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Resumo
Ao longo dos anos a escola desenvolveu, além de seu papel educacional, um espaço de
reivindicações, no qual movimentos importantes buscavam, em sua grande maioria, a
igualdade para se fortalecerem. Considerando esta visão da escola, de também ser um
ambiente de protestos, que o presente trabalho se desenvolve com foco no empenho dos
alunos, os quais buscam realizar ações confrontando as políticas regentes, que segundo os
estudantes, são contrárias à necessidade de seu ambiente escolar. Em 2016 ocorre nas escolas
públicas estaduais do Paraná, ocupações nas quais alunos coordenam o movimento que se
desenvolveu ao longo de todo estado. Estas ações, quando confrontadas a partir da visão de
teóricos como Pollak (1989), Nora (1993) e Halbwachs (1990), geram comparações que
podem ser utilizadas para defender as atitudes encaminhadas pelos alunos como possíveis
formadoras de memórias, sejam elas individuais, as quais têm como fundamento auxiliar em
sua formação como indivíduos, ou as coletivas, que ajudam a caracterizar o grupo. Faz-se
crucial, partindo do prisma das memórias, caracterizar as atuações dos alunos para que,
quando estas lembranças estiverem fundamentadas e esclarecidas, elas possam servir como
item constituidor de uma memória coletiva e em seguida, como fator de uma identidade
social, na qual apenas estas memórias poderão identificar e descrever os grupos que as
vivenciaram inseridos no movimento. É a partir das ocorrências do que foi presenciado na
cidade de Umuarama- PR que as comparações são geradas, partindo de definições a respeito
da memória individual e coletiva encontradas na literatura, na tentativa de compreender o fato
ocorrido e os acontecimentos que motivaram os alunos a compor uma forma de protesto. É
fundamentado nisso que se pautam as discussões a respeito do tema, em que o aluno passa a
construir uma memória responsável por caracterizar um tipo de grupo, ou seja, uma memória
coletiva.
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Estudante do Curso Técnico Integrado em Química no IFPR, bolsista PIBIC-Jr e membro do Grupo de Estudos
em Educação – EDIFICARE, no Campus Umuarama. E-mail: maria.eduarda.31@hotmail.com
2
Docente do IFPR, pesquisador na área do Texto e do Discurso, Doutor em Letras e membro do Grupo de
Estudos em Educação – EDIFICARE, no Campus Umuarama. E-mail: paulo.gaiotto@ifpr.edu.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
O texto que segue reúne informações a respeito do tema identidade e memória coletiva
em decorrência das ocupações ocorridas em 2016, nas escolas públicas do Estado do Paraná.
São reflexões que buscam compreender a posição do estudante partícipe durante o movimento
que atinge as escolas e cria um espaço de reivindicações. É no âmbito da pesquisa que o tema
justifica o projeto de pesquisa PIBIC-Jr desenvolvido no Campus Umuarama.
Para compreender esse contexto, vale ressaltar aspectos que remontam à sociedade
atual, como resultado do avanço vivenciado desde a Segunda Revolução Industrial (meados
do século XIX). Nesse sentido, quando pensamos desde a máquina a vapor ao aço, do
telegrama às formas mais sofisticadas de comunicação, diversas coisas se alteraram, inclusive
as relações que se estabelecem em sociedade. O grande progresso, juntamente com a rapidez
das informações geradas por ele e indivíduos dependentes dele constitui, no século XXI, um
novo tipo de sociedade. Essa nova coletividade, caracterizada pelo movimento intelectual da
pós-modernidade, fundamenta-se primordialmente pela imediaticidade.
Desenvolvimento
Portanto, quando as situações são analisadas a partir desta visão, busca-se fornecer diferentes
perspectivas do que se é vivido e do que é relevante a determinados grupos e/ou indivíduos,
não somente em função do “contar uma história”. A memória também desenvolve um caráter
de lugar a se recorrer, a se pautar sobre fato(s) demarcado(s), ainda que o(s) mesmo(s)
tenha(m) ocorrido apenas com o indivíduo detentor da memória, ou se desenvolvido em
coletividade. Tem-se então “uma concepção de memória como o processo, em movimento
constante de construção/desconstrução” (BERND, 2013, p. 25) é por meio desta atividade
eficiente que a memória se permite, que a transforma como meio de gerar comparações do
que é vivido com o que é compartilhado.
É na memória que se pode encontrar o respaldo para as novas perspectivas, é nela que
se armazena tudo aquilo que, primeiramente, tornou-se relevante ao indivíduo e, por
conseguinte, o motivou e o fez realizar determinadas ações significantes para determinado
grupo. O trabalho desenvolvido por ela torna-se fundamental, considerando a transitividade
da informação nas sociedades modernas que são, “por definição, sociedades de mudança
constante, rápida e permanente.” (HALL, 2002, p.15). Dessa maneira, torna-se necessário
gerar ferramentas que confrontem a história oficial, a qual muitas vezes esteve em função do
formato breve da sociedade moderna.
Graças à forma como desenvolve seus mecanismos, é a memória ainda que consegue
propiciar uma duração maior aos acontecimentos, pois “a memória é vida, sempre carregada
por grupos vivos” (NORA, 1993, p. 9), ou seja, a maneira acessível como se desenvolve o
processo de rememorar em função da vivência do indivíduo a faz tão viva quanto o mesmo.
Por ser pertencente a um indivíduo, há uma constante recapitulação dos acontecimentos,
pautado na importância que estes acontecimentos tiveram para aquele que o detém. Logo,
define-se que a memória é primeiramente individual, é no particular que se dá o processo de
vivacidade das lembranças. E é nele que ela “grava, recalca, excluí, relembra, é
evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização.” (POLLAK, 1992, p. 4-
5). Como efeito disso, há a primeira estruturação de uma identidade social, de modo que,
primeiro o indivíduo constrói e guarda aquilo que lhe é significante, para em seguida o
processo ser novamente refeito, agora com relação à memória adquirida em grupo.
Se o que é lembrado tem particularidades, de maneira que está contido na memória,
ela pode estabelecer uma relação cotidiana com a identidade do indivíduo, visto que, as
“preocupações do momento constituem um elemento de estruturação da memória”
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memórias e que haja suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a
lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre uma base comum.
estabelecer relação e conformidade, no entanto, “desde que haja rastro, distância, mediação,
não estamos mais dentro da verdadeira memória, mas dentro da história” (NORA, 1993, p. 9).
Ou seja, no contingente de separação da memória do grupo e da história que será contada, é
que nasce a história oficial. Sendo ela diferente da memória coletiva, por não ofertar o autor
da ação de forma tão acessível como a memória o faz, além de que a “memória também sofre
flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo
expressa” (POLLAK, 1992, p. 4). Desse modo ela é viva, reflexo de um indivíduo vivo,
aberto aos questionamentos por estar em constante processo de rememoração.
Como resultado das contínuas relações entre as memórias, a ponto de compor a
memória coletiva, há o desenvolvimento de uma identidade social, muitas vezes não
perceptível na história oficial. Se uma memória é importante a determinado indivíduo e a
mesma compõe uma memória coletiva, pois “o trabalho da memória social viabiliza a
sensação de pertença do indivíduo a uma determinada comunidade” (BERND, 2013, p. 43), é
através da conformidade existente entre a comunicação das memórias, que os fatos auxiliam
na identificação do indivíduo pertencente ao grupo.
Quando este processo se dá considerando o todo, há a caracterização do grupo que
realizou em determinada ocasião, em determinado lugar, um fato. A ocorrência deste
acontecimento considerando suas particularidades que são vividas apenas por este grupo,
nesta situação, auxilia na constituição de uma identidade que os distingue de outros grupos,
que os liga à conjuntura. Como exemplo disso, há os estudantes que participaram das
ocupações nas escolas públicas estaduais em 2016. Acredita-se que fato demarcado em sua
individualidade tenha motivado o aluno a fazer parte da ocupação, o grupo de alunos tem
motivos que apenas sua memória individual reconhece. O acontecimento, mesmo quando
questionado e narrado de diferentes formas, ainda mantém base comum, constituindo
memória coletiva deste grupo.
Dessa maneira, podemos entender que uma identidade social se desenvolve a partir
disso, em que a memória coletiva, com suas particularidades, delimita o acontecimento
vivenciado somente por este grupo, neste determinado período, com, inclusive, um padrão de
locais estabelecidos. Esta padronização nos lugares utilizados também ajuda a acentuar
especificidades vivenciadas somente pelo grupo que representa a memória coletiva, visto que,
o lugar
onde se criam os laços sociais de um determinado grupo tem importância capital na
rememoração das lembranças da família e da comunidade. É na casa, no bairro, na
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Conclusão
REFERÊNCIAS
BERND, Zilá. Por uma estética dos vestígios memoriais: releitura da literatura
contemporânea das Américas a partir dos rastros. Rio de Janeiro: Fino Traço Editora, 2013.
HALBWACHS, Maurice. Memória Coletiva. Trad. Laurent Léon Schaffter. São Paulo:
Vértice, 1990.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. IN: Projetos História.
São Paulo, dez. 1993. Disponível em: <
https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763>. Acessado em
02/05/2017.
______. Memória e identidade social. IN: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10,
1992. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1941/1080>. Acessado em
02/05/2017.