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Porquê?
Da música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) se diz que
é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio seguindo,
ou não, uma pré-organização ao longo do tempo.(1) Também a Internet se constrói de
sons e silêncios, de formas e de vazio, de letras e imagens e cores que só se percebem
porque entremeadas de brancos ou bases tendencialmente lisas. E também a Internet,
como a música, só se pode apreciar no âmbito de uma organização, por menos
consciente que seja, sob pena de ser apenas um tsunami de estímulos sem nexo, ou
ruído.
Do mar, diz-se que é uma longa extensão de água salgada ligada a um oceano.
(2)
Sobre o mar se afirma ainda que a sua água é transparente mas, quando observado
atentamente, parece azul, verde ou até cinzento. Ao contrário do que alguns ainda
acreditam, não é o reflexo do céu que torna o mar azul: o que torna o mar azul é o facto
de a luz azul não ser absorvida, ao contrário da amarela e da vermelha, bem como a cor
da terra ou das algas transportadas pelas suas águas. A partir de uma certa profundidade,
as cores começam a sumir do fundo do mar. A primeira cor a desaparecer é a vermelha,
aos seis metros. Depois, aos quinze, some a amarela. Até chegar a um ponto em que só
se verá o azul. Por outro lado, durante milhões de anos, a chuva formou cursos de água
que iam dissolvendo lentamente rochas de todos os períodos geológicos, nas quais o sal
comum é encontrado em abundância. Como os cursos de água desembocam no mar, ele
ficou com quase todo o sal. Também a Internet, com a sua multiplicidade de fontes, foi
acumulando – em muito menos do que milhões de anos, é certo – um número incontável
de condimentos (som, cor, movimento…), e também ela se caracteriza por uma
sobreposição cromática, não apenas literal, mas metafórica. Todos os recursos presentes
Mas é a mesma Internet que, precisamente pelo seu carácter global, incorre no
pecado da quantidade que, por excessiva, distrai do essencial. Qualquer aluno do
primeiro ano do ciclo que tente fazer uma pesquisa para um qualquer trabalho se depara
com a mesma dificuldade que um investigador ou um jornalista: há demasiada
informação, e nem toda fidedigna, ou actualizada. Como na música, há uma imensidão
de sons que todos conhecem, mas é a escolha da sequência certa que dá origem a
música – tudo o resto é ruído. Isto faz da Internet, paradoxalmente à sua natureza de
«esperanto» ou língua que une os povos falantes dos mais diversos idiomas, uma
verdadeira Torre de Babel. É certo que, no plano literal, a diferença de língua não é
impeditiva da comunicação, pelo menos ao nível mais básico: os conversores de idioma,
gratuitos, asseguram que, ressalvadas incongruências próprias das traduções
automáticas e literais, um texto em suaíli possa, em segundos, ser lido em português ou
crioulo haitiano. Mas a leitura de um mesmo suporte informativo, por exemplo, pode
ser feita de forma diversa consoante as circunstâncias do receptor, gerando até
problemas diplomáticos. Veja-se o exemplo da caricatura de Maomé que, na Suécia e
nos países ocidentais foi «lido» como uma manifestação crítica e cómica própria da
Mas não há luz sem escuridão, céu sem inferno, vida sem morte. Cada realidade
se afirma e só existe pelo reconhecimento do seu contrário, e a Internet não é a panaceia
para as diferenças nem para as distâncias que separam os povos do mundo. Pelo
contrário, sociologicamente, a Internet, se aproxima, também afasta. Um estudo
recentemente divulgado «culpa» o Facebook por um em cada cinco divórcios nos
Estados Unidos da América. Esta rede social já é até aceite em tribunal para legitimar
pedidos de divórcio com base em alegações de infidelidade. Ao globalizar-se a um nível
nunca antes experimentado pela humanidade, a esfera do privado tornou-se pública, e
pode ser – e é! – escrutinada por empregadores, universidades, amigos e inimigos. O
assédio a crianças e jovens, as fraudes informáticas como o chamado carding, a
sabotagem de sistemas informáticos, e tantos outros crimes, são a outra face da moeda
universal que é a Internet.