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Relatos da Fábrica 1: Um Dia

Trabalhar na fábrica me converteu num robô. Vivo uma existência


mecânica. Quase todos os dias repito meu papel nas mesmas cenas.

17/04/2018

Por I love Cilantro

Desde 2012 é publicada a revista Relatos da Fábrica com reportagens sobre as condições
e a luta dos trabalhadores no Delta do Rio das Pérolas (Zhujiang). O site  Gong
Chao SELECIONOU E TRADUZIU (para o inglês e para o espanhol) alguns desses relatos e
agora o Passa Palavra apresenta-os em português.  Todos os relatos poderão ser lidos
CLICANDO AQUI.

(Relatos da Fábrica # 1, Janeiro de 2012)

Trabalhar na fábrica me converteu num robô. Vivo uma existência mecânica.


Quase todos os dias repito meu papel nas mesmas cenas. O alarme do meu
relógio me desperta exatamente às 7:20 da manhã. Vou ao banheiro, lavo
minha cara, troco de roupa, falta tempo para escovar os dentes, pego minha
chave e corro direto para a fábrica. Chego na refeitório um pouco antes das
7:40, encontro uma tigela, e vou correndo para a janela onde nos servem a
comida. A tia do outro lado da janela me passa uma tigela de aveia e uma
panqueca na como papel. Este é o meu café da manhã. Como não consigo
encher meu estômago, e no refeitório não me dão uma panqueca extra,
compro frequentemente alguns  mantou  (pão chinês) na rua. Esta é a única
maneira de aguentar a fome até o meio dia.

Nossa o cina está no quarto piso. Fabricamos máscaras faciais. Cada posto de
trabalho tem uma cota de produção, determinada por empregados
especializados que cam observando por trás de nossas costas, medindo com
seus cronômetros. Sempre tentam aumentar as cotas, com a prática de contar
mais do que produzimos na realidade. Além disso, fazem tais medições pela
manhã quando temos mais energia, assim obrigando-nos a repetir essa
velocidade por 11 horas. Deste modo não alcançamos a cota e temos de fazer
horas extras que não nos pagam. A maioria dos operários não conseguem
alcançar a cota mensal. Ainda que o gerente desta o cina não seja
particularmente restritivo, e que não precisemos de nenhuma permissão
especial para ausentarmo-nos, todo mundo se preocupa. Alguns nem sequer
vão ao banheiro – não porque não precisam, mas porque têm medo de não
alcançar a cota de produção se o zerem. A maioria das pessoas esperam até
que terminem seu trabalho, por isso os banheiros sempre estão muito cheios
no m do turno.

Na hora do intervalo para o descanso, o líder da


linha nos dá a ordem para parar as atividades,
fazemos uma la e esperamos para que nos diga
quando vamos ter permissão para sair. A regra é
que saiamos um por um de forma organizada, mas
a la tende a quebrar-se quando todos temos
pressa para chegar ao refeitório o mais rápido possível. Então os líderes da
linha tentam forçar a organização da la – seu papel é de impor a disciplina,
mas em geral apenas gritam conosco. Quando eu consigo nalmente terminar,
trocar meu macacão e sapatos e correr do quarto piso até o refeitório, ele já
está lotado com 200 pessoas na la em frente às quatro janelas. Agarro uma
tigela, caminho até o m da la, e dali espero e espero, observando os pratos
das outras pessoas para ver o que estão servindo. Quando nalmente é minha
vez, me dou conta de que o prato que eu queria já acabou faz um tempo, e tudo
o que resta é o que não gosto – não apenas eu, mas todo mundo. Porém não
tenho opção nenhuma, por isso pego umas colheres de verduras em conserva
para encher minha pança (e reclamar depois).

Constantemente me queixo com os companheiros de trabalho sobre a falta de


comida decente. Mas eles me culpam por chegar tarde, me dizendo que se eu
me apressasse mais teria comida para mim. Apesar de não discutir com eles,
isso sempre me faz pensar que com uma certa quantidade de pessoas e uma
certa quantidade de comida não deveria fazer diferença quem chega primeiro
ou por último; mesmo que, apesar a comida ser ruim, tenho que comer algo –
estou pensando nas cinco horas de trabalho que preciso fazer à tarde, é o que
faço para engolir. O turno da tarde é igual ao da manhã, uma estampagem sem
m de máscaras (isso signi ca soldar junto a cobertura da boca com o cordão
que prende nas orelhas). A comida no jantar parece um clone do almoço: tudo
é exatamente igual. Às vezes penso que a taxa que pago no refeitório é gasta
exclusivamente com verduras em conserva – não vale o quanto pago, mas não
tem nada que eu possa fazer. Sair para comer me tomaria muito tempo, além
do que estou segura que a comida de rua é ainda menos higiênica. Ainda que
meus companheiros de trabalho me olhem com desprezo quando me escutam
dizê-lo, continuo esperando que o refeitório melhore.

Depois do jantar temos duas horas extra adicionais. É a parte mais fácil do dia,
porque sabemos que já está terminando. Quando estamos chegando perto do
m do dia, todo mundo se emociona, como se fossemos ser “libertados”. Por
isso trabalhamos muito rápido durante a noite e parecemos incrivelmente
enérgicos. Quando en m terminamos, libertados, depois de caminhar e sair
pela porta da fábrica, a fadiga que me pesa sobre o corpo desaparece
inconscientemente entre os ruídos do distrito comercial. Também esqueço da
repressão do chão da fábrica, como se tudo que restasse fosse o esgotamento
físico insuportável. Só então me dou conta que me realmente me acabei na
o cina.

Repito essa experiência todos os dias, no chão da fábrica, sem poder ver o sol,
quase nunca vou ao banheiro, nem uma vez. Chega a tal extremo que tenho
medo que a luz do sol machuque meus olhos! Ainda que este seja só um dia,
talvez esta seja minha vida toda para sempre, enquanto eu continuar
“a rmando” minha força de trabalho na fábrica.

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