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enfrentamento à

violência sexual contra


crianças e adolescentes

4
VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES:
Marcos
Conceituais
- Abuso Sexual
Angelo Motti

NOSSA VOZ. NOSSA FO RTA L E Z A.


1.
SUMÁRIO

Cenários do
1. Cenários do Enfrentamento da Violência
Enfrentamento
Sexual contra Crianças eAdolescentes.....50
DA VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS E
2. Enfrentamento da violência sexual
contra crianças e adolescentes no Brasil:
ADOLESCENTES
O debate sobre o enfrentamento da vio-
aspectos históricos e normativos ......... 51 lência sexual contra crianças e adoles-
centes à garantia dos Direitos Humanos
3. Os conceitos da violência sexual ........... 53 constitucionalmente assegurados no
Brasil, em face da nova concepção trazi-
4. Novas formas de violência sexual .......... 62 da pela normatização internacional, vem
sendo alterado pela legislação. Delimi-
Referências ................................................... 63 ta-se maior foco na proteção, retirando
a centralidade da discussão do próprio
Perfis do autor e do ilustrador .................. 64 Estado e se inclinando também para um
olhar mais cuidadoso às vítimas.
Esse movimento é construído a partir
da mobilização da sociedade civil e do
poder público no sentido de reconhecer o
caráter multifacetado do fenômeno e das
vítimas. Questões como territorialidade e
etnia precisaram de metodologias novas,
pensadas em conjunto com as diversas
populações, para chegarem a resultados
eficazes na proteção dos direitos de crian-
ças e adolescentes vítimas.
A diversidade étnica, por exemplo, é
um desafio que deve ser enfrentado de
forma dialogada, daí a importância de se
falar em mediação nesse tema. Sobretu-
2.
Enfrentamento
da violência
sexual
CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
NO BRASIL: ASPECTOS
HISTÓRICOS
E NORMATIVOS
O Artigo 227 da Constituição Federal do
Brasil determina ser dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar direitos
fundamentais de crianças, adolescentes
e jovens, com destaque para o papel do
Estado na promoção de políticas.
do em áreas de existência de populações O Relatório “A oitiva de crianças no Po- Especialmente a partir do início dos
de etnias ciganas ou indígenas, é preciso der Judiciário”, desenvolvido pelo Depar- anos 2000.
que o sistema de garantia de direitos apli- tamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do O CP, Lei nº 2.848, de 7 de fevereiro de
que as medidas de proteção em conjunto Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mos- 1940, ratifica a criminalização dos atos
com suas lideranças. trou que ainda não existe uniformização contra a dignidade sexual infantojuvenil.
Nesse sentido, tanto os aspectos con- do atendimento de crianças e adolescentes Ressalte-se que houve reformas do CP
ceituais como metodológicos, previstos vítimas ou testemunhas de violência no Po- em 2009 e 2018 para mudar a lógica de
no Estatuto da Criança e do Adolescen- der Judiciário, mesmo com a sanção da Lei compreensão do fenômeno, fruto da luta
te (ECA) vêm sendo adaptados pelas nor- nº 13.431/2017, que estabeleceu o sistema dos movimentos de mulheres e da infância.
mas nacionais. de garantia de direitos dessas pessoas. No tema do enfrentamento da violência
Em recente alteração, a Lei nº Além do depoimento especial, a nova sexual contra crianças e adolescentes,
13.431/2017 estabeleceu novas normas Lei resguarda o direito da vítima de ser pro- o Brasil foi bastante influenciado por
para reduzir a vitimização de crianças tegida de sofrimento, com direito a apoio, mobilizações internacionais. As leis brasi-
e adolescentes vítimas de violência, in- planejamento de sua participação, priori- leiras são bastante inovadoras.
cluindo a violência institucional, por con- dade na tramitação do processo, celeridade Os três congressos mundiais realiza-
templar a mesma como modalidade de tais processual, além de ressaltar a necessida- dos na Suécia em 1996, Japão em 2001 e
práticas, descrevendo-a como aquela pra- de de integração dos órgãos que compõem Brasil em 2008 trouxeram deliberações im-
ticada por instituição pública ou convenia- o sistema de garantia de direitos com a pre- portantes que aprimoraram, sobretudo, o
da, inclusive quando gerar revitimização. visão de limitação das intervenções (Inciso atendimento às vítimas.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 51


O III Congresso Mundial de Enfrenta- lência, a existência de constantes iniciati- normas no formato de políticas públicas
mento da Exploração Sexual de Crianças e vas intersetoriais importantes, o desenvol- ou estruturação destas para o atendimen-
de Adolescentes que reuniu, no Brasil, 160 vimento anual de campanhas de Carnaval to do que as leis brasileiras preconizam.
países, mais de três mil pessoas dos cinco e no 18 de maio (Dia Nacional de Mobiliza- As mudanças na legislação têm demons-
continentes, sendo 300 adolescentes, es- ção), porém a resposta das estruturas dos trado amadurecimento do enfrentamento
tabelece um novo marco considerando a sistemas de segurança e justiça ainda tem da questão. É preciso, sobretudo, não per-
diversidade de crianças e adolescentes ví- sido ineficientes frente à realidade. der de vista os avanços alcançados no con-
timas e a importância do mercado do sexo O Comitê Nacional de Enfrentamento ceito de formulação de políticas públicas
pago, para esse tipo de exploração. da Violência Sexual Contra as Crianças e garantidoras de Direitos Humanos, como
Considerando-se o período desde a os Adolescentes realizou um estudo so- destacam Carvalho, Souza e Quermes:
instituição do Plano Nacional de Enfren- bre a resposta desses sistemas aos casos
O Brasil, a partir da Constituição Fede-
tamento da Violência Sexual Infanto- investigados pela CPMI de 2003-2004,
ral de 1988, reorganizou seu processo
juvenil, no ano 2000, até os dias atuais, o estudo Proteger e Responsabilizar: O
de formulação de políticas públicas
o país assinala quase duas décadas de Desafio da Resposta da Sociedade e do
privilegiando a participação social.
avanços importantes na área do reconhe- Estado quando a vítima é Criança e Ado-
Esse processo não se deu, senão por
cimento e do enfrentamento da violência lescente (Carvalho, Paiva e Roseno, 2007),
conta de uma conjuntura que clama-
sexual contra crianças e adolescentes. que já denunciava a letargia na resolução
va por maior efetividade das políticas
É possível, hoje, acompanharmos a mo- dos casos. A revisão do Plano Nacional de
públicas garantidoras dos Direitos Hu-
bilização do Brasil na área, as constantes Enfrentamento da Violência Sexual Contra
manos de segunda dimensão, as polí-
mudanças na legislação, o forte apelo da Crianças e Adolescentes, em 2013, apon-
ticas sociais. A efetividade de tais po-
imprensa por punição de autores da vio- tou para a necessidade de efetivação das
líticas demonstrava-se cada vez mais
associada à participação social no seu
processo de formulação, execução,
monitoramento e avaliação (2015: 92).

Assim, fatores preponderantes a serem


considerados são o reconhecimento da
legislação e das estruturas dos sistemas
de segurança e justiça, a relevância des-
ses novos cenários e a necessidade de
formulação de políticas públicas garan-
tidoras dos Direitos Humanos.
Um desafio central é colocado para os
movimentos — aqui entendidos como so-
ciedade civil ou organizações da sociedade
civil que atuam na área — na tarefa de mo-
nitoramento das políticas públicas, a fim de
garantir que a abordagem hoje preconizada
pela política de assistência, a qual tem con-
centrado boa parte das ações de governo,
nos 5.575 municípios do Brasil, mantenha
a lógica protagonizada pelo ECA, ou seja, a
da perspectiva dos Direitos Humanos.

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3.
Os conceitos de direitos, que se subdivide em explo-
ração sexual e abuso sexual.
3.1. ABUSO SEXUAL
DA VIOLÊNCIA SEXUAL A Lei nº 13.431/2017 define violência O abuso sexual se caracteriza pela utili-
sexual como qualquer conduta que cons- zação do corpo de uma criança ou ado-
Especificamente quanto à violência sexual tranja a criança ou o adolescente a pra- lescente para a prática de qualquer ato de
contra crianças e adolescentes, o conceito ticar ou presenciar conjunção carnal ou natureza sexual. Nesse tipo de violência
usado pelo estudo Proteger e Responsa- qualquer outro ato libidinoso, inclusive não há qualquer intuito de lucro, qualquer
bilizar (Carvalho, Paiva e Roseno, 2007), exposição do corpo em foto ou vídeo por relação de compra ou troca. No abuso se-
publicado pelo Comitê Nacional de En- meio eletrônico ou não, que compreenda: xual, o agressor visa unicamente satisfazer
frentamento da Violência Sexual contra seus desejos com o emprego da violência.
a. abuso sexual, entendido como toda
Crianças e Adolescentes, parece-nos dar Uma característica que costuma com-
ação que se utiliza da criança ou do
conta da importância de afirmar a sexuali- por a violência é a relação de confiança
adolescente para fins sexuais, seja
dade como um direito, de garantir o exer- entre o agressor e a vítima, ainda que
conjunção carnal ou outro ato libidi-
cício desse direito de forma diferente, de momentânea e enganosa, e geralmente
noso, realizado de modo presencial
acordo com sua geração. No caso de crian- é praticada por alguém que participa do
ou por meio eletrônico, para estimu-
ças e adolescentes, é fundamental garan- mesmo convívio. Isso não necessariamente
lação sexual do agente ou de terceiro;
tir a proteção do desenvolvimento de uma significa que seja convívio familiar,
sexualidade saudável. b. exploração sexual comercial, en- podendo ser comunitário.
tendida como o uso da criança ou O abuso sexual pode expressar-se de
[...] a sexualidade é própria e inerente
do adolescente em atividade sexual duas formas: intrafamiliar e extrafamiliar:
às pessoas, sendo impossível disso-
em troca de remuneração ou qual-
ciá-la da existência humana, vincu-
quer outra forma de compensação, a. O abuso sexual intrafamiliar é as-
lada a processos biológicos, psicoló-
de forma independente ou sob pa- sim considerado quando a agressão
gicos e sociais intrínsecos aos seres
trocínio, apoio ou incentivo de ter- ocorre dentro da família, ou seja, a
humanos. Nesse sentido, os direitos
ceiro, seja de modo presencial ou vítima e o agressor possuem algu-
sexuais, enquanto Direitos Humanos,
por meio eletrônico; ma relação de parentesco. Aqui é
dizem respeito exatamente ao direito
c. tráfico de pessoas, entendido como importante considerar o contexto
da pessoa desenvolver e exercitar de
o recrutamento, o transporte, a familiar ampliado, já que a diferen-
maneira sadia e segura a sua sexua-
transferência, o alojamento ou o aco- ça estabelecida sob o aspecto con-
lidade, livre de qualquer discrimina-
lhimento da criança ou do adoles- ceitual objetivou apenas diferenciar
ção, coação ou violência (Carvalho,
cente, dentro do território nacional as estratégias e metodologias de
Paiva e Roseno, 2007: 109).
ou para o estrangeiro, com o fim de prevenção, proteção e responsabi-
A atualização do Plano Nacional de En- exploração sexual, mediante ame- lização. Assim, quando o agressor
frentamento da Violência Sexual Contra aça, uso de força ou outra forma de compõe a chamada família amplia-
Crianças e Adolescentes, de 20141, concei- coação, rapto, fraude, engano, abuso da ou possui vínculos afetivo-fami-
tua violência sexual como uma violação de autoridade, aproveitamento de si- liares, o abuso deve ser caracteriza-
tuação de vulnerabilidade ou entre- do como intrafamiliar.
1 Plano Nacional de Enfrentamento da Violência
Sexual contra Crianças e Adolescentes ga ou aceitação de pagamento, entre b. O abuso sexual extrafamiliar se dá
aprovado pelo CONANDA em 28 de janeiro de os casos previstos na legislação; quando não há vínculo de parentes-
2014 por meio da Resolução nº. 162. co entre o agressor e a criança ou

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 53


adolescente. Nesse caso, não signifi- Posteriormente, a partir das discus- Pena – reclusão de quatro a dez
ca dizer que não exista uma relação sões do III Congresso Mundial de En- anos, e multa.
anterior, ao contrário, é possível a frentamento da Exploração Sexual de § 1º- Incorrem nas mesmas penas
existência de algum conhecimento Crianças e Adolescentes, em 2008, esses o proprietário, o gerente ou o
ou até vínculo de confiança. Exem- conceitos foram atualizados para: (a) ex- responsável pelo local em que se
plos: vizinhos ou amigos, educado- ploração sexual no contexto de prosti- verifique a submissão de criança ou
res, responsáveis por atividades de tuição; (b) tráfico para fins de exploração adolescente às práticas referidas no
lazer, profissionais de atendimento sexual; (c) exploração sexual no contexto caput deste artigo.
(saúde, assistência, educação), re- do turismo e (d) pornografia infantil (Cam-
§ 2º- Constitui efeito obrigatório da
ligiosos. O autor da violência tam- pelo, Carvalho e Souza, 2008).
condenação a cassação da licença
bém pode ser uma pessoa desco-
de localização e de funcionamento
nhecida, como ocorre nos casos de
estupros em locais públicos.
3.2.1 Exploração sexual no do estabelecimento.
contexto de prostituição Art. 244-B. Corromper ou facilitar a
corrupção de menor de 18 (dezoito)
É a expressão mais próxima do contexto anos, com ele praticando infração
3.2. EXPLORAÇÃO SEXUAL do comércio da exploração sexual de penal ou induzindo-o a praticá-la:
COMERCIAL crianças e adolescentes. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (qua-
É muito comum aparecerem adultos tro) anos.
A nova legislação descreve a exploração como intermediários nessa forma de ex- § 1º- Incorre nas penas previstas no
sexual comercial “pela utilização sexual ploração sexual, redes de aliciadores, caput deste artigo quem pratica as
de crianças e adolescentes em atividade agenciadores, facilitadores, pessoas que condutas ali tipificadas utilizando-se
sexual em troca de remuneração ou qual- lucram com a exploração sexual. Po- de quaisquer meios eletrônicos, inclu-
quer outra forma de compensação, de for- rém, esse tipo de exploração sexual pode sive salas de bate-papo da internet.
ma independente ou sob patrocínio, apoio ocorrer sem intermediários. Ainda que § 2º- As penas previstas no caput des-
ou incentivo de terceiro, seja de modo pre- a princípio possa parecer uma atividade te artigo são aumentadas de um ter-
sencial ou por meio eletrônico” (Art. 4º, autônoma, como no caso de crianças ou ço no caso da infração cometida ou
inciso III, alínea “b” da Lei nº 13.431/2017). adolescentes que oferecem seus corpos induzida estar incluída no rol do art.
Nesse caso, pode haver a participação nas ruas, caracteriza-se como explora- 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de
de um agente entre a criança ou adolescen- ção, já que, além de tratar-se de vítima 1990 (Brasil, 1990).
te e o usuário ou cliente. É por isso que se diz sem condições de se contrapor à situação,
que a criança ou adolescente foi explorada, o usuário estará usando pagamento ou
e nunca prostituída, pois ela é vítima de um troca pela utilização de seu corpo com di- IMPORTANTE
sistema de exploração de sua sexualidade. nheiro ou outros elementos.
Do ponto de vista conceitual, utilizan- Os artigos 244-A e 244-B do ECA, incluí- No caso de pessoas maiores de 18
do a classificação do Instituto Interameri- dos pelas Leis nº. 9.975, de 23/06/2000, e nº. anos, o exercício da prostituição
cano del Niño, la Niña y Adolescentes (IIN), 12.015, de 7 de agosto de 2009, tratam da ex- de forma autônoma não constitui
em 2000, passou-se a classificar a explora- ploração sexual com maior especificidade. crime, pelo menos no Brasil,
ção sexual em quatro modalidades: (a) a Art. 244 - A. Submeter criança ou muito embora sua exploração
pornografia, (b) o turismo com fins sexu- adolescente, como tais definidos no igualmente configure delito.
ais, (c) a prostituição convencional e (d) o caput do art. 2º desta Lei, à prosti-
tráfico para fim sexual (IIN, 2000). tuição ou à exploração sexual:

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A partir da alteração trazida pela Lei nº como no tráfico internacional, o tráfico in-
12.015, de 7 de agosto de 2009, o CP foi terno era tipificado unicamente quando IMPORTANTE
acrescido de um artigo específico que de- para o exercício da prostituição ou outra
fine o crime de exploração sexual contra forma de exploração. Como explica Castro (2016):
crianças e adolescentes, que pode ser ve- A recente Lei nº. 13.344/2016 revogou “Foram revogados os artigos
rificado nos Artigos 218, 218-A, 218-B. formalmente as disposições contidas no 231 e 231-A do CP (tráfico
O comércio sexual em todas as suas CP (artigo 231 e 231-A do CP), ficando, internacional e interno para
modalidades (bares, motéis, hotéis e bo- agora, estabelecida perspectiva mais ho- fim de exploração sexual). Não
ates, principalmente) desenvolve diferen- lística de tratamento jurídico da temática, se cuida de abolitio criminis,
tes ações que foram recepcionadas nos calcada nos eixos da prevenção, repressão pois houve apenas a revogação
artigos do CP e do ECA. e assistência à vítima, em que passa a vi- formal do tipo penal, mas não
Assim, são condutas que caracterizam gorar o novo artigo 149-A. a supressão material do fato
esse crime: submeter, induzir ou atrair à O novo texto normativo amplia a re- criminoso. É dizer, ocorreu
prostituição ou outra forma de explora- pressão ao tráfico de pessoas para outras na verdade a incidência do
ção sexual alguém menor de 18 anos. situações que não apenas a exploração se- princípio da continuidade
xual, como estava restrita anteriormente, normativo-típica, pois a conduta
3.2.2 Tráfico para fins incluindo quatro novas tipificações, repre- continua sendo definida como
sentando fundamental avanço no com- crime, muito embora tenha
de exploração sexual bate às diversas configurações do delito, havido a alteração topo-
O crime de tráfico de pessoas está pre- além de estabelecer sintonia com o trata- gráfica do tipo penal.”
visto no Código Penal (CP), no Art. 149- mento dado no direito internacional para
A. Com alteração recente, o atual texto a conceituação de tráfico de pessoa.
considera tráfico as seguintes práticas:
“Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
transferir, comprar, alojar ou acolher pes-
soa, mediante grave ameaça, violência,
coação, fraude ou abuso, com a finalida-
de de: promoção ou facilitação da entra-
da, saída ou deslocamento no território
nacional, ou para outro país, de crian-
ças e adolescentes com o objetivo de
exercerem a prostituição ou outra for-
ma de exploração sexual.
A Pesquisa Nacional sobre o Tráfico de
Mulheres, Crianças e Adolescentes (Pes-
traf), realizada em 2002, que mapeou 241
rotas de tráfico de pessoas para fins de
exploração sexual, incluindo 78 interes-
taduais e 32 intermunicipais, alertou para
a necessidade de tipificação dessa forma
de violência (Leal e Moreira, 2002). Assim

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 55


O novo dispositivo mantém a dispo-
sição de vítimas crianças e adolescentes IMPORTANTE
como condição de aumento da pena dada
a maior gravidade da violação de direitos, A RESPEITO DO ART. 245
tampouco devendo ser considerada váli- DO CÓDIGO PENAL
da a concordância ou consentimento da Assim disposto: “Art. 245 - Entregar
criança ou do adolescente. filho menor de 18 (dezoito) anos a
Importante citar aqui, também, para en- pessoa em cuja companhia saiba ou
riquecer a análise, as contribuições presen- deva saber que o menor fica moral
tes no Plano Nacional de Enfrentamento ao ou materialmente em perigo: Pena -
Tráfico de Pessoas (Brasil, 2013). As crian- detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
ças apresentam-se no referido plano, § 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro)
como grupo mais vulnerável, sendo anos de reclusão, se o agente pratica
esta realidade um atentado ao di- delito para obter lucro, ou se o menor
reito inalienável de crescer num é enviado para o exterior.
ambiente protegido, acolhedor § 2º - Incorre, também, na pena do
e livre de qualquer forma de parágrafo anterior quem, embora
abuso e/ou exploração. As- excluído o perigo moral ou material,
sim, o plano propugna pela auxilia a efetivação de ato destinado
adoção de políticas que não ao envio de menor para o exterior, com
sejam focadas apenas em o fito de obter lucro” (Brasil, 1940).
ações punitivas e se relacio-
nem com medidas de apoio
às vítimas de tráfico.
Outros tipos penais tam-
com ou sem o envolvimento, cumplicida-
bém caracterizam o crime
de ou omissão de estabelecimentos co-
de tráfico de crianças e ado-
merciais de diversos tipos.
lescentes, no CP e no ECA,
A conceituação desse tipo de explora-
como no artigo 245 do CP, que
ção é uma tarefa complexa, pois muitos
trata da entrega de filho menor
discursos o confundem com abuso de
à pessoa inidônea, e os artigos
crianças e adolescentes ou tráfico inter-
238 e 239 do ECA, que tratam res-
nacional de pessoas. A exploração sexual
pectivamente de “prometer ou efeti-
no contexto do turismo, enquanto vio-
var a entrega de filho ou pupilo a tercei-
lação aos direitos sexuais, não pode ser
ro, mediante paga ou recompensa” (Brasil,
entendida como o simples deslocamento
1990) e “promover ou auxiliar a efetivação
de pessoas estrangeiras ao território bra-
de ato destinado ao envio de criança ou
sileiro com o objetivo de se relacionarem
adolescente para o exterior com inobser-
sexualmente com brasileiros ou brasilei-
vância das formalidades legais ou com o
ras, mas, sim, como o deslocamento deli-
fito de obter lucro” (Brasil, 1990).
berado para o delito.
A exploração sexual no contexto do tu-
3.2.3 Exploração sexual rismo é, portanto, uma forma atípica de
no contexto do turismo exploração, pois pode qualificar outras
formas de exploração quando o(a) au-
É a exploração sexual de crianças e ado- tor(a) é turista e, por meio de sua condu-
lescentes por visitantes de países es- ta, acaba por agredir o exercício sexual de
trangeiros ou turistas do próprio país, algum desse público no local.

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3.2.4. Pornografia infantil
TÁ NA Lei
Pornografia infantil é a expressão da ex-
ploração sexual que se caracteriza por Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografia, vídeo ou outra forma de
qualquer representação, por qualquer fotografar, filmar ou registrar, por registro que contenha cena de sexo
meio, de uma criança envolvida em ati- qualquer meio, cena de sexo explícito explícito ou pornográfica envolvendo
vidades sexuais explícitas reais ou simu- ou pornográfica, envolvendo criança criança ou adolescente.
ladas, ou qualquer representação dos ou adolescente: Art. 241-C. Simular a participação
órgãos sexuais de uma criança para fins
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) de criança ou adolescente em cena
primordialmente sexuais, de acordo com
anos, e multa. de sexo explícito ou pornográfica
o Decreto nº 5.007, de 8 de março de 2004,
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem por meio de adulteração, montagem
que promulga o Protocolo Facultativo à
agencia, facilita, recruta, coage, ou ou modificação de fotografia,
Convenção sobre os Direitos da Criança
de qualquer modo intermedeia a vídeo ou qualquer outra forma de
referente à venda de crianças, à prostitui-
participação de criança ou adolescente representação visual:
ção infantil e à pornografia infantil.
nas cenas referidas no caput deste artigo, Parágrafo único. Incorre
Saliente-se que nos casos de existência
ou ainda quem com esses contracena. nas mesmas penas quem vende,
de imagens de crianças ou adolescentes,
Art. 241. Vender ou expor à venda expõe à venda, disponibiliza, distribui,
configura-se como abuso ou exploração,
fotografia, vídeo ou outro registro que publica ou divulga por qualquer
já que não se trata de imagens de pornogra-
contenha cena de sexo explícito ou meio, adquire, possui ou armazena o
fia, e sim de um crime/violência praticado.
pornográfica envolvendo criança ou material produzido na forma do caput
O ECA também prevê crimes de porno-
adolescente: deste artigo.
grafia infantil em seus artigos 240 a 241-
E, mediante alteração instituída pela Lei Art. 241-A. Oferecer, trocar, Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar
nº 11.829/2008. disponibilizar, transmitir, distribuir, ou constranger, por qualquer meio de
Como já relatado nesse estudo, esses publicar ou divulgar por qualquer comunicação, criança, com o fim de
conceitos não estão — e talvez não devam meio, inclusive por meio de sistema de com ela praticar ato libidinoso:
tornar-se — consensuais para não correr o informática ou telemático, fotografia, Parágrafo único. Nas mesmas penas
risco de perder de vista as várias faces do vídeo ou outro registro que contenha incorre quem:
fenômeno, adotando o termo como algo cena de sexo explícito ou pornográfica I – facilita ou induz o acesso à criança
que pode ser descrito ou explicado cien- envolvendo criança ou adolescente: de material contendo cena de sexo
tificamente. O conceito adotado por Leal § 1º Nas mesmas penas incorre quem: explícito ou pornográfica com o fim de
nos parece o melhor, empregado para re- I – assegura os meios ou serviços para o com ela praticar ato libidinoso;
conhecer a importância do debate no âm- armazenamento das fotografias, cenas II – pratica as condutas descritas
bito das sociedades contemporâneas: ou imagens de que trata o caput deste no caputdeste artigo com o fim de
A exploração sexual comercial de artigo; II – assegura, por qualquer meio, induzir criança a se exibir de forma
crianças e adolescentes é um fenô- o acesso por rede de computadores às pornográfica ou sexualmente explícita.
meno histórico, produto das relações fotografias, cenas ou imagens de que Art. 241-E. Para efeito dos crimes
violentas construídas e transforma- trata o caput deste artigo. previstos nesta Lei, a expressão “cena
das na relação de produção e mais- § 2º As condutas tipificadas nos incisos I e de sexo explícito ou pornográfica”
-valia (capitalistas), e dos sistemas II do § 1º deste artigo são puníveis quando compreende qualquer situação que
de valores arbitrados nas relações o responsável legal pela prestação do envolva criança ou adolescente
sociais, especialmente o patriarcalis- serviço, oficialmente notificado, deixa de em atividades sexuais explícitas,
mo, o racismo e a apartação social, desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de reais ou simuladas, ou exibição dos
a antítese da ideia de emancipação, que trata o caput deste artigo. órgãos genitais de uma criança ou
das liberdades econômicas/culturais Art. 241-B. Adquirir, possuir ou adolescente para fins primordialmente
e da sexualidade humana. (2014: 49) armazenar, por qualquer meio, sexuais (Brasil, 1990).

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 57


Pedofilia: Tendo-se como base trate de meninos, meninas ou de Atenção: Os pedófilos podem se
a Classificação Internacional de crianças de um ou do outro sexo, transformar em agressores sexuais
Doenças da Organização Mundial geralmente pré-púberes ou no início ao converterem suas fantasias em
da Saúde, que no item F65.4, da puberdade. atos reais, e praticam um dos crimes
define pedofilia como preferência previstos no Código Penal.
Efebofilia: atração por parceiros
sexual por crianças, quer se
púberes ou adolescentes.

A definição de abuso e exploração sexual é fundamental para a prevenção da violência e proteção das vítimas, porém, no Código
Penal, essas duas formas de manifestação da violência estão em vários artigos, como se pode conferir no quadro abaixo:

Tipificação dos Delitos dos Crimes Contra a Dignidade Sexual


de Crianças e Adolescentes e Liberdade Pessoal
Separados por Abuso Sexual e Exploração Sexual*
Crimes de Abuso Sexual
Crimes de Exploração Sexual Código Penal
Código Penal
Artigo 213. Estupro: Favorecimento da prostituição ou de outra forma de
Constranger alguém, mediante violência exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de
ou a praticar ou permitir que com ele se exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, (...)
pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de também multa.
natureza grave ou se a vítima é menor de 18 § 2º Incorre nas mesmas penas:
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de
Pena– reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput
§ 2º Se da conduta resulta morte: deste artigo.
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem
as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da
condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do
estabelecimento.

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Estupro de vulnerável Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia (Incluído pela
praticar outro ato libidinoso com menor de Lei nº 13.718, de 2018)
14 (catorze) anos: Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia,
vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de
estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Violação sexual mediante fraude Violação sexual mediante fraude


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
mediante fraude ou outro meio que de vontade da vítima:
impeça ou dificulte a livre manifestação Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
de vontade da vítima: Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. econômica, aplica-se também multa

Importunação sexual Artigo 228. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração


Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sexual: Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração
sua anuência ato libidinoso com o objetivo sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
de satisfazer a própria lascívia ou a Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
de terceiro: § 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou
se o ato não constitui crime mais grave. se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

Assédio sexual Rufianismo


Art. 216-A. Constranger alguém com o Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de
intuito de obter vantagem ou favorecimento seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
sexual, prevalecendo-se o agente da Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
sua condição de superior hierárquico ou § 1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se
ascendência inerentes ao exercício de o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
emprego, cargo ou função. cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
§ 2º A pena é aumentada em até um terço proteção ou vigilância:
se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 59


Corrupção de menores Tráfico de Pessoas
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar
(catorze) anos a satisfazer a lascívia ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou
de outrem: abuso, com a finalidade de:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão
IV - adoção ilegal;
V - exploração sexual
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa
§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de
coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade
ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou
função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional
*A ação penal é pública incondicionada.

Satisfação de lascívia mediante


presença de criança ou
adolescente
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém
menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo
a presenciar, conjunção carnal ou outro
ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia
própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

60 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada: IV - de 1/3
(um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
praticado:
Art. 226. Estupro coletivo
a) mediante concurso de 2 (dois) ou
mais agentes;
Art. 226. Estupro corretivo
b) para controlar o comportamento social
ou sexual da vítima.
II - de metade, se o agente é ascendente,
padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador,
preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tiver autoridade
sobre ela

Ação penal - Art. 225. Nos crimes definidos no TÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL, Capítulos I e II, procede-
se mediante ação penal pública incondicionada.

(*) Elaboração: Leila Paiva. Permitido uso com citação da fonte.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 61


para obter informações da vítima,
acompanhar sua vida e, em certas
situações, até mesmo ocasionar da-
nos sexuais e psicológicos. Há evi-
dência de stalking na adolescência,
envolvendo em especial situações
de namoro rompido. Além de aço-
dar on-line, o stalker pode pertur-
bar a vítima pessoalmente, realizar

4.
ligações telefônicas, enviar e-mails
e mensagens para o celular, além de
publicar fatos ou boatos desairosos
2. Sexcasting consiste na troca de na internet, entre outras ações;
mensagens sexuais em serviços de
7. cyberstalking (também designado
conversas instantâneas;
por stalking on-line, eletrônico ou
3. Sextosión é a prática de chantagens virtual) está associado à intrusão,
com fotografias ou vídeos da crian- assédio persistente e perseguição,
Novas formas ça ou adolescente sem roupa ou em
relações íntimas que foram com-
perpetrado através das tecnolo-
gias de informação e comunicação
DE VIOLÊNCIA SEXUAL partilhados por sexting com fins de
exploração sexual;
(TIC) (Burmester, Henry & Kermes,
2005). Como construção sociocul-
O abuso sexual e a exploração sexual tam- 4. Grooming é caracterizado pela ação tural, surge no mundo ocidental
bém podem ocorrer via internet. Várias de um adulto ao se aproximar de durante o último século, reflexo
práticas têm sido caracterizadas como crianças ou adolescentes via in- do progressivo reconhecimento
tal, ou muitas vezes iniciam um processo ternet, por meio de chats ou redes do stalking e da acentuada difusão
de abuso ou exploração. Algumas já vêm sociais, com o objetivo de praticar das TIC (Carvalho, 2011).
ocorrendo com maior frequência, tornan- abuso sexual ou exploração sexual;
Embora o debate esteja longe de en-
do-se, portanto, imperativo conhecê-las. 5. Slutshaming (ou slut-shaming), contrar consensos ou certezas, conforme
1. Sexting é a palavra originada da definido como o ato de induzir já enfatizado, quanto às classificações e
união de duas palavras em inglês: sex uma mulher a se sentir culpada ou definições sobre as diversas expressões da
(sexo) com texting (envio de mensa- inferior devido a prática de certos violência sexual contra crianças e adoles-
gens) – uma expressão de violência comportamentos sexuais que des- centes, é de suma importância entender
recente, na qual adolescentes, jovens viam de expectativas convencio- os conceitos adotados, as ações, condi-
ou adultos usam celulares, e-mail, nais de seu gênero; ções e finalidades que as caracterizam,
salas de bate-papo, comunicadores 6. Stalking, cujo termo vem do ver- pois, sem essa compreensão, não nos é
instantâneos e sites de relaciona- bo em inglês to stalk, que define o possível pensar em políticas de caráter
mento, para enviar fotos sensuais, ato de perseguição incessante. O preventivo, de atendimento às vítimas ou
mensagens de texto eróticas ou com perseguidor obsessivo é chamado repressivas, sobretudo em se tratando de
convites sexuais para conhecidos; de stalker, que adota várias táticas crianças e adolescentes.

62 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Referências
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do Brasil. Brasília: Casa Civil, 1988. a vítima da violência sexual é criança ou Latina y el Caribe. Montevidéu: INN, 2000.
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Adolescente (Lei nº. 8069 de 13 julho de o Enfrentamento à Exploração Sexual
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CARVALHO, C. (2011). Cyberstalking: PAIVA, Leila. Violência Sexual contra
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BURMESTER, M., HENRY, P., &KERMESs, Universidade do Minho. Tese de mestrado. dos Direitos Humanos: Construções
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& Society Magazine, 35, 1-12. doi: Cenários Amazônicos , Rede de Proteção e
10.1145/1215932.1215934 [ Links ] CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS Responsabilidade Empresarial. Org. Assis
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Campelo, E. M. B.; Carvalho, F. L.; Souza, (CONANDA). Plano Decenal dos Direitos
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Sexual Contra Crianças E Adolescentes. Modernidade. 1989.
Escuta de crianças e s em situação de
violência sexual : Aspectos Teóricos e SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS
Metodológicos : Guia para Capacitação DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (SDH-
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dosSantos, Itamar Batista Gonçalves,
Gorete Vasconcelos – Brasília, DF : Educb,
2014. 396p.:Il.;21cm.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 63


ANGELO MOTTI (autor)
Graduado em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, com especialização em
Psicologia Social. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Papéis e Estruturas Sociais.
Coordena o Programa Escola de Conselhos na UFMS. Atuou como gerente do Programa de
Combate ao Abusos e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescente da Secretaria de Estado
de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social, responsável pela
criação e implantação dos Centros de Referência Sentinela (Creas).

RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista.
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do
Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em
editoras paulistas.

Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.

Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e
Fundação Demócrito Rocha Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto
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fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-940-1 (Fascículo 4)

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