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Marga J. Ströher1
marga@est.com.br
Abstract. In this essay I intend to present a reflection about the history of the Feminist
Theology Chair implantation at the Escola Superior de Teologia/EST and about the
epistemological significance of Feminist Theology. In the first part, I present a narrative of
1
Feminist Theology’s history at EST, from the articulation for its creation until its
Mestre e Doutora em
Teologia. Professora na
implementation. In the second part, I present a reflection about the impact that
Escola Superior de Teologia/ represented women’s access to the study of Theology and the protagonism of women in
EST e coordenadora do the theological field and, above all, in the feminist theological field, and the social relevance
Núcleo de Pesquisa de of feminist theology articulated with the feminist movements.
Gênero, vinculado ao Institu-
to Ecumênico de Pós-
Graduação em Teologia/ Key words: feminist Theology, feminist movement, History, patriarchal criticism, sexism,
IEPG, dessa mesma escola. feminist Hermeneutic, feminist Episthemology.
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posição foi afirmada e apresentada pela Comissão Pró- Feminista alocada na grade curricular. Contudo, a existên-
Teóloga em carta oficial, de 11 de junho de 1990, ao Conse- cia dessa cátedra não implica, por si só, redimensionamentos
lho Curador que é o órgão máximo de decisão da Escola teológicos significativos. Como assinala Wanda Deifelt, a
Superior de Teologia, expressando a posição estudantil em instituição da mesma “implica revisões constantes de nos-
assembléia do Centro Acadêmico de 30 de maio de 1990, sos postulados, nossas prioridades e nossos encaminhamen-
que, em votação unânime, fez a opção pelo nome Teologia tos institucionais” (Deifelt, 2004a, p. 281).
Feminista para essa cátedra, conforme a seguir:
Teologia ‘Feminista’: é uma teologia que tem como es- O Núcleo de Pesquisa de Gênero
pecífico a questão das mulheres (no seu coletivo), tanto
na sua experiência de opressão, quanto na sua experi-
ência de resistência e luta por libertação. [...] Ela é
Em 1998, depois de um período de encontros de
uma teologia crítica que, a partir do seu específico,
caráter mais informal, foi criado, na EST, o Núcleo de Pesqui-
buscar abranger todas as formas de opressão, valendo
sa de Gênero/NPG (registrado no Diretório de Grupos do
também o inverso, do amplo para o específico. Nesse
CNPq), agenciando e aglutinando os diversos projetos de
círculo hermenêutico, a Teologia Feminista prioriza a
pesquisas em teologia feminista ou com o enfoque das teori-
questão das mulheres sem se perder na sua amplitude
as de gênero na pós-graduação. Esse núcleo, além de aglutinar
como a Teologia da Libertação, por exemplo, que não
pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas, propõe
consegue com a sua proposta libertadora atingir os as-
debates, articula grupos de discussão, mapeia temas emer-
pectos conjunturais de certas opressões específicas, como
gentes, publica textos, participa em eventos importantes na
a opressão racial – negros e indígenas – e a opressão
área de gênero, assessora grupos e instituições.
sexista. [...]
Em 2004, duas realizações relevantes constituíram-
Ela reivindica um espaço autônomo enquanto ciência
se como marcos para o Núcleo de Pesquisa de Gênero. O
dentro da teologia em geral. Somente com esta liber-
primeiro, foi a publicação do livro À flor da pele. A dinâmica
dade será possível haver um deslocamento do eixo
de produção dos textos do livro se deu no contexto de um
hermenêutico androcêntrico do discurso teológico para
diálogo entre diferentes pressupostos e áreas de conheci-
uma compreensão feminista de mundo, cultura huma-
mento. O itinerário foi sendo traçado a partir das vivências
na e de história. Concluindo, a Teologia Feminista
e reflexões em torno de gênero e corporeidade. Gênero foi
não quer redescobrir ou revalorizar certos aspectos das
instrumental comum, utilizado para entender a construção
mulheres que outrora ‘apenas’ foram esquecidos e nem
de identidades masculinas e femininas. Entendemos que
criar uma polarização sexista, mas, a partir de sua
escrever experiências é também visibilizar sujeitos
especificidade, humanizar toda a teologia, história e
construídos e em contínuo processo de construção. Cada
cultura, valorizando o ser humano como um todo.
texto passou, portanto, por um processo de elaboração
escrita, leitura coletiva, apresentação e discussão em mesa
Em 1991, Wanda Deifelt, que retornara dos estu-
redonda, re-escrita e releitura, até chegar como texto fi-
dos de doutorado nos Estados Unidos, foi convidada a as-
nal, fruto de uma reflexão plural. Cada qual escreveu a
sumir a cátedra de Teologia Feminista Escola Superior de
partir do seu campo de pesquisa e atuação, desde a di-
Teologia/EST, onde permaneceu até meados de 2004, sen-
versidade de área de conhecimento e história de vida,
do, portanto, por quase 14 anos titular dessa cátedra. E por
para compor uma contribuição textual reflexiva, reivin-
11 anos foi a única teóloga feminista dessa instituição. A
dicando gênero e corporeidade como mediações
Comissão Pró-Teóloga funcionou como grupo de articulação
hermenêuticas.
da criação da cátedra e, depois, como grupo de apoio para a
O segundo marco foi a realização do I Congresso
implantação da mesma, mas se dissolveu compreendendo
Latino-americano de Gênero e Religião, reunindo mais
ter cumprido seu papel. Fundamental também foi o apoio
de 180 participantes do Brasil e de diversos países da
permanente das Igrejas Protestantes Unidas da Holanda
América Latina e de alguns países da Europa. Os eixos
na viabilidade do funcionamento da cátedra e dos projetos
temáticos propostos pelo Congresso foram a corporeidade,
por ela coordenados ou apoiados, como por exemplo, o En-
118 etnia e masculinidade. Em torno dessas questões circula-
contro Estadual de Teologia Feminista que realiza nesse
ram as conferências, as mesas de discussão e as comuni-
ano a sua décima edição, e publicações na área de Teologia
cações de trabalhos e pesquisas.
Feminista e Relações de Gênero.
No momento, a EST é praticamente o único centro
de formação teológica no nosso contexto que tem a Teologia
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Em contrapartida, as mulheres enfrentam as mais e um chamado para o ressuscitar das práticas revolucioná-
diversas dificuldades para serem aceitas nos espaços con- rias feministas da década de 1970. Fiorenza destaca: “O
sagrados pelo referencial masculino, na academia, nas igre- despertar revolucionário de consciência baseia-se na con-
jas, nos espaços litúrgicos, no exercício da liderança, no acesso vicção de que temos que transformar a nós mesmas se qui-
a cargos de direção. A presença de mulheres no estudo da sermos transformar as estruturas opressivas de dominação
Teologia tem crescido nos centros de formação teológica e como o racismo, a homofobia, o sexismo, os preconceitos de
na EST já alcança a cifra de 50%, mas nem todas se iden- classe ou a hegemonia colonialista” (Fiorenza, 2004, p. 30).
tificam ou querem ser identificadas como feministas, pois
as estruturas patriarcais estão tão arraigadas, assimiladas e
naturalizadas que elas nem sempre se sentem excluídas.
Nesses espaços de formação teológica as mulheres são alvo
Demarcar a relevância social da teo-
de ironias, censuras, constrangimentos e seu labor, sua ca-
logia articulada com os movimentos
pacidade e sua criatividade teológica não são tratadas com feministas
a devida seriedade. Há um discurso de igualdade que per-
passa as grandes narrativas teológicas masculinas, mas igual-
mente acompanhadas de posturas e práticas discriminatórias O feminismo, como um movimento, teve e tem um
e excludentes. Isso provoca um certo recuo das próprias papel crucial, interferindo na história mais recente da hu-
teólogas em desenvolver uma postura feminista mais crítica manidade. Ele questiona e propõe a redefinição dos papéis
e passa-se ao nível das negociações com algumas conces- das mulheres e dos homens no campo da sexualidade, do
sões e até uma certa condescendência institucional para conhecimento, da experiência, da linguagem, da cultura, da
não perder tudo o que já foi construído e alcançado na arte, do comportamento, da ética, da religião, da educação,
história. É pertinente a observação crítica da reconhecida da política, do cotidiano, das relações interpessoais, da dis-
teóloga brasileira, Ivone Gebara: cussão dos temas sociais e do mundo do trabalho. Enfim,
ele propõe a de(s)construção da visão antropológica
A teologia feminista na América Latina, particular- androcêntrica e patriarcal e o desenvolvimento de uma nova
mente no Brasil, não conseguiu a audiência esperada compreensão de ser humano e de uma nova construção do
nas instituições religiosas e acadêmicas. A maioria das mundo. “O movimento feminista conseguiu questionar leis
mulheres que se dedicam à pesquisa na linha feminis- e costumes, introduzir novas legislações, novas formas de
ta, além de serem poucas numericamente, estão de cer- linguagem, assim como abrir novos referenciais teóricos e
ta forma renunciando às opções feministas radicais práticos em vista de uma convivência baseada na justiça e
em favor de uma convivência menos conflitiva com a na igualdade” (Gebara, 2004, p. 153).
teologia tradicional nas suas diferentes expressões e O feminismo se caracteriza como uma prática de
inclusive com a Teologia da Libertação. Nesses últimos ação política organizada em favor dos direitos das mulheres
anos, elas têm perdido força organizativa e sobretudo, – “o feminismo é prioritariamente uma ética”, ressalta
força política nas instituições da religião. Aceitaram Margarita Cea-Naharro (Cea-Naharro, 2002, p. 93). “Ao
falar mais de relações de gênero e menos de feminis- afirmar que o sexo é político, pois contém também ele rela-
mo, sem perceber que as análises de gênero sem femi- ções de poder, o feminismo rompe com os modelos políticos
nismo legitimam as mesmas estruturas patriarcais. tradicionais, que atribuem uma neutralidade ao espaço in-
Quando muito, abrem brechas na ordem estabelecida, dividual e que definem como política unicamente a esfera
mas não a modificam (Gebara, 2004, p. 158). pública, ‘objetiva’” (Alves e Pitanguy, 1982, p. 8). As rela-
ções interpessoais também contêm componentes de poder
Elisabeth Schüssler Fiorenza, uma das mais impor- e hierarquia, formas de organização tradicionais permeadas
tantes precursoras da Teologia Feminista mundial, chama a pela assimetria e autoritarismo.
atenção para a necessidade de permanentes processos de O movimento Feminista – e, conseqüentemente, a
conscientização e a revitalização de estratégias que modifi- teorias feministas e a Teologia Feminista – é o mais impor-
quem as atitudes e as crenças tanto das mulheres como das tante movimento de mudança do século XX e continuará
crianças e homens para transformações sociais significati- esse processo no século XXI. A Teologia, bem como as outras
120 vas. Fazendo referência ao livro da feminista e crítica cultu- áreas de conhecimento, não pode ignorar esse fato e deixar
ral bell hooks – que faz questão de inscrever seu nome em de incorporar suas perspectivas no seu fazer teológico.
letras minúsculas como crítica ao poder patriarcal de nome- As teorias feministas contribuem para o processo
ar –,Feminism is for Everybody, no qual essa autora faz uma de descontrução da teologia e do poder eclesiástico patriar-
crítica ao feminismo por sua perda de atuação mais política cal. Na Igreja, o homem não somente tornou-se o detentor
do poder sagrado de estabelecer a mediação entre as pes- epistemologia diferencial em relação à epistemologia
soas e as divindades, mas também o grupo legítimo que vai androcêntrica, monolítica, heteronormativa e
elaborar o discurso religioso oficial e determinar os padrões universalizadora dos referentes epistemológicos e das ex-
de normatividade da instituição e da teologia (Nunes, 1996, periências humanas.
p. 92), segundo padrões e pré-concepções androcêntricas, A grande contribuição e o ganho da implantação de
ou seja, a partir e pelos homens. “Tais padrões, reforçados e uma cátedra de Teologia Feminista é a revisão e desconstrução
legitimados pelo discurso científico a respeito da natureza do método teológico oficial. Nessa questão, dois aspectos
feminina, funcionam como mecanismos de controle, na manifestam-se como fundamentais: a discussão da suposta
medida em que, sendo assimilados como próprios, como neutralidade científica e dos métodos teológicos, como procla-
naturais, qualquer afastamento deles é considerado social- mada pela teologia oficial, e a incorporação da experiência
mente e vivido pelas mulheres como transgressão” (Nunes, como parte integrante do método teológico e como critério
1996, p. 92). hermenêutico do fazer teológico das mulheres.
Mulheres cristãs se inserem no movimento femi-
nista ao mesmo tempo em que cristãs feministas se inserem
na teologia e na atuação eclesial. E, entre outras críticas, Discutir a suposta neutralidade dos
inclui-se as dirigidas às instituições eclesiásticas. As dife- métodos teológicos
renças e as construções sociais de gênero não somente são
legitimadas, como também criadas e instituídas pela reli-
gião, e o cristianismo não está isento disso. Há uma forte
A ciência que herdamos estabeleceu-se nos moldes
relação entre patriarcado e estruturas de poder eclesiástico.
de neutralidade, objetividade e universalidade. Estes pos-
Desde que a igreja cristã assumiu a estrutura hierárquica e
tulados escondem as relações de poder e quase sempre
episcopal na sua organização a partir do século II E.C. e se
negam a contingência cultural e as condições de pertença
tornou igreja estatal a partir do século IV E.C., a igreja,
(gênero, classe, etnia, geração) na produção do conhecimento
como instituição, se caracteriza como um patriarcado eclesi-
e dos saberes – além de não reconhecer o conhecimento
ástico que permeou a organização sócio-política e o imagi-
que está fora desses moldes científicos.
nário religioso ocidental.
A universalidade e a neutralidade pretendidas
Esse encontro entre Teologia Feminista e movimento
pela ciência têm sido colocadas em confronto e discus-
feminista tem sido salutar para a conjugação das lutas fe-
são, especialmente pelas feministas. Proponho a sus-
ministas em diversos âmbitos da sociedade e para demar-
peita dos métodos que se colocam a neutralidade, a
car a relevância social da teologia articulada com os movi-
objetividade e a universalidade como referencial e par-
mentos feministas. te de sua produção e da construção do conhecimento,
na perspectiva de Francine Descarries: “a crítica
epistemológica das noções de neutralidade e
Revisão dos métodos teológicos objetividade em ciências como ilusão metodológica. Essa
crítica as leva [as mulheres] a reconhecer a importância
da subjetividade do pesquisador e da pesquisadora em
todas as etapas do processo de produção de saberes”
A pergunta sobre em que condições se produzem o
(Descarries, 1994, p. 61).
conhecimento e a respectiva produção de sentido nos leva a
As relações e os acontecimentos do cotidiano nos
avaliar as proposições epistemológicas e as condições de
ensinam que o local, a geografia mostra, delimita, sina-
produção do conhecimento na realidade de violência, de
liza o contexto e a parcialidade da nossa aproximação
exclusão sócio-econômica e cultural e nas representações
às tradições e seus respectivos textos e das nossas
binárias da realidade. Essa avaliação é política e leva à exi-
próprias contradições cotidianas. No livro coletivo A
gência de um desenraizamento das premissas dadas e das
Bíblia pós-moderna, organizado por Elisabeth A.
verdades constituídas como definitivas e um
Castelli et al., em referência a obra de Bal.Mickie, Lethal
redimensionamento de balizas consagradas do estatuto
Love: feminist litetrary readings of biblical love stories,
epistemológico positivista patriarcal, desconstruindo-as e
há a seguinte declaração: “Interpretações que reivindi- 121
desautorizando-as, a fim estabelecer a chamada crítica da
cam inteireza e supremacia sobre todas as outras leitu-
razão patriarcal (Amorós, 1991). E provoca um desloca-
ras são, elas mesmas, representações de dominação”
mento epistêmico e a redefinição das proposições
(Castelli et al, 2000, p. 257). Tânia Mara Sampaio, im-
metodológicas e paradigmas para buscar um outro tipo de
portante teóloga brasileira, destaca que:
construção de conhecimento que fomente uma
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As construções de saber são datadas, contextualizadas, seu uso do critério da experiência, mas, antes, em seu uso da
sexuadas, racificadas, socialmente classificadas e implicam experiência das mulheres, que no passado foi quase que
relações de poder que precisam ser identificadas para desen- inteiramente excluída da reflexão teológica” (Ruether, 1993,
cadear processo de des-construção e construção. [...] A correla- p. 18). E, no referente da experiência, a justiça de gênero e
ção evidente entre poder e saber trará consigo, portanto, a a corporeidade passam a ser critérios éticos e teológicos. O
pergunta pelo método de construção do conhecimento e seus corpo também é construído e em processo contínuo de con-
pressupostos básicos (Sampaio, 2004, p. 196-197). figuração, mapeamentos, territorialização, desterrito-
rialização e reterritorialização de experiências, linguagens,
As feministas não são as únicas a questionar a neutrali- relações, marcas e impressões do trabalho, das relações
dade e objetividade das ciências e a sua visão reducionista da intercortadas e descuidadas, dos afetos, da cultura e tudo o
sociedade e do Cosmos. No entanto, as mulheres feministas mais que o envolve. Resgata-se a experiência corporal a
foram as primeiras a tentar elaborar uma epistemologia com partir de uma imagem de corpo individual e coletivo, com
esses pressupostos de forma mais radical – no sentido de ir à raiz outras perguntas sobre os momentos e lugares significati-
das coisas –, a propor e ensaiar as suas implicações práticas e vos em que aprendemos a ser mulheres e homens, quais as
responsabilidades históricas. referências e matrizes que moldam os discursos normativos
e como imprimem na sociedade e nos indivíduos modelos
O feminismo não apenas tem produzido uma crítica con- de gênero no processo de construção das corporeidades fe-
tundente ao modo dominante de produção do conhecimento minina e masculina, e quais os desafios e significados teoló-
científico, como também propõe um modo alternativo de gicos que esse processo produz.
operação e articulação nesta esfera [da epistemologia femi- A experiência coloca-se como critério hermenêutico.
nista]. Além disso, se considerarmos que as mulheres tra- No entanto, a experiência não pode ser tomada como a
zem uma experiência histórica e cultural diferenciada da origem do próprio conhecimento e do conhecimento da re-
masculina, ao menos até o presente, uma experiência que alidade bíblica e do próprio processo de interpretação. Joan
várias já classificaram como das margens, da construção Scott, referindo-se a E. P. Thompson, afirma que “experiên-
miúda, da gestão do detalhe, que se expressa na busca de cia significa ser social, as realidades vividas da vida social,
uma nova linguagem, ou na produção de um contra-dis- construídas por influências externas e sentimento subjetivo,
curso, é inegável que uma profunda mutação vem se pro- o estrutural e o psicológico” (Scott, 1999, p. 33). Não se trata
cessando, também, na produção do conhecimento científico de uma experiência ou uma identidade “encontrada”, mas
(Rago, 1998, p. 23-24). que foi construída ou atribuída e, portanto, pode ser modi-
ficada. A identidade e a experiência são processos que ocor-
Assim como qualquer outro conhecimento, a teologia rem concomitantemente; “a identidade está amarrada a
sempre serve a certos interesses; a teologia é política, e por isso noções de experiência” (Scott, 1999, p. 40).
mesmo, deve abandonar a premissa da assim chamada As experiências são diversificadas, são localizadas
objetividade e neutralidade, e assumir sua parcialidade, “tornar- em tempo e espaço e constituídas a partir das particularida-
se partidária”, como diz Elisabeth S. Fiorenza (2004), indicando des de identidades e experiências corporais. O conceito
a favor de quem ela se pronuncia e se constitui. essencialista mulher passa a ser substituído pelo plural
mulheres, pois há uma multiplicidade de experiências de ser
mulher. Nesse contexto de reflexão começa a surgir um
movimento de alternativa às feministas brancas, como a
Nomear a experiência como catego- Teologia Mujerista e a Teologia Womanist (mulherista) nos
ria hermenêutica Estados Unidos. Mujerista é um termo proposto por Ada
María Isasi-Diaz, para referir as experiências de mulheres
de origem latino-americana que vivem nesse contexto, para
O referente epistemológico feminista parte do pres- designar sua realidade de opressão e suas lutas por liberta-
suposto de que todo conhecimento é contingente, situado, ção nesse contexto. O termo womanist foi proposto por Ali-
localizado e temporal, não universalizado e que toda a ex- ce Walker para demarcar a diferença entre as experiências
periência constitui-se não apenas como interpretação da das mulheres negras e das mulheres brancas. No Brasil, a
122 realidade, mas constituinte da mesma. Teologista Womanist é nomeada como Teologia Feminista
As experiências de opressão e libertação tornam-se Negra. Maricel Mena Lopes é a primeira mulher negra a
o eixo central da Teologia Feminista. “A experiência huma- receber o título de Doutora em Teologia na América Lati-
na é o ponto partida e de chegada do círculo hermenêutico. na, em 2001.
[...] A singularidade da Teologia Feminista não reside em
Mulherista passou a ser um título adotado por mulheres Crítica feminista e mulherista. In: E. CASTELLI; G.A.
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que a relação de poder desigual fundamental é a de ho- 298:85-94.
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bolicamente representada – sejam como imagens, como re- especial).
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gerir outras respostas e encontrar novos caminhos para se 170.JOHNSON, E.A. 1995. Aquela que é: o mistério de Deus no
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