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O jornal Combate

      O jornal Combate foi publicado em Portugal, no âmbito das inúmeras iniciativas políticas e
populares que se seguiram ao derrube do fascismo em 25 de Abril de 1974 e que durante um ano e
meio transformaram o que começara por ser um golpe militar num ensaio de profunda reorganização
social. O nº 1 do Combate, acompanhado do Manifesto de lançamento, tem a data de 21 de Junho
de 1974 e o último número, o nº 51, tem a data de Fevereiro de 1978.

      A iniciativa da criação do Combate deveu-se a João Bernardo, Rita Delgado e João Crisóstomo,
este último já falecido. João Bernardo e Rita Delgado eram membros de uma pequena organização
clandestina marxista-leninista, os Comités Comunistas Revolucionários (CCR), actuante na região
de Lisboa, quer em algumas empresas e associações operárias quer no movimento estudantil. João
Crisóstomo situava-se na mesma área política e só por razões de segurança não fora integrado no
aparelho clandestino dos CCR. A derrota da Revolução Cultural chinesa e a aproximação efectuada
entre os governos da China e dos Estados Unidos haviam dado lugar a acesas polémicas no interior
dos CCR e à formação de uma tendência que passara rapidamente da crítica ao maoísmo à crítica
ao próprio leninismo e que começara a defender uma orientação de carácter marxista libertário.

      Com a criação do Combate a facção libertária abandonou os CCR para pôr em prática os seus
objectivos políticos e o modelo de organização que defendia. Inicialmente os fundadores do
Combate só conseguiram reunir um escasso número de libertários, porque era ainda incipiente o
movimento baseado nas iniciativas autónomas dos trabalhadores, e tiveram de procurar o apoio de
certos maoístas relativamente avessos à burocratização partidária. Mas em breve esta colaboração
se revelou insustentável, ao mesmo tempo que as experiências autonomistas e autogestionárias se
multiplicavam velozmente. A publicação de um aditamento ao Manifesto do Combate no nº 6, de 13
de Setembro de 1974, inaugurou o período exclusivamente libertário do jornal.

      O golpe militar de 25 de Abril de 1974 levara os trabalhadores a porem em causa a autoridade
no interior das empresas, que sempre havia estado estruturalmente ligada ao regime fascista, e
surgiram então as comissões de trabalhadores. Consoante o jogo de forças interno, estas comissões
ou se limitavam a exercer pressões sobre os patrões ou formavam na prática outa direcção ao lado
da administração patronal, muitas vezes suplantando-a mesmo. Entretanto iam-se constituindo
comissões de moradores nos bairros populares. Praticamente não se encontravam empresas e
bairros populares que não tivessem comissões. Em muitos casos houve comissões de moradores a
assumir algumas funções de administração. Além disso, começou a difundir-se e atingiu grande
amplitude a ocupação das empresas pelos trabalhadores, que as mantinham em funcionamento e se
encarregavam eles próprios de todas as actividades. Foi assim que na indústria e no comércio
surgiram empresas autogeridas, desde pequeníssimas unidades até enormes complexos, e que nos
campos do sul foram ocupadas e cultivadas colectivamente vastíssimas herdades. Nos meados de
1975 uma parte muito considerável da economia e da sociedade portuguesa estava directamente
nas mãos dos trabalhadores e era organizada pelos trabalhadores.

      Apesar dos obstáculos ao desenvolvimento das lutas, e quaisquer que fossem os rumos
seguidos, em todos os casos os trabalhadores conseguiram alcançar o poder suficiente para abrir as
portas das empresas e para permitir que o movimento político mais amplo minasse a disciplina
patronal. Foi nestas condições que o jornal Combate surgiu e pôde subsistir. E o fim desta situação
ditou o fim do jornal.

      O objectivo do Combate era divulgar as lutas da classe trabalhadora e as sua formas
organizativas, tanto na indústria e no comércio como nos campos do norte e do sul do país, sem
esquecer o movimento nos bairros. Além disso, o Combate dava todo o relevo possível às lutas
contra a disciplina militar, o que era especialmente importante num contexto em que as forças
armadas se encarregavam directamente do governo e gozavam do enorme prestígio de haverem
derrubado o fascismo. O Combate esforçava-se ainda por chamar a atenção para as lutas dos
trabalhadores estrangeiros, e em cerca de quatro quintos dos números apareceram notícias
referentes a outros países. O Combate publicou igualmente numerosas transcrições da imprensa
operária, pois naquela época proliferavam os boletins de empresa.

      Os colaboradores do Combate esperavam que, através de todos estes relatos, trabalhadores
colocados em situações semelhantes aprendessem com os seus companheiros, contribuindo para
que as experiências mais avançadas se generalizassem e se unificassem em frentes comuns. Com
este objectivo o Combate organizou diversos debates entre trabalhadores de várias empresas em
luta. Para além da publicação das intervenções, os colaboradores do jornal consideravam que esta
era uma maneira de estimular as relações entre os grupos de trabalhadores directamente ao nível
da base.

      Mais do que o conteúdo explícito das reivindicações, eram sobretudo as formas de organização
criadas espontaneamente que os colaboradores do Combate se interessavam por investigar e
promover, pois viam nelas a base de uma democracia operária e o agente de destruição das
hierarquias do Estado capitalista. Para o Combate, a clivagem fundamental da sociedade
portuguesa após o 25 de Abril de 1974 opunha, de um lado, as várias modalidades de implantação
do capitalismo de Estado e, do outro lado, a tentativa de incrementar o poder directo dos
trabalhadores de base, sem recurso ao aparelho de Estado e desenvolvendo a autonomia
organizativa e a autogestão económica. Na conjuntura portuguesa de 1974 e de 1975, quando os
donos das empresas ou se encontravam em fuga ou estavam vigiados de muito perto pelas
comissões de trabalhadores, os colaboradores do Combate consideravam o capitalismo de Estado
como um perigo imediato mais grave do que o capitalismo privado, e era nos termos daquele
antagonismo que prosseguiam a sua actividade prática e elaboravam as suas análises políticas.

      Até ao nº 47, enquanto o Combate manteve o formato de jornal, das suas oito páginas (com
excepção de três números especiais, mais volumosos), sete páginas eram reservadas às lutas nas
empresas, nos campos, nos quartéis ou nos bairros, e só uma era dedicada à análise da situação
elaborada pelos colaboradores sob a forma de editorial. Os relatos das lutas eram sempre feitos
directamente pelos participantes. Equipas de colaboradores deslocavam-se por todo o país, iam aos
locais, gravavam entrevistas com membros das comissões de trabalhadores ou das comissões de
moradores, muitas vezes entrevistavam também trabalhadores de base, e as declarações eram
transcritas e publicadas na íntegra.

      A lucidez política de que o Combate deu mostras repetidamente deveu-se às condições em que
era elaborado, em estreito contacto com a base real do movimento da classe trabalhadora e
preocupando-se acima de tudo com as formas espontâneas de organização.
      Embora sem ter militantes inscritos, o Combate contava com dois corpos regulares de
colaboradores, um localizado em Lisboa e o outro na cidade do Porto. Como as reuniões se
realizavam de porta aberta, durante o período de pujança do jornal o número de colaboradores
eventuais era maior, por vezes bastante maior, do que o dos regulares, e sucedia que trabalhadores
de empresas cujas lutas haviam sido relatadas num número do Combate colaborassem na
realização do número seguinte. Depois, quando o movimento autónomo e autogestionário começou
a dar sinais de declínio e as iniciativas de base esmoreceram, os colaboradores irregulares
praticamente desapareceram e os regulares reduziram-se, passando a elaboração do jornal a
depender de muito poucas pessoas, que deparavam com grandes dificuldades. Todavia, desde o
seu primeiro número até ao penúltimo (o último foi copiografado), o Combate não teria conseguido
subsistir sem o apoio dos operários das tipografias onde era impresso.

      No Combate as tarefas eram distribuídas com igualdade e não existiam cargos directivos. A
indicação de um nome de director, que aparecia no cabeçalho do jornal, era fictícia, para cumprir um
requisito da lei. Todos os presentes podiam dar a sua opinião, e quando se tratava de votar todos
podiam fazê-lo com a condição de se encarregarem de qualquer tarefa. A norma era a de que só
tinha direito de voto quem colaborava na prática. Os editoriais eram debatidos por todos os
presentes e, uma vez decidido o tema, definiam-se as linhas orientadoras da análise e escolhia-se
quem se encarregava da redacção. Procurava-se geralmente chegar a consenso, em vez de se
tomarem decisões por maioria.

      O Combate resistiu o mais que pôde, mas o declínio das iniciativas de base da classe
trabalhadora e a extinção da autogestão das empresas comprometeu a razão de existência do
jornal. Transformando-se em revista, o Combate deixou de funcionar de portas abertas e restringiu-
se a um número de colaboradores que, se já se tornara pequeno, ao longo dos meses ficou ainda
mais reduzido. A experiência do Combate, gerada no movimento clandestino antifascista, foi
indissociável do movimento anticapitalista de 1974 e 1975, nascendo e morrendo com ele.

*
      A colecção do Combate constitui um repertório indispensável para quem se interesse pelas lutas
sociais em Portugal em 1974-1975 ou, mais amplamente, pelo movimento da classe trabalhadora
contra todas as formas de capitalismo, tanto privado como de Estado.

      Ainda em vida do Combate foi editada uma recolha do Manifesto e dos editoriais desde o nº 1
até ao nº 20 (Capitalismo Privado ou Capitalismo de Estado Não É Escolha!, Porto: Afrontamento,
1975) e convém assinalar o livro Portugal. The Impossible Revolution? (Londres: Solidarity, 1977;
tradução portuguesa: Portugal: A Revolução Impossível?, Porto: Afrontamento, 1978), da autoria de
Phil Mailer, um dos vários colaboradores estrangeiros do Combate, que participou activamente no
jornal até ao último número.

      A partir de agora a colecção completa do Combate está disponível em dois DVDs. O
preço, em qualquer caso bastante baixo, equivalerá aos custos materiais acrescidos da
expedição postal por correio registado e com embalagem protegida. Os pedidos devem
ser feitos para
      Apartado 61014

      2651-801 AMADORA

      PORTUGAL

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