Sei sulla pagina 1di 1

O amor na lírica camoniana

O Amor é, de facto, o principal tema de toda a lírica camoniana […].


É, contudo, fonte de contradições vivamente sentidas: ele é sucessivamente “fogo que arde sem
se ver”, “ferida que dói e não se sente”, “contentamento descontente” – daí que dificilmente ele possa
trazer consigo a alegria e a paz. É algo de indefinível […].
O amor aparece nestes poemas sob uma dupla abordagem. Uma é a sua abordagem à maneira
petrarquista, de raiz provençal e neoplatónica. Trata-se de um amor espiritualizado, em que não se
vislumbra o corpo dos amantes, que se compraz na adoração e contemplação do ser amado e que
leva a que o amador se “transforme” na “cousa amada”. Num amor assim vivido, a ausência da amada
não só não é sentida com dor, mas é encarada como ocasião de purificação do sentimento amoroso. A
mulher amada, encarada como reflexo da beleza divina, é a ponte para a perfeição do “amador”.
Assim, ela não é retratada com traços fisionómicos precisos – a sua beleza, que é grande, reside
sobretudo no olhar, “brando e piedoso”, na postura “humilde”, na bondade; o seu retrato é um retrato
psicológico da perfeição e pureza que dela emanam. Regista-se a impressão que a sua beleza causa,
e não os traços de que essa beleza é feita. Trata-se de um ser sublime, divinizado, que se movimenta
numa natureza alegre, colorida, paradisíaca. […]
Mas o amor aparece também visto sob outro aspeto, numa outra abordagem. Camões, senhor de
uma “longa experiência” de vida, apercebe-se da enorme distância que vai do pensamento à realidade
vivida – e sente, mais violentamente que Petrarca, que a vivência quotidiana do amor, longe de trazer
tranquilidade e paz, se for dela excluído o fator erótico, traz inquietação e perturbação. […]
Da tensão entre Laura e Vénus, entre o amor espiritual e o amor sensual, resultam, para quem
ama, conflitos interiores, perplexidade, contradições, angústia […].
É que, como se explica no soneto “Transforma-se o amador na cousa amada”, “o vivo e puro
amor” não pode permanecer “no pensamento como ideia” – mas antes, “como matéria simples busca a
forma”, ou seja, precisa de se realizar em contornos precisos que só o corpo permite, de se concretizar
no mundo sensível que é, não o esqueçamos, o dos sentidos.

PAIS, Amélia Pinto, 2007. Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões. Porto: Areal (pp. 31-32)

EM SÍNTESE

O sujeito poético

 reflete sobre o amor espiritualizado, de influência platónica, desprovido de


Experiência
sensualidade;
amorosa e
 relata o amor experienciado, vivido, sensual;
reflexão sobre o
 aborda a multiplicidade de efeitos (contraditórios) que o amor provoca em si;
amor
 manifesta o seu amor conturbado, dividido entre o anseio espiritual e o desejo;
 revela os sentimentos que decorrem da sua experiência amorosa
(insatisfação, sofrimento, desilusão, conflito, saudade).

Potrebbero piacerti anche