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INFIDELIDADE
EM TEMPO
DE CORONAVÍRUS
Porque somos o sexo
mais forte (geneticamente)
TOQUE DE MAGIA
TRUQUES PARA VIVER
DESEJO
DE VERÃO
COMO USAR OS NOVOS FATOS DE BANHO
NA PRAIA, NA PISCINA E NA CIDADE
WONDER WOMEN
NAOMI CAMPBELL
FAMOSA E INESQUECÍVEL
AOS 50 ANOS
JOANA RIBEIRO
MAIS BELA QUE NUNCA
NO CAMINHO DAS ESTRELAS
CAROLINE HIRONS
A “BALCONISTA” QUE SE TORNOU
A GURU DA BELEZA
OS BASTIDORES
DO DIVÓRCIO 45
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ESTE NÚMERO QUE SEGURA NAS MÃOS, querida leito-
ra, deve guardá-lo no coração porque é o último da Máxima a abri-
AO LONGO DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS, a Máxima
viveu e acompanhou alguns dos grandes acontecimentos que contribuí-
lhantar as bancas, como sempre aconteceu ao longo de uma fabulosa ram para impulsionar mudanças nas sociedades democráticas, nomea-
existência de quase 32 anos de ininterrupta publicação. Desde o pri- damente na portuguesa (lembremo-nos da Lei do Aborto e da lei que
meiro número, lançado em 22 de setembro de 1988 pela coragem da permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo).
fundadora e primeira diretora, Madalena Fragoso, a Máxima marcou Entre eles, a queda do Muro de Berlim, a Guerra do Golfo (a Máxi-
a diferença editorial, tanto em relação às dignas concorrentes, como ma foi considerada a única revista feminina no mundo a dar o título
à generalidade dos media em Portugal. Volto a lembrar que os incon- principal de capa a esse conflito bélico), o 11 de Setembro de 2001, a
táveis prémios que recebeu ao longo de pouco mais de três décadas crise económica de 2008, o movimento #MeToo e a pandemia gerada
(só nos últimos dois anos foi premiada quatro vezes como a melhor pela Covid-19. Assistimos, extasiadas e extasiados, ao maior desenvol-
revista feminina/moda e foi distinguida com dois prémios de jornalis- vimento desde o final da II Guerra Mundial e de que apenas saliento
mo, o que é obra e, que eu saiba, um feito não alcançado por outras alguns feitos: o imparável progresso tecnológico (a Redação da Máxima
revistas, sejam elas femininas ou não). O marco que serviu para assi- começou a trabalhar, em 1988, sem que existissem a Internet, os com-
nalar essa diferença foi a atribuição, em 1992, do maior prémio de putadores, os telemóveis, os e-mails e o wi-fi) que alavancou a globali-
jornalismo então existente no nosso país que, assim, distinguiu a gran- zação, assim como o avanço científico de que são exemplos o controlo
de reportagem Violação, Crime e Castigo. Não foi uma reportagem da Sida e a descodificação do genoma humano. Na moda, assistimos
acerca de modas e de bordados. No ano seguinte, a Máxima esteve aos fenómenos da constituição dos grandes grupos económicos e dos
quase a arrebatar esse prémio, mas o desempate da votação feita pelo primeiros multimilionários, à sustentabilidade, às denúncias das fontes
júri atribuiu a vitória à revista Grande Reportagem. Seguiram-se-lhe poluidoras e da exploração de mão de obra, à diversidade de raças e
outros galardões jornalísticos e também prémios que recompensavam aos novos padrões de beleza nos modelos, ao Wonderbra, aos skinny
tanto a riqueza do texto e das ideias, como o registo aspiracional do jeans, às leggings, às hegemonias dos sneakers e do street style, à fast
design gráfico, das belas produções de moda, dos esclarecedores fashion e ao consumo massivo de roupas low cost. Na beleza, ao apo-
artigos de beleza e dos demais sobre lifestyle e, last but not least, a geu do botox e da cirurgia plástica e à defesa da sustentabilidade. No
qualidade premium da publicidade que, desde sempre, esteve em turismo, ao boom das viagens low cost e à partilha de casas. Na ali-
consonância com a própria revista. Não existem outras publicações mentação, a popularização da comida orgânica e a entronização dos
femininas – para nos ficarmos apenas por estas –, em Portugal, que chefs. No design, a democratização e a massificação do mesmo. Nos
apresentem este historial. Mas foi com aquele prémio, há 28 anos, que planos sociais, a social media, a mobilização na defesa do ambiente e
a Máxima passou a ser vista com outros olhos, sobretudo por quem o recrudescimento dos direitos LGBT. As mulheres conquistaram mais
preconceituosa, ignorante e provincianamente pensava que as revis- direitos e lugares de comando, mas estão astronomicamente distantes
tas destinadas às mulheres e que continham moda ou que eram de de alcançar a desejada igualdade com o sexo oposto, até mesmo no
moda teriam de ser, forçosamente, ocas de conteúdo editorial e, claro, lar, e isto nos países livres porque nos que o não são esse inalienável
muito frívolas. A Máxima nunca foi – e repito, nunca foi – uma revis- direito humano é inatingível. Na política, assistimos à Primavera Árabe.
ta de moda, classificação que repetida e erradamente se lhe atribui, A Máxima nunca se mostrou insensível a tudo isso, entre muitos outros
mas uma revista feminina de conteúdos jornalísticos e de atualidade temas que reportou pioneiramente (e para incómodo de alguns setores
vocacionados para a mulher, não deixando de integrar as secções conservadores), como sejam o assédio sexual, a homossexualidade
de moda e de beleza, tradicionalmente atribuídas às publicações do feminina, a violência doméstica, o abuso sexual de crianças, o aborto,
género, as quais contribuíram para embelezar sobremaneira os con- a droga, o tráfico de mulheres, os lados obscuros da adoção ou a pros-
teúdos. Eu sempre me assumi como um admirador confesso da Moda tituição feminina. Nos planos nacional e internacional, entrevistámos,
como arte e da Beleza como indústria, e também sou reconhecedor em exclusivo, um presidente da república, primeiras-damas, prémios
da admirável evolução que ambas alcançaram, sobretudo a última, Nobel, personalidades de proa da cultura e da ciência portuguesas e
desde o pós-guerra. Aliás, o Prémio Máxima de Beleza é disso exem- estrangeiras, celebridades do cinema e da moda, e até publicámos a
plo, sendo um dos três que foram constituídos, designadamente o exclusiva entrevista a uma rainha. Porque nunca fomos chauvinistas,
Prémio Máxima de Literatura e o Prémio Máxima Mulher de Negócios, que parece continuar a ser um mal dos media portugueses, publicá-
tendo a nossa revista sido pioneira em todos eles. mos, ao longo de 31 anos e meio, artigos e reportagens que tinham a
54 Sem saída
Há algo que inevitavelmente muda depois
de um episódio de infidelidade. E quando,
ainda assim, o casal é obrigado a coabitar
em confinamento?
58 Vidas transatlânticas
Os testemunhos solares de quatro
brasileiras que reinventaram as suas vidas,
em Lisboa.
64 Verão!
A estação mais quente está a chegar.
Mostramos como usar roupas de praia
ou de piscina também na cidade.
80 e 84 O meu corpo
é o meu templo
Rotinas que cuidam o corpo em beleza.
86 Beauty guru
Tem 50 anos, quatro filhos e milhares de
seguidores. Que talentos tornaram Caroline
Hirons uma das mais poderosas no mundo
da beleza do Reino Unido e não só?
p34
10 Supermodel forever
Polémica e arrebatadora Naomi Campell,
“Este período de confinamento foi uma
ao completar 50 anos. oportunidade para me recordar o que
28 Segundas oportunidades
O poder dos recomeços, pela espanhola
realmente é importante na vida.” Ana Moura, página 50
Marta Orriols, autora do bonito romance
Aprender a Falar com as Plantas.
José Gameiro sobre os desafios que 90 Santuário privado
30 Sexo forte se colocam às relações conjugais. Hoje, porventura mais do que nunca,
Geneticamente mais fortes, faz sentido que a nossa casa seja um
imunologicamente mais resistentes. 46 Vozes silenciadas refúgio perfeito construído à nossa
Descubra os argumentos desta As estatísticas apontam menos episódios imagem. A especialista Michelle
superioridade feminina. de violência doméstica, mas o que dizem Ogundehin explica como.
os factos? Investigamos uma triste realidade
34 Rising star em dias de confinamento social.
Eleita uma das European Shooting Stars A CAPA
de 2020, Joana Ribeiro tem motivos 50 Novo normal Fato de banho, Calzedonia. Pulseiras
e brincos, Inês Nunes, na Padaria 24.
para sorrir. A atriz conta como tem sido Depois de dois meses de reclusão, as Sandálias, Saint Laurent, na Stivali.
a aventura da internacionalização. saudades são muitas e os prazeres mais
simples os mais apreciados. O que nos Realização: Paulo Gomes
Fotografia: Pedro Ferreira
40 Aprender a ser feliz fez falta e o que aprendemos durante Cabelos e maquilhagem: Tom Perdigão
Isabel Stilwell conversa com o psiquiatra o confinamento. Modelo: Ana Margarida (Central Models)
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“1 sérum vendido a cada
PUBLICIDADE 30 segundos no mundo.” (3)
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DIRETOR
Manuel Dias Coelho – manuelcoelho@maxima.cofina.pt
COLABORADORES Ana Sofia Fonseca, Bruno Lobo, Catarina Palma, Cláudia Marques Santos,
Isabel Stilwell, João Gobern, Jorge Pimentel, Leonor Xavier, Manuela Gonzaga, Margarida Santos
Lopes, Maria Elisa Domingues, Marta Lobo e Pureza Fleming
assinaturas.xl.pt/maxima
musas
ORIGINAL
INES
QUE
CÍVEL PODEROSA
Naomi Campbell fez a sua inovadora entrada no
mundo da moda, em 1986, e desde então que luta
para o mudar. Telefonámos ao ícone e tivemos
uma animada conversa, à meia-noite,
em vésperas do 50.º aniversário de Naomi.
Por Louis Wise
N
seu nível de fama é puro e inadulterado: basta dizer “Naomi” e já se
sabe sobre quem estamos a falar. Mais importante do que isso é ela ter
sabido como se adaptar. O seu amor pelo Dettol não deve surpreender
aqueles que viram o vídeo que se tornou viral no ano passado, no qual
se vê Naomi a limpar, diligentemente, cada canto do seu lugar num
avião antes da descolagem. Se pareceu um pouco bizarro, na altu-
ra, parece agora presciente no nosso mundo marcado pela Covid-19.
Naomi está habituada a essa sensação, diz-me ao telefone, confinada
no seu apartamento repleto de fotografias do seu passado ilustre – do
qual temos vislumbres nos seus vídeos de YouTube. “As pessoas já se
riram muito de mim, chamaram-me nomes em voz baixa e fizeram
todo o tipo de coisas durante anos. Mas sabe uma coisa? Isso é pro-
blema deles, não meu.”
adorada África. Ela era famosa pela sua intimidade com Nelson Man- tem sido muito útil para mim, neste momento”, afirma – Naomi fez a
dela – “O presidente Nelson Mandela”, diz com orgulho, “ou avozinho, sua primeira reabilitação, há mais de 20 anos, para tratar a sua depen-
como eu gostava de lhe chamar, Tata.” Esta é, evidentemente, a Naomi dência de cocaína e álcool –, “porque há uma disciplina na reabilitação”.
Imponente em todo o seu esplendor. Durante a nossa conversa, tam- Disciplina de saber quando se sente só? “Eu procuro as pessoas”, diz.
bém sou brindado com a Naomi Pateta, a Naomi Amuada e a Naomi “Sempre acreditei naquele ditado que diz: ‘Estar sozinha não é a mesma
Espiritual – ela diz, sete vezes, que é “abençoada”. Vistas bem as coisas, coisa que sentir solidão.’” Naomi já namorou com Robert De Niro, Mike
é bom que tenha noção disso. Tyson e, alegadamente, com o rapper britânico Skepta, mas não diz a
ninguém se tem um homem na sua vida, agora. “Quando acordo a meio
QUANDO RECEBEU O PRÉMIO ICON, grande parte da noite posso simplesmente pegar no telefone”, afirma. “Tenho grupos
do seu discurso foi dedicado a agradecer à mãe, Valerie, que a criou de conversa. Um de nós pergunta: ‘Alguém está acordado?’ E outro res-
como mãe solteira. Naomi nunca conheceu o pai. Valerie está confina- ponde: ‘Sim!’” Naomi parece ter-se tornado mais acessível ao longo dos
da, em Londres, mas ambas conversam todos os dias. Naomi diz que anos – e mais disposta a ser tema de piadas. Basta espreitar o seu canal
se sente mais ligada do que nunca às suas raízes britânicas-jamaicanas. de YouTube, no qual nos mostra o seu extensivo programa de saúde
“Se alguma vez fizeram sentido, é agora”, afirma a propósito da qua- (ela adora óleo de argão) ou a fazer compras no Whole Foods (“Nada de
rentena. “É uma experiência que me faz sentir humilde. Tudo o que glúten, trigo ou laticínios? Que raio vou eu comer?”), ou aquele vídeo
vi a minha avó e a minha mãe fazer parece ter sentido agora: as coisas em que está a limpar o lugar do avião, uma rotina que adotou, há quase
que elas cozinhavam, as coisas que faziam [em casa].” Parece que ela 20 anos. “É uma questão de fazermos aquilo que nos faz sentir bem”,
está a referir-se, em particular, a limpar a casa. “As famílias jamaicanas afirma. Do mesmo modo, em estado de confinamento, Naomi insiste
são assim. É assim que somos criados.” Naomi insiste que ainda o em arranjar-se como deve ser todos os dias, mesmo que esteja a traba-
faz e jura que é muito terapêutico. “Ouça, ninguém limpa a sua casa lhar a partir de casa. “Não ando por aí de pijama, não. Isso não é bom
melhor do que você. Ninguém. Niiin-guém.” para a minha autoestima.” O seu desejo de relaxar continua a chocar de
Naomi engasga-se quando lhe pergunto se alguma vez pensou em refor- frente com a sua supermodelo interior. Por exemplo, embora diga “Fico
mar-se. “Não gosto da palavra ‘reforma’”, riposta com firmeza. “Se não muito feliz por não ter de usar saltos altos”, mostra-se quase chocada,
quiser continuar a fazê-lo, deixo de o fazer. Mas nunca vou dizer isso. um segundo mais tarde, quando sugiro que poderá estar mesmo farta
Sou uma pessoa extremamente ativa. Gosto de ser ativa e acho que vou deles. “Eu adoro saltos altos!”
sempre ser ativa.” Como é óbvio, agora é uma boa altura para olhar para
trás. Se lhe perguntar quais os fotógrafos que foram mais influentes na SE NAOMI SE SENTE mais compreendida agora? “Não sei.
THOMAS WHITESIDE/TRUNK ARCHIVE. EXCLUSIVO THE TIMES/ATLÂNTICO PRESS. TRADUÇÃO: ERICA CUNHA E ALVES
sua carreira, destaca Steven Meisel, que a fotografou pela primeira vez Acho que ninguém está mais capacitado para falar sobre nós do que
aos 16 anos. “Eu não sabia posar e por isso aprendi muito com ele”, nós próprios.” Eu creio que quer dizer menos e não mais, mas até
garante. “Aprendi com a maior parte dos fotógrafos. Como vim da dança gosto do deslize. O que diria a si mesma quando era mais nova? “Diria:
‘Faz tudo o que quiseres. Se sou-
beres que tens energia e força
Naomi já namorou com Robert De Niro, Mike para o fazer, força. Faz. Vai atrás
das tuas paixões, dos teus dese-
Tyson e, alegadamente, com o rapper britânico jos. E não dês ouvidos àquilo
que os outros dizem. Só tu é que
Skepta, mas não diz a ninguém se tem um sabes o que consegues fazer ou
até onde consegues ir.’” Oh, digo
homem na sua vida, agora. eu, isso soa muito a “sem arre-
pendimentos”. Segue-se uma
clássica, não fazia a menor ideia do que se passava. Eu estava para ali a pausa. “Eu não disse isso”, declara, com firmeza. “Eu disse o que disse.
tentar fazer isto, a tentar usar aquilo e a ver o que funcionava, a ver se Foi você que disse isso.” Quanto ao seu importante aniversário, Naomi
conseguia safar-me!” Dá uma gargalhada divertida. Menciona ainda jura que não está a pensar nisso. Havia “tantas ideias diferentes” antes
Peter Lindbergh, Herb Ritts, David Bailey, Terence Donovan e, “acima da Covid-19, suspira. “Sinceramente, se eu estiver aqui no dia 22 de
de tudo, Martin Brading, que foi o primeiro a fotografar-me”. Foi para maio, em confinamento, sou abençoada.” Ela está muito mais focada
a revista Elle, de abril de 1986, em Nova Orleães, um mês antes do seu na situação atual. “Quero retirar disto tudo o que houver para retirar.
16.º aniversário. Foi tão excitante e revelador. Eu parecia uma criança Não sou nenhuma santa, nem nada do género, mas quero estar sufi-
numa loja de guloseimas”, recorda. “Eu só pensava: ‘Estou na América!’” ciente serena para aproveitar este momento.” Pouco depois despede-
E aqui está ela, nos EUA, em confinamento, enfrentando a crise com -se com um sussurrado “Obrigada”. A “Naomi Sossegada”, um novo e
a sua filosofia adquirida a muito custo. “Acho que estar em reabilitação surpreendente acrescento ao seu repertório.______________________________
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À RISCA
As tradicionais riscas apelam à cor e à criatividade para definir a direção
da estação quente.
junho
maxima.pt 21
BOO GEORGE/TRUNK ARCHIVE
Et cætera
UM LUGAR
AO SOL
Era uma vez uma menina bonita e princesa do
show business americano que, após iniciar um
percurso na representação, decidiu lançar um
disco de estreia. Eis Maya Hawke. Modelo,
atriz e agora cantora e compositora.
PERTENCER À “REALEZA” de Hollywood tem benefícios, mas
impõe desafios. Se as oportunidades florescem, também há que provar
que o talento não tem apelido. Maya Hawke [Nova Iorque, 1998] é a
mais velha dos dois filhos de Uma Thurman e de Ethan Hawke, tendo
também herdado de ambos a beleza e o carisma. A dislexia dificultou a
infância de Maya e fê-la transitar de escola em escola até descobrir no
teatro a forma ideal de comunicação. Estudou um ano na prestigiada
Juilliard School, em Nova Iorque, mas abandonou-a para se dedicar ao
projeto que seria a sua estreia na representação. Em 2017, liderou o
elenco da minissérie televisiva da BBC, Mulherzinhas, com o papel de
Jo March. E bastou este trabalho para que a Vanity Fair a incluísse num
grupo de nove jovens talentos a caminho de se tornarem estrelas, na
sua edição de setembro de 2018. Apesar de ter integrado o elenco do
mais recente filme de Quentin Tarantino, Era uma vez… em Hollywood,
foi numa série que se mostrou a um público mais vasto. Na terceira
temporada de Stranger Things, o ano passado, vestiu a pele de Robin
Buckley e, no passado mês de março, esteve em Atlanta a contracenar
na próxima temporada que só estreará em 2021. Com o início da atual
pandemia, Maya regressou à Big Aplle e passou a quarentena em família,
dividida entre as casas da mãe e do pai. Em meados de março apresen-
tou a capa do seu disco de estreia na conta de Instagram. Blush será
lançado a 19 de junho e remonta há alguns anos na tentativa de Maya
dar música à poesia que escreve. Assim, as letras são da sua autoria
enquanto a composição dos temas ficou a cargo de Jesse Harris, músico livros
consagrado e que colaborou com o pai de Maya. O álbum é intimista
e composto por 12 temas que a própria interpreta e considera serem cinema
mensagens secretas a pessoas que fazem parte da sua vida. By Myself e
Coverage são os singles de apresentação que podemos ouvir no site da
artista, MayaHawkeMusic.com, ou no YouTube. Parte dos lucros reverte
artes
para a associação Food Bank for New York City. Mas a carreira de atriz
não está suspensa, pois está em pós-produção o filme Mainstream que música
protagoniza, realizado por Gia Coppola, neta do cineasta Francis Ford
Coppola, ambas visíveis herdeiras do talento familiar. CC cultura pop
et cætera
CRIAR
SE M PA R A R
ARTES
Banquete, de Tengnagel, no site do Museu Thyssen-Bornemisza
Carolina Carvalho
24 maxima.pt junho
PARA LER, AGORA
Depois da tempestade, a bonança. Após o
sucesso de Em Tudo Havia Beleza, livro que
comoveu e arrebatou leitores um pouco
por todo o mundo, o espanhol Manuel
U M A O D E A I TÁ L I A
sua anterior obra, o escritor exorcizava as
dores e perdas do passado, agora traz um
grito de esperança e uma capacidade de
reconstrução solar e contagiante, desafiando
o momento pessimista que atravessamos.
ITÁLIA É MODA E ESTILO, é cultura e religião, é gastronomia e lifestyle. Itália é vida. E numa altura em que muitos não resistem
a comparar a realidade com um improvável
Hoje, mais do que nunca, faz todo o sentido celebrar a dolce vita e é isso que este livro aborda. cenário de ficção, os livros voltam a provar
Ciao (Taschen) é um diário pessoal e profissional recheado de instantes mágicos, através dos que, por vezes, as duas estão mais próximas
quais o fotógrafo Mario Testino não só presta homenagem ao país, como revela as muitas facetas do que poderíamos supor. É o caso do novo
romance de Samanta Schweblin, que o
que o arrebataram ao longo das suas quatro décadas de carreira. Organizado em diferentes capí- The New York Times classifica como o mais
tulos, contempla momentos de viagem (In Giro), de moda (Alla Moda) e de paisagem marítima (Al inquietante, mas também o mais realista
Mare), traçando a essência de um país cuja beleza não se desvaneceu com o tempo ou com os trá- da escritora argentina. Desde já incluído na
primeira lista do Man Booker International
gicos acontecimentos recentes. “Adoro a forma como os italianos conseguem transformar o último Prize para 2020, LITTLE EYES imagina uma
look em algo ainda mais novo, sem nunca comprometerem a sua identidade”, afirma, salientando realidade, onde gadgets com formas de
a capacidade de criação e de reinvenção daquele povo. Natural do Peru, mas apaixonado por animais se transformam em pequenos seres,
os kentuki, habitados por utilizadores que,
Itália, o fotógrafo – considerado um dos mais influentes no mundo da moda – revela aqui as suas de forma remota, mas real, entram na vida
influências e inspirações, contando com a colaboração do jornalista nova-iorquino Alain Elkann de um morador que – de forma aleatória
que, desde 1989, assina uma coluna semanal no La Stampa. Juntos desafiam-nos a embarcar – recebe o kentuki em casa. A estranheza
depressa desemboca num mundo surreal,
numa viagem sensorial que se revela ainda mais preciosa em tempos de pandemia. Numa altura onde solidão e ligação são versos da mesma
em que as viagens continuam em stand by e que o mercado editorial retoma lentamente a sua moeda e que depressa nos deixa a pensar
atividade, os coffee tables dedicados ao lifestyle ganham uma nova dimensão simbólica, transfor- se aquilo que parecia um cenário distópico
não será apenas o preâmbulo da vida
mando-se em janelas abertas para o mundo que, a partir dos nossos sofás, nos transportam para online, cujas possibilidades em tempos de
o muito que continua à espera lá fora. confinamento se revelam surpreendentes.
*OS PODCASTS REFERIDOS ESTÃO DISPONÍVEIS EM APPLE PODCASTS E/OU GOOGLE PODCASTS
O MUNDO, PELOS
LIVROS & PODCASTS OLHOS DAS
Quando o tempo escasseia há que rentabilizá-lo. Além dos audiolivros, também os podcasts CRIANÇAS
Assinalamos o Dia Mundial
oferecem valiosas pistas para quem gosta de explorar o mundo dos livros. Vale a pena espreitar da Criança com uma das
os podcasts associados a publicações de referência em que os editores residentes convidam mais recentes edições
escritores e discutem obras e processos criativos – como são o THE BOOK REVIEW DO THE NEW da Pato Lógico com uma
história que, em tempos de
YORK TIMES, o THE NEW YORKER FICTION, o THE GUARDIAN BOOKS PODCAST ou o FREEDOM, confinamento, ganha uma
BOOKS, FLOWERS & THE MOON do suplemento literário do The Times. Mas há muito mais do leitura ainda mais especial.
lado de lá da linha. BLACKLISTED é um podcast que dá nova voz a livros antigos (e esquecidos); 1.º DIREITO, um texto de
Ricardo Henriques ilustrado por Nicolau,
BLACK CHICK LIT especializou-se em livros escritos por e para mulheres negras; MOSTLY LIT conta-nos a história de Graça, uma menina
adota um registo descontraído, abordando temas mais próximos dos millennials; HEY YA que, ao bom estilo hitchcockiano, gosta de
centra-se na literatura juvenil. Uma palavra especial para MOMS DON’T HAVE TIME TO READ observar pessoas e de inventar cenários a
partir da janela de sua casa. Cores quentes
BOOKS, bem conduzido por Zibby Owens, escritora e mãe de quatro filhos, considerada como e contornos policiais misturam-se numa
a mais poderosa influencer literária de Nova Iorque. Por cá, a oferta é mais escassa, mas espécie de remake muito livre de um clássico
meritória: BIBLIOTECA DE BOLSO, de Inês Bernardo e de José Mário Silva, e À VOLTA DOS LIVROS, do cinema (o filme Janela Indiscreta, de
Alfred Hitchcock, de 1954), estimulando
uma conversa conduzida pela jornalista Ana Daniela Soares, na Antena 1 (para ouvir na RTP o espírito de observação, mas, sobretudo,
Play), são dois bons exemplos a seguir. a imaginação dos mais pequenos.
A NÃO PERDER
SUPERWOMAN
Chama-se Do It e é o single
U M A N O VA E R A
quem vive um romance na vida real. Por sua
vez, a australiana Margot Robbie (Dal-
by,Come
Queensland,
Away 1990) será a nova musa de
Greta Gerwig em Barbie, filme sem data de
NOS ANOS DOURADOS de Holly- atrizes como, a título de exemplo, a mexica- estreia. Elizabeth Debicki (Paris, 1990) inte-
wood foram a francesa Claudette Colbert, as na Salma Hayek, a brasileira Sônia Braga, gra o elenco de Tenet, o aguardado filme de
suecas Ingrid Bergman e Greta Garbo, a alemã a italiana Monica Belluci, a francesa Marion Christopher Nolan, que estreará em 2020.
Marlene Dietrich, a inglesa Elizabeth Taylor, Cotillard, a australiana Cate Blanchett, a Filha de pai polaco e de mãe australiana,
as italianas Sophia Loren e Gina Lollobrigi- sul-africana Charlize Theron, a espanhola Debicki destacou-se, pela primeira vez, em O
da, a irlandesa Maureen O’Hara, a escocesa Penélope Cruz ou a ucraniana Milla Jovovi- Grande Gatsby, de 2013, e mais recentemen-
Deborah Kerr, as mexicanas Dolores del Rio e ch. As novas musas do cinema e também da te desempenhou um magnífico papel como
Katy Jurado, a espanhola Sara Montiel, a suíça televisão que arrebatam os papéis principais Virginia Woolf em Vita & Virginia, de 2018.
Ursula Andress, entre outras, as esplendoro- e secundários deixaram de ser apenas euro- Para as mulheres, ainda à procura de um
sas atrizes de ascendência não americana de peias ou americanas e os talentos sobres- lugar ao sol também na Sétima Arte, o futuro
quem o mundo ocidental falava. Na era mais saem dos quatro cantos do globo. Quem poderá estar mais perto de ser um lugar onde
contemporânea da Meca do Cinema, o mes- são os rostos da nova geração de atrizes e cabem todas as nacionalidades e talentos do
mo furor tem sido suscitado por outras belas quais arrebatam papéis principais? Prestes mundo.___________________________________________
A NÃO PERDER
MADE IN ISRAEL POR MULHERES
Entre os novos talentos é particularmente E SOBRE MULHERES
notável a prestação da israelita SHIRA HAAS Shira Haas Premiado no Sundance Film Festival e no
(Hod HaSharon, 1995) em Unorthodox, a Festival Internacional de Cinema de Berlim,
série da Netflix em que esta jovem revelação Never Rarely Sometimes Always é um dos
condensa todas as emoções do mundo filmes que teve a sua estreia antecipada para
numa pequena e frágil, mas determinada, versão digital. Realizado por Eliza Hittman,
personagem para narrar uma história de é a grande estreia da atriz TALIA RYDER no
liberdade, coragem, fatalidade e dor. Em Asia, da realizadora israelita cinema e que interpreta Skylar, uma jovem que, após descobrir que
Ruthy Pribar, Shira Haas interpreta Vika numa história sobre amor e está grávida, parte da Pensilvânia para Nova Iorque com a ajuda de
sacrifício. Este filme inclui-se na competição internacional do Festival uma prima e em busca de suporte médico. Imperdível é também o
de Cinema de Tribeca que este ano se junta a We Are One, uma filme How to Build a Girl, da realizadora Coky Giedroyc, baseado no
iniciativa de cinema global que decorre no YouTube, entre 29 de maio livro de Caitlin Moran, escritora, jornalista e colunista no The Times,
e 7 de junho, e que reúne 20 festivais internacionais, incluindo e com Beanie Feldstein (Lady Bird e Booksmart) no papel principal.
os de Veneza, de Cannes e de Berlim. Ambos disponíveis para streaming online na Amazon Prime.
COMEÇAR
DE NOVO
Traição e luto, solidão e redescoberta.
Aprender a Falar com as Plantas, de
Marta Orriols, é um livro sobre uma
mulher obrigada a reinventar-se. Em
tempos incertos, faz ainda mais sentido
olhar novas perspetivas e acreditar que
há sempre uma saída. Por Rita Lúcio Martins
UMA MULHER DE 42 ANOS, médica, almoça com o mari-
do que, inesperadamente, lhe diz ter-se apaixonado por outra mulher.
Horas depois é atropelado, acabando por morrer. Estas linhas iniciais
servem para lançar a história de Aprender a Falar com as Plantas (Dom
Quixote), mas, naturalmente, não resumem a obra. Nela se conta com
calma, precisão e elegância os desafios e dramas que essa mulher, Paula,
terá de atravessar para se reerguer, dos mais óbvios aos mais subtis. É
disso que nos fala Marta Orriols (Sabadell, Espanha, 1975), a autora,
à semelhança da sua personagem, também viúva. Escreve-nos de sua
casa, em Barcelona, onde permanece, retida como os demais espanhóis das personagens que estão a ponto de se desmoronarem e precisam de
devido à tragédia do coronavírus, com os dois filhos, olhos presos na assumi-lo, e de descobrir quem realmente são. Não queria uma perso-
televisão, quem sabe se a recolher as imagens que inspirarão as próxi- nagem amável. Interessava-me trabalhar o campo das emoções, ter uma
mas obras. Formada em História de Arte, revela que nunca exerceu a personagem com várias camadas que o leitor fosse descobrindo pouco a
profissão, mas é daí que vem parte do seu método: “A cineasta Agnès pouco, até finalmente poder compreendê-la.
Varda tem um documentário intitulado Os Respigadores e a Respiga- Decidiu fazer dela uma neonatologista, alguém cujo dia a dia
dora em que, entre outras coisas, defende que o artista é alguém que vai é estar em situações-limite, a vida por um lado, a morte por
recolhendo dados, daqui e dali, até transformar a realidade. Sinto-me outro.
muito próxima dessa forma de escrita. Creio que escrevo a partir de Queria criar uma mulher totalmente imersa no seu trabalho para que,
recordações, de conversas captadas no ar, de sensações e, sobretudo, quando lhe acontecesse aquilo que aconteceu [a morte repentina do
de imagens. De facto, quando um artista se dispõe a pintar, esculpir ou companheiro], se visse obrigada a sair detrás do escudo da profissão
fotografar está de algum modo a moldar uma narrativa que evoca algo de forma a enfrentar não só a nova realidade, mas também ela própria.
em concreto: há uma mensagem a transmitir, uma sensação, uma emo- Pareceu-me que a profissão de médica era apropriada. Comecei por
ção, uma denúncia… Creio que quando escrevo faço o processo inverso: fazer dela uma cardiologista: parecia-me atraente do ponto de vista
através das palavras gosto de criar uma imagem plástica da narrativa na literário que alguém, cuja profissão fosse tratar corações, tivesse o dela
mente do leitor.” destroçado. Mas um dia, numa conversa com uma amiga sobre algo que
nada tinha a ver com o meu livro, ela falou-me de uma amiga sua, neo-
Assume-se como uma escritora de personagens. Como natologista, e, nesse momento, ficou tudo claro. Era uma profissão que
nasceu a Paula, a protagonista da sua história? nem me tinha ocorrido, mas que de repente parecia fazer crescer todo
Para mim, as personagens são o motor narrativo de toda a história, são o simbolismo da história porque conseguia unir vida e morte na mesma
aquilo que mais entusiasma. Fascinam-me as pessoas, as relações que profissão, num mesmo espaço e na mesma pessoa. Contei com a ajuda
estabelecem umas com as outras e com elas próprias, e, talvez por isso, de uma neonatologista para me documentar, passei um dia com ela na
me empenho muito na criação das personagens. Este é um roman- sua unidade e consultei muita bibliografia. Ela fez a revisão das partes
ce de segundas oportunidades narrado por uma voz que, apesar das médicas do meu texto. O Colégio Oficial de Neonatologia da Catalunha
circunstâncias, se atreve a dialogar consigo própria sem preconceitos, também leu a obra, que recomenda. Isto é bonito, emociona-me muito.
reconhecendo que, muitas vezes, é na queda que se descobrem as cha- Há na Paula uma certa elegância difícil de explicar, tem
ves da sobrevivência. Paula nasce dessa queda. Gosto particularmente a dose certa de sobriedade e de simplicidade. É uma
Porque as
MULHERES
são o sexo
MAIS FORTE
O
coronavírus está a matar mais homens do que mulhe-
res. Nas primeiras seis semanas [da pandemia], um
número quase idêntico de homens e de mulheres foi As mulheres sobrevivem à exaustão,
infetado com a doença, mas só 1,7% das mulheres
morreram em comparação com 2,8% dos homens.
à fome e até ao coronavírus melhor do
Os cientistas acham que sabem porquê. Os sistemas imunitários das que os homens. Porquê? Por serem
mulheres são mais fortes do que os dos homens. Foram construídos genericamente mais fortes. Descubra
dessa forma. O Dr. Sharon Moalem, um médico nascido no Canadá,
especialista em doenças raras e autor de livros científicos, defende o que um cientista especializado
a teoria segundo a qual as mulheres são geneticamente mais fortes
do que os homens. Em 2016, Moalem e a mulher, Anna, estavam em genética, detentor de respostas
a viajar de carro, em Toronto. Um outro carro atravessou um sinal revolucionárias, tem a dizer-nos sobre
vermelho e embateu no deles. “Capotámos”, recorda. “A cabina e o
tejadilho abateram totalmente. Tivemos muita sorte em sobreviver. Se esta mudança de paradigma.
não nos tivéssemos baixado teríamos, provavelmente, sido decapita- Por Bryan Appleyard
dos. Estivemos mais de um mês hospitalizados com ferimentos muito
parecidos.” E é aqui que surge a coisa estranha: Anna teve alta duas
semanas antes de Sharon. “O que foi mesmo percetível foi o tempo de mas, chegados aos 40 anos, os números são iguais e, chegados aos 100,
regeneração”, afirma-nos este cientista. “Nos cortes superficiais, por 80% dos sobreviventes são mulheres. As mulheres sofrem menos defei-
exemplo, o tempo de regeneração dela foi mais rápido. Tive mais infe- tos congénitos do que os homens, como anquiloglossia [língua presa,
ções do que ela, as minhas infeções não se resolveram tão depressa e uma anomalia rara] ou sindactilia [fusão parcial ou completa de dois
eu não recuperei da mesma maneira.” ou de mais dedos da mão ou do pé], entre outros. Os homens têm 20%
SABINE VILLIARD/TRUNK ARCHIVE
A demora da sua recuperação e a resiliência da sua mulher não o sur- mais probabilidades de desenvolver cancro do que as mulheres e 40%
preenderam. Para ele, aquilo foi mais uma prova de que as mulheres mais probabilidades de morrer devido à doença. As crianças do sexo
são geneticamente superiores aos homens. Depois do acidente, Sharon masculino têm o dobro das probabilidades de sofrer de problemas de
Moalem decidiu escrever um livro sobre o assunto: The Better Half – desenvolvimento como síndrome de défice de atenção e hiperatividade,
On the Genetic Superiority of Women (Allen Lane, abril de 2020). As dificuldades de aprendizagem e disfemia [vulgo gaguês]. As mulheres
provas são concretas. As mulheres vivem, em média, mais do que os costumam ter melhor visão a cores do que os homens e algumas são
homens. Nascem mais homens do que mulheres – 105 para cada 100 – tetracromáticas [em suma, a capacidade de ver mais cores], o que signi-
fica que podem distinguir até 100 milhões de cores, não o milhão que a se houve efetivamente mais homens infetados alguns anos depois de
maioria dos homens tem dificuldade em identificar. a pandemia acabar. Posto isto, o MERS, outro tipo de coronavírus com
“Ah!”, dirá a leitora, mas os homens têm mais força física do que as o qual temos mais experiência e mais dados epidemiológicos, mata
mulheres. Bem, não em termos de sobrevivência. Quando as políticas efetivamente mais homens.”
de Estaline, na Ucrânia soviética, forçaram milhões de pessoas a passar Não se percebe bem como, mas durante milénios a ciência e a socieda-
fome, sobreviveram mais mulheres do que homens. É verdade que os de conseguiram ignorar tudo isto. Preferimos o mito do homem forte.
homens têm mais massa muscular e são melhores do que as mulheres “Enquanto médico e cientista, ensinaram-me que os homens são mais
na maioria dos desportos que exigem força. Nenhuma corredora de fortes”, significando não apenas mais musculados, mas mais robustos, em
velocidade vai vencer Usain Bolt e os homens ainda dominam as mara- geral. “Demorei 20 anos a desconstruir esse paradigma.”
tonas. No entanto, os homens não são tão bons no que diz respeito a Moalem sabe que vai haver resistência à sua teoria. “Pensei muito nis-
competições de resistência extrema, como as ultramaratonas. “Quanto so enquanto pensava em escrever este livro. É uma ideia perigosa e vai
mais longa for a corrida, mais difíceis são as condições e é então que perturbar muita gente. Provavelmente já perturbou. Sempre que há uma
os homens começam a desistir”, esclarece Moalem. Esta questão ficou mudança de paradigma, encontra-se imensa resistência. Mas é uma lei
muitíssimo clara, no ano passado, quando Jasmin Paris, veterinária e tão elementar da biologia que ignorá-la reverte em nosso prejuízo, no
mãe de 35 anos, venceu a corrida Montane Spine Race, de 430 qui- que diz respeito a aplicações médicas. Foi isso que me deu motivação e
lómetros, ao longo do Pennine Way até à Escócia. “Jasmin quebrou o coragem para dizer: ‘Sabem, é altura de mudar as coisas.’”
recorde do trilho em 12 horas. Nos locais de repouso existentes ao lon- Um dos aspetos em que isto nos tem prejudicado é a prescrição de
go do trilho, ela bombeava leite para a sua filha, enquanto os homens medicamentos. Estranhamente, diz Moalem, os cientistas preferem usar
estavam de rastos, no chão.” Moalem também menciona a corrida de ratos de laboratório machos para testar fármacos. “Até à data, a inves-
ciclismo Transcontinental, uma corrida de bicicleta com cerca de quatro tigação pré-clínica não exige a utilização de ratos machos e fêmeas”,
mil quilómetros pela Europa. No ano passado, essa prova também foi afirma. É claro que existem estudos com ratos fêmeas, mas os cientis-
vencida por uma mulher, Fiona Kolbinger, uma aluna alemã de medicina tas costumam preferir usar machos por estes serem menos hormonais
de 24 anos. Isto está a acontecer porque as mulheres estão, cada vez do que as fêmeas, o que, segundo afirmam, produz dados mais claros.
mais, a participar em eventos que em tempos se consideraram dema- Existe, porém, uma desvantagem, considera Sharon Moalem: os médi-
siado difíceis para elas. cos chegaram à conclusão de que as mulheres comunicam mais efeitos
Na verdade, são mais fáceis para as mulheres do que para os homens. secundários do que os homens. Isto não se deve ao facto de serem mais
Porquê? “Nós consideramos que existem duas razões para isso”, afirma fracas, mas a estarem a ingerir doses excessivas com base nos testes
feitos a ratos machos. Os corpos das mulhe-
“A resistência quando digo que as mulheres res retêm os químicos, incluindo o álcool,
durante mais tempo e, por isso, os efeitos
são biologicamente mais fortes diz-me que e os efeitos secundários são intensificados.
Para este cientista, a verdade essencial sub-
a ideia oposta é a dominante.” Dr. Sharon Moalem
jacente à sua tese é que as mulheres são
mais bem construídas. A razão pela qual
nascem menos bebés do sexo feminino do
Moalem. “Uma delas deve-se ao facto de as mulheres terem uma taxa que do masculino é porque o processo de construção é mais compli-
metabólica em repouso mais baixa e, por essa razão, não se cansarem tão cado, havendo um número ligeiramente superior de embriões e fetos
depressa. A outra peça que examinei deste ‘puzzle’ foi a sobrevivência à femininos rejeitados antes do nascimento. “Construir uma mulher é um
fome, algo em que as mulheres levam imensa vantagem. Acho que é daí processo incrivelmente complicado. Tem de correr na perfeição. Se não
que deriva a performance de ultrarresistência.” for assim, está tudo perdido.” Moalem acredita que a explicação disto
Este cientista não menciona as exigências da gravidez, em tempos com- reside nas profundezas das células das mulheres. Os seres humanos cos-
parada com correr uma maratona todos os dias. Será esta a derradeira tumam ter 23 pares de cromossomas – espirais de DNA portadores de
prova da sua teoria? Sharon Moalem é demasiado científico para chegar genes – em cada célula. Um destes pares – os cromossomas do sexo – é
a esse ponto. “Basta dizer que a gravidez de um mamífero exige uma diferente nos homens e nas mulheres. Nas mulheres consiste em dois
resposta biológica e uma adaptação incríveis. No entanto, até termos um cromossomas ditos X – um da mãe e outro do pai. Nos homens consiste
macho XY grávido não há como fazer essa comparação e ter certezas num X da mãe e num Y do pai. A função principal do cromossoma Y é
absolutas. No entanto, eu diria que ainda mais impressionante do que produzir testículos e esperma, sendo relativamente pobre em informa-
a capacidade genética feminina para levar uma gravidez a termo é a sua ção genética comparado com o cromossoma X. Durante anos acreditou-
capacidade para ultrapassar a fronteira supercentenária. Não há nada -se que um dos dois cromossomas X das mulheres estava efetivamente
biologicamente mais difícil para um ser humano do que alcançar e ultra- “mudo”. Isto alimentou a mitologia segundo a qual “os homens são mais
passar os 110 anos.” fortes”. Até houve uma saga de romances e uma série de televisão – The
Moalem é igualmente cuidadoso em não tirar muitas conclusões acer- XYY Man – que sugeria que ter dois Y tornava um homem mais forte e
ca do coronavírus… por enquanto. “Sim, infelizmente e até à data pare- propenso à criminalidade. É um disparate.
ce haver mais homens a sucumbir ao Covid-19, [mas] só saberemos Na verdade, cerca de um quarto dos genes do cromossoma X “mudo”
go encontrar uma resposta satisfatória. E se eu receber olhares vazios tes ultraeventos por serem tão árduos. Achava-se que uma mulher não
ou risos, sei que estou atrás de alguma coisa interessante.” É por isso conseguiria sequer participar. Depois deixaram as mulheres competirem
que persegue ideias grandes e ocultas e depois as promove com tan- com os homens e depois as mulheres começaram a vencer os homens.
ta energia. Moalem tem 43 anos, um ar decidido e um estilo ligeira- Uma mulher não pode vencer uma corrida se não estiver a correr.”
mente executivo, com o seu fato azul e sapatos brogue castanhos claros. Moalem considera que poderá haver uma “reimaginação” daquilo que
Tem instinto para ir atrás daquilo que escapa aos outros, esquisitice que significa ser forte. “No passado, força significava ser capaz de se defender
aponta para uma verdade mais profunda e menos familiar. A resiliência a si próprio, a sua família, a sua tribo e o seu grupo. Isso dependia de
das mulheres, por exemplo, foi enterrada não só pela mitologia, mas força física. Mas nós evoluímos enquanto sociedade e agora as máquinas
também por teorias equivocadas. Ele reparou nisso quando ainda era e a tecnologia fornecem mais força do que um humano consegue gerar.
estudante. “Alguém poderia perguntar: por que razão é que a maioria dos Existe o risco de surgirem novas formas de preconceito e discriminação
estudos médicos são feitos com homens? E as respostas seriam: ‘Bem, contra os homens. Mas essas atitudes não existem na ciência. O subtítulo
eles são mais fortes; não queremos correr o risco de usar uma mulher do livro de Moalem é On the Genetic Superiority of Women. A palavra-
que é o sexo mais fraco; poderíamos fazer-lhe mal. Os homens são fei- -chave é “genética”. Os genes não tornam uma pessoa “melhor” do que
tos de um material mais resistente e conseguem aguentar.’ Isto foi-me outra, mas apenas diferente. A natureza equipou homens e mulheres
incutido e aos meus colegas. Mas tudo o que eu via indicava o contrário. para fins diferentes: os primeiros para a força física e as segundas para
Confundimos a ideia de sermos capazes de atirar uma lança mais longe a resiliência para que, nas palavras de Sharon Moalem, “sobrevivessem
do que uma mulher e de conseguirmos correr mais depressa e pegar em tempo suficiente para assegurar a sobrevivência da nossa descendência,
mais coisas pesadas com a força do organismo.” ou seja, a sobrevivência de todos nós”. Resumindo, estamos todos juntos
A maior longevidade feminina costumava ser explicada pelo facto de os neste jogo de sobrevivência e somos todos essenciais e iguais. ____________
O
telefonema que deu origem a esta conversa caiu tan- entrelinhas desta conversa, lê-se em Joana Ribeiro uma atriz determi-
tas vezes que, a dado momento, quando uma de nós nada e com “garra”. E quem sonha, concretiza.
voltou a ligar para retomar a conversa, só nos conse- Poderia ter sido arquiteta. Como surgiu a representação no
guimos rir. “Devias escrever sobre isto!”, ouço, entre seu caminho?
as gargalhadas. É irónico que nem a única via possível [Ser atriz] nunca foi algo que eu dissesse em voz alta. Eu sempre gostei
para realizar uma entrevista à distância, no presente momento, pudes- muito de arquitetura e como o meu pai é engenheiro civil pareceu-me
se estar disponível. Bem-disposta, enérgica e descomplicada, Joana ser um caminho óbvio. Em arquitetura, fazia muitas noitadas a terminar
Ribeiro [Lisboa, 1992] está longe de ser apenas mais um rosto bonito projetos e isso não era algo que me deixasse feliz. Hoje, quando estou a
da nova geração de atrizes portuguesas a dar cartas dentro e fora do trabalhar, mesmo que durma apenas duas horas por noite e esteja muito
nosso país. A sua sensibilidade para a Arte despertou primeiro para cansada, gosto tanto daquilo que faço que aguento.
a Arquitetura (frequentou o curso durante uns meses), antes de uma Em que momento aconteceu essa determinante viagem a
viagem a Nova Iorque mudar a sua perspetiva profissional e voltá-la do Nova Iorque?
avesso para o caminho da representação. Aos 28 anos, Joana Ribeiro Foi a minha primeira experiência a viver sozinha e foi um mês de mui-
é um nome de referência na televisão e no cinema português e inter- tas “primeiras vezes”. Conheci pessoas que queriam o mesmo que eu
nacional e parece falar dos seus projetos com uma seriedade feliz, con- e que também estavam “meio perdidas”. Quando fui fazer um curso
fessando que, até há bem pouco tempo, não se via como atriz. “Quan- [de representação] de um mês, fi-lo para perceber se, porventura,
do me perguntavam a profissão nos formulários, eu escrevi ‘Estudante’ poderia ser atriz. Eu não tinha nenhum exemplo próximo do que era
durante muito tempo. Sinto-me uma estudante da vida porque sinto a vida artística e essa experiência ajudou-me muito. Ao fim de um
que estou sempre a aprender.” Este é um ano mês, soube que estava disposta a arriscar, vol-
estrondoso para esta atriz porque foi eleita
uma das European Shooting Stars de 2020 “Sempre que tei [a Portugal] e comecei a procurar escolas
e monólogos para fazer as audições. Um dia,
durante a Berlinale, a competição do Festival
de Cinema de Berlim, em janeiro passado, e alguém me o meu pai ligou-me a dizer que ia haver um
casting para uma novela na SIC. Não era a
também porque, em breve, estreará Fátima,
do italiano Marco Pontecorvo, no qual será perguntava o minha ideia fazer telenovelas porque não via
esse género de televisão e eu até era um pouco
a Virgem Maria, integrando um vasto elenco
que inclui, entre outros, Harvey Keitel e Sônia que eu fazia, eu snobe em relação às novelas. Mas fui passando
os níveis de casting e fiquei com o papel. Fiz,
Braga. Além disso, contracenará em Um Fio
de Baba Escarlate, de Carlos Conceição, e no respondia que era gostei imenso e provou que eu estava errada
em relação às novelas.
remake The Dark Tower, de Stephen Hopkins,
que será exibido na Amazon Prime. No ano estudante. Só há Qual foi o projeto que a fez querer ser
atriz?
passado, participou em Infinite, de Antoine
Fuqua, ao lado de atores como Mark Wahlberg dois ou três anos Na verdade, isso só aconteceu muito mais tarde.
Até há pouco tempo, sempre que alguém me
ou Chiwetel Ejiofor, e em Sombra, de Bruno
Gascon, ambos os filmes em fase de pós-pro- é que comecei perguntava o que eu fazia, eu respondia que era
estudante. Só há dois ou três anos é que come-
dução, segundo o IMDB.
Foi num casting que a aprovou – após cin- a escrever atriz.” cei a escrever atriz. Sinto que estou sempre a
aprender.
co horas de espera e entre mais de duas mil O que é que distingue o tempo da tele-
candidatas – para desempenhar a personagem de Mariana na tele- visão e o tempo do cinema?
novela portuguesa Dancin’ Days (de 2012-2013) que a carreira de Na pergunta está a resposta. É exatamente isso: o tempo. Tem tam-
Joana começou. Seguiram-se outros projetos em televisão, como as bém a ver com a forma como se aborda uma personagem. Em televi-
novelas Sol de Inverno (de 2013-2014) ou Poderosas (de 2015-2016), são, e particularmente em novelas, a personagem está mais em “aber- VESTIDO, CHLOÉ. SAPATOS, GIANVITO ROSSI. TUDO NA STIVALI.
e no cinema com os filmes A Uma Hora Incerta (de 2015), de Carlos to”, uma vez que nunca se sabe muito bem qual será o seu desfecho
Saboga, sobre refugiadas francesas durante o período do fascismo em e, logo, não se podem fechar opções. Há esse guião em aberto. Em
Portugal, e Linhas Tortas (de 2019), de Rita Nunes, uma história de cinema, sabemos qual é o arco que a personagem vai fazer, sabemos
desencontros amorosos. Porém, o grande desafio que foi desempe- tudo pelo qual ela vai passar. Em televisão, há muitas conversas de cir-
nhar a personagem principal da série televisiva Madre Paula (de 2017) cunstância, em cinema, diz-se uma palavra para dizer o mundo. E eu
contribuiu para o decisivo salto para o estrelato. No ano seguinte, Joa- acho essa sensibilidade muito bonita. Estar calado diz tanto e, às vezes,
na Ribeiro foi contratada para o elenco de O Homem Que Matou só no cinema e no teatro é que isso pode existir. As novelas têm um
Dom Quixote, de Terry Gilliam, entre atores como Adam Driver, ritmo mais rápido, há uma demonstração maior, e no cinema isso é
Jonathan Pryce, Olga Kurylenko ou Stellan Skarsgård. Na verdade, muito mais subtil. Em novela, gravamos 30 cenas por dia e no cinema
quem Joana mais gostou de conhecer no mundo da representação já me aconteceu gravar uma cena em três dias.
foi Claudia Cardinale. Não é caso para menos. “É uma atriz incrível e Todas as personagens são desafiantes à sua maneira, mas
de uma generosidade ainda maior. Admiro muito os seus filmes.” Nas qual foi a mais exigente?
Uma das personagens que puxou mais por mim foi a Angelica, no Eu adorei conhecer os outros Shooting Stars, oriundos [e oriundas]
filme [O Homem que Matou Dom Quixote] do Terry Gilliam, até de países e de backgrounds diferentes. Por exemplo, percebi que na
porque comecei as filmagens uma semana depois de ter terminado Geórgia e na Bulgária não existem agentes de atores ou que na Poló-
a série Madre Paula que, por si só, foi uma rodagem muito intensa. nia as pessoas valorizam muito a cultura e a sua identidade. O que eu
Mais recentemente, foi muito interessante enquanto atriz perceber até achei mais interessante foi perceber como é que a indústria do cinema
onde o meu corpo conseguia ir durante a rodagem do filme de Carlos funciona noutros países. Nenhum dos países tinha tanta tradição de
Conceição [Um Fio de Baba Escarlate]. Durante o dia eu era a pro- novelas como Portugal. Todos eles conheciam o fado, que é o mais
tagonista de uma novela [Prisioneira, 2019-2020], durante a noite exportado, e alguns deles conheciam alguns nomes do cinema portu-
gravava com o Carlos e dormia cerca de três a quatro horas. Enquan- guês como Pedro Costa, Miguel Gomes ou Manoel de Oliveira.
to atriz, lido melhor com os desafios e com as cenas se estiver mais Portugal precisa de maior apoio à cultura. Onde se inclui a
cansada porque o [meu] cérebro trabalha de uma maneira diferente. representação?
Todas as personagens me desafiaram de formas diferentes: dei-lhes O ano passado foi um ano muito bom para Portugal, de uma manei-
coisas minhas, recebi coisas ra geral. Mas esta pandemia
delas…Aprendi e resolvi coisas aconteceu e parece que a cul-
em mim graças a elas, e todas tura ficou para segundo plano.
têm um lugar especial. No outro dia li um texto que
Empresta muito de si às alguém partilhou sobre como,
personagens? com o isolamento, consegui-
Como seres humanos esta- mos viver sem carro e sem rou-
mos sempre a mudar e a esco- pas, mas não sem filmes, sem
lher coisas diferentes em nós, música, sem livros, sem arte…
e este trabalho permite-nos E, na verdade, num mundo
fazer mais isso. Eu acredito que sem arte, porque a arte está em
todos os atores emprestam algo todo o lado, a nossa vida seria
de si às personagens. O que a como uma folha em branco.
CAMISA E CALÇAS, CHLOÉ. COLAR, ROSANTICA. TUDO NA STIVALI. T-SHIRT E CALÇÕES, VALENTINO, NA STIVALI. MAQUILHAGEM DE CRISTINA GOMES,
mim me interessa é ver como Os atores portugueses
um ator “ataca” uma persona- estão a fazer mais televisão
ASSISTIDA POR CATARINA CIRNE. CABELOS POR ERIC RIBEIRO. AGRADECIMENTOS AO ESPAÇO STIVALI PELAS FACILIDADES CONCEDIDAS.
gem, como a vai interiorizar. e cinema internacional. Foi
Ou seja, o que é que cada ator um reconhecimento tardio?
vê numa personagem que pode De repente, eu sinto que hou-
ser milhares de coisas diferen- ve uma abertura para Portugal,
tes [de pessoa para pessoa]. uma mudança. Tenho imen-
É interessante ver quando os so orgulho no meu país e nos
atores escolhem coisas out of meus colegas, e acho que o
the box que não são a escolha mundo inteiro viu isso. O que
segura. Eu não sou uma pessoa me entristece é ver que Por-
de viver na segurança e gos- tugal também está a ver isso
to de me atirar de cabeça… Às ao mesmo tempo que o mun-
vezes corre mal! do inteiro. Devemos dar mais
Recorda alguma cena como oportunidades ao nosso país.
sendo particularmente O que é que mudou para
desafiante? melhor?
Durante a rodagem do filme de Terry Gilliam, no Convento de Cristo, Se, há uns anos, era preciso ir para Los Angeles e tentar a sorte, e
em Tomar, eu tinha de entrar numa cena onde já estavam o Jonathan muitas vezes nada acontecia, neste momento não precisamos de sair
Pryce, o Adam Drive, o Jordi Mollà, o Óscar Jaenada, a Olga Kurylen- de Portugal. A iniciativa do [programa] Passaporte [da Academia Por-
ko e o Stellan Skarsgård à minha frente. E eu tinha um diálogo com tuguesa de Cinema] ajudou muito, na medida em que trouxe cineastas
o Jonathan Pryce muito teatral. Estava em pânico. No dia seguinte, de todo o mundo para conhecerem atores portugueses. É o fenómeno
estava a passear sozinha, em Tomar, e de repente encontrei o Stellan das self-tapes [gravação para uma audição feita pelo próprio autor]
Skarsgård e ele foi impecável. Veio ter comigo e disse-me que tinha que é um fenómeno bastante recente. A minha geração tem essa sorte
gostado muito daquela cena. E eu fiquei tão nervosa que comecei a e, neste momento, está muita coisa a acontecer (…), mas o Governo
chorar à frente dele [risos]. Achei-o tão simpático e atencioso que precisa de apoiar mais a cultura. No meio de todo o mal que esta pan-
fiquei sensibilizada com o gesto. demia trouxe, o meu desejo é que as pessoas percebam o que podem
Ser eleita uma das European Shooting Stars de 2020 foi mudar que possa estar mal e que a cultura tenha um lugar importan-
recompensador? Como correu a experiência? tíssimo nas suas vidas.________________________________________________________
O casamento é um
contrato a prazo?
Como se pode
renová-lo? O que leva
a um divórcio? Que
mentiras se contam?
E que culpa pode
assumir a família?
Estas e outras
pertinentes questões
são-nos explicadas
pelo psiquiatra
José Gameiro e
E NÃO
as respostas são
surpreendentes.
Por Isabel Stilwell
viveramfelizes
para SEMPRE
junho maxima.pt 41
bastidor sentimental
É
casamentos duram mais?
Não temos dados, mas aparentemente não. Como, também, o número
de divórcios entre os casamentos católicos é equivalente ao divórcio
entre os casamentos pelo civil. Complicam-se, sobretudo, depois do
nascimento dos filhos. Manter o casal e a família ao mesmo tempo é
difícil.
Costumamos falar de casal e de família como se fossem
sinónimos...
É exatamente porque as pessoas imaginam que são a mesma coisa que
as coisas correm mal. São entidades separadas, embora interligadas,
obviamente, e exigem um trabalho individual.
Quando as pessoas casam ou decidem viver juntas, fazem-no
para ver “se isto dá”?
Não. Numa e noutra situação acreditam que é para sempre. Ao fim de
um tempo a relação desgasta-se e toca aquilo a que chamam o amor e
que ninguém sabe muito bem o que é. Muitos conseguem reinventar
a relação, outros chegam ao fim da linha e percebem que “esta pessoa
mentira que, “hoje em dia”, os casamentos são descartáveis e que as já não me diz nada”.
separações se fazem sem a menor contrariedade, atiradas por cima do Há a ideia de que esse “fim de linha” é muito curto…
ombro sem que se volte a olhar para trás. Quem o garante é o psiquia- Mas não é verdade. É mito. São aquelas pessoas que dizem: “No meu
tra e terapeuta familiar José Gameiro que, há 40 anos, observa “à lupa” tempo…” É claro que um casal sem filhos que se quer separar, sepa-
o esforço de tantos casais que procuram ajuda para manter e forta- ra-se mais depressa do que aquele que tem filhos. Mas as separações
lecer as suas relações, apesar dos desafios implicam muito sofrimento. Sobretudo um
de uma infidelidade, dos efeitos colaterais primeiro casamento. O segundo não será
dos filhos, da rotina e dos desencontros tanto assim, pois é assumido como sendo
que os “atropelam”. Está consciente – e ERROS A EVITAR para a vida. É um projeto idealizado que
recorda-o sempre que vai a um casamen- NUM SEGUNDO CASAMENTO quando termina deixa uma sensação de
to! – de que muitos não ficarão juntos “até “As terapias de segundos casamentos são falhanço. E quando há filhos, mais dolo-
que a morte os separe”, mas lembra que muito diferentes. Chegam mais cedo para roso é. Há uma grande preocupação em
mesmo os casais que se divorciam estive- procurar resolver os disparates que fizeram. poupá-los, em pensar que se vai aguentar
ram juntos, em média, cerca de 17 anos. E O mais clássico é irem viver juntos depressa tudo em nome deles e, mesmo quando a
se uma separação bem feita não o assusta, demais. Não dão tempo para os lutos. decisão está tomada, em escolher a melhor
José Gameiro acredita que muitos “óbi- Separarmo-nos leva tempo e sobretudo os forma de o fazer. Os homens, que são hoje
tos” podiam não ter sido decretados se os homens são muito apressados. Dá asneira. pais muito mais envolvidos na vida dos
casais tivessem sido “agarrados” mais cedo. O segundo disparate é não perceberem filhos, têm um medo horrível de perder o
que os primeiros tempos não vão ser fáceis, contacto diário com eles. O divórcio acon-
1. BASTIDORES ao contrário do que aconteceu no primeiro tece, em média, 17 anos depois do casa-
DE UM DIVÓRCIO casamento. Então se há filhos, de um ou de mento. Não é às primeiras que se desfaz.
É possível preparar as pessoas para o ambos, e então se forem raparigas, é quase Os casais vêm ter consigo decididos
casamento? certo. E um casal ainda sem maturidade a reconstruir o casamento ou para
Na fase do namoro? Suspeito que não por- enquanto casal pode perder-se nesta ‘guerra’. pedir o aval de um “especialista” à
NA PÁGINA ANTERIOR: KAREN COLLINS/TRUNK ARCHIVE
que a verdadeira experiência matrimonial O terceiro disparate é imaginar que são uma separação?
implica viver a dois e é difícil preparar- família clássica e que tudo deve ser feito da De forma simplista, eu diria que há quatro
mo-nos para o que não conhecemos. O mesma maneira. Querem andar ao ‘molho’ grandes grupos que procuram terapia: os
namoro é um treino muito incompleto para sem perceber que, naquele momento, o que casais em crise aguda, os casais em crise
a relação. É claro que dá algum conheci- o filho quer é uma relação individualizada crónica, os que casaram pela segunda vez
mento do outro, mas é depois de estarem com o pai ou com a mãe e o ‘apêndice’ que e, por fim, os que querem um “bom divór-
em conjunto que as coisas se começam a está lá em casa não tem de se meter. A tensão cio”. Os casais em crise aguda, a maior par-
complicar. É muito fácil gostar de alguém. e as discussões facilmente corroem o amor e te devido a um caso de infidelidade – são
O mais complicado é viver com ela. a paixão, e a mãe, na dúvida, vai escolher os apanhados muito mais depressa no tempo
Mas, hoje, a maioria das pessoas que filhos. Tudo erros evitáveis.” dos telemóveis e das redes sociais –, são
se casam já viveram juntas. Esses aqueles com quem mais gosto de trabalhar
ambos, muitas vezes é só de um lado e o outro submete-se, mas vai Digo-lhes o mesmo: aproveite a sogra que tem. Mas elas não querem!
ficando destruído. Felizmente, hoje as pessoas têm muito mais autono- Há uma competição aberta. Os sogros são mais fáceis. No meio disto,
mia emocional e reagem dizendo “Ou isto muda, ou acabou-se”. os maridos não sabem o que fazer.
Só têm uma safa – criticar a mãe. Seguras deles, elas até vêm
3. A SOGRA E OUTRAS “HERANÇAS” FAMILIARES em defesa da senhora...
As pessoas tendem a repetir os modelos das famílias de Não é fácil criticar uma mãe. Eu na terapia digo “Não se meta com a
origem. Devíamos olhar bem para a família do outro antes sua sogra”… Sogra 10 e você leva zero.
de casar com alguém? Por falar em ciúmes. Os ciúmes podem corroer uma relação?
Importamos modelos de relação emocional da família de origem, mas Temos de distinguir entre ciúmes “normais” – “Ele passa a vida a olhar
não são deterministas. Mas, para isso, temos de ter consciência de para as outras mulheres” – que se resolvem em terapia de casal e ciú-
como o nosso modelo é diferente daquele em que o outro cresceu. Por mes patológicos – “Ontem fomos a um restaurante e percebi que ele
exemplo, na minha família é tudo à napolitana: discutimos, gritamos tem uma relação com a empregada”. Quando eu diagnostico delírio de
uns com os outros, mas disso não vem mal ao mundo, mas na família ciúme, digo claramente à pessoa que ela precisa de ajuda individual e,
dela há muitos não ditos, foge-se ao confronto, as coisas são ultra- até, de ser medicada, o que raramente é bem aceite. Até que essa pessoa
passadas com o tempo, mas sem serem faladas. Quando estas duas esteja em tratamento não há muito que uma terapia de casal possa fazer.
Na terapia cada um não
tenta fazer de si um aliado?
“As sogras intrusivas continuam, as sogras que Claro que sim, sobretudo num
primeiro momento em que que-
desqualificam as noras, sobretudo quando nasce rem que diga que têm razão. Por
isso é que um terapeuta tem de
o primeiro neto (...). E as noras, por seu lado, ser completamente neutro e
acredito que, ao fim de tantos
reagem com a sensibilidade à flor da pele.” anos, eu consigo ter uma verda-
deira neutralidade. Ajuda quan-
pessoas chegam a um casamento é provável que à primeira discussão do lhes digo que nos casais ninguém tem razão, embora perceba que
a sério – que provavelmente nunca assumiu aquelas proporções no um possa estar a sofrer mais do que o outro e que não estou ali para
namoro – ela fique paralisada, não sabe discutir daquela maneira e julgar ninguém. Vamos lá por sentimentos e não pela razão.
ele se exaspere com a passividade dela que interpreta como estando
a mandá-lo à “outra parte”. Então quando estamos a falar do modelo 4. O MEDO DE SE FICAR SÓ
de educação dos filhos, esta diferença ainda se torna mais intolerável. Nas sessões não se dizem coisas irremediáveis? Sentindo-
A solução é chegarem a um consenso sobre um novo modelo se atacado perante terceiros, o atacado resiste a “sacar das
aceite por ambos? armas” e atirar a matar? E, depois de ditas, como se apagam?
Não, necessariamente. Cada um pode ficar com o seu, mas às claras. Do género “Desprezo-te”, “Nunca gostei de ti”, “Na cama foi sempre
Tem é de ser aceite pelo outro. Têm de perceber o que é possível uma porcaria”? Não dizem! Talvez porque procuro sempre que a ten-
mudar e o que não é possível mudar, deixando cair a ideia de fusão que são se mantenha baixa, senão “estamos feitos”. Não é cortar a palavra.
é uma mentira. Nunca será possível. Costumo dizer que [se] ninguém Podem falar à vontade, mas se um fala mais alto eu intervenho logo,
espera que alguém mude de clube de futebol porque é que acham que não quero a “terapia do ranho” com choro e ranger de dentes. Uma
tudo o resto pode ser mudado? O importante é que aprenda a gerir as sessão corre bem se entrarem aos gritos e saírem a falar calmamente.
expectativas. Num casamento não há verdades e mentiras absolutas. Não é uma constante o lamento de que “Dantes não eras
Importa é como cada um sente as coisas. assim?”
A família alargada pode ser um problema. Mas quando se “Não és o homem que conheci”... Sobretudo da parte delas, sim. É
casa com mais de 30 anos, como agora acontece, não se
perdeu esse poder controlador?
De maneira nenhuma. Em Portugal, as famílias alargadas estão muito
presentes, mesmo a 300 quilómetros de distância. As sogras intrusi- Os verdadeiros crentes
vas continuam, as sogras que desqualificam as noras, sobretudo quan- Dos que casaram em 2018, cerca de 21% eram reincidentes.
do nasce o primeiro neto, fazem coisas horríveis, aparecem em casa A que se soma uma boa notícia: ao contrário do que acontecia
dos filhos sem avisar. E as noras, por seu lado, reagem com a sensi- há uma década, hoje as mulheres também voltam a casar quase
bilidade à flor da pele. Porque a sogra se “atreveu” a trazer um bolo... tanto quanto os homens, provavelmente mais livres do estigma
Confesso que nunca percebi… A minha trazia o almoço que um segundo casamento acarretava.
completo e eu agradecia.
VOZES
SILEN
CIA
DAS
46 maxima.pt junho
Nem sempre o ditado inglês os idosos. Segundo dados oficiais da Organização Mundial de Saúde,
uma em três mulheres no mundo (ou seja, 35%) já foi vítima de vio-
No news is good news se pode lência física e/ou sexual do parceiro íntimo ou de violência sexual com
não parceiros durante a sua vida. E por violência doméstica enten-
aplicar à realidade. É o caso da da-se maus-tratos físicos (como pontapear, esbofetear, atirar coisas,
violência doméstica que continua murros, agressões com objetos e armas) e por maus-tratos psíquicos
entenda-se maus-tratos emocionais, verbais e psicológicos, isolamen-
a acontecer dentro de quatro to social, intimidação ou controlo económico.
paredes e que pode agravar-se O aumento desta realidade nos tempos difíceis que atravessamos é
um dos efeitos colaterais do confinamento social a que muitos países
à luz daquilo a que chamamos, foram submetidos durante os mais recentes meses. “Havia todos os
motivos para acreditar que as restrições impostas para impedir a pro-
numa situação sem precedentes, de pagação do vírus teriam esse efeito. A violência doméstica aumenta
“desconfinamento”. É que para as sempre que as famílias passam mais tempo juntas, como as férias de
Natal e de verão”, explicou Marianne Hester, socióloga da Universida-
mulheres, os jovens, as crianças e os de de Bristol e especialista em relações abusivas, ao jornal The New
York Times num artigo publicado no mesmo dia em que Guterres
idosos vítimas de maus-tratos sair à apelou ao mundo. No caso nova-iorquino notou-se uma alarman-
rua tanto pode significar liberdade te descida das chamadas a pedir ajuda às autoridades americanas,
como refere esse jornal em Why a Drop in Domestic Violence Reports
como fatalidade. Might Not Be a Good Sign num artigo que analisa essa tendência. Há,
Por Rita Silva Avelar de facto, países em (quase) total radio silence, como também é o caso
de Itália, onde, embora o número de chamadas tenha diminuído, se
denotou um aumento de mensagens e de e-mails com pedidos de
ajuda. Se bem que o inverso do fenómeno também sucede, como
aconteceu na província chinesa de Hubei (local de origem do surto do
novo coronavírus), onde os pedidos de ajuda aumentaram de 47, no
ano passado, para 162 durante o período de isolamento em fevereiro
deste ano.
OS PERIGOS DO SILÊNCIO
(E A IMPORTÂNCIA DE O ESCUTAR)
Portugal inclui-se nos países que mergulharam num progressivo
silêncio. Este silêncio pode ter um significado mais obscuro do que
poderemos pensar. “Estamos a viver uma tranquilidade aparente.
Acreditamos que continue a existir violência doméstica e que se está a
manifestar de outras maneiras. As denúncias às Forças de Segurança
diminuíram, de acordo com os últimos dados da PSP e da GNR, cerca
N
de 39% quando comparadas com o mesmo período homólogo do ano
o dia 6 de abril de 2020, o Secretário-Geral das passado”, esclarece Daniel Cotrim, psicólogo e assessor técnico da
Nações Unidas, António Guterres, usou a sua conta Direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), respon-
no Twitter para lançar ao mundo uma importante sável pela área da Violência de Género e da Violência Doméstica den-
mensagem. Escrevia nessa rede social: “A paz não é tro daquela organização (e ainda pela rede nacional de Casas Abrigo
apenas a ausência de uma guerra. Muitas mulheres, para mulheres e crianças vítimas de violência). As três linhas de apoio
em isolamento devido à Covid-19, enfrentam violência onde deveriam a vítimas de violência doméstica receberam 308 pedidos desde 19 de
estar a salvo: dentro das suas casas. Apelo aos Governos que garan- março e até à data da publicação deste artigo.
tam a segurança destas mulheres na resposta à pandemia.” A verdade No caso da APAV, entre o mês de fevereiro e o final do mês de março,
contida nestas palavras é paralisante de tão aterradora. A par de um a Associação notou uma queda de 20% nos novos pedidos de ajuda.
novo coronavírus que já contagiou milhões e matou milhares, vivem- Os pedidos de informação, por sua vez, aumentaram. Há um alarme
-se momentos perigosamente silenciosos para as vítimas de violên- social generalizado que foi acionado por todos. Também os homicí-
cia doméstica em todo o mundo, que, apesar na sua grande maioria dios diminuíram: ocorreram sete crimes de homicídio desde o início
serem mulheres, também atingem os homens, os jovens, as crianças e do ano (seis mulheres, um homem), de acordo com dados da Polícia
PEDIR AJUDA
Em coordenação com o Governo,
a Fundação Vodafone Portugal criou uma
Judiciária. Em 2019, só no primeiro trimestre ocorreram 14. “Con- linha de apoio com o número 3060, que
tinuamos a contactar com as pessoas que já tínhamos referenciadas
como vítimas. Daquilo que nós sabemos que se passa cá e que se está permite o envio de mensagens de texto
a passar um pouco por todo o mundo, é que os pedidos de informa- rápidas (SMS) pelas vítimas que queiram
ção aumentaram, sobretudo, por parte de vizinhos, amigos, colegas
de trabalho… Pessoas que querem saber como podem ajudar, o que
pedir ajuda. Este mecanismo é gratuito e
devem dizer, ao que devem estar atentos. Em Portugal, desde meados garante a confidencialidade, uma vez que não
de março que temos tentado chamar mais a atenção dos vizinhos e fica qualquer registo no detalhe mensal das
das comunidades para poderem servir de ajuda às próprias vítimas.
Evitarem, portanto, contar até 10 e agir”, alerta. faturas. Do outro lado, a responder às SMS,
Manuela, de 37 anos, não contou até 10, mas hesitou, como tantas está a equipa especializada da Comissão para
pessoas, em denunciar um caso vizinho. No momento que conver-
samos, telefonicamente, está a cumprir o isolamento em casa, há 45 a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG),
dias. “Como estou sempre fora de casa, em trabalho, é raríssimo estar de forma permanente e em articulação com
em casa um dia inteiro, até mesmo aos fins de semana, que passo, toda a Rede Nacional de Apoio às Vítimas
quase todos, no Algarve. E em dias normais chego quase sempre
depois da hora de jantar… Janto, adormeço de cansaço a ler ou a ver de Violência Doméstica, à semelhança
televisão”, afirma-nos ao justificar a sua reação de surpresa quando, do que já acontece com a linha telefónica
nos primeiros dias da quarentena voluntária, começou por ouvir gritos
que se foram acentuando no apartamento ao lado do seu. “As paredes (800 202 148) e com o novo e-mail de
pareciam ser de papel, quase estremeciam”, conta sobre a agressivi- emergência (violência.covid@cig.gov.pt).
dade com que eram proferidas as ofensas, sobretudo num tom de voz
grave. “Ao início fiquei assustada, mas como a discussão durou cerca
de meia hora desvalorizei, até porque discussões todos temos.” Mas
não era uma discussão ocasional, como tantas vezes não é. As discus- durou cerca de um ano. “Só percebi a situação em que estava três dias
sões repetiram-se e agravaram-se, e Manuela decidiu reagir, alertando antes de chamar a Polícia. A manipulação era tão grande que era eu
telefonicamente a GNR do seu perímetro habitacional. À data de saída quem me sentia culpada. Ele fazia-me pensar que era eu que provoca-
deste número, também Manuela poderá ter saído do estado de con- va as situações de violência”, explica, referindo-se ao ex-namorado e,
finamento e retomado a sua vida normal com precaução. É um caso neste caso, o agressor. “Ele invertia o jogo… A primeira vez que senti
entre milhares. medo foi quando soube de um homicídio de uma mulher, de 35 anos,
O que acontece, então, para que as vítimas não consigam pedir ajuda? vítima de violência doméstica na minha terra natal. Mas esse medo
E o que se agravou com o confinamento? Daniel Cotrim, que tem paralisou-me.” Maria gritava muitas vezes por socorro e acabou por
mais de 20 anos de experiência na instituição, explica: “O controlo é ser uma amiga a ajudá-la.
sempre perpetrado pelos agressores, independentemente das vezes “As pessoas não se querem intrometer. A pessoa responsável pelo
que as vítimas tentem pedir ajuda, em situações ‘normais’. Mas em meu condomínio disse-me, mais tarde, que já tinha ouvido pessoas
situações ‘normais’ as vítimas continuam a sair de casa para ir traba- a gritar por ajuda, mas que nunca se quis ‘meter’. São muitas as pes-
lhar, a usar os telemóveis e a aceder às redes sociais para conseguir soas que desprezam esta situação.” Maria, que na altura pediu ajuda a
pedir ajuda. O facto de se estar confinado obrigatoriamente no mesmo uma psicóloga e à Associação Presença Feminina, também recorda a
espaço leva a que a vítima esteja muito mais controlada por parte do importância de se educar nas escolas para esta realidade. “O que eu
agressor”, reforça, lembrando que o agressor tem muita dificuldade sofri na escola fez também com que chegasse a este ponto. Repeti para
em lidar com a frustração e, por isso mesmo, controla, tem ciúmes mim, muitas vezes, que as discussões aconteciam porque ele gostava
e persegue. “Neste momento, ele não tem de fazer nada disso. Está de mim. Era aquilo que ouvia em criança… As coisas que nos aconte-
confinado no mesmo sítio que a vítima.” cem em criança ficam para a vida, estragam a nossa essência, criam
sentimentos de culpa”, desabafa, evocando um episódio de bullying
UMA LIÇÃO PARA A VIDA: APRENDER A RENASCER passado na escola e sobre o qual nenhum professor se manifestou.
Maria, de 30 anos, revê-se nos vizinhos de Manuela, quando me narra Hoje é uma mulher diferente e não esconde que tudo poderia ter sido
a situação de violência doméstica pela qual passou, há três anos, e que evitado se a sua educação escolar tivesse sido diferente.
DENUNCIAR
está a desenvolver, em parceria com o Ministério da Saúde, através
do INEM, um plano de contingência de prevenção e de combate à
violência doméstica em contexto da Covid-19. Ou seja, o Estado não Gratuitamente e através
reagiu à crise da violência doméstica: trabalhou de forma a prevenir da Linha de Apoio à Vítima
situações. Juntou-se às organizações e aumentou o número de vagas (116 006), em dias úteis
para acolher pessoas nesta situação. das 9h às 21h. Ou através
da Linha Internet Segura
A IMPORTÂNCIA DE VIGIAR AS CRIANÇAS, (800 219 090), em dias
OS JOVENS E OS IDOSOS úteis das 9h às 21h. Pode-
É certo que o perfil comum das vítimas que pedem ajuda à APAV, -se ainda recorrer ao 112,
como nos explica Daniel Cotrim, é constituído por 80% de mulhe- linha SOS Emergência.
res entre os 22 e os 55 anos de idade, na maioria das situações com
O futuro,
HOJE
“RECORDAR O QUE É
IMPORTANTE NA VIDA”
ANA MOURA, FADISTA
desafio que colocámos a personalidades de diferentes Tenho passado uma boa parte do tempo de
áreas que partilharam os seus pensamentos e, acima confinamento no meu quarto, numa mesa de
trabalho ampla, onde faço de tudo um pou-
de tudo, as suas esperanças. Por Rita Lúcio Martins co, das reuniões por Zoom à prática do cro-
Perto
DEMAIS
Na vida em casal, a convivência permanente pode ocasionar uma série
de intempéries, à partida nada que não se resolva ou assim garantem
os especialistas. O problema é quando o tal infortúnio veste o nome
de infidelidade. Como lidar como uma traição que tem de ser gerida
entre as quatro paredes de uma casa em tempo de confinamento e sem
qualquer tipo de escape? É isso que a Máxima foi tentar entender. Por Pureza Fleming
M
início: como conheceu Jaime, o homem que viria a ser o seu compa-
nheiro, como se apaixonaram e como se tornaram um casal em que
ela era mais velha do que ele – o que, à partida, não representaria
problema algum. “A relação começou bem connosco, mas mal com a
família dele por eu ser mais velha – sabe como é, os homens podem
andar com mulheres muito mais novas, mas as mulheres não podem
[andar com homens mais novos] – e também mal com a minha
família, sobretudo com a minha irmã, que é terrível e que nunca,
mas nunca, acreditou que ‘aquilo’ entre nós fosse para durar devido
à diferença de idades. Tudo preconceitos. Mas durou quase cinco
anos.” Madalena relembra o momento em que a relação começou a
deteriorar-se, em parte por esta não querer ter filhos, apesar do seu
relógio biológico dar avisos de que seria “então ou nunca”. Conta
que nos últimos tempos o notava diferente: “Mais frio, distante e
quantas vezes desagradável, com silêncios insuportáveis nos fins
de semana, com a ausência de desejo.” E admite que já se estava a
mentalizar para que a relação terminasse um dia. A somar ao seu
sexto sentido, havia ainda a irmã que, constantemente, a alertava:
“Vê lá, mana, se o teu ‘casamento’ é como o da [princesa] Diana.”
MUITO SE TEM ESCRITO acerca das possibilidades Ou seja, com uma pessoa a mais. Mas Madalena não quis acreditar.
de divórcio que o confinamento social provocado pela Covid-19 Até que o tal dia chegou e, porque um mal nunca vem só, o tal dia
poderia causar. Em tempo algum da história da humanidade o mun- surge em pleno período de confinamento. “Descobri tudo porque o
do resolveu decretar que não saíssemos das nossas casas, a não ser Jaime trouxe para casa o [computador] portátil que usa no escritório
que tivéssemos de ir ao supermercado ou à farmácia em busca do e em viagem. Nunca entendi porque não se servia dele em casa e o
básico dos básicos. E que pelas nossas casas permanecêssemos em motivo estava à vista. Quando ele foi à garagem, o portátil estava na
coabitação com os nossos, enclausurados entre as quatro paredes nossa saleta, em modo de pausa, e quando mexi nele vi que estava
claustrofóbicas que definem uma casa, sem qualquer hipótese de desbloqueado e com o e-mail aberto. Provavelmente eu não deveria
fuga. Dúvidas houvesse, o programa de televisão Big Brother (com dizer que fiz isto, mas saltou-me à ideia o casamento da princesa
todos os seus ínvios contornos que para aqui não são chamados) Diana – de certeza que as suspeitas [de infidelidade] deviam andar
apressava-nos a confirmar: o convívio humano, 24 sobre 24 horas, já na minha cabeça –, vasculhei o e-mail e não foi preciso muito para
pode trazer à superfície o pior de cada um. E tal situação pode ser encontrar uma mensagem com outra mulher. O meu mundo desa-
bem negra e desesperante. Referimo-nos às situações de infidelida- bou. Fiquei enjoada e a tremer, e não sabia se havia de chorar ou se
de. Reforço: às situações de infidelidade que são flagradas ou antes havia de gritar ou se tudo isso ao mesmo tempo.”
do confinamento social e que já se encontram em processo de sepa-
ração – interrompidas, entretanto, por motivos da Covid-19 – ou,
ainda pior, àquelas situações de infidelidade que são descobertas em “O meu mundo desabou.
pleno período de confinamento e que, portanto, não oferecem qual-
quer hipótese de debandada, seja física, seja emocional, à pessoa Fiquei enjoada e a tremer,
que foi ferida e magoada. Ou seja, à vítima da infidelidade. Fica-se,
assim, perante um caso de infidelidade que tem de ser aceite e (di) e não sabia se havia de
gerido nas tais quatro paredes que delimitam uma casa. Parecendo
difícil, não é, de facto, nada fácil. chorar ou se havia de gritar
E tal é confirmado à Máxima por Madalena R. numa conversa man-
tida por Skype a propósito deste tema. “Tudo o que me aconteceu é ou se tudo isso ao mesmo
tão recente e brutal que, confesso, não sei por onde hei de começar
a falar-lhe…”, expressou. E começou por onde se deve, ou seja, pelo tempo.” Madalena R.
56 maxima.pt junho
A SUA VOZ TREME. Afinal, o con- buscar o resto das coisas dele, o mais rápido
finamento obrigatório delegou que Madalena “Estou livre possível.”
não pudesse, simplesmente, sair e distrair-se E nos casos em que a pessoa tem mesmo de
com as amigas. Beber vinho, rir e chorar com para fazer tudo ficar confinada à casa? A vítima da infideli-
elas, ou sequer ter um ombro onde pudesse dade e a pessoa infiel? “Diria para [a pessoa
repousar a sua tristeza. “O que me preocupa- aquilo que tinha que foi vítima da infidelidade] se tentar pro-
va era pensar como é que eu iria viver neste teger de situações em que sinta como sendo
isolamento [social] sozinha. E o que mais planeado quando agressivas para si, tal como seria o caso de
me doía era tentar perceber como iria ser o ter de presenciar a [mais recente] felicida-
meu futuro. E sem filhos [lágrimas]. Afinal, o a minha vida de do outro, bem como estabelecer regras
tal filme começou bem, mas acabou mal. Foi de respeito pelos seus sentimentos e afetos,
trágico para mim. Isto pode acontecer, mas mudou. Garanto- gerindo, se necessário, o espaço da casa e
acontecer no começo desta pandemia em o que se diz e se faz na presença do outro”,
que não podemos estar com a família, com as -lhe que me sinto aconselha Paula Trigo da Rosa. Aparente-
amigas, no trabalho para distrair a cabeça, ir a mente mais forte, agora que a nossa conversa
um lado qualquer”, desabafa. E remata, impla- outra mulher. vai chegando ao final, Madalena confessa-se,
cável: “Pu-lo na rua.” Numa altura em que não ainda assim, “esmagada emocionalmente,
é permitido que se vá para a rua – literalmen- Mais livre com a autoestima em zero por ter sido tro-
te –, uma situação como aquela em que foi cada por outra pessoa”. E traz, novamente, à
deixada Madalena não deixou grande mar- e mais forte.” luz a grande questão: “Tenho pensado nestas
gem para que uma outra atitude fosse tomada. semanas de isolamento [social] até que pon-
Madalena R.
Não restou praticamente espaço algum para to eu poderia ter sido mais poupada ao sofri-
qualquer alternativa que fosse, além daquela mento se agora tivesse liberdade. Mas graças
de pôr na rua a pessoa que foi infiel. Sem dó, nem piedade. às tecnologias tenho ‘estado’ com a minha mãe, a minha irmã e os
A psicóloga Paula Trigo da Rosa confere: “Seria difícil de suportar meus irmãos, as minhas amigas e divirto-me com os meus sobri-
estar-se em permanência com uma pessoa com quem não se quer nhos mais novos que me perguntam: ‘Onde está o tio?’ É estranho
estar ou que não quer estar connosco. Alguém que nos faz sentir que que ninguém pareça estar admirado pelo que aconteceu. Parece
não somos desejáveis.” E mantém: “Penso que por variadas razões, que só eu [estou]… Tenho desabafado muito. E chorado também.
incluindo a de saúde pública e eventual sentimento de culpa, seria Faz-me muito bem. Mas a vida continua.”
importante tentar organizar a saída e tentar relembrar que ainda que
haja muita zanga prevalecem outros valores fundamentais de saú- A VIDA CONTINUA , é assim que gere as suas emoções
de. (…) Planear a saída evitando situações de crise ainda maior para alguém que é brutalmente magoado numa época em que o mundo
ambos é fundamental. São, porém, emoções difíceis de gerir por- nos tira o tapete de forma igualmente abrupta. Como se costuma
que são contraditórias: o desejo imperativo de afastamento versus o proferir, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe e
imperativo externo de permanência e de vivência comum.” Quando Madalena já vê uma luz ao fundo do túnel que pretende seguir assim
questionada acerca de para onde é que o seu infiel parceiro poderia que o período de confinamento terminar: “Pensando bem, agora
ter ido dormir, Madalena solta uma gargalhada quase sarcástica: estou livre. E livre para fazer tudo aquilo que eu tinha planeado fazer
“Percebe-se bem onde [é que ele] deve ter ido dormir…” E sugere quando a minha vida mudou [quando se conheceram]. Garanto-lhe
a casa da amante de Jaime (agora nova companheira?). E continua, que me sinto outra mulher. Mais livre e mais forte. Nem mesmo
agora com um tom de voz mais fortalecido do que aquele que exibia este isolamento [social] me há de quebrar.” Sim, o que não nos
ERIC FRIDEEN/TRUNK ARCHIVE
no início da nossa conversa: “Mas o que me interessa, agora, sou eu mata torna-nos, efetivamente, mais fortes. Ainda mais quando o mal
mesma. A emoção, ou melhor, a comoção inicial não me iria levar a resolve erguer-se num momento tão inconveniente, tal como o do
lado nenhum. Passei a ser racional e a resolver tudo, a começar por confinamento._____________________________________________________________
o Jaime não voltar para casa. Nunca mais. De resto, a casa é minha,
herdada do meu falecido pai. O Jaime saiu apenas com uma muda
de roupa e levou o [computador] portátil, claro. Aguardo que venha *Para manter o anonimato, o nome Madalena R. é fictício
TÃO PERTO
E TÃO LONGE
58 maxima.pt junho
NO LADO
DE CIMA DO
EQUADOR
Rostos da nova
diáspora brasileira
em Portugal.
Da esquerda
para a direita,
Stela Batochio,
Elisangela
Valadares,
Alice Autran e
Martha Pinel.
Escolheram Portugal para viver e trabalhar, e deixaram para trás o Brasil natal. Chegaram
num tempo em que Lisboa exalava felicidade e trepidação mundana e cultural, agora
temporariamente suspensas devido à pandemia infeciosa que assola o mundo. Ainda assim
não desistem e, como aqui se comprova, renovam a coragem que as levou a uma nova vida.
Por Maria Clara Drummond*. Fotografia de Ricardo Santos. Styling de Cláudia Barros
E STELA BATOCHIO
m 1986, ano em que nasci, meu pai comprou um
apartamento no Monte Estoril. Apesar de 100 por
cento brasileiro, ele sempre teve um grande círcu- Aos 43 anos, a relações-públicas paulistana tem um histórico de estar no
lo de amigos lisboetas e o casamento com minha lugar certo no momento certo. Em 2008, mudou-se para Trancoso [no
mãe, portuguesa, só serviu para coroar sua ligação Brasil] pouco tempo antes do balneário virar uma versão brasileira de
afetiva. Desde então era este o destino de todas as férias e o pie- Saint-Tropez. Em 2017, seu timing preciso a levou a Lisboa, onde mora
d-à-terre servia como base para viagens para países vizinhos. No no Príncipe Real com seu longevo companheiro Francesco, um lhasa
Rio de Janeiro, onde morávamos, eu estudava em um colégio apso. Ano passado, junto com a sócia Helena Lunaderlli, abriu uma pop-
famoso por seu elitismo e os demais colegas estranhavam, sem -up store da Pau Brasil, na praia do Carvalhal. Foram só dois meses de
disfarçar o desprezo: “Não faz sentido ter casa na Europa se não pop-up, mas o suficiente para injetar ânimo nos planos de uma curado-
for Londres ou Paris.” Em julho, encontrei a pessoa que fez esse ria independente para o verão de 2020 – dessa vez, durante toda a alta
comentário durante uma fes-
ta na Comporta. Passaram-se
20 anos desde aquela inte-
ração original. De lá para cá,
Lisboa deixou de ser a porta
dos fundos do continente
para tornar-se uma de suas
atrações principais.
Segundo o Serviço de Estran-
geiros e Fronteiras (SEF),
nunca houve tantos brasilei-
ros residentes em Portugal:
151 mil. Entre 2018 e 2019
ocorreu um aumento de 43
por cento. Foram 20 mil títu-
los de residência concedidos
a brasileiros imigrantes, só
em 2019 – mais de um terço
do total de títulos concedi-
dos a estrangeiros pelo SEF.
Antes, a imigração brasilei-
ra era majoritariamente de
trabalhadores com menor
qualificação profissional. Essa nova leva chega, agora, com perfis temporada, de maio a setembro. “O ponto é o mesmo, mas vamos fazer
muito mais diversificados, maior número de famílias, licenciados, uma reforma ampla, mudando a fachada, o piso, além de uma decoração
MARTHA PINEL
nossas vidas.
No momento, os tempos não são animados para ninguém, em
nenhum canto do mundo. O clima não está favorável nem para A DJ carioca busca o melhor de dois mundos, transitando entre o verão
TODAS AS FACILIDADES CONCEDIDAS
festas nem para negócios. Ainda assim, estes novos emigrantes carioca e o verão europeu, sempre em busca das pistas mais quentes.
não desistem de viver neste país sem violência e acolhedor, e de Por aqui é presença assídua nas pick-ups do Le Baron e Yamba e, duran-
prosseguir com os projetos de vida e profissionais que os leva- te a Paris Fashion Week, tocou na festa da marca brasileira Iorane. O
ram a atravessar o Atlântico. A Máxima conversou com quatro contraponto a essa agitação toda é seu hábito de meditar todos os dias.
mulheres que poderiam escolher qualquer outra cidade do mun- Aos 28 anos, faz um ano que vive de maneira nômade. “Lisboa foi uma
do para seus projetos, mas que, felizmente, mesmo em tempos escolha natural por causa da temperatura amena e porque eu já conhe-
sombrios, optam por continuar cá. cia muitos brasileiros com negócios aqui, além de ser uma cidade cada
ELISANGELA VALADARES
de com boa parte dos concertos marcada. “A principal vantagem é que
o público aqui tem muito mais familiaridade com música eletrônica que
no Brasil,” Por ora, Martha está fugindo do inverno, nas areias quentes Elis – como gosta de ser chamada – já tinha 10 anos de experiência no
cariocas. Seus planos de voltar em março precisaram ser adiados por mercado quando fundou a ArtRio, em 2011. Em 2015, iniciou um pro-
alguns meses diante da pandemia do coronavírus. Ainda assim, Marta jeto pessoal focado apenas em jovens artistas, a Casa70, na sua própria
é otimista e pretende estar de volta logo mais, quando os termômetros casa, na Gávea [Rio de Janeiro]. “Foram apenas duas edições fechadas,
esquentarem e as ruas lisboetas voltarem a vibrar. só para amigos. Preferi retomar apenas quando pudesse ter 100 por
ALICE AUTRAN cento de dedicação.” Em maio de 2019, mudou-se para Lisboa junto
Todos os caminhos levaram Alice Autran a Lisboa. De família de com sua filha Rebecca, de 11 anos, e a cachorrinha shitszu Catarina. Foi
diplomatas, Alice havia morado nesta cidade na infância e alimentava o momento perfeito para levar adiante esse projeto, uma galeria com o
o sonho de voltar. O desejo foi acirrado depois que seus pais com- mesmo nome, na Lx Factory. “É obviamente um formato muito mais
praram uma casa no Alentejo e começou a namorar um francês que amplo, com programação com exposições, palestras e cursos. Por causa
morava em Paris – hoje, seu marido. “Era a ponte aérea mais cara da ArtRio, eu tenho contato com galerias e instituições do mundo intei-
do mundo”, brinca. Em 2017, o destino ocupou-se do empurrãozi- ro e isso é útil para que eu ajude jovens artistas a traçarem sua trajetória”,
nho final: a Athena Advisers, imobiliária de luxo em que trabalhava, conta. O entusiasmo com o novo endereço foi tanto que poucos meses
abriu uma filial portuguesa. A experiência serviu como trampolim depois acrescentou à lista mais um projeto: o ArtWeek Lisboa. “Faz falta
para migrar para decoração e assim retornar à área criativa – Alice um evento de arte realmente grande que valorize as galerias locais, feito
trabalhou por 20 anos como stylist. “Há um boom de vendas para para Lisboa – a ARCO é, na verdade, de Madrid. Na ArtRio, eu priorizei
estrangeiros que precisam de alguém para decorar o apartamento. Era o mercado da cidade, mas era importante a feira ser internacional, para
a oportunidade perfeita de juntar minha experiência nessa área com que o mundo conhecesse as galerias cariocas”, opina Elisangela. Com a
o senso estético da moda.” O boca a boca e a parceria com arquitetos epidemia do coronavírus, os planos continuam a mil, adaptados para a
brasileiros sedimentaram a nova carreira – que também encontra eco situação atual, como exposições e visitas a ateliês de artistas, tudo online.
com os interesses que cultiva no seu tempo livre, a manufatura de “Mais que nunca, estou imersa na pesquisa para uma feira de arte inter-
peças de cerâmica e o estudo de herbalismo. Entre seus clientes, há nacional em Lisboa, prevista para 2021.” ___________________________________
pessoas do mundo inteiro, como África do Sul, Quênia, Paquistão,
Coreia do Sul e Alemanha. “De certa forma, a decoração requer uma *Maria Clara Drummond escreve no Português do Brasil, a sua língua natal.
FATO DE BANHO EM POLIAMIDA E ELASTANO COM ARGOLAS EM METAL, CALZEDONIA. CAMISA EM ALGODÃO, INÊS TORCATO. CALÇAS, VALENTINO, NA STIVALI.
BRINCOS, INÊS NUNES, NA PADARIA 24. REALIZAÇÃO: PAULO GOMES. FOTOGRAFIA: PEDRO FERREIRA
NOITES DE VERÃO
Biquíni em poliamida,
elastano e lantejoulas,
Calzedonia. Blazer
com lapela em pele
sintética, Falconeri.
Brincos em borracha
e metal, Inês Nunes,
na Padaria 24.
64
CHIC CHICK
Na praia, na piscina ou na cidade, desafiamos as regras com formas
também diferentes de usar fatos de banho e biquínis. Apostamos no poder
da reinvenção e do glamour. E no triunfo da elegância.
Realização de Paulo Gomes. Fotografia de Pedro Ferreira
65
TONS DE CORAL
Biquíni em poliamida e
elastano, Calzedonia.
Pulseiras e brincos em
metal, Inês Nunes, na
Padaria 24. Sandálias em
cetim, Luís Onofre.
66
DUPLA INFALÍVEL
Triquíni em poliamida
e elastano com argola
em bambu, Calzedonia.
Blazer com lapela em
pele sintética, Falconeri.
Fio com pendente,
Tous. Pulseiras em
madrepérola, na
A Outra Face da Lua.
67
SELVA URBANA
Fato de banho em
poliamida e elastano,
Calzedonia. Óculos
com armação em
acetato, Levi’s.
Pulseira em metal, Inês
Nunes, na Padaria 24.
Capelina, na Chapelaria
D’Aquino.
68
MOVIMENTO DE LUXO
Biquíni em poliamida e
elastano, Calzedonia.
Top e saia em tule com
aplicação de penas,
Dries Van Noten,
na Stivali. Brincos,
Nininha Guimarães, na
Padaria 24. Sandálias em
rede e metal, Bottega
Veneta, na Stivali.
69
COR DO DESERTO
Biquíni em poliamida
e elastano, Calzedonia.
Blazer em algodão
e seda, Inês Torcato.
Óculos com armação
em metal, Marc Jacobs.
70
Camisa em algodão,
ASAS DO DESEJO Comme des Garçons,
Soutien de biquíni em na Wrong Weather.
poliamida e elastano, Calças em poliéster,
Calzedonia. Quimono e Twin Set. Cinto em
culottes, na A Outra Face pele, Valentino,
da Lua. Brincos, Nininha e botins em pele,
Guimarães, na Padaria 24. Fendi, na Stivali.
Sandálias em pele com Óculos em acetato,
strass, Luís Onofre. Gucci, na André
Ópticas.
Cabelos e Maquilhagem:
Tom Perdigão Ao lado, casacos
Modelo: Ana Margarida em fio tricotado,
(Central Models) Pé de Chumbo.
71
acessórios
Brincos da coleção
sustentável 3D em pó
Sapatos em pele de terracota, latão e
envernizada, €495, aço, €29,99, Mango
Dolce & Gabbana
72
A L E RTA V E R M E L H O
Linhas depuradas enquadram o vermelho, a cor mais fulgurante da estação. Por Marina Sousa
Carteira Hourglass
em pele, €1.450,
Balenciaga
73
acessórios
Boina em pele,
€612, Manokhi,
em farfetch.com
74
Óculos com armação
em acetato, €380,
Bottega Veneta
Mules KOS em
cetim, €273,
Luís Onofre
7
75
acessórios
Sandálias Deneuve
em cetim, €550,
Aquazzura
Pulseira em metal
com granada, €590,
Alexander McQueen
Porta-AirPods em
pele e metal, €280,
Miu Miu
77
Beleza
OLHAR
DComEa brisaVamena
E RdosÃdiasO
quentes a fazer-se sentir,
cuidamos o rosto e preparamos
o corpo para viver plenamente
o nosso verão. Inspire-se! LAURENCE LABORIE/TRUNK ARCHIVE
beleza
BOD Y
POSITIVE
Com a ideia da liberdade do verão mais presente do que nunca, preparamo-nos
para os dias em que lentamente voltamos a usufruir dos espaços ao ar livre. Para tal,
comece já a colocar em prática algumas sugestões para manter corpo e mente sãos.
Por Carolina Silva
extra, adicionando ingredientes com propriedades benéficas. Escolha uma de gordura abdominal –, pelo que combatê-lo terá também benefícios
água alcalina com pH superior a 7 (Monchique, Carvalhelhos, Evian), já na sua dieta. O International Journal of Behavioral Medicine consta-
que os benefícios ao nível do funcionamento do estômago, dos rins e tou que pessoas com práticas holísticas, como o mindfulness, o yoga, o
da perda de massa gorda são superiores e junte rodelas de citrinos, de pilates ou os alongamentos, têm menos propensão para a obesidade e
pepino, de romã, de gengibre ou de canela. Estes extras são antioxidan- para acumular gordura abdominal. Não tem tempo? Se lhe dissermos
tes, e saciantes, e ajudam a prevenir o inchaço abdominal e a retenção que apenas cinco minutos de meditação diária já fazem a diferença
de líquidos. Varie nos ingredientes eleitos e beba-a durante todo o dia. não haverá espaço para desculpas.
ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA
Adriana Sales, nutricionista do Serenity SPA no The Pine Cliffs
Resort, explica que “apesar de à data não existir uma relação
entre o consumo de determinados alimentos ou suplementos e o
reforço do sistema imunitário [para o tratamento ou prevenção da
Covid-19], sabemos que à semelhança de outras funções fisiológicas
do organismo, para garantir o normal funcionamento do sistema
PASSEIO MATINAL imunitário, é necessária uma alimentação equilibrada com a
É a maneira perfeita para começar bem o dia. Os benefícios das cami- presença de diferentes nutrientes (...)”, de acordo com o Programa
nhadas são reconhecidos através de diversos estudos, enquanto um dos Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).
métodos mais fáceis para manter a boa forma física, para perder peso e Para que tal aconteça, é essencial seguirmos as boas regras de
para promover a saúde em qualquer idade. Fazê-lo logo de manhã tem alimentação saudável: optar pela variedade e sazonalidade de
resultados ainda mais motivadores. Isto porque a exposição à luz natural alimentos (principalmente os hortofrutícolas de época); limitar a
no início do dia reduz ainda mais o risco de ganhar peso, além de que ingestão de alimentos muito calóricos; aumentar o consumo de
esta caminhada antes do pequeno-almoço queima gordura corporal, em fibras, presentes nos frutos e nos vegetais e também nos cereais
vez de queimar as calorias dos alimentos ingeridos. integrais; aumentar a frequência de ingestão de peixe; moderar o
consumo de sal e de fritos; beber, pelo menos, 1,5 a dois litros de
AUTOMASSAGEM E O BEM-ESTAR água por dia; e mantermo-nos fisicamente ativos. Para aumentar
No Ocidente, as massagens são vistas como um luxo que exige reservar a eficácia do nosso sistema imunitário, é essencial consumir as
hora com um profissional para uma ocasião especial ou em determi- vitaminas A, C, D, E e os minerais zinco, ferro, selénio, cobre e
nadas circunstâncias físicas. No entanto, no Oriente, as massagens são magnésio. Desta forma, estaremos a dar ao organismo nutrientes
parte integrante dos cuidados pessoais para o corpo e a mente. Segundo capazes de fazer face às infeções virais. Na China, o consumo de
o The Chopra Center, a técnica parte de um óleo quente, aplicado com altas doses de vitamina C administradas de forma intravenosa
movimentos longos nos braços e nas pernas, com movimentos circu- (100-200 mg/kg/dia) foram mencionadas no tratamento da
lares nas articulações. Não se esqueça de massajar sempre em direção Covid-19 pela Shangai Medical Associated, desde 1 de março,
ao coração. Massaje o abdómen e o peito com movimentos amplos e protocolo terapêutico agora seguido pelas equipas médicas da
circulares, seguindo as linhas naturais dos intestinos quando massajar Northwell Health que administram 1,500 mg de vitamina C de forma
essa zona. Termine a massagem dedicando uns minutos aos pés que intravenosa, três ou quatro vezes por dia aos seus pacientes com a
contêm terminações nervosas importantes e pontos de reflexologia que mesma doença.
se relacionam com os principais órgãos do corpo. Se possível, utilize
o óleo durante cinco a 15 minutos e depois tome um banho ou duche
quente, evitando esfregar o corpo vigorosamente. REFORÇAR A HIDRATAÇÃO
Um passo que não pode ser esquecido, mesmo que estejamos em
casa, é a hidratação diária da pele. Procure texturas ricas com ingre-
AS RESPOSTAS DIGITAIS dientes ultra-hidratantes, nutritivos e reestruturantes que nutram e
M A K E U P WA K E U P
seja através de uma camisola colorida, de uma tatuagem no braço ou
de um declarativo batom vermelho. A psicóloga clínica e terapeuta
familiar Sílvia Freitas explica que há ainda um lado positivo da atual
situação em que vivemos: “A vantagem que podemos tentar retirar
A maquilhagem influencia também a desta situação é que, agora, temos a possibilidade de criar um plano ao
autoestima e a resiliência em situações de nosso ritmo, juntamente com um horário disponível para realizarmos
atividades que nos dão prazer e que antes careciam de tempo. (…) A
adversidade, razão pela qual não deve ser moda e a cosmética existem enquanto fatores externos que podem
subestimada. Damos algumas sugestões para influenciar a perceção da imagem que mantemos de nós mesmos e
que, por conseguinte, terá impacto na nossa identidade.”
colocar em prática nos próximos tempos.
A TELA PERFEITA
Por Carolina Silva
UM BOOSTER DA CONFIANÇA
Numa das suas master classes online, a maquilhadora britânica Charlot-
te Tilbury admite que a base de um quadro bem feito é a tela perfeita e
Se para uns utilizar um creme hidratante é um gesto mais do que sufi- recomenda iniciar todos os tratamentos com uma boa hidratação, apli-
ciente, para outros é apenas um de muitos passos indispensáveis na cando alguns gestos e pressões drenantes para eliminar os sinais de can-
rotina de beleza diária. A psicóloga clínica Rita Torres explica: “A vida saço e o inchaço no contorno dos olhos. Tilbury é uma forte apologista
não parou, embora se tenha alterado drasticamente. Cuidarmos de do uso de máscaras hidratantes e recomenda incluir a zona dos lábios
nós continua a ser essencial. Devemos continuar a arranjar-nos para no ritual de hidratação para evitar as linhas finas que habitualmente sur-
fazer a nossa vida, embora possa ser fácil cair numa certa armadilha gem com a idade, tornando menos precisa a aplicação da maquilhagem.
para não o fazer. O que é central para a nossa autoestima continuar
SUGESTÕES DE PROFISSIONAL
a ser valorizada, mesmo em tempo de crise. Isso é fundamental para
sermos resilientes face à adversidade. Se a moda e a cosmética têm
um peso importante na maneira como a pessoa se vê e se sente, são Bobbi Brown sabe melhor do que ninguém quais os truques certos
áreas em que deve continuar a haver investimento, embora adaptado para uma maquilhagem perfeita. Um dos erros mais comuns das
às condições em que vivemos.” mulheres, adverte, é na coloração das sobrancelhas e recomenda evi-
tar sempre os tons mais escuros, já que existem diversas cores alter-
A UM RITMO PRÓPRIO
nativas para favorecer o olhar, como é o caso do taupe ou dos cinzas.
A base, que deve ser experimentada no rosto e não na palma da mão,
Bobbi Brown, a visionária maquilhadora americana que fundou a sua nunca deverá chegar ao pescoço. Essa zona deverá ser suavizada com
marca baseada em realçar a beleza feminina, afirma que a “maquilha- um pó bronzeador. Um dos truques que a maquilhadora mais utiliza
gem é uma maneira de as mulheres se sentirem bem com elas pró- para disfarçar o olhar cansado é aplicar o corretor de olheiras antes do
prias, mas com mais confiança”. É esta a palavra-chave quando nos iluminador no canto interno do olho e junto à linha lacrimal, rema-
referimos à moda e à beleza. Ambas constroem pontes entre uma tando com um pó solto amarelo-pálido em todo o contorno do olho
forma de ser e de estar com a qual nos sentimos mais autênticos, para ajudar a fixar o corretor e o iluminador, mas também para atenuar
Forever
quaisquer descolorações na pálpebra superior. Para encontrar o nude
Desert Dream Les Quatre Ombres
no tom Elemental, €53, Chanel Pure Color Skin Correct perfeito para os lábios, recomenda ainda aplicar o batom no meio do
Desire Rouge Concealer, lábio inferior, de forma a perceber se o tom é o mais aproriado. O
Dior
Excess Matte delineador de lábios é aplicado depois como forma de fazer correções
Batom Lipstick, €45,
Rouge G Estée Lauder
e aumentar a durabilidade do batom.
Stunning
HUNGRY EYES
Gems,
€37,80,
Guerlain
A maquilhagem de olhos tem como principal objetivo enaltecer o
olhar, tornando-o mais atrativo. No entanto, é frequente conseguir-
mos o efeito contrário, seja porque o olhar está cansado ou porque a
LAURENCE LABORIE /TRUNK ARCHIVE
SOS Primer
no tom 08, maquilhagem faz sobressair as linhas finas no canto externo dos olhos.
€33, Clarins É importante mencionar que todas as sombras com brilhos ou no
espectro oposto, mate, poderão tornar o olhar mais pesado e eviden-
Pop Lip Colour ciar as imperfeições. Para as peles mais maduras, a opção certa recai
no tom Camellia,
€25, Clinique
sobre as nuances de castanhos-claros e cinzentos, mantendo em men-
Baume Fusion,
Powder Kiss Eyeshadow no €36,50, te que “menos é mais”. O upgrade para um look de noite pode ser feito
tom Best Of Me, €20, M.A.C Eisenberg com um toque de luminosidade na zona central do olho.________________
GETTY IMAGES
S
e mais 87 mil seguidores no Twitter, onde repreende frequentemente
entadas atrás das suas secretárias nas redações de revistas misóginos e pessoas que atacam o abortamento. O canal de YouTube de
de páginas acetinadas, a generalidade das editoras de beleza Caroline tem mais de 13 milhões de visualizações. Quando recomenda
tende a ser tão fragrante como as poções que têm em seu um produto através dessa via, ele pode esgotar-se a nível mundial em
redor – alternando etereamente entre tratamentos de spa poucas horas. O seu grupo de fãs “Freaks”, do Facebook, conta com 32
holísticos e pedicuras, de cara lavada e sem maquilhagem e mil membros que seguem à letra as suas sugestões e técnicas.
com o cabelo do lado certo do que quer que signifique “desgrenhado”.
Sem querer desvalorizar o aroma natural de Caroline Hirons – falámos “A INDÚSTRIA DA BELEZA é gerida por homens brancos
através da Zoom, com a mesma na sua casa de família, em Londres, de meia-idade e as mulheres têm demasiado medo de falar. Mas eu
que tenho a certeza de que cheira lindamente –, Caroline não é aquele não. Quando pensamos na maneira como os críticos trabalham no
tipo de editora de beleza. Nem é aquele novo tipo de influencer do teatro e na gastronomia, os seus pontos de vista são respeitados, mas
Instagram, com o rosto fortemente contornado e digitalmente aper- a ‘indústria da Beleza’ é diferente.”
feiçoado, que é paga para recomendar produtos de maquilhagem e A principal diferença é que aqueles críticos não dependem dos cheques
enchimento labial a um público que mal acaba de sair da adolescência. da indústria que estão a criticar. Na era do influencer digital, pode ser
Em vez disso, Caroline – uma mulher de 50 anos com quatro filhos difícil distinguir uma recomendação válida de uma publicidade encapo-
que dedicou metade da sua vida a trabalhar com produtos de beleza tada. O facto de as “parcerias digitais” terem, agora, de ser identificadas
e que escreve um blogue sobre o assunto, há uma década – criou uma nas publicações nas redes sociais criou maior transparência no negócio,
carreira fazendo as coisas à sua maneira. Em 2018, foi descrita como “a mas também, talvez de uma forma contraintuitiva, tenha diminuído
a confiança. Quando uma personalidade trabalha com imensas mar- cendo. “Há tanta gente que lava a cara no duche com água quente e
cas, muitos utilizadores dizem que preferiam não saber. Caroline, que com seja lá o que for que usam para lavar o corpo. Depois metem um
ganha a maior parte do seu dinheiro através de trabalhos de consultoria, bocado de Olay porque era o que a mãe usava.” Quase sinto o desdém
parece ter alcançado uma espécie de equilíbrio. “Sou paga para dizer às através do Wi-Fi. “As mulheres bonitas cuidam-se.” Isso inclui, na sua
empresas aquilo que elas precisam de ouvir e não aquilo que querem opinião, alguns ajustes livres de sentimentos de culpa. Caroline fez os
ouvir”, afirma. “E sou de confiança. Ainda faço patrocínios, mas sou seus primeiros ajustes no outono passado, aos 49 anos – uma aplica-
muito picuinhas. Talvez faça um por mês.” ção de algo conhecido como ‘baby Botox’ que é uma dose mais redu-
“A Caroline não bajula as marcas”, afirma Joanna Ellner, diretora de zida do relaxante de rugas que paralisa os músculos e alguns enchi-
beleza. “Não tem medo de fazer inimigos devido às suas opiniões e mentos na linha do maxilar. “No Reino Unido esperam que façamos as
este tipo de honestidade é raro na nossa indústria. Ela é uma das pou- coisas e que fiquemos caladas. Ninguém faz isso em França, nem nos
cas pessoas cuja opinião pode tornar um produto de beleza um suces- EUA”, admite. “Se olhar para o espelho e vir alguma coisa de que não
so ou um fracasso.” gosta por que não há de corrigi-la?” Se tiver a sorte de ser uma beleza
O seu website está cheio de declarações reforçando que não aceita natural, tanto melhor, mas a beleza natural torna-se mais difícil chega-
pagamentos por fazer referências a produtos. Nos 10 anos decorri- dos os quarenta e os cinquenta [anos]. A maioria das mulheres quer
dos desde que iniciou a sua atividade, Caroline transformou-se numa menos rugas profundas na sua testa e ficar sem ‘papada’. A pele de
empresa familiar e o sucesso vem sempre acompanhado por pergun- Caroline tem efetivamente aquele brilho que os injetáveis costumam
tas inevitáveis sobre como ela mantém a sua objetividade. conceder, mas ela diz que isso se deve aos cuidados que lhe dedica e
Recusando frequentemente trabalhos lucrativos, é a resposta de Caro- não ao facto de lhe ter acrescentado alguma coisa.
line. “Estamos a falar em dinheiro a sério. Eu não quereria aceitar um
trabalho que pudesse ser-me apontado à cara daqui a cinco anos. Se CAROLINE HIRONS NASCEU e foi criada em Liver-
eu, algum dia, fizer um anúncio a toalhetes, já sei que vou ter os mei- pool, onde a mãe e a avó eram “balconistas” em grandes armazéns. “A
rinhos à porta.” minha memória mais antiga é da minha avó a retirar a maquilhagem
Oh, sim, toalhetes. Em todos os canais de Caroline, os toalhetes de com óleo de amêndoas doces e a enxaguar com um pedaço de flane-
limpeza facial são o “inimigo público” número um. A única situação la”, recorda Caroline. “Quando ia a casa das minhas amigas, via que
em que são úteis, reclama, é em festivais. “É isso e as bolsas de cintura. as mães delas não lhes tinham incutido o mesmo hábito. Quando me
Só em festivais.” mudei para Londres e vi as meninas chiques com o seu batom mini-
malista cor de coral e eyeliner azul como a princesa Diana, pensava
CAROLINE DIZ ISTO enquanto aplica creme hidratante que elas não se esforçavam minimamente.”
no rosto num vídeo visível através da ligação que partilhamos. O Carolina trabalhou na área do comércio retalhista a partir dos 15 anos,
confinamento, garante, está a causar tantos estragos à sua pele como mas virou-se para a beleza após o nascimento dos seus dois filhos, quan-
um voo transatlântico. “Estou a espargir-me e a hidratar-me três do começou a trabalhar ao balcão da loja da Aveda. Começou, então, a
ou quatro vezes por dia e desaparece tudo”, assegura. “As pessoas frequentar a escola à noite para conseguir um diploma de terapeuta de
beleza, fez uma pausa para
ter mais dois filhos e depois
“A Caroline não bajula as marcas. Não tem medo
CM
MY
CY
CMY
K
@ZINOVATNAYA
Agora que o
confinamento social
é uma realidade,
é uma boa altura
para se interrogar se
a sua casa é do seu
agrado ou do agrado
das redes sociais,
garante Michelle
Ogundehin,
antiga editora
da Elle Decoration
que partilha algumas
sugestões do seu
recente livro para
criar um santuário
de bem-estar
TEMPLO
em sua casa.
O
mundo pode ser imprevisível, mas a ajuda está mes- uma mesa de refeições com espaço para reunir todos à sua volta é a
mo aqui ao lado. É muito provável que a sua salvação peça de mobiliário mais importante do lar. Além disso, também dá
esteja mais perto do que pensa. A sua casa pode ser prioridade ao ritual de comer, que é essencial para uma boa saúde
o seu superpoder secreto e, agora, mais do que nun- digestiva. Quer esteja a jantar en famille ou a solo, tenha consciên-
ca precisamos de encontrar nela algum consolo e não cia da forma como decora a mesa e como apresenta a comida. O seu
stress. É muito frequente ver casas que sabotam este propósito, em vez serviço de mesa deve ser composto por peças que adore – afinal de
de promovê-lo. Casas decoradas para angariar gostos no Instagram ou contas, vai usá-las todos os dias. Não tenha serviços “especiais” para os
concebidas para vidas que não correspondem às dos seus proprietários. convidados. Transforme cada refeição numa festa.
A viagem que me trouxe até aqui começou com a minha formação em
arquitetura, seguida por 20 anos a editar revistas de design de interio- ACREDITE QUE LIMPAR PODE SER CALMANTE
res, enquanto adquiria conhecimentos através da filosofia budista. Criar Costumamos ver a jardinagem como um prazer relaxante, mas limpar o
um lar feliz é a minha eterna demanda. Então se o objetivo é alcançar o interior da casa é habitualmente considerado uma “seca”. Talvez possa
bem-estar, a pergunta mais importante a fazer não é “Como quero que pensar nisso como uma forma meditativa de cuidado pessoal? Não vai
a minha casa pareça?”, mas “Como quero sentir-me dentro dela?” e isto precisar de mantras ou de ferramentas especiais (embora eu adore um
abrange muito mais do que a decoração. É essencial que reconheça o Dyson sem fios e uma “esfregona” a vapor Vax*). Basta que eleve a tarefa
poder de estar rodeada apenas por coisas com significado. Concentre- de rotina a ritual, fazendo pouco de cada vez com frequência e reconhe-
-se naquilo que tem, não naquilo que lhe falta. Aproveite esta oportuni- cendo que a sua casa é o seu templo e que os seus objetos pessoais con-
dade para vencer hábitos tóxicos e antigos e adotar outros, saudáveis e tam a história da sua vida. Se não conseguir mantê-los em condições,
novos. Seguem-se sete pontos por onde pode começar. não pode estar à espera de conseguir desfrutá-los.
@GRAHAMANDBROWN
UM VERÃO DE
SONHO EM IBIZA
ESTÁVAMOS EM 1972 quando o arquiteto
alemão Armin Heinemann decidiu mudar-
-se para Ibiza e aí abrir a sua boutique. Conta
quem viveu aqueles verões eternos nessa ilha
balnear espanhola, durante os anos 70 e 80,
que em pouco tempo a Paula’s Ibiza se tornou
uma loja-referência de estilo (e posteriormen-
te uma marca), marcando a história da moda
deste destino idílico. A marca, que se inspirava
na natureza da ilha de Ibiza, evoca tudo aqui-
lo que é desejável nos longos dias quentes da
estação veranil: cor, maresia e espírito boémio.
Talvez seja esse o segredo do sucesso da cola-
boração Loewe x Paula’s que se renova, este
ano, com o lançamento de uma nova coleção-
-cápsula, a par de uma novidade: um perfu-
me. Nesta que é a quarta edição da parceria, a
espanhola Loewe, da qual Jonathan Anderson
é diretor criativo, concentrou o revivalismo
hippie da marca Paula’s Ibiza numa fragrância
em edição limitada.
O perfume Loewe
Nuria Cruelles, a nova perfumista da Casa e Paula’s Ibiza (50 ml,
uma verdadeira apaixonada pelas “viagens” olfa- €43,55) está disponível
tivas do mundo da perfumaria (e também do nos pontos de venda
habituais: El Corte
vinho), foi quem idealizou o Paula’s Ibiza. For- Inglés, Sephora,
mada em Química e após chegar à equipa de Perfumes & Companhia,
Emilio Valeros, perfumista da Loewe, há mais Douglas e perfumarias
tradicionais. Nuria Cruelles
de 30 anos, sentiu-se como “uma criança numa
loja de caramelos” perante o mundo de expe-
riências olfativas a que teve acesso. Para chegar o óleo de patchouli de Sulawesi e baunilha. O tes ao nível da qualidade, [para este perfume]
à essência deste perfume, Nuria Cruelles recor- resultado, simultaneamente quente, fresco e procurámos ingredientes naturais de Mada-
FOTOGRAFIA: GRAY SORRENTI & LOOK LOEWE COM STYLING DE BENJAMIN BRUNO
dou os seus verões de infância e adolescência vibrante, faz deste um perfume com personali- gáscar, porque cada gota tem um significado.
passados em Ibiza. “A inspiração chegou-me dade e carisma. Como perfumista e para idea- Desta forma estamos a ajudar famílias em
de dentro (…). Ibiza é um lugar especial porque lizar uma fragrância como esta, Nuria Cruelles Madagáscar, de várias formas, seja para que
nunca se sabe aonde podemos ir parar ao fim pensa primeiro nos ingredientes, nas cores e nas tenham água potável, mas também para que as
de um dia pela sua atmosfera e pelo mood das texturas que a inspiram. “Seleciono-os conforme crianças possam ir à escola ou ajudando famí-
pessoas. O que queríamos com esta fragrância o que quero transmitir e a criação começa aí (…). lias que estavam desempregadas e isto, para
era evocar as recordações especiais dos verões Às vezes, eu chego à nota certa através da errada. mim, tem um grande significado. Neste caso,
em Ibiza que é um sítio icónico”, explica. “Pro- Isto acontece muito. A perfumaria tem o poder o luxo tem um significado por detrás.” Através
curámos o contraste entre a frescura [através de surpreender”, salienta, acrescentando que o dos desenhos estampados na embalagem des-
da água de coco] com o lado solar da praia e do perfume perfeito tem “estrutura e equilíbrio, e ta eau de toilette e que incluem padrões icó-
sol – representado pelo âmbar cinza – e qui- tem de surpreender desde o início”. nicos do universo Paula’s Ibiza, como sereias,
semos fazer algo diferente de uma típica água Também a Loewe tem esse poder e é por isso corais, algas e cavalos-marinhos, evoca-se um
de colónia”, revela. A estes juntam-se notas de que a sua linha de perfumaria se prolonga por imaginário idílico, exótico e místico. Tudo isto
topo como gálbano verde, óleo de mandarim de toda uma vertente social e consciente, na qual faz deste elixir um verdadeiro objeto de desejo
Madagáscar, notas de coração como driftwood este perfume se inclui. “As fragrâncias da Loe- e de luxo para usar com atitude e guardar com
[madeira com água do mar], lírio-das- -areias we são surpreendentes e marcam tendências. nostalgia. O Paula’s Ibiza é uma edição limita-
e flores de Frangipani, e notas de base como Além de os ingredientes terem de ser excelen- da e está disponível nas lojas da marca. _______
FOTOPROTEÇÃO TOTAL
Em dias de confinamento estamos mais
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nome, morada e número de telefone.
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para fechar
Sophia Loren
nas gravações
do filme
HOT Legend of the
“VITAMINA D” Lost, em 1957,
na Líbia
Envolvermo-nos pelos raios de sol nestes
tempos de recolhimento, além de ser
GETTY IMAGES
uma necessidade é um desejo profundo.
Saberá à proximidade do verão e,
mais do que tudo, a vida.
Colar em
prata com
conchas,
Prada
Sandálias
em cetim e
palhinha,
Dolce &
Gabbana
HOT CONCHAS
A temática do mar é recorrente em
tempo quente. É também na introdução
de conchas e de búzios na bijutaria
que o odor da maresia chega ao nosso
quotidiano urbano.
Marina Sousa
98 maxima.pt junho
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A GURU DA BELEZA
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OS BASTIDORES
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