Sei sulla pagina 1di 55

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA FEDERAL DA 3ª VARA FEDERAL DA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL.

O ​MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL​, o ​MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO e o ​MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS vêm
muito respeitosamente perante Vossa Excelência se manifestar sobre as informações
prestadas pelo Distrito Federal na Petição Intercorrente id 232694882 em atendimento à
determinação desse MM. Juízo Federal.

A fim de propiciar mais eficiência na leitura da presente manifestação, segue


índice estruturado em conformidade com os tópicos requisitados por esse MM. Juízo
Federal:

Tópico Página
1. Planejamento de retomada. Bloco de atividades. Regras sanitárias. 2
2. Leitos da rede pública e privada. Disponibilidade. Equipamentos disponíveis. Números
de pacientes infectados. Contratações e entrega de leitos UTI da rede privada. 13
Hospitais de campanha. Sistema prisional.
3. Plano de fiscalização. 19
4. Máscaras. Aquisição e planejamento de distribuição pelo Poder Público,
20
empregadores e comércio.
5. Transporte público. Regras sanitárias e planejamento. Turnos. 22
6. Testes rápidos. Estratégia em caso de resultado positivo. Regiões administrativas. 25
7. Campanhas de conscientização e educação da população. 37
8. Plano de atendimento no comércio em horário específico para população de risco. 38
9. Outros tópicos: Funcionamento de atividades não essenciais. Número insuficiente de
46
intensivistas. Falta de epi. Falta de equipamentos nos leitos de UTI. Subnotificação
10. Pedidos. 52
11. Índice de anexos. 55
1. PLANEJAMENTO DE RETOMADA, COM DATAS POR BLOCO DE
ATIVIDADES E REGRAS SANITÁRIAS PARA DIFERENTES RAMOS, SE
FOR O CASO.

​ a decisão id 228670357, que acolheu em parte o pedido de urgência, Vossa


N
Excelência consignou acertadamente a necessidade de que todos se sintam seguros em
relação às medidas adotadas para o combate da Covid-19, especialmente no tocante à
flexibilização da política de distanciamento social no Distrito Federal, que, como estava, já
proporcionava índice de isolamento inferior ao recomendado pela OMS

Nessa linha de raciocínio, Vossa Excelência registrou importantes premissas


lastreadas nas orientações da Organização Mundial de Saúde e no próprio ordenamento
jurídico pátrio, a serem observadas pelos agentes públicos no enfrentamento da pandemia,
as quais pede-se vênia para transcrever:

(...) é imperioso que fique claro e oficialmente documentado para a população de um


modo geral como se dará a retomada das atividades e que sejam estabelecidos
protocolos sanitários específicos para cada atividade que vier a ser retomada, com
orientação da população para o risco da quebra destes protocolos, estabelecendo
medidas de fiscalização do cumprimento de regras rígidas e coibição de procedimentos
inadequados, endurecendo as medidas em caso de reiteração de conduta.
(...)
É imperioso que as restrições em relação a idosos e grupos de risco sejam mais
detalhadas, precisando estar bem definidas, não só quanto à recomendação de
limitação de circulação, mas quanto ao não retorno ao trabalho presencial, mesmo que
estejam vinculados a atividades que venham a ser liberadas. Preocupa-nos a situação
de risco ao emprego que podem sofrer, o que demanda um pensar do Governo sobre o
assunto.
(...)
Deve, no entanto, a ampliação da flexibilização do isolamento ser acompanhada de um
cronograma de reabertura dos diversos setores da economia e de diversas medidas
acautelatórias que visarão impedir a propagação da doença, com a implementação de
protocolos sanitários rígidos, claros e que demandam divulgação prévia. São novos
hábitos que estão sendo implementados e, em algumas cidades que retomaram as
atividades, não são fáceis a fiscalização e o controle. (...)

Com fulcro em tais fundamentos, essa MM. Juíza federal determinou ao Distrito
Federal que apresentasse dados complementares concernentes, dentre outros pontos, ao
planejamento de retomada, com datas por bloco de atividades e regras sanitárias para
diferentes ramos, se for o caso.

Visando a atender à determinação do Juízo, o Governo do Distrito Federal


juntou os documentos que constam no id 232694882.

No entanto, fica evidente que ​o Poder executivo distrital não se desincumbiu


do seu ônus de apresentar um plano de retomada​, uma vez que, da referida
documentação, ​não se extraem os dados e informações relevantes para sanear as
dúvidas apresentadas pelo Juízo, tampouco para infirmar os substanciais
fundamentos e elementos trazidos pelos autores.

De início, vê-se que o próprio Distrito Federal confirma em sua manifestação que
ainda está desenvolvendo “protocolos sanitários específicos para cada atividade que será

2/55
posteriormente permitida pelo Poder Executivo”. Admite, também, que ainda não formulou
plano de retomada.

Tal assertiva revela, ademais, que as medidas de liberação já implementadas


também não foram pautadas em estudos prévios e critérios sanitários, apesar de todo o
tempo decorrido desde o primeiro Decreto questionado nesta demanda.

O principal documento que trata do planejamento para a retomada de atividades


é a Nota Técnica (39872277) e o Anexo (39872326), elaborados pela Diretoria Colegiada da
Codeplan, a qual tem caráter meramente técnico-informativo. Ou seja, destina-se a
subsidiar tomadas de decisões pelos gestores públicos do Governo do Distrito Federal no
tocante à crise relacionada a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Chama a atenção o fato de que o GDF centralizou os seus ​estudos na


Codeplan, órgão que não integra a estrutura de atenção sanitária da capital do País​.
Trata-se de uma empresa pública de direito privado que não possui ​experts ​para os
necessários planejamentos na área da saúde, e que sequer ouviu o Conselho de Saúde do
DF e instituições públicas especializadas para realizar suas análises.

Conforme se registrou expressamente na Nota Técnica, tal “estudo” é apenas


um ​esboço​ para o plano de retomada das atividades econômicas.

Nesse sentido, consignou-se nele a imprescindibilidade de outras análises pelos


setores específicos envolvidos no enfrentamento da pandemia no GDF:

4. Registre-se, ainda, que a produção de pesquisas e estudos para subsidiar a


formulação de políticas públicas e o planejamento governamental é uma das atribuições
da Codeplan, cabendo aos órgãos setoriais e a outras instâncias do GDF a tomada de
decisões sobre tais políticas e planejamentos. Assim, para mais insumos, sugere-se,
desde logo, que referidos órgãos, encarregados de implementar as medidas protetivas
que estão sendo planejadas, sejam, igualmente, consultados (p. 20 do documento id
232694882).
58. Registra-se que ​esse esboço deve ser lido como ​insumo para uma das partes de
um plano de reabertura. ​Um plano completo, no nosso entendimento, deve incluir regras
sanitárias gerais para população, para o funcionamento de setores específicos,
transportes etc, a serem definidas pelas autoridades sanitárias distritais. ​Essa proposta
considera tão somente o diagnóstico do mercado de trabalho do Distrito Federal para
dezembro de 2019, mas os gestores podem e devem considerar também outras
informações para um plano abrangente. (p. 57 do documento id 232694882) (grifo)

O GDF encaminhou uma série de notas técnicas e manifestações de várias


Secretarias relacionadas ao enfrentamento da Covid-19, a maioria, com data anterior à Nota
Técnica da Codeplan, algumas sem qualquer assinatura e sem que estivessem organizadas
ou consolidadas para a finalidade específica de formulação de um plano de retomada.

Os dados e informações analíticas da Nota Técnica (39872277) e Anexo


(39872326) da Diretoria Colegiada da Codeplan são, portanto, ​apenas o ponto de partida
para o planejamento da reabertura de diversas atividades, não havendo elementos
suficientes para que se considere existir no Distrito Federal, hoje, um consistente plano de
retomada.

3/55
Ao revés, os autores têm apresentado de forma clara e aprofundada, desde a
inicial, que o GDF não atende critérios da OMS para relativizar ainda mais o isolamento
social e que há indicadores, desconsiderados pelo réu, a demonstrar que não estamos em
momento de prescindir das restrições de abertura de atividades econômicas.

Ressalte-se que a própria CODEPLAN admite, no referido “esboço”, que o


quadro no DF ainda é ​delicado,​ senão vejamos:

109. ​Os levantamentos realizados e as informações que estão sendo monitoradas


indicam um quadro delicado​. Primeiro, ​observa-se um crescimento do número de
casos, ainda que a taxas menores do que as iniciais; as projeções até o dia 13 de maio
ainda apontam para aumento de casos e óbitos. Segundo, ​observa-se um percentual
relevante da população na faixa de risco que reside com outras pessoas
(dificultando o isolamento de faixas demográficas) e um acesso médio à rede de saúde
privada de menos de metade da população residente no DF. Terceiro, ​o monitoramento
das informações de transporte mostra que as medidas de isolamento surtiram
efeito no [que] toca à redução de circulação de pessoas e que o relaxamento desta
tem mostrado uma trajetória gradual de retorno à normalidade ​(destaques
acrescidos)

E certamente é descabido que se permita a retomada de mais atividades diante


de um quadro ainda muito delicado, e sem que a população tenha conhecimento do inteiro
teor de um plano de retomada antes de iniciadas as medidas, com curva de casos em
ascendência, baixa testagem e alta subnotificação, isolamento social médio em 40%, taxa
média de contágio do Brasil em 2,8 por pessoa, EPI´s já em falta e população não engajada
em quarentena, dentre os diversos argumentos e fatos ressaltados pelos autores até aqui.

É indispensável que os dados e informações sejam sistematizados e


consolidados com uma análise crítica e crivo sanitário, e que, a partir deles, em atos
normativos próprios, seja definido: um cronograma; critérios predeterminados para liberação
e suspensão de atividades; políticas sanitárias específicas para cada atividade liberada (tal
como no Decreto nº 40.602, de 07/04/2020, citado como exemplo na decisão) e para grupos
vulneráveis; medidas acautelatórias na hipótese de crescimento do contágio; estratégia
fiscalizatória e ​marcadores de alerta para revisão da abertura ​- como, por exemplo,
índice de comprometimento de UTI e dos insumos de saúde, índice mínimo de
isolamento social, taxa de absenteísmo de profissionais de saúde​, dentre outros.

No entanto, não parece ser essa a intenção do GDF, que, desde antes do
ajuizamento da presente ação civil pública, vem anunciando o relaxamento das medidas de
distanciamento social - sem, portanto, planejamento consistente.

Observe-se, por exemplo, que no Plano de Retomada da Codeplan juntado pelo


GDF em 30 de abril de 2020, os critérios dos blocos de reabertura eram os seguintes:

1. Sem atendimento ao público e/ou atividade intermediária 2. Com atendimento


ao público e/ou atividade intermediária 3. Atividade nal e atividade passível de
aglomeração 4. Atividades de ensino e administração pública. Cada bloco tem
duração de 21 dias​, e é dividido em semanas.

4/55
Já na Nota Técnica acima referida, do mesmo órgão, de 8 dias depois, além de
ser menor o espaço de tempo de abertura entre cada bloco, vê-se que foram adotados
outros critérios:

Cenário atual de acordo com os dados disponíveis


69. A tabela abaixo identifica os segmentos que estão em funcionamento e os que
estão suspensos, dividida por grandes blocos de atividade econômica que seriam
abertos, gradualmente a cada 15 dias, após avaliação do impacto epidemiológico. O
primeiro ponto que se observa é que do total de trabalhadores estimado (1,48 milhão),
51,4% já estão executando suas atividades normalmente, seja devido aos Decretos
distritais, seja por serem atividades essenciais.
Tabela 11 - Atividades econômicas separadas em blocos de 15 dias

Como se verá em seguida, a Codeplan afirma que o plano precisa permitir que
se verifique a necessidade de recuo nas ações de abertura.

Ora, parece óbvio, mas se o impacto na curva de contágio e no sistema de


saúde causado pelo relaxamento das medidas de distanciamento social se perfaz num ciclo
de 15 dias, seria recomendado intervalo entre os blocos superior a 15 dias. Esse prazo
mínimo é necessário para que o gestor tenha tempo hábil de rever ou replanejar o bloco
seguinte. Sempre salientando que abrir uma atividade, ainda que a decisão seja revista dias
depois, já terá afetado inúmeras vidas e famílias, comprometido sistema de saúde, com
consequências irreversíveis.

Ressalte-se que no quadro acima fica evidente que a CODEPLAN não sabe, por
exemplo, quantos trabalhadores compõem o bloco de “shopping centers e centros

5/55
comerciais”, o que é uma das inúmeras falhas do “esboço” do plano de retomada. Sem falar
que esses centros comerciais são lugares que proporcionam enormes aglomerações de
pessoas, o que é público e notório, tanto que foram um dos primeiros lugares a terem suas
atividades suspensas.

É necessário, ainda, que o planejamento observe a Recomendação da OMS de


16/04/2020, transcrita na inicial, que estabelece as seguintes balizas:

1. transmissão de covid-19 controlada;


2. quantidade suficiente de profissionais de saúde e de recursos materiais;
3. minimização de surto em ambientes de alta vulnerabilidade;
4. fixação de medidas preventivas em ambientes de trabalho;
5. controle do risco de exportação/importação de casos de comunidades com
alto risco de transmissão;
6. envolvimento amplo da população e plena conscientização sobre medidas de
prevenção.

Veja-se que a Codeplan propôs diretrizes que vão ao encontro da


Recomendação da OMS:

Diretrizes
63. Entende-se que a retomada das atividades econômicas, quando acontecer,
deve ser realizada de maneira gradual, ​possibilitando o recuo das ações a partir do
acompanhamento do impacto da reabertura sobre a situação epidemiológica, para que
se diminua o risco de contágio rápido que poderia resultar em colapso do sistema de
saúde​.

Sugere-se como diretrizes para a elaboração de um plano:

1. Prevenção do contágio rápido


2. Organização e fortalecimento do sistema de saúde ao longo do tempo
3. Proteção à população de risco
4. Possibilitar atividades econômicas sem incorrer em riscos desnecessários
5. Avaliação periódica do impacto das medidas de reabertura a cada ciclo de 14 dias.
(grifo)

Ou seja, indispensável que haja definição prévia, inequívoca e transparente dos


fatores que poderão ensejar o recuo nas ações de liberação de atividades - como indicado
também pela MM. Juíza Federal -, o que ainda não foi feito pelo GDF, segundo a
documentação juntada.

Desde o ajuizamento da ação, há menos de 15 dias, foram oficialmente ​1.854


novos casos, com 53 pacientes ​a mais em UTIs e os casos pendentes de análise
passaram ​a uma fila de 4371. Vejam-se estas informações de 12/05/2020:

O painel Rede CoVida da Fiocruz de monitoramento da pandemia do novo coronavírus


estima que ​nos próximos dez dias os casos de covid-19 no Distrito Federal podem
apresentar um aumento significativo.​ De acordo com os dados, o número de pessoas
infectadas pelo vírus vai continuar aumentando nas próximas semanas, o que significa
que a curva de contágio ainda está crescente. De acordo com a predição da Fiocruz, em

1
Comparação entre 26.04 e 12.05, dados do site www.covid19.ssp.df.gov.br

6/55
21 de maio o DF terá 4.394 casos confirmados da doença. Até a noite de ontem, a
capital tinha 2.800 pessoas infectadas — 102 a mais que no último domingo. Caso se
confirme a tendência do painel, cerca 159 novos casos serão confirmados por dia na
cidade, ou seja, em dez dias, mais 1.594 pessoas estarão contaminadas.

As predições não levam em consideração a abertura do comércio prevista para o


próximo dia 18​. O painel é alimentado com dados atualizados diariamente pelo
Ministério da Saúde e as predições foram calculadas a partir da realidade atual. A
tendência predita pode ser alterada conforme as ações implementadas​ .2 (grifo)

Como assinalado na petição inicial, a OMS reforçou que a remoção de restrições


​só é ​recomendada para países onde o número de casos está em queda​, o que ainda,
infelizmente, não se observa no Distrito Federal. Países europeus hoje com ​planejamento
de retomada têm considerado a taxa de contágio inferior a 1 ​por pessoa como dado
primordial para reduzir isolamento social, e a do Brasil, lembre-se, ​está em 2,8, conforme
estudo do Imperial College já citado na manifestação anterior.3

O primeiro gráfico no relatório da Codeplan evidencia a notificação exponencial


de novos casos (p. 26 documento id 232694882), ressaltando sempre que os estudos
científicos citados pelos autores mostram que no Brasil a subnotificação chega a ser 10
vezes maior do que o número oficial de casos:

2
​https://jornaldebrasilia.com.br/cidades/coronavirus-df-pode-ter-mais-1-500-casos-daqui-a-nove-dias/
acesso em 12.05.2020.
3
A taxa que indica em média para quantas pessoas um infectado transmite o vírus estava em 0,9 nos
últimos dias, mas passou para 1. O RKI alertou que a covid-19 tem potencial para voltar a se
espalhar exponencialmente se esse índice estiver acima de 1.... - Veja mais em A taxa que indica em
média para quantas pessoas um infectado transmite o vírus estava em 0,9 nos últimos dias, mas
passou para 1. O RKI alertou que a covid-19 tem potencial para voltar a se espalhar
exponencialmente se esse índice estiver acima de 1... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/04/28/taxa-de-contagio-do-coronavirus-v
olta-a-subir-na-alemanha-e-liga-alerta.htm?cmpid=copiaecola​ acesso em 12.05.2020

7/55
A taxa de crescimento em março foi de 10,24% ao dia, de 4,6% em abril e de
5,4% ao dia em maio. Ou seja, foi no mês subsequente ao período de distanciamento
social mais rígido que se observaram as menores taxas de crescimento​. O gráfico
abaixo ilustra o sucesso da política de distanciamento social no DF para a diminuição do
contágio (p. 27 documento id 23269488):

8/55
A tendência de crescimento fica mais evidente na tabela a seguir. Ela representa
a observação do número de novos casos ao dia no Distrito Federal acompanhados de uma
média móvel de 7 dias (Gráfico 3), que indica tendência de aumento do número diário de
casos (p. 27/28 documento id 23269488):

O Gráfico 4, em escala logarítmica, confirma que a curva de contágio, apesar de


menos inclinada, ainda não se estabilizou:

9/55
A projeção da Codeplan de casos confirmados e de morte é ainda de
crescimento exponencial (p. 42 documento id 23269488):

10/55
Sobre o contágio no DF, concluiu a Codeplan:

104. Os dados mostram ainda uma alteração constante da trajetória de expansão do


número de casos, com diminuição da declividade da curva de contaminação. ​Isso
significa que o número de casos no Distrito Federal continua crescendo, mas há
uma desaceleração em relação às semanas anteriores. Pode-se atribuir essa
mudança de trajetória ao esforço relacionado ao distanciamento social​. De forma
análoga, mudanças no grau de isolamento podem modificar rapidamente o cenário, com
consequências na taxa de expansão de casos (p. 74 documento id 23269488, destaques
nossos).

E, de fato, no documento ​PROJEÇÕES E RECURSOS DE SAÚDE


ESTIMADOS PARA ENFRENTAMENTO DA COVID–19 NO DF,​ de 23/04/2020, há vários
gráficos que projetam que o pico da curva de infectados se dará em junho ou em julho de
2020, na hipótese de manutenção do isolamento social em percentuais mais elevados
(documento id 2256965858):

11/55
12/55
Desse modo, remanesce a indagação feita por Vossa Excelência, na decisão id
228670357, de que ​“causa receio em qualquer cidadão o fato de que, enquanto se contava
com um número relativamente pequeno de casos, se optou pelo fechamento da grande
maioria de serviços não essenciais, e, agora, quando o número de infectados e mortos
ainda se encontra numa curva crescente, opte a Administração por flexibilizar ainda mais o
isolamento”.

Por isso, imprescindível que este d. Juízo Federal não só mantenha a ordem de
suspensão de qualquer ampliação de funcionamento de outras atividades que já se
encontram suspensas, como determine ao Distrito Federal que apresente o plano de
reabertura respaldado nas recomendações da OMS.

2. NÚMERO DE LEITOS DA REDE PÚBLICA E PRIVADA, NORMAIS E DE


UTI, DISPONÍVEIS E PRONTOS PARA RECEBER PACIENTES
PORTADORES DE COVID-19, COM DETALHAMENTO DE
EQUIPAMENTOS DISPONÍVEIS.
NÚMERO DE LEITOS DA REDE PÚBLICA E PRIVADA, COM GRÁFICOS E
COMPARATIVOS PERCENTUAIS COM NÚMERO DE PACIENTES
INFECTADOS (PESSOAS CONTAMINADAS - DOENTES RECUPERADOS
- ÓBITOS).
DADOS SOBRE PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO E ENTREGA DE
LEITOS DE UTI DA REDE PRIVADA.
ENTREGA E FUNCIONAMENTO DOS HOSPITAIS DE CAMPANHA NO
MANÉ GARRINCHA E NO SISTEMA PRISIONAL.

Por ocasião da visita ao Palácio do Buriti, no dia 07.05.2020, foi apresentado o


seguinte quadro de leitos de UTI:

13/55
O mesmo quantitativo consta dos documentos juntados pelo Distrito Federal
(Ofício 2374/2020 – SES/GAB, ID 232694890): 172 leitos de UTI.

Em relação aos leitos reservados, esclareceu o DF que ​“são aqueles que


teriam ativação e liberação em até 24 horas para direcionamento de pacientes e que já têm
infraestrutura e recursos humanos para atender pacientes com suporte avançado,
necessário à enfermidade COVID-19”​.

No entanto, conforme amplamente divulgado na mídia, ​a situação dos 10


novos leitos de UTI do HRAN não acena para capacidade de ativação em 24 horas​, na
esteira do documento do SINDMÉDICO (DOC 05 anexo), fato que ensejou ​a exoneração
da chefia da UTI adulto do HRAN​, responsável por ter apontado diversas inconformidades.

A Gerência de Terapia Intensiva da SES corrobora a necessidade de


adequações, conforme documento abaixo:

(...)

14/55
Por outro lado, conforme já salientado, em mais de uma oportunidade, ​22 dos
172 leitos são pediátricos/neonatos (10 HCB e 12 UCIN no HRAN4), de modo que a
cautela exige que sejam acompanhados em lista apartada, para real dimensionamento da
ocupação, uma vez que 11 internações infantis corresponderão a 50% da capacidade.

Conforme informação obtida junto ao Complexo Regulador, em 12 de maio de


2020, às 15h38min (DOC 04 anexo), havia ​50 leitos adultos ​ocupados - HRSM1:17
HRSM2:08 HRSM3:06 (4 para transferência covid negativo) HRAN1:10 HRAN2:05, HB:02,
HUB:02 UPA NB:00), ​mais 8 pacientes direcionados (1 confirmado e 7 suspeitos) -, ou
seja, pouco mais de 1/3 da capacidade declarada, considerando como verdadeira a
possibilidade de ativação em 24 horas dos leitos reservados.

Informou, ainda, o Complexo Regulador que, entre os 150 leitos adulto, o


seguinte quantitativo ​ainda encontra-se inoperante​: HRSM UTI 1A: 22 (02 finalizando
montagem), HRAN 2: 05 (finalizando montagem), HB: 05 (sem ventilador mecânico),
totalizando ​12 leitos fora de operação​.

No item 4 do Ofício 2374/2020 – SES/GAB (ID 232694890), a SES faz


referência a leitos de UTI contratados com a rede privada (107 leitos, Edital de Chamamento
05/2009) que, ​contudo, não são leitos destinados a pacientes COVID-19.

Em seguida, afirma que a “​Secretaria possui, em fase de contratação e/ou


​ ais 156 (cento e cinquenta e seis) leitos de UTI”​, conforme
contratadas, a instalação de m
cronograma abaixo:

4
Nas informações do Complexo Regulador constam 08 leitos UCIN no HRAN (DOC 03 anexo).O
MESMO CITADO ACIMA

15/55
Quanto aos hospitais de campanha, no entanto, afirma que a previsão de
atendimento ao público teria início em 20 a 22 de maio para o Mané Garrincha e 30 de maio
a 02 de junho para a Papuda. ​De se destacar que as datas de entrega anunciadas já
foram reformuladas mais de uma vez​.

Menciona a SES, ainda, a abertura de edital de dispensa de licitação para a


locação de mais 55 leitos de UTI tipo II, ​ainda sem previsão de instalação.

Portanto, a partir de final de maio, há uma projeção de 306 leitos destinados a


pacientes COVID-19, com possibilidade de mais 55 leitos.

A previsão aproxima-se da projeção realizada pela GESTI, para 5.000


infectados numa curva achatada, conforme consta da petição inicial, mas distante da
segunda projeção apresentada pelo DF, ​correspondente a um isolamento social
hipotético de 60%​, para a qual seriam necessários ​725 leitos de UTI no pico da
pandemia.

No documento de ID 232694892 (“Dados sobre processos de contratação e


entrega de leitos de UTI da rede privada”), foram anexados dados sobre processos da SES
e do IGES5 quanto a leitos de UTI, tanto da capacidade instalada (não COVID) como
daqueles acrescidos em razão da pandemia, alguns ainda sem contrato:

1. Contrato 7/2019, Hospital São Mateus;


5
Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal.

16/55
2. Contrato 8/2020, Hospital Daher Lago Sul S/A;
3. Contrato 53/2020, Hospital Maria Auxiliadora;
4. Contrato 53/2018, Domed;
5. Contrato 57/2020, Serviços Hospitalares Yuge S/A (São Francisco);
6. Contrato 58/2020, Hospital Santa Marta Ltda.,
7. Contrato 62/2020, Home Hospital Ortopédico
8. Contrato 78/2020, Hospital Daher Lago Sul S/A
9. Contrato 69/2020, Hospital Serviços de Assistência Social sem Alojamento
Ltda.;
10. DODF edição extra 5 de maio – dispensa de licitação para contratação de
gestão integrada de 55 leitos de uti tipo II, com locação de equipamentos,
gerenciamento técnico, assistência médica e multiprofissional;
11. proposta comercial da empresa DOMED para 19 leitos de UTI;
12. proposta do ICDF para 30 leitos de UTI;
13. proposta do Instituto Med Aid Saúde para 86 leitos de UTI e 20 de enfermaria;
14. proposta do Hospital São Francisco para 10 leitos de UTI adulto e 05 UTI neonatal;
15. Contrato 34/2020 IGES e Organização Aparecidense de Terapia Intensiva Ltda. (20
leitos HRSM)
16. Contrato 33/2020 – IGES e Hospital Maria Auxiliadora S/A (20 leitos UPA NB e 30
leitos Base);
17. Contrato 30/2020 – IGES e DOMED Produtos e Serviços de Saúde Ltda. (50
leitos SM).

Finalmente, no tocante aos leitos da rede privada, destinados a pacientes


particulares e beneficiários de planos de saúde, o Decreto nº. 40.679, de 04 de maio de
2020, determinou o monitoramento da ocupação, para possível suplementação do SUS,
ainda em fase de construção de um fluxo.

Conforme dados extraídos do CNES6 informados pela SES​, por meio do


Ofício nº 2261/2020 - SES/GAB, de 07/05/2020 (DOC 01 anexo), a rede privada do Distrito
Federal possui 357 leitos de UTI (quadro abaixo), com diversos tipos de suporte, não sendo
possível afirmar, neste momento, quantos estão ocupados (por pacientes COVID7 ou
por pacientes portadores de outros agravos).

Também, não está claro se:

- dentro desse número de UTIs da rede privada (357), existem leitos já


destinados ao SUS por meio de contrato;

- tampouco qual o comprometimento de equipamentos dos hospitais


particulares que recentemente ampliaram atendimento para a SES e IGESDF, sendo certo
que a dificuldade de aquisição de ventiladores pulmonares e outros insumos atinge tanto a
rede privada como pública.

6
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saúde.
7
Em reunião do Comitê Distrital de Saúde, de 12 de maio de 2020, o Senhor Secretário Adjunto
de Assistência da SES informou que havia 40 pacientes COVID-19 em leitos de UTI privadas.

17/55
Por fim, cumpre registrar que ​não há uma palavra ou documento sequer que
se refira aos ​processos de aquisição de ventiladores pulmonares pela Secretária de
Saúde e pelo Instituto de Gestão Estratégica em Saúde (já frustrados pelos menos
três vezes), tampouco em relação aos processos para contratação de manutenção
desses aparelhos, nem quanto ao progresso das manutenções a cargo do SENAI.

No DODF 88, de ​12 de maio de 2020​, foi ​publicada dispensa de licitação


para aquisição emergencial de 300 ventiladores pulmonares, com apresentação de
propostas até 13 de maio de 2020 ​(processo SEI nº 00060-00160364/2020-86- SES/DF).
Trata-se do mesmo processo SEI publicado em outras edições do DODF.

Também, não há informação a respeito de ​como s ​ erá monitorado o


impacto da retomada de atividades sobre a capacidade do sistema​, ou seja, não foi

18/55
estabelecida qual será a margem segura da ocupação de leitos, para reavaliação das
medidas flexibilizadoras, considerando o contágio rápido e exponencial.

3. PLANO DE FISCALIZAÇÃO E MEDIDAS DE CONTENÇÃO EM CASO DE


DESCUMPRIMENTO.

Consta do documento id 232694885 ​declaração do próprio órgão de


execução das atividades de fiscalização de que não possui estrutura adequada para
atender à demanda​.

Trata-se do ​Plano de Fiscalização e Medidas de Contenção em Caso de


Descumprimento da Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito
Federal - DF Legal,​ denominado ​PLANO DE AÇÕES INTEGRADAS DF-LEGAL
ENFRENTAMENTO - COVID 19 DF LEGAL,​ que dispõe acerca da fiscalização de
estabelecimentos, atividades, instituições e eventos com vistas ao cumprimento das
disposições legais de combate ao Sars-CoV-2.

Consta do referido documento:

(...) Embora esta Secretaria conte com o apoio logístico das Administrações Regionais
e da PMDF, a escassez de recursos logísticos e humanos, configurados no baixo
número de viaturas, de equipamentos e de servidores da DF-LEGAL, l​ imitam o poder
de alcance e de ampliação das frentes de fiscalização​, principalmente no que diz
respeito à execução de operações de médio e grande porte, seja para desobstrução de
espaços públicos ou para desencadeamento de fiscalização simultânea de grande
volume de estabelecimentos e atividades comerciais, cujas atividades sofreram
restrição ou estão suspensas. (​ ...)

Da mesma forma, tem-se que os órgãos de fiscalização não possuem poder de


atuação em relação à aglomeração de pessoas nos espaços públicos ou privados, cuja
atividade não dependa de autorização do Poder Público:

(...) Vale registrar, nesse ponto, que grande parte das reclamações/denúncias
dizem respeito a aglomerações em festas e reuniões familiares, sem natureza
econômica ou comercial, que, por esta razão, não dependem de autorização do
poder público ou não constam no rol de atividades suspensas/vedadas pelo
Decreto n. 40.583/20, cabendo, neste caso, tão somente ações de caráter
orientativo e educativo acerca do aumento do risco de contágio. (...)

Assim, mesmo existindo 22 Núcleos de Inspeção atuando no Distrito Federal, a


estrutura e quantitativo de pessoal não é capaz de atender à demanda existente para
enfrentamento às aglomerações.

Logo, no caso de implementação do plano de retomada das atividades


econômica pelo Distrito Federal, restam dúvidas quanto à fiscalização adequada para
assegurar a observância das recomendações, protocolos e medidas de distanciamento

19/55
social, de modo a evitar o aumento desenfreado e exponencial do número de pessoas
infectadas.

Isso porque, se no atual estágio de enfrentamento, mesmo havendo um


número limitado de atividades essenciais em funcionamento, os órgãos de fiscalização não
são capazes de exercer suas atividades a contento, o que se dirá ou ocorrerá quando
inúmeras outras atividades forem liberadas. Certamente, não haverá fiscalização adequada,
o que, de fato, contribuirá para o descumprimento das normas sanitárias e o aumento
abrupto do número de pessoas infectadas.

4. DADOS SOBRE PROCESSO DE AQUISIÇÃO E PLANEJAMENTO DE


DISTRIBUIÇÃO DE MÁSCARAS.
PLANO DE DISTRIBUIÇÃO DE MÁSCARAS PELO PODER PÚBLICO,
EMPREGADORES E COMÉRCIO.

Com relação ao pedido expresso deste MM. Juízo de que o Distrito Federal
apresentasse dados sobre o processo de aquisição e plano de distribuição de máscaras,
não constam dos documentos juntados essas informações.

Não há comprovação de aquisição de máscaras para distribuição ou a indicação


dos processos licitatórios que resultaram nesta aquisição, nem sobre o tipo de máscara e os
protocolos de uso para consumidores e para trabalhadores. Sequer há a Informação
essencial sobre o quantitativo de itens à disposição do GDF para entrega imediata para os
cidadãos que voltarão a circular.

Segundo o relatório da CODEPLAN (id. Num. 232694887, página 41, tabela 11),
no dia 0 do possível Plano de Retomada, o número estimado de trabalhadores em
circulação seria de 254,1 mil (duzentos e cinquenta e quatro mil e cem), além dos já
liberados, o que inclui o comércio varejista, atacadista, representantes comerciais e
atividades de serviço. Não consta do relatório, no entanto, qual a capacidade do GDF de
entregar máscaras para esses trabalhadores que precisarão voltar às atividades, não
apresenta estimativa baseada na rotina de troca necessária das máscaras durante o dia,
pois seu tempo de uso não suporta toda a jornada de 8 (oito) horas de trabalho.

Com relação ao uso de máscaras, dois outros pontos merecem destaque: (1)
não constituem, por si só, um meio adequado de proteção, até porque máscara de tecido,
se forem as que o GDF prevê distribuir, não são consideradas EPI´s, conforme NT 4 da
Anvisa8, atualizada em 08.05.20, e são medida acessória; e (2) a escassez de aparato para
fiscalização do adequado uso em ambiente público ou mesmo nos estabelecimentos
comerciais.

Deve-se levar em consideração a limitação que representa o uso de máscaras

8
​Máscaras de tecido devem ser usadas para impedir que a pessoa que a está usando espalhe secreções
respiratórias ao falar, espirrar ou tossir (controle da fonte), desde que estejam limpas e secas, porém, elas NÃO
SÃO Equipamentos de Proteção Individual -
http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271858/Nota+T%C3%A9cnica+n+04-2020+GVIMS-GGTES-ANVIS
A/ab598660-3de4-4f14-8e6f-b9341c196b28​ - acesso em 12.05.2020

20/55
de tecido ​pela maciça maioria da população, pois há evidências científicas de que essa
forma de proteção tem menor eficácia se comparada à máscara cirúrgica, além de ser
dependente do correto uso e higienização9. Os especialistas informam que a máscara
precisa de dupla camada e não afasta o risco de contaminação ao manuseá-la, segundo
declarou a própria Gerente de Risco da Vigilância Sanitária no DF:

Mas é importante ressaltar: não podemos achar que vamos colocar a máscara e estar
100% protegidos. A medida mais eficaz de combate ao coronavírus hoje é ficar em casa.
10

A mesma gerente ainda adverte que a mesma máscara só deve ser usada por
03 horas. Isso equivale a dizer que o cidadão terá que ter no mínimo de 03 a 04 máscaras
ao dia, para a devida troca, considerando as 08 horas de trabalho diárias e o período de
deslocamento em transporte público. Considerados apenas os trabalhadores formais do
comércio e de serviços em circulação no Dia 0 do Plano, isso representaria um total de
1.016.400 de máscaras, desconsiderados os trabalhadores já em circulação, os vínculos
informais, os empregadores e consumidores expostos. Ademais, os agentes de fiscalização
precisam também de máscaras, e as que de fato são consideradas EPI´s.
Como declara a ​OMS, “máscara não substitui a quarentena​.”11
Quanto ao segundo ponto, como transcrito acima, há confissão do GDF, por
meio de seu Secretário Gutemberg Tosatte Gomes (Id​. 232694885), o qual, ao apresentar
os dados das fiscalizações já realizadas neste momento de isolamento, demonstra que a
escassez de pessoal, viaturas e equipamentos inviabiliza uma fiscalização ampla e
concomitante em diversos setores e estabelecimentos, como seria necessário em caso de
flexibilização das medidas de isolamento. Ou seja, a fiscalização já é insuficiente no
atualmente estágio, problema que será maximizado com mais pessoas e estabelecimentos
liberados.

Assim, os documentos apresentados não trazem as informações determinadas


por este MM. Juízo com relação à aquisição e distribuição de máscaras para a população
em geral, bem como reconhecem as limitações de proteção decorrentes de seu uso e as
dificuldades atualmente existentes para a fiscalização.

9
Uso de máscaras de tecido para pacientes assintomáticos. De qualquer modo, “Uma subanálise comparou
todos os profissionais que usaram somente máscaras de tecido com os que usaram somente máscaras
cirúrgicas. A análise univariada mostrou maiores taxas de infecção no grupo que usou máscaras de tecido,
resultado mantido para síndrome gripal e infecção laboratorialmente confirmada após ajuste. Testes laboratoriais
mostraram que a penetração de partículas através de máscaras de tecido era muito alta (97%) quando
comparadas com máscaras cirúrgicas (44%) e N95 (0,1%)” Ou, ainda: somente máscara cirúrgica alcançou
significância estatística.
https://pebmed.com.br/mascaras-de-tecido-uso-seguro-como-protecao-contra-o-coronavirus/.
10
“(...) Só é eficaz se cobrir nariz e boca, sem brechas. O uso deve ser feito no máximo por três horas, com
trocas sempre que a gente perceber que ela está úmida. Quem espirra ou tosse deve substituir imediatamente.
A retirada também é importante. É preciso pegar só nas alças, guardar em um saquinho até chegar em casa.
Quando chegar, colocar de molho em solução com água, sabão e água sanitária até 30 minutos. Depois, lavar e
colocar para secar. Quando estiver seca, passar o ferro e guardar. Mas é importante ressaltar: não podemos
achar que vamos colocar a máscara e estar 100% protegidos. A medida mais eficaz de combate ao coronavírus
hoje é ficar em casa
(https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/04/30/interna_cidadesdf,849862/covid-19-uso-o
brigatorio-de-mascara-no-df-comeca-nesta-quinta.shtml).
11
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/13/oms-anuncia-criterios-para-paises-considerando
-acabar-com-isolamento.ghtml

21/55
5. REGRAS SANITÁRIAS ESPECÍFICAS E PLANEJAMENTO REFERENTES
A TRANSPORTE PÚBLICO, INCLUINDO, SE FOR O CASO, PROJEÇÃO
DE FLUXO EM DIFERENTES TURNOS.

No que diz respeito ao transporte público coletivo, entende o Parquet que o


Distrito Federal não se desvencilhou de sua obrigação de apresentar um plano hábil a
garantir, entre outras medidas, o distanciamento entre os seus usuários, tanto no interior
dos veículos (ônibus, BRT, metrô), quanto nos locais de embarque e desembarque,
considerando a hipótese do retorno das atividades econômicas ou sem fins lucrativos. Seria
o caso de apresentação de um plano de adaptação dos transportes coletivos, em especial,
comportando as estratégias referentes aos chamados “horários de pico e a correspondente
aglomeração e lotação dos veículos”, já bastante conhecida de todos em tempos de
funcionamento normal da economia.

Em outras palavras, o Distrito Federal deveria ter definido e apresentado ao


Juízo, ou aos órgãos de controle das políticas públicas, caso do Ministério Público, provas
atinentes ao transporte público, ao menos no que abrange: (i) estratégias definidas de
atuação; (ii) um correspondente plano para implementação destas estratégias no transporte
de massa local, focado na limpeza dos veículos, no controle de uso de máscaras e produtos
sanitizantes, no número de passageiros em cada cada veículo (ou percentual de ocupação
de veículos) e no distanciamento entre esses usuários; e (iii) o controle da aplicabilidade das
regras definidas para tanto, caso seja viabilizada a retomada das atividades econômicas.

A título de ilustração, a ​Rede de Promoção da Mobilidade Sustentável e do


Transporte Coletivo do Distrito Federal – Rede Urbanidade,​ composta por representantes da
sociedade civil organizada e do MPDFT, divulgou, no dia 11/05/2020, uma carta aberta aos
poderes constituídos do Distrito Federal e à sociedade contendo uma série de propostas
preventivas relacionadas ao processo de redução gradual do isolamento social imposto pela
Covid-19, com o objetivo de evitar a disseminação acelerada do Coronavírus e a sobrecarga
ao sistema de saúde.

O documento, que conta com o apoio de 11 (onze) entidades que se dedicam à


causa da mobilidade urbana, prevê o seguinte:

4. Muitas cidades estão se preparando para o processo de redução gradual do


isolamento/distanciamento social imposto pela pandemia, que há de ser implementado
com muita cautela e com base em critérios científicos. Boa parte das medidas adotadas,
é claro, dizem respeito aos meios de transporte, diante da necessidade de manutenção
temporária do distanciamento social para se evitar a propagação acelerada do vírus e a
sobrecarga ao sistema de saúde.
NESSE SENTIDO, COM O INTUITO DE FOMENTAR ESSE DEBATE, E
CONSIDERANDO,
a. QUE o Coronavírus tem como característica a alta transmissibilidade, obrigando
autoridades públicas a adotarem medidas preventivas ao contágio, dentre as quais o
isolamento/distanciamento social, a redução da mobilidade, a suspensão e/ou
reorganização de atividades econômicas, profissionais e educacionais, ressalvando-se
apenas aquelas consideradas de natureza essencial;

22/55
b. QUE em muitos casos a Covid-19 se manifesta de forma assintomática, o que dificulta
a identificação dos portadores do vírus e exige a adoção de medidas profiláticas em
relação a toda a população;
c. QUE essa situação ainda pode se estender por algum tempo até a evolução dos
estudos científicos necessários ao desenvolvimento de recursos eficazes de imunização;
d. QUE ainda não existem estudos conclusivos sobre a possibilidade de um paciente
recuperado voltar a ser infectado;
e. QUE o relaxamento intempestivo das medidas de isolamento/distanciamento social
pode gerar uma sobrecarga ao sistema de saúde, com consequências inestimáveis
sobre a população do Distrito Federal, em especial para as pessoas mais vulneráveis;
f. QUE a mobilidade constitui fator de ampliação do risco de transmissão, sobretudo os
transportes públicos coletivos, que implicam proximidade física entre passageiros no
interior dos veículos, além de filas e aglomerações nas estações do metrô e do BRT e
nos terminais e paradas de ônibus;
(...)
A REDE DE PROMOÇÃO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E DO TRANSPORTE
COLETIVO DO DISTRITO FEDERAL – REDE URBANIDADE VEM A PÚBLICO
PROPOR ÀS AUTORIDADES COMPETENTES A ADOÇÃO DAS MEDIDAS A SEGUIR
ELENCADAS, SEM PREJUÍZO DE OUTRAS QUE POSSAM FAVORECER A
MOBILIDADE SUSTENTÁVEL:
I - Durante o processo de redução gradual do isolamento/distanciamento social, a ser
adotado com base em critérios médicos e sanitários:
1) A manutenção, sempre que possível, do regime de teletrabalho;
2) A flexibilização de horários e turnos de trabalho, no que concerne às atividades que
não possam ser exercidas à distância, sem prejuízo à prestação do serviço e à
remuneração dos trabalhadores envolvidos;
3) O escalonamento dos horários de funcionamento das atividades econômicas ou sem
fins lucrativos;
4) O bloqueio de faixas de rolamento em todo o Distrito Federal para utilização exclusiva
por ciclistas e outros meios ativos de locomoção, garantindo-se a segurança dos
usuários;
5) A instituição de outras medidas de incentivo ao uso da bicicleta e de outros meios
ativos de locomoção;
6) A adoção urgente de medidas eficazes para a redução de mortes no trânsito, que,
assim como a Covid-19, produz estatísticas diárias alarmantes, algo que se justifica
especialmente na atual conjuntura, mas não apenas, para diminuir a ocupação de leitos
de UTI por vítimas de colisões e atropelamentos, os quais poderão ser utilizados para
tratamento de pessoas infectadas pelo Coronavírus;
7) O estabelecimento de regras claras sobre a lotação máxima permitida em cada tipo
de transporte público coletivo (metrô, BRT, ônibus etc.), garantindo-se um
distanciamento mínimo de segurança tanto no interior dos veículos quanto nos locais de
embarque e desembarque, bem como sobre a obrigatoriedade de desinfecção periódica
dos veículos e do uso de máscaras tanto pelos funcionários das empresas quanto pelos
usuários do transporte;
8) A organização das filas nas estações do metrô e terminais de ônibus e de BRT, com a
marcação no solo da distância mínima a ser mantida entre os usuários;
9) O reforço das frotas de ônibus e BRT e do número de trens do metrô para compensar
a redução do número de passageiros por veículo;
10) A suspensão do uso de ar condicionado nos veículos de transporte público coletivo
que dispõem desse recurso, mantendo-se as janelas abertas sempre que possível para
permitir a renovação do ar;
11) A implantação de faixas exclusivas para ônibus em todo o Distrito Federal, com
vistas à redução do tempo de viagem;
12) A garantia da pontualidade do serviço de transporte coletivo no que concerne aos
horários de chegada e partida dos veículos nos terminais, estações e paradas, mediante
informações aos usuários por meio de totens e aplicativos de celular, para se evitar a
aglomeração de pessoas nos locais de embarque e desembarque;

23/55
13) A ampla divulgação das medidas adotadas, pelos meios de comunicação
disponíveis, para conhecimento prévio da população;
14) A distribuição de equipamentos individuais de proteção (EPI) aos funcionários das
empresas de transporte público coletivo;
15) A adoção de medidas para garantir o efetivo cumprimento das regras
estabelecidas;”.

Mas o ​certo é que o DF não apresentou nenhum planejamento detalhado


das medidas de gestão que serão tomadas com o escopo de evitar aglomerações nas
estações, terminais e pontos de ônibus ou dentro dos veículos de transporte coletivo​,
por exemplo. ​Tampouco foi informada como se dará a integração entre as medidas
eventualmente adotadas no Distrito Federal com transporte semiurbano que atende o
Entorno.

Percebe-se que o DF, por meio do ofício n. 150/2020-CODEPLAN/PRESI/GAB,


nos seu pontos 106 e 107, informa e traz considerações contextualizadas ainda na atual
situação vivenciada no DF, qual seja: a do isolamento social, mesmo que parcial.

Anota o Distrito Federall em tal expediente que “​com relação aos dados de
deslocamento, a queda brusca do uso do transporte coletivo (cerca de 70%) vem sendo
mantida desde o final de março de 2020, após a implantação de medidas restritivas visando
o isolamento social, como a suspensão das aulas (11/03), do fechamento do comércio
(19/03), da implantação do teletrabalho no GDF (20/03) e da proibição de aglomerações​”.
Registra em seguida que “​após a abertura das agências bancárias, houve um aumento de
23% na quantidade de viagens de transporte público em relação ao mesmo dia da semana
(quarta-feira) anterior. A reabertura das lojas de móveis e eletrodomésticos e o período de
páscoa ocasionaram o aumento de 4% em relação ao mesmo dia de (sábado) anterior​”.

Ora, ​o DF trata apenas de dados e levantamentos passados​, apontando,


inclusive, para um aumento na demanda dos serviços de transporte, mas, ​em nenhum
momento trata a questão de uma maneira prospectiva, ou seja, com vistas à retomada
econômica futura.

E, destaque-se, que a produção de pesquisas e estudos para subsidiar a


formulação de políticas públicas e o planejamento governamental é uma das atribuições da
CODEPLAN, mas que, nesse escopo, ​não logrou o referido órgão distrital atender à
demanda judicial no sentido de trazer ao feito um plano para o caso de reabertura e,
claro, dentro da perspectiva de um aumento da demanda.

E note-se que tampouco obteve o Ministério Público do Distrito Federal e


Territórios (MPDFT), em atuação extrajudicial de sua Força-Tarefa para acompanhamento
das ações de combate e prevenção do novo coronavírus (COVID-19) no Distrito Federal,
capitaneada pela Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão (PDDC), qualquer plano
concreto e detalhado para uma retomada econômica sustentável do ponto de vista sanitário.

24/55
Tanto é assim que o MPDFT emitiu em 06 de maio do corrente ano Nota,
publicada no sítio oficial da Instituição,12 informando sua posição diante das respostas de
ofício apresentadas pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) e pela Companhia
do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), ou seja, reforçando ”​a necessidade de
apresentarem um plano de ação detalhado em caso de reabertura do comércio, baseado
em dados confiáveis para garantir a não lotação dos veículos e dos pontos de parada,
mantendo-se, efetivamente, o distanciamento social de um metro entre os usuários,
conforme orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS)​”.

Nesse contexto, segundo a posição aferida pelo MPDFT em que pese a Semob
haver apresentado documento (Ofício n. 566/2020 – SEMOB/GAB) informando que o
funcionamento do comércio das 11h às 19h e dos shoppings das 13h à 21h permitiria o uso
de frota que permanece ociosa durante o dia e facilitaria, assim, o distanciamento entre os
passageiros, é de se notar que o DF, não se vinculou a adotar, de fato, o chamado horário
alternado do comércio, tampouco apresentou dados ou estudos para demonstrar se tal
medida teria o condão de, efetivamente, evitar a lotação dos veículos.

Por sua vez o Metrô-DF, por meio do ofício n. 206/2020 –


METRO-DF/PRE/GAB, dirigido à Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão (PDDC),
traz informações relevantes quanto às ações de higiene do meio de transporte, com a
limpeza regular entre as viagens acrescidos de uma limpeza profunda, utilizando-se de
peróxido de hidrogênio, uma vez ao dia. Mas, a exemplo do que fez a Semob, não trouxe
um plano detalhado de como pretende evitar aglomerações nos seus vagões, ou ainda,
como seriam as estratégias e regras para garantir o distanciamento entre os usuário.

6. DADOS SOBRE APLICAÇÃO DE TESTES RÁPIDOS, ESPECIALMENTE O


NÚMERO DE TESTES REALIZADOS DIARIAMENTE POR ÁREA
ADMINISTRATIVA E RESULTADOS, BEM COMO MEDIDAS ADOTADAS
QUANDO O RESULTADO É POSITIVO.

A despeito da juntada aos autos, pelo Distrito Federal, dos documentos de IDs
232694882 a 232706368, mais uma vez o ente federativo não apresenta dados sobre seu
atual estoque de testes, o número de testes por habitante realizados em cada região
administrativa, a projeção do impacto sobre as regiões ainda não afetadas, entre outras
informações relevantes.

Quanto aos boletins informativos juntados aos autos (ID 232694891), nota-se
que o Informe nº 1, de ​28 de fevereiro de 2020​, registrava ​6 casos em investigação e que,
à época, era possível fazer “​o monitoramento diário dos casos suspeitos detectados do
Distrito Federal”​. Já o Boletim Epidemiológico nº 36, do dia ​7 de abril de 2020 – ou seja, ​38
dias depois – trazia a informação da confirmação de ​503 casos ​e ​12 óbitos​. No Informe nº
53, de 24 de abril de 2020 – ​17 dias depois –, foi registrada a confirmação de ​1012 casos

12
Disponível em:
<https://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/comunicacao-menu/sala-de-imprensa/noticias/noticias-202
0/noticias-covid/11884-covid-19-semob-e-metro-df-prestam-informacoes-ao-mpdft>. Acesso em:
11/05/2020.

25/55
e ​26 óbitos​. ​O Boletim Epidemiológico nº 60, de 1º de maio de 2020 – ​7 dias depois ​–, por
sua vez, confirmou a existência de ​1546 casos ​e ​31 óbitos. ​O de nº 65, de 6 de maio de
2020 – ​5 dias depois ​–, já trouxe a informação da confirmação de ​2046 casos e ​35 óbitos​.
No Informe nº 68, de 9 de maio de 2020 – ​3 dias depois –, surge a confirmação de ​2576
casos​ e ​39​ óbitos​.

Destaque-se, outrossim, que, apesar de, até agora, os efeitos da pandemia


terem atingido mais, em números absolutos, as regiões administrativas do Plano Piloto (​352
casos​) e de Águas Claras (​230 casos​), os números nas demais regiões administrativas –
inclusive, aquelas que abarcam comunidades mais carentes e, portanto, mais vulneráveis,
seja no que se refere ao poder aquisitivo, seja no que tange a condições precárias de
habitação e saneamento com vários outros fatores de risco à proliferação ainda mais
acelerada da pandemia, como condições gerais de saúde fragilizadas – têm crescido de
forma bastante preocupante.

Para citar apenas alguns exemplo, enquanto no dia 29 de abril de 2020 – logo
após o ajuizamento da ação, conforme o Informe nº 58 –, foi disponibilizada a informação de
que, em Recanto das Emas, havia ​15 casos e ​1 morte​, ontem, conforme o Boletim
Epidemiológico nº 71, referida região administrativa já apresentava ​44 casos e ​2 mortes​.
Por sua vez, considerando as mesmas datas, Samambaia passou de ​42 casos ​e ​1 morte
para ​147 casos ​e ​4 mortes​; Riacho Fundo I de ​8 casos e ​2 mortes para ​47 casos e ​4
mortes​; Planaltina, de ​21 casos sem mortes, para ​92 casos e ​2 mortes​; Ceilândia, de ​54
casos e ​4 mortes para ​149 casos e ​7 mortes​; São Sebastião, de ​34 casos sem mortes
para ​74​ casos​ e ​1​ morte​.

Reitere-se que, a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública do Distrito


Federal, ao requererem seu ingresso no feito como ​custos vulnerabilis forma incisivos em
destacar que “(...) as medidas de relaxamento de distanciamento social causam impacto
não só no sistema de saúde, mas também e, principalmente, na população nos grupos mais
vulneráveis da população”,​ o que já é possível enxergar com essa reduzida análise – ​a qual
sequer abrange a análise da população do entorno, de onde se estima, vale lembrar,
que são oriundas cerca de 20% das pessoas recebidas na rede pública de saúde do
Distrito Federal13. Nesse contexto, merece destaque a informação constante na Tabela 1
do Boletim Epidemiológico nº 71, no sentido de que, dos 2979 casos confirmados no DF,
incluindo óbitos e pacientes hospitalizados no momento, 169 residem no estado de Goiás.

Ora, conforme demonstra o Informe nº 71 , a análise da letalidade dos casos por


região administrativa de residência, demonstra que as maiores taxas de letalidade,
atualmente, concentram-se nas regiões Oeste (Brazlândia e Ceilândia – 4,0%) e Sul (Gama
e Santa Maria – 4,0%) as quais concentram 12,8% do casos, muito embora a maioria destes
(23,0%) tenha sido detectados entre moradores da Região Central (Plano Piloto,
Sudoeste/Octogonal, Cruzeiro, Lago Norte, Lago Sul e Varjão do Torto), que apresenta taxa
de letalidade visivelmente menor (0,5%).

13
http://www.saude.df.gov.br/mais-de-20-dos-pacientes-recebidos-na-rede-publica-de-saude-do-df-sa
odo-entorno/. Acesso em: 12/05/2020

26/55
Tal diferença pode ser explicada, entre outros fatores, inclusive pelo maior
acesso da população da Região Central a planos de saúde, merecendo destaque os
seguintes gráficos, disponibilizados pelo GDF em sua primeira manifestação nos autos:

27/55
Não se pode olvidar, nesse diapasão, dos dados referentes ao entorno, um dos
poucos fornecidos pelo Distrito Federal quanto a referida área, que também abrange
populações carentes e mais vulneráveis:

Retomando-se o exame dos boletins epidemiológicos apresentados pela


Secretaria de Saúde do Distrito Federal, inevitável concluir sobre a preocupante situação
vivida pelo Distrito Federal ​mesmo sem a autorização para a ampla abertura de
atividades não essenciais​. Note-se que o último boletim disponível no sítio eletrônico da
Secretaria de Saúde do Distrito Federal, o Informe nº 7114, traz a notícia de que, até as 17h
do dia 12 de maio de 2020, foram confirmados ​2979 casos – 180 casos novos em
comparação ao dia anterior – e ​46 óbitos​, um deles referente a pessoa residente no
entorno (estado de Goiás).

Note-se que, conforme dados extraídos do “Painel COVID-19 do Distrito


Federal”, disponibilizado no sítio eletrônico da Secretaria de Segurança Pública do Distrito
Federal15, ainda no que se tange aos atuais 2979 casos, 1534 pacientes se recuperaram, ​52
encontram-se em ​estado grave​, ​143 são ​casos moderados e ​767 ​são leves, sendo que
dos ​192 pacientes hospitalizados, ​105 encontram-se na ​enfermaria e ​87, na UTI​. Além
disso, referido sítio eletrônico traz a informação de que há ​437​ outros casos ​sob análise.

Também preocupante são as informações constantes na Tabela 2 do Boletim


Epidemiológico nº 71, a qual demonstra que, dos ​105 casos hospitalizados​, ​87 se referem

14
http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/03/Boletim-COVID_DF-11_05_-2020.pdf.
Acesso em: 12/05/2020
15
https://covid19.ssp.df.gov.br/sense/app/002739e4-af10-4758-b856-caca23506aa9/sheet/2aff4aa2-fa
58-461f-9016-8eeafc3fed0a/state/analysis. Acesso em: 12/05/2020.

28/55
a pessoas em idade produtiva (20 a 69 anos)​, o que também traz fortes questionamentos
sobre a conveniência da ampla abertura do comércio do Distrito Federal.

Interessante observar, ainda, que, conforme a Tabela 4, embora a taxa de


letalidade, neste momento, encontre-se em 1,6%, a taxa de letalidade da população de ​70 a
79 anos ​é de ​10,8% ​(​102 contaminados e ​11 óbitos​) e a de ​mais de 80 anos é de ​24,6%
(​57 contaminados e ​14 óbitos​), índices alarmantes quando se tem em vista o quadro
apresentado pelo Distrito Federal informando a estimativa de idosos que residem no ente
federativo (ID 227617876, p. 8), o qual, mais uma vez, é digno de destaque:

Neste ponto, interessante destacar que, questionada a Secretaria de Saúde do


Distrito Federal sobre a existência de plano de testagem para a prevenção da difusão do
COVID-19 entre a população idosa institucionalizada por meio do Ofício nº 272/2020 –
FORÇA-TAREFA/MPDFT, de 24 de abril de 2020 (fls. 09/11 do DOC. 02 anexo), esta não
deu resposta específica sobre tal ponto, limitando-se, no Ofício nº 2313/2020 – SES/GAB,
de 8 de maio de 2020 (DOC. 02 anexo), a fazer menção ao item 3.2.3 do Plano de

29/55
Contingência, o qual trataria da situação dos idosos em instituições de longa permanência,
mas não foi localizado na 5ª e última versão de referido documento, disponível no
sítio eletrônico de referida Pasta16, e à Nota Técnica COAPS/SAIS/SES - COVID-19 nº
02/20 que, ​nada diz sobre a existência de plano de testagem específico para esta
população​, limitando-se à questão do apoio clínico e organizacional na abordagem de
pacientes com suspeita de contaminação.

Ainda mais expressivos são os números relativos ao sistema prisional do Distrito


Federal. No Informe nº 52, de 23 de abril de 2020, são ​100 casos confirmados. Já no
Informe nº 60, de 1º de maio de 2020 – ​7 dias depois –, a informação é a de que existem
246 ​casos​. Em 6 de maio de 2020 – ​5 dias depois –, conforme o Informe nº 65, já são ​317
casos confirmados. ​2 dias depois​, em 8 de maio de 2020, chegou-se a ​419 casos
confirmados. No Boletim Epidemiológico nº 71, a confirmação já é de ​455 presos
contaminados.

Note-se, nesse contexto, que, após a última manifestação dos autores, a


Secretaria de Saúde do Distrito Federal passou a publicar o balanço diário das testagens
por posto17. De referidos balanços diários extrai-se que, em ​14 dias, realizados 57.907
testes, foram obtidos ​409 resultados positivos​, ou seja, uma média de ​29 novos casos
identificados por dia apenas utilizando-se referido método. Destaque-se que,
considerando o teor do Ofício nº 2313/2020 – SES/GAB, de 8 de maio de 2020 (DOC. 02
anexo), o Distrito Federal tem mantido média entre 4 e 5 mil testes diários. No entanto, a
Secretaria de Saúde destaca que ​“​esse valor é condicionado a chegada de testes
rápidos na Farmácia Central”​ . ​E, insista-se: o GDF ainda não apresentou formalmente,
seja na presente ação, seja a qualquer dos seus autores, qual o seu atual estoque de testes
ou informações sobre o seu fornecimento pelo Ministério da Saúde ou aquisições já
concluídas, o que é preocupante, tendo em vistas as notórias dificuldades para a compra de
referidos testes nos mercados nacional e internacional.

De qualquer forma, pode-se constatar que a testagem rápida realizada no


​ ainda limitada a ​10 postos para todo Distrito Federal, não tendo sido
sistema de ​drive-thru –
implementada de forma inteiramente acessível à população de cada região administrativa –
comprovou o alto índice de subnotificação da contaminação por COVID-19, a qual,
insista-se, está diretamente relacionada à capacidade de realização de testes pelo ente
federativo (inclusive ​post mortem,​ dado específico ao qual os autores também têm tido
dificuldades de acesso).

Nesse ponto, urge destacar que apesar do número de testes aplicados pelo
GDF, conforme informação extraída do sítio eletrônico da Secretaria de Segurança Pública
do Distrito Federal, apenas ​404 dos casos atuais ​(13,8%) ​foram constatados mediante
testagem rápida, sendo a grande maioria deles, ​2533 ​(86,2%)​, ​foram confirmados mediante
o teste do tipo PCR.

16
http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/02/Plano-de-Continge%CC%82ncia-Coronav
irus-versa%CC%83o-5-1.pdf. Acesso em: 12/05/2020.
17
http://www.saude.df.gov.br/balanco-diario-testagem-drive-thru/. Acesso em: 12/05/2020.

30/55
No Brasil, estão sendo utilizados basicamente dois tipos de testes para a
Covid-19: testes moleculares (RT-PCR) e testes rápidos sorológicos.

Os testes moleculares (RT-PCR) são mais precisos e considerados “padrão


ouro” para diagnóstico da covid-19. Podem detectar a presença do vírus mesmo em
pacientes assintomáticos ou no início dos sintomas, mas demoram cerca de 24h para o
resultado e só podem ser feitos por poucos laboratórios no Brasil, com aquisição de material
de consumo importado, de alto custo. São realizados a partir de uma amostra de secreções
da nasofaringe ou orofaringe (material obtido da mucosa do fundo do nariz ou da garganta
com uso de uma haste flexível - swab).

Os testes rápidos, a seu turno, são feitos com uma simples amostra de sangue
(da ponta dos dedos) dos pacientes e medem não a presença de vírus no organismo, mas
de anticorpos IgM/IgG já produzidos. Considerando que estes anticorpos levam alguns dias
para atingir um nível que possa ser captado pelos testes, seu uso é recomendado apenas
para pessoas com sintomas há pelo menos 7 dias. Sua sensibilidade, mesmo após uma
semana do início dos sintomas, é de cerca de 86%, o que quer dizer que, se usados
corretamente, ainda podem apresentar 14% de falsos negativos (esse número refere-se ao
informado pelo fabricante dos testes adquiridos pela União e atualmente em uso na maior
parte do país).

O país conta com um número muito limitado dos testes do tipo molecular
(RT-PCR), além de poucos laboratórios aptos a realizá-lo (Fiocruz, LACEN, etc). Já os
testes rápidos sorológicos são mais abundantes e os atualmente realizados em sistema de
drive-thru pelo GDF.

Há, ainda, um terceiro tipo de teste, que detecta a presença do vírus como o
teste molecular (PCR), mas com resultado num período mais curto de tempo. É o chamado
teste de antígeno.

Este tipo de teste foi o responsável pela boa resposta de países como Alemanha
18
e Coréia do Sul19 na contenção da pandemia, pois permitiram obter um retrato muito
preciso do número de infectados em um curto período de tempo. Não temos notícia da
disponibilidade destes testes de antígeno no Distrito Federal.

Confira na tabela abaixo as principais características dos três tipos de testes:

18
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/26/com-500-mil-testes-por-semana-alem
anha-tem-uma-das-menores-taxas-de-letalidade-por-covid-19-na-europa.ghtml
19
https://setorsaude.com.br/entenda-por-que-a-coreia-do-sul-e-exemplo-mundial-no-combate-ao-coro
navirus/

31/55
Em publicação de abril/2020 denominada “Acurácia dos Testes Diagnósticos
Registrados para a COVID-19”20, o Ministério da Saúde assim concluiu:

Até a presente data, foram registrados 17 testes para diagnóstico da COVID19, sendo
que três deles são testes moleculares. ​O teste de polymerase chain reaction em
tempo real (RT-PCR) para identificação de SARS-CoV-2 é um teste de elevada
sensibilidade e especificidade, sendo que doentes com maior carga viral podem
ter maior probabilidade de um teste positivo. Os testes moleculares baseados em
RNA exigem instalações laboratoriais específicas com níveis restritos de
biossegurança e técnica​.
A sensibilidade e especificidade dos testes sorológicos variaram entre os fabricantes. ​É
importante destacar que uma baixa sensibilidade do teste diagnóstico pode
conduzir a uma maior probabilidade de obter resultados falsos-negativos, o que
poderia implicar o não diagnóstico dos indivíduos assintomáticos. Em geral, a
sensibilidade dos testes foi superior a 85%​ e a especificidade superior a 94%.
Não foram encontrados estudos publicados que avaliassem esses testes na
prática, podendo, portanto, apresentar um desempenho distinto daquele descrito
pelos fabricantes​. ​A utilização adequada dos testes também pode influenciar no seu
desempenho​.
Os testes sorológicos medem a quantidade de dois anticorpos (IgG e IgM) que o
organismo produz quando entra em contato com um invasor. Contudo, o
desenvolvimento de uma resposta de anticorpo à infecção pode ser dependente do
hospedeiro e levar tempo; no caso do SARS-CoV-2, estudos iniciais sugerem que ​a
maioria dos pacientes apresentam sorologia convertida entre 7 e 11 dias após a
exposição ao vírus​, embora alguns pacientes possam desenvolver anticorpos mais cedo.
Como resultado desse atraso natural, o teste de anticorpos pode não ser útil no cenário
de uma doença aguda (4).
Os testes de anticorpos para SARS-CoV-2 podem facilitar (i) o rastreamento de contatos
- os testes baseados em RNA também podem ajudar; (ii) a vigilância sorológica nos

20

https://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Acur_cia_dos_testes_para_COVID_19_158655
8625.pdf.pdf

32/55
níveis local, regional, estadual e nacional; e (iii) a identificação de quem já teve contato
com o vírus e, portanto, pode (se houver imunidade protetora) ser imune (4,5). (grifamos)

Já a Nota Técnica nº 4/2020-SAPS/MS, de 14/04/202021, ao esclarecer a


recomendação de realização de testes rápidos para detecção do SARS-CoV-2 na
população idosa, assim ressaltou:
2.15. ​Por se tratar de teste de detecção de anticorpos, é necessário que ele seja
realizado após o sétimo dia do início dos sintomas​.
2.16. ​O ONE STEP COVID-2019 TEST® apresenta 86% de sensibilidade​, e 99% de
especificidade, ​se aplicado da maneira e no prazo correto​. O resultado do teste
isoladamente não confirma nem exclui completamente o diagnóstico de COVID-19.
Contudo, em conjunto com as informações clínico e epidemiológicas, é possível que o
resultado do teste seja utilizado para qualificar a decisão dos profissionais.
2.17. O resultado do teste ​negativo reduz a chance de que a pessoa esteja infectada
pelo SARSCoV-2. Contudo, é necessário manter acompanhamento clínico próximo na
população idosa com quadro de SG.

Ainda acerca da acurácia dos testes rápidos, ressalte-se os problemas que


enfrentaram o Reino Unido e a Espanha. O Reino Unido comprou 2 milhões de testes
rápidos chineses, ao custo de 20 milhões de dólares e uma enorme operação logística para
levá-los ao país. No entanto, os testes de validação feitos na Universidade de Oxford
mostraram que os testes não funcionavam de forma adequada para serem utilizados na
pandemia. Já a Espanha comprou 640 mil testes rápidos chineses, que logo mostraram
graves falhas: supostamente tinham sensibilidade de apenas 30% em pacientes que eram
sabidamente positivos e, assim, foram retirados de circulação22.

Por essa razão, diversas empresas brasileiras vêm realizando uma espécie de
controle de qualidade dos testes atualmente autorizados pela Anvisa. Segundo reportagem
do G1, a ideia de criar uma espécie de controle de qualidade dos testes foi da Câmara
Brasileira de Diagnóstico Laboratorial, que reúne as principais empresas desse setor e da
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e, até o momento já identificaram que, enquanto a
taxa de sensibilidade para detectar o vírus de um teste foi de quase 92%, a de outro foi de
apenas 34%23.

No Distrito Federal, segundo informações prestadas por meio do Ofício Nº


2374/2020 – SES/GAB, de 08/05/2020 (ID 232694890), nos presentes autos, até
06/05/2020, foram realizados 47.075 testes rápidos, com 309 resultados positivos.

O GDF informou, ainda, que os testes no sistema Drive Thru estão sendo feitos
em locais estratégicos territorialmente, com base na avaliação epidemiológica, iniciando
pelas Regiões Administrativas com maior incidência de casos confirmados de COVID-19,
bem como que “​os casos positivos são notificados ao Ministério da Saúde e contatados pela
equipe de vigilância epidemiológica da Atenção Primária de cada Região de Saúde. O
usuário é orientado quanto à necessidade de isolamento domiciliar e são monitorados, por

21
https://www.conasems.org.br/wp-content/uploads/2020/04/Nota_0014432584_Nota_Tecnica_n__4_
2020_SAPS_MS.pdf
22
https://notesoncovid.wordpress.com/2020/04/26/o-que-significa-o-resultado-de-um-teste-rapido-para
-covid19/
23
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/05/11/sao-paulo-vai-usar-testes-rapidos-para-identifi
cacao-do-coronavirus-mesmo-em-quem-nao-tem-sintomas-da-covid-19.ghtml

33/55
telefone, a cada 48 horas e, nos casos em que a situação percebida é de agravamento, é
realizada visita domiciliar e/ou encaminhamento para a unidade hospitalar de referência, o
Hospital Regional da Asa Norte – HRAN​”.

No site do GDF destinado ao agendamento dos referidos exames24, consta a


seguinte informação:
A Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal - SES está disponibilizando o
serviço de drive-thru para a população realizar o teste rápido de Covid-19. Com esse tipo
de atendimento, os usuários não precisam sair do carro e o resultado poderá ser
consultado neste site.
Esta testagem rápida no drive-thru é exclusiva para pessoas sintomáticas ou que tem
história de contato com algum caso confirmado que residem com idosos e que moram
na Região Administrativa do local onde o drive-thru está montado.
A realização do exame não descarta a necessidade de procurar uma Unidade Básica de
Saúde na ocorrência de sintomas.
Para o atendimento no drive-thru, o primeiro passo é realizar o seu cadastro. A fim de
evitar aglomerações, os exames são realizados somente mediante agendamento. Será
ofertado por Regiões Administrativas, começando pelos locais que estão com maior
número de casos.
O exame detecta a presença de anticorpos gerados pelo organismo para enfrentar o
vírus. Eles costumam ser detectáveis com maior segurança a partir do sétimo dia da
exposição.

Dos documentos apresentados a este d. Juízo, não há menção à quantidade de


testes do tipo PCR (moleculares) em estoque, a realizar ou já realizados no DF. Também
faltam informações sobre a capacidade de testagem do Laboratório Central de Saúde
Pública – LACEN ou do laboratório privado SABIN, ambos com estrutura para análise dos
testes tipo PCR, considerados o “padrão ouro” dentre os exames disponíveis e adotados por
países que conseguiram controlar de forma exemplar a pandemia, como Alemanha e Coréia
do Sul.

Tampouco constam informações detalhadas sobre os pacientes que estão


sendo testados pelo sistema drive thru, especialmente sobre a quantidade de dias desde o
início dos sintomas e sobre pessoas de um mesmo domicílio com resultados tanto positivos
quanto negativos para covid-19.

Informações como essas são fundamentais para se medir a acurácia dos testes
rápidos, tendo em vista que são mais sensíveis (86%) apenas após 7 dias do início dos
sintomas, o que pode levar a um número altíssimo de falsos negativos quando feitos
precocemente.

Num cálculo simples, considerando que todos os pacientes testados até


06/05/2020 estivessem há mais de uma semana com sintomas gripais, do total de 47.075
testes, poderíamos ter mais de 6.500 pessoas com falsos resultados (14%). Se nem todas
estavam sintomáticas há pelo menos 7 dias no momento de realização da coleta de sangue,
o número de doentes – mas com teste negativo - pode ser gigantesco, gerando uma falsa
sensação de segurança na população, que deixará de fazer o isolamento por contar com um
resultado negativo possivelmente incorreto.

24
​https://sistemas.df.gov.br/mteste/

34/55
Além dos problemas de acurácia dos testes rápidos, que precisam ser sopesados
pela administração do GDF ao avaliar a progressão da curva de transmissão da covid-19 na
capital, encontramos erros grosseiros nos documentos que têm embasado as decisões
sobre a retomada das atividades no DF.

A Nota Técnica da CODEPLAN (ID 232694887), por exemplo, traz informação


absolutamente incorreta acerca do potencial de transmissão do SARs-CoV-2 por pessoas
assintomáticas, fazendo um paralelo equivocado entre o suposto início da transmissão do
vírus e o momento ideal para realização dos testes rápidos. Confira-se:

68. Por fim, a quinta diretriz considera o período de incubação e o período em que a
confirmação da doença ocorre. Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da
Saúde de 21 de fevereiro de 2020, o período de incubação da Covid-19 varia entre 5 e
12 dias, ​com sua transmissão ocorrendo a partir de cerca de 7 dias após o início
dos sintomas​, ​mesmo período recomendado antes da aplicação de testes
imunológicos​. A construção da diretriz é balizada na compreensão de que os impactos
de uma ação de abertura de atividade econômica serão observados somente após esse
período, de maneira que avaliação desses impactos deve ser realizada antes da próxima
ação ser efetivada. O período de 14 dias oferece essa possibilidade.

Ora, no link para o site do Ministério da Saúde mencionado na nota de rodapé


que acompanha tal informação25, consta expressamente a definição de casos suspeitos
como aqueles que tiveram contato próximo com caso confirmado laboratorialmente nos
últimos 7 dias ANTES do aparecimento dos sintomas:

Caso suspeito de SG ou SRAG com:


Histórico de contato próximo ou domiciliar, nos últimos 7 dias antes do aparecimento dos
sintomas, com caso confirmado laboratorialmente para COVID-19 e para o qual não foi
possível realizar a investigação laboratorial específica.

Ademais, não há no site do Ministério da Saúde qualquer menção a transmissão


do vírus somente a partir de 7 dias do início dos sintomas.

Ao contrário, a OMS alerta que mesmo pessoas assintomáticas podem transmitir


o vírus, que também se espalha por aquelas no início do estado gripal26.

Ainda segundo um estudo coordenado pelo médico Jeffrey Shaman, da Escola


de Saúde Pública da Universidade Columbia (Nova York) e publicado na revista Science27,
pessoas assintomáticas com Covid-19 são responsáveis por dois terços das infecções. Com
efeito, o estudo demonstrou que, apesar dos pacientes que desenvolvem a doença serem
duas vezes mais contagiosos, os assintomáticos chegam a ser seis vezes mais numerosos,
mesmo com propensão menor a infectar outros, tornando-se o motor dessa epidemia.

25
​https://coronavirus.saude.gov.br/definicao-de-caso-e-notificacao
26
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/question-and-answers-hub/q-a-detail/q-a-cor
onaviruses
“COVID-19 is mainly spread through respiratory droplets expelled by someone who is coughing or has other
symptoms such as fever or tiredness. Many people with COVID-19 experience only mild symptoms. This is
particularly true in the early stages of the disease. It is possible to catch COVID-19 from someone who has just a
mild cough and does not feel ill. Some reports have indicated that people with no symptoms can transmit the
virus. It is not yet known how often it happens. WHO is assessing ongoing research on the topic and will continue
to share updated findings.”
27
https://pebmed.com.br/coronavirus-assintomaticos-sao-responsaveis-por-dois-tercos-das-infeccoes/

35/55
Dignas de atenção são também as informações disponibilizadas no sítio
eletrônico ​https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid referentes ao comparativo
da quantidade de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória nos anos de 2019 e
2020, o qual mostra significativo aumento dos números de mortes neste último, bem como
gráficos que apresentam o crescimento do número de registros de óbitos com suspeita ou
confirmação de COVID-19, em todo o Brasil, desde o início de 2020, quanto ao Distrito
Federal, com picos nos dias ​30 de abril e ​9 de maio, ou seja, após o ajuizamento da
presente ação civil pública. Em especial, relativamente à notificação, merece destaque que,
a despeito da confirmação de significativos ​46 ​óbitos por COVID-19, até as 17h de ontem,
pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em referido sítio eletrônico, consta a
informação de que houve o registro de ​79 registros de óbitos com ​suspeita ou
confirmação de COVID-19 no Distrito Federal de 1º de janeiro de 2020 até 12 de maio
de 2020 às 15h, ​o que indica, quanto ao número de mortes, uma ​possível subnotificação
de até 70%​ ​com base em tais dados oficiais​.

Sublinhe-se, ainda, que a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, do Ofício nº


2313/2020 – SES/GAB, de 8 de maio de 2020 (DOC. 02 anexo), esquivou-se de responder
claramente a vários dos questionamentos apresentados pelo Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios no Ofício nº 272/2020 (fls. 09/11 do DOC. 02 anexo). Quanto à
testagem, não houve resposta objetiva sobre a projeção de capacidade de realização de
testes diários de COVID-19, nas redes públicas e privada, considerando o tipo de testagem.
Apenas a informação sobre a capacidade de testagem via drive-thru, como visto, se
disponíveis testes rápidos na Farmácia Central.

Além disso, embora tenha informado que “(o) percentual de isolamento social no
Distrito Federal tem variado entre 42 e 60% nas últimas semanas”, não respondeu
expressamente qual a variação do grau de isolamento social considerada aceitável para que
não haja o colapso do sistema de saúde local.

Da mesma forma, indagada sobre a taxa de transmissibilidade (R0) da


COVID-19 no Distrito Federal, respondeu que, em 22 de abril de 2020, referida taxa foi de
1,18%, mas não respondeu qual seria a variação considerada aceitável para que não
ocorresse o colapso da saúde local após a abertura do comércio, limitando-se a dizer que,
em 3 de maio de 2020, referida taxa foi de 1,16%.

A fim de compreender melhor o que essas taxas de transmissibilidades R0 e Rt


significam na prática, tomemos as conclusões do último estudo do Imperial College of
London para o Brasil, de 08/05/202028, que analisou os registros oficiais de covid-19 em 16
estados brasileiros.

A taxa R0 refere-se à capacidade média de infecção do vírus (estima-se que um


doente infecte diretamente cerca de 3 pessoas). Já a taxa Rt mede quantas pessoas, na
prática, cada doente está infectando. Quando ela é maior do que 1, temos uma curva
ascendente de casos, já que cada portador do vírus o transmitirá para mais de uma pessoa,
em média. Na resposta do GDF, subentende-se que a taxa R0 mencionada, na verdade,
trata-se da taxa Rt, ou seja, o número médio de pessoas para quem cada doente transmitia
o SARS-CoV-2 nas datas citadas.
28
https://www.imperial.ac.uk/mrc-global-infectious-disease-analysis/covid-19/report-21-brazil/#

36/55
No estudo supramencionado29, os pesquisadores apontaram que, apesar das
reduções nas curvas do Brasil, as medidas de distanciamento adotadas tiveram sucesso
apenas parcial em diminuir a transmissão, eis que, em todos os estados analisados, o valor
do Rt permanece acima de 1, indicando que a transmissão descontrolada ainda existe e
que, na ausência de medidas mais drásticas de distanciamento social, a escalada da
epidemia continuará.

Os pesquisadores contrastaram os números brasileiros aos europeus, onde


lockdowns foram implementados. Na região da Lombardia, por exemplo, a diminuição da
mobilidade em lojas de alimentos e farmácias chegou a 75% e a taxa Rt desceu para 0,58.
Já no Amazonas e em São Paulo, a mesma mobilidade foi reduzida em apenas 18% e 21%,
respectivamente, contando os estados com taxas Rt de 1,58 e 1,46.

A não ser, portanto, que a taxa de transmissibilidade passe a ser menor do que
1, não verificaremos uma curva descendente de casos de Covid-19 no Distrito Federal. E,
sem queda na curva de transmissão, não há como se falar em relaxamento das medidas de
distanciamento adotadas.

7. CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO E EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO.

A determinação de apresentação de documentos pelo GDF fundamentou-se na


importância dos dados solicitados para que o juízo pudesse avaliar a razoabilidade e
legalidade da retomada de atividades pelo Poder executivo distrital.

A documentação requerida referente a campanhas de conscientização e


educação da população certamente destina-se a aferir se um dos requisitos pontuados pela
OMS para a flexibilização do distanciamento social foi atendido, que é o envolvimento amplo
da população e plena conscientização sobre medidas de prevenção.

E, de fato, este é um ponto importante. O conhecimento das providências


adotadas pelo Poder Público e compreensão da sua relevância, aliada à adequada
instrução acerca das condutas que devem ser adotadas por toda a população (uso de
máscaras, hábitos de higiene, evitar aglomerações, etc.), resulta em maior engajamento da
população quanto à implementação da política pública.

29
“Our results suggests that, despite reductions, these measures have only been partially successful in reducing
transmission - across all states considered here, the value of Rt remains above 1, indicating that transmission
remains uncontrolled and that in the absence of stricter measures leading to further reductions in mobility, that
growth of the epidemic will continue. This is in contrast to European settings where societal lockdowns have been
implemented, leading to estimated reductions in Rt below 1 [19].
Such reductions have been associated with substantial reductions in patterns of mobility - in countries such as
Italy where a strict lockdown was mandated, mobility declined to far greater extent than has been observed to
date in Brazil. For instance, patterns of mobility surrounding grocery/pharmacy in Lombardy, one of the most
severely affected regions in Italy, dropped by almost 75% over when measures were introduced (yielding an
estimated Rt of 0.58). By contrast, across Amazonas and São Paulo to date, the maximum observed reduction
has only been 18% and 21% respectively, producing Rt estimates of 1.58 and 1.46 respectively. Overall whilst
our work suggests that implemented measures to date have had an impact on transmission, they also highlight
their insufficiency if transmission is to be controlled, and the need for further contact-limiting measures, beyond
what is currently implemented, to reduce the reproduction number in Brazil to less than 1.”

37/55
A recente desmobilização da população do Distrito Federal quanto ao
cumprimento das medidas de distanciamento social evidencia ser cogente reforçar o
envolvimento da sociedade nas políticas de enfrentamento da Covid-19, firmando-se a
compreensão de que medidas de prevenção serão mantidas e que todas as pessoas têm
funções chave na prevenção do surgimento de novos casos.

Não se ignora que o GDF, desde o início do Estado de Emergência, vem


produzindo campanhas e materiais informativos sobre as medidas de prevenção e controle
da Covid-19, inclusive no que se refere à importância do isolamento social.

Contudo, não foi apresentado ao Juízo um planejamento de comunicação à


população sobre as futuras medidas de liberação de atividades e sobre as condutas
que passarão a ser obrigatórias para tanto.

O planejamento específico de uma estratégia de comunicação é essencial, uma


vez que a participação da população é determinante para o sucesso da liberação das
atividades.

No dia 11/05/2020 foi noticiada pela imprensa uma campanha educativa sobre o
uso máscaras30. O decreto que passou a obrigar o uso de máscaras caseiras por toda
população, de nº 40.648, é do dia 23/04/2020, não havendo justificativa para que a
campanha tenha se iniciado somente agora.

Ademais, a campanha referida vai de encontro às premissas da OMS, não


frisando que máscara é medida acessória e deve ser usada quando imprescindível sair de
casa, omitindo a diretriz de que se deve manter o isolamento social. Mensagens de “fique
em casa” pararam de ser enviadas e tal premissa não mais está nas divulgações do GDF.

Isso posto, também no que se refere à comprovação de planejamento de


campanhas de conscientização e educação da população, mais uma vez, o réu não se
desicumbiu de seu ônus.

8. PLANO DE ATENDIMENTO NO COMÉRCIO EM HORÁRIO ESPECÍFICO


PARA POPULAÇÃO DE RISCO E QUAISQUER OUTROS DADOS QUE
ENTENDER PERTINENTES.

Uma preocupação que este MM. Juízo apontou, desde a análise do pedido de
tutela provisória até a reunião na Sala de Situação, foi que o Plano de reabertura das
atividades comerciais presenciais contivesse medidas sanitárias específicas por setor e que
levasse em consideração o impacto diferenciado para a população de risco.

30
Informação disponível em:
https://www.metropoles.com/colunas-blogs/grande-angular/gdf-lancara-campanha-educativa
-sobre-uso-de-mascaras-contra-coronavirus​ e em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/05/12/interna_cidadesdf,853
751/primeira-semana-sera-de-conscientizacao-diz-secretario-do-df-legal.shtml​. Acesso em
12/05/2020.

38/55
Não foi possível localizar nos autos a especificação de turnos para os setores
que seriam reabertos, tampouco previsão de turnos ou horários diferenciados para
atendimento dos grupos de risco.

Há nos autos tão somente três Notas Informativas (Num. 232706350, páginas 96
a 104) supostamente elaboradas pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do
Distrito Federal (CEREST). Chama atenção, primeiro, que não consta do documento o
profissional técnico devidamente habilitado que tenha elaborado e assinado a nota. Trata-se
de um documento apócrifo e que, portanto, não possui nenhum valor probante.

Depois, que as notas voltam-se a prever medidas de prevenção que devem ser
seguidas por trabalhadores e empregadores dos seguintes setores: ​postos de
combustíveis, comércio varejista de produtos farmacêuticos e agentes de portaria.
Atividades que já se encontram em funcionamento.

As notas sequer abarcam todas as atividades que estão hoje liberadas


pelos Decretos 40.539/2020 e 40.539/2020, muito menos alcançam as que serão
porventura abertas com a edição de novos Decretos.

Não há, portanto, o detalhamento determinado por este MM. Juízo sequer com
relação às medidas de saúde e segurança do trabalho ou sanitárias específicas por setor ou
de atendimento diferenciados para a população de risco. Não havia tais medidas para várias
atividades já reabertas e não há para as que se pretende reabrir.

Pelo Código de Saúde do DF e diretrizes da OMS, tais protocolos precisam ser


formulados a partir de análise da área de saúde e sob a responsabilidade da vigilância em
saúde,31 porém o DF tem deixado isso a cargo dos próprios setores econômicos ou de
secretaria ligada ao setor (educação, trabalho).
Não há, ademais, plano ou protocolo que leve em conta as peculiaridades de
cada Região Administrativa (RA). Como é sabido o Distrito Federal possui regiões com
população de características distintas entre si, no aspecto socioeconômico principalmente,
no acatamento das medidas restritivas, nos índices de contágio, assim como na capacidade
de saúde, como demonstrado nos relatórios da Codeplan.
Tanto assim que o GDF apresenta gráficos com dados e curva separada por RA,
quando se torna ainda mais evidente que o número de casos tem crescimento exponencial
em regiões com população mais carentes e com menor acesso à saúde - vide Num.
232694887 fls. 11 a 21. Ou seja, um plano de abertura do comércio pr​ecisaria
necessariamente levar em considerações tais especificidades, o que também não foi
apresentado nos autos.
Salta aos olhos a diferença da proliferação da doença em algumas RA´s ​(Num.

31
​DODF Nº 78, 27 DE ABRIL DE 2020, EDITAL DE CHAMAMENTO Nº 03/2020 O
SECRETÁRIO-EXECUTIVO, DA SECRETARIA DE ESTADO DE JUSTIÇA E CIDADANIA DO DISTRITO
FEDERAL (...) TORNA PÚBLICA, a realização de chamamento destinado à nova pesquisa pública de preços,
relativa a prestação de serviços de hospedagem em rede de hotelaria ou em hotel, pelo período de 3 (três)
meses, podendo ser prorrogado por igual período, incluindo fornecimento de refeição (café da manhã, almoço,
lanche e jantar), em quartos preferencialmente duplos, com possibilidade de sistema de rodízio, para grupos de
no mínimo 100 (cem) e de no máximo 300 (trezentas) pessoas, com idade igual ou superior a 60 anos, de
ambos os sexos, independentes.

39/55
232694887 - Pág. 11 e 20):​:

40/55
Enquanto isso, os critérios da OMS para reduzir isolamento permanecem não
atendidos, lembrando que o pouco isolamento que tínhamos já não era suficiente.
Vejamos o que dizem os laudos da médica perita do MPT32, ao analisar a
defesa do DF no Inquérito e nestes autos, em cotejo com os requisitos da OMS para o
relaxamento das restrições:
- Laudo de 24/04/2020 (já anexado na inicial):
Observa-se que as questões colocadas na Recomendação Conjunta e algumas
colocadas no Ofício Conjunto nº 001/2020 2º PROSUS e PRT 10ª Região,
indiretamente, constam nas recomendações da Organização Mundial de Saúde- OMS
para o levantamento das restrições de isolamento social. Dessa forma, foi realizada uma
análise das informações existentes com base nos seis critérios definidos pela OMS.
1) Transmissão do vírus controlada: para tanto, deve-se conhecer a magnitude
da doença no Brasil ou localidade.
Ou seja, é necessário uma avaliação da freqüência da ocorrência da infecção pelo
SARS-COVID-19- incidência, prevalência- considerando tanto morbidade e mortalidade
e graduar o risco para a população. Por exemplo, definir incidência e média do número
de casos- coeficiente incidência média e avaliar indicadores selecionados de vigilância
epidemiológica. De acordo com Boletim COE COVID-19 – Número 11, de 17/04/2020, o
Coeficiente de incidência (por 1.000.000) de COVID-19 no Distrito Federal era de

32
Dra. Paula Mendes Werneck da Rocha é médica formada pela UFMG, com residência em medicina
preventiva e social no Hospital das Clínicas da UFMG, Mestre em Saúde Pública com Área de
Concentração em Políticas de Saúde e Planejamento na UFMG, especialista em Saúde do
Trabalhador e Saúde da Família pela Universidade Federal do Ceará. Já foi analista do IPEA,
consultora do Ministério da Saúde, Assessora Técnica da UNESCO, além de pesquisadora e exercer
medicina em programas de saúde da família e do trabalhador. Desde 2005 é perita em medicina do
trabalho do MPT.

41/55
247/1.000.000, considerada de emergência, com 50% acima da incidência nacional, que
era de 160/1.000.000. Já com base no Boletim COE COVID-19 – Número 13 – 20 de
abril de 2020, a nova é de incidência de 289 por 1.000.000, situação ainda considerada
de atenção, entre 50% e a média nacional.
Alguns estudos indicam que existe uma subnotificação expressiva de COVID-19
no Brasil. Duas projeções feitas por dois grupos de pesquisa diferentes, a partir de
modelos matemáticos,​ estimam um elevado número de subnotificações de casos ,
o que pode levar a uma falsa ideia de controle da doença. Não foram encontrados
estudos semelhantes específicos para o DF​.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) demonstrou um aumento
importante nas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) neste
ano no Brasil em comparação com a média dos últimos dez anos.​ Esse aumento
estaria relacionado com COVID-19, sem uma confirmação de diagnóstico, pois não
realizaram testes, demonstrando também uma subnotificação de casos. Dessa forma, o
impacto da COVID-19 sobre os sistemas de saúde seriam maiores do que já se
conhece, entre outras questões, ainda mais em uma época de aumento de prevalência
de doenças respiratórias em geral, que demandam uma maior atenção e ampliação de
leitos e estrutura de suporte ventilatório.
(...)
Projeções de cenários a partir de modelos matemáticos de evolução a doença
permitem conhecer melhor as diferentes estratégias de isolamento social. Um estudo da
UFMG realizou uma estimativa a partir do cruzamento de dados de tamanho das faixas
etárias da população e comportamento do nível de infecção, e c ​ oncluiu que a redução
do isolamento levaria a aumento expressivo dos infectados e número de casos.
Além disso, o relaxamento prematuro das políticas de isolamento social
teria um risco potencial de segunda onda de infecção​. Um estudo que avaliou curvas
epidêmicas de quatro cidades da China indicou essa possibilidade, e que a
monitorização do número de reprodução instantânea Rt do COVID-19 e risco de morte-
casos confirmados (cCFR) seriam necessários para gerenciar estratégias contra essa
segunda onda de infecção. Isso seria possível devido a uma reintrodução do virus,
assim como pela transmissibilidade rebote que pode ocorrer com o retorno das
atividades econômicas e contato social. O ​ monitoramento rigoroso do número efetivo
instantâneo de reprodução e o ajuste em tempo real das intervenções políticas
para garantir a identificação e seguimento dessa segunda onda, seria, portanto,
uma ação prioritária da saúde pública.
Assim, coloca-se as questões:
- Qual a progressão da pandemia no DF, considerando os intervalos
epidêmicos/ fases epidêmicas da pandemia de COVID-19 (transmissão localizada,
aceleração descontrolada, desaceleração e controle)?
- Há uma definição de número de casos por habitantes utilizada como
referência para se definir mudança de estratégia de isolamento social?
- Qual a estimativa de subnotificação de casos no DF? Foi desenvolvida
alguma estratégia/metodologia para esse cálculo?
- Há alguma estimativa subnotificação de mortes- vítimas prováveis da
covid-19?
- Há alguma projeção de cenário para avaliar o aumento de casos diante da
situação atual do DF, em situação de redução do isolamento?

2) Sistemas de saúde com capacidade de detectar, testar, isolar e tratar todas


as pessoas com coronavírus e os seus contatos mais próximos.
(...)
Apesar de não haver consenso global sobre a melhor estratégia para aplicação de
testes de rastreamento populacional para a COVID-19, bem como medidas de testagem,
o Boletim Epidemiológico 8 - COE Coronavírus - 09 de abril de 2020, coloca que a ​
capacidade laboratorial do Brasil ainda é insuficiente. Destaca-se a ​ limitação da
escala de produção nos principais fornecedores para suprimento de kits
laboratoriais que já ocorreu. Uma proposta ainda a ser implementada, de acordo com
recomendações da OMS, é a ampliação da testagem, até uma ​testagem em massa,

42/55
ainda não realizada no Brasil p ​ or motivos diversos.
Dentro da proposta de ampliação de testagem, pensando a necessidade de captar
casos leves para melhor caracterização da circulação viral, recentemente foi
estabelecido um esquema de testagem com teste rápido de atendimento no DRIVE
THRU pela SES-DF) para pessoas suspeitas. Dessa forma, ainda deverá haver um
consolidado desses resultados.
Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde demonstram preocupação
com a incidência de infecções em profissionais, e é a maior preocupação da
resposta à emergência e um dos eixos centrais da cadeia de resposta.​
Também em Boletim Epidemiológico 8 - COE Coronavírus, o ​ Ministério da
Saúde ressalta a carência de profissionais de saúde capacitados para manejo de
equipamentos de ventilação mecânica, fisioterapia respiratória e cuidados
avançados de enfermagem direcionados para o manejo clínico de pacientes
graves de COVID-19 e a ausência de estruturação suficiência quantitativa de leitos
de UTI e de internação para a fase mais aguda da epidemia. Ainda deverá ser
concluído um painel de acompanhamento real dos leitos disponíveis e ocupados
que estão reservados para o atendimento a pacientes com Covid-19.
Foi divulgado pela SES-DF a ampliação de leitos de UTI com suporte respiratório,
incluindo aqueles reservados para pacientes diagnosticados com a Covid-19. A
avaliação é que os leitos atuais são suficientes para dar conta da realidade atual do
perfil epidemiológico de transmissão da doença atual, mas ​não há como garantir essa
suficiência diante de aumento da mudança da curva de infecção, pois não há
dados de previsão de novos cenários.
- Qual a capacidade atual de processamento de testes laboratoriais
(moleculares e sorológicos) para SARS-CoV-2 aproximadamente no DF? Qual a
estimativa de necessidade atual e de ampliação? A proposta e testagem considera
amostras representativas de grupos específicos?
- O DF está realizando monitoramento da ocupação e instalação de leitos,
incluindo aqueles com suporte ventilatório/respiradores mecânicos? Quais os
resultados desse monitoramento, se existentes? Há estimativas de aumento de
necessidade diante do aumento dos casos?
- Em relação à força de trabalho dos profissionais de saúde, há dados de
absenteísmo, seja causado por COVID-19 ou não? Há uma estimativa sobre a
suficiência de quantitativo desses profissionais agora?
3) Os riscos de surtos devem estar minimizados em condições especiais, como
instalações de saúde e casas de repouso, e haver minimização dos riscos de um novo
surto.
Um dos elementos é a ocorrência de casos e mortes em grupos específicos, como
casas de repouso e presídios. Um Boletim mais recente divulgado pela Secretaria de
Segurança Pública (SSP) de 23/04/2020, informa que 36 policiais penais seguem com
teste positivo para o coronavírus e um se encontra recuperado. Em relação aos
reeducandos, 98 foram confirmados com a Covid-19 e um se recuperou da doença,
ocupando o DF o primeiro lugar em incidência no sistema penitenciário brasileiro. No
Plano de Contingência do DF constam orientações para populações vulneráveis.
- Há algum consolidado de resultados de testagem em grupos específicos,
como em presídios, população em situação de rua, crianças e adolescentes em
situação de acolhimento, idosos em instituições de longa permanência, e
instituições de acolhimento coletivo?
- Há uma avaliação da estrutura existente ou estimativa da estrutura
necessária para isolamento de casos identificados ou suspeitos nessa população,
que não requeiram a internação hospitalar, ou mesmo após a internação?
4) Medidas preventivas de controle em ambientes de trabalho, escolas e outros
lugares onde as pessoas precisam ir.
(...)
A questão é pensar tanto as medidas de controle de outras profissões com
risco elevado de contágio, como também a proteção da população geral nos
estabelecimentos em geral.
Um estudo que avaliou 2,5 mil ocupações a partir da Classificação Brasileira de

43/55
Ocupações e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) , do Ministério da
Economia, identificou as profissões com maior risco de contágio. ​Além dos
profissionais de saúde (com destaque para os técnicos em saúde bucal, com 100%
de risco), observou-se risco aumentado para: a) os vendedores varejistas,
operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio- que são cerca de 5
milhões de trabalhadores no país- com média de 53% de risco de serem
infectados; b) motoristas de ônibus urbanos e rodoviários, com risco de contágio
superior a 70% e c) professores, com um índice de risco acima de 70%.
É importante uma ampla discussão sobre o assunto, considerando-se as
medidas de controle para grupos específicos de trabalhadores. No caso dos
professores, o risco de exposição não ocorreu devido à interrupção das atividades
de trabalho, mas o índice foi calculado a partir das características da profissão. Na
situação de retorno de atividades, deve-se discutir essas medidas em contextos
diferentes, levando em conta as diferenças da rede privada e pública de ensino, e
como garantir o acesso a insumos.
Além disso, é necessária uma ampla discussão com setores econômicos
específicos para ​definir as medidas de controle necessárias, procedimentos e
insumos utilizados com base em conhecimento científico, para a população geral
que irá utilizar os serviços.
5) Manejo adequado de possíveis novos casos importados: fator que está
diretamente relacionado com a capacidade de testagem rápida e acompanhamento em
tempo real dos casos.
Uma questão importante a se considerar é a SES-DF como referência de
atendimento para a região do Entorno, incluindo municípios do estado de Goiás.
Ao mesmo tempo, é importante destacar que há municípios e/ou regiões de baixa
evidência de transmissão, na qual o cenário de maior risco pode acontecer semanas ou
meses à frente, justamente quando o DF já tiver relaxado nas medidas de abertura de
estabelecimentos. Q ​ uestiona-se se a SES-DF tem estratégias de monitoramento
dessa situação, com definição de indicadores de casos importados (via terrestre),
e o planejamento do aumento de capacidade de absorção de casos pelo sistema
de saúde.
Como já discutido anteriormente, o aumento de casos importados é uma das
causas da segunda onda de infecção que pode ocorrer após controle de casos e da
transmissão em uma localidade.
6) Comunidade informada e engajada com as medidas de higiene e as novas
normas- participação ativa das comunidades.
Consta no Plano de Contingência a proposta de ações de comunicação de risco,
com informação das medidas a serem adotadas pelos profissionais de diversas áreas e
a população geral.
Observa-se, no entanto, registros divulgados na mídia, em várias cidades,
de aglomerações, mesmo com orientações contrárias da autoridades sanitárias e
normativas de fechamento de estabelecimentos, e também manifestações contra
as medidas de isolamento sociais.
(...)
Uma questão importante também é que tanto esses números como estudo
específico apontam que os discursos minimizando a importância do isolamento
afetam a atitude da população​. (...) Dessa forma, destaca-se ​importância do
investimento em políticas de transferência de renda e da educação da população
de forma objetiva e coerente.​ (...) 24/04/2020.

- Laudo de 02/05/2020 (DOC 8 ):


Em relação às questões colocadas no último laudo pericial, com base nas
recomendações da Organização Mundial de Saúde- OMS para o levantamento das
restrições de isolamento social:
1. Magnitude da COVID-19: É possível verificar que existe o monitoramento de
dados da COVID-19 pelo DF, divulgados pelos Boletins Epidemiológicos. ​Entretanto,

44/55
não há uma análise crítica da evolução desses dados para se concluir que a
magnitude da doença diminuiu.
Verifica-se a partir da análise dos últimos boletins:
01/05/2020:​ Até às 16h:30 do dia 01/05/2020 foram confirmados 1 1.546 casos de
COVID-19 no Distrito Federal com incremento de 108 casos novos em relação ao dia
anterior (Figura 1), sendo que 57% destes casos novos foram detectados em população
privada de liberdade. Do total de casos confirmados, 96 (6,2%) estão hospitalizados,
sendo 43 destes em Unidade de Terapia Intensiva, e 31 foram a óbito. I​ ncidência/100 mil
hab=47,11 e % de letalidade 2,2.
30/04/2020:​ Até às 17h do dia 30/04/2020 foram confirmados 1 1.423 casos de
COVID-19 no Distrito Federal com incremento de 110 casos novos em relação ao dia
anterior (Figura 1), sendo que 35% desses casos foram detectados por teste rápido
(imunológico) ao longo das duas últimas semanas. Incidência/100 mil hab =43,41 e % de
letalidade 2,3.
29/04/2020:​ Até às 17h do dia 29/04/2020 foram confirmados 1 1.313 casos de
COVID-19 no Distrito Federal com incremento de 83 casos novos em relação ao dia
anterior. I​ ncidência/100 mil hab=40,03 e % letalidade 2,3.​
Assim, verifica-se incidência por 100 mil habitantes crescente na última
semana e taxa de mortalidade quase constante. Mesmo considerando-se a semana
anterior essa tendência da incidência se mantém. Entretanto, não há uma análise
dessa tendência de forma clara.
(...) ​observa-se que países que decidiram sobre essa medida de
relaxamento apresentaram uma comparação de dados da sua situação atual com a
situação anterior, e um consolidado de informações epidemiológicas que indicou
a diminuição da infecção pelo vírus de forma substancial e da mortalidade. Foram
apresentados vários gráficos pela CODEPLAN e informações do GDF, mas não há
uma análise/comparação dos dados do DF com a evolução e curva epidemiológica
dos países citados que estão diminuindo as medidas de isolamento.
Foram apresentadas projeções pela CODEPLAN, ​porém novamente não há
dados que permitam estimar o comportamento do nível de infecção, se haveria
aumento expressivo dos infectados e número de casos, com o retorno das
atividades.
Em relação aos dados de incidência desde 19/03/2020 e evolução de acordo com
as datas (dias) de fechamento de estabelecimentos desde então e liberação/reabertura
de comércio por etapas: mostra o acompanhamento dos casos, ​porém não há uma
análise crítica sobre esses resultados. Por exemplo, uma análise estatística da
evolução de cada curva por região administrativa, que permita analisar a)
tendência da curva; se é possível estabelecer relação com o evento definido
considerando as diferenças por região administrativas. O mesmo ocorre para o
gráfico Fluxo de viagens no transporte público x Covid-19: dados que permitam
fazer uma análise e concluir sobre a evolução dos casos com o
aumento/diminuição do fluxo de viagens no DF.
2. Sistemas de saúde com capacidade de detectar, testar, isolar e tratar todas
as pessoas com coronavírus e os seus contatos mais próximos.
A proposta de ampliação de testagem com teste rápido de atendimento no DRIVE
THRU pela SES-DF para pessoas suspeitas é realmente um avanço, mas, como
colocado, m ​ ostrou aumento da incidência. Isso pode estar relacionado ou não com
o aumento da testagem, mas não há análise do GDF sobre essa questão.
Não foram apresentadas informações sobre a incidência de infecções em
profissionais da saúde e uma avaliação da sua suficiência atual (considerando
absenteísmo por COVID-19 e outras causas) e diante da previsão de aumento de
casos. e é a maior preocupação da resposta à emergência e um dos eixos centrais
da cadeia de resposta.
Realmente os dados demonstram uma baixa ocupação dos leitos disponibilizados
para COVID-19, indo ao encontro do que já foi dito pela SES-DF: a avaliação é que os
leitos atuais são suficientes para dar conta da realidade atual do perfil epidemiológico de
transmissão da doença atual. E ​ ntretanto, novamente, não há como garantir essa
suficiência diante de aumento da mudança da curva de infecção, pois não há

45/55
dados de previsão de novos cenários.
3. Os riscos de surtos devem estar minimizados em condições especiais, como
instalações de saúde e casas de repouso, e haver minimização dos riscos de um novo
surto.
4. (...)
Para outros grupos específicos, como população em situação de rua,
crianças e adolescentes em situação de acolhimento, idosos em instituições de
longa permanência, e instituições de acolhimento coletivo (...) Também não há
informação da estrutura existente ou estimativa da estrutura necessária para
isolamento de casos identificados ou suspeitos nesses grupos.

5. Medidas preventivas de controle em ambientes de trabalho, escolas e outros


lugares onde as pessoas precisam ir.

Foram apresentadas estatísticas do quantitativo de grupos de profissionais no DF,


como professores e comerciantes, o que reforça a importância da participação dessas
ocupações que têm ​alto risco de contágio no quantitativo de trabalhadores do DF.

Reforça também, assim, a necessidade de ampla discussão sobre o assunto,


considerando-se as medidas de controle para grupos específicos de trabalhadores de
acordo com o risco diferenciado. (...)02.05.2020.

9. FUNCIONAMENTO DE ATIVIDADES NÃO ESSENCIAIS. NÚMERO


INSUFICIENTE DE INTENSIVISTAS. FALTA DE EPI. FALTA DE
EQUIPAMENTOS NOS LEITOS DE UTI. SUBNOTIFICAÇÃO.
I. A d. Decisão desse MM. Juízo Federal, ao indeferir os pleitos liminares
relativos aos diversos decretos de flexibilização de medidas de distanciamento social,
assim pontuou:

De todo modo, com a notícia de postergação do prazo de suspensão das atividades não
essenciais para o dia 11.05.2020 e, considerando que o Distrito Federal, atualmente,
possui capacidade de atendimento no seu sistema de saúde, uma vez que o percentual
de ocupação de leitos de UTI para os pacientes COVID-19 é inferior a 30% (trinta por
cento), considero que, por ora, não se justifica a interferência do Poder Judiciário nas
ações do Poder Executivo, para desfazer a liberação de alguns setores da economia,
que, embora não essenciais, não indicaram ser fatores de aumento descontrolado de
contágio.

Pela oportunidade, reitera-se, ​data maxima venia,​ a referência a alguns


documentos juntados aos autos, no sentido de que não houve a postergação de abertura
das atividades não essenciais​.

De fato, várias atividades não essenciais já estão autorizadas e outras estavam


autorizadas desde o primeiro decreto que tratou de suspensão de atividades. O GDF desde
o início não determinou isolamento total, e muitas atividades não essenciais e espaços
públicos e privados permaneceram em pleno funcionamento no início das restrições. E,
logo em seguida, outras várias atividades não essenciais já passaram a funcionar, como
concessionárias de veículos, algumas feiras, óticas, Sistema S, toda a cadeia moveleira e
de eletrodomésticos, cultos, armarinhos, lojas de tecidos, escritórios, dentre outras.

46/55
As liberações têm recebido interpretação ampliativa, de modo que lojas de
colchões, por exemplo, foram consideradas de produtos para casa e incluídas no setor
moveleiro. Há notícias diárias na imprensa sobre o descumprimento de restrições, seja
pelas empresas, seja pela população, uma vez que o Governo não se aparelhou para a
adequada fiscalização, como fartamente comprovado na inicial, inclusive com documentos
de órgãos de fiscalização.

Ressalte-se que o DF possui boa parte do funcionalismo federal em atividade


ainda presencial e sofre os efeitos da movimentação nos Ministérios e nos demais
organismos que estão fora do controle distrital.

Imprescindível que tudo isso seja levado em conta a cada liberação e na revisão
do que foi liberado.

II. Em segundo lugar, ​“capacidade de atendimento no sistema de saúde”


não pode ser confundida com número de “leitos de UTI”​. A capacidade de atendimento
incluiu diversas outros fatores, conforme explicações detalhadas prestadas na petição
inicial e na manifestação apresentada pelos autores após as manifestações dos réus. Inclui
recursos físicos (espaço, instalações elétricas e de ventilação, inspeção sanitária e de
Corpo de Bombeiros, estrutura de diagnóstico, testagem e exames, por exemplo), recursos
materiais (além de equipamentos específicos, insumos como medicação, EPIs, vestes, ) e
recursos humanos (profissionais de saúde em quantidade e qualidade, de acordo com
especialidades, saudáveis e efetivamente em posto de trabalho, capacidade de serviços
SESMT, CCIH, de apoio como lavanderia, cozinha, recepção, triagem, coleta de resíduos
numa cadeia de ações das quais a linha de frente depende).

Há nos autos laudos da perícia médica do MP, dados e documentos que


demonstram que ​capacidade do sistema de saúde ​inclui outros vários fatores tão ou mais
essenciais que a disponibilidade de leitos de UTI.

Está comprovado que o GDF ​possui apenas 190 médicos intensivistas,


sendo este número o oficial apresentado e que não retrata a realidade dos hospitais, uma
vez que o GDF também confessa em seus “estudos” que ​não monitora absenteísmo e
nem afastamentos por problemas de saúde, não possuindo o número real diário de
médicos e de outros profissionais da área da saúde. ​Tudo está no relatório da Codeplan
juntado pelo r​éu.

Ademais, o GDF ​não demonstra que possui EPI´s suficientes para tais
profissionais, sendo que nos laudos periciais constata-se que ​já estão em falta máscaras
N-95 (conforme Relatório da Codeplan) e dois tipos de luvas, aventais e insumos,
como se verá adiante​. Vale a pena transcrever o seguinte trecho do laudo confeccionado
pelo setor pericial do MPT (juntado com a inicial), ao analisar documentos apresentados
pela Secretaria de Saúde do DF: :

...4.2 Interpretando-se as informações coligidas acima nota-se que a maioria dos


estoques de EPI's apresenta tendência de queda nas 3 situações, com destaque para
álcool em gel, avental cirúrgico "M", luvas de procedimento não estéril tamanhos "G",
"M", e "P", luvas nitrílicas para procedimento não cirúrgico tamanhos "M" e "P", macacão
tyvec, máscara cirúrgica descartável e propé/sapatilha.

47/55
4.3. Por exemplo, entre 31/03/2020 e 15/04/2020, houve uma redução (em números
absolutos) no estoque de máscara cirúrgica descartável em 114.752 unidades,
representando 39% a menos, comparando-se o período inicial com o final. Vale frisar
que, no mesmo período, o número de infetados por Covid-19 no DF (casos oficialmente
confirmados) saltou de 518 para 826, equivalente a 59% de aumento.
4.4. Destaca-se que não há como aferir a estimativa da SES-DF acerca da previsão de
duração do estoque, haja vista que, em desrespeito ao determinado pelo Parquet, a
inquirida apresentou estimativa de consumo (prazo em dias) apenas no que tange à
situação em 31/03/2020. Nos demais, há apenas a indicação do saldo dos
equipamentos armazenados...

Há ainda um ​DOCUMENTO NOVO apresentado pela Secretaria de Saúde ao


Ministério Público, datado de 30/04/2020 ​(DOC. 6), após o ajuizamento desta ação, que
afirma que naquela data os estoques de EPI seriam os seguintes:

Ou seja, ​como bem previa a perícia do MPT​, itens como embalagens de álcool
em gel, aventais descartáveis e luvas descartáveis esgotaram-se e não se explica como os
profissionais se protegem (no documento transcrito acima esses itens aparecem como
“INDISPONÍVEL”). Outros EPI´s e insumos estão com estoque com duração projetada para
menos de 1 semana, como se vê no mesmo documento acima reproduzido. Portanto, há
vários documentos produzidos pelo próprio GDF que comprovam a ​fragilidade de sua
capacidade de atendimento a pacientes da Covid e a outros pacientes.

No Correio Braziliense de 12.05.2020, há denúncia do Sindimédicos sobre falta


de EPI´s e de condições indevidas de trabalho, bem como sobre inconsistência e falta de
transparência dos dados sobre leitos de UTI (DOC. 05 anexo) e na conclusão diz “A
obrigação de fornecer esses materiais sempre foi do Estado, mais ainda agora, porque a
falta deles pode implicar em aumento da disseminação do vírus e desassistência aos
doentes.”

Por outro lado, ​não há nos autos informações sobre ambulâncias UTI,

48/55
capacidade de atendimento do SAMU, capacidade de testagem rotineira dos profissionais
de saúde e nem mesmo dados de cumprimento do plano de contingência formulado para
hospitais. Ao contrário, há dados nos autos de que muitos itens do fluxo de atendimento não
são cumpridos, como a triagem, fornecimento de máscaras, isolamento dos leitos,
capacitação dos profissionais, dentre outros, apenas para exemplificar.

​Então, diga-se uma vez mais: leitos mesmo equipados não bastam. É
necessário que os leitos estejam operacionais, com insumos, com equipamentos em
perfeito estado de funcionamento; é necessário transporte de pacientes entre
Unidades de Saúde ou de suas residências; é necessária total disponibilidade de
profissionais de saúde saudáveis, capacitados, equipados e protegidos, dentre outros
requisitos destacados nos autos e nos laudos juntados.

Diagnóstico feito pelo MPT e juntado com a inicial, além de denúncias


recebidas, documentos da AMB, CRM/DF e COREN/DF também anexadas, atestam a
situação real da área da saúde no DF. Junta-se, neste momento, relatório de inspeção do
COREN e Sindenfermeiro-DF no HRAN , numa ação que demonstra problemas graves no
funcionamento do hospital durante a pandemi​a ​(DOC 7).

As deficiências de análise e controle do DF demonstram que seus estudos não


são feitos de forma científica e muito menos com bases sanitárias e epidemiológicas.
Também mostram o porquê da inexistência de projeções e cenários prévios de impacto a
cada flexibilização, tanto que até o momento não foram apresentadas projeções e cenários
para as novas aberturas que eram previstas inicialmente para 03.05.2020. Ora, ​não se
pode projetar impacto de aberturas no controle de pandemia sem monitorar fielmente
todo o complexo que constrói a capacidade hospitalar e de saúde.

Para piorar a situação, há provas nos autos da enorme dificuldade de


aquisição de novos respiradores no mercado, do longo tempo médio de conserto de
equipamentos vitais, da média de dias de bloqueio de UTI quando o paciente Covid é
internado, dentre outras provas apresentadas. Contudo, nada disso é mensurado nos
ditos “estudos” e não há como avaliar a “capacidade do sistema de saúde” sem tais
indicadores mínimos.

Ressalte-se que especialistas defendem, por experiências de outros países, que


não há como garantir a capacidade do sistema de saúde sem projetar o nível de contágio
considerando a taxa de transmissão por pessoa. A mesma taxa que, segundo os dados da
33
Imperial College de Londres, no Brasil é a pior entre os países pesquisados, de 2,81. Ora,
o GDF confessa que os primeiros decretos de liberação geraram menor isolamento e maior
fluxo de pessoas nas ruas, com milhões em circulação segundo gráficos e análises feitas na
inicial e na manifestação posterior do Ministério Público. Portanto, a taxa de transmissão
seria fator primordial na aferição da real capacidade de sistema de saúde, ​mas esse fator
jamais foi considerado pelo GDF.

A análise do DF, além de não projetar cenários, limita-se a apresentar

33
Disponível em < https://mrc-ide.github.io/covid19-short-term-forecasts/index.html> Último acesso
em 02.05.2020.

49/55
dados segmentados que sequer são cruzados, como a curva de isolamento social e
os casos de Covid-19 15 dias depois, por exemplo.

O GDF também não fez avaliações envolvendo outras doenças​. Por


exemplo, no último dia 1º de maio a Secretaria de Saúde do DF divulgou mais uma notícia
que impacta fortemente a estrutura hospitalar instalada: conforme o boletim epidemiológico
semanal da dengue, foram notificados “22.090 casos prováveis da doença”, significando um
aumento de 76,76% em comparação com o mesmo período do ano passado, que teve
12.497 ocorrências. Além disso, divulgou-se 14 óbitos confirmados em decorrência da
dengue até o dia 18/04/202034. Segundo o último Boletim Epidemiológico de n. 11,
atingiu-se o patamar de 24.418 casos prováveis de dengue (taxa de incidência de 800,09
casos por 100 mil habitantes), com acelerado aumento entre as Semanas Epidemiológicas 5
a 11 de 202035.

III. Em terceiro lugar, constata-se que, após o ajuizamento da ação civil pública
agravou-se rapidamente a situação de contágios e de óbitos decorrentes da COVID-19 em
todo o mundo, no país, e não foi diferente no Distrito Federal e nos municípios do Entorno.

Até o dia 12 de maio de 2020, às 19:00h, ​no Distrito Federal os casos


confirmados de Covid já chegam a 2.979, subindo ​expressivamente desde o
ajuizamento da ação. Num único dia houve um aumento de 182 casos novos, e agora
já são 46 óbitos confirmados, havendo 437 pendentes de análise​. ​Do total de casos
atualmente confirmad​os, 192 estão hospitalizados, sendo 87 em Unidade de Terapia
36
Intensiva.

Destaque-se que os números acima não contemplam os 33 (trinta e três)


municípios do Entorno do DF, onde também houve expressivo aumento dos casos da
COVID-19.

A propósito, inclusive, a imprensa noticiou no dia 13/05/2020 que o Governo do


Estado de Goiás está finalizando a redação de um novo decreto, com o escopo de
intensificar o isolamento social no estado, principalmente na região do Entorno. Goiás, que
possuía um dos maiores índices de isolamento do país, depois da autorização de reabertura
de algumas atividades, passou a apresentar um índice de 37,2% de isolamento da
população, segundo a empresa ​In Loco​. Isso teria causado considerável aumento no
número de pessoas diagnosticadas com a Covid-19, tornando imperioso o recuo37.

O constante aumento de casos confirma que ​a curva permanece ascendente e

34
Disponível em
<www.saude.df.gov.br/saude-divulga-boletim-epidemiologico-semanal-da-dengue/>Último acesso em
02.05.2020
35
Disponível em
<​http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/05/15_BOLETIM_SEMANAL_DENGUE_SE_
01-_a_17.pdf​> Acesso em 13.05.2020.
36
https://covid19.ssp.df.gov.br/transparencia/sense/app/7aea1372-8df0-4c7b-bcec-018567491372/she
et/2aff4aa2-fa58-461f-9016-8eeafc3fed0a/state/analysis. Último acesso em 12.05.2020.
37
Informação disponível em:
https://www.emaisgoias.com.br/novo-decreto-pretende-intensificar-isolamento-e-retomar-indice-de-60
-em-goias/​. Acesso em 13/05/2020.

50/55
que se mantém a afirmação da petição inicial de que ​“o pior ainda está por vir”. E,
diga-se, a população mais carente e vulnerável teve aumento exponencial da doença,
assim como os números de contágio no sistema prisional são alarmantes.

O índice de isolamento social continua cada vez mais longe de alcançar os 70%
preconizados pelo Ministério da Saúde e pela própria Secretaria de Saúde do DF. Este fato
não foi negado pelo GDF em sua manifestação.

Nunca é demais frisar que, pelos documentos juntados pelo próprio GDF, a rede
hospitalar do Distrito Federal possui no total ​apenas 155 respiradores disponíveis
oficialmente – sendo o número real inferior, porque há respiradores pendentes de reparo
como o réu confirma. E estes ​respiradores não estão nos mesmo locais e leitos em que
há monitores ECG ​(Relatório Codeplan).

IV. Em quarto lugar, constata-se que ​houve evidente piora no índice de


38
isolamento visivelmente atrelada ao primeiro decreto de abertura, ​no final do mês de
março, e isso é ​confessado pelo GDF ​por meio do Relatório da Codeplan, como
demonstrado nas petições dos autores. O índice já é menor do que 50%.

As atividades que já foram liberadas implicaram diretamente num retorno


ao trabalho de mais de 700.000 trabalhadores em circulação​, ​sem contar o efeito em
cadeias produtivas e movimentação dos consumidores, além do impacto do estímulo
social à saída de casa.

Todo este quadro é agravado se ainda considerarmos a ​subnotificação ​e a


transmissão por assintomáticos​.

Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas, citada na inicial,


estima que o número de contaminados pela COVID-19 seja 17 vezes maior que o número
oficial, considerando o aumento das subnotificações39.

O próprio Ministério da Saúde declara que existe subnotificação e indica


importância de indicadores de outros agravos respiratórios e dados de cartórios civis, por
exemplo, para cenário mais real da pandemia e adoção de medidas. Verifica-se que os
documentos da defesa, que em tese seriam a base da tomada de decisões do Senhor
Governador, passam ao largo destes dados, outra deficiência grave numa situação em que
dados são algo valioso para algum norte, num momento em que o próprio GDF alega ser de
tantas incertezas.

Além disso, representações oferecidas pelo Ministério Público de Contas do DF


demonstram que as Unidades Básicas de Saúde, que são a porta de entrada do Sistema
Único na Capital, não conseguem realizar os testes nem dos pacientes, seja por falta de
material, seja por falta de insumo, até básicos, inclusive Equipamentos de Proteção

38
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/05/11/df-cai-para-16o-lugar-no-indice-de-isolame
nto-social-do-pais-veja-levantamento.ghtml acesso em 12.05.2020
39
Disponível em
<https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2020/04/29/resultado-da-2a-etapa-da-pesquisa-sobre-covid-19/> Último
acesso em 02.05.2020

51/55
Individual para as equipes40.

Da mesma forma está a situação nas UPAS, objeto de atuação do MPDFT na


conhecida Operação Diagnose, e do MPC/DF, em mais uma Representação41.

​No último dia 30/04/20, o ​Ministro da Saúde ​afirmou que “Não há como
liberar isolamento com curva em ascensão”42.

Como se vê, deve ser observada a cautela máxima. Há que se antecipar,


calcular e buscar meios de previsão do impacto de cada atividade aberta no índice de
isolamento social; no volume de pessoas nas ruas, de trabalhadores diretos e terceirizados,
formais e informais, consumidores, limpeza urbana e serviços que aumentam em cascata.

Mais flexibilização implica necessidade de aumento de vigilância em saúde e


fiscalização trabalhista já insuficientes, com mais pessoal e equipamento sendo consumido.

Haverá aumento do índice de acidentes de trânsito e ocorrências que também


ocupam polícia, bombeiros e sistema de saúde. Qualquer liberação impacta o sistema de
saúde como um todo, o que inclui não apenas leitos e estoques de insumos e
equipamentos de proteção, mas também a utilização de ambulâncias e atendimento de
SAMU.

Enquanto isso, o GDF persiste em juntar tabelas desconcertadas, segmentadas,


e sem o essencial crivo e parecer da área de saúde, ​como determina até mesmo o
Código de Saúde do DF​. A falta de transparência e diálogo social também violam o mesmo
Código e as medidas de abertura contrariam o Conselho de Saúde e declarações públicas
das áreas técnicas de saúde do DF, restando evidente que os decretos liberatórios são
pautados em interesses outros que não a preservação da saúde e da vida.

Ressalte-se que até mesmo as medidas profiláticas e de suposto controle


anunciadas pelo DF, nos autos, como suporte à liberação de atividades, não foram
demonstradas ou não são efetivas.

PEDIDOS
Por todo o exposto, considerando que a documentação apresentada pelo Distrito
Federal não atende plenamente ao requisitado por esse MM. Juízo Federal, deve ser
mantida a ordem de suspensão de qualquer ampliação de funcionamento de outras
atividades que já se encontram suspensas, ​deferindo-se, ainda, os outros pedidos de
urgência declinados na peça de ingresso, para que​:

40
MPC/DF entra com representação a respeito da testagem para o novo coronavírus e chama a
atenção para a precariedade das UBS.
Veja a Representação na íntegra:
https://mpc.tc.df.gov.br/wp-content/uploads/gravity_forms/15-af2c8a6c106714d7dad4f98c0c3b40f5/20
20/04/Rep_16_2020_cf_6_testes-11.pdf
41
Disponível em <https://mpc.tc.df.gov.br/?p=30003713> Último acesso em 02.05.2020
42
Disponível em <https://exame.abril.com.br/noticias-sobre/ministerio-da-saude/> Último acesso em
02.05.2020

52/55
1. O Distrito Federal seja também ​obrigado a tomar todas as providências
necessárias para suspender as atividades não essenciais43 em seu território, ATÉ QUE
PROVE​, inclusive por meio de parecer e protocolos de seus órgãos de vigilância em saúde:

1.1. que ​a suspensão das atividades não essenciais no DF é desnecessária


para assegurar:

a) regular funcionamento do SUS no DF;


b) prestação de adequado atendimento médico-hospitalar aos pacientes
contaminados pela Covid-19;
c) prestação de adequado atendimento médico-hospitalar a pacientes com
outros agravos, não obstante o bloqueio de recursos médico-hospitalares
para atendimento exclusivo à Covid-19;
d) plena vigilância da saúde e segurança dos trabalhadores pela Secretaria de
Saúde do DF, em conformidade com o Código de Saúde do DF.

1.2. o ​atendimento pelo DF às recomendações​, orientações e normas da


Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e do Conselho de
Saúde do DF ​que forem de cumprimento cogente​, referentes à retirada de
medidas de distanciamento social para enfrentamento à Covid-19.

2. Seja ​SUSPENSO cautelarmente a eficácia dos atos normativos do Distrito


Federal que permitiram a prática de atividades não essenciais durante o período de
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
novo Coronavírus, no âmbito do Distrito Federal, ATÉ QUE PROVE o indicado nos itens 1.1
e 1.2 acima.

3. O ​DF seja ​OBRIGADO ​a estruturar adequadamente seus serviços de


vigilância em saúde e segurança no trabalho, inclusive no âmbito do SUS e com
fornecimento de EPI (equipamento de proteção individual) adequado e em quantidade
suficiente para a realização de todas as inspeções necessárias durante a pandemia de
Covid-19.

4. Na hipótese de não cuprimento da decisão de tutela de urgência, seja imposto


aos requeridos ​(a) ​MULTA DIÁRIA não inferior a R$100.000,00 (cem mil reais) por dia de
descumprimento, ou por ato de violação, conforme o caso, sem prejuízo de posterior
apuração de responsabilidade pessoal das autoridades ou gestores que eventualmente
descumprirem a ordem judicial, por crime de desobediência ou ato de improbidade
administrativa; ​(b) que o valor de multa cominatória referida no item ​a ​anterior seja revertido
em prol de ​projetos sociais na área de saúde a serem apresentados para homologação
prévia desse MM. Juízo Federal.

No que se refere ao ​pedido liminar contra a ​União,​ o Ministério Público


aguardará as informações requisitadas à União para se manifestar.

Distrito Federal, 13 de maio de 2020.

Não essenciais,​ isto é, como demonstrado na fundamentação, ​aquelas cuja prestação seja adiável,
43

por sua suspensão não colocar em perigo iminente a sobrevivência, saúde ou a segurança da
população.

53/55
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Mário Alves Medeiros Felipe Fritz Braga Paulo Roberto Galvão de


Procurador da República Procurador da Carvalho
República Procurador da República

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Luísa Nunes de Castro Renata Coelho Marici Coelho de Barros


Anabuki Procuradora do Trabalho Pereira
Procuradora do Trabalho Procuradora do Trabalho

Paula de Ávila e Silva Joaquim Rodrigues do


Porto Nunes Nascimento
Procuradora do Trabalho Procurador do Trabalho

MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Cíntia Costa da Silva Pedro Thomé de Arruda Neto Fernanda da Cunha Moraes
Promotora de Justiça Promotor de Justiça Promotora de Justiça

54/55
Documentos anexos:

DOC 01 - Ofício nº 2261/2020 – SES/GAB, de 07/05/2020 (leitos)

DOC 02 - Ofício nº 2313/2020 – SES/GAB, de 08/05/2020 (diversos)

DOC 03 – Quadro com quantitativa de leitos de UTI da rede SES/DF (próprios e


contratados), atualizado até 12/05/2020

DOC 04 - Despacho – SES/CRDF/DIRAAH, de 12/05/2020 (leitos)

DOC 05 - Notícia do Correio Braziliense: “SINDMÉDICO-DF denuncia improviso,


falta de EPIs e de condições de trabalho”

DOC 06 - Ofício 2071/2020-SES/GAB, de 30/04/2020, sobre estoques e falta de


equipamentos de proteção individual

DOC 07 - Relatório de inspeção do COREN e Sindenfermeiros no HRAN

DOC 08 - Laudo pericial médico com análise de inconsistência dos documentos


juntados pelo DF

55/55

Potrebbero piacerti anche