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Volume 3
encontrará apenas quatro capítulos escritos absolutas ou finais, mas sim um questionar
por especialistas, sendo sete escritos pelos contínuo. Fazer perguntas, como primeiro
próprios autores dos novos behaviorismos. Isso passo, leva a buscar formas (métodos) de
nos permite vislumbrar, sem intermediários, investigação que sejam mais apropriadas ao
a dinâmica dessa construção. [...] Portanto, objeto estudado. As respostas fornecidas pela
ler esses capítulos nos permite vislumbrar investigação científica, mais do que aplacarem
as “especiações behavioristas” que estão se a curiosidade, abrem novas questões que
dando no nosso tempo. não eram percebidas antes da investigação
se iniciar e, com isso, o ato de investigar não
tem fim. Ser autocorretiva, passível de revisão
Maria Helena Leite Hunziker e reconstrução constante, é o que torna a
ciência viva. [...] Fiel a essa dinâmica, esse
terceiro volume avança até os dias atuais
com uma seleção de autores que ressalta o
não dogmatismo como princípio inalienável
do cientista. Ele nos mostra que, assim como
ocorre com o fenótipo, a evolução (entendida
BEHAVIORISMOS |
atuais. É esse processo instigante que o
leitor encontrará nesse Volume III, graças à
BEHAVIORISMOS
primorosa seleção de autores feita por Diego
Zilio e Kester Carrara. Nele, desenrolam-
se sob nossos olhos discordâncias repletas
de argumentações bem estruturadas [...]
não raramente permeadas pelo confronto
com o behaviorismo radical de Skinner.
REFLEXÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS Sendo voltado para o agora, a estruturação
desse volume necessariamente difere
Diego Zilio
dos anteriores: os dois primeiros volumes
Kester Carrara dessa coleção trouxeram textos de autoria
organizadores de especialistas que davam a sua versão
Volume 3
BEHAVIORISMOS
REFLEXÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
Diego Zilio
Kester Carrara
organizadores
BEHAVIORISMOS:
REFLEXÕES HISTÓRICAS E
CONCEITUAIS
DIEGO ZILIO
KESTER CARRARA
organizadores
VOLUME 3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários autores
ISBN 978-85-69475-04-0
1. Behaviorismo (Psicologia)
2.Comportamento - Análise
2. Psicologia - História I. Zilio, Diego. II. Carrara, Kester.
19-26649 CDD-150.9
Maio de 2019
AUTORES
Brian A. Iwata
Distinguished Professor do Departamento de Psicologia da Universidade da
Flórida. Mestre e Doutor em Psicologia Clínica e Escolar pela Universidade Estadual da
Flórida. Bacharelado em Psicologia pelo Loyola College de Maryland.
E-mail: iwata@ufl.edu
Camilo Hurtado-Parrado
Professor Associado do Departamento de Psicologia da Universidade de Troy
– Alabama, Estados Unidos, e da Fundação Universitária Konrad Lorenz – Bogotá,
Colômbia. Doutor em Psicologia pela Universidade de Manitoba – Winnipeg, Canadá.
Mestre em Ciências pela Universidade Nacional da Colômbia – Bogotá, Colômbia.
Bacharel em Psicologia pela Universidade Nacional da Colômbia – Bogotá, Colômbia.
E-mail: hhurtadoparrado@troy.edu
Diego Zilio
Professor Adjunto do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória. Doutor em Psicologia
Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo. Mestre em Filosofia
pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Marília. Graduado em Psicologia pela
Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Bauru.
E-mail: dzilioufes@gmail.com
Emilio Ribes-Iñesta
Professor do Centro de Estudos e Investigações sobre Conhecimento e
Aprendizagem Humana da Universidade Veracruzana – Xalapa, México. Doutor em
BEHAVIORISMOS VOLUME 3 | AUTORES
5
Gordon R. Foxall
Distinguished Research Professor da Universidade de Cardiff – Cardiff, Reino Unido.
Professor Visitante de Psicologia Econômica da Universidade de Reykjavik – Islândia.
Doutor em Economia Industrial e Negócios pela Universidade de Birmingham –
Birmingham, Reino Unido. Doutor em Psicologia pela Universidade de Strathclyde
–Glasgow, Reino Unido. Doutor em Ciências Sociais (DSocSc) pela Universidade de
Birmingham – Birmingham, Reino Unido.
E-mail: foxall@cf.ac.uk
Howard Rachlin
Distinguished Professor Emeritus da Universidade Stony Brook – Stony Brook, Nova
Iorque. Doutor em Psicologia pela Universidade de Harvard – Cambridge, Estados
Unidos. Mestre pela The New School – Nova Iorque, Estados Unidos. Bacharelado em
Engenharia Mecânica pela The Cooper Union – Nova Iorque, Estados Unidos.
E-mail: howard.rachlin@stonybrook.edu
Javier Virues-Ortega
Professor Associado da Escola de Psicologia da Universidade de Auckland
– Auckland, Nova Zelândia. Doutor em Psicologia pela Universidade Rey Juan
Carlos – Madrid, Espanha e Mestre em Psicologia pela Universidade de Granada
– Granada, Espanha em parceria com o Instituto de Saúde Carlos III – Seção de
Neuroepidemiologia Aplicada.
E-mail: j.virues-ortega@auckland.ac.nz
John Donahoe
Professor Emérito do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da
Universidade de Massachusetts – Amherst, Estados Unidos. Doutor em Psicologia
BEHAVIORISMOS VOLUME 3 | AUTORES
John Staddon
Professor James B. Duke de Psicologia e Professor Emérito de Biologia da
Universidade de Duke. Professor visitante da Universidade de Toronto – Toronto,
6
Canadá. Professor Visitante da Universidade de Oxford – Oxford, Reino Unido.
Professor Visitante da Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto, Brasil. Doutor
em Psicologia Experimental pela Universidade de Harvard e MIT Systems Lab –
Cambridge, Estados Unidos. Doutor Honoris Causa pela Universidade Charles de
Gaulle, Lille 3 – Lille, França.
E-mail: jers@duke.edu
Julio C. De Rose
Professor Titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – São Carlos.
Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo.
Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo.
Bacharel em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) – Brasília.
E-mail: julioderose@gmail.com
Kester Carrara
Professor Livre-Docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Bauru.
Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Marília. Mestre
em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo
– São Paulo. Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) –
Bauru. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
E-mail: kester.carrara@uol.com.br
Mónica Arias-Higuera
Mestre em Ciências pela Universidade Nacional da Colômbia – Bogotá, Colômbia.
Bacharel em Psicologia pela Fundação Universitária Konrad Lorenz – Bogotá, Colômbia.
E-mail: arias.monicah@gmail.com
BEHAVIORISMOS VOLUME 3 | AUTORES
Peter Killeen
Professor Emérito de Psicologia da Universidade Estadual do Arizona – Tempe,
Estados Unidos. Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de Harvard
– Cambridge, Estados Unidos. Bacharel em Psicologia pela Universidade Estadual de
Michigan – East Lansing, Estados Unidos.
E-mail: killeen@asu.edu
7
Steven C. Hayes
Foundation Professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Nevada
– Reno, Estados Unidos. Doutorado em Psicologia Clínica (com minor em Psicologia
Experimental) pela Universidade da Virgínia Ocidental – Morgantown, Estados Unidos.
Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade da Virgínia Ocidental – Morgantown,
Estados Unidos. Graduado em Psicologia (com minor em Filosofia) pela Universidade
de Loyola Marymount – Los Angeles, Estados Unidos.
E-mail: stevenchayes@gmail.com
William J. McIlvane
Professor Emérito de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de
Massachusetts. Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade Northeastern
– Boston, Estados Unidos. Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade
Northeastern – Boston, Estados Unidos. Bacharelado em Psicologia pela Universidade
de Nova Iorque – Nova Iorque, Estados Unidos.
E-mail: william.mcilvane@umassmed.edu
William M. Baum
Professor Emérito do Departamento de Psicologia da Universidade de New
Hampshire – Durham, Estados Unidos. Pesquisador Associado do Departamento de
Ciências e Políticas Ambientais da Universidade da Califórnia – Davis, Estados Unidos.
Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de Harvard – Cambridge,
Estados Unidos. Bacharelado pelo Harvard College – Cambridge, Estados Unidos.
E-mail: billybaum94108@gmail.com
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ós di
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ação
SUMÁRIO
PREFÁCIO 11
APRESENTAÇÃO 15
19
1 A PSICOFÍSICA COMPORTAMENTAL DE S. S. STEVENS
(1906-1973)
Peter R. Killeen
00
2 ISRAEL GOLDIAMOND (1919-1995): UMA ANÁLISE
NÃO LINEAR DO COMPORTAMENTO
Ramon Cardinali de Fernandes
00
3 NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE
CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Camilo Hurtado-Parrado, Javier Virués-Ortega, Mónica
Arias-Higuera, & Brian A. Iwata
00
4 MURRAY SIDMAN: DAS LEIS DO COMPORTAMENTO
INDIVIDUAL À ANÁLISE COMPORTAMENTAL DA COGNIÇÃO
Julio C. de Rose & William J. McIlvane
000
5 CIÊNCIA COMPORTAMENTAL CONTEXTUAL
Steven C. Hayes
000
6 UMA INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO MOLAR E À
ANÁLISE MULTIESCALAR DO COMPORTAMENTO
William M. Baum
195
7 BEHAVIORISMO INTENCIONAL
Gordon R. Foxall
000
8 BEHAVIORISMO TEÓRICO
John Staddon
000
9 BEHAVIORISMO TELEOLÓGICO: ORIGENS
E SITUAÇÃO ATUAL
Howard Rachlin
000
10 TEORIA DO COMPORTAMENTO OU
TEORIA DA PSICOLOGIA?
Emilio Ribes-Iñesta
000
11 BEHAVIORISMO BIOLÓGICO
John W. Donahoe
PREFÁCIO
Há muito tempo o ser humano se faz três perguntas básicas: “Quem sou eu? De
onde vim? Para onde vou?”. Se, na sua essência, essas perguntas não variaram ao longo
da história, o mesmo não se pode dizer em relação às respostas a elas fornecidas. Uma
grande diversidade de elaborações sobre essas três questões vem acompanhando
a humanidade nas diversas épocas, com abordagens que vão da religião à ciência.
Assim, sem qualquer unanimidade, cada um abraça a resposta que lhe parece mais
convincente, e isso se dá, sabidamente, com forte influência da cultura e do momento
histórico vivido por quem faz essa escolha.
A Psicologia, talvez mais do que outras ciências, lida diretamente com essas três
questões seminais sobre a natureza humana. Contudo existem muitas psicologias. A
depender do enfoque adotado - amparado nos diferentes pressupostos filosóficos
que fornecem a visão de mundo, e nele, a de Homem - a compreensão de um mesmo
fato pode assumir formas das mais distintas, às vezes inconciliáveis. É bem conhecida
a fábula sobre os quatro conselheiros cegos que foram enviados pelo imperador para
terras distantes com a missão de trazer uma descrição do elefante, desconhecido no
seu país. Ao encontrarem o animal, cada um tocou apenas uma parte do elefante
(pata, dente, cauda ou orelha) e isso os levou a descrições distintas: para um, o animal
era grande, roliço e macio; para outro, pequeno, rijo e pontudo; havia um que afirmava
ser o animal fino e flexível, e outro que era largo e arredondado. Todos estavam certos
a partir da sua experiência, mas errados em relação ao animal descrito. Assim estamos
na tentativa de responder às perguntas que acompanham nossa espécie há milênios.
Ao buscar essas respostas através da ciência, nos deparamos com a necessidade
de sermos não dogmáticos. Na perspectiva científica, não há verdades absolutas ou
finais, mas sim um questionar contínuo. Fazer perguntas, como primeiro passo, leva
a buscar formas (métodos) de investigação que sejam mais apropriadas ao objeto
estudado. As respostas fornecidas pela investigação científica, mais do que aplacarem
a curiosidade, abrem novas questões que não eram percebidas antes da investigação
se iniciar e, com isso, o ato de investigar não tem fim. Ser autocorretiva, passível de
revisão e reconstrução constante, é o que torna a ciência viva.
É esse processo de constante reconstrução que está sendo mostrado nessa série
sobre os behaviorismos. Os dois primeiros volumes reuniram o trabalho de alguns
PREFÁCIO
11
acompanhando) a proposta do behaviorismo radical de Skinner, referência ainda
maior de identificação dessa filosofia. Proposto formalmente por Watson, há pouco
mais de um século, o behaviorismo trouxe mudanças estruturais na forma de olhar,
perguntar e buscar as respostas sobre o “nosso elefante”. Ele compreende o ser
humano integrado a uma perspectiva naturalista e evolucionista, refuta o dualismo
mente/corpo e as causas internas, enfatizando a ação seletiva do ambiente na sua
contínua interação com o organismo como sendo a essência da construção do “ser”.
Como método de busca, a experimentação ocupa lugar central.
Porém, por mais sofisticado que seja, o pensar é temporal, passível de revisão
e adaptação às novas influências de pensadores e pesquisadores que continuam
fazendo perguntas e buscando respostas. Fiel a essa dinâmica, esse terceiro volume
avança até os dias atuais com uma seleção de autores que ressalta o não dogmatismo
como princípio inalienável do cientista. Ele nos mostra que, assim como ocorre
com o fenótipo, a evolução (entendida como mudança) continua atuando sobre
o pensamento científico. Biologicamente, sabe-se que sobre uma base genética,
característica da espécie, novas especiações são moldadas pelo ambiente. Da mesma
forma, sobre o “DNA filosófico” do behaviorismo, especiações surgem na produção
dos behavioristas atuais.
É esse processo instigante que o leitor encontrará nesse Volume III, graças à
primorosa seleção de autores feita por Diego Zilio e Kester Carrara. Nele, desenrolam-
se sob nossos olhos discordâncias repletas de argumentações bem estruturadas
em relação ao “nosso elefante”, não raramente permeadas pelo confronto com o
behaviorismo radical de Skinner. Sendo voltado para o agora, a estruturação desse
volume necessariamente difere dos anteriores: os dois primeiros volumes dessa
coleção trouxeram textos de autoria de especialistas que davam a sua versão sobre
os autores selecionados; aqui o leitor encontrará apenas quatro capítulos escritos por
especialistas, sendo sete escritos pelos próprios autores dos novos behaviorismos.
Isso nos permite vislumbrar, sem intermediários, a dinâmica dessa construção.
Dentre os especialistas, Peter Killeen nos apresenta a obra de Stanley Smith
Stevens, destacando a importância da sua proposta de operacionismo e do uso da
matemática, que muito influenciou a análise do comportamento e o desenvolvimento
da psicologia sensorial. Ramon Cardinali de Fernandes destaca a amplitude da
“análise não linear” de Israel Goldiamond, que enfatiza as múltiplas contingências que
PREFÁCIO
12
voltadas à coerção. Camilo Hurtado-Parrado, Javier Virués-Ortega, Mónica Arias-
Higuera e Brian A. Iwata apresentam as seis décadas de contribuição de Nathan Azrin,
responsável por estudos seminais sobre punição e pelo início da transposição dos
princípios básicos, obtidos em laboratório, para situações aplicadas. Por fim, Julio de
Rose e William J. McIlvane nos mostram a importância de Murray Sidman tanto para o
estudo da esquiva e dos processos de equivalência de estímulos, que estabeleceram
as bases para os estudos atuais sobre a cognição e comportamento simbólico, como
para a análise de questões metodológicas (que batizou como “táticas de pesquisa”)
que moldam a ciência do comportamento.
Na palavra dos próprios autores, iniciamos com Steven C. Hayes: mais voltado
para a aplicação dos princípios comportamentais, Hayes propõe o “contextualismo
funcional” e dele deriva a “Teoria das Molduras Relacionais” (RFT) e a “Terapia de
Aceitação e Compromisso” (ACT), amplamente utilizadas hoje em abordagens clínicas
e no estudo da linguagem e cognição humanas. Em seguida, temos William M. Baum
defendendo a análise molar, em oposição à análise molecular proposta por Skinner,
e estabelecendo a alocação de tempo entre todas as atividades do organismo
como objeto da ciência do comportamento. A partir de uma base empírica sobre
a explicação da escolha do consumidor, Gordon R. Foxall propõe o “behaviorismo
intencional” acomodando perspectivas behavioristas e cognitivas. John Staddon, por
sua vez, nos traz a crítica à construção ateórica do behaviorismo radical e sugere que,
para levar a psicologia behaviorista de volta ao mainstream da ciência, é preciso que
sejam desenvolvidas teorias a partir dos dados experimentais. Howard Rachlin propõe
o “behaviorismo teleológico” como uma teoria de identidade comportamental
da mente, identificando a mente não com eventos internos, mas com padrões
manifestos de comportamento observáveis por outras pessoas, tais como intensões,
expectativas e autocontrole. Emilio Ribes-Iñesta se posiciona criticamente em relação
ao estado atual da análise do comportamento, e sugere substituir a análise atomista
e causalista da teoria do condicionamento por uma análise de campo, determinista
e molar, a que chamou de “teoria do comportamento”. Por fim, John W. Donahoe
mostra que a evolução das neurociências permite a continuação da agenda de
Skinner à luz de descobertas dessa ciência irmã. Ele propõe o “behaviorismo biológico”,
que se utiliza da observação direta dos processos sinápticos e outros processos
neurais, demonstrando que, tanto o comportamento neuronal privado, quanto o
PREFÁCIO
13
Portanto, ler esses capítulos nos permite vislumbrar as “especiações behavioristas”
que estão se dando no nosso tempo. Mas eles também nos trazem uma questão
adicional que pode ser encontrada nas palavras de Ribes-Iñesta “. . . ainda que seja
possível traçar uma história interna da lógica dos supostos e categorias das teorias
científicas, tal trama lógica não é independente das circunstâncias históricas da
formação social em que se dão suas transformações e desenvolvimento” (capítulo
10 do presente volume). Dada a formação histórico/social do behaviorismo,
não surpreende que o conjunto de textos aqui apresentado nos traga autores
exclusivamente do sexo masculino, brancos e que tiveram sua formação acadêmica
em universidades norte-americanas (se não integralmente, ao menos em nível de
pós-graduação). Em relação à atuação profissional, a exceção de Ribes-Iñesta (no
México) e Foxall (na Inglaterra), constatamos que todos os demais autores aqui
presentes desenvolveram “seus behaviorismos” morando e trabalhando nos Estados-
Unidos, o que significa que o fizeram envoltos pela cultura norte-americana. Portanto,
a desigualdade entre gêneros, raças e culturas, que encontramos no nosso cotidiano,
permeia também a academia. Dado que as ciências se propõem como ferramentas
que podem ajudar a resolver os problemas humanos, podemos esperar que a ciência
do comportamento influencie indivíduos e práticas culturais no sentido de reduzir
essas desigualdades. Se assim for, o behaviorismo do futuro poderá ser multicultural e
multigênero, o que possivelmente lhe permitirá abraçar com ainda mais diversidade
o estudo das questões seminais da nossa espécie.
14
APRESENTAÇÃO
15
ou contemporâneos ao behaviorismo skinneriano. No segundo volume, por sua
vez, abriu-se espaço também àqueles que, inquestionavelmente, contribuíram
para a construção da análise do comportamento behaviorista radical tal como a
conhecemos hoje, ou seja, autores que não foram propriamente sistematizadores de
propostas behavioristas diversas ou figuras históricas que precederam e influenciaram
o behaviorismo radical skinneriano, mas que, no entanto, foram responsáveis por
emprestar substância empírica, aplicada e conceitual à nossa área. E essa razão, por si
só, já é suficiente para conferir-lhes o reconhecimento devido.
O que torna este terceiro volume especial é o seu enfoque no presente e no
futuro da análise do comportamento. Inicia-se, a exemplo do segundo volume,
com capítulos que tratam de figuras relevantes à análise do comportamento, mas
dá um passo adiante ao trazer em seu conteúdo propostas contemporâneas de
behaviorismo provavelmente nunca antes apresentadas em língua portuguesa.
Abrindo o volume temos o capítulo de Peter R. Killeen sobre a psicofísica
comportamental de S. S. Stevens, pioneiro não só na formulação de modelos
matemáticos sobre o comportamento e na pesquisa psicofísica, mas também na
adoção do operacionismo de Bridgman (muito antes de Skinner) em sua filosofia da
ciência do comportamento.
Em seguida, Ramon Cardinali de Fernandes escreve sobre Israel Goldiamond.
Descontente com as análises funcionais demasiadamente lineares em suas descrições
das variáveis antecedentes e consequentes ao comportar-se, Goldiamond propôs
uma alternativa: a análise não linear do comportamento, que leva em consideração
não só as variáveis contingenciais antecedentes e consequentes diretamente
relacionadas ao comportar-se, como também as possíveis contingências às quais
os sujeitos do comportar-se não entram necessariamente em contato direto, mas
que são igualmente relevantes para a compreensão do processo comportamental.
A ampliação analítica proposta pelo modelo de Goldiamond tem consequências
relevantes, especialmente na análise de práticas sociais e culturais.
O trabalho de Nathan H. Azrin é o tema do capítulo seguinte, de Camilo Hurtado-
Parrado, Javier Virués-Ortega, Mónica Arias-Higuera e Brian A. Iwata. Azrin realizou
pesquisas basilares tanto na análise experimental quanto na análise aplicada do
comportamento. Além de seu reconhecido trabalho experimental sobre controle
APRESENTAÇÃO
16
longo do capítulo. Como será possível notar pela leitura do capítulo, Azrin foi uma
pessoa capaz de aplicar o conhecimento produzido em análise do comportamento
às demandas que apareceram ao longo de sua trajetória.
Murray Sidman é outro autor que, ao lado de Azrin, conseguiu transitar com
propriedade pela análise experimental e aplicada do comportamento, realizando
trabalhos de suma importância em ambas. No capítulo de Julio C. De Rose e William
J. McIlvane somos apresentados, primeiramente, às reflexões de Sidman sobre o fazer
científico em análise do comportamento a partir de seu “Táticas da Pesquisa Científica”,
ainda um dos principais livros a tratar dos fundamentos metodológicos e conceituais
da pesquisa analítico-comportamental. Além disso, os autores também retomam as
pesquisas experimentais sobre esquiva, campo no qual Sidman foi responsável por
desenvolver um procedimento experimental de esquiva não sinalizada que ainda hoje
é chamado de “Esquiva de Sidman”. No entanto, talvez o campo em que Sidman tenha
aglutinado de maneira exemplar a dimensão experimental e aplicada da área seja o
de controle de estímulos, cuja trajetória o levou a desenvolver outro procedimento
inovador (matching-to-sample) e o que viria a se tornar uma área de pesquisa em si
mesma dentro da análise do comportamento, a saber, a de equivalência de estímulos.
A partir deste ponto inicia-se a transição da história para os behaviorismos
do presente. Nesse momento, pela primeira vez, e em um só tempo, temos os
próprios proponentes escrevendo sobre seus behaviorismos. O capítulo 5 trata do
behaviorismo contextual, ou, como o autor do capítulo Steven C. Hayes denomina:
ciência comportamental contextual. Hayes discorre sobre as características teórico-
filosóficas de sua abordagem contextualista funcional tendo como contraponto o
behaviorismo skinneriano, além de tratar de uma de suas principais contribuições
para a área: a teoria das molduras relacionais.
No capítulo seguinte, William M. Baum apresenta o behaviorismo molar e a análise
multiescalar do comportamento. Para Baum, a análise do comportamento é parte da
biologia e, portanto, deve levar em consideração a teoria evolutiva em seus modelos
explicativos. Crítico da perspectiva molecular segundo a qual o comportamento seria
constituído por respostas discretas sob controle (apenas) de estímulos antecedentes
e consequentes temporalmente próximos (contíguos), Baum argumenta a favor de
perspectiva molar, que trata de padrões de atividades comportamentais estendidos
APRESENTAÇÃO
17
serve a uma única função – reprodução. É na sobrevivência, isto é, no estar vivo e se
comportando, que encontramos, para Baum, o ponto de contato entre análise do
comportamento e teoria evolutiva.
O behaviorismo intencional de Gordon R. Foxall, tema do próximo capítulo, talvez
consista na proposta que mais se distancie do behaviorismo radical de Skinner no
que diz respeito ao tratamento dado às explicações cognitivistas (mentalistas) do
comportamento. Foxall busca acomodar em um só modelo explicativo a análise
funcional de contingências de seleção e considerações sobre processos intencionais/
cognitivos que, para o autor, também seriam relevantes. A estratégia empírica do
behaviorismo intencional consiste em testar exaustivamente possibilidades de
explicação puramente comportamentalistas e, se essas se mostrarem insatisfatórias,
justifica-se então a inclusão de explicações intencionais / cognitivas. O behaviorismo
de Foxall foi desenvolvido no bojo de suas pesquisas sobre comportamento do
consumidor, tema que também é abordado ao longo do capítulo.
John Staddon, por sua vez, coloca como objetivo central de seu behaviorismo
teórico aproximar as práticas científicas comportamentalistas de estratégias
contemporâneas de se fazer pesquisa experimental em psicologia. Especificamente, o
autor ressalta a importância dos modelos teóricos na explicação do comportamento
e justifica a sua utilização adotando perspectiva que, a um só tempo, busca evitar
posicionamento ateórico (o qual ele associa a Skinner) e também o mentalismo das
ciências cognitivas. Staddon fundamenta sua proposta fazendo uma análise crítica de
diversos conceitos e processos e suas respectivas explicações comportamentalistas,
tais como taxa de respostas, seleção e variação, repertório, memória (recuperação
espontânea), a distinção respondente-operante, os processos de seleção e variação
e, por fim, a educação.
No capítulo nono, Howard Rachlin nos apresenta o behaviorismo teleológico. De
inspiração aristotélica, tal proposta é caracterizada pelo autor como uma teoria da
mente comportamentalista de acordo com a qual processos mentais não seriam
eventos internos, mas sim padrões manifestos de comportamentos observáveis em
princípio por terceiros. Uma consequência direta dessa proposta, que talvez a distancie
do behaviorismo radical de Skinner, está no tratamento dado aos eventos privados:
no limite, para o behaviorismo teleológico, não há eventos privados propriamente
APRESENTAÇÃO
18
ou teleológica como elemento explicativo do comportar-se. Para Rachlin, a relação
entre uma consequência específica C que segue de uma dada resposta específica
R pode ser vista em termos de causa eficiente. Já a relação entre a possibilidade
de aparecimento futuro de C influenciar a ocorrência de R só poderia ser vista em
termos de causa final. Rachlin aborda diversos tópicos a partir de seu behaviorismo
teleológico, como a análise dos termos mentais, eventos privados, autocontrole e
cooperação social.
Em Teoria do comportamento ou teoria da psicologia?, Emilio Ribes-Iñesta apresenta o
que talvez seja mais bem descrito como um sistema psicológico comportamentalista.
Logo na introdução o autor nos diz que um de seus objetivos consiste em apresentar
seu modelo de campo como uma teoria geral da psicologia como um todo. Nota-
se influência marcante de Kantor e Wittgenstein na proposta de Ribes-Iñesta,
tornando-a singular dentre as outras aqui apresentadas, estas fundadas (ao menos
inicialmente) no behaviorismo radical skinneriano. Encontramos no capítulo de Ribes-
Iñesta, de fato, um sistema de psicologia, iniciando-se com questões de fundamento,
tais como a própria definição do objeto de conhecimento da área, a reformulação
das funções estímulo-resposta a partir da teoria de campo de contingências,e a
extensão do modelo às dimensões psicológicas do desenvolvimento e das diferenças
individuais. Em adendo, o autor explora como o modelo de campo também poderia
ser incorporado às ciências biológicas, sociais e histórias, isto é, em outras áreas para
além da psicologia.
Finalizando este volume temos John W. Donahoe escrevendo sobre o behaviorismo
biológico. Para Donahoe, a exemplo de Skinner, o comportamento é um processo
biológico e, por essa razão, a análise do comportamento é parte das ciências
biológicas. A sua análise biocomportamental é, essencialmente, uma proposta de
síntese entre explicações comportamentalistas e neurofisiológicas. Dohanoe nos
mostra um caminho possível de ciência em que tanto análise do comportamento
quanto análise de mecanismos fisiológicos fornecem informações igualmente
relevantes para a compreensão do fenômeno comportamental. O autor discorre
sobre os mecanismos neurais do reforçamento, o princípio unificado do reforço e
a distinção respondente-operante para, então, mostrar como essa perspectiva
pode nos ajudar a compreender a aquisição de comportamento verbal e padrões
APRESENTAÇÃO
19
Assim como no volume anterior, aproveitamos para agradecer a todos os
colaboradores que gentilmente aceitaram o convite para escrever sobre personagens
tão importantes da história do comportamentalismo e também aos que nos
ajudaram com a tradução dos capítulos escritos em outras línguas para o português.
Especialmente neste volume tivemos colaboradores escrevendo sobre “eles mesmos”,
o que o torna não só um documento de referência sobre a história da nossa área,
mas também uma referência em língua portuguesa sobre o que se está fazendo
atualmente e sobre os possíveis caminhos futuros da Análise do Comportamento.
Gostaríamos também de agradecer ao Centro Paradigma – Tecnologia e Ciências
do Comportamento, especificamente ao Roberto Banaco, por ter acreditado no
projeto quando ainda era um breve rascunho com os nomes dos “behavioristas” e
dos possíveis colaboradores que participariam, e à Roberta Kovac, responsável pela
editora do Núcleo Paradigma, que novamente conduziu o processo editorial de
maneira exemplar, sempre cuidadosa e atenciosa.
Continuamos a dedicar esta série a todos aqueles que, no passado, contribuíram
para a criação e manutenção das contingências sociais fomentadoras das práticas
culturais científicas analítico-comportamentais, mas agora com a soma daqueles
que são responsáveis por manter tais práticas culturais recorrentes no presente e
prováveis no futuro.
Diego Zilio
Kester Carrara
Organizadores
APRESENTAÇÃO
20
3 NATHAN H. AZRIN (1930-2013):
SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 1
Camilo Hurtado-Parrado
Javier Virués-Ortega
Mónica Arias-Higuera
Brian A. Iwata
21
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
22
Cumulative number of citations Cumulative number of publications
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1956
1970 e 2018
1970
1958
1972
1960
1974 1962
1976 1964
1978 1966
1980 1968
1982 1970
1972
1984 1974
1986 1976
1988 1978
1990 1980
1992 1982
1984
1994
1986
1996 1988
1998 1990
2000 1992
2002 1994
1996
2004
1998
2006 2000
2008 2002
2010 2004
2012 2006
2014 2008
2010
2016 2012
Figura 1 . Número cumulativo de publicações de N. H. Azrin entre 1956 e 2014
2018
Formação e carreira
N. Azrin obteve seu bacharelado e mestrado na Universidade de Boston em
1951 e 1952, respectivamente. Ele então se mudou para a Universidade de Harvard
para realizar sua pesquisa de doutorado sob a orientação de B. F. Skinner. Depois de
concluir seu doutorado em 1956, ele se afiliou ao Yale Institute of Living e ao U.S. Army
Ordnance. Em 1958, foi designado professor titular no Instituto de Reabilitação da
Southern Illinois University e diretor de pesquisa do Departamento de Saúde Mental
de Illinois. De 1958 a 1980, ele foi diretor de tratamento no Anna State Hospital, hoje
conhecido como Choate Mental Health and Development Center. Em 1980 passou
a fazer parte da Nova Southeastern University em Fort Lauderdale, Flórida, como
professor de psicologia, cargo do qual se aposentou em 2010, mesmo ano em que foi
nomeado professor emérito.
23
Áreas de interesse
Engenharia comportamental
Como extensão de seu trabalho inicial em engenharia de fatores humanos,
Azrin e colegas começaram a desenvolver no final dos anos 1960 uma série de
inovações tecnológicas comportamentais em uma ampla gama de áreas (tabagismo,
enurese, adesão a tratamentos médicos e gagueira) e usaram o termo engenharia
comportamental para descrever, de forma geral, essa abordagem para intervenção.
Os seus esforços foram direcionados para responder às limitações que identificaram
em tratamentos psicológicos tradicionais entendendo que estes estavam restritos
a contextos e períodos específicos (Azrin, Rubin, O’Brien, Ayllon & Roll, 1968). A
engenharia comportamental era então uma abordagem de tratamento que visava
operar continuamente no contexto natural do cliente, fornecendo os estímulos
necessários para produzir mudança de comportamento. Seis requisitos foram
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
24
da contingência programada, aplicava choques elétricos em diferentes intensidades.
Usando um delineamento de sujeito único com linha de base múltipla, Powell e
Azrin descobriram que as taxas de tabagismo variavam em função da intensidade do
choque aplicado em um esquema de razão fixa (FR1) - isto é, 100%, 70% e 30% com
1,0 mA; 1,5 mA e 1,7 mA, respectivamente - e reversões para as taxas de linha de base
após a retirada do choque. No entanto, Powell e Azrin também descobriram que a
quantidade de tempo que os participantes usaram o aparelho diminuiu em função
da intensidade do choque, o que indicou comportamento de esquiva, limitando
assim a utilidade do instrumento. Para resolver esse problema, Azrin e Powell (1968)
modificaram o protocolo removendo o choque e usando em vez disso um esquema
de intervalo fixo que incluía um sinal que indicava a disponibilidade de um cigarro.
Após cada cigarro, a cigarreira era bloqueada por um determinado período de tempo
durante o qual o acesso ao próximo cigarro ficava restrito. Os autores aumentaram
progressivamente a duração do período de bloqueio (0, 15, 30, 45 e 60 min.), e
encontraram uma diminuição regular e significativa no número de cigarros fumados,
25
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
26
Para o tratamento da gagueira, Azrin e colegas orientaram os pacientes a
sincronizar suas taxas de fala com um estímulo auditivo ou tátil que era apresentado
periodicamente por meio de um aparelho especificamente projetado para esse
fim (Azrin, Jones & Flye, 1968; Jones & Azrin, 1969). Eles encontraram uma redução
de 90% nas respostas gagas durante o intervalo no qual a fala dos clientes esteve
sincronizada com os estímulos, exibindo vocalizações naturais e fluidas quando
a duração apropriada do estímulo foi ajustada (Azrin, Jones & Flye, 1968; Jones &
Azrin, 1969).
O sucesso das diversas inovações projetadas por Azrin e seus colegas demonstrou
o potencial da engenharia comportamental como um auxílio para o tratamento
psicológico de uma ampla gama de problemas de comportamentos socialmente
relevantes, em diferentes graus de complexidade, incluindo o tabagismo (Powell &
Azrin, 1968; Azrin & Powell, 1968), má postura corporal (Azrin, Rubin, O’Brien, Ayllon,
& Roll, 1968), automedicação precisa (Azrin & Powell, 1969), gagueira (Azrin, Jones &
Flye, 1968). Jones & Azrin, 1969) e enurese (Azrin, Bugle & O´Brien, 1971).
27
a partir de esquemas de reforçamento, incluindo economia de fichas, feedback para
pais e professores e autocorreção. Por fim, ele demonstrou que a implementação de
intervenção que incluem a participação de estudantes em cooperação e, com e sob
supervisão de pais e professores, foi altamente eficaz na diminuição de problemas de
comportamento na sala de aula (perto de 90%), enquanto manteve altos os índices
de satisfação dos estudantes (Besalel-Azrin, Azrin & Armstrong, 1977; veja também a
seção de comportamento em sala de aula).
Transtornos alimentares
Azrin e Armstrong (1973) apresentaram um dos primeiros estudos clínicos
randomizados (RCT) na análise aplicada do comportamento. A publicação descreveu
uma área desafiadora de intervenção na qual nenhum sucesso havia sido alcançado
no passado: ensinar adultos institucionalizados com deficiência intelectual severa
à profunda a se alimentarem de forma autônoma. Nenhum dos participantes
conseguia se vestir ou tomar banho de maneira independente, todos, exceto um, não
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
28
a evitar o vômito e a se concentrar no desconforto físico causado pela ingestão
excessiva (isto é, DRO mais punição). O estudo forneceu, dentro do assunto, uma
demonstração da superioridade de uma intervenção comportamental para a
bulimia, fornecendo um pequeno exemplo de um experimentum crucis2, uma forma
de experimentação que raramente vemos em nosso campo.
Um estudo posterior sobre taxas de alimentação mostrou que a ingestão
relativamente mais lenta de alimentos induziu um autorrelato de saciação entre
indivíduos preocupados com o peso (Azrin, Kellen, Brooks, Ehle & Vinas, 2008).
Esta linha de trabalho estabelece um precedente único em uma área crescente
de pesquisa sobre a taxa de alimentação e consciência alimentar em suas relações
com a obesidade. Curiosamente, a relação funcional entre taxa de alimentação
e saciedade relatada por Azrin et al. (2008) não foi sistematicamente replicada em
estudos posteriores. Uma meta-análise de Robinson et al. (2014) sugeriu que, embora
o consumo energético possa ser reduzido pela ingestão lenta, a taxa de alimentação
não tem efeito significativo sobre a “fome”. Essa falta de replicação pode ser devido à
Treinamento esfincteriano
Várias abordagens comportamentais para o treinamento esfincteriano já estavam
disponíveis há alguns anos quando o programa de Azrin e Foxx foi desenvolvido
para indivíduos com deficiência intelectual (Azrin & Fox, 1971) e crianças com
desenvolvimento típico (Foxx & Azrin, 1973a). Por exemplo, Mahoney e seus colegas
da Arizona State University avaliaram um procedimento multifásico destinado a
treinar sequencialmente a cadeia de comportamentos de ir ao banheiro (aproximar-
se, despir-se, sentar-se, etc.). Embora Azrin e Foxx tenham incorporado algumas das
estratégias que Mahoney e outros desenvolveram (isto é, dispositivos de detecção
de umidade, ingestão frequente de líquidos; ver também Van Wagenen, Meyerson,
2 Trata-se do que é conhecido como “experimento crucial” ou “experimento crítico”. Refere-se a uma
pesquisa empírica capaz de, diante de dois ou mais resultados de investigação divergentes, apontar
com segurança qual é a melhor solução para as questões assinaladas. [N.T.]
29
Kerr & Mahoney, 1969), eles foram críticos aos fatos: os programas disponíveis
exigiam treinamento prolongado que frequentemente excedia a um mês, haviam
sido avaliados em séries de casos de pequeno porte, e exigiam lembretes contínuos
após o término do treinamento. Como visto com frequência no trabalho de Azrin, sua
abordagem inicial a um problema aplicado foi o desenvolvimento e a avaliação de
uma intervenção de múltiplos componentes, seguidos de replicações sistemáticas
entre populações e contextos. Azrin identificou uma série de fatores de aquisição
cuja consideração resultou em componentes de intervenção: um ambiente livre de
distrações, contínua motivação para urinar (e.g., ingerir líquidos com frequência),
um grande número de tentativas (rígido cronograma para as idas ao banheiro),
treinamento completo da cadeia de ir ao banheiro, reforço das respostas corretas,
uso de reforços variados, frequência e imediatismo do reforçamento, fatores
antecedentes incluindo orientação física e instruções, e consequências para respostas
incorretas. Em seus estudos originais, Azrin e Fox relataram uma redução média de
80% nos acidentes de higiene [urinação e defecação na cama] tanto em crianças
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
30
ser implementado na ausência de qualquer apoio profissional direto (Besalel, Azrin,
Thienes, & McMorrow, 1980).
Azrin raramente revisitou o treinamento esfincteriano após o início dos anos 1980
e deixou os componentes mais refinados e análises comparativas de seu programa
para outros. Por exemplo, uma análise de componentes por Greer et al. (2016) relatou
apenas ganhos modestos e graduais em acidentes de higiene e uso independente
em um grupo de crianças quando o treino de uso e os componentes de reforço
diferencial foram usados isoladamente. Embora ainda não tenha sido feita uma análise
de componentes detalhada do programa de treinamento esfincteriano desenvolvido
pela Azrin e pela Foxx, análises posteriores recomendaram apenas pequenas
modificações no procedimento original. Por exemplo, estudos de LeBlanc et al. (2005)
e Hanney et al. (2013) sugeriram que alguns indivíduos podem se beneficiar de um
cronograma gradual de treino.
Apesar de sua eficácia e relevância para resolver um problema altamente
prevalente, o programa de treinamento esfincteriano de Azrin não ganhou aceitação
Supercorreção
Um dos principais subprodutos do trabalho de Azrin com treinamento
esfincteriano foi o desenvolvimento de uma classe de procedimentos que se tornou
uma das intervenções mais utilizadas para problemas de comportamento ao longo
das décadas de 1970 e 1980 - supercorreção. Um dos componentes do programa
Azrin e Foxx (1971) foi um conjunto de consequências para acidentes higiênicos.
Depois de receber uma reprimenda por ser incontinente, o indivíduo era obrigado a
31
(a) tomar banho, (b) lavar sua roupa suja e (c) limpar a região (chão, cadeira, etc.) de
qualquer vestígio de urina. Assim, contingente a um acidente, era exigido do indivíduo
o engajamento em um comportamento esforçado que estivesse relacionado ao
contexto do comportamento-alvo problemático, e esse procedimento geral serviu
como a base subjacente para a sobrecorreção.
Em estudos subsequentes, Foxx e Azrin (1972, 1973b) distinguiram entre dois
tipos de supercorreção. A restituição consistiu na atividade corretiva para reparar
qualquer dano físico ou ambiental causado pelo comportamento problemático
(isto é, destruição de propriedade, agressão), enquanto a prática positiva consistiu
em um envolvimento prolongado e aplicado em uma alternativa apropriada ao
comportamento problemático. No estudo de 1972, eles implementaram os dois tipos
de sobrecorreção em delineamentos AB replicados em três indivíduos para problemas
de comportamento que consistiram na destruição de propriedade, agressão e gritos.
No estudo de 1973, eles usaram apenas a prática positiva com quatro indivíduos
envolvidos em estereotipias, não tendo resultado em qualquer tipo de disrupção
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
32
OBJECT - MOUTHING
BARBARA
100
SELF-STIMULATORY OBJECT-MOUTHINGS
80
60
40
(per cent of time)
20
Figura 4 . O efeito dos procedimentos de Higiene Oral Supercorretiva e Alerta Verbal sobre
o abocanhar autoestimulatório de um objeto em uma criança com severo comprometimento
intelectual. A ordenada é rotulada em termos da porcentagem de amostras de tempo em que
abocanhar foi observado. As primeiras marcas na abscissa indicam um período de três meses.
Durante os períodos de linha de base, nenhuma contingência estava em vigor para o abocanhar.
Retirado de Foxx e Azrin (1973b).
33
Os estudos de Azrin sobre a supercorreção propiciaram uma série de replicações
e extensões por outros, o que estabeleceu a generalidade dos procedimentos
na população, no comportamento e no contexto dos clientes. Rapidamente, a
supercorreção ganhou popularidade entre os pesquisadores aplicados. Por exemplo,
estimou-se que um em cada cinco estudos sobre o tratamento de problemas de
comportamento em indivíduos com deficiência intelectual publicados entre 1971 e
1975 envolvia supercorreção (Bates & Wehman, 1975) e que mais de 50 estudos sobre
supercorreção foram publicados entre os anos de 1972 e 1980 (Marholin, Luiseli, &
Townsend, 1980).
Como característico de grande parte do trabalho aplicado de Azrin, a
supercorreção era uma intervenção de múltiplos componentes que incorporava
uma variedade de procedimentos e processos comportamentais: instruções
detalhadas para o engajamento em uma série de respostas (controle de estímulos,
encadeamento), interrupção das consequências reforçadoras do problema
comportamental (extinção), planejamento de consequências para o engajamento
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
34
redirection - RIRD), descrito pela primeira vez por Ahearn, Clark, MacDonald e Chung
(2007). Eles elaboraram o procedimento como um tratamento para estereotipia
vocal, que envolvia primeiro o término da resposta por meio de uma reprimenda e,
em seguida, a exigência de que o indivíduo respondesse a uma série de perguntas
enquanto se abstinha do comportamento estereotipado. Em uma interessante
extensão do estudo de Ahearn et al (2007), Ahrens, Lerman, Kodak, Worsdell e Keegan
(2011) descobriram que a RIRD era igualmente eficaz no tratamento da estereotipia
motora e, além disso, não importava qual tipo de RIRD (envolvendo a prática vocal
ou motora) era aplicado a qual tipo de estereotipia (vocal ou motora). Um resumo de
estudos recentes sobre RIRD (Martinez & Betz, 2013) mostra sua estreita relação com
os procedimentos de supercorreção desenvolvidos por Azrin.
Transtornos de hábito
O procedimento de reversão de hábitos é uma das aplicações mais difundidas
desenvolvidas por Azrin. Foi dito que ele selecionava “problemas que não vão
35
nervosos, tiques e gagueira, apenas uma única sessão de terapia foi fornecida” (Azrin,
1977, pp. 145-146).
Em seu relatório original, Azrin e Nunn (1973) identificaram quatro elementos
básicos do procedimento de reversão de hábitos: descrição da resposta, detecção
de resposta, alerta antecipado e rotinas de resposta concorrentes - as três primeiras
rotuladas em conjunto como treino de conscientização (awareness training). Como de
costume, Azrin não enfatizou os prováveis princípios que guiavam o procedimento
(cf. treino discriminatório, punição contingente). O talento de Azrin parecia estar na
tradução de princípios gerais em um algoritmo - um conjunto de regras a serem
seguidas para resolver um problema prático. Assim, a resposta concorrente foi
descrita como contração isométrica do músculo para tiques motores ou como
respiração controlada no caso da gagueira (Azrin, Nunn & Frantz, 1979). Os públicos
alvos multidisciplinares de Azrin na maioria de suas publicações provavelmente
prestariam mais atenção a descrições detalhadas de procedimentos. Os princípios
operantes subjacentes foram frequentemente omitidos.
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
36
IMMEDIATE TREATMENT GROUP (N=5)
250 HOME 250 CLINIC
200 200
Baseline
MEAN NUMBER OF TICS PER HOUR
100 100
50 50
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
200 200
100 100
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
months months
Figura 5 . Um ensaio randomizado controlado em lista de espera de três meses por Azrin e
Peterson (1990) ilustra uma concordância entre análise de sujeito único e a metodologia do ECR
(ensaio clínico randomizado).
37
hábito incluem (1) sua brevidade, com alguns tratamentos sendo realizados
em uma sessão de duas horas; (2) imediatismo, com reduções significativas
que frequentemente ocorrem no primeiro dia de tratamento; (3) eficácia, com
sintomas reduzidos em mais de 80% na maioria dos casos; (4) durabilidade,
com ganhos de tratamento sendo mantidos no follow-up; (5) flexibilidade, com
o sucesso do tratamento resultando em alguns casos, tanto caso os sujeitos
forem tratados por um terapeuta comportamental ou simplesmente fornecidos
um manual de tratamento detalhado; e (6) consistência, com resultados
semelhantes que são obtidos por vários grupos de pesquisa independentes.
(Peterson et al., 1994, p. 439)
38
Outra variável examinada por Azrin et al. para melhorar a aprendizagem em sala
de aula foi a influência motivacional dos instrutores. Usando um delineamento de
linha de base múltipla, Azrin, Jamner e Besalel (1989) avaliaram os efeitos de apenas
reforçar as instruções dos professores ou de reforçar as instruções relacionadas ao
aprimoramento dos estudantes. Azrin et al. descobriram que o reforçamento do
comportamento dos instrutores aumentou essas respostas, mas não levou a uma
melhoria no desempenho dos alunos. Em comparação, o reforçamento da instrução
efetiva resultou em aprimoramento tanto no desempenho dos professores como no
dos estudantes. Além disso, essa abordagem levou vários professores a solicitarem
mais instruções com objetivo de melhorarem seus desempenhos.
Os resultados desses estudos realçaram a necessidade de projetar e implementar
programas educacionais baseados em esquemas de reforçamento que envolvessem
múltiplas contingências e a participação ativa tanto dos alunos como dos professores.
Por exemplo, o estudo de Besalel-Azrin, Azrin e Armstrong (1977) deu ênfase não
Procura de emprego
Ter um trabalho gratificante fornece acesso a muitos dos benefícios e satisfações
oferecidos pela sociedade, enquanto o desemprego frequentemente contribui
para uma série de problemas, incluindo isolamento social ou discriminação,
pobreza, doenças físicas e mentais, alcoolismo e criminalidade. Jones e Azrin
(1973) reconheceram o alcance desse problema e concluíram que a análise do
comportamento poderia contribuir para uma área em que pouco trabalho empírico
havia sido feito; para eles, havia potencial para o planejamento de uma tecnologia
que pudesse ajudar os indivíduos a encontrar empregos de maneira eficiente.
Na época, a procura de emprego era vista como um processo linear, no qual as
vagas se tornavam disponíveis e eram divulgadas, os candidatos se candidatavam e
os cargos eram preenchidos com o candidato mais adequado. No entanto, Jones e
Azrin perceberam que uma visão mais abrangente baseada em uma abordagem do
39
reforçamento social implicaria em reforçamento do intercâmbio entre empregadores,
anunciantes e candidatos:
Com essa ideia em mente, Jones e Azrin (1973) conduziram um estudo pioneiro.
Eles distribuíram uma pesquisa ocupacional e constataram que dos 120 cargos
preenchidos, 63% dos candidatos escolhidos vieram do círculo próximo de indivíduos
que sabiam da abertura, 71% eram ex-funcionários da empresa contratante, e 53%
exerciam algum grau de influência no processo de contratação. Posteriormente,
eles implementaram um procedimento de propaganda que reforçava o
compartilhamento de informações sobre as vagas de emprego, o que produzia 10
vezes mais disseminação das vagas e oito vezes mais contratações (Jones & Azrin,
1973). Essas descobertas apoiaram a noção de Azrin et al. (1975) de que encontrar
um emprego é mais do que uma função das habilidades de um candidato, pois
outras fontes de influência social são de importância crucial. O sistema resultante que
eles desenvolveram foi chamado de Grupo de Procura de Emprego, que estendeu
as abordagens tradicionais de orientação, treinando habilidades necessárias em
contextos complexos de busca de emprego que envolvem variáveis motivacionais,
feedback, imitação e prática. Este pacote foi combinado com suporte contínuo
40
centrado no candidato usando protocolos de grupo e um sistema de “amigos” e
família por meio do qual as informações de busca de trabalho eram compartilhadas.
O grupo de procura de emprego foi efetivo na obtenção de posições em 90% dos
participantes que seguiram o programa consistentemente por dois meses, obtendo
salários um terço superiores aos obtidos pelos participantes que não foram assistidos
pelo programa, dos quais 44% ainda estavam desempregados três meses após o
início da procura de emprego.
O sucesso desta primeira implementação do programa fez com que Azrin e seus
colegas (1980) obtivessem uma bolsa da Administração de Emprego e Treinamento
do Departamento de Trabalho dos EUA que apoiou a aplicação e avaliação desta
inovação tecnológica em cinco cidades dos EUA. Azrin et al. constataram que
87% dos participantes inscritos no grupo de emprego garantiram uma posição
durante os primeiros 12 meses do programa, contra 54% dos candidatos a
emprego alocados no grupo de controle. Os participantes começaram a encontrar
emprego em média após 11 sessões do programa, e 90% deles foram contratados
Terapia conjugal
Richard B. Stuart, um assistente social de formação, publicou em 1969 um artigo
intitulado Operant-interpersonal treatment of marital discord que enfatizava o uso do
contrato de contingências e reforçamento social recíproco entre os cônjuges para
resolver problemas que resultam em discórdia conjugal. Azrin se lembrou da leitura
do trabalho de Stuart e encontrou muito espaço para melhorias nos procedimentos,
41
mas, acima de tudo, ficou impressionado com o uso de medidas comportamentais
objetivas nesse contexto (por exemplo, horas diárias de conversa, frequência semanal
de sexo) (Azrin, 2013).
Azrin estendeu a abordagem operante de Stuart para a discórdia conjugal: “[Eu
peguei] um ponto de vista do reforçamento. Por que as pessoas se casam? Porque
mais reforçadores estariam disponíveis para elas no casamento do que quando
solteiras. Quais são esses reforçadores? Sexo, comunicação, relações sociais, auxílio
vocacional...” (Azrin, 2013). Uma vez que os reforçadores foram identificados, a
intervenção visaria aumentar a taxa de reforço. Azrin nomeou o programa de terapia
de reciprocidade no qual os parceiros eram considerados fontes complementares de
reforço um para o outro (Azrin, Naster, & Jones, 1973). O reforçamento deveria ser
recíproco para que os ganhos da intervenção fossem sustentáveis. Os casais receberam
instruções e feedback sobre como especificar as expectativas comportamentais que
eles colocavam uns sobre os outros. Em uma tentativa de minimizar a punição social
que frequentemente decorre a partir da expressão dos desejos, Azrin encorajou os
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
42
resultado padronizado de satisfação conjugal que seria mais típico da literatura de
terapia conjugal convencional (Kimmel & Van der Veen, 1974).
Apesar dos grandes efeitos relatados por Azrin e seus colegas através de várias
replicações sistemáticas (Besalel-Azrin & Azrin, 1981), terapia de reciprocidade é um
termo desconhecido por terapeutas conjugais e analistas de comportamento e é
uma das contribuições de Azrin que ainda não foi amplamente divulgada.
Punição
Embora N. Azrin concordasse com a perspectiva de Skinner sobre as vantagens
do reforço positivo sobre o controle aversivo, ele sentiu que uma análise empírica
sistemática de contingências aversivas ainda era necessária para produzir uma ciência
completa do comportamento (Azrin & Holz, 1966). Começando com sua dissertação
em Harvard (Azrin, 1956) e continuando durante seus primeiros anos de carreira no
Anna State Hospital, Azrin realizou a primeira e mais completa análise experimental
dos efeitos da punição. A maior parte do que é atualmente conhecido sobre punição
43
condicionadas, positivas e negativas, e demonstrando como o time out do reforço
tem funções punitivas (Holz, Azrin, & Ayllon, 1963). Terceiro, eles realizaram uma
análise sistemática das variáveis que influenciam a eficácia da punição:
Hake, 1963);
4. os efeitos do encerramento da punição (Azrin, 1959b; 1960a, 1960b; Azrin &
Holz, 1966);
5. o esquema de reforçamento mantendo a resposta punida (por exemplo,
a punição contínua de uma resposta mantida em um intervalo variável de
reforçamento positivo reduz a taxa, mas não os padrões temporais uniformes
do responder; Azrin, 1959b, 1960a, 1960b, 1960; Holz & Azrin , 1961; Holz, Azrin,
& Ulrich, 1963);
6. os efeitos combinados da punição e extinção, que eram maiores do que
aqueles observados com punição ou extinção usados isoladamente (Azrin,
1959b; Azrin & Holz, 1961; Holz, Azrin, & Ulrich 1963);
7. operações estabelecedoras (por exemplo, sob drástica privação de alimentos,
a punição apenas suprime levemente uma resposta operante mantida por
alimentos; Azrin, 1960; Azrin, Holz e Hake, 1963);
8. o papel das respostas alternativas (por exemplo, a disponibilidade de uma
resposta alternativa que produz o mesmo reforço positivo que mantém a
resposta punida leva a uma maior supressão; Azrin & Holz, 1966; Herman e
Azrin, 1964; Holz, Azrin e Ayllon, 1963); e
9. os efeitos da punição no comportamento de fuga (por exemplo, um
dos principais efeitos da punição é gerar uma forte tendência a escapar
inteiramente da situação punitiva; Azrin, Hake, Holz e Hutchinson, 1965).
44
Abuso de substâncias
Durante os anos 1970 e 1980, parte dos esforços investigativos de Azrin foi
direcionada para o desenvolvimento de um programa de intervenção baseado
em princípios operantes para pacientes com alcoolismo (Hunt & Azrin, 1973).
Azrin e seus colegas desenvolveram, avaliaram e refinaram uma Abordagem de
Reforço da Comunidade (CRA), que se concentrou no rearranjo dos reforçadores
em nível pessoal e comunitário através da implementação de um programa
multicomponente (Azrin, 1976):
45
no grupo de intervenção. O estudo ilustrou o potencial para integrar intervenções
comportamentais e farmacológicas: de acordo com uma análise subsequente,
aqueles que receberam dissulfiram isoladamente mostraram aderência quase zero,
seis meses após o início do programa (Azrin, Sisson, Meyers & Godley, 1982).
O sucesso do programa CRA com o alcoolismo levou a esforços subsequentes
de Azrin e colegas para desenvolver intervenções análogas para outros tipos de
abuso de substâncias (por exemplo, maconha, cocaína, metanfetaminas, LSD e
benzodiazepínicos). Este programa de pesquisa focou principalmente na população
adolescente (Donohue et al., 2009) e avaliou um novo conjunto de componentes
de intervenção: (a) controle de estímulo - reduzindo o contato do paciente com
contextos, indivíduos ou situações associadas ao consumo de drogas, aumentando
a participação do paciente em atividades e contato com situações incompatíveis;
(b) controle de impulso - interromper estímulos privados, como sensações
proprioceptivas e pensamentos associados ao consumo de drogas, por meio da
ativação de estímulos privados ou públicos (por exemplo, relaxamento, atividades
3 | NATHAN H. AZRIN (1930-2013): SEIS DÉCADAS DE CONTRIBUIÇÕES À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Considerações finais
Embora os campos da análise comportamental básica e aplicada compartilhem
uma orientação teórica e metodologia de pesquisa comuns, seus objetivos são
distintos. A pesquisa básica faz perguntas gerais sobre as relações ambiente-
comportamento, na tentativa de isolar os efeitos das variáveis independentes.
A precisão e o controle, portanto, são uma preocupação primordial, e a resposta
46
geralmente é selecionada a partir da conveniência. Por outro lado, a pesquisa
aplicada faz perguntas sobre variáveis que influenciam comportamentos socialmente
relevantes (Baer, Wolf, & Risley, 1968), e maior ênfase é colocada naqueles que
engajam em respostas adaptativas ou mal adaptativas e em como suas situações
podem ser melhoradas (ou agravadas). Como resultado, é raro encontrar indivíduos
que desenvolvam programas de pesquisa significativos em ambas as áreas.
Nathan Azrin não foi apenas um desses raros indivíduos, mas foi também um
pioneiro em ambos os campos. Seu trabalho em processos comportamentais
básicos, iniciado na década de 1950 e anterior ao Journal of the Experimental Analysis
of Behavior, estabeleceu padrões importantes em pesquisas de laboratório, e sua
volumosa série de estudos sobre controle aversivo continua sendo o mais completo
trabalho já realizado sobre o tema. Seu trabalho aplicado, também iniciado na década
de 1950 e muito anterior ao Journal of Applied Behavior Analysis, foi abrangente e
amplo, concentrando-se em muitos problemas sociais importantes em numerosas
populações e contextos. Ele também estabeleceu padrões em pesquisa clínica,
Referências
ABAI. (2013). Nathan Azrin. Retrieved April 19, 2018, from https://www.abainternational.
org/constituents/bios/nathanazrin.aspx
47
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