Sei sulla pagina 1di 10

JURISPRUDÊNCIA TRE-BA

Sala das Sessões do TRE da Bahia, em 9 de setembro de 2014.

LOURIVAL ALMEIDA TRINDADE, Juiz-Presidente; SALOMÃO


VIANA, Juiz Relator; RUY NESTOR BASTOS MELLO, Procurador Regional
Eleitoral.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso interposto pelas Coligações UNIDOS PELA


BAHIA e UNIDOS PARA UMA BAHIA MELHOR contra decisão final por
mim proferida nos autos nascidos em razão da propositura, pela recorrente,
de representação contra a Coligação PRA BAHIA MUDAR MAIS e Partido
Comunista do Brasil – PC do B.
Nas suas razões recursais, a parte recorrente repisa os mesmos
argumentos por ela própria suscitados anteriormente no sentido (i) de que
a propaganda seria irregular porquanto realizada no intuito de favorecer
candidato às eleições majoritárias; (ii) de que haveria a intenção de ridicu-
larizar a coligação autora, e (iii) de que a exibição, nas peças publicitárias,
das imagens do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, da presidente
Dilma Roussef e do atual governador Jaques Wagner é vedada, já que
711
estas pessoas não são candidatas ao pleito majoritário em âmbito estadual.
Por fim, pugna pelo provimento do recurso.
Em suas contrarrazões, a parte recorrida alega inexistência de
motivação recursal. No mérito, refuta a ocorrência de invasão, no horário
reservado à propaganda de candidatos ao pleito proporcional, de tema afeto
ao horário reservado para a publicidade de candidatos ao pleito majoritário
e defende a manutenção da decisão guerreada, reiterando as alegações
lançadas na peça de resposta. Ao final, propugna pela negativa de provi-
mento ao recurso.
É o relatório.

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 711 23/10/2015 09:53:35


ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL DA BAHIA

VOTO

Quanto ao juízo de admissibilidade, o ato contra o qual o recurso


foi interposto é recorrível. De sua vez, (i) o recurso está previsto em lei;
(ii) à vista das alegações nele contidas, é o adequado para o caso; (iii) foi
interposto tempestivamente, e (iv) atende às exigências formais. Além disso,
inexistem fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer e o recorrente
possui legitimidade recursal e interesse. Encontram-se, pois, satisfeitas
todas as exigências intrínsecas e extrínsecas para que o recurso interposto
seja conhecido, motivo pelo qual deve ele ser admitido.
Nenhum amparo merece a alegação de inexistência de motivação
recursal.
É que a leitura da peça por meio da qual a parte recorrente mani-
festa a sua irresignação com a decisão recorrida – mesmo que as alegações
repitam o conteúdo de peça apresentada antes do proferimento da decisão
impugnada – revela, claramente, as razões pelas quais entende ela que
o ato decisório deve ser reformado. Aliás, se, por meio da decisão, foram
contrariados argumentos anteriormente colacionados pela parte recorrente,
não se pode negar que a repetição dos argumentos no bojo do recurso tem
o propósito de convencer o órgão julgador recursal a respeito do desacerto
712
da decisão.
Assim, foi integralmente atendida esta específica exigência formal
posta para que possa o recurso ter o seu mérito apreciado.
No mérito, o recurso não merece provimento.
Com efeito, quanto aos temas que foram objeto de deliberação
na decisão recorrida, as partes não trouxeram aos autos qualquer circuns-
tância nova de natureza fática ou relativa ao exercício de concretização da
norma a ser aplicada ao caso concreto, adstringindo-se, no particular, a
repisar, quase que integralmente, os argumentos lançados nas peças por
elas próprias apresentadas anteriormente.
Este conjunto conduz a que, quanto a tais temas, os mesmos fun-
damentos que sustentam a decisão impugnada passem a sustentar, agora,
o voto no sentido de que seja negado provimento ao recurso interposto. E
os fundamentos são os seguintes:
(...) a base fática em que se ancora a postulação lançada pela
parte autora é a seguinte:
(...) foi apresentada irregular propaganda eleitoral em favor
dos candidatos ao cargo de governador, Sr. Rui Costa, com a
utilização das falas abaixo transcritas:

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 712 23/10/2015 09:53:35


JURISPRUDÊNCIA TRE-BA

Narrador: Nossos deputados ajudaram a alfabetizar mais de


1 milhão e 300 mil baianos. Mas tem uma turma do atraso aí
que só faz falar mal. E aí, vai votar na turma do atraso? Aonde!
Vote nos deputados que fazem a Bahia avençar, vote na força
de Lula (imagem de Lula). (...)
(...) é possível verificar que o objetivo dos representados é
ridicularizar a coligação autora, na medida em que trata faz
referência à ‘turma do atraso’. (...)
Além disso, durante a fala do candidato a deputado, aparece
ao fundo as fotos da presidente Dilma, do ex-presidente Lula
e do governador Jaques Wagner, o que também é vedado, já
que a legislação só permite que apareça ao fundo imagens dos
candidato majoritários e estas pessoas não são candidatos a
governador da Bahia.

Sucede que, considerando o âmbito de um processo de


eleições, frases como as que a parte autora entende lesivas
ao seu patrimônio jurídico se alojam, com conforto, no amplo
espaço que o regime democrático abre para que o debate
político se instaure.
É que elas fazem referência ao fato de parlamentares que
integram determinado grupo político haverem emprestado o
seu apoio a iniciativas do Poder Executivo. Efetivamente, não
se pode negar que os membros do Poder Legislativo atuam,
também, discutindo projetos que são do interesse da Adminis- 713
tração e que integram programas de governo.
De mais a mais, “no propósito de assegurar em sua mais
absoluta plenitude o direito do eleitor de se informar sobre as
respectivas Campanhas, a legislação disciplinou o horário da
propaganda em relação a cada um dos cargos em disputa.
Disciplina que não tolhe o direito de crítica, nem impede a
comparação entre administrações de agremiações antagôni-
cas” (TSE, Rp nº 243589, acórdão de 02/09/2010, publicado
na sessão de 02/09/2010 ).
É por isto não há motivo lógico para que as críticas feitas
caracterizem propaganda irregular.
Ademais, desborda os limites do bom senso querer impedir,
num Estado Democrático de Direito, que sejam feitas críticas,
mesmo que duras, ao “governo” de determinado partido ou de
certo candidato, sob o fundamento de que tal prática implicaria
divulgar a candidatura do adversário.
Nesta linha, vale o registro de que “A linguagem utilizada, ain-
da que agressiva, folhetinesca e imprópria, não ultrapassa o
limite da crítica contundente” (TSE ARP n. 482 – Brasília/DF).
Outrossim, não há ilicitude em fazer “Referências ao compor-
tamento do candidato em gestões passadas” ou em “Afirmar
que o candidato adversário não cumpre promessas eleitorais
(...)” (TSE, Rp 353312 – Brasília/DF e Rp 343879 – Brasília/

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 713 23/10/2015 09:53:35


ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL DA BAHIA

DF), tampouco há irregularidade na “afirmação feita durante


propaganda eleitoral gratuita, ainda que com maior ênfase
no tocante ao período de comparação entre governos”, uma
vez que tal ato “consubstancia mera crítica política” (TSE, Rp
287840 – Brasília/DF).
Aliás, há uma marca clara no modo como o sistema jurídico
eleitoral exige que sejam interpretadas as normas que o regem:
deve haver reverência ao Estado Democrático de Direito, o
que implica a impossibilidade de se excluir as coligações, os
partidos e as pessoas naturais postulantes a cargos públicos
do natural crivo da censura, da crítica e dos questionamentos,
advindos tanto dos grupos políticos opositores quanto dos
meios de comunicação social.
Assim, situações como as descritas na petição inicial são
inerentes ao regime democrático e, portanto, são salutares
para o fomento do debate político e para o desenvolvimento
da consciência crítica dos eleitores.
O mesmo se dá quanto à alegação de ilegalidade na exibição da
imagem da candidata à presidência Dilma Rousseff. Efetivamen-
te, o conjunto normativo contido no enunciado do art. 45, § 6º da Lei
nº 9.504/97 admite o uso, na propaganda regional, de imagem e
de voz de candidato ou militante de partido político que integre
a coligação no âmbito nacional. É o que se dá no caso destes
autos, em que o PC do B integra a coligação nacional pela qual
714 foi lançada a candidatura de Dilma Rousseff.
No que se refere à alegação de irregularidade na exibição da
imagem do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e do atual
governador do Estado, Jaques Wagner, razão também não
assiste à parte autora. É que a interpretação sistemática do
conteúdo do § 6º do art. 45 e do caput do art. 54 , ambos da
Lei nº 9.504/97, conduz à conclusão de que é regular a parti-
cipação das pessoas indicadas na peça inaugural.
Efetivamente, malgrado o Partido dos Trabalhadores – agre-
miação a que estão filiados Luís Inácio Lula da Silva e Jaques
Wagner – não integre, juntamente com o PC do B, coligação
estadual para a disputa das eleições proporcionais, o aludido
partido – o PT – integra, juntamente com o PC do B, uma coliga-
ção estadual formada para a disputa das eleições majoritárias.
Assim, não há sentido lógico em permitir o mais – participação
de pessoa filiada a partido que não integra a mesma coligação
no âmbito estadual, mas integra no âmbito nacional – e vedar
o menos – participação de pessoa filiada a partido que não
integra a mesma coligação no âmbito estadual para eleições
proporcionais, mas integra, igualmente no âmbito estadual,
para as eleições majoritárias.

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 714 23/10/2015 09:53:35


JURISPRUDÊNCIA TRE-BA

Não há, portanto, qualquer motivo para que a decisão recorrida


seja reformada.
Por todo o exposto, admito o recurso interposto e, no mérito, a
ele nego provimento.
É como voto.

Sala das Sessões do TRE da Bahia, em 9 de setembro de 2014.

Salomão Viana
Juiz Relator

715

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 715 23/10/2015 09:53:36


LivroPopulos.indb 716 23/10/2015 09:53:36
Bibliografia

LivroPopulos.indb 717 23/10/2015 09:53:37


LivroPopulos.indb 718 23/10/2015 09:53:37
BIBLIOGRAFIA

DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

ALMEIDA, Herivelto de; LEHFELD, Lucas de Souza. Democracia


participativa, acesso à informação e o cidadão na tutela dos direitos
coletivos: novo enfoque sobre a busca pela cidadania plena e o acesso à
Justiça. Revista de Direito Constitucional e Internacional: RDCI, São Paulo,
v. 22, n. 86, p. 259-279, jan./mar. 2014.

ALVES ARAÚJO, Andréa; MICHALKA JR., Camilo. Regularizar a


participação popular pode ser a saída para a atual crise da democracia
representativa. Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades, São
Paulo, v. 1, n. 7, 2014.

BIANCHINI, Fernando Novelli. Democracia representativa sob a crítica de


Schmitt e democracia participativa na apologia de Tocqueville. Campinas,
SP: Millennium, 2014. 233 p.

BRAMRAITER, Juliana. Os reais efeitos do voto nulo na atualidade e seu


reflexo para o regime da democracia representativa no Brasil. Revista
Estudos Legislativos, Porto Alegre, n. 7, p. 61-93, 2014.

CAMBI, Eduardo; OLIVEIRA, Priscila Sutil de. Crise da democracia


representativa e revitalização dos partidos políticos no Brasil. Revista dos
Tribunais: RT, São Paulo, v. 103, n. 949, p. 39-67, nov. 2014.

CARVALHO FEITOSA, Heloisa de; NETTO, Mariana Corrêa. Os novos


rumos da democracia representativa em face da suposta crise de
representatividade. In: VAL, Eduardo Manuel; BELLO, Enzo (Org.). O
719
pensamento pós e descolonial no novo constitucionalismo latinoamericano
[recurso eletrônico]. Caxias do Sul, RS : Educs, 2014. p. 119.

CAVAZZANI, Ricardo Duarte. Crise da democracia representativa e os refle-


xos sobre a separação dos poderes: o enfraquecimento do estado. Constitui-
ção, economia e desenvolvimento, Curitiba, v. 6, n. 11, p. 339-361, jul./dez.
2014.

DE BASTIANI, Ana Cristina Bacega. Reflexões Sobre a Crise da Democracia


Representativa no Brasil Pós Constituição Federal de 1988. Revista Thesis
Juris, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 257-283, 2014.

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015.

LivroPopulos.indb 719 23/10/2015 09:53:37


ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL DA BAHIA

FETZNER, Adriana Borba. Congresso Nacional silenciado: participação dos


movimentos sociais na democracia representativa e a cobertura da mídia.
Revista Ciências do Trabalho, São Paulo, n. 2, p. 65-80, maio/out. 2014.

FONSECA, Rafaela Aparecida; LACERDA, Josiane Auxiliadora; PEREIRA,


José Roberto. A crise da democracia representativa e o voto distrital como
alternativa. Revista Direito, Estado e Sociedade, Rio de Janeiro, n. 44, p.
142-163, jan./jun. 2014.

GRIGOLI, Juliana de Jesus. Quatro modelos normativos de democracia


representativa: as versões elitista, liberal, pluralista, participativa e
deliberativa. Pensamento Plural, Pelotas, RS, n. 14, p. 113-126, 2014.

KALIL, Marcus Vinicius Alcântara. Democracia representativa, programa


partidário e legitimação da atuação parlamentar. Revista Eletrônica Orlando
Gomes: revista do Curso de Direito da Faculdade Ruy Barbosa, Salvador, v.
1, n. 1, p. 65-81, jul./dez. 2014.

KRAUSPENHAR, João Henrique. A Fidelidade Partidária no Contexto da


Democracia Representativa Brasileira. 2014. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação) - Centro de Ciências Jurídicas, Universidade Federal
de Santa Catarina, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/
handle/123456789/127395>. Acesso em: 29 abr. 2015.

LEISTER, Ana Carolina; CHIAPPIN, José. Teoria da Democracia de Sartori:


uma defesa da democracia representativa. Revista Política Hoje, Recife, v.
22, n. 2, p. 65-86, 2014.

MARTON, Ronaldo. O cidadão e a política tributária na “democracia


representativa”. Revista Fórum de Direito Tributário: RFDT, Belo Horizonte,
720 v. 12, n. 70, p. 79-94, jul./ago. 2014.

MISSAU RUVIARO, Eduardo; MISSAU RUVIARO, Henrique. Os reflexos


da rede na democracia representativa: uma análise da eleição presidencial
brasileira de 2014 sob a ótica de aplicativos sociais. Revista Democracia
Digital e Governo Eletrônico, Florianópolis, n. 11, p. 163-186, 2014.

OLIVEIRA, Fábio Cesar dos Santos. Uma nova democracia representativa?


Internet, representação política e um mundo em transformação = A new
representative democracy? Internet, political representation and a changing
world. Revista de Direito Administrativo: RDA, Rio de Janeiro, n. 264, p. 187-
221, set./dez. 2013.

Revista Populus | Salvador | n. 1 | setembro 2015

LivroPopulos.indb 720 23/10/2015 09:53:37

Potrebbero piacerti anche