirenthing, de
mos a realidade de não-nascimento e não-morte, poderemos transcender Thich Nhat Hanh (Berkeley, CA: Parallax Press, 1996).
todos os medos. Então, quando estivermos sentados ao lado da pessoa que
está morrendo, ela encontrará em nós uma fonte de conforto e inspiração. 6. Ver Tin;n.sfi:›rmnt¿on Ó” Hen/sing: Sntrn on the Font Fonnofottons ofMi'nd-
O destemor e a maior prática do budismo. Para nos libertar de todos os me- fidness, de Thich Nhat Hanh (Berkeley, CA: Parallax Press, 1990).
dos, devemos tocar nas profundezas de nosso ser analisando-o diretamen-
te a luz da interexistência. 7. Thich Nhat Hanh, “Guarding the Six Senses”, em A Boshet ofP[znns,
O Sntrn do Coração descreve como o bodhisattva Avalokiteshvara, por terceira edição (França, Plum Village, 2000), Nf 23.
ser capaz de ver a natureza do não-eu dos Cinco Agregadosg em profundi-
dade, descobre a natureza do vazio e de repente supera todas as aflições. A 8. Ver Our Appoinnnent with Lifƒe: Dssconrse on Living Hoppthx in the Pre-
partir daí, ele passa a receber a energia do destemor, motivo pelo qual po- sentMornent, de Thich Nhat Hanh (Berkeley, CA: Parallax Press, 1990).
de ajudar tantas outras pessoas. Desde que constatemos que nossas aflições
nada mais são do que iluminação, podemos deslizar alegremente nas ondas 9. Os Cinco Agregados são os componentes que constituem o que nomi-
do nascimento e da morte. nalmente refere-se a personalidade ou eu. Eles são: forma, sentimentos,
O jardineiro nãocorre atrás das flores, nem foge do lixo. Aceita e cui- percepções, impulsos ou formações mentais e consciência. Para uma
da de ambos. Não tem apego a um e rejeição ao outro, pois vê que a natu- discussão mais profunda sobre o assunto, consulte o livro de Thich
reza de anibos e a interexistência. Ele fez as pazes com a flor e com o lixo. Nhat Hanh, The Henrt ofthe Bnddhni Íenching, capítulo 23.
O bodhisattva lida com as -aflições e a iluminação da mesma maneira que
o jardineiro habilidoso lida com as flores e o lixo _ sem discriminação. Ele
sabe como fazer o trabalho de transformação e, por isso, não tem mais me-
do. Essa e a atitude de um Buda.

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