Sei sulla pagina 1di 32

SÃO BOA VENTURA

OBRAS ESCOLHIDAS
BREVILÔQUIO - ITINERÁRIO DA MENTE PARA DEUS - REDUÇÃO DAS
Cil:NCIAS À TEOLOGIA - CRISTO, ÚNICO MESTRE DE TODOS- OS TRl:S
CAMINHOS DA VIDA ESPIRITUAL - AS SEIS ASAS DO SERAFIM - O
GOVERNO DA ALMA - SOLILÓQUIOS - A PERFEIÇÃO DA VIDA - A
ÁRVORE DA VIDA - TRATADO DE PREPARAÇÃO PARA A MISSA- VINTE
E CINCO MEMORIAIS SOBRE A VIDA ESPIRITUAL - CARTA SOBRE A
IMITAÇÃO DE CRISTO - AS CINCO FESTIVIDADES DO MENINO JESUS.

Tradução de
LUIS A. DE BONI, JERÔNIMO JERKOVIé
e FREI SATURNINO SCHNEIDER

Organização de
LUIS A. DE BONI

CO-EDIÇÃO 1983

ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA SÃO LOURENÇO DE BRINDES


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
LIVRARIA SULINA EDITORA
em colaboração com
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
EDITORA VOZES, FILIAL DE PORTO ALEGRE
A presente obra é o volume 12 da "Coleção Suma", dirigida
por Rovfüo Costa e Luis A. De Boni

FICHA CATALOGRÁFICA

S239o São Boaventura, 1217-1274.


Obras escolhidas, organizado por Luis Alberto De Boni; trad. de
Luis Alberto De Boni, Jerônimo Jerkovié e Frei Saturnino Schneider.
Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes,
Liv. Sulina Ed.; Caxias do Sul, Editora da Universidade de Caxias do
Sul, 1983.
489p. (Coleção Suma, 12)
Edição bilingüe: Português-latim.

CDU:
1
248.1

(Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária B.H. Rech CRB 10/337)

Os textos It ine rá rio da Mente para Deus (trad. de Jerônimo Jerkovié), Os Três Caminhos
da Vida Espiritual, As Seis Asas do Serafim, O Governo da Alma, Solilóquios, A Perfeição
da Vi d a , A Árvore da Vida, Vinte e Cinco Memoriais sobre a Vida Espiritual, Carta sobre
a Imitação de Cristo, As Cinco Festividades do Menino Jesus, e Tratado de Preparação
para a Mi�a (trad. de Frei Saturnino Schneider) são publicados sob licença de EDITORA
VOZES L TDA, Petrópolis.
DE TRIPLICI VIA ALIAS
INCENDIUM AMORIS

OS TRÊS CAMINHOS DA
VIDA ESPIRITUAL, OU
INCÊNDIO DO AMOR
Tradução de Frei S aturnino S ch neid er
SUMÁRIO

Prólogo 235 Cap . 111 - Da contemplação , pela qual a


alma alcança a verdadeira sapi-
Cap. 1 - Da meditação oela qual a alma é ência , no repouso da tranqüili-
purificada, iluminada e aperfei- d ade 247
çoada 235 § 1º· - Preâmbulo 247
.
§ 10 - Da ourificação da alma e seu trí- § 2º · - Da via purgativa , ou dos sete de-
piice exerc ício 236 graus que conduzem a alma ao
.
§ 20 - Da iluminação da alma e seu trí- sopor da tranquilidade 247
olice exerc ício 238 § 30 . - Da via iluminativa , ou dos sete
.
§ 30 - Da perfeição da alma e seu trípli- degraus que levam ao esplendor
ce exerc ício 240 da verdade pela imitação de Cris-
§ 40 . - Conclusão 24 1 to 248
§ 40 . - Da via unitiva, ou dos sete de-
Cap . I I - D a oração , oela qual a alma de- graus que conduzem à doçura da
pi ora a própria miséria, implora caridade 25 1
a misericórida divina e adora a § 50 . - Recapitulação 252
Deus 24 1 § 6º · - Outra classificação dos estágios
.
§ 10 - Da tríplice deploração da miséria 242 ou degraus dos três caminhos da
§ 2 º · - Da tríplice imploração da mise- perfeição 253
ricórdiil 242 § 70 . - Os dois modos de contemplar as
§ 30 . - Da tríplice adoração a Deus 243 coisas divinas : pela afirmação e
§ 40 . - Os seis graus de amor divino 244 pela negação 254
§ 50 . - Conclusão 246
rars CAMINHOS - CAPfTULO 1 235

PRO LOG U S PRÓLOGO


t . Ecce , descripsi eam tibi tripliciter etc. , 1 . Eis, de três m o dos, exposta a m inha
1
.Proverbioru m vige s imo seclijldo • Cum omnis scien­ doutrina. Provérbios, 22( 1 ). T o das as ciências
t i a g e ra l T r i n i tal i s i n s igne , praecipue i lia q uae do­ trazem em si a marca da Trindade; mas, de todas, a
cetur in sacra Scriptura , debet i n se repraesen tare que melhor a conserva é a que se aprende na
vest i gi um Tri n i tati s ; propter quod d i c i t Sapiens de Sagrada Escritura. Dela disse o sábio, que foi por
bac sacra doc l r i na , t ri p l i ci te r descripsi sse
se eam três formas ensinada, por causa d os três sentidos
propter t r i plicem i ps i us intel leclum spiri lualem , sci­
espirituais que encerra: o moral, o alegórico e o
anagógico(2) (ou místico), os q uais correspondem
licet mor a lem , allegoricum et anagogicum 2 • l l ic
aos três atos hierárquicos da v1<1a espmtual: a
au tem t r i plex i 1 1tel lectus respondet tripl ici a r tu i J t ier­
purificação, a iluminação e a perfeição(3). A
arch i co , �ci liret pu rga�ioni , illum in ationi c·t per­ purificação produz a paz, a iluminação conduz à
fectioni 3 • Purgatio au te m ad pacem duci t , illumi­ verdade e a perfeição realiza a caridade. Estes três
natio ad v eri talem , perfectiu ad cari lalem ; quibus atos, freq ü entemente praticados, dão a felicidade à
perfecte adeptis , anima bcatificalur , et secund um alma e , q u anto m e l h o r praticad o s , m a is lhe
q u od ci rca baec versatur , suscipit meriti i ncremen­ aumentam os méritos. No conhecimento desses
tum . ln ho r u m igi tur trium cognition e pendet scien­ três atos é que se funda a ciência de toda a Sagrada
tia t otiu s sacrae Scri p turae , ·pendet etiam meritum Escritura, e dele é que depende o merecimento da
vida eterna.
v i ta e aeternae.
Três são os exercícios que facilitam a sua
Sciendum est i git u r , quod triplex est modus
realização : a meditação(4), a oràção e a contem­
úerccndi se ci rca hanc triplicem viam , sci licet le­
plação.
�endo cl m ed i ta ndo 4, orando, et contem plando.
LAJ>ITl" Lt:�I 1 . Capítulo 1
De meditationc , qua anima purgatur,
Da meditação, pela qual a alma é purificada,
illumincttur et perficitur.
iluminada e aperfeiçoada
2 . Nunc p r i mo rneditationis formani l i bet in­
spicere. Sciend um est igitur , quod t ria s u n t i n tra 2 . C omecemos p o r examinar o q u e é
meditação . S a i b a m o s que e x i s t e m e m n o s s o
nos , secundum quQrum usum in hac t r i plici via
espírito três faculdades pelas quais s e exercem
exercemur , scilicet stimulus conscicntia.c , radius
aqueles três atos da vida espiritual: o estímulo da
intelligentiae et i,qniculus sap ie n t iac. Si ig i t n r vis
consciência, a luz da inteligência e o calor da
purgari, verte te ad conscientiae st i m u l n m ; si illu­
sabedoria. Portanto, quem quiser se purificar,
rninari , ad intelligentiae radium ; si pcr/ici, ad sa­
_
dirija contra si o acúleo da consciência; quem
pien ti a e igni culum , secundu m consi l i n m bea t i Dionysi i p r e c i s a r d e s e i l u m i n a r , r ec o r r a à l u z d a
acJ limotheum 5, ul1i eum hor t a t m tl i l't'l l � : a Yl'rk inteligência; e quem desejar tornar-se p erfeito,
t e a d radium » etc. aq u eç a - s e a o c a l o r da s a b e d o r i a . E o q u e
ac o n s e l h a v a a T i m ó t e o o b e m - a v e n t u r a d o
1. Vers. 20. Dionísio, ao dizer-lhe(5): «Volta-te para a luZ» etc.
2. C fr. llrev iloq. Prolog. � .i .
nem , operalionem cl conlempla tionem . • Prima leclio in telligen­
3. Que111 triplicc111 actum insi n u a l Di,1 n y :; . , de Caelesli H ier­ t iam dal , secunda · meditatio consilium (qualiler q uod fü<'i<'n·
nrch. e . 3. \; 2 ; e. 7. �; 3 ; e. 9. � 2. c t ,._ � O . Cfr. tom. li. d u m i n lelleximus sil exsequendum ] pracslat , tertia oratio [ a 1 1 -
0
P<• f! · l :?i, 1 1ola 2. e t pa;:. 2 6 'i , n1 1 w .i . x i l i u m Dei ad cxseculionem] peli l , quarta operatio [ ,· iam a rl
vitam ] quaeri t , q u i n ta contemplatio i n v en i t [ gra lia illuslran lc .
4 . H u go a S. \' ict. , I l i . Erud i t. d ida;;calicae , e. 1 1 : illcdi­ gustans 1111oniam Sll a ris est Dominus , Ps. 3 3 , 9.J " ·
latiu principi 1 1 1 1 1 sumil a leclione ; nulli:< !amen rcgulis slringi·
lur aut pracC<'Jllis lectionis. Delccta tur cnim quodam apto de·
currere spatio , ubi l i uera m contcmplanJac veritati adem aOi· s. l\l yslicn Theolog. e. t . S 4 , ubi secu ndum translaliunem
!!'ª 1 etc. (Cfr. eius lilJellum de �l odo d icend i el med i tand i , n . !i . _l AIJLa lis \"crcellcnsis sic legilur : T u a u tem , amice T i n l(l l hcr ,
·
luid . libr. Y. e. 9 , descri hcns c\crd1 i u 1 1 1 Y i ta e iustorum l 10s ad hoc , quod capax fias mysticarum contempla lionum ... d !'rc­
1 J n i 1 1que atrcrl gradus , sdl. lcctioncm , med i ta tionem , onniu· linquc scnsus et sensiul lia exercilia el etfo m intelleetua les ope-
236 TRÊS CAMINHOS - CAPITIJLO 1

§ J. - Da purificação da alma e do seu tríplice § 1. De vi& purg&tiV& et tripliai eilll exercitio.


exercício
3. Ad stimulum autem conscientiáe hoc modo
3 . P a r a q u e o acúleo d a co nsciência s ej a dehet homo ex ercere se ipsum , scilicet u t primo
convenientemente e m p regad o , d eve cada u m
i psum exasperet , exacuat , tertio dirigat.
secundo
p rimeiro suscitá-lo, dep o is aguçá-lo e , enfim,
Nam e x aspcrandus est recordatione p ecc a t i , cx a­
retificá-lo. Suscita-o a recordação dos pecados;
aguça-o o e x a m e de si m e s m o ; ret ifica- o a cuendus circumspectione sui, recti firandns conside­
consideração do bem. ratione b on i.
4. A reco rdação do pecad o t e m p o r fim 4. Peccati a utem rccor<latio dcLct esse per
exprobrar à alma as suas múltiplas negligências, hunc rn od um ' u t se i psum arguat an imus de mul­
concupiscências e malevolências; pois que todos os tipl i c i 11egligentia , concupiscentia et ncq uitia. Fere
nosso defeitos e pecados, tanto os atuais como os omnia pcccata et mala nostra , sive con tracta siYe
habituais, podem reduzir-se a esses três. act a , red uci possu nt ad haec t ria.
Com respeito às negligências, examine cada Ci rca ncgligcntiam au tem attcndend um est , quod
um: em primeiro lugar, se foi negligente na guarda
pri mo deLct rccogi tare homo , si i n se fuerit negli­
do coração, no emprego do tempo. e na direção
gcn tia cordis cu.stodicndi , tcmporis cxpenderuli et
das ações. Este triplice exame deve ser rigoroso,
pois que cada um deve sempre e com o máximo (inis intcndendi. l laec cnim tria cum summa dili­

cuidado guardar puro o seu coração, empregar gcnti:i sun t ob�ervanc.la , sci licet u t cor bcne custo­
utilmente o seu tempo e dirigir todas as suas ações d iatu r , ul tcmpus n t i l i ler cx pendatu r , et ut /i.nis
para o fim devido. deLi tu� in omni opere praefigatur.
Em segundo lugar, verifique se foi negligente Secundo dcbct homo recogi tare , si negl igens fue ­
na oração, na leitura espiritual e na execução das rit i n oratione, in lectione , in bani operis exsecu;;;.
b o as o b r a s . Nesses t rês p r o p ó s i t o s deve se tionc ; quoniam i n h i s tri b u s diligentissime debet se
exercitar com diligência e aplicação quem desej a
exercere et excolere qui Y Ult fructum bonum dare
produzir bons frutos n o tempo adequado( l ) . De
i 1 1 l l' rn pore suo 1, i ta 11 uod u n u m horum sine alio
re s t o , n e n h u m d e l e s p o d e s e r e fi c a z m e nt e
rn•4 u:up1:un suffici t.
praticado s e o s outros não o forem conjuntamente.
Em terceiro lugar, excogite se foi negligente em Tcrtio dehct rcrog itare , si negl igcns fueri t ad
fazer penitência, em resistir ao mal, e em progredir poenitendum , ad resistendum , ad profi.cicndum. De­
no bem; porque é dever de cada homem arrepen­ bet enim u nusquisque cnm sum ma d iligentia de{T.crc
der-se do mal cometid o , repelir as tentações mala com m issa , repellcre diabolica ten tamen la , pru­
diabólicas, e progredir de virtude em virtude(2) até flcere de una Yi rtute in aliam 2, ut sic possi t pcr­
chegar à terra da promissão. veni re ad terram prom issam .
5. Acerca das concupiscências, inquira cada o. Ci rca concupiscentiam autem debct homo
q u a l s e e x i s t e m e m s u a a l m a d e s ej o s d e recogi tare , si in se v i vat concu pisccntia volupta tis ,
voluptuosidade, de curiosidade, ou de vaidade, concnpi�ccn tia curiositatis , concupiscentia vanitatis ,
nos quais se enraízam todos os males. - Em
quae sunt radi ces omni s rnal i . - Pri mo recog i tanda
primeiro lugar, deseja as voluptuosidades quem
deseja o que é delicado, o que é deleitoso e o que é cst concupiscentia voluptatis , quae tunc vivit in

carnal, isto é, quem deseja alimentos saborosos, h om ine , si est in co appeti tus du lcium , appeti tus
vestuários graciosos, prazeres luxuriosos. Sendo mollium , appcli lus carnaliw1: , h oc est , si homo
repreensível consentir em tais desejos, é dever do q u a eral cibarin saporosa , vestimenta deliciosa , oble­
homem reprimi-los logo que apontam. ctamcnta l u xu riosa. Quac o m n i a 11 011 solum repre­
Em segundo lugar, a curiosidade se manifesta h r 1 1 s i b i lc est a ppctl're cnm conscnsn , srd etiam de­
em quem deseja saber o que é secreto, ver o gue é Lct homo rcspucre primo motu.
formoso, possuir o que é precioso. Tudo isso Secundo rerogi landa est concupiscentia curio­
denuncia u m ânimo cheio de c o biça e s it atis , si Y i v a t wl Y i x.eri t i n hom ine. lloc · autem
condenavelmente indiscreto.
deprchen d i tu r , cum quis appet i l scirc occulta , vi­
dere pulem et !taberc cara. ln omnibus enim his
esl vitium avari tiae et curiositati s multum reprehen­
rn tiones et sicut est tibi possibile , consurge i gnotc et super·
..•

substantialiter ad unilionem Dei , qui est super omnem sub


siLile.
slantiam et cognilionem. Cum enim te ipsum et omnia per
menlis cxccssum , nullo i n fcriori retinaculo praepcd itns , tran­ i . R espicitur Ps. t 3 : Et erit tanquam lignum q n otl fru­
, .•.

scendcris , ab 011111i cum· n pi s<"cntin cl cura a Lsol u t u s ct purga­ ctum suum dabit in tcrn pore suo. Cfr. l\l allh. 3, 4 O . <'l 1 2 , 33.
tus , tunc ... sur�um a:rcri' a d S l l 1 ' l'l'Sl1 h,;la nlialc111 1·adi11m d h i­
nae i neo111prel 1c1 1 - i l .iha 1 i - . 2. Psalm. 8 3 , 8 : l l r n n t de ' irlutc i n \' irlulcm.
TRf:S CAMINHOS - CAPfrULO 1 237

Te rtio recogi landa esl concupiscentia vanitatis, Em terceiro lugar, deseja vaidades quem deseja
qua tun c v i v i t Y e l v i x i t i n homine , si i n e o fue­
e receber favores, elogios ou honrarias, que são
vaidades e tornam o homem vão. De todas estas
ri t appe titus favoris, appeti tus laudis , appeti tns lw-
ambições deve cada um argüir-se com severidade.
11o ris ; quae omnia ,·ana sunt et hominem reddunt
6 . E n fi m , a r e s p e i t o d a s m a l e v o l ê n c i a s ,
van um et i ta fugienda sicut concupiscenfia mulie­
examine cada u m se sente o u j á sentiu em s i as
ru m ; �t de omni tali debet conscientia arguere cor
emoções más da cólera, da inveja, da acédia.
b umanum .
Primeiro, a cólera se esconde na intenção ou se
6. Circa nequitiam autem debet recogilare quis , descobre nos gestos e nas palavras, isto é, passando
si in se vigeat vel aliquando vigueri l iracimdia, aut do coração ao rosto e à voz; revela-se nos desejos,
invidia, aut accidia , quae faciunt animam nequam. nos ditos, nos atos.
- Primo recogi tanda est nequitia irae , quae con­ Segundo, a inveja consiste em entristecer-se
sisti t in animo , in signo . i n verbo, vel i n corde , alguém pela prosperidade de outrem; regozijar-se
in facie, i n clamore, sive in affectu, i n affat1t , in pelo seu infortúnio; recusar-se a socorrê-lo nas
effectu. suas necessidades.
Secundo recogitanda est nequitia invi<liae , q uae
Tercei r o , a acédia que é o tédio e o
aborrecimento d o esforço espiritual, enche o
in aliena prosperi tate tabescit , in aliena adversitate
coração de suspeitas maldosas, de pensamentos
hilarescit, in aliena mendici tate refrigescit. blasfemos, de detrações malignas. Todas essas
Tertio recogi tanda est ne11 11 itict accidiae . ex qna maldades são detestáveis. - O resultado desses
oriunlur suspiciones malae, cogitationes bi:_tsp!te­ três exames, triplicados pelo modo indicado, deve
mae , detractiones malig nae. Omnis autem tal i s ne­ ser a excitação e estímulo da consciência, a fim de
quilia ad modum est de.testanda. - Ex hac trifaria que a alma, pela recordação dos pecados, se encha
recordatione triplicata debel exa.çperari stim ulns de amargura e de arrependimento.
1 7. Depois de haver suscitado o acúleo da
conscientiae et anima amaricari.
7. Viso , quali ler exasperari debeat stimulus con­ consciência é mister aguçá-lo pelo exame da
scien tiae in recordatione peccati , videndu m est , qua­
própria alma. Três coisas devem ser lembradas
neste exame; o dia da morte, sempre iminente; o
liler exacuendus sit i n circumspectione sui. Trla
sangue de Cristo, sempre recente( 1 ), e a face do
autem debet homo ci rca se circumspicere , sci licet
juiz, sempre presente. - Primeiro, o dia da morte é
diem mortis immi nentem , sanguinem crucis 1 . recen­ i n d e t e r m i n á v e l , i n e v i t á v e l , i r r e v o g á ve l . S e
tem , faciem iudicis praesentem. ln bis enim tribus entendermos bem este .pensamento, trataremos
acn i lur s t i m u l n s conscien tiae con tra omne malum . com maior diligência e enquanto o tempo nos é
- Primo namque acuilu r , d u m considerat diem dado(2), d e n o s p u r i fi c a r m o s d e t o d a a
mortis , q noniam est imlelerminabilis , inevita.bilis , concupiscência, de toda malevo l ê nc i a . Q u e m
in·ecnca l,1'/is ; quod si d i l i genter conspiciat , d i l i­ quererá conservar-se em estado de pecado, s e não
c:1' 1 1 t i � s i m c laborabi t , u t , dwn temp us habet 2 , pur­
está c e rt o d e ter o d ia de a m a n h ã para se
arrepender?
�c l n r ao om n i negligen lia , concupiscentia , nequi tia.
S e gu n d o , o s angue de C r i s t o n a cruz foi
IJu i s enim remaneat i n culpa , qui certos non est de
derramado para mover o coração humano, para
i l i 1 • c raslina ? purificá-lo e, enfim para tomá-lo d ócil, ou dito de
Secu ndo acu i lur , dum considerat homo sctn- outra forma, foi derramado para lavar a imundície
9 11inem crucis efTusum pro humano corde exci­ humana, para vivificar a morte e para fecundar a
tando , pro eodem abluem/o , postremo pro i pso mol­ aridez. Quem deixará permanecer em si a mancha
li(i,cando ; yel elfusurn pro humana immundi tia ab­ d as negligê n c i a s , das concupiscências ou d as
luenda , morte vivificmula , aridi tale fecundan<la. malevolências, se refletir que para lavá-las é que foi
Q u i s i g i tur tam hebes , ut perm i ttat in se regnare derramado aquele preciosissimo sangue?
c u l pam negligentiae Ycl concu piscen tiac Yel nequi­
Terceiro, a face do j uiz em que devemos pensar
liae , qui cogitat se perfusum illo pretiosissimo san­ é a d e um juiz infalível, inflexível e inelutável. Nada
escapa à sua ciência, nada abranda a sua justiça,
guine ?
ninguém foge à sua vindita. Para esse juiz, do
Tertio acu i lur , d u m consiílerat faciem iudi­ mesmo modo que «nenhuma boa ação ficará sem
cis , quoniam est infallibilis , inflexibilis . infugi­ recompensa, também nenhum mal ficará sem
bilis. Nullus cnim potest fallere eius sapie-ntia m ,
infiectere i us t i tiam , effugere Y i ntl it.:tam. Dum ergo
« nullum bu1t 1t m irrem 11 nerat11111 , n u l l n m ma lwn
2. Gal. 6, 1O: Ergo dum tem pus h a b c m u � , opcrcm u r bo·
1. Col. i , 20 : Paci ílcans pe1· sa n g u i ncm crucis eius. n u m etc.
23 8 TRf'.S CAMINHOS - CAPI'ruLO 1

castigm>( 1 ) . Qu�m. em tal pensamento, deixará de impu11it11 ,,1 1 " ; quis · ·� t , r1 1 1 i ! I O l l �it . 1c u t 1 1 :' , :' i lH·c
combater em si toda tendência para o mal? considcra t . r o r r tra 011 1 1w m : i l 1 1 1 n ?
8. Vejamos agora como se há de retificar pela 8. Po=-t l i : 11 ·c Y i t.l e lJi l n m e ;; t , q uomot.lo vt'l 11ual i ll'r
consideração do bem o acúleo da consciência. Três -:: t imulus con �1· il• n t i ae s i t recti/icandus in co n s ider a ­
são as qualidades cuja aquisição contribui para
tione boni. T r i a a u te m s u n t bona praemeJ i tanda , i n
retificar a co nsciênci a : o z e l o , q u e c o r rige a
quorum acq uisi tionc rec ti ficatur sti rnulus conscien­
n e g l i g ê n c i a ; a a u s t e r i d ad e , q u e c o m b a t ç a
concupiscência; e a benevolência, que se opõe à t i ae , sr i l icct strenu itas con t ra ncgligentiam , se veri­
malevolência. Quem possuir essas três qualidades, tas con t ra concu piscentiam , b e n ig n itas contra nequi­
possui uma consciência boa e reta. � o que diz o lia111. Hi s en i m tri lms habi tis , habetur conscien tia
profeta(2): Vou te ensinar o que é bom e o que o uona cl rec ta . Et hoc est quod dicit. Propheta 2 : In­
Senhor exige de t i: prat ica a jus t iça, am a a d icabo tih i , '1 0 1110 , quül sit bonum , et quid Do­
m isericórdia e pro cede cuidadosamen t e com m úws req u ira t a te ; u tiqu.e facere iudicium et
Deus. O mesmo ensinou o S e n h o r pelo dil ig e re m iscr icordiam et sollicitum arnbulare c1.trn
evangelista são Lucas : Tende cingidos os vossos Deo tlto ; u b i tangu n tu r ista lria praedicta. Similiter
rins e nas vossas mãos lâmpadas acesas; e sede
Domi n u s i n Loca : Sint lumbi vestri praecincti etc.
semelhantes a homens que esperam o seu amo na
9. Primo i g i tur i nchoand u m est a strenuitate ,
volta das bodas para que lhe abram a porta logo
que ele chegar e bater. Bem-aventurados os servos quae viam praebet al i i s . Liceal autem eam sic de­
que o Senhor, ao chegar, encontrar vigiando. scribere : Stren u i tas est q u idam ,- igo r ani m i , excu­
9. Primeiro, o zelo é a qualidade q ue precede às tiens mnnem negligentiam et d i sponens ani mas ad
outras. Pode ser definido: uma certa energia da facientl n m mun i a opera d i v i n a vig ilanter , co nfi­
alma, inimiga de q ualquer negligência, e que denter , elega 1 1 ter. H aec est q uae viam praeLet ad
instiga a fazer todas as obras de Deus com atenção, omnia bona seq nentia.
com confiança e com dis cernimento. Dei nde SL'q n i t u r severitas , 'quae est q u il.la m ri­
Segundo, a austeridade é uín certo rigor de
gor · m e n t i s , rcstri ngens omnem concupiscentimn e t
espírito que refreia as concupiscências e habilita o
habi l i t a n s atl a morem asperitatis, paupertatis e t
homem a amar o que é árduo, o que é pobre, o que
é vil. vilitatis.
Terceiro, a benevolência é uma certa brandura Tertio sequ i tur benignitas, quae est q u idam dul­
da alma, contrária à malevolência, e que inclina à cor an i mae , exclut.lens omnem nequitiam et habili­
benignidade, à tolerância e à alegria espiritual. - tans i psam a n i mam ad benevolentiam, tolerantiam et
Termina nesta fase a purificação, que se alcança internam lae tit ia rn . Et hic est terminas purgation is
por meio da meditação, porque uma consciência secuml u rn viam med i tation is. Nam omnis conscientia
pura se conserva sempre alegre. Quem deseja se monda laeta est et i ucunda. - Qui vult ergo purgari,
purificar, exercite, portanto, sua consciência como vertat se modo praed icto ad sti mulum conscientiae.
foi dito acima. Esse exercício pode começar por
ln . practl i c ta tamcn ex�rc i latione a q uoliLet prae1 1 1 i � ­
qualquer dos atos que descrevemos. M as, de um se
· sorum inclwari potcst nostra med i tatio. Tra1J�l' U 1 t1l u 1 li
p ass ará a o u t ro s o m e nte d e p o is d e o haver
praticado com demora e depois de sentir a alma autem est ab uno ad a l iu d et tamd i u i m morantl u m ,
perfeitamente tranqüila e serena, porque são estes quousque tranqui l l i tas et sercni tas pcrci piatu r , ex
os frutos da alegria espiritual e os encitamentos q u a oritur spi ritualis iucund i tas , qua adepta , · prom­
para prosseguir avante e para cima. Iniciado, deste ptus est ani mus , ut sursum tendat. lncipil ergo via
modo, pela amargura da consciência, o trabalho -ista a stimulo conscientiae e r term inatur ad afTectum
da purificação da alma finaliza no sentimento da spiritualis laetitiae . et ex ercetur in dolore , sed con­
alegria espiritual; e o que foi começado com dor, é summatur in amore.
acabado com amor.

§ 2 - Da iluminação da alma e do seu tríplice § 2 , De via. illumina.tiva. et tripl ici eius exerci tio.
exercício . .
1 O . Depois d o s exercíci os de purificaçã o , t o. Secundo loco post \" i a m pu rga ti vam sequi­
seguem-se o s d e iluminação d a alma, para que é tur illuminativa , in qua cx ercere se tlebe l h omo
mister recorrer à luz da inteligência. Essa luz ad rctdium intelligentiae hoc ordine . Nam radius
primeiro se dirigirá sobre os pecados perd oados, i lle primo est protendendus ad mala di m issa , se-

l . �ccu mh1 1 1 1 A u gust. , G regor. , Boeth i u m et llug. a S.


Yict. ; c fr. t o m . 1 . pag. 7 1 3 , n ot a 2; et tom. IV. pag. 356 ,
nota 6. 2. M ich. 6 , 8 . - S u liinde allegatur Luc. 1 2 , 35.
TRE'.S CAMINHOS - CAPI'rULO 1 239

'c u nd o , dilatandus ad beneficia commissa , ter tio , em segu i d a se estenderá s o bre os benefíc i o s
refiecten dus ad praem ia prom issa. - Protenditur
recebidos, e , enfim, s e fixará sobre a s recompensas
au tem rad i a s i ntel ligentiae, · d u m sol l i c i te pensantar
prometidas. - A luz da inteligência há de se dirigir
sobre os pecados que Deus já perdoou, porque
mala , qaae Dominas i n d u lsi t , quae tot sunt , qaot
foram numerosos os que cometemos e tão grandes
sunt peccata , qaae comm isi mas , et tam magna ,
quanto os males a que estávamos afeiçoados e os
q ua ntis malis eramas ast ricti et qaantis bon i s d igni bens de que merecíamos ser privados. O assunto da
privari. Et h aec med i ta.tio satis palel ex praeccdentibus.
meditação precedente foi semelhante a este; mas
Nec hoc sola m attendendum est , sed etiam conside­ agora precisamos considerar não só o mal que
randam , i n quanta mala incülissem us , si Dominus fizemos, mas também o que teríamos feito, se Deus
permisisset. 1 • Et com haec d i l i genter pensantur , per tal houvesse permitido( l ) . À medida que
radium i n telligentiae tenebrae nostrae i l l u m i nantur. refletirmos sobre isto com atenção, a s trevas da
Et talis i l luminatio coniuncta debet esse gratit udini nossa alma serão dissipadas pela luz da
affectionis, alioqa i n non est i l l u m i n at i o caelestis , ad
inteligência e começaremos a sentir p or Deus !.lma
cuius sphmdorem videmus scq u i calorem. Unde h i c
c a l o r o s a gr a t i d ã o , s i n a l c e r t o de q u e e s s a
i l u m inação p r o cede verdadeiramente d o c é u ,
gratiae agendae sunt pro d i m issione malorum com­
fonte, a o mesmo tempo, d a claridade e do calor.
missorum vel possibilium com m itti necessi ta te , i n ­
Esta é a ocasião própria para render graças a Deus
firmitate et rnlantat i s penersi tate . pela remissão dos pecados que cometemos, ou que
t 1 . Secundo videndum est , qnal i ter i s te ra­ possivelmente teríamos cometido, em
dias dilatetur in consideratione bene{iciorum com­ conseqüência da fraqueza ou da perversidade do
missormn , quae quidem sunt i n triplici genere. nosso próprio querer.
Quaedam enim spectan t ad complementum naturae, 1 1 . A luz da inteligência deve se estender, em
• 1 a :�cJam ali adiutorium gra tiae, quacJam ali tlo1w m seguida, sobre os benefícios recebidos. Estes são de
s 11p�rabundantiae. - Ad complcment u m na t u rac
três gêneros: uns dizem respeito à natureza, outra à
graça, e outros à superabundância de ambas.
spectat , quod dedit Deus ex parle corporis : mem­
-Quanto aos d ons naturais, temos de agradecer a
brorum integ1·itatem, complexfonis sanitatem, sexus
D e u s a i n te g r i d a d e d o c o r p o , a s a ú d e d o
nobilitatem ; ex parle sensus ded i t visum perspi­ organismo, a nobreza d o sexo; sentidos aptos ao
cuum , auditum acutum el .vermonem discretum ; seu uso, como a vista perspicaz, ouvido aguçado,
ex parte animae dedit íngenium c l arum , iudiciwn língua discreta; e também qualidades espirituais,
rectum ; animum bonum. como inteligência clara, juízo reto, ânimo benigno.
t 2. Ad adiutorium gratiae spectat , q uoJ de­ 1 2. Os auxílios da graça são, primeiro, os que
di t pri mo gratiam baptismalei11 , q ua dclr:vit culpam, Deus nos proporcionou pelo batismo, que suprime
restituit innocentiam , contulit iustitiam , q uae di­ a culpa, restitui a inocência e confirma na justiça,
tornando-nos dignos da vida eterna; em segundo
gnum faci t vila àett!rna. Secundo , qnotl dedi t gra­
l u g a r , o s q ue n o s d á pe l o s a c r a m e n t o d a
tiam poenitentia/,em quantum a1l tcmporis oppurt u­
penitência, o qual nos é concedido n o tempo
n itate m , animi voluntatem, relig irmis .rn/Jlimita tcm .
conveniente, q u a n d o a a l m a o req ue r , e
Tertio , quod dedit g ratiam sar:r:rrlolalem , per quam
condignamente à grandeza da religião; por último,
te . feci t d i spensatorem doctrilia1: , tlisp1msatorem in­ os que confere pelo sacerdócio, o qual estabelece
<lttlgentiae et dispensatorern cur:ho,risliac ; i n 1 1 a i bus os autênticos administradores da doutrina, do
omnibus secund um p i os ct rn i n u s tl i spc11san tur ,·crLa p e r d ã o e da e u c a r i s t i a , p e l o s q u a i s n o s é
vitae. comunicada a vida sobrenatural.
f 3 . Ad <lonum autem s upr:raf1undantiae spe­ 1 3 . Enfim, medite-se na superabu ndância de
ctat , pri mo quod ded i t totum univcrsu m , sci licet dons que Deus nos concede. Primeiro, os que
inferiora ad obsequium , paria ad meritum , supe­
encerra o universo todo, no qual os seres inferiores
se d e s t i n a m ao n o s s o s e rviço; os iguais a o
riora ad patrocinium. Secundo , qnod dedit Filium
meritório exercício das nossas faculdades, e os
suum , et hoc in fratrem et amicum , ded i t in pre­
superiores ao nosso patrocínio. Segundo, os que
tium , dat quotidie in cibum : primam i n incarna­ representa a descida à terra do seu próprio Filho, o
tione , secund am in passione , tertium in consecm­ qual, pela encarnação, se tornou nosso irmão e
tione. Terlio , quod ded i t Spiritum sanctum in si- amigo, pela paixão, o preço do nosso resgate e,
pela eucaristia, o nosso alimento cotidiano. Enfim,
1. Bernard . , Scrm. 2. pro Dominica 6. posl Pent. , n. 3 : os que transmite o Espírito Santo, que nos dá a
Quis en i m non videat , quod , sicut in multa cecidi , sic et in
a lia cecidisscm precata ; n isi Omni potentis pietas me conservas­ d i ;n a l i · ' pii·1 a t i s , q 1 1ud ingraltm 1 el pan· i pcnd cnte11 1 sic grali:i
set f F:i tcor ct fa lebor , nisi q u i a Dominus adiuvit me , paulo ' "" º ' " ' ,- . , h;i 1 , 11 1 1 • • ! in n 1 u l t is 1 · 1 1 n tr:iri u m et con lenmcn tcin nihi­
m i n 1 1 < «•.•l "i d i s�et in o rn n c pcccalum a n i m a mea. Et hacc quanta l1 1 1 1 1 i 1 1 1 1 < a h ;aliis LPn i ;; 1 1 i s � i n 1L' protrgcl:Jat !
240 mi;:s CAMINHOS - CAPI'rULO 1

certeza de sermos agradáveis a Deus, nos confere o gnaculum acceptationis , in privikg ium aduptiu i 1 is ,
privilégio d e sua adoção e a aliança da sua i n anulum desponsationis. Feci t enim an i mam c l 1 r i ­
amizade, e assim toma a alma cristã amiga, filha e stianam suam amicam , suam filiam , suam spo1w1 m .
esposa de Deus. Tais dádivas são inestimáveis e a Haec omnia m i ra sunt e t inaestimabi lia , e t i n tal i1111 1
sua med it ação deve insp ira r à a l m a grande med itatione admodum anima debet esse Deo grata .
ad miração e gratidão por Deus.
f 4. Vitimo circa viam illuminati Yam Yidencl u m ,
14. Resta-nos explicar como a luz da inteligên­
cia, refletindo-se sobre os bens que nos foram pro­ quali ter iste radius i n telligen tiae per medi tatione111
metidos, reverte à origem de todo bem, q ue é Deus. est reftectendus , ut ad fon tem omnis boni revertatur ,
Por isso é preciso, com freq üência e atenção, con­ recogi tando praemia promissa. Considerandum est
siderar que «Deus nunca mente»( l ) e aos que nele ergo sollici te et frequenter pensandum , quod Deus ,
creem e o amam prometeu a extinção de todos os qui non mentitur 1 , credentibus et dil igent i bus se pro­
males, a companhia de todos os santos e a satisfa­
misi t amotionem omniwn malorum . associationem
ção de todos os desej os, dando-se ele próprio, que
é a origem e o fim de todos os bens e bem tamanho onrnium Sanctorum , impletionem omnium deside­
que excede a todos os anelos, a todos os cálculos, a riorum in se ipso , qui est fons et finis omn i u m
todas as esperanças dos homens. Desse bem insu­ bonorum , qui est tantum bonum , q u od exced i t
perável Deus nos quer julgar dignos desde que o omnem petitionem , omne desiderium , omnem ae­
amemos e o desejemos acima de todas as coisas e só stimationem , et nos tanto bono dignos repu tat , si
por amor dele mesmo; a ele, pois, devemos tender ô i l igimus et appetimus i psum super mn nia e t propter
com todos os impulsos, todos os afetos, todas as se ; et ideo cum omni desiderio et afTectu et bene­
forças da nossa alma.
rnlentia debemus in ipsum tendere.

§ 3 Da perfeição da alma e do seu tríplice


-
§ 3. De vi& perrectiva et triplici eius exercitio.
exercício.
1 5 . Estudemos , agora, como nos poderemos 1 J . Postremo sequitur , qualiter nos exercere
aperfeiçoar aquecendo-nos ao calor da sapiência. debemus ali igniculum sapientiae. Hoc autem fa­
Conseguir-se-á isto concentrando, avivando e ele­ cienJum est hoc ordine : quia iste ignicnl us est
vando esse calor. Para concentrá-lo é mister
-
primo congregandtis , secundo inf1,ammandus, tertio
recolher e dirigir só para Deus o amor que disper­ s 1 tfJlccandus. - Congregatu r autem per reductio­
samos pelas criaturas. Nada mais necessário, por­
nem alTec tion is ab omni amore creaturae , a cui us
que o amor das criaturas geralmente não nos aper­
qu idem amore debet affectio revocari , quoniam amor
feiçoa; e quando nos aperfeiçoa, não nos descansa;
e quando nos descansa, não nos satisfaz; porque só creaturae non proficit ; et si proficit , non reficit ; et
Deus nos satisfaz por completo. si reficit , non sufficit ; et ideo omnis amor talis ab
16. Para ativar esse calor, é preciso uma con­ afTectu debet omnino elongari .
versão do afeto ao amor do esposo. Isto se faz 1 6. Secundo , inftammandus est , et hoc ex
comparando o amor consigo mesmo, ou com o conversione affectionis super amorem Sponsi. Et
afeto d os santos do céu, ou com o próprio esposo. hoc quidem fit vel comparando ipsum amorem ad
E dá-se quando se percebe que pelo amor pode ser se ipsum , vel ad affectum superno1·um civium, vel
suprida toda indigência, que pelo amor os bem­
ad ipsum Sponsum. Tunc autem hoc facit , quando
aventurados possuem toda a abundância de bens,
que pelo amor assegura-se a presença do que é attendit , quod per arnorem suppleri potest omnis
sumamente desejável. Estas são as coisas que infla­ indigentia , quod per amorem cst i n Deatis omnis
mam o afeto. boni abundcmtia , quod per amorem l}abetur ipsius
1 7. Para elevar o calor da sapiência é preciso summe desiderabilis praesentia. Haec sunt , quae
subir acima de tudo o que é sensível, imaginável e atTectum i nflammant.
inteligível. Diga a alma consigo mesm o que aquele 1 7. Tertio , subkvandus est , et hoc supra omne
a quem ama não pode ser percebido pelos sentidos; sensibik , imaginabile et intelligibik , hoc ord i ne ,
porque não p ode ser visto, nem ouvido, nem pro­
ut homo i mmediate de ipso , quem optat perfcc te
vado, nem tocado; não pode ser sentido e entretan­
do é sumamente desejável(2), Considere também diligere , primo medi tando dicat sibi ; quod i l te quem
que esse mesmo ser não pode ser representado pela diligi t , non est sensibilis , quia non est visibilis , au­
imaginação, porque não tem limites, nem feitio, d ibilis , odorabilis , gustabi lis , tangibilis , el ideo non
nem número, nem superfície, nem idades; não é est sensibilis , sed totus desiderabilis 2. Secundo , ut
imaginável e, entretanto, é imensamente desejável. cogitet , quod non est imaginabilis , q uia non est
terminabilis , figurabilis , numerabi lis , ci rcumscripti­
L Tit. i , 2 . :z. Cant. 5 , r n. bilis , commutahili s , et ideo non est i maginabilis , sed
TR�S CAMINHOS - CAPfrULO II 24 1

totus desiderabilis. Terlio , ut cogitet , quod non est Termine, enfim, refletindo que o mesmo ser não
pode ser aprendido pefa inteligência, pois que esca­
in telligibilis, quia non est demonstrabi lis , definibili s ,
pa a toda demonstração, a toda definição, a toda
o pin abi lis , aestimabi lis , in vestigabi lis , et ideo non
opinião, a toda avaliação, a toda investigação;
es t i ntelligi b i l i s , sed totus desülera bilis 1 •
que, portanto, não é inteligível e, entretanto, é
imensamente desejável( l ).
§ 4. Corolluium.
§4 - Conclusão
t 8. E x his i g i l u r liquide patet , quali ter ad sa-: 1 8 . É assim que pelo exercício da meditação
pientiam sacrae Scripturae perve n i tur medi tando circa sobre os atos mais adequados à purificação, à
viam purgati ram , i l lumi nati vam et perfec ti ram . E � iluminação e à perfeição da alma se adquire a
n o n solu m sacrae Scripturae continen t i a , i m m o etiam,
ciência que a Sagrada Escritura encerra. Esse exer­
cício deve ser freqüentemente repetido pelo modo
omnis medi tatio nos t ra versari debet c i rca ista. l\am
indicado. Porque, na verdade, toda meditação
omnis med i tatio sapien t i s a u t est ci rca opera lm· bem conduzida há de versar: ou so bre as o bras do
mana , cog i ta mio sc i l icet, q u i t l homo fecerit et quiq homem ( por exemplo: que faz o homem, que deve
deheat faccre , et 'luae si t ratio morcn s ; a u t ci rca fazer, quais são os motivos de seu agir); ou sobre as
opera divina , cogi tanuo sc i l ice t, quanta Deus hom ini obras de Deus (o qual, por exemplo, promovendo
commiserit , q u i a omn i a proptcr i psum fec i t , quanta as obras da criação, da redenção e da glorificação,
tli111iseril et quanta prom iserit ; et in hoc claudun­ criou todas as coisas do nada, tantos benefícios fez
tur ope ra cond i ti on i s , reparationis et glori ficationis ;
ao homem, tant ::.s malefícios lhe perdoou e tanta
felicidade lhe prometeu); ou sobre as fontes de
aut circa utrorumque principia , q uae sun t Deus
ambas essas obras (isto é, a alma e Deus, e as
et anima , quali ter sint invi�em copulanda. Et hic relações que devem ter entre si) . A isto é que se hão
stare debet omnis medi tatio nostra , quia hic est finis de dirigir todas as nossas atenções, porque o esco­
omnis çogni tionis et operation i s , et est sapientia vera , po de todo raciocínio e operação mental é formar
in qu� est cogni tio per veram experientiam 2 • pela experiência o conhecimento; nisto consiste a
t 9. ln hu.i usmodi au tem meditatione tola anima verdadeira sabed oria(2).
debet esse i n tenta , et hoc secundum omnes vires 1 9. Tal meditação deve ser praticada com todos
suas , sci licet secu ndum rationem , synderesim, con­
os recursos do espírito: com a razão, a sindérese, a
consciência e a vontade. A razão perquire e formu­
scientiam et voluntatem. Nam in hu i usmodi m ed i ta­
la o problema; a sindérese define e pronuncia o
tione ratio percu nctancl o offe r t proposi tionem , syn­
julgamento; a consciência testemunha e confirma;
tleresis sen tentiando profert d e fi n i tionem , conscien­ a vontade escolhe e resolve. Eis um exemplo: a
tia testi ficando i n fert conclusioncm , voluntas prae­ razão indaga o que deve ser feito a um homem que
eligendo defert sol utionem.' \'erbi gratia , si quis re­ violou o templo de Deus. A sindérese responde
lit mcditari c i rca yiam p u rga t i vam , debet ra tio. que deve ser condenado à morte ou à penitência
quaerere , quid debeat fieri de homine, q u i templum para que o sofrimento o purifique. A consciência
Dei violareri t ; synderesis respondei , q uod au t debet então exclama: «Tu és esse homem. Tens de esco­
lher: ou a danação, ou os tormentos da paciên­
disperd i , aut lamen tis poeni tentiae pu r gar i ; conscien­
cia». Enfim, a vontade escolhe, e porque recusa a
tia assum i t : Tu es i lle : ergo vel oportet te damnari ,
danação eterna, aceita os suplícios da penitência.
vel poeni ten tiae stimulis affiigi ; deimle volu n tas Esse exemplo diz respeito à fase da purificação;
praeeligit , sci licet , quia · recusat damnationem ae­ procedimento idêntico será aplicado às duas ou­
ternam , assu m i t vol u n tarie poeni tentiae lamenta. tras fases da vida espiritual: a iluminação e a per­
Iuxta hunc mod u m in ali i s ,·i i s est i n telligend u m . feição .

. CAPITULUM I I . Capitulo II
De oratione, qua deploratU1' miseria , imploratur
misericordia, exhihetw· latria. Da oração pela qual a alma deplora
a própria miséria, implora a misericórdia
t . Postquam d i x i mus , quali ler ad sapientiam divina e adora a Deus.
veram pervenitur legendo et medi tando , d i cen­
d u m , quali ter ad ipsam perveni tur orando. Scien­
1 . Depois de havermos explicado como se che­
ga, pela meditação, à verdadeira sabedoria, expli­
dum autem est , quod in oratione sunt tres grad us
caremos como se alcança o mesmo resultado pela
si ve partes. Primus est cleploratio miseriae ; secun-
oração. Na oração se distinguem três partes ou
graduações: pela primeira se deplora a própria
1. De hoc n u mero crr. 1. Scnt. d . 22. q. 1 ; l t i ner. mentis
ln Deum , e. 7 ; DreYiloq. p. V. e. 6. _2. C fr. I l i . Sent. <l. 35. q . 1 .
242 TRÊS CAMINHOS - CAPITuLO II

miséria; pela segunda se implora a misericórdia das , imploratio misericordiae ; tertias , exltibitio
divina; e pela terceira se adora a Deus com o culto latriae. La triae enim cul tam Deo exhibe re non pos­
de latria. Não podemos, no entanto, prestar a
sum us , nisi ab i pso gratiam asscqaamur ; m i sericor­
Deus este culto se dele não recebemos a graça
necessária; e não poderemos obtê-la da sua miseri­ diam autem Dei ad dandam gratiam non possamas
córdia se não começarmos por chorar a nossa inflectere nisi per d c pl orat ion e m et e x posi tionem nc>­
miséria e confessar a nossa indigência. P or conse­ strae m i ser i ae et i n d i g e n t iae . Nam omnis perfecta
guinte, em toda oração perfeita se devem encon­ o ra tio debet habere i s las t r es partes ; non enim suí­
trar estas t rês partes. Uma delas sozinha não basta. c
fi i t una si ne aliis nec perdacit ad metam perfe­
pois que uma só não é capaz de atingir perfeita­ ctam , et ideo haec tria sem per s u n t co n iunge n d a .
mente o fim preposto; para isto é necessária a cola­
boração de todas.
§ L De triplici depl or&tione mi a e.ri ae .
5'
§ 1. Da tríplice deploração da m iséria 2 . Deplora tio a u t e m m iseriae , ci rca quamcum­
2. A deploração da miséria, qualquer que seja que m i seri:un fit , siYe pro perpetratione culpae ,
esta culpa cometida, graça perdida, ou celeste
:____
siYc pro a rn issione g ra tiae , s i v e pro dilatione glo­
glória diferida - deve se compor de três elemen­ riae , haec tria debet h a bere , sci licet dolorem, pu­
tos: dor, vergonha e temor. Dor, pelo dano e pelas
dorem dolorem , pro p te r damnum sive
et timorem : ·

inconveniências que resultam dessa infelicidade;


vergonha, pelo opróbrio e mácula que a acompa­ incom m od am ;
pu dorem , propter opprobrium sive
nham; tem or, pelo perigo e pelo castigo que a i nh on e s tu m ; timorem , p ro p te r periculum sive rea­
devem seguir. A dor origina-se na memória do turo . Ex memoria enim praeteritorum oritur · dolor,
passado, relembrando a alma o q ue omitiu, que dum recordatur , quid omisit , qaia praecepta iu­
foram os mandamentos da j us tiça; o que cometeu, s t i tiae ; quid co111 111 isit , q a ia prohibita culpae ; qui d
que foram os atos proibidos; o que perdeu, que amisit, 11u i a gratuita v i tae. - E � intelligentia prae­
foram as graças espirituais. A vergonha dimana do sentiu m ori t u r pudor , dum attcndit , ubi sit , quia
conhecimento do presente, notando a alma onde longe in imo q u ae �uerat prope in sum m o ; qualis
está, que é embaixo e longe de Deus, quando
sit , q u ia foeda i n l u to quae fuerat pulcra imago ;
estava no alto e perto dele; como está, que é desfi­
gurada pela alma do pecado, quando era uma quae sit , qn ia anci lla quae fuerat libera 1 • - Ex .,.
formosa imagem de Deus; em que condição está, providcntia futurorum oritur timor , dum praeco­
que é a de escravidão, quando, antes, era a de gitat , quo tendit , quia ad inferos properat gressus
liberdade( l ) . O temor provém da consideração do eius · q u id occurret , quia i udicium i n evi tabile, iu­
futuro, prevendo a alma onde vai, que é ao infemo, stu m iamen ; quid assequetur , quia s ti pe n d i u m mor­
para onde seus passos a conduzem com rapidez; o tis aeternae.
que a espera, que é o j uízo, ao mesmo tempo
inevitável e justo; o que receberá, que será o esti­ § 2 De triplici imploratione miaericordiae.
pêndio da morte eterna.
3. Imploratio misericordiae , circa q a amcum­
§ 2. Da tríplice imploração da misericórdia. qae graliam i n vocetu r , debe t esse cam alfl.uentia
3. A imploração da misericórdia, qualquer que desiderii, quod h abemas a Spiritu sancto , qui po­
seja a graça que se implore, deve ser feita com stula.e pro nobis gemitibus inenarrabilibus 2; cum
intensidade de d esejo, segundo nos inspira o Espí­ fiducià spei, qua m habemas a Cltristo , qui mor-

rito Santo, que roga por nós com inenarráveis tuus est pro nobis omnibus ; cam diligentia implo-
gemidos (2), com firmeza de esperança, pois que randi subsidii, quod quaer i m u s a Sanctis et bonis
nos assegura o deferimento Cristo, morto para nos
omnibus. Primum ergo habemns a Spiritu sancto,
salvar; com insistência no pedido, porque auxilia
as nossas súplicas a intercessão de todos os santos e qaia pe r ipsum a Patre in Filio praedestincúi ae­
boas almas. A primeira nos é inspirada pelo Espíri­ ternali ter , renati in baptismo spi r i tuali ter , congre­
to Santo, p orque por ele é que o Pai nos predesti­ gati i n Ecclesia u n an i mi te r . - Secundam habemas a
nou ao Filho, desde toda a eternidade; p or ele é que Cltristo , qui pro nobis o bt nli t se in cruce in terra ,
renascemos espiritualmente no batismo; por ele é
que somos congregados de modo unânime na Igre­
j a. - A segunda nos é assegurada por Cristo,
J;u·c1 e pot es! rnanu• lua i n s 1 a rt 1 t•r t•p,..r are , q u i a 11e, op•r•.. . r 1 t: ·
porque na cruz se sacrificou por nós, neste mundo;
!'dcm i a c ru n l a pud i n feros, q u r • tu propcl'a!'>.

1. Prov. 5, 5 : Pedes eiu>< d csrr n d u n t i n n iortcm ct a<l 2 . Rom. 8 , 26. - 1. Pet r. 2, 21 : Christus passus est pro no-
i r 1 f1·r1•5 i:ressus illius pt>n!'trant . C:fr . E!'rle. !I , t O : Q11n1h 1 r n 1 q u e bis.
TR f'.S CAMINHOS - CAPITuLO II 243

ui Dei Pat r is in caelo i n g loria 1 , offertur porque diante daface de Deus Pai ele se apresenta
apparet v ult
a matre Ecclesia. Ter t i u m a Sanc to ­ por nós( l ) na glória do céu; e porque, como sacra­
i n Sa cram ento
-

�ento, ele é imolado pela santa madre I greja. - A


ru m co nso rtio , sci licet ab A n g e l orum m i n i strantium
terceira nos é ensinada pela comunhão dos santos,
pa t roc in iis , a Beatorum tri u m phantium suffragiis et isto é, pelo patrocínio dos anjos que nos guardam,
a )usto rnm militanti um meritis. Et q u a ndo haec tria pelo sufrágio dos bem-aventurados que já triunfa­
praed icta concu rrunt , tunc i m pl or a t ur efficaciter di­ ram, e pelo merecimento dos j ustos que ainda
vina miser icord ia. combatem. Quando esses três predicados se acham
reunidos é que com eficácia se implora a misericór­
§ 3. De triplici exhibitione h.tri&e, dia divina.

4 . Exhibitio latriae , ex q nacumque gratia § 3. Da tríplice adoração a Deus.


Deus colatur , debet habere tria. P r i m o enim ob
4. A adoração que se presta a Deus, qualquer
grati am impetr a1 J.J:un cor nuslrum delict incu rvari ad
que seja a graça recebida, que a provoque, deve ter
Dei re verc1 1 tiam ct :u.lora lio11cm ; secundo deLet tli{ú­ três qualidades, pois deve nascer em um coração
tari ad bcncvolcntiam ct g r a ti a r n m actio11em ; terlio que, para merecer a graça, saiba curvar-se com
debet eleva 1-i ad complaccnliam ct mutuam al locu­ reverência e amor diante de Deus; saiba dilatar-se
tion em , quae est Sponsi ct spon sae , q uam docct de benevolência e gratidão; saiba elevar-se àquela
Spi ri tus sanctus in Canticis ; in qua , si rccto ordinc complacência e mútua comunicação próprias dos
fiat , mi ra cst cxsultatio ct i ulJi latio , adeo u t d ucat esposos, como ensina o Espírito Santo no Cântico
animam in cxcessum ct facial cam d iccre : Bonum dos Cânticos, e nisto se haver com reta ordem de
est nos ltic esse 2 • Et h i c dcbct oratio nostra termi­
modo a alcançar a maravilhosa alegria e o júbilo
que, arrebatando a alma, a fazem exclamar: Co­
nari , nec ante debet desi stcre , d o n c c ing rediatur
mo é bom ficar aqui(2). Este deve ser o termo da
toe.um tabcrnaculi adm irab ilis usquc ad llomurn. nossa oração, e antes de atingi-lo não devemos
Dei, ubi in vocc cxsultationis sonus cst cp ulantis. desistir, pois este é o centro do tabernáculo admi­
5 . U t incurvcris ad rcvcrcntia m , ad 1 1 1 i rare i m ­ rável, a casa de Deus, o lugar onde ressoa com
mensitatem d i vinam e t i n tncrc rn od i r; i ta tcrn tuam . regozij o a voz do anfitrião.
Ut dilateris ad bcnevolcntiam , a t l1: rirJ1! hcn i g n i tatem .5 . Para suscitar o respeito, admira a imensida­
divi nam et vide indign i tatcm tn arn . Ct cl,cvcris ad de de Deus, e contempla a tua pequenez. Para
excitar a gratidão, observa a dignidade de Deus e
complacentiam , recogita cari ta tern d i v i n a m et con­
examina a tua indignidade. Para exaltar a compla­
sidera tepiditatem tuam , ut ex l i u i u srnodi col l a tionc
cência, reflete no calor da divina caridade e na tua
pervenias i n exccssn m m e n t i s . frieza para com Deus.
6 . Sciendum au tcm <:s l , q w1rl rr:vcrcntiam de­ 6. Aliás, é preciso saber que devemos mostrar a
bemus exh i bere Deo t r i p l i c i ll: r : p r i mo sicut Patri , Deus reverência porque ele a merece por três títu­
a q uo formati , rcfunanli , r:1/w:o.ti. Secundo s i c u t los: primeiro, como Pai, pelo qual fomos forma­
Domino , a quo cni ti de 1 1 rr: i r i i rn i ci , 1 ·cdcmpti d e dos, reformados e educados; depois, como Senhor,
carcerc i n fern i , con1hu:t1: i r 1 Y i r H:a 1 1 1 l >om i n i . Tcrtio pelo qual fomos livrados das fauces do inimigo,
sicut Judiei , coram q u o o,r:r:11sati , wnvicti , con­ resgatados do cárcere do inferno e levados à vinha
fessi : acc usat clamor c1msc i 1 '. r 1 t iae , crmvincit cviden­
do Senhor; enfim, como j uiz, diante do qual somos
acusados, convictos e confessos: acusados pelo
tia v i ta e , confitct u r asp1 '. c l 1 1 s d i v i nae sapicn tiae ;
brado da consciência, convictos pela evidência da
nndr con tra nos de i u rc dl'I d sc n tentia profcrri. vida pecaminosa, confessos ante a visão da divina
Prima qu idcm r e v c r e nti a dcl 1d esse. m ag na, , src11nda sapiência. Por tudo o que, deve, segundo o direito,
maio r , tertia maxima. Undc pri m a est acl mod n m ser pronunciada sentença contra nós. Assim sen­
inc linationis ; secunda , :ui modnrn gc11 1 1f7r·J· ion is ; do, a primeira reverência que prestamos a Deus
tertia , ad modum prostrationis. l n prima nos s u b­ deve ser grande, a segunda maior, e a terceira
iic imus , in se c u nda nos dciicimus , i n tertia nos
máxima; a primeira ao modo de inclinação; a se­
11J1i ici111 1ts. ln prima 7n1 1Tos , in ::ecu rnb m iiii11 1os , gunda, ao de genuflexão; e a terceira, ao de pros­
tração. Na primeira nos consideramos pequenos;
iu l1 ·rtia m1 llus nos n · p 1 1 l a 11 1u s .
na segunda, mínimos; e na terceira, nulos.
7 . lle11c1 •olentiam :1 11 le11 1 si m i l i m odo 1lel iemus 7. Igualmente devemos, de três maneiras, ma­
üco tri pliciter c x h i !Jcrc , sci licct m agnum , m a io ­ nifestar a Deus a nossa gratidão: grande, maior e
rem , maxirnam : magnam , considcrationc iruligni­ máxima. Grande em consideração da nossa indig­
tatis nostrae; maiorcm , considcratione magnitudi- nidade, maior em atenção à magnitude da graça, e

T Hei.Ir. 9, 2 4 : ln ipsum caclum [lcsus introiv it] , ut appa·


rea t nunc rnltui Dei pro nobis. 2. Matth. 1 7 , 4. - S11Lindc allcgatnr Ps. 4 l , 5.
244 TRf'.S CAMINHOS - CAPfruLO II

máxima em vista da imensidade da misericórdia nis g r a t ia e ; m aximam , considcratione im meMita t is


divina. Grande, pelas coisas que nos deu; maior suae misericordiae. Vel magnam pro comm issis, ma­
pelas que nos perdoou; máxima, pelas que nos iorem pro rlimissis , max i mam pro prom issis. \ ' e l
prometeu . Grande a dádiva, com a natureza; m a g ua m p ro complementis na tu r a e , m a i orem 1iro
maior o perdão, com a graça; máxima a promessa,
indumentis g r at ia.e , max i mam pro <lonis s upemb·
com a superabundância dos d ons espirituais. Esse
undantiae. ln p ri m a cor tlilatatur sive e x te!J(J i tu r ,
sentimento deve, sucessivamente, encher, dilatar e
fazer transbordar o nosso coração, conforme se i n secunda aperitur , i 1 1 tcrtia e/{u ntlitur , sccu n d u 11 1
diz em Lamentações, dois( l ) . i l l m l T h rc11oru rn secn ndo 1 : E/f'u ndc s icut ar1 1 1 a 111
8 . Também d e três modos havemos d e manifes­ cor t u u m .
tar a nossa complacência com Deus: primeiro, 8 . Com11lacc11tia m vero del 1cmus Oco t r i p l i c i
sabendo que só em si ele se compraz; segundo, modo e x solvere :. p r i m o , u t sic coaptetur cornplacen­
procurando agradar só a Deus; e terceiro, desejan­ t ia n ost ra ad Deu m , u t u 11 i cu i q u c placca t , tjuod
do que todos partilhem destes modos de ver(2). O
sol us De u s secundo , ut h oc placeat ,
placcat s i b i ;
primeiro modo é grande, é o do amor gratuito, e
qu o d i p se pl ac e at sol i Dco ; terti o , u t p laceat e i ,
por ele o mundo é crucificado para o homem(3); o
segundo é maior, é o do amor devido a Deus, e por q nml i n hac complacc n t i a comm u n i ccnt cetcri 2 • Prima
ele o homem é crucificado para o mund o(4); o est magna, sec u nda maior, tcrtia m axim a . ln pr i m a
terceiro é máximo, é o amor composto dos dois cst w n o r gratuitus , i n secunda amor debitus , i n
precedentes, e por ele o homem é crucjficado para tertia amor ex utroque perm ixtus 3 . l n prima c ru­
o bem do mundo, isto é, dispõe-se a morrer por r i .fi g i tu r m u ndus hom i n i , in secunda !tomo m u nd o 4 ,

todos para que todos agradem a Deus. - Este é o i n tcrtia cru c i fi g i tnr homo pro mu ndo , u t pro omni­
estado da perfeita caridade e antes de atingi-lo bus vel i t mori , u t ct i psi placean t Deo. - Et hic
ninguém se considere perfeito; pois só atingimos
est status e t grad us perfectae caritati s , a n te cuius
esta perfeição quando não só estamos resignados a
morrer, mas também desejamos avidamente mor­ assec uti oncm nemo dcbet se aesti mare perfcctum.
rer para .a salvação dos nossos próximos, confor­ Tunc au tem hanc per fc c t ionem asseq u i tu r , quando
me o que diz ia São Paülo(5): De boa vontade cor sern pcr i n v c n i t non solum vol u n ta rium, sed e tiam
darei tudo o que é meu e me darei a m im mesmo av i d i ssi m u m ad m or i c n dum pro salu te prox i morum ,
para a salvação das vossas almas. A este perfeito secu n d a m quod Pau lus 5 . d i ceb at : Ego libentissime
amor do próximo só se chega depois de haver i11 1pe wlw11 ct s 11pcrh11pe1 11la r ipse pro a 11 im a f1 1 1 s 1 ·1 -
chegado ao perfeito amor de Deus, por cuj o amor
stris . l 1 a 1 1c perfr·c tam d i lel' lionem pro x i 1 1 1 i 1101 1
;\1!
se ama ao próximo, que só em Deus pode ser
perr en i tnr, nisi p ri us peneniatn r at.I pl'rfectam tl i ­
perfeitamente amado(6) . .
lectionem Dei , propter q uem d i l i g i t ur prox i rn u s , qui
non est ama!Ji lis nisi propler Deum 6 •

§ 4. Os seis graus do amor divino § 4. De sex gr&dibus dilectionis Dei.

9. Para compreender como é possível progredir �I . Et proplerea atl i n t c l l i g c w l u m profec l u m i 1 1


no amor de Deus, é preciso saber que há seis graus di lcctione l lei scicnd u m cst , q n od s c x sur i t (:( rad u :-: ,
pelos quais se sobe aos poucos e metodicamente q u i lm s paula t i rn et o rd i n a te proced i t n r , u t aJ pcr­
até ao cume deste amor. fectum peneniatur.

1. VeIS. 1 9 .
2 . G illcbcrt. a b b a t . , Serm . -19 . in Cant. ( i n t e r upera Iler·
nard i) n. 2 : Dcniquc id solu m h a lieti s i n Yotis , ut Yo b is sem· r t �ra l i o< ª' , · i p i t c l i:"rntis i 1 1 1 pe n d it. Cfr. to m . 1. pag. 57, nota í .
per a m pl i us placeat [ J esus]. Q u a n t u m placct , q n i sa t i s plaeerc l' t p n , • . t ' i '.l , nula i . \" 1 c l c c l i a m ílernard ., de Di l i i; e n d o Dco ,
non p o te s t 1 N ulla m a g is Yos ratione pl a c c r e potesl i� , q u a m si e. f.. n . 1 r. : 1·. !J . 1 1 . 2 f i . l't 1 · . 4 2. n. 3 4 . seqq .

\·obis place:rt i pse etc. l h i 1 l . n. 4. ostcnil i t u r , q u o rl c;1 r i w s p r i v i;t ·


t u m n o n cogi ta ! , s e d com m u n i hono , i cl c st , s i c l i a m a l i i di­ 4 . (; : i l . r., t > : Per quem [lc·snn1 C h ristnm] mihi m u n d u s cru -
1 · i f i \ u .; r < f , 1 • 1 1·;;u 1 1 1 11 1100.
Y i n a heneficia reci pi n n t , laeta l u r .

s. E p i s ! . li. Cor. 1 2, l 5.
3 ·. R i c ha rd . d e S. Vict., V. de T r i n . e . f 6 : Cun s 1 a t n i 1 1 e 1 1 1 ,
q n i a vcrus a m o r potest esse a u t soln m gratuitus , a u t sol u 1 1 1 6 . Bernard., de D i l i gc n d o Dco , e. 8. n. 25 : Ut tamen per­
debitus , a u t e x ttlroque pe1 · 111ixtus , i d est ex 11 11 0 rlcL i 1 1 1 � t i fer t a i ustilia sit d i l i gwc p1·oxi m mn , Deu m in C ll u sa ha lJeri ne·
e x a l i o gratu itus. A m o r gratuitus cst , q u a n d o q u i s c i , a ' l ' '" cr;:se !'sl. A lioq n i n prox i m n m p u re d i l i gere q uomodo polest
n i h i l nm neris a cc i p i t , gratanter impendit. Amor debit us <'SI . q n i in Deo non 1l i l i <d t ? Porro in Deo d i l i gere non polest q u i
qmmdo q u i s c i , a q u o g ra t i s accipi ! , n i h i l nisi a m orern l'l'pcn­ J le 1 1 m n o n d i l i µ-il. O porl r t ergo, Oe 1 1 111 cl i lig i pri us , u t i n Dco
d i t . .\ m o r ex 11tr111JUC perrn i.rtus cst, qui a l lerm 1 t i m a m a n cl n d i l i µ-i pos:<il l' l prox i m 1 1 s !' I r . f. fr. I li. Srnl. d. 2 i . a. 2. q. 3 . . el 4.
1RÊS CAMINHOS - CAPfrULO II 24 5

Pri m u s es t su u L'itus , ut sci l i c2t 1 1 0 1110 < f ücat O primeiro é a suavidade, isto é, a aprendiza­
IW L'lS e stnorn i1 1 us 1 • E t lwc q u i ­ gem de saborear quão suave é o Senhor( l ), o q ue
g ust arc , q 1t ll lll S
yac a rn lo e t sa ! JIJa t i za1 1tlo e i per san c ta s m c­ se realiza recorrendo com insistência a santas
d l'rn fit
a m , sern n d 1 1 m q 1 1 orl d i c i t u r i n Psal­
meditações, porque, confonne diz o salmista, a
d i t a t i or w s , 11 1um i recordação do pensamento (justo) toma o dia
rn o , rcl iq u iae cogita tion is tlic1 1 1 /i·stum agcnt tifJi ;
festivo. Isto se verifica quando as meditações
q u od q n i d c m fit , q u and o 1 1 1 erl i t :i. t i o 1 1 es c i rca a morem sobre o amor de Deus enchem o coração di'
Dei s u aY i t a t em pa r i n n t in corrle. suavidade.
�ec n m l u s g rad 1 1 s cst m·id lta s , q n a mlo sci l i c e t O segundo é a avidez, porque quando a alma
a n i ma ass n e fi e r i coepe ri t r i rca i l l :1 1 1 1 s n :i. r i tatcm , começa a se acostumar àquela suavidade, surge
s
na i c tu r i n ea t:t 1 1 t : 1 1 ·� u 1 · i 1 · s , u i n i l i i l p1 1ss i t c:i m re­ nela um apetite que nada pode satisfazer, senão a
fi cere , n i si e 11 m q m · 1 n : 1 1 1 1 :1 1 , p1 1s� i d l':1 l perfec tc ; posse daquele a quem ama. E como isto não se
quod q n i a 11011 pol l'�l i11 p r: l l '�r· 1 1 t i a t t i 1 1 gC' rc , 11 1 1 i a alcança nesta vida, porque ele está longe, exalta-se
longe cst , co1 1 t i 1 1 1 w f ' '\ r ( ' d i t l'I 1·� n·i l i t 11 r 1 · :--: t ra p e r continuamente e sai fora de si pelo êxtase do amor
clamando com J ó(2): Minha alma e meus ossos
amorem ('rs ta t i nu n , r l : 1 1 1 1 :1 1 1 :,; l' I d i 1' 1 · 1 1 :' i l l rn l l il'a l i
querem a morte porque do mesmo modo como
Iob 2 : S11spc11di1 1 1H cil'y ll 1 1 1 1 /1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 d 1 1 r n rf1'l l l
o cervo suspirapelasfontes de água, assim, ó Deus,
assa m ea , q 1101 i i a ! l l , s /c 1 : / u'1 · ,· i1f1·n 1 t u·1 T 1 1s wl minha alma vos desejai
f'o 1dcs a q u arum , itu tlnlt l1 · t "< t / u 1 1 /1 1 1 u 1 1 1 1·(( 1 1 1! fl', 10. O terceiro grau é a saciedade que procede
Deus. mesmo da avidez, p or que o veemente desejo de
1 0. Ter t i us gra d n s e�t sa t 1 1 1 · lt u x, q 1 1:1e o r i : u r Deus e a elevação nas alturas produzem na alma o
e x i psa arid i tate. Q u i a cn i m Yl'1 1 e 1 1 H .' 1 1 l i � � i 1 1 1 L' l k 1 m 1 fastio de todas as coisas baixas e terrenas. Em
desiderat et su rsum fertur , i a m om 1 : L' , q n llll dt·nr­
nenhuma coisa a não ser no amado, pode achar
contentamento e como quem está farto, se vem a
sum tenet , rerti tur ei in fast i u i u m . r 1 1 d l' q u : 1 �i �a­
comer, não sente gosto mas asco pela comida,
t 1 1 1 a t . 1 mm potest rcfl'ctionem i 1 1 H·1 1 i rl' i 1 1 : d i q 1 1 0
assim a alma, chegada a este grau de amor divino,
c i t 1;1 i p:'mn d i lcctu m ; e t sicut sa t u ra t u s , s i c i lJll l l l sente aversão por tudo quanto é da terra.
s11 1 11a t , poti us sumendi i n cu r r i t abom i na t i o 1 1 e 111 q n a 1 1 1 O quart o grau é o inebriamento. C onsiste em
rcfec ti onem ; sic in hoc gradu caritatis fac i t a n i m a amar a Deus com tanto amor que não só
ci rca omne terrenum. menospreza o s prazeres como ainda se compraz
Q uartns gradus est ebrietas , qnac or i tn r e x nos sofrimentos e, por amor de quem ama, se
saturi tate. Ehrietas autem i n h o c con si sti t , q u od q n i s deleita, como o apóstolo, nos tormentos, nos
tanto amore diligat Deum , ut iam n o n sol um fasti­
opróbrios, nos açoites. Esse estad o se assemelha ao
do homem q ue embriagado, suporta maus tratos
d i a t solati um , sed etiam dclectetnr ct q u :i e rat ltll'­
sem padecer.
rnen t n m pro solatio , et an1ore eius q n e m <l i l i p- i t , dr·­ 1 1 . O q u i nt o grau é a segurança, p o i s ,
l er·tctur i n poenis , opprobri i s et fl agc l l i s , sirnt ..\ pn­ verificando q ue ama a Deus a despeito d e todas as
stol ns . U mle sicnt chrius se i psum d e 1 1 1 1 d : 1 1 �i 1 1 e humilhações e tormentos, a alma sente q ue, por
p n d ore e t susti net plagas sine dolorc , s i c i n i sto ele, sofreria com prazer todas as penas e danos, e
i n tel l igcndum est. s u p e ra n d o o t e m o r ( 3 ) , s e e n c h e d e t a m a n h a
1 1 . Q u i ntus gradus est secu ritas , q n ac ori t u r confiança no divino auxílio, que julga não poder
ex cLri ctatc. E x hoc e n i m , q uod an i m a sC'1 1 t i t , se· ser, por nenhuma força humana, separada de
Deus. Neste grau se encontrava o apóstolo quando
tan tum a m are Dcum , q uod l i bentcr s11stinerel propt r · r
dizia( 4): Quem nos separará do amor de Cristo?. . .
i psum omne damn u m et o m n e opproLri n rn ; i a m fo­
Tenho a certeza de que nem a morte nem a vida. . .
ras m i ttitur t i m or 3 , et tan tam con c i p i t an i ma spem nos poderá separar do amor de Deus em Jesus
de ad i utorio d i vino , u t nu llo modo c x istimet se pos::;e Cristo, Nosso Senhor.
separari a Dco. Et in hoc gradu erat A postol us , c u rn O sexto grau é a verdadeira e plena
d i cebat 4 : Quis nos separabil ct caritate Cltristi etc. tranqüilidade, na qual sente a alma uma tal paz e
Certus sttm enim , quia neque mors neque vila etc.
poterit nos separare .ª ca ritate Dei, quae cst in
Cl1risto Iesu Domino nostro.
Sextus grad us est Yera ct plena tra11qu illitas ,
i n qua est tanta pax et requies , ut a n i ma q u orl am

L Psalm. 33 , 9 : G usta te et Y id c t e , q 1 1 o n i ;:i m �11�' i ,; l· , 1

Dominus. Codd. L Z hunc l oc u m prncl i g 1 m t scq 11cn 1 i I';. ; ;; . 3 . E p i s t . 1. Joan . 1,


. 18: Pcrícl'la l"<lritas for::is m i l l i l t i mo-
·l l : Rcliquiac etc. l'f' l l l .

2. r.;1 p . 7 , l 5 , S u l.Jimle 111le�a t 1 1 r P�. -� 1 , 2. 4 . Hom. 8 , 3:>-39.


246 TRÊS CAMINHOS - CAPITIJ LO II

quietação que fi ca como em silêncio e adormecida modo s 1 t i n s i l e n t i o ct i n somn o et quasi i n arca


e como recolhida na arca onde nada a perturba. De l'\oc col l oca ta , nLi n u l lo modo pcrlu r!Jatur. Quis e n i m
fato, como poderia ser perturbada a alma que potest p e r t nriJ ar c men tem , q uam n ullus cupi d i tat i s
nenhuma paixão excita e que nenhu m temor sti m n l u s i nq n i e ta t , n u l l n s t i moris aculeus ex,.agitat ?
inquieta? Nessa alma reina a paz; atingiu o termo
ln tal i men te pax est et status u l t i m u s et q ui es , et
derradeiro e o repouso onde jaz o verdadeiro
ibi req u i esc i t wrus Sa lomon , quoniam in vace factus
Salomão, cuja residência é a paz( 1 ) . - Estes seis
cst locus ei11s 1 Et ideo nlde conven ienter i sti
graus estão adequadamente representados ·por • -

aqueles seis degraus pelos quais se subia ao trono gradu s signi fican t u r per i llos sex gradus , quibus
do rei de Jerusalém(2). Por isso está dito no asccndeba t u r ad thron u m S:ilomon is 2• Et propterea
Cântico dos Cânticos: A subida é de púrpura e o <l i c i t u r in . \ w·cns1111i p u rp u re u m mcdnt
Ca n ti r i s :
meio está coberto pelo amor p o rq u a n t o é ca r il ate constra l'it , q u i a i 1 1 1 pos� i hi lc cst ad i 4:rn 1
impossível chegar àquela tranqüilidade senão por tra n q u i l l i tatem pcrtin�t' re n i s i per cari tatem . l lac
meio do amor. Alcançado este, porém, se torna
autem acq u i si ta , fari l l i m u m est homini facere omnc ,
fácil ao homem fazer tudo o que dele exige a
q uod est pcrfcc tionis , si ve agere si ve pati sim vi­
perfeição, sej a trabalhar, seja padecer, ou viver ou
morrer. Convém, portanto, progredir no amor vcre siYe mori . Studendum est igitur ad proficien­
divino, pois que desse adiantamento derivam to­ <l u m in c:iri t a t r , rnm profcctus e i us inducat per­
dos os bens, os quais se digne conceder-nos aquele fe c t i oncm o m n i u m l1onoru m , quam no!JiS pracslare
que vive e reina por todos os séculos dos séculos. <l i g n e t u r , q u i Y i Y i t et regna.l iu saccula sacculoru m .
Amém. Amen .

§ 5. Conclusão. § 5. Reca.pitul&tio.

1 2. Para conservar na lembrança as distinções 1 :2. r i i � i l n r s i n t ad m a n um pracdictae differen­


referidas nos dois capítulos anteriores, note-se t i a l' , I h l tl . q u nll q u i ad hanc perfectionem vult pro­
,que, para chegar à perfeição é necessário, pela ficert' , d t1 l1l' I llL'r medi tationem se vertere ad sti-
meditação, estimular a consciência, excitando,
111 u l1 1 1 1 1 con,·t•icn t ia e exasperando , acuendo , rectifi­
aguçando e retificando o seu acúleo; iluminar a
inteligência, dirigindo, estendendo e fixando seus
cando ; :i.d rnd i11 1n intelligentiae i psum protcmlendo ,
<l i l a la11do, rl' lll'c teodo ; ad ignic u lum sapientiae, i ps u m
r a i o s ; a q u e c e r a s a p i ê n c i a , c o n ce n t r a n d o ,
avivando e levantando as suas chamas. cong regando , i o ílammando , suLlcvando.
E a s s i m , p e l a oração, em p r im e i r o lugar, Et sic p l' r ora t i onem primu rfrplúrtl 1 1 1 lse1·im11
deplorar a própria miséria, com dor pelo dano, rn m dolore p ropler damnmn , cu m p 11 1lorc pruph·r
com vergonha pelas máculas , e com temor pelo opprobri m n e l c u m t imore proptcr peri c u l 11 1 1 1 . -

perigo. - Segundo, implorar a misericórdia, com Sec undo imploret misericordiam c u m vehementitt
veemente desej o pela graça do Espírit� Santo, com desiderií per Spi ri lum sanctu m , cum fiducia spci
firme confiança em Cristo crucificado, e com a
per Chrislum crucifix um el cum assistentia patro­
a s s i s t ê n c i a v a l i o s a d o s u frá g i o d o s s a nt o s .
cinii, per Sanctorum suffrag i u m . - Tertio ex!tibeat
-Terce i r o , a d o rar a Deus c o m rev e rência,
gratidão e complacência, a fim de que Deus inspire latrium , e x l i i !Jcndo Oco reveren tiam , e x h i bendo be­
respeito, a alma se compenetre de reconhecimento nevolentiam , c x h i lJemlo compla centiam; u t ex parte
e da combinação desses dois afetos, como da Dei pracccdat ad m i ratio d i v i n a , quasi maior propo­
confirmação das duas proposições, a maior e a sitio; ex parle nostra scquatur considcratio , quasi
menor de um silogismo, resulte, como conclusão, a assu m tio ; el sic fiat latriac plena cxhiLi tio , qnasi
p e r fe i t a ad o r a ç ã o d e D e u s . A fi r m e z a e a conclusio. Q u i autem sic e x c i tavcrit se continue et
constância nestas práticas farão a alma progredir
i n tente , proficict in cari talc secunt.lum sex gradus
seguramente no amor de Deus pelos seis graus já
praed i ctos , quilms p c n c 1 1 i t u r at.l perfectionem trau­
escritos e alcançar aquela perfeita tranqüilidade na
q u a l e n c o nt rará a b u n d â n c i a d e p az e a q u e l e q n i l l i tatis , u lJi cst m u l t i tudo vaci s et quasi q u i u a m
descanso que, no fim, deixou o Senhor aos seus fi n i s q u i e t i s , quam Dom inus rcl i q u i t Apostolis 3 • Undc
apóstolo(3). É por isto que o apóstolo iniciava as nota , quod A posto l u s in q u a l i bct salutatione 4 opta-
suas cartas( 4) desejando a graça e a paz: a graça

3 . lonn. 1 .1. , 27 : Pnccm rtJl i n q u o ,· o lJ i s , paccm meam do YO·


1 . Psa l m . í :J , 3 .
liis etc.

2. Crr. I l i . Heg. 10, 1 8 . s e ri . et l i . Para l i p . 9 , ! i . sl'q . ; Y i u l' 4. Cfr. Rom . 1, 7 : Gratia vobis et pax ; 1 . Cor. 1 , 3 ; li. Cor . 1 ,
l' l i : i m h iner. men tis i n lku m , e. 1. n . 0. - Suhi nilc allc�a t 1 1 r 2 . etc. ; SQd 1 . Tun . 1 , 2 : Gratia, misericordia et pax et c . ; II. Tim . l ,
Ca n l . 3, 1 0. 2: Gratia, misericordia, pax .
TRfS CAMINHOS - CAPfrULO III 24 7

Ji:i t g r a tiwn c l pace11 1 : gra tiam ta n q u a m p r i mor­ como princípio, a paz como complemento. A
Ll i a lc m cl pa cem t a n q u a m complcmcn t u m ; ad Ti­ T i m ó t e o , p o r é m , d e s ej o u , c o m a m b a s , a
rno t iicum a u lc1 11 i 11 t r rpon i t rn isericonlia m , q u ae cst misericórdia, que é a fonte de todas.
n t r i n :'que p r i n c i pi u m .

C A l 'llTLl' \I I l i . Capítulo III


De contemplatione, q u n pc1Te1 t it 1 ir wl
veram sapientia m . Da contemplação, pela qual a alma alcança
a verdadéira sapiência, no repouso da
tranqüilidade
§ L Pra.ee.mbulum.

1 . Postq uam d i x i mus, q u a l i t c r ad sapicn tiam § / . Preâmbulo


nos c xerccre dcbc: u n u s per m ed i tationcm et oratio-
1 1 em , nunc IJre Yi tcr tangam ll5 , <1 n al i t c r con templando
1 . Depois de haver explicado como devemos
ad wram sapicntiam pen c n i t u r . Pe r contemplatio­
·
nos aproximar da sapiência pela meditação e
ncm namque t ransit mcns n ostra i n su pcrnam leru­ pela oração, diremos agora, com brevidade, como
salem , ad cui us i n star cst formata Ecclesia , sec u n ­ se há de chegar a ela pela contemplação. É pela
dum i l l ud Exodi 1 : Inspice et fa c sec u nd u m e.rem ­ contemplação que o nosso espírito sobe até a
]Jlar, q u od tib i m o n s t ra t u m esl in l i l Onle. �eccsse Jerusalém celeste, modelo da I grej a terrestre,
est enim , Ecclesiam m i l i ta n tcrn coll formari t r i u m ­ conforme está .dito no txodo( 1): Olha e faz
p han ti , et mcrita praem i i s , et ü1torcs Beatis , sc­ segu n do o m o de lo q u e t e fo i m os t r a do n a
c n n d u m quod possib i l e est . l n g l o r i a : l l l l c m triplex
montanha .. D e fato, é preciso que, n a medida do
possível, a Igrej a militante corresponda à Igreja
est dos , in qua consisti t pcrfe c t i o pra1� r 1 1 1 i , s.: : ! i cc t
triunfante, os merecimentos que aqui se formam
s um m a e pacis a eterna lis te1 1 t io , � 1 1 1 1 1 11 1 a c ver itatis
aos prêmios que lá se recebem, e os que ainda lu-'
manifesta v is io, summae bonitatis n: l c a r i talis p le na tam pela vitória, aos bem-aventurados que já rece­
fruitio 1 . El scc 11 lld u 1 n l i or ( f ü l i ng u i l u r t r i p l c x <mlu beram a coroa. Na glória aliás se encontra uma trí­
in suprema l t i erard 1 i a caelcsti , sc i l i 1;d T l1 ronorum , plice prerrogativa, que toma perfeita a recompen­
Cltcrubim et Seraphim . i\ect�se bl e rgo , u t qui sa que a constitui: a posse eterna da suma
,·ult ad il iam bcat i tudincm pe r m 1: r i ta p 1: rvc n i rc , i sto­ tranqüilidade, a visão ostensiva da suma ver­
rum trium simili tud inem , sec urid u m 11uod possiLile
dade e a plena fruição da suma bondade(2). Decor­
re daí a distinção em um tríplice coro da mais alta
est , i n via sibi com parct , u t . sr: i l i cd l i al 1cat s opo ­
hierarquia celeste: os tronos, os querubins e os
rem pacis , splendorem vr:ritatis , rlulcu1'<:m, ca1'ita­
serafins. Para subir das lutas desta vida à bem­
tis. ln his enim trilms rerj 11 i 1 : c.1: i t. i ps1; IJcus et inha­ aventurança da eternidade, é preciso, quanto
bi tat t anqua m in propri o s1i l i 1 i . i-.; 1:1;1;sse l!Sl i g i tu r , ad possível, reproduzir em si a imagem destes três
unumquodque trium pra1:d i i:tor u rn per trcs grad us c o r o s ce l e s te s , i s t o é , a d q u i r i r o s o p o r d a
ascendcre secu n d u m tri p l i u: 1 1 1 \ i :1 1 r 1 , sf' i l icct purga­ tranqüilidade, o esplendor da verdade e o
tivam , quae consi sti t i u r;x p u l si o 1 1 1: rwccati ; illwni­ dulçor da caridade. O próprio Deus repousa nesses
nativam , quae consi sti t i 1 1 i r 1 1 i latione Ch risti ; uni­ três bens e neles habita em seu trono. Todavia,
tivam , quae consisti t i li su su:ptione Sponsi , ita quod para possuir qualquer desses três bens, é necessário
subir os degraus que formam os três caminhos da
quaeli bet habet gradus suos , per q u os incipitur aL
vida espiritual: a via purgativa, para expulsar da
imo et tenditur usque ad surnrn u qi .
alma o pecado; a via iluminativa, para ensinar-lhe
a imitação de Cristo; e a via unitiva, para realizar a
§ 2 De septem gre.dibus , e;.u ib u s pervenitur a. d soporem pe.cia.
união com Deus. Cada um desses caminhos tem os
seus degraus e por eles é que a alma sobe, partindo
'2. G ra(l n s aulc1 1 1 pern· n i c llll i ad soporem pacis do mais baixo, até chegar ao mais alto, do abismo
sunt i sti scpte m . de sua miséria à montanha da perfeição divina.
I\ a m pri mo occurril pudor i r 1 n·rnrd a t i u l l e ll a ­
gi tii , el hoc quan tu m ; u l q u atuor , se i i l c c t q u a n tu m § 2. Da via purgativa, ou dos sete degraus que
conduzem a alma ao sopor da tranquilida­
de.
L Cap. 2 :; , 4 0 . Clr. Diun ys. , frdc,i ast. l l i c1•a rch. e. 4 . \; 2 ; 2. São estes os sete degraus que conduzem ao
S . Bon a \ . , i n llnol; f l l . ('(•llat. 2 0 - 2 3 . sono d a tra nq ü il idade.
2. C fr. I \". �cn l . d . 4 9 . p. 1 . q . :i . i n n • rp. ; l\rc\ i l " ' I · p . O primeiro é o rubor que nos sobe às faces
\" J J_ C. 7. (' ( i n 1 l l'\:li01ll . (' < l l l a l . � 0 . li. -IU . quando nos recordamos da ignomínia dos nossos
24 8 TRÊS CAMINHOS - CAPffULO III

pecados e consideramos a sua gravidade e quanti­ ad m ag 1 1 itutli11cm , 11w lt itwl inem , turpitudincm , in­
dade, assim como a nossa vergonha e ingratid ã o. !J ra titu dine11 1 .
O segundo é o temor que nos assalta quando :'crn 11do , t i11wr i 1 1 ci rcum spectione i udici i , et
pensamos no juízo que nos espera e pelo qual serão l i oc tJ u:.id rupli cis , sci licel dissipationis operis , ex­
avaliadas a devassidão das nossas ações, a cegueira caccationis rationis , obclumtionis voluntatis , con­
da nossa razão, a dureza da nJssa vontade e a
dem natiunis finalis ..
condenação final da nossa alma.
O terceiro degrau é a dor que provém da Tertio , dolor i n aestimatione da�ni , et hoc
consciência dos danos causados pelo pecado: a secundum quatuor , scilicet qua1 1tum ad mnissio­
amizade de Deus frustrada, a inocência maculada, nem divinae amicitiae, perditionem innoccntiae ,
a natureza deturpada, a vida terrena dissipada. vulnera.tionem naturae , dissipatiunem vitae prae­
O quarto é o clamor pelo qual imploramos o teritae.
socorro de Deus, nosso Pai, de Cristo, nosso Quar to , clamor i n i m ploratione sulJsidii qu ad ru­
redentor, da Virgem, nossa mãe, e da Igrej a triun­ plicis , scilicet Dei Patris, Christi Redemptoris, l'ir­
fante.
O quinto é o rigor pela qual extinguiremos em
ginis Jllatris , Ecclesiae triumphantis.
nós mesmos o ardor da concupiscência, domando Q u i n to , rigor in exstinctio1w fornitis sive in­
a preguiça que esteriliza, a malícia que perverte, a centiYi quadruplicis , sci licet ariditatis , q uae est
s e n s u a l i d a d e que ento rpece, o o rgulho q u e u e:-;id i a , 1wru<:rsitcttis, quac cst m :i.l i lia , vulupta­
envaidece. tis , rp1al· cst conc u pisccn tia , vanitatis , quae est su­
O sexto degrau é o fervor pelo qual aspiramos perlt i a .
ao martíri o na esperança de que por ele Deus nos Sexto , ardor i n a p pe t i t ion e martyrii , e t hoc
conceda o perdão c o m p l e t o d o s p ecad o s , a
proptcr quatuor , sci licet propter perfectionem re­
purificação total das almas, a satisfação inteira das
penas devidas, a santificação perfeita pela graça. missionis offensae, propter perfectionem purgaiio­
O sétimo e último é o sopor à sombra de Cristo, nis maculae, propter perfectionem satisfactionis poe­
pela qual atingimos ao estado final de repouso. nae, propter perfectionem sancti(zca.tionis in gratia.
Protegido pelas asas divinas( l ) o homem se sente Septi rno loco s e q u i t u r sopor in obumlJratione
em s egu r a n ç a : n ão o excita m a i s o calor d a Chri sti , ubi status est et req u i es , d u m homo sen­
concupiscência, nem o abate já o temor do castigo. t i l , se protegi snlJ u mhra ala r u m divinarum 1, ut
A este estado não se chega senão pelo desejo do 11011 u ratur ardore con cupiscentiac n ec timore poe­
martírio; e este não se concebe senão extinguindo _
nae ; ad quod non potest perven ire n i si per appcti­
os incentivos do pecado; e istonão se alcança senão
com o auxílio de Deus; este não se obtém senão tionem marty ri i ; nec ad appeli tioncm marty ri i n i si
deplorando as p róprias faltas; e estas não se exsti n xerit i ncen tivum ; n ec ad l r oc , n i s i imploraYer i t
deploram senão pelo temor .da j ustiça divina; e subsid i um; nec a d hoc, n i s i deplorct damnum sumn ;
este não se sente se não se sentir previamente a nec ad hoc , nisi timeat tlivinum i udicium ; ucr at1
vergonha da própria ignomínia. Assim, quem hoc , n i s i reco rdetur çt erube s ca t flag i ti m n . CJu i m i l
quiser chegar ao sono da tranqüilidade, suba todos ergo h abere pacis soporem , procedat sccu nd u 1 1 1
esses degraus na ordem em que os escrevemos. praeassi gnatum ordinem.

§ 3. Da via iluminativa, ou dos sete degraus § 3, De septcm gra.dibus , quibus perveuitur a.d
que levam ao esplendor da verdade pela splendorem veri ta.tis.

imitação de Cristo.
3. G ratl us pencniend i ad splendorem veritatis ,
3. Os degraus que, pela imitação de Cristo, ad quem perveni tur per i m i tationem Christi , sunt
conduzem ao esplendor da verdade são os sete
seguintes: submissão do entendimento, sentimen­ as�ensus ra tionis , affectus com­
h i septem , sci licet

to de compaixão, olhar de admiração, fervor de passionis , aspcctus admirationis , exccssus devo­


devoção, revestimento(2) de semelhança, abraça­ tionis , amictus 2 a,ssimilationis , amplexus crucis ,
mento da cruz, intuição da verdade. Esta é a intuitus veritatis ; in quibus hoc ord i ne progredien­
ordem em q ue devem ser percorridos_ durn est.
P ri m e i r o , considera quem é que s o fre e Primo con sid era , quis est qui patilu r , et ei-
submete a ele a tua razão, para que firmissimamen­ dem suLdcre per rationis assensum , ut credas fir­
te creias que, deveras, Cristo é Filho de Deu s , m issi me, Chri stmn veraciter esse Dei Fi l i u m , .om n ium

L Psa l m . � G , 8 : S u b u m Lra illarum t u n r u m protl'gc 1 1 ; c .


P s . G O , 5 : l n i l a lJ i t a Lo in taLcrnaculo t u o i n sn cc u l a , prole � ; 1 1 2. l ! oc e x p l i ca t u r Hom. ·I ::i , 1 4 : ln<l ú i m i n i Dom i n u m lesum
i n n :l a m c n t o nlaru m tun rn m . C l 1 rio 0 t u 11 1 ; dr. G ;i l . 3 , 2 7 .
TRÉ'.S CAMINHOS - CAPITULO III 24 9

rer u m Pri ncipium , Salvatorem homi num , Rctribu to­ Princípio de todas as coisas, Salvad or d os homens
re m meri torum omnium. e retribuidor universal dos méritos.
Secundo , qualis est qui pati tur , et ei coni un­ Em seguida, considera as qualidades de quem
gere per co mp ass io n is affectum , ut com patia­ sofre e une-te a de com afetuosa compaixão,
porque J ele é inocentíssimo, mansíssimo, nobi­
ri s i n nocentissimo , m i tíssi m o , n obi l i s simo ct aman­
líssimo e misericordiosíssimo.
tissim9. Em terceiro lugar, considera a grandeza de
Tertio , qttanttts est qui pati tur , et ad ipsum
quem sofre e aproxima-te dele com um olhar de
egredere per admirationis aspectum et a t lende , admiração, e vê que pela pujança, pela beleza, pela
quod im mensus est potestate , speciositate , felici­ felicidade, ele é imenso e, assim, admira como a
tate , aeterni tate. Admi rare igi tur immensam potesta­ sua pujança foi reduzida a nada, a sua formosura
tem ann ihilari , speciosi tatem decolorari , M i c i t a tem desapareceu, a sua felicidade foi substituída pelos
torm entari , · aeterni tatem mori . tormentos e a sua eternidade abisma-se na morte.
Q Üarto , qua de causa pat i t u r , et te i psum obl i­ Considera, em quarto lugar, a causa desses
sofrimentos, e transportado de devoção, esquece­
viscere per de votio n is excesswn , q u ia s c i l i c e t pa­
te a ti mesmo e contempla a esse que sofre para que
ti tur pro tua redempt ione , i llurni nationc , sancti fica­
sejas resgatado, para que sejas ilum inado, para que
tione , glorificatione. sejas santificado, para que sej as glorificado.
Qui nto , quali forma pat i tur , et Christum i n ­ Em quint o lugar, considera como ele sofre e,
duere per assimilcitionis stttdittm. Pa ss us e s t e n i m para te assemelhares a ele, reveste-te de sua graça.
libentissime respectu proximi , severissi me respectu Ele sofreu livremente em relação ao próximo,
sui , obedientissi me respectu Dei , p rn e n t i s si m e re­ d seve ramente em relação a si mesmo,
spectu adversari i . Stud.e igitur ad hahcncl um hab i t u rn o bedie ntemente em relaçã o a o Pai, e
prudentemente em relação ao inimigo . Esforça-te,
benignitatis ad proximum , s c v e ri t a t i s au te i ps u m ,
por isso, p a ra adqu irir, imitando a C risto, a
humilitatis ad Deu m , perspicaci tatis con tra d iabo­
bondade para com o próximo, a severidade para
lum , secundum effigiem i m i ta t i oni s C h rbti .
c o n t i go , a h u m i l d a d e p a r a c o m D e u s , e a
Sexto attende , quanta s u n t qnae pat i t n r , et perspicácia para com o demônio.
crucem amplectere per passio n is <lesider i 1 1 1 i 1 , ui , Em sexto lugar, considera a quantidade dos
sicut passus est vincub ut impotens 0 1 1 1 1 1 i11otr:n­ seus sofrimentos e, pelo desejo de imitá-lo, abraça
tia , convitia ut v ilis bonita s , l u d i b r i a ut s lu l t n s su ­ a sua cruz. Ele foi acorrentado para que a sua
picntia , supplicia u t i n i q u u s i11 stit ia ; s i c et tu de­ onipotência parecesse impotente; foi insultado
�ide res p ass i o n e m c r n c i s , lioc est p�ts:;ion cm plemm para que a bondade se tornasse desprezada; foi
i11 i11 riis i n r e b u s , con vitiis in w r b i s , lwlibriis in
motejado como um demente, para que sua sapiên­
cia parecesse insensatez; foi supliciado, para que a
s i g n i s , supplicii.� i n tor m e u t i s .
justiça se mascarasse de iniqüidade. Assim, tu,
Sep ti mo ron :'idera , 11 11 id w l !wc conseq uit u r , para seguir o seu exemplo, desej a o suplício da
r1 uotl p a t i t u r ct vc r i t a t i s ratl i u m i n t u e re per con­
,
cruz: injustiça no que receberes, ultraj e no que
f,.,mpbtionis oc u l u m : quon iam ex hoc , quod Agnus ouvires, desprezo no que vires, tormento no que
( •. i :':' l l :i r s t , se11te 1 i z sig n a c u la libri aperta sunt , padeceres.
.\ por:llypsis i1 11 i 1 1 l o 1 • L i bc r i s lc l'St uni rersalis rernm Enfim, considera o efeito daqueles sofrimentos
noti lia , in qua s1' p ! t> m crant claus:l homi n i , quae
e penetra com olhar de contemplação esta deslum­
brante verdade: que os sete selos do livro (Apoca­
q 1 1 i d 1 · m sunt per p : 1 s s i o n i s C h r i s t i c tl i caciam reserata ,
lipse, cinco) ( l ) se abriram, porque o cordeiro
�1 · i l i 1 · e t Deu .� ;i r l m i r;t l 1i l i s , sp irit 1 1 s i n tel l i g i b i l i s ,
padeceu. Este livro é o conhecimento universal das
1 1 1 1 u u l 1 1 s. :'1' n s i l 1 i l i :' , ;111 n u li.w -l' 1 ksiderabi lis , i11 fer- coisas, as quais estavam vedadas aos homens e,
1i u.s h n rr i li i l i s , l 'irt u .> l : u 1 1 l : t bi l i :' , reatus c"ul p:lb i l i s . em virtude da paixão de Cristo, lhes foram mani­
11 . Primo i :,: i t ur D1 · 1 1 s a tl 1 1 1 irabilis p e r crucem festadas, e estas foram: quanto é Deus admirável, o
11 rn 1 i f1 ·s L 1 ! 1 1 s 1 · � t 1 · �s1· :' 1 1 1 1 1 1 1 1..1c l ' l i mperscrutabi lis sa- espírito inteligível, o mundo desprezível, o paraíso
11 !1.' 1 1 l irt e , � 1 1 11 1 1 1 1 : 1 1 • d i r rc p rl' l1rnsibilis iustitiae , sum­ desejável, o inferno detestável, a virtude louvável e
o pecado condenável. Tudo isto é na cruz que
mae e t i 1 H:narr; 1 l i i l i s 1 1 1 is1'l'Ícordiae. Summa e n i m sua
perfeitamente se patenteia.
sapil' 1 1 t ia tl 1 ·cc p i t d i a bo l n m , summa útstitia quae­
4. Primeiramente, a cruz mostra quanto é Deus
si Y i t redcm p t i o1íi s prc t i u m , s u m ma m isericordia pro admirável, porque ela manifesta a sua suma e im­
n o L i :; t rad i tl i t Fi l i u m ; q uae si diligenter consideren­ perscrutável sapiência, a sua suma e irreprensível
l 1 1 r , Tknm n o l J i :; d a r i ss i mc m a n i fest;int. justiça, a sua suma e inenarrável misericórdia. A
sua sapiência frustrou a sagacidade do demônio, a
sua suma j ustiça recebeu o preço da nossa reden­
ção, a sua suma misericórdia entregou seu Filho
para nos salvar.
250 TRÊS LAMINHOS - CAPfTULO III

Em segundo lugar, a cruz manifesta quanto o Secundo , sp ir it u s in tdlig ib ilis man i festatus est
espírito é inteligível, e o manifesta triplicemente: per c ru c c m sccurnlum d i ITercntiam triplicem , sci licet
pela benignidade dos anjos, pela dignidade dos quan tae s i t benignita ti.Y 4uan t u m ad Angelos , quan­
homens e pela crueldade dos demônios, pois o tae sit dig n itatis q uantum ad homi nes , quantae sit
Filho de Deus foi crucificado com permissão dos cru delitatis quantum aJ daemones. Nam Angeli per­
anjos, para salvação dos homens e por sugestão
m i serunt crurifigi Dom i n u m suum ; Dei Fili us cru­
dos demônios.
Em terceiro lugar, a cruz manifesta quanto o cifixus est propter genus h umanum , et hoc ad sug­
mundo é desprezível pois nele reina a cegueira, que gestionem daemonu m .
não quis conhecer a verdadeira luz( 1 ), nele reina a Tertio , m u ndus sensibilis manifestatus est per
esterilidade, que desprezou Jesus como inútil, e crurem , q uon i : u n est loc us , in quo regnat caecitas,
nele reina a injustiça, que condenou e matou o seu g
q u i a lucem rera m et summ:un non a noYit 1 ; regnat
Deus e Senhor, seu amigo inocente. ster ilitas , q u b Ies11 1 11 C h r i s t u m tanquam infructuo­
Em quart o lugar, é a cruz que mostra quanto o sum despe x i t ; n'gnat in iq 1 t itas , quia Deum et Do­
paraíso é d e sejável, porque nele se encontra o
m i n u m s u u m et a m i c u m c t i n nocentem damnav i t et
fastígio de toda a glória, a reunião de todas as
in terfeci t.
alegrias, o repositório de toda riqueza. Para nos
restituir essa habitação, Deus se fez homem abjeto, Q u a r to , pa radis u s desiderabilis man i festatus
culpado e miserável; homem cuja abj eção ocultou cst per c rnrcm , i n q uo est fastig iurn totius gloriae ,
a p r ó p r i a s u b l i m i d a d e , c uj a c u l p a b i l i d a d e specta c u f 11 m o nm i s lae t i t i ae , promptuarium 0111nis
escondeu a própria justiça e cuja pobreza revestiu a opulen lia e , c u m Deus propter i l iam habitationem no­
própria opulência. O nosso rei se tornou escravo e bis res t i t uendam factus fueri t homo vilis , m iser et
desprezível para nos elevar à mais alta glória; o pau per ; i n quo celsitwlo ad misit abiectionem , iu­
nosso juiz suportou as atrozes penas do castigo stitia :mhi i t rca t u m , opulentia suscepi t egestatem.
para que fôssemos eximidos da culpa do pecado; o
Nam al t i s s i nrn s Impcrator accepi t servi tutem abi e­
nosso Senhor assumiu a extrema miséria para que
c tarn , u t subl i m arcm u r in gloriam ; iustissi mus Iudex
11 ó s r e c e b ê s s e m o s c o m a b u n d â n c i a as s u a s
riquezas(2). sub i i t rcat u m poenalissimum , ut iustificaremur a
Em quinto lugar, é a cruz que faz compreender cul pa ; opnll'nt i ssimns Dom i n us suscepit egestatem
quanto o inferno é detestável, pois que nele só há ex tremam , ut locnpletaremur in copia 2•
indigência, vileza, ignonimia, calamidade e misé­ Quinto , man i festatus est per crucem , quod in­
ria(3 ). Se a paixão de Cristo foi necessária para fenw s est h orriú ilis locus , plenus egestate , vilitate ,
apagar e expiar os pecados dos homens, mais ignom i 9 i a , cala m i tate et m iseria 3• Si enim necesse
necessário será que o s p r ó p r i o s pecado res
fnit , haec Christum pati propter peccati deletionem
renitentes sofram ali, c o m justa retribuição, o
e t satisfac tioncm , m u l lo forti us oportebit , haec pati
castigo dos seus malefícios .
damnatos propter i n s t a m mcri tornm suorum retri­
Em sexto lugar, é a cruz que patenteia quanto a
virtude é louvável. pois mostra quanto ela é bela, huti onem e t recompensationem .
preciosa e útil. Bela, porque resplandece em Cris­ Se x to , man i festa ta csl per cruccm virtu s la11-
to, a despeito dos ultrajes que o cobrem; preciosa dab ilis , q ua n t u m scilicet sit pretiosn , speciusa , {ru ­
porque ele preferiu antes perder a vida do que ctuosa : pretiosa , quia an te ded i t ''i tam Christus ,
ofendê-la; útil, porque um só ato perfeito de quam virtuti con trai rct ; .�pec iosa , q u i a in ipsis con­
virtude (qual praticou Jesus) bastou para despojar tumeliis relucebat ; fructuosa , quia unus usus per­
o inferno, abrir o céu e restaurar a terra. fectus vi rtutis infernum spoUavi t , caelum aperui t ,
Em sétimo lugar, é a cruz que evidencia quanto
terram restauravi t.
o pecado é condenável, pois a sua remissão exige
Septimo , mariifestatus cst per crucem reatus
preço tão alto, expiação tão cruel e tão amargo
remédio. Foi preciso que, unidos em uma só c u lpabilis , quantum detestabilis si t , cnm ad sui re­
pessoa, o próprio Deus e o mais nobre dos homens m i ssionem i mligeat tam m a gn o pretio , tarn grandi
satisfizesse: pela arrogância extrema, com uma p iaculo , tam difficili medicamento , in tantum , ut
vilíssima abjeção; pela cupidez sem termo, com Den m ct homi nem nobi li ssi mum in unitate personae
uma despoj adíssima pobreza; e pela sensualidade oportuer i t sat isfacere pro arroga11 tia , qua n ulla fui t
insaciável, com uma acerbíssima penitência. elatior, per abiectissimam vi l i tatem ; p r o cupiditate,
qua nulla fui t avidior, per e x q u i si tissi mam pauper­
' " C fr . loan. ·1 , 9. scq. tatem ; pro lascivia , q u a nulla fui t dissolutior , per
" Au gust., X I I I . Confcss. e. 8. n . !J : Iloc lan l u m seio, q u i a amarissi mam acerbi tatem .
millc m i h i est practcr te , non so l u m extra me , se<I et in me
i pso , cl omnis mihi copia , quae Deus meus non cst , e gestas
LCSt. 13 Cfr. lob 1 O, 22.
.
TRÊS CAMINHOS - CAPnuLO III 25 1

!>. Ecce ig itur, quomodo omn ia i n cruce man ife­ 5. E i s , p o rt a n t o , c o m o t u d o se e n c o n t r a


n ia eni m ad baec sep tcm red u c u n tur. claramente n a cruz, pois tudo pode reduzir-se aos
stant ur . O m
ux est ela vis , porta , via ct splcnclor ve­ sete conceitos supra mencionados. A cruz é a
Un de ipsa cr
qni tolli t et scq u i t u r i u x ta mod u m chave, a p o r t a , o c a m i n h o e o e s p l e n d o r da
rita tis , qu am
ambu lat i n tenebris , sei/ ha­ verdade. Quem a toma consigo e a carrega, seguin­
pra eassig n atum n o n do a direção que apontamos, não caminha nas
bebit lmnen v _tae 1 •
i trevas, mas possui a luz da vida( 1 ) .

§ 4. De septem grad ibus , quibus pervenitur


ad dulcorem carib.tis. § 4. Da via unitivo, ou dos sete degraus que
conduzem à doçura da caridade.
6 . Gradus veniendi ad dulcorem caritatis per su­
sc ep tionem Spi ri tus sancti sun t isti septem , scilicet 6. Os degraus que conduzem a alma à d oçura
da caridade pela inspiração do Espírito Santo são
vig ilantia sollici tans , confidentia confortans , concu­
sete: solícita vigilância, serena confiança, desejo
JJiscentüi inflammans , excedentia elevans , cQmpla­ ardente, sublime transporte, quieta complacência,
centia quietans , laetitia delectans , ad!taerentia con­ deliciosa alegria, aglutinante união. Percorridos
gluti nan s ; in qnibus hoc ordine progred i deLes , qui na ordem i ndicada, esses degraus elevam a alma à
vis ad perfectionem caritatis pcrtingere ct ad amo­ perfeição da caridade e ao amor d o Espírito Santo.
rem Spi ritus sancti . É necessário, com efeito, que a vigilância seja
�eccssc cst cn i m , n l i·iy ilrwtin tf' sullicitcl p r o ­ solícita, porque a vinda do esposo é subitânea;
pler Sponsi promptitudinem ai leo , u l pos:'is d i ccrc 2 : assim é precis<J dizer com o salmista(2): Meu
Deus , Deus meus , ad te de luce vigilo ; c l i l lud Deus, meu Deus, desde o romper do dia fico
Can ticorum : Ego dorm ia , ct cor meum vigila. t ; et vigilante; e com o rei sábio: Enquanto eu durmo,
il ln4 prophcticum : A nima mea desideravit te in no­ vela o meu coração; e com o profeta: Durante a
n o i t e a m in h a" a lm a vos c o b iç a e des de a
cte , sed et spiritu meo in praecordiis meis de mane madrugada o meu espírito vos aguarda no fundo
vigilabo ad te. do coração.
Secundo , ut confidentia te confurtet proplcr E m seguida, é p r e c i s o q u e s ej a s e r e n a a
Sponsi certitudinem adeo , ut possi s d i ccrc 3 : ln te, confiança, pois que é certa a vinda do esposo; tanto
Domine , speravi, non confundar in w:ternum ; ct que se pode exclamar(3): Sois vós, Senhor, a
4 minha esperança, jamais serei enganado; e com Jó:
i llud Iob : Etiam si occüieril me , in ipso sperabo.
Tertio , ut concupiscentia te inflnmrnet proptcr A inda que me venha a matar, é nele que terei espe­
rança.
Sponsi dulcedinem adco , nt .Possis d i r:erc 4 : Sicut
Em terceiro lugar, deve ser ardente o desejo
cervus desiderat a d fontes ar1uarum , ita desülerat pela doçura do esposo, para que a sua satisfação
anima mea ad te , Deus ; ct i l l wl Cantir:oru m : Fortis sej a agradável, como o dessedamento de u m
est ut mors dilectio ; et i l lud : Quú.l a m ()rr: laagueo. sequioso, a fim de repetir(4): Assim como o cervo
Quarto , ut excetlentia tr: l'lr:vr:t p roplcr Sponsi deseja a fonte das águas, assim a minha alma vos
celsitudinem adeo , ut possis d i1:1;n: 5 : (J u,am dilecta deseja meu Deus. E como o Cântico dos Cânticos:
tabernacula tua , Domiw .: 1;irl 1 1 l wu ; d i l l ud spon­ O amor é tão forte como a morte e eis que desfa­
sae ; Trahe me post te dr: . ; i : l i l l 1 1 d loli : Suspen­ leço de amor!
diu m elegit anima mea.
Em quarto lugar, é mister que o transpo rte
sublime a alma até as alturas celestes do esposo,
"hünto , u t com1ilac1:nlirl l e r1 uietet propter para que ela exclame(5): como são belas as
�punsi pu lcritudinem atleo , 11 t po� sis cl i ccrc i l lud
vossas moradas, ó Senhor Deus dos exércitos ! E
!'ponsac 6 ' : /Jilectus meus 111 ilii , et r:gu illi ; ct i l lud : com a esposa dos Cantares: A traí-me, para que eu
Dilectus meus can dillus et rufJ ic w ulus , electus ex corra em vosso encalço. E com J ó: A minha alma
Ili illiú us. prefere a violência.
E m q u i n t o lugar, a q u i e t a c o m p lacê n c i a
conserva a alma em suave tranqüilidade, como a
esposa diante do esposo, de modo a poder dizer
l . lonn . 8 , 1 2. - �l a l l h . H > , 2í : Si quis v u l t posl me com a esposa d os Cantares(6): O meu amado me
\·enire , aLncgct . scmelipsum cl Lol l a l rruccm suam cl seq u a lur
pertence, e eu a ele. E noutro lugar: Meu dileto é
me.
claro e loiro, escolhido entre milhares.
2. Psa l m . 6 2 , �. - Duo scqq . luei sunt Canl. 5, 2. el lsai.
26 , 9. s . Psalm. IS :J , �. - Duo scq q . l u c i s u n t C a n t . 1 , :i . 1 • 1 lul1
3. Psalm. 3 0, 2. 7 ' 4 5.

4 .Psa l m . 4 1 , 2, posl quem Cant. 8, 6. et 2. ;; . 6. Canl. 2, 1 6. ct deinde 5, ·I O.


252 TRÊS CAMINHOS - CAP(TIJLO III

Em sexto lugar, uma deliciosa alegria, devid o à Sex to , ut laetitia te delectet proptcr Svonsi ple­
plenitude do esposo, enche a alma e ela pode n itudinem adeo , ut possis dicere 1 : Secundum mut­
exclamar( l ): Do mesmo modo que as aflições em t itudinem dolorum meorum in c a rde m eo consola­
turba contristaram o meu coração, agora as vossas tiones tuae laetificaverunt anim am m eam ; ct i l lud :
consolações regozijam a minha alma. E noutro Q uam magna multitudo du lcedinis tuae, Dom ine !
lugar: Quão gran de é o n ú m ero de vossas
et i l l ud Aposloli : Repletus sum consolatione , super­
consolações, ó Senhor! E com o apóstolo: No
meio de todas as minhas aflições estou repleto de abundo gaudio etc.
consolações e superabundante alegria. Septimo , ut a d!taeren t ia te c o ngl tt t in e t propter
Em sétimo lugar, se encontrará a alma em tal amoris Sponsi fortitwlinem adeo , ut possis diccre 2 :
união amorosa com o esposo, que estará cem.o que Jlihi a u tem adhaerere Deo bonum est ; et illud :
aglutinada a ele e poderá dizer(2): Minha Quis n os s ep a ra b it ct caritate Cltristi ?
felicidade é estar unida a Deus. E ainda: Quem nos 7. ln bis enim gradibus ordo est , nec status est
separará do amor de Cristo? an te ultimum , nec ad i llum peneni tur nisi per gra­
7 . A s s i m , a vigilância n o s faz c o n s i derar
dus i ntcrmedios et mutuo i ntra se positos , Et i n
quanto é j usto, útil e agradável amar a Deus(8); a
primo Yiget consideratio , i n ceteris vero seq uen tibus
confiança, oriunda des sas reflex ões, suscita o
desejo, e este o trans p orte, a complacência a clomi natur alTcctio. rigila ntia cnim considerat , quam
alegria, até que a alma se encontre na perfeita honestmn , q uam confercns , quam dclcc tabilc si t di­
união com Deus, à qual suplicamos que ele nos ligere Deum 3 ; et ex hoc quasi nata fiducüt parit
faça chegar. Amém. concupiscentiam , et i lia excedentia m , quousque per­
wniatur ad copulam et osculum et a m plex u m ad
quod nos perducat etc. Amen.

§ 5. Recapitulação § 5. Recapitule.tio.

8 . Os três caminhos da vida espiritual que 8. Possunt autem dicti gradus redoei ad compen­
acabamos de descrever neste capítulo, p odem ser dium per hunc modum. Primo distinguuntur grad us
descritos de modo mais breve, como se segue: p u rgcttionis sic : propter fiag itium erubesce , proptcr
Na via purgativa os degraus a percorrer são
hulicium c ó ntremisce , propter damnum ingemiscc ,
estes: a vergonha da ignomínia, o temor do j uízo, a
lástima dos prejuízos sofridos, a impetração do
propter remedillm i mplora subsidi u m , propter ad­
socorro necessário, a luta contra o inimigo sempre versarium expugna i ncentivum , propter bravium
alerta, o a n e l o p e l o martírio q u e assegura a anhela ad martyri u m , propter mnbracu lmn appro­
recompensa, o refúgio em Cristo para encontrar a xima ad Christum .
tranqüilidade. Gradus perti nen tes a d illmninationem distin­
·

N a via iluminativa há os seguintes degraus a guantur sic. Considera , quis est , qui pati tur , et
subir: a identidade de quem sofre, para submeter o .credens captivare ; qu a. lis est , qui pali tur, et condo­
espírito a fé; a qualidade de quem sofre, para, Jens amaricare ; q ua.ntus est , qui patitur, et obstupc­
unido a ele, sofrer; a grandeza de quem sofre, para
scens admirare ; qua de causei patitur, et confülens
e ncher-se de adm ira ç ã o ; o m o t i v o d o s s e u s
regratiare ; quali fo rm a patitur, et subsequens assi­
sofrimentos, para, confiante, agradecer; a nature­
za desses sofrimentos, para, imitando-o, aceitá­ milare ; quanta sunt , quae patitur , et exardescens
los; a quantidade de tais sofrimentos, para, com amplexare ; quid ad lwc consequitztr, et intelligens
ardor, compadecer-se; enfim, o resultado desses contcmplare.
sofrimentos para, compenetrado, contemplar a Gradus vicie unitivae sic distinguuntur : te vi­
verdade do seu ensinamento. g ilan t ia sollicite� propter Sponsi promptitndinem ; te
Na via unitiva, são estes os degraus a galgar: a confidentia corroboret propter eius certitudincm ; con­
vigilância, para ficar alerta à chegada inopinada cupiscentia te inflammet propter eius dulcedinem ;
do esposo; a confiança, para esperar com certeza a
excedentia te subleret propter eius celsitmlinem ;
sua chegada; o desejo, para cobiçar com ardor a
s u a v i nd a ; o t r a n s p o r t e , p a r a e l e v a r - s e à complacentia te quietet propter eius pulcritudinem ;
excelsitude das suas moradas; a complacência, laetitia te inebriet propter amoris eins plenit u dinem ;
para quietamente fruir a sua presença; a alegria,
para regozij ar-se do seu amor; e, enfim, a união,
2 . P�alm. 7 2 , 2 8 , posl q u e m R o m . 8 , 35 .
1. Psal 1 1 1 . 93 , 1 9 , cui subncclunlur P,;. 3 0 , 20.
(pro qt1t1 3 . ::;cc1 m u u m Aristol., li. Elhic. e. 3, Lriplcx distinguilllr
'
non n u l l i codd . Ca n l. 5, 1 : Comedi fa rum cum melle 111eo) et bon u m , '1 1 10<1 i n c l c c l i o n e m caderc · potcsl , sci l. honcstu m , .u lile
, l i . r.or. 7 , 4 . et i n c 1 1 11 d u m .
TRÊS CAMINHOS - CAPrruLO III 25 3

culli a er e11 t ia te conglutinet propter amoris eius for­ para aderir completamente a ele e assim clamar
tit u tlinem , ut dicat semper dernta ani ma i n conle c o n t i n u am e n t e no íntimo do coraç ã o : A vós
ominum : Te <1naero , in te spero , te de­ procuro, meu Deus, em vós espero, a vós desej o,
s uo atl D
para vós me exalço, em vós descanso, em vós me
si de ro , in te consurgo , te acccpto , i n te cxsnlto et
alegro e a vós me uno por toda a eternidade.
t ibi fi nal i ter ad haereo.
§ 6. Outra classificação dos estágios ou degra­
§ 6. Alia distinctio novem graduum proliciendi.
us dos três caminhos da perfeição.

9. �ott, quod grad us proficiendi possunt etiam ali­ 9. Os degraus da perfeição espiritual poderiam
ter distingui , secundum triplicem dilTerentiam tripli­ ser c las s i fica d o s de outro m od o , d iverso d o
catam , triplici hierarchiae consonam. Necessaria enim apresentado: triplicando a tríplice repartição que
sun t cu i libet tria , sci licet amariludo , gratitmlo , no começo i n d i c a m o s para c o n fo r m i d a d e d o
espírito com a tríplice hierarquia celeste. São três
similit udo , et hoc post lapsum . Si enim homo non
os sentiment o s que devem comover a alma:
peccasset , ti no su fficeren t , scilicet gratitwlo et si­ contrição, gratidão e conformação. Se o . homem
militudo : gratitwlo propter gratiam , similitudo pro­ não houvesse pecado, dois sentimentos b ástariam:
pter iustitiam. Sed nunc necessaria est etiam amci­ a gra t i d ã o e a c o n for maçã o ; a gratidão em
ritudo , propter medicinam. Peccata cnim per dele­ recon hecimento dos benefícios recebidos, e a
ctationem perpetrata deleri non possunt , nisi inter­ c o n fo r m a ç ã o c o m D e u s em c o n s e q ü ê n c i a d o
veniat con tritio affiictiva . estado de justiça em que viveria. M as, depois do
ln am a rit1uline debet esse ponderatio malo­ p e c a d o , u m t e r c e i ro s e n t i m e n t o se t o r n o u
indispensável para restaurar n a alma a imagem de
rum propter proprias nequi tias , memoratio dolo­
Deus deformada pela culpa: a contrição, que é
rum propter Ch ri�ti angustias , postulcttio remedio­ como um medicamento amargo mas proveitoso.
rum prop lt' r proxi m i m i scrias. Os pecados cometidos por amor do prazer não
ln gratitwline t lebet esse a rlm ira t io beneficio­ podem ser perdoados senão por meio da contrição,
rum proptcr aeationem tle n i h i lo , ctnnilt ilatio me­ que nos faz voluntariamente sofrer.
ritorum propter reparationem tle peccato, actio gra­ A contrição se obtém pela consideração das
tiarmn propler ereptionem de inferno. Fui t enim p ró p ri a s i n i q ü i d a d e s , p e l a le m b ra n ç a d o s
creatio ad imaginem , retlemptio per propriu m san­ sofrimentos de Cristo, e pela compaixão d as
guinem , ereptio usque ad caeli altitudi nem. aflições do próximo.
A gratidão se exprime pela admiração das
ln sim ililwline debet esse aspectus veritettis
graças recebidas, a começar pela da criação; pelo
elevatus ad superiora , affectus carilatis dilatat n s ad reconhecimento da anulação das penas, efetuada
exteriora , actus virilitcitjs ord iriatus ad i nteriora ; pela redenção; e pela ação de graças, suscitada pela
ut sic fiat erectio supra te per a.�pectu m veritatis, libertação dos castigos do inferno. Pela criação
et hoc per contemplationem dh·inorum , intelligentia , Deus deu aos homens a sua imagem, pela reden­
per ci rcumspectionem universorum , scientia , per ca­ ção, o seu próprio sangue, e pela libertação do
pti vationem iudiciorum , fide formata 1 • - Item, ex­ inferno elevou-o às suas moradas celestes.
tensio circa te debet diligenter ficri per affectum A conformação da alma com Deus se verifica
pelo reconhecimento da verdade, que eleva às coi­
caritatis , et hoc per appetitum de li ti arum caele­
sas superiores; pelo sentimento da caridade, que a
stium , sapientia ; per cimplexum rationabilium , estende às coisas exteriores; e pelo ordenamento
amicitia ; per contemptum voluptatum carnalium , da vontade, que a reconduz às coisas interiores. A
modestia. - Item exercitatio intra te debet esse elevação se faz triplicemente: pela inteligência, na
per actuni virilitatis , e t hoc per aggressum diffici­ contemplação do que é divino; pela ciência, na
l i u m , strenuitate ; per actum laudabilium , magnani­ observação da natureza; e pela fé bem formada
mitate ; per amplexum humilium , !tumilitate. submetendo em tudo a razão aos ensinamentos de
Deus( I ). - Do mesmo modo, é tríplice a dilatação
da caridade: pela sapiência, que dá o desej o das
coisas celestes; pela amizade, que faz compreender
os seres racionais; e pela modéstia, que ensina o
desprezo dos prazeres sensuais. - I gualmente é
com tríplice força que se ordena virilmente a
v o nt a d e : p e l a e s t r e n u i d a d e , q u e i n d u z a
empreender o que é difícil; pela magnanimidade,
que estimula a praticar ações dignas de louvor; e
1 . Epist. li. Cor. 1 O, 5 : ln capli\' i late111 red i gentes omnem pela h u m ildade, q u e s u s c i t a o am o r d a vida
intcllc c t u m in oLseq u i u m Christ i .
obscura e rasteira.
254 TRÊS CAMINHOS - CAPI'ruLO III

1 0 . Pode-se ainda dizer, por outra forma, que 1 0 . Purgatio aulem in amaritudine , i n qua csl
se opera a purific lção da alma pela amargura da contritio respectu sui, dcbet esse dolorosa per tri­
contrição, a qual será dolorosa em respeito a si stitiam propter mala premenlia te i psum , Christum
mesma, por causa das iniqüidades perpetradas; et pro x i a m m . - Compa ssio respcctu C!tr isti dcbel
temerosa em relação a Cristo, por compaixão dos esse timorosa per revercntiam propter iudicia b­
seus sofrimentos e reverência dos seus juízos que
tenti a , et tamen Yera , licet incerta , si cu t tcmpus ,
são latentes mas inevitáveis, ainda que incertos
quanto ao tempo, como dia e hora; e misericordio­ dies et hora , - Commisera tio respectu pro:rim i
sa em relação ao próximo, por piedade de seus debet esse clamorosa per confidentiam propter patro­
desatinos, pena dos castigos que o ameaçam, e cinia sempe r parata per Deum , per Christum, per
confiança no auxílio aos homens oferecido por Sanctorum suffragium.
Deus mediante os méritos de Cristo e os sufrágios Illuminatio in sim ilitudinc , i n qua est aspe­
dos santos. ctus verilatis primae erectus ad incomprehensibi­
Opera-se a iluminação pela conformação da lia , expansus ad intelligibi lia , exinanitus ad credi­
alma com Deus, o que se alcança, primeiro, pelo
bilia ; in qua etiam est affectus caritat is erectus
con hecime n to da verdade suprema, o qual eleva o
e s p í r i t o a o i n c o m p re e n s í v e l , o e s t e n d e a o ad Deum , extensus ad proximum et exinani tus ad
inteligível e o sujeita à fé nas coisas que s ó a crença n m n d m n ; actus virilita tis , t'r('cl n s ad commc1Hla-
entende; em segundo lugar, pelo sentimento de 1Ji lia , e xtensus ad com m u n i c a li i l i a , exinani lus ad
caridade, que eleva o coração a Deus, estende-o ao contemptibilia.
p r ó x i m o , e ret i ra-o do m u nd o ; e n fi m , p e l o Perfectio in gmtitwline , in q ua est vigilan­
ordenamento d a vontade, q u e a eleva pelo desejo tia exsurgens ad canticum prop l er Leneficiorum uti­
de fazer o que é louvável, estende-se ao próximo litatem ; laetitia exsultans ad iuiJi lum propter dono­
pelo desejo de comunicar-lhe o que possui e a rum pretiositatem ; benevolentia a cceden s ad ampl e ­

reduz pelo desejo de afastar-se do que é desprezí­


xum propter dantis liberali tatem.
vel.
Por último, alcança-se a perfeição por meio da
grat idão, a qual comporta o l o u v o r pelo § 7 , De clu�lici contempla.tione rerum divin a.rum .
reconhecimento d a utilidade dos bens recebidos; a
alegria, pelo exultante conhecimento d o alto valor 1 t . Nota , quod aspectus vcritatis debet esse ere­
desses bens, e a afeição pela inefável certeza da ctus ad incomprehensibi lia , et haec sunt mysteria
liberalidade inesgotável de Deus - o que acende summae Trinitatis , ad quae crigirnur con temp l ando ,
na alma o desej o de unir-se a ele para sempre. et hoc dupl i c i ter : Yel per positionem , wl per abla­
tionem. Primum poni t Angustinus 1 , secundum Dio­
§ 7. Os dois modos de contemplar as coisas
nysius.
divinas: pela afirmação e pela negação.
Per posit ionem prim o intelligimus , in d h·inis
l I . O estudo da verdade deve nos elevar até às esse quaedam ut com m unict , quaedam ut propria ,
coisas incompreensíveis, isto é, ao mistério da quaedam ut appropriata , quae quidem sunt 2 media
Santíssima Trindade, o q ual podemos contemplar inter haec et i l ia. Intellige igitur et con templare , si
de dois modos: pela afirmação, conforme ensina potes , comm u nia circa Deum et vide , quoniam Deus
Santo Agostinho( l } , é pela negação, como ensina est essentia prima , natura perfecta , vita beata ;
Dionísio.
O modo afirmativo nos faz perceber que em
quae necessariam habent consequentiam 3 • Rursus -

Deus certos atributos são comuns às três Pessoas, attende et vide , si potes , quoniam Deus est aeter­
outros relacionam uma com as outras e, enfim, nitas 'praesens , simplicitas replen.s ; stabilitas mo­
outros são próprios de cada uma delas(2). vens ; quae similiter consequentiam et connex.ionem
Comece, quem puder, por entender e contemplar naturalem halient. Postremo afü·n<l1· , q 1 1 1 11 1 iarn
-

os atributos comuns, e note que Deus é o primeiro Deus est lux inaccessi!Jili,s 4, mens i11variafJ i/1:s , 7w:r
princípio, a suma perfeição e a suprema bem­
aventurança(3). - Em seguida considere que em
Deus se encontra a eternidade sempre presente, a
simplicidade que a todos satisfaz, e a imobilidade
em que todo o movimento se origina. - Veja,
2 . Cfr. 1. Senl. d . 3 i . q. 3 . el d . 3 6 . a. 1 . q . ::! . in cnr�. ;
enfim. q ue Deus é luz inacessível (4), espírito inva- Ilrc\" iloq. p . 1. e. 6.

3. De q u a ,· ide lti nernr. mentis in Deum , e. 5. n. 5. seq(i -.


ubi cliam de seq . proposilionc ; DrcY ilory. p . 1 . e. 2.
L L i br. V. seqq. de T r i n . ; Dion ys. , de M ystica T h eolog-.
e. 1. �' 2 . nsque nd finem o p u scu l i . 4. Epist. 1 . T i m . 6 , 1 fi: Luccm i n h ;i l i i t a l i n ac<:cssi l 1 ilcm.
1Rf'.S CAMINHOS - CAPflULO III 255

incomprcltensibiti:s ; quac non tan t nm cssc n t i ac 1 1 1 1 i­ riável, paz incompreensível. Em cada um destes
L1 tc m , s
ed etiam i n r.l rn l u n t pcrfeclissi mam Tri n i lall' rn . atributos está não só a unidade, como tam bém a
LtlX q u idcm tanquam parens general splcndorcm , Trindade. - Considere agora o que relaciona cada
s p l <'rnlor au tem el l u x pro1l n cu n t calorcm , ila quod Pessoa com as demais. A luz, fonte inicial, produz
o esplendor e este, com a luz, produzem o calor, de
cal or proced i l al i u t roq nc , l i cc l non per mod u m
tal modo que o calor provém de ambos, mas não
prol i s . Si e rgo Deus Ycrc l u x cst i nacccssi h i l i s , uhi por modo de geração. Se, pois, Deus é verdadeira­
sple rulor e t calor cst s u!Jslan tia c t l 1y poslasi s , Ycrc mente luz inacessível, onde o esplendor e o calor
j11 l lco esl Patcr cl F i l i n s c l Spi ri tu s sancln s , q nac são substância e hipóstase, então em Deus há Pai.
sn n l propr in rl i v i ua rn m pcrsonarn m 1 • - Mcns ctiam Filho e Espírito Santo, que são próprios das divi­
1:1 1 1 q n: 1 1 1 1 p r i n c i p i u m con c i p i l et prod u c i t e x se vcr­ nas pessoas( l ) . - A mente, também, enquanto
/J 1 1 1H , a q n i lm s cm:rnat a mor is <lonu m ; et hoc esl princípio, concebe e reproduz a partir de si a pala­
i 11 o m n i mente pcrfccla repe r i re . Si ergo Deus est vra e dela e da palavra emana o dom d o amor. Isto
111cns invaria.bifü , planum cst , q u od in d i Y in o esse se encontra em toda a mente perfeita. S e, pois,
csl Pri ncipi u m primum , Vcrlm m aclcrnum , Don u m
Deus é a mente invariável, é certo que no ser
divino há o Princípio primeiro, o Verbo eterno e o
per(ect u m , q uae sun l
prop ria d i v i naru rn persona­
Dom perfeito, que são próprios das divinas pes­
rum 2 • - Pa.r. etiam i n c l ud i l n e x u m p l n r i u m ; per­ soas(2). - A paz também inclui um nexo entre
fccle a u t e m ncc ti 1 1 0 1 1 possu n l n i s i s í m i les ; sí m i les diversos. Não podem estar perfeitamente unidos a
au tem non snn l , nisi :unbo a tcr t i o , ..-el umis ab não ser os iguais. E não são iguais a não ser que
a l tero. Ser! in d i Y i r 1 i ' n<m possu n t ambo esse " ter­ dois procedam de um terceiro, ou um de outro.
tio eo: lcrn mo:Jo : m•r e:.;sc est ergo , q u od si in d i vi- Mas em Deus dois não podem proceder do terceiro
11 i � est Ycra J rt \ . 1 p 1od i h i s i t p r i m a _origo , e i n s do mesmo modo. É necessário então que em Deus
i m :i g o , u l r i n sq t l i ' rn 1 1 1 1 c x i o 3.
haj a a verdadeira paz, que seja a origem primeira,
sua imagem e união entre ambas(3).
1 ::! . l k i u . J r i 1 1 d i r i 1 1 i s sn n l app ropriata. secu n­
1 2. Por último, considere os atributos próprios
durn tripl i r" ·m c l 1 lk n : 1 J l i a m . - Prima appropriata
de cada Pessoa. - Em primeiro lugar, a unidade
su n l u n itrts , 1 ·1·1·ita s , bon itas. Attri b u i l u r un itas pertence ao Pai, porque é o princípio supremo; a
Palri , q u i a origo ; verita.s Fi l io , q u i a i ma go ; b onit as verdade, ao Filho, porque é a imagem do Pai; a
Spi r i t u i sane.to , · q u i a con ncxio 4 • caridade ao Espírito S anto, porque é o nexo entre
Secunda appropriata sun t potestas , sapientüt , o Pai e o Filho(4).
cl volu n tas : potcsta.s Palri , qnia Pri r1 c i pi u m ; sa­ Em segundo lugar, a potência pertence ao Pai,
p ien tia Fi l io , q u i a Vcrbum ; volnntas Sl ' i r i l n i sa ne lo, porque é o primeiro Princípio; a sapiência ao Fi­
fJ Ui a Don u m .
lho, porque é o Verbo divino; a benevolência ao
Espírito Santo, porque é o Dom perfeito e é a boa
Tertia appropriata su n t a ltit u <lo , p ulcritudo
vontade que efetua todo dom.
ct r l u lce<lo
: ctllitudo Palri. , p ropter u n i ta tem et
Em terceiro lugar, a altura pertence ao Pai,
potcslatem. N i h i l cn i m al i nd est alli tudo q uam sin­ como conseq üência da unidade e da potência que
gu laris cl u n i ca potcstas 5• Pulcril udo Fi lio , propter lhe pertencem(5); a formosura ao Filho, porque a
·.-c·ri tatcm et sapicnliam. Nam sapientia m u llitudinem ele pertencem a sapiência que resulta da escolha
ir k1 rn m , Yeri las : m tcm aequalitatem i n clud i t ; « pul­ entre idéias diversas, e a verdade, que é uma rela­
ITi t w l o au tem n i h i l a l i rnl cst <J nam aequalitas n u- ção de conveniência entre proposições d ifcrentes, e
1 1 1 1 ! rns.1 6 " . f),, li·cdo Sp i ri t u i sanclo , prop ler vohm­ assim, da combinação de ambas, nasce a formosu­
L t le1 1 1 c t bo1 1 i tal1·m . r !Ji cst s n r n ma Lon i tas i u n cta
ra, que é uma «relação de conveniência entre ele­
mentos vários criteriosamente escolhidos»(6).
r u m vol u n late , i l i i cst su m m a cari tas et summa d n l-
Enfim, a doçura pertence ao Espírito Santo, por­
1 · e1lo. - Esl igi tn r in Dco ltltitwlo terribi l i s , p u lcri-
que lhe foram atribuídas a caridade e a benignida­
de, de cuja união não pode deixar de resultar a
1 , C fr. lsidor., li. DilTcrcnliar. e. 2. n. 3 ; L i b. de Cogni· perfeita d oçura. -Encontram-se, pois, em Deus
tionc vcrac vitae (i nter opera A u gust.) , e . 4 O. et Honor. An·
u n i t n , , i n F : l i o a l ' r 1 u n l i 1 a � , i11 S p i r i 1 1 1 s: 1 J i < 'l0 n n i t a lis
gnstodu ncns., 1 . Elncidnr. e. 4 . (M igne, Patrolog. Lal. tom. 1 72 acq u a l i la·
IÍS'l ll i! conrurt l b . C ír. 1. Sl' ! l l . d. :l . l ' · 1 . d n b . 3. el 4 ; <l . :l i .
col. 4 1 t O) ; S. Bonav., in Jlcxncm. collat. 4 3. 11. 22. el collat.
p . l i . a . 2 . q . :1 ; i l . : H . I · .l . l ' l d n h . i : ílrc\ i loq . p . 1 . e. r..
21. li . 2.
el i n l l rxni· m . ,-·. ,!J : 1 1 . 2 1 . n. 4 . s<'<]fJ . , u lii ctia 1 1 1 rlc SCI J C( . :ip­
2 . Cfr. A u gust., X I . dt> T ri 11 . e . 2 . n . 2 . �t·q1 1 l't '\ \' . , . . 1 o . pro p r i n t i.' .
11 . · 1 i ; S. nona\" . , Q q . d i ,;put. d e M ysterio T r i n . q. 1. a. 2. s. Cfr. A 1 1 ;; 1 1s1 . , E n a rrat. i n Ps. ·1 3 1 , l i. n . 2 7 .
i n corp. c t Itinerar. menti,; i n D e u m , e. :l . n . 5.
6. 5ecn n d n m A u g usl., \" 1 . de M n sic<1 , e. 1 3 . n . :l i! . C fr.
3 . Cfr. 1 . Senl . d. 2. q . 4 . el ri . 1 1.1. a. '2 . q. 2. t o m . Y . p n g. 3 0 1 , n o ta 1 . - De n 'r i l n lc, q n n lr n u s 11eq 1111 l.-tatrm
s i \· c ;1 clacq 1 1 n tioncm rei cl i n tcllec! u s inrludit , dr . A n gusl . , de
4. ,\ 1 1 � 1 1 :<! . . 1 . d e l h 11 " · i 1 1 . 1 11• , ,; , . 1 1 - 1 , 1 · . fi. 11. ü: l n Pa lre Ycrn íl clig. e. 3 6 . n. !ili. l': :-- . IJ1.011 : 1 \· .• t nni . 1. pa ;;. 'i-07 , n o ta 5.
256 lRÊS CAMINHOS - CAPI'rULO III

uma altura po1tentosa, uma formosura maravi­ t 11 do m i ra l t i l is, du lcedo dcsiderabi l i s, et hic est status 1 •
lhosa e uma doçura deliciosa( l ) . - É com esse - l lacc est i gi L11 r crcctio per viam affirmationis.
conhecimento que a alma contempla a Deus pelo
t 3 . Scd a l i a cst c m i ncntior , sc i l icet sccu n d 11 1 1 1
modo afirmativo.
-:Jiam negationis , q no n i am , u t <l ici l Dionysi u:> 2 , " a f­
1 3. O modo negativo é talvez mais fecundo,
fi r rnationcs i n co mpactac s nr 1 t , 1 1 ·�gati o1ws vcrae ,, , l i ­
porque nesse assunto, conforme assevera Dioní­
sio(2): «As afirmações são sempre incompletas, cet cn i rn m i n u s Y i d ca n t ur d i cerc , p l u s d i ru u t. E t h i r
ao passo que as negações são exatas» e, assim, mod u s e rcction i s c s t pe r almcga tioncrn 0 1 11 ni 1 1 1 n , i t:1
embora parecendo dizer menos, na realidade quod i n ncg:ll i o : i i lms i l l i s s i t ordo , i 1 1 c i picndo a lJ
exprimem mais. A contemplação se faz por éste i n fc r i o r i lms mr1 ne ad s u periora , s i t ctiam supere­
modo.negando a Deus os atributos das criaturas, a m ine11tis positln11 is i11cl11sio , ut c u m '{J jci tu r : Deus
começar pelos das mais ínfimas, até chegar às su­
non cst q n id .S'.'J1 si11ifr> , sctl s n pe rscn si hi le , nec ima­
periores. Essa negação, aliás, encerra o princípio
g in ah ile 1w1· . i 1 1 teltig if1 ifo ncc exisle.ns , sed super
de uma afirmação. Quando se nega: «Deus não é
o m n i a h:wc . Êl t u n c Y c r i t a t i s aspectus fertur in men­
perceptíve l aos sentidos», implicitamente se
a fi r m a : « D e u s está a c i m a d o s s e n t i d o s » . tis cal i g i 1 1 c m l'I a ! t i u s e l cvatu r c t profu n d i u s ing re­
Igualmente, quando se diz que Deus não pode ser d i t u r , pro co q u o:l cxced i t se et omne c reatn m 3 •
- imaginado ou compreendido, o que se supõe é que E t h i c t•st n o h i l issi m u s cleratio ni s mod us ; sed tameu
Deus está acima de tudo aquilo que se lhe nega. :id hoc , q no'.l si t perfcc tns , p raeex i g i t ali u m , sicut
.Este modo de considerar a verdade, ao mesmo pp rfec t i1l i l l n m i n a t i oncm , c t sicut n egatiu afl1 rmatio-
tetnpo que mergulha a inteligência em caliginosas 1 1e m 4 . l l i c : r n k m m od u s asccndcndi tan to est ,· i goro­
trevas, a conduz mais longe e mais al_t o do que s i o r , q 11 : 1 1 1 l o v i :; :1:'-l'L'ndcns est i n t i rn i o r ; tanto frn­
todas as reflexões positivas, porque ensina-lhe a se
r l 1 1 n::. i n r , q 1 1 a n l . i :1 flec t i o pro x i m ior. Et i deo raldc
desprender de si mesma e a ultrapassar os seus
1 1 t i lt• t':'-1 in i l i : ! l' '.'ü' ri:eri
próprios limites, assim como os de todas as coisas
1 !1 . ::\nt:i ' q n od i n prima h i crarc h i a reri tas cst
criadas(3). P ara s e r p lenamente proveit o s o ,
contudo, este modo de contemplar s ó deve ser wfrucc1 11da Jll'I' irem i t u m ct ora l i ouem , ct hoc esl
empregado depois de se haver , exercido bem o A ngelnrn m : a 11 dic11tla per stu d i 1i m et lcclioncm , ct
O\:ltro. Como a via unitiva supõe, anteriormente, a h oc A rc h :i 1 1l,!l'lorn 11 1 ; ann untimula per cxcmpl u m
via iluminativa, assim também a negação supõe ct p raed i c a t i !l1 1t'm , et hoc Principatu u m . - ln se­
p rimeiro a afirmação(4) - Este modo d e c111Hla h i era rc h i a \'eri tas est a demula per refng ium
contemplação é o mais elevado, mas o seu alcance c t com 1 1 1 i:;:;i01 1t•1 1 1 , cl ho c Potest a t u m ; apprelwwlenda
depende da energia da alma que o exerce e o seu per z<fom t•t a c m n l alioncm , et hoc Yi r lutn m ; as­
resultado , d o ard o r e da caridad e . É, pois,
sucin wla per sui contemptmu et mo rt i fi calio11e111 ,
conveniente que ela se adiante quanto possa na
ct hoc l lo m i n a l ionu m . - ln tertia l 1 i L•ra r c h ia Ycri­
prática do amor de Deus. ·

14. As disposições da alma devem ser conforme tas cst adora wla per sacrifici u m cl lamlationcm ,
aos diferentes estágios do progresso espiritual. - ct hoc T h ronorum ; admiranda per c x cessum et
Na via purgativa, que corresponde à primeira hie­ con templalionem , et hoc ChcrulJim ; a mplectenda
rarquia celeste, convém invocar a Verdade com per osc u l u m ct d i l ec tiencm , cl hoc Scraph i m . Nota
suspiros e súplicas, como fazem os anjos; escutar a d i l igc n l c r pr:ied i cta , qnoniarn in illis csl fons ,- i­
verdade pela leitura e pelo estudo, como os arcan­ tae.
j os; e propalar a verdade pela pregação e pelo e­
xemplo, como os principados. - Na via iluminati­
va, que corresponde à segunda hierarquia celeste, é
mister procurar a verdade, evitando tudo o que
dela se afasta, como procedem as potências; con­
servar a verdade, defendendo-a com zelo de tudo o
que a altera, como praticam as virtudes; e acatar a
verdade, menosprezando e mortificando a si mes­
mo, como soem fazer as domi nações. Na via 2 . De Coclcsti l l icrnrch. e. 2 . 5 3 : Jlicg:Hioncs d e Deo sunt

u ni t i va , q u e c o rre s p o n d e à terce i ra hierar­ n·ra c , a íli rn w t io nc� v rro incompnctac ( i n ron :;rnae ; rfr. tom. 1 .
p : i g. :; � !! , n o ta 2 . ) . \' i d e eliam uc " ystira T h colog. e. 4 .5 , i n
quia celeste, é preciso ad orar a verdade com
q 11 i b 1 1 " t\l qn�c �eq u u n l 1 1 r insinuan t u r.
sacrifícios e louvores, à semelhança dos tronos;
admirar a verdade por meio do êxtase e da con­ 3. Ur . l t i n cra r . n i rn l i s in Deu m, e. 7. n. 5. c l in llexr.i;m.
templação, a exemplo dos querubins; e abraçar a , ol J a l . 2. n . 2 \1.
verdade com todo o ardor da caridade, à maneira
dos serafins. - Os princípios expostos nestes o­ 4. Arislot., 1 . Poster. e. 2 1 . i n fi n e (e. 25.) : A llirmatirn
n 1 l lcm nega t i v a prior cl notior ; per n lli r m a t i rn m cnim ncgnli v a
púsculos merecem atento e diligente estudo, por­
nota ; cl prior n fl i r m n : i Ya est, s h : u t cssr l ll'Íll� c s l 1w11-esst'.
que deles emana, deveras,_ a fonte da vida.
DE REGIMINE ANIMAE

O GOVERNO DA ALMA

Tradução de Frei S aturnino S chneider


O GOVERNO DA ALMA 303

f . Prirnum ómn i u m necesse babes , anima mea, 1 . Antes de tudo; minha alma, deverás formar
altissime , piissime et sanctissime de opti mo Deo de Deus uma idéia altíssima, pfed os issima e
sentire 1, certa videl icet fide credendo , attenta mente santissima( l). Consegui-lo-ás por meio de uma fé
con siderando et perspicaci rali onis intuitu cum ad­ inabalável, de meditação atenta e lúcida intuição,
repassada de admiração.
miralione perspici e11do.
2. Será altíssima a idéia que fazes de Deus se
2. A lt iss im e quidcm de oplimo Deo sen ti s , si
fiel, piedosa e perspicazmente creres, admirares e
cuncta de nihilo creantis et supportan lis i mmensarn
louvares seu imenso poder que do nada criou tudo
potentiam, cuncla gubernan tis et ord inantis i n fi n i tam e tudo sustenta; sua infinita sabedoria que tudo
sapientiam, cu ncta iudicantis et retribuen tis interrni­ governa e dispõe; sua ilimitada justiça que tudo
natam iustitiam fidel i , pio et perspicaci contuitu cre­ julga e recompensa; e se, saind o fo ra de ti,
dis, mi raris et laudas , et e xtra te exiens et intra te tornando a ti de novo e elevando-te acima d e ti,
regrediens et supra te transcendens , ut illud prophe­ cantares em verdade, com o profeta(2):
ticum veraci ter decantes� Exsultaverunt filiae fttdae Regozijaram-se as filhas de Judá, por causa dos
propter iudicia tua, Domine, quoniam tu Dominus teus juízos, Senhor. Porque tu és Senhor altíssimo
altissimus super omnem terram, nim is exaltatus es sobre toda a terra. & infinitamente exaltado sobre
todos os deuses. Será piedosíssima a idéia que
-

super omnes deos. - Piissime de opti mo Deo sen­ fo rmas de D e u s se a d m i r a rc: s , a b raçares e
tis , si ei usdem immcnsam misericordiam adm i raris , bendisseres a sua i,mensa misericórdia, que se
amplexaris et bcned icis ut summe benignam in h u­ mostrou sumamente benigna em tomar ã nossa
mani tati s et mortal i tatis nostrae assurntione , u t sum­ natureza humana e nossa mortalidade; sumamente
me viscerosam in crucis et mortis perpessione , et terna em suportar a cruz e a morte; sumamente
ut sum me libera/em in Spi ritus sancti datione 3 et liberal em mandar o Espírito Santo(3) e instituir
Sacramentoru m institutione , curn se ipsu m liberalis­ os sacramentos, máxime comunicando-se-nos a si
sime communicet in Sacramento altaris , quatenus mesmo liberaliss imamente no sacramento d o
illud Psal m i 4 ex animo cantes : Suavis Dominus uni­ altar, para que possas cantar as palavras d o sal­
versis , et miserationes eius super omnia opera eius. mo( 4): Suave é o Senhor para todos, e as suas
misericórdias estendem-se sobre todas as suas
- Sanctissime de opti mo Deo sentis , si eiusdern in­
obras. Será santíssima a jdéia que formas de
-

explicabilem sanctitatem advertis , mi raris et laudas


Deus, se considerares, admirares e louvares a sua
atq ue il li c u m beatis Serap h i m 5 Sanctus, Sanctus, inefável santidade e com os bem-aventurados
Sanctus proclamas. Sanctns pruno , I i oc est in se serafins o proclamares(5) : Santo, santo, santo !
ipso sancti tatcm i L1 summe ac purissime habcns , ut Santo em primeiro lugar, por possuir a santidade
impossi bilc si l , ipsum aliquid n i si sanctum velle vel em grau tão elevado e com tanta pureza que lhe é
approbare ; Sanct lis secundo , hoc est sancti tatern ila impossível querer ou aprovar coisa alguma que
perfcctc in aliis d i l igens , ut i m possibile sit , i psum não seja santa. Santo, em segundo lugar, por amar
vcre sancti tatem servan ti bus au t gratiae dona sub­ a santid ade nos outros, de fo rma q ue lhe é
trahere aut gloriae p rae m i a denegare ; Sanctus ter­
impossível subtrair os dons da graça ou negar o
prêmio da glória aos que, na verdade, conservam a
tio , hoc est i ta severc oppositum sanctitatis abhor­
santidade. Santo, em terceiro lugar, por aborrecer
rens , ut i m possi bi le si t , i psum p e c c a ta non repro­
tanto o contrário da santidad e , que lhe é
Larc aut i mpu n i l a relinq ucrc. Quodsi sic senseris , impossível não reprovar os pecados ou deixá-los
cum lcgislatore Deus fidelis ct absque
cari labis 4 : impunes. Se desta forma pensas de Deus, cantarás
ulla iniquitate , iustus et rcctus. com Moisés, o legislador da antiga lei(6): Deus é
3. Post hoc oc nlos mentis t u ac ad /,egcm Dei fiel e sem nenhuma iniqüidade, justo e reto.
converte , q uae i ubct, te c x h i berc A l tíssimo cor hu- 3. Depois, dirige o teu olhar sobre a lei de Deus,
que te manda oferecer ao Altíssimo um coração
1 . Eadem senlenlia habelur in Drev iloq. p . 1. e. 2 ; in Quae· 3. Cfr. Eccli. 1 1 , 1 7 : Datio Dei pennanet iustis etc . .
stion. Dispul. de l\lyslerio Trinil. q. � . a. 2. in corp. ; in Collalion.
de seplem Donis Spir. S. collal. 3. n. 5 . 4 . Psn l m . I H , 9 .

- 2 . Lo cu s Scripturae esl Ps. 96 , 8 . scq . 5. ls;ii , 6 , 4 . 6 . Dcul. 32 , 4.


3 04 O GOVERNO DA ALMA

humilde; ao puc:s1mo, um coração devoto; ao mile , Pi íssimo cor


devotum , Sanclissi mo cor illiba­
santíssimo, um coração ilibado. - Um coração tum . - Cor , i nquam , humile debes e x h i bere A ltis­
humilde, digo deves oferecer ao Altíssimo, pela simo per reverentiam in animo , per obedientiam
reverência no espírito, pela obediência nas obras, in facto, per honorificentiam in verbo et signo , q ua­
pelo decoro nas palavras e nos atos, observando a ten u s secundum aposlolicam regulam et tloctri nam
apostólica regra e doutrina: Faze tudo para a
omn in in gloriam Dei facias 1 • Cor autem de­ -

glória de Deus( l ) . - Deves oferecer ao Piíssimo


um coração devoto, invocando-o em orações votum debes e x l 1 i bere Piíssim o per interpellutionem
prec um fcncn t i u m , per degustationem spi ri tua l i u m
fervorosas, saboreando doçuras espirituais, dando
muitas graças para que tua alma sempre mais a suavi tat u m , per a ctioncm m u l l i pl i c i u m gratiaru m ,
Deus ascenda pelo deserto, qual uma tênue nuvem ul anima tua i u g i tcr
per desert 11111 ascendat i n
de fumaça, de aromas de mirra e de incenso(2). Deum sic u t t•irg ula fu m i ex aro11i atib us myrrhae
-Deves oferecer ao esposo santíssimo um coração ct tlw r is 2• - Cor \WO illiba t u m e x h i !Jcrc tlebcs
ilibado, de maneira que não reine em ti, nem nos sanctissimo Sponso , u t u u l l ns in te regnel nec sen su
sentidos, nem na vontade, nem no afeto, prazer nec consensu nec afTectu corporc:w rnlu ptatis applau­
algum em deleites desordenados, desejos de coisas sus , n u l lus tcrrenae cupidi tatis appeti tus, n u l l us in­
terrenas, nenhum movimento de maldade interna,
ternac maligni tatis affcctus , q.uaten us , omni exclusa
e assim, livre de toda mácula de pecado, cantes
macula peccati , possis cum Psalmista 3 cantare : Fiat
com o salmista(3) : Seja imaculado o meu coração
na prática dos teus mandamentos, para que eu não cor meu 111 immaculatmn in iusti.fi.cationibus tuis ,
seja confundido. ut non confu ndar.
4. Reflete, pois, diligentemente, e vê se tudo · 4. A t te11de igitu r d i l i gen ter et vide , si haec
isso observaste desde a juventude. Se a consciência o n m i a a i uvcn t u t e scrvasti. Quodsi hoc in conscien­
to afirmar, não o atribuas a ti mesmo, mas à mercê lia t ua n'1w rc.r i s , non tibi hoc tri buas , scd dono
de Deus, e rende-lhe graças. Se, porém, achares Dei i l l i q tl l' gra t i :ls agas. Quodsi te i nveneris semcl
que uma ou mais vezes, num ponto ou nalguns, ou wl pl mies in uno horum, vel pluribus, vel forte i n
talvez em todos eles faltaste grave ou levemente, o nm i li u s :m i gra v i ter au t levi ter deliquisse sive per ·
por fraqueza, por ignorância ou com pleno i 1 1 fi n 1 1 i t a ll't11 , s i ve per ig11ora11 tiam , sive e x ccrla
conhecimento, procura reconciliar-te com Deus, scie1 1 t i a ; i11c11armbilibus gemitibus 4 stutleas recon­
entre gem idos inexplicáveis(4) , e, para lhe
ci liari Dco ct ad e x h i bendam ei emendam spiritum
mostrar a emenda, reve ste-te do esp írito de
vi r tu l i s assume , u l possis cu ril poen iten te veraci ter
penitência, a fim de poderes cantar com o salmista
(5): Preparado estoupara os açoites, e a minha dor can tare ac psal lere 5 :
Quoniam ego in {lagella pa­
está sempre diante de mim. ratus sum , et dolor meu.ç in conspectu meo semper.
5. A dor da alma, p o rém, d eve ter dois o. Dchet au tcm dulor animi d uos habere co­
companheiros para que purifiquem a mesma alma m i tes , ut sit purgati vus ani mae et placativus Dei ,
e aplaquem a Deus, a saber: o temor do juízo sci l i cct timorem divini iudicii et ardorem interni
divino e o ardor do interno desejo, a fim de dcsitlcrii , ut rec u pe res timcndo cor humile , desi­
recuperares pel<? temor um coração humilde, pelo dcrarnlo cor devotwn, tlolendo cor illibatum. - Time
desejo um coração devoto, e pela contrição um
i g i l n r divina iudicia , q u ae sunt ubyssus m ulta 6 •
coração ilibado. - Teme, pois, os juízos divinos
T i me, i 11 q n a m , vcliementcr , ne forte , q uamquam sis
que são um abismo profundo(6) . Teme, repito,
aliqug.I i tc r pocn i lens , atllmc tamcn Deo d i spl i ceas ;
teme muito, para que, embora de algum modo
penitente, não desagrades ainda a Deus; teme time vehcmentius , ne post. hoc Dcum i terum ofTcn­
mais, para que depois não recomeces a ofender a das ; ti me etiam vehementissime , ne finali ter a Dco
Deus; teme muitíssimo, para que no fim não te disccdas , sem per carens lumine, sem per artlens igne,
afastes de Deus, vindo a carecer de Deus, a arder n u n q uam carens verme , n i si per veram poe n i tcn­
sempre no fogo, não sendo jamais livre do verme, a tiam in gratia finali tlecedas , u t sic c u m Propheta 7
menos que uma vida de verdadeira penit�n� t� decan tes : Con{tge timore tuo carnes meas ; a iudi­
permita morrer em estado de graça. Suplica, pois, ciis enim tuis tim ui.
com o profeta(7): Transpassa com teu temor as
G. Dole quoque et satagc propter com missa
minhas carnes, porque temi os teus juízos.
p cc c a t a . Dole , i n q uam , vchemcntcr propter an n i h i la-
6. Arrepende-te e toma cuidado por causa dos
pecados cometidos. Arrepende-te muito, digo,
s. P�n l m . 37 , 1 R.

�. Psal m . 3 5 , 7.
L Epist. 1. Cor. 4 0 , 3 1.
7 . P sa l m .
H 8 , ·1 20. Cfr . Collat. de sep tem Don is S p i r i l u � S.
2. C a n t . 3 , 6 : Quae est ista q u ae a scendit per desertum etc . colla l. 2. n. 4 0- 1 3. De tripliei poena i n ferni cfr. IV.
Scnl. 1 <l . :;o .
3. Ps n l m . l I R , !l O . 4 Episl. i H I llflm. R , 26. p . 1 . a. 2. q. 2 ; p. I I . a . 2. q . 1 .
O GOVERNO DA ALMA 305

l i onem o m n i s lion i d i v i n i tu s l i b i dali ; dole vehem en­ p o rq ue a n i q u i l a s te t o d o o bem que de


tius propler i m pugnalio11cm C h r i sli pro te nali el Deus recebeste . Arrepende-te mais, porque
crucifi x i ; dole vehementissime propter v i l i pensio­ ultraj aste a Cristo, que p o r ti nasceu e fo i
ncrn Dei , cuius tra11sgred iendo leges i n honorasli crucificado. Arrepende-te muitíssimo, porque
desprezaste a Deus, cuja majestade desonraste,
maiestatem , denegasli veritatem , offendi sli bonita­
transgredindo as suas leis; cuja verdade negaste, e
tem Lotumque universu m dehonestasli , deformasti ,
cuja bondade afrontaste. Pelo pecado desonraste,
deordi nasli , dum , d i v i n i s adversando statutis, i mpe­ d esfiguraste e transto rnaste toda a criaçã o ,
r i i s et iudici is , omni bus tibi servientibu s propler p o rquant o , p e l a rebeldia. contra os d ivi n o s
Deum abusa es naturis , Scripturi s , i ustiti i s , m i se­ estatutos, mandamentos e juízos, abusaste de
ricordii s , donis gratuitis et prae m i i s repromissis. todas as coisas que, segundo a vontade de Deus, te
Quibus d i l i gen ter consideratis, luctum unigeniti fac deveriam s e rv i r : as E s c r i t u ra s , j u s t i ça s ,
tibi planctwn ama1·um 1 ; deduc quasi torrentem la­ m i s e r i c ó r d i a s , d o n s g r a t u i t o s e p rê m i o s
cry mas per diem et noctem , non des requiem tiM, pro meti d o s . Depois d e ponderare s tud o isso
atentamente, toma luto como por um filho úni­
neq ue taceat pupilla oculi tui.
co( 1 ) , chora amargamente. Faze co"er uma
7. Desidera n i h i lominus divina charismata ,
como to"ente de lágrimas de dia e de noite; não
d i v i n i amoris flamma in Deum conscenden s , qui te dês descanso algum, nem a menina do teu olho
pcccan tcm t:un patien lcr suslinu i t , t.am longa1 1 i m i ter
tenha repouso.
cx spcctavi t , t.am m i scricord i ter ad poen i tcn tiam rc­
7. Deseja, todavia, os dons divinos, elevando-te
duxi l , tibi con�edendo vcniam , i n fu ndendo gratiam, pela chama do divino amor até Deus, que tão
promi ttendo coronam , dum tamen eidem impendas pacientemente te suportou nos teus pecados, tão
- vel poti us ab i pso susci pias quod ci rependas - longanimemente te esperou, tão misericordiosa­
sacri{icium contribulati spiritus, cordis contriti et mente te reconduziu à penitência, concedendo-te o
h u�niliati 2 per compunctioru:m amaram , per con{es­ perdão, infundido-te a graça, prometendo-te a
sionem verid icam, per satisfattionem cond ignam . De­ coroa, a fim de que de tua parte lhe ofereças,
sidera , inquam , velwmenter d i v i 1 1am complacentiam
porque dele recebeste para lhe ofertar, o sacrifício
de um espírito compungido, um coração contrito e
per largam i m m i ssioncm Spi r i t u s san cti , desidera
humilhado(2), em forma de sentida compunção,
vehementius d i v i nam confonn it<Lfrm per ex p ressam
de uma confissão sincera e satisfação condigna.
i m i tationem C h risti cruci fi x i , dcsidcra vclwmcnt issime Deseja, pois, ansiosamente a divina complacência,
di vinam comprehensionem per apertam visionem Pa­ que te será outorgada por uma generosa infusão do
tris aeterni , ut veraci tcr c u m l 'roplieta 3 d ecan tes : Espírito Santo; deseja com maior ardor ainda a
Sitivit anima mea ad Deum {orlem, vivum ; quando semelhança com Deus, que consiste numa exata
veniam et apparebo ante fu c ir:m /Jr:i 'I imitação de Cristo crucificado; deseja muitíssimo,
8. Porro , ut h u n c i n te � pi r i t u rn ti moris , do­ finalmente, a compreensão de Deus, por meio de
loris et ardoris i n tri 1 1 scc u s s1:r n:s , r:J:<:rcr: te foris uma nítida visão do eterno Pai, para deveras
ad omni modam modcstiam , inst iti11, m , 71ir:tntem, qua­
cantares com o salmista(3) : A minha alma arde
em sede pelo Deus forte e vivo. Quando irei e
tenus i u xta documen t u r u A pr1'.l1J l i 4 almr:9uns impie­
aparecerei diante da face de Deus?
ta tem et sa.ecularia desi<leri11, , s1Jln·v: ct iuste ct
8. Por último, para manteres em ti este espírito
p ie vivas in lwc s<wc1tlo . - E x 1:rcc i taq ue te ad de temor, de dor e desej o, exerce-- te exteriormente
om n i m odam modestiam, u t i u x ta A postoli doctrinam numa perfeita modéstia. justica ,. "iedade, a fim de
modestia tua nota sit 01mâl1 us lwm in ibus. Ad mo­ que, segundo escreve o . apostolo( 4), renuriciando
destiam , i nquam , pu.rsinwniur: i u vi e tu et vesti tu , à impiedade e às paixões mundanas, vivas sdbria,
i n somno et vigilia , i n otio ct labore , ut i n n u l lo ex­ justa e piedosamente neste século. - Exerce-te,
cedas. - Ad modestiam disciplinae per m otleramen repito, numa perfeita modéstia, para que a tua
si lentii et loquelae , moeroris ct gaudi i , m ansuetu ­ modéstia seja conhecida de todos os homens.
d i n i s et rigoris , i uxta quod opportnni tas e x i g i t e t
Exerce-te, primeiro, na modéstia da parcimônia
recta ratio d ictat. - A d modestiam honestatis per
no comer e no trabalho, não excedendo a medida
em c o isa alguma. - Depois , exe rce-te na
regulationem , ordi nationem et composi tionem actuu m ,
modéstia da disciplina pela moderação no silêncio
m otuum , gestuum , vesti mentorum seu h abi tuum ,
e no falar, na tristeza e a alegria, na brandura e no
membrorum et sensuum , i uxta quod morali s hone- rigor, conforme exigirem as circunstâncias e ditar
1- l cr. 6 . :W ; d · i n d c Thrcn . 2 , t R . a sã raz.ão. - Finalmente, exerce--te na modéstia
2. . Psa l m . 50 , 4 9. da civilidade, regulando, ordenando e compondo
l . Psa l m . 4 1 , 3 .
as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os
membro s e os sentid os, conforme req\Jer a
4. Til. 2 , 4 2. Seq. locus est Phil. ' , 5 ,
3 06 O GOVERNO DA ALMA

educação moral e a observância regular, para stas el regularis observan tia id ex posci t , u t meri to
merecidamente pertenceres ao número dos que sis de i l lorum n u mero , q uibus Apostolus dici t 1 :
adverte o apóstolo( l ): Faça-se tudo entre vós com Omnia lwneste et secundum ordinem {iant in
a decência e ordem. vobis.
9. Exerce-te também na justiça, para que te 9. E xerce te quoque ad iustitiam , ut tibi illud
sejam aplicáveis as palavras do profeta(2): Reina propheticum 2 veraci ter possit aptari : Propter veri­
por meio da verdade, da mansidão e dajustiça. Isto tatem et mans u etudi11r.m ct iustitü1m etc. Ad iu­
é, exerce-te numa justiça íntegra, que consista zelo stitiam , i n q uam , integram per zelum divini !tono­
pela honra de Deus, na observância da lei divina e ris, per observantiam divinae legis, per desiderium
no desej o da salvação do próximo. - Exerce-te na fraternae salutis. - Ad iustitiam ordinatam per
justiça regulada pela obediência aos superiores,
obedientiam ad superiores, per sociabilitatem ad pa­
pela sociabilidade aos iguais, e pela punição das
res, per castigationem ad i n feriores. - Ad iustitiam
faltas dos inferiores. - Exerce-te ainda numa j us­
tiça perfeita, de sorte que aproves toda verdade, per(ectam , ut omni veritati assentias , bonitati fa­
favoreças a bondade e resistas à maldade, tanto no veas , 111 alitiae ad verseris tam mente q uam verbo
espírito como nas palavras e obras, não fazendo a q u am opere , n i h i l agens al i i , q u od tiLi nolis fieri ,
ninguém o que não queres que outrem te faça, não n i h i l negan s al i i , q uod tibi vel i s i m pendi , q uatrnus
negando a ninguém o que dos outros desejas, i l lorum sis i m i tatri x pcrfcc ta , q u i bu s d i c i tur 3' : Nisi
ponderando as palavras do Senhor(3) : Se a vossa nbwulavcrit iustitia vestra plus qu.am Scribar um
justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não ct Pharisaeorum , non intrabilis in reg n u m cac­
entrareis no reino dos céus. lorwn.
1 0. Exerce-te, finalmente, na piedade; porque,
1 O . Exerce te tandem ad pietatem , quia , ut d i ­
diz o apóstolo(4) : a piedade para tudo é útil, pois
cit A postolus 4 , pieias a d omnia valet , prnmissio­
tem a promessa da vida presente efutura. Exerce­
te na piedade do culto divino, recitando as horas nem haúens vitae , q uae nunc est , et futu rae. Ad

canônicas, atenta, devota e re speitosamente , pietatem , i nqnam , divini cultus , attente , d evote et
acusando e p ranteando as fa ltas quotidianas , reverenter horas canon icas persol ve11do , q uotidiana
recebendo a seu tempo o santíssimo sacramento e con fitendo peccata et deplorando , sacratissimam pro
ouvindo diariamente a santa missa. - Exerce-te tempore eucharistiam s u m endo e t quotidie Missam
na piedade da salvação das almas, auxiliando ora audiendo. - Ad pietatem salvationis animarum ,
p or freqüentes orações, ora por instrutivas pala­ n un c ad i u vando per oration u m frequen tiam , nunc
vras, ora pelo estímulo do exemplo, a fim de que(5) per sermonum i n formatiouem , nunc per e x e m plo­
u que te ouve, diga: Vem. Todavia, cumpre proce­
rum i n c i tamenta. , ut q u i awlit dica t : Veni 5'. l loc
der com tanta prudência que não sofra prejuízo a
tamen sic sapi enter oporlet fieri , ut sal uti s propriae
tua própria salvação. - Exerce-te na piedade ali­
d ispend i u m non i ncorras. - Ad pietatem relevatio­
viando as necessidades corporais, suportando-as
com paciência, consolando amigavelmente, socor­ nis corporalium necess itatum i n supportando pa­
rendo com humildade, alegria e misericórdia, para tienter , con solando a m i caui l i ter, subm i n i s trando hu­
d esta rde , c u m pr ires o manda mento divino , m i l i ler , h i l a r i ter el rn i scri cord i ter , ut sic divi nam
enunciado pelo apóstolo(6) : Carregai os fardos i m pleas legern , rum d i cat .\postolus 6 ' : A lter altl!­
uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de rius onera portnte , et sic adimplebitis legem C!tri­
Cristo. Para conseguires tudo isto, o meio melhor, sti. Ad q nae omnia p roseq uenda super omnia credo
creio, é a recordação do crucificado, a fim de que Yalere memoriam Cruci fi x i , ut di lectus tuus tanquam
teu dileto, qual um ramalhete de mirra, repouse fasciculus myrrhae i n ter mentis tuae ubera iug l ­
sempre junto ao teu coração(7). Digne-se
tur commoretur 7 ; q uod tibi ipse praestare dignetur
conceder-to aquele que é bendito pelos séculos dos
qui est bened ictus i n saecula saeculorum . Amen.
séculos. Amém.

1 . Epist . I . Cor. 14 , 40 . s . A poc. 2 2 , 1 7 .

2 . P�n l n 1 . U , 5. 6 . G�I. 6 , 2.
3 - �l a tth . 5 , 20.
7, [k; p i c.:i l u r C: a n t . 1 , 1 2 .
4 . Episl. 1 . T i m . 4 , i . �('f] .

Potrebbero piacerti anche