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DA PR0Xll1M 1

O FOG
1

i -'O
1 . . · • .

a.cismo nos, EUA 1


1
Título do original inglês:
r THE FIRE 'N EXT TIME
·JAMES BALDWIN

Copyright © !.:.,62, l ~ de James Baldwin ;;


.-· ~--: . :-.~. ...
-i, ••

DA. PRóXIMA VEZ' '


.t :' ·:

Ou(ras obrçis de James Baldwin O FOGO


00 TELL 1T ON THE MOUNTAIN
NOTES OF A NATIVE SON (o racismo nos EU A)
GIOVANNl'S ROOM (edita do pela
-
CIVILIZAÇÃO
NODODY KNOWS . MY NAME
ANOTHER COUNTRY
DRASILEmA,)

Tradução d e .. ', ,.•


CHRISTIANO MONTEIRO ÜITICICA

BUP ... , ,
,· •
·,

BIBLIOTECA UNIVERSAL . POPULAR


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1 .. . ~: ! ..
B~P
BIBLIOTECA UNIVERSAL POPULAR
Vol. 71
Polêmica

Capa de
MARIUS

\ ,

ÍNDICE
__
. '

A Lr-çÃo DE BALDWIN - Paulo Francis 13


MEU CÁRCERE ESTREMECEU: Carta ao . meu · ·
Sobrinho por Ocasião do Centésimo Ani ...
versário da Emancipação . . . . . . . . . . . . . . . 19 .
Direitos para a língua portuguêsa _adquiridos com Ao PÉ DA CRUZ: Ca;rta_ de uma. Região da
exclusivida<le para o Brasil pela
Minha Mente ............. .;.... . 27
BIBLIOTECA UNIVERSAL POPULAR S, A.
Rua 7 de Setembro, 97 - 3.º andar
RIO DE JANEIRO
que· se reserva a propriedade literária desta tradução

1967
~ 1--
Impresso no Brasil
Prin-ted in Brazil
\.

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·, _,/.{

A LIÇÃO DE BALDWI~}!
PAULO FRANcrs
·.
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...
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,, .,.,.
A Biblioteca Uni versa l Popular ( BUP) lança
Th e .[ire next time, de Ja mes Baldwin, ensaio pu..-
blicado originalmente na revista T he N ew Y orkei·
( 1963) e que, em livro, se converteu em best..-seller
nos EUA. O autor usa a forma de uma carta aberta
a seu sobrinho, ensinando ...Ihe como deve compor..-
tar..-se em face dos brancos. Em verdade, é aos úl..-
timos que está invectivando, com uma fúria e elo..-
qüência sem paralelo na literatura contemporânea. O
próprio título foi extraído das Escrituras. Repete a
. advertência de Deus a Noé, _ depois do dilúvio: " D a
próxima vez , o fogo!"
Baldwin acha que o movimento pacífico dos ne--
gros pela obtenç ão de direi tos civis serviu apenas
para sublinhar a profundidade da opressão exercida
sôbre êles pelos brancos. Não crê que os brancos
se emendem, sem ser pela violência. Mas Baldwin
diz abominar a violência. Preferiria que os brancos
se modificassem por conta própria, pois só assim a i
i
civilização americana se tornaria fraternal, . construi.-
ria valôres positivos e duradouros .

15
·-.: ....
O livfo é impressionante como libelo. Em tre,.. . _.. /· ·. existência 'de talentos como Baldwin ,_ o poder, má, ...i!·/{
chos, James Baldwin quase atinge o nível de Swift :~ --._ p >: ··_ terial e intelectual, está majoritàriamente _com _os <)}
ao fazer explodir as pretensões de superioridade ra ... : 1...:··. bran ,cos. No outro extremo, Baldwin aspira (caindo, ··· '.}i
cial dos brancos. Lembra ...lhes que os negros chega ... ·.J · · ·,às vêzes , num sentimentali smo piegas) a uma change ,:~\;:
ram à América ·em companhia dos brancos. Foram -· 1__ ·'-i ·o[ heart,_a uma transformação espiritual dos braricos _'·_)j~
os negros com suor, sangue e lágr imas que araram · 1-·:· · que traria a todos paz e harmonia . ·:-:>
.~
a terra, preservaram o gado e ergueram as mansões ·°'":· 1 \:_: . -O defeito central ·
d o p_
e nsam~nto . de Baldv,,J_
~ ·:,>~;
de seus senhores, e nun ca receberam gratidão ou re,., :::: -~ é uma certa incultura sociológica e ólítica. · Êle prà ...~ /; _,
compen sa por êsse trabalho de _escravos. Zomb.a d~s ticamente isola · o elemento côr de ÕutrÕs que cori.- · · ··
brancos progressistas que imagin am ser a aspiraçao <luziram o negro à sua condição de inferioridade deiJ....- ~,
suprema dos negros tornarem ...se igua izinhos a ê:les. tro da concepção dos branco s. A pigmentação da ·.· ":'
Mostra um desprêzo religioso pela "civilização de , . -. . pele de cada um é ape nas um dos dados do problema. · ---~:
barbitúricos , di'vãs de psicanalistas, pão sintético e · . :·_:--\ ' , · Nesse sent ido, os negros deram grandes . passos . <
sexo sem amor", que considera típiq;l dos brancos. · :',~_:.-;.,, · sob os governos Kennedy e Johnson . É compreensível' ·::·:;
À famo sa pergunta dos racistas: "Você deixaria sua ,:: ·· ,. · . a irritação de um intelectual como Baldw in ·ante '_o::-~{j
irmã casar ...se com um dêles (prêtos_) ?", Baldwin dá ._ ·_:·!1/ \ ·..·,_·gradUalismo l~to da evolução de seus irmãos ; que/ {?~
uma resposta magistral e irretorguível: Conhecendo _:~t--:---, afinal, apenas recl amam aquilo q·ue lhes foi oficial~? :\
a sua irmã, como eu a conheço , eu que ensinei a ela ' <{'\ . xnenté concedido por Abraão .Lincoln há maü( de)i -~
os primeiros passos e afugentei seus terrôres infan,.. .v· •·· cem anos . Mas o jeito, infelizmente, .é lutar e espe--:>.'\
tis, essa pergunta deveria ser feita a mim, o ·adulto, rar. E, na luta, um documento como ·Na ·-próxima;-.:_--
que a encaminhei no mundo, . e a minha resposta é vez, o fogo! tem um valor inesti máv el na conqu ista·:":-':~
não. Di ficilmente o leitor branco, ao enfrentar essas de consciências. ·.-:V/(:
páginas, ainda que viva num ~aís _onde o r_acismo
assume formas mais suaves, deixara de · sentir uma .
interna vergonha acompanhada de um acréscimo de
lucidez diante do problema racial. · .
É uma pena, porém, que o remédio propo sto
por Baldwyn seja muito i~ferior ao .seu diagnóst~co.
:Sle se fixa numa perspectiva fantasiosa. Num polo, . . . .,·:
<·;•.,•.~
vê a violência forçando os brancos a conceder os di ... : . · :: .=..
reitos civis aos negros. Tal solução é impossíveL H_á
sõmente 20 milhões de negros entre 200 milh ões de
americanos. E não se trata sequer de uma minoria . ,,'

intelectualmente privilegiada, à maneira dos jacobi ...·


nos ou bolcheviques. Muito ao contrário, apesar da

16
' . . ,' · ~,: . . .: . :.
. ..-~,·,
-~-
.-·

..
'

MEU CÁRCERE ESTREMECEU


Carta ao meu Sobrinho
por Ocasião do Centésimo
Aniversário da
Emancipação

....
,·:
· t.':
··. Meu ~aro Ja mes:

::. Iniciei esta carta cinco vêzes e rasguei-a out~ ft \ '.


~'- tantas. Continuo a ver o seu rosto, que também é . o -:"-
·:.---- do seu pai e o do meu irmão. À semelhança dêle, · · 1

.., . . você é tenaz, moreno, vuln erável, genioso - com ··..',


: {~.. uma tendência bem definida de mostrar--se truculen-- .· ·•;
;:: to porque não quer que ninguém 6 considere fraco. ..,
i:::· Você pode ser como seu avô nesse ponto, não . sei, :'·:· ·:
mas certame nte tanto você como seu pai se parecem ·:/' _ '..
.. ·:-· muitís simo com êle no car.áter. Bem,_ êle já morreu, ::; ·..
'./:f:._-não, chegou a conhecê--Io, e teve uma vida te.frívet _':: :-:
·. :· e foi derrotado muito antes de morrer porque bem -;_ .:
no íntimo do coração realmente acreditava no que ·._ ''
os bra ncos falavam a respeito dêle. E is um dos mo-- '
tivas por que s~ tornou tão santo. Tenho a certeza .· '
de que o seu . pai lhe con tou algo acêrca de tudo isso.
Nem você nem o seu pai demonstram qualquer ten--
·, ciência para a san tidade: você realmente é de outra ··__·
~-· era, parte do que aconteceu quando o Negro ·aban-- · ·.-· ,.
· clonou a terra e se dirigiu para o que o falecido E. ·
) :..
...
r'·. ·•·

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l. ,1••
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·t :.•, .
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- na realidade deve--se lutar por se tornar endure ....
Franklin Frazier denominava de · "as cidades da des-- ciclo · e filosófico no tocante à destruiç ão e à morte,
truição". Você ·· só pode ser destruído se realmente pois é ni sso que ·a maioria da human idade mais se
crer no que o mundo dos brancos chama deprecia-- tem sobressaído desde que ouvimos falar do homem .
tivamente de negro. Dtgo--lhe isso porque o . amo, ( Mas lembre--se: a maioria · da humanidade não é
e peço--lhe que nun ca se esqueça disso. tôda a humanidade.) Porém não é permissível que \
Conheci vocês durante tôda a vida; carreguei os autores . da ~de:"astação dev_a°: tam~ém ser inoce n--
seu pai em meus braços e nos ombrost beijei--o e es .... tes. É a inocenc1a que constitui o crime.
panquei--o e vi ....
o apren ·der a caminhar. Não sei se Ora, meu caro homô~mo, essas pessoas ino--
você conhece alguém há tanto tempo; se tiver ama-- centes e bem intencionadas, os seus concidadãos,
do alguém por tão long o tempo, prim eiro como cri-- fizeram que você nascesse sob condições não muitó
ancinha, depois na fase da adolescência e finalmente .• I
diversas das que nos descreveu · Ch arles Dickens na
como homem, ter á adquirido u_ma estranha perspec-- Londres de há mais de cem anos. ( Ouço o côro dos 1
tiva do tempo, da dor e do esfôrço humano. Outras inocentes a exclamarem: "Não! Isto não é verdade!
pessoas não podem ver o que vejo sempre que con-- Como o senhor é cruel/" Mas esta carta eu a escre--
templo o rosto do seu pai, porquanto por detrás do vo a você, para tentar dizer--lhe algo sôbre a forma
rosto dêle como é hoje encontram--se todos aquêles de lidar com êles, pois a maioria dêles não sabe que
outros rostos que também foram dêle um 'dia. Quan-- · você existe. Sei das condições em que você nasceu,
do ri, vejo um porão do qual seu pai n ão se recorda pois me encontrava presente na ocasião. Seus con--
e uma casa de que não guarda lembrança, e ouço didadãos lá não se achavam, . e até hoje não ·parecem
no seu riso de hoje o de quando era criança. Quan-- ter compreendido. Sua avó também ali es~ava pre-- ·
do pragueja, recordo--me dêle caindo pelos degraus sente, e ninguém jamais a acusou de ser crüel. Su--
do porão, a gemer, e me vem à lembran ça, numa giro que os inocentes verifiquem isso ~om ela. Não
sensação dolorosa, as suas lá grimas, que a minha é difícil encontrá~la. Seus concidadãos não sabem
mão ou a da avó de você tão fàcilmente enxugava. também que ela existe,. embora venha trabalhando
·( Mas não há mão que possa limpar as lágrimas que para êles durante tôda a sua vida.)
. hoje êle verte às escondidas, que se pressente n~ Bem, você nasceu, aqui chegou, haverá quinze
seu riso e na sua voz, e nas suas cançoes. Bem sei anos; contemplando as ruas por onde o levavam,
o que o mundo fêz com o meu irmão e com que olhando para as paredes entre as qua is o encerra ....
odificuldade êle a tudo sobreviveu. E também sei - ram, tinham tôda a raz ão para estar de coração
. 1 o que é -muito pior, e êste é o crime do qual acuso opresso, e não obstante ta l não ocorreu. Pois aqui •·

o meu país e os meus concidadãos e pelo qual nem i


·você se achava, o Grande James, assim chall)ado em
eu, nem o tempo e nem a história jamais os perdoa ... minha hom enagem - você era um garôto forte, eu
remos, . que êles destruíram e continuam destruindo não fui - e estava para isso: para ser amado. Pa ra
centenas de milhares de vidas, e não tomam conhe ... ser amado, meu rap az, intensamente, logo e para
cimento disso e nem pretendem tomar. Pode ...se ser
·. 23
22
l; )•,.
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- ··J

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JD.~
··-.. ··1senip~e, para fortale~ê..-lo contra o mundo 'destituído .•. cos dizem a seu; respeito. Não ·'deixe ae ter em
• de amor. Lembre..-se disto: eu sei quão sombrio êle ... ,. .. que O . que · êles acreditam, bem :omo o que faz~m e : ~}
me~f
:\j
1,........ se afigura hoje -~ você. Afigurava..-se mau também · -0 que levam você a suportar, nao prova a sua mfe ....,·· '.-
naquele dia, sim, e nós . tremíamos. Ainda não dei..- rioridade, mas a desumanidade e o temor por parte '·· .·>
xamos de tremer, mas se não tivéssemos amado uns dêles. Tente ver claro, meu caro James, através da ·'º )
·, aos outros nenhum de •nós teria sobrevivido. E agora ,· tormenta que se desencadeia sôbre a sua jovem .é~-:-:. i
você deve .sobreviver, porque o amamos, e pelo bem ) ;}( beçà ·hoje em dia,. sôbre a realidade que se encont~~ : ·J:
de seus filhos e dos filhos dos seus filhos. : i:, por trás das palavras aceitação e integração. ·Nao :~\
Êste inocente país lançou..-o num gueto no qual , .., há motivo para você tentar ser igual aos brancos ~ . -_:..
de fato, desejava que você perecesse.- Deixe ....
me tra,. não existe qualquer fundamento para a impertinente · . ·);
duzir exatamente o que quero dizer com isso, pois suposição "da parte dêles de que devem ac.eitar você.'_. :J
o essencial da questão está nesse ponto e a raiz da . · O realmente terrível, meu velho camarada, . é que ._:·:.
minha pendência com o meu país. Você nasceu onde · você deva aceitá..-los ~ êles. E isso o digo com tôda ··, J
nasceu e se defrontou com o futuro com que se de,. f · ·-seriedade. Você deve aceitá..-los e aceitá..-los com ·'/~i
frontou porque era negro e por nenhum outro motivo. · ~.i. amor. Pois êsses inocentes não têm outra esperança. \\. '::f
Esperava..-se que os limites da sua ambição fôssem, · C.
);.\ Encontram..-se ainda, com efeito, enleados num ·a · his:--.; 'tt
assim, fixados para sempre. Você nasceu numa so... · i( )\' tória que não compreendem e, até que a compreen ..-;,.·.:{
ciedad e quef traduzia, com clareza br_utal, e no mahior . :,:.·:;,:._~,·,~_·_,-:>
. dam, dela não podem desenredar..-se. Vêem..-se com·,,: {)
número de armas possíve,1 que voce era um ser u..- . . pelidos a acreditar , há muitos anos e por inúmeras . · ·~:
mano sem valor. Não se esfpera va qu_e aspirasse à .).· §_
._·,~
.-,_
· _ razões, que os negros são inferiores aos brancos. Na . •.•:
nerfeição: esperava--se que izesse as pazes com a - realidade, muitos dêles sabem mais do que isso, mas, . ,-
~ediocridade . Para onde quer que você se tenha . )'. i;:' como você virá a descobrir, as pessoas acham muito : <
voltado, James, no curto espaço de tempo em que '.\~
se encontra neste mundó, disseram .... lhe aonde podia J, ~;;:
~t difícil agir baseadas no que sabem: Agir . é compro_--· ./
:. meter ...se, e comprometer ....se é ficar em perigo . . Nesse /}
ir e o que podia fazer ( e como _podia fazer) e onde ·.-.\ '~\ ..-caso, 0 perigo, na mente da maioria dos branco_~ :\./
podia morar e com quem podia cas~r. Se~ que os ·.:\.t . ;l'::norte..-americanos, é a perda da . identidade · dêles ~ ·.-::;
seus concidadãos não concordam comigo · a esse res-- ; :·:.t Tente imaginar se uma bela manhã você despertasse ·. ·· ;.
. peito, e ouço--os dizer: "Você exagera." · Êles não ··.·: L · e visse o sol brilha:ri'do e as estrêlas a rutilarem. Você '..'.ó~
conh ecem o Harlem, mas eu conheço. E você tam-- · ·. se assustaria, porque isso e&tá fora da ordem da na,.:;>} i
bé~. Não acredite no que lhe disserem por dá cá . ·;>:'.· trireza. Qualquer alteração brusca no _universo ·é ·.·:-)~
aque la palha, inclusive em mim - _mas.. con!ie_ n_a. . · terrificante por atacar profundamente a sensação ·_d~_:.:·.·_
sua experiência. S~bendo d~ onde ve10, nao ha hmi..-· _ L no_ssa_ própria realidade. Ora, o negro tem fun~o::. _-.jJf
tes para onde voce possa 1r. Os pormenores e os nado no mundo do homem branco ~orno uma estrela : .. :
símbolos de sua vida foram deliberadamente estru-- · ·.- fixa, uma pilastra imóvel; e ·no que êle ·se desloca · ·•.·\
turados para fazerem você acreditar no que os bra n.... :,· · do seu lugar, . céus e terra _são abalados nos seus ali--_./~;:
24 25
. .'·....;
I cerces.- Você nada tem a temer. Disse eu que a
: ·,. .
q~e voce- .·perecesse no gueto, perecesse
mtençao era ,,,,----
por nunca lhe perm itirem ficar por detrás das defi-
. nições do homem branco , por nunca lhe permitirem
soletrar o seu próprio nome. Você, como nós, des-
truímos essa intenção; e, por uma lei inexorável, um
terrível paradoxo, os ino.centes que acreditavam que
a sua prisão os deixava em segurança _vêm perdendo
·o domínio da realidade. Mas êsses homens são os
k ..·. seus irmãos ,- seus irmãos perdidos e mais jovens.
'"' ~ E se o têrmo integração quer 'dizer alguma coisa, eis
· o que êle significa: que nós, com amor, forçaremos
· •. .·os nossos irmãos a se verem como são, a deixarem
·· · de fugir à realidade e a começarem a modificá-la. AO PÉ DA CRUZ
~ .-Poi s esta é a sua pátria, meu amigo, não se deixe
dela expulsar; grandes homens aq ui realizaram f ei- .
tos ilustres e o farão novamente; e podemos fazer . Carta de uma Região da
. désta terra o que ela d~ve ser. Será .árduo, James,
.mas você provém de um tronco de vigorosos homens Minha Mente
·do carripo, homens que colherapi algodão, e repre-
. .i · saram . rios, e construíram ferrovias, e, contra as
. -maiores adversidades, atingiram uma dignidade ina-
. tacáyel e grandiosa. Você vem de uma longa gera-
ção de grandes poetas, alguns dos maiores desde
Homero. , Um dêles · disse: No momento mesmo em
. · que me julgava perdido , a· masmorra aluiu e minhas
cadeias romperam-se. ·
Você sabe, como eu sei, que o país comemora
1 . cem anos de liberdade com cem anos de antecedên-
cia: Não podemos ser livres até que êles . es·tejam
livres . Que Deus o abençoe, James, e boa sorte.

Do seu tio,

James.

26
•, -' ., .

.. ,:,_;
• •1 ~· .-: •

..
:~;, ..,
~'.
·- .
:-· .·.-:_t;·
"Tome aos ombros o fardo do Homem: ~.rf
. - :· .
Branco - você não há de querer rebaixar- :-~·:';\i
. t. se a menos - nem clamar demais pela ;){ ·t
Liberdade para encobrir o seu fastio; por:,~::
. . t~~
:

tudo o que gritar ou sussurrar, -· por. tudo .:/':':;


- ~: quanto fizer ou 'deixar de fazer , os povos .·.'.,?}
0

~-- ~~ . silentes, taciturnos, hão de tomar · a medida \~ \~


.
.
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do seu Deus - e a sua." ): :·;:}
.,' t Kipling
''..}fj!
·:-·· .·. ::~!

·:....
:

"Ao pé da cruz onde morreu o meu Sal,.,


vador, ali onde implorei para ser liberto .do
pecado, foi o sangue· aplicado ao meu co"'.. .
ração, que entoava louvores ao Seu nome!" ,· . 'i

- Hino

......

., 7 .··
. . .. ~
.1

\1
1
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(
:: 1

j
·Pa_ssei, no verão em que fiz quatorze anos , por
,~~,
prolongada crise re ligiosa. Empre go a pala vra "re,., '.b-.n
)<- r=-Q;r
?~
ligiosa" no sentido comum e arbitrário, significando
.;· ,. que eu então descobri Deus ,. Seus santos e anjos e
Seu flam'ejante Infer no. E visto que. ·na scera numa
nação cristã, . aceit ei essa De idade como a única. Su--
. punha--a existir somente dentro das paredes de uma
· ;~ :.· igreja - de fato, ·da nossa "igreja - e também su--
. ... · punha que Deus e segurança eram sinônimos. · O '
...t \ têrmo "se gurança" nos traz o verdadeiro significado
· ·. :~da pala vra "religioso" conforme a utilizamos. Por--
i ::.: -'\ · ·':/ tanto, para mencioná--la noutro sentido mais exato,
i.
ii • ' : fiquei, durante meu décimo qua rto ano, pela primei--
! ' ra vez na minha vida, com roê.do - com mêdo do
! .
mal dentro de mim e com mê·do do mal exterior.
.,. O que vi em tô rno de mim na quele verão, no Ha rlem, .·.'l l
i ' 1 ..; ( t' './V'-
·\ ,. ,. foi o que sempre vira; nada mudara. Mas ago ra,
. , ': sem qualquer aviso, as prostitut as, ru fiões e malfei--
. :. tores da Avenida tinham--se tornado uma ,ameaça \
: pessoal. Antes não me ocorrera que eu poderia trans--
.., ;· formar--me num dêles,. porém agora com~reendia que

31
havíamos sido gerad~s pelas mesmas circunstâncias . .· \ caso d_as . môças, era como se se tornassem . m~trona$j/' ~:'::'
Muitos dos meus camaradas tomavam nitidamente O ·. ,; antes de se fazerem mulheres. Começavam a dat l . ,.
rumo da Avenida e meu pai dizia que eu também ~ . mostras de uma curiosa e perturbadora estreiteza de ,·:
estava no mesmo caminho. Meus amigos começa.... /espírito. É difícil explicar de que forma se transmitia · ··.
vam a beber e a fumar, . e aventuravam-se ·_ de ·, essa impressão: algo de implacável talvez na posição ,:,
1 início com avidez, depois a gemérem - em suas car,.., dos lábios, uma expressão sagaz no olhar, uma certa .
1
'reiras sexuais. Môças, ~penas um ·pouco mais velhas ··., determinação nova e dominante no a~dar, um acento
que eu, que cantavam rio cô~o o~ ensinavam na es-- peremptório na voz. Já não cuidavam de provocar ...nos :
cola dominical, filhas de pais virtuosos, passavam, · a nós, · rapazes; icensuravam-nos abertamente , dizen ....1.
perante os me1:1.'il
olhos, por uma incrível _met~morfose, do: "Melhor seria que esti:vessem se preocupando com
da qual O aspecto mais estarrecedor nao era o dos o destino d~~ su~s almas". Pois as môças também ti- 1
seios que desabrochavam ou dos quadris qu~ se a~-- nham consc1enc1a do que se passava na Avenida, _53 ,.., .
redondavam, mas algo mais profu n do e mais sutil, biam o preço qu e feriam a pagar por um passo em fal ...: .
1
nos seus olhos, no seu calor, no seu cheiro e na so, sabia:m que tinham que ser protegidas e que nós ré ....
inflexão das suas vozes. Como os estranhos da ·3, presentávamos a única proteção possível. Acredita.... .
Avenida, tornaram ....
se, num abrir e fechar de olhos, . .~;.~ vam .ter que atuar como chamarizes de Deus, salvan ..
extremamente diferentes e fantàsticamente presentes. ' -( : do as almas dos rapazes para Jesus e suj eitando .... Ihe's
Devido à forma como eu fôra educado, o · mal-estar , ~ i· os. corpos através do càsamento . . Pois aqui tinha
abrupto que tudo isso despertou em mim e o fato - ', . origem a nossa era ardente, e segundo São Paulo
de eu não .ter nenhum a idéia do que a minha voz, ' - que por tôda parte, com precisão incómuni e' sur ....
ou O meu espírito, ou o meu corpo poderia vir a ·:~;: preendente, descrevia .... se a si mesmo como uma
fazer em seguida fêz com que eu me considerasse } '.. "cri~~~ra desgraçada" - "é melhor casar~se do qu_e
uma das pessoas mais . depravadas da terra: . E as .·r, : ard~r .. Comecei a_ perceber então nos rapazes um,a
l,
coisas não melhoravam pelo. fato de essas v1i:tuosas y;' espec1e de desespero estranho, . cauteloso, aturdido, ..
môças parecerem antes sentir prazer com os meus 1-· como se tratassem agora de firmar posição para 0
lapsos aterrorizados, . com nossas experiências pen~:- ·\: ·~ongo e áspero inverno da vida. Eu ignorava, na
sas, culposas e atormentadas, ao mesmo tempo tao ·. . epoca, exatamente a que minha reação se dirigia;
frígidas e melancóJicas quanto as 1:stepes russa_s, e . tentei convencer .Jme de que _êles _simplesmente se dei_; .
quentes, incomparàvelmente mais quentes que todas . ·xa~am levar p:los acontecimentos. Da mesma ma ..... '":'-t .(
as labaredas do Inferno. . . . ~ neira que as ,:noças preparavam .... se para ganhar pêso · .. •
E no entanto algo existia de mais profundo que \ como suas maes o haviam feito, os rapazes, era evi ....
essa_s modificações; e me~os definível, _que me ate .... i ·_dente, nã~ alcançariam mais estatura que seus pais. ·· '··
monzava sobremodo. Era um_fato pos:1vel de cons ...~/i.' ; ,!\-esc? Ia come~o_u .ª aparecer, portanto, como um jôgo , ,i~~~
se quer nos ~apazes quer nas mo~as,. embora, :;; i mfantil que d1f1c1lmente era vencido, e os rapazes
tatar .... ... .
de certa forma,_ mais patente entre os primeiros. No · :;. 'i,trataram de largar os estudos para trabalhar. Meu
e 32 33
r
1
i
~f'ff'<' . .·.'
.{t)":.,.
p~i queria que eu fizesse o mesmo. R_ecusei-me, con- .., · ridícu las ( e aterradoras) concernentes aos meus an--
."!f/t'
':':· quanto já não alimentasse ilusões_ acerca d~s v?,nta- , • cestrais e às minhas pro váveis experiências · sexuai s
(~~t~=)'_ : . gens que um curso regular_ poderia pr.01:o~c1onar-me: e, para não desmentir a forma, deixando-me estira-
r<~{: ·:·de fato, encontrara p~la v1_d~.ª fora mume~o~ ~_esa..- do de costas num terreno bal dio de Harlem. Pouco
!·,j•.·: · ··l·jeitados com grau umv~sitano. Meus. a1;;11gos~on- ante s dêsse fato, e depois durante a Seg und a Guerra
t::'\ : . . centravam--se agora no ' .centro comercial da c1da- Mundial , inúme ros amigos meus refugiaram--se no
Wi:f:·: de, ocupados, conforme êl~~ próprios o afirmavam, serviço ativo, onde todos se modificaram, e raramen-
'?1 '/' · ·.. 'em "lutar contra o homem . Aos poucos, passaram te para melhor - muitos para se desgraçarem defi--
1}\' ;· : a descuidar-se da aparência, do vestuário, dos pró-- .., ·. / nitivamente, o.u tros para morrer. Outros ainda fugi~
!){:\_,;< : .'prios atos: ultimamente, era comum encontrá--los :m . rani para outros estados e cidades - isto é, para
;fl·i•, ·grupos de três ou quatro, em qualqu _er beco, em tor- outros guetos. Alguns procuraram refúgio no álcool
1~\:.' no de uma jarra de vinho ou 'de uma garrafa de uís-- ou nas picad as de injeção, · e a isso se apegaram até
i[~; :_i. que, conversando, praguejando, discutindo, não · raro hoje. E outros ainda, como eu, abrigaram-se à som--
:;•;_· até chorando· desarvorados, e incapazes de confes-
1 bra da igreja.
(,': sar o que os oprimia, a não ser qu_e se ~rat':.va d' ." o Porque os frutos do pecado er am sensíveis por
1
homem" - o homem branco. E dir--se-ia nao haver tôda parte, .em cada beco manc ha do de vinho e f e--
t/~
·'

uma ·maneira qualquer de afastar essa nuvem que dendo a urina, em cada retin ir de sirena de ambu--
~:'.-1.' se interpunha entre êles e o sol, entre êles e o amor, lância, em cada cicatriz a marcar o rosto dos rufiões
,',..:· a vida e O poder, entre êles e ·seja º. que fôr que a~-- e das prostitutas que êles exploravam , em cada re--
;:!1·;_!_/:_:_ bicionassem .da vida. Não era preciso ser excepcio-- cém~nasci do indefeso trazido a êsse mundo perigoso,
- nalmerite inteligente para compreender quão pouco em cada briga de faca ou de pi st ola desencadeada
V,_'.:. · se ·,podia fazer para modificar a. p_r?pria ~ituação; .. . 1 na Avenida, em éada comunicado sinistro: uma pri- \
,f .;' · nem era .preciso possuir 1:11nasensi~ihdade m~omum , ·i . \ ma, mãe de seis filhos, que enlouquece inesperada- t
:fr:_i; / .. · para atingir ao auge da exasperaçao fren te as ~u- , · 1 mente, tendo que repar tir ..:se as cria nças mais ou me--\
g.: :-:,'·.·
1
• milhações gratuitas e incessantes por que se pa~sava / nos ao acaso; uma tia de idade avançada sendo re--í
·r.:;, .· ao longo das vinte e quatro horas de cada. dia. A compensada por anos a fio de árduo labor por uma li
:L>· .. humilhação não se restringia aos adultos; tmha e:1 1len ta agonia num cubículo abafado; um rapaz de in-
ir;:,,,· · treze anos e atravessava a Quinta Avenida a cami-- !
teligência br ilhante conduz ido ao suicíd io por algum
;%\_-:·:nho da biblioteca da rua 42, e ouvi nitidamente o ·)motivo imperscrutável; outr o levado . à cadeia como
.nti'.. ::·policial que dirigia ? tráfeg<:_resmungar 5ua~do pas- ladrão. Aquê le foi um verão de terríve is especula-
: tr.~· ·.. 1sei . por êle: "Por que voces negros 1:?ºficam na \ · ções e descobertas, .das quais as acima mencionadas 1~'(T-J. : J_ -1
t ;:'::, · parte alta da cidade, que é a sua zona? Quando . :u não for~m as piores. P ela primeira .vez, por exem-- \~
('-
H, • ,r ,,,d
.....
l
H/. . ·não' tinha mais do que dez anos, e certamente nao ,. plo, o crime tornou-se uma rea lidade ,.....,não como
f-
,\1 'par~cia mais do que isso, dois poli~iais 4ivertiram:se ·· ,, uma pos sibilidade e sim como a possibilid ad e. O fato
m ~C, . provocando--me ' maldosaJ:I].ente, fazendo especulaçoes . ·- ·-....-:.. de trabalhar e poupar tostõrs nunca chegaria a com-- •
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f.1 1( , ,r..~ 1· ~: ÍP.-... ·'
. e, :.~ .
1 .. ~-....: • • ? :.~:.

' : :...·. deixado de existir; uma vez que J·a· na-o ma1·s .. . :\.()
pensar as condições de nascimen to de cada um; além necessário. será ·.' : \
de que o trabalho jamais permitiria reunir a quantia ·, , Pessoas colocadas em . . - . . ..; ·;, ~::
almejada, o tratamento concedido pela sociedade in,.. . , do que nós no H 1 yosiçao mais vantaJosa , .: ·,.
clusive aos mais .bem sucedidos dentre os Negros julgarão po~ventur:r e:~~s~~tivemos e }ainda estamos, ;' \ ./
( vindo provar que, para ser livre, era preciso contar
com algo mais do que uma conta bancári a. Era in,..
dispensável ter em mãos uma alavanca, -um pé..-de,..
. .; brio o quadro acima d 1· ivadmenAtee 1ocante e som,.. . . .
e- que--·a experiência
branco não lhe permit~
ue mea N.
e ~ .,
o
egro
verdad e, porem,
tem do h
· ·
omem .
. . '.


_:_
·cabra - um qualquer instrumento . de intimidação. los padrões de v1·d n_:1 nr qualquer re speito pe,.. . ' . ),
· · a que este se pro ~ d S · ·•
\ Era fato absolutamente indiscutível que a polícia o própria condição de vid . ~oe a otar. ua ... : .;?
agarraria e o meteria . entre as grades sempre que . que tais padrões nunca for::ro~a. msofismável de ·. :_:,
se apresentasse a ocasião de fazê,..lo, e que tôdas as ções a fio, empregados Ne r:Jeitado:'. _- Por gera~ \~
demais cria turas - donas de casa, . motoristas de táxi, dezas de residências d b gros vem A
surnpiando mfü- '
com o fato q e rances, e estes se deliciam : ·.'~
cabineir os de elevador, lavadores de pratos, barmen,
culpa que ~or::nt:~r;: oaste:uar o le~e sentimento de . ...· ~-.
advogados, juízes, médicos e açougueiros - jamais a ~uperioridade intrínseca ssdlte, blem de comprovar · . '. ·.:·
se deixariam impedir, por um generoso sentimento
mais estúpido e servil d Nos ran~os. Mesmo . o . ._.,: ·;
de humanidade, de considerá,..lo como uma válvula de d . os egros nao pode. d . ....,·
escape para as suas frustrações e hostilidades. Nem e se impressionar pela dis 'd d . e1xar .... ·,1
a sua e d' ~ pari a e existente entre . ; : ,:
o raciocínio civilizado nem a caridade cris t~ poderia . on içao e a daq ueles para quem t b lh . .. ~:~
e. os que não eram nem estupi . 'd os ne ra a. ava; _ ./
conduzir alguma dessas criaturas a tratar o Negro
como ela presumivelmente gostaria de ser tratada: JdU 1gavabm estar praticando qualquer atmomsearv1snao . .-. '.;:_? .. l
o rou avam os brancos A . u quan~ . .,
.só o temor à capacidade de vingança dêste último puritano,..ianque entre virtud!e?eb~:~:stequipara:N'ã o . :·.':..,.~
) h averia de levá,..las a assim proced _erem, ou fingirem
\ fazê,..lo, o que ainda é bastante bom. A despeito da .
gros possuíam excelentes razões para duJJ• .
a ,posse ou a conservação do d. h . . a~ e que
ode~ ,.. ·. :'{
. /·
grande confusão que parece reinar a êsse . respeito, ma relação imediata com . ~n eira tivesse .algu,..
eu pessoalmente não conheço muitos Negros que se menos não fun . d as virtudes cristãs; pelo ... , ·:,
mostrem ansiosos por serem "aceitos" pelos brancos, . , cionava essa mane.
cristãos de côr De 1 ira para co m os·
e menos ainda por serem estimados por êles; êles, 5
haviam despoj;do 0 Sfe~;:; J~r:: 1fuerbJ:;t •/u e
os homens de côr, limitam,..se a desejar não serem se aproveitavam a cad a d . e isso
\-- ~~ humilhados pelos brancos a cada instante. Na rea,.. · n ão • contavam com um mb0mentq el sua existência;
ª ase mora sôbre 1 · ·,· ·
·~
t lidade, os homens brancos neste país terão suficien--
doras a I ·
E
ap01ar-se. ram seus os . . . ., .
JUizes, os JUnS, as metralha-·
a qua
'.; temente de que se ocupar aprendendo a amar e a ' ei - numa palavra 0 · d · ,,
aceitar,.,se uns aos outros, . e uma vez realizado êsse porém de um poder . . ' po er. Tratava,..se
cnmmoso a ser temid -
· · objetivo - q~e po~e não ser conquistado amanh~ respeita d o,. e sobrepujado de t:Ad o _mas posnao...-
\ · 0 as as maneiras
1;. e talvez nunca o se,a - o problema do Negro tera
1
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.fief)
}:' _',·sí_veis. E aquelas mesmas virtudes que eram preca -- .' 'dou a impe lir--me para dentro da igreja. E, por um ,
~J)/á:t.r ·mzada s mas não praticadas pelos brancos represen-- ·,i imprevisível pa r adoxo, foi a minha carreira sacer--
. tayam simplesmente mais um meio de manter os N e-- t ·dota! que resultou, precisamente, no meu truque , no .
'.JY'.f:\,.:
. \&:'.~{{:gros so~ .a sua sujeição. ~ __. . / meu segrêdo, para vence r .
t--~ 1
1
-i~
~?~? ·' • . . Acontec~u '. porta~to, nesse verao, que as barrei... .i;'\. Isso porque, quando tentei faze r um balanço das
· -., -,_
·:..,'._,
·"_t_
._;t 1, _ras
....~_-_•.~-morais que' eu J·ulgara existir entre mim e os pe-- ·. i-
_--z-",· ·· ~m· h as h a b'l't ~
11 açoes, ven ·f·1que1· que-·- não tinha prà--
~}?·:t\":}
_;-r~gos de uma carreira criminosa revel~ram_--se tão ~:. t1camente nenhuma. Para alcançar O id'eal de vida
F,'.frf//;: ·.. tenues a ponto de se tornarem quase mexistentes . . ~ · que me propusera, .eu recebera , ao que me parecia,
Lilt/)\\ .'· Por _mais · que me esforçasse, não lograva encontrar O quinhão mais negatjvo possível. Não podia sonhar
!1} 5'?;\, '·· u.m motivo abalizado para não me tornar um cri--. _f em tornar--me um pugilista _ muitos de nós O ten--·
i'tf\) ·\·•· minoso · - e por isso não deverão ser culpados os 1, tamos, mas bem poucos O conseguiram . N ão sabia
Í, ;:,:
. :.< · meus pa is hu mildes, tem entes a D eus, e sim a so-- cantar nem d an çar . p rofundamente impregnado pelo
1F< ciedade. Encoritravà--me então firmemente determV .,. ambiente em que cr escera e me educara, não ousava
i ;\ nado - · mais determinado até do que na ocasião 1\\
l f;:i supunha - a nunca aceitar qualquer tratado de paz leva~b~l-dsérdioa. idéia de m~ tornar escritor . A únicà : i~J.t>if'<-" ( .d

'
: i,,:,. t . t . poss1 1 1 a e restante par ec1a ser a de tornar-me um j
"., ,.,
1-f\.. . com o dgueI of, e s1dman esda' morrer be mcorrer nbas . daqueles sórdidos elemento s da Avenida que na rea- ~ yl

'
..
i.t· · . · penas
--,,:· · _· .
o n erno
d .o que e1xar. um "l ranco,, zom ar · . :,., . ]'d d ~ - , d 'd ·
1 a e nao eram tao sor 1 os quanto eu imagmava
' . .
1t\· . ..: impunemente e mim, ou aceitar o ugar que me • ; · . ·~ · 1

f
~/A

~ )r{ ~': ')·'indic avam ne ssa rep ública. Eu ·n ão pr ete ndia p er--1· . _na _ocasia o, mas _que m: as su_st ª va m terri velmente,
"' 11~"~t(·'
-df..<L •u :
,. · m1·t·ir aos b rancos d-esse pais, ens;nar-me
. o meu 1u-- ;:. ·t tanto • porque eu nao ,
deseJava viver . aquela v 1·da
.
como
p:?j_': .) .·\ gar, ~imitar dessa fo_r:11ªas minhas açõe~, livrar--se ,'._,:,tambem_ por a9mlo que me f?zi~m expe runentar. 1
J.f::f /\:· :. \ _de mim com tal facilidade. E enq1:1anto isso, natu - .. ·:~'.,, .1:'u.~o tmha e~_tao O dom de excita~ me_- o que e~ 1
J:rff.: 1ef:~· • ralm~nte, ~~ estava se1:d~ escarnec ido : ~ontrolado, (' ;::,81_Jª era bastante mau - mas o p10r e que eu P:,º"')'
1 ~_1.·, · .e ter~a podido ser suprimido com um m1mmo de es-- :· ;, pno me tornara uma fonte de ma ldade e ten taçao.
].i;(::,..... > • fôrça . . Todos os rapazes Negros - pelo menos os _,\ } Infelizmente,_ a boa educação que recebera impedia ... '\
>
fft '.··-.· que durante aquêle período se encontravam na mi-- :. me de acreditar que qualquer das propostas franca ...
lt{?_:/,..
nha situaç~o ~- '. a:o atingirem a .ê~se ~onto crucial ·,'.;· ::nent: explícitas que me for.:3-mfeitas naque_le verã? :f'
f
j ti'(.:.::: . ..de _suas ex1stenc1as, compreendem 1med1atamente - ; as vezes por rapazes e moças, mas tambem, ma1~L ',
l
WbL'.:,: .. .. e com intens idade,. em vista do desejo de viver que , ala~~'.3-ntemente, por homens e mulheres mais velhos, !i'
}f-T
:\·,::.·.
os anima - que se encontram em perigo real e de~ ::;'( .tivesse qualquer co!s~ a ver com a minha atração !1
~~{ . ·.vem ,encontrar, sem perda de tempo, um recurso ,~ < pessoal. Pelo contrano, uma vez que _no Harlem O l
~Ut . qualquer · para ajud~--los no caminho que irão segu ir ; ,,t~\c?ncei_to de sedução é, para dizer o menos , sem-ce ...
\'if··. : E êsse recurso, não importa qual seja . Foi esta úJ....··:.: ✓ nmon10so, o que quer que essa gente visse em mim
t·;.·, tima constatação que me atemorizou e - por reve-- .: ~-.. servia apenas para confirm a r o meu próprio senti.-
};i':; lar que a porta se abria para tantos perigos - .aju~ 5{ mento de depravaç _ão.
,i}!;
·-~·-:. . ':,:.~
; ;:::· . 1
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!!' .
·;.~ .':. 3 8- ··..r...: ~f
';.~
39 -· i·
. :-
\ , , '• .·
n_ão obtém explicação 'de ·qual seja, o ,que já é sufi- . ~',
É positivamente lamentável que o despertar dos cien~e para atemorizá~la; mais· assustador, porém, é
sentidos -cond uza o individuo a um julgamento tão o medo que transpira da voz dos adul tos. O mêdo
impiedoso de si mesmo - para não mencionar o
que yressenti na voz de meu pai, por exemplo, quan- ·. :-
tem po e a angústia despendidos em atingir a outra
qualquer apreciaçã'o - mas é igualmente inevi~ /º
azer
ele percebeu que .eu realmente acreditava poder
-~~ mesmas coisas que um menino 'branco fazia
tável que umà tentati va de mortificação literal da .
e que tmh~ a intenção de prová-lo, em nada se as~--- ·..:~
.:..-----: carne se processe entr~ a gente de raça negra n re ~
~ a qual me criei. Neste país, os Negros - e êles não "' •· .· , deme~hava_ aquele receio que transparecia quando um · ,.:
-·-:
~~xístem em qualquer "out ro, seja em sentido estrito 1 . e nos c~1a doente, ou escorregava das escadas ou
/ ou legal - são ensinados a desprezar-se a si pró~ ! se_ extraviava_ pela vizinhança. Era outra espéci~ de \ ,.·
prios desde o instante em que . seus olhos se abrem \ · medo, u~ ~edo com o qual a criança, ao desafiar \
para o mundo. É um mundo de brancos, e êles são ! os preconceitos do branco, encaminhava-se inevità- )
prêtos. Os brancos detêm o poder nas mãos, o que v:lmen~ para a _rrópria ruína . A criança ·por ·si só ( .
.:1ªº po e. - . felizmente - . ter noção de quanto é ~ .. '
---> \ significa que s~o superiç,res a~s ~egro~. (intrlnse~
\ camente, ou seJa: · por determmaçao divma), e o imensa e impied~sa a essência do poder, da incrív~l \ .., <
mundo possui mumeras maneiras de tornar essa di- crueldade com que os homens podem tratar~se uns ,_ .·
ferença conhecida e temida. Muito antes dé perce~ aos dutros. Sua. reação ao mêdo que transparece na
ber essa diferença, e ainda muito antes de poder voz e seus pais decorre da noção de que os pais
compreendê -la , a criança Negra já começou a rea~ representam, para ela, o próprio mundo e de .
gir contra ela, e a sofrer o seu domínio. A cada es- . sem
d f êles - encontraria proteção. Quanto
. , nao ' a -mim
que,
fôrço que fazem os mais velhos para prepará-la .· e dendia~me do temor que meu pa1· me inspirava, . . '.
contra um destino contra o qual são impotentes para ten o em mente que êle era extremamente antiqua~ ·
protegê-la, a criança passa a aguardar, aterrorizada, ~o em sua maneira de pensar. Por outro lado, orgu ....
inconscientemente, êsse misterioso e inexorável cas- ~va ...me_ pelo fato de já contar com· os meus pró..-
tigo. Ela é ensinada a ser "boa", não apenas para pr10s meios de sobrepujá-lo em astúcia. --Defender~se
agradar aos pais ou para evitar ser punida por êles: contra uma qualquer forma de mêdo equivale sim ...
por detrás da autoridade paterna existe outra, anô- plesmente a certificar-se de algum dia sermos venci,., ,. ',

nima e impessoal. infinitamente mais difícil de . agra- ~o~ po~ :la;_ o mêdo precisa ser enfrentado. Quanto ·.,:'
. dar e indescritivelmente cruel. · E essa noção infil- . a mtehg~ncia de cada um, não é verdade que · ela
tra-se na consciência infantil, através da entonação poss_a_satisfazer plenamente a uma vida integralmen-
de voz de seus pais, nas ocasiões em que é adn10es- te V,;Y.!.da. Naquele_ verão, portanto, todos aquêle s te~ .
tado, castigado, ou acariciado; elà traduz-se na nota -.·i mores com _os quais eu crescera, e que agora faziam
súbita, incon trolável, de receio que ecoa na voz do_ , par~~ de mmha pessoa e controlavam a minha pers~
pai ou da mãe quando a criança ultràpassà algum ! , pectlva do mundo, levantaram-se qual uma · monta ...
limite 'determinado. .:Êsse limite,. ela o desconhece, e
' 41
40
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~
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·.i.~ .:_..·_
i·:_.··._·_, ; .:·.·•.
·:_· '.:.:_
,_·.-:_·.:_i_·.·...: ;. ·
o mundo e eu, e conduzk:m,me ao •~cio r
-\!-
igrel;lvd-: pr e[;~ê:~~ :~u~~:s~::i~~::.d~
t- Ao lançar os otlhoshparat tr~st, tu~o o que fiaz 1.}. pae~::n~=~uçaq~aÍqs~:rituaclonmhuit?temtpo antes depex- i-
en ao p_~rece-°:1e e~ ran amen e m enc10na 1, em 6 o~ -i,:;. \~ . ec1men o carna 1. ois \
~:c::bi~~:

'1
na ocas1ao assim nao acc_:mtecesse.Por exemplo, nao :. .i · quand? Q.\Pª~~ºf\ .1~terrog ou-me, com aquê le sorriso
1?· · ingressei na igreja a que pertencia meu pai e na ·. J: . mara~ilhoso: _Voce ..a quem pertenc_e, garôto?", re s-
;\J .:.' qual êle costumava pregar. Meu I melhor amigo :pa ·} i:. po n d1 sem_ hesitar: À senhora, naturalmente."
1
:·_;.:
,~':,~!:,;.::'!'.
.~-:

;. ..
;t
.. '.. , . escola,
:.:_:.:_:.•_.:::·;·. q.ue freqüentava outra igreja, já "entregara _:.:
sua vida a.o Senhor", e· mostrava-se7Jarticularmente
;. O v~rao escoou-se, e a minha situação só fêz pio-
J;: rar. Sentia avolumar-se dentro de mim, inexoràvel- K l. 1,('v··/4r a)
,1: .• 1 ansioso acêrca da sa lvi3-çãoda minha alma. (Tal não ; ~;:mente , ~quel~ se~~ação de culpa e de mêdo, até qu.e • i'c,t..L
G,_lp-1
Wr.··. , sucedia comigo, mas eu me sentia gra to a qualquer ,; -'. uma noi~e, i1:evitavelmente, terminada a pregação, /
lfr ,>.·.:mostra de solidariedade humana.) Numa tarde de ~ ..· . tu~o aqu:1° pos-se a gemer, a gritar, a rugir em meu L
(~f)'.:;
/· sábado, levou-me à sua igreja. Nã o havia serviço .i;.'.peito, at: derr~bar-me ao solo diante do altar. Foi \ ·
tt• , religioso naquele dia, e a igreja estava vazia, a não ;;':. ªAdsensaç~o mai_s estranha que j á experimentei em
iJ}-(··. · ser por algumas mulheres que faziam a limpeza e ··, to ª ª ~mha v~da - até aquêle m9m en to, ou mes-
~v;'.:'< ou~ras empenhadas ·em oração . Meu amigo condu- . ·. ~ mo . da!i. por diante. Eu não_ podia imaginar que
n·<,.".: ziu-me até a sala dos fundos para apresentar-7:11e ao '., :. aquilo ma acontecer , nem sequer que pudesse acon-
i?Jt:..··; seu ·pastor - uma mulher. Ah estava ela, sorridente ; _·. tecer. Encontrava-me normalmente de' pé, cantando
11!:i.· . ·e elegante nos seus trajes típicos, e ostentando em '. • e batendo palmas, e ao mesmo tempo aperfeiçoando
l~l\ ~ sua ex?~ess~o ~rgulh~sa u~ mist? de África, Europa :,;'.· mentalmente a trama de uma peça teatral que ela-
W,f· --,. e Amenca India. Nao tena mais q~e 9:uarenta ou .. ~. borava no mome1:_to;no instante seguinte, sem tran-
!W•. :.. . quarenta e cinco anos, e sua reputaçao Jª era gran- . _·; siçao, sem sensaçao de queda, encontrei-me caído de
[~k- ·- . de em no sso mundo. Meu amigo dispunha ·-se a apre- ··/ · cost a~ no chão, com as luzes a ofuscar-me os olhos
i~l!"-· ;· · sentar-me quando ela fitou-me sorrindo e pergun- {:: e as imagen s dos santos pairando verticalmente sô-
,f ~ > 11½,;.11pl t'ou: "Você a quem pertence, garôto? ~·-Ora , _essa. :ra ,::} bre. mim. Não po_d~a explic~r a mim. mesmo
O que
::~{//,} . ·:'.' precisam~nte a frase usada _pelos ruf1oes e mtruJoes ::. ::.. 1:1-ªq_uefa:ia
~a pos:çao, e mmto DJenos como chegara
:i~
f;,.<~,
:-_.:
..
\ 'ilW/i\•:>:.·
da Avemda quando sugeriam, entre debochados e ; ·. ate ah. E 1mposs1vel descrever a angústia . que me
interessados, que eu ·"me p assasse" para o la?o dê- ( atormentava. Ela me envolvia à semelhança d e uma
;;\lPJ/} ~1· les. Parte do terror que despertavam em ~mm ?~~
-_{;
··::
d~_ssas enchentes .desastrosas que devastam- as re-
Ylf::}3,
1
<
:,· . corria provàvelmente ~o fato de quAe.eu mdub1~a-:. !_·gioes, a~rasando com tudo, separando as crianças de
Ice,/>,~ :··velmen .te sempre deseJara · ser o garoto de alguem. ::· :·.·seus pais e os amantes um do outro, e transforman-
, ..r-, •/ ; %.y:.. · Vivia ·tão amedrontado, à mercê de tantas interro- ·i'i · do tudo n um caos inominável. Só p osso recor da r- me
,, .,rl~:?--.
_·:ti/j/ .._.
r
gações, que fatalmente, naquele verão, alguém aca- -< da dor, :1ma dor indescritível: era como se eu esti-
·:-..b~ria por adotar-me; dificilment?, no Harlem, ~l~uém : · t ·vesse ~rrtando em dir~ção aos Céus, e os Céus não
ir{."'.. :'fica . disponível por muito tempo, Foi uma fehc1dade ·j ' , me qmsessem dar ouvidos, E se tal não acontecesse,

il(:·;;>· 42 · iJ.~f' 43
(· ~_,,
:-\
1-<J
.
;'' ,·.:'
·. . 41ví
-~~~, j
.'.../se · o
amor não pu'de sse 'descer 'do Céu para purifi ,., :·~:\ '.'. De cert~ .formá, . aliást eu rea lmente o estava, por . -~~;
J_ car,.,me, eu sabia que _um~~g~Q __de'?~iD;Q. m_e_e~p~~a_va - , quant o sentia,.,me to talmente desgastad o e · exausto
_:_:;•,> · .'!-:
Sim, porque realmente sigm ica a gum~ co1s~ - a ,., j ; e_pela primeira vez libertado daquel e incessante sen,., /
guma coisa intraduzível - o ter nascido pret o num i·, • ti~ento d_e culpa . P or anos a fro, depois des sa cena, : ··
país de br ancos, anglo,.,teutônico, ant i,.,sexual. \ o •. , nao ces~-~i-de perguntar a mim mesmo por que motivo
1m e muito pouco tempo, instintivamente, a pessoa a tranqmhdade humana teria ele ser conquistada de
abandona qualquer esperança de confraternização. Al , uma __ forma a um ·tempo tão pagã e tão desesperada '
gente de raça negra olha geralmente para ba ixo, ou ! . - de uma forma ao mesmo tempo tão in acredità-
para cima, mas não costuma olhar um para o o~tr~; . ., '.; v~lm_~te antiquada e tão inexplicàvelmente revolu--
e os brancos, em sua maioria, olh_am em outra d1,.,/ ··:f c10narxa. E, na época em que me encontrei em con-
reção. E o universo fica sendo ent ao um mero ru far . i :'.\ dtções de _form~lar a mim mesmo essas interroga~ .
de tà~ÕÓres; não ex iste maneira possível de dar um .' ' çoes, achei--me _igualmente apto a perceher que as : ·. -~ -
sentido à vida, de amar a mulher e os filhos, ou os 1 ' :1ºr~as que regiam os ~itos _.eos costumes das igre,., ; ; .'.;
amigos, ou o pai .e a mãe, ou mesmo de ser amad o. _,'. r;- Jas a sombra das quais fm educado não diferiam ,' ·
O universo, que não é formado exclusivamente pelas ' i -~aq~elas que governavam os ritos e os costumes ·das . ·:t
. estrêlas, a lua e os planêtas, . flôres, gram a e ar vo,., . :'.), ·.igrejas dos bra ncos . Essas normas eram respectiv~-- · · (:
reda s, mas por outras criaturas, não criou condições m 7n~e ª. Cegu~ira, a Solidão e o Jkrror, sendo que .} ),
propícia s para a sua existência, n ão fêz lugar para ''. / ª· primeira devia ser intensamente cultivada a ·fim de •· .,,;
nós e se não é o amor a abrir as portas, nenhuma
1
. ,. p ~der anul_ar as duas outras. Eu gostaria de acre,., · · ·';
out;a fôrça quererá ou poderá fazê,.,lo. E, no caso d{i
_tar que esses princípios fõssem a Fé, a Esperan~ · -~.
da criatura desesperar do amor humano - e a quem , . ça e .ª Caridad e, ·mas a maioria dos cristãos - ou
1
\f
não aconteceu isso? - resta apenéls o amor de Deus . ' daqmlo a que designamos como o mundo cristão - '·
.i Acontece - e essa certeza experimentei naquele dia · '.-' sabe que na realidade tal não ocorre.
..2...V'N::>
~ 1
jlongínquo, naquela posição h~m_ilhante - _que D eus l ·'.:·: . . Eu estava salvo, pois. Mas ao mesmo tempo, ·.·•.:.
é branc o. E se o Seu amor e m comensuravel como graças ao processo de uma profunda sutileza de ado-- · · .: ,·.
se apregoa, se Ê le ama igua lmente a todos os Seus !esce:1t.e que não p:etendi esclarecer, cómpreendi ·. .-_'.~:
filhos, por que motivo fomos nós, os Negro s, re~e-- _ 11:13-ed1atamente que . nao podia permanecer na igrej.a . ··..-:"
gado s a um plano tão in ferior ~ P or quê_? A despeito simplesmente como um crente a mais. Urgia encon ..· , <_
d tudo quanto eu po ssa ter dito p~sten~rmente, na~ . ;:, trar algo para fazer, a fim de não me aborrecer de- .. · · :;
ela noite, . estendido naque le chao, nao encontrei masiado e ao mesmo tempo de não ser incl uído •no .-:.-
resposta - pelo menos, não aquela_ resposta .. E rol dos prosc ritos da Avenida. Não n ego também ~"·,.
rmaneci estendido no solo durante t oda a n01te. qu: ~e tentasse a id_éia de su erar me Q_ai em se u •. ·
P or sôbre minha cabeça , os santos cantavam e se prop1:io campo de açao. Seja como fôr, pouco tempo ·. i •
regozifavam e rezavam. E p ela manhã," quan~o me :;· depois de haver sido recebid o · na igreja, tornei--me · . ·.
levantaram , disseram ..me que eu estava salvo . pr~~~1or -.. Jovem Ministro, como éramos designa - ·
,..
1

44 . : . 45
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llt.tiiI\\>:/
:; .·-_:
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P
jf{{rt. dos _, - e ocupei o púlpito por ma!s 'de três anos. Mi... ·~ ji
mais . excitante que a 'dessas faces 'de pigmentações ..'
li~l•";:i.-f/ nha juventude em breve conquistou-me um cartaz ·; as mais variadas, gastas pelo sofrimento mas de
~:t(...- bem maior que o · de meu pai . Dessa vantagem pro,.. ,.
certa forma triui1fantes e tran sfiguradas, que das
!)ff_.·. ·curei prevalecer-me ao máximo , por se tratar da ma - ...
profúndezas de um desespêro patente, tangível, inin..-
~#(\.' -. ..,neira mais eficiente que_ eu encontrara de destruir ··· ;,:
terrupto, se · elevayam para entoar louvores à bon--
~!{!\:: .~·.o domínio que êle exercia sôbre mim. Foi êste o pe,.. ; ..
dade do Senhor. Nunca presenciei algo de compa--
j;Íf{-,i··ríodo mai_s terrível de minha vi_da, ~ ind~bitàvelme n--~ i}. rável ao entusiasmo que, vez por outra, sem qualquer
,{;-:](.,:;,:-te ...o ,mais desonesto; e a histeria dai resultantet-7 · ~- aviso, domin a uma igreja, levando-a, segundo teste-
~1f\' .'emprestou um imenso . ent_usia smo aos meus sermões 1• : j :
munhos abal izados, a "ba lançar" literalmente. Nada
i/\W\~ -ad::1~~~a
:~D:>_"_.
ªi!~':id~d;'°,;/;,~n:;!;:e~::
!e:te;ci~~
)
:pôsto ~e conferia, e, acima de tudo, agradava-me
do que desde então me aconteceu pode equiparar ..-se
à sensação de poder e de glória que às vêzes me in..-
,. . vadia quando, no meio de um sermão, eu me ca--
1\·~·;: .· o inesperado direito ao isolamento. Era preciso :e- . e paci tàv a de estar realmente transmitindo "a Pala-
i;:i:-} ,:. conhecer, afinal de conta s, ·que eu não passava am-- :; vra" - quando a congregação e eu como que nos
f_'.
_:

r;t:/:_:. da de um· estudante, com deveres escolares a cum ... identificávamos. A dor e a alegr ia da assistência
lf.>-·:. p·rir, e cumpria-me também preparar pélo menos um eram minhas · também, e as minhas eu tra ns feria para
l\\:,f ·: · sérmão por semana . .Durante o que se · poderia cha... _:; ':i: êles, e seus gritos de "Amém!" e "Aleluia ·!" e
ftJ·_..-·
....-·mar o· apogeu de minha ,carreira, subi ao púlpito _mais "., "Louvado seja o Senhor!" apoiavam ' e incentivavam
t{f!•:?>:·· fr.eqüentemente do que isso. Em conseqüência, havia ·} ·; os · meus solos, até que todos nos igualássemos, em
)j~'....'.:· ·hora ·s e inclusive dias inteiros em que não podià ser contorções ritmadas de angústia e de júbilo, ao pé
f~r:(.._· .interrompido - nem sequer por meu pai. Era como dp altar . Durante um longo períod o, a despeito da
t~~ff
: .;"_s_e eu lhe houvesse, r_epentinamente tolh ido os movi ... inconsist ência dos motivos que me impeliam - ou.
. \,Qft%'
:.·::. m_entos: ~evo~ ...~e algum. tempo a perceber que tam ... inexp1icàvelmente, em vista dêsses mesmos motivos
IW\- ft~,.:··. bem me 1mob1hzara a mim_ mesmo,. sem ter log rad o - foi êsse o meu único e exclusivo interêsse na vida.
i {:;Y...,r:.escap ar ao que quer que fosse. Precipitava--me da escola para a igreja, para o altar,
Lyf~ (:i";,\\:o': · . A igreja . era algo de _tremendamente excitante. . ,.,, onde me. isolava em comunhão com Jesus, meu Ami-
l':~· ,· Levei um tempo enorme · para libertar..-me dessa ex ...\ _-,- go dileto, que· jama is me abandonaria, que conhecia
rt L
-f ~(-' ..· .citação, e num sentido mais -restrito, mais visceral, 1 ·'._'., todos os segredos do meu coração. Essa clarividên-- ~ --
f:''.:
.: :.· jamai s o consegui realmente, e nem pretend? con ...l ..: ... eia eu não possuía, e ali; ao pé da cruz , pedi--Lhe .,.,_
fV,/· : _segui--lo. Não existe música que se compare _a_quela, 1 . :- i como um favor que Êle jamais !11ª concedesse. • · •,
•',,
f/ <.:: drama algum se pode equiparar ao drama dos san-- 1 : ': -.:. Êle falhou na sua parte do trato. Era um Ho..- .,
:kf::·.···_·tos que se rejubi lam, dos pecadores a lamentar -se , / -'_::_•( mem infinitamente melhor do que eu O julgava.
?{)).':,·.-·.dos pande~ros desencadeados em ritmo frenético, de '. · ; :: Aquilo acon teceu de · maneira imperceptível e, como
·?,-:tôdas aquelas vozes unindo--se para entoar louvores i 1. ~ 1,; sói acontecer, de muitas maneiras · simultâneamente .
;:1.t;s
H~/.\;...· ao · Senhor. Não exis te até hoje para mim qualidade . :,:;,'):' Po sso datar o fato - refiro..-me ao lent o desmorona--
J(Y}:
:::···
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~t\.,·._' . : · -46
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r .'. ·_....... :~--;:-.
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menta da minha fé, ao esboroamento da minha for,. <.;· e aperfeiçoava ·as minhas próprias v1soes, e· com . qu/ /·~
freqüência - a bem dizer , incessantemente - ~as ..·.:·
1
1 taleza interior - dà época em que voltei ao con,.,· ,:. f
' vívio dos livros, mais ou menos um ano depois que .. visões que o Senhor me co~cedia diferiam da ·quelas · .:'
\ comecei a pregar. Justifiquei êsse desejo pelo fato que concedia a meu pai. Eu não conseguia ..com..... \.'
de encontrarrme em pleno período de estudos, e co,., preender os sonhos que me assaltavam à noite, mas ,-:
mecei, inevitàvelmente, por D~stoi~vski. Por essa '- sabia que não eram sonhos sagrados; m.uito menos · ·:·
época, eu freqüentava uma umver~1d~~e onde pre,., o eram _as horas do meu despertar. Passava a maior . ·.
\i dominava o demento judeu. Isto s1gmf1cava que eu . , parte do tempo a arrepender ...me de coisas que dese,., ·..-
1 estava rodeado de pessoas que, por definição, se :,n.... · ·,1 jaria ter fei:o e não fizera .. O fato de lidar diària ,.,1·
mente com Judeus voltou a · trazer áo primeiro p lano j ·
centravam fora de qualquer esperança de salvaçao -, ·{
que caçoavam dos tratos e folhetos que eu trazia
para a escola,_ e faziam questão de assinalar que os ·,
l de minha consciência a questão d e côr, que eu deses--/ \.
peradamente procurava evitar. Dei .... :gie conta de que
Evangelhos haviam sido escritos muit~ tempo de....
pois da morte ' de Cristo. O fato pode ri a ser menos · ,·
a
tender
:.:*
Bíblia f
de
ôra escrita
muitos
por
cristãos,
branco
eu··
s.
era
Sab
um
ia que, no en.... .
descenden te · ..:-
penoso se não me tivesse obrigado a ler eu mesmo • , ,_.- de Cam, que fôra amaldiçoado, e que com isso estava .
os tratos e folhetos em questão, pois que os mesmos . . . :-; predestinado a tornar .... me um escravo. Nada disso ·• .: ·.
se apresentavam - a não ser para aquêles anima,., ; -~ ti:1ha qualquer relação com o que eu era, ou poderia : ..
dos de uma confiança cega na sua mensagem - ver,., .. \·. vir a ser; o meu destino fôra ·selado para sempre, .
dadeiramente difíceis · de aceitar. Recordo ....
me de ter · ·· d~sde _a aurora ·~os tempos . Ao lançar os olhos P,ara · .
julgado pressentir vagamente ~ma esp~c_i: de ch~n.... _., tras sobre a Cristandade, dir .... se....
ia ser esta ver d a-- ·
tagem no seu conteúdo. Em mmha · opm1ao, as ena_... · '• .. :deiramente a sua maneira ' de pensar. Pelo menos,
turas deviam amar ao ;,e nhor espontâneamente, e \_ •}", .
era indubitàvelmente a sua maneira de agir. Lem ... '
·' 1

não pelo temor de· irem para o lnf erno . Vi ....me for,., bro--me de com.o os padres e bispós italianos aben:--
çado, com relutância embo ra, a admitir que a pró-- .. ço~:7a~ os rapazes italianos de partida para a ·
pria Bíblia fôra. ~scrita por homens, e tr~duz~d~ tam-- !Etiop1a. · -
bém por homens, de idiomas que eu nao ....pod1~ en-- Outro detalhe a tornar perturbadora a convi,..
\, tender; e já naque la época, embora eu nao quisesse vência com os meus colegas judeus da un iver sid~de ·
admiti--lo a mim mesmo, o ato de ~linhava1:_as fras:s _ era o fato de não encontrar qualquer elemento ·de ,,
\ no pape l j á me custava um ternvel esforço. Nao ' ••· ligação entre êles e os· agiotas e donos de hotéis e · ·:'
resta dúvida que a refutação apresentava ....se de per mercearias do Harlem . Sabia . que todos êles eram '. ·
si: aquê les homens haviam agido sob inspiração di-- judeus - só Deus sabe como me repetiam isso _ ._ -.i · .:-
. vina. Restava saber, porém: teriam mesmo? todos : f mas, para mim, tratava .... se simplesmente de home'ns · . · .:
\
1 êles? Além disso, infelizmente, por essa época eu já · · ·.· brancos. Até ingressar na universidade, os judeus, .' .i
1

'1 . conhecia bem mais do que ousava admitir sôbre ins-- .para mim, estavam todos confinados aó Velho Tes ...· _:'.1
' piração divina,. pois tinha noção .de como ampliava tainento, e atendiam pelos· , ri0mes de Abraão, ·Mói-- '_· ;,
1

48
)t
i'lf
JI~~~t!:::
.';f :d~~~el:
F~i!:~as!n~~çã~hd~::~:'.
.J{ ·· de hipocrisia à Elmer
) I·
i 1.t.'·\: teante o encontrá..-los a tantas milhas e tantos sé..- ,. ,. !idade;
prf/..\\. culos distantes · do Egito, tão distantes da fornalha
que levavam. E com isso não quero sugerir o tipo

mais mortífera
Gantry no tocante à sensua ....
tratava-se de uma hipocrisia mais profunda,
e mais sutil do que essa, junto à qual
iM{(/'·~rdente. ~eu melhor amigo na _universid~de e~a:· um - uma pequena do~e - ou mesmo uma grande - ·de
i!P-~ :_..
/ :1 ·JU~eu. Esteve em nossa casa uma vez, e depois que sensualidade honesta teria aparecido como uma gôta
~[\~ ;.,i..;
:: sam meu pai pe:1'guntou, como fazia a respeito de ·
d' água num deserto. Eu sabia como agir sôbr e uma
!~~t'_:· · todo mundo: "É um cristão?" Com isso implicava . congregação até arrancar dela o último cen tavo -
iltli~\ ,,'.-_indagar: "Está no caminho da sa lva ção?" Since..- { .::: , e, não era muito _difícil _con~egui..-lo-. - e s~bi~. tam--·
r.!~, ,. . - d
~~(:'..,-.: , r~mente, . nao_ se.i izer se minha resposta foi dita,.. . :~ :- 1_bem para onde 1a o d111he1ro destmado as obras
~~ q-_; ·+
·:; da pela mocencia ou pela maldade; sei apenas que · ['.-\ do ~enho _r". Sabia _ihclusi~e -·- embora prefe~isse não
r-tf(.-:''. _:1. repliquei fr_iam.~nte: ."Não, ·é judeu." ~eu pai esbo,.. •-;, /'. . sabe..-lo - que nao nutria qualquer respeito pelas
Ir.:--. f eteo~-me 1mp1edosamente com sua mao possante, ~ 1
· ·
pessoas
desse
com as quais traba lhava. E, embora não pu ....
confessá-lo na ocasião, sabia também que, se
~~;?~ .:··; naquele instant~ senti que tudo retrocedia como se
~1;:_ ; .: · · fôra um?- maré ·vazante - o ódio e o mêdo acumula-:- '.!, . . continuasse . nesse caminho, em breve não ter ia res--
fi./..-··. dos, e uma determinação iroplacável de eliminar meu ;, -~ peito nem por mim mesmo. O fato de ser "o jovem
tf<'., pai de preferência a deixar que êle me eliminasse 2 ; Irmão Baldwin" aumentava o meu valor aos olhos .
r.::·,..··- e compreendi que todos aquêles sermões e aque..- '.; .. daqu _eles mesmos rufiões e traficqntes que pràtica.... '
i/ ..-· 'las lágrimas, que todos aquêles prntestos de arre,.. ·, · · mente me haviam empurrado para dentro da igreja.
[i•;:...,_._ :pendimento e de júbilo haviam sido em vão. Inda.... S .-, Êles continuavam a ver em mirp. o garôto que sem- ·
~{.' ·:,: .._gµei de mim mesmo se era justo que me alegrasse pre se esforçariam por pr:oteger. Estavam à espera
.,
àfJ\{
: ;porque 1:m amigo meu -.- ou qualquer outra criatura de que eu caísse em mim e compreendesse que me
encontrava metido num negócio dos mais lucrati vos.
;~? <'.,;.'-,,.- ., se visse condenado a padece _r para sempre no · /
tf\;.:-.-:Y .:·._fogo do Inferno; ao mesmo tempo, oçorreu .... me o so,.. Sabiam que eu ainda não adquirira consciência dêsse
;irt:._.·
. f_r~m:nto _por que passav~m o.s judeus em outra _nação fato, e também que eu ainda não começara a per--·
ceber até que ponto as minhas próprias necessida ....
lf :.\\i;. ·_cri~ta, a_ Ale1;1anhé_l,Ah, .af ma l de contas, nao es ....
!l: 1/ :,-'.._·.itavam tao distantes da fornalha ardente, e meu des, ao se revelarem plenamente, haveriam de con-
'.:illih/ ,./amigo poderia ter sido um dêles. Respondi a meu· ::; ,. duzir .... me. ( Não resta dúvid<':!,de que se tratava de
\,·l ~:l.\
1
_:_~.·:pai: "Ê le é melhor cristão ··d? que .º.senhor", e saí · ·:-;,' . pessoas extremamente pacientes.) Não tinham idéia
li 1) :··.-de casa. Doravante , nos sa ba talha ma travar-:-se em
ainda do que se passava, mas sabiam que tinham os_
;.t?'.:'.campo aberto, mas isso não importava; era quase um · · ··~:: trunfos bia disso.
a seu favor. Para ser franco, eu também sa-
Sentia,..,me ainda mais solitãrio e vulnerável
:..;~ ·, :,::.: alívio. Uma luta mais mortal tinha início então. , ..· ·(
: ,r : . Subir ao púlpito, era como viver no teatro, eu l .•. do que o fôra até então. E o sangue do.. Cord eiro
:1:-f.f.,.
1~
f-( · estava :1ºs bas tidores ~ ~abia co~o forJa_r a ilus~o. / .. .. não
Conhecia os outros mm1stros e a espec1e de v1da 1 ; ·.'.,.. neira
tive ra o pod er de purificar-me, de qualquer ma -
que fôsse. Eu continuava tão ,negro como no

!t\\)_.:;,:
50 51 :
i~~ .·..
i ---. 'dia · em · que nascera. Portanto, ao enfrentar uma um ministro, por exemplo, 'de que nunca, em qual ...· ·..>
1
!.
j
.
congregação, _ comecei a ter de reunir tôdas as m_i....
nha s fôr ças para não · ga guejar, para não praguejar,
quer circunstânda, num transporte público , deveria :_. <
· ceder o lugar a uma mulher branca . Os homens , ·:
l; · para não aconselhá .... los a jogar fora suas Bíblias e / •.

brancos , alegava, nunca procediam assim pa ra com ··


voltar para suas casas e organizar, por exemplo, uma as mulheres de côr. A rigor, isto era verdade, e, em '.
\1greve contra o aumento de aluguéis. Quando, nas I .
última análi se,. eu compreend ia o seu pontode vista.
aulas domin icais, encarava aquêles rostinhos inocen .... Entretanto, qual era o sen tido da minha salvação _se
tes que dependiam das minhas palavras, sentia que não me permitia a gir com amor em relação aos meus ··
cometia um crime ao referir ....me ao suave Jesus, em · ,. :, semelhantes , a despei to de como êles a gi ssem para :·
aconselhar aque las crianças a aceitarem a sua si,..,
tuação degradante na terra a fim de conquistar a . comigo? O que os outros faziam era de sua própria_ -·
glória da vida eterna . Porventura essa glória estar ia }-.,.. responsabilidade, pe la qual teriam de responder
res ervada ap ena s ao s Negro s? Ness e caso, o Céu i · quando soasse a trombeta do Juízo Final. Mas o · .
estaria destinado a ser simplesmente um outro gue ....\ que eu fazia era de minha responsabilidade, etam--· , ·,
to? E possível que eu chegasse a me reconciliar in ....i bém eu teria de prestar contas - a menos na turà l....
clusive com essa idéia, se conseguisse acreditar na · -~ mente ; que e~istisse no Céu uma dispens~ especial ,:...:
existência de qualquer forma de amor ou de solida.... ;\ ; para os . Neg ros ignorantes , que não seriam julgado~ ::<:"
riedade no refúgio que eu representava. Acontece ·'.i; segundo os mesmos crit érios dos demais sêre s hu.... , ·
porém que minha longa permanência no púlpito per .... manos , considerados an gélicos. Foi provàvelmente .·
mitira ....
me pre sen ciar diversos fatos a no rmai s. Nã o por essa ép oca qu e me ocorre u qu e a visão que ca da , 1
me refiro simplesmente à constatação flagrante de um alimen ta do mun do por vir não é mais que um -' \
.que o ministro ev entualmente adquire uma casa ou r , ·H, reflexo, com distorções ilusórias, . do mundo · em . que ,·, ·:
um Cadillac enquanto o crente continua a esfregar 1\ -. :, ,,: evoluem . E tal fato não se âplicav:a exclusivamente :· ' ··
assoa lhos e a contribuir com suas moedas para a i ,_;',. · aos Negros, que não eram mais "simp les" nem mais :
1
coleta dominical. O que realmente quero dizer é que ~ :~.
não havia na igreja ambi_en_tede amo1:,_.Tudo _aquilo/
era uma fachada para o od10, o desprezo de s1 mes--:
J' '.'espontâneos " nem mais "cris tãos" que . outro s in- ": · :':
divíduos quaisquer - mas que eram simp lesment~ ·: · ..t,:
mais oprimidos. Da mesma forma tjue nós, aos olhos •. ; .",
mo e o dese spêro. A fôrça transfi guradora do Es ....: dos brancos , éramos descendentes de Caro, e por ·
pírito Santo terminava quando terminava o serviço, , isso malditos para sempre,_ os brancos eram, para ..
e a salvàção estacava à porta da igrej a. Quando nos nós, os descen dentes de Caim . E a paixão com qu e
ensinavam a amar a todos, eu acreditara que aquilo nos dedicávamos ao amor do Se nhor · represen tav a
se referia realmente a todos. Ao q).le parece , porém , a medida da intensidade com que temíamos e des ..../ ·
tal não acontecia . A norma aplicava .... se apenas confiá vamos e, a rigor , odiâvamos sempre a todos · .
àquele s que pensavam da mesma maneira que nós, os estranhos, e nos evitá vamos e despre z á vamos a : ·
e em absoluto at ingia os brancos . Fui ad vertido por nós mesmos.

52 53
Wttf
t: :,·'·/ : .·.. .· ·,

. .:f

/\ :::·'•::· · Todavia, a coisa não é tão simples como pa-- era Big Bill Broonzy que costumava cant ar "Sinto-
f~ii \.' rece. A despeito 'de tudo, . existia, na vida de que eu me tão bem" ,. uma canção realmente transbordante
;/;:: ·.procurava escapar, um sabor, uma alegria e uma ca ... de alegria acêrca de um homem a caminho da es-
/{ ':' pacidade para enfrentar e sobreviver à desgraça que tação para receber a namorada que deve chegar. É
;,,/· .:-são, ao mesmo tempo, comovent es e bastante raras. precisamente a inacreditável exuberância vocal do
:\ :·'· Todos nós - rufiões, .pro stitutas, intruj ões, minis ... solista que nos faz compre ender como lhe- deve t er
f'.:(>. tros da igreja . e crianças - tal vez tivéssemos ª. nos parecido pesado o período de ausência da · amada .
;'\t ,unir o elo da opressão comum, ·o conjunto de riscos Não há qualquer garantia de que, afnda desta vez,
:;?: · específicos e peculiares que devíamos enfrentar; as ... ela venha para ficar, e esta sensação o intérprete
}:,)-,~- · sim sendo, dentro dêsses limites, lográvamos even-- deixa entrever claramen te. Ainda esta noite, ou ama,.
j.'.{i/: tualmente realizar entre nçis uma espécie de liber ... nhã, ou nos próximos cinco minutos, êle poderá estar
\';·.:.-:
. dade · que era bem próxima do amor. Recordo--me, cantando "Sozinho no meu quarto de dormir", ou
:t/s'.·.por exemplo, de ·ceias e exçursões promovidas pela ainda "Quando; mas quando haveremos de conser.-
{.;i(.·.·igreja, e mais tarde, depois que me desliguei dela, tar isto de uma · vez? Bem, se não fôr hoje, talvez
Wl:'.; :,de ' ouÚas reuniões de caráter nitidamente separatis- . amanhã à noite." Os brancos norte-americanos não l
?\>..,...ta, presididas pelo ódio e pelo sofrimento, em que são capazes de alcançar ~s profundezas de onde \
;·J,'.·:tratávamos de comer,. de beber, de rir e de dançar , emana essa irônica tenacidade, mas suspeitam ·de que /
f{{.::P~;ªesquecer tudo o que dizia re~pe ito "àque l~ gen ... o impulso bá sico é o sensualismo, que os apavora {
,>;\. · te . . Tính amos a nosso favor o alcoo l,. a comida, . a 11
por ,:ere,:n dei xado fe compre:n?ê--1~. O_ têrmo "~en- í
'.:.).': música e a . companhia um do .outro, e não precisá -:-i .sual nao . se propoe trazer a 1magmaçao raparigas
;•1:: •.. _vamos fingir o que não éramos. É essa a espécie de )
ondulantes e seminuas ou machos enérgicos e. ou,.
t:;/·:;_·liberdade que transparece, por exemplo, em alg~ns : sados. Refiro ...me a · algo bem mai s simples e menos
/\=·,·.cânticos do evangelho, e também no jazz. Em toda \ fantasista. Ser sensua l, a meu ver, é respeit ar a fôr_ça
H:.· mú#ca de jazz, e de modo particular_ :1~s bfocs, i vital .e regozijar ...s·e com ela, é participar de tudo o
.i

[/{(:':··-- existe ·.úm · traço mordaz e irôn_ico,. autontano e am--\ que se faz, desde o ato de amor até o gesto de par-
;?\-:·:.bíg uo. Os · brancos norte:,amencanos_ parecem supor / tir o pão. Incidentemente, será um imenso avanço
l\i:·,:;_que .· as canções alegres sao verdadeiramente aleg,:es\ ' para a América quando vol tarmos a. comer verdadei--
h'.:'.::~•·:;:e· as tristes são tristes, e esta; desgraçadamente, e a \·. ~ ramente pão, ao invés da repu gnante e insôssa es--
'.\~);;',.•:· maneira como a maioria , dos brancos americanos as \ .,_:_;:;_:
puma de borrach a pela qual o substituímos . . E não
1
:f?~t\:·iD:terpretam - em ambos os casos exibindo uma _~re.- \ .. .. se vá julgar com isso que estou sendo leviano. Uma
b .~·\/ sunção tão inexpressiva, que nos causa desgosto \ ~: · r·. ameaça sinistra paira sôbre o povo de um país quan--
!~f.' ,\·:;' coristatar de que pairagens geladas emanam suas 1 , " . do êle passa a desprezar as próprias reações da ma..-
Wf/, ·\vozes intrépidas e assex u'adas. Só aquêles que che- ;,
. f· d 1· h " d l
<'( '.\. neira como acon tece aqui, e se torna amargo ~ in ...
~l·~_,/
__
I,, .,.
9aram . verdadeirai:i~nte
"
ao 1m ~ . m a. po em 1,
. l
; :-:,: '.( · ·feliz como se tornou. É precisamente essa inquie ta--
~;:\!(·_; ..~compreender o esp1nto real dessa musica . Penso que \ ção individual que · atormen ta uma parte dos bran..-
i!f
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cos norte..-americanos, homens e mulheres, essa in..- por isso, s_entinio-nos aterrados pela perspectiva; · por- : ..·~
capacidade de se renovarem na própr ia fonte de suas quanto, embora tal transformação contenha em · si : .~:
vidas, que torna tão terrivelmente difícil a discussão ~sma a esperança '.da lihertação ·,. ela impõe para - ·\•. '.
- para não falar na elucidação - de qualquer pro..- lelamen te a neces sidade de uma profunda modifi ....• '.i
blema surgido. Aquêle que não confia em si mesmo · cação. No entant o, a fim d e poder desperta r as en er- .
carece da pedra de toque capaz de fazê..-lo conhecer gias adormecidas de um povo que já se considera va
a realidade, já que essa pedra de toque não pode por antecipaç ão subjugado, a fim de poder sobre~ ·
ser outra senão a própria in dividualidade. As pes..- ·viver como uma fôrça mor al, humana, at uant e no '.··
soas dêsse tipo interpõem entre si mesmas e a rea- mundo, a A mérica e tôd as as demais nações oci.~ ..':
lidade um verdadeiro labirinto 'de atitudes. Acresce · den tais ver-se ..-ão forçadas a proceder a uma revi são ,:
que tais ati tud es, con quanto o indivíduo costu me das própria s possibilidades e a libertar ....
se de ·mui,.; '
ignorá-lo ( isso, e tanta coisa mais) são atitudes his- tas coisas que presentemente se lh es afigura m into~
tóricas e notórias. Elas não dizem respei to ao pr e..- cáveis, desvencilhando-se da quase totalidade ·dos
sente, da mesma forma que não se relacionam com pressupostos de que até agora lançavam mão para
o indivíduo. Assim sendo, aquilo que os brancos justificar sua maneira . de viver,. sua an gús_tia e
ignoram a re speito dos Negros expr ime, com pre..- zus erros.
cisão e inexoràvelmente, o que ignoram acêrca de "O Céu do. homem branco ", canta va um minis-
si mesmos. tro Negro muçulm ano, "é o Inferno do N egro ." Po;,,
Os cristãos ·de raça branca, por seu lado, pa..- der-se-á objetar, naturalmen te, que a explicação é
re cem ter esquecido diversos pormenores históricos a lgo simplista , mas isso ' não impede · que ela seja
elementares. Esqueceram-se de que a religião que ora verdadeira, e o venha sendo , desde que os branco s·
é identificada com a sua virtude e com o seu pode- dominam o mundo. Os africanos focalizam a ques..- ·
rio - "Deus está do nosso lado", . nas palav;as do tão sob outro aspecto : quando o· · homem branco ·
Dr. Verwoerd - brotou de um pedaço de solo ro..- aportou na Afr ica, traz ia consigo a Bíblia, ao passo ·.
choso naquilo que agora é conhecido · como o Meio que a terra p er tencia aos nativos; agora po~ém é o !_
Oeste antes que fôsse levantada a questão de côr, branco que vem sendo, embora com relutância; se..-)
e que, para poder estabelecer os fundamentos da parado da · terra, enquanto o africano se esforça por ?
igre ja cristã, Cristo teve de ser pregado na cruz e
qne o verdadeiro arquiteto . da igreja cris tã não foi
l digerir ou por vomitar a Bjblia. A luta que ora se f ~
inicia no mund o é, portanto, extremamen te comp le~
o hebreu desacreditado , de pele crestada pelo sol, xa, e envolve b papel histórico do Cris tianismo no · ·
que lhe emprestou o nome ,. e sim o fanático e vir..- setor do poder i- isto é, da política - e no setor
tuoso São Paulo. É imperioso que -a energia que foi da __moral. No p lano do poder , o Cr istianism o vem ·
sepultada com o nadvento das nações cristãs .volte a operando com uma arro gân cia e uma cru el dade im..-
'
reinar no mundo; nada pode evitar êsse fato. Mui..- placáveis - o que se justifica, uma vez que tôda re-
i tos de nós,_ suponho, . ao mesmo tempo que ansiamos ligião impõe normalmen te, àqueles que enco nt rar am
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espiritual de libertar das presumir que os cost1:1 111ese


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_revas os m H~1s·. E~sa ver adeira fé, ademais, · ·..·.. a moralidade dos outros povos eram inferiores aos
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•..i :; P,r~ocupa-se
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mmto mais com a alma do que com O . .. dos cri·stão d port an to _todo~ os
e: s e q~e êstes ·po ssuíam

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/c,( c9rpo,_ .ª to esse que a c~me .. ( e ,os :•dá veres ) de
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:, direitos, e podiam . dispor de to . os os meios, para
l-\.: ,.~~t:f1·11mnumero _mc?ntavel de mfie1s ai estao para teste- \ 1modificá-lo s, 0 atritQ entre -as diferen tes c~lturas e
t,.-.-'tit .;,-t:µiunhar. É ob_v10,portanto'. que quem quer qu e con- J , , a esquizofrenia que caracterizava a mentalidade da
t-:Jr.;~
_-, t~st_e. ª.1 autoridade da_ v_erdadeira fé_ estará contes- Cristandade _ havia tornad~ o . terreno ~a moral
l ..'f !>\ .)ando 9-ualmente o dr,erto a governa-los por parte . . algo de tão desorientador e traiçoeiro :omo e o oce~-
j:.·· t~?\,:·das naçoes que P:ºf_essa1:1 essa _fé - contestando, •. i no. Não é exagêro afirmar que ~quele que deseia
!.' /~\; e.' em suma, o seu. drrerto sobre a terra. A divulgação · tornar,se um .ser humano verdaderramente , moral, ( e
·.l"t·,•, do Evangelho, independentemente dos motivos da não nos compete especular sôbre. se rsso _epos_srvel
, [/, integridade ou do heroísmo de alguns missionãrio s, ou não; penso que deve mos acred itar que e poss, veJ_)
·v:·,·· era uma jus_tificativa absolutamente . indispensável · deverá primeiro que tudo desligar~se d~ t~das as pro 1-
. :{ .·. :.. p~ra a con_qu:sta da terra _. Padres, freiras e profes- bições, erros e hipocrisias ·da igre3a crista. Se.~ con-
.. [C.. •,,. sares contrrburram para proteger e santificar o poder ceita de Deus tem algum valor ou alguma. utrlrdade,
j. t; :::_
, que vinha _ sendo tão desumanamente utilizado por êstes só podem ser os de n~s tor~ar p:ia1s condes,..,
.-r/ ·. \ . P:ssoas que realmente buscavam um·a cidade, embora cendentes, mais livres e mais cand~sos; Se Deus
:_- t\ ·__.nao uma cidade celestial,_ e sim uma a ser levanta-- . não tem · poder para realizar · isso, entao e tempo de
.\·t 1.-<-. da: b~m ~xpli~it~mente, por . braços escravos . A pró- nos livrarmos dÊle .
. ~(\'..~'.,pria igre1a :cris~a .- _ e aqui, como sempre. há que Mu·t antes de conhecê,..,lo' pessoalmente, eu ou--
.. \, .; ._.,. estabelecer a drstrnçao com . a pessoa de ai guns de vira fal:r º1on gam ente do H on'orável Eli /ah , M u~am ,
,}_;:::·. seus _ministros - santificava as conquistas nacionais d e do Movimento Islamita do qua l ele e o hder .
'f <·'.·
,,.e rejubilava-se com ·elas, encorajando - emb~ra não P:es'tava pouca atenção ao que ouvia, p_orque a e~-
·ft-:-.'. o Jormu1asse explicitamente · - a crença de . que a sência de sua mensagem não me pare~ia das_ m_ais
-·~t\'' ~-.conquista, com o decorrente relativo bem,..,estar das · originais; durante tôda minha vida ouvira vana çoes
(_'.. _: PºJ:ulaç_õ~s ocid~ntai~, constituía uma prova de pro- , . a êsse respeito. Não era raro que me encontrasse no
•:~'.,. teçao divma. D~us viera das profundezas do deserto, ; Harlem, em noites de sábado, e me escon~esse entre
IW \ ·. e .~º mesmo sucedera a Alá, embora em direção con- : as multidões qué se acotovelavam r,a ~squma da rua
·j·\(
•._;- trária . Deus, rumando para o norte, e elevando-se · l Z5 com a Sétima Avenida, pa ra . ouvir º.s i°'ado:~s
:b:';'.:'.nas asas . do poder, tornara-se branao, e Alá, deSti, i muçulmanos. N ão obstante, pare_cra-me Jª er. ºf- ..
}!:,. ; ttuído de qualquer poder, e moviment'ando,..,se do lado l do centenas de discursos. iguais. Se;a · como_ or,
t~-
ú;i;\.\_
/:_::~sombrio ·do Céu, tornara-se- · para efeito prático, / nunca, suportei demorar--me por muito tempo ;unto
,ª<?menos -. n:g~o. D e~sa f~rma, no plano moral O , \ · a um púlpito ou a uma plataforma. improvisada. Tudo
li~i/{
:J\:·\:·..papel do Cnstiamsmo tem sido, pelo mepos, ambi-

',~,:::-,p·•:
J alente. _Mesmo deixando de lado a inacreditáve! _ar-
,·_
•t·~ :• .:-t'.·..··.. ss· r
/.t._· 0 que aquela _gente apregoava _ sobre os bran~os e_u
'-~~
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__; já estava cansado de ter ouvido. E quanto a ex1--
._.;_:_·
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'. 59
:}j/);. . .,.
gência do Islã no .tocan te a uma economia negra mod ificação por demais chocante. Ainda ass im, os
separatista na América do Norte, coloquei-a ime,. oradores exib iatn um ar de dedicação integral, e o
diatamente de lado como sendo uma tolice intendo,. · público encara va ,.os com uma espécie de in teligência ._·' .:·
nal, e inclus ive· maliciosa. Então , duas coisas leva,.! esperançosa - não como se estivessem sendo con,. •.
ram,.me a prestar ouvidos aos discursos, e uma de-- solados ou drogados e sim como se os estivessem . ,, ·
las era o comportamento da polícia. Afinal de con,. sacudindo .
tas, eu vira homens serem arrastados daquela mes,. O poder era o tema centr ~l dêsses discurso~ ·:
ma tribuna por proclamações menos virulentas , e A títu lo de doutrina islamita, ofereciam-nos provas
multidões sem conta serem ·dispersadas a golpes de históricas e divinas de que todos os po vos de raça
cassetete ou por policiais a cavalo. Naq1.1ela ocasião, branca são ama ldiçoados, demoníacos, e estão pres ..
porém, a ·polícia não tomava qualquer atitude .. Evi- tes a serem abat idos. Esta verdade teria sido reve,.
dentemente, não seria por se terem tornado mais hu,. lada por Alá :E:le próprio ao Seu profeta, o H ono ..
manos, e sim porque obedeciam a determin~das or..- rável Elijah Muhammad. · O predomínio do homem
dens e estavam com mêdo : E isso era verdade, . e eu . branco estar.á liquidado pa_ra sempre ao cabo ' de dez
o comprovava com prazer, ao vê,.los ali postados , em ou quinze anos ( e cumpre consignar aqui que ..to ....
grupos de três ou de quatro, vestindo seus . unifor,. d~s os sintomas atuais parecem comprovar a exati.. · · .
mes que se diriam de. escoteiros, absolutamente des..- da~ ~a declaração do profeta). A mu ltid ão parecia ·· _·, ·
preocupados, como sucede com todos os super,.ho .. ass1m1lar essa teologia sem o menor es fôr ço - ao · :
roens estadunidenses, para o que não pudesse ser que me parece, tôdas elas · procedem igu alm ent e,
resolvido através da fôrça bruta ou de uma arma de quer seja em Jerusalém, em Istambul ou .em Roma
fogo. Eu poderia ter ..me compadecido dêles se 1:ão - e aliás, no que concerne ·à teologia propriamente . \ · .
i . · tivesse passado tão freqüentemente pe1as suas maos dita , esta não era mais indiges ta que o tipo mais .. ;.
e descoberto, através de uma experiência bem pouco ' ·, familiar que prodamava a maldição existente sôbre ' :,. ·:·:
invejável, como se portavam quando eram êles que os filhos de Ham . Nada mais, nada · menos do que .·,: .: ,
1
1
estavam por cima, ou nós. ·O comportamento da mul,.) ·:.· · isso; e no fundo destinava ...se · ao mesmo propósito, ' . ·.:•·.::
! tidão, sua atenção silenciosa, ~ra outro argumento ' a saber, a exaltação do poder. Entretanto. muito ·: .. ·. ·.
que me levava a reconsiderar os oradores e as men,. pouco tempo era dispensado à teologia, pois a uma , ·,.-:.
sagens que êles transmitiam. Não poucas vêzes . tenho ~udiência do Harlem n ão era preciso muita fôrça . . . ...
refletido, em desespêro, que os americanos do norte de persuasão para convencer que todos os hómeris ,·:.·~
habituaram-se a digerir qualquer espécie de discurso brancos são demônios. Sentié;\m...se simple sme nte fe;..
político - e pouco mais temos feit<? do que isso, nes..- lizes por encontrarem, finalmente, uma corroboração · ('
ses últimos e infelizes anos - de forma que pouca . divina - à- sua experiência, por ouvirem alguém afirmar ·~ -1 -::•

· impressão causará dizer que êsse sentim~nto de inte .. . .


- e era uma afirmação espantosa - que . pelo es,. ,· ...
gridade, depois do que o Harlem , especial:11e:1:e, su,. paço de todos êsses anos e gerações haviam sido .
portava em matéria de demagogos, . constituira uma ludibriados, . que seu cativeiro aprox imava .... se do

60
;i~;t\
:::~11''?t< ..,
~ú('\(' ·1 fim ~ que Deus , enfim, ·era ·Negro como e~les. Mas revela as bases em que repousam os reinados, e cor--
11-=i::.i1
Wt~
:>;:.' . 1_por q'::e motivo só estariam ouvindo isso a gora, já .. rói essas · ba ses , e destrói as ·doutrina..s-proyando que
1 •

i:;/.. . que nao era a primeira vez que· f,ôra proclamado? elas são falsas. Naqueles dias, não mu ito 'dis tantes,
\½;' :_:/. Eu, por exemplo, ouvira--o por diversas vêzes, . dos .:: '.· em que os sacerd ote s daquela igre ja que tem sua 1
,,!
~l{.:::~: '.lábios de profetas diferentes, no decorrer da minha · · éi ,_sede em Roma abençoavanr , em nome de Deus os . ll
rapazes italianos que eram enviados para o exterior. . \:
}} ..' :._·adolescênc~a. Elijah rv}:uhammad êle próprio vem ,:,
.,
t\ '.,··transmitindo há mais de trinta anos a mesma men .. com a missão de ·devastar um país Negro indefe so "Í
·i!
:{-_'.,·. ·sagem; não se trata de uma sensação improvisada, · · - que até então, . incid~1ltemente, não se conside ... ;;'
\t·._'.. e devemos seu apostola~o, ao qUe fui ~nformado, ao rara como Negro - não era pos sível aceitar a idéia
'e um Deus Negro. Sustentar uma noção dessas
·\'
1
:;-('·. t fato de que com aproximad ament e a idade de seis ;
equivaleria a apoiar uma loucura. En tretant o, o te m-- 1

,,,\.··: .-anos a shsistiu(ao próprio pai dser linchado diante de 5


:_:_'.._)
seus o1 os. 1sso, em nome os direitos nacionais.) ' po pa sso u, e ent remen te s o ttniverso cri stão reve ... :Jl
E agora, repentinamente, criatu ra s que nunca até en .. lou--se moralmente falido e po liticamente instável. Em 1

tão haviam sidó capazes de entender a sua mensa,., 1956, os ·tunisianos estavam com tôda -a raz ão - e
\\· •· · gem passam a tomar conhecimento dela e a acei- . , foi uma oca sião das mais significati vas na história
;.;· · tá..-la, e com isso se vêem modificadas. Elijah l do ; Ocidente ( e da África) - quando se opu seram ,
i
1
/.·_; Muhammad consegui~ realizar o q~e diversas gera J à . pretensão da França em con servar a Africa do
'
'i'} · ções de assistentes sociais e comitês e resoluções e\, Norte com a indagação: "Estar ão êles, os franceses,
projetos habitacionais e parques infan'tis não ha - 1 preparados para se governarem a si mesmos?" Por
,':. · viam logrado: curar e recuperar alcoólatras e vaga ..- outro _lad o, os têrmos "civilizado" e "cristão" come--
{( b~ndos ,, redimir egressos de penitenciárias e impe.. .,, çam a soar de maneir a deveras estranha, mormen-
l/'..'.·.d1..-los ae p ara lá voltar, tornar castos os homens e ,~ . te aos ouvidos de quantos nunca foram qualificados
i·i(·: · virtucsas as mulhere s, e revestir tanto o homem como :,;,: como civilizados ou como cristãos , quando uma n ação
<f.-:.·a . mulher de um orgulho e uma serenidade que pas..- cristã sucumbe dian te de uma orgia abominável e
:;/_f(:_: savam a ilumin á-lo s como uma luz perene. Tôdas :~ ·. violenta, como foi o caso da Alemanha durante o
i:l
ff}I• essas c~isas, q1:1_e a nossa I_greja não teve o poder · i:·: Terceiro Reich. ·Pelo cri_me de sua genealogia, mi--
i:·'.::: •.::· de realizar, Eh1ah · consegum. E como se ter.á ar,. i. '· lhares de criatura s,. em pleno século vinte e no co--
.,.;.. . ..
,:,;:.·.:. ranJa o.
. d. ?

r ração da Europa - a própria cidadela de Deus -
\( i.i; . Bem, de certa forma ·- e não é minha intenção <:,:_ foram sentenciadas a uma mort e tão calcul ada , tã o
;.:}> .. :diminuir o seu papel especial e nem a sua · conq uista . horrenda e tão prolongad a que nenhuma c,utra era ,
/:( ,:/ ,,. excepcional .- o respons áve l não é · só êle, e sim i ante rior a esta era iluminada, foi capaz de imaginá--la,
:_·,.,. ...·:-principalmente o · tempo. O tempo marcha empa ..\ e m·uito menos de realizá-la e de re gistrá--la. Além
<\·.·•·: rel hado com os reinados e tem fôrça suficiente para ., ' do mais, aquêles que se encontram sob o tacão do.
/:'.: ._• esmagá--los, e é capaz ·de encontrar as brechas po r .. Ocid ente, ao contrário dos orientais, · têm consciên ...
::;:.:' ·.: onde se infiltrar nas doutrinas e i:irrasá--las; o tempo \ . ~ '. ' .:ia de que a função pcI:ecípua da Al~manha na Eu--
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ropa é atuar como baluarte coritra as hordas "não-- :,i ~~?\ :Sempre · .que um ._pom_em b~anco .ie .defro~ 't~ :c.oni ,:~in::-:t#
civilizadas", e sabendo--se que o poder é o que eis ,-..; t::.,-· Negro; e . éspecialménte se êste sê enêo:ntra>iridefeso r ·lJ i :
desfavorecidos ambicionam, êles compreendem per ... ·: ·~,:.,' as ·re::la~õe s ·1;1ai~terrí veis têm lugar. Sei . dissó •.:- 110;_(:\ i'.:
feitamen te bem o que nós , ocidentais, nos esforça ... ,··. expenencia propna. Por não . poucas vêzes fui co:n >".·:.\_?
mos por pre servar , e não se deixam iludir pela nossa : .-\ ·. <luzido a porões de distritos policiais~ . onde ouvi'-~ ,.:/!,{
con versa de uma liberdade que nunca nos dispuse ...• :..\ <. ·.participei dos segr~dos de homens e ·mulheres brâ 0... ,/},•t
mos a compartilhar com êles. Segundo a minha ma ... --:-·. -'._ ·cos ~~ desespêr~. os quais sabiam qu~ - se · e:ticon..: ·-:,:_t:}
n eira de ver particular, a simples existência do Ter:.. -,:-: .. travam _e1:1 segurança comigo, porque,. : niesnio que . eu~ _-,;-~·:.._'2
ceiro Reic h torna para sempre obsoleta qualquer . _ ~e dec1d1sse a falar, ninguém m·e daria c rédito. ::E''-'\/r
questão de superioridade cristã, a não ser no campo , ·.. 1sso preci_s~mente ·por que te~iam ce~teza de · que . 0 ; · >i,.
. ._. .
tecnológico . Os povos de ra ça branca mostraram ...se, . .·. ?,; : que eu dizia era verdadeiro. . .. . . . . . , . . .·. ::,:S-,·)'
e continuam a mostrar ...se, horrorizados pelo halo ... _ ·.,·}i?--,->.-:· -·.Ü tiatamin.:_fo·conf_erid; · aO:·_:Neg~q:·• . .·d~;a~t~ ·-:-"1(: ?. ;
caust o praticado na Alemanha . Jama is se teriam con ... ··: ·-::,:>_ Segunda Guerrà Iviundial · assinala, ·a· ·m e ~i :.o-Iho~:.':-:.:;~ :I
siderado capazes de tais atrocidades. Du vido, po-- , / um _p~nto crucial nas relações ~ntre o ,Negro · ~'.· ~(<}J
rém, que os Negros se sentissem horrorizados - ;· ;·:·, Amenca do Norte. Para resumir a questão · e .. até ·.> .it
pelo menos da mesma forma. ·Quanto a mim, o des ... .. ;_>· <-.c~rto. ponto si:111plif _icá--la: uma ·..certa :. esperanç ·~ -··coirió: )·(?
tino dos judeus, e a ind iferença do mundo a êsse ._: ~'-\:_:- :qu~ se desvaneceu,- e diluiu ...se .·o··:·respeito i.:exis t.eiúi ?/~~J;: ;;
respeito, aterrorizaram ...me profundamente. · Não po--f : ((:_:-• ··pelos bra_ncos .-estad~nidens~s. Passamos . eritãà ,· :s··e;~i'.' i)t,%
dia deixar de imaginar, naqueles anos atrozes, que ; · ; . , · _a nos; apie~ar,mos ·deles, se;a a odiá~los. Para ·. sentir-·:;:./}.
essa indiferença da humanidade, a respei to da qual \ · · · isso ~ e ·.!?reciso colocar;.,se na: pe le do homem . que ves- · / ::\
eu já me encontrava tão bem informado, viesse a \ . t~ o uniformE:-~e -seu país , candidata--se a morrer em, ;,:_--,,
ser o meu quinhão no dia em que os Estados Uni ...i
dos se decidis~em a eliminar os seus Negros siste ...
màticamente, e não aos poucos e em confrontos mais ,,
· :(·'
·;:_ l
:sua
nh_ e
_defesa,
iros de
e
armas
é chamado
e pelos
de
seus
·.
· moleque'
· oficiais
homem a tj~em . é sempre entregue· o serviço ·mais L .·.-:_~
.
'. pelos -:
superiores;
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c ompá;
· •
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~ <·'.r;;
·. :/::·\

ou menos .. desonestos. Recebi, por certo, as mais au ... <· . pesado :- mais braçal a rea_lizar; que sabe · quê _o ..G .L .-.·_..,:
torizadas garantias de que o que sucedera · aos ju ... ·: : _b ranco mformou ·ao europeu 'sôbre . a sua -condição : '~-':' ..
deus na Alemanha jamais aconteceria aos Negros ' . : ··subuma _na ( em defesa da seguram;a sexua l do ma~ ·' :('i-
\orte--american os, mas não pude deixar de refletir, . ,;:(:.cho americano); _que não · ~em. o direito : de
dançar .-·.,/· \
com amargor, que os judeus alemães provàvelmente . . . n.3:_ U . S. O . n~ mesma , noite . em que os soldados -~· <·-:
haviam dado ouvidos , a opiniões semelhantes; por : . b~ancos dança m ali, e não bebe nos -mesmos : bare .s -'::: •:_::._::
outro lado, sentfa ...me · incapaz de compartilhar a . ::- e~ · q.u~ êles; que vê os prisioneiros de guerra -ale.:._-_;(._:
opinião do homem branco sôbre si -mesmo, p ela si"m-- ' maes' serem tratados pelos norte--america nos . com: ,.·:·,~-
ples razão de que o homem branco na América do , mais . dign~dade humana do que êle jamais recebeu :· ..;.·_
Norte não tem para com o Negro o mesmo -com.... de sua_s maos; e que, ao m:esmo _tempo, como ser · h~,..·-· .· ,:·
portamente que mantém para com os de sua raça. \ •:· mano, sente-se infinitamente mais 'livre _ riuma terra · :;~~-

.64 . · . . - 6s
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~:%. ~f:e~tr~h~ ; d~ ;..que jamais _o· foi .em· ·s_ua _pátri~, -Pátr ia!"}.\, \ -i._-,, ex,~remamente ruidos _~; mas m~smo _B:S~i_m _:·nen!-__.u.tp.
__ .-. .:·:..-
~;;~ry::
O. proprio te~mo_-?assa a t~r uma cono taçao deses ...l _- ~_;} só freqüenta~or _se dispusera a nos_ apoiar.~ Uma vez
~':1i\. ,,:.p.~ra~ora e.__diabolica. _...Cons~dere ...se, p_or. ex.!?rriplo, o .\. :j ~;),·..,,encerrado o mcidente, que nos deix ara tremules de
~}t~C"qµe acontece a êsse cidadão , depois . de tudo aqui _lo t <{,:·.'.
_ra iva e frustr ação , e bebendo aléin da medida
~$f;'\ P.?r· que pass _ou, nC?momento em que volta à _sua .pá- _ :;. Jf: forçados como estávamo s · a permanecer ali, já que_
~(j~>(:tria: - a -:bu sca desanimadora de -um -emprêgo, · de um - /: {_::-- .· tínham os che gad o · cedo justamente planejand o to--
f.'.t;\ ~eto _para _ mora r; as viagens, em ônibus de -~lasses -~ mar alguns drinques e comer - um rapaz branco >.
tif--\ s·eparadas; o · espetáculo ·das tabuletas assfri"alando . J -r, ·· ao nosso lado quis saber se éramos estudantes. - Su..- ·
;:'.}.'_:". B.tancos" ~ ·"Negros", e em pa"rticular das que di-~ Í 'f.:'r · ·ponho que tenha jul gadà ser essa a única explicação
(~'.
};f.· _,zew. -.-"Senhoras Bràrtê:as"· e "Mulheres . de Côr"; Ó ti·f?··
para qüe nos envolvêssemos numa briga. · Resp·on;..-...-
(:{/::,._ ·t_~~_q~e -encarar nos olhos a espô sa e os filhos, e ou..: \.,'. -{. , di~lhe que, assim como an tes não quisera falar co... · .
mJ/:(-'. ·v:~r:· qis_c~-~~os-.,pe>lític,os falan,do- _sôbr_e-No rte e · -Sul ;·. ::_:\Ít/· :-_nosco, . também agora não .· desejávamos ,-· conversar- , .:· ·.·--·
r'.
+ ··,_-~ sempre , sempre, ver~se instado a "esperar". E tudo :·:-:·~-, com êle. A resposta magoou~o visivelmente, e isso,
(·If ~_/ss _~,-ª~º .ntec~ no _· país mai,s · rico e ·niais:-Jiyre ··do mun:-'..,_..,
/:: /,.,.",por sua vez, levou-me , a · desprezá-lo. ·.No entanto~ ,.. . . -
~-f ·.·>, do, -.-~ em ·pleno · ·século yinte. A mudança sutil -e mOr'"". . :·!\ ·ti · quan do um de nós, v eterano da Guerra da Coréia, ,, :. ,
\~}):(:Jificante : que provàvelmente ocorreria eni sua ma~ --:1_f·. informou àquele jovem que a briga que tivéramos
\:i>/ n~i.ra .d~ .:pensar . ver-se~ia agravada pela constatação f. ~t· no bar fôra, de certa forma, tam bém a dêle, o rapaz
~:
%t:
:tf1:~:;;
c,p,fe J1m ·~·civ"ilizàçao .não é" fo'rçosament ·e .desfrui: :'-·:__.:.'.,~ t .;,·:
repli_cou: ·'.:'Fa z .muito :tempo que per di a_m1nha :·co_n,s~·__ .
~:\, ~~º pelos _niau~ Ç.le!Il
;1'.,i _entos; ·e su_ficiimte -..que lhes .Jalt~ ._i·:<{ t,1t:_·:-ci~nçia"; e sem- mai _s nem 1:11enos·,deu-nos _as._ cost;:;s.- _:; ...:' ,:,
~--{·::.~a indi"spe nsável fôrça moral. Em · éompanhia de dois .. ·-\-%""' ] Sei que" é penoso" ·afirmar isso, mas a po sição dêsse ., ··
>t . _amigos Negr _os, todàs com_ mais de trinta _ anos, e .)>-· rapaz é car acterística. Assim como êle, todos os de-
\/.:.- -ap~rentando essa idade, enco1;-trava-me eu'. meses :t1·_\. m~is freqü:_nta_dores, do bar haviam per_d_ido a pr~-
:.., , · ..a~r.as, no ~ar . do Aeroporto O Hare de Chicago, e . ~:j. pna consc1enc1a. Ha alguns anos atras , eu tena .·
'._· ·,.•'.e>" ~ba/m _an recüsou:...se a nos servir,. alegando que _não :,f?°.- odiado aguda gente com tôdas . as minhas · fôrças .
::.-·/.· _.tíJ:J.h~IB .<?S-i~ade ·para peh er. · Fo i preciso ) ança r _mão t ;\'.;,_ · A gora, _·apiedava-me dê les - para não ter· de des- ··· _~ i
· de uma boa dose de paciência para não estrangu~ .,. ~: prezá -los. E não é ess a, posso lhes assegurar, a ma-
.,"! lá-lo, como o teríamos desejado, e de muita insis- . neira · ma is agradável de sentir~se com relação aos
>, • . .tência e alguma sorte para conseguir a presença do próprios comp atriotas.
-~-:_'.,:-:ger_e;ite, . q~~ def~ndeµ o barman .al~gando que êle
· ._ No final das contas, porém, é a aro.eaça .da . -ex~-
\'·";:_..·'era pô-y:o _110~argo e provàvelment _e ainda não apren..- tinção total pairando sôbre o mt11 1do ·at1,1al que mo-
;"··. .. dera a distinguir entre um rapaz Negro de vinte difica, radicalmente e para sempre, a natu reza da
,_:
·-:. anos . e um d~ trinta e sete. Finalmente, acabamos reaii da de e traz à baila a angustiante questão do
;?•-:po.r ser servidos, embora · àquela altura nenhuma verdadeiro sentido da história do homeni ~ Nós, sêres ~
;:~-- quantidade de uísque tive sse bas tado para ajudar... . _.-:.. . humanos , possuímos ag_ora o poder de nos extermi- .
1
f ·:: .nos. O bar estava apinhado, . e nossa altercação fôra • .\ :/.· : narmos a nós mesmos; ao que parece, ·é a no ssa con..-·

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·--· quista máximà. Empreendemos essa jornada ' e che,.;.:·.lHi\' :' . · ·· .'· ·. • ,:._:,:
. , : _.,;·
1 , ~ ·."'- gamos atê aqui, invodmdo o nome de Deus. Foi isto :/\ ts{:.· pela frente uma .: in_diferença· _que traduzfa ._a po~ca r\:~:
. portanto o máxirrio que Deus ( o Deus branco) pôde ::/'.. :_ou n~hu1:1a conexao que existia en~re ·a~ - atitud~s ::::•
realizar por nós. Assim sendo, é chegado o momento . _· ,: :--,. ·· dos liberais e sua compreensao d~ v1~a, ou seque ·r ,J •-:''.'

, de subs tituí~lO - mas substi tuí~lO por quê? E êsse ../ ;~: ~a sua . erudição - traduzida no fato de , poderem · ..:·
;il vazio, êsse tormento, . êsse desespêro são experimen~ .:::_..,·;,; lidar com o Negro como um símbolo _ou uma vítimá; ..
' : . tados por tôd a a parte no Ocidente, das ruas de ;\
·,; -..- · Estocolmo às igrejas de New Orleans e às calçadas ? /:. _)
t poré _~ em hipótes _e alguma como um ser humano. _ ·: ;;
Qu~ndo Malcolm X, que ê consi~erado b -primei.to . · ·_.~ :
ri do Harlem. . , ·. ~.: ! assistente do movimento e herdeiro provável do seu :.-:
1
Deus é Negro. Todos os Negros pertencem ao .\ / ! _éo~ando, assin~la que a _acu ~ação de "violência" não ,·''.·.

!1 • ·
Islã; para isso foram eleitos. E o Islã dominará . >, '.·:., ( fo1 levantada, por exemplo, quando os israelitas lu-:-. · .
l_i.:_ ,. '-«:1 universo. O -sonho é antigo , e o sen timen.to igual- _-::~; ...( taram pela reconquista de Israel e só é argüida, real -;· :. ·
·Í_
i · mente; - só a côr difere. É êsse -sonho, essa agrad 'áyel ·. :( '.: . ( mente, qu~n~o os ~homen_sde cô1:_ameaçam lutar pe- · ......
') perspectiva, que milhares de - homens e mulher:es . ._;./:·\ los seus direito s, ele esta com toda .a ·razão. Quàn- \ ... :·:.
!__
.:..: ·t
oprimidos dêste país acalentam agora, depois que · a , f \ d2 se referem à glória . da Inglaterra, parte do ·qué < : .·
j f
·palavra do Ministro . Muçulmano se fêz ouvir . ao .';~ os norte-americanos têm em mente são as suas san:-. ·.,_/
:l_·_' :_: · longo das · ruas ~om_bri~s e b?r?lhentas do gueto, _pe-:: .-;~1~ · 1grentas_ . conquistas. Nos ~s~a~os Unidos, violência >•:,·
·, netrando nos m1serave1s tugunos onde tantos encon- . -.....'.·. e hero1smo tornaram-se smommos, exceto -no que ,-...
. .\ - .: traram a morte . O Deus · branco não teve fôrça su- ·.;_\ i;- ··concerne aos homens de côrt e a única maneira .de _;:·:\--
ficiente para libertá-los: talvez o Deus Negro o faça. :"'.: ~-: . •derrotar o ponto de vista - de Malcolm é concordar · · -~
1 . Qua _ndo · passei por Chicago, no verão passa~o, .. ·; :'.' com . êle e perguntar-se em seguida o porquê dêsse .-. .
t ··~ ·· o }.Ionorável Elijah ~/Iuhamn;iad convidou~me p_a~a -·) ~ · fat~. ~ asserção de Malcolm não é . re_futada por re- : ::.: ~--
1·;/;: _jantar em sua residência. Vive numa mansão sun:.. >i::,{ ferenc1as aos triunfos da N. A. A. C. P.1., em parti- .::·. ;:
1l '. -~ tuosa da zona sul da cidade, que vem a ser · igual.:- :".f(t . cular pelo fato de que muito poucos liberais têm -n·0 ;.;:< ·\
~- mente o quartel~general do Movimento Islamita. Eu · ,; X.. _ção de .. como é demorada, dispendiosa e · coii"' ·-~-.-: \
j _::. não fôra a Chicago com a ihtençã od·_dde encodntrar-me - t~· frangedorda a tarefa de reunir as provas a ser .em· . -:·~- :_
·;... · com Elijah Muhammad - na rea 1i a e, a i éia nem · : './ apresenta as ao tribunal, ou do tempo que toma essa ;.:; ..

i/;.
·
~-,~
J ·;,,:. jl
me . o_correr~ ~, mas_, desde ~ momento em que f.e~ ' -~f: batal:1a . jurídica. ~ampouco encoi:-t.~·a ~espost~ em f .··
cébi .o co!1v1te, pensei q:te ~ev~a ~er ~o~tad? com ele . . .i i; refe~encias ao mo~1me1_:tod_e part1c1paçao de estu-J .-_._
. :~·,::· ' De • certa . forma , . devo esse convite a mcnvel, abso- . ~} dantes , quando mais nao sé;a porque nem todos os \ .. ·_.
.:.

~ ..·.··._ luta · e · covard ·e · obt~si _dad~ · dos liberais . bra _nco~. ~eja : \ N egr~s são estudantes e nem todos êles vivem no J~ . ;
, · em conversas I:'art1culare~ ou e!lJ. de?ates p ubhcos, J.· Sul. Eu, em todo caso, recuso~me per _~mptõriamenté l\:·. ,:-.. ·
: ·.·. _., , tôdas . as tentativas que .fiz para explicar _o advento_ -·-··- - ' . . ,' .-...- · ,.
;·,-_.··. .._ do Movimento ·Muçulmano Negro, e a fôrça com , 1 _·National. Association for the Advancement ~f Coloúred ._'.~;
· .·. ·. ·. qu~ êle Iog_rara i.rb:Por-se em nosso meio, encontrava .... >· ·People (Associação Nacional para o ·Progresso dos. ··Homens
·'.,. . de Côr) . ..
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;.:\:·~. a· ser ley~·~o. ~'•negar .ª · veracidade dé!, afirmação dE:_ ~t: ·:.:gindo ao senhor como Mr. Jame s X." E fui . obrig~:. ·.--,_-··::.:
.'::.. Malcolm simplesme nte pelo fato · de discordai dê '·-;; ~l . · · dó a concordar . 1ntiniamente, embora a con tragosto': - ,-::.~
.z: ·::..-~
:e··
-.s~_as..conclus~es, ~u no ~ntuit_? d_e pacificar a _..cons~ . :~ t
"Meu D eus, se esta situação perdurar muito, .é bem
'..·.c1.encia dos liber.ais. A s1tuaçao e realmente tao ...n~.,, ..~ r. provável que isto aconteça ." Elijah Muhammad,
.~;... ,. gra . qu_an~o·a p_mtam os Muçuln~anos - na _ reah-- penso eu, assistira a êsse programa, ou a outro se--.·
;:{ , dade, e amda pior, e os Muçulmanos em nada con-- melhante e ouvira falar a meu respeito Assim foi
nd
'.,( ':' .tri~.uem .P~ra atenuá--.la - .- mas ai a pSsim .n~o que, i!.s .~ltimas horas de uma .tarde es~aldante d e .
t'\i~·:: :· ex!;~-~e,-~o .t1vo.P.ara q~e se. esper~ dos homens de <:~r·. .-domingo , aprésenteí--me em_ sua . residência ...
.\ .:·· que ·· seJa.tn:·mais· pacientes, mais controlados, mais · } :( · · ·
}"?:_:::.::..y~.evidentes qu~ · ?s,.brancos; . n_a ~e.ali~ade, .d_eve
'.,.:;::
_.:.se.,, ~·+\.
· ·. · . . ,
l·•-
. · · ···. ·
O receio que me domma va ~~ exph~avel. _eu : .. ...
·· .es.perar o.: contrario. O verdadeiro . motivo por --.que . a ., . ?' :., ., fora <;:onv~cado a.u.ma pre senç~ regia. Ha~1a __ porem . ; :'·'.·
/. •.: . iião _.violência .é considerada nos Negros uma virtu:.: ·..:~,~~·. .- ou~r~ motivo m?1s: Eu conhecia bep:i ª· tensao q:µe . ; . .
..· . de ..- . não . me refiro ao seu valor racial, . que .é outra ·. . •J ;'. .. e~1stia em m_eu_mtimo entre .amor .~ poder, entr: so-- .. ..
.·: ques tã o inteiramente _ é que os brancos não dese-- ;;::;.· fnmen to e od10, e a maneu:a cu1:,iosa, angustiante, · - .·
..:;· ·.:. jam ·ver âni.eaçadas ·sua s vidas, . si.ta, ·propriedade oú ··~~'./ .- co°:o · vivia dilacerado entre êsses dois P?los - num .
,:::-:-,: ·. ·a imagem ~ue fazem de si mesmo$. Convinha que . } ~: ~esforço per~anen,~e por ~scol?e~ o cammho _mel~o1:; . .
( -.,i .·.-
·.::•is~.?,.)ôs _se_p~oclam~do _c~m .mais·. freqüência. Ao ._final...:•: t·.~-. .
J?-t~etanto, esse melh~r ·. af1gurava--se:me as v~~est :;-/, _
.~-:;: ....:·-··
d.e :-um · .programa· de televisão : a . quê comparecemos . ·.· ;·•.. · uma escolha por --dema1s pessoal, particular {afinal •'.':·'-'bi:°
?,· ·.~·•.: ambos, ·Malcolm ·X é eu, Malcolm foi •·interpeládo ·por · )··.,r..· de contas, eu era um _escritor) .; como·..determin_?r·_se ·.-·..
._:.• um ass~sçente br.anco nos seguintes têrmos: "Possµo J:"/.
também o era do ponto de vista social? Eu encon--
i:..:,.':·:.mil ·..•dólares e um . acre ·de terra. Que vai me acon--·•:.;,( ·:~· tra va--me, neste momento, exatamente no pórtico da .· .·
:i:.'..:-:·.: .tecer?" · Admirei · a franqueza da pergunta, mas não .Jt~;:.
Zona Sul da . cidade, onde um milhão de almas viviam ·
{;:,::;: :pude ?UVir a resposta de M.alcolm, · porque naquele J. t ;t_. e1?1cative iro. E aquela gente n ão se dava ª·º luxo de \
if).~.:·--:" m~~~<? · ~9me::to p~ocu,ra:7a explicar ·a -outro~ouyiU:e ·: \~t
/;:'.:
.·.·
·let; .· as r~ças oprimidas . ~ão· ~dispõem de .:empo nem , ..
,r:5 -.,. o ..p,ouco 1p.teresse que ex.1ste em comparar a ,situaçao
0 • /' de energia para desperdiçar. A.s populaçoes aflu ·en- ..
\~·,.. ·.. ddo irNlandês de há cem anos atrá~ e a situação atual ~_':.:,•,'._;:: .\ tes, que lhes poderiam t er vindo em auxílio, tam:·.;··..·;o.
f ·:..·.-..: o . . egTo. Os Negros foram trazidos para aqui, pouco se entregavam à 1eitura: ·simp 1esmente com- '
!(·.·· ..acorr .e~1tados, muito ant .es que os irlandeses tivessem J pravam livros e devoravam--11:os,m~s não com .o .in-
/ ··-.,-·.p~nsa.do .em : abandon?r · a Irlanda; que espécie de tuito de aprender: apenas para aprender •.novas ati --
-f:: • . consôlo . pode .existir .em saber--se que emigrantes · aqui tudes. Eu sabia também que, uma vez dentro .de
}:: _ aportados - voluntària mente - muito depois de · · casa, não me seria permitido fumar •ou beber, e os
{,.'. nós,.·log.raram conquistar posição muito superior? No ·· cigarros que trazia no bôlso ocasionaram.-me um .
.,t::·. vest~bulo, enquanto esperava pelo elevador, alguém sentimento de culpa igual ao que experimentara, anos
·,,~· :.-: veio cumprimentar--me, dizendo : "Boa noite, Mr. Ja-- atrás, quando .meu amigo conduziu--me à igreja pela
:}f... me~ Baldwin. Dentro em breve estaremos nos diri-- primeira vez. Ademai s,. estava meia hora atrasado,

11
. -:·~:-
' •, 1 =---•
; , :: ~-~~.' .. : . . ., :<:
? l·

... ;_ ..._'tendo~me
1:·· extraviado no caminho,_ e sentia~ine como . º\I r::
Ú~a ·:v~z. que, eviderÍtem~nte, está~a·m~~ tbdos . à' '-~-s>'{
-:
· · ·. . um . çolegial à espera de ser punido. . _:·_ ( : -pera da chegada de · Elija h. Em bre ve, os homens, ·:_//:~;
:;-. _.um por um, . dei xavam o aposen ·to e vol tavam. Per--: ...-',.-
O rapaz .que veio ·receber~me à porta - . teria .· ·-::,,.
no máximo trinta anos, e uma fisionomia agradáve l - '~I~ ..guntaram~me se não gostaria de -lavar~me ; e também ';-)_:,
e sorridente - não pareceu abo~recer ~se com o meu · ' :-:;;i..· eu me encaminhei pe lo corredor a fora até o ba.:. :~ ·i:\i
atraso, e introduziu.-me num espaçoso sa lão . De um -'"(: · .nheiro. Pouco depois de ter voltado, _ pusemo--nos _·//::
lado estavam · sentadas umas seis mulheres, tôdas ·. ·; ~\:.--todos ·.de pé, e Elijah entrou _na sala. · . · . ·:._ ;fd}
vestidas de branco, ocupadas em cuidar de um lindo . '·~: -~·- · . . Não sei dizer ao certo o que esperara . .~endo ,\._-_)'-
bebê, que parecia pertencer à mais jovem delas. Do _ ,.:,. ~ ,::_- ouvido alguns de seus discursos e lido fragmentos ·-~ ,'i
outro lado da sala sentavam~se sete ou oito homens, .··./ ;,,--:;. ·_ de outros no rádio e na tele visã o, associava sua · pes;- : ·>::

:·,:.-.\"
vestidos de prê to, parecendo muito à vontade, e bas~ <',·;_ _.;:soa a uma idéia de ferocidade. Ao contrário, _poré~; _.·_·.,\
ta1:te i~ponente s. A claridade solar co~~?~se para ·.\ : -}o hom~~ que entro:1· na sala er~ baixo e_ :,sg ui~, de </{:
· o mterror do aposento com aquela tranquilidade que . _·!º, j comple1çao verdadeiramente delicada, fe1çoes fmas, ..~;.:·.·
nos faz lembrar os quartos da infância longínqua - - >-.:- olhos grandes, afetuosos, e um sorriso positivamente · ·, ->-~
:.;1 :ativante. Al~uma c~is~ chegou n_a sala jun to. co~ ---

1
uma claridade que mais tarde ser~a enco~trada em · : :··~ --.· •~_/\'
sonhos. Lembro-me de como me 1mpress10naram a · . ~ ele - a alegria dos :d1sc1pulos ao ve,...lo,a sua proprra ' ::}-
calma, a naturalidade, o bom gôsto do ambiente. Fui . · :~:~- alegria a<:>encontrá-lo s. Era o tipo de encontro a_.::1 · i
apresentado, acolhido com genuína cordialidade e ·.;. i, . que não se pode deixar de assistir com um __sorriso; ...-::.:/ ·: ,
respeito - e êsse respeito só fêz aumentar o meu · · ·i ·; simplesmente por ser tão raro que as pessoas expe-- · ..· .,.
temor , porque significava que esperavam de mim , ·, / . rimentem prazer sincero em encontrar--se umas .com ·_·.-.:: .:
algo que eu sabia, sinceramente, não ter para lhes ··,> L. ·as ·outras. Com as mulheres brincou .patérnalme _nte, ..:_:: .}
oferecer - e sentamo,...nos. Elijah Muhammad não · · :{:'-sem sombra daquela desagradá vel e · melíflua co·que~_._:/· ~)
f.
se encontrava na sala. A conversa desenvolvia~se _.,~ teria que eu tão bem conhecia de -outras ·. igrejas, ·e·_.-.-;.\
com leritidão, mas não com o constrangimento que ·_,·:: elas rJSponderam-lhe no mesmo tom, c?m _gra~de 1i... .. (,-t\
eu receara. Eu deixava que os outros a conduzissem, -·.-. berdade mas sem deixar de conservar uma respeitosa ··:.:::-:
por ignorar os assuntos que con vinha trazer à baila. · -.:, distância. Embo ra até então êle não me houv~_sse :-;'':_ _.-
.
· · ·1Êles sabiam mais a meu respeito, e haviam lido mais :.'. . -encarado, eu sab ia que me avistara ao entrar na _sala: -. }
coisas minhas do que eu esperara , e pus-me a con~ .. Vendo,.o conversar e rir com os outros convidados, . . .-
jeturar sôbre o efeito que lhes teriam causado. As em quem eu não via senão um grupo de discípulos, . ..
mulheres conversavam entre si em voz ba ixa; de- eu experimenta va ' a sensação exata de que êle pro,. - •·. -~
duzi que não ·eram supostas pa rtici par das conver- curava formar uma opinião a meu respeito , decid ir
sas masculinas. Algumas outras mulheres entrav am como proceder comigo. No instante seguinte ; vol,.
e saíam "da sala, aparentemente ocupadas em pre~ --~
=t. tava ...se para cumprimentar~nie, com a quê le sorriso
parativos para o jantar. Nós, homens, não nos en-- •r.-: irresis tíve l que me transportou vinte , e quatro anos
fronhamos a fundo em nenhum assunto especial, , ~f-- ~para trás , para aquêle moment o· em: que o pastor _sor.-
:ff, ·. . . ' . .
~ ;; ....
' .. dt ·;' .··.73 · ·..·...·
72 ~~
~f•r·,~ .. _ • • • 1

\!it
lií:t\~rê
•~C,,':_;;,; ..·:•, . :· '·...·•: e\/' , . •· i,,:t\tl
i}( :..._fira-me indaga _ndo: ",Você a que:m pertence, _ g~~ô- ..·. _;· '._prisão. Suponho que eu realm _ente me esforçava por ,
,:_\':_
. · · to?" Não · rE:spondi agora como o fizera naquelá j /' . f· l definir:.me -·- seja· O' que fôr · que isso signifique -·-· ,
:_t
l
ocasião, porqu_e existem coisas ( não muitas, infeliz- \ :: ~- 1 mas pressentia que o sentido qu e Eli fah emprestava
/t, ". mente) que nao se pode fazer duas vêz es na _vida. ~ ::. 1::. / a . essas pala vr as não era .o mesmo que o meu. Se ja
:.:-:-.,;_:. Se:o,_ti-nie . porém irresi stive lmente atraído pela sµa , ':{-,: como fôr, respondi que, efet iv_ an;iente, eu esta va pro -
/t-· · ..f-1Utoridade peculiar e pareceu-me que o seu sor~is.o '.f '-:' curando encontrar-me a mim mesmo, e,. sem saber o
:'.·.{'_:, ·_.a~f:viava_-Ine _ a carga da vida de sôpre os ombros.. 3~ ( que .acre ·scentar, .esperei. . . . .
{ !<</ Leve as. suaLS.cargas ao Senhor e deixe-as com Sle: ..\~··?-' ·· De .tôdas as vêzes que Elijah falava, uma espé-
:~it· o
:·· O · traço essencial da fisionomia ·de Elijah é s6fri>'-' /, \ ·;. cie ele côro uniforme elevava-se da mesa: "Sim, tem
\fL :f :-:r.n,~ntq __que nela ·se estampa -.-. e o s~rriso :7e~ ª~ -~". · ''.:? i/ . razão;" . Aquilo __c?m~çoti a_.deixar-m_e. ~r~itado. N (?te_~
~!.;,\ ...:·:.I)..~s.. cqrrobor.ar ;·_-, _ um sofr-imento tao _ antigo e m'."..: -:/t f :. .--tambem que . Elqan tmha o costume 1rntante de fazer , ·. ::.',;
(;:J];>: tenso que só se define . quando · êle· sorri. Flca-se l;t.... corri oiitras pes soas, comentário s que na realidade ·
?:'.·'-~:'a ...imaginar co_mo ..seriá êle se pudesse cant ar . Sem . S'.;.·.. e~am perguntas .didgi~as a uma terce ira. Agora, por •
~\~i ..~bapd<ifia'( . aquêle ·. s9rri _sà, disse-;-rri:equalquer ·c9i_sa_· · ), !. · ..exemplo, voltando -se para o con ~idado à sua direita,
:.' _:,
::·~. :. -ne_sse gênero': . -''.Tenho muftas coisas a dizer-lhe, màs··-~, t . pôs-se a.."falar sôbre" os demônios brancos · em cuja
('~~\ ._. 1?Ó-.~epois qu~ nos tivermos sentado." E eu me pus lj . ._companhia eu me apresen tara pe la última vez na TV:
- ~-i-·,.:.
: .a . rir. Êle me fêz imaginar . uma co·nversa entre meu .--../: :,, :- .'Como o teriam · feito sentir-se? · ( Referia-se · a mim,
1

l~':,:\/ pa_{·e-_.el!.1 se ·_tfvés·s~mos -.cheg·ado- ã ' ser: arri.igo_s . .. >.,_


;-_ :--::r
·r.-·:--~aturalmente.) . A _·esta p~rgunta · não ' p ude · re spon'.".
---\-; ..· ·,. :.>Na ··sala =de jantar , estendiam-se duas long 'as >'.-~ '.j-· . . der,· e ·nem estàva absolutamente certo de que espe-
_,-\ ,· me~as; os homens sentavam-se numa, as mulheres < f . ravam que o fizesse.- Não· resta dúv ida de que as
:,;,
\ ....-\•=na · outra :_--Elijah ·presidia à nossa mesa, e eu estava .. ;;~} .:: -pessoas mencionadas me haviam deiJ:Cadoexasperado
_.;
:<•>\- ':colocado · à sua ·esquerda : - Lembro-me muito pouco :·::·t f - e incutido a noç ão da inutilidade da minha int erven:- ·
::\,';.,/:·,,.~9_:._ que c<?memos, a não ser que · era um alimento ..-_}i;i _; ção, mas de forma alguma eu chegara a considerá-las . !
· ..- '1
~;:f:<:\ $?ê;lio..e _al:>undante ·_···- · tão sadio que me fêz sentir-me ~·:'f?:í · · como demônios . . Elijah continuava discorrendo sôbre .1
:t{,;,::.en,yergonh _ado de meus go stos . decadentes e levou-me , -~~i( ~. os crimes dos brancos, .sempre acompanhado pelo
\ \ :; ·.. a .tom.,ar dois . copos de leite. Elijah mencionou ter-me i, ";~ } . côro imutáve l : "Sim, . tem iizão." U ma voz isolada
?r·._) visto _na televisão .e acrescentou que lhe parecia que :· ,'.} ;'. · .levantou-se: "O branco é inçlubitàvelmente um de-
\ '.-'};, eu.,ai;nda não estava · ba9tante firme nas minhas con- \ .;}\\, mônio; •isso êle prov a pelos seus atos.'.' Localizei o . .... :.j
.1
_I


i

~
,
-~·.vieções políticas e ·filosóficas, . e que me esforçava por ":) f
'\ --.- i:J.parteante: era um rapaz ·extremamente jo':"em - 1

'.}-·!· ···.·definir;..me. Isso foi dito de uma forma que -nada · ~~f pouco mais que um menino .- muito mor eno e sério,-
--:,.· · tiriha d~ ofensiva, sem que seus olhos se desviassem , _--. ,:{ · e com uma expressão extremamente amarga. Elij .ah
::::
::.-: dos m~us . e ·com ..a mão colocada diante da bôca, ··. ,. pôs-se a falar então sôbre a re ligião cristã, sôbre os

i:}'. "'.';:o de ter ouvido dizer que êle cumprira pena n~m~ ;f~derivava i
· :-:-· como . s.e tentasse esconder . uma dentadura em mau · :·: ,· cristãos, sempre naq uele mesmo tom delicado, brin-
/: · · ·estado. _Não era êsse o caso, porém . Lembrei-me ·· f '/ calhão. Co_mecei a perceber que a fôrça de Elijah ·
da sua sinceridade. Nada existe nêl;t
, ·1!,1

. :,1
.\·· ....
.../
preffiedilado: tudo o que diz é sincero. Segun~o me '.
explicou, 0 verdadeiro motivo por que de1xe1 de ~er .- ,:.( /
6 !f!,!!ft,~~;;~
}J~F·f;~~:d:~.i":
e~;~,~:~~T::
finalmente na criação do demônio conhecido como · 1·: :: .
ceber que O meu interlocutor branco era demoniaco . -.:'', homem branco, e mais tarde, e. mais desastrosamente
â:~ ··
é que eu .sofrera por tempo demais a influên cia da · · ~ '._ aind _a , na criação da mulher branca. Foi _en~ão es.~~;.. > ,...'.\:
educaç ão de brancos e nunca chegara a receber ~ma , ; : ·:· belecido que essas criaturas monstruosas reger iam .'·º ··,J; :~:
verdadeira instrução. "O cham a do Neg~o Ame: 1~ª..l,.·-:_: .f · .•niundq _pelo espaço .de um certo ·número de anos ·~ ~/·<<·
no" é a única razão por que Deus teria perI'rntido\·. .' ·,i1 :;•· 1;i.~oposso recordar.-me qu_antos, mas o fato' é que .0.r :>..:':
aos Estados Unidos sobreviver por tan~o temp~; 0 ! ·· ::t':\ seu império aproxima.-se agora do 'final, e ·Alá,• -qüe _..'/( ·'
homem branco dom inou ·• até . 1913, mas e determina-- \ _-:, ;:':· _para começar n unca foi favor.áyel à criação ,.d.o.-ho.-:•:~:/:~;
ção de Alá que esta nação Negra extra':_iada, ou -~e .._\: .:/ j ..··:'~em brànco ( e que sabe, aliás,_..não se tratar- ~d·e·:-.un:i/;):..·f~
lhor, que os homens de côr desta na~ao, se veiam '. ,...1J,:.-_,-, h,omem e sirn de um demônio) ;_está ansioso .po( re~J_}">;\:<:
libertos de seus senhores brancos e remte~rados na : ·...:.•\,_·:-t~urar o ·reinado da .paz · que ·o .. ad vento do hoineID..:_· :i.'.::'::1
verdadeira fé, que é o Islamismo . Até que isso º~º!..: ·._, :}_'
: · branco veio arruinar por completo. É impossível pôr;:; .:/ \
ra _ e a época não está distante - . a de~tr:11çao ~- :1i · ·tanto, por definição, encontràr.-se no homem bra n co . .· ~:
total do branco vem sendo po stergada. A missao d~ , ·::~ ·,:. .-··qualcjuér virtude, e visto . como pertence a outra cria:.. ,. \-~··;
Elijah consiste em reinte~rar "o chamado ~egro 1 ,;', ~:', :ção diferente e processo algum 1 poderá torná - :lo Ne.-: ,':..:;.~t
nas hostes do Islamismo, em separar .. os eleitos de '( < :gro, da mesma forma que não é possível transformar ,:·.. ·:::i
Alá dos demais membros dessa naç a o . c~n?enada. _ · 1 /e ·um.; gato num cavalo, não existe para ·êle· qualquer '·..'·:,:'.:-,
Ademais, o brance conhece bem a sua h1ston<l:, sabe ;·;:. · esperança . . ·
da su a as cen dên cia demonía ca , e não igno ra que º · ·::._... ·.Na da_existe de nôvo nessa exposição a não ser ...
a
seu prazo se está esgotando, e que tôda a s~a tecno.- ..'.} :: :: 'clareza . dos símbolo_s utilizados e a sinceridade '. do:.-</<,
logia, psicologia, ciência •e artimanha estao sendo ·.:,'.·. ~ · .ódio que ·.ela deixa transparecer. O seu · acerito . em.o:.. _:-:,·.':',,
despendidas no esfôrço de evitar que os homens . d: . <:.· · cional me é tão familiar quanto a minha própria pele; · :
côr venham a conhecer a verdade.: Es~a _verdade e · · equivale a outra ·-maneira de d_izer que os pecadores .·./: , .
a de que, · na aurora dos tempos, nao existia em todo · .,. . -ficarão retidos no · I nférno por um milheiro de anos. <>.·.)
0
universo uma só criatura de pele branca. O mun..- · :\ ;- ·Que,· para os Negros, »foram ,sempre os. brancos _o's··;., ,;"'.··,:
do era governado pelos Negros, e os N,egros eram '_,L'' pecadores, é urna'verdade ·_que ·dispen ,sa c:9me~tár~·q~_;:.::-'./ ,·/
· perfeitos. É esta a verdade concerne_nt~ ª. e_raª que : / : .,. corrf isso,,._poré:n,, arrisca_.-se· o Negro norte:.._~~e~i .can _o \ 1: ~·:1.
os brancos agora se referem como pre..-histonca. :É:!es . . a ver pairar. sobre sua. caçeça a sombra ..ameaçadora ..··;._..,,::,
querem que os homens de côr acre_ditem que tambem ·.-~: °i:,:_de .uma p~ra:r:iõia. Num a s9c~edadé que ·. é i11~e iré\~ .~·:,,\~°: ::
êles à semelhança dos brancos , viveram outrora em mente hostil e que, por natureza, parece determmada "•· '.'.,·; ·
cav~rnas e balançaram.-se de galhos ·de árvore s e co..-· . '~-i . - ª· n_os- -alijar .do seu seio - tendo .procedido - dessa .. :· ::,. :_
ª.
1. merain carne _crua e ~esc~nheciam o poder da palda--,.. .;-~;( J.prina no passado e c~ntinua:1do f~zê~l? aí~cl.a;~pj~ _:_
1
:,·.-t:i
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vra. Nada disso porem e verdade . Os ho~ens e • . :: :: - · . .passa a ser quase 1mposs1vel d1stmgmr entre -~ma :·..:, ,-i,~.-.··.
côr jamais passaram por essa situação. Alá deu po.- .}~ f' -. · · · · · · · · . '.-~'.-"..., 1_-, · .. ,·,:1
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.:Jr:t:
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f réar e . 9f ensa Uillé3: imaginária,. ' o q~e ?C9D:~,: r,;1
·:·>Ji or_i.gem·:ão idioma .. Negro - : empresta,. credibilidade ..',. _:·,·;:-..
!lf-:<·tiêe,
' o mais das ._vêzes, -é qu~ o ind ivíduo · cessa ·,;rt de:
,}) a qualquer sistema que se proponha esclarecê-la. _E
;::<.? . procurar fazer essa distinção. e, . <?, qtie .é pior, ..nã9 . .>:Ji•:Jo fato _.é que .a verdade acêrca do homem de côr, seja
~~'~ . :.'··:i:s-erc~b.e -~:iti~ J;
est.á deixa~do d~ fazê-la .· :A meus º .l~oF ~:·'.:?t c?mo en~idade histórica ou como ser humano, lh~ terri
i.\:t.
~:
_:
. _por exemplo, to_dos os_ porteiros. e to~os os. f>Ohciais_ :.;i
;,.·.-.. passaram agora a equivaler-se, e· a ,atitude que ado--·· •·<1-
A
, sido deliberada ': <:ruelmente ocultada; o poderio do
'/l mundo branco ve-se ameaçado de cada vez · que · um
~{-· · ·,'tei para c_~m _·êles visa . si3:11p_lesmentea i_ntimi~á:los \f (llhomem de côr •se rec~sa a aceitar os postu lad os do · _
:_,.,,. . antes que cdes_possam mtimidar-me a mim'. E me- :,:;-:((mundo dos brancos. Eis por que se recorre - ontem .
Jt\·,, -~ável qü~_poss? _esjar _c?metendo aqui algun_:_a injtts;. _..j f il.c()mo ~oje ~ a tôdas as ten_t~tivas par:a ,suprimir êsse .- .,:,•1 -
·\, -'· ... tiça, ·mas .-esta · e 1rrevers1vel,_ uma vez que nao po~so ~· l!:?~ t/homem de cor. Quem podera, portanto, afirmar com.! ,. · .!I
f/ \\ ~e arriscar a supo. r que a huma:1ida~e que ex1ste,r •.•:;:.H _autoridade onde _re~ide a _ fo!1te de tan:a angú _~tia e ) :./:~-: .:'.,}
/: •~_' "; n,essa~·gente - alcance um .pouco- mc.t1sal~m. do que _os., :;.,.; de tantos erros? Por que nao ser possivel acei tar a :·· , ·•
' · · ·_..,botões · do uniforme que envergam . E_ isso se aplica. 'I i . explicação de que o .homem de côr estava na origem · ·i
t\, ,::à :··q~ase · t,?talidade ·_çlos ho~en~ ·de_ ~aça Negra, --·c<?n~,: ::/i: [.:
·d~ tôdas as coisas e ·q_ue· êle era perfeito_-.- ~rin:i --f ., ;
/i- ·.. d:uzmdo, 1mp:r~epti v~l porem mev1_tavel:nente, a ~m ._·:xt: palmente por ser precisamente essa a reivmd icaça o \ , i.
) ·· .\ estado de esp.mto no qual, tendo_ ha ~~ito apr.endido . ;:tL que os brancos vêm fazendo para si, d uran _te todos \ · 1
;-:::,.-- .. :?:- .. e~~er~r _p~~o_pior, ach_ amos muito facil a~re,_ditar :n.~...,;::);•;:': &pse_s anos? Além do mais, - ficou agora absoluta .. /• ., .. :.;
;:,>/ P l~r. A __brutalidade ~om ~~e os Negros sao trat~qo _s >JY fr>m~n..te'•·_patenteado gue os ....brancos consti_tuem umá 'l · Jl
.,:.',,õ........neste -..pais-nunca .sera .suficientemente acentuada,_por "Y""·- ç,.... •- • • · - •
·d . .•· . . •t~ . · ... • .i . . ·. · •i
,.1,-, ··· - . · . · ... .. · . .. · .• . , .. · .,1 ,. minoria no mun o - e uma mm ona ao escassa que \ · ·-i,
·-.>· menos ~ispostó:S qu:"_os brancos se_mo st re:11 ~ ouvi~ . ~;; quase se apresentam como uma lenda - e que provà- \
comenta-la. No micio -.- e tam~em aqm nao ·_vai ·. ·· Rf velmente não cogitarão mais de .. governá~lo. Assim )
0

~
' • · •• • •

}{-· qualquer exagêro - Negro ~o pode acfedita~ · ./r , sendo, por que não acreditar também que tenham
.·. "qu~ ?S' brancos o . e~teJam . trata~~ o como .0 .
;;;,!'.:
; ';'. ·', _êle . _s1mplesmen~e ignora O
que ez_ pa~a ,merece- • 0
1
' ª:~f
} ; ( firmado o seu domínio original por processos clan-
:.-
r
destinos, .ardilosos e cr_uentos, e em oposição à von-
'."·..:. - E quando por fim se compenetra de que o tratamento .f.: d d· , _ . d • . l • .:,, :

..... .... ·. lh ; d'


.. , que e e ispensa o na a em a ver c · d d t om o que quer •. ,:i- ta e 1vma, e nao, como preten em, por determma--
< 1·, ~ d , . D E d • .'
,· · que possa · · ter pra t·1cad o, que o es f-orço dos brancos: · ·· ,;.:'
,.-::. 7 '
' ;:.. çao_ o propno d d eus. , uma vez• comprovat ·1·o isso ,
~ ? i entao a espa a
,:· . _:por d estrm-- 1o· - p01s · nao e- outra a verdade . _. é .· ·. ':. .: e que
d por t&nto e r
tempo
d se u i 1zaram
':.,-,;_ ,..')ntei,i;amente gra,tuito, passa .a não encontr ar dificul- . , .,.,,: t contra ~s outros po e agora _ .,e_ usa a semdrePl:orsp,i
·:' ·-::- dà.:d.eem. con,sidêrar os. brancos ·como demônios. Para r. >", c~n_tra e!es mesmos. As supost~s _provas , e origem .. ..,.. ,
· tr~duzir O horror que é a vida do Negro estaduni-- /i .·. d1vma nao_passam de uma condiçao _enga~ osa, ,ª _ser ,
· ·dense a inda não se encontrou uma linguagem apro.- { ·;;,;: lanç a da mao por quem quer que esteJa mais prox1mo
:···i·: .' priada . · A _ singularidade da sua : experiência, que 1~_- \ ;~.ao __Céu na ocasiã~. E tanto ª. ~radição como a..teo- .
{}:.'·,..apenas começd.ab ressa, e quel é negadda ~u:I!
.a ser ebxpl .i~f-
logsiae,rqouseesaespd1·reasçtio_neasmcoªnf~1·ªrmnta1frn1cae_rssºesponnotsos~dsetve1:1

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.-i:~ ignora d~ em e ates pú icos ou popu ares -

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_; Em resposta , a umi outra ·daquelas perguntas · · : ~;. ser a 'de perecer com êles. "Porque ( disse comigõf...·,',;;;y_ !r
··_·
.:f ..º·, indiret'as; pude finalmente encaixar : "Deixei a igreja ·· , ..-,.· mesmo embora não o manifestasse a Elijah), gosto ·· · .\\{
· > há vinte anos atr.ás , e desde essa época não me filiei ✓;_:{::· de certas pessoas que também gostam de mim, ·e ' . >\:
a nada." Foi a maneira que encontrei de explicar ...lhes · ··-~· '.: acontece que algumas delas são brancas ; e não será · ·.:.-.·;-
que tampouco pretendia aderir ª<?,mo_v idmentoEdl~.lehs. ·.· ,· o amor mais importante que a côr?" d f _,.'}_~ .:
"E que é você, presentemente? - m ag~u iJa. · _\ Eli jah fitou ...me com grande bonda e e a eto, e .:. _,
A pergunta deixou ...me algo· constrangido, pois .:> ~-· com visível piedade, como se estivesse lendo em meu · . -~
não me sentia com dispo sição para afirmar - pelo ·..· ·.: coração; observou então, em tom cético, que era pos,., ·;-A
.., · menos, forçado dessa maneira - qu'e era um cris-:-' ·,>. sível que eu tivesse amigos brancos, _ e que era possí.- : .'·:
·tão. "Eu, agora? Nada,'. ' Senti que não era bas:, ··-; ·, vel que êles estivessem procurando ser decentes co ... . ·,.<·l
... _ tarite. "Sou escritor . Gosto de trabalhar s? _zinh 0 ;, i:··;:~ · migo, mas que os seus dias estavam contados. Era ·..:·:,:~?
. _...·.·· · ·.Elijah sorriu ...me com_ simplicidade. ,· "A verdad: . ;:'· ·( :. como se dissesse: "Êles tiveram a sua oportunidade, ...._._i'.:
acresce ritei, "é ..que não penso -~uito sôbr~ º. assu.~to._;.-:'); ; . rapaz , e bobearam!" . . . ~..-.'\:': ~
Elijah co~entou co:n o v1zmho d~ dir~ita: Pms · ·.;i;,; _5=irc_unvagueios olhos pela mesa. : É claro que J ··,r~):
eu acho que ele deveria pensar muito sobre O as ...: >:? :. eu nao tmha qualquer prova a oferecer ...lhes ,que pu,. . ': ·, i
sunto", . ao que todos os convivas ·aquiesceram. ~~~-/:,) . desse sobrepor ...se à autoridade de Elijah ou à con.s,:: _.·.!:
. tretanto, ·nada ·havia de malicioso ou de condenato~i 0 <.)~- tatação de suas vidas diárias ou à realidade -das ruas . ·:. :;_;.4
- · ·,•naquela frase . . Tive a ~ngu_stiante impressão de qu_~ , :} i. lá fora. Não obstante, eu conhecia dua_s ou três ' ._.: /h:-
êles sabiam que eu pertencia ao seu grupo, ..embora ··;-;{ pessoas - . brancas - em quem deposi tava uma ·.. -i•.:·• .J
ainda não tivesse conhecimento disso; que ain~a · rião_: .'; .: confiança cega , . e ainda outras - também brancas ~-;-/·}
. me encontrava devidamente preparado, e que eles se .:;_. - que eu sabi~ empenhadas com todo . o ardor ,·:;_:;
1
dispunham a esperar, com paciência, mas com segu-- ·'.-:.·· e esfôrço de que eram capazes, e correndo inclusive . :··, ·,~
1 rança, que eu descobrisse por mim ~esmo a verdade: : : .,. certos riscos, em tornar o mundo m_ais humano. · :i /
! Pois que outro rumo, afinal, poderi a eu _tomar? Eu ·_:;_ ... . Como sustentar isso, porém, num ambiente daqueles? · ·: / i1
·1 pertencia à raça Negra, e portanto fazia parte do . . É impossível discutir com a experiência .ou .a decisão ... __ :·:<
Islã , e seria · salvo do holocausto que aguNardava O . ou •as crenças alheias. E os meus argumentos seriam : . .-:; ...~
1 . m'undo dos brancos, quer' o desejasse ou_ nao. Meu~ • · todos refutados como irrelevantes para o caso em ··.:',. -:-.·i;
1
·• . · .•·;: pobres · é ilusórios escrúpulos de nada valeriam co~; : . aprêço, uma vez que eu só podia cítar · exceções: . A ·· 1:J:}~
f
··\- J
· -:'. tra a •:palavra m,flexível do .profeta. · · _.
Tive a impr_essão de estar de volta _a casa de ·
· <::---meu pai - como · de fato , de certa forma, estava - .
· .· . Zona Sul da cidade, a própria situação mundial com.-• · ··):
provavam a justeza da acusação. Tu do mais que
..se podia extrair dos ~rquivos históricos, não fazia _ ... ·
.} f

· ·· e confiei a Elijah que, dNeminh~ parte, pouco ~e . ·,enão registrar essa sucessão de exceções que haviam · · _,_·,i·.·_.~.. _:.:_ f,;_

importava que brancos e egros se casassem en !e . !_.. tenta do modificar o mundo e redundado em fr acass o. ·
i si, e. que eu tinha · diversos amigos brancos, e que n~o Seria _isso verdade? Teriam elas falhado verdadei,., · ,.,r
[· --~' ··\: ri:le res·t_;u ia outra ·alternativa, . se fôsse O caso, ª nao ,'.~ ramente? Até que ponto influía, . em cada . caso -, a ..,·'..}~

~ . -· 80 81 .:·?-~
1 .

\.
., . t ..
t~f apreciação pessoal? Pois não há como negar que
/ um certo tipo de exceções sempre , contribuíram para relutante e - se algum dia chegar a ocorrer - tão
~J t~rnar o mundo pior_ - yrecisamente aquêle tipo _tardio. De mais a mais, é impossível negar que êsse
ponto de vista é abundante~ente · justificado pela
n r para o qual o poder e mais real que o amor. E no
entant~ o poder é ver1adeiramente uma fôrça, e mui .... história do Negro Am ericano. Não resta dúvida que !

· tas coisas, inclusive, freqüentemente, o amor, não _· é mortificante ter esperado por tan to tempo, humil .... l,,
podem ser reali~ adas sem o seu concurso. Ine spe .... demente, que os american os crescessem o sufi ciente r
i
radamente, sentt ....
me, de · certa forma inexplicável para perceber que o Negro não representava para
t:ansportado para a pessoa de um branco que, e~ êles uma ameaça. Por outro lado, de que forma 1:
procederia agora o Negro Americano para chegar a !
torno de uma mesa de jantar, tentasse provar que !
os Negros não são uma raça subumana. Estive constituir ...
se numa nação independente? Pois que
a ponto de ~izer: "~:~• vejam minha amiga Mary, esta solução - e não exclusivamente do ponto de
por exemplo : e de mic1ar uma discriminação de tô .... vista dos Muçulmanos - seria, ao que ·tudo indica,
, das aquel~s v~rtudes que conferiam a Mary o direito a sua única esperança de não perecer nas águas es .... :.1

de __estar viva. Que podia esperar disso, porém? Que tagnadas da América e de ser esquecido completa ....
Eli1ah e os demais qcenassem solenemente com a ca .... mente e para todo o sempre, como se nunca . tivesse
beça e observassem, na melhor das hipóteses: "Bem, existido e tôda a sua atividade se tivesse "desen ....
_· · ela pode ser decente - mas, e os outros?" volvido em vão.
; Perco:ri novamente com o olhar os rostos jo .... O entusiasmo de Elijah e o isolamênto e a re ....
me em · beldia dos rapazes que me rodeavam , acrescidos ao
vens em torno da mesa,_ e voltei a concentrar ....
· ~l ija;1, que dizia que povo algum da história fôra desespêro reinante nas ruas lá fora, levaram .... me a
: . ;amais respeitado sem ter um território que pudesse ' , imaginar vagamente o que agora pode parecer uma
, apresentar como seu. E a assistência concordou em · fantasia - muito embora, , numa época tão fantás--
) . uní~sono: "Sim, tem razão." Não pude negar a ve-- ·_ tica como a nossa, eu hesitasse em definir com pre--
· . rac1dade da9uela. afirmativa. Pois todos os povos · cisão o que vem a ser uma fantasia. Digamos que !
~a terra - mclus1ve, atualmente, os judeus - cons .... os. Muçulmanos chegassem a assegurar a posse dos \
tl:uem e~ _verdade uma nação, que possui localiza ....· seis ou sete estados que alegam serem devidos aos /'
çao especifica e uma bandeira própria. "O chamado Negros pelos Estados Unidos, a títu lo de "remune--
Negro · Americano" é o único que permanece cativo, ração atrasada" pelo trabalho escravo. Evidente ....'
deserdado e desprezado , no sei_o de uma nação que mente, os Estados Unidos jamais cederiam êsse ter .. ·i
;

por quase quatrocentos anos o vem mantendo em ritório, fôsse em que têrmos fôsse, a não ser que,
cativeiro e que permanece incapaz de reconhecê ..lo por qualq uer razão, considerassem impossí vel con ....
como ser humano. E o fato é que os Muçulmanos servá ...Io - isto é,_a não ser que os Estados Unidos
Negros, além de muitos outros que não são Muçul .... se vissem diminuídos como potênc ia mundial, exata-- ·
manos, já não aspiram por um reconhecimento tão mente da mesma forma, e com a mesma rapidez,
com que a Inglaterra viu ...se forçada a abrir mão de
82
83
·,
:.-·t-·
. : ··:-_
.._){.iii
_::
--
seu Império. ( É simple"smente falso admitir-se -. e ·/ f
até atingir a um povo a quem tudo f ôra roubado, ·: i't}&
a situação das suas ex-colônias compro va -o sobeJª"' '":~· inclusive - o que era mais penoso - a noção ..da :· /f:~
mente - que a Inglaterra "nunca pensou em desis-- { \ própria dignidade . Povo algum pode sobreviver pri--:. :,·t.-.
tir".) Se os estados em questão fôssem meridionais :• ; vado dêsse sentimento; para recuperá-lo, lançará .. :)\f
- tese que os Muçulmanos parecem favorecer -, ,~:. mão de todos os recursos. Eis por que o mais peri-- .:/\i
nesse caso as fronteiras de uma América Latina hos... · ;_· . goso produto de tôda e qualquer sociedade é o in--~~-:-:;{~
til passariam a alcançar, digamos, ~ _estado de Mar):" divíduo que nada tem a perder. Não são preciso1 :-. ·:,.'t
land. Quanto às fronteiras mantimas, uma fana
frente a uma Europa impotente e a outra a uma
muitos para prejudicar uma comunida de - um ~p ,./
suficiente. E Eli jah , conforme suponho, . nada mais , .._:,
teve a perder a partir do dia em que - segundo · ·::1
1

Região Leste ~ão-branca; e ao Norte, para ~lém do


Canadá,_ existiria apenas o Alasca , que confma com reza a lenda - viu o sangue do próprio pai descer ···• :-:_( -'~
0 território russo. As conseqüências dêsse fato
riam que os Estados · Unidos e o Canadá ver-se--iam
se-- ao longo das fôlhas de uma árvore e_ gotejar sôbre
a sua cabeça. Entretanto, nenhum daqueles outros . : . <:,e
".-,:, 1
insu lados num continente hostil, com o resto do , homens à volta da mesa tinha também qualquer coisa •,·_ ;J
mundo provàvelmente pouco ~esej~o be cert!~~n:e r
a perder. "Voltem à sua verdadeira religião", Elijah .., · _.'.:(
incapaz de acorrer em ,seu auxí io. m ora ta 1p~-- ::'.; escrevera uma ·vez. "Libertem--se das cadeias ·do car... ,'·:'j
tese não se apresente à minha mente como das mais ::;'· rasco, o demônio, e voltem ao aprisco. Deixem ·de.·-··.'-/
viáveis, fôsse eu Muçulmano e certamente haveria · };. beber o seu .álcool, de servir--se das suas drogas, · ?r
;de acolhê ...Ia com carinho. Mais ainda: fôsse eu Mu ... ''.f. protejam suas mulheres, renunciem ao sensualismo." · ;\{
· çulmano, e não hesitaria em utilizar - E; inclusiv_e _.;;: Vieram--me à mente os camaradas de anos atrás, ·re ...
em incentivar - o descontentamento social e espi-- · :•;, fugiando-se nos becos, com seu uísque e suas lágri ...
ritual que aqui viceja , pois que, com isso, no máximo, L, mas, ou procurando alívio nas picadas de- mJeção;
e~taria contribuindo para destruir um teto que eu -·~.:.. e meu irmão dizendo--me certa vez : "Se o Har lem J:
odiava, pouco me importàhdo se perecesse juntamen... ? ·.. não tivesse tantas igrejas e tantos montes de ~ d .-
te com êle. Faz tanto tempo que vimos morrendo : , haveria muito sangue pelas ruas." Protejam 'sua·s ,. .·
\
1aos poucos por _aqui! · . -:; mulheres: algo difícil de realizar numa civilização · · · ·.·
1
E que se ·estaria passando na mente dos ~º"' ·:i sexualmente tão patética que a masculin idade . do ·
mensais? "Aqui estou para lhes traz;.r a~go qu~. Jª" ;; homem branco depende da negação da . masculini ...·
mais lhes poderá ser tirado de volta ,. disse Ehiah, J dade do Negro. Protejam suas mulheres: numa ci... ,
a certa altura . Uma atmosfera de solenidade baixou i ,t;. vilização que 'desviriliza o homem e maltrata a mu ...
sôbre a mesa, ao mesmo tempo q'-:e os rostos ~e ...\ , lher e na qual, além do mais, o homem 'é forçado .
nos iluminavam-se de uma luz sobrenatural. F oi . essa I J1 __a depender da colaboração do trabalho feminino. ii.
â: mensagem que se espalhou por ruas, cortiços e pri-- · ;; • Protejam suas mulheres: assistindo ao homem bran... • ' ,,
sões, atravessando os pavilhões de narcomaníacos e ·I : co gabar ...se de "estar nos fazendo um favor, bom... !.-

a imundície e o sadismo dos hospitais de alienados, _ ·:;:·· beando uin pouco de sangue branco nos seus filhos" ,. · ../ ?t
.' ~:,:-
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1


~/?·•:
..· , destino." Meu programa, na realidade, era tomar
/\. ·1 e ao mesmo tempo enfrentando os fuzis Sulistas e
~L.. os cassetetes dos Nortistas. ~á anos atrás, era com um drinque com um grupo de dem ônios brancos, no
:L.. ,o~gulho que excla,?1-ávamos: Sim, sou Negro, que lado oposto da cidade . Por uma fração de segun do ,
\ conf esso , hesitei em fornecer o enderêço - que em
+::•. diabo, e sou belo! Agora, porém, se os reis e he ....
;t.· róis africanos do passado encontram ....se na ordem do 'ft' Chicago, como em tôdas as cidades da América do
:V d~a, é porque êsse passado pode ser colocado a ser .... Norte, have ria de identifi car --se como o de um re ...
!':.· v:ço do p~der. E . a cô~ negra ~assou a ~er uma bela\ \ duto de branco s, em virtude de sua localização. Não
:1.._:, cor.- nao porque seJa apreciada e sim porque é obstante, decidi--me a fornecê-lo , e E lijah acampa ....
J.,:'_.: tem1d~. E es:a insistência por parte dos Negros / nhou-me até os degraus da en tra da, enq uanto um
f . A_mencanos ~ao pqde ser desprezada! O espetáculo dos rapazes se afastava em busca do carro. Foi uma
f·· a que, por toda parte , assistem, dos homens de côr sensação estranha , a de perma nece r ao lado de Elijah
por aquêles poucos instantes, defrontando--me com
;j;...· .. ª. se levantarem para coprar a promessa de poderem
~ · . fmalm ente palmilhar a terra com a mesma autori .... aquelas ruas animadas, violentas, e tão incri velmen ....
..:~... ·dade com ·que os brancos o fazem, protegidos por te problemáticas. Sen ti ....
me muito próximo dêle, e
1
( <, um p_oder que êstes não mais possuirão, é suficiente, · desejei sinceramente poder amá-lo e honrá-lo como 1.
1

r:;·,·• e mais ·do ·que suficiente, para esvaziar pr isões ·e for .... uma. testemunha, co_mo um aliado e como um pai.
Sen ti confusamente que compart ilhava uma parte
1
!

j. · ~~r a Deus a descer de Seu Trono Celestial. Isso


r. ~ s1:_cedeu por várias vêzes, é!-ntes que o problema de .sua dor e de sua impetuosidade e, verdadeira--
' mente, também de sua beleza interior: não obstante
1, a cor se apresentasse, e a esperança do Céu sem ....
i pre constituiu a metáfora necessária à realização em razão precisamente da realid a de e da naturez~
1 ~ês~e particular estado de graça. Como diz O hino: daquelas ruas, devido ao que êle entend ia ser a sua
, ~ei que minha veste me servirá bem. Experimen-- responsabilidàde e ao que eu concebia como sendo
te1-a nos portões do Inferno." a minha, se-ríamos para sempre dois estranhos, e pos-
_ Chegara o momento das despedidas, e encon-- sivelmente, um dia, inimigos. O carro chegou -
trava~o-nos ~od,os no imenso sa lão, apertando-nos um exemplar portentoso, faiscante, vulgar , do poder
as ma~s, e de_1xand_otodos os problem as em suspenso. econômico americano - e Elijah e eu voltamos a -
Eµ nao podia deixar de sentir que fracassara - nos apertar as mãos. Feito isso, êle entrou em casa
tanto aos olhos dêles quanto aos meus próprios - e fechou a porta .
no teste a que fôra submetido, ou então que deixara O motoris ta e eu pusemo ....nos a caminho , rode-
de dar ouvidos a uma advertência. Elijah quis saber ando o lago, através da cidade imersa em trevas e,
·'\ ~ara onde eu me dirigia. Para onde quer que fôsse, ·àquela hora, de uma estranha b eleza. Voltamos a
··' ,ele se encarregaria de me fazer conduzir - "porque, conversar sôbre a questão da terra. Como podería--
quando convidamos alguém aqui", explicou, "assumi-- mos nós - Negros - pretender conquistá-la? Fiz
mos a responsabilidade de protegê .... lo contra os de-- essa per gunta ao mesmo rapaz que pouco antes, à
mônios brancos até vê ....lo chegar são e salvo ao seu mesa, sustentara que as atuações do homem branco

86 87
' '
.: , • • .r,:1.~

\ -~·,·, . ,.,.:
_.~
comprovavam que êle era um demônio. Falou-me · ·'.P ' ma ·ou -de ·outra , os Negros teriam de concretizar :.:..::}:
de início nos templos muçulmanos em v ias de cons- ·'.!.. . e~sa po~se. Entrementes, podia pa lmilhar as ruas da . :•·';
trução , ou ainda em projeto, em diferentes. pontos · ·..,:: ( ~1dade impunemente, porque existiam milhões como ..,>
dos Estados U n idos, na fôrça representada pelos · l. e1e que, bre ve , ascenderiam ao poder. O que O sus... .. -~
seus adeptos, e na soma que anualmente é colocada j ~; tentavda, em suma, era um sonho - embora convenha ,-,):
à disposição dos Negros - algo como vinte bilhões .1 recor ar que certos sonhos · chegam às vêzes . a ~ ·. ~
de dólares. "Só êsse detalhe basta para provar o . :; .·. !.~rn~r--s.; realidade - e sentia-se unido aos seüs · · \
quanto somos fortes", acrescentou. Fiz --lhe ver, atra- i: ir~ aos pe~a côr. Talvez não seja possível esperar · -L{
vês de alguns _ rodeios, que êsses vinte bilhões de , , mais da~ criaturas. . Estas .,.costumam agrupar-se de ·.: :·:}
dólares - ou seja o que fôr - dependem da eco- ,.-..}: conformidade com um princípio que nada tem:. a ver · :-'.:':;
nomia global dos Estados Unidos. Que acontecerá . ~J :.; com O amor, um princípio capaz de eximi-Ias da ~es- .e:'.:}:
se o Negr o não mais fizer parte dessa economia? 't ponsabilidade pessoal. . . ;. :· _.~
Deixando de lado o fato de que , para que isso se :_'.. N~ entanto, eu alimentara a esperança de qu~ '. . ··
verifique, a economia dos Estados Unidos terá que ... 0 Movimento Mu~ulmano tivesse sido capaz .de' in-- · ·>_ t
passar por transformações radicais e inevitàvelmen- . : .; .. ct:l~ar na~ d~smoral1z~da_população Negra uma _noção · . · t:~
te desastrosas, a capacidade aquisi tiva do N egr ,... mais autentica e mais mdivid ualista do s - • : ·.•, ·:::
1 d .. eu propno . _::.,·
Americano já não será mais evidentemente a mes- . va or, e for.ma a permitir aos Negros dos guetos da :·.. I}
ma. Em ·que se irá · ba sear, portanto, a economia ~ona _No~te. t?marem a iniciativa de modificar · sua .:•,\ '}
. dessa nação isolada? O rapaz relanceou-me um olhar ~ uaçao mdividual , em têrmos concretos e a não · ; ·.~..
algo estranho, e apressei-me em acre scen tar: ."Não importa q?e pr~ço. Para modificar uma situação, en.- :·.'\)\
afirmo que não possa ser feito - apenas gostaria de tretanto~ e pr~ciso que a pessoa a con sidere . pelo s'eu ,·.' /,\t?
saber como." Intimamente, refletia: "Para que isso j ./ /- ·ve rd adeiro prisma: no caso presentE;, por . exemplo , ,:_.·;:':
aconteça, todo o nosso padrão de referência terá que \ \t: cu;111preaceitar o fato de que o Negro, bem ou mal . ·:.:. ·-\:-
ser alterado, e ver~nos-emos força d os a a bd icar .d e :. \i· ; foi formado . p~r :s
t31~açao~ e não perten _ce a · outra ' ·...
mui tas coisas que mal nos habituamos ainda a pos-:-\ ,}· , qualquer - nao a Africa, e <::ertamente não ao Islã ·. ,:...,):
·'_,;..f
..· '.°:
·'··
t'

suir. "Não que as coisas a que me referia, como ó\ ';, O ~aradox? que se apresenta - e é _um paradox~ : -~('.;y
pseudo-elegante amontoado de ferragens e metais .1 i t:rnvel - e que o Negro Americano não pode ··espe.- i:,/:il;
em que viajávamos, merecesse a meus olhos um valor 1 ;;' rar enc(?ntrar f_uturo em parte alguma - em não im~·rl'-'.);\;;
excepcional. Na verdade, porém, a vida sem elas 1 ·: porta que co_ntmente - enquanto não se revelar · dis- i ,:::'.{
seria diferente - e pergun tei-me se êle teria pen- • po st o a aceita~ ~ ~eu passado. Aceitar O próprio ! ·-,:·
sacio nisso. , _passado-_ a historia de cada um - não 'é o mesmo 1· ·,,·/
Como é possível. porém, sonhar com o poder , ·_ q~:
_relega- lo ao esqu~cimento; é aprender como -,l · j$
valendo-se de outros têrmos que não os símbolos do ).:. usa-lo; Um ~~ssado <:_nadopela imaginação jamais : ,:a: :,{?
poder? P ara aquêle rapaz , a liberdade dependia da .• podera ~er utihz~do: ele fende-se -e desmorona sob .. ..·~.J
po sse da terra; estava persuadido de que,_de uma for,. :;;. as pressoes da vida como o faz a argila na estação ·.·.. ·.,\{

88 ;; 89 .; · ?/fij
.i, . '::.:}_
!.J
~... ri
,,

'd_asêca. Como aproveitar o passado do Negro Ame..- Foi isso preci samente o que pretenderam os Nazis--
ncano? O alto preço exigido - nesse momento tor..- tas. Sua única . originalidade consistiu nos métodos
mentoso da história do mundo - é a sublimação das que empre?aram. É pràticamente inútil recordar por
realidades de ~côr, de nações e de altares. . quantas vezes o sol se levantou sôbre o . massacre
"Seja como fõr", o rapaz observou repentina-- de inocen tes. In teresso--me vivamente em que os Ne ...
mente, após um longo silêncio, "as coisas jámais vol-- gros Americanos consigam assegurar sua liberdade
tarão a ser o que foram. Sinto isso perfeitamente." jaqui nos Est ados Unidos. Nã o obsta nte, também
, , . · E assim chegamos em terri tór io inimigo , e fui ;me interesso pela sua dignidade, pela preservação de
depositado à porta do inimigo . / suas almas, e sinto--me na obrigação de me opor a
Ninguém parece saber de onde o Movimento !qualquer tentativa por parte dos Negros de fazer a
lsla _mita obtém os fundos de que dispõe. Uma gran..- l outrem o que fizeram a êles. Suponho conhecer -
_de parte, naturalmente, é produto da contribuição é fato diària mente comprovado - a aridez espiri-- ~ :
dos Negros, mas correm rumôres de que certas po-- tua! a , que êsse caminho condu z. Trata--se de um ·
pulações como os Birchi tas e alguns milionários de . fato tão simples e que aparente ment·e é tão difícil de
petróleo do Texas vêem com bons '.olhos o movi-- aceitar: Aquêle que d epre cia. os outros está ...se de ...
mento. ·Não encontrei meios de saber se havia algum preciando a si mesmo. Nãp se trata aqui de um pos ...
fundamento para êsses boatos, muito embora, saben ... tulado místico e sim de umextremamente realista >i

· do que essa gente insistia tanto na questão da se ... comprovado pelo testemunho de qualquer xerife a; !
• I

paração de raças, não me causasse surprêsa se de-- Alabama - · e de forma alguma me agradaria ver
. baixo dessa fumaça existisse algum fogo. Seja como chega rem os Negros a uma condição a tal ponto
deprimente . ·
fôr, durante uma recente reunião dos Muçulmanos,
o chefe do Movimento Nazista Americano, George 1 •• Ora , é absolutamente improvável que os Negros
Lincoln Roc::kwell, insistiu em contribuir com a soma atmJam ao poder nos Estados Unidos, porque .êles
. · de vinte dólares para .a causa, e êle e Malcolm X representam aproximadamente uma nona parte de
<\ decidiram que, do ponto d'e vista racial pelo menos, tôda a naç ão. Êles não est ão na posição dos Afri ....
encontravam--se ambos em completo acôrdo. A exal-- \ canos, que se esforçam por reconquistar seu terri--
tação de uma raça e o conseqüente rebaixamento de Í tório libertando--se do jugo colonial e recuperando--se
outra - ou de outras - sempre foi e será uma d_a experi ência colonial. A posição do Negro é pe--
· (e~eita infalível para o 'extermínio. Não existe outra ngosa de uma maneira diferente, tanto pa:ra o Ne ...
ra1da para o caso. Se a alguém é permitido tratar . gro como tal quanto para o país do qual forma um
/ Um determinado grupo com menosprêzo, em razão elemento tão perseguido e tão perturbá.dor. O Negro
,·. .. de sua raça ou da côr de sua pele , não há limite para Americano é uma ins tituiçã o singular: em pa rte
· · · .. o que se possa forçá..-los a suportar e, unia vez que alguma encontra equivalentes e nem tampouco an ...
,; !~ .' • a raça inteira foi, por qualquer misteriosa ra zão, con..-
teces~ores . Os Muçulmanos reagem a essa situação
:,_;-' . denada, nada impede seja ela destruída pela raiz . refermdo ...se ao Negro como ao "chamado Negro

90 91 ' •• 1
. } -~>;_ ·.-::'::'F::,/
Americano" e substituindo os nomes her "dados 'da . ; · ' :objetivos particulares e limitados. "E portanto quan,; . ·:.:/J
. época da escravidão pela letra "X" . É um fato in- : i :-..· do o país se refere ao "nôvo" Negro - o que vem '·! ·.,:;":!
contestá vel que todo Negro Americano ostenta um '· if fazendo cada vez com mais freqüência - não ·.se ,- ;,
nome que pertencia ori ginalmente ao branco de quem :: :· refere verdadeiramente a uma modificação observa,.. · · :\
era vassalo. Eu, por exemplo, chamo-me Baldwin · da no Negro - a qual, de qualquer maneira, é to- .: ·,j
porque fui vendido pela tribo africana de onde pro- •." talmente incapaz de avaliar, e sim a uma nova difi- .. · : ./
vinha, ou rapt ado da mesma, por um cristão de raça ·, _culdade encontrada em mantê-lo no lugar que 11h~_-. · \
branca por nome Baldwin, que me f êz ajoelhar aos : , . pertence, ao fato de esbarrar com êle,. ainda uma vez, ;:- .-}
pés da cruz. Sou , portanto, ostensiva e legalmente a .interceptar mais uma porta de seu confôrto espi- · . · ::S'.
ritua l e social. Isso representa provàvelmente , por . · , ·,'f

l
um descendente de escravos num país branco e pró-
tes tante, e isso é o que verdadeiramente significa ser mais penoso e estranho que possa parecer, a coisa ·; ·.-:~~
um Negro Americano - um pagão raptado, vendido mais importante - ou pelo menos ·._uma _das mais . )S
e tratado como um animal, definido certa vez pela · importan tes - que um ser humano pode fa~er · por ·;:J
Constituição Americana como sendo "três-quintos d.e , oütro; daí o tormento e a necessidade de amor, cfue ·. , ;; 3
homem", e, segundo a decisão Dred Scott, destituído . \ representa a imensa contribuição trazida pelo Negrd . . ·/')
de quaisquer direitos que o homem branco seja obri-
gado a respeitar . E ainda presentemente, cem anos
·:' . ª. êsse I?aís de outra forma inexpressi vo e desconhe- _ :;t'
!
, ciclo. Eis por que sustentamos que os brancos ame-
.
· ·.. i
após essa eman cipação técnica, êle continu a · sendo - ricanos nunca estiveram tão enganados como ao ' · .'::,
- à exceção talvez do · índio Americano - a mais
desprezada das criaturas de seu país . Além disso,
supor que os Negros esperavam que os brancos lhe s
"concedessem" alguma coisa . .É raro, .de fato, ver 1 .: ·
:·.
não exist e simple smente qualquer possibilidade de alguém dar alguma coisa. A maioria guarda ciosa- . . , :,:
uma modificação real n a situação do Negro sem que, ' mente o que possui; assim fazendo, acreditam serem 1:
na estrutura política e :ocial ~a A~é~ica, ocorram . · :_:~.-1êles me:~os e o que identificam como êles mesmos ·J · .,
paralelamente ~s alteraçoes mais radicais e ext_rema-1 ·. ·· i que estao preservando, quando na realidade o que i · ::,
das. E salta aos olho ,s que os brancos americanos ·'._·:· .. ·I.fazem é defender a sua apreciação da realidade e f ·,
não se mostram apenas pouco disp?st_os a_ ef~tuar 1 · / aquilo que 1:resumem ser. Ni~guém pode dar o que 1· ' : "
essas alterações; tornaram- se, em media, tao mdo~ :. ( ·'. quer que se1a sem dar-se a s1 mesmo - ou melhor, .. ·' . ··:.
lent es que nem sequer se dis.põem a levá..-las em con..-• , ;_·_ sem arriscar-se a si mesmo. Se somos incapazes de ·
sideração. Cumpre acrescentar que o Negro, por se~ . / _'.: . nos arriscar , somos também incapazes . de dar. E,
lado, já não confia na boa fé dos brancos amen- ; ·, ·. afinal de contas, não se pode dar liberdade senão
t 1
canos - se é que algum dia chegou a fazê-lo. O &- • libertando alguém. Isso, no çaso do Negro, a repú-
que O Ne~ rea lmente descobriu, e num plan o inter- .- ,'. blica americana nunca se reve lou suficientemente ,
nacional , Ll5?i aquêl~ poder de int imi1ação que ~}e . _-,1amadurecida para levar a efeito. Os brancos ame- r :
sempre possuiu particularmente · mas ipso facto nao · · :1ricanos sempre s~ contentaram com atitudes simbó,.. ·
podia utilizar senão em .particula i} - e sempre para J licas. Gabam-se, por exemplo, da decisão do Supre.. .
. .

92 93
,,
1
mo· Tribunal _que ·em 1954 proibiu a segregação nas bas qua se igualmente inexpres .sivas; isto é, nem a llfj
escolas ; a despeito da montanha de provas que des - Europa abandonou ainda a África, ne_m os homens l/\.1
de então se acumulou em contrário, acreditam que . de côr conquis ta ram ainda aqui a sua liberdade. E 1_!
êsse fato testemunhasse a favor de uma mudança de . ambas essas afirma tivas são fatos irrefutáveis, cor.... 1
mentalidade - ou, como preferem dizer, de um- pro- · ~ rela tos, que encerram para todos nós as mais graves '
•l gresso. É possível. T~do depe°:~e da m~ne!ra de implicações. Os Negros dêste país b em podem nunca (
) interpretar a palavra progres~o . A ma1or~a dos chegar a alçar ....se ao poder , mas encontram-se parti ....j
Negros que conheço não acreditam que essa imensa cularmente bem colocados para precipitar o caos e i
concessão jamais tivesse sido feita se não f ôsse pela
concorrência da Guerra Fria, e pelo fato de que a
fazer baix ar definitivamente a corti na sôbre o sonho i
americano. ~
África avançava decididamente no caminho de sua Is so, naturalmente, está int ima mente relac iona-
libertação, sendo convenien te, portanto, que fôsse do com a natureza dêsse sonho e com o fato de que
cortejada pelos descendentes de seus antigos senh~- nós, americanos, não importa de que côr, não ousa ....
, res. Caso se tratasse exclusivamente de uma questao mos examiná- lo de perto e no s encontramos longe
de amor ou de justiça, a decisão de 1954 teria certa ... de tê- lo tornado uma r ealidade. Exis tem coisas em/~-
mente ocorrido antes; e se não fôra pelas realidades demas ia que não desejamos conhecer acêrca de nós _
do poder · nessa época tormentosa, é bem possível que mesmos. Acaso não é verdade que as pessoas an - \ _
1
;. l
., ainda não tivesse ocorr ido de todo. Esta parece ser seiam .terrivelmente por serem iguais ( iguais, afinal X
uma maneira por demais rigorosa de apresentar a de contas, a que e a quem?) mas ao mesmo tem po :
l l
; · situação - ingrata, inclusive - mas as provas q~e adoram a idéia de saberem-se super iores. E essa
·servem de apoio a _essa definição dificilmente serao verdade humana adquire uma_ fôrça particularmente /
refutadas. De minha parte, acredito que não possam convincente neste pa ís, onde a iden tida de é quase \
sê-lo de todo. Seja como fôr, o caráter sentimental •
e fátuo da boa vontade americana nunca pode me- ·
impossível de con quist ar e o povo está_ constant~ .... l
mente procurando firmar os pés nas areias moved1 ....,
recer confiança em se tratando de lidar com p_roble.... ças do atual estado de coisas. ( Co nside re-se a his ....:
mas sérios. Êstes foram sempre considerados - tória do trabal ho num país em que , do ponto de vista /
quando o foram - por medida de n~cessid~de, . e, espiritual, não existem trabalhadores, -e sim apenas (
no que concerne à política, a necessidade 1mphc_a candidatos à mão da filha do patrão.) Além do l
co:O.cessões feitas no intuito de permanecer em pos1- ' mais conheci um número muito reduzido de pessoas
....:·'• ' ção de proeminência. A.credito seja ês~e um!-ª:º sem ·. - e' na maioria não se tr atava de estadunidenses -· -
,: possibilidade de contestação, mas, se18:._ou nao um que alimen tavam um desejo real de ser livres. A
fato comprovado, é o que a populaça? Negr.@ do liberdade é difícil de suportar. Pode-se objetar que
, mundo inclusive os Negros norte-americanos, acre- eu esteja me referindo. à lib_erdade política em têrmos
.\\\ 1:
. ~itarri. ~ince~amente . .. palav:a,, "indepen~ênc~" '. n~ espirituais, mas o fato é que as ins titu ições polític as
,\\ Africa , e a palavra mtegraçao , entre nos, sao am · _ de qualquer nação vêem-se perpe tuamente ameaça-

9.4 95
t •• • • :-:~ •• .:,. ~

das e não controla ·das, em última análise, pelas con.- fundo . ao abrigo 'da sombra dos russos, 'decisão ·essa }
.. ~ições espirituais da nação em aprêço . É a con~usão pela qual tanto os mais , esclarecidos coni.o os mais .t
1•
i
( que, em última análise, controla o nosso ambiente,
· oprimidos dentre êles passara'm · a desco n fiar ainda .
muito mais do que . o .imàgin amos, o qu e fa z com que mais de nós . Nosso poderio inato e nosso receio de _:,
0 s~rtho americano se tenha tornado algo mais pró-
tudo o que representa alteração-da ordem _ajudava' .
ximo de um pesadelo, quer no plano privado, domés-- a vincular êsse povo à própria miséria e desorienta-- .
tico _ou internácional. No terreno privado, ·achamos Í .·i. ção , e durante todo o tempo · em que ju lgarem ..êsse .,'·
insuportável a vida que levamos e ao mesmo tempo ! ·t ( estado de coisas intolerável, nós, · de nossa · parte / :
não ousamos examiná-la a fundo; do ponto de ·vista ; ·,~ff

~
estaremos sofrendo uma ameaça intolerável. · Porque, -.-
. ·i se êles acreditam ser intolerável a sua situação, · mas ..:
doméstico, não queremos assumir a responsa b i1i d a d e\ ··:;~_'
- pelo que ·ocorre no país, e tampouco nos orgulhamos ) ,/$_' encontram,...se por demais oprimidos para modificá,...la,':_"
disso; .e, no terreno internacional, aos olhos ·de mui.-f<'J i/::'·. não passam de peões entre as mão s de podêres mais ·:>
amplos que , em situações semelhan tes , ·revelam,...se :,; 1
tos m1~hares de povos, representamos u~ ~rac~sso .·; fÍ, sempre inescrupulosos e que quando, eventualmente, _:; .
irredutivel. A quem quer que ponha em duvida este ·· .{"
I~·. modificam sua atuação - como no caso de Cuba ·-. ~;
ú~timo postulado bastará apenas ter os ouvidos, o cora-- :·,~;~f ....-. deixam,...nos mais do que nunca ameaçados •pelo vazio ·;". 1

çao e a mente -alertas ao testemunho, por exe1:1plo,de . -:; _.


algum campones cubano ou poeta espanhol e mdagar . Tj·. 1 que sucede a tôdas as suble vações violentas . .É indu_.., .::
·.
dêle o que êle sentiria a nosso respeito caso fôsse · <l · bitável que, a esta altura, já deveríamos . estar cientes ;;,
de que uma coisa é derrubar um · ditador ou _r'epelir ::
êle a vítima de nossa a tuação na Cuba an terior · '1t~ : um invasor e outra comple tam ente · dife rente ê levar <
1
a Fidel Castro ou na Espanha. Procuramos defen""
der o nosso curioso papel na Espanha ref erindo.-nos ;:~ : _
}f . · a efeito uma revolução, Por . um número de vêzes .-'
l.
! sem conta , as pessoas descobrem que não fizeram ·
à ameaça russa e à necessidade de proteger o mun-:- . •:i :· senão entregar~se entre as mãos de outro Faraó, . qué, :/
do livre. O que não nos ocorreu é: que fomos sim,., · )~'~/ . sentindo,...se necessário para reunir os restos esparsos .·
plesmente magnetizados pela ~ússia; e _que. a única ··:_:;f do país desarticulado, disso se aproveita . para .não -·;
vantagem que esta leva naquilo que consideramos , ,·~ deixá--los partir. É possível que seja isso o qtie rior~ /
como sendo uma luta entre o Leste e o Oeste são ··:;( malmente aconteça, em se tratan ·do dos enigmas que :·
os antecedentes morais do mundo ocidental. A arma -: < são os homens, tão po'uco desejosos de arcar com';;'
secreta da Rússia é o estado de perplexidade, de · ··i J'.- ( ''as responsabilidades de suas vidas. No mais . íntimo {;
desespêro e de fome de milhares · de criaturas de cuja .) \ /' de meu coração, porém, não aceito · essa teoria. A crê;;.:p
existência mal tomamos conhecimento. Os Comunis... . :·4/ ; dito .que o povo po de ser melhor · do que •.éi · Somos 11:
tas Russos em absoluto se interessam por essa gente. ) ·,'.,. _<:?.Qazesde suportar .uma pesa,da · ca.tga, uma :.ve~ ·quê/
No entanto, a n.ossa próp_ria ignor~ncia e _indecisão i~:
~f'. nos capacitemos de que essa .carga :é real e nos ideri--·:)·
tiveram por efe1fo,. se nao entrega-los d1retamen... ..Jk, ,l tifiquemos com ela.- Seja ·como·. fôr,. o que interessa .-:.[:
te às · mãos · dos russos, _ pelo menos colocá-los a · ]} . -~ é que estamos . vivendo numa época revolucionária ;-:;:

96
'](
. · J·
. .....~ -_
E êste é também o motivo pelo qual a presença 'do
:.· ' quer o queiramos ou não, e que a América é a única Negro neste pa ís pode acarretar a sua destruição. ·l
. nação o~~der:italgue detém o poder e, assim o espero , É responsabilidade do homem branco confiar e é:o...l t
a expenencia necessária para tornar efetivas essas memorar aquilo que permanece , que é constante - 1 ,
revo luções e reduzir ao mínimo o preju ízo em vidas .. o nascimento , a luta, a morte são constantes, o mes ..\ 'i:.'
~
.:.h~tmanas. Qua-lquer tentativa de nossa parte para mo sucedendo com o amor,_ embora nem sempre nos l 1
:· n?s opormos a :ssas explosões de energia é primor-• disponhamos a admiti,..lo - e também apree nder a 1\
· -:d1a_I para a assinatura da nossa sentença de morte. natureza das modificações, mostrar ...se capaz e dis.. l\
·._' . ,_ Por detrás daquilo que consideramos como a: posto a modificar ..se. Ref iro ...me a uma modificação ~/
-.· ameaça russa encontra ...se algo mais que não dese ja .. não de aparênci a mais em profundidade - a modi,.. ''.
. _mos enfrentar, e que os brancos americanos parti .. ficação no sentido de renovação. Es sa reno vação ,\ /~
·. cularmente não ousam encarar de frente quando ' contud~, revela ...se -impossível quando a criatura pas" \/ 1
. __deparam C0;1Ilu_m ~~gro: a realidade - a , noção! sa a considerar constantes conc eitos que não o são 1, .
__de que a vida e trag1ca. Ela assim é simplesmente\ - segurança, por exemplo, ou dinheiro, ou poder. '
• pelo fato de que a .terra gira sem cessar e o sol se Verificamos então que nos apegamos a quimeras ,
· levéinta e se põe inexoràvelmente, e um belo dia que não podem senão decepcionar ...nos, faze ndo de ..
para cada um · de nós,_ êle se. esconderá pela últim~ saparécer tôda esper ança - e a possibilidade - de
vez. A essê1:1ciaúnica da :Q.ossaangústia , da angústia liber dade . E por destruição quero significar preci,..
h;1mana, reside em que não hesi tamos em sacrificar sarnente á abdicação por parte dos nor te ...americanos
toda a b~leza de nossas vidas,_ em nos encerrar den ... de qualquer esfôrço realme nte tendente a promover
. tro de :51:11-bolos,tabus, cruzes, sacrifícios cruentos, a liberdade. O Negro pode precipitar essa abdic ação
_ campanano~, mesquitas, raças, exércitos, bandeiras, porque os norte ..americanos, em tôda a sua longa
· na~o~s, a fim de negar a realidade da morte, que é história, jama is se dispuseram a cons id erá ..lo como
.. a umca que verdadeiramente nos pertence. Sou de \ ttm homem em igualdade de condições com êles pró,. ·
:par~cer que o indivíduo deveria regozijar ..se com a prios. Êste argumento dispensa contestação ; êle é
. : reahd~de da mo~te - ou seja, deveria decidir ..se a sobejamente compro vado pela situação imutável do
'•. c?nquzstar ª. própria morte enfrentando com entu ...1 Negro em nosso país, e ainda pelo esfôrço indescri.-
: .s1asmo o e~1gma da vida. A criatura é responsável tível que empreende para anula .r os estratagemas que
· pera:1-te a vida, que represen ta aquê le pequeno farol os brancos americanos empregaram, e conti nuam
, a brilhar entre a aterrorizante escuridão de onde vie .. empregando, para negar ...Ihe a sua participação na ./
.·.mos e par~ _a qual estamos destinados a retornar. human idade. A América do Norte be m poderia ter · i'
·;· E_ssa_trans1çao deve ser realizada com o máximo de utilizado em ou tros rumos a energia que ambos os·
:-~d1gm_dade P?ssível, _ na intenção daqueles que virão grupos despend ·eram nesse conflito. Dentre tôdas as
·.· depo 1~ de nos. Os brancos americanos, porém, não nações ocidentais, foi a América a que se encontrou
._a~reditam _na morte, _ e esta é a razã o pela qual a melhor colocada para provar a jnutilidade e a de~
p1gmentaçao .da minha pele a tal ponto os intimida.
99
98 ;\
• 1
• 1
....', . . ' : !. !~
-. . . ' . . . ·.'. :~. >_
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/t r.=,. ,
Jtl caélência ~o conceito '~e côr. ~ntretanto , ~a não ·· · --··· · , · Tanto quanto os outros brancos pOr tô'da ·p~rte-:->: /\r:
~,t :

_, ousou aceitar a oportumdade, ou sequer cons1der.á--la ... ;.i:_;_:~,


.·:,
·,'._
:
!:.~:;_i · .- os brancos estadunidenses encontram dificulda _de _e~ _(/)i{
como tal. Os brancos norte--americanos aceitaram a 1 despojar--se da noção de que possuem o mesmo valor ::•r~?
hipótese como uma vergonha que lhes fôsse imposta, .---~~ · intrínseco de que os homens de côr necessitam ou a :_!'J
e passaram a invejar aquelas nações européias mais · ' :· :· que aspiram. E esta _suposiçã o que, por exemplo , faz · :-'/-
civilizadas e mais elegantes para as quais a presença 1 :/ : a solução do problema Neg ro depende r da rapidez :' /1-
de Negros não constituía preocupação. De ve--se isso << com . que os Negr os aceitam e adotam os padrões , , .)'.
ao fato dos brancos norte-americanos haverem to-- ·','· ;; reconhecidos pelos brancos - revela-se através-de :,:..\:
mado "Europa" e "civilização" como sinônimos - tôda sorte de maneiras as mais chocante s,. desde a ·. :,,;_
o que não é verdadeiro - e haverem revelado falta \ ' confiança manifestada por Bob Kenned y ·de que um·. .í;'.
de . confiança em outros padrões e em outras fontes Negro pode alcançar a Presid ência da Repúb lica•·· \.
de vitalidade, particularmente aquelas que tinham dent ro de quarenta anos até o tom imprópr io: de .',.:;
origem na própria América, procurando comportar-se afetuosas congratulações com que muitos políticos ·_ ?
em todos os terrenos como se o que pertencesse à · liberais se dirigem aos seus colegas Negros. É êste, - i'.
'1..
naturalmente, que se presume que se tenha igualado .· '.::-.~
l Europa Orien ta l também fôsse oriental para êles. O
que acontece, em resumo, . é que se nós, .. que dificil-- ao branco - con quista essa que não apenas · veni . ·,. ~
.mente nos podemos considerar como · uma nação comprovar o fato tranqüilizante de que a perseve,,;, :-(/: ,
branca, continuarmos a nos considerar como tal, rança não tem côr,_mas também ser ve para corrobo_;} ,!;•
·,· •: rai' de maneira esmagadora a convicção que o ho-:.'\'\ 1
terminaremos por condenar-nos, como as demais na-
ções genu lnamente brancas, à esterilidade e à deca-
mem branco possui do seu próprio valor. :2-sse valor; ·.. r
infortunadamente, dificilmente pode ser _corroborado · -;'Y)
dência, ao passo que se pudéssemos aceitar-nos a
. de .qualquer outra maneira; não r~sta dúvida de que ·'.·,'.;:
nós mesmos tal como somos, traríamos porventura existe muito · po uca coisa na vida. pública ou parti.- ·,/
uma vida nova às realizações ocidentais; .e sería- cular do branco que se possa desejar imitar. E, ·no _.··
mos capazes de modificá-las integralmente. O preço '· .i · -íntimo de seu coraçãot o branco tem noção ·-disso : ·.·.~ .
dessa transformação é a liberdade incondicional atri-- Portanto, uma percen ta gem rep resen tativ a da energ _ia :: :;-'
buída ao Negro; não é demasiado afirmar que êle,
que foi por ta nto tempo rejeitado, deve agora ser
, consumida por aquilo que se costuma chamar o . pro- · <
1blema Negro é gerada pelo desejo intenso do homem , '_:
aceito, não , importa a que risco psíquico ou social. :; 1• branco de não ser jul gado por aquêles que não são ' ':
O Negro é verdadeiramente a figura exponencial em 1 de sua côr, de não ser apreciado pelo que rea lmente ·, ...
seu país, e dêle depende exclusivamente o futuro da i. . é,· mas ao mesmo temp o uma tremenda proporção .da .. ;
América do Notte. E o Negro reconhece essa ver..- ·angústia dos brancos provém da necessidade igual.- ..
dade , embora de uma f~rma negativa, donde a ques..- - ,, , \ mente profunda de ser visto tal como _na realidade _: _.i-,
tão: Quererei ,1'.ealmente ser reintegrado num prédio > ·I é, de ser libertado da tiran ia do seu espelho. Todos _· ·
em chamas .i · ·:,
nós sabemos, quer queiramos admiti--lo ou não, · que ,
,.
:-
.
100 10.1 ·
(
I
.·· .
:",;(_.-tos espelh~s só fazem mentir e que confiar nêles 'é ~. 1americano resultem meramente na conquista do nível _
•: _i.;_ ~ o . mesmo que expor-se a morrer por afogamento. É , 1atual da civilização estadunidense. Custo a conve~..-\...-7"
·_·__.' ;·_ esta a razão por que o amor é buscado com tanta \cer~me de que o fato de ter..-me visto livre d? fei--
· sofreguidão ·.e ao mesmo tempo tão engenhosamente ticeiro africano valeu a pena, se agora - a f~~ de
· ,,. · evitado. O amor ·arranca as máscaras sem as quais supo rtar as con"tradições mora~s e ª. aride_z espmtual
rec_eamos não poder viver, e com as quais sabemos \ de minha . própria vida - exigem de mim qu e de..-_
não nos poder manter. Emprego aqui o têrmo ''.amor" -k,enda do psiquiatra americano. Trata..-se de , u~a
não simplesmente no sentido individual senão tam-- barganha em que me recuso a tomar parte. A umca \
,.: bém como uma maneira de ser, ou um estado de coisa que os brancos possuem e d_e.que a_ gente de
graça - não no sentido ingênuo americano de ser côr necessita, ou a que pode ambicionar, e o po~er
' i
tornado feliz por alguém e sim no sentido vigoroso _ e O poder não se conserva etername~te. A maneira
é universal de procura, de ousadia e desenvolvimen- de viver . dos branco s não pode, hab_itualmente, ser
to. E resigno-me a admitir, portanto, que as tensões considerada como padrão normal de vida. Antes pelo
raciais que ameaçam os norte-americanos de hoje contrário, o homem branco vive a procurar d~ses ...
_ pouco têm a ver com uma verdadéira antipatia - ·. peradamente por novos pa1rõe~, · capaze~ de_ ~1 ~er..-
· muito pelo contrário, aliás - e apenas simbõlica-- tá..-lo da confusão em que se agita e de 1dent1fica..-l~
mente dizem respeito à ~ôr. Essas tensões originam- novamente com as raízes mais profundas do seu
se daquelas mesmas profundezas de onde provém o · próprio ser. E repito: o preço da libertação dos bran..-
amor, ou o desejo de matar. Os temores e desej os cos é a libertação dos homens de côr - a libert ~ ...
que o homem branco se recusa a admitir - e apa- ção integral. nas cidades, perante a lei, na concepç ao 1
rentemente considera inconf essãveis - são des..- .men tal . O fato , por exemplo, de eu querer . casar-me
.
carregados sôbre o Negro. A única maneira pela com sua irmã repr esenta para . mim u~ _1 m_enso m1s.-
. qual êle poderá libertar-se do poder tirânico que o , ·0 Mas sua irmã e eu temos todo o direito _de nos..., .
t en
Negro exerce sôbre êle é consentir em tornar-se êle · . . - t di
casar se assim o desejarmos , e nmgu-em :m o -
mesmo um hom ·em de côr , em fazer parte dessa na- reito de nos impedir de fazê-lo. Se ela nao pu_der
ção ao mesmo tempo sofredora e brincalhona · que alçar..-me até O seu nível, talvez eu possa eleva..-la,
êle vigia com sofreguidão das culminâncias do seu até o meu. b .
poder solitário e, mun~do de traveller's checks espi- Em suma, nós ambos, Negros e ranc-os, pre--
' rituais, visita às escondidas, depois do escurecer. · cisamos um do outro se é que pre tendemos realmen..-
· Como se pode esperar que alguém venha a r~spei..- te formar uma nação - isto é, se pret e~demos rea ...
tar, e muito menos a adotar, os valôres morais de lizar a nossa identidade, a nossa matund~de,. _como ~
um povo que, seja em que plano fôr, não vive da homens e como mulheres. Criar uma na~ao Jª de ...(
· ·:maneira que apregoa, e muito menos daquela que monstrou ser uma tare fa tremen damente ardua; cer..-1
preconiza? Recuso-me a aceitar o postulado de que tamente não haverá motivo para ~riar duas,_ uma ne- \
· os quatrocentos anos de trabalho do Negro norte-- gra e uma br anca . No entanto, e o que vem advo..-·

102 103
.tf:
. .;_·
\:::{.
gando, por gerações a fio, liomens brancos com fôrça · '•: rado - mas é impossível d_eixar -d~ re~onhecer -~u~.</.;{
política muito ipais poderosa do que a que detém o r)/ um povo que ignora: o sofrimento Jamais chegara ª ·.:'()~
Movimento Islamita. Se êste sentimento é acatado maturidad e, nunca chegará a conhecer--se pelo que <. i;,
quando provém dos lábios do Senador Byrd, não há ·) :, .é . . O indivíduo que dia a dia é obrigado a arran~ar . /}
motivo para que não o seja quando se origina de a sua masculinidade, a sua identidade, da fogueira :·i ' 1:
Malcolm X. E todo comitê congressional empenha-- .·/ '.·, da crueldade h umana que se empenha furiosamente ,··· ~:
do em investigar o último deve mostrar--se igualmen--
te desejoso de pesquisar o primeiro. Bles exprimem ·:'·:..
' ~ por destruí --la, fica sabendo,_ no caso de so~reviv.:er··.
ao seu esfôrço, ou mesmo nao logra ndo faze--lo,. al.- . .,:,
<
exatamente os mesmos sentimentos e representam ' •i -~ guma ccisa ma'is sôbre si, mesmo e sôbre a vida _, ..-;-/
.:J
precisamente a mesma ameaça. Não existe abso lu--1, '1 que nenhuma escola dêste mundo - .. ~u que nen~u: ,. ::- :
tamente qualquer ms,tivo para supor que os povos de ') ·, !;· ma igreja, a rigor - poderia transmihr--l h e. Reah 7a, · ,::_.
raça branca se achem mais bem equipados para re-- · ··i.'• assim, a sua pi;ópria autoridade, o que é algo ·de 11;--... ·.
digir as leis pelas quais me hei de governar, do que ( -i;. destrutí vel. E ·isso porque, no afã de sa~var a .pro-- ..' :
eu mesmo. É absolutamente inaceitável que .eu não 'I ) :· pria vida, êle vê-se forçado a olhar para . além d~s . ·:
tenha voz ativa nas questões políticas do meu pró-- ·;,:· aparências , a não confiar em nada, a procurar adi-- .·
prio país, uma vez que, longe de ser um qualquer ! · .i · vinhar o sentido oculto das palavras. Quando a J, -
tutelado das Américas, sou, pelo contrário , um dos ,~ ,:j\ .criatura vê-se suportando indefinidamente tudo . o. .,::
1
primeiros americanos a pisar nestas plagas. '·: ·::ª:' · 1 que de pior a vida lhe p_~de of~rece~, ela cessa 1e . ,.-·
tsse passado, o passado do Negro, de algemas, / if · ; ·viver apavorada pelo receio de dias piore~: ~abe Aque ..\
fogo, tortura, castração , infan ticídio, estupro; de · :\ 0 que vier terá de ser suportado. E atingido esse ·':t:
morte e humilhação; de pavor incessante, · alcançan-- 1
nível de ·experiência, a amargura individu~l faz--s_e.'·_·;-:.
do até a medula dos ossos: ·de dúvida sôbre se seria ·mais suportável, e o ódio fica sendo u1:1 pe~o. m~1s :-:.
digno de viver, já que tudo à sua volta o renegava; ] incômodo. Essa perspectiva de vida,'. tao rap _ida _e , -:f
de pesar com relação às suas mulheres, aos seus pa-- . inadequadamente esboçada, tem · representado a ~~-:-. :'.1
rentes, aos seus filhos, que careciam de sua prote-- , . periência de incontáveis geraç?e_s _de Negros, e ªJ:~--
..:'),
ção e que êle não tinha meios de proteger; de res-- da a explicar o seu extraordmano poder de _-res1s".. ".:
sentimento e sentimento de vingança, e um ódio tão tência, a mesma que incutiram aos seus filhos que; ··r
intenso pelos brancos que não raro se voltava con-- na ·idade em que os brancos são resguardados no~:'. ;~
tra êle mesmo e tornava impossível todo o amor, : jardins--de--infância, :nfrent am a~ :11ulti~ões d~s ru_as:
tôda a confiança , tôda a alegria - êsse passado, para atingir os portoes dos coleg1os. E prec iso · dis..-
-essa luta interminável para realizar e confirmar uma · por ...se de uma grande energia e de uma astúcié3:. ~u.- .
identidade humana, uma autoridade, encerra ainda, perior para não desistir do. assalto à poderosa e m-:-· ;~
apesar de · todo o seu horror, uma certa beleza es--. ' / .< -diferente fortaleza da supremacia branca, como po~ :'
tranha. Não pretendo fazer sentimentalismo à custa
do sofrimento - o que existe já dispensa ser explo.- \ _;·,~
<:, ·tanto tempo o vêm fazendo os . Negros d êste país. \\'.°
--·; . ( Só uma dose excepcional' de . fortaleza espiritual f)O--,:'. {.
•. ·•:, .f1 '. , 1 \ 't
' . ... ~. ·.•,.

104
.derá nos · preservar de odiar o. opressor csj o tacão afirmarem em sua plenitude. É importante, porém,
nos aperta o pescoço, e só um milagre de percepção que evitemos o êrro comum aos europeus: nao_ de-
e caridade evitar á que ensinemos nossos filhos a vemos supor que, pelo simples fato de que a s1tu~-
· odiar. Os rapazes e môças Negros que hoje enfren- ção, os costumes, as concepções dos homen~-de cor
. · tam multidões enfurecidas provêm de uma extensa diferiam tão radicalmente da s dos brancos, eles lhes
linhagem de aristocratas improváveis - os únicos fôssem racialmente superiores. Org ulho -me: dêsses
aristocratas autênticos que êste país jamais produ- ... povos não em razão de: sua ~ô~ e: sim _devido à sua ·I
ziu. Digo "êste país" porque o seu ambiente de re- inteligência, à sua fôrça espmtual e_ a sua beleza . 1
ferência era to ta lmente norte-americano. Da monta~ Tamb ém o país deveria orgulhar~se del~s, mas o fato .,
..
1 •, nha da supremacia branc a talhav am com esfôrço a é que, infelizmente, poucos de s:us_ h~b1tantes tom~m
pedra _angular de sua própria indi vidualidade . Pro~( conhecimento sequer de sua ex1stenc1a. _E o motivo
fesso o · máximo de respeito por êsse exército anô- ! para essa ignorância é que o conhe cim_ento do p ape l
nimo de homens e mulheres de côr que se esgueiram \ ·que essa gente desempenhou - _e continua d~sempe-
;· .. :·
por àléias de fundos e portas de serviço, repetindo ' nhando - na vida norte-americana revelaria ma is
sem cessar "Sim, senhor" e " Não, senho ra", com a sôbre a América aos seus habitantes do que êstes
· finalidade de conseguir um teto .nôvo para a sua es- mesmos desejam saber .
cola, _livros novos, um __nôvo laboratório de química, O Negro Americano possui a enorn_:e vanta~ey:i
mais leitos para os dormitórios. É claro que não de nunca ter acredi tado naquela coleçao de mitos
1:.,. lhes agradava particularmente viver repetindo "Sim, a que os brancos americanos se apegam, -~ saber :
!. ·.,
senhor" e "N ão, senhora", mas, sabendo que o ·país 'que os seus an tepassados foram todos h:ro1s ~ pa -
não se interessava particularmente pela educação dos ladinos da liberdade, que nasceram no pais mais fa-
Negros e que o serviço teria de ser feito de qual~ bulo so que já existiu no mundo, ou ainda que os
quer maneira, êsses homens e mulheres de côr pu- americanos são invencívei s no campo de batalha e
·_1 .· nham o orgulho de la do a fim de levá~lo a cabo. sensatos em tempo de paz; que n~nca deix~rar:i de
. Custa a: .crer que êles fôssem sob qualquer aspecto honrar os seus tratados com mexicanos e md10s e
· inferiores aos .homens e mulheres brancos que lhes outros povos vizinhos ou inferiores; ~ue . ~s homens
abrié!,m· aquelas portas dos fundos. Custa a crer que americanos são os mais corretos e mais vms de todo
aquêles homens e mulheres, que educavam seus filhos ; 0 mundo, e as mulheres americanas ~s mais virtuo-
, consumiam as ver .duras por êles plantadas, prague- sas. Os Negros estão muito melhor mforma d?s sô-
. jàvam . qua nd o sentiam: necessidade, derramavam bre os norte-americanos do que isso; é quase 1mpos-.
..
. ,,
suas lágrim as quando podiam, cantavam e amavam sível afirmar, com efeito, que êles sabem sôbre os
quando a oportunidade lhes sorria, ao · nascer ou ao bran cos americanos o mesmo que os pais - ou pelo
pôr do sol - fôssem .de alguma forma inferiores !· · menos as mães - sabem sôbre os seus filhos, e que
- aos homens e mulheres de pele branca que procura- não raro cons ideram os brancos americanos como
vam evitar a luz do sol para só na obscuridade se tai s. E quiçá essa atitude, _ mantida a despeito da-
. '
106 707 '
quilo que sahem e vêm suportando, ajude a explicar ;{Jj~> sado t~o pouco respéitado em breve s~ levan 2 :~z~ ;~
. por_ que os Negros, em conjunto, e até pouco tempo · , \ !·. castigar ..nos a todos . Existe um certo tipo de guerra, \(? ~}
atras, deixaram ..se po ssuir por tão pequena dose de . >'.: . por exemplo ( se é que algum povo nesta terra ain <:','.;:j] 1

ódio. A tendência tem sido, com efeito na medida · : T.' da tem coragem suficiente . para empenhar ..se nunia / •/ [ifi
''··
do possível. desprezar os brancos com~ as vítimas '/ •
mais ou menos irrefletidas de um processo de revi- •iO:/\,
i\rc:. guerra) a q~e o Negro Americano se sujeitará,' por :,::/;1::
maior que seja a intimidação sofrida pelos seus •com ..\ / ).f
são mental p?r que deviam . forçosamente passar. \: ·. .:i
~(. pone ·ntes - e existe aliás um limite para o número <t\.Ff
Bastava examinar a espécie de vida que levavam, \: :.\;; t· : de indivíduos que qualquer govêrno pode encarcerar ·::>sf
e que não enganava a ninguém; as desculpas que 1 -.: ,':: '(. por êsse m?t.ivo. ~aira n~ ar uma ameaça que receio ),\;~
encontravam para os seus atos menos recomendá ..1 ···f) .: · que a Amenca nao esteJa em condições (de enfren ..;,;1f·li
. veis e a angústia com que recorriam ao Negro em( :)) >·· ·tar. "O problema do século vinte", escrevia W.E.B /ié'''.fü
se tratando de resolver casos desesperados. E êste '. :/ ] 1, Du Bois há cêrca de sessenta anos atrás , ·"é o pro ;: ~ \t'
1

instintivamente refletia que, se tivesse podido contar 1 . i\J .:\ · hlema da côr." Problema delicado e assustador, · que '.?\ /;
com as vantagens sociais do branco, jamais se teria ; ,;);!:,: · compromete, quando não inutiliza, todo o esfôrço 'i..:,:-:-'
tornado tão perplexo e tão infortunado e tão instin .. i · :) ,· •·, norte ..americano no sentido de construir um mundo · ,, ;_::
tivamente cruel quanto êle. O Negro procurava O •·.J: \ melhor - ·-. aqui ou em outra qualquer parte do .inuú }.1::}.{
hpmem branco para obter um aluguel de cinco dó.. '·) ·, do. É por esta razão que tudo quanto os norte ..ame..i.f V
lares ou uma carta 'de recomendação para O juiz; 0 \ ' ricanos professam como seu credo deve passar pai: >!'}
branco procurava o Negro em busca de camarada .. . ) ' um nôvo exame . O que acima de tudo nos repuglia ,.;:,1,:J
gem, de amor. Contudo, êle mesmo nem sempre era \ ) ··. ria a todos .seria a consolidação dos povos na base .. :,.)
capaz de dar o que vinha procurar. O preço era · · } , •da'. sua côr. No entanto, enquanto nós ocidentais •i· \'. {
demasiado alto; êle tinha demais a perder. E O Ne .. .·. <· emprestarmos à côr o valor que lhe damos, torna ..:<:.'?
gro, por seu lado, tinha consciência disso: Quando ; '/J. mos impraticável para o grandé número daqueles que•:''.::iJ
se sabe tanto a respeito de um homem, é impossíve l\ ., . ., · não passaram por essa revisão de conceitos reafir,..::). ::.· ,
chegar a odiá ..lo; mas, a menos que êle se torne um '. · ·_. , · . marem seus pontos de vista de acôrdo com outro ··..:,r_;
homem igual a nós, também é impossível amá ..lo. Em ) princípio qualquer. A côr não é unia realidade hJ... <);·
última análise, acaba~se por evitâ~fo, já que a carac .. , mana ou individual; é uma realidade política~ . Tra ~' / ')':
terística universal da criança . é acreditar que tem ; ta~se, contudo, de uma: distinção tão difícil ·~e . reà~·. ::~/i
prerrogativa sôbre o sofrimento, e portanto que goza ; . lizar que o Ocidente até agora não foi capaz de fa .. \ /.
do poder de monopolizar~nos a nós. ( Perguntem a ! zê ..la. E, no centro dessa imensa tempestade , dessa : !·}:
qualquer Negro o que sabe acêrca _dos branc os para \\_ .. ·;-;· tremenda confusão, está colocado o povo Negro des'."' :/
quem trabalha. E façam o mesmo com os brancos ' .' ta . .nação, ora destinado a compartilhar o 'destino · '.::
acêrca dos sêus servidores Negros.) ·.de uma nação que sempre o repudiou, a quem. foi . ~-·
c;o~o u0lizar, na prática, o passado do Negro · entregue acorrentado. Em sendo assim, não existe •· ·,
Americano? E perfeitamente possível que êsse pas-;- outra alternativa a não ser ·a de tentar . tudo o· que : ,;;
.:· ..
108 109.
r. ,·
[i-•f}
\' ::..
() ,:: ·.''

t:f~~tá· e~ nossas · mãos para modi~car ~s:e destino, .


que sobe terá que descer." E aqui nos encontramos,
isolados no centro do ma is aparatoso, do mais va--
•.: a _-não importa que risco - expulsao, pnsao, tortura, .
lioso e mais absurdo arco voltaico que o mundo já
;:.. m·orte. Em benefício dos nossos filhos , visando a re..-
exibiu. Tudo agora, temos que admitir, en contra -se
>::<luzir a pena que êles terãq , de pagar, teremos de .ter em nossas mãos; não temos o direito de supor outra
1
-/''. ·cuidado em não nos refugiarmos em qualquer tipo
coisa. Se nós - e quero· ref erir ...me aqui aos brancos
:·,·1 de ilusão - e o. valor __atribuído à pigmentação da
·e Negros relat ivamente conscientes, a quem cabe, por
1.. · pele será sem pré · e por · tôda parte e por todo o sem--

!· pre uma · ilusão. Bem sei que estou pedindo o impos..-


uma prerrogativa ~special, insistir ou despertar a
consciência dos demais, não falharmos ao nosso de--
( sível. Mas, ~a époc_a e~ que :7i:7emos,como em outr_a ver presente, conseguiremos porventura, com as van -
j · qualquer, o 1mposs1vel e o mm1mo que se · pode ex1--
tagens de que dispomos, pôr côbro ao pesadelo ra--
. . gir de alguém - e nada mais nos entusiasma no espe ...
cial, edificar o nosso próprio país, e modificar a his..-
táculo da histó ria da humanidade em geral, e na do
tória da humanidade. Se, pelo contrário, não ousar-
Negro Americano em particular, do que precisa--
mos enfrentár tudo nessa tentativa desesperada,
mente essa perpétua conquista do impossível.
sõbre nossas cabeças estará pendente o cumprimen--
Nos meus dias de adolescência. quando me
to daquela profecia da Bíblia, recriada em hino por
juntava aos camaradas naq ueles becos fedendo a ál..-
um escravo: "Deus forneceu a Noé - o sinal do arco--
cool e a urina, alguma coisa segredava..-me no íntimo:
íris; não mais água - da próxima vez,_ o fogo/"
'~Que· destino estará reservado a tóda essa beleza?"
t . Pois a gente de côr - embora muitos de nós, prê--
1 tos ou brancos, disso não tomemos conhecimento, é
r, na verdade de uma beleza singular. E quando me
1 · encontrei · sentado à · mesa de Elijah, admirando
[ aquela criança, as ·mulheres e os homens a_li rey.ni..-
r . • dos, e depois de têrmos falado sôbre a vingança de ·
: ·.· Deus - . ou de Alá - , refleti igualmente, uma vez
1· : consumada essa vingança, "Que destino estará reser..-
\ · vado a tôda essa beleza?" Pude então prever tam..-
, ·· bém que a intransigência e a ignorância do mundo
branco poderiam vir a tornar inevitável essa vin ..-
gança -. - uma vingança que realmente não po~e · ~-e,.,
. pender ·de uma determinada pessoa ou orgamzaça_o,
-. · e ·nem tampouco ser executada por ela~, e que nao
_· pode ser evitada por qualqú.er exército ou fô_rça po--
•1: , licial: uma vingança cósmic~, baseada na lei a q~e .·
11
: • ·nos submetemos quando afirmamos:
1·· · 1,
Tudo aqmfo
i
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