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tempo”. Ou seja: o autor compreende imagem como qualquer representação, situada num
dado lugar e numa dada situação.
A fotografia é também uma imagem, que é produzida através de uma câmera
fotográfica, de um aparelho, por isso é denominada imagem técnica que, para Flusser (1985,
p.10),
Trata-se de imagem produzida por aparelhos. Aparelhos são produtos da técnica que
por sua vez, é texto científico aplicado. Imagens técnicas são, portanto, produtos
indiretos de textos – o que lhes confere posição histórica e ontológica diferente das
imagens tradicionais.
Foi nessa época que começaram a surgir álbuns fotográficos. Eles podiam ser
encontrados nos lugares mais glaciais da casa, em conseles ou guéridons, na sala de
visita – grandes volumes encadernados em couro, com horríveis fechos de metal e as
páginas com margens douradas, com a espessura de um dedo, nas quais apareciam
figuras, grotescamente vestidas ou cobertas de rendas [...]
detalhe que Didi-Huberman (1998) nos fala, é encontrar a descrição, a exatidão das coisas em
uma cena de cinema.
No documentário “Socorro Nobre”, de Walter Salles, produzido nos anos 90,
temos a história de Maria do Socorro Nobre, presidiária na cidade de Salvador que após ler a
história do artista plástico, polonês, Franz Krajcberg, sobrevivente do holocausto, entra em
contato com o mesmo através de uma carta. Ambos vivem na clausura, ela dentro de uma cela
e ele em um país longe das suas origens.
Temos neste documentário a fotografia em primeiro plano, o rosto em primeiro
plano, pois, na maioria das cenas a reclusa é exibida em um enquadramento em plano
fechado, o close-up – que aproxima a câmera do objeto, ocupando quase todo o cenário, um
plano de intimidade e expressão. A fotografia do ambiente fecha-se no rosto da mulher, que
dentro da cela passa trocando cartas com o artista, enquanto ele vive “livre”. Tanto nas
imagens de Franz Krajcberg quanto nas imagens de Socorro Nobre, temos o rosto nas cenas.
O filósofo Gilles Deleuze (1983), em sua obra - Cinema – a imagem movimento, no capítulo
acerca da imagem-afecção fala que “a imagem-afecção é o primeiro plano, e o primeiro plano
é o rosto... Eisenstein sugeria que o primeiro plano não era apenas um tipo de imagem entre as
outras, mas oferecia uma leitura afetiva de todo o filme” (1983, p. 103). Desta forma,
consideramos que há uma rosticidade nas cenas da mulher e do homem, uma vez que Deleuze
(1983, p. 104) diz:
rostificação. Ora, ao contrário, ele opera por traços dispersos tomados na massa,
linhas fragmentárias e quebradas que indicam aqui o estremecimento dos lábios, ali
o brilho de um olhar, e que comportam uma matéria mais ou menos rebelde ao
contorno — são traços de rosticidade.
Sendo assim, reafirmamos o que Deleuze (1983) diz quando fala sobre rosto no
cinema. Segundo o autor, no cinema os afetos estão no primeiro plano, e o primeiro plano é o
rosto. O rosto reflete ou recolhe, “e cada vez que descobrimos em algo esses dois polos —
superfície refletora e micromovimentos intensivos — podemos afirmar: esta coisa foi tratada
como um rosto, ela foi "encarada", ou melhor, "rostificada" (1983, p. 104). A imagem de
Socorro Nobre na prisão tem dois polos, tem rostificação, porque tem forma, é definido.
Conforme o filósofo, a este rosto podemos perguntar – O que você pensa? A mesma imagem
fora de traços definidos, sombrosos tem rosticidade, reflexão e a este questionamos – O que
você sente?
O mesmo ocorre quando observamos a vida do artista plástico, Franz Krajcberg que
vive livre e preso ao mesmo tempo. O polonês vive em uma ilha, longe do seu país e entre
grades invisíveis, fato que o aproximou da presidiária. As imagens dele junto às obras de arte
à beira mar, em especial a obra que lembra grades de uma penitenciária, se fundem e têm
rosticidade. Lembram cicatrizes de uma solidão, seja dentro da cela ou em uma ilha. Deleuze
(1983) afirma que o close-up, especialmente o rosto pode aparecer em outas partes do corpo
objetos da cena. Fica exemplificado nestas ocasiões de solidão qual o rosto deste
documentário.
O documentário não somente mostra a situação de Socorro Nobre, como a vida de
outras presidiárias que assim como ela vivem à margem da sociedade. Têm filhos dentro de
uma cadeia, os amamentam e podem ser vistas através de pequenas lacunas, de pequenos
enquadramentos. E essas imagens, essas vidas enclausuradas, têm afeto, ou seja, como
primeiro plano “conserva o mesmo poder, o poder de arrancar a imagem das coordenadas
espácio-temporais para fazer surgir o afeto puro enquanto expresso” (1983, p. 113). Os rostos
deste filme são o punctum da imagem, a partir do momento que que afetam quem está diante
das cenas, eles podem ferir ou não quem os vê, pois conforme Barthes (1980), essa percepção
dependerá do momento vivido por cada um.
Deleuze (1983), esclarece que através de um rosto ou de um objeto rostificado, temos
o afeto. Assim, “o afeto é a entidade, isto é, a Potência ou a Qualidade”. (DELEUZE, 1983, p.
114). Através do rosto da mulher, da imagem em preto e branco, da sombra, dos contornos de
rosto femininos, temos o que o autor chama de “ícone”, que é o conjunto do que foi
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expressado e de sua expressão, do afeto e do rosto. Como ressalta Gilles Deleuze (1983, p.
115).
Há portanto ícones de traço e ícones de contorno, ou melhor, todo ícone tem estes
dois pólos: é o signo de composição bipolar da imagem-afecção. A imagem-afecção
é a potência ou a qualidade considerada por si mesmas enquanto expressadas. É
certo que as potências e as qualidades podem existir ainda de modo inteiramente
diverso: enquanto atualizadas, encarnadas em estados de coisas. Um estado de
coisas comporta um espaço-tempo determinado, coordenadas espaciotemporais,
objetos e pessoas, conexões reais entre todos esses dados.
Quando falamos em rosto e rosticidade, cabe mais uma vez dizermos que quando
falamos em rosto da imagem, o close-up, não estamos falando especificamente de um rosto
humano de carne e osso, pois muitas vezes um objeto dá rosticidade a cena. Deleuze, em Mil
Platôs “Ano zero – rostidade”, explica:
Há muito o que se olhar deste documentário, tanto para os detalhes que permeiam
Socorro Nobre, como os detalhes de Franz Krajcberg. Podemos seguir aqui a linha do filósofo
Georges Didi-Huberman (1998, p.297), que defende a ideia de que “nunca se saberá olhar um
quadro”. Ou seja, cada imagem da mulher e do homem apresentam detalhes a serem olhados
com mais atenção. Para isso, o autor explica como constitui-se um detalhe da imagem:
Neste sentindo, quando nos propusemos a observar com mais atenção as cenas de
Socorro Nobre e do artista, estamos nos propondo a sabe-los em detalhes.
O polonês na maioria das vezes é exibido só, somente com a presença de suas obras de
arte e a paisagem do local. Podemos a partir disso retirar o que nos talha na imagem. A
escultura que lembra grades de uma prisão pode ser detalhada, o que vemos nela e o que nos
olha dela, conforme (Didi-Huberman, 1998). Da mesma forma com a presidiária e suas
colegas de cela, elas que muitas vezes nem aparecem declaradamente e sim suas silhuetas.
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São estes detalhes do close-up que auxiliam na descrição da história de cada personagem. Já
estas mesmas cenas apresentam o trecho que o autor nos relata. Ele que não nos da certeza de
nada em cena, o que pensamos estar detalhado e defino em relação ao polonês e a figura
feminina do documentário, cai por terra ao apontarmos o trecho, este é algo a mais.
Referências
BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. São Paulo: Editora Brasiliense S.A,
1985.
_________________. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 2008.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia.
São Paulo: Hucitec, 1985.