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CORROSÃO
CONCEITOS BÁSICOS
INTRODUÇÃO
A corrosão, em aspecto amplo, pode ser definida como a deterioração de um
material pela ação química ou eletroquímica do meio, associada ou não a esforços
mecânicos. O estudo da corrosão tem um grande interesse tecnológico devido ao
elevado custo relacionado com as perdas de equipamentos, produtos, etc. Em países
desenvolvidos, onde os processos de prevenção contra a corrosão se encontram mais
desenvolvidos, estima-se um custo anual de milhões de dólares. A corrosão de
equipamentos e estruturas ocorre a nossa volta diariamente e, sendo assim, é
necessário que se tenha conhecimento do mecanismo deste processo destrutivo para
que se possa combatê-lo com eficiência. Este aspecto econômico é de grande
importância porém, de maior relevância, é o risco a vidas humanas oriundos de
processos corrosivos. Vários acidentes causados por processos de corrosão já foram
registrados em viadutos, aeronaves, dutos enterrados, entre outros.
Os elevados custos associados aos processos corrosivos justificam o esforço
empenhado em se buscar métodos cada vez mais eficazes de controle deste processo
de deterioração.
MECANISMO DA CORROSÃO
A grande maioria dos metais, exceto alguns tais como ouro, platina, mercúrio e
prata, existe na forma de minérios que são compostos químicos destes metais. Para
que estes compostos sejam transformados em metais, grande quantidade de energia
deve ser fornecida, como na fabricação do aço. Em contato com o meio ambiente, a
energia armazenada durante o processo de fabricação tende a ser perdida, retornando
o metal ao seu estado natural.
Processo Metalúrgico
Composto + Energia Metal
Corrosão
Observa-se que cada metal, ou liga, apresenta uma resistência maior ou menor
à corrosão, o que é diretamente função do meio no qual o material se encontre. Até
mesmo os metais que são considerados nobres, por serem praticamente inatacáveis
em meios comuns, podem estar sujeitos ao processo corrosivo dependendo do meio
no qual se encontrem. Pode-se dizer que algumas combinações entre metais e meios
corrosivos são demasiadamente prejudiciais, como exemplificado na Tabela 1.
Embora a corrosão seja associada à destruição de materiais, deve-se
considerar que a formação de uma camada de óxido sobre um metal nem sempre é
desfavorável. O óxido pode ser protetor agindo como uma barreira que impede o
contato entre o metal e o ambiente que o cerca. Exemplos clássicos são a formação
de película protetora de óxido de cromo (Cr2O3) ou a formação de óxido de alumínio
(Al2O3) que, além de protetor, confere aspecto decorativo.
POTENCIAL ELETROQUÍMICO
Para que o processo de corrosão possa ser entendido, alguns conceitos
básicos devem ser analisados. Inicialmente, consideremos a imersão de um metal M
em uma solução contendo íons (solução eletrolítica). Este conjunto, metal/solução
eletrolítica é conhecido como eletrodo e determina o estabelecimento de uma
diferença de potencial entre as fases sólida e líquida. Esta ddp é simultaneamente de
natureza elétrica e química e, devido a isto, se denomina diferença de potencial
eletroquímico.
Como exemplo, a imersão de uma barra de ferro em um eletrólito, causa uma
reação de oxidação do metal. Os íons de ferro que passam à solução formam uma
camada de carga positiva na interface metal/eletrólito. Esta divisão de cargas positivas
e negativas constituem a dupla camada elétrica, responsável pelo potencial de
eletrodo do metal na solução onde este se encontra (vide Figura 1).
A interface eletrificada permite, então, a definição de potencial de eletrodo, que
vem a ser um dos parâmetros mais importantes na termodinâmica e cinética das
reações de corrosão.
O potencial de eletrodo padrão é o potencial de um metal imerso em uma
solução 1M de seus íons: M/Mn+ (1M) ou M;Mn+ (1M). O potencial reversível
corresponde ao equilíbrio entre o metal e seus íons em solução
(Mn+ + ne = M). Os valores do potencial podem ser calculados a partir da equação de
Nernst, que relaciona o potencial gerado por uma célula eletroquímica às atividades
das espécies envolvidas nas reações e ao potencial padrão, de acordo com:
E = E0 + 0,0591/n log [estado oxidado] / [estado reduzido]
Os parâmetros entre colchetes da constante K podem ser suas concentrações
corrigidas (concentração x coeficiente de atividade) caso sejam substâncias líquidas.
Se forem gases, podem ser suas fugacidades, aproximadas para pressão parcial ou,
no caso de substâncias sólidas, serão valores unitários.
ddp
↔
Metal
+ - - +
+ - - +
+ - - +
+ - - +
Eletrólito
Figura 1 - Estágio de equilíbrio da passagem de íons para a solução.
Os valores de Epadrão (E0) para diversas reações estão relacionados em
tabelas (enh como referência) (Fig 2). Para medição do potencial, o eletrodo deve ser
conectado ao eletrodo no qual pretende-se medir o potencial, sendo a leitura feita
através de um voltímetro (Fig 3).
POTENCIAL DE CORROSÃO
No processo corrosivo não se atinge o estado de equilíbrio, o que cessaria a
corrosão. No caso do ferro, tem-se:
Fe → Fe2+ + 2e
H2O + 1/2 O2 + 2e → 2OH-
Fe2+ +2 OH- → Fe(OH)2
2Fe(OH)2 + H2O + 1/2 O2 → 2Fe(OH)3
Não fica Fe2+ em solução, sendo assim, não se atinge o equilíbrio. Os
potenciais neste caso são obtidos experimentalmente. São ditos potenciais
irreversíveis. O potencial real de um metal em uma solução depende de alguns
fatores, tais como: formação de películas, impurezas na solução, valor da corrente
para os possíveis equilíbrios, número de reações possíveis, temperatura e interação
material/meio. O potencial real é resultante de um ou mais desses fatores e é
conhecido como potencial de corrosão.
ELETRODOS DE REFERÊNCIA
Na prática, outros eletrodos de referência são utilizados para medição do
potencial de eletrodo, tais como o eletrodo de calomelano saturado (Hg/HgCl2), de
prata/cloreto de prata (Ag/AgCl) e cobre/sulfato de cobre (Cu/CuSO4), observando-se
a relação entre estas referências (Tabela 2).
CÉLULAS ELETROQUÍMICAS
Dois eletrodos separados por um eletrólito constitui uma célula eletroquímica.
Paralelamente ao processo de oxidação do metal, ocorre uma reação de redução, com
o consumo dos elétrons gerados pela reação de oxidação do metal. As reações de
oxidação-redução são interdependentes e, para que haja transferência dos elétrons de
um metal ao outro, é necessário um contato metálico. A união de diferentes metais
ocasiona, portanto, um fluxo de elétrons a partir do metal de maior potencial de
oxidação, que será o anodo da pilha gerada, para o outro metal, agora denominado
catodo. Este fluxo de elétrons ocasiona o surgimento da corrente necessária ao
processo corrosivo sendo que a magnitude desta corrente indica a velocidade da
corrosão.
Como exemplo, a união de ferro e zinco forma uma pilha onde ocorre reação
de oxidação no zinco (maior potencial de oxidação) e reação de redução na superfície
do ferro.
A reação de redução, que consumirá os elétrons gerados na oxidação do
metal, depende do meio no qual os metais se encontram. Como exemplo, em meio
ácido esta reação pode ser:
2H+ + 2e → H2
em outros meios aquosos, de acordo com o pH e da concentração de oxigênio, pode-
se ter redução da água, com ou sem presença de oxigênio:
2 H2O + 2e → H2 + 2OH-
2 H2O + O2 + 4e → 4OH-
A seguir, na Figura 4, está representada a pilha formada pela união de dois
metais diferentes, sendo o metal M anódico em relação ao metal M’, ou seja, o metal
M sofre oxidação (se corrói), enquanto reações catódicas ocorrem na superfície do
metal M’, sendo estas dependentes do eletrólito.
A reação química em uma célula é representada por duas meias-reações que
descrevem as mudanças nos dois eletrodos. Cada meia-reação corresponde à ddp na
interface de seu eletrodo.
A corrente de corrosão pode ocorrer não somente pela união de metais com
diferentes potenciais; mas em um mesmo metal, havendo fluxo de elétrons entre áreas
anódicas (da onde sai a corrente) e áreas catódicas (onde entra a corrente).
A pilha cuja corrente ocorre devido à diferença de potencial entre as áreas
anódicas e catódicas (em um único metal ou não) é denominada pilha galvânica.
Condutor Metálico
e→
↑e ↓e
Reações
Anódicas
Reações
Catódicas
X+ e
X←
Anodo Catodo
Eletrólito
Figura 4 - Esquema de uma pilha formada pela união
de dois metais diferentes.
POLARIZAÇÃO
A sobretensão de um eletrodo corresponde à variação do potencial em função
da presença de uma corrente. A polarização do eletrodo (variação do potencial de
corrosão) ocorre por ativação, quando a cinética do processo é limitada pela taxa de
reação; por concentração, quando a taxa é controlada pelo coeficiente de difusão; ou,
ainda, polarização por resistência, causada por queda ôhmica na superfície do
eletrodo.
• polarização por ativação
Ocorre quando a cinética do processo é limitada pela taxa de reação. Este tipo
de polarização ocorre frequentemente em eletrodos que envolvam a redução de H+ e
desprendimento de O2. Neste caso, os íons H+ se adsorvem na superfície reduzindo-
se e combinando-se para a formação de H2. O tempo de residência na superfície para
que este processo se conclua é muito maior do que a velocidade de difusão da
espécie iônica na solução, de modo que ocorre um acúmulo de íons na interface
metal/solução, provocando uma ddp entre o metal e a camada adjacente à superfície.
O oxigênio é considerado um agente despolarizante visto que reage com o H+
para formação de H2O. (2H+ + 1/2O2 = H2O). A corrosão é mais intensa em meios
aerados, já que a sobretensão elevada de H+ na superfície do metal retarda o
processo corrosivo agindo como uma barreira química e elétrica.
A sobretensão pode ter um efeito negativo no processo caso o metal seja
sujeito à fragilização por hidrogênio como é o caso de aços de alta resistência e baixa
liga onde o H penetra na rede metálica.
A relação entre a polarização por ativação e a taxa de reação é:
η = a + blog i (equação de Tafel) onde:
η = polarização anódica ou catódica
a e b = constantes, medidas experimentalmente
i = densidade de corrente elétrica
Obs: pode haver polarização por ativação no anodo por acúmulo de OH- para
evolução de O2.
• polarização por concentração
Neste caso a difusão das espécies é menor do que a taxa de reação, ou seja, o
processo é controlado pelo coeficiente de difusão. Os íons metálicos deixam o
eletrodo e se deslocam para a solução, por difusão. Aumentando-se a densidade de
corrente, aumenta a concentração dos íons próximos ao anodo já que a taxa de
difusão não aumenta proporcionalmente. Esse acúmulo de íons gera uma ddp. No
caso do catodo tem-se que, a medida em que há deposição de íons metálicos, a
concentração do eletrólito na interface diminui criando uma zona empobrecida de íons,
gerando uma ddp. Se a taxa de redução é aumentada, uma taxa limite será
determinada pela difusão do íon. A taxa limitante é a densidade de corrente de difusão
limite (iL) que representa a taxa máxima possível de redução para um dado sistema.
iL = D F C / x
onde D = coeficiente de difusão
C = concentração de íons no eletrólito
x = espessura da camada de difusão (influenciada pela geometria do eletrodo,
temperatura e agitação).
A densidade de corrente de difusão limite é significante no processo de
redução e é normalmente desprezível no processo anódico já que, neste caso, há um
suprimento de átomos metálicos quase ilimitado.
Considerando um sistema com polarização por concentração, tem-se que η
= 2,3 (RT/nF) log (1 - i/iL)
Com o aumento da velocidade da solução, concentração ou temperatura, há
um aumento em iL. Os outros tipos de polarização não são afetados pela agitação.
• polarização por resistência
Resulta de uma queda IR na superfície do eletrodo que pode ser causada pela
formação e deposição de produtos sólidos ou películas na superfície metálica.
Os métodos de medição e avaliação da sobretensão de um eletrodo podem se
dar por controle do potencial (potenciostático ou potenciocinético) com leitura da
corrente após estabilização, ou por controle da corrente (galvanostático ou
galvanocinético) com leitura do potencial.
Tipicamente, as curvas potencial x densidade de corrente são obtidas em
laboratório sendo seu formato esquematizado a seguir na Figura 6.
0
-400
curva anódica
-1600
PASSIVAÇÃO
Pode ser definida como a perda de atividade química de certas ligas ou metais,
sob certas condições. As curvas de polarização, além de determinarem a taxa de
corrosão através da extrapolação de Tafel, também fornecem informações sobre o
comportamento ativo-passivo e a ocorrência de pites.
A curva de polarização característica de um metal ou liga sob passivação, pode
ser vista na Figura 7. O eletrodo inicialmente exibe dissolução ativa. No ponto Ep
ocorre a transição ativa-passiva, permanecendo em baixos valores de densidade de
corrente (região de passivação). No ponto designado por Ef (potencial de flade) ocorre
a quebra da passivação. A intensidade de corrente reduzida é normalmente
relacionada com a formação de barreira à condução elétrica na interface.
Figura 7- Curva de polarização anódica apresentando passivação.
VELOCIDADE DE CORROSÃO
A cinética da corrosão refere-se à taxa (ou velocidade) das reações de
corrosão, que definirá o tempo de vida útil do equipamento ou estrutura. Quando a
corrosão se processa uniformemente, ensaios de perda de massa, (discutidos
posteriormente), podem dar uma indicação da taxa de corrosão. Na Fig.8 estão
indicadas algumas curvas representativas de processos corrosivos.
Termodinâmica da Corrosão
Um metal reage espontaneamente quando é convertido de um estado a outro
com liberação de energia. Isto é devido à força termodinâmica da reação (ex. corrosão
do metal). A estabilidade do metal em contato com uma solução depende do potencial,
do pH e da temperatura.
Os Diagramas potencial x pH, conhecidos como Diagramas de Pourbaix,
mostram os estados de estabilidade de um metal em um meio específico. A Figura 9
apresenta, como forma de exemplo, o diagrama para o sistema Fe-H2O (25oC, 1 atm).
Podem ser observadas as regiões de corrosão (formação de Fe2+), de passivação
(formação de óxidos), e de imunidade (ferro em estado puro). É justamente essa
região do diagrama que serve de base à aplicação da proteção catódica como técnica
anti-corrosiva.
Figura 9 – Diagrama E x pH do ferro em água.
TIPOS DE CORROSÃO
Pode-se denominar tipos de corrosão as condições determinantes do processo
ou, ainda, o mecanismo que o provoca. Algumas destas condições são mencionadas a
seguir, por ocorrerem com maior freqüência.
Corrosão galvânica
Ocorre devido à união de metais que apresentam diferentes potenciais, com
uma corrente do metal com maior tendência à corrosão (mais ativo) para o de menor
(mais nobre).
Um fator importante é a relação entre as áreas dos diferentes metais. Se a área
do metal com maior tendência à corrosão for muito pequena em relação à do metal
mais nobre, a densidade de corrente nesta pequena área será muito elevada, com alta
velocidade de corrosão do material anódico. É devido a este fato que é indicado o uso
de parafusos e rebites de material mais nobre em relação ao material base (ex:
parafusos de aço sobre placas de cobre sofrem corrosão acelerada, comprometendo a
estrutura). Previamente à união de metais diferentes, deve-se consultar a tabela de
potenciais. Pode-se revestir um dos metais, quando possível, ou ainda promover um
isolamento elétrico.
Pode haver inversão de polaridade, ou seja, o metal de maior potencial de
oxidação, na tabela de potenciais, agir como catodo e vice-versa. Fatores como
temperatura ou formação de películas devem ser levados em consideração. Um
exemplo clássico desta inversão ocorre à temperatura acima de 60oC, quando o zinco
se torna catódica em relação ao ferro.
Corrosão em concreto
As estruturas de concreto armado são consideradas imunes à corrosão devido
ao caráter alcalino da fase líquida retida nos poros do concreto, com pH na faixa de
12,5 a 13,5. Esta alcalinidade provoca a passivação do aço no interior da estrutura, ou
seja, sobre este se formam produtos sólidos que o torna imune ao processo de
corrosão. A natureza do filme formado sobre a superfície do aço depende de
diferentes fatores como pH e teor de oxigênio no meio. A deterioração das
estruturas de concreto pode se dar de mecanicamente (choques de partículas sólidas
presentes no ar ou no líquido) ou quimicamente, por:
- lixiviação: difusão dos hidróxidos presentes no meio, diminuindo o pH;
- carbonatação: processo lento com diminuição do pH por presença de gás carbônico;
- despassivação do aço devido à presença de cloreto;
- redução do pH do concreto em regiões com grande concentração de SO2 e SO3, com
formação de ácido sulfúrico (H2SO4) e por presença de bactérias).
A detecção do processo de corrosão em estruturas de concreto pode se dar de
forma visual, quando o processo já está instalado ou por medidas de potencial,
dosagem do teor de cloreto ou da carbonatação (pode ser detectada através de
fenolftaleína, já que ocorre redução do pH).
Como métodos de prevenção da corrosão em concreto cita-se o uso de
concreto de boa qualidade com seleção criteriosa dos constituintes e de suas
proporções, a aplicação de camada de espessura apropriada para evitar exposição do
aço, uso de inibidores de corrosão à argamassa ou aplicação de proteção catódica.
Corrosão atmosférica
Pode ser classificada de acordo com o grau de umidade em:
- seca: lenta oxidação do metal com formação de óxidos, geralmente protetores. Ex:
escurecimento da prata (tarnishing)
- úmida (UR < 100%): formação de filmes finos de eletrólito com a velocidade do
processo vinculada à umidade relativa do ambiente.
- molhada (umidade relativa ≅ 100%): correspondendo à deposição de chuva ou névoa
salina na superfície metálica.
As atmosferas relacionadas com o processo corrosivo podem divididas em:
- industrial: caracterizada pela presença de óxidos de enxofre que, com a umidade,
forma ácido sulfúrico (H2SO4) (chuva ácida).
- marinha: partículas de sal carregadas pelo vento podem causar corrosão galvânica
ou por aeração diferencial.
- rural: meio menos agressivo, sendo o principal contaminante a umidade.
- urbana
Alguns materiais são mais resistentes à corrosão atmosférica. A formação de
filmes protetores pode evitar que o processo se alastre, embora a presença de
contaminantes possa romper este filme.
O método mais comum de prevenção de corrosão atmosférica é através da
aplicação de revestimentos protetores embora, em alguns casos, seja também
possível um controle do meio ambiente ou, ainda, a seleção apropriada de um material
a um determinado meio. Pequenas variações na composição de uma liga podem
produzir efeitos benéficos.
Corrosão microbiológica
Deterioração de um material devido à presença de organismos vivos que
podem ser micro (ex: bactérias) ou macro (ex: algas). Estes organismos têm sido
observados em uma faixa ampla de pH (0 - 11) e de temperatura (0 - 80). São
sustentados por reações químicas, ingerindo reagentes e eliminando produtos
indesejáveis. Estão presentes em uma grande variedade de meios, tais como água do
mar, rios, regiões pantanosas, solos com resíduos orgânicos ou sais de sulfatos,
nitratos, fosfatos ou enxofre, sedimentos oleosos e sistemas de refrigeração.
Os microorganismos são classificados de acordo com sua capacidade de
crescimento em meio com (aeróbicos) ou sem oxigênio (anaeróbicos). Dentre as
bactérias mais comumente associadas à corrosão, destaca-se a dessulfovíbrio
dessulfuricans que reduz sulfato a sulfeto, por isso denominada bactéria redutora de
sulfato (BRS), pela reação:
(SO4)2- + 4H2 → S2- + 4H2O
o sulfeto gerado tende a acelerar a corrosão do material tendo como produto de
corrosão um precipitado do íon sulfeto combinado com Fe+2 (FeS).
As bactérias aeróbicas são capazes de oxidar elementos contendo enxofre a
ácido sulfúrico (H2SO4):
3S + 3O2 + 2H2O → 2H2SO4
esses organismos requerem a presença de S em sua forma elementar ou combinada,
criando um ambiente fortemente corrosivo e ácido (pH= 2 -3). A corrosão de
tubulações enterradas pode estar associada às condições do solo que favorecem a
presença de um ou outro tipo de microorganismo. Por exemplo, solos secos e
permeáveis ao ar favorecem o crescimento de bactérias oxidantes de enxofre ao
passo que solos molhados, na ausência de oxigênio, permitem que BRS se
desenvolvam.
Existem outros tipos de microorganismos que agem direta ou indiretamente
sobre o processo corrosivo, como é o caso das bactérias que utilizam hidrocarbonetos
como fonte de alimentos, danificando revestimentos asfálticos; bactérias capazes de
oxidar amônia a ácido nítrico ou bactérias que assimilam íon ferroso (Fe2+) da solução
e precipitam como hidróxidos (Fe(OH)2 ou Fe(OH)3).
Alguns casos típicos de ataque microbiológico se referem à formação de
sulfeto de cobre (CuS) em aquecedores e válvulas de cobre ou ligas pela presença de
BRS ou, ainda, a corrosão de tanques de armazenamento de combustível devido à
contaminação por microorganismos e à presença de água onde o fungo cladosporium
resinae produz na interface água/querosene, um material sólido com aspecto de lama.
A eliminação da água dos tanques de armazenamento ou o uso de biocidas, embora
de difícil dosagem, são métodos de combate a este processo.
Participam do processo corrosivo por produção de substâncias corrosivas,
originadas em seu crescimento ou metabolismo, originando pilhas de aeração
diferencial por formação de depósitos (70% dos casos), ainda, por participação direta
na reação que conduz ao processo de corrosão ou, ainda, por destruição de películas
protetoras.
MÉTODOS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA CORROSÃO
Proteção Catódica
Princípios Básicos
Formas de Aplicação (Galvânica ou Corrente Impressa)
Dimensionamento
Critérios de Avaliação
Técnicas de Inspeção de Revestimentos e Sistemas de PC
Aplicação de Análise Numérica na Avaliação de Sistemas de PC
Princípios Básicos
Em função das heterogeneidades do meio e do próprio metal, surgem regiões
anódicas e catódicas na superfície metálica, com fluxo de corrente no sentido das
áreas anódicas para as áreas catódicas. Esta corrente flui através do eletrólito e o
retorno se dá na própria tubulação fechando, desta forma, o circuito elétrico.
A proteção catódica visa a eliminação das áreas anódicas através do
fornecimento de um fluxo contrário ao originalmente presente, por meio de uma fonte
externa de corrente.
Esta corrente deve ser tal que situe o potencial eletroquímico da estrutura
metálica na região de imunidade. Observando o diagrama Eh x pH, ou Diagrama de
Pourbaix, para o sistema Fe-H2O, a 25oC e 1 atm, apresentado na Figura 9, verifica-se
que, em função do pH do meio, há um potencial abaixo do qual o metal se encontra
imune à corrosão.
Este domínio é limitado por uma concentração arbitrariamente pequena de
Fe2+, por exemplo 10-6 íon.g/l, gerado na reação anódica do ferro:
Fe → Fe2+ + 2e
O potencial apresentado no diagrama foi medido em relação ao eletrodo
padrão de hidrogênio, sendo que na prática de proteção catódica é comum o uso do
eletrodo de referência de Cu/CuSO4 (cobre/sulfato de cobre) para medições em
estruturas enterradas e de Ag/AgCl (prata/cloreto de prata). Para representação dos
potenciais reais no diagrama, deve ser feita a correção, conforme indicado na Tabela
2.
Algumas reações ocorrem comumente sobre a superfície polarizada
catodicamente, sendo os principais processos a redução de oxigênio e de hidrogênio
conforme as seguintes reações:
• meio neutro desaerado:
2 H2O + 2e → 2 OH- + H2
• meio neutro aerado:
2 H2O + O2 + 4e → 4OH-
• meio ácido desaerado:
2H+ + 2e → H2
• meio ácido aerado:
4H+ + O2 + 4e → 2H2O
A redução de oxigênio ocorre sempre que esta espécie se encontra presente
no meio, o que se deve ao fato da região de imunidade se situar muito abaixo da linha
b, correspondente ao equilíbrio O2/H2O. Termodinamicamente favorável, esta reação
terá sua cinética determinada pelo transporte de oxigênio para a superfície metálica.
A corrente requerida para que o potencial da estrutura se situe na região de
imunidade pode ser fornecida ao sistema via método galvânico ou por corrente
impressa, sendo a escolha de um ou outro método dependente de fatores técnicos e
econômicos.
CORRENTES DE INTERFERÊNCIA
Os valores obtidos durante a medição do potencial de uma tubulação podem
diferir dos valores esperados devido a correntes de interferência. Estas correntes,
geralmente contínuas, fluem no eletrólito utilizando estruturas metálicas nele
existentes como parte de seu circuito elétrico. Parte da corrente flui através da
estrutura, deixando-a em determinados pontos, onde ocorre o processo corrosivo. A
taxa de corrosão observada nas zonas anódicas (pontos de saída da corrente) é
basicamente função da intensidade de corrente, distância entre as estruturas
interferente e interferida, existência de revestimento protetor e localização de juntas
isolantes.
Um exemplo de corrente de interferência estática é o caso de duas tubulações
enterradas onde parte da corrente de proteção catódica de uma das tubulações flui,
através do eletrólito, para a outra. Esta corrente retorna à tubulação interferente no
ponto mais favorável que, geralmente, é o ponto de menor distância entre as
estruturas, como observado na Figura 14.
Manutenção do Sistema de PC
O sistema deve ser inspecionado de forma a garantir sua aplicação apropriada.
Para isso, deve-se fazer periodicamente a avaliação dos equipamentos de drenagem
da corrente, dos cabos de ligação dos anodos, dos pontos-de-teste, das juntas de
isolamento elétrico, dos abrigos e dos potenciais tubo-solo.
Os retificadores a ar devem ser inspecionados semanalmente para medição
das tensões de entrada e saída, verificação dos instrumentos, fusíveis, disjuntores,
etc. Recomenda-se uma inspeção sempre após incidência de raios. Os retificadores a
óleo, além das inspeções relacionadas para os equipamentos a ar, devem ter uma
inspeção anual relativa às condições do óleo (rigidez dielétrica, teor de umidade e
presença de contaminantes).
Os leitos e cabos de anodos devem ser demarcados com placas de
identificação da faixa do leito (que pode chegar a 100m) e leituras do gradiente de
potencial no solo ao redor de cada anodo devem ser feitas para garantir a distribuição
da corrente.
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