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CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
Charlotte olhou para ele, em choque. Com certeza ela não ouviu
ele dizer ‘sem ter sido beijada’. Mas o que mais poderia ter sido? Sem
ter sido alvejada, sem ter sido invejada, sem ter sido viajada...nada
disso fazia sentido.
Ela perguntou. “O senhor pretende me beijar?”
“Acredito que foi o que eu acabei de dizer, sim.”
“Aqui. Agora...”
Ele acenou com a cabeça. “Essa é a ideia.”
“Mas...por que?”
Ele pareceu surpreso com a pergunta. “Pelas razões habituais.”
“Suponho que a palavra seria persuasão. O senhor pensa que
me fará ficar facilmente balançada. Uma dose do seu masculino elixir
labial, e eu estarei curada de qualquer dúvida, é isso?”
Ele olhou fixamente um ponto distante, antes de encontrar seu
olhar novamente. “Eu vou beijá-la Charlotte porque espero gostar. E
porque eu espero que você desfrute também.”
A voz baixa dele fez coisas estranhas com ela.
“O senhor parece muito seguro de si mesmo, milorde.”
“E você senhorita Highwood, parece estar tentando ganhar
algum tempo.”
“Ganhar tempo? De todas as coisas para se dizer, o senhor diz
isso? Eu não estou tentando ganhar...”
Ele levantou uma sobrancelha em acusação.
“Certo.” Ela não tinha desculpas convincentes. Ela levantou o
queixo, resignada. “Muito bem. Faça o seu pior.”
O pior beijo; era isso que ela estava esperando. Essa foi a única
razão para Charlotte concordar, ela disse a si mesma. Um abraço frio
e sem paixão iria confirmar a verdade, que não havia nada entre eles.
Se não houvesse calor suficiente para ‘abastecer’ um beijo, como um
casamento poderia funcionar?
Talvez ele abandonasse a ideia, ali mesmo.
Mas tudo deu errado, antes mesmo de seus lábios tocarem os
dela.
O simples poder de seus braços quando ele a puxou para mais
perto, enviou uma emoção vertiginosa e totalmente feminina por todo
o seu corpo.
Ela olhou para ele, relutando em demonstrar medo. Contudo,
aquela emoção expondo o batimento selvagem do seu pulso, fazia com
que se sentisse mais vulnerável.
Então ela desceu o olhar para a boca dele. Outro erro. A
mandíbula que parecia severa de longe, emoldurava uma boca que
era larga e generosa vista de perto.
Muito perto.
Então, enquanto ela tentava lembrar a si mesma que essa
deveria ser uma experiência sem emoção ou excitamento, ela entrou
em pânico, e fez o pior.
Ela passou a língua pelos lábios.
Charlotte, sua tola!
Talvez ele não tenha notado?
Oh, ele notou. Ele poderia notar tudo naquele momento. Sua
disposição. Sua curiosidade. Os pequenos arrepios de antecipação
correndo por sua espinha. Era como se estivesse nua na frente dele.
“Feche os seus olhos,” disse ele.
“Você primeiro.”
Ela vislumbrou aquela curva sutil de um sorriso. Então os lábios
dele estavam nos dela.
O beijo...oh! Não era nada como ele. Ou não era nada do que ela
conhecia dele até o momento. Pelas aparências, ele era comedido e
apropriado. Mas quando seus lábios encontraram os dela, eles eram
mornos, ardentes. Provocantes.
E as mãos dele estavam em todos os lugares onde as mãos de
um perfeito cavalheiro não deveriam estar.
Elas desceram lentamente por suas costas, não de forma
experimental, mas de forma possessiva. Como se ele estivesse
determinado a explorar cada parte que poderia ser dele. Seu toque
despertou sensações que se agitaram no corpo dela. Então sua mão
agarrou o seu traseiro e apertou, puxando-a para seu calor e força.
Ela ofegou, em choque pelo atrevimento dele.
A língua dele deslizou por seus lábios. Gentil, mas insistente.
Explorando cada vez mais profundamente. Incitando-a beijá-lo de
volta.
Então ela fez.
Que Deus a ajudasse, mas ela fez. Ela deslizou seus braços em
volta do pescoço dele e correspondeu ao beijo. Tentando agir como se
ela tivesse uma vaga ideia do que estava fazendo.
Seja o que for que ela estivesse fazendo, parecia que ele estava
gostando, porque um gemido suave veio do fundo do peito dele. Era
uma emoção inebriante saber que ela poderia provocar tal resposta
em um homem como ele. Ela apertou seus ombros com mais força.
Algo havia despertado nela. Uma consciência, um anseio... um
lampejo de uma Charlotte, que ela não estava certa se estava pronta
para ser.
Mais tarde, quando ela teve um momento a sós, ela precisou
reviver cada segundo desse encontro. Quando foi exatamente que
seus joelhos fraquejaram? Como foi que ele fez para que ela quisesse
aquelas coisas? E o mais preocupante de tudo, quando ela começou
a querer ele?
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
Depois de verificar seu reflexo no espelho, Piers enxaguou sua
lâmina na bacia e secou o restante da espuma de barbear de sua
mandíbula. Se ele pedisse, Ridley viria ajudá-lo a se vestir para o
jantar. Afinal ‘valete’ era seu cargo nominal, e ele deveria tê-lo usado
mais nessa capacidade, pelo menos para manter as aparências.
Contudo ele desenvolveu o hábito de se barbear em seus primeiros
anos de serviço. Ele não teria confiado em ninguém para segurar uma
lâmina em sua garganta.
Naquele momento, que ele era um agente experiente, ainda
preferia barbear-se ele mesmo. Não que ele não confiasse sua vida
nas mãos de Ridley. Ele simplesmente não confiava nele para fazer
sua barba de forma satisfatória.
Ele colocou sua camisa e enquanto abotoava os punhos, alguma
coisa chamou sua atenção. Ele parou encarando o vidro.
Tinha alguma coisa do lado de fora de sua janela.
Ou alguém do lado de fora da sua janela.
Provavelmente é só um galho de árvore, ele disse a si mesmo.
Talvez um pássaro canoro noturno ou um morcego madrugador.
Ele estava cauteloso em não demonstrar nenhum sinal de
alarme. Mal lançou um olhar para fora novamente, enquanto
abotoava a camisa.
Então ele ouviu um ruído.
Um ruído de algo raspando. Ele inalou firmemente. E no tempo
que levou para dar aquele suspiro, ele olhou em volta e visualizou
todas as armas em potencial naquele quarto. A navalha, que estava
no lavatório, ainda reluzia com água. O atiçador de lareira daria um
porrete formidável. Em um pequeno movimento sua gravata que
estava preparada para ser usada se tornaria em um decente
enforcador, e ele aprendeu isso da maneira mais difícil em uma
abafada noite em Roma.
Mas ele não precisaria ser criativo aquela noite. Não com uma
pistola carregada repousando na primeira gaveta do lavatório.
Inimaginável, talvez, mas eficaz.
O ruído de algo raspando, se transformou em algo arranhando,
e então um chocalho. O intruso estava forçando a entrada.
Piers manteve seu pulso calmo, tentando manter o sangue em
suas veias tão frio como um riacho no mês de fevereiro. Ele abriu a
gaveta, moveu a pilha de lenços dobrados e levantou a pequena
pistola.
Então esperou. Se ele se virasse muito rápido, poderia assustar
seu agressor e se expor a uma segunda tentativa.
Paciência. Ainda não.
Uma brisa fresca flutuava nos pelos de seu pescoço.
Agora!
Ele girou nos calcanhares, erguendo a pistola enquanto se virava
e apontava a arma para o intruso.
Ela ergueu as mãos. “Não se assuste. Sou eu.”
“Charlotte?”
Ele baixou a arma, desarmando o gatilho no mesmo instante.
A metade de uma perna esguia entrou facilmente pela sua janela,
então o restante do corpo dela passou pela abertura e aterrissou
caindo no chão com um baque. Uma pilha de musselina suja de
grama, botas enlameadas e cabelos dourados desgrenhados.
“O que diabos você está fazendo?” Ele segurou-a pela mão,
levantando-a do chão. “De onde você veio?”
“Perdão pela interrupção,” ela disse, com o olhar passeando de
seu colarinho aberto até a bainha de sua camisa.
A visão dela, olhando para ele sem fôlego, corada e sorrindo, fez
com que o sangue dele fosse de gelo frio a temperatura de lava em
erupção.
Ele estava aliviado. Ele estava bravo. Ele estava, contra todas as
possibilidades, encantado.
Tudo, menos frio e distante.
“Você precisa estar em seu quarto.”
“Não há nada que eu amaria mais, mas agora eu não posso.” Ela
baixou os olhos. “Oh! Isto é uma pistola Finch?”
Ela alcançou a arma que não havia sido disparada, na mão
direita dele. Ele deixou que ela pegasse, apontando para a janela
aberta, fechando um olho para acertar a mira.
Ele tinha que admitir, ela tinha uma maldita de uma boa postura
de disparo.
“Como você reconhece uma pistola Finch?”
Ela baixou a arma, girando-a em suas mãos para examiná-la. “A
filha de Sir Lewis Finch é uma querida amiga minha. Eu passei anos
em Spindle Cove.”
Spindle Cove.
Seu pensamento voltou ao relatório abreviado que Ridley fez do
lugar.
Às segundas caminhadas pelo campo, às terças banho de mar.
Elas passam as quartas no jardim, e nas quintas...
“Às quintas vocês atiram,” ele disse.
“Então você ouviu falar sobre isso.” Ela sorriu para ele. “Eu estive
na sala de armas do próprio Sir Lewis Finch, e eu nunca tinha visto
um exemplar tão bom. É bem leve e pequeno, não é?”
“Edição especial,” ele disse. “Somente umas poucas dúzias foram
fabricadas.”
“Notável.” Ela devolveu a pistola para ele. “Como você conseguiu
ter uma?”
“Acredito que eu faço as perguntas agora.” Piers guardou a
pistola de volta na gaveta, e se virou para ela. “Se explique. O que
diabos você estava fazendo, escalando a minha janela?”
“Certo. Isso. Veja, essa tarde o Senhor Fairchild... é o vigário, se
você se lembra.”
“Eu me lembro.”
“Ele veio para visitar Lady Parkhurst. Alguma coisa sobre o
evento do feriado na paróquia. A seleção das músicas, ou algo assim.
Pareceu-me que iriam levar horas para negociar, então eu sabia que
era a minha chance.”
“Sua chance para quê?”
“Para visitar a senhorita Caroline Fairchild. Ela está na minha
lista de suspeitas. Se lembra do meu plano? Que te contei aquela
manhã?”
Ele levantou a mão para sua têmpora. “Eu me lembro, sim.”
“Bem, uma vez que eu analisei os C’s, me sobraram cinco
suspeitas. Eu tinha que começar a eliminá-las de alguma forma. Se
Caroline Fairchild estivesse envolvida em um caso de amor secreto, e
ela soubesse que o pai iria estar ausente por horas, esse seria o
momento perfeito para que planejasse um encontro. Não seria?”
Piers não sabia como argumentar com aquele raciocínio.
Irritante o suficiente.
“Então eu aleguei uma enxaqueca e fui para o meu quarto. Eu
disse às criadas que não queria ser perturbada. Então eu tranquei a
porta e escorreguei para fora da janela.”
“Sua janela é aproximadamente vinte pés de altura acima do
chão. E a minha também.”
“Sim, é claro. Mas tem uma pequena borda bem conveniente que
corre embaixo de todas as janelas, e do canto noroeste da mansão
para o terreno plano é somente um pequeno pulo.”
Ele apertou a mandíbula e tentou dispersar de sua mente a
imagem dela dando ‘um pequeno pulo’ da janela do segundo andar
para o galho de uma árvore. “Continue.”
“Então eu peguei um atalho pelo prado e caminhei até a vila.”
Ela se sentou em um banco na ponta da cama dele e começou a
desatar os laços de suas botas, as solas mostravam uma evidência
clara de sua caminhada pelos pastos e por estradas de terra
enlameadas. “Eu fui até a casa do vigário e perguntei pela senhorita
Fairchild. E ela estava lá. Sozinha.”
“E não nos braços de um sedutor.”
“Não. Na verdade, ela perecia solitária e ficou muito agradecida
pela visita. Uma doce garota, eu tive a impressão que ela nunca
experimentou nenhum tipo de aventura. Ela certamente nunca leu
bons romances.”
Ela chutou as botas para fora de seus pés, então os colocou por
baixo de suas pernas cruzadas, se sentando no banco novamente.
Piers decidiu que deveria estar sentado também. Ele se deixou
cair em uma poltrona.
“Eu acho que é seguro cortar a senhorita Fairchild da minha lista
de suspeitas.” Charlotte disse.
“O que você planeja fazer quando alguém perguntar, como você
estava simultaneamente em seu quarto incapacitada por uma
enxaqueca e ao mesmo tempo na vila, visitando a senhorita
Fairchild?”
Ela balançou a mão. “Ninguém irá questionar isso. Os dias
passam como se fossem todos iguais durante uma visita no campo. É
impossível se lembrar se alguém foi colher maçãs na segunda ou na
terça, e foi na quarta pela manhã que tivemos aquela tempestade?
Todos pensarão que não passa de uma inocente confusão, isso, se for
mencionado. O que provavelmente não será. Você sabe como é.”
Sim, Piers sabia como era, e fazia uso disso com frequência. O
hábito de prestar atenção aos detalhes, quando ninguém mais a sua
volta fazia isso... isso dava à pessoa uma distinta vantagem.
Mas se Charlotte Highwood estava dando atenção aos detalhes,
isso significava uma vantagem a menos que ele teria sobre ela.
Isso o preocupava.
“Em todo caso, eu planejava escalar a árvore novamente e
deslizar para o meu quarto, eu deixei a janela aberta
propositadamente para isso. Mas quando voltei ela estava fechada.”
“Então, você utilizou a borda e veio para a minha janela como
alternativa.”
“Bem, o que mais eu poderia fazer? Entrar pela porta da frente
e confessar que eu menti sobre estar doente e que escapei pela
janela?”
De fato, o que mais ela poderia ter feito?
Piers dobrou seus cotovelos sobre os joelhos e esfregou o rosto
com as duas mãos.
Ela continuou. “Mais tarde, essa noite, quando toda casa
estiver adormecida, eu entrarei sorrateiramente no escritório da
governanta e pegarei emprestada suas chaves e voltarei para o meu
quarto. Ou...” Ela levantou um dedo enquanto falava. “Nós podíamos
iniciar um incêndio.”
“Você não vai iniciar um incêndio.”
“Não será um incêndio verdadeiro. Será somente um alarme
falso para tirar todos dos seus quartos e me dar a chance de voltar
para o meu.” Ela se levantou do banco e rodeou a cama, sentando-se
na beirada. “Podemos decidir mais tarde. Eu poderia tirar uma soneca
enquanto você desce para o jantar. Eu suponho que você não poderia
esconder um sanduiche no seu bolso para mim, não é? Estou
faminta.”
Ela se reclinou em seus cotovelos. Em cima da cama dele.
Parcialmente vestida. E de acordo com o ‘plano’, ela propunha passar
ali boa parte da noite.
Não. Isso não aconteceria.
Ele se levantou e começou a dobrar as mangas de sua camisa
até os cotovelos. “Eu abrirei a porta do seu quarto.”
“Eu já te disse, está trancada por dentro.”
“Deixe isso comigo.”
Ele abriu uma fresta na porta e olhou no corredor. Depois de
esperar e ouvir por alguns momentos, para ter certeza de que
ninguém estava vindo, ele se virou para dar a ela o sinal para segui-
lo.
“Você tem um pouquinho de espuma de barbear.” A ponta dos
dedos dela raspou um pedaço de pele abaixo de sua mandíbula.
“Aqui.”
A suavidade do toque permaneceu em seu corpo.
Ela inclinou a cabeça para o lado e lançou um olhar para ele
fazendo um barulho pensativo. “Estou percebendo que nunca vi você
sem casaco, você tem a constituição mais sólida do que se pode
suspeitar.” Ela espalmou as mãos desde o ombro dele até o seu
cotovelo, traçando indolentemente os contornos dos músculos de seu
braço. Apesar de tentar manter o controle, seus músculos
tencionaram.
Ela percebeu.
Uma onda de masculinidade carnal fez seu sangue pulsar nas
veias.
“Vamos indo,” ele disse. “Siga-me. E fique perto.”
Charlotte fez uma breve oração silenciosa e o seguiu pelo
corredor, carregando suas botas em uma mão. Ele segurava a outra
mão dela firmemente debaixo de seu braço. Em termos relativos, era
um caminho curto até chegar ao seu quarto, mas naquele momento,
parecia uma milha.
Ele deu uma chacoalhada no trinco da porta, encostando seu
ouvido nela para tentar escutar.
“Você disse que deixou a chave na porta?”
Ela balançou a cabeça concordando.
“Não está mais aqui.”
“Isso é estranho.”
Charlotte de repente se deu conta, de que ele sabia qual porta
era a sua sem ter perguntado. Ela imaginou como se deu isso... mas
outros assuntos mais urgentes tinham prioridade.
Como, por exemplo, os sons de passos vindo da direção da
escada de serviço.
“Alguém está vindo.” Ela sussurrou. “Nós deveríamos voltar
para o seu quarto.”
Ele não reagiu. “Só um momento de trabalho.”
Trabalhando em movimentos rápidos, ele retirou um alfinete de
ônix de seu bolso, amassou um pouco a ponta para fazer um gancho,
e inseriu na fechadura com um firme empurrão. Ele trabalhou com o
alfinete, como se fosse uma alavanca, testando os diferentes ângulos
para abrir a tranca.
Enquanto observava sem fôlego, Charlotte ficou imaginando se
ouro e ônix já haviam sido empregados em desculpável utilização. E
sem falar nas mãos aristocráticas do Marquês de Granville.
O barulho dos passos na escada de serviço se tornaram mais
próximos. A qualquer momento, uma das criadas iria aparecer no
final do corredor. Charlotte podia ouvi-la cantarolando uma música.
“Rápido!” Ela sussurrou.
Ele não tomou conhecimento da súplica dela.
A falta de urgência dele era exasperante. Eles não poderiam ser
surpreendidos dessa forma. Não haveria maneira de explicar como
Charlotte foi de uma enxaqueca em sua cama para estar toda
desgrenhada e sem fôlego no corredor, do lado de fora de seu quarto
trancado. E o pior de tudo, em companhia de Lorde Granville.
Ele nunca conseguiria escapar de se casar com ela, nesse caso.
Oh, não!
Um pensamento horrível a atingiu. Talvez fosse o que ele queria.
Talvez ele não estivesse nem tentando. Talvez todo esse absurdo do
alfinete fosse só uma brincadeira.
Os passos alcançaram o topo da escada.
Charlotte percebeu o relance de uma saia preta de lã girando
no final do corredor. Ela queria que os dois se escondessem. Mas
onde? Esse corredor sofria de uma imperdoável falta de alcovas, vasos
de plantas e estátuas de mármore.
O coração dela estava na garganta.
“Pronto.” Ele murmurou.
Com um leve click, a fechadura abriu.
Com um simples movimento ele empurrou ela para dentro do
quarto, fechando a porta atrás deles, deixando-a nada menos que
sobressaltada do outro lado.
Ele a comprimiu contra a porta, prendendo-a com o peso do
seu próprio corpo.
Eles permaneceram imóveis e silenciosos até que a criada
cantarolando passasse pelo quarto de Charlotte e seguisse em frente
pelo corredor.
“Eu disse, que faria a tempo.” Ele falou.
“Sim. Você conseguiu. Tudo isso e seu cabelo nem desarrumou.
O que o seu valete fez nele?!
“Nada. Ninguém toca no meu cabelo.”
“Ninguém?” Ela inclinou a cabeça, em respeito ao seu cabelo
negro e espesso. “Que pena!”
O coração dele ainda batia de encontro ao dela, mas sua
expressão _ mesmo sendo difícil de decifrar _ não parecia preocupada.
Ele parecia estar se divertindo.
Seria possível, que enquanto eles se escondiam pelos
corredores, e abriam trancas com alfinetes, o respeitável Marquês de
Granville estivesse se divertindo?
Que interessante!
Talvez havia alguma coisa sobre uma pitada de perigo que o
fizesse se mostrar de novas maneiras.
Charlotte sentiu também. Não somente a prolongada
empolgação da escapada, mas a proximidade que eles
compartilhavam naquele instante.
Seus braços fortes e vigorosos envolviam os lados do corpo dela
em uma promessa de proteção. Mas a intensidade sombria em seus
olhos era perigosa.
“Você deveria ir.” Ela deslizou para fora dos braços dele. “Você
deve querer terminar de se vestir para o jantar.”
“Espere.” A mão dele se fechou no braço dela, segurando-a no
lugar. “Eu vou olhar o seu quarto primeiro. Alguém esteve aqui,
enquanto você esteve fora.”
“Sério? Como você sabe?”
“Além da chave ter sido retirada?” Ele olhou por debaixo da
cama e dentro do closet. “Obviamente seu quarto foi revirado.”
Ela olhou pelo quarto. “Não, não foi. Está exatamente como eu
deixei.”
“Você deixou assim?” Ele pegou um manto do chão, segurando
por um pedaço da franja, enquanto ele movia a peça no ar, caiu de
dentro dela um emaranhado de meias e um cadarço de bota
extraviado.
“Eu não sou a mais organizada das damas.” Ela falou na
defensiva.
Com um beligerante arco em sua sobrancelha negra, ele se
virou para verificar atrás da porta do closet.
Enquanto isso, Charlotte cruzava o quarto até alcançar a
janela. “Mas alguém esteve aqui. Essa janela não está somente
fechada, está trancada. Que estranho. Eu suponho que deve ter sido
a criada.”
“A criada?” Ele emergiu de dentro do closet, arrancando
algumas penas amarelas de seu ombro demonstrando uma expressão
irritada. “Acredite em mim, nenhuma criada esteve neste quarto.”
“Não poderia ter sido minha mãe. Ela soaria um alarme tão alto
que a casa inteira poderia ouvir. Mas se não foi uma criada ou
mamãe, então quem?”
“Talvez alguém que saiba que você está planejando algo.” Ele
disse. “E essa pessoa quer que você pare.”
“Um dos amantes misteriosos, você quer dizer?”
“Me escute, Charlotte. Você não sabe em que tipo de segredo
você pode estar se intrometendo. Ou o que os amantes misteriosos
farão para protegê-lo. É hora de deixar isso para lá.”
Deixar para lá?
Ela não podia deixar para lá. Abrir mão da busca, significaria
abrir mão do resto de sua vida.
“Bem, já que estamos dando conselhos um ao outro milorde, eu
acho que você deveria ter mais consideração com o amor. Você deve
ser bom nisso.”
“Não posso imaginar o que te faz dizer isso.”
Ela deu de ombros. “Você parece ser bom em tudo mais. Mas,
talvez, você tenha se tornado bom em tudo mais porque esteja
preocupado que não seja bom em amar. Lhe falta confiança?”
Em resposta, ele se empertigou até sua completa e
impressionante estatura, e olhou para ela de forma ameaçadora.
“Não que eu pense que lhe falte. Mas eu não consigo deixar de
pensar que embora você já tenha proposto casamento a duas damas,
elas seriam obrigadas a aceitá-lo. A primeira pelo arranjo da família,
e eu fui pela ameaça do escândalo.”
Ele espiou em sua cômoda. “Guarde suas interrogações para a
filha do vigário. Minha história não tem nada a ver com nada disso.”
“Talvez não. Mas você próprio é um mistério intrigante. Eu não
consigo entendê-lo.” Ela se moveu até a cama e repousou um ombro
na coluna de dossel. “Você não me parece o tipo de homem que teme
compromisso. Você se comprometeu comigo por razões tênues. Por
que você não poderia colocar seus olhos sobre alguém de quem goste
e então cortejá-la?”
Ignorando a pergunta dela, ele abriu uma das gavetas. “Isso
está vazio. O que você guardava aqui dentro?”
“Nada. Eu ainda não a usei.”
Ele lançou um olhar significativo para as pilhas de roupas de
baixo espalhadas pelo chão. “Você entende o propósito de uma
gaveta?”
“Nem todo mundo guarda seus lenços organizados pelos dias
da semana.” Ela cruzou os braços. “Eu te disse, eu sou totalmente
errada para ser sua esposa. Considere essa somente mais uma
evidência de que não combinamos. Eu sou muito jovem para você,
muito indecorosa, uma pobre criada. Você nem mesmo gosta de mim.
Sou somente uma garota impertinente que o encurralou na
biblioteca. Você não precisa se conformar com isso.”
“Conformar...” Ele ecoou, fechando a gaveta. “Você pensa que
estarei me conformando casando-me com você?”
“Todos pensarão isso.”
“Você!” Ele disse. “É a criatura mais inquietante que eu já
encontrei em toda minha vida. Eu não me senti mais conformado
desde o momento que nos conhecemos.”
Charlote riu consigo mesma. “Eu deveria receber isso como
motivo de orgulho.”
“Você realmente não deveria.” Ele avançou para ela,
diminuindo a distância entre eles. “Não ocorreu a você, que eu tenha
uma real e urgente razão para querer me casar com você?”
A escuridão em seu olhar não deixou dúvidas sobre a razão a
qual ele se referia.
“Mas você poderia ter isso de qualquer mulher.” Ela disse.
“Mas eu quero somente de você.”
Ela engoliu em seco, ficando nervosa de repente. “Você
realmente deveria ir. O jantar será servido logo.”
“Eu sou o convidado de honra nessa casa.” Ele empurrou para
o lado um cacho de cabelo solto dela, e a leve fricção provocou um
arrepio em seu pescoço. “Eles esperarão.”
“Se minha mãe souber que você está aqui...”
“Ela ficará muito entusiasmada.”
Verdade, verdade. “Eu poderia gritar.”
“E assegurar de sermos flagrados juntos e sozinhos, em uma
circunstância ainda mais comprometedora que da última vez? Vá em
frente!”
Ela suspirou. Ele realmente a tinha encurralada.
Só havia uma maneira que ela poderia pensar para sacudi-lo:
mudando as regras do jogo dele.
Ninguém toca no meu cabelo, ele disse.
Até aquele dia.
Ela esticou uma mão para a frente, deslizando os dedos pelo
denso cabelo negro dele. Levemente, brincando, transformando os
fios em picos selvagens. Até que os cachos penteados ficaram em pé,
em um divertido contraste com seu olhar penetrante e sua expressão
séria.
Era como se ele não tivesse como responder.
Oh, céus! Esse homem precisava ser perturbado da pior forma.
Afeição lhe era tão estranha assim? Talvez estivesse sem
prática. Ele tinha se resguardado por tanto tempo. Toda aquela
rigidez era como uma gravata apertada, sufocando toda a emoção que
se escondia por dentro. Era de se admirar que ele não visse razões
para esperar por um casamento por amor? Sendo perfeito por todos
esses anos... ele esqueceu o desalinho, esqueceu a felicidade
desgovernada que a proximidade humana poderia trazer.
Se é que ele já havia conhecido proximidade em absoluto.
Tolice, ela disse ao seu coração. Pare de se contorcer e condoer.
Ele é um marquês rico e poderoso, não um filhotinho na chuva.
Ela adicionou sua outra mão a primeira, brincando de forma
mais livre ainda. Dando um sorriso malicioso, ela o provocou com os
dedos em seu cabelo, criando tufos que se levantavam em ângulos
enlouquecidos, como o pelo de um urso zangado. Então ela puxou
todo o cabelo dele para o centro, dando a ele um penteado Moicano.
“Você está se divertindo?” Ele perguntou secamente.
“Mais do que você possa imaginar.”
Seu pomo de Adão subia e descia em sua garganta. Mas ele não
a pediu que parasse.
Ela teve um pouco de pena dele, alisando o cabelo desordenado,
com as palmas das mãos, então deu leves arranhões com suas unhas
pelo couro cabeludo da testa até a nuca.
Ele fechou os olhos e suspirou grosseiramente.
“Pronto.” Ela sussurrou, brincando com o cabelo curto e macio
na nuca dele. “É somente um pouco de ternura. Não há vergonha em
se render.”
Ela sabia que estava jogando um jogo perigoso. A cada carícia
ela ficava mais próxima de obter uma resposta dele, e de também
colocar suas emoções e virtude em risco. Não machucaria permitir a
ele algumas poucas liberdades, certo? Mostrar a ele um pouco de
afeto. Somente o bastante para despertá-lo sobre como poderia ser,
se ele se abrisse para a possibilidade de amar.
Em algum ponto, ela parou de brincar com os cabelos dele. O
que não seria um problema, se ela tivesse se lembrado de retirar as
mãos de sua cabeça, mas ela não fez isso. Os dedos dela
permaneceram enroscados no denso, e naquele momento,
desalinhado cabelo negro. As mãos dele estavam na cintura dela.
Ela estava segurando-o agora, e ele a segurava de volta.
O seu olhar deslizou pelos lábios dela.
Ela sabia que ele a beijaria.
Ela sabia que permitiria.
Tudo parecia ser inevitável, completamente previsível, e ainda
assim nada a excitou mais.
Respire, ela disse a si mesma. Respire agora, profundamente.
Em um momento será tarde demais.
Piers se segurou firme, não por escolha, mas por necessidade.
Ela o desarmou completamente. Todos os seus disfarces e defesas
estavam esmigalhados como poeira em seus pés.
O que tinha nela? Os dedos dela não poderiam ser tão
diferentes dos de outra mulher. Ela era bonita, mas não a mais linda
criatura que ele já havia visto. Enquanto ela se mantinha
relembrando-o que era jovem demais e mal-educada e impertinente,
e nenhum homem como ele iria querê-la.
Ainda assim ele queria.
Ela o provocou. Tocou em seu cabelo. E acreditava que ele
merecia isso e mais. Ele não podia deixá-la descobrir o efeito que
causava nele. Ele não podia deixar ninguém ver. Ele queria reclamá-
la para si, possuí-la, e mantê-la em algum lugar onde ela não poderia
causar tantos estragos em seu autocontrole.
Mas seduzi-la nem era o que ele mais queria agora. Ele queria
deitar a cabeça em seu colo e deixá-la acariciar seu cabelo por toda a
noite.
“O que você está fazendo comigo?” Ele murmurou.
Ele fez com que cada parte de seus corpos se encontrassem, a
proeminência dos ossos das costelas, a maciez das barrigas, a
resistência dos seios contra músculos. Os batimentos dos corações e
as respirações se misturando.
Ele pressionou toda a extensão de seu corpo contra o dela, cada
esguia, firme, vigorosa e masculina parte dele. Desejando que ela o
sentisse, soubesse seu tamanho, sua forma e a força de seu corpo.
Para se sentir intimidada pelo que ela fazia com ele, e pelo o que ele
intentava fazer com ela. Ele queria ouvi-la arfar, fazê-la estremecer.
Que Deus o ajudasse, mas ele queria que ela sentisse um pouco
de medo.
Porque ela estava abalando-o em seu âmago.
Ele pressionou sua testa na dela, e pressionou ainda mais os
dedos em sua cintura.
Retroceda, ele disse a si mesmo. Você não pode permitir que isso
aconteça.
Então, seus lábios se encontraram, preenchendo o último
pequeno espaço entre eles. Como se não importasse o quão distante
estavam suas vidas uma da outra, se eles pudessem se harmonizar
nessa única parte, essa era a resposta, a razão para tudo aquilo.
A boca dela se suavizou para ele, como um presente
desembrulhado. Ele a beijou profundamente, com uma urgência
crescente, e ela se equiparou a ele, movimento a movimento. Ela
pressionou as mãos ao redor do pescoço dele, fazendo com que partes
do corpo masculino se enrijecessem em resposta.
Ele deslizou uma mão espalmada sobre um seio redondo. Ela
arfou de encontro a boca dele e interrompeu o beijo, ainda o
segurando próximo. A respiração dela se tornou irregular, enquanto
ele erguia e massageava sua maciez. A ponta do mamilo endurecida
pressionava na palma da mão dele.
Ele fechou os olhos, apertando-os, tentando manter a calma.
Ele tinha que parar. Se ele não a soltasse naquele instante, ele não a
soltaria até que ela estivesse nua, deitada embaixo dele e apertada
entre seus braços.
Se distanciar dela naquele momento foi como várias outras
coisas que ele já passou em sua vida: frio, impiedade. Necessidade.
“Jantar.” Ele disse. “Eu sou aguardado lá embaixo.”
Ela acenou com a cabeça concordando.
Ele tocou sua bochecha com as costas da mão. A pele dela
estava corada e macia. Então ele saiu do quarto sem olhar para trás.
Finalmente ela pôde ter um vislumbre do que ele
verdadeiramente era. Aquela aparência lustrosa de honra que a tinha
enganado havia se desgastado um pouco, revelando uma obscuridade
abaixo da superfície.
Mas ele não estava pronto. Ainda não. Ele gostou bastante da
maneira doce e piedosa que ela olhou para ele, mesmo que ele
soubesse que não merecia. Talvez, nunca mereceria.
Eu vim para salvá-lo, ela havia dito.
Ela era uma doce garota. Mas estava metade de uma vida
atrasada.
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO 9
Enquanto ele acenava um ‘até logo’ para seu irmão, e eles deixavam
a estalagem, Piers esperava que Charlotte perdesse o interesse em
lançar-lhe perguntas.
“Vamos lá!” Ela disse. “Qual é o seu grande segredo?”
Ele franziu o cenho para a calçada, para tentar disfarçar a falha em
seu passo. “Segredo? O que a faz acreditar que existe um segredo?”
“Conhecer Lorde Rafe nesse instante.”
Ele amaldiçoou silenciosamente. Rafe era uma das poucas pessoas
que sabia o verdadeiro cargo de Piers no Ministério de Relações
Exteriores _ e mesmo assim, eles evitavam discutir os detalhes. Se
seu irmão tiver deixado algo escapar...
“Rafe falou alguma coisa para você?”
“Nada específico, se essa é sua preocupação. Foi a maneira como ele
me tratou, como se eu fosse o mais novo membro de um clube
exclusivo de pessoas que compreendem o verdadeiro Piers Brandon.
E sobre aquele aperto de mãos secreto? O que está acontecendo que
você não está me contando?”
Bom Deus. O que ele foi fazer se envolvendo com essa mulher? Tudo
era um quebra cabeça para ela. Um nó que precisava ser desatado.
Naquele meio tempo, sempre que ele estava perto dela, seu poder de
discernimento e disfarce iam diretamente para o inferno. Ele contou
segredos de família, ele a deixou acariciar seu cabelo. Ele a escondeu
atrás de cortinas e a segurou próxima a ele.
Se ela fosse uma agente inimiga, esse problema seria muito mais fácil
de resolver. Ele não teria necessidade de se casar com ela. Ele poderia
capturá-la, ou matá-la ou ainda a mandar para um exílio em Córsega.
Pensando sobre isso, talvez essa última ainda fosse uma opção.
Somente se Nottinghamshire tivesse litoral.
“Deve ter algo a ver com o tempo que você passou no exterior.” Ela
falou devagar.
“Eu trabalhei como diplomata para o Ministério de Relações
Exteriores. Você já sabe disso.”
“E eu tenho pensado sobre isso desde quando soube. Eu sabia que
havia mais a seu respeito. Que tipo de diplomata abre fechaduras e
beija como um libertino?”
“Este diplomata aqui, aparentemente.”
Ela deu um suspiro teatral. “Se você não me contar, eu serei forçada
a adivinhar.”
Ele permaneceu em um silêncio firme. Que ela interpretou como um
convite. Porque é claro, ela continuou.
“Vamos ver. Você dirigia um jogo ilícito como o inferno,
clandestinamente na reluzente Viena. Metade da Casa de Habsburgo
deve a você suas fortunas.”
“Não estou interessado em coletar fortuna. Eu tenho a minha
própria.”
“Roubo, então.”
Ele se encolheu com a sugestão. “Estou ainda menos interessado em
roubos insignificantes.”
“Não seria roubos insignificantes, poderiam ser bem significativos,
executados por uma boa razão. Vamos ver... você resgatou
inestimáveis peças de arte das casas de aristocratas franceses,
salvando-as da destruição nas mãos dos revolucionários.”
“Errado novamente.”
“Se não é arte, então... segredos? Ah, já sei! Você é um espião
internacional, cumprindo missões arriscadas e frustrando planos de
assassinatos, sob o disfarce de uma carreira de diplomata.”
“Não seja absurda.”
Ela parou mortalmente na rua. “Oh , meu Deus! Oh céus! É isso!”
“Isso é...”
“É isso! Essa é a verdade! Você é um espião.” As sobrancelhas dela
arquearam-se, ela juntou as duas mãos sobre a boca, abafando um
grito sob elas.
Maldição!
Ele a pegou pelo cotovelo, guiando-a para fora da rua e a empurrando
para um beco escuro e apertado.
“Eu já disse que não sou...”
“Não se incomode em mentir para mim. Eu já sei como descobrir
quando você o faz.” Ela ergueu a mão para o rosto dele. “Sua
sobrancelha esquerda enruga todas vezes que você mente.”
“Eu,” ele disse, ignorando o toque dela, com uma força de vontade
absoluta. “Eu não era um espião internacional. Pronto, a sobrancelha
enrugou?”
“Não.” Ela disse desapontada.
Piers relaxou. “Bom, então.”
“Então você não era um espião internacional.” Depois de uma rápida
pausa, ela engasgou. “Você é um espião!”
Jesus Cristo.
Ela lhe deu um leve soco no ombro.
“Oh, muito bem! E o mundo todo acreditando que você é somente um
tedioso e apropriado lorde? Não admira que seu irmão pareça com
um gato que acabou de engolir o peixe dourado. Isso é tremendo
Piers!”
Tremendo?
Isso era decididamente o oposto de tremendo. Isso era um problema
grave. E possivelmente o fim de sua carreira.
Ele já foi bom nisso uma vez, não foi?
Ela tinha essa ingênua e fantástica ideia de espionagem, que envolvia
beber drinks viscosos e andar despreocupadamente por jogos
infernais. Se ela soubesse a fria e brutal realidade, ela se arrependeria
por ter adivinhado.
Ele a segurou pelos ombros e deu uma leve sacudida. “Você precisa
esquecer essa ideia tola. A verdade é que eu sou um tedioso e
apropriado lorde. Não existe missões impetuosas ou escapadas
eletrizantes. E eu enfaticamente não sou um esp... abaixe-se.”
Ele empurrou Charlotte para o lado.
Um ladrão emergiu das sombras, tentando alcançar a bolsa dela com
uma mão, e com a outra ele brandia uma faca enferrujada.
Anos de treinamento assumiram o controle.
Com sua mão esquerda, Piers agarrou o pulso do batedor de carteiras,
imobilizando a mão com a faca. Então ele baixou seu cotovelo direito
em uma pancada violenta, não forte o bastante para quebrar o braço
do patife, apesar de que ele merecia.
Uma vez que a faca foi jogada para as sombras, ele lidou com o ladrão
com um rápido chute no estômago e o arremessou na sarjeta.
Isso tudo aconteceu em menos de cinco segundos.
Enquanto o criminoso caía dobrado e gemendo, Piers endireitou suas
luvas.
Os olhos de Charlotte se arregalaram. Ela olhou para o batedor de
carteiras, depois de volta para Piers. “Você estava dizendo...”
Minha.
Minha, minha, minha.
A palavra tombou sobre a mente dele em círculos infinitos.
Piers circulou com a língua, o tenso mamilo cor de rosa.
Ela se moveu e suspirou debaixo dele. Todos os argumentos e
perguntas esquecidos. Ele revelou no som.
Ele pretendia mostrá-la quem estava no controle. Apenas de quem os
segredos estavam descobertos.
Ele deu um puxão nas roupas dela, desesperado para revelar mais do
corpo para o seu toque e sua boca. Enquanto tentava arrancar seu
vestido, ele ouviu um barulho de tecido se rasgando. Ele congelou,
pensando que talvez o som pudesse assustá-la, ou pelo menos trazê-
la de volta a consciência.
Em vez disso, ela rolou para o lado para ajudá-lo.
Ela o ajudou.
E uma vez que o vestido dela foi empurrado para baixo, revelando
suas roupas íntimas transparentes, ela o impeliu para seu abraço,
envolvendo os ombros dele em seus macios e perfumados braços,
arqueando as costas para oferecer os seios a ele.
Os lábios dela tocaram seu pescoço nu.
Quando foi que ele perdeu a gravata?
Bom Deus. Bom Deus.
Ele orgulhava-se de seu controle. Sua autodisciplina, sua
administração cuidadosa das emoções internas e reações externas,
vidas dependiam disso, e Piers nunca os decepcionou.
E então veio a senhorita Charlotte Highwood, anunciando sua própria
entrada na vida dele com a mais absurda das declarações.
Eu estou aqui para salvá-lo.
Impossível. Ela era a pessoa mais perigosa que ele havia encontrado.
Seu equilíbrio estava em uma constante agitação sempre que ela
estava por perto.
Ela decodificou a linguagem secreta de sua sobrancelha esquerda.
Se ele não fosse cuidadoso, poderia se perder com ela.
Dentro dela.
Deus, o simples pensamento de estar dentro dela. Mergulhado em
todo aquele calor, na maciez solícita...
A imagem mental fez com que seu membro ficasse duro como
mármore italiano, latejando em vão, contra os botões de suas calças.
Piers se forçou a ir mais devagar, empurrando para o lado a frágil
musselina e explorando cada centímetro de seus voluptuosos seios
nus, com seus lábios e língua. Ocasionalmente adicionando leves
mordidas.
Não importava o quanto ele tomava, ela oferecia mais. E por sua vida,
ele não conseguia entender o porquê.
Ele deslizou uma mão por sua cintura e encaixou seu quadril entre
as coxas dela, empurrando contra a maciez das anáguas que ela
usava.
Breve, ele prometeu a si mesmo. Não naquele dia. Ele não iria deflorar
Charlotte em uma carruagem em movimento. Essa não era a forma
como ele tratava nenhuma mulher e mais ainda, não a mulher com
quem ele pretendia se casar. Ele não havia perdido toda a aparência
de homem contido, pelo jeito.
Além do mais, a jornada até a Mansão Parkhurst não era longa o
bastante.
Quando ele se deitasse com ela pela primeira vez, ele pretendia levar
horas satisfazendo-a apropriadamente. Meticulosamente. Até que ela
soluçasse seu nome e implorasse por mais.
“Nós estamos quase chegando.”
Ela lhe deu um sonolento e entorpecido olhar. “Como você sabe?”
“A estrada sob nós, mudou de lama para cascalho.”
“Sempre tão atento aos detalhes.” Ela sorriu, com aquela adorável
presunção, que ele começou a reconhecer, e ele sabia que havia se
entregado, mais uma vez.
Houve um momento de ternura entre eles, e por um instante ele
experimentou a mais rara, e ridícula emoção _ esperança.
Seria possível?
Ela o viu desarmar aquele batedor de carteira no beco. Ela sabia que
ele estava enganando, não somente ela, mas a todos. Ela não saiu
correndo e gritando, ou deu as costas para ele em desgosto.
Talvez... talvez ele pudesse fazê-la feliz.
Não com o dinheiro, ou o prestígio social Granville, mas somente
sendo o homem que ele era, no seu cerne. Às vezes, quando ele olhava
naqueles profundos olhos azuis, ele sentia como se tudo fosse
possível.
Mas havia ainda, tanto que ela não sabia, sobre o que ele era e o que
ele já havia feito. Havia uma escuridão verdadeira dentro dele, e se
ela encontrasse todos os caminhos para passar por suas defesas, se
aventurar dentro do seu ser negro e frio... ele duvidava que ela poderia
sorrir para isso.
Além do mais, ela queria amor em retorno. Não somente afeição ou
ternura, mas um público caso de amor, para convencer até mesmo o
mais incrédulo dos fofoqueiros. Isso era uma coisa que Piers não
podia oferecer a ela. Nem mesmo se ele quisesse.
Era inútil pensar em ganhar o coração de Charlotte.
Ele deveria manter seu plano: assegurar o casamento com ela e
completar sua missão ali, por qualquer meio necessário.
Ele beijou a testa dela uma última vez, então se endireitando a
ajudou.
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
“Charlotte, acorde.”
Os olhos dela se abriram. Ela sentou-se rapidamente na cama.
As últimas duas vezes que ele tentou acordá-la havia sido desastroso.
No entanto, ela não daria a ele, motivo para se preocupar-se outra
vez.
“Tem fumaça.” Ele disse. “Nós devemos correr.”
Mal ele a havia puxado da cama, quando passos foram ouvidos
pelo corredor. Alguém estava correndo pela casa, passando de porta
em porta. “Fogo! Fogo!”
Enquanto Piers conferia o corredor, para ter certeza de que era
seguro, ela localizou seu roupão de dormir e amarrou-o na cintura.
Eles emergiram do quarto, para encontrar a casa em um grande
tumulto. Pessoas em trajes de dormir, passavam correndo por eles
em todas as direções. Ela não conseguia ver nenhum fogo. Contudo,
uma nuvem de fumaça pungente obscurecia o corredor a direita,
bloqueando o caminho para as escadas principais.
“Por aqui.” Ele disse, pegando-a pelo pulso e guiando-a para a
esquerda. “Pela escada de serviços. Você vai na frente, e seja rápida.
Eu irei em seguida com sua mãe.”
Oh, não. Mamãe!
Ela olhou na direção da fumaça negra. O quarto de sua mãe era
mais à frente no corredor, exatamente para aquele lado. Exatamente
do outro lado do quarto de Charlotte.
Entre a idade de sua mãe, as vistas comprometidas, as condições
de seus nervos, ela jamais sairia sem assistência.
Ela puxou o braço do aperto dele e começou a seguir em direção
a direita.
Piers a segurou. “Não. Você desce para o primeiro andar.”
“Não posso. Não, sem ela.”
“Vá agora. Eu posso carregá-la, se for necessário, mas eu não
posso carregar as duas. Você ficará no caminho.”
“Mas...”
Mas quem o carregará se você for subjugado?
Antes que ela pudesse responder, ele desapareceu no corredor
enfumaçado. Ela parou, dormente, por um momento, encarando o
caminho que ele tomou. Então uma onda de fumaça começou a se
enroscar em seus ombros, pinicando seus olhos.
A necessidade de sobrevivência fez com que seu corpo a puxasse
em uma direção, mas seu coração puxava para o outro lado.
“Charlotte?”
Ela girou no mesmo lugar, virando-se em direção a voz.
Delia estava parada na porta de seu próprio quarto, tossindo.
Charlotte correu para a amiga, passando um braço por seu
ombro. “Apoie-se em mim. Vamos pelas escadas dos criados.”
Juntas, elas seguiram pela escura e estreita escada, tateando
seu caminho para baixo. Delia vacilou em um degrau deformado, mas
Charlotte a estabilizou. Uma vez que elas alcançaram a base da
escada, elas se viraram e tropeçaram em um corredor estreito.
Tentando manter pelo menos dois passos à frente da fumaça, que as
perseguiam como um demônio malévolo, elas seguiram em frente.
Quando finalmente alcançaram o lado de fora, elas sorveram o
ar fresco e gelado como água no deserto, então correram para se
juntarem a um amontoado de criados e familiares atrás do jardim.
“Delia!” Lady Parkhurst correu para abraçar a filha, levando-a
para longe de Charlotte e guiando-a para um banco, onde Frances
estava sentada, tremendo.
Sir Vernon segurava uma tocha para o alto, enquanto gritava
com os lacaios e cavalariços, organizando uma brigada de baldes para
enviar água do poço até a origem do fogo. Até mesmo, o jovem
Edmund foi pressionado ao serviço, trazendo baldes de couro dos
estábulos.
Charlotte se virou para olhar a casa. Estava tão escuro, e os
lacaios corriam de um lado para outro, dificultando ainda mais a
visão. A cada momento, sua espera aumentava, seu coração quase
chegando a garganta.
As duas pessoas mais importantes em seu mundo estavam
presas em um inferno de fumaça e calor.
Se ela os perdesse...
A tensão era insuportável. Ela não conseguia ficar ali mais nem
um minuto. Ela correu de volta para a entrada dos criados, tecendo
seu caminho pelos lacaios. Se sua mãe e Piers estivessem em perigo,
ela os ajudaria, ou morreria, tentando.
Assim que Charlotte chegou até a porta, sua mãe surgiu em uma
flutuante camisola de renda branca, sua touca estava torta.
**HARLOT> prostituta
Aos seus olhos, ele nunca pareceu mais perfeito.
Ela não se importava com o que ninguém pensava dela, naquele
momento. Que Frances a chamasse de qualquer nome vil que
desejasse.
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
Bolos?
Bolos e umidade?
Essa era a mensagem misteriosa. Dentre todas as
inconsequentes e sem sentido linhas para se escrever em tinta
invisível, com um perfume de rico aroma, aquelas foram as palavras
escolhidas?
Quem quer que aqueles amantes misteriosos fossem, Charlotte
estava aborrecida com os dois. De fato, almoço do meio dia...
Ela esfregou os olhos e leu novamente. Então ela passou o papel
pela chama de fogo mais uma vez. Nada novo apareceu.
Talvez, aquele fosse um tipo de código. Ela tentou ler de trás para
frente, ler cada segunda palavra na linha, cada terceira, ou quarta
letra... nenhum desses métodos forneceu qualquer mensagem
compreensível.
Estava a ponto de amassar o papel e jogá-lo no fogo de desgosto,
quando notou um fino traço em tinta marrom, onde ela não esperava
que estivesse. Ela desconsiderou da primeira vez que viu, porque
pensou que fosse apenas uma gota de tinta invisível caída no lugar
errado, mas naquele instante notou perfeitamente que o traço estava
centralizando uma palavra do poema: ‘quadro’.
Com a ponta dos dedos, ela esquadrinhou o papel, procurando
por qualquer outra marca pequena e despercebida. Ela encontrou
outro traço; esse estava diretamente embaixo da palavra ‘coração.’
Quadro e coração.
Coração e quadro.
Com um pressentimento, ela encontrou um pedaço de papel,
cortou para que ficasse do mesmo tamanho da mensagem, então
dobrou os dois juntos ao meio, fazendo um corte com um canivete,
removendo um pedaço do centro do papel no formato de um coração.
Então ela pegou seu improvisado cartão romântico e colocou sobre o
bilhete, deslizando-o, até que estivesse centralizado.
O quadro bloqueou quase toda a mensagem escondida. As partes
ainda visíveis, diziam:
nos encon
traremos no conser
rvatorio a meia
noite
CAPÍTULO 24
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
FIM