Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
CONSELHO EDITORIAL
Benedito Nunes, Bóris Schnaidermann, Dirce Cortes Riedel, Eneida
Maria de Souza, Haroldo de Campos, João Alexandre Barbosa, Jona-
than Culler, Lisa Block de Behar, Luiz Costa Lima, Marlyse Meyer,
Raul Antelo, Silviano Santiago, Sonia Brayner, Tania Franco Carvalhal,
Yves Chevrel.
ProduçioGráfica
Annye Cristiny Tessaro
Victor Emmanuel Carlson
Tiragem
1.200 exemplares
CIP~RASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONIE
SINDICATO NACIONAL DOS EDlTORES DE LIVRos. RJ
R349
Revista brasileira de literatura comparada. - N. 1 (1991)
- Rio de Janeiro: Abralic, 1991-v.
Anual
Descrição baseada em: N. 4 (1998)
ISSN 0103-6963
1. Literatura Comparada - Periódicos. I. Associação
Brasileira de Literatura Comparada
98--1200 CDD809.005
CDU82.091 (05)
Sumário
Liminar
Raul Antelo 07
Proj eções de um Debate
Wander Melo Miranda 11
A Teoria em Crise
Eneida Maria de Souza 19
A Ameaça do Lobisomem
Silviano Santiago 31
Cuentos de Verdad y Cuentos de judíos
Josefina Ludmer 45
Os Contextos da Tradição Universal
Raul Antelo 61
La Cultura Invisible: Rubén Dario y
el Problema de América Latina
Graciela Montaldo 75
"Don't interrupt me": The Gender Essay
as Conversation and Countercanon
Mary Louise Pratt 85
Quatro (2+2) Notas sobre o Sublime e a Dessublimação
Italo Moriconi 103
Sobre la Poética de Juan L. Ortiz: una Mirada de Traductos
Willian Rowe 11 7
Leituras Impertinentes
Maria Lucia de Barros Camargo 127
Saturno Devorador da Modernidade: Imagens/Sensações
Ana Luiza Andrade 147
Ars Potentior Natura: EI Otro Tiziano de Farabeuf
Alberto Moreiras 16 1
Liminar
Esta edição é dedicada a Antonio Candido em seus 80 anos.
Raul Antelo
11 LIMA, Luiz Costa. O "elo entre a justificação estética e o princípio de nacionalidade"!!, elo
controle do imaginário e próprio à relação comparativista tradicional.
a literatura comparada. Melhor pensar na metáfora da fronteira. Implícita à literatura
Cadernos de Mestrado/
Litera tura, Rio de Janei- comparada, toma-se espaço de travessia, ao mesmo tempo limite e
ro, n0 13, 1995, p. 49. limiar da possibilidade de elaboração da diferença que os estudos cultu-
rais vão acentuar nos estudos literários. No caso brasileiro, desde os
anos 70, embora sem o rótulo que viria identificar posteriormente tal
área de atuação, alguns téoricos e críticos, provenientes de Letras ou
de Antropologia, já estavam trabalhando na fronteira entre literatura e
cultura. É o que Silviano Santiago demonstra com precisão no Seminá-
rio "Declínio da Arte/Ascensão da Cultura", promovido pela Abralic
em Florianópolis, em março de 1997. Com o título de "Democratização
no Brasil- 1979-1981 (Cultura versus Arte)", a conferência de Silvia-
no Santiago parte de uma série de questões que vale a pena reproduzir:
considerar elitista a preferência do estudioso por escritores consagra- S MOISÉS, Leyla Per-
rone. A crítica literária
dos e tradicionalmente aceitos pela comunidade acadêmica. A reação
hoje. Congresso ABRA-
desses autores denuncia a intolerância como atitude pautada pelos mes- LIC, 5, 1996. Anais ...
mos erros cometidos pela opinião elitista diante da literatura, reservan- Rio de Janeiro, UFRJ,
do à crítica o direito de escolher os autores "brancos e ocidentais" 1997, p.6.
como objeto de culto e de análise. Não se trata, no entanto, apenas da
A Teoria em Crise - 23
Krieger. Interesses e
paixões: histórias de li-
teratura. Art. cit., p. 42-
Antoine Compagnon, em seu mais recente livro, Le démon de la 43.
théorie, realiza um balanço minucioso da teoria literária francesa no
período estruturalista - do final da década de 60 à de 70 - com o intuito
de eleger essa época como marco de uma significativa tendência teóri-
ca. Na introdução, sugestivamente intitulada "Que reste-t-il de nos
amours?", um clima de nostalgia é facilmente detectado, considçrando-
se que a efervescência cultural desses anos não se faz mais sentir na
França - como, aliás, em todo o resto do mundo. Mas a força perma-
nente inscrita no ideal teórico transparece nas palavras do autor. que
acredita desempenhar a teoria o papel de combate ao senso comum. o
que lhe dá, na verdade, o seu verdadeiro sentido. Ao concluir o balan-
ço da teoria literária na França, admite que suas reflexões. longe de
conduzirem a uma desilusão teórica, refletem mais uma dú\"ida. o
que motiva a contínua vigilância crítica - a única teoria conseqüente
é aquela que aceita questionar a si própria e colocar em causa o seu
próprio discurso I I . 11 Cf. COMPAGNON,
O final do livro registra, contudo, um alerta diante dos equívocos Antoine. Le démon de
la théorie. op. Cit., p.
provocados pela tendência atual da teoria pelos ecletismos e pela plu-
281.
ralidade metodológica. Na confecção da história da teoria literária, o
A Teoria em Crise - 27
Silviano Santiago
1. A China é aqui
a elas, uma por uma, e a eles, um por um, teria prestado reverência. Só
se presta tal reverência ao fogo que está numa metáfora que, ao levar
a idéia do exotismo americano para além dos limites ocidentais, até a
China milenar, queima o véu que recobre o que nos é familiar desde
1492. A China é o melhor palco metafórico e incendiário para o exotis-
mo por excelência deste Outro-do-Ocidente-dentro-do-Ocidente, que é
a América Latina. Bárbaro e nosso, escreveu Oswald de Andrade no mais
poderoso dos manifestos modernistas, o "Pau Brasil".
Em lugar da reverência ou da identificação, experimentada pelos
latino-americanos diante de cada categoria, de cada ser, Michel Fou-
cault nos fala, nas páginas introdutórias de As Palavras e as Coisas,
do riso, estruturalista e europeu, que lhe inspirou a leitura da enciclopé-
dia chinesa inventada por Borges. O riso abala, escreve ele, "todas as
superfícies ordenadas e todos os planos que tomam sensata para nós a
abundância dos seres". A China de Borges, continua ele, indicia o modo
"como o encanto exótico de um outro pensamento [o do latino-america-
no achinesado] é o limite do nosso [o do europeu]". De um lado, limita-
do pelo "olhar codificado" e, do outro, pelo "conhecimento reflexivo", o
filósofo encontra na enciclopédia chinesa de Borges uma "região medi-
ana" que liberta a ordem classificatória naquilo que a institui. No espíri-
to de Maio de 68, a ordem aprisiona e, por isso, está havendo desordem.
A desordem libera e, por isso, tem-se de estabelecer uma tipologia exóti-
ca para apreendê-la, de preferência chinesa, com tonalidades cubanas.
Ao contrário de Foucault, o escritor modernista latino-americano
teria se detido diante de cada uma das figuras arroladas pela enciclopé-
dia chinesa a fim de analisar a sua peculiaridade monstruosa que, nos
limites asiáticos inventados por Borges, iriam identificando a peculia-
ridade monstruosa dos seres que os descobridores e colonizadores in-
ventaram para descrever exótica e grotescamente, barrocamente se
quiserem, os seres do Novo Mundo. Na monstruosidade dos trópicos (e
não nas delícias tropicais) o exotismo borgeano deu ao latino-america-
no a forma mais instigante e mais arregimentadora do seu poder bélico
na luta contra o racismo hierarquizante do metropolitano vis-à-vls do
antigo colono.
Retomando as categorias de Foucault. agora em contexto dife-
rente ao de As Palavras e as Coisas, digamos que o "olhar codificado"
do europeu nunca se casou com o "conhecimento reflexivo" do latino-
americano. Ou melhor: só se casa no hífen Borges-Foucault, momento
histórico-revolucionário dos anos 60 em que o olhar europeu, ao ser
tomado de riso diante da própria criatura, o Exotismo, descobre que
existe entre ele e esse seu Outro uma "região mediana que liberta a
ordem no seu ser mesmo". Na literatura latino-americana essa região
mediana teve um nome. Dê-se a ele a alcunha de "realismo fantástico"
ou de "real maravilhoso", pouco importa, ambas e outras alcunhas des-
A Ameaça do Lobisomem - 33
2. A Ameaça do Lobisomem
e menino são um só, pois ambos são uma única essência, a Vontade.
Trabalhemos agora com as pala\Tas dedicadas à "zoología de los
sueõos". Neste grande desdobramento, os seres são todos eles e cada
um construídos por... desdobramentos. Ao lado dos tigres e leões do J Caberia transcrever
zoológico de Deus, estão as esfinges, grifos e centauros das mitologias. aqui uma instrutiva
anedota narrada por
Estes são feitos de dobras de seres que perfazem um novo ser, são Claudia Matos ao fi-
todos e cada um "monstruos" (a palavra é recorrente no texto). No nal do seu livro Acer-
centauro, diz o prólogo, se conjugam o cavalo e o homem; no minotau- lei 110 milhar (Samba
ro, o touro e o homem. Como vai ser dito no verbete "O centauro", "lo e .lfalandragem no
lempo de Gelúlio):
verosímil es conjeturar que el centauro fue una imagen deliberada y no
"Na conversa que tive
una confusión ignorante". O monstro, novo ser, nada mais é, portanto, com Moreira da Silva,
do que a combinação (em nada ignorante) de partes de outros seres pedi-lhe um esclareci-
reais. Uma conclusão se impõe: a própria produção de "monstros" é mento sobre algo que
semelhante à produção do fantástico pelo texto borgeano, este que es- me deixara intrigada
num samba que ele ha-
tamos lendo e qualquer outro. via gravado. Tratava-
Com os monstros mitológicos, estamos diante de um topos clás- se de um verso impro-
sico de Borges. Nas imagens deliberadas de monstros, as possibilida- visado no breque final,
des da arte combinatória beiram o infinito. Só não o beirariam, no caso que dizia: 'ôijá me dis-
seram até que eu vira-
desse manual de zoologia, por tédio ou por nojo do produtor. Portanto, à
va lobisomem'. Como
primeira vista, o zoológico dos monstros, invenção dos homens, seria a ligação do tal lobiso-
mais povoado do que o zoológico dos animais, invenção de Deus. Logo mem com o resto do
o prólogo em evidente e definitivo bom senso corrige a afirmativa an- sam ba era o bscu ra,
terior: "nuestros monstruos nacerían muertos, gracias a Dios". Moral: a embora perceptível,
perguntei-lhe: 'Mas
zoologia dos sonhos, aparentemente mais rica, é mais pobre do que a zoolo- afinal, Moreira, o que
gia de Deus. Prova mais cabal do amor exclusivo e supremo a Deus só você diz com essa his-
existe nas páginas iniciais do Libro dei cielo y dei infimo. tória de lobisomem?
Até este ponto estivemos percorrendo o caminho de uma leitura 'N ada, ora. É pra ri-
mar, compreende?
canônica de Borges. Súbito uma frase final do prólogo, um detalhe, fala
(cantando:) 'Até mu-
de uma ameaça. A ameaça é anunciada e logo exorcizada pelo gesto dei meu nome ... ôi já
incisivo de exclusão: "Deliberadamente, excluimos de ese manual las me disseram até que eu
leyendas sobre transformaciones dei ser humano: ellobisón, el werewolf, virava lobisomem ... '
Rima, e cabe bem no
etc."3. Ou seja: foram excluídos dessa outra enciclopédia os seres que
tamanho da frase.
são produto de uma, para usar a expressão de Robert Louis Stevenson 'Mas, Moreira, se você
na sua famosa novela, "transforming draught". pôs essa palavra e não
Estamos fazendo rolar pela mesa da literatura o dado da trans- outra qualquer, é por-
formação do ser humano no texto de Borges. Está em jogo no proces- que tem alguma coisa
a ver. Tem uma ligação
so de produção textual não mais a figura do desdobramento do um em
com o resto, nem que
dois, ad infinitum, ou do acasalamento do dois em um, ad infinitum, você não perceba, que
mas a figura da transformação. Transformação, entendamo-nos, é a seja inconsciente. 'E o
figura que traduz o puro movimento sem direção fixa, é o movimento do velho Morengueira,
com um risinho de go-
devir outro que é dado, não como o um que é conjunção de dois, a
zação: ' Bom, ligação lá
priori morto, mas como "confusión ignorante". isso deve ter mesmo.
A figura do desdobramento, em Borges, ativa o binarismo de Mas isto ... é o seu tra-
norma e desvio, de saber e ignorância, de Céu e Inferno, de Deus e balho! Ou não é?'"
A Ameaça do Lobisomem - 39
, Não se pode esquecer para e, por isso, não se sente bem na própria peles - eis a diabólica
que o verbo virar, no presença do lobisomem aos olhos dos familiares e, principalmente, do
mundo fortemente se- narrador do romance.
xualizado de Lins do
Rego, comporta um quar-
O lobisomem será triplamente excluído em Fogo Morto - das
to e sugestivo sentido terras pelo senhor do engenho, da comunidade pelo temor religioso do
quando se diz de ser povo e da família pela raiva da mulher. Ele questiona a propriedade
masculino que ele está rural, o credo religioso e a organização familiar. Pergunta José Amaro:
virando.
"Por que seria ele para a crença do povo aquele pavor, aquele bicho? O
que fizera para merecer isto? [... ] E se fosse embora e procurasse
outra terra para acabar os seus dias? [ ... ] Tinha receio de sua mulher.
Era sua inimiga. Por quê? O que fizera para aquele ódio terrível de
Sinhá?" Como arremate, diz a esposa em conversa com a amiga: "Co-
madre, eu prefiro a morte a viver mais tempo naquela casa. Uma coisa
me diz que ele tem parte com o diabo." Triplamente ameaçador, tripla-
mente excluído, resta-lhe a auto-exclusão. Se suicida com a faca de
cortar sola, completa o narrador.
Os exemplos seriam inúmeros dessa ligação do verbo virar com
o Diabo, também com a série transgressão, sentença, punição, casti-
go, exclusão e morte. No Modernismo, não houve lugar de Vida para o
ser em transformação entre os seres vivos da zoologia de Deus, entre
os seres conjugados e mortos da zoologia dos sonhos. Resta-lhe convi-
ver com a dura realidade da transformação, sabendo de antemão que
não encontrará como sobreviver a não ser por obra e graça do Diabo.
ofyour fancy, and rebelling against it with the scom of a soul that hates
to be contaminated \..ith the mere picture of victorious evil. Our on1y
chance seems to me to be to maintain, against ali appearances, that evil
can never in no way be victorious." Tudo se passa assim na novela
porque a violência deliberada só está nos vários personagens que saem à
procura do sr. Hyde, todos masculinos, todos solteiros7 • 7 Jenni Calder, estudio-
sa de Stevenson, obser-
Já o médico, no seu laboratório, chegou à transformação por
va: "11 is interesting and
um produto do acaso. "Los senderos se bifurcan", em Stevenson, não significant that ali the
por obra do esforço classificatório e científico, mas por obra e graça do characters in the story
acaso. "That night I had come to the fatal cross roads. Had I approa- are in a sense isolated.
ched my discovery in a more noble spirit, had I risk the experiment They have no wives, no
families, no close fri-
while under the empire of generous or pious aspirations, and all must end-ships. They have
have been otherwise, and from these agonies of death and birth, I had servants and they have
come forth an angel instead of a fiend. The drug had no discrimina- acquaintances, but that
ting action; it was neither diabolical nor divine [grifo nosso]". Nem is ali."
diabólica nem divina, para o médico, a droga não assinala um sentido
único, ela não tem um fim pré-determinado pela lógica científica. Ela
permite o jogo das permutações até o infinito da vida humana. A droga
significa, pois, a própria disponibilidade que existe para o homem em
toda encruzilhada da sua vida.
Não tem sido salientada nas leituras da novela de Stevenson, o
fato de que o destino dado à vida do médico, a transformação final do
médico no sr. Hyde, ou seja, o fato de que o mal (isto é, a coagulação do
duplo em um único ser, a negação da transformação) só triunfe porque
naquele exato momento - no instante crucial da experiência - circulava
no mercado londrino uma droga impura. O sentido da droga é determi-
nado pelo mercado das drogas. Confessa aos amigos o dr. Jekyll:
"You willlearn from Poole how I have had London ransacked; it was in
vain; and I am now persuaded that my first supply [ofsalt] was impure,
and that it was that unknown impurity which lent efficacy to the
draught" [grifos nossos]. O universo da transformação é o da impureza
no mercado londrino. Do momento em que o médico utiliza apenas a
pureza dos produtos que são comercializados no mercado, não é mais
possível o jogo das transformações.
O movimento de ida-e-volta da metamorfose não é mais possível
porque a droga que o mercado passou a oferecer ao médico era pura:
"I sent out for a fresh supply [of salt], and mixed the draught; the
ebullition followed, and the first change of colour, not the second; I
drank it, and it was without efficiency." A pureza coagula o monstro.
Cuentos de Verdad y
Cuentos de Judíos
Josefina Ludmer
Yale University
1 Las citas de Arlt remiten a la Obra Entramos en el mundo de los delitos de la verdad. En
Completa, Buenos Aires, Carlos Lohlé, la puerta hay un cartel que reza: "En este sitio dei
1981, Tomo l. Los locos y "Los mons-
truos" de Arlt resu\tan de una pequeila corpus los cuentos se relacionan formando pares o pa-
operación de trasmutación para poner- rejas: pares de cuentos, pares de delitos o parejas de
lo a la par de Borges. La operación con- delincuentes" .
siste en quitar el número cabalístico de En la puerta nos esperan nuestros guías, un par
la primera novela (Los siete locos) y
restituir el nombre original de Arlt a la
de delincuentes de dos clásicos argentinos dei siglo
segunda, titulada Los /anzallamas por XX: Emma Zunz (dei cuento "Emma Zunz" de Bor-
Carlos Alberto Leumann. La estética de ges, 1948), que se disfraza de prostituta para vengar a
Arlt ("La vida puerca", "Los monstru- su padre, y Oregorio Barsut (de Los locos y Los mons-
os'') puesta en su lugar, y no en los títu- truos de Arlt, 1929-31)1, que le dice ai farmacéutico
los o las estéticas de Güiraldes y de Leu-
rnann. Ergueta cosas como éstas en el capítulo "Un alma aI
César Aira ("La genealogía deI mons- desnudo" de Los Monstruos:
truo" "Arlt", Paradoxa, Beatriz Viter-
bo Editora, nO 7,1993: 55-71. Artículo Sé que con usted puedo hablar, porque lo
datado en 1991) no alude ai título origi-
nai de Arlt pero lo Ice dentro de lo que
creen loco... [ ..) Me creo extraordinariamen-
lIama "Ia lógica deI Monstruo", que es te hermoso [ ..) Cuando menos, fotogénico
una opción formal expresionista. [ ..} Dicha creencia ha modificado profun-
Dice Aira: damente mi vida [ ..) porque ha hecho que
"En Arlt eI mundo expresionista, de con-
yo me coloque frente a los demás en la acti-
46 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 4, 1998
molino de los Monstruos en su carrousel y los 20s, el cine norteamericano de los 20s (y también
congelado, la Vugen colgada dei Aire: Du- que los une, después, el cine de Torre Nilsson 3 ), pero en
champ la lIamó Perspectiva, yo la lIamo Ins-
piración." (70-1) verdad la concidencia más notable, y esto no lo cuentan,
es que los dos matan a "un judío" y después se burlan de
~ Se encuentran datos de Milton SiIIs en Sol la justicia con sus "cuentos".
Chaneles y Albert Wolsky, The Movie En un viernes de apocalipsis de fines de 1929,
Makers (Secaucus, N.J., Derbibooks Inc,
1974: 444); en Notable Names in lhe Ame-
Barsut (que vivia de una herencia) mata ai judío Brom-
rican Theater (Clifton, New Jersey, Jones berg (un "esclavo" dei Astrólogo que trataba de desci-
T. White & Company, 1976: 464); en John frar el Apocalipsis) en alianza con el mismo Astrólogo,
Stewart (comp.), Filmarama .Vol. 1, The For- que le da el revólver y le devuelve el dinero que le roba-
midable Years 1893-1919, y en \bl. R The ron; este asesinato es contado por un narrador omnis-
Flaming Years 1920-1929 (Metuchen, N .I.,
Scarecrow Press, 1975: 232, y 1977: 488). ciente sin yo. Barsut es detenido en un cabaret por pagar
Pero el artículo que muestra la otra cara, con el dinero dei Astrólogo (que resultó ser el falsificado
filosófica, de Sills (y muestra su biblioteca por los anarquistas), y se burla de la justicia acusando a
y por lo tanto justifica a Borges), es el de toda "la banda" con un delito de la verdad que todos creen.
Dumas Malone ed. Dictianary ofAmerican
Biography, Vol. IX (New York, Charles
Esto último lo cuenta, y lo cree, "el cronista
Scribner's Sons, 1935), que informa en la p. de esta historia" que tiene el yo en el capítulo "EI
164-5: homicidio":
"Su nombre completo era Milton George
Gustavus SiUs. Se graduó de la Universidad
Barsut había sido detenido en un cabaret de
de Chicago en 1903 con el grado de Bachil-
ler en Artes y por un afio y medio permane- la calle Corrientes ai pretender pagar la con-
ció en ella como investigador y fellow en sumición que había efectuado con un billete
filosofia. Sus experiencias en las actuacio- falso de cincuenta pesos. Simultáneamente
nes dramáticas de la Universidad lo prepa- con la detención de Barsut se había descu-
raron para su debut profesional en 1906.
Un compromiso con el repertorio de Char-
bierto el cadáver carbonizado de Bromberg
les Cobum le dio experiencia en las obras de entre las ruinas de la quinta de Temperley.
Shakespeare. En 1914 dejó el teatro por el Barsut denunció inmediatamente aI Astrólo-
cine y en 1916, después de una experiencia go, Hipólita, Erdosain y Ergueta. (. ..) AI ama-
preliminar en los mal equipados estudios de
necer dei día sábado el descubrimiento dei
New York, se fue a Hollywood donde co-
menzó una nueva era de éxito como estrella cadáver de la Bizca convirhó los sucesos que
de cine. Fuera de los estudios estaba muy narramos en el panorama más sangriento dei
lejos de la idea popular dei ídolo de cine: su final deI ano 1929. {. .. } No quedaba duda
biblioteca contenía libros en griego, en fran- alguna de que se estaba en presencia de una
cés y en ruso, y su conversación iba de la
filosofia a las ciencias experimentales y de
banda perfectamente organizada y con ra-
aUí ai tennis o ai golf. Nunca abandonó sus mificaciones insospechadas. (. ..) Las decla-
estudios académicos y de vez en cuando raciones de Barsut ocupaban series de co-
daba conferencias en universidades; en 1927 lumnas. No cabía duda de su inocencia.
habló en la Escuela de Negocios y de Admi-
nistración de Harvard sobre las condiciones
dei mundo dei cine. También fue co-autor Y el 16 de enero de 1922, un sábado o domingo
con Emest S. Holmes de un libro publicado (según cómo se cuenten los dias), la obrera Emma Zunz
después de su muerte, en 1932, y titulado (18 aiíos, virgen) llama, con el pretexto de la huelga, para
Values: a Philosophy of Human Needs. A
verlo aI anochecer, a Aarón Loewenthal, uno de los due-
diferencia de muchos actores, fue un hom-
bre rico; dejó una herencia de varios cientos õos de la fábrica de tejidos Tarbuch y Loewenthal (un
de miles de dólares." "judío avaro" cuya única pasión era eI dinero); se acues-
48 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, nO 4, 1998
ta en el Bajo con un marinero nórdico que babla otra Por su parte, Evelyn Mack Truitt, Who Was
1J7/O O" Serem (New York: RR Bowker
lengua; mata en la fábrica ai judio de '"Iabios obscenos"
Company, 1983, p. 663), nos infonna sobre
(en las dos lenguas, ídish y espaõol 4 ) para vengar a su algunas películas de Milton Sills que pudo
padre, su nombre y su honor; toma el teléfono y se burla haber •..isto Emma Zunz (y que también,
de la justicia acusando a Loewenthal con un delito de por supuesto. pudo ver Barsut):
la verdad que todos creen: Antes deI erimen: 191 5 The Rack; 1917
Patria (serial); 1919 Shadows; 1920 The
Week-End; 1921 The Marriage Gamble; AI
Ha ocurrido una cosa que es increíble... El lhe End O/lhe World; 1922 Buming Sands;
senor Loewenthal me hizo venir con el pre- Borderland; The Woman "'7/0 Walked Alo-
texto de la huelga... Abusó de mí, lo maté... ne; The Marriage Chance.
Después deI crimen: 1923 Why Women Re-
Marry; The Lasl Hour, A Lady ofQuality;
EI delito de la verdad de Emma y de Barsut, que Legally Dead; 1924 Madorma oflhe Streets;
todos creen, consiste en un enunciado idéntico ai ver- The Heart Bandit; 1925 As Man Desires; [
dadero y legítimo, pero puesto en otro lugar, tiempo WantMyMan;ALover'sOalh; 1926 Para-
dise; TheSilentLover; 1927 Framed; Hard-
y nombres que los legitimos. EI cronista de Borges lo
Boiled Haggarty; 1928 The Barker; Bur-
define asi para cerrar el cuento: ning Daylight; The Crash; 1929 His Capti-
ve Woman; Love and lhe Devil; 1930 Man
La historia era increíble, en efocto, pero se Trouble; The Sea Wo!f
impuso a todos, porque sustancialmente era
3 Torre Nilsson filmó "Emma Zunz" de
cierta. Verdadero era el tono de Emma Zunz, Borges en 1952, con el título Días de odio
verdadero el pudor, verdadero el odio. Ver- (y la ubica en la "época actual" dicen los
dadero también era el ultraje que había pa- criticas). Y filmó a "Los locos-Monstruos"
decido; solo eran falsas las circunstancias, de Arlt (con el título Los siete locos) eo
1972, durante la guerrilla y la dictadura mili-
la hora y uno o dos nombres propios. tar de 1966.
Mónica Martin (EI gran BabJ)'. Un hombre
Para mostrar el delito de la verdad como "fic- como yo no deberia morir nunca. Biografia
ción creida" (y como más aliá de la división verdade- novelada de Leopoldo Torre Nilsson, Bue-
nos Aires, Sudamericana, 1993) se refiere a
ro/falso) es necesaria la presencia de un narrador- Dias de odio:
cronista con su despliegue temporal y espacial. Por- "Para demostrar que Emma Zunz -inter-
que los "cuentos" de Zunz y de Barsut plantean un pretada por Elisa Christian Galvé- estaba
problema de secuencia: funden el antes y el des- sola en el mundo la convierte en una mujer
taciturna disgustada con lo que la rodea.
pués en tiempo y espacio (Emma: me violó, lo
Ubica la historia en la época actual y hace
maté). La duplicidad los constituye, porque ligan que Emma camine por una ciudad gris y fa-
dos campos de representación (dos órdenes dis- bril, tapizada con gratlitis a Eva perón. Con
tintos) en uno (y por eso pueden ser leídos como estas hebras sutiles solícitaba ai espectador
alegorías). EI cronista muestra cómo los dos tiem- que interpretara que en Buenos Aires eI
hombre estaba solo en los conglomerados
pos, espacios, nombres, "circunstancias" que se fun- comunitarios dei peronismo".
den en uno en "el cuento", pertenecen a dos órde- Mónica Martin hace que Torre Nilsson cu-
nes distintos. Zunz y Barsut, con sus "cuentos", ente su biografm:
revelan la extrana coincidencia entre los delitos de "Sólo 80.000 personas vieran Dias de odio.
Con Dias de odio vue1vo a ser minoritario.
la verdad y los discursos de la verdad: los discur-
Se prohibió que la película fuera vendida aI
sos en los que se cree. La crónica es el discurso exterior y se limitó ai máximo su distribuci-
de la verdad de una cultura fundada en la creencia ón en eI país. No sé si porque Borges es un
en la verdad de la confesión. autor no visto con simpatia por el gobierno,
Cuentos de verdad y cuentos de judíos - 49
-
la justicia" y "delitos contra el estado". Es decir, acros sa), y dice que en The American Scene (1907)
James se preocupó por el futuro dei inglés a
políticos.
causa de la "conquista hebrea de New York",
Pero su política es (como su justicia) enigmática, donde los cafés dei East Side se habían tmns-
porque se funda en las creencias. Su política es mostrar formado en la "sala de tortum de los idiomas
que la razón dei estado descansa totalmente sobre el apa- vivos". (p. 316)
rato de creencias y restos arcaicos (que se escriben
l Podría decirse que en los anos 2040 cam-
en los cuerpos, con sangre, y en los nombres legíti-
bia la posición de los judíos en la literatura
mos). Los "cuentos" de Emma y Gregorio después dei argentina; siguen siendo representados, como
ases inato de judíos son un instrumento crítico que pane desde 1880, como usureros extranjeros, ava-
a la verdad en delito y genera enigmas en relación con la ros, y "femeninos", pero en Arlt y en Bor-
ges son asesinados y los que los matan ha-
verdad de la justicia.
cen una farsa de la verdad ai estado para
salvarse de la j usticia. Esa "ticción" conti-
núa "Ia realidad", porque el primer pogrom
Los enigmas dei cuento en Argentina se realizó durante la Semana
Trágica, en 1919, con un muerto (y sinjus-
ticia estatal); se acusó a Pedro Wald, un re-
Emma Zunz y Gregorio Barsut no sólo matan a un dactor dei matutino en ídish "Di Presse", de
')udío" en la Argentina de los 20s y 40s 5 , a un personaje pretender convertirse en presidente de la Na-
que fue construido como "judío" en la narración (pasión ción "Iuego que triunfara la conspiración 80-
viético-maximalista" (Breviario de ulIa ill-
por el dinero o pasión por la escritura), y se burlan de la
famia. CuademonOI.Comité deLuchaCon-
justicia, todos les creen y quedan en libertad para servir- tra el Racismo y demás formas dei Colonia-
nos de guías en este mundo, sino que matan, los dos, a 1ismo, 1975, p. lO.)
"un judío"-"delincuente". Matan a Loewenthal y a Boleslao Lewin (Cómo fue la inmigracióll
Bromberg, que son alternativamente, nunca coinciden- ;udía a la Argel/tina. Buenos Aires, Plus
Ultra, 1971) describe los atentados durante
temente, representados como "judíos" (dinero y escritu- la Semana Trágica de enero de 1919, que se
ra) o como "delincuentes" (Jadrón o asesino). Emma desencadenó con la huelga en los talleres de
y Gregorio los matan porque creyeron aI padre de Pedro 'vásena En ese momento, dice Lewin, el
Borges y aI Astrólogo de Arll. judío se hizo antipático, tanto por su condi-
ción de súbdito ruso como por la difundida
Veamos la construcción dei "judío" en Borges por
creencia, desde el proceso de Radovitzky,
parte dei cronista o narrador de "Emma Zunz": de que participaban en toda labor "di sol-
vente". [En 1909 eI anarquistajudío Simón
Aarón Loewenthal era, para todos, un hom- Radovitsky asesinó en un atentado ai jefe de
policía coronel Falcón.) Lewin dice: "por
bre seria; para sus pocos íntimos, un avaro.
más que sectores oportunistas israelitas
Vivía en los altos de la fábrica, solo. Esta- pretenden silenciar el hecho" murió León
blecido en el desmantelado arrabal, temía a Futaievsky, miembro de la organización 80-
los ladrones; en el palio de la fábrica había cialistajudía Avangard; "es también contm-
un gran perro y en el cajón de su escritorio, ria a la verdad la tentativa -de gentiles y
j udíos- de negar que una de las tristes face-
nadie lo ignoraba, un revólver. Había l/orado tas de la Semana tile el pogrom que duró
con decoro, el ano anterior, la inesperada desde el jueves 9 de enero hasta el martes
muerte de su mujer -juna Gauss, que le tra- 14 dei mismo mes. Su saldo fueron más de
jo una buena dote/-, pera el dinero era su 150 heridos graves, centenares de contusos
y considerables pérdidas materiales. Los bar-
verdadera pasión. Con íntimo bochorno, se
rios habitados por judíos se convirtieron en
sabía menos apto para ganarlo que para meta de expediciones punitivas de toda laya
conservarIa. Era muy religioso; creía tener de patrioteros que, además de atropellos fi-
con el Senor un pacto secreto, que lo eximía sicos de todo orden, repitieron la hazana
Cuentos de verdad y cuentos de judios - 51
deI ano deI Centenario, quemando los li- de obrar bien, a trueque de oraciones y de-
bros de las bibliotecas obreras judías ubica- vociones. Calvo, corpulento, enlutado, de
das en la calle Ecuador 359 (Avangard) y
Ecuador 645 (Poalei Sión )." Lewin seiíala quevedos ahumados y barba rubia, espera-
que no se identificaron a los responsables ba de pie, junto a la ventana, el informe con-
ni se indemnizaron las víctimas (171-174, fidencial de la obrera Zunz.
subrayados nuestros).
Lo que Lewin lIama "Ia hazaiía dei ano dei
Centenario" fue el primer ataque en 1910.
Esta descripción deI narrador contiene uno de los
Dice Juan José Sebreli ("La cuestión judía enunciados centrales deI anti semitismo: la avaricia deI
en Argentina", que cierra el volumen de su judío y su pacto secreto fraudulento con Dios, y ocurre
compilación La cuestión judía en la Argen- cuando Emma viaja hacia él para matarlo, en 1922.
tina. Buenos Aires, Tiempo Contemporá-
Pero en otra parte deI texto (en otro tiempo, en
neo, 1968): "AI terrorismo de izquierda se
opone eI terrorismo de derecha. Para el 1916) el padre de Emma Zunz juró que Loewenthal
Centenario, Luis Dellepiane organiza la era el "verdadero" ladrón (y no él mismo): se lo juró a
Policía Civil Auxiliar, con carácter ad hono- su hija la última noche que se vieron, antes de cambiar
rem, compuesta por ióvenes de las c/ases su nombre por el de Manuel Maier y de exilarse en
altas, con el pretexto de cooperar para los
festejos, siendo su verdadero objetivo man-
Brasil. (Ella es la única que sabe el nombre secreto y
tener atemorizados a los obreros. J óvenes el nombre deI verdadero delincuente. O el nombre se-
paloleros reunidos en la muy exclusiva So- creto dei delincuente.) ~ Y si el último mensaje oral,
ciedad Sportiva Argentina, presidida por el personal, de Emanuel Zunz en 1916, cuando le juró la
Barón Demarchi y de la que formaba parte,
verdad (loen qué lengua'1), que el ladrón era Loewen-
entre otros, Juan Balestra, se dedican en
vísperas deI 25 de mayo de 1910 a incendiar thal fue también un engano, para salvar su nombre
las redacciones de los periódicos La Pro- ante la hija'1 ~Otra farsa -delito- de la verdad'1 Emma
testa y La Vanguardia, saquear locales sÍl1- le creyó, pero la sospecha de que el crimen es total-
dicales y agredir militantes obreros. Estos mente gratuito tifie el texto. EI delito de la verdad de
mismos jóvenes son los autores deI primer
pogrom argentino; El15 de mayo; ungru-
Emma se basa también en ese pacto secreto de la le-
po de ellos Ilega hasta el barrio judío, en la gitimidad (su nombre está contenido enteramente en
antigua circunscripción 9a. En la esquina de el nombre deI padre), en el que se cree.
Lavalle y Andes (actualmente José E. Uri- (Otro enigma: loera judía Emma, quiero decir su
buru) saquean un almacén judío y llegan hasta
madre muerta'16 ~Su asesinato es como el de Rabin en
la violación de mujeres. Estos hechos son
relatados por las propias victimas a los re- 1995: un judío "puro" contra el "verdadero delincuen-
dactores dei boletín de la C.O.RA. (Confe- te" y por eso lo mata un sábado aI anochecer'1 lO la
deración Obrera de la República Argenti- obrera textil no erajudía y el texto, puesto en los anos
na)" (229-30, subrayados nuestros). 20, es la metáfora borgeana deI hitlerismo y deI pero-
En cuanto al Barón Demarchi y sus pato-
tas, sólo cabe recordar que aparecieron en
nismo de los 40? i, "Emma Zunz" como otra "Fiesta
"Los Moreira" en 1912, con la tàmosa fies- deI Monstruo" para hacer par con Los Monstruos'1)
ta que el Barón organizó en el Palais de Gla- En Arlt el "judío" aparece en Los locos y el
ce, con eI objeto de que la sociedad portefía "delincuente" en Los monstruos. En el capítulo "Sen-
admitiera el tango en su seno.
sación de lo subconciente" por primera vez se dice
6 No hay indicios en el texto de que el ape- que Bromberg o El hombre que vio a la partera es
lIido Zunz sea judío, aunque Borges juega judío, cuando plantea los problemas de "interpretación"
todo eI tiempo con dos nombres y con las de las Escrituras.
variantes entre nombres y apellidos judios
y alernanes: Fain o Fein, Manuel Maier o
Emanuel Zunz, Eisa Urstein o las dos Kron-
Mojado y con la cahellera revue lta, se detu-
fuss. vo a un costado de la escalinata el Hombre
52 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, nO 4, 1998
to, mientras que en el de Gregorio coinciden la fecha de único cuento con nombre femenino, y de
una obrera (si se deja de lado "La viuda Ching,
la ficción, la de la escritura y la de la publicación: las tres
pirata", de Historia universal de la infamia,
son estrictamente contemporáneas, como lo consigna el que es el texto matriz de los delitos verba-
mismo autor en la nota que cierra Los monstruos: les). Los cuentos de Borges con títulos de
nombres girall alrededor de los delitos de la
verdad y la legitimidad, y son políticos o
Nota: Dada la prisa con que fue terminada
incluyen alguna referencia política.Y su po-
esta novela, pues cuatro mil líneas fueron lítica es. tarnbién, ambivalente. Incluyen tam-
escritas entre fines de setiembre y el 22 de bién otras lenguas orales o escritas, extraJlje-
octubre (y la novela consta de 10.300 lí- raso y delitos verbales como nombres falsos,
neas) , el autor se olvidá de consignar en el delaciones. y pactos fraudulentos que sosti-
enen y acompaiian a la ficción. En todos se
prólogo que el título de esta segunda parte
combinan crónica y confesión, discursos
de "Los siete locos ", que primitivamente era narrativos de la verdad (cDmo en Los locos-
"Los monstruos ", fue sustituido por el de Los monstnlOs)
"Los !anzallamas" por sugerencia de! no- Otros textos de Borges con judíos: "Deuts-
ches Requiem", "La fiesta dei monstruo",
velista Carlos Alberto Leumann, quien una
"Guayaquil", "EI indigno". Y de Arlt: El ju-
noche, conversando con el autor, le insinuá guete rabioso.
como más sugestivo el título que el autor Juan José Sebreli [compil.] La cuestiónju-
aceptó. Con tanta prisa se terminó esta obra día en la Argentina (op. cil.) abre ellibro con
que la editorial imprimía los primeros plie- una "Cronología de la cornunidad judía ar-
gentina", que va desde 1856 hasta 1%7. En
gos mientras que el autor estaba redac- 1937 consigna:
tando los últimos capítulos. "Julio: Declaración inicial dei Comité contra
el Racismo y el Antisemitismo en la Argen-
La diferencia temporal de los contemporáneos tina. Jorge Luis Borges forma parte dei Con-
sejo Directivo dei Comité."
genera un extrano movimiento, que es el movimiento entre
Arlt y Borges y entre los 20s y los 40s en Argentina (y el W Dice Urnberto Eco ("Fakes and Forgeri-
movimiento de "la ficción"). En ese movimiento, los enig- es", en VS, 46, 1987: "Fakes, Identity aJld
mas dei presente se tienden hacia adelante, como antici- the Real Thing'') que dos cosas diferentes
son la rnisrna si ocupan en eI rnismo mo-
pación, o hacia atrás, como memoria, y saltan a "otra
mento la misma porción dei espacio. Remi-
realidad". te a Ian Haywood (Faking lt. Art and lhe
En "Emma Zunz" Borges pone en los aftos 20s Po/ilics ofForgery. New York, Saint Martin
los enigmas de los 40s en Argentina: el peronismo y el Press, 1987): hablamos de falsijicación cu-
anti semitismo. Los lleva ai antes, como memoria (como ando algo presente es desplegado corno si
fuera el original. rnientras que eI original, si
"breve caos que hoy la memoria de Emma Zunz repudia
hay uno, está en olra parle. Eco agrega que
y confunde"). Lleva a los 20s, sabiéndolo, el peronismo la falsificación presenta problemas filosófi-
y el anti semitismo, para representarlos extrafiamente en cos y semióticos como los de originalidad y
"cuento", en delito de la verdad, en otra "realidad": en autenticidad, identidad y diferencia. Es fal-
sificado cualquier objeto producido, usado
otro lugar, tiempo y con otros nombres.
o mostrado con la intención de hacer creer
Y todo el Arlt de 1929 pone (sin saber lo, como el que es idéntico a otro, único. Esa pretensión
Astrólogo), los enigmas deI presente en el después de la de identidad plantea un problema pragmáti-
narración, como visión y anticipación y por eso puede co, porque algo no es falso si no hay preten-
representar, también extrafíamente, la "realidad" de los sión de identidad con otro. Las condiciones
necesarias para la falsificación son que el
40s. Puede representar el hitIerismo y el peronismo dei objeto sea diferente, hecho por otro, en cir-
presente de Borges en "cuento" o delito de la verdad: en cunstancias diferentes, y que tenga fuertes
otro lugar, tiempo y con otros nombres que los legítimos. semejanzas con el primero.
Cuentos de verdad y cuentos de judíos - 55
:fin; tarnbién comparten el movimiento entre principio y judío" y datado 1üdische Wochenschau, 2-
4-1946. Tiene 30 páginas.
fin (el movimiento mismo de la narración) que responde
Son los anos en que se escribió "Emma
a un plan secreto. El plan de Emma que es su "cuento" Zunz" y, por supuesto, también allí está el
de la justicia, y el plan dei Astrólogo que es su "cuento" "cuento" a la justicia después dei asesinato
de la revolución . de judíos. EI marco dei panfleto es narrati-
Ese plan o "cuento" de la justicia y la revolución vo: Roberto, gerente de una casa bancaria,
cuenta que hace muchos anos "formamos
es una de las ficciones de los 20-40 escrita en Argenti-
un círculo de cuatro amigos: Marcelo, inge-
na, en el capitalismo periférico latinoamericano. Dn cuen- niero. Raúl, médico, Mauricio, comerciante,
to que requiere los momentos y las encamaciones deI y yo". Estaban de acuerdo en todo pero en
dinero puro, deI signo dinero "en delito", como su punto ocasión de la victoria de los aliados se pro-
de partida y de llegada, y que requiere además a un ')U- dujo una ruptura de relaciones porque eI único
que mostró entusiasmo fue el comerciante
dío" y a un plan secreto. Un plan que conecta aI dinero y Mauricio que "habla" así: nosotros los judí-
a la verdad con "el delito", a propósito dei ')udío"8. Dn os somos los que hemos ganado la guerra y
"cuento" capitalista (o un instrumento crítico capitalista) nuestra victoria es tan decisiva que nos lIe-
de la justicia y la revolución que puede representarse vará ai dominio absoluto sobre todos los
pueblos de esta tierra!" (4).
totalmente con el lenguaje de la falsifícación (falsifica- Pero no sólo "habla" a los tres argentinos,
ción verbal, de dinero, de documento, de una prueba, de porque unos días después les manda una
una obra de arte, deI Quijote). Delito de la verdad, falsi- carta fechada en julio de 1945. Yentonces
ficación y ficción literaria ligan lenguajes diferentes que "escribe" un 'Judío", porque eI texto de la
carta (cuya "cita" ocupa casi todo eI folleto)
giran alrededor dei mismo eje: lo mismo pera en otro
contiene todos los elementos de nuestros
lugar, tiempo y protagonistas. Dinero falsificado por los "cuentos de verdad y cuentos de judíos",
anarquistas es lo que tiene Barsut en la mano cuando lo desde e/ comp/oty e/p/an (dice que los "Pro-
encuentran después de matar ai ')udío". Y la falsifica- tocai os .... " son efectivamente nuestra "Mag-
ción literaria está en el título mismo dei texto matriz de na Carta" y cuenta el plan para dominar y
"devorar a todos los pueblos deI mundo")
Borges de los delitos de la verdad que, como "Emma hasta la reproducción mecánica de la carta.
Zunz" tienen por título un nombre: "Pierre Ménard, au- Pera lo que nos interesa hoy es el momento
tor dei Quijote" (datado en Nimes, 1939), cuyo narrador, en que este ')udío" pane a la verdad en deli-
aliado con la aristocracia francesa, dice que hará "una to (y es creído, dice) cuando se refiere ai
Holocausto; nos interesa qué dice "el judio"
breve rectificación" de "Ia Memoria" de Menárd, por-
después dei asesinato de judíos, cuál es su
que "cierto diario cuya tendencia protestante no es un "'cuento":
secreto ha tenido la desconsideración de inferir a sus "Mientras tanto hacemos levantar la voz
deplorables lectores -si bien éstos son pocos y calvinis- sobre las supuestas atrocidades de los a/e-
tas, cuando no masones y circuncisos, un 'catálogo fa- manes nazis. iQué bien nos ha venido esa
terrible epidemia de disentería y tifus en
laz' de sus obras visibles." Buchenwald! jCómo hemos podido sacar
(Borges escribe con "Pierre Ménard, autor dei provecho de ese fenómeno, por lo demás
Quijote" su propia iniciación delictiva en "Ia ficción". muy frecuente en guerras largas [ ... ] Hoy
"Pierre Menárd" (un texto sobre el nombre masculino, hemos convertido un campo de concentra-
ción para disentéricos y titicas en un campo
sobre la "restauración" de su "memoria"), "dedicó sus
de masacre de varias millones de seres hu-
escrúpulos y vigilias a repetir en un idioma ajeno un libra manos y la gente nos lo lia creído nueva-
preexistente"; "su admirable ambición era producir unas mente [... 1Y luego esas sepulturas en masa
páginas que coincidieran -palabra por palabra y línea de los centenares de miles de muertos par
por línea- con las de Miguel de Cervantes". Que coinci- los ataques aéreos que ni siquiera cabían en
las fosas de emergencia y por eso tuvieron
dieran en otra lengua, en otro lugar, tiempo, y protago- que ser quemados por media de lanzalla-
nistas: que fueran "su ficción", su "falsificación" y su mas, etc.
Cuentos de verdad y cuentos de judios - 57
Han vueIto de los campos de concentración delito de la verdad. Y que incluyeran a "los circuncisos")9.
nazis, sanos y salvos, los enemigos máxi-
Emma y Barsut nos explican que las políticas dei di-
mos dei nazismo, como ser: el ex-canciller
de Austria Schuschnigg, luego Thalmann, nero y de las creencias, que rigen en este mundo, conectan
Jefe dei partido comunista alemán, el obis- la "ficción" con la falsificación y con el racismo en el capi-
po protestante Niemoeller, quien tanto com- talismo periférico de los 20s y los 40s. A este punto enigmá-
batió a los nazis desde el pupitre de su igle- tico, ai corazón de los delitos de la verdad, nos han traído
sia y hasta el propio Leon Blum, judío y ex-
nuestros guías.
premier de Francia. Es de com prender que
si los nazis no han matado a estos sus ene-
migos máximos, menos habrán dado muerte
a otros enemígos de menor categoría. La reproducción dei cuento
Tampoco han matado o vejado a mis conna-
cionales los judíos, sólo les habían quitado
la libertad de acción, obligándolos así a salir Los guías nos seõalan la coincidencia final de los
dei país." (23) "cuentos de verdad" y los "cuentos de judíos" deI par
Una vr:z. leída la "bestialídad", como dice eI Arlt-Borges, todos "en delito" en el Buenos Aires de los
gerente, llega eI momento de com prender y
el médico Raúl conc\uye:
20s y 40s. Una extraiia coincidencia en los "epílogos".
"Ahora lo com prendo todo. Nos han hecho Porque tanto Zunz como Barsut se liberaron de la justicia
ver el fantasma nazi para enganchamos y estatal para reproducir o'el cuento".
quitamos eI último resto de independencia En el "Epílogo" de EI Aleph, fechado el3 de mayo
y soberanía nacional que teníamos." (28)
de 1949, el mismo Borges dice que el "cuento", ni fan-
Imprimen la carta "creída" dei "judío", re-
nuncian a la amistad con todos "los judíos" tástico oi fidedigno, se lo contó Cecilia Ingenieros:
y exhortan a todos a hacer lo mismo, puesto
que obedecen a "regímenes extranjeros in- Fuera de Emma Zunz (cuyo argumento es-
females y subversivos".
pléndido, tan superior a su ejecución teme-
11 Nuestra hipótesis de los pares es que la
rosa, me fue dado por Cecilia Ingenieros) y
correlación "moderna" (en los 20-40) de la de la Historia dei guerrero y de la cautiva
"verdad" (de la filosofia y la estética de la que se propone interpretar dos hechos fide-
verdad) con los "judios" se ve nitidamente dignos, las piezas de este libro correspon-
cuando se la lee desde eI delito. Desde el
delito, el par "verdad" y 'Judios" funcionó
den ai género fantástico.
como cuento literario y definición de la fic-
ción. También funcionó en la filosofia euro- Y en el "Epílogo" de Los Monstruos la última iro-
pea de los 20-40, cuando eI cuestionamien- nía (sarcasmo, sátira expresionista de los 20s) de Arlt:
to de la verdad apareció como definición dei
Barsut se lo cuenta a todo el mundo, porque en 1930 se
"pensar" o de la filosofia de la modemidad.
Y funcionó, otra vez, "en par" o "en pareja" va a Hollywood a filmar "el cuento". Dice "el cronista
con el asesinato de judios en la "realidad". de esta historia" que usa el yo y que es el que creyó las
Pero veamos qué ocurre con la poesía. Se- declaraciones de Barsut (y también creyó las confesio-
gún Anthony Julius (TS. Eliot, Anti-Semi-
nes de Erdosain):
tism, and Literary Form (Cambridge, Cam-
bridge University Press, 1995) lo que hay
que interrogar a propósito dei antisemitis- Barsut, cuyo nombre en pocos días había al-
mo de Eliot (que estaba en el aire en los anos canzado el máximum de popularidad, fue
20) son las conexiones entre modernismo y contratado por una empresa cinematográfi-
antisemitismo: qué tiene que ver la historia
de una infamia con el examen de un movi-
ca que iba a filmar el drama de Temperley
miento literario central dei siglo Xx. Esas La última vez que le ví me habló maravillado
conexiones no pueden ser de perspectiva: y sumamente contento de su suerte:
leer el antisemitismo desde la perspectiva - Ahora sí que verán mi nombre en todas las
58 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 4, 1998
esquinas. Hollywood. Hollywood. Con esta dei modernismo puede trivializar el horror
película me consagraré. El camino está en la historia judía contemporáuea, y ai re-
vés, interpretar eI modernismo desde la pers-
abierto. pectiva deI antisemitismo parece perverso
y reductivo (38).
Los guías (el cuerpo-nombre de una "mujer" y el EI problema, para Julius, es la idea de la
cuerpo-nombre de un "actor") nos abren el camino por- "verdad poética"; la idea de que la poesía
tiene una relación diferente con eI mundo
que cierran la historia que se cree con la historia de su
que la prosa (y que es superior a ella), que
reproducción mecánica. no hace atirmaciones sobre el mundo sino
que muestra "verdades" sobre el mundo o,
en la versión deconstructiva, sobre eI len-
guaje (75). Estas ideas subyacen a los soste-
En una de las calles de este mundo ... nedores dei simbolismo. que dio el contexto
para la composición de la poesia de Eliot, y
Los enunciados de Emma y de Barsut ai es- también deI New Criticism, que dio eI con-
tado después dei asesinato dei "judío" definen el texto para su recepción, dice Julius. Eliot
escribió sobre el simbolismo, y el New Cri-
delito de la verdad y ai mismo tiempo definen "Ia ticism popularizó la idea modernista de la
ficción" de los 20s-40s de Borges y de Arlt. Que literatura basada en una estética kantiana-
es un tipo de representación literaria (que se creyó simbolista, no "significante". La estética de
y hasta fue postulada como "la ficción") que pane estas escuelas de poesia y crítica no emergió
de un vacío teórico; se ligaron con viejas
la simulación en la lengua, descompone la verdad
opiniones sobre las pro piedades de la poe-
"legítima", representa el secreto en literatura, y sia y la literatura en general (76). La poesia
puede ser comparada o metaforizada con la falsifi- simbolista devino elmodelo de toda la poe-
cación de dinero. Un delito de la verdad cierra el sia, a diferencia de la prosa (y esto se ve en
cuento (o la secuencia) dei dinero, el plan, "el ju- Sartre, dice Julius) y representa "eI descu-
brimiento de que las palabras pueden tener
dío"-"delincuente" (si se cree ai padre y ai Astró- sentidos aunque no referentes".
logo), y su asesinato. Julius sostiene que la poesia puede ser pro-
Esa "ficción", que es una máquina capitalis- posicional, y que las obras literarias pueden
ta moderna generadora de enigmas (o un instru- escribirse para dramatizar un conjunto de
creencias (77). Por ejemplo, el poema de
mento crítico capitalista), coincide extrafiamente,
Eliot "Sweeney Among the Nightingales"
en la "realidad", con los "cuentos" dei aparato dei juega con la noción de una conspiración ju-
antisemitismo que circularon en Argentina en los dia. (Los Protocolos fueron publicados en
20s, los 40s y después, hasta hoy: (akes and 10r- Inglaterra en febrero de 1920, y eI Times y
geries lO (como los "Protocolos" y el "Plan Andi- otros periódicos sostuvieron su autentici-
dad). Es I/lla obra alltisemita y modernista:
nia") que siguen el cuento de Emma y el padre, de vali jl/lllos, dice Julius. La poesia introduce
Gregorio y el Astrólogo: el cuento dei dinero, el la noción de un narrador que obstruye la
plan secreto, y el "judío"-"delincuente".11 lectura dei poema como un rompecabezas
Una aclaración final, nos dicen los guías. No que oculta una respuesta. El punto central
dei poema es que no hay respuestas (86).
quisimos mostrarles el supuesto anti semitismo (o su
Los esoterismos, intangibilidades y visio-
contrario) de nuestros autores Arlt y Borges (o el de nes rarificadas dei simbolismo parecen tor-
Baudelaire ... ) en esta excursión. Los acompafiamos narlo invulnerablc a las vulgaridades dei an-
para dejarlos aquí, en una de las calles de este mundo tisemitismo. Generadora de ambigüedad,
dei delito, en el punto donde coinciden enigmáticamente destinada a ser leída con un sentido dei ma-
tiz y de la pluralidad de sentidos, la poesía
esas ficciones de la modernidad de los afios 20s-40s produce la impresión de que no puede caer
que se creyeron: la que giraba alrededor de "Ia ver- en eI prejuicio (92).
dad" y la que giraba alrededor de "el judío". Julius dice que eI antisemitismo dei simbo-
Cuentos de verdad y cuentos de judíos - 59
lismo es un efecto de esa poética, y también Como 110sotros (dicen Emma y Gregorio para
de su lucha contra ella. Es la Iradición que
despedirse), esos cuentos se implican mutuamente,
se abre con Baudelaire y culmina en Paul
Valéry, como el mismo Eliotescribióen 1946. van juntos aunque se cambien de lugar y de signo,
La tradición de la relación de la poesía con la uno refiere ai otro, cada Ul10 está dentro dei otro:
música, y no con el sentido (95). Julius in- son un verdadero par... 12
siste en que el antisemitismo de Eliot es
evidencia de un simbolismo en clÍsis: lo in-
tuitivo deviene lo programático, y lo vago y
sugestivo, una fantasía de conspiraciones
(108).
Es fácil caracterizar el discurso antisemita
en ténninos simbolistas, dice Julius. EI an-
tisemitismo borra la distinción entre e\ mun-
do real y el imaginario. También, cuando se
lo disimula, puede ser vago y sugestivo.
Como el simbolismo, el antisemitismo pos-
tula órdenes que no corresponden ai mundo
real. Julius no afirma que el antisemitismo
sea involuntariamente simbolista o que el
simbolismo sea potencialmente antisemita,
pero sí que hay suficiente congruencia entre
los dos como para hacer posible una poéti-
ca simbolista antisemita. Esta es una posi-
bilidad que las distinciones entre lo !iterario
y lo no literario, lo ficcional y lo mítico, no
pueden negar, concluye Julius (96, todos
los subrayados son nuestros).
Os Contextos da
Tradição Universal
Raul Antelo
Universidade Federal de Santa Catarina
Dizer que a vida é sonho quer dizer que a vida é pensamento. Nesse
fragmento de Novalis, que Borges traduziu em 1934, esconde-se sintoma-
ticamente o movimento das mais recentes leituras borgeanas.
Uma geração atrás, de fato, os cíclicos retornos das ficções que
hoje nos ocupam eram interpretados como postulações da irrealidade,
seja na vertente pioneira e benevolente de Ana Maria Barrenechea,
seja na tendência negativa e intolerante do grupo Contorno. Mais re-
centemente, porém, a obra de Borges vem sendo lida como uma pecu-
liar postulação da realidade e, nessa corrente, se descontarmos as bio-
grafias pessoais, à maneira de Didier Anzieu ou Rodriguez Monegal,
poderíamos inscrever esse peculiar reencontro de Borges com seu des-
tino sul-americano, tramado por Davi Arrigucci em Enigma e comen-
tário; a postulação por Sonia Mattalia e Jopep Ma. Company de efeitos
de superficie realista nos relatos aparentemente mais evasivos; a ex-
ploração de alegorias políticas nas leituras de Beatriz Sarlo ou as son-
dagens de aberta referencialidade histórica com que Daniel Balderston
questiona se o escritor está mesmo Fora do contexto? (É sintomático,
aliás, que o sinal de pergunta só apareça na segunda edição da obra, em
espanhol, já que o original inglês se alinha, decididamente, sem nuances,
62 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, nO 4, 1998
tos, uma vez que eles não passam de diferença ou diferimento através
do tempo, nos remete à idéia complementar de que o tempo é simples
diferença ou diferimento através dos textos. Corrobora essa articula-
ção ou abstração do leitor uma reincidência escriturária, na medida em
que o argumento conclusivo sobre o escritor argentino e a tradição é o
mesmo da duração do inferno, donde não seria exagerado concluir que,
para o escritor sul-americano, como diria Borges, a tradição é um infer-
no que dura. Ganha, assim, outro sentido a idéia de que "nuestro patri-
monio es el universo"; ou de que podemos
sueõo, ( ... ) una crasa mitología". Para temperar esses arroubos racio-
nalistas, deveríamos observar que um mito é um mito desde que alguém
não o considere como tal; a partir do momento em que um mito passa a
ser lido como mito e, pior ainda, a ser analisado ou adjetivado, por exemplo,
um mito crasso, ele já não é mais mito; torna-se história. O mito sofre
assim do mesmo traço que poderíamos atribuir-lhe à arte moderna: o
nominalismo. Para que o mito seja mito (para que exista arte, literatura
argentina, tradição universal) é necessário que essas categorias sejam
objeto de crença, aceitos seus conteúdos e institucionalizado o arbítrio
de seu artifício, criando então um espaço ambíguo, próximo da religião
mas não menos próximo da razão, um espaço enfím de emancipação.
Poderíamos retomar neste ponto uma formulação de Caillois, le mythe
c 'est la religion des autres, para entender que, em sua leitura cética
dos problemas do escritor argentino e a tradição, Borges menosprezou
a religião dos outros sem suspeitar que, na série literária, "Perón" se
traduziria com outros dois P: Puig, Piglia. Borges, enfim, não chegou a
ver que o universal foi universal quando, interpretado como elevação
ou sublimação, despertava credibilidade. Hoje, entretanto, praticado como
neutralização proliferante e indefinida de todo valor, ele se denomina
globalização e produz mais e mais entropia ou, como diria Baudrillard, o
grau xerox do valor.
Dez anos depois da morte de Borges, confrontados, de um lado,
com uma ordem mundial aparentemente irreversível e, de outro, com a
obstinada insurreição de singularidades irredutíveis, leituras paradoxais
se impõem e superpõem. Em perspectiva negativa, conceitos univer-
sais como tradição nos parecem atualmente místicos, crassa religião
dos outros, noções incapazes de responder a um mecanismo complexo
- globalização das trocas, universalidade dos valores, singularidade das
formas - que, de certa forma, o nominalismo e ceticismo modernos
(borgeanos) ajudaram a criar. Em perspectiva positiva, porém, a mo-
dernidade tardia não pode mais ser interpretada como mera intransitivi-
dade da escritura mas como perda de toda unidade entre ficção e dic-
ção, unidade apenas reconstruída ou realizada só depois, como virtuali-
dade emotiva, através da excepcionalidade aristocrática do texto e a
normalidade democrática das obras. Aí reside o vínculo "político", "na-
cional", ainda potencial para a literatura.
Poderíamos então voltar ao ponto de partida, a Novalis, e enten-
der que a vida que nos coube viver é de fato crassa mitologia mas que
esse mito é também pensamento, um pensamento que somos obrigados
a decifrar em cada arranjo. Mas podemos ainda voltar a Bergson e
entender que, face à insistência do universal e à resistência do singular,
a arte não pode se confundir com elas nem mesmo com a sociedade
que através da arte fabula. Contra o aspecto, ora coletivo, ora individu-
al, da arte narrativa e fabuladora, Bergson (como Borges) se inclinava
Os Contextos da Tradição Universal - 73
Graciela Montaldo
Universidad Simón Bolívar
tienen una circulación más amplia que los especificamente literarios I. 1 La crónica es ese géne-
Si el problema de fundar las propias tradiciones culturales pertenece, en TO de circulación nove-
su aspecto programático, a la historia culturallatinoamericana desde la dosa pero cuyo estatu-
to cultural aún no se ha
Independencia, el fin de siglo plantea una nueva fonna de ese proble- estabilizado en el Fin-
ma: la escritura que bajo el signo de la modemización comienza a ex- de-siecle. Seilala Susana
pandirse en la cultura occidental -Ia letra bajo el orden de la industria Rotker: "Más de la mi-
cultural- será portadora dei sistema de semejanzas y diferencias que, tad de la obra escrita de
José Martí y dos terci-
entre otras instancias,los viajes, las exposiciones universales, la prensa,
os de la de Rubén Da-
las migraciones, la unificación deI positivismo como paradigma de inter- rio, se componen de tex-
pretación y -en los países de América Latina- la organización de los tos publicados en peri-
Estados nacionales, ponen en circulación. Semejanzas y diferencias cuya ódicos" (1992: 13).
catalogación, pero más especificamente su jerarquización, los intelec-
tuales latinoamericanos debatirán en sus textos.
1. Afiliaciones y Alianzas
... las horas que entre el/os he vivido las he pasado con
una vaga angustia. Parecíame sentir la opresión de una
montana, sentia respirar en un pais de ciclopes, comedo-
res de carne cruda, herreros bestiales, habitadores de ca-
sas de mastodontes. Colorados, pesados, groseros, van por
sus calles empujándose y rozándose animalmente, a la caza
deI dol/ar. (1950: 569)
2. Los vínculos
Bibliografia
Victoria Ocampo,
Woman and her Expression, 1936 (p. 246)
The two students walked in looking downcast. They had just come,
they reported, from yet another literature course whose syUabus inclu-
ded no women writers. This time it was a course on the Latin American
essay. There were, the professor had explained, no women essayists of
sufficient -caliber to merit inclusion in the course. "Who says?" they
asked, "and how do we know it's true?"
Most literary scholars and teachers have been affected in some
86 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 4, 1998
Men, she concludes, "do not feel, or feel only very weakly" the
need for dialogue with women ("that other being similar and yet diffe-
rent"):
Applying Ocampo's terms, one could say that literary history has
construed the essay as one of those male monologues which women
have been either discouraged or prevented from interrupting. Ocampo
offers a grim account of women's response to the centuries of 'Don 't
interrupt me.' Women, she says, have "resigned themselves, for the
most part, to repeating crumbs (migajas) ofthe masculine monologue,
sometimes concealing among them some seeds ofher own sowing (algo
de su cosecha)" (p.13). In what follows, I propose to offer a few
observations about the male monologue that has been canonized as the
Latin American essay, followed by some remarks suggesting that wo-
men's participation in the genre has perhaps been livelier and more
coherent than Ocampo saw it - perhaps she had more foremothers
than she knew.
To the extent that the criollo identity essay IS 'the Latin Ameri-
can essay,' there indeed will be no women essayists in the canon: this is
how canons ongoingly reproduce their own truth. It is equally a matter
of observation, however, that women intellectuals continually refused to
heed the reverberations of what Ocampo called the 'Don't interrupt
me.' Right from the beginning, within their restricted access to educa-
tion and to print, criolla (Euroamerican women) writers sought to assert
themselves as social subjects, as agents of history, and as pensadoras.
In fact one can readily identify a women's countercanon to the criollo
identity project. Running parallel to the male-based identity essay,
criolla intellectuals generated a tradition which could accurately be called
the gender essay. As a label, I use this term to denote a series of texts
written over the past 180 years by Latin American women, whose topic
is the status and reality ofwomen in society. It is a contestatory litera-
ture that aims, using Ocampo's terms once again, to interrupt the male
monologue, or at least challenge its claim to a monopoly on culture,
history, and intelIectual authority. As with the men's identity essay, the
full corpus ofwomen's writing on gender would comprise hundreds of
texts and thousands of pages. A few examples by some better known
women writers include Gertrúdis Gómez de Avellaneda's "La mujer"
('On women,' 1860), IuanaManso's "Emancipación moral de la mujer"
('Moral Emancipation ofWo-men,' 1858), Mercedes Cabello de Car-
bonera's "Influencia de la mujer en la civilización moderna" ('Influence
ofWoman on Modem Civilization,' 1874), Clorinda Matto de Turner's
"Las obreras dei pensamiento en América Latina" ('The Workers of
Thought in Latin America', 1895), Soledad Acosta de Samper's La
mujer en la sociedad moderna ('Woman in Modem Society', 1895),
Alicia Moreau de Justo's Elfeminismo y la evolución social ('Femi-
nism and Social Evolution,' 1911) and Socialismo y la mujer ('Socia-
"Don't interrupt me" - 91
history. Indeed the most basic kind of scholarly mapping has yet to be
performed on this body of texts. One or two generalizations can be
risked at this point, however. To begin with, as the titles above suggest,
the gender essay typically draws very little on the categories of the
national, at least until the post World War 11 period. Though over-
whelmingly concemed with defining women's citizenship, its writers
tend not to speak either to or as subjects ofparticular nations. They are
more likely to be concemed with the status ofwomen in modem nation-
states in general. Secondly, among the materiais I have examined, at
least two conspicuously different generic models seem to be at work in
the gender essay. On the one hand, many of these texts take the form
of a historical catalogue, in which the writer enumerates examples of
women who have made significant contributions to society and history.
Analytical commentary on woman's social and existential condition is
interspersed among the vignettes. Matto de Tumer's "Workers of
Thought..." takes this form, enumerating a panorama of women crea-
tive writers ofher day. Acosta de Samper's Woman in Modern Socie-
ty (1895) is an astonishing book-Iength instance, cataloguing the contri-
butions of dozens ofwomen revolutionaries, charity workers, missiona-
ries, moral thinkers, doctors, politicians, artists, writers and educators
throughout Europe and the Americas, fTOm the French Revolution to
her present. The contemporary vitality of the historical catalogue is
attested by such recent encyclopedic volumes as Lydia Sosa de New-
ton's Las argentinas ayer y hoy ('Argentine Women Yesterday and
Today,'1967) or AngeIes Mendieta Alatorre's La mujer en la revolu-
ción mexicana ('Women and the Mexican Revolution,' 1961).
At times the historical catalogue aims simply to assert the pre-
sence and participation ofwomen in history, culture, and public life. Ofien,
in the celebration of mujeres ilustres ('illustrious women ') it provides little
more than a distaff version of criollo class privilege. This is perhaps a
literature more of fact than of ideas, yet its task must not be underesti-
mated. Under the aegis of positivism, women's subordination is ofien
by what are claimed to be objective observations about their 'natural'
capacities and limitations. Obviously it has been essential to combat
such ideologies with empirical evidence of what women in fact ha ve
done on the social stage. At the levei ofthe social imaginary, the histori-
cal catalogue also insists on the reality ofwomen as agents ofhistory, a
role denied them by official historiography. Within the hegemony Df
positivist thought, these essays ofien make the argument for women as
agents of progress or human evolution, rather than as regressive ele-
ments that need to be patronizingly brought up to par. In what is one of
the richest instances of this genre, Teresa de la Parrà's "Influence of
Woman on the Formation ofthe American Soul" (1930) combines the
historicaI catalogue with a profound meditation on the process of reco-
"Don't interrupt me" - 93
Rather, she says, she will begin with the subject of sentiment,
an area in which, she argues, the supremacy of women remains
unchallenged. To clear a space for her own authority, she admits cer-
taio forms of male superiority - but only provisionally:
The juxtapositions go 00. Pilate orders Jesus beaten; Pilate 's \\ife,
"disturbed by mysterious presentiments," sends messengers begging
for his life. The chosen (male) disciples disappear (alI but one) at the
crucifixion, while three women remain to become the privileged wit-
nesses of the resurrection.
It is worth underscoring here that AvelIaneda's tool for legitima-
ting woman's social and epistemologica1 authority is her literary power
as a reader and interpreter oftexts, in this case the Bible. The high point
of her argument is a purely textual observation (note again the monar-
chic image):
This argument provides the basis for Part Three which arrives at
the heart of the matter, the capacity of women "to govem peoples and
administer public interests." Avellaneda's interest is not, and never was,
to establish an altemative sphere of action for women; what she seeks
are alternative points of entry into spheres of over which action men
were illegitimately claiming a monopoly - such as the Spanish Royal Acade-
my, from which she was excluded solely on the basis of her gender.
Some seventy years later, in Woman and her Expression (1936),
Victoria Ocampo likewise begins by evoking and enacting a gender-
conscious female intellectuality distinct from the male tradition. Unlike
Avellaneda, however, Ocampo seizes possession of the key term pen-
samiento right from the first sentence. "Lo primero que pienso ai ha-
blaros," (emphasis mine) she begins ('The first thing I think' on
addressing you'):
When she retumed from the United States via the Panama Ca-
nal, she "gave thanks to heaven" that the long separation imposed by
the Pacific had also been "defeated."
In complete contrast with the Americanist and, in this period,
frequently nationalist identifications of the identity essay, Ocampo po-
ses herself as a resolutely global subject for whom the mediation of
distance is a primary task. Lest anyone think she is speaking only of
geographical and not social distance, Ocampo's oceanic image leads
into an anecdote about a translantic phone call she overhears in Berlin.
An Argentine businessman calling his wife in Buenos Aires begins the
conversation with the phrase ''No me interrumpas" ('Don't interrupt
me'). This anecdote leads into the discussion of male monologue quo-
ted above. Ocampo's female pensadora ('thinker'), on the other hand,
knows the world through dialogue and mediation. "Interrupt me," she
says to her listeners. "This monologue does not please me. It is to you I
wish to speak, not to myself' (p.12). She poses women's expression as
a struggle first and foremost against the enforced male monologue, and
against women's conditioning to "offer herself as a holocaust." Nowa-
days, says Ocampo, the woman on the other end of the phone call is
daring to say:
Contextualizing countercanons
References
Italo Moriconi
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Dialéticas do sublime
referência a esse solo que uma noção de dessublimação pode se tornar man", um dos ensaios
em que Jean-François
pertinente para pensar a estética hoje, embora do ponto de vista antro-
Lyotard desenvolve um
pológico certas manifestações da dessublimação vanguardista possam discurso do sublime
ser pensadas nos marcos de tradicionais dialéticas cristãs, como a já para legitimar (enqua-
mencionada relação entre o sublime e o abjeto. drar, no sentido do "pa-
A diferença crucial entre a dessublimação vanguardista e a des- rergon" derridiano) o
experimentalismo abs-
sublimação na mística cristã é que a primeira tem no sublime um alvo tracionista da pintura de
inimigo, ao passo que a segunda tem nele meta a ser alcançada. Assim, nosso século.
as estéticas de vanguarda (aqui incluídas aquelas ligadas à técnica, como
o cinema) liberam historicamente a dessublimação de sua clausura dia-
lética, embora não eliminem a dualidade com o sublime. A partir do
modelo assim obtido, proponho caracterizar o sublime, de maneira ge-
nérica, como movimento de elevação espiritual, movimento de ascese,
afastamento deliberado das condicionantes corporais. Por contraste, a
dessublimação será encarada como força rebaixadora, desespirituali-
zadora, direcionada para a reintrodução da corporalidade nos discursos
e nas práticas, movimento enfim de vinculação radical da estética à
contingência e à pura materialidade.
pela razão, no belo ela o é pela forma, ou, se quisermos ser mais preci-
sos, pela questão da forma. A estrutura mesma da Crítica do Juízo
tem uma dimensão narrativa, como se fosse um épico do sublime, nar-
rativa que se desvela e se desdobra num crescendo de sucessivos graus
de ascetismo: do belo ao sublime, deste ao gosto (que é puro senso
comum) e daí ao gênio (que recria o belo na arte) e finalmente à teleo-
logia, onde o fim último da natureza é dado como uma espécie de vírgu-
la na concretização dos fins da razão.
Inconsciente ótico
Referências bibliográficas
WilliamRowe
King's College, Londres
Para el que traduce los poemas de Juan L. Ortiz, y por eso los lee con
una atención especial, la voz es el elemento más difícil. Esa voz consti-
tuye, es claro, un factor importante de su poética, quién sabe si no la
más importante, si tomamos la noción de voz en su sentido más amplio:
es decir, la voz como soplo, respiración, acento -modalidad en que la
existencia deviene sonido y vice versa. Esa idea implicaria también la
entonación: porque el acento -el canto que se oye en el habla de cual-
quiera- es la materia que modela la entonación, y ésta vincula el decir
con el entorno espacial y temporal y, a la vez, acarrea la emoción. "De
dónde surge esa voz? Esta seria, en el fondo, una pregunta sin respues-
ta -sólo se puede hablar de las maneras en que se da y de cómo ese
don altera el entorno, entorno que incIuye, obviamente, el idioma y el
oyente. Específícamente, tenemos, en la obra poética de Juanele, un
lenguaje propio y único, elaborado desde el idioma hablado de una re-
gión en relación con "el entorno de ciertas islas", y también desde una
concepción de la poética, cuya vertiente principal seria el simbolismo de
Mallarmé y Valéry.
Decir lo anterior es delinear un campo de fuerzas y de accio-
nes pero no volcarse en el movimiento de la voz en los poemas de
118 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 4, 1998
-Escucha, es un latido,
solamente un latido, o qué? de la ranUa, no? (809)1 1 Las citas son de Obra
completa, Santa Fe,
Universidad Nacional
-un sonido que surge desde lo no-humano y que deviene voz. deI Litoral, 1996, y los
Ese sonido no es objeto delimitado por un código de la representación números entre parénte-
(código cultural) sino un evento acompafíado por preguntas, dudas, in- sis se refleren a la nu-
meración de las páginas
certidumbres:
de esa edición.
cura que es también dulzura. Pero el tono era otro, no se daba allí.
Tampoco se daba en otros poetas de lengua inglesa. Pensé en la inqui-
sición ritmica que hace G. M. Hopkins de los símbolos, pero el ritmo y la
estructura dei verso no tenían nada que ver. Entonces no quedaba sino
elucidar cómo el poema mismo manejaba la cuestión dei tono.
Las preguntas en la poesía de Juanele no promueven el acerca-
miento a un fin(alidad) -ejercicio de definiciones, establecimiento de
lugan:s prIvilegiados, de lecturas estables- sino distienden. Atenúan,
pero no rompen, la tensión. Y esto tiene consecuencias considerables
para la p00tica. AIIí la estructura dei verso en Juanele, radicalmente no
repetitiva. La distensión como principio de composición está, desde lue-
go, en "Un coup de dés" de Mallarrné, y tiene en ese poema importan-
tes consecuencias para el manejo de la sintaxis, cuyas articulaciones
dejan de coincidir con la idea dei verso (el retomo dei oído, la mano, el
ojo, senalado por el espacio de la página). Por otra parte, una suerte de
distensión está implícita en la propuesta de D. H. Lawrence de una
"poesía dei presente", que consistiría en "un plasma vivo", sin orienta-
ción hacia un pasado o un futuro, noción que se encama en las caden-
1 D. H. Lawrence, "Poe- cias variables de sus poemas después de 1918 2 • Pero Juanele afiade
try of the Present", en algo más: el intersticio. Las dudas, incertidumbres, distensiones son un
The Complete Poems,
suceder de intersticios dentro de intersticios, entre cuyos efectos está el
Harmondsworth, Pen-
guin,1982,pp.181-186. de suspender cualquier finalización. Pero los efectos no son sólo sintác-
ticos, temporoespaciales; hay algo más misterioso, como por ejemplo
Canta
y no confUl su tonillo, no, a las afinaciones de los ángeles,
ni menos ai ajuste
de los hilos que alguien trama
debajo, no (812)
Sobre la Poética de J uan L. Ortiz - 121
Es por eso, sin duda, que los poderes que Juanele llama "Ias 'superiori-
dades' dei éter" van suspendidos entre comillas ("silfides", "devas", "el
navío de Isis", etc), pero también por eso la distribución supremamente
libre de los sonidos en el aire y de las frases en la página.
Pero aclarar estos puntos es -para quien traduce- sólo una parte
dei problema. Porque queda un hecho: que el sujeto de la visión no es eI
ser abstracto, sino, como en la poesía de H. D., "she herself is the
3 Helen in Egypt, Libro writing"3 ["ella misma es la escritura"] - y que este es también un
2, Sección 3. La obra tar- hecho dei lenguaje: las muchas maneras puntuales en que el decir se
día de H. D. -como la localiza en relación con el entorno, con sí mismo, con interlocutores. En
de Juanele- asume el
lugar de la mito-grafia que para H. D. configura el escribir, encontra-
riesgo de la torpeza de
la expresión cuando la mos en Juanele el diálogo-tejido dei escuchar y el ser escuchado, que se
necesidad lo exige. sostiene, en materia verbal, gracias, por ejemplo, ai despliegue variado
de las expresiones adverbiales, que van definiendo modos y maneras -
allí la música también. Las frases, liberadas de la sub- o super-ordina-
ción lógica, sintáctica, métrica, cantan, cada una a su modo. Y si la
palabra es el suceder dei aliento, el poema mismo es un suceder, ade-
más de las cosas que en ella ocurren: como escribe Robert Creeley,
Things
come and go.
then
ler them.
yel "pescado" no nos lleva hacia afuera del entorno sino hacia
unas relaciones precisas y específicas entre las cosas (perceptibles
cuando se mira la cabeza de un pez muerto).
y esta "abuela" toda envuelta que busca todavía los velos de la hora
para destocar su plata y diluirla entre lirios de jabón, en cuclillas...
Colossus of Marous-
si, Harmondsworth,
Penguin, 1963, p. 77
iQué cosa más pasmosa es la voz! "Por qué milagro se trans-
forma el magma ardiente de la tierra en lo que llamamos el
habla? Si dei barro puede formarse un medio tan abstracto
como la palabra, i,qué nos impedirá dejar nuestros cuerpos
cuando nos de la gana y tomar residencia en otros planeIas
o entre los planetas? [ .. ] "Quién o qué seria tan poderoso
como para eradicar esta levadura milagrosa que /levamos
adentro como una semilla y que, después de que hayamos
brazado en la mente la totalidad dei universo, no es más que
una semilla - ya que decir universo es tan fácil como decir
semilla, y nos quedan todavia cosas más grandes que decir
[ . .}
co e de crítica, a que se acrescentam outros quatro livros de poemas, gagem. Rio de Janeiro:
Labor, 1976. As edições
publicados entre 1977 e 1988, posteriormente reunidos num único volu-
posteriores saem pela
me em 1991 2 , além de alguns livros de prosa de ficção. Editora Nova Fronteira.
Haroldo protagonizou a vanguarda concretista nos anos 50, man-
tendo desde então forte militância em defesa de uma poética de rigor ~ Pela Editora Nova
formal, desenvolvida com afinco: constante participação no cenário Fronteira (Rio de Janei-
ro), saem, além das ree-
cultural brasileiro, intensa atividade crítica e tradutora, produção poéti-
dições de Bagagem, O
ca relevante, como podemos ler em Xadrez de estrelas, que reúne sua coração disparado
produção poética entre 1949 e 1974, em Signância quase céu, em A (1978) e Terra de Santa
educação dos cinco sentidos3, para mencionar apenas seu percurso Cruz (1981); pela Edi-
poético até fins dos anos 80. Crítica, tradução, poesia - atividades mu- tora Rocco (Rio de Ja-
neiro), saem O pelicano
tuamente contaminadas e em constante diálogo. Nos anos 70, Haroldo e A faca no peito (am-
de Campos já é poeta e intelectual reconhecido, legítimo representante, bos em 1988). A Poesia
no Brasil, de uma poética construtivista e centrada na experimentação rellnida sai em 1991,
de linguagem. E, se é impossível separar a trajetória de Haroldo de pela Editora Siciliano
(São Paulo).
Campos do movimento da poesia concreta, pode-se afirmar que, nos
anos 80, sua poesia adquire contornos bem distintos e distantes do con- J Xadrez de estrelas:
cretismo fouf court, os quais, acrescidos da produção crítica e traduto- percurso textual, 1949-
ra, nos permitem situar Haroldo como legítimo representante da poesia 1974. São Paulo: Pers-
pectiva, 1976. Signân-
brasileira contemporânea.
cia quase céu. São Pau-
Adélia surge no cenário poético brasileiro em pleno período da lo: Perspectiva, 1979 . .4
chamada poesia "jovem" e "marginal", sem ser exatamente nem jo- edllcação dos cinco sen-
vem, nem marginal. Seu primeiro livro nada teve de "alternativo": foi tidos. São Paulo: Brasi-
publicado por editora, circulou convencionalmente através de livrarias. liense, 1985.
teve excelente vendagem. Tratava-se de uma poeta nova, ou melhor,
inédita; não se tratava de uma "poeta jovem": Adélia Prado já comple-
tara 40 anos em sua estréia poética. Estréia que traz uma dicção lírica
e coloquial, de expressão íntima e prosaica, próxima do discursivo, que
fala do amor e do sexo, do casamento e da bíblia, da vida cotidiana da
mulher, em versos que parecem passar ao largo das experimentações
de linguagem e dos debates sobre os rumos da arte e da poesia protago-
nizados por Haroldo desde 1956, com vinte anos de antecedência, por-
tanto, ao lançamento de sua Bagagem poética.
Aproximar os dois poetas a partir do conceito cronológico, dia-
crônico de contemporaneidade traz, portanto, alguns problemas. O mes-
mo se pode dizer de uma aproximação sincrônica, além da cronologia,
Leituras Impertinentes - 129
Dizeres críticos
"Em nosso tempo, a arte poética não pode ter urna só medida; tiva mereça discussão e
ela não é mais canônica, é uma composição de cânones" (p. 178). Essa até alguns reparos, as-
sim como outras afir-
afirmação resume o que venho discutindo: muito do que se lê como mações relativas à insti-
perda qualitativa na poesia contemporânea passa pela eleição de um tucionalização da críti-
cânone, por um critério de valor. Mas estamos no terreno da pluralida- ca entre o jornal e a uni-
de, do cruzamento de cânones e, para Benedito Nunes, no campo da versidade, acredito que
não caiba aos propósi-
hermenêutica, já que "a compreensão canônica exige a hennenêuti-
tos e limites deste en-
ca". Dessa união, o crítico e filósofo distingue dois resultados: a tradu- saio discuti-Ias aqui.
ção como atividade poética e o fazer crítico da poesia enquanto henne- Deixo-as, portanto, para
nêutica dos textos, isto é, enquanto historicidade. outros escritos.
Buscando ordenar o múltiplo, encontrar afinidade entre as dife-
renças, o critico reafirma, primeiramente, o que, na produção poética
contemporânea, talvez esteja na origem da sua pluralidade: "fora do
ciclo histórico das vanguardas", os poetas ')á não se acham mais sob
urgente pressão da busca do novo - o império da tradição moderna".
Dentre esses, Benedito Nunes cita os que considera as "melhores vo-
zes reflexivas da poesia recente", de que participam inúmeros poetas
de distintas gerações.
Se as catalogações são sempre problemáticas, especialmente
dentro dos limites de um ensaio relativamente curto, mas que se quer
abrangente, importa a percepção de que o ponto definidor da poesia
contemporânea é a convivência da diversidade, em regime de pluralis-
mo estético: poemas de teor classicizante, versos breves e rememorati-
vos, iluminação epifânica, poesia encantatória, ritmo de canção, sacra-
lização do cotidiano, verso gnômico. De tudo um pouco. Distingüem-se
ainda nesse conjunto heterogêneo os poetas em que a glosa e a paródia
são preponderantes, pela prática do que o ensaísta denomina "esfolha-
mento da tradição": "conversão de cânones, esvaziamento de sua ftm-
ção normativa, em fontes livremente disponíveis com as quais inces-
santemente dialogam os poetas" (p. 179). Para Benedito Nunes, ape-
nas essa relação intertextuallivre e múltipla, esse passeio atemporal e
extraterritorial pela "Biblioteca de Babel", pode explicar os paradoxos
e as contradições em obras como a de Ana Cristina Cesar.
Finalmente, a tentativa de condensar em algumas linhas as ca-
racterísticas de algo que é, por seu caráter híbrido, praticamente incon-
densável, leva o crítico a traçar quatro modos básicos de formar, cons-
tantes na poesia contemporânea: "a tematização reflexiva da poesia ou
a poesia sobre a poesia; a técnica do fragmento; o estilo neo-retórico;
Leituras Impertinentes - 137
Dizeres poéticos
além de registrar sua luta poética, Haroldo parece subvertê-la ao rea- defesa da poesia no dia
de São Lukács", obra ci-
firmar conceitos de poesia pelo olhar de um eu, de um sujeito situado no
tada, p.104-127.
tempo e no espaço e que rememora, na velhice, sua própria história;
que expõe versos de circunstância, apesar das mediações de linguagem
e dos distanciamentos daí decorrentes, como na série "Austinéia des-
vairada"; e que escava textos remotos no tempo e no espaço, passean-
do entre o pensamento e a poesia: revisita Heráclito e a lírica de Mitile-
ne, revê al-Ghazzali e Heidegger, vai à China do século VIII para rees-
crever Li Po em duas versões, depois de rever Mencius. Passeia pela
Provença, traduz uma anedota barroca, homenageia VaUejo, citando
Sousândrade e Shakespeare, inventa um diálogo entre Ungaretti e Le-
opardi e, num dos melhores poemas do livro - "Baladeta à moda tosca-
na" - desloca para a São Paulo contemporânea a balada do exílio de
Guido Cavalcanti 19. Além do processo de recriação, em que parodia 19 Haroldo distingue
versos e imita o estilo, Haroldo praticamente infla o poema com tal este seu poema, "inspi-
rado" em Guido Caval-
abundância de citações e alusões, de ordens e tempos diferentes, aca- canti, da tradução pro-
bando por construir um poema sem fronteiras demarcadas, pleno tam- piamente dita, feita por
bém de lirismo, humor, sutil ironia e extrema riqueza sonora. Um ele como adendo ao en-
bom poema, digamos, pós-moderno. saio "O doce estilo
novo: (Bossa-nova) na
Mas não basta. Além da presença ostensiva do passado, explíci-
Itália do duocenlo", pu-
ta nas longas e detalhadas "notas" que complementam os poemas no blicado no Folhetim nO
final do livro, a variedade e intensidade das citações e referências, ao 339, Folha de São Pau-
longo de quase todos os poemas, fazem de A educação dos cinco lo, 1717183. Caracteriza-
sentidos um exemplo mais do que eloqüente da hipertextualidade, ou se, assim, a distinção
entre "transcriar" como
da intertextualidade acirrada e programática que parece caracterizar, ato tradutor e "criar a
sem demérito, a poesia contemporânea. Não há apenas destruição ou partir de", relativizando
devoração do passado, ou rupturas que se queiram nítidas e definitivas. o conceito de originali-
Há homenagem e resgate, que também se tomam críticos ao espraia- dade.
rem a idéia de uma "única" tradição, ao trazerem elementos díspares
para uma renovada percepção estética contemporânea.
Se em Haroldo de Campos o retomo ao passado literário, incluin-
do-se nele o seu próprio, é ato explicitamente programático em seu
fazer poético mais recente, o mesmo não se pode dizer da poesia de
Adélia Prado. Pelo menos quanto à explicitação. É verdade que seu
comentadíssimo poema "Com licença poética", que abre Bagagem,
dialoga com outro poema de abertura, o "Poema de sete faces", o pri-
Leituras Impertinentes - 143
ços próprios da hora em que foi chorada,! permaneceu inédita, até que
eu,! cujas mães e avós morreram cedo,! de parto, sem discursar,! a
trasmitisse a meus futuros,! enormemente admirada."
A mesma preocupação em marcar uma ancestralidade quase
além do tempo, e por isso mesmo indefinida, e a poesia como expressão
do sentimento, como fruto da experiência emocional transmissível, mes-
mo que mediada pelo diálogo com outras vozes, é recorrente e retoma,
ainda uma vez, num poema de Pelicano; último livro de poesias de
Adélia Prado. Em "Heráldica", o poema se abre com dois versos de-
cassílabos, barroquizantes, à Gregório de Matos, nitidamente paró-
dicas, para, a partir do terceiro verso, baixar e mudar o tom, reto-
mando o discurso sobre a poesia e sobre a crítica com muitas alu-
sões a fontes diversas:
Parece que essa busca nos "mil avós", busca da milenar linha-
gem, que se refunda na mulher desdobrável confrontada a valores poé-
ticos garimpados na tradição, mas encontrados fora do centro, "na mar-
gem ignota da alma", parece que essa busca, ao ser lida na relação com
a religiosidade erotizada, ou com a sexualidade sacralizada, sinais in-
vertidos que marcam toda a obra de Adélia, aponta para um passado
textual muito antigo e muito presente nessa obra. Passado que faz a
convergência com a obra de Haroldo de Campos e que, se leva a pro-
dutos poéticos aparentemente muito distintos enquanto realização, leva
também a uma espécie de iluminação compartilhada pela imagem do
sol, pelo mesmo solo: a Bíblia, a tradição barroca.
Sol, lua, ouro, prata, amarelo, roxo. Um cisco de sol no olho. Um
jogo que pode ser jogado pelos dois parceiros neste ensaio. Metáforas
Leitul'llS Impertinentes - 145
ocultam, da caesão que mantém o seu reino secreto sobre cada uma de
suas partes, é do fundo dessa força que as faz nascer e nelas permane-
ce como imóvel mas ainda vibrante, que as coisas por fragmentos, per-
fis, bocados, lascas, vêm oferecer-se, muito fragmentariamente, à re-
presentação"15. Assim, os retratos instantâneos de Benjamin reprodu- 15 Michel Foucault, As
zem a ilusão imagética saturnina moderna como produto das profunde- Palavras e as Coisas, p.
zas de seu olhar penetrante, revelado no tecido de sua linguagem. Os 318.
seus pensamentos imagísticos, ao contrário, expressam a emergência
de passagens fragmentárias que, como fósseis ou cadáveres, decifra-
dos ou desenterrados, reconstituem pela incorporação saturnina, um
corpo histórico que se reanima com a recolocação do signo em sua
circulação sangüínea.
Um exemplo desta reconstituição histórica é o seu fragmento
significantemente intitulado "O Anel de Saturno ou Sobre a Construção
em Ferro". Nele, Benjamin recupera o momento pré-industrial em que
o ferro é substituído, como matéria-prima, pelas máquinas a vapor, na
Europa. A partir de uma citação de Um Outro Mundo de Granville, ao
falar de uma ponte cujas extremidades podiam ser visualizadas ao mes-
mo tempo e cujos pilares se apoiavam sobre planetas que se conduziam
de um mundo a outro por uma mesma calçada de asfalto maravilhosa-
mente lisa, o pilar 333.000 repousava em Saturno, o que convence o
espectador de que o anel deste planeta não era outra coisa senão um
balcão circular sobre o qual os saturninos vinham à noite tomar a fres-
ca 16 . As pontes do texto são construídas a partir de suas extremidades 16 Walter Benjamin,
reconhecimento, num mesmo corpo social, de sua própria ferida, "Nossa Truculência" in
A Descoberta do Mun-
indica a autofagia cúmplice do canibal/canibalizado no ponto de in- do, apreso Vera Queiroz,
terseção benjaminiano entre a natureza mítica e a tecnologia mo- Rio de Janeiro: Francis-
derna. Este ponto se abre como um "buraco", vazio representativo co Alves, 1994, p. 269.
de uma fome que se desdobra no enigma que a gerou. Para a senhora,
31 Clarice Lispector,
o mendigo representava o potencial da natureza mítica; para ele, a se-
nhora representava o seu desejo de consumo nunca preenchido. Entre Paixão Segundo GH,
edição crítica org. Bene-
a consciência mítica e a da natureza, a fome do corpo gerada do "apar-
dito Nunes, p. 155.
theid" social e o desejo consumidor, a ferida torna-se simbólica, fantasma
que se metamorfoseia na cisão entre um primeiro e um terceiro mundos -
de um lado, a comercialização espetacular da miséria, e de outro, a tecno-
logia de ponta - tal boca escancarada de um corpo saturnino devorador.
Saturno Devorador da Modemidade - 157
Alberto Moreiras
Duke University
Les larmes d'Eros a la fotografia deI Leng Tch'e~ y "una de las últimas
páginas que escribiera" Bataille (en Ma mere) fantaseando la contem-
plación por el narrador de su madre en "repugnantes posturas": "La
alegría y el terror anudaron en mí un lazo que me asfixió. Me asfixiaba
y gemía de voluptuosidad. Mientras más esas imágenes me aterrori-
zaban, más gozaba ai verias" (16, 17). Bataille expresa con concisión
el misterio de un goce libidinal de carácter estético y estéticamente
extremo, formalmente definible como ekfrástico, cuya expresión litera-
ria tiene a su vez la curiosa función mimética de proveer a su lector de
la posibilidad de experiencia que lo genera.
Ekfrasis es una vieja figura que tiene que ver con la represen-
tación verbal de la belleza, y más concretamente, aunque originalmente
usada como tropos retórico determinante en los discursos panegíricos,
ha llegado a referirse a toda reproducción verbal de obras artísticas
perceptibles mediante el sentido visual, y tanlbién mediante el auditivo.
Según Russell Berman, fundamentalmente de acuerdo con Sarduy,
"ekfrasis transmite el deseo de un objeto ausente" (76). Para Berman,
el juego de presencia y ausencia en la representación ekfrástica depen-
de de una dialéctica doble, dado que la ekfrasis invoca como presente
un objeto que falta, y dado que se apropia dei habla en escri-tura para
producir, o suscitar, una imagen visual (76). La conjuración ekfrástica
de una representación visual en el campo literario es ya suficientemen-
te enigmática de por sí. En cierto sentido, suspende o difiere la referen-
cia: toda representación visual a su vez remite a aquello que representa,
y esta mediación está comprendida por la ekfrasis misma; si el sentido
de la ekfrasis depende dei sentido de la obra plástica reproducida en
palabras, la ekfrasis, ai mediar el sentido, posterga o complica la mani-
festación de sentido.
Por otro lado, sin embargo, y de forma incluso contradictoria, la
ekfrasis parece liquidar el clásico problema literario de la referencia,
dado que, en la representación ekfrástica, el signo visual se toma, por
así decirlo, no como signo, sino en su propio derecho, como objeto signi-
ficado. Es decir, en la ekfrasis el signo representado es a la vez signo de
algo y ese algo mismo. Por lo tanto, la ekfrasis, lejos de postergar la
manifestación dei sentido, es una especie de atajo ai sentido. La refe-
rencia dei texto no depende ya de la interpretación, sino que está inrne-
diatamente dada, deícticamente dada, en la apelación a la obra plástica
verbalizada, que es o se toma como signo de sÍ misma. Es este segundo
aspecto de la ekfrasis el que puede intensificarse como escritura sádica.
La contradicción ekfrástica es la siguiente: en el procedimiento
ekfrástico hay a la vez una postergación dei sentido, puesto que la lite-
ratura refiere a la mediación de sentido dada en otra representación
estética, y un adelantamiento dei sentido, dado que la ekfrasis refiere,
no ya ai mundo en general, sino al mundo interpretado en otra represen-
164 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 4, 1998
nino trata de extraer algo [Figura 3]. Lo que el nino trata de extraer se
describe asi: "Trata tal vez de sacar de esa fosa un objeto cuyo signifi-
cado, en el orden de nuestra vida, es la clave dei enigma" (22). Elobjeto
en el fondo dei sepulcro es el objeto perdido a propósito dei cual la
novela se escribe, o la escritura se produce.
Otra representación ekfrástica es la conocida fotografia deI Leng
Tch' e, tomada en 1905 por LouisCarpeaux en Beijing, y posteriormen-
te reproducida en el segundo tomo dei Nouveau Traité de Psycholo-
gie de Georges Dumas, en donde puede haberse inspirado Bataille para
su inclusión en Les larmes d'Eros [Figura 4]3. Leng Tch'e (o Leng- ) Romero comenta las
discrepancias en la serie
T'ché) era un método de tortura aplicado a los magnicidas en la China de fotografias sobre el
imperial, que consistia en su desmembramiento sistemático y público. suplicio publicadas por
La fotografia, que produce una extrana fascinación, está también en- Dumas y Bataille: Ba-
tendida por referencia ai enigma: "una imagen imprecisa en la que se taille no retoca ni recor-
ta (405). Ver Romero
representaba, borrosamente, un hecho incomprensible" (16), una foto-
403-06 para la historia
grafia, le dice el narrador a su interlocutora, "que amas contemplar de tales fotos.
todas las tardes en un empeno desesperado por descubrir lo que tú
misma significas" (49). Esta segunda representación está incorpo-
rada allibro no sólo en calidad ekfrástica, sino también en reproduc-
ción fotográfica.
EI tercer gesto ekfrástico es un garabato escrito sobre un cristal
empanado: "Era un nombre o una paI abra incomprensible -terrible tal
vez por carecer de significado- un nombre o una palabra que nadie
hubiera comprendido, un nombre que era un signo, un signo para ser
olvidado" (50). Pero de ese signo olvidable se dice también que "tenía
un significado capaz de trastocar nuestras vidas" (51).
La alegoria de Tiziano tiene una larguisima tradición iconográfica
que Erwin Panofsky entre otros ha estudiado, pero en cuyo pormenor
no puedo entrar'. En la tradición neoplatónica, las dos Venus represen- 4 Ver en especial "Re-
tan la doble via deI conocimiento, el conocimiento material y el conoci- flections on Love and
Beauty," en Problems in
miento espiritual, cuya alternativa sale aI paso de todo iniciado en los
Titiall, 109-38.
saberes gnósticos. La reproducción fotográfica de un momento de la
tortura de Leng-T' ché, en la glosa de Farabeuf, también implica ese
doble camino. EI Supliciado es un criminal que sufre justo castigo o bien
es un santo que en eI momento de su muerte se abre a la contemplación
extática deI supremo placer. EI supliciado a1canza en la tortura un su-
premo conocimiento negativo de su cuerpo o bien es radicalmente des-
alojado de su cuerpo en la máxima intensificación deI dolor que lleva a
Ia muerte. Por último, la novela acabará por revelar que el garabato en
eI vidrio es un hexagrama chino, liú, y que "Ia disposición de los trazos
que lo forman recuerda la actitud deI Supliciado" (150).
Las tres ekfrasis hacen alusión aI tema deI Hombre Desollado
(la de Tiziano, en la escena deI sepulcro). Pero el Hombre Desollado es
también la figura adivinatoria que recurre en las preguntas que la mujer
Ars Potentior Natura - 167
cio en tomo a un eje que es el supliciado." También "los trazos que ...
forman" eI hexagrama liú "recuerdan la actitud dei supliciado" (citado
en Es&ito 28). EI desollamiento de Marsias sigue la misma estructu-
Ta, definida por las diversas figuras congregadas en tomo ai cuerpo
invertido dei sátiro: dos versiones de Apolo, dos ayudantes a la ejecu-
ción, Midas, y un pequeno sátiro cuya mirada está orientada hacia el
espectador, así como dos perros. Para Neumann, "el sistema entero de
composición se basa en una serie de triángulos que encajan entre sí por
encima y por debajo y se unen en una forma deltoide que le da unidad ai
lienzo" (12). La similitud con la composición fotográfica está realzada
por la presencia en esta última de figuras que funcionan como contra-
partidas de las presentes en la composición pictórica: no sólo el funcio-
nario imperial y los verdugos, también el espectador dei acontecimiento
que mira hacia el espectador de la composición visuaiS. I Dejo a la discreción
En la interpretación renacentista dei mito de Apolo y Marsias, el dellector notar otras se-
mejanzas estructurales
desollamiento se entendía como Redención según la Iínea cristiano-pla- por lo demás obvias
tónica. Apolo descubría valores superiores en el interior dei cuerpo dei aunque no menos enig-
sátiro. EI mito alegoriza, para los exégetas renacentistas, el triunfo de máticas. No todas ellas
las artes superiores sobre las inferiores. Neumann suscribe tal entendi- derivan por cierto deI
hecho de que ambas re-
miento como propio de Tiziano, y lo consagra como entendimiento ca-
presentaciones lo son de
nónico para la tradición crítica: una ejecución.
cular interés para la in- de una práctica extática dei sufrimiento, en la que la destrucción siste-
terpretación de Fara-
mática dei cuerpo, que es mímesis de la pérdida fantasmática dei objeto
beuf, es la constatación
de Gentili de que, para primario, puede culminar en el instante de la muerte, instante de total
la crisis deI humanismo negación y momento atroz de redención irónica. EI epígrafe en Fara-
renacentista en la que él beuf tomado deI Breviario de podredumbre de E. M. Cioran hace
coloca a Tiziano, "ogni referencia a esta posible práctica antinostálgica dei síndrome sádico:
conciliazione di apolli-
"La vida no tiene contenido sino en la violación deI tiempo ... la imposi-
neo e dionisiaco appare
dunque precaria: il pre- bilidad dei instante es la nostalgia misma" (8). Pero paralizar eI instante
dominio dell' armonia en la práctica extática es entrar fuera dei tiempo, morir en lo sagrado.
apollinea, che tende ad E1izondo parece querer volver a la mística negativa de Bataille, en la
istitutionalizzare i con-
que la extrema intensificación de la voluntad de poder desemboca en
cetti, funzionali aI sis-
tema, di civiltá e cultu- una práctica de muerte alegre en la afirmación de la vida: "Sólo es feliz
ra, non puó ammettere eI que, habiendo experimentado el vértigo hasta el temblor de sus hue-
I' alter-nativa deI' disor- sos, hasta ser incapaz de medir la extensión de su caída, halla de repen-
dine' e deve necessaria- te la fuerza inesperada para transmutar su agonía en una alegría capaz
mente emarginare la
de helar y transfigurar a quienes la encuentran" (Bataille 236).
'dissonanza' dionisiaca.
socialmente corrispon- La ekfrasis es en esta novela una ekfrasis icónica, porque con-
dente aI rifiuto delle voca la presencia de un signo inestable, cuya más peculiar característi-
norme ordinatrici vigen- ca es su tendencia a desaparecer como signo, a borrarse a sí mismo
ti, ad una 'ebbrezza'
como signo, y a darse en la plenitud abismal de su materialidad o lite-
sempre critica nei con-
fronti dell'asserto ut1i-
ralidadjeroglífica. Abora bien, la autotachadura tendencial deI signo en
ciale" (75). En estas pa- eI icono ekfrástico parece reproducir la primera condición retórica de la
labras de Gentili la in- ekfrasis, cuya característica formal es presentar la ausencia, y por lo
terpretación canónica de tanto testimoniar textualmente una pérdida de objeto. ~ Cuál es, en todo
El desollamiento de
caso, eI objeto perdido en esta escritura ekfrástica que remite aI poder
Marsias, que hemos
visto en Neumann, em- de un signo sagrado, que pretende Iiteralizarlo?
pieza a hacerse proble- Cuando Moisés le pide a Dios un signo de su existencia Dios se
mática, con consecuen- manifiesta como llama en el zarzal. Es decir, el signo que Dios da de sí
cias que se senalarán mismo es un signo de autoconsumación, de autoconflagración. EI dios
para el entendimiento de
la novela de Elizondo.
terrible dei Antiguo Testamento es eI dios de máxima irrepresentabi-
lidad porque en su existencia signo e imposibilidad de signo coinciden
puntualmente. Dios permanece hoy como hipótesis de un signo terríble,
cuya fuerza consistiría en ser a la vez signo de la totalidad y totalidad
rnisma. La ekfrasis encuentra su fuerza más radical cuando es ekfrasis
dei signo terrible, que es eI signo divino de la autoconflagración, de la
autodisolución como signo: "Soy el que soy." En la representación ekfrás-
tica de la ausencia de la presencia plena se da en Farabeuf el Hombre
Desollado como signo dei signo terrible, y como entidadjeroglífica de la
püdida en cuya absorción, se piensa o se desea, quizá alguna ganancia
máxima es toda\ ía posible.
Si Farabez~f se subtitula Crónica de un instante, es porque la
escritura sádica persigue siempre la posibilidad de que advenga un ins-
tante en el que la configuración dei deseo se realice. Dentro dei sistema
de Farabeuf tal instante estaría enunciado. anunciado y no cumplido,
172 - Revista Brasileira de Literatura Comparada, nO 4, 1998
Obras citadas
Cornfilmesl<xn_