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Instituto Superior de Ciências de Informação e da Administração

"Uma fotografia da Internet” – entre a música e o ruído

“Grafonola Sobre o Mar”

Fotografia de Andreia Lemos, em Novembro de 2010

ISCIA Andreia Lemos | 2.º Ano Comunicação | Comunicação Multimédia |


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Inesperada, a imagem acima reproduzida surpreendeu-me numa fria manhã de
Outono, quando visitava uma feira de velharias instalada nas muralhas de Buarcos,
Figueira da Foz, sobranceira à marginal.

O insólito da sobreposição de uma invenção humana de formas curvilíneas à


imensidão do mar além das areias só mais tarde se me afigurou apropriado para um
texto que abordasse a realidade da Internet.

Porquê?

Da música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) se diz que
é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio seguindo,
ou não, uma pré-organização ao longo do tempo.(1) Também a Internet se constrói de
sons e silêncios, de formas e de vazio, de letras e imagens e cores que só se percebem
porque entremeadas de brancos ou bases tendencialmente lisas. E também a Internet,
como a música, só se pode apreciar no âmbito de uma organização, por menos
consciente que seja, sob pena de ser apenas um tsunami de estímulos sem nexo, ou
ruído.

Do mar, diz-se que é uma longa extensão de água salgada ligada a um oceano.
(2)
Sobre o mar se afirma ainda que a sua água é transparente mas, quando observado
atentamente, parece azul, verde ou até cinzento. Ao contrário do que alguns ainda
acreditam, não é o reflexo do céu que torna o mar azul: o que torna o mar azul é o facto
de a luz azul não ser absorvida, ao contrário da amarela e da vermelha, bem como a cor
da terra ou das algas transportadas pelas suas águas. A partir de uma certa profundidade,
as cores começam a sumir do fundo do mar. A primeira cor a desaparecer é a vermelha,
aos seis metros. Depois, aos quinze, some a amarela. Até chegar a um ponto em que só
se verá o azul. Por outro lado, durante milhões de anos, a chuva formou cursos de água
que iam dissolvendo lentamente rochas de todos os períodos geológicos, nas quais o sal
comum é encontrado em abundância. Como os cursos de água desembocam no mar, ele
ficou com quase todo o sal. Também a Internet, com a sua multiplicidade de fontes, foi
acumulando – em muito menos do que milhões de anos, é certo – um número incontável
de condimentos (som, cor, movimento…), e também ela se caracteriza por uma
sobreposição cromática, não apenas literal, mas metafórica. Todos os recursos presentes

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na Internet têm de ser visto à luz de filtros, sob pena de nos parecer azul o que, afinal, é
apenas um reflexo de luz.

A grafonola, ou a importância da mensagem


E o mar, ou a (ir)relevância da quantidade

A Internet funde estas duas definições e pode transmutar-se, metaforicamente,


nestas realidades sobrepostas. Nunca, como hoje, a Internet foi tão música e,
simultaneamente, tão ruído. O recente caso WikiLeaks(3) é disso exemplo. Só a Internet,
esse “conjunto de redes em constante crescimento e expansão” (4) servido por protocolos
que funcionam como “um dialecto comum para povos que falam idiomas diferentes” (5),
uma espécie de «esperanto» multidimensional, poderia dar eco mundial às revelações de
um website pouco mais do que marginal. Só a Internet, e a profusão de documentos que
através dela circulam, permitiu que um conjunto muito restrito de pessoas pudesse ter
acesso a um número tão grande de informações «confidenciais», e divulgá-las, num
curtíssimo espaço de tempo, em tantos idiomas, para tantos receptores.

Mas é a mesma Internet que, precisamente pelo seu carácter global, incorre no
pecado da quantidade que, por excessiva, distrai do essencial. Qualquer aluno do
primeiro ano do ciclo que tente fazer uma pesquisa para um qualquer trabalho se depara
com a mesma dificuldade que um investigador ou um jornalista: há demasiada
informação, e nem toda fidedigna, ou actualizada. Como na música, há uma imensidão
de sons que todos conhecem, mas é a escolha da sequência certa que dá origem a
música – tudo o resto é ruído. Isto faz da Internet, paradoxalmente à sua natureza de
«esperanto» ou língua que une os povos falantes dos mais diversos idiomas, uma
verdadeira Torre de Babel. É certo que, no plano literal, a diferença de língua não é
impeditiva da comunicação, pelo menos ao nível mais básico: os conversores de idioma,
gratuitos, asseguram que, ressalvadas incongruências próprias das traduções
automáticas e literais, um texto em suaíli possa, em segundos, ser lido em português ou
crioulo haitiano. Mas a leitura de um mesmo suporte informativo, por exemplo, pode
ser feita de forma diversa consoante as circunstâncias do receptor, gerando até
problemas diplomáticos. Veja-se o exemplo da caricatura de Maomé que, na Suécia e
nos países ocidentais foi «lido» como uma manifestação crítica e cómica própria da

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liberdade de expressão consagrada nas democracias, mas que nos países muçulmanos
foi recebida como heresia – e não há neste exemplo nenhum juízo de valor. Por outro
lado, o já referido excesso de informação contribui para esta Torre de Babel virtual: se,
mesmo na nossa língua materna, estivermos a ouvir muitos falantes, dificilmente
conseguimos concentra-nos e seguir uma linha de raciocínio. Na Internet, a experiência-
tipo desta dificuldade é particularmente dolorosa para os hipocondríacos: qualquer
sintoma ou conjunto de sintomas origina, numa pesquisa virtual, diagnósticos
contrários, soluções díspares, explicações paradoxais.

Também no mar, recurso natural imenso, se buscam tesouros: do peixe às algas,


do sal a tesouros propriamente ditos. Mas qualquer pescador nos dirá que, quando se
lança a rede, nem tudo o que vem é peixe. Quando se recolhem as redes é necessário
escolher o que interessa e devolver às águas, ou inutilizar, o que é lixo. Um pouco como
acontece com o spam – o correio electrónico não solicitado que ganhou o nome de uma
conserva de carne de qualidade no mínimo duvidosa, consumida sobretudo nos Estados
Unidos da América.

Música para todos os gostos


Um mar de oportunidades e ameaças

Como a Internet, também a música se expandiu ao longo dos anos, e actualmente


podemos entendê-la não apenas como arte, mas também como instrumento educacional
ou terapêutico (musicoterapia). Além disso, é presença central em diversas actividades
colectivas, como os rituais religiosos, festas e até funerais. Embora nenhum critério
científico permita estabelecer o seu desenvolvimento de forma precisa, a história da
música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da
cultura humana… tal como a Internet. Actualmente não se conhece nenhuma civilização
ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias, e também será difícil
– à parte, eventualmente, algumas tribos índias – encontrar alguma comunidade que não
esteja não apenas ligada, mas representada, na Internet.

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Livros, filmes, notícias, blogues, páginas sociais como o Facebook, vídeos,
fotografias, música, trabalhos académicos, investigações em curso, concursos, contas
bancárias, correspondência pessoal, profissional e institucional… o manancial de
recursos diversificados que se podem encontrar na Internet parece não ter fim. Num
mundo cada vez mais global, a Internet parece ser o mar que se atravessa como se de
um pequeno riacho se tratasse, o Santo Graal da proximidade entre os povos. O próprio
Pierre Lévy afirmou que “A cooperação e, mais particularmente, a troca de ideias, a
cooperação intelectual, é algo importante para o desenvolvimento cultural e social. A
Internet é uma das ferramentas para esse desenvolvimento e é por isso que ela tem, em
todo o mundo, um tal sucesso” (6).

Mas não há luz sem escuridão, céu sem inferno, vida sem morte. Cada realidade
se afirma e só existe pelo reconhecimento do seu contrário, e a Internet não é a panaceia
para as diferenças nem para as distâncias que separam os povos do mundo. Pelo
contrário, sociologicamente, a Internet, se aproxima, também afasta. Um estudo
recentemente divulgado «culpa» o Facebook por um em cada cinco divórcios nos
Estados Unidos da América. Esta rede social já é até aceite em tribunal para legitimar
pedidos de divórcio com base em alegações de infidelidade. Ao globalizar-se a um nível
nunca antes experimentado pela humanidade, a esfera do privado tornou-se pública, e
pode ser – e é! – escrutinada por empregadores, universidades, amigos e inimigos. O
assédio a crianças e jovens, as fraudes informáticas como o chamado carding, a
sabotagem de sistemas informáticos, e tantos outros crimes, são a outra face da moeda
universal que é a Internet.

De regresso à fotografia “Grafonola Sobre o Mar”, ela simboliza a harmonia ou o


lado positivo, o mar de oportunidades que a Internet oferece; e o ruído ampliado, o
tsunami em potência, com consequências devastadoras para o indivíduo e/ou para o
colectivo, que também nela se manifesta. Como criação humana, a Internet padece das
mesmas dualidades que, desde o início dos tempos, minam a humanidade – o Bem e o
Mal, ou a Música e o Ruído.

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Footnotes

(1) Adaptado da definição in http://pt.wikipedia.org/wiki/musica, a 5 de Dezembro


de 2010
(2) in http://pt.wikipedia.org/wiki/mar, a 5 de Dezembro de 2010
(3) Referência ao website WikiLeaks, o rosto visível de uma organização sem fins
lucrativos transnacional que, recentemente, divulgou milhares de documentos
confidenciais e de teor sensível, utilizando pacotes de software que garantem,
tanto quanto possível, o anonimato e a irrastreabilidade dos seus usuários.
(4) Ribeiro, Nuno – “Multimédia e Tecnologias Interactivas”, pp 349, FCA, 2007
(5) Ibidem

(6) Palestra do filósofo francês Pierre Lévy sobre “Internet e Desenvolvimento


Humano”, promovido pelo SESC-SP, Brasil, em Agosto de 2009.

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