Sei sulla pagina 1di 2

332 SÉRGIO MILLIET nd.

RIO CRÍTICO 333

gentilezas observa que não nos damos bem com o trabalho tratos. E tão grande é a influellJcia da critica sobre o artista
manual, sendo de bom tom entre nós deixar crescer desme- q'lle durante muitos anos, (até a revalorização da paisagem
didamente as unhas. pelos impressionistas) esse preconceito do "genero inferior"
Um senhor norte-americano dizia a certo jornalista que foi acatado pelos proprios pintores. Ainda em nossos dias
ameaçava escrever um livro sobre os Estad-0s Unidos: "Es· é vulgar ouv.ir-se eJn rodas esteticas essa heresia d.e ser a
creva-o dep11essa, porque um livro desse genero se e,;creve grande pintura, forçosamente, uma pintura de personagens.
somente em 3 meses ou 30 anos". Temos a impressão diante Qual o principal argumento de Baudelaire contra a paisa-
do livro de Ascarelli 'que foi escrito em parte em 3 meses gem? A de carecer essa pintura de imaginação. Confunde
e em parte em 30 anos. No que respeita á psicologia do assim o crüico a imaginação literaria, expressa no assunto,
hrasi]eiro nã'O _gastou o autor mais de 3 meses. Mas sua hoa- com a imaginação pictorica, isto é, a maior ou menor ri-
vontade e sua gentileza nos comovem. Relativamente ao apa- queza do pintor no manuseio de seus meios de expre~são
nhado historico, geografico, economico e social, gastou 30 - o que se exprime na pintura mesma e não na anedota.
anos. Viu tudo e com muita clareza. Nada escapou á sua Julgar uma arte através da tecnica e da terminologia de
acuidade e a idéia que dá aos seus compatriotas, de nosso outra tem sido sem duvida o maior erro da improvisada
Pais, não podia se11 mais fiel á realidade. Certos capitulos, c-rti;ca de pintura que prolifera nos jornais e revistas. C!lda
como os que dedica a questão ra,cial a á imigração, ou ao arte tem sua linguagem, não apenas para a criação mas
nível de vida e á propriedade fundiaria são pequenas obra· ainda para a critica que a ela se faça. Seria ridículo exigir
primas de concisão e clarividencia. Os resumos -informativos de um Chopin que se exprimisse como Balzac, como ridi-
são completos; as considerações criticas construtivas. eulo fôra solicitar de uma sinfonia um entrecho de roman-
ce folhetim. Ora, a esse ridículo se expõe Baudelaire quan-
Agosto, 16 - Em sua critica ao Salão de 1859 confessa do aponta a falta de imaginação de um Cornt. Essa imagi-
Charles Baudelai11e que não pode "considerar indiferente a nação existe e está no infinito matizamento de seus tons,
escolha do assunto". Não somente, a seu ver, o assunto é, no ineditismo e na harmonia de seus acordes cromaticos, na
já em si, uma expressão do genio criador, mas constitui dosagem sempre deHcadamente variada de seu cliu-o-escuro.
também um motivo de prazer para o publi1co. E por isso, A reputação de Baudelaire beneficiou-se do apoio que
Bfirma, nunca encontrou um paisagista de genio. deu a Delacroix, em quem intuitivamente sentiu a presença
Baudelaire foi na realidade um acatado critico de arte do genio. E também de Eiua campanha contra o naturafümo
mas como todos os criticos teve suas falhas. Essa de con- na pintura, que se iniciava em consequencia dos progressos
siderai1 importante a escolha do tema terá sido uma delas, rapidíssimos da fotogmfia. E' mesmo curioso que, tendi)
e !reveladora da sua relativa incompreensão do problemâ entendido desde logo os perigos da copia servil do modelo,
pictorico. Aliás seus cornentarios á obra de Corot são dos não pudesse, entretanto, libertar-se fio preconf'eito do tema.
menos felizes, incapaz que foi de perceber a riqueza tonal Talvez se explique, de resto, sua ojeriza contra a .paisagem
do paisa1ásta a quem censurava certa insuficiencia de flrte- pelo temor de ver esse genero descam.bar para o naturalis-
zanato. Preferia Théodore Rousseau, hoje classificado mui. mo. Mas um COT:ot naturalista? Julga, por certo, superfi-
to discremente entre os pintores franceses do inicio do se- cialmente sua obra quem desse. modo o encara. E, o que f.
gundo lmperio. pior, julga sem noção de .cor, composição, desenho e ima-
A insensibilidade á paisagem (Baudelaire insiste. em ginação.
dizer que acha m;iis artisco os cenarios de_ teatro) é coisa A cultura é cumulativa, dizem -os sociologos. As idéias
comum nos criticos daquela epoca, preocupados todos com não nascem -do nada e só chegam. a amadurecer na sua hora
a literatura dos quadros de genero e com a nobreza dos re- exata. Baudelaire não podia ir muito além do pensamento
334 SÉRGIO MILLIET DIÁRIO CRÍTICO 335

e da sensibilidade de seu tempo, embora antes, bem antes Em oposição a fluidez solicitadora do mar, a, perenidade
dele, já houvesse Leonardo Da Vinci escrito o essencial do da terra, da terra solida na qual se ergue o lar que os ven·
que hoje se sabe sobre pintura. tos abanam mas não destroem: "Além da estrada, além da
flor, além da rua, a abanada vivenda e o silencio inte1•ior".
Agosto, 23 - Entre os jovens poetas que surgir'am de- Se o mar é o convite, a esperança, a terra é a certeza
pois de 1940 deve-se realçar a personalidDde .de Marcosi Kon- e a ternura. Talvez no mar se encontre a pai:)i:ão, na terra
der Reis, a proposito do qual já assinalei a nobreza e por ·certo temos o amor:
a sobriedade de expressão. ·Com "Praia Brava" o poeta se "Intima fachada, arvore e ternm·a, a igreja, a minha
inicia no poema em prosa; não no poema em prosa como casa, o meu jardim, ao pé do morro ttlguma sepultura, san·
o compreenderam Aloysius Bel'trand e Charles Baudelaire, gue e terra, ó patria,
pequenas joias á maneira do soneto parnasiano, mas no poe- E tu és ternura".
ma em prosa por assim dizer livre, sem a rigidez de com- Há na poesia de Konder Reis a lembrança de poetas
posição que o carncterizou até agora e sem os limites que a como Claudel ou os profetas do Velho Testamento. Seu
si proprio habitualmente se impõe o poeta nesse genero. ritmo é bibHco e seu sentido musical profundo, não hesi·
A nova obra de Mal'COS Konder Reis é um poema de tando o autor em tinw •partido da rima, como não hesita
folego, com um tema central em verdade vago mas pre;>ente em ater-se apenas a uma sucessão de acentos ou pausas a
no decurso das cem paginas do livro. Em suma, uma especie marcarem a leitura. A originalidade dessa forma é evidente,
de sinfonia em que as variações se sucedem em torno de em português, e acreditamos que está longe ainda de ter
umas tantas frases musicais: o mar, a terra, a carne, a es· produzido todos os efeitos que dela se podem esperar.
perança, etc. O poema sinfonico assume tons bucolicos ou elegiacos
Se nos escapa, por vezes, a ligação logica entre os di- ·segundo se ·desenr()lam os temas. Nenhuma revolta ante os
versos cantos do poeta, nunca deixa a sua essencia poetica destinos ~scritos, nenhum inconfo.11mismo subversivo, mas
de se afi.1'mar convincentemente, tanto pela imagem oomo uma melancolia resignada ou um extase manso. "Dentro da
pela musicalidade encantatoria. Em especial as duas pri· casa a benção e uma luz dentro da noite, dentro da casa o
meiras partes, em que os temas são o mar e a terra, a magia canto humano, a cama fôfa, o amor e o sonho.
das palavras e dos ritmos é surpreendente. A prosa assim
entendida e realizada ultrapassa em poder emotivo os mais E dentro da alma a paz.
belos versos. O sr. Kondc1• Reis parece ter encontrado no Levanta-se na serra a ·madrugada, novo anjo a trouxe,
genero em 'que agora :0e exprime· sua forma mais. feliz. Eis terna e pura, imprime na planura um beijo silencioso e ela·
como nos acena com o desejo de a,·entura e de misterio que ro, uma ternu11a invade a colcha, levanta-se na cama um pe·
a presença do mar lhe inspira: daço do amor".
"Bem mais além do andado, a curva, e nela, o convite Trechos como esse são característicos de Konder Reis,
perene ao ser desamparado na aventura, essa dura existencia e mostram como a sensibilidade do poeta se evidencia ine·
na esperança: a procura do rosto. dita em nosso meio. O sentimento da natureza e da integra·
Bem mais além do andado, a curva, e nela, a vela se ção do homem no cosmos, expresso não como uma reflex·ão
afastando ... " filosofica nem como um quadro de pintor realista, porém
Não é só a aventura tentadora, é também a timidez que como uma invocação lli:'.'<Üca, não era conhecido em nossa
nos impede de ir mais longe e permite q'ue a vela se afasto poesia. Não menos 011iginais se nos afiguram as ultimas par·
deixando na esteira a saudade do que poderia ter sido: tes da sinfonia, quando as variações vocabulares ou sintaxi-
". . . ao pé da rosa, o possivel encontro, a liberdade· · ·" cas giram em torno .da antinomia, talvez a amhivalencia,

Potrebbero piacerti anche