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Teoria do Discurso Laclauniana: Uma mediação entre teoria crítica e prática

política

Autoria: Adriana Tenório Cordeiro, Sérgio Carvalho Benício de Mello

Resumo
As recentes transformações no mundo do trabalho, na economia, no Estado, na difusão
cultural, e no meio-ambiente impelem o campo dos estudos organizacionais a buscar uma
perspectiva diferente para leitura e compreensão do social que se transforma. O uso de
abordagens teórico-discursivas vem se intensificando diante da crescente ênfase pós-
estruturalista sobre o papel do significado em estruturas descentradas. Nosso objetivo neste
trabalho é o de lançar luz sobre a teoria do discurso de Ernesto Laclau enquanto perspectiva
de análise, enfatizando-se a compreensão do seu complexo aparato teórico-discursivo.
Buscamos a interlocução com uma pequena unidade social de análise, isto é, apoiamos-nos
em um estudo empírico realizado na zona rural de Pernambuco (CORDEIRO, 2006).
Observamos nas práticas discursivas na territorialidade rural contemporânea como o processo
de identificação que constitui campos culturais pode se transformar em um campo de ação
política, destacando-se aqui a articulação, por atores organizacionais locais, de uma rede para
desenvolvimento do campo. Essa microanálise inspirou a possibilidade de enunciarmos
adequadamente os problemas contemplados pela Teoria do Discurso, e ampliarmos os
esforços para construção de uma perspectiva teórica socialmente comprometida no campo dos
estudos organizacionais, cientes da necessidade de um olhar “para além” da disciplina
“Administração”. Entendemos que, mesmo existindo muitos e diferentes enfoques de “análise
do discurso”, o que estas perspectivas devem assumir como “ponto de partida” é a rejeição da
noção realista da linguagem como mero epifenômeno, como um meio “neutro” de refletir o
mundo ou de descrevê-lo. Este trabalho destaca o desafio de nos engajarmos, por meio de
uma visão metodológica não-essencialista e não-positivista para a produção do conhecimento,
na superação da fronteira disciplinar da “Administração”, quando sua linguagem e conceitos
próprios isolam este campo em relação aos outros e em relação aos problemas que se
sobrepõem a ele ou o extrapolam. A categoria “articulação” assume hoje um lugar crítico para
a análise social. Em nosso trabalho, a compreensão da formação de redes de desenvolvimento
do meio rural, fomentada por atores organizacionais diversos, foi apenas uma das
exemplificações possíveis da maneira como a teoria social do discurso pode lançar luz sobre
uma complexa realidade. Quanto à construção de outras mediações entre teoria crítica e
prática política no contexto dos estudos organizacionais, a questão a ser contemplada é se
estamos apenas nos concentrando na investigação da luta discursiva ou estamos nos
comprometendo com ela.

Palavras-chave: Teoria do Discurso; pós-estruturalismo; política; cultura; movimentos


sociais.

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1. Introdução
Os avanços tecnológicos nas esferas produtivas e a formação de uma cadeia hiper-
eficiente de suprimentos a nível global são vinculados à lógica pós-fordista de acumulação
flexível numa competitiva economia informacional, “sem peso”, que tem como vanguarda o
mercado financeiro e sua alta rotatividade (HUTTON e GIDDENS, 2004). Ganham destaque a
flexibilidade de gerenciamento, individualização e diversificação de relações de trabalho,
descentralização de empresas e sua organização em “redes” (CASTELLS, 1997). Esses aspectos
também estão imbricados em outras esferas, como um novo tipo de relação entre Estado e
sociedade civil introduzido pelas políticas neoliberais (ALVAREZ, DAGNINO e ESCOBAR, 2000)
e uma crescente sensibilidade para o tema da cultura sendo expressa em novas formas de
identificação coletiva (HALL, 2003). Além disso, grande parte dos riscos ambientais deixam
de ser interpretados como apenas internos às fronteiras do “estado-nação” (SANTOS, 2002).
Essas transformações no mundo do trabalho, na economia, no Estado, na difusão
cultural, e no meio-ambiente nos impelem a buscar uma perspectiva diferente para leitura e
compreensão do social que se transforma, bem como problematizarmos aí o potencial de
mudança associado às práticas de movimentos e atores sociais, a exemplo das diversas ‘lutas’
(cf. LACLAU e MOUFFE, 1989) - urbanas, ecológicas, anti-autoritárias, anti-institucionais,
feministas, anti-racistas, étnicas, regionais, ou das minorias sexuais – que vêm sendo
articuladas de maneira inédita. Nas lutas contínuas por (re)construção social, os movimentos
sociais mobilizam-se a partir de conjuntos muito diferentes de significados e objetivos. Como
parte de um debate entre “localização da cultura” e a “desterritorialização” introduzida pelos
fluxos globais, essa luta está voltada à construção cultural de identidades, sendo que um
“descentramento crítico” abre caminho para novas perspectivas de análise social.
A publicação, por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, de Hegemony and Socialist
Strategy, em 1985, marca o aparecimento da Escola de Essex de Teoria do Discurso. Nesta
obra pioneira, conceitos ligados a diversas áreas de conhecimento (marxismo, filosofia
desconstrutivista derrideana, psicanálise lacaniana, lingüística estrutural) são articulados
numa concepção pós-marxista da política e na construção de um aparato teórico para
investigação do modo pelo qual as práticas sociais articulam e contestam determinados
discursos. Os desafios identitários contemporâneos têm a ver com aquilo que Laclau (1993)
chamou de “deslocamento”, segundo o qual as sociedades contemporâneas não têm um
núcleo ou centro determinado que produza identidades fixas, mas uma pluralidade de centros
(WOODWARD, 1997); este “descentramento crítico” (cf. LACLAU e MOUFFE, 1989) refere-se
ao deslocamento da classe social como a categoria mestra, da forma como ela é descrita nas
análises marxistas da estrutura sociali. A crescente ênfase pós-estruturalista no papel do
significado dentro de estruturas descentradas conduziu à noção de “discurso”, e a Teoria do
Discurso surge nesse contexto histórico, ao problematizar o paradigma estruturalista clássico
por meio da crítica à noção de estruturas fechadas e centradas.
No campo dos estudos organizacionais, a ênfase numa abordagem teórico-discursiva
vem se intensificando (ver ALVESSON e KARREMAN, 2000; HARDY, 2001). Marston (2000),
por exemplo, investiga a função e os efeitos de discursos concorrentes no processo de
mudança de políticas públicas habitacionais. O autor explora como a linguagem na gestão de
políticas públicas constrói identidades do ‘bem-estar’ (welfare), como legitimam intervenções
políticas e funcionam como um importante cenário da luta ideológica sobre o sentido dos
serviços humanos dentro do Estado do bem-estar social. Fowler e Kress (1979), por sua vez,
no que se refere às agências do estado e das organizações, enfatizam que a linguagem
contribuiria, inquestionavelmente, para confirmar e consolidar as instituições que a modelam,
inclusive para fins de manipulação e manutenção de poder.

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O nosso propósito é, fundamentalmente, lançar luz sobre a teoria do discurso
laclauniana. Para dar conta da realidade cifrada do quadro contemporâneo, e na tentativa de
tecer laços de inteligibilidade sobre o complexo aparato teórico-discursivo, buscamos a
mediação entre teoria crítica e prática política por meio da interlocução com uma pequena
unidade social de análise. Assim, este trabalho é apoiado em um estudo empírico realizado na
zona rural de Pernambuco (ver CORDEIRO, 2006), em que pudemos observar como o processo
de identificação que constitui campos culturais pode se transformar, em conjunturas
específicas, em um campo de ação política. Neste caso específico acompanhamos a
articulação, pelos atores organizacionais, de uma “rede” (cf. CASTELLS, 1997, 1999; BURITY,
2000) para desenvolvimento do campo. Essa microanálise sobre a territorialidade rural
contemporânea inspirou a possibilidade de enunciarmos adequadamente os problemas
contemplados pela Teoria do Discurso, e ampliarmos os esforços para construção de uma
perspectiva teórica socialmente comprometida no campo dos estudos organizacionais.

2. Notas sobre a teoria do discurso laclauniana


Ao considerarmos as duas características principais atribuídas à idéia de “discurso”,
temos o discurso como ativação de recursos lingüísticos (i.e., uso social da linguagem, como
falas, pronunciamentos, textos escritos etc.) e o discurso como um sistema de regras de
produção social do sentido. Os trabalhos de Laclau partem da reflexão sobre a política para
dar conta do lugar que a questão do sentido precisa ter numa reflexão sobre a ação social
(BURITY, 2008). O termo “discurso” é usado por Laclau para destacar o fato de que toda
configuração social é significativa: que o sentido dos eventos sociais não está dado em sua
pura ocorrência, e o sentido dos objetos do mundo físico não lhes é inerente. No exemplo de
Burity (1997), um diamante no fundo de uma mina e numa joalharia corresponde ao mesmo
objeto, mas não possui o mesmo sentido nos dois casos: o diamante só é mercadoria no
contexto de um determinado sistema de relações sociais. Um dado evento ocupa, assim, um
sistema de relações que torna seu sentido contingente; este sistema é o discurso. Esclarecemos
que essa concepção não nos impõe uma distinção entre o “lingüístico” e o “extralingüístico”.
As duas dimensões, palavras e ações, fazem parte de uma configuração mais ampla que lhes
dá sentido e estabelece as relações entre elas: um discurso (BURITY, 1997).
Uma vez que o sentido é co-constitutivo da realidade social, e o sentido é sempre
produzido socialmente, não há uma apreensão possível da realidade que não demande uma
passagem pelo discurso (BURITY, 2008). A corrente pós-estruturalista de pensadores concebe
toda a estrutura social como estando designada pela estrutura significante, a linguagem. Uma
teoria pós-estruturalista do signo baseia-se, pois, na releitura crítica da tradição saussureana
dominante na lingüística regularii, ao enfatizar a impossibilidade de uma totalidade fechada e
a conexão restritiva entre significante e significado. O que existe é uma proliferação de
“significantes flutuantes” na sociedade, e a competição política pode ser vista como tentativas
de forças rivais para fixar parcialmente esses significantes a configurações significativas
particulares, numa práxis articulatória. As disputas discursivas em torno dos modos de fixação
do sentido de um significante como “democracia”, por exemplo, são centrais para explicar a
semântica política do mundo contemporâneo. Essa fixação parcial da relação entre
significante e significado é o que Laclau e Mouffe (1989) chamam “hegemonia”.
A partir de Laclau e Mouffe (1989) começa a ficar claro como o espaço da hegemonia
abre caminho para uma nova lógica do social e, por conseguinte, para novas perspectivas de
análise, foco de nossa atenção neste trabalho. Hegemonia supõe um campo teórico-político
delimitado pela categoria da “articulação”; considerando-se a natureza plural e fragmentada
das sociedades contemporâneas, os processos hegemônicos tornam-se mais plurais (ver
LACLAU, 1997). Posto isso, nem todas as articulações são articulações hegemônicas: estas
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últimas envolvem a negação de uma identidade. Assim, um processo hegemônico é sempre
relacional posto que, de qualquer ponto, o “Outro” está presente, e a força hegemônica
tenderá a construir a identidade excluída (o “Outro”) como um dos obstáculos ameaçadores da
realização plena dos significados e opções escolhidos. Um “antagonismo” ocorre quando a
presença do “Outro” me impede de ser totalmente eu mesmo. O que distingue as articulações
hegemônicas das demais formas de articulação é que a primeira toma lugar num ambiente
antagonístico, e as demais não.
Ao supor um campo teórico-político delimitado pela categoria “articulação”, uma
“análise do discurso” nos permitiria uma compreensão de fenômenos sociais constituídos
através de uma lógica de articulação à medida que fazemos a identificação e distinção dos
diferentes elementos que compõem uma formação hegemônica (BURITY, 2008). Nessa
abordagem , a estrutura discursiva é analisada como uma prática articulatória que constitui e
(re)organiza relações sociais. Na direção de uma perspectiva pós-estruturalista de análise,
tratar a questão do “método” envolve, porém, não apenas problematizar o discurso como
categoria teórica, mas assimilar e/ou construir as possibilidades de uma categoria analítica
associada ao discurso. Na próxima seção, tecemos considerações acerca deste assunto.

3. A (controversa) questão do “método”


Um papel mais central conferido à linguagem nos fenômenos sociais, resultado da
“virada lingüística” que temos enfatizado, explica o crescimento extraordinariamente rápido
do interesse pela Análise de Discurso (GILL, 2002). O termo “análise de discurso” (AD) é
oferecido a uma variedade grande de diferentes enfoques no estudo de “textos”. Enquanto
abordagem teórico-analítica para a investigação social, a AD tem ganho popularidade nos
últimos anos, sendo que para Slembrouck (2003), seu campo de investigação é bastante
híbrido, e as disciplinas das quais toma emprestado contribuições podem ser elencadas em
diversos cantos das ciências sociais, com afiliações históricas complexas, donde uma série de
cruzamentos toma lugar.
Diante dessa variedade é interessante pensarmos o discurso como categoria analítica a
partir de tradições teóricas amplas (GILL, 2002). Inicialmente, há uma variedade de posições
conhecidas como lingüística crítica, semiótica, antropologia lingüística, e sociolingüística
interacional, as quais possuem uma estreita associação com a disciplina da Lingüística. A
lingüística crítica procurou unificar um método de análise lingüística textual com uma teoria
social do funcionamento da linguagem em processos políticos e ideológicos, recorrendo à
‘lingüística sistêmico-funcional’ de Michael Halliday (1978), e considera que a linguagem à
qual as pessoas têm acesso depende de sua posição na estrutura social. Para a semiótica, a
linguagem é um dentre muitos sistemas de signos, por exemplo, “formas visuais” de
comunicação. A antropologia lingüística se baseia na compreensão do papel crucial
desempenhado pela linguagem (e outros recursos semióticos) na constituição da sociedade e
de suas representações culturais. A sociolingüística interacional, por sua vez, considera que
padrões acumulados de densidade e contato interpessoal, ideologias de relações interpessoais
e princípios normativos de formas de apropriação são intrínsecos a explicações de processos
de convergência lingüística, divergência e diversidade, e freqüentemente se revelariam mais
significativos do que “categorizações” sociais.
Uma segunda tradição ampla ilustrada por Gill (2002) é a que foi influenciada pela
teoria do ato da fala, etnometodologia e análise da conversação. O mérito da teoria do ato da
fala consiste em enfatizar a visão do uso da linguagem enquanto ação, isto é, a linguagem não
somente expressa, mas realiza algo. Mas seu foco na intencionalidade revela um
reducionismo à medida que focaliza intenções enquanto estados mentais ‘desconectados’ do

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conteúdo social (SLEMBROUCK, 2003). Outro enfoque, o da análise da conversação (AC),
avalia como o gerenciamento da interação é feito pelos próprios participantes. Para a AC, a
compreensão do ordenamento da vida social depende do foco sobre a interação dos
indivíduos. Seu ponto fraco consiste em não se desenvolver uma orientação social (para a
mudança) do discurso. A etnometodologia, por sua vez, focaliza o papel do texto e da fala no
cumprimento diário de ações institucionais. Salienta-se uma “indiferença etnometodológica”
(cf. COULON, 1987), isto é, acaba-se concentrando na compreensão do(s) fenômeno(s) sem se
importar necessariamente com seu valor, relevância, necessidade, sucesso ou conseqüência.
Um terceiro conjunto de trabalho, e foco de nossa atenção, é associado ao pós-
estruturalismo, o qual rompe com as visões realistas da linguagem e rejeita a noção do sujeito
unificado e coerente. O pensamento pós-estruturalista concebe o espaço social (i.e.,
organizações, instituições, categorias sociais, conceitos, identidades, relacionamentos etc.)
como sendo discursivo por natureza, sendo que o processo de produção de sentido é capturado
numa infinita prática articulatória. Assim, o sentido nunca está completamente fixado. Na
crítica do sujeito cartesiano racional e unificado, a visão de Michel Foucault é influência
importante na TD, sobretudo nos trabalhos de Laclau, pela visão do sujeito fragmentado,
constituído, reproduzido e transformado na prática social e por meio dela.
A questão que se destaca aqui é como nos engajarmos efetivamente numa “análise do
discurso”, associando a teoria do discurso a campos empíricos, numa perspectiva crítica. O
discurso é uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do
mundo, constituindo e construindo o mundo em significação. Desse modo, uma categoria
analítica para o discurso, que pode ser incorporada às agendas de pesquisa nas ciências sociais
aplicadas, consiste no exame de práticas discursivas, uma forma particular de prática social
que se manifesta de forma lingüística – falada ou escrita, e que corresponde a momentos
ativos no uso da linguagem, isto é, o modo como as pessoas produzem sentidos e se
posicionam em relações sociais diversas (MARQUES, 2008). A análise de uma prática
discursiva pretende revelar a reprodução, construção e/ou contestação de valores, formas de
governança e conhecimento, em diversas instâncias, a exemplo da Análise Crítica do Discurso
(ver FAIRCLOUGH, 1989; 2001; 2003). Isso exige da teoria e da pesquisa uma “referência ao
contexto” (cf. MUTZENBERG, 2002) econômico, político e institucional em que o discurso é
gerado. Esta orientação corrobora a visão de Burity (1994), porque reconhece que “não há
como dissociar o processo de apreensão do real de processos de significação, os quais, por sua
vez, implicam tanto em redes argumentativas quanto nas práticas concretas e nas instituições
através das quais tais representações podem tornar-se significativas, compartilhadas ou
impostas” (p.149).
Conforme apresentamos, nosso objetivo aqui é o de “lançar luz” sobre a teoria do
discurso laclauniana enquanto perspectiva de análise social, enfatizando-se a compreensão do
seu complexo aparato teórico-discursivo. Buscamos essa mediação (entre teoria crítica e
prática política) numa interlocução com uma pequena unidade social de análise (ver
CORDEIRO, 2006). Para justificarmos um critério adequado à seleção dessa unidade ou caso
(cf. STAKE, 1994), fazemos, no tópico a seguir, uma breve referência ao contexto.

4. Práticas discursivas na territorialidade rural contemporânea


É preciso esclarecer, desde já, que uma “referência ao contexto” não se coloca como
uma base que “determina” palavras e ações, mas sim como condição para o “deslocamento”
(LACLAU, 1993) necessário à ativação da contingência. É desta forma que podemos delimitar
um foco analítico sobre o qual situar eventos que desestabilizam e articulam novos discursos.
Em outras palavras, consideramos que a reativação da contingência de um sentido fixado

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numa cadeia discursiva seja ativada por momentos de deslocamento que abrem possibilidades
para novos discursos de orientações distintos e identificados com novas lideranças
(MUTZENBERG, 2002).
Posto isso, entendemos que as transformações no espaço-tempo da ação coletiva
instauram uma disputa intelectual e moral pela hegemonia dos valores da participação, da
pluralidade ideológica e cultural e da alteração dos arranjos políticos. Os anos 90 e a crise que
trouxeram para a política de base e os valores ideológicos radicais (não apenas os socialistas)
deixaram “marcas” (BURITY, 2000). Assim, um deslocamento coloca os sujeitos diante de
desafios identitários enquanto atores comprometidos com segmentos sociais excluídos. Nesse
cenário, a descentralização política impulsionada pela promulgação da Constituição Federal
em 1988 é um fator expressivo, à medida que tem transferido para os municípios brasileiros
uma crescente parcela de responsabilidades, de ordens variadas. Na possível consolidação
desse processo de redistribuição das responsabilidades formais, como parece ser a tendência
geral, o “município” passará cada vez mais a ser o ambiente por excelência de atuação dos
diferentes atores sociais ligados ao campo (NAVARRO, 2002), o que fortalece o ressurgimento
da demanda social pelo “desenvolvimento do campo” e sua incorporação a uma agenda
política mais ampla. Entendemos que nas novas formas de identificação coletiva e de
pensamento que questionam os termos dominantes de supostos dualismos “cidade-campo”,
“global-local”, “universal-particular”, podemos encontrar um espaço investigativo do modo
como lutas são organizadas em torno de um “programa” específico para desestabilização de
significados que antes pareciam fixados “para sempre”.
Ao examinar práticas discursivas na territorialidade rural contemporânea, temos o
propósito, aqui, de “apresentar” empiricamente o conteúdo de que trata a teoria do discurso
laclauniana. Usamos os dados empíricos no sentido de enunciar adequadamente os problemas
contemplados pela TD e mostrar como essa abordagem pode contribuir para perspectivas
teórico-críticas de análise nos estudos organizacionais, cientes da necessidade de um olhar
extradisciplinar (MORIN, 2005), isto é, “para além” da disciplina “Administração”.
Nosso desafio reside em percebermos e problematizarmos, a partir do olhar sobre uma
pequena unidade social, tendências em práticas sociais de ressignificação. Logo, por meio de
um trabalho de campo foram feitas ao longo de três meses (agosto a outubro de 2005)
entrevistas em profundidade, observação de reuniões de atores organizacionais-chave e entre
parceiros locais, bem como levantamento de documentos. Os extratos do corpus analítico
citados nas próximas páginas foram selecionados dessas diversas fontes de dados, os quais
foram agrupados e codificados após o trabalho de campo; eles são enumerados ao longo do
texto como [Ex1], [Ex2]..., [Notas de Campo1], [Ata1] etc. Os nomes das pessoas envolvidas
foram modificados para preservar sua identidade. Ressaltamos, ainda, que a objetividade
deste estudo pode ser avaliada em termos da validade e da qualidade de suas observações e da
escolha das fontes de dados e dos entrevistados a partir de uma coerência teórico-
epistemológica entre dados e indagações de pesquisa (ver CORDEIRO, 2006).

5. A “Bacia do Goitá”...
Em meados da década de 70, a frase “small is beautiful” se tornou um slogan da
contracultura que combatia a ameaça industrial ao meio-ambiente e escassez dos recursos.
Desde então, os enfoques teóricos sobre um desenvolvimento “alternativo” têm sido
constituídos por múltiplas análises e propostas formuladas por críticos dos pressupostos e dos
resultados de programas desenvolvimentistas convencionais (ver SANTOS, 2002; SACHS,
2004), destacando-se como desafio central fazer das camadas populares sujeitos políticos de
seu ambiente material, social, econômico e cultural. Os próprios objetivos de sustentabilidade

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ambiental, eqüidade entre gêneros, erradicação da pobreza, respeito aos direitos humanos,
pleno emprego e integração social não constituem, entretanto, uma realização linear, mas
antes um processo complexo, envolvendo conflito e cooperação local, nacional, regional e
global, e uma variedade de atores, como governos, organismos internacionais, entidades
empresariais e organizações civis (ACSELRAD e LEROY, 1999).
Em meio a essa complexa “teia”, funda-se, em 1998, uma aliança estratégica para
concepção de programas e políticas sociais no âmbito regional e nacional. Com foco de
atuação na educação de adolescentes, o programa em questão visava à mobilização destes em
três microrregiões do Nordeste brasileiro, dentre elas a microrregião da “Bacia do Goitá”. A
“Bacia do Goitá”, compreendida por quatro municípios da zona rural de Pernambuco - Glória
do Goitá, Feira Nova, Lagoa do Itaenga e Pombos –, é uma área de transição entre o Agreste e
a Zona da Mata pernambucana, numa faixa que se estende de 60 a 100 km de Recife (a
capital). Na Bacia do Goitá, o projeto de formação de Agentes de Desenvolvimento Local
(ADL) e Agentes de Desenvolvimento da Arte e da Cultura (ADAC) foi implementado por
meio de um programa estruturador de cinco anos (2000 a 2004) chamado Aliança com o
Adolescente pelo Desenvolvimento Sustentáveliii para trabalhar a formação complementar de
adolescentes de escolas rurais a partir de uma visão que integra desde cidadania, direitos
humanos, agricultura familiar orgânica, arte, informática e desenvolvimento pessoal ao
desenvolvimento de comunidades locais.
Ora, no Brasil a recente ênfase governamental sobre uma “política diferenciada” para
o campo, com a expressão agricultura familiar vem ganhando um status político-institucional
antes inexistente. A noção de agricultura familiar, indicando um conjunto social de interesses
próprios, padrões de sociabilidade diferenciados e um modus operandi específico no mundo
rural, revela uma mudança político-institucional nos anos recentes, à medida que vem abrindo
novas possibilidades de ação política e de intervenção no campo brasileiro, inclusive novos
espaços de demanda social e de estruturação de formas de organização (cf. NAVARRO, 2002).
Foi considerando-se esse arranjo social que a Bacia do Goitá tornou-se um campo de atuação
para o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA), organização não-governamental (ONG)
selecionada para desenvolver esse programa estruturador.
O SERTA foi fundado em agosto de 1989, e sua trajetória merece um breve destaque;
remonta à criação do CECAPAS (Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos
Alternativos da Seca), em 1984, contexto em que a seca prolongada de 1980 a 1983 provocou
um quadro problemático no Nordeste brasileiro e o questionamento sobre a destinação de
recursos a grupos comunitários atingidos pela seca, que recebiam apoio e utilizavam os
recursos com tecnologias e conhecimentos tradicionais. O objetivo do CECAPAS era
capacitar agricultores em técnicas alternativas, adaptadas ao meio ambiente, numa nova
relação com a terra, solo, água e demais recursos naturais, para que pudessem produzir de
forma eficiente e ambientalmente equilibrada. Líderes do SERTA comentam:
- [...] quando Sarney sai, entra Collor. Aí veio detonar, ele confiscou o
dinheiro. Em 90 e pouco, confiscou o dinheiro e... foi a abertura do
neoliberalismo total, começaram a chegar os modelos de desenvolvimento pra
América Latina e a inovação tecnológica, pra querer fazer um mundo
diferenciado num país que tinha juro altíssimo, de modelos econômicos e
sociais, de quebra-quebra nos supermercados e tudo mais; ele confiscou,
quando confiscou deu uma queda no desenvolvimento, sobretudo na questão
do desenvolvimento rural. E foi muito sério porque nós vimos “E agora?”
[Daniel, Ex1].

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- Foi daí que surgiu o SERTA, porque nesse “acabar” o CECAPAS, o quadro
enxugou-se muito, teve que ser transferido pra Arcoverde, a gente era em
Pesqueira... e João Gabriel cria o SERTA [Ricardo, Ex2].
Diante deste quadro, a reativação da contingência do sentido fixado
(“Desenvolvimento”) é possibilitada por um evento de deslocamento, acentuando-se o caráter
flutuante do significante (ver LACLAU, 2002); em nossa análise, o (desenvolvimento)
“alternativo” permite a abertura de possibilidades para novos discursos de orientações
distintos. Laclau e Mouffe (1989) chamam de “pontos nodais” aos significantes privilegiados
que fixam o sentido de uma cadeia significativa. A articulação de elementos flutuantes - como
“alternativo”, “sustentável”, “local”, “orgânico” - envolve a construção de um espaço mítico
como opção frente à forma lógica do discurso estrutural hegemônico, neste caso programas
desenvolvimentistas convencionais; este novo espaço mítico consiste numa “superfície” de
inscrição ideológica (TORFING, 1999). Assim, um dos principais desafios do ator social é o de
construir um “espaço mítico” que incorpore os sentidos pertinentes a um desenvolvimento
“alternativo” para o meio rural.
O SERTA se engaja então na criação de uma proposta educacional que levaria alunos
e professoras da zona rural a uma produção de conhecimentos útil às famílias, aceitando
novos valores, e se preocupando com o desenvolvimento. O SERTA incorpora esta nova
demanda à medida que os líderes entendem a necessidade de construir uma relação com
outros sujeitos sociais, com os quais até então não tinha relação (e.g., escolas rurais,
professores, diretores e gestores da Educação nos municípios):
- E assim em 1992 (...) nós começamos a discutir em Orobó com os jovens,
aonde a gente perguntava a eles o que é que a educação tava fazendo com o
desenvolvimento rural, o que é que a escola, a escola rural tava discutindo. (...)
e foi unânime – e escola não está (...). Isso foi uma etapa em que começamos a
dar o salto e construir exatamente a PEADS [Proposta Educacional de Apoio
ao Desenvolvimento Sustentável] a partir daí. Se tinha todo esse rebuliço
histórico do desenvolvimento como rural e agricultura, começamos a
aprofundar perguntando pela escola. Porque a gente foi no Sindicato... necas.
Fomos na Prefeitura... necas. Fomos no Governo, nos órgãos de assistência
técnica... necas. Fomos na Igreja... Quer dizer, batia na porta dos movimentos
perguntando “gente, e a agricultura?!”, “Ah, isso aí é outra história. Daniel,
você ta querendo comprometer nossa agenda aqui”. E nas prefeituras, a gente
“e a agricultura?”... (aí a Prefeitura:) “mas pra gente desenvolvimento é
saúde, é estrada...”. E o Sindicato que gira em torno da agricultura no meio
rural (dizia) “não, Daniel, o que ta pegando agora é o salário, é o dissídio
coletivo, não dá nem pra gente parar pra discutir agricultura agora. Não tem
tempo, tamo ocupado, óia o dissídio... tem o que fazer”. (...) Então a gente foi
bater na porta da escola. E perguntamos lá aos jovens, estudantes (...) Aí (os
jovens disseram) “não, a gente não ta discutindo agricultura não”. Aí... pô, se a
escola não discute, se a Igreja não discute, se o Sindicato não discute, se a
Prefeitura não discute, se essa turma não ta discutindo, então ta precisando ter
outra dimensão pra discussão [Daniel, Ex3].
A PEADS transcende a experiência de educação escolar formal e é incorporada a
outros projetos ligados ao SERTA e que envolvem processos formativos não-formais, como é
o caso do programa Aliança com o Adolescente pelo Desenvolvimento Sustentável, em que os
jovens são interpelados a:
Se empoderarem da própria condição de autor do conhecimento, de autor do
desenvolvimento, de se empoderarem da condição da autoria do processo de
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humanização e de desenvolvimento que existe numa comunidade e não serem
objetos da bondade ou das decisões dos gestores ou dos salvadores da pátria ou
dos elementos externos à comunidade [João Gabriel, Ex4].
Uma jovem, que foi participante do programa de formação de Agentes de
Desenvolvimento Local (ADL), fala a respeito de si mesma:
Carla... ela é uma agente de desenvolvimento local atuante; também ela é uma
estudante do curso de Letras; e no momento coordena uma ação que foi
fundada por ela com o apoio de Stela e o Centro Luiz Freire, que é o Fórum da
Cidadania em que a gente discute a questão da democratização do orçamento
público do município [E Carla antes?] Ah, Carla antes era casa, igreja,
escola... somente! Carla não tinha essa visão de mudança mesmo, de
contribuição. Carla mesmo não via nenhuma possibilidade pra contribuir no
desenvolvimento local, opinando nas questões públicas. Ela (era) neutra,
entendeu?! Ela não tinha nenhuma motivação que levasse a isso [Carla, Ex5].
Numa abordagem pós-estruturalista, é precisamente porque as identidades são
construídas dentro e não fora do discurso que se torna fundamental compreendê-las como
sendo “produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e
práticas discursivas, estratégias e iniciativas específicas” (HALL, 1996, p.109). A transposição
do foco de um conceito essencialista para um conceito estratégico, contingencial e fluido da
identidade é crítica aqui uma vez que existe um processo contínuo de identificação, em que o
sujeito busca criar alguma compreensão sobre si mesmo por meio de sistemas simbólicos. A
identificação está, pois, alojada na contingência, podendo ser concebida como um processo de
articulação (cf. HALL, 1996; LACLAU, 1993; LACLAU e MOUFFE, 1989).
A noção de articulação descreve o processo de posicionamento do sujeito no interior
de uma formação discursiva. Desse modo, uma teoria da articulação representa tanto a
maneira de compreendermos como elementos distintos se tornam, em certas circunstâncias,
coesos dentro de um discurso, como uma maneira de perguntarmos como eles se tornam ou
não articulados, em conjunturas específicas, a certos sujeitos políticos. Elementos ideológicos
vão se tornando coesos dentro de um novo discurso, e vão proporcionando um espaço
homogêneo de representação, um “programa” (cf. MUTZENBERG, 2002) para o velho/novo
sujeito político coletivo. O conceito de “programa”, de Gramsci (1984), é relevante para
discutir o papel ativo e criativo que a ideologia assume na construção de uma “vontade
coletiva”, o que implica investigar como esta se propõe uma linha de ação coletiva (e.g., como
as ideologias influenciam os agentes na consciência de sua posição). A constituição de
identidades heterogêneas numa “unidade” (concepção de mundo) envolve o uso de elementos
ideológicos em circunstâncias específicas, o que reforça o elemento de fé na construção de
uma “vontade coletiva” (cf. GRAMSCI, 1984). Uma jovem ADL relata:
Eu não consigo ver Raquel sem ser essa Raquel de hoje! Não tem mais como
voltar atrás, não tem como dizer “não, não quero fazer mais nada disso”, ou
“não quero fazer isso” porque o compromisso, ele já ta [Raquel belisca a pele
do braço] ele já ta impregnado! Já enraizou dentro do meu corpo, e não tem
como mais dizer “poxa, eu não vou fazer isso”, não tem como eu ver ‘aquela’
necessidade, ‘aquele’ problema e não tentar solucionar. Não tentar solucionar
sozinha, mas eu chegar junto do pessoal, mobilizar um grupo de adolescentes, e
dizer “oh, gente, é possível! Vamos fazer ‘isso’”, eu não me vejo mais como
uma ouvinte, eu não me vejo mais como uma espectadora. Mas eu me vejo
como uma colaboradora, como uma contribuinte. [...] isso é uma coisa que a
gente aprendeu aqui no SERTA, que você aprendeu e levou pra você mesmo –
que você pode, que você tem que fazer, e se você não fizer, é como se você
9
tivesse... não é “maltratando”, mas... assim, é contra os seus princípios, seus
valores (...) E vamos fazer! Porque eu acredito que eu vou fazer não sozinha,
mas eu acredito em mim, acredito que Kátia pode, que Fábio pode, que
Manassés pode, e nós juntos nós vamos conseguir mudar [Raquel, Ex6].
A partir de uma “referência ao contexto” (ver seção 4), entendemos que à medida que
se tem estimulado a constituição de espaços de participação social, especialmente no nível
local, em nossa unidade social de análise esta experiência está particularmente ligada aos
efeitos do momento de deslocamento que desestabiliza a noção de “território nacional”
enquanto espaço (centralizado) de atuação por excelência (CORDEIRO, 2006). Para que haja
um discurso “alternativo” para o campo, que projete as aspirações de transformações sociais
de uma determinada comunidade, é preciso que uma particularidade seja capaz de esvaziar o
sentido de suas demandas de várias outras origens que nela se reconhece. A adesão a esta
forma de construir a demanda por transformação social está ligada, em Laclau, ao conceito
psicanalítico de “identificação”, pelo qual se dá conta do surgimento dos novos sujeitos
coletivos (LACLAU, 1996).
Especificamente no âmbito associativo local da nossa unidade de análise, vamos
examinar a articulação de um Conjunto Integrado de Projetos (CIP), que consiste numa
estratégia de promoção do desenvolvimento regional apoiada pela Fundação Kellogg, e que
tem como linha condutora o apoio a grupos de projetos articulados e multidisciplinares
(clusters) que demonstrem maneiras de romper o ciclo da pobreza em microrregiões
selecionadas. Cada cluster deve ser construído a partir da colaboração de diversos parceiros
com capacidade de, em conjunto, oferecer uma resposta integrada, multifacetada e
intersetorial para os problemas identificados em uma determinada microrregião. A lista de
parceiros envolvidos na articulação do CIP pode incluir desde atores internacionais
(multilaterais ou não-governamentais), atores não-governamentais e privados nacionais até
atores governamentais. Diante da possibilidade de se engajar na formação de um CIP, em
reunião interna líderes do SERTA discutem:
- Em uma ONG é muito raro ter essa chance, essa oportunidade. A gente vai
pegando carona nas oportunidades que aparecem. E agora a Fundação Kellogg
está querendo negociar uma contribuição (...) Então vamos conversar nesses
dois meses para ver se a gente consegue encontrar uma forma de discutir um
projeto não para o SERTA, mas de desenvolvimento do território, e o território
limitado aos quatro municípios da Bacia do Goitá [João Gabriel, Ex7].
- Com que resultados a gente vai se comprometer com a Kellogg? [Ricardo,
Ex8]
- A idéia (é) que eu quero ver a capacidade que o SERTA tem de vender o
“ideário” para as outras organizações, contratadas ou não, e a partir de nosso
trabalho entenderem e desenvolver o Desenvolvimento. Então se acontecer
isso, a Kellogg entra diante desse resultado pra aprovar um projeto grande de
desenvolvimento do território. Se isso não acontecer, a gente vai ter falhado em
nosso propósito (...). [João Gabriel, Ex9]
O foco na conexão, articulação, auto-iniciativa e flexibilidade como estratégia
aparecem como objetivos válidos. Esta ênfase se insere num contexto de aceleração das
mudanças em diversos campos de ação que incidem sobre movimentos e organizações
atuantes na esfera local. Em sua história de lutas contra projetos de (re)construção e/ou
desenvolvimento de caráter excludente, os movimentos sociais tem buscado se mobilizar
coletivamente, em geral com base em conjuntos muito diferentes de significados e objetivos,

10
o que favorece uma dinâmica de tensão e negociação entre fronteiras culturais e institucionais
das identidades envolvidas (cf. BURITY, 2000). Inclusive, o líder do SERTA afirma que:
- Fazendo essa mobilização, nesses 18 meses, a gente poderia construir aquilo
que a gente sempre sonhou, um projeto estratégico de desenvolvimento do
território (...). Então a gente quer ter acordo básico sobre as prioridades para o
desenvolvimento local e a incorporação dessas prioridades acordadas nos
planos e nas instâncias governamentais [João Gabriel, Ex10].
A primeira mobilização efetiva para articulação do CIP ocorre na convocação de uma
reunião geral com uma multiplicidade de parceiros locais incluindo desde os jovens ADLs
formados pelo SERTA, professores das escolas rurais, representantes de associações diversas,
até secretários das prefeituras dos quatro municípios. A partir da reunião de 26 de agosto...
- Entre os parceiros locais, decide-se pela formação de um colegiado
provisório, com quatro representantes (um) de cada município, sendo que o
SERTA não se incluiu como membro das comissões. Posicionou-se como
apoio. As perguntas para trabalho de grupo incluíram: “o que já se alcançou no
município sobre esse tema? O que já se pensou fazer, mas ainda não se
alcançou? O que poderia ser alcançado se esse tema for enfrentado de maneira
microrregional? Como e com quem se pode contar? Vale a pena construir
conjuntamente o desenvolvimento da Bacia do Goitá? Quais as iniciativas para
dar continuidade a este momento?” [Ata de reunião, Ex11].
A problemática destacada lança luz sobre uma articulação inicial de movimentos em
torno de traços identitários, como uma dimensão coletiva da identidade, que considera uma
noção de “pertencimento”. “Pertencer” traduz uma experiência identificatória, de fixação em
e a um campo de valores e objetivos “maiores”, um discurso. Neste sentido, à medida que um
contexto de alianças para o desenvolvimento de uma “microrregião da Bacia do Goitá”
começa a ser pensado em torno de elementos comuns aos quatro municípios, a “identidade faz
corpo, agrega ‘seguidores’ em torno de uma série de imagens e situações desafiadoras e de
determinadas formas de ação coletiva, fazendo-as agir em nome dos referidos atributos, seja
contra alguns, seja pretendendo conquistar o apoio ou adesão de outros” (BURITY, 2000, p.6).
Nas reuniões seguintes, entre os parceiros locais:
- João Gabriel ressalta a importância de se pensar em termos do ‘território
Bacia do Goitá’, somando agentes e potencialidades: “Se continuar
trabalhando ou pensando isoladamente, volta-se a ter problemas”. O presidente
do SERTA convoca: “é preciso pensarmos em termos de nossas
potencialidades, qualidades e possibilidades, e não em termos de nossas
fragilidades ou faltas (...) A idéia é se reunir não só em termos de faltas e
fragilidades, porque isso engessa a gente, ‘desbota’ a nossa criatividade”
[Notas de Campo2, Ex12].
- A conscientização dos agricultores deve ser feita no âmbito de políticas
públicas. Como envolver a Câmara dos Vereadores, a Secretaria de Educação,
os jovens? (...) Entre as propostas, destaca-se desenvolver um plano de
assistência técnica rural, conjuntamente. O presidente do SERTA faz a
convocatória: “só com conhecimento, não há mudança. É preciso reunir:
conhecimento, informação e uma grande mobilização de vários segmentos”. Os
membros se mobilizam então para criar o Fórum dos Secretários de
Agricultura da microrregião [Notas de Campo3, Ex13].
Um processo de articulação (contra-)hegemônica contempla uma ampliação do raio de
atuação e número de interlocutores e parceiros, penetrando-se em espaços cada vez mais
11
marcados pela pluralidade de atores - concorrentes ou articulados – não sendo possível
assegurar a “pureza” da identidade dos atores coletivos envolvidos (BURITY, 2000). A noção
de “hibridismo” (CANCLINI, 1999; BHABHA, 2001) evidencia que as identidades políticas e
sociais contemporâneas são internamente heterogêneas e, desse modo, têm que partilhar
valores, lealdades e compromissos, negociando suas diversas formas de “pertencimento” (cf.
LACLAU e MOUFFE, 1989; HALL, 2003). Esta vivência coletiva de novas formas de
identificação é traduzida no campo do associativismo - pela idéia de “múltiplo pertencimento”
- na experiência de redes, articulações e parcerias, entre indivíduos, movimentos e/ou
organizações, de dimensões e visibilidade diferentes. Os atores que compõem tais redes
apresentam uma forma predominante de identificação - são herdeiros de suas próprias
tradições -, mas circulam entre espaços culturais ou político-institucionais que lhes exigem,
em graus variados, conformidade, aquiescência ou abertura de concessões quanto a valores e
objetivos. A articulação da rede segue a direção de construção de um espaço discursivo que
ressalta as forças de um “Nós”, em detrimento das “diferenças” que poderiam fragilizar as
relações entre os atores envolvidos e obstruir assim a concretização da proposta de
“desenvolvimento do território”. Ao considerar a proposição de um Fórum Microrregional das
secretarias de agricultura, um dos líderes comenta:
- Extraordinário! Eu penso que nós chegamos ali pra fazer isso, mas houve
uma dificuldade muito grande porque a única coisa que, só duas coisas até hoje
eu defini como elementos assim... que definem o território: é a questão da
mandioca, porque são quatro municípios com a presença forte de casas de
farinha, e o “débil” Rio Goitá, [risos] (...) Então o que nos une é o rio, vamos o
SERTA relevar este rio, porque a população mesmo não tem essa noção de que
é Rio Goitá. Em Glória do Goitá as pessoas nem relacionam com o rio Goitá.
Glória do Goitá, “ah, porque tem o Rio Goitá”, quem conhece o Rio Goitá?
Havia um território, que era o território de atuação do projeto Aliança. Aí o
projeto Aliança como que obrigava o secretario de educação de Pombos ir pra
junto do secretario de Lagoa de Itaenga, veja, dois municípios, são duas BRs,
Lagoa de Itaenga escoa por Carpina, é outra região – Zona da Mata Norte, e
Pombos Zona da Mata Sul, meio agreste ali nos pés da Chapada da Borborema,
completamente diferente. O que faz com que o secretário de Pombos se
articule com o de Lagoa do Itaenga? O Projeto Aliança! Porque tinha os
ADLs, porque tinha a agricultura orgânica, a gente foi criando situações
assim... porque tinha a PEADS nas escolas, criando situações pra juntar
Lagoa de Itaenga com Pombos e Feira Nova com Glória. [...] Mas se fomos
nós quem artificialmente criamos esta região, somos nós que temos que criar
essa, fortalecer essa identidade. Porque não havia essa identidade, não havia
[Inês, Ex14].
- (...) A mandioca não foi um elemento que uniu. Ta começando a ser agora...
Agora a gente tem o Projeto Casa de Farinha, é um indicador. Porque as
pessoas se mobilizarem, se organizarem em torno de um objetivo comum, uma
idéia que convoca as pessoas, mobiliza [Inês, Ex15].
- Em reunião em 18 de outubro reforça-se a idéia de atuação conjunta no
arranjo produtivo da mandioca: “É um trabalho lento, de persistência dos
parceiros, mas que tem futuro”. Sugere-se uma marca nova: “Farinha da Bacia
do Goitá”, para potencializar a microrregião [Notas de Campo4, Ex16].
Uma importante questão que se coloca é o porquê só em determinado momento eclode
um movimento, uma vez que certos “temas culturais’ já estavam “sempre” presentes. Além do
“Rio Goitá”, outro elemento “comum”, e importante fonte de renda dos quatro municípios é a
12
produção de farinha de mandioca, e à medida que a “casa de farinha” ajudou a fixar o
indivíduo à terra, a “mandioca” é incorporada politicamente como traço identitário
representativo na rede. Observamos que a referência a sujeitos coletivos em redes não sugere
a idéia de grupos constituídos pré-discursivamente, a partir de condições objetivas, materiais e
que, por assim dizer, estivessem à espera de um discurso que “decifrasse” sua condição
comum (cf. MUTZENBERG, 2002). Evidencia a experiência da identidade como construção –
para legitimar uma situação, resisti-la ou introduzir nela novas questões e práticas que
apontam para projetos de mudança social. As identidades são construções no sentido histórico
e no sentido da ação estratégica; são o resultado de uma série de operações e investimentos
coletivos (cf. BURITY, 2001). As redes constituem uma nova morfologia social e a difusão da
lógica de redes modifica de maneira substancial a operação e os resultados dos processos
produtivos e de experiência, poder e cultura (CASTELLS, 1999). Se, como destaca Castells
(1999), o Estado na era globalizada da informação é um Estado organizado em redes,
composto de uma complexa rede de instituições negociando a partilha de poder e a tomada de
decisão, os agentes sociais se deparam também com a necessidade de adoção de novas
práticas de coordenação social e de tomada de decisão no que se refere à gestão social do
território. Em nossa unidade de análise:
- A Saúde estadual não une, as DIRES são diferentes, as DERES são
diferentes, os postos do INSS que recebem os municípios são diferentes. Não
tem nenhuma política macro, nenhuma instância macro, as paróquias, as
dioceses são diferentes, ta entendendo? Tudo faz com que junte um com o
outro. Mas não junta quatro. Então quem tem que realmente chamar pra ação é
o SERTA, né? Eu lutei pra que a gente avançasse mais nesta idéia de bacia
hidrográfica, porque houve no início do projeto Aliança uma luta, sabe? O que
é que vai garantir esses quatro municípios juntos? É uma bacia do rio. Isso aí
é um corte que a natureza já fez há quantos milhares de anos atrás. Fazendo
com que as águas corram, então esse seria um elemento de identidade. Mas
não prosperou. Então a gente vai pelo político mesmo. Existe uma instituição
que trabalha com esses quatro municípios, “então chegue, vamos juntos” E
existe a Fundação Kellogg dizendo que vai mobilizar os quatro, né? [Inês,
Ex17].
A partir de uma perspectiva pós-estruturalista de análise, é possível compreender que a
transformação cultural não se trata de algo que possua uma linha estreita de continuidade com
o passado. Trata-se da transformação por meio da reorganização de elementos de uma prática
cultural, elementos que por si só não possuem conotações políticas necessárias. Não são os
elementos individuais de um discurso que possuem conotações políticas ou ideológicas, mas
são as formas em que tais elementos são organizados juntamente em uma nova formação
discursiva (HALL, 1996). Inclusive, no caso analisado, existem vários outros desdobramentos
relevantes (que não detalharemos aqui), incluindo o compromisso assumido pelos municípios
envolvidos, por realizar encontros para se elaborar um plano microrregional de Assistência
Técnica e Extensão Rural, dar continuidade à estruturação de um “Corredor da Farinha”, além
de encontros de avaliação do trabalho realizado pelos parceiros.
Na medida em que uma demanda particular é capaz de assumir a representação de um
conjunto de outras demandas igualmente particulares e sem deixar aquela demanda particular
(ela passa a falar/agir em nome desse conjunto), estamos diante de uma hegemonia. O
processo de representação ideológica discutido por Laclau (2002) inclui a lógica de
“equivalência”, que é introduzida por criar identidades equivalenciais que expressam a
negação pura de um sistema discursivo. A lógica da equivalência funciona por dividir um
sistema de diferenças e instituindo uma fronteira (política) entre dois campos opostos
13
(HOWARTH e STAVRAKAKIS, 2000). Tem-se uma demarcação que cria duas grandes formas de
identificação: um “nós” do lado de cá, e um “eles” do lado de lá (BURITY, 2008). Vejamos:
Então indicador de desenvolvimento sustentável... esse momento como o de
hoje em que a gente finalmente consegue reunir Vanda e Francisco trabalhando
junto – Vanda era oposição! (...) Veja que coisa tão significativa! (...) e hoje
eles estarem trabalhando juntos, então é um indicador maravilhoso eles
estarem trabalhando juntos porque significa que as lideranças locais estão
acima das disputas partidárias elaborando um projeto comum [Inês, Ex18].
A constituição discursiva de uma identidade política ocorre a partir da tensão entre as
lógicas da diferença e da equivalência. Como temos apresentado, uma relação de equivalência
é estabelecida a partir de um “ponto nodal”, isto é, a articulação das diferenças se dá em torno
de um ponto discursivo privilegiado que faria sentido a todas as demandas, possibilitando aí
com que as mesmas se articulassem em torno de uma lógica equivalencial (MENDONÇA e
RODRIGUES, 2008). Já a lógica da “diferença” faz o contrário. Ela consiste na expansão de um
dado sistema de diferenças pela dissolução das cadeias de equivalência existentes e
incorporando aqueles elementos desarticulados em uma ordem em expansão. Em nossa
unidade de análise, essa possibilidade poderia ser refletida pela situação em que:
- (...) eles estão percebendo que é melhor trabalhar articulado do que
trabalhar isolado, agora contanto que o SERTA não mexa na gestão
municipal. Se mexer na caixinha preta da estrutura da prefeitura então eles se
tornam opositores. Porque são duas estruturas: o SERTA tem um modo de
administrar aqui na região que é de ONG, e as prefeituras tem um modo de
administrar que se contrapõe ao que o SERTA propõe. (...) É, eles não deixam
a gente entrar, não permitem. Existe uma delimitação de território. Como a
gente também tem, a gente não permite enquanto ONG que os gestores
invadam o terreno do SERTA porque aí perderia a característica ONG e
prefeitura. Tem que estar distinto qual é a ação do SERTA e qual a ação (das
esferas) dos governos [Inês, Ex19].
Para Laclau, a luta de todo grupo por afirmar a sua identidade enfrenta duas ameaças:
por um lado, ao afirmar a sua identidade frente ao sistema de exclusão dominante condena-se
a uma existência marginal como gueto; se, ao contrário, luta por superar sua condição de
marginalidade, deve abrir-se a uma série de situações que o levam além dos limites que
definem sua própria identidade (GIACAGLIA, 2008). A articulação entre as identidades
periféricas ao sistema dominante sugere uma finalidade de fortalecimento de um discurso
contra-hegemônico, sendo que a própria condição de “agente” revela-se multifacetada diante
da conformação do sujeito enquanto rede de indivíduos, movimentos e/ou organizações, de
dimensões e visibilidade diferentes. O sistema dominante em questão não será contemplado
aqui como ponto específico de análise. Mas sugerimos que se investigue a oposição “cidade-
campo” a partir do projeto político em que cada pólo se empenha diante de um modelo global
de “inserção competitiva” nos moldes neoliberais (ver COMPANS, 2005).

6. Considerações complementares
Mesmo existindo muitos e diferentes enfoques de “análise do discurso”, o que estas
perspectivas devem assumir como “ponto de partida” é a rejeição da noção realista da
linguagem como mero epifenômeno, como um meio “neutro” de refletir o mundo ou de
descrevê-lo. Quanto ao suposto “fracasso” da corrente pós-estruturalista em se tornar explícita
a respeito de como se engajar na análise das instâncias atuais de texto ou interação social-em-
contexto, pensamos que esta não seja uma questão direta de como complementar a Teoria do
14
Discurso com análises empíricas de texto e fala (SLEMBROUCK, 2003). O desafio central
parece ser o de (re)conciliar a necessidade de sermos explícitos (ou não) a respeito da
metodologia com uma visão não-essencialista e não-positivista sobre a produção do
conhecimento. Isso envolve superar a fronteira disciplinar da “Administração”, quando sua
linguagem e conceitos próprios isolam este campo em relação aos outros e em relação aos
problemas que se sobrepõem a ele ou o extrapolam. A abertura, portanto, é necessária. Morin
(2005) já alertava que processos de “complexificação” de ‘objetos’ de estudo e de ‘áreas’ de
pesquisa disciplinar precisam recorrer a disciplinas muito diversas e, ao mesmo tempo, à
policompetência do pesquisador.
A própria noção de “hibridismo” converte-se hoje numa noção constitutiva da
realidade social. A compreensão crescente desse fato explica a centralidade do conceito de
‘hibridização’ nos debates contemporâneos (LACLAU, 1996), gerando implicações ao campo
dos “estudos organizacionais”. À medida que a globalização representa a vigência de um
princípio de ruptura de liames duais “micro/macro”, “estável/dinâmico”, “concreto/abstrato”,
“particular/geral”, ela desencadeia uma lógica que não exige o fim das referências locais, mas
as reinscreve num terreno em que estas não podem mais se definir pelo isolamento (BURITY,
2001). Assim, a categoria da “articulação” assume um lugar crítico para a análise social.
Neste artigo, a compreensão da formação de “redes” de desenvolvimento do meio rural,
fomentada por atores organizacionais diversos, foi uma das exemplificações possíveis sobre
como a teoria social do discurso lança luz sobre uma complexa realidade social.
Quanto à construção de outras mediações entre teoria crítica e prática política no
contexto dos “estudos organizacionais”, a questão que se coloca é se estamos apenas nos
concentrando na investigação da luta discursiva ou estamos nos comprometendo com ela.
Quando teoria e pesquisa adotam a perspectiva do poder e sua (re)produção em detrimento do
lugar da luta, acaba-se favorecendo uma crítica meramente negativa e vazia. Quando
enfatizamos a luta, entendemos, por um lado, que existem diversos objetos de crítica
relevantes, como a ‘mercantilização’ da linguagem. Na esfera educacional, por exemplo, as
pessoas se envolvem cada vez mais com novas atividades que são definidas em grande parte
por novas práticas discursivas (como o marketing mainstream; ver MELLO, 2006) em
atividades como o ensino. Podemos problematizar as ressignificações de termos, atividades e
relações, por exemplo, dos aprendizes como “consumidores” ou “clientes”, de cursos como
“pacotes” ou “produtos” (ver FAIRCLOUGH, 2001), e seus impactos. Por outro lado, quando
consideramos configurações e modelos mercadológicos e empresariais que potencializam
desigualdade, exclusão, impactos ambientais, é legítimo que a teoria se pergunte por novas
formas de construção de identidades políticas e novos modelos de inclusão. A própria
especificidade do projeto de uma “democracia radical e plural” (cf. LACLAU e MOUFFE, 1989)
admite a existência de relações de poder e a necessidade de transformá-las, renunciando-se à
ilusão de que poderíamos nos livrar completamente do poder.

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WOODWARD, K. “Concepts of Identity and Difference”. In: Identity and Difference.
Londres: Sage/The Open University, 1997.

i
Este descentramento é expresso pela “queda do muro”, em Berlim, em 1989, sendo que a articulação de um
discurso em que a emancipação social está nas mãos de uma classe “única” (o “proletariado”) é rompida.
ii
Na tradição saussureana, para cada conjunto de sons constituindo uma palavra corresponde um, e somente um,
conceito. A ordem do significante e a ordem do significado coincidiriam estritamente.
iii
O projeto Aliança com o Adolescente é decorrente de uma parceria entre quatro grandes instituições: o
Instituto Ayrton Senna, a Fundação Kellogg, a Fundação Odebrecht e a área social do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social).

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