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A DOUTRINA ADVENTISTA DO

SANTUÁRIO:
PATRIMÔNIO OU RISCO?
por Raymond F. Cottrell
Raymond Forest Cottrell, D. Div. (1912–2003). Pastor, missionário, professor, escritor e teólogo de renome nos meios
adventistas, foi editor associado do Comentário Bíblico ADVENTISTA (SDABC) na década de 1950 e co-fundador do
Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI) da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Ele é neto de Roswell Cottrell
seguidor de Guilherme Miller. Durante as longas décadas de seu privilegiado envolvimento com a liderança
administrativa e teológica da IASD em sua sede administrativa nos Estados Unidos, Cottrell acompanhou de perto
os bastidores das maiores controvérsias teológicas pelas quais a igreja passou no século 20. Neste artigo, aborda do
ponto de vista histórico e exegético a interpretação adventista de Daniel 8:14 que deu origem à doutrina do santuário
e a problemática que ainda a persegue hoje. O presente material foi apresentado pela primeira vez no segundo
simpósio da JIF (2–4/11/2001) e novamente na reunião anual da Associação de Fóruns Adventistas de San Diego, CA
(09/02/2002).
 

“Encontrei problemas com a interpretação tradicional de Daniel 8:14 pela primeira vez na primavera
de 1955 durante o processo de edição de comentários sobre o livro de Daniel para o volume 4 do
Comentário Bíblico ADVENTista (SDABC). Como uma obra destinada a atender aos mais exigentes
padrões acadêmicos, pretendíamos que nosso comentário refletisse o significado obviamente
pretendido pelos autores bíblicos. Como um comentário adventista, ele também deveria refletir, da
forma mais precisa possível, o que os adventistas acreditam e ensinam. Mas em Daniel 8 e 9
descobrimos que era irremediavelmente impossível
cumprir esses dois requisitos.” R. F. Cottrell

interpretação tradicional de Daniel 8:14 com seu


história e metodologia da doutrina do santuário,

A
santuário e juízo investigativo, que deu origem ao examinando- a com base no princípio Sola Scriptura,
Adventismo do Sétimo Dia e explica sua existência
como uma entidade distinta dentro da cristandade, reconhecer princípios básicos de exegese, bem como
tem sido objeto de mais críticas e debates, tanto por explorar procedimentos para prevenir que a igreja repitas as
adventistas quanto por não-adventistas, do que todas as outras experiências traumáticas do passado.
facetas do seu sistema de crenças combinadas. Ela também Na medida do possível, este artigo evita a terminologia
tem sido a que mais tem custado a igreja adventista em termos hermenêutica técnica, incluindo a transliteração das palavras
de disciplina eclesiástica por questões doutrinárias, apostasia, hebraicas usadas por estudiosos. A transliteração usada
e desvio de tempo, atenção e recursos da missão. destina- se a permitir que pessoas não familiarizadas com o
Tem sido repetidamente demonstrado que um ministro hebraico bíblico se aproximem da vocalização original. [Salvo
ordenado pode acreditar que Cristo é um ser criado (e não indicação, as citações bíblicas são da Almeida Revista e
Deus no sentido pleno da palavra), ou que uma pessoa pode Atualizada, ARA].
ganhar a salvação observando fielmente os Dez
Mandamentos, ou que Gênesis 1 não é um relato literal da ORIGEM E HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SANTUÁRIO
criação há meros seis mil anos––sem passar por disciplina
ou perder suas credenciais ministeriais. Mas também tem 1. Formação da Doutrina do Santuário
sido o caso que um ministro ordenado não pode questionar a
autenticidade da interpretação tradicional de Daniel Os pioneiros adventistas do Sétimo Dia herdaram sua
8:14––nem em pensamento––sem que suas credenciais identificação do ano de 1844 como o fim dos 2.300 “dias”
ministeriais sejam revogadas. Como observado abaixo, em preditos na versão King James (KJV) de Daniel 8:14 por
vários casos, nem meio século de serviço à igreja tem sido Guilherme Miller. Anteriormente um cético confesso, Miller
suficiente para atenuar as consequências. Por essa razão, é se converteu em 1816 e se tornou um pregador batista leigo.
apropriado rever a origem, Ele dedicou seus primeiros dois anos como cristão recém-
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converso ao estudo diligente da Bíblia, que eventualmente
culminou em Daniel 8:14 e à conclusão de que ele profetizou no Seu ministério sacerdotal no lugar santíssimo, começando
a segunda vinda de Cristo “por volta do ano de 1843”. ali o “juízo investigativo”.
De acordo com a Enciclopédia Adventista do Sétimo Por vários anos, o “pequeno rebanho” de pioneiros
Dia, Miller “declarou repetidamente que suas Adventistas do Sétimo Dia “espalhados pelo mundo”
interpretações proféticas não eram novas”, mas insistiu que acreditaram que a fase do juízo investigativo do ministério
chegou às suas conclusões exclusivamente através de seu de Cristo seria muito breve (não mais de cinco anos, no
próprio estudo da Bíblia e uma concordância. No volume 4 do máximo7) e que, após isso, Ele retornaria imediatamente. A
livro Prophetic Faith of Our Fathers, LeRoy Edwin Froom eventual adesão de novos membros ao “pequeno rebanho”
observa que Miller não foi de modo algum o “originador” da provou ser uma evidência convincente de que a porta da
idéia de que os 2.300 “dias” eram anos proféticos graça em realidade permaneceu aberta, e no início de 1850
terminando por volta de 1843, e que é “um simples fato eles abandonaram o aspecto de “porta fechada” do
histórico que a origem da interpretação dos 2.300 anos como santuário no celestial (como interpretaram Daniel 8:14).
terminando naquela época, e sua ampla circulação, é anterior e Essa é a interpretação adventista tradicional de Daniel
independente de William Miller.”¹ 8:14, o santuário, e o juízo investigativo, que foi depois
Através de que processo Miller e aquele formidável grupo comumente referida como “a doutrina do santuário”
de estudantes bíblicos e pioneiros adventistas chegaram a estabelecida na declaração das crenças adventista, mais
1843/44 como o fim dos 2.300 “dias” de Daniel 8:14? recentemente como a crença 24 das 27 Crenças Fundamentais
Baseando-se na tradução KJV da Bíblia (1611, a única versão adotadas na sessão de 1980 da Conferência Geral em Nova
inglesa então disponível), eles: (1) identificaram o “santuário” Orleans.
como a igreja na terra; (2) aceitaram a interpretação da KJV
de erev boqer (literalmente, “tarde e manhã”) como 2. Ellen G. White e a Doutrina do Santuário
“dias”; (3) adotaram o princípio “dia-ano” na profecia
bíblica e assim interpretaram os 2.300 “dias” como anos Sempre que perguntas são levantadas a respeito da
proféticos; (4) interpretaram as setenta “semanas” de Daniel interpretação tradicional de Daniel 8:14, dela, o argumento
9:24–27 como o primeiro segmento destes 2.300 anos; (5) decisivo em defesa dela têm sido declarações de Ellen White.
identificaram a cessação do sacrifício e oferta como a última Como a suposta “intérprete infalível” das Escrituras, seu
metade da septuagésima das setenta “semanas” (v. 27) como apoio sempre resolveu a questão. Por exemplo, em 1888,
referindo-se à crucifixão de Jesus;2 (6) começando com a data quarenta e quatro anos depois do grande desapontamento de
da crucifixão e retrocedendo, eles identificaram o decreto do 22 de outubro de 1844, ela escreveu: “A passagem que,
rei persa Artaxerxes Longimano em seu sétimo ano (Esdras 7) mais que todas as outras, havia sido tanto a base como a
como sendo o decreto profetizado em Daniel 9:25, assim coluna central da fé do advento, foi: “Até dois mil e
localizando o início dos 2.300 anos em 457 a.C.; (7) com 457 trezentos dias e o santuário será purificado.”8 Ela dedicou
a.C. como ponto de partida chegaram em “por volta do ano um capítulo inteiro de O Grande Conflito à defesa da
1843”; (8) adotaram a interpretação da KJV de nitsdaq doutrina do santuário. Dezoito anos mais tarde, em
(literalmente, “restaurar”) como “purificar”; e (9) 1906, ela escreveu: “A correta compreensão da
concluíram que a purificação do santuário de Daniel 8:14 ministração no santuário celestial é o fundamento de nossa
significava a purificação da igreja na terra (e a própria terra) fé.”10
por fogo na segunda vinda de Cristo. Para compreender estas duas declarações no seu contexto
Quando o Grande Desapontamento de 22 de outubro de histórico, é importante recordar que Ellen White, e muitos
1844 provou conclusivamente que a identificação de Miller outros haviam experimentado o grande desapontamento de 22
do “santuário” em Daniel 8:14 como sendo a igreja na terra de outubro de 1844. Suas declarações sobre isso são precisas
e a natureza de sua purificação a segunda vinda de Cristo3 do ponto de vista histórico. A experiência ainda era vívida em
estavam erradas, os adventistas pioneiros reidentificaram o sua própria mente e nas mentes de muitos outros. Em ambas
“santuário” do versículo 14 como sendo o santuário celestial as declarações, Ellen White está simplesmente declarando um
do livro de Hebreus,4 e sua purificação como o equivalente fato histórico; ela não está interpretando a Bíblia. Em 1895 ela
celestial da purificação do santuário terrestre no Dia da escreveu: “Em relação à infalibilidade, nunca a reivindiquei;
Expiação.5 só Deus é infalível.”11 “A Bíblia é a única regra da fé e
Mantendo, porém, a suposta validade de 22 de outubro doutrina... Só a Bíblia ... é o fundamento de nossa fé. Só a
de 1844 como o cumprimento de Daniel 8:14 e que isso Bíblia deve
implicava o rápido retorno de Senhor, os pioneiros adventistas ser o nosso guia. As Escrituras Sagradas devem ser aceitas
concluíram que a porta da graça realmente havia se fechado como uma revelação autoritária e infalível da vontade [de
naquele dia fatídico, e que apenas aqueles que naquela época Deus]. ...
esperaram seu retorno eram dignos da vida eterna. Eles se Devemos receber a palavra de Deus como autoridade
referiam a isso como “a porta fechada” como na parábola das suprema”.12 Numerosas outras declarações poderiam
Dez Virgens.6 Eles logo associaram a teoria da “porta ser citadas.13 É importante lembrar que ela nunca se
fechada” à idéia de que o santuário de Daniel 8:14 era o considerou uma exegeta da Bíblia. Em numerosas ocasiões,
santuário no céu, do livro de Hebreus, que a “porta fechada” quando lhe pediram uma interpretação autoritária e
era a “porta” entre o lugar santo e o santíssimo, que em 22 de infalível de uma passagem bíblica, ela se recusou, e disse-
outubro Cristo havia concluído Seu ministério no lugar santo lhes que fossem eles mesmos à Bíblia para obter uma
e entrado resposta.
Também é vital lembrar que nas cerca de 47.00014
citações das Escrituras por parte de Ellen White ela faz uso da
Bíblia de
duas maneiras distintas: (1) cita a Bíblia ao narrar a história Bíblia é sua série de comentários sobre Gálatas 3:24: “De
bíblica em seu próprio contexto; e (2) aplica os princípios maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a
bíblicos em seu conselho à igreja de hoje––fora de seu Cristo…” (1) Em 1856 ela identificou essa lei como o antigo
contexto original. Uma ilustração clara deste duplo uso da sistema de lei cerimonial, e não os Dez Mandamentos. 15 (2) Em
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1883 ela novamente identificou essa “lei” como “as interpretação tradicional de Daniel 8:14 perdeu suas
cerimônias obsoletas do judaísmo”.16 (3) Em 1896 ela credenciais ministeriais, foi desligado da obra forçosamente
escreveu: “Nesta Escritura, o Espírito Santo através do ou simplesmente deixou a igreja. Com uma ou duas possíveis
apóstolo está falando especialmente da lei moral”.17 (4) Em exceções, nenhum deles havia questionado abertamente a
1900 ela escreveu: “Me perguntam sobre a lei em autenticidade bíblica da doutrina do santuário, mas foram
Gálatas. ... Eu respondo: ambos o código cerimonial e o demitidos simplesmente por sequer cogitar suas dúvidas
código moral dos Dez Mandamentos”.18 (5) Em 1911 ela compartilhá-las com outros líderes da igreja! Ora, não se
novamente identificou a lei em Gálatas como exclusivamente tratam de novatos mas sim administradores experientes ou
“as cerimônias obsoletas do Judaísmo”. professores de teologia; pelo menos três deles serviram à
Nessas reversões (lei cerimonial exclusivamente, os Dez igreja fielmente por mais de meio século cada um.
Mandamentos exclusivamente, ambos a lei cerimonial e os O primeiro líder a questionar a doutrina do santuário foi
Dez Mandamentos, lei cerimonial exclusivamente) ela estava
se contradizendo ou mudou de idéia repetidamente? Nem uma Dudley M. Canright em 1887. É certo que ele poderia ter sido
nem outra! Uma leitura cuidadosa de cada afirmação no seu mais diplomático e paciente, mas por mais de vinte anos ele
próprio contexto torna evidente que: (1) quando ela identifica serviu à igreja como ministro, evangelista, administrador e
a lei em Gálatas como a lei cerimonial ela está comentando membro do Comitê Executivo da Conferência Geral, e ganhou
sobre Gálatas no seu próprio contexto histórico; e (2) quando o direito a uma audiência para expôr seus pontos de vista. Mas
ela aplica o princípio envolvido ao nosso tempo ela o faz fora os irmãos ou não lhe deram ouvido simplesmente não
do seu contexto bíblico. O princípio envolvido nos dias de entenderam seu questionamento––talvez ambos. Ele deixou a
Paulo e nos nossos é idêntico: os Gálatas não podiam ser igreja voluntariamente e tornou-se seu tão feroz oponente
salvos por uma observância rigorosa das leis cerimoniais; nem como havia sido seu defensor.
nós podemos ser salvos por uma observância rigorosa dos Dez Canright publicou o livro Seventh-day Adventism
Mandamentos! As duas definições contraditórias da lei em Renounced (O Adventismo do Sétimo Dia Renunciado) para
Gálatas são válidas e precisas! Um exame das milhares de alertar as pessoas sobre os erros do adventismo (o livro foi
citações ou alusões bíblicas de Ellen White, torna evidente traduzido em dezenas de línguas e ainda é usado para alertar
que suas declarações históricas a respeito de Daniel 8:14 são as pessoas contra o adventismo). Um adventista honesto e
historicamente precisas com respeito à experiência de 1844 e sofisticado ao ler o livro hoje teria que admitir que grande
não pretendem negar o significado da passagem em seu parte de seu ataque contra a doutrina do santuário teve—e
momento primário. ainda tem— fundamento.20
Podemos pensar na explicação do santuário celestial do Como Canright, Albion F. Ballenger serviu fielmente a
grande desapontamento como um dispositivo de proteção, igreja por muitos anos, e em 1905 tornou-se diretor da
uma muleta espiritual que permitiu ao “pequeno rebanho” de Missão Irlandesa. Orador e escritor capaz e um estudante
pioneiros adventistas “espalhados pelo mundo” sobreviver ao diligente das Escrituras, assim como Canright, Ballenger
grande desapontamento de 22 de outubro de 1844 e não nunca havia mencionado em público seus pontos de vista
perder a fé na iminente volta de Jesus. Essa explicação foi a sobre o santuário. Um comitê de vinte e cinco membros da
melhor que puderam dar, dado o método texto-prova em que, Conferência Geral foi escolhido para ouvi-lo relatar seus
por necessidade, se baseavam. Com o método histórico que pontos de vista contrário sobre o ministério de Cristo no
hoje temos à nossa disposição, já não precisamos dessa santuário celestial. Ele reconheceu a possibilidade de que
muleta “texto-prova” e faríamos bem em colocá-la na poderia estar errado, e implorou para que alguém indicasse
prateleira. É contraproducente em nosso testemunho do na Bíblia em que ponto estava errado, mas ninguém o fez.
evangelho eterno de hoje, tanto para adventistas biblicamente A igreja retirou suas credenciais ministeriais e o desligou
letrados quanto a não-adventistas. simplesmente pelo que ele acreditava, não por qualquer
coisa que ele tivesse dito ou feito. Vinte e cinco anos mais
3. Seis Líderes da Igreja que Questionaram a Doutrina do tarde, W. W. Prescott (membro das comissões ad hoc da
Conferência Geral nomeado para se reunir com os
Santuário dissidentes) comentou numa carta a W. A. Spicer, então
Por cerca de quarenta anos a doutrina do santuário não presidente da Conferência Geral: “Esperei todos estes anos
levantou suspeitas ou protestos explícitos. Mas, em média, a para que alguém desse uma resposta adequada a Ballenger,
aproximadamente cada quinze ou vinte anos desde 1887, Fletcher e outros em suas posições sobre o santuário, mas
algum administrador de igreja ou professor respeitado que essa resposta nunca veio”. Ballenger explicou suas opiniões no
ousou chamar a atenção de outros líderes para falhas na livro Cast Out for the Cross of Christ. “Ninguém”—
lamentou—que não a tenha experimentado pode perceber a
angústia da alma que assola aquele que, no estudo da
Palavra, encontra uma verdade que não se harmoniza com
aquilo em que acreditou e ensinou ser vital para a salvação”.21
Após vinte anos como ministro ordenado, missionário e
professor de teologia na universidade adventista de Avondale
na Austrália, em 1930, William W. Fletcher decidiu renunciar ao
ministério e cortar sua relação com a igreja, sob pressão
administrativa, apenas por causa das suas opiniões a respeito Central. Era estudante ávido da Bíblia e da história, bem
de erros na interpretação tradicional de Daniel 8:14. Dois anos como um administrador capaz, e prolífico escritor. Era muito
depois, publicou Reasons for My Faith (Razões da Minha respeitado pelos seus colegas administradores. Por mais de
Fé), expondo suas opiniões sobre o santuário e o ministério trinta anos cresceram na sua mente questões a respeito da
sacerdotal de Cristo no céu. Uma leitura objetiva da Bíblia e interpretação tradicional de Daniel 8:14, que ele
do seu livro leva à conclusão de que o entendimento de compartilhou pela primeira vez com alguns líderes da igreja
Fletcher sobre a doutrina era superior ao de seus críticos.22 em 1928 em uma audiência formal perante um comitê ad
Louis R. Conradi serviu fielmente a Igreja durante hoc de trinta e três membros nomeados pela Conferência
cinquenta e dois anos, a maior parte do tempo como vice- Geral e que finalmente levou à perda de suas credenciais e
presidente da Conferência Geral para a Divisão da Europa sua separação voluntária da igreja em 1931. Depois disso,
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uniu-se aos Batistas do Sétimo Dia, que lhe reinstituíram as era encorajar a experiência de justificação pela fé, como
credenciais, deram-lhe permissão para pregar as crenças apresentada nos livros de Romanos e Hebreus, em relação à
adventistas e fizeram dele o seu representante oficial na perfeição de Jesus Cristo. Os líderes da igreja na Divisão, no
Europa. Até a sua morte, ele expressou confiança na entanto, acusaram-no de estar em conflito com o conceito de
integridade fundamental do Adventismo, apesar dos erros um juízo investigativo como a purificação do santuário de
na doutrina do santuário.23 Daniel 8:14 e Hebreus 9. Se, como Paulo escreveu em
William W. Prescott foi um homem versátil que, durante Romanos 8:1, “agora não há nenhuma condenação para os
uma vida de mais de meio século em serviço à igreja (1885– que estão em Cristo Jesus”, “Como um registro desses
1937) se distinguiu como escritor, editor, educador, pecados pode ser preservado e revisado durante o curso de um
administrador e téologo. Como Conradi, seu estudo da juízo investigativo?” perguntou Greive. Ele também mostrou
Bíblia levou a um reconhecimento de graves falhas na que, de acordo com Hebreus 7:27 e 9:6–12, Cristo
doutrina do santuário, às quais, no entanto, nunca a completou Seu ministério equivalente ao lugar santo na cruz e
expressou publicamente. Ele manteve plena confiança na entrou no Seu ministério equivalente ao lugar santíssimo
credibilidade básica da mensagem do Adventismo. Seu quando subiu ao céu, e não dezoito séculos depois. Em seu
único “erro” foi em 1934, quando compartilhou seus julgamento, Greive concordou em ir até onde sua
pontos de vista com alguns dos “irmãos” da Conferência “consciência iluminada” permitiria, a fim de estar em
Geral os quais se voltaram contra ele. Ao contrário de harmonia com seus irmãos, mas para eles isso não foi
Conradi, porém, ele permaneceu na igreja, nunca perdeu suficiente. Em 1956, suas credenciais foram removidas e ele
suas credenciais ministeriais, mas retornou a Washington, saiu da igreja.24
D.C., onde se relacionou com seus críticos e participou Pense no tempo, atenção e custo perdidos em disciplinar
ativamente de várias atividades da Conferência Geral. esses seis administradores e estudiosos da Bíblia, listados
Depois de muitos anos de serviço à igreja, Harold E. acima, e que nos distraíram da missão! Pense também na
Snide era professor de Bíblia no Southern Junior College angústia e sofrimento que estes seis experimentaram. Pense,
(agora Southern Adventist University). Adventista de terceira também, no dano que alguns deles causaram à igreja!
geração e estudante diligente das profecias, encontrou
problemas com a interpretação tradicional de Daniel,
especialmente em relação ao ministério de Cristo, 4. Outras Vítimas da Doutrina do Santuário
conforme estabelecido no livro de Hebreus. Ele foi até os Como um avião entrando inesperadamente em uma
líderes em Washington com os problemas que o região de turbulência, em 1945 o Dr. Desmond Ford começou a
incomodavam, mas não encontrou ajuda. O conflito entre a encontrar problemas exegéticos na interpretação adventista
interpretação tradicional de Daniel 8:14 e a Bíblia provou tradicional de Daniel 8:14, do santuário e do juízo
ser uma experiência traumática que eventualmente, por investigativo. Ele se propôs a colocar todas as peças díspares
volta de 1945, levou-o abandonar o adventismo. Sua juntas em um padrão coerente que resolveria os problemas,
esposa, no entanto, permaneceu adventista, e foi morar com que seria fiel a princípios confiáveis da exegese, e que
seus pais em Takoma Park, MD, onde a conheci. permitissem que ele continuasse adventista tendo total
A experiência de R. A. Greive foi única, pois, como confiança na integridade da igreja ao evangelho. Nos dez ou
presidente da Conferência de Queensland na Austrália, nunca quinze anos seguintes, Ford descobriu que alguns de seus
havia questionado a doutrina do santuário. Sua preocupação contemporâneos e outros antes dele haviam lutado com os
mesmos problemas. Em seu documento definitivo de 991
páginas, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the
Investigative Judgment (Daniel 8:14, o Dia da Expiação e o
Juízo Investigativo) preparado para as reuniões de Glacier
View em 1980, ele nomeia doze líderes adventistas com quem
havia discutido os problemas, pessoalmente ou por
correspondência. Ford dedicou seu mestrado e uma de suas
teses de doutorado ao assunto. Seus comentários publicados
sobre os livros de Daniel e o Apocalipse totalizam mais de
duas mil páginas. Ele provavelmente dedicou mais estudos
acadêmicos ao assunto e escreveu mais sobre ele do que
qualquer outra pessoa na história.
Durante seu longo mandato como diretor do
departamento de teologia no Avondale College na Austrália,
ele treinou cerca de metade dos ministros na Austrália. Na
sala de aula e por exemplo pessoal, inspirou milhares de
jovens para Cristo. Ele foi sempre procurado como orador, e
milhares passaram a ter uma compreensão e apreciação mais
claras do evangelho como resultado do seu testemunho. Seu
tema sempre foi—e ainda é—a salvação pela fé em Jesus
Cristo.
Ford nunca discutiu em público os aspectos controversos presentes detectaram o que consideraram ser heresia e relataram
da doutrina do santuário—isto é, até 27 de outubro de 1979, sua própria versão da palestra ao presidente da comissão do
quando, como professor de intercâmbio no Pacific Union colégio.
College (PUC), membros da faculdade o convidaram a Em vista do fato de que Ford ainda era um funcionário da
discutir suas opiniões sobre a questão do santuário em um do Avondale na Austrália e deveria retornar no final do ano
fórum uma tarde de sábado. Trinta e quatro anos de silêncio letivo de 1979–1980, o presidente logicamente encaminhou o
sobre o assunto certamente refletem louvável discrição assunto para a Conferência Geral. Em agosto de 1980, 115
pastoral e acadêmica. A apresentação no PUC “foi administradores líderes e teólogos de todo o mundo (a um custo
positiva sobre o papel providencial dos Adventistas e de estimado de um quarto de milhão de dólares) foram convocados
Ellen White”. No entanto, três ministros aposentados para um rancho localizado em Glacier View, Colorado, para
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servir como o Comitê de Revisão do Santuário. 25 Eles foram repetirão indefinidamente, até que a igreja enfrente os fatos
especificamente instruídos a não avaliar as crenças de Ford objetivamente, e lide com eles de forma realista e
com respeito a Daniel 8:14, o santuário e o juízo investigativo responsável, em harmonia com o princípio Sola Scriptura.
pela própria Bíblia, mas conforme estabelecido na declaração Diz-se que mais de 150 ministros ordenados,
das 27 Crenças Fundamentais, as quais a igreja já havia principalmente na Austrália, perderam suas credenciais
determinado como normativas. Várias semanas depois, a ministeriais após o caso Ford. Centenas de pessoas leigas,
Divisão Australasiana retirou as suas credenciais ministeriais. principalmente nos Estados Unidos, deixaram a igreja e
Os procedimentos em Glacier View consistiram numa formaram efervescentes “fraternidades” como resultado.
reafirmação da interpretação adventista tradicional de Daniel
Dale Ratzlaff foi pastor da igreja de Watsonville na
8:14. Mas Ford não teve oportunidade de apresentar as razões
Associação da Califórnia Central e professor de Bíblia na
para a sua interpretação “apotelesmática” da mesma, que
Monterey Bay Academy quando, em 1981, foi abruptamente
previa que a interpretação adventista tradicional é apenas um
demitido pela Associação por expressar uma convicção
dos vários cumprimentos da profecia, e não seu cumprimento
compartilhada pela maioria dos cerca de quarenta teólogos
primário. Novamente—como sempre—a igreja negligenciou
presentes em Glacier View, que a administração havia julgado
examinar as razões para a dissidência da interpretação
mal e maltratado Desmond Ford no ano anterior. Os anciãos
tradicional de Daniel 8:14 e meramente reafirmou-a em tons
da igreja de Watsonville convidaram o Dr. Fred Veltman do
estentóricos. De fato, a “declaração de consenso” votada no
Pacific Union College e a mim para nos encontrarmos com a
final daquela semana em Glacier View concordou tacitamente
igreja no sábado seguinte, no qual nos esforçamos para
com Ford em seis dos dez principais pontos sobre exegese.
apaziguar os ânimos.
Mais tarde, cerca de quarenta eruditos bíblicos assinaram um
documento conhecido como a Afirmação de Atlanta, Ratzlaff deixou a igreja adventista e vagou (tanto
criticando perante Neal Wilson a forma como a igreja havia geográfica quanto ideologicamente) por alguns anos, após o
tratado Ford em Glacier View. que embarcou no que ele chama de Ministério Certeza da
Em sua “aposentadoria” involuntária Ford continuou Vida, primeiro em Sedona e agora em Glendale, Arizona, com
a proclamar o evangelho, em um ministério que ele chamou o objetivo de alertar adventistas e outros contra a igreja.
de Good News Unlimited (Boas Novas Ilimitadas). Ao Primeiro veio uma polêmica de 350 páginas contra o Sábado,
e em 2001 o livro Cultic Doctrine of Seventh-day
contrário de Canright, Ballenger e outros antes dele que
haviam partido para vinganças contra a igreja, Ford Adventists (A Doutrina Sectária dos Adventistas do Sétimo
permaneceu Adventista do Sétimo Dia e manteve sua carta na Dia) que ele descreve como “um apelo à liderança da IASD”.
igreja até recentemente (2001).26 Seu alvo neste segundo livro é a tradicional interpretação
Ford, agora aposentado em sua terra natal, Queensland, adventista de Daniel 8:14, a doutrina do santuário e o juízo
Austrália, é o único sobrevivente de numerosos encontros investigativo. Em 1999 ele começou a publicar a
traumáticos com a interpretação tradicional de Daniel 8:14. “Proclamation”, uma revista bimestral dedicada a alertar
Poderíamos desejar que tais encontros com a doutrina do adventistas e outros contra o Adventismo. Aqui no oeste dos
santuário fossem coisas do passado. Mas uma nova geração EUA, a cruzada de Dale está tendo pelo menos uma medida
de vítimas está repetindo suas experiências traumáticas. Se o de sucesso. Ele também é editor do livro de Dr. Jerry
passado é algum indicativo para o futuro, tais experiências se Gladson: A Theologian’s Journey From Seventh-day
Adventism to Mainstream Christianity (A Trajetória de um
Teólogo: Do Adventismo ao Cristianismo, 2001).27
O Dr. Jerry Gladson teve a infelicidade de servir como
professor do Southern Adventist College. Se ele estivesse
ensinando em qualquer uma das outras oito universidades
adventistas na América do Norte, ele provavelmente ainda
seria um ministro e professor adventista. O colégio
Southern opera como uma agência do obscurantismo do
“cinturão bíblico” do sul americano. Além disso, a escola
ainda é em grande medida, dependente da generosidade de
ultra- fundamentalistas que insistem que a faculdade seja
administrada sob princípios ultra-fundamentalistas.
Novamente o alvo era a doutrina tradicional do santuário e
a acusação era simplemente o que Gladson pensava sobre o
assunto, não pelo que tivesse ensinado em suas aulas.
O então diretor do Seminário Teológico da Andrews, o
Dr. Gerhard F. Hasel, ex-aluno e professor do Southern e a
impiedosa personificação do obscurantismo adventista,
desempenhou papel ativo no linchamento público do Dr.
Gladson, papel esse no qual Hasel já se tinha distinguido
no Seminário. O diretor do departamento de religião do
colégio, responsável pelo derradeiro golpe de
misericórdia, tinha a
mente tão fechada e era tão impiedoso quanto Torquemada, ministeriais foram retiradas. Ele permaneceu como ministro
papel no qual ele já havia se distinguido como diretor do ordenado até que elas expirassem e não fossem renovadas. Em
Instituto de Pesquisas Bíblicas da Conferência Geral. Que vez disso, foi criado um clima de caça-às-bruxas no qual sua
chances tinha o Dr. Gladson de uma avaliação e saída provou ser o menor dos dois males. Não houve audiência
julgamento justos das acusações contra ele? Finalmente, o formal. Ninguém tentou entender suas razões para pensar como
presidente do conselho da faculdade distinguiu-se como ele pensava, ou sequer se importou. Os fariseus estavam no
feroz obscurantista, o instrumento escolhido da extrema- controle, e assim foi. Uma situação anômala de fato!27
direita adventista. Janet Brown tornou-se Adventista do Sétimo Dia em 1985.
Jerry Gladson não foi demitido nem suas credenciais Como leiga, ela era uma ávida estudante da Bíblia e, como tal,
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“começou a perceber mais e mais problemas e inconsistências Quando, em meados da década de 1950, Walter Martin e
entre os ensinamentos da IASD e a Bíblia”. Por um tempo ela
Donald Grey Barnhouse exploraram os ensinamentos adventistas
ignorou essas “rachaduras na armadura do Adventismo”, mas
quando “as evidências realmente começaram a se acumular” em profundidade com pessoas nomeadas pela Conferência
ela sentiu que não podia mais “permanecer honesta” consigo Geral, concluíram que, com duas exceções, estamos em
mesma e continuar como adventista. Para ela, o juízo harmonia com o evangelho: (1) a nossa doutrina do santuário,
investigativo se assemelha ao purgatório católico, na medida e (2) o papel que atribuímos a Ellen White como intérprete
em que mantém as pessoas em suspense quanto à sua posição infalível das Escrituras––em contradição com as suas próprias
diante de Deus e “não faz sentido biblicamente”. Em 1995, declarações explícitas em contrário. A primeira, concluíram
ela deixou a Igreja Adventista e opera um site dedicado a eles, viola o princípio Sola Scriptura da Reforma.32 Sobre
opor-se a ela.28 isso, Barnhouse escreveu:
Don W. Silver de Ashland, Kentucky, é outra pessoa leiga
que deixou o Adventismo recentemente, principalmente por A doutrina [do santuário] é, para mim, o fenômeno psicológico de
autopreservação mais colossal da história religiosa. [...]
causa da doutrina do santuário, à qual se opõe Pessoalmente, não acreditamos que haja sequer a suspeita de um
veementemente. Evidentemente bem educado, ele fala com versículo nas Escrituras que sustente uma posição tão peculiar, e
fervor e lógica impecável. Sua esposa, assim como ele, ensina também acreditamos que qualquer esforço para estabelecê-la é
na Universidade Marshall e continua sendo fiel adventista e obsoleto, raso e inútil. [É] sem importância e beira à
líder na igreja adventista local (suas filhas o seguiram no ingenuidade.33
agnosticismo).29
Outros exemplos contemporâneas de oposição à doutrina Essa é precisamente a reação de estudiosos bíblicos não-
do santuário e subsequente apostasia poderiam ser citados. adventistas à doutrina adventista do santuário.34
Conheço pessoalmente outros empregados da igreja que
foram demitidos pela mesma razão, leigos que deixaram a 6. Meu Encontro Pessoal com a Doutrina do Santuário
igreja e famílias que foram separadas como resultado. O Eu encontrei problemas com a interpretação tradicional
problema do santuário ainda está conosco e continua a de Daniel 8:14, profissionalmente, pela primeira vez, na
impactar a vida dos Adventistas do Sétimo Dia sinceros. primavera de 1955 durante o processo de edição
do comentário de Daniel para o volume 4 do Comentário
5. Reação Não-Adventista à Doutrina do Santuário Bíblico ADVENTista (SDABC). Como uma obra destinada a
Foi a doutrina do santuário baseada em Daniel 8:14 que atender aos mais exigentes padrões acadêmicos,
nos fez Adventistas do Sétimo Dia e que permanece, hoje, a pretendíamos que nosso comentário refletisse o significado
pedra fundamental de nosso distinto sistema de crenças e obviamente pretendido pelos escritores da Bíblia. Como um
missão. Ellen White escreveu: “A Escritura que, acima de comentário adventista, ele também deveria refletir, da forma
todas as outras, foi o fundamento e pilar central de nossa fé mais precisa possível, o que os adventistas acreditam e
foi a declaração: ‘Até dois mil e trezentos dias; então o ensinam. Mas em Daniel 8 e 9 descobrimos que era
santuário será purificado’”30 e: “A correta compreensão do irremediavelmente impossível cumprir esses dois requisitos.35
ministério no santuário celestial é o fundamento de nossa Em 1958, a Review and Herald Publishing Association
fé”. “Nenhum traço deve ser removido daquilo que o Senhor precisou de novas placas de impressão para o clássico Bible
estabeleceu. O inimigo trará falsas teorias, tais como a Readings, e decidiu-se revisá-lo a fim de concordar com o
doutrina de que não há santuário. Este é um dos pontos sobre Comentário. Voltando novamente ao livro de Daniel, decidi
os quais haverá um afastamento da fé”.31 tentar mais uma vez encontrar uma maneira de ser
absolutamente fiel a Daniel e à interpretação adventista
tradicional de 8:14, mas novamente achei impossível.
Formulei então seis perguntas sobre o texto hebraico da
passagem e seu contexto e as submeti a cada professor de
hebraico e a cada diretor do departamento de religião de todas
as nossas faculdades norte-americanas––todos amigos pessoais
meus. Sem exceção, eles responderam que não há base
linguística ou contextual para a interpretação adventista
tradicional de Daniel 8:14.36
Quando os resultados desse questionário foram levados
à atenção do presidente da Conferência Geral, foi nomeado
um comitê super-secreto chamado Problemas do Livro de
Daniel, do qual eu era membro. Nos reunimos
intermitentemente durante cinco anos (1961–1966), e
consideramos 48 trabalhos relativos a Daniel 8 e 9 e, na
primavera de 1966, adiamos as reuniões sine die
(indefinidamente), incapazes de chegar a um consenso.37
A experiência que eu tive com Daniel e o Comentário exaustivos38 de mais de 150 palavras hebraicas relevantes que
Bíblico Adventista mencionada acima me levou a um estudo Daniel usa, através do Antigo Testamento, estudei a gramática e
abrangente, sem pressa (nas horas vagas) e aprofundado de sintaxe hebraica em detalhes, fiz uma análise minuciosa de
Daniel 7 a 12, que continuou sem interrupção por dezessete dados contextuais,39 comparei traduções antigas do grego e do
anos (1955–1972), em busca de uma solução conclusiva para latim de Daniel,40 investiguei livros apócrifos e passagens
o problema do santuário. Meu objetivo era estar totalmente relevantes do Novo Testamento,41 traçei a interpretação judaica
preparado com informações bíblicas, objetivas e definitivas na e cristã de Daniel dos tempos antigos aos tempos modernos, 42 e
próxima vez que a questão surgisse durante o curso do meu fiz um estudo exaustivo da formação, desenvolvimento e
ministério. Entre outras coisas memorizei, em hebraico, todas experiência adventista subsequente com a doutrina tradicional
as partes relevantes de Daniel 8 a 12 para lembrar e comparar do santuário.43 Eventualmente, incorporei os resultados desta
instantaneamente (60 versículos), conduzi estudos linguísticos investigação em um manuscrito de 1.100 páginas, que mais
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tarde reduzi a 725 páginas, mas decidi não publicar até um
próprio céu”— para aparecer na presença de Deus em nosso
momento apropriado.
favor.50 Ele nos convida a vir ousadamente a Ele, pela fé,
para encontrar misericórdia e graça em nosso
As considerações acima demonstram conclusivamente que
momento de necessidade.51 Ele aparecerá em breve, uma
nossa interpretação tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o segunda vez, “aos que aguardam para salvação”52.
juízo investigativo, conforme estabelecido na crença 24 das
Crenças Fundamentais, não reflete com precisão o ensinamento EXAMINANDO A DOUTRINA PELO PRINCÍPIO SOLA
das Escrituras com respeito ao ministério de Cristo em nosso SCRIPTURA
favor desde Seu retorno ao céu.44
7. “Manejando Bem a Palavra da Verdade”53
Assim sendo, é apropriado: (1) notar onde a crença 24 é As idéias quase infinitamente diversas e muitas vezes
defeituosa;45 (2) revisar a crença de modo a refletir o ensino contraditórias atribuídas à Bíblia sugerem a importância de
bíblico sobre este aspecto de Seu ministério com precisão; e identificar princípios com base nos quais possamos ter
(3) sugerir um processo destinado a proteger a igreja de confiança na validade das nossas conclusões sobre a vida e
experiências traumáticas no futuro.46 a realidade que o divino Autor e os escritores inspirados
Alguns dos conceitos associados ao juízo investigativo quiseram transmitir com as suas palavras.
são, de fato, bíblicos, mas a Bíblia em nenhum lugar os Lemos e estudamos a Bíblia com o objetivo de
associa a um juízo investigativo; não há qualquer base para aprender quem somos, como e porque viemos parar aqui,
ele de acordo com o princípio Sola Scriptura.47 como devemos nos relacionar com a vida e aproveitar ao
Ao ascender ao céu, Jesus assegurou aos Seus discípulos: máximo suas oportunidades, para onde vamos e como
“E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação melhor chegar lá. Isto constitui o que podemos chamar de
dos séculos” (Mat 28:20). O livro aos Hebreus é nossa nossa “visão de mundo”, nosso conceito do que é a vida no
principal fonte de informação sobre Seu ministério no céu planeta terra.
desde aquele tempo. Eu sugiro que o seguinte resumo de Seu Nossa busca por essa informação é como uma viagem
ministério como apresentado em Hebreus forneça uma base cujo caminho não conhecemos. Ao planejar tal jornada,
apropriada para um artigo 23 revisado das Crenças devemos primeiro saber onde estamos, onde queremos estar
Fundamentais, caso tal declaração eventualmente seja no final da jornada, e a melhor maneira de chegar lá. Nosso
desejada. O autor de Hebreus compara o ministério de Cristo planejamento deve levar em consideração os fatos da
no céu em nosso favor com o papel do sumo sacerdote no geografia e das viagens como elas realmente são e não como
antigo ritual do santuário: gostaríamos ou imaginamos que sejam. Em outras palavras,
temos de ser objetivos quanto à realidade, aos fatos
Na cruz, Jesus ofereceu-se como um Único sacrifício que geográficos da viagem tal como realmente são. Ser subjetivos
expiou pelos pecados daqueles que se aproximam de Deus em nosso planejamento pode eventualmente mostra-se
por meio Dele.48 Aquele ÚNIco sacrifício O qualificou para desastroso. O mesmo acontece com a leitura e o estudo da
servir como nosso grande Sumo Sacerdote no céu, Bíblia: objetividade é essencial. Ser subjetivo em nosso estudo
e pensamento inevitavelmente impõe nossas opiniões pessoais,
perpetuamente.49 Tendo feito esse sacrifício, Cristo entrou não iluminadas, sobre a Bíblia e nos deixa cegos e surdos ao
no Lugar Santíssimo—“o que Deus está tentando nos dizer através dela. Como
resultado, assumimos que nossas opiniões pessoais constituem
a voz de Deus!
Na Bíblia, mesmo uma criança ou uma pessoa semi-
analfabeta pode encontrar o caminho da salvação e segui-lo
até aos portões celestiais. Mas para um estudo aprofundado de
algumas porções da mesma, aqueles que não estão
familiarizados com hebraico e grego antigos devem fazer uso
de material de referência relevante preparado por pessoas
confiáveis que estejam familiarizadas com essas línguas.
Certos fatores são essenciais para todos que estão realizando
um estudo aprofundado da Bíblia. O seguinte é um breve
resumo dos fatores essenciais para tal estudo.
Objetividade é a qualidade mental que aspira avaliar idéias
e tirar conclusões relacionadas a sua realidade intrínseca, sem
depender de pressupostos subjetivos não-testados. A
objetividade é essencial para determinar o significado
pretendido da Bíblia.
Pressupostos subjetivos e não testados sobre a natureza e
ensino da Bíblia quase inevitavelmente levam a conclusões
erradas. Todos, consciente ou inconscientemente, vêm à
Bíblia com um conjunto de pressuposições que controlam a
avaliação dos dados considerados e, por conseguinte,
impactam as
conclusões sobre a Bíblia. Assim, a importância dos processo de raciocínio, a fim de harmonizá-lo com a realidade
pressupostos é crucial para determinar a validade das objetiva.
conclusões. Os pressupostos devem sempre permanecer É possível testar o pressuposto de que a Bíblia é, como
abertos à revisão, assim que evidências mais claras e objetivas afirma ser, a revelação única da vontade e propósito infinitos de
o exijam. O objetivo é eliminar todos os fatores subjetivos do Deus para a raça humana? Sim. A evidência objetiva para isso
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consiste em: (1) a avalição da Bíblia sobre o estado ético- cooperar inteligentemente com Seu propósito para a raça
moral-espiritual humano; (2) seu remédio perfeito para as humana. Essa revelação, transmitida ao longo dos séculos
imperfeições desse estado natural; (3) a demonstração de que da antiguidade, forneceu ao Israel antigo instrução que os
esse remédio transformou incontáveis milhões de seres qualificaria individual e coletivamente como uma nação
humanos por mais de dois mil anos; e que (4) se os princípios para representar plenamente o valor supremo e a
bíblicos fossem universalmente aceitos e praticados, conveniência de cooperar com Seu propósito eterno.
eliminariam automaticamente toda guerra, todo crime e toda Vislumbrava o clímax da história dat e a restauração
manipulação egoísta de outros seres humanos—e completa da soberania divina sobre toda a terra no final dos
transformariam este mundo em um pequeno céu na terra! Se tempos do Antigo Testamento. O Novo Testamento assume
concedida tal oportunidade, a experiência humana confirmaria a validade desta perspectiva do Antigo Testamento da
tais conclusões sem sombra de dúvida. Isso autentica os história da salvação como atingindo um clímax na vida,
princípios bíblicos como sendo de origem mais que humana, ministério, crucifixão, ressurreição e Sua promessa de
e valida o pressuposto acima como objetivo e confiável. voltar em breve—ainda no final dos tempos do Novo
O Antigo Testamento foi escrito entre vinte e quatro e Testamento.57
trinta e sete séculos atrás, principalmente em hebraico antigo Esta perspectiva bíblica da história da salvação estava
e em um mundo mais do que um pouco diferente e estranho implícita nas Escrituras e nas mentes das pessoas daquela
para nós. O Novo Testamento foi escrito em grego há uns época. Também deve estar em nossas mentes quando lemos a
dezenove séculos. O Antigo Testamento registra a história dos Bíblia. Assim, a perspectiva da história da salvação do tempo
hebreus como povo da aliança e instrumento escolhido do em que uma passagem foi escrita deve ser levada em
propósito divino para eles e para a raça humana nos tempos consideração a fim de determinar seu significado pretendido.
antigos, contém instrução destinada a qualificá-los para serem O texto original das Escrituras, nas línguas em que foi
representantes vivos e testemunhas do verdadeiro Deus, e sua escrito, é a autoridade final e suprema sobre o que ela diz. 58
resposta individual e corporativa a essa instrução. 54 A língua Boas traduções modernas como a Nova Versão Padrão
hebraica tinha um vocabulário limitado que refletia a cultura e Revisada (NRSV59), e a Nova Versão Internacional (NVI), 59 e
visão de mundo primitiva: sua escrita consistia apenas em são tão precisas e confiáveis quanto qualquer tradução
consoantes e a gramática e a sintaxe diferem das nossas hoje. disponível hoje. A KJV, com seu gradioso e imponente estilo
A Bíblia foi assim historicamente condicionada,55 ou seja, literário, tem tido uma profunda influência na língua inglesa e
adaptada e especificamente dirigida às necessidades, encantado os leitores por quase quatro séculos, mas às vezes
compreensão e papel no concerto de seus destinatários no não reflete com precisão o texto original. 60 Isso ocorre porque
momento em que foi escrita, e às suas circunstâncias e a KJV foi baseada em manuscritos tardios que tinham
percepção do propósito divino, sendo tais princípios acumulado numerosos erros de escribas e mudanças editoriais
fundamentais e de valor e aplicabilidade universal. Ela foi ao longo de vários séculos desde que os autógrafos originais
escrita em sua linguagem e em formas de pensamento com as se perderam. Desde que um manuscrito antigo conhecido
quais eles estavam familiarizados, e reflete a perspectiva da como Sinaítico foi descoberto em 1844, milhares de
história da salvação de seu tempo. Esse registro, entretanto, manuscritos antigos––em muitos casos séculos mais
“foi escrito para nossa instrução” também. Assim, precisamos próximos dos originais––foram encontrados e nos
condicionar nossas mentes ao seu tempo, circunstâncias e fornecem, hoje, informações muito mais precisas sobre o
perspectiva da história da salvação, a fim de compreender que realmente continham os autógrafos originais.61 Além
plenamente e apreciar a sua mensagem para o nosso tempo. O disso, as línguas bíblicas bem como a história e cultura da
estudo profundo e a apreciação da Bíblia requerem que as antiguidade são melhor compreendidas hoje do que o eram em
circunstâncias históricas nas quais uma passagem foi escrita 1611, quando a KJV se tornou disponível. Estudos
sejam levadas em consideração. linguísticos—a maneira pela qual as palavras hebraicas e
A perspectiva da história da salvação do Antigo gregas ocorrem na Bíblia e seu significado conforme definido
Testamento vislumbrava o Israel antigo como o povo da pelo contexto, em cada caso— são essenciais para determinar
aliança divina, o instrumento escolhido para cumprir o seu significado.
propósito divino de restaurar harmonia entre humanidade e O contexto literário de uma passagem é essencial para uma
Deus.56 Deus revelou tudo isso a eles para que pudessem determinação exata de seu significado. Isto inclui seu contexto
imediato, em particular, mas também seu contexto estendido
em todo o documento do qual faz parte. O hebraico antigo,
no qual a maior parte do Antigo Testamento foi escrito, 62 já
estava se tornado uma língua morta quando Esdras leu “o
livro da lei de Moisés” (a Torá, ou Pentateuco) em público
por volta de 450 a.C., tanto é que Esdras precisou interpretá-
lo para os judeus de seu tempo.63
Várias características do hebraico antigo foram
responsáveis por isso. (1) Por um lado, o hebraico tinha um
vocabulário muito limitado, no qual muitas palavras eram
usadas para expressar uma grande variedade de significados.
(Por exemplo, a KJV traduz dez palavras hebraicas comuns
por
uma média de oitenta e quatro expressões em inglês cada, e séculos depois do hebraico ter se tornado uma língua morta, de
uma delas por 164 palavras e expressões em inglês! 64). (2) A acordo com o que eles pensavam ter sido o significado
escrita hebraica antiga consistia apenas de consoantes, e o pretendido. Por esta razão, é fútil correlacionar duas passagens
leitor tinha que fornecer as vogais que ele achasse corretas, e do Antigo Testamento com base na mesma palavra em inglês
em alguns casos poderia fornecer um conjunto de vogais localizada em uma concordância—como Guilherme Miller fez
diferentes daquelas que o escritor pretendera. 65 As vogais que ao desenvolver a doutrina do santuário!
agora aparecem nas Bíblias hebraicas foram adicionadas às O método analogia das Escrituras—o uso de uma passagem
suas consoantes pelos Masoretas, estudiosos judeus, muitos bíblica para esclarecer outra—deve ser usado com cautela. 66 O
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contexto de ambas as passagens deve primeiro ser levado em equivocada. Por essa razão, a profecia bíblica, mesmo a
conta para determinar se elas podem ou não ser usadas juntas. apocalíptica, é sempre condicional, e seu elemento tempo é
sempre flexível, a fim de proporcionar o livre exercício da
Em resumo, o estudo aprofundado da Bíblia requer a consideração escolha humana.69 É uma previsão do que pode ser, não do
dos pressupostos de cada leitor, as circunstâncias históricas às quais uma que necessariamente será.
passagem foi endereçada e a que circunstâncias deveria ser aplicada, Assim, as setenta semanas de anos de Daniel 9:24–
sua perspectiva da história da salvação, seu sentido conforme 27 proporcionaram aos exilados hebreus na Babilônia um
vislumbre do futuro que os aguardava, sujeito à sua
determinado pela língua original, seu contexto literário e o uso cooperação.70
cauteloso de outras passagens bíblicas para amplificá-la.
7.1. Três Métodos de Estudo da Bíblia
Os Adventistas do Sétimo Dia hoje afirmam o A interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 foi
princípio Sola Scriptura da Reforma em princípio, mas, às formulada com base no que é comumente conhecido como o
vezes, involuntariamente o comprometem na prática, método texto-prova de estudo e interpretação, que ajunta
notavelmente afirmando a interpretação tradicional de passagens bíblicas em termos do que um leitor moderno pensa
Daniel 8:14. O Adventismo do Sétimo Dia surgiu como ser a sua importância. Este método tem as seguintes
uma entidade única dentro da comunidade cristã em 23 de características: (1) é altamente subjetivo; (2) compreende a
outubro de 1844 como resultado de uma compreensão Bíblia a partir das perspectivas culturais e históricas do leitor
particular de Daniel 8:14 e do Grande Desapontamento que moderno; (3) aceita uma tradução da Bíblia como normativa;
seguiu à sua desilusão no dia anterior. 67 Esse entendimento, (4) torna os pressupostos pessoais e grupais do leitor como
que foi subseqüentemente modificado em alguns detalhes e sendo normativos para avaliar a informação; e então (5) tira
tornou-se a interpretação tradicional adventista, tem, desde conclusões. Este método não requer treinamento ou
então, sido considerado a pedra angular da auto-identidade experiência especial, e é seguido pela maioria dos leitores
do adventismo, da compreensão da Bíblia, da teologia e do leigos da Bíblia. Desde o início a maioria dos adventistas tem
sentido da missão.68 seguido este método, mas nenhum estudioso bíblico
Em Jeremias 18:7–10 o profeta resume a natureza e respeitável o segue hoje. Quando Daniel 8:14 é estudado pelo
o propósito da profecia preditiva da seguinte forma: método histórico, sérias falhas na interpretação tradicional
7 tornam-se aparentes porque o método histórico: (1) aspira a
No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um ser o mais objetivo possível; (2) se esforça para entender a
reino para o arrancar, derribar e destruir, 8se a tal nação se
converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me Bíblia como os vários escritores pretendiam que seus escritos
arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. 9E, no momento em fossem entendidos e como sua audiência de leitura original
que eu falar acerca de uma nação ou de um reino, para o edificar teria entendido a partir de sua perspectiva cultural, histórica e
e plantar, 10se ele fizer o que é mau perante mim e não der da história da salvação;
ouvidos à minha voz, então, me arrependerei do bem que houvera (3) considera palavras, formas literárias e declarações de
dito lhe faria.
acordo com seu significado na língua original como
Conseqüentemente, a profecia preditiva é sempre condicional normativas; (4) se esforça para avaliar dados objetivamente; e
(5) baseia suas conclusões no peso da evidência. Este método
à resposta do povo a quem ela é dirigida. Sua função não é
requer ou treinamento especializado nas línguas bíblicas e na
demonstrar o conhecimento divino, nem necessariamente história e ambiente da antiguidade, ou dependência em
predeterminar o curso dos acontecimentos, pois se o fizesse, ferramentas de estudo preparados por pessoas com tal
privaria as pessoas do poder de escolha. Seu propósito é treinamento. Desde cerca de 1940, a maioria dos eruditos
capacitá-los a fazer escolhas sábias no presente, indicando o bíblicos adventistas tem seguido este método.
resultado final de uma escolha acertada ou Desde cerca de 1970 um híbrido destes dois métodos
conhecido como o método histórico-gramático tem alcançado
popularidade limitada entre estudiosos adventistas e leigos
bem como maior apoio por parte de administradores. 71 Por
quê? Porque tal método consiste em procedimentos
utilizados pelo método histórico mas que estão sob o
controle de pressupostos e princípios do texto-prova. Isso
lhe permite fornecer um aparente apoio acadêmico para as
conclusões tradicionais. É um método altamente subjetivo,
aspira dominar e eventualmente controlar todo o estudo
teológico adventista oficial, e tem mais ou menos
controlado a política doutrinária da Conferência Geral nos
últimos trinta anos.
Imitemos a sinceridade e diligência dos nossos
antepassados espirituais no seu estudo da Palavra de Deus.
Não temos nenhuma razão válida para criticá-los por causa
das falhas que encontramos na sua compreensão da Bíblia.72
Recordemos que eles fizeram o melhor que sabiam ao estudar
a Bíblia pelo método do texto-prova que era geralmente aceito 8. Explicando Daniel 8:14 Corretamente
naquela época.73 Eles não tinham acesso aos manuscritos O primeiro imperativo para se compreender as profecias de
bíblicos antigos mais precisos que temos hoje, nem ao nosso Daniel no sentido que a Inspiração as pretendeu é uma
conhecimento de hebraico e grego ou à história dos tempos
mentalidade objetiva, despojada de todo pressuposto pessoal
antigos. Ao tomarmos nota das falhas na interpretação
subjetivo moderno quanto ao seu significado.
tradicional de Daniel 8:14, podemos ser gratos por sua
dedicação, construir sobre a fundação que deixaram e ser fiéis O segundo imperativo é identificar as circunstâncias
em nosso tempo como eles foram no seu.74 apresentadas em Daniel 1 a 6 e 9:1–23, que fornecem o pano
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de fundo histórico dentro do qual a Inspiração estabeleceu A explicação de Gabriel dessa “palavra” nos versículos
suas cinco passagens proféticas, e como pretendeu que Daniel 25– 27 esboçou muito brevemente o futuro do povo da
e seus leitores as compreendessem. Assim, a fim de entender aliança de Deus durante as setenta semanas de anos, e seu
essas passagens como a Inspiração pretendia que fossem clímax na opressão implacável do “príncipe que há de
compreendidas, devemos fazê-lo com essa perspectiva vir” durante a septuagésima das setenta “semanas”, que ele
histórica em nossas mentes: a mesma perspectiva da história já havia predito no capítulo 8:9–13 e explicado nos versículos
da salvação que Daniel e seus leitores tinham. Qualquer 19–25.78
interpretação que ignore ou mesmo desafie essa perspectiva Como já observado, Daniel 9:23–25 começa as
histórica bem como a perspectiva da história da salvação setenta semanas de anos no momento em que a “palavra” foi
deles é automaticamente suspeita e impõe uma interpretação emitida no céu, em 537 a.C. Da mesma forma, a
estranha, não-inspirada sobre essas profecias. identificação contextual do “ele” do versículo 27
Os primeiros seis capítulos do livro de Daniel narram o identifica eventos da história que marcam seu encerramento
exílio de Daniel e seus compatriotas na Babilônia “no terceiro na septuagésima das setenta “semanas”. É universalmente
ano do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá”, datado entre 606– aceito que o antecedente imediato de um pronome pessoal
605 a.C., e suas experiências durante os setenta anos de identifica a pessoa a quem se refere, a menos que o contexto
exílio preditos por Jeremias (29:1–14). De acordo com não especifique claramente o contrário. Conseqüentemente, o
Daniel 9:1, no “primeiro ano de Dario” (que é datado de versículo 26 identifica o antecedente imediato do pronome
537–536 a.C. pela contagem inclusiva judaica), Daniel “ele” (v. 27) que faz “uma firme aliança com muitos” na
esteve no exílio por exatamente setenta anos. Mas ainda septuagésima das setenta “semanas” e que “faz cessar o
não havia nenhuma evidência visível de que a libertação sacrifício e a oferta de manjares” durante metade da última
do exílio estava iminente. Consequentemente, Daniel orou “semana”, como o mau “príncipe que há de vir”, não o
fervorosamente pelo fim do exílio e para a restauração (Dan “príncipe ungido” dos versículos 25–26! Daniel 11:23
9:4–19). confirma o fato de que o seu pseudônimo, o último rei do
Enquanto Daniel ainda orava, o anjo Gabriel reapareceu 75 norte, realmente faz tal aliança com o povo que estava em
e disse: “agora, saí para fazer-te entender o sentido. No “aliança” com ele. Seu destino (v. 27), “até que a destruição
princípio das tuas súplicas, saiu [obviamente no céu], a ordem determinada, se derrame sobre ele”, é equivalente ao fim do
[lit. “palavra”], e eu vim, para to declarar, porque és “chifre pequeno” que “será quebrado sem esforço de mãos
mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão” (Dan humanas” (8:25), e ao fim do rei do norte que “chegará
9:22– 23). Gabriel então repete essa “palavra” literalmente ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (11:45).79
(versículo 24), como ele havia prometido, e passa a explicá-la
O capítulo 9:24–27 fornece assim uma explicação exata e
nos versículos 25 a 27.
É de crucial importância notar que Gabriel identifica muito mais completa da pergunta e resposta de Dan 8:13–14
explicitamente a “palavra” que “saiu para restaurar e edificar sobre os eventos entre o tempo de Daniel e “o tempo
Jerusalém” no início das setenta semanas de anos como determinado do fim” em “dias mui distantes”, quando “a
“a palavra” que “saiu”—no céu—enquanto Daniel visão da tarde e da manhã” deveria ser cumprida.80 Não
estava orando.76 Essa “palavra” era obviamente aquela que é isso exatamente o que Gabriel explicou em 9:24–27?81
só o próprio Deus (e não um monarca terrestre) poderia ter Essa é a perspectiva de Daniel sobre a história da
emitido!77 Com a autoridade de não menos do que o anjo salvação. A fim de entender os capítulos 8 e 9 como a
Gabriel, as “setenta semanas” de anos começaram em 537 Inspiração pretendeu que fossem entendidos, devemos nos
a.C., e não oitenta anos depois em 457 a.C.! imaginar nas circunstâncias históricas de Daniel e lê-los a
partir de sua perspectiva da história da salvação, a fim de
formar uma compreensão exata do que foi revelado a ele.

8.1. A Perspectiva de Daniel Sobre a História da Salvação


A perspectiva de Daniel sobre a história da salvação é
uma combinação das visões dos capítulos 2 e 7, cada um com
sua explicação, e o capítulo 8 com sua explicação tripla nos
capítulos 8, 9 e 11–12. Ela consiste de uma série de reinos
universais82 seguidos por um período de desintegração e
fragmentação83 que Gabriel disse a Daniel seria um “tempos
angustiosos” (9:25).84
No “tempo determinado do fim” = “dias mui
distantes”— após sessenta e nove das “setenta semanas de
anos”85—haveria um “tempo de angústia” sem precedentes
para o povo de Deus no qual eles seriam “pisoteados”, seu
poder seria quebrado,86 sua terra e cidade devastadas,87 sua
lealdade e fidelidade a Deus testadas,88 o concerto com Ele e
seu sistema de adoração abolido,89 e um sistema idólatra de
adoração imposto sobre eles.90 Como resultado desta tentativa
de obliterar o
conhecimento e a adoração do Deus verdadeiro, muitos oferecidos. Ou seja, 1.150 dias literais = três anos, dois meses e
judeus apostatariam e fariam um “pacto” com o seu 10 dias94 dentro dos três anos e meia de “angústia”.95 No
opressor.91 final deste tempo de angústia, o Ancião de Dias se sentaria em
A duração deste tempo de angústia para o povo de Deus é juízo e “o fim determinado” seria “derramado sobre o
dada variadamente como: (1) “um tempo, dois tempos e desolador”, que “chegará ao seu fim, e não haverá quem o
metade de um tempo” = três anos e meio;92 (2) a última socorra” e seria quebrado “sem esforço de mãos
metade da septuagésima semana das setenta “semanas” = humanas”.”96 Simultaneamente, o santuário seria “restaurado
também três anos e meio;93 e (3) o tempo durante o qual 2.300 ao seu estado legítimo”, o Ancião de Dias vindicaria Seu
sacrifícios vespertinos e matutinos seriam normalmente povo fiel e concederia a ele um “reino eterno”, Miguel se
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levantaria para libertá-los, os justos mortos seriam
ressuscitados para a vida eterna, os “sábios”, incluindo Erro #1. A palavra hebraica para “dias”, yamim, não está no
Daniel, entrariam na sua recompensa eterna e brilhariam texto hebraico de 8:14, que lê simplesmente erev boqer,
“como as estrelas, sempre e eternamente”.97 “tarde manhã”. “Dias” é interpretação, não tradução. Quando
As profecias de Daniel localizam este tempo de angústia: Daniel quis dizer “dias” ele escreveu “dias”, yamim.100 Onde
(1) durante o “tempo, dois tempos e metade de um tempo” quer que as palavras erev e boqer ocorrem num contexto de
(7:25); (2) no “fim” ou perto do “fim” do “reinado” da era santuário (como em 8:14), sem exceção, elas se referem à
grega dos quatro chifres do capítulo 8:8, 21–23; (3) durante a adoração sacrificial da tarde e da manhã ou a algum outro
última metade do septuagésima semana (9:24–27); e (4) aspecto do santuário e seus rituais. Estes sacrifícios diários
durante o reinado do último rei do norte (11:20–45). eram oferecidos tamid, “continuamente”, no final de cada
Obviamente, a perspectiva de Daniel sobre a história da tarde, antes do pôr-do-sol e no início de cada manhã,
salvação era muito diferente da nossa––a começar com a depois do nascer do sol. Veja, por exemplo, Êxodo 29:38–42
separação de dois mil anos! Mas pela palavra certa do seu e Números 28:3–6. Erev às vezes precede boqer em vista do
anjo intérprete, aquela foi a perspectiva a partir da qual ele e o fato de que pelo costume hebraico, o dia começava ao pôr-
anjo Gabriel viram o futuro. Esse é o formato idêntico do-sol, com erev se referindo especificamente à luz minguante
estabelecido no Antigo Testamento. 35 Ignorá-lo ou negá-lo é do dia associada ao pôr-do-sol e boqer à luz crescente do dia
uma grande violação do princípio Sola Scriptura, e termina associada ao nascer do sol––não às porções escuras e claras de
por dizer que nem Daniel nem Gabriel sabiam do que estavam um dia de 24 horas. A interpretação tradicional considera
falando! É uma parte importante do estudo sério da Bíblia lê- erev boqer, “tarde e manhã” como um termo composto que
la a partir de suas próprias perspectivas históricas bem como significa um dia de 24 horas. Mas em Daniel 8:26, haerev
da história da salvação a fim de entender e apreciar sua we’haboqer, “a tarde e a manhã”, são entidades distintas,
mensagem para nós em nosso tempo! como o artigo definido hebraico “ha” exige. A pergunta
A perspectiva de Daniel sobre a história da salvação–– do versículo 13, e assim a resposta do versículo 14, ambos
idêntica à do Antigo Testamento como um todo–– focam no santuário e no tempo durante o qual o “sacrifício
invalida explicitamente o conceito historicista da profecia diário” (tamid) foi suspenso. Assim, erev boqer no versículo
preditiva.98 14 deve ser entendido em um contexto cúltico do santuário,
especificamente com ao
8.2. Quatro Erros de Tradução da KJV que Confundiram os sacrifício contínuo (tamid).
Pioneiros Adventistas Note também que a pergunta de Daniel 8:13, para o
Quatro erros substanciais de tradução na KJV de Daniel qual o versículo 14 é a resposta inspirada, pergunta por
8:14 e 9:25–26––os quais William Miller e os pioneiros quanto tempo o tamid, o “sacrifício diário” já
adventistas obviamente desconheciam––confundiram-nos mencionado no versículo 11, seria “pisoteado”. No lugar de
sem querer.99 Daniel 8:14 diz na KJV diz: “Até dois tamid no versículo 13, entretanto, o versículo 14 utilizada a
mil e trezentos dias; então o santuário será purificado”. expressão erev boqer, chamando assim a atenção para o
Aqui e no capítulo 9, a KJV reflete incorretamente o texto fato de que os dois são termos sinônimos para a mesma
hebraico de Daniel em quatro pontos específicos. No texto coisa: o sacrifício diário da tarde e da manhã. De fato,
hebraico original e na versão NRSV lê-se: “Por duas mil ambos os termos ocorrem juntos nas passagens acima com
e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será restaurado respeito aos dois cultos diários de adoração. (Em 8:11 e 14
ao seu estado legítimo.” [Cf. NVI: “Ele me disse: “Isso tudo a versão NRSV corretamente adiciona “oferta queimada” ao
levará duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário termo “contínuo” tamid pelo fato de se referir às ofertas
será reconsagrado”]. queimadas diárias, ou regulares.)
A palavra tamid, “continuamente”, “regularmente” ocorre
104 vezes no Antigo Testamento, 51 vezes em conexão com o
ritual do santuário e 53 em outros contextos. Mais da metade
das 51 ocorrências relacionadas ao santuário têm a ver com o
“sacrifício diário” (32 das 51 vezes); e 19 vezes com o pão da
proposição, o candelabro, a oferta de cereais e outros aspectos
do santuário e seu ritual.

Erro #2. A palavra hebraica nitsdaq nunca significa


“purificar”, como a KJV a traduz. Nitsdaq é a forma passiva do
verbo tsadaq, “estar justficado,” e significa ser “restaurado” ou
como o NRSV lê: “ser restaurado ao seu estado legítimo” [Cf.
NVI, “reconsagrado”]. Se Daniel tivesse significado
“purificado” ele teria usado a palavra taher, que significa
“limpo” e sempre se refere à limpeza ritual em contraste com
tsadaq, que sempre conota o direito moral.101
Daniel 8:14 está preocupado com o significado da
adoração através de sacrifícios, e não se estes eram oferecidos
corretamente. Os sacrifícios reafirmavam a lealdade contínua
de Israel a Deus e o seu compromisso para com a sua relação registrado em 1 Macabeus 4:36–54.102
de aliança com Ele, no início e novamente no fim de cada dia.
A KJV baseou sua interpretação de nitsdaq como “purificado” Erro #3. O “Messias, o Príncipe” (9:25) e “Messias” (v. 26) da
na Vulgata Latina, que lê “mundabitur”, e na Septuaginta, KJV constituem uma interpretação do texto hebraico, não
que lê katharisthesetai, ambas denotando limpeza ritual, tradução. O texto hebraico lê “um ungido, um príncipe” ou
provavelmente refletindo a limpeza ritual do templo após sua “um príncipe ungido” (9:25) e “um ungido” (v. 26). Ao fazer
profanação por Antíoco IV Epifanes em 167 a.C., conforme isso, a KJV comete um duplo erro: (1) torna o hebraico
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indefinido (“um”) como definitivo (“o”), e (2) arbitrariamente mais tarde também protestantes, basearam sua
identifica o príncipe ungido como Jesus Cristo. Este duplo erro identificação do papado como o anticristo da profecia
levou os pioneiros adventistas automaticamente a outro erro bíblica nele. Em seguida, os católicos romanos
ainda mais grosseiro no versículo 27 como vemos abaixo. abandonaram o princípio do dia por um ano, enquanto os
Certamente, a palavra inglesa “messiah” translitera com protestantes o mantiveram como prova de que Roma era
precisão a palabra “messias” do grego, que por sua vez “Babilônia”. Basta notar, aqui, que não há nenhuma base
translitera “mashiach” em hebraico; a palavra inglesa “Christ” bíblica para tal “princípio”.103
traduz com precisão a palavra “messias”. Mas os tradutores da
KJV não tinham nenhuma razão legítima para tornar o
hebraico indefinido como definitivo e identificar o príncipe 8.3. O Contexto Imediato de Daniel 8:14
ungido de Daniel 9:25 e 26 com Jesus Cristo. A visão do capítulo 8:1–12, a pergunta do versículo 13, e
a explicação dos versículos 15 a 27 constituem o contexto
imediato do versículo 14. De fato, o próprio capítulo 8
Erro #4. Quando a KJV apresenta “sete semanas e identifica todos os quatro elementos essenciais do versículo
sessenta e duas semanas” (9:25), implicando um total de 14:
sessenta e nove “semanas” entre “o decreto real para (1) seu santuário; (2) a razão pela qual precisava ser
restaurar e para reedificar Jerusalém” e a vinda do seu “restaurado ao seu estado legítimo”; (3) quanto tempo até
“Messias, o Ungido”, ela deturpa a sintaxe hebraica de Daniel que ele fosse purificado ou restaurado; e (4) quando essa
9:25. A sintaxe hebraica requer que o período inicial de sete purificação ou restauração ocorreria.
semanas seja o tempo entre a “saída do mandamento para De acordo com os versículos 9–12, o enigmático “chifre
restaurar e construir Jerusalém” e o surgimento do “príncipe pequeno” invade a “terra formosa” e subverte o santuário ali
ungido”, e que as “sessenta e duas semanas” representem a localizado––obviamente o santuário, ou templo,
duração dos “tempos angustiosos” durante os quais a “rua” em Jerusalém. O próprio versículo 14 especifica que o
e o “muro” são construídos antes do maligno “príncipe que período de tempo durante o qual o santuário permaneceria
virá” (Dan 9:26). A NRSV traduz a sintaxe hebraica do “pisoteado” e seu “sacrifício diário” suspenso como o período
versículo 25 corretamente: “[...] haverá sete semanas; e por equivalente a
sessenta e duas semanas [Jerusalém] será reconstruída...” O 2.300 “sacrifícios diários”. Com duas dessas ofertas por dia,
versículo 26 confirma o fato de que as sete semanas e as temos 1.150 dias literais de vinte e quatro horas, ou três anos,
sessenta e duas semanas são dois períodos de tempo distintos, dois meses e dez dias. Quando isso ocorreria? Os versículos
não um período de tempo contínuo. A sintaxe hebraica de 21–
todo o Antigo Testamento confirma essa conclusão. 25 especificam que tudo isso, incluindo a purificação ou
restauração do santuário “ao seu estado legítimo”,
Aqueles que formularam a interpretação adventista ocorreria logo após o término da era grega dos quatro chifres
tradicional de Daniel 8:14 foram confundidos por esses quatro (helenística) da profecia.
erros da KJV. Se eles estivessem usando diretamente o texto O versículo 13––que contém a pergunta respondida no
hebraico de Daniel, ou uma tradução exata em inglês, eles versículo 14––identifica as “tardes e manhãs” como um
jamais teriam cogitado a interpretação adventista tradicional. termo equivalente ao “sacrifício diário”.104 A natureza da
Seu outro erro foi a adoção da interpretação de um purificação ou restauração do santuário é explicada no
suposto princípio dia-a-ano da profecia bíblica. Esse pseudo- contexto imediato do resto do livro de Daniel, que também
princípio, inerente à interpretação historicista da profecia identifica outros eventos que acompanham ou seguem sua
bíblica, foi inventado no século IX pelo erudito judeu purificação ou restauração.
Nahawendi como um dispositivo para tornar as profecias Os versículos 11 e 12 do capítulo 8 atribuem o
de Daniel relevantes para o seu tempo. Estudiosos católicos pisoteamento do santuário mencionado nos versículos 11–13
posteriormente o adotaram e usaram-no até que outros ao enigmático “chifre pequeno” (v. 8), que os versículos 21–
estudiosos católicos, e 23 identificam como o “rei de feroz catadura” que surge no
“fim” da era dos quatro chifres (gregos) da visão. Assim,
o contexto identifica explicitamente a restauração do santuário
no versículo 14 como a remoção do dano causado pelo
“chifre pequeno”. O pisoteamento do santuário
incluiu, especificamente, a remoção do “sacrifício diário”
que foi substituído pela “abominação assoladora”.105
A resposta do versículo 14 substitui a expressão “tardes e
manhãs” pela pergunta do versículo 13 sobre a remoção do
“sacrifício diário”, identificando-os assim como termos
equivalentes. Com dois desses sacrifícios a cada dia, o
tempo durante o qual 2.300 sacrifícios noturnos e matinais
seriam normalmente oferecidos seria um período de 1.150
dias literais, ou quase três anos e meio literais. O versículo
26 identifica o tempo na história em que isso aconteceria
como o “tempo determinado do fim ... dias mui distantes”,
“no fim” do “reinado” dos quatro chifres gregos
(helenísticos) do bode.106
O contexto imediato do versículo 14—e o capítulo 8 Daniel 8:14 completamente do seu contexto imediato (onde
em si—identifica todos os elementos essenciais do Gabriel e Daniel o colocaram) em óbvia violação do
versículo, mas deixa inexplicada a restauração do princípio Sola Scriptura. O contexto imediato (Dan 7, 9;
santuário “ao seu estado legítimo” porque Daniel ficou 10–12) esclarece ainda mais essas questões.
doente.107 Como veremos, eventos associados a essa
restauração são revelados em outro lugar em Daniel. No 8.4. Daniel 9 Como Contexto Imediato de Dan 8:14
entanto, a interpretação adventista tradicional remove
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A interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 vê Com considerável apoio mesmo entre supostos
um relacionamento entre os capítulos 8 e 9, mas em três estudiosos, a interpretação tradicional adventista identifica o
pontos vitais interpreta erroneamente a contribuição pronome “ele” que forma “uma firme aliança com
contextual que o capítulo 9 faz para uma compreensão precisa muitos” judeus renegados durante a septuagésima das setenta
de 8:14. Este relacionamento válido é evidente com base nos semanas e quem faz “cessar o sacrifício e a oferta de
seguintes pontos: (1) o fato de Gabriel não ter sido capaz de manjares” na “metade da semana” como o “Messias o
completar sua missão de explicar a visão do capítulo 8; 108 (2) Príncipe” (KJV, vv. 25–26) significando Cristo.120 Mas o
quando ele reaparece em 9:21–25 ele convoca Daniel antecedente imediato do pronome “ele” (v. 27) é o maligno
para “entender” aquela visão [do capítulo 8]; e (3) sua fala em “príncipe que há de vir” (v.
9:24– 27 fornece a informação necessária para complementar 26) não o “Ungido, o Príncipe” de 9:25! Somente com base
sua explicação abortada em 8:19–27. na errônea identificação desse “Messias o Príncipe” pela KJV
A interpretação tradicional assume que as 70 “semanas” (v.
de anos de 9:24 constituem as primeiras 490 das 2.300 25) como sendo Cristo e o mesmo “ele” do verso 27, é que a
erev boqer (“tardes manhãs”) formados por anos literais interpretação adventista tradicional pode contar
durante os quais o santuário está desolado. Mas de acordo regressivamente desde Cristo até chegar ao decreto de
com 9:24–26 o santuário é restaurado e em pleno Artaxerxes Longimano em 457 a.C. como sendo o início das
funcionamento durante as primeiras 69 das 70 “semanas”! setenta “semanas” de anos (e assim também dos 2.300
Como o mesmo santuário pode ser restaurado e em pleno “anos”). Além disso, o hebraico ein lo do versículo 26 (KJV
funcionamentodurante o mesmo tempo em que está “mas não para si mesmo”; NRSV “não terá nada”) na
“pisoteado” (8:13–14)?109 Esse paradoxo insolúvel, inerente verdade significa que o príncipe cortado não teria um
e indispensável à interpretação tradicional, constitui uma “sucessor”. Sendo assim, fazer com que “ele” ou seu sucessor
contradição! reapareça novamente no versículo 27 contradiz o versículo
A segunda anomalia contextual mas essencial à 26!
interpretação adventista tradicional é sua identificação do Identificar “ele” de Daniel 9:27 como o maligno
termo hebraico davar, “palavra” (KJV “ordem”), que saiu “príncipe que há de vir” do verso 26, contudo, faz do
para restaurar e construir Jerusalém, como o decreto de versículo 27 um paralelo exato à carreira do “chifre
Artaxerxes Longimano em 457 a.C.110 Mas seu decreto não diz pequeno” no capítulo 8, que também remove o “sacrifício
nada sobre a reconstrução de Jerusalém ou do templo, 111 que diário” e em seu lugar estabelece a “transgressão
já havia sido reconstruídos e estavam em funcionamento por assoladora”.121 Lembre–se que o anjo Gabriel especificamente
59 anos!112 Imediatamente antes do reaparecimento de apresenta a seção de Dan 9:25–27 como uma explicação
Gabriel em 9:20– 27, Daniel estava pedindo em oração para contínua da profecia do capítulo 8. Para completar o paralelo,
Deus restaurar Seu santuário agora desolado em Jerusalém. 113 ele agora122 diz a Daniel que “a destruição que está
Neste ponto na oração de Daniel, Gabriel interrompe para determinada se derrame sobre o desolador”, como ele tinha
anunciar que um davar, “palavra”114 (ou “ordem”, KJV) dito anteriormente (no capítulo 8) e que “o rei de feroz
já havia saído–– obviamente no céu––em resposta à sua catadura” seria “quebrado, mas sem esforço de mãos
oração, e que ele (Gabriel) tinha vindo agora para humanas.”123
“declará-la” a Daniel. Ele imediatamente repete aquela Este entendimento contextual de Dan 9:27 localiza de
“palavra”115 e a explica.116 Contextualmente, a “palavra” forma conclusiva as 2.300 “tardes e manhãs” de 8:14––
que “saiu [motsa] para restaurar e reconstruir Jerusalém”117 é entendidas como o número de sacrifícios diários que
a própria “palavra” que “saiu” (yatsa) em resposta à oração normalmente seriam oferecidos, dois por dia, ao longo de
de Daniel,118 e é citada textualmente no versículo 24! Gabriel 1.150 dias e que ocorrem dentro dos 1.260 dias (ou três anos e
assegura a Daniel que o próprio Deus já tinha respondido à meio) da última metade da sétima “semana” do capítulo 9—
sua fervorosa oração! Obviamente então essa “palavra”119 ou como o “tempo determinado do fim”. Este “fim” coincide
“ordem” só poderia ter sido emitida peo próprio Deus, não com a “última parte” da era dos quatro chifres gregos124
um monarca terrestre! quando o “chifre pequeno” (8:9–13, 23–27) aparece no
momento profético o qual, na perspectiva de Daniel, estava
em “dias mui distantes”.”125

9. Falhas na Doutrina do Santuário


Não pode haver dúvidas quanto à sinceridade, diligência e
integridade daqueles que formularam a interpretação
adventista tradicional de Daniel 8:14. É também óbvio que
eles estavam seguindo os princípios errôneos do método
hermenêutico “texto-prova”: (1) em quatro casos
importantes, adotaram erros de tradução em que a KJV
deturpa o original hebraico; (2) ignoraram completamente o
contexto literário de Daniel 8:14; (3) também ignoraram o
contexto histórico especificado pelos primeiros seis capítulos
bem como Dan 9:1– 19––dentro do qual suas várias seções
proféticas foram dados e aos quais eles aplicaram
especificamente; (4) não levaram em conta a perspectiva da
história da salvação especificada pelo
livro (e todo o Antigo Testamento) na qual Daniel 8:14 ocorre Se os pioneiros de nossa mensagem estivessem seguindo os
e a cuja perspectiva Daniel o aplica. 126 Como exposto na seção princípios do método histórico, eles nunca teriam chegado às
anterior deste artigo, o princípio Sola Scriptura e o método conclusões que chegaram––e nunca experimentariam o
histórico requerem que estes fatores sejam levados em conta. amargo desapontamento em 22 de outubro de 1844.
Hoje em dia, qualquer um que cometa erros exegéticos Imitemos sua sinceridade, seriedade e devoção à Palavra de
como esses não é levado a sério como estudante da Bíblia. Deus, e sejamos fiéis ao melhor que sabemos hoje, como
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eles eram em seu tempo! não foram proféticos dos anos em que Deus condenou os
Em comparação com os requisitos exegéticos israelitas a vaguear no deserto. Aqueles anos foram, ao
estabelecidos nas duas seções precedentes (7 e 8), a contrário, judiciais, sentenciando os viajantes incrédulos por
interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 ignora: sua falta de fé na promessa de Deus de lhes dar a terra de
(1) o contexto histórico fornecido em Dan 1–6 e 9:4–19, Canaã. Os 390 “dias” de Ezequiel 4:6 durante os quais Deus
dentro do qual a Inspiração os colocou— o momento ordenou ao profeta que se deitasse de um lado e depois do
histórico em que os setenta anos de exílio preditos por outro, representavam o mesmo tanto de anos da apostasia
Jeremias chegariam ao fim, iniciando a era da restauração; passada. Esses “dias” não foram em nenhum sentido
(2) a perspectiva da história da salvação do tempo de proféticos dos anos de apostasia que estavam já no passado.
Daniel, e da Bíblia inteira;131 Sob o título “O Ministério de Cristo no Santuário
(3) o texto hebraico de Dan 8:14 e 9:25–26 em quatro Celestial”, o artigo 24 das Crenças Fundamentais diz o
pontos principais, identificados na seção 8 acima;103 seguinte (a parte em negrito reflete exatamente a Bíblia e é
(4) o contexto imediato de Dan 8:14 no próprio capítulo relevante, a interpretação problemática está sem negrito):
8, que identifica explicitamente que: (a) o santuário
mencionado no versículo 14 é o localizado na “terra
formosa”, i.e., a Judéia (9–11); (b) a desolação do santuário
é causada pelo “chifre pequeno” (v. 11–13); e (c) quando essa
desolação ocorreria, isto é, no final da era grega (vv. 21–
23). Assim, a referência ao santuário celestial do livro de
Hebreus é irrelevante;
(5) o fato de que Daniel 9:24–26 mostra um santuário já
restaurado e em plena operação durante o mesmo tempo
em que Daniel 8:13–14 o tem desolado e fora de operação.
Esta contradição, inerente e essencial à interpretação
tradicional de Daniel 8:14 requer que as setenta “semanas
de anos” sejam consideradas o primeiro segmento dos
2.300 “dias”, o que torna a interpretação intrinsicamente
contraditória.
A idéia de um dia por um ano aplicada à profecia bíblica
aparece primeiro no século IX, na tentativa do erudito judeu
caraíta Nahawendi de relacionar o cumprimento das profecias
de Daniel com eventos de sua época. A confiança moderna no
“princípio” dia-a-ano de interpretação da profecia bíblica
originou-se com: (1) a equivocada interpretação KJV da
expressão hebraica erev boqer (“tardes e manhãs”) em Dan
8:14 como “dias”, quando na verdade erev boqer é o
equivalente contextual ao “sacrifício diário” (v. 13), para o
qual o versículo 14 é a resposta inspirada, e com (2) o esforço
de correlacionar esses supostos “dias” com as “setenta
semanas” de Dan 9:24. A expressão “setenta semanas” é
simplesmente o uso do sistema de jubileus de expressar 490
anos como 10 jubileus, cada jubileu consistindo de 49 anos
literais. Não há absolutamente nenhuma base bíblica para citar
Daniel 9 como evidência para a idéia do dia-a-ano.
Deve-se notar que os “dias” de Números 14:34 durante
os quais representantes das doze tribos espiaram a terra de
Canaã

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das com o perfeito sacrifício do sangue de Jesus. O juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos dorme em C

A primeira parte da declaração acima reflete com


precisão a descrição do ministério de Cristo em nosso favor
desde Seu retorno ao céu há quase dois mil anos. A última
parte não tem nenhuma base nas Escrituras. Para estar em
harmonia com o princípio Sola Scriptura, ela deve ser
eliminada do resumo das Crenças Fundamentais Adventistas e
substituída por uma amplificação do ministério de Cristo,
conforme estabelecido no livro de Hebreus.
O frágil cordão umbilical é essencial à vida antes do
nascimento, mas totalmente irrelevante depois disso. Será que
a doutrina tradicional do santuário não seria uma espécie de
cordão umbilical espiritual que Deus permitiu como meio de
reviver a expectativa do advento, mas que deveria ser cortado
uma vez que tivesse servido ao seu propósito? “Porque, à hora
em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mat 24:44);
“Vai alta a noite, e vem chegando o dia… revistamo-nos das
armas da luz” (Rom 13:12). “Havendo, pois, de perecer todas
estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e
piedade (2 Ped 3:11). Não poderia ser que Deus tenha
ignorado esse defeito no entendimento de Dan 8:14 e honrado
sua sinceridade, tendo em vista o fato de que a experiência
traumática de 22 de outubro de 1844 teve o efeito de reviver a 10. A Doutrina do Santuário e o Princípio Sola Scriptura
expectativa do advento que Jesus há muito instou aos Seus A doutrina adventista tradicional do santuário é baseada
seguidores: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o no princípio historicista de interpretação profética. Os que
vosso Senhor” (Mat 24:42)?128 seguem esse método automaticamente acham a doutrina
A causa básica do amargo desapontamento foi o impecável. Por outro lado, aqueles que seguem o princípio
desconhecimento do fato de que, quando fora anunciada, a
histórico, o vêem como repleto de falhas. Como resultado,
predição do futuro pelo profeta Daniel se aplicava
especificamente aos cativos judeus na Babilônia, diferenças de opinião com relação à doutrina do santuário
antecipando o retorno à sua terra natal, e ao plano divino podem ser resolvidas apenas testando objetivamente os
para eles, culminando no estabelecimento do Seu reino pressupostos e a metodologia em que ela se baseia valendo-
naquele passado distante. Isto se torna óbvio quando as se do princípio Sola Scriptura. Os dois métodos são tão
circunstâncias históricas do tempo de Daniel e sua mutuamente exclusivos e irreconciliáveis como o dia e a
perspectiva da história da salvação— explícitas no próprio noite, e uma escolha entre eles é decisiva para o estudo das
livro—são levadas em consideração. O pressuposto de que profecias. [Nota do editor: O leitor não deve confundir o
Daniel 8:14 predisse eventos de nosso tempo foi a causa método historicista com o método histórico. Em outras palabra,
básica do erro de 1844 e do desapontamento. E constantes segundo Cottrell, o
desapontamentos serão inevitáveis até que este erro seja método historicista tende a superimpor uma planilha pré-concebida
reconhecido e corrigido, e o princípio historicista em que de cumprimentos escatológicos à profecia bíblica enquanto o método
se baseia seja abandonado. histórico busca entender o contexto histórico que deu origem ao texto
bíblico].
O historicismo é baseado no pressuposto não comprovado de
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que a perspectiva da história da salvação do leitor moderno é Por outro lado, o método histórico começa com uma
inerente à profecia bíblica e está em plena harmonia com o atenção objetiva às declarações proféticas da Bíblia em
princípio Sola Scriptura. De acordo com o princípio termos de sua importância conforme determinada pelas
historicista, o leitor moderno da Bíblia deve entender suas circunstâncias históricas e pela perspectiva da história da
declarações a respeito do fim da história humana––e eventos salvação no contexto em que foram dadas e ao qual se
associados––em termos de nossa perspectiva moderna da aplicam. Este princípio não é adotado como um pressuposto
história da salvação, com um cumprimento ininterrupto e subjetivo, mas na base objetiva da evidência Sola Scriptura,
contínuo da profecia bíblica ao longo dos dois mil anos dos como ilustrado nas seções 7 e 8 acima referente à perspectiva
tempos bíblicos. A doutrina do santuário e seus defensores histórica e de história da salvação encontradas em Daniel.
sempre tomaram esse princípio como correto e nunca testaram Ambas são inerentes ao livro de Daniel e bastante óbvios
objetivamente sua suposta validade, ou seja, pela própria quando lidos objetivamente.
Bíblia. A seção 8 acima examina as seções históricas do livro de
Isso foi verdade nas reuniões de Glacier View em agosto de Daniel e sua perspectiva sobre a história da salvação para
1980 bem como nas deliberações do Comitê de Daniel e entender a importância de suas seções proféticas. A
Apocalipse (Daniel and Revelation Committee – DARCOM) perspectiva da história da salvação de Daniel é idêntica à do
nomeados pela Conferência Geral e seu relatório oficial de Antigo Testamento como um todo, como demonstra meu
sete volumes, que pressupõe a validade inerente do artigo “The Role of Israel in Old Testament Prophecy (O
historicismo, mas nunca tenta testá-lo ou defendê-lo Papel de Israel na Profecia do Antigo Testamento) 129 no
objetivamente pelo princípio Sola Scriptura. volume 4 do Comentário Bíblico Adventista. O capítulo 4 de
meu manuscrito inédito The Eschatology of Daniel intitulado
“The Old Testament Perspective of Salvation
History” (A Perspectiva da História da Salvação no Antigo
Testamento) fornece ampla evidência bíblica para a conclusão
de que ela antecipava o clímax da história humana no final
dos tempos do Antigo Testamento, ou logo depois. Jesus e os
escritores do Novo Testamento reiteram unanimemente esta
perspectiva da história da salvação presente no Antigo
Testamento e antecipam Seu retorno prometido ainda nos
tempos do Novo Testamento.
Em resumo, no início de Seu ministério público Jesus
anunciou como o tema de Sua missão: “O tempo se cumpriu,
e o reino de Deus chegou, arrependam-se a acreditem nas boas
novas.” O que se cumpriu? No Antigo Testamento, apenas as
profecias temporais de Daniel identificam o “tempo” ao qual
Jesus aqui se refere. Assim, pela autoridade do próprio Jesus,
o cumprimento do “tempo” especificado por Daniel
estava próximo quando Jesus apareceu cumprindo as profecias
do Antigo Testamento sobre a Sua primeira vinda. Em Seu
sermão na sinagoga de Nazaré, Jesus declarou a respeito da
profecia messiânica de Isaías 61:1–3: “Hoje e cumpriu a
Escritura que acabais de ouvir” (Luc 4:21). Em sua resposta à
pergunta dos discípulos sobre a destruição do templo, o
“sinal” do Seu retorno prometido e “o fim dos tempos” foi:
“Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que
falou o profeta Daniel… sabei que está próximo, às portas.
Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que
tudo isto aconteça [inclusive especificamente a Sua vinda nas
nuvens do céu para ajuntar os Seus eleitos]” (Mat 24:15, 33–
34).130
Que Jesus pretendia que Suas observações sobre a
profecia de Daniel se cumpririam na própria geração de Seus
discípulos é evidente a partir de: (1) seu uso dos pronomes
“vós” (doze vezes) ao longo de Seu discurso evidencia que a
geração aqui é a dos discípulos; e (2) seu uso repetido de
expressões como “o fim dos tempos”; a “vinda do Senhor se
aproxima”, “ja é a última hora”, “é chegada a hora”, “coisas
que em breve devem acontecer”, “o tempo está próximo”,
“pouco tempo lhe resta”, “o juiz está às portas”, “já é a hora”,
“estes últimos dias” e tantas outras (quase quarenta menções)
ao referir-se à volta de
Jesus.131 João, o Revelador, diz especificamente que tudo no desconhece a interpretação historicista de suas profecias; esse
Apocalipse deve acontecer “em breve”, e Jesus garante- conceito lhes é imposto gratuitamente. Se Gabriel e Daniel
lhe quatro vezes “Venho sem demora”, e a última das estivessem aqui hoje, inevitavelmente tornariam o veredito da
quais, “Certamente, venho sem demora”.132 Sola Scriptura contra o historicismo e em favor de uma
Não há a menor sugestão em qualquer lugar no Antigo ou compreensão histórica da profecia bíblica, incluindo o livro de
no Novo Testamento de que a volta de Jesus seria adiada Daniel, e insistiriam nas perspectivas da história e da história da
indefinidamente além dos tempos bíblicos. A evidência salvação bíblicas!
bíblica é explicitamente no sentido contrário. A própria Bíblia O princípio historicista pelo qual os adventistas têm
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compreendido e interpretado a profecia bíblica tem, desde o interpretação tradicional de Dan 8:14, à doutrina do
início, imposto sobre esta nossa perspectiva moderna não- santuário e ao juízo investigativo. Pelo menos na maioria
inspirada da história da salvação, e assim tem sido uma dos casos este obscurantismo tem sido inadvertido e não-
violação involuntária do princípio Sola Scriptura. Em intencional, mas seu efeito tem sido o mesmo como se
contraste, o princípio histórico honra a própria perspectiva da tivesse sido intencional. Está mais que na hora de a igreja
Bíblia sobre a história da salvação, dentro da qual suas abandonar os clichês tradicionais com os quais tem
mensagens proféticas foram dadas e a cuja perspectiva deve respondido a questionamentos sobre a doutrina do
ser aplicada. Assim, o princípio histórico honra de forma santuário. É tempo de enfrentar e lidar de forma justa e
consistente o princípio Sola Scriptura. Não esqueçamos que objetiva com todas as evidências.
a interpretação historicista da profecia bíblica tem sido e
continua a ser responsável pela perda de muitos líderes
11.1. Uma Janela de Esperança em Meados do Século XX
dedicados e pela apostasia de incontáveis centenas de
Adventistas do Sétimo Dia, que de outra forma poderiam Os doze anos de R. R. Figuhr como presidente da
ainda estar conosco. Além disso, tem desviado considerável Conferência Geral em meados do século XX (1954–
tempo, atenção e recursos da igreja de sua missão. 1966) proporcionaram à igreja uma era de abertura e sábia
Certamente é hora dos líderes responsáveis da igreja liderança na qual administradores e estudiosos trabalharam
despertarem para a situação e fazerem algo a respeito. O juntos harmoniosa e eficazmente na resolução de questões
relatório obscurantista de 5 volumes (1600 pp.) do Comitê bíblicas e doutrinárias. Ao longo dos quinze anos precedentes,
de Daniel e Apocalipse aceita e aplica consistentemente o a igreja tinha desenvolvido uma comunidade de especialistas
princípio historicista à profecia bíblica–– oficialmente para a responsáveis, cuja experiência profissional Figuhr respeitava e
igreja. Queremos que o século XXI veja o cumprimento da na qual confiava, os quais, por sua vez, respeitavam e
promessa do retorno de Cristo, ou preferimos repetir nosso apreciavam sua sábia liderança. Um relacionamento de
patético passado historicista indefinidamente para o futuro, trabalho aberto, feliz e gratificante se desenvolveu entre eles e
e assim perder a confiança de adventistas e não- foi bom para a igreja.
adventistas? Outro aspecto importante dessa era de boa vontade
e cooperação em meados do século foi o espírito de consenso
UM ANTÍDOTO AO OBSCURANTISMO DOUTRINÁRIO e harmonia entre os estudiosos da igreja, no qual o
amargo faccionalismo doutrinário133 das primeiras décadas
do século havia desaparecido. Dois fatores foram
11. O Obscurantismo e a Doutrina do Santuário responsáveis por esse clima positivo; o primeiro fator foi
O dicionário Webster define “obscurantismo” como a formação do Biblical Research Fellowship (Associação de
“depreciação ou oposição à iluminação ou à disseminação do Pesquisa Bíblica), uma organização profissional pioneira de
conhecimento, especialmente em política ... de tornar algo estudiosos da Bíblia, e o segundo, o Comentário Bíblico
deliberadamente obscuro ou reter o conhecimento do público ADVENTista (SDABC).
em geral.” Aqui, a palavra “obscurantismo” é usada no Em sua reunião em Takoma Park em 1940, professores de
sentido específico de tomar decisões e/ou declarações Bíblia universitários norte-americanos autorizaram a
presumivelmente autoritárias em relação à doutrina do formação de uma organização profissional na qual poderiam
santuário com base em opiniões preconcebidas e não testadas trabalhar juntos em questões de exegese e doutrina,
e/ou sem primeiro pesar todas as evidências disponíveis com compartilhar os resultados de seus estudos e se beneficiar da
base em princípios sólidos de exegese, baseando conclusões crítica construtiva mútua.134 Essa organização tornou-se uma
exclusivamente no peso da evidência. realidade três anos depois—1943—na formação da Biblical
O obscurantismo tem caracterizado a resposta oficial Research Fellowship (BRF)134 da qual o Dr. L. L. Caviness foi
da igreja a cada questionamento levantado com respeito à presidente e eu secretário durante sua breve existência de
aproximadamente dez anos. Éramos professores juntos no
departamento de religião do Pacific Union College.
Eventualmente, os membros da BRF subiram para 250
e, com uma exceção, incluíram todos os professores
bíblicos de nível universitário ao redor do mundo. Muitos
outros, incluindo dezessete pessoas da Conferência Geral,
eram membros contribuintes. Durante esses dez anos, mais
de 90 trabalhos formais foram considerados e
compartilhados com os membros.135 Na reunião de 1950 no
Pacific Union College, as respostas a um questionário
encontraram completa concordância em todas as maiores (e
controversas) questões exegéticas e doutrinárias dos
últimos cinqüenta anos!136 Naquela reunião de 1950, a BRF
fez um relatório de suas operações, um voto formal de
apreço pela BRF foi tomado, e todos se uniram para cantar
a “Doxologia”.
Em 1951, em nome da BRF, eu propus à Conferência
Geral que se estabelecesse um comitê permanente para
substituir a BRF.137 O Concílio de Outono de 1952 aceitou Association para editar o Comentário Bíblico Adventista, e
minha proposta e estabeleceu o Biblical Research fui nomeado membro fundador da BRC. Depois de vários
Committee (Comitê de Pesquisa Bíblica, BRC) da anos, a fim de manter um nível ainda mais elevado de
Conferência Geral. Em seguida, o Dr. Caviness, presente continuidade e serviço eficaz à igreja, propus que a
como delegado, entregou formalmente as operações do comissão se tornasse um instituto.138 Isto foi votado em 1975,
BRF à BRC. Simultaneamente, fui transferido do Pacific e a BRC se tornou o Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), que
Union College para a Review and Herald Publishing permanece até hoje.
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O segundo fator unificador foi a produção do e métodos. Percebendo, eventualmente, que os dois últimos
Comentário Bíblico Adventista (SDABC) de sete volumes dos três estavam simplesmente implementando a política e os
(1952–1957) no qual participou uma equipa de objetivos do presidente Pierson, passei muitas horas em várias
aproximadamente cinquenta escritores e editores. 139 Antes da ocasiões conversando com ele, sendo a última duas ou três
publicação, cada volume foi lido e criticado por dez líderes da horas num vôo fretado que retornava da Sessão da
igreja em todo o mundo (com remuneração). 140 Algumas Conferência Geral de Viena em 1975.
seções críticas foram lidas e criticadas por 125 desses leitores. Estas conversas foram sempre positivas, em tom de
Todas as críticas foram cuidadosamente avaliadas e, quando “amigo da corte” nas quais eu sempre lidava com princípios
consideradas apropriadas, aceitas. e nunca mencionei nomes. Em uma dessas conversas, o Pastor
Mas durante o final da década de 1960, essa breve era de Pierson me disse em segredo que um dos outros dois
abertura, boa vontade, progresso e cooperação entre “arquitetos” estava divulgando (entre funcionários da
administradores e eruditos bíblicos começou a erodir-se Conferência Geral) comentários acusatórios imprecisos a
imperceptivelmente e deu origem à mente fechada, polarizada, respeito de alguns teólogos adventistas que ele considerava
obscurantista em estilo de “caça-às-bruxas” teológica que renegados teológicos. Em nossa correspondência após a
continua até hoje. A fim de compreender esta mudança sutil aposentadoria de Pierson, em 1979, ambos expressamos
no clima adventista ao longo dos últimos trinta anos, vamos apreço pela amizade um do outro. Em sua última carta, pouco
notar primeiro os três arquitetos primariamente responsáveis tempo antes de sua morte, ele escreveu: “Ao longo dos anos
pelo obscurantismo. Todos os três eram fundamentalistas do em que servimos juntos em Washington, sempre o considerei
“cinturão bíblico” do sul dos EUA. Vamos também um amigo. Embora possa ter havido áreas de opiniões
notar várias evidências específicas de obscurantismo. divergentes, tive um sentimento caloroso por você
pessoalmente.” Em minha última carta a ele, expressei o
11.2. Os Arquitetos do Obscurantismo mesmo sentimento.
O papel desta seção sobre o obscurantismo na igreja nas Robert H. Pierson era uma pessoa agradável, um
últimas 3 décadas [2002] é explicar como o atual clima de adventista dedicado, um cavalheiro em todos os sentidos, mas
obscurantismo invadiu e capturou subrepticiamente a igreja. também uma pessoa com objetivos claros e determinação
Apenas uma pessoa que serviu a igreja durante a era resoluta para alcançá-los. Um dos principais objetivos de sua
precedente de abertura e respeito mútuo entre administradores administração como presidente da Conferência Geral foi
e estudiosos da Bíblia a nível de Conferência Geral está substituir a parceria entre administradores e teólogos que se
em posição de apreciar a profunda mudança que desenvolveu durante a administração de Figuhr por um
revolucionou a teologia adventista, a hermenêutica bíblica e a rigoroso controle administrativo dos processos teológicos e
abordagem doutrinária durante a década do obscurantismo doutrinários da igreja.
(1969–1980). Os três principais arquitetos Durante seus treze anos como presidente da Conferência
do obscurantismo introduzidos brevemente abaixo Geral (1966–1979), Pierson reverteu completamente a
eram todos indivíduos obviamente sinceros e dedicados que política de seu antecessor, R. R. Figuhr, com respeito aos
conscienciosamente acreditavam que o fim justificava os estudos bíblicos, doutrina e cooperação com sua comunidade
meios. Por exemplo, nunca estiveram dispostos a entrar em de estudiosos da Bíblia. Seu objetivo sincero e resoluto era
diálogo aberto e responsável com aqueles que não restaurar a situação que tinha prevalecido quando tinha
compartilhavam sua perspectiva, mas dois dos três sempre, formado no Southern Junior College em 1933 (e durante seu
consistentemente, colocavam punhais nas costas daqueles que tempo como missionário na Índia, Caribe e na África do Sul,
suspeitavam de não partilhar o seu ponto de vista. Em onde serviu até ser eleito presidente da Conferência Geral
conversa pessoal, o trinta anos mais tarde). Para todos os efeitos, em 1936, os
presidente da Conferência Geral me admitiu isso. administradores da igreja tinham estado no controle exclusivo
Pelo contrário, tive o privilégio de conversar da teologia e da doutrina da igreja. Naquela época não havia
pessoalmente com cada um dos “arquitetos do especialistas bíblicos. Qualquer um que estudasse línguas
obscurantismo” mencionados abaixo e pude, em primeira bíblicas, arqueologia, história antiga e cronologia em
mão, compreender seus objetivos universidades “de fora” era automaticamente considerado
persona non grata por todos os colégios adventistas.141
Assim, Pierson desconfiava dos teólogos adventistas e
decidiu excluí-los das deliberações bíblicas e doutrinárias da
igreja. Em conversas privadas e em comitês da Conferência
Geral, ele repetidamente afirmou que era sua política que
somente administradores––e sem consultar
teólogos–– deveriam decidir questões exegéticas para a igreja.
Seu primeiro passo para implementar esta política ocorreu no
Concílio da Primavera da Conferência Geral em 1969, que
removeu especialistas bíblicos, em massa, do Comitê de
Pesquisa Bíblica––decisão essa que nunca chegou a
ser implementada devido a veementes protestos por parte dos
professores do Seminário Teológico da Andrews University.142 Bíblica —Gordon M. Hyde—cuja formação era na área de
Destemido, mais tarde naquele ano, Pierson alcançou seu comunicação—o qual compartilhava a perspectiva teológica
objetivo ao adicionar numerosos administradores e outros não- fundamentalista de Pierson. Hyde protestou que não tinha
colaboradores ao Comitê de Pesquisa Bíblica, e nomear um treino em teologia, mas Pierson explicou que iria funcionar
vice-presidente da Conferência Geral para supervisioná-lo o como um administrador e não como um estudioso da
Comitê de Pesquisa Bíblica (agora Instituto) e o escritório de Bíblia.144 Com esse entendimento Hyde aceitou o convite, e
estudos bíblicos da Conferência Geral (BRI). 143 quando, durante seus primeiros anos na Conferência Geral,
Também na primavera de 1969, Pierson convidou um quando se esperava que ele pudesse responder a uma questão
professor de sua alma mater, o Southern Adventist College teológica, ele explicava que não era teólogo.
(agora Universidade), para presidir o Comitê de Pesquisa Ocasionalmente, Hyde podia ser desonesto e fazia
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manobras políticas para alcançar seus objetivos. Por onde ele estaria em posição de doutrinar a próxima geração
exemplo, durante a semana de reuniões do Comitê Sobre o de pastores e teólogos com sua hermenêutica obscurantista.
Movimento Carismático nomeado pela Conferência Geral A tentativa de Hyde de nomear a Hasel reitor do
(Camp Cumby- Gay, Geórgia, Jan 1973), Hyde anunciou Seminário Teológico na primavera de 1974 foi abortada pelos
que cada orador deveria limitar seus comentários a trinta membros superiores da faculdade por causa da interferência
minutos, mas concedeu a G. Hasel duas horas. Em outra de Hasel nos procedimentos estabelecidos do Seminário, sua
ocasião, Hyde convidou Hasel para uma importante conivência com Hyde e a Conferência Geral para controlar a
audiência de um certo subcomitê teológico (para a qual o administração do Seminário, e devido ao que os membros
Comitê de Pesquisa Bíblica não o havia designado), e superiores da faculdade chamaram de seu
forneceu a cópias de materiais a serem apresentados “dogmatismo intolerável”.147 Hasel, no entanto, tornou-se
somente ao subcomitê com Hasel. Os membros reitor em 1980, mas foi removido sete anos depois por plágio
participantes se opuseram a essa falsa aprovação da parte e por tentar desmembrar o Seminário da Universidade
de Hyde, e, como resultado, o subcomitê nunca se Andrews.
reuniu.145 Durante seu mandato como reitor do seminário, Hasel fez
Quando, no final dos meus quarenta e sete anos de com que vários professores mais experientes se sentissem
serviço à igreja, Hyde recusou repetidamente pedidos de indesejados e os pôs no “freezer”. Os doutores Sakae Kubo,
reconciliação cara a cara, escrevi-lhe uma carta de nove Ivan Blazen, Fritz Guy e Larry Geraty foram imediatamente
páginas “à procura de reconciliação”, na qual mencionei os convidados a servir em outras instituições adventistas de
problemas que tinham surgido entre nós e fiz um último ensino superior, três deles como diretores de universidades.
apelo para que restabelecesse o relacionamento amigável que Em seu lugar, Hasel logo nomeou estudantes do Seminário
tínhamos tido quando ele chegou à Conferência Geral. Mas que ele havia formado, e que aceitavam seu método
ele nunca respondeu e foi intransigente contra qualquer hermenêutico. Ele e Gordon Hyde, posteriormente, forçaram
reconciliação. dois outros membros do corpo docente de religião––Lorenzo
O principal projeto de Hyde para promover Hasel como Grant e Edwin Zackrison––a deixar o Southern
teólogo-mor da igreja foi a série de três conferências bíblicas Adventist College aproximadamente na mesma época de Jerry
norte-americanas, a primeira das quais se realizou no Southern Gladson, o que levou o diretor do colégio a renunciar em
Adventist College, a segunda na Andrews University e a protesto. Hasel nunca abordava seus alvos diretamente (em
terceira no Pacific Union College. Ele concedeu a Hasel o conformidade com Mat 18:15), mas enfiava punhais em suas
tópico principal––hermenêutica bíblica––e o incluiu em costas, denunciando-os aos administradores (que aceitavam
todos os painéis de discussão. Os membros mais experientes sua palavra sem verificá-la).
do corpo docente do Seminário Teológico (Andrews) foram Durante a década de 1969 a 1979 este triunvirato—
contornados completamente ou atribuídos papéis Pierson, Hyde, e Hasel—conspirou efetivamente para ganhar
relativamente menores.146 controle dos estudos bíblicos, teológicos e doutrinários
Sem a devida experiência no estudo da Bíblia e teologia, adventistas, em harmonia com sua perspectiva
Hyde escolheu a Hasel––seu ex-colega de faculdade que fundamentalista e obscurantista.148 O papel de Hasel era
estava na Andrews desde 1967 e cuja perspectiva ultra- controlar os estudos bíblicos e teológicos, Hyde concebia
conservadora ele compartilhava––como mentor e procedimentos pelos quais implementar a perspectiva
conselheiro pessoal em assuntos teológicos. O objetivo de hermenêutica e teológica de Hasel, enquanto Pierson os
Hyde era elevar Hasel a principal teólogo e reitor do protegia. Eu apresentei um documento de trinta e um
Seminário Teológico da Andrews, incidentes específicos nesta conspiração destinada a
implementar a política de Pierson, em meu artigo “Architects
of Crisis: A Decade of Obscurantism (1969-1979) (Arquitetos
da Crise: Uma Década de Obscurantismo (1969–1979).
Este resumo explica a origem do clima obscurantista na
igreja nos últimos trinta anos e a sua falta de vontade de lidar
objetivamente com as numerosas anomalias exegéticas na
interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14, do
santuário e juízo investigativo.

11.3. Resultados da Década do Obscurantismo


No final da década do obscurantismo (1969–1979),
o objetivo dos seus três arquitetos estava firmemente
estabelecido. Pierson, com problemas de saúde, aposentou-
se um ano antes. Substituído como diretor do BRI, Gordon
Hyde transferiu-se para o Southern Adventist College para
ser reitor do Seminário. Gerhard Hasel tornou-se decano do
Seminário na Andrews por sete anos (1980–1987), após
os quais a Conferência Geral o rebaixou, principalmente
por
causa de sua tentativa de separá-lo da Universidade sido professores no Southern antes de 1969, e que Robert
Andrews.149 Esse evento inesperado precipitou a fundação da Pierson havia se formado no Southern (1933), não foi por
Adventista Theological Society (ATS)––Sociedade Teológica acaso que a Sociedade Teológica Adventista (ATS) foi
Adventista––no ano seguinte, planejada especificamente para fundada no Southern por representantes de ambas as
perpetuar os objetivos da década obscurantista em vista da instituições e que o Southern se tornou a sua primeira sede
perda de influência de Hasel como reitor do Seminário. 150 até mais tarde mudar para a Universidade de Andrews.
Tendo em conta o fato de Hyde ter sido reitor do Assim, a ATS tem uma base sólida no fundamentalismo
departamento de religião no Southern College e Gerhard adventista do “cinturão bíblico” Americano, que determina a
Hasel reitor do Seminário da Andrews, que ambos tinham sua orientação hermenêutica e teológica.150
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Os desenvolvimentos a nível da Conferência Geral desde incapacidade de muitos, se não da maioria, dos participantes
a década do obscurantismo (1969–1979) estão também da histórica Conferência Bíblica de 1919 de resolver as
intimamente relacionados com estes fatos. Entre estes
questões doutrinárias que se propuseram a abordar.
desenvolvimentos estão os seguintes: (1) obscurantismo no
Administradores adventistas não-treinados em princípios de
controle das reuniões em Glacier View; 151 (2) obscurantismo
exegese bíblica têm, quase sem exceção, funcionado como a
em relação a Walter Rea; 152 (3) obscurantismo nas reuniões de
Consultas I e II; 153 (4) obscurantismo no Comitê de Daniel e autoridade máxima em assuntos de doutrina.
Durante meados do século XX (aproximadamente 1940
Apocalipse e seu relatório de 7 volumes; 154 (5) obscurantismo
a 1969) quando, pela primeira vez, estudiosos bíblicos
no relatório Métodos de Estudo Bíblico; 155 (6) obscurantismo adventistas começaram a praticar métodos objetivos de
no Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), e, portanto, no estudo bíblico e os administradores da igreja, apreciando o
controle da política doutrinária da Conferência Geral; 156 (7) o valor de sua perícia, começaram a aceitá-los como
obscurantismo na forma como vários membros dissidentes do parceiros genuínos no trato de assuntos doutrinários, o
corpo docente do Seminário e do Southern têm sido obscurantismo bíblico e doutrinário gradualmente
tratados;157 (8) o obscurantismo que motiva os atuais comitês desapareceu. Depois de 1969, entretanto, o obscurantismo
da Conferência Geral (através do IMBTE, International Board por parte dos novos administradores da igreja, deu à década
for Ministerial and Theological Education) e da North seguinte (1969–1979) o infeliz apelido de “década do
American Divison na formulação de uma política de obscurantismo”. Por exemplo, durante as sessões do Comitê
tolerância zero em relação à dissidência da política de Pesquisa Bíblica (agora Instituto) Gerhard Hasel
doutrinária oficial. afirmou repetidamente que era um erro até mesmo tentar
O triunvirato obscurantista provou ser eminentemente ser objetivo. Na sessão plenária de do Comitê de Revisão
bem sucedido! do Santuário em Glacier View (10 de agosto de 1980),
Hasel demonstrou isso ao declarar enfaticamente: “A única
11.4. A Natureza e a Razão de Ser do Obscurantismo intenção de Deus em Daniel 8:14 era apontar para 1844!”
Doutrinário Esta declaração foi recebida por um coral de “Améns!”
O obscurantismo é a relutância em examinar O obscurantismo também foi evidente por parte dos
objetivamente os fatos e a tentativa de coagir outros a aceitar líderes encarregados do estudo do Grupo 2 em Glacier View
seus subjetivos pressupostos. A ilustração clássica do na segunda-feira de manhã. Doze dos dezesseis discursos no
obscurantismo é a viagem do presidente da Sociedade da grupo naquela manhã favoreceram o ponto de vista de
Terra Plana, Simon Voliva, ao redor do mundo em 1929. Desmond Ford, mas quando o presidente do grupo––um
Quando voltou, explicou aos membros da sociedade que sua vice- presidente da Conferência Geral––resumiu a opinião do
viagem tinha provado “conclusivamente” que a terra é plana grupo para seu relatório à sessão plenária naquela tarde, ele
por que ele viajou em círculo ao redor de sua superfície relatou a minoria de quatro discursos como a visão da
plana! maioria––um exemplo óbvio de obscurantismo. Depois de um
O obscurantismo é o resultado de um estado de espírito dos discursos a favor de Desmond Ford, o outro vice-
subjetivo em que pressupostos não-comprovados têm presidente presente respondeu: “Nunca poderíamos
precedência sobre o peso da evidência contrária. Ele ocorre aceitar isso!” Na sessão plenária daquela tarde, onze dos
quando uma pessoa presume avaliar assuntos que estão além quinze discursos dos estudiosos da Bíblia também
dos limites da sua formação e competência pessoal. Quase favoreceram a posição de Desmond Ford sobre o mesmo
sem exceção, essa foi a situação com uma maioria decidida tema, mas novamente a administração tomou o consenso
de líderes adventistas com respeito a questões doutrinárias por como negativo. Do começo ao fim, o obscurantismo estava
quase um século depois de 1844. Ele também explica a no comando de Glacier View. O obscurantismo caracteriza os
tediosos relatórios do Comitê de Daniel e Apocalipse que
esteve ativo durante a década de 1980. O obscurantismo é
também o princípio orientador da Sociedade Teológica
Adventista, legítima
herdeira do legado hermenêutico de Gerhard Hasel.
O obscurantismo continua vivo ao nível da
Conferência Geral. Em 15 de novembro de 2000, enviei
outro documento importante sobre Dan 8:14 a cerca de
oitenta estudiosos da Bíblia e administradores, incluindo o
presidente da Conferência Geral. Sua resposta foi cortês,
mas ele encaminhou o documento ao Instituto de Pesquisa
Bíblica (BRI) com o comentário de que sua resposta seria
também a dele. Em janeiro de 2001 ele me enviou uma
cópia da resposta evasiva do BRI, que relatou que eles já
tinham considerado e resolvido todas as anomalias bíblicas
na doutrina do santuário tradicional para a qual meu artigo
tinha chamado a atenção–– o que eu sabia não ser verdade.
Evidentemente, o
obscurantismo ainda está no comando do BRI e da Já em 1934, W. W. Prescott chamou a atenção para este
Conferência Geral. problema numa carta que escreveu a W. A. Spicer,
Em que consiste o obscurantismo oficial com respeito à presidente da Conferência Geral: “Esperei todos estes anos
doutrina do santuário? Ao longo do século XX–– para que alguém desse uma resposta adequada a Ballenger,
incluindo Glacier View (1980) e o relatório do Comitê de Fletcher e outros em suas posições sobre o santuário, mas
Daniel e Apocalipse––a Conferência Geral sempre essa resposta nunca veio”.160 Tendo sido membro dos
enfrentou falhas na doutrina do santuário com argumentos comitês da Conferência Geral que se reuniram com
cada vez mais elaborados e evasivas, mas sempre em seu Ballenger, Fletcher e Conradi, Prescott percebeu que as
favor. Mas nunca prestou atenção às falhas em si! respostas oficiais da Conferência Geral, tanto orais quanto
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publicadas, ofereciam razões para acreditar na doutrina do Geral, quer por acadêmicos bíblicos em exercício nos colégios
santuário, mas deixavam as falhas completamente sem da América do Norte. E todos eles compartilhavam da
resposta! O mesmo foi verdade com respeito ao Desmond perspectiva hermenêutica de Hasel, tal como todos os outros
Ford e a série DARCOM. O obscurantismo ainda membros da comissão, exceto três! Como refletido nos livros
caracteriza as respostas da Conferência Geral e do Instituto da série DARCOM, as conclusões às quais o comitê chegou
de Pesquisa Bíblica (BRI) a questionamentos sobreas em relação à doutrina do santuário estavam determinadas
falhas exegéticas na doutrina do santuário. antes mesmo que ele se reunisse!
Como exposto no prefácio ao volume 1 da série
12. O Comitê de Daniel e Apocalipse (DARCOM) DARCOM, sua interpretação é baseada no princípio
Eventualmente, percebendo que Glacier View não tinha historicista da interpretação profética, cujo método os
resolvido a questão do santuário, a Conferência Geral nomeou “Adventistas do Sétimo Dia estão virtualmente sozinhos
o Comitê de Daniel e Apocalipse (DARCOM) e atribuiu-lhe a como expoentes”. O historicismo interpreta a profecia
tarefa de compilar o que pretendia ser a prova definitiva da preditiva da Bíblia como um contínuo ininterrupto de
interpretação tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o juízo cumprimento desde os tempos bíblicos até o presente. Ao
investigativo. A comissão funcionou durante a década dos fazer isso, ela rejeita a perspectiva bíblica da história da
anos salvação, que antecipa explicitamente o clímax da história da
80 sob os auspícios do Instituto de Pesquisa Bíblica da terra, a promessa de retorno de Cristo e o estabelecimento do
Conferência Geral (BRI) e publicou o seu relatório em sete domínio eterno de Deus na terra no final dos tempos
volumes sob o título Série do Comitê de Daniel e Apocalipse bíblicos.161 A reafirmação do historicismo da série DARCOM
(DARCOM). é o ponto crucial da questão à qual este artigo é dirigido. Ele é
Os cinco volumes da série DARCOM dedicados a Daniel a última demonstração, “acadêmica”, do obscurantismo
defendem o que é agora considerada a resposta oficial da perene que tem caracterizado a reafirmação da doutrina do
igreja a todas as questões relativas à doutrina do santuário. santuário pelo Adventismo por mais de um século. Não é o
Inconscientemente, porém, a série DARCOM representa a objetivo deste artigo revisar os cinco volumes de Daniel do
academia adventista sob a mão de ferro do obscurantismo. DARCOM em detalhes, mas sim avaliar a credibilidade de sua
Não aborda nenhuma das anomalias contextuais para as quais interpretação historicista em termos de fidelidade ao princípio
a seção 8 acima––“Explicando Corretamente Daniel Sola Scriptura e a princípios de exegese geralmente
8:14”–– chama a atenção! reconhecidos, particularmente a crucial importância do
Seria de se esperar que um comitê tão importante como contexto. A maioria das 1.600 páginas da série DARCOM é
o DARCOM fosse composto primariamente de teólogos dedicada a análises acadêmicas do texto de Daniel que
adventistas treinados, experientes, conhecidos e confiáveis. somente um erudito bíblico treinado seria capaz de avaliar.
Mas não foi! Eles foram intencionalmente excluídos! A Outros leitores provavelmente dependeriam de seus próprios
composição, ou filiação, do comitê tem a marca pressupostos com respeito à doutrina do santuário para aceitar
inconfundível de Gerhard Hasel como o único que poderia ou rejeitar as conclusões que os respectivos autores extraem
ter selecionado seus membros. Por quê? Na época, no auge da evidência apresentada. 1.519 das 1.600 páginas consistem
de sua carreira, ele era reitor do Seminário Teológico da em artigos de apenas 18 autores. Um autor contribuiu 418
Andrews, e aproximadamente metade dos dezoito membros páginas (28%), outro 176 páginas
do DARCOM tinham sido alunos no Seminário durante (12%) e um terceiro 111 páginas (9%), num total de 705
seus quinze anos ou mais como membro do corpo docente. páginas. Os outros 15 autores contribuíram com uma média
De outra forma, eram desconhecidos, quer pela de 54 páginas cada um, cinco deles com apenas 12 páginas
Conferência ou menos.
A forma desorganizada como a série DARCOM lida com
a doutrina do santuário reflete a forma desorganizada como o
seu comitê deve ter funcionado. Espera-se que uma comissão
integre as contribuições dos seus membros num consenso que
represente a comissão. Por exemplo, uma tradução da Bíblia
conduzida por um grupo de tradutores é considerada muito
mais precisa e confiável do a de um único indivíduo, por mais
qualificado que seja. O consenso do grupo tende a eliminar as
idiossincrasias individuais, por mais “acadêmicas” que sejam.
A série DARCOM não oferece tal consenso ou síntese. Os
dezoito autores devem ser elogiados pelo seu conhecimento da
literatura, tanto antiga quanto recente, relevante para as
profecias de Daniel, pela sua especialização em hebraico
antigo e línguas cognatas, e pelo seu trabalho obviamente
diligente de encapsular tudo isso para os leitores modernos.
Por outro lado, seus trabalhos são defeituosos por causa de seu
uso subjetivo da informação em defesa de uma interpretação
das profecias
de Daniel que, de fato, contradiz o que Daniel pretendia qual ele as aplica, e sua complexa perspectiva da história da
transmitir em seu contexto.158 Quase sem exceção, os autores salvação. Em pelo menos sete importantes casos, ignoram ou
da série DARCOM assumem tacitamente a validade do contradizem as declarações explícitas de Daniel em seu contexto.
princípio historicista como seu pressuposto fundamental e E no ano de nosso Senhor 2002, o Instituto de Pesquisa Bíblica
depois, raciocinando em círculo, oferecem o que escrevem (BRI), com a aprovação total da Conferência Geral, afirma que a
como prova desse pressuposto! Em quatro pontos principais, série DARCOM é a prova final e conclusiva do entendimento
eles assumem a precisão da tradução da KJV onde ela tradicional de Daniel 8:14, o santuário e o juízo investigativo!
representa erroneamente o texto hebraico. Eles ignoram o Esse é um caso clássico de reductio ad absurdum (redução ao
contexto histórico no qual Daniel localiza suas visões e ao absurdo) e o derradeiro exercício de obscurantismo fazendo-se
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passar pelo mais alto nível de erudição que os adventistas têm o mesmo que aconteceu a Igreja Luterana––o Sínodo de
para oferecer!158 Missouri em dezembro de 1976: uma cisão.
Em outra notável anomalia, os vários capítulos que tratam
das supostas analogias entre o santuário de Daniel 8:14 e os
santuários nos livros de Levítico e Hebreus é baseado na 13. Um Remédio Permanente Para o Obscurantismo
suposição de que o santuário em Daniel é o santuário Doutrinário
celestial, enquanto que, como observado na seção 8 acima, o A igreja necessita urgentemente de um consenso de
contexto o identifica explicitamente com o templo em todos estudiosos bíblicos qualificados, a fim de determinar
Jerusalém. Estas duas analogias só são válidas se o contexto com a maior precisão possível todos os assuntos de exegese
de Daniel as permitir. Mas ele não apóia, ponto final! Assim, bíblica em harmonia com o princípio Sola Scriptura,
os vários capítulos dedicados ao santuário em Levítico e preliminar à formulação de declarações doutrinárias em
Hebreus são irrelevantes para a exegese de Daniel 8:14! parceria com os administradores da igreja. Tal consenso só
As prolongadas e prolixas análises literárias quiásticas de pode ser alcançado por uma organização que providencie
passagens de Daniel no volume 1 da série DARCOM e em aos seus membros uma oportunidade de conferirem juntos,
outros lugares por William Shea, às vezes em contradição independentemente de qualquer influência ou preocupação
explícita do contexto, pode parecer impressionante para que não seja a fidelidade ao Sola Scriptura e lealdade à
leigos, mas torna-se entediante além da medida e igreja.
simplesmente contraproducente. A série DARCOM teria sido (1) Esta organização serviria como uma agência
muito melhorada sem as suas 418 páginas de comentários! financiada e dedicada a cooperar com a Conferência Geral,
Muitas das 176 páginas de Hasel consistem em análises com o objetivo específico de proporcionar aos administradores
detalhadas de interpretações não-adventistas de Daniel que da Conferência Geral um consenso da sua comunidade de
não são de nenhum valor ou relevância para qualquer estudiosos sobre assuntos bíblicos e doutrinários e atuaria da
adventista que estude o livro de Daniel. Em muitos seguinte maneira:
aspectos, a série DARCOM é uma testemunha muda da (2) Participaria com a Conferência Geral na definição da
forma descoordenada como o comitê DARCOM sua relação de trabalho;
evidentemente funcionou, mas o Instituto de Pesquisa (3) Escolheria o seu nome (por exemplo, “Conselho de
Bíblica (BRI) nos informa que resolveu, de uma vez por Estudiosos sobre Exegese Bíblica”);
todas, todas as questões sobre a interpretação tradicional de (4) Definiria seus requisitos de membresia;
Daniel 8:14, o santuário e o juízo investigativo! Atualmente,
(5) Selecionaria seus oficiais e especificaria seus termos
está em curso outro projeto da Conferência Geral que
de serviço;
parece destinado a solidificar o objectivo Pierson- Hyde-
(6) Elegeria um comitê executivo e uma equipe
Hasel de transformar a Igreja Adventista do Sétimo Dia de
permanente;
uma comunidade aberta à orientação contínua do Espírito
(7) Definiria seus procedimentos operacionais,
Santo no “conhecimento do nosso Senhor e Salvador
162 estabeleceria sua própria agenda;
Jesus Cristo” a uma igreja fechada, (8) Receberia e responderia às solicitações da
obscurantista e fundamentalista que eles Conferência Geral;
imaginavam—o IBMTE (Conselho Internacional de
Formação Ministerial e Teológica) com os seus (9) Selecionaria tópicos próprios para consideração;
subconselhos nas várias divisões. Este projeto já está (10) Definiria seus princípios de exegese;
provando ser divisivo, e tem a possibilidade de repetir na (11) Informaria apenas à administração da Conferência
IASD Geral e não divulgaria suas conclusões além dos círculos
acadêmicos;
(12) Seus relatórios à administração refletiriam tanto o
consenso majoritário quanto o grau de dissidência minoritária,
se houver;
(13) Conduziria a maior parte de seus negócios via e-mail;
(14) Manteria uma convocação anual na qual todos os
membros seriam convidados a participar, com suas
organizações empregadoras financiando viagens e
acomodações;
(15) Reunir-se-ia normalmente à porta fechada, mas
poderia, a seu critério, convidar observadores não acadêmicos;
(16) Seu estágio formativo poderia ser limitado a eruditos
bíblicos norte-americanos, mas eventualmente deveria incluir
todos os eruditos bíblicos adventistas qualificados do mundo
inteiro.
Tal organização seria de inestimável valor para a igreja.
Ajudaria a igreja a ser uma testemunha fiel do princípio Sola
Scriptura em todos os aspectos do seu testemunho em prol do
evangelho eterno, e a evitar o obscurantismo e as incessantes apropriadas para poupar a igreja e seus membros de uma
controvérsias doutrinárias do século passado. repetição dos episódios traumáticos do passado pelos quais esta
doutrina pseudo-bíblica, o historicismo e o obscurantismo têm
14. A Autenticidade do Adventismo sido responsáveis.
Por duas razões, o adventismo do sétimo dia continua
A presente análise e revisão da interpretação adventista sendo um testemunho autêntico e confiável do evangelho
tradicional de Daniel 8:14, o santuário, e o juízo investigativo eterno, apesar de suas imperfeições todo-humanas, como a
tem o objetivo de ser construtiva e corretiva, não crítica, interpretação tradicional de Daniel 8:14, a doutrina do santuário
acusatória, ou punitiva. Espero sinceramente que seja recebido e o juízo investigativo: (1) Sua ênfase única na influência do
com o mesmo espírito, e que sejam tomadas medidas evangelho de Jesus Cristo em todos os aspectos da
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personalidade humana: mental, físico, bem como espiritual e força” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Este é o
social—uma preocupação prática pelo bem-estar e felicidade nosso verdadeiro teste como igreja e como membros
de todos os seres humanos; e (2) seu testemunho enfático do individuais. Em outras palavras, os princípios do evangelho se
prometido e iminente retorno de Jesus para transformar este aplicam a todos os aspectos de nosso ser individual e
pequeno mundo em um lugar de justiça e paz eternas. corporativo––nosso amor e a dedicação de todo o nosso ser
Em vista do fato de que os Adventistas do Sétimo Dia individual e corporativo, a Deus––e em nosso relacionamento
têm confiado na autenticidade da experiência de 1844 e na uns com os outros e com todos os outros seres humanos. O
credibilidade básica da interpretação tradicional de Daniel amor agape de Deus é uma preocupação altruísta e cuidado
8:14, e em vista da evidência acima de que essa interpretação
não é sustentável quando testada pelo princípio Sola com o bem-estar e a felicidade dos outros. Esse deve ser o
ideal e a prática da igreja com respeito a cada ser humano em
Scriptura (que a igreja afirma mas compromete em sua todos os lugares, na teoria, mas mais importante ainda, na
interpretação de Daniel 8:14), a pergunta inevitavelmente prática (Mat 25:40–45).
surge: “Que base há para concluir que o Adventismo é uma Seremos admitidos na eternidade com base no tipo de
testemunha autêntica do evangelho eterno de Jesus Cristo? pessoas que somos, individualmente, e não no que
Essa é uma pergunta inevitável! acreditamos sobre Daniel 8:14 ou qualquer outra passagem
A resposta pragmática a essa pergunta está na medida em das Escrituras. Uma pessoa pode acreditar na interpretação
que a igreja reflete os ensinamentos de Jesus Cristo e cumpre tradicional de Daniel 8:14, e se tudo o mais em sua vida
a grande comissão. Se ela o faz ou não de forma distintiva estiver em harmonia com o evangelho, ela não encontrará
não é da nossa conta ou preocupação. Preocupar-se com essa problemas às portas da eternidade. E se uma pessoa
questão viola Sua instrução específica registrada em Mar acredita sinceramente que isso não é importante, mas tudo
9:38–41. Alguém estava expulsando demônios em nome de o mais em sua vida está em harmonia com o evangelho, ela
Jesus e os discípulos tentaram detê-lo, porque ele não os não encontrará nenhum problema nos portões da
estava seguindo. “Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; eternidade. Mas se nos tornamos abusivos em nossa
porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a discussão sobre o assunto, ambos chegaremos aos portões
seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós da eternidade apenas para encontrá-los trancados.
é por nós.” Em outra ocasião, Pedro, apontando para João, Que a nossa atitude como igreja seja moderada por este
perguntou a Jesus: “E quanto a este? Na sua resposta, Jesus fato, mas ao mesmo tempo que a igreja, corporativamente,
perguntou a Pedro: “Que te importa? ... segue-me” (João esteja em plena harmonia com o princípio Sola Scriptura
21:21–22). Não é da nossa conta como adventistas em sua interpretação e testemunho sobre Daniel 8:14. Em
questionar a credibilidade ou integridade de outras termos deste princípio, o seu testemunho do evangelho no
testemunhas autênticas de Jesus Cristo. Vamos concentrar santuário é grosseiramente defeituoso e afasta a confiança
nossa atenção na credibilidade de nosso testemunho do e o respeito de pessoas entendidas biblicamente, tanto
evangelho eterno e banir de nossas mentes qualquer questão adventistas como não- adventistas. Estejamos dispostos a
de favoritismo e sectarismo. Em Atos 10:35 Pedro diz: “Em reconhecer e remover esse obstáculo à aceitação da nossa
qualquer nação [e comunidade religiosa] aquele que o mensagem ao mundo de que Jesus voltará em breve.
teme e faz o que é justo lhe é aceitável.” O resumo do Nos anos imediatamente posteriores a 22 de outubro de
evangelho de Jesus está registrado em Mar 12:29–31: 1844, a doutrina tradicional do santuário foi um marco
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de importante para estabilizar a fé dos adventistas após o Grande
toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua Desapontamento de 1844. Hoje ela é um grande risco, um
dissuasor da fé, confiança e salvação de estudiosos
adventistas e não-adventistas. Foi verdade presente depois do
Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844 mas
deixou de sê– lo no ano de nosso Senhor 2002. Tenho dito!
¢

Tradução: Ítalo e Carla Oliveira AraÚjo, André Reis, Ph.D.


Edição, Revisão e Formatação: André Reis, Ph.D.

NOTAS 4. Heb 8: 2.
A maioria dos meus artigos citados nas seguintes notas estão arquivados na 5. Lev 16.
Sala do Patrimônio da Biblioteca Del E.Webb no campus da Universidade 6. Mat 25:1–13.
de Loma Linda. A Associação de Fóruns Adventistas está atualmente 7. Cf. Primeiros Escritos, 58
planejando um website e solicitou uma lista de todos os meus principais 8. O Grande Conflito, 409
artigos. 9. O Grande Conflito, 409–422.
10. Evangelismo, 221
1. Le Roy Edwin Froom, Prophetic Faith of our Fathers, 11. Carta 10, 1895.
4:403. 2. Cf. Mat 27:51 12. Fundamentos da Educação Cristã, 112, 126. Mensagens Escolhidas,
3. 1 Ped 3:7–12. 1:21; 2:85; Conselhos aos Escritores e Editores, 145; Testemunhos para a
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Igreja, vol. 5:663, 691; 6:402; O Grande Conflito, p. 7; O Colportor
Evangelista, 125 32. Meu artigo “Questions on Doctrine: A Historical-
13. Mensagens Escolhidas 1:37, 164; 3:33. Critical Evaluation” (Questões Sobre Doutrina: Uma Avaliação Crítico-
14. Índice dos Escritos de E. G. White, pp. 21–176. Histórica), é uma revisão detalhada das dezoito entrevistas de Martin-
Barnhouse com o pessoal da Associação Geral em 1955 e 1956. Meu
15. Carta a E. J. Waggoner e A. T. Jones (Carta 37, 2/18/1887). J. H. artigo de 10 páginas “Questions on Doctrine: Footnotes to History”
Waggoner, The Law of God, an Examination of the Testimony of (Questões Sobre Doutrina: Rodapés da História) relata uma série de
Both Testaments (Rochester, NY, 1854), 70, 108. Em 1856, James e momentos hilários durante as entrevistas de Martin-Barnhouse.
Ellen White e outros se encontraram por dois dias em Battle Creek, 33. Donald G. Barnhouse, ed., Eternity 7:67 (setembro de 1956), 6–7,
Michigan, e decidiram que Waggoner estava errado em identificar a lei 43–45.
em Gálatas como os Dez Mandamentos. James White retirou o livro de 34. Meu artigo “An Evaluation of Certain Aspects of the Martin
circulação. Articles” (Avaliação de Aspectos dos Artigos de Martin, 16 pp.) cita e
16. Esboços da Vida de Paulo 188–192. resume comentários na imprensa cristã evangélica contemporânea
17. Mensagens Escolhidas, 1:234. (1956) sobre as entrevistas de Martin e Barnhouse. Este documento foi
18. Mensagens Escolhidas, 1:233. preparado a pedido do comitê editorial do livro Questions on Doctrine.
19. Atos dos Apóstolos, 383–388. 35. Meu artigo “The Role of Israel in Old Testament Prophecy” (O
20. D. M. Canright, Seventh-day Adventism Renounced (O papel de Israel na Profecia do Antigo Testamento) no volume 4 do
Adventismo do Sétimo Dia Renunciado), 118–126. Para ler uma discussão Comentário Bíblico Adventista (SDABC) (pp. 25–38) classifica e resume
mais detalhada, veja o meu livro The Eschatology of Daniel, capítulo 20, cerca de cinco mil passagens do Antigo Testamento sobre o concerto de
“Daniel in the Critics Den” (Daniel na Cova dos Críticos). Deus com Israel, incluindo a perspectiva vétero testamentária da história
21. Albion F. Ballenger, Cast Out for the Cross of Christ (Expulso Pela da salvação, que culminou com a vinda do Messias e o estabelecimento
Cruz de Cristo) Introdução, i–iv, 1, 4, 11, 82, 106–112.Veja a nota 20. de Seu reino de justiça logo após o encerramento dos tempos do Antigo
Testamento. Essas cinco mil passagens foram acumuladas quando
22. W. W. Fletcher, The Reasons for My Faith, 6, 17, 23, 86, 107, 115– ensinei a classe do Antigo Testamento por vários anos no Pacific Union
138, 142–170, 220. Ver especialmente pp. 111–112, onde ele cita uma College durante as décadas de 1940 e 1950. A sentença entre parênteses
carta para Ellen White . na página 38, “Esta regra não se aplica àquelas partes do livro de Daniel
23. Veja o capítulo 20, “Daniel in the Critics Den” em meu livro que o profeta foi ordenado a calar e selar, ou a outras passagens cujo
The Eschatology of Daniel, onde cito extensivamente de documentos aplicação a Inspiração pode ter limitado exclusivamente ao nosso próprio
originais preservados nos Arquivos da Conferência Geral. tempo”, foi adicionada por F. D. Nichol durante o processo editorial.
24. Para informações detalhadas sobre R. A. Greive veja o documento de Ele pessoalmente concordou com tudo no artigo e não fez alterações
Desmond Ford para Glacier View, Daniel 8:14, the Day of Atonement, nele, mas temia pela recepção adversa do Comentário Bíblico
and the Investigative Judgment (Daniel 8:14, o Dia da Expiação e o Adventista, sem essa observação.
Julgamento Investigativo”, edição impressa pp. 55–61). 36. Veja nota 26.
25. Para um resumo dos destaques das 991 páginas de Desmond Ford 37. Meu conjunto de artigos considerados pela comissão está nos
Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment veja arquivos da Conferência Geral.
meu artigo “Dr. Desmond Ford’s Position on the Sanctuary” (A Posição 38. Meu estudo de 150 palavras importantes nas porções aramaica e
do Dr. Desmond Ford Sobre o Santuário). Para ler uma descrição muito hebraica de Daniel preenche 108 páginas datilografadas.
detalhada de procedimentos na reunião Glacier View do Comitê de Revisão 39. Minha correlação das profecias de Daniel 7, 8, 9 e 11–12 preenche
do Santuário, de 10 a 15 de agosto de 1980, veja meu relatório “The 14 páginas datilografadas.
Sanctuary Review Committee and Its New Consensus” (O Comitê de 40. Por conveniência, escrevi (em colunas paralelas) passagens-chave das
Revisão do Santuário e Seu Novo Consenso) em Spectrum, 11:2 profecias de Daniel em hebraico, grego (ambos LXX e Theodotion), a KJV,
(novembro de 1980), 2–26. O artigo baseia-se em minhas anotações e a Revised Standard Version.
completas em taquigrafia de todos os discursos e em todos os trabalhos do 41. Especialmente nos primeiros quatro capítulos de 1 Macabeus,
Grupo 2, do qual eu era membro, e nas sessões plenárias da tarde e da noite. onde encontrei vinte e quatro pontos de identidade específica entre o
Meu artigo não publicado de 20 páginas “Dinâmicas de Grupo em Glacier chifre de Daniel e a trajetória de Antíoco IV Epifânio. Concluí, porém,
View” explica de que tratou Glacier View. O meu artigo não que Cristo designou o cumprimento das profecias de Daniel aos tempos
publicado, “Pós mortem de Glacier View”, resume minha reação aos do Novo Testamento e que os escritores do Novo Testamento quase
eventos em Glacier View. Meu artigo “A Hermeneutic for Daniel 8:14,” quarenta vezes antecipam o retorno prometido de Jesus em sua geração.
foi distribuído como documento oficial em Glacier View. Meu relatório de O capítulo 4 “The Old Testament Perspective of Salvation History” (A
uma pesquisa de estudiosos da Bíblia adventistas sobre Daniel 8:14 e Perspectiva do Antigo Testamento da História da Salvação) e o capítulo
Hebreus 9 resume as respostas a 125 perguntas. A pesquisa foi enviada para
uma lista de todos os estudiosos da Bíblia na América do Norte (ativos e 12 “The New Testament Perspective of Salvation History” (A
não-ativos) fornecidos pelo Departamento de Educação da Conferência Perspectiva do Novo Testamento da História da Salvação) em meu
Geral, e para vários países estrangeiros. Este relatório inclui, também, uma manuscrito não-publicado, The Eschatology of Daniel, define tudo isso
lista de respostas a uma pesquisa de 1958. Enviei a 27 professores de em detalhes. Veja a nota 131.
hebraico em faculdades adventistas da América do Norte e alguns outros 42. O capítulo 13 do meu manuscrito do livro The Eschatology of Daniel,
proficientes em hebraico, todos meus amigos pessoais. “Interpretação Judaica de Daniel”, traça a interpretação judaica em
26. Ford ainda é membro da igreja do Pacific Union College [2002]. alguns detalhes desde a antiguidade até os tempos modernos. Para isso eu
me baseei principalmente nas Antiguidades dos Judeus e Guerras dos Judeus
27. The Cultic Doctrine of Seventh-day Adventists de Dale Ratzlaff de de Josefo, A History of Messianic Speculation in Israel (Abba Hillel Silver),
1996 (384 pp.), se concentra na doutrina adventista tradicional do santuário. e The Messianic Idea in Israel (Klausner).
A Theologian’s Journey from Seventh-day Adventism to Mainstream
Christianity de Jerry Gladson (A Trajetória de Um Teólogo: Do Adventismo 43. O capítulo 14 de The Eschatology of Daniel, “A Doutrina do
do Sétimo Dia ao Cristianismo Tradicional) é um relato da perseguição da Santuário e o Julgamento Investigativo”, traça o desenvolvimento da
interpretação adventista tradicional de Daniel 8:14 em detalhes
liderança obscurantista como resultado da doutrina tradicional do santuário. consideráveis.
28. Janet Brown email: janet.e.brown@intel.com. 44. O capítulo 17 de The Eschatology of Daniel, “O Santuário Celestial
29. A Sra. Donald W. Silver é filha do Dr. e Mrs. Robert H.Brown. na Epístola aos Hebreus”, explora seu comentário sobre o ministério de
30. O Grande Conflito, 409. Cristo no santuário celestial em detalhes consideráveis.
31. Evangelismo, 221, 224. 45. Veja a seção 9, “Falhas na Doutrina do Santuário”.
46. Veja a seção 14, “Um Remédio Permanente para o Obscurantismo”.
47. Veja nota 44.
48. Heb 7:27; 10:11–12.
49. Heb 2:17–18; 4:14–15; 6:19–20; 7:24–28.
50. Heb 7:25; 9:12 e 24.
51. Heb 2:17–18; 4:14–16.
52. Heb 9:28; 10:37.
53. 2 Tim 2:15. A hermenêutica bíblica tem sido o foco de meu
estudo por mais de cinquenta anos, sendo o capítulo “Principles of
Biblical Interpretation” em Problems in Bible Translation (79–127; 1953)
um dos meus primeiros trabalhos publicados nesta área. Entre meus
muitos trabalhos sobre este assunto tem sido “Hermeneutics: What
Difference Does It Make?” (Hermenêutica: Que diferença faz?”), “Ellen
G.White and the Bible”, “The Role of Biblical Hermeneutics in
Preserving Unity in the Church”, e muitos outros.
54. Veja a nota 35.
55. O artigo “Historical Conditioning in the Bible and the Writings
of Ellen G. White” (Condicionamento Histórico na Bíblia e os Escritos
de Ellen G. White”, 92 pp.) foi escrito por solicitação para o
Comitê de Pesquisa Bíblica (BRC).
56. Veja a nota 35.
57. Veja o capítulo 12 em The Eschatology of Daniel, “The New disponíveis em inglês.
Testament Perspective of Salvation History” (A Perspectiva do Novo 59. Salvo indicação em contrário, usei a Revised Standard Version da
Testamento Sobre a História da Salvação). Aproximadamente quarenta Bíblia, mas freqüentemente me referi a outras traduções.
vezes os escritores do Novo Testamento antecipam o retorno de Cristo 60. Dois problemas limitam o valor da versão KJV para o estudo sério:
dentro de sua geração. Ver nota 131. (1) baseou-se em manuscritos tardios (Textus Receptus) que acumularam
58. Me baseei na terceira edição da Biblia Hebraica de Rudolf Kittel e um grande número de erros de escribas; e (2) várias centenas de palavras
dois dicionários de hebraico: VeterisTestamenti Libros (Koehler, inglesas transmitem um significado diferente hoje do que em 1611.
Baumgartner) e Theological Dictionary of the Old Testament Ronald Bridges e Luther A. Weigle’s Bible Word Book explicam várias
(Botterweck, Ringgren Fabry) onze volumes dos quais estão agora centenas de palavras inglesas na KJV que hoje são obsoletas ou arcaicas.
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24
61. Notas de rodapé na Biblia Hebraica listam numerosas e úteis versões
variantes nas versões antigas e traduções. 100. Dan 1:12; 8:26–27; 10:13–14; 11:20; 12:11–12.
62. Meu conhecimento de aramaico é 101. Como em Levítico 16.
limitado. 63. Nee 8:7–8. 102. Uma comparação da carreira de Antíoco IV Epifânio, conforme
64. Analytical Concordance to the Bible (Young). apresentada em 1 Macabeus 1 a 4 com o chifre pequeno de Daniel,
65. No hebraico antigo de Gênesis 1:1, a palavra para “criado” era resulta em 24 pontos de correspondência inegável. Isso levou antigos
escrita br’ (somente consoantes). Os massoretas forneciam as vogais para eruditos judeus a identificá-lo como o cumprimento das predições de
fazer com que se leia bara’, “criou”. Da mesma forma, poderiam ter Daniel. No entanto, as declarações de Cristo em Mar 1:15, Mat 24 (etc.)
também fornecido vogais para torná-lo ler bore’, que teria significado e cerca de quarenta vezes pelos escritores do Novo Testamento
“Quando Deus começou a criar ...”, tornando verso 1 uma cláusula localizam o cumprimento das profecias de Daniel no final dos tempos do
dependente, com verso 2 a declaração principal. Novo Testamento. Ver referências citadas nas notas 130 e 131.
66. Veja a seção 7 sobre analogia nas Escrituras. O santuário celestial do 103. O conceito profético do “dia-ano” foi originalmente formulado
livro de Hebreus não é uma cópia válida do santuário de Daniel 8:14 porque pelo erudito judeu caraíta Nahawendi no século IX, em um esforço para
os versículos 9 a 13 o identificam como o santuário localizado no identificar eventos de seu tempo como o cumprimento das profecias de
“terra formosa” (tsebi), Judéia. O capítulo 11:16, 41 confirma essa Daniel. A idéia de que esse “princípio” estava operando com
identificação, e em 11:45 tsebi o “formoso” monte sagrado em Jerusalém respeito às setenta “semanas” de anos de Daniel 9, ignora o fato de que
é onde o templo estava localizado. Além disso, o contexto era, na verdade, uma aplicação do antigo sistema jubilar de datação judaica,
(8:11–13) identifica especificamente a raciocínio o santuário precisa não o suposto “princípio” dia-ano. O antigo livro judaico Livro dos Jubileu
de “purificação” ou restauração por causa de seu pisoteio pelo chifre usa esse sistema de datações de tempos para datar eventos na história
pequeno (cf. 11:31). judaica. Veja o capítulo 15, “Interpretação Judaica de Daniel”, em The
67. O nome “Adventistas do Sétimo Dia” foi escolhido em 1860 Eschatology of Daniel, para ver um número de exemplos relevantes do Livro
e a Conferência Geral foi organizada em 1863. dos Jubileus. Veja também Abba Hillel Silver, A History of Messianic
68. Veja a seção 2, “Ellen G. White e a Doutrina do Santuário”. Speculation in Israel, pp. 52–55, 208; Le Roy Edwin Froom, Prophetic
Eu explorei o senso de missão do adventismo em meu artigo “Adventism Faith of Our Fathers,1:713; 2:196.
in the Twentieth Century”, 6–9. 104. Cf. verse 11.
69. No discurso de despedida de Moisés a Israel antes de sua entrada na 105. Vv. 11–12.
terra prometida (Deut 28), ele expôs as coisas boas que lhes aconteceriam se 106. Vv. 3, 21–23.
obedecessem às instruções de Deus (versículos 1–14) e os 107. Vv. 2–6, 27.
infortúnios se desobedecessem (vv. 15–68). O argumento de que 108. Dan 8:16, 26–27.
Daniel 8 e 9 são “apocalípticos” (e, portanto, supostamente 109. Dan 9:24–27.
imunes ao princípio do condicionalismo) ignora o fato de que, 110. Dan 9:25.
contextualmente, eles se aplicam especificamente ao povo hebreu e estão
sujeitos às condições especificadas. em Jeremias 18:7–10. 111. Esdras 7:21–27.
70. Veja nota 69. 112. Esdras 6:13–15.
71. Veja meu artigo “The Adventist Theological Society and Its 113. Dan 9:3–19.
Biblical Hermeneutic” (A Sociedade Teológica Adventista e Sua 114. Dan 9:7–19.
Hermenêutica Bíblica). 115. Dan 9:24
72. Ao ler um dos livros de William Miller, descobri que seu mal uso 116. Dan 9:25–27.
incessante de princípios de exegese universalmente aceitos é uma 117. Dan 9:25.
experiência profundamente perturbadora. 118. Dan 9:23.
73. Para ver as características do método do texto-prova, veja a seção 7. 119. Dan 9:24.
74. Para uma lista de mudanças que a igreja já fez na doutrina do 120. Dan 11:23.
Santuário, ver Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative 121. Dan 8:11–13; cf. 9:27.
Judgment de Desmond Ford, p. 88 (edição impressa). 122. Dan 9:27.
75. Dan 9:23 cf.8:16. 123. Dan 8:23–25.
76. Dan 9:21–23. 124. Dan 8:20, 23.
77. Dan 9:24. 125. Verso 26.
78. Dan 7:24–25. 126. Veja nota 35.
79. Dan 11:45. 127. Mat 24:44; Rom 13:12; 2 Ped 3:11–12.
80. Dan 8:17, 26. 128. Mat 24:42.
81. Dan 9:22–25. 129. Veja nota 35.
82. Dan 2:37–40; 7:3–7; 8:3–8; 11:2–3. 130. Mat 24:1–31 30–34.
83. Dan 2:41–43; 7:7–8, 17, 23; 8:8–9; 11:4–5, 25–29, 40–43. 131. 1 Ped 1:20; 4:17, 27; 2 Ped 3:11–14; João 21:21–23; 1 João 2:18;
84. Dan 9:25. Apoc 1:1, 3; 3:11; 12:12; 22:6–7, 10, 12, 20; Tia 5:7–9: Rom 13:11–12; 1
85. Dan 2:44; 7:28; 8:17, 19, 26; 9:24, 27; 11:35, 40. Cor 1:7–8; 7:29; 10:11; Fil 3:20; 4:5; 1 Tess 3:13; 4:15–17; Heb 1:2; 9:26–
86. Dan 7:21, 25; 8:10, 13, 24–25; 9:26; 12:1, 2, 7. 28; 10:37.
87. Dan 8:9; 9:36; 11:22, 24, 41. 132. Apoc 1:1, 3; 3:11; 22:6–7, 12, 20.
88. Dan 8:11, 25; 11:36 133. Veja meu artigo de 82 páginas, “Adventism in the
Twentieth Century”, 34–54.
89. Dan 7:25; 8:11–12; 9:26–27; 11:31; 12:11 134. Veja [R. Allan Anderson] “Atas do Conselho de Professores
90. Dan 8:13; 9:27; 11:31 de Bíblia, Colégios Adventistas do Sétimo Dia, Washington, DC, de 30
91. Dan 8:12–13; 9:27; 11:22 de julho a 25 de agosto de 1940,” p. 32 e [L. H. Hartin] “Relatório do
92. Dan 7:25; 12:7 Conselho de Professores da Bíblia, Angwin, Califórnia, 23–31 de julho de
93. Dan 7:25; 9:27; 12:7 1950, p. 74 (nos arquivos da Conferência Geral).
94. Dan 8:14. 135. Meu arquivo completo de documentos da BRF está na Sala do
Patrimônio da Biblioteca James White Memorial da Andrews University
95. Dan 9:27; 12:1, 7. (durante os primeiros dois anos de nossas reuniões mensais na tarde de
96. Dan 7:22, 26; 8:25; 9:27; 11:45; 12:11 sábado na PUC, algumas apresentações eram apenas orais, sem documentos
97. Dan 7:22, 27; 8:14; 12:1–3, 13–14. formais).
98. Veja a nota 35. 136. Veja nota 135 para a reunião de 1950.
99. Enumerado abaixo. 137. “Let Us Have an Associate Secretary for Bible Research in
the Ministerial Association.” Enviei esta proposta para Le Roy Froom,
fundador da Associação Ministerial e meu amigo pessoal por 28 anos;
R. Allan Anderson, atual diretor da Associação Ministerial e W. E.
Read.
138. “A Draft Proposal for a Seventh-day Adventist Institute of
Biblical Studies” (Uma proposta preliminar para um Instituto Adventista
do Sétimo Dia de Estudos Bíblicos, 14 pp.) Anexado a este documento
estava “Twenty- five Years of Cooperative Research-type Bible Study”
(Vinte e Cinco anos de Estudo Bíblico Colaborativo em Estilo Pesquisa),
no qual revisei os eventos dos anos de 1940 a 1966. O apêndice tinha a
intenção de fornecer- lhe informações sobre o que havia acontecido nos
estudos bíblicos adventistas durante sua ausência prolongada.
139. Raymond F. Cottrell, “The Untold Story of the Bible
Commentary” (A História Não Contada do Comentário Bíblico),
Spectrum 16:3 (agosto de 1985), pp. 34–51. O Comentário não
identificou os autores por causa de numerosas mudanças editoriais feitas
em algumas contribuições. Meu artigo lista todos os contribuintes.
140. Veja pág. 10 de qualquer volume do Comentário.

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141. Entre os primeiros “professores da Bíblia” adventistas––
como estudiosos da Bíblia eram então chamados––a freqüentar as
universidades “externas” estavam: R. E. L. Oasby, E .C. Banks, S. H.
Horn, W. G. C. Murdoch, E. R.Thiele, L. H. Wood e A. G. Maxwell. Eles
matavam aulas de teologia e se concentravam em matérias como linguas
bíblicas, a história da antiguidade, a arqueologia e a cronologia.
142. “Atas da Reunião da Primavera do Conselho Geral de 4 de abril
de 1969”.
143. No outono de 1968, R. H. Pierson convidou W. J. Hackett para
atuar como vice-presidente da Conferência Geral. Eles haviam feito
amizade durante uma viagem of Instituto de Geociências em 1968.
Hackett confidenciou-me que um de seus principais objetivos era
“limpar as faculdades de teologia” nas universidades de Loma Linda e
Andrews.
144. Um amigo pessoal meu e colega na faculdade de religião do
Southern Adventist College, compartilhou essa informação comigo.
145. Veja meu artigo “Architects of Crisis: A Decade of
Obscurantism” (Arquitetos da Crise: Uma Década do Obscurantismo, 40
pp.).
146. Por exemplo, W. G. C. Murdoch, S. H. Horn, E. E. Heppenstall.
147. Em conversa pessoal com W. G. C. Murdoch, Siegfried H. Horn e
E. E. Heppenstall, meus amigos pessoais de longa data.
148. Veja a nota 45.
149. Conversa com um amigo meu pessoal de longa data, então no
círculo interno da liderança da ATS. Ele me confidenciou o fato de que
a ATS foi organizada especificamente como resultado da perda de
influência de Hasel quando rebaixado do reitor do Seminário Teológico.
150. Meu artigo, “The Adventist Theological Society and Its
Biblical Hermeneutic” (A Sociedade Teológica Adventista e Sua
Hermenêutica Bíblica), avalia a história e os objetivos da ATS. A seção
sobre hermenêutica da ATS é baseada em entrevistas pessoais e publicações
oficiais da ATS.
151. Veja nota 25.
152. Ver pp. 49–50 do meu artigo “Adventism in the
Twentieth Century” (O Adventismo no Século XX).
153. Sobre a Consulta I, veja Warren C. Trenchard, “In the Shadow
of the Sanctuary” (Na Sombra do Santuário), Spectrum 11:2 (1980), pp.
26– 29; sobre a Consulta II, veja Alden Thompson, “Theological
Consultation II”, Spectrum 12:2 (1981), pp. 40–52.
154. Volume 1: Estudos Selecionados sobre Interpretação Profética, 174
pp.; volume 2: Simpósio sobre Daniel, 557 pp.; volume 3: Doutrina do
Santuário, 238 pp.; volume 4: Questões no livro de Hebreus, 237 pp.;
volume 5: 70 Semanas, Levítico, Natureza da Profecia, 394 pp.
155. Meu artigo “The Annual Council Statement on Methods of
Bible Study” (A Declaração Anual do Conselho sobre Métodos de
Estudo da Bíblia”) observa o fato de que após o comitê ter divulgado seu
relatório, o BRI inseriu um preâmbulo reiterando os princípios
hermenêuticos da ATS. Como resultado, alguns membros do comitê me
disseram que eles se recusaram a assinar seus nomes em aprovação do
documento. A ATS exige que os membros afirmem sua aceitação.
156. A correspondência pessoal tanto com os antigos quanto com os
novos diretores da BRI (2002) e com o presidente da Conferência Geral
torna evidente que eles estão firmemente comprometidos com a política
hermenêutica da ATS.
157. Por exemplo os Drs. Fritz Guy, Larry Geraty, Sakae Kubo e Ivan
Blazen (no Seminário); e os Drs. Lorenzo Grant, Edwin Zackrison e
Jerry Gladson (na Universidade Southern).
158. Veja a seção 8, “Interpretação correta de Daniel
8:14”. 159. Mat 25:40.
160. A carta de W. W. Prescott está arquivada nos arquivos da
Conferência Geral.
161. Veja a nota
35. 162. 2 Ped
3:18.

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