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Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Instituto de Estudos da Linguagem – IEL

TL 255 – Tópicos em Literatura Clássica II

Professor Carlos Eduardo Ornelas Berriel

As mulheres em meio à ruptura dos valores gregos

Heloísa Leite Imada – 169563

Campinas - SP

2015
1. Introdução
Tendo como panorama o mundo grego do período anterior e também a época
correspondente na qual eram escritas as tragédias, serão analisados os papéis das
mulheres nas obras Medeia e As Bacantes, do escritor Eurípedes, o qual foi o precursor
da denúncia de uma crise nos valores que vigoravam na Grécia no momento em
questão.
Nas produções literárias selecionadas, acredita-se que as personagens do
gênero feminino passam a integrar não apenas o ambiente privado, como anteriormente
limitadas à manutenção do lar e da ordem na família, mas também movimentam a
sociedade, como no caso das bacantes, que participam ativamente do festival Dionisíaco
e no caso de Medeia, como o rei da cidade é levado a interferir em sua vida domiciliar.
A análise terá como foco a comparação entre a conduta e aquilo que é
representado por essas personagens femininas em busca do empoderamento com a ruína
dos antigos princípios gregos.

2. A Grécia em crise
As tragédias gregas datam do período de 470 a.C. a 405 a.C.. Durante esse
período, esse gênero literário apresentou um conflito: ao se rebelar frente aos deuses, o
homem era punido. Entretanto, esse homem só se torna mais sábio a partir do momento
que enfrenta os deuses, pois adquire consciência de si. O final do personagem que fugiu
da conduta esperada é horroroso, mas a sabedoria adquirida através desse desvio é
mantida pelos outros membros da sociedade, como uma forma de exemplo.
Nesse contexto, na cidade de Atenas, prevaleciam as instituições da política e
da família. A política é intrínseca ao homem grego aristocrático: não é uma escolha, é
sua condição. Já na família, os indivíduos compartilhavam o mesmo sangue vindo do
céu, ou seja, do divino, onde está a identidade das pessoas. A união da política e da
família consiste na formação da coletividade. Qual é então o espaço destinado para a
individualidade? Dessa forma, a tragédia aborda o indivíduo, a mulher, os lugares que
não são públicos para discutir a falência desse sistema.
Esse comportamento é discutido também por Werner Jaeger, em sua obra
Paideia, ao tratar da tragédia de Eurípedes e o homem que ela representa. “O Homem já
não quer nem pode submeter-se a uma concepção de existência que o não tome a ele
como medida última, no sentido de Protágoras”. Para Protágoras, o homem deve ser o
parâmetro para medida de todas as coisas. Assim, “É na tragédia de Eurípedes que pela
primeira vez se manifesta em toda sua amplitude a crise do tempo” 1, o que mostra a
ruptura com a antiga ordem estabelecida no mundo grego e, a partir da tragédia, dá-se
início a um processo de centralização do homem, com seus sentimentos e fraquezas.
Inserido nesse paradigma de crise de valores, é válido refletir sobre o papel
exercido por personagens do gênero feminino na tragédia, em contraposição a sua
dedicação à família na sociedade grega inicial e o novo viés trazido pela tragédia, de
triunfo da cultura, do espírito, do fluxo interior de pensamentos e sentimentos e da
instituição do indivíduo perante a apatia de um papel restrito pelas regras da
coletividade.

3. Medeia, de Eurípedes
Datada de 431 a. C., essa peça aborda, em um enfoque psicológico, a dicotomia
entre o amor e o ódio e suas consequências da personagem principal feminina, Medeia.
Nessa tragédia, há vestígios da crise do mundo grego antigo, descrita por
Eurípedes: Medeia abandona sua cidade e sua família para seguir o homem pelo qual é
apaixonada, Jasão e torna-se uma estrangeira em Corinto. Esse posicionamento
apresenta uma ruptura com as duas principais instituições da Grécia antiga e indicam
uma fuga das leis impostas pelo divino, contrariando os deuses e prevendo possíveis
catástrofes no destino da personagem e de Jasão, que a acompanha nessa empreitada.
O coro da peça, que simboliza a sabedoria, mostra-se de forma diferente do
comum: constitui-se de mulheres2. Entretanto, no diálogo com Medeia, não tem muita
força de convencimento e reflexão, por se tratar de uma personagem decidida e
defensora de suas convicções, além de estar inflamada por seus sentimentos de vingança
causados por ter sido trocada por seu marido por uma princesa, filha do rei Creonte.
Eurípedes, também por meio de Medeia, dá voz às mulheres cuja vida era
restrita ao lar e a dedicação aos membros da família.
“Pois, se erramos na escolha do marido, não podemos jamais repudiá-lo. A
separação conjugal é uma desonra para as mulheres. O homem, quando
aborrece do que vive em casa, se distancia e livra a alma desse peso e tédio
na companhia de algum amigo ou companheiro de sua mesma idade. Nós,
mulheres, temos que manter a vida presa a um único ser o tempo todo.
[homem e a família]”3

Nessa fala de Medeia, o autor exprime a injustiça da desigualdade de gêneros


de uma vida de reclusão feminina ao comparada com a vida livre dos homens. Ao
1
JAEGER, Werner, 1995. p. 386
2
Normalmente, é composto por anciãos do sexo masculino.
3
EURÍPEDES, 2004. p. 23
mesmo tempo, trata-se de uma inovação da literatura no sentido em que os sentimentos
e as opiniões da personagem feminina encontram-se na narrativa de forma central e
definitiva para seu desfecho.
A interferência da mulher na sociedade política da época dá-se em Medeia
como consequência da personagem insultar o rei Creonte, que, por seu passado ligado
ao abandono da família e por ter matado em nome do seu amor por Jasão, tem medo do
que Medeia possa fazer algo de mal contra sua família, principalmente contra sua filha.
Assim, o rei a expulsa de Corinto.
A peça também dialoga com a loucura – como sentimentos que não foram bem
resolvidos e canalizados - ao passo que Medeia, sedenta por se vingar da traição que
sofrera, decide matar a mulher que foi escolhida por seu marido e principalmente seus
próprios filhos para ferir Jasão. Nesse sentido, há uma valorização da subjetividade na
literatura grega desse período, pois a problemática centra-se no indivíduo, e não na
coletividade, como era mantido anteriormente por esse povo.
Assim, Eurípedes já demonstrava sua percepção de uma crise do mundo grego
aliado a maior participação da mulher como um ser individual e autônomo frente a uma
libertação do ambiente da casa e um rompimento com a família ao detalhar a história de
Medeia, que a abandona duas vezes: quando deixa sua cidade para seguir para Corinto
com Jasão e quando mata seus filhos como forma de vingança.

4. As Bacantes, de Eurípedes
Na circunstância grega, a consciência é ampliada na medida em que o
indivíduo passa pelo sofrimento. Quando os deuses são desobedecidos pelos homens,
que são punidos pelos seus atos, o espaço humano se expande enquanto o dos deuses
diminui, à custa da dor.
Em As Bacantes, há uma coincidência com Medeia, pois o coro também é
formado por mulheres da cidade de Tebas em um festival dedicado ao deus Dionísio,
conhecido por ser considerado o deus espelho: ao buscar entender Dionísio, a pessoa
encontra a si mesma, em detrimento do aprimoramento da consciência humana dado
pelo extravasamento das frustrações, tristezas, alegrias e demais sensações do indivíduo
através de elementos como a dança, a bebida, entre outros, independentemente da
sociedade como um todo.
Ademais, Dionísio é um deus que não pertence a uma cidade. Ao contrário do
que acontece com Atenas, por exemplo, que é protetora da cidade a qual fornece seu
nome, Dionísio representa a universalidade e, consequentemente, mais uma marca da
ruptura com a pólis grega e tudo aquilo que ela simboliza para o povo grego.
Penteu, rei de Tebas, entretanto, nega sua interioridade e não acredita na
divindade de Dionísio. Por isso, enxerga o festival ao deus de maneira negativa:
“Prestes hei de pôr fim à bacanal odiosa. Dizem que um forasteiro aqui
chegou, mago da terra Lídia, de fulvos cabelos em madeixas perfumadas, de
pele rosada e olhos ressudando as graças de Afrodite, e que, dia e noite, os
mistérios báquicos consuma junto com as mulheres jovens.”4

Esse comportamento de Penteu mantem-se ao longo da peça, de modo que seu


final é trágico: é morto e esquartejado pelas bacantes quando, hipnotizado por Dionísio,
deixa os muros da cidade e vai para onde o bacanal estava acontecendo.
Entretanto, essa punição corresponde também à sua mãe, que retoma sua
consciência quando tem a cabeça do filho morto em suas mãos. É também uma punição
concedida por Dionísio pois precisou ser hipnotizada para seguir o coro.
Outro aspecto que vale a pena ser destacado é o título tanto dessa peça como da
peça de Eurípedes analisada anteriormente, Medeia. Ambas são nomeadas a partir das
personagens femininas de destaque, evidenciando sua valorização assim como uma
inovação frente a uma cultura anterior na qual o público era simbolizado pelos homens.
Nessa peça, o papel feminino fica por conta, principalmente, do coro de
mulheres bacantes que cantam a ruptura com os valores gregos antigos representada por
Dionísio, um deus sem cidade, que busca a centralização da individualidade e da
consciência através da sabedoria.
“Ó feliz, bem-aventurado aquele que conhecendo os mistérios divinos, sua
vida santifica, sua alma enfervesce, pelos montes dançando com Baco,
purificando com os ritos místicos, e de Cibele, Mãe Suprema, as orgias
celebra e Dionisio serve coroado de hera, empolgando o tirso. Ide Bacantes!
Ide Bacantes! Trazei Brômio, deus de deus filho, Dionisio. Trazei-o das
montanhas frígidas para as praças amplas da Hélade, onde é bom dançar.
Trazei-o, trazei a Brômio.”5

Essa passagem do canto das Bacantes revela a presença da consciência e da


subjetividade traduzida por Eudoro de Sousa como “sua alma enfervesce” e também evidencia
como o que é dito por elas é importante: defendem e glorificam Dionisio, o qual é considerado
supremo no fim da peça ao vencer as resistências de Penteu.

4
EURÍPEDES, As Bacantes. 2010, p. 26.
5
EURÍPEDES, As Bacantes. 2010, p. 21.
Com essa voz, Eurípedes, em sua última peça, sutilmente empodera as
mulheres ao coloca-las em contraste com Penteu: elas têm o conhecimento da
importância da consciência enquanto ele enxerga a presença de Dionísio como loucura,
quando o próprio louco é ele mesmo por não expressar sua interioridade.

5. Considerações Finais
Com tudo isso, para Eurípedes, o papel da mulher grega é central meio ao
momento de crise dos valores como a coletividade, a família e a política. Surge, assim, a
possibilidade de exercer uma nova função em uma sociedade nascente, embasada pela
consciência do indivíduo.
Medeia, apesar de seu trágico destino sem sua família e sem sua cidade, toma o
poder de decisão em suas mãos e insere-se na esfera pública enquanto as Bacantes dão
voz à consciência e a legitimidade da existência das mulheres enquanto seres
independentes da manutenção de sua família.
Dessa forma, ambas as peças constituem na possibilidade de criação de novos
valores gregos, em uma sociedade com maior legitimidade do espaço das mulheres
frente ao corpo social.
Referências Bibliográficas

EURÍPEDES, As Bacantes. Tradução e introdução de Eudoro de Sousa – São Paulo:


Hedra, 2010. 144 p.

EURÍPEDES, Medéia. Tradução de Millôr Fernandes. – Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2004. 89 p.

JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur


M. Parreira; adaptação para edição brasileira Monica Stahel; revisão do texto grego
Gilson Cesar Cardoso de Souza. – 3a ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1994. 1413 p.

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