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OS CONCEITOS - CHAVE GEOGRÁFICOS E LITERATURA: PRÁTICAS

INTEGRADAS SOCIOESPACIAIS

Leonice Margatto¹
Prof. Dr. Edson Noriyuki Yokoo²

RESUMO: Na atualidade, a Geografia, busca na literatura uma nova metodologia


para associar os conhecimentos dessa ciência com a realidade dos alunos. Essa
associação de áreas permite o conhecimento dos conceitos - chave geográficos,
descrito durante uma determina época numa obra literária. Nesse trabalho essas
definições foram buscadas no livro de Erico Veríssimo, O Continente. Sendo que
o objetivo do mesmo aspira identificar os conceitos - chave geográficos e a
diversidade cultural na obra literária já descrita acima. A metodologia desse
trabalho é um estudo qualitativo do tipo comparativo e será aplicado aos alunos
do ensino Médio da rede pública do Estado do Paraná no Colégio Estadual Padre
Manoel da Nóbrega de Umuarama. O projeto consiste em leitura da obra literária
através de sacolas de leituras e circulo de debates, após a leitura, destacamos os
conceitos - chave geográficos, fatos históricos e culturais. Finalizamos o trabalho
com a apresentação de produção de textos, elaboração de um glossário e a
produção de desenhos, produzidos pelos alunos sobre o tema. O resultado
esperado foi alcançado, por meio da observação e do interesse pela leitura, de
outras obras, para a produção e a incorporação dos conhecimentos geográficos.

Palavras-chave: literatura; conceitos geográficos; leitura.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo constitui-se em uma proposta para analisar e refletir


sobre o ensino da geografia na contemporaneidade buscando diferentes
abordagens metodológicas com o objetivo de interação da realidade do educando
com os conteúdos programáticos propostos e, assim, fazer com que os mesmos
sintam-se inseridos na produção do conhecimento. Em função disso, a literatura,
em seus diversos gêneros, pode ser um instrumento mediador para a
compreensão dos processos de produção e organização espacial, conceito
fundamental à abordagem geográfica e, também, instrumento de problematização
dos conteúdos (BASTOS, 1998). O tema: O espaço de vivência e a relação com
os conceitos geográficos na literatura proporcionam identificar os diferentes

_______________________
¹Professora da Rede Pública do estado do Paraná, na disciplina de Geografia. Endereço
eletrônico; leonicemargatto@gmai.com
²Profº Dr. No Departamento de Geografia-Universidade Estadual do Paraná, Campos de Campo
Mourão. Endereço eletrônico; enyokoo@gmail.com
conceitos geográficos e a diversidade cultural presente no espaço do educando e
comparar com o relato do livro O Continente, de Érico Veríssimo, proporcionando
a formação autônoma do aluno. Para isso, foi desenvolvidos momentos de leitura,
círculos de debates, produção de textos, desenhos, elaboração de um glossário
com dialetos encontrado no texto literário.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com, as Diretrizes Curriculares de Geografia da Educação


Básica (DCEs) – Paraná (2008, p. 51), o ensino da Geografia começa pela
compreensão do seu conceito mais abrangente, o espaço geográfico, visto
como uma totalidade da qual derivam os demais conceitos - chave: região,
território, paisagem e lugar.
Essas categorias de análise são ferramentas para se compreender a
realidade socioespacial. São instrumentos fundamentais para intermediar entre o
sujeito e o objeto de análise, possibilitando ao sujeito - educando entender o seu
presente e pensar o futuro.
Para aprofundar a discussão sobre os conceitos geográficos, iremos nos
fundamentar nos referenciais teóricos dos autores: CORRÊA (2003, 2006, 2007;
HAESBAERT (1997, 2002, 2004, 2010, 2014); MORAES (1987, 1995, 2000,
2002, 2013); MOREIRA (2000, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011, 2012); SAQUET
(2007, 2009, 2013, 2015); SANTOS (1985, 1987, 1998, 1990, 1996, 1997, 1998,
2001, 2005, 2007); SOUZA (2013), entre outros autores que discutem os
processos teórico-metodológicos do pensamento geográfico comprometidos com
a educação. De acordo com esta acepção opinou Corrêa:

Como ciência social e geográfica tem como objeto de estudo a


sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos -
chave que guardam entre si forte grau de parentesco, pois, todos
se referem à ação humana modelando a superfície terrestre:
paisagem, região, espaço, lugar e território (CORRÊA, 2006, p.
16).
Assim, ao direcionar a análise para o espaço geográfico
devemos refletir sobre o modo como vive e/ou viveu a sociedade que a produziu
e, pensar sobre o dinamismo das novas formas de organização socioespacial que
aparece a partir do desenvolvimento tecnológico na modernidade.
Esboçam-se espaços geográficos próprios de cada sociedade e em cada
momento histórico.
Deste modo, a nosso ver a Geografia deve se iniciar a partir do
conhecimento prévio de cada educando, isto é, o espaço vivido.
Neste sentido, adotaremos em nossa pesquisa os postulados da Geografia
Crítica em que o espaço é visto como resultado da produção social e vivido em
consonância com a prática social (CORRÊA, 2006; SANTOS, 1985; MOREIRA,
2007).
Nesta corrente do pensamento, o espaço é o palco privilegiado das
múltiplas contradições, resultado das relações sociais de (re) produção da
sociedade capitalista (SANTOS, 1997; MORAES, 1987).
Em outros momentos, em nosso trabalho nos apoiaremos nos fundamentos
da Geografia Cultural, pois as pesquisas não podem ser concebidas de modo
isolado, ou seja, devem ser direcionados de modo harmônico na análise da
organização do espaço.
Assim, nesta perspectiva o espaço também, pode ser concebido como
espaço vivido, isto é, a partir da subjetividade, da intuição, dos sentimentos, das
experiências, privilegiando o singular. São percebidos vários espaços, tais como,
o espaço pessoal, espaço grupal, espaço sagrado e do profano, etc. O espaço
também é um campo de representações simbólicas, rico em simbolismos
(CORREA, 2007).
O lugar é entendido como o espaço produzido e apropriado pela sociedade
(LEFEBVRE, 1974), composto pela inter-relação entre sistemas de objetos –
naturais, culturais e técnicos – e sistemas de ações – relações sociais, culturais,
políticas e econômicas (SANTOS, 1996). A partir dessa reflexão, podemos dizer
que “Cabe à Geografia preparar os alunos para uma leitura crítica da produção
social do espaço, negando a “naturalidade” dos fenômenos que imprimem
passividade aos indivíduos” (CASSETI, 2002).
Para Santos (1994), o lugar abarca uma permanente mudança, decorrente
da própria lógica da sociedade e das inovações técnicas que estão sempre
transformando o espaço geográfico.

Tudo que existe num lugar está em relação com os outros


elementos desse lugar. O que define o lugar é exatamente uma
teia de objetos e ações com causa e efeito, que forma um
contexto e atinge todas as variáveis já existentes, internas; e as
novas, que se vão internalizar (SANTOS, 1994, p. 97).

Segundo Carlos (1996), o lugar se revela em sua simultaneidade e


multiplicidade de espaços sociais que se justapõem e interpõem no cotidiano,
através das situações de conflitos e combinações.

O lugar só pode ser compreendido em suas referências, que não


são especificas de uma função ou de uma forma, mas de um
conjunto de sentidos e usos. Assim, o lugar permite pensar o
viver, o habitar, o trabalho, o lazer enquanto situações vividas,
revelando, no nível do cotidiano, os conflitos que ocorrem ou
ocorreram no mundo (1996, p. 21; 22).

Os alunos devem compreender que na relação local-global, os espaços


tornam lugares de interesses hegemônicos, e que os mesmos estão presentes
nesses espaços, portanto não devemos restringir lugar somente como conceito de
localização.
O espaço está ligado às relações de poder que nas mais diversas escalas
geográficas implicando a formação do território. Para Santos (1978), “a utilização
do território pelo povo cria o espaço”; imutável em seus limites e apresentando
mudanças ao longo da história, o espaço antecede o território.
A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade vem de sua
materialidade, enquanto o espaço reúne a materialidade e a vida que a anima.
Para Santos, em seu livro esclarece:

A configuração territorial é dada pelo conjunto formado pelos


sistemas naturais existentes em um dado país ou numa dada área
e pelos acréscimos que os homens super impuseram a esses
sistemas naturais. A configuração territorial não é o espaço,
já que sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o
espaço reúne a materialidade e a vida que a anima (SANTOS
1996, p.51).

O espaço apresenta a formação do território elaborado e constituído, que


corresponde à formação de agrupamentos naturais e, todo tipo de obras
construídas pela sociedade que ocupa esse espaço. Portanto, o território não se
restringe somente às fronteiras ou limites de um determinado espaço, ele é
formado historicamente pela ação humana que o modifica, dando forma e
apropriando-se dele independente da extensão do território ocupado.
É importante ressaltar que, ao comparar o conhecimento cotidiano dos
alunos com os conteúdos de Geografia, são visíveis características dos conceitos
dessa ciência que estuda e contextualiza as relações do aluno com o seu meio.
Sendo assim, observou-se em Callai:

O conteúdo de Geografia, por ser essencialmente social e ter a


ver com as coisas concretas da vida, que estão acontecendo e
tem sua efetivação num espaço concreto aparente e visível,
permite e encaminha o aluno a um aprendizado que faz parte da
própria vida e como tal pode ser considerado em seu significado
restrito e extrapolado para condição social da humanidade
(CALLAI, 2001, p. 143).

A sociedade é formada por ações humanas que não se restringem aos


indivíduos, incluindo também, as empresas, as instituições. As ações resultam de
necessidades, naturais ou criadas. Essas necessidades: materiais, imateriais,
econômicas, sociais, culturais, morais, afetivas é que conduzem os homens a agir
e levam a funções (SANTOS, 1996, p. 67; 70).
Ao analisar os outros conceitos, verificamos que a natureza e a sociedade
são inseparáveis, elas formam duas esferas muito importantes de diagnóstico do
espaço geográfico.
Segundo Mendonça (2002), a natureza é um conjunto de elementos,
dinâmicas e processos que se desenvolvem no tempo geológico e, por isso,
possui dinâmica própria que independe da ação humana, mas que, na atual fase
histórica do capitalismo, foi reduzida apenas à ideia de recurso.
De acordo com Chauí (2001):
[...] a realidade é a Natureza e dela fazem parte os humanos e as
instituições humanas. Por sua participação na Natureza, os
humanos podem conhecê-la, pois são feitos dos mesmos
elementos que ela e participam da mesma inteligência que a
habita e dirige... Desta forma, o intelecto humano conhece a
inteligibilidade do mundo, alcança a racionalidade do real e pode
pensar a realidade porque nós e ela somos feitos da mesma
maneira, com os mesmos elementos e com a mesma inteligência.
(CHAUÍ, 2001, p.113).

Em síntese, a natureza é formada por um conjunto de elementos que


exerce e influencia o desenvolvimento da sociedade. Enquanto que, as ações da
sociedade transformam a natureza em benefício próprio. Dessa forma:

Entre as atitudes relacionadas à paisagem exigem algumas que


se identificam como um bem a serem preservado, representado a
identidade de seus moradores, outros a tratam como recurso
econômico e extrativo, outros vê nela um desafio a ser
modificado, ou ainda, a monumentalizam como um patrimônio, e
outras avaliam com olhos estéticos e artísticos [...] Dentro de cada
sociedade entre as sociedades, várias atitudes podem entrar em
choque, pois percepções individuais e interesses econômicos, por
exemplo, se contrapõem pelas divergências de filosofias que as
fundamentam (SCHIER, 2003, p.02).

Ao observarmos a elaboração de uma paisagem na atualidade, devemos


analisar as modificações ocorridas no seu espaço, visando as transformações
numa totalidade do lugar que a mesma faz parte, de acordo com Corrêa:

[...] através de uma articulação que é ao mesmo tempo funcional e


espacial ou, em outras palavras, realizações de um processo
geral, universal, em um quadro territorial menor, onde se
combinam o geral [...] e o particular (CORRÊA, 1986, p. 46).

Sendo assim, observou em Santos, "A paisagem é um conjunto de forma


que, num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas
relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são as formas mais a
vida que as anima" (SANTOS, 2002, p.103).
Em outro livro, este mesmo autor assevera que:
A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a
sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as
relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e
intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao
espaço e à paisagem que se transforma para se adaptar às novas
necessidades da sociedade (SANTOS, 1997, p. 37).

Apresentando o conceito da mesma, descrevendo os elementos marcantes


da natureza, sua individualidade e a presença humana. Vale ressaltar que para
Santos:

[...] em primeiro lugar, o tempo acelerado, acentuando a dos


eventos, aumenta a diferenciação dos lugares; em segundo lugar,
já que o espaço se torna mundial, o ecúmeno se redefine, com a
extensão a todo ele do fenômeno de região. As regiões são o
suporte e a condição de relações globais que de outra forma não
se realizariam. Agora, exatamente, é que não se pode deixar de
considerar a região, ainda que a reconheçamos como um espaço
de conveniência e mesmo que a chamemos por outro nome
(SANTOS, 1996. p. 196).

Assim, para o autor citado, o espaço geográfico é a soma de toda


transformação, proporcionada pelo desenvolvimento da produção, da circulação e
distribuição. Portanto, os lugares que formam as regiões não são providos de
autonomia, porém, funcionam na totalidade espacial, influenciando na formação e
desenvolvimento de determinada localização geográfica. Assim, se manifestou
Santos (1997, p.197):

Mas o que faz a região não é a longevidade do edifício, mas a


coerência funcional, que a distingue das outras entidades,
vizinhas ou não. O fato de ter vida curta não muda a definição do
recorte territorial.

Ainda, de acordo com Santos:

A falta, porém, de reconhecimento dessas relações mais amplas


assegurava a permanência de uma nação que, desde a segunda
revolução industrial e a implantação do imperialismo, já não mais
correspondia à realidade (SANTOS, 1985, p. 66).
6 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA O CONTINENTE E OS CONCEITOS-CHAVE
GEOGRÁFICOS

Na literatura, observamos que os textos literários, proporcionam uma leitura


dos espaços, das paisagens e dos lugares por meio do olhar do escritor ou do
personagem. Nesse sentido, Lefebve (1980) sugere:

[...] que a linguagem literária possa de uma certa maneira refletir,


na sua estrutura, os objetos, as idéias, as sensações que
comunica, que ela possa de algum modo imitar o seu conteúdo.
Nem por isso, porém a obra deixa de repousar sobre uma
realidade pré-existente, nem a função da linguagem de ser [...]
comunicar a outrem essa realidade.[...] A obra representa o
mundo, mas é também uma visão do mundo e, finalmente, uma
‘tomada de posição’ sobre o mundo (p.17; 18).

Assim, podemos destacar no livro o Continente, de Erico Veríssimo (1997),


o conceito de lugar.

E Pedro Missioneiro foi ficando na estância dos Terras, e passou


a morar numa barraca de taquara coberta de palha, que ele
mesmo ergueu na encosta da coxilha, não muito longe da sanga.
Por essa época os ventos da primavera tinham amainado, e pelo
cheiro de ar, pelo calor que começava, pelo aspecto dos campos
e das árvores, os Terras sentiram que entrava o verão
(VERÍSSIMO, 1997, p. 86).

Maneco recordava sua última visita a Porto Alegre, onde fora comprar
ferramentas, pouco antes de vir estabelecer-se ali na estância (VERÍSSIMO,1997,
p. 94). Vosmecê pensa que gosto dessa vida de judeu errante? O que eu quero
mesmo é um sítio, uma lavoura, um gadinho e uma vida sossegada
(VERÍSSIMO,1997, p. 93).
Para Santos (1985), o espaço é o resultado da produção, uma decorrência
de sua história, mais precisamente, da história dos processos produtivos impostos
ao espaço pela sociedade. Partindo dessa idéia, todo espaço é formado por uma
paisagem que representa uma área em um determinado lugar e tempo. Assim:

Ana Terra guardava a lembrança daquele dia como quem


entesoura uma jóia. Estava claro que ventava também na manhã
em que o Maj. Pinto Bandeira e seus homens passaram pela
estância, a caminho do Forte de Santa Tecla onde iam atacar o
inimigo. O velho Terra convidara-os para descer e comer alguma
coisa. O major aceitou o convite e dentro em pouco estava
sentado à mesa do rancho com seus oficiais, comendo um
churrasco com abóbora e bebendo uma guapa de leite
(VERÍSSIMO, 1997, p.75).

Como era noite de lua cheia, depois do jantar os Terras vieram ficar um
pouco na frente da casa, antes de irem dormir. O céu estava dum azul muito
pálido e transparente, e Ana teve a impressão de que o lucilar das estrelas
acompanhava o cricri dos grilos (VERÍSSIMO, 1997, p. 96).
Vieram as chuvas, que prenderam na cabana os cincos membros da
família, que às vezes se reuniam junto do fogo, onde os homens ficavam a falarda
lavoura, do gado, do tempo (VERÍSSIMO, 1997, p.109).
Segundo Santos, “O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja
formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta
de igual forma em todos os lugares” (SANTOS, 1988, p. 122). Vejamos o conceito
de Território na literatura de Veríssimo:

D. Henriqueta olhava desconsolada para a velha roca que estava


ali no rancho, em cima do estrado. Era uma lembrança de sua avó
portuguesa e talvez a única recordação de sua mocidade feliz.
Casara com Maneco Terra na esperança de ficar sempre vivendo
em São Paulo. Mas acontecera que o avô de Maneco fora um dos
muitos bandeirantes que haviam trilhado a estrada da Serra Geral
e entrados nos campos do Continente, visitando muitas vezes a
Colônia do Sacramento. (VERÍSSIMO, 1997, p. 78, 79).

Agora todos esses campos até o Rio Uruguai são nossos! Ana Terra sacudiu a
cabeça lentamente, mas sem compreender. Para que tanto campo? Para que tanta
guerra? Os homens se matavam e os campos ficavam desertos (VERÍSSIMO, 1997,
p.144). Ricardo Amaral disse:

General, preciso que o governo me conceda mais sesmarias para


a banda do poente. Vossa mercê precisa saber que meus campos
ficam a dois passos do território inimigo. Mais cedo ou mais tarde
os castelhanos nos atacam de novo. E quem é que sofre
primeiro? São os povos que estão perto da fronteira (VERÍSSIMO,
1997, p.136).
Vale ressaltar que o espaço, considerado como um mosaico de elementos
de diferentes eras, sintetiza de um lado a evolução da sociedade e explica, de
outro lado, situações que se apresentam na atualidade(SANTOS, 1985, p. 21).
Nessa perspectiva Veríssimo, descreve na sua literatura exemplos de
regiões:

No seu português misturado com espanhol, Pedro contou que


fugira da redução quando ainda muito menino e que depois
crescera nos acampamentos militares dum lado e doutro do Rio
Uruguai; ultimamente acompanhara os soldados da Coroa de
Portugal em suas andanças de guerra; também fizera parte das
forças de Rafael Pinto Bandeira e fora dos primeiros a escalar o
forte castelhano de San Martinho (VERÍSSIMO, 1997, p. 83).

Enquanto lavava as roupas, Ana cantava, eram cantigas que aprendera em


Sorocaba (VERÍSSIMO, 1997, p. 77).
De quando em quando grupos de índios coroados desciam das bandas da
Coxilha de Botucaraí esse vinham da direção do rio, atacando as estâncias, os
viajantes que encontravam no caminho (VERÍSSIMO, 1997, p.74).Contudo,
ressalta Santos que:

Seria impossível pensar em evolução do espaço se tempo não


tivesse existência no tempo histórico, [...] a sociedade evolui no
tempo e no espaço. O espaço é o resultado dessa associação que
se desfaz e se renova continuamente, entre uma sociedade em
movimento permanente e uma paisagem em evolução
permanente. Somente a partir da unidade do espaço e do
tempo,das formas e do seu conteúdo, é que se podem
interpretaras diversas modalidades de organização espacial
(SANTOS, 1979, p. 42-43).

O ar da antiga Feitoria do Linho Cânhamo se enche do som de machados,


serrotes, martelos e vozes estrangeiras. Árvores tombam, picadas se abrem, e
escondidos dentro do mato bugres e bugios espiam intrigados aqueles homens
louros (VERÍSSIMO, 1997, p.156).
Quando voltava para casa, tantas maravilhas contava aos filhos sobre
aqueles campos do Sul, que Maneco crescera com mania de vir um dia para o
Rio Grande de São Pedro criar gado e plantar (VERÍSSIMO, 1997, p. 79).
7 CULTURA

A cultura refere-se a ações, valores, crenças, regras que perpassam e


caracterizam uma sociedade. Para Santos, "o homem vai impondo à natureza
suas próprias formas, a que podemos chamar de formas ou objetos culturais,
artificiais, históricos" (SANTOS, 1988, p. 89). Este autor mais adiante explica que
os objetos culturais fazem com que:

[...] a natureza conheça um processo de humanização cada vez


maior, ganhando a cada passo elementos que são resultado da
cultura. Torna-se cada dia mais culturalizada, mais artificializada,
mais humanizada. O processo de culturalização da natureza
torna-se, cada vez mais, o processo de sua tecnificação. As
técnicas, mais e mais, vão incorporando-se à natureza e esta fica
cada vez mais socializada, pois é, a cada dia mais, o resultado do
trabalho de um maior número de pessoas. Partindo de trabalhos
individualizados de grupos, hoje todos os indivíduos trabalham
conjuntamente, ainda que disso não se apercebam. No processo
de desenvolvimento humano, não há uma separação do homem e
da natureza. A natureza se socializa e o homem se naturaliza.

De acordo com o autor Cuche, “Se a cultura nasce da interação entre os


indivíduos e entre grupos de indivíduos, é errôneo encarar a subcultura como uma
variante derivada da cultura global que existiria antes dela” (CUCHE, 1999, p.
107). Nesta mesma assertiva, opina Brandão:

[...] somos seres humanos, o que aprendemos na e da cultura de


quem somos e de que participamos. Algo que cerca e enreda e
vai da língua que falamos ao amor que praticamos, e da comida
que comemos à filosofia de vida com que atribuímos sentidos ao
mundo, à fala, ao amor, à comida, ao saber, à educação e a nós
próprios (BRANDÃO, 2002, p. 141).

A cultura pode ser compreendida “como um conjunto dinâmico, mais ou


menos homogêneo. Os elementos que compõem uma cultura não são jamais
integrados uns aos outros, pois provêm de fontes diversas no espaço e no tempo”
(CUCHE, 1999, p. 140).
8 COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste relato da Intervenção Pedagógica busca-se detalhar como as


atividades foram desenvolvidas no Colégio Estadual Pe. Manuel da Nóbrega –
Ensino Fundamental, Médio e EJA – Umuarama, diante da participação de alunos
e alunas do ensino médio. Partindo do tema sobre Os Conceitos - chaves
Geográficos e Literatura: Práticas Integradas Socioespaciais, no ensino da
Geografia. Foi organizado um cronograma de aplicação com 32 horas para
desenvolver a prática pedagógica de ensino-aprendizagem. Foram 6 dias de
regência com 3 horas diárias, 4 dias de regência de 2 horas diárias e 1 dia de 4
horas, todas as atividades em contra turno. A proposta foi desenvolvida com
alunos e alunas do 1ano, sendo uma turma do período matutino, composta por 16
estudantes. Sendo, na maioria, educandos que vivem em situação de
vulnerabilidade social.
A implementação do projeto ocorreu por meio de atividades diversificadas e
uma metodologia diferenciada, tais como: apresentação de vídeo, debates, roda
de conversas, produção de textos, confecção de desenhos, pesquisas e produção
de glossário. O intuito era promover uma aprendizagem significativa, bem como
despertar o interesse para leitura.
O trabalho teve inicio com apresentação de slides com diversas imagens
para diagnosticar, o que os educandos conhecem sobre os conceitos chaves-
geográficos. Após o registro de um painel de idéias, sobre o diagnostico do
conhecimento dos educandos sobre região, território, paisagem e lugar. Foi
realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os conceitos apresentados. Na
sequencia, foi distribuído um recorte do texto literário do livro de Érico Veríssimo,
O Continente. Sendo que os educandos tiveram um tempo para fazer sua leitura e
apresentar por meio de um circulo de conversas onde cada um comentou o que
entendeu sobre o texto lindo. Em seguida, foram divididos os alunos em grupo,
sendo que cada grupo tinha que produzir uma atividade diferenciada, ou seja,
produção de textos, desenhos que representaram relatos da literatura e lista de
palavras com dialetos encontrados na leitura.
Após a realização das atividades propostas, foi realizada uma pesquisa no
laboratório de informática, para pesquisar os significados das palavras (dialetos),
destacado na literatura.
Durante todo o trabalho, ocorreu uma ótima interação, entre os educandos,
incidindo numa aprendizagem considerável e interesse para conhecer outras
literaturas. Porque segundo alguns relatos eles, nunca tinha observado que é
possível presenciar os conceitos geográficos na literatura, o que proporcionou a
aprendizagem de geografia mais significativa.
Com base nos vários vídeos, trabalhados sobre a diversidade cultural do
Rio Grande do Sul, foi proporcionado um círculo de conversa, que debateu a
grande importância da cultura de um povo e sua relação com nosso espaço de
vivencia, influenciando na decisão de quais pratos típicos, gostaríamos de
pesquisar e fazer degustação no final do projeto. A participação da turma foi
ótima e foi possível concluir o objetivo proposto, que era proporcionar o interesse
pela leitura.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico apresentado por meio da implementação deste projeto,


mostrou que a é possível mobilizar o educando para o gosto da leitura. É sabido
que temos muito para avançar, mas que por meio de metodologias diferenciadas
e possível proporcionar o desejo de conhecer e compreender a necessidade da
leitura, para desenvolver qualquer situação problema.
Enfim, esse projeto alcançou os objetivos propostos, e pretendo continuar
desenvolvendo-o nos anos vindouros. Porque percebi que as diferentes
metodologias, contribuíram para discussões entre educandos e educador,
promovendo uma interação de aprendizagem significativa.

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